FICHA PARA CATÁLOGO...possibilidades concretas da integração entre Educação Profissional e...
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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: Desafios para Integração Curricular entre Ensino Médio e Educação Profissional no Estado do Paraná
Autor Delcir Berta Aléssio
Escola de Atuação Colégio Estadual João Manoel Mondrone
Município da escola Medianeira
Núcleo Regional de Educação
Foz do Iguaçu
Orientador Marcos Augusto Moraes Arcoverde
Instituição de Ensino Superior
UNIOESTE – Foz do Iguaçu
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Gestão Escolar
Produção Didático-pedagógica
Artigo Ciêntífico
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Professores, Coordenadores de Curso, Pedagogos e Funcionários
Do colégio Estadual João Manoel Mondrone
Localização Colégio Estadual João Manuel Mondrone
1
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Rua Mato Grosso , 2233
85884-000 Medianeira - PR
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Este artigo que ora se apresenta visa estudar as recentes políticas de expansão da Educação Profissional no Estado do Paraná e, no trabalho pedagógico do professor da Educação Profissional, ou seja, no processo de Integração entre as disciplinas específicas da Educação profissional com as do núcleo comum. Para dar corpo ao trabalho estudar-se-á as políticas públicas que envolvem a Educação Profissional. Num primeiro momento, situando para que veio a educação profissional, e num segundo momento pensar uma proposta pedagógica com os professores e alunos dos cursos técnicos que os levem a uma autonomia intelectual e pensar numa relação teoria – prática, que entenda de que conhecimento se está se falando. Em que perspectiva o currículo se fundamenta ao distribuir os conteúdos, traduzidos em disciplinas ao longo de determinado tempo escolar? Portanto, deve-se ficar atentos ao grande desafio que é colocar em prática o projeto pedagógico da escola, elaborado na perspectiva de um currículo integrado e também desenvolver práticas pedagógicas coletivas, considerando o princípio norteador do currículo integrado: o trabalho como princípio educativo.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)
Educação Profissional; Integração curricular; Políticas Públicas.
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ARESENTAÇÃO
Este artigo tem como tema de estudo a Integração entre as disciplinas
específicas da Educação Profissional com as disciplinas do núcleo comum, e como
título: “Desafios para a Integração Curricular entre Ensino Médio e Educação
Profissional no Estado do Paraná”. Através do projeto de extensão da
UNIOESTE, esta produção didática tem por objetivo refletir e discutir a atuação do
pedagogo, do coordenador de curso, professores e funcionários da Educação
Profissional do Colégio Estadual João Manoel Mondrone, escola pública do Estado
do Paraná.
Tem como meta estabelecer e estudar práticas de integração entre a
Educação profissional e o Ensino Médio nas disciplinas afins. A produção didática,
na forma de artigo científico, faz parte da proposta de capacitação do PDE como
estratégia de ação que sustentará o projeto de intervenção pedagógica na escola no
segundo semestre de 2011.
Num primeiro momento, será realizado o resgate histórico da Educação
Profissional no Estado do Paraná, analisando a evolução dessa nova proposta de
mudança, sua aplicabilidade nos cursos técnicos e conhecer os Fundamentos
Políticos Pedagógicos da Educação Profissional, no sentido de que estes
contribuam para o processo de retomada da Educação Profissional, reafirmando-a
como estratégia fundamental na formação de cidadãos autônomos e, responsáveis
pela sua inclusão consciente no mundo da produção contemporânea.
No segundo encontro, o texto “Educação Profissional e suas
Concepções”, visa compreender os limites e as possibilidades da integração das
disciplinas afins na Educação Profissional. Neste momento será feita análise do
texto com debates para que haja entendimento dos mesmos e que sejam percebidas
possibilidades concretas da integração entre Educação Profissional e Ensino Médio.
