FICHAMENTO 1
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
ESPECIALIZAÇÃO EM ESTRATÉGIA E GESTÃO EMPRESARIAL
DISCIPLINA: GESTÃO ESTRATÉGICA
PROFESSOR: PAULO CÉSAR DE SOUZA BATISTA
ALUNO: MOACIR MARCOS DE SOUZA FILHO
DATA: 16/03/2015
FICHAMENTO DE LEITURA:
BATISTA, P. C.; BERNARDINO, R. Capacidades organizacionais e o desempenho das
empresas da cadeia têxtil brasileira.
1. INTRODUÇÃO
Por variados motivos, o setor têxtil brasileiro tem perdido competitividade no
mercado internacional. Ainda que a maior parte das causas apontadas até então estejam
relacionadas a fatores externos, cresce o entendimento que aponta para questões internas às
empresas como causadoras do problema. A investigação de tais questões é o objetivo do
artigo, utilizando uma survey aplicada a 211 empresas distribuídas por 7 estados do país.
2. CAPACIDADES INTERNAS E O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL
Enquanto a Teoria da Estratégia Competitiva de Porter (OI) foca sua análise em
fatores ambientais e em como eles influenciam os resultados da empresa, a Teoria da Visão
Baseada em Recursos (VBR) adota um modelo no qual fatores internos da empresa
influenciam o seu desempenho):
As duas premissas fundamentais dessa teoria [Visão Baseada em Recursos] são: i) as
empresas podem ser heterogêneas em relação aos recursos e capacidades nas quais
elas baseiam suas estratégias e ii) esses recursos e capacidades podem não ter
mobilidade entre as empresas, resultando uma heterogeneidade entre os participantes
de uma indústria (p. 2).
Nesse sentido, é possível afirmar que as duas teorias são complementares, uma
vez que Porter se ocupa da relação da empresa com o meio ambiente e a VBR aborda a
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influencia dos recursos e capacidades da organização. Diversos estudos empíricos
comprovaram essa relação, dentre os quais se destacam: Spanos e Lioukas (2001); Nath,
Nachiappari e Ramanathan (2010); Ortega (2009); Rivard, Raymond e Verreault (2006); e
Caloughirou, Protogerou, Spanos e Papagiannakis (2004).
O modelo proposto nesse artigo baseia-se nesses estudos, destacando os seguintes
constructos: (i) CAPACIDADES DE MARKETING, contendo as variáveis Conhecimento a
respeito dos clientes, Conhecimento a respeito dos concorrentes, Integração das atividades
de marketing, Habilidade para segmentar o mercado, Eficácia da precificação e Eficácia da
publicidade; (ii) CAPACIDADES DE GESTÃO, contendo Sistemas logísticos integrados,
Capacidade de controlar custos, Habilidades de gestão financeira, Capacidade de gestão dos
recursos humanos, Precisão das previsões dos lucros e receitas e Eficácia do processo de
planejamento de marketing; e (iii) CAPACIDADES TECNOLÓGICAS, contendo
Capacidade de desenvolver novos produtos, Processos de fabricação, Capacidades de
desenvolver tecnologias, Habilidade de prever mudanças tecnológicas na indústria,
Instalações de produção e Habilidades de controle de qualidade.
3. CARACTERIZANDO O SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÕES
O setor têxtil e de confecções apresenta significativa importância no mercado
mundial, tanto pelo elevado consumo de seus produtos quanto pela grande participação no
PIB de diversos países.
A indústria têxtil funciona em cadeia de segmentos independentes, mas onde o
produto de uma etapa é matéria-prima da próxima. Desse modo, é natural que a crescente
globalização e o movimento de derrubada de tarifas alfandegárias, acirrasse a disputa por
preços dos produtos da cadeia, levando a uma tendência de deslocamento da produção para
países onde os custos de mão de obra se mostrassem menores.
Nesse cenário, a China apresenta-se como um importante ator no mercado, em
decorrência da “mão de obra (...) abundante e de baixo custo, além da disponibilidade de
matéria-prima, facilitada pela produção própria de máquinas têxteis de última geração” (p. 5).
