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FICHA TÉCNICA
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© 2015Direitos reservados para Letras & Diálogos,
uma empresa Editorial Presença,Estrada das Palmeiras, 59
Queluz de Baixo2730-132 Barcarena
Título: Acabar com as fraldas e com o chichi na camaAutora: Olga Reis
Copyright © Olga Reis, 2015Copyright © Letras & Diálogos, 2015Capa: Sofia Ramos/Editorial Presença
Imagem de capa: ShutterstockPaginação: A. Sena
Ilustrações: Ana FonsecaImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 978-989-8818-07-2Depósito legal n.º 394033/15
1.ª edição, Lisboa, julho, 2015
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ÍndiceIntrodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1 . O contro lo do esfíncter: as d iferentes teor ias . . . . . . . . . . . . . . . . . 17Ao estilo do Oriente: quando e como se faz? ............................ 20
2. A c iênc ia da bex iga e dos intest inos do bebé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3. O treino do bac io: o que é af ina l? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Com que idade devemos começar? ......................................... 30
Os sinais de que pais e filhos estão preparados ........................ 31
A família está pronta? ................................................................ 32
A criança está pronta? .............................................................. 32
4. Potenc iar, apo iar e mot ivar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35Agora uma conversa só com os pais… ..................................... 41
Qual o papel da escola? Conversar com os educadores
também é importante ................................................................ 44
8
5 . Antes de começar a sua missão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Penico ...................................................................................... 48
Penico portátil .......................................................................... 49
Protetor de sanita ..................................................................... 49
Redutor de sanita ..................................................................... 49
Cuecas de crescido ................................................................. 51
Roupa ...................................................................................... 51
Almofada especial .................................................................... 51
Banco, miniescadote ou degrau ................................................ 52
Toalhas de rosto/mãos em formato pequeno ........................... 52
Quadro de reforço .................................................................... 53
Livros de histórias, CD de música, filmes ................................. 53
O Supercueca .......................................................................... 54
O sonho do penico Tico ............................................................ 57
Todos fazemos cocó ................................................................. 60
6. A preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63Passo I
Ensinar pelo exemplo ................................................................ 65
Explicar ..................................................................................... 65
Apresentar o penico .................................................................. 66
Faz de conta e brincar .............................................................. 67
Limpo e seco ............................................................................ 68
Cuidado com a língua (erros a evitar) ........................................ 69
Passo II
Onde, como e quando? ............................................................ 70
Autonomia e higiene .................................................................. 72
9
7 . O plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Dias 1 e 2 .................................................................................. 77
Dia 3 ......................................................................................... 82
Dia 4 ......................................................................................... 83
Dias 5 a 12 ................................................................................ 85
8. Os problemas que não acontecem só aos outros . . . . . . . . . . . . . . 87Voltar a pôr a fralda porque vai à rua ........................................ 87
E as casas de banho públicas? ................................................. 89
E no carro? ............................................................................... 90
Quando encontramos resistência por parte dos nossos filhos .. 90
Porque é que a criança resiste? ................................................ 90
Como lidar com a resistência? .................................................. 91
Deixar a criança decidir ............................................................. 91
Parar de a lembrar .................................................................... 91
Incentivá-la ................................................................................ 92
Substituir as fraldas por cuecas ................................................ 92
Crianças que se assustam e têm medo .................................... 93
Crianças teimosas ..................................................................... 95
Crianças que sofrem de obstipação .......................................... 96
O problema não é das crianças, mas pode ser dos pais ........... 96
Quando os descuidos não param ............................................ 98
E na sesta? ............................................................................... 99
9. Socorro, tenho gémeos e agora? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1
10 . À no ite (t irar a fra lda) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107Com que idade? ........................................................................ 108
Truques e dicas para evitar camas molhadas ............................ 110
1 0
Cama molhada: enurese noturna .............................................. 112
O que nunca deve dizer ao seu filho em caso da cama
molhada .................................................................................... 119
O tratamento ............................................................................. 121
Hospitais do país e respetivos contactos com consulta de
enurese ..................................................................................... 124
1 1 . Os «Problemas» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125Regressão ................................................................................. 125
Obstipação ............................................................................... 129
Os erros alimentares mais comuns ........................................... 129
Problemas emocionais associados ........................................... 130
Encoprese ................................................................................. 130
O que nunca deve dizer ao seu filho ......................................... 132
1 2 . Ouando procurar a juda? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
AgrAdecImentOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
BIBL IOgrAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
AneXOS Quadros e/ou calendários para usar:
Quadro de registo de progressos para os pais
Quadro de apoio
Quadro de rotina de higiene e reforço
Calendário de registo de camas secas
Autocolantes
1 1
Ser mãe é criar os filhos para o mundo.
