Fichamento Materialismo e Moral

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MATERIALISMO E MORAL (1933) In: Teoria Crítica I: Uma Documentação. 1ª Ed. São Paulo: Perspectiva, 1991, p. 59-88 1º PARÁGRAFO - Questão temporal da moralidade (decisão independente) > fenômeno tardio; - Coerção da moral diretamente proporcional ao tempo em que ela vem sendo aplicada; - Submissão das reações instintivas à crítica moral como consequência da diferenciação da sociedade; - Dúvida na fé > conflito moral; “Justamente nas atuações que, em sua essência, são social e historicamente relevantes, os homens se comportam em geral de modo totalmente típico, isto é, de forma que corresponde a um determinado esquema motivacional característico de seu grupo social.” (p. 60) - Exame das motivações individuais apenas em situações particulares, em geral, os indivíduos apenas seguem esquemas de classe; - Adoção de princípios morais pelas classes mais altas > dominação das massas no Estado (racionalização). 2º PARÁGRAFO - Formulação de axiomas pelos filósofos idealistas > satisfação da necessidade de verdades absolutas pelas classes mais altas; - Legitimação de axiomas pela razão > defesa de uma validade absoluta de determinados padrões de pensamento (caráter a-histórico); “Nos últimos séculos a vida exigiu, tanto da religião como da moral, uma capacidade de assimilação demasiada para que as normas conceitualmente estruturadas pudessem conservar apenas a aparência de eternidade.” (p. 61)

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Fichamento do texto de Max Horkheimer, Materialismo e Moral (1933)

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MATERIALISMO E MORAL (1933)In: Teoria Crtica I: Uma Documentao. 1 Ed. So Paulo: Perspectiva, 1991, p. 59-88

1 PARGRAFO- Questo temporal da moralidade (deciso independente) > fenmeno tardio;- Coero da moral diretamente proporcional ao tempo em que ela vem sendo aplicada;- Submisso das reaes instintivas crtica moral como consequncia da diferenciao da sociedade;- Dvida na f > conflito moral;Justamente nas atuaes que, em sua essncia, so social e historicamente relevantes, os homens se comportam em geral de modo totalmente tpico, isto , de forma que corresponde a um determinado esquema motivacional caracterstico de seu grupo social. (p. 60)- Exame das motivaes individuais apenas em situaes particulares, em geral, os indivduos apenas seguem esquemas de classe;- Adoo de princpios morais pelas classes mais altas > dominao das massas no Estado (racionalizao).

2 PARGRAFO- Formulao de axiomas pelos filsofos idealistas > satisfao da necessidade de verdades absolutas pelas classes mais altas;- Legitimao de axiomas pela razo > defesa de uma validade absoluta de determinados padres de pensamento (carter a-histrico);Nos ltimos sculos a vida exigiu, tanto da religio como da moral, uma capacidade de assimilao demasiada para que as normas conceitualmente estruturadas pudessem conservar apenas a aparncia de eternidade. (p. 61)- Defesa de uma validade absoluta at mesmo pelos ticos modernos;A filosofia moral idealista adquire f em sua incondicionalidade pelo prprio fato de no se referir a um momento histrico. No toma partido. Por mais que suas convices correspondam ou favoream a um grupo de homens que historicamente lutam entre si, ela no prescreve qualquer tomada de deciso. (p. 61)- Capacidade de avaliao moral como categoria eterna e caracterstica da natureza humana criticada;- Moral como virtude desde o Renascimento (originada na ordem burguesa) # tica dos gregos (caminho para a felicidade) e tica religiosa da Idade Mdia.

3 PARGRAFO- Ideia moral burguesa fundamentada no imperativo categrico de Kant (age somente de acordo com aquela norma que puderes querer ao mesmo tempo que se converte numa lei universal);- A ao moral, em Kant, se difere das demais por se fundamentar na renncia a todo interesse > ao independente dos fins individuais;- Ao # ao por interesse (interesse no objeto, necessidade).

