Fichamento Vigiar e punir ou educar? FOUCAULT pensa a educação.p.26-35

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Universidade Federal de Uberlândia Curso: Pedagogia - Noturno ARAUJO, Inês Lacerda. Vigiar e punir ou educar? FOUCAULT pensa a educação. Revista Educação Especial: Biblioteca do Professor, n.3, São Paulo: Ed. Segmento, s. d, p.26-35 “[...] Focault analisa, diagnostica nosso presente, nossa situação. [...] “É possível abordar as questões da comunicação e dos códigos culturais; é possível abordar as macroestruturas da economia e da política. Mas Focault foi por outro caminho, o das praticas reais e locais, que tecem relações entre discursos e saberes de um lado, e instituições e poderes de outro lado. Sua analise é genealógica, isto é, ele pergunta quais são as relações de força, como se desenvolvem estratégicas, lutas e táticas nas malhas da cultura, no mosaico social.[...]”( p.26) “[...] Ele vê a cultura não como uma massa homogênea e sim como diversificada, com múltiplos movimentos. [...] A nova critica de Foucault se acerca do psiquiatrizado, da criança, do escolar, do doente, do anormal, e mostra que o sujeito é objetivado e sujeitado.” (p.28) “Para Focault, o sujeito é constituído e não constituinte, como pensa a maioria dos filósofos.”[...] (p.28) “O homem foi pensado como objeto de saber das ciências humanas, a partir de transformações históricas, sociais, culturais que produziram as condições “epistêmicas” para pensá lo como sujeito constituído por praticas cientificas.” (p.28) “O sujeito também é constituído por praticas disciplinares, das quais surge um tipo de saber “organizado em torno da norma que possibilita controlar os indivíduos ao longo de sua

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Universidade Federal de UberlndiaCurso: Pedagogia - Noturno

ARAUJO, Ins Lacerda. Vigiar e punir ou educar? FOUCAULT pensa a educao. Revista Educao Especial: Biblioteca do Professor, n.3, So Paulo: Ed. Segmento, s. d, p.26-35

[...] Focault analisa, diagnostica nosso presente, nossa situao. [...] possvel abordar as questes da comunicao e dos cdigos culturais; possvel abordar as macroestruturas da economia e da poltica. Mas Focault foi por outro caminho, o das praticas reais e locais, que tecem relaes entre discursos e saberes de um lado, e instituies e poderes de outro lado. Sua analise genealgica, isto , ele pergunta quais so as relaes de fora, como se desenvolvem estratgicas, lutas e tticas nas malhas da cultura, no mosaico social.[...]( p.26)[...] Ele v a cultura no como uma massa homognea e sim como diversificada, com mltiplos movimentos. [...] A nova critica de Foucault se acerca do psiquiatrizado, da criana, do escolar, do doente, do anormal, e mostra que o sujeito objetivado e sujeitado. (p.28)

Para Focault, o sujeito constitudo e no constituinte, como pensa a maioria dos filsofos.[...] (p.28)O homem foi pensado como objeto de saber das cincias humanas, a partir de transformaes histricas, sociais, culturais que produziram as condies epistmicas para pens lo como sujeito constitudo por praticas cientificas. (p.28)O sujeito tambm constitudo por praticas disciplinares, das quais surge um tipo de saber organizado em torno da norma que possibilita controlar os indivduos ao longo de sua existncia. Esta norma a base do poder, a forma do poder/saber que dar lugar no s grandes cincias da observao [...], mas aquelas que chamamos de cincias humanas: psiquiatria, psicologia, sociologia. A produo de verdade tem vrios e pesados efeitos sobre o sujeito. O poder de tipo disciplinar sujeita o individuo, e, ao mesmo tempo, o objetiva; dele resulta um tipo de saber que serve para examinar a conduta, qualificar, corrigir, induzir normalidade, sanidade. (p.28)Focault sofreu a influencia de Nietzche (1844-1900), para o qual a verdade tem relao com a vontade de poder, o que exige uma reavaliao de todos os valores, atravs de um procedimento histrico: os conceitos, os critrios, os valores nasceram de necessidades, de hbitos. O exame e a critica histricos, isto , a genealogia, mostram que a verdade uma interpretao dada em certa poca, adaptada ao modo humano de ser, frgil. (p.29)De forma semelhante, para Focault o exerccio do poder cria objetos de saber, os faz emergir, leva a um modo institucionalizado de acumular informaes e de faz las circular. [...] (p.29)Focault no desqualifica o valor de verdade das preposies cientificas, nem se refere aos conjuntos de crenas tomadas como verdadeiras, essncias vida vida cotidiana. Ele aborda o regime do enunciado cientifico, a poltica da verdade [...] Diferentemente da analise marxista, que v o poder macio e dominador de uma classe sobre a outra, Focault mostra os feitos mltiplas de poder, que funcionam em redes; o cruzamento de relaes de poder que permite a dominao de uma classe sobre a outra. (p.29-30) [...] A burguesia no se interessa pela excluso, mas precisa, e muito, dos mecanismos de excluso, de vigilncia, de punio, de treinamento. As escolas, as prises, os hospitais, as fabricas so colonizadas e sustentados pelos mecanismos globais e pelo Estado, porque tm uma utilidade, porque permitem ganho. (p.30) Foucault mostra o outro lado mais conhecido, em Vigiar e Punir, o lado da norma, das regras, da vigilncia, da punio, que sujeitam e controlam os indivduos, os quais se tornam peas de um maquinrio que distribui os indivduos nesse campo permanente e continuo. Nessa sociedade disciplinar, a vigilncia e a punio produzem corpos dceis e capazes. A medicina, com seu discurso cientifico, acolhido como insuspeito, neutro, o arbitro para a normalizao do comportamento, das condutas, dos desejos.(p.30)Como se chegou sociedade da norma, da sade, da vigilncia? Por que psicologizar e medicalizar o criminoso escolar? Com o crescimento populacional e o aumento da produo industrial, os mecanismos de vigilncia, exame, punio suscitam e ao mesmo tempo se servem das relaes entre discurso, saber, verdade e poder. Os resultados so, por exemplo, baixar a taxa de mortalidade, aumentar a eficcia do trabalho, fixo escolar, isolar e conhecer o doente mental, punir o delinquente e todos os que fogem da norma. O capitalismo demanda sistemas de poder poltico com produo a mais intensa possvel, pessoas capacitadas, diviso e especializao do trabalho, observao precisa, concreta. Os indivduos so considerados em funo de sua normalidade, o que um dos grandes instrumentos de poder da sociedade contempornea diz Foucault. (p.31)Na escola, facilitou a implementao generalizada da alfabetizao, a localizao espacial em carteiras; esse espao recortado, analisado, permite individualizar e classificar; a disciplina apropriada para desenvolver aptides, mas tambm essencial para gerir a populao, torn la governvel, administrvel. As redes disciplinares penetram as instituies do Estado, do governo, da justia, cujo poder reconduzido a essas verdadeiras fabricas de individuao, de objetivao, que so os hospitais, as escolas, as industrias, os quartis. (p.31)A disciplina fabrica corpos submetidos e exercitados em termo de capacidades e aptides, de um lado; e de submisso e sujeito, de outro lado. Assim, para curar essencial separar e classificar os doentes; para a eficincia do trabalho, essencial a localizao setorial, a ocupao funcional, o treinamento dos gestos, precisos, rpidos e seguros; para aprender essencial organizar as classes, sries, repartir por idade; para defender e ataca, essencial treinar para executar movimentos precisos e ordenados.Controlar o tempo e program-lo em fases geram economia, prontido, evitam o desperdcio e a desateno. O treinamento preciso ser contnuo, progressivo, cumulativo para qualificar o aprendiz, o operrio, o soldado. (p.32).

Essas gaiolas cruis e sbias, cuja arquitetura serve para corrigir, punir, instruir, guardar loucos, treinar operrio; recuperar mendigos e desocupados, sofreram modificaes no decorrer do sculo XX. (p.32)

Na escola os procedimentos disciplinares funcionam simultaneamente como mecanismos para ajustar o aluno (filas, carteiras, horrio) e como operadores pedaggicos (os testes, o treinamento de habilidades, a avaliao das capacidades). Forma se um tipo de saber sobre o individuo que permite situa-lo com a relao aos demais; o problemtico, o indisciplinado, e no s suscetvel de punio corretiva, como alvo de um saber que o qualifica. Esses recursos pedagogizadoras reproduzem na escola o poder, e seus efeitos, que funciona em discursos, praticas, saberes. (p. 33-34)

Em primeiro lugar, preciso pergunta ate onde as analises de Foucalt nos levam. Ele no contra a escola , e, portanto, contra a educao. Foucault disseca o sistema escolar moderno, como ele se formou e foi usado na sociedade disciplinar. Essa sociedade, que em larga medida ainda a nossa, surgiu de condies histricas, sua funo adaptao da populao ao processos de produo, s tcnicas de gesto sobre a vida, o aprendizado, o treinamento, a aptido de indivduos. As analises de Foucault no visam destruir, anarquizar; ele no desqualifica a escola nem o aprendizado, no condena a escola, no condena a escola, no afirma que seus procedimentos estejam errados. Foucault mostra a provenincia e os usos daquelas pequenas tcnicas e dispositivos de saber e poder que passam despercebidos p aqueles que fazem a historia da pedagogia moderna. (p.34)Em segundo lugar, cabe denunciar essa violncia insidiosa cujo alvo e cujo resultado o individuo sujeitado, cabe tambm recusar esse modelo, que ainda prevalece nas escolas. preciso imaginar e criar novas polticas do corpo, que proporcionem autonomia, reconhecer o carter inacabado das instituies (o que d chance para a inovao, para a criatividade), e, principalmente, abrir caminhos para a critica, para a denuncia das praticas que sujeitam. (p.34)Enfim, as crticas de Foucault levam a reflexo e talvez tenham levado, inclusive, a importantes modificaes na escola e nos procedimentos atuais de ensino e aprendizado. No saberamos como funcionaria uma escola que dispensasse totalmente os procedimentos disciplinares.(p.34) Isso porque educar, diz ele, no somente uma maneira de aprender a ler e a escrever, e de comunicar saber, mas tambm uma maneira de impor. Os efeitos de poder podem ser alterados para que o resultado produtivos de todo um processo educacional se sobreponham aos efeitos de poder e saber embutidos nas tcnicas disciplinares. A educao no do tipo de ortopedia, ela transformadora. NA escola no burocratizada, no colonizada pelas demandas imediatas de obteno de grau, de cumprimento de protocolos, que prevalece a formao, a capacitao, o aprendizado produtivo. Vigilncia, punio e controle desceriam a um segundo plano, e , conforme o interesse pela educao crescesse, os procedimentos disciplinares se tornariam intolerveis. (p.35)