Aos meus filhos, Leonor e Afonso.
1 3
IntroduçãoEm qualquer etapa do desenvolvimento infantil existe uma série de
dúvidas acerca do que é certo ou errado. Há muitas teorias, as ideias
são vastas e mudam em função das culturas, dos hábitos e também de
acordo com a evolução dos tempos. A ciência evoluiu e permitiu-nos,
através dos estudos que se vão fazendo, ter uma melhor compreensão
do desenvolvimento infantil e de quais são as estratégias mais adequa-
das a cada idade. Acredito que os pais de amanhã serão ainda melhores,
pois há um vasto leque de ferramentas e oferta informativa que vai con-
tribuir para que assim aconteça. Se há cerca de trinta anos não víamos
nas nossas televisões um médico, um psicólogo ou outro profissional a
falar sobre determinada problemática relacionada com as crianças, sabe-
mos que hoje em dia essas aparições são frequentes e que as pessoas
têm necessidade de conhecimento e saber, para melhor orientarem os
seus filhos.
O desfralde e o treino do penico são um grande desafio para muitas
famílias e crianças. Neste livro vou tentar dar respostas simples a pergun-
tas que até podem parecer complexas, por exemplo:
– Qual é o melhor momento para retirar as fraldas?
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I n t r O d u ç ã O
– Devem ser os adultos a decidir, ou devemos esperar que os peque-
nos peçam?
– Há uma idade para se dar início a este processo?
– Existe um método eficiente?
– Quanto tempo leva o treino do penico?
– Vale a pena tirar a fralda do dia e da noite ao mesmo tempo?
– É o verão a melhor altura para o fazer?
E podíamos continuar…
Ufa, há mesmo muitas dúvidas durante todo o processo.
Licenciei-me em Psicologia Clínica e, durante o mestrado, foi-me dada
a oportunidade de trabalhar com a equipa de pedopsiquiatria do Hos-
pital de Santa Maria. A minha paixão pela clínica infantil cresceu cada
vez mais e foi nessa área que decidi investir, o que me permitiu compre-
ender melhor o mundo das crianças. Saber que posso ser uma ajuda
(mesmo que mínima) para o bom desenvolvimento dos pequenitos faz-me
sentir grata todos os dias.
Todos os projetos em que me envolvo são sempre a pensar nos
mais pequenos! Adoro a magia e o sonho do mundo da criançada
onde, como se conta nas histórias infantis, os bons acabam sempre por
vencer os maus! E deveria ser realmente assim na vida real, para sempre
e em todas as situações!
Pode ser cliché e piroso, mas sim, eu acredito verdadeiramente que
as crianças são, sem dúvida, a melhor coisa do mundo!
Depois de ter sido mãe e de ter iniciado a grande viagem da parenta-
lidade, de me ter aventurado nas mesmas alegrias, conquistas, dúvidas,
receios, e também erros (sim, também cometo os mesmos, muitos erros,
como tantos outros pais), percebi que ser Pai e Mãe não é fácil! Por isso
decidi criar um blogue – O REI VAI NU – que tem como objetivo principal
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I n t r O d u ç ã O
oferecer informação para promover o desenvolvimento saudável, refor-
çar as práticas parentais positivas e a resolução de dificuldades/neces-
sidades identificadas.
Enquanto profissional e mãe, reconheço que a maior parte dos pais
tem também a necessidade de receber apoio para melhor desempe-
nhar o seu papel. Esta é a principal razão pela qual escrevo este livro
para ajudar os pais e os pequenos.
Este livro serve sobretudo para informar, esclarecer e desmistificar a
questão do desfralde, apresentando, entre outras sugestões, um plano
de treino do penico de doze dias.
Não tenho qualquer dúvida de que, se acharem fácil seguir as minhas
orientações, este processo será levado a cabo sem grandes dificulda-
des, e pais e filhos sairão vencedores em mais uma etapa do desenvol-
vimento. Além disso, abordarei também os mitos à volta dos chichis na
cama e do desfralde noturno, entre outros...
Irei ajudar, explicando que todos somos diferentes, que há razões
genéticas, fisiológicas, culturais, entre outras, que podem interferir no
processo. Que não somos «bons» ou «maus» pais ou filhos porque dei-
xamos passar a «idade certa», ou que muitos convencionam como certa,
para que isto aconteça.