4 PARGRAFO- Kant x Schiller e Schleiemacher > impossibilidade da ao sem interesse (interesse = motivo);- A ao moral kantiana no uma ao sem motivo, mas as razes verdadeiras do agir permanecem ocultas ao agente (crtica de Schopenhauer);- O imperativo categrico kantiano deixa o sujeito em uma certa inquietude e incerteza (p. 62) devido ao conflito entre o interesse pessoal e o geral;J que esta problemtica [interesse individual x interesse geral] que se passa no interior do homem emana necessariamente do seu papel no processo social de vida, a filosofia kantiana, tal qual seu espelho, a expresso perfeita do seu tempo. (p. 62/63)

5 PARGRAFOO todo social vive pelo desencadeamento dos instintos de propriedade de todos os indivduos. Enquanto eles se preocupam com ganho, manuteno e aumento dos prprios bens, ele se mantm. Cada um procura cuidar de si mesmo, da melhor maneira possvel. J que, dessa forma, ele produz necessariamente o que os outros precisam, impem-se s necessidades da comunidade, por meio das atividades aparentemente autnomas e teis ao prprio bem-estar. O aparelho psquico de cada um cunhado pelo fato de que, nesta ordem, a produo de toda a existncia social coincide com a busca de propriedade pelos indivduos. (p. 63)- Todas as questes relativas ao sujeito esto amalgamadas busca pela propriedade;Mesmo nas emoes mais sutis e aparentemente mais remotas da pessoa ainda se percebe a funo que ela exerce na sociedade. (p. 63)- No h uma correlao racional entre os interesses do indivduo e a existncia da sociedade. A integrao no consciente dos sujeitos na produo expressa no sofrimento que decorre de tal irracionalidade;A vida das pessoas resulta cega, acidental e pssima pela atividade catica dos indivduos, das indstrias e dos Estados. Esta irracionalidade se exprime no sofrimento da maioria dos homens. O indivduo totalmente absorvido pela preocupao consigo mesmo e com o que seu no s impulsiona a vida do todo sem conscincia clara, mas causa, com o seu trabalho, tanto a felicidade como a misria dos outros; nunca se poder esclarecer totalmente at que ponto e para quais indivduos seu trabalho significa uma coisa ou outra. (p. 63)- Integrao irracional dos membros da produo na poca burguesa > conflito ntimo dos sujeitos.

6 PARGRAFO- Moral como determinao racional das questes prticas;- Autoconscincia do indivduo como ser autnomo ps Idade Mdia ainda abstrata, j que h apenas uma viso do todo no de sua participao nesse espao;(...) o modo como cada indivduo, atravs do seu trabalho, influencia o andamento da sociedade toda e, por sua vez, por ela influenciado permanece totalmente no escuro. Todos so partcipes da boa ou m evoluo da sociedade, e, mesmo assim, ela aparece como um fenmeno natural. (p. 64)- Conscincia errnea da existncia do indivduo na sociedade compreendida apenas como conjunto de resolues supostamente livres com categorias psicolgicas (p. 64);- Todo social como gerao de culpa pela influncia dos princpios morais nos indivduos mais progressistas;- Crtica psicologia freudiana: inadequao da teoria da conscincia apresentada em O id e o ego, j que a causa existencial do senso moral no se encontra somente na alma do indivduo.

7 PARGRAFO- A moralidade no materialismo abordada de modo a demonstrar as condies reais que do origem ao problema moral (p. 64);- Em Kant, a moral no racional no modo de ao sobre a lei natural da vantagem econmica;O domnio do processo total da sociedade pelo homem s pode ser realizado se esta vencer sua forma anrquica e constituir-se como sujeito real, ou seja, por meio da ao histrica. (p. 64)- A constituio do sujeito real se d por meio da ao histrica, que emana dos grupos sociais e no dos indivduos;- Ao social = ao histrica;- Autonomia > percepo do sujeito enquanto membro da sociedade humana;Quem, na situao econmica da burguesia, no for capaz de experimentar o conflito todo ficar para trs na evoluo, faltar-lhe- uma forma de reao que faz parte do homem desta poca. (p. 65)- Experienciao do conflito > apropriao de si.

8 PARGRAFO- A moral no mera ideologia no materialismo, embora apresente distores em sua expresso filosfica e no possa ser dominada durante a era burguesa;- Moral como reflexo da condio social;- nfase na impossibilidade de aplicao do imperativo kantiano impotncia da boa vontade (p. 65).

9 PARGRAFO- Utilizao da perspectiva de suicdio de Hume como crtica ao formalismo tico de Kant.

10 PARGRAFO- Apresentao e refutao dos exemplos de aplicao do imperativo categrico justificada por um desprezo realidade (p. 66) por parte de Kant.

