Feridas da transposição do São Francisco: um olhar sobre ...
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FUNDACcedilAtildeO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHAtildeES
Mestrado Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica
Luacutecia Maria Sobral Baracho
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
RECIFE
2014
LUacuteCIA MARIA SOBRAL BARACHO
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz para obtenccedilatildeo do grau de
mestre em Ciecircncias
Orientadora
Profordf Drordf Idecirc Gomes Dantas Gurgel
Co-orientador
Profordm Dr Andreacute Monteiro Costa
RECIFE
2014
LUacuteCIA MARIA SOBRAL BARACHO
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz para obtenccedilatildeo do grau de
mestre em Ciecircncias
Aprovado em 16062014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Profordf Drordf Idecirc Gomes Dantas Gurgel
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
____________________________________
Prof Dr Joseacute Bento Rosa da Silva
Departamento de Histoacuteria
Centro de Filosofia e Ciecircncias HumanasUFPE
____________________________________
Profordf Drordf Lia Giraldo da Silva Augusto
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
Aos meus queridos e amados pais Raimundo e
Iracema pelos exemplos deixados de eacutetica
respeito generosidade solidariedade e pelo
esforccedilo em me proporcionar as melhores
oportunidades de aprendizagem Agrave presenccedila
sutil de ambos que me acompanha em todos
os momentos importantes da minha vida
Agrave meu pai Raimundo Baracho que tendo
dedicado sua vida profissional agrave sauacutede
puacuteblica me incentivou a trilhar este caminho
Aos queridos familiares irmatildeos Alexandre e
Socorro cunhados Nazareacute e Ivaldy sobrinhos
Pablo Bernardo Joatildeo Gabriel Isabela
Rodrigo Luciana Raquel Bruno sobrinhos
netos ldquoBibi e Xandinhordquo pelo apoio carinho
incentivo presenccedila e alegria em vaacuterios
momentos desta trajetoacuteria
AGRADECIMENTOS
Sou grata a vaacuterias pessoas e situaccedilotildees que permitiram construir esta dissertaccedilatildeo Ao
nominar pessoas e especificar situaccedilotildees corro o risco de natildeo incluir tudo e todas mas a minha
gratidatildeo eacute ampla e profunda
Agradeccedilo agrave Funasa em Pernambuco aos colegas e amigos da equipe de Educaccedilatildeo em
Sauacutede e Sauacutede Ambiental de Desenvolvimento de Recursos Humanos e da Capacitaccedilatildeo e ao
Superintendente Estadual pelo apoio e disponibilidade nos encaminhamentos necessaacuterios agrave
aprovaccedilatildeo institucional para conquista deste projeto pessoal e profissional Agradeccedilo tambeacutem
agrave Funasa o valioso apoio oferecido para realizaccedilatildeo do trabalho de campo deste estudo
Agrave Professora Idecirc minha orientadora que me acolheu desde o momento de meu
retorno da Espanha para ingressar nesta nova etapa de desafio na Fiocruz Agradeccedilo sua
paciecircncia bom humor clareza nas orientaccedilotildees e incentivo para natildeo desanimar em momentos
de dificuldade
Ao Professor Dr Andreacute Monteiro Costa pelas orientaccedilotildees no processo de construccedilatildeo
deste estudo
Aos professores do mestrado pela disponibilidade em compartilhar sua experiecircncia e
saber contribuindo direta e indiretamente com todo meu processo de aprendizagem
Aos colegas da turma do mestrado pela troca e oportunidade de aprendizagem
amizade e encontros alegres
Agrave Secretaria Acadecircmica em especial agrave Glauco pelo profissionalismo e presteza em
todos os momentos de necessidade de apoio administrativo
Aos familiares em especial irmatildeos sobrinhos e cunhados pelo apoio e incentivo
Agraves amigas e amigos que compartilharam vaacuterios momentos de alegria duacutevidas e
questionamentos durante esta trajetoacuteria Em especial Agrave Joselma pela amizade alegria
orientaccedilatildeo acadecircmica incentivo e disponibilidades de valiosos materiais teoacutericos Agrave Magali
por acreditar e mostrar que os obstaacuteculos iam ser superados Agrave Marcinha pela contribuiccedilatildeo
valiosa no trato com as informaccedilotildees do campo e pela escuta paciente Agrave Anginha pela
acolhida sempre e escuta amorosa Agrave Luiacuteza pelo carinho apoio e confianccedila transmitida Agrave
Glaciene e sua irmatilde pelo valiosa contribuiccedilatildeo na realizaccedilatildeo do trabalho de campo e por todas
as orientaccedilotildees Agraves amigas Acircngela Brenda Meacutercia pelo carinho incentivo e presenccedila Agrave Bete
pela presenccedila amiga e alegre pela convivecircncia paciente no momento mais difiacutecil de
construccedilatildeo deste trabalho e colaboraccedilatildeo efetiva Agrave Jessyka pela amizade troca de experiecircncia
apoio e efetiva colaboraccedilatildeo
Aos queridos amigos da Ecovila em especial Jorge e Emiacutelia pelo afeto cuidado e
apoio Agrave Emiacutelia pelas mensagens de conforto confianccedila e alegria Agrave Jorge pela presenccedila
carinhosa pela escuta pelas orientaccedilotildees acadecircmicas e material disponibilizado
Agrave Nakeida querida terapeuta que acompanha os momentos importantes da minha
vida pelo cuidado profissional e afetivo contribuindo profundamente na minha caminhada de
auto-conhecimento crescimento pessoal e espiritual
Agrave Patriacutecia pelo cuidado comigo e com a minha casa suporte fundamental para
tranquilidade na realizaccedilatildeo deste trabalho
Agrave Maristela vizinha querida pelo apoio alegria e ldquomimosrdquo culinaacuterios
Aos colegas do Setor de Educaccedilatildeo em Sauacutede da Funasa por terem sempre me apoiado
e se disponibilizado a assumir minhas atribuiccedilotildees durante minha ausecircncia
Aos gestores teacutecnicos e populaccedilatildeo quilombola que me acolheram e contribuiacuteram com
suas narrativas valiosas durante todo trabalho de campo
Ao povo quilombola de Santana Conceiccedilatildeo das Crioulas e ContendasTamboril em
especial as lideranccedilas professores e os moradores que participaram das entrevistas e grupos
focais Agradeccedilo a disponibilidade em me receber e confianccedila em compartilhar suas
percepccedilotildees expectativas frustraccedilotildees inquietaccedilotildees e me possibilitar uma rica aprendizagem e
grande admiraccedilatildeo
Com a certeza de que a ldquoalmardquo deste trabalho estaacute no conteuacutedo apresentado por todas
as narrativas destes sujeitos o meu profundo agradecimento
[] A aacutegua serpeia entre musgos
seculares
Leva um recado de existecircncia a homens
surdos
E vai passando vai dizendo
Que esta mata em redor eacute nossa
companheira
Eacute pedaccedilo de noacutes florescendo no chatildeo
Que rumor eacute esse na mata
Por que se alarma a natureza
Aihellipeacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Natildeo natildeo haveraacute para os ecossistemas
aniquilados
Dia seguinte
O ranuacutenculo da esperanccedila natildeo brota
No dia seguinte
O vazio da noite o vazio de tudo
Seraacute o dia seguinte
Carlos Drummond de Andrade
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar
sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano 2014 Dissertaccedilatildeo (Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo
Cruz Recife 2014
RESUMO
O Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo tem gerado inuacutemeras
situaccedilotildees de conflitos socioambientais um dos exemplos de injusticcedila ambiental registrado
pela Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental O projeto eacute apresentado pelo governo como
ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecioeconocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agrave
seca do semiaacuterido nordestino Este estudo analisou a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente do
Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas em Salgueiro-semiaacuterido pernambucano- e as
accedilotildees implementadas para minimizaacute-la Para isto caracterizou-se o Projeto da Transposiccedilatildeo
sua proposta oficial e percepccedilatildeo dos sujeitos foram caracterizadas as populaccedilotildees e territoacuterios
quilombolas identificou-se a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios e foram avaliadas as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo projeto para minimizar a vulneraccedilatildeo A metodologia foi um estudo de
caso descritivo com abordagens qualitativa e quantitativa Os dados primaacuterios obtidos com
entrevistas e grupos focais e os secundaacuterios com base em questionaacuterios aplicados com
famiacutelias quilombolas em 2009 As conclusotildees apontam que o projeto da transposiccedilatildeo eacute um
empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de direitos das comunidades quilombolas de
Salgueiro provocando feridas e traumas indeleacuteveis Dentre os ldquoimpactos positivosrdquo
mencionados neste estudo a maioria natildeo se concretiza enquanto melhora ou mudanccedila na
qualidade de vida dessas comunidades Ao contraacuterio os impactos negativos satildeo uma realidade
e dificilmente seratildeo revertidos como ldquointencionardquo o projeto Violaccedilatildeo do direito agrave
informaccedilatildeo agrave decisatildeo pelos quilombolas quanto a projetos que afetem a vida e seu territoacuterio
Programas Ambientais natildeo representam a demanda das populaccedilotildees quilombolas
caracterizando-se em sua maioria como medidas paliativas e natildeo cumpridas Eacute necessaacuteria a
estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
demais instituiccedilotildees governamentais e movimento quilombola para acompanhamento e
monitoramento do projeto Eacute necessaacuteria a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas das
conquistas legais fruto de mobilizaccedilotildees poliacuteticas para assegurar direitos e fazer cumprir o
que determina a legislaccedilatildeo uma das ferramentas de enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e
vulneraccedilatildeo provocada pela transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
Palavras-chaves Populaccedilatildeo quilombola Vulnerabilidade social Vulneraccedilatildeo Territoacuterio
Educaccedilatildeo em Sauacutede Educaccedilatildeo Ambiental Projeto da transposiccedilatildeo Rio Satildeo Francisco Meio
Ambiente
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Wounds of the transposition of Satildeo Francisco A look at
the quilombola communities of Pernambuco semiarid Dissertation (Master in Public
Health)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Recife 2014
ABSTRACT
The project of the transposition of the Satildeo Francisco River the object of our study has
generated numerous cases of environmental conflicts one of the examples of environmental
injustice registered by the Brazilian Environmental Justice Network The project is presented
by the government as a guarantee of water for socio-economic development of the most
vulnerable states to drought in semi-arid northeast This study analyzed the socio-
environmental vulnerableness arising from the transposition project in quilombola territories
of Santana ContendasTamboril and Conceiccedilatildeo das Crioulas in Salgueiro - semiarid of
Pernambuco - and the actions taken to minimize it For this the Transposition Project its
official proposal and perception of the subjects were characterized the quilombola
populations and territories were characterized it was identified the perception of subjects as
to vulnerableness arising from the transposition in their territories and the educational
practices and actions taken by the project to minimize the vulnerability were evaluated The
methodology was a descriptive case study with qualitative and quantitative approaches The
primary data obtained through interviews and focus groups and the secondary ones based on
questionnaires with quilombola families in 2009 Findings indicate that the transposition
project is an undertaking that has generated violation of rights of quilombola communities of
Salgueiro causing wounds and indelible traumas Among the positive impacts mentioned in
this study the majority does not materialize as improving or changing the quality of life of
these communities In contrast the negative impacts are a reality and are unlikely to be
reversed how the project intends Violation of the right to information to the decision by
the quilombolas as to projects that affect the life and territory Environmental programs do
not represent the demand of quilombola populations characterized mostly as a palliative and
not performed it is required to structure a channel of effective and regular communication
between the Ministry of Integration other government institutions and quilombola movement
following and monitoring the project it is necessary the appropriation by the quilombola
communities of the legal achievements the result of political mobilization to ensure the
rights and enforce what is determined by the legislation one of the coping tools to violation
of rights and vulnerableness caused by the transposition of the Satildeo Francisco River
Key words Quilombola Population Vulnerability vulnerableness Territory Health
Education Environmental Education Project implementation Satildeo Francisco River
Environment
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA 66
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana 89
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana 89
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das obras do canal 91
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de Santana 91
Figura 6 - Mazuca de Santana 99
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril 105
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril 105
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de Moradores de ContendasTamboril 117
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas 126
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo - C das Crioulas 126
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas 132
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira - C Crioulas 135
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute - C Crioulas 135
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas 136
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas 143
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo 180
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana 94
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem-
Comunidade de Santana 95
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana 97
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana 98
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana 100
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade
de Santana 100
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de
Santana 101
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana 104
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril 112
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem -
Comunidade de ContendasTamboril 116
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de ContendasTamboril 117
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril 119
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de
ContendasTamboril 120
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de
ContendasTamboril 121
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber - Comunidade de ContendasTamboril 121
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade ContendasTamboril 123
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas 131
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 134
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo
das Crioulas 136
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 138
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 139
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 140
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 141
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 142
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede 36
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013 51
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos 56
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale 57
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin 57
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs 58
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto 75
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas 83
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo 88
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas 162
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Escolas 174
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede 2010 178
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede ndash Setembro2013 183
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das
Comunidades Quilombolas 190
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por
alvenaria 194
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OBJETIVOS 23
21 GERAL 23
22 ESPECIacuteFICOS 23
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 24
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS 24
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS 27
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS 31
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila 31
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico 33
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente 37
334 Educaccedilatildeo ambiental 40
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO 46
41 DESENHO DO ESTUDO 46
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA 47
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO 47
44 SUJEITOS DO ESTUDO 49
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E
PERIacuteODO DE ESTUDO 50
451 Entrevista 50
452 Grupo focal 52
453 Dados secundaacuterios 53
4531 Levantamento documental 53
4532 Dados de questionaacuterio - CAP 54
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS 56
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS 58
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO -
DISCURSO OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS
SUJEITOS 60
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO 80
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA 81
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA 89
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 90
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 94
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL 105
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 106
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 111
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 125
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 127
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 130
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO
FRANCISCO A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 144
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS
PARA MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO 152
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4 153
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades 155
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas 165
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede 174
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O
PBA 17 189
9 CONCLUSOtildeES 202
REFEREcircNCIAS 206
APEcircNDICE A ndash Roteiro de Entrevistas 220
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas 221
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal 222
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana 223
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado
para Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal 224
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP 225
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco 228
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco 229
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O olhar para as populaccedilotildees quilombolas nos remete ao desenvolvimento da sociedade
colonial quando milhotildees de negros foram escravizados vindos do continente africano
trazidos em porotildees nos navios negreiros Este acontecimento marcou um longo periacuteodo da
nossa histoacuteria sendo o Brasil o paiacutes que mais importou escravos africanos e o que por uacuteltimo
aboliu formalmente a escravidatildeo no continente americano
A palavra ldquoquilombordquo em sua etimologia bantu quer dizer acampamento guerreiro na
floresta Segundo Freitas et al (2011 p 2) a palavra quilombo
foi popularizada no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios atos
e decretos para se referir agraves unidades de apoio muacutetuo criadas pelos rebeldes ao
sistema escravista e agraves suas reaccedilotildees organizaccedilotildees e lutas pelo fim da escravidatildeo no
Paiacutes
Com significado especial tambeacutem para os libertos em seu caminho de conquista e
liberdade obteve dimensotildees e conteuacutedos amplos Ainda podemos nos pegar pensando um
quilombo num impulso quase inconsciente como um local habitado por negros que lutando
de forma sangrenta almejam a liberdade com a luta
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que representa 63 vivendo no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Cerca de 90 se autodeclaram negros Os uacutenicos estados que natildeo registram
ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
As populaccedilotildees quilombolas satildeo um fato e muitas ainda vivem em comunidades
formadas por forte viacutenculo de parentesco mantendo ainda vivas tradiccedilotildees culturais e
religiosas Os membros da comunidade estatildeo ligados a trabalhos rurais ou culturas de
subsistecircncia e muitos dependem de programas de transferecircncia de renda como o Bolsa
Famiacutelia1 (FREITAS et al 2011)
O registro histoacuterico tradicional eacute de que os quilombos eram das regiotildees de grande
concentraccedilatildeo de escravos situados em locais de difiacutecil acesso distante dos centros urbanos
1 O Programa Bolsa Famiacutelia eacute um programa de transferecircncia direta de renda que beneficia famiacutelias em situaccedilatildeo
de pobreza e de extrema pobreza em todo o paiacutes O Bolsa Famiacutelia integra o Plano Brasil Sem Miseacuteria criado
pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2004 que tem como foco de atuaccedilatildeo os 16 milhotildees de
brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e estaacute baseado na garantia de renda
inclusatildeo produtiva e no acesso aos serviccedilos puacuteblicos
17
Esse isolamento estrateacutegia necessaacuteria para sobrevivecircncia dos grupos e garantia de sua
organizaccedilatildeo dificulta a obtenccedilatildeo de informaccedilotildees precisas e a ampliaccedilatildeo do conhecimento
sobre as comunidades remanescentes de quilombos que carrega com suas tradiccedilotildees e
relaccedilotildees territoriais proacuteprias uma identidade eacutetnica e cultural a ser respeitada e preservada
Segundo Arruti (2006 p 26) as chamadas comunidades remanescentes de quilombos
constitui
Categoria social relativamente recente representa uma forccedila social relevante no
meio rural brasileiro dando nova traduccedilatildeo agravequilo que era conhecido como
comunidades negras rurais (mais ao centro sul e sudeste do paiacutes) e terras de preto
(mais ao norte e nordeste) que tambeacutem comeccedilam a penetrar no meio urbano dando
nova traduccedilatildeo a um leque variado de situaccedilotildees que vatildeo desde antigas comunidades
negras rurais atingidas pela expansatildeo dos periacutemetros urbanos ateacute bairros no entorno
dos terreiros de candombleacute
Como resultado da luta do povo negro desde a eacutepoca da colocircnia e reorganizada nos
anos 1980 o reconhecimento das comunidades quilombolas ocorreu com a Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 ano de comemoraccedilatildeo do centenaacuterio da Lei Aacuteurea
As mobilizaccedilotildees nacionais ocorridas em torno de uma Assembleia Nacional
Constituinte contaram com a participaccedilatildeo ativa das comunidades quilombolas que num
esforccedilo de organizaccedilatildeo em niacutevel nacional conseguiram incluir na Constituiccedilatildeo Federal o
reconhecimento da existecircncia dos quilombos na sociedade nacional e a garantia do acesso agraves
suas terras como um direito expresso no artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
Constitucionais (ADTC)
O artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal (1988) versa sobre o direito de propriedade das
terras quilombolas afirmando que ldquoaos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir-
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 2004b p 159)
Este artigo apesar de inserido sem maiores discussotildees na Carta Constituinte
permaneceu sem aplicaccedilatildeo ateacute 1995 momento em que ganha forccedila o tema dos quilombos
produzindo impactos sociais com o debate em torno do caso de Rio das Ratildes2 que no ano do
tricentenaacuterio de morte de Zumbi dos Palmares ganhou destaque na imprensa em debates
poliacuteticos e anaacutelises acadecircmicas (ARRUTI 2006)
A populaccedilatildeo remanescente de quilombos pode ser enquadrada como um grupo
minoritaacuterio dentro da populaccedilatildeo negra (FREITAS et al 2011)
2 Rio das Ratildes ndash Reconhecida em 1993 pela FCP como ldquocomunidade remanescente de quilombosrdquo situada no
Sertatildeo Baiano aproximadamente a 80 km de Bom Jesus da Lapa
18
A situaccedilatildeo de alijamento social ou inserccedilatildeo social desqualificada associada agrave
invisibilidade de suas necessidades reais confere agrave populaccedilatildeo negra em geral e agraves
quilombolas em particular uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade que se expressa clara e
especialmente nos indicadores soacutecio-econocircmicos e de sauacutede Em uacuteltima instacircncia este aspecto
estaacute relacionado ao histoacuterico brasileiro de poliacuteticas puacuteblicas racistas que impocircs ao negro no
que tange a programaccedilatildeo das poliacuteticas de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede um
lugar marginal na sociedade em que pese suas aguerridas lutas no sentido de garantir sua
cidadania
Dentre as vaacuterias definiccedilotildees sobre comunidade quilombola o Centro de Cultura Luiacutes
Freire (CCLF)3 compreende como
Os grupos eacutetnicos que assim se auto-identificam e que se mobilizam politicamente
em torno de demandas comuns e diferenciadas do conjunto da sociedade nacional
especialmente o direito ao territoacuterio que tradicionalmente ocupam e que estaacute na base
de sustentaccedilatildeo de sua etnicidade (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 7)
O desafio dos governos e da sociedade brasileira frente agraves comunidades quilombolas
torna-se enorme ao se deparar com o natildeo reconhecimento desde o passado colonial dos seus
direitos territoriais base para o usufruto dos demais direitos sociais econocircmicos e culturais
(BRASIL 2011)
Dentre as demandas comuns e diferenciadas para o povo negro e comunidades
quilombolas foi aprovada em 2006 pelo Conselho Nacional de Sauacutede a ldquoPoliacutetica Nacional
de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negrardquo instrumento que tem por objetivo combater a
discriminaccedilatildeo eacutetnico-racial nos serviccedilos e atendimentos oferecidos no Sistema Uacutenico de
Sauacutede bem como promover a equumlidade em sauacutede da populaccedilatildeo negra O tema da equidade
aparece no bojo das discussotildees sobre as desigualdades historicamente sofridas pela populaccedilatildeo
negra e comunidades quilombolas e as desigualdades sociais - em qualquer que seja seu niacutevel
- como relevante fator determinante das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees eacute um fato
indiscutiacutevel (BARATA 2009)
Desigualdades sociais em sauacutede em sua maioria satildeo injustas remetendo a
distribuiccedilatildeo desigual de poder e propriedade Pensar na promoccedilatildeo da equidade em sauacutede para
populaccedilatildeo negra estaacute impliacutecita a questatildeo das desigualdades eacutetnicas
3 CCLF - eacute uma Organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola
19
ldquoQualquer consideraccedilatildeo das desigualdades sociais em relaccedilatildeo a grupos eacutetnicos carrega
a dupla determinaccedilatildeo a posiccedilatildeo social que tais grupos ocupam na sociedade e a
aceitaccedilatildeorechaccedilo que possam ter frente aos grupos majoritaacuteriosrdquo (BARATA 2009 p 56)
Ampliando a reflexatildeo para aleacutem das desigualdades sociais em sauacutede a referecircncia agrave
populaccedilatildeo negra e formaccedilatildeo de quilombos nos remete a temaacutetica do racismo e suas diversas
nuances que com os avanccedilos no conhecimento cientiacutefico levaram a construccedilatildeo nos Estados
Unidos do conceito de ldquoRacismo Ambientalrdquo o qual segundo Pacheco (2007 p 9) consiste
nas
injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma implacaacutevel sobre etnias e
populaccedilotildees mais vulneraacuteveis O Racismo Ambiental natildeo se configura apenas atraveacutes
de accedilotildees que tenham uma intenccedilatildeo racista mas igualmente atraveacutes de accedilotildees que
tenham impacto lsquoracialrsquo natildeo obstante a intenccedilatildeo que lhes tenha dado origem [hellip]
A autora defende que este conceito desafia a humanidade ao ampliar as visotildees de
mundo no sentido da busca por uma sociedade igualitaacuteria e justa na qual democracia plena e
cidadania ativa natildeo sejam direitos de poucos privilegiados (PACHECO 2007)
Eacute um conceito que manteacutem ligaccedilatildeo estreita com o conceito de justiccedila ambiental e
segundo Porto estaacute relacionado originalmente agrave luta contra a discriminaccedilatildeo racial e eacutetnica
presente nos movimentos pelos direitos civis da sociedade norte-americana nos anos 70 e 80
(PORTO 2009) O foco inicial foi a luta contra o chamado racismo ambiental ampliando
para a defesa pelos direitos humanos universais e incorporando outras formas de
discriminaccedilatildeo aleacutem da racial como classe social etnia e gecircnero (BULLARD 1994 PORTO
2007 apud PORTO 2009)
O Mapa de conflitos causados pelo Racismo Ambiental no Brasil4 identificou em seu
levantamento inicial que a maioria das denuacutencias envolvia problemas ocorridos
principalmente no campo longe dos centros urbanos e da atenccedilatildeo da miacutedia (PACHECO
2008b)
A temaacutetica do Racismo Ambiental tem crescido como preocupaccedilatildeo no Brasil entre
outras situaccedilotildees em face da construccedilatildeo de grandes obras de infra-estrutura consideradas
megaprojetos de desenvolvimento econocircmico dito sustentaacuteveis realizadas com recursos do
Governo Federal notadamente do Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) cujo impacto
nas populaccedilotildees que entrecruzam seus caminhos ainda natildeo se sabe precisar embora seja
possiacutevel estimar
4 O levantamento inicial do ldquoMapa de Conflitos causados por Racismo Ambiental no Brasilrdquo foi apresentado dia
20 de junho de 2007 no Encontro do GT Racismo Ambiental (PACHECO 2007)
20
As denuacutencias contra o Racismo Ambiental englobam contaminaccedilotildees por resiacuteduos
toacutexicos que afetam comunidades afrodescendentes indiacutegenas caiccedilaras pescadores
tradicionais e marisqueiras em vaacuterias regiotildees do Brasil como o turismo predatoacuterio que
avanccedila pelo litoral do Nordeste mas talvez sejam as grandes obras de infra-estrutura como a
construccedilatildeo de hidreleacutetricas e as mudanccedilas de curso dos rios assim como os mega-
empreendimentos da monocultura que causam danos mais irreversiacuteveis agrave vida de povos
indiacutegenas de remanescentes de quilombos e de populaccedilotildees tradicionais afirma a autora
(PACHECO 2008b p 3)
Ao referir-se a grandes obras de infra-estrutura como megaprojetos no Brasil haacute o
projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo aprovado pelo governo
brasileiro em 2006 e apresentado como ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecio-
econocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agraves secas na regiatildeo do semiaacuterido nordestino Mas as
secas do Nordeste satildeo perioacutedicas e como um fenocircmeno natural e previsiacutevel natildeo haacute como
combatecirc-las Entretanto haacute que se pensar em formas em tecnologias apropriadas para o
enfrentamento aos seus efeitos tornando assim possiacutevel a convivecircncia do homem com o meio
aacuterido que sempre sofreu de deficiecircncia hiacutedrica
Para o enfrentamento a esta problemaacutetica vaacuterios foram os projetos apresentados pelo
governo federal em diferentes momentos poliacuteticos do paiacutes e relatos sobre projetos para
transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco datam da eacutepoca do Brasil Impeacuterio
O projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco como fora inicialmente chamado na
deacutecada de 1990 apresenta-se como um dos mais polecircmicos projetos governamentais
passando a ser denominado em momentos poliacuteticos de maior embate do governo com a
sociedade e os movimentos sociais como Projeto de Integraccedilatildeo das Bacias do rio Satildeo
Francisco Atualmente foi rebatizado oficialmente como Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo
Francisco com as Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional o PISF (MENEZES
ROCHA F 2010)
Este projeto eacute um empreendimento financiado pelo PAC e faz parte de uma poliacutetica
desenvolvimentista e de crescimento econocircmico com forccedila no novo milecircnio adotada no
Brasil e paiacuteses em desenvolvimento desde a deacutecada de 80 num contexto de recessatildeo global
O projeto da transposiccedilatildeo estaacute inserido no bojo maior de uma poliacutetica de
desenvolvimento hegemocircnica mundial cuja ecircnfase eacute o crescimento econocircmico que na maior
parte das vezes natildeo vem sendo acompanhado por um desenvolvimento social Ao contraacuterio
esse modelo hegemocircnico trata cada vez mais a maioria da humanidade como objetos Objetos
21
que podem ser usados a serviccedilo do lucro e outros vistos como supeacuterfluos podem ser
descartados (PACHECO 2008a)
Se tratando de projeto como o da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco as condiccedilotildees para
que se estabeleccedilam eacute a expulsatildeo de populaccedilotildees de moradores rurais eou invasatildeo dos seus
territoacuterios atingindo diretamente as condiccedilotildees de vida de agricultores de comunidades rurais
sejam quilombolas ou indiacutegenas Projeto que tem gerado inuacutemeras situaccedilotildees de conflitos
socioambientais eacute um dos exemplos concretos de injusticcedila ambiental registrado pela Rede
Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA)5
Como profissional da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (Funasa) oacutergatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede passamos a visitar desde 2008 comunidades indiacutegenas e quilombolas para
desenvolver e acompanhar accedilotildees de educaccedilatildeo em sauacutede no programa de substituiccedilatildeo de casas
de taipa por alvenaria fruto de parceria Funasa ndash Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) no
referido projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
A aproximaccedilatildeo com a realidade dos municiacutepios na regiatildeo semiaacuterida do estado e
particularmente com as comunidades quilombolas despertou nosso interesse em compreender
a vulneraccedilatildeo socioambiental considerando a representaccedilatildeo das obras da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco na vida dessas populaccedilotildees sobre as marcas desse empreendimento em seu
territoacuterio assim como identificar o lugar das praacuteticas de educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental implementadas
A realizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa orientou-se pela seguinte pergunta Como a
vulneraccedilatildeo socioambiental se expressa na vida das comunidades quilombolas de
Salgueiro em consequecircncia do Projeto de Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e que
accedilotildees tecircm sido implementadas para minimizaacute-la
Em nosso estudo lanccedilamos um olhar sobre populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro
vivendo em regiotildees da zona rural do semiaacuterido nordestino afetadas pelo projeto da
transposiccedilatildeo A intenccedilatildeo eacute trazer um olhar criacutetico sobre os verdadeiros beneficiaacuterios deste
empreendimento
O capiacutetulo correspondente agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica aborda aspectos conceituais que
orientam este trabalho Satildeo discutidas as categorias vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo pelo lugar
que ocupam na realidade das comunidades quilombolas afetadas pela transposiccedilatildeo As
5 A Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) resulta da iniciativa de movimentos sociais sindicatos de
trabalhadoresas ONGs entidades ambientalistas ecologistas organizaccedilotildees de afrodescendentes e indiacutegenas e
pesquisadoresas universitaacuteriosas Foi criada no Coloacutequio Internacional sobre Justiccedila Ambiental Trabalho e
Cidadania realizado no campus da UFF- Niteroacutei de 24 a 27 de setembro de 2001 e teve o apoio de redes
semelhantes dos Estados Unidos Chile e Uruguai
22
categorias espaccedilo territoacuterio lugar e paisagem satildeo elementos conceituais norteadores na
compreensatildeo da dinacircmica das mudanccedilas ocorridas nas aacutereas quilombolas do estudo em
consequecircncia das intervenccedilotildees do projeto Em um terceiro e uacuteltimo bloco satildeo apresentados
aspectos da educaccedilatildeo educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental com base em algumas
abordagens existentes
No capiacutetulo 4 eacute descrito o percurso metodoloacutegico Para contemplar as especificidades
do objeto de estudo foi realizado um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa Visotildees de mundo valores e percepccedilotildees enriquecem os conteuacutedos das dimensotildees
natildeo quantificaacuteveis relacionadas ao significado e representaccedilatildeo do projeto da transposiccedilatildeo no
contexto social poliacutetico e cultural das comunidades quilombolas O enfoque quantitativo
subsidiou a descriccedilatildeo das aacutereas quilombolas caracterizando-as em aspectos socioambientais
Resultados e discussatildeo estatildeo contidos no capiacutetulo 5 6 7 e 8 relacionados a cada
objetivo especiacutefico do estudo O capiacutetulo 5 traz conteuacutedos que caracterizam a situaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e o Projeto da Transposiccedilatildeo o capiacutetulo 6 apresenta aspectos das comunidades
quilombolas e seu territoacuterio o capiacutetulo 7 conteacutem questotildees relacionadas ao impacto e
vulneraccedilatildeo provocados pelo Projeto o capiacutetulo 8 avalia as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas por dois Programas Baacutesicos Ambientais (PBA) para mitigar impactos e
vulneraccedilatildeo Dentre os 38 Planos e PBArsquos contidos no Projeto da Transposiccedilatildeo foram
avaliados o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental 4 (PBA 4) e o Programa de Apoio agraves
Comunidades Quilombola 17 (PBA 17)
O foco do estudo esteve direcionado aos pressupostos de que empreendimentos da
natureza do projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco afetam sobremaneira a vida de
populaccedilotildees quilombolas provocando impactos socioambientais e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo
marcantes de que estudos sobre populaccedilotildees quilombolas em Salgueiro concernentes ao tema
satildeo escassos e de que essas populaccedilotildees natildeo se apropriaram das propostas e praacuteticas de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental realizadas pelo projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco
Esperamos que este estudo contribua para o processo de compreensatildeo e identificaccedilatildeo
das situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo as quais estatildeo submetidas as populaccedilotildees quilombolas de
Salgueiro com o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco que decirc visibilidade ao que
ainda pode ser invisiacutevel aos governos aos gestores responsaacuteveis por aprovar e implementar
poliacuteticas puacuteblicas confirmando o que jaacute era previsto e denunciado pelos movimentos sociais
e segmentos contraacuterios agrave transposiccedilatildeo
23
2 OBJETIVOS
21 GERAL
Analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
em territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la
22 ESPECIacuteFICOS
a) Caracterizar o Projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco considerando a
proposta oficial e a percepccedilatildeo dos sujeitos
b) Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios quilombolas da aacuterea do estudo
c) Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas
d) Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees implementadas pelo projeto para minimizar a
vulneraccedilatildeo
24
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS
As categorias aqui referidas assumem grande importacircncia na vida e histoacuteria de
comunidades quilombolas Olhar para essas dimensotildees particularmente em aacutereas afetadas por
um empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco eacute olhar para uma
realidade cujas mudanccedilas e impactos natildeo estatildeo profundamente identificados mensurados nem
avaliados onde conflitos e inseguranccedilas fazem parte da vida dessas populaccedilotildees
O termo vulnerabilidade bastante empregado nos uacuteltimos anos apresenta distintas
perspectivas de interpretaccedilatildeo Em uso desde a deacutecada de 1990 principalmente no campo das
respostas agrave epidemia de HIVAids o conceito tecircm sido objeto de estudos que ampliaram sua
compreensatildeo para aleacutem dos campos da sauacutededoenccedila inserindo em sua percepccedilatildeo aspectos
comportamentais culturais econocircmicos e poliacuteticos
Em sua origem o termo vulnerabilidade vem da aacuterea da advocacia internacional pelos
Direitos Universais do Homem designando grupos ou indiviacuteduos fragilizados juriacutedica ou
politicamente na promoccedilatildeo proteccedilatildeo ou garantia de seus direitos de cidadania (ALVES
1994)
Entre outras concepccedilotildees haacute uma abordagem multifatorial agrave questatildeo da
vulnerabilidade apresentada por Kalipeni (2000 apud SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007)
cujo autor apresenta a proposta de Watts e Bohle (1993) de estrutura tripartite sobre
vulnerabilidade que consiste na interseccedilatildeo entre trecircs poderes sendo entitlement o que diz
respeito ao direito das pessoas empowerment ou empoderamento que se refere agrave participaccedilatildeo
poliacutetica e institucional dessas pessoas e a poliacutetica econocircmica sobre a organizaccedilatildeo estrutural-
histoacuterica da sociedade e suas decorrecircncias
Desse modo
a vulnerabilidade agraves doenccedilas e situaccedilotildees adversas da vida distribui-se de maneira
diferente segundo os indiviacuteduos regiotildees e grupos sociais e relaciona-se com a
pobreza com as crises econocircmicas e com o niacutevel educacional Ao multifatorializar a
vulnerabilidade acrescenta ainda que a vulnerabilidade depende do local e do
clima restringindo-se portanto agrave dimensatildeo geograacutefica (KALIPENI 2000 apud
SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007 p 320)
Uma outra compreensatildeo aponta o conceito de vulnerabilidade como fundamental para
a vigilacircncia agrave sauacutede como tambeacutem para definiccedilatildeo de prioridades e tomada de decisotildees Nesta
perspectiva circunstacircncias variadas determinam como se daacute a vulnerabilidade de indiviacuteduos
25
ou populaccedilotildees em relaccedilatildeo a determinados agravos E tais circunstacircncias podem ser agrupadas
da seguinte forma 1) os que dependem diretamente das accedilotildees individuais configurando o
comportamento do indiviacuteduo a partir de um determinado grau de consciecircncia que ele
manifesta 2) os que dizem respeito agraves accedilotildees comandadas pelo poder puacuteblico iniciativa
privada e agecircncias da sociedade civil voltadas a diminuiccedilatildeo das chances de ocorrecircncia de
danos agrave sauacutede e 3) os que fazem parte de um conjunto de determinantes relativo ao
acesso a informaccedilotildees financiamentos serviccedilos bens culturais liberdade de
expressatildeo (TAMBELLINI CAMARA 1998)
Outra leitura faz a discussatildeo e a desconstruccedilatildeo entre os termos vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo trazendo natildeo apenas suas diferenccedilas conceituais mas tambeacutem as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo que cada termo carrega para as poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede e para as
poliacuteticas puacuteblicas em geral
Mesmo compartilhando a mesma raiz semacircntica que deriva do latim vulnus cujo
significado eacute ldquoferidardquo os dois conceitos por natildeo terem a mesma extensatildeo precisam ser
diferenciados afirma Schramm (2012)
O termo vulnerabilidade para o autor eacute uma condiccedilatildeo compartilhada pelo universo de
todos os seres na medida em que todos os seres vivos satildeo por essecircncia vulneraacuteveis pela
condiccedilatildeo de finitude e mortalidade que os caracteriza Poreacutem vulneraccedilatildeo eacute entendida como a
condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute ferido (ou traumatizado) (SCHRAMM 2012 p 38)
Como exerciacutecio de desconstruccedilatildeo e para caracterizar a distinccedilatildeo entre os dois
conceitos Schramm (2012) se debruccedila sobre o que estaacute no dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
que define o adjetivo vulneraacutevel ao que ldquopode ser fisicamente (mas poderiacuteamos acrescentar
psiquicamente) feridordquo e o substantivo vulnerabilidade agrave ldquoqualidade ou estado do que eacute ou
se encontra vulneraacutevelrdquo Quanto ao substantivo vulneraccedilatildeo este refere-se ao ldquoato ou efeito de
vulnerarrdquo (HOUAISS VILLAR 2001 p 2884)
Ao aproximar os dois pares de conceitos o autor chega ao entendimento de que
ldquoo conceito de vulnerabilidade se refere a uma potencialidade e vulneraccedilatildeo a uma efetivaccedilatildeo
de tal potencialidade isto eacute a vulnerabilidade eacute em princiacutepio sempre em potecircncia e a
vulneraccedilatildeo em atordquo (SCHRAMM 2012 p 39)
Com este olhar vulnerabilidade eacute a possibilidade de ser ferido e engloba tanto o
aspecto referente agrave dimensatildeo fiacutesica quanto o contido na perspectiva social Ou seja todos satildeo
suscetiacuteveis a serem feridos em algum grau bastando para isto estar vivos Mas o que
pretende o autor com essa reflexatildeo eacute mostrar que haacute graus diferentes de suscetibilidades que
26
nem todos estatildeo suscetiacuteveis na mesma intensidade Assim eacute construiacuteda a diferenccedila entre
vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo
A distinccedilatildeo entre os dois termos desfaz a ambiguidade visto que ldquose algueacutem deixa de
ser vulneraacutevel eacute porque ele tem se tornado vulneradordquo (KOTTOW 2008 apud SCHRAMM
2012 p 37)
A justificativa apresentada pelo autor para a necessidade de distinguir os termos e
fazer uma anaacutelise conceitual parte da preocupaccedilatildeo com o contexto concreto o qual se analisa
A desconstruccedilatildeo como referido anteriormente pode mostrar como o termo ldquovulnerabilidaderdquo
estaacute vinculado a uma praacutetica estando sempre ligada a uma intervenccedilatildeo que teraacute
necessariamente consequecircncias que poderatildeo ser boas ou natildeo
Um dos pontos de vista em que o termo ldquovulnerabilidaderdquo pode ser considerado
problemaacutetico eacute no da eacutetica aplicada na eacutetica aplicada aos sistemas vivos ou da bioeacutetida pois
se trata de ldquocondiccedilotildees humanas que a sociedade enfrenta de modo muito diferenterdquo
(KOTTOW 2008 apud SCHRAMM 2012 p 43)
Na perspectiva do social satildeo essas condiccedilotildees humanas que se estabelecem de forma
diferenciada que para Schramm (2012) se apresentam como
Vulneraccedilatildeo diz respeito agrave vulnerabilidade consubstanciada De fato se todos satildeo
potencialmente (ou virtualmente) vulneraacuteveis enquanto seres vivos nem todos satildeo
vulnerados concretamente devido a contingecircncias como o pertencimento a uma
determinada classe social a uma determinada etnia a um dos gecircneros ou
dependendo de suas condiccedilotildees de vida inclusive seu estado de sauacutede Em suma
parece razoaacutevel considerar mais correto distinguir a mera vulnerabilidade da efetiva
lsquovulneraccedilatildeorsquo vendo a primeira como potencialidade e segunda como uma situaccedilatildeo
de fato pois isso tem consequecircncias relevantes no momento da tomada de
decisatildeo (SCHRAMM 2006 p 192)
A reflexatildeo feita ateacute o momento nos remete agrave condiccedilatildeo em que se encontra a populaccedilatildeo
quilombola do nosso estudo afetada por um projeto governamental e suscetiacutevel a situaccedilatildeo de
vulneraccedilatildeo
O contexto social e poliacutetico a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo quilombola de
Salgueiro reforccedila a importacircncia desta linha de abordagem e sua pertinecircncia segundo o autor
extende-se para uma bioeacutetica da proteccedilatildeo ldquoque diferencia pacientes vulneraacuteveis suscetiacuteveis e
vulnerados quando se trata de saber quais indiviacuteduos ou populaccedilotildees merecem ser protegidos
contra danos que natildeo satildeo capazes de enfrentar sozinhosrdquo (SCHRAMM 2008 p 187)
A natildeo clareza sobre esta distinccedilatildeo haja visto a densidade do termo vulnerabilidade
traz consequecircncias duvidosas sobre as praacuteticas de amparo e proteccedilatildeo e o porque das mesmas
as quais podem prejudicar principalmente os de fato vulnerados A natildeo clareza ou confusatildeo
27
quanto a quem ou que grupos satildeo realmente vulnerados dificulta identificar claramente os
eventuais atores das praacuteticas pretendidas (SCHRAMM 2012)
A proposta de uma bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute uma construccedilatildeo recente embora a ideia de
um ethos protetor seja mais antiga Termo que provem do grego ldquoethosrdquo significando
ldquomoradardquo dos animais lugar ldquoprotegidordquo e em seguida o ldquolugar onde se habitardquo quando
aplicado tambeacutem aos humanos (BLACKBURN 1997 LALANDE 1972 apud SCHRAMM
2012 p 45) Foi a partir desta ressignificaccedilatildeo transitando de um sentido amplo (sistemas e
ambientes) para um mais restrito (indiviacuteduos caracteriacutesticas pessoais e cidadatildes) que a
bioeacutetica de proteccedilatildeo pocircde ser pensada como uma ferramenta cuja funccedilatildeo praacutetica seria proteger
tanto indiviacuteduos quanto populaccedilotildees humanas ndash bem como outros seres vivos e ambientes
naturais- contra ameaccedilas que podem afetaacute-los de forma significativa inclusive ameaccedilando
suas existecircncias e sua preservaccedilatildeo (SCHRAMM 2012 p 49)
A bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute considerada como instrumentos teoacutericos e praacuteticos para
enfrentar conflitos morais relativos agraves praacuteticas humanas Praacuteticas que provocam efeitos
danos irreversiacuteveis sobre os seres vivos em particular indiviacuteduos e populaccedilotildees humanas
inseridas em seus contextos ecoloacutegicos biotecnocientiacuteficos e socioculturais (SCHRAMM
2005)
Apesar de tido como um dispositivo de proteccedilatildeo agraves pessoas e populaccedilotildees a bioeacutetica da
proteccedilatildeo daacute lugar a conflituosidade e abrange desdobramentos poliacuteticos As medidas
protetoras disponibilizadas podem ser aceitas ou natildeo diferentemente de uma praacutetica
paternalista
Assim a bioeacutetica da proteccedilatildeo se volta para a populaccedilatildeo de vulnerados os feridos com
carecircncia de recursos em vaacuterios niacuteveis como econocircmicos financeiros e ateacute existenciais e natildeo
apenas os expostos agrave condiccedilatildeo de vulnerabilidade
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS
Sem entrar na discussatildeo sobre a precedecircncia entre territoacuterio e espaccedilo natildeo raro se
confunde esses dois conceitos Haacute os que consideram o territoacuterio vindo antes do espaccedilo como
haacute os que consideram o contraacuterio (SANTOS SILVEIRA 2001)
Entretanto encontrar uma uacutenica definiccedilatildeo para espaccedilo ou para territoacuterio natildeo eacute tarefa
faacutecil principalmente se considerarmos que cada vocaacutebulo recebe vaacuterias compreensotildees Daiacute
qualquer definiccedilatildeo natildeo eacute fixa ao contraacuterio eacute mutaacutevel flexiacutevel Historicamente os conceitos a
28
exemplo do que ocorreu com espaccedilo e territoacuterio carregam diferentes significados (SAQUET
2008)
Em sua obra Por uma geografia nova (1978) Milton Santos traz o conceito de espaccedilo
como central compreendendo-o como um verdadeiro campo de forccedilas cuja formaccedilatildeo eacute
desigual Eis a razatildeo pela qual a evoluccedilatildeo espacial natildeo se apresenta de igual forma em todos
os lugares (SANTOS M 1978 p 122)
Com este olhar o espaccedilo era visto a partir do que ele oferece a alguns e recusa a
outros pelas escolha de localizaccedilatildeo entre as atividades e entre os homens de acordo com suas
caracteriacutesticas e funcionamento Enfim o espaccedilo tido como resultado de uma praacutexis coletiva
cujas relaccedilotildees sociais satildeo reproduzidas (SANTOS M 1978 p 171)
O autor nos apresenta a noccedilatildeo de espaccedilo como fator de evoluccedilatildeo social e natildeo apenas
condiccedilatildeo Ou seja a evoluccedilatildeo do espaccedilo se daacute pelo movimento da sociedade total
Sendo o espaccedilo aleacutem de instacircncia social tambeacutem organizado pelo homem satildeo
agregadas diferentes variaacuteveis como o espaccedilo social e o espaccedilo geograacutefico O espaccedilo social
refere-se ao espaccedilo humano lugar de vida e trabalho enquanto o espaccedilo geograacutefico eacute
organizado pelo homem vivendo em sociedade Portanto cada sociedade historicamente
produz cria seu espaccedilo como lugar de sua proacutepria reproduccedilatildeo
A partir desta premissa Santos M (2012 p 12) define espaccedilo como
uma instacircncia da sociedade ao mesmo tiacutetulo que a instacircncia econocircmica e a instacircncia
cultural-ideoloacutegicaA economia estaacute no espaccedilo assim como o espaccedilo estaacute na
economia O mesmo se daacute com o poliacutetico-institucional e com o cultural-ideoloacutegico
Isso quer dizer que a essecircncia do espaccedilo eacute social Nesse caso o espaccedilo natildeo pode ser
apenas formado pelas coisas os objetos geograacuteficos naturais e artificiais cujo
conjunto nos daacute a Natureza O espaccedilo eacute tudo isso mais a sociedade cada fraccedilatildeo da
natureza abriga uma fraccedilatildeo da sociedade atual
O autor apresenta como conceito baacutesico que o espaccedilo constitui uma realidade
objetiva um produto social em permanente processo de transformaccedilatildeo e ao impor sua
realidade a sociedade natildeo pode operar fora dele Apreender a relaccedilatildeo do espaccedilo com a
sociedade eacute condiccedilatildeo sine qua non haja visto que a sociedade define a compreensatildeo dos
efeitos dos processos (tempo e mudanccedila) e dita as noccedilotildees de forma funccedilatildeo e estrutura
Em termos mais concretos sempre que a sociedade (totalidade social) sofre mudanccedilas
as formas ou objetos geograacuteficos (tanto os novos como os velhos) assumem novas funccedilotildees
Cria-se entatildeo uma nova organizaccedilatildeo espacial fruto da totalidade da mutaccedilatildeo (SANTOS F
M 2012)
29
Com as definiccedilotildees apresentadas ateacute aqui Santos M (2012) aponta os elementos que
fazem parte do espaccedilo que satildeo os homens as firmas as instituiccedilotildees o meio ecoloacutegico e as
infraestruturas Os homens se constituem parte do espaccedilo seja pela oferta de seu trabalho
seja como candidatos a isso As firmas e as instituiccedilotildees respondem segundo suas
competecircncias pelas demandas dos homens de cada indiviacuteduo como parte da sociedade total
Entatildeo as firmas tecircm como funccedilatildeo produzir bens serviccedilos e ideias e as instituiccedilotildees se
encarregam de produzir as normas ordens e legitimaccedilotildees O meio ecoloacutegico refere-se ao
conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do trabalho humano E por
uacuteltimo as infraestruturas consideradas como o trabalho humano concretizado e espacializado
na forma de casas plantaccedilotildees caminhos etc (SANTOS F M 2012) Vale ressaltar que os
elementos descritos sofrem variaccedilotildees quantitativas e qualitativas sendo portanto variaacuteveis
que sofrem mudanccedilas no movimento do tempo histoacuterico
Pensemos agora o territoacuterio que para populaccedilotildees quilombolas estaacute vinculado a sua
afirmaccedilatildeo de identidade eacutetnica social poliacutetica e cultural
O entendimento que Milton Santos no apresenta sobre territoacuterio refere-se geralmente
a extensatildeo apropriada e usada Mas ele traz o sentido da palavra territorialidade como
sinocircnimo de ldquopertencer agravequilo que nos pertence [] esse sentimento de exclusividade e limite
ultrapassa a raccedila humana e prescinde da existecircncia de Estadordquo (SANTOS SILVEIRA 2001
p 19)
Com isto o autor apresenta a ideia de que territorialidade como anaacutelogo a aacuterea de
vivecircncia e de reproduccedilatildeo chega ateacute os proacuteprios animais Poreacutem ao pensar na territorialidade
humana agrega-se tambeacutem a preocupaccedilatildeo com o destino construccedilatildeo do futuro o que entre
os seres vivos eacute privileacutegio do homem (SANTOS SILVEIRA 2001)
O territoacuterio natildeo deve ser entendido apenas como uma aacuterea delimitada e constituiacuteda por
relaccedilotildees de poder do Estado como se faz na geografia por incorrer no erro de engessar seu
uso e natildeo considerar as formas diversas de enfocaacute-lo em toda sua complexidade que leva em
consideraccedilatildeo muitos atores e muitas relaccedilotildees sociais (SAQUET 2008)
Os autores compreendem a partir da leitura de Milton Santos que o territoacuterio pode ser
considerado
[] como delimitado construiacutedo e desconstruiacutedo por relaccedilotildees de poder que
envolvem uma gama muito grande de atores que territorializam suas accedilotildees como o
passar do tempo No entanto a delimitaccedilatildeo pode natildeo ocorrer de maneira precisa
pode ser irregular e mudar historicamente bem como acontecer uma diversificaccedilatildeo
das relaccedilotildees sociais num jogo de poder cada vez mais complexo (SAQUET 2008 p
32)
30
Trazendo a reflexatildeo sobre lugar Santos M (2012) nos traz a compreensatildeo de
localizaccedilatildeo como um momento do imenso movimento do mundo que eacute apropriado em um
ponto geograacutefico um lugar Mas ressalta que localizaccedilatildeo e lugar natildeo devem se confundir em
que pese a sua estreita relaccedilatildeo ou imbricamento
Cada lugar estaacute sempre mudando de significaccedilatildeo consequecircncia do movimento social
O lugar pode ser o mesmo mas as localizaccedilotildees mudam Lugar eacute o objeto ou conjunto de
objetos A localizaccedilatildeo eacute um feixe de forccedilas sociais se exercendo em um lugar Um importante
aspecto ao pensar numa anaacutelise refere-se a periodizaccedilatildeo considerando que as mesmas
variaacuteveis mudam de valor de acordo com o periacuteodo histoacuterico (SANTOS F M 2012)
Por sua vez a paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si
aspectos cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees diferentes
(SANTOS F M 2012 p 68)
Disto resultam configuraccedilotildees mais bem preparadas para certas inovaccedilotildees do que
outras o que implica em ter aacutereas onde
a) As inovaccedilotildees podem ser imediatamente aceitas e integradas ao sistema
b) As inovaccedilotildees precisam passar por um maior nuacutemero de distorccedilotildees a afim de se
integrarem ao sistema
c) A estrutura imposta (inovaccedilotildees) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas
A uacuteltima caracterizaccedilatildeo - referente ao item c - nos parece pertinente a uma das aacutereas
de estudo desta dissertaccedilatildeo e no capiacutetulo de resultados teceremos algumas consideraccedilotildees
A percepccedilatildeo que se tem da paisagem eacute relativa quanto agrave localizaccedilatildeo que se estaacute
assumindo escalas diferentes conforme onde estejamos A sua dimensatildeo entatildeo eacute diretamente
relacionada agrave dimensatildeo da percepccedilatildeo o que chega aos sentidos (SANTOS M 1988)
E sintetizando o que seja paisagem Santos M (1988 p 21) afirma
Tudo aquilo que noacutes vemos o que nossa visatildeo alcanccedila eacute a paisagem Esta pode ser
definida como o domiacutenio do visiacutevel aquilo que a vista abarca Natildeo eacute
formada apenas de volumes mas tambeacutem de cores movimentos odores
sons etc
31
As conceituaccedilotildees construiacutedas com base nas categorias trazidas por Milton Santos pelo
seu enfoque dinacircmico histoacuterico social e poliacutetico se conformam atualmente no contexto do
projeto da transposiccedilatildeo como pilares para compreender as transformaccedilotildees que se processam
nas aacutereas quilombolas do estudo
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS
Onde quer que haja mulheres e
homens haacute sempre o que fazer haacute
sempre o que ensinar haacute sempre o
que aprender
Paulo Freire
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila
Comeccedilemos pensando que natildeo haacute uma uacutenica forma de ensinar natildeo haacute um uacutenico
modelo de educaccedilatildeo e a escola natildeo eacute o uacutenico lugar o uacutenico espaccedilo onde a educaccedilatildeo acontece
e muitas vezes nem eacute o melhor lugar A praacutetica da educaccedilatildeo natildeo se daacute apenas no ensino
escolar nem o professor profissional eacute o seu uacutenico praticante (BRANDAtildeO 2002)
Como bem lembra Carlos Rodrigues Brandatildeo (2002 p 55) ldquotoda educaccedilatildeo sonha
uma pessoa Sonha mesmo um tipo de mundo realizado atraveacutes de diferentes categorias de
interaccedilotildees entre pessoasrdquo Pensar sobre educaccedilatildeo e falar sobre ela eacute pois pensarmos e
falarmos em sonhos de outros mundos e sonhos de outros sujeitos no mundo
Estes sonhos possiacuteveis ou natildeo podem ter a educaccedilatildeo como ferramenta e Paulo
Freire em sua primeira obra ressaltou a politicidade da educaccedilatildeo entendida como praacutetica de
opressatildeo ou de liberdade (FREIRE 1981)
Referindo-se a uma praacutetica educativo-criacutetica ou progressista Freire em sua obra
Pedagogia da Autonomia identifica alguns saberes como fundamentais como conteuacutedos
obrigatoacuterios agrave organizaccedilatildeo programaacutetica da formaccedilatildeo docente (FREIRE 2003)
Para este trabalho destacamos alguns destes saberes ou princiacutepios com o intuito de
contribuir com o pensar e agir como sujeitos no mundo e por consideraacute-los atinentes ao tema
do nosso estudo com populaccedilotildees quilombolas E com a certeza de que tudo que eacute referido
pelo autor instiga nossa reflexatildeo para criacutetica e autocriacutetica como seres potencialmente
educadores eacute que foi tatildeo difiacutecil ldquoelegerrdquo
32
Mas ousamos arriscar neste exerciacutecio realccedilando quatro saberes ou princiacutepios
-Educar exige respeito aos saberes dos educandos ndash lsquo [] pensar certo coloca ao
professor ou mais amplamente agrave escola o dever de natildeo soacute respeitar os saberes com
que os educandos sobretudo os da classe populares chegam a ela saberes
socialmente construiacutedos na praacutetica comunitaacuteria - mas tambeacutem [] discutir com os
alunos a razatildeo de ser de alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos
conteuacutedosrsquo
-Ensinar exige risco aceitaccedilatildeo do novo e rejeiccedilatildeo a qualquer forma de
discriminaccedilatildeo -rsquoFaz parte igualmente do pensar certo a rejeiccedilatildeo mais decidida a
qualquer forma de discriminaccedilatildeo A praacutetica preconceituosa de raccedila de classe de
gecircnero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democraciarsquo
-Ensinar exige o reconhecimento e a assunccedilatildeo da identidade cultural ndash lsquo [] Umas
das tarefas mais importantes da praacutetica educativo-criacutetica eacute propiciar as condiccedilotildees em
que os educandosas em suas relaccedilotildees uns com os outros e todos com o professor ou
a professora ensaiam a experiecircncia profunda de assumir-se Assumir-se como ser
social e histoacuterico como ser pensante comunicante transformador criador realizador
de sonhos capaz de ter raiva porque capaz de amar Assumir-se como sujeito porque
capaz de reconhecer-se como objeto A assunccedilatildeo de noacutes mesmos natildeo significa a
exclusatildeo dos outros Eacute a lsquooutredadersquo do lsquonatildeo eursquo ou do tu que me faz assumir a
radicalidade de meu eursquo
- Ensinar exige a curiosidade ndash Se haacute uma praacutetica exemplar como negaccedilatildeo da
experiecircncia formadora eacute a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e em
consequecircncia a do educador Eacute que o educador que entregue a procedimentos
autoritaacuterios ou paternalistas que impedem ou dificultam o exerciacutecio da curiosidade
do educando termina por igualmente tolher sua proacutepria curiosidade (FREIRE 2003
p 30-36 grifo nosso)
Esta curiosidade eacute o que Rubem Alves chama de espanto maravilhamento em seu
documentaacuterio ldquoAprender a aprenderrdquo6 onde refere-se ao educadora como aquele que precisa
ter vontade de ensinar para isto deve ser o ldquoprofessor do espanto um contador de histoacuteriasrdquo
Ele nos lembra que o ensino deve incentivar a imaginaccedilatildeo que a aprendizagem tem que nos
deixar intrigados que para ensinar eacute preciso saber fazer as perguntas e natildeo oferecer respostas
Ou seja o educadora tem a missatildeo de provocar espanto e curiosidade nos
educandosas (ALVES 2010)
Numa linguagem freireana haacute modelos de escolas e de aprendizagem que natildeo satildeo
criacuteticas nem transformadoras mas conservadoras bancaacuterias onde se daacute predominantemente
uma transmissatildeo de conhecimentos
E Alves (2010) refere-se a estas escolas fazendo uma analogia com gaiolas e paacutessaros
que satildeo ou natildeo encorajados a voar
6 O documentaacuterio faz parte da coleccedilatildeo Rubem Alves Os quatro Pilares (1- Aprender a aprender) que tem como
base o Relatoacuterio para a UNESCO da Comissatildeo Internacional sobre Educaccedilatildeo para o Seacuteculo XXI coordenado
por Jacques Delors que editado na forma de libro ldquoEducaccedilatildeo Um Tesouro a Descobrirrdquo de 2010 conteacutem
capiacutetulo sobre ldquoquatro pilaresrdquo onde se propotildee uma educaccedilatildeo direcionada para os quatro tipos fundamentais
de educaccedilatildeo aprender a conhecer aprender a fazer aprender a viver com os outros aprender a ser eleitos
como os quatro pilares fundamentais da educaccedilatildeo Documentaacuterio elaborado em Brasiacutelia julho de 2010
33
Escolas que satildeo gaiolas existem para que os paacutessaros desaprendam a arte do voo
Paacutessaros engaiolados satildeo paacutessaros sob controle Engaiolados seu dono pode levaacute-los
para onde quiser Paacutessaros engaiolados sempre tecircm dono Escolas que satildeo asas natildeo
amam paacutessaros engaiolados O que eles amam satildeo paacutessaros em voo Existem para
dar aos paacutessaros coragem para voar Ensinar o voo isso elas natildeo podem fazer
porque o voo jaacute nasce dentro dos paacutessaros O voo natildeo pode ser ensinado Soacute pode
ser encorajado
E a educaccedilatildeo estaacute presente em nossa vida de maneira diversa e em todos os lugares
Estamos envolvidos com a educaccedilatildeo em casa na rua na igreja na escola no clube etc Seja
para aprender seja para ensinar seja para aprender-e-ensinar (BRANDAtildeO 2002)
Misturamos a vida com uma ou vaacuterias educaccedilotildees
Educaccedilatildeo imposta centralizada pelo poder que usa o saber e exerce controle sobre o
mesmo como ferramenta para manter a desigualdade econocircmica social poliacutetica e cultural
entre homens e mulheres Educaccedilatildeo como praacutetica de liberdade vivenciada entre todos para
tornar comum aquilo que eacute comunitaacuterio como bem como trabalho ou como vida
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico
O campo da educaccedilatildeo em sauacutede nos remete ao redirecionamento das praacuteticas de sauacutede
intenccedilatildeo que aparece nos discursos da sauacutede puacuteblica desde a deacutecada de 1980 articulando-se
em torno da ideia de promoccedilatildeo da sauacutede
Num olhar retrospectivo haacute marcos nesta trajetoacuteria que discorremos brevemente neste
estudo desde a oacutetica da chamada educaccedilatildeo sanitaacuteria
As deacutecadas de 1950 e 1960 foram consideradas como periacuteodo aacuteureo da educaccedilatildeo
sanitaacuteria no Brasil quando propostas das poliacuteticas oficiais articulam sauacutede e educaccedilatildeo Os
avanccedilos observados na eacutepoca foram em campos como a valorizaccedilatildeo da higiene mental a
implantaccedilatildeo das escolas maternais creches e parques infantis (MELO 1987)
No entanto as concepccedilotildees da educaccedilatildeo e da sauacutede natildeo consideravam as questotildees
sociais nem o processo histoacuterico de sua origem e manutenccedilatildeo (LOUREIRO 1989 apud
MORH SCHALL 1992) A doenccedila era reduzida a uma relaccedilatildeo de causa e efeito de cunho
estritamente bioloacutegico reforccedilada pelas descobertas bacterioloacutegicas
O movimento da eacutepoca tinha como base uma ideologia modernizadora orientada para
hegemonia da burguesia industrial no domiacutenio da sociedade (LUZ 1981 apud MORH
SCHALL 1992)
A participaccedilatildeo da comunidade perspectiva que surge na deacutecada de 1960 tinha o
intuito de mobilizar as populaccedilotildees a colaborarem com os agentes de sauacutede e serviccedilos
34
implantados nas zonas rurais e periferias das cidades E um traccedilo da poliacutetica nacional de
sauacutede era a centralizaccedilatildeo administrativa que perdurou mais fortemente ateacute a criaccedilatildeo do
SUS (CANESQUI 1984 apud MORH SCHALL 1992)
Em 1971 com base na lei 569271 torna-se obrigatoacuteria a educaccedilatildeo em sauacutede nas
escolas brasileiras de 1ordm e 2ordm graus cujo objetivo era estimular o conhecimento e a praacutetica da
sauacutede baacutesica e da higiene Para operacionalizaccedilatildeo da lei foi estabelecida uma aprendizagem
atraveacutes de accedilotildees e natildeo de exposiccedilotildees prioritariamente o que natildeo ocorreu de fato (BRASIL
1974)
Vale ressaltar que a formaccedilatildeo teoacuterica de professores em assuntos relacionados agrave
educaccedilatildeo em sauacutede era deficiente comprometendo o desempenho dos mesmos para uma
aprendizagem voltada a realidade concreta dos alunos (MOURA 1990 SCHALL et al 1987
apud MORH SCHALL 1992)
A formaccedilatildeo precaacuteria de professores era atribuiacuteda a vaacuterios aspectos dentre eles
metodoloacutegicos inadequaccedilatildeo de conteuacutedos falta de material de apoio etc
O resultado desta praacutetica eacute que os conhecimentos desenvolvidos (transmitidos) natildeo se
traduzem em mudanccedila de comportamentos ou de haacutebitos - propoacutesito principal - seja por falta
de condiccedilotildees de internalizaccedilatildeo ou por natildeo possuir significado para a realidade do estudante
A tradicional concepccedilatildeo da educaccedilatildeo sanitaacuteria voltada para a mudanccedila de
comportamento comeccedila a ser superada pela compreensatildeo da praacutetica educativa como um
compromisso com a transformaccedilatildeo da realidade
A deacutecada de 1970 pautada por reformas na aacuterea da poliacutetica de sauacutede tambeacutem tem o
marco da pedagogia de Paulo Freire abraccedilada pelas accedilotildees de sauacutede poreacutem natildeo assumida no
contexto geral do paiacutes As reformas na poliacutetica de sauacutede foram fomentadas pela crise do
modelo biomeacutedico de alto custo e baixa resolutividade com accedilotildees centradas na cliacutenica e
amparado em uma concepccedilatildeo biologicista do processo sauacutede-doenccedila Este quadro fez surgir
no cenaacuterio das poliacuteticas de sauacutede proposiccedilotildees para inovar as bases dos sistemas de sauacutede
com foco em um conceito ampliado de sauacutede na relaccedilatildeo entre sauacutede e qualidade de
vida (DANTAS 2010)
Na ocasiatildeo a pedagogia de Paulo Freire foi acolhida pela sauacutede popular em suas
formas organizadas de movimento popular e identificada com as metas gerais das camadas
trabalhadoras por contemplar suas condiccedilotildees de vida e sauacutede A pedagogia libertadora de
Freire inspirou propostas de Educaccedilatildeo Popular em Sauacutede que em sua essecircncia visam romper
a relaccedilatildeo verticalizada educadora-educandoa e a transitoriedade das accedilotildees pois valorizam
35
trocas interpessoais o diaacutelogo e a compreensatildeo do saber popular (VASCONCELOS 2001
apud GUIMARAtildeES LIMA 2012 p 896)
Os movimentos populares construiacuteram uma nova articulaccedilatildeo entre a educaccedilatildeo e a
sauacutede onde satildeo consideradas as condiccedilotildees de vida e trabalho como fatores predisponentes
essenciais (CANESQUI 1984 MORH SCHALL 1992) Este contexto influenciou
sobremaneira as concepccedilotildees e praacuteticas da educaccedilatildeo em sauacutede
Novas abordagens de educaccedilatildeo em sauacutede passam a ser inseridas tanto no contexto
escolar como fora dele com distintos grupos populacionais devendo ser pensadas de acordo
com cada situaccedilatildeo em particular Relacionamos entatildeo aspectos que passam a ser incluiacutedos em
uma praacutetica de educaccedilatildeo em sauacutede
a) Considerar as peculiaridades cultural e ambiental de cada comunidade
b) Olhar criticamente campanhas de cunho nacional que natildeo respeitam as
peculiaridades regionais como por exemplo denominaccedilotildees atribuiacutedas a vetores
de doenccedilas ou haacutebitos culturais e sociais distintos de populaccedilotildees geograficamente
proacuteximas por estarem condenadas ao fracasso
c) Trabalhar com atividades e conteuacutedos pertinentes agrave realidade dos alunos
d) Estimular professores a planejarem e executarem projetos de investigaccedilatildeo
conjuntamente com seus alunos em torno de algum problema de sauacutede relevante
para a aacuterea de abrangecircncia da escola propondo accedilotildees e alternativas de
enfrentamento
e) Considerar o conhecimento popular acerca de determinada situaccedilatildeo valorizando-
o trabalhando junto e a partir dele e natildeo inferiorizando-o
f) Desenvolver atividades tambeacutem em associaccedilotildees de moradores e outros grupos
organizados das comunidades
Estes aspectos ou propoacutesitos contribuiacuteram para que a educaccedilatildeo ambiental e a
educaccedilatildeo em sauacutede fosse assumida de forma mais ampla do que a simples aquisiccedilatildeo de
conhecimento - poreacutem importante e indispensaacutevel afirma as autoras - mas tambeacutem como
momento de reflexatildeo e questionamento das condiccedilotildees de vida suas causas e consequecircncias e
se transformando em instrumento para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidadania (MORH
SCHALL 1992)
Acontecimentos no contexto internacional tambeacutem ocorridos na deacutecada de 1970
exerceram forte influecircncia nos rumos da educaccedilatildeo em sauacutede no Brasil apontando na direccedilatildeo
36
de uma abordagem voltada para promoccedilatildeo da sauacutede
Em 1976 na Conferecircncia de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede em Alma-Ata
(ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE 1978) configura-se a relevacircncia das praacuteticas
educativas e a proposta da promoccedilatildeo da sauacutede Os conceitos firmados na Conferecircncia de
Alma-Ata satildeo retomados e ampliados a partir da deacutecada de 1980 em torno da ampliaccedilatildeo do
conceito de sauacutede
que passa a ser relacionado agrave qualidade de vida na compreensatildeo da
responsabilidade dos governos pela sauacutede de suas populaccedilotildees na ideia da
intersetorialidade como forma de atuaccedilatildeo frente agrave complexidade dos determinantes
da sauacutede e da doenccedila e no reconhecimento da participaccedilatildeo comunitaacuteria e individual
no planejamento organizaccedilatildeo operaccedilatildeo e controle dos cuidados primaacuterios de
sauacutede (SANTOS 2005 apud DANTAS 2010 p 27)
A OMS em 1986 oficializa o termo promoccedilatildeo da sauacutede a partir do que preconizou a
I Conferecircncia Mundial de Promoccedilatildeo da Sauacutede em Ottawa definindo-a como
processo de capacitaccedilatildeo da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de
vida e sauacutede incluindo uma maior participaccedilatildeo no controle deste processo Para
atingir um estado de completo bem-estar fiacutesico mental e social os indiviacuteduos e
grupos devem saber identificar aspiraccedilotildees satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente Assim a promoccedilatildeo da sauacutede natildeo eacute
responsabilidade exclusiva do setor sauacutede e vai para aleacutem de um estilo de vida
saudaacutevel na direccedilatildeo de um bem-estar global (BRASIL 2002 p 19)
Na Carta de Ottawa foram apontados cinco focos de atuaccedilatildeo para expressar o
significado das accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede (Quadro 1)
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede
FOCOS DE ATUACcedilAtildeO DA PROMOCcedilAtildeO DA SAUacuteDE
A construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas
saudaacuteveis - por
compreender que a
promoccedilatildeo da sauacutede
vai aleacutem dos cuidados
de sauacutede e requer a
identificaccedilatildeo e a
remoccedilatildeo de
obstaacuteculos para a
adoccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas saudaacuteveis
nos setores que natildeo
estatildeo diretamente
ligados agrave sauacutede
A criaccedilatildeo de
ambientes favoraacuteveis
agrave sauacutede - considerando que
mudanccedilas nos modos
de vida de trabalho e
de lazer tem um
significativo impacto
sobre a sauacutede e a
proteccedilatildeo do meio
ambiente e a
conservaccedilatildeo dos
recursos naturais
devem fazer parte de
qualquer estrateacutegia de
promoccedilatildeo da sauacutede
Reforccedilo agrave accedilatildeo
comunitaacuteria- cujo
centro deste processo
eacute o incremento do
poder das
comunidades a posse
e o controle dos seus
proacuteprios esforccedilos e
destino
Desenvolvimento de
habilidades pessoais - para que as
populaccedilotildees possam
exercer maior
controle sobre sua
proacutepria sauacutede e sobre
o meio ambiente bem
como fazer opccedilotildees
que conduzam a uma
sauacutede melhor
Reorientaccedilatildeo dos
serviccedilos de sauacutede - Os
serviccedilos de sauacutede
precisam adotar uma
postura abrangente que
perceba e respeite as
peculiaridades culturais
Esta postura deve apoiar
as necessidades
individuais e
comunitaacuterias para uma
vida mais saudaacutevel
abrindo canais entre o
setor sauacutede e os setores
sociais poliacuteticos
econocircmicos e
ambientais na
perspectiva da promoccedilatildeo
da sauacutede
Fonte Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1986)
37
Tambeacutem como importante referecircncia na ampliaccedilatildeo do conceito de sauacutede a Carta de
Ottawa apresenta como preacute-requisitos para a sauacutede a paz habitaccedilatildeo educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo
renda ecossistema estaacutevel recursos sustentaacuteveis justiccedila social e equumlidade (BRASIL 2002 p
19-20)
No entanto criacuteticas diretas ao que aponta a Carta de Ottawa satildeo feitas por Carvalho
(2007 apud DANTAS 2010) ao identificar ambiguidades relativas agrave traduccedilatildeo das estrateacutegias
quanto a se constituiacuterem como propostas e praacuteticas emancipadoras ou conservadoras mesmo
que articule a promoccedilatildeo da sauacutede a elementos ligados potencialmente a uma perspectiva
transformadora como participaccedilatildeo comunitaacuteria educaccedilatildeo em sauacutede e empowerment
Somando agraves criacuteticas de Carvalho Albuquerque e Stotz (2004) consideram que apesar
dos avanccedilos obtidos com a nova abordagem de promoccedilatildeo da sauacutede a educaccedilatildeo em sauacutede
conteacutem elementos de uma praacutetica conservadora e de dominaccedilatildeo de saber
Tradicionalmente a educaccedilatildeo em sauacutede tem sido um instrumento de dominaccedilatildeo de
afirmaccedilatildeo de um saber dominante de responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos pela reduccedilatildeo
dos riscos agrave sauacutede A educaccedilatildeo em sauacutede hegemocircnica natildeo tem construiacutedo sua
integralidade e pouco tem atuado na promoccedilatildeo da sauacutede de forma mais ampla
(ALBUQUERQUE STOTZ 2004 p 260)
E apesar da educaccedilatildeo como ldquocomponente central na promoccedilatildeo da sauacutederdquo o seu
entendimento e a sua implementaccedilatildeo podem ser efetivados segundo visotildees ldquoque vatildeo desde o
campo de uma pedagogia criacutetica onde se destaca a educaccedilatildeo popular ateacute o campo tradicional
que trabalha com uma educaccedilatildeo formal instrucional que desconsidera o saber do outrordquo
(ALBUQUERQUE 2003 apud DANTAS 2010 p 29)
Em uma perspectiva dialoacutegica a praacutetica da educaccedilatildeo em sauacutede tem um importante
papel no processo de construccedilatildeo de novos modos de se implementar as praacuteticas de sauacutede Esta
abordagem permite processos de mediaccedilatildeo entre saberes estabelecendo uma relaccedilatildeo estreita e
de aproximaccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo construindo novos formatos para as relaccedilotildees
entre educadoresas e educandosas incentivando a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
para mudanccedilas de suas condiccedilotildees de vida e sauacutede
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente
O campo de conhecimento referido como ldquoSauacutede Ambientalrdquo ou ldquoSauacutede e Ambienterdquo
se daacute a partir da relaccedilatildeo entre o ambiente e o padratildeo de sauacutede de uma
populaccedilatildeo (TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
38
A constituiccedilatildeo brasileira (1988) denominada Constituiccedilatildeo Cidadatilde garante em seu
artigo 225 o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (BRASIL
2004a) Outros artigos da Constituiccedilatildeo Federal e a lei Orgacircnica do SUS nordm 80801990
apontam ldquoa moradia o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo
o transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo como fatores determinantes e
condicionantes da sauacutede (BRASIL 1990)
Nos anos 1990 a questatildeo ambiental foi sendo institucionalizada como um problema a
ser tratado por poliacuteticas puacuteblicas Entretanto a gestatildeo das questotildees de meio ambiente e sauacutede
por exemplo permaneceu desarticulada Poucos satildeo os princiacutepios e diretrizes da Agenda 21 e
de outras convenccedilotildees internacionais que vem sendo cumpridos
A Sauacutede Ambiental inicialmente esteve relacionada nas Ameacutericas quase que
exclusivamente ao saneamento e qualidade da aacutegua Entretanto no Brasil a Sauacutede Ambiental
incorporou como situaccedilotildees de risco questotildees como saneamento aacutegua para consumo humano
poluiccedilatildeo quiacutemica pobreza equidade condiccedilotildees psicossociais e a necessidade de um
desenvolvimento sustentaacutevel para preservar as geraccedilotildees atuais e futuras (TAMBELLINI
CAcircMARA 2003)
Os estudos em Sauacutede do Trabalhador desenvolvidos no Brasil contribuiacuteram para
explicitar a existecircncia de outras populaccedilotildees expostas aos perigos gerados pela poluiccedilatildeo
proveniente das empresas e natildeo apenas a populaccedilatildeo de trabalhadores A partir do final da
deacutecada de 1970 e durante toda deacutecada de 1980 ficou claro o elo existente entre estas questotildees
e o sistema de sauacutede possibilitando a inclusatildeo de uma Sauacutede Ambiental no setor
As questotildees sauacutede e ambiente comeccedilam a ter visibilidade com a construccedilatildeo de uma
vigilacircncia da sauacutede ambiental a partir do ano 2000 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Cidades em
2003 que provoca o debate sobre saneamento ambiental e se daacute a convocaccedilatildeo da I
Conferecircncia Nacional de Sauacutede e Ambiente Essas iniciativas satildeo o ldquofermentordquo para a
construccedilatildeo de uma poliacutetica integrada de sauacutede ambiental (CAcircMARA NETTO AUGUSTO
2009)
Para a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1990 apud TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
a relaccedilatildeo Sauacutede e Ambiente incorpora todos os elementos e fatores que
potencialmente afetam a sauacutede incluindo entre outros desde a exposiccedilatildeo a fatores
especiacuteficos como substacircncias quiacutemicas elementos bioloacutegicos ou situaccedilotildees que
interferem no estado psiacutequico do indiviacuteduo ateacute aqueles relacionados com aspectos
negativos do desenvolvimento social e econocircmico dos paiacuteses
39
Para o Ministeacuterio da Sauacutede
[] o campo da sauacutede ambiental compreende a aacuterea de sauacutede puacuteblica afeita ao
conhecimento cientiacutefico e agrave formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e agraves correspondentes
intervenccedilotildees (accedilotildees) relacionadas agrave interaccedilatildeo sobre a sauacutede humana e os fatores do
meio ambiente natural e antroacutepico que a determinam condicionam e influenciam
com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da
sustentabilidade (CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE 2007)
Desde entatildeo a aacuterea de Sauacutede Coletiva comeccedilou a considerar a questatildeo ambiental entre
as prioritaacuterias a serem cuidadas junto agrave sauacutede das coletividades
Por outro lado natildeo haacute como esquecer que o fazer sauacutede em sua conceituaccedilatildeo mais
ampla - tal como foi adotado pelo arcabouccedilo juriacutedico-legal que conforma o Sistema Uacutenico de
Sauacutede (SUS) - exige o conhecimento do modo como a comunidade constroacutei suas
representaccedilotildees de mundo e como este aspecto interfere nas praacuteticas de sauacutede Trata-se de se
levar em conta o fato de que as praacuteticas relacionadas agrave sauacutede estatildeo diretamente ligadas ao
cotidiano e agraves relaccedilotildees que as pessoas constroem entre si e com o ambiente que as
cerca (GUERRERO 2007)
Com este enfoque a aacutereas da Educaccedilatildeo em Sauacutede e Ambiente estabelecem uma
estreita relaccedilatildeo e suas praacuteticas tecircm se consolidado nos uacuteltimos anos
No acircmbito do Ministeacuterio da Sauacutede tem sido estruturado pela Funasa no campo das
praacuteticas educativas a aacuterea de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental que se insere no bojo da sauacutede
ambiental e compotildee o Departamento de Sauacutede Ambiental Instituiacuteda haacute quase trecircs anos vem
desenvolvendo trabalhos em comunidades quilombolas indiacutegenas e com populaccedilotildees
assentadas
Tendo passado por um reordenamento em sua estrutura e competecircncias a Funasa em
niacutevel nacional incorporou a partir de 2010 dentre outras finalidades a de ldquoformular e
implementar accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo agrave sauacutede relacionadas com as accedilotildees estabelecidas
pelo Subsistema Nacional de Vigilacircncia em Sauacutede Ambientalrdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2010) Tal competecircncia criou a necessidade de um Departamento de Sauacutede
Ambiental que abriga a aacuterea teacutecnica denominada Educaccedilatildeo em sauacutede ambiental estruturada
com equipes multiprofissionais em todas as unidades da federaccedilatildeo
A Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013a) reconhece a Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
como
uma aacuterea de conhecimento teacutecnico que contribui efetivamente na formaccedilatildeo e o
desenvolvimento da consciecircncia criacutetica do cidadatildeo estimulando a participaccedilatildeo o
controle social e sustentabilidade socioambiental utilizando entre outras estrateacutegias
a mobilizaccedilatildeo social a comunicaccedilatildeo educativainformativa e a formaccedilatildeo
permanente
40
E a define como
um conjunto de praacuteticas pedagoacutegicas e sociais de conteuacutedo teacutecnico poliacutetico e
cientiacutefico que no acircmbito das praacuteticas de atenccedilatildeo agrave sauacutede deve ser vivenciada e
compartilhada por gestores teacutecnicos trabalhadores setores organizados da
populaccedilatildeo e usuaacuterios do SUS Baseia-se entre outros princiacutepios no diaacutelogo
reflexatildeo respeito agrave cultura compartilhamento de saberes accedilatildeo participativa
planejamento e decisatildeo local participaccedilatildeo controle social sustentabilidade
socioambiental mobilizaccedilatildeo social e inclusatildeo social (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2013a)
Em 2012 a instituiccedilatildeo realizou em outubro o I Encontro Nacional de Educaccedilatildeo em
Sauacutede Ambiental cujo objetivo foi nivelar a formaccedilatildeo sobre o tema na Fundaccedilatildeo e
estabelecer diretrizes de atuaccedilatildeo da aacuterea para 2013 Os temas abordados foram
Fundamentaccedilotildees Teoacutericas e Metodoloacutegicas de Sauacutede Ambiental Praacuteticas Setoriais na aacuterea de
Educaccedilatildeo em Sauacutede e Promoccedilatildeo da Sauacutede no cenaacuterio atual (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE
SAUacuteDE 2012b)
A temaacutetica educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente eacute uma aacuterea que transita pelos
conhecimentos da sauacutede ambiental educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo ambiental e temas afins
334 Educaccedilatildeo ambiental
Realizar atividades de educaccedilatildeo ambiental requer conhecer as concepccedilotildees das pessoas
envolvidas sobre meio ambiente afirma Reigotta (1991)
O autor apresenta trecircs categorias para explicar concepccedilotildees sobre meio ambiente A
categoria Antropocecircntrica cujas caracteriacutesticas evidenciam a utilidade de recursos naturais
para a sobrevivecircncia do ser humano a categoria Naturalista que considera o meio ambiente
como sinocircnimo de natureza intocada evidenciando-se apenas os aspectos naturais e a
categoria Globalizante onde haacute relaccedilotildees reciacuteprocas entre natureza e sociedade (REIGOTTA
1991)
A Educaccedilatildeo Ambiental (EA) passa a ser vista como um novo campo de atividade e do
saber no final do seacuteculo XX Com o propoacutesito de reconstruir a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo
sociedade e meio ambiente visava formular respostas teoacutericas e praacuteticas aos desafios
colocados por uma crise socioambiental global (LIMA G 2004)
Entender o que trata a Educaccedilatildeo Ambiental eacute importante para que se possa
compreender tanto as inter-relaccedilotildees entre o homem e o ambiente como tambeacutem suas
expectativas satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamento e condutas (BEZERRA 2007)
41
As abordagens e perspectivas da Educaccedilatildeo Ambiental (EA) tecircm acompanhado o
conceito histoacuterico do termo ldquodesenvolvimentordquo e ldquomeio ambienterdquo (SANTOS J 2000)
Passando da compreensatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental associada agrave preservaccedilatildeo de
sistemas vivos para a concepccedilatildeo restrita de conservaccedilatildeo da biodiversidade novos conceitos
foram incorporados assim como vaacuterias instituiccedilotildees ambientais inseriram a Educaccedilatildeo
Ambiental com uma concepccedilatildeo mais ampla dando destaque ao ser humano como principal
protagonista na manutenccedilatildeo do planeta (GAYFORD DORION 1994 SATO 1994
CONFEREcircNCIA DE ESTOCOLMO 1970 apud SANTOS J 2000)
No campo da legislaccedilatildeo uma das referecircncias sobre Educaccedilatildeo Ambiental eacute o que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Ambiental - PNEA (Lei no 9795 de 27 de abril de
1999) ao entender por
educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade
constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias
voltadas para a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo
essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidadrsquo (Art 1o) Afirma tambeacutem
em seu Art 2deg que lsquoA educaccedilatildeo ambiental eacute um componente essencial e
permanente da educaccedilatildeo nacional devendo estar presente de forma articulada em
todos os niacuteveis e modalidades do processo educativo em caraacuteter formal e natildeo-
formal (BRASIL 1999)
Ao referir-se agrave Educaccedilatildeo Ambiental natildeo-formal em seu art 13 a poliacutetica diz ser
entendida como as accedilotildees e praacuteticas educativas voltadas agrave sensibilizaccedilatildeo da coletividade sobre
as questotildees ambientais e agrave sua organizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na defesa da qualidade do
ambiente (BRASIL 1999)
Ainda no campo legal o Brasil possui desde 1981 uma Poliacutetica Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6938 de 31081981) que tem como um dos princiacutepios ldquoa educaccedilatildeo ambiental
a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para
participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981)
Proposta no Brasil em 1999 a Educaccedilatildeo Ambiental apresentava o objetivo de
disseminar o conhecimento sobre o ambiente e como funccedilatildeo principal contribuir para uma
atitude da sociedade mais consciente em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e seu uso
sustentaacutevel
A compreensatildeo sobre sustentabilidade formulada nas deacutecadas de 70 e 80 teve uma
definiccedilatildeo na Conferecircncia para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ocorrida em 1992 no
Rio de Janeiro conhecida como Rio 92 cujo conceito refere-se agrave qualidade de vida integrada
nos ecossistemas na qual se incluem as comunidades Sustentabilidade eacute tambeacutem um
42
equiliacutebrio de caraacuteter eacutetico econocircmico social cultural ambiental na produccedilatildeo e reproduccedilatildeo
social e inclui a democracia a pluralidade e reproduccedilatildeo social
A ideia central dessas Poliacuteticas eacute de harmonizaccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico
com a preservaccedilatildeo ambiental e a qualidade de vida Entretanto apesar de consideradas
avanccediladas e coerentes com as demandas contemporacircneas observa-se que haacute uma distacircncia
quanto ao cumprimento dessas legislaccedilotildees bem como a ecircnfase numa sustentabilidade
orientada pelo mercado e numa educaccedilatildeo ambiental convencional ou conservadora Uma
concepccedilatildeo educativa tradicional com foco na transmissatildeo de conhecimentos e informaccedilotildees
foi denominada por Paulo Freire (1974) como educaccedilatildeo bancaacuteria Sua ecircnfase eacute na mudanccedila
comportamental dos indiviacuteduos sem transformaccedilatildeo da realidade nem das causas que
acarretam problemas socioambientais
A Educaccedilatildeo Ambiental conservadora busca a partir dos mesmos referenciais
constitutivos da crise encontrar sua soluccedilatildeo sem transformaccedilatildeo da realidade servindo
inclusive como mecanismo de reproduccedilatildeo dos interesses dominantes da loacutegica do capital
Para aleacutem das caracteriacutesticas de uma Educaccedilatildeo Ambiental formal natildeo formal ou
informal haacute denominaccedilotildees e compreensotildees diversas como educaccedilatildeo ambiental criacutetica
emancipatoacuteria ou transformadora e ecopedagogia entre outras cujas concepccedilotildees
fundamentam praacuteticas e reflexotildees pedagoacutegicas relacionadas agrave questatildeo ambiental Essas e
outras nomenclaturas estatildeo inseridas na necessidade de ressignificar os sentidos identitaacuterios e
fundamentais dos diferentes posicionamentos poliacuteticos pedagoacutegicos das praacuteticas de EA
(LAYRARGUES 2004)
Guimaratildees (2004 p 27) aponta para uma Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica definida natildeo
como uma evoluccedilatildeo conceitual agrave chamada Educaccedilatildeo Ambiental Conservadora mas como
uma contraposiccedilatildeo ao referencial teoacuterico que compreende e explica o mundo de forma
fragmentada simplificando e reduzindo a realidade com perda da riqueza e diversidade da
relaccedilatildeo
A Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica eacute vista por Guimaratildees (2004) como uma re-
significaccedilatildeo da EA pela necessidade de diferenciar uma accedilatildeo educativa que seja capaz de
contribuir com a transformaccedilatildeo de uma realidade que historicamente se coloca em uma
grave crise socioambiental Para o autor essa abordagem pretende subsidiar uma percepccedilatildeo
de mundo mais complexa e instrumentalizada para uma intervenccedilatildeo que contribua no
processo de transformaccedilatildeo da realidade socioambiental que eacute complexa Aproximando-se do
pensamento de Edgar Morin Guimaratildees traz para EA Criacutetica suas relaccedilotildees dialoacutegicas da
43
parte e do todo da ordem da desordem e da organizaccedilatildeo na complexidade Uma compreensatildeo
de que o conhecimento deve comportar tanto a diversidade quanto a multiplicidade
Inclui tambeacutem como referecircncia para sua produccedilatildeo teoacuterica a compreensatildeo de Milton
Santos para olhar o espaccedilo socioambiental como reflexo da dialeacutetica constitutiva do real o
processo de totalizaccedilatildeo na interaccedilatildeo entre local e global entre a luta de classes entre
desenvolvimento e subdesenvolvimento (GUIMARAtildeES 2004)
Para o fazer pedagoacutegico Paulo Freire apresenta as possibilidades de uma leitura
problematizadora e contextualizadora do real que tambeacutem vai fundamentar a Educaccedilatildeo
Ambiental Criacutetica
A Educaccedilatildeo Ambiental Emancipatoacuteria parte de uma reflexatildeo feita por Lima (2004)
sobre a Educaccedilatildeo Ambiental Convencional ao identificar alguns problemas poliacuteticos
pedagoacutegicos e epistemoloacutegicos nas propostas de Educaccedilatildeo Ambiental implementadas
Duas foram as motivaccedilotildees que levaram o autor agraves criacuteticas e consideraccedilotildees sobre a
Educaccedilatildeo Ambiental convencional Uma primeira quando identifica como problema o campo
da Educaccedilatildeo Ambiental convencional ser visto de forma homogecircnea e consensual apesar de
plural e diverso fundamentada em valores interesses e objetivos tambeacutem diversos A segunda
motivaccedilatildeo que aponta para um conjunto de reducionismos que natildeo considera a vasta
complexidade da questatildeo ambiental convertendo-a agrave singularidade de uma de suas
dimensotildees Ele refere-se por exemplo
as abordagens ecologicistas abordagens tecnicistas abordagens que destacavam os
efeitos mais aparentes dos problemas ambientais e desprezavam suas causas mais
profundas abordagens individualistas e comportamentalistas e agraves que convergiam
toda ecircnfase da praacutetica educativa sobre os problemas relacionados ao consumo
deixando de lado os problemas ligados agrave esfera da produccedilatildeo (LIMA G 2004
p 87)
Segundo Lima (2004) em termos teoacutericos e conceituais a EA Emancipatoacuteria procura
enfatizar e associar as noccedilotildees de mudanccedila social e cultural de emancipaccedilatildeolibertaccedilatildeo
individual e social e de integraccedilatildeo no sentido de complexidade
A Ecopedagogia outra abordagem que nos chama a atenccedilatildeo eacute apresentada por Avanzi
(2004) como movida pelo mesmo propoacutesito da Educaccedilatildeo Ambiental - cuidar da qualidade de
vida do planeta- poreacutem com aspectos que se contrapotildeem e se complementam A perspectiva
aqui apresentada de forma sucinta tem a intenccedilatildeo de compreender a relaccedilatildeo da Ecopedagogia
com a Educaccedilatildeo Ambiental
Como primeiros esboccedilos a autora traz uma compreensatildeo sobre Educaccedilatildeo Sociedade e
Natureza sob o prisma da Ecopedagogia
44
Quanto agrave Educaccedilatildeo a compreensatildeo se constroacutei dentro de uma concepccedilatildeo freireana
cuja reflexatildeo sobre a realidade traz a possibilidade de encontrar seus elementos opressores
Na perspectiva freireana ldquoEducaccedilatildeo eacute essencialmente um ato poliacutetico que visa
possibilitar aoagrave educandoa a compreensatildeo de seu papel no mundo e de sua inserccedilatildeo na
histoacuteriardquo (FREIRE 1987 ANTUNES 2002 apud AVANZI 2004 p 37)
Essa abordagem privilegia estabelecer um processo dialoacutegico baseado em temas
relacionados ao contexto doa educandoa e sua compreensatildeo preliminar dos mesmos com o
intuito tanto de ampliar aquela compreensatildeo inicial como de intervir na realidade (AVANZI
2004)
A Ecopedagogia entatildeo em sua compreensatildeo sobre educaccedilatildeo pretende
[] desenvolver um novo olhar para a educaccedilatildeo um olhar global uma nova
maneira de ser e estar no mundo um jeito de pensar a partir da vida cotidiana que
busca sentido em cada momento em cada ato que pensa a praacutetica (Paulo Freire) em
cada instante de nossas vidas evitando a burocratizaccedilatildeo do olhar e do
pensamento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 37)
Quanto agrave sociedade esta eacute vista historicamente em que os fatos satildeo tidos como
elementos estruturais de um todo dialeacutetico mutaacutevel e que natildeo pode ser apreendido de uma soacute
vez (AVANZI 2004)
A Ecopedagogia ao tecer criacuteticas agrave hegemonia neoliberal constroacutei o debate em torno
da sustentabilidade acreditando na incompatibilidade que haacute entre o princiacutepio do lucro
proacuteprio do modelo de desenvolvimento capitalista e a sustentabilidade considerada em suas
dimensotildees social poliacutetica econocircmica cultural e ambiental (GADOTTI 2000 apud
AVANZI 2004)
Quanto agrave natureza o pensamento que fundamenta a Ecopedagogia tem como
referecircncia a nova fiacutesica o holismo especialmente em Fritjof Capra e Leonardo Boff
Alimenta-se tambeacutem das propostas de povos indiacutegenas latino-americanos O que haacute em
comum nestas vertentes satildeo a concepccedilatildeo de universo como rede de relaccedilotildees intrinsecamente
dinacircmicas e a revalorizaccedilatildeo da consciecircncia como aspecto-chave das relaccedilotildees entre natureza e
a sociedade O propoacutesito maior eacute a harmonia ambiental que ldquosupotildee toleracircncia respeito
igualdade social cultural de gecircnero e aceitaccedilatildeo da biodiversidaderdquo (GUTIEacuteRREZ PRADO
2000 apud AVANZI 2004 p 39)
A Educaccedilatildeo Ambiental sob a oacutetica da Ecopedagogia eacute uma mudanccedila de
entendimento em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida atrelada agrave busca da construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo
saudaacutevel e equilibrada com o contexto com o outro e com o ambiente
45
As concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental aqui apresentadas sucintamente - EA criacutetica
EA Emancipatoacuteria e a Ecopedagogia enriquecem a olhar para uma Educaccedilatildeo Ambiental que
em uacuteltima instacircncia pretende contribuir para uma mudanccedila social com melhor qualidade de
vida para o ambiente
46
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO
41 DESENHO DO ESTUDO
Identificar situaccedilotildees de vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco em populaccedilotildees e territoacuterios quilombolas de Pernambuco
particularmente nas comunidades de Salgueiro parece ser um campo aberto incipiente sendo
necessaacuterio um olhar particularizado possiacutevel por meio de um estudo de caso
Para Ponte (2006 p 2) estudo de caso eacute tido como
uma investigaccedilatildeo que se assume como particulariacutestica isto eacute que se debruccedila
deliberadamente sobre uma situaccedilatildeo especiacutefica que se supotildee ser uacutenica ou especial
pelo menos em certos aspectos procurando descobrir o que haacute nela de mais
essencial e caracteriacutestico e desse modo contribuir para a compreensatildeo global de um
certo fenocircmeno de interesse
Minayo (2007 p 164) complementa a compreensatildeo do que eacute estudo de caso
afirmando que
os estudos de caso utilizam estrateacutegias de investigaccedilatildeo qualitativa para mapear
descrever e analisar o contexto as relaccedilotildees e as percepccedilotildees a respeito da situaccedilatildeo
fenocircmeno ou episoacutedio em questatildeo E satildeo uacuteteis para gerar conhecimento sobre
caracteriacutesticas significativas de eventos vivenciados tais como intervenccedilotildees e
processos de mudanccedila
Nesta dissertaccedilatildeo desenvolvemos um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa As dimensotildees natildeo quantificaacuteveis e que se referem a visotildees de mundo valores e
percepccedilotildees foram obtidas com as narrativas dos sujeitos das aacutereas do estudo - populaccedilatildeo
quilombola gestores e teacutecnicos As dimensotildees quantificaacuteveis ou dados secundaacuterios
adquiridos com aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e levantamento documental complementaram a
abordagem
O conhecimento e percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco o
significado do rio Satildeo Francisco os aspectos e situaccedilatildeo da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a
caracterizaccedilatildeo das trecircs comunidades quilombolas do estudo e a inserccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo em suas aacutereas as situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo provocadas pelo projeto e as accedilotildees de
caraacuteter compensatoacuterio e de mitigaccedilatildeo desenvolvidas pelos Programas Baacutesicos Ambientais
constituem o leque dos conteuacutedos dissertados neste estudo
A partir das proposiccedilotildees dos Programas Baacutesicos de Educaccedilatildeo Ambiental (PBA 04) e
Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (PBA 17) e sua interface com o Programa
47
de Controle de Sauacutede Puacuteblica (PBA 21) o estudo traz consideraccedilotildees sobre o quecirc e como
foram implementados estes PBArsquos qual ou quais concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental e de
Educaccedilatildeo em Sauacutede fundamentaram as propostas sempre enriquecida com a percepccedilatildeo dos
sujeitos do estudo
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA
A abordagem qualitativa permitiu avaliar a dinacircmica interna do processo e identificar
o sistema de valores crenccedilas representaccedilotildees haacutebitos atitudes e opiniotildees com a possibilidade
de incorporar o significado e a intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves
estruturas sociais Essa abordagem foi trabalhada com dados primaacuterios e dados secundaacuterios
Os dados primaacuterios foram obtidos com a realizaccedilatildeo de entrevistas e grupos focais e os dados
secundaacuterios foram por anaacutelise documental
Mesmo havendo vaacuterios modelos de estudo para abordagens qualitativas Deslandes e
Assis (2004 p 4) ressaltam os pontos comuns deste enfoque
Apesar da diversidade entre as abordagens qualitativas existe o propoacutesito comum
em analisar o significado pelos sujeitos aos fatos relaccedilotildees e
praacuteticas isto eacute avaliando tanto as interpretaccedilotildees quanto a praacutetica dos
sujeitos
A abordagem quantitativa foi realizada com a anaacutelise de dados secundaacuterios colhidos
do questionaacuterio Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas (CAP) aplicado em 2010 pela Funasa-
SuestPE com representantes de famiacutelias quilombolas contempladas com as obras de
substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO
O estudo eacute voltado ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco no estado de
Pernambuco oficialmente denominado ldquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com
Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional - O PISFrdquo que nos uacuteltimos anos tem sido
palco de grandes investimentos pelo governo federal com recursos do PAC
O Projeto de transposiccedilatildeo executado pelo MI afeta dentre outras populaccedilotildees
comunidades indiacutegenas e quilombolas em nosso estado
Nosso estudo lanccedila um olhar sobre populaccedilotildees do sertatildeo pernambucano que vivem e
lutam para conviver e sobreviver nas regiotildees da seca e caatinga Um olhar particularizado
48
para comunidades remanescentes de quilombos situadas na aacuterea de abrangecircncia do Projeto da
Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco cujas accedilotildees afetam direta e indiretamente suas condiccedilotildees
de vida e do territoacuterio com impactos ainda natildeo mensuraacuteveis nos aspectos culturais sociais de
sauacutede ambientais poliacuteticos e econocircmicos
Na aacuterea de abrangecircncia do projeto da transposiccedilatildeo haacute quinze municiacutepios com
presenccedila de comunidades quilombolas Destes 11 municiacutepios satildeo em Pernambuco com 55
comunidades quilombolas dois municiacutepios satildeo na Paraiacuteba com trecircs comunidades
quilombolas e dois no Rio Grande do Norte com duas comunidades quilombolas o que
representa 60 comunidades quilombolas vivendo em aacuterea diretamente afetada (ADA) pelo
projeto As bacias hidrograacuteficas sob influecircncia do projeto da transposiccedilatildeo em Pernambuco satildeo
dos rios Moxotoacute Terra Nova e Briacutegida
No estado essa temaacutetica tem um destaque pela histoacuteria de resistecircncia agrave escravidatildeo na
formaccedilatildeo de quilombos O histoacuterico quilombo de Palmares foi formado em uma regiatildeo
situada na entatildeo Capitania de Pernambuco entre o final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo
XVII atualmente situando-se no estado de Alagoas Posteriormente jaacute no seacuteculo XIX a
proviacutencia de Pernambuco foi palco da formaccedilatildeo do quilombo de Catucaacute dessa vez em regiatildeo
localizada na Zona da Mata proacutexima agrave capital (COMISSAtildeO PROacute-IacuteNDIO DE SAtildeO PAULO
2013)
O estudo foi realizado no municiacutepio de Salgueiro localizado na bacia do Rio Terra
Nova Sertatildeo Central Pernambucano e distante 518 km de Recife O municiacutepio eacute a cidade de
maior realce dentre os oito que compotildeem a chamada Regiatildeo de Desenvolvimento do Sertatildeo
Central estando nas chamadas Aacutereas Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Salgueiro eacute dividido por
cinco distritos Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas Umatildes Pau Ferro e Vasques Os dados
populacionais apresentam Salgueiro com aproximadamente 56641 habitantes dos quais
10923 satildeo residentes na zona rural o que representa quase 20 de toda populaccedilatildeo Dentre o
total de habitantes da zona rural 5607 satildeo homens e 5219 satildeo mulheres (IBGE 2010)
O municiacutepio estaacute em regiatildeo de clima Semi-aacuterido-quente com temperatura meacutedia anual
de 25ordm C e precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica de 450 a 600 miliacutemetros por ano com chuvas
concentradas nos meses de dezembro a marccedilo Salgueiro limita-se ao norte com a cidade de
Penaforte no Cearaacute ao sul com o municiacutepio de Beleacutem de Satildeo Francisco agrave leste com os
municiacutepios de Verdejante Mirandiba e Carnaubeira da Penha e ao Oeste com Cabroboacute Terra
Nova Serrita e Cedro todos em Pernambuco (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013)
49
Seu potencial econocircmico desponta com predomiacutenio na agricultura e comeacutercio
varejista tendo como principais produtos agriacutecolas a cebola o tomate o algodatildeo herbaacuteceo o
milho a banana o feijatildeo o arroz e a manga A economia da mesorregiatildeo estaacute voltada para a
agricultura de subexistecircncia e a agropecuaacuteria extensiva onde se destaca a caprinocultura e a
avicultura (SALGUEIRO 2013)
Quanto a representaccedilotildees governamentais e equipamentos urbanos Salgueiro concentra
a grande maioria destes equipamentos em relaccedilatildeo aos municiacutepios da regiatildeo Haacute em sua sede
um aeroacutedromo um campus da Universidade de PernambucoUPE representado pela
Faculdade de Ciecircncia e Tecnologia de SalgueiroFacites um campus do Instituto
Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sertatildeo Pernambucano a Faculdade
de Ciecircncias Humanas do Sertatildeo Central Fachusc uma Unidade Teacutecnica do
Prorural O Hospital Regional Inaacutecio de Saacute uma Agecircncia de trabalho a Sede da
Gerecircncia Regional de EducaccedilatildeoGRE do Sertatildeo Central a sede da VII Gerecircncia
Regional de SauacutedeGeres uma unidade da Aacuterea Integrada de Seguranccedila (AIS)
agecircncias bancaacuterias a sede do Escritoacuterio Regional do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional onde funciona a sede do PISF dentre outras (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013 p 110)
44 SUJEITOS DO ESTUDO
Dentre os habitantes da zona rural de Salgueiro estatildeo os moradores de trecircs
comunidades remanescentes de quilombos populaccedilatildeo de interesse deste estudo inseridos na
Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do Projeto de transposiccedilatildeo
A populaccedilatildeo quilombola residente em Salgueiro tem em torno de 906 famiacutelias
distribuiacutedas nas comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas (800 famiacutelias) Santana (64 famiacutelias)
e Tamboril Contendas (42 famiacutelias)
Aleacutem da populaccedilatildeo quilombola satildeo sujeitos da pesquisa trabalhadores do Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo (coordenadores e teacutecnicos dos programas) gestores e teacutecnicos municipais da
sauacutede educaccedilatildeo ambiente desenvolvimento rural e da Funasa em Pernambuco que
participaram do estudo nos momentos das entrevistas e grupos focais
A amostra foi do tipo intencional na qual os sujeitos foram selecionados
considerando sua relaccedilatildeo de vivecircncia ou experiecircncia profissional com o Projeto da
Transposiccedilatildeo
50
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E PERIacuteODO DE
ESTUDO
Para esse estudo de caso foi feita uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas diversas de pesquisa na
tentativa de abranger a complexidade do objeto de estudo conforme indica Minayo (2007)
Foi feito uma triangulaccedilatildeo metodoloacutegica com os procedimentos de anaacutelise
documental entrevistas e grupos focais
A coleta de dados secundaacuterios para contextualizaccedilatildeo do problema consistiu na
consulta e anaacutelise de documentos escritos oficiais e cientiacuteficos pertinentes ao tema de
interesse e a sistematizaccedilatildeo descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de dados de questionaacuterios aplicados nas
trecircs comunidades
O periacuteodo do estudo foi de 2008 agrave 2013 a partir da vigecircncia do Projeto da
transposiccedilatildeo quando houve licenccedila de instalaccedilatildeo emitida pelo IBAMA (LI nordm 4382007) e
efetivaccedilatildeo da parceria Funasa - MI em 2008
451 Entrevista
Entrevista eacute o encontro entre duas pessoas para a coleta de dados por meio de uma
conversaccedilatildeo profissional (MARCONI LAKATOS 2006) Para Kvale (1996) entrevistar eacute
uma atividade que estaacute mais proacutexima da arte do que dos meacutetodos sociais padronizados
Neste estudo a entrevista foi semi-estruturada com perguntas abertas onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questatildeo sem se prender agrave
indagaccedilatildeo formulada (MINAYO 2010)
Realizamos entrevistas individuais com gestores teacutecnicos e lideranccedilas das aacutereas
quilombolas afetadas pelo projeto da transposiccedilatildeo O roteiro das entrevistas explorou a
compreensatildeo e percepccedilatildeo geral dos sujeitos sobre o Projeto e os impactos provocados sobre a
situaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas sobre as accedilotildees educativas e obras
desenvolvidas pelos programas ambientais sobre o entendimento quanto agrave educaccedilatildeo em
sauacutede educaccedilatildeo ambiental e sauacutede ambiental e a relaccedilatildeo entre os temas sobre o significado
do Rio Satildeo Francisco (Apecircndices A e B)
51
Para anaacutelise do discurso as entrevistas foram organizadas em dois grupos distintos
a) Grupo 1 rarr entrevistas feitas com gestores e teacutecnicos do niacutevel municipal da
FUNASA Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e da CMT Engenharia (empresa
contratada pelo MI para desenvolver os Programas Baacutesicos Ambientais)
b) Grupo 2 rarr entrevistas feitas com as lideranccedilas quilombolas das trecircs comunidades
do estudo
As narrativas mencionadas na dissertaccedilatildeo estatildeo identificadas da seguinte forma
a) Gestoresas (1 agrave 10) como Gestora 1 Gestora 2 e assim sucessivamente
b) Teacutecnicosas (1 agrave 3) como Teacutecnicoa 1 Teacutecnicoa 2 Teacutecnicoa 3
c) Lideranccedilas (1 agrave 3) como Lideranccedila 1 Lideranccedila 2 Lideranccedila 3
Foram realizadas 16 entrevistas sendo sete com gestores das Secretarias Municipais
de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Desenvolvimento Urbano e Obras seis com
gestores e teacutecnicos da Funasa-SuestPE (02) do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e da CMT
Engenharia (04) e trecircs com lideranccedilas quilombolas nos meses de julho agosto e setembro de
2013 em Salgueiro e Recife (Quadro 2)
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013
ENTREVISTAS REALIZADAS Gestores da P MS - 07
(Grupo1)
Gestor e teacutecnicos do MI
e CMT - 04 (Grupo1)
Gestor e teacutecnico da
Funasa - 02 (Grupo1)
03 Lideranccedilas quilombolas
(Grupo 2)
Coordenaccedilatildeo do PSF de
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Direccedilatildeo da Vigilacircncia em Sauacutede
Direccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica (Ex-
Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo)
Coordenaccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo
Secretaria de Desenvolvimento
Urbano e Obras
Secretaria de Desenvolvimento
Rural1
02 Gestor (MI e
CMT)
02 Teacutecnicos da CMT
Gestor da Sauacutede
Ambiental da Funasa
Teacutecnico da Diesp
Lideranccedila na Comunidade
de Contendas Tamboril e do
Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Salgueiro
Lideranccedila da Comunida-de
de Santana2
Lideranccedila da C de
Conceiccedilatildeo das Crioulas3
Fonte A autora 2013
Nota 1 Lideranccedila na Comunidade de Santana 2 Agente de Sauacutede ambiental da S Sauacutede
3 Diretor de Fomento
de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Desenvolvimento Rural
52
452 Grupo focal
Grupos focais satildeo grupos de discussatildeo que dialogam sobre um tema em particular ao
receberem estiacutemulos apropriados para o debate constituindo-se em uma teacutecnica amplamente
utilizada por se ter contato com a populaccedilatildeo que se quer investigar sendo uma
