Ficha para Catálogo de Produção Didático- Pedagógica · contar histórias para crianças da...
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Ficha para Catálogo de Produção Didático- Pedagógica
Professor PDE/2010
Título Formando professores competentes na arte de contar histórias para crianças da educação infantil.
Autora Ana Maria do Prado Valdivieso Escola de Atuação Colégio Estadual Rio Branco - EFMNP Município da escola Santo Antônio da Platina – PR Núcleo Regional de Educação Jacarezinho Orientadora Ms. Suédina Brizola Rafael Rogato Instituição de Ensino Superior Universidade Norte do Paraná – UENP Área do Conhecimento Pedagogia Produção Didático-Pedagógica Unidade Didática destinada aos alunos Relação Interdisciplinar Língua portuguesa; Arte Público alvo Alunos do curso de formação de docentes Localização Rua 19 de dezembro, 1001 Apresentação
Contar histórias para quem não tem o dom natural exige técnicas apropriadas como adequação de voz ás modificações do texto; expressões faciais, improvisos, dramaticidade; participação das crianças exclamando a cada passagem dos acontecimentos. Considerando a necessidade de estimular os futuros docentes que se preparam para atuar na Educação Infantil, entende-se que esse trabalho vem de encontro para sanar essa deficiência. Portanto, a abordagem da literatura infantil – Contos de fadas – procura resgatar esse segmento literário junto aos alunos da Formação de docentes. Os objetivos são: proporcionar aos docentes a formação integral com vistas a atuar de forma consciente; destacar que, através da audição das histórias infantis, as crianças poderão se identificar com cada uma das personagens, esclarecendo suas próprias dificuldades e podendo até encontrar um caminho para lidar com seus conflitos pessoais; mostrar que contar histórias exige um preparo anterior do professor, com a familiarização com o tema, o que fará com que seja percebido como autor construiu o texto, o encadeamento das idéias; desenvolver a expressão global do contador de histórias,
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refletida no corpo, na fala e nos gestos; apresentar os projetos de trabalho, como sugestão, de metodologia para a elaboração de materiais, execução e avaliação de projetos de leitura.
Palavras-chave
Educação infantil. Contos de fadas. Formação de Docentes. Técnicas pedagógicas.
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba – Paraná
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Professor PDE:
Ana Maria do Prado Valdivieso
Área PDE:
pedagogia
NRE:
Jacarezinho
Professor Orientador IES:
Ms. Suédina Brizola Rafael Rogato
IES vinculada:
Universidade Norte do Paraná – UENP
Escola de Implementação:
Colégio Estadual Rio Branco – EFMNP
Público objeto da intervenção:
Alunos do Curso de Formação de Docentes
Produção Didático-pedagógica:
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ CAMPUS DE JACAREZINHO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
FORMANDO PROFESSORES COMPETENTES NA ARTE DE
CONTAR HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
JACAREZINHO 2011
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 05 UNIDADE 1: UM POUCO DA LITERATURA INFANTIL NO MUNDO................. 07 ATIVIDADES......................................................................................................... 10 UNIDADE 2: A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL......................................... 11 ATIVIDADES......................................................................................................... 15 UNIDADE 3: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR............................................... 16 ATIVIDADES........................................................................................................ 20 UNIDADE 4: A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS INFANTIS PARA A FORMAÇÃO DA CRIANÇA.............................................. 21 ATIVIDADES........................................................................................................ 23 UNIDADE 5: TÉCNICAS PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS........................... 26 ATIVIDADES........................................................................................................ 30 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 31
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INTRODUÇÃO
Após uma sondagem minuciosa, utilizando um questionário investigativo e
observando as aulas práticas de Literatura Infantil no curso formação de docentes
do Colégio Estadual Rio Branco – EFMNP, onde leciono as disciplinas pedagógicas
há quase dez anos, constatou-se uma grande deficiência no que se refere à
Contagem de Histórias. É notório como os alunos chegam ao curso com uma
carência evidente de leitura, pois a maioria são alunos trabalhadores que não
tiveram oportunidades de desenvolverem o hábito de leitura, quanto mais o de
contar histórias.
Constatou-se também que não é dado o devido valor ao livro infantil o que
confirmou minha inquietação em relação à formação dos futuros professores que
irão trabalhar com as crianças nos Centro Educacional Municipal Infantil – CEMEI –,
de Santo Antônio da Platina. Este foi um dos motivos que me conduziu a organizar
didaticamente uma possível forma de despertar nos futuros docentes o interesse em
se instrumentalizarem para trabalhar essencialmente o lúdico, a magia e o
encantamento como pré-requisito básico e essencial para o desenvolvimento do
futuro leitor.
Com esse objetivo, o primeiro passo foi pesquisar, ler e fichar vários autores
dessa área para montar e desenvolver o meu Projeto de Intervenção: “Formando
Professores Competentes na Arte de Contar Histórias na Educação Infantil”.
Partindo desse ponto, espera-se contribuir com a formação dos alunos do colégio
citado acima, à luz das teorias educacionais necessárias para a prática docente na
formação do aluno leitor, determinando uma postura pedagógica capaz de aproximar
o desejo de ouvir histórias ao prazer lúdico e, posteriormente formar possíveis
leitores.
Em vista disso considera-se relevante que o percurso pedagógico ora
proposto, comece cedo, isto é, na infância. A partir daí, pode-se vislumbrar avanços
significativos ao preparar o futuro docente por meio dos Contos de Fadas, de forma
lúdica, dinâmica e interativa. O ideal é fazer com que as crianças unam o
entretenimento e a instrução ao prazer da leitura.
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Assim, busca-se refletir: quem são essas crianças que chegam aos espaços
educativos? Que sonhos trazem? Quantos desejos, certezas e incertezas? Quantas
dúvidas, expectativas, curiosidades e medos? Os professores que irão trabalhar com
elas estão preparados?
Diante dessas indagações sobre o problema das dificuldades encontradas
para trabalhar a Literatura Infantil com sucesso nos CEMEIs esse trabalho se propõe
encontrar estratégias e técnicas para estimular os futuros docentes enquanto
mediadores da aprendizagem, a serem criativos e capazes de trabalhar as artes, as
brincadeiras, os bonecos de fantoches, as dramatizações, as rodas de leituras e
muitos outros recursos para despertar o interesse das crianças para emocionar e
envolvê-las no gosto pelos Contos de Fadas, favorecendo o despertar e o prazer na
construção de um aluno leitor, com pensamentos críticos para solucionar conflitos,
adquirido valores para sua vida.
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UNIDADE 01
1. UM POUCO DA LITERATURA INFANTIL NO MUNDO.
A literatura infantil nasce primeiramente com os relatos entre as famílias sobre
acontecimentos da vida diária. Esses relatos eram envolventes e às vezes
dramáticos e tinham como característica a narrativa oral.
Craidy e Kaercher (2001), destacam como sendo uma necessidade do ser
humano o desejo de ouvir e contar histórias. E com essa prática, tanto em verso
quanto em prosa, passadas e ouvidas de geração a geração é que surgiu a literatura
em forma de contos.
Os povos orientais consideravam o conto oral mais do que um estilo literário a
serviço do divertimento. Sabiam que neles estavam contidos os conhecimentos e as
idéias de um povo, e que através deles era possível indicar condutas, resgatar
valores e até curar algumas doenças. Eles acreditavam no poder curativo do conto,
e em muitas situações o remédio indicado era ouvir um conto e meditar sobre ele.
Segundo Busatto (2003), o conto de literatura oral se perpetuou na História da
humanidade através da voz dos contadores de histórias, até o dia em que
antropólogos, folcloristas, historiadores, literatos, lingüistas e outros entusiastas do
imaginário popular saíram a campo para coletar e registrar estes contos, fosse
através da escrita ou outras tecnologias. Existem várias antologias que abordam a
literatura oral. Porém uma pergunta sempre fica no ar, quando se especula sobre as
origens destes contos:
– De onde surgiram? Quando eles surgiram? Quem os inventou e por que
inventou?
Busatto (2003), observa que, nada é totalmente provável, porém há
diversos estudos que procuram responder essas perguntas; pois alguém, num
tempo remoto, os teria imaginado e os perpetuado através da oralidade. Quanto
mais as pesquisas forem se aprofundando, mais perto de uma resposta foi se
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chegando, e tudo leva a crer que os caminhos vão chegar até o Oriente, berço das
mil e uma noites e tantas outras histórias.
Segundo a autora acima citada, somente no último século é que esta
literatura começou a ser refletida com maior valor. A narrativa oral passou a ser vista
como uma categoria literária merecedora de pesquisas científicas.
Muitos e muitos registros de mitos, lendas, fábulas e de diferentes
nacionalidades foram publicados. Sendo que os contos de fadas são os mais
conhecidos e os mais divulgados. Contos estes de origem celta, caracterizadas por
pequenas narrativas com algum suspense em que há um herói sendo maltratado ou
castigado por um ser do mal, mas que apesar dos infortúnios sempre vence esse ser
malévolo, que pode ser uma bruxa, um duende, um gigante, entre outros.
Os contos de fadas tomaram conta da Europa em meados do século XII e
foram registrados por alguns ilustres conhecidos, como o francês Charles Perraut
(1628–1703), em sua obra “Contos da Mãe Gansa”, reunindo contos da tradição
oral. Os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), conhecidos como
os Irmãos Grimm, publicaram inúmeros contos colhidos da boca do povo,
principalmente de uma camponesa chamada Katherina Wiecheman, cujas narrações
fazem parte do primeiro livro dos Grimm: “Contos para Criança e para o Lar”.
Entre os contos alemães mais famosos da coletânea estão: “Hansel e Gretel
(João e Maria)”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel”, “A Bela Adormecida”, “A Gata
Borralheira”, “Os Músicos de Bremen”, “Cinderela”, e o “Gato de Botas”, merecendo
destaque “Branca de Neve e os Sete Anões”, que foi traduzido em todos os idiomas
cultos, ganhou as telas do cinema, e foi parafraseado em prosa e verso, sendo
reconhecido como celebridade mundial.
Buscando encontrar as origens da realidade histórica de seu país, os irmãos
Grimm, encontraram a fantasia, o fantástico e o encantamento em temas comuns da
época medieval, surgindo daí uma grande literatura infantil para encantar crianças
de todo o mundo.
Os contadores estavam por toda a parte. Eram simples camponeses, lavadeiras, amas, pescadores. Conta Ítalo Calvino, que uma velha e analfabeta, costureira de edredões e empregada da casa de Giuseppe Pitré (1841-1916), era uma campeã de memória. Foi através das suas narrativas que Pitré publicou a sua antologia de contos populares: Fiabe, novelle, raacconti popolari siciliani, em 1875. (BUSATTO, 2003, p.24)
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No século VIII sugere-se, de acordo com Busatto (2003), que uma obra
estaria tomando corpo e suas histórias encantariam o mundo, trata-se de “As mil e
uma noites”. Supõe-se que essa obra foi reinventada através de várias épocas, sem
perder contudo a característica que faria o seu charme: os mil contos (aqui mil,
significando inumeráveis) narrados por Xerazade ao Rei Xeriar.
Como não poderia deixar de ser,
as civilizações grega e romana também contribuíram com obras relevantes. Apuleio, poeta latino que viveu no século II, escreveu o livro “O asno de ouro”, em que está contido um significativo mito sobre o feminino, e que não deixa de ser um belo conto de fada: “Eros e Psiquê”. (.BUSATTO, 2003, p.25).
Da Grécia sobreviveu no tempo as “Fábulas de Esopo”, coletâneas de contos
traduzidos por La Fontaine. Esopo foi um fabulista grego que deve ter vivido por
volta do século VI a C.. Sua existência é envolta por lendas, mas acredita-se que ele
seja um dos precursores da fábula.
Até o começo do século XIX, as obras infantis apresentaram uma feição moral e didática. Depois que Froebel apresentou sua forma educacional, caracterizada por uma acentuação da importância da criança e de seus interesses, a literatura passou a apresentar um caráter recreativo, sem aquela finalidade de dar lições de moral ou instruir, mas procurando tão-somente despertar o interesse da criança. ( ARCE,2002, p.80 ).
Dessa forma, pode ser observado que, as histórias podem ser consideradas
como material pedagógico segundo os interesses do educador, aliás, são
paradigmas que ainda hoje são utilizados, ou seja, ora as histórias são contadas
para favorecerem a aprendizagem, ora, apenas como recreação.
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ATIVIDADES
1. Quando você era criança.
( ) Alguém lhe contava história ?
( ) Ouvia através de Cd, Dvd, Disco de Vinil ou Rádio ?
( ) Assistia algumas peças de teatro com histórias dramatizadas ?
Comente.
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2. Lembra do nome de alguma história infantil ? Cite-as
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3. Você se recorda de ter sentido alguma emoção nesses momentos?
Comente.
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___________________________________________________________________
4. Leia com atenção o texto seguinte:
Muitos e muitos registros de mitos, lendas, fábulas e de diferentes
nacionalidades foram publicados. Sendo que os contos de fadas são os mais
conhecidos e os mais divulgados. Contos estes de origem celta, caracterizadas por
pequenas narrativas com algum suspense em que há um herói sendo maltratado ou
castigado por um ser do mal, mas que apesar dos infortúnios sempre vence esse ser
malévolo, que pode ser uma bruxa, um duende, um gigante, entre outros.
5. Você seria capaz de relacionar cinco Contos de Fadas com essas características e seus autores?
1. __________________________________________________________
2. __________________________________________________________
3. __________________________________________________________
4. __________________________________________________________
5. __________________________________________________________
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Unidade 2
A Literatura Infantil no Brasil
Zilberman (1985), afirma que inúmeros estudiosos têm partido do pressuposto
de que só se pode realmente falar em literatura infantil a partir do século XVII e
XVIII, época da reorganização do ensino e da fundação do sistema educacional
burguês. A literatura infantil se firmou como um padrão literário devido às mudanças
estruturais que ocorreram neste período e que provocaram uma alteração na forma
de se visualizar a infância e todas as instituições a ela relacionada.
Albino (1994), observa que, apesar de haver publicações de livros para
crianças ainda em 1808, a partir da implantação da Imprensa Régia, pode-se falar
em literatura infantil brasileira apenas no final do século XIX, ainda que de forma
precária e irregular,
representada principalmente por edições portuguesas que só aos poucos passam a coexistir com as tentativas pioneiras e esporádicas de traduções nacionais. Enquanto sistema (de textos e autores postos em circulação junto ao público), a literatura destinada ao jovem público brasileiro se consolida somente nos arredores da Proclamação da República. (ALBINO, 1994, p.4).
Aos poucos, as obras, consideradas para adultos, foram sendo adaptadas
para o publico infantil. Antes disso, pode-se dizer que a infância não tinha um olhar
voltado para suas características e necessidades, a literatura infantil surgiu com esta
conscientização sobre a infância. Em conseqüência do novo status concedido à
infância na sociedade e da reorganização da escola, surgiu então a literatura infantil
com características próprias. Entretanto, Albino (1994, p.5), considera que,
Nesse processo, os livros infantis e escolares são dois gêneros que saem fortalecidos das várias campanhas de alfabetização deflagradas e lideradas, nessa época, por intelectuais, políticos e educadores, abrindo espaço, nas letras brasileiras, para um tipo de produção didática e literária dirigida especificamente ao público infantil.
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Por outro lado, não de pode esquecer que essas primeiras incursões no
gênero vieram através de traduções de obras estrangeiras e/ou adaptações dessas
obras ou temas para o contexto brasileiro. Evidencia-se nas palavras de Zilberman,
(1985), que esse contexto só vai mudar a partir da década de 20, já no séc. XX, com
Monteiro Lobato, presença tanto na área literária quanto editorial, dando sua
contribuição para uma literatura genuinamente infantil brasileira, quanto pelos
esforços de modernizar a produção editorial no Brasil.
Na literatura brasileira pode-se encontrar os registros de contos populares
realizados por viajantes, antropólogos e folcloristas. Entre eles figura Silvio Romero,
e também pelo grande ouvinte das histórias que o povo contou: Câmara Cascudo.
Câmara Cascudo soube ouvir todas as vozes que estavam ao seu redor. Dentro de casa ele teve uma grande contadora de histórias, uma valiosa fonte desta literatura, Luiza Freire, ou simplesmente Bibi, sua ama, com quem conviveu por 38 anos, até a morte daquela que seria a “Xerazade” de Cascudo. (BUSATTO, 2003, p.27).
Busatto (2003), afirma que Câmara Cascudo é o precursor dos contos
tradicionais brasileiros, destacando personagens como Caipora e Curupira,
autênticas criações dos povos indígenas que habitavam estas terras quando os
portugueses chegaram trazendo seus mitos e lendas; o “curupira”, por exemplo, já
teria sido registrado pelo Pe. José de Anchieta, descrevendo-o como ‘ duende
selvagem temido e respeitado pelos índios’.
Através de Busatto (2003), toma-se conhecimento das obras de Cascudo:
“Lendas brasileiras”, “Contos tradicionais do Brasil”, “Histórias que o Tempo Leva”,
“Antologia do Folclore Brasileiro”, “Vaqueiros e Cantadores”, “Trinta Histórias
Brasileiras”, “Literatura Oral no Brasil”, e outros.
Entretanto, para a história da literatura brasileira, Monteiro Lobato é
considerado o seu precursor.
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O advogado José Renato Monteiro Lobato (1882-1948), nasceu no município de Taubaté, em São Paulo. Em 1911 herda as terras do Visconde de Tremembé, e descobre a velha estrutura rural do país. Assim nasceu o bem-humorado “Jeca Tatu”, símbolo do caipira brasileiro. Em 1920, Lobato elabora um conto infantil: “A História do Peixinho que Morreu Afogado”, e em 1921 “Narizinho Arrebitado”. (BARSA, 1969, p. 372)
Estava dado o início para a criança de uma série de aventuras no Sítio do
Pica-Pau Amarelo. Assinava as histórias como José Bento Monteiro Lobato, JBML,
que eram as iniciais gravadas na bengala que usava, herdada do pai. Foi Lobato
que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo
caminho criador que a Literatura Infantil brasileira estava necessitando.
Seu sucesso imediato entre os pequenos leitores ocorreu de um primeiro e
decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança, em seu cotidiano, é,
subitamente, penetrada pelo maravilhoso, com o mais absoluto verossimilhança e
naturalidade. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas
personagens, o maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é que
personagens “reais” (Lúcia, Pedrinho, D. Benta, Tia Nastácia, etc.) têm o mesmo
valor das personagens “inventadas” (Emília, Visconde de Sabugosa e todas as
personagens que povoam o universo literário lobatiano).
Zilberman (1985), enfatiza que a vasta produção de Lobato, na área de
Literatura Infantil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Dentre os
originais estão: “A Menina do Nariz Arrebitado”, “O Saci”, “Fábulas do Marquês de
Rabicó”, “Aventuras do Príncipe”. “Noivado de Narizinho”, ”O pó de Pirlimpimpim”,
“Reinações de Narizinho”, “As Caçadas de Pedrinho”, “Emília no País da Gramática”,
“Memórias da Emília“, “O Poço do Visconde”, “O Pica-Pau Amarela” e ” A Chave do
Tamanho, o autor afirma também que nas adaptações, Lobato preocupou-se com
um duplo objetivo: levar às crianças o conhecimento da tradição, o conhecimento do
acervo herdado e que lhes caberá transformar, e também questionar, com elas, as
verdades feitas, os valores e não-valores que o tempo cristalizou e que cabe o
presente redescobrir e renovar. Nesse sentido, merecem destaque: “ D. Quixote das
Crianças” , “ O Minotauro” e a mitologia grega na série “ Os Doze Trabalhos de
Hércules” do individualismo.
Zilberman (1985) afirma que nos Contos de Malba Tahan, Julio César de
Melo e Souza (1895-1974), nasceu no Rio de Janeiro, foi educador do Serviço
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Nacional de Assistência aos Menores e catedráticos de matemática do Colégio
Pedro II e da Faculdade Nacional de Arquitetura. Ao adotar o pseudônimo de Malba
Tahan, criou uma biografia: Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan nasceu
na aldeia de Muzalit, próximo a antiga cidade de Meca. Popularizou a arte de contar
histórias nas escolas. Ao todo são 115 obras entre livros didáticos de matemática e
contos juvenis. “O Homem que Calculava” é um dos livros mais conhecidos.
Zilberman (1985), lembra que a década de 70 ficou conhecida como a época da
literatura infantil. Com a consolidação do mercado editorial, e a crescente
dependência do livro com a escola, aumentou expressivamente o número de autores
produzindo para a infância. Surgiram escritoras marcantes como Ana Maria
Machado, Sylvia Orthof, Marina Colassanti e Lygia Bojunga Nunes, Ruth Rocha,
Roseana Murray. Autores como Ziraldo e Pedro Bloch e outros, trouxeram o humor
de volta ao leitor infantil e juvenil.
Encontra-se de tudo um pouco nos livros brasileiros para crianças e jovens.
O realismo mágico, em que as fronteiras entre a realidade cotidiana e o imaginário
se diluem. O maravilhoso, mostrando situações ocorrendo fora de nosso espaço-
tempo. Que caminhos a literatura brasileira para crianças e jovens tomará no século
que agora se inicia? Não sabemos. Mas temos por certo que essa manifestação
artística não pode continuar sendo subestimada ou desprezada pela sociedade ou
pela mídia. Nosso país tem inúmeros problemas, e não há um só deles que não
possa ser resolvido, ou atenuado, pelo investimento na educação e na cultura de
nosso povo.
A partir daí, os autores infantis, que estão surgindo no cenário da literatura
infantil brasileira, com suas inúmeras obras, não têm outra finalidade que não a de
recrear seus pequenos leitores; vindo ao encontro à necessidade de fantasia que a
criança sente, para saciar sua fértil imaginação e, completar as teorias educacionais
que procuram despertar o interesse e prender a atenção das crianças.
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ATIVIDADES
Após leitura e reflexão sobre o texto e com os conhecimentos que você já possui responda as questões abaixo.
1) A literatura infantil no Brasil surgiu com uma conscientização sobre à infância pela
sociedade, que até então não tinha um olhar voltado para suas características e
necessidades. Comente dando sua opinião.
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2) Nas escolas em que você cursou o ensino fundamental, dava-se importância às
histórias infantis?
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3) Você tem alguma lembrança sobre alguns escritores brasileiros que se dedicavam
à literatura infantil do século passado?
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4) O que você sabe sobre Monteiro lobato e suas obras?
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5) Você conhece algum escritor infantil da atualidade? Cite e faça um comentário.
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UNIDADE 3
A Importância da Literatura Infantil na formação do professor
Desde os primórdios da humanidade, contar histórias é uma atividade
privilegiada na transmissão de conhecimentos e valores humanos. Essa atividade
tão simples, mas tão fundamental, pode-se tornar uma rotina banal ou representar
um momento de excepcional importância na educação das crianças. O estudo e pesquisas em torno da adequação e da validade dos contos e das
histórias infantis para as crianças, vêm perdurando por gerações e gerações de
professores, psicólogos, psicanalistas como também entre orientadores
educacionais e pedagogos.
Machado (2002) ressalta a importância da leitura para crianças desde bem
pequenas, pois segundo ela o gosto pela leitura adquirido na Educação Infantil não
se perde no decorrer da vida, mas ao contrário ele permanece porá sempre. A
autora afirma que o gosto pela leitura não surge mediante a imposição feita às
crianças para que possam realizar alguma tarefa em seguida, tal modo ao contrário
faz com que criemos repulsa a prática da leitura. Para Machado (2002) o ato de ler
deve ser tratado como algo gostoso, o que para a autora de fato é, e não como mera
obrigação. Ela também esclarece que é na infância talvez a única oportunidade
dessas crianças interagirem significativamente com histórias infantis cuja finalidade
vai além da resolução de problemas cotidianos. Para tornar os alunos bons leitores,
mais do que simples decodificadores de textos, o professor precisa fazê-los acreditar
que a leitura é algo interessante e desafiador, que quando conquistado
completamente, proporciona autonomia, independência e prazer.
Cabe, então à escola e aos professores de Educação Infantil a imprescindível
tarefa de colocar dentro da sala de aula a literatura, já que esse material torna-se um
indispensável auxiliar no desenvolvimento da criatividade infantil, preparando a
criança para o exercício da cidadania. Além disto, enriquece e alimenta a sua
imaginação, amplia o vocabulário e permite a sua auto-identificação. A criança
aprende também a aceitar e refletir sobre situações relativas as dimensões de
diversas categorias da problemática humana.
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Nos aspectos cognitivos desenvolve o pensamento lógico, a memória,
estimulando o espírito crítico. Somado a tudo isto a criança vivencia momentos de
humor, de diversão e satisfaz suas curiosidades, harmonizando-se com suas
ansiedades. A literatura infantil sugere meios para solucionar conflitos ao mesmo
tempo que adquire valores para sua vida.
Ao ingressar na escola, seja qual for sua idade, a criança traz consigo as
marcas de seu meio cultural. Inserida em um meio familiar e comunitário, muitas
representações simbólicas foram transmitidas por seus pais, avós e amigos. A
criança em idade pré-escolar adquire a maior parte de seus conhecimentos através
da transmissão oral.
Os adultos com quem convive são os que a introduzem no uso da palavra.
Laznik (2000) mostra que a voz materna, em seus picos prosódicos, representa o
primeiro objeto da pulsão oral, e assim, por muitos séculos a aprendizagem foi
realizada através da transmissão oral. Não existiam livros, escolas, nem a infância
como se concebe hoje. Com a invenção da prensa tipográfica, criou-se uma nova
tradição: a leitura. As escolas proliferaram e os livros assumiram uma função
primordial na educação e na instrução.
Na opinião de Radino (2001), o grande problema é que, em sua função
alfabetizadora, a escola passou a valorizar de tal forma o livro e a letra impressa,
que acabou subestimando a linguagem oral, muitas vezes confundida com
analfabetismo e cultura primitiva. A oralidade, a palavra, a leitura e a escrita são
atividades integradas e complementares, sendo que o primeiro contato da criança
com o texto se dá através da narração oral, independentemente de estar ou não
vinculada ao livro, sendo que a maioria deles chegou até nós pela escrita,
entretanto, sua sobrevivência na história deve-se à tradição oral.
Sabe-se que é na escola, por muitas vezes, o local em que a criança tem o
primeiro contato com a literatura. De acordo com Souza, (1992), o professor, que
poderia estar intermediando a relação criança-livro, não o faz porque, seu contato
com a literatura é muito deficitário. Desse modo à formação do docente fica carente,
e a falta de preparo gera um problema educacional, pois o professor não consegue
expandir-se para novos conhecimentos.
Pereira (2010, p.1), comenta que:
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a realidade das instituições infantis sofre de várias contradições e problemas que dificultam sua evolução plena; estão submetidas muitas vezes em atividades banais e simplistas no ambiente escolar, tendo um olhar assistencialista, focado no “cuidar” e no preparar essa criança para o ensino fundamental antecipando a escrita do alfabeto, tolhendo a criatividade das mesmas, em vez de trabalhar as exigências de sua faixa etária, oferecendo vários tipos de experiências para que a criança possa ser co-construtora, cidadã, agente, membro do grupo social em que está inserida. Enfim uma criança com voz e que possa ser ouvida;
É importante, então, investigar o papel/lugar das histórias infantis nas aulas
teóricas e nas práticas pedagógicas do professor de educação infantil, pois a maioria
das instituições que acolhem as crianças, estão deficientes em relação à
metodologia para o trabalho com a literatura infantil, não somente por parte do
coordenador pedagógico, mas também, pelos professores que desconhecem a
importância dos contos de fadas e das fábulas na formação da personalidade e do
desenvolvimento da criança.
Souza (1992), afirma que, ao desconhecer essa importância, supõe-se que o
professor ou teve uma formação deficiente ou, não adquiriu em sua caminhada
profissional o hábito de ler, não conhece ou não se interessa pelos clássicos da
literatura infantil, está tirando da criança a oportunidade de uma experiência
educativa e eficaz, está atrasando seu desenvolvimento psicológico, intelectual,
social e consequentemente sua criatividade, que é de suma importância para o
desenvolvimento da linguagem oral e escrita.
O professor que não lê, não narra histórias, não faz dramatizações para seus
alunos, deixa de transmitir aos mesmos o gosto e a paixão pela leitura, visto que
essa experiência é tão importante no plano pedagógico quanto no emotivo. Além
disso, o conhecimento que os livros infantis trazem, constitui um instrumento
poderoso de enriquecimento do vocabulário para a criança e um fator de previsão
quanto à aquisição da instrumentalidade da leitura.
Entretanto, não podemos colocar a culpa somente nos ombros dos
profissionais de educação infantil e das séries iniciais, pois apesar da grande parte
dos mesmos possuir formação precária e de estarem desatualizados, por outro lado
é necessário ressaltar as condições adversas de trabalho que a rotina escolar
impõe: prédios mal conservados, famílias ausentes, falta de material, baixos
rendimentos, dupla jornada de trabalho entre outras adversidades.
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A esta consideração, Cosson (2006), acrescenta que, diante de tantos
obstáculos é fundamental o docente ou o futuro docente compreender que o mesmo
deverá ter muita criatividade e grande convicção de seus objetivos para que seu
estímulo não se perca nas contrariedades do dia a dia, e que seja consciente sobre
a contribuição das histórias infantis para a formação integral da criança e que essas
atividades quando bem planejadas, são essenciais para o desenvolvimento da
criatividade, da socialização, da linguagem, da expressão corporal e oral, da
capacidade de opinar, argumentar e escolher, da coordenação motora e da
expressão artística.
Souza (1992), observa com razão, o professor que planeja as atividades
decorrentes da história, tendo tais objetivos citados em vista, contribui para que a
criança estabeleça desde cedo uma relação de prazer com a leitura e a escrita. A
postura pedagógica deverá ser voltada para o estímulo na formação de um aluno
leitor, por meio do encantamento dos contos, das histórias, as quais deverão atingir
o maior número de significações, proporcionando compreensão mais ampla da
realidade. O professor deve oferecer espaço e tempo para que as crianças
expressem e partilhem os significados que encontraram, após ouvir a narrativa
literária. Considerando que
[...] é por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e do ludismo que a criança aprende a sua realidade, atribuindo-lhe um significado, veremos que o mundo da arte é o que mais se aproxima do universo infantil, à medida que falam a mesma linguagem simbólica e criativa (FRANTZ, 2005: p. 32 )
A habilidade do professor em compreender a mensagem das histórias,
favorece a sensibilidade para a escolha de contos mais adequados ao nível de
desenvolvimento da criança. Essas habilidades do professor propiciam um
enriquecimento mútuo; a história deixa de ser mera repetição para tornar-se
dinâmica, viva, alegre e envolvente. Enfim, os professores de educação infantil
devem resgatar o lúdico das histórias, para desenvolver os saberes necessários do
conhecimento, assim como mediar situações pedagógicas que viabilizem o respeito
pelas relações humanas, a socialização das crianças, a aprendizagem, a delicadeza
do viver no mundo e com o mundo.
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ATIVIDADES
1) Se você tivesse de decidir entre ler ou contar uma história para uma criança de 4
a 6 anos, qual técnica escolheria? Por que?
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___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2) Como é que você definiria um bom livro para as crianças nessa faixa etária?
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___________________________________________________________________
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3) Você se recorda dos livros que mais o impressionaram durante sua infância?É
capaz de dizer o que os tornou inesquecíveis? Enredo? Personagens? Estilo?
Tema? Ilustrações?
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___________________________________________________________________
4) Comente a seguinte afirmação: “A literatura é a parte importante na vida da
criança, pois ajuda na formação de atitudes positivas e é fonte inesgotável de prazer
e de divertimento”.
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5) Se os pais uma criança lhe pedissem sugestões sobre o melhor modo de
despertar nos filhos o interesse pela leitura, que conselhos você daria?
___________________________________________________________________
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UNIDADE 4
A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS INFANTIS PARA A FORMAÇÃO DA CRIANÇA
Para Pregnolato (2005), além do lúdico, ouvir histórias infantis exerce uma
influência muito benéfica na formação da personalidade infantil porque, através da
assimilação dos conteúdos da história, as crianças aprendem que é possível vencer
obstáculos e saírem-se vitoriosas. Especialmente quando o herói vence no final. Isso
ocorre porque, durante o desenrolar dos fatos, a criança se identifica com as
personagens e “vive” o drama que ali é apresentado de uma forma geralmente
simples, porém impactante. Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano,
como a inevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e o mal, a
inveja, dentre outros, são tratados nas histórias de modos a oferecer desfechos
otimistas.
Desta forma, é oferecida à criança uma referência para “trabalhar” suas
ansiedades, medos, desejos, amores, ódios, que nessa idade apresentam-se
insolúveis. Esse aprendizado é assimilado pela criança de uma forma intuitiva, em
contraposição com uma compreensão intelectual. Essa capacidade de “comunicar”
com a criança é considerada, um dos motivos dos contos de fadas estar há séculos,
fazendo parte do imaginário infantil.
Portanto, uma educação voltada para a criança não pode deixar de considerar
essa literatura como um elemento importante no desenvolvimento cognitivo infantil.
Conhecer histórias leva à criança a imaginar, conseguindo relacionar ao
mundo da fantasia a sua realidade, aumentando e enriquecendo experiências
vividas. Permite-a criar e organizar novos conhecimentos, desenvolvendo o
raciocínio lógico e ainda auxilia na conscientização de sua postura em relação à
realidade em que vive. Esta arte leva à criança a compreender valores artísticos e
fundamentais da história, com emotividade e inteligência.
A história prende a atenção, informa, educa, socializa, asserena, aquieta.
Enquanto o livro, de acordo com Dinorah (1996), ajuda a criança a desenvolver a
sensibilidade, a imaginação criadora, a sociabilidade, a criatividade e o senso crítico
22
e ensina, principalmente a gramática, a ortografia, a linguagem e a interpretação.
Por isso o vocabulário dos livros infantis deve ser simples, mais rico, afinal o
vocabulário das crianças é restrito e, através das histórias infantis, este pode ser
ampliado com sucesso.
Segundo Abramovich (1994, p.16), ”[...] ser leitor é ter um caminho
absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...]”, logo,
através da familiaridade com os livros, a criança desenvolve naturalmente,
habilidades para a língua portuguesa, refletindo positivamente na sua alfabetização. Da mesma forma que, vivenciando os sentimentos que as histórias infantis
proporcionam, a criança poderá mais tarde, fazendo uso desta liberdade, ser um
cidadão crítico, alguém que tenta transformar as dificuldades interagindo com tudo o
que acontece à sua volta.
Enfim, as histórias podem realmente estimular e proporcionar muitas coisas
boas a quem as ouve, principalmente quando estas são contadas com criatividade,
naturalidade, entusiasmo e magia. A arte de contar histórias é realmente muito
especial e a sensação que esta arte é capaz de proporcionar é delicadamente
descrita por Fidalgo (2002, p. 143) em algumas palavras que valem a pena
descrever.
Tenho certeza de que se flores brotassem dos livros, certamente elas teriam o cheiro de leitura... Mas que cheiro seria este? Pergunta minha sã consciência. É cheiro de tudo querer descobrir, recriar, imaginar...a fantasia se veste de letras e palavras molhadas de orvalho na noite estrelada. Com a leitura tudo é possível. Até mesmo viajar, como muitos insistem em dizer. Mas também ficar parada e deixar que o vento nos traga notícias. Sentir cheiros, gostos, horrores e amores, tudo se pode pela leitura. Alguns bebem leitura, outros se alimentam dela e muitos a fazem dormir para sempre. Mas para sempre, sempre acaba e um dia a gente liberta essa leitura adormecida. Quem sabe com um beijo, ou talvez com o sabor de uma boa história.
Esta visão de Fidalgo pode ser feita de várias formas tanto pelo narrador
como pelo ouvinte. Entretanto o que importa é a postura do professor ao contar
histórias às crianças e estas ao ouvi-las com entusiasmo, desenvolvem diversos
aprendizados sem perceber que isto está acontecendo.
O importante para criar esta liberdade é não fazer cobranças didáticas com as
histórias, mas sim contá-las para que as mesmas ouçam-nas pelo simples prazer de
23
ouvir. Afinal, essa arte deve ser vista como fonte de prazer, em que a participação e
a emoção deverão estar presentes de forma espontânea e natural.
Dentro desta mesma idéia Dinorah, (1996, p.169), comenta que “uma história
incorporada ao sonho de uma criança é esperança e força nos momentos difíceis da
vida e, certamente, enriquecimento na velhice, quando as lembranças da meninice
se tornam muito presentes”.
Enfim, a prática do compartilhamento dos contos de fada (pais lendo ou
contando para os filhos, professores para os alunos, etc. com posteriores
comentários sobre a história) deve ser estimulada porque nessa atividade fica mais
fácil para as crianças falarem sobre suas angústias, partilhar suas dúvidas e
ansiedades sem se exporem pessoalmente. Isso é possível pois, ao comentar uma
história, estarão falando dos seus sentimentos, mas não diretamente de si próprias,
já que estarão utilizando o recurso das personagens e de uma situação fictícia como
apoio.
Pregnolato (2005), recomenda que se deve, preferencialmente, escolher
estórias com final feliz. Vale lembrar que, em meio a esse tipo de atividade, não
cabe qualquer espécie de julgamento moral ou censura. O que importa aqui não é
ensinar às crianças como se comportar (o que, por sinal, a própria estória já faz, de
uma maneira muito mais rica e ilustrativa, ao mostrar as conseqüências dos atos de
cada um), mas oferecer às crianças a oportunidade de expressarem suas
dificuldades emocionais de uma maneira protegida.
Sintetizando, as histórias infantis passam às crianças a mensagem de que na
vida é inevitável ter que se deparar com dificuldades, mas que se lutarem com
firmeza será possível vencer os obstáculos e alcançar a vitória.
ATIVIDADES
1) Que tipo de ensinamento existe numa narrativa que faz do fraco um forte, de um
pobre um rico, de um personagem bom e honesto um vencedor para a formação de
personalidade das crianças?
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2) As ilustrações nos livros infantis são uma ação pedagógica que surgiu com
algumas finalidades. Explique suas vantagens e desvantagens em relação á
formação da criança.
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3) Ouvir histórias infantis na infância poderá despertar na criança o gosto pela
leitura? Explique.
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___________________________________________________________________
4) Quais aspectos são fundamentais que o narrador deverá estar ciente no ato de
contar histórias, para que as crianças mantenham-se atentas?
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___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5) Leias as questões:
a) A avó que com ternura conta uma história ao neto, que ouve embravecido,
comunicará qualquer coisa de adorável, de suspense ou surpresa, enriquecendo a
experiência da criança.
b) O pai desmotivado e aborrecido com a história que lê ao filho só por obrigação
dificilmente envolverá emocionalmente a criança.
c) Ao ouvir um conto, a criança vivencia alguns sentimentos e emoções; a maneira
como é transmitido não interfere na compreensão e envolvimento da criança.
d) Através da linguagem dos símbolos, as bruxas, os monstros e fantasmas
assustam as crianças e sutilmente conversam com seus medos, angústias e
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inseguranças, por isso o professor nunca deverá narrar Contos de Fadas com esses
personagens.
e) A prática de ouvir histórias permite que a criança desenvolva um esquema de
texto narrativo, isto é, ela começa a perceber que tem começo, meio e fim.
f) As histórias dizem também que os danos causados á criança por sentimentos que
geram ansiedade, conflitos e medo podem ser corrigidos pelo impacto de emoções
transmitidas por meio dos Contos de Fadas.
Assinale a com um (x) a alternativa correta:
(1) a, b, c, d (2) b, c, d, e (3) a, b, e, f (4)c, d, e, f (5) a, b, d, e.
26
UNIDADE 5
TÉCNICAS PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
As crianças na faixa etária de 4 a 5 anos encontram-se na fase pré-mágica,
que abrange crianças de 3 a 6 anos.Trata-se de uma faixa de interesse por histórias
de repetição, histórias acumulativas e contos de fadas. Nessa faixa etária a
imaginação e a criatividade estão bastante aguçadas e a criança começa a se
desprender do mundo real.
As histórias contadas nesta fase devem dar oportunidade para que a criança
desenvolva tais habilidades e precisam ser um pouco mais elaboradas. Contar
histórias não é algo difícil, porém é preciso gostar e querer. Ao comentar como a
história vai fluindo na voz do contador Fidalgo (2002, p. 96) explica que:
O contador vai tecendo tudo (...) com palavras que viram falas e que são aos poucos recebidas e interpretadas pelo ouvinte, que visualiza e constrói os personagens de cada história. A cada mudança de voz e movimento de corpo, o ouvinte se concentra na expectativa de que algo surpreendente acontecerá; o contador faz a platéia se embalar ao som da história contada. O olhar a todo o tempo seduz e convida o ouvinte para adentrar pelo cenário da história. Muitas vezes ele fecha os olhos e se percebe diante do fato narrado, pois relatar fatos significa contar ações, contar movimentos e é isto que faz o contador.
No entanto, para que toda essa magia aconteça, é fundamental que o
narrador goste da história que vai contar, que se identifique com o texto e não
tenha medo de narrá-lo. É preciso respeitar a idéia do autor, porém não é
necessário prender-se aos detalhes do texto, é preciso usar também a imaginação.
Até mesmo ao ler uma história, se faz necessário observar todas essas
recomendações, pois até para ser lida, ela precisa de suavidade e encanto. Caso
contrário, não despertará a atenção de ninguém. Independentemente de como a
história será contada ou quando e onde, ela precisa necessariamente ser lida e
estudada com antecedência.
O narrador precisa ler para si mesmo a história, ensaiá-la entre quatro
paredes em voz alta, perceber o assunto e a essência do texto, ensaiar gestos e
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vozes, memorizar o seu contexto, obviamente não se prendendo a pequenos
detalhes e principalmente fechar os olhos e tentar enxergar a seqüência dos fatos,
afinal, se esta for uma história gostosa de imaginar, certamente fará sucesso entre
os pequeninos.
Outro fator muito importante no desempenho do contador de histórias
é compreender que contar é diferente de representar: no teatro apresentam-se ações e os personagens são concretos, visíveis e palpáveis; na narrativa os personagens e suas ações ficam por conta da imaginação do ouvinte, são abstratos. O narrador ao permitir a criança à possibilidade de imaginar os personagens e as “peripécias” de cada um, estará estimulando a criação de imagens. Vale ressaltar aqui a atração que os livros ilustrados exercem; estes podem encantar o leitor, porém, pecam no sentido de fornecer a imagem pronta. Assim a criança perde a oportunidade de dar asas à imaginação e de desenvolver, com maior autonomia, a criatividade. (CASASANTA 1974, p. 60).
Na opinião da autora acima citada, alguns passos são recomendáveis para
quem quiser se tornar apto a contar histórias:
ser uma pessoa hábil, versátil, sensível à beleza da história, capaz de
assimilar todos os seus elementos e transmiti-los bem;
gostar da história. Não contar nunca uma história de que não goste;
levar em consideração a idade dos ouvintes e adaptar as histórias de acordo
com o ciclo de interesse;
criar um desfecho poético para deixar uma sensação de beleza que
continuará com as crianças nas horas seguintes
conhecer e estudar bem a história em suas várias versões; escolher a
melhor e adaptar-lhe o que as outras tiverem de bom. Excluir cenas muito
fortes que possam impressionar a mente infantil
reter, o mais possível, as mesmas palavras da história, para assim narrá-la
às crianças
explicar o vocabulário novo que aparecerá na história para não ser
interrompido com perguntas durante a narrativa
providenciar ilustrações bonitas das cenas mais interessantes para
enriquecer a narrativa. Evitar gravuras que não correspondam às sugestões
da história e decepcionem as crianças em suas representações mentais
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modular a voz de acordo com os acontecimentos narrados ( ora mais
baixos, ora mais alto, mais depressa, mais devagar)
preparar o ambiente de narração da história. Assentar as crianças de
preferência em círculo e de modo a não serem incomodadas por outras,
pelo barulho, pelo sol etc. O narrador deve ficar ao nível das crianças, ou
apenas um degrau mais alto. Nunca de pé ou andando. Deve manter-se
discreto, não exibindo adornos que chamem atenção, como colares muito
vistosos e pulseiras que produzam ruídos. As crianças se distraem
fàcialmente
provocar a emoção. Durante a história prepara-se a criança para a emoção
que atingindo o seu clímax, desfaz-se lentamente. O organismo volta então
ao ponto de equilíbrio inicial. Nunca se deve parar no clímax, pois a emoção
sucinta deve ir até o fim, seguir seu curso natural e descarregar-se
normalmente;
comentar a história com as crianças. Evitar perguntas formais, como
“gostaram?” “Por quê?”
penetrar diretamente na história. A pergunta deve ir à alma da criança, para
dela trazer o que na narrativa deixou – é o momento da retribuição.
Perguntas diretas sobre os incidentes e os caracteres, abrangendo as
partes principais da história, seu conteúdo geral. Através das respostas
verificar se a criança figurou bem cada um dos caracteres, se os moldou de
acordo consigo mesma ou conforme outros padrões e, ainda, se o caráter
que nos apresenta é o que pretendíamos transmitir. História é uma série de
incidentes ligados por desfecho lógico.
Toda história apresenta três momentos:
1º momento: introdução à história. Na introdução são apresentados os
personagens no ambiente ou local onde a história vai desenvolver-se. Não se deve
entrar em detalhes sobre os personagens e caracteres para não antecipar o
julgamento por parte das crianças, que deverão julgá-los por suas ações. Muitas
histórias ficam sacrificadas pela intenção do autor de realçar a parte moral. A moral
deve ser sutil, envolver toda a trama, mas sem ser posta em destaque. A criança é
que vai julgar. Por isso não se deve atribuir qualidades aos personagens. Não se
deve começar uma história assim: “Era uma vez uma menina muito boa...”.
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Esse primeiro momento tem por objetivo acalmar a criança, transportá-la ao
ambiente da historia. Não traz emoção. Por isso deve iniciar-se a narrativa em tom
baixo, igual e até monótono. As palavras mágicas “Era uma vez...” têm o dom, por
si só, de prender a atenção da criança.
2º.momento: enredo ou corpo da história. Esse momento vai despertar
e desenvolver na criança a emoção até o clímax e, depois, promover a volta até o
ponto de partida, à tranqüilidade anterior. O narrador deve dar à voz entonações
diferentes, conforme as exigências do enredo e da forma literária da história. Findo
este momento deve haver uma pausa ou silêncio, para a criança sentir que muita
coisa aconteceu. Ao rompê-lo, o narrador deve expressar-se em voz baixa, grave,
para não despertar mais emoções.
3º. Momento: desfecho. Principal finalidade do terceiro momento é formar
bons hábitos de pensamento, encaminhando-o para as melhores soluções. As
histórias transmitem uma filosofia de vida. A criança habitua-se a pensar de algum
modo à semelhança das histórias, como, por exemplo, a encaminhar o
pensamento no sentido do perdão. O desfecho presta-se especialmente a isto, pois
é nele que as emoções culminam num sentimento.
Assim, devido à importância das histórias, Abramovich (1994), afirma que
não se deve correr o risco de improvisar, ou seja, deixar de conhecer a história
antes de contá-la aos alunos, pois o sucesso da narrativa depende muito do
desempenho do narrador que através de uma boa organização terá garantida a
segurança e assegurada sua naturalidade.
Todas as crianças gostam de um bom conto de fadas e se encantam com
a fantasia e por isso a oralidade é necessária e deve ser sempre utilizada pelo
educador para ajudar a desenvolver a imaginação, o intelecto e tornar mais clara
as emoções de seus educando, além de entretê-los e despertar nelas curiosidade.
Portanto, há um consenso que, não basta ter boa vontade para contar
histórias, é preciso recorrer a um arsenal de técnicas, habilidades, treino, ensaio,
pois à medida em que se coloca em prática, mais recursos vai adicionando a cada
“ contação”, tornando-a natural.
30
ATIVIDADES
1) Se você tivesse de decidir entre ler ou contar uma história, em que se basearia?
(a) Na idade dos ouvintes
(b) No comprimento da mesma
(c) No seu enredo
(d) Na forma literária
2) Que tipos de histórias você aconselharia para as crianças de 4 a 6 anos? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3)Em sua opinião a atitude do narrador em relação à história teria alguma influência
sobre o sucesso da narrativa?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4) Explique o que você entendeu na citação de Tereza Casasanta
“Para Casasanta (1974) contar bem uma história é preciso possuir habilidade, treino
e conhecimento técnico do trabalho, pois os valores artísticos, lingüísticos, e
educativos dependem da arte do narrador”.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5) Quais os cuidados que o professor deverá ter com o ambiente onde se vai contar
a história?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6) Segundo Coelho (2005) e Abramovich (1994), qual o risco que o professor pode
encontrar ao improvisar uma história?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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REFERENCIAS
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