11 PARGRAFO(...) o fato de cada um agir de acordo com sua conscincia no elimina nem o caos nem a misria que da provm. (...) Existe, por acaso, uma nica infmia que j no tenha sido cometido uma vez com a conscincia limpa? (p.67)- Felicidade humana > compatibilidade das aes individuais com a lei natural da comunidade. devaneio idealista a opinio de que a boa inteno por mais importante que possa parecer esse impulso seria a nica coisa boa, a avaliao da ao apenas pelo que ela intenta e no tambm pelo que ela significa realmente no respectivo momento histrico (p. 67)- Aspecto ideolgico do conceito de moral kantiano;- Importncia do objeto e da situao que motivam a ao humana, j que, dialeticamente, o interno e o externo dialogam. Na moral burguesa, a nfase se d somente ao objeto.No pura e simplesmente a conscincia do dever, o entusiasmo e o sacrifcio, mas a finalidade da conscincia do dever, do entusiasmo e do sacrifcio que, frente misria reinante, decide sobre o destino da humanidade (p. 67)- Contraposio entre a construo de uma teoria correspondente ao momento histrico e a conscincia individual na informao do sujeito.

12 PARGRAFO- Trao idealista de Kant como uma f primitiva na onipotncia do pensamento (p. 67);- Embora haja presena do encantamento na teoria kantiana, a realidade tambm se apresenta, j que a aplicao do imperativo categrico s seria possvel em uma sociedade distinta da era burguesa (a moral kantiana prev a destruio da moral burguesa);- O que impede as mudanas para as quais se faa possvel a aplicao do imperativo categrico no a teoria de Kant, mas o movimento histrico que ocorreu at ento.

13 PARGRAFO- A teoria kantiana antecipa o fim da moral devido manuteno de uma ordem que vai de encontro ao seu prprio conceito de razo;- Moral em Kant: interesse # dever. impossvel a unio dos dois (embora a sociedade burguesa objetive essa unio);Isto [unio entre interesse e dever] impossvel na forma social atual; pois nela a humanidade no tem voz nem conscincia, a no ser como teoria que, em contradio com a opinio pblica, critica os poderes particulares e os interesses particulares e poderes que cada vez se erguem falsamente como comunidade. (p. 68)- Desaparecimento da moral burguesa (interesses particulares # gerais) por ato histrico;- Felicidade humana > compatibilidade entre os interesses particulares e gerais, (Helvetius). Para isso, a poltica e a legislao devem estar unidas moral;- Em Kant, tambm possvel unir felicidade e dever, mas Estado ou grupos de poder no devem assumir o papel da comunidade. Kant sempre enfatizou a diferena fundamental entre interesse e dever, no com relao prpria ordem perfeita, mas com referncia aos homens que anseiam por ela. Nesta sociedade almejada, os objetivos de cada indivduo podem coexistir com os de todos os outros; na verdade, nela os objetivos particulares se distinguiriam pelo contedo, mas no haveria qualquer necessidade de impedimento recproco. A ao moral coincidiria com a lei natural; em todo caso, no levaria a um conflito com ela. (p. 69)- A utopia moral (Schopenhauer) de Kant, na verdade, a meta da poltica.

14 PARGRAFO- Representao no-dialtica da filosofia kantiana acusa seus elementos utpicos > concordncia dos interesses de todos os indivduos;- Kant previa o estabelecimento de uma lei pura sem contradies entre os homens.

15 PARGRAFO- Materialismo como uma anulao do carter utpico da ideia kantiana; que os diversos interesses dos indivduos no so fatos derradeiros, tm sua base no numa constituio psicolgica independente, mas nas condies materiais e na real situao global do grupo social a que pertence o indivduo. A diversidade simplesmente inigualvel dos interesses tem sua origem na diversidade das condies de propriedade; os homens se confrontam hoje como funes de diversas potncias econmicas, cada uma das quais evidencia tendncias evolutivas opostas s das outras. (p. 70)- Administrao racional da propriedade produtiva para os interesses gerais possibilitar a harmonia entre os interesses individuais. Nesse caso, os indivduos tornam-se elos da comunidade.

16 PARGRAFO- Crtica distoro sociolgica do organicismo de Kant;Kant usa a imagem do organismo para demonstrar o funcionamento perfeito da sociedade futura; neste caso, no negado de modo nenhum o papel do pensamento racional. Hoje, ao contrrio, a imagem do organismo caracteriza um sistema de dependncia e de desigualdade econmica que j no tem meios de se justificar perante o desenvolvido entendimento crtico dos homens e, por isso, precisa frases metafsicas para reconcili-la com ele. (p. 71)

17 PARGRAFOO emprego funcional da imensa riqueza em foras humanas e prticas na produo assume o lugar do mecanismo cego das lutas econmicas que atualmente condicionam a felicidade e, para a maior parte da humanidade, a infelicidade. (p. 72)- Indivduo como legislador em Kant > encontro de considerao social da mesma forma que os outros;- A moral torna-se desnecessria quando a sociedade passa a ser regida pelos interesses dos indivduos;- Racionalidade em Hegel como unidade entre liberdade objetiva e subjetiva = unidade entre vontade geral e indivduos que perseguem seus objetivos;- Similaridade entre os pensamentos kantiano e hegeliano em relao ao ideal pleiteado pelo mundo burgus.

18 PARGRAFO- Ratificao da finitude da moral;Numa poca em que o domnio dos instintos de propriedade a lei natural dos homens e cada um, conforme a definio de Kant, v no outro principalmente um meio para os seus prprios fins, a moral significa em geral a preocupao com a evoluo e a felicidade da vida. (p. 72)- Tambm em Nietzche encontra-se uma ideia universal da humanidade crtica moral nitzscheana por preceitos similares aos de Kant.

19 PARGRAFO- Moral em Bergson como progresso da humanidade > natural (assimilao da sociedade a suas condies de vida/reaes convertidas em hbito) + verdade humana/impulso de amor (conservao e segurana da humanidade);- Sentimento publicamente respeitado x moral orientada para a frente;- Crtica recada de Bergson na teoria dos heris (sujeitos que surgem individual e raramente) > desvalorizao dos sujeitos comuns/pequenas lutas morais.

20 PARGRAFOO materialismo v na moral uma manifestao de vida de determinados homens e tenta compreend-la a partir das condies de sua gnese e ocaso, no por causa da verdade em si, mas em conexo com determinados impulsos histricos. (p. 74)- Materialismo = lado terico dos esforos para tentar erradicar a misria existente (p. 74)As consequncias de todas as aes humanas acontecem exclusivamente no mundo espcio-temporal. (p. 75)- Crtica mistificao da teoria > carter de preceito similar ao do imperativo categrico.- Princpios religiosos no devem ser refutados, desde que apresentem conexo histrica.No existe um campo de valores eterno. Necessidades e desejos, interesses e paixes dos homens mudam de acordo com o processo social. A psicologia e outras cincias auxiliares da histria devem unir-se para explicar os valores sempre reconhecidos e suas mudanas. (p. 75)

21 PARGRAFONo existem preceitos morais obrigatrios. O materialismo no encontra uma instncia que transcende o homem e que distingue entre solicitude e cobia, bondade e crueldade, avidez e dedicao. Tambm a lgica permanece muda, ela no concede qualquer primazia convico moral. Todas as tentativas de fundamentar a moral a inteligncia terrena, em vez de base-la na esperana de um alm, apoiam-se em iluses harmonsticas. (p. 75/76)- Moral como um estado psquico;Ela [a moral] no passvel de motivao, nem atravs da intuio nem de argumentos. Representa, antes, um estado psquico. Descrever este, torna-lo compreensvel em suas condies pessoais e mecanismos de propagao de uma gerao outra tarefa da psicologia. (p. 76)- Amor enquanto categoria da propriedade; - nfase nas relaes afetivas apenas como um pertencimento patrimonial no caso do matrimnio -, (Kant) ou satisfao pulsional (Freud).

22 PARGRAFO (ou o pargrafo mais cute-cute do texto imprevisibilidade gerada pela extrema racionalizao.Percebemos os homens no como sujeitos de seu destino, mas como objetos de um acidente cego da natureza, e a resposta do sentimento moral a isto a compaixo. (p. 78)

24 PARGRAFO- Kant no concebia a compaixo com base no sentimento moral, provavelmente, devido situao histrica;Enquanto o indivduo e o todo no se fundirem realmente, enquanto a morte fcil do indivduo liberto da angstia no lhe parecer algo extrnseco, porque ele sabe, com certeza, que seus objetivos essenciais esto resguardados com a comunidade, enquanto, portanto, a moral ainda tiver uma razo para existir, mora nela a compaixo. (p. 78) - Adoo da moral nas relaes humanas devido condio econmica da era burguesa;- Compaixo como resposta moral;- Incompatibilidade entre o sujeito e o todo social;- Relao dos homens com a natureza, na racionalidade, enquanto uma afinidade de sua felicidade e misria.

25 PARGRAFO- Expresso do sentimento moral pela poltica;- Crtica materialista da economia poltica > realizao da unificao entre o interesse particular e o geral realizvel apenas por meio da supresso de suas condies;- Necessidade dos valores iluministas;- Modificao histrica dos impulsos humanos; O contedo das ideias no eterno, sujeito a mudanas histricas, no, decerto, porque o esprito por si s feriu arbitrariamente o princpio de identidade, mas porque os impulsos humanos que desejam o melhor assumem uma outra forma, segundo o material histrico com que se ocupam. (p. 79)- Valores > impulsos > sentimentos (relao com a conscincia de injustia);

26 PARGRAFO- Crtica ao liberalismo > liberdade econmica como escravido individual;- Mutabilidade do conceito de liberdade (referncia ao contexto histrico) e defesa da conceituao materialista.

27 PARGRAFO- Caracterstica da poca > luta pela realizao da justia.A justia, ligada liberdade e igualdade, foi reconhecida como princpio universal, realizvel neste mundo, em primeiro lugar pela moral burguesa; naturalmente hoje os recursos da humanidade se tornara suficientemente grandes para que sua realizao adequada se apresente como uma misso histrica imediata. (p. 79)

28 PARGRAFO- Produo cultural como consequncia da diviso de classes > desproporo entre as foras e as necessidades dos homens (desigualdade);- Justificativa de uma distino cultural.Abstraindo os bens materiais que resultam do processo de produo conforme a diviso de trabalho, os produtos da arte e da cincia, os modos mais refinados de cultura entre os homens, seu senso de uma existncia espiritual, indicam sua origem de uma sociedade onde os encargos e os prazeres so repartidos de modo desigual. (p. 80)

29 PARGRAFO- Desigualdade social = desigualdade na natureza, levando-se em conta o momento histrico;Certamente, o grau de eficcia com que estas diferenas naturais atuam na sociedade depende tambm da evoluo histrica, elas tm consequncias diferentes nos diversos estgios da respectiva estrutura social: o aparecimento da mesma doena pode significar algo totalmente diverso para membros de crculos sociais divergentes. Considerao, arte pedaggica e uma srie de satisfaes proporcionam criana rica porem mal dotada de oportunidade de desenvolver as tendncias ainda existentes, enquanto o filho atrasado de gente pobre arruna-se espiritual e fisicamente na luta pela sobrevivncia; a vida aumenta suas taras e extingue os dons favorveis. (p. 80/81)

30 PARGRAFO- Desigualdade como caracterstica fundamental da sociedade > clamor contra a desigualdade tanto pelos dominados quanto por uma parcela desertora dos dominantes;- Diversidade na interpretao do conceito de igualdade, porm congruncia com a ideia de que um embate com a desigualdade social. Todas [teorias de igualdade] almejam que a felicidade, tanto quanto for possvel para cada homem em relao aos outros, com base em seu destino na sociedade, no dependa de fatores acidentais, arbitrrios, extrnsecos a ele; em outras palavras, que a desigualdade nas condies de vida do indivduo seja pelo menos to grande quanto inevitvel no nvel dado, se se pretende manter o abastecimento global de bens. (p. 81)

31 PARGRAFO- Retomada das teses humansticas pelo Iluminismo > percepo da desigualdade como "mal a abolir" (p. 81);- Ideia de necessidade da igualdade como consequncia da Revoluo Francesa > igualdade como princpio constitucional;A ideia de igualdade pressupe necessariamente a de liberdade. Se algum indivduo originariamente menos digno do que outro de se desenvolver e se satisfazer na realidade, o emprego da coao de um grupo humano sobre outro considerado um mal. O conceito de justia no pode ser separado tanto do de liberdade quanto do de igualdade. (p. 81/82)

32 PARGRAFO- Declarao de igualdade > progresso e perigo;- Problemtica da Revoluo Francesa: igualdade como algo j dado ou a alcanar?- Igualdade como progresso na justia poca, mas transformada em insuficiente devido desigualdade.

33 PARGRAFO- Ideais burgueses progressistas x mentalidade burguesa retrgrada;- Possibilidade de salvao da cultura por meio da abolio da desigualdade > importncia do momento histrico da revoluo;- Expresso da justia apenas no formalismo das instituies e na educao das classes dominantes;- Poder interno para a mudana asfixiado.O sentimento moral de governos, povos e muitos lderes do mundo civilizado to dbil que, embora se manifeste por ocasio de terremotos e catstrofes, na forma de arrecadao de fundos, no entanto diante de injustias gritantes que se cometem por puro interesse de propriedade, por conseguinte no esprito da lei natural e com desprezo de todos os valores burgueses, ele emudece e esquece facilmente. (p. 83)

34 PARGRAFO- Noo materialista de onde se encontram os elementos avanados da moral > anseio por condies racionais adequadas ao estado de desenvolvimento;A teoria materialista no concede ao ativista poltico nem mesmo o consolo de que, necessariamente, alcanar a meta; ela no uma metafsica da histria, mas a imagem cambiante do mundo, tal como evolui a partir do esforo prtico pela sua melhora. (p. 84)- Bondade moral expressa na literatura burguesa (Zola, Maupassant, Ibsen e Tolsti);Enquanto a suposta conscincia de igualdade na sociedade atual carrega a mcula de desenhar da real desigualdade na existncia do homem e, por isso, inclui a falsidade, as foras que insistem na transformao colocam em primeiro plano a desigualdade real. Do conceito vlido de igualdade faz parte o conhecimento de sua negatividade: os homens de hoje so diferentes no s pelas condies econmicas, mas tambm pelas qualidades espirituais e morais. (p. 84)- Possibilidades interiores dos indivduos a serem utilizadas pela poltica para a transformao social > construo de uma sociedade livre.

35 PARGRAFO- Foras objetivas vinculadas poltica e compaixo reconhecidas pelo materialismo.O fato de algo no mundo ganhar poder no razo para vener-lo. (p. 85)- Crtica valorizao da grandeza;- Rara unio da compaixo com a poltica.Considerao pelo homem que est perto e pelo que est longe, auxlio ao indivduo e humanidade, quase sempre se contradizem. Mesmo os melhores endurecem seu corao em algum ponto. (p. 85)

36 PARGRAFO- Tanto o materialismo quanto as correntes idealistas desacreditam da possibilidade de provar a moral;- Diferena na valorao das coisas como subjetiva > o objeto tem valor neutro;- Julgamento de valor considerado ilcito pelas teorias idealistas > aproximao com a pretensa neutralidade do positivismo.

37 PARGRAFOAo querer proteger a cincia e o senso de verdade contra a barbrie que irrompe atualmente, aqueles eruditos prestam civilizao um servio semelhante quele que prestam os pases onde ainda hoje se respeitam, mediante a educao, os legtimos postulados da moral burguesa em prol da conscincia pblica. (p. 86)

38 PARGRAFO- Defesa da posio social implicada do materialismo> condicionamento histrico;(...) ao contrrio da filosofia idealista, o materialismo no reduz de modo nenhum os interesses e a fixao de metas atuantes do lado do sujeito independente ao criadora deste sujeito, a seu livre-arbtrio; ao contrrio, eles mesmos so considerados resultados de uma evoluo da qual participam elementos subjetivos e objetivos. (p. 87)

39 PARGRAFO- Distanciamento entre o materialismo e o positivismo no modo terico, embora, muitas vezes, os dois mtodos cheguem mesma concluso.

40 PARGRAFO- Relao teoria e prtica.A estrutura global correspondente ao conhecimento da qual cada descrio ganha seu sentimento e qual, por outro lado, ela deve servir, a prpria teoria pertence aos esforos dos homens que os fazem. Estes podem resultar ou de caprichos particulares, ou dos interesses de poderes retrgrados ou ainda das necessidades da humanidade em evoluo. (p. 88)