complementaccedilatildeo de um estudo qualitativo Desenvolvem-se mediante um guia de perguntas
que vatildeo do geral ao especiacutefico sendo coordenado por um moderador que estimula a
participaccedilatildeo desde o coletivo ao individual
Foram convidados a participar dos grupos focais lideranccedilas professores e moradores
das comunidades quilombolas Os grupos focais foram identificados no estudo a partir da
anaacutelise do discurso de Kvale como Grupo Focal 1 Grupo Focal 2 e Grupo Focal 3
Os grupos focais tiveram representaccedilotildees de cada segmento que de forma voluntaacuteria
foram convidados pelas lideranccedilas a reunir-se num mesmo momento em local dia e horaacuterio
definido pela comunidade
Ao todo participaram dos grupos focais 45 moradores das trecircs comunidades
quilombolas O Grupo Focal 1 - ocorrido em Conceiccedilatildeo das Crioulas - na tarde do dia 28 de
setembro de 2013 na sede da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) na
Vila Sede contou com 14 moradores o Grupo Focal 2 aconteceu no territoacuterio de
ContendasTamboril na manhatilde do dia 29 de setembro de 2013 na casa de uma moradora ao
lado da sede da associaccedilatildeo de moradores e contou com a presenccedila de 15 moradores e o
Grupo Focal 3 que foi realizado em Santana na tarde do dia 29 de setembro de 2013 na sede
da escola local - Siacutetio Recanto - e contou com a presenccedila de 16 moradores
Os grupos focais com a populaccedilatildeo quilombola abordaram os seguintes temas
percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo e os impactos mais significativos de vulneraccedilatildeo
socioambiental para as comunidades e territoacuterio o significado do rio Satildeo Francisco para a
comunidade e regiatildeo o conhecimento sobre o que foi realizado no acircmbito das accedilotildees de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental a partir da sondagem de dois programas baacutesicos
ambientais e o processo de construccedilatildeo de casas realizadas pela Funasa (importacircncia da
demanda envolvimento da comunidade se houve conflitos e como vem sendo enfrentados
adequaccedilatildeo das casas agraves necessidades de moradia local) - (Apecircndice C)
53
453 Dados secundaacuterios
4531 Levantamento documental
Os dados secundaacuterios foram obtidos atraveacutes de levantamento documental cujo
objetivo foi resgatar as principais informaccedilotildees referentes ao Projeto da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e as comunidades quilombolas em Pernambuco Documentos das esferas
governamentais e natildeo governamentais que tratem de poliacuteticas planos programas e projetos
onde aparecem questotildees da vulnerabilidade socioambiental implementaccedilatildeo e impactos do
Projeto da transposiccedilatildeo em aacutereas quilombolas situaccedilatildeo territorial os programas baacutesicos
ambientais e suas atividades educativas foram catalogadas para anaacutelise de conteuacutedo
As informaccedilotildees foram obtidas de acordo com Marconi e Lakatos (2006) de escritos
secundaacuterios transcritos de fontes primaacuterias contemporacircneas Documentos oficiais desde
relatoacuterios planos legislaccedilotildees publicaccedilotildees e materiais didaacuteticos sobre o Projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pertinentes aos temas da educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo
ambiental impactos e demais conteuacutedos pertinentes agraves comunidades quilombolas foram
objeto de consulta para anaacutelise de conteuacutedo
Foram analisados diversos documentos relacionados ao Projeto da transposiccedilatildeo e aos
povos quilombolas Documentos oficiais de instituiccedilotildees governamentais como Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional SEPPIR FUNAI Funasa Fundaccedilatildeo Cultural Palmares Programa Brasil
Quilombola Incra legislaccedilotildees diversas e de entidades natildeo governamentais como Centro de
Cultura Luiz Freire ASA ACQEP dentre outras
Foi tomado como referecircncia o modelo de Laurence Bardin cuja funccedilatildeo primordial eacute o
desvendar criacutetico Para Bardin (2011) a anaacutelise de conteuacutedo ldquoeacute um conjunto de instrumentos
de cunho metodoloacutegico em constante aperfeiccediloamento que se aplicam a discursos (conteuacutedos
e continentes) extremamente diversificadosrdquo
Caracteriacutesticas como autenticidade credibilidade representatividade e significaccedilatildeo
(clareza) satildeo alguns dos atributos que conferem qualidade aos documentos como afirma
Flick (2009)
A avaliaccedilatildeo de dois Programas Baacutesicos Ambientais enquanto documentos oficiais foi
incluiacuteda no conjunto da anaacutelise documental Para avaliaccedilatildeo destes PBArsquos foi adotado o
meacutetodo de avaliaccedilatildeo centrado na anaacutelise criacutetica dos objetivos traccedilados por cada Programa
Esta abordagem se distingue pelo fato de que os propoacutesitos de uma atividade satildeo
especificados e a avaliaccedilatildeo concentra-se na medida em que esses propoacutesitos foram
54
alcanccedilados possibilitando mecanismos para determinar a realizaccedilatildeo das metas (WORTHEN
SANDERS FITZPATRICK 2004)
Para estes autores avaliaccedilatildeo eacute identificaccedilatildeo esclarecimento e aplicaccedilatildeo de criteacuterios
defensaacuteveis para determinar o valor (valor ou meacuterito) a qualidade a utilidade a eficaacutecia ou a
importacircncia do objeto avaliado em relaccedilatildeo a esses criteacuterios que precisa ser realizada a partir
de questotildees (WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004)
Foram avaliadas informaccedilotildees sobre Contexto Estrutura Processo e produto
A base documental nos possibilitou retratar as comunidades quilombolas do estudo
sem a pretensatildeo de esgotar toda a riqueza e diversidade das mesmas enriquecendo nossa
caracterizaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos sujeitos entrevistados e presentes nos grupos focais tendo
como ldquopano de fundordquo as marcas atuais com o projeto da transposiccedilatildeo
4532 Dados de questionaacuterio - CAP7
A abordagem quantitativa se deu por meio da utilizaccedilatildeo de variaacuteveis dos dados
secundaacuterios obtidos com a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio CAP instrumento adaptado a partir do
modelo desenvolvido por Lawrence Green y Marshall Kreuter (GREN KREUTER 1991)
O referido questionaacuterio denominado originalmente de CAHP (conhecimentos
atitudes habilidades e praacuteticas da popoulaccedilatildeo-alvo) eacute uma das ferramentas do modelo de
planejamento PRECEDE-PROCEDE proposta pelos autores e que foi aplicado em vaacuterias
partes do mundo para o desenvolvimento de programas educativos a partir dos anos de 1970
Esse modelo consiste aleacutem da fase diagnoacutestica de quatro fases de planejamento sendo uma
fase de implementaccedilatildeo e trecircs fases de avaliaccedilatildeo contida na etapa PROCEDE pensada em
reconhecimento agrave expansatildeo da educaccedilatildeo em sauacutede incluiacutedo a partir de 1991
O questionaacuterio CAP compotildee a fase PRECEDE por tratar-se de vaacuterias etapas
diagnoacutesticas sejam de caraacuteter social epidemioloacutegico ambiental educacional ecoloacutegico
poliacutetico e administrativo
A proposta do questionaacuterio foi apresentada agrave Equipe teacutecnica de Educaccedilatildeo em Sauacutede da
Funasa-Suest-PE em 2008 como ferramenta para anaacutelise diagnoacutestica junto agraves comunidades
onde haveria intervenccedilatildeo institucional pelo projeto da transposiccedilatildeo O questionaacuterio foi
aplicado em aacutereas com populaccedilotildees quilombolas e indiacutegenas com representantes das famiacutelias
7 Questionaacuterio CAP ndash Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da Comunidade instrumento aplicado com 287
moradores de comunidades quilombolas inseridas no PISF pela Equipe de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
(Saduc) da FunasaSuest-PE no periacuteodo de 2008 agrave 2010
55
que iriam ter suas casas substituiacutedas de taipa por alvenaria uma das ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo realizadas pelo MI ndash PISF contidas no PBA 17 um dos 38 Programas
Baacutesicos Ambientais
Neste estudo o questionaacuterio CAP foi utilizado para um diagnoacutestico educacional antes
de desenvolver e implementar planos de intervenccedilatildeo tendo sido aplicados 99 questionaacuterios
com moradores de Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e ContendasTamboril todas
comunidades quilombolas de Salgueiro contempladas com as obras realizadas pela Funasa-
SuestPE
Em relaccedilatildeo agrave comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pela sua extensatildeo territorial e
contingente populacional os dados obtidos com o CAP representam um consolidado de
questionaacuterios aplicados em quinze siacutetios visitados O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
conta com 21 subdivisotildees ou siacutetios aleacutem da Vila Centro ou Sede
Apoacutes aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios as informaccedilotildees analisadas foram devolvidas agraves
comunidades em oficinas educativas realizadas em 2011 pela FunasaSuest-PE (Setor de
Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental)
O questionaacuterio semi-estruturado continha perguntas sobre vaacuterios aspectos desde
questotildees ambientais mais especiacuteficas como a estrutura de saneamento baacutesico (aacutegua lixo
dejetos) a organizaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica e comunitaacuteria o niacutevel de escolarizaccedilatildeo as formas de
trabalho e renda questotildees de sauacutede manifestaccedilotildees culturais formas de lazer e acesso agrave
informaccedilatildeo (Anexo A)
Para as trecircs aacutereas do estudo apresentamos aspectos considerados mais significativos
para caracterizaccedilatildeo geral das famiacutelias e do territoacuterio segundo respostas obtidas com o
questionaacuterio CAP enriquecendo com narrativas dos sujeitos e fontes documentais
Os objetivos especiacuteficos do estudo e as ferramentas teacutecnicas para consecuccedilatildeo dos
mesmos estatildeo representados no quadro 3 sintetizando as abordagens qualitativas e
quantitativas adotadas
56
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos TEacuteCNICA Objetivo1- Caracterizar o
Projeto da Transposiccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco
considerando a proposta oficial e a percepccedilatildeo dos
sujeitos
Objetivo2- Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios
das aacutereas quilombolas do
estudo
Objetivo3- Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos
quanto agrave vulneraccedilatildeo
decorrente da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos
territoacuterios quilombolas
Objetivo4-Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo
projeto da transposiccedilatildeo para minimizar a
vulneraccedilatildeo
Levantamento
documental
Aspectos populaccedilatildeo
localizaccedilatildeo territorial questotildees ambientais
organizaccedilatildeo social e
poliacutetica questotildees culturais e de acesso a serviccedilos
Fontes IBGE relatoacuterios
do MIN EIARIMA
SEPPIR Fundaccedilatildeo
Cultural Palmares Centro
de Cultura Luiz Freire Secretarias Estadual e
Municipal de Sauacutede e Educaccedilatildeo (ACQPe)
Mapa de Injusticcedila Social
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe Funasa- dados Questionaacuterio CAPoutros)
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe artigos textos cientiacuteficos
Documentos oficiais do
MI da Funasa artigos textos cientiacuteficos
Entrevistas Gestores teacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT escritoacuterio
do Projeto em
Salgueiro ACQPe
lideranccedilas moradores
quilombolas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Grupos focais Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF)
Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF)
Fonte A autora 2014
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS
A anaacutelise de conteuacutedo dos dados primaacuterios foi feita partir do que propotildee Kvale (1996)
O autor aponta cinco principais tipos de anaacutelise como a condensaccedilatildeo de significados a
categorizaccedilatildeo de significados a estrutura de significados atraveacutes da narrativa a interpretaccedilatildeo
de significados e o meacutetodo ad hoc de geraccedilatildeo de significados Dessas a condensaccedilatildeo de
significados eacute a mais utilizada e foi adotada nesse estudo (KVALE 1996)
A condensaccedilatildeo de significados consiste em condensar as passagens das entrevistas e
grupos focais que se relacionam a uma questatildeo especiacutefica do estudo passando a compor o
que o autor chama de Unidades Naturais de Anaacutelise mantidas na coluna da esquerda de um
quadro organizador Na coluna da direita desse mesmo quadro ficaratildeo os temas centrais que
consistem na apresentaccedilatildeo do tema que dominam as unidades naturais relacionadas agraves
passagens condensadas na coluna da esquerda No mesmo quadro abaixo das duas colunas
seraacute feita uma descriccedilatildeo essencial da questatildeo da pesquisa com a interpretaccedilatildeo do
pesquisador sobre os aspectos trazidos pelos entrevistadosas (KVALE 1996)
A representaccedilatildeo do modelo proposto estaacute contida no quadro 4
57
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale
Questatildeo de Pesquisa
Unidades Naturais de Anaacutelise Temas Centrais
Trechos da entrevista e grupo focal relacionados agrave
pergunta da pesquisa
Apresentaccedilatildeo do tema que domina a unidade
natural conforme a compreensatildeo do pesquisador
e da forma mais simples possiacutevel
Descriccedilatildeo Essencial da questatildeo de pesquisa
Descriccedilatildeo de todos os temas abordados na entrevista e grupo focal conforme a interpretaccedilatildeo do pesquisador
acerca da questatildeo comentada pelo entrevistado e participante do grupo focal
Fonte Gurgel (2007)
Esta anaacutelise foi aplicada aos dados qualitativos provenientes das entrevistas (gestores
teacutecnicos e lideranccedilas) e dos grupos focais (moradores professores e lideranccedilas quilombolas)
tatildeo logo foi feita a transcriccedilatildeo dos conteuacutedos gravados A leitura do material transcrito
permitiu identificar a percepccedilatildeo de gestores e quilombolas quanto aos aspectos relacionados
nos itens 451 e 452
A anaacutelise documental dos conteuacutedos do material selecionado teve como referecircncia o
modelo definido por Bardin (2011) Centrada em documentos foi feita uma classificaccedilatildeo e
indexaccedilatildeo com o objetivo de se obter uma representaccedilatildeo condensada da informaccedilatildeo para
consulta e armazenagem Os criteacuterios apontados por Bardin para organizaccedilatildeo de uma anaacutelise
satildeo preacute-anaacutelise exploraccedilatildeo do material e o tratamento dos resultados - codificaccedilatildeo e
inferecircncia (SANTOS F M 2012) O quadro 5 resume os aspectos de cada criteacuterio de anaacutelise
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin
Anaacutelise de Conteuacutedo
Preacute-anaacutelise Exploraccedilatildeo do Material Tratamento Dos resultados
-Organizaccedilatildeo de material
(corpus da pesquisa)
-ObservarrarrExaustividade
representatividade
homogeneidade
pertinecircncia exclusividade
-ldquoLeitura flutuanterdquo rarr
organizaccedilatildeo de iacutendice com
formulaccedilatildeo de
pressupostos a serem
confirmados ou natildeo ao final
do estudo
-Codificaccedilatildeo dos dados e agregados
em unidades de registro (tema
palavra ou frase)
-Enumeraccedilatildeo de regrasrarr a
presenccedila ou ausecircncia de elementos
ou unidades de registros
-Outros fatoresrarr frequecircncia
intensidade medida atraveacutes dos
tempos dos verbos direccedilatildeo
(favoraacutevel neutra ou desfavoraacutevel)
ordem estabelecida e concorrecircncia
(presenccedila simultacircnea de 2 ou mais
unidades de registro)
-Categorizaccedilatildeo por criteacuterios de semacircntica (temas)
sintaacutetico (verbos adjetivos e pronomes) leacutexico
(sentido e significado das palavras) e expressivo
(variaccedilotildees na linguagem e na escrita)
-Organizaccedilatildeo das informaccedilotildees em 2 etapasrarr
inventaacuterio (isolam-se elementos comuns) e
classificaccedilatildeo (divide-se elementos e impotildeem- se
organizaccedilatildeo)
-Inferecircnciararrorientada por diversos poacutelos de
comunicaccedilatildeo (emissor receptor mensagem e
canal)
-Interpretaccedilatildeo dos dados rarr retornar ao referencial
teoacuterico
- Ferramenta tecnoloacutegica (computador) rarr p
anaacutelise profunda dos dados
-Possiacuteveis teacutecnicas anaacutelise categorial de
avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo de expressatildeo e das
relaccedilotildees
Fonte Santos M (2012)
A anaacutelise de dados dos questionaacuterios CAP se deu por meio da Estatiacutestica Descritiva
teacutecnica realizada para o tratamento de dados secundaacuterios com apresentaccedilatildeo por meio de
tabelas
58
As principais categorias de anaacutelise referidas neste estudo foram vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo - com o olhar sobre especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos
sauacutede relaccedilotildees familiares) acesso a serviccedilos e poliacuteticas especiacuteficas problemas ambientais
situaccedilatildeo de rendatrabalho e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica territoacuterio espaccedilo lugar e paisagem
ndash com o olhar sobre as mudanccedilas nas aacutereas quilombolas as alteraccedilotildees percebidas e existentes
a partir do projeto conteuacutedos praacuteticas e processos da educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental onde as propostas e accedilotildees dos programas baacutesicos ambientais foram descritas
considerando especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede) para
compreender como estaacute sendo desenvolvido o Programa as accedilotildees implantadas modalidade e
niacuteveis de participaccedilatildeo percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental o significado do rio Satildeo Francisco situaccedilotildees - educaccedilatildeo e sauacutede sauacutede ambiente
Projeto da transposiccedilatildeo cultura poder acesso participaccedilatildeo especificidades eacutetnicas (cultura
educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede relaccedilotildees familiares) e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica
Para operacionalizaccedilatildeo das avaliaccedilotildees de cada PBA foram trabalhadas quatro
categorias agrave luz da metodologia sugerida por Worthen Sanders e Fitzpatrick (2004)
As categorias foram avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo ao problema e para cada uma
delas foi feito o exerciacutecio de identificaccedilatildeo de elementos criacuteticos construiacutedo por meio das
entrevistas grupos focais referenciais teoacutericos e relatoacuterios do projeto Cada uma destas
categorias apresenta um nuacutemero diversificado de variaacuteveis a serem avaliadas (Quadro 6)
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs
Avaliaccedilatildeo do Contexto Categorias de anaacutelise Pontos Criacuteticos
Justificativa Populaccedilatildeo territoacuterio Objetivos
geral e especiacuteficos
Metas Indicadores Atividades
Identificados por meio das
entrevistas grupos focais
referenciais teoacutericos e relatoacuterios
do projeto da transposiccedilatildeo Avaliaccedilatildeo de Estrutura Recursos Humanos Recursos Materiais
Recursos Financeirosorccedilamento
Avaliaccedilatildeo de Processo Implantaccedilatildeo Falhas
Procedimentos (meacutetodo)
Avaliaccedilatildeo de Produto Resultadosdesdobramentos
Fonte Modelo adaptado de Worthen et al (2004)
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS
O presente estudo compotildee o Projeto de Pesquisa Impactos do projeto de integraccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco sob coordenaccedilatildeo do pesquisador Andreacute Monteiro Costa doutor em
sauacutede puacuteblica do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhatildees (CPqAMFiocruzMS) tendo sido
59
aprovado pelo Processo CAAE 13474513400005190 no Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do
CPqAM segundo a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de SauacutedeCNS nuacutemero 19696 a qual
estabelece diretrizes e Normas Reguladoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos
Toda pesquisa envolvendo seres humanos acarreta riscos Neste estudo a relaccedilatildeo com
os sujeitos se deu a partir de entrevistas e realizaccedilatildeo de grupos focais Estima-se que os riscos
quanto agraves dimensotildees fiacutesica psiacutequica moral intelectual social cultural ou espiritual seratildeo
minimizados os quais conforme a Resoluccedilatildeo 19696 (inciso V-1a) satildeo admissiacuteveis quando
oferecem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender prevenir ou aliviar um
problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa Por envolver comunidades o estudo
esteve atento ao inciso III - 31 Resoluccedilatildeo 19696 que preconiza respeitar sempre os valores
culturais sociais morais religiosos e eacuteticos bem como os haacutebitos e costumes
Como provaacuteveis benefiacutecios para populaccedilatildeo do estudo espera-se que o conhecimento
produzido contribua para a percepccedilatildeo criacutetica e identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo as quais as populaccedilotildees quilombolas estatildeo submetidas com o projeto da
transposiccedilatildeo a compreensatildeo dos processos educativos desenvolvidos pelas accedilotildees de educaccedilatildeo
em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental e de obras implementadas pelos PBArsquos seus desdobramentos
e resultados para mitigar impactos do projeto da transposiccedilatildeo nas aacutereas quilombolas maior
clareza quanto a compreensatildeo dos reais objetivos do projeto da transposiccedilatildeo identificaccedilatildeo
dos noacutes criacuteticos ao processo de regularizaccedilatildeo das terras quilombolas
Para os envolvidos no estudo foi obtido o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) apresentado natildeo oportunidade a justificativa objetivos e procedimentos
utilizados na pesquisa Todo cuidado foi tomado para proteger e preservar os sujeitos com o
anonimato e sigilo necessaacuterio nos momentos de entrevista e grupos focais respeitando o
viacutenculo de confianccedila estabelecido
Este projeto consta de dois tipos de TCLEs um direcionado agrave populaccedilatildeo quilombola
(Apecircndice D) e outro aos Gestores e Teacutecnicos dos niacuteveis Federal Estadual e Municipal
(Apecircndice E)
60
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO - DISCURSO
OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS SUJEITOS
[] Eacute o projeto do governo federal Cuja aacutegua
natildeo chegaraacute ao pobre
A miacutedia a serviccedilo Isso encobre
Deixando a situaccedilatildeo normal
Tudo isso eacute injusticcedila social
A maior parte do projeto eacute irrigaccedilatildeo
No sertatildeo produzir ateacute marisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O Nordeste brasileiro vive haacute seacuteculos o contexto da seca e suas consequecircncias Afirma
Silva A (2011) que a ideia de transpor aacuteguas do Rio Satildeo Francisco remonta haacute mais de um
seacuteculo e segundo a autora
Surge pela primeira vez no seacuteculo XIX num ambiente em que a seca do Nordeste
Brasileiro jaacute contribuiacutea como hoje para o agravamento das mazelas sociais daquela
regiatildeoComo eacute de consenso sabemos que a seca no nordeste eacute uma parte dos grandes
problemas do nosso paiacutes e tambeacutem objeto de anaacutelise e controveacutersias (SILVA A
2011)
Houve trecircs momentos entre o final do seacuteculo XIX e todo o seacuteculo XX em que foi
travado debate sobre a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco Nos dois primeiros momentos -
entre 1882 e 1985 e entre 1993 e 1994 questotildees poliacutetico eleitorais predominaram
provocando criacuteticas da Companhia Hidro Eleacutetrica do Satildeo Francisco (CHESF) por falta de
fundamentaccedilatildeo e consistecircncia teacutecnica principalmente pela retirada de aacutegua do rio
considerada absurda (300 a 500msup3s) (ANDRADE 2002) Mas eacute no ano de 1847 que pela
primeira vez eacute elaborada a ideia da transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco apresentada
pelo engenheiro Marcos de Macedo ao Parlamento e tambeacutem ao Imperador Pedro II poreacutem
natildeo obteve apoio (CAULA MOURA 2006 apud SILVA A 2011)
A ideia oficial do projeto de transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco originada durante o
Impeacuterio foi elaborada como resposta agrave calamidade provocada pela grande seca daquele
seacuteculo que levou agrave morte quase dois milhotildees de habitantes do Nordeste Essa resposta foi
apresentada pela Comissatildeo Cientiacutefica de Exploraccedilatildeo chefiada pelo engenheiro e fiacutesico
brasileiro Guilherme Schuch de Capanema o Baratildeo de Capanema com a proposta de
construccedilatildeo de accediludes e a integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com os rios do Nordeste
Setentrional Eacute construiacutedo entatildeo em 1884 o primeiro Accedilude no Cearaacute (em Quixadaacute)
61
inaugurado entretanto 22 anos apoacutes quando foi criada a Inspetoria Federal de Obras contra a
Seca (IFOCS) (LIMA L 2005)
A temaacutetica da transposiccedilatildeo passa entatildeo a fazer parte da mente e imaginaccedilatildeo natildeo
apenas de engenheiros mas de intelectuais como Euclides da Cunha e em diversos governos
da Repuacuteblica projetos para transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco passam a ser elaborados
(MELLO 2004 apud SILVA A 2011)
Apesar dos projetos elaborados por governos da Repuacuteblica para a transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco eacute a partir de meados do seacuteculo XX que interferecircncias sistemaacuteticas do Estado
Brasileiro na regiatildeo do semiaacuterido satildeo observadas como por exemplo a destinaccedilatildeo de
porcentagem de rendas tributaacuterias federais em projetos de aproveitamento do potencial
econocircmico do rio Satildeo Francisco e afluentes como definido na Constituiccedilatildeo de 1946 (SILVA
A 2011)
Tambeacutem nesta eacutepoca em virtude dos periacuteodos de seca que agravavam a situaccedilatildeo das
populaccedilotildees mais pobres o movimento a favor da transposiccedilatildeo conquista adeptos O projeto de
autoria do engenheiro Maacuterio Ferracuti propondo a construccedilatildeo de barragem para represar o
Satildeo Francisco perto de Cabroboacute (PE) cujo propoacutesito seria bombear aacutegua para o Cearaacute e o Rio
Grande do Norte ganha ampla divulgaccedilatildeo em 1958 (MELLO 2004 COELHO 2004 apud
SILVA A 2011)
A partir dos anos de 1980 as iniciativas poliacuteticas referentes a projetos para o rio Satildeo
Francisco se intensificaram Debates e ideias a respeito da transposiccedilatildeo se deram em
momentos como candidaturas eleitorais indiretas agrave presidecircncia da repuacuteblica como no caso do
entatildeo candidato Maacuterio Andreazza em 1983 que incluiu em sua plataforma poliacutetica o projeto
da transposiccedilatildeo poreacutem derrotado o mesmo ficou no esquecimento
No iniacutecio dos anos de 1990 a proposta foi retomada pelo Ministro da Integraccedilatildeo
Nacional do governo de Itamar Franco o Sr Aluiacutesio Alves com o projeto de construccedilatildeo de
um canal em Cabroboacute Mas o TCU e o Ministeacuterio da Agricultura natildeo aprovam o projeto
Ainda nos anos de 1990 eacute organizado na Cacircmara dos Deputados Federais o grupo de
trabalho - A transposiccedilatildeo das Aacuteguas do Rio Satildeo Francisco que passa a ser conhecido como
ldquoProjeto Satildeo Franciscordquo Em 1994 no Governo de Fernando Henrique Cardoso eacute feito um
redesenho do projeto pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do Satildeo Francisco e do
Parnaiacuteba (CODEVASF) que irrigaria o semiaacuterido com obras para serem efetivadas em 25 a
30 anos Este projeto final foi estruturado sob responsabilidade do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundaccedilatildeo de Ciecircncia
Aplicaccedilotildees e Tecnologia Espaciais (FUNCATE) Visto pelo governo Fernando Henrique
62
Cardoso como soluccedilatildeo consistente para o problema da seca no semiaacuterido nordestino o projeto
da transposiccedilatildeo provocou e provoca disputas poliacuteticas e concepccedilotildees distintas de agentes
sociais sobre o que eacute ou poderia ser o rio Satildeo Francisco Tais concepccedilotildees estatildeo presentes nos
debates sobre a estruturaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto apontando olhares que compotildeem
constroem e produzem distintos objetos para o futuro do rio Satildeo Francisco (SILVA A
2011)
Sempre com a justificativa de que o projeto iria resolver os problemas provocados
pela seca no nordeste a ideia da transposiccedilatildeo renasce nos vaacuterios governos e mesmo natildeo
estando nas campanhas eleitorais dos governos anteriores tambeacutem natildeo se encontrava na
campanha do Governo do Presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva que aprovou e deu iniacutecio a
implementaccedilatildeo do mesmo
O projeto vai renascer das cinzas pautado num discurso salvacionista e
desenvolvimentista e passa a integrar o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento -
PAC aleacutem de novamente trazer agrave discussatildeo nacional as opiniotildees diversas e
contraditoacuterias sobre o projeto (SILVA A 2011 p 5)
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrional-PISF foi apresentado pelo Governo Lula como a soluccedilatildeo para a inseguranccedila
hiacutedrica no Semiaacuterido Eacute um empreendimento que se apresenta com o principal objetivo de
assegurar a oferta de aacutegua em 2025 a cerca de 12 milhotildees de habitantes de 390 municiacutepios de
pequenas meacutedias e grandes cidades da regiatildeo semiaacuterida dos estados de Pernambuco Cearaacute
Paraiacuteba e Ria Grande do Norte Em suma segundo documentos oficiais eacute garantir a oferta de
aacutegua para uma populaccedilatildeo e uma regiatildeo que sofrem com a escassez e a irregularidade das
chuvas (BRASIL 2004c p 9)
O Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) confirma que jaacute no Brasil-Colocircnia foram
escritos os primeiros relatos sobre a seca no Nordeste que falam das migraccedilotildees para regiotildees
natildeo afetadas pela falta drsquoaacutegua Ressalta que a regiatildeo do Projeto encontra-se na aacuterea do
chamado Poliacutegono das Secas sendo que o Nordeste Setentrional (parte do Semiaacuterido ao norte
do rio Satildeo Francisco) eacute a aacuterea que mais sofre os efeitos de secas prolongadas abrangendo
parcialmente os Estados de Pernambuco Cearaacute Paraiacuteba e Rio Grande do Norte (BRASIL
2004c)
Entretanto assessores ligados agrave Articulaccedilatildeo no Semi-aacuterido Brasileliro (ASA8)
afirmam que ldquoo problema da regiatildeo natildeo eacute a falta de aacutegua mas sim seu mau gerenciamento
8 ASA - Rede formada por mil organizaccedilotildees da sociedade civil que atuam na gestatildeo e no desenvolvimento de
poliacuteticas de convivecircncia com a regiatildeo semiaacuterida se consolida enquanto articulaccedilatildeo em Foacuterum Paralelo da
63
Natildeo adianta simplesmente ter aacutegua precisa ter abastecimento e descentralizaccedilatildeo Hoje 70
dos accediludes do nordeste satildeo privatizadosrdquo (MERLINA 2007 p 11)
O principal objetivo do projeto da transposiccedilatildeo apontado pelo governo estaacute presente
na compreensatildeo de entrevistados seja com esperanccedila com criacuteticas com duacutevidas
Eu acho que a questatildeo desse projeto ele eacute uma situaccedilatildeo que traz um certo conflito de
ideias assim o rio Satildeo Francisco eacute como se fosse sagrado e ele eacute importantiacutessimo
e esse projeto que eacute antigo oferece a perspectiva de melhorar a qualidade de vida
dessas populaccedilotildees Aiacute fica aquele conflito entre mexer naquilo que eacute sagrado e ser
realmente beneficiado pela aacutegua do rio Satildeo Francisco Porque eacute muita tecnologia
vocecirc transformar um rio trazer um rio eacute como se vocecirc pegasse e fizesse uma
sangria no rio (Gestora 8)
[] Olha o projeto em si eacute um projeto muito grande que a gente natildeo tem muitos
meios principalmente teacutecnico para ter o conhecimento para falar e aprofundar esse
projeto mas a expectativa eacute que ele traga algo [] Gera uma expectativa de
melhorias mas que a gente natildeo sabe o que pode acontecer [] O que diz no projeto
eacute que a aacutegua vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos
animais mas assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas
plantam e aiacute precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
[] soacute se for laacute para o final dele porque pra noacutes aqui eu natildeo acredito que traga essas
coisas de valor natildeo Porque jaacute que a gente natildeo vai ser abastecido com ele com a
aacutegua dele qual eacute o futuro que vai ter pra noacutes Natildeo acredito natildeo (Grupo Focal 2)
A percepccedilatildeo geral dos sujeitos entrevistados eacute de que o Projeto da transposiccedilatildeo eacute um
projeto imposto que teve que ser aceito sem o devido preparo do municiacutepio das suas
comunidades quilombolas e populaccedilatildeo rural diretamente afetadas
Quando eu recebi jaacute foi assim toma recebe eacute isso aqui chegou e agora tu tem que
acolher Eacute dessa forma que eu vejo Talvez ateacute eu esteja equivocada o prefeito tenha
recebido convite e tudo natildeo sei mas pelo menos da minha parte eu percebi isso
Natildeo de jeito nenhum [] Eles chegaram se instalaram e contrataram essa empresa
que eacute a CMT E aiacute tem essa empresa contratada com pessoas que satildeo da regiatildeo mas
muitas natildeo satildeo aqui de Salgueiro principalmente os que estatildeo aqui Acho que o
municiacutepio natildeo estava preparado pra receber tambeacutem (Gestora 5)
[] Quando a gente vecirc que a gente vive no semiaacuterido tem essa dificuldade de
conveniecircncia com o semiaacuterido mas a gente vecirc que natildeo foi um projeto que foi
escolhido pelo menos dada agrave opiniatildeo do povo escolhido pelo povo ele veio de
cima pra baixo (Gestora 2)
Com orccedilamento previsto para R$ 46 bilhotildees em 2007 o projeto vem sofrendo
reajustes anuais passando em 2009 a custar R$ 52 bilhotildees em 2011 aumentou para R$ 68
bilhotildees chegando em 2012 a R$ 82 bilhotildees o que significa um aumento de 80 do valor
Sociedade Civil realizado em 1999 durante a 3ordf Conferecircncia das Partes da Convenccedilatildeo de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e agrave Seca (COP3) ocorrida em Recife
64
inicial da obra O governo federal argumenta que os reajustes se deram em funccedilatildeo da
necessidade de detalhamento no projeto executivo que desenvolvido ao longo da obra
incorreu em grande discrepacircncia com o projeto baacutesico (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O custo elevado do projeto suscita criacuteticas e questionamentos demonstrando o
descreacutedito com a eficiecircncia e eficaacutecia do governo e a falta de responsabilidade ambiental
[] E eacute muito dinheiro a gente vecirc falar em tantos zerinhos e ai seraacute que vai ser
concluiacuteda mesmo essa obra Seraacute que natildeo vai ser uma obra faraocircnica que vai ficar
aiacute Seraacute que vai trazer os benefiacutecios seraacute que vai chegar ateacute o final E depois que
chegar ateacute o final quanto tempo seraacute que o rio vai conseguir sustentar essa obra pra
valer a pena o tanto de dinheiro que foi gasto (Lideranccedila 1)
Ao longo de quase sete anos com menos da metade das obras concluiacutedas o projeto
sofreu vaacuterias paralisaccedilotildees e vem sendo justificadas pelo governo por diversas dificuldades em
sua execuccedilatildeo que vatildeo desde o excessivo parcelamento ou fragmentaccedilatildeo com 57 contratos e
90 empresas a serem gerenciadas pela necessidade de incremento nos quantitativos e de
adiccedilatildeo de serviccedilos novos associada agraves dificuldades para negociaccedilatildeo de aditivos culminando
com a paralisaccedilatildeo de vaacuterios lotes no final de 2010 e iniacutecio de 2011 pelas dificuldades na
articulaccedilatildeo interinstitucional para resolver os problemas de interferecircncias e desapropriaccedilotildees
aleacutem do quadro de servidores do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional insuficiente para
execuccedilatildeo do empreendimento (BRASIL 2012)
No entanto questionamos se um projeto nas dimensotildees e complexidade do projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco poderia ser iniciado sem a atualizaccedilatildeo e revisatildeo do seu
projeto baacutesico elaborado ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso
Em defesa da sua gestatildeo de governo o entatildeo Ministro da integraccedilatildeo Fernando
Bezerra Coelho argumenta que a legislaccedilatildeo natildeo define regras muito claras para elaboraccedilatildeo do
projeto baacutesico e que ldquoapesar de cumprida toda legislaccedilatildeordquo eacute uma obra de engenharia
complexa Em contrapartida o Ministro do TCU Raimundo Carrero apresenta outros
argumentos contraacuterios ao do Ministro da Integraccedilatildeo afirmando que a lei de licitaccedilatildeo de
contratos eacute clara e que no artigo 6ordm haacute vaacuterios incisos detalhando o que eacute um projeto baacutesico
Acrescenta que um projeto baacutesico mal feito deficiente e sem planejamento tem como
resultado obras paralisadas obras mal feitas de maacute qualidade e sem o resultado esperado pela
populaccedilatildeo O que na praacutetica vem ocorrendo com o projeto da transposiccedilatildeo
(TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
Exemplo de mal planejamento e descaso neste projeto foi o desabamento de um tuacutenel
em um dos lotes das obras da transposiccedilatildeo em abril de 2011 apoacutes terem sido cavados 112
65
metros de profundidade O desabamento natildeo provocou nenhum acidente natildeo havendo
feridos mas as obras ficaram paralisadas por um ano e meio representando grande prejuiacutezo
aos cofres puacuteblicos (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O projeto da transposiccedilatildeo jaacute foi alvo de vaacuterias denuacutencias e desde 2005 o Tribunal de
Contas da Uniatildeo (TCU) encontra irregularidades que chegam a R$ 734 milhotildees O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo Nacional teve que investigar contratos que natildeo foram honrados pagamentos
duplicados por obras superfaturamento e pagamentos de serviccedilos natildeo executados
A lentidatildeo e interrupccedilatildeo das obras aparece como mais um fator de descreacutedito quanto
aos ldquobenefiacuteciosrdquo do projeto aumento de inseguranccedila na vida das populaccedilotildees e prejuiacutezo para
comunidade que arca com o dinheiro destinado ao projeto
[] eu acho que por mais que as pessoas falem divulguem faccedilam muita
propaganda natildeo assim eu proacutepria natildeo tenho domiacutenio o que vai significar isso []
O que eu acho ruim eacute que a obra eacute muito lenta vocecirc natildeo vecirc o resultado aiacute isso
tambeacutem desanima as pessoas natildeo eacute Eu acho que se ela tivesse seguido o ritmo que
ela tinha iniciado jaacute tivesse algum resultado aiacute as pessoas podiam ter uma posiccedilatildeo
e ter uma expectativa ou se organizar contra ou a favor aiacute deixa todo mundo nessa
coisa mexeu com a rotina das cidades As cidades tinham muita gente do exeacutercito
No sertatildeo melhorou e tal mas deu uma parada agora Natildeo sei Vocecirc indo no sertatildeo
vocecirc vecirc que estaacute uma situaccedilatildeo ruim nesse sentido deu uma quebra (Gestora 8)
[] E outra coisa teve um tempo atraacutes que ela fez uns trechos ai que ela fez que
com o tempo por ela ter sido parada foi prejudicada e teve que ser feito de novo neacute
[] E isso sai caro praacute comunidade porque queira ou natildeo queira esse dinheiro sai do
nosso bolso porque quem paga essa obra aiacute eacute noacutes neacute Tudo que noacutes compra tem um
imposto e o imposto vai praacute laacute pra de laacute vim dinheiro para esse pessoal Aiacute
complica [] (Grupo Focal 3)
O Projeto da transposiccedilatildeo inclui obras de infra-estrutura hiacutedrica em dois sistemas
independentes denominados Eixo Norte e Eixo Leste que captaratildeo aacutegua do rio Satildeo Francisco
entre as barragens de Sobradinho (Eixo Norte) e Itaparica (Eixo Leste) no Estado de
Pernambuco Os sistemas compostos de canais estaccedilotildees de bombeamento de aacutegua pequenos
reservatoacuterios e usinas hidreleacutetricas para auto-suprimento iratildeo atender agraves necessidades de
abastecimento de municiacutepios do semiaacuterido do Agreste Pernambucano e da Regiatildeo
Metropolitana de Fortaleza afirmam os documentos oficiais As bacias hidrograacuteficas
beneficiadas satildeo do rio Jaguaribe no Cearaacute do rio Piranhas-Accedilu na Paraiacuteba e Rio Grande do
Norte do rio Apodi no Rio Grande do Norte do rio Paraiacuteba na Paraiacuteba dos rios Moxotoacute
Terra Nova e Briacutegida em Pernambuco na bacia do rio Satildeo Francisco O chamado Eixo Norte
abrange 222 municiacutepios afetando 71 milhotildees de pessoas e o Eixo Leste satildeo 168 municiacutepios
afetando 49 milhotildees de pessoas (BRASIL 2004c p 3)
66
A aacuterea de abrangecircncia do Projeto foi categorizada em trecircs unidades de anaacutelise de
acordo com a distribuiccedilatildeo e intensidade dos impactos previsiacuteveis relacionados ao mesmo
Foram consideradas Aacuterea de Influecircncia Indireta (AII) onde ocorrem os efeitos indiretos da
integraccedilatildeo das aacuteguas Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) onde se datildeo principalmente as
transformaccedilotildees ambientais diretas decorrentes do empreendimento e Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) onde se datildeo os contatos diretos entre as estruturas fiacutesicas do
Empreendimento (canais reservatoacuterios estaccedilotildees de bombeamento etc) e a regiatildeo onde ele
estaacute implantado sendo definida como uma faixa ao longo das estruturas do Projeto com 5 km
de largura para cada lado (BRASIL 2004c)
A AID abrange o conjunto das aacutereas dos municiacutepios atravessados pelos Eixos de
conduccedilatildeo da aacutegua perfazendo um total de 86 municiacutepios sendo 16 em Pernambuco 30 na
Paraiacuteba 19 no Rio Grande do Norte e 21 no Cearaacute (BRASIL 2004c)
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA
Fonte RIMA do Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (BRASIL 2004)
Contraacuterio ao projeto da transposiccedilatildeo Suassuna (2009) fundamenta sua posiccedilatildeo a partir
do que argumenta Alberto Darker que diz existirem trecircs condiccedilotildees baacutesicas que justificam a
transposiccedilatildeo de aacuteguas de um rio existirem uma bacia com muita aacutegua sobrando e terras e
relevo que natildeo sirvam para irrigaccedilatildeo outra bacia com terras irrigaacuteveis mas com carecircncia de
aacutegua e uma relaccedilatildeo custo-benefiacutecio viaacutevel para a realizaccedilatildeo da obra No caso da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco as trecircs natildeo se enquadram tendo em vista haver demanda por aacutegua nas
terras cultivaacuteveis proacuteximas ao rio existir aacutegua na regiatildeo das bacias receptoras faltando
apenas o estabelecimento de uma poliacutetica eficiente para a sua distribuiccedilatildeo e posterior
86 Municiacutepios PE 16 PB 30 RN 19 CE 21
67
consumo das populaccedilotildees e por uacuteltimo faltar sustentaccedilatildeo energeacutetica e financeira para a
execuccedilatildeo da obra (SUASSUNA 2009 p 200)
Como projeto polecircmico haacute narrativas de que as obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias
para regiatildeo do sertatildeo apesar dos impactos gerados
Eacute polecircmico natildeo eacute mas natildeo vou entrar acho que de forma geral eu acho que as
obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias pra essa regiatildeo do sertatildeo regiatildeo do
semiaacuterido muita seca e tal eu acho que elas satildeo necessaacuterias e acho que tem gerado
impactos positivos e negativos claro como todo projeto grandioso feito esse neacute
[] (Gestora 6)
[] Existem muitos impactos ambientais a gente sabe disso [] O projeto natildeo foi
concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo menos quando
tiver aacutegua as pessoas possam usar (Gestora 2)
Eacute visto como um projeto que mexe com o imaginaacuterio das pessoas por haver um rio
imenso que vai ser ldquomexidordquo e que cria uma expectativa irreal
Eu acho que esse projeto ele tem uma caracteriacutestica muito interessante porque ele
mexe com o imaginaacuterio das pessoas que eacute um rio imenso que vai ser mexido o
corpo dele vai ser mexido neacute E as pessoas ficam muito assim numa expectativa
que natildeo eacute real Eu lembro que nessas primeiras reuniotildees todos tanto os quilombolas
quanto os indiacutegenas eram contra a transposiccedilatildeo do rio neacute Foi na eacutepoca que ainda
estavam aquelas manifestaccedilotildees e tal (Gestora 8)
As informaccedilotildees repassadas satildeo poucas e natildeo se sabe a sustentabilidade do Projeto para
o rio Haacute muitas promessas feitas pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo em reuniotildees com as
comunidades quilombolas natildeo cumpridas ateacute o momento
Natildeo eu acho que tem ponto positivo inclusive eu disse eu sou a favor do
progresso Eu acho que a gente precisa progredir mesmo mas a gente natildeo pode
perder a nossa cultura (Gestora 5)
Mas assim eu destaco por exemplo o municiacutepio de Salgueiro eacute um municiacutepio que
hoje tem outra visibilidade ele tem o desenvolvimento que a gente percebe muito
claramente a partir das obras (Gestora 6)
[] No comeccedilo eles viram como seria uma coisa interessante mas quando foi pra
praacutetica eacute um negoacutecio que eles perceberam que natildeo era porque se eles assumissem a
promessa era interessante Mas o pior eacute que haacute a promessa muito deles falam que
vai indenizar tambeacutem natildeo chegaram nem a indenizar e a questatildeo do compromisso
com a aacutegua que ia ter aacutegua 24h por dia que iam abastecer [] Por isso eu lhe digo
o Projeto Satildeo Francisco seria bom se assumisse os compromissos mas haacute muita
promessa na hora quando chega mas no decorrer do tempo isso eacute esquecido e o
povo que entraram na onda eacute que fica sofrendo [] no aspecto midiaacutetico ele eacute
colocado como uma coisa muito positiva que seria muito bom Assim eu jaacute ouvi eu
natildeo sei tenho pouco conhecimento que esse projeto tambeacutem natildeo iria nem beneficiar
o pessoal do semiaacuterido na verdade ele ia beneficiar criadores de camarotildees que
68
estariam laacute no Rio Grande do Norte Entatildeo seria mais um meio do agronegoacutecio
(Grupo Focal 1)
Haacute narrativas que demonstram uma esperanccedila de que o projeto da transposiccedilatildeo seja
uma soluccedilatildeo como primeira necessidade ao problema de aacutegua na regiatildeo para o
abastecimento humano principalmente para populaccedilatildeo da zona rural mas que tambeacutem atenda
outras demandas
Ele traz em si a ideia da gente pelo menos solucionar a questatildeo de abastecimento
de aacutegua e aiacute a gente tem esse abastecimento de aacutegua urbano essa eacute a primeira ideia
E no segundo momento pensar a utilizaccedilatildeo dessa aacutegua tambeacutem com outras
utilidades Mas natildeo podemos negar que o abastecimento humano eacute o principal
objetivo para quem estaacute aqui na regiatildeo do sertatildeo pra quem convive e tem ideia do
que eacute o periacuteodo de seca de estiagem nessa regiatildeo [] (Gestora 1)
[] agora se vai ter essa aacutegua que vai atravessar o Pernambuco eu acho que se vier
pra caacute se pensar uma maneira de trazer jaacute que ela passa em Salgueiro tirar a aacutegua
para abastecer a zona rural de Salgueiro do proacuteprio municiacutepio Eu acho que eacute
interessante isso aiacute (Grupo Focal 1)
Haacute visotildees e compreensotildees antagocircnicas entre os discursos de gestores teacutecnicos e
populaccedilatildeo quilombola ao referir-se de maneira mais geral sobre o Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
O Sertatildeo eacute o espaccedilo brasileiro
Conhecido tambeacutem por semiaacuterido
Desde ontem e hoje eacute retratado
Como ruim e tambeacutem seco por inteiro
Os poderosos indicam esse roteiro
Aproveitam-se falando em soluccedilatildeo
Com projeto faraocircnico e ilusatildeo
E o povo continua no aprisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo []
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O semiaacuterido brasileiro compreende os estados do Cearaacute Piauiacute Rio Grande do Norte
Paraiacuteba Alagoas Sergipe Pernambuco parte da Bahia e pequena parcela do estado de Minas
Gerais (DUQUE 2008)
Essa regiatildeo traz como parte do imaginaacuterio dos brasileiros a ideia de ser inoacutespita e
deseacutertica com poucos recursos hiacutedricos e seres humanos vivendo em situaccedilatildeo de fome e
miseacuteria (ROCHA F 2010) No entanto a realidade desmente este imaginaacuterio na medida em
que
[] satildeo mais de 20 milhotildees de pessoas o que torna o Semiaacuterido a regiatildeo rural mais
populosa do Brasil Estudos e experiecircncias recentes provam a viabilidade econocircmica
69
da regiatildeo atraveacutes da convivecircncia com as suas caracteriacutesticas climaacuteticas e a sua fauna
e sua flora (COELHO 2005 RIBEIRO 2007 SILVA 2008 apud ROCHA F
2010)
A regiatildeo eacute banhada pelo rio Satildeo Francisco considerado o maior rio totalmente
brasileiro com 286330 quilocircmetros de extensatildeo que atravessam os estados de Minas Gerais
Bahia Pernambuco Sergipe e Alagoas Descoberto em 1501 foi chamado Oparaacute para os
indiacutegenas que significa rio-mar rio dos currais para os tropeiros rio das borboletas para os
barqueiros e velho Chico para os nordestinos Sua nascente real e geograacutefica eacute na Serra
dacuteAgua municiacutepio de Medeiros Minas Gerais e desaacutegua no oceano atlacircntico nas divisas
entre os estados de Alagoas e Sergipe (SILVA et al 2003)
Apesar de conhecido como ldquorio da unidade nacionalrdquo por aproximar o sertatildeo do
litoral projetos e poliacuteticas puacuteblicas implementadas manteacutem distante esse ideaacuterio de unidade
por natildeo contemplar e incluir todas as diversidades sociais e culturais existentes na regiatildeo
Para a populaccedilatildeo quilombola e para outros sujeitos do estudo o rio Satildeo Francisco
assume significados diversos que passam pelo divino daacutediva de Deus para o nordeste como
o rio que permite o desenvolvimento do vale do Satildeo Francisco o rio que oferece aacutegua para o
consumo da populaccedilatildeo como recurso para o plantio na agricultura familiar9 como
perspectiva de vida
[] para mim o Rio satildeo Francisco eacute um bem uma daacutediva de Deus para o nordeste
como um sinal de vida Entendo e quero ateacute sugerir que cada um de noacutes tenha o Rio
Satildeo Francisco como esse grande presente de Deus porque eacute um rio de aacutegua potaacutevel
e que cruza o sertatildeo ou cruza o nordeste numa grande extensatildeo territorial neacute []
(Lideranccedila 3)
[] O rio Satildeo Francisco representa muita coisa boa pra gente Quando aqui a gente
taacute na hora mais sofrida aqui o cabra se desloca daqui pra beira do rio arruma um
serviccedilo vai trabalhar plantar uma roccedila arruma o que comer porque aqui o cabra soacute
tem de ano em ano no inverno quando chove quando natildeo chove todo mundo aqui
eacute sofrido [] (Grupo Focal 1)
De grande importacircncia soacute de a gente ser abastecido por ele neacute Jaacute eacute um grande
valor que a gente deve dar ao rio Satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
[] o rio ele eacute importante demais porque se natildeo fosse a aacutegua do rio aqui natildeo tinha
mais gente jaacute tinha morrido tudo de sede porque natildeo tem de onde vim aacutegua ela
vem do rio Se natildeo fosse o rio laacute a comunidade de todo canto natildeo vivia mais no
lugar deles natildeo tinha que se deslocar pra laacute [] Eacute ou cara ou barata mas a sorte da
gente eacute essa aacutegua do rio (Grupo Focal 3)
9 A agricultura familiar caracterizada pela associaccedilatildeo de vaacuterios subsistemas ndash roccedilados pequenas criaccedilotildees de
vaacuterias espeacutecies de animais quintais colheitas etc era capaz de produzir gecircneros alimentiacutecios e gerar renda
para a compra dos bens natildeo produzidos no sistema (DUQUE 2008)
70
[] Olhe o rio Satildeo Francisco eacute uma perspectiva de vida mesmo para a populaccedilatildeo
do sertatildeo As pessoas tem muito amor pelo rio Satildeo Francisco [] (Gestora 8)
O potencial hiacutedrico do rio Satildeo Francisco possibilitou o muacuteltiplo uso de suas aacuteguas
quer para o abastecimento humano para agricultura irrigada geraccedilatildeo de energia navegaccedilatildeo
piscicultura lazer e turismo Entretanto o que representa riqueza vem provocando tambeacutem
problemas de natureza socioambiental e econocircmica considerando que haacute alguns anos o uso
indiscriminado e descuidado do rio vem afetando o seu curso natural como assoreamento o
desmatamento de suas vaacuterzeas a poluiccedilatildeo a pesca predatoacuteria as queimadas o garimpo e a
irrigaccedilatildeo
Com o debate ampliado em torno da situaccedilatildeo criacutetica do rio Satildeo Francisco o Comitecirc da
Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF)10
incorporou em seu Plano Diretor de
Recursos Hiacutedricos em 2004 como criteacuterio para definiccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica da bacia
o conceito de vazatildeo ecoloacutegica11
Segundo Machado (2008) essa compreensatildeo se contrapotildee ao
que preconiza a obra da transposiccedilatildeo ao ser constatado pelo Plano a escassez de aacutegua para
muacuteltiplos usos com a recomendaccedilatildeo da locaccedilatildeo externa apenas para consumo humano e
dessedentaccedilatildeo animal O Projeto da transposiccedilatildeo dentre outras contradiccedilotildees apresenta um
planejamento do uso das aacuteguas do Satildeo Francisco sem a preocupaccedilatildeo com sua vazatildeo nem com
as consequecircncias desse procedimento
A preocupaccedilatildeo com o rio Satildeo Francisco e sua revitalizaccedilatildeo aparece em vaacuterias falas
com afirmaccedilotildees de que o rio encontra-se poluiacutedo e que em vaacuterios trechos o niacutevel de suas
aacuteguas estaacute muito baixo
[] E eu te digo com todas as letras o rio Satildeo Francisco em Minas Gerais ele estaacute
praticamente morto O rio Satildeo Francisco aqui Bahia e Pernambuco eu natildeo tenho
nem como comparar ao trecho que eu conheccedilo dele em Minas Gerais Em relaccedilatildeo a
desmatamento como eu te falei a contaminaccedilatildeo das aacuteguas por agrotoacutexico
principalmente assoreamento existem muitos trechos que natildeo satildeo mais navegaacuteveis
muitos aqui como o nordeste tambeacutem mas em Minas Gerais principalmente []
(Teacutecnico 3)
[] uma das exigecircncias eacute que seria o saneamento de toda a bacia do Satildeo Francisco
uma vez que a demanda pela aacutegua vai ser substancial poreacutem tem quer ser
preservada essa aacutegua justamente a questatildeo da contaminaccedilatildeo e do uso dessa aacutegua
10
O Comitecirc da Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF) eacute um oacutergatildeo colegiado integrado pelo poder
puacuteblico sociedade civil e empresas usuaacuterias de aacutegua que tem por finalidade realizar a gestatildeo descentralizada e
participativa dos recursos hiacutedricos da bacia na perspectiva de proteger os seus mananciais e contribuir para o
seu desenvolvimento sustentaacutevel Para tanto o governo federal lhe conferiu atribuiccedilotildees normativas
deliberativas e consultivas Foi criado por decreto presidencial em 5 de junho de 2001 11
Vazatildeo Ecoloacutegica Eacute a demanda necessaacuteria de aacutegua a manter em um rio de forma a assegurar a manutenccedilatildeo e
conservaccedilatildeo dos ecossistemas aquaacuteticos naturais aspectos da paisagem de outros de interesse cientiacutefico ou
cultural (GONDIM 2006 apud SARMENTO 2007)
71
que tem quer ser realmente bem racionalizada e bem conscientemente utilizada eacute o
que vem natildeo ocorrendo ateacute hoje [] Entatildeo o rio Satildeo Francisco ele jaacute taacute com a
capacidade muito criacutetica de comportar porque a sua exploraccedilatildeo eacute muito grande
poreacutem o seu cuidado natildeo eacute devido natildeo tem a devida atenccedilatildeo [] a gente vem
acompanhando os grandes projetos que satildeo desenvolvidos nessa aacuterea e a questatildeo do
assoreamento e da agropecuaacuteria e agroinduacutestria ela afeta muito justamente a toda a
bacia do Satildeo Francisco (Gestora 9)
Segundo Machado (2008) a revitalizaccedilatildeo de bacias hidrograacuteficas eacute um conceito
teacutecnico-cientiacutefico ainda em elaboraccedilatildeo no Brasil e natildeo estaacute previsto em nossa legislaccedilatildeo
como poliacutetica puacuteblica
O Decreto de 5 de junho de 2001 foi a base para a criaccedilatildeo em 2004 do Projeto de
Conservaccedilatildeo e Revitalizaccedilatildeo da Bacia do rio Satildeo Francisco no acircmbito do Ministeacuterio do Meio
Ambiente (MMA) em parceria com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e outros 14
Ministeacuterios Como poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo permanente envolvendo a
populaccedilatildeo local e os governos federal estadual e municipal tem prazo de execuccedilatildeo de vinte
anos segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (MACHADO 2008)
O Projeto de revitalizaccedilatildeo da bacia do Rio Satildeo Francisco tem como objetivo geral
promover a melhoria das condiccedilotildees de oferta de aacutegua da bacia segundo os seus usos
prioritaacuterios (BRASIL 2001) Em seus objetivos especiacuteficos incluem-se a despoluiccedilatildeo da
aacutegua de esgotos e agrotoacutexicos conservaccedilatildeo de solos convivecircncia com a seca reflorestamento
e recomposiccedilatildeo de matas ciliares gestatildeo e monitoramento da bacia gestatildeo integrada dos
resiacuteduos soacutelidos educaccedilatildeo ambiental criaccedilatildeo e manejo de unidades de conservaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo da biodiversidade (MACHADO 2008)
Segundo Machado (2008 p 195) com o Decreto a revitalizaccedilatildeo passou entatildeo a ser
entendida como um conjunto de accedilotildees a serem realizadas visando agrave melhoria da qualidade e
ao aumento da quantidade de aacutegua na bacia
Desde 2004 o Projeto foi incluiacutedo nos Planejamentos Plurianuais do Governo Federal
para os quadriecircnios 2004-2007 2008-2011 e 2012-2015 como forma de assegurar os recursos
para a implementaccedilatildeo das accedilotildees (BRASIL 2014)
No Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA documento que detalha os objetivos
sociais econocircmicos e ambientais do Projeto de transposiccedilatildeo as accedilotildees previstas pelo governo
para a revitalizaccedilatildeo da Bacia do Satildeo Francisco
[] se apresentam com um sentido mais amplo com recuperaccedilatildeo ambiental de
aacutereas degradadas preservaccedilatildeo de ecossistemas relevantes pouco degradados e
promoccedilatildeo do desenvolvimento sociocultural das populaccedilotildees que aiacute
vivem (BRASIL 2004c p 16 grifo nosso)
72
Entretanto a preocupaccedilatildeo de que as accedilotildees para revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo Francisco natildeo
saiam do papel vem acompanhada do receio de que natildeo haveraacute aacutegua para passar no canal
caso as obras da transposiccedilatildeo sejam concluiacutedas outra inseguranccedila tambeacutem presente na fala de
lideranccedilas e gestores entrevistados
E a gente sabe que se a gente natildeo cuidar dele essa transposiccedilatildeo tambeacutem natildeo vai dar
essa aacutegua a esse povo Eacute um sonho [] mas a gente sabe que provavelmente ela natildeo
possa nem ser construiacuteda que ela natildeo possa ser finalizada essa obra de
transposiccedilatildeo Ela pode ateacute ser construiacuteda mas a aacutegua se a gente natildeo cuidar vem de
onde [] (Lideranccedila 2)
[] se o rio seca se natildeo consegue fazer a revitalizaccedilatildeo do Satildeo Francisco se a
revitalizaccedilatildeo fica soacute no papel que esse rio venha a secar como outros rios que a
gente sabe que jaacute veio a secar de onde essa parte do sertatildeo todinha vai beber Que a
gente bebe aacutegua do Satildeo Francisco aleacutem da questatildeo das frutas laacute do vale do Satildeo
Francisco essas coisas todas pra gente a importacircncia eacute de beber aacutegua mesmo e aiacute
de onde que a gente vai beber [] (Lideranccedila 1)
[] E que todo esse bem que passa laacute e vai passar por noacutes ele seja esse sinal
sempre de vida e que seja cuidado pela gente ou pelas populaccedilotildees ribeirinhas desse
rio que natildeo seja um sinal de morte mas um sinal de vida [] (Lideranccedila 3)
Medidas que impactem positivamente no processo de revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco vatildeo aleacutem de condutas individuais da responsabilizaccedilatildeo individual dos que vivem
na regiatildeo do semiaacuterido como tambeacutem do cuidado com a preservaccedilatildeo da nascente do rio
poliacutetica que deveria preceder o projeto da transposiccedilatildeo como expressam entrevistados
Eacute exatamente eacute justamente uma questatildeo da conscientizaccedilatildeo do uso da aacutegua e da
utilizaccedilatildeo dessa aacutegua Entatildeo positivamente ou seja a comunidade estaacute se voltando
realmente pra essa realidade no caso o uso indiscriminado e irracional dos recursos
naturais eacute que vai impactar no futuro [] quer dizer o que se destroacutei hoje o custo
para se recuperar eacute muito maior que inclusive a gente estaacute vendo hoje o custo que eacute
recuperar ou tentar preservar o rio Satildeo Francisco [] que eacute o mais grave para a
sobrevivecircncia do rio que eacute justamente onde existem as nascentes a preservaccedilatildeo das
nascentes de todo o sistema que daacute continuidade entendeu Porque se natildeo vocecirc vai
construir fazer todo o investimento e na hora de utilizar o rio morreu porque natildeo
teve mais a continuidade que ele deveria ter a preservaccedilatildeo e o cuidado (Teacutecnico 1)
[] eu acho que pela Transposiccedilatildeo taacute descuidando das comunidades ela natildeo vai
cuidar tambeacutem do rio Satildeo Francisco natildeo Era pra ter feito isso primeiro pra depois
fazer o canal cuidar primeiro da nascenccedila praacute poder ser que tirasse o quinhatildeo deles
no canal (Grupo Focal 2)
Natildeo satildeo apenas atitudes mais conscientes da populaccedilatildeo quanto ao uso indiscriminado
da aacutegua e dos demais recursos naturais nem tampouco a adoccedilatildeo de intervenccedilotildees para
preservaccedilatildeo da nascente do rio que iratildeo frear ou recuperar toda degradaccedilatildeo sofrida pelo rio
Satildeo Francisco mas tambeacutem e principalmente a adoccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica que
73
transforme o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco em um Programa
Segundo Machado (2008 p 195)
[] diversos fatores poliacuteticos e administrativos entre eles o embate em torno da
transposiccedilatildeo tem impedido tal mudanccedila Na praacutetica as accedilotildees em execuccedilatildeo
custeadas com recursos orccedilamentaacuterios da Uniatildeo priorizam o saneamento ambiental
ou seja a qualidade da aacutegua na bacia enquanto a quantidade de aacutegua na bacia e no
Rio Satildeo Francisco natildeo tem sido considerada nas accedilotildees em curso
Poreacutem natildeo haacute como negar a relaccedilatildeo direta entre as discussotildees em torno do Projeto de
Revitalizaccedilatildeo a partir do projeto de transposiccedilatildeo Para Machado (2008) o confronto poliacutetico e
social em torno da perspectiva da obra de transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco criou
o termo ldquorevitalizaccedilatildeordquo para se opor agrave transposiccedilatildeo A polecircmica gerada pelo projeto a
contestaccedilatildeo feita por atores sociais contraacuterios a obra da transposiccedilatildeo deu ecircnfase a questatildeo da
ldquoRevitalizaccedilatildeordquo a partir do argumento da fragilidade do rio e de sua bacia indicativo
premente da necessidade da revitalizaccedilatildeo antes da transposiccedilatildeo ou em contraposiccedilatildeo a ela
E corroborando com o pensamento de Machado um dos entrevistados afirma
[] Por outro lado o rio tambeacutem ele tem sido viacutetima de todo descaso e descuido
durante todo esse periacuteodo E eu lembro que no auge mesmo de todos esses conflitos
em relaccedilatildeo ao projeto eu dizia e muita gente se colocava ao contraacuterio porquecirc
achava que o rio ia ter um prejuiacutezo grande com o projeto eu acho que pela primeira
vez se colocou o rio Satildeo Francisco em pauta porque ateacute entatildeo natildeo se tinha
discussatildeo a gente tem inuacutemeras cidades em torno desse rio e inuacutemeras cidades que
jogavam esgoto dentro do rio A gente tinha vaacuterias aacutereas de assoreamento e isso de
forma crescente e ningueacutem e de repente o rio passou a ser o tema principal e aiacute
quem trouxe essa discussatildeo Foi a obra se natildeo tivesse transposiccedilatildeo todo mundo ia
continuar de braccedilo cruzado [] Algumas accedilotildees comeccedilaram a ser efetivadas mas
acho inclusive que tem que ter uma accedilatildeo mais intensiva no sentido se eacute a fonte que
a gente tem aiacute a gente natildeo pode pensar soacute como fonte de exploraccedilatildeo de aacutegua mas a
gente vai utilizar essa aacutegua A gente vai ter que pensar como eacute que garante a
vitalidade dele natildeo falo nem de revitalizaccedilatildeo eacute a vitalidade mesmo [] Entatildeo o
projeto hoje eu natildeo tenho duacutevida nenhuma que ele foi o foco principal pra dizer
assim o rio comeccedila a ser visto (Gestora 1)
No entanto o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco coordenado
pelo governo federal ainda natildeo logrou ecircxito na consolidaccedilatildeo de um arranjo institucional
afirma Machado (2008) para quem dentre os aspectos apontados como dificultadores para
implantaccedilatildeo do Projeto estatildeo
a dispersatildeo das accedilotildees e natildeo visualizaccedilatildeo pelos diversos atores sociais interessados a
amplitude das linhas de accedilatildeo a polecircmica em torno do projeto de transposiccedilatildeo das
aacuteguas do rio as dificuldades operacionais do Ministeacuterio coordenador do Projeto a
concentraccedilatildeo de grande parte dos recursos financeiros no Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional e as diferentes percepccedilotildees acerca das prioridades de um programa de
revitalizaccedilatildeo da bacia como fatores que dificultam a transformaccedilatildeo do projeto em
um programa efetivo de revitalizaccedilatildeo a falta de articulaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais
74
entre ministeacuterios e os demais niacuteveis do governo federal estadual e municipal
(MACHADO 2008 p 204)
Entre os fatores apontados merece destaque a polecircmica em torno da transposiccedilatildeo das
aacuteguas do Rio Satildeo Francisco pois para os setores de instituiccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas
movimentos sociais Ministeacuterio Puacuteblico e comunidades tradicionais da bacia a transposiccedilatildeo
inviabilizaria a revitalizaccedilatildeo da bacia (MACHADO 2008)
Documentos oficiais do projeto apontam que vaacuterios satildeo os impactos decorrentes da
obra da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e segundo o RIMA
impactos satildeo potenciais alteraccedilotildees provocadas pelo Projeto no meio ambiente e
podem ocorrer em uma ou mais fases do Projeto (de planejamento de construccedilatildeo e
de operaccedilatildeo) A anaacutelise dos impactos eacute realizada a partir de uma matriz de
classificaccedilotildees conhecida como lsquoMatriz de Impactosrsquo [] A principal funccedilatildeo da
Matriz de Impactos eacute auxiliar a tomada de decisatildeo quanto agrave viabilidade ou natildeo do
empreendimento pois permite identificar os impactos que mereceratildeo maior atenccedilatildeo
quando se formulam as medidas ambientais Mitigadoras ou
Potencializadoras (BRASIL 2004c p 73)
Os impactos descritos pelo PISF somam 44 dos quais 23 satildeo considerados como de
maior relevacircncia para o projeto (11 positivos e 12 negativos)
Em nosso estudo identificamos como de maior interesse 25 impactos sendo 15
impactos negativos e 10 vistos como impactos positivos
Entre os 10 impactos positivos chama nossa atenccedilatildeo o fato de que oito seratildeo
ldquousufruiacutedosrdquo apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto ou seja 80 deles enquanto que apenas
um (10) jaacute estaacute sendo sentido durante a fase de construccedilatildeo do projeto mas de forma
temporaacuteria (geraccedilatildeo de emprego e renda) O outro impacto previsto para aparecer nas fases
de construccedilatildeo e de operaccedilatildeo do projeto apresenta sinais evidentes apenas na aacuterea urbana de
Salgueiro e regiatildeo (dinamizaccedilatildeo da economia regional)
O impacto positivo - ldquoDiminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeordquo - eacute
apontado com efeito apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto Poreacutem com os atrasos ocorridos
em toda execuccedilatildeo do projeto a perspectiva de concretizaccedilatildeo deste impacto parece estar cada
vez mais distante e incerta A sobrevivecircncia da populaccedilatildeo natildeo pode esperar e o ecircxodo rural eacute
uma realidade confirmada por relato de moradores em grupo focal ao constatarem que haacute
jovens saindo das aacutereas quilombolas agrave procura de alternativas de trabalho e natildeo retornam
independente de estarem ou natildeo trabalhando no projeto da transposiccedilatildeo
Porque o que a gente teve de ecircxodo rural muitos jovens que saiacuteram daqui para
trabalhar laacute na Transposiccedilatildeo que foram morar em Salgueiro Eles ainda natildeo
retornaram e muitos dos meus alunos que eu vejo que jaacute concluiacuteram ensino meacutedio
75
jaacute trabalharam na Transposiccedilatildeo Hoje estatildeo alguns largou Eles natildeo voltam pra caacute
mas laacute jaacute natildeo tem transposiccedilatildeo pra trabalhar entatildeo Salgueiro caiu nessa armadilha
aiacute Foi um BUM de crescimento de uma vez aiacute levou muita gente praacute cidade mas a
estrutura de Salgueiro pra suportar o tanto de gente que tem laacute essa esperanccedila toda
vai ser um problema que Salgueiro vai ter que administrar isso (Grupo Focal 1)
Diferentemente do panorama descrito sobre os ldquoimpactos positivosrdquo dos 15 impactos
negativos seis deles ou seja 40 jaacute estatildeo sendo sentidos nas fase de construccedilatildeo do projeto e
continuaratildeo repercutindo na vida da populaccedilatildeo quilombola e do ambiente na fase de operaccedilatildeo
do projeto Somando agravequeles que iratildeo aparecer ldquoapenasrdquo na fase de operaccedilatildeo que satildeo mais
quatro impactos - ou seja 266 - seratildeo mais de 60 os impactos negativos que iratildeo
reverberar na vida da populaccedilatildeo e do ambiente O impacto ldquoperda de terras potencialmente
agricultaacuteveisrdquo considerado vital para a manutenccedilatildeo da agricultura familiar entre os
quilombolas estaacute classificado como dano ldquoapenasrdquo na fase de construccedilatildeo do projeto poreacutem o
que jaacute ocorreu no territoacuterio de Santana e estaacute para acontecer em ContendasTamboril
repercutiraacute negativamente tambeacutem na fase de operaccedilatildeo do projeto e dificilmente seraacute
revertido por medidas chamadas mitigadoras como constam no projeto Ambas situaccedilotildees
seratildeo descritas mais adiante
Resumo com os impactos elencados relacionando-os as fases do projeto em que
poderatildeo ser mais evidentes (Quadro7)
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Continua)
IMPACTOS NEGATIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Introduccedilatildeo de tensotildees e riscos sociais durante a fase de obra
2 Ruptura de relaccedilotildees sociocomunitaacuterias durante a fase de
obra
3 Riscos de acidentes com a populaccedilatildeo
4 Aumento das emissotildees de poeira]
5 Aumento eou aparecimento de doenccedilas
6 Aumento da demanda por infra-estrutura de sauacutede
7 Perda de terras potencialmente agricultaacuteveis
8 Pressatildeo sobre a infra-estrutura urbana
9 Perda e fragmentaccedilatildeo de cerca de 430 hectares de aacutereas com
vegetaccedilatildeo nativa e de haacutebitats de fauna terrestre
10 Diminuiccedilatildeo da diversidade da fauna terrestre
11 Risco de introduccedilatildeo de espeacutecies de peixes potencialmente
daninhas ao homem nas bacias receptoras
12 Risco de proliferaccedilatildeo de vetores
13 Ocorrecircncia de acidentes com animais peccedilonhentos
14 Modificaccedilatildeo do regime fluvial das drenagens receptoras
15 Iniacutecio ou aceleraccedilatildeo dos processos de desertificaccedilatildeo
76
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Conclusatildeo)
IMPACTOS POSITIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Geraccedilatildeo de empregos e renda durante a implantaccedilatildeo
2 Dinamizaccedilatildeo da economia regional
3 Aumento da oferta e da garantia hiacutedrica
4 Abastecimento de aacutegua das populaccedilotildees rurais
5 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a situaccedilotildees
emergenciais de seca
6 Dinamizaccedilatildeo da atividade agriacutecola e incorporaccedilatildeo de
novas aacutereas ao processo produtivo
7 Diminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeo
8 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a doenccedilas e oacutebitos
9 Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre a infra-estrutura de sauacutede
10 Melhoria da qualidade da aacutegua nas bacias receptoras
Fonte Brasil (2004 p 75)
Haacute discursos que referem-se aos impactos alguns como positivos outros expressam as
marcas os impactos negativos gerados pelo projeto da transposiccedilatildeo caracterizando-se como
situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo para populaccedilotildees da zona rural para populaccedilotildees quilombolas
Acho que tem impacto e grande neacute Na populaccedilatildeo Acho que ateacute no povo Hoje
mesmo natildeo eacute o mesmo povo em Salgueiro A gente tem outro povo aqui acho que
teve ganhos praacute populaccedilatildeo mas tem muita gente que estaacute vindo neacute (Gestora 7)
[] Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas
mesmo elas precisavam ter um preparo maior O que eu percebo eacute muita
insatisfaccedilatildeo em algumas comunidades rurais que foram que impactou natildeo eacute que a
transposiccedilatildeo vai passar no meio do terreno dela vai precisar se deslocar tem muitos
com insatisfaccedilatildeo muito grande (Gestora 2)
Para Rigotto e Teixeira (2009) a possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda pelos
empreendimentos leva a uma legitimaccedilatildeo simboacutelica que aliado a falta de informaccedilotildees claras
fidedignas e democraticamente debatidas ndash inclusive nos processos de licenciamento
ambiental satildeo responsaacuteveis por um processo de ocultaccedilatildeo dos impactos sociais e ambientais
e corroboram para a desmobilizaccedilatildeo e baixa capacidade de mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
atingida
Mas haacute narrativa de sujeitos que mostra que os impactos estatildeo visiacuteveis e classificados
como de ordem ambiental social que inclui o econocircmico e psicoloacutegico A percepccedilatildeo eacute de
que os diferentes niacuteveis de impactos trazem dimensotildees positivas e negativas para o municiacutepio
para a populaccedilatildeo
[] Entatildeo a gente teria o impacto ambiental eacute inerente natildeo tem como fazer uma
obra sem trabalhar o meio ambiente A gente teria o impacto social haacute de certa
forma uma mudanccedila na composiccedilatildeo no periacuteodo [] e aiacute esse social vem junto com
o econocircmico E a gente tem um outro impacto que eacute alguns podem considerar
77
social mas eu tenho tratado muito de outra forma que eacute o psicoloacutegico mesmo eacute o
mais interno de cada pessoa mas que termina sendo uma consequecircncia direta que
mesmo que defenda o projeto que mesmo que ache que aquilo eacute o necessaacuterio mas
mexe mesmo com o eu de cada um principalmente as populaccedilotildees que estatildeo em
torno da obra (Gestora 1)
A oferta de trabalho que aparece como um aspecto positivo pelo projeto eacute analisado
de forma criacutetica pelos entrevistados por serem empregos temporaacuterios e natildeo absorverem a
maior parte da populaccedilatildeo local principalmente da zona rural das populaccedilotildees quilombolas
inseguras com a falta de alternativas de trabalho em suas comunidades pela falta de
incentivos puacuteblicos para convivecircncia com o semiaacuterido e pelo transtorno das obras da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios O ecircxodo rural com a procura de trabalho na cidade jaacute eacute um
problema a ser enfrentado pelo municiacutepio de Salgueiro
Mas eu acho que do lado positivo teve muitos empregos que sugiram aqui []
(Gestora 5)
[] A gente tem uma caracteriacutestica diferenciada que eacute 80 da populaccedilatildeo toda estaacute
na aacuterea urbana embora essa aacuterea urbana natildeo tivesse a condiccedilatildeo de concentrar ou de
estar recebendo mas tambeacutem se o municiacutepio natildeo tinha nenhuma poliacutetica de fixaccedilatildeo
do homem no campo entatildeo era isso E por outro lado mesmo sem essa condiccedilatildeo
Salgueiro passou a atrair os municiacutepios vizinhos e aiacute crescia a situaccedilatildeo e a gente
observa a gente teve prejuiacutezo no processo mesmo no planejamento urbano a gente
tem aacutereas de ocupaccedilatildeo irregular os tipos de moradia natildeo foram trabalhadas entatildeo
tudo isso tinha uma repercussatildeo muito negativa na vida das pessoas e era
complementado pela questatildeo da violecircncia e os indicadores sociais muito baixos
(Gestora 1)
Surgem tambeacutem questionamentos sobre a funccedilatildeo social do trabalho nas obras do
canal por terem certeza de que a aacutegua natildeo vai beneficiar as comunidades quilombolas e
permitir o plantio a criaccedilatildeo de animais enfim melhorar suas condiccedilotildees gerais de vida
Aiacute graccedilas agrave Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela depois sai de
laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela Eacute estou Estou achando bom por
que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Aiacute vamos supor que essa aacutegua passe
nesse canal mas natildeo sirva pra noacutes Do que eacute que esse trabalho vai servir agora Se a
aacutegua vai passar aqui e noacutes natildeo vamos ter aacutegua pra plantar porque se vocecirc planta
vocecirc tem o que comer neacute Vocecirc plantou vocecirc tira o que comer vocecirc tem como tirar
o seu dinheirinho por fora ateacute porque a feira taacute bem aiacute neacute (Grupo Focal 3)
Mas como afirma Rigotto e Teixeira (2009) as comunidades por estarem excluiacutedas
dos processos de decisatildeo satildeo colocadas diante da ldquoalternativa infernalrdquo escolher entre a falta
de opccedilotildees de trabalho e geraccedilatildeo de renda e o emprego nesses novos empreendimentos
As reflexotildees e consideraccedilotildees gerais feitas sobre o projeto da transposiccedilatildeo torna visiacutevel
mesmo que para reafirmar o que jaacute vem sendo dito por pesquisadores estudiosos e pela
78
populaccedilatildeo que ao contraacuterio do discurso governamental os principais beneficiaacuterios do Projeto
seratildeo as empresas de agronegoacutecio com irrigaccedilatildeo da fruticultura para exportaccedilatildeo e a
carcinicultura
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de
onde eacute E noacutes aqui vamos ficar com quecirc (Grupo Focal 2)
[] Eu fui pro Foacuterum Social Nordestino havia muito embate sobre o Projeto [] e
assim laacute jaacute era muito criticado esse projeto porque na verdade natildeo seria um projeto
para beneficiar quem ele tava dizendo que ia beneficiar e sim ele tinha umas entre
linhas que na verdade era o agronegoacutecio eram os grandes criadores de camarotildees
que seria laacute para o Rio Grande do Norte Aiacute jaacute era bastante criticado [] (Grupo
Focal 1)
A ecircnfase num modelo de crescimento sem desenvolvimento eacute a loacutegica de sustentaccedilatildeo
de empreendimentos como o projeto da transposiccedilatildeo Para Couqueiro (2012 p 50)
os empreendimentos precisam se adequar aos ecossistemas e natildeo o contraacuterio A
relaccedilatildeo do homem com o semiaacuterido tem sido desastrosa fruto do modelo de
desenvolvimento que tem como base o crescimento econocircmico a qualquer custo
Quem determina as poliacuteticas econocircmicas para a regiatildeo eacute o capital por isso o uso
dos recursos naturais as relaccedilotildees de trabalho e o produto desse trabalho satildeo
controlados por uma elite agroindustrial que conta com apoio do estado
Concepccedilatildeo compartilhada na fala de entrevistados
Agora eacute claro se a gente natildeo tiver cuidado tambeacutem o desenvolvimento chega e o
povo fica a mercecirc neacute Natildeo melhora a vida do povo Acho que eu sou de uma
regiatildeo tambeacutem da zona rural e na zona rural principalmente onde a obra passa mais
proacutexima tem sempre impacto maior e eu soacute de uma aacuterea dessa(Gestora 6)
[] Porque essa comunidade aqui eacute uma comunidade de agricultura familiar neacute
As pessoas plantam soacute pro consumo se sobrar um excedente vende mas eacute soacute praacute o
consumo E taacute com uns trecircs anos que natildeo chove aqui Aiacute por isso eacute que o pessoal taacute
assim taacute dando tanto valor ao trabalho na firma Porque se fosse um ano de inverno
que o pessoal plantasse tinha muita gente que natildeo deixava natildeo sua roccedila praacute ir praacute
firma natildeo Ateacute porque a firma hoje em dia eacute o uacutenico meio que os pais de famiacutelia tatildeo
tendo pra sustentar a famiacutelia [] (Grupo Focal 3)
Mas a crenccedila na forccedila da luta da pressatildeo e organizaccedilatildeo popular como forma de fazer
valer as promessas do governo de mudar os rumos deste projeto estaacute presente como uma ldquoluz
no fim do tuacutenelrdquo na fala de moradores quilombolas durante grupo focal
[] Eu na verdade nesse embate eu ficava muito na duacutevida porque eu acho que
poderia sim beneficiar os criadores de camaratildeo mas eu acredito muito na forccedila do
povo e o povo poderia transformar essa realidade a partir se teria um laacute na ponta
79
mas teria todo um corpo que ia estaacute desde o comeccedilo ateacute o final entatildeo era
muitodava para o povo transformar [] Assim como eu acho que o natildeo
funcionamento o natildeo acontecimento as promessas natildeo cumpridas soacute estatildeo
acontecendo justamente porque o povo ainda estaacute passivo porque nessa linha de
protesto se abrisse um protesto aqui nessa regiatildeo contra esse abandono que estaacute
tendo eu acho que teria uma soluccedilatildeo (Grupo Focal 1)
Ao longo deste capiacutetulo o discurso oficial sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute construiacutedo
de ldquomaneira positiva e esperanccedilosardquo para que populaccedilotildees rurais quilombolas indiacutegenas
assentadas ldquoacreditemrdquo ou ldquotenham feacuterdquo que suas vidas iratildeo mudar substancialmente para
melhor No entanto as narrativas dos sujeitos e as reflexotildees construiacutedas por autores deixam
vir agrave tona contradiccedilotildees a distacircncia entre o discurso oficial e a realidade as vaacuterias nuances e
dimensotildees dos impactos provocados pelas intervenccedilotildees feitas ateacute o momento nas aacutereas
quilombolas e regiatildeo de abrangecircncia
80
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO
Por ser de laacute
do sertatildeo
laacute do cerrado
Laacute do interior do mato
da caatinga do roccedilado
(Lamento Sertanejo Dominguinhos)
Os quilombolas satildeo vistos como um grupo que apresenta uma cultura e uma histoacuteria
particular marcadas pela influecircncia negra natildeo soacute nas atividades agriacutecolas mas tambeacutem nas
religiosas Falar sobre essas populaccedilotildees nos remete tambeacutem a uma relaccedilatildeo de intimidade com
a natureza que para muitos pode ter ficado num passado longiacutenquo ou numa forma
ldquoultrapassada e arcaicardquo de estar no mundo ocidental cuja relaccedilatildeo homem-natureza se mostra
bastante fragilizada e distante
Mas de maneira persistente as comunidades quilombolas manteacutem vivos haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e formas de sobrevivecircncia natildeo predominantes no modelo vigente seja
por natildeo terem sido ldquocontaminadosrdquo pelas mudanccedilas do mundo atual muitas das vezes pelo
isolamento geograacutefico e ou exclusatildeo social seja pela natildeo adaptaccedilatildeo e opccedilatildeo em preservar as
formas de vida transmitidas como heranccedila familiar
Definiccedilotildees sobre o que sejam comunidades tradicionais mais especificamente as
quilombolas satildeo abordagens mais recentes Entretanto segundo Arruda e Diegues (2001 p
23) haacute um consenso sobre o uso do termo populaccedilatildeo indiacutegena significando etnia referindo-
se a povos que guardam uma continuidade histoacuterica e cultural desde antes da chegada dos
europeus na Ameacuterica Para estes autores haacute um intenso debate e ateacute uma confusatildeo sobre o
significado dos termos ldquopopulaccedilotildees nativasrdquo ldquotribaisrdquo ldquoindiacutegenasrdquo e ldquotradicionaisrdquo Mas
adotaram uma definiccedilatildeo mais ampla substituindo o termo ldquopovos tribaisrdquo por ldquopovos
nativosrdquo que se aplica aos viventes em aacutereas geograacuteficas especiacuteficas e apresentam as
seguintes caracteriacutesticas
a) Ligaccedilatildeo intensa com os territoacuterios ancestrais
b) Auto-identificaccedilatildeo e reconhecimento pelos outros povos como grupos culturais
distintos
c) Linguagem proacutepria muitas vezes diferentes da oficial
d) Presenccedila de instituiccedilotildees sociais poliacuteticas proacuteprias e tradicionais
e) Sistemas de produccedilatildeo voltados principalmente agrave subsistecircncia
81
Atualmente fruto da luta e de maior visibilidade destas populaccedilotildees foi instituiacuteda a
Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais
que na forma do Decreto nordm 6040 de 7022007 em seu artigo 3ordm entende
povos e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais que possuem formas proacuteprias de organizaccedilatildeo social que
ocupam e usam territoacuterios e recursos naturais como condiccedilatildeo para sua reproduccedilatildeo
cultural social religiosa ancestral e econocircmica utilizando conhecimentos
inovaccedilotildees e praacuteticas gerados e transmitidos pela tradiccedilatildeo (BRASIL 2013)
Ao referir-se a comunidades remanescentes de quilombos cuja identidade eacutetnica os
distingue do restante da sociedade Souza (2008) ressalta que a identidade eacutetnica corresponde
a um processo de auto-identificaccedilatildeo bastante dinacircmico e natildeo se reduz a elementos materiais
ou traccedilos bioloacutegicos distintivos como cor da pele por exemplo
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA
ldquoDe uma coisa sabemos a terra natildeo pertence ao homem eacute o homem que
pertence a terra Disso temos certeza Todas as coisas estatildeo interligadas
como o sangue que une uma famiacutelia Tudo estaacute relacionado entre si Tudo
quanto agride a terra agride os filhos da terra Natildeo foi o homem quem
teceu a trama da vida ele eacute meramente um fio da mesma Tudo o que ele
fizer agrave trama a si proacuteprio faraacuterdquo
(Discurso feito pelo liacuteder dos iacutendios Suquamish e Duwaminsh Chefe
Seattle ao presidente americano Franklin Pierce em 1854)
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que significa 63 localizadas no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Os uacutenicos estados que natildeo registram ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e
Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
Para Santos as comunidades quilombolas passaram a ser reconhecidas como parte do
ldquoprocesso civilizatoacuterio nacionalrdquo e portanto portadoras de direitos apenas cem anos apoacutes a
aboliccedilatildeo da escravidatildeo no Brasil quando em 1988 com a Constituiccedilatildeo Federal foi incluiacutedo o
principal direito que refere-se agrave questatildeo fundiaacuteria (SANTOS F L 2013)
A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
versa sobre o direito de propriedade das terras quilombolas ldquoAos remanescentes das
82
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade
definitiva devendo o Estado emitir-lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Aleacutem de influenciar no processo da Constituinte de 1988 o Movimento Negro no
Brasil tambeacutem foi determinante na construccedilatildeo das constituiccedilotildees estaduais da Bahia (artigo 51
do ADCT) Goiaacutes (artigo 16 do ADCT) Maranhatildeo (artigo 229 do ADCT) Mato Grosso
(artigo 33 do ADCT) e Paraacute (artigo 332) que reconhecem o direito dos remanescentes dos
quilombos agrave propriedade de suas terras tradicionais Em outros estados como Espiacuterito Santo
Mato Grosso do Sul Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul e Satildeo Paulo
existe legislaccedilatildeo natildeo constitucional sobre a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de terras
quilombolas (ROCHA 2012)
Em 2003 eacute aprovado o Decreto nordm 4887 que regulamenta o procedimento para
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposiccedilotildees
Constitucionais Transitoacuterias O Decreto tambeacutem define quais satildeo as terras consideradas
quilombolas caracterizadas como ldquosatildeo terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reproduccedilatildeo fiacutesica social econocircmica e
culturalrdquo (BRASIL 2003)
Eacute da Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) de 1989 cujo Brasil
eacute signataacuterio que o Decreto no
4887 empresta o princiacutepio da autodeterminaccedilatildeo como criteacuterio
fundamental para determinar os grupos como sendo quilombolas (Art 2ordm sect 1) Cabe ao
Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) por meio do Instituto Nacional de
Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) ao Distrito Federal Estados e Municiacutepios a
competecircncia para realizar todo procedimento descrito neste Decreto em parceria com os
Institutos de Terras Estaduais e diaacutelogo com a FCP e Ministeacuterio Puacuteblico (BRASIL 2003)
Segundo Santos F L (2013 p 1)
A partir de 2003 com o Decreto 4887 a questatildeo quilombola no Brasil ganhou
novos contornos e novas perspectivas uma vez que a operacionalizaccedilatildeo da poliacutetica
puacuteblica de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria passou a considerar as diversas formas de uso
apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do territoacuterio das comunidades quilombolas
Salientamos ainda que o Decreto nordm 48872003 estabeleceu que a titulaccedilatildeo das terras
quilombolas eacute de modalidade coletiva com claacuteusulas de inalienabilidade impenhorabilidade
e imprescritibilidade sendo emitido o tiacutetulo em nome de associaccedilotildees que legalmente
representam as comunidades quilombolas (BRASIL 2003) Em 2004 a Instruccedilatildeo Normativa
Nordm16 do INCRAMDA acrescenta a definiccedilatildeo de terras em seu art 4ordm
83
[] bem como as aacutereas detentoras de recursos ambientais necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo
de seus costumes tradiccedilotildees cultura e lazer englobando os espaccedilos de moradia e
inclusive os espaccedilos destinados aos cultos religiosos e os siacutetios que contenham
reminiscecircncias histoacutericas dos antigos quilombos (INCRA 2004)
Poreacutem apenas em setembro de 2008 eacute publicada Instruccedilatildeo normativa ndeg 49 do
INCRAMDA que estabelece em detalhes os procedimentos administrativos incluindo outras
etapas como a desintrusatildeo (apoacutes a demarcaccedilatildeo das terras) e o registro das terras ocupadas por
quilombolas previamente regulamentados no referido Decreto (SANTOS F L 2013)
Nas regiotildees de maior concentraccedilatildeo de comunidades remanescentes de quilombos ateacute
outubro de 2013 foram certificadas pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP)12
2408
comunidades quilombolas e haacute 996 processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em curso O
documento de Certificaccedilatildeo emitido pela FCP garante agraves famiacutelias quilombolas a regularizaccedilatildeo
territorial junto ao INCRA Para o processo de certificaccedilatildeo a autodefiniccedilatildeo eacute necessaacuteria para
a caracterizaccedilatildeo dos remanescentes de quilombos e seraacute registrada no Cadastro Geral junto agrave
FCP que expediraacute certidatildeo (BRASIL 2013)
Aleacutem da certificaccedilatildeo de terras quilombolas cabe agrave FCP auxiliar juridicamente as
comunidades dos quilombos apoacutes expediccedilatildeo do tiacutetulo para a defesa da posse da terra
Ateacute o iniacutecio de 2013 o INCRA titulou 207 territoacuterios quilombolas beneficiando
12906 famiacutelias representando apenas 1014 das que jaacute satildeo certificadas (FUNDACcedilAtildeO
CULTURAL PALMARES 2013)
Sucintamente uma descriccedilatildeo das etapas para homologaccedilatildeo das terras quilombolas que
possuem certificaccedilatildeo pela FCP (Quadro 8)
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas
ETAPAS PARA HOMOLOGACcedilAtildeO DAS TERRAS DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS
Fase inicial Abertura de processo no INCRA para reconhecimento de Territoacuterios Quilombolas ndash
procedimento que seraacute feito por qualquer interessado das entidades ou associaccedilotildees
representativas de quilombolas ou de ofiacutecio pelo INCRA Elaboraccedilatildeo de RTID Iniacutecio do estudo da aacuterea que consiste na caracterizaccedilatildeo espacial econocircmica ambiental e
sociocultural da terra ocupada pela comunidade A identificaccedilatildeo dos limites das terras das
comunidades remanescentes de quilombos eacute feita a partir de indicaccedilotildees da proacutepria comunidade
bem como a partir de estudos teacutecnicos e cientiacuteficos inclusive relatoacuterios antropoloacutegicos
Anaacutelise e julgamento
de recurso ao RTID
Apoacutes a publicaccedilatildeo do RTID o processo eacute aberto para contraditoacuterio
Portaria de
Reconhecimento
Portaria que declara os limites do territoacuterio
DecretaccedilatildeoEncaminh
amento
Decreto presidencial que autoriza a desapropriaccedilatildeo privada encaminhamentos a entes puacuteblicos
que tenham a posse
Desintrusatildeo Notificaccedilatildeo e retirada dos ocupantes
Titulaccedilatildeo Emissatildeo de tiacutetulo de propriedade coletiva para a comunidade em nome de sua associaccedilatildeo
legalmente constituiacuteda
Fonte Adaptado de INCRA (2008)
Nota 1-Relatoacuterio teacutecnico de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo
12
A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP) criada em 1988 eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio da
Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira
84
A afirmaccedilatildeo dos direitos territoriais das comunidades quilombolas - garantido no
artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais e Transitoacuterias - eacute o que existe de mais
representativo e desperta uma seacuterie de questotildees que envolvem aspectos soacutecio-econocircmicos
espaciais juriacutedicos culturais e mais recentemente ambientais que levam agrave questatildeo do
significado dessas comunidades no mundo contemporacircneo e sua efetiva inserccedilatildeo cidadatilde
(FREITAS et al 2011)
O ldquoSertatildeo Quilombolardquo uma publicaccedilatildeo do Centro de Cultura Luis Freire (2008 p
11)13
afirma que
Um aspecto comum agrave grande maioria das comunidades sejam as surgidas antes ou a
partir do final do seacuteculo XIX eacute que os territoacuterios se constituiacuteram desde o iniacutecio a
partir do uso de terras natildeo apenas para moradia e cultivos de subsistecircncia mas para
diversas praacuteticas ndash coleta caccedila pesca rituais sagrados ndash que pouco a pouco foram
criando viacutenculos afetivos e sentimentos de pertenccedila
Apesar do governo defender desde 2003 que a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute a base para a
implantaccedilatildeo de alternativas de desenvolvimento aleacutem de garantir a reproduccedilatildeo fiacutesica social e
cultural de cada comunidade haacute um longo caminho a ser percorrido pelas comunidades
quilombolas haja vista a situaccedilatildeo de lentidatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de titulaccedilatildeo
territorial (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 2003 p 25)
Ao sair do acircmbito da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares a partir do Decreto nordm 48872003 a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de territoacuterios quilombolas ao ser assumida pelo INCRA traz o tema
para o acircmbito da questatildeo agraacuteria sem deixar de fazer parte da dimensatildeo eacutetnica e cultural
Para Germani (2010 apud SANTOS F L 2013)
O problema da questatildeo quilombola se insere no bojo da questatildeo agraacuteria agrave medida
que envolve disputas poliacuteticas e territoriais motivadas pela desigual estrutura
fundiaacuteria brasileira capitaneada lsquo [] pelos interesses antagocircnicos entre os agentes
hegemocircnicos do capital o Estado as organizaccedilotildees e os movimentos sociais de luta
pelana terrarsquo
Todavia mesmo natildeo havendo um nuacutemero significativo de tiacutetulos entregues agraves
comunidades quilombolas no Brasil Santos F L (2013 p 1) acredita que
[] jaacute haacute hoje uma seacuterie de intervenccedilotildees puacuteblicas em curso em diversas
comunidades quilombolas em vaacuterias regiotildees do Paiacutes que do ponto de vista
13
O CCLF eacute uma organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola A partir de 2000 passa a colaborar com o
fortalecimento institucional da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) o que vem a
ocorrer em 2006 com a Comissatildeo Estadual de Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(CEACQPE) e com a Coordenaccedilatildeo Nacional de Articulaccedilatildeo das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(CONAQ)
85
geograacutefico tem acionado um novo processo de (re) produccedilatildeo do espaccediloterritoacuterio
dessas comunidades quilombolas agrave medida que uma seacuterie de transformaccedilotildees
territoriais estaacute ocorrendo como resultado da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
No acircmbito da luta poliacutetica o povo quilombola jaacute enfrentou ameaccedilas concretas agrave
manutenccedilatildeo das conquistas obtidas no campo da regularizaccedilatildeo dos seus territoacuterios Como
exemplo foi ajuizada pelo Partido Democrata (DEM) uma Accedilatildeo Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN no
3239-9600) no Supremo Tribunal Federal que contestava
principalmente o direito agrave terra das comunidades que uma vez tituladas se tornam
inalienaacuteveis e coletivas E em maio de 2007 o deputado Valdir Collato (PMDBndashSC)
apresentou o Projeto de Decreto Legislativo no44 de 2007 com o objetivo de suspender a
aplicaccedilatildeo do Decreto no
4887 e anular todos os atos administrativos expedidos com base
neste Decreto Ambas ameaccedilas foram barradas com base no artigo 68 da Constituiccedilatildeo
Federal (BISPO 2012 p 1)
Estes fatos refletem a ideologia conservadora representada no Congresso ao tratar a
questatildeo fundiaacuteria segundo interesses das oligarquias rurais e agraacuterias tentando barrar as
conquistas poliacuteticas de Estado dos povos quilombolas que do ponto de vista da legislaccedilatildeo
tentam resgatar a diacutevida histoacuterica com este segmento da sociedade a fim de assegurar mais
justiccedila social em que pese todos os entraves concretos agrave efetivaccedilatildeo das conquistas juriacutedicas
ateacute entatildeo
Os discursos e conquistas legais suscitam esperanccedilas poreacutem as demandas das
comunidades quilombolas relativas ao territoacuterio no Brasil vem sendo respondidas com
morosidade As causas dessa letargia vatildeo desde as estruturais econocircmicas poliacuteticas e
histoacutericas como tambeacutem a insuficiecircncia teacutecnica e de orccedilamento fruto da natildeo priorizaccedilatildeo
poliacutetica com a questatildeo (SAUER 2010)
Em Pernambuco essa realidade natildeo eacute diferente do restante do paiacutes haja visto que das
121 comunidades quilombolas atualmente reconhecidas apenas duas satildeo tituladas que satildeo as
Comunidades de Castainho no Municiacutepio de Garanhuns e a de Conceiccedilatildeo das Crioulas em
Salgueiro uma das trecircs Comunidades deste estudo
A luta da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pelo territoacuterio eacute marcada por
conflitos com fazendeiros que desde o iniacutecio do seacuteculo XX de forma iliacutecita foram
adquirindo terras em suas aacutereas acarretando a diminuiccedilatildeo significativa do que havia sido
conseguido com o suor de muitos As invasotildees por parte de fazendeiros presenciada pelos
moradores provocaram uma diminuiccedilatildeo expressiva dos territoacuterios das muitas famiacutelias que
dependem deles para sobrevivecircncia
86
Os brancos chegavam e pediam me decirc aqui praacute eu colocar um curral para deixar o
gado ai [] Ai as pessoas jaacute dava os filhos pra eles serem padrinho e aiacute eles iam
entrando se apossando [] eles ficaram com tudo e noacutes quase nada (CENTRO DE
CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 21)
Foi no ano de 2000 que Conceiccedilatildeo das Crioulas recebeu o tiacutetulo de seu territoacuterio pela
FCP oacutergatildeo na eacutepoca responsaacutevel pela titulaccedilatildeo das terras quilombolas A concessatildeo do tiacutetulo
no entanto natildeo implicou a retirada dos ocupantes natildeo quilombolas (proprietaacuterios eou
posseiros) que continuavam a gerar conflitos e episoacutedios de violecircncia em Conceiccedilatildeo das
Crioulas As providecircncias necessaacuterias natildeo foram adotadas para a desapropriaccedilatildeo e o
reassentamento Em 2004 foi aberto novo procedimento de titulaccedilatildeo no INCRA trazendo
uma esperanccedila de que os fazendeiros fossem desapropriados e o problema fundiaacuterio
solucionado E desde 2008 o processo encontrava-se em fase de RTID
A luta pela regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Santana tem como marco o ano de 2006
quando foi enviada solicitaccedilatildeo agrave FCP para certificaccedilatildeo da comunidade obtida em
12032007 Em 2011 o INCRAMDA publicou no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo e no Diaacuterio
Oficial de Pernambuco o RTID referente ao quilombo que foi ldquobatizadordquo de comunidade
remanescente quilombola Santana III (INCRA 2011 p 108) O RTID foi elaborado com base
no Relatoacuterio Antropoloacutegico estruturado pelo antropoacutelogo Geraldo Barboza de Oliveira Juacutenior
em 2009 a pedido do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF como parte do Subprograma de
Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que consta do Programa Baacutesico Ambiental de
Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas o PBA 17 Com base no Relatoacuterio
Antropoloacutegico de Caracterizaccedilatildeo Histoacuterica Econocircmica Ambiental e Soacutecio-Cultural da
Comunidade Remanescente do Quilombo de Santana
Tal ocupaccedilatildeo eacute legitimada pela lembranccedila de seus moradores A relaccedilatildeo com a terra
eacute marco da existecircncia da comunidade de remanescente de quilombo de Santana Os
relatos satildeo de uma objetividade singular quanto se trata dos limites da comunidade
de Santana (OLIVEIRA JUacuteNIOR 2009 apud BRASIL 2011 p 104)
Ressaltamos que a publicaccedilatildeo do RTID natildeo avanccedilou no tocante ao detalhamento mais
atual e fiel das particularidades da comunidade quilombola de Santana particularmente no
contexto das obras da transposiccedilatildeo e seus impactos na aacuterea (BRASIL 2011) Isto demonstra
que apesar de mais um passo ter sido dado para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de
Santana haacute inuacutemeras contradiccedilotildees e interesses poliacuteticos e econocircmicos envolvendo a questatildeo
e o processo para titulaccedilatildeo definitiva continua
O quilombo de Contendas formado pelas localidades de Contendas e Tamboril tem
apenas o territoacuterio de Tamboril certificado pela FCP 2007 e natildeo haacute informaccedilotildees sobre outras
87
etapas do processo Tamboril eacute um territoacuterio desapropriado pelo INCRA comprado para
reforma agraacuteria Essa aacuterea historicamente eacute de uso da comunidade para o plantio para a
pecuaacuteria para subsistecircncia das famiacutelias Desde 1998 o natildeo reconhecimento deste territoacuterio
como um quilombo desencadeou um conflito entre os quilombolas e o governo
A gente trabalha nesta terra haacute muitos anos Jaacute vem de 100 anos meu avocirc morreu
com a idade de 100 anos eu acho que noacutes jaacute pagamos essa terra Jaacute taacute mais do que
paga a gente desde crianccedila trabalhando nessa terra Eu estou com 64 anos natildeo
estou mais trabalhando nela mas tem minha famiacutelia meus filhos genros netos Aiacute
a gente ta querendo ficar com ela como quilombola pelos quilombolas (CENTRO
DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 24)
Apenas o processo de certificaccedilatildeo natildeo traz a seguranccedila necessaacuteria sobre os direitos ao
territoacuterio O discurso do governo de que para esta comunidade as condiccedilotildees satildeo mais
favoraacuteveis natildeo tranquiliza a populaccedilatildeo quilombola de ContendasTamboril
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute diz ldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacute mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos []
(Lideranccedila 2)
O PBA 17 jaacute referido anteriormente traz a justificativa de que
Independente da situaccedilatildeo em que se encontrem os territoacuterios quilombolas situados
nos municiacutepios de influecircncia direta do empreendimento partiu-se da constataccedilatildeo de
que se faz necessaacuterio em caraacuteter imediato a agilizaccedilatildeo dos processos de
reconhecimento demarcaccedilatildeo e desintrusatildeo dos mesmos a fim de garantir a
estabilizaccedilatildeo e a seguranccedila das comunidades quilombolas (BRASIL 2005 p 3)
O subprograma de Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que constitui o PBA 17
apresenta como objetivo
Apoiar o processo de reconhecimento e garantia territorial das comunidades que se
auto definem como quilombolas situadas na aacuterea de influecircncia direta do
empreendimento atraveacutes do estabelecimento de uma parceria entre o Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional e o INCRAMDA com a alocaccedilatildeo de recursos para
identificaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas
(BRASIL 2005 p 4)
E como meta esse subprograma aponta a ampliaccedilatildeo do nuacutemero de territoacuterios
quilombolas regularizados bem como a reduccedilatildeo dos conflitos pela posse de terra
Mas as intenccedilotildees e o discurso governamental natildeo se concretizam em uma praacutetica
efetiva que garanta o cumprimento de sua meta haja visto que nas aacutereas do nosso estudo
88
apenas a comunidade de Santana teve o apoio do MI que com a contrataccedilatildeo de um
antropoacutelogo elaborou o Relatoacuterio Antropoloacutegico ferramenta necessaacuteria para avanccedilar no
RTID junto ao INCRA
Para a comunidade de ContendasTamboril nenhuma medida concreta foi tomada ateacute o
momento De forma sucinta a situaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo (Quadro 9)
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo
MUNICIacutePIO COMUNIDADE SITUACcedilAtildeO JURIacuteDICA
CONTRIBUICcedilAtildeO DO
PISF NO PROCESSO DE
REGULARIZACcedilAtildeO
SIM NAtildeO
Salgueiro
Santana - Em 2006 - Reconhecida pela FCP (12032006)
- Em 2011- Publicaccedilatildeo pelo INCRA do RTID
X
X
Contendas
Tamboril
-Reconhecida pela FCP em 02032007 (apenas a
aacuterea Tamboril)
-Tamboril- aacuterea desapropriada pelo INCRA
gerando conflitos
X
X
Conceiccedilatildeo das
Crioulas
-Em 2000 - Titulada em 14072000 pela FCP
-Em 2004 - Processo de Regularizaccedilatildeo aberto no
INCRA
- Em 2008 - Elaboraccedilatildeo de RTID
X
X
X
Fonte A autora 2014
Quanto a novos processos de titulaccedilatildeo em marccedilo de 2008 havia vinte e uma
comunidades quilombolas de Pernambuco com processos abertos no INCRA poreacutem em
apenas seis processos havia sido tomada alguma providecircncia por parte do INCRA
(ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE
PERNAMBUCO 2008)
Conforme a Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas do Estado de Pernambuco
(ACQEP)14
ainda permanece na agenda de prioridades em primeiro lugar a luta pela
titulaccedilatildeo da terra ao lado de demandas relativas agraves poliacuteticas sociais e recursos para o
desenvolvimento de atividades geradoras de renda (ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011)
Para Sauer (2010 p 6)
[] o direito ao territoacuterio eacutetnico eacute condiccedilatildeo sine qua non para a garantia de outros
direitos humanos como o direito agrave alimentaccedilatildeo ao trabalho e agrave moradia bem como
agrave preservaccedilatildeo da cultura ancestral das comunidades quilombolas [] A morosidade
do Estado em garanti-los consubstancia uma violaccedilatildeo de direitos humanos por
omissatildeo e perpetua a injusticcedila histoacuterica de que as comunidades quilombolas satildeo
viacutetimas
14
Organizaccedilatildeo criada em 2003 em Pernambuco com objetivo de ldquoarticular as comunidades do estado para que a
luta pela garantia dos direitos dos quilombolas avance de forma integradardquo (ARTICULACcedilAtildeO DAS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011) A sua fundaccedilatildeo deu-se
durante o II Encontro das Comunidades Quilombolas de Pernambuco que a Associaccedilatildeo Quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas promoveu em maio de 2003 com o apoio do Centro de Cultura Luiz Freire A
representaccedilatildeo estadual encontra-se sediada em Conceiccedilatildeo das Crioulas
89
E ao referir-se ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Sauer (2010)
acrescenta que as obras violam os direitos humanos dessas populaccedilotildees principalmente o
direito agrave terra e territoacuterio
Essa violaccedilatildeo causada pela implementaccedilatildeo de um projeto de governo como o projeto
da transposiccedilatildeo desrespeita o que preconiza a Constituiccedilatildeo Federal quando estabelece como
princiacutepios norteadores da Repuacuteblica Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e
institui como objetivos construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria garantir o
desenvolvimento nacional erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades
sociais e regionais e promover o bem de todos sem preconceito de origem raccedila sexo cor
idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo Portanto a concretizaccedilatildeo do direito de
propriedade agraves comunidades quilombolas eacute um passo para efetivar esses preceitos (GAMA
OLIVEIRA 2007)
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA
A comunidade quilombola de Santana em Salgueiro Pernambuco eacute adscrita ao
distrito de Umatildes desde 1910 e formada pelos siacutetios Livramento Jurema Olaria Recanto e a
proacutepria Santana que representa o centro da comunidade Neste Siacutetio foi erguida a igreja
catoacutelica dedicada agrave Senhora Santana
A figura 2 mostra o mapa do territoacuterio de Santana produzido por moradores
quilombolas No mapa haacute indicaccedilatildeo do acesso ao siacutetio Olaria (esquerda parte inferior do
mapa) a igreja e as casas no centro da comunidade (esquerda parte superior) estrada para
Salgueiro (direita parte inferior) dentre outras caracteriacutesticas do territoacuterio A figura 3 mostra
uma das casas do Siacutetio Recanto onde realizamos o grupo focal
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 40)
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana
Fonte A autora 2013
90
A partir da histoacuteria oral estima-se que o quilombo de Santana existe haacute cerca de 200
anos com uma aacuterea de 2402 hectares
Durante todo o seacuteculo XX
essas famiacutelias foram estabelecendo relaccedilotildees sociais econocircmicas e de casamento
entre si vivendo da agricultura e superando juntas os periacuteodos de seca
especialmente a de 1932 quando a memoacuteria dos mais velhos recordam os tempos de
comer chique-chique patildeo de mucunatilde lavado em sete aacuteguas farinha feita da cuca de
umbu xereacutem pipoca mugunzaacute doce e branco piratildeo feito com a farinha da cuca do
umbuzeiro beiju de parreira [] (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 39)
O acesso de Santana se daacute por estrada natildeo pavimentada a uma distacircncia de 24 km da
sede de Salgueiro 10 km a oeste do distrito de Umatildes e a 20 km da cidade de Terra Nova Em
Relaccedilatildeo agrave Recife encontra-se a uma distacircncia de 554 km (BRASIL 2011)
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Que rumor eacute esse na mata
e Por que se alarma a natureza
Aieacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Carlos Drummond de Andrade
O projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pode ser visto com um marco na
histoacuteria desta comunidade com sua histoacuteria podendo ser escrita antes e depois desse projeto
O quilombo de Santana estaacute proacuteximo ao canal do Eixo Norte no trecho I dentro da
Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) Inicialmente identificada pelo projeto como comunidade
rural e inserida no Programa Ambiental de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacuteguas ao
Longo dos Canais (PBA15) foi posteriormente incluiacuteda no Programa Ambiental de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas- o PBA 17 objeto de atenccedilatildeo no capiacutetulo 8
deste estudo (BRASIL 2005 p 3)
Com as visitas feitas por teacutecnicos do MI antes do iniacutecio das obras do canal a
comunidade criou uma expectativa positiva em torno do Projeto pois os rumores eram de que
chegaria aacutegua e haveria empregos para todos Acreditava-se que a ldquocara da comunidade ia
mudarrdquo mas que seria para melhor
[] o primeiro contato que a gente teve com o pessoal do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
foi com Carlos Braga O primeiro contato que a gente teve e ele falou que o projeto
91
viria para melhorar a comunidade para mudar a cara da comunidade que ia ser um
projeto muito bom e todo mundo ficou muito feliz achando que ia ter acesso agrave aacutegua
pra agricultura foi o que deu a entender na primeira conversa [] Com o passar do
tempo a gente foi conhecendo melhor o projeto foi sendo apresentado pra gente e a
gente ficou sabendo que seria aacutegua para o consumo humano e que as comunidades a
5 km pra cada lado do canal seriam atendidas com aacutegua para o consumo humano
mas que natildeo teria acesso a aacutegua pra agricultura[] (Lideranccedila 1)
Atualmente as obras do canal passam dentro do territoacuterio de Santana (Figuras 4 e 5) e
vem deixando marcas profundas de degradaccedilatildeo ambiental e perdas A populaccedilatildeo chegou a
acreditar que haveria um diaacutelogo e consulta com o MI sobre o ritmo das obras os trechos em
que a obra ia acontecer como preservar a mata e aacutervores centenaacuterias poreacutem o processo se
deu como se fora em ldquoterras de ningueacutemrdquo
[] E aiacute acabou que parte do nosso territoacuterio precisou ser cedido 100 m para cada
lado do canal a gente teve que ceder para o Ministeacuterio pra construccedilatildeo do canal e aiacute
aleacutem do barulho da poeira que a obra causa mesmo o que mais doeu assim na
comunidade vecirc foi aacutervores que tinham um valor histoacuterico pra gente um valor
sentimental e que a gente viu assim ser cortadas ser dizimadas e natildeo teve nenhum
respeito porque a gente faz todo um trabalho ambiental de respeito de natildeo
desmatar tem aacutervores assim que a gente nem sabe haacute quantos anos estavam ali e a
gente viu ser derrubado foi doloroso essa parte Natildeo porque na verdade assim a
gente achou a gente achava que como a terra era nossa eles natildeo iam chegar laacute e
desmatar assim Soacute que natildeo foi bem assim A obra vinha avanccedilando e a gentersquo natildeo
mas eles natildeo vatildeo entrar aquirsquo porque quando a obra passou as pessoas que iam ser
indenizadas natildeo tinham sido indenizadas ainda e a gente achou que natildeo fosse
acontecer que natildeo ia ser assim mas a obra veio e veio e passou realmente e foi
derrubando foi muito raacutepido e a gente meio que ficou atocircnico sem acreditar natildeo
mas como assim A terra eacute nossa e a gente natildeo derrubou essas aacutervores e agora eles
vem e derrubam Foi muito raacutepido mesmo assim a gente natildeo acreditava mesmo A
gente achou que espera aiacute a terra eacute da gente Entatildeo eles primeiro vatildeo vir aqui vatildeo
conversar com a gente mas natildeo foi (Lideranccedila 1)
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das
obras do canal
Fonte A autora 2013
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de
Santana
Fonte A autora 2013
Com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 399 habitantes totalizando 85 famiacutelias
vivendo da agricultura familiar e pecuaacuteria o quilombo de Santana tinha terras destinadas agrave
92
agricultura que satildeo de responsabilidade de cada nuacutecleo familiar reunindo pais filhos e netos
mas no ciclo da colheita costumavam adotar o sistema de mutiratildeo quando todos
trabalhavam juntos nas roccedilas uns dos outros (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008
p 39)
No entanto com as obras da transposiccedilatildeo temos que nos referir a essa forma de
sobrevivecircncia como coisa do passado em virtude da interferecircncia de forma violenta e
devastadora nos meios de subsistecircncia das famiacutelias nas aacutereas de plantio coletivo chamada
sequeiro15
onde se davam as praacuteticas de agricultura familiar e da pecuaacuteria
Como afirma Rinaldo Arruda as populaccedilotildees tradicionais dentre elas as quilombolas
apresentam um modelo de ocupaccedilatildeo do espaccedilo e uso dos recursos naturais voltado
principalmente para a subsistecircncia com fraca articulaccedilatildeo com o mercado baseado
em uso intensivo de matildeo de obra familiar tecnologias de baixo impacto derivadas
de conhecimentos patrimoniais e habitualmente de base sustentaacutevel Essas
populaccedilotildees ndash caiccedilaras ribeirinhos seringueiros quilombolas e outras variantes ndash em
geral ocupam a regiatildeo haacute muito tempo natildeo tecircm registro legal de propriedade
privada individual da terra definindo apenas o local de moradia como parcela