O facto de hoje termos vidas tão ocupadas causa também impacto
nos nossos filhos. Temos menos tempo para «ver» as suas necessida-
des e a elas atendermos.
A pressão que é feita sobre os pais e o medo de errarem perante os
filhos, bem como a competição entre progenitores (sim, ela existe!), podem
não beneficiar o processo de desfralde!
Ser Pai é um enorme desafio e todos precisamos de ajuda (técnica ou
outra), de conselhos e de ouvir experiências idênticas. O que pretendo
com este livro é precisamente fornecer essa ajuda.
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Abordo tudo isto de um modo simples e concreto para que as dúvi-
das dos pais possam ser atendidas e os mais pequenos ajudados, nesta
grande etapa do que é tornar-se um «crescido»!
A todos, nesta «viagem», desejo as maiores vitórias!
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1 .
O controlo do esfíncter: as diferentes teorias
Em algumas partes do mundo, o treino do controlo do esfíncter começa
cedo, às vezes semanas logo após o nascimento. Há sociedades em que
os bebés nunca chegam a usar fraldas, não existindo a pressão social de
punir ou criticar (pais e filhos). Os bebés aprendem as habilidades bási-
cas do treino higiénico mesmo antes de começarem a andar.
No mundo ocidental em que vivemos, a situação é bastante diferente,
pois as crianças podem usar fraldas até aos dois, três ou até mesmo aos
quatro anos de idade.
Nas gerações passadas, a maior parte das crianças ficava sem fral-
das por volta dos dezoito meses. Hoje, há muitas que não dominam as
habilidades básicas do treino higiénico até cerca dos três anos de idade.
Há estudos que referem que mais de metade das crianças com mais
de trinta e dois meses não conseguem ficar secas durante o dia. Parece
uma evidência que, desde a Segunda Guerra Mundial, as crianças come-
çaram a levar mais tempo para aprender as habilidades do treino higiénico.1
1. Vejam-se os trabalhos de Schum et al. 2002; Largo et al. 1996; Bakker e Wyndaele, 2000; Horstmanshoff et al. 2003.
O cOntrOLO dO eSF Í n c ter : A S d I Fere nteS teOr IA S
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Mas, afinal, o que aconteceu? É que parece que fomos do 8 para o 80!
Bem, houve uma série de alterações que levaram a que isto aconte-
cesse. Primeiro as fraldas de pano, que tinham de ser lavadas constan-
temente e que, na verdade, eram um grande «peso», foram um incentivo
para que a maioria das mães quisesse desfraldar as crianças. Depois, o
facto de a generalidade das mulheres não trabalhar e estar apenas dedi-
cada à família, passando a maior parte do tempo a cuidar dos filhos, aju-
dava a que estivessem mais atentas e, não só a estimular, como também
a ajudar os pequenos no processo de autonomia que posteriormente
facilitava o treino. Além disso, os avanços científicos e os estudos rela-
cionados com o desenvolvimento infantil e o controlo dos esfíncteres
deram-nos uma compreensão mais clara de como o processo funcio-
nava, tanto ao nível fisiológico como psicológico, e explicaram que entre
o reconhecimento de um funcionamento específico do próprio corpo
e a maturidade neurobiológica para o controlar é necessário tempo.
E, por último, o aparecimento das fraldas descartáveis veio não só faci-
litar a vida de muitas famílias mas também, em grande parte dos casos,
trouxe algum comodismo, fazendo com que os pequenos fossem des-
fraldados mais tarde.
Em zonas geográficas como a Índia, a China, o Sudeste Asiático, a
Europa Oriental, o Ártico e em partes da África e da América Latina,
a norma é deixar os bebés a descoberto, sem fraldas, consideradas abso-
lutamente desnecessárias.
Quando os bebés precisam de fazer chichi ou cocó, os pais seguram-
-nos por cima de um «alvo preferencial» (por exemplo, um penico, uma
bacia ao ar livre, ou simplesmente em terreno aberto) até que as neces-
sidades sejam satisfeitas.
Mas, de certeza que está a fazer a seguinte pergunta: como é que
os pais sabem quando os seus bebés precisam de fazer chichi ou cocó?
O cOntrOLO dO eSF Í n c ter : A S d I Fere nteS teOr IA S
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Prestando atenção aos sinais. Nestas culturas, os bebés passam a maior
parte dos dias a serem transportados pelos pais. Estes aprendem a ler
os sinais dos filhos e (eventualmente) os bebés aprendem a reter as suas
necessidades até que os pais lhes deem o «sinal». O que é este sinal?
É uma vocalização especial, como «sheee-sheee» ou «shuuuus». Esta é
a chamada «comunicação de eliminação», e este método começa a ser
adotado por alguns países ocidentais.
Mas estão estes bebés treinados para o penico? É evidente que estas
crianças não são autónomas e por isso, do meu ponto de vista, não estão
completamente treinadas para o penico, no sentido de serem capazes
de fazer viagens independentes à casa de banho.
A independência completa para irem à casa de banho vem mais tarde,
depois de aprenderem a andar, a seguir instruções verbais, a manipu-
lar roupas, a limparem-se e assim por diante. Isto para deixar claro que a
«comunicação de eliminação» não é o que a maioria de nós, ocidentais,
quer dizer com «treino do penico.»
No entanto, pode ter muitas vantagens:
• Evita assaduras e infeções relacionadas com as fraldas.
• Poupa dinheiro em fraldas e na restante parafernália de cremes.
• Gera menos detritos não biodegradáveis, no caso das fraldas
descartáveis.
• Utiliza menos energia para lavar (no caso das fraldas de pano).
• Reduz as taxas de infeção do trato urinário mais tarde na vida.
Além disso, os pais que introduzem o treino cedo evitam as armadi-
lhas de deixar crianças com as fraldas até muito tarde, pois existe a pos-
sibilidade de enfrentarem os seguintes problemas:
O cOntrOLO dO eSF Í n c ter : A S d I Fere nteS teOr IA S
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• As crianças mais velhas podem ignorar os sinais do corpo e terão
de reaprendê-los.
• As crianças mais velhas estão habituadas a usar fraldas sujas e
podem resistir à mudança.
• As crianças mais velhas são mais propensas a testar a autoridade
(os «terríveis dois anos»).
• Os chichis e cocós das crianças mais velhas têm um odor mais intenso
(desagradável), tornando os acidentes menos agradáveis de limpar.
Ao esti lo do Oriente: quando e como se faz?Alguns pais começam logo após o nascimento. Outros esperam até aos
3-6 meses. Em qualquer das situações, baseia-se nos seguintes passos:
1. Observe os sinais do corpo do bebé antes de fazer as necessi-
dades. Pode, por exemplo, contorcer-se, fazer caretas ou alterar
os padrões de respiração. Muitos pais mantêm-no a descoberto
para facilitar a observação. Neste caso, podem colocar uma toa-
lha absorvente debaixo do bebé para facilitar a limpeza. Mas tam-
bém podem mantê-lo nos tecidos (vulgo slings ou marsúpios),
enquanto aprendem a identificar os sinais. De qualquer maneira,
é preciso despender muito tempo numa observação rigorosa. Em
certos locais do mundo isto acontece facilmente, porque os pais
transportam os bebés a maior parte do dia.
2. Depois de reconhecer os sinais do corpo do seu bebé, segure-
-o sobre o «alvo» que escolheu enquanto ele faz as necessidades.
O cOntrOLO dO eSF Í n c ter : A S d I Fere nteS teOr IA S
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Se o seu bebé já consegue sentar-se, considere colocá-lo diretamente
numa cadeirinha (antigamente existiam umas cadeiras que tinham
uns buracos no assento e um penico por baixo).
3. Ensine a criança a associar certos sinais com as necessidades. Em
muitas partes do mundo, os pais emitem um som característico ou
executam determinado gesto no momento em que os filhos fazem
o chichi ou o cocó. Assim, os bebés aprendem a associar o som/
/gesto com a ação.
Após estas etapas, os pais podem esperar que os seus bebés con-
sigam ficar secos durante determinado período de tempo. Mas a com-
petência de se manter seco durante o dia só é adquirida entre os 6-12
meses. Isto nos países orientais. Os pais ocidentais que tentam o treino
oriental levam muito mais tempo.
Embora no Ocidente muitos pais tenham uma mente aberta para este
tipo de treino, a maioria continua a preferir um programa mais estruturado.
E muitos consideram que este treino tem má reputação.
