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DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES NA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASOS
Fernando de Castro Villela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
Orientador: Rebecca Arkader
Rio de Janeiro
2003
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DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES NA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASOS
Fernando de Castro Villela
Dissertação submetida ao corpo docente da COPPEAD da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
___________________________________ Orientadora
Profa. Rebecca Arkader (COPPEAD/UFRJ)
___________________________________
Prof. Kleber Figueiredo (COPPEAD/UFRJ)
___________________________________
Prof. Ronaldo Andrade (COPPE/UFRJ)
Rio de Janeiro, RJ
2003
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Villela, Fernando de Castro.
Desenvolvimento de Fornecedores na Indústria AutomobilísticaBrasileira: um Estudo de Casos / Fernando de Castro Villela. Rio deJaneiro: UFRJ/COPPEAD, 2003
xii, 82 p.
Dissertação (Mestrado em Administração) - UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração,2003.
Orientadora: Rebecca Arkader
1. Desenvolvimento de Fornecedores. 2. Compras. 3. IndústriaAutomobilística. I Arkader, Rebecca (Orient.). II. Universidade Federaldo Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.
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AGREDECIMENTOS
À minha família pelo apoio na minha formação e por sempre acreditar em mim.
À minha orientadora, Rebecca Arkader, pela paciência, orientação e principalmente pela
insistência nos momentos de quase desistência.
Aos professores do COPPEAD pela dedicação e a turma 2001 pelo companheirismo.
À banca avaliadora pela disponibilidade.
A todos os funcionários do COPPEAD, principalmente a Secretaria Acadêmica, pela
presteza.
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VILLELA, Fernando de Castro. Desenvolvimento de Fornecedores na Indústria
Automobilística Brasileira: um Estudo de Casos. Orientadora: Profa. Rebecca Arkader.
Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003. Dissertação (Mestrado em Administração).
A presente dissertação teve por objetivo investigar as características dos
processos de desenvolvimento de fornecedores na indústria brasileira, mais
especificamente, o estudo visou identificar os principais aspectos da tomada de decisão
de implementar um programa de desenvolvimento de fornecedores, tais como a seleção
dos fornecedores participantes, as peculiaridades da implementação, os benefícios
esperados e percebidos, as barreiras encontradas, os riscos percebidos e as perspectivas
futuras deste tipo de projeto. Para isso, foram estudadas três montadoras com
instalações no Brasil e com origens diferentes (Japão, Estados Unidos e Europa).
O estudo revela o estágio avançado em que se encontra a indústria
automobilística local no processo de desenvolvimento de fornecedores, observando-se
resultados satisfatórios nos programas implementados. O trabalho mostra que a cultural
da matriz exerce influência sobre o relacionamento com os fornecedores. Observa-se,
também, o envolvimento da alta gerência e o trabalho de equipe multifuncionais como
fatores críticos para o sucesso do programa. A falta de alinhamento estratégico e
afinidade cultural se apresentam como alguns dos principais entraves, além da
dificuldade financeira dos fornecedores, que necessitam arcar com investimentos em
melhorias.
Em conclusão, verificou-se que os programas de desenvolvimento ainda são
focados em soluções de curto prazo para problemas de desempenho de fornecedores,
embora estejam evoluindo para uma ênfase no desenvolvimento de capacidades, de
forma a criar uma rede de fornecedores com desempenho igual ou superior aos das
redes da concorrência.
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VILLELA, Fernando de Castro. Desenvolvimento de Fornecedores na Indústria
Automobilística Brasileira: um Estudo de Casos. Orientadora: Profa. Rebecca Arkader.
Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003. Dissertação (Mestrado em Administração).
The purpose of the present thesis was to investigate the characteristics of
supplier development programs in the Brazilian automotive industry. Specifically, the
objective was to identify the main aspects of decision making in implementing a
supplier development program, such as selection of participant suppliers,
implementation peculiarities, the expected and perceived improvements, the barriers
encountered, the risks identified and the future perspectives for this kind of project.
Three assembling companies with plants in Brazil were chosen for this study, with three
different backgrounds (Japan, US and Europe).
Results show the advanced stage of supplier development processes in the
Brazilian automotive industry and satisfactory results were observed in the implemented
programs. They also point out the strong influence of headquarter’s culture on
relationship with suppliers. It is important to notice that interaction with top
management and the adoption of multifunctional teams are decisive factors for the
success of the program.
The study indicates that the lack strategic alignment and cultural affinities are
among the main obstacles in a supplier development program. In addition, suppliers
face financial difficulties as they need to make investments in process improvement.
In conclusion, it could be observed that development programs are still focusing
on short term solutions for supplier performance problems, even though they are already
moving to great emphasis on development of capabilities, in order to create a supplier
network able to perform at a similar or ever better level than the competitors.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.1 Objetivo do estudo .............................................................................................. 1
1.2 Relevância do estudo .......................................................................................... 1
1.3 Contexto do estudo: a indústria automobilística brasileira............................... 4
1.4 Organização do estudo....................................................................................... 5
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 7
2.1 O desenvolvimento de fornecedores como objetivo da área de compras........... 7
2.2 Motivação para o desenvolvimento de fornecedores ......................................... 82.2.1 O Custo de transação .................................................................................. 82.2.2 O Sistema Just-in-Time (JIT) ..................................................................... 9
2.3 Críticas aos programas de desenvolvimento de fornecedores ......................... 11
2.4 Objetivos dos programas de desenvolvimento ................................................. 11
2.5 O processo de desenvolvimento de fornecedores ............................................. 13
2.6 Associações de fornecedores ............................................................................ 14
2.7 Etapas para o desenvolvimento de fornecedores ............................................. 162.7.1 Passo 1: Identificar materiais críticos....................................................... 162.7.2 Passo2: Identificar fornecedores críticos.................................................. 162.7.3 Passo 3: Formar uma equipe multifuncional ............................................ 162.7.4 Passo 4: Reunir-se com a alta gerência do fornecedor ............................. 172.7.5 Passo 5: Identificar projetos chaves.......................................................... 172.7.6 Passo 6: Definir detalhes do acordo ......................................................... 172.7.7 Passo 7: Monitoramento e mudança de estratégias .................................. 18
2.8 Critérios de seleção de fornecedores para programas de desenvolvimento.... 18
2.9 Resultados esperados ....................................................................................... 192.9.1 Resultados para a empresa compradora.................................................... 192.9.2 Resultado para a empresa fornecedora ..................................................... 19
2.10 Fatores críticos para o sucesso de programas de desenvolvimento defornecedores................................................................................................................ 20
2.10.1 Comunicação efetiva multifuncional e bilateral ................................... 202.10.2 Envolvimento da alta gerência ............................................................. 20
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2.10.3 Equipe multifuncional .......................................................................... 202.10.4 Foco no custo total................................................................................ 212.10.5 Perspectiva de longo prazo ................................................................... 212.10.6 Grande participação nas vendas anuais do fornecedor......................... 212.10.7 Avaliação do fornecedor....................................................................... 222.10.8 Reconhecimento do fornecedor ............................................................ 22
2.11 Principais entraves em programas de desenvolvimento de fornecedores........ 222.11.1 Problemas relativos ao fornecedor ....................................................... 222.11.2 Problemas relativos ao comprador ....................................................... 232.11.3 Problemas relativos à interface comprador-fornecedor........................ 23
2.12 Manutenção do processo de melhoria.............................................................. 24
2.13 Riscos envolvidos.............................................................................................. 24
3 MODELO CONCEITUAL........................................................................................ 26
4 METODOLOGIA....................................................................................................... 31
4.1 Método da Pesquisa.......................................................................................... 31
4.2 Escolha dos Casos............................................................................................ 32
4.3 Coleta dos Dados ............................................................................................. 32
4.4 Perguntas de Pesquisa...................................................................................... 32
4.5 Limitações do Método ...................................................................................... 33
5 DESCRIÇÃO DOS CASOS....................................................................................... 34
5.1 Caso 1: Montadora ALPHA ............................................................................. 345.1.1 Introdução................................................................................................. 345.1.2 A Importância Relativa de Compras ........................................................ 345.1.3 Relacionamento com os fornecedores ...................................................... 355.1.4 Seleção de fornecedores ........................................................................... 355.1.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas dedesenvolvimento .................................................................................................. 37
5.1.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores .................. 385.1.7 Riscos Percebidos ..................................................................................... 395.1.8 Motivação e Objetivo dos Programas....................................................... 395.1.9 Principais entraves.................................................................................... 39
5.2 Caso 2: Montadora BETA ................................................................................ 405.2.1 Introdução................................................................................................. 405.2.2 A Importância Relativa de Compras ........................................................ 40
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5.2.3 Relacionamento com os fornecedores ...................................................... 415.2.4 Seleção de fornecedores ........................................................................... 425.2.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas dedesenvolvimento .................................................................................................. 43
5.2.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores .................. 445.2.7 Riscos Percebidos ..................................................................................... 465.2.8 Motivação e Objetivo dos Programas....................................................... 465.2.9 Principais entraves.................................................................................... 47
5.3 Caso 3: Montadora GAMMA ........................................................................... 475.3.1 Introdução................................................................................................. 475.3.2 A Importância Relativa de Compras ........................................................ 475.3.3 Relacionamento com os fornecedores ...................................................... 485.3.4 Seleção de fornecedores ........................................................................... 495.3.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas dedesenvolvimento .................................................................................................. 50
5.3.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores .................. 515.3.7 Riscos Percebidos ..................................................................................... 525.3.8 Motivação e Objetivo dos Programas....................................................... 525.3.9 Principais entraves.................................................................................... 52
6 ANÁLISE DOS CASOS............................................................................................. 54
6.1 Aspectos Gerais ................................................................................................ 54
6.2 Percepções sobre a área de Compras .............................................................. 55
6.3 Percepções quanto ao relacionamento com os fornecedores .......................... 56
6.4 Processos de seleção de fornecedores.............................................................. 57
6.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas dedesenvolvimento .......................................................................................................... 58
6.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores ......................... 59
6.7 Principais riscos percebidos e entraves para o sucesso dos programas ......... 61
6.8 Motivação e Objetivo dos Programas .............................................................. 62
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................ 63
7.1 Conclusões........................................................................................................ 63
7.2 Recomendações para futuros estudos............................................................... 71
8 REFERÊCIAS ............................................................................................................ 73
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9 ANEXO: ROTEIRO DE ENTREVISTA................................................................. 79
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Decisões de Compras quanto a deficiência de fornecedores ................................. 3
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Características das empresas .............................................................................. 54
Quadro 2 - Comparativo entre as áreas de Compras ............................................................ 56
Quadro 3 - Comparativo entre as práticas para o desenvolvimento de fornecedores........... 61
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1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVO DO ESTUDO
Este estudo tem como objetivo investigar as características dos processos de
desenvolvimento de fornecedores na indústria automobilística brasileira. Mais
especificamente, o estudo visa identificar os principais aspectos da tomada de decisão
de implementar um programa de desenvolvimento de fornecedores, tais como a seleção
dos fornecedores participantes, as peculiaridades da implementação, os benefícios
esperados e percebidos, as barreiras encontradas, os riscos percebidos e as perspectivas
futuras deste tipo de projeto.
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O aumento da competição, junto a mudanças rápidas de tecnologia e reduções
drásticas nos ciclos de vida dos produtos, é apenas um dos desafios que as empresas
enfrentam no mercado atual. Muitas firmas reagiram a este novo ambiente focando em
suas competências centrais e terceirizando atividades secundárias que antes eram
executadas na própria empresa (Krause et al., 1997). Nesse novo cenário, as empresas
menos verticalizadas dependem da competência da cadeia de suprimentos para oferecer
produtos competitivos no mercado.
A cadeia de suprimentos é uma combinação de fornecedores individuais que
variam em seus desempenhos. Pesquisas com representantes de empresas compradoras
revelam a necessidade de melhoria na área de qualidade, entrega, redução de custo,
adoção de novas tecnologias e capacidade de desenvolvimento de novos produtos
(Morgan 1993). Não são todos os fornecedores que apresentam estes problemas, mas as
empresas que tiverem em sua base de fornecedores empresas com deficiências de
capacidade e desempenho encontrarão problemas com sua habilidade de competir em
seus respectivos mercados.
Devido ao crescimento da participação nos custos dos materiais e componentes
adquiridos externamente pelas empresas, observa-se uma maior relevância dos estudos
relacionados à otimização da cadeia de suprimentos (Monczka et al, 1998). Em alguns
casos, as compras externas atingem mais de 60% dos custos de produção e,
2
consequentemente, as empresas estão voltando suas atenções para a área de compras,
que passa a ter elementos decisivos para o sucesso competitivo das empresas (Dobler e
Burt, 1996). Por exemplo 80% do custo de produção da Honda ou 70% do custo de um
carro da Chrysler são devidos a componentes adquiridos externamente (Hartley e Choi,
1996). O crescimento da importância do gerenciamento do fornecimento está obrigando
as empresas a repensarem e a reestruturarem suas estratégias de compra (Monczka et
al., 1998).
O gerenciamento da cadeia de suprimentos busca sintonizar todas as atividades
associadas a levar o produto desde a matéria-prima até o consumidor final, incluindo
sistemas, compras, programação da produção, produção, estocagem e serviços pós-
venda. O sucesso de um gerenciamento de cadeia depende da coordenação e da
integração dessas funções para gerar uma vantagem competitiva sustentável.
Krause, Handfield e Scannell (1997) consideram que o esforço organizacional de
focar nas competências centrais, fazer downsizing e aumentar a terceirização resulta no
aumento da dependência do fornecedor por entregas de produtos/serviços de qualidade,
com preços competitivos e na hora desejada.
Este aumento de dependência ratifica a necessidade de a empresa compradora
estar gerenciando e desenvolvendo sua cadeia de suprimentos. Segundo estudos de
Monczka e Trent (1991) e Morgan (1993), representantes de empresas compradoras
ressaltaram a necessidade de melhorias dos fornecedores quanto à qualidade, à entrega,
à redução de custo, à adoção de novas tecnologias, à saúde financeira e ao
desenvolvimento de produto. Além disso, o que talvez é ainda mais crítico,
representantes de empresas compradoras sugerem que, se continuar a tendência atual, a
capacidade futura dos fornecedores não será compatível com as necessidades e
expectativas dos compradores que competem no mercado global.
Caso sejam identificadas deficiências de desempenho de um fornecedor, as
empresas compradoras têm três caminhos básicos: elas podem investir tempo e recursos
para melhorar o desempenho do fornecedor, verticalizar-se, produzindo na própria
empresa, ou buscar um novo fornecedor (Krause, 1997).
As três estratégias podem funcionar. A escolha normalmente depende de custo,
volume e natureza estratégica do item a ser comprado. Para produtos de baixo valor
3
agregado e não estratégicos na cadeia produtiva, o custo de trocar de fornecedor é
normalmente baixo, logo a mudança é a melhor opção. No outro extremo, quando a
empresa fornece precariamente produtos ou processos inovadores que se traduzem em
uma vantagem competitiva de longo prazo para a empresa compradora, essa vantagem
potencial é mantida com a aquisição do fornecedor. Nos casos de relacionamento entre
empresas que se encontram entre os dois extremos, a melhor opção pode ser o
desenvolvimento do próprio fornecedor (Krause et al., 2000).
Deficiência de
desempenho
VerticalizaçãoDesenvolvimentoTroca de Fornecedor
Importância Estratégica
Deficiência de
desempenho
VerticalizaçãoDesenvolvimentoTroca de Fornecedor VerticalizaçãoDesenvolvimentoTroca de Fornecedor
Importância Estratégica
Figura 1 - Decisões de Compras quanto a deficiência de fornecedores
Mesmo ganhando destaque na literatura especializada apenas nas últimas duas
décadas, o desenvolvimento de fornecedores já era adotado de forma pioneira em
algumas indústrias dos EUA e Reino Unido. O autor Peter Baily (1979) destaca fatos
relevantes onde soluções para problemas viraram técnicas utilizadas atualmente:
− O engenheiro Isambard Kingdom Brunel deu início ao que hoje se chama
desenvolvimento de fornecedores em meados do século XIX, quando converteu
construtores de navio em empreiteiros para pontes de madeira, trabalhando com
fornecedores na criação de novas técnicas para satisfazer suas necessidades.
− Duke, em 1881, comprou uma máquina de fabricar cigarros que consumia fumo a
uma taxa superior à possibilidade de suprimento pelos meios convencionais de
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compras. Não conseguia obter a quantidade com a qualidade e uniformidade
necessária para a produção. Criou, então, a estratégia de comprar a produção dos
plantadores e trabalhar junto com eles para garantir o suprimento ideal. Essa
estratégia foi crucial para o sucesso de sua empresa com o principal fabricante de
cigarros dos Estados Unidos.
− A General Motors, frente à decisão de produzir ou comprar, tornou-se uma
montadora e não uma fabricante de partes como eram seus concorrentes. Para isso
precisou transformar seus fornecedores em especialistas, partindo de generalistas
que então formavam o mercado. Financiou conversões e reorganizou seus
fornecedores acarretando em economia de escala e manutenção da qualidade.
Baily (1979; p.7) mostrou que estas pequenas histórias “indicam o papel de
compras no desenvolvimento da organização e que para alcançar os objetivos
empresariais nos mercados de vendas, os interessados tomaram a iniciativa nos
mercados fornecedores. Não aceitaram o status quo.”
1.3 CONTEXTO DO ESTUDO: A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
BRASILEIRA
A indústria automobilística desempenha um papel de suma importância na
economia brasileira. Entre os 5 maiores grupos industriais nacionais, 3 são montadoras
de automóveis (Valor Econômico, 2002). A participação do setor automobilístico no
PIB industrial brasileiro foi superior a 12% em 2000 (ANFAVEA, 2002).
A indústria automobilística participou do processo de industrialização brasileira,
sendo instalada em 1957, durante o governo de Juscelino Kubitschek. Até a década de
80, apresentou índices crescentes de produção quando experimentou a estagnação
causada pela crise do petróleo e alta da inflação.
Nos anos 90, durante o governo Collor, o Brasil recebeu a entrada de diversas
empresas com presença mundial, devido a abertura do mercado. Com a instalação de
montadoras como Renault, Peugeot, Citröen, Honda e Mercedes, entre outras, houve um
acirramento da competição neste mercado que antes era dominado por apenas quatro,
General Motors, Ford, Volkswagen e Fiat. Até a abertura, estas quatro empresas
contavam com uma participação de 94%. O final da década de 90 e o início do século
5
estão sendo marcados por intensa renovação da gama de automóveis produzidos, pondo
fim à era dos automóveis tipicamente brasileiros (Bres, 1997).
O setor de transporte no Brasil está basicamente estruturado sobre o transporte
rodoviário. Em 2000, mais de 60% do transporte de carga por quilômetro se deu no
modal rodoviário (ANFAVEA, 2002).
Outro motivador para o aumento do interesse das montadoras no mercado
brasileiro está na idade média da frota nacional: dez anos. Além disso, o Brasil
apresenta uma baixa taxa de veículos por habitante. O Brasil tem mais de 9 habitantes
por veículo, enquanto nos EUA esta taxa não ultrapassa 1,3 habitante por veículo, o que
leva as montadoras a buscarem mercados potenciais menos saturados. (Cunha, 1998).
A indústria automobilística brasileira representa 3,8% da produção mundial,
estando na oitava posição no ranking internacional. É o segundo maior pólo de
produção automobilística alemã fora da Alemanha e o terceiro maior pólo de produção
americana fora dos EUA.
1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
O trabalho está organizado nos seguintes capítulos:
O primeiro apresenta uma introdução, os objetivos, a relevância do estudo e o
contexto do trabalho: a indústria automobilística nacional.
No segundo capítulo é realizada a revisão da literatura. O objetivo deste capítulo
é abordar os temas relacionados aos programas de desenvolvimento de fornecedores,
tais como o envolvimento da área de compras, a motivação para os programas, seus
objetivos, forma de implementação, principais entraves e os resultados esperados e
obtidos, tanto para a empresa compradora quanto para a fornecedora. Por último é
apresentado um quadro conceitual com base nos principais aspectos da literatura.
O terceiro capítulo é dedicado à metodologia da pesquisa. Nele estão descritas as
perguntas que nortearam este trabalho, o método escolhido como instrumento de
pesquisa, a seleção das empresas pesquisadas, a coleta de dados e a metodologia para
descrição e análise dos resultados.
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Os resultados do estudo são apresentados no quarto capítulo. Inicia-se com a
descrição dos casos buscando sistematizar as informações colhidas nas entrevistas. Em
um segundo momento, apresenta-se uma análise dos resultados, buscando semelhanças
e diferenças entre os programas de desenvolvimento de fornecedores pesquisados.
Por fim, no quinto capítulo são apresentadas as conclusões e as sugestões para
futuras pesquisas.
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2 REVISÃO DA LITERATURA
Nesta seção serão tratados tópicos referentes ao desenvolvimento de
fornecedores, considerando o papel da área de compras e a influência do sistema Just-
in-time de produção como catalisadores deste processo. Serão abordados temas relativos
à implementação de programas de desenvolvimento de fornecedores, seus objetivos e
resultados esperados, além de critérios para selecionar fornecedores, fatores críticos de
sucesso e principais obstáculos para o sucesso dos programas de desenvolvimento.
Para este estudo, desenvolvimento de fornecedor é definido como qualquer
atividade realizada pelo cliente para melhorar o desempenho e/ou capacidade do
fornecedor para atender às necessidades de fornecimento de curto e longo prazo da
empresa compradora (Krause et al., 1997).
2.1 O DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES COMO OBJETIVO DA
ÁREA DE COMPRAS
Os objetivos da área de compras devem mesclar perspectivas estratégicas e
operacionais que vão além da visão tradicional, onde o papel principal do departamento
de compras é providenciar produtos e serviços em resposta a uma necessidade do cliente
interno (Monczka et al.; 1998).
Leenders e Fearon (1993) citam o desenvolvimento de fornecedores competentes
como um dos nove objetivos do departamento de compras.
Segundo Dobler e Burt (1996), um dos objetivos básicos da função de compras é
desenvolver fontes de suprimentos confiáveis e eficientes para a empresa. Ainda
segundo os autores supracitados e Watts, Kim e Hahn (1992), o departamento de
compras que liderar o processo de desenvolvimento de fornecedores poderá também
aumentar o status da área em sua respectiva organização, pois o desenvolvimento de
fornecedores pode ajudar a empresa a alcançar seus objetivos estratégicos.
8
2.2 MOTIVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES
2.2.1 O Custo de transação
A relação de cooperação entre a empresa compradora e seus fornecedores é
caracterizada pelo compartilhamento de informação, contratos de longo prazo e
colaboração para vantagens mútuas em uma relação ganha-ganha (Tully, 1995). Já a
transacional se caracteriza por uma base de vários fornecedores, o uso de competição
por preço e contratos de curto prazo com o objetivo de comprar pelo menor preço (Hahn
et al., 1986). Segundo Gulati (1995), em muitos casos a relação de cooperação parece
oferecer vantagem sobre as transações discretas e a integração vertical.
Sob uma perspectiva teórica, desenvolvimento de fornecedores representa um
investimento específico de transação da empresa em seu fornecedor. Custo de transação
é a parte do custo associada ao gerenciamento da relação comprador-fornecedor (Frazier
et al. 1988, apud, Krause, 1997). Deficiências dos fornecedores, como problemas de
qualidade, incerteza na entrega e demora em adotar novas tecnologias podem elevar os
custos de transação. Além disso, podem levar a empresa a produzir produtos não
competitivos. Neste caso a empresa compradora entraria em processo de
desenvolvimento de fornecedores de uma forma reativa, buscando superar deficiências
de seus fornecedores para evitar problemas nos seus próprios processos e produtos
(Krause, 1998). O desenvolvimento estratégico seria quando a empresa investisse em
seu fornecedor antes do surgimento da necessidade, ou seja, do aumento do custo de
transação.
Os autores Kelly et al. (1993) exemplificam que no início da década de 90 a
mídia especializada ilustrou fatos onde o desenvolvimento de fornecedores seria uma
alternativa viável. Grandes companhias americanas, pressionadas pela concorrência,
exigiram uma redução de custo de seus fornecedores, muitos deles com contratos de
longo prazo e descritos como parceiros pelas firmas compradoras. Na opinião do autor,
essas relações não eram parcerias. A demanda por redução de custo indica uma ação
reativa a um mercado altamente competitivo. Ao invés de exigir reduções nos preços, o
autor sugere que a empresa compradora poderia satisfazer suas necessidades de
suprimento e cortar custos através de programas de desenvolvimento de fornecedores,
que envolvem um esforço conjunto das duas partes. Reduções subsequentes de custo
9
seria repartidas pelas duas empresas. Este esforço colaborativo poderia assegurar que o
fornecedor se mantivesse economicamente viável, que a empresa compradora se
mantivesse competitiva e que a relação entre as empresas se mantivesse intacta.
2.2.2 O Sistema Just-in-Time (JIT)
Nas últimas duas décadas pode-se observar que o aumento da concorrência
levou à adoção do sistema TQM, gerenciamento da qualidade total (Handfield e Ghosh,
1994), como também ao aumento de relações interorganizacionais como alianças e
parcerias (Heide e Miner, 1992). Hackman e Wageman (1995) citam a criação de
parcerias com fornecedores como uma das cinco principais intervenções das empresas
ao implementar o sistema TQM.
O desenvolvimento de fornecedores é um fenômeno relativamente novo no
Ocidente. Tradicionalmente os fornecedores administravam suas empresas com pouca
contribuição dos clientes, sendo necessário apenas ter conformidade com as
especificações dos clientes. O comprador somente interferia com assistência técnica,
quando o fornecedor apresentasse problemas de qualidade e performance de entrega no
curto prazo. Com a entrada do sistema JIT no Ocidente, a gerência de fornecimento se
viu obrigada a quebrar um paradigma. As empresas tiveram que reduzir o número de
fornecedores diretos com quem tinham uma relação adversária e passaram a ter uma
relação cooperativa com os fornecedores restantes. Sob este novo paradigma, os
fornecedores receberam contratos de longo prazo, tornando-se interessante desenvolvê-
los (Krause, Handfield e Scannell, 1997). Essa redução do número de fornecedores
também é percebida nos estudos de Borella e Padula (2000).
O sistema Just-in-Time (JIT) se confunde com o próprio conceito de produção
enxuta. A origem do JIT está no conjunto de técnicas utilizadas no Sistema Toyota de
Produção (Keller e Kazazi, 1993). Ainda segundo os autores, o JIT se difundiu entre os
outros setores e se expandiu além dos limites da indústria japonesa para se tornar uma
filosofia de produção envolvendo vários fatores relevantes incluindo arranjo físico,
projeto de produto, planejamento da produção, fluxo de materiais, recursos humanos e,
principalmente, compras.
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Segundo Karmarkar (1989), os dois principais aspectos do sistema JIT são a
redução dos lead times e a eliminação dos desperdícios.
2.2.2.1 O fornecimento na produção enxuta
O sucesso do JIT depende do desempenho do sistema como um todo, sendo
necessária a integração entre as diferentes funções (Spencer, Rogers e Daugherty, 1994,
apud Arkader, 1997). O aumento de produtividade, qualidade e rapidez na aceleração do
fluxo de materiais e produtos dos sistemas de produção enxuta baseiam-se não apenas
na implementação do conjunto de programas e técnicas ditas do JIT interno, como
também no estabelecimento de práticas de entregas diretamente às linhas de montagem
quando estas se fizerem necessárias, ou o JIT externo.
O JIT externo vem ganhando importância, pois o valor percentual dos insumos
adquiridos externamente, em comparação ao custo do produto final, vêm aumentando
sistematicamente (Fawcett e Birou, 1993).
No sistema JIT, o fornecimento é uma das questões de maior relevância (Keller
e Kazazi, 1993). Isso é devido à sua abordagem, que representa uma maneira diferente
de se considerar todo o escopo de adição de valor na produção e na gerência de
materiais (Fawcett e Birou, 1993). Há exigências crescentes tanto sobre os fornecedores
quanto sobre os compradores (Karlsson e Norr, 1994, apud Arkader, 1997). Para que o
sistema funcione adequadamente, é imprescindível que os fatores externos estejam em
sincronia com os internos, pois a ausência de estoque expõe os fabricantes a novos
riscos (Purdy, Astad e Safayieni, 1994).
Como observam Santos e Pires (1998) em sua pesquisa com empresas no
interior de São Paulo, o JIT exige uma maior capacitação dos fornecedores e uma maior
participação da empresa na integração de toda a cadeia. Buscando solucionar este
entrave ocasionado pela migração do sistema tradicional de fornecimento para o JIT, as
empresas compradoras brasileiras buscam trabalhar com fornecedores já capacitados
para esta metodologia (Borella e Padula, 2000).
No sistema JIT, o objetivo básico de compras é assegurar fontes de suprimentos
capazes de prover um fluxo ininterrupto de materiais a um custo razoável.
Primeiramente, isso envolve a seleção de fornecedores competentes e, então, um
11
trabalho conjunto para desenvolver sua capacidade. Um programa de desenvolvimento
de fornecedores pode ser definido como um esforço sistemático da organização para
criar e manter uma rede de fornecedores competentes (Watts e Hahn, 1993) Além disso,
o JIT aumentou a necessidade de certeza neste suprimento de materiais (Krause, 1997).
No Brasil, o conceito de produção enxuta apenas ganhou força na década de 90
devido a cultura inflacionária (Arkader, 1997). Ainda segundo a autora, as barreiras
alfandegárias no país criaram um formato de clube fechado entre as empresas e os
principais fornecedores, especialmente na indústria automobilística. As negociações se
limitavam ao repasse dos altos índices inflacionários dos fornecedores para as
montadoras e destes para os clientes finais. Com a abertura do mercado e o controle da
inflação o cenário mudou e as empresas se viram obrigadas a se adaptarem rapidamente
aos conceitos da produção enxuta, pois passaram a sofrer pressões compettitivas.
2.3 CRÍTICAS AOS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DE
FORNECEDORES
De acordo com Lamming (1993, apud Krause, 1997), críticos aos programas de
desenvolvimento de fornecedores podem argumentar que poder-se-ia melhorar o
desempenho de fornecedores simplesmente ameaçando não realizar mais transações.
Apesar desta técnica poder trazer benefícios no curto prazo, ela não contribuirá para a
melhora no longo prazo da base de fornecedores. Logo, quando uma empresa desejar
uma melhoria significativa na sua base de fornecedores, deve comunicar com eficiência
suas necessidades e estar disposta a participar do processo de desenvolvimento.
2.4 OBJETIVOS DOS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO
Quando o produto/serviço provido por um fornecedor se apresenta deficiente em
algum aspecto, a empresa pode buscar uma fonte alternativa ou trabalhar junto com o
fornecedor para remediar esta deficiência. Devido à incerteza quanto a localização de
um fornecedor melhor, e ao alto custo de se buscar e avaliar um novo fornecedor, a
empresa pode escolher trabalhar junto ao atual, buscando melhorar seu desempenho
(Krause e Ellram, 1997).
12
Normalmente, a empresa compradora tem dois objetivos principais para
programas de desenvolvimento de fornecedores. O primeiro é reduzir custos, melhorar a
qualidade e o desempenho de entrega, tornando-se mais competitiva. O segundo
objetivo é ensinar ao fornecedor um processo sistemático que possa ser usado para um
melhoramento contínuo. (Hartley e Choi, 1996)
Atualmente, encontra-se uma grande variedade de práticas relacionadas ao
desenvolvimento de fornecedores na literatura. Estas práticas podem variar desde
sincronização de entrega até um planejamento integrado de produção entre fornecedor e
comprador. Essas atividades podem ser claramente separadas em duas classes: práticas
operacionais e práticas para desenvolvimento de fornecedores.
As práticas operacionais permitem a criação de um elo entre as operações dos
compradores e fornecedores. Já as voltadas para o desenvolvimento de fornecedores
visam criar uma rede de fornecedores eficientes e criar o ambiente necessário para
aplicação das práticas operacionais, entre as quais se destacam:
− Envolvimento do fornecedor no desenvolvimento de produtos e processos: é um
elemento essencial para o sucesso do suprimento JIT. Lee e Ansari (1985)
demonstram que o aconselhamento e a assistência técnica do fornecedor podem
levar a melhorias de projeto, custos mais baixos, melhor qualidade e maior
produtividade.
− Planejamento da produção: remessas frequentes e em pequenos lotes demandam
sincronização entre receber pedidos e planejar as atividades, sendo necessária a
integração dos sistemas do comprador com os fornecedores.
− Entrega: a entrega JIT é provavelmente a prática mais discutida na literatura sobre
suprimento JIT. Exige redução nos lotes e aumento na freqüência de entrega. Para
adoção desta prática é necessário ter qualidade na fonte para eliminar qualquer tipo
de desperdício e evitar a necessidade de inspeção no recebimento. Outro fator
importante é o desenvolvimento de embalagens para pequenos lotes, padronizadas e
de fácil identificação.
13
2.5 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES
Há várias atividades utilizadas para melhorar o desempenho do fornecedor,
dentre elas as mais citadas na literatura são:
− Seleção e monitoramento de fornecedor: de acordo com as contribuições de Willis e
Huston (1990) e Purdy et al. (1994), a criação de um relacionamento JIT com o
fornecedor cria a necessidade de um maior conhecimento e de um controle
sistemático sobre os fornecedores. Na verdade, o sistema JIT de fornecimento torna
o comprador mais vulnerável a interrupções no fluxo de materiais, sendo necessário
um relacionamento mais estável com os fornecedores.
− Assistência e treinamento de fornecedores: recursos técnicos e econômicos devem
ser oferecidos aos fornecedores visando desenvolver uma ligação operacional
eficiente (Lyons et al., 1990). O estabelecimento de uma relação interativa com o
fornecedor substitui o método tradicional onde se trocava as fontes ineficientes,
dando suporte e assistência aos fornecedores. Desde meados dos anos 90, os
fornecedores de primeira linha do setor automobilístico experimentam um maior
suporte técnico oferecido pelas montadoras (Arkader, 1997).
− Incentivos aos fornecedores: incentivos contratuais são um dos mecanismos que
estimulam o desenvolvimento dos fornecedores. Por exemplo, um contrato de longo
prazo encoraja o fornecedor a ser mais inovador e melhorar qualidade e serviço
(Lyons et al., 1990) pois este terá retorno sobre seus investimentos.
− Integração organizacional com o fornecedor: a maior interdependência entre
fornecedor e comprador envolve não somente a força de vendas por um lado e a área
de compras pelo outro, como também outros departamentos dentro das duas
organizações, como design, produção e qualidade. Logo uma interface entre as duas
organizações torna-se essencial.
− Intercâmbio de pessoal entre as duas firmas (Hartley e Choi, 1996)
Além dessas atividades, existe um outro grupo de práticas que fomenta o auto
desenvolvimento das empresas fornecedoras, entre as quais:
− Comprar de fornecedores alternativos para fomentar a competição entre
fornecedores (Hahn et al. 1986): apesar de ser claramente aplicável em compras de
14
commodities, o uso de competição de mercado para incrementar o desempenho de
fornecedores também é considerado o método tradicional de relacionamento entre
compradores e fornecedores. (Krause, 1997)
− Aumento de expectativa e promessas de negócios futuros (Monczka et al. 1998):
promessas de maiores volumes e considerações para negócios futuros como
recompensa para melhores desempenhos representam práticas sem custo para a
empresa compradora. O comprometimento com recompensa depende do melhor
desempenho do fornecedor (Krause, 1997)
− Reconhecimento e recompensa para fornecedores que se destacam (Krause 1998):
esta também não envolve custo, pois está atrelada ao desempenho do fornecedor,
além de fomentar a competição entre os fornecedores. Arkader ressalta a
importância do feedback de desempenho, considerado adequado e construtivo na
indústria brasileira.
Apesar de cada prática apresentar abordagens diferentes, não são mutuamente
exclusivas (Krause, 1997). Ainda segundo o autor, é comum no Japão as empresas
conciliarem as práticas para obter melhores resultados. Esta abordagem envolve o uso
de competição para garantir a competitividade dos fornecedores, estes em um pequeno
número, ao invés de uma única fonte. Nos fornecedores com baixo desempenho são
investidos esforços. Os fornecedores com bom desempenho são gratificados com
maiores volumes, enquanto os negócios com os fornecedores com baixo desempenho
ficam reduzidos, até melhorá-los.
A aplicabilidade de cada prática depende de vários fatores, dos quais se
destacam: a disponibilidade de outros fornecedores, o grau de dependência entre a
empresa compradora e a fornecedora, a disponibilidade financeira para se investir e a
importância relativa do produto fornecido, seja em termos de visibilidade, volume ou
valor.
2.6 ASSOCIAÇÕES DE FORNECEDORES
Uma outra abordagem para o desenvolvimento de fornecedores está na
implementação de associações de fornecedores. Uma associação de fornecedores pode
ser definida como a união dos principais fornecedores de uma empresa para seu
15
benefício mútuo. Estes se reúnem regularmente para buscar alinhamento, tanto
estratégico como operacional, através do desenvolvimento de programas de treinamento
e de reconhecimento (Hines e Rich, 1998). As primeiras associações de fornecedores
tiveram suas raízes no Japão, no final dos anos 30, e eram chamadas de Kyoryoku kai
(ou associação cooperativa) e reuniam, aproximadamente, 20 fornecedores da Toyota
(Hines, 1994).
Com o tempo e o envolvimento maior da Toyota, este grupo inicial se dividiu
em grupos regionais e foram criadas outras associações lideradas pelos principais
fornecedores diretos. Em meados dos anos 70, mais de um terço dos fornecedores de
autopeças de primeiro nível do Japão estava operando associações de fornecedores,
sendo que quase metade tinha a Toyota como um de seus principais clientes. Com o
envolvimento de fornecedores de matéria-prima e de máquinas ferramenta nos anos 80,
as associações passaram a contar com todos os fornecedores estratégicos de primeiro,
segundo e terceiro nível. Em meados dos anos 90 foram criadas as primeiras
associações fora do Japão, nas plantas da Toyota nos EUA e na Inglaterra (Hines e
Rich, 1994).
As associações propiciam um canal de comunicação entre os fornecedores.
Através de reuniões é possível criar metas, definir direção e estabelecer regras para a
comunidade, buscando sempre o alinhamento estratégico com o cliente.
Apesar da vasta literatura sobre compras no sistema JIT, a maioria dos estudos
considera principalmente as práticas operacionais citadas anteriormente, sendo dada
pouca atenção às práticas de desenvolvimento de fornecedores. Particularmente, os
estudos iniciais sobre compras no JIT focam na sincronização do fornecimento com a
produção, limitando-se a técnicas como ordem de entrega, pequenos lotes e compras
com cartão Kanban.
Não foi dado ainda o merecido espaço na literatura ou a merecida atenção
gerencial às ações de desenvolvimento de fornecedores e sua importância para se
alcançar um fornecimento JIT eficiente. Krause e Ellram (1997) mostram que o
desenvolvimento de fornecedores é descrito como parte integrante do relacionamento
entre indústrias japonesas e seus fornecedores. O mesmo não pode ser dito de muitas
empresas no Ocidente.
16
2.7 ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES
Apesar de cada empresa viver realidades diferentes, Handfield, Krause, Scannell
e Monczka (2000) sugerem passos genéricos que as empresas devem seguir para obter
sucesso em seus programas de desenvolvimento de fornecedores. Segundo MacDuffie e
Helper (2000), muitas empresas não consideram os quatro primeiros passos e não
conseguem bons resultados em seus programas. Os passos mencionados são:
2.7.1 Passo 1: Identificar materiais críticos
Para não desperdiçar esforços, a empresa deve identificar a importância
estratégica relativa de cada material e serviço adquirido externamente. Estes devem ser
separados em grupos de acordo com sua importância relativa. Os autores sugerem
quatro grupos: materiais não críticos, materiais-gargalo, materiais de alavancagem e
materiais estratégicos. Materiais que se encaixam na categoria “materiais estratégicos”
têm importância estratégica para a empresa, são difíceis de se substituir ou comprar de
fontes alternativas e são comprados em grande volume relativo. Esses materiais devem
ser o alvo de estudos por equipes multifuncionais envolvendo todas as áreas afetadas
pela decisão de suprimento.
2.7.2 Passo2: Identificar fornecedores críticos
A empresa deve analisar o desempenho dos fornecedores de materiais críticos e
determinar quais devem ser desenvolvidos. Para identificar os fornecedores com baixo
desempenho é necessário informação sistemática sobre seus desempenhos. O foco deve
ser dado aos fornecedores com dificuldades de alcançar os objetivos de qualidade,
entrega, custo e adoção de novas tecnologias.
2.7.3 Passo 3: Formar uma equipe multifuncional
Antes de abordar o fornecedor para demandar melhorias, a empresa deve criar
um consenso multifuncional para a iniciativa. Este tem como propósito mostrar ao
fornecedor uma frente única e assegurar que todas as funções envolvidas com
suprimento enviaram uma mensagem consistente ao fornecedor. A melhoria deve
começar na empresa compradora, ou seja, esta deve demonstrar organização interna
antes de esperar comprometimento e cooperação do fornecedor.
17
2.7.4 Passo 4: Reunir-se com a alta gerência do fornecedor
A equipe multifuncional da empresa compradora deve abordar a alta gerência do
fornecedor e estabelecer três aspectos chaves para o desenvolvimento: alinhamento
estratégico, monitoramento e profissionalismo.
O alinhamento estratégico requer não apenas o alinhamento de tecnologia mas
também o alinhamento comprador-fornecedor para focar na necessidade de cada cliente
da cadeia de suprimentos.
O monitoramento pede uma abordagem baseada no custo total, na credibilidade
e na participação de compras e outras áreas técnicas com funções chaves dentro da
empresa.
Abordar a alta gerência com profissionalismo é essencial para reforçar a relação,
facilitar a comunicação e desenvolver confiança.
2.7.5 Passo 5: Identificar projetos chaves
Após identificar oportunidades promissoras, a empresa deve avaliá-las em
termos de acessibilidade, recursos e tempo necessário e retorno potencial do
investimento. O ponto é decidir quando os projetos são realizáveis e, se forem, quais são
seus objetivos. Critérios adicionais são utilizados para avaliar oportunidades, incluindo
determinação e habilidade do fornecedor de implementar mudanças, duração do ciclo de
vida do produto/serviço, importância estratégica do produto/serviço, retorno sobre
investimento, análise de impactos e padronização.
2.7.6 Passo 6: Definir detalhes do acordo
Identificada uma oportunidade potencial de melhoria, as partes devem concordar
quanto ao método de monitoramento. Este pode incluir porcentagem da redução de
custo que será dividida, melhoria de qualidade a ser alcançada e tempo de ciclo
desejado, entre outros. O acordo deve considerar prazos, o papel a ser desempenhado
por cada parte e quando e onde os recursos devem ser alocados .
18
2.7.7 Passo 7: Monitoramento e mudança de estratégias
Para manter o projeto em andamento, a gerência deve monitorar o progresso e
trocar informação constantemente. A cada etapa vencida os objetivos devem ser
revistos. As empresas envolvidas no projeto podem se ver obrigadas a mudar os planos
originais porque as prioridades podem haver mudado e podem ser necessários recursos
adicionais. A estratégia deve ser sempre revista para estar sempre em sincronia com os
eventos.
2.8 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES PARA PROGRAMAS
DE DESENVOLVIMENTO
Segundo Harndfield, Krause, Scannell e Monczka (2000), não são todas as
empresas que necessitam desenvolver fornecedores. Algumas podem já estar
comprando de fornecedores de classe mundial (worldclass suppliers) graças a uma
eficiente seleção de fornecedores. Outras empresas podem ter custo de materiais
adquiridos externamente muito baixo quando comparados ao custo total do produto
vendido, logo investir em fornecedores não seria estratégica nem financeiramente
justificável. Com isso, os executivos devem avaliar a realidade de sua empresa,
determinar se é necessário desenvolver fornecedores e identificar que materiais e
serviços requerem mais atenção (Burnes e Whittle, 1995)
Desenvolvimento de fornecedor exige um comprometimento substancial de
ambas as organizações. Assim, a seleção de que fornecedor será desenvolvido deve ser
uma decisão estratégica e não uma simples ação reativa. Um dos fatores chave nesta
decisão é a participação nos custos do fornecedor. Esta alta porcentagem pode ser
proveniente de compras de alto volume de poucos materiais ou baixo volume de muitos
materiais. Fornecedores com pequena participação no custo total, mas que fornecem
materiais ou componentes estratégicos, também devem ser considerados. Por exemplo,
microchips com baixo custo relativo são normalmente componentes chave para a
performance de um produto eletrônico.
O tempo previsto de duração do relacionamento também deve ser considerado.
Muitas empresas estão reduzindo e consolidando sua base de fornecedores, o que
normalmente precede um programa de desenvolvimento. A prioridade deve estar nos
19
fornecedores que serão mantidos e que farão mais transações no longo prazo. Se um
produto deve sair de linha ou se existe a expectativa de mudança de tecnologia, o
fornecedor pode não entrar no programa.
Outro fato relevante é a participação destas aquisições na receita do fornecedor.
Caso não tenha importância relativa no faturamento da empresa, o seu
comprometimento com o programa de desenvolvimento fica fragilizado (Krause, 1997).
2.9 RESULTADOS ESPERADOS
2.9.1 Resultados para a empresa compradora
Quando uma empresa investe em um programa de desenvolvimento de
fornecedor, está buscando suprir uma necessidade ou aumentar sua competitividade.
Nos dois casos, o resultado esperado é o melhor desempenho do fornecedor, garantindo
maior qualidade, maior produtividade e menores custos do produto ou do serviço final
(Forker et al., 1999).
Em pesquisa realizada por Watts e Hahn (1993) constatou-se que os programas
de desenvolvimento de fornecedores eram focados em soluções de curto prazo para o
problema de desempenho dos fornecedores, e não no desenvolvimento da capacidade
destes.
Segundo Krause (1997), o objetivo de um programa de desenvolvimento de
fornecedores é manter uma rede de fornecedores capacitados com desempenho igual ou
superior à rede de seus concorrentes. Os resultados podem ser medidos em termos de
conformidade do produto entregue, percentual de pedidos entregues completos, entregas
no prazo, redução do tempo de ciclo do pedido e percepção da relação entre o
comprador e o fornecedor.
2.9.2 Resultado para a empresa fornecedora
O principal objetivo do fornecedor é garantir a continuidade do negócio e o
possível aumento do volume. Através de um programa de desenvolvimento de
fornecedores, é possível atingir este resultado sem incorrer em grandes custos, uma vez
que parte do investimento é feito pela empresa compradora. Participando de programas,
20
há um compartilhamento dos riscos envolvidos e um maior comprometimento das
pontas.
A empresa fornecedora busca melhorar seu desempenho, aumentar sua
produtividade, reduzir seus custos e atender às exigências do comprador. Um resultado
secundário é o apelo comercial de ter participado de um programa, podendo abrir novos
mercados para a empresa (Forker et al., 1999).
2.10 FATORES CRÍTICOS PARA O SUCESSO DE PROGRAMAS DE
DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES
2.10.1 Comunicação efetiva multifuncional e bilateral
É essencial para o sucesso de programas de desenvolvimento de fornecedores
(Hahn et al.,1990). Carter e Miller (1989) acreditam que quando a comunicação ocorre
entre as áreas de desenvolvimento de produto, engenharia, controle de qualidade e
outras da empresa compradora e de seu fornecedor, junto com a interface tradicional
entre compras e vendas, o desempenho do fornecedor é mais eficaz do que quando
apenas a área de compras e o departamento de vendas funcionam como único meio de
troca de informação entre as empresas.
2.10.2 Envolvimento da alta gerência
A alta gerência deve identificar a necessidade e se envolver nos programas de
desenvolvimento de fornecedores, pois dominam as ações estratégicas para manter a
empresa competitiva no mercado. (Hahn et al., 1990)
2.10.3 Equipe multifuncional
Nos últimos anos, equipes multifuncionais vêm sendo identificadas como
contribuintes importantes para o sucesso de tarefas como seleção de fornecedores,
desenvolvimento de produtos, produção enxuta, programas de redução de custo e
iniciativas de qualidade total (Burt e Doyle, 1993; Ellram e Pearson, 1993). Devido à
grande variedade de potenciais problemas envolvidos em programas de
desenvolvimento de fornecedores, pode ser necessário conhecimento de diversas áreas
(Hahn et al.,1990)
21
2.10.4 Foco no custo total
O relacionamento tradicional entre comprador e fornecedor no Ocidente é
caracterizado por ênfase no preço, troca frequente de fornecedor, competição por preço
e contratos de curto prazo (Hanh et al., 1990). Este relacionamento tradicional pode ser
apropriado para alguns materiais, como commodities. As empresas perceberam que o
foco no preço para outros tipos de materiais poderia resultar em baixa qualidade e alto
custo no longo prazo (Krause e Ellram, 1997). Este aumento de custo é proveniente de
uma maior necessidade de estoque, aumento do retrabalho, controle mais rigoroso na
inspeção da qualidade e paradas de linha por falta de material, entre outros (Slack et al.,
1997).
2.10.5 Perspectiva de longo prazo
O estudo de Lascelles e Dale (1989) concluiu que muitos programas de
desenvolvimento de fornecedores fracassaram por falta de comprometimento, pois a
empresa trocava de fornecedor com certa frequência. Para demonstrar tal
comprometimento, as empresas buscaram contratos de longo prazo (Galt e Dale, 1991).
Mesmo sendo os contratos de longo prazo uma demonstração de comprometimento,
Krause e Ellram (1997) consideram que comprometimento só pode ser sustentado
tomando-se algum risco. Os programas de desenvolvimento de fornecedores envolvem
risco tanto do comprador quanto do fornecedor.
No caso da indústria automobilística, é observado um hiato entre a percepção da
montadora e a percepção dos fornecedores quanto ao ambiente de parceria (Arkader,
1997). Apesar de as montadoras de veículo serem as maiores incentivadoras do
processo de parceria, não cumprem o papel de parceiros segundo os estudos de Borella
e Padula (2000).
2.10.6 Grande participação nas vendas anuais do fornecedor
A participação da empresa nas vendas anuais do fornecedor pode afetar a
disposição deste de participar em atividades de desenvolvimento (Lascelles e Dale,
1989). Apenas a participação significativa nas vendas não garante o envolvimento
22
desejado do fornecedor, mas em casos onde esta participação não é relevante fica mais
provável a falta de cooperação do fornecedor para o sucesso do programa.
2.10.7 Avaliação do fornecedor
A informação proveniente de avaliação de fornecedores, além de ser útil para a
seleção de fornecedores e para as decisões de redução da base de fornecedores, é
também de grande importância para programas de desenvolvimento (Krause e Ellram,
1997). Hahn et al. (1990) sugerem que a avaliação pode ajudar a identificar onde as
atividades de desenvolvimento de fornecedores devem estar concentradas.
2.10.8 Reconhecimento do fornecedor
Segundo Hahn et al. (1990), empresas que obtêm sucesso em seus programas de
desenvolvimento de fornecedores devem reconhecer os avanços destes através de
certificados e status preferenciais. Este reconhecimento serve como ferramenta
motivacional pois dará ao fornecedor a oportunidade de atrair novos negócios em seu
mercado de atuação (Lascelles e Dale, 1989).
2.11 PRINCIPAIS ENTRAVES EM PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO
DE FORNECEDORES
Handfield, Krause, Scannell e Monczka (2000) identificaram os principais
entraves encontrados em programas de desenvolvimento de fornecedores. Estes podem
ser problemas exclusivos do fornecedor, exclusivos do cliente ou relativos ao
relacionamento entre as duas partes. Segue a relação das situações que podem levar
programas a fracassar:
2.11.1 Problemas relativos ao fornecedor
− Falta de comprometimento do fornecedor: a empresa compradora deve claramente
delinear o retorno potencial do programa para o fornecedor. Se este ponto não
estiver claro, a gerência do fornecedor pode não se comprometer completamente
com o esforço, por não estar convencida de que o programa de desenvolvimento vai
beneficiar sua organização. O fornecedor pode até concordar inicialmente com a
proposta, mas não terá sucesso implementando-a por falta de dedicação.
23
− Falta de recursos do fornecedor: Alguns fornecedores têm limitações de recursos,
equipamentos, sistemas de informação, habilidade de pessoal para implementar as
melhorias sugeridas nos programas de desenvolvimento. Os autores sugerem focar
em áreas que com ações simples possam trazer melhorias rápidas e que causem
maior impacto na organização.
2.11.2 Problemas relativos ao comprador
− Falta de comprometimento do comprador: a empresa compradora é relutante em se
comprometer totalmente com programas de desenvolvimento de fornecedores,
principalmente quando não se vê benefícios potenciais óbvios. Pequenas
quantidades compradas de um grande número de fornecedores pode não justificar o
investimento em um fornecedor em particular. Ou um fornecedor pode não ser
importante o suficiente para justificar este investimento. A falta de retorno
financeiro imediato pode desestimular o apoio da alta gerência e diminuir o
comprometimento da empresa compradora. Más experiências em programas
passados podem reduzir o entusiasmo para programas futuros.
Para evitar este problema, os autores apontam soluções utilizadas por empresas que
tiveram sucesso em seus programas. Deve-se trabalhar com poucos fornecedores ou
fornecedor único aumentando a importância relativa destes. É importante manter o
foco no longo prazo e determinar o custo de transação. Outra técnica utilizada é
criar metas pequenas. Vários programas de desenvolvimento não obtêm sucesso por
criarem expectativas não realizáveis.
Na industria automobilística brasileira, um grande entrave encontrado foi a falta de
alinhamento entre o discurso de parceria e as ações das montadoras (Arkader, 1997).
A cultura organizacional de desconfiança em relação aos fornecedores não
acompanhou as necessidades criadas pela produção enxuta.
2.11.3 Problemas relativos à interface comprador-fornecedor
− Falta de confiança: muitos programas podem encontrar problemas na interface
comprador-fornecedor, em áreas como confiança inter-organizacional, alinhamento
de cultura organizacional e comunicação ineficiente de benefícios potenciais.
24
Um dos grandes desafios de programas de desenvolvimento de fornecedores é
cultivar a confiança mútua entre as partes. O fornecedor pode se mostrar relutante
em compartilhar informações de processo e estrutura de custo. Questões legais
intimidantes e ambíguas e limitações na comunicação também podem influenciar
negativamente no que tange à confiança.
2.12 MANUTENÇÃO DO PROCESSO DE MELHORIA
Mesmo com as melhorias alcançadas nas instalações dos fornecedores com a
presença do comprador, a maioria dos fornecedores encontra dificuldades para
continuar fazendo melhorias após a saída da equipe do cliente. Um estudo feito na
indústria automobilística nos EUA mostrou uma grande dificuldade do fornecedor
continuar implementando mudanças independentemente (Hartley e Choi, 1996). Neste
mesmo estudo identificaram-se três fornecedores que obtiveram sucesso mantendo as
mudanças após a saída do cliente. Não só continuaram fazendo melhorias como
espalharam as técnicas aprendidas para outras instalações da organização. Quatro
fatores se mostraram cruciais para o sucesso da melhoria contínua sustentável: forte
treinamento da equipe do fornecedor, acompanhamento e medição pelo cliente
regularmente, alinhamento com a cultura corporativa da empresa fornecedora e
estrutura de suporte na organização do fornecedor.
2.13 RISCOS ENVOLVIDOS
Levando-se em consideração a teoria do custo de transação, o conjunto de
vantagens adquiridas com a ligação operacional entre a empresa compradora e seus
fornecedores levaria a um abandono do método tradicional baseado em mercado, com
muitas fontes, seleção de fornecedores baseada em preço e contratos de curto prazo.
A sincronia operacional e a sinergia alcançada com o JIT depende de
investimentos específicos tanto em ativos como em recursos humanos. Exemplos são
quando um fornecedor localiza um depósito ou linha de montagem próximo ao
comprador, investe em uma ferramenta específica ou treina seu pessoal para atividades
específicas para um dado cliente. O retorno de tais investimentos depende de um
25
cumprimento de contrato que gera uma incerteza no ambiente. Para proteger ativos
específicos de transação de apropriação oportunista, a empresa compradora buscará
internalizar as transações ou buscar aumentar o controle hierárquico sobre a outra parte.
Isso levará a uma solução intermediária entre a integração total e o relacionamento
baseado em mercado, na qual fornecedor e comprador concordam em cooperar para
criar uma relação de longo prazo baseada na expectativa de transações futuras.
Speakman (1998) diz que com os investimentos se tornando mais específicos
para a relação comprador-fornecedor, com o aumento das incertezas do mercado e o
aumento do número de transações, a teoria do custo de transação prevê que a relação
passe de discreta para contratos de longo prazo.
Este relacionamento de longo prazo leva a menos incertezas quanto ao
fornecedor, diminuindo o custo de transação. Porém o custo de desenvolvimento de
fornecedores não é recuperável. Logo, se o relacionamento terminar prematuramente, o
investimento em desenvolvimento de fornecedores também representa um risco para a
empresa compradora (Speakman, 1998).
26
3 MODELO CONCEITUAL
Apresentam-se a seguir as principais questões da literatura que servirão de base
para a pesquisa:
Motivação para o
desenvolvimento de
fornecedores
• O Custo de transação (parte do custo associada ao
gerenciamento da relação comprador-fornecedor) (Frazier
et al. 1988, apud, Krause, 1997). Deficiências dos
fornecedores, como problemas de qualidade, incerteza na
entrega e demora em adotar novas tecnologias podem
elevar os custos de transação.
• O Sistema Just-in-Time (JIT): os principais aspectos do
sistema JIT são a redução dos lead times e a eliminação dos
desperdícios (Karmarkar, 1989).
• Redução da base de fornecedores (Krause, Handfield e
Scannell, 1997).
• Aumento relativo das aquisições externas (Hartley e Choi,
1996).
Objetivos dos programas
de desenvolvimento
• Redução de custos, melhora da qualidade e melhora do
desempenho de entrega (Hartley e Choi, 1996).
• Desenvolvimento de um processo sistemático que possa
ser usado para um melhoramento contínuo do fornecedor
(Hartley e Choi, 1996).
27
Principais atividades
operacionais na relação
comprador – fornecedor
• Envolvimento do fornecedor no desenvolvimento de
produtos e processos (Lee e Ansari, 1985).
• Planejamento da produção, sendo necessária a integração
dos sistemas do comprador com os fornecedores.
• Entrega JIT: exigindo redução nos lotes e aumento na
freqüência de entrega.
Principais atividades para
o desenvolvimento de
fornecedores
• Seleção e monitoramento de fornecedor (Willis e Huston,
1990; Purdy et al. 1994).
• Assistência e treinamento de fornecedores (Lyons et al.,
1990).
• Incentivos aos fornecedores (Lyons et al., 1990).
• Integração organizacional com o fornecedor (Lyons et al.,
1990).
• Intercâmbio de pessoal entre as duas firmas (Hartley e
Choi, 1996)
• Comprar de fornecedores alternativos para fomentar a
competição entre fornecedores (Hahn et al. 1986).
• Aumento de expectativa e promessas de negócios futuros
(Monczka et al. 1998).
• Reconhecimento e recompensa para fornecedores que se
destacam (Krause 1998).
• Associação de fornecedores (Hines e Rich, 1998)
28
Etapas para o
desenvolvimento de
fornecedores (Harndfield,
Krause, Scannell e
Monczka, 2000)
• Passo 1: Identificar materiais críticos
• Passo2: Identificar fornecedores críticos
• Passo 3: Formar uma equipe multifuncional
• Passo 4: Reunir-se com a alta gerência do fornecedor
• Passo 5: Identificar projetos chave
• Passo 6: Definir detalhes do acordo
• Passo 7: Monitoramento e mudança de estratégias
Critérios de seleção de
fornecedores para
programas de
desenvolvimento
• Importância relativa do produto adquirido externamente
(Burnes e Whittle, 1995).
• Participação no custo total (Burnes e Whittle, 1995).
• Tempo previsto de duração da relação (Burnes e Whittle,
1995).
• Participação da aquisição na receita do fornecedor (Krause,
1997).
Resultados esperados para
a empresa compradora
• suprir uma necessidade;
• aumentar sua competitividade;
• melhorar o desempenho dos fornecedores, garantindo
maior qualidade, maior produtividade e menores custos do
produto ou do serviço final (Forker et al., 1999).
Resultados esperados para
a empresa fornecedora
• O principal objetivo do fornecedor é garantir a
continuidade do negócio e o possível aumento do volume
(Forker et al., 1999).
29
Fatores críticos para o
sucesso de programas de
desenvolvimento de
fornecedores
• Comunicação efetiva multifuncional e bilateral (Carter e
Miller, 1989).
• Envolvimento da alta gerência (Hahn et al., 1990).
• Equipe multifuncional (Burt e Doyle, 1993; Ellram e
Pearson, 1993).
• Foco no custo total (Krause e Ellram, 1997).
• Perspectiva de longo prazo (Galt e Dale, 1991).
• Grande participação nas vendas anuais do fornecedor
(Lascelles e Dale, 1989).
• Avaliação do fornecedor (Hahn et al., 1990).
• Reconhecimento do fornecedor (Lascelles e Dale, 1989).
Principais entraves em
programas de
desenvolvimento de
fornecedores (Harndfield,
Krause, Scannell e
Monczka, 2000)
• Problemas relativos ao fornecedor: falta de
comprometimento do fornecedor; falta de recursos do
fornecedor.
• Problemas relativos ao comprador: falta de
comprometimento do comprador
• Problemas relativos a interface comprador-fornecedor:
falta de confiança
30
Manutenção do processo
de melhoria
• Forte treinamento da equipe do fornecedor,
acompanhamento e medição pelo cliente regularmente,
alinhamento com a cultura corporativa da empresa
fornecedora e estrutura de suporte na organização do
fornecedor (Hartley e Choi, 1996).
Riscos envolvidos • O investimento em desenvolvimento de fornecedores
representa um risco para a empresa compradora por não ser
um custo recuperável (Speakman, 1998).
31
4 METODOLOGIA
4.1 MÉTODO DA PESQUISA
Selltiz et al. (1975) definem quatro objetivos para as pesquisas: (1) familiarizar
os conhecimentos em torno de um dado fenômeno, podendo levantar hipóteses ou
problemas a serem pesquisados em estudos posteriores; (2) apresentar as características
de uma situação ou de um grupo de indivíduos; (3) verificar a freqüência com que algo
ocorre ou com que está ligado a alguma coisa; (4) verificar uma hipótese de relação
casual entre variáveis. Segundo os autores, os estudos que possuem o primeiro objetivo
são denominados de estudos exploratórios. Os trabalhos com o segundo e o terceiro
objetivos são chamados de descritivos e os que possuem o quarto objetivo são
classificados como estudos casuais.
Já segundo Mattar (1996) as pesquisas são classificadas de acordo com o
objetivo e o grau em que o problema está cristalizado e, a seguir, com a natureza do
relacionamento entre as variáveis estudadas. Como resultado da classificação do autor,
um estudo pode ser categorizado como uma pesquisa exploratória ou conclusiva, sendo
esta última dividida em pesquisas descritivas e casuais.
Os autores Green e Tull (1978) enfatizam que uma pesquisa exploratória é
caracterizada por grande flexibilidade e versatilidade. Por definição, o pesquisador está
envolvido na pesquisa de um tema sobre o qual ele não tem conhecimento suficiente
para formular a pergunta da pesquisa detalhadamente, não havendo o desenvolvimento
de hipóteses claras sobre o problema, sendo o objetivo buscar informações que o
auxiliarão a formular perguntas e hipóteses mais precisas em pesquisas futuras.
Para este estudo, foi escolhido o método do estudo de casos, pois este é o
método mais indicado quando se aborda um fenômeno contemporâneo e quando as
perguntas colocadas são do tipo “como” e “por quê” (Yin, 1989). O autor define o
estudo de casos como “uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo no seu contexto natural, quando a delimitação entre o fenômeno e
contexto não está claramente evidente e no qual várias fontes de evidência são usadas.”
32
4.2 ESCOLHA DOS CASOS
Para o estudo foram selecionadas três montadoras com atividade industrial no
Brasil. Devido ao número restrito de montadoras instaladas no país, considerou-se que
três empresas seriam suficientes para a coleta dos dados que serviriam como base da
análise que levaria a responder a pergunta principal da pesquisa, evidenciando a
importância de compras para as empresas, o seu relacionamento com os fornecedores e
as características dos programas de desenvolvimento.
Para entender a influência cultural no relacionamento com os fornecedores
optou-se por buscar montadoras de origens variadas. Foi escolhida uma empresa
japonesa, uma americana e uma européia. Em duas das empresas, o entrevistado
ocupava o cargo de gerente de compras enquanto que na terceira o entrevistado exercia
uma função gerencial na Engenharia de Qualidade de Fornecedores.
4.3 COLETA DOS DADOS
Foram realizadas entrevistas pessoais com os executivos indicados pelas
montadoras participantes do estudo para a obtenção dos dados necessários para
desenvolver cada um dos casos. O roteiro da entrevista consistiu principalmente de
perguntas abertas, para melhor captar as impressões, percepções, experiências e pontos
de vista dos executivos entrevistados (Anexo). A duração das entrevistas oscilou entre
duas e três horas e foram gravadas para sua posterior transcrição, de forma a manter
uma maior fidelidade com as declarações dos entrevistados. Posteriormente, manteve-se
contato por meio telefônico e correio eletrônico, de maneira a esclarecer qualquer ponto
necessário. As entrevistas foram realizadas em agosto de 2003.
4.4 PERGUNTAS DE PESQUISA
A pergunta principal da pesquisa é:
Como se caracterizam os programas de desenvolvimento de fornecedores na
indústria automobilística brasileira?
Perguntas secundárias:
1. Qual a motivação para a implementação de programas de desenvolvimento de
fornecedores?
33
2. Quais são os critérios de seleção de fornecedores para participação nos programas
de desenvolvimento de fornecedores?
3. Como se deu a evolução destes programas nas empresas e quais as principais
mudanças ocorridas em sua formatação ao longo do tempo?
4. Quais são os processos e as principais atividades utilizadas nos programas de
desenvolvimento de fornecedores?
5. Quais são os resultados esperados e obtidos?
6. Como são medidos os resultados dos programas?
7. Quais são os principais fatores de sucesso e entraves identificados?
8. Quais são as perspectivas futuras em relação aos programas de desenvolvimento de
fornecedores?
4.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
Embora o método de estudo de casos seja amplamente usado em pesquisas na
área administrativa, ele apresenta algumas restrições que devem ser levadas em
consideração. Por exemplo, existe a possibilidade de introdução de viés por parte do
pesquisador nas suas descobertas, além de não conseguir separar e controlar todas as
inúmeras variáveis a que o estudo fica exposto. Pelo fato de tratar-se de uma amostra
pequena, não existe fundamento estatístico para se fazerem generalizações.
Também é importante ressaltar que, embora a entrevista seja uma fonte muito
rica de informações, deve-se ter a consciência de que as percepções dos entrevistados
podem introduzir viés pessoal na avaliação dos fatos. Deve-se também levar em
consideração que as percepções do entrevistado são formadas a partir do ponto de vista
da montadora, podendo estas diferir das percepções dos fornecedores. Assim, o estudo
se propõe a suscitar evidências e considerações para futuros estudos, sem gerar
conclusões generalizáveis a respeito do tema.
34
5 DESCRIÇÃO DOS CASOS
5.1 CASO 1: MONTADORA ALPHA
5.1.1 Introdução
A empresa ALPHA chegou ao Brasil em 1971, quando se instalou em São
Paulo. A princípio, era apenas responsável pela importação e distribuição dos seus
produtos no país. No início eram só motocicletas, introduzindo dois anos mais tarde
também os produtos de força.
Com o veto do governo à importação de motocicletas em 1975, a ALPHA
instalou sua primeira linha de montagem na Zona Franca de Manaus. Só em 1992
iniciou a importação de automóveis.
Em 1996 iniciou a construção da unidade fabril de automóveis em Sumaré,
região de Campinas. Esta unidade, com capacidade dimensionada para produzir até 50
mil veículos por ano, é o objeto deste estudo de caso. Com a crise do mercado nacional
encontra-se trabalhando com uma certa ociosidade, com produção projetada de 35 mil
carros em 2003. Mesmo sendo uma empresa que atua no Brasil há mais de 30 anos, esta
instalação é bastante recente, operando desde 1997.
5.1.2 A Importância Relativa de Compras
Seguindo a tendência do mercado automobilístico, os itens adquiridos
externamente têm uma grande importância relativa. No caso da Montadora ALPHA,
estes itens chegam a representar 60% do custo total do produto final.
Como esta importância é reconhecida internamente, o responsável pela área de
compras possui o cargo de Diretor de Suprimentos respondendo diretamente ao Vice-
Presidente Industrial, que é responsável pela parte de automóveis da subsidiária
brasileira, estando abaixo do Presidente da holding brasileira. A Diretoria de
Suprimentos está subdividida em três áreas principais. A primeira, denominada de
Compras, é responsável pela seleção, negociação, relação e desenvolvimento de novos
fornecedores. A segunda é responsável pelo acompanhamento técnico dos fornecedores
de componentes em atividade. Já à outra cabe toda a logística inbound incluindo
35
programação e controle das entradas dos materiais. Esta Diretoria funciona como uma
prestadora de serviço da área industrial e tem importância estratégica na garantia do
custo e da qualidade do produto final. Sua missão, segundo o entrevistado, é “suprir a
fábrica com: qualidade, quantidade, custo e pontualidade”.
5.1.3 Relacionamento com os fornecedores
Influenciada pela cultura da matriz, a montadora ALPHA busca relações de
parceria com seus fornecedores. Para os principais itens conta com apenas um ou dois
fornecedores com contratos com tempo indeterminado que têm como finalidade garantir
qualidade, pontualidade e continuidade do fornecimento. A cada novo projeto, o
contrato deve ser revisto, mas não há registro de rompimento de nenhum contrato desde
o início da operação. Um projeto dura em média quatro anos, o tempo de vida médio de
um modelo, mais o tempo exigido por lei para peças de reposição. Como o volume de
produção é baixo comparado com o das grandes montadores instaladas no país há mais
tempo, não é viável ter mais de um fornecedor para certos componentes. Muitas partes
precisam de grande investimento para seu fornecimento e, como o ferramental
envolvido pertence à ALPHA, só é possível investir em um fornecedor.
Por atuar há pouco tempo no mercado de automóveis no Brasil, os projetos de
novos veículos são enviados diretamente da Matriz internacional, não sendo possível
envolver os fornecedores no início do projeto. Apenas os fornecedores que atuam de
forma mundial participam dos projetos, mas esta participação está restrita às suas
matrizes, não tendo ainda atuação de suas subsidiárias brasileiras.
5.1.4 Seleção de fornecedores
Quando é definido um novo projeto, inicia-se o processo de seleção dos
fornecedores. Uma RFI (Request for Information) padrão é enviada aos fornecedores
potenciais para uma qualificação inicial. Por se tratar de um mercado restrito, a ALPHA
busca trabalhar com os fornecedores maiores, com tradição no mercado e capacidade de
investimento, além de aproveitar o cadastro utilizado na sua linha de duas rodas. Os
fornecedores pré selecionados são visitados por missões de equipes multifuncionais,
envolvendo compras, engenharia e qualidade, para validar as informações enviadas,
sendo então feita uma requisição de cotação. Um modelo fabricado no exterior é trazido
36
para a planta brasileira e desmontado nas unidades de fornecimento. Os fornecedores
selecionados são convidados a identificar oportunidades de negócio. Nesta fase, a
ALPHA conta com no máximo três a cinco potenciais fornecedores.
A decisão é baseada no custo alvo total, levando-se em consideração o custo de
transação e qualidade. Seguindo a cultura de parceria da matriz, os fornecedores atuais
levam preferência na hora da contratação, uma vez que seu custo de transação será
reduzido por já estarem desenvolvidos e adaptados à cultura organizacional da empresa.
Os fornecedores globais representam mais de 30% (em valor) dos componentes
adquiridos externamente. Devido ao pequeno volume não existe interesse para alguns
fornecedores globais de montar estrutura no país.
Caso o fornecedor atual não consiga atingir o custo alvo para o item a ser
fornecido, a ALPHA trabalha junto a este para alcançar o objetivo. Não sendo possível,
procura-se desenvolver outra parceria. Faz parte do escopo de tarefas da área de
compras atuar nesta pressão de preço para atingir o custo alvo.
No caso de projetos considerados locais, os fornecedores podem adaptar o
projeto para a realidade do mercado brasileiro. Caso uma especificação de produto
esteja fora do padrão da indústria nacional, como, por exemplo, a espessura de uma
chapa prensada, o fornecedor pode sugerir uma alteração que deverá ser aprovada pela
qualidade e pela engenharia da ALPHA, para não comprometer as características
básicas do produto. No caso de produtos com projetos mundiais, onde o automóvel é o
mesmo em qualquer local de atuação da ALPHA no mundo, não é possível alterar
características de componentes. Caso o mercado nacional não tenha capacidade de
suprir a um preço competitivo, a parte é, então, importada. Em 2003, aproximadamente
40% (em valor) dos componentes adquiridos externamente são importados para manter
as especificações de projeto ao custo alvo.
Todo este processo, desde o envio da RFI até a produção do primeiro veículo da
linha, dura em média um ano. Os contratos cobrem todo tempo do projeto e são
baseados em volumes. Alterações são negociadas de acordo com a oscilação da
demanda.
Para o fornecimento de peças consideradas commodities, como extintores de
incêndio e triângulos de sinalização, não é necessário seguir todos estes passos, uma vez
37
que basta o fornecedor estar em conformidade com as exigências da lei em vigor. Não é
de seu interesse nem economicamente viável para a ALPHA estar desenvolvendo este
tipo de fornecedor uma vez que estas peças não contam com desenhos exclusivos e a
própria montadora não domina a tecnologia. A seleção deste fornecedor é baseada tanto
em preço quanto na capacidade deste de fornecer ininterruptamente o componente com
o nível de serviço exigido.
5.1.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas de
desenvolvimento
O desenvolvimento de fornecedores pode ser dividido em dois momentos
distintos. O primeiro ocorre de forma pró-ativa, antes do início do fornecimento do
componente. Isto ocorre quando o fornecedor está participando de um novo projeto,
sendo necessário fazer todos os ajustes das peças antes de começar a produção da linha
de montagem. Como todo o ferramental de partes exclusivas da ALPHA pertence à
montadora, é necessário fazer as adaptações ao maquinário do futuro fornecedor.
O segundo momento ocorre de forma reativa quando a linha de montagem já
está em operação e o fornecedor apresenta uma deficiência ou uma tendência negativa
de qualidade, tanto do produto quanto do nível de serviço.
O desenvolvimento antes da produção acontece com todos os fornecedores
envolvidos com peças novas que não constavam em modelos anteriores. Neste caso
existe um formato mundial estruturado liderado pela área de Pesquisa e
Desenvolvimento da matriz japonesa. O programa conta com uma estrutura matricial
envolvendo diversas áreas da empresa e tem um passo a passo com um cronograma
geral do projeto definido e adaptado à realidade brasileira.
Já quanto aos fornecedores que são desenvolvidos durante a produção em
regime, não existe uma forma estruturada para selecionar participantes de programas de
desenvolvimento de fornecedores. O critério utilizado é a necessidade demonstrada
quando um fornecedor mostra precariedade de qualidade, tanto do produto quanto do
serviço prestado. A ALPHA não espera a qualidade atingir níveis baixos e sim
acompanha o desempenho dos fornecedores no decorrer do tempo da relação.
38
A ALPHA desenvolveu um sistema de monitoramento dos seus fornecedores
para controlar seus desempenhos. Esta ferramenta está dividida em qualidade do
produto e qualidade da entrega. Do lado do produto são medidos fatores como número
de ocorrências, tempo de resposta, nível do defeito. Cada fator com um peso
determinado contribui para montar o índice de qualidade de cada fornecedor da
ALPHA.
Os fornecedores devem estar acima de um certo patamar pré-determinado.
Quando este índice se aproxima do limite, ou vai abaixo, a ALPHA se reúne com o
fornecedor para discutir soluções. Antes de intervir nos processos do fornecedor que
está apresentando deficiência de qualidade, este tem a oportunidade de montar um plano
de ação para solucionar o problema de forma definitiva.
Caso o fornecedor não apresente uma solução por vias próprias, a ALPHA
intervém no processo utilizando uma equipe multifuncional envolvendo compras,
engenharia e qualidade. A empresa utiliza uma metodologia própria, envolvendo
ferramentas de tomada de decisão com objetivos, prazos e valores pré-definidos. Os
relatórios de acompanhamento seguem os padrões internacionais da empresa. A
ALPHA não penaliza os fornecedores desenvolvidos com os custos desta equipe, porém
toda a necessidade de investimento em testes e instalações deve ser feita pelo
fornecedor. A ALPHA busca intervir na raiz do problema, ou seja, na sua causa e não
com soluções pontuais como inspeções antes do embarque. E, como citado pelo
entrevistado “por filosofia da empresa, não se resolve o problema trocando de
fornecedor.”
5.1.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores
A ALPHA não conta atualmente com um programa de treinamento estruturado
para seus fornecedores, mas pratica várias atividades relacionadas ao desenvolvimento
de fornecedores. Faz intercâmbio de pessoal, levando funcionários seus para dentro do
fornecedor e trazendo este para dentro de sua linha de montagem. Este envolvimento é
importante para que o fornecedor entenda o momento em que seu componente é
absorvido na produção.
39
A ALPHA possui uma metodologia própria de monitoramento de desempenho
de fornecedores garantindo a qualidade de seus produtos.
A montadora trabalha com contratos de longo prazo e com filosofia de parceria,
o que incentiva seus fornecedores a investir em pesquisa e melhorar seus procedimentos
com promessas de negócios futuros.
Os fornecedores com melhor desempenho no ano são premiados com
certificados de qualidade ALPHA, que têm grande apelo comercial nesta indústria.
5.1.7 Riscos Percebidos
O maior risco percebido pela ALPHA é o de não desenvolver seu fornecedor e,
com isso, prejudicar a linha de produção. Como é cultura da empresa trabalhar com
apenas um fornecedor por item, qualquer falha na qualidade ou não entrega de um
fornecedor pode parar toda a produção.
O risco financeiro não é considerado pela ALPHA, pois a montadora já conta
com estrutura para o desenvolvimento e seu custo já está no orçamento.
Já a troca de informação com o fornecedor também não é percebida como um
risco, pois, ressaltando mais uma vez, o objetivo é a formação de uma parceria e a troca
de informação é um dos pré-requisitos.
5.1.8 Motivação e Objetivo dos Programas
A principal motivação para o desenvolvimento de fornecedores é cultural,
objetivando a formação de parcerias de longo prazo. Os objetivos claros são a garantia
da qualidade e a redução do custo total que, na maioria dos casos, são alcançados.
Já do lado do fornecedor, o principal objetivo percebido é a continuidade do
negócio e oportunidades futuras, tanto com a montadora ALPHA como com outras
montadoras, além do mercado de exportação.
5.1.9 Principais entraves
Devido à cultura das montadoras presentes há mais tempo na indústria brasileira,
uma grande dificuldade para a ALPHA é mostrar os benefícios de uma relação de longo
40
prazo para os seu fornecedores. Estes benefícios não serão percebidos em uma única
transação e sim ao longo de um relacionamento. Conforme o entrevistado “é importante
o fornecedor perceber que as melhorias são para todos os seus processos e não só para
os componentes fornecidos para a ALPHA”. Outro fator importante é que “o fornecedor
que não perceber a perspectiva de longo prazo do relacionamento com a ALPHA não
terá futuro.”
Outra dificuldade percebida é quando o fornecedor encontra problemas para
dedicar recursos, tanto financeiros quanto humanos. O desenvolvimento exige
dedicação de pessoal de nível e, normalmente, são empresas com estruturas muito
enxutas. Mesmo que a ALPHA envie uma equipe multifuncional própria, os
investimentos em equipamentos e testes devem ser feitos pelo fornecedor que muitas
vezes não conta com este recurso.
5.2 CASO 2: MONTADORA BETA
5.2.1 Introdução
A montadora BETA, de origem americana, iniciou suas atividades no Brasil
ainda na década de 20 e teve papel fundamental no processo de industrialização
nacional. Atualmente conta com quatro grandes complexos industriais no estado de São
Paulo e Rio Grande do Sul. Apesar da crise do setor, continua produzindo mais de 400
mil unidades por ano detendo mais de 20% do mercado automobilístico brasileiro.
5.2.2 A Importância Relativa de Compras
A participação de compras no custo total do produto é bastante significativa,
mas, como é considerada estratégica, não pôde ser divulgada. Sua importância fica
explicita pelo fato da montadora BETA ter criado nos últimos anos uma Joint Venture
com uma grande montadora italiana, com sede na Alemanha, envolvendo todas suas
subsidiárias no mundo, para cuidar exclusivamente de compras e da relação com os
fornecedores a nível mundial.
Só no Brasil, esta Joint Venture conta com mais de 600 funcionários dedicados a
todas às atividades relacionadas a compras tanto para BETA quanto para a montadora
italiana. O Diretor Executivo desta empresa também é responsável por toda logística de
41
entrada e controle de fluxo de materiais nas unidades brasileiras estando ligado
diretamente ao presidente da BETA no Brasil e ao presidente da Joint Venture na
Alemanha.
Em termos de compras, a empresa está dividida em três diretorias sendo cada
uma responsável por um tipo de material, a saber: elétrico, químicos e metálicos. Além
destas, há também a Diretoria de Engenharia de Qualidade de Fornecedores dedicada
exclusivamente ao acompanhamento e desenvolvimento dos fornecedores.
As compras são todas centralizadas na unidade de São Caetano do Sul, no estado
de São Paulo, tendo uma pessoa dedicada, exclusivamente, ao relacionamento com os
fornecedores de alguns componentes críticos.
5.2.3 Relacionamento com os fornecedores
A BETA veio se adaptando à nova realidade da indústria automobilística
mundial e, localmente, após a abertura do mercado na década de 90. A montadora
migrou de uma estrutura mais verticalizada para um modelo mais dependente dos
produtos adquiridos externamente, o que obrigou a alterar sua forma de relacionamento
com seus fornecedores. Passou de uma política mais transacional, muito baseada em
preço, para um relacionamento de longo prazo, buscando parcerias.
A Joint Venture criada junto com a montadora italiana ratifica esta tendência na
busca por parceiros de nível mundial.
Apesar desta evolução, a BETA carrega influências culturais na busca de
menores preços de compra. Isto gera conflito entre duas áreas da empresa: enquanto
Compras procura sempre o menor preço pois é avaliada pela economia gerada no final
do período, a Diretoria de Engenharia de Qualidade dos Fornecedores busca alinhar
preço com qualidade e serviço, pois é avaliada através do desempenho do fornecedor
quanto a qualidade e acuracidade na entrega.
O relacionamento com os fornecedores é acompanhado através de um sistema de
cadastro mundial onde é possível verificar o desempenho de cada fornecedor em
qualquer unidade da BETA no mundo.
42
Existe um Balanced Score Card com indicadores referentes a desempenho de
fornecedores que alimenta um sistema de código de cores que determina a possibilidade
de fazer negócios com o fornecedor cadastrado. Estes índices são decorrentes de
comparações entre todos os fornecedores mundiais. Para um melhor resultado, eles são
divididos por família de produto, pois componentes diferentes exigem qualidades
diferentes, por exemplo, “não é possível comparar um fornecedor de componentes
estampados com fundidos”, logo os fornecedores tem metas por família de produto,
“quem entrega pneu é comparado com quem entrega pneu.”
Para componentes exclusivos, a empresa trabalha com fornecedor único por
projeto. Entenda-se por projeto o tempo de duração de um modelo de automóvel, mais o
tempo garantido por lei de peça de reposição. O motivo que leva a BETA a trabalhar
com apenas um fornecedor para estes componentes está no fato de que todo o
investimento em ferramental é feito pela BETA, o que não compensa descentralizar e
garante a exclusividade da peça e independência em relação ao fornecedor. Já para
partes não exclusivas, como pneus e extintores de incêndio, a BETA não identifica
obstáculos em trabalhar com mais de um fornecedor.
Existem duas formas de contrato. Os contratos normais de fornecimento são
abertos e não tem prazo de validade. Estes visam garantir a continuidade, pontualidade e
qualidade das peças fornecidas. O outro tipo são contratos pontuais para suprir alguma
necessidade emergencial e são baseados em volumes, ou seja, existe uma quantidade
pré-estabelecida que deverá ser fornecida em um determinado período.
5.2.4 Seleção de fornecedores
Para estar no cadastro da BETA é necessário que a empresa tenha QS9000, um
certificado específico para a indústria automobilística. Para entrar neste cadastro é feita
uma solicitação por Compras para incluir o potencial fornecedor, pois é a área
geralmente abordada e a visão desta abordagem é normalmente motivada por preços
competitivos.
Compras apresenta este potencial fornecedor para a Engenharia de Qualidade de
Fornecedores que, através de um auditor de qualidade, realiza visitas às instalações do
fornecedor, verificando as máquinas e auditando os processos produtivos. Verificada a
43
capacidade e capabilidade do fornecedor, este é incluído no cadastro de possíveis
fornecedores.
Quando uma nova peça deve ser adquirida, é realizada uma pesquisa no cadastro
para verificar quem está apto a fornecer para BETA através dos indicadores do
Balanced Score Card. Dependendo da família do componente, existem
aproximadamente quatro a cinco potenciais fornecedores para peças exclusivas. Isto se
deve ao fato de a comparação do cadastro ser feita a nível mundial, prejudicando os
fornecedores nacionais que têm uma maior limitação de tecnologia.
O departamento de Compras propriamente dito, junto com a Engenharia de
Qualidade de Fornecedores, envia um Caderno de Cotação para os possíveis
fornecedores com o detalhamento técnico das peças e os volumes para que cada um
retorne com seu entendimento sobre o projeto, o plano de produção e uma cotação para
este fornecimento. Após receber esta resposta, equipes multifuncionais, envolvendo
compras, engenharia e qualidade, realizam reuniões individuais com cada fornecedor
para negociação e a decisão final. Apesar de não ser o único balizador, o preço tem
grande influência na decisão final, sendo que para cada peça de cada projeto existe um
preço alvo que não pode ser superado. Este preço alvo é definido junto com a área
financeira baseado nas práticas da indústria.
5.2.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas de
desenvolvimento
Esta seleção é realizada pela Diretoria de Engenharia de Qualidade de
Fornecedores. Para esta função, a diretoria é dividida em três grupos. O Avançado está
encarregado das atividades relacionadas a lançamentos que envolvem projetos novos,
componentes novos e fornecedores novos. O segundo grupo é o Corrente que está
focado nos fornecimentos em curso. São considerados os “bombeiros” da Diretoria e
atuam em fornecedores que apresentam problema de qualidade de produto e qualidade
de serviço. O último grupo, Processos e Sistemas, é responsável pelo monitoramento de
desempenho e aplicação de ferramentas de contenção.
O desenvolvimento de fornecedores ocorre em dois momentos distintos, quando
se trata uma peça nova de um lançamento ou quando o fornecedor já atuante apresenta
44
alguma precariedade de qualidade, tanto de produto quanto de entrega. No primeiro
caso a responsabilidade é do grupo Avançado que estará desenvolvendo e adaptando o
ferramental da BETA para operar na linha do fornecedor.
Já no segundo caso, a BETA atua de forma reativa, sendo responsabilidade do
grupo Corrente.
5.2.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores
Para o fornecimento de peças novas, uma vez escolhido o fornecedor, existe um
“Plano Avançado de Qualidade” gerido pela Engenharia de Qualidade de Fornecedores.
Segue-se um cronograma rígido para a aprovar a capabilidade (capacidade de produzir o
componente com a qualidade especificada) e a capacidade do fornecedor para fornecer a
quantidade necessária nos prazos exigidos.
O fornecedor, apesar de não participar do desenho da peça, é envolvido no
desenvolvimento da mesma, acompanhado por uma equipe da BETA que aprova os
primeiros protótipos. Durante este processo, o fornecedor pode sugerir algumas
mudanças no componente que possam resultar em melhorias tanto de qualidade quanto
de preço. Cada mudança sugerida deve ser aprovada pela engenharia da BETA.
Passada esta etapa, a BETA audita os processos envolvidos na produção da peça
e realiza acompanhamentos estatísticos para garantir que a peça estará em conformidade
com as tolerâncias das especificações do desenho do projeto. Aprovados os processos, a
BETA verifica a capacidade de produção, identificando gargalos e considerando os
volumes necessários para atender tanto à BETA quanto às outras montadoras, uma vez
que as máquinas são compartilhadas.
A produção inicial de uma peça é inspecionada em sua totalidade dependendo da
percepção de risco da peça. Esta percepção considera tanto fatores inovadores da peça
como a tradição do fornecedor. Por exemplo, um pneu com uma pequena mudança de
vinco representa um baixo risco devido à experiência do fornecedor com o componente.
Já um novo conjunto injetor, desenvolvido especificamente para este novo modelo,
apresenta um alto risco e é 100% inspecionado durante um período pré-determinado.
Isto garante o lançamento de um novo modelo com menos risco de problemas
comerciais.
45
A inspeção de peças de baixo e médio risco, apesar de ser coordenada pela
BETA, é realizada pelo próprio fornecedor. Já para as peças de alto risco, as inspeções
são realizadas por uma empresa terceirizada, independente e homologada pela BETA.
Os custos destes processos são compartilhados com base nos resultados das
conferências.
Uma vez iniciada a produção em série e passada a fase de inspeção de começo
de produção, a Engenharia de Qualidade de Fornecedor acompanha o desempenho dos
fornecedores através de relatórios avaliando os indicadores do Balanced Score Card. Os
fornecedores têm objetivos de melhoramento contínuo que também tem seu
acompanhamento realizado por esta diretoria. Todas estas medições alimentam o
cadastro único da Joint Venture.
Caso o fornecedor comece a apresentar problemas de qualidade, entra no
programa de contenção no qual é obrigado a inspecionar a totalidade das peças
embarcadas. Este processo é auditado pela Engenharia de Qualidade dos Fornecedores,
assim como é feito no lançamento de um novo projeto. São definidas metas de melhoria
de qualidade para que o fornecedor seja retirado do programa.
Caso o fornecedor continue apresentando problemas de qualidade, a inspeção
passa a ser feita por uma empresa terceirizada homologada pela BETA, além de se
manter a inspeção do próprio fornecedor.
No caso de um fornecedor estratégico para a BETA, que tenha grande
participação nos custos dos produtos, esta busca atuar na causa raiz do problema e
solucioná-lo utilizando-se de equipes multifuncionais e programas documentados. Caso
não seja do interesse da BETA continuar com este fornecedor problemático, a
Engenharia de Qualidade de Fornecedores registra no sistema de cadastro a
impossibilidade de realizar novos negócios com este fornecedor. Logo o fornecedor não
estará envolvido em novas concorrências, tanto da BETA quanto da montadora italiana,
mas manterá a produção atual devido ao elevado custo de mudança, considerando-se
todo o desenvolvimento de ferramental dedicado àquele componente.
Além de todas essas etapas estruturadas para o desenvolvimento do fornecedor,
a BETA realiza Workshops regulares, gerando a integração dos fornecedores com as
necessidades da empresa.
46
Ao final de cada ano, é realizada uma convenção onde os principais
fornecedores são premiados em sua categoria. Este prêmio é reconhecido pelo mercado
e tem forte apelo comercial.
Mais recentemente, a BETA, não a Joint Venture, criou grupos de redução de
custos. São equipes multifuncionais que buscam redução de custo em todas as etapas do
processo. Estas equipes também podem atuar nos fornecedores quando é identificada
uma oportunidade de redução de custo, sendo seus ganhos compartilhados.
5.2.7 Riscos Percebidos
A BETA percebe o risco financeiro de estar investindo em um fornecedor; logo
um levantamento da saúde das finanças do fornecedor é feito antes de qualquer
investida.
Apesar de o fornecedor não participar do desenvolvimento do produto, este tem
total acesso às características das peças que irá fornecer e a BETA não entende como
risco este compartilhamento de informação que é uma prática normal do mercado
automobilístico. Além das informações técnicas, a BETA troca dados de seu ERP com
seus fornecedores através de EDI para garantir o fluxo de materiais na linha de
produção. O fornecedor é informado de vinte dias de programação de produção e este
dado é atualizado diariamente para refletir as oscilações da demanda.
5.2.8 Motivação e Objetivo dos Programas
A principal motivação para o desenvolvimento de fornecedores para a
montadora BETA é manter o fluxo de fornecimento de materiais com a qualidade
necessária e na hora exigida. Já para o fornecedor que terá que investir em seu
desenvolvimento, seu maior objetivo é a perspectiva de negócios futuros com a BETA e
outras montadoras. Um objetivo a médio prazo é se tornar um fornecedor de classe
mundial e estar ampliando seu mercado de atuação.
Segundo relato, nem todas as iniciativas de desenvolvimento são bem sucedidas,
resultando na descontinuidade do relacionamento com estes fornecedores. Mas, mesmo
assim, a BETA acredita que os programas trazem benefícios para a empresa e a
perspectiva futura é continuar investindo nos programas.
47
5.2.9 Principais entraves
Devido às dificuldades existentes no mercado atual, o principal problema
encontrado para o desenvolvimento de fornecedores é a falta de recursos destes para os
investimentos necessários exigidos pelo programa.
Além disso, o fato de a empresa responsável pelo desenvolvimento ser uma Joint
Venture independente da BETA gera um conflito de culturas entre a planta produtiva, a
Joint Venture e o próprio fornecedor.
Finalmente, existe a dificuldade de o fornecedor aceitar sua deficiência, levando
a responsabilidade para outras pontas como o transporte, manuseio na linha de
montagem, projeto e processos mal desenvolvidos, sendo, segundo o entrevistado,
“difícil desenvolver quem não acredita que precisa ser desenvolvido.”
5.3 CASO 3: MONTADORA GAMMA
5.3.1 Introdução
A montadora GAMMA é o resultado da união, desde a década de setenta, de
duas importantes marcas européias. Apesar de seus quase duzentos anos de existência,
só iniciou suas atividades no Brasil em 1991, quando se deu a abertura econômica
brasileira. Na primeira década de presença no país atuou apenas com modelos
importados, inaugurando sua primeira linha de montagem no estado do Rio de Janeiro
em 2001, com capacidade para produzir até 100 mil veículos por ano.
5.3.2 A Importância Relativa de Compras
Após a união das duas montadoras européias, apenas as áreas comercial e de
marketing se mantiveram separadas, sendo unificado todo o processo de pesquisa e
desenvolvimento, compras e atividade industrial.
A participação de componentes adquiridos externamente representa
normalmente 60% do custo total do produto. Atualmente, no caso dos veículos
nacionais, este valor é menor devido a baixa produção brasileira, tendo os custos fixos
um maior impacto na composição dos custos totais. Isto pode ser explicado pelo curto
tempo de atividade da montadora GAMMA na indústria nacional.
48
A GAMMA tem uma estrutura única para o Mercosul e o Diretor de Compras
responde diretamente ao presidente da divisão Mercosul, além de responder
paralelamente ao Diretor de Compras da GAMMA Mundial na França.
Existem equipes de compra, tanto no Brasil quanto na Argentina, onde está
localizada a maior planta produtiva da GAMMA. A Diretoria de Compras é dividida em
dois segmentos: compras produtivas e compras improdutivas. As improdutivas
representam tudo que é adquirido e não fará parte da montagem do produto final, como
móveis e computadores para escritórios. Este segmento tem menos importância e está
fora do escopo desta pesquisa.
As compras produtivas são referentes a todos os componentes que estarão
presentes no produto final. Esta área é de suma importância para a empresa pois é
responsável pela seleção e desenvolvimento de fornecedores, desenvolvimento de
componentes para adaptação ao mercado nacional e toda a logística de recebimento da
fábrica.
Atualmente, Compras conta com 90 pessoas de um total de aproximadamente 2
mil funcionários no Brasil. Apesar de participar da produção de duas marcas diferentes,
atua de forma totalmente unificada sem ter identificação diferenciada com uma marca.
5.3.3 Relacionamento com os fornecedores
Cada chefe de equipe de compras é responsável por uma família de componentes
do produto. Entende-se por família de componentes partes com características similares
como estampados, iluminação, interior e fundidos. A equipe, formada por profissionais
de compras, engenharia e qualidade, é responsável por todos os processos relacionados
à peça antes de entrar na produção. Isto inclui desde o processo de seleção do
fornecedor, negociação e desenvolvimento até a logística inbound da fábrica.
Todo o relacionamento com o fornecedor é feito através de Compras, que
acompanha a vida em série da peça, fazendo o controle de qualidade, tanto do produto
quanto do serviço. Já o fluxo interno de matérias extrapola o limite de responsabilidade
de Compras ficando a cargo do Departamento de Logística. No caso do fornecimento
Just-in-Time, existe um trabalho conjunto das duas áreas para buscar o melhor resultado
para a empresa.
49
Os contratos de fornecimento são, normalmente, sem prazo determinado e
duram durante toda a vida do modelo, mais o tempo exigido por lei para peças de
reposição. Busca-se ter apenas um fornecedor por peça exclusiva, uma vez que o
ferramental pertence à montadora GAMMA e o investimento é relativamente alto. Para
não ter uma total dependência do fornecedor, procura-se ter mais de um fornecedor para
peças não exclusivas, limitando-se a um valor a participação de cada fornecedor.
No caso dos fornecedores com ferramental da GAMMA, esta divisão é feita por
projeto, podendo o fornecedor ser único para um modelo, mas não para um tipo de peça.
Para se ter ganho de escala na negociação com os fornecedores, tenta-se concentrar
produtos de uma mesma família nos mesmos fornecedores.
Existe uma percepção de barreira de saída de um fornecedor, pois existe um
grande investimento em desenvolvimento para a manufatura de um componente. Apesar
de o ferramental pertencer à GAMMA, o seu desenvolvimento é personalizado à
realidade daquele fornecedor e adaptado aos seus processos.
A GAMMA pratica fortemente a troca de informações com seus fornecedores.
Todo o planejamento da produção é repassado via EDI para garantir o correto fluxo de
materiais para a fábrica. A montadora disponibiliza para seus fornecedores o “Site do
Fornecedor”, um portal na Internet com todas as informações referentes aos
componentes fornecidos, assim como atualizações de processo e indicadores de
desempenho para acompanhamento do próprio fornecedor.
5.3.4 Seleção de fornecedores
Para pertencer ao quadro de fornecedores da montadora GAMMA é preciso
preencher requisitos básicos. O processo de seleção começa com o envio de
informações sobre processos, certificados ISO e capacidade de produção do potencial
fornecedor.
Passada esta fase, a GAMMA realiza uma auditoria da saúde financeira através
dos órgãos competentes que dispõem destas informações. Realiza, então, visitas em que
a equipe de compras valida as informações enviadas e verifica se a qualidade das
instalações está de acordo com as necessidades da indústria automobilística.
50
Com os potenciais fornecedores cadastrados por família de componente, é,
então, enviado um “Caderno de Encargos”, com o detalhamento do projeto da peça para
que seja feita a cotação. O preço, apesar de não ser o único parâmetro relevante, é o
fator mais importante na decisão. “A análise é feita em cima do custo total”, segundo o
entrevistado. A formação do preço é minuciosamente verificada para checar se todos os
componentes de custo estão incluídos na proposta, como embalagem, especificações
corretas e fluxo logístico.
Além do custo total, existem outros fatores que influenciam na decisão de
fornecimento. Quando os custos estão relativamente próximos entre dois fornecedores,
pode ser considerado “estratégico” estar desenvolvendo um fornecedor que apresentou
um preço um pouco mais elevado. O grau de internacionalização do fornecedor é um
fator que conta muito nesta decisão final, principalmente se tiver atuação forte na
Europa, mas especificamente se realizar negócios com a matriz da montadora. Essa
internacionalização é um forte facilitador no caso de necessidade de importação e muito
valorizada para exportação.
5.3.5 Seleção dos fornecedores que participam de programas de
desenvolvimento
Em termos de desenvolvimento de fornecedor, existem duas vertentes. A
primeira é a dos fornecedores de peças novas para modelos que ainda serão lançados. A
segunda é das empresas que fornecem componentes que entram na produção dos carros
que constituem o atual portifólio de mercado da GAMMA.
No primeiro caso, todos os fornecedores de peças novas passarão por um
processo de desenvolvimento, e, junto com uma equipe da montadora, participará do
desenvolvimento de todo o processo produtivo até a manufatura das primeiras peças em
série.
No segundo caso, apenas os fornecedores que apresentarem deficiência de
qualidade, tanto de produto quanto de serviço, serão incluídos no programa. A
GAMMA trabalha com indicadores de desempenho, avaliando periodicamente a
performance de seus fornecedores. As empresas que apresentarem tendências negativas
em seus indicadores serão candidatas a intervenções da GAMMA.
51
5.3.6 Principais atividades para desenvolvimento de fornecedores
A montadora GAMMA pratica várias atividades que visam o desenvolvimento
dos fornecedores, podendo envolver investimentos diretos ou não. Uma prática que não
necessita de investimento usada pela montadora é o estímulo à concorrência entre
empresas para alcançar melhores preços.
Nos fornecedores atuais são realizadas visitas periódicas com a finalidade de
avaliar, através de auditorias, os processos aplicados na produção dos componentes. O
sistema de indicadores funciona como um Balanced Score Card, que indica tendências
na qualidade, tanto do produto quanto do serviço logístico prestado.
Quando esses indicadores apresentam uma tendência negativa e sendo de
interesse da montadora GAMMA manter esta empresa em seu quadro de fornecedores,
é criada uma força tarefa, liderada por Compras, envolvendo Engenharia, Logística e
Qualidade. Esta força tarefa, através de cronograma e relatórios pré-definidos, busca
solucionar o problema na sua causa, realizando várias missões no fornecedor
problemático.
Para fornecedores de peças novas também é formada uma equipe multifuncional
que será responsável por todo o seu desenvolvimento. Em seguida, é criado um
cronograma cujo o cumprimento passa a ser o principal objetivo de compras, pois um
atraso tem como conseqüência um retardamento no lançamento de um novo modelo.
O desenvolvimento e a construção de um novo ferramental são acompanhados
tanto pela GAMMA quanto pela empresa selecionada para fornecer o novo componente.
Isto é importante para garantir a total adaptação aos processos produtivos do fornecedor.
O set up inicial da máquina também é feito em conjunto, além do ajuste de
qualidade necessário para garantir que não haverá falhas no lançamento. Tudo é
acompanhado por reuniões conjuntas periódicas e relatórios seguindo os padrões da
matriz européia. Todo o processo, desde o início da seleção dos fornecedores até o
primeiro veículo produzido, pode durar até dois anos.
52
5.3.7 Riscos Percebidos
Um grande risco percebido é a instabilidade da conjuntura econômica nacional.
Um fornecedor que apresenta uma boa saúde financeira atualmente pode apresentar
problemas no futuro próximo e os projetos têm prazos longos.
O risco financeiro é muito relevante, pois o processo exige muito investimento
no fornecedor no caso de peças novas. E, pela percepção do entrevistado, existe uma
grande barreira de saída.
A troca de informações é praticada e, ao mesmo tempo, é percebida como risco.
A GAMMA vê tal situação como uma prática normal desta indústria. Apesar de as
tecnologias serem compartilhadas, os preços praticados não são divulgados.
5.3.8 Motivação e Objetivo dos Programas
O principal objetivo do desenvolvimento de um fornecedor de uma peça nova é
seguir o cronograma para não gerar um atraso no lançamento de um novo modelo e
garantir que este lançamento não tenha falhas em sua totalidade.
No caso de fornecedores que apresentam deficiências em componentes
correntes, o principal objetivo dos programas de desenvolvimento de fornecedor é
garantir que não haja parada de linha. O custo de oportunidade de uma linha parada é
consideravelmente alto.
Neste caso, nem sempre os objetivos são alcançados, surgindo a necessidade de
troca de fornecedor. O sucesso do programa não depende exclusivamente da montadora
GAMMA, a conjuntura econômica e a saúde financeira influenciam muito.
Para o fornecedor, o principal objetivo, no ponto de vista da montadora, é dar
continuidade na relação com a GAMMA e com isso garantir sua sobrevivência no
mercado, uma vez que quando uma montadora descontinua um contrato com um
fornecedor este é mal visto pelo mercado, que é bem restrito.
5.3.9 Principais entraves
A principal dificuldade encontrada nos programas de desenvolvimento de
fornecedores é a restrição de recursos da empresa. Com a situação do mercado, as
53
empresas vêm operando com estruturas muito enxutas, faltando tanto recursos
financeiros quanto humanos.
Outra dificuldade encontrada é o conflito cultural entre as duas empresas no
relacionamento interventora – intervinda. Os processos da montadora GAMMA exigem
uma burocracia de acompanhamento muito densa, que desgasta muito o fornecedor.
54
6 ANÁLISE DOS CASOS
6.1 ASPECTOS GERAIS
As três empresas participantes da pesquisa têm origem em culturas com grande
diferenças. A ALPHA é japonesa, a BETA americana e a GAMMA européia. Essas
diferenças culturais ficam explícitas na estrutura da empresa e no relacionamento com
os fornecedores.
Quadro 1 - Características das empresas
ALPHA BETA GAMMA
Origem Japão EUA Europa
Inicio da operação no Brasil
1997 anos 20 2001
Produção 35 mil 400 mil 70 mil
A BETA é a montadora de maior porte no mercado nacional entre as empresas
envolvidas no estudo. Começou suas atividades no início da industrialização brasileira,
enquanto a montadora ALPHA atua na indústria automobilística do Brasil há seis anos e
a GAMMA apenas iniciou sua produção em 2001.
O tempo de operação se reflete na participação no mercado e na estrutura
implementada no país. A BETA possui quatro plantas produtivas, monta mais de dez
modelos nacionais e detém uma fatia de mais de 20% do mercado nacional, produzindo
mais de 400 mil carros por ano. A montadora ALPHA conta com apenas dois modelos
nacionais, produzidos na mesma linha, projetando uma produção de 35 mil veículos
para 2003. A GAMMA possui também apenas uma instalação de montagem e lançou
este ano seu terceiro modelo nacional, já tendo alcançado uma parcela significativa do
mercado por ter entrado no segmento conhecido por veículos populares, que apresenta
uma maior demanda.
55
Como as montadoras ALPHA e GAMMA são relativamente novas na indústria
brasileira, praticam uma estratégia de penetração no mercado nacional, investindo alto
em processos e estrutura. Como ainda não atingiram a escala de produção projetada,
vêm operando com prejuízo.
6.2 PERCEPÇÕES SOBRE A ÁREA DE COMPRAS
Conforme indicado por Krause et al. (1997) e explicitado na indústria
automobilística, as empresas estão menos verticalizadas e mais focadas em suas
competências centrais. Na ALPHA a participação dos itens adquiridos externamente é
de, aproximadamente, 60% dos custos totais. Este também é o percentual esperado na
GAMMA, mas por estar ainda em início de operação, os custos fixos ficam mais
representativos e a participação dos itens adquiridos externamente é menos
significativa. A montadora BETA, apesar de indicar que esta participação era de grande
relevância, preferiu não divulgar esse número por considera-lo estratégico.
Seguindo a tendência desta indústria, as atividades relacionadas a compras vêm
ganhando importância dentro das organizações, como mencionado por Monczka et al.
(1998). Nas três empresas visitadas, o responsável pela área de compras exercia o cargo
de Diretor. Na ALPHA, o Diretor de Suprimentos responde diretamente ao Vice-
Presidente Industrial, responsável por todas as atividades referentes às instalações de
Sumaré.
Na montadora BETA existe uma situação peculiar, pois foi criada uma Joint
Venture, a nível mundial, com uma grande montadora italiana, que também tem atuação
no mercado brasileiro, para cuidar única e exclusivamente dos assuntos relacionados a
compras. O Diretor Executivo desta Joint Venture no Brasil responde diretamente ao
presidente da BETA do Brasil e está ligado hierarquicamente ao presidente mundial da
Joint Venture na Alemanha.
A GAMMA trabalha com uma estrutura única para o Mercosul. O responsável
por compras responde tanto ao Diretor de Compras da GAMMA Mundial como ao
presidente da divisão Mercosul, que por sua vez está ligado hierarquicamente.
56
Quadro 2 - Comparativo entre as áreas de Compras
ALPHA BETA GAMMA
Nível Hierárquico Diretor Diretor Diretor
Estrutura Brasil Joint Venture Mercosul
Participação de Compras no custo total
60% NA 45%
Apesar de apresentarem subdivisões diferentes, nos três casos a área de compras
se identificou como responsável por selecionar, desenvolver, monitorar os fornecedores
e fazer o controle do fluxo logístico de entrada de materiais. Na GAMMA, além dessas
atividades, a área de compras participa do desenvolvimento das adaptações de peças e
ferramental para o mercado nacional.
6.3 PERCEPÇÕES QUANTO AO RELACIONAMENTO COM OS
FORNECEDORES
No que tange a relacionamento com fornecedores, observa-se as maiores
influências da cultura da matriz das empresas. A ALPHA, de origem japonesa,
transparece a cultura oriental traduzindo compras em parceria. A BETA e a GAMMA,
com uma cultura transacional, exercem uma maior pressão sobre preço, tendo menos
dificuldade de interromper um contrato e buscar um novo fornecedor. A GAMMA
destaca o fomento da concorrência como prática para redução de preços.
As três empresas trabalham com dois tipos de contrato. Os contratos pontuais
visam suprir uma necessidade momentânea, são baseados em volume e têm prazo
estipulado para terminar. Os contratos normais não têm prazo e seu grande objetivo é
garantir fornecimento contínuo com qualidade e pontualidade.
Para as peças exclusivas, as três montadoras trabalham com fornecedores únicos,
sendo que o ferramental sempre pertence à montadora. No ponto de vista da BETA e da
GAMMA, investir no ferramental garante a independência em relação ao fornecedor, o
que não foi citado pelo representante da ALPHA.
57
As três empresas trabalham com sistemas de monitoramento com indicadores de
qualidade do produto e do nível de serviço. Agrupam os fornecedores por família de
componentes e estipulam metas de desempenho para cada grupo. No caso da montadora
BETA, estas metas são estabelecidas através de comparações a nível mundial de todos
os fornecedores da BETA e da montadora italiana participante da Joint Venture
responsável por compras.
Quanto à troca de informações, as três empresas se assemelham bastante. Nos
três casos os fornecedores tem acesso ao MRP da montadora para garantir o fluxo de
entrada de materiais. Os fornecedores também podem acompanhar seus desempenhos
de qualidade através dos indicadores que são fornecidos pelas montadoras.
6.4 PROCESSOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES
Toda a seleção de fornecedores da BETA é realizada pela Joint Venture que,
através de seu sistema de cadastro associado ao Balanced Score Card, identifica quem
está apto a fornecer para a empresa. No caso da ALPHA e da GAMMA, o processo é
semelhante. Os fornecedores devem preencher requisitos básicos para participar de uma
cotação.
As três empresas realizam visitas com equipes multifuncionais, sempre
envolvendo compras, qualidade e engenharia, para validar os dados fornecidos pelos
potenciais fornecedores. As montadoras apresentam as especificações das peças em
questão para que os fornecedores retornem uma cotação.
O que mais diferencia as empresas é o critério utilizado para selecionar a
vencedora da concorrência. Uma vez preenchidos os requisitos básicos, a BETA e a
GAMMA tendem a optar pelo menor preço. No caso da BETA, isso gera um conflito
interno pois a Diretoria de Compras da Joint Venture, responsável pela negociação é
avaliada pela economia total no final do período, enquanto a Diretoria de Engenharia da
Qualidade de Fornecedores é avaliada pelo desempenho destes.
A GAMMA busca não concentrar um valor muito alto em um mesmo
fornecedor para não perder o poder de barganha, ao mesmo tempo em que procura
disponibilizar um volume que viabilize a operação, consolidando componentes de uma
mesma família em um mesmo fornecedor para gerar ganhos de escala. A
58
internacionalização do fornecedor também foi citada como um fator influenciador da
decisão da GAMMA.
A ALPHA foi quem apresentou uma maior cultura de parceria junto ao seus
fornecedores. Aproximadamente 40% dos produtos adquiridos externamente são
entregues por seus fornecedores globais. Este percentual só não é maior devido ao baixo
volume de produção da ALPHA no Brasil, o que inviabiliza a instalação de subsidiárias
brasileiras. A ALPHA trabalha com custos alvos, favorecendo sempre o atual
fornecedor que já está adaptado à cultura da empresa.
Quanto a peças não estratégicas, como extintores de incêndio e triângulos de
sinalização, por exemplo, a decisão das três montadoras é baseada em preço, uma vez
que a indústria considera esses componentes como commodities, bastando estar em
conformidade com as leis atuais.
6.5 SELEÇÃO DOS FORNECEDORES QUE PARTICIPAM DE
PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO
As três empresas tratam os programas de desenvolvimento de fornecedores de
duas formas: quando se trata de uma peça exclusiva nova para um novo projeto, o
fornecedor passa obrigatoriamente por um processo de desenvolvimento para adaptar
sua linha ao novo ferramental da montadora.
O segundo caso refere-se ao desenvolvimento de fornecedores que apresentam
deficiência de qualidade do produto ou baixo nível de serviço para componentes que
fazem parte dos modelos em produção em série. As três montadoras trabalham com
indicadores de qualidade e fazem o monitoramento destes. Cada família de produto tem
metas de desempenho determinadas e, através do acompanhamento dos índices, são
identificados os fornecedores que estão apresentando tendências negativas de
desempenho.
A decisão de investir ou não no fornecedor depende de outros fatores além dos
indicadores de qualidade. A GAMMA relatou que é necessário determinar o quão
estratégica é a empresa para o seu quadro de fornecedores antes de investir. Se for mais
viável descontinuar o contrato, é dada a preferência para o desenvolvimento de um novo
relacionamento.
59
A montadora BETA, antes de investir em desenvolvimento, opera em contenção
onde o fornecedor é obrigado a inspecionar todas as peças antes de embarcar. Os
programas de desenvolvimento também ficam restritos aos fornecedores considerados
estratégicos.
A ALPHA se mostrou mais dedicada aos programas de desenvolvimento de
fornecedores. Quando o fornecedor apresenta uma tendência negativa de qualidade, o
fato é exposto ao fornecedor que tem a chance de apresentar um plano de ação para
solucionar o problema. Se não for possível, a ALPHA investe no fornecedor, pois
culturalmente não acredita que resolve o problema trocando de fornecedor.
Quanto aos componentes considerados commodities, existe um menor
comprometimento com o desenvolvimento do fornecedor. As três montadoras se
limitam a suprir a empresa com informações sobre seus indicadores de desempenho.
6.6 PRINCIPAIS ATIVIDADES PARA DESENVOLVIMENTO DE
FORNECEDORES
Como as três empresas contam com programas de desenvolvimento bem
estruturados, foi possível identificar as principais atividades citadas na literatura. Os
projetos da ALPHA e da GAMMA são enviados diretamente de suas matrizes
impossibilitando a participação dos fornecedores nacionais no desenvolvimento dos
componentes. A ALPHA salientou que existe esta participação dos fornecedores
internacionais.
A BETA, apesar de ter modelos projetados por equipes brasileiras, não envolve
o fornecedor nesta etapa do processo. O que ocorre nos três casos é a participação do
fornecedor selecionado na adaptação das especificações do projeto aos padrões
nacionais e à sua linha de produção.
No que tange à troca de informações, todas as três montadoras disponibilizam
seu MRP para que os fornecedores desenvolvam melhor seus fluxos de materiais e
garantam o suprimento ininterrupto e com pontualidade da linha de montagem. Além do
MRP, os fornecedores da GAMMA tem acesso ao “Site do Fornecedor”, portal de
internet, disponibilizado pela montadora onde encontram informações sobre seus
indicadores de desempenho e atualizações recentes de tecnologias e processos. A BETA
60
trabalha com um sistema via Internet que possibilita a rastreabilidade da solução de
problemas e fornece informações sobre o desempenho de cada fornecedor. As três
empresas contam com sistemas de monitoramento bem estruturados.
A montadora BETA, pela sua escala de produção e tempo de atuação no
mercado nacional, foi a única empresa que apresentou um programa estruturado de
Workshops para treinamento de seu quadro de fornecedores. A ALPHA busca uma
maior integração com seus fornecedores trazendo-os para dentro de suas instalações. É
comum encontrar equipes de fornecedores na linha de montagem. A GAMMA, como a
ALPHA, realiza visitas periódicas às instalações dos fornecedores tanto para estreitar
seu relacionamento como para auditar a qualidade das plantas produtivas.
As três montadoras trabalham com contratos sem prazo definido, mas sempre
buscando relacionamentos duradouros. A ALPHA, com sua cultura de parceria, busca
concentrar novos negócios nos fornecedores atuais. A GAMMA consolida componentes
de uma mesma família no mesmo fornecedor gerando ganho de escala.
Para motivar a busca por melhoria de desempenho, a BETA e a ALPHA
realizam no final de cada ano uma premiação para os fornecedores que se destacaram no
período. Estes prêmios são reconhecidos pelo mercado, tendo grande apelo comercial. A
GAMMA, apesar de promover este tipo de evento em outras subsidiárias, ainda não o
faz no Brasil.
Quando se decidem a desenvolver um fornecedor, seja por ser um novo
componente, ou por estar apresentando deficiências de qualidade, as três empresas
atuam de forma parecida. Todas as três montadoras estudadas utilizam programas
próprios e bem estruturados para o desenvolvimento do fornecedor. Estes programas são
normalmente herdados de suas matrizes e adaptados para a realidade brasileira. As três
empresas utilizam equipes multifuncionais, com estrutura matricial e com liderança da
área de compras.
Todos os programas de desenvolvimento contam com cronogramas rígidos e
relatórios de acompanhamento padronizados. As montadoras não oneram os
fornecedores com o custo destes recursos empregados, mas todos os investimentos em
equipamentos e processos devem ser feitos pelo próprio fornecedor. O único
61
investimento feito pelas montadoras estudadas é o ferramental e os recursos humanos
envolvidos na equipe.
Quadro 3 - Comparativo entre as práticas para o desenvolvimento de fornecedores
Atividade ALPHA BETA GAMMA
Envolvimento no desenvolvimento de produtos baixo NA NA
Envolvimento no planejamento da produção baixo baixo baixo
Seleção e monitoramento de fornecedores alto alto alto
Assistência e treinamento de fornecedores alto médio baixo
Incentivos aos fornecedores alto médio médio
Intercâmbio de pessoal entre as empresas alto médio médio
Compra de fornecedores alternativos para fomentar a competição baixo alto alto
Reconhecimento e recompensa para fornecedores que se destacam alto alto baixo
6.7 PRINCIPAIS RISCOS PERCEBIDOS E ENTRAVES PARA O SUCESSO
DOS PROGRAMAS
O principal risco citado pelas três empresas participantes deste estudo foi a
dificuldade de investimento dos fornecedores. Devido à atual conjuntura econômica, as
empresas trabalham com equipes muito enxutas sendo difícil disponibilizar recursos
humanos qualificados para estar participando de programas de desenvolvimento.
Qualquer alteração de processo nesta indústria representa um alto dispêndio de capital e
grande parte dos fornecedores atravessa dificuldades financeiras. Nesta mesma linha, a
GAMMA ressaltou a instabilidade econômica do país como um fator de risco ao se
investir em um determinado fornecedor.
Para a montadora ALPHA, um grande obstáculo está nas diferenças culturais
entre a empresa e seus fornecedores nacionais. Como as montadoras japonesas
iniciaram suas atividades no Brasil há poucos anos, os fornecedores não se adaptaram
ao relacionamento oriental, enxergando apenas as exigentes demandas e não percebendo
os benefícios deste tipo de parceria.
62
Para a BETA, o sucesso de um programa de desenvolvimento depende da
percepção do fornecedor quanto à necessidade de estar melhorando. Muitas vezes, a
empresa não aceita a deficiência identificada, relacionando o problema com outras
etapas do processo como falha no projeto e precariedade no transporte ou no manuseio
dos componentes.
Como a troca de informações é uma prática comum na indústria automobilística,
nenhuma montadora identificou como fonte de risco estar disponibilizando dados
técnicos de seus componentes e processos para os seus fornecedores.
6.8 MOTIVAÇÃO E OBJETIVO DOS PROGRAMAS
O objetivo principal dos programas de desenvolvimento de fornecedores, para as
três montadoras estudadas, é garantir o fluxo contínuo programado dos componentes
com a qualidade exigida no projeto. No caso de peças novas, é o de assegurar
lançamentos sem falhas e conforme o cronograma comercial.
A montadora ALPHA indica um forte fator cultural como um dos principais
motivadores dos programas de desenvolvimento de fornecedores. Acredita que
trabalhando junto ao fornecedor estará selando o relacionamento de parceria tão
valorizado pela cultura da matriz japonesa.
Do ponto de vista do fornecedor, o grande objetivo de participar dos programas
de desenvolvimento é atingir as metas de qualidade e serviço exigidas pelas montadoras
e, com isso, garantir a sobrevivência do contrato. Outro fator motivacional é a
oportunidade de estar melhorando seus processos, que serão utilizados em negócios com
outras empresas. As montadoras ressaltam que, ao produzir nos padrões internacionais,
os fornecedores terão melhores condições de competir no mercado mundial.
63
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O presente estudo teve como objetivo investigar as características dos processos
de desenvolvimento de fornecedores na indústria automobilística brasileira. Mais
especificamente, o estudo visou identificar os principais aspectos da tomada de decisão
de implementar um programa de desenvolvimento de fornecedores, tais como a seleção
dos fornecedores participantes, as peculiaridades da implementação, os benefícios
esperados e percebidos, as barreiras encontradas, os riscos percebidos e as perspectivas
futuras deste tipo de projeto.
Assim, o estudo foi estruturado de modo à responder à pergunta principal:
“Como se caracterizam os programas de desenvolvimento de fornecedores na indústria
automobilística brasileira?”, que se desdobrou nas seguintes perguntas secundárias: (1)
Qual a motivação para a implementação de programas de desenvolvimento de
fornecedores? (2) Quais são os critérios de seleção de fornecedores para participação
nos programas de desenvolvimento de fornecedores? (3) Como se deu a evolução destes
programas nas empresas e quais as principais mudanças ocorridas em sua formatação ao
longo do tempo? (4) Quais são os processos e as principais atividades utilizadas nos
programas de desenvolvimento de fornecedores? (5) Quais são os resultados esperados
e obtidos? (6) Como são medidos os resultados dos programas? (7) Quais são os
principais fatores de sucesso e entraves identificados? (8) Quais são as perspectivas
futuras em relação aos programas de desenvolvimento de fornecedores?
A metodologia de estudo de casos foi considerada como a mais adequada dada à
natureza do estudo proposto, que examina um fenômeno atual que foge ao controle do
pesquisador e cujas características ainda são pouco conhecidas, além do reduzido
número de empresas com atuação no Brasil. Foram feitas entrevistas em profundidade
em três montadoras com produção nacional.
7.1 CONCLUSÕES
Esta seção está estruturada de forma a responder, inicialmente, cada uma das
perguntas secundárias da pesquisa para depois finalizar com a resposta à pergunta
principal do estudo. Portanto:
64
Qual a motivação para a implementação de programas de desenvolvimento de
fornecedores?
Pelos depoimentos dos entrevistados, a principal motivação para implementar
programas de desenvolvimento de fornecedores é garantir o fluxo contínuo de materiais
com a qualidade necessária e com o nível de serviço exigido. Como visto na revisão de
literatura, o sucesso do Jus- in-Time depende do desempenho do sistema como um todo,
sendo necessária a integração entre as diferentes funções (Spencer, Rogers e Daugherty,
1994, apud Arkader, 1997). No sistema Just-in-Time, o fornecimento é uma das
questões mais relevantes. Para que o sistema funcione adequadamente, é imprescindível
que os fatores externos estejam em sincronia com os internos, pois a diminuição dos
estoques expõe as montadoras a novos riscos (Purdy, Astad e Safayieni, 1994).
Quando se trata do lançamento de um novo modelo que demanda peças novas, a
motivação para implementação do programa está na garantia de um lançamento sem
falhas. Como o ferramental de peças exclusivas normalmente pertence à montadora, é
necessário um programa estruturado para adequar este ferramental à linha de produção
do fornecedor e realizar a calibragem da máquina para a produção dos primeiros lotes.
Foi percebida uma certa influência da cultura do país de origem das montadoras.
Como o estudo foi realizado em uma empresa japonesa, uma americana e outra
européia, foi possível comparar o impacto causado pelas diferenças culturais das
montadoras na decisão de investir em programas de desenvolvimento de fornecedores.
Na entrevista com a ALPHA, de origem japonesa, foi citada e enfatizada como
motivação para o investimento em fornecedores a filosofia de parceria da matriz
oriental. Já os outros dois casos, com uma cultura de relacionamento mais transacional,
indicam que os programas de desenvolvimento de fornecedores visam resolver um
problema e não criar um ambiente de parceria.
Outro ponto comum nos depoimentos é a redução do custo total como motivador
e um dos principais objetivos dos programas. As empresas estudadas consideram o
custo total na decisão da seleção do fornecedor, identificando o custo de transação como
de grande relevância e buscando minimizá-lo através do desenvolvimento do
fornecedor.
65
Quais são os critérios de seleção de fornecedores para participação nos
programas de desenvolvimento de fornecedores?
Como apresentado na resposta à pergunta anterior, um programa de
desenvolvimento de fornecedores pode ser motivado por dois fatores principais, que
acarretarão critérios diferenciados para selecionar os participantes.
Quando o programa é motivado pelo lançamento de um novo modelo, todos os
fornecedores de peças exclusivas, principalmente os que envolvem ferramental de
propriedade da montadora, passam por um programa de desenvolvimento de
fornecedores. No caso de componentes nos quais as montadoras não têm expertise de
produção, como os pneus, é raro envolver o fornecedor em projetos com este propósito,
pois a montadora teria pouco a agregar e essas empresas normalmente já são bem
estruturadas.
O outro grande motivador para programas de desenvolvimento de fornecedores é
quando a empresa apresenta alguma deficiência, tanto de qualidade de produto quanto
de nível de serviço. As três montadoras estudadas desenvolvem um índice de qualidade,
baseado em indicadores de desempenho. Cada indicador tem meta estabelecida e é
acompanhado pela equipe de compras da empresa. Caso um indicador de desempenho
de um fornecedor apresente uma tendência negativa, este poderá ser indicado para
programas de desenvolvimento.
A tendência negativa de um indicador não é determinante para a decisão da
montadora de estar investindo ou não no fornecedor. Existe uma gama de outros fatores
levados em consideração no processo decisório. Como mencionado por Krause (1997),
o tempo previsto de duração do relacionamento também é considerado. A prioridade
está nos fornecedores com maior perspectiva de negócios futuros.
A saúde financeira do fornecedor também parece ser determinante. Programas
de desenvolvimento exigem do fornecedor a disponibilidade de recursos para investir
nas soluções. Com a atual conjuntura econômica, mostra-se importante investir nos
fornecedores que apresentam maior chance de sobrevivência no longo prazo.
Outro critério bastante mencionado nos depoimentos é a importância estratégica
do componente fornecido. Para produtos considerados commodities, como extintores de
66
incêndio e triângulos de segurança, parece mais interessante buscar um novo fornecedor
com qualidade do que procurar resolver o problema do atual.
Como se deu a evolução destes programas nas empresas e quais as principais
mudanças ocorridas em sua formatação ao longo do tempo?
Os programas de desenvolvimento de fornecedores foram uma resposta à
necessidade criada pela produção enxuta, que demandou uma total sincronia do
fornecimento com a produção. Segundo as entrevistas, os programas tiveram início nos
países sede das montadoras, chegando ao Brasil em um estágio bastante evoluído.
Os programas apresentam um formato globalizado, percebido nas nomenclaturas
utilizadas nos processos. O que se vê nas subsidiárias nacionais é uma adaptação à
cultura e à economia local para alcançar melhores resultados. Todos os programas são
bem estruturados, utilizam equipes multifuncionais e seguem cronogramas rígidos.
Quais são os processos e as principais atividades utilizadas nos programas de
desenvolvimento de fornecedores?
Para este estudo, desenvolvimento de fornecedores foi definido como qualquer
atividade realizada pelo cliente para melhorar o desempenho e/ou capacidade do
fornecedor para atender às necessidades de fornecimento de curto e longo prazo da
empresa compradora (Krause et al., 1997).
A indústria automobilística, como pioneira no sistema de produção enxuta, se
encontra em um estágio avançado em termos de programas de desenvolvimento de
fornecedores. Grande parte das práticas encontradas na literatura foram citadas nas
entrevistas.
As três montadoras participantes do estudo relataram possuir um sistema
estruturado de monitoramento de desempenho de fornecedores, indicando ser uma
prática comum na indústria. Este sistema auxilia tanto na seleção para novos
fornecimentos como para o acompanhamento dos relacionamentos em andamento. O
sistema Just-in-Time cria a necessidade de um maior conhecimento e de um controle
sistemático sobre os fornecedores (Willis e Huston, 1990; Purdy et al., 1994).
Para garantir o fluxo contínuo de materiais, existe uma constante troca de
informações entre as montadoras e os fornecedores no que tange ao planejamento da
67
produção. O fornecedor tem acesso, com uma certa antecedência, ao MRP da
montadora. Já a troca de informações no início de um projeto é bem limitada. O
fornecedor recebe o detalhamento do projeto pronto, não tendo nenhuma participação
em seu desenvolvimento.
É comum na indústria japonesa envolver o fornecedor na fase de
desenvolvimento do projeto, mas, no caso brasileiro, isto não é possível, pois os
modelos montados no país pela empresa japonesa são projetos mundiais desenvolvidos
na matriz.
A participação do fornecedor se restringe a adaptações das características das
peças aos padrões nacionais para garantir uma melhor relação custo – benefício.
Os contratos de compras normalmente não contemplam prazo de validade e seu
objetivo é garantir o fluxo correto de materiais de qualidade. As montadoras buscam
relacionamentos de longo prazo, sempre motivando o autodesenvolvimento através de
promessas de negócio futuro. No caso da ALPHA, provavelmente devido a sua origem
japonesa, o relacionamento de longo prazo é muito valorizado e percebido.
Das três empresas, apenas a maior delas, a BETA, que atua há mais tempo no
Brasil, contemplava um programa estruturado de cursos e palestras para os
fornecedores. Os relatos indicam que é de interesse das demais montadoras, mas suas
áreas de compras ainda não contam com um programa estruturado devido ao curto
tempo de operação no país. A ALPHA tem o costume de levar seus fornecedores à linha
de produção para gerar um ambiente de maior integração, indicando uma tendência das
empresas de origem oriental.
A coincidência nos depoimentos dos entrevistados parece indicar que as
montadoras nacionais utilizam equipes multifuncionais na interação com o fornecedor.
Nos programas de desenvolvimento, tanto para lançamentos quanto para corrigir
alguma deficiência, as empresas envolvem a área de compras, engenharia e qualidade da
montadora e do fornecedor.
Apesar de a montadora GAMMA não contar com um programa de premiação
por desempenho como a BETA e a ALPHA, este processo parece ser uma prática
comum no mercado e motiva o auto-desenvolvimento do fornecedor, uma vez que estes
certificados têm grande apelo comercial na indústria.
68
Nas empresas de origem ocidental é possível constatar uma maior pressão por
preço na relação com os fornecedores. É prática comum comprar de fornecedores
alternativos para fomentar a competição, reduzindo o preço e diminuindo a dependência
em relação ao fornecedor.
Quais são os resultados esperados e obtidos?
Os resultados esperados se confundem com a própria motivação dos programas
de desenvolvimento de fornecedor. Generalizando, o que a empresa busca ao investir
em um fornecedor é reduzir os custos e garantir a qualidade dos componentes
adquiridos externamente.
Quando se trata do lançamento de um modelo novo, o resultado esperado para o
investimento realizado no fornecedor é um lançamento sem atraso e sem falhas para
suportar a campanha comercial. Já no caso de fornecedores que apresentam tendências
negativas nos indicadores de qualidade, o resultado esperado é a redução do custo de
transação que se manifesta em inspeções excessivas, possíveis paradas de linha e recalls
de consumidores.
Para as empresas orientais, um resultado esperado importante é o estreitamento
das relações entre comprador e fornecedor gerando um ambiente de parceria.
Os resultados esperados são normalmente alcançados e traduzidos em melhor
desempenho dos fornecedores e conseqüente menor custo de transação. Nos casos de
fracasso na intervenção, é necessário reiniciar a seleção de um novo fornecedor para o
componente em questão.
Como são medidos os resultados dos programas?
Os programas de desenvolvimento estão em estágio bem avançado na indústria
automobilística. Os programas são bem estruturados e seguem um cronograma rígido. O
acompanhamento e a medição dos resultados são feitos através de relatórios pré-
determinados e reuniões periódicas entre a equipe multifuncional da montadora e do
fornecedor.
O sistema de monitoramento de indicadores de desempenho auxilia no
acompanhamento das melhorias. Normalmente são criadas metas para os indicadores
que devem ser alcançadas no decorrer do programa.
69
Quais são os principais fatores de sucesso e entraves identificados?
Um dos principais fatores de sucesso dos programas está na importância relativa
de compras na indústria automobilística, onde os componentes adquiridos externamente
chegam a representar 60% do custo total do produto. O responsável por compras ocupa
um cargo de diretoria, tendo grande poder dentro da organização.
Nesta mesma linha, a qualidade dos recursos alocados nas equipes
multifuncionais é de suma importância para o sucesso dos programas, que depende de
habilidades de compras, qualidade e engenharia.
Um fator percebido principalmente na empresa de origem oriental é o foco no
longo prazo, identificando o custo total de várias transações ao longo de um
relacionamento duradouro.
O acompanhamento rígido do desenrolar dos programas pode gerar benefícios e
malefícios para o sucesso do programa. O fato de providenciar retorno ao fornecedor é
importante e motivacional, mas formatos de acompanhamento importados das matrizes
geram um desgaste na relação por serem muito burocráticos.
Reconhecer o desenvolvimento através de novas transações e premiações
garante o auto-desenvolvimento do fornecedor e uma conseqüente redução no custo de
transação.
Os programas de desenvolvimento exigem uma capacidade de investimento do
fornecedor que deverá disponibilizar recursos. Com isso, a saúde financeira da empresa
é relevante para que o fornecedor acompanhe as necessidades do programa. Problemas
financeiros foram citados pelas três empresas pesquisadas como o principal entrave para
o sucesso do desenvolvimento.
O alinhamento da cultura organizacional se mostrou relevante, uma vez que é
necessário que o fornecedor perceba a necessidade de desenvolvimento, além de
visualizar o resultado no longo prazo, tais como a realização de novos negócios e
melhoria dos processos.
Quais são as perspectivas futuras em relação aos programas de
desenvolvimento de fornecedores?
70
Como o sistema de produção enxuta exige um maior controle e uma grande
sincronização do fornecimento, as perspectivas futuras dos programas de
desenvolvimento de fornecedores vão continuar evoluindo.
Futuramente, os programas devem focar menos em soluções de curto prazo para
problemas de desempenho de fornecedores, para dar ênfase ao desenvolvimento da
capacidade, criando uma rede de fornecedores com desempenho igual ou superior a da
rede da concorrência.
Como se caracterizam os programas de desenvolvimento de fornecedores na
indústria automobilística brasileira?
A partir das evidências apresentadas e sua posterior análise, observa-se que os
programas de desenvolvimento de fornecedores na indústria automobilística brasileira já
se encontram em um estágio bastante avançado em relação às melhores práticas
encontradas na literatura.
O desenvolvimento dos programas se deu de forma acelerada no Brasil, pois a
demanda apenas ocorreu na década de 90, com a abertura comercial. Outro fator
determinante foi a introdução da produção enxuta, principalmente depois do controle
dos índices inflacionários, que expôs os verdadeiros custos de estoque. Com isso, em
poucos anos, a indústria brasileira teve que recuperar os anos perdidos em relação aos
concorrentes estrangeiros que passaram por este processo no início dos anos 80. Esse
desenvolvimento acelerado e a demanda repentina por serviço e qualidade pode ter
criado um relacionamento com alto nível de estresse entre as montadoras e seus
fornecedores.
Devido ao início retardado, a estrutura dos programas é quase em sua totalidade
herdada da matriz estrangeira e adaptada à realidade brasileira. Os programas são
liderados por Compras, que exerce grande poder dentro das organizações, mas sempre
envolvem equipes multifuncionais.
É possível perceber a influência da cultura da matriz no relacionamento com o
fornecedor. Enquanto a ALPHA, de origem japonesa, tem como motivação e objetivo
criar uma parceria duradoura e ter, como conseqüência, a redução do custo transacional,
as montadoras ocidentais têm uma visão mais em curto prazo de garantir um menor
custo sem comprometer a qualidade.
71
Como as montadoras ocidentais estão presentes no País há mais tempo, parece
existir um ambiente de desconfiança na relação entre as montadoras e fornecedores.
Com o amadurecimento da relação com a montadora japonesa, tudo indica que os
fornecedores perceberão as vantagens de um relacionamento de longo prazo e aos
benefícios de uma real parceria.
A literatura sobre o assunto está muito voltada ao desenvolvimento de
fornecedores que apresentam alguma deficiência de desempenho tanto de qualidade
quanto de serviço. Com o depoimento dos executivos entrevistados, tudo indica que,
além de resolver uma deficiência, outro papel importante dos programas de
desenvolvimento de fornecedores é garantir um lançamento sem falhas e sem atrasos.
Os resultados dos programas são acompanhados e medidos através de sofisticados
indicadores de desempenho e, de forma geral, estes vêm agregando valor à indústria
automobilística através de resultados positivos.
As montadoras instaladas mais recentemente no País parecem não ter montado
ainda a estrutura desejada de Compras. Nos dois casos estudados, foram citadas
atividades que ainda não estão em prática, mas devem ser utilizadas com o tempo.
Exemplos são premiação aos melhores fornecedores no caso da GAMMA e treinamento
estruturado para os fornecedores da montadora ALPHA.
Uma outra tendência para as montadoras recém instaladas é a vinda dos
fornecedores globais que ainda não se instalaram no Brasil devido ao ainda limitado
volume de produção destas montadoras.
7.2 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS
Na revisão da literatura, a indústria automobilística apareceu como o setor mais
avançado em termos de desenvolvimento de fornecedores, principalmente por ter sido o
berço da produção enxuta. Mesmo na indústria automobilística, existem poucos estudos
relacionados ao mercado brasileiro e a influência da cultura em programas importados
das matrizes mundiais. Este trabalho, como grande parte dos estudos relacionados aos
programas de desenvolvimento de fornecedores, analisa o tema do ponto de vista da
montadora, o elo forte desta cadeia.
72
Assim, recomenda-se a pesquisadores investigar o desenvolvimento dos
fornecedores pela perspectiva do fornecedor, fazendo um comparativo com o ponto de
vista da empresa compradora. Outro tema interessante seria investigar o estágio em que
se encontra o desenvolvimento de fornecedores em outras indústrias, ou o
desenvolvimento de fornecedores de segunda linha na indústria automobilística.
Finalizando, seria intrigante tentar entender a influência das culturas no relacionamento
entre fornecedor e comprador.
73
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79
9 ANEXO: ROTEIRO DE ENTREVISTA
EMPRESA:____________________________________________________________
Data:_________________ Horário Início: _____________ Fim:________________
Entrevistado: ______________________________ Cargo: ____________________
Telefone: ____________________ email:__________________________________
1. Características gerais
1.1. Histórico
1.2. Localização
1.3. Porte
2. Compras
2.1. Qual a importância relativa de compras na organização?
2.2. Qual o nível hierárquico do responsável pela área de compras?
2.3. Qual participação de compras externas no custo total do produto?
2.4. Como está organizado o departamento de compras?
2.5. Qual missão da área de compras e como está alinhado com a estratégia da
organização?
2.6. Qual o efetivo de compras comparativamente ao restante da empresa?
3. Relacionamento com os fornecedores
3.1. Quais as principais características da política de compras?
3.2. Qual o número de fornecedores para cada produto?
3.3. Quais os prazos de contrato praticados para cada tipo de produto?
3.4. Existe troca de informação na fase de projeto e durante a produção?
4. Motivação para os programas de desenvolvimento de fornecedores
4.1. Desempenho dos fornecedores (satisfação)
4.2. Imposição Matriz
80
4.3. Redução de custo
5. Evolução dos programas de desenvolvimento
5.1. Qual a origem dos programas?
5.2. Houve alterações no decorrer do processo?
6. Seleção dos participantes
6.1. Quais são os critérios utilizados para selecionar os participantes de programas
de desenvolvimento de fornecedores
6.2. Métodos utilizados
6.3. Quais as principais atividades que fazem parte dos programas?
6.4. Como são implementadas estas atividades?
7. Riscos percebidos
7.1. Existe risco financeiro?
7.2. Existe risco de controle de informação?
8. Evolução do processo
8.1. Quais são as principais ferramentas de acompanhamento?
8.2. Existe alterações no planejamento inicial?
9. Resultados esperados
9.1. Quais são as expectativas tanto para o comprador quanto para o fornecedor?
10. Resultados obtidos
10.1. Quais são os métodos utilizados para medir resultado?
10.2. Qual o grau de satisfação com os programas?
10.3. Como é percebida a relação custo-benefício?
10.4. Quais são os principais fatores de sucesso?
PRINCIPAIS ENTRAVES
10.5. Quais são as grandes dificuldades encontradas?
81
10.6. O que tem influências negativas (cultura organizacional, dificuldade para
investir...)?
11. Quais são as perspectivas futuras para os programas?