No terceiro encontro, o texto “Organização do Trabalho Didático” remete a
uma reflexão sobre a prática pedagógica, os problemas e desafios de planejamento
de ensino, retomando o trabalho como princípio educativo. Neste encontro, os
cursistas discutirão afinidades entre suas disciplinas e como desenvolve-las em sala
de aula com os alunos, para que formem elos de conhecimentos integrados.
3
No quarto encontro, uma das propostas de trabalho é usar cópias do quadro
curricular, livro registro de classe, ementas do curso e cópias do Plano Trabalho
Docente para que em grupo, os participantes percebam qual concepção de
integração existe, e se é possível perceber ações integradas?
Para finalizar no último encontro, serão pontuadas questões pertinentes a
Educação Profissional baseado nos encontros anteriores, leituras indicadas, vídeos,
palestra, no colégio Estadual João Manoel Mondrone, assegurando-se assim uma
formação ampla, compreendendo-se as relações sociais entre conhecimentos gerais
e específicos, sob os eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura.
Desafios para Integração Curricular entre Ensino Médio e Educação
profissional
Delcir Berta Aléssio1
Marcos A. M. Arcoverde2
Resumo: Este artigo que ora se apresenta visa estudar as recentes políticas de expansão da Educação Profissional no Estado do Paraná e no trabalho pedagógico do professor da Educação Profissional, ou seja, no processo de Integração entre as disciplinas específicas da Educação profissional com as do núcleo comum. Para dar corpo ao trabalho estudaremos as políticas públicas que envolvem a Educação Profissional. Num primeiro momento, situando os princípios da Educação Profissional, e num segundo momento pensar uma proposta pedagógica com os professores dos cursos técnicos que os levem a uma autonomia intelectual e pensar numa relação teoria-prática que entenda de que conhecimento está se falando. Assim, esse texto volta-se a questionar em que perspectiva o currículo fundamenta-se ao distribuir os conteúdos traduzidos em disciplinas, ao longo de determinado tempo escolar? Portanto, deve-se ficar atento ao grande desafio que é colocar em prática o projeto pedagógico elaborado na perspectiva de um currículo integrado e também desenvolver práticas pedagógicas coletivas, considerando o princípio norteador do currículo integrado: o trabalho como princípio educativo. O referencial teórico deste artigo está embasado nos pressupostos encontrados em Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta, Marise Ramos, Sandra Garcia, Acácia Kuenzer Monica da Silva e Antonio Gramsci.
Palavras-chave: Educação Profissional; Integração curricular; Políticas Públicas.
1 Professor da SEED (Secretaria de Estado de Educação). Aluna PDE/2010.2 Professor Orientador
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INTRODUÇÃO
Segundo o MEC (Ministério da Educação e Cultural) o tratamento dado à
Educação Profissional, anunciado no início do Governo Lula, seria de reconstruí-la
como política pública e corrigir distorções de conceitos e de práticas decorrentes de
medidas adotadas pelo governo anterior, no caso Fernando Henrique Cardoso, que
de maneira explícita dissociaram a educação profissional da educação básica,
aligeiraram a formação técnica em módulos separados e estanques, dando um
cunho de treinamento superficial à formação profissional e tecnológica de jovens e
adultos trabalhadores (BRASIL, 2005). Entre essas mudanças, uma das mais
relevantes, em razão do seu fundamento político e por se tratar de um compromisso
assumido com a sociedade na proposta de governo, foi à revogação do Decreto n.
2.208/97, restabelecendo-se a possibilidade de integração curricular dos ensinos
médio e técnico, de acordo com o que dispõe o artigo nº. 36 da LDB (Lei de
Diretrizes e Bases).
Cabe lembrar que a reforma do Ensino Médio e da Educação Profissional
contou com financiamento e orientações dos organismos internacionais,
especialmente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Dentre
outras orientações para a política educacional estavam à definição e a orientação
para a separação curricular dos cursos do ensino médio e do ensino técnico. Muitos
segmentos educacionais que tinham relação com a Educação Profissional, inclusive
o Governo do Paraná, não satisfeitos com essa política educacional neoliberal,
organizaram vários movimentos em prol do retorno de um ensino médio e ensino
técnico, com organização curricular integrada. Essa insatisfação se refletiu na
revogação do referido Decreto Federal nº 2.208/1997, originando o Decreto Federal
nº 5.154/2004, possibilitando a integração do ensino médio e profissional com uma
nova proposta curricular.
A partir de 2003, no primeiro mandato do presidente Lula, volta com muita
consistência o debate sobre a separação obrigatória do Ensino Médio da Educação
Profissional, motivada pelo Decreto Federal nº 2.208/1997 e o Programa de
Expansão da Educação Profissional (PROEP).
Particularmente, no Paraná, em 2004, retorna-se a oferta pública e gratuita da
Educação Profissional, na modalidade subseqüente, para os egressos do ensino
médio e na modalidade ensino médio integrado, para os egressos do ensino
5
fundamental, porém, esse segundo modelo encontrou muitas dificuldades na sua
implementação, dentre elas, dificuldades de como trabalhar com um currículo
integrado (SEED,\2005).
Diante do quadro exposto, o apoio ao desenvolvimento das atividades
pedagógicas de currículo e ensino destaca-se, como estratégia indispensável para a
melhoria da formação dos alunos na concepção assumida, a integração entre
Ensino Médio e Educação Profissional. Assim, a SEED realizou encontros com
professores, pedagogos, diretores e reconhecidos professores pesquisadores na
área de Educação e Trabalho3, pois os mesmos entendiam que a separação entre a
base nacional comum do Ensino Médio e as disciplinas específicas dos
conhecimentos da área técnica não beneficiou a formação dos alunos.
A integração passa a ser a melhor forma para que os conhecimentos
científicos e tecnológicos sejam consolidados em nível médio, construindo uma
identidade desta etapa da educação básica, na qual a profissionalização é uma
possibilidade. Essa nova proposta não é uma defesa pura e simples da
profissionalização, mas uma alternativa de ensino médio que busca romper com
uma escola para trabalhadores centrados apenas nas práticas laborais e uma escola
centrada nas atividades teóricas para formação de dirigentes. Portanto, para
avançar numa superação de uma formação de trabalhadores centrada na prática, é
preciso tomar o trabalho como princípio educativo, ao qual o processo ensino-
aprendizagem esteja presente e articulado as duas dimensões, a teoria e a prática,
em todos os momentos formativos.
A proposta de integração do ensino médio e educação profissional possuem
características que como:
“um significado e um desafio para além da prática disciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar, pois implica um compromisso de construir uma articulação e integração orgânica entre trabalho como princípio educativo, a ciência e tecnologia como síntese de toda produção humana com seu meio, e a cultura como síntese da formação geral e específica por meio de diferentes formas de criação existentes na sociedade, com seus símbolos, representações e significados” (RAMOS, 2004, p.116 )
Já Kuenzer (2003) nos aponta que a integração entre conhecimento básico e
aplicado só é possível através da mediação do processo produtivo e que isto, não se
3 GAUDÊNCIO Frigotto, Acácia Kuenzer, Marise Ramos, Lucília Machado, Domingos Leite Lima Filho, Ivone Maria Elias Moreyra, dentre outros.
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resolve juntando conteúdos do ensino médio e os específicos da área técnica.
Assim, “tomar o trabalho como ponto de partida para a construção curricular na
perspectiva da politecnia significa superar a tarefa como foco, apontando a
necessidade da mudança” (KUENZER, 2003, p.20)
Também a Secretaria do Estado do Paraná se manifesta dizendo que:
Isto significa tomar o trabalho como foco, não reduzido a uma dimensão parcial e objetiva, mas como totalidade rica de complexas relações. Substitui-se, portanto, o conhecimento da relação entre produto do conhecimento humano a ser apreendido de forma mecânica, rotineira, pelo conhecimento do processo, enquanto um conjunto de relações, que revelam movimento (SEED/DEP, 2005).
Para consolidar uma política de educação é necessária uma mudança na
cultura pedagógica que rompa com os conhecimentos fragmentados. A formação
continuada para professores, gestores e técnicos tem um papel estratégico na
consolidação da mudança. Nesse contexto, o MEC, por meio da Rede Federal e
universidades federais, e os estados, por meio das universidades estaduais,
deveriam atuar em conjunto nas suas regiões para elaborar e executar ações de
formação para os professores que atuem tanto na área básica quanto na específica.
Desse modo, as políticas de educação do MEC, devem assumir como ponto
de partida, que a formação dos profissionais para o ensino médio integrado deve
guardar suas especificidades, mas também precisa estar inserida em um campo
mais amplo, o da formação de educadores para a educação profissional e
tecnológica.” Essa formação deve ir além da aquisição de técnicas didáticas de
transmissão de conteúdos para os professores e de técnicas de gestão para os
dirigentes” (MOURA, 2007b). Assim, o objetivo macro deve ser necessariamente
mais ambicioso, centrado no âmbito das políticas públicas, principalmente, as
educacionais e, particularmente, as relativas à integração entre a educação
profissional e tecnológica e a educação básica. Esse direcionamento tem o objetivo
de orientar a formação desses profissionais por uma visão que englobe a técnica,
mas que vá além dela, incorporando aspectos que possam contribuir para uma
perspectiva de superação do modelo de desenvolvimento socioeconômico vigente e,
dessa forma, privilegie mais o ser humano trabalhador e suas relações com o meio
ambiente do que, simplesmente, o mercado de trabalho e o fortalecimento da
economia (MEC 2007,p.34).
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Para Paulo Freire o processo educativo de caráter crítico-reflexivo, o
professor deve assumir uma atitude orientada pela e para a responsabilidade social.
Nessa perspectiva, o docente deixa de ser um transmissor de conteúdos acríticos e
definidos por especialistas externos, para assumir uma atitude de problematizador e
mediador no processo ensino-aprendizagem sem, no entanto, perder sua autoridade
nem, tampouco, a responsabilidade com a competência técnica dentro de sua área
do conhecimento (FREIRE, 1996, p.22).
Além disso, é necessário fazer esforços em três dimensões distintas e
igualmente importantes: a formação daqueles profissionais que já estão em
exercício, os que estão em processo de formação e os que ainda vão iniciar
formação como futuros profissionais da educação profissional e tecnológica
(MOURA,2007b).
Mediante o exposto o objetivo deste artigo é: uma breve discussão acerca
das proposições do Documento do Estado do Paraná Fundamentos Políticos e
Pedagógicos da Educação Profissional no Paraná com o fim de dimensionar as
proximidades entre as concepções desse Documento e as asserções acerca do
trabalho como princípio educativo em Gramsci, no elemento integrador entre cultura
e ciência e, orientar todo o processo educativo no âmbito da escola.
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E SUAS CONCEPÇÕES4
A educação brasileira carrega consigo, desde o início da sua história, uma
concepção que tem duas vertentes, sendo uma para atender à classe trabalhadora e
outra para atender à classe dirigente, confirmando, a dualidade educacional, que é
manifestada pela dualidade social, fruto da sociedade capitalista (Ramos, 2007, p.
2). Dessa maneira, está posto, de forma bem clara, que há “distinção entre aqueles
que pensam e aqueles que executam as atividades” (MOURA, 2007, p. 8). Desttut
de Tracy, afirma essa distinção, dizendo que:
Os homens de classe operária têm desde cedo a necessidade do trabalho de seus filhos. Essas crianças precisam adquirir desde
4 As reflexões aqui apresentadas se baseiam nos artigos publicados no livro “Ensino Médio Integrado: concepções e contradições”, organizado por Frigotto, Ciavatta, Ramos (2005) e em texto de Ramos (2007), intitulado “Concepção do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional”. Estes textos foram publicado em livro organizado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
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cedo o conhecimento e, sobretudo, o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo nas escolas, [...]. Os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; têm muitas coisas para aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. Esses são fatos que não dependem de qualquer vontade humana; decorrem necessariamente da própria natureza dos hímens e da sociedade: ninguém está em condições de mudá-los. Portanto trata-se de dados invariáveis dos quais devemos partir. (TRACY apud MARISE, 2007, p. 2).
A história da dualidade educacional coincide com a história da luta de classes
no capitalismo. Por isto a educação permanece destinada aos que produzem a vida
e a riqueza da sociedade usando sua força de trabalho e aquela destinada aos
dirigentes, às elites, aos grupos e segmentos que dão direção e orientação a
sociedade.
A escola, portanto, não pode ficar subordinada à lógica da produção, mas
também não pode ignorar as exigências demandadas dela, a escola tem então o
papel da leitura crítica desse mundo de produção.
Em 2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da
República, houve animadas discussões acerca do Decreto Federal nº. 2.208/1997,
com a participação de sindicatos e de pesquisadores com amplo conhecimento
sobre educação e trabalho, retornando a abordar a educação politécnica,
compreendendo-a como uma educação: “[...] unitária e universal destinada à
superação da dualidade entre cultura geral e cultura técnica [...]” (MOURA, 2006, p.
19-20). Assim sendo, passou-se a defender uma formação profissional integrada ao
ensino médio, que nos fundamentos políticos e pedagógicos do Paraná diz que:
[...] Educação Profissional técnica de nível médio, que contemple a elevação da escolaridade com a profissionalização para um grande contingente de cidadãos cerceados do direito de concluir a educação básica e de ter acesso a uma formação profissional de qualidade, caracterizando-se, portanto, para além de um programa, institucionalizando uma política pública. (PARANÁ, SEED/DET, 2007, p. 1).
Para Colombo (2005) o princípio norteador da educação profissional foi
resgatado com o novo Decreto Federal nº 5.154/2004, que revogou o decreto
anterior (nº. 2.208/1997) e criou a modalidade de ensino médio integrado à
educação profissional, dando suporte para que o ensino médio e a educação
profissional fossem ofertados com matrícula única, assegurando ao educando um só
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diploma de nível médio-técnico. Ocorre, no entanto, que a dualidade continua no
ensino médio, não havendo a obrigatoriedade de oferta do ensino médio integrado à
educação profissional, ficando a cargo dos Estados e das escolas de ensino médio
decidir se ofertam ou não essa modalidade (COLOMBO, 2005, p. 21-22).
Colombo ao comentar em sua obra, Educação profissional e a universidade
tecnológica, refere-se aos artigos 39 e 40 da LDB de 1996, que tratam da educação
profissional, defende que:
Integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, sua finalidade é conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, devendo ser desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
Com a nova legislação do Decreto nº 5154/04, coube ao Ministério da
Educação apoiar as secretarias estaduais de ensino no processo de implantação
dessa nova modalidade de ensino.
O estabelecimento dessa nova modalidade educacional requer o rompimento
da dualidade estrutural que historicamente dividiu o ensino propedêutico da
formação profissional no Brasil. Com isso, precisa-se realizar uma profunda revisão
de paradigmas e de conceitos que estão implícitos nessa questão e colocar um fim à
indesejável oposição entre conhecimento geral e conhecimento específico (LODI,
2006).
Nesse contexto, a Educação Profissional integrada ao Ensino Médio, nos
documentos da Secretaria do Estado Fundamentos Políticos e Pedagógicos da
Educação Profissional e no documento da SETEC/MEC (2008), é expressa como
uma travessia na qual os caminhos para a politecnia estão presentes, mas não
concretizados.
Garcia (2006) aponta que devemos pensar na relação escola-comunidade e
educação e mundo do trabalho, visto que, é a escola que passa a ter a função de
preparar os jovens para esse modelo de sociedade, o que implica uma educação
voltada de fato para a vida e não apenas para o vestibular. Superar esta histórica
dualidade pode ser a grande positividade da integração.
Todavia, não podemos cair no discurso de que a escola deve preparar para o
mercado apenas, e que o ensino técnico deveria voltar-se apenas ao conhecimento
tecnológico.
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A perspectiva dessa integração pressupõe a busca pela qualidade do ensino
público para os jovens e adolescentes.
Analisando as orientações tanto da SEED/PR como da SETEC/MEC vê-se
entre elas muitas aproximações das categorias utilizadas, uma é a articulação com a
educação básica e o trabalho como princípio educativo; outra que no seu conjunto
expressam a concepção de Ensino Médio integrado a Educação Profissional em que
trabalho, ciência, tecnologia5 e cultura, além de ser um grande desafio, são
indissociáveis na construção de currículos integradores.
Ao acompanhar o processo de discussão, com a revogação do Decreto
2208/97 em 2003, o Estado do Paraná fomentou a perspectiva de integração entre
Educação Geral e Educação profissional de nível médio iniciando a política de
retomada da Educação Profissional já em 2004, por meio de ações dos órgãos da
Secretaria de Estado da Educação – SEED – PR, legitimadas pela aprovação de
Decreto 5154/04. Logo, estudos, reflexões a cerca da estrutura curricular apontaram
para uma nova formação do cidadão/aluno/trabalhador, na perspectiva da educação
politécnica (SILVA, 2007, p. 25).
Com a finalidade de orientar o processo de implantação do Ensino Médio
Integrado, em 2005, a SEED-PR lança o Documento intitulado Fundamentos
Políticos e Pedagógicos da Educação Profissional do Paraná, com os seguintes
pressupostos epistemológicos: Articulação com a educação básica; Trabalho como
princípio educativo; As mudanças no mundo do trabalho e as novas demandas da
educação profissional; Relações entre ciência, tecnologia e educação profissional;
Determinantes da integração entre educação básica e educação profissional
(PARANÁ, 2005).
Uma primeira proposição relaciona o trabalho, a cultura, a ciência e a
tecnologia como princípios fundamentais na constituição do currículo. O papel da
escola seria o de articular esses elementos em seu projeto político pedagógico.
Assim, a articulação entre trabalho, cultura, ciência e tecnologia é proposta com o
fim de permitir ao aluno reconhecer as transformações sociais decorrentes do
mundo do trabalho, ao mesmo tempo em que se viabilizaria a democratização do
acesso ao conhecimento acerca do trabalho, da cultura e da tecnologia.
5 Por tecnologias entendemos um conjunto de conhecimentos que se aplicam a determinado ramo de atividade, como, por exemplo, tecnologia mecânica, tecnologia elétrica, tecnologia eletrônica.
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Aceitar o trabalho como princípio educativo significa atribuir para todos os
trabalhadores o direito ao acesso à cultura, à ciência e à tecnologia, não de maneira
adestrada, mas de maneira a desenvolver as qualidades intelectuais e práticas dos
alunos, na perspectiva de uma formação humana mais geral. Por isso, merece
destaque a importância da manutenção do caráter público da escola.
A segunda proposição toma o trabalho como princípio educativo e eixo
articulador do currículo e das disciplinas. Desse modo define a construção de uma
base teórico-prática no âmbito do ensino médio integrado, proporcionando uma
formação cultural, política e científica.
Para tal, é necessário tomar o trabalho na sua dimensão total, como objeto
central do universo das complexas relações sócio-econômico-culturais, ou seja,
deve-se substituir o conhecimento da tarefa pelo conhecimento da relação entre
produto e processo.
O tratamento metodológico privilegiará a relação teoria/prática e
parte/totalidade na terceira proposição. É necessário priorizar a busca do
desenvolvimento, para além da simples memorização de passos e dos
procedimentos, ou seja, é preciso que o indivíduo tenha a concepção da totalidade,
das relações que ocorrem entre os fatos e a busca constante da sua reconstrução
no contexto histórico. Nesse aspecto, ressalta-se o princípio pedagógico que
demonstra a ineficiência das ações baseadas nos conteúdos, na quantidade de
informações trabalhadas de forma não articulada com o contexto teórico-prático, que
não permita a compreensão das estruturas e das formas de organização.
Ocorre, contudo, que a prática não fala por si mesma, pois os fatos do
cotidiano, ou fenômenos, devem ser identificados, contados, analisados e
interpretados, já que a realidade não se deixa revelar através da observação
imediata; é preciso ver além da imediaticidade para compreender as relações,as
conexões, as estruturas internas, as formas de organização, as relações entre parte
e totalidade, as finalidades que não se deixam conhecer no primeiro momento,
quando se percebe apenas os fatos superficiais, aparentes, que ainda não se
constituem em conhecimento. Saber entender e compreender o desenrolar dos
fatos, bem como as suas relações, conexões, estruturas internas, formas de
organização, relações entre parte e totalidade e as finalidades é indispensável para
que ocorra o processo de aprendizagem (SEED, 2005).
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Na quarta proposição os conteúdos que compõem cada percurso formativo
deverão ser organizados de modo a integrar as dimensões disciplinar e
interdisciplinar. O currículo deve permitir a articulação de projetos transdisciplinares
e ações disciplinares, visando possibilitar ao aluno o acesso à compreensão da
realidade, através da apreensão das complexas conexões que articulam parte e
totalidade.
Na quinta proposição os conteúdos da área de comunicação passam a ser
estratégicos, para a avaliação crítica, para o trabalho com segurança e
confiabilidade. Todas as formas e modalidades de comunicação devem ser
enfatizadas, a fim de inserir o indivíduo nos processos sociais e produtivos, além de
fomentar o relacionamento interpessoal e a sua integração sociopolítica.
Da mesma forma, na sexta proposição os conteúdos sobre as determinações
sociais, políticas e econômicas devem instrumentalizar o indivíduo para a análise
das relações sociais e produtivas e das transformações que ocorrem no mundo do
trabalho, a fim de compreender o processo do sistema produtivo vigente, sua
estruturação e reestruturação produtiva e as relações entre Estado e sociedade.
E por último, as relações entre ciência, cultura e sociedade, a partir de um
pensamento particularizado com o objetivo de reintegrá-lo ao todo depois de
compreendê-lo, aprofundá-lo, concretizá-lo, tomando-o como novo ponto de partida,
faz-se necessário à compreensão de que a produção do conhecimento passa pela
cultura e pelas diversas áreas do saber, que devem estar contempladas no Projeto
Político-Pedagógico da escola.
Já Kuenzer (2003) nos aponta que a integração entre conhecimento básico e
aplicado só é possível através da mediação do processo produtivo e que isto, não se
resolve juntando conteúdos do Ensino Médio e os específicos da área técnica.
Tomar o trabalho como ponto de partida para a construção curricular na perspectiva
da politecnia significa tomar o trabalho não reduzindo a uma dimensão parcial e
objetiva, mas sim como totalidade rica de complexas relações. Substitui-se, portanto,
o conhecimento da tarefa pelo conhecimento da relação entre produto e processo, o
que vale dizer, o conhecimento de um produto do conhecimento humano a ser
apreendido de forma mecânica, rotineira, pelo conhecimento do processo, enquanto
um conjunto de relações, que revelam movimento (SEED, 2005).
Para que haja uma Educação Profissional que realmente venha contribuir
para a formação de cidadãos no mundo do trabalho há necessidade de
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compreensão e conhecimento dos profissionais da educação, no que diz respeito a
proposta Pedagógica da Educação Profissional- SEED/PR. Entender que a
formação científica é importante, é essencial, porém a discussão sobre disciplinas,
currículo, finalidades e competências é fundamental pois entendendo o processo, o
profissional terá conhecimento ou esclarecimento para conduzir o educando nas
suas relações com o conhecimento e o mundo do trabalho. Disciplina aqui deve ser
entendida como conhecimento para além das necessidades práticas e manipulações
e assim dentro de cada disciplina, o aluno seja capaz no decorrer do curso, de
elaborar conceitos, e o que estes podem influenciar na integração com as demais
disciplinas.
O Ensino Médio integrado não tem função de profissionalizar mas inserir o
aluno de forma comunicativa interagindo no mundo do trabalho, entendendo o
trabalho como resultado da história, que humaniza o homem e que o faz sentir-se
bem.
CONCLUSÃO
Propusemos neste artigo, apresentar um conjunto de concepções, de
dimensões teórico-metodológicas da Educação Profissional que venha contribuir
como subsídio para a implementação de uma nova política pública para a Educação
Profissional no Estado do Paraná, inserida em um sistema nacional de educação
também em definição e construção, que tem como referência o trabalho como
princípio educativo, a escola unitária como diretriz organizativa e estrutural e a
formação politécnica como práxis pedagógica.
A efetiva consolidação dessas concepções, princípios e dimensões deve ser
entendida como uma possibilidade, resultante da luta concreta e cotidiana, na qual
os sujeitos são simultaneamente o Estado, a sociedade civil e a comunidade
educacional. Esta última deve ser construída com atuação efetiva de ação coletiva,
do coordenador de curso, do pedagogo e de cada professor em seu laboratório e
sala de aula, em usar métodos e técnicas que visam proporcionar aos alunos uma
formação de qualidade e em compasso com os princípios da formação integral pelo
movimento do processo que constrói e modifica, cotidianamente, a nova realidade
do aluno.
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É desse movimento que nasce uma nova escola e uma nova Educação
técnica e tecnológica concebida como um processo de construção social que integre
a qualificação profissional e educação científica, ética e política.
Assim, Silva (2008) diz que diante desse desafio, torna-se imprescindível a
construção de um projeto político-pedagógico capaz de articular a teoria e a ação
curricular sustentados no e pelo princípio educativo do trabalho.
A categoria trabalho como princípio educativo, própria de Gramsci, evidencia
que a função social, pedagógica e histórica, da escola é a de promover a articulação
entre trabalho manual e intelectual, entre teoria e prática, entre ciência, cultura e
trabalho enquanto componentes histórico-culturais da formação do indivíduo.
Desse modo, mostra-se fundamental o papel da escola na construção e na
(re) elaboração do Projeto Político Pedagógico com questionamentos como: “Qual
escola que temos” e “qual a escola que queremos”. Assim, é importante registrar
que a superação destas dificuldades dá-se num processo de dedicação e estudo por
parte dos envolvidos, principalmente no que tange aos pressupostos do currículo
apresentados na proposta pedagógica dos cursos de Educação profissional.
Tais pressupostos, inseridos na “filosofia da escola”, demandam o repensar
da sociedade capitalista, e a contribuição escolar na sua transformação. Tal tarefa,
de caráter coletivo, é fundamental. Dessa forma, trata-se de um processo educativo
que tem como objetivo a formação de sujeitos emancipados e protagonistas de
novas relações sociais, tendo o trabalho como uma delas. Este processo educativo
constitui-se, então, um grande desafio.
REFERÊNCIAS
____________. Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional LDB, Lei nº. 9.394/96, 20 de dezembro de 1996.
_____________. O Ensino Médio Integrado à Educação Profissional: concepções e construções a partir da implantação na Rede Pública Estadual do Paraná / Secretaria do Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento da Educação Profissional. – Curitiba: SEED – PR., 2008. – 230 p.
BRASIL. Decreto 2208, 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da Lei Federal nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
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BRASIL. Decreto 5.154, 23 de julho de 2004. Regulamenta o 2º do art.36 e os arts. 39 a 41 da lei nº9. 394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e dá outras providências. 2004.
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