individual sendo o restante do territoacuterio encarado como aacuterea de uso comunitaacuterio
com seu uso regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas
internamente (ARRUDA 2000 p 274)
Narrativas feitas por lideranccedilas confirmam as marcas deixadas no territoacuterio na forma
de vida dos moradores na paisagem
E aiacute de perca mesmo assim fica pra gente a questatildeo do territoacuterio que era nessa aacuterea
que era uma roccedila comunitaacuteria de aacuterea de sequeiro que todo mundo ia laacute plantava
laacute e se perdeu Eu mesma natildeo consigo localizar nem onde era tamanha foi a
transformaccedilatildeo desmatou uma faixa muito grande assim eu natildeo tenho nem como
localizar onde era essa roccedila (Lideranccedila 1)
No olhar de Milton Santos por haver geografias desiguais no mundo surgem
configuraccedilotildees com preparos diferentes uma das outras para o que ele chama de certas
inovaccedilotildees (SANTOS F M 2012)
Podemos pensar entatildeo que a realidade de Santana se apresenta como uma aacuterea onde
A estrutura imposta (inovaccedilatildeo) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas Por conseguinte a paisagem eacute formada pelos fatos do passado e do
presente (SANTOS F M 2012 p 68)
15
Aacuterea de sequeiro eacute assim eacute um espaccedilo que agente usa mesmo quando natildeo tem aacutegua de jeito nenhum mas eacute
um espaccedilo para tirar umbu tirar lenha tirar estacas para criar os animais soltos bode vacas Eacute uma aacuterea
assim que a gente precisa pra se sustentar pra se manter [] Eacute uma aacuterea coletiva que a gente precisa praacute
sobreviver porque como eacute zona rural entatildeo a gente tem necessidades especificas e a gente precisa dessa aacuterea
para sobreviver (informaccedilatildeo verbal - Lideranccedila 1)
93
Compreender a organizaccedilatildeo espacial do quilombo Santana e de sua evoluccedilatildeo a partir
das obras da transposiccedilatildeo pode ser possiacutevel Segundo Santos M (2012) com base numa
aprimorada interpretaccedilatildeo do processo dialeacutetico entre formas estrutura e funccedilotildees (categorias
do meacutetodo geograacutefico) atraveacutes do tempo Na tentativa de adaptaccedilatildeo para o contexto espacial
da aacuterea em estudo aproximamos as definiccedilotildees feitas pelo autor para cada categoria em
questatildeo
a) A forma como aspecto visiacutevel de uma coisa ao arranjo ordenado de objetos a um
padratildeo (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser considerado como o proacuteprio canal
que estaacute sendo construiacutedo
[] Passou no meio da comunidade e ai dividiu Ficou o lugar que a gente tem as
casas e o lugar que a gente planta no riacho e aiacute do outro lado no meio mesmo
onde fica o canal onde era a roccedila comunitaacuteria e do outro lado era onde a gente
criava bode vacas soltas na caatinga e grande parte de Santana taacute do outro lado
pelo mapa vocecirc vai vecirc que tem um pedacinho de Santana e ai o canal passa do outro
lado eacute a maior faixa de Santana e ai fica do outro lado do canal [] (Lideranccedila 1)
b) A funccedilatildeo relacionada a uma tarefa ou atividade esperada de uma forma pessoa
instituiccedilatildeo ou coisa (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser associada agraves
passarelas e passagens necessaacuterias e solicitadas pela populaccedilatildeo assim como a
finalidade uacuteltima do canal que poderia ser beneficiar a populaccedilatildeo local
[] A questatildeo das passarelas a gente conversou para aumentar a quantidade de
passarelas para nossos animais conseguir ir e voltar mas ai natildeo foi feito A gente
vem conversando sobre o aumento de passarelas e natildeo estaacute sendo feito ainda eles
falam que vai vecirc que o engenheiro vai vecirc e tal e natildeo foi visto ainda (Lideranccedila 1)
O projeto natildeo foi concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo
menos quando tiver aacutegua as pessoas possam usar O que diz no projeto eacute que a aacutegua
vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos animais mas
assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas plantam e aiacute
precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
c) A estrutura que implica a inter-relaccedilatildeo de todas as partes de um todo o modo de
organizaccedilatildeo ou construccedilatildeo (SANTOS F M 2012 p 69) podemos associaacute-la agraves
vaacuterias dimensotildees implicadas no projeto e nas obras do canal
[] A gente vecirc as questotildees das matas em si dos espaccedilos dos territoacuterios das
pessoas A comunidade de Santana mesmo passou o Projeto de Integraccedilatildeo passou
mesmo pelo territoacuterio de Santana e aiacute tem essa questatildeo de impacto em relaccedilatildeo ao
territoacuterio mesmo do espaccedilo e comunidade que envolve toda a questatildeo social e
econocircmica O pessoal foi indenizado no espaccedilo do canal mas soacute o espaccedilo onde
passa o canal A comunidade ficou de um lado o territoacuterio onde as pessoas
trabalhavam criavam os animais ficou do outro lado do canal (Gestora 2)
94
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo focal 3)
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Santana foram aplicados sete questionaacuterios CAP representando 875 das
famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
No aspecto escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 32 pessoas sendo 19
homens e 13 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias eram constituiacutedas
por mais homens que mulheres (593 para 407) entretanto o niacutevel de escolaridade geral
entre homens e mulheres eacute muito proacuteximo com as mulheres apresentando percentual de
846 com algum grau de escolaridade e os homens com 842 Entre as pessoas sem
nenhuma escolaridade a tendecircncia se manteve com percentual quase igual entre homens e
mulheres analfabetos (158 para homens e 153 para mulheres) Quanto ao grau de
escolarizaccedilatildeo para o ensino fundamental as mulheres aparecem com 615 concluiacutedo e os
homens com 579 Para o ensino meacutedio 263 dos homens haviam concluiacutedo contra 23
das mulheres (Graacutefico 01) Nenhum membro das famiacutelias tinha curso superior
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A comunidade contava com duas escolas municipais estando uma sem funcionamento
e outra que funcionava em condiccedilotildees precaacuterias Poreacutem atualmente as escolas estatildeo fechadas e
95
as crianccedilas da comunidade precisam deslocar-se para estudar nos Distritos de Umatildes e Pau
Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras do canal
Olha laacute em Santana a escola de laacute foi fechada mas foi fechada porque tinha um
nuacutemero pequeno de crianccedilas Inclusive noacutes temos uma ata aqui assinada pelos pais
jaacute dizendo que aceitavam o fechamento da escola Porque era uma escola
multisseriada e soacute tinha 21 crianccedilas entatildeo elas essas crianccedilas foram multisseriada
desde educaccedilatildeo infantil ateacute o quinto ano aiacute tornava assim mais dificultoso tanto
para o professor como para o municiacutepio que tambeacutem precisava ter uma merendeira
uma auxiliar e entatildeo as crianccedilas de laacute foram transferidas para escolas Algumas
estudam na de Umatildes outras estudam no Pau Ferro Entatildeo elas foram transferidas de
comum acordo com as famiacutelias e elas foram estudar nessas escolas (Gestora 2)
Tem hora que o desvio estaacute interrompido e vocecirc tem que arrodear laacute por outro local
aiacute tem a escola da gente que fica laacute do outro lado do canal [] a questatildeo da escola
construccedilatildeo de escolas tambeacutem foi prometido tambeacutem e natildeo foi construiacutedo
(Lideranccedila 1)
Quanto agraves questotildees referentes agrave sauacutede as informaccedilotildees do questionaacuterio fazem menccedilatildeo
agrave estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia pela Secretaria Municipal de Sauacutede com presenccedila do agente
comunitaacuterio pelo PACS e visita de meacutedico a idosos da comunidade Os problemas de sauacutede
mais frequentes na comunidade apontados pelo questionaacuterio CAP apresentam uma coerecircncia
com as narrativas dos sujeitos do estudo indicando uma relaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo
(Graacutefico 2)
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem- Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2010
As obras da transposiccedilatildeo vecircm comprometendo e fragilizando a sauacutede de moradores
conforme relatos que confirmam os agravos em torno de problemas respiratoacuterios provocados
pela poluiccedilatildeo ambiental Consequecircncia das inuacutemeras explosotildees para construccedilatildeo do canal
houve um aumento na frequecircncia de problemas de sauacutede entre os moradores tanto de ordem
fiacutesica como emocional Haacute relatos de episoacutedios constante de gripes e de problemas
96
respiratoacuterios aleacutem de alteraccedilotildees na pressatildeo arterial com os sobressaltos provocados nos
momentos das explosotildees Pessoas portadoras de deficiecircncia tecircm vivenciado momentos de
inseguranccedila e medo Algumas casas na comunidade tambeacutem apresentam grandes rachaduras
provocadas pelas explosotildees A narrativa abaixo e reveladora dessas situaccedilotildees
Tem Poeira [] Olhe aiacute quem taacute fazendo tratamento por causa da poeira E o
meacutedico jaacute disse que eacute a poeira do canal [] Poeira quente Oi aqui de um lado e de
outro se vocecirc andar na caatinga assim quando vocecirc sair fora ningueacutem vai taacute com
qualidade de roupa natildeo soacute eacute terra ao redor do canal umas duzentas trezentas
braccedilas soacute eacute terra mesmo [] Tem gente que tem alguns deficientes em casa que na
hora que estoura as bombas chega minha sogra mesmo eacute uma ela tem uma
deficiente que na hora que estoura as bombas ateacute passar mesmo daacute um medo a
pressatildeo sobe laacute pra cima [] tem gente que ajeita as casa deixa as casa bem
bonitinha aiacute com as explosatildeo quando vocecirc olha assim as casas estatildeo terminando de
rachar ateacute embaixo e eles natildeo ligam pra isso ai natildeo eles querem saber que estatildeo
terminado a obra deles [] Quando daacute cinco horas que paacutera vocecirc vai praacute casa
pensa que eacute chuva neacute Soacute terra (Grupo Focal 3)
As medidas adotadas pelas pessoas da comunidade quando estatildeo doentes segundo
informaccedilotildees do questionaacuterio CAP mostra uma maior procura pelo atendimento hospitalar
(428) e posto de sauacutede (357) em detrimento ao uso das praacuteticas tradicionais como
consultas ao rezador (143) e uso de remeacutedios caseiros (714) que juntas representam 2144
(Graacutefico 2)
Entretanto o Centro de Cultura Luiz Freire afirma que haacute situaccedilotildees particulares de
sauacutede que continuam a ser tratadas pelas pessoas de referecircncia na comunidade como as
rezadeiras e benzedeiras
As praacuteticas tradicionais de reza e cura satildeo recorrentes no quilombo Santana Existem
rezadeiras e benzedeiras atuantes que satildeo procuradas para os casos de mau olhado quebrante
dor de cabeccedila e espinhela caiacuteda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 41)
Quanto ao atendimento de sauacutede oferecido agrave comunidade os serviccedilos satildeo prestados no
Posto de Sauacutede do Distrito de Pau Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras da
transposiccedilatildeo
[] agora ateacute pra gente ateacute para o ser humano ir pra Pau Ferro para ter acesso agrave
sauacutede e tudo encontra dificuldade porque agraves vezes vocecirc vai aiacute o desvio eacute por outro
local depois vocecirc vai e o desvio jaacute eacute por outro local [] o PSF fica do outro lado
canal [] mas a princiacutepio foram muitas promessas com relaccedilatildeo agrave sauacutede PSF foi
prometido natildeo foi cumprido [] (Lideranccedila 1)
A assistecircncia agrave sauacutede oferecida agrave Comunidade de Santana parece distante do que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negra que tem como um dos
objetivos especiacuteficos ldquoGarantir e ampliar o acesso da populaccedilatildeo negra do campo e da floresta
97
em particular as populaccedilotildees quilombolas agraves accedilotildees e aos serviccedilos de sauacutederdquo (BRASIL p 39
2007)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de Santana os
dados do questionaacuterio mostravam uma predominacircncia para o trabalho na agricultura (583)
seguido da renda proveniente da aposentadoria (25) (Graacutefico 3)
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE
2010
A agricultura familiar base de produccedilatildeo da comunidade eacute exercida com o cultivo
principalmente de arroz feijatildeo milho cebola tomate coentro e pimentatildeo Os agricultores
estatildeo politicamente organizados na Associaccedilatildeo Quilombola de Santana instituiccedilatildeo que busca
potencializar as demandas poliacuteticas da comunidade (LUCENA 2013)
Lucena (2013 p 3) ressalta tambeacutem como atividade existente na comunidade
Tambeacutem eacute relevante destacar a atividade de artesanato desenvolvida por um grupo
de mulheres da comunidade O artesanato eacute constituiacutedo por bordados e rendas O
grupo estaacute atualmente buscando articular tambeacutem a produccedilatildeo de colares usando
sementes da Caatinga A renda das famiacutelias eacute acrescida com a aposentadoria rural e
o Cartatildeo Bolsa Famiacutelia
Poreacutem as obras da transposiccedilatildeo somada agrave situaccedilatildeo climaacutetica vem interferindo na
forma tradicional de trabalho das famiacutelias quilombolas de Santana e da regiatildeo do semiaacuterido
Haacute narrativas de que as obras da transposiccedilatildeo ldquovem resolvendordquo temporariamente
para uma parcela da comunidade as dificuldades financeiras e de trabalho Mas a pergunta de
como seraacute apoacutes a conclusatildeo das obras aparece no discurso como uma preocupaccedilatildeo concreta
[] Sim a transposiccedilatildeo [] Foi 2009 ou 2010 [] Foi 2009 Pois eacute na eacutepoca eu
tava aqui mas quando eu tava eu pelejei praacute entrar mas natildeo entrei aiacute tambeacutem fui
embora Aiacute graccedilas aacute Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela
depois sai de laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela [] Eacute estou Estou
achando bom por que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Oh Mas uma coisa eu
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digo a vocecircs taacute certo que essa Transposiccedilatildeo ela taacute seguindo agora mas a pessoa tem
que pensar assim veja se eu estou errada hoje taacute tendo emprego vamos dizer pros
pai de famiacutelia sustentar sua famiacutelia tudo que tem comeccedilo tem fim Essa obra
comeccedilou igualmente um dia ela vai ter que terminar quando ela terminar quem taacute
na firma vai vazar o dinheiro vai acabar neacute [] (Grupo Focal 3)
A Comunidade de Santana organizada em torno da Associaccedilatildeo Quilombola eacute
vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(ACQEP) que atua na luta pela garantia dos direitos dos quilombolas no Estado
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que metade dos entrevistados (50) participava da associaccedilatildeo de moradores e a
outra metade se dividiu entre os que natildeo estavam inseridos em nenhum grupo (375) e os
que participam de grupos religiosos (125)
Poreacutem ao referir-se a participaccedilatildeo em eventos realizados na aacuterea quase a metade dos
entrevistados (429) mencionou participaccedilatildeo em eventos de caraacuteter religioso seguido de
eventos culturais (286) sociais e esportivos (Graacutefico 4)
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Como equipamentos coletivos haacute na comunidade os espaccedilos das igrejas catoacutelica e
evangeacutelica as escolas (atualmente fechadas) o campo de futebol e as roccedilas nas eacutepocas de
mutirotildees (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 40) atualmente prejudicadas
com as obras do canal da transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo aos eventos que ocorrem no quilombo de Santana Lucena faz menccedilatildeo as
comemoraccedilotildees no mecircs junho quando a comunidade realiza festejos juninos envolvendo
comunidades circunvizinhas A noite de Satildeo Joatildeo (2306) eacute animada com quadrilhas e muito
forroacute E ao teacutermino do forroacute por volta de quatro horas da manhatilde eacute realizada a volta da
ressaca tradiccedilatildeo de visitar as residecircncias da comunidade As pessoas satildeo recebidas pelas
famiacutelias com comida e bebida e a volta soacute termina apoacutes a visita a todas as casas da
99
comunidade na tarde do dia 24 de junho Essa tradiccedilatildeo aleacutem de ser uma confraternizaccedilatildeo
fortalece os laccedilos de amizade entre as pessoas da comunidade (LUCENA 2013) Outros
significativos na comunidade satildeo descritos pelo autor
a comunidade tambeacutem organiza a festa de sua padroeira Santana evento realizado
na terceira semana de Julho Um outro elemento importante da comunidade de
Santana eacute a danccedila da Manzuca16
Atualmente atraveacutes da Associaccedilatildeo Quilombola de
Santana a Manzuca estaacute sendo revigorada na comunidade O grupo de Manzuca eacute
constituiacutedo por pares de danccedilarinos na sua maioria senhores e senhoras Mas jaacute estaacute
sendo realizado um trabalho para inserir os jovens na danccedila da Manzuca Ela eacute mais
danccedilada durante as festas juninas Desde 2009 que a Manzuca faz parte dos atrativos
juninos da cidade de Salgueiro [] (LUCENA 2013 p 3 grifo nosso)
A Manzuca de Santana existe desde o surgimento da comunidade no iniacutecio do seacuteculo
XIX A gravura abaixo mostra um momento festivo da comunidade com a Manzuca sendo
danccedilada tambeacutem por jovens da comunidade resultado do incentivo realizado pela Associaccedilatildeo
de Moradores de Santana (Figura 6)
Figura 6 - Mazuca de Santana
Fonte Moura (2012)
Com referecircncia as opccedilotildees de lazer existentes na comunidade pelos dados do
questionaacuterio haacute predominacircncia do uso da televisatildeo como diversatildeo para as mulheres (46) e
da bebida alcooacutelica (263) como diversatildeo para os homens o que nos parece uma
precariedade nas opccedilotildees existentes podendo significar principalmente para os homens um
risco agrave sauacutede
Agraves crianccedilas a mesma precariedade de opccedilotildees eacute observada estando reservado
principalmente brincadeiras de corrida (273) e ida ao catecismo (182) como formas de
diversatildeo (Graacutefico 5)
16
A Mazuca eacute um ritmo que mistura influecircncias indiacutegenas e africanas numa mescla de pandeiro ganzaacute e batida
de peacutes A Mazuca nasceu do encontro de escravos que fugiam para ldquoo meio do matordquo e laacute encontravam os
iacutendios Juntos eles reproduziam as festas de Mazurca danccedila popular polonesa que animava as casas-grandes
dos engenhos vistas e ouvidas de longe pelos negros da senzala (OLIVEIRA JUNIOR 2009 apud LUCENA
2013)
100
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Ao referir-se agraves formas como chegam agraves notiacutecias na comunidade os dados do CAP
apontaram que o raacutedio eacute um veiacuteculo importante na transmissatildeo de informaccedilotildees com 353
das respostas seguido do uso do telefone (294) Apesar da precariedade quanto agrave telefonia
na aacuterea sendo uma das promessas feitas pelo MI e natildeo cumpridas junto agrave inclusatildeo digital
esse recurso tem uma penetraccedilatildeo nas formas da comunidade estabelecer os seus contatos
sendo mantidas ainda de maneira significativa o viacutenculo entre as pessoas para fazer circular
as informaccedilotildees A comunicaccedilatildeo pessoa-pessoa aparece com o mesmo percentual da
comunicaccedilatildeo por televisatildeo com 176 das respostas (Graacutefico 6)
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
101
As possibilidades de deslocamento e acesso agrave comunidade anteriormente feita por
dois caminhos devidamente identificados (por Salgueiro e pelo Distrito de Umatildes) hoje
encontra-se prejudicada com as obras da transposiccedilatildeo sendo mais um transtorno na vida dos
moradores de Santana
Dentro do territoacuterio o livre deslocamento de pessoas e animais tambeacutem estaacute
comprometido e mesmo com mobilizaccedilotildees da comunidade o problema natildeo foi resolvido
[] por enquanto soacute tem um garantido que eacute o da passagem principal pra
Salgueiromas o da passagem para os animais pra pessoas irem pra o outro lado do
territoacuterio natildeo tem nada garantido Essa eacute a questatildeo apesar das pessoas jaacute terem se
mobilizadojaacute terem enviado abaixo-assinado pedindo mostrando neacute necessidade
dessas passarelas a gente natildeo teve nenhuma resposta [] (Grupo Focal 3)
O abastecimento de aacutegua em Santana segundo o questionaacuterio CAP aponta uma
procedecircncia maior pela rede puacuteblica (75) com abastecimento tambeacutem por accedilude (25)
Poreacutem ter as casas com encanaccedilatildeo ligadas ao sistema da Compesa estaacute longe de significar
ldquoaacutegua chegando com frequecircnciardquo nas residecircncias da comunidade Antes do projeto da
transposiccedilatildeo havia uma diversificaccedilatildeo na forma de abastecimento dependendo do siacutetio que
incluiacutea aacutegua vindo do Riacho Grande de barragens cacimbas adutoras e cisternas (BRASIL
2011)
Segundo Brasil (2011) houve interrupccedilatildeo eou desvio do Riacho Grande para
fornecimento de aacutegua e o isolamento da barragem prejudicando a criaccedilatildeo e a irrigaccedilatildeo
O tratamento da aacutegua para consumo humano segundo 625 do questionaacuterio vem
sendo feito por meio do uso do cloro distribuiacutedo principalmente pelo agente de sauacutede
havendo 25 de respostas para o natildeo tratamento da aacutegua para beber (Graacutefico 7)
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Nosso estudo confirma a precarizaccedilatildeo do abastecimento de aacutegua com as obras da
transposiccedilatildeo a partir da anaacutelise dos discursos
102
Apesar de haver encanaccedilatildeo em alguns siacutetios da comunidade como Recanto Jurema e
Olaria a aacutegua natildeo chega igualmente nessas aacutereas poreacutem a Compesa envia mensalmente a
cobranccedila para as famiacutelias pagarem por um serviccedilo que natildeo eacute prestado
[] Mas realmente eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc cozinhar feijatildeo eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc
dar a uma galinha eacute natildeo ter aacutegua mesmo [] Natildeo tem aacutegua nem pra vocecirc beber
que muitas vezes vocecirc vai no pote taacute soacute laacute aquele restinho vocecirc rapa com o caneco
no copo ainda sai com gosto de barro e vocecirc tem que tomar porque soacute tem ela []
Agora tem uma coisa a aacutegua pode vim pouco agora duvido que o papel laacute da casa
que noacutes vive eacute de R$ 80 a 100 pra pagar vem eu quero vecirc Pode num vim um pingo
drsquoaacutegua na torneira mas no final do mecircs eles traz os papelzinho com 80 a 100 sem
mentira nenhuma [] Eacute porque eles natildeo se preocupam com o motivo da pessoa natildeo
ter aacutegua eles natildeo se preocupa com a feira que a pessoa tem que botar dentro de casa
com o dinheirinho daacute aacutegua que a pessoa tira pra pagar com os filhos que a pessoa
tem praacute criar eles querem saber que tenha soacute aquele dinheiro pra pagar aacutegua pra
natildeo faltar natildeo pode faltar de jeito nenhum porque se faltar seu nome vai pra o SPC
vocecirc fica com seu nome sujo Muitas vezes por causa de cinco reais mas num vecirc
que passa o mecircs todinho e natildeo sai uma gota de aacutegua se vocecirc quiser ter aacutegua pra
lavar roupa pra beber vocecirc tem que botar uma lata em cima da cabeccedila e sair
caccedilando em pleno seacuteculo XXI Eles natildeo pensam nisso ai neacute [] Mesmo natildeo tendo
aacutegua nas torneiras aqui ainda chega aacutegua mas nos dois outros siacutetios tem Jurema
Olaria que natildeo chega aacutegua de jeito nenhum mesmo assim o pessoal continua
pagando (Grupo Focal 3)
A forma principal de abastecimento em alguns siacutetios tem sido pela contrataccedilatildeo de
carros-pipa
Eacute de carro-pipa [] E ali em Jurema tem [] Laacute natildeo chega de jeito nenhum Eacute laacute eacute
muito sofrimento aqui de vez em quando chega uma aguinha para noacutes fazer mas
laacute [] Hoje mesmo quando noacutes vinha praacute caacute Salete vinha com a lata seca vinha laacute
de cima [] (Grupo Focal 3)
O destino do lixo e dos dejetos foram aspectos inseridos no diagnoacutestico
socioambiental identificados a partir do questionaacuterio CAP
Quanto ao destino do lixo na aacuterea quilombola quase 63 das respostas mostraram que
o lixo eacute queimado ou jogado ao relento na comunidade (25) As precaacuterias condiccedilotildees de
saneamento na comunidade fazem com que os dejetos sejam lanccedilados ao relento com 75
das respostas (Graacutefico 8) Natildeo haacute serviccedilo puacuteblico de coleta de resiacuteduos nem de esgotamento
sanitaacuterio e as praacuteticas da queima e descarte do lixo ao relento bem como os esgotos agrave ceacuteu
aberto satildeo danosas agrave sauacutede humana e do ambiente
103
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Dados mostram a diversidade de animais que havia no territoacuterio em 2010 criados
soltos no terreiro Animais domeacutesticos e de pequeno porte existentes na comunidade (Graacutefico
9)
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Em Santana a atividade pecuaacuteria se constitui pela criaccedilatildeo de pequenos animais
caprinos ovinos aves suiacutenos e gado Poreacutem com as obras do canal e sem passagens
adequadas para o deslocamento dos animais conforme reivindicaccedilatildeo dos moradores essa
atividade estaacute seriamente comprometida representando mais um prejuiacutezo para comunidade
[] E o territoacuterio que a gente criava os animais soltos que a gente perdeu tudinho
porque ficou do outro lado Eu falo assim perdeu eacute nosso soacute que assim como eacute que
a gente vai criar animal se natildeo tem como o animal ir e vir [] (Lideranccedila 1)
Os dados do questionaacuterio CAP nos trazem como consolidado geral e confirmando o
que foi descrito ateacute o momento os problemas considerados mais criacuteticos para a comunidade
aparecendo com mais metade das respostas (555) a escassez de aacutegua para consumo humano
e a falta de assistecircncia agrave sauacutede (222) (Graacutefico 10)
104
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No iniacutecio do Projeto em reuniotildees ocorridas com os teacutecnicos do MI vaacuterias foram as
promessas feitas e registradas em ata pela Associaccedilatildeo Hoje passados cinco anos do iniacutecio
das obras a populaccedilatildeo tem clareza de que o propoacutesito maior das reuniotildees e visita dos teacutecnicos
era obter a assinatura dos moradores em documento oficial com a concordacircncia para que as
obras do canal fossem feitas em seu territoacuterio Haacute uma queixa contundente de que a populaccedilatildeo
natildeo teve conhecimento do real transtorno e das perdas do dano ambiental que haveria no
territoacuterio para evitar que as obras fossem feitas
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo Focal 3)
Em Santana com base nas narrativas dos sujeitos podemos resumir o que foi
prometido pelo MI enquanto Projeto da Transposiccedilatildeo e natildeo cumprido ateacute o momento
a) Melhoria da assistecircncia agrave sauacutede com PSF
b) Melhoria no serviccedilo de Educaccedilatildeo
c) Quiosque cidadatildeo (com inclusatildeo digital e telefonia)
d) Projeto econocircmico de desenvolvimento local
e) Passarelas
f) Construccedilatildeo de banheiros
g) Indenizaccedilotildees
105
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL
O quilombo de Contendas existe haacute mais de cem anos eacute formado pelas localidades de
Contendas e Tamboril Estaacute a 24 km da sede do municiacutepio de Salgueiro e faz fronteira
tambeacutem com o municiacutepio de Terra Nova Conta com uma populaccedilatildeo de 47 famiacutelias A
maioria das residecircncias estaacute na aacuterea de Contendas e laacute se encontra o terreno dos descendentes
de Zeacute Simiatildeo
A figura 7 mostra o mapa de ContendasTamboril elaborado por moradores
quilombolas onde haacute referecircncia sobre o acesso pela BR 232 (parte superior do mapa) os
riachos do Tamboril e de Contendas as casas e igreja (direita do mapa na aacuterea Contendas)
aacuterea agricultaacutevel (direita na aacuterea Tamboril) etc A figura 8 retrata um dos acessos agrave aacuterea
Contendas mostrando a casa onde realizamos o grupo focal com a comunidade
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 25)
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
De acordo com o Centro de Cultura Luiz Freire no livro ldquoQuilombos do sertatildeo de
Pernambucordquo
A histoacuteria de Contendas eacute contada a partir da histoacuteria de vida de Joseacute Simiatildeo dos
Reis fundador da comunidade O negro velho chamado Chico entatildeo morador da
Fazenda Tamboril foi quem acolheu o menino Joseacute Simiatildeo dos Reis com trecircs anos
de idade Zeacute Simiatildeo chamado de Pai Nanatildeo cresceu cm Tamboril mas tinha muitos
familiares em Contendas Quando resolveu morar em Contendas jaacute havia algumas
famiacutelias de brancos habitando o lugar Contam que eacute deste tempo que se estabeleceu
uma relaccedilatildeo de compadrio entre os negros descendentes de Simiatildeo e os brancos Em
funccedilatildeo de difiacuteceis condiccedilotildees de vida a permanecircncia dos negros na regiatildeo foi
diminuindo ficando soacute trecircs casas As situaccedilotildees de discriminaccedilatildeo perpassam a
trajetoacuteria dos descendentes de Pai Nanatildeo que apesar das estrateacutegias de conviecircncia e
compadrio recordam que a comunidade sempre fora dividida em moradores negros
e brancos Natildeo queriam que namorasse com os filhos de Simiatildeo porque diziam que
ele era negro cativo Mas hoje mesmo essas famiacutelias estatildeo misturadas na famiacutelia
de noacutes [] Atualmente eacute quilombola em Contendas quem reconhece a importacircncia
e a descendecircncia de Joseacute Simiatildeo dos Reis (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 24 grifo nosso)
106
Hoje as principais lideranccedilas da comunidade satildeo a Sra Antonia e o Sr Joseacute Francisco
Nascimento conhecido como Zeacute Muniz A Sra Antonia eacute filha de Joseacute Simiatildeo dos Reis cuja
propriedade tem 21 hectares de siacutetio e onde residem quarenta e quatro famiacutelias (aacuterea
Contendas) O Sr Zeacute Muniz eacute o presidente da Associaccedilatildeo dos Produtores Rurais de
Contendas A aacuterea de Tamboril tem cerca de 900 hectares e residem trecircs famiacutelias
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O PROJETO
DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Desde o iniacutecio do Projeto da transposiccedilatildeo o discurso do MI eacute vago quanto agraves obras a
serem feitas na comunidade de ContendasTamboril e quanto aos benefiacutecios no acesso agrave aacutegua
da transposiccedilatildeo
[] quando eles vieram pra caacute a gente jaacute sabia que jaacute ele jaacute tinha dito aqui na
comunidade E a questatildeo quando a gente perguntava e aacutegua vai ficar aacutegua pra
trabalhar E aiacute a gente nem sabia que ia passar esse canal aqui neacute A gente achava
que no riacho que eacute onde a gente trabalha aqui que passa ai na comunidade de
Umatildes a gente perguntou e essa aacutegua vai ser possiacutevel a gente ter acesso a ela Ele
disse natildeo isso ai eacute uma questatildeo que vem depois [] (Grupo Focal 2)
Tendo sido inicialmente identificada como uma aacuterea rural pelo EIA (Estudo de
Impacto Ambiental) o quilombo de ContendasTamboril foi inserido no Programa Ambiental
de Implantaccedilatildeo de Infra-Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais PBA 15 cujo objetivo eacute ldquoimplantar sistemas de abastecimento de aacutegua visando agrave
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees em comunidades situadas na Aacuterea Diretamente
Afetada do PISF aleacutem de reduzir os riscos associados a eventuais tentativas de uso
clandestino das aacuteguas dos canais e reservatoacuteriosrdquo (BRASIL 2005) e posteriormente inserido
no Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas outro Programa Baacutesico
Ambiental o PBA 17 que iremos abordar mais adiante
O Cronograma de Execuccedilatildeo que consta do PBA 15 previa ateacute dezembro de 2015 a
conclusatildeo das atividades necessaacuterias para implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de
abastecimento As atividades programadas foram a elaboraccedilatildeo dos projetos baacutesicos de sistema
de abastecimento de aacutegua para as comunidades (2007 agrave meados de 2012) a assinatura dos
convecircnios com prefeituras eou oacutergatildeos estaduais para implantaccedilatildeo das obras (segundo
semestre de 2012 agrave janeiro de 2013) e a implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de abastecimento
(fevereiro de 2012 agrave dezembro de 2015) (BRASIL 2005 p 18) No entanto ateacute junho de
107
2012 apenas 1 do valor previsto para o programa havia sido executado conforme Resumo
Executivo do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo (BRASIL 2012)
Com as obras da transposiccedilatildeo ameaccedilas concretas recaem sobre o territoacuterio de
Contendas Tamboril sem o devido conhecimento e consentimento da populaccedilatildeo e de sua
Associaccedilatildeo de Moradores O territoacuterio quilombola localiza-se proacuteximo ao trecho VI do Eixo
Norte do projeto considerado uma etapa futura pelo PISF na Aacuterea Diretamente Afetada
(ADA) Tal etapa que inclui a construccedilatildeo de um reservatoacuterio no territoacuterio quilombola
identificado em documento oficial como ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo desde 2004 (BRASIL
2004 p 50) natildeo era do conhecimento da populaccedilatildeo ateacute meados de setembro de 2013 quando
comeccedilaram a chegar pessoas desconhecidas da populaccedilatildeo na aacuterea fazendo mediccedilotildees no
terreno poreacutem sem esclarecer o objetivo da accedilatildeo De maneira vaga diziam ser para obras da
transposiccedilatildeo que iriam passar no territoacuterio
[] Eacutecomeccedilou a chegar pessoas laacute medindo pedindo o auxilio do pessoal da
comunidade pra saber onde eacute que vai passar mas depois foi que quando ldquoo que eacute
que estaacute acontecendordquo Natildeo eacute porque aqui vai passar o ramal vai ser muito bom pra
vocecircs vai passar dentro da comunidade mas noacutes natildeo fomos informados A gente
tem a propriedade mas natildeo eacute informada do que eacute que vai acontecer entendeu
(Lideranccedila 2)
Ateacute aquele momento a populaccedilatildeo tinha como percepccedilatildeo geral de que natildeo iria ser
atingida diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo mas a possibilidade de construccedilatildeo de um
ldquoramalrdquo que na realidade eacute o ldquo Reservatoacuterio Tamborilrdquo dentre os vinte e quatro reservatoacuterios
previstos pelo PISF17
provocou uma inquietaccedilatildeo e preocupaccedilatildeo entre os moradores pelos
transtornos que haveraacute na vida da populaccedilatildeo principalmente na forma de subsistecircncia por
afetar a aacuterea destinada agrave agricultura familiar
[] Assim noacutes ateacute o momento a gente natildeo foi atingido Tem uma previsatildeo que a
gente ficou sabendo tambeacutem haacute poucos dias que a gente ia ser atingido vai passar
um ramal exatamente onde a gente trabalha e aonde a gente tava morando que eacute
naquela parte do Tamboril [] E aiacute se esse ramal passar se esse canal passar laacute vai
ser sim muito atingido porque noacutes jaacute estaacutevamos com as casas prontas morando laacute
no Tamboril e eacute a aacuterea onde a gente trabalha se passar laacute a gente natildeo vai ter como
trabalhar (Lideranccedila 2)
A falta de informaccedilatildeo oficial aliado aos boatos de que ateacute casas de alvenaria seratildeo
derrubadas inclusive as receacutem construiacutedas por um dos programas do projeto da transposiccedilatildeo
17
Reservatoacuterio ndash Locais onde a aacutegua fica armazenada Podem variar em tamanho Ao todo no PISF seratildeo
construiacutedos 24 reservatoacuterios (BRASIL 2004c p 44)
108
o PBA 17 mostra o descaso e desrespeito do MI com os direitos de cidadania no acesso agrave
informaccedilatildeo e o desperdiacutecio do dinheiro puacuteblico que constroacutei para em seguida destruir
De fato o que ocorre em ContendasTamboril eacute uma violaccedilatildeo de direitos dos termos
da Convenccedilatildeo 196 da OIT - ao natildeo fornecer informaccedilotildees condizentes com os planos
governamentais e natildeo considerar as demandas das comunidades as quais devem concordar
com as obras
Haacute tambeacutem outra grande preocupaccedilatildeo que eacute a ameaccedila de destruiccedilatildeo da aacuterea
agricultaacutevel e de preservaccedilatildeo localizada no territoacuterio Tamboril
As casas de ser derrubadas satildeo o menos agora toda a comunidade trabalha naquela
aacuterea laacute essa aacuterea de caacute ela natildeo eacute agricultaacutevel o mais agricultaacutevel eacute laacute [] Aonde vai
passar o ramal [] Provavelmente na agricultura sejam todos agora as casas que
vatildeo ser derrubadas satildeo menos que tem mais pra caacute do que pra laacute [] Umas quinze
casas Natildeo menos Acho que eacute umas oito casas (Grupo focal 2)
[] a gente tem a aacuterea pra noacutes eacute grande a gente tem uma aacuterea em que a gente briga
por cima de tudo por essa aacuterea que ela seja preservada mesmo Eacute no nosso
territoacuterio Eacute dentro do nosso territoacuterio e esse eacute aonde iraacute passar se vai passar o
canal Eacute o ramal Aleacutem de atingir a aacuterea que eacute preservada vai atingir tambeacutem a
nossa aacuterea de plantaccedilotildees (Lideranccedila 2)
De maneira incipiente jaacute havia na ocasiatildeo do nosso trabalho de campo uma intenccedilatildeo
da comunidade em negociar a localizaccedilatildeo da obra mesmo sem a clareza do que realmente vai
ser construiacutedo no territoacuterio e de forma organizada ir ao MI para conhecer oficialmente o que
estaacute previsto nos documentos do Projeto Nenhuma visita oficial do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
na aacuterea nenhum contato com as lideranccedilas apenas os trabalhadores fazendo mediccedilotildees e
divulgando um ldquobenefiacutecio que natildeo eacute explicadordquo
[] Jaacute avisaram na comunidade que as casas que estatildeo feitas laacute vatildeo ter que sair e
assim a gente natildeo tem uma explicaccedilatildeo uma coisa que nos explique que nos diga o
que eacute que vai acontecer mesmo com a gente [] Aiacute vai ser muito prejudicial se
acontecer isso neacute Se a gente taacute tentado vecirc a possibilidade jaacute que eacute um ramal se
natildeo daacute pra passar mais pra laacute ou mais pra caacute seja laacute como for pra gente negociar soacute
que no momento soacute diz o pessoal laacute a gente soacute vecirc o pessoal que vai fazer as
mediccedilotildees mas a gente natildeo tem uma informaccedilatildeo do que eacute que vai acontecer como eacute
que vai acontecer [] A gente na comunidade taacute decidido que a gente vai fazer
que a gente pode fazer uma reuniatildeo e a gente conversar soacute que apareceu essas
pessoas aiacute a gente eles ldquo natildeo natildeo eacute com a genterdquo mas aiacute tambeacutem natildeo sabe dizer
com quem eacute e onde eacute que a gente vai buscar essas informaccedilotildees na comunidade o
que eacute que vai acontecer [] (Lideranccedila 2)
Assim a gente vai tirar a comissatildeo da comunidade e a gente quer conversar com o
pessoal laacute do escritoacuterio mesmo [] porque jaacute que a gente vai nessa comissatildeo a
gente vai primeiro cobrar documento o que eacute que vai acontecer na comunidade que
a gente natildeo tava sabendo tem essas mediccedilotildees jaacute tem avaliaccedilotildees e a gente saber o
que eacute esse documento aonde ele estava e porque isso natildeo foi apresentado pra gente
[] Eacute isso que a gente estaacute cobrando porque se jaacute sabia que tinha um projeto que ia
109
passar esse ramal a gente jaacute devia ter o documento em matildeos E isso nem foi
apresentado nem documento quando eles chegaram jaacute foi fazendo as mediccedilotildees
como se aqui fosse como se natildeo tivesse ningueacutem no meio [] E dai a gente vecirc o
que eacute que eles vatildeo poder fazer e o que eacute que a gente vai poder fazer tambeacutem na
comunidade pra gente pelo menos tomar peacute E aonde eacute que a gente vai ficar o quecirc
que vai acontecer porque que natildeo apresentaram o documento pra gente e daiacute por
diante a gente tomar alguns encaminhamentos nessa reuniatildeo (Grupo Focal 2)
A situaccedilatildeo atual do territoacuterio Contentas Tamboril que natildeo tem o tiacutetulo definitivo de
posse eacute outro aspecto que preocupa a populaccedilatildeo diante da ameaccedila de construccedilatildeo do
reservatoacuterio pelo projeto da transposiccedilatildeo Por natildeo se sentirem ldquooficialmenterdquo proprietaacuterios
questionam se o governo iria indenizar caso se concretizem as obras em seu territoacuterio Mas
para a populaccedilatildeo quilombola o maior interesse natildeo eacute indenizaccedilatildeo e sim assegurar o seu
direito agrave terra sinocircnimo de vida de sobrevivecircncia
E ainda tem outra E os outros o canal vai passar dentro do terreno mas vatildeo ser
beneficiado com dinheiro neacute Eles vatildeo pagar E noacutes Que diz que o terreno eacute do
governo [] E dinheiro se acaba e aterra natildeo se acaba pra pessoa plantar
Natildeo tem dinheiro que vale [] Mesmo que a terra fosse minha eu natildeo queria esse
dinheiro porque eu natildeo ia viver pro resto da vida com esse dinheiro que eacute uma
mixaria (Grupo Focal 2)
[] porque eacute a aacuterea que a gente trabalha e ainda natildeo foi o INCRA ainda natildeo nos
deu a posse (Lideranccedila 2)
O desafio colocado para o projeto da transposiccedilatildeo como tambeacutem para o INCRA eacute
considerar e implementar em suas accedilotildees categorias de anaacutelise sobre a questatildeo territorial
particulares ao povo quilombola que amplie o olhar e o planejar das poliacuteticas puacuteblicas para
compreender e respeitar que
A organizaccedilatildeo soacutecio-espacial e as formas produtivas das comunidades quilombolas
satildeo orientadas por dimensotildees poliacuteticas histoacutericas sociais ambientais e culturais
Essas dimensotildees tornam-se manifestas na execuccedilatildeo pelo grupo de tarefas coletivas
como por exemplo a coleta de frutas nativas ou de moluscos a confecccedilatildeo da
farinha de mandioca no uso e na reparticcedilatildeo das terras a serem cultivadas entre os
membros de uma mesma famiacutelia na forma de uso dos recursos naturais na
terminologia utilizada para designar elementos da natureza e teacutecnicas agriacutecolas na
realizaccedilatildeo de festas de santo ou ainda na delimitaccedilatildeo de espaccedilos sagrados entre
outros Portanto a reproduccedilatildeo fiacutesica e social desses grupos estaacute diretamente
relacionada com a manutenccedilatildeo do seu territoacuterio (SANTOS F L 2013 p 4)
A maneira como o projeto da transposiccedilatildeo vem implementando suas accedilotildees nas aacutereas
quilombolas contraria o que preconiza a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel
dos Povos e Comunidades Tradicionais instituiacuteda pelo Decreto Presidencial Nordm 6040 de 7 de
fevereiro de 2007 que parece distante em sua efetivaccedilatildeo Dentre os princiacutepios desta Poliacutetica
110
estaacute ldquoa promoccedilatildeo dos meios necessaacuterios para a efetiva participaccedilatildeo dos Povos e Comunidades
Tradicionais nas instacircncias de controle social e nos processos decisoacuterios relacionados aos seus
direitos e interessesrdquo no artigo 1ordm paraacutegrafo X (BRASIL 2007)
Na praacutetica apesar de haver um escritoacuterio de representaccedilatildeo do MI em Salgueiro o
acesso agraves informaccedilotildees natildeo acontece o canal de comunicaccedilatildeo efetivo entre os teacutecnicos do
projeto da transposiccedilatildeo e populaccedilatildeo quilombola via suas entidades organizadas natildeo estaacute
estabelecido e o sentimento eacute de distanciamento descaso inviabilizando de fato o controle
social destas e de outras populaccedilotildees quanto agraves decisotildees que afetam diretamente suas vidas
[] quando eles vatildeo na comunidade eles datildeo o endereccedilo eles diz que tatildeo agrave
disposiccedilatildeo no entanto quando a gente vai a gente nunca encontra as pessoas que a
gente quer falar Aiacute fica passando de um pra outro de um pra outro [] Eacute mais faacutecil
a gente conseguir falar com Dilma do que a gente resolver um problema aqui na
comunidade Assim deixa muito a desejar nessa parte de a gente natildeo ter um acesso
mais constante ou uma discussatildeo que a gente chame e aiacute eles venham Natildeo natildeo eacute
tatildeo assim na praacutetica natildeo funciona muito bem deixa muito a desejar (Lideranccedila 2)
As terras que estatildeo sendo ldquomexidasrdquo tambeacutem passaratildeo a ser cobiccediladas por quem tem
recurso financeiro e a comunidade pode sofrer pressotildees para vendecirc-la por qualquer valor e
passar a ser apenas um trabalhador rural diarista nas terras que um dia foram suas
Neste quadro de inseguranccedila satildeo feitas comparaccedilotildees com a realidade atual de
Petrolina
[] eu penso que aqui vai acontecer o que aconteceu em Petrolina nos projetos Em
Petrolina soacute tem mais japonecircs esse pessoal de outros paiacutes neacute Por quecirc Porque
pegaram os bestas laacute atraacutes que a terra natildeo prestava pra nada neacute Compraram e eles
tem muita tecnologia Estatildeo os japonecircs aiacute os estrangeiros laacute bem plantado e os
donos da terra eu acho que ateacute de desgosto morreram [] Do mesmo jeito eu
imagino que vai acontecer aqui [] Porque vai chegar gente ai botando jaacute aconteceu
aqui no municiacutepio neacute de pequenas propriedades o povo ldquoEacute terra Natildeo isso aiacute natildeo
tem mais valor bota qualquer dinheiro o povo vende e acabou Daiacute haacute pouco vai
nascer um grande proprietaacuterio ai e o povo vai ficar soacute sendo trabalhador rural
diarista nas terras do povo que um dia foi sua (Grupo Focal)
Com as obras a comunidade acredita que as terras passam a ter outro valor e quem
tem recurso financeiro pode tornaacute-la produtiva conseguindo apoios para grandes projetos o
que natildeo vem sendo viabilizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para os pequenos agricultores das
comunidades quilombolas
[] Taacute vendo ai Aiacute eles chegam aqui vecirc a terra produtiva porque eles tendo
condiccedilatildeo eles faz mesmo porque o rico ele tem o poder deles laacute em cima natildeo eacute que
nem noacutes pobre natildeo eacute Eles chega aiacute praacute tirar uma perna daacutegua pra produccedilatildeo das
roccedila deles eles tira soacute natildeo pode tirar noacutes de Santana Contendas e outros encostados
Se noacutes tirar noacutes vamo pra cadeia (Grupo Focal 2)
111
Ao mesmo tempo que surgem essas preocupaccedilotildees o grupo relembra a condiccedilatildeo em
que se encontra a regularizaccedilatildeo do territoacuterio ainda sem titulaccedilatildeo aumentando ainda mais o
sentimento de fragilidade e risco O territoacuterio foi reconhecido pela FCP em 2007 e aguarda o
documento definitivo a ser emitido pelo INCRA A fala de lideranccedila local ilustra esse
contexto e preocupaccedilatildeo
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute dizldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacuterdquo mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos [] (lideranccedila
2)
Para a comunidade de ContendasTamboril haacute uma certeza a de que o projeto da
transposiccedilatildeo seraacute para os que tem dinheiro os grandes agricultores e a imagem objetiva o
retrato descrito por moradores em relaccedilatildeo ao PISF eacute de destruiccedilatildeo com a terra sendo
ldquoremexidardquo virando um ldquobagaccedilordquo
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] Natildeo vai melhora praacute gente natildeo sobre o canal eu acho eu natildeo sei natildeo Eu
natildeo conheccedilo de nada mas eu penso assim vai deixar muito ai eacute a terra estiorada
Vai torar no meio desbanderar praacute um lado e praacute outro e ficar soacute (Grupo Focal 2)
Pelos relatos o projeto da transposiccedilatildeo significa preocupaccedilatildeo questionamentos e
inseguranccedila para os moradores da Comunidade de ContendasTamboril
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP
E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em ContendasTamboril foram aplicados 14 questionaacuterios CAP representando 875
das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 59
pessoas sendo 32 homens e 27 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias
eram constituiacutedas por mais homens que mulheres (542 para 458) entretanto apresentou
o niacutevel de escolaridade igual entre homens e mulheres com 78 de homens e mulheres com
algum grau de escolaridade Entre as pessoas sem escolaridade os homens apresentam um
112
percentual acima do das mulheres com 538 de homens analfabetos para 465 de
mulheres o que significa um contingente expressivo de pessoas ainda sem acesso agrave
escolarizaccedilatildeo haja visto a meta institucional do municiacutepio de ldquo ofertar programas de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos com fins de erradicaccedilatildeo do analfabetismordquo (SALGUEIRO
2014)
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo os homens aparecem com maior
grau de escolaridade Para o ensino fundamental cursaram 513 dos homens e entre as
mulheres foram 487 Quanto ao ensino meacutedio os homens aparecem com um percentual
bem acima do das mulheres tendo 666 deles concluiacutedo o ensino meacutedio enquanto apenas
333 da mulheres tiveram essa oportunidade Nenhum membro das famiacutelias tinha curso
superior (Graacutefico 11)
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No territoacuterio quilombola ContendasTamboril haacute um preacutedio reformado pela
prefeitura onde funcionou a Escola Municipal Joana Maria de Jesus com ensino ateacute a antiga
quarta seacuterie do ensino fundamental Mas atualmente a escola estaacute fechada e os moradores
precisam deslocar-se para a Escola Municipal Maria Dalva Gonccedilalves de Barros no Distrito
de Umatildes distante 6 km
[] Na questatildeo das escolas ateacute a proacutepria escola que tinha laacute do municiacutepio foi
fechada e aiacute taacute em outra comunidade taacute em Umatildes onde os alunos que estudam de
primeira ateacute o segundo grau eles estudam em Umatildes E laacute eles tecircm uma escola
lindiacutessima foi construiacuteda pela prefeitura [] ( Lideranccedila 2)
[] Funcionava [] Ela deixou de funcionar bem em 2005 [] 2008 neacute []
Mas assim a escola deixou de funcionar assim a gente tem que ser reto estudavam
aqui ateacute a quarta seacuterie aqui tinha a escola de Umatildes soacute que natildeo tinha alfabetizaccedilatildeo
aiacute as matildees queriam que as crianccedilas ficasse neacute Aiacute chegou agora um lei pras crianccedilas
estudar mais novo aiacute entonse natildeo tinha professor aqui ai a prefeitura disse que natildeo
podia ter dois expedientes aqui aiacute ficou os que jaacute ia pra laacute e que jaacute precisavam de laacute
e as matildees pegou mandou os pequeninos (Grupo Focal 2)
113
A populaccedilatildeo lembra que o preacutedio foi reformado mas por haver poucas crianccedilas para
os primeiros anos de ensino natildeo se justificava a manutenccedilatildeo de um professor na escola
alegava a Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal Enquanto a escola funcionou atendeu
satisfatoriamente agrave comunidade que expressa boas lembranccedilas Hoje haacute queixa de que o
preacutedio com boa estrutura natildeo estaacute sendo utilizado para outras atividades e vem se
deteriorando
Porque aqui tem a escola foi reformada soacute que natildeo tem professor [] Natildeo taacute
funcionando [] aiacute alunos tem que ir pra Umatildes alunos de trecircs quatro anos tem
que ir pra Umatildes porque natildeo funciona a escola daqui da comunidade [] Era natildeo
ficou aluno suficienteos pequeninos natildeo tinha escola para os pequenininhos aiacute
foram tirando ateacute que acabou-se [] Taacute sendo usada natildeo ela taacute laacute abandonada Ela
vai cair a qualquer momento porque tando fechada [] mas era uma escola
decente de escola de comunidade da zona rural acho que natildeo tinha uma mais bonita
do que a daqui natildeo era decente ela ficou decente [] De fato que a escola daqui era
bem zelada tinha uma merendeira de boas qualidades ela natildeo eacute daqui tambeacutem natildeo
mas ela se preocupava muito (Grupo Focal 2)
A decisatildeo de fechar a escola apesar de aprovada em reuniatildeo parece natildeo ter sido um
processo bem debatido com a compreensatildeo dos que estavam presentes Em reuniatildeo com a
Associaccedilatildeo de Moradores e Secretaacuteria de Educaccedilatildeo foi assinado um documento pelos
moradores concordando em fechar a escola por escassez de alunos em funccedilatildeo da reforma
educacional e implantaccedilatildeo do ensino multisseriado poreacutem haacute moradores que assinaram sem
ter clareza do que estavam assinando
[] houve uma reuniatildeo na associaccedilatildeo onde a gente tratava desse assunto referente agrave
escola e na eacutepoca era multisseriado acho que eacute isso que chama quando tem vaacuterias
seacuteries E para a Secretaria de Educaccedilatildeo ela achava que tava tendo prejuiacutezo com os
meninos porque tava multisseriado e veio a secretaria aqui vocecircs lembram disso
Lembro [] Foi laacute na escola [] E veio a secretaacuteria aqui soacute que quando a secretaacuteria
chegou que o pessoal foi dizer que achava melhor que tivesse laacute na escola a
secretaacuteria fez um reboliccedilo e botou o papel pra eles assinar e tinha pessoas que natildeo
queria assinar e ela praticamente ldquovocecirc vai ter que assinar porque vocecirc taacute aqui na
reuniatildeordquo e assinou o documento sem que muitas pessoas natildeo tava tendo
conhecimento do que era aquilo que estava assinando [] (Grupo Focal 2)
A lembranccedila de que houve uma articulaccedilatildeo posterior com o Sindicato de
Trabalhadores Rurais de Salgueiro para avaliar se o processo poderia ser revertido natildeo
logrou ecircxito pois a comunidade ldquonatildeo identificava outra alternativardquo O mais importante para
alguns era natildeo prejudicar as crianccedilas que precisavam estudar natildeo importando sob que
condiccedilotildees Haacute reflexotildees que demonstram ter sido um equiacutevoco aceitar o que a prefeitura
apresentou como ldquoopccedilatildeordquo
114
Depois a gente foi eu e parece que outras pessoas a gente eu vim pra caacute praacute
comunidade pra gente conversar e jaacute os pais tinham uns que dizia ldquonatildeo eu assinei
porque meu filho estava sendo prejudicado porque tava sendo multisseriadordquo e
ficou nesse impasse aiacute porque a gente soacute pode tomar algum encaminhamento a
partir da comunidade Se a comunidade diz que tava satisfeito com aquilo natildeo era
eu que vinha laacute do sindicato pra dizer ldquonatildeo isso natildeo taacute bemrdquo Mas a gente sabe que
a comunidade teve prejuiacutezo quando assinou o documento quando ela levou esse
documento pra laacute que foi assinado Mas foi discutido natildeo foi bem explicado mas
veio para a comunidade pra ser discutido [] (Grupo Focal 2)
O registro de promessas feitas e natildeo cumpridas pela gestatildeo municipal anterior quanto
agrave estrutura que ia ser montada para aacuterea de educaccedilatildeo caracteriza mais um descaso com os
direitos dessa populaccedilatildeo e que eacute possiacutevel estruturar alternativas de ensino dentro do proacuteprio
territoacuterio
[] E a ex-prefeita disse ldquovai ter educaccedilatildeo vai ter professor aqui pra vocecircs pra
crianccedilasrdquo Ela falou que ia ter a educaccedilatildeo infantil soacute que [] ficou por laacute mesmo
Por quecirc ficou por laacute [] Na realidade ele sabe que o problema acontece mas a
comunidade natildeo se mobilizou e aconteceu isso Mas ele sabe que isso natildeo devia ter
acontecido [] Ia ter educaccedilatildeo infantil ia ter tudo soacute que nada apareceu (Grupo
Focal 2)
Aleacutem da situaccedilatildeo descrita anteriormente as condiccedilotildees de deslocamento dos alunos
para escola em Umatildes eacute precaacuteria com o transporte disponibilizado pelo municiacutepio sem as
devidas condiccedilotildees de seguranccedila e conforto Eacute necessaacuterio fazer um deslocamento de quase dois
quilocircmetros agrave peacute com crianccedilas menores de cinco agravando-se a situaccedilatildeo com o inverno A
mobilizaccedilatildeo para apresentar o problema agrave prefeitura aparece como necessaacuteria para dar ciecircncia
agrave precariedade do transporte puacuteblico
Laacute em Umatildes Precisa do ocircnibus velho pra poder ir pra laacute [] Arriscando uma vida
O ocircnibus as crianccedilas tem que se deslocar de casa quando tem um laacute do outro lado
acolaacute ela vai pra pista pegar o ocircnibus 2600m [] Dois mil e seiscentos metros
Meninos de quatro anos [] Do Tamboril tambeacutem vem pra ai pra pegar ocircnibus []
Vai praacute casa de a peacutes na terra quente levando chuva [] E tem dia que no inverno eacute
obrigado a deixar o menino numa casa que tiver mais perto O transporte natildeo eacute de
qualidade natildeo o ocircnibus eacute [] O ocircnibus natildeo eacute um transporte bom natildeo [] O ocircnibus eacute
cheio eacute muito cheio eacute muito aluno [] Eacute a prefeitura [] Eacute mas se noacutes matildees e noacutes
pais num chega laacute na prefeitura e falar o que estaacute acontecendo a prefeitura natildeo
saber nunca (Grupo Focal 2)
Entretanto estas condiccedilotildees ferem o que estaacute definido pela Prefeitura Municipal de
Salgueiro quando define a responsabilidade da Secretaria de Educaccedilatildeo
Atender aos alunos da educaccedilatildeo infantil e do ensino fundamental
matriculados na Rede Municipal de Ensino com programas
suplementares de alimentaccedilatildeo transporte escolar e material didaacutetico-escolar e
outros (SALGUEIRO 2014)
115
O Programa Brasil Quilombola em seu Diagnoacutestico de Accedilotildees Realizadas2012
apresenta dados preocupantes no tocante agrave educaccedilatildeo das comunidades quilombolas no Brasil
um dos aspectos da Chamada Nutricional Quilombola18
A Educaccedilatildeo eacute outro aspecto relevante quando analisamos a situaccedilatildeo socioeconocircmica
das comunidades quilombolas no Brasil De acordo com os dados do CADUNICO
235 dos quilombolas natildeo sabem ler Eacute um dado preocupante uma vez que a
meacutedia nacional de acordo com o Censo 2010 eacute de 9 Na Chamada Nutricional
Quilombola haacute uma especial anaacutelise com relaccedilatildeo agrave escolaridade da matildee das crianccedilas
de 0 a 5 anos das comunidades pesquisadas 436 delas possuiacuteam ateacute 4 anos de
escolaridade completos Ao se analisar o universo das escolas cadastradas como
quilombolas no Censo Escolar pode-se perceber a pequena incidecircncia de escolas
que possuem seacuteries para aleacutem do quinto ano ou quarta seacuterie A cobertura da
Educaccedilatildeo para Jovens e Adultos tambeacutem eacute pequena (BRASIL 2011 p 24)
E ressaltamos a importacircncia de direitos adquiridos com a Constituiccedilatildeo Federal quando
em seu artigo 205 capiacutetulo III determina
A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e
incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho
(BRASIL 1988 p 121)
Do que diz a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e
Comunidades Tradicionais que define em um dos seus objetivos especiacuteficos
garantir e valorizar as formas tradicionais de educaccedilatildeo e fortalecer processos
dialoacutegicos como contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento proacuteprio de cada povo e
comunidade garantindo a participaccedilatildeo e controle social tanto nos processos de
formaccedilatildeo educativos formais quanto nos natildeo-formais (BRASIL 2007 art 3)
Estas e outras ferramentas legais assumem caraacuteter poliacutetico importante na luta pelo
direito agrave educaccedilatildeo para as populaccedilotildees quilombolas
Em relaccedilatildeo ao projeto da transposiccedilatildeo nenhuma interferecircncia foi feita para contribuir
na melhoria do serviccedilo oferecido agrave comunidade natildeo tendo saiacutedo do papel as promessas que
constam no Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas que traz como
objetivo ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo (BRASIL 2005 p 4)
18
ldquoChamada Nutricional Quilombolardquo ndash realizada em agosto de 2006 foi uma iniciativa conjunta entre o
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) a Secretaria Especial de Poliacuteticas de
Promoccedilatildeo da Igualdade Racial (Seppir) o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e o Fundo das Naccedilotildees Unidas para a
Infacircncia e Adolescecircncia (Unicef)
116
Os aspectos referentes agrave sauacutede mostram pelas respostas do questionaacuterio que as
pessoas da comunidade satildeo acometidas principalmente de gripe (23) problemas de
hipertensatildeo (187) gastrite (146) e febre (146) que representam 71 das situaccedilotildees
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 553 das respostas a
procura pelo hospital (333) e posto de sauacutede (22) mas continua presente em 444 das
respostas a praacutetica de tratar de forma tradicional com a procura do rezador (167) do uso
do chaacute (167) e do remeacutedio caseiro (11) (Graacutefico 12)
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem - Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Quanto agrave descriccedilatildeo da populaccedilatildeo para o atendimento na Unidade de Sauacutede ldquomais
proacuteximardquo a populaccedilatildeo se mobilizou com apoio do Sindicato Rural para redefinir o viacutenculo
com Salgueiro ou Terra Nova que faz divisa com o territoacuterio ContendasTamboril Na
redefiniccedilatildeo territorial e poliacutetica foi acordado o atendimento no Distrito de Umatildes em
Salgueiro para toda populaccedilatildeo da aacuterea quilombola
Reformas feitas no Posto de Sauacutede satildeo mudanccedilas que a comunidade acredita terem
sido efetivadas com recurso do projeto da transposiccedilatildeo
Teve uma questatildeo que mudou soacute uma questatildeo eacute que aqui tinha a divisatildeo tinha
deles que mora bem aqui aiacute atravessa o Riacho e tinha que ir pra Terra Nova aiacute com
essa explicaccedilatildeo que teve que ele foi feito a gente levou praacute prefeitura teve umas
coisas que foi levada praacute prefeitura e que o posto de Umatildes ia atender todo o pessoal
ai mudou nessa questatildeo E o pessoal que tava laacute excluiacutedo que era praacute Terra Nova
passou a ser atendido em Umatildes E a outra coisa que teve eacute porque natildeo teve
diretamente na comunidade mas o PFS de Umatildes ele foi reformado atraveacutes desse
projeto com o dinheiro do projeto que foi melhorado o posto que natildeo tinha
condiccedilotildees de ser atendido (Grupo Focal 2)
O serviccedilo de sauacutede oferecido no Distrito de Umatildes a exemplo da educaccedilatildeo conta com
atendimento meacutedico esporaacutedico e o trabalho de um agente de sauacutede e de endemias para
visitas domiciliares
117
[] A comunidade eacute atendida em Umatildes Agraves vezes tem a visita do meacutedico laacute eu
acho que eacute uma vez por mecircs natildeo tenho bem a certeza que eacute soacute uma vez por mecircs que
eles vatildeo atender Jaacute melhorou porque tinha uma questatildeo do territoacuterio era parte de
Terra Nova parte de Salgueiro e aiacute era uma questatildeo poliacutetica [] Tem o Agente de
Sauacutede mesmo que eacute da prefeitura que ele natildeo eacute ligado a comunidade mas tem o
Agente de Sauacutede Tem tambeacutem um Agente de Endemias que esse assim a
comunidade ateacute natildeo conhece muito mas taacute dizendo que eacute um Agente de Endemias
[] ( Lideranccedila 2)
As morbidades apontadas pelos entrevistados e a grande procura pelo atendimento
hospitalar e posto de sauacutede mostra a fragilidade da atenccedilatildeo baacutesica na aacuterea bem como a falta
de um trabalho de prevenccedilatildeo e promoccedilatildeo que poderiam impactar positivamente no quadro de
adoecimento apresentado
O agente de sauacutede que visita a aacuterea natildeo eacute da comunidade mas haacute boas referecircncias em
relaccedilatildeo ao seu trabalho apesar da sobrecarga de atividades pois responsabiliza-se por
acompanhar trecircs aacutereas
Natildeo daqui do lugar tem Ela vem laacute de fora [] Ela atende aqui muito bem mas natildeo
eacute daqui natildeo Soacute que ela atende toda a regiatildeo [] Eacute muita coisa pra ela A correria eacute
grande [] E natildeo eacute soacute aqui natildeo Ela atente outros siacutetios tambeacutem Eacute Ela atende umas
trecircs aacutereas Contendas Baixio da Velha e Baixio do Gravataacute (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de
ContendasTamboril os dados do questionaacuterio confirma que a populaccedilatildeo vive do trabalho na
agricultura (385) seguido da renda proveniente de trabalhos como pedreiro (308) da
aposentadoria (192) e como encanador (115) (Graacutefico 13)
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de
Moradores de ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
Com a situaccedilatildeo climaacutetica a atividade agriacutecola estaacute comprometida e os trabalhadores
da comunidade de ContendasTamboril continuam precisando sair de suas aacutereas de seu lugar
118
para conseguir trabalho e garantir a sobrevivecircncia de suas famiacutelias Sem infra-estrutura para
desenvolver-se e sem trabalho para os quilombolas eacute grande o ecircxodo rural
Daqui taacute indo trabalhar em Ouricuri no Piauiacute no Recife em todo canto Se desse
prioridade pro daqui o cara natildeo ia deixar a famiacutelia se largar no meio do mundo
(Grupo Focal 2)
A figura 9 mostra a divulgaccedilatildeo do projeto Semente Crioula19
criado em 2009 sob
coordenaccedilatildeo executiva do Centro de Cultura Luiz Freire e que teve duraccedilatildeo inicial de dois
anos O projeto teve o propoacutesito de capacitar as famiacutelias a gerirem seus sistemas de produccedilatildeo
alimentar de forma sustentaacutevel Ou seja de modo que atendesse as necessidades baacutesicas de
consumo proacuteprio geraccedilatildeo de renda e sem agressatildeo ao meio ambiente A comunidade de
ContendasTamboril foi uma das beneficiadas em Pernambuco (OBSERVATOacuteRIO
QUILOMBOLA 2009)
Mesmo com relatos de que o projeto da transposiccedilatildeo representou um aumento na
oferta de emprego mesmo que temporariamente os moradores da comunidade natildeo se
sentiram beneficiados pelas empresas construtoras as chamadas ldquofirmasrdquo Natildeo haacute registro de
moradores de ContendasTamboril terem sido aceitos apesar da procura formal por trabalho
marcado por grande burocracia e situaccedilotildees consideradas de humilhaccedilatildeo A percepccedilatildeo eacute de
que natildeo haacute um criteacuterio de aproveitamento das pessoas do lugar natildeo haacute um percentual de
vagas a ser preenchido primeiramente por essas pessoas para em seguida ldquoabrir a porta para
os de forardquo
[] Poucos vatildeo Eacute uma burocracia doida aiacute botam os curriacuteculos e nunca foram
chamados eacute uma humilhaccedilatildeo [] Daqui de Contendas noacutes natildeo teve nenhum que
nunca trabalhou nessas firmas da Transposiccedilatildeo Natildeo nunca foi Deveria ter uma
prioridade porque eu trabalho em obra a gente chega numa cidade a prioridade eacute do
povo da cidade [] Foram deixaram curriacuteculo uma humilhaccedilatildeo coisa de passar
quatro cinco dias indo todo dia de madrugada e natildeo foram chamados [] Eu acho
que a transposiccedilatildeo devia tentar tambeacutem na parte de emprego dar prioridade ao povo
do lugar mas a burocracia eacute tatildeo grande que muitos daqui vatildeo mesmo e natildeo
consegue se empregar (Grupo Focal 2)
No entanto o Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas afirma
que entre as suas metas estaacute a melhoria dos indicadores socioambientais e dentre estes
19
O projeto intitulado Semente Crioula - Resistecircncia Quilombola soberania alimentar na caatinga foi fruto de
um convecircnio de cooperaccedilatildeo teacutecnica firmado em 2009 para beneficiar 400 famiacutelias quilombolas Envolveu a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (Embrapa) e a Secretaria de Promoccedilatildeo de Poliacuteticas de Igualdade
Racial (Seppir) e somou um investimento de US$ 200 mil (cerca de R$ 434 mil) parte do montante financiado
pela Agecircncia Canadense para o Desenvolvimento Internacional (Cida) Foram beneficiadas pelo convecircnio as
comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas Contendas e Santana (situadas no municiacutepio de Salgueiro) Jatobaacute e
Santana (em Cabroboacute) e Feijatildeo (em Mirandiba) (OBSERVATOacuteRIO QUILOMBOLA 2009)
119
indicadores estaacute a diminuiccedilatildeo da evasatildeo da populaccedilatildeo quilombola para centros urbanos
(BRASIL 2005 p 4) o que efetivamente natildeo vem se concretizando com o projeto da
transposiccedilatildeo
Outro fato que compromete a consecuccedilatildeo do indicador referido acima eacute a ameaccedila das
obras no territoacuterio com a construccedilatildeo do reservatoacuterio Tamboril que comprometeraacute
sobremaneira as condiccedilotildees de sobrevivecircncia das famiacutelias e consequentemente sua
permanecircncia na comunidade
O Decreto nordm 60402007 jaacute mencionado traz em seu artigo 3ordm paraacutegrafo I como um
dos objetivos especiacuteficos ldquogarantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o
acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural
e econocircmicardquo (BRASIL 2007)
A Comunidade de ContendasTamboril conta com uma Associaccedilatildeo dos Produtores
Rurais com sede na aacuterea Contendas e eacute vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas de Pernambuco (ACQEP) jaacute referida anteriormente
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que quase a totalidade dos entrevistados (933) participava da associaccedilatildeo de
moradores enquanto que 67 disse participar de outra organizaccedilatildeo natildeo governamental
Quanto aos eventos com envolvimento da comunidade a opiniatildeo foi de que os de caraacuteter
religioso social e cultural tem igualmente a participaccedilatildeo de 286 da comunidade (Graacutefico
14)
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas doze opccedilotildees de divertimento Mas a bebida apareceu com maior
percentual (226) seguido da opccedilatildeo danccedilar forroacute (17) Jogar futebol e ouvir muacutesica
aparecem com 132 respectivamente
120
Para as mulheres foram apontadas oito formas de lazer Assistir televisatildeo (286) e
danccedilar forroacute (238) apareceram como as primeiras opccedilotildees Chama nossa atenccedilatildeo que danccedilar
o cocircco apareceu como penuacuteltima opccedilatildeo de divertimento para homens e mulheres parecendo
estar ldquoenfraquecidardquo essa danccedila tradicional que tem forte influecircncia indiacutegena e africana
O lazer para crianccedilas aparece de forma curiosa com o mesmo percentual para estudar
e brincar 226 respectivamente seguido de jogar futebol e correr com 13 cada (Graacutefico
15)
Na aacuterea Contendas haacute um campo de futebol o cruzeiro onde se encontra o terreno de
Zeacute Simiatildeo referecircncia histoacuterica na formaccedilatildeo do quilombo (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 25)
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A forma de veiculaccedilatildeo das notiacutecias se daacute principalmente por meio de raacutedio (295)
seguido de telefone com 27 2 conforme respostas dos entrevistados
O meio de transporte mais utilizado pela comunidade segundo os questionaacuterios eacute o
carro (27) a maior parte das vezes alugado por moradores e a moto (194) que teve seu
121
uso incrementado como meio de locomoccedilatildeo Poreacutem o uso de carroccedila e animal juntos
representam 238 das formas de deslocamento (Graacutefico 16)
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
O abastecimento drsquoaacutegua na comunidade eacute feito exclusivamente pela rede puacuteblica
segundo 100 das respostas A comunidade eacute abastecida atraveacutes da adutora que abastece a
cidade de Serrita cuja origem da aacutegua eacute do Rio Satildeo Francisco Quanto ao tratamento clorar e
coar aparecem com 46 das respostas respectivamente O cloro eacute entregue pelo agente de
sauacutede (Graacutefico 17)
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber -
Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
A situaccedilatildeo de aacutegua na comunidade eacute narrada pelos entrevistados
[] laacute tem aacutegua encanada e laacute natildeo eacute aacutegua tratada do jeito que vem no cano chega
no pote das pessoas [] Eacute que eacute da Compesa e natildeo eacute tratada a aacutegua [] Tem sim
o agente de sauacutede tem a preocupaccedilatildeo de levar o cloro todo mecircs taacute levando embora
tenha pessoas na comunidade que natildeo use mas tem laacute o agente de sauacutede faz a sua
parte (Lideranccedila 2)
122
Pelo Rio Satildeo Francisco [] Adutora do sertatildeo [] (Grupo Focal 2)
Haacute uma satisfaccedilatildeo em dizer que haacute aacutegua encanada e natildeo precisam de carro-pipa para
abastecimento mas como o tratamento eacute feito em casa pelos moradores haacute casos de diarreia
que podem ser consequecircncia do tratamento incorreto e irregular poreacutem eles atribuem ao
calor Lembram que haacute uma promessa feita pelo projeto da transposiccedilatildeo de fazer uma
estaccedilatildeo de tratamento em Umatildes
[] Chega [] Natildeo senhora [] Graccedilas agrave Deus natildeo Eacute adutora do sertatildeo trata em
casa [] CloroEacute o agente de sauacutede eacute quem traz aquele clorinho A gente bota em
casa [] ] Em relaccedilatildeo a acontecerem casos [] Eacute muito difiacutecil mas acontece []
Acontece porque com uma quentura dessa daqui a gente desunera junto [] Em
um ano jaacute teria que ter uma estaccedilatildeo de tratamento [] Era em um ano jaacute deveria ter
[] Tem muita distribuiccedilatildeo daqui pra laacute e ela natildeo eacute tratada teria que ser tratada em
Umatildes Tem um reservataacuterio laacute (Grupo Focal 2)
A promessa para melhorar o abastecimento de aacutegua fez parte de diagnoacutestico realizado
pelo projeto da transposiccedilatildeo na aacuterea mas ateacute o momento apenas obras do Proacute-Rural foram
feitas como a construccedilatildeo de um accedilude
Foi feito um levantamento disso e que iriam tomar uma decisatildeo pra tentar levar essa
aacutegua potaacutevel pra o povo Continua da mesma forma foi feito vaacuterias questotildees
hiacutedricas e tambeacutem na questatildeo que ia na eacutepoca os accediludes que ia ser construiacutedos
natildeo sei Teve um accedilude laacute que foi feito mas foi o Proacute-Rural neacute que foi feito com a
ajuda do Proacute-Rural [] (Lideranccedila 2)
Quanto agraves obras do projeto da transposiccedilatildeo haacute uma compreensatildeo de que sendo
construiacutedo no leito dos coacuterregos isso impediraacute que chegue aacutegua nos riachos onde a
populaccedilatildeo planta comprometendo assim a agricultura familiar Em siacutentese os coacuterregos de
onde flui aacutegua para os riachos estatildeo sendo desviados para as bacias o que potildee em risco a vida
dos riachos ameaccedilados de secar
[] Como eacute que eles estatildeo fazendo Tatildeo tirando [] Natildeo vai chegar aacutegua no riacho
mais de jeito nenhum [] Aiacute nos coacuterregos maiores estatildeo sendo feitas as bacias aiacute
dessa forma natildeo vai mais chegar aacutegua no riacho E o pessoal planta na beira dos
riachos [] Pelo contraacuterio vai eacute secar mesmo Secar porque natildeo vai chegar
quando natildeo tinha parede no meio a aacutegua descia [] Porque o canal taacute passando Aiacute
passa o canal e ainda tem os coacuterregos que corre para o riacho e que vai correr pra
dentro das bacias e do canal ai ela natildeo vai passar pra esse lado aqui Eacute como se
fechasse as veias (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo ao lixo os dados do questionaacuterio mostram que a praacutetica comum eacute queimar
com 86 das respostas ou jogar ao relento ou enterrar para 7 respectivamente (Graacutefico
18)
123
O serviccedilo de coleta de lixo natildeo eacute feito pelo municiacutepio na comunidade e mesmo
sabendo que natildeo eacute uma praacutetica saudaacutevel para sauacutede nem para o ambiente moradores satildeo
obrigados a manter essa conduta por falta de alternativa e de responsabilizaccedilatildeo do poder
puacuteblico
Natildeo tem Aqui natildeo tem coleta de lixo Praacute eu natildeo vecirc o lixo no terreiro eu queimo
diz pra natildeo queimar mas eu acho que eacute melhor queimar praacute laacute do que taacute
amontoando (Grupo Focal 2)
O diagnoacutestico feito pelo projeto da transposiccedilatildeo mencionado anteriormente tambeacutem
apontou a problemaacutetica dos resiacuteduos soacutelidos sem no entanto ter sido tomada nenhuma
providecircncia
[] na questatildeo do lixo foi levantado muita coisa foi levantava mas eu natildeo vi assim
outros avanccedilos [] (Lideranccedila 2)
O destino dos dejetos eacute feito por vaso com descarga (857) pelo sistema de
esgotamento sanitaacuterio e 143 por fossa seca (Graacutefico 18)
O Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - PBA 17 - afirmava
em 2005 que ldquoa comunidade foi beneficiada pelo Projeto Renascer com a construccedilatildeo de 25
unidades habitacionais e apenas estas possuiacuteam banheiro e destinaccedilatildeo para os esgotos (fossa
seacuteptica)rdquo (BRASIL 2005 p 21)
Atualmente com as obras realizadas pela Funasa-MS fruto de parceria com o projeto
da transposiccedilatildeo foram construiacutedas mais oito casas de alvenaria em substituiccedilatildeo as de taipa
que possuem banheiro e destino final dos dejetos Essa accedilatildeo contida no PBA 17 seraacute tratada
no capiacutetulo 8 desta dissertaccedilatildeo
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos ndash Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
124
Os animais criados na Comunidade de ContendasTamboril eram principalmente
galinha (23) Animais domeacutesticos como gato e cachorro somam 21 assim como o bode e
o porco tambeacutem com 21 importante na atividade pecuaacuteria A predominacircncia eacute de que satildeo
criados soltos (58) ou em cercados (315) (Graacutefico 19)
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Poreacutem com o projeto da transposiccedilatildeo se construiacutedo o ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo
haveraacute transtornos que iratildeo atingir diretamente a criaccedilatildeo de animais e a atividade pecuaacuteria de
subsistecircncia das famiacutelias quilombolas
[] Meu problema eacute com o criar com o criatoacuterio e da minha comunidade que vai se
acabar depois da Transposiccedilatildeo passar dentro da propriedade [] Ai quando rachar
no meio natildeo pode o bicho passar [] Quando tirar a terra do canal noacutes vamos ter
que cada um criar uma porca porque eacute presa porque bode noacutes natildeo pode mais criar
nem bode nem ovelha [] E nem gados [] Natildeo tem pastos (Grupo Focal 2)
Como problemas mais gerais existentes na Comunidade e ressaltando questotildees jaacute
mencionadas anteriormente foram elencados seis problemas sendo a falta de assistecircncia agrave
sauacutede a principal demanda a ser resolvida na comunidade (50) (Graacutefico 20)
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
125
Outro aspecto atribuiacutedo ao projeto da transposiccedilatildeo cujo impacto eacute negativo refere-se
ao aumento de acidentes de tracircnsito nas estradas provocado pelo crescimento de fluxo
principalmente de motocicletas
A questatildeo da violecircncia a questatildeo de acidentes os acidentes de tracircnsito Na minha
comunidade mesmo esse ano jaacute teve vaacuterias perdas Com a firma o pessoal laacute tem
que comprar a sua motinha a primeira coisa que vecirc eacute moto e aiacute o tracircnsito aumenta
a questatildeo do poder aquisitivo tambeacutem aumenta e aiacute as pessoas tem a gente tem
perdido alguns (Lideranccedila 2)
Em ContendasTamboril com base nas narrativas vaacuterias satildeo as promessas feitas pelo
projeto da transposiccedilatildeo identificadas pelo MI e que natildeo saiacuteram do papel
E aiacute assim ficou ainda tem muita coisa que foi feito levantamento que a gente no
diagnoacutestico que a gente via onde foi feito o diagnoacutestico com a comunidade
(Lideranccedila 2)
Relacionamos pontos que tiveram maior realce e podem subsidiar avaliaccedilotildees e
reivindicaccedilotildees poliacuteticas pela comunidade
a) Questatildeo hiacutedrica Construccedilatildeo de accedilude e de reservatoacuterio para tratamento
b) Funcionamento da escola na comunidade
c) Melhoria do transporte escolar
d) Destino adequado do lixo
e) Esclarecimentos e negociaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves obras do Reservatoacuterio Tamboril
f) Questatildeo fundiaacuteria - agilizaccedilatildeo de procedimentos para regularizar o territoacuterio
g) Assistecircncia agrave sauacutede
h) Acesso ao trabalho nas empresas contratadas pelo projeto
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS
Em Salgueiro o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute o mais antigo e o primeiro a
ser certificado no Estado Localizado no II Distrito do municiacutepio de Salgueiro Conceiccedilatildeo das
Crioulas fica a 42 km da sede com percurso de 15 km de asfalto e 27 km de estrada de terra
Situa-se a 550 km de Recife Hoje com uma aacuterea de 16885 hectares o quilombo possui uma
populaccedilatildeo de aproximadamente 4000 habitantes 750 famiacutelias (AacuteGUAS 2013)
126
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo-C das Crioulas
Fonte A autora 2013
A figura 10 mostra um mapa elaborado pelos moradores com representaccedilatildeo dos
vaacuterios siacutetios e equipamentos sociais existentes vegetaccedilatildeo aacutereas de lazer e os limites do
territoacuterio
A figura 11 mostra a igreja Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo na Vila Sede marco da
histoacuteria e fundaccedilatildeo do quilombo
Em relaccedilatildeo agrave sua formaccedilatildeo o ldquoSertatildeo Quilombolardquo tem o registro de que
A histoacuteria da comunidade eacute contada a partir da luta de seis negras livres que
chegaram na regiatildeo Trabalhando fortemente no cultivo fiaccedilatildeo e venda do algodatildeo
conseguiram comprar trecircs leacuteguas em quadra das terras que arrendavam No dia 1ordm de
janeiro de 1802 as negras fundadoras da Comunidade receberam a escritura de
posse de suas terras concretizada em um cartoacuterio da localidade referenciada como
Torre com dezesseis selos feita por Joseacute Delgado A origem do nome do quilombo
estaacute associada agrave chegada de um homem chamado Francisco Joseacute que fugido da
guerra carregou consigo a imagem de nossa senhora da Conceiccedilatildeo Depois de girar
pelo sertatildeo achou abrigo nas terras das crioulas Laacute construiacuteram uma capela e
tornaram a santa padroeira do povoado desde entatildeo conhecido como Conceiccedilatildeo das
Crioulas Esta histoacuteria eacute contada nos mais diversos siacutetios ligando a identidade da
comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas agrave descendecircncia das suas fundadoras que
atraveacutes do trabalho tomaram a iniciativa de legitimar o terreno (CENTRO DE
CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21)
A ideia de que as mulheres negras natildeo chegaram ali na condiccedilatildeo de escravas eacute
unacircnime e a memoacuteria das crioulas eacute associada ao poder da autonomia e articulaccedilatildeo entre os
siacutetios que foi consolidando o sentido de unidade e a capacidade de organizaccedilatildeo poliacutetica Eacute em
Conceiccedilatildeo das Crioulas que fica a sede da Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas (AECQPE)
127
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas segundo documentos oficiais do projeto da
transposiccedilatildeo encontra-se na chamada aacuterea de influecircncia direta (AID) Localizado a cerca de
cinquenta quilocircmetros do canal a ser construiacutedo no trecho I do Eixo Norte a comunidade natildeo
sofreraacute diretamente impacto ambiental com as obras nem na fase de construccedilatildeo nem na fase
operacional do projeto (BRASIL 2005 p 2)
Apesar de natildeo ser atingido diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo a Comunidade de
Conceiccedilatildeo das Crioulas agrega um grande nuacutemero de atividades previstas pelo SubPrograma
de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas (PBA 17) descrito no capiacutetulo 8
A percepccedilatildeo geral do projeto expressa nas narrativas eacute recheada de esperanccedila mas
tambeacutem de criacuteticas ao projeto por natildeo beneficiar quem oficialmente aparece como puacuteblico
prioritaacuterio A esperanccedila eacute de ver resolvido o problema do abastecimento de aacutegua na aacuterea
criacutetico para a maior parte dos siacutetios que compotildee o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das Crioulas mas
tambeacutem que as demais accedilotildees prometidas sejam cumpridas Haacute uma expectativa que eacute aleacutem de
uma esperanccedila de que haja justiccedila social no projeto da transposiccedilatildeo beneficiando de fato
quem realmente precisa
[] Olha esperamos que uma vez concluiacutedo a populaccedilatildeo possa se beneficiar do
resultado final desse projeto que eacute a aacutegua no qual o pessoal tanto espera e os
projetos que estaacute paralelo a essa obra que satildeo os projetos de infra-estrutura de
estrada de eletrificaccedilatildeo e de geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo Eacute isso que se
espera neacute Que os pequenos que os pequenos produtores da agricultura familiar
possam se beneficiar disso tambeacutem neacute Natildeo soacute as grandes empresas natildeo soacute o
agronegoacutecio Que haja justiccedila social nessa obra Eacute o que eu espero (Lideranccedila 3)
[] mas em termo de aacutegua mesmo se houver a possibilidade de tambeacutem a aacutegua sair
dessa rede desse canal que vai atravessar Pernambuco eu acho que eacute muito
interessante porque noacutes estamos trabalhando dentro do municiacutepio porque noacutes
estamos tendo muita dificuldade aqui na questatildeo da aacutegua porque a aacutegua vem do
municiacutepio do Beleacutem do Satildeo Francisco [] (Grupo Focal 1)
Moradores fazem tambeacutem uma menccedilatildeo ao projeto como mais uma obra faraocircnica que
natildeo funcionaraacute comparando-a com a transnordestina que realiza obras em Salgueiro
Porque estaacute sendo mais uma piracircmide do Egito esse canal E que vai ficar aiacute que
nem essa estrada de ferro que a gente tinha ai antes e que na verdade natildeo funcionou
e que os trilhos estaacute ai Daqui ateacute Recife eles estatildeo fazendo outra por cima que a
gente natildeo sabe se vai funcionar tambeacutem [] Eacute a Transnordestina (Grupo Focal 1)
128
Em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees e debates sobre o projeto da transposiccedilatildeo a percepccedilatildeo eacute de
que ficaram restritos ao iniacutecio do projeto antes da fase de construccedilatildeo das obras O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo e o governo municipal natildeo incentivaram a organizaccedilatildeo de uma instacircncia
poliacutetica de controle social para acompanhamento do projeto em suas diversas etapas
Lideranccedila de Salgueiro se ressente de natildeo ter sido viabilizado esse canal apesar da certeza de
que eacute uma necessidade e um direito
De fato noacutes fomos noacutes tivemos num primeiro momento algumas informaccedilotildees de
alguma discussatildeo sobre a construccedilatildeo das bacias de transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco isso se deu num primeiro momento assim quando os projeto tavam vindo
pro municiacutepio neacute Mas no momento a gente natildeo teve o governo natildeo manteve uma
poliacutetica de acompanhamento durante as obras neacute [] (Lideranccedila 3)
Houve a proposta de se constituir um Comitecirc Gestor que natildeo foi adiante mas visto
como importante retomar a ideia pela necessidade de haver um monitoramento de
funcionamento do projeto e de respostas eficazes agraves demandas das populaccedilotildees sejam
quilombolas indiacutegenas ou assentados
No municiacutepio no princiacutepio da obra da discussatildeo das obras noacutes ateacute ainda
comeccedilamos a discutir a proposta do comitecirc de controle dessas obras aqui porque
acreditamos que a populaccedilatildeo tem que participar disso Tanto para esse controle
social do serviccedilo como o uso como puder interferir puder sugerir E noacutes
comeccedilamos nessa discussatildeo sentamos na perspectiva de chamar as igrejas chamar
os sindicatos chamar os conselhos chamar a sociedade [] E uma das discussatildeo era
criar esse Comitecirc de Gestatildeo neacute que com certeza ele viraacute porque quando a obra
tiver funcionando algueacutem vai ter que fazer a gestatildeo dela neacute Monitorar
acompanhar neacute E eu acredito que se natildeo foi naquele momento a gente vai precisar
numa hora criar um oacutergatildeo [] O MI esteve convidado a estar nesse momento mas
ele natildeo fez tanta forccedila assim praacute gente criar esse oacutergatildeo poliacutetico de gestatildeo (Lideranccedila
3)
Nesse aspecto o municiacutepio tem uma limitaccedilatildeo de acompanhamento embora a gente
tenha uma diretoria de gestatildeo ambiental mas falta essa questatildeo a gente observa o
proacuteprio Estado tem essa dificuldade de estar fazendo um acompanhamento mais de
perto [] Com o ministeacuterio a gente vem tentando porque tem uma relaccedilatildeo que eacute
antes da obra e durante Antes a gente jaacute avaliava toda essa questatildeo de impacto Foi
feito todo o estudo de impacto ambiental e a gente jaacute tinha um pouco isso Entatildeo
algumas coisas em tese jaacute estariam preacute-agendadas [] Entatildeo eu diria que hoje o
acompanhamento ambiental relativo agrave obra ele ainda apresenta algumas
deficiecircncias Agraves vezes chega denuacutencia de uma comunidade e de outras a gente tenta
acionar mas a gente mesmo natildeo tem o controle disso no acompanhamento para ter
dados mais concretos mas tem a visatildeo tem a fala das comunidades que nem
sempre isso tem sido assegurado (Gestora 1)
As informaccedilotildees sobre o projeto chegam de forma fragmentada dificultando a
compreensatildeo do todo a mobilizaccedilatildeo e reivindicaccedilatildeo em torno das principais demandas para
populaccedilatildeo
129
[] Pelo que a gente pela informaccedilatildeo Talvez a gente esteja alheio porque as accedilotildees
do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo elas vatildeo chegando assim tem projeto tal ai pronto
Mas o projeto como um todo pra gente perceber o que a gente pode buscar laacute o que
a gente pode requisitar e que pode ser desenvolvido aqui a gente natildeo tem esse
domiacutenio (Grupo Focal 1)
A fala de representante do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo afirma que haacute uma interlocuccedilatildeo
formal com entidade governamental federal que atua junto aos quilombolas mas sem
nenhuma articulaccedilatildeo com organizaccedilotildees natildeo governamentais com as Associaccedilotildees que
representem o povo quilombola na aacuterea do projeto
Na verdade com relaccedilatildeo a quilombolas a gente tem muito mais com a Fundaccedilatildeo
Palmares Entatildeo assim esse ano natildeo veio houve algumas mudanccedilas na Fundaccedilatildeo
mas ela estaacute sendo convocada Com relaccedilatildeo inclusive ao acompanhamento das
accedilotildees ela tambeacutem acompanha propotildee tambeacutem algumas coisas mas eacute mais com a
Fundaccedilatildeo Palmares do que qualquer outra ONG (Gestora 10)
Quanto agrave gestatildeo da aacutegua o RIMA afirma que o Cearaacute Rio Grande do Norte e Paraiacuteba
jaacute contavam com oacutergatildeos gestores de recursos hiacutedricos tendo o Cearaacute como referecircncia na
administraccedilatildeo deste recurso
O Estado do Cearaacute eacute atualmente uma referecircncia na administraccedilatildeo de aacutegua Sua
poliacutetica de recursos hiacutedricos eacute gerida pela Companhia de Gestatildeo dos Recursos
Hiacutedricos (COGERH) que coordena 123 accediludes puacuteblicos estaduais e federais aleacutem
de canais e adutoras [] Os Estados da Paraiacuteba e do Rio Grande do Norte tambeacutem jaacute
criaram seus oacutergatildeos gestores dos recursos hiacutedricos preparando a regiatildeo para o uso
mais eficiente da aacutegua (BRASIL 2005 p 11)
Apesar da existecircncia desde 2001 do Comitecirc de Bacia Hidrograacutefica do Satildeo Francisco
(CBHSF) que trazia em sua constituiccedilatildeo uma composiccedilatildeo ldquodiversificada e democraacuteticardquo com
representantes de vaacuterios segmentos da sociedade civil natildeo havia representaccedilatildeo de
comunidades quilombolas Foi apenas em 2006 com uma alteraccedilatildeo regimental que se deu a
ampliaccedilatildeo da representaccedilatildeo dos povos indiacutegenas e a incorporaccedilatildeo de comunidades
quilombolas entre os membros titulares do comitecirc (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA
DO SAtildeO FRANCISCO 2014) Com base na Lei nordm 12984 de 30 de dezembro de 2005 que
instituiu a Poliacutetica Estadual de Recursos Hiacutedricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hiacutedricos de Pernambuco - SIGRHPE foi incluiacuteda a representaccedilatildeo destas
populaccedilotildees na composiccedilatildeo dos Comitecircs de Bacia Hidrograacutefica (COBHs) (Artigo 46
subseccedilatildeo II)
Paraacutegrafo 1ordm Nos COBHs de bacias cujos territoacuterios abranjam terras indiacutegenas e de
remanescentes de quilombos devem ser incluiacutedos representantes
130
I - dos oacutergatildeos gestores nacionais das comunidades indiacutegenas e de quilombolas
como parte da representaccedilatildeo da Uniatildeo II- das comunidades indiacutegenas ali residentes
e III- das comunidades de remanescentes de quilombos ali residentes
(PERNAMBUCO 2005)
Apesar das estruturas legais em torno da questatildeo hiacutedrica e do Comitecirc da Bacia do Rio
Satildeo Francisco mencionar a representaccedilatildeo quilombola natildeo identificamos pelos relatos dos
sujeitos sua representaccedilatildeo formal em nenhuma das instacircncias que discutem e acompanham a
questatildeo hiacutedrica no Estado
Na atual gestatildeo do CBHSF eleita em junho de 2013 em niacutevel nacional (Gestatildeo 2013-
2016) haacute representaccedilatildeo quilombola de um conselheiro titular e outro suplente das
Associaccedilotildees quilombola de Lagoa das Piranhas em Bom Jesus da Lapa e da Associaccedilatildeo
quilombola Santo Inaacutecio no municiacutepio de Ibiassucecirc ambas do estado da Bahia Ressaltamos
que o Comitecirc com 62 membros titulares tem uma representaccedilatildeo de apenas 33 das
comunidades tradicionais (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA DO SAtildeO FRANCISCO
2014)
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO QUESTIONAacuteRIO
CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas foram aplicados 78 questionaacuterios CAP representando
95 das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo Os dados apresentados satildeo a consolidaccedilatildeo dos questionaacuterios aplicados nas aacutereas
Siacutetios Siacutetio Paus Branco Rodeador Queimadas Paula Boqueiratildeo Riacho do Juazeiro Sede
Vila Uniatildeo Lagoinha Barrinha Chapada Mulungu e Garrote Morto o que representa 70
das aacutereas que constituem o territoacuterio quilombola
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 331
pessoas sendo 176 homens e 155 mulheres (meacutedia de quatro pessoas por famiacutelia) Essas
famiacutelias eram constituiacutedas mais por homens do que por mulheres (532 para 468) e
tambeacutem apresentaram niacutevel de escolaridade maior entre os homens com 53 tendo alguma
escolaridade em relaccedilatildeo a 47 das mulheres Curiosamente em relaccedilatildeo agraves pessoas sem
escolaridade os homens tambeacutem apresentam uma quantidade maior de analfabetos com
534 para 466 de mulheres Eacute um contingente expressivo de pessoas nesse universo sem
acesso agrave escolarizaccedilatildeo apesar de haver escolas funcionando na comunidade e o programa de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
131
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo 58 dos homens cursaram o
ensino fundamental contra 42 das mulheres Quanto ao ensino meacutedio as mulheres
aparecem com um percentual bem acima dos homens tendo 617 delas concluiacutedo o ensino
meacutedio enquanto apenas 383 dos homens tiveram essa oportunidade Em relaccedilatildeo ao ensino
superior apenas duas mulheres tiveram acesso (08) (Graacutefico 21)
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Na Vila Sede de Conceiccedilatildeo das Crioulas funcionam duas escolas municipais a Escola
Joseacute Neacuteu e a Escola Professor Joseacute Mendes (SALGUEIRO 2013) Possui tambeacutem mais seis
escolas espalhadas no territoacuterio com o ensino fundamental e educaccedilatildeo infantil Os
documentos oficiais do projeto da transposiccedilatildeo registram que as escolas que estatildeo em outros
siacutetios que natildeo as da Vila Centro atendem os indiacutegenas Atikum que haacute demanda por uma
escola teacutecnica para avanccedilar no processo de educaccedilatildeo diferenciada aleacutem da necessidade de
equipar a escola com um laboratoacuterio de informaacutetica Na eacutepoca estava sendo iniciado o
Programa Tele-sala (BRASIL 2005 p 19)
Em seu artigo sobre o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas Aacuteguas (2013) enaltece
aspectos importantes na construccedilatildeo de uma educaccedilatildeo diferenciada no territoacuterio
Aleacutem da sua lideranccedila na atuaccedilatildeo poliacutetica Conceiccedilatildeo das Crioulas destaca-se
tambeacutem pela formulaccedilatildeo de um projeto de educaccedilatildeo diferenciada e pelo trabalho
132
inovador com o artesanato Quanto agrave primeira iniciativa trabalha com uma
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo em que os valores a cultura os costumes as tradiccedilotildees a
sabedoria das pessoas mais velhas e a histoacuteria dos antepassados fazem parte do
processo histoacuterico da comunidade (AQCC 2008) A experiecircncia eacute considerada uma
referecircncia para o movimento quilombola brasileiro e para outras organizaccedilotildees que
atuam na aacuterea da educaccedilatildeo (AacuteGUAS 2013 p 6)
Dentre os equipamentos sociais relacionados agrave educaccedilatildeo haacute na Vila Sede uma
biblioteca afro-indiacutegena a primeira do Brasil que expressa a marca da identidade dos povos
quilombola e indiacutegena que habitam o mesmo territoacuterio e lutam por uma educaccedilatildeo diferenciada
(Figura 12)
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Nos aspectos referentes ao estado de sauacutede os entrevistados alegaram que vaacuterios satildeo
os problemas de sauacutede que afetam a populaccedilatildeo aparecendo como os cinco mais frequentes a
gripe (218) hipertensatildeo arterial (186) dores de cabeccedila (11) febre (10) e doenccedila de
Chagas (82) representando quase 70 das situaccedilotildees
Questotildees de sauacutede que podem estar relacionadas ao deacuteficit de aacutegua e seu consumo
inadequado apareceram com pouca frequecircncia como casos de diarreia (43) dor abdominal
(1) vocircmito (07) e verminose (04)
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 62 das respostas a procura
pelo posto de sauacutede (342) e hospital (278) As formas mais tradicionais de tratamento
representam juntas 292 das alternativas adotadas pelas famiacutelias como o remeacutedio caseiro
(17) o rezador (64) o chaacute (53) e o raizeiro (05) (Graacutefico 22)
133
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Como segundo distrito de Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas conta com um posto de
sauacutede na Vila Sede com funcionamento do Programa de Sauacutede da Famiacutelia Em 2013 foi
iniciada uma reforma e ampliaccedilatildeo no preacutedio da Unidade de Sauacutede sob responsabilidade da
Secretaria Municipal de Sauacutede em convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo tendo nenhuma
relaccedilatildeo com o projeto da transposiccedilatildeo (Figura13)
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Representante da Secretaria de Sauacutede detalha a equipe que compotildee a Unidade de
Sauacutede da Famiacutelia e o apoio oferecido pelo municiacutepio para deslocamento dos profissionais que
natildeo satildeo moradores da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
09 ACS um enfermeiro um meacutedico 01 Dentista auxiliar de enfermagem a
recepccedilatildeo auxiliar de serviccedilos gerais e a pessoa da farmaacutecia Essa equipe tanto o
134
meacutedico enfermeiro dentista auxiliar de enfermagem eles se deslocam daqui de
Salgueiro para Conceiccedilatildeo todos os dias Entatildeo haacute um carro que eacute locado aqui na
Secretaria municipal de Salgueiro que transporta que leva essa equipe todos os dias
praacute Conceiccedilatildeo E a gente leva tambeacutem a gente paga as refeiccedilotildees desses profissionais
laacute Entatildeo eacute uma equipe muito boa uma equipe muito integrada [] E o avanccedilo que
teve desde o ano passado noacutes conseguimos a ampliaccedilatildeo e reforma da Unidade de
Sauacutede que jaacute estaacute em processo de licitaccedilatildeo [] Natildeo eacute diretamente com o Ministeacuterio
da Sauacutede Eacute parceria com o MS mas natildeo em relaccedilatildeo ao PISF E assim laacute eacute uma
aacuterea bastante extensa acho que vocecirc observou a gente tem ACS que daacute sede para
sua aacuterea eacute 30 km (Gestora 3)
Quanto as formas de sobrevivecircncia da comunidade os entrevistados apontaram uma
predominacircncia de pessoas vivendo com aposentadoria (393) seguida de pessoas que vivem
da agricultura (308) e do bolsa famiacutelia (205) o que representa 91 das fontes de renda
das famiacutelias As demais atividades somam 9 das alternativas de trabalho (Graacutefico 23)
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Os dados acima mostram a presenccedila da atividade agriacutecola poreacutem sem a forccedila de
outrora Ao chegaram ao local aonde hoje eacute o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das crioulas as
mulheres negras passaram a viver da agricultura baseada no plantio do algodatildeo De acordo
com informaccedilotildees da prefeitura municipal de Salgueiro
[] Ateacute 1987 o algodatildeo foi o sustentaacuteculo da economia quilombola mas com o
ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sinteacuteticos a populaccedilatildeo assistiu a sua
decadecircnciaHoje atraveacutes de uma agricultura de subsistecircncia seus habitantes
sobrevivem plantando milho feijatildeo mandioca jerimum e melancia (SALGUEIRO
2013)
A atividade de artesanato apesar de natildeo estar entre as respostas do questionaacuterio eacute
importante expressatildeo de identidade da comunidade e representa tambeacutem uma fonte de renda
Na Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira eacute onde se encontram os diversos artesanatos
produzidos para comercializaccedilatildeo (Figura 14)
135
No livro Sertatildeo Quilombola do CCLF haacute menccedilatildeo ao artesanato como uma atividade
reconhecidamente forte e que atraveacutes dele a comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas consegue
transformar trabalho em renda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 22)
Quanto ao artesanato uma atividade que sempre existiu em Conceiccedilatildeo das Crioulas
ganhou novo impulso como alternativa econocircmica diante da crise do algodatildeo dos
anos 1980 A partir de 2001 o projeto Imaginaacuterio Pernambucano na Comunidade
foi viabilizado atraveacutes de uma parceria entre a AQCC a Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) Mais de trinta produtos foram desenvolvidos atraveacutes de oficinas de gestatildeo
de qualidade e de consultorias de design ndash tais como as populares bonecas de fibra
de caroaacute (AgraveGUAS 2013 p 6 grifo do autor)
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira -
C Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute -
C Crioulas
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire- Sertatildeo
Quilombola (2008 p 22)
A inserccedilatildeo em grupos na comunidade pelas respostas do questionaacuterio mostra o
expressivo envolvimento dos moradores com a Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das
Crioulas (674) seguida da participaccedilatildeo com o sindicato (109) e com a associaccedilatildeo
indiacutegena Atikum (87) (Graacutefico 24)
Os eventos que envolvem a participaccedilatildeo das famiacutelias segundo respostas obtidas
apontam os de cunho religioso (392) e social (298) como de maior frequecircncia seguido
dos eventos culturais (138)
136
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
A Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) (Figura 16) fundada
em 2000 desenvolve vaacuterios trabalhos e estabelece parcerias diversas Tem como objetivos o
desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua histoacuteria a
valorizaccedilatildeo das suas potencialidades a conscientizaccedilatildeo do povo negro da sua importacircncia
para construccedilatildeo de uma sociedade justa e igualitaacuteria a quebra da barreira do preconceito e
discriminaccedilatildeo racial A AQCC eacute formada por 10 associaccedilotildees de produtores e trabalhadores
rurais provenientes dos diversos siacutetios que compotildee o povoado (SALGUEIRO 2004)
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas
Fonte A autora 2013
Em ldquoSertatildeo Quilombolardquo um pouco mais sobre a Associaccedilatildeo e seus projetos
[] a AQCC - Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas desenvolve
vaacuterios trabalhos ligados a territorialidade geraccedilatildeo de renda educaccedilatildeo e juventude
Entre eles estaacute o Crioulas Viacutedeo produtora de viacutedeos formada pela juventude
quilombola da comunidade [] Dentre as comunidades quilombolas de
137
Pernambuco Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute pioneira na organizaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo e
articulaccedilatildeo das lutas quilombolas tornando-se uma referecircncia tanto no acircmbito
regional como nacional (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21-23)
Relato de uma gestora confirma a dinacircmica da organizaccedilatildeo da comunidade e sua
incessante luta e articulaccedilatildeo poliacutetica
[] os ACS tambeacutem satildeo muito politizados e a comunidade tambeacutem [] Eles sabem
dos seus direitos dos seus deveres tambeacutem e sempre estatildeo reivindicando suas
melhorias [] eacute um a comunidade bastante politizada que reivindica seus direitos
que sabe quais satildeo seus direitos como e tambeacutem seus deveres e que sempre que a
gente solicita alguma reuniatildeo alguma coisa que a gente precise da comunidade eles
estatildeo ali junto Entatildeo se vocecirc quer marcar uma reuniatildeo em Conceiccedilatildeo de algum
tema eles jaacute se articulam rapidamente Haacute vaacuterias associaccedilotildees tambeacutem em
Conceiccedilatildeo das Crioulas e a gente consegue quando quer marcar alguma coisa a
gente consegue rapidamente se articular com eles e mobilizar fazer uma
mobilizaccedilatildeo Entatildeo eacute uma comunidade bastante unida que realmente sabe o que quer
[] (Gestora 3)
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas vinte e trecircs opccedilotildees de divertimento As quatro primeiras opccedilotildees
somam 593 sendo jogar bola a atividade de lazer preferida (203) seguida da bebida
com 14 da danccedila (133) e da televisatildeo com 117
Para as mulheres foram apontadas vinte e seis formas de lazer As quatro primeiras
opccedilotildees que somam 597 mostram que assistir televisatildeo vem como primeiro divertimento
(29) seguido de danccedilar forroacute com 13 ouvir raacutedio com 95 e jogar futebol com 82
(Graacutefico 25a)
O lazer para crianccedilas aparece com dezesseis opccedilotildees mas as quatro primeiras
representam 78 das frequecircncias sendo brincar no terreiro (21) estudar (204) jogar
futebol (197) e assistir televisatildeo (17) as com maior envolvimento das crianccedilas Brincar
no terreiro e estudar tecircm quase o mesmo percentual (Graacutefico 25b)
Como espaccedilos coletivos promotores de lazer haacute na comunidade na Vila Sede o
campo de futebol a quadra poliesportiva e a praccedila
138
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
Graacutefico 25b - Formas de diversatildeo para crianccedilas - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Os canais de comunicaccedilatildeo apontados pelo questionaacuterio indicam que as notiacutecias satildeo
veiculadas principalmente pelo raacutedio (365) de pessoa a pessoa (34) e por telefone (20)
Quanto aos meios de transporte mais usados pelas famiacutelias quase 80 estatildeo
distribuiacutedos entre o carro (28) moto (227) bicicleta (166) e cavalo (118) (Graacutefico
26)
139
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
O acesso agrave Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo eacute faacutecil como descreve Aacuteguas (2013 grifo
nosso)
[] Depois de um trajeto de 514 km entre Recife e Salgueiro satildeo mais 15 km pela
BR-116 que conduzem a uma estrada de terra que ndash laquoentre faveleiras caroaacutes
quixabeiras marmeleiros juaacutes mandacarus e macambirasraquo como descreve
Calheiros (2009 43) - sacudiraacute o viajante por mais 25 km ateacute a Vila Centro o
principal povoado do quilombo
Mas providecircncias jaacute vem sendo tomadas pela AQCC junto aos governos estadual e
federal para melhora da estrada de acesso agrave comunidade
Vocecirc falou aiacute da acessibilidade mas na questatildeo da acessibilidade em julho noacutes
fizemos um manifesto Desse manifesto o proacuteprio governo se comprometeu disse
que natildeo tinha condiccedilotildees de bancar o projeto todo mas ia ser o nosso parceiro que
atraveacutes de conhecimento dele em Brasiacutelia junto com a gente ele ia correr atraacutes
Esperamos isso ele dava o resultado ateacute o comeccedilo de abril (Grupo Focal 1)
O acesso agrave aacutegua na comunidade segundo as respostas do CAP indica que as
principais fontes satildeo a cisterna (40) aacutegua de accedilude (25) e poccedilo (10) representando 75
das maneiras de abastecimento O tratamento da aacutegua para consumo humano eacute 583 clorada
seguida de 378 coada seguida de 4 sem tratamento algum (Graacutefico 27)
140
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
As narrativas mostram que a situaccedilatildeo de abastecimento de aacutegua eacute precaacuterio mesmo em
aacuterea onde haacute encanamento e o fornecimento de aacutegua eacute pela Compesa no caso da Vila Sede
como tambeacutem nos demais siacutetios
Pela Compesa eacute Natildeo noacutes temos encanamento soacute [] [] Eacute muito difiacutecil chegar
aacutegua aqui noacutes tem sofrido [] Quando chega uma aguinha e agraves vezes com o carro -
pipa que tambeacutem natildeo daacute para atender a todo mundo sempre fica aquela diferenccedila
Chega numa parte da rua a outra fica tudo seca com os baldes na calccedilada laacute sem
aacutegua [] E aiacute passa em umas aacutereas meio estranhas e ai [] entenderam que
tambeacutem jaacute furaram a proacutepria rede da adutora que vem pra caacute com autorizaccedilatildeo da
Compesa e isso pra noacutes tem sido muito difiacutecil porque aqui agraves vezes vem uma
aguinha a cada quinze dias vinte dias agraves vezes tira o mecircs sem nem vim mas a
conta todo mecircs taacute ali taxa miacutenima que vocecirc use ou natildeo tem que pagar (Grupo
Focal 1)
Natildeo em relaccedilatildeo ao Projeto laacute natildeo passa o canal A aacutegua de laacute ela vem de Beleacutem de
Satildeo Francisco tem uma encanaccedilatildeo que tem uma caixa drsquoaacutegua e a distribuiccedilatildeo na
Vila eacute pelo Beleacutem de Satildeo Francisco E em relaccedilatildeo a aacuterea noacutes estamos falando da
Vila em relaccedilatildeo ao restante da aacuterea eacute abastecida com carro pipa [] Isso porque
nos soacute temos aacutegua que vem de Beleacutem de S Francisco praacute Vila praacute sede (Gestora 3)
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas - PBA 17- traz em sua descriccedilatildeo
da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas que
A comunidade vem lutando por uma adutora que viria de Beleacutem do Satildeo Francisco -
faltam18 km para chegar aleacutem da construccedilatildeo de uma ETA em Beleacutem do Satildeo
Francisco para a 2ordf fase que estaacute em processo de licitaccedilatildeo (FUNASA) Registrou-se
a existecircncia de algumas cisternas (BRASIL 2005 p 20)
E eacute uma luta que continua no momento atual sem obter ecircxitos concretos
[] E eacute isso que tambeacutem noacutes tivemos em Recife essa semana correndo atraacutes de
reunir laacute e noacutes tivemos a oportunidade de falar com a Secretaria de Recursos
Hiacutedricos laacute e eles anotaram umas coisas (Grupo Focal 1)
141
A situaccedilatildeo se agrava quando refere-se ao tratamento para consumo humano pelo
abastecimento feito das cisternas com carros-pipa
Isso tem cisternas poreacutem essa aacutegua vem do carro pipa Que antigamente ateacute uns uns
2 meses atraacutes essa aacutegua vinha aqui da compesa o carro pipa pegava aqui na
Compesa soacute que tem uns 2 meses mais ou menos que essa aacutegua ela eacute pega
diretamente no Iboacute E a gente conversando em reuniatildeo com a vigilacircncia essa aacutegua
estaacute sendo pega bruta sem tratamento E a recomendaccedilatildeo que se tem eacute que coloque
as pastilhas Soacute que o pipeiro fala que se colocar as pastilhas na hora que pega a
aacutegua as pastilhas corroacutei o pipa Aiacute tem essa dificuldade que eles natildeo querem
colocar porque corroacutei aquele material como eacute o metal neacute E eles estatildeo segundo
algumas informaccedilotildees colocando diretamente na Cisterna (Gestora 3)
O destino do lixo na aacuterea pelos dados do questionaacuterio mostra que jogar ao relento
(56) e queimar (398) satildeo as praacuteticas mais comuns a exemplo do que apareceu nos dados
das comunidades de Santana e ContendasTamboril Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apenas 16
do lixo eacute coletado (Graacutefico 28)
No entanto o que eacute descrito em documento do projeto da transposiccedilatildeo eacute de que existe
coleta de lixo semanal na comunidade poreacutem que a praacutetica de queimar permanece sendo
feita em uma aacuterea dentro do territoacuterio Natildeo fica claro se haacute coleta em todos os vinte e um
siacutetios e pela dimensatildeo da aacuterea uma coleta semanal eacute pouco haja visto o nuacutemero de famiacutelias
e produccedilatildeo de lixo e a distacircncia entre os siacutetios
O municiacutepio de Salgueiro estaacute projetando um aterro sanitaacuterio que possivelmente no
futuro iraacute receber o lixo da comunidade Registrou-se a existecircncia de uma campanha
AQCCescolas para coleta seletiva (BRASIL 2005 p 20)
Os dejetos estatildeo sendo lanccedilados em 90 das respostas no mato com apenas 10
sendo em vaso com descarga (Graacutefico 28)
Documento do projeto da transposiccedilatildeo afirma
Natildeo existem banheiros na comunidade Projeto do Estado conveniou a construccedilatildeo de
30 banheiros mas ainda natildeo saiu do papel Atualmente os lanccedilamentos de esgoto
das casas da Vila vatildeo para o accedilude de onde vem a aacutegua para consumo (BRASIL
2005 p 20)
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
142
A praacutetica de criaccedilatildeo de animais eacute presente na aacuterea poreacutem pelas respostas com
predominacircncia para a criaccedilatildeo de galinhas e cachorro com 21 respectivamente seguido de
gato (158) Outros animais da pecuaacuteria como porco (15) bode (98) e gado (6) satildeo
criados com menor frequecircncia Os animais satildeo criados soltos (77) (Graacutefico 29)
Informaccedilotildees da Prefeitura Municipal de Salgueiro indicavam a existecircncia de pequenos
criatoacuterios de ovinos caprinos bovinos e suiacutenos na comunidade (SALGUEIRO 2014)
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Como descriccedilatildeo mais detalhada da aacuterea central de Conceiccedilatildeo das Crioulas a Vila
Centro Aacuteguas (2013 p 3) relata
A Vila Centro eacute um simpaacutetico aglomerado de casas cercado pela vegetaccedilatildeo da
caatinga e pelo recorte das serras20
No seu nuacutecleo estaacute a pequena capela azul e
branca a praccedila e um pequeno comeacutercio Tambeacutem no povoado se concentram as
principais estruturas da comunidade a sede da AQCC a biblioteca Afroindiacutegena (a
primeira do Brasil) o posto de sauacutede a quadra poliesportiva o campo de futebol a
Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira as escolas de ensino fundamental e meacutedio o
banco de sementes o mercado puacuteblico e a lavanderia comunitaacuteria dentre outros
espaccedilos coletivos
A figura 17 mostra o mercado puacuteblico localizado na Vila Centro de Conceiccedilatildeo das
Crioulas
20
O quilombo eacute delimitado pela Serra das Princesas por Jatobaacute pelo territoacuterio indiacutegena Atikum pela Serra
Redonda e pela Serra do Urubu (CALHEIROS 2009 apud AacuteGUAS 2013)
143
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Os questionaacuterios tambeacutem apontaram problemas gerais da comunidade de Conceiccedilatildeo
das Crioulas que agrupamos por ordem de prioridade segundo frequecircncia das respostas
a) estatildeo hiacutedrica Falta de aacutegua falta de Cisterna
b) Dificuldade financeira
c) SauacutedeFalta de assistecircncia falta de ambulacircncia e casos de doenccedila de Chagas
d) Precaacuterio sistema de comunicaccedilatildeo
e) Dificuldade de transporte
f) Educaccedilatildeo Falta de escola
g) Questatildeo social e poliacutetica Falta de apoio para trabalho comunitaacuterio
h) Moradia Falta de moradia existecircncia de casas de taipa
i) Situaccedilotildees de violecircncia
Pelos dados apresentados com o questionaacuterio CAP e a narrativa dos sujeitos as
principais caracteriacutesticas das aacutereas do estudo apontam que os problemas das trecircs
comunidades quilombolas se datildeo em torno de questotildees de saneamento ambiental
(abastecimento de aacutegua tratamento para consumo humano destino de lixo e dejetos) do
acesso aos serviccedilos de sauacutede e educaccedilatildeo de dificuldades financeiras por falta de condiccedilotildees
de trabalho em suas comunidades e regiatildeo e dificuldades de deslocamento e de transporte
144
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Ao realizar o estudo com populaccedilotildees quilombolas afetadas por um grande
empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco encontramos na
definiccedilatildeo e condiccedilatildeo de vulnerados construiacuteda por Schramm (2012) uma relaccedilatildeo estreita
com as diversas situaccedilotildees as quais estatildeo submetidas estas populaccedilotildees
A distinccedilatildeo feita pelo autor sobre vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo traz a possibilidade de
