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2 Determinismo e Liberdade na Ação Humana 1 FICHA INFORMATIVA E DE TRABALHO SOBRE O PROBLEMA DO LIVRE- ARBÍTRIO Formulação do Problema do Livre-arbítrio: Como compatibilizar a crença de que todos os acontecimentos, incluindo as ações, são causalmente determinados, segundo as leis da natureza, com a crença de que o Homem é livre e responsável pelas ações? Respostas ao Problema do Livre-arbítrio? As teorias que respondem ao problema do livre-arbítrio dividem-se em dois grupos: 1) Teorias incompatibilistas e 2) teorias compatibilistas. As teorias incompatibilistas defendem que o livre-arbítrio não é compatível com o determinismo. As teorias compatibilistas defendem que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo. Há dois tipos de teorias incompatibilistas: O determinismo radical e o libertismo. Determinismo Radical – Defende que não temos livre-arbítrio e que o universo é determinista. Libertismo – Defende que temos livre-arbítrio e que só o universo físico é determinista: a vontade e a consciência não são determinadas pelas cadeias causais do universo físico. Teorias Há livre-arbítrio? Tudo está determinado? Incompatibilismo Determinismo Radical Não Sim Libertismo Sim Não Compatibilismo (determinismo moderado) Sim Sim O determinismo radical O determinismo radical defende que todas as nossas escolhas e acções são determinadas por causas anteriores e, visto isso, não podemos ser moralmente responsabilizados pelas nossas ações. (...) Podemos expor a teoria do determinismo radical desta forma: Se não há escolhas e ações livres então não podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer. Não há escolhas e ações livres (só o determinismo é verdadeiro) Logo, não podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer. Vemos que o determinista radical adopta uma posição incompatibilista. O determinismo é incompatível com a liberdade. As nossas escolhas e ações não merecem punição ou elogio porque não podemos escolher agir a não ser do modo como o fizemos. Escolhas, desejos, ações, são acontecimentos que resultam necessariamente de causas anteriores. Tudo é o resultado inevitável de um encadeamento causal de acontecimentos. “Exemplo: Caro aluno, diz um diretor de uma escola, não posso ser responsabilizado por te punir. O que faço não é determinado pela minha vontade, mas é feito por causa da série de acontecimentos que antecedeu a punição que agora te aplico, série na qual o teu arremesso de pedras e o partir dos vidros tiveram lugar. Tal como a tua fobia te impele a partir vidros (defesa do aluno), todo o partir de vidros por alunos me impele deterministicamente a puni-los.” in a Arte de Pensar, 11º Ano O libertismo O libertismo rejeita o determinismo e considera que há ações livres. Se agimos de uma certa forma podíamos ter agido de outra. (...) Os defensores do libertismo e do determinismo radical concordam em que o determinismo é incompatível com a liberdade e a responsabilidade moral dado que as nossas ações são produto de deliberações racionais e responsáveis que têm o poder de alterar o curso dos

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2 Determinismo e Liberdade na Ação Humana

1

FICHA INFORMATIVA E DE TRABALHO SOBRE O PROBLEMA DO LIVRE-

ARBÍTRIO

Formulação do Problema do Livre-arbítrio:

Como compatibilizar a crença de que todos os acontecimentos, incluindo as ações, são causalmente

determinados, segundo as leis da natureza, com a crença de que o Homem é livre e responsável pelas

ações?

Respostas ao Problema do Livre-arbítrio?

As teorias que respondem ao problema do livre-arbítrio dividem-se em dois grupos: 1) Teorias

incompatibilistas e 2) teorias compatibilistas. As teorias incompatibilistas defendem que o livre-arbítrio

não é compatível com o determinismo. As teorias compatibilistas defendem que o livre-arbítrio é

compatível com o determinismo. Há dois tipos de teorias incompatibilistas: O determinismo radical e o

libertismo. Determinismo Radical – Defende que não temos livre-arbítrio e que o universo é determinista.

Libertismo – Defende que temos livre-arbítrio e que só o universo físico é determinista: a vontade e a

consciência não são determinadas pelas cadeias causais do universo físico. Teorias Há livre-arbítrio? Tudo está determinado?

Incompatibilismo Determinismo Radical Não Sim

Libertismo

Sim Não

Compatibilismo (determinismo moderado)

Sim Sim

O determinismo radical

O determinismo radical defende que todas as nossas escolhas e acções são determinadas por causas

anteriores e, visto isso, não podemos ser moralmente responsabilizados pelas nossas ações. (...)

Podemos expor a teoria do determinismo radical desta forma: Se não há escolhas e ações livres então

não podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer. Não há escolhas e ações livres (só o

determinismo é verdadeiro) Logo, não podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer.

Vemos que o determinista radical adopta uma posição incompatibilista. O determinismo é incompatível

com a liberdade. As nossas escolhas e ações não merecem punição ou elogio porque não podemos

escolher agir a não ser do modo como o fizemos. Escolhas, desejos, ações, são acontecimentos que

resultam necessariamente de causas anteriores. Tudo é o resultado inevitável de um encadeamento

causal de acontecimentos.

“Exemplo: Caro aluno, diz um diretor de uma escola, não posso ser responsabilizado por te punir. O que

faço não é determinado pela minha vontade, mas é feito por causa da série de acontecimentos que

antecedeu a punição que agora te aplico, série na qual o teu arremesso de pedras e o partir dos vidros

tiveram lugar. Tal como a tua fobia te impele a partir vidros (defesa do aluno), todo o partir de vidros por

alunos me impele deterministicamente a puni-los.”

in a Arte de Pensar, 11º Ano

O libertismo

O libertismo rejeita o determinismo e considera que há ações livres. Se agimos de uma certa forma

podíamos ter agido de outra. (...) Os defensores do libertismo e do determinismo radical concordam em

que o determinismo é incompatível com a liberdade e a responsabilidade moral dado que as nossas ações

são produto de deliberações racionais e responsáveis que têm o poder de alterar o curso dos

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acontecimentos no mundo. O agente pode dar início a cadeias causais novas, o que é suficiente para que

seja responsabilizável pelas suas ações. Os libertistas são também incompatibilistas. Mas se os

deterministas radicais consideravam que a crença no determinismo é verdadeira e a crença no livre

arbítrio falsa, os libertistas consideram que a crença no determinismo é falsa e a crença no livre-arbítrio

verdadeira.

Para os primeiros, o determinismo é incompatível com a liberdade. Para os segundos, a liberdade é

incompatível com o determinismo.

Podemos expor a teoria libertista desta forma: Se não há escolhas e ações livres então não podemos

ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer. Há escolhas e ações livres (nem todas ações são

determinadas). Logo, podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer.

Note-se que para negar que o determinismo seja verdadeiro, o libertista não pode afirmar que

nenhuma ação é causalmente determinada (o que seria falso). Unicamente diz e acredita que

algumas ações não são causalmente determinadas. Negar o determinismo é negar a tese da causalidade

universal. O determinismo moderado ou compatibilismo

Há uma outra forma de determinismo a que se convencionou chamar determinismo moderado ou

compatibilismo. Esta é a única teoria que julga possível conciliar liberdade e determinismo. O

compatibilismo é a teoria que afirma haver ações causalmente determinadas e responsabilidade

moral. O determinista moderado aceita a proposição1 (Escolhemos e agimos determinados por

causas anteriores), rejeita a proposição 2 (Se agimos determinados por causas anteriores não

podemos ser responsabilizados pelo que fazemos) e aceita a proposição 3 (Somos moralmente

responsáveis). Em síntese, o determinista deste tipo aceita a ideia de que o mundo é regido por leis e a

ideia de que os acontecimentos estão causalmente relacionados. No entanto, para ele isto é compatível

com o livre-arbítrio humano: ainda que uma ação má seja produto de certas causas, ela não deixará de ser

uma ação má e atribuível a um dado agente, que por ela deve ser responsabilizado. A favor desta posição

joga a intuição forte de que, mesmo na circunstância de termos feito qualquer coisa, podermos ter feito

outra coisa se assim o tivéssemos escolhido. Só o determinismo radical nega que alguém seja

responsável pelas suas ações.”

Jacques Thiroux, Ethics,Theory and practice,Glencoe, pp. 47-48

O indeterminismo

“ O indeterminista defende que alguns acontecimentos não têm causas - apenas acontecem e é tudo. Há

uma descoberta recente que lhe dá alguma razão: parece que os fenómenos quânticos têm esta

propriedade e que nenhuma causa pode explicar as mudanças aleatórias que eles exemplificam quando

dois sistemas de partículas estão exactamente nas mesmas condições num certo momento e se

comportam de maneira diferente e imprevisível no momento seguinte. Se fores indeterminista, podes

alegar que a tua acção foi aleatória. Mas terás de argumentar que o teu arremesso de pedras a vidros é

como um acontecimento quântico, o que não será tarefa fácil e não te salvaguardará de seres

responsabilizado pelo que fizeste: é que o mundo até poderá conter ocorrências aleatórias, mas não está

demonstrado que a tua acção seja uma delas. O caso seria diferente se dissesses que todos os

acontecimentos são aleatórios. Ninguém te poderia, então, responsabilizar. Mas não é isso que o

indeterminista afirma.”

in A Arte de Pensar, 11º Ano