Ficha formativa "A Cultura da Gare 2"

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ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA IBN MUCANA História da Cultura e das Artes – 11ºF – 2012/2013 Ficha formativa 4 _________________________________________________________________________________ ________ Módulo 8 – A Cultura da Gare 1. Descreve os factores que contribuíram para o aparecimento da pintura impressionista. Na época, a França vivia um período de desenvolvimento económico e de estabilização política e social, permitindo um florescimento cultural (letras, ciências, artes), fazendo de Paris um pólo cultural da Europa. A vida social intensifica-se, tornando-se frequente as idas ao teatro, à ópera, ao vaudeville, aos cafés e às mostras de arte. A pintura impressionista surge entre 1860 e 1870, entre um grupo de jovens artistas que se reunia no Café Guerbois, em Paris, para discutir as suas incertezas e atitudes perante a arte, numa altura em que a fotografia como técnica inovadora e revolucionária da representação do real. A fotografia, ao fazer a reprodução exata da natureza, liberta a pintura da representação realista da natureza, pelo que os artistas procuram novas formas de representação da realidade. Os pintores impressionistas vão ser influenciados pelas estampas japonesas (concepção livre da forma e da composição, cores puras e claras, bidimensionalidade, linearidade do desenho, decorativismo), conduzindo a uma ruptura com os cânones tradicionais da representação pictórica. Para além disso, vão receber do Romantismo (Constable e Turner) o paisagismo e a captação de ambiências atmosféricas, da “Escola de Barbizon” a pintura ao ar livre, do Realismo o interesse pelo quotidiano diretamente observado e da fotografia os novos enquadramentos e novas perspectivas. A pintura impressionista vai ainda beneficiar das descobertas científicas na ótica, cor e perceção e do fabrico industrializado das tintas em tubo.

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ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA IBN MUCANAHistória da Cultura e das Artes – 11ºF – 2012/2013

Ficha formativa 4_________________________________________________________________________________________

Módulo 8 – A Cultura da Gare

1. Descreve os factores que contribuíram para o aparecimento da pintura impressionista.

Na época, a França vivia um período de desenvolvimento económico e de estabilização política e social,

permitindo um florescimento cultural (letras, ciências, artes), fazendo de Paris um pólo cultural da

Europa. A vida social intensifica-se, tornando-se frequente as idas ao teatro, à ópera, ao vaudeville, aos

cafés e às mostras de arte.

A pintura impressionista surge entre 1860 e 1870, entre um grupo de jovens artistas que se reunia no

Café Guerbois, em Paris, para discutir as suas incertezas e atitudes perante a arte, numa altura em que a

fotografia como técnica inovadora e revolucionária da representação do real. A fotografia, ao fazer a

reprodução exata da natureza, liberta a pintura da representação realista da natureza, pelo que os artistas

procuram novas formas de representação da realidade.

Os pintores impressionistas vão ser influenciados pelas estampas japonesas (concepção livre da forma e

da composição, cores puras e claras, bidimensionalidade, linearidade do desenho, decorativismo),

conduzindo a uma ruptura com os cânones tradicionais da representação pictórica.

Para além disso, vão receber do Romantismo (Constable e Turner) o paisagismo e a captação de

ambiências atmosféricas, da “Escola de Barbizon” a pintura ao ar livre, do Realismo o interesse pelo

quotidiano diretamente observado e da fotografia os novos enquadramentos e novas perspectivas. A

pintura impressionista vai ainda beneficiar das descobertas científicas na ótica, cor e perceção e do

fabrico industrializado das tintas em tubo.

2. Caracteriza a pintura impressionista, a nível temático e formal.

A pintura impressionista opõe-se ao intelectualismo sociopolítico do Realismo e às concepções

neoclássicas e românticas do Academismo. É uma pintura mais intuitiva e espontânea, realizada perante

o motivo, em imediatismo de percepção e sensação, pretendendo captar uma dada realidade, parcial,

sensível e fugaz. O objetivo passa a ser captar a luz e os seus efeitos sobre a Natureza, as pessoas e os

objectos, pelo que o tema perde importância. A pintura passa a ser uma tradução pictográfica da verdade

sensível e perceptiva da realidade.

Os pintores impressionistas banalizaram os temas, que foram reduzidos à realidade visível, tendo

preferido a paisagem e as cenas sociais de lazer urbano. Preferiram a pintura ao ar livre, registando o

instante luminoso, fugidio, em constante mutação, conforme o momento do dia, da estação do ano ou

das condições atmosféricas.

Aplicaram técnicas inovadoras. A pintura executa-se no momento, perante o motivo, excluindo todos

os estudos de composição e os esboços prévios e negando a racionalização e a teorização especulativa

na arte. Por outro lado, a pintura é feita exclusivamente pela cor: é esta que constrói as formas, sendo

usada pura, tirada diretamente dos tubos, sem mistura prévia. A tinta é aplicada com pinceladas curtas,

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rápidas, fragmentadas. As pinceladas são justapostas de acordo com a lei das cores complementares de

modo a obter a fusão dos tons (síntese ótica). Por isso, os quadros têm um aspeto inacabado e rugoso, de

cores abertas, formas e volumes pouco definidos e quase desmaterializados. As obras, pondo em

evidência os jogos “frios e crus” da luz e da cor, libertam-se das velhas noções de claro-escuro e da

visão racionalizada da realidade física. Os quadros têm um aspeto fluido, dinâmico e vibrante de

colorido, rico de emoções sensoriais e plásticas. Face a este conjunto de inovações técnicas, os pintores

impressionistas sofrem da rejeição dos críticos e do público do seu tempo.

3. Identifica os pintores impressionistas, destacando as principais características de cada um.

- Édouard Manet (1832-1883): pintor de transição, é considerado como um renovador da pintura

académica, com uma temática descomprometida. Possui uma paleta clara, sem gradação cromática entre

tons claros e escuros, uma pincelada solta e a bidimensionalidade. Obras: O Almoço na Relva, Música

nas Tulherias, , Olympia.

- Claude Monet (1840-1926): dedicou-se a representar sobretudo paisagens campestres e marinhas e

temas experimentais de análise dos efeitos da luz ambiente sobre a cor e as formas, na procura da sua

impressão. As suas obras transmitem a fragmentação do espaço, a diluição da forma, o esbatimento do

desenho e, ao limite, a desmaterialização da pintura. Obras: Impressão:Sol Nascente; Catedral de Saint-

Lazare, Catedral de Ruão

- Edgar Degas (1834-1917): recusando a prática en plein air, criou em atelier imagens retiradas ao

instantâneo da acção quotidiana, sobre as quais aplicou uma visão quase fotográfica. Representou cenas

de interior (bastidores de ópera, cafés), com enquadramentos e perspetivas inusitadas, inspirando-se nas

fotografias e nas estampas japonesas. Tem um desenho menos difuso. Obras: O Absinto, A Aula de

Dança

- Auguste Renoir (1841-1919): preferência pelas cenas sociais dos pequenos lazeres da burguesia

urbana e pelo nu feminino; pinceladas curtas e transmissão do efeito da passagem da luz sobre as

pessoas e os objectos; este era, de facto o seu verdadeiro tema, os efeitos luminosos, as atmosferas

vibrantes e as superfícies transparentes. Obras: Le Moulin de la Galette, O Baloiço

4. Caracteriza o Neoimpressionismo, identificando os seus principais representantes.

O Impressionismo foi alvo de várias críticas: não concretizaram a teoria da cor; a execução imediata

tornava os pintores negligentes e intuitivos na aplicação da cor; as pinceladas sobrepostas acabavam por

misturar as cores. O Neoimpressionismo defendeu um maior rigor na aplicação das teorias sobre a cor.

Georges Seurat (1859-1891) descobriu um novo processo de execução, que consistia no pontilhismo

(pinceladas reduzidas a pequenas manchas arredondadas, que evoluíram para minúsculos pontos) e no

divisionismo (cores puras não misturadas, cientificamente colocadas umas ao lado das outras, de acordo

com a lei das cores complementares). A uma certa distância, as manchas cromáticas misturam-se, dando

forma ao objecto.

No Neoimpressionismo, a representação do instante luminoso perde importância e aumenta a

importância dada ao jogo da harmonia das cores, havendo uma rigorosa construção de cores, de formas

e de linhas, segundo as leis universais da harmonia. Os principais temas eram a vida citadina, as

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paisagens marítimas e as diversões. Os pintores pintam em grandes telas executadas em atelier a partir

de estudos ao ar livre. A expressividade é sempre de grande tranquilidade.

Outros representantes do Neo-impressionismo são Paul Signac e Pissaro.

5. Caracteriza o Pós-Impressionismo.

O Pós-Impressionismo designa um período artístico que se estende entre 1880 e 1900, onde se cruzam

diferentes tendências e diferentes autores, na busca de novos caminhos para a arte. Ao Impressionismo

vão buscar a separação entre a pintura e a representação mimética da Natureza, interpretada através da

cor e da bidimensionalidade; mas afastam-se também do Impressionismo pois reagem contra a

superficialidade da sua análise ilusionística da realidade.

6. Identifica os pintores pós-impressionistas, destacando as principais características de cada um.

Van Gogh (1853-1890) é um pintor de desenho anguloso e violento, que utiliza cores contrastadas

(contrastes simultâneos de cor) e arbitrárias, formas sinuosas e flamejantes, pincelada larga e pontilhada,

com uma intencionalidade marcadamente expressionista, pretendendo transmitir a realidade tal como é

sentida pelo pintor. Personificou também a natureza, atribuindo-lhe estados de alma.

Paul Cézanne (1839-1906) quis fixar a realidade em imagens mais sólidas e permanentes, começando a

articular formas e cores mais geometrizantes. A sua pintura, expressa em numerosas paisagens,

naturezas mortas e retratos, associou a luminosidade impressionista ao rigor da forma e volume. A sua

técnica baseava-se na cor, aplicada com pincelada curta.

Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o pintor da vida boémia de Paris, apresentada de forma crítica, até

obscena e grotesca. Este próximo dos Impressionistas e recebeu influências das estampas japonesas e de

Degas no gosto pelo desenho delicado e linear, sobressaindo dos fundos na cor da tela ou do papel,

acentuando a bidimensionalidade e aproximando-se da ilustração. A sua expressão formal reflecte

nítidas influências da Arte Nova.

Paul Gauguin (1848-1903) também recebe influências das estampas japonesas e da arte medieval do

vitral na simplificação/sintetização das formas, fechadas pela linha de contorno a negro e preenchidas

com cores planas, sem modelado. Em Paris contactou com Pissarro, Cézanne e Van Gogh ,

aproximando-se ao impressionismo. Na procura da pureza original na vida e na arte, refugiou-se

primeiro em Pont-Aven na Bretanha (onde retratou a simplicidade da comunidade rural) e depois nas

ilhas da Polinésia Francesa, sendo o pintor da evasão, da recusa da vida moderna e do exotismo.

Retratou temas da natureza, explorando o seu carácter alegórico, místico, simbólico e exótico (a cultura

popular bretã ou as culturas e civilizações primitivas). Predominam as formas bidimensionais,

estilizadas e estáticas, circundadas pela linha a negro. Utiliza cores fortes, contrastantes e planas, sem

modelado, encarando a pintura, não como cópia da realidade, mas como a sua transposição mágica e

imaginativa.

7. Caracteriza o simbolismo.

O simbolismo procura revelar o mundo do espírito, dos mitos e da magia. Para o Simbolismo, a pintura

não é a cópia da realidade, mas sim a sua transposição mágica, imaginativa e alegórica. A arte deve

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reflectir mais que o aspecto exterior das coisas, serve para revelar o mundo o espírito, dos mitos, da

magia. Com o Simbolismo, há uma separação definitiva entre arte e a representação da Natureza.

Para Albert Aurier, a obra simbolista deverá ser ideísta, pois o seu único ideal será a expressão da

Ideia;simbolista, pois exprimirá esta ideia em formas; sintética, pois escreverá estas formas, esses sinais,

segundo um modo de compreensão geral; e subjectiva (é uma consequência) porque a pintura decorativa

propriamente dita não é senão uma manifestação de arte ao mesmo tempo subjectiva, sintética,

simbolista e ideísta.

O Simbolismo não tem unidade estilística, pois inclui: o sintetismo de Gauguin, a escola de Pont Aven,

uma série de percursos individuais e o Grupo dos Nabis (continuadores das propostas plásticas de Pont

Aven). De uma forma geral, os pintores simbolistas adotaram formas simplificadas e cores puras e

deram pouca relevância à temática (alguns mais intimistas e decorativos).

8. Apresenta o contributo de Rodin para a escultura na segunda metade do século XIX.

Auguste Rodin foi o grande renovador da escultura europeia nas últimas décadas do século XIX,

aproximando-a dos objectivos e da estética da pintura do seu tempo. Formado segundo as regras do

academismo romântico, recebeu influências de Miguel Ângelo (pelo gosto pela figura humana e pela

forma inacabada) e dos Românticos (pela transmissão de emoção). As suas obras caracterizam-se pelo

realismo formal e pelo rigor anatómico. Contrapôs as formas lisas, polidas e aveludadas dos corpos ao

bloco de pedra rugoso, inacabado. As suas peças estão repletas de superfícies reentrantes e salientes,

côncavas e convexas, que absorvem e reflectem a luminosidade, criando, através do movimento

expressivo, uma ilusão de força, dinamismo e vitalidade. As marcas dos seus dedos ficam fixadas,

deixando aí os sinais de uma forte personalidade, preocupada em captar os aspetos emocionais,

transitórios e fugidios.

9. Apresenta a conjuntura política, económica e cultural de Portugal na segunda metade do século

XIX.

A partir de 1851, inicia-se a Regeneração, um período de estabilidade política e de crescimento

económico. No entanto, nos finais do século, Portugal atravessa uma grave crise económico-financeira

(1889-1892), à qual se segue um período de agitação com a Ditadura de João Franco (1907), o

Regicídio (1908) e, por fim, a implantação da República (1910).

10. Demonstra a permanência do Naturalismo e do Realismo em Portugal até meados do século XX.

A crise económica e a instabilidade política explicam o atraso cultural de Portugal, o que se reflectiu na

Arte. Para além da falta de originalidade e de inovação, existia um grande conservadorismo o que

arrastou o período de vigência do Neoclassicismo e do Romantismo, atrasando a chegada das novas

correntes artísticas.

Na pintura, o Naturalismo (sobretudo sentimental e romântico) foi a corrente de maior aceitação em

Portugal, fazendo a transição do Romantismo para o Modernismo.

11. Apresenta os principais pintores e escultores portugueses deste período e as principais

características de cada um.

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Silva Porto e Marques Oliveira foram os responsáveis pela introdução do Naturalismo em Portugal.

Tendo estado em França, entraram em contacto com os pintores da “Escola de Barbizon”, com os

realistas e com os impressionistas. Foram ambos professores nas Academias de Lisboa e do Porto,

respetivamente.

José Malhoa pintou cenas de género, de caráter sentimental e popular, foi um cronista da vida citadina

da pequena burguesia, com um forte cunho de ingenuidade e optimismo. Algumas obras têm nítidas

influências do Impressionismo.

Sousa Pinto, influenciado pelo Realismo, pintou sobretudo cenas do campo.

Pousão, marcadamente naturalista com algumas influências impressionistas, pintou quadros de pequeno

tamanho, composições rigorosas e personalizadas.

Columbano Bordalo Pinheiro foi um retratista da pequena burguesia lisboeta (retrato psicológico),

demonstrou gosto pelo anedótico e pitoresco (próximo da caricatura) e preferiu temas sociais, captados

em interiores e terminados no atelier.

Soares dos Reis foi o escultor que se destacou na época. Esteve mais próximo do Romantismo do que

do Naturalismo, tendo sido capaz de captar no mármore os sentimentos do ser humano. Com influências

clássicas nas técnicas e na composição, as suas obras denotam uma forte modelação com jogos de luz e

sombra, subtileza de movimentos, tratamento naturalista e minucioso nas roupagens.

Compromisso entre o classicismo académico e a liberdade temática e expressiva

12. Justifica o contributo dos engenheiros para as inovações registadas na arquitectura na segunda

metade do século XIX.

Na segunda metade do século XIX predominou a estética romântica, histórica e revivalista, tendo-se

valorizado as questões formais e estéticas pela escolha de materiais nobres, a eleição do estilo, os temas

de decoração, a harmonia e o equilíbrio das formas. As potencialidades técnicas dos novos materiais,

como o ferro e o vidro, foram desvalorizadas pelos arquitectos da época. Os engenheiros foram os

verdadeiros responsáveis pelas inovações na arquitectura da época devido a uma visão prática e a uma

maior preparação científico-técnica nas Escolas Politécnicas, o que lhes permitiu a aplicação de saberes

científicos obtidos no ramo da física mecânica, da resistência e comportamento dos materiais, da

geometria(Gaspar Monge – invenção da GD), da matemática e do metro-padrão. Desde modo,

utilizaram os novos equipamentos e novos meios construtivos, produzidos industrialmente e por isso

mais baratos, como o tijolo cozido, o ferro e o vidro, até meados do século e, posteriormente, também o

aço, o cimento armado e o betão. Os engenheiros tinham uma visão mais pragmática (menos poética),

mais racionalista e funcionalista (pode não ser bonito mas tem que ser útil), em relação às construções,

que os arquitectos.

Este carácter pragmático surge face às novas necessidades criadas pelo crescimento urbano: o

alojamento dos trabalhadores, o sistema de transportes e o melhor aproveitamento dos espaços

(construção em altura), o que torna necessário rever os sistemas, os processos e os modelos construtivos

13. Descreve a forma como foram aplicados os novos materiais nas construções da época.

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O ferro foi utilizado em pontes e aquedutos e permitiu a construção de grandes espaços com estruturas

leves, resistentes e não inflamáveis. O vidro foi utilizado na construção de grandes estufas, coberturas

para estações e grandes superfícies verticais (Crystal Palace). A utilização do betão permitiu a

construção vertical e o crescimento muito rápido de cidades. Estes materiais foram aplicados sem

qualquer preocupação estética, nos edifícios para fins industriais, comerciais ou de exposições, fazendo

da arquitectura como meio para atingir um fim.

14. Refere as vantagens da utilização do ferro na construção das novas estruturas.

A utilização do ferro permite a criação de estruturas construtivas mais resistentes, mais baratas e rápidas

de montar e adaptáveis a todas as dimensões e formas. A resistência, preço e funcionalidade

comprovada nas pontes, permitiu a sua utilização em estrutura de grandes cúpulas e outras coberturas

arrojadas. Por outro lado, permitia vãos abertos muito maiores, que deixavam entrar a luz, podendo ser

usados sem que delimitassem um espaço interior.

15. Identifica as novas estruturas construídas na época.

Como exemplos de novos equipamentos e infra-estruturas podem ser mencionados:

• edifícios: fábricas; armazéns; mercados; galerias comerciais; pavilhões de exposição; gares;

• pontes metálicas;

• ascensores urbanos;

• estufas e equipamento de jardins públicos.

16. Descreve as duas tendências inovadoras da arquitectura de ferro.

A arquitectura de ferro teve duas tendências inovadoras: uma primeira, que consistiu na necessidade de

modernizar os sistemas e processos construtivos, aproveitando os recursos da industrialização e o

avanço da engenharia; e uma segunda, que consistiu no desenvolvimento de novos gostos e outros

conceitos estéticos.

A modernização dos sistemas de construção fez-se pela aceitação do esqueleto construtivo em ferro (que

permitiu a libertação das paredes da sua função estrutural) e a utilização da construção modular e de

elementos prefabricados e estandardizados (que permitiram aumentar a resistência do edifício e tornar a

sua construção mais barata e mais rápida).

O aparecimento de uma nova estética assentou nos elementos estruturais e não mais nos artifícios

decorativos. As longas e finas barras de ferro das estruturas, aliadas ao vidro, substituíram a ideia do

volume plástico fechado, ligado à construção em pedra, permitindo a passagem de luz.

17. Insere o aparecimento da Arte Nova na conjuntura da época.

A Arte Nova surge na época da Belle Époque, um movimento cultural existente na Europa entre 1890 e

1914, que se caracterizou por uma prosperidade económica, paz e estabilidade política e progressos

científicos e técnicos, conduzindo a um clima de optimismo e de confiança no futuro. Foi o primeiro

movimento integrado no Modernismo, movimento cultural e artístico que atingiu todas as artes e que

significou uma ruptura com a tradição e uma procura de novas expressões que melhor correspondessem

ao progresso e à nova estética.

18. Descreve as influências sofridas pela Arte Nova.

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A Arte Nova sofreu uma série de influências:

o o movimento Arts and Crafts, no seu princípio de «unidade das artes», de renovação das «artes

industriais» e desenvolvimento das artes decorativas, no sentido de restituir a qualidade estética

aos produtos;

o a arte japonesa, no seu desenho gráfico, bidimensionalidade e naturalismo;

o o gótico, na expressividade da linha fluida e sinuosa;

o o Rococó, no naturalismo e decoração requintada

o a arquitectura do ferro e do vidro, na utilização das novas técnicas e materiais;

o o simbolismo, na estilização da forma.

19. Descreve as características da Arte Nova.

As inovações formais, técnicas e estéticas da Arte Nova foram as seguintes:

• ruptura com as tradições historicista, académica e revivalista aceites na época;

• formas, estruturas e texturas orgânicas inspiradas na natureza (fauna e flora);

• linha sinuosa, estilizada ou geometrizada;

• integração de novas técnicas e de novos materiais (mosaico, ferro, vidro, betão, madeira), com a

exploração das suas qualidades plásticas e expressivas;

• funcionalidade dos espaços interiores, nos quais se articulam os elementos estruturais com as formas

decorativas;

• assunção do arquitecto como, simultaneamente, artesão e designer, já que concebe também a

decoração de interiores (adereços, mobiliário, equipamentos).

20. Apresenta os principais focos da Arte Nova, os seus principais representantes e as suas

características.

A Arte Nova teve duas tendências: uma primeira, com a tónica na estética ornamental, floral, naturalista

e curvilínea e outra, mais estrutural, geométrica e funcionalista sem, contudo, abandonar o ornamento

(que tratou de forma mais contida, planimétrica e abstratizante).

Bélgica:

- Victor Horta: edifícios de estruturas simples e sóbrias, fachadas movimentadas, grandes janelões,

interiores funcionais, aliança decoração/elementos estruturais, jogos de espelhos e pinturas ilusórias

- Henry van de Velde: pintor, arquiteto e designer de mobiliário formal e funcional

Arte Nova Francesa - Hector Guimard: entradas para o metro de Paris (armações e redes metálicas e

formas vegetalistas)

Catalunha:

- Luís Domenech i Montaner: formas simples; uso de materiais locais (ladrilhos cozidos de cor

vermelha

- Antoní Gaudi (arquiteto-escultor ou arquiteto-poeta): influências locais de raíz gótica e mudéjar,

construções e plantas orgânicas, com modelação dinâmica dos volumes estruturais e mistura de

materiais (betão, ferro, vidro, madeira, tijolo, cerâmica e azulejos multicolores)

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Escola de Glasgow, Escócia - Charles Rennie Mackintosh: estruturas ortogonais de ferro, com

paredes lisas de pedra, grandes superfícies envidraçadas, decoração contida e um racionalismo

estrutural e geométrico. Também realizou trabalhos decorativos e mobiliário marcados pelo

racionalismo mais estrutural e geométrico.

Áustria - “Escola de Secessão Vienense” ( pintor Gustave Klimt e arquitetos como J. Maria Ölbrich

e Joseph Hoffman): caracterizado pelo modernismo pré-racionalista, simplificação geométrica dos

volumes e das formas, distribuição simétrica, racional e funcional dos espaços e decoração austera.

Escola de Chicago : amodernização dos sistemas de construção permitiu o aparecimento de edifícios

em altura, caracterizados pela regularidade horizontal e vertical. Frank Loyd Wright surge já

integrado na arquitetura organicista e funcional, pela integração do edifício no meio envolvente

euma nova conceção estética do espaço interior, alargado e projetado sobre o exterior.

21. Demonstra o desenvolvimento das artes decorativas com a Arte Nova.

Uma das maiores contribuições do Modernismo e, em particular, da Arte Nova, foi a importância que

nele alcançaram as artes aplicadas, elevadas à estatura da arquitectura ou da pintura. Herdeiros do

pensamento de Morris e do movimento Arts and Crafts deitaram a baixo barreiras entre as diferentes

modalidades, praticando com frequência várias delas com igual relevância, podendo ser

simultaneamente arquitectos, designers ou escultores. Por outro lado, foram criados objectos úteis,

funcionais e estéticos, produzidos industrialmente, contribuindo para a qualidade estética do quotidiano.

Exemplos disso são alguns objectos do quotidiano, como candeeiros, cadeiras, jarras. O grafismo Arte

Nova também se desenvolveu na cerâmica, no têxtil e, sobretudo, nas artes gráficas ligadas ao cartaz

publicitário e à ilustração de jornais, revistas e livros. Copiados em formas cada vez menos depuradas,

caíram no exagero ornamental, na artificialidade e na superficialidade, provocando, a partir de 1910, um

progressivo esquecimento.

22. Refere a forma como a arquitectura de ferro e a Arte Nova estiveram presentes em Portugal.

A arquitectura do ferrro teve uma entrada tardia e pouco significativa. Foi utilizada sobretudo na

arquitetura utilitária (gares, mercados, pontes, armazéns, estufas), tendo o ferro sido conjugado com

materiais tradicionais, com desenhos e formas revivalistas (arquitetura eclética). Exemplos de

construções: Palácio de Cristal, no Porto; a gare da Estação de Santa Apolónia e do Rossio, em Lisboa,

e da Estação de São Bento, no Porto; as pontes de D. Maria e de D. Luís, no Porto; o Mercado das

Flores e o Mercado do Bolhão no Porto; o mercado da Praça da Figueira, em Lisboa; o Coliseu dos

Recreios em Lisboa, os Armazéns do Grandela; o Elevador de Santa Justa (Raoul Mesnier du Ponsard).

A Arte Nova também teve uma implantação tardia, tendo sofrido sobretudo a influência da Arte Nova

francesa, e teve uma curta duração, entre 1905 e 1920. Foi aplicada em prédios da burguesia urbana, em

particular no Porto e em Aveiro. Foi integrada na arquitetura tradicional, sem inovação estrutural, tendo

por isso, um carácter decorativo. Foi utilizada sobretudo em:

- Serralharia artística: portões, gradeamentos de varandas, escadarias e janelas

- Escultura decorativa em cantaria ou massa de cimento: molduras de portas e janelas, mísulas, florões,

relevos e arabescos

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- Azulejos de caráter naturalista nas fachadas, em frisos horizontais ou verticais, nas cimalhas,

arquitraves e fachadas.

Exemplos de edifícios: Animatógrafo do Rossio, pastelaria Tentadora, leitaria A Camponesa, tabacaria

Mónaco, a estação de Metro de picoas, a Garagem Auto-Palace, a mercearia A Pérola do Bolhão.