Enquanto isso, o Brasil perde competitividade internacional. No período
compreendido entre 1994 a 2006, as exportações brasileiras apresentaram taxa de crescimento
na ordem de 1,68% ao ano, ao passo que as exportações globais apresentaram taxa média
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anual de 5,70%. Rangel, Sílvio e Costa (2010) acreditam que tais resultados provavelmente
não se devem a questões externas como, por exemplo, variações na taxa de câmbio, mas a
fatores como “a organização fabril, a atualização tecnológica e os tipos de estratégias
comerciais adotados” (p. 5).
4. METODOLOGIA
O artigo apresenta um trabalho “de natureza quantitativa do tipo causal-
explicativo e procura identificar como as capacidades internas das organizações afetam o
desempenho de organizações pertencentes à cadeia têxtil brasileira” (p. 6).
A pesquisa adotou um universo de 30 mil empresas, com amostra não
probabilística de 211 empresas de 7 diferentes estados, representando diversas fases da cadeia
têxtil. Foi utilizada uma survey contendo 43 questões com variáveis qualitativas e
quantitativas divididas em três blocos: 18 questões de caracterização da empresa/respondente;
18 questões sobre as capacidades internas da empresa (Marketing, Gestão e Tecnologia)
utilizando escala Likert de sete pontos; e 7 questões relativas ao desempenho da empresa,
também utilizando escala Likert de sete pontos.
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise dos dados revelou correlação entre as variáveis estudadas.
Os resultados encontrados estão de acordo com as escalas para medir as capacidades
internas das empresas, propostas por Parnell (2011); Ortega (2009) e Barney e
Hesterly (2007). As variáveis agrupadas têm um alto grau de confiabilidade, uma
vez que todos os fatores apresentam um Alpha de Cronbach acima de 0,8. Conforme
procedimento recomendado por Hair (1999) para amostras superiores a 201
observações é excluído do modelo a variável “Sistemas logísticos integrados”, pois
apresenta uma comunalidade abaixo de 0,4. (p. 8-9).
Assim, as capacidades foram agrupadas em: (i) Capacidade de Gestão; (ii)
Capacidade de Marketing; e (iii) Capacidade Tecnológica. Foi utilizada Análise de Clusters
para relacionar as capacidades das empresas, resultando no agrupamento das empresas em três
grupos, conforme segue:
- Grupo 1 – É formado por 29 empresas (13,7% da amostra). Essas empresas não
valorizam nenhuma das capacidades apresentadas na pesquisa, ficando com os
menores índices entre os grupos. Esse agrupamento concentra a maior porcentagem
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de empresas com menos de 10 anos de operação (62,2%), com faturamento abaixo
de 16 milhões de reais (93,2%) e com numero de empregados inferior a 100
(79,4%), do que se pode inferir ser este cluster formado, na grande maioria, por
pequenas empresas, envolvidas, principalmente, em atividades de confecções
(79,3%). O agrupamento tem as menores porcentagens de empresas participando de
acordos de produção, marketing e de pesquisa e desenvolvimento com outras
empresas, tanto locais como internacionais, bem como apresenta a menor
porcentagem de acordos de pesquisa com universidades e/ou centros de pesquisa.
Com relação à existência de mais de um Centro de Produção, o cluster apresenta a
menor porcentagem entre os grupos (17,2%).
- Grupo 2 – É formado por 31 empresas (14,7% da amostra). As empresas
pertencentes ao grupo valorizam com mais ênfase a Capacidade de Marketing e a
Tecnológica, relativamente à Capacidade de Gestão. O grupo é voltado ao
consumidor final e às suas necessidades estando sua operação mais concentrada nas
vendas no varejo (58,1%) comparativamente aos outros grupos. Apresentam os
maiores percentuais de empresas que desempenham atividades de cardação e fiação,
tinturaria, ultimação e estampagem. Destaca-se, também, pela maior concentração
de empresas de médio porte - 38,8% de empresas com mais de 100 funcionários.
Apresenta, ainda, o maior percentual de empresas com faturamento acima de 16
milhões de reais (25,90%) e maior numero de organizações com mais de um Centro
de Produção (41,90%). O grupo demonstra grande preocupação na realização de
acordos de pesquisa e desenvolvimento tanto locais (19,4%) quanto internacionais
(6,5%). Outro ponto de destaque no grupo é a existência de acordos de cooperação-
19,40% das empresas declararam possuir acordos com universidade e/ou centros de
pesquisa. Outra modalidade de acordos valorizada nesse grupo é a de Marketing,
tanto local (19,4%) quanto internacionais (65%).
- Grupo 3 - Esse grupo é formado por 151 empresas (71,6% da amostra). Estas
empresas valorizam de forma equilibrada os três tipos de capacidades internas
investigadas. O cluster apresenta a maior porcentagem de empresas de médio porte
(22,50%)-empresas 100 a 499 empregados. O faturamento está concentrado no
valor de até 16 milhões de reais (64,6%) das empresas do grupo, quanto ao período
de operação das empresas o conglomerado apresentou a maior concentração de
empresas operando a mais de 20 anos (54,8%). A participação em Arranjos
Produtivos Locais, também, é maior nesse grupo com 24,5%. Este grupo concentra
todas as empresas da amostra que declaram ter capital de controle estrangeiro (5
empresas). O grupo demonstra grande preocupação no desenvolvimento de acordos
de produção tanto locais (31,8%) quanto internacionais (3,3%). Outro ponto de
destaque no grupo é a existência de acordos comerciais locais (17,9%) -
apresentando o maior percentual dentre os grupos. Finalmente, o grupo apresenta a
maior porcentagem de empresas (72,4%) que declaram ter propensão a entrar em
redes de cooperação num futuro próximo. (p. 10-11).
Observou-se que as empresas que declararam melhor desempenho pertencem ao
Grupo 3, isto é, as que buscam valorizar os três tipos de capacidades internas de modo
equilibrado. Por outro lado, as empresas do Grupo 1, que se mostraram como as que menos
valorizam as capacidades internas, apresentaram os piores resultados, à exceção da variável
Crescimento no Volume de Venda, onde ficaram 2,20% à frente do Grupo 2, formado por
empresas que dão ênfase às capacidades de Marketing e de Tecnologia.
6. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES DA PESQUISA
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A partir dos resultados da pesquisa, a Análise Fatorial mostrou que as variáveis se
agrupavam em três fatores principais: capacidade de marketing, capacidade de gestão e
capacidade tecnológicas. Isso vai de encontro às escalas propostas por Parnell (2011), Ortega
(2009) e Barney e Hesterly (2007).
Já a Análise de Clusters revelou que as empresas pesquisadas dividiam-se em três
grupos distintos conforme a relevância que elas atribuíam aos três fatores: na maior parte
formado por empresas de pequeno e médio porte, o Grupo 1 caracteriza-se por menor
utilização das estratégias que valorizam os três constructos; com maior quantidade de médias
empresas, o Grupo 2 mostrou-se valorizando “a Capacidade de Marketing e a Tecnológica,
relativamente à Capacidade de Gestão (...) [sendo] voltado ao consumidor final e às suas
necessidades (p. 14); e o Grupo 3, com empresas mais experientes, revelando-se como o que
mais valoriza os três constructos de capacidades.
O desempenho dos grupos apresentou-se na mesma medida da valorização dos
fatores de capacidades, isto é, quanto mais as empresas demonstraram valorizar os fatores,
maior o desempenho apresentado. Desse modo, as empresas do Grupo 1 apresentaram menor
desempenho, enquanto as empresas do Grupo 2 tiveram desempenho mediano e as empresas
do Grupo 3 o maior desempenho na pesquisa. Tais resultados sugerem que a valorização das
da Capacidade de Gestão, da Capacidade de Marketing e da Capacidade Tecnológica é de
vital importância para o bom desempenho de uma organização.