vislumbrar quais situaccedilotildees provocadas pelas accedilotildees do projeto satildeo de maior contundecircncia na
vida das populaccedilotildees e dos seus territoacuterios
Trazer aspectos de vulneraccedilatildeo nos aproxima dos impactos provocados com as obras do
projeto da transposiccedilatildeo principalmente quando nos debruccedilamos sobre as narrativas feitas
pelos sujeitos do estudo
No capiacutetulo 5 fizemos reflexotildees sobre os impactos do projeto que segundo o RIMA
satildeo definidos como ldquopotenciais alteraccedilotildees provocadas no meio ambienterdquo o que nos faria
pensar numa condiccedilatildeo de vulnerabilidade pela potencialidade do que ainda poderia acontecer
(SCHRAMM 2012) Poreacutem transcorridos sete anos da implementaccedilatildeo do projeto haacute um
quadro social e ambiental que mostra o que de fato jaacute aconteceu nas aacutereas quilombolas com
situaccedilotildees que aparecem como marcas indeleacuteveis de uma condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo
Relatos de que a vida jaacute foi melhor que haacute muitas mazelas que haacute pessoas tristes
deixam claro os niacuteveis de vulneraccedilatildeo a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo natildeo apenas a
quilombola mas indiacutegena e da zona rural
[] E se eles natildeo tiver um recursinho pensando em noacutes de onde eacute que noacutes vamos
tirar Porque antes dela passar todo mundo aqui tinha o seu bichinho tinha a sua
carninha pra comer tinha os seus bichinhos pra vender neacute Ou ruim ou mal mas
tinha agora natildeo tem [] (Grupo Focal 3)
[] Traz destruiccedilatildeo praacute algumas comunidades quilombolas e indiacutegenas [] Natildeo
porque por onde essa transposiccedilatildeo taacute passando taacute acabando com o territoacuterio das
pessoas As aacutereas agricultaacuteveis que as pessoas utilizavam praacute plantar praacute colocar os
animais aiacute taacute destruindo o rio Representa muitas coisashellip poluiccedilatildeo pra colocar os
animais sem destruir [] (Grupo Focal 1)
A partir do que conceitua Schramm (2012) a populaccedilatildeo desse estudo encontrava-se
em uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade - condiccedilatildeo de quem pode ser ferido - e encontra-se
atualmente em uma situaccedilatildeo vulnerada - referindo-se a condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute
traumatizado ferido
145
Com o projeto da transposiccedilatildeo as comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas estatildeo submetidas a condiccedilatildeo de vulneradas
haja visto o que de fato jaacute se apresenta como impacto em seus territoacuterios no ambiente na
condiccedilatildeo de subsistecircncia e psiacutequica das famiacutelias Enfim haacute um quadro de vulneraccedilatildeo em
aspectos gerais de suas vidas
[] Eu nasci na zona rural tambeacutem Outro dia desse a secretaacuteria falou parece que
doacutei no sangue Eu disse doacutei no sangue eu natildeo gosto de ver essas comunidades
tristes que assim meu desejo eacute que elas se sintam felizes que estejam bem e
principalmente como eu estou diretora de ensino sou professora e humanamente
vocecirc natildeo quer ver ningueacutem infeliz e triste Vocecirc que ver as pessoas felizes e ai para
elas ter essa felicidade elas precisavam ter uma qualidade de vida melhor para elas
estarem felizes tambeacutem ter uma mudanccedila boa pra elas Foi uma mudanccedila triste
brusca e em muitos pontos ruim (Gestora 2)
E a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) - Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis (Ibama) nordm 186 em seu
artigo 1ordm define impacto ambiental como
[] qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas ou bioloacutegicas do meio
ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das
atividades humanas que direta ou indiretamente afetem a sauacutede a seguranccedila e o
bem-estar da populaccedilatildeo as atividades sociais e econocircmicas as condiccedilotildees esteacuteticas e
sanitaacuterias do meio ambiente e qualidade dos recursos ambientais (CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 1986)
Santos (2008 apud SANTOS R 2009) apresenta o olhar da harmonia que
interrompida pela accedilatildeo do homem gera impacto
Impacto ambiental eacute o desequiliacutebrio consequumlente de um dano que se vale de
agentes diversos capazes de interromper a harmonia existente na relaccedilatildeo
entre ser vivo e natureza por causa da accedilatildeo do homem sobre o meio
ambiente (SANTOS 2008 apud SANTOS R 2009 p 89)
Com essa compreensatildeo pode-se inferir que havia uma harmonia nos territoacuterios
quilombolas na relaccedilatildeo entre os seres vivos e o meio ambiente um equiliacutebrio ecoloacutegico que
ao ser quebrado pela accedilatildeo humana se configurou como impacto ambiental E por natildeo se
restringir ao meio fiacutesico o impacto trouxe consequecircncias para a populaccedilatildeo local As
intervenccedilotildees do projeto provocaram impactos que se expandiram da natureza para as famiacutelias
quilombolas daiacute serem impactos socioambientais com consequecircncias natildeo apenas ao meio
ambiente mas ao proacuteprio homem (SANTOS R 2009)
146
Detalhando um pouco mais cada tipo de impacto o ambiental eacute percebido como
[] se a gente voltar aqui para o ambiental natildeo haacute duvida o projeto ele faz eu natildeo
sei se eu poderia usar o termo devastaccedilatildeo mas eacute mais ou menos isso que vocecirc sente
em toda regiatildeo e principalmente porque Salgueiro estaacute no eixo natildeo soacute de um
projeto mas dos dois A gente tem aacuterea no municiacutepio que passa o canal de
transposiccedilatildeo mas ao lado passa a ferrovia entatildeo a aacuterea que se teve de desmatar e aiacute
vocecirc tem um impacto na flora e vocecirc tem um impacto na fauna Natildeo tenho duacutevida
nenhuma que isso vai ter tambeacutem contribuiccedilotildees na questatildeo climaacutetica mas jaacute eacute
visiacutevel e vocecirc sente soacute basta observar sem fazer um aprofundamento mais teacutecnico
da questatildeo Entatildeo isso aiacute acredito tambeacutem que natildeo tem como fazer obras sem que
eles existam Aiacute a gente tem que pensar as medidas que podem estaacute minimizando
reduzindo um pouco esses impactos mas ele eacute forte e ele eacute visiacutevel e ele taacute ai e a
gente tem que pensar como eacute que compensa isso a partir do investimento de outras
aacutereas dessa questatildeo de preservaccedilatildeo de floresta e fauna mesmo a gente considerando
que a caatinga ela eacute o bioma uacutenico aqui no sertatildeo [] (Gestora 1)
[] ai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da gente plantar e tudo e agente
vai ficar [] acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o rio jaacute taacute bastante seco
mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
O considerado impacto social parece ter ldquosido minimizadordquo ao referir-se as condiccedilotildees
atuais do municiacutepio que desenvolveu poliacuteticas puacuteblicas de capacitaccedilatildeo e preparo da
populaccedilatildeo urbana para ldquoreceberrdquo o projeto
A gente sempre tinha o receio de que o impacto social seria maior da obra do
projeto porque eacute muita gente que vinha de fora A gente trabalhou o incentivo a
utilizar a matildeo de obra local a gente trabalhou cursos de capacitaccedilatildeo em parceria
com as empresas com o governo federal para capacitar matildeo de obra local mas
mesmo assim a gente sabia que vinha um povo de fora [] Entatildeo esse impacto aqui
elevou o social e o econocircmico As pessoas passaram a ter poder aquisitivo entatildeo
isso teve uma repercussatildeo direta no comeacutercio isso teve uma repercussatildeo direta no
setor de serviccedilos e por outro lado o projeto em si ele jaacute atraia uma seacuterie de outros
juntos (Gestora 1)
O impacto psicoloacutegico ou emocional talvez um aspecto ldquoinvisiacutevelrdquo para o governo
tem relegada sua importacircncia e enfrentamento
E ai vem esse outro que ningueacutem trata que eacute o psicoloacutegico e ai eu digo porque vi
famiacutelia chorar porque quem estaacute em torno da obra entatildeo de repente vocecirc mora aqui
e eacute isso passa a ser problema [] Eu moro aqui a 4050 anos e ai jaacute estou com meus
6070 anos e eu tenho que ser desalojado de onde eu construiacute minha vida para ir pra
outro lugar Isso eu acho que eacute uma situaccedilatildeo que eacute complexa porque a gente natildeo
estaacute falando nem dos mais novos que tem uma condiccedilatildeo de adaptaccedilatildeo mais raacutepida
A gente fala dos mais velhos que muitas vezes natildeo sabia nem por onde nem a quem
recorrer nessa situaccedilatildeo apesar de todo processo ter sido discutido (Gestora 1)
Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas mesmo
elas precisavam ter um preparo maior [] Assim eu acho que eles deveriam ter um
preparo maior psicologicamente teria que ter sido arrumada a vida deles []
(Gestora 5)
147
Os resultados do estudo mostram que os impactos socioambientais provocados pelo
projeto da transposiccedilatildeo favorecem a condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo que hoje se verifica nas aacutereas
quilombolas de Salgueiro
Prejuiacutezos em relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com inuacutemeras perdas e impossibilidade de manter a
criaccedilatildeo
[] Eu tinha um criatoriozinho mas por causa desse canal ele passou pra laacute ai
passou [] Foi embora O que pude pegar eu vendi [] Tinha gente aqui que tinha
trecircs vacas leiteiras neacute Tirava leite pouquinho ou muito que nem a minha sogra
ela tirava leite fazia um queijinho Hoje as duas vacas que ela tinha morreu de
fome e de sede Por quecirc Foi laacute para o outro lado ela tinha que sair dentro das
caatingas aqui pra ir buscar a vaca praacute daacute aacutegua e praacute daacute milho comprado Todo
mundo sabe aqui que natildeo estou mentindo o que foi que aconteceu Chegou um dia
que a vaca passou pra o outro lado e natildeo teve como voltar e a uacutenica vaacutelvula que ela
tinha que era ela e a novilha morreu (Grupo Focal 3)
Restriccedilotildees impostas aos animais para deslocamento dentro do territoacuterio o que
provocou aleacutem das perdas de animais por morte desaparecimento venda e inclusive
situaccedilotildees de roubo Este quadro gera mais fragilidade e inseguranccedila aos moradores
quilombola para manutenccedilatildeo de suas criaccedilotildees
[] Contando com todo mundo aqui natildeo foi pouco natildeo [] Eacute porque o territoacuterio do
lado de caacute onde o pessoal cria os animais eacute ateacute pouco entatildeo os animais natildeo vatildeo ter
mais acesso a alimentaccedilatildeo dos animais era do lado de laacute a bebida aacutes vezes era do
lado de laacute aiacute natildeo tem mais acesso pra ir pra laacute Entatildeo as pessoas venderam os
animais tiveram mais acesso a pessoas vindo de fora e roubar teve ateacute questatildeo de
roubo aqui de animais animais que foram embora [] Animais que caiacuteram se
atolaram na terra e morreram [] Era um criatoacuterio aqui que praticamente acabou
Cria mais natildeo Quem natildeo vendeu perdeu foi embora desapareceu roubaram e
pronto [] (Grupo Focal 3)
Destruiccedilatildeo de aacuterea de sequeiro prejudicando a agricultura familiar e indenizaccedilotildees
irrisoacuterias pelas perdas quando satildeo pagas
[] Do outro lado Do lado de laacute [] Eles passaram mesmo no meio do terreno era
duzentos e tantos metros porque era uma roccedila duzentos e tantos metros Agora
acabou tudo [] Natildeo eacute brincadeira natildeo eacute chatildeo Natildeo sabe nem mais onde eacute o
lugar[hellip] passaram por cima ai [] E Era uma roccedila coletiva de toda comunidade []
A minha mesma eles usou trecircs terreninhos foi 3 mil reais [] Uma indenizaccedilatildeo
pequena [] Teve gente aqui que natildeo receberam nada [] Aquilo natildeo eacute
indenizaccedilatildeo natildeo aquilo eacute uma esmola que o governo estaacute achando que o povo eacute
esmoler isso natildeo eacute dinheiro um terreno bom como eacute esse daqui receber uma
mixaria [] A empresa de Bom Nome Eacute a empresa que usa ai diz que daqui vai praacute
beira do rio pro mode bombear aacutegua no canal [] Os terrenos que ela utilizou ela
estragou meio mundo de coisa e a onde ela passa que cavaram os buracos pra enfiar
os postes eacute tudo os negoacutecios de ferro Trezentos reais eles pagam por um poste paga
natildeo falaram em pagar mas ateacute hoje natildeo pagou a ningueacutem Pagou a ningueacutem natildeo
[] (Grupo Focal 3)
148
A base da economia agriacutecola do sertatildeo satildeo atividades pastoris com o predomiacutenio da
criaccedilatildeo extensiva de gado bovino e animais ruminantes de pequeno porte (caprinos e ovinos)
assim como a cultura de espeacutecies resistentes agrave estiagem como algodatildeo e a carnauacuteba nas aacutereas
mais secas e em aacutereas mais uacutemidas a produccedilatildeo de gratildeo (milho e feijatildeo) e mandioca afirma
Suassuna (2002) O comprometimento dessas culturas de subsistecircncia vem dificultando a vida
do povo quilombola com piora das condiccedilotildees de trabalho e alimentaccedilatildeo
Inseguranccedila quanto agrave permanecircncia no territoacuterio pela ameaccedila concreta de perda e
ruptura do viacutenculo com agrave terra sinocircnimo de identidade e pertencimento agraves raiacutezes e tradiccedilotildees
quilombolas
[] e tambeacutem a questatildeo dos territoacuterios que fere mesmo a questatildeo eacutetica moral das
comunidades porque o territoacuterio das comunidades aqui eles natildeo satildeo em si apenas
terra para eles a questatildeo natildeo eacute terra eacute territoacuterio eacute afirmaccedilatildeo eacute confirmaccedilatildeo de sua
identidade ali onde moravam seus antecedentes onde foram enterrados onde
trabalhavam onde retira a lenha onde retira o carvatildeo entatildeo eacute uma coisa muito forte
Toda essa questatildeo de dizer ah foi indenizado a gente sabe que dinheiro nenhum
recompensa o espaccedilo que a gente tem porque eacute uma coisa muito mais profunda natildeo
eacute soacute uma questatildeo de plantar e de colher a questatildeo do territoacuterio pra gente eacute uma coisa
muito ligada agrave identidade a gente que eacute feita da gente entatildeo achei que foi um
impacto negativo a questatildeo de passar o canal dentro de algumas comunidades natildeo
foram por todas mas [] (Gestora 2)
Desmatamento no territoacuterio quilombola autorizada por oacutergatildeos ambientais provocando
indignaccedilatildeo entre as famiacutelias pela agressatildeo ao meio ambiente Eacute evidente o sentimento de
injusticcedila com a restriccedilatildeo imposta aos povos tradicionais pelos mesmos oacutergatildeos ambientais ao
manejo da vegetaccedilatildeo quando necessaacuterio e a ldquoliberaccedilatildeo irrestritardquo para o MI executar as obras
da transposiccedilatildeo agraves custas de grande devastaccedilatildeo ambiental
[] E o pior que a gente tinha esses terreninhos aiacute se a pessoa fosse botar uma broca
tinha que pedir autorizaccedilatildeo ao IBAMA e aiacute se derrubar uma Brauacutena pagava no sem
quanto [] 2 mil [] Uma aroeira um umbuzeiro aiacute eles vai meteram o sarrafo
pra riba derrubaram umburana umbuzeiro todos tipo de pau brauacutena aroeira
esbagaccedilaram tudo aiacute os dono que era dono que pagava imposto natildeo tinha esse
direito de botar uma broca pra mode fazer uma rocinha [] Matou matou foi muito
gameleira aiacute nas caatinga morreu foi muito ai por causa da terra [] Isso ai eacute 225m
de largura no terreno todo terreno que cruzou aiacute O que eacute que eacute a bagaceira de
madeira aiacute Uma coisa horriacutevel (Grupo Focal 3)
[] Olhe de negativo a gente sabe toda a questatildeo ambiental como desmatamento
como escavaccedilatildeo tudo isso a gente vecirc como impactos negativos como a natildeo
implantaccedilatildeo de viveiros pra repor a vegetaccedilatildeo que foi retirada a gente natildeo vecirc isso
possa ser que tenha mas natildeo temos conhecimento de nenhuma aacuterea aqui no
municiacutepio de Salgueiro [] (Gestora 2)
149
Descaso e descompromisso com a vida das populaccedilotildees quilombolas suscitam as
perguntas qual o niacutevel de responsabilizaccedilatildeo do governo em provocar tantos danos e
prejuiacutezos Quem eacute que vai pagar por isto
[] E aiacute quem foi que pagou o prejuiacutezo Alguns dele veio laacute dizer lsquotoma Vileni
aqui a indenizaccedilatildeo que tua vaca morreu por culpa da transposiccedilatildeorsquo Foi Natildeo
Querem mais eacute que ela se dane se ela morrer de fome natildeo tatildeo nem aiacute que natildeo eacute
eles Natildeo se preocupa O ponto negativo que eu acho eacute isso aiacute [] (Grupo Focal 3)
Narrativas apontam para uma mudanccedila de paisagem na aacuterea quilombola que com as
intervenccedilotildees (estrutura imposta) adquiriu nova configuraccedilatildeo com grande oposiccedilatildeo agraves formas
existentes passando a ser ldquodesconhecidardquo pela populaccedilatildeo (SANTOS F M 2012)
Para Santos M (2012 p 68)
A paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si aspectos
cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees
diferentes
Narrativa ilustra essa realidade
[] onde eu moro quando eu abro a minha janela jaacute natildeo tenho a mesma paisagem
eu jaacute natildeo tenho o accedilude que tinha e abastecia jaacute ficou do outro lado do canal porque
dividiu propriedade no meio os acessos tiveram que ser modificados entatildeo tudo
isso modificou muito a vida rural ai vocecirc estaacute numa situaccedilatildeo numa estabilidade
(Gestora 1)
O quadro de vulneraccedilatildeo descrito mostra a contradiccedilatildeo do discurso oficial do projeto da
transposiccedilatildeo a distacircncia do que vem sendo veiculado pela miacutedia sobre as obras e seus
impactos positivos e do desrespeito agraves conquistas legais dos povos tradicionais
O descumprimento pelo governo dos preceitos legais aprovados para estes povos
caracteriza-se como violaccedilatildeo de direitos e pode ser observado em vaacuterias dimensotildees
No que preconiza a Convenccedilatildeo nordm 169 da OIT sobre povos indiacutegenas e tribais que
vigora com forccedila de lei no Brasil desde 2004 em seu artigo 7ordm quando diz no primeiro
paraacutegrafo
Os povos interessados deveratildeo ter o direito de escolher suas proacuteprias prioridades no
que diz respeito ao processo de desenvolvimento na medida em que ele afete as
suas vidas crenccedilas instituiccedilotildees e bem-estar espiritual bem como as terras que
ocupam ou utilizam de alguma forma e de controlar na medida do possiacutevel o seu
proacuteprio desenvolvimento econocircmico social e cultural Aleacutem disso esses povos
deveratildeo participar da formulaccedilatildeo aplicaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos planos e programas de
desenvolvimento nacional e regional suscetiacuteveis de afetaacute-los diretamente (BRASIL
2004d)
150
No que determina o Decreto nordm 60402007 que institui a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) em seu
artigo 3ordm ao definir como desenvolvimento sustentaacutevel ldquoo uso equilibrado dos recursos
naturais voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geraccedilatildeo garantindo as
mesmas possibilidades para as geraccedilotildees futurasrdquo e dentre seus objetivos especiacuteficos
[] garantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o acesso aos
recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural e
econocircmica e garantir os direitos dos povos e das comunidades tradicionais afetados
direta ou indiretamente por projetos obras e empreendimentos (BRASIL 2007)
Natildeo obstante esta e outras conquistas legais fruto da luta do povo negro e
comunidades tradicionais o que se configura eacute uma realidade poliacutetica em que accedilotildees
governamentais satildeo pautadas por modelo baseado na crenccedila de que o crescimento econocircmico
tradicional em que maior investimento-produccedilatildeo-consumo permitiria simultaneamente
maior nuacutemero de empregos e melhor qualidade de vida para uma parcela cada vez maior da
populaccedilatildeo e um modelo de desenvolvimento que em nome de um crescimento econocircmico
natildeo incorpora os excluiacutedos do sistema
Projetos governamentais com recursos do PAC a exemplo da transposiccedilatildeo tecircm a
marca de intervenccedilotildees distantes da realidade local e com motivaccedilotildees natildeo expliacutecitas como
afirma Leitatildeo
O PAC corrobora a tradiccedilatildeo do Estado brasileiro em atuar no territoacuterio via projetos
sem plano recheados de discursos deslocados da praacutetica a que efetivamente se
propotildeem e das motivaccedilotildees que de fato se baseiam Esses mecanismos []
corroboram a tendecircncia agrave reproduccedilatildeo das desigualdades regionais e sociais e em
uacuteltima instacircncia agrave fragmentaccedilatildeo do espaccedilo regional via investimento de caraacuteter
seletivo (LEITAtildeO 2009 p 209 apud BRASIL 2011 p 92)
Corroborando com o autor a narrativa de lideranccedila complementa esta reflexatildeo ao
explicitar o quatildeo eacute preciso repensar o modelo poliacutetico vigente o caraacuteter assistencialista e
paternalista das poliacuteticas puacuteblicas voltadas agraves populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas rurais etc
[] Entatildeo faltam boas escolas as escolas integradas com a realidade da zona rural
e que a zona rural natildeo seja um sinocircnimo de pobreza nem de tratar essas pessoas
como coitadinhos pobrezinhos miseraacuteveis mas como pessoas que deixaram de
gozar da poliacutetica puacuteblica do qual eles tem direito ao longo desse tempo Entatildeo a
gente natildeo pode natildeo pode nem deve continuar com essa ideia de que os menos
favorecidos da sociedade eles estatildeo ali porque estatildeo precisando das migalhas das
poliacuteticas puacuteblicas Eles precisam ser inseridos dentro da poliacutetica puacuteblica como
sujeito (Lideranccedila 3)
151
A narrativa da lideranccedila ilustra a imagem cultivada por governos e poliacuteticos em
relaccedilatildeo a um sertatildeo inoacutespito pobre degradado apesar de outras alternativas para o semiaacuterido
serem pensadas e pesquisadas (COSTA 2010)
Para o autor
Prevaleceu a imagem de um sertanejo forte mas inferior pronto a receber esmolas
de uma regiatildeo pela qual se devota pena e socorros Essa imagem do atraso soacute
beneficiou e beneficia as classes dominantes receptoras histoacutericas principais das
lsquoobras contras as secasrsquo dos lsquobenefiacuteciosrsquo e lsquoajudasrsquo carreadas para o
semiaacuterido (COSTA 2010 p 38)
A certeza maior parece ser a de que as obras do projeto da transposiccedilatildeo realizadas ateacute
o momento e as que estatildeo por vir traratildeo apenas prejuiacutezos deterioraccedilatildeo na qualidade de vida
das famiacutelias do territoacuterio do ecossistema como um todo constataccedilatildeo que natildeo eacute nova neste
estudo O benefiacutecio eacute para outrem muito distante ldquosem identidade especiacuteficardquo mas natildeo para
os da regiatildeo comunidades quilombolas indiacutegenas e de trabalhadores rurais Um ldquoquadro
sombriordquo se configura como perspectiva a curto e meacutedio prazo para os povos da zona rural
inseridos nas aacutereas de influecircncia do projeto
[] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de onde eacute E
noacutes aqui vamos ficar com quecirc Vai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da
gente plantar e tudo e agente vai ficar acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o
rio jaacute taacute bastante seco mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo
Francisco (Grupo Focal 2)
Implementado agrave revelia de um debate mais amplo no paiacutes e sem dar ouvidos agraves
manifestaccedilotildees sociais argumentaccedilotildees teacutecnicas e poliacuteticas contraacuterias ao projeto a realizaccedilatildeo
do projeto da transposiccedilatildeo ratifica um modelo que privilegia uma estrateacutegia de
desenvolvimento territorial que ldquofavorece ganhos privados socializa custos socioespaciais e
impactos ambientaisrdquo acarretando em ldquoum desenvolvimento territorial espacialmente
seletivo ambientalmente predatoacuterio e socialmente excludenterdquo argumenta Leitatildeo (2009 apud
BRASIL 2011 p 92)
152
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS PARA
MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO
A educaccedilatildeo eacute a arma
mais poderosa que vocecirc pode usar
para mudar o mundo
(Nelson Mandela)
Este capiacutetulo apresenta os resultados das praacuteticas educativas realizadas pelo Projeto da
transposiccedilatildeo que se datildeo no acircmbito da sauacutede e do ambiente e das obras ou intervenccedilotildees
diretas implementadas nas aacutereas das comunidades remanescentes de quilombos em Salgueiro
Os resultados apresentados correspondem a avaliaccedilatildeo dos PBA`s das categorias
Contexto (objetivos justificativa populaccedilatildeo alvo meta) Estrutura (recursos humanos
cronograma) Processo (implantaccedilatildeo falhas metodologia) e Produto (resultados)
(WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004) agregando-se tambeacutem ao modelo proposto
aspectos criacuteticos relatados pelos sujeitos do estudo e referenciais teoacutericos
Segundo o governo os programas Baacutesicos Ambientais foram concebidos para ldquomitigar
os impactos negativos e otimizar os benefiacutecios trazidos pelo empreendimento de maneira
geralrdquo (BRASIL 2005)
Para execuccedilatildeo de alguns programas ambientais o MI contou ateacute dezembro de 2009
com parcerias teacutecnico-financeiras de oacutergatildeos eou instituiccedilotildees do Governo Federal Ao
observar o quadro de parcerias governamentais verificamos o envolvimento de pelo menos
dez instituiccedilotildees puacuteblicas que acreditamos terem competecircncia e conhecimento teacutecnico para
desenvolver os programas (BRASIL 2012 p 6) Entretanto a partir de janeiro de 2010 foi
contratada a empresa CMT Engenharia Ltda para realizar a execuccedilatildeo e acompanhamento de
medidas planos e programas ambientais definidos nos PBArsquos do PISF Isto significa a
transferecircncia direta da responsabilidade de execuccedilatildeo e monitoramento destes programas para
uma empresa privada
Do montante de recursos para o projeto da transposiccedilatildeo apenas 1182 foram
destinados agraves accedilotildees inseridas nos 38 Programas Baacutesicos Ambientais segundo o ldquoResumo
Executivo do Programa Baacutesico Ambientalrdquo elaborado pela Coordenaccedilatildeo Geral de Programas
Ambientais do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 2012)
Ainda conforme o mesmo documento a execuccedilatildeo financeira dos referidos PBArsquos foi
ateacute julho de 2012 de 66 para o PBA 4 e de 71 para o PBA 17 O PBA 21 teve uma
execuccedilatildeo de 10
153
Em novembro de 2012 o entatildeo Ministro da Integraccedilatildeo Nacional em exposiccedilatildeo feita
no senado federal apresentou como justificativa agraves dificuldades de execuccedilatildeo dos programas
ambientais os seguintes argumentos
a) Nuacutemero expressivo de programas a executar (38 programas)
b) Necessidade de ampla articulaccedilatildeo institucional na execuccedilatildeo das
accedilotildees ambientais
c) Conflitos sociais existentes na faixa de obra
d) Relocaccedilatildeo de famiacutelias residentes na faixa de obra
e) Estrutura fundiaacuteria com um nuacutemero muito grande de propriedades
sem documentaccedilatildeo (BRASIL 2012)
No entanto as dificuldades apresentadas pelo governo natildeo estatildeo sendo devidamente
enfrentadas haja visto o que jaacute apontava em 2010 o Relatoacuterio da Plataforma Dhesca Brasil21
quando afirmava
[] sobre as obras de compensaccedilatildeo especialmente a construccedilatildeo de infra-estrutura
(casas sistema de fornecimento de aacutegua construccedilatildeo de escolas etc) nas
comunidades quilombolas e camponesas impactadas pelas obras do canal da
transposiccedilatildeo [] as denuacutencias generalizadas de que nada ou muito pouco foi
cumprido (duas ou trecircs escolas e postos de sauacutede construiacutedos e a abandonados natildeo
fornecimento de aacutegua para irrigaccedilatildeo iniacutecio da construccedilatildeo de casas e posterior
abandono etc) Todas essas promessas constituem em diversas violaccedilotildees de direitos
(direito agrave moradia direito agrave escolaeducaccedilatildeo etc) aleacutem da simples indenizaccedilatildeo pela
ocupaccedilatildeo de territoacuterios pertencentes a estas comunidades (SAUER 2010 p 29)
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4
O Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental - PBA 4 eacute um programa compensatoacuterio
classificado como de ldquoampla atuaccedilatildeordquo cujo objetivo geral eacute
desenvolver accedilotildees educativas a serem formuladas atraveacutes de um processo
participativo visando capacitarhabilitar setores sociais com ecircnfase nos afetados
diretamente pelo empreendimento para uma atuaccedilatildeo efetiva na melhoria da
qualidade ambiental e de vida na regiatildeo (BRASIL 2012 p 18)
21
A Plataforma Dhesca Brasil ndash Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e
Ambientais eacute uma articulaccedilatildeo nacional de 36 movimentos e organizaccedilotildees da sociedade civil que desenvolve
accedilotildees de promoccedilatildeo defesa e reparaccedilatildeo dos Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais
(doravante abreviados em Dhesca) visando o fortalecimento da cidadania e a radicalizaccedilatildeo da democracia
Seu objetivo geral eacute contribuir para a construccedilatildeo e fortalecimento de uma cultura de direitos desenvolvendo
estrateacutegias de exigibilidade e justiciabilidade dos Dhesca bem como incidindo na formulaccedilatildeo efetivaccedilatildeo e
controle de poliacuteticas puacuteblicas sociais
154
Eacute visto tambeacutem como um dos programas estrateacutegicos portanto transversal aos demais
programas A avaliaccedilatildeo neste estudo traraacute sempre que necessaacuterio a interface do PBA 4 com
o PBA 17 e o PBA 21
O PBA 4 eacute considerado como
uma accedilatildeo estrateacutegica complementar agrave gestatildeo ambiental do empreendimento Para
tanto atuaraacute na mobilizaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da participaccedilatildeo das comunidades
envolvidas no planejamento e na execuccedilatildeo de accedilotildees destinadas a otimizar os
impactos positivos do Projeto de Integraccedilatildeo do Satildeo Francisco e minimizar os
impactos negativos (BRASIL 2010 p 11)
Sucintamente o mesmo apresenta como justificativa para sua realizaccedilatildeo que
Frente agraves mudanccedilas apontadas faz-se necessaacuteria uma accedilatildeo informada e participante
da populaccedilatildeo nos processos e produtos resultantes do PISF de modo a influenciar
nos rumos e tipos de soluccedilotildees para o desenvolvimento da regiatildeo afetada (BRASIL
2010 p 11)
Tendo sido reestruturado em 2010 com base na demanda do oacutergatildeo licenciador
IBAMA o Programa passou a ser subdividido em trecircs subprogramas Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental nas Comunidades nas Escolas e em Sauacutede (BRASIL 2010)
Essa subdivisatildeo ela jaacute veio com o novo formato do programa que em 2010 acredito
que o proacuteprio IBAMA ele foi reestruturado ele foi reformulado e ai jaacute veio com essa
nova roupagem com esse novo formato de ter trecircs programas antes era dividido
apenas em sauacutede e educaccedilatildeo e ai o subprograma de comunidades contempla as
comunidades quilombolas as comunidades reassentadas que satildeo essas que estatildeo
sendo transferidas para as vilas produtivas rurais comunidades indiacutegenas e
comunidades pertencentes ao programa de nuacutemero 15 que satildeo comunidades que
estatildeo localizadas em torno dos reservatoacuterios e dos canais (Teacutecnico 3)
A sua populaccedilatildeo alvo ldquosatildeo grupos sociais dos municiacutepios da Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) e da Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do projeto da transposiccedilatildeo em especial
Professores e Coordenadores Pedagoacutegicos do ensino formal (fundamental e meacutedio) Agentes
Comunitaacuterios e Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede das Secretarias Municipais de
Sauacutede Representantes das famiacutelias a serem reassentadas Representantes das famiacutelias que
receberatildeo abastecimento de aacutegua ao longo dos canais nas localidades definidas
Representantes dos atores sociais das comunidades quilombolasrdquo (BRASIL 2010 p 22-23)
A proposta metodoloacutegica estaacute assim desenhada
o Programa de Educaccedilatildeo Ambiental seraacute executado com base em metodologia
dialoacutegica e participativa na qual o processo de ensino aprendizagem se constitua
efetivamente em uma ldquovia de matildeo duplardquo em que os temas abordados os conceitos
e conteuacutedos sejam fruto de discussotildees aprofundadas tendo por interlocutores
principais os facilitadores da equipe de implementaccedilatildeo do mesmo com a populaccedilatildeo
155
das comunidades abrangidas com teacutecnicos municipais da aacuterea de sauacutede e do ensino
formal (BRASIL 2010 p 27)
A equipe responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees do Programa eacute de
teacutecnicos da CMT Engenharia LTDA com uma equipe de nove profissionais e a revisatildeo do
mesmo ficou sob responsabilidade de dois teacutecnicos do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e um da
CMT A descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a seguir seraacute feita por cada Subprograma que compotildee o PBA 4
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades
Esse Subprograma apresenta pelos documentos oficiais os seguintes objetivos
especiacuteficos
a) Desenvolver o mapeamento territorial de situaccedilotildees socioambientais face agraves
muacuteltiplas intervenccedilotildees planejadas e ou realizadas por trecircs programas ambientais
em suas interfaces com as accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental Os programas referidos
satildeo PBA 8 - Programa Ambiental de Assentamento de Populaccedilotildees o PBA 15 -
Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacutegua ao Longo
dos Canais e o PBA 17 - Programa de Desenvolvimento de Comunidades
Quilombolas
b) Desenvolver o Subprograma Educaccedilatildeo Ambiental em Comunidades dirigido aos
moradores das localidades apontadas pelos programas ambientais de
Reassentamento de Populaccedilotildees de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas e de parte das localidades beneficiadas pela implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de abastecimento de aacutegua (PBA 15) visando (1) realizar mapeamentos-
diagnoacutesticos e planos locais de accedilatildeo participativos e (2) formar agentes
socioambientais para a recepccedilatildeo de conhecimentos teacutecnicos Ambos os processos
educativos deveratildeo fortalecer a accedilatildeo protagonista e organizada dos habitantes na
mitigaccedilatildeo dos impactos negativos e otimizaccedilatildeo dos benefiacutecios do PISF
O total da populaccedilatildeo quilombola potencialmente beneficiaacuteria de acordo com o PBA 4
estaacute localizada em cinco municiacutepios de Pernambuco particularmente em 16 territoacuterios
quilombolas perfazendo um total de 1936 famiacutelias e 9680 pessoas Em Salgueiro as trecircs
comunidades quilombolas somam 894 famiacutelias (Conceiccedilatildeo das Crioulas - 800
156
ContendasTamboril - 47 e Santana- 47) e 4470 pessoas (C das Crioulas - 4000
ContendasTamboril - 235 e Santana - 235) segundo dados documentais
O Subprograma pretendia envolver diretamente no maacuteximo vinte pessoas de cada
comunidade para participarem dos processos de intervenccedilatildeo priorizadas como agentes
socioambientais multiplicadores e editores de conhecimentos Apontava como atuaccedilatildeo mais
intensa os anos de 2012 e 2013 e delimitou o periacuteodo de trecircs anos para implementaccedilatildeo do
Programa apoacutes aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo em 2010 (BRASIL 2010 p 19 23-24) Poreacutem
relatos afirmam terem sido concluiacutedas as atividades em 2011
As nossas accedilotildees aqui em Salgueiro encerraram no final de 2011 [] Mas a gente
trabalhou trecircs fases bem especiacuteficas com eles para composiccedilatildeo do diagnoacutestico
socioambiental [] (Teacutecnico 3)
Os resultados apresentados satildeo em relaccedilatildeo agrave execuccedilatildeo do Subprograma nas trecircs
Comunidades Quilombolas do estudo por estarem incluiacutedas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - o PBA 17
Em relaccedilatildeo ao segundo objetivo a meta previa que as 136 localidadescomunidades
trabalhadas constituam e ou fortaleccedilam organizaccedilotildees nas esferas de meio ambiente produccedilatildeo
cultura representatividade sauacutede entre outras coerentes com a noccedilatildeo de sustentabilidade ateacute
dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL 2010 p 14)
Debruccedilando sobre o segundo objetivo as narrativas apontam para o desenvolvimento
de trecircs fases do trabalho para elaboraccedilatildeo de ldquomapeamentos-diagnoacutesticos e planos locais de
accedilatildeo participativosrdquo que ocorreram em trecircs oficinas
[] A primeira oficina foi de mapeamento teacutecnico levantamento teacutecnico e meios de
informaccedilotildees a segunda oficina de mapeamento social utilizando a cartografia
social coisa que a gente jaacute tinha feito na educaccedilatildeo com bons resultados entatildeo a
gente resolveu incorporar isso tambeacutem com as comunidades quilombolas e a
terceira oficina de devolutiva que a gente chamou que era pra gente devolver esses
dados a eles que a gente tinha coletado compilado analisado e a gente criou essa
devolutiva e uma explanaccedilatildeo sobre o plano de capacitaccedilotildees do programa 17 que eacute
o Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas [] (Teacutecnico 3)
[] Noacutes comeccedilamos o trabalho com as comunidades com aquele painel rotativo
Este painel ele tinha algumas perguntas norteadoras praacute entender um pouco a
dinacircmica dessas comunidades como eacute que elas se organizaram como eacute que elas
estavam estruturadas como estava a questatildeo no caso do saneamento meio ambiente
e educaccedilatildeo sauacutede cultura Entatildeo fizemos essas atividades a partir dessa atividade
depois o mapa social [] Entatildeo a primeira etapa de trabalho com as comunidades
quilombolas foi exatamente ter esse levantamento esse diagnostico que foi feito a
partir dessas atividades [] (Gestora10)
157
A terceira oficina cujo material deu subsiacutedios para a construccedilatildeo de um diagnoacutestico
permitiu agrave equipe teacutecnica da CMT construir um plano de capacitaccedilatildeo Em seguida foram
organizadas oficinas de capacitaccedilatildeo para todas as comunidades oferecidas pelo Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo com envolvimento da CMT e outras instituiccedilotildees parceiras Essa atividade
segundo narrativas de gestores e teacutecnicos tinha como objetivo a formaccedilatildeo de agentes soacutecio-
ambientais
[] Esse diagnostico ele possibilitou a criaccedilatildeo do Plano de Capacitaccedilatildeo Esse plano
depois dessa primeira etapa ai teve o plano e ai teve as vaacuterias atividades de
educaccedilatildeo voltadas mais para rentabilidade para associativismo para
cooperativismo para a gestatildeo de recursos mesmo geraccedilatildeo de emprego e renda []
(Gestora 10)
[] Entatildeo nessa oficina devolutiva a gente devolveu as informaccedilotildees que a gente
tinha para o diagnoacutestico e aprovou com ata de reuniotildees o plano de capacitaccedilotildees
escolhidas por eles durante as oficinas de educaccedilatildeo ambiental [] A gente colocou
um leque de oficinas que o Ministeacuterio estava oferecendo e muitas algumas
comunidades achavam que natildeo eram necessaacuterias de acordo com suas
particularidades outras eles sugeriram e tambeacutem a partir da articulaccedilatildeo da CMT
com outras instituiccedilotildees acabou fluindo acabaram acontecendo algumas parcerias
[] (Teacutecnico 3)
Haacute relatos de que houve consulta nas comunidades sobre os temas para as oficinas e
em Santana houve a sugestatildeo para envolver como facilitadores pessoas da comunidade por
terem competecircncia e conhecerem bem a realidade quilombola poreacutem natildeo foram atendidos
[] Eles vieram primeiro aqui pra gente escolher quais os temas que a gente queria
falar [] Eu natildeo estou lembrada taacute no meu computador [] Eu participei [] Que
veio pra caacuteOs facilitadores [] Foram os facilitadores [] Uns eram de Salgueiro
de Petrolina [] Pessoas que viam facilitar as oficinas Natildeo era de fora as pessoas
(Grupo Focal 1)
[] e aiacute a princiacutepio a gente fez uma conversa que a ideia era a gente escolher os
cursos a gente fez isso Escolheu os cursos que a gente taacute laacute em Santana sabe quais
seriam melhores aproveitados que seriam mais faacuteceisa gente falou pra eles que a
gente tinha matildeo de obra a gente tinha pedagogo a gente tinha agente agriacutecola que
essas pessoas poderiam estar sendo aproveitadas e aiacute na contagem quando for rolar
os cursos a gente e aiacute a gente vai ver a possibilidade de encaixar essas pessoas []
Alguns jaacute foram interessantes que eles jaacute tinham um conhecimento que eacute a questatildeo
do resiacuteduo soacutelido a questatildeo do lixo que satildeo coisas mais faacuteceis que satildeo do dia a dia
deles Entatildeo essas foram bem aproveitadas eles gostaram e foi bem elogiado os
professores e tudo mas alguns realmente foi natildeo teve o aproveitamento []
(lideranccedila 1)
Em ContendasTamboril as narrativas transitam entre natildeo haver recordaccedilatildeo de ter
acontecido atividades pelo programa e de lembranccedilas sobre o que foi realizado na aacuterea pelo
PBA 4
158
[] Que eu tenha participado eu natildeo lembro natildeo de ter participado Pode acontecer
de ter algum de ter na comunidade onde foi chamada a comunidade e eu natildeo ter
participado [] Acho que tinha um trabalho que era pra ser feito que a gente tem
uma reserva muito grande que se foi falado em capacitaccedilatildeo pra artesanato da
proacutepria caatinga mas eu natildeo lembro se teve alguma coisa alguma capacitaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a isso eu natildeo lembro (Lideranccedila 2)
Era o dia todo tinha dia que era o dia todo [] Comeccedilava de 9h almoccedilava as 12h
comeccedilava a 1300 e ai terminava de 4 horas [] Os assuntos era falando sobre
accedilude sobre aacutegua sobre poccedilo [] Sobre meio ambiente [] Meio mundo de coisa
[] Era soacute pra comunidade Pra jovem adulto [] (Grupo Focal 2)
A problemaacutetica da aacutegua eacute diretamente relacionada com o projeto da transposiccedilatildeo que
aparece como um dos temas de oficina em ContendasTamboril
Foi justamente sobre esse negoacutecio da Transposiccedilatildeo Eles falando da transposiccedilatildeo
Um tema era esse falaram na Transposiccedilatildeo entatildeo noacutes perguntamos a ele se essa
aacutegua que ia passar ai vai servir pra noacutes se ia beneficiar noacutesdisseram depois a gente
vai vecirc como vai ser Eles natildeo garantiram nada natildeo (Grupo focal 2)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas tambeacutem foram realizadas oficinas com temas diversos
Eacute eu natildeo me lembro natildeo Eacute pelo povo da CMT eacute [] Teve vaacuterias atividades Teve
atividade sobre associativismo empreendedorismo [] Sei que foram muitas
atividades que foram feitas [] Oficinas [] Pra noacutes mesmo Pra comunidade []
Era Jovem adultotodo mundo quem quisesse [] Era um programa que todo mecircs
tinha [] Era mais na quinta e na sexta-feira [] Na quinta-feira aiacute vinha esse
equipe aiacute articulava alunos nas escolas e aiacute eles participavam o dia inteiro de
formaccedilatildeo [] Com a comunidade alunos Com o pessoal mesmo daqui Com as
lideranccedilas [] Oficina de criaccedilatildeo de pequenos animais [] Geraccedilatildeo de renda
tambeacutem teve [] Elaboraccedilatildeo de Projetos tambeacutem teve [] Oficina de como
elaborar projetos (Grupo Focal 1)
No quilombo de Santana e Conceiccedilatildeo das Crioulas satildeo identificados aspectos criacuteticos
que comprometeram o processo de aprendizagem e o envolvimento maior de pessoas da
comunidade
a) Os instrutores foram profissionais de fora das comunidades de fora do
municiacutepio o que em algumas oficinas dificultou a aprendizagem e envolvimento
maior do puacuteblico com os temas
[] eram profissionais que foram contratos pela CMT Entatildeo muitas pessoas
reclamavam eu participei de algumas oficinas e chegava assim natildeo eacute engraccedilado
mas era porque o professor falava falava e eles laacute tudo olhando para o professor no
silencio olhando mas natildeo conseguiam aproveitar quase nada [] ( Lideranccedila 1)
159
b) A linguagem utilizada por alguns instrutores dificultou a aprendizagem a
comunicaccedilatildeo com os alunos muitos agricultores que em vaacuterios momentos do
curso natildeo entenderam o que estava sendo falado
[] E uma questatildeo que tambeacutem a gente sentiu muito foi na questatildeo da linguagem
As pessoas que iam pro curso eram agricultores como as pessoas de Santana satildeo
todas a maioria eacute agricultores mesmos e eles natildeo conseguiam assimilar as
informaccedilotildees natildeo conseguiam entender o que o professor estava falando o que o
facilitador da oficina estava falando [] ( Lideranccedila 1)
[] Eles se comunicavam direito soacute natildeo sei se todo mundo entendia [] sei natildeo
[] (Grupo Focal 1)
c) Instrutores da proacutepria comunidade facilitariam a aprendizagem pela linguagem e
maior disponibilidade para tirar duacutevidas em qualquer horaacuterio aleacutem do momento
formal da oficina
E aiacute a gente entende que o curso que ele vai laacute passa oito horas no maacuteximo com o
pessoal e volta o que aquelas pessoas aproveitam Natildeo eacute mesma coisa de ser uma
coisa contiacutenua da pessoa que taacute laacute vai na casa conhece natildeo tem vergonha de tirar
duacutevida [] ( Lideranccedila 1)
d) Carga horaacuteria pequena poucos encontros e puacuteblico sem o perfil adequado para
alguns temas
[] A gente tinha pensado assim a gente escolheu acho que cinco ou seis cursos e
a gente achou que esses cursos iam ser contiacutenuos assim por exemplo Formataccedilatildeo
de projeto esse que a gente tava falando agora entatildeo ele ia um dia passava um
pouco de conhecimento as pessoas iam ficar com atividades para tentar elaborar
depois ele ia falava o que estava certo e o que estava errado a gente achou que isso
fosse mais um dia para cada tema mas natildeo Depois a gente recebeu a informaccedilatildeo do
pessoal do ministeacuterio que tinha vindo uma cartela completa de cursos e que a gente
ia receber todos os cursos e cada curso seria um dia Entatildeo as pessoas natildeo
assimilaram [] Tem alguns cursos que a gente percebia que algumas pessoas natildeo
iam conseguir alcanccedilar tipo formataccedilatildeo de projeto eacute um curso assim que eacute
interessante mas para as lideranccedilas que jaacute tem um pouquinho de conhecimento mas
como vai ensinar ao agricultor a fazer Projeto Eles natildeo vatildeo entender nada natildeo eacute
[] mas em um dia eacute praticamente impossiacutevel [] Era um dia (Lideranccedila 1)
e) As oficinas poderiam ter sido uma oportunidade de trabalho para profissionais da
comunidade que mesmo capacitados saem da comunidade para procurar
trabalho fora
[] Que a gente pensava que poderia ser uma coisa contiacutenua a gente tem matildeo de
obra mas as pessoas precisam sair da comunidade pra trabalhar fora [] (Lideranccedila
1)
160
f) Nuacutemero de participantes pequeno em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas por exemplo O criteacuterio de representaccedilatildeo deveria ser
proporcional ao nuacutemero de habitantes da comunidade para envolver mais
pessoas
O que eu acho eacute porque essas formaccedilotildees que teve foi por representaccedilotildees se a gente
tivesse dentro da escola digamos um planejamento melhor junto com essas pessoas
junto com o proacuteprio professor e colocando essa temaacutetica com o proacuteprio aluno ele
seria muito mais abrangente eu acho que teria mais resultados porque seria uma
clientela maior porque o territoacuterio eacute muito grande pra vocecirc ter representaccedilotildees
Digamos que numa comunidade de 4 mil habitantes vocecirc ter 30 pessoas numa
reuniatildeo neacute Eacute claro que tem quer ser uma coisa gradativa mas poderia ser maior
poderia ser bem maior (Grupo Focal 1)
O que pode ser apontado como resultado ou desdobramento das atividades realizadas
pelo Programas nas comunidades quilombolas tem perspectiva diferente para teacutecnicos e
gestores e para o puacuteblico ldquoreceptorrdquo da accedilatildeo pedagoacutegica ou seja para moradores e lideranccedilas
quilombolas
Na perspectiva de teacutecnicos e gestores desdobramento ou resultado eacute realizar
ldquoSeminaacuterio para fechar acordos e parceriasrdquo e produzir ldquodocumento com diagnoacutestico das
aacutereas quilombolasrdquo para serem tomadas decisotildees ldquoa partir da realidade de cada uma delasrdquo e
natildeo junto com elas tendo a populaccedilatildeo como protagonista
[] Vai ter o seminaacuterio agora esse ano como vocecirc deve estar sabendo e vai ser
tambeacutem pra amarrar essas parcerias pra estabelecer esse acordo Vai ter o
seminaacuterio se eu natildeo me engano final de outubro com todas as comunidades
quilombolas um seminaacuterio uacutenico com todas elas principalmente pra fechar os
acordos e as parcerias com essas instituiccedilotildees externas ao projeto (Teacutecnico 3)
[] Entatildeo assim hoje a gente conhece muito bem essas comunidades Esse material
ele estaacute na revisatildeo final porque tambeacutem eacute um material que vai dar a possibilidade de
qualquer um de qualquer oacutergatildeo ler esse documento e propor alternativas para a
comunidade mas de acordo com a realidade de cada uma delas Natildeo precisa nenhum
pesquisador chegar e propor coisas porque isso a gente sabe que tambeacutem natildeo daacute
certo ou vocecirc constroacutei com o outro ou seu projeto estaacute fadado ao fracasso total
Entatildeo nesse trabalho independente da instituiccedilatildeo ele vai olhar o material e vai falar
ldquobom nessa comunidade o importante o que eacute necessaacuterio eacute isso aquirdquo Porque o
material ficou tatildeo rico que vocecirc lendo eacute como se vocecirc estivesse na comunidade
Entatildeo noacutes estamos nessa fase agora nessa conclusatildeo na revisatildeo desse diagnoacutestico e
nessa revisatildeo tudo que foi todo esse conhecimento adquirido laacute possibilitou a
criaccedilatildeo desse plano de capacitaccedilatildeo com os quilombolas que eacute o que estamos
concluindo [] Vai sim vai para as comunidades A ideia eacute entregar para as
proacuteprias comunidades um para cada uma delas e depois ele deve ficar disponiacutevel
no site do Ministeacuterio como a maioria dos documentos na aacuterea do Entatildeo a gente
estaacute nessa fase (Gestora 10)
161
Na perspectiva de lideranccedilas e moradores quilombolas o resultado do trabalho de
educaccedilatildeo ambiental apresentou poucos sinais concretos Um dos exemplos apontado como
positivo foi a mudanccedila no tratamento dado aos resiacuteduos soacutelidos em Santana apoacutes uma das
oficinas
[] Uma coisa tambeacutem que teve no curso deles foi sobre o lixo a gente discutiu
sobre o lixo eles falaram como era [] Pronto foi soacute isso [] E essa eacute uma accedilatildeo
que a gente taacute colocando em praacutetica [] Porque a gente antigamente juntava os
munturos hoje natildeo a gente jaacute sabe o dia da coleta taacute separando praacute coleta Eacute quarta
aqui neacute [] Eacute quarta Eles passam aqui [] Tem [] Eles se mobilizaram fizemos
abaixo-assinado e aiacute a prefeitura atendeu Foi soacute isso mesmo que saiu eu acho
(Grupo Focal 3)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas um dos aspectos criacuteticos ou dificultadores para o
desdobramento do que foi trabalhado nas oficinas eacute a problemaacutetica de acesso agrave aacutegua que
inviabiliza desenvolver atividades de pecuaacuteria um dos temas debatidos
A temaacutetica sobre associativismo apresentou alguns resultados com melhora de gestatildeo
na associaccedilatildeo percebida principalmente nos siacutetios mais afastados da Vila Centro Mas de
maneira geral as mudanccedilas satildeo imperceptiacuteveis ateacute o momento como ldquoalgo vagordquo que natildeo
interfere e estaacute distante da realidade concreta de vida da comunidade
Alguma coisa [] Muito pouco Porque fizeram as oficinas mas natildeo na praacutetica
mesmo [] Mas quem ia fazer era noacutes aqui natildeo era eles natildeo Eles vieram daacute as
oficinas mas noacutes eacute que ia fazer Mas tambeacutem porque a circunstacircncia natildeo ajudou
[]
Foi justamente o periacuteodo de seca [] E era de criaccedilatildeo de animais E natildeo tinha
animais tambeacutem [] Algumas coisas Tem coisas que dependia da aacutegua [] Porque
desde que a gente procure parcerias [] Para algumas comunidades teve Nas outras
comunidades vizinhas nos Siacutetios [] Natildeo nos siacutetios Dentro do Territoacuterio mas nos
Siacutetios [] A gestatildeo dentro da associaccedilatildeo mesmo porque algumas coisas eles natildeo
tinham conhecimento (Grupo Focal 1)
[] O resultado disso ateacute agora mesmo nada natildeo apareceu nada ateacute ai [] (Grupo
Focal 2)
A falta de apoio financeiro para desenvolver projetos a partir dos conteuacutedos
trabalhados nas oficinas foi outro fator Cabe uma reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo dos temas em
funccedilatildeo da questatildeo climaacutetica assim como o apoio restrito do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo no
incentivo e apoio que viabilizasse projetos alternativas reais para melhoria da qualidade de
vida conforme descrito nos documentos como objetivo do PBA 4
Eu acho que tambeacutem vocecirc pergunta sobre os resultados disso Vocecirc tem a
formaccedilatildeo tem o conhecimento mas natildeo tem o financiamento pra colocar isso em
praacutetica aiacute vocecirc natildeo vai pra canto nenhum vocecirc natildeo tem as condiccedilotildees necessaacuterias
162
Entatildeo vocecirc daacute um conhecimento a uma pessoa mas ai ela natildeo tem de onde tirar praacute
por em praacutetica esse conhecimento aiacute natildeo tem como ir praacute frente (Grupo Focal 1)
[] Ateacute agora nada [] Soacute a aprendizagem mesmo as pessoas que participaram
aprendiam alguma coisa soacute isso mesmo Sem pratica mesmo ningueacutem faz nada
Eacute sem a praacutetica [] Eacute soacute teve o apoio mesmo mas o projeto que a gente mais se
interessou que foi a criaccedilatildeo de galinha de capoeira galinha caipira eles disseram
que talvez pudesse ajudar depois quando a gente se movimentou fizemos o projeto
e tudo aiacute eles disse que natildeo que natildeo podia ajudar que ia ajudar soacute com o apoio
Aiacute faltou o dinheiro [] Todo mundo se mobilizou achando que jaacute ia comeccedilar a
criar galinha aiacute cadecirc o dinheiro [] Faltou verba Aiacute parou (Grupo Focal 3)
Resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos entrevistados (Quadro
10)
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas TEMAS
TRABALHADOS POR
COMUNIDADE
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
Carga horaacuteria
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de lideranccedilas e
moradores quilombolas)
Santana
- Elaboraccedilatildeo de Projetos
- Resiacuteduos Soacutelidos
Agricultores
Estudantes
Lideranccedilas
Alunos
Todos os
interessados
CARGA
HORAacuteRIA
- 8 horas por oficina
(Mensal - manhatilde e
tarde por vaacuterios
meses)
- Publicaccedilatildeo de diagnoacutestico
geral das comunidades)
- Seminaacuterio Estadual com
comunidades quilombolas
(outubro2013)
- Falta de condiccedilotildees financeiras
para por em praacutetica os conteuacutedos
trabalhados nas oficinas
- Dificuldade de acesso agrave aacutegua
inviabilizando a praacutetica da
pecuaacuteria
ContendasTamboril
-Accedilude aacutegua poccedilo
- Transposiccedilatildeo
- Meio ambiente
Conceiccedilatildeo das Crioulas
-Associativismo
- Empreendedorismo
- Criaccedilatildeo de pequenos
animais
- Geraccedilatildeo de renda
- Elaboraccedilatildeo de
Projetos
Fonte A autora a partir de Informaccedilatildeo verbal (entrevistas e grupos focais 2013)
A partir do exposto trazemos uma reflexatildeo sobre o trabalho de educaccedilatildeo ambiental
das praacuteticas pedagoacutegicas vivenciadas pela populaccedilatildeo quilombola que vai aleacutem da proposta
metodoloacutegica e intenccedilotildees preconizadas nos documentos oficiais
As praacuteticas educativas estatildeo presentes em diversas aacutereas do conhecimento dirigidas a
vaacuterios segmentos da sociedade contribuindo para manutenccedilatildeo ou para mudanccedilas na realidade
poliacutetica econocircmica social e ambiental das pessoas envolvidas com essas praacuteticas
Almeida em a ldquoNatureza me disserdquo faz uma reflexatildeo de que a triacuteade ldquoinformaccedilatildeo
conhecimento sabedoriardquo natildeo pode ser vista como sinocircnimo Haacute que distingui-las e
considerar que saber pensar bem para enfrentar e conviver com os enormes problemas e
desafios em niacuteveis local e global depende da transformaccedilatildeo da informaccedilatildeo em conhecimento
e do conhecimento em sabedoria (SILVA F 2007)
163
Almeida afirma que ldquopodemos dispor de informaccedilatildeo e natildeo ter conhecimento algumrdquo
ou seja ser possuidor de muitas e valiosas informaccedilotildees natildeo implica na construccedilatildeo de
conhecimento (SILVA F 2007)
O modelo vigente de educaccedilatildeo seja formal ou informal ainda privilegia a transmissatildeo
de conteuacutedos o repasse de informaccedilotildees Para Almeida o conhecimento eacute construiacutedo com a
seleccedilatildeo de informaccedilotildees mais importantes da articulaccedilatildeo entre elas e da atribuiccedilatildeo de
significado das mesmas (SILVA F 2007)
Sendo o conhecimento o tratamento de informaccedilotildees se pode pensar num ldquotrabalho
artesanal do pensamento como se o mesmo tivesse matildeos para dar forma ao que vemos
ouvimos sentimos tocamos e apreciamosrdquo (SILVA F 2007 p 8)
Tratando-se de uma accedilatildeo com comunidades tradicionais detentoras de um
conhecimento proacuteprio nos parece pertinente a analogia feita pelo autor quando refere-se agrave
construccedilatildeo do conhecimento como semelhante ao trabalho do oleiro que com suas matildeos daacute
forma ao barro que se torna pote panela ou telha Tal analogia permite tambeacutem dizer que
informaccedilotildees e barro como o pensamento e o oleiro satildeo mateacuterias brutas a serem lapidadas
pelos dois artesatildeos - o artesatildeo do pensamento e o artesatildeo do tijolo e da telha Queremos com
isso realccedilar a importacircncia dos ldquodois artesatildeosrdquo que no mundo acadecircmico seria o professor e o
aluno o intelectual ou cientista e o leigo
A autora introduz uma compreensatildeo ampliada do que seja um intelectual contraacuterio ao
sinocircnimo de cientista ou acadecircmico para aquele que manteacutem viva a curiosidade sobre o
mundo agrave sua volta natildeo se contenta com uma soacute interpretaccedilatildeo e observa as vaacuterias faces do
mesmo fenocircmeno e faz da tarefa de transformar informaccedilotildees em conhecimentos uma praacutetica
sistemaacutetica permanente cotidiana Essa visatildeo nos apresenta o que Almeida chama de
intelectual da tradiccedilatildeo que satildeo artistas do pensamento que distantes dos bancos escolares e
universidades desenvolvem a arte de ouvir e ler a natureza agrave sua volta (SILVA F 2007 p
8)
Pensando agora em sabedoria natildeo podemos estabelecer uma relaccedilatildeo linear de que
todos que transformam informaccedilatildeo em conhecimento constroem sabedoria Natildeo eacute bem assim
Mesmo vivendo o ldquoseacuteculo da informaccedilatildeo a sociedade do conhecimentordquo como vem sendo
classificado o seacuteculo vinte e um estamos cercados e bombardeados de informaccedilotildees mas natildeo
podemos dizer que dispomos de um banco de sabedoria Para Silva F (2007 p 8)
A sabedoria parece ser mais um jeito de viver e sentir do pensamento uma maneira
de falar do mundo que associa simplicidade e sentimento de parentesco coragem e
afeto vontade de verdade e consciecircncia da incompletude e do erro Sendo maior
mais plena mais essencial e duradoura a sabedoria natildeo se reduz a um conjunto de
164
conhecimentos A sabedoria eacute como o lodo que manteacutem viva uma lagoa eacute o que
sobrevive em meio agrave superpopulaccedilatildeo das ideias dos conceitos das informaccedilotildees
Dando reconhecimento ao intelectual da tradiccedilatildeo muitas vezes detentor de rica
sabedoria fazemos menccedilatildeo aos povos tradicionais ao povo quilombola que possuem um
vasto conhecimento sobre a natureza e uma rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias
geraccedilotildees Conhecimentos que assumem grande importacircncia para diversas aacutereas da ciecircncia
Estes povos por possuiacuterem uma dependecircncia da natureza para sua subsistecircncia adquiriram
uma iacutentima relaccedilatildeo com esta bem como grande conhecimento e maneira diferente de usaacute-la e
manejaacute-la de forma sustentaacutevel jaacute que sua sobrevivecircncia depende diretamente dela (SOUSA
SANCHEZ 2013)
O intelectual da tradiccedilatildeo estaacute ldquovivordquo em cada comunidade quilombola e identificado
pelas suas lideranccedilas e moradores Cabe agrave academia e aos oacutergatildeo governamentais apreenderem
e reconhecerem o real lugar que deve ocupar esse saber ao pensar em poliacuteticas de educaccedilatildeo
ambiental
[] Eu acho que a gente estuda muito se ateacutem muitos aos livros e muitas vezes o
conhecimento ele jaacute vem sendo praticado e as pessoas jaacute satildeo detentoras do
conhecimento e da sabedoria porque essa questatildeo da educaccedilatildeo ambiental meu pai
jaacute eacute educador ambiental minha avoacute era mais educador ambiental do que eu quando
ela natildeo desmatava quando ela respeitava o habitat natural dos animais quando ela
natildeo caccedilava alguns tipos de animais esse animal natildeo falava em extinccedilatildeo como a
gente fala hoje falava lsquoesse animal tem pouco aqui natildeo pode matarrsquo ou entatildeorsquoesse
aiacute natildeo pode matar eacute eacutepoca desse animal fazer o ninho delersquo ou entatildeo lsquo esse animal
ele taacute prenha e tudorsquo entatildeo que jaacute era educada ambientalmente neacute (Lideranccedila 1)
Aproximando essas reflexotildees para o trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado para o
povo quilombola e natildeo com o povo quilombola parece natildeo ter havido o envolvimento dos
intelectuais da tradiccedilatildeo nas accedilotildees implementadas o que entre outras questotildees comprometeu
a consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos
Essa avaliaccedilatildeo se daacute no sentido de identificar aspectos que foram potencializados no
Subprograma comprometendo resultados junto agraves comunidades quilombolas Relacionamos
alguns fatores
a) Conteuacutedos trabalhados com ecircnfase na transmissatildeo de informaccedilotildees
b) Sendo temas relevantes o conteuacutedo e a linguagem em algumas oficinas natildeo
foram adequados agrave realidade dos participantes
c) Fraacutegil relaccedilatildeo dos conteuacutedos com a realidade quilombola
165
d) Natildeo inclusatildeo dos intelectuais da tradiccedilatildeo no caso os agricultores quilombolas e
outros profissionais da comunidade como potenciais instrutores para apontar
alternativas de enfrentamento aos problemas locais
e) Falta de apoio financeiro e de instituiccedilotildees parceiras para realizaccedilatildeo de projetos
aplicaacuteveis agrave realidade
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas
Este Subprograma apresenta como objetivo
Realizar a capacitaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos para a praacutetica da
Educaccedilatildeo Ambiental no Ensino Formal nas redes Municipais e Estaduais de
educaccedilatildeo visando contribuir para elaboraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas consistentes
no curriacuteculo escolar em conjunto com alunos e comunidade local considerando a
escola como o espaccedilo fundamental para a socializaccedilatildeo e desenvolvimento de
competecircncias em temaacuteticas ambientais bem como as relacionadas ao Projeto de
Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 124)
Eacute dirigido principalmente aos coordenadores pedagoacutegicos e professores que atuam
com alunos oriundos das localidades apontadas pelos PBA 8 15 e 17 visando a inclusatildeo de
temaacuteticas ambientais nos projetos educacionais em 18 das escolas de ensino fundamental e
meacutedio dos 17 municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ateacute dois anos a partir da
aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo 18 dos professores eou coordenadores pedagoacutegicos dos 17
municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) capacitados para desenvolver COM-
VIDAS22
nas suas escolas ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL
2010)
Em relaccedilatildeo agrave Salgueiro a meta apontava a capacitaccedilatildeo de 513 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 47 escolas do municiacutepio E tratando-se de comunidades
quilombolas procurando preencher o criteacuterio de no miacutenimo um professor e um coordenador
pedagoacutegico das (ou que atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo Programa
17 No total dos municiacutepios envolvidos a meta eacute a capacitaccedilatildeo de 5681 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 678 escolas (BRASIL 2010 p 125)
22
A Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida - Com-vida - eacute uma nova forma de organizaccedilatildeo na
escola que junta a ideia dos jovens da I Conferecircncia de criar ldquoconselhos de meio ambiente nas escolasrdquo com
os Ciacuterculos de Aprendizagem e Cultura proposto pelo educador Paulo Freire Estudantes satildeo os principais
articuladores da Com-vida Com-vidas podem ser criadas tambeacutem em outros espaccedilos e juntando gente de
empresas organizaccedilotildees da comunidade Associaccedilotildees (de bairro de moradores) em Organizaccedilotildees Natildeo-
Governamentais (ONGs) igrejas Comitecircs de Bacias Hidrograacuteficas (Brasil MMA e ME Formando COM-
VIDA Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola -Construindo Agenda 21 na Escola
Brasiacutelia 2012)
166
Como justificativa para elaboraccedilatildeo do Subprograma haacute o argumento governamental
de que
A Educaccedilatildeo Ambiental na escola eacute uma accedilatildeo complementar agrave gestatildeo do ambiente
escolar com reflexos persistentes que se estendem para as comunidades atraveacutes de
seus alunos e professores e no contexto do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco ndash PISF ela pode maximizar os impactos positivos e tornar mais diminuto
seus impactos negativos (BRASIL 2010 p 122)
Para implementaccedilatildeo do Subprograma foi previsto o trabalho pela equipe de Educaccedilatildeo
Ambiental no formato de quatro moacutedulos de capacitaccedilatildeo com duraccedilatildeo de quatro horas cada
em torno de quatro eixos temaacuteticos (BRASIL 2010 p 123)
a) Compreensatildeo do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e o papel da
Educaccedilatildeo na Ambiental na Mitigaccedilatildeo de Impactos
b) Construccedilatildeo do Mapeamento Ambiental participativo
c) Formaccedilatildeo da Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida COM-VIDA
conforme proposta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
d) Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) e a construccedilatildeo da Agenda Ambiental escolar
Com base nos temas acima o Subprograma pretende ldquoestimular para uma accedilatildeo
participante e emancipadora da comunidade escolar em decisotildees sobre os processos e
produtos resultantes do PISFrdquo intercalando entre os moacutedulos atividades modulares para
permitir a aplicabilidade dos conteuacutedos sugeridos nos momentos presenciais (BRASIL 2010
p 123-126)
A proposta prevecirc tambeacutem que apoacutes um ano de conclusatildeo da capacitaccedilatildeo dos
professores ocorreraacute uma Oficina com objetivo de verificar as experiecircncias na implantaccedilatildeo
das COM-VIDA
Narrativas mostram que foram feitas as atividades de formaccedilatildeo e que envolveram
profissionais que atuam junto agraves comunidades quilombolas
Esse programa felizmente ele jaacute estaacute praticamente concluiacutedo Fizemos o que tinha
sido proposto no documento trabalhamos com a capacitaccedilatildeo dos educadores dos 17
municiacutepios envolvendo o setor educacional tanto municipal como estadual []
(Gestora 10)
Realmente eles apareceram aqui [] e eles nos convidaram a participar de uma
formaccedilatildeo Foram alguns coordenadores que participaram dessa formaccedilatildeo inclusive
eu natildeo participei no primeiro momento dessa formaccedilatildeo fiquei de fora porque o meu
foco era outro era tecnologia mas depois eu voltei a participar [] Foi para os
167
professores da sede e da zona rural e os quilombolas tambeacutem Noacutes temos a
comunidade quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas [] A comunidade de Santana
tambeacutem e Contendas Na eacutepoca a gente tinha duas escolas multisseriadas aiacute tinha
uma coordenadora tambeacutem aqui ela era coordenadora participava dessa formaccedilatildeo
que era pra dar continuidade aos trabalhos (Gestora 5)
[] Todos que estavam no projeto estavam envolvidos e os quilombolas tambeacutem
(Gestora 7)
A temaacutetica da formaccedilatildeo inseriu questotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e seus
impactos questotildees sobre patrimocircnio puacuteblico e o projeto COM-VIDA compatiacutevel com os
eixos contidos no Subprograma
Era sobre o projeto de Integraccedilatildeo mesmo os impactos o que eacute que causa a
sustentabilidade o patrimocircnio puacuteblico sobre essas questotildees sobre o Comvida
tambeacutem ele enfatizaram nas uacuteltimas formaccedilotildees [] (Gestora 5)
Os instrutores foram da empresa CMT e todo material foi disponibilizado pelo projeto
da transposiccedilatildeo
[] todo material da formaccedilatildeo foram eles que disponibilizaram A gente soacute ficou
com o espaccedilo e garantiu os coordenadores e os professores [] eacute era o puacuteblico da
formaccedilatildeo Mas os instrutores deles o material tambeacutem era deles (Gestora 5)
A compreensatildeo mais geral desse processo de formaccedilatildeo pelos sujeitos do estudo traz o
seguinte desenho aceitar o que jaacute vem pronto pela CMT como forma de ter acesso a
informaccedilotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e cobrar o que eacute de direito em seguida Haacute uma
visatildeo tambeacutem de que a obra natildeo seraacute concluiacuteda se a comunidade natildeo tiver conhecimento e
natildeo se mobilizar
[] porque eu mesmo penso dessa forma se o professor natildeo tiver o conhecimento
se as comunidades natildeo tiverem esse conhecimento se elas natildeo forem mobilizadas
elas natildeo vatildeo aceitar nunca e essa obra natildeo vai terminar nunca A gente precisa
tambeacutem ateacute aprender a cobrar Jaacute que veio entatildeo vamos cobrar o que eacute de nosso
direito eacute isso que eu estimulo eles os professores os coordenadores (Gestora 5)
Quanto ao niacutevel de envolvimento dos participantes relatos potildeem em duacutevida que tenha
havido uma ldquoaccedilatildeo participante e emancipadorardquo Com a proposta de formaccedilatildeo toda
estruturada houve poucas possibilidades de articulaccedilatildeo e adequaccedilatildeo agrave realidade
[] Esse pessoal da CMT eacute que mais procura a gente vem procurar e fazer esses
encontros mas eacute como se fosse assim teu serviccedilo eacute isso e tu tem de daacute conta dessa
formaccedilatildeo Ou tu faz essa formaccedilatildeo ou a tua empresa estaacute descontratada Eacute dessa
forma que eu vejo Aiacute eles chegam aqui tem que ser tem que acontecer tem uns
que ainda satildeo mais maleaacuteveis que a gente consegue fazer essa articulaccedilatildeo mas eacute
que meu puacuteblico precisa disso eu queria isso daacute pra vocecirc fazer isso Tem uns que
satildeo mais maleaacuteveis mas tem outros [] eacute mas outros natildeo eacute isso aqui que tenho eacute
168
isso aqui que eu trago jaacute traz o livrinho pronto Esse livrinho que eu tenho eacute essa
alternativa que eu tenho pra vocecirc E aiacute a gente recebendo [] (Gestora 5)
O processo de formaccedilatildeo eacute percebido com ressalvas sem o devido acompanhamento e
continuidade fatores necessaacuterios para estimular e apoiar Coordenadores e professores Natildeo
houve um planejamento compatiacutevel com o calendaacuterio e organizaccedilatildeo da Secretaria municipal
outro aspecto que dificultou o monitoramento da proposta O fato de serem instrutores de uma
empresa contratada pelo projeto da transposiccedilatildeo tambeacutem contribui para as interrupccedilotildees no
processo e o natildeo envolvimento posterior para consolidar o trabalho nas escolas
[] Agora eu vejo assim a minha visatildeo neacute [] Acho que o projeto de formaccedilatildeo
continuada daqui da secretaria tinha um Projeto e ele entrava dentro do projeto
daqui soacute que por conta da quebra de natildeo ter um calendaacuterio organizado e nem ter
um monitoramento a gente teve perda Teve quebras e faltou monitoramento
(Gestora 7)
[] E assim o que eu vi que eu achei estranho eacute porque eles natildeo tem um
direcionamento uma continuidade eles tem o projeto mas eacute como se fosse um
evento natildeo tem uma continuidade mesmo nessa formaccedilatildeo e assim fica meio que
solto isso natildeo eacute interessante para o professor O professor precisa ter continuidade
no trabalho para que tambeacutem ele seja motivado pra que ele invista naquilo Ele
precisa ser investido e precisa ser motivado tambeacutem para fazer um investimento
naquele trabalho [] E assim eles comeccedilaram a formaccedilatildeo depois pararam Eacute uma
empresa contratada que vai embora entatildeo perde o contrato aiacute depois volta natildeo satildeo
as mesmas pessoas e natildeo eacute uma sequecircncia Porque noacutes fazemos formaccedilatildeo aqui no
municiacutepio mas a nossa formaccedilatildeo ela tem um direcionamento e tem uma
continuidade noacutes fizemos a formaccedilatildeo de agosto do ano passado e com o
encaminhamento da passada E assim eu natildeo vi essa continuidade assim hoje
mesmo acabou a formaccedilatildeo e ningueacutem mais aparece aqui como eacute que o professor vai
ser motivado (Gestora 5)
Refletindo sobre a proposta de uma formaccedilatildeo continuada relatos avaliam que a
mesma natildeo se efetivou apesar de uma ldquoproposta metodoloacutegica com base num diaacutelogo
democraacuteticordquo e da aceitaccedilatildeo dos profissionais ao trabalho oferecido O que aparece como
caracteriacutestica marcante do Subprograma eacute a realizaccedilatildeo de eventos fragmentados que natildeo
ganharam forccedila na rede escolar com dificuldades de articulaccedilatildeo tambeacutem junto agrave rede estadual
de ensino
[] Interessante boa A uacutenica coisa que faltou foi ter mais por ser uma coisa raacutepida
foi aquela coisa do monitoramento mesmo de estar mais junto de entrar nas
escolas dentro das comunidades O que faltou foi isso Vem pra formaccedilatildeo trabalhar
a formaccedilatildeo mas natildeo acompanha Porque tudo era bom e principalmente para o
Distrito todo mundo acolhia achando interessante e que era uma forma de fortalecer
o municiacutepio [] E acho que teve quebras e assim a gente teve tambeacutem algumas
dificuldades de se articular com a rede estadual porque o projeto natildeo era soacute pra rede
municipal era pra toda uma rede e teve momento que a gente natildeo teve articulaccedilatildeo
natildeo garantiu essa articulaccedilatildeo (Gestora 7)
169
Lembranccedilas de trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado junto agraves escolas sob
responsabilidade do SERTA23
eacute apresentado como exemplo que deu frutos contribuiu para
mudanccedilas na praacutetica pedagoacutegica de escolas do campo
Acho que aqui o municiacutepio de Salgueiro a gente avanccedilou mais no periacuteodo natildeo era
natildeo tem nada a ver com a transposiccedilatildeo no periacuteodo de 2004 ateacute 20082009 mais ou
menos com uma parceria um convecircnio que o municiacutepio firmou com uma ONG
chamada Serta que eacute daqui de Pernambuco [] Gloacuteria de Goitaacute Eacute aquela mesma e
aiacute a gente teve um trabalho com eles Um trabalho bem continuado [] De educaccedilatildeo
do campo que o foco deles eacute educaccedilatildeo do campo a proposta metodologia para
educaccedilatildeo do campo o desenvolvimento das escolas do campo de mudar um pouco
a cara das escolas do campo e a escola do campo ser propulsora de desenvolvimento
da comunidade Entatildeo entra a questatildeo da educaccedilatildeo ambiental sustentabilidade em
todos os sentidos Entatildeo acho que assim esse trabalho ele hoje eu diria que deu
mais fruto mais resultado porque foi um trabalho mais continuadoVocecirc vecirc as
escolas do campo hoje elas tem outro jeito outro jeito de tratar tambeacutem natildeo satildeo
todas porque algumas abraccedilaram a proposta outras mais outras menos [] Acho
que a transposiccedilatildeo do Ministeacuterio foram jaacute houve formaccedilatildeo e tudo mas assim eacute
muito pontual eventual [] (Gestora 6)
A constataccedilatildeo de que o Subprograma natildeo teve o acompanhamento devido para se
consolidar junto agraves escolas e comunidade local tendo se restringido aos momentos de
capacitaccedilatildeo com professores e coordenadores mostra uma fragilidade quanto aos
desdobramentos concretos da accedilatildeo
A consolidaccedilatildeo do projeto COM-VIDA um dos resultados pretendidos ficou
comprometido natildeo havendo o devido acompanhamento e incentivo aos professores para sua
implantaccedilatildeo nas escolas A carga horaacuteria pela sua restriccedilatildeo eacute vista como outro aspecto
dificultador para o ecircxito do Subprograma
[] Eacute um projeto de qualidade de vida Entatildeo no uacuteltimo encontro que eles vieram
aqui a uacuteltima formaccedilatildeo que vieram quando eu jaacute estava diretora de ensino eles
vieram e incentivaram que o objetivo era esse era instalar o Comvidas nas escolas e
aiacute eles fizeram toda a formaccedilatildeo o processo de formaccedilatildeo Deram vaacuterias dicas de
como a gente dar continuidade a esse trabalho mas assim natildeo foi dada
continuidade Assim natildeo vem natildeo tem uma continuidade um trabalho maior uma
cobranccedila ateacute pra que o professor seja motivado fica um trabalho meio solto
(Gestora 5)
[] Eu acho que natildeo caminhou muito natildeo Eu acho que o pessoal do Ministeacuterio do
Desenvolvimento da Integraccedilatildeo eles ateacute a gente jaacute fez algumas parcerias com eles
23
O Serviccedilo de Tecnologia Alternativa (Serta) eacute uma Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de interesse Puacuteblico
(Oscip) que tem como missatildeo formar jovens educadoresas e produtoresas familiares para atuarem na
transformaccedilatildeo das circunstacircncias econocircmicas sociais ambientais culturais e poliacuteticas na promoccedilatildeo do
desenvolvimento sustentaacutevel do campo Foi fundada em 1989 a partir de um grupo de agricultores teacutecnicos e
educadores que desenvolviam em comunidades rurais uma metodologia proacutepria para a promoccedilatildeo do meio
ambiente a melhoria da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas Desde sua origem teve
como foco o desenvolvimento e reconhecimento da importacircncia da agricultura familiar Atualmente o Serta
atua a partir de dois campi em Ibimirim (sertatildeo) agraves margens do Accedilude Poccedilo da Cruz e em Gloacuteria do Goitaacute
no Campo da Sementeira (regiatildeo do agreste) (SERVICcedilO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA 2014)
170
fizemos alguns estudos algumas formaccedilotildees e tal mas assim eacute muito eventual natildeo eacute
uma coisa continuada aiacute eu acho que nesse ponto natildeo se avanccedilou (Gestora 6)
Eu acho que a gente teve contato com os teacutecnicos para discutir o projeto de
formaccedilatildeo continuada [] E alguns teacutecnicos de laacute vinham discutiam a formaccedilatildeo
marcavam os dias e organizava o movimento de formaccedilatildeo continuada
principalmente do pessoal de sexta ao nono Acho que foi um movimento que natildeo
foi continuo natildeo foi continuado foi estanque teve quebras e acho que natildeo
condensou natildeo foi muito fortalecido [] Eu achei que era pequena Um projeto
desse natildeo pode ser trecircs dias e aiacute vai embora acontece que natildeo voltam de novo
(Gestora 7)
O resultado mais visiacutevel e evidente foram as informaccedilotildees obtidas em relaccedilatildeo ao
projeto da transposiccedilatildeo que muitos natildeo conheciam e desacreditavam na execuccedilatildeo de
empreendimentos como o PISF entre outros motivos pelo desvio de recursos puacuteblicos
ocorridos com outras obras para regiatildeo
Olha eu acho que o conhecimento foi o mais visiacutevel porque assim muita gente natildeo
conhecia e assim passou a conhecer a ter mais conhecimento a respeito da obra mas
que eles natildeo tinham e ateacute que eu vejo isso como o ponto negativo tambeacutem ia ter um
impacto tatildeo grande que eu acho que devia ter se preparado mais cedo [] veio um
pessoal tambeacutem fazer outra formaccedilatildeo aqui e eu falei isso e aiacute um coordenador
levantou e disse mas a gente natildeo acredita mais que as coisas vem e que vatildeo
acontecer porque satildeo vaacuterios poliacuteticos desviando obras vaacuterias pessoas que estatildeo e
que desviam as verbas entatildeo a gente natildeo acredita mais Talvez seja isso que falavam
e as pessoas natildeo acreditaram e ai houve esse desconhecimento esse despreparo
tanto das comunidades como aqui da cidade mesmo [] (Gestora 5)
Eu acredito que estava neacute E ele vinha com toda uma organizaccedilatildeo tanto de moacutedulo
como de apostila taacute entendendo Agora eacute isto que eu estou te dizendo eu acredito
que a rede neacute principalmente o pessoal do municiacutepio neacute os professores aderiram
abraccedilaram agora por conta de natildeo ter um acompanhamento laacute na base entendeu
Natildeo eacute soacute fazer a formaccedilatildeo vocecirc tem quer ir na base e vecirc como eacute que estaacute o projeto
se de fato entrou na sala de aula entrou nas comunidades Acho que faltou isso
tambeacutem (Gestora 7)
Haacute sugestatildeo de que os conteuacutedos da formaccedilatildeo e a visatildeo geral sobre o projeto da
transposiccedilatildeo precisavam estar mais acessiacuteveis agrave populaccedilatildeo como um todo e natildeo apenas entre
os teacutecnicos e secretaacuterios E para educaccedilatildeo formal seria importante inserir conteuacutedos sobre o
projeto da transposiccedilatildeo nas disciplinas em geral
Dentro das ciecircncias neacute Dava pra ter entrado dentro de geografia Agora mesmo a
gente estava discutindo algumas coisas neacute Ivone do Projeto Intermodal Da entrada
disso Tem conhecimento que estaacute muito na cabeccedila dos teacutecnicos dos secretaacuterios
acho que precisava estaacute mais no povo Acho que tem muita gente que desconhece
acho que precisava ter mais isso o que eacute o projeto Quais satildeo os impactos dele E
assim pras crianccedilas para os jovens pra todo mundo que tivesse nessa comunidade
em Salgueiro entendeu (Gestora 7)
171
Reforccedilando a proposta de ampliar o debate sobre o projeto da transposiccedilatildeo a formaccedilatildeo
deveria ser retomada de maneira continuada e formalizar amplamente nas escolas o projeto
como objeto de conhecimento sugere o mesmo entrevistado
Eu acho que tem de voltar urgente a coisa da formaccedilatildeo natildeo pode parar natildeo pode ser
uma formaccedilatildeo para uma rede tem que estar pensando nas duas a cidade os
educadores de todas as redes e pra pensar isso o que eacute que a gente fez ateacute agora
Onde a gente avanccedilou Onde a gente taacute precisando mudar E do que eacute que
Salgueiro talvez precisa a escola de Salgueiro pra falar sobre isso praacute aprender
sobre isso e para intervir nisso Porque se natildeo vai vir mais um projeto que ningueacutem
conhece [] Eacute o que vai impactar aqui Tem que estar nas escolas em todas as
escolas Eu acho que quase natildeo se fala Eu vejo falar na rua mas na escola eu natildeo
vejo como objeto de conhecimento Eu acho que precisava a gente tava ateacute fazendo
uma pesquisa pra comeccedilar a pegar neacute tanto o Projeto do Rio Satildeo Francisco como
todo esse movimento que a gente taacute vivendo praacute comeccedilar a entrar na escola neacute
(Gestora 7)
Na percepccedilatildeo de gestor da equipe da CMT uma conclusatildeo eou desdobramento do
trabalho refere-se agrave produccedilatildeo de publicaccedilatildeo fruto das oficinas e atividades intermodulares a
ser disponibilizada agraves escolas envolvidas
[] e a conclusatildeo desse trabalho vai ser uma publicaccedilatildeo jaacute estaacute pra ser publicado
chama Cadernos de Produccedilatildeo Coletiva Noacutes usamos nesse momento tambeacutem as
atividades inter-modulares neacute fazemos a capacitaccedilatildeo com eles e depois as
atividades inter-modulares e agora noacutes estamos concluindo essa publicaccedilatildeo Ao
final noacutes vamos entregar para todas as escolas participante do processo (Gestora 10)
Pelo exposto o processo de trabalho realizado junto aos profissionais da educaccedilatildeo natildeo
esteve calcado no que se refere Anastasiou (1998 apud PIMENTA ANASTASIOU 2002)
a um processo de ensinagem Incorporando as contribuiccedilotildees de Vasconcellos (1995 apud
PIMENTA ANASTASIOU 2002) a compreensatildeo do processo de ensinagem se amplia
como um meacutetodo dialeacutetico de ensino cujos momentos fundamentais satildeo trecircs a mobilizaccedilatildeo
para o conhecimento a construccedilatildeo do conhecimento e a elaboraccedilatildeo da siacutentese do
conhecimento
A mobilizaccedilatildeo para o conhecimento eacute possibilitar ao aluno um direcionamento para o
processo pessoal de aprendizagem sendo necessaacuterio que o professor provoque acorde
vincule e sensibilize o aluno em relaccedilatildeo ao objeto de conhecimento para deixaacute-lo ldquoligadordquo
durante o processo Importante para isto eacute articulaccedilatildeo entre a realidade concreta e o grupo de
alunos (aqui no caso grupo de professores) entre suas redes de relaccedilotildees visotildees de mundo
percepccedilotildees e linguagens de modo que possa acontecer o diaacutelogo (PIMENTA
ANASTASIOU 2002 p 214-215)
172
A construccedilatildeo do conhecimento eacute vista como momento da atividade do aluno quer seja
por meio de pesquisa estudo individual seminaacuterios o que permite estabelecer relaccedilotildees que
identificam como o objeto do conhecimento se constitui (LIBAcircNEO 1985 apud PIMENTA
ANASTASIOU 2002)
Segundo os autores as atividades dos alunos podem ser definidas por sete categorias
como
a) Significaccedilatildeo estabelecer os viacutenculos nexos do sujeito ao objeto do conhecimento
b) Problematizaccedilatildeo problema que se encontra na origem do conhecimento
c) Praacutexis accedilatildeo do sujeito sobre o objeto Permite articular conhecimento com a
praacutetica social que lhe deu origem
d) CriticidadeO conhecimento ligado a uma visatildeo criacutetica buscando a verdadeira
causa das coisas
e) Continuidade- ruptura partir de onde o aluno se encontra para um conhecimento
mais elaborado
f) Historicidade os conhecimentos estatildeo num quadro relacional e deixar claro que a
siacutentese atual pode ser superada por novas siacutenteses por ser histoacuterica e contextual
g) Totalidade Articular conhecimento com a realidade seus determinantes seus
nexos internos (combinar siacutentese com anaacutelise)
A elaboraccedilatildeo da siacutentese como terceiro momento estaacute relacionado ao momento da
sistematizaccedilatildeo da expressatildeo empiacuterica do aluno sobre o objeto apreendido Eacute o momento da
consolidaccedilatildeo de conceitos (PIMENTA ANASTASIOU 2002 p 214-215)
Na relaccedilatildeo mais direta com a avaliaccedilatildeo que nos interessa focaremos no momento da
construccedilatildeo do conhecimento por acreditarmos que houve uma fragilidade maior neste
momento comprometendo o elo entre o momento posterior (siacutentese do conhecimento) O fato
de o puacuteblico alvo ser profissional da educaccedilatildeo natildeo o coloca diferente no momento em que
estaacute como educando
Lembremos que neste Subprograma a queixa maior foi com a quebra a falta de
continuidade do processo a realizaccedilatildeo de encontros pontuais com coordenadores e
professores que descaracterizaram a formaccedilatildeo continuada ldquoesvaziandordquo o momento da
construccedilatildeo do conhecimento
Mas o trabalho gerou alguns frutos parece que em escolas da zona rural onde outros
projetos de educaccedilatildeo ambiental foram desenvolvidos e havia maior sensibilizaccedilatildeo para a
temaacutetica
173
[] Eu acho que a gente sente mais isso nos Projetos da zona rural Como eles
tiveram muito trabalho voltado para a sustentabilidade voltado para o
empoderamento do homem do campo haacute mudanccedila Eu acho que eles tem mais
projetos que educa para o meio ambiente Natildeo satildeo as Escolas do Campo Todas elas
tem assim mais um perfil voltado trabalha o problema local a seca como a gente
pode estabelecer convivecircncia [] E aiacute fazendo projetos a gente teve um movimento
desses a partir dos trabalhos do Ministeacuterio a gente desenvolveu na escola vaacuterios
projetos que davam conta de educar para o meio ambiente (Gestora 7)
O que se constata eacute que as praacuteticas educativas sejam nas escolas sejam em grupos
sociais ainda se realizam predominantemente por meio de repasse de muitos conteuacutedos
muitas informaccedilotildees e o educador natildeo instiga os participantes a pensar sobre eles
Lembrando Rubem Alves que acredita na funccedilatildeo e papel do professor como
provocador de espanto e que para ensinar o professor deve estar tambeacutem numa posiccedilatildeo de
maravilhamento ele traz a origem do verbo grego Thaumatesen que significa maravilhar-se
Para os gregos o pensamento comeccedila a funcionar quando noacutes ficamos perplexos diante do
objeto porque a gente natildeo entende o objeto a gente quer ver o objeto a gente quer entender o
objeto e aiacute fica ali meio bestificado diante daquela coisa Neste momento a curiosidade estaacute
funcionando a inteligecircncia comeccedila a funcionar e a gente comeccedila a fazer perguntas (ALVES
2010)
As palavras deste educador satildeo reveladoras da grande defasagem e distacircncia entre os
processos pedagoacutegicos em funcionamento nas vaacuterias instacircncias da educaccedilatildeo seja formal ou
informal E se tratando de formaccedilatildeo para educaccedilatildeo ambiental em realidades quilombolas o
fosso parece ser maior e mais complexo
O quadro 11 traz um resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos
entrevistados e do conteuacutedo do Subprograma
174
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Escolas
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA
HORAacuteRIA
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo
institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de gestores )
educaccedilatildeo)
Coordenadores e
professores das
Escolas Municipais e
Estaduais em
Salgueiro (Sede zona
rural comunidades
quilombolas)
Segundo narrativas
- Impactos do projeto
da transposiccedilatildeo
- Patrimocircnio Puacuteblico
- Projeto Com vida
Segundo o
Suprograma
- Compreensatildeo do
Projeto de Integraccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco e
o papel da Educaccedilatildeo
Ambiental na
Mitigaccedilatildeo de Impactos
-Construccedilatildeo do
Mapeamento
Ambiental
Participativo
-Formaccedilatildeo da
Comissatildeo de Meio
Ambiente e Qualidade
de Vida COM-VIDAs
-Projeto Poliacutetico
Pedagoacutegico (PPP) e a
construccedilatildeo da Agenda
Ambiental escolar
- 4 moacutedulos com
4 horas cada
Total de 16
horas
- Atividades
intermodulares
- Cadernos de Produccedilatildeo
Coletiva
-Conhecimento sobre o
Projeto da transposiccedilatildeo
- Professores aderiram
mas natildeo houve
acompanhamento para
implantar projeto nas
escolas
Fonte A autora a partir de informaccedilatildeo verbal de gestores (entrevistas 2013)
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede
Este Subprograma tem como objetivo
Desenvolver accedilotildees formativas junto aos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica visando agrave elevaccedilatildeo de seu conhecimento em
questotildees relacionadas agrave sauacutede coletiva para mitigaccedilatildeo prevenccedilatildeo e controle das
situaccedilotildees socioambientais potencialmente causadoras de agravos agrave sauacutede
decorrentes do empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo e implementaccedilatildeo de Planos
de Accedilatildeo (BRASIL 2010 p 148)
O puacuteblico envolvido com o Subprograma satildeo Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica em especial os que atuam nas localidades de intervenccedilatildeo
da Educaccedilatildeo Ambiental comunidades quilombolas beneficiadas pelo Programa 17
(Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas) Vilas Produtivas Rurais Programa 08
(Programa de Reassentamento de Populaccedilotildees) e localidades listadas no Programa 15
(Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura e Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao longo dos
Canais) Os momentos de capacitaccedilatildeo pretendiam envolver no maacuteximo trinta participantes
175
por municiacutepio cujo treinamento presencial seria de oito horas Quanto agraves aacutereas quilombolas o
criteacuterio foi de envolver no miacutenimo um ACS e um Coordenador de Atenccedilatildeo Baacutesica das (ou que
atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo PBA 17 (BRASIL 2010 p 148)
Como justificativa o Subprograma ressalta que
[] os Agentes comunitaacuterios de Sauacutede e os Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica satildeo
atores relevantes no processo de minimizaccedilatildeo dos impactos negativos na sauacutede
ambiental e humana decorrentes do PISF para isso eacute necessaacuterio elevar o
conhecimento desses profissionais sobre os temas relacionados agrave obra
sustentabilidade e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 147)
A proposta para o trabalho foi construiacuteda com base no que apresentava o Relatoacuterio de
Impacto Ambiental o RIMA afirma um dos teacutecnicos da equipe responsaacutevel pela execuccedilatildeo do
Subprograma
Elas satildeo baseadas no proacuteprio Relatoacuterio de Impacto Ambiental- do RIMA no estudo
e no relatoacuterio Tanto o EIA quanto o RIMA identificaram impactos negativos do
projeto na aacuterea de sauacutede dos municiacutepios (Teacutecnico 3)
A metodologia do Subprograma previa como primeiro momento apresentar a
proposta agraves Secretarias de Sauacutede dos dezessetes municiacutepios envolvidos na Aacuterea Diretamente
Afetada- ADA do projeto da transposiccedilatildeo com intuito de aprovaccedilatildeo e ajustes necessaacuterios
bem como acordos quanto ao acompanhamento dos Planos de Accedilatildeo a serem estruturados
apoacutes a realizaccedilatildeo das oficinas
Segundo gestor da equipe teacutecnica da CMT esse momento foi cumprido junto agraves
Secretarias de sauacutede dos municiacutepios inseridos no Subprograma
Entatildeo de acordo com os temas sugeridos nesses dois programas noacutes fizemos assim
primeiro fomos nessas 17 secretarias municipais e aiacute conversamos com o gestor
municipal fizemos um breve diagnoacutestico de tudo que estava acontecendo nesses
municiacutepios com relaccedilatildeo a sauacutede puacuteblica A partir daiacute noacutes pegamos entatildeo o que
esse gestor falou sobre o assunto os temas propostos nesses dois programas e
fizemos essa metodologia de trabalho (Gestora 10)
A meta consistia em capacitar 49 dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede eou
Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo do
PBA 4 Natildeo temos informaccedilotildees para dimensionar o atendimento desta meta
A oficina de formaccedilatildeo para os profissionais da aacuterea de sauacutede ldquoteria como
desdobramento o desenvolvimento de accedilotildees preventivas e educativas em direccedilatildeo a melhoria
da qualidade de vida e que reduzam a pressatildeo sobre o sistema de sauacutede decorrente do
empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo democraacutetica de Planos de Accedilatildeo Participativosrdquo
176
afirma documento do Subprograma (BRASIL 2010 p 147) As oficinas realizadas tiveram o
envolvimento tambeacutem de lideranccedilas comunitaacuterias aleacutem de profissionais da sauacutede com a
intenccedilatildeo de se tornarem multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede
[] Eram profissionais da sauacutede agentes ambientais agentes de sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias o pessoal da diretoria e da secretaria tambeacutem foram convidados A
princiacutepio foram mas depois desistiram no meio do caminho mas ficou a gente
ficaram os agentes de sauacutede os agentes ambientais e as lideranccedilas comunitaacuterias []
Das aacutereas quilombolas e das aacutereas natildeo quilombolas tambeacutem Das aacutereas comunitaacuterias
geral das comunidades que foram atingidas direta ou indiretamente na faixa do
canal e nas vilas (Lideranccedila 1)
Multiplicadores profissionais de sauacutede e essas lideranccedilas locais desses siacutetios
localizados proacuteximos aos canais e aos reservatoacuterios [] Formaccedilatildeo de
multiplicadores no caso da sauacutede multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede [] Teve
mais funcionaacuterios de sauacutede a gente teve meacutedicos nas oficinas com uma participaccedilatildeo
muito incisiva mesmo um trabalho popular de educaccedilatildeo popular mesmo excelente
enfermeiros teacutecnicos em enfermagem fisioterapeuta dentistas fonoaudioacutelogos
gestores tambeacutem participaram funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede comuns ali natildeo
teacutecnicos mas funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede porque tambeacutem lidam com o
atendimento ao publico natildeo eacute Entatildeo a gente achou importante isso tambeacutem
mesmo ele sendo funcionaacuterio aacutes vezes de uma aacuterea mais burocraacutetica a gente achou
importante eles participarem tambeacutem Eles tambeacutem foram convidados neacute Entatildeo foi
um puacuteblico diversificado justamente com essas lideranccedilas (Teacutecnico 3)
O Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede tem interface direta com o
Programa de Monitoramento de Vetores e hospedeiros de doenccedilas - O PBA 20 e o Programa
de Controle de Sauacutede Puacuteblica O PBA 21 o qual iremos tecer algumas consideraccedilotildees
O Programa de Controle da Sauacutede Puacuteblica - o PBA 21 segundo documento oficial
apresenta como objetivo ldquoassegurar a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees
beneficiadas pelo PISF garantindo o menor impacto negativo possiacutevel do Projeto nas
condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo vinculada ao empreendimentordquo (BRASIL 2012)
[] o Programa 21 como subprograma de educaccedilatildeo em comunidades ele estabelece
que a gente deve trabalhar alguns temas entatildeo satildeo vaacuterios temas De acordo com o
Projeto um projeto grande como esse nos documentos antigos ele estabelece bom
pra gente mitigar alguns desses provaacuteveis impactos noacutes temos que trabalhar com
esses temas por exemplo proliferaccedilatildeo de vetores de acidentes com animais
peccedilonhentos gravidez na adolescecircncia DSTAIDS violecircncia de gecircnero
principalmente doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas problema de saneamento baacutesico
(Gestora 10)
Um dos impactos do projeto da transposiccedilatildeo considerado positivo e relacionado
diretamente agrave sauacutede da populaccedilatildeo eacute identificado por entrevistada da Secretaria de Sauacutede Ela
aponta a detecccedilatildeo de agravos que passaram a ser tratados pelo serviccedilo de sauacutede a partir da
obrigatoriedade de exames admissionais para o trabalho nas obras do projeto Poreacutem
177
nenhuma parceria foi estabelecida com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo como apoio aos Governos
Estadual e Municipal no tocante agrave assistecircncia prestada pelas Unidades Municipais e Estaduais
de Sauacutede
Uma coisa boa do Projeto que eacute assim com o emprego para pessoa entrar no
serviccedilo do Projeto praacute participar dele eles tecircm que fazer o exame cliacutenico antes da
admissatildeo e nessa admissatildeo foi detectado casos de VDRL positivos e a gente
certamente a gente acredita que natildeo fosse esse Projeto se natildeo fosse obrigatoacuterio
esses exames a pessoa natildeo iria fazer entatildeo com isso tanto foi detectado VDRL
HIV e tambeacutem o tratamento [] Acompanhados aqui no CTA existe aqui ao lado da
S Sauacutede que eacute o COAS Ele eacute regional e eacute feito tanto o teste raacutepido e se necessaacuterio
o outro Eacute feito o tratamento tambeacutem aqui [] Veja em relaccedilatildeo ao tratamento HIV
DRL ele eacute regional entatildeo esse Projeto natildeo entrou com essa parte financeira []
Entatildeo realmente houve o aumento de gravidez tambeacutem na adolescecircncia (Gestora 3)
Haacute tambeacutem o aumento na demanda para atendimento nas Unidades de Sauacutede e com as
Equipes de Sauacutede da Famiacutelia visto como consequecircncia direta do projeto da transposiccedilatildeo O
aumento da violecircncia pelas narrativas tambeacutem eacute atribuiacutedo agraves obras do projeto sendo
provocada principalmente por pessoas que natildeo satildeo do municiacutepio
[] Tambeacutem porque o fluxo ele eacute bastante como posso dizer tem aquele vai e
vem das pessoas Hoje existe uma equipe que taacute aqui passa um ano e de repente
aquela equipe jaacute muda e jaacute vem novas pessoas O fluxo aumentou bastante de
presenccedila de pessoas isso e de consumo tambeacutem O comeacutercio aumentou tambeacutem
aumentou tambeacutem a demanda tambeacutem nos PSF porque aumentou o fluxo
aumentou a gravidez aumentou as DST e com isso aumenta tambeacutem o fluxo na
Unidade de Sauacutede [] Aumento assim aumentou a violecircncia em Salgueiro []
Aumentou mas os casos que a gente ouve falar satildeo de pessoas de fora que
aproveitam o movimentaccedilatildeo porque tem muita gente de fora e as proacuteprias daqui
Realmente tem mais roubos assaltos mas normalmente satildeo as pessoas de fora
(Gestora 3)
As percepccedilotildees de Gestor e teacutecnico envolvidos com a execuccedilatildeo do Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede detalham o que foi considerado como Proposta Integrada de
Educaccedilatildeo em Sauacutede cuja interface se constroacutei natildeo apenas com o PBA 21 mas tambeacutem com o
Programa Baacutesico Ambiental de Comunicaccedilatildeo Social o PBA 3 assim como detalha o
desdobramento do trabalho poacutes-oficinas
Essas comunidades elas foram agrupadas no nosso Programa de Sauacutede entatildeo o
Programa de Educaccedilatildeo Ambiental e Sauacutede elaborou uma proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede que atendesse o puacuteblico da aacuterea de sauacutede agentes de sauacutede
agentes de endemias e demais profissionais de sauacutede e essas localidades do
Programa 15 que estatildeo agrave margem ali dos reservatoacuterios e dos canais Entatildeo o
Ministeacuterio achou que dava pra conciliar esse trabalho com o puacuteblico de sauacutede
convidando as lideranccedilas locais porque natildeo haveria tempo haacutebil praacute gente trabalhar
Satildeo mais de duzentas comunidades e natildeo haveria tempo haacutebil para se trabalhar
especificamente com essas comunidades e aiacute foi criada a proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede incluindo essas localidades mais de duzentas localidades e
trabalhamos com esse puacuteblico agora nas Oficinas de Sauacutede que inclusive se
encerraram a semana passada terminando dezessete municiacutepios (Teacutecnico 3)
178
[] Agora noacutes estamos trabalhando um programa que a gente chamou de Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo Ambiental envolvendo o Programa 21 que eacute o de sauacutede
puacuteblica o de educaccedilatildeo ambiental em comunidade e o Programa de Comunicaccedilatildeo
Social Esse programa visa basicamente formar multiplicadores pra trabalhar com
um novo enfoque na sauacutede educaccedilatildeo em sauacutede que noacutes chamamos [] Noacutes
estamos trabalhando em 17 municiacutepios com uma proposta de quatro oficinas em
cada um desses municiacutepios e ao final dessas oficinas noacutes vamos fazer o Seminaacuterio
Integrado de Educaccedilatildeo em Sauacutede Satildeo trecircs seminaacuterios um vai acontecer em
Cajazeiras um em Brejo e um aqui em Salgueiro envolvendo os vaacuterios profissionais
que participaram com a gente dessas capacitaccedilotildees (Gestora 10)
As temaacuteticas abordadas nas oficinas segundo lideranccedila quilombola foram amplas
com ecircnfase nos impactos provocados pelo projeto da transposiccedilatildeo
[] O curso ele trata sobre os impactos da obra tanto no aspecto de meio ambiente
quanto no aspecto da sauacutede das pessoas quanto no aumento vai tanto da questatildeo da
poeira ateacute a questatildeo do aumento de trabalhadores e a questatildeo de doenccedilas
sexualmente transmissiacuteveis (DST) de gravidez eacute muito amplo todos os impactos
assim que a obra possa taacute trazendo pra cidade na questatildeo tambeacutem de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria (Lideranccedila 1)
Basicamente uma formaccedilatildeo de quatro moacutedulos dividido em quatro moacutedulos de oito
horas [] isso cada moacutedulo [] O primeiro moacutedulo a gente trabalhou de
proliferaccedilatildeo vetores e acidentes por animais peccedilonhentos o segundo moacutedulo
saneamento e doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas saneamento ambiental o terceiro
moacutedulo DST AIDS gravidez na adolescecircncia e prevenccedilatildeo agrave violecircncia e o quarto
moacutedulo a gente utilizou como um fechamento da agenda de prioridade que eacute um
documento que a gente criou ao longo dessas oficinas elaborado pelos proacuteprios
participantes [] (Teacutecnico 3)
O quadro 12 apresenta um resumo dos conteuacutedos trabalhados no Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede com base na proposta oficial e relatos de entrevistados
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede 2010 PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA HORAacuteRIA- PROCESSO DE
CULMINAcircNCIA DESDOBRAMENTOS
-Coordenadores de
atenccedilatildeo Baacutesica
-Agentes
Comunitaacuterios de
Sauacutede
-Agentes de sauacutede
ambiental
- Demais
profissionais de
sauacutede
-Lideranccedilas locais
4 MOacuteDULOS
- 1ordm Moacutedulo -
Proliferaccedilatildeo vetores e
acidentes por animais
peccedilonhentos
-2ordm Moacutedulo -
Saneamento
Ambiental e doenccedilas
de veiculaccedilatildeo hiacutedrica
- 3ordm Moacutedulo - DST
AIDS gravidez na
adolescecircncia e
prevenccedilatildeo agrave
violecircncia
- 4ordm Moacutedulo- Plano
de accedilatildeo - Agenda de
prioridade de
educaccedilatildeo em sauacutede
- 8 horas por moacutedulo
- Total de 32 horas
- 3 Seminaacuterios
Estaduais de
Educaccedilatildeo em
Sauacutede envolvendo
17 municiacutepios (08
em PE 04 na PB
e 05 no CE)
Seminaacuterio de
Pernambuco aconteceu no
municiacutepio de
Salgueiro em 200913
- Formar
multiplicadores de
educaccedilatildeo em sauacutede
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees verbais de gestores e teacutecnicos (entrevistas 2013)
179
A metodologia do trabalho consta de momentos de debate e reflexotildees teoacutericas
juntamente com momentos praacuteticos chamados de vivecircncias educativas onde eacute feita uma
dispersatildeo na aacuterea de trabalho fundamentando-se na Pedagogia da Alternacircncia relata gestora
da equipe da CMT
Uma coisa que foi muito interessante nesse trabalho eacute que assim noacutes temos entatildeo o
fasciacuteculo e ao final de cada um deles noacutes sugerimos vivecircncias educativas Entatildeo
noacutes fomos pra sala de aula passamos oito horas com esse grupo esse grupo tem a
parte conceitual e teoacuterica e depois esse grupo tem a parte praacutetica que satildeo as
vivecircncias educativas sugeridas e aiacute ele aprende com a gente a fazer essas vivencias
Depois ele vai pra comunidade ou pro seu posto de sauacutede onde ele atende e ai ele
replica essas vivencias educativas depois ele devolve pra gente esse resultado
Entatildeo noacutes chamamos de pedagogia da alternacircncia Noacutes temos um momento
praacuteticoteoacuterico temos um momento praacutetico e depois ele retorna pra gente
demonstrando o resultado lsquoolha noacutes fizemos essa vivecircncia educativa nessa
comunidade e nossos resultados satildeo essesrsquo (Gestora 10)
A pedagogia da alternacircncia teve sua origem na Franccedila entre agricultores insatisfeitos
com o sistema educacional de seu paiacutes que para eles natildeo atendia as especificidades de uma
Educaccedilatildeo para o meio rural Tal insatisfaccedilatildeo gerou um movimento em 1935 que levou ao
surgimento da Pedagogia da Alternacircncia (TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008)
A Pedagogia da Alternacircncia surgiu no Brasil em 1969 por meio da accedilatildeo do
Movimento de Educaccedilatildeo Promocional do Espiacuterito Santo (MEPES) o qual fundou as
entatildeo Escola Famiacutelia Rural de Alfredo Chaves Escola Famiacutelia Rural de Rio Novo
do Sul e Escola Famiacutelia Rural de Olivacircnia essa uacuteltima no municiacutepio de Anchieta O
objetivo primordial era atuar sobre os interesses do homem do campo
principalmente no que diz respeito agrave elevaccedilatildeo do seu niacutevel cultural social e
econocircmico (PESSOTTI 1978 apud TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008 p
3)
Hoje no Brasil haacute diversas experiecircncias de educaccedilatildeo escolar que adotam o meacutetodo da
Pedagogia da Alternacircncia sendo conhecidas principalmente as desenvolvidas pelas Escolas
Famiacutelia Agriacutecola (EFAs) e pelas Casas Familiares Rurais (CFRs) afirma Teixeira et al
(2008) A terminologia adotada para se referir agraves instituiccedilotildees que praticam a alternacircncia
educativa no meio rural eacute Centros Familiares de Formaccedilatildeo por Alternacircncia (CEFFAs)
A Pedagogia da Alternacircncia vem sendo utilizada haacute quase 40 anos no Brasil e haacute 243
CEFFAs (UNEFAB 2007 apud TEIXEIRA et al 2008) em atividade em todas as regiotildees e
em quase a totalidade dos estados brasileiros mas curiosamente natildeo existe nos estados de
Alagoas Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte (TEIXEIRA et al 2008) aacuterea de
intervenccedilatildeo direta do projeto da transposiccedilatildeo Mas mesmo com esse nuacutemero de instituiccedilotildees
envolvidas com a Pedagogia da Alternacircncia e significativo nuacutemero de educadores e
educadoras que a adotam ldquoessa proposta pedagoacutegica ainda eacute discutida com pouca ecircnfase no
180
meio acadecircmico e nos oacutergatildeos teacutecnicos e oficiaisrdquo (ESTEVAM 2003 apud TEIXEIRA
BERNART GLADEMIR 2008 p 3)
Segundo narrativa de lideranccedila quilombola e integrante da equipe de sauacutede no
municiacutepio a estrutura do curso teve conteuacutedos teoacutericos amplos e momentos praacuteticos
permitindo aproximaccedilatildeo com a realidade como preconiza a Pedagogia da Alternacircncia A
linguagem acessiacutevel do instrutor eacute outro aspecto positivo ressaltado que possibilitou uma
efetiva comunicaccedilatildeo com os participantes
[] Eacute amplo o curso eacute um curso muito bom pra gente porque foi um curso
continuo era muito amplo os temas mas foi um curso continuo onde a gente eram
exposto ali ele expunha os iacutendices os dados tudo mas a gente tirava muitas
duacutevidas conversava bastante conseguiu assimilar muita coisa ateacute porque vou
voltar a falar da linguagem a gente conseguia entender o que eacute que Leacuteo estava
falando [] e a gente foi pra campo tambeacutem entatildeo a gente ia pra campo agraves vezes eu
acompanhava outras vezes eu natildeo podia acompanhar a gente ia pra campo mas
como vivecircncia do que a gente tinha visto na sala de aula e aiacute a gente aprendia na
sala de aula e ia pra vivencia aprendia mais voltava ele orientava tudo direitinho
entatildeo foi muito proveitoso (Lideranccedila 1)
[] Satildeo praacuteticas de atividades intermodulares que eles realizaram entre um moacutedulo
e outro no vieacutes da educaccedilatildeo em sauacutede em comunidades prioritaacuterias seja urbana ou
rural mas comunidades prioritaacuterias dentro do enfoque deles natildeo tem como a gente
chegar olha tal comunidade eacute prioritaacuteria tem que trabalhar Entatildeo a gente ouvia
isso deles e aiacute eles tem essa liberdade de fazer onde quisessem de realizar onde
quisessem e ai vai ter apresentaccedilatildeo dessas vivecircncias e as agendas vatildeo estar laacute
exposta em cada stand de cada municiacutepio (Teacutecnico 3)
Como material didaacutetico houve o apoio de cinco cartilhas que compotildeem a ldquoColeccedilatildeo
de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquotratando dos seguintes temas Efeitos danosos dos Agrotoacutexicos
Saneamento Ambiental e Doenccedilas Relacionadas a aacutegua Proliferaccedilatildeo de vetores e Acidentes
com Animais Peccedilonhentos Prevenccedilatildeo agrave Violecircncia e Gravidez na Adolescecircncia Doenccedilas
Sexualmente Transmissiacuteveis e Aids (Figura 18)
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo
Fonte A autora 2013
181
Mas um aspecto nos chama atenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao material didaacutetico utilizado o
mesmo foi elaborado pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF e equipe de Comunicaccedilatildeo e
Educaccedilatildeo Ambiental da CMT Engenharia e natildeo contou com o envolvimento nem a
colaboraccedilatildeo das Secretarias Estadual e Municipal de Sauacutede dos estados nem de lideranccedilas e
ou grupos sociais locais o que eacute questionaacutevel ao tratar-se de uma abordagem de Educaccedilatildeo em
Sauacutede dialoacutegica
[] E o material que noacutes usamos foi o material que foi feito aqui pela equipe de
educaccedilatildeo ambiental e noacutes chamamos de coleccedilatildeo de educaccedilatildeo em sauacutede Satildeo cinco
fasciacuteculos trabalhando exatamente com esses temas (Gestor 10)
Questionamos a pertinecircncia e coerecircncia de um mesmo material didaacutetico ser destinado
a ao debate teoacuterico e estiacutemulo de vivecircncias educativas tanto para populaccedilotildees tradicionais
quilombolas indiacutegenas trabalhadores rurais como para moradores da zona urbana desses
municiacutepios Seraacute que a realidade em relaccedilatildeo aos assuntos abordados eacute a mesma para 17
municiacutepios em 3 estados diferentes do nordeste Como foram tratadas as particularidades
culturais e linguumliacutesticas destas populaccedilotildees em relaccedilatildeo a cada tema
Este eacute um aspecto a ser contextualizado quando se trata de uma praacutetica de educaccedilatildeo
em sauacutede numa perspectiva participante e problematizadora O trabalho de Educaccedilatildeo em
Sauacutede nesta perspectiva deveria privilegiar desde o primeiro momento o envolvimento dos
atores Esse envolvimento fortalece a comunicaccedilatildeo dialoacutegica a construccedilatildeo conjunta de
conteuacutedos e conhecimentos com abordagens mais proacuteximas da realidade das populaccedilotildees
permitindo uma formaccedilatildeo para a autonomia
Ressaltamos a lei nordm 116452008 que traz como obrigatoriedade para o curriacuteculo
oficial da Rede de Ensino a temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-brasileira e Indiacutegenardquo como
forma de fortalecer o conhecimento sobre estas populaccedilotildees suas tradiccedilotildees lutas conquistas e
direitos Qualquer material didaacutetico entatildeo deve respeitar esta particularidade (BRASIL 2008)
E concordando com o pensamento de Barbero (2008 p 11) ldquoO desafio fundamental
das poliacuteticas puacuteblicas eacute a heterogeneidade do puacuteblico em termos de sociedade portanto em
relaccedilatildeo a culturas sejam estas eacutetnicas de gecircnero de idade ou de sauacutederdquo
Durante a realizaccedilatildeo das oficinas foram elencadas prioridades e construiacuteda uma
agenda tida como diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados A ldquoagenda de prioridadesrdquo compocircs um Plano de Accedilatildeo entregue ao gestor
municipal
182
[] Uma agenda nos moldes de um plano de accedilatildeo mas eacute uma agenda de prioridade
de educaccedilatildeo em sauacutede o que eacute que pode ser feito o que eacute que vem sendo feito mas
que pode ser potencializado o que existe enquanto poliacutetica institucional mas nunca
saiu do papel [] (Teacutecnico 3)
Entatildeo foi um trabalho muito rico [] Entatildeo no dia do seminaacuterio que vai ser o
resultado final a culminacircncia de todo esse processo o gestor municipal ele vai
receber essa agenda de prioridade que eacute um documento extremamente importante
para um gestor puacuteblico um documento estrateacutegico mesmo de planejamento
estrateacutegico e essa agenda foi construiacuteda com as pessoas que trabalham com as
lideranccedilas comunitaacuterias que ficaram conosco nesse processo de capacitaccedilatildeo e agora
noacutes estamos jaacute finalizando e jaacute recebemos algumas delas (Gestor 10)
A realizaccedilatildeo de um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo em Sauacutede foi considerado o
momento de ldquocoroamentordquo do trabalho quando os municiacutepios expotildeem as vivecircncias
educativas realizadas com a comunidade
[] vai ter esse seminaacuterio final agora natildeo me recordo a data tambeacutem mas vai ser soacute
o seminaacuterio final onde a gente vai apresentar as vivencias e vai ver as outras
pessoas tambeacutem de outros municiacutepios que tambeacutem que tiveram esses momentos
para ser uma troca de experiecircncia mesmo para fechar os momentos todos que foram
vividos mas foi muito interessante porque eacute uma reflexatildeo a gente fez uma reflexatildeo
de todos os impactos da obra Tem coisas que a gente jaacute sabia jaacute tava vendo jaacute tava
sentindo de impacto e tinha coisas que a gente nem pensou que impactou esse lado
tambeacutem ( Lideranccedila 1)
[] E agora como culminacircncia a gente vai ter um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo
em Sauacutede entatildeo com oito municiacutepios aqui de Pernambuco cinco municiacutepios do
Cearaacute e quatro municiacutepios da Paraiacuteba totalizando os 17 municiacutepios que a gente
trabalha [] Vatildeo estar exposto em banner de cada municiacutepio Cada municiacutepio vai ter
seu stand com fotos que a gente chamou vivecircncias educativas [] Como a gente
queria a participaccedilatildeo da Secretaria Estadual da Sauacutede a gente reelaborou a proposta
do seminaacuterio pra trecircs seminaacuterios estaduais um em Pernambuco um no Cearaacute e um
na Paraiacuteba ou talvez na mesma semana [] Pernambuco vai ser 20 de setembro aqui
em Salgueiro na Paraiacuteba dia 17 de setembro na Cajazeiras e no Cearaacute de 18 de
setembro em Brejo Santo (Teacutecnico 3)
No Seminaacuterio ocorrido em Pernambuco (setembro de 2013) foi elaborado um
documento geral - ldquoDocumento Siacutentese das Agendas de prioridades dos municiacutepios
contemplados pelo PISF em Pernambucordquo - referente aos 8 municiacutepios envolvidos E por
municiacutepio foi elaborado documento especiacutefico que para Salgueiro foi intitulado ldquoAgenda de
Prioridade de Educaccedilatildeo em Sauacutede do municiacutepio de Salgueirordquo (Anexos B e C)
Ao avaliar os dois documentos identificamos interseccedilotildees entre as prioridades
elencadas que relacionamos no quadro 13
183
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede ndash
Setembro2013 PONTOS ESPECIacuteFICOS DO
DOCUMENTO DE
SALGUEIRO
PONTOS COMUNS
(Interseccedilatildeo entre documento
geral e o de Salgueiro)
PONTOS ESPECIacuteFICOS NO
DOCUMENTO GERAL
(8 municiacutepios de Pernambuco)
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves
Unidades de Sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da
campanha de cacircncer de mama
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo agrave
leishmaniose e raiva humana
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de
resiacuteduos soacutelidos
Campanha de prevenccedilatildeo aos
diversos tipos de violecircncia e accedilotildees
de fiscalizaccedilatildeo e fortalecimento das
poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo
agrave sauacutede do homem
Campanhas educativas sobre
animais peccedilonhentos a partir da
realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras
instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes
para accedilotildees voltadas agrave educaccedilatildeo em
sauacutede
Melhores condiccedilotildees de trabalho e
investimento na formaccedilatildeo dos
Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Agentes de Endemias
Realizaccedilatildeo de campanhas e
palestras sobre defensivos agriacutecolas
direcionadas aos agricultores com
enfoque na utilizaccedilatildeo de
equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo
agrave praacutetica da agricultura orgacircnica e
destinaccedilatildeo correta das embalagens
destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
municipais em saneamento baacutesico e
manutenccedilatildeo adequada da rede
existente
Fonte A autora a partir de adaptaccedilatildeo de documentos disponibilizados por teacutecnico da CMT 2013
Dentre os pontos em comum a questatildeo dos resiacuteduos soacutelidos aparece como preocupaccedilatildeo
recente e objeto de atenccedilatildeo pela Prefeitura Municipal de Salgueiro juntamente com outros
municiacutepios da regiatildeo Em abril deste ano 22 municiacutepios dentre eles Salgueiro se reuniram
para elaboraccedilatildeo do Plano Integrado de Resiacuteduos Soacutelidos uma exigecircncia da Lei nordm 12305
aprovada desde 201024
O evento contou com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Estado e foi estipulado o prazo ateacute agosto2014 para os municiacutepios
concluiacuterem seus Planos que eacute o primeiro na lista dos instrumentos da Poliacutetica Nacional de
Resiacuteduos Soacutelidos (BRASIL 2010 SALGUEIRO 2014)
As providecircncias que comeccedilam a ser adotadas quatro anos depois de instituiacuteda a Poliacutetica
Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos eacute fruto tambeacutem da pressatildeo feita pelo Ministeacuterio Puacuteblico que
em todo estado de Pernambuco vem realizando audiecircncias puacuteblicas para sensibilizar a
sociedade em geral quanto a medidas concretas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos
soacutelidos (SALGUEIRO 2014)
Ressaltamos que esta temaacutetica aparece nas aacutereas quilombolas do estudo como um
problema grave e comum a todas pois natildeo haacute coleta de lixo e a praacutetica usual da populaccedilatildeo eacute
de queima e destino dos resiacuteduos soacutelidos ao relento
24
Lei 12305 de 02 de agosto de 2010 - Institui a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos Em seu artigo 6ordm estatildeo
os princiacutepios da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos soacutelidos I- a prevenccedilatildeo e a precauccedilatildeo II -o poluidor-pagador e
o protetor-recebedor III - visatildeo sistecircmica na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos que considere as variaacuteveis
ambiental social cultural econocircmica tecnoloacutegica e de sauacutede puacuteblica IV - e o desenvolvimento sustentaacutevel
184
De maneira geral a percepccedilatildeo sobre as oficinas eacute controversa
a) Permitiu reflexotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo seus impactos negativos e o que
pode ser feito para minimizaacute-los poreacutem a partir de uma postura individual Mas
iniciativas individuais por si soacute revertem neutralizam o que jaacute se apresenta como
ferida
[] e aiacute esse curso foi bom porque a gente pode conhecer outras coisas outros
impactos tambeacutem e pode refletir a respeito disso e pode pensar tambeacutem de que
forma que a gente pode estar agindo pra estaacute diminuindo esse impacto e natildeo se
colocar na posiccedilatildeo de hoje estou sendo impactada estou sendo viacutetima e aiacute natildeo se
colocar na posiccedilatildeo tambeacutem do que eacute que eu posso fazer para diminuir esse impacto
pra conseguir conviver com isso e viver com uma certa qualidade de
vida (Lideranccedila 1)
b) Capacitaccedilotildees que natildeo atingem a populaccedilatildeo
Capacitando as pessoas neacute em relaccedilatildeo agrave valorizaccedilatildeo do meio ambiente e tambeacutem
essa de sauacutede eacute com prevenccedilatildeo agrave sauacutede e aiacute eacute mais com lideranccedilas com agentes
comunitaacuterios de sauacutede mas eacute pouco natildeo atinge a populaccedilatildeo neacute ainda eacute pouco
(Gestora 4)
c) Mas tambeacutem uma accedilatildeo que ensinou muitas coisas sem ficar claro exatamente o quecirc
e para quecirc
Eu achei muito importante para a comunidade que a gente aprendeu vaacuterias coisas
(Grupo Focal 1)
E quanto ao Programa de Educaccedilatildeo Ambiental em seu conjunto seraacute que a sua
implementaccedilatildeo pode ser desvinculada das obras do projeto da transposiccedilatildeo Uma proposta
teacutecnica bem fundamentada e a aquisiccedilatildeo de conhecimentos por alguns segmentos da
populaccedilatildeo por si soacute garantem qualidade de vida e mudanccedila nos impactos e feridas
provocadas pelas obras Haacute gestor que acredita que sim
O Programa de Educaccedilatildeo Ambiental ele acontece independentemente da parte fiacutesica
da obra [] A parte fiacutesica tem vaacuterios programas para atender essa demanda enorme
essas vaacuterias questotildees que surgem neacute O que a gente percebe na parte de educaccedilatildeo
ambiental independente da questatildeo polecircmica ou natildeo da parte fiacutesica da obra as
pessoas gostam muito e o resultado hoje assim olhando eacute um resultado muito
positivo porque capacitamos muitas pessoas a cada dia que passa Entatildeo o programa
de educaccedilatildeo a equipe de educaccedilatildeo ela tem muita credibilidade em todos esses
puacuteblicos que ela permeou aiacute durante todo esse processo [] eacute uma avaliaccedilatildeo muito
positiva que eu faccedilo porque vocecirc daacute possibilidade da pessoa observar da pessoa
pensar e aprender coisas e eacute uma troca mesmo neacute Vocecirc estaacute sempre construindo
com o outro entatildeo eu acho que eu vejo a assim O projeto eacute beliacutessimo O Programa
de Educaccedilatildeo Ambiental ele eacute extremamente pensado e bem feito ele eacute apaixonante
185
entatildeo e isso a gente conseguiu transmitir para as pessoas que estaacute com a gente
nessas capacitaccedilotildees Entatildeo eu acho que o resultado eacute muito bom (Gestora 10)
A valorizaccedilatildeo dada ao formato da proposta ao teacutecnico ao que foi obtido como meta
institucional estaacute embutida na criacutetica feita por Lima (2004) ao apontar o tecnicismo como
um dos aspectos que reduz o campo da Educaccedilatildeo Ambiental com se fora homogecircneo e
consensual
O tecnicismo [] destaca e prioriza os aspectos teacutecnicos da questatildeo ambiental
encontrando nessa dimensatildeo tecnocientiacutefica as explicaccedilotildees e soluccedilotildees aos problemas
socioambientaisEssa leitura da realidade por se apoiar no saber da ciecircncia que eacute
reconhecido como o saber socialmente dominante se reveste de um poder especial e
aparece como argumento neutro objetivo e portador de uma autoridade que o
imuniza a qualquer questionamento (LIMA G 2004 p 87)
Mas haacute um outro entendimento que mostra como a praacutetica de educaccedilatildeo ambiental
poderia ser desenvolvida em aacutereas quilombolas construiacuteda a partir de poliacuteticas integradas
transversais em todas as aacutereas da gestatildeo de governo
[] Entatildeo se ele se aproximasse para dialogar praacute conseguir entender para criar
suas linhas a partir do entendimento para tirar os projetos a partir do entendimento
acho que ia funcionar melhor e natildeo a partir do entendimento que eles tem baseado
em livros ou baseados em outras comunidades normais que natildeo satildeo quilombolas
que natildeo tem a vivencia que a gente tem que natildeo tem a visatildeo de mundo que a gente
tem (Lideranccedila 1)
[] que se fizesse essa integraccedilatildeo essa volta que acho que a gente teve um
momento da gente andar junto mas agora perdeu de comeccedilar a discutir isso de
forma mais integrada Natildeo pode ser soacute educaccedilatildeo e sauacutede O Projeto eacute muito maior
passa por todas as secretarias Tem hora que o projeto vem como soacute fosse sauacutede e
educaccedilatildeo e a gente sabe que nenhum projeto mais eacute de duas Secretarias Eacute de
governo eacute de vestir a camisa Eacute aquela coisa da intersetorialidade Acho que o
projeto tinha que vir definindo em todas as secretarias qual eacute o papel de cada um
Eu acho que essa tem que ser a loacutegica entendeu No mais vamos esperar mais
felicidade pra Salgueiro mais desenvolvimento e o povo melhor
tambeacutem (Gestora 7)
Como consideraccedilatildeo geral avaliamos que o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental
carrega conteuacutedos que permeiam as aacutereas de educaccedilatildeo ambiente e sauacutede
Se queremos compreender o impacto da atividade humana sobre o ambiente e sobre
a sauacutede eacute necessaacuterio criar estrateacutegias especiacuteficas que a partir de conhecimentos
disciplinares e praacuteticas setoriais caminhem para uma abordagem
transdisciplinar (MINAYO 2002 p 175)
Para os sujeitos entrevistados essas abordagens transitam entre uma relaccedilatildeo direta e
necessaacuteria mas tambeacutem como o desafio de uma teia em construccedilatildeo Haacute uma compreensatildeo
186
de que caminham juntas quando o ser humano eacute considerado parte do ambiente estando
imbricadas as partes e o todo
Vida em harmonia com o ambiente rarr ambiente saudaacutevel rarr pessoa saudaacutevelrarr
inserida num ambiente saudaacutevel
[] Entatildeocaminham juntas eu acho que caminham juntas porque se vocecirc consegue
viver em harmonia com o ambiente que vocecirc vive vocecirc vai ter sauacutede Se vocecirc
consegue viver em harmonia com o ambiente vai ser um ambiente saudaacutevel e em
consequecircncia disso vocecirc vai ser uma pessoa saudaacutevel que estaacute inserida nesse
ambiente Entatildeo satildeo trecircs coisas que caminham juntinho educaccedilatildeo a sauacutede
ambiental e educaccedilatildeo ambiental (Lideranccedila 1)
[] Acho que todas satildeo uma ligadas uma com a outra Se a gente natildeo tem ambiente
a gente natildeo tem a sauacutede a gente natildeo tem educaccedilatildeo Pra tudo isso precisa de uma
forma do povo ter o conhecimento e o povo ainda natildeo tem o conhecimento mas eu
acho que todas essas coisas satildeo ligadas uma com a outra e a gente tem alguma
coisa jaacute tem natildeo eacute do zero que a gente tem (Lideranccedila 2)
Haacute uma compreensatildeo de meio ambiente como tudo que nos relacionamos referindo-se
tambeacutem ao ambiente construiacutedo e ao ambiente invisiacutevel
Em relaccedilatildeo ao meio ambiente eu acho que o ambiente eacute tudo que a gente estaacute se
relacionando satildeo as pessoas satildeo as casas eacute o rio satildeo as aacutervores Tudo o que eu
tenho que me relacionar pra poder conviver neacute E hoje tambeacutem tem um ambiente
construiacutedo um ambiente natural tudo eacute ambiente principalmente o ambiente que
tambeacutem natildeo eacute visiacutevel que eacute o ambiente das relaccedilotildees da convivecircncia e tudo isso
interfere na nossa qualidade de vida (Gestora 8)
A ideia de construccedilatildeo de ldquoteiardquo entre educaccedilatildeo ambiente e sauacutede nos remete ao que
afirma Minayo (2002 p 175) quando diz
A busca por aprofundar conceitos no encontro das aacutereas de sauacutede e ambiente eacute
crucial pois quando uma definiccedilatildeo das relaccedilotildees entre elas se produz sua
decodificaccedilatildeo na praacutetica tem consequecircncias reais tanto para a natureza quanto para
a populaccedilatildeo viva que a habita sejam vegetais animais ou gente
Haacute relatos com visotildees e percepccedilotildees de entrevistados sobre educaccedilatildeo ambiental e
educaccedilatildeo em sauacutede que permeadas por uma
Quanto agrave Educaccedilatildeo ambiental sujeitos do estudo a compreendem como
[] A forma da gente viver que agente tenta cada vez se harmonizar mais com a
natureza cada vez viver impactando menos a natureza eles satildeo educados e uma
forma disso eacute quando eles reconhecem que o ser humano ele natildeo foi educado com a
questatildeo do desmatamento que houve laacute o incomodo que eles tiveram o relato que a
gente tem de pessoas que sentiram o cheiro de aacutervores que foram desmatadas A
questatildeo das umburanas quem tinha laacute [] Quando eles veem os animais da caatinga
nos terreiros os animais da caatinga de forma geral nos terreiros eles olham e
conseguem perceber que o animal fica triste que o animal perdeu o habitat lsquoah esse
187
bichinho taacute perdido coitado natildeo tem mais pra onde ir vai ter que achar outro localrsquo
Entatildeo quando eles se incomodam com isso eacute uma educaccedilatildeo que eles tecircm [] Natildeo
precisou eles irem pra Faculdade natildeo precisou eles irem pra escola nenhuma pra
eles terem essa sensibilidade e aiacute Entatildeo educaccedilatildeo ambiental pra mim eacute isso eacute o
respeito aacute natureza eacute essa forma de aprender a conviver em harmonia com a
natureza que as pessoas de Santana jaacute tinham haacute muito tempo (Lideranccedila 1)
[] Olha eu acho que eacute mais do que necessaacuterio a Educaccedilatildeo Ambiental natildeo como
tema como tema da moda que vai passar Mas o meio ambiente hoje noacutes estamos
vivendo uma situaccedilatildeo de fenocircmeno tanto de seca como de enchente que se a
populaccedilatildeo tivesse se dado conta haacute mais tempo de que esse meio ambiente noacutes
estamos nele e somos parte dele e precisamos contribuir para que ele cada vez mais
esteja conservado para noacutes usufruir e os futuros moradores usufruiacuterem dele []
Agora eacute mais do que urgente a gente adotar essa EA como meacutetodo e como obrigaccedilatildeo
de governo mesmo tanto municipal estadual e federal para que a populaccedilatildeo possa
aprender a conviver melhor no meio ambiente Natildeo eacute com para o meio ambiente
mas que a gente possa conviver melhor como meio ambiente porque noacutes tambeacutem
somos parte desse meio ambiente (Lideranccedila 3)
A Educaccedilatildeo ambiental tratada como maneira de viver em harmonia com a natureza
sem destruiccedilatildeo uma ligaccedilatildeo estreita de ldquoempatia com a fauna e florardquo que provoca
incocircmodo e tristeza com os impactos gerados pelas obras do canal no territoacuterio
[] Acho que tem toda uma relaccedilatildeo natildeo eacute Natildeo daacute para trabalhar com gente sem
falar na relaccedilatildeo dessa gente com ele mesmo Porque ele faz parte tambeacutem do
ambiente natildeo estaacute fora dele Eu acho que tem tudo a ver Agora a gente precisa
avanccedilar mais nisso a gente ainda tem uma educaccedilatildeo ambiental muito ainda limitada
que eacute mais assim conteuacutedo e ciecircncia mas o conteuacutedo livre natildeo que eduque para o
meio ambiente [] Acho que o campo eacute muito mais fortalecido com isso do que a
cidade Em algumas aacutereas da cidade a gente taacute tirando alguns encaminhamentos por
exemplo o lixo eacute um objeto de estudo (Gestora 7)
Essas percepccedilotildees se aproximam da abordagem da Ecopedagogia quando em sua
compreensatildeo sobre a natureza trata-a com ldquo[] um todo dinacircmico relacional harmocircnico e
auto-organizado em interaccedilatildeo com as relaccedilotildees que se estabelecem na sociedaderdquo (AVANZI
2004)
Mas a ldquourgecircnciardquo referida por lideranccedila quilombola para que ldquogovernos adotem essa
educaccedilatildeo ambiental como meacutetodo e obrigaccedilatildeordquo precisa ser vista com ressalvas para natildeo
derivar ao que eacute chamado pela Ecopedagogia como ldquoambientalismo superficialrdquo
Enquanto o ambientalismo superficial apenas se interessa por um controle e gestatildeo
mais eficazes do ambiente natural em benefiacutecio do lsquohomemrsquo o movimento de
ecologia fundamentada na eacutetica reconhece que o equiliacutebrio ecoloacutegico exige uma
seacuterie de mudanccedilas profundas em nossa percepccedilatildeo do papel que deve desempenhar o
ser humano no ecossistema planetaacuterio (GUTIEacuteRREZ PRADO 2000 apud
AVANZI 2004 p 40)
Essa abordagem tece uma criacutetica agraves praacuteticas de educaccedilatildeo ambiental que muitas vezes
se fundamentam numa concepccedilatildeo de ambiente afastada das questotildees sociais
188
A educaccedilatildeo Ambiental muitas vezes limitou-se ao ambiente externo
sem se confrontar com os valores sociais com os outros com a
solidariedade natildeo pondo em questatildeo a politicidade da educaccedilatildeo e do
conhecimento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 40)
Quanto agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede chama nossa atenccedilatildeo a percepccedilatildeo de ser considerada
como a base de um trabalho de promoccedilatildeo em sauacutede mas restrito ao natildeo adoecer Uma
menccedilatildeo em atitudes individuais com foco comportamental mesmo trazendo a questatildeo da
promoccedilatildeo
Eu acho que eacute a base a educaccedilatildeo em sauacutede Hoje muitas vezes a gente natildeo
consegue trabalhar a promoccedilatildeo em sauacutede fica mais na parte mais curativa mas a
gente tem que resgatar a educaccedilatildeo sem sauacutede porque a gente tem que fazer com que
as pessoas natildeo adoeccedilam A gente tem que fazer com que as pessoas que a gente
consiga fazer realmente a prevenccedilatildeo que a gente consiga fazer a promoccedilatildeo em
sauacutede que a gente consiga diminuir esses iacutendices de gravidez na adolescecircncia com a
conscientizaccedilatildeo (Gestora 3)
Educaccedilatildeo em Sauacutede como trabalho de construccedilatildeo de transformaccedilatildeo do olhar da
realidade e de uma nova atitude Mas tambeacutem como uma aacuterea que precisa ser trabalhada
tecnicamente respeitando todas as etapas de um planejamento
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em sauacutede eu acho que tambeacutem ela tem que ter um
percurso e tem que ser planejado eu tenho que negociar conteuacutedo eu tenho que
planejar etapas para trabalhar no processo porque tambeacutem natildeo adianta eu acreditar
ter um ideal se eu natildeo botar o peacute no chatildeo e traccedilar estrateacutegias fazer o caminho Isso
eu acho importante tambeacutem que eu aprendi (Gestora 8)
Ao referir-me ao campo da Educaccedilatildeo Ambiental e da Educaccedilatildeo em Sauacutede natildeo poderia
deixar de mencionar a ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambientalrdquo instituiacuteda pela Funasa a partir de
2010 cujas consideraccedilotildees constam no referencial teoacuterico desta dissertaccedilatildeo
Na percepccedilatildeo de uma entrevistada haacute clareza do processo embrionaacuterio na construccedilatildeo
conceitual desta abordagem
[] Porque educaccedilatildeo em sauacutede ambiental eacute uma concepccedilatildeo recente Eacute estaacute em
construccedilatildeo Na verdade a gente natildeo tem essa visatildeo ainda mais estaacutevel
natildeo (Gestora 8)
Em levantamento documental de trabalhos com esta temaacutetica encontramos apenas um
artigo intitulado ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental Estrateacutegia de intervenccedilatildeo sobre os riscos e
exposiccedilatildeo a agrotoacutexicos na comunidade de Matotildees- Caucaia-CErdquo de autoria de Leonardo
Guilbert Cavalcante Arauacutejo como conclusatildeo do curso de especializaccedilatildeo em Vigilacircncia em
Sauacutede Ambiental da Escola de Sauacutede Puacuteblica de CEARAacute - ESP em 2010 que na verdade
189
tem como objeto de estudo a sauacutede ambiental e um dos seus objetivos especiacuteficos apresenta a
intenccedilatildeo de desencadear accedilotildees educativas em sauacutede ambiental
Estas consideraccedilotildees satildeo na verdade para sinalizar que os eixos de atuaccedilatildeo da aacuterea de
ldquoEducaccedilatildeo em sauacutede ambientalrdquo carregam saberes que perpassam pela sauacutede ambiental pela
educaccedilatildeo ambiental educaccedilatildeo em sauacutede e outros saberes das ciecircncias sociais que necessitam
estar articulados de forma transdisciplinar Nos parece que haacute necessidade de uma maior
apropriaccedilatildeo e aprofundamento quanto as concepccedilotildees que fundamentam tais saberes
O desafio eacute construir uma compreensatildeo criacutetica e holiacutestica que promova uma praacutetica
comprometida com a realidade de populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas assentadas etc com
respeito a suas diferenccedilas mas que principalmente as envolva no processo de planejamento de
accedilotildees e projetos que impactam significativamente em suas vidas e territoacuterios
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O PBA 17
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas ndash ou PBA 17 eacute um dos 38
Programas Baacutesicos Ambientais do PISF estruturado para ldquominimizar os impactos
socioambientais negativosrdquo preliminarmente apontados nos Estudos Ambientais realizados
pelo empreendimento sendo classificado como um Programa Compensatoacuterio O PBA 17 tem
interface com outros 5 Programas Ambientais dentre eles o PBA 4 objeto de avaliaccedilatildeo desta
dissertaccedilatildeo
A justificativa para realizaccedilatildeo do PBA 17 se fundamenta no argumento de que
A composiccedilatildeo do territoacuterio rural brasileiro eacute extremamente diversificada e
compreende uma seacuterie de categorias sociais distintas agraves quais estatildeo atrelados
tambeacutem direitos diferenciados ao contraacuterio do que se supunha no passado quando
da elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Ao contemplar essa diversidade eacute de extrema
importacircncia que os direitos baacutesicos dessas parcelas da populaccedilatildeo brasileira sejam
plenamente atendidos [] (BRASIL 2005 p 3)
O Programa eacute constituiacutedo por dois subprogramas o de Regularizaccedilatildeo das Terras
Quilombolas e o de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas Nossa avaliaccedilatildeo eacute
voltada ao Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas haja visto que
questotildees referentes agrave Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas foram abordadas no capiacutetulo 6
O objetivo do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas eacute
ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-estrutura
de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo afirma documento (BRASIL 2005
p 4)
190
A populaccedilatildeo que o PBA 17 abrange envolve 13 comunidades quilombolas em
Pernambuco num total de 1280 famiacutelias sendo 9 comunidades quilombolas situadas em
Mirandiba (Araccedilaacute Caruru Feijatildeo Januaacuterio Juazeiro Grande Pedra Branca Serra do
Talhado Serra Verde e Queimadas) Uma em FlorestaCarnaubeira da Penha (Massapecirc) e 3
em Salgueiro - Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e Contendas (BRASIL 2005 p 6)
Quanto agrave metodologia do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas eacute apontada uma abordagem participativa quando afirma que
O levantamento das necessidades de infra-estrutura nessas comunidades deveraacute ser
empreendido de forma participativa atraveacutes da aplicaccedilatildeo de dinacircmicas de grupo A
participaccedilatildeo da comunidade pressupotildee a existecircncia de divisatildeo no poder decisoacuterio
passando pelo controle das partes envolvidas no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo
dos projetos a serem implementados Portanto participar eacute tomar parte nas decisotildees
e ter parte nos resultados (BRASIL 2005 p 9)
As metas previstas para o Subprograma satildeo a melhoria dos indicadores
socioambientais e o desestiacutemulo agrave implementaccedilatildeo e agrave manutenccedilatildeo de programas
assistencialistas e paternalistas que gerem dependecircncia das populaccedilotildees quilombolas em
relaccedilatildeo aos organismos puacuteblicos (BRASIL 2005 p 4)
Para as comunidades quilombolas do nosso estudo foram previstas como ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo as accedilotildees e obras relacionadas no Quadro 14
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA ACcedilOtildeES PREVISTAS PARA AS 13
COMUNIDADES
Gestatildeo junto a Secretaria Estadual do
Trabalho e Sistema SEBRAE para
viabilizaccedilatildeo de capacitaccedilatildeo de jovens
quilombolas para atuaccedilatildeo como agentes de
turismo
Implantaccedilatildeo de placas de sinalizaccedilatildeo da
localizaccedilatildeo das comunidades Quilombolas
Identificaccedilatildeo das demandas das
Comunidades Quilombolas visando
desenvolvimento
Levantamento das demandas por
infra‐estruturas nas comunidades
quilombolas com base em meacutetodos
participativos
Construccedilatildeo de 50 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros
(Comunidade contemplada no Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-
Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais ndash PBA 15)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL
Construccedilatildeo de 20 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros (Por
dispor de abastecimento de aacutegua)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE C DAS CRIOULAS
(1) elaboraccedilatildeo de um plano de desenvolvimento territorial de forma
participativa (2) gestatildeo junto agrave Funasa para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo
de uma ETA em Beleacutem do Satildeo Francisco e de uma adutora desta
cidade ateacute a comunidade (18 km) (3) construccedilatildeo de reservatoacuterio
elevado com volume uacutetil igual a 144msup3 (4)implantaccedilatildeo de rede de
distribuiccedilatildeo de aacutegua com 6000 m de tubulaccedilatildeo de PVC com diacircmetros
de 50 a 100 mm e ramais domiciliares totalizando 6200 metros de
tubulaccedilatildeo em PVC de frac12 polegada (5) gestatildeo junto ao Governo
Estadual para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas
seacutepticas e sumidouros
(6) gestatildeo junto agrave Prefeitura de Salgueiro para viabilizaccedilatildeo da
construccedilatildeo de 500 novas moradias de alvenaria para substituiccedilatildeo das
casas de taipa (7) construccedilatildeo de mais 3 salas de aula na escola (8)
construccedilatildeo de um laboratoacuterio de informaacutetica para equipar a escola (9)
construccedilatildeo de um pousada de 300 msup2 a ser administrada pela
Associaccedilatildeo Quilombola(10) Melhoria de estradas de acesso agrave
comunidade de Conceiccedilatildeo de Crioulas dentre outras comunidades
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees do PBA 17 ndash 2005 e Resumo Executivo ndash julho 2012
191
A disponibilidade de informaccedilotildees para avaliar as accedilotildees descritas no quadro 14 satildeo
precaacuterias natildeo tendo sido encontrado em documentos oficiais um detalhamento sobre o quecirc e
como foram implementadas as obras pretendidas O relato de entrevistados expressa a
morosidade e natildeo realizaccedilatildeo do que foi prometido
Nas comunidades de Santana e ContendasTamboril a construccedilatildeo de banheiros uacutenica
obra prevista natildeo havia sido iniciada ateacute o segundo semestre de 2013
[] Olhe eu sei que foi feito novamente jaacute foi feito vaacuterias vezes a questatildeo do
mapeamento para fazer os banheiros nas residecircncias que natildeo tem banheiros mas
tambeacutem eacute uma coisa que estaacute bem atrasada porque as casas que jaacute foram feitas tecircm
algumas que jaacute estatildeo rachadas e os banheiros agora ainda foi feito um novo
levantamento um novo mapeamento pra ver se eacute construiacutedo os banheiros []
(Lideranccedila 1)
Em Conceiccedilatildeo das crioulas a informaccedilatildeo tambeacutem referente agrave construccedilatildeo de banheiros
eacute confusa e moradores afirmam ter sido construiacutedo apenas em um dos siacutetios da comunidade
A morosidade e incerteza quando a realizaccedilatildeo da obra fez com que moradores assumissem a
construccedilatildeo por conta proacutepria
Teve a questatildeo dos banheiros Isso soacute no siacutetio Paula [] Foi feito no Sitio Paula e
estava previsto para aqui [] Foi feito pela transposiccedilatildeo Ah foi pela Funasa
Eram banheiros pra caacute Esses banheiros jaacute foi feito o GPS e tudoFoi feito o
levantamento e ateacute agora natildeo chegou [] Pelo que eu entendi era aqui praacute Vila de
Conceiccedilatildeo [] Essa vila aqui e a Vila da Uniatildeo ali [] Ai foi feito um levantamento
atraveacutes dos agentes de sauacutede parece que deu 248 mas isso jaacute faz tempo uns
trecircsquatro anos Agora eles tiveram aqui esse ano parece que abril pra maio eles
tiveram aqui fazendo um levantamento mas muita gente que tinha dado os nomes jaacute
tinham construiacutedo seus banheiros outros jaacute tinham ido embora ai natildeo deu a cota
nessas duas Vilasaiacute eles andaram fazendo levantamento na zona rural Siacutetio
Lagoinha na divisa com Atikum (Grupo Focal 1)
Mas o nosso foco de avaliaccedilatildeo eacute o que vem sendo realizado pela Funasa-SuestPE
referente agrave construccedilatildeo de casas de alvenaria em substituiccedilatildeo agraves de taipa Esta foi uma accedilatildeo
inserida posteriormente no projeto da transposiccedilatildeo fruto da parceria FUNASA-MI a partir de
2008 Esta atividade segundo relato de lideranccedila foi a principal obra de compensaccedilatildeo
realizada pelo projeto
[] foram pactuadas vaacuterias obras de compensaccedilatildeo como eacute chamado para que a
comunidade sofresse os impactos mas que tivesse alguns benefiacutecios tambeacutem por
conta da obra e algumas dessas coisas elas foram realmente feitas a exemplo da
substituiccedilatildeo das casas de taipas por casas de alvenaria [] (Lideranccedila 1)
Dentre as metas apontadas no PBA 17 inferimos que as intervenccedilotildees iniciadas em
2008 pela Funasa estatildeo diretamente relacionadas a de ldquomelhoria dos indicadores
192
socioambientaisrdquo pois trazem como objetivo contribuir para o controle da doenccedila de Chagas
Na aacuterea do estudo haacute a presenccedila de triatomiacuteneos inseto transmissor da doenccedila de Chagas
conhecido popularmente como ldquobarbeirordquo ldquobicudordquo ldquoprocotoacuterdquo e encontrado em construccedilotildees
de taipa principal justificativa para as obras a serem executadas afirmam moradores
[] Foi falado assim lsquoque ia trocar a casa de barro pela alvenaria mode o bicudorsquo
[] A sauacutede em geral [] e as casas velhas que fosse derrubada e atirada praacute longe
Natildeo era pra fazer perto natildeo era pra deixar em peacute natildeo era pra deixar a cerca perto de
casa pra natildeo juntar o barbeiro pra vim pra casa (Grupo Focal 2)
Subjacente ao objetivo do Subprograma esta parceria incluiu obras natildeo apenas em
aacutereas quilombolas mas tambeacutem em aacutereas indiacutegenas inseridas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Indiacutegenas o PBA12 As obras estatildeo sendo executadas
com recursos do PAC nas chamadas Agraverea Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) do Projeto da transposiccedilatildeo (BRASIL 2012 p 6)
Em consonacircncia com a atual missatildeo institucional da Funasa a de ldquoPromover a sauacutede
puacuteblica e a inclusatildeo social por meio de accedilotildees de saneamento e sauacutede ambientalrdquo acreditamos
que a parceria FunasaMI se insere no Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle
da Doenccedila de Chagas (MHCDCh) que consta do leque de suas accedilotildees e programas
institucionais Este Programa fomenta a execuccedilatildeo natildeo apenas da reconstruccedilatildeo domiciliar
mas tambeacutem a sua restauraccedilatildeo e a apresenta como justificativa o argumento de que
A existecircncia de habitaccedilotildees cujas condiccedilotildees fiacutesicas favorecem a colonizaccedilatildeo de
triatomiacuteneos associados agrave pressatildeo de exemplares de procedecircncia silvestre
reinfestando o peri e o intradomiciacutelio a dificuldade de ecircxito no controle desses
vetores com inseticidas constituem fatores que recomendam a Melhoria da
Habitaccedilatildeo como medida essencial no Programa de Controle da Doenccedila de
Chagas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013a)
Para o referido Programa - MHCDCh
Seratildeo elegiacuteveis os municiacutepios localizados em aacuterea endecircmica da doenccedila de Chagas
com a presenccedila de vetor no intra ou peridomiciacutelio e com a existecircncia de habitaccedilotildees
que favoreccedilam a colonizaccedilatildeo do Triatomiacuteneo transmissor da doenccedila de Chagas que
sejam classificados como de alto risco de transmissatildeo da doenccedila conforme dados da
Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede (SVS) do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2014)
Neste cenaacuterio o municiacutepio de Salgueiro estaacute classificado como de alto risco de
transmissatildeo para doenccedila de Chagas segundo lista da Secretaria de Vigilacircncia agrave Sauacutede e accedilotildees
de caraacuteter educativo satildeo recomendadas como ldquoreforccedilordquo aos benefiacutecios da melhoria
habitacional (BRASIL 2014)
193
Tratando-se de trabalho em aacutereas quilombolas tal incumbecircncia foi assumida pela
Funasa a partir de 2003 com o Novo Modelo de Gestatildeo Puacuteblica do Governo Federal cujo
compromisso passou a incluir socialmente a populaccedilatildeo com difiacutecil acesso a serviccedilos de
atenccedilatildeo agrave sauacutede e saneamento Neste contexto accedilotildees da Funasa passaram a ser direcionadas
para municiacutepios com baixa cobertura de serviccedilos de saneamento e agraves populaccedilotildees vulneraacuteveis
(assentados remanescentes de quilombos e de reservas extrativistas) afirma Relatoacuterio de
Gestatildeo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Quanto ao projeto da transposiccedilatildeo a responsabilidade assumida pela Funasa em
Pernambuco abrangeu uma aacuterea maior de municiacutepios e populaccedilatildeo que a definida no
Subprograma de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas Foram pactuadas accedilotildees em
sete municiacutepios sendo trecircs em aacutereas indiacutegenas nas etnias Trukaacute em Cabroboacute Pipipatilden em
Floresta e Kambiwaacute em Ibimirim e em 18 comunidades quilombolas localizadas nos
municiacutepios de Cabroboacute (03) Carnaubeira da Penha (01) Custoacutedia (03) Mirandiba (08) e
Salgueiro (03) A estimativa institucional eacute de que seratildeo beneficiadas com melhorias
habitacionais cerca de quatro mil pessoas dentre moradores de aacutereas indiacutegenas e
quilombolas num total de 655 casas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2009)
Deste universo informaccedilotildees mais recentes mostraram que ateacute outubro de 2012 foram
concluiacutedas 448 casas o que representava 684 do total planejado (FUNDACcedilAtildeO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012a)
As obras satildeo executadas por empresa licitada pela Funasa de Pernambuco sob
coordenaccedilatildeo da Diesp - Divisatildeo de Engenharia de Sauacutede Puacuteblica e apesar de natildeo constar
como meta em seu Plano Operacional (2011) a accedilatildeo eacute citado como
Acompanhamento e Fiscalizaccedilatildeo das Obras concernentes ao lsquoDestaque
Orccedilamentaacuteriorsquo firmado entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e a
FunasaPresidecircncia o qual proporciona a execuccedilatildeo de obras contempladas no
lsquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrionalrsquo de forma a atender agraves exigecircncias da Licenccedila Ambiental do IBAMA
tendo-se originalmente como objeto Construccedilatildeo de 655 (seiscentos e cinquumlenta e
cinco) Unidades Habitacionais (substituiccedilatildeo de casas de taipa por casas de alvenaria)
e Construccedilatildeo de 04 (quatro) Postos de Sauacutede beneficiando comunidades indiacutegenas e
remanescentes de quilombos (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Em Relatoacuterio Executivo o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo apresentava ateacute junho de 2012
uma execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria de 71 para o PBA-17 em relaccedilatildeo as metas e atividades
previstas Mas diante da pouca visibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees contidas no quadro 14
inferimos ter havido uma destinaccedilatildeo do recurso principalmente para as obras de melhorias
habitacionais
194
Em Salgueiro essas obras foram realizadas nas trecircs comunidades quilombolas do
estudo num total de 106 casas tendo sido 100 concluiacutedas enquanto meta prevista pelo
projeto da transposiccedilatildeo (Quadro 15)
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria COMUNIDADE QUILOMBOLA OBRA PREVISTA (CASAS
DE ALVENARIA)
OBRA EXECUTADA
SANTANA 8 8
CONTENDASTAMBORIL 16 16
CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 82 82
TOTAL 106 106
Fonte A autora a partir de dados da Planilha FunasaSuest-PE (Diesp) - Outubro2012
Mas ainda haacute casas de taipa em todas as aacutereas quilombolas de Salgueiro e
dependendo das condiccedilotildees existentes continuam representando risco de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas para os moradores
O Manual da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b) ldquoElaboraccedilatildeo de Projeto de
Melhoria Habitacional para o controle da Doenccedila de Chagasrdquo traz os princiacutepios de
continuidade e contiguumlidade como criteacuterio importante para o controle de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas
ldquoVisando o maior impacto das accedilotildees no controle do vetor as melhorias deveratildeo ser
concentradas evitando-se a pulverizaccedilatildeo das mesmas obedecendo para isso os princiacutepios de
continuidade e contiguidaderdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b p 11)
Mas estes princiacutepios natildeo foram respeitados haja visto a natildeo substituiccedilatildeo ou
restauraccedilatildeo de 100 das casas de taipa das comunidades na accedilatildeo pelo projeto da
transposiccedilatildeo comprometendo assim o propoacutesito de controle na transmissatildeo da doenccedila de
Chagas principal justificativa para execuccedilatildeo das obras como medida compensatoacuteria
Agora com relaccedilatildeo as casas entatildeo soacute dava pra fazer x casas entatildeo cada comunidade
recebeu uma quantidade de casas entatildeo ficou assim muito rarefeito Entatildeo naquela
comunidade x tinha 10 casas mas ela soacute ia receber 04 casas entatildeo natildeo foi saneada
totalmente Na verdade o que se criou foi um paliativo Natildeo houve nada foi zero
Natildeo foi saneada a aacuterea porque a partir do momento que vocecirc constroacutei trecircs casas
mas se ficar uma casa ela estaacute contaminando a aacuterea Para que haja o saneamento da
aacuterea ela tem quer ter tanto eacute que tem que ter o princiacutepio da continuidade e da
contiguidade ou seja toda aquela aacuterea ela vai sendo saneada e vai abrangendo
entatildeo toda aquela aacuterea que ela passou essa aacuterea jaacute natildeo tem mais nada (Teacutecnico 1)
A gente tem uma comunidade que ela sofre muito com a questatildeo de doenccedilas de
Chagas embora aqui na Vila tenha poucas casas de taipa mas jaacute foi bem grande o
nuacutemero e ai por fora eacute que tem bastante entatildeo isso mudou acho que vai diminuir
bastante a incidecircncia de chagas dentro da comunidade [] Tem ainda tem mas se
fosse feito apenas uma jaacute era um passo jaacute natildeo eacute mais o zero [] entatildeo foi bom
(Grupo Focal 1)
195
Com a percepccedilatildeo de entrevistados fazemos uma avaliaccedilatildeo sobre a adequaccedilatildeo das casas
construiacutedas ao modo de vida das populaccedilotildees rurais quilombolas trazendo os aspectos criacuteticos
e possiacuteveis benefiacutecios destas obras para as famiacutelias
O modelo habitacional para as comunidades quilombolas e indiacutegenas de Pernambuco
foi elaborado pelo Departamento de Engenharia da Funasa em Brasiacutelia com uma concepccedilatildeo
de moradia mais urbana que rural sem adequaccedilatildeo agrave realidade local cujo projeto apresentava a
possibilidade de dois modelos uma para casa de quatro quartos e outro de dois quartos
dependendo do nuacutemero de familiares por habitaccedilatildeo natildeo sendo permitida nenhuma alteraccedilatildeo
Um projeto estruturado verticalmente sem consulta preacutevia agraves famiacutelias sem considerar
os desejos e tradiccedilatildeo de moradia das comunidades quilombolas e sem avaliar outras
alternativas de melhoria habitacional E para muitos moradores significando uma mudanccedila
que natildeo satisfez
[] Era um projeto que jaacute veio pronto Quem tinha uma famiacutelia maior tinha uma
maiorzinha quem tinha uma famiacutelia menor tinha uma mais pequena [] (Grupo
Focal 2)
A uacutenica coisa que a gente estava fazendo era substituir a casa de taipa pela de
alvenaria melhorando a sua qualidade de vida e muitas vezes jaacute havia ateacute aquela
preocupaccedilatildeo seraacute que realmente era isso que ele estava querendo [] mas houve
grandes questionamentos durante a execuccedilatildeo das casas quer dizer [] Era porque
natildeo queriam perder a casa ldquoporque a minha casa apesar de ser de taipa mas era uma
casa boardquo ldquo Porque essas casas novas natildeo tinham espaccedilo suficienterdquo natildeo se
respeitou a aacuterea que cada casa tinha quer dizer eu particularmente acharia que cada
casa deveria ser feito um levantamento da casa que existia do jeito que ela era e
transformaria ela apenas se melhoraria a qualidade da casa [] Eacute mas foi feito um
negoacutecio padratildeo tipo o tamanho eacute esse sem levar em consideraccedilatildeo as peculiaridades
de cada famiacutelia (Teacutecnico 1)
[] Na primeira conversa era []vai ter a substituiccedilatildeo da casa de taipa para casa de
alvenaria aiacute depois veio o projeto pronto natildeo mas essa casa eacute pequena mas a planta
assim eacute muito apertadinho natildeo tem sala Natildeo o projeto eacute pronto a planta da casa eacute
essa tem que ser executado dessa forma Entatildeo natildeo podia ser feito mudanccedila
nenhuma Depois que fosse entregue aiacute a famiacutelia pode mudar mas antes de ser
entregue natildeo podia ser feita mudanccedila nenhuma na casa ateacute serem entregues tem
que se entregues todas padronizadas (Lideranccedila 1)
[] O ruim eacute porque satildeo casas padronizadas elas natildeo respeitam o pensamento que
as pessoas entendem sobre essas casas a miacutestica disso entatildeo [] ( Grupo Focal 1)
Mas refiro-me novamente agraves normas teacutecnicas da Funasa que trazem outra orientaccedilatildeo
afirmando que ldquoos modelos natildeo pretendem padronizar os projetos e o objetivo eacute oferecer
subsiacutedios e sugestotildees devendo obrigatoriamente ser adequados agraves caracteriacutesticas da
localidade []rdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b)
196
A proacutepria accedilatildeo em si foi alvo de criacuteticas por vaacuterios fatores A moradia de taipa faz
parte da cultura local a construccedilatildeo em alvenaria nem sempre controla o risco de transmissatildeo
de doenccedila de Chagas a melhoria da casa de taipa representa menor custo aos cofres puacuteblicos
manteria o tamanho original das casas seria protegida contra a presenccedila de triatomiacuteneo e
teria sido uma alternativa mais compatiacutevel com a realidade quilombola eacute o que traz o relato
de lideranccedila
[] E a questatildeo da substituiccedilatildeo da casa de taipa por casa de alvenaria eacute assim eacute
porque eu particularmente a minha opiniatildeo eacute que a casa de taipa ela faz parte da
nossa cultura natildeo eacute Entatildeo eu acho que deve ser dada uma melhorada porque a
gente faz com pouco recurso entatildeo a questatildeo de fazer o reboco a madeira ser
trocada ser passado laacute o produto eu concordo com tudinho agora substituir casa de
taipa por casa de alvenaria eu acho que natildeo elimina a questatildeo do barbeiro que eacute o
foco que eles colocam porque muitas casas casarotildees que tem em Santana que natildeo eacute
revestido que natildeo eacute rebocado eacute alojamento de barbeiro tambeacutem E eacute de alvenaria e
a gente encontra barbeiro (Lideranccedila 1)
Aspectos relevantes como respeito aos haacutebitos e cultura local e envolvimento da
comunidade natildeo foram considerados na realizaccedilatildeo desta obra conforme consta no Manual da
Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b p 8)
As intervenccedilotildees pela Melhoria Habitacional devem levar em consideraccedilatildeo aspectos
da transmissatildeo da doenccedila comportamento e biologia dos vetores e hospedeiros
vertebrados mas acima de tudo deve ser planejada e executada tendo a comunidade
como condutora e parceira desse processo uma vez que as accedilotildees seratildeo efetuadas em
suas casas devendo ser respeitados os seus haacutebitos e sua cultura
E ao natildeo ser discutida outra alternativa para moradia em aacutereas quilombolas a
exemplo da melhoria ou restauraccedilatildeo das casas de taipa existentes trazemos novamente o que
preconiza o Programa MHCDCh natildeo contemplado nas accedilotildees do projeto da transposiccedilatildeo
O Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle da Doenccedila de Chagas
(MHCDCh) fomenta a execuccedilatildeo dos seguintes objetos Restauraccedilatildeo ndash reforma de
domiciacutelio visando agrave melhoria das condiccedilotildees fiacutesicas da casa bem como do ambiente
externo (peridomiciacutelio) Reconstruccedilatildeo ndash caso especial quando a estrutura da
habitaccedilatildeo natildeo suporte as melhorias necessaacuterias a mesma deveraacute ser demolida e
reconstruiacuteda (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b grifo nosso)
Durante todo processo a consulta o diaacutelogo e as negociaccedilotildees com a populaccedilatildeo
quilombola ficaram restritas a escolha das famiacutelias que seriam beneficiadas diferentemente
do proposto na metodologia do Subprograma que pretendia ser participativa com a
ldquocomunidade dividindo o poder decisoacuterio no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos projetos
a serem implementadosrdquo (BRASIL 2005 p 9)
197
De fato o que coube como decisatildeo ao povo quilombo neste processo foi apenas a
identificaccedilatildeo das famiacutelias processo que foi conduzido e definido pelas lideranccedilas e
Associaccedilatildeo de moradores de cada comunidade Criteacuterios foram definidos em cada quilombo
com niacuteveis diferenciados de detalhamento e rigor segundo nuacutemero de casas a serem
substituiacutedas dispersatildeo territorial tamanho das famiacutelias e interesses poliacuteticos locais
[] Como a gente fez A gente fez pela questatildeo de famiacutelias de quantas pessoas
moravam na casa quantas crianccedilas tinham na casa e a questatildeo de renda mesmo
Quando a gente mapeou tambeacutem as casas que tinham uma parte de taipa e uma
parte de alvenaria a que tinha maior parte de taipa a gente mapeou tambeacutem como
toda de taipa e aiacute quando a gente foi pro processo de escolha tambeacutem a gente deu
prioridade para quem a casa era toda de taipa pra quem tinha mais crianccedila na casa e
depois quem tinha um poder aquisitivo menor Fomos criando todos esses criteacuterios
[] Atraveacutes da associaccedilatildeo [] depois fizemos assembleia na associaccedilatildeo pra vecirc se
todo mundo concordava com as pessoas que tinham sido selecionadas e aiacute o pessoal
concordou a gente conseguiu fechar os oito nomes e a gente ainda colocou criou
mais um criteacuterio laacute em Santana mesmo que foi colocar a casa em nome da mulher
porque muitas vezes o homem vai embora muitas vezes o homem separa da mulher
e pra natildeo ter essa questatildeo de dividir essa casa ou de vender essa casa de acontecer
alguma coisa nesse sentido a gente colocou todas as casas em nome das mulheres
(Lideranccedila 1)
Pela comunidade Pelas lideranccedilas locais elas que faziam Natildeo interferiu porque no
caso se ela natildeo podia fazer tudo de uma vez ai entatildeo foi jogado para a comunidade
resolver As lideranccedilas foi que resolveram (Teacutecnico 1)
Desde o iniacutecio do projeto foi feita uma exigecircncia todas as casas de taipa teriam que
ser derrubadas por tratar-se de uma substituiccedilatildeo alegava a Funasa Condiccedilatildeo tambeacutem
questionaacutevel e polecircmica para a comunidade pois a dinacircmica de crescimento das famiacutelias
implica necessidade de novas moradias Haacute tambeacutem um significado em relaccedilatildeo a ldquovelha
casardquo na histoacuteria de pertencimento e no processo identitaacuterio das famiacutelias quilombolas
Eu penso assim que essa questatildeo do derrubar a casa velha deveria ser repensado
tambeacutem Porque uma casa natildeo eacute soacute uma construccedilatildeo em si ali teve momentos ali
teve uma vida teve uma histoacuteria aquela casa praacute vocecirc chegar laacute ai vai
simplesmente passou para uma nova etapa e derruba tudo natildeo eacute soacute derrubar a
parede vocecirc derrubou uma histoacuteria que teve ali naquela casa entatildeo isso deveria ser
repensado [] (Grupo Focal 1)
[] Agora eu natildeo vejo com bons olhos essa questatildeo de substituiccedilatildeo tambeacutem porque
as casas de taipa agrave medida que a famiacutelia vai aumentando os filhos vatildeo nascendo as
pessoas vatildeo aumentando as casas (Lideranccedila 1)
Aspectos relacionados agrave sauacutede como a diminuiccedilatildeo da poeira eacute visto como importante
pelo quilombolas principalmente no contexto de construccedilatildeo de uma grande obra como o
canal da transposiccedilatildeo que provoca um desequiliacutebrio ambiental com maior poluiccedilatildeo
atmosfeacuterica
198
Tem muitos que ficaram [] Eu acho que ficaram muito satisfeitos Ajudou na
questatildeo da poeira neacute porque a casa de barro tem muita poeira E tambeacutem o teto da
casa porque a casa de barro geralmente o teto ele eacute de telha muito velha e tambeacutem
sem contar os barbeiros que fica nas brechas neacute E hoje natildeo as casas tudo
bonitinhas rebocadinhas rebocada [] A telhinha toda dessa ceracircmica natildeo eacute telha
velha comum que aquela telha comum junta muita terra (Grupo Focal 3)
O que podemos inferir eacute que apesar de haver moradores satisfeitos em ter acesso a
uma casa de alvenaria este projeto habitacional foi executado em seu conjunto sem
considerar os costumes da comunidade sem conhecer o real significado de uma habitaccedilatildeo de
cada ambiente da casa cujo significado e representaccedilatildeo social parece natildeo ter sido apreendido
no momento de pensar e elaborar a concepccedilatildeo das casas
E particularizando alguns ambientes da casa a cozinha por exemplo aleacutem do
tamanho reduzido natildeo inseriu o fogatildeo agrave lenha utensiacutelio principal no preparo dos alimentos
para comunidades quilombolas que vivem na zona rural Com isto o uso de fogatildeo agrave gaacutes foi
imposto desrespeitando o haacutebito de preparo dos alimentos com fogatildeo de lenha comum em
todas as casas da comunidade
[] inclusive quando foi se passar de uma casa pra outra teve pessoas na
comunidade que foi preciso se desfazer de alguma coisa de dentro da casa pra poder
entrar Porque escolhia ou botava os trens ou ficava na rua [] Nem tem sala e nem
tem cozinha neacute na verdade [] Eacute Soacute tem quarto [] Porque quase natildeo tem
cozinha soacute tem quarto (Grupo Focal 2)
[] Entatildeo a gente tem casa de taipa enorme e aiacute as casas de taipa que satildeo
substituiacutedas jaacute tem uma planta que mesmo as casas de quatro quartos que satildeo pra
famiacutelias que tem mais filhos ela eacute muito pequenininha natildeo tem sala A sala eacute um
corredorzinho a cozinha muito espremidinha muito apertadinha (Lideranccedila 1)
[] mas tem a questatildeo tambeacutem da cozinha que normalmente no interior vocecirc tem o
fogatildeo agrave lenha vocecirc tem aquele fogatildeo a carvatildeo que usam mas nas casas natildeo teve
essa preocupaccedilatildeo entatildeo a maior dificuldade era vocecirc querer derrubar a casa e a
mulher ficava por uacuteltimo muitas vezes vocecirc natildeo derrubava onde tava onde era o
fogatildeo que era onde eles continuavam fazendo as suas comidas elaborando as suas
refeiccedilotildees ateacute fora da casa porque em casa natildeo tinham condiccedilotildees de fazer [] Era
porque a cozinha soacute se adequava um fogatildeo com botijatildeo de gaacutes [] Eacute natildeo eacute costume
da regiatildeo Entatildeo eu acho que houve muito isso tentou se jogar o urbano dentro do
rural que natildeo teria nenhuma condiccedilatildeo de ser (Teacutecnico 1)
Outro ambiente eacute a sala tambeacutem chamada pela comunidade de varanda foi substituiacuteda
por um espaccedilo pequeno que natildeo permite o encontro das famiacutelias e vizinhos para conversar
gerando insatisfaccedilatildeo entre muitos moradores Com isto o que se observa atualmente eacute que em
sua grande maioria as casas passaram por reformas apoacutes serem entregues pela Funasa Eacute o
que expressa a fala de moradores nos grupos focais
199
Apenas o nuacutemero de pessoas na famiacutelia eacute que determinava o modelo de casa Entatildeo
hoje vocecirc entra em algumas casas [] as pessoas estatildeo fazendo adequaccedilotildees do jeito
que eles queriam porque na verdade aquilo dali natildeo era o jeito das casas que eles
queriam Agora pra quem natildeo tem uma casa um quarto eacute uma casa(Grupo Focal1 )
[] Tudo eacute pequeno [] Eacute bem apertadinho e os material dos banheiros mesmo
[] Tudo eacute pequeno agora os quartos [] A maioria delas 99 foi modificada
depois Os proacuteprios donos mesmo foi quem modificou o seu [] Teve que fazer
sala e cozinha quem pode fazer fez De tijolo (Grupo Focal 2)
Outro aspecto eacute a estrutura de algumas casas construiacuteda com material inadequado
que com as explosotildees ocorridas com as obras do canal estatildeo provocando rachaduras em
algumas delas segundo relato de moradores em grupo focal
16 casas [] A minha jaacute estaacute rachada [] a minha taacute rachada rachadura de cima ateacute
embaixo e grande [] Todas estatildeo rachadas [] Rachou agora haacute pouco tempo Taacute
com muito tempo natildeo [] A estrutura que fizeram foi fraca natildeo teve
acompanhamento (Grupo Focal 2)
As narrativas de como estas obras tem sido executadas em aacutereas quilombolas o
modelo de casa adotado pelo projeto nos sinalizam para qual concepccedilatildeo e compreensatildeo de
habitaccedilatildeo para zona rural foi adotada A habitaccedilatildeo como elemento do ambiente que pode ou
natildeo promover sauacutede
Para Cohen et al (2004) a habitaccedilatildeo eacute um espaccedilo de construccedilatildeo da sauacutede e do seu
desenvolvimento se considerarmos o ambiente como determinante da sauacutede Pensando na
sauacutede da famiacutelia a habitaccedilatildeo acolhe a famiacutelia sendo espaccedilo essencial veiacuteculo de construccedilatildeo
de seu desenvolvimento
Numa visatildeo integradora de sauacutede natildeo haacute como desvincular a habitaccedilatildeo do conjunto de
elementos da promoccedilatildeo da sauacutede um dos fatores de determinaccedilatildeo da sauacutede no espaccedilo
construiacutedo sendo necessaacuteria a articulaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de habitaccedilatildeo sauacutede meio
ambiente e infraestrutura aqui particularmente a rural (COHEN et al 2004)
Ressignificar o que seja habitaccedilatildeo ampliando o olhar para uma concepccedilatildeo integradora
de habitaccedilatildeo que considere que usos seus habitantes fazem da mesma inserindo estilos de
vida e comportamentos de riscos Trata-se na verdade de uma concepccedilatildeo socioloacutegica
devendo o conceito de habitaccedilatildeo saudaacutevel incluir o seu entorno como ambiente e agenda da
sauacutede de seus moradores (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud
COHEN at al 2004 p 809)
Segundo os autores
O entendimento da habitaccedilatildeo como um espaccedilo onde a funccedilatildeo principal eacute ter a
qualidade de ser habitaacutevel faz com que uma anaacutelise incorpore a visatildeo das muacuteltiplas
200
dimensotildees que compotildeem a habitaccedilatildeo cultural econocircmica ecoloacutegica e de sauacutede
humana (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud COHEN
et al 2004 p 809)
E no tocante ao conjunto das accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas que deveriam estar amplamente divulgados
e debatidos pelos principais destinataacuterios das mesmas ainda satildeo em seu conjunto textos
teacutecnicos e intenccedilotildees desconhecidas da populaccedilatildeo como expressam moradores em um dos
grupos focais
Talvez noacutes tenhamos mais accedilotildees dentro desse projeto que natildeo seja talvez nem direto
a ele mas articulado por eles talvez a gente estaacute articulado por ele mas por a
gente natildeo conhecer esse programa no geralzatildeo no todo natildeo saber das accedilotildees entatildeo a
gente pouco sabe [] Aiacute eacute uma questatildeo do proacuteprio da forma como o proacuteprio
ministeacuterio tem o projeto (Grupo Focal 1)
Pelo exposto elencamos alguns aspectos criacuteticos da accedilatildeo
a) Particularidades e respeito agrave diversidade cultural ao se trabalhar com melhorias
habitacionais em aacutereas quilombolas natildeo foram incorporadas pela instituiccedilatildeo nem
firmadas na parceria com o MI a exemplo do que preconiza a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais que tem
como um dos objetivos especiacuteficos ldquoimplantar infra-estrutura adequada agraves
realidades soacutecio-culturais e demandas dos povos e comunidades
tradicionaisrdquo (BRASIL 2007)
b) Princiacutepios e diretrizes para melhorias habitacionais estabelecidos pela proacutepria
Funasa natildeo foram devidamente observados e considerados nas accedilotildees do projeto da
transposiccedilatildeo
c) O modelo de gestatildeo da Funasa centralizado em Brasiacutelia tolhe a autonomia e
iniciativa das Superintendecircncias Estaduais dificultando agraves equipes locais a
realizaccedilatildeo de trabalhos mais proacuteximos da realidade das populaccedilotildees quilombolas
Cria-se com isto uma distacircncia das realidades e demandas rurais com uma
execuccedilatildeo estritamente teacutecnica e burocraacutetica para cumprir o determinado pelo niacutevel
central com o ldquoengessamentordquo de accedilotildees que natildeo podem ser adequadas para
melhor uso do recurso puacuteblico satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo quilombola e real melhoria
de sua qualidade de vida
d) Alguns dos pontos criacuteticos identificados foram objeto de debate e de relatoacuterio
interno elaborado pela equipe de educaccedilatildeo em sauacutede da FunasaSuest-PE junto agrave
201
equipe da Diesp-PE em 2009 que mesmo concordando com os problemas
apontados natildeo logrou ecircxito para efetivar mudanccedilas concretas
202
9 CONCLUSOtildeES
A vulneraccedilatildeo socioambiental vivida pelas comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril Conceiccedilatildeo das Crioulas e seus territoacuterios consequecircncia do projeto de
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco se expressa de diversas maneiras
A vulneraccedilatildeo eacute uma realidade que faz parte da histoacuteria dessas populaccedilotildees e de seus
territoacuterios O projeto da transposiccedilatildeo agravou a situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo provocando novas
feridas marcas que podem ser vistas antes e depois do projeto da transposiccedilatildeo
O projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco foi implementado sem o governo
realizar amplo debate com a sociedade sem ouvir as criacuteticas e fundamentaccedilotildees teacutecnicas e
poliacuteticas para sua natildeo realizaccedilatildeo Eacute um empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de vaacuterios
direitos das comunidades quilombolas de Salgueiro abrindo feridas e traumas indeleacuteveis
O significado do rio Satildeo Francisco para moradores quilombolas e demais sujeitos do
estudo eacute carregado de simbolismos e agradecimento pelo benefiacutecio que ele traz agrave regiatildeo e
populaccedilotildees mas vem fortemente atrelado a uma preocupaccedilatildeo com a urgente necessidade de
sua revitalizaccedilatildeo Alia-se a essa compreensatildeo a certeza de que revitalizar o rio Satildeo Francisco
deveria anteceder um projeto de tamanha envergadura e impacto ambiental como o projeto da
transposiccedilatildeo
As reflexotildees trazidas pelo estudo indicam negligecircncia quanto agrave revitalizaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco quer pela pouca efetividade das accedilotildees previstas pelo governo em seu Projeto
de Revitalizaccedilatildeo quer pela inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo que estruture a revitalizaccedilatildeo como
poliacutetica puacuteblica
A percepccedilatildeo geral sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute de ser um empreendimento
fechado agrave mudanccedilas com obras e accedilotildees inegociaacuteveis com pouca transparecircncia e diaacutelogo com
as populaccedilotildees diretamente afetadas incluiacutedas as populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro A
lentidatildeo interrupccedilatildeo e reajustes exorbitantes no orccedilamento inicialmente previsto para o
projeto reforccedilam a falta de confianccedila da populaccedilatildeo quanto agrave conclusatildeo das obras e o natildeo
cumprimento das promessas feitas A principal necessidade e expectativa da populaccedilatildeo
quilombola em relaccedilatildeo ao projeto que seria o abastecimento de aacutegua para consumo humano
eacute visto como uma possibilidade cada vez mais distante confirmando que o empreendimento
iraacute beneficiar o agronegoacutecio e o poacutelo sideruacutergico do porto de Peceacutem em Fortaleza Cearaacute
As feridas sentidas pela populaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo satildeo fatores que
contribuem para o descreacutedito com os benefiacutecios do projeto anunciados pelo governo Fica
claro que o projeto da transposiccedilatildeo responde a um modelo de desenvolvimento com base no
203
crescimento econocircmico a qualquer custo com detrimento da inclusatildeo e melhora real das
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo quilombola
As feridas e condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo aparecem como violaccedilatildeo de direitos
O direito agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria meio para acesso a outros direitos baacutesicos e
fundamentais do povo quilombola natildeo vem sendo respeitado conforme proposto pelo projeto
da transposiccedilatildeo Direito assegurado aos povos quilombolas desde a Constituiccedilatildeo Federal a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute uma das promessas do projeto da transposiccedilatildeo mas que vem sendo
conduzido morosamente e sem perspectivas claras para as populaccedilotildees quilombolas Apenas
na comunidade de Santana houve accedilatildeo concreta do projeto para agilizar o processo Em
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo houve nenhuma contribuiccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo para dar seguimento aos processos de regularizaccedilatildeo
O direito agrave melhoria das condiccedilotildees de vida com infraestrutura adequada de
saneamento habitaccedilatildeo transporte educaccedilatildeo sauacutede condiccedilotildees de trabalho promessas feitas e
natildeo cumpridas pelo projeto O que pode ser observado ao caracterizar as trecircs comunidades
quilombolas eacute que houve comprometimento em muitos desses serviccedilos com o projeto da
transposiccedilatildeo Desde promessas natildeo cumpridas para implantaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede
educaccedilatildeo projetos de desenvolvimento local soluccedilotildees para questatildeo hiacutedrica como tambeacutem a
desestruturaccedilatildeo e piora no acesso aos serviccedilos que jaacute eram oferecidos agrave populaccedilatildeo
quilombola
Em Santana cujas obras do canal se realizam dentro do territoacuterio haacute vulneraccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com perda de territoacuterio e animais agrave agricultura familiar com perda de aacuterea
de sequeiro aos deslocamentos dentro e para fora dos territoacuterios por falta de passarelas na
aacuterea da construccedilatildeo do canal dificultando acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e mobilidade
geral agrave seguranccedila por episoacutedios de invasatildeo e roubo de animais no territoacuterio agrave vegetaccedilatildeo
com mudanccedila de paisagem pelo desmatamento provocado com as obras agraves condiccedilotildees de
sauacutede dos moradores pela poluiccedilatildeo sonora e atmosfeacuterica agrave situaccedilatildeo financeira das famiacutelias
por todas as perdas mencionadas e natildeo indenizadas justamente
Em ContendasTamboril haacute vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao acesso ao trabalho por natildeo
haver sido contratados moradores quilombolas nas obras do projeto agrave estrutura de casas que
se encontram rachadas em consequecircncia do impacto das obras ao aumento de acidentes de
motocicleta com mortes de moradores da comunidade agrave possiacutevel perda de territoacuterio com
obras em Tamboril com destruiccedilatildeo de aacuterea coletiva de plantio e de criaccedilatildeo de animais e de
casas sem consulta e diaacutelogo com a comunidade As ameaccedilas que pairam sobre o territoacuterio
204
ContendasTamboril sem que a populaccedilatildeo sequer saiba que obras o governo vai realizar em
seu aacuterea provocou uma vulneraccedilatildeo emocional
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apesar de natildeo sofrer diretamente com as obras do projeto
identificamos situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave estrada que daacute acesso agrave comunidade e aos
serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio e abastecimento de aacutegua Outras accedilotildees e obras previstas no
programa de compensaccedilatildeo natildeo foram cumpridas pelo projeto da transposiccedilatildeo como
elaboraccedilatildeo de plano de desenvolvimento territorial viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de uma ETA
construccedilatildeo de reservatoacuterio elevado implantaccedilatildeo de rede de distribuiccedilatildeo aacutegua viabilizaccedilatildeo de
construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros viabilizaccedilatildeo de construccedilatildeo de
500 novas moradias de alvenaria construccedilatildeo de salas de aula e laboratoacuterio de informaacutetica na
escola e construccedilatildeo de pousada
Quanto aos impactos positivos apontados pelo projeto a maioria natildeo se traduz como
melhora ou mudanccedila na qualidade de vidas das comunidades quilombolas
Os Programas Baacutesicos Ambientais ou programas compensatoacuterios natildeo representam a
real demanda das populaccedilotildees quilombolas do estudo caracterizando-se como medidas
paliativas e promessas natildeo cumpridas em sua totalidade No Programa de Educaccedilatildeo
Ambiental as peculiaridades culturais e ambiental de cada comunidade o envolvimento
direto da populaccedilatildeo o respeito ao saber local deveriam ancorar suas praacuteticas educativas o
material didaacutetico utilizado nas praacuteticas educativas natildeo deveria ser tratado como algo agrave parte a
linguagem os comportamentos as caracteriacutesticas regionais satildeo aspectos que natildeo podem ser
desprezados e sim elementos intriacutensecos na elaboraccedilatildeo de material didaacutetico-pedagoacutegico e em
praacuteticas educativas que se dizem dialoacutegicas e problematizadoras O resultado e
desdobramento deste programa natildeo foi percebido pela populaccedilatildeo envolvida na accedilatildeo se
caracterizando em vaacuterios momentos como oficinas educativas pontuais que natildeo puderam ser
colocadas em praacutetica pela falta de apoio teacutecnico e financeiro natildeo representando melhoria na
qualidade de vida da populaccedilatildeo nem do meio ambiente
Em relaccedilatildeo agraves obras executadas para mitigaccedilatildeo de impactos como a substituiccedilatildeo de
casas de taipa por alvenaria o que se constata eacute que houve satisfaccedilatildeo de alguns moradores
com as obras aliada a uma visatildeo criacutetica quanto agrave inadequaccedilatildeo do modelo habitacional pelo
tamanho dos cocircmodos e desrespeito aos haacutebitos da zona rural pela impossibilidade de ajustes
no projeto elaborado e discussatildeo de outras alternativas de melhoria habitacional mais
adequadas agrave realidade rural pela melhoria parcial das habitaccedilotildees mantendo o risco de
transmissatildeo da doenccedila de Chagas pela obrigatoriedade na demoliccedilatildeo das casas anteriores
sem a possibilidade de reparo para outros familiares
205
A intenccedilatildeo de diminuir a intensidade dos impactos negativos e condiccedilotildees de
vulneraccedilatildeo geradas pelo projeto da transposiccedilatildeo via programas compensatoacuterios vem se
mostrando insuficiente e tiacutemida quando comparada agraves feridas e traumas provocados pelo
projeto nas aacutereas quilombolas
Apesar do discurso oficial enaltecer a importacircncia da participaccedilatildeo da sociedade e
comunidade local natildeo houve empenho do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional para incentivar
o funcionamento de um comitecirc e efetivar um canal de participaccedilatildeo das instacircncias municipais
estaduais e dos movimentos sociais locais em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo
Eacute necessaacuterio uma maior inserccedilatildeo dos movimentos sociais das comunidades
quilombolas para interferir nos rumos do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante a estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o
Ministeacuterio da Integraccedilatildeo demais instituiccedilotildees governamentais e o movimento organizado das
comunidades quilombolas como instacircncia poliacutetica de controle social a exemplo de um
Comitecirc Gestor para o acompanhamento e monitoramento do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante e necessaacuterio a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas de todas as
conquistas legais fruto da sua luta e mobilizaccedilatildeo poliacutetica no paiacutes para assegurar direitos
efetivar poliacuteticas fazer cumprir o que determina a legislaccedilatildeo como uma das ferramentas de
enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco em suas vidas e territoacuterios
Grandes empreendimentos a exemplo do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco devem ser pensados elaborados e implementados com base no diaacutelogo junto agrave
populaccedilatildeo local poderes puacuteblicos e sociedade de forma ampla e democraacutetica para construir e
incorporar consensualmente medidas mitigadoras como forma de minimizaccedilatildeo de impactos
e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo nas aacutereas de influecircncia direta e indireta destes projetos
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APEcircNDICE A ndash Roteiro de Entrevistas
Grupo 1 - Gestoresteacutecnicos da Funasa do Projeto em Salgueiro (MI) das Secretarias
Municipais de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Planejamento e Meio
Ambiente
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Instituiccedilatildeo a qual estaacute vinculado
Profissatildeoocupaccedilatildeo e o quanto tempo atua nela
Aspectos gerais do Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento profissional e institucional
3 Principais mudanccedilas observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo ao municiacutepio e comunidades
quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como ((recursos periodicidade atores)
7 Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
8 O que representa o rio Satildeo Francisco
9 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
10 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
11 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
221
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas
Grupo 3 ndash Lideranccedilas quilombolas das comunidades de Santana ContendasTamboril e
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Comunidade a qual pertence
Niacutevel de participaccedilatildeo em grupo da comunidade
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento com o Projeto ndash Participaccedilatildeo
3 Principais mudanccedilas na comunidade observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo as comunidades quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como (recursos periodicidade atores)
7 Conflitos existentes nas aacutereas quilombolas antes do PISF e apoacutes a sua implantaccedilatildeo
enfrentamento
8 8-Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
9 Influecircncias do PISF na estrutura de organizaccedilatildeo social e poliacutetica das comunidades
quilombolas
10 O que representa o rio Satildeo Francisco
11 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
12 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
13 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
222
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal
Comunidades quilombolas de Santana ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Conhecimento sobre o Projeto da transposiccedilatildeo (objetivos quando iniciou no municiacutepio e
em sua comunidade como foi divulgado na comunidade instituiccedilotildees envolvidas)
2 Significado das obras do Projeto de transposiccedilatildeo
3 Conflitos ocorridos entre famiacuteliascomunidades Quais
4 Obras executadas pela Funasa ndash Substituiccedilatildeo de casas de taipa atendimento da demanda
conflitos caracateriacutestica das casas atende a necessidade da populaccedilatildeo
5 Conhecimento sobre Programa de Educaccedilatildeo ambiental do PISF (objetivosmetas
atividades)
6 Desenvolvimento do programa na comunidade
7 Participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
8 Conhecimento sobre o Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas
(objetivosmetasatividades)
9 Accedilotildees realizadas por esse programa em sua comunidade
10 Niacutevel de participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
Aspectos da comunidade
11 Como vocecirc considera a vida em sua comunidade
12 Principais dificuldades das famiacutelias
13 Formas de sobrevivecircncia das famiacutelias (trabalho renda criaccedilatildeo de animais produccedilatildeo
agriacutecola)
14 Como avalia a sauacutede das famiacutelias
15 Problemas de sauacutede mais frequentes em sua comunidade
16 Causa desses problemas
17 Como se daacute o atendimento dos problemas de sauacutede na comunidade (locais procurados
facilidadedificuldade presenccedila de acs)
18 Tipo predominante de moradia
19 Fontes de abastecimento de aacutegua na comunidade
20 Forma de Tratamento da aacutegua para beber
21 Destino dos dejetos (fezes e urina) na comunidade
22 Accedilotildees realizadas pelo PISF para enfrentarcuidarresolver os problemas apontados
23 Resultados obtidos das accedilotildees
24 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
25 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
26 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
223
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
Salqueiro PE no periacuteodo de 2008 agrave 2013
Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute nenhum constrangimento ou
prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente bem como com as instituiccedilotildees
colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de participar e retirar o seu
consentimento
Vaacuterios estudos afirmam que eacute na base que se encontra a maior parte das informaccedilotildees mais
ricas e significativas para os processos de mudanccedilas Essa pesquisa poderaacute contribuir no sentindo de
subsidiar o processo de fortalecimento poliacutetico das populaccedilotildees quilombolas ampliando seu
empoderamento e inserccedilatildeo nas diversas accedilotildees e atividades propostas pelo Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
Seratildeo feitas entrevistas individuais com lideranccedilas e reuniotildees com a participaccedilatildeo entre 9 e 12
pessoas para conversarem sobre um assunto pesquisado com perguntas condutoras coordenadas pelo
pesquisador Essas reuniotildees chamados grupos focais seratildeo gravadas e depois seratildeo ouvidas e escritas
Os participantes poderatildeo responder da forma que achar melhor Os riscos relacionados com a
participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso
sua identidade venha a puacuteblico No entanto garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As
informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e
outras atividades cientiacuteficas no entanto estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Os benefiacutecios relacionados com a participaccedilatildeo dos membros da comunidade satildeo no sentido de
contribuir para o conhecimento e percepccedilatildeo dos aspectos relacionados agrave educaccedilatildeo em sauacutede ambiental
dos programas de educaccedilatildeo ambiental de apoio agraves comunidades quilombolas de apoio ao saneamento
baacutesico e de controle da sauacutede puacuteblica inseridos no PISF
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Poderei deixar de participar a qualquer momento sem que isso acarrete qualquer prejuiacutezo agrave
minha pessoa
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho na Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos telefones (81)
32226007 ou (81) 87875275 Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho ndash Pesquisadora
224
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado para
Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
SalqueiroPE no periacuteodo de 2008 agrave 2013 Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute
nenhum constrangimento ou prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente
bem como com as instituiccedilotildees colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de
participar e retirar o seu consentimento
Os sujeitos da pesquisa seratildeo gestores e teacutecnicos das instituiccedilotildees envolvidas com o PISF em
acircmbito federal estadual e municipal A definiccedilatildeo dos sujeitos consideraraacute o seu tipo de inserccedilatildeo
selecionando-se os informantes-chave representativos destes atores que integram o estudo
A partir da pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas seraacute possiacutevel analisar a
educaccedilatildeo e sauacutede ambiental desenvolvida no acircmbito do Projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas com ecircnfase nos
aspectos dos processos e percepccedilotildees dos programas e empoderamento dos sujeitos envolvidos
Os riscos relacionados com a participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser
constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso sua identidade venha a puacuteblico No entanto
garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas
em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e outras atividades cientiacuteficas no entanto
estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Sua colaboraccedilatildeo nesta pesquisa se daraacute pela participaccedilatildeo em entrevista semi-estruturada
teacutecnica na qual seratildeo feitas algumas perguntas e o entrevistado poderaacute livremente responder e ainda
incluir aspectos que ache pertinentes serem colocados Toda a conversa seraacute gravada e posteriormente
transcrita
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho pelo endereccedilo Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos
telefones (81) 32226007 ou (81) 87875275
Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho
Pesquisadora
225
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP
Educaccedilatildeo em Sauacutede ndash COREPE
QUESTIONAacuteRIO SOBRE CONHECIMENTOS ATITUDES E PRAacuteTICAS DA COMUNIDADE -
CAP
Data da Entrevista Nuacutemero da Casa
Nome do Entrevistador
Comunidade
Municiacutepio Estado
Endereccedilo do Entrevistado
1 Nome do Entrevistado ___________________________________________________________________
2 Dados dos moradores da casa
Nome Idade Sexo
Escolaridade
Analfabeto 1ordf a 4ordf 5ordf a 8ordf E Meacutedio 3ordm grau Curso
3 Acontecem festas ou reuniotildees em sua Comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Tipo Especificaccedilatildeo Como acontece e quando (anual mensal periacuteodo)
Social
Esportiva
Cultural
Religiosa
Outra
4 Participa de algum grupo na comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Grupo O que faz
5 O que a comunidade faz para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
6 O que faz vocecirc e sua famiacutelia para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
7 Fale sobre as instituiccedilotildees que trabalham nesta comunidade
Nome O que faz
226
8 Que serviccedilos de sauacutede vocecirc tem aqui na comunidade
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
9 Na sua opiniatildeo quais os principais problemas da Comunidade Por que esses problemas acontecem
Problemas Causas
10 As pessoas da comunidade adoecem do quecirc
________________________________________________________________________________
11 Qual os problemas de sauacutede mais frequumlente em sua famiacutelia
_______________________________________________________________________________
12 Quando as pessoas da comunidade estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
13 Quando as pessoas da sua famiacutelia estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
14 Que meios de transporte a comunidade utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
15 Que meios de transporte a sua famiacutelia mais utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
16 Vocecirc possui animais ( ) Sim ( ) Natildeo Quais
( ) Cachorro ( ) Gato ( ) Cavalo ( ) Pato ( ) Porco ( ) Gado ( ) Bode ( ) Jumento
( )Galinha ( ) Macaco ( ) OvelhaCarneiro ( ) Burro ( ) Outros______________________
17 Onde os animais satildeo criados
Curral Solto no quintal
Galinheiro Solto na rua
chiqueiro amarrado
18 O que tem na casa (observar) ( ) Cama ( ) TV ( ) Fogatildeo a gaacutes ( ) Fogatildeo agrave lenha ( ) Bicicleta ( ) Carro ( ) Raacutedio
( ) Geladeira ( ) Paraboacutelica ( ) Outros _________________________________________
19 Sua famiacutelia ouve raacutedio ( ) Sim ( ) Natildeo Quando ouve que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
20 Sua famiacutelia assiste TV ( ) Sim ( ) Natildeo Quando assiste que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
21 De que forma as notiacutecias chegam agrave comunidade
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet ( ) Telefone ( )Outro ____________________________
22 Sua famiacutelia tem mais acesso agraves notiacutecias atraveacutes de que
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet Telefone ( ) ( ) Outro _______________________
227
23 Conversar com a famiacutelia ateacute obter as informaccedilotildees sobre ocupaccedilatildeo e renda (citar os aposentados)
Renda aproximada da famiacutelia Ateacute 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3 SM ( ) 4 SM ( ) + 4 SM ( )
Nome No que trabalha
24 Tipo de moradia (observaccedilatildeo)
Parede Telhado Piso Cocircmodos
Madeira Amianto Cimento Cozinha
Tijolo Ceracircmica Ceracircmica Quarto
Palha Palha Madeira Banheiro
Lona Plaacutestico Lona Plaacutestico Chatildeo Batido Sala
Taipa
25 De onde vem a aacutegua que a sua famiacutelia utiliza
( ) Rede Puacuteblica ( ) Chafariz ( ) Rio ( ) Chuva ( ) Fonte Nascente ( ) Poccedilo feito pelo morador ( ) Poccedilo feito pela
FUNASA ( ) Outros __________________________
26 Como eacute tratada a aacutegua para beber
( ) Filtrada ( ) Fervida ( ) Clorada ( ) Coada ( ) Usa sem tratar ( ) Outros______________
27 Que destino eacute dado ao lixo em sua comunidade
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro ____________________________________
28 Em sua casa o que fazem com o lixo
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro _______________________________
29 Que destino eacute dado agraves fezes e urina das pessoas da casa
( ) Mato ( ) Quintal ( ) Rio ( ) Fossa Seca ( ) Vaso com descarga
( ) Outro __________________________________________________________________________
30 Informaccedilotildees adicionais da observaccedilatildeo do entrevistador
Utensiacutelio onde guarda a aacutegua para beber Animais soltos convivendo na moradia (estado de sauacutede) Limpeza
internae arredores da moradia Exposiccedilatildeo do lixo Aacutegua parada Esgoto Fezes Aparente estado nutricional das
crianccedilas e adulto E outras que julgar importante para o projeto
228
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco
DOCUMENTO SIacuteNTESE DAS AGENDAS DE PRIORIDADES DOS MUNICIacutePIOS
CONTEMPLADOS PELO PISF EM PERNAMBUCO
A Agenda de Prioridades do processo de formaccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutede constitui-se de diretrizes a
serem executadas para o enfrentamento dos problemas diagnosticados representando um acordo entre
os atores envolvidos Pretende-se com a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos contribuir com a
promoccedilatildeo da sauacutede das comunidades e municiacutepios nesse sentido foram identificadas como pontos em
comum dos municiacutepios de Pernambuco as seguintes diretrizes
Accedilotildees educativas de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo para promover o envolvimento da populaccedilatildeo
na gestatildeo adequada dos resiacuteduos soacutelidos
Realizaccedilatildeo de campanhas e palestras sobre defensivos agriacutecolas direcionadas aos agricultores
com enfoque na utilizaccedilatildeo de equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo agrave praacutetica da agricultura
orgacircnica e destinaccedilatildeo correta das embalagens destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas municipais em saneamento baacutesico e manutenccedilatildeo adequada da
rede existente
Campanhas educativas de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de violecircncia e accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e
fortalecimento das poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo agrave sauacutede do homem
Melhores condiccedilotildees de trabalho e investimento na formaccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de
Sauacutede e Agentes de Endemias
Campanhas educativas sobre animais peccedilonhentos a partir da realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes para accedilotildees voltadas agrave
educaccedilatildeo em sauacutede
Todas as diretrizes constituiacutedas pelos grupos participantes do processo de formaccedilatildeo de multiplicadores
dos 17 municiacutepios da ADA podem ser executadas por meio de articulaccedilotildees e parcerias entre os agentes
comunitaacuterios de sauacutede agende de combates agraves endemias coordenadores de atenccedilatildeo baacutesica lideranccedilas
comunitaacuterias setores do governo empresas e sociedade civil As diretrizes elencadas nas Agendas de
Prioridades municipais seratildeo desenvolvidas por meio de processos de mobilizaccedilatildeo criaccedilatildeo ou
fortalecimento de grupos e equipes de trabalho elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e planos de accedilatildeo e
campanhas educativas valendo-se de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos e de capacitaccedilotildees com temas
voltados agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede
229
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco
AGENDA DE PRIORIDADES DE EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE
DO
MUNICIacutePIO DE SALGUEIRO ndash PE
Apresentaccedilatildeo
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (PISF) vem se inserindo na realidade dos
dezessete municiacutepios que compreendem sua Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ocasionando
transformaccedilotildees no cenaacuterio socioambiental Desse modo para potencializar os possiacuteveis
impactos positivos e mitigar os negativos idealizou-se um conjunto de Programas Ambientais
que propotildee accedilotildees a serem executadas durante a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do empreendimento
Nesse contexto a partir de accedilotildees previstas pelos Programas Ambientais de Controle da Sauacutede
Puacuteblica Educaccedilatildeo Ambiental e de Comunicaccedilatildeo Social do PISF elaborou-se a Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo em Sauacutede norteada por uma abordagem educativa com o intuito de
formar multiplicadores de educaccedilatildeo em sauacutede nas comunidades da aacuterea de influecircncia do PISF
O processo de capacitaccedilatildeo visa proporcionar a praacutetica e socializaccedilatildeo de vivecircncias educativas
que satildeo experiecircncias relacionadas agraves informaccedilotildees e conceitos trabalhados durante os moacutedulos
presenciais e realizadas nas diversas aacutereas de atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias
Durante os moacutedulos foi proposta a construccedilatildeo de uma ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo
em Sauacutederdquo instrumento pelo qual os grupos participantes desse processo educativo
expressam de maneira sistematizada seu interesse em realizar determinadas atividades em
regime de colaboraccedilatildeo eou cooperaccedilatildeo
A Agenda visa nortear e potencializar a atuaccedilatildeo dos multiplicadores na prevenccedilatildeo dos
impactos relacionados agrave sauacutede e na melhoria da qualidade de vida das pessoas inserindo
novas metodologias e conceitos ou potencializando metodologias jaacute adotadas Assim
constitui-se de diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados representando um acordo entre os atores envolvidos Vale mencionar que os
participantes do processo de capacitaccedilatildeo seratildeo os protagonistas do planejamento e da
execuccedilatildeo das referidas diretrizes
Acredita-se que a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos entre os atores de um coletivo possa
contribuir com a promoccedilatildeo da sauacutede de suas comunidades nesse sentido a seguir seraacute
230
apresentada a ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo construiacuteda ao longo desse
processo de formaccedilatildeo de multiplicadores com o propoacutesito de indicar a trajetoacuteria identificada
pelos liacutederes comunitaacuterios e profissionais de sauacutede dos municiacutepios envolvidos
Abaixo seguem as diretrizes apontadas pelos representantes das comunidades e localidades
que juntas formam o municiacutepio de Salgueiro ndash PE
DIRETRIZES ACcedilOtildeES ESTRATEacuteGICAS RESPONSAacuteVEIS
Campanha de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de agressotildees
Identificar localidades onde mais acontece agressatildeo de gecircnero abusos sexuais maus tratos a incapazes entre outros
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica Conselho Municipal de
Sauacutede e USF
Realizar palestras onde os iacutendices estiverem mais altos
Incentivar a denuacutencia contra as agressotildees
Integraccedilatildeo entre as secretarias municipais
Promover campanha dos profissionais da sauacutede nas escolas e creches
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica USF NASF CREAS
escolas e creches
Promover campanhas de meio ambiente nas escolas e
creches
GTES Secretarias de Meio
Ambiente de Sauacutede de Accedilatildeo Social Desenvolvimento Agraacuterio
de Educaccedilatildeo e Serviccedilos Puacuteblicos
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Realizar palestras preventivas ou seminaacuterios nas escolas
USF e associaccedilotildees sobre as doenccedilas endecircmicas da regiatildeo
GTES Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia USF empresas construtoras escolas e as
lideranccedilas comunitaacuterias
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves Unidades de Sauacutede
Produzir viacutedeos com situaccedilotildees-problemas da comunidade para exibiccedilatildeo na proacutepria comunidade e encontrar possiacuteveis
soluccedilotildees
GTES USF lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho
Municipal de Sauacutede
Campanha de controle de animais
peccedilonhentos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre
animais peccedilonhentos e sua proliferaccedilatildeo
GTES USF lideranccedilas
comunitaacuterias IBAMA Secretaria
de Meio Ambiente Secretaria de Desenvolvimento Urbano e
escolas
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Promover palestras nas escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees sobre o tema proposto
GTES USF Secretarias de Meio Ambiente e de Obras e de
Infraestrutura escolas CDL
lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho Municipal de Sauacutede
Realizar oficinas de triagem e reaproveitamento de
reciclaacuteveis envolvendo as escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees
Fortalecer as accedilotildees de triagem jaacute existentes no municiacutepio
Utilizar a miacutedia (raacutedio carro de som redes sociais
televisatildeo etc) como mecanismo para sensibilizar a
populaccedilatildeo sobre a gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Campanha de promoccedilatildeo agrave sauacutede do
homem
Realizar levantamento por rua da quantidade de homens
com idade de 40 anos acima
ACSrsquos
Incentivar os homens a procurar os serviccedilos de sauacutede com
maior frequecircncia
ACSrsquos esposas namoradas
filhos etc
Encaminhar para realizaccedilatildeo do PSA (exame cliacutenico da
proacutestata)
USFrsquos com apoio da SMS
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da campanha de cacircncer de mama
Realizar levantamento por rua da quantidade de mulheres
sexualmente ativas e encaminhaacute-las para fazer o preventivo
ACSrsquos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre o
tema proposto
GTES USF escolas lideranccedilas
comunitaacuterias associaccedilotildees CREAS CRAS NASF e o
Conselho Municipal de Sauacutede
Promover uma passeata de incentivo a prevenccedilatildeo pelas
principais ruas do municiacutepio com faixas e auxiacutelio de um carro de som
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas comunitaacuterias Conselho
Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Realizar foacuteruns seminaacuterios encontros palestras etc como
forma de envolver e pactuar possiacuteveis parcerias com estes
grupos
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas
comunitaacuterias Conselho Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
231
Campanha de prevenccedilatildeo a
leishmaniose e raiva humana
Realizar palestras educativas nas USF escolas e
associaccedilotildees
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
epidemiologia Lideranccedilas comunitaacuterias e escolas
Promover campanhas informativas atraveacutes das redes sociais
carro de som e raacutedios (miacutedia)
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia lideranccedilas
comunitaacuterias e raacutedios
Participantes
Adeilson Severino de Souza Iara Suely Freire Maria Edlenne Figueredo Barboza William Carvalho
Alcemir da Silva Siqueira Idalina dos Santos Silva Maria Janeide Cordeiro
Allyson Francisco dos Santos Jairo de Souza Veriacutessimo Maria Liacutedia Alves do Nascimento
Ana Carolina da Silva Vieira Joatildeo Manoel Gondim Maria Lietice da Silva
Angela Maria Bezerra Joseacute Nilton da Silva Maria Mariano de Souza
Antonio de Padua da Silva Josilene Pereira da Silva Maria Rosicleide Vereda de Souza
Carlos Antocircnio Ramos Leite Karyne Dayane da Saacute Silva Maria Solange dos Santos
Dalma Reacutegia Pires Lucicleide Oliveira e Souza Milton Rodrigues Ramos
Denise Soares Ribeiro de Barros Manoel de Souza Gomes Norma Luacutecia de Souza Santos
Edson Rex Barbosa Ribeiro Manoel Francisco de Souza Agra Orisvaldo Matias Ferreira
Erasmo Joseacute Matias Gomes Marcella Alves Raneilda Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Espedito Antonio de Vasconcelos Maacutercia Isabel da Silva Ronivaldo Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Maria Auxiliadora de Vasconcelos Rosilene Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Fernanda Martins Maria de Faacutetima Cardoso Rosimeiry Arauacutejo Conserva
Francisco Afonso Vereda da Silva Juacutenior Maria do Socorro Leite Silveacuterio Sandra Maria da Silva
Souza
Francisca Claacuteudia Vidal dos Santos Maria do Socorro Silva Senilda Francisca da Silva
Francisco de Assis Sobrinho Maria do Socorro Angelim Tarcizo de Brito Ramos
Grupo Teacutecnico de Educaccedilatildeo em Sauacutede (GTES)
William Carvalho Josilene Pereira da Silva
Maria Mariano de Souza Maria do Socorro Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Senilda Francisca da Silva
Alcemir da Silva Siqueira Espedito Antocircnio de Vasconcelos
LUacuteCIA MARIA SOBRAL BARACHO
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz para obtenccedilatildeo do grau de
mestre em Ciecircncias
Orientadora
Profordf Drordf Idecirc Gomes Dantas Gurgel
Co-orientador
Profordm Dr Andreacute Monteiro Costa
RECIFE
2014
LUacuteCIA MARIA SOBRAL BARACHO
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz para obtenccedilatildeo do grau de
mestre em Ciecircncias
Aprovado em 16062014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Profordf Drordf Idecirc Gomes Dantas Gurgel
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
____________________________________
Prof Dr Joseacute Bento Rosa da Silva
Departamento de Histoacuteria
Centro de Filosofia e Ciecircncias HumanasUFPE
____________________________________
Profordf Drordf Lia Giraldo da Silva Augusto
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
Aos meus queridos e amados pais Raimundo e
Iracema pelos exemplos deixados de eacutetica
respeito generosidade solidariedade e pelo
esforccedilo em me proporcionar as melhores
oportunidades de aprendizagem Agrave presenccedila
sutil de ambos que me acompanha em todos
os momentos importantes da minha vida
Agrave meu pai Raimundo Baracho que tendo
dedicado sua vida profissional agrave sauacutede
puacuteblica me incentivou a trilhar este caminho
Aos queridos familiares irmatildeos Alexandre e
Socorro cunhados Nazareacute e Ivaldy sobrinhos
Pablo Bernardo Joatildeo Gabriel Isabela
Rodrigo Luciana Raquel Bruno sobrinhos
netos ldquoBibi e Xandinhordquo pelo apoio carinho
incentivo presenccedila e alegria em vaacuterios
momentos desta trajetoacuteria
AGRADECIMENTOS
Sou grata a vaacuterias pessoas e situaccedilotildees que permitiram construir esta dissertaccedilatildeo Ao
nominar pessoas e especificar situaccedilotildees corro o risco de natildeo incluir tudo e todas mas a minha
gratidatildeo eacute ampla e profunda
Agradeccedilo agrave Funasa em Pernambuco aos colegas e amigos da equipe de Educaccedilatildeo em
Sauacutede e Sauacutede Ambiental de Desenvolvimento de Recursos Humanos e da Capacitaccedilatildeo e ao
Superintendente Estadual pelo apoio e disponibilidade nos encaminhamentos necessaacuterios agrave
aprovaccedilatildeo institucional para conquista deste projeto pessoal e profissional Agradeccedilo tambeacutem
agrave Funasa o valioso apoio oferecido para realizaccedilatildeo do trabalho de campo deste estudo
Agrave Professora Idecirc minha orientadora que me acolheu desde o momento de meu
retorno da Espanha para ingressar nesta nova etapa de desafio na Fiocruz Agradeccedilo sua
paciecircncia bom humor clareza nas orientaccedilotildees e incentivo para natildeo desanimar em momentos
de dificuldade
Ao Professor Dr Andreacute Monteiro Costa pelas orientaccedilotildees no processo de construccedilatildeo
deste estudo
Aos professores do mestrado pela disponibilidade em compartilhar sua experiecircncia e
saber contribuindo direta e indiretamente com todo meu processo de aprendizagem
Aos colegas da turma do mestrado pela troca e oportunidade de aprendizagem
amizade e encontros alegres
Agrave Secretaria Acadecircmica em especial agrave Glauco pelo profissionalismo e presteza em
todos os momentos de necessidade de apoio administrativo
Aos familiares em especial irmatildeos sobrinhos e cunhados pelo apoio e incentivo
Agraves amigas e amigos que compartilharam vaacuterios momentos de alegria duacutevidas e
questionamentos durante esta trajetoacuteria Em especial Agrave Joselma pela amizade alegria
orientaccedilatildeo acadecircmica incentivo e disponibilidades de valiosos materiais teoacutericos Agrave Magali
por acreditar e mostrar que os obstaacuteculos iam ser superados Agrave Marcinha pela contribuiccedilatildeo
valiosa no trato com as informaccedilotildees do campo e pela escuta paciente Agrave Anginha pela
acolhida sempre e escuta amorosa Agrave Luiacuteza pelo carinho apoio e confianccedila transmitida Agrave
Glaciene e sua irmatilde pelo valiosa contribuiccedilatildeo na realizaccedilatildeo do trabalho de campo e por todas
as orientaccedilotildees Agraves amigas Acircngela Brenda Meacutercia pelo carinho incentivo e presenccedila Agrave Bete
pela presenccedila amiga e alegre pela convivecircncia paciente no momento mais difiacutecil de
construccedilatildeo deste trabalho e colaboraccedilatildeo efetiva Agrave Jessyka pela amizade troca de experiecircncia
apoio e efetiva colaboraccedilatildeo
Aos queridos amigos da Ecovila em especial Jorge e Emiacutelia pelo afeto cuidado e
apoio Agrave Emiacutelia pelas mensagens de conforto confianccedila e alegria Agrave Jorge pela presenccedila
carinhosa pela escuta pelas orientaccedilotildees acadecircmicas e material disponibilizado
Agrave Nakeida querida terapeuta que acompanha os momentos importantes da minha
vida pelo cuidado profissional e afetivo contribuindo profundamente na minha caminhada de
auto-conhecimento crescimento pessoal e espiritual
Agrave Patriacutecia pelo cuidado comigo e com a minha casa suporte fundamental para
tranquilidade na realizaccedilatildeo deste trabalho
Agrave Maristela vizinha querida pelo apoio alegria e ldquomimosrdquo culinaacuterios
Aos colegas do Setor de Educaccedilatildeo em Sauacutede da Funasa por terem sempre me apoiado
e se disponibilizado a assumir minhas atribuiccedilotildees durante minha ausecircncia
Aos gestores teacutecnicos e populaccedilatildeo quilombola que me acolheram e contribuiacuteram com
suas narrativas valiosas durante todo trabalho de campo
Ao povo quilombola de Santana Conceiccedilatildeo das Crioulas e ContendasTamboril em
especial as lideranccedilas professores e os moradores que participaram das entrevistas e grupos
focais Agradeccedilo a disponibilidade em me receber e confianccedila em compartilhar suas
percepccedilotildees expectativas frustraccedilotildees inquietaccedilotildees e me possibilitar uma rica aprendizagem e
grande admiraccedilatildeo
Com a certeza de que a ldquoalmardquo deste trabalho estaacute no conteuacutedo apresentado por todas
as narrativas destes sujeitos o meu profundo agradecimento
[] A aacutegua serpeia entre musgos
seculares
Leva um recado de existecircncia a homens
surdos
E vai passando vai dizendo
Que esta mata em redor eacute nossa
companheira
Eacute pedaccedilo de noacutes florescendo no chatildeo
Que rumor eacute esse na mata
Por que se alarma a natureza
Aihellipeacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Natildeo natildeo haveraacute para os ecossistemas
aniquilados
Dia seguinte
O ranuacutenculo da esperanccedila natildeo brota
No dia seguinte
O vazio da noite o vazio de tudo
Seraacute o dia seguinte
Carlos Drummond de Andrade
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar
sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano 2014 Dissertaccedilatildeo (Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo
Cruz Recife 2014
RESUMO
O Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo tem gerado inuacutemeras
situaccedilotildees de conflitos socioambientais um dos exemplos de injusticcedila ambiental registrado
pela Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental O projeto eacute apresentado pelo governo como
ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecioeconocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agrave
seca do semiaacuterido nordestino Este estudo analisou a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente do
Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas em Salgueiro-semiaacuterido pernambucano- e as
accedilotildees implementadas para minimizaacute-la Para isto caracterizou-se o Projeto da Transposiccedilatildeo
sua proposta oficial e percepccedilatildeo dos sujeitos foram caracterizadas as populaccedilotildees e territoacuterios
quilombolas identificou-se a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios e foram avaliadas as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo projeto para minimizar a vulneraccedilatildeo A metodologia foi um estudo de
caso descritivo com abordagens qualitativa e quantitativa Os dados primaacuterios obtidos com
entrevistas e grupos focais e os secundaacuterios com base em questionaacuterios aplicados com
famiacutelias quilombolas em 2009 As conclusotildees apontam que o projeto da transposiccedilatildeo eacute um
empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de direitos das comunidades quilombolas de
Salgueiro provocando feridas e traumas indeleacuteveis Dentre os ldquoimpactos positivosrdquo
mencionados neste estudo a maioria natildeo se concretiza enquanto melhora ou mudanccedila na
qualidade de vida dessas comunidades Ao contraacuterio os impactos negativos satildeo uma realidade
e dificilmente seratildeo revertidos como ldquointencionardquo o projeto Violaccedilatildeo do direito agrave
informaccedilatildeo agrave decisatildeo pelos quilombolas quanto a projetos que afetem a vida e seu territoacuterio
Programas Ambientais natildeo representam a demanda das populaccedilotildees quilombolas
caracterizando-se em sua maioria como medidas paliativas e natildeo cumpridas Eacute necessaacuteria a
estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
demais instituiccedilotildees governamentais e movimento quilombola para acompanhamento e
monitoramento do projeto Eacute necessaacuteria a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas das
conquistas legais fruto de mobilizaccedilotildees poliacuteticas para assegurar direitos e fazer cumprir o
que determina a legislaccedilatildeo uma das ferramentas de enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e
vulneraccedilatildeo provocada pela transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
Palavras-chaves Populaccedilatildeo quilombola Vulnerabilidade social Vulneraccedilatildeo Territoacuterio
Educaccedilatildeo em Sauacutede Educaccedilatildeo Ambiental Projeto da transposiccedilatildeo Rio Satildeo Francisco Meio
Ambiente
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Wounds of the transposition of Satildeo Francisco A look at
the quilombola communities of Pernambuco semiarid Dissertation (Master in Public
Health)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Recife 2014
ABSTRACT
The project of the transposition of the Satildeo Francisco River the object of our study has
generated numerous cases of environmental conflicts one of the examples of environmental
injustice registered by the Brazilian Environmental Justice Network The project is presented
by the government as a guarantee of water for socio-economic development of the most
vulnerable states to drought in semi-arid northeast This study analyzed the socio-
environmental vulnerableness arising from the transposition project in quilombola territories
of Santana ContendasTamboril and Conceiccedilatildeo das Crioulas in Salgueiro - semiarid of
Pernambuco - and the actions taken to minimize it For this the Transposition Project its
official proposal and perception of the subjects were characterized the quilombola
populations and territories were characterized it was identified the perception of subjects as
to vulnerableness arising from the transposition in their territories and the educational
practices and actions taken by the project to minimize the vulnerability were evaluated The
methodology was a descriptive case study with qualitative and quantitative approaches The
primary data obtained through interviews and focus groups and the secondary ones based on
questionnaires with quilombola families in 2009 Findings indicate that the transposition
project is an undertaking that has generated violation of rights of quilombola communities of
Salgueiro causing wounds and indelible traumas Among the positive impacts mentioned in
this study the majority does not materialize as improving or changing the quality of life of
these communities In contrast the negative impacts are a reality and are unlikely to be
reversed how the project intends Violation of the right to information to the decision by
the quilombolas as to projects that affect the life and territory Environmental programs do
not represent the demand of quilombola populations characterized mostly as a palliative and
not performed it is required to structure a channel of effective and regular communication
between the Ministry of Integration other government institutions and quilombola movement
following and monitoring the project it is necessary the appropriation by the quilombola
communities of the legal achievements the result of political mobilization to ensure the
rights and enforce what is determined by the legislation one of the coping tools to violation
of rights and vulnerableness caused by the transposition of the Satildeo Francisco River
Key words Quilombola Population Vulnerability vulnerableness Territory Health
Education Environmental Education Project implementation Satildeo Francisco River
Environment
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA 66
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana 89
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana 89
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das obras do canal 91
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de Santana 91
Figura 6 - Mazuca de Santana 99
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril 105
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril 105
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de Moradores de ContendasTamboril 117
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas 126
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo - C das Crioulas 126
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas 132
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira - C Crioulas 135
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute - C Crioulas 135
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas 136
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas 143
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo 180
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana 94
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem-
Comunidade de Santana 95
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana 97
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana 98
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana 100
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade
de Santana 100
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de
Santana 101
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana 104
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril 112
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem -
Comunidade de ContendasTamboril 116
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de ContendasTamboril 117
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril 119
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de
ContendasTamboril 120
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de
ContendasTamboril 121
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber - Comunidade de ContendasTamboril 121
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade ContendasTamboril 123
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas 131
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 134
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo
das Crioulas 136
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 138
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 139
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 140
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 141
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 142
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede 36
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013 51
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos 56
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale 57
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin 57
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs 58
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto 75
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas 83
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo 88
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas 162
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Escolas 174
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede 2010 178
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede ndash Setembro2013 183
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das
Comunidades Quilombolas 190
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por
alvenaria 194
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OBJETIVOS 23
21 GERAL 23
22 ESPECIacuteFICOS 23
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 24
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS 24
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS 27
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS 31
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila 31
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico 33
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente 37
334 Educaccedilatildeo ambiental 40
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO 46
41 DESENHO DO ESTUDO 46
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA 47
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO 47
44 SUJEITOS DO ESTUDO 49
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E
PERIacuteODO DE ESTUDO 50
451 Entrevista 50
452 Grupo focal 52
453 Dados secundaacuterios 53
4531 Levantamento documental 53
4532 Dados de questionaacuterio - CAP 54
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS 56
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS 58
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO -
DISCURSO OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS
SUJEITOS 60
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO 80
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA 81
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA 89
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 90
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 94
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL 105
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 106
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 111
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 125
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 127
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 130
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO
FRANCISCO A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 144
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS
PARA MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO 152
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4 153
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades 155
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas 165
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede 174
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O
PBA 17 189
9 CONCLUSOtildeES 202
REFEREcircNCIAS 206
APEcircNDICE A ndash Roteiro de Entrevistas 220
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas 221
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal 222
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana 223
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado
para Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal 224
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP 225
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco 228
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco 229
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O olhar para as populaccedilotildees quilombolas nos remete ao desenvolvimento da sociedade
colonial quando milhotildees de negros foram escravizados vindos do continente africano
trazidos em porotildees nos navios negreiros Este acontecimento marcou um longo periacuteodo da
nossa histoacuteria sendo o Brasil o paiacutes que mais importou escravos africanos e o que por uacuteltimo
aboliu formalmente a escravidatildeo no continente americano
A palavra ldquoquilombordquo em sua etimologia bantu quer dizer acampamento guerreiro na
floresta Segundo Freitas et al (2011 p 2) a palavra quilombo
foi popularizada no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios atos
e decretos para se referir agraves unidades de apoio muacutetuo criadas pelos rebeldes ao
sistema escravista e agraves suas reaccedilotildees organizaccedilotildees e lutas pelo fim da escravidatildeo no
Paiacutes
Com significado especial tambeacutem para os libertos em seu caminho de conquista e
liberdade obteve dimensotildees e conteuacutedos amplos Ainda podemos nos pegar pensando um
quilombo num impulso quase inconsciente como um local habitado por negros que lutando
de forma sangrenta almejam a liberdade com a luta
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que representa 63 vivendo no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Cerca de 90 se autodeclaram negros Os uacutenicos estados que natildeo registram
ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
As populaccedilotildees quilombolas satildeo um fato e muitas ainda vivem em comunidades
formadas por forte viacutenculo de parentesco mantendo ainda vivas tradiccedilotildees culturais e
religiosas Os membros da comunidade estatildeo ligados a trabalhos rurais ou culturas de
subsistecircncia e muitos dependem de programas de transferecircncia de renda como o Bolsa
Famiacutelia1 (FREITAS et al 2011)
O registro histoacuterico tradicional eacute de que os quilombos eram das regiotildees de grande
concentraccedilatildeo de escravos situados em locais de difiacutecil acesso distante dos centros urbanos
1 O Programa Bolsa Famiacutelia eacute um programa de transferecircncia direta de renda que beneficia famiacutelias em situaccedilatildeo
de pobreza e de extrema pobreza em todo o paiacutes O Bolsa Famiacutelia integra o Plano Brasil Sem Miseacuteria criado
pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2004 que tem como foco de atuaccedilatildeo os 16 milhotildees de
brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e estaacute baseado na garantia de renda
inclusatildeo produtiva e no acesso aos serviccedilos puacuteblicos
17
Esse isolamento estrateacutegia necessaacuteria para sobrevivecircncia dos grupos e garantia de sua
organizaccedilatildeo dificulta a obtenccedilatildeo de informaccedilotildees precisas e a ampliaccedilatildeo do conhecimento
sobre as comunidades remanescentes de quilombos que carrega com suas tradiccedilotildees e
relaccedilotildees territoriais proacuteprias uma identidade eacutetnica e cultural a ser respeitada e preservada
Segundo Arruti (2006 p 26) as chamadas comunidades remanescentes de quilombos
constitui
Categoria social relativamente recente representa uma forccedila social relevante no
meio rural brasileiro dando nova traduccedilatildeo agravequilo que era conhecido como
comunidades negras rurais (mais ao centro sul e sudeste do paiacutes) e terras de preto
(mais ao norte e nordeste) que tambeacutem comeccedilam a penetrar no meio urbano dando
nova traduccedilatildeo a um leque variado de situaccedilotildees que vatildeo desde antigas comunidades
negras rurais atingidas pela expansatildeo dos periacutemetros urbanos ateacute bairros no entorno
dos terreiros de candombleacute
Como resultado da luta do povo negro desde a eacutepoca da colocircnia e reorganizada nos
anos 1980 o reconhecimento das comunidades quilombolas ocorreu com a Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 ano de comemoraccedilatildeo do centenaacuterio da Lei Aacuteurea
As mobilizaccedilotildees nacionais ocorridas em torno de uma Assembleia Nacional
Constituinte contaram com a participaccedilatildeo ativa das comunidades quilombolas que num
esforccedilo de organizaccedilatildeo em niacutevel nacional conseguiram incluir na Constituiccedilatildeo Federal o
reconhecimento da existecircncia dos quilombos na sociedade nacional e a garantia do acesso agraves
suas terras como um direito expresso no artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
Constitucionais (ADTC)
O artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal (1988) versa sobre o direito de propriedade das
terras quilombolas afirmando que ldquoaos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir-
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 2004b p 159)
Este artigo apesar de inserido sem maiores discussotildees na Carta Constituinte
permaneceu sem aplicaccedilatildeo ateacute 1995 momento em que ganha forccedila o tema dos quilombos
produzindo impactos sociais com o debate em torno do caso de Rio das Ratildes2 que no ano do
tricentenaacuterio de morte de Zumbi dos Palmares ganhou destaque na imprensa em debates
poliacuteticos e anaacutelises acadecircmicas (ARRUTI 2006)
A populaccedilatildeo remanescente de quilombos pode ser enquadrada como um grupo
minoritaacuterio dentro da populaccedilatildeo negra (FREITAS et al 2011)
2 Rio das Ratildes ndash Reconhecida em 1993 pela FCP como ldquocomunidade remanescente de quilombosrdquo situada no
Sertatildeo Baiano aproximadamente a 80 km de Bom Jesus da Lapa
18
A situaccedilatildeo de alijamento social ou inserccedilatildeo social desqualificada associada agrave
invisibilidade de suas necessidades reais confere agrave populaccedilatildeo negra em geral e agraves
quilombolas em particular uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade que se expressa clara e
especialmente nos indicadores soacutecio-econocircmicos e de sauacutede Em uacuteltima instacircncia este aspecto
estaacute relacionado ao histoacuterico brasileiro de poliacuteticas puacuteblicas racistas que impocircs ao negro no
que tange a programaccedilatildeo das poliacuteticas de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede um
lugar marginal na sociedade em que pese suas aguerridas lutas no sentido de garantir sua
cidadania
Dentre as vaacuterias definiccedilotildees sobre comunidade quilombola o Centro de Cultura Luiacutes
Freire (CCLF)3 compreende como
Os grupos eacutetnicos que assim se auto-identificam e que se mobilizam politicamente
em torno de demandas comuns e diferenciadas do conjunto da sociedade nacional
especialmente o direito ao territoacuterio que tradicionalmente ocupam e que estaacute na base
de sustentaccedilatildeo de sua etnicidade (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 7)
O desafio dos governos e da sociedade brasileira frente agraves comunidades quilombolas
torna-se enorme ao se deparar com o natildeo reconhecimento desde o passado colonial dos seus
direitos territoriais base para o usufruto dos demais direitos sociais econocircmicos e culturais
(BRASIL 2011)
Dentre as demandas comuns e diferenciadas para o povo negro e comunidades
quilombolas foi aprovada em 2006 pelo Conselho Nacional de Sauacutede a ldquoPoliacutetica Nacional
de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negrardquo instrumento que tem por objetivo combater a
discriminaccedilatildeo eacutetnico-racial nos serviccedilos e atendimentos oferecidos no Sistema Uacutenico de
Sauacutede bem como promover a equumlidade em sauacutede da populaccedilatildeo negra O tema da equidade
aparece no bojo das discussotildees sobre as desigualdades historicamente sofridas pela populaccedilatildeo
negra e comunidades quilombolas e as desigualdades sociais - em qualquer que seja seu niacutevel
- como relevante fator determinante das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees eacute um fato
indiscutiacutevel (BARATA 2009)
Desigualdades sociais em sauacutede em sua maioria satildeo injustas remetendo a
distribuiccedilatildeo desigual de poder e propriedade Pensar na promoccedilatildeo da equidade em sauacutede para
populaccedilatildeo negra estaacute impliacutecita a questatildeo das desigualdades eacutetnicas
3 CCLF - eacute uma Organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola
19
ldquoQualquer consideraccedilatildeo das desigualdades sociais em relaccedilatildeo a grupos eacutetnicos carrega
a dupla determinaccedilatildeo a posiccedilatildeo social que tais grupos ocupam na sociedade e a
aceitaccedilatildeorechaccedilo que possam ter frente aos grupos majoritaacuteriosrdquo (BARATA 2009 p 56)
Ampliando a reflexatildeo para aleacutem das desigualdades sociais em sauacutede a referecircncia agrave
populaccedilatildeo negra e formaccedilatildeo de quilombos nos remete a temaacutetica do racismo e suas diversas
nuances que com os avanccedilos no conhecimento cientiacutefico levaram a construccedilatildeo nos Estados
Unidos do conceito de ldquoRacismo Ambientalrdquo o qual segundo Pacheco (2007 p 9) consiste
nas
injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma implacaacutevel sobre etnias e
populaccedilotildees mais vulneraacuteveis O Racismo Ambiental natildeo se configura apenas atraveacutes
de accedilotildees que tenham uma intenccedilatildeo racista mas igualmente atraveacutes de accedilotildees que
tenham impacto lsquoracialrsquo natildeo obstante a intenccedilatildeo que lhes tenha dado origem [hellip]
A autora defende que este conceito desafia a humanidade ao ampliar as visotildees de
mundo no sentido da busca por uma sociedade igualitaacuteria e justa na qual democracia plena e
cidadania ativa natildeo sejam direitos de poucos privilegiados (PACHECO 2007)
Eacute um conceito que manteacutem ligaccedilatildeo estreita com o conceito de justiccedila ambiental e
segundo Porto estaacute relacionado originalmente agrave luta contra a discriminaccedilatildeo racial e eacutetnica
presente nos movimentos pelos direitos civis da sociedade norte-americana nos anos 70 e 80
(PORTO 2009) O foco inicial foi a luta contra o chamado racismo ambiental ampliando
para a defesa pelos direitos humanos universais e incorporando outras formas de
discriminaccedilatildeo aleacutem da racial como classe social etnia e gecircnero (BULLARD 1994 PORTO
2007 apud PORTO 2009)
O Mapa de conflitos causados pelo Racismo Ambiental no Brasil4 identificou em seu
levantamento inicial que a maioria das denuacutencias envolvia problemas ocorridos
principalmente no campo longe dos centros urbanos e da atenccedilatildeo da miacutedia (PACHECO
2008b)
A temaacutetica do Racismo Ambiental tem crescido como preocupaccedilatildeo no Brasil entre
outras situaccedilotildees em face da construccedilatildeo de grandes obras de infra-estrutura consideradas
megaprojetos de desenvolvimento econocircmico dito sustentaacuteveis realizadas com recursos do
Governo Federal notadamente do Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) cujo impacto
nas populaccedilotildees que entrecruzam seus caminhos ainda natildeo se sabe precisar embora seja
possiacutevel estimar
4 O levantamento inicial do ldquoMapa de Conflitos causados por Racismo Ambiental no Brasilrdquo foi apresentado dia
20 de junho de 2007 no Encontro do GT Racismo Ambiental (PACHECO 2007)
20
As denuacutencias contra o Racismo Ambiental englobam contaminaccedilotildees por resiacuteduos
toacutexicos que afetam comunidades afrodescendentes indiacutegenas caiccedilaras pescadores
tradicionais e marisqueiras em vaacuterias regiotildees do Brasil como o turismo predatoacuterio que
avanccedila pelo litoral do Nordeste mas talvez sejam as grandes obras de infra-estrutura como a
construccedilatildeo de hidreleacutetricas e as mudanccedilas de curso dos rios assim como os mega-
empreendimentos da monocultura que causam danos mais irreversiacuteveis agrave vida de povos
indiacutegenas de remanescentes de quilombos e de populaccedilotildees tradicionais afirma a autora
(PACHECO 2008b p 3)
Ao referir-se a grandes obras de infra-estrutura como megaprojetos no Brasil haacute o
projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo aprovado pelo governo
brasileiro em 2006 e apresentado como ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecio-
econocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agraves secas na regiatildeo do semiaacuterido nordestino Mas as
secas do Nordeste satildeo perioacutedicas e como um fenocircmeno natural e previsiacutevel natildeo haacute como
combatecirc-las Entretanto haacute que se pensar em formas em tecnologias apropriadas para o
enfrentamento aos seus efeitos tornando assim possiacutevel a convivecircncia do homem com o meio
aacuterido que sempre sofreu de deficiecircncia hiacutedrica
Para o enfrentamento a esta problemaacutetica vaacuterios foram os projetos apresentados pelo
governo federal em diferentes momentos poliacuteticos do paiacutes e relatos sobre projetos para
transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco datam da eacutepoca do Brasil Impeacuterio
O projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco como fora inicialmente chamado na
deacutecada de 1990 apresenta-se como um dos mais polecircmicos projetos governamentais
passando a ser denominado em momentos poliacuteticos de maior embate do governo com a
sociedade e os movimentos sociais como Projeto de Integraccedilatildeo das Bacias do rio Satildeo
Francisco Atualmente foi rebatizado oficialmente como Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo
Francisco com as Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional o PISF (MENEZES
ROCHA F 2010)
Este projeto eacute um empreendimento financiado pelo PAC e faz parte de uma poliacutetica
desenvolvimentista e de crescimento econocircmico com forccedila no novo milecircnio adotada no
Brasil e paiacuteses em desenvolvimento desde a deacutecada de 80 num contexto de recessatildeo global
O projeto da transposiccedilatildeo estaacute inserido no bojo maior de uma poliacutetica de
desenvolvimento hegemocircnica mundial cuja ecircnfase eacute o crescimento econocircmico que na maior
parte das vezes natildeo vem sendo acompanhado por um desenvolvimento social Ao contraacuterio
esse modelo hegemocircnico trata cada vez mais a maioria da humanidade como objetos Objetos
21
que podem ser usados a serviccedilo do lucro e outros vistos como supeacuterfluos podem ser
descartados (PACHECO 2008a)
Se tratando de projeto como o da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco as condiccedilotildees para
que se estabeleccedilam eacute a expulsatildeo de populaccedilotildees de moradores rurais eou invasatildeo dos seus
territoacuterios atingindo diretamente as condiccedilotildees de vida de agricultores de comunidades rurais
sejam quilombolas ou indiacutegenas Projeto que tem gerado inuacutemeras situaccedilotildees de conflitos
socioambientais eacute um dos exemplos concretos de injusticcedila ambiental registrado pela Rede
Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA)5
Como profissional da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (Funasa) oacutergatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede passamos a visitar desde 2008 comunidades indiacutegenas e quilombolas para
desenvolver e acompanhar accedilotildees de educaccedilatildeo em sauacutede no programa de substituiccedilatildeo de casas
de taipa por alvenaria fruto de parceria Funasa ndash Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) no
referido projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
A aproximaccedilatildeo com a realidade dos municiacutepios na regiatildeo semiaacuterida do estado e
particularmente com as comunidades quilombolas despertou nosso interesse em compreender
a vulneraccedilatildeo socioambiental considerando a representaccedilatildeo das obras da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco na vida dessas populaccedilotildees sobre as marcas desse empreendimento em seu
territoacuterio assim como identificar o lugar das praacuteticas de educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental implementadas
A realizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa orientou-se pela seguinte pergunta Como a
vulneraccedilatildeo socioambiental se expressa na vida das comunidades quilombolas de
Salgueiro em consequecircncia do Projeto de Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e que
accedilotildees tecircm sido implementadas para minimizaacute-la
Em nosso estudo lanccedilamos um olhar sobre populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro
vivendo em regiotildees da zona rural do semiaacuterido nordestino afetadas pelo projeto da
transposiccedilatildeo A intenccedilatildeo eacute trazer um olhar criacutetico sobre os verdadeiros beneficiaacuterios deste
empreendimento
O capiacutetulo correspondente agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica aborda aspectos conceituais que
orientam este trabalho Satildeo discutidas as categorias vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo pelo lugar
que ocupam na realidade das comunidades quilombolas afetadas pela transposiccedilatildeo As
5 A Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) resulta da iniciativa de movimentos sociais sindicatos de
trabalhadoresas ONGs entidades ambientalistas ecologistas organizaccedilotildees de afrodescendentes e indiacutegenas e
pesquisadoresas universitaacuteriosas Foi criada no Coloacutequio Internacional sobre Justiccedila Ambiental Trabalho e
Cidadania realizado no campus da UFF- Niteroacutei de 24 a 27 de setembro de 2001 e teve o apoio de redes
semelhantes dos Estados Unidos Chile e Uruguai
22
categorias espaccedilo territoacuterio lugar e paisagem satildeo elementos conceituais norteadores na
compreensatildeo da dinacircmica das mudanccedilas ocorridas nas aacutereas quilombolas do estudo em
consequecircncia das intervenccedilotildees do projeto Em um terceiro e uacuteltimo bloco satildeo apresentados
aspectos da educaccedilatildeo educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental com base em algumas
abordagens existentes
No capiacutetulo 4 eacute descrito o percurso metodoloacutegico Para contemplar as especificidades
do objeto de estudo foi realizado um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa Visotildees de mundo valores e percepccedilotildees enriquecem os conteuacutedos das dimensotildees
natildeo quantificaacuteveis relacionadas ao significado e representaccedilatildeo do projeto da transposiccedilatildeo no
contexto social poliacutetico e cultural das comunidades quilombolas O enfoque quantitativo
subsidiou a descriccedilatildeo das aacutereas quilombolas caracterizando-as em aspectos socioambientais
Resultados e discussatildeo estatildeo contidos no capiacutetulo 5 6 7 e 8 relacionados a cada
objetivo especiacutefico do estudo O capiacutetulo 5 traz conteuacutedos que caracterizam a situaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e o Projeto da Transposiccedilatildeo o capiacutetulo 6 apresenta aspectos das comunidades
quilombolas e seu territoacuterio o capiacutetulo 7 conteacutem questotildees relacionadas ao impacto e
vulneraccedilatildeo provocados pelo Projeto o capiacutetulo 8 avalia as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas por dois Programas Baacutesicos Ambientais (PBA) para mitigar impactos e
vulneraccedilatildeo Dentre os 38 Planos e PBArsquos contidos no Projeto da Transposiccedilatildeo foram
avaliados o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental 4 (PBA 4) e o Programa de Apoio agraves
Comunidades Quilombola 17 (PBA 17)
O foco do estudo esteve direcionado aos pressupostos de que empreendimentos da
natureza do projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco afetam sobremaneira a vida de
populaccedilotildees quilombolas provocando impactos socioambientais e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo
marcantes de que estudos sobre populaccedilotildees quilombolas em Salgueiro concernentes ao tema
satildeo escassos e de que essas populaccedilotildees natildeo se apropriaram das propostas e praacuteticas de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental realizadas pelo projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco
Esperamos que este estudo contribua para o processo de compreensatildeo e identificaccedilatildeo
das situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo as quais estatildeo submetidas as populaccedilotildees quilombolas de
Salgueiro com o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco que decirc visibilidade ao que
ainda pode ser invisiacutevel aos governos aos gestores responsaacuteveis por aprovar e implementar
poliacuteticas puacuteblicas confirmando o que jaacute era previsto e denunciado pelos movimentos sociais
e segmentos contraacuterios agrave transposiccedilatildeo
23
2 OBJETIVOS
21 GERAL
Analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
em territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la
22 ESPECIacuteFICOS
a) Caracterizar o Projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco considerando a
proposta oficial e a percepccedilatildeo dos sujeitos
b) Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios quilombolas da aacuterea do estudo
c) Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas
d) Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees implementadas pelo projeto para minimizar a
vulneraccedilatildeo
24
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS
As categorias aqui referidas assumem grande importacircncia na vida e histoacuteria de
comunidades quilombolas Olhar para essas dimensotildees particularmente em aacutereas afetadas por
um empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco eacute olhar para uma
realidade cujas mudanccedilas e impactos natildeo estatildeo profundamente identificados mensurados nem
avaliados onde conflitos e inseguranccedilas fazem parte da vida dessas populaccedilotildees
O termo vulnerabilidade bastante empregado nos uacuteltimos anos apresenta distintas
perspectivas de interpretaccedilatildeo Em uso desde a deacutecada de 1990 principalmente no campo das
respostas agrave epidemia de HIVAids o conceito tecircm sido objeto de estudos que ampliaram sua
compreensatildeo para aleacutem dos campos da sauacutededoenccedila inserindo em sua percepccedilatildeo aspectos
comportamentais culturais econocircmicos e poliacuteticos
Em sua origem o termo vulnerabilidade vem da aacuterea da advocacia internacional pelos
Direitos Universais do Homem designando grupos ou indiviacuteduos fragilizados juriacutedica ou
politicamente na promoccedilatildeo proteccedilatildeo ou garantia de seus direitos de cidadania (ALVES
1994)
Entre outras concepccedilotildees haacute uma abordagem multifatorial agrave questatildeo da
vulnerabilidade apresentada por Kalipeni (2000 apud SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007)
cujo autor apresenta a proposta de Watts e Bohle (1993) de estrutura tripartite sobre
vulnerabilidade que consiste na interseccedilatildeo entre trecircs poderes sendo entitlement o que diz
respeito ao direito das pessoas empowerment ou empoderamento que se refere agrave participaccedilatildeo
poliacutetica e institucional dessas pessoas e a poliacutetica econocircmica sobre a organizaccedilatildeo estrutural-
histoacuterica da sociedade e suas decorrecircncias
Desse modo
a vulnerabilidade agraves doenccedilas e situaccedilotildees adversas da vida distribui-se de maneira
diferente segundo os indiviacuteduos regiotildees e grupos sociais e relaciona-se com a
pobreza com as crises econocircmicas e com o niacutevel educacional Ao multifatorializar a
vulnerabilidade acrescenta ainda que a vulnerabilidade depende do local e do
clima restringindo-se portanto agrave dimensatildeo geograacutefica (KALIPENI 2000 apud
SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007 p 320)
Uma outra compreensatildeo aponta o conceito de vulnerabilidade como fundamental para
a vigilacircncia agrave sauacutede como tambeacutem para definiccedilatildeo de prioridades e tomada de decisotildees Nesta
perspectiva circunstacircncias variadas determinam como se daacute a vulnerabilidade de indiviacuteduos
25
ou populaccedilotildees em relaccedilatildeo a determinados agravos E tais circunstacircncias podem ser agrupadas
da seguinte forma 1) os que dependem diretamente das accedilotildees individuais configurando o
comportamento do indiviacuteduo a partir de um determinado grau de consciecircncia que ele
manifesta 2) os que dizem respeito agraves accedilotildees comandadas pelo poder puacuteblico iniciativa
privada e agecircncias da sociedade civil voltadas a diminuiccedilatildeo das chances de ocorrecircncia de
danos agrave sauacutede e 3) os que fazem parte de um conjunto de determinantes relativo ao
acesso a informaccedilotildees financiamentos serviccedilos bens culturais liberdade de
expressatildeo (TAMBELLINI CAMARA 1998)
Outra leitura faz a discussatildeo e a desconstruccedilatildeo entre os termos vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo trazendo natildeo apenas suas diferenccedilas conceituais mas tambeacutem as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo que cada termo carrega para as poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede e para as
poliacuteticas puacuteblicas em geral
Mesmo compartilhando a mesma raiz semacircntica que deriva do latim vulnus cujo
significado eacute ldquoferidardquo os dois conceitos por natildeo terem a mesma extensatildeo precisam ser
diferenciados afirma Schramm (2012)
O termo vulnerabilidade para o autor eacute uma condiccedilatildeo compartilhada pelo universo de
todos os seres na medida em que todos os seres vivos satildeo por essecircncia vulneraacuteveis pela
condiccedilatildeo de finitude e mortalidade que os caracteriza Poreacutem vulneraccedilatildeo eacute entendida como a
condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute ferido (ou traumatizado) (SCHRAMM 2012 p 38)
Como exerciacutecio de desconstruccedilatildeo e para caracterizar a distinccedilatildeo entre os dois
conceitos Schramm (2012) se debruccedila sobre o que estaacute no dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
que define o adjetivo vulneraacutevel ao que ldquopode ser fisicamente (mas poderiacuteamos acrescentar
psiquicamente) feridordquo e o substantivo vulnerabilidade agrave ldquoqualidade ou estado do que eacute ou
se encontra vulneraacutevelrdquo Quanto ao substantivo vulneraccedilatildeo este refere-se ao ldquoato ou efeito de
vulnerarrdquo (HOUAISS VILLAR 2001 p 2884)
Ao aproximar os dois pares de conceitos o autor chega ao entendimento de que
ldquoo conceito de vulnerabilidade se refere a uma potencialidade e vulneraccedilatildeo a uma efetivaccedilatildeo
de tal potencialidade isto eacute a vulnerabilidade eacute em princiacutepio sempre em potecircncia e a
vulneraccedilatildeo em atordquo (SCHRAMM 2012 p 39)
Com este olhar vulnerabilidade eacute a possibilidade de ser ferido e engloba tanto o
aspecto referente agrave dimensatildeo fiacutesica quanto o contido na perspectiva social Ou seja todos satildeo
suscetiacuteveis a serem feridos em algum grau bastando para isto estar vivos Mas o que
pretende o autor com essa reflexatildeo eacute mostrar que haacute graus diferentes de suscetibilidades que
26
nem todos estatildeo suscetiacuteveis na mesma intensidade Assim eacute construiacuteda a diferenccedila entre
vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo
A distinccedilatildeo entre os dois termos desfaz a ambiguidade visto que ldquose algueacutem deixa de
ser vulneraacutevel eacute porque ele tem se tornado vulneradordquo (KOTTOW 2008 apud SCHRAMM
2012 p 37)
A justificativa apresentada pelo autor para a necessidade de distinguir os termos e
fazer uma anaacutelise conceitual parte da preocupaccedilatildeo com o contexto concreto o qual se analisa
A desconstruccedilatildeo como referido anteriormente pode mostrar como o termo ldquovulnerabilidaderdquo
estaacute vinculado a uma praacutetica estando sempre ligada a uma intervenccedilatildeo que teraacute
necessariamente consequecircncias que poderatildeo ser boas ou natildeo
Um dos pontos de vista em que o termo ldquovulnerabilidaderdquo pode ser considerado
problemaacutetico eacute no da eacutetica aplicada na eacutetica aplicada aos sistemas vivos ou da bioeacutetida pois
se trata de ldquocondiccedilotildees humanas que a sociedade enfrenta de modo muito diferenterdquo
(KOTTOW 2008 apud SCHRAMM 2012 p 43)
Na perspectiva do social satildeo essas condiccedilotildees humanas que se estabelecem de forma
diferenciada que para Schramm (2012) se apresentam como
Vulneraccedilatildeo diz respeito agrave vulnerabilidade consubstanciada De fato se todos satildeo
potencialmente (ou virtualmente) vulneraacuteveis enquanto seres vivos nem todos satildeo
vulnerados concretamente devido a contingecircncias como o pertencimento a uma
determinada classe social a uma determinada etnia a um dos gecircneros ou
dependendo de suas condiccedilotildees de vida inclusive seu estado de sauacutede Em suma
parece razoaacutevel considerar mais correto distinguir a mera vulnerabilidade da efetiva
lsquovulneraccedilatildeorsquo vendo a primeira como potencialidade e segunda como uma situaccedilatildeo
de fato pois isso tem consequecircncias relevantes no momento da tomada de
decisatildeo (SCHRAMM 2006 p 192)
A reflexatildeo feita ateacute o momento nos remete agrave condiccedilatildeo em que se encontra a populaccedilatildeo
quilombola do nosso estudo afetada por um projeto governamental e suscetiacutevel a situaccedilatildeo de
vulneraccedilatildeo
O contexto social e poliacutetico a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo quilombola de
Salgueiro reforccedila a importacircncia desta linha de abordagem e sua pertinecircncia segundo o autor
extende-se para uma bioeacutetica da proteccedilatildeo ldquoque diferencia pacientes vulneraacuteveis suscetiacuteveis e
vulnerados quando se trata de saber quais indiviacuteduos ou populaccedilotildees merecem ser protegidos
contra danos que natildeo satildeo capazes de enfrentar sozinhosrdquo (SCHRAMM 2008 p 187)
A natildeo clareza sobre esta distinccedilatildeo haja visto a densidade do termo vulnerabilidade
traz consequecircncias duvidosas sobre as praacuteticas de amparo e proteccedilatildeo e o porque das mesmas
as quais podem prejudicar principalmente os de fato vulnerados A natildeo clareza ou confusatildeo
27
quanto a quem ou que grupos satildeo realmente vulnerados dificulta identificar claramente os
eventuais atores das praacuteticas pretendidas (SCHRAMM 2012)
A proposta de uma bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute uma construccedilatildeo recente embora a ideia de
um ethos protetor seja mais antiga Termo que provem do grego ldquoethosrdquo significando
ldquomoradardquo dos animais lugar ldquoprotegidordquo e em seguida o ldquolugar onde se habitardquo quando
aplicado tambeacutem aos humanos (BLACKBURN 1997 LALANDE 1972 apud SCHRAMM
2012 p 45) Foi a partir desta ressignificaccedilatildeo transitando de um sentido amplo (sistemas e
ambientes) para um mais restrito (indiviacuteduos caracteriacutesticas pessoais e cidadatildes) que a
bioeacutetica de proteccedilatildeo pocircde ser pensada como uma ferramenta cuja funccedilatildeo praacutetica seria proteger
tanto indiviacuteduos quanto populaccedilotildees humanas ndash bem como outros seres vivos e ambientes
naturais- contra ameaccedilas que podem afetaacute-los de forma significativa inclusive ameaccedilando
suas existecircncias e sua preservaccedilatildeo (SCHRAMM 2012 p 49)
A bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute considerada como instrumentos teoacutericos e praacuteticos para
enfrentar conflitos morais relativos agraves praacuteticas humanas Praacuteticas que provocam efeitos
danos irreversiacuteveis sobre os seres vivos em particular indiviacuteduos e populaccedilotildees humanas
inseridas em seus contextos ecoloacutegicos biotecnocientiacuteficos e socioculturais (SCHRAMM
2005)
Apesar de tido como um dispositivo de proteccedilatildeo agraves pessoas e populaccedilotildees a bioeacutetica da
proteccedilatildeo daacute lugar a conflituosidade e abrange desdobramentos poliacuteticos As medidas
protetoras disponibilizadas podem ser aceitas ou natildeo diferentemente de uma praacutetica
paternalista
Assim a bioeacutetica da proteccedilatildeo se volta para a populaccedilatildeo de vulnerados os feridos com
carecircncia de recursos em vaacuterios niacuteveis como econocircmicos financeiros e ateacute existenciais e natildeo
apenas os expostos agrave condiccedilatildeo de vulnerabilidade
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS
Sem entrar na discussatildeo sobre a precedecircncia entre territoacuterio e espaccedilo natildeo raro se
confunde esses dois conceitos Haacute os que consideram o territoacuterio vindo antes do espaccedilo como
haacute os que consideram o contraacuterio (SANTOS SILVEIRA 2001)
Entretanto encontrar uma uacutenica definiccedilatildeo para espaccedilo ou para territoacuterio natildeo eacute tarefa
faacutecil principalmente se considerarmos que cada vocaacutebulo recebe vaacuterias compreensotildees Daiacute
qualquer definiccedilatildeo natildeo eacute fixa ao contraacuterio eacute mutaacutevel flexiacutevel Historicamente os conceitos a
28
exemplo do que ocorreu com espaccedilo e territoacuterio carregam diferentes significados (SAQUET
2008)
Em sua obra Por uma geografia nova (1978) Milton Santos traz o conceito de espaccedilo
como central compreendendo-o como um verdadeiro campo de forccedilas cuja formaccedilatildeo eacute
desigual Eis a razatildeo pela qual a evoluccedilatildeo espacial natildeo se apresenta de igual forma em todos
os lugares (SANTOS M 1978 p 122)
Com este olhar o espaccedilo era visto a partir do que ele oferece a alguns e recusa a
outros pelas escolha de localizaccedilatildeo entre as atividades e entre os homens de acordo com suas
caracteriacutesticas e funcionamento Enfim o espaccedilo tido como resultado de uma praacutexis coletiva
cujas relaccedilotildees sociais satildeo reproduzidas (SANTOS M 1978 p 171)
O autor nos apresenta a noccedilatildeo de espaccedilo como fator de evoluccedilatildeo social e natildeo apenas
condiccedilatildeo Ou seja a evoluccedilatildeo do espaccedilo se daacute pelo movimento da sociedade total
Sendo o espaccedilo aleacutem de instacircncia social tambeacutem organizado pelo homem satildeo
agregadas diferentes variaacuteveis como o espaccedilo social e o espaccedilo geograacutefico O espaccedilo social
refere-se ao espaccedilo humano lugar de vida e trabalho enquanto o espaccedilo geograacutefico eacute
organizado pelo homem vivendo em sociedade Portanto cada sociedade historicamente
produz cria seu espaccedilo como lugar de sua proacutepria reproduccedilatildeo
A partir desta premissa Santos M (2012 p 12) define espaccedilo como
uma instacircncia da sociedade ao mesmo tiacutetulo que a instacircncia econocircmica e a instacircncia
cultural-ideoloacutegicaA economia estaacute no espaccedilo assim como o espaccedilo estaacute na
economia O mesmo se daacute com o poliacutetico-institucional e com o cultural-ideoloacutegico
Isso quer dizer que a essecircncia do espaccedilo eacute social Nesse caso o espaccedilo natildeo pode ser
apenas formado pelas coisas os objetos geograacuteficos naturais e artificiais cujo
conjunto nos daacute a Natureza O espaccedilo eacute tudo isso mais a sociedade cada fraccedilatildeo da
natureza abriga uma fraccedilatildeo da sociedade atual
O autor apresenta como conceito baacutesico que o espaccedilo constitui uma realidade
objetiva um produto social em permanente processo de transformaccedilatildeo e ao impor sua
realidade a sociedade natildeo pode operar fora dele Apreender a relaccedilatildeo do espaccedilo com a
sociedade eacute condiccedilatildeo sine qua non haja visto que a sociedade define a compreensatildeo dos
efeitos dos processos (tempo e mudanccedila) e dita as noccedilotildees de forma funccedilatildeo e estrutura
Em termos mais concretos sempre que a sociedade (totalidade social) sofre mudanccedilas
as formas ou objetos geograacuteficos (tanto os novos como os velhos) assumem novas funccedilotildees
Cria-se entatildeo uma nova organizaccedilatildeo espacial fruto da totalidade da mutaccedilatildeo (SANTOS F
M 2012)
29
Com as definiccedilotildees apresentadas ateacute aqui Santos M (2012) aponta os elementos que
fazem parte do espaccedilo que satildeo os homens as firmas as instituiccedilotildees o meio ecoloacutegico e as
infraestruturas Os homens se constituem parte do espaccedilo seja pela oferta de seu trabalho
seja como candidatos a isso As firmas e as instituiccedilotildees respondem segundo suas
competecircncias pelas demandas dos homens de cada indiviacuteduo como parte da sociedade total
Entatildeo as firmas tecircm como funccedilatildeo produzir bens serviccedilos e ideias e as instituiccedilotildees se
encarregam de produzir as normas ordens e legitimaccedilotildees O meio ecoloacutegico refere-se ao
conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do trabalho humano E por
uacuteltimo as infraestruturas consideradas como o trabalho humano concretizado e espacializado
na forma de casas plantaccedilotildees caminhos etc (SANTOS F M 2012) Vale ressaltar que os
elementos descritos sofrem variaccedilotildees quantitativas e qualitativas sendo portanto variaacuteveis
que sofrem mudanccedilas no movimento do tempo histoacuterico
Pensemos agora o territoacuterio que para populaccedilotildees quilombolas estaacute vinculado a sua
afirmaccedilatildeo de identidade eacutetnica social poliacutetica e cultural
O entendimento que Milton Santos no apresenta sobre territoacuterio refere-se geralmente
a extensatildeo apropriada e usada Mas ele traz o sentido da palavra territorialidade como
sinocircnimo de ldquopertencer agravequilo que nos pertence [] esse sentimento de exclusividade e limite
ultrapassa a raccedila humana e prescinde da existecircncia de Estadordquo (SANTOS SILVEIRA 2001
p 19)
Com isto o autor apresenta a ideia de que territorialidade como anaacutelogo a aacuterea de
vivecircncia e de reproduccedilatildeo chega ateacute os proacuteprios animais Poreacutem ao pensar na territorialidade
humana agrega-se tambeacutem a preocupaccedilatildeo com o destino construccedilatildeo do futuro o que entre
os seres vivos eacute privileacutegio do homem (SANTOS SILVEIRA 2001)
O territoacuterio natildeo deve ser entendido apenas como uma aacuterea delimitada e constituiacuteda por
relaccedilotildees de poder do Estado como se faz na geografia por incorrer no erro de engessar seu
uso e natildeo considerar as formas diversas de enfocaacute-lo em toda sua complexidade que leva em
consideraccedilatildeo muitos atores e muitas relaccedilotildees sociais (SAQUET 2008)
Os autores compreendem a partir da leitura de Milton Santos que o territoacuterio pode ser
considerado
[] como delimitado construiacutedo e desconstruiacutedo por relaccedilotildees de poder que
envolvem uma gama muito grande de atores que territorializam suas accedilotildees como o
passar do tempo No entanto a delimitaccedilatildeo pode natildeo ocorrer de maneira precisa
pode ser irregular e mudar historicamente bem como acontecer uma diversificaccedilatildeo
das relaccedilotildees sociais num jogo de poder cada vez mais complexo (SAQUET 2008 p
32)
30
Trazendo a reflexatildeo sobre lugar Santos M (2012) nos traz a compreensatildeo de
localizaccedilatildeo como um momento do imenso movimento do mundo que eacute apropriado em um
ponto geograacutefico um lugar Mas ressalta que localizaccedilatildeo e lugar natildeo devem se confundir em
que pese a sua estreita relaccedilatildeo ou imbricamento
Cada lugar estaacute sempre mudando de significaccedilatildeo consequecircncia do movimento social
O lugar pode ser o mesmo mas as localizaccedilotildees mudam Lugar eacute o objeto ou conjunto de
objetos A localizaccedilatildeo eacute um feixe de forccedilas sociais se exercendo em um lugar Um importante
aspecto ao pensar numa anaacutelise refere-se a periodizaccedilatildeo considerando que as mesmas
variaacuteveis mudam de valor de acordo com o periacuteodo histoacuterico (SANTOS F M 2012)
Por sua vez a paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si
aspectos cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees diferentes
(SANTOS F M 2012 p 68)
Disto resultam configuraccedilotildees mais bem preparadas para certas inovaccedilotildees do que
outras o que implica em ter aacutereas onde
a) As inovaccedilotildees podem ser imediatamente aceitas e integradas ao sistema
b) As inovaccedilotildees precisam passar por um maior nuacutemero de distorccedilotildees a afim de se
integrarem ao sistema
c) A estrutura imposta (inovaccedilotildees) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas
A uacuteltima caracterizaccedilatildeo - referente ao item c - nos parece pertinente a uma das aacutereas
de estudo desta dissertaccedilatildeo e no capiacutetulo de resultados teceremos algumas consideraccedilotildees
A percepccedilatildeo que se tem da paisagem eacute relativa quanto agrave localizaccedilatildeo que se estaacute
assumindo escalas diferentes conforme onde estejamos A sua dimensatildeo entatildeo eacute diretamente
relacionada agrave dimensatildeo da percepccedilatildeo o que chega aos sentidos (SANTOS M 1988)
E sintetizando o que seja paisagem Santos M (1988 p 21) afirma
Tudo aquilo que noacutes vemos o que nossa visatildeo alcanccedila eacute a paisagem Esta pode ser
definida como o domiacutenio do visiacutevel aquilo que a vista abarca Natildeo eacute
formada apenas de volumes mas tambeacutem de cores movimentos odores
sons etc
31
As conceituaccedilotildees construiacutedas com base nas categorias trazidas por Milton Santos pelo
seu enfoque dinacircmico histoacuterico social e poliacutetico se conformam atualmente no contexto do
projeto da transposiccedilatildeo como pilares para compreender as transformaccedilotildees que se processam
nas aacutereas quilombolas do estudo
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS
Onde quer que haja mulheres e
homens haacute sempre o que fazer haacute
sempre o que ensinar haacute sempre o
que aprender
Paulo Freire
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila
Comeccedilemos pensando que natildeo haacute uma uacutenica forma de ensinar natildeo haacute um uacutenico
modelo de educaccedilatildeo e a escola natildeo eacute o uacutenico lugar o uacutenico espaccedilo onde a educaccedilatildeo acontece
e muitas vezes nem eacute o melhor lugar A praacutetica da educaccedilatildeo natildeo se daacute apenas no ensino
escolar nem o professor profissional eacute o seu uacutenico praticante (BRANDAtildeO 2002)
Como bem lembra Carlos Rodrigues Brandatildeo (2002 p 55) ldquotoda educaccedilatildeo sonha
uma pessoa Sonha mesmo um tipo de mundo realizado atraveacutes de diferentes categorias de
interaccedilotildees entre pessoasrdquo Pensar sobre educaccedilatildeo e falar sobre ela eacute pois pensarmos e
falarmos em sonhos de outros mundos e sonhos de outros sujeitos no mundo
Estes sonhos possiacuteveis ou natildeo podem ter a educaccedilatildeo como ferramenta e Paulo
Freire em sua primeira obra ressaltou a politicidade da educaccedilatildeo entendida como praacutetica de
opressatildeo ou de liberdade (FREIRE 1981)
Referindo-se a uma praacutetica educativo-criacutetica ou progressista Freire em sua obra
Pedagogia da Autonomia identifica alguns saberes como fundamentais como conteuacutedos
obrigatoacuterios agrave organizaccedilatildeo programaacutetica da formaccedilatildeo docente (FREIRE 2003)
Para este trabalho destacamos alguns destes saberes ou princiacutepios com o intuito de
contribuir com o pensar e agir como sujeitos no mundo e por consideraacute-los atinentes ao tema
do nosso estudo com populaccedilotildees quilombolas E com a certeza de que tudo que eacute referido
pelo autor instiga nossa reflexatildeo para criacutetica e autocriacutetica como seres potencialmente
educadores eacute que foi tatildeo difiacutecil ldquoelegerrdquo
32
Mas ousamos arriscar neste exerciacutecio realccedilando quatro saberes ou princiacutepios
-Educar exige respeito aos saberes dos educandos ndash lsquo [] pensar certo coloca ao
professor ou mais amplamente agrave escola o dever de natildeo soacute respeitar os saberes com
que os educandos sobretudo os da classe populares chegam a ela saberes
socialmente construiacutedos na praacutetica comunitaacuteria - mas tambeacutem [] discutir com os
alunos a razatildeo de ser de alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos
conteuacutedosrsquo
-Ensinar exige risco aceitaccedilatildeo do novo e rejeiccedilatildeo a qualquer forma de
discriminaccedilatildeo -rsquoFaz parte igualmente do pensar certo a rejeiccedilatildeo mais decidida a
qualquer forma de discriminaccedilatildeo A praacutetica preconceituosa de raccedila de classe de
gecircnero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democraciarsquo
-Ensinar exige o reconhecimento e a assunccedilatildeo da identidade cultural ndash lsquo [] Umas
das tarefas mais importantes da praacutetica educativo-criacutetica eacute propiciar as condiccedilotildees em
que os educandosas em suas relaccedilotildees uns com os outros e todos com o professor ou
a professora ensaiam a experiecircncia profunda de assumir-se Assumir-se como ser
social e histoacuterico como ser pensante comunicante transformador criador realizador
de sonhos capaz de ter raiva porque capaz de amar Assumir-se como sujeito porque
capaz de reconhecer-se como objeto A assunccedilatildeo de noacutes mesmos natildeo significa a
exclusatildeo dos outros Eacute a lsquooutredadersquo do lsquonatildeo eursquo ou do tu que me faz assumir a
radicalidade de meu eursquo
- Ensinar exige a curiosidade ndash Se haacute uma praacutetica exemplar como negaccedilatildeo da
experiecircncia formadora eacute a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e em
consequecircncia a do educador Eacute que o educador que entregue a procedimentos
autoritaacuterios ou paternalistas que impedem ou dificultam o exerciacutecio da curiosidade
do educando termina por igualmente tolher sua proacutepria curiosidade (FREIRE 2003
p 30-36 grifo nosso)
Esta curiosidade eacute o que Rubem Alves chama de espanto maravilhamento em seu
documentaacuterio ldquoAprender a aprenderrdquo6 onde refere-se ao educadora como aquele que precisa
ter vontade de ensinar para isto deve ser o ldquoprofessor do espanto um contador de histoacuteriasrdquo
Ele nos lembra que o ensino deve incentivar a imaginaccedilatildeo que a aprendizagem tem que nos
deixar intrigados que para ensinar eacute preciso saber fazer as perguntas e natildeo oferecer respostas
Ou seja o educadora tem a missatildeo de provocar espanto e curiosidade nos
educandosas (ALVES 2010)
Numa linguagem freireana haacute modelos de escolas e de aprendizagem que natildeo satildeo
criacuteticas nem transformadoras mas conservadoras bancaacuterias onde se daacute predominantemente
uma transmissatildeo de conhecimentos
E Alves (2010) refere-se a estas escolas fazendo uma analogia com gaiolas e paacutessaros
que satildeo ou natildeo encorajados a voar
6 O documentaacuterio faz parte da coleccedilatildeo Rubem Alves Os quatro Pilares (1- Aprender a aprender) que tem como
base o Relatoacuterio para a UNESCO da Comissatildeo Internacional sobre Educaccedilatildeo para o Seacuteculo XXI coordenado
por Jacques Delors que editado na forma de libro ldquoEducaccedilatildeo Um Tesouro a Descobrirrdquo de 2010 conteacutem
capiacutetulo sobre ldquoquatro pilaresrdquo onde se propotildee uma educaccedilatildeo direcionada para os quatro tipos fundamentais
de educaccedilatildeo aprender a conhecer aprender a fazer aprender a viver com os outros aprender a ser eleitos
como os quatro pilares fundamentais da educaccedilatildeo Documentaacuterio elaborado em Brasiacutelia julho de 2010
33
Escolas que satildeo gaiolas existem para que os paacutessaros desaprendam a arte do voo
Paacutessaros engaiolados satildeo paacutessaros sob controle Engaiolados seu dono pode levaacute-los
para onde quiser Paacutessaros engaiolados sempre tecircm dono Escolas que satildeo asas natildeo
amam paacutessaros engaiolados O que eles amam satildeo paacutessaros em voo Existem para
dar aos paacutessaros coragem para voar Ensinar o voo isso elas natildeo podem fazer
porque o voo jaacute nasce dentro dos paacutessaros O voo natildeo pode ser ensinado Soacute pode
ser encorajado
E a educaccedilatildeo estaacute presente em nossa vida de maneira diversa e em todos os lugares
Estamos envolvidos com a educaccedilatildeo em casa na rua na igreja na escola no clube etc Seja
para aprender seja para ensinar seja para aprender-e-ensinar (BRANDAtildeO 2002)
Misturamos a vida com uma ou vaacuterias educaccedilotildees
Educaccedilatildeo imposta centralizada pelo poder que usa o saber e exerce controle sobre o
mesmo como ferramenta para manter a desigualdade econocircmica social poliacutetica e cultural
entre homens e mulheres Educaccedilatildeo como praacutetica de liberdade vivenciada entre todos para
tornar comum aquilo que eacute comunitaacuterio como bem como trabalho ou como vida
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico
O campo da educaccedilatildeo em sauacutede nos remete ao redirecionamento das praacuteticas de sauacutede
intenccedilatildeo que aparece nos discursos da sauacutede puacuteblica desde a deacutecada de 1980 articulando-se
em torno da ideia de promoccedilatildeo da sauacutede
Num olhar retrospectivo haacute marcos nesta trajetoacuteria que discorremos brevemente neste
estudo desde a oacutetica da chamada educaccedilatildeo sanitaacuteria
As deacutecadas de 1950 e 1960 foram consideradas como periacuteodo aacuteureo da educaccedilatildeo
sanitaacuteria no Brasil quando propostas das poliacuteticas oficiais articulam sauacutede e educaccedilatildeo Os
avanccedilos observados na eacutepoca foram em campos como a valorizaccedilatildeo da higiene mental a
implantaccedilatildeo das escolas maternais creches e parques infantis (MELO 1987)
No entanto as concepccedilotildees da educaccedilatildeo e da sauacutede natildeo consideravam as questotildees
sociais nem o processo histoacuterico de sua origem e manutenccedilatildeo (LOUREIRO 1989 apud
MORH SCHALL 1992) A doenccedila era reduzida a uma relaccedilatildeo de causa e efeito de cunho
estritamente bioloacutegico reforccedilada pelas descobertas bacterioloacutegicas
O movimento da eacutepoca tinha como base uma ideologia modernizadora orientada para
hegemonia da burguesia industrial no domiacutenio da sociedade (LUZ 1981 apud MORH
SCHALL 1992)
A participaccedilatildeo da comunidade perspectiva que surge na deacutecada de 1960 tinha o
intuito de mobilizar as populaccedilotildees a colaborarem com os agentes de sauacutede e serviccedilos
34
implantados nas zonas rurais e periferias das cidades E um traccedilo da poliacutetica nacional de
sauacutede era a centralizaccedilatildeo administrativa que perdurou mais fortemente ateacute a criaccedilatildeo do
SUS (CANESQUI 1984 apud MORH SCHALL 1992)
Em 1971 com base na lei 569271 torna-se obrigatoacuteria a educaccedilatildeo em sauacutede nas
escolas brasileiras de 1ordm e 2ordm graus cujo objetivo era estimular o conhecimento e a praacutetica da
sauacutede baacutesica e da higiene Para operacionalizaccedilatildeo da lei foi estabelecida uma aprendizagem
atraveacutes de accedilotildees e natildeo de exposiccedilotildees prioritariamente o que natildeo ocorreu de fato (BRASIL
1974)
Vale ressaltar que a formaccedilatildeo teoacuterica de professores em assuntos relacionados agrave
educaccedilatildeo em sauacutede era deficiente comprometendo o desempenho dos mesmos para uma
aprendizagem voltada a realidade concreta dos alunos (MOURA 1990 SCHALL et al 1987
apud MORH SCHALL 1992)
A formaccedilatildeo precaacuteria de professores era atribuiacuteda a vaacuterios aspectos dentre eles
metodoloacutegicos inadequaccedilatildeo de conteuacutedos falta de material de apoio etc
O resultado desta praacutetica eacute que os conhecimentos desenvolvidos (transmitidos) natildeo se
traduzem em mudanccedila de comportamentos ou de haacutebitos - propoacutesito principal - seja por falta
de condiccedilotildees de internalizaccedilatildeo ou por natildeo possuir significado para a realidade do estudante
A tradicional concepccedilatildeo da educaccedilatildeo sanitaacuteria voltada para a mudanccedila de
comportamento comeccedila a ser superada pela compreensatildeo da praacutetica educativa como um
compromisso com a transformaccedilatildeo da realidade
A deacutecada de 1970 pautada por reformas na aacuterea da poliacutetica de sauacutede tambeacutem tem o
marco da pedagogia de Paulo Freire abraccedilada pelas accedilotildees de sauacutede poreacutem natildeo assumida no
contexto geral do paiacutes As reformas na poliacutetica de sauacutede foram fomentadas pela crise do
modelo biomeacutedico de alto custo e baixa resolutividade com accedilotildees centradas na cliacutenica e
amparado em uma concepccedilatildeo biologicista do processo sauacutede-doenccedila Este quadro fez surgir
no cenaacuterio das poliacuteticas de sauacutede proposiccedilotildees para inovar as bases dos sistemas de sauacutede
com foco em um conceito ampliado de sauacutede na relaccedilatildeo entre sauacutede e qualidade de
vida (DANTAS 2010)
Na ocasiatildeo a pedagogia de Paulo Freire foi acolhida pela sauacutede popular em suas
formas organizadas de movimento popular e identificada com as metas gerais das camadas
trabalhadoras por contemplar suas condiccedilotildees de vida e sauacutede A pedagogia libertadora de
Freire inspirou propostas de Educaccedilatildeo Popular em Sauacutede que em sua essecircncia visam romper
a relaccedilatildeo verticalizada educadora-educandoa e a transitoriedade das accedilotildees pois valorizam
35
trocas interpessoais o diaacutelogo e a compreensatildeo do saber popular (VASCONCELOS 2001
apud GUIMARAtildeES LIMA 2012 p 896)
Os movimentos populares construiacuteram uma nova articulaccedilatildeo entre a educaccedilatildeo e a
sauacutede onde satildeo consideradas as condiccedilotildees de vida e trabalho como fatores predisponentes
essenciais (CANESQUI 1984 MORH SCHALL 1992) Este contexto influenciou
sobremaneira as concepccedilotildees e praacuteticas da educaccedilatildeo em sauacutede
Novas abordagens de educaccedilatildeo em sauacutede passam a ser inseridas tanto no contexto
escolar como fora dele com distintos grupos populacionais devendo ser pensadas de acordo
com cada situaccedilatildeo em particular Relacionamos entatildeo aspectos que passam a ser incluiacutedos em
uma praacutetica de educaccedilatildeo em sauacutede
a) Considerar as peculiaridades cultural e ambiental de cada comunidade
b) Olhar criticamente campanhas de cunho nacional que natildeo respeitam as
peculiaridades regionais como por exemplo denominaccedilotildees atribuiacutedas a vetores
de doenccedilas ou haacutebitos culturais e sociais distintos de populaccedilotildees geograficamente
proacuteximas por estarem condenadas ao fracasso
c) Trabalhar com atividades e conteuacutedos pertinentes agrave realidade dos alunos
d) Estimular professores a planejarem e executarem projetos de investigaccedilatildeo
conjuntamente com seus alunos em torno de algum problema de sauacutede relevante
para a aacuterea de abrangecircncia da escola propondo accedilotildees e alternativas de
enfrentamento
e) Considerar o conhecimento popular acerca de determinada situaccedilatildeo valorizando-
o trabalhando junto e a partir dele e natildeo inferiorizando-o
f) Desenvolver atividades tambeacutem em associaccedilotildees de moradores e outros grupos
organizados das comunidades
Estes aspectos ou propoacutesitos contribuiacuteram para que a educaccedilatildeo ambiental e a
educaccedilatildeo em sauacutede fosse assumida de forma mais ampla do que a simples aquisiccedilatildeo de
conhecimento - poreacutem importante e indispensaacutevel afirma as autoras - mas tambeacutem como
momento de reflexatildeo e questionamento das condiccedilotildees de vida suas causas e consequecircncias e
se transformando em instrumento para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidadania (MORH
SCHALL 1992)
Acontecimentos no contexto internacional tambeacutem ocorridos na deacutecada de 1970
exerceram forte influecircncia nos rumos da educaccedilatildeo em sauacutede no Brasil apontando na direccedilatildeo
36
de uma abordagem voltada para promoccedilatildeo da sauacutede
Em 1976 na Conferecircncia de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede em Alma-Ata
(ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE 1978) configura-se a relevacircncia das praacuteticas
educativas e a proposta da promoccedilatildeo da sauacutede Os conceitos firmados na Conferecircncia de
Alma-Ata satildeo retomados e ampliados a partir da deacutecada de 1980 em torno da ampliaccedilatildeo do
conceito de sauacutede
que passa a ser relacionado agrave qualidade de vida na compreensatildeo da
responsabilidade dos governos pela sauacutede de suas populaccedilotildees na ideia da
intersetorialidade como forma de atuaccedilatildeo frente agrave complexidade dos determinantes
da sauacutede e da doenccedila e no reconhecimento da participaccedilatildeo comunitaacuteria e individual
no planejamento organizaccedilatildeo operaccedilatildeo e controle dos cuidados primaacuterios de
sauacutede (SANTOS 2005 apud DANTAS 2010 p 27)
A OMS em 1986 oficializa o termo promoccedilatildeo da sauacutede a partir do que preconizou a
I Conferecircncia Mundial de Promoccedilatildeo da Sauacutede em Ottawa definindo-a como
processo de capacitaccedilatildeo da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de
vida e sauacutede incluindo uma maior participaccedilatildeo no controle deste processo Para
atingir um estado de completo bem-estar fiacutesico mental e social os indiviacuteduos e
grupos devem saber identificar aspiraccedilotildees satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente Assim a promoccedilatildeo da sauacutede natildeo eacute
responsabilidade exclusiva do setor sauacutede e vai para aleacutem de um estilo de vida
saudaacutevel na direccedilatildeo de um bem-estar global (BRASIL 2002 p 19)
Na Carta de Ottawa foram apontados cinco focos de atuaccedilatildeo para expressar o
significado das accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede (Quadro 1)
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede
FOCOS DE ATUACcedilAtildeO DA PROMOCcedilAtildeO DA SAUacuteDE
A construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas
saudaacuteveis - por
compreender que a
promoccedilatildeo da sauacutede
vai aleacutem dos cuidados
de sauacutede e requer a
identificaccedilatildeo e a
remoccedilatildeo de
obstaacuteculos para a
adoccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas saudaacuteveis
nos setores que natildeo
estatildeo diretamente
ligados agrave sauacutede
A criaccedilatildeo de
ambientes favoraacuteveis
agrave sauacutede - considerando que
mudanccedilas nos modos
de vida de trabalho e
de lazer tem um
significativo impacto
sobre a sauacutede e a
proteccedilatildeo do meio
ambiente e a
conservaccedilatildeo dos
recursos naturais
devem fazer parte de
qualquer estrateacutegia de
promoccedilatildeo da sauacutede
Reforccedilo agrave accedilatildeo
comunitaacuteria- cujo
centro deste processo
eacute o incremento do
poder das
comunidades a posse
e o controle dos seus
proacuteprios esforccedilos e
destino
Desenvolvimento de
habilidades pessoais - para que as
populaccedilotildees possam
exercer maior
controle sobre sua
proacutepria sauacutede e sobre
o meio ambiente bem
como fazer opccedilotildees
que conduzam a uma
sauacutede melhor
Reorientaccedilatildeo dos
serviccedilos de sauacutede - Os
serviccedilos de sauacutede
precisam adotar uma
postura abrangente que
perceba e respeite as
peculiaridades culturais
Esta postura deve apoiar
as necessidades
individuais e
comunitaacuterias para uma
vida mais saudaacutevel
abrindo canais entre o
setor sauacutede e os setores
sociais poliacuteticos
econocircmicos e
ambientais na
perspectiva da promoccedilatildeo
da sauacutede
Fonte Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1986)
37
Tambeacutem como importante referecircncia na ampliaccedilatildeo do conceito de sauacutede a Carta de
Ottawa apresenta como preacute-requisitos para a sauacutede a paz habitaccedilatildeo educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo
renda ecossistema estaacutevel recursos sustentaacuteveis justiccedila social e equumlidade (BRASIL 2002 p
19-20)
No entanto criacuteticas diretas ao que aponta a Carta de Ottawa satildeo feitas por Carvalho
(2007 apud DANTAS 2010) ao identificar ambiguidades relativas agrave traduccedilatildeo das estrateacutegias
quanto a se constituiacuterem como propostas e praacuteticas emancipadoras ou conservadoras mesmo
que articule a promoccedilatildeo da sauacutede a elementos ligados potencialmente a uma perspectiva
transformadora como participaccedilatildeo comunitaacuteria educaccedilatildeo em sauacutede e empowerment
Somando agraves criacuteticas de Carvalho Albuquerque e Stotz (2004) consideram que apesar
dos avanccedilos obtidos com a nova abordagem de promoccedilatildeo da sauacutede a educaccedilatildeo em sauacutede
conteacutem elementos de uma praacutetica conservadora e de dominaccedilatildeo de saber
Tradicionalmente a educaccedilatildeo em sauacutede tem sido um instrumento de dominaccedilatildeo de
afirmaccedilatildeo de um saber dominante de responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos pela reduccedilatildeo
dos riscos agrave sauacutede A educaccedilatildeo em sauacutede hegemocircnica natildeo tem construiacutedo sua
integralidade e pouco tem atuado na promoccedilatildeo da sauacutede de forma mais ampla
(ALBUQUERQUE STOTZ 2004 p 260)
E apesar da educaccedilatildeo como ldquocomponente central na promoccedilatildeo da sauacutederdquo o seu
entendimento e a sua implementaccedilatildeo podem ser efetivados segundo visotildees ldquoque vatildeo desde o
campo de uma pedagogia criacutetica onde se destaca a educaccedilatildeo popular ateacute o campo tradicional
que trabalha com uma educaccedilatildeo formal instrucional que desconsidera o saber do outrordquo
(ALBUQUERQUE 2003 apud DANTAS 2010 p 29)
Em uma perspectiva dialoacutegica a praacutetica da educaccedilatildeo em sauacutede tem um importante
papel no processo de construccedilatildeo de novos modos de se implementar as praacuteticas de sauacutede Esta
abordagem permite processos de mediaccedilatildeo entre saberes estabelecendo uma relaccedilatildeo estreita e
de aproximaccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo construindo novos formatos para as relaccedilotildees
entre educadoresas e educandosas incentivando a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
para mudanccedilas de suas condiccedilotildees de vida e sauacutede
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente
O campo de conhecimento referido como ldquoSauacutede Ambientalrdquo ou ldquoSauacutede e Ambienterdquo
se daacute a partir da relaccedilatildeo entre o ambiente e o padratildeo de sauacutede de uma
populaccedilatildeo (TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
38
A constituiccedilatildeo brasileira (1988) denominada Constituiccedilatildeo Cidadatilde garante em seu
artigo 225 o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (BRASIL
2004a) Outros artigos da Constituiccedilatildeo Federal e a lei Orgacircnica do SUS nordm 80801990
apontam ldquoa moradia o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo
o transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo como fatores determinantes e
condicionantes da sauacutede (BRASIL 1990)
Nos anos 1990 a questatildeo ambiental foi sendo institucionalizada como um problema a
ser tratado por poliacuteticas puacuteblicas Entretanto a gestatildeo das questotildees de meio ambiente e sauacutede
por exemplo permaneceu desarticulada Poucos satildeo os princiacutepios e diretrizes da Agenda 21 e
de outras convenccedilotildees internacionais que vem sendo cumpridos
A Sauacutede Ambiental inicialmente esteve relacionada nas Ameacutericas quase que
exclusivamente ao saneamento e qualidade da aacutegua Entretanto no Brasil a Sauacutede Ambiental
incorporou como situaccedilotildees de risco questotildees como saneamento aacutegua para consumo humano
poluiccedilatildeo quiacutemica pobreza equidade condiccedilotildees psicossociais e a necessidade de um
desenvolvimento sustentaacutevel para preservar as geraccedilotildees atuais e futuras (TAMBELLINI
CAcircMARA 2003)
Os estudos em Sauacutede do Trabalhador desenvolvidos no Brasil contribuiacuteram para
explicitar a existecircncia de outras populaccedilotildees expostas aos perigos gerados pela poluiccedilatildeo
proveniente das empresas e natildeo apenas a populaccedilatildeo de trabalhadores A partir do final da
deacutecada de 1970 e durante toda deacutecada de 1980 ficou claro o elo existente entre estas questotildees
e o sistema de sauacutede possibilitando a inclusatildeo de uma Sauacutede Ambiental no setor
As questotildees sauacutede e ambiente comeccedilam a ter visibilidade com a construccedilatildeo de uma
vigilacircncia da sauacutede ambiental a partir do ano 2000 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Cidades em
2003 que provoca o debate sobre saneamento ambiental e se daacute a convocaccedilatildeo da I
Conferecircncia Nacional de Sauacutede e Ambiente Essas iniciativas satildeo o ldquofermentordquo para a
construccedilatildeo de uma poliacutetica integrada de sauacutede ambiental (CAcircMARA NETTO AUGUSTO
2009)
Para a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1990 apud TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
a relaccedilatildeo Sauacutede e Ambiente incorpora todos os elementos e fatores que
potencialmente afetam a sauacutede incluindo entre outros desde a exposiccedilatildeo a fatores
especiacuteficos como substacircncias quiacutemicas elementos bioloacutegicos ou situaccedilotildees que
interferem no estado psiacutequico do indiviacuteduo ateacute aqueles relacionados com aspectos
negativos do desenvolvimento social e econocircmico dos paiacuteses
39
Para o Ministeacuterio da Sauacutede
[] o campo da sauacutede ambiental compreende a aacuterea de sauacutede puacuteblica afeita ao
conhecimento cientiacutefico e agrave formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e agraves correspondentes
intervenccedilotildees (accedilotildees) relacionadas agrave interaccedilatildeo sobre a sauacutede humana e os fatores do
meio ambiente natural e antroacutepico que a determinam condicionam e influenciam
com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da
sustentabilidade (CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE 2007)
Desde entatildeo a aacuterea de Sauacutede Coletiva comeccedilou a considerar a questatildeo ambiental entre
as prioritaacuterias a serem cuidadas junto agrave sauacutede das coletividades
Por outro lado natildeo haacute como esquecer que o fazer sauacutede em sua conceituaccedilatildeo mais
ampla - tal como foi adotado pelo arcabouccedilo juriacutedico-legal que conforma o Sistema Uacutenico de
Sauacutede (SUS) - exige o conhecimento do modo como a comunidade constroacutei suas
representaccedilotildees de mundo e como este aspecto interfere nas praacuteticas de sauacutede Trata-se de se
levar em conta o fato de que as praacuteticas relacionadas agrave sauacutede estatildeo diretamente ligadas ao
cotidiano e agraves relaccedilotildees que as pessoas constroem entre si e com o ambiente que as
cerca (GUERRERO 2007)
Com este enfoque a aacutereas da Educaccedilatildeo em Sauacutede e Ambiente estabelecem uma
estreita relaccedilatildeo e suas praacuteticas tecircm se consolidado nos uacuteltimos anos
No acircmbito do Ministeacuterio da Sauacutede tem sido estruturado pela Funasa no campo das
praacuteticas educativas a aacuterea de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental que se insere no bojo da sauacutede
ambiental e compotildee o Departamento de Sauacutede Ambiental Instituiacuteda haacute quase trecircs anos vem
desenvolvendo trabalhos em comunidades quilombolas indiacutegenas e com populaccedilotildees
assentadas
Tendo passado por um reordenamento em sua estrutura e competecircncias a Funasa em
niacutevel nacional incorporou a partir de 2010 dentre outras finalidades a de ldquoformular e
implementar accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo agrave sauacutede relacionadas com as accedilotildees estabelecidas
pelo Subsistema Nacional de Vigilacircncia em Sauacutede Ambientalrdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2010) Tal competecircncia criou a necessidade de um Departamento de Sauacutede
Ambiental que abriga a aacuterea teacutecnica denominada Educaccedilatildeo em sauacutede ambiental estruturada
com equipes multiprofissionais em todas as unidades da federaccedilatildeo
A Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013a) reconhece a Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
como
uma aacuterea de conhecimento teacutecnico que contribui efetivamente na formaccedilatildeo e o
desenvolvimento da consciecircncia criacutetica do cidadatildeo estimulando a participaccedilatildeo o
controle social e sustentabilidade socioambiental utilizando entre outras estrateacutegias
a mobilizaccedilatildeo social a comunicaccedilatildeo educativainformativa e a formaccedilatildeo
permanente
40
E a define como
um conjunto de praacuteticas pedagoacutegicas e sociais de conteuacutedo teacutecnico poliacutetico e
cientiacutefico que no acircmbito das praacuteticas de atenccedilatildeo agrave sauacutede deve ser vivenciada e
compartilhada por gestores teacutecnicos trabalhadores setores organizados da
populaccedilatildeo e usuaacuterios do SUS Baseia-se entre outros princiacutepios no diaacutelogo
reflexatildeo respeito agrave cultura compartilhamento de saberes accedilatildeo participativa
planejamento e decisatildeo local participaccedilatildeo controle social sustentabilidade
socioambiental mobilizaccedilatildeo social e inclusatildeo social (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2013a)
Em 2012 a instituiccedilatildeo realizou em outubro o I Encontro Nacional de Educaccedilatildeo em
Sauacutede Ambiental cujo objetivo foi nivelar a formaccedilatildeo sobre o tema na Fundaccedilatildeo e
estabelecer diretrizes de atuaccedilatildeo da aacuterea para 2013 Os temas abordados foram
Fundamentaccedilotildees Teoacutericas e Metodoloacutegicas de Sauacutede Ambiental Praacuteticas Setoriais na aacuterea de
Educaccedilatildeo em Sauacutede e Promoccedilatildeo da Sauacutede no cenaacuterio atual (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE
SAUacuteDE 2012b)
A temaacutetica educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente eacute uma aacuterea que transita pelos
conhecimentos da sauacutede ambiental educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo ambiental e temas afins
334 Educaccedilatildeo ambiental
Realizar atividades de educaccedilatildeo ambiental requer conhecer as concepccedilotildees das pessoas
envolvidas sobre meio ambiente afirma Reigotta (1991)
O autor apresenta trecircs categorias para explicar concepccedilotildees sobre meio ambiente A
categoria Antropocecircntrica cujas caracteriacutesticas evidenciam a utilidade de recursos naturais
para a sobrevivecircncia do ser humano a categoria Naturalista que considera o meio ambiente
como sinocircnimo de natureza intocada evidenciando-se apenas os aspectos naturais e a
categoria Globalizante onde haacute relaccedilotildees reciacuteprocas entre natureza e sociedade (REIGOTTA
1991)
A Educaccedilatildeo Ambiental (EA) passa a ser vista como um novo campo de atividade e do
saber no final do seacuteculo XX Com o propoacutesito de reconstruir a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo
sociedade e meio ambiente visava formular respostas teoacutericas e praacuteticas aos desafios
colocados por uma crise socioambiental global (LIMA G 2004)
Entender o que trata a Educaccedilatildeo Ambiental eacute importante para que se possa
compreender tanto as inter-relaccedilotildees entre o homem e o ambiente como tambeacutem suas
expectativas satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamento e condutas (BEZERRA 2007)
41
As abordagens e perspectivas da Educaccedilatildeo Ambiental (EA) tecircm acompanhado o
conceito histoacuterico do termo ldquodesenvolvimentordquo e ldquomeio ambienterdquo (SANTOS J 2000)
Passando da compreensatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental associada agrave preservaccedilatildeo de
sistemas vivos para a concepccedilatildeo restrita de conservaccedilatildeo da biodiversidade novos conceitos
foram incorporados assim como vaacuterias instituiccedilotildees ambientais inseriram a Educaccedilatildeo
Ambiental com uma concepccedilatildeo mais ampla dando destaque ao ser humano como principal
protagonista na manutenccedilatildeo do planeta (GAYFORD DORION 1994 SATO 1994
CONFEREcircNCIA DE ESTOCOLMO 1970 apud SANTOS J 2000)
No campo da legislaccedilatildeo uma das referecircncias sobre Educaccedilatildeo Ambiental eacute o que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Ambiental - PNEA (Lei no 9795 de 27 de abril de
1999) ao entender por
educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade
constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias
voltadas para a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo
essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidadrsquo (Art 1o) Afirma tambeacutem
em seu Art 2deg que lsquoA educaccedilatildeo ambiental eacute um componente essencial e
permanente da educaccedilatildeo nacional devendo estar presente de forma articulada em
todos os niacuteveis e modalidades do processo educativo em caraacuteter formal e natildeo-
formal (BRASIL 1999)
Ao referir-se agrave Educaccedilatildeo Ambiental natildeo-formal em seu art 13 a poliacutetica diz ser
entendida como as accedilotildees e praacuteticas educativas voltadas agrave sensibilizaccedilatildeo da coletividade sobre
as questotildees ambientais e agrave sua organizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na defesa da qualidade do
ambiente (BRASIL 1999)
Ainda no campo legal o Brasil possui desde 1981 uma Poliacutetica Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6938 de 31081981) que tem como um dos princiacutepios ldquoa educaccedilatildeo ambiental
a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para
participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981)
Proposta no Brasil em 1999 a Educaccedilatildeo Ambiental apresentava o objetivo de
disseminar o conhecimento sobre o ambiente e como funccedilatildeo principal contribuir para uma
atitude da sociedade mais consciente em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e seu uso
sustentaacutevel
A compreensatildeo sobre sustentabilidade formulada nas deacutecadas de 70 e 80 teve uma
definiccedilatildeo na Conferecircncia para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ocorrida em 1992 no
Rio de Janeiro conhecida como Rio 92 cujo conceito refere-se agrave qualidade de vida integrada
nos ecossistemas na qual se incluem as comunidades Sustentabilidade eacute tambeacutem um
42
equiliacutebrio de caraacuteter eacutetico econocircmico social cultural ambiental na produccedilatildeo e reproduccedilatildeo
social e inclui a democracia a pluralidade e reproduccedilatildeo social
A ideia central dessas Poliacuteticas eacute de harmonizaccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico
com a preservaccedilatildeo ambiental e a qualidade de vida Entretanto apesar de consideradas
avanccediladas e coerentes com as demandas contemporacircneas observa-se que haacute uma distacircncia
quanto ao cumprimento dessas legislaccedilotildees bem como a ecircnfase numa sustentabilidade
orientada pelo mercado e numa educaccedilatildeo ambiental convencional ou conservadora Uma
concepccedilatildeo educativa tradicional com foco na transmissatildeo de conhecimentos e informaccedilotildees
foi denominada por Paulo Freire (1974) como educaccedilatildeo bancaacuteria Sua ecircnfase eacute na mudanccedila
comportamental dos indiviacuteduos sem transformaccedilatildeo da realidade nem das causas que
acarretam problemas socioambientais
A Educaccedilatildeo Ambiental conservadora busca a partir dos mesmos referenciais
constitutivos da crise encontrar sua soluccedilatildeo sem transformaccedilatildeo da realidade servindo
inclusive como mecanismo de reproduccedilatildeo dos interesses dominantes da loacutegica do capital
Para aleacutem das caracteriacutesticas de uma Educaccedilatildeo Ambiental formal natildeo formal ou
informal haacute denominaccedilotildees e compreensotildees diversas como educaccedilatildeo ambiental criacutetica
emancipatoacuteria ou transformadora e ecopedagogia entre outras cujas concepccedilotildees
fundamentam praacuteticas e reflexotildees pedagoacutegicas relacionadas agrave questatildeo ambiental Essas e
outras nomenclaturas estatildeo inseridas na necessidade de ressignificar os sentidos identitaacuterios e
fundamentais dos diferentes posicionamentos poliacuteticos pedagoacutegicos das praacuteticas de EA
(LAYRARGUES 2004)
Guimaratildees (2004 p 27) aponta para uma Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica definida natildeo
como uma evoluccedilatildeo conceitual agrave chamada Educaccedilatildeo Ambiental Conservadora mas como
uma contraposiccedilatildeo ao referencial teoacuterico que compreende e explica o mundo de forma
fragmentada simplificando e reduzindo a realidade com perda da riqueza e diversidade da
relaccedilatildeo
A Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica eacute vista por Guimaratildees (2004) como uma re-
significaccedilatildeo da EA pela necessidade de diferenciar uma accedilatildeo educativa que seja capaz de
contribuir com a transformaccedilatildeo de uma realidade que historicamente se coloca em uma
grave crise socioambiental Para o autor essa abordagem pretende subsidiar uma percepccedilatildeo
de mundo mais complexa e instrumentalizada para uma intervenccedilatildeo que contribua no
processo de transformaccedilatildeo da realidade socioambiental que eacute complexa Aproximando-se do
pensamento de Edgar Morin Guimaratildees traz para EA Criacutetica suas relaccedilotildees dialoacutegicas da
43
parte e do todo da ordem da desordem e da organizaccedilatildeo na complexidade Uma compreensatildeo
de que o conhecimento deve comportar tanto a diversidade quanto a multiplicidade
Inclui tambeacutem como referecircncia para sua produccedilatildeo teoacuterica a compreensatildeo de Milton
Santos para olhar o espaccedilo socioambiental como reflexo da dialeacutetica constitutiva do real o
processo de totalizaccedilatildeo na interaccedilatildeo entre local e global entre a luta de classes entre
desenvolvimento e subdesenvolvimento (GUIMARAtildeES 2004)
Para o fazer pedagoacutegico Paulo Freire apresenta as possibilidades de uma leitura
problematizadora e contextualizadora do real que tambeacutem vai fundamentar a Educaccedilatildeo
Ambiental Criacutetica
A Educaccedilatildeo Ambiental Emancipatoacuteria parte de uma reflexatildeo feita por Lima (2004)
sobre a Educaccedilatildeo Ambiental Convencional ao identificar alguns problemas poliacuteticos
pedagoacutegicos e epistemoloacutegicos nas propostas de Educaccedilatildeo Ambiental implementadas
Duas foram as motivaccedilotildees que levaram o autor agraves criacuteticas e consideraccedilotildees sobre a
Educaccedilatildeo Ambiental convencional Uma primeira quando identifica como problema o campo
da Educaccedilatildeo Ambiental convencional ser visto de forma homogecircnea e consensual apesar de
plural e diverso fundamentada em valores interesses e objetivos tambeacutem diversos A segunda
motivaccedilatildeo que aponta para um conjunto de reducionismos que natildeo considera a vasta
complexidade da questatildeo ambiental convertendo-a agrave singularidade de uma de suas
dimensotildees Ele refere-se por exemplo
as abordagens ecologicistas abordagens tecnicistas abordagens que destacavam os
efeitos mais aparentes dos problemas ambientais e desprezavam suas causas mais
profundas abordagens individualistas e comportamentalistas e agraves que convergiam
toda ecircnfase da praacutetica educativa sobre os problemas relacionados ao consumo
deixando de lado os problemas ligados agrave esfera da produccedilatildeo (LIMA G 2004
p 87)
Segundo Lima (2004) em termos teoacutericos e conceituais a EA Emancipatoacuteria procura
enfatizar e associar as noccedilotildees de mudanccedila social e cultural de emancipaccedilatildeolibertaccedilatildeo
individual e social e de integraccedilatildeo no sentido de complexidade
A Ecopedagogia outra abordagem que nos chama a atenccedilatildeo eacute apresentada por Avanzi
(2004) como movida pelo mesmo propoacutesito da Educaccedilatildeo Ambiental - cuidar da qualidade de
vida do planeta- poreacutem com aspectos que se contrapotildeem e se complementam A perspectiva
aqui apresentada de forma sucinta tem a intenccedilatildeo de compreender a relaccedilatildeo da Ecopedagogia
com a Educaccedilatildeo Ambiental
Como primeiros esboccedilos a autora traz uma compreensatildeo sobre Educaccedilatildeo Sociedade e
Natureza sob o prisma da Ecopedagogia
44
Quanto agrave Educaccedilatildeo a compreensatildeo se constroacutei dentro de uma concepccedilatildeo freireana
cuja reflexatildeo sobre a realidade traz a possibilidade de encontrar seus elementos opressores
Na perspectiva freireana ldquoEducaccedilatildeo eacute essencialmente um ato poliacutetico que visa
possibilitar aoagrave educandoa a compreensatildeo de seu papel no mundo e de sua inserccedilatildeo na
histoacuteriardquo (FREIRE 1987 ANTUNES 2002 apud AVANZI 2004 p 37)
Essa abordagem privilegia estabelecer um processo dialoacutegico baseado em temas
relacionados ao contexto doa educandoa e sua compreensatildeo preliminar dos mesmos com o
intuito tanto de ampliar aquela compreensatildeo inicial como de intervir na realidade (AVANZI
2004)
A Ecopedagogia entatildeo em sua compreensatildeo sobre educaccedilatildeo pretende
[] desenvolver um novo olhar para a educaccedilatildeo um olhar global uma nova
maneira de ser e estar no mundo um jeito de pensar a partir da vida cotidiana que
busca sentido em cada momento em cada ato que pensa a praacutetica (Paulo Freire) em
cada instante de nossas vidas evitando a burocratizaccedilatildeo do olhar e do
pensamento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 37)
Quanto agrave sociedade esta eacute vista historicamente em que os fatos satildeo tidos como
elementos estruturais de um todo dialeacutetico mutaacutevel e que natildeo pode ser apreendido de uma soacute
vez (AVANZI 2004)
A Ecopedagogia ao tecer criacuteticas agrave hegemonia neoliberal constroacutei o debate em torno
da sustentabilidade acreditando na incompatibilidade que haacute entre o princiacutepio do lucro
proacuteprio do modelo de desenvolvimento capitalista e a sustentabilidade considerada em suas
dimensotildees social poliacutetica econocircmica cultural e ambiental (GADOTTI 2000 apud
AVANZI 2004)
Quanto agrave natureza o pensamento que fundamenta a Ecopedagogia tem como
referecircncia a nova fiacutesica o holismo especialmente em Fritjof Capra e Leonardo Boff
Alimenta-se tambeacutem das propostas de povos indiacutegenas latino-americanos O que haacute em
comum nestas vertentes satildeo a concepccedilatildeo de universo como rede de relaccedilotildees intrinsecamente
dinacircmicas e a revalorizaccedilatildeo da consciecircncia como aspecto-chave das relaccedilotildees entre natureza e
a sociedade O propoacutesito maior eacute a harmonia ambiental que ldquosupotildee toleracircncia respeito
igualdade social cultural de gecircnero e aceitaccedilatildeo da biodiversidaderdquo (GUTIEacuteRREZ PRADO
2000 apud AVANZI 2004 p 39)
A Educaccedilatildeo Ambiental sob a oacutetica da Ecopedagogia eacute uma mudanccedila de
entendimento em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida atrelada agrave busca da construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo
saudaacutevel e equilibrada com o contexto com o outro e com o ambiente
45
As concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental aqui apresentadas sucintamente - EA criacutetica
EA Emancipatoacuteria e a Ecopedagogia enriquecem a olhar para uma Educaccedilatildeo Ambiental que
em uacuteltima instacircncia pretende contribuir para uma mudanccedila social com melhor qualidade de
vida para o ambiente
46
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO
41 DESENHO DO ESTUDO
Identificar situaccedilotildees de vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco em populaccedilotildees e territoacuterios quilombolas de Pernambuco
particularmente nas comunidades de Salgueiro parece ser um campo aberto incipiente sendo
necessaacuterio um olhar particularizado possiacutevel por meio de um estudo de caso
Para Ponte (2006 p 2) estudo de caso eacute tido como
uma investigaccedilatildeo que se assume como particulariacutestica isto eacute que se debruccedila
deliberadamente sobre uma situaccedilatildeo especiacutefica que se supotildee ser uacutenica ou especial
pelo menos em certos aspectos procurando descobrir o que haacute nela de mais
essencial e caracteriacutestico e desse modo contribuir para a compreensatildeo global de um
certo fenocircmeno de interesse
Minayo (2007 p 164) complementa a compreensatildeo do que eacute estudo de caso
afirmando que
os estudos de caso utilizam estrateacutegias de investigaccedilatildeo qualitativa para mapear
descrever e analisar o contexto as relaccedilotildees e as percepccedilotildees a respeito da situaccedilatildeo
fenocircmeno ou episoacutedio em questatildeo E satildeo uacuteteis para gerar conhecimento sobre
caracteriacutesticas significativas de eventos vivenciados tais como intervenccedilotildees e
processos de mudanccedila
Nesta dissertaccedilatildeo desenvolvemos um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa As dimensotildees natildeo quantificaacuteveis e que se referem a visotildees de mundo valores e
percepccedilotildees foram obtidas com as narrativas dos sujeitos das aacutereas do estudo - populaccedilatildeo
quilombola gestores e teacutecnicos As dimensotildees quantificaacuteveis ou dados secundaacuterios
adquiridos com aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e levantamento documental complementaram a
abordagem
O conhecimento e percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco o
significado do rio Satildeo Francisco os aspectos e situaccedilatildeo da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a
caracterizaccedilatildeo das trecircs comunidades quilombolas do estudo e a inserccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo em suas aacutereas as situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo provocadas pelo projeto e as accedilotildees de
caraacuteter compensatoacuterio e de mitigaccedilatildeo desenvolvidas pelos Programas Baacutesicos Ambientais
constituem o leque dos conteuacutedos dissertados neste estudo
A partir das proposiccedilotildees dos Programas Baacutesicos de Educaccedilatildeo Ambiental (PBA 04) e
Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (PBA 17) e sua interface com o Programa
47
de Controle de Sauacutede Puacuteblica (PBA 21) o estudo traz consideraccedilotildees sobre o quecirc e como
foram implementados estes PBArsquos qual ou quais concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental e de
Educaccedilatildeo em Sauacutede fundamentaram as propostas sempre enriquecida com a percepccedilatildeo dos
sujeitos do estudo
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA
A abordagem qualitativa permitiu avaliar a dinacircmica interna do processo e identificar
o sistema de valores crenccedilas representaccedilotildees haacutebitos atitudes e opiniotildees com a possibilidade
de incorporar o significado e a intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves
estruturas sociais Essa abordagem foi trabalhada com dados primaacuterios e dados secundaacuterios
Os dados primaacuterios foram obtidos com a realizaccedilatildeo de entrevistas e grupos focais e os dados
secundaacuterios foram por anaacutelise documental
Mesmo havendo vaacuterios modelos de estudo para abordagens qualitativas Deslandes e
Assis (2004 p 4) ressaltam os pontos comuns deste enfoque
Apesar da diversidade entre as abordagens qualitativas existe o propoacutesito comum
em analisar o significado pelos sujeitos aos fatos relaccedilotildees e
praacuteticas isto eacute avaliando tanto as interpretaccedilotildees quanto a praacutetica dos
sujeitos
A abordagem quantitativa foi realizada com a anaacutelise de dados secundaacuterios colhidos
do questionaacuterio Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas (CAP) aplicado em 2010 pela Funasa-
SuestPE com representantes de famiacutelias quilombolas contempladas com as obras de
substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO
O estudo eacute voltado ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco no estado de
Pernambuco oficialmente denominado ldquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com
Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional - O PISFrdquo que nos uacuteltimos anos tem sido
palco de grandes investimentos pelo governo federal com recursos do PAC
O Projeto de transposiccedilatildeo executado pelo MI afeta dentre outras populaccedilotildees
comunidades indiacutegenas e quilombolas em nosso estado
Nosso estudo lanccedila um olhar sobre populaccedilotildees do sertatildeo pernambucano que vivem e
lutam para conviver e sobreviver nas regiotildees da seca e caatinga Um olhar particularizado
48
para comunidades remanescentes de quilombos situadas na aacuterea de abrangecircncia do Projeto da
Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco cujas accedilotildees afetam direta e indiretamente suas condiccedilotildees
de vida e do territoacuterio com impactos ainda natildeo mensuraacuteveis nos aspectos culturais sociais de
sauacutede ambientais poliacuteticos e econocircmicos
Na aacuterea de abrangecircncia do projeto da transposiccedilatildeo haacute quinze municiacutepios com
presenccedila de comunidades quilombolas Destes 11 municiacutepios satildeo em Pernambuco com 55
comunidades quilombolas dois municiacutepios satildeo na Paraiacuteba com trecircs comunidades
quilombolas e dois no Rio Grande do Norte com duas comunidades quilombolas o que
representa 60 comunidades quilombolas vivendo em aacuterea diretamente afetada (ADA) pelo
projeto As bacias hidrograacuteficas sob influecircncia do projeto da transposiccedilatildeo em Pernambuco satildeo
dos rios Moxotoacute Terra Nova e Briacutegida
No estado essa temaacutetica tem um destaque pela histoacuteria de resistecircncia agrave escravidatildeo na
formaccedilatildeo de quilombos O histoacuterico quilombo de Palmares foi formado em uma regiatildeo
situada na entatildeo Capitania de Pernambuco entre o final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo
XVII atualmente situando-se no estado de Alagoas Posteriormente jaacute no seacuteculo XIX a
proviacutencia de Pernambuco foi palco da formaccedilatildeo do quilombo de Catucaacute dessa vez em regiatildeo
localizada na Zona da Mata proacutexima agrave capital (COMISSAtildeO PROacute-IacuteNDIO DE SAtildeO PAULO
2013)
O estudo foi realizado no municiacutepio de Salgueiro localizado na bacia do Rio Terra
Nova Sertatildeo Central Pernambucano e distante 518 km de Recife O municiacutepio eacute a cidade de
maior realce dentre os oito que compotildeem a chamada Regiatildeo de Desenvolvimento do Sertatildeo
Central estando nas chamadas Aacutereas Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Salgueiro eacute dividido por
cinco distritos Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas Umatildes Pau Ferro e Vasques Os dados
populacionais apresentam Salgueiro com aproximadamente 56641 habitantes dos quais
10923 satildeo residentes na zona rural o que representa quase 20 de toda populaccedilatildeo Dentre o
total de habitantes da zona rural 5607 satildeo homens e 5219 satildeo mulheres (IBGE 2010)
O municiacutepio estaacute em regiatildeo de clima Semi-aacuterido-quente com temperatura meacutedia anual
de 25ordm C e precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica de 450 a 600 miliacutemetros por ano com chuvas
concentradas nos meses de dezembro a marccedilo Salgueiro limita-se ao norte com a cidade de
Penaforte no Cearaacute ao sul com o municiacutepio de Beleacutem de Satildeo Francisco agrave leste com os
municiacutepios de Verdejante Mirandiba e Carnaubeira da Penha e ao Oeste com Cabroboacute Terra
Nova Serrita e Cedro todos em Pernambuco (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013)
49
Seu potencial econocircmico desponta com predomiacutenio na agricultura e comeacutercio
varejista tendo como principais produtos agriacutecolas a cebola o tomate o algodatildeo herbaacuteceo o
milho a banana o feijatildeo o arroz e a manga A economia da mesorregiatildeo estaacute voltada para a
agricultura de subexistecircncia e a agropecuaacuteria extensiva onde se destaca a caprinocultura e a
avicultura (SALGUEIRO 2013)
Quanto a representaccedilotildees governamentais e equipamentos urbanos Salgueiro concentra
a grande maioria destes equipamentos em relaccedilatildeo aos municiacutepios da regiatildeo Haacute em sua sede
um aeroacutedromo um campus da Universidade de PernambucoUPE representado pela
Faculdade de Ciecircncia e Tecnologia de SalgueiroFacites um campus do Instituto
Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sertatildeo Pernambucano a Faculdade
de Ciecircncias Humanas do Sertatildeo Central Fachusc uma Unidade Teacutecnica do
Prorural O Hospital Regional Inaacutecio de Saacute uma Agecircncia de trabalho a Sede da
Gerecircncia Regional de EducaccedilatildeoGRE do Sertatildeo Central a sede da VII Gerecircncia
Regional de SauacutedeGeres uma unidade da Aacuterea Integrada de Seguranccedila (AIS)
agecircncias bancaacuterias a sede do Escritoacuterio Regional do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional onde funciona a sede do PISF dentre outras (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013 p 110)
44 SUJEITOS DO ESTUDO
Dentre os habitantes da zona rural de Salgueiro estatildeo os moradores de trecircs
comunidades remanescentes de quilombos populaccedilatildeo de interesse deste estudo inseridos na
Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do Projeto de transposiccedilatildeo
A populaccedilatildeo quilombola residente em Salgueiro tem em torno de 906 famiacutelias
distribuiacutedas nas comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas (800 famiacutelias) Santana (64 famiacutelias)
e Tamboril Contendas (42 famiacutelias)
Aleacutem da populaccedilatildeo quilombola satildeo sujeitos da pesquisa trabalhadores do Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo (coordenadores e teacutecnicos dos programas) gestores e teacutecnicos municipais da
sauacutede educaccedilatildeo ambiente desenvolvimento rural e da Funasa em Pernambuco que
participaram do estudo nos momentos das entrevistas e grupos focais
A amostra foi do tipo intencional na qual os sujeitos foram selecionados
considerando sua relaccedilatildeo de vivecircncia ou experiecircncia profissional com o Projeto da
Transposiccedilatildeo
50
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E PERIacuteODO DE
ESTUDO
Para esse estudo de caso foi feita uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas diversas de pesquisa na
tentativa de abranger a complexidade do objeto de estudo conforme indica Minayo (2007)
Foi feito uma triangulaccedilatildeo metodoloacutegica com os procedimentos de anaacutelise
documental entrevistas e grupos focais
A coleta de dados secundaacuterios para contextualizaccedilatildeo do problema consistiu na
consulta e anaacutelise de documentos escritos oficiais e cientiacuteficos pertinentes ao tema de
interesse e a sistematizaccedilatildeo descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de dados de questionaacuterios aplicados nas
trecircs comunidades
O periacuteodo do estudo foi de 2008 agrave 2013 a partir da vigecircncia do Projeto da
transposiccedilatildeo quando houve licenccedila de instalaccedilatildeo emitida pelo IBAMA (LI nordm 4382007) e
efetivaccedilatildeo da parceria Funasa - MI em 2008
451 Entrevista
Entrevista eacute o encontro entre duas pessoas para a coleta de dados por meio de uma
conversaccedilatildeo profissional (MARCONI LAKATOS 2006) Para Kvale (1996) entrevistar eacute
uma atividade que estaacute mais proacutexima da arte do que dos meacutetodos sociais padronizados
Neste estudo a entrevista foi semi-estruturada com perguntas abertas onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questatildeo sem se prender agrave
indagaccedilatildeo formulada (MINAYO 2010)
Realizamos entrevistas individuais com gestores teacutecnicos e lideranccedilas das aacutereas
quilombolas afetadas pelo projeto da transposiccedilatildeo O roteiro das entrevistas explorou a
compreensatildeo e percepccedilatildeo geral dos sujeitos sobre o Projeto e os impactos provocados sobre a
situaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas sobre as accedilotildees educativas e obras
desenvolvidas pelos programas ambientais sobre o entendimento quanto agrave educaccedilatildeo em
sauacutede educaccedilatildeo ambiental e sauacutede ambiental e a relaccedilatildeo entre os temas sobre o significado
do Rio Satildeo Francisco (Apecircndices A e B)
51
Para anaacutelise do discurso as entrevistas foram organizadas em dois grupos distintos
a) Grupo 1 rarr entrevistas feitas com gestores e teacutecnicos do niacutevel municipal da
FUNASA Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e da CMT Engenharia (empresa
contratada pelo MI para desenvolver os Programas Baacutesicos Ambientais)
b) Grupo 2 rarr entrevistas feitas com as lideranccedilas quilombolas das trecircs comunidades
do estudo
As narrativas mencionadas na dissertaccedilatildeo estatildeo identificadas da seguinte forma
a) Gestoresas (1 agrave 10) como Gestora 1 Gestora 2 e assim sucessivamente
b) Teacutecnicosas (1 agrave 3) como Teacutecnicoa 1 Teacutecnicoa 2 Teacutecnicoa 3
c) Lideranccedilas (1 agrave 3) como Lideranccedila 1 Lideranccedila 2 Lideranccedila 3
Foram realizadas 16 entrevistas sendo sete com gestores das Secretarias Municipais
de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Desenvolvimento Urbano e Obras seis com
gestores e teacutecnicos da Funasa-SuestPE (02) do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e da CMT
Engenharia (04) e trecircs com lideranccedilas quilombolas nos meses de julho agosto e setembro de
2013 em Salgueiro e Recife (Quadro 2)
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013
ENTREVISTAS REALIZADAS Gestores da P MS - 07
(Grupo1)
Gestor e teacutecnicos do MI
e CMT - 04 (Grupo1)
Gestor e teacutecnico da
Funasa - 02 (Grupo1)
03 Lideranccedilas quilombolas
(Grupo 2)
Coordenaccedilatildeo do PSF de
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Direccedilatildeo da Vigilacircncia em Sauacutede
Direccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica (Ex-
Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo)
Coordenaccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo
Secretaria de Desenvolvimento
Urbano e Obras
Secretaria de Desenvolvimento
Rural1
02 Gestor (MI e
CMT)
02 Teacutecnicos da CMT
Gestor da Sauacutede
Ambiental da Funasa
Teacutecnico da Diesp
Lideranccedila na Comunidade
de Contendas Tamboril e do
Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Salgueiro
Lideranccedila da Comunida-de
de Santana2
Lideranccedila da C de
Conceiccedilatildeo das Crioulas3
Fonte A autora 2013
Nota 1 Lideranccedila na Comunidade de Santana 2 Agente de Sauacutede ambiental da S Sauacutede
3 Diretor de Fomento
de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Desenvolvimento Rural
52
452 Grupo focal
Grupos focais satildeo grupos de discussatildeo que dialogam sobre um tema em particular ao
receberem estiacutemulos apropriados para o debate constituindo-se em uma teacutecnica amplamente
utilizada por se ter contato com a populaccedilatildeo que se quer investigar sendo uma
complementaccedilatildeo de um estudo qualitativo Desenvolvem-se mediante um guia de perguntas
que vatildeo do geral ao especiacutefico sendo coordenado por um moderador que estimula a
participaccedilatildeo desde o coletivo ao individual
Foram convidados a participar dos grupos focais lideranccedilas professores e moradores
das comunidades quilombolas Os grupos focais foram identificados no estudo a partir da
anaacutelise do discurso de Kvale como Grupo Focal 1 Grupo Focal 2 e Grupo Focal 3
Os grupos focais tiveram representaccedilotildees de cada segmento que de forma voluntaacuteria
foram convidados pelas lideranccedilas a reunir-se num mesmo momento em local dia e horaacuterio
definido pela comunidade
Ao todo participaram dos grupos focais 45 moradores das trecircs comunidades
quilombolas O Grupo Focal 1 - ocorrido em Conceiccedilatildeo das Crioulas - na tarde do dia 28 de
setembro de 2013 na sede da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) na
Vila Sede contou com 14 moradores o Grupo Focal 2 aconteceu no territoacuterio de
ContendasTamboril na manhatilde do dia 29 de setembro de 2013 na casa de uma moradora ao
lado da sede da associaccedilatildeo de moradores e contou com a presenccedila de 15 moradores e o
Grupo Focal 3 que foi realizado em Santana na tarde do dia 29 de setembro de 2013 na sede
da escola local - Siacutetio Recanto - e contou com a presenccedila de 16 moradores
Os grupos focais com a populaccedilatildeo quilombola abordaram os seguintes temas
percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo e os impactos mais significativos de vulneraccedilatildeo
socioambiental para as comunidades e territoacuterio o significado do rio Satildeo Francisco para a
comunidade e regiatildeo o conhecimento sobre o que foi realizado no acircmbito das accedilotildees de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental a partir da sondagem de dois programas baacutesicos
ambientais e o processo de construccedilatildeo de casas realizadas pela Funasa (importacircncia da
demanda envolvimento da comunidade se houve conflitos e como vem sendo enfrentados
adequaccedilatildeo das casas agraves necessidades de moradia local) - (Apecircndice C)
53
453 Dados secundaacuterios
4531 Levantamento documental
Os dados secundaacuterios foram obtidos atraveacutes de levantamento documental cujo
objetivo foi resgatar as principais informaccedilotildees referentes ao Projeto da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e as comunidades quilombolas em Pernambuco Documentos das esferas
governamentais e natildeo governamentais que tratem de poliacuteticas planos programas e projetos
onde aparecem questotildees da vulnerabilidade socioambiental implementaccedilatildeo e impactos do
Projeto da transposiccedilatildeo em aacutereas quilombolas situaccedilatildeo territorial os programas baacutesicos
ambientais e suas atividades educativas foram catalogadas para anaacutelise de conteuacutedo
As informaccedilotildees foram obtidas de acordo com Marconi e Lakatos (2006) de escritos
secundaacuterios transcritos de fontes primaacuterias contemporacircneas Documentos oficiais desde
relatoacuterios planos legislaccedilotildees publicaccedilotildees e materiais didaacuteticos sobre o Projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pertinentes aos temas da educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo
ambiental impactos e demais conteuacutedos pertinentes agraves comunidades quilombolas foram
objeto de consulta para anaacutelise de conteuacutedo
Foram analisados diversos documentos relacionados ao Projeto da transposiccedilatildeo e aos
povos quilombolas Documentos oficiais de instituiccedilotildees governamentais como Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional SEPPIR FUNAI Funasa Fundaccedilatildeo Cultural Palmares Programa Brasil
Quilombola Incra legislaccedilotildees diversas e de entidades natildeo governamentais como Centro de
Cultura Luiz Freire ASA ACQEP dentre outras
Foi tomado como referecircncia o modelo de Laurence Bardin cuja funccedilatildeo primordial eacute o
desvendar criacutetico Para Bardin (2011) a anaacutelise de conteuacutedo ldquoeacute um conjunto de instrumentos
de cunho metodoloacutegico em constante aperfeiccediloamento que se aplicam a discursos (conteuacutedos
e continentes) extremamente diversificadosrdquo
Caracteriacutesticas como autenticidade credibilidade representatividade e significaccedilatildeo
(clareza) satildeo alguns dos atributos que conferem qualidade aos documentos como afirma
Flick (2009)
A avaliaccedilatildeo de dois Programas Baacutesicos Ambientais enquanto documentos oficiais foi
incluiacuteda no conjunto da anaacutelise documental Para avaliaccedilatildeo destes PBArsquos foi adotado o
meacutetodo de avaliaccedilatildeo centrado na anaacutelise criacutetica dos objetivos traccedilados por cada Programa
Esta abordagem se distingue pelo fato de que os propoacutesitos de uma atividade satildeo
especificados e a avaliaccedilatildeo concentra-se na medida em que esses propoacutesitos foram
54
alcanccedilados possibilitando mecanismos para determinar a realizaccedilatildeo das metas (WORTHEN
SANDERS FITZPATRICK 2004)
Para estes autores avaliaccedilatildeo eacute identificaccedilatildeo esclarecimento e aplicaccedilatildeo de criteacuterios
defensaacuteveis para determinar o valor (valor ou meacuterito) a qualidade a utilidade a eficaacutecia ou a
importacircncia do objeto avaliado em relaccedilatildeo a esses criteacuterios que precisa ser realizada a partir
de questotildees (WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004)
Foram avaliadas informaccedilotildees sobre Contexto Estrutura Processo e produto
A base documental nos possibilitou retratar as comunidades quilombolas do estudo
sem a pretensatildeo de esgotar toda a riqueza e diversidade das mesmas enriquecendo nossa
caracterizaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos sujeitos entrevistados e presentes nos grupos focais tendo
como ldquopano de fundordquo as marcas atuais com o projeto da transposiccedilatildeo
4532 Dados de questionaacuterio - CAP7
A abordagem quantitativa se deu por meio da utilizaccedilatildeo de variaacuteveis dos dados
secundaacuterios obtidos com a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio CAP instrumento adaptado a partir do
modelo desenvolvido por Lawrence Green y Marshall Kreuter (GREN KREUTER 1991)
O referido questionaacuterio denominado originalmente de CAHP (conhecimentos
atitudes habilidades e praacuteticas da popoulaccedilatildeo-alvo) eacute uma das ferramentas do modelo de
planejamento PRECEDE-PROCEDE proposta pelos autores e que foi aplicado em vaacuterias
partes do mundo para o desenvolvimento de programas educativos a partir dos anos de 1970
Esse modelo consiste aleacutem da fase diagnoacutestica de quatro fases de planejamento sendo uma
fase de implementaccedilatildeo e trecircs fases de avaliaccedilatildeo contida na etapa PROCEDE pensada em
reconhecimento agrave expansatildeo da educaccedilatildeo em sauacutede incluiacutedo a partir de 1991
O questionaacuterio CAP compotildee a fase PRECEDE por tratar-se de vaacuterias etapas
diagnoacutesticas sejam de caraacuteter social epidemioloacutegico ambiental educacional ecoloacutegico
poliacutetico e administrativo
A proposta do questionaacuterio foi apresentada agrave Equipe teacutecnica de Educaccedilatildeo em Sauacutede da
Funasa-Suest-PE em 2008 como ferramenta para anaacutelise diagnoacutestica junto agraves comunidades
onde haveria intervenccedilatildeo institucional pelo projeto da transposiccedilatildeo O questionaacuterio foi
aplicado em aacutereas com populaccedilotildees quilombolas e indiacutegenas com representantes das famiacutelias
7 Questionaacuterio CAP ndash Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da Comunidade instrumento aplicado com 287
moradores de comunidades quilombolas inseridas no PISF pela Equipe de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
(Saduc) da FunasaSuest-PE no periacuteodo de 2008 agrave 2010
55
que iriam ter suas casas substituiacutedas de taipa por alvenaria uma das ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo realizadas pelo MI ndash PISF contidas no PBA 17 um dos 38 Programas
Baacutesicos Ambientais
Neste estudo o questionaacuterio CAP foi utilizado para um diagnoacutestico educacional antes
de desenvolver e implementar planos de intervenccedilatildeo tendo sido aplicados 99 questionaacuterios
com moradores de Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e ContendasTamboril todas
comunidades quilombolas de Salgueiro contempladas com as obras realizadas pela Funasa-
SuestPE
Em relaccedilatildeo agrave comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pela sua extensatildeo territorial e
contingente populacional os dados obtidos com o CAP representam um consolidado de
questionaacuterios aplicados em quinze siacutetios visitados O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
conta com 21 subdivisotildees ou siacutetios aleacutem da Vila Centro ou Sede
Apoacutes aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios as informaccedilotildees analisadas foram devolvidas agraves
comunidades em oficinas educativas realizadas em 2011 pela FunasaSuest-PE (Setor de
Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental)
O questionaacuterio semi-estruturado continha perguntas sobre vaacuterios aspectos desde
questotildees ambientais mais especiacuteficas como a estrutura de saneamento baacutesico (aacutegua lixo
dejetos) a organizaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica e comunitaacuteria o niacutevel de escolarizaccedilatildeo as formas de
trabalho e renda questotildees de sauacutede manifestaccedilotildees culturais formas de lazer e acesso agrave
informaccedilatildeo (Anexo A)
Para as trecircs aacutereas do estudo apresentamos aspectos considerados mais significativos
para caracterizaccedilatildeo geral das famiacutelias e do territoacuterio segundo respostas obtidas com o
questionaacuterio CAP enriquecendo com narrativas dos sujeitos e fontes documentais
Os objetivos especiacuteficos do estudo e as ferramentas teacutecnicas para consecuccedilatildeo dos
mesmos estatildeo representados no quadro 3 sintetizando as abordagens qualitativas e
quantitativas adotadas
56
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos TEacuteCNICA Objetivo1- Caracterizar o
Projeto da Transposiccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco
considerando a proposta oficial e a percepccedilatildeo dos
sujeitos
Objetivo2- Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios
das aacutereas quilombolas do
estudo
Objetivo3- Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos
quanto agrave vulneraccedilatildeo
decorrente da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos
territoacuterios quilombolas
Objetivo4-Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo
projeto da transposiccedilatildeo para minimizar a
vulneraccedilatildeo
Levantamento
documental
Aspectos populaccedilatildeo
localizaccedilatildeo territorial questotildees ambientais
organizaccedilatildeo social e
poliacutetica questotildees culturais e de acesso a serviccedilos
Fontes IBGE relatoacuterios
do MIN EIARIMA
SEPPIR Fundaccedilatildeo
Cultural Palmares Centro
de Cultura Luiz Freire Secretarias Estadual e
Municipal de Sauacutede e Educaccedilatildeo (ACQPe)
Mapa de Injusticcedila Social
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe Funasa- dados Questionaacuterio CAPoutros)
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe artigos textos cientiacuteficos
Documentos oficiais do
MI da Funasa artigos textos cientiacuteficos
Entrevistas Gestores teacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT escritoacuterio
do Projeto em
Salgueiro ACQPe
lideranccedilas moradores
quilombolas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Grupos focais Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF)
Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF)
Fonte A autora 2014
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS
A anaacutelise de conteuacutedo dos dados primaacuterios foi feita partir do que propotildee Kvale (1996)
O autor aponta cinco principais tipos de anaacutelise como a condensaccedilatildeo de significados a
categorizaccedilatildeo de significados a estrutura de significados atraveacutes da narrativa a interpretaccedilatildeo
de significados e o meacutetodo ad hoc de geraccedilatildeo de significados Dessas a condensaccedilatildeo de
significados eacute a mais utilizada e foi adotada nesse estudo (KVALE 1996)
A condensaccedilatildeo de significados consiste em condensar as passagens das entrevistas e
grupos focais que se relacionam a uma questatildeo especiacutefica do estudo passando a compor o
que o autor chama de Unidades Naturais de Anaacutelise mantidas na coluna da esquerda de um
quadro organizador Na coluna da direita desse mesmo quadro ficaratildeo os temas centrais que
consistem na apresentaccedilatildeo do tema que dominam as unidades naturais relacionadas agraves
passagens condensadas na coluna da esquerda No mesmo quadro abaixo das duas colunas
seraacute feita uma descriccedilatildeo essencial da questatildeo da pesquisa com a interpretaccedilatildeo do
pesquisador sobre os aspectos trazidos pelos entrevistadosas (KVALE 1996)
A representaccedilatildeo do modelo proposto estaacute contida no quadro 4
57
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale
Questatildeo de Pesquisa
Unidades Naturais de Anaacutelise Temas Centrais
Trechos da entrevista e grupo focal relacionados agrave
pergunta da pesquisa
Apresentaccedilatildeo do tema que domina a unidade
natural conforme a compreensatildeo do pesquisador
e da forma mais simples possiacutevel
Descriccedilatildeo Essencial da questatildeo de pesquisa
Descriccedilatildeo de todos os temas abordados na entrevista e grupo focal conforme a interpretaccedilatildeo do pesquisador
acerca da questatildeo comentada pelo entrevistado e participante do grupo focal
Fonte Gurgel (2007)
Esta anaacutelise foi aplicada aos dados qualitativos provenientes das entrevistas (gestores
teacutecnicos e lideranccedilas) e dos grupos focais (moradores professores e lideranccedilas quilombolas)
tatildeo logo foi feita a transcriccedilatildeo dos conteuacutedos gravados A leitura do material transcrito
permitiu identificar a percepccedilatildeo de gestores e quilombolas quanto aos aspectos relacionados
nos itens 451 e 452
A anaacutelise documental dos conteuacutedos do material selecionado teve como referecircncia o
modelo definido por Bardin (2011) Centrada em documentos foi feita uma classificaccedilatildeo e
indexaccedilatildeo com o objetivo de se obter uma representaccedilatildeo condensada da informaccedilatildeo para
consulta e armazenagem Os criteacuterios apontados por Bardin para organizaccedilatildeo de uma anaacutelise
satildeo preacute-anaacutelise exploraccedilatildeo do material e o tratamento dos resultados - codificaccedilatildeo e
inferecircncia (SANTOS F M 2012) O quadro 5 resume os aspectos de cada criteacuterio de anaacutelise
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin
Anaacutelise de Conteuacutedo
Preacute-anaacutelise Exploraccedilatildeo do Material Tratamento Dos resultados
-Organizaccedilatildeo de material
(corpus da pesquisa)
-ObservarrarrExaustividade
representatividade
homogeneidade
pertinecircncia exclusividade
-ldquoLeitura flutuanterdquo rarr
organizaccedilatildeo de iacutendice com
formulaccedilatildeo de
pressupostos a serem
confirmados ou natildeo ao final
do estudo
-Codificaccedilatildeo dos dados e agregados
em unidades de registro (tema
palavra ou frase)
-Enumeraccedilatildeo de regrasrarr a
presenccedila ou ausecircncia de elementos
ou unidades de registros
-Outros fatoresrarr frequecircncia
intensidade medida atraveacutes dos
tempos dos verbos direccedilatildeo
(favoraacutevel neutra ou desfavoraacutevel)
ordem estabelecida e concorrecircncia
(presenccedila simultacircnea de 2 ou mais
unidades de registro)
-Categorizaccedilatildeo por criteacuterios de semacircntica (temas)
sintaacutetico (verbos adjetivos e pronomes) leacutexico
(sentido e significado das palavras) e expressivo
(variaccedilotildees na linguagem e na escrita)
-Organizaccedilatildeo das informaccedilotildees em 2 etapasrarr
inventaacuterio (isolam-se elementos comuns) e
classificaccedilatildeo (divide-se elementos e impotildeem- se
organizaccedilatildeo)
-Inferecircnciararrorientada por diversos poacutelos de
comunicaccedilatildeo (emissor receptor mensagem e
canal)
-Interpretaccedilatildeo dos dados rarr retornar ao referencial
teoacuterico
- Ferramenta tecnoloacutegica (computador) rarr p
anaacutelise profunda dos dados
-Possiacuteveis teacutecnicas anaacutelise categorial de
avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo de expressatildeo e das
relaccedilotildees
Fonte Santos M (2012)
A anaacutelise de dados dos questionaacuterios CAP se deu por meio da Estatiacutestica Descritiva
teacutecnica realizada para o tratamento de dados secundaacuterios com apresentaccedilatildeo por meio de
tabelas
58
As principais categorias de anaacutelise referidas neste estudo foram vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo - com o olhar sobre especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos
sauacutede relaccedilotildees familiares) acesso a serviccedilos e poliacuteticas especiacuteficas problemas ambientais
situaccedilatildeo de rendatrabalho e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica territoacuterio espaccedilo lugar e paisagem
ndash com o olhar sobre as mudanccedilas nas aacutereas quilombolas as alteraccedilotildees percebidas e existentes
a partir do projeto conteuacutedos praacuteticas e processos da educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental onde as propostas e accedilotildees dos programas baacutesicos ambientais foram descritas
considerando especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede) para
compreender como estaacute sendo desenvolvido o Programa as accedilotildees implantadas modalidade e
niacuteveis de participaccedilatildeo percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental o significado do rio Satildeo Francisco situaccedilotildees - educaccedilatildeo e sauacutede sauacutede ambiente
Projeto da transposiccedilatildeo cultura poder acesso participaccedilatildeo especificidades eacutetnicas (cultura
educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede relaccedilotildees familiares) e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica
Para operacionalizaccedilatildeo das avaliaccedilotildees de cada PBA foram trabalhadas quatro
categorias agrave luz da metodologia sugerida por Worthen Sanders e Fitzpatrick (2004)
As categorias foram avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo ao problema e para cada uma
delas foi feito o exerciacutecio de identificaccedilatildeo de elementos criacuteticos construiacutedo por meio das
entrevistas grupos focais referenciais teoacutericos e relatoacuterios do projeto Cada uma destas
categorias apresenta um nuacutemero diversificado de variaacuteveis a serem avaliadas (Quadro 6)
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs
Avaliaccedilatildeo do Contexto Categorias de anaacutelise Pontos Criacuteticos
Justificativa Populaccedilatildeo territoacuterio Objetivos
geral e especiacuteficos
Metas Indicadores Atividades
Identificados por meio das
entrevistas grupos focais
referenciais teoacutericos e relatoacuterios
do projeto da transposiccedilatildeo Avaliaccedilatildeo de Estrutura Recursos Humanos Recursos Materiais
Recursos Financeirosorccedilamento
Avaliaccedilatildeo de Processo Implantaccedilatildeo Falhas
Procedimentos (meacutetodo)
Avaliaccedilatildeo de Produto Resultadosdesdobramentos
Fonte Modelo adaptado de Worthen et al (2004)
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS
O presente estudo compotildee o Projeto de Pesquisa Impactos do projeto de integraccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco sob coordenaccedilatildeo do pesquisador Andreacute Monteiro Costa doutor em
sauacutede puacuteblica do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhatildees (CPqAMFiocruzMS) tendo sido
59
aprovado pelo Processo CAAE 13474513400005190 no Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do
CPqAM segundo a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de SauacutedeCNS nuacutemero 19696 a qual
estabelece diretrizes e Normas Reguladoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos
Toda pesquisa envolvendo seres humanos acarreta riscos Neste estudo a relaccedilatildeo com
os sujeitos se deu a partir de entrevistas e realizaccedilatildeo de grupos focais Estima-se que os riscos
quanto agraves dimensotildees fiacutesica psiacutequica moral intelectual social cultural ou espiritual seratildeo
minimizados os quais conforme a Resoluccedilatildeo 19696 (inciso V-1a) satildeo admissiacuteveis quando
oferecem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender prevenir ou aliviar um
problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa Por envolver comunidades o estudo
esteve atento ao inciso III - 31 Resoluccedilatildeo 19696 que preconiza respeitar sempre os valores
culturais sociais morais religiosos e eacuteticos bem como os haacutebitos e costumes
Como provaacuteveis benefiacutecios para populaccedilatildeo do estudo espera-se que o conhecimento
produzido contribua para a percepccedilatildeo criacutetica e identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo as quais as populaccedilotildees quilombolas estatildeo submetidas com o projeto da
transposiccedilatildeo a compreensatildeo dos processos educativos desenvolvidos pelas accedilotildees de educaccedilatildeo
em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental e de obras implementadas pelos PBArsquos seus desdobramentos
e resultados para mitigar impactos do projeto da transposiccedilatildeo nas aacutereas quilombolas maior
clareza quanto a compreensatildeo dos reais objetivos do projeto da transposiccedilatildeo identificaccedilatildeo
dos noacutes criacuteticos ao processo de regularizaccedilatildeo das terras quilombolas
Para os envolvidos no estudo foi obtido o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) apresentado natildeo oportunidade a justificativa objetivos e procedimentos
utilizados na pesquisa Todo cuidado foi tomado para proteger e preservar os sujeitos com o
anonimato e sigilo necessaacuterio nos momentos de entrevista e grupos focais respeitando o
viacutenculo de confianccedila estabelecido
Este projeto consta de dois tipos de TCLEs um direcionado agrave populaccedilatildeo quilombola
(Apecircndice D) e outro aos Gestores e Teacutecnicos dos niacuteveis Federal Estadual e Municipal
(Apecircndice E)
60
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO - DISCURSO
OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS SUJEITOS
[] Eacute o projeto do governo federal Cuja aacutegua
natildeo chegaraacute ao pobre
A miacutedia a serviccedilo Isso encobre
Deixando a situaccedilatildeo normal
Tudo isso eacute injusticcedila social
A maior parte do projeto eacute irrigaccedilatildeo
No sertatildeo produzir ateacute marisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O Nordeste brasileiro vive haacute seacuteculos o contexto da seca e suas consequecircncias Afirma
Silva A (2011) que a ideia de transpor aacuteguas do Rio Satildeo Francisco remonta haacute mais de um
seacuteculo e segundo a autora
Surge pela primeira vez no seacuteculo XIX num ambiente em que a seca do Nordeste
Brasileiro jaacute contribuiacutea como hoje para o agravamento das mazelas sociais daquela
regiatildeoComo eacute de consenso sabemos que a seca no nordeste eacute uma parte dos grandes
problemas do nosso paiacutes e tambeacutem objeto de anaacutelise e controveacutersias (SILVA A
2011)
Houve trecircs momentos entre o final do seacuteculo XIX e todo o seacuteculo XX em que foi
travado debate sobre a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco Nos dois primeiros momentos -
entre 1882 e 1985 e entre 1993 e 1994 questotildees poliacutetico eleitorais predominaram
provocando criacuteticas da Companhia Hidro Eleacutetrica do Satildeo Francisco (CHESF) por falta de
fundamentaccedilatildeo e consistecircncia teacutecnica principalmente pela retirada de aacutegua do rio
considerada absurda (300 a 500msup3s) (ANDRADE 2002) Mas eacute no ano de 1847 que pela
primeira vez eacute elaborada a ideia da transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco apresentada
pelo engenheiro Marcos de Macedo ao Parlamento e tambeacutem ao Imperador Pedro II poreacutem
natildeo obteve apoio (CAULA MOURA 2006 apud SILVA A 2011)
A ideia oficial do projeto de transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco originada durante o
Impeacuterio foi elaborada como resposta agrave calamidade provocada pela grande seca daquele
seacuteculo que levou agrave morte quase dois milhotildees de habitantes do Nordeste Essa resposta foi
apresentada pela Comissatildeo Cientiacutefica de Exploraccedilatildeo chefiada pelo engenheiro e fiacutesico
brasileiro Guilherme Schuch de Capanema o Baratildeo de Capanema com a proposta de
construccedilatildeo de accediludes e a integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com os rios do Nordeste
Setentrional Eacute construiacutedo entatildeo em 1884 o primeiro Accedilude no Cearaacute (em Quixadaacute)
61
inaugurado entretanto 22 anos apoacutes quando foi criada a Inspetoria Federal de Obras contra a
Seca (IFOCS) (LIMA L 2005)
A temaacutetica da transposiccedilatildeo passa entatildeo a fazer parte da mente e imaginaccedilatildeo natildeo
apenas de engenheiros mas de intelectuais como Euclides da Cunha e em diversos governos
da Repuacuteblica projetos para transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco passam a ser elaborados
(MELLO 2004 apud SILVA A 2011)
Apesar dos projetos elaborados por governos da Repuacuteblica para a transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco eacute a partir de meados do seacuteculo XX que interferecircncias sistemaacuteticas do Estado
Brasileiro na regiatildeo do semiaacuterido satildeo observadas como por exemplo a destinaccedilatildeo de
porcentagem de rendas tributaacuterias federais em projetos de aproveitamento do potencial
econocircmico do rio Satildeo Francisco e afluentes como definido na Constituiccedilatildeo de 1946 (SILVA
A 2011)
Tambeacutem nesta eacutepoca em virtude dos periacuteodos de seca que agravavam a situaccedilatildeo das
populaccedilotildees mais pobres o movimento a favor da transposiccedilatildeo conquista adeptos O projeto de
autoria do engenheiro Maacuterio Ferracuti propondo a construccedilatildeo de barragem para represar o
Satildeo Francisco perto de Cabroboacute (PE) cujo propoacutesito seria bombear aacutegua para o Cearaacute e o Rio
Grande do Norte ganha ampla divulgaccedilatildeo em 1958 (MELLO 2004 COELHO 2004 apud
SILVA A 2011)
A partir dos anos de 1980 as iniciativas poliacuteticas referentes a projetos para o rio Satildeo
Francisco se intensificaram Debates e ideias a respeito da transposiccedilatildeo se deram em
momentos como candidaturas eleitorais indiretas agrave presidecircncia da repuacuteblica como no caso do
entatildeo candidato Maacuterio Andreazza em 1983 que incluiu em sua plataforma poliacutetica o projeto
da transposiccedilatildeo poreacutem derrotado o mesmo ficou no esquecimento
No iniacutecio dos anos de 1990 a proposta foi retomada pelo Ministro da Integraccedilatildeo
Nacional do governo de Itamar Franco o Sr Aluiacutesio Alves com o projeto de construccedilatildeo de
um canal em Cabroboacute Mas o TCU e o Ministeacuterio da Agricultura natildeo aprovam o projeto
Ainda nos anos de 1990 eacute organizado na Cacircmara dos Deputados Federais o grupo de
trabalho - A transposiccedilatildeo das Aacuteguas do Rio Satildeo Francisco que passa a ser conhecido como
ldquoProjeto Satildeo Franciscordquo Em 1994 no Governo de Fernando Henrique Cardoso eacute feito um
redesenho do projeto pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do Satildeo Francisco e do
Parnaiacuteba (CODEVASF) que irrigaria o semiaacuterido com obras para serem efetivadas em 25 a
30 anos Este projeto final foi estruturado sob responsabilidade do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundaccedilatildeo de Ciecircncia
Aplicaccedilotildees e Tecnologia Espaciais (FUNCATE) Visto pelo governo Fernando Henrique
62
Cardoso como soluccedilatildeo consistente para o problema da seca no semiaacuterido nordestino o projeto
da transposiccedilatildeo provocou e provoca disputas poliacuteticas e concepccedilotildees distintas de agentes
sociais sobre o que eacute ou poderia ser o rio Satildeo Francisco Tais concepccedilotildees estatildeo presentes nos
debates sobre a estruturaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto apontando olhares que compotildeem
constroem e produzem distintos objetos para o futuro do rio Satildeo Francisco (SILVA A
2011)
Sempre com a justificativa de que o projeto iria resolver os problemas provocados
pela seca no nordeste a ideia da transposiccedilatildeo renasce nos vaacuterios governos e mesmo natildeo
estando nas campanhas eleitorais dos governos anteriores tambeacutem natildeo se encontrava na
campanha do Governo do Presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva que aprovou e deu iniacutecio a
implementaccedilatildeo do mesmo
O projeto vai renascer das cinzas pautado num discurso salvacionista e
desenvolvimentista e passa a integrar o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento -
PAC aleacutem de novamente trazer agrave discussatildeo nacional as opiniotildees diversas e
contraditoacuterias sobre o projeto (SILVA A 2011 p 5)
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrional-PISF foi apresentado pelo Governo Lula como a soluccedilatildeo para a inseguranccedila
hiacutedrica no Semiaacuterido Eacute um empreendimento que se apresenta com o principal objetivo de
assegurar a oferta de aacutegua em 2025 a cerca de 12 milhotildees de habitantes de 390 municiacutepios de
pequenas meacutedias e grandes cidades da regiatildeo semiaacuterida dos estados de Pernambuco Cearaacute
Paraiacuteba e Ria Grande do Norte Em suma segundo documentos oficiais eacute garantir a oferta de
aacutegua para uma populaccedilatildeo e uma regiatildeo que sofrem com a escassez e a irregularidade das
chuvas (BRASIL 2004c p 9)
O Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) confirma que jaacute no Brasil-Colocircnia foram
escritos os primeiros relatos sobre a seca no Nordeste que falam das migraccedilotildees para regiotildees
natildeo afetadas pela falta drsquoaacutegua Ressalta que a regiatildeo do Projeto encontra-se na aacuterea do
chamado Poliacutegono das Secas sendo que o Nordeste Setentrional (parte do Semiaacuterido ao norte
do rio Satildeo Francisco) eacute a aacuterea que mais sofre os efeitos de secas prolongadas abrangendo
parcialmente os Estados de Pernambuco Cearaacute Paraiacuteba e Rio Grande do Norte (BRASIL
2004c)
Entretanto assessores ligados agrave Articulaccedilatildeo no Semi-aacuterido Brasileliro (ASA8)
afirmam que ldquoo problema da regiatildeo natildeo eacute a falta de aacutegua mas sim seu mau gerenciamento
8 ASA - Rede formada por mil organizaccedilotildees da sociedade civil que atuam na gestatildeo e no desenvolvimento de
poliacuteticas de convivecircncia com a regiatildeo semiaacuterida se consolida enquanto articulaccedilatildeo em Foacuterum Paralelo da
63
Natildeo adianta simplesmente ter aacutegua precisa ter abastecimento e descentralizaccedilatildeo Hoje 70
dos accediludes do nordeste satildeo privatizadosrdquo (MERLINA 2007 p 11)
O principal objetivo do projeto da transposiccedilatildeo apontado pelo governo estaacute presente
na compreensatildeo de entrevistados seja com esperanccedila com criacuteticas com duacutevidas
Eu acho que a questatildeo desse projeto ele eacute uma situaccedilatildeo que traz um certo conflito de
ideias assim o rio Satildeo Francisco eacute como se fosse sagrado e ele eacute importantiacutessimo
e esse projeto que eacute antigo oferece a perspectiva de melhorar a qualidade de vida
dessas populaccedilotildees Aiacute fica aquele conflito entre mexer naquilo que eacute sagrado e ser
realmente beneficiado pela aacutegua do rio Satildeo Francisco Porque eacute muita tecnologia
vocecirc transformar um rio trazer um rio eacute como se vocecirc pegasse e fizesse uma
sangria no rio (Gestora 8)
[] Olha o projeto em si eacute um projeto muito grande que a gente natildeo tem muitos
meios principalmente teacutecnico para ter o conhecimento para falar e aprofundar esse
projeto mas a expectativa eacute que ele traga algo [] Gera uma expectativa de
melhorias mas que a gente natildeo sabe o que pode acontecer [] O que diz no projeto
eacute que a aacutegua vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos
animais mas assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas
plantam e aiacute precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
[] soacute se for laacute para o final dele porque pra noacutes aqui eu natildeo acredito que traga essas
coisas de valor natildeo Porque jaacute que a gente natildeo vai ser abastecido com ele com a
aacutegua dele qual eacute o futuro que vai ter pra noacutes Natildeo acredito natildeo (Grupo Focal 2)
A percepccedilatildeo geral dos sujeitos entrevistados eacute de que o Projeto da transposiccedilatildeo eacute um
projeto imposto que teve que ser aceito sem o devido preparo do municiacutepio das suas
comunidades quilombolas e populaccedilatildeo rural diretamente afetadas
Quando eu recebi jaacute foi assim toma recebe eacute isso aqui chegou e agora tu tem que
acolher Eacute dessa forma que eu vejo Talvez ateacute eu esteja equivocada o prefeito tenha
recebido convite e tudo natildeo sei mas pelo menos da minha parte eu percebi isso
Natildeo de jeito nenhum [] Eles chegaram se instalaram e contrataram essa empresa
que eacute a CMT E aiacute tem essa empresa contratada com pessoas que satildeo da regiatildeo mas
muitas natildeo satildeo aqui de Salgueiro principalmente os que estatildeo aqui Acho que o
municiacutepio natildeo estava preparado pra receber tambeacutem (Gestora 5)
[] Quando a gente vecirc que a gente vive no semiaacuterido tem essa dificuldade de
conveniecircncia com o semiaacuterido mas a gente vecirc que natildeo foi um projeto que foi
escolhido pelo menos dada agrave opiniatildeo do povo escolhido pelo povo ele veio de
cima pra baixo (Gestora 2)
Com orccedilamento previsto para R$ 46 bilhotildees em 2007 o projeto vem sofrendo
reajustes anuais passando em 2009 a custar R$ 52 bilhotildees em 2011 aumentou para R$ 68
bilhotildees chegando em 2012 a R$ 82 bilhotildees o que significa um aumento de 80 do valor
Sociedade Civil realizado em 1999 durante a 3ordf Conferecircncia das Partes da Convenccedilatildeo de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e agrave Seca (COP3) ocorrida em Recife
64
inicial da obra O governo federal argumenta que os reajustes se deram em funccedilatildeo da
necessidade de detalhamento no projeto executivo que desenvolvido ao longo da obra
incorreu em grande discrepacircncia com o projeto baacutesico (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O custo elevado do projeto suscita criacuteticas e questionamentos demonstrando o
descreacutedito com a eficiecircncia e eficaacutecia do governo e a falta de responsabilidade ambiental
[] E eacute muito dinheiro a gente vecirc falar em tantos zerinhos e ai seraacute que vai ser
concluiacuteda mesmo essa obra Seraacute que natildeo vai ser uma obra faraocircnica que vai ficar
aiacute Seraacute que vai trazer os benefiacutecios seraacute que vai chegar ateacute o final E depois que
chegar ateacute o final quanto tempo seraacute que o rio vai conseguir sustentar essa obra pra
valer a pena o tanto de dinheiro que foi gasto (Lideranccedila 1)
Ao longo de quase sete anos com menos da metade das obras concluiacutedas o projeto
sofreu vaacuterias paralisaccedilotildees e vem sendo justificadas pelo governo por diversas dificuldades em
sua execuccedilatildeo que vatildeo desde o excessivo parcelamento ou fragmentaccedilatildeo com 57 contratos e
90 empresas a serem gerenciadas pela necessidade de incremento nos quantitativos e de
adiccedilatildeo de serviccedilos novos associada agraves dificuldades para negociaccedilatildeo de aditivos culminando
com a paralisaccedilatildeo de vaacuterios lotes no final de 2010 e iniacutecio de 2011 pelas dificuldades na
articulaccedilatildeo interinstitucional para resolver os problemas de interferecircncias e desapropriaccedilotildees
aleacutem do quadro de servidores do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional insuficiente para
execuccedilatildeo do empreendimento (BRASIL 2012)
No entanto questionamos se um projeto nas dimensotildees e complexidade do projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco poderia ser iniciado sem a atualizaccedilatildeo e revisatildeo do seu
projeto baacutesico elaborado ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso
Em defesa da sua gestatildeo de governo o entatildeo Ministro da integraccedilatildeo Fernando
Bezerra Coelho argumenta que a legislaccedilatildeo natildeo define regras muito claras para elaboraccedilatildeo do
projeto baacutesico e que ldquoapesar de cumprida toda legislaccedilatildeordquo eacute uma obra de engenharia
complexa Em contrapartida o Ministro do TCU Raimundo Carrero apresenta outros
argumentos contraacuterios ao do Ministro da Integraccedilatildeo afirmando que a lei de licitaccedilatildeo de
contratos eacute clara e que no artigo 6ordm haacute vaacuterios incisos detalhando o que eacute um projeto baacutesico
Acrescenta que um projeto baacutesico mal feito deficiente e sem planejamento tem como
resultado obras paralisadas obras mal feitas de maacute qualidade e sem o resultado esperado pela
populaccedilatildeo O que na praacutetica vem ocorrendo com o projeto da transposiccedilatildeo
(TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
Exemplo de mal planejamento e descaso neste projeto foi o desabamento de um tuacutenel
em um dos lotes das obras da transposiccedilatildeo em abril de 2011 apoacutes terem sido cavados 112
65
metros de profundidade O desabamento natildeo provocou nenhum acidente natildeo havendo
feridos mas as obras ficaram paralisadas por um ano e meio representando grande prejuiacutezo
aos cofres puacuteblicos (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O projeto da transposiccedilatildeo jaacute foi alvo de vaacuterias denuacutencias e desde 2005 o Tribunal de
Contas da Uniatildeo (TCU) encontra irregularidades que chegam a R$ 734 milhotildees O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo Nacional teve que investigar contratos que natildeo foram honrados pagamentos
duplicados por obras superfaturamento e pagamentos de serviccedilos natildeo executados
A lentidatildeo e interrupccedilatildeo das obras aparece como mais um fator de descreacutedito quanto
aos ldquobenefiacuteciosrdquo do projeto aumento de inseguranccedila na vida das populaccedilotildees e prejuiacutezo para
comunidade que arca com o dinheiro destinado ao projeto
[] eu acho que por mais que as pessoas falem divulguem faccedilam muita
propaganda natildeo assim eu proacutepria natildeo tenho domiacutenio o que vai significar isso []
O que eu acho ruim eacute que a obra eacute muito lenta vocecirc natildeo vecirc o resultado aiacute isso
tambeacutem desanima as pessoas natildeo eacute Eu acho que se ela tivesse seguido o ritmo que
ela tinha iniciado jaacute tivesse algum resultado aiacute as pessoas podiam ter uma posiccedilatildeo
e ter uma expectativa ou se organizar contra ou a favor aiacute deixa todo mundo nessa
coisa mexeu com a rotina das cidades As cidades tinham muita gente do exeacutercito
No sertatildeo melhorou e tal mas deu uma parada agora Natildeo sei Vocecirc indo no sertatildeo
vocecirc vecirc que estaacute uma situaccedilatildeo ruim nesse sentido deu uma quebra (Gestora 8)
[] E outra coisa teve um tempo atraacutes que ela fez uns trechos ai que ela fez que
com o tempo por ela ter sido parada foi prejudicada e teve que ser feito de novo neacute
[] E isso sai caro praacute comunidade porque queira ou natildeo queira esse dinheiro sai do
nosso bolso porque quem paga essa obra aiacute eacute noacutes neacute Tudo que noacutes compra tem um
imposto e o imposto vai praacute laacute pra de laacute vim dinheiro para esse pessoal Aiacute
complica [] (Grupo Focal 3)
O Projeto da transposiccedilatildeo inclui obras de infra-estrutura hiacutedrica em dois sistemas
independentes denominados Eixo Norte e Eixo Leste que captaratildeo aacutegua do rio Satildeo Francisco
entre as barragens de Sobradinho (Eixo Norte) e Itaparica (Eixo Leste) no Estado de
Pernambuco Os sistemas compostos de canais estaccedilotildees de bombeamento de aacutegua pequenos
reservatoacuterios e usinas hidreleacutetricas para auto-suprimento iratildeo atender agraves necessidades de
abastecimento de municiacutepios do semiaacuterido do Agreste Pernambucano e da Regiatildeo
Metropolitana de Fortaleza afirmam os documentos oficiais As bacias hidrograacuteficas
beneficiadas satildeo do rio Jaguaribe no Cearaacute do rio Piranhas-Accedilu na Paraiacuteba e Rio Grande do
Norte do rio Apodi no Rio Grande do Norte do rio Paraiacuteba na Paraiacuteba dos rios Moxotoacute
Terra Nova e Briacutegida em Pernambuco na bacia do rio Satildeo Francisco O chamado Eixo Norte
abrange 222 municiacutepios afetando 71 milhotildees de pessoas e o Eixo Leste satildeo 168 municiacutepios
afetando 49 milhotildees de pessoas (BRASIL 2004c p 3)
66
A aacuterea de abrangecircncia do Projeto foi categorizada em trecircs unidades de anaacutelise de
acordo com a distribuiccedilatildeo e intensidade dos impactos previsiacuteveis relacionados ao mesmo
Foram consideradas Aacuterea de Influecircncia Indireta (AII) onde ocorrem os efeitos indiretos da
integraccedilatildeo das aacuteguas Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) onde se datildeo principalmente as
transformaccedilotildees ambientais diretas decorrentes do empreendimento e Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) onde se datildeo os contatos diretos entre as estruturas fiacutesicas do
Empreendimento (canais reservatoacuterios estaccedilotildees de bombeamento etc) e a regiatildeo onde ele
estaacute implantado sendo definida como uma faixa ao longo das estruturas do Projeto com 5 km
de largura para cada lado (BRASIL 2004c)
A AID abrange o conjunto das aacutereas dos municiacutepios atravessados pelos Eixos de
conduccedilatildeo da aacutegua perfazendo um total de 86 municiacutepios sendo 16 em Pernambuco 30 na
Paraiacuteba 19 no Rio Grande do Norte e 21 no Cearaacute (BRASIL 2004c)
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA
Fonte RIMA do Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (BRASIL 2004)
Contraacuterio ao projeto da transposiccedilatildeo Suassuna (2009) fundamenta sua posiccedilatildeo a partir
do que argumenta Alberto Darker que diz existirem trecircs condiccedilotildees baacutesicas que justificam a
transposiccedilatildeo de aacuteguas de um rio existirem uma bacia com muita aacutegua sobrando e terras e
relevo que natildeo sirvam para irrigaccedilatildeo outra bacia com terras irrigaacuteveis mas com carecircncia de
aacutegua e uma relaccedilatildeo custo-benefiacutecio viaacutevel para a realizaccedilatildeo da obra No caso da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco as trecircs natildeo se enquadram tendo em vista haver demanda por aacutegua nas
terras cultivaacuteveis proacuteximas ao rio existir aacutegua na regiatildeo das bacias receptoras faltando
apenas o estabelecimento de uma poliacutetica eficiente para a sua distribuiccedilatildeo e posterior
86 Municiacutepios PE 16 PB 30 RN 19 CE 21
67
consumo das populaccedilotildees e por uacuteltimo faltar sustentaccedilatildeo energeacutetica e financeira para a
execuccedilatildeo da obra (SUASSUNA 2009 p 200)
Como projeto polecircmico haacute narrativas de que as obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias
para regiatildeo do sertatildeo apesar dos impactos gerados
Eacute polecircmico natildeo eacute mas natildeo vou entrar acho que de forma geral eu acho que as
obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias pra essa regiatildeo do sertatildeo regiatildeo do
semiaacuterido muita seca e tal eu acho que elas satildeo necessaacuterias e acho que tem gerado
impactos positivos e negativos claro como todo projeto grandioso feito esse neacute
[] (Gestora 6)
[] Existem muitos impactos ambientais a gente sabe disso [] O projeto natildeo foi
concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo menos quando
tiver aacutegua as pessoas possam usar (Gestora 2)
Eacute visto como um projeto que mexe com o imaginaacuterio das pessoas por haver um rio
imenso que vai ser ldquomexidordquo e que cria uma expectativa irreal
Eu acho que esse projeto ele tem uma caracteriacutestica muito interessante porque ele
mexe com o imaginaacuterio das pessoas que eacute um rio imenso que vai ser mexido o
corpo dele vai ser mexido neacute E as pessoas ficam muito assim numa expectativa
que natildeo eacute real Eu lembro que nessas primeiras reuniotildees todos tanto os quilombolas
quanto os indiacutegenas eram contra a transposiccedilatildeo do rio neacute Foi na eacutepoca que ainda
estavam aquelas manifestaccedilotildees e tal (Gestora 8)
As informaccedilotildees repassadas satildeo poucas e natildeo se sabe a sustentabilidade do Projeto para
o rio Haacute muitas promessas feitas pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo em reuniotildees com as
comunidades quilombolas natildeo cumpridas ateacute o momento
Natildeo eu acho que tem ponto positivo inclusive eu disse eu sou a favor do
progresso Eu acho que a gente precisa progredir mesmo mas a gente natildeo pode
perder a nossa cultura (Gestora 5)
Mas assim eu destaco por exemplo o municiacutepio de Salgueiro eacute um municiacutepio que
hoje tem outra visibilidade ele tem o desenvolvimento que a gente percebe muito
claramente a partir das obras (Gestora 6)
[] No comeccedilo eles viram como seria uma coisa interessante mas quando foi pra
praacutetica eacute um negoacutecio que eles perceberam que natildeo era porque se eles assumissem a
promessa era interessante Mas o pior eacute que haacute a promessa muito deles falam que
vai indenizar tambeacutem natildeo chegaram nem a indenizar e a questatildeo do compromisso
com a aacutegua que ia ter aacutegua 24h por dia que iam abastecer [] Por isso eu lhe digo
o Projeto Satildeo Francisco seria bom se assumisse os compromissos mas haacute muita
promessa na hora quando chega mas no decorrer do tempo isso eacute esquecido e o
povo que entraram na onda eacute que fica sofrendo [] no aspecto midiaacutetico ele eacute
colocado como uma coisa muito positiva que seria muito bom Assim eu jaacute ouvi eu
natildeo sei tenho pouco conhecimento que esse projeto tambeacutem natildeo iria nem beneficiar
o pessoal do semiaacuterido na verdade ele ia beneficiar criadores de camarotildees que
68
estariam laacute no Rio Grande do Norte Entatildeo seria mais um meio do agronegoacutecio
(Grupo Focal 1)
Haacute narrativas que demonstram uma esperanccedila de que o projeto da transposiccedilatildeo seja
uma soluccedilatildeo como primeira necessidade ao problema de aacutegua na regiatildeo para o
abastecimento humano principalmente para populaccedilatildeo da zona rural mas que tambeacutem atenda
outras demandas
Ele traz em si a ideia da gente pelo menos solucionar a questatildeo de abastecimento
de aacutegua e aiacute a gente tem esse abastecimento de aacutegua urbano essa eacute a primeira ideia
E no segundo momento pensar a utilizaccedilatildeo dessa aacutegua tambeacutem com outras
utilidades Mas natildeo podemos negar que o abastecimento humano eacute o principal
objetivo para quem estaacute aqui na regiatildeo do sertatildeo pra quem convive e tem ideia do
que eacute o periacuteodo de seca de estiagem nessa regiatildeo [] (Gestora 1)
[] agora se vai ter essa aacutegua que vai atravessar o Pernambuco eu acho que se vier
pra caacute se pensar uma maneira de trazer jaacute que ela passa em Salgueiro tirar a aacutegua
para abastecer a zona rural de Salgueiro do proacuteprio municiacutepio Eu acho que eacute
interessante isso aiacute (Grupo Focal 1)
Haacute visotildees e compreensotildees antagocircnicas entre os discursos de gestores teacutecnicos e
populaccedilatildeo quilombola ao referir-se de maneira mais geral sobre o Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
O Sertatildeo eacute o espaccedilo brasileiro
Conhecido tambeacutem por semiaacuterido
Desde ontem e hoje eacute retratado
Como ruim e tambeacutem seco por inteiro
Os poderosos indicam esse roteiro
Aproveitam-se falando em soluccedilatildeo
Com projeto faraocircnico e ilusatildeo
E o povo continua no aprisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo []
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O semiaacuterido brasileiro compreende os estados do Cearaacute Piauiacute Rio Grande do Norte
Paraiacuteba Alagoas Sergipe Pernambuco parte da Bahia e pequena parcela do estado de Minas
Gerais (DUQUE 2008)
Essa regiatildeo traz como parte do imaginaacuterio dos brasileiros a ideia de ser inoacutespita e
deseacutertica com poucos recursos hiacutedricos e seres humanos vivendo em situaccedilatildeo de fome e
miseacuteria (ROCHA F 2010) No entanto a realidade desmente este imaginaacuterio na medida em
que
[] satildeo mais de 20 milhotildees de pessoas o que torna o Semiaacuterido a regiatildeo rural mais
populosa do Brasil Estudos e experiecircncias recentes provam a viabilidade econocircmica
69
da regiatildeo atraveacutes da convivecircncia com as suas caracteriacutesticas climaacuteticas e a sua fauna
e sua flora (COELHO 2005 RIBEIRO 2007 SILVA 2008 apud ROCHA F
2010)
A regiatildeo eacute banhada pelo rio Satildeo Francisco considerado o maior rio totalmente
brasileiro com 286330 quilocircmetros de extensatildeo que atravessam os estados de Minas Gerais
Bahia Pernambuco Sergipe e Alagoas Descoberto em 1501 foi chamado Oparaacute para os
indiacutegenas que significa rio-mar rio dos currais para os tropeiros rio das borboletas para os
barqueiros e velho Chico para os nordestinos Sua nascente real e geograacutefica eacute na Serra
dacuteAgua municiacutepio de Medeiros Minas Gerais e desaacutegua no oceano atlacircntico nas divisas
entre os estados de Alagoas e Sergipe (SILVA et al 2003)
Apesar de conhecido como ldquorio da unidade nacionalrdquo por aproximar o sertatildeo do
litoral projetos e poliacuteticas puacuteblicas implementadas manteacutem distante esse ideaacuterio de unidade
por natildeo contemplar e incluir todas as diversidades sociais e culturais existentes na regiatildeo
Para a populaccedilatildeo quilombola e para outros sujeitos do estudo o rio Satildeo Francisco
assume significados diversos que passam pelo divino daacutediva de Deus para o nordeste como
o rio que permite o desenvolvimento do vale do Satildeo Francisco o rio que oferece aacutegua para o
consumo da populaccedilatildeo como recurso para o plantio na agricultura familiar9 como
perspectiva de vida
[] para mim o Rio satildeo Francisco eacute um bem uma daacutediva de Deus para o nordeste
como um sinal de vida Entendo e quero ateacute sugerir que cada um de noacutes tenha o Rio
Satildeo Francisco como esse grande presente de Deus porque eacute um rio de aacutegua potaacutevel
e que cruza o sertatildeo ou cruza o nordeste numa grande extensatildeo territorial neacute []
(Lideranccedila 3)
[] O rio Satildeo Francisco representa muita coisa boa pra gente Quando aqui a gente
taacute na hora mais sofrida aqui o cabra se desloca daqui pra beira do rio arruma um
serviccedilo vai trabalhar plantar uma roccedila arruma o que comer porque aqui o cabra soacute
tem de ano em ano no inverno quando chove quando natildeo chove todo mundo aqui
eacute sofrido [] (Grupo Focal 1)
De grande importacircncia soacute de a gente ser abastecido por ele neacute Jaacute eacute um grande
valor que a gente deve dar ao rio Satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
[] o rio ele eacute importante demais porque se natildeo fosse a aacutegua do rio aqui natildeo tinha
mais gente jaacute tinha morrido tudo de sede porque natildeo tem de onde vim aacutegua ela
vem do rio Se natildeo fosse o rio laacute a comunidade de todo canto natildeo vivia mais no
lugar deles natildeo tinha que se deslocar pra laacute [] Eacute ou cara ou barata mas a sorte da
gente eacute essa aacutegua do rio (Grupo Focal 3)
9 A agricultura familiar caracterizada pela associaccedilatildeo de vaacuterios subsistemas ndash roccedilados pequenas criaccedilotildees de
vaacuterias espeacutecies de animais quintais colheitas etc era capaz de produzir gecircneros alimentiacutecios e gerar renda
para a compra dos bens natildeo produzidos no sistema (DUQUE 2008)
70
[] Olhe o rio Satildeo Francisco eacute uma perspectiva de vida mesmo para a populaccedilatildeo
do sertatildeo As pessoas tem muito amor pelo rio Satildeo Francisco [] (Gestora 8)
O potencial hiacutedrico do rio Satildeo Francisco possibilitou o muacuteltiplo uso de suas aacuteguas
quer para o abastecimento humano para agricultura irrigada geraccedilatildeo de energia navegaccedilatildeo
piscicultura lazer e turismo Entretanto o que representa riqueza vem provocando tambeacutem
problemas de natureza socioambiental e econocircmica considerando que haacute alguns anos o uso
indiscriminado e descuidado do rio vem afetando o seu curso natural como assoreamento o
desmatamento de suas vaacuterzeas a poluiccedilatildeo a pesca predatoacuteria as queimadas o garimpo e a
irrigaccedilatildeo
Com o debate ampliado em torno da situaccedilatildeo criacutetica do rio Satildeo Francisco o Comitecirc da
Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF)10
incorporou em seu Plano Diretor de
Recursos Hiacutedricos em 2004 como criteacuterio para definiccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica da bacia
o conceito de vazatildeo ecoloacutegica11
Segundo Machado (2008) essa compreensatildeo se contrapotildee ao
que preconiza a obra da transposiccedilatildeo ao ser constatado pelo Plano a escassez de aacutegua para
muacuteltiplos usos com a recomendaccedilatildeo da locaccedilatildeo externa apenas para consumo humano e
dessedentaccedilatildeo animal O Projeto da transposiccedilatildeo dentre outras contradiccedilotildees apresenta um
planejamento do uso das aacuteguas do Satildeo Francisco sem a preocupaccedilatildeo com sua vazatildeo nem com
as consequecircncias desse procedimento
A preocupaccedilatildeo com o rio Satildeo Francisco e sua revitalizaccedilatildeo aparece em vaacuterias falas
com afirmaccedilotildees de que o rio encontra-se poluiacutedo e que em vaacuterios trechos o niacutevel de suas
aacuteguas estaacute muito baixo
[] E eu te digo com todas as letras o rio Satildeo Francisco em Minas Gerais ele estaacute
praticamente morto O rio Satildeo Francisco aqui Bahia e Pernambuco eu natildeo tenho
nem como comparar ao trecho que eu conheccedilo dele em Minas Gerais Em relaccedilatildeo a
desmatamento como eu te falei a contaminaccedilatildeo das aacuteguas por agrotoacutexico
principalmente assoreamento existem muitos trechos que natildeo satildeo mais navegaacuteveis
muitos aqui como o nordeste tambeacutem mas em Minas Gerais principalmente []
(Teacutecnico 3)
[] uma das exigecircncias eacute que seria o saneamento de toda a bacia do Satildeo Francisco
uma vez que a demanda pela aacutegua vai ser substancial poreacutem tem quer ser
preservada essa aacutegua justamente a questatildeo da contaminaccedilatildeo e do uso dessa aacutegua
10
O Comitecirc da Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF) eacute um oacutergatildeo colegiado integrado pelo poder
puacuteblico sociedade civil e empresas usuaacuterias de aacutegua que tem por finalidade realizar a gestatildeo descentralizada e
participativa dos recursos hiacutedricos da bacia na perspectiva de proteger os seus mananciais e contribuir para o
seu desenvolvimento sustentaacutevel Para tanto o governo federal lhe conferiu atribuiccedilotildees normativas
deliberativas e consultivas Foi criado por decreto presidencial em 5 de junho de 2001 11
Vazatildeo Ecoloacutegica Eacute a demanda necessaacuteria de aacutegua a manter em um rio de forma a assegurar a manutenccedilatildeo e
conservaccedilatildeo dos ecossistemas aquaacuteticos naturais aspectos da paisagem de outros de interesse cientiacutefico ou
cultural (GONDIM 2006 apud SARMENTO 2007)
71
que tem quer ser realmente bem racionalizada e bem conscientemente utilizada eacute o
que vem natildeo ocorrendo ateacute hoje [] Entatildeo o rio Satildeo Francisco ele jaacute taacute com a
capacidade muito criacutetica de comportar porque a sua exploraccedilatildeo eacute muito grande
poreacutem o seu cuidado natildeo eacute devido natildeo tem a devida atenccedilatildeo [] a gente vem
acompanhando os grandes projetos que satildeo desenvolvidos nessa aacuterea e a questatildeo do
assoreamento e da agropecuaacuteria e agroinduacutestria ela afeta muito justamente a toda a
bacia do Satildeo Francisco (Gestora 9)
Segundo Machado (2008) a revitalizaccedilatildeo de bacias hidrograacuteficas eacute um conceito
teacutecnico-cientiacutefico ainda em elaboraccedilatildeo no Brasil e natildeo estaacute previsto em nossa legislaccedilatildeo
como poliacutetica puacuteblica
O Decreto de 5 de junho de 2001 foi a base para a criaccedilatildeo em 2004 do Projeto de
Conservaccedilatildeo e Revitalizaccedilatildeo da Bacia do rio Satildeo Francisco no acircmbito do Ministeacuterio do Meio
Ambiente (MMA) em parceria com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e outros 14
Ministeacuterios Como poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo permanente envolvendo a
populaccedilatildeo local e os governos federal estadual e municipal tem prazo de execuccedilatildeo de vinte
anos segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (MACHADO 2008)
O Projeto de revitalizaccedilatildeo da bacia do Rio Satildeo Francisco tem como objetivo geral
promover a melhoria das condiccedilotildees de oferta de aacutegua da bacia segundo os seus usos
prioritaacuterios (BRASIL 2001) Em seus objetivos especiacuteficos incluem-se a despoluiccedilatildeo da
aacutegua de esgotos e agrotoacutexicos conservaccedilatildeo de solos convivecircncia com a seca reflorestamento
e recomposiccedilatildeo de matas ciliares gestatildeo e monitoramento da bacia gestatildeo integrada dos
resiacuteduos soacutelidos educaccedilatildeo ambiental criaccedilatildeo e manejo de unidades de conservaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo da biodiversidade (MACHADO 2008)
Segundo Machado (2008 p 195) com o Decreto a revitalizaccedilatildeo passou entatildeo a ser
entendida como um conjunto de accedilotildees a serem realizadas visando agrave melhoria da qualidade e
ao aumento da quantidade de aacutegua na bacia
Desde 2004 o Projeto foi incluiacutedo nos Planejamentos Plurianuais do Governo Federal
para os quadriecircnios 2004-2007 2008-2011 e 2012-2015 como forma de assegurar os recursos
para a implementaccedilatildeo das accedilotildees (BRASIL 2014)
No Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA documento que detalha os objetivos
sociais econocircmicos e ambientais do Projeto de transposiccedilatildeo as accedilotildees previstas pelo governo
para a revitalizaccedilatildeo da Bacia do Satildeo Francisco
[] se apresentam com um sentido mais amplo com recuperaccedilatildeo ambiental de
aacutereas degradadas preservaccedilatildeo de ecossistemas relevantes pouco degradados e
promoccedilatildeo do desenvolvimento sociocultural das populaccedilotildees que aiacute
vivem (BRASIL 2004c p 16 grifo nosso)
72
Entretanto a preocupaccedilatildeo de que as accedilotildees para revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo Francisco natildeo
saiam do papel vem acompanhada do receio de que natildeo haveraacute aacutegua para passar no canal
caso as obras da transposiccedilatildeo sejam concluiacutedas outra inseguranccedila tambeacutem presente na fala de
lideranccedilas e gestores entrevistados
E a gente sabe que se a gente natildeo cuidar dele essa transposiccedilatildeo tambeacutem natildeo vai dar
essa aacutegua a esse povo Eacute um sonho [] mas a gente sabe que provavelmente ela natildeo
possa nem ser construiacuteda que ela natildeo possa ser finalizada essa obra de
transposiccedilatildeo Ela pode ateacute ser construiacuteda mas a aacutegua se a gente natildeo cuidar vem de
onde [] (Lideranccedila 2)
[] se o rio seca se natildeo consegue fazer a revitalizaccedilatildeo do Satildeo Francisco se a
revitalizaccedilatildeo fica soacute no papel que esse rio venha a secar como outros rios que a
gente sabe que jaacute veio a secar de onde essa parte do sertatildeo todinha vai beber Que a
gente bebe aacutegua do Satildeo Francisco aleacutem da questatildeo das frutas laacute do vale do Satildeo
Francisco essas coisas todas pra gente a importacircncia eacute de beber aacutegua mesmo e aiacute
de onde que a gente vai beber [] (Lideranccedila 1)
[] E que todo esse bem que passa laacute e vai passar por noacutes ele seja esse sinal
sempre de vida e que seja cuidado pela gente ou pelas populaccedilotildees ribeirinhas desse
rio que natildeo seja um sinal de morte mas um sinal de vida [] (Lideranccedila 3)
Medidas que impactem positivamente no processo de revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco vatildeo aleacutem de condutas individuais da responsabilizaccedilatildeo individual dos que vivem
na regiatildeo do semiaacuterido como tambeacutem do cuidado com a preservaccedilatildeo da nascente do rio
poliacutetica que deveria preceder o projeto da transposiccedilatildeo como expressam entrevistados
Eacute exatamente eacute justamente uma questatildeo da conscientizaccedilatildeo do uso da aacutegua e da
utilizaccedilatildeo dessa aacutegua Entatildeo positivamente ou seja a comunidade estaacute se voltando
realmente pra essa realidade no caso o uso indiscriminado e irracional dos recursos
naturais eacute que vai impactar no futuro [] quer dizer o que se destroacutei hoje o custo
para se recuperar eacute muito maior que inclusive a gente estaacute vendo hoje o custo que eacute
recuperar ou tentar preservar o rio Satildeo Francisco [] que eacute o mais grave para a
sobrevivecircncia do rio que eacute justamente onde existem as nascentes a preservaccedilatildeo das
nascentes de todo o sistema que daacute continuidade entendeu Porque se natildeo vocecirc vai
construir fazer todo o investimento e na hora de utilizar o rio morreu porque natildeo
teve mais a continuidade que ele deveria ter a preservaccedilatildeo e o cuidado (Teacutecnico 1)
[] eu acho que pela Transposiccedilatildeo taacute descuidando das comunidades ela natildeo vai
cuidar tambeacutem do rio Satildeo Francisco natildeo Era pra ter feito isso primeiro pra depois
fazer o canal cuidar primeiro da nascenccedila praacute poder ser que tirasse o quinhatildeo deles
no canal (Grupo Focal 2)
Natildeo satildeo apenas atitudes mais conscientes da populaccedilatildeo quanto ao uso indiscriminado
da aacutegua e dos demais recursos naturais nem tampouco a adoccedilatildeo de intervenccedilotildees para
preservaccedilatildeo da nascente do rio que iratildeo frear ou recuperar toda degradaccedilatildeo sofrida pelo rio
Satildeo Francisco mas tambeacutem e principalmente a adoccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica que
73
transforme o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco em um Programa
Segundo Machado (2008 p 195)
[] diversos fatores poliacuteticos e administrativos entre eles o embate em torno da
transposiccedilatildeo tem impedido tal mudanccedila Na praacutetica as accedilotildees em execuccedilatildeo
custeadas com recursos orccedilamentaacuterios da Uniatildeo priorizam o saneamento ambiental
ou seja a qualidade da aacutegua na bacia enquanto a quantidade de aacutegua na bacia e no
Rio Satildeo Francisco natildeo tem sido considerada nas accedilotildees em curso
Poreacutem natildeo haacute como negar a relaccedilatildeo direta entre as discussotildees em torno do Projeto de
Revitalizaccedilatildeo a partir do projeto de transposiccedilatildeo Para Machado (2008) o confronto poliacutetico e
social em torno da perspectiva da obra de transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco criou
o termo ldquorevitalizaccedilatildeordquo para se opor agrave transposiccedilatildeo A polecircmica gerada pelo projeto a
contestaccedilatildeo feita por atores sociais contraacuterios a obra da transposiccedilatildeo deu ecircnfase a questatildeo da
ldquoRevitalizaccedilatildeordquo a partir do argumento da fragilidade do rio e de sua bacia indicativo
premente da necessidade da revitalizaccedilatildeo antes da transposiccedilatildeo ou em contraposiccedilatildeo a ela
E corroborando com o pensamento de Machado um dos entrevistados afirma
[] Por outro lado o rio tambeacutem ele tem sido viacutetima de todo descaso e descuido
durante todo esse periacuteodo E eu lembro que no auge mesmo de todos esses conflitos
em relaccedilatildeo ao projeto eu dizia e muita gente se colocava ao contraacuterio porquecirc
achava que o rio ia ter um prejuiacutezo grande com o projeto eu acho que pela primeira
vez se colocou o rio Satildeo Francisco em pauta porque ateacute entatildeo natildeo se tinha
discussatildeo a gente tem inuacutemeras cidades em torno desse rio e inuacutemeras cidades que
jogavam esgoto dentro do rio A gente tinha vaacuterias aacutereas de assoreamento e isso de
forma crescente e ningueacutem e de repente o rio passou a ser o tema principal e aiacute
quem trouxe essa discussatildeo Foi a obra se natildeo tivesse transposiccedilatildeo todo mundo ia
continuar de braccedilo cruzado [] Algumas accedilotildees comeccedilaram a ser efetivadas mas
acho inclusive que tem que ter uma accedilatildeo mais intensiva no sentido se eacute a fonte que
a gente tem aiacute a gente natildeo pode pensar soacute como fonte de exploraccedilatildeo de aacutegua mas a
gente vai utilizar essa aacutegua A gente vai ter que pensar como eacute que garante a
vitalidade dele natildeo falo nem de revitalizaccedilatildeo eacute a vitalidade mesmo [] Entatildeo o
projeto hoje eu natildeo tenho duacutevida nenhuma que ele foi o foco principal pra dizer
assim o rio comeccedila a ser visto (Gestora 1)
No entanto o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco coordenado
pelo governo federal ainda natildeo logrou ecircxito na consolidaccedilatildeo de um arranjo institucional
afirma Machado (2008) para quem dentre os aspectos apontados como dificultadores para
implantaccedilatildeo do Projeto estatildeo
a dispersatildeo das accedilotildees e natildeo visualizaccedilatildeo pelos diversos atores sociais interessados a
amplitude das linhas de accedilatildeo a polecircmica em torno do projeto de transposiccedilatildeo das
aacuteguas do rio as dificuldades operacionais do Ministeacuterio coordenador do Projeto a
concentraccedilatildeo de grande parte dos recursos financeiros no Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional e as diferentes percepccedilotildees acerca das prioridades de um programa de
revitalizaccedilatildeo da bacia como fatores que dificultam a transformaccedilatildeo do projeto em
um programa efetivo de revitalizaccedilatildeo a falta de articulaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais
74
entre ministeacuterios e os demais niacuteveis do governo federal estadual e municipal
(MACHADO 2008 p 204)
Entre os fatores apontados merece destaque a polecircmica em torno da transposiccedilatildeo das
aacuteguas do Rio Satildeo Francisco pois para os setores de instituiccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas
movimentos sociais Ministeacuterio Puacuteblico e comunidades tradicionais da bacia a transposiccedilatildeo
inviabilizaria a revitalizaccedilatildeo da bacia (MACHADO 2008)
Documentos oficiais do projeto apontam que vaacuterios satildeo os impactos decorrentes da
obra da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e segundo o RIMA
impactos satildeo potenciais alteraccedilotildees provocadas pelo Projeto no meio ambiente e
podem ocorrer em uma ou mais fases do Projeto (de planejamento de construccedilatildeo e
de operaccedilatildeo) A anaacutelise dos impactos eacute realizada a partir de uma matriz de
classificaccedilotildees conhecida como lsquoMatriz de Impactosrsquo [] A principal funccedilatildeo da
Matriz de Impactos eacute auxiliar a tomada de decisatildeo quanto agrave viabilidade ou natildeo do
empreendimento pois permite identificar os impactos que mereceratildeo maior atenccedilatildeo
quando se formulam as medidas ambientais Mitigadoras ou
Potencializadoras (BRASIL 2004c p 73)
Os impactos descritos pelo PISF somam 44 dos quais 23 satildeo considerados como de
maior relevacircncia para o projeto (11 positivos e 12 negativos)
Em nosso estudo identificamos como de maior interesse 25 impactos sendo 15
impactos negativos e 10 vistos como impactos positivos
Entre os 10 impactos positivos chama nossa atenccedilatildeo o fato de que oito seratildeo
ldquousufruiacutedosrdquo apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto ou seja 80 deles enquanto que apenas
um (10) jaacute estaacute sendo sentido durante a fase de construccedilatildeo do projeto mas de forma
temporaacuteria (geraccedilatildeo de emprego e renda) O outro impacto previsto para aparecer nas fases
de construccedilatildeo e de operaccedilatildeo do projeto apresenta sinais evidentes apenas na aacuterea urbana de
Salgueiro e regiatildeo (dinamizaccedilatildeo da economia regional)
O impacto positivo - ldquoDiminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeordquo - eacute
apontado com efeito apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto Poreacutem com os atrasos ocorridos
em toda execuccedilatildeo do projeto a perspectiva de concretizaccedilatildeo deste impacto parece estar cada
vez mais distante e incerta A sobrevivecircncia da populaccedilatildeo natildeo pode esperar e o ecircxodo rural eacute
uma realidade confirmada por relato de moradores em grupo focal ao constatarem que haacute
jovens saindo das aacutereas quilombolas agrave procura de alternativas de trabalho e natildeo retornam
independente de estarem ou natildeo trabalhando no projeto da transposiccedilatildeo
Porque o que a gente teve de ecircxodo rural muitos jovens que saiacuteram daqui para
trabalhar laacute na Transposiccedilatildeo que foram morar em Salgueiro Eles ainda natildeo
retornaram e muitos dos meus alunos que eu vejo que jaacute concluiacuteram ensino meacutedio
75
jaacute trabalharam na Transposiccedilatildeo Hoje estatildeo alguns largou Eles natildeo voltam pra caacute
mas laacute jaacute natildeo tem transposiccedilatildeo pra trabalhar entatildeo Salgueiro caiu nessa armadilha
aiacute Foi um BUM de crescimento de uma vez aiacute levou muita gente praacute cidade mas a
estrutura de Salgueiro pra suportar o tanto de gente que tem laacute essa esperanccedila toda
vai ser um problema que Salgueiro vai ter que administrar isso (Grupo Focal 1)
Diferentemente do panorama descrito sobre os ldquoimpactos positivosrdquo dos 15 impactos
negativos seis deles ou seja 40 jaacute estatildeo sendo sentidos nas fase de construccedilatildeo do projeto e
continuaratildeo repercutindo na vida da populaccedilatildeo quilombola e do ambiente na fase de operaccedilatildeo
do projeto Somando agravequeles que iratildeo aparecer ldquoapenasrdquo na fase de operaccedilatildeo que satildeo mais
quatro impactos - ou seja 266 - seratildeo mais de 60 os impactos negativos que iratildeo
reverberar na vida da populaccedilatildeo e do ambiente O impacto ldquoperda de terras potencialmente
agricultaacuteveisrdquo considerado vital para a manutenccedilatildeo da agricultura familiar entre os
quilombolas estaacute classificado como dano ldquoapenasrdquo na fase de construccedilatildeo do projeto poreacutem o
que jaacute ocorreu no territoacuterio de Santana e estaacute para acontecer em ContendasTamboril
repercutiraacute negativamente tambeacutem na fase de operaccedilatildeo do projeto e dificilmente seraacute
revertido por medidas chamadas mitigadoras como constam no projeto Ambas situaccedilotildees
seratildeo descritas mais adiante
Resumo com os impactos elencados relacionando-os as fases do projeto em que
poderatildeo ser mais evidentes (Quadro7)
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Continua)
IMPACTOS NEGATIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Introduccedilatildeo de tensotildees e riscos sociais durante a fase de obra
2 Ruptura de relaccedilotildees sociocomunitaacuterias durante a fase de
obra
3 Riscos de acidentes com a populaccedilatildeo
4 Aumento das emissotildees de poeira]
5 Aumento eou aparecimento de doenccedilas
6 Aumento da demanda por infra-estrutura de sauacutede
7 Perda de terras potencialmente agricultaacuteveis
8 Pressatildeo sobre a infra-estrutura urbana
9 Perda e fragmentaccedilatildeo de cerca de 430 hectares de aacutereas com
vegetaccedilatildeo nativa e de haacutebitats de fauna terrestre
10 Diminuiccedilatildeo da diversidade da fauna terrestre
11 Risco de introduccedilatildeo de espeacutecies de peixes potencialmente
daninhas ao homem nas bacias receptoras
12 Risco de proliferaccedilatildeo de vetores
13 Ocorrecircncia de acidentes com animais peccedilonhentos
14 Modificaccedilatildeo do regime fluvial das drenagens receptoras
15 Iniacutecio ou aceleraccedilatildeo dos processos de desertificaccedilatildeo
76
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Conclusatildeo)
IMPACTOS POSITIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Geraccedilatildeo de empregos e renda durante a implantaccedilatildeo
2 Dinamizaccedilatildeo da economia regional
3 Aumento da oferta e da garantia hiacutedrica
4 Abastecimento de aacutegua das populaccedilotildees rurais
5 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a situaccedilotildees
emergenciais de seca
6 Dinamizaccedilatildeo da atividade agriacutecola e incorporaccedilatildeo de
novas aacutereas ao processo produtivo
7 Diminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeo
8 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a doenccedilas e oacutebitos
9 Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre a infra-estrutura de sauacutede
10 Melhoria da qualidade da aacutegua nas bacias receptoras
Fonte Brasil (2004 p 75)
Haacute discursos que referem-se aos impactos alguns como positivos outros expressam as
marcas os impactos negativos gerados pelo projeto da transposiccedilatildeo caracterizando-se como
situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo para populaccedilotildees da zona rural para populaccedilotildees quilombolas
Acho que tem impacto e grande neacute Na populaccedilatildeo Acho que ateacute no povo Hoje
mesmo natildeo eacute o mesmo povo em Salgueiro A gente tem outro povo aqui acho que
teve ganhos praacute populaccedilatildeo mas tem muita gente que estaacute vindo neacute (Gestora 7)
[] Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas
mesmo elas precisavam ter um preparo maior O que eu percebo eacute muita
insatisfaccedilatildeo em algumas comunidades rurais que foram que impactou natildeo eacute que a
transposiccedilatildeo vai passar no meio do terreno dela vai precisar se deslocar tem muitos
com insatisfaccedilatildeo muito grande (Gestora 2)
Para Rigotto e Teixeira (2009) a possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda pelos
empreendimentos leva a uma legitimaccedilatildeo simboacutelica que aliado a falta de informaccedilotildees claras
fidedignas e democraticamente debatidas ndash inclusive nos processos de licenciamento
ambiental satildeo responsaacuteveis por um processo de ocultaccedilatildeo dos impactos sociais e ambientais
e corroboram para a desmobilizaccedilatildeo e baixa capacidade de mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
atingida
Mas haacute narrativa de sujeitos que mostra que os impactos estatildeo visiacuteveis e classificados
como de ordem ambiental social que inclui o econocircmico e psicoloacutegico A percepccedilatildeo eacute de
que os diferentes niacuteveis de impactos trazem dimensotildees positivas e negativas para o municiacutepio
para a populaccedilatildeo
[] Entatildeo a gente teria o impacto ambiental eacute inerente natildeo tem como fazer uma
obra sem trabalhar o meio ambiente A gente teria o impacto social haacute de certa
forma uma mudanccedila na composiccedilatildeo no periacuteodo [] e aiacute esse social vem junto com
o econocircmico E a gente tem um outro impacto que eacute alguns podem considerar
77
social mas eu tenho tratado muito de outra forma que eacute o psicoloacutegico mesmo eacute o
mais interno de cada pessoa mas que termina sendo uma consequecircncia direta que
mesmo que defenda o projeto que mesmo que ache que aquilo eacute o necessaacuterio mas
mexe mesmo com o eu de cada um principalmente as populaccedilotildees que estatildeo em
torno da obra (Gestora 1)
A oferta de trabalho que aparece como um aspecto positivo pelo projeto eacute analisado
de forma criacutetica pelos entrevistados por serem empregos temporaacuterios e natildeo absorverem a
maior parte da populaccedilatildeo local principalmente da zona rural das populaccedilotildees quilombolas
inseguras com a falta de alternativas de trabalho em suas comunidades pela falta de
incentivos puacuteblicos para convivecircncia com o semiaacuterido e pelo transtorno das obras da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios O ecircxodo rural com a procura de trabalho na cidade jaacute eacute um
problema a ser enfrentado pelo municiacutepio de Salgueiro
Mas eu acho que do lado positivo teve muitos empregos que sugiram aqui []
(Gestora 5)
[] A gente tem uma caracteriacutestica diferenciada que eacute 80 da populaccedilatildeo toda estaacute
na aacuterea urbana embora essa aacuterea urbana natildeo tivesse a condiccedilatildeo de concentrar ou de
estar recebendo mas tambeacutem se o municiacutepio natildeo tinha nenhuma poliacutetica de fixaccedilatildeo
do homem no campo entatildeo era isso E por outro lado mesmo sem essa condiccedilatildeo
Salgueiro passou a atrair os municiacutepios vizinhos e aiacute crescia a situaccedilatildeo e a gente
observa a gente teve prejuiacutezo no processo mesmo no planejamento urbano a gente
tem aacutereas de ocupaccedilatildeo irregular os tipos de moradia natildeo foram trabalhadas entatildeo
tudo isso tinha uma repercussatildeo muito negativa na vida das pessoas e era
complementado pela questatildeo da violecircncia e os indicadores sociais muito baixos
(Gestora 1)
Surgem tambeacutem questionamentos sobre a funccedilatildeo social do trabalho nas obras do
canal por terem certeza de que a aacutegua natildeo vai beneficiar as comunidades quilombolas e
permitir o plantio a criaccedilatildeo de animais enfim melhorar suas condiccedilotildees gerais de vida
Aiacute graccedilas agrave Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela depois sai de
laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela Eacute estou Estou achando bom por
que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Aiacute vamos supor que essa aacutegua passe
nesse canal mas natildeo sirva pra noacutes Do que eacute que esse trabalho vai servir agora Se a
aacutegua vai passar aqui e noacutes natildeo vamos ter aacutegua pra plantar porque se vocecirc planta
vocecirc tem o que comer neacute Vocecirc plantou vocecirc tira o que comer vocecirc tem como tirar
o seu dinheirinho por fora ateacute porque a feira taacute bem aiacute neacute (Grupo Focal 3)
Mas como afirma Rigotto e Teixeira (2009) as comunidades por estarem excluiacutedas
dos processos de decisatildeo satildeo colocadas diante da ldquoalternativa infernalrdquo escolher entre a falta
de opccedilotildees de trabalho e geraccedilatildeo de renda e o emprego nesses novos empreendimentos
As reflexotildees e consideraccedilotildees gerais feitas sobre o projeto da transposiccedilatildeo torna visiacutevel
mesmo que para reafirmar o que jaacute vem sendo dito por pesquisadores estudiosos e pela
78
populaccedilatildeo que ao contraacuterio do discurso governamental os principais beneficiaacuterios do Projeto
seratildeo as empresas de agronegoacutecio com irrigaccedilatildeo da fruticultura para exportaccedilatildeo e a
carcinicultura
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de
onde eacute E noacutes aqui vamos ficar com quecirc (Grupo Focal 2)
[] Eu fui pro Foacuterum Social Nordestino havia muito embate sobre o Projeto [] e
assim laacute jaacute era muito criticado esse projeto porque na verdade natildeo seria um projeto
para beneficiar quem ele tava dizendo que ia beneficiar e sim ele tinha umas entre
linhas que na verdade era o agronegoacutecio eram os grandes criadores de camarotildees
que seria laacute para o Rio Grande do Norte Aiacute jaacute era bastante criticado [] (Grupo
Focal 1)
A ecircnfase num modelo de crescimento sem desenvolvimento eacute a loacutegica de sustentaccedilatildeo
de empreendimentos como o projeto da transposiccedilatildeo Para Couqueiro (2012 p 50)
os empreendimentos precisam se adequar aos ecossistemas e natildeo o contraacuterio A
relaccedilatildeo do homem com o semiaacuterido tem sido desastrosa fruto do modelo de
desenvolvimento que tem como base o crescimento econocircmico a qualquer custo
Quem determina as poliacuteticas econocircmicas para a regiatildeo eacute o capital por isso o uso
dos recursos naturais as relaccedilotildees de trabalho e o produto desse trabalho satildeo
controlados por uma elite agroindustrial que conta com apoio do estado
Concepccedilatildeo compartilhada na fala de entrevistados
Agora eacute claro se a gente natildeo tiver cuidado tambeacutem o desenvolvimento chega e o
povo fica a mercecirc neacute Natildeo melhora a vida do povo Acho que eu sou de uma
regiatildeo tambeacutem da zona rural e na zona rural principalmente onde a obra passa mais
proacutexima tem sempre impacto maior e eu soacute de uma aacuterea dessa(Gestora 6)
[] Porque essa comunidade aqui eacute uma comunidade de agricultura familiar neacute
As pessoas plantam soacute pro consumo se sobrar um excedente vende mas eacute soacute praacute o
consumo E taacute com uns trecircs anos que natildeo chove aqui Aiacute por isso eacute que o pessoal taacute
assim taacute dando tanto valor ao trabalho na firma Porque se fosse um ano de inverno
que o pessoal plantasse tinha muita gente que natildeo deixava natildeo sua roccedila praacute ir praacute
firma natildeo Ateacute porque a firma hoje em dia eacute o uacutenico meio que os pais de famiacutelia tatildeo
tendo pra sustentar a famiacutelia [] (Grupo Focal 3)
Mas a crenccedila na forccedila da luta da pressatildeo e organizaccedilatildeo popular como forma de fazer
valer as promessas do governo de mudar os rumos deste projeto estaacute presente como uma ldquoluz
no fim do tuacutenelrdquo na fala de moradores quilombolas durante grupo focal
[] Eu na verdade nesse embate eu ficava muito na duacutevida porque eu acho que
poderia sim beneficiar os criadores de camaratildeo mas eu acredito muito na forccedila do
povo e o povo poderia transformar essa realidade a partir se teria um laacute na ponta
79
mas teria todo um corpo que ia estaacute desde o comeccedilo ateacute o final entatildeo era
muitodava para o povo transformar [] Assim como eu acho que o natildeo
funcionamento o natildeo acontecimento as promessas natildeo cumpridas soacute estatildeo
acontecendo justamente porque o povo ainda estaacute passivo porque nessa linha de
protesto se abrisse um protesto aqui nessa regiatildeo contra esse abandono que estaacute
tendo eu acho que teria uma soluccedilatildeo (Grupo Focal 1)
Ao longo deste capiacutetulo o discurso oficial sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute construiacutedo
de ldquomaneira positiva e esperanccedilosardquo para que populaccedilotildees rurais quilombolas indiacutegenas
assentadas ldquoacreditemrdquo ou ldquotenham feacuterdquo que suas vidas iratildeo mudar substancialmente para
melhor No entanto as narrativas dos sujeitos e as reflexotildees construiacutedas por autores deixam
vir agrave tona contradiccedilotildees a distacircncia entre o discurso oficial e a realidade as vaacuterias nuances e
dimensotildees dos impactos provocados pelas intervenccedilotildees feitas ateacute o momento nas aacutereas
quilombolas e regiatildeo de abrangecircncia
80
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO
Por ser de laacute
do sertatildeo
laacute do cerrado
Laacute do interior do mato
da caatinga do roccedilado
(Lamento Sertanejo Dominguinhos)
Os quilombolas satildeo vistos como um grupo que apresenta uma cultura e uma histoacuteria
particular marcadas pela influecircncia negra natildeo soacute nas atividades agriacutecolas mas tambeacutem nas
religiosas Falar sobre essas populaccedilotildees nos remete tambeacutem a uma relaccedilatildeo de intimidade com
a natureza que para muitos pode ter ficado num passado longiacutenquo ou numa forma
ldquoultrapassada e arcaicardquo de estar no mundo ocidental cuja relaccedilatildeo homem-natureza se mostra
bastante fragilizada e distante
Mas de maneira persistente as comunidades quilombolas manteacutem vivos haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e formas de sobrevivecircncia natildeo predominantes no modelo vigente seja
por natildeo terem sido ldquocontaminadosrdquo pelas mudanccedilas do mundo atual muitas das vezes pelo
isolamento geograacutefico e ou exclusatildeo social seja pela natildeo adaptaccedilatildeo e opccedilatildeo em preservar as
formas de vida transmitidas como heranccedila familiar
Definiccedilotildees sobre o que sejam comunidades tradicionais mais especificamente as
quilombolas satildeo abordagens mais recentes Entretanto segundo Arruda e Diegues (2001 p
23) haacute um consenso sobre o uso do termo populaccedilatildeo indiacutegena significando etnia referindo-
se a povos que guardam uma continuidade histoacuterica e cultural desde antes da chegada dos
europeus na Ameacuterica Para estes autores haacute um intenso debate e ateacute uma confusatildeo sobre o
significado dos termos ldquopopulaccedilotildees nativasrdquo ldquotribaisrdquo ldquoindiacutegenasrdquo e ldquotradicionaisrdquo Mas
adotaram uma definiccedilatildeo mais ampla substituindo o termo ldquopovos tribaisrdquo por ldquopovos
nativosrdquo que se aplica aos viventes em aacutereas geograacuteficas especiacuteficas e apresentam as
seguintes caracteriacutesticas
a) Ligaccedilatildeo intensa com os territoacuterios ancestrais
b) Auto-identificaccedilatildeo e reconhecimento pelos outros povos como grupos culturais
distintos
c) Linguagem proacutepria muitas vezes diferentes da oficial
d) Presenccedila de instituiccedilotildees sociais poliacuteticas proacuteprias e tradicionais
e) Sistemas de produccedilatildeo voltados principalmente agrave subsistecircncia
81
Atualmente fruto da luta e de maior visibilidade destas populaccedilotildees foi instituiacuteda a
Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais
que na forma do Decreto nordm 6040 de 7022007 em seu artigo 3ordm entende
povos e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais que possuem formas proacuteprias de organizaccedilatildeo social que
ocupam e usam territoacuterios e recursos naturais como condiccedilatildeo para sua reproduccedilatildeo
cultural social religiosa ancestral e econocircmica utilizando conhecimentos
inovaccedilotildees e praacuteticas gerados e transmitidos pela tradiccedilatildeo (BRASIL 2013)
Ao referir-se a comunidades remanescentes de quilombos cuja identidade eacutetnica os
distingue do restante da sociedade Souza (2008) ressalta que a identidade eacutetnica corresponde
a um processo de auto-identificaccedilatildeo bastante dinacircmico e natildeo se reduz a elementos materiais
ou traccedilos bioloacutegicos distintivos como cor da pele por exemplo
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA
ldquoDe uma coisa sabemos a terra natildeo pertence ao homem eacute o homem que
pertence a terra Disso temos certeza Todas as coisas estatildeo interligadas
como o sangue que une uma famiacutelia Tudo estaacute relacionado entre si Tudo
quanto agride a terra agride os filhos da terra Natildeo foi o homem quem
teceu a trama da vida ele eacute meramente um fio da mesma Tudo o que ele
fizer agrave trama a si proacuteprio faraacuterdquo
(Discurso feito pelo liacuteder dos iacutendios Suquamish e Duwaminsh Chefe
Seattle ao presidente americano Franklin Pierce em 1854)
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que significa 63 localizadas no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Os uacutenicos estados que natildeo registram ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e
Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
Para Santos as comunidades quilombolas passaram a ser reconhecidas como parte do
ldquoprocesso civilizatoacuterio nacionalrdquo e portanto portadoras de direitos apenas cem anos apoacutes a
aboliccedilatildeo da escravidatildeo no Brasil quando em 1988 com a Constituiccedilatildeo Federal foi incluiacutedo o
principal direito que refere-se agrave questatildeo fundiaacuteria (SANTOS F L 2013)
A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
versa sobre o direito de propriedade das terras quilombolas ldquoAos remanescentes das
82
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade
definitiva devendo o Estado emitir-lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Aleacutem de influenciar no processo da Constituinte de 1988 o Movimento Negro no
Brasil tambeacutem foi determinante na construccedilatildeo das constituiccedilotildees estaduais da Bahia (artigo 51
do ADCT) Goiaacutes (artigo 16 do ADCT) Maranhatildeo (artigo 229 do ADCT) Mato Grosso
(artigo 33 do ADCT) e Paraacute (artigo 332) que reconhecem o direito dos remanescentes dos
quilombos agrave propriedade de suas terras tradicionais Em outros estados como Espiacuterito Santo
Mato Grosso do Sul Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul e Satildeo Paulo
existe legislaccedilatildeo natildeo constitucional sobre a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de terras
quilombolas (ROCHA 2012)
Em 2003 eacute aprovado o Decreto nordm 4887 que regulamenta o procedimento para
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposiccedilotildees
Constitucionais Transitoacuterias O Decreto tambeacutem define quais satildeo as terras consideradas
quilombolas caracterizadas como ldquosatildeo terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reproduccedilatildeo fiacutesica social econocircmica e
culturalrdquo (BRASIL 2003)
Eacute da Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) de 1989 cujo Brasil
eacute signataacuterio que o Decreto no
4887 empresta o princiacutepio da autodeterminaccedilatildeo como criteacuterio
fundamental para determinar os grupos como sendo quilombolas (Art 2ordm sect 1) Cabe ao
Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) por meio do Instituto Nacional de
Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) ao Distrito Federal Estados e Municiacutepios a
competecircncia para realizar todo procedimento descrito neste Decreto em parceria com os
Institutos de Terras Estaduais e diaacutelogo com a FCP e Ministeacuterio Puacuteblico (BRASIL 2003)
Segundo Santos F L (2013 p 1)
A partir de 2003 com o Decreto 4887 a questatildeo quilombola no Brasil ganhou
novos contornos e novas perspectivas uma vez que a operacionalizaccedilatildeo da poliacutetica
puacuteblica de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria passou a considerar as diversas formas de uso
apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do territoacuterio das comunidades quilombolas
Salientamos ainda que o Decreto nordm 48872003 estabeleceu que a titulaccedilatildeo das terras
quilombolas eacute de modalidade coletiva com claacuteusulas de inalienabilidade impenhorabilidade
e imprescritibilidade sendo emitido o tiacutetulo em nome de associaccedilotildees que legalmente
representam as comunidades quilombolas (BRASIL 2003) Em 2004 a Instruccedilatildeo Normativa
Nordm16 do INCRAMDA acrescenta a definiccedilatildeo de terras em seu art 4ordm
83
[] bem como as aacutereas detentoras de recursos ambientais necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo
de seus costumes tradiccedilotildees cultura e lazer englobando os espaccedilos de moradia e
inclusive os espaccedilos destinados aos cultos religiosos e os siacutetios que contenham
reminiscecircncias histoacutericas dos antigos quilombos (INCRA 2004)
Poreacutem apenas em setembro de 2008 eacute publicada Instruccedilatildeo normativa ndeg 49 do
INCRAMDA que estabelece em detalhes os procedimentos administrativos incluindo outras
etapas como a desintrusatildeo (apoacutes a demarcaccedilatildeo das terras) e o registro das terras ocupadas por
quilombolas previamente regulamentados no referido Decreto (SANTOS F L 2013)
Nas regiotildees de maior concentraccedilatildeo de comunidades remanescentes de quilombos ateacute
outubro de 2013 foram certificadas pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP)12
2408
comunidades quilombolas e haacute 996 processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em curso O
documento de Certificaccedilatildeo emitido pela FCP garante agraves famiacutelias quilombolas a regularizaccedilatildeo
territorial junto ao INCRA Para o processo de certificaccedilatildeo a autodefiniccedilatildeo eacute necessaacuteria para
a caracterizaccedilatildeo dos remanescentes de quilombos e seraacute registrada no Cadastro Geral junto agrave
FCP que expediraacute certidatildeo (BRASIL 2013)
Aleacutem da certificaccedilatildeo de terras quilombolas cabe agrave FCP auxiliar juridicamente as
comunidades dos quilombos apoacutes expediccedilatildeo do tiacutetulo para a defesa da posse da terra
Ateacute o iniacutecio de 2013 o INCRA titulou 207 territoacuterios quilombolas beneficiando
12906 famiacutelias representando apenas 1014 das que jaacute satildeo certificadas (FUNDACcedilAtildeO
CULTURAL PALMARES 2013)
Sucintamente uma descriccedilatildeo das etapas para homologaccedilatildeo das terras quilombolas que
possuem certificaccedilatildeo pela FCP (Quadro 8)
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas
ETAPAS PARA HOMOLOGACcedilAtildeO DAS TERRAS DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS
Fase inicial Abertura de processo no INCRA para reconhecimento de Territoacuterios Quilombolas ndash
procedimento que seraacute feito por qualquer interessado das entidades ou associaccedilotildees
representativas de quilombolas ou de ofiacutecio pelo INCRA Elaboraccedilatildeo de RTID Iniacutecio do estudo da aacuterea que consiste na caracterizaccedilatildeo espacial econocircmica ambiental e
sociocultural da terra ocupada pela comunidade A identificaccedilatildeo dos limites das terras das
comunidades remanescentes de quilombos eacute feita a partir de indicaccedilotildees da proacutepria comunidade
bem como a partir de estudos teacutecnicos e cientiacuteficos inclusive relatoacuterios antropoloacutegicos
Anaacutelise e julgamento
de recurso ao RTID
Apoacutes a publicaccedilatildeo do RTID o processo eacute aberto para contraditoacuterio
Portaria de
Reconhecimento
Portaria que declara os limites do territoacuterio
DecretaccedilatildeoEncaminh
amento
Decreto presidencial que autoriza a desapropriaccedilatildeo privada encaminhamentos a entes puacuteblicos
que tenham a posse
Desintrusatildeo Notificaccedilatildeo e retirada dos ocupantes
Titulaccedilatildeo Emissatildeo de tiacutetulo de propriedade coletiva para a comunidade em nome de sua associaccedilatildeo
legalmente constituiacuteda
Fonte Adaptado de INCRA (2008)
Nota 1-Relatoacuterio teacutecnico de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo
12
A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP) criada em 1988 eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio da
Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira
84
A afirmaccedilatildeo dos direitos territoriais das comunidades quilombolas - garantido no
artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais e Transitoacuterias - eacute o que existe de mais
representativo e desperta uma seacuterie de questotildees que envolvem aspectos soacutecio-econocircmicos
espaciais juriacutedicos culturais e mais recentemente ambientais que levam agrave questatildeo do
significado dessas comunidades no mundo contemporacircneo e sua efetiva inserccedilatildeo cidadatilde
(FREITAS et al 2011)
O ldquoSertatildeo Quilombolardquo uma publicaccedilatildeo do Centro de Cultura Luis Freire (2008 p
11)13
afirma que
Um aspecto comum agrave grande maioria das comunidades sejam as surgidas antes ou a
partir do final do seacuteculo XIX eacute que os territoacuterios se constituiacuteram desde o iniacutecio a
partir do uso de terras natildeo apenas para moradia e cultivos de subsistecircncia mas para
diversas praacuteticas ndash coleta caccedila pesca rituais sagrados ndash que pouco a pouco foram
criando viacutenculos afetivos e sentimentos de pertenccedila
Apesar do governo defender desde 2003 que a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute a base para a
implantaccedilatildeo de alternativas de desenvolvimento aleacutem de garantir a reproduccedilatildeo fiacutesica social e
cultural de cada comunidade haacute um longo caminho a ser percorrido pelas comunidades
quilombolas haja vista a situaccedilatildeo de lentidatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de titulaccedilatildeo
territorial (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 2003 p 25)
Ao sair do acircmbito da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares a partir do Decreto nordm 48872003 a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de territoacuterios quilombolas ao ser assumida pelo INCRA traz o tema
para o acircmbito da questatildeo agraacuteria sem deixar de fazer parte da dimensatildeo eacutetnica e cultural
Para Germani (2010 apud SANTOS F L 2013)
O problema da questatildeo quilombola se insere no bojo da questatildeo agraacuteria agrave medida
que envolve disputas poliacuteticas e territoriais motivadas pela desigual estrutura
fundiaacuteria brasileira capitaneada lsquo [] pelos interesses antagocircnicos entre os agentes
hegemocircnicos do capital o Estado as organizaccedilotildees e os movimentos sociais de luta
pelana terrarsquo
Todavia mesmo natildeo havendo um nuacutemero significativo de tiacutetulos entregues agraves
comunidades quilombolas no Brasil Santos F L (2013 p 1) acredita que
[] jaacute haacute hoje uma seacuterie de intervenccedilotildees puacuteblicas em curso em diversas
comunidades quilombolas em vaacuterias regiotildees do Paiacutes que do ponto de vista
13
O CCLF eacute uma organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola A partir de 2000 passa a colaborar com o
fortalecimento institucional da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) o que vem a
ocorrer em 2006 com a Comissatildeo Estadual de Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(CEACQPE) e com a Coordenaccedilatildeo Nacional de Articulaccedilatildeo das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(CONAQ)
85
geograacutefico tem acionado um novo processo de (re) produccedilatildeo do espaccediloterritoacuterio
dessas comunidades quilombolas agrave medida que uma seacuterie de transformaccedilotildees
territoriais estaacute ocorrendo como resultado da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
No acircmbito da luta poliacutetica o povo quilombola jaacute enfrentou ameaccedilas concretas agrave
manutenccedilatildeo das conquistas obtidas no campo da regularizaccedilatildeo dos seus territoacuterios Como
exemplo foi ajuizada pelo Partido Democrata (DEM) uma Accedilatildeo Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN no
3239-9600) no Supremo Tribunal Federal que contestava
principalmente o direito agrave terra das comunidades que uma vez tituladas se tornam
inalienaacuteveis e coletivas E em maio de 2007 o deputado Valdir Collato (PMDBndashSC)
apresentou o Projeto de Decreto Legislativo no44 de 2007 com o objetivo de suspender a
aplicaccedilatildeo do Decreto no
4887 e anular todos os atos administrativos expedidos com base
neste Decreto Ambas ameaccedilas foram barradas com base no artigo 68 da Constituiccedilatildeo
Federal (BISPO 2012 p 1)
Estes fatos refletem a ideologia conservadora representada no Congresso ao tratar a
questatildeo fundiaacuteria segundo interesses das oligarquias rurais e agraacuterias tentando barrar as
conquistas poliacuteticas de Estado dos povos quilombolas que do ponto de vista da legislaccedilatildeo
tentam resgatar a diacutevida histoacuterica com este segmento da sociedade a fim de assegurar mais
justiccedila social em que pese todos os entraves concretos agrave efetivaccedilatildeo das conquistas juriacutedicas
ateacute entatildeo
Os discursos e conquistas legais suscitam esperanccedilas poreacutem as demandas das
comunidades quilombolas relativas ao territoacuterio no Brasil vem sendo respondidas com
morosidade As causas dessa letargia vatildeo desde as estruturais econocircmicas poliacuteticas e
histoacutericas como tambeacutem a insuficiecircncia teacutecnica e de orccedilamento fruto da natildeo priorizaccedilatildeo
poliacutetica com a questatildeo (SAUER 2010)
Em Pernambuco essa realidade natildeo eacute diferente do restante do paiacutes haja visto que das
121 comunidades quilombolas atualmente reconhecidas apenas duas satildeo tituladas que satildeo as
Comunidades de Castainho no Municiacutepio de Garanhuns e a de Conceiccedilatildeo das Crioulas em
Salgueiro uma das trecircs Comunidades deste estudo
A luta da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pelo territoacuterio eacute marcada por
conflitos com fazendeiros que desde o iniacutecio do seacuteculo XX de forma iliacutecita foram
adquirindo terras em suas aacutereas acarretando a diminuiccedilatildeo significativa do que havia sido
conseguido com o suor de muitos As invasotildees por parte de fazendeiros presenciada pelos
moradores provocaram uma diminuiccedilatildeo expressiva dos territoacuterios das muitas famiacutelias que
dependem deles para sobrevivecircncia
86
Os brancos chegavam e pediam me decirc aqui praacute eu colocar um curral para deixar o
gado ai [] Ai as pessoas jaacute dava os filhos pra eles serem padrinho e aiacute eles iam
entrando se apossando [] eles ficaram com tudo e noacutes quase nada (CENTRO DE
CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 21)
Foi no ano de 2000 que Conceiccedilatildeo das Crioulas recebeu o tiacutetulo de seu territoacuterio pela
FCP oacutergatildeo na eacutepoca responsaacutevel pela titulaccedilatildeo das terras quilombolas A concessatildeo do tiacutetulo
no entanto natildeo implicou a retirada dos ocupantes natildeo quilombolas (proprietaacuterios eou
posseiros) que continuavam a gerar conflitos e episoacutedios de violecircncia em Conceiccedilatildeo das
Crioulas As providecircncias necessaacuterias natildeo foram adotadas para a desapropriaccedilatildeo e o
reassentamento Em 2004 foi aberto novo procedimento de titulaccedilatildeo no INCRA trazendo
uma esperanccedila de que os fazendeiros fossem desapropriados e o problema fundiaacuterio
solucionado E desde 2008 o processo encontrava-se em fase de RTID
A luta pela regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Santana tem como marco o ano de 2006
quando foi enviada solicitaccedilatildeo agrave FCP para certificaccedilatildeo da comunidade obtida em
12032007 Em 2011 o INCRAMDA publicou no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo e no Diaacuterio
Oficial de Pernambuco o RTID referente ao quilombo que foi ldquobatizadordquo de comunidade
remanescente quilombola Santana III (INCRA 2011 p 108) O RTID foi elaborado com base
no Relatoacuterio Antropoloacutegico estruturado pelo antropoacutelogo Geraldo Barboza de Oliveira Juacutenior
em 2009 a pedido do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF como parte do Subprograma de
Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que consta do Programa Baacutesico Ambiental de
Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas o PBA 17 Com base no Relatoacuterio
Antropoloacutegico de Caracterizaccedilatildeo Histoacuterica Econocircmica Ambiental e Soacutecio-Cultural da
Comunidade Remanescente do Quilombo de Santana
Tal ocupaccedilatildeo eacute legitimada pela lembranccedila de seus moradores A relaccedilatildeo com a terra
eacute marco da existecircncia da comunidade de remanescente de quilombo de Santana Os
relatos satildeo de uma objetividade singular quanto se trata dos limites da comunidade
de Santana (OLIVEIRA JUacuteNIOR 2009 apud BRASIL 2011 p 104)
Ressaltamos que a publicaccedilatildeo do RTID natildeo avanccedilou no tocante ao detalhamento mais
atual e fiel das particularidades da comunidade quilombola de Santana particularmente no
contexto das obras da transposiccedilatildeo e seus impactos na aacuterea (BRASIL 2011) Isto demonstra
que apesar de mais um passo ter sido dado para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de
Santana haacute inuacutemeras contradiccedilotildees e interesses poliacuteticos e econocircmicos envolvendo a questatildeo
e o processo para titulaccedilatildeo definitiva continua
O quilombo de Contendas formado pelas localidades de Contendas e Tamboril tem
apenas o territoacuterio de Tamboril certificado pela FCP 2007 e natildeo haacute informaccedilotildees sobre outras
87
etapas do processo Tamboril eacute um territoacuterio desapropriado pelo INCRA comprado para
reforma agraacuteria Essa aacuterea historicamente eacute de uso da comunidade para o plantio para a
pecuaacuteria para subsistecircncia das famiacutelias Desde 1998 o natildeo reconhecimento deste territoacuterio
como um quilombo desencadeou um conflito entre os quilombolas e o governo
A gente trabalha nesta terra haacute muitos anos Jaacute vem de 100 anos meu avocirc morreu
com a idade de 100 anos eu acho que noacutes jaacute pagamos essa terra Jaacute taacute mais do que
paga a gente desde crianccedila trabalhando nessa terra Eu estou com 64 anos natildeo
estou mais trabalhando nela mas tem minha famiacutelia meus filhos genros netos Aiacute
a gente ta querendo ficar com ela como quilombola pelos quilombolas (CENTRO
DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 24)
Apenas o processo de certificaccedilatildeo natildeo traz a seguranccedila necessaacuteria sobre os direitos ao
territoacuterio O discurso do governo de que para esta comunidade as condiccedilotildees satildeo mais
favoraacuteveis natildeo tranquiliza a populaccedilatildeo quilombola de ContendasTamboril
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute diz ldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacute mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos []
(Lideranccedila 2)
O PBA 17 jaacute referido anteriormente traz a justificativa de que
Independente da situaccedilatildeo em que se encontrem os territoacuterios quilombolas situados
nos municiacutepios de influecircncia direta do empreendimento partiu-se da constataccedilatildeo de
que se faz necessaacuterio em caraacuteter imediato a agilizaccedilatildeo dos processos de
reconhecimento demarcaccedilatildeo e desintrusatildeo dos mesmos a fim de garantir a
estabilizaccedilatildeo e a seguranccedila das comunidades quilombolas (BRASIL 2005 p 3)
O subprograma de Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que constitui o PBA 17
apresenta como objetivo
Apoiar o processo de reconhecimento e garantia territorial das comunidades que se
auto definem como quilombolas situadas na aacuterea de influecircncia direta do
empreendimento atraveacutes do estabelecimento de uma parceria entre o Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional e o INCRAMDA com a alocaccedilatildeo de recursos para
identificaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas
(BRASIL 2005 p 4)
E como meta esse subprograma aponta a ampliaccedilatildeo do nuacutemero de territoacuterios
quilombolas regularizados bem como a reduccedilatildeo dos conflitos pela posse de terra
Mas as intenccedilotildees e o discurso governamental natildeo se concretizam em uma praacutetica
efetiva que garanta o cumprimento de sua meta haja visto que nas aacutereas do nosso estudo
88
apenas a comunidade de Santana teve o apoio do MI que com a contrataccedilatildeo de um
antropoacutelogo elaborou o Relatoacuterio Antropoloacutegico ferramenta necessaacuteria para avanccedilar no
RTID junto ao INCRA
Para a comunidade de ContendasTamboril nenhuma medida concreta foi tomada ateacute o
momento De forma sucinta a situaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo (Quadro 9)
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo
MUNICIacutePIO COMUNIDADE SITUACcedilAtildeO JURIacuteDICA
CONTRIBUICcedilAtildeO DO
PISF NO PROCESSO DE
REGULARIZACcedilAtildeO
SIM NAtildeO
Salgueiro
Santana - Em 2006 - Reconhecida pela FCP (12032006)
- Em 2011- Publicaccedilatildeo pelo INCRA do RTID
X
X
Contendas
Tamboril
-Reconhecida pela FCP em 02032007 (apenas a
aacuterea Tamboril)
-Tamboril- aacuterea desapropriada pelo INCRA
gerando conflitos
X
X
Conceiccedilatildeo das
Crioulas
-Em 2000 - Titulada em 14072000 pela FCP
-Em 2004 - Processo de Regularizaccedilatildeo aberto no
INCRA
- Em 2008 - Elaboraccedilatildeo de RTID
X
X
X
Fonte A autora 2014
Quanto a novos processos de titulaccedilatildeo em marccedilo de 2008 havia vinte e uma
comunidades quilombolas de Pernambuco com processos abertos no INCRA poreacutem em
apenas seis processos havia sido tomada alguma providecircncia por parte do INCRA
(ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE
PERNAMBUCO 2008)
Conforme a Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas do Estado de Pernambuco
(ACQEP)14
ainda permanece na agenda de prioridades em primeiro lugar a luta pela
titulaccedilatildeo da terra ao lado de demandas relativas agraves poliacuteticas sociais e recursos para o
desenvolvimento de atividades geradoras de renda (ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011)
Para Sauer (2010 p 6)
[] o direito ao territoacuterio eacutetnico eacute condiccedilatildeo sine qua non para a garantia de outros
direitos humanos como o direito agrave alimentaccedilatildeo ao trabalho e agrave moradia bem como
agrave preservaccedilatildeo da cultura ancestral das comunidades quilombolas [] A morosidade
do Estado em garanti-los consubstancia uma violaccedilatildeo de direitos humanos por
omissatildeo e perpetua a injusticcedila histoacuterica de que as comunidades quilombolas satildeo
viacutetimas
14
Organizaccedilatildeo criada em 2003 em Pernambuco com objetivo de ldquoarticular as comunidades do estado para que a
luta pela garantia dos direitos dos quilombolas avance de forma integradardquo (ARTICULACcedilAtildeO DAS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011) A sua fundaccedilatildeo deu-se
durante o II Encontro das Comunidades Quilombolas de Pernambuco que a Associaccedilatildeo Quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas promoveu em maio de 2003 com o apoio do Centro de Cultura Luiz Freire A
representaccedilatildeo estadual encontra-se sediada em Conceiccedilatildeo das Crioulas
89
E ao referir-se ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Sauer (2010)
acrescenta que as obras violam os direitos humanos dessas populaccedilotildees principalmente o
direito agrave terra e territoacuterio
Essa violaccedilatildeo causada pela implementaccedilatildeo de um projeto de governo como o projeto
da transposiccedilatildeo desrespeita o que preconiza a Constituiccedilatildeo Federal quando estabelece como
princiacutepios norteadores da Repuacuteblica Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e
institui como objetivos construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria garantir o
desenvolvimento nacional erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades
sociais e regionais e promover o bem de todos sem preconceito de origem raccedila sexo cor
idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo Portanto a concretizaccedilatildeo do direito de
propriedade agraves comunidades quilombolas eacute um passo para efetivar esses preceitos (GAMA
OLIVEIRA 2007)
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA
A comunidade quilombola de Santana em Salgueiro Pernambuco eacute adscrita ao
distrito de Umatildes desde 1910 e formada pelos siacutetios Livramento Jurema Olaria Recanto e a
proacutepria Santana que representa o centro da comunidade Neste Siacutetio foi erguida a igreja
catoacutelica dedicada agrave Senhora Santana
A figura 2 mostra o mapa do territoacuterio de Santana produzido por moradores
quilombolas No mapa haacute indicaccedilatildeo do acesso ao siacutetio Olaria (esquerda parte inferior do
mapa) a igreja e as casas no centro da comunidade (esquerda parte superior) estrada para
Salgueiro (direita parte inferior) dentre outras caracteriacutesticas do territoacuterio A figura 3 mostra
uma das casas do Siacutetio Recanto onde realizamos o grupo focal
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 40)
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana
Fonte A autora 2013
90
A partir da histoacuteria oral estima-se que o quilombo de Santana existe haacute cerca de 200
anos com uma aacuterea de 2402 hectares
Durante todo o seacuteculo XX
essas famiacutelias foram estabelecendo relaccedilotildees sociais econocircmicas e de casamento
entre si vivendo da agricultura e superando juntas os periacuteodos de seca
especialmente a de 1932 quando a memoacuteria dos mais velhos recordam os tempos de
comer chique-chique patildeo de mucunatilde lavado em sete aacuteguas farinha feita da cuca de
umbu xereacutem pipoca mugunzaacute doce e branco piratildeo feito com a farinha da cuca do
umbuzeiro beiju de parreira [] (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 39)
O acesso de Santana se daacute por estrada natildeo pavimentada a uma distacircncia de 24 km da
sede de Salgueiro 10 km a oeste do distrito de Umatildes e a 20 km da cidade de Terra Nova Em
Relaccedilatildeo agrave Recife encontra-se a uma distacircncia de 554 km (BRASIL 2011)
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Que rumor eacute esse na mata
e Por que se alarma a natureza
Aieacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Carlos Drummond de Andrade
O projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pode ser visto com um marco na
histoacuteria desta comunidade com sua histoacuteria podendo ser escrita antes e depois desse projeto
O quilombo de Santana estaacute proacuteximo ao canal do Eixo Norte no trecho I dentro da
Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) Inicialmente identificada pelo projeto como comunidade
rural e inserida no Programa Ambiental de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacuteguas ao
Longo dos Canais (PBA15) foi posteriormente incluiacuteda no Programa Ambiental de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas- o PBA 17 objeto de atenccedilatildeo no capiacutetulo 8
deste estudo (BRASIL 2005 p 3)
Com as visitas feitas por teacutecnicos do MI antes do iniacutecio das obras do canal a
comunidade criou uma expectativa positiva em torno do Projeto pois os rumores eram de que
chegaria aacutegua e haveria empregos para todos Acreditava-se que a ldquocara da comunidade ia
mudarrdquo mas que seria para melhor
[] o primeiro contato que a gente teve com o pessoal do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
foi com Carlos Braga O primeiro contato que a gente teve e ele falou que o projeto
91
viria para melhorar a comunidade para mudar a cara da comunidade que ia ser um
projeto muito bom e todo mundo ficou muito feliz achando que ia ter acesso agrave aacutegua
pra agricultura foi o que deu a entender na primeira conversa [] Com o passar do
tempo a gente foi conhecendo melhor o projeto foi sendo apresentado pra gente e a
gente ficou sabendo que seria aacutegua para o consumo humano e que as comunidades a
5 km pra cada lado do canal seriam atendidas com aacutegua para o consumo humano
mas que natildeo teria acesso a aacutegua pra agricultura[] (Lideranccedila 1)
Atualmente as obras do canal passam dentro do territoacuterio de Santana (Figuras 4 e 5) e
vem deixando marcas profundas de degradaccedilatildeo ambiental e perdas A populaccedilatildeo chegou a
acreditar que haveria um diaacutelogo e consulta com o MI sobre o ritmo das obras os trechos em
que a obra ia acontecer como preservar a mata e aacutervores centenaacuterias poreacutem o processo se
deu como se fora em ldquoterras de ningueacutemrdquo
[] E aiacute acabou que parte do nosso territoacuterio precisou ser cedido 100 m para cada
lado do canal a gente teve que ceder para o Ministeacuterio pra construccedilatildeo do canal e aiacute
aleacutem do barulho da poeira que a obra causa mesmo o que mais doeu assim na
comunidade vecirc foi aacutervores que tinham um valor histoacuterico pra gente um valor
sentimental e que a gente viu assim ser cortadas ser dizimadas e natildeo teve nenhum
respeito porque a gente faz todo um trabalho ambiental de respeito de natildeo
desmatar tem aacutervores assim que a gente nem sabe haacute quantos anos estavam ali e a
gente viu ser derrubado foi doloroso essa parte Natildeo porque na verdade assim a
gente achou a gente achava que como a terra era nossa eles natildeo iam chegar laacute e
desmatar assim Soacute que natildeo foi bem assim A obra vinha avanccedilando e a gentersquo natildeo
mas eles natildeo vatildeo entrar aquirsquo porque quando a obra passou as pessoas que iam ser
indenizadas natildeo tinham sido indenizadas ainda e a gente achou que natildeo fosse
acontecer que natildeo ia ser assim mas a obra veio e veio e passou realmente e foi
derrubando foi muito raacutepido e a gente meio que ficou atocircnico sem acreditar natildeo
mas como assim A terra eacute nossa e a gente natildeo derrubou essas aacutervores e agora eles
vem e derrubam Foi muito raacutepido mesmo assim a gente natildeo acreditava mesmo A
gente achou que espera aiacute a terra eacute da gente Entatildeo eles primeiro vatildeo vir aqui vatildeo
conversar com a gente mas natildeo foi (Lideranccedila 1)
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das
obras do canal
Fonte A autora 2013
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de
Santana
Fonte A autora 2013
Com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 399 habitantes totalizando 85 famiacutelias
vivendo da agricultura familiar e pecuaacuteria o quilombo de Santana tinha terras destinadas agrave
92
agricultura que satildeo de responsabilidade de cada nuacutecleo familiar reunindo pais filhos e netos
mas no ciclo da colheita costumavam adotar o sistema de mutiratildeo quando todos
trabalhavam juntos nas roccedilas uns dos outros (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008
p 39)
No entanto com as obras da transposiccedilatildeo temos que nos referir a essa forma de
sobrevivecircncia como coisa do passado em virtude da interferecircncia de forma violenta e
devastadora nos meios de subsistecircncia das famiacutelias nas aacutereas de plantio coletivo chamada
sequeiro15
onde se davam as praacuteticas de agricultura familiar e da pecuaacuteria
Como afirma Rinaldo Arruda as populaccedilotildees tradicionais dentre elas as quilombolas
apresentam um modelo de ocupaccedilatildeo do espaccedilo e uso dos recursos naturais voltado
principalmente para a subsistecircncia com fraca articulaccedilatildeo com o mercado baseado
em uso intensivo de matildeo de obra familiar tecnologias de baixo impacto derivadas
de conhecimentos patrimoniais e habitualmente de base sustentaacutevel Essas
populaccedilotildees ndash caiccedilaras ribeirinhos seringueiros quilombolas e outras variantes ndash em
geral ocupam a regiatildeo haacute muito tempo natildeo tecircm registro legal de propriedade
privada individual da terra definindo apenas o local de moradia como parcela
individual sendo o restante do territoacuterio encarado como aacuterea de uso comunitaacuterio
com seu uso regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas
internamente (ARRUDA 2000 p 274)
Narrativas feitas por lideranccedilas confirmam as marcas deixadas no territoacuterio na forma
de vida dos moradores na paisagem
E aiacute de perca mesmo assim fica pra gente a questatildeo do territoacuterio que era nessa aacuterea
que era uma roccedila comunitaacuteria de aacuterea de sequeiro que todo mundo ia laacute plantava
laacute e se perdeu Eu mesma natildeo consigo localizar nem onde era tamanha foi a
transformaccedilatildeo desmatou uma faixa muito grande assim eu natildeo tenho nem como
localizar onde era essa roccedila (Lideranccedila 1)
No olhar de Milton Santos por haver geografias desiguais no mundo surgem
configuraccedilotildees com preparos diferentes uma das outras para o que ele chama de certas
inovaccedilotildees (SANTOS F M 2012)
Podemos pensar entatildeo que a realidade de Santana se apresenta como uma aacuterea onde
A estrutura imposta (inovaccedilatildeo) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas Por conseguinte a paisagem eacute formada pelos fatos do passado e do
presente (SANTOS F M 2012 p 68)
15
Aacuterea de sequeiro eacute assim eacute um espaccedilo que agente usa mesmo quando natildeo tem aacutegua de jeito nenhum mas eacute
um espaccedilo para tirar umbu tirar lenha tirar estacas para criar os animais soltos bode vacas Eacute uma aacuterea
assim que a gente precisa pra se sustentar pra se manter [] Eacute uma aacuterea coletiva que a gente precisa praacute
sobreviver porque como eacute zona rural entatildeo a gente tem necessidades especificas e a gente precisa dessa aacuterea
para sobreviver (informaccedilatildeo verbal - Lideranccedila 1)
93
Compreender a organizaccedilatildeo espacial do quilombo Santana e de sua evoluccedilatildeo a partir
das obras da transposiccedilatildeo pode ser possiacutevel Segundo Santos M (2012) com base numa
aprimorada interpretaccedilatildeo do processo dialeacutetico entre formas estrutura e funccedilotildees (categorias
do meacutetodo geograacutefico) atraveacutes do tempo Na tentativa de adaptaccedilatildeo para o contexto espacial
da aacuterea em estudo aproximamos as definiccedilotildees feitas pelo autor para cada categoria em
questatildeo
a) A forma como aspecto visiacutevel de uma coisa ao arranjo ordenado de objetos a um
padratildeo (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser considerado como o proacuteprio canal
que estaacute sendo construiacutedo
[] Passou no meio da comunidade e ai dividiu Ficou o lugar que a gente tem as
casas e o lugar que a gente planta no riacho e aiacute do outro lado no meio mesmo
onde fica o canal onde era a roccedila comunitaacuteria e do outro lado era onde a gente
criava bode vacas soltas na caatinga e grande parte de Santana taacute do outro lado
pelo mapa vocecirc vai vecirc que tem um pedacinho de Santana e ai o canal passa do outro
lado eacute a maior faixa de Santana e ai fica do outro lado do canal [] (Lideranccedila 1)
b) A funccedilatildeo relacionada a uma tarefa ou atividade esperada de uma forma pessoa
instituiccedilatildeo ou coisa (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser associada agraves
passarelas e passagens necessaacuterias e solicitadas pela populaccedilatildeo assim como a
finalidade uacuteltima do canal que poderia ser beneficiar a populaccedilatildeo local
[] A questatildeo das passarelas a gente conversou para aumentar a quantidade de
passarelas para nossos animais conseguir ir e voltar mas ai natildeo foi feito A gente
vem conversando sobre o aumento de passarelas e natildeo estaacute sendo feito ainda eles
falam que vai vecirc que o engenheiro vai vecirc e tal e natildeo foi visto ainda (Lideranccedila 1)
O projeto natildeo foi concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo
menos quando tiver aacutegua as pessoas possam usar O que diz no projeto eacute que a aacutegua
vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos animais mas
assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas plantam e aiacute
precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
c) A estrutura que implica a inter-relaccedilatildeo de todas as partes de um todo o modo de
organizaccedilatildeo ou construccedilatildeo (SANTOS F M 2012 p 69) podemos associaacute-la agraves
vaacuterias dimensotildees implicadas no projeto e nas obras do canal
[] A gente vecirc as questotildees das matas em si dos espaccedilos dos territoacuterios das
pessoas A comunidade de Santana mesmo passou o Projeto de Integraccedilatildeo passou
mesmo pelo territoacuterio de Santana e aiacute tem essa questatildeo de impacto em relaccedilatildeo ao
territoacuterio mesmo do espaccedilo e comunidade que envolve toda a questatildeo social e
econocircmica O pessoal foi indenizado no espaccedilo do canal mas soacute o espaccedilo onde
passa o canal A comunidade ficou de um lado o territoacuterio onde as pessoas
trabalhavam criavam os animais ficou do outro lado do canal (Gestora 2)
94
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo focal 3)
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Santana foram aplicados sete questionaacuterios CAP representando 875 das
famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
No aspecto escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 32 pessoas sendo 19
homens e 13 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias eram constituiacutedas
por mais homens que mulheres (593 para 407) entretanto o niacutevel de escolaridade geral
entre homens e mulheres eacute muito proacuteximo com as mulheres apresentando percentual de
846 com algum grau de escolaridade e os homens com 842 Entre as pessoas sem
nenhuma escolaridade a tendecircncia se manteve com percentual quase igual entre homens e
mulheres analfabetos (158 para homens e 153 para mulheres) Quanto ao grau de
escolarizaccedilatildeo para o ensino fundamental as mulheres aparecem com 615 concluiacutedo e os
homens com 579 Para o ensino meacutedio 263 dos homens haviam concluiacutedo contra 23
das mulheres (Graacutefico 01) Nenhum membro das famiacutelias tinha curso superior
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A comunidade contava com duas escolas municipais estando uma sem funcionamento
e outra que funcionava em condiccedilotildees precaacuterias Poreacutem atualmente as escolas estatildeo fechadas e
95
as crianccedilas da comunidade precisam deslocar-se para estudar nos Distritos de Umatildes e Pau
Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras do canal
Olha laacute em Santana a escola de laacute foi fechada mas foi fechada porque tinha um
nuacutemero pequeno de crianccedilas Inclusive noacutes temos uma ata aqui assinada pelos pais
jaacute dizendo que aceitavam o fechamento da escola Porque era uma escola
multisseriada e soacute tinha 21 crianccedilas entatildeo elas essas crianccedilas foram multisseriada
desde educaccedilatildeo infantil ateacute o quinto ano aiacute tornava assim mais dificultoso tanto
para o professor como para o municiacutepio que tambeacutem precisava ter uma merendeira
uma auxiliar e entatildeo as crianccedilas de laacute foram transferidas para escolas Algumas
estudam na de Umatildes outras estudam no Pau Ferro Entatildeo elas foram transferidas de
comum acordo com as famiacutelias e elas foram estudar nessas escolas (Gestora 2)
Tem hora que o desvio estaacute interrompido e vocecirc tem que arrodear laacute por outro local
aiacute tem a escola da gente que fica laacute do outro lado do canal [] a questatildeo da escola
construccedilatildeo de escolas tambeacutem foi prometido tambeacutem e natildeo foi construiacutedo
(Lideranccedila 1)
Quanto agraves questotildees referentes agrave sauacutede as informaccedilotildees do questionaacuterio fazem menccedilatildeo
agrave estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia pela Secretaria Municipal de Sauacutede com presenccedila do agente
comunitaacuterio pelo PACS e visita de meacutedico a idosos da comunidade Os problemas de sauacutede
mais frequentes na comunidade apontados pelo questionaacuterio CAP apresentam uma coerecircncia
com as narrativas dos sujeitos do estudo indicando uma relaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo
(Graacutefico 2)
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem- Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2010
As obras da transposiccedilatildeo vecircm comprometendo e fragilizando a sauacutede de moradores
conforme relatos que confirmam os agravos em torno de problemas respiratoacuterios provocados
pela poluiccedilatildeo ambiental Consequecircncia das inuacutemeras explosotildees para construccedilatildeo do canal
houve um aumento na frequecircncia de problemas de sauacutede entre os moradores tanto de ordem
fiacutesica como emocional Haacute relatos de episoacutedios constante de gripes e de problemas
96
respiratoacuterios aleacutem de alteraccedilotildees na pressatildeo arterial com os sobressaltos provocados nos
momentos das explosotildees Pessoas portadoras de deficiecircncia tecircm vivenciado momentos de
inseguranccedila e medo Algumas casas na comunidade tambeacutem apresentam grandes rachaduras
provocadas pelas explosotildees A narrativa abaixo e reveladora dessas situaccedilotildees
Tem Poeira [] Olhe aiacute quem taacute fazendo tratamento por causa da poeira E o
meacutedico jaacute disse que eacute a poeira do canal [] Poeira quente Oi aqui de um lado e de
outro se vocecirc andar na caatinga assim quando vocecirc sair fora ningueacutem vai taacute com
qualidade de roupa natildeo soacute eacute terra ao redor do canal umas duzentas trezentas
braccedilas soacute eacute terra mesmo [] Tem gente que tem alguns deficientes em casa que na
hora que estoura as bombas chega minha sogra mesmo eacute uma ela tem uma
deficiente que na hora que estoura as bombas ateacute passar mesmo daacute um medo a
pressatildeo sobe laacute pra cima [] tem gente que ajeita as casa deixa as casa bem
bonitinha aiacute com as explosatildeo quando vocecirc olha assim as casas estatildeo terminando de
rachar ateacute embaixo e eles natildeo ligam pra isso ai natildeo eles querem saber que estatildeo
terminado a obra deles [] Quando daacute cinco horas que paacutera vocecirc vai praacute casa
pensa que eacute chuva neacute Soacute terra (Grupo Focal 3)
As medidas adotadas pelas pessoas da comunidade quando estatildeo doentes segundo
informaccedilotildees do questionaacuterio CAP mostra uma maior procura pelo atendimento hospitalar
(428) e posto de sauacutede (357) em detrimento ao uso das praacuteticas tradicionais como
consultas ao rezador (143) e uso de remeacutedios caseiros (714) que juntas representam 2144
(Graacutefico 2)
Entretanto o Centro de Cultura Luiz Freire afirma que haacute situaccedilotildees particulares de
sauacutede que continuam a ser tratadas pelas pessoas de referecircncia na comunidade como as
rezadeiras e benzedeiras
As praacuteticas tradicionais de reza e cura satildeo recorrentes no quilombo Santana Existem
rezadeiras e benzedeiras atuantes que satildeo procuradas para os casos de mau olhado quebrante
dor de cabeccedila e espinhela caiacuteda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 41)
Quanto ao atendimento de sauacutede oferecido agrave comunidade os serviccedilos satildeo prestados no
Posto de Sauacutede do Distrito de Pau Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras da
transposiccedilatildeo
[] agora ateacute pra gente ateacute para o ser humano ir pra Pau Ferro para ter acesso agrave
sauacutede e tudo encontra dificuldade porque agraves vezes vocecirc vai aiacute o desvio eacute por outro
local depois vocecirc vai e o desvio jaacute eacute por outro local [] o PSF fica do outro lado
canal [] mas a princiacutepio foram muitas promessas com relaccedilatildeo agrave sauacutede PSF foi
prometido natildeo foi cumprido [] (Lideranccedila 1)
A assistecircncia agrave sauacutede oferecida agrave Comunidade de Santana parece distante do que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negra que tem como um dos
objetivos especiacuteficos ldquoGarantir e ampliar o acesso da populaccedilatildeo negra do campo e da floresta
97
em particular as populaccedilotildees quilombolas agraves accedilotildees e aos serviccedilos de sauacutederdquo (BRASIL p 39
2007)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de Santana os
dados do questionaacuterio mostravam uma predominacircncia para o trabalho na agricultura (583)
seguido da renda proveniente da aposentadoria (25) (Graacutefico 3)
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE
2010
A agricultura familiar base de produccedilatildeo da comunidade eacute exercida com o cultivo
principalmente de arroz feijatildeo milho cebola tomate coentro e pimentatildeo Os agricultores
estatildeo politicamente organizados na Associaccedilatildeo Quilombola de Santana instituiccedilatildeo que busca
potencializar as demandas poliacuteticas da comunidade (LUCENA 2013)
Lucena (2013 p 3) ressalta tambeacutem como atividade existente na comunidade
Tambeacutem eacute relevante destacar a atividade de artesanato desenvolvida por um grupo
de mulheres da comunidade O artesanato eacute constituiacutedo por bordados e rendas O
grupo estaacute atualmente buscando articular tambeacutem a produccedilatildeo de colares usando
sementes da Caatinga A renda das famiacutelias eacute acrescida com a aposentadoria rural e
o Cartatildeo Bolsa Famiacutelia
Poreacutem as obras da transposiccedilatildeo somada agrave situaccedilatildeo climaacutetica vem interferindo na
forma tradicional de trabalho das famiacutelias quilombolas de Santana e da regiatildeo do semiaacuterido
Haacute narrativas de que as obras da transposiccedilatildeo ldquovem resolvendordquo temporariamente
para uma parcela da comunidade as dificuldades financeiras e de trabalho Mas a pergunta de
como seraacute apoacutes a conclusatildeo das obras aparece no discurso como uma preocupaccedilatildeo concreta
[] Sim a transposiccedilatildeo [] Foi 2009 ou 2010 [] Foi 2009 Pois eacute na eacutepoca eu
tava aqui mas quando eu tava eu pelejei praacute entrar mas natildeo entrei aiacute tambeacutem fui
embora Aiacute graccedilas aacute Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela
depois sai de laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela [] Eacute estou Estou
achando bom por que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Oh Mas uma coisa eu
98
digo a vocecircs taacute certo que essa Transposiccedilatildeo ela taacute seguindo agora mas a pessoa tem
que pensar assim veja se eu estou errada hoje taacute tendo emprego vamos dizer pros
pai de famiacutelia sustentar sua famiacutelia tudo que tem comeccedilo tem fim Essa obra
comeccedilou igualmente um dia ela vai ter que terminar quando ela terminar quem taacute
na firma vai vazar o dinheiro vai acabar neacute [] (Grupo Focal 3)
A Comunidade de Santana organizada em torno da Associaccedilatildeo Quilombola eacute
vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(ACQEP) que atua na luta pela garantia dos direitos dos quilombolas no Estado
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que metade dos entrevistados (50) participava da associaccedilatildeo de moradores e a
outra metade se dividiu entre os que natildeo estavam inseridos em nenhum grupo (375) e os
que participam de grupos religiosos (125)
Poreacutem ao referir-se a participaccedilatildeo em eventos realizados na aacuterea quase a metade dos
entrevistados (429) mencionou participaccedilatildeo em eventos de caraacuteter religioso seguido de
eventos culturais (286) sociais e esportivos (Graacutefico 4)
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Como equipamentos coletivos haacute na comunidade os espaccedilos das igrejas catoacutelica e
evangeacutelica as escolas (atualmente fechadas) o campo de futebol e as roccedilas nas eacutepocas de
mutirotildees (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 40) atualmente prejudicadas
com as obras do canal da transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo aos eventos que ocorrem no quilombo de Santana Lucena faz menccedilatildeo as
comemoraccedilotildees no mecircs junho quando a comunidade realiza festejos juninos envolvendo
comunidades circunvizinhas A noite de Satildeo Joatildeo (2306) eacute animada com quadrilhas e muito
forroacute E ao teacutermino do forroacute por volta de quatro horas da manhatilde eacute realizada a volta da
ressaca tradiccedilatildeo de visitar as residecircncias da comunidade As pessoas satildeo recebidas pelas
famiacutelias com comida e bebida e a volta soacute termina apoacutes a visita a todas as casas da
99
comunidade na tarde do dia 24 de junho Essa tradiccedilatildeo aleacutem de ser uma confraternizaccedilatildeo
fortalece os laccedilos de amizade entre as pessoas da comunidade (LUCENA 2013) Outros
significativos na comunidade satildeo descritos pelo autor
a comunidade tambeacutem organiza a festa de sua padroeira Santana evento realizado
na terceira semana de Julho Um outro elemento importante da comunidade de
Santana eacute a danccedila da Manzuca16
Atualmente atraveacutes da Associaccedilatildeo Quilombola de
Santana a Manzuca estaacute sendo revigorada na comunidade O grupo de Manzuca eacute
constituiacutedo por pares de danccedilarinos na sua maioria senhores e senhoras Mas jaacute estaacute
sendo realizado um trabalho para inserir os jovens na danccedila da Manzuca Ela eacute mais
danccedilada durante as festas juninas Desde 2009 que a Manzuca faz parte dos atrativos
juninos da cidade de Salgueiro [] (LUCENA 2013 p 3 grifo nosso)
A Manzuca de Santana existe desde o surgimento da comunidade no iniacutecio do seacuteculo
XIX A gravura abaixo mostra um momento festivo da comunidade com a Manzuca sendo
danccedilada tambeacutem por jovens da comunidade resultado do incentivo realizado pela Associaccedilatildeo
de Moradores de Santana (Figura 6)
Figura 6 - Mazuca de Santana
Fonte Moura (2012)
Com referecircncia as opccedilotildees de lazer existentes na comunidade pelos dados do
questionaacuterio haacute predominacircncia do uso da televisatildeo como diversatildeo para as mulheres (46) e
da bebida alcooacutelica (263) como diversatildeo para os homens o que nos parece uma
precariedade nas opccedilotildees existentes podendo significar principalmente para os homens um
risco agrave sauacutede
Agraves crianccedilas a mesma precariedade de opccedilotildees eacute observada estando reservado
principalmente brincadeiras de corrida (273) e ida ao catecismo (182) como formas de
diversatildeo (Graacutefico 5)
16
A Mazuca eacute um ritmo que mistura influecircncias indiacutegenas e africanas numa mescla de pandeiro ganzaacute e batida
de peacutes A Mazuca nasceu do encontro de escravos que fugiam para ldquoo meio do matordquo e laacute encontravam os
iacutendios Juntos eles reproduziam as festas de Mazurca danccedila popular polonesa que animava as casas-grandes
dos engenhos vistas e ouvidas de longe pelos negros da senzala (OLIVEIRA JUNIOR 2009 apud LUCENA
2013)
100
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Ao referir-se agraves formas como chegam agraves notiacutecias na comunidade os dados do CAP
apontaram que o raacutedio eacute um veiacuteculo importante na transmissatildeo de informaccedilotildees com 353
das respostas seguido do uso do telefone (294) Apesar da precariedade quanto agrave telefonia
na aacuterea sendo uma das promessas feitas pelo MI e natildeo cumpridas junto agrave inclusatildeo digital
esse recurso tem uma penetraccedilatildeo nas formas da comunidade estabelecer os seus contatos
sendo mantidas ainda de maneira significativa o viacutenculo entre as pessoas para fazer circular
as informaccedilotildees A comunicaccedilatildeo pessoa-pessoa aparece com o mesmo percentual da
comunicaccedilatildeo por televisatildeo com 176 das respostas (Graacutefico 6)
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
101
As possibilidades de deslocamento e acesso agrave comunidade anteriormente feita por
dois caminhos devidamente identificados (por Salgueiro e pelo Distrito de Umatildes) hoje
encontra-se prejudicada com as obras da transposiccedilatildeo sendo mais um transtorno na vida dos
moradores de Santana
Dentro do territoacuterio o livre deslocamento de pessoas e animais tambeacutem estaacute
comprometido e mesmo com mobilizaccedilotildees da comunidade o problema natildeo foi resolvido
[] por enquanto soacute tem um garantido que eacute o da passagem principal pra
Salgueiromas o da passagem para os animais pra pessoas irem pra o outro lado do
territoacuterio natildeo tem nada garantido Essa eacute a questatildeo apesar das pessoas jaacute terem se
mobilizadojaacute terem enviado abaixo-assinado pedindo mostrando neacute necessidade
dessas passarelas a gente natildeo teve nenhuma resposta [] (Grupo Focal 3)
O abastecimento de aacutegua em Santana segundo o questionaacuterio CAP aponta uma
procedecircncia maior pela rede puacuteblica (75) com abastecimento tambeacutem por accedilude (25)
Poreacutem ter as casas com encanaccedilatildeo ligadas ao sistema da Compesa estaacute longe de significar
ldquoaacutegua chegando com frequecircnciardquo nas residecircncias da comunidade Antes do projeto da
transposiccedilatildeo havia uma diversificaccedilatildeo na forma de abastecimento dependendo do siacutetio que
incluiacutea aacutegua vindo do Riacho Grande de barragens cacimbas adutoras e cisternas (BRASIL
2011)
Segundo Brasil (2011) houve interrupccedilatildeo eou desvio do Riacho Grande para
fornecimento de aacutegua e o isolamento da barragem prejudicando a criaccedilatildeo e a irrigaccedilatildeo
O tratamento da aacutegua para consumo humano segundo 625 do questionaacuterio vem
sendo feito por meio do uso do cloro distribuiacutedo principalmente pelo agente de sauacutede
havendo 25 de respostas para o natildeo tratamento da aacutegua para beber (Graacutefico 7)
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Nosso estudo confirma a precarizaccedilatildeo do abastecimento de aacutegua com as obras da
transposiccedilatildeo a partir da anaacutelise dos discursos
102
Apesar de haver encanaccedilatildeo em alguns siacutetios da comunidade como Recanto Jurema e
Olaria a aacutegua natildeo chega igualmente nessas aacutereas poreacutem a Compesa envia mensalmente a
cobranccedila para as famiacutelias pagarem por um serviccedilo que natildeo eacute prestado
[] Mas realmente eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc cozinhar feijatildeo eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc
dar a uma galinha eacute natildeo ter aacutegua mesmo [] Natildeo tem aacutegua nem pra vocecirc beber
que muitas vezes vocecirc vai no pote taacute soacute laacute aquele restinho vocecirc rapa com o caneco
no copo ainda sai com gosto de barro e vocecirc tem que tomar porque soacute tem ela []
Agora tem uma coisa a aacutegua pode vim pouco agora duvido que o papel laacute da casa
que noacutes vive eacute de R$ 80 a 100 pra pagar vem eu quero vecirc Pode num vim um pingo
drsquoaacutegua na torneira mas no final do mecircs eles traz os papelzinho com 80 a 100 sem
mentira nenhuma [] Eacute porque eles natildeo se preocupam com o motivo da pessoa natildeo
ter aacutegua eles natildeo se preocupa com a feira que a pessoa tem que botar dentro de casa
com o dinheirinho daacute aacutegua que a pessoa tira pra pagar com os filhos que a pessoa
tem praacute criar eles querem saber que tenha soacute aquele dinheiro pra pagar aacutegua pra
natildeo faltar natildeo pode faltar de jeito nenhum porque se faltar seu nome vai pra o SPC
vocecirc fica com seu nome sujo Muitas vezes por causa de cinco reais mas num vecirc
que passa o mecircs todinho e natildeo sai uma gota de aacutegua se vocecirc quiser ter aacutegua pra
lavar roupa pra beber vocecirc tem que botar uma lata em cima da cabeccedila e sair
caccedilando em pleno seacuteculo XXI Eles natildeo pensam nisso ai neacute [] Mesmo natildeo tendo
aacutegua nas torneiras aqui ainda chega aacutegua mas nos dois outros siacutetios tem Jurema
Olaria que natildeo chega aacutegua de jeito nenhum mesmo assim o pessoal continua
pagando (Grupo Focal 3)
A forma principal de abastecimento em alguns siacutetios tem sido pela contrataccedilatildeo de
carros-pipa
Eacute de carro-pipa [] E ali em Jurema tem [] Laacute natildeo chega de jeito nenhum Eacute laacute eacute
muito sofrimento aqui de vez em quando chega uma aguinha para noacutes fazer mas
laacute [] Hoje mesmo quando noacutes vinha praacute caacute Salete vinha com a lata seca vinha laacute
de cima [] (Grupo Focal 3)
O destino do lixo e dos dejetos foram aspectos inseridos no diagnoacutestico
socioambiental identificados a partir do questionaacuterio CAP
Quanto ao destino do lixo na aacuterea quilombola quase 63 das respostas mostraram que
o lixo eacute queimado ou jogado ao relento na comunidade (25) As precaacuterias condiccedilotildees de
saneamento na comunidade fazem com que os dejetos sejam lanccedilados ao relento com 75
das respostas (Graacutefico 8) Natildeo haacute serviccedilo puacuteblico de coleta de resiacuteduos nem de esgotamento
sanitaacuterio e as praacuteticas da queima e descarte do lixo ao relento bem como os esgotos agrave ceacuteu
aberto satildeo danosas agrave sauacutede humana e do ambiente
103
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Dados mostram a diversidade de animais que havia no territoacuterio em 2010 criados
soltos no terreiro Animais domeacutesticos e de pequeno porte existentes na comunidade (Graacutefico
9)
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Em Santana a atividade pecuaacuteria se constitui pela criaccedilatildeo de pequenos animais
caprinos ovinos aves suiacutenos e gado Poreacutem com as obras do canal e sem passagens
adequadas para o deslocamento dos animais conforme reivindicaccedilatildeo dos moradores essa
atividade estaacute seriamente comprometida representando mais um prejuiacutezo para comunidade
[] E o territoacuterio que a gente criava os animais soltos que a gente perdeu tudinho
porque ficou do outro lado Eu falo assim perdeu eacute nosso soacute que assim como eacute que
a gente vai criar animal se natildeo tem como o animal ir e vir [] (Lideranccedila 1)
Os dados do questionaacuterio CAP nos trazem como consolidado geral e confirmando o
que foi descrito ateacute o momento os problemas considerados mais criacuteticos para a comunidade
aparecendo com mais metade das respostas (555) a escassez de aacutegua para consumo humano
e a falta de assistecircncia agrave sauacutede (222) (Graacutefico 10)
104
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No iniacutecio do Projeto em reuniotildees ocorridas com os teacutecnicos do MI vaacuterias foram as
promessas feitas e registradas em ata pela Associaccedilatildeo Hoje passados cinco anos do iniacutecio
das obras a populaccedilatildeo tem clareza de que o propoacutesito maior das reuniotildees e visita dos teacutecnicos
era obter a assinatura dos moradores em documento oficial com a concordacircncia para que as
obras do canal fossem feitas em seu territoacuterio Haacute uma queixa contundente de que a populaccedilatildeo
natildeo teve conhecimento do real transtorno e das perdas do dano ambiental que haveria no
territoacuterio para evitar que as obras fossem feitas
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo Focal 3)
Em Santana com base nas narrativas dos sujeitos podemos resumir o que foi
prometido pelo MI enquanto Projeto da Transposiccedilatildeo e natildeo cumprido ateacute o momento
a) Melhoria da assistecircncia agrave sauacutede com PSF
b) Melhoria no serviccedilo de Educaccedilatildeo
c) Quiosque cidadatildeo (com inclusatildeo digital e telefonia)
d) Projeto econocircmico de desenvolvimento local
e) Passarelas
f) Construccedilatildeo de banheiros
g) Indenizaccedilotildees
105
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL
O quilombo de Contendas existe haacute mais de cem anos eacute formado pelas localidades de
Contendas e Tamboril Estaacute a 24 km da sede do municiacutepio de Salgueiro e faz fronteira
tambeacutem com o municiacutepio de Terra Nova Conta com uma populaccedilatildeo de 47 famiacutelias A
maioria das residecircncias estaacute na aacuterea de Contendas e laacute se encontra o terreno dos descendentes
de Zeacute Simiatildeo
A figura 7 mostra o mapa de ContendasTamboril elaborado por moradores
quilombolas onde haacute referecircncia sobre o acesso pela BR 232 (parte superior do mapa) os
riachos do Tamboril e de Contendas as casas e igreja (direita do mapa na aacuterea Contendas)
aacuterea agricultaacutevel (direita na aacuterea Tamboril) etc A figura 8 retrata um dos acessos agrave aacuterea
Contendas mostrando a casa onde realizamos o grupo focal com a comunidade
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 25)
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
De acordo com o Centro de Cultura Luiz Freire no livro ldquoQuilombos do sertatildeo de
Pernambucordquo
A histoacuteria de Contendas eacute contada a partir da histoacuteria de vida de Joseacute Simiatildeo dos
Reis fundador da comunidade O negro velho chamado Chico entatildeo morador da
Fazenda Tamboril foi quem acolheu o menino Joseacute Simiatildeo dos Reis com trecircs anos
de idade Zeacute Simiatildeo chamado de Pai Nanatildeo cresceu cm Tamboril mas tinha muitos
familiares em Contendas Quando resolveu morar em Contendas jaacute havia algumas
famiacutelias de brancos habitando o lugar Contam que eacute deste tempo que se estabeleceu
uma relaccedilatildeo de compadrio entre os negros descendentes de Simiatildeo e os brancos Em
funccedilatildeo de difiacuteceis condiccedilotildees de vida a permanecircncia dos negros na regiatildeo foi
diminuindo ficando soacute trecircs casas As situaccedilotildees de discriminaccedilatildeo perpassam a
trajetoacuteria dos descendentes de Pai Nanatildeo que apesar das estrateacutegias de conviecircncia e
compadrio recordam que a comunidade sempre fora dividida em moradores negros
e brancos Natildeo queriam que namorasse com os filhos de Simiatildeo porque diziam que
ele era negro cativo Mas hoje mesmo essas famiacutelias estatildeo misturadas na famiacutelia
de noacutes [] Atualmente eacute quilombola em Contendas quem reconhece a importacircncia
e a descendecircncia de Joseacute Simiatildeo dos Reis (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 24 grifo nosso)
106
Hoje as principais lideranccedilas da comunidade satildeo a Sra Antonia e o Sr Joseacute Francisco
Nascimento conhecido como Zeacute Muniz A Sra Antonia eacute filha de Joseacute Simiatildeo dos Reis cuja
propriedade tem 21 hectares de siacutetio e onde residem quarenta e quatro famiacutelias (aacuterea
Contendas) O Sr Zeacute Muniz eacute o presidente da Associaccedilatildeo dos Produtores Rurais de
Contendas A aacuterea de Tamboril tem cerca de 900 hectares e residem trecircs famiacutelias
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O PROJETO
DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Desde o iniacutecio do Projeto da transposiccedilatildeo o discurso do MI eacute vago quanto agraves obras a
serem feitas na comunidade de ContendasTamboril e quanto aos benefiacutecios no acesso agrave aacutegua
da transposiccedilatildeo
[] quando eles vieram pra caacute a gente jaacute sabia que jaacute ele jaacute tinha dito aqui na
comunidade E a questatildeo quando a gente perguntava e aacutegua vai ficar aacutegua pra
trabalhar E aiacute a gente nem sabia que ia passar esse canal aqui neacute A gente achava
que no riacho que eacute onde a gente trabalha aqui que passa ai na comunidade de
Umatildes a gente perguntou e essa aacutegua vai ser possiacutevel a gente ter acesso a ela Ele
disse natildeo isso ai eacute uma questatildeo que vem depois [] (Grupo Focal 2)
Tendo sido inicialmente identificada como uma aacuterea rural pelo EIA (Estudo de
Impacto Ambiental) o quilombo de ContendasTamboril foi inserido no Programa Ambiental
de Implantaccedilatildeo de Infra-Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais PBA 15 cujo objetivo eacute ldquoimplantar sistemas de abastecimento de aacutegua visando agrave
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees em comunidades situadas na Aacuterea Diretamente
Afetada do PISF aleacutem de reduzir os riscos associados a eventuais tentativas de uso
clandestino das aacuteguas dos canais e reservatoacuteriosrdquo (BRASIL 2005) e posteriormente inserido
no Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas outro Programa Baacutesico
Ambiental o PBA 17 que iremos abordar mais adiante
O Cronograma de Execuccedilatildeo que consta do PBA 15 previa ateacute dezembro de 2015 a
conclusatildeo das atividades necessaacuterias para implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de
abastecimento As atividades programadas foram a elaboraccedilatildeo dos projetos baacutesicos de sistema
de abastecimento de aacutegua para as comunidades (2007 agrave meados de 2012) a assinatura dos
convecircnios com prefeituras eou oacutergatildeos estaduais para implantaccedilatildeo das obras (segundo
semestre de 2012 agrave janeiro de 2013) e a implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de abastecimento
(fevereiro de 2012 agrave dezembro de 2015) (BRASIL 2005 p 18) No entanto ateacute junho de
107
2012 apenas 1 do valor previsto para o programa havia sido executado conforme Resumo
Executivo do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo (BRASIL 2012)
Com as obras da transposiccedilatildeo ameaccedilas concretas recaem sobre o territoacuterio de
Contendas Tamboril sem o devido conhecimento e consentimento da populaccedilatildeo e de sua
Associaccedilatildeo de Moradores O territoacuterio quilombola localiza-se proacuteximo ao trecho VI do Eixo
Norte do projeto considerado uma etapa futura pelo PISF na Aacuterea Diretamente Afetada
(ADA) Tal etapa que inclui a construccedilatildeo de um reservatoacuterio no territoacuterio quilombola
identificado em documento oficial como ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo desde 2004 (BRASIL
2004 p 50) natildeo era do conhecimento da populaccedilatildeo ateacute meados de setembro de 2013 quando
comeccedilaram a chegar pessoas desconhecidas da populaccedilatildeo na aacuterea fazendo mediccedilotildees no
terreno poreacutem sem esclarecer o objetivo da accedilatildeo De maneira vaga diziam ser para obras da
transposiccedilatildeo que iriam passar no territoacuterio
[] Eacutecomeccedilou a chegar pessoas laacute medindo pedindo o auxilio do pessoal da
comunidade pra saber onde eacute que vai passar mas depois foi que quando ldquoo que eacute
que estaacute acontecendordquo Natildeo eacute porque aqui vai passar o ramal vai ser muito bom pra
vocecircs vai passar dentro da comunidade mas noacutes natildeo fomos informados A gente
tem a propriedade mas natildeo eacute informada do que eacute que vai acontecer entendeu
(Lideranccedila 2)
Ateacute aquele momento a populaccedilatildeo tinha como percepccedilatildeo geral de que natildeo iria ser
atingida diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo mas a possibilidade de construccedilatildeo de um
ldquoramalrdquo que na realidade eacute o ldquo Reservatoacuterio Tamborilrdquo dentre os vinte e quatro reservatoacuterios
previstos pelo PISF17
provocou uma inquietaccedilatildeo e preocupaccedilatildeo entre os moradores pelos
transtornos que haveraacute na vida da populaccedilatildeo principalmente na forma de subsistecircncia por
afetar a aacuterea destinada agrave agricultura familiar
[] Assim noacutes ateacute o momento a gente natildeo foi atingido Tem uma previsatildeo que a
gente ficou sabendo tambeacutem haacute poucos dias que a gente ia ser atingido vai passar
um ramal exatamente onde a gente trabalha e aonde a gente tava morando que eacute
naquela parte do Tamboril [] E aiacute se esse ramal passar se esse canal passar laacute vai
ser sim muito atingido porque noacutes jaacute estaacutevamos com as casas prontas morando laacute
no Tamboril e eacute a aacuterea onde a gente trabalha se passar laacute a gente natildeo vai ter como
trabalhar (Lideranccedila 2)
A falta de informaccedilatildeo oficial aliado aos boatos de que ateacute casas de alvenaria seratildeo
derrubadas inclusive as receacutem construiacutedas por um dos programas do projeto da transposiccedilatildeo
17
Reservatoacuterio ndash Locais onde a aacutegua fica armazenada Podem variar em tamanho Ao todo no PISF seratildeo
construiacutedos 24 reservatoacuterios (BRASIL 2004c p 44)
108
o PBA 17 mostra o descaso e desrespeito do MI com os direitos de cidadania no acesso agrave
informaccedilatildeo e o desperdiacutecio do dinheiro puacuteblico que constroacutei para em seguida destruir
De fato o que ocorre em ContendasTamboril eacute uma violaccedilatildeo de direitos dos termos
da Convenccedilatildeo 196 da OIT - ao natildeo fornecer informaccedilotildees condizentes com os planos
governamentais e natildeo considerar as demandas das comunidades as quais devem concordar
com as obras
Haacute tambeacutem outra grande preocupaccedilatildeo que eacute a ameaccedila de destruiccedilatildeo da aacuterea
agricultaacutevel e de preservaccedilatildeo localizada no territoacuterio Tamboril
As casas de ser derrubadas satildeo o menos agora toda a comunidade trabalha naquela
aacuterea laacute essa aacuterea de caacute ela natildeo eacute agricultaacutevel o mais agricultaacutevel eacute laacute [] Aonde vai
passar o ramal [] Provavelmente na agricultura sejam todos agora as casas que
vatildeo ser derrubadas satildeo menos que tem mais pra caacute do que pra laacute [] Umas quinze
casas Natildeo menos Acho que eacute umas oito casas (Grupo focal 2)
[] a gente tem a aacuterea pra noacutes eacute grande a gente tem uma aacuterea em que a gente briga
por cima de tudo por essa aacuterea que ela seja preservada mesmo Eacute no nosso
territoacuterio Eacute dentro do nosso territoacuterio e esse eacute aonde iraacute passar se vai passar o
canal Eacute o ramal Aleacutem de atingir a aacuterea que eacute preservada vai atingir tambeacutem a
nossa aacuterea de plantaccedilotildees (Lideranccedila 2)
De maneira incipiente jaacute havia na ocasiatildeo do nosso trabalho de campo uma intenccedilatildeo
da comunidade em negociar a localizaccedilatildeo da obra mesmo sem a clareza do que realmente vai
ser construiacutedo no territoacuterio e de forma organizada ir ao MI para conhecer oficialmente o que
estaacute previsto nos documentos do Projeto Nenhuma visita oficial do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
na aacuterea nenhum contato com as lideranccedilas apenas os trabalhadores fazendo mediccedilotildees e
divulgando um ldquobenefiacutecio que natildeo eacute explicadordquo
[] Jaacute avisaram na comunidade que as casas que estatildeo feitas laacute vatildeo ter que sair e
assim a gente natildeo tem uma explicaccedilatildeo uma coisa que nos explique que nos diga o
que eacute que vai acontecer mesmo com a gente [] Aiacute vai ser muito prejudicial se
acontecer isso neacute Se a gente taacute tentado vecirc a possibilidade jaacute que eacute um ramal se
natildeo daacute pra passar mais pra laacute ou mais pra caacute seja laacute como for pra gente negociar soacute
que no momento soacute diz o pessoal laacute a gente soacute vecirc o pessoal que vai fazer as
mediccedilotildees mas a gente natildeo tem uma informaccedilatildeo do que eacute que vai acontecer como eacute
que vai acontecer [] A gente na comunidade taacute decidido que a gente vai fazer
que a gente pode fazer uma reuniatildeo e a gente conversar soacute que apareceu essas
pessoas aiacute a gente eles ldquo natildeo natildeo eacute com a genterdquo mas aiacute tambeacutem natildeo sabe dizer
com quem eacute e onde eacute que a gente vai buscar essas informaccedilotildees na comunidade o
que eacute que vai acontecer [] (Lideranccedila 2)
Assim a gente vai tirar a comissatildeo da comunidade e a gente quer conversar com o
pessoal laacute do escritoacuterio mesmo [] porque jaacute que a gente vai nessa comissatildeo a
gente vai primeiro cobrar documento o que eacute que vai acontecer na comunidade que
a gente natildeo tava sabendo tem essas mediccedilotildees jaacute tem avaliaccedilotildees e a gente saber o
que eacute esse documento aonde ele estava e porque isso natildeo foi apresentado pra gente
[] Eacute isso que a gente estaacute cobrando porque se jaacute sabia que tinha um projeto que ia
109
passar esse ramal a gente jaacute devia ter o documento em matildeos E isso nem foi
apresentado nem documento quando eles chegaram jaacute foi fazendo as mediccedilotildees
como se aqui fosse como se natildeo tivesse ningueacutem no meio [] E dai a gente vecirc o
que eacute que eles vatildeo poder fazer e o que eacute que a gente vai poder fazer tambeacutem na
comunidade pra gente pelo menos tomar peacute E aonde eacute que a gente vai ficar o quecirc
que vai acontecer porque que natildeo apresentaram o documento pra gente e daiacute por
diante a gente tomar alguns encaminhamentos nessa reuniatildeo (Grupo Focal 2)
A situaccedilatildeo atual do territoacuterio Contentas Tamboril que natildeo tem o tiacutetulo definitivo de
posse eacute outro aspecto que preocupa a populaccedilatildeo diante da ameaccedila de construccedilatildeo do
reservatoacuterio pelo projeto da transposiccedilatildeo Por natildeo se sentirem ldquooficialmenterdquo proprietaacuterios
questionam se o governo iria indenizar caso se concretizem as obras em seu territoacuterio Mas
para a populaccedilatildeo quilombola o maior interesse natildeo eacute indenizaccedilatildeo e sim assegurar o seu
direito agrave terra sinocircnimo de vida de sobrevivecircncia
E ainda tem outra E os outros o canal vai passar dentro do terreno mas vatildeo ser
beneficiado com dinheiro neacute Eles vatildeo pagar E noacutes Que diz que o terreno eacute do
governo [] E dinheiro se acaba e aterra natildeo se acaba pra pessoa plantar
Natildeo tem dinheiro que vale [] Mesmo que a terra fosse minha eu natildeo queria esse
dinheiro porque eu natildeo ia viver pro resto da vida com esse dinheiro que eacute uma
mixaria (Grupo Focal 2)
[] porque eacute a aacuterea que a gente trabalha e ainda natildeo foi o INCRA ainda natildeo nos
deu a posse (Lideranccedila 2)
O desafio colocado para o projeto da transposiccedilatildeo como tambeacutem para o INCRA eacute
considerar e implementar em suas accedilotildees categorias de anaacutelise sobre a questatildeo territorial
particulares ao povo quilombola que amplie o olhar e o planejar das poliacuteticas puacuteblicas para
compreender e respeitar que
A organizaccedilatildeo soacutecio-espacial e as formas produtivas das comunidades quilombolas
satildeo orientadas por dimensotildees poliacuteticas histoacutericas sociais ambientais e culturais
Essas dimensotildees tornam-se manifestas na execuccedilatildeo pelo grupo de tarefas coletivas
como por exemplo a coleta de frutas nativas ou de moluscos a confecccedilatildeo da
farinha de mandioca no uso e na reparticcedilatildeo das terras a serem cultivadas entre os
membros de uma mesma famiacutelia na forma de uso dos recursos naturais na
terminologia utilizada para designar elementos da natureza e teacutecnicas agriacutecolas na
realizaccedilatildeo de festas de santo ou ainda na delimitaccedilatildeo de espaccedilos sagrados entre
outros Portanto a reproduccedilatildeo fiacutesica e social desses grupos estaacute diretamente
relacionada com a manutenccedilatildeo do seu territoacuterio (SANTOS F L 2013 p 4)
A maneira como o projeto da transposiccedilatildeo vem implementando suas accedilotildees nas aacutereas
quilombolas contraria o que preconiza a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel
dos Povos e Comunidades Tradicionais instituiacuteda pelo Decreto Presidencial Nordm 6040 de 7 de
fevereiro de 2007 que parece distante em sua efetivaccedilatildeo Dentre os princiacutepios desta Poliacutetica
110
estaacute ldquoa promoccedilatildeo dos meios necessaacuterios para a efetiva participaccedilatildeo dos Povos e Comunidades
Tradicionais nas instacircncias de controle social e nos processos decisoacuterios relacionados aos seus
direitos e interessesrdquo no artigo 1ordm paraacutegrafo X (BRASIL 2007)
Na praacutetica apesar de haver um escritoacuterio de representaccedilatildeo do MI em Salgueiro o
acesso agraves informaccedilotildees natildeo acontece o canal de comunicaccedilatildeo efetivo entre os teacutecnicos do
projeto da transposiccedilatildeo e populaccedilatildeo quilombola via suas entidades organizadas natildeo estaacute
estabelecido e o sentimento eacute de distanciamento descaso inviabilizando de fato o controle
social destas e de outras populaccedilotildees quanto agraves decisotildees que afetam diretamente suas vidas
[] quando eles vatildeo na comunidade eles datildeo o endereccedilo eles diz que tatildeo agrave
disposiccedilatildeo no entanto quando a gente vai a gente nunca encontra as pessoas que a
gente quer falar Aiacute fica passando de um pra outro de um pra outro [] Eacute mais faacutecil
a gente conseguir falar com Dilma do que a gente resolver um problema aqui na
comunidade Assim deixa muito a desejar nessa parte de a gente natildeo ter um acesso
mais constante ou uma discussatildeo que a gente chame e aiacute eles venham Natildeo natildeo eacute
tatildeo assim na praacutetica natildeo funciona muito bem deixa muito a desejar (Lideranccedila 2)
As terras que estatildeo sendo ldquomexidasrdquo tambeacutem passaratildeo a ser cobiccediladas por quem tem
recurso financeiro e a comunidade pode sofrer pressotildees para vendecirc-la por qualquer valor e
passar a ser apenas um trabalhador rural diarista nas terras que um dia foram suas
Neste quadro de inseguranccedila satildeo feitas comparaccedilotildees com a realidade atual de
Petrolina
[] eu penso que aqui vai acontecer o que aconteceu em Petrolina nos projetos Em
Petrolina soacute tem mais japonecircs esse pessoal de outros paiacutes neacute Por quecirc Porque
pegaram os bestas laacute atraacutes que a terra natildeo prestava pra nada neacute Compraram e eles
tem muita tecnologia Estatildeo os japonecircs aiacute os estrangeiros laacute bem plantado e os
donos da terra eu acho que ateacute de desgosto morreram [] Do mesmo jeito eu
imagino que vai acontecer aqui [] Porque vai chegar gente ai botando jaacute aconteceu
aqui no municiacutepio neacute de pequenas propriedades o povo ldquoEacute terra Natildeo isso aiacute natildeo
tem mais valor bota qualquer dinheiro o povo vende e acabou Daiacute haacute pouco vai
nascer um grande proprietaacuterio ai e o povo vai ficar soacute sendo trabalhador rural
diarista nas terras do povo que um dia foi sua (Grupo Focal)
Com as obras a comunidade acredita que as terras passam a ter outro valor e quem
tem recurso financeiro pode tornaacute-la produtiva conseguindo apoios para grandes projetos o
que natildeo vem sendo viabilizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para os pequenos agricultores das
comunidades quilombolas
[] Taacute vendo ai Aiacute eles chegam aqui vecirc a terra produtiva porque eles tendo
condiccedilatildeo eles faz mesmo porque o rico ele tem o poder deles laacute em cima natildeo eacute que
nem noacutes pobre natildeo eacute Eles chega aiacute praacute tirar uma perna daacutegua pra produccedilatildeo das
roccedila deles eles tira soacute natildeo pode tirar noacutes de Santana Contendas e outros encostados
Se noacutes tirar noacutes vamo pra cadeia (Grupo Focal 2)
111
Ao mesmo tempo que surgem essas preocupaccedilotildees o grupo relembra a condiccedilatildeo em
que se encontra a regularizaccedilatildeo do territoacuterio ainda sem titulaccedilatildeo aumentando ainda mais o
sentimento de fragilidade e risco O territoacuterio foi reconhecido pela FCP em 2007 e aguarda o
documento definitivo a ser emitido pelo INCRA A fala de lideranccedila local ilustra esse
contexto e preocupaccedilatildeo
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute dizldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacuterdquo mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos [] (lideranccedila
2)
Para a comunidade de ContendasTamboril haacute uma certeza a de que o projeto da
transposiccedilatildeo seraacute para os que tem dinheiro os grandes agricultores e a imagem objetiva o
retrato descrito por moradores em relaccedilatildeo ao PISF eacute de destruiccedilatildeo com a terra sendo
ldquoremexidardquo virando um ldquobagaccedilordquo
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] Natildeo vai melhora praacute gente natildeo sobre o canal eu acho eu natildeo sei natildeo Eu
natildeo conheccedilo de nada mas eu penso assim vai deixar muito ai eacute a terra estiorada
Vai torar no meio desbanderar praacute um lado e praacute outro e ficar soacute (Grupo Focal 2)
Pelos relatos o projeto da transposiccedilatildeo significa preocupaccedilatildeo questionamentos e
inseguranccedila para os moradores da Comunidade de ContendasTamboril
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP
E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em ContendasTamboril foram aplicados 14 questionaacuterios CAP representando 875
das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 59
pessoas sendo 32 homens e 27 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias
eram constituiacutedas por mais homens que mulheres (542 para 458) entretanto apresentou
o niacutevel de escolaridade igual entre homens e mulheres com 78 de homens e mulheres com
algum grau de escolaridade Entre as pessoas sem escolaridade os homens apresentam um
112
percentual acima do das mulheres com 538 de homens analfabetos para 465 de
mulheres o que significa um contingente expressivo de pessoas ainda sem acesso agrave
escolarizaccedilatildeo haja visto a meta institucional do municiacutepio de ldquo ofertar programas de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos com fins de erradicaccedilatildeo do analfabetismordquo (SALGUEIRO
2014)
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo os homens aparecem com maior
grau de escolaridade Para o ensino fundamental cursaram 513 dos homens e entre as
mulheres foram 487 Quanto ao ensino meacutedio os homens aparecem com um percentual
bem acima do das mulheres tendo 666 deles concluiacutedo o ensino meacutedio enquanto apenas
333 da mulheres tiveram essa oportunidade Nenhum membro das famiacutelias tinha curso
superior (Graacutefico 11)
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No territoacuterio quilombola ContendasTamboril haacute um preacutedio reformado pela
prefeitura onde funcionou a Escola Municipal Joana Maria de Jesus com ensino ateacute a antiga
quarta seacuterie do ensino fundamental Mas atualmente a escola estaacute fechada e os moradores
precisam deslocar-se para a Escola Municipal Maria Dalva Gonccedilalves de Barros no Distrito
de Umatildes distante 6 km
[] Na questatildeo das escolas ateacute a proacutepria escola que tinha laacute do municiacutepio foi
fechada e aiacute taacute em outra comunidade taacute em Umatildes onde os alunos que estudam de
primeira ateacute o segundo grau eles estudam em Umatildes E laacute eles tecircm uma escola
lindiacutessima foi construiacuteda pela prefeitura [] ( Lideranccedila 2)
[] Funcionava [] Ela deixou de funcionar bem em 2005 [] 2008 neacute []
Mas assim a escola deixou de funcionar assim a gente tem que ser reto estudavam
aqui ateacute a quarta seacuterie aqui tinha a escola de Umatildes soacute que natildeo tinha alfabetizaccedilatildeo
aiacute as matildees queriam que as crianccedilas ficasse neacute Aiacute chegou agora um lei pras crianccedilas
estudar mais novo aiacute entonse natildeo tinha professor aqui ai a prefeitura disse que natildeo
podia ter dois expedientes aqui aiacute ficou os que jaacute ia pra laacute e que jaacute precisavam de laacute
e as matildees pegou mandou os pequeninos (Grupo Focal 2)
113
A populaccedilatildeo lembra que o preacutedio foi reformado mas por haver poucas crianccedilas para
os primeiros anos de ensino natildeo se justificava a manutenccedilatildeo de um professor na escola
alegava a Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal Enquanto a escola funcionou atendeu
satisfatoriamente agrave comunidade que expressa boas lembranccedilas Hoje haacute queixa de que o
preacutedio com boa estrutura natildeo estaacute sendo utilizado para outras atividades e vem se
deteriorando
Porque aqui tem a escola foi reformada soacute que natildeo tem professor [] Natildeo taacute
funcionando [] aiacute alunos tem que ir pra Umatildes alunos de trecircs quatro anos tem
que ir pra Umatildes porque natildeo funciona a escola daqui da comunidade [] Era natildeo
ficou aluno suficienteos pequeninos natildeo tinha escola para os pequenininhos aiacute
foram tirando ateacute que acabou-se [] Taacute sendo usada natildeo ela taacute laacute abandonada Ela
vai cair a qualquer momento porque tando fechada [] mas era uma escola
decente de escola de comunidade da zona rural acho que natildeo tinha uma mais bonita
do que a daqui natildeo era decente ela ficou decente [] De fato que a escola daqui era
bem zelada tinha uma merendeira de boas qualidades ela natildeo eacute daqui tambeacutem natildeo
mas ela se preocupava muito (Grupo Focal 2)
A decisatildeo de fechar a escola apesar de aprovada em reuniatildeo parece natildeo ter sido um
processo bem debatido com a compreensatildeo dos que estavam presentes Em reuniatildeo com a
Associaccedilatildeo de Moradores e Secretaacuteria de Educaccedilatildeo foi assinado um documento pelos
moradores concordando em fechar a escola por escassez de alunos em funccedilatildeo da reforma
educacional e implantaccedilatildeo do ensino multisseriado poreacutem haacute moradores que assinaram sem
ter clareza do que estavam assinando
[] houve uma reuniatildeo na associaccedilatildeo onde a gente tratava desse assunto referente agrave
escola e na eacutepoca era multisseriado acho que eacute isso que chama quando tem vaacuterias
seacuteries E para a Secretaria de Educaccedilatildeo ela achava que tava tendo prejuiacutezo com os
meninos porque tava multisseriado e veio a secretaria aqui vocecircs lembram disso
Lembro [] Foi laacute na escola [] E veio a secretaacuteria aqui soacute que quando a secretaacuteria
chegou que o pessoal foi dizer que achava melhor que tivesse laacute na escola a
secretaacuteria fez um reboliccedilo e botou o papel pra eles assinar e tinha pessoas que natildeo
queria assinar e ela praticamente ldquovocecirc vai ter que assinar porque vocecirc taacute aqui na
reuniatildeordquo e assinou o documento sem que muitas pessoas natildeo tava tendo
conhecimento do que era aquilo que estava assinando [] (Grupo Focal 2)
A lembranccedila de que houve uma articulaccedilatildeo posterior com o Sindicato de
Trabalhadores Rurais de Salgueiro para avaliar se o processo poderia ser revertido natildeo
logrou ecircxito pois a comunidade ldquonatildeo identificava outra alternativardquo O mais importante para
alguns era natildeo prejudicar as crianccedilas que precisavam estudar natildeo importando sob que
condiccedilotildees Haacute reflexotildees que demonstram ter sido um equiacutevoco aceitar o que a prefeitura
apresentou como ldquoopccedilatildeordquo
114
Depois a gente foi eu e parece que outras pessoas a gente eu vim pra caacute praacute
comunidade pra gente conversar e jaacute os pais tinham uns que dizia ldquonatildeo eu assinei
porque meu filho estava sendo prejudicado porque tava sendo multisseriadordquo e
ficou nesse impasse aiacute porque a gente soacute pode tomar algum encaminhamento a
partir da comunidade Se a comunidade diz que tava satisfeito com aquilo natildeo era
eu que vinha laacute do sindicato pra dizer ldquonatildeo isso natildeo taacute bemrdquo Mas a gente sabe que
a comunidade teve prejuiacutezo quando assinou o documento quando ela levou esse
documento pra laacute que foi assinado Mas foi discutido natildeo foi bem explicado mas
veio para a comunidade pra ser discutido [] (Grupo Focal 2)
O registro de promessas feitas e natildeo cumpridas pela gestatildeo municipal anterior quanto
agrave estrutura que ia ser montada para aacuterea de educaccedilatildeo caracteriza mais um descaso com os
direitos dessa populaccedilatildeo e que eacute possiacutevel estruturar alternativas de ensino dentro do proacuteprio
territoacuterio
[] E a ex-prefeita disse ldquovai ter educaccedilatildeo vai ter professor aqui pra vocecircs pra
crianccedilasrdquo Ela falou que ia ter a educaccedilatildeo infantil soacute que [] ficou por laacute mesmo
Por quecirc ficou por laacute [] Na realidade ele sabe que o problema acontece mas a
comunidade natildeo se mobilizou e aconteceu isso Mas ele sabe que isso natildeo devia ter
acontecido [] Ia ter educaccedilatildeo infantil ia ter tudo soacute que nada apareceu (Grupo
Focal 2)
Aleacutem da situaccedilatildeo descrita anteriormente as condiccedilotildees de deslocamento dos alunos
para escola em Umatildes eacute precaacuteria com o transporte disponibilizado pelo municiacutepio sem as
devidas condiccedilotildees de seguranccedila e conforto Eacute necessaacuterio fazer um deslocamento de quase dois
quilocircmetros agrave peacute com crianccedilas menores de cinco agravando-se a situaccedilatildeo com o inverno A
mobilizaccedilatildeo para apresentar o problema agrave prefeitura aparece como necessaacuteria para dar ciecircncia
agrave precariedade do transporte puacuteblico
Laacute em Umatildes Precisa do ocircnibus velho pra poder ir pra laacute [] Arriscando uma vida
O ocircnibus as crianccedilas tem que se deslocar de casa quando tem um laacute do outro lado
acolaacute ela vai pra pista pegar o ocircnibus 2600m [] Dois mil e seiscentos metros
Meninos de quatro anos [] Do Tamboril tambeacutem vem pra ai pra pegar ocircnibus []
Vai praacute casa de a peacutes na terra quente levando chuva [] E tem dia que no inverno eacute
obrigado a deixar o menino numa casa que tiver mais perto O transporte natildeo eacute de
qualidade natildeo o ocircnibus eacute [] O ocircnibus natildeo eacute um transporte bom natildeo [] O ocircnibus eacute
cheio eacute muito cheio eacute muito aluno [] Eacute a prefeitura [] Eacute mas se noacutes matildees e noacutes
pais num chega laacute na prefeitura e falar o que estaacute acontecendo a prefeitura natildeo
saber nunca (Grupo Focal 2)
Entretanto estas condiccedilotildees ferem o que estaacute definido pela Prefeitura Municipal de
Salgueiro quando define a responsabilidade da Secretaria de Educaccedilatildeo
Atender aos alunos da educaccedilatildeo infantil e do ensino fundamental
matriculados na Rede Municipal de Ensino com programas
suplementares de alimentaccedilatildeo transporte escolar e material didaacutetico-escolar e
outros (SALGUEIRO 2014)
115
O Programa Brasil Quilombola em seu Diagnoacutestico de Accedilotildees Realizadas2012
apresenta dados preocupantes no tocante agrave educaccedilatildeo das comunidades quilombolas no Brasil
um dos aspectos da Chamada Nutricional Quilombola18
A Educaccedilatildeo eacute outro aspecto relevante quando analisamos a situaccedilatildeo socioeconocircmica
das comunidades quilombolas no Brasil De acordo com os dados do CADUNICO
235 dos quilombolas natildeo sabem ler Eacute um dado preocupante uma vez que a
meacutedia nacional de acordo com o Censo 2010 eacute de 9 Na Chamada Nutricional
Quilombola haacute uma especial anaacutelise com relaccedilatildeo agrave escolaridade da matildee das crianccedilas
de 0 a 5 anos das comunidades pesquisadas 436 delas possuiacuteam ateacute 4 anos de
escolaridade completos Ao se analisar o universo das escolas cadastradas como
quilombolas no Censo Escolar pode-se perceber a pequena incidecircncia de escolas
que possuem seacuteries para aleacutem do quinto ano ou quarta seacuterie A cobertura da
Educaccedilatildeo para Jovens e Adultos tambeacutem eacute pequena (BRASIL 2011 p 24)
E ressaltamos a importacircncia de direitos adquiridos com a Constituiccedilatildeo Federal quando
em seu artigo 205 capiacutetulo III determina
A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e
incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho
(BRASIL 1988 p 121)
Do que diz a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e
Comunidades Tradicionais que define em um dos seus objetivos especiacuteficos
garantir e valorizar as formas tradicionais de educaccedilatildeo e fortalecer processos
dialoacutegicos como contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento proacuteprio de cada povo e
comunidade garantindo a participaccedilatildeo e controle social tanto nos processos de
formaccedilatildeo educativos formais quanto nos natildeo-formais (BRASIL 2007 art 3)
Estas e outras ferramentas legais assumem caraacuteter poliacutetico importante na luta pelo
direito agrave educaccedilatildeo para as populaccedilotildees quilombolas
Em relaccedilatildeo ao projeto da transposiccedilatildeo nenhuma interferecircncia foi feita para contribuir
na melhoria do serviccedilo oferecido agrave comunidade natildeo tendo saiacutedo do papel as promessas que
constam no Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas que traz como
objetivo ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo (BRASIL 2005 p 4)
18
ldquoChamada Nutricional Quilombolardquo ndash realizada em agosto de 2006 foi uma iniciativa conjunta entre o
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) a Secretaria Especial de Poliacuteticas de
Promoccedilatildeo da Igualdade Racial (Seppir) o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e o Fundo das Naccedilotildees Unidas para a
Infacircncia e Adolescecircncia (Unicef)
116
Os aspectos referentes agrave sauacutede mostram pelas respostas do questionaacuterio que as
pessoas da comunidade satildeo acometidas principalmente de gripe (23) problemas de
hipertensatildeo (187) gastrite (146) e febre (146) que representam 71 das situaccedilotildees
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 553 das respostas a
procura pelo hospital (333) e posto de sauacutede (22) mas continua presente em 444 das
respostas a praacutetica de tratar de forma tradicional com a procura do rezador (167) do uso
do chaacute (167) e do remeacutedio caseiro (11) (Graacutefico 12)
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem - Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Quanto agrave descriccedilatildeo da populaccedilatildeo para o atendimento na Unidade de Sauacutede ldquomais
proacuteximardquo a populaccedilatildeo se mobilizou com apoio do Sindicato Rural para redefinir o viacutenculo
com Salgueiro ou Terra Nova que faz divisa com o territoacuterio ContendasTamboril Na
redefiniccedilatildeo territorial e poliacutetica foi acordado o atendimento no Distrito de Umatildes em
Salgueiro para toda populaccedilatildeo da aacuterea quilombola
Reformas feitas no Posto de Sauacutede satildeo mudanccedilas que a comunidade acredita terem
sido efetivadas com recurso do projeto da transposiccedilatildeo
Teve uma questatildeo que mudou soacute uma questatildeo eacute que aqui tinha a divisatildeo tinha
deles que mora bem aqui aiacute atravessa o Riacho e tinha que ir pra Terra Nova aiacute com
essa explicaccedilatildeo que teve que ele foi feito a gente levou praacute prefeitura teve umas
coisas que foi levada praacute prefeitura e que o posto de Umatildes ia atender todo o pessoal
ai mudou nessa questatildeo E o pessoal que tava laacute excluiacutedo que era praacute Terra Nova
passou a ser atendido em Umatildes E a outra coisa que teve eacute porque natildeo teve
diretamente na comunidade mas o PFS de Umatildes ele foi reformado atraveacutes desse
projeto com o dinheiro do projeto que foi melhorado o posto que natildeo tinha
condiccedilotildees de ser atendido (Grupo Focal 2)
O serviccedilo de sauacutede oferecido no Distrito de Umatildes a exemplo da educaccedilatildeo conta com
atendimento meacutedico esporaacutedico e o trabalho de um agente de sauacutede e de endemias para
visitas domiciliares
117
[] A comunidade eacute atendida em Umatildes Agraves vezes tem a visita do meacutedico laacute eu
acho que eacute uma vez por mecircs natildeo tenho bem a certeza que eacute soacute uma vez por mecircs que
eles vatildeo atender Jaacute melhorou porque tinha uma questatildeo do territoacuterio era parte de
Terra Nova parte de Salgueiro e aiacute era uma questatildeo poliacutetica [] Tem o Agente de
Sauacutede mesmo que eacute da prefeitura que ele natildeo eacute ligado a comunidade mas tem o
Agente de Sauacutede Tem tambeacutem um Agente de Endemias que esse assim a
comunidade ateacute natildeo conhece muito mas taacute dizendo que eacute um Agente de Endemias
[] ( Lideranccedila 2)
As morbidades apontadas pelos entrevistados e a grande procura pelo atendimento
hospitalar e posto de sauacutede mostra a fragilidade da atenccedilatildeo baacutesica na aacuterea bem como a falta
de um trabalho de prevenccedilatildeo e promoccedilatildeo que poderiam impactar positivamente no quadro de
adoecimento apresentado
O agente de sauacutede que visita a aacuterea natildeo eacute da comunidade mas haacute boas referecircncias em
relaccedilatildeo ao seu trabalho apesar da sobrecarga de atividades pois responsabiliza-se por
acompanhar trecircs aacutereas
Natildeo daqui do lugar tem Ela vem laacute de fora [] Ela atende aqui muito bem mas natildeo
eacute daqui natildeo Soacute que ela atende toda a regiatildeo [] Eacute muita coisa pra ela A correria eacute
grande [] E natildeo eacute soacute aqui natildeo Ela atente outros siacutetios tambeacutem Eacute Ela atende umas
trecircs aacutereas Contendas Baixio da Velha e Baixio do Gravataacute (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de
ContendasTamboril os dados do questionaacuterio confirma que a populaccedilatildeo vive do trabalho na
agricultura (385) seguido da renda proveniente de trabalhos como pedreiro (308) da
aposentadoria (192) e como encanador (115) (Graacutefico 13)
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de
Moradores de ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
Com a situaccedilatildeo climaacutetica a atividade agriacutecola estaacute comprometida e os trabalhadores
da comunidade de ContendasTamboril continuam precisando sair de suas aacutereas de seu lugar
118
para conseguir trabalho e garantir a sobrevivecircncia de suas famiacutelias Sem infra-estrutura para
desenvolver-se e sem trabalho para os quilombolas eacute grande o ecircxodo rural
Daqui taacute indo trabalhar em Ouricuri no Piauiacute no Recife em todo canto Se desse
prioridade pro daqui o cara natildeo ia deixar a famiacutelia se largar no meio do mundo
(Grupo Focal 2)
A figura 9 mostra a divulgaccedilatildeo do projeto Semente Crioula19
criado em 2009 sob
coordenaccedilatildeo executiva do Centro de Cultura Luiz Freire e que teve duraccedilatildeo inicial de dois
anos O projeto teve o propoacutesito de capacitar as famiacutelias a gerirem seus sistemas de produccedilatildeo
alimentar de forma sustentaacutevel Ou seja de modo que atendesse as necessidades baacutesicas de
consumo proacuteprio geraccedilatildeo de renda e sem agressatildeo ao meio ambiente A comunidade de
ContendasTamboril foi uma das beneficiadas em Pernambuco (OBSERVATOacuteRIO
QUILOMBOLA 2009)
Mesmo com relatos de que o projeto da transposiccedilatildeo representou um aumento na
oferta de emprego mesmo que temporariamente os moradores da comunidade natildeo se
sentiram beneficiados pelas empresas construtoras as chamadas ldquofirmasrdquo Natildeo haacute registro de
moradores de ContendasTamboril terem sido aceitos apesar da procura formal por trabalho
marcado por grande burocracia e situaccedilotildees consideradas de humilhaccedilatildeo A percepccedilatildeo eacute de
que natildeo haacute um criteacuterio de aproveitamento das pessoas do lugar natildeo haacute um percentual de
vagas a ser preenchido primeiramente por essas pessoas para em seguida ldquoabrir a porta para
os de forardquo
[] Poucos vatildeo Eacute uma burocracia doida aiacute botam os curriacuteculos e nunca foram
chamados eacute uma humilhaccedilatildeo [] Daqui de Contendas noacutes natildeo teve nenhum que
nunca trabalhou nessas firmas da Transposiccedilatildeo Natildeo nunca foi Deveria ter uma
prioridade porque eu trabalho em obra a gente chega numa cidade a prioridade eacute do
povo da cidade [] Foram deixaram curriacuteculo uma humilhaccedilatildeo coisa de passar
quatro cinco dias indo todo dia de madrugada e natildeo foram chamados [] Eu acho
que a transposiccedilatildeo devia tentar tambeacutem na parte de emprego dar prioridade ao povo
do lugar mas a burocracia eacute tatildeo grande que muitos daqui vatildeo mesmo e natildeo
consegue se empregar (Grupo Focal 2)
No entanto o Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas afirma
que entre as suas metas estaacute a melhoria dos indicadores socioambientais e dentre estes
19
O projeto intitulado Semente Crioula - Resistecircncia Quilombola soberania alimentar na caatinga foi fruto de
um convecircnio de cooperaccedilatildeo teacutecnica firmado em 2009 para beneficiar 400 famiacutelias quilombolas Envolveu a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (Embrapa) e a Secretaria de Promoccedilatildeo de Poliacuteticas de Igualdade
Racial (Seppir) e somou um investimento de US$ 200 mil (cerca de R$ 434 mil) parte do montante financiado
pela Agecircncia Canadense para o Desenvolvimento Internacional (Cida) Foram beneficiadas pelo convecircnio as
comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas Contendas e Santana (situadas no municiacutepio de Salgueiro) Jatobaacute e
Santana (em Cabroboacute) e Feijatildeo (em Mirandiba) (OBSERVATOacuteRIO QUILOMBOLA 2009)
119
indicadores estaacute a diminuiccedilatildeo da evasatildeo da populaccedilatildeo quilombola para centros urbanos
(BRASIL 2005 p 4) o que efetivamente natildeo vem se concretizando com o projeto da
transposiccedilatildeo
Outro fato que compromete a consecuccedilatildeo do indicador referido acima eacute a ameaccedila das
obras no territoacuterio com a construccedilatildeo do reservatoacuterio Tamboril que comprometeraacute
sobremaneira as condiccedilotildees de sobrevivecircncia das famiacutelias e consequentemente sua
permanecircncia na comunidade
O Decreto nordm 60402007 jaacute mencionado traz em seu artigo 3ordm paraacutegrafo I como um
dos objetivos especiacuteficos ldquogarantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o
acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural
e econocircmicardquo (BRASIL 2007)
A Comunidade de ContendasTamboril conta com uma Associaccedilatildeo dos Produtores
Rurais com sede na aacuterea Contendas e eacute vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas de Pernambuco (ACQEP) jaacute referida anteriormente
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que quase a totalidade dos entrevistados (933) participava da associaccedilatildeo de
moradores enquanto que 67 disse participar de outra organizaccedilatildeo natildeo governamental
Quanto aos eventos com envolvimento da comunidade a opiniatildeo foi de que os de caraacuteter
religioso social e cultural tem igualmente a participaccedilatildeo de 286 da comunidade (Graacutefico
14)
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas doze opccedilotildees de divertimento Mas a bebida apareceu com maior
percentual (226) seguido da opccedilatildeo danccedilar forroacute (17) Jogar futebol e ouvir muacutesica
aparecem com 132 respectivamente
120
Para as mulheres foram apontadas oito formas de lazer Assistir televisatildeo (286) e
danccedilar forroacute (238) apareceram como as primeiras opccedilotildees Chama nossa atenccedilatildeo que danccedilar
o cocircco apareceu como penuacuteltima opccedilatildeo de divertimento para homens e mulheres parecendo
estar ldquoenfraquecidardquo essa danccedila tradicional que tem forte influecircncia indiacutegena e africana
O lazer para crianccedilas aparece de forma curiosa com o mesmo percentual para estudar
e brincar 226 respectivamente seguido de jogar futebol e correr com 13 cada (Graacutefico
15)
Na aacuterea Contendas haacute um campo de futebol o cruzeiro onde se encontra o terreno de
Zeacute Simiatildeo referecircncia histoacuterica na formaccedilatildeo do quilombo (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 25)
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A forma de veiculaccedilatildeo das notiacutecias se daacute principalmente por meio de raacutedio (295)
seguido de telefone com 27 2 conforme respostas dos entrevistados
O meio de transporte mais utilizado pela comunidade segundo os questionaacuterios eacute o
carro (27) a maior parte das vezes alugado por moradores e a moto (194) que teve seu
121
uso incrementado como meio de locomoccedilatildeo Poreacutem o uso de carroccedila e animal juntos
representam 238 das formas de deslocamento (Graacutefico 16)
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
O abastecimento drsquoaacutegua na comunidade eacute feito exclusivamente pela rede puacuteblica
segundo 100 das respostas A comunidade eacute abastecida atraveacutes da adutora que abastece a
cidade de Serrita cuja origem da aacutegua eacute do Rio Satildeo Francisco Quanto ao tratamento clorar e
coar aparecem com 46 das respostas respectivamente O cloro eacute entregue pelo agente de
sauacutede (Graacutefico 17)
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber -
Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
A situaccedilatildeo de aacutegua na comunidade eacute narrada pelos entrevistados
[] laacute tem aacutegua encanada e laacute natildeo eacute aacutegua tratada do jeito que vem no cano chega
no pote das pessoas [] Eacute que eacute da Compesa e natildeo eacute tratada a aacutegua [] Tem sim
o agente de sauacutede tem a preocupaccedilatildeo de levar o cloro todo mecircs taacute levando embora
tenha pessoas na comunidade que natildeo use mas tem laacute o agente de sauacutede faz a sua
parte (Lideranccedila 2)
122
Pelo Rio Satildeo Francisco [] Adutora do sertatildeo [] (Grupo Focal 2)
Haacute uma satisfaccedilatildeo em dizer que haacute aacutegua encanada e natildeo precisam de carro-pipa para
abastecimento mas como o tratamento eacute feito em casa pelos moradores haacute casos de diarreia
que podem ser consequecircncia do tratamento incorreto e irregular poreacutem eles atribuem ao
calor Lembram que haacute uma promessa feita pelo projeto da transposiccedilatildeo de fazer uma
estaccedilatildeo de tratamento em Umatildes
[] Chega [] Natildeo senhora [] Graccedilas agrave Deus natildeo Eacute adutora do sertatildeo trata em
casa [] CloroEacute o agente de sauacutede eacute quem traz aquele clorinho A gente bota em
casa [] ] Em relaccedilatildeo a acontecerem casos [] Eacute muito difiacutecil mas acontece []
Acontece porque com uma quentura dessa daqui a gente desunera junto [] Em
um ano jaacute teria que ter uma estaccedilatildeo de tratamento [] Era em um ano jaacute deveria ter
[] Tem muita distribuiccedilatildeo daqui pra laacute e ela natildeo eacute tratada teria que ser tratada em
Umatildes Tem um reservataacuterio laacute (Grupo Focal 2)
A promessa para melhorar o abastecimento de aacutegua fez parte de diagnoacutestico realizado
pelo projeto da transposiccedilatildeo na aacuterea mas ateacute o momento apenas obras do Proacute-Rural foram
feitas como a construccedilatildeo de um accedilude
Foi feito um levantamento disso e que iriam tomar uma decisatildeo pra tentar levar essa
aacutegua potaacutevel pra o povo Continua da mesma forma foi feito vaacuterias questotildees
hiacutedricas e tambeacutem na questatildeo que ia na eacutepoca os accediludes que ia ser construiacutedos
natildeo sei Teve um accedilude laacute que foi feito mas foi o Proacute-Rural neacute que foi feito com a
ajuda do Proacute-Rural [] (Lideranccedila 2)
Quanto agraves obras do projeto da transposiccedilatildeo haacute uma compreensatildeo de que sendo
construiacutedo no leito dos coacuterregos isso impediraacute que chegue aacutegua nos riachos onde a
populaccedilatildeo planta comprometendo assim a agricultura familiar Em siacutentese os coacuterregos de
onde flui aacutegua para os riachos estatildeo sendo desviados para as bacias o que potildee em risco a vida
dos riachos ameaccedilados de secar
[] Como eacute que eles estatildeo fazendo Tatildeo tirando [] Natildeo vai chegar aacutegua no riacho
mais de jeito nenhum [] Aiacute nos coacuterregos maiores estatildeo sendo feitas as bacias aiacute
dessa forma natildeo vai mais chegar aacutegua no riacho E o pessoal planta na beira dos
riachos [] Pelo contraacuterio vai eacute secar mesmo Secar porque natildeo vai chegar
quando natildeo tinha parede no meio a aacutegua descia [] Porque o canal taacute passando Aiacute
passa o canal e ainda tem os coacuterregos que corre para o riacho e que vai correr pra
dentro das bacias e do canal ai ela natildeo vai passar pra esse lado aqui Eacute como se
fechasse as veias (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo ao lixo os dados do questionaacuterio mostram que a praacutetica comum eacute queimar
com 86 das respostas ou jogar ao relento ou enterrar para 7 respectivamente (Graacutefico
18)
123
O serviccedilo de coleta de lixo natildeo eacute feito pelo municiacutepio na comunidade e mesmo
sabendo que natildeo eacute uma praacutetica saudaacutevel para sauacutede nem para o ambiente moradores satildeo
obrigados a manter essa conduta por falta de alternativa e de responsabilizaccedilatildeo do poder
puacuteblico
Natildeo tem Aqui natildeo tem coleta de lixo Praacute eu natildeo vecirc o lixo no terreiro eu queimo
diz pra natildeo queimar mas eu acho que eacute melhor queimar praacute laacute do que taacute
amontoando (Grupo Focal 2)
O diagnoacutestico feito pelo projeto da transposiccedilatildeo mencionado anteriormente tambeacutem
apontou a problemaacutetica dos resiacuteduos soacutelidos sem no entanto ter sido tomada nenhuma
providecircncia
[] na questatildeo do lixo foi levantado muita coisa foi levantava mas eu natildeo vi assim
outros avanccedilos [] (Lideranccedila 2)
O destino dos dejetos eacute feito por vaso com descarga (857) pelo sistema de
esgotamento sanitaacuterio e 143 por fossa seca (Graacutefico 18)
O Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - PBA 17 - afirmava
em 2005 que ldquoa comunidade foi beneficiada pelo Projeto Renascer com a construccedilatildeo de 25
unidades habitacionais e apenas estas possuiacuteam banheiro e destinaccedilatildeo para os esgotos (fossa
seacuteptica)rdquo (BRASIL 2005 p 21)
Atualmente com as obras realizadas pela Funasa-MS fruto de parceria com o projeto
da transposiccedilatildeo foram construiacutedas mais oito casas de alvenaria em substituiccedilatildeo as de taipa
que possuem banheiro e destino final dos dejetos Essa accedilatildeo contida no PBA 17 seraacute tratada
no capiacutetulo 8 desta dissertaccedilatildeo
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos ndash Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
124
Os animais criados na Comunidade de ContendasTamboril eram principalmente
galinha (23) Animais domeacutesticos como gato e cachorro somam 21 assim como o bode e
o porco tambeacutem com 21 importante na atividade pecuaacuteria A predominacircncia eacute de que satildeo
criados soltos (58) ou em cercados (315) (Graacutefico 19)
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Poreacutem com o projeto da transposiccedilatildeo se construiacutedo o ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo
haveraacute transtornos que iratildeo atingir diretamente a criaccedilatildeo de animais e a atividade pecuaacuteria de
subsistecircncia das famiacutelias quilombolas
[] Meu problema eacute com o criar com o criatoacuterio e da minha comunidade que vai se
acabar depois da Transposiccedilatildeo passar dentro da propriedade [] Ai quando rachar
no meio natildeo pode o bicho passar [] Quando tirar a terra do canal noacutes vamos ter
que cada um criar uma porca porque eacute presa porque bode noacutes natildeo pode mais criar
nem bode nem ovelha [] E nem gados [] Natildeo tem pastos (Grupo Focal 2)
Como problemas mais gerais existentes na Comunidade e ressaltando questotildees jaacute
mencionadas anteriormente foram elencados seis problemas sendo a falta de assistecircncia agrave
sauacutede a principal demanda a ser resolvida na comunidade (50) (Graacutefico 20)
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
125
Outro aspecto atribuiacutedo ao projeto da transposiccedilatildeo cujo impacto eacute negativo refere-se
ao aumento de acidentes de tracircnsito nas estradas provocado pelo crescimento de fluxo
principalmente de motocicletas
A questatildeo da violecircncia a questatildeo de acidentes os acidentes de tracircnsito Na minha
comunidade mesmo esse ano jaacute teve vaacuterias perdas Com a firma o pessoal laacute tem
que comprar a sua motinha a primeira coisa que vecirc eacute moto e aiacute o tracircnsito aumenta
a questatildeo do poder aquisitivo tambeacutem aumenta e aiacute as pessoas tem a gente tem
perdido alguns (Lideranccedila 2)
Em ContendasTamboril com base nas narrativas vaacuterias satildeo as promessas feitas pelo
projeto da transposiccedilatildeo identificadas pelo MI e que natildeo saiacuteram do papel
E aiacute assim ficou ainda tem muita coisa que foi feito levantamento que a gente no
diagnoacutestico que a gente via onde foi feito o diagnoacutestico com a comunidade
(Lideranccedila 2)
Relacionamos pontos que tiveram maior realce e podem subsidiar avaliaccedilotildees e
reivindicaccedilotildees poliacuteticas pela comunidade
a) Questatildeo hiacutedrica Construccedilatildeo de accedilude e de reservatoacuterio para tratamento
b) Funcionamento da escola na comunidade
c) Melhoria do transporte escolar
d) Destino adequado do lixo
e) Esclarecimentos e negociaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves obras do Reservatoacuterio Tamboril
f) Questatildeo fundiaacuteria - agilizaccedilatildeo de procedimentos para regularizar o territoacuterio
g) Assistecircncia agrave sauacutede
h) Acesso ao trabalho nas empresas contratadas pelo projeto
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS
Em Salgueiro o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute o mais antigo e o primeiro a
ser certificado no Estado Localizado no II Distrito do municiacutepio de Salgueiro Conceiccedilatildeo das
Crioulas fica a 42 km da sede com percurso de 15 km de asfalto e 27 km de estrada de terra
Situa-se a 550 km de Recife Hoje com uma aacuterea de 16885 hectares o quilombo possui uma
populaccedilatildeo de aproximadamente 4000 habitantes 750 famiacutelias (AacuteGUAS 2013)
126
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo-C das Crioulas
Fonte A autora 2013
A figura 10 mostra um mapa elaborado pelos moradores com representaccedilatildeo dos
vaacuterios siacutetios e equipamentos sociais existentes vegetaccedilatildeo aacutereas de lazer e os limites do
territoacuterio
A figura 11 mostra a igreja Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo na Vila Sede marco da
histoacuteria e fundaccedilatildeo do quilombo
Em relaccedilatildeo agrave sua formaccedilatildeo o ldquoSertatildeo Quilombolardquo tem o registro de que
A histoacuteria da comunidade eacute contada a partir da luta de seis negras livres que
chegaram na regiatildeo Trabalhando fortemente no cultivo fiaccedilatildeo e venda do algodatildeo
conseguiram comprar trecircs leacuteguas em quadra das terras que arrendavam No dia 1ordm de
janeiro de 1802 as negras fundadoras da Comunidade receberam a escritura de
posse de suas terras concretizada em um cartoacuterio da localidade referenciada como
Torre com dezesseis selos feita por Joseacute Delgado A origem do nome do quilombo
estaacute associada agrave chegada de um homem chamado Francisco Joseacute que fugido da
guerra carregou consigo a imagem de nossa senhora da Conceiccedilatildeo Depois de girar
pelo sertatildeo achou abrigo nas terras das crioulas Laacute construiacuteram uma capela e
tornaram a santa padroeira do povoado desde entatildeo conhecido como Conceiccedilatildeo das
Crioulas Esta histoacuteria eacute contada nos mais diversos siacutetios ligando a identidade da
comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas agrave descendecircncia das suas fundadoras que
atraveacutes do trabalho tomaram a iniciativa de legitimar o terreno (CENTRO DE
CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21)
A ideia de que as mulheres negras natildeo chegaram ali na condiccedilatildeo de escravas eacute
unacircnime e a memoacuteria das crioulas eacute associada ao poder da autonomia e articulaccedilatildeo entre os
siacutetios que foi consolidando o sentido de unidade e a capacidade de organizaccedilatildeo poliacutetica Eacute em
Conceiccedilatildeo das Crioulas que fica a sede da Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas (AECQPE)
127
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas segundo documentos oficiais do projeto da
transposiccedilatildeo encontra-se na chamada aacuterea de influecircncia direta (AID) Localizado a cerca de
cinquenta quilocircmetros do canal a ser construiacutedo no trecho I do Eixo Norte a comunidade natildeo
sofreraacute diretamente impacto ambiental com as obras nem na fase de construccedilatildeo nem na fase
operacional do projeto (BRASIL 2005 p 2)
Apesar de natildeo ser atingido diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo a Comunidade de
Conceiccedilatildeo das Crioulas agrega um grande nuacutemero de atividades previstas pelo SubPrograma
de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas (PBA 17) descrito no capiacutetulo 8
A percepccedilatildeo geral do projeto expressa nas narrativas eacute recheada de esperanccedila mas
tambeacutem de criacuteticas ao projeto por natildeo beneficiar quem oficialmente aparece como puacuteblico
prioritaacuterio A esperanccedila eacute de ver resolvido o problema do abastecimento de aacutegua na aacuterea
criacutetico para a maior parte dos siacutetios que compotildee o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das Crioulas mas
tambeacutem que as demais accedilotildees prometidas sejam cumpridas Haacute uma expectativa que eacute aleacutem de
uma esperanccedila de que haja justiccedila social no projeto da transposiccedilatildeo beneficiando de fato
quem realmente precisa
[] Olha esperamos que uma vez concluiacutedo a populaccedilatildeo possa se beneficiar do
resultado final desse projeto que eacute a aacutegua no qual o pessoal tanto espera e os
projetos que estaacute paralelo a essa obra que satildeo os projetos de infra-estrutura de
estrada de eletrificaccedilatildeo e de geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo Eacute isso que se
espera neacute Que os pequenos que os pequenos produtores da agricultura familiar
possam se beneficiar disso tambeacutem neacute Natildeo soacute as grandes empresas natildeo soacute o
agronegoacutecio Que haja justiccedila social nessa obra Eacute o que eu espero (Lideranccedila 3)
[] mas em termo de aacutegua mesmo se houver a possibilidade de tambeacutem a aacutegua sair
dessa rede desse canal que vai atravessar Pernambuco eu acho que eacute muito
interessante porque noacutes estamos trabalhando dentro do municiacutepio porque noacutes
estamos tendo muita dificuldade aqui na questatildeo da aacutegua porque a aacutegua vem do
municiacutepio do Beleacutem do Satildeo Francisco [] (Grupo Focal 1)
Moradores fazem tambeacutem uma menccedilatildeo ao projeto como mais uma obra faraocircnica que
natildeo funcionaraacute comparando-a com a transnordestina que realiza obras em Salgueiro
Porque estaacute sendo mais uma piracircmide do Egito esse canal E que vai ficar aiacute que
nem essa estrada de ferro que a gente tinha ai antes e que na verdade natildeo funcionou
e que os trilhos estaacute ai Daqui ateacute Recife eles estatildeo fazendo outra por cima que a
gente natildeo sabe se vai funcionar tambeacutem [] Eacute a Transnordestina (Grupo Focal 1)
128
Em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees e debates sobre o projeto da transposiccedilatildeo a percepccedilatildeo eacute de
que ficaram restritos ao iniacutecio do projeto antes da fase de construccedilatildeo das obras O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo e o governo municipal natildeo incentivaram a organizaccedilatildeo de uma instacircncia
poliacutetica de controle social para acompanhamento do projeto em suas diversas etapas
Lideranccedila de Salgueiro se ressente de natildeo ter sido viabilizado esse canal apesar da certeza de
que eacute uma necessidade e um direito
De fato noacutes fomos noacutes tivemos num primeiro momento algumas informaccedilotildees de
alguma discussatildeo sobre a construccedilatildeo das bacias de transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco isso se deu num primeiro momento assim quando os projeto tavam vindo
pro municiacutepio neacute Mas no momento a gente natildeo teve o governo natildeo manteve uma
poliacutetica de acompanhamento durante as obras neacute [] (Lideranccedila 3)
Houve a proposta de se constituir um Comitecirc Gestor que natildeo foi adiante mas visto
como importante retomar a ideia pela necessidade de haver um monitoramento de
funcionamento do projeto e de respostas eficazes agraves demandas das populaccedilotildees sejam
quilombolas indiacutegenas ou assentados
No municiacutepio no princiacutepio da obra da discussatildeo das obras noacutes ateacute ainda
comeccedilamos a discutir a proposta do comitecirc de controle dessas obras aqui porque
acreditamos que a populaccedilatildeo tem que participar disso Tanto para esse controle
social do serviccedilo como o uso como puder interferir puder sugerir E noacutes
comeccedilamos nessa discussatildeo sentamos na perspectiva de chamar as igrejas chamar
os sindicatos chamar os conselhos chamar a sociedade [] E uma das discussatildeo era
criar esse Comitecirc de Gestatildeo neacute que com certeza ele viraacute porque quando a obra
tiver funcionando algueacutem vai ter que fazer a gestatildeo dela neacute Monitorar
acompanhar neacute E eu acredito que se natildeo foi naquele momento a gente vai precisar
numa hora criar um oacutergatildeo [] O MI esteve convidado a estar nesse momento mas
ele natildeo fez tanta forccedila assim praacute gente criar esse oacutergatildeo poliacutetico de gestatildeo (Lideranccedila
3)
Nesse aspecto o municiacutepio tem uma limitaccedilatildeo de acompanhamento embora a gente
tenha uma diretoria de gestatildeo ambiental mas falta essa questatildeo a gente observa o
proacuteprio Estado tem essa dificuldade de estar fazendo um acompanhamento mais de
perto [] Com o ministeacuterio a gente vem tentando porque tem uma relaccedilatildeo que eacute
antes da obra e durante Antes a gente jaacute avaliava toda essa questatildeo de impacto Foi
feito todo o estudo de impacto ambiental e a gente jaacute tinha um pouco isso Entatildeo
algumas coisas em tese jaacute estariam preacute-agendadas [] Entatildeo eu diria que hoje o
acompanhamento ambiental relativo agrave obra ele ainda apresenta algumas
deficiecircncias Agraves vezes chega denuacutencia de uma comunidade e de outras a gente tenta
acionar mas a gente mesmo natildeo tem o controle disso no acompanhamento para ter
dados mais concretos mas tem a visatildeo tem a fala das comunidades que nem
sempre isso tem sido assegurado (Gestora 1)
As informaccedilotildees sobre o projeto chegam de forma fragmentada dificultando a
compreensatildeo do todo a mobilizaccedilatildeo e reivindicaccedilatildeo em torno das principais demandas para
populaccedilatildeo
129
[] Pelo que a gente pela informaccedilatildeo Talvez a gente esteja alheio porque as accedilotildees
do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo elas vatildeo chegando assim tem projeto tal ai pronto
Mas o projeto como um todo pra gente perceber o que a gente pode buscar laacute o que
a gente pode requisitar e que pode ser desenvolvido aqui a gente natildeo tem esse
domiacutenio (Grupo Focal 1)
A fala de representante do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo afirma que haacute uma interlocuccedilatildeo
formal com entidade governamental federal que atua junto aos quilombolas mas sem
nenhuma articulaccedilatildeo com organizaccedilotildees natildeo governamentais com as Associaccedilotildees que
representem o povo quilombola na aacuterea do projeto
Na verdade com relaccedilatildeo a quilombolas a gente tem muito mais com a Fundaccedilatildeo
Palmares Entatildeo assim esse ano natildeo veio houve algumas mudanccedilas na Fundaccedilatildeo
mas ela estaacute sendo convocada Com relaccedilatildeo inclusive ao acompanhamento das
accedilotildees ela tambeacutem acompanha propotildee tambeacutem algumas coisas mas eacute mais com a
Fundaccedilatildeo Palmares do que qualquer outra ONG (Gestora 10)
Quanto agrave gestatildeo da aacutegua o RIMA afirma que o Cearaacute Rio Grande do Norte e Paraiacuteba
jaacute contavam com oacutergatildeos gestores de recursos hiacutedricos tendo o Cearaacute como referecircncia na
administraccedilatildeo deste recurso
O Estado do Cearaacute eacute atualmente uma referecircncia na administraccedilatildeo de aacutegua Sua
poliacutetica de recursos hiacutedricos eacute gerida pela Companhia de Gestatildeo dos Recursos
Hiacutedricos (COGERH) que coordena 123 accediludes puacuteblicos estaduais e federais aleacutem
de canais e adutoras [] Os Estados da Paraiacuteba e do Rio Grande do Norte tambeacutem jaacute
criaram seus oacutergatildeos gestores dos recursos hiacutedricos preparando a regiatildeo para o uso
mais eficiente da aacutegua (BRASIL 2005 p 11)
Apesar da existecircncia desde 2001 do Comitecirc de Bacia Hidrograacutefica do Satildeo Francisco
(CBHSF) que trazia em sua constituiccedilatildeo uma composiccedilatildeo ldquodiversificada e democraacuteticardquo com
representantes de vaacuterios segmentos da sociedade civil natildeo havia representaccedilatildeo de
comunidades quilombolas Foi apenas em 2006 com uma alteraccedilatildeo regimental que se deu a
ampliaccedilatildeo da representaccedilatildeo dos povos indiacutegenas e a incorporaccedilatildeo de comunidades
quilombolas entre os membros titulares do comitecirc (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA
DO SAtildeO FRANCISCO 2014) Com base na Lei nordm 12984 de 30 de dezembro de 2005 que
instituiu a Poliacutetica Estadual de Recursos Hiacutedricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hiacutedricos de Pernambuco - SIGRHPE foi incluiacuteda a representaccedilatildeo destas
populaccedilotildees na composiccedilatildeo dos Comitecircs de Bacia Hidrograacutefica (COBHs) (Artigo 46
subseccedilatildeo II)
Paraacutegrafo 1ordm Nos COBHs de bacias cujos territoacuterios abranjam terras indiacutegenas e de
remanescentes de quilombos devem ser incluiacutedos representantes
130
I - dos oacutergatildeos gestores nacionais das comunidades indiacutegenas e de quilombolas
como parte da representaccedilatildeo da Uniatildeo II- das comunidades indiacutegenas ali residentes
e III- das comunidades de remanescentes de quilombos ali residentes
(PERNAMBUCO 2005)
Apesar das estruturas legais em torno da questatildeo hiacutedrica e do Comitecirc da Bacia do Rio
Satildeo Francisco mencionar a representaccedilatildeo quilombola natildeo identificamos pelos relatos dos
sujeitos sua representaccedilatildeo formal em nenhuma das instacircncias que discutem e acompanham a
questatildeo hiacutedrica no Estado
Na atual gestatildeo do CBHSF eleita em junho de 2013 em niacutevel nacional (Gestatildeo 2013-
2016) haacute representaccedilatildeo quilombola de um conselheiro titular e outro suplente das
Associaccedilotildees quilombola de Lagoa das Piranhas em Bom Jesus da Lapa e da Associaccedilatildeo
quilombola Santo Inaacutecio no municiacutepio de Ibiassucecirc ambas do estado da Bahia Ressaltamos
que o Comitecirc com 62 membros titulares tem uma representaccedilatildeo de apenas 33 das
comunidades tradicionais (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA DO SAtildeO FRANCISCO
2014)
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO QUESTIONAacuteRIO
CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas foram aplicados 78 questionaacuterios CAP representando
95 das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo Os dados apresentados satildeo a consolidaccedilatildeo dos questionaacuterios aplicados nas aacutereas
Siacutetios Siacutetio Paus Branco Rodeador Queimadas Paula Boqueiratildeo Riacho do Juazeiro Sede
Vila Uniatildeo Lagoinha Barrinha Chapada Mulungu e Garrote Morto o que representa 70
das aacutereas que constituem o territoacuterio quilombola
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 331
pessoas sendo 176 homens e 155 mulheres (meacutedia de quatro pessoas por famiacutelia) Essas
famiacutelias eram constituiacutedas mais por homens do que por mulheres (532 para 468) e
tambeacutem apresentaram niacutevel de escolaridade maior entre os homens com 53 tendo alguma
escolaridade em relaccedilatildeo a 47 das mulheres Curiosamente em relaccedilatildeo agraves pessoas sem
escolaridade os homens tambeacutem apresentam uma quantidade maior de analfabetos com
534 para 466 de mulheres Eacute um contingente expressivo de pessoas nesse universo sem
acesso agrave escolarizaccedilatildeo apesar de haver escolas funcionando na comunidade e o programa de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
131
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo 58 dos homens cursaram o
ensino fundamental contra 42 das mulheres Quanto ao ensino meacutedio as mulheres
aparecem com um percentual bem acima dos homens tendo 617 delas concluiacutedo o ensino
meacutedio enquanto apenas 383 dos homens tiveram essa oportunidade Em relaccedilatildeo ao ensino
superior apenas duas mulheres tiveram acesso (08) (Graacutefico 21)
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Na Vila Sede de Conceiccedilatildeo das Crioulas funcionam duas escolas municipais a Escola
Joseacute Neacuteu e a Escola Professor Joseacute Mendes (SALGUEIRO 2013) Possui tambeacutem mais seis
escolas espalhadas no territoacuterio com o ensino fundamental e educaccedilatildeo infantil Os
documentos oficiais do projeto da transposiccedilatildeo registram que as escolas que estatildeo em outros
siacutetios que natildeo as da Vila Centro atendem os indiacutegenas Atikum que haacute demanda por uma
escola teacutecnica para avanccedilar no processo de educaccedilatildeo diferenciada aleacutem da necessidade de
equipar a escola com um laboratoacuterio de informaacutetica Na eacutepoca estava sendo iniciado o
Programa Tele-sala (BRASIL 2005 p 19)
Em seu artigo sobre o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas Aacuteguas (2013) enaltece
aspectos importantes na construccedilatildeo de uma educaccedilatildeo diferenciada no territoacuterio
Aleacutem da sua lideranccedila na atuaccedilatildeo poliacutetica Conceiccedilatildeo das Crioulas destaca-se
tambeacutem pela formulaccedilatildeo de um projeto de educaccedilatildeo diferenciada e pelo trabalho
132
inovador com o artesanato Quanto agrave primeira iniciativa trabalha com uma
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo em que os valores a cultura os costumes as tradiccedilotildees a
sabedoria das pessoas mais velhas e a histoacuteria dos antepassados fazem parte do
processo histoacuterico da comunidade (AQCC 2008) A experiecircncia eacute considerada uma
referecircncia para o movimento quilombola brasileiro e para outras organizaccedilotildees que
atuam na aacuterea da educaccedilatildeo (AacuteGUAS 2013 p 6)
Dentre os equipamentos sociais relacionados agrave educaccedilatildeo haacute na Vila Sede uma
biblioteca afro-indiacutegena a primeira do Brasil que expressa a marca da identidade dos povos
quilombola e indiacutegena que habitam o mesmo territoacuterio e lutam por uma educaccedilatildeo diferenciada
(Figura 12)
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Nos aspectos referentes ao estado de sauacutede os entrevistados alegaram que vaacuterios satildeo
os problemas de sauacutede que afetam a populaccedilatildeo aparecendo como os cinco mais frequentes a
gripe (218) hipertensatildeo arterial (186) dores de cabeccedila (11) febre (10) e doenccedila de
Chagas (82) representando quase 70 das situaccedilotildees
Questotildees de sauacutede que podem estar relacionadas ao deacuteficit de aacutegua e seu consumo
inadequado apareceram com pouca frequecircncia como casos de diarreia (43) dor abdominal
(1) vocircmito (07) e verminose (04)
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 62 das respostas a procura
pelo posto de sauacutede (342) e hospital (278) As formas mais tradicionais de tratamento
representam juntas 292 das alternativas adotadas pelas famiacutelias como o remeacutedio caseiro
(17) o rezador (64) o chaacute (53) e o raizeiro (05) (Graacutefico 22)
133
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Como segundo distrito de Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas conta com um posto de
sauacutede na Vila Sede com funcionamento do Programa de Sauacutede da Famiacutelia Em 2013 foi
iniciada uma reforma e ampliaccedilatildeo no preacutedio da Unidade de Sauacutede sob responsabilidade da
Secretaria Municipal de Sauacutede em convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo tendo nenhuma
relaccedilatildeo com o projeto da transposiccedilatildeo (Figura13)
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Representante da Secretaria de Sauacutede detalha a equipe que compotildee a Unidade de
Sauacutede da Famiacutelia e o apoio oferecido pelo municiacutepio para deslocamento dos profissionais que
natildeo satildeo moradores da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
09 ACS um enfermeiro um meacutedico 01 Dentista auxiliar de enfermagem a
recepccedilatildeo auxiliar de serviccedilos gerais e a pessoa da farmaacutecia Essa equipe tanto o
134
meacutedico enfermeiro dentista auxiliar de enfermagem eles se deslocam daqui de
Salgueiro para Conceiccedilatildeo todos os dias Entatildeo haacute um carro que eacute locado aqui na
Secretaria municipal de Salgueiro que transporta que leva essa equipe todos os dias
praacute Conceiccedilatildeo E a gente leva tambeacutem a gente paga as refeiccedilotildees desses profissionais
laacute Entatildeo eacute uma equipe muito boa uma equipe muito integrada [] E o avanccedilo que
teve desde o ano passado noacutes conseguimos a ampliaccedilatildeo e reforma da Unidade de
Sauacutede que jaacute estaacute em processo de licitaccedilatildeo [] Natildeo eacute diretamente com o Ministeacuterio
da Sauacutede Eacute parceria com o MS mas natildeo em relaccedilatildeo ao PISF E assim laacute eacute uma
aacuterea bastante extensa acho que vocecirc observou a gente tem ACS que daacute sede para
sua aacuterea eacute 30 km (Gestora 3)
Quanto as formas de sobrevivecircncia da comunidade os entrevistados apontaram uma
predominacircncia de pessoas vivendo com aposentadoria (393) seguida de pessoas que vivem
da agricultura (308) e do bolsa famiacutelia (205) o que representa 91 das fontes de renda
das famiacutelias As demais atividades somam 9 das alternativas de trabalho (Graacutefico 23)
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Os dados acima mostram a presenccedila da atividade agriacutecola poreacutem sem a forccedila de
outrora Ao chegaram ao local aonde hoje eacute o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das crioulas as
mulheres negras passaram a viver da agricultura baseada no plantio do algodatildeo De acordo
com informaccedilotildees da prefeitura municipal de Salgueiro
[] Ateacute 1987 o algodatildeo foi o sustentaacuteculo da economia quilombola mas com o
ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sinteacuteticos a populaccedilatildeo assistiu a sua
decadecircnciaHoje atraveacutes de uma agricultura de subsistecircncia seus habitantes
sobrevivem plantando milho feijatildeo mandioca jerimum e melancia (SALGUEIRO
2013)
A atividade de artesanato apesar de natildeo estar entre as respostas do questionaacuterio eacute
importante expressatildeo de identidade da comunidade e representa tambeacutem uma fonte de renda
Na Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira eacute onde se encontram os diversos artesanatos
produzidos para comercializaccedilatildeo (Figura 14)
135
No livro Sertatildeo Quilombola do CCLF haacute menccedilatildeo ao artesanato como uma atividade
reconhecidamente forte e que atraveacutes dele a comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas consegue
transformar trabalho em renda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 22)
Quanto ao artesanato uma atividade que sempre existiu em Conceiccedilatildeo das Crioulas
ganhou novo impulso como alternativa econocircmica diante da crise do algodatildeo dos
anos 1980 A partir de 2001 o projeto Imaginaacuterio Pernambucano na Comunidade
foi viabilizado atraveacutes de uma parceria entre a AQCC a Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) Mais de trinta produtos foram desenvolvidos atraveacutes de oficinas de gestatildeo
de qualidade e de consultorias de design ndash tais como as populares bonecas de fibra
de caroaacute (AgraveGUAS 2013 p 6 grifo do autor)
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira -
C Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute -
C Crioulas
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire- Sertatildeo
Quilombola (2008 p 22)
A inserccedilatildeo em grupos na comunidade pelas respostas do questionaacuterio mostra o
expressivo envolvimento dos moradores com a Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das
Crioulas (674) seguida da participaccedilatildeo com o sindicato (109) e com a associaccedilatildeo
indiacutegena Atikum (87) (Graacutefico 24)
Os eventos que envolvem a participaccedilatildeo das famiacutelias segundo respostas obtidas
apontam os de cunho religioso (392) e social (298) como de maior frequecircncia seguido
dos eventos culturais (138)
136
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
A Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) (Figura 16) fundada
em 2000 desenvolve vaacuterios trabalhos e estabelece parcerias diversas Tem como objetivos o
desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua histoacuteria a
valorizaccedilatildeo das suas potencialidades a conscientizaccedilatildeo do povo negro da sua importacircncia
para construccedilatildeo de uma sociedade justa e igualitaacuteria a quebra da barreira do preconceito e
discriminaccedilatildeo racial A AQCC eacute formada por 10 associaccedilotildees de produtores e trabalhadores
rurais provenientes dos diversos siacutetios que compotildee o povoado (SALGUEIRO 2004)
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas
Fonte A autora 2013
Em ldquoSertatildeo Quilombolardquo um pouco mais sobre a Associaccedilatildeo e seus projetos
[] a AQCC - Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas desenvolve
vaacuterios trabalhos ligados a territorialidade geraccedilatildeo de renda educaccedilatildeo e juventude
Entre eles estaacute o Crioulas Viacutedeo produtora de viacutedeos formada pela juventude
quilombola da comunidade [] Dentre as comunidades quilombolas de
137
Pernambuco Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute pioneira na organizaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo e
articulaccedilatildeo das lutas quilombolas tornando-se uma referecircncia tanto no acircmbito
regional como nacional (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21-23)
Relato de uma gestora confirma a dinacircmica da organizaccedilatildeo da comunidade e sua
incessante luta e articulaccedilatildeo poliacutetica
[] os ACS tambeacutem satildeo muito politizados e a comunidade tambeacutem [] Eles sabem
dos seus direitos dos seus deveres tambeacutem e sempre estatildeo reivindicando suas
melhorias [] eacute um a comunidade bastante politizada que reivindica seus direitos
que sabe quais satildeo seus direitos como e tambeacutem seus deveres e que sempre que a
gente solicita alguma reuniatildeo alguma coisa que a gente precise da comunidade eles
estatildeo ali junto Entatildeo se vocecirc quer marcar uma reuniatildeo em Conceiccedilatildeo de algum
tema eles jaacute se articulam rapidamente Haacute vaacuterias associaccedilotildees tambeacutem em
Conceiccedilatildeo das Crioulas e a gente consegue quando quer marcar alguma coisa a
gente consegue rapidamente se articular com eles e mobilizar fazer uma
mobilizaccedilatildeo Entatildeo eacute uma comunidade bastante unida que realmente sabe o que quer
[] (Gestora 3)
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas vinte e trecircs opccedilotildees de divertimento As quatro primeiras opccedilotildees
somam 593 sendo jogar bola a atividade de lazer preferida (203) seguida da bebida
com 14 da danccedila (133) e da televisatildeo com 117
Para as mulheres foram apontadas vinte e seis formas de lazer As quatro primeiras
opccedilotildees que somam 597 mostram que assistir televisatildeo vem como primeiro divertimento
(29) seguido de danccedilar forroacute com 13 ouvir raacutedio com 95 e jogar futebol com 82
(Graacutefico 25a)
O lazer para crianccedilas aparece com dezesseis opccedilotildees mas as quatro primeiras
representam 78 das frequecircncias sendo brincar no terreiro (21) estudar (204) jogar
futebol (197) e assistir televisatildeo (17) as com maior envolvimento das crianccedilas Brincar
no terreiro e estudar tecircm quase o mesmo percentual (Graacutefico 25b)
Como espaccedilos coletivos promotores de lazer haacute na comunidade na Vila Sede o
campo de futebol a quadra poliesportiva e a praccedila
138
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
Graacutefico 25b - Formas de diversatildeo para crianccedilas - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Os canais de comunicaccedilatildeo apontados pelo questionaacuterio indicam que as notiacutecias satildeo
veiculadas principalmente pelo raacutedio (365) de pessoa a pessoa (34) e por telefone (20)
Quanto aos meios de transporte mais usados pelas famiacutelias quase 80 estatildeo
distribuiacutedos entre o carro (28) moto (227) bicicleta (166) e cavalo (118) (Graacutefico
26)
139
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
O acesso agrave Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo eacute faacutecil como descreve Aacuteguas (2013 grifo
nosso)
[] Depois de um trajeto de 514 km entre Recife e Salgueiro satildeo mais 15 km pela
BR-116 que conduzem a uma estrada de terra que ndash laquoentre faveleiras caroaacutes
quixabeiras marmeleiros juaacutes mandacarus e macambirasraquo como descreve
Calheiros (2009 43) - sacudiraacute o viajante por mais 25 km ateacute a Vila Centro o
principal povoado do quilombo
Mas providecircncias jaacute vem sendo tomadas pela AQCC junto aos governos estadual e
federal para melhora da estrada de acesso agrave comunidade
Vocecirc falou aiacute da acessibilidade mas na questatildeo da acessibilidade em julho noacutes
fizemos um manifesto Desse manifesto o proacuteprio governo se comprometeu disse
que natildeo tinha condiccedilotildees de bancar o projeto todo mas ia ser o nosso parceiro que
atraveacutes de conhecimento dele em Brasiacutelia junto com a gente ele ia correr atraacutes
Esperamos isso ele dava o resultado ateacute o comeccedilo de abril (Grupo Focal 1)
O acesso agrave aacutegua na comunidade segundo as respostas do CAP indica que as
principais fontes satildeo a cisterna (40) aacutegua de accedilude (25) e poccedilo (10) representando 75
das maneiras de abastecimento O tratamento da aacutegua para consumo humano eacute 583 clorada
seguida de 378 coada seguida de 4 sem tratamento algum (Graacutefico 27)
140
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
As narrativas mostram que a situaccedilatildeo de abastecimento de aacutegua eacute precaacuterio mesmo em
aacuterea onde haacute encanamento e o fornecimento de aacutegua eacute pela Compesa no caso da Vila Sede
como tambeacutem nos demais siacutetios
Pela Compesa eacute Natildeo noacutes temos encanamento soacute [] [] Eacute muito difiacutecil chegar
aacutegua aqui noacutes tem sofrido [] Quando chega uma aguinha e agraves vezes com o carro -
pipa que tambeacutem natildeo daacute para atender a todo mundo sempre fica aquela diferenccedila
Chega numa parte da rua a outra fica tudo seca com os baldes na calccedilada laacute sem
aacutegua [] E aiacute passa em umas aacutereas meio estranhas e ai [] entenderam que
tambeacutem jaacute furaram a proacutepria rede da adutora que vem pra caacute com autorizaccedilatildeo da
Compesa e isso pra noacutes tem sido muito difiacutecil porque aqui agraves vezes vem uma
aguinha a cada quinze dias vinte dias agraves vezes tira o mecircs sem nem vim mas a
conta todo mecircs taacute ali taxa miacutenima que vocecirc use ou natildeo tem que pagar (Grupo
Focal 1)
Natildeo em relaccedilatildeo ao Projeto laacute natildeo passa o canal A aacutegua de laacute ela vem de Beleacutem de
Satildeo Francisco tem uma encanaccedilatildeo que tem uma caixa drsquoaacutegua e a distribuiccedilatildeo na
Vila eacute pelo Beleacutem de Satildeo Francisco E em relaccedilatildeo a aacuterea noacutes estamos falando da
Vila em relaccedilatildeo ao restante da aacuterea eacute abastecida com carro pipa [] Isso porque
nos soacute temos aacutegua que vem de Beleacutem de S Francisco praacute Vila praacute sede (Gestora 3)
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas - PBA 17- traz em sua descriccedilatildeo
da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas que
A comunidade vem lutando por uma adutora que viria de Beleacutem do Satildeo Francisco -
faltam18 km para chegar aleacutem da construccedilatildeo de uma ETA em Beleacutem do Satildeo
Francisco para a 2ordf fase que estaacute em processo de licitaccedilatildeo (FUNASA) Registrou-se
a existecircncia de algumas cisternas (BRASIL 2005 p 20)
E eacute uma luta que continua no momento atual sem obter ecircxitos concretos
[] E eacute isso que tambeacutem noacutes tivemos em Recife essa semana correndo atraacutes de
reunir laacute e noacutes tivemos a oportunidade de falar com a Secretaria de Recursos
Hiacutedricos laacute e eles anotaram umas coisas (Grupo Focal 1)
141
A situaccedilatildeo se agrava quando refere-se ao tratamento para consumo humano pelo
abastecimento feito das cisternas com carros-pipa
Isso tem cisternas poreacutem essa aacutegua vem do carro pipa Que antigamente ateacute uns uns
2 meses atraacutes essa aacutegua vinha aqui da compesa o carro pipa pegava aqui na
Compesa soacute que tem uns 2 meses mais ou menos que essa aacutegua ela eacute pega
diretamente no Iboacute E a gente conversando em reuniatildeo com a vigilacircncia essa aacutegua
estaacute sendo pega bruta sem tratamento E a recomendaccedilatildeo que se tem eacute que coloque
as pastilhas Soacute que o pipeiro fala que se colocar as pastilhas na hora que pega a
aacutegua as pastilhas corroacutei o pipa Aiacute tem essa dificuldade que eles natildeo querem
colocar porque corroacutei aquele material como eacute o metal neacute E eles estatildeo segundo
algumas informaccedilotildees colocando diretamente na Cisterna (Gestora 3)
O destino do lixo na aacuterea pelos dados do questionaacuterio mostra que jogar ao relento
(56) e queimar (398) satildeo as praacuteticas mais comuns a exemplo do que apareceu nos dados
das comunidades de Santana e ContendasTamboril Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apenas 16
do lixo eacute coletado (Graacutefico 28)
No entanto o que eacute descrito em documento do projeto da transposiccedilatildeo eacute de que existe
coleta de lixo semanal na comunidade poreacutem que a praacutetica de queimar permanece sendo
feita em uma aacuterea dentro do territoacuterio Natildeo fica claro se haacute coleta em todos os vinte e um
siacutetios e pela dimensatildeo da aacuterea uma coleta semanal eacute pouco haja visto o nuacutemero de famiacutelias
e produccedilatildeo de lixo e a distacircncia entre os siacutetios
O municiacutepio de Salgueiro estaacute projetando um aterro sanitaacuterio que possivelmente no
futuro iraacute receber o lixo da comunidade Registrou-se a existecircncia de uma campanha
AQCCescolas para coleta seletiva (BRASIL 2005 p 20)
Os dejetos estatildeo sendo lanccedilados em 90 das respostas no mato com apenas 10
sendo em vaso com descarga (Graacutefico 28)
Documento do projeto da transposiccedilatildeo afirma
Natildeo existem banheiros na comunidade Projeto do Estado conveniou a construccedilatildeo de
30 banheiros mas ainda natildeo saiu do papel Atualmente os lanccedilamentos de esgoto
das casas da Vila vatildeo para o accedilude de onde vem a aacutegua para consumo (BRASIL
2005 p 20)
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
142
A praacutetica de criaccedilatildeo de animais eacute presente na aacuterea poreacutem pelas respostas com
predominacircncia para a criaccedilatildeo de galinhas e cachorro com 21 respectivamente seguido de
gato (158) Outros animais da pecuaacuteria como porco (15) bode (98) e gado (6) satildeo
criados com menor frequecircncia Os animais satildeo criados soltos (77) (Graacutefico 29)
Informaccedilotildees da Prefeitura Municipal de Salgueiro indicavam a existecircncia de pequenos
criatoacuterios de ovinos caprinos bovinos e suiacutenos na comunidade (SALGUEIRO 2014)
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Como descriccedilatildeo mais detalhada da aacuterea central de Conceiccedilatildeo das Crioulas a Vila
Centro Aacuteguas (2013 p 3) relata
A Vila Centro eacute um simpaacutetico aglomerado de casas cercado pela vegetaccedilatildeo da
caatinga e pelo recorte das serras20
No seu nuacutecleo estaacute a pequena capela azul e
branca a praccedila e um pequeno comeacutercio Tambeacutem no povoado se concentram as
principais estruturas da comunidade a sede da AQCC a biblioteca Afroindiacutegena (a
primeira do Brasil) o posto de sauacutede a quadra poliesportiva o campo de futebol a
Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira as escolas de ensino fundamental e meacutedio o
banco de sementes o mercado puacuteblico e a lavanderia comunitaacuteria dentre outros
espaccedilos coletivos
A figura 17 mostra o mercado puacuteblico localizado na Vila Centro de Conceiccedilatildeo das
Crioulas
20
O quilombo eacute delimitado pela Serra das Princesas por Jatobaacute pelo territoacuterio indiacutegena Atikum pela Serra
Redonda e pela Serra do Urubu (CALHEIROS 2009 apud AacuteGUAS 2013)
143
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Os questionaacuterios tambeacutem apontaram problemas gerais da comunidade de Conceiccedilatildeo
das Crioulas que agrupamos por ordem de prioridade segundo frequecircncia das respostas
a) estatildeo hiacutedrica Falta de aacutegua falta de Cisterna
b) Dificuldade financeira
c) SauacutedeFalta de assistecircncia falta de ambulacircncia e casos de doenccedila de Chagas
d) Precaacuterio sistema de comunicaccedilatildeo
e) Dificuldade de transporte
f) Educaccedilatildeo Falta de escola
g) Questatildeo social e poliacutetica Falta de apoio para trabalho comunitaacuterio
h) Moradia Falta de moradia existecircncia de casas de taipa
i) Situaccedilotildees de violecircncia
Pelos dados apresentados com o questionaacuterio CAP e a narrativa dos sujeitos as
principais caracteriacutesticas das aacutereas do estudo apontam que os problemas das trecircs
comunidades quilombolas se datildeo em torno de questotildees de saneamento ambiental
(abastecimento de aacutegua tratamento para consumo humano destino de lixo e dejetos) do
acesso aos serviccedilos de sauacutede e educaccedilatildeo de dificuldades financeiras por falta de condiccedilotildees
de trabalho em suas comunidades e regiatildeo e dificuldades de deslocamento e de transporte
144
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Ao realizar o estudo com populaccedilotildees quilombolas afetadas por um grande
empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco encontramos na
definiccedilatildeo e condiccedilatildeo de vulnerados construiacuteda por Schramm (2012) uma relaccedilatildeo estreita
com as diversas situaccedilotildees as quais estatildeo submetidas estas populaccedilotildees
A distinccedilatildeo feita pelo autor sobre vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo traz a possibilidade de
vislumbrar quais situaccedilotildees provocadas pelas accedilotildees do projeto satildeo de maior contundecircncia na
vida das populaccedilotildees e dos seus territoacuterios
Trazer aspectos de vulneraccedilatildeo nos aproxima dos impactos provocados com as obras do
projeto da transposiccedilatildeo principalmente quando nos debruccedilamos sobre as narrativas feitas
pelos sujeitos do estudo
No capiacutetulo 5 fizemos reflexotildees sobre os impactos do projeto que segundo o RIMA
satildeo definidos como ldquopotenciais alteraccedilotildees provocadas no meio ambienterdquo o que nos faria
pensar numa condiccedilatildeo de vulnerabilidade pela potencialidade do que ainda poderia acontecer
(SCHRAMM 2012) Poreacutem transcorridos sete anos da implementaccedilatildeo do projeto haacute um
quadro social e ambiental que mostra o que de fato jaacute aconteceu nas aacutereas quilombolas com
situaccedilotildees que aparecem como marcas indeleacuteveis de uma condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo
Relatos de que a vida jaacute foi melhor que haacute muitas mazelas que haacute pessoas tristes
deixam claro os niacuteveis de vulneraccedilatildeo a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo natildeo apenas a
quilombola mas indiacutegena e da zona rural
[] E se eles natildeo tiver um recursinho pensando em noacutes de onde eacute que noacutes vamos
tirar Porque antes dela passar todo mundo aqui tinha o seu bichinho tinha a sua
carninha pra comer tinha os seus bichinhos pra vender neacute Ou ruim ou mal mas
tinha agora natildeo tem [] (Grupo Focal 3)
[] Traz destruiccedilatildeo praacute algumas comunidades quilombolas e indiacutegenas [] Natildeo
porque por onde essa transposiccedilatildeo taacute passando taacute acabando com o territoacuterio das
pessoas As aacutereas agricultaacuteveis que as pessoas utilizavam praacute plantar praacute colocar os
animais aiacute taacute destruindo o rio Representa muitas coisashellip poluiccedilatildeo pra colocar os
animais sem destruir [] (Grupo Focal 1)
A partir do que conceitua Schramm (2012) a populaccedilatildeo desse estudo encontrava-se
em uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade - condiccedilatildeo de quem pode ser ferido - e encontra-se
atualmente em uma situaccedilatildeo vulnerada - referindo-se a condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute
traumatizado ferido
145
Com o projeto da transposiccedilatildeo as comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas estatildeo submetidas a condiccedilatildeo de vulneradas
haja visto o que de fato jaacute se apresenta como impacto em seus territoacuterios no ambiente na
condiccedilatildeo de subsistecircncia e psiacutequica das famiacutelias Enfim haacute um quadro de vulneraccedilatildeo em
aspectos gerais de suas vidas
[] Eu nasci na zona rural tambeacutem Outro dia desse a secretaacuteria falou parece que
doacutei no sangue Eu disse doacutei no sangue eu natildeo gosto de ver essas comunidades
tristes que assim meu desejo eacute que elas se sintam felizes que estejam bem e
principalmente como eu estou diretora de ensino sou professora e humanamente
vocecirc natildeo quer ver ningueacutem infeliz e triste Vocecirc que ver as pessoas felizes e ai para
elas ter essa felicidade elas precisavam ter uma qualidade de vida melhor para elas
estarem felizes tambeacutem ter uma mudanccedila boa pra elas Foi uma mudanccedila triste
brusca e em muitos pontos ruim (Gestora 2)
E a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) - Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis (Ibama) nordm 186 em seu
artigo 1ordm define impacto ambiental como
[] qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas ou bioloacutegicas do meio
ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das
atividades humanas que direta ou indiretamente afetem a sauacutede a seguranccedila e o
bem-estar da populaccedilatildeo as atividades sociais e econocircmicas as condiccedilotildees esteacuteticas e
sanitaacuterias do meio ambiente e qualidade dos recursos ambientais (CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 1986)
Santos (2008 apud SANTOS R 2009) apresenta o olhar da harmonia que
interrompida pela accedilatildeo do homem gera impacto
Impacto ambiental eacute o desequiliacutebrio consequumlente de um dano que se vale de
agentes diversos capazes de interromper a harmonia existente na relaccedilatildeo
entre ser vivo e natureza por causa da accedilatildeo do homem sobre o meio
ambiente (SANTOS 2008 apud SANTOS R 2009 p 89)
Com essa compreensatildeo pode-se inferir que havia uma harmonia nos territoacuterios
quilombolas na relaccedilatildeo entre os seres vivos e o meio ambiente um equiliacutebrio ecoloacutegico que
ao ser quebrado pela accedilatildeo humana se configurou como impacto ambiental E por natildeo se
restringir ao meio fiacutesico o impacto trouxe consequecircncias para a populaccedilatildeo local As
intervenccedilotildees do projeto provocaram impactos que se expandiram da natureza para as famiacutelias
quilombolas daiacute serem impactos socioambientais com consequecircncias natildeo apenas ao meio
ambiente mas ao proacuteprio homem (SANTOS R 2009)
146
Detalhando um pouco mais cada tipo de impacto o ambiental eacute percebido como
[] se a gente voltar aqui para o ambiental natildeo haacute duvida o projeto ele faz eu natildeo
sei se eu poderia usar o termo devastaccedilatildeo mas eacute mais ou menos isso que vocecirc sente
em toda regiatildeo e principalmente porque Salgueiro estaacute no eixo natildeo soacute de um
projeto mas dos dois A gente tem aacuterea no municiacutepio que passa o canal de
transposiccedilatildeo mas ao lado passa a ferrovia entatildeo a aacuterea que se teve de desmatar e aiacute
vocecirc tem um impacto na flora e vocecirc tem um impacto na fauna Natildeo tenho duacutevida
nenhuma que isso vai ter tambeacutem contribuiccedilotildees na questatildeo climaacutetica mas jaacute eacute
visiacutevel e vocecirc sente soacute basta observar sem fazer um aprofundamento mais teacutecnico
da questatildeo Entatildeo isso aiacute acredito tambeacutem que natildeo tem como fazer obras sem que
eles existam Aiacute a gente tem que pensar as medidas que podem estaacute minimizando
reduzindo um pouco esses impactos mas ele eacute forte e ele eacute visiacutevel e ele taacute ai e a
gente tem que pensar como eacute que compensa isso a partir do investimento de outras
aacutereas dessa questatildeo de preservaccedilatildeo de floresta e fauna mesmo a gente considerando
que a caatinga ela eacute o bioma uacutenico aqui no sertatildeo [] (Gestora 1)
[] ai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da gente plantar e tudo e agente
vai ficar [] acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o rio jaacute taacute bastante seco
mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
O considerado impacto social parece ter ldquosido minimizadordquo ao referir-se as condiccedilotildees
atuais do municiacutepio que desenvolveu poliacuteticas puacuteblicas de capacitaccedilatildeo e preparo da
populaccedilatildeo urbana para ldquoreceberrdquo o projeto
A gente sempre tinha o receio de que o impacto social seria maior da obra do
projeto porque eacute muita gente que vinha de fora A gente trabalhou o incentivo a
utilizar a matildeo de obra local a gente trabalhou cursos de capacitaccedilatildeo em parceria
com as empresas com o governo federal para capacitar matildeo de obra local mas
mesmo assim a gente sabia que vinha um povo de fora [] Entatildeo esse impacto aqui
elevou o social e o econocircmico As pessoas passaram a ter poder aquisitivo entatildeo
isso teve uma repercussatildeo direta no comeacutercio isso teve uma repercussatildeo direta no
setor de serviccedilos e por outro lado o projeto em si ele jaacute atraia uma seacuterie de outros
juntos (Gestora 1)
O impacto psicoloacutegico ou emocional talvez um aspecto ldquoinvisiacutevelrdquo para o governo
tem relegada sua importacircncia e enfrentamento
E ai vem esse outro que ningueacutem trata que eacute o psicoloacutegico e ai eu digo porque vi
famiacutelia chorar porque quem estaacute em torno da obra entatildeo de repente vocecirc mora aqui
e eacute isso passa a ser problema [] Eu moro aqui a 4050 anos e ai jaacute estou com meus
6070 anos e eu tenho que ser desalojado de onde eu construiacute minha vida para ir pra
outro lugar Isso eu acho que eacute uma situaccedilatildeo que eacute complexa porque a gente natildeo
estaacute falando nem dos mais novos que tem uma condiccedilatildeo de adaptaccedilatildeo mais raacutepida
A gente fala dos mais velhos que muitas vezes natildeo sabia nem por onde nem a quem
recorrer nessa situaccedilatildeo apesar de todo processo ter sido discutido (Gestora 1)
Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas mesmo
elas precisavam ter um preparo maior [] Assim eu acho que eles deveriam ter um
preparo maior psicologicamente teria que ter sido arrumada a vida deles []
(Gestora 5)
147
Os resultados do estudo mostram que os impactos socioambientais provocados pelo
projeto da transposiccedilatildeo favorecem a condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo que hoje se verifica nas aacutereas
quilombolas de Salgueiro
Prejuiacutezos em relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com inuacutemeras perdas e impossibilidade de manter a
criaccedilatildeo
[] Eu tinha um criatoriozinho mas por causa desse canal ele passou pra laacute ai
passou [] Foi embora O que pude pegar eu vendi [] Tinha gente aqui que tinha
trecircs vacas leiteiras neacute Tirava leite pouquinho ou muito que nem a minha sogra
ela tirava leite fazia um queijinho Hoje as duas vacas que ela tinha morreu de
fome e de sede Por quecirc Foi laacute para o outro lado ela tinha que sair dentro das
caatingas aqui pra ir buscar a vaca praacute daacute aacutegua e praacute daacute milho comprado Todo
mundo sabe aqui que natildeo estou mentindo o que foi que aconteceu Chegou um dia
que a vaca passou pra o outro lado e natildeo teve como voltar e a uacutenica vaacutelvula que ela
tinha que era ela e a novilha morreu (Grupo Focal 3)
Restriccedilotildees impostas aos animais para deslocamento dentro do territoacuterio o que
provocou aleacutem das perdas de animais por morte desaparecimento venda e inclusive
situaccedilotildees de roubo Este quadro gera mais fragilidade e inseguranccedila aos moradores
quilombola para manutenccedilatildeo de suas criaccedilotildees
[] Contando com todo mundo aqui natildeo foi pouco natildeo [] Eacute porque o territoacuterio do
lado de caacute onde o pessoal cria os animais eacute ateacute pouco entatildeo os animais natildeo vatildeo ter
mais acesso a alimentaccedilatildeo dos animais era do lado de laacute a bebida aacutes vezes era do
lado de laacute aiacute natildeo tem mais acesso pra ir pra laacute Entatildeo as pessoas venderam os
animais tiveram mais acesso a pessoas vindo de fora e roubar teve ateacute questatildeo de
roubo aqui de animais animais que foram embora [] Animais que caiacuteram se
atolaram na terra e morreram [] Era um criatoacuterio aqui que praticamente acabou
Cria mais natildeo Quem natildeo vendeu perdeu foi embora desapareceu roubaram e
pronto [] (Grupo Focal 3)
Destruiccedilatildeo de aacuterea de sequeiro prejudicando a agricultura familiar e indenizaccedilotildees
irrisoacuterias pelas perdas quando satildeo pagas
[] Do outro lado Do lado de laacute [] Eles passaram mesmo no meio do terreno era
duzentos e tantos metros porque era uma roccedila duzentos e tantos metros Agora
acabou tudo [] Natildeo eacute brincadeira natildeo eacute chatildeo Natildeo sabe nem mais onde eacute o
lugar[hellip] passaram por cima ai [] E Era uma roccedila coletiva de toda comunidade []
A minha mesma eles usou trecircs terreninhos foi 3 mil reais [] Uma indenizaccedilatildeo
pequena [] Teve gente aqui que natildeo receberam nada [] Aquilo natildeo eacute
indenizaccedilatildeo natildeo aquilo eacute uma esmola que o governo estaacute achando que o povo eacute
esmoler isso natildeo eacute dinheiro um terreno bom como eacute esse daqui receber uma
mixaria [] A empresa de Bom Nome Eacute a empresa que usa ai diz que daqui vai praacute
beira do rio pro mode bombear aacutegua no canal [] Os terrenos que ela utilizou ela
estragou meio mundo de coisa e a onde ela passa que cavaram os buracos pra enfiar
os postes eacute tudo os negoacutecios de ferro Trezentos reais eles pagam por um poste paga
natildeo falaram em pagar mas ateacute hoje natildeo pagou a ningueacutem Pagou a ningueacutem natildeo
[] (Grupo Focal 3)
148
A base da economia agriacutecola do sertatildeo satildeo atividades pastoris com o predomiacutenio da
criaccedilatildeo extensiva de gado bovino e animais ruminantes de pequeno porte (caprinos e ovinos)
assim como a cultura de espeacutecies resistentes agrave estiagem como algodatildeo e a carnauacuteba nas aacutereas
mais secas e em aacutereas mais uacutemidas a produccedilatildeo de gratildeo (milho e feijatildeo) e mandioca afirma
Suassuna (2002) O comprometimento dessas culturas de subsistecircncia vem dificultando a vida
do povo quilombola com piora das condiccedilotildees de trabalho e alimentaccedilatildeo
Inseguranccedila quanto agrave permanecircncia no territoacuterio pela ameaccedila concreta de perda e
ruptura do viacutenculo com agrave terra sinocircnimo de identidade e pertencimento agraves raiacutezes e tradiccedilotildees
quilombolas
[] e tambeacutem a questatildeo dos territoacuterios que fere mesmo a questatildeo eacutetica moral das
comunidades porque o territoacuterio das comunidades aqui eles natildeo satildeo em si apenas
terra para eles a questatildeo natildeo eacute terra eacute territoacuterio eacute afirmaccedilatildeo eacute confirmaccedilatildeo de sua
identidade ali onde moravam seus antecedentes onde foram enterrados onde
trabalhavam onde retira a lenha onde retira o carvatildeo entatildeo eacute uma coisa muito forte
Toda essa questatildeo de dizer ah foi indenizado a gente sabe que dinheiro nenhum
recompensa o espaccedilo que a gente tem porque eacute uma coisa muito mais profunda natildeo
eacute soacute uma questatildeo de plantar e de colher a questatildeo do territoacuterio pra gente eacute uma coisa
muito ligada agrave identidade a gente que eacute feita da gente entatildeo achei que foi um
impacto negativo a questatildeo de passar o canal dentro de algumas comunidades natildeo
foram por todas mas [] (Gestora 2)
Desmatamento no territoacuterio quilombola autorizada por oacutergatildeos ambientais provocando
indignaccedilatildeo entre as famiacutelias pela agressatildeo ao meio ambiente Eacute evidente o sentimento de
injusticcedila com a restriccedilatildeo imposta aos povos tradicionais pelos mesmos oacutergatildeos ambientais ao
manejo da vegetaccedilatildeo quando necessaacuterio e a ldquoliberaccedilatildeo irrestritardquo para o MI executar as obras
da transposiccedilatildeo agraves custas de grande devastaccedilatildeo ambiental
[] E o pior que a gente tinha esses terreninhos aiacute se a pessoa fosse botar uma broca
tinha que pedir autorizaccedilatildeo ao IBAMA e aiacute se derrubar uma Brauacutena pagava no sem
quanto [] 2 mil [] Uma aroeira um umbuzeiro aiacute eles vai meteram o sarrafo
pra riba derrubaram umburana umbuzeiro todos tipo de pau brauacutena aroeira
esbagaccedilaram tudo aiacute os dono que era dono que pagava imposto natildeo tinha esse
direito de botar uma broca pra mode fazer uma rocinha [] Matou matou foi muito
gameleira aiacute nas caatinga morreu foi muito ai por causa da terra [] Isso ai eacute 225m
de largura no terreno todo terreno que cruzou aiacute O que eacute que eacute a bagaceira de
madeira aiacute Uma coisa horriacutevel (Grupo Focal 3)
[] Olhe de negativo a gente sabe toda a questatildeo ambiental como desmatamento
como escavaccedilatildeo tudo isso a gente vecirc como impactos negativos como a natildeo
implantaccedilatildeo de viveiros pra repor a vegetaccedilatildeo que foi retirada a gente natildeo vecirc isso
possa ser que tenha mas natildeo temos conhecimento de nenhuma aacuterea aqui no
municiacutepio de Salgueiro [] (Gestora 2)
149
Descaso e descompromisso com a vida das populaccedilotildees quilombolas suscitam as
perguntas qual o niacutevel de responsabilizaccedilatildeo do governo em provocar tantos danos e
prejuiacutezos Quem eacute que vai pagar por isto
[] E aiacute quem foi que pagou o prejuiacutezo Alguns dele veio laacute dizer lsquotoma Vileni
aqui a indenizaccedilatildeo que tua vaca morreu por culpa da transposiccedilatildeorsquo Foi Natildeo
Querem mais eacute que ela se dane se ela morrer de fome natildeo tatildeo nem aiacute que natildeo eacute
eles Natildeo se preocupa O ponto negativo que eu acho eacute isso aiacute [] (Grupo Focal 3)
Narrativas apontam para uma mudanccedila de paisagem na aacuterea quilombola que com as
intervenccedilotildees (estrutura imposta) adquiriu nova configuraccedilatildeo com grande oposiccedilatildeo agraves formas
existentes passando a ser ldquodesconhecidardquo pela populaccedilatildeo (SANTOS F M 2012)
Para Santos M (2012 p 68)
A paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si aspectos
cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees
diferentes
Narrativa ilustra essa realidade
[] onde eu moro quando eu abro a minha janela jaacute natildeo tenho a mesma paisagem
eu jaacute natildeo tenho o accedilude que tinha e abastecia jaacute ficou do outro lado do canal porque
dividiu propriedade no meio os acessos tiveram que ser modificados entatildeo tudo
isso modificou muito a vida rural ai vocecirc estaacute numa situaccedilatildeo numa estabilidade
(Gestora 1)
O quadro de vulneraccedilatildeo descrito mostra a contradiccedilatildeo do discurso oficial do projeto da
transposiccedilatildeo a distacircncia do que vem sendo veiculado pela miacutedia sobre as obras e seus
impactos positivos e do desrespeito agraves conquistas legais dos povos tradicionais
O descumprimento pelo governo dos preceitos legais aprovados para estes povos
caracteriza-se como violaccedilatildeo de direitos e pode ser observado em vaacuterias dimensotildees
No que preconiza a Convenccedilatildeo nordm 169 da OIT sobre povos indiacutegenas e tribais que
vigora com forccedila de lei no Brasil desde 2004 em seu artigo 7ordm quando diz no primeiro
paraacutegrafo
Os povos interessados deveratildeo ter o direito de escolher suas proacuteprias prioridades no
que diz respeito ao processo de desenvolvimento na medida em que ele afete as
suas vidas crenccedilas instituiccedilotildees e bem-estar espiritual bem como as terras que
ocupam ou utilizam de alguma forma e de controlar na medida do possiacutevel o seu
proacuteprio desenvolvimento econocircmico social e cultural Aleacutem disso esses povos
deveratildeo participar da formulaccedilatildeo aplicaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos planos e programas de
desenvolvimento nacional e regional suscetiacuteveis de afetaacute-los diretamente (BRASIL
2004d)
150
No que determina o Decreto nordm 60402007 que institui a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) em seu
artigo 3ordm ao definir como desenvolvimento sustentaacutevel ldquoo uso equilibrado dos recursos
naturais voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geraccedilatildeo garantindo as
mesmas possibilidades para as geraccedilotildees futurasrdquo e dentre seus objetivos especiacuteficos
[] garantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o acesso aos
recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural e
econocircmica e garantir os direitos dos povos e das comunidades tradicionais afetados
direta ou indiretamente por projetos obras e empreendimentos (BRASIL 2007)
Natildeo obstante esta e outras conquistas legais fruto da luta do povo negro e
comunidades tradicionais o que se configura eacute uma realidade poliacutetica em que accedilotildees
governamentais satildeo pautadas por modelo baseado na crenccedila de que o crescimento econocircmico
tradicional em que maior investimento-produccedilatildeo-consumo permitiria simultaneamente
maior nuacutemero de empregos e melhor qualidade de vida para uma parcela cada vez maior da
populaccedilatildeo e um modelo de desenvolvimento que em nome de um crescimento econocircmico
natildeo incorpora os excluiacutedos do sistema
Projetos governamentais com recursos do PAC a exemplo da transposiccedilatildeo tecircm a
marca de intervenccedilotildees distantes da realidade local e com motivaccedilotildees natildeo expliacutecitas como
afirma Leitatildeo
O PAC corrobora a tradiccedilatildeo do Estado brasileiro em atuar no territoacuterio via projetos
sem plano recheados de discursos deslocados da praacutetica a que efetivamente se
propotildeem e das motivaccedilotildees que de fato se baseiam Esses mecanismos []
corroboram a tendecircncia agrave reproduccedilatildeo das desigualdades regionais e sociais e em
uacuteltima instacircncia agrave fragmentaccedilatildeo do espaccedilo regional via investimento de caraacuteter
seletivo (LEITAtildeO 2009 p 209 apud BRASIL 2011 p 92)
Corroborando com o autor a narrativa de lideranccedila complementa esta reflexatildeo ao
explicitar o quatildeo eacute preciso repensar o modelo poliacutetico vigente o caraacuteter assistencialista e
paternalista das poliacuteticas puacuteblicas voltadas agraves populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas rurais etc
[] Entatildeo faltam boas escolas as escolas integradas com a realidade da zona rural
e que a zona rural natildeo seja um sinocircnimo de pobreza nem de tratar essas pessoas
como coitadinhos pobrezinhos miseraacuteveis mas como pessoas que deixaram de
gozar da poliacutetica puacuteblica do qual eles tem direito ao longo desse tempo Entatildeo a
gente natildeo pode natildeo pode nem deve continuar com essa ideia de que os menos
favorecidos da sociedade eles estatildeo ali porque estatildeo precisando das migalhas das
poliacuteticas puacuteblicas Eles precisam ser inseridos dentro da poliacutetica puacuteblