Ficha Geografia - 12º Ano

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FICHA DE TRABALHO DE GEOGRAFIA C - N.º 3 12.º ANO JANEIRO DE 2014 1 A ESTRUTURA ECONÓMICA DEFORMADA Os problemas económicos e sociais que afetam os países subdesenvolvidos têm, na maioria dos casos, raízes de natureza estrutural às quais não é certamente estranha a situação de subalternidade das suas economias, face a outras economias mais fortes. Nestes países predomina largamente o setor primário, quer em termos de formação do Produto Nacional Bruto, quer em termos de população ativa. Neles se encontra uma agricultura tradicional e rotineira a par de explorações agrícolas especializadas (plantações). A indústria extrativa encontra-se implantada de forma a abastecer os mercados externos. O setor secundário assenta normalmente em atividades artesanais que exigem poucos recursos de natureza tecnológica, à exceção de algumas indústrias de ponta, viradas para o mercado externo. A industrialização é, assim, incipiente, consistindo, essencialmente, em atividades tradicionais: cerâmica, tecelagem, produção de farinha de peixe e de óleos vegetais, descasque de arroz, etc. O setor terciário é um setor atrofiado, já que, numa economia virada para a terra, o comércio é diminuto e rudimentar, ao mesmo tempo que os serviços, para além dos relacionados com atividades de exportação, se encontram mal organizados. Nestes países que, regra geral, foram territórios colonizados, existe, pois, ao lado do setor económico tradicional um conjunto de atividades mais modernas destinadas a servir o exterior. Essas atividades, funcionando quase sempre sem articulação com os restantes setores económicos tradicionais, não permitem que os seus benefícios possam ser aproveitados pela totalidade da economia e da população, já que foram implantadas para servir quase exclusivamente as economias dos antigos países colonizadores e foram mantidas, depois da independência política, por serem, apesar de tudo, as mais produtivas e já preparadas para fornecer o exterior, permitindo, assim a acumulação de divisas indispensáveis. Deste modo, verificamos a coexistência, nestes países, de dois setores económicos com características diferentes – um setor moderno funcionando para exportação e um tradicional destinado a servir o mercado interno.

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Estrutura económica deformada dos PVD

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FICHA DE TRABALHO DE GEOGRAFIA C - N.º 3 12.º ANO JANEIRO DE 2014

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A ESTRUTURA ECONÓMICA DEFORMADAOs problemas económicos e sociais que afetam os países subdesenvolvidos têm, na maioria dos casos, raízes de natureza estrutural às quais não é certamente estranha a situação de subalternidade das suas economias, face a outras economias mais fortes.Nestes países predomina largamente o setor primário, quer em termos de formação do Produto Nacional Bruto, quer em termos de população ativa. Neles se encontra uma agricultura tradicional e rotineira a par de explorações agrícolas especializadas (plantações). A indústria extrativa encontra-se implantada de forma a abastecer os mercados externos. O setor secundário assenta normalmente em atividades artesanais que exigem poucos recursos de natureza tecnológica, à exceção de algumas indústrias de ponta, viradas para o mercado externo. A industrialização é, assim, incipiente, consistindo, essencialmente, em atividades tradicionais: cerâmica, tecelagem, produção de farinha de peixe e de óleos vegetais, descasque de arroz, etc.O setor terciário é um setor atrofiado, já que, numa economia virada para a terra, o comércio é diminuto e rudimentar, ao mesmo tempo que os serviços, para além dos relacionados com atividades de exportação, se encontram mal organizados.Nestes países que, regra geral, foram territórios colonizados, existe, pois, ao lado do setor económico tradicional um conjunto de atividades mais modernas destinadas a servir o exterior. Essas atividades, funcionando quase sempre sem articulação com os restantes setores económicos tradicionais, não permitem que os seus benefícios possam ser aproveitados pela totalidade da economia e da população, já que foram implantadas para servir quase exclusivamente as economias dos antigos países colonizadores e foram mantidas, depois da independência política, por serem, apesar de tudo, as mais produtivas e já preparadas para fornecer o exterior, permitindo, assim a acumulação de divisas indispensáveis.Deste modo, verificamos a coexistência, nestes países, de dois setores económicos com características diferentes – um setor moderno funcionando para exportação e um tradicional destinado a servir o mercado interno. Não há dúvida de que estamos perante uma economia com uma estrutura deformada.

A MONOEXPORTAÇÃO

IMPORTÂNCIA DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS NO TOTAL DAS EXPORTAÇÕES DE ALGUNS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

Países Principais produtos exportados

% do valor das exportações destes produtos no total das

exportações do paísAngola Petróleo 90.13

Bermudas Pedras preciosas e semipreciosas

90.35

Burundi Café 82.89Cuba Açúcar e mel 74.74

República Dominicana Frutos e frutos secos 67.37Guiné Minérios 90.89

Uganda Café 96.06Fonte: Handbook of International Trade and Development Statistics, ONU.

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O MONOMERCADO

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PRINCIPAIS CLIENTES DOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOSPaíses Principais clientes Valor da exportação para

estes clientes em percentagem do total das

exportações do paísBahamas EUA 92.8%

Brunei Japão 66.8%Equador EUA 60.6%

Guadalupe França 75.9%Haiti EUA 79.4%

Martinica França 61.7%Santa Lúcia Reino Unido 67.4

Somália Arábia Saudita 86.5%Fonte: International Trade Statistics Yearbook.

A ESCASSEZ DE CAPITAL

A escassez de capital é, também, apontada como uma situação característica do subdesenvolvimento. Um grande número de autores considera mesmo a escassez de capital como uma das características mais importantes dos países subdesenvolvidos. De facto, o que atrás referimos sobre a deformação da estrutura/económica dos países subde-senvolvidos, a sua dependência relativamente a determinados bens Cotados no mercado internacional pelos países industrializados mais ricos, o endividamento externo resultante dos sucessivos empréstimos contraídos junto dos grandes bancos mundiais e de organizações internacionais no sentido de adquirirem meios para o seu desenvolvimento, etc., fazem com que a generalidade dos países subdesenvolvidos se debata com o problema da escassez de capital.Este problema é efetivamente grave e, para muitos autores, é o grande obstáculo a qualquer ação tendente ao desenvolvimento económico já que desencadeia um círculo vicioso de pobreza dificilmente ultrapassável.

O problema da escassez de capital está ainda intimamente ligado à forma como os rendimentos são repartidos nos países subdesenvolvidos.De fato, parte da riqueza criada durante o processo produtivo é expatriada sob a forma de lucros do capital estrangeiro investido, não contribuindo, pois, para o desenvolvimento económico dos países onde é criada.A parte restante é repartida de forma acentuadamente desigual pelos diversos elementos da população, levando à existência de um reduzidíssimo grupo de pessoas extremamente ricas e de uma larga maioria que vive em condições sub-humanas. Se a este último grupo não é permitido realizar qualquer tipo de poupanças, devido aos baixos rendimentos que aufere e que mal chegam para fazer

face às despesas com a sua sobrevivência, a concentração de elevados rendimentos nas mãos de uma pequena minoria também não produz um volume de poupança que sirva as necessidades de investimento destes países. De facto, não só o efeito demonstração vai canalizar os elevados rendimentos deste pequeno grupo de pessoas para despesas com bens supérfluos e luxuosos, como

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ainda muitas vezes optam por fazer aplicações financeiras nos países desenvolvidos devido à maior solidez e segurança dessas economias.Assim, sendo a poupança nacional insuficiente para satisfazer as necessidades de investimento do país, é costume advogar-se o recurso aos empréstimos externos. No entanto, a concessão de empréstimos por parte de capitalistas estrangeiros passa pela satisfação de condições que nem sempre acabam por favorecer os países com escassez de capital. Efetivamente, estes investidores não são movidos por interesses altruístas e, normalmente, exigem segurança e o mínimo risco possível, antes de colocarem os seus capitais no mundo subdesenvolvido.A escassez de capital é, de facto, um indício de pobreza embora não possa constituir uma justificação sólida para o subdesenvolvimento dos países. Na verdade, de grande parte dos países subdesenvolvidos saem fluxos financeiros que se destinam: ao pagamento de juros e amortização de dívidas; ao investimento nos países desenvolvidos, feito pelos grupos sociais detentores de grandes riquezas mas que a fragilidade do mercado interno não estimula para aplicação de capitais; ao repatriamento de lucros das empresas transnacionais, etc.