Uma das razões é que as pessoas (ocidentais) confundem «quando
treinar» com «a forma de treinar», ou seja, a cultura ocidental está mais
focada, por exemplo, nas idades em que os pequenos devem começar
do que em estratégias ou na elaboração de um plano para o treino (sim,
é importante que haja um plano). As mães do Ocidente sofrem de uma
maior pressão social. Começando por alguns jardins de infância que tor-
cem o nariz ou pressionam os pais das crianças que ainda usam fraldas
e que frequentam as turmas de três anos, passando por sogras, mães,
vizinhos e amigos que se escandalizam e se transformam em treinado-
res de bancada e dão palpites a torto e a direito. Há, sem dúvida, muito
mais pressão social para que se desfralde as crianças e muitas vezes
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parece quase uma competição. Não só no processo de desfralde mas
também em muitas outras etapas do desenvolvimento, como come-
çar a andar, a falar e por aí... Sim, fica bem dizer às amigas, à prima, às
outras mães da escolinha e até à vizinha que o Joãozinho já deixou as
fraldas. Oculta-se, no entanto, que o coitado do Joãozinho se descuida
a toda a hora. Vários estudos ocidentais referem que a maior parte das
crianças antes dos 18 meses não está preparada, fisiológica ou emo-
cionalmente, para iniciar o treino do penico. Até aqui tudo bem! Mas o
treino do penico, na minha opinião, é um conjunto de conquistas em que
a ajuda dos pais é fundamental. Em idades precoces, muitas pessoas
acham que o treino inicial significa usar métodos coercitivos duros. Acre-
dito que este pensamento seja condicionado pela cultura e por todos os
fatores socialmente implícitos. Se perdermos algum tempo a pensar, ou
melhor, se pesquisarmos como outras culturas preparam e condicionam
os pequenos para o controlo dos esfíncteres, entendemos que isso não
acontece! Mas esta será sempre uma questão cultural, relacionada com
os diferentes hábitos e aprendizagens, e no fundo é o meio onde esta-
mos inseridos que condiciona a forma como fazemos as coisas e pensa-
mos. Às vezes parece um «se não consegues vencê-los, junta-te a eles».
Quando os pais usam métodos apropriados às idades, a formação ini-
cial também pode ser bem-sucedida. Atenção, eu disse formação inicial.
O que não quer dizer que se passe já para o penico, mas sim que se
possa ajudar, capacitar e munir os pequenos com as ferramentas cer-
tas para facilitar quando chegarem a essa fase. Atenção (novamente)!
Não, não estou a dizer que há bebés muito pequeninos que deixam de
usar fralda e conseguem controlar perfeitamente os chichis e os cocós.
O que vos explico é que, antes de isso poder acontecer, há muitas for-
mas de preparar os pequenos e, claro, que variam de cultura para cultura.
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No entanto, voltando ao Oriente, milhões de pessoas praticam o treino
da «comunicação de eliminação». Mas como é que fazem isso? Chegá-
mos a um ponto delicado. Na verdade, a grande resposta a esta questão
já foi um pouco explicada anteriormente: é que nos países onde se pra-
tica este tipo de treino as pessoas têm uma atitude e um estilo de vida,
em função da cultura, muito diferente na forma como lidam com os chi-
chis e cocós das crianças. Por exemplo, no Quénia ou em Bali, os pais
não estão preocupados nem dão grande importância aos acidentes.
Não se importam se o bebé urina muito ou pouco, se as suas roupas se
sujam com os cocós, e por aí… afinal, acidentes acontecem e a limpeza
de uma criança faz parte da parentalidade. Estas sociedades «livres de
fraldas» são muitas vezes mais tolerantes com as crianças pequenas e
com as necessidades feitas em público. Desta forma, os costumes locais
tornam esta tarefa mais fácil aos pais. Por exemplo, em algumas regiões
da China, as crianças usam calças com uma costura aberta na parte de
trás para poderem agachar-se e aliviar-se quando lhes convém. Já entre
os Ifaluk da Oceânia, as crianças podem fazer as suas necessidades em
qualquer lugar, desde que seja na rua.
As atitudes e os costumes do Ocidente apresentam uma visão diferente
e, por isso, menos favorável ao treino da «comunicação de eliminação».
Independentemente de se pretender treinar os pequenos mais cedo ou mais
tarde, é preciso ter em conta e exercitar uma grande dose de paciência,
persistência e bom humor. Resumindo: não são só as crianças que precisam
de se preparar, acima de tudo os pais têm de estar preparados! Haverá
acidentes e contratempos. Ninguém deve tentar o controlo esfincteriano
infantil sem uma clara compreensão do trabalho envolvido.
Para os pais que não planeiam treinar os seus filhos desta forma, a
«comunicação de eliminação» não deixa de ser uma curiosidade interes-
sante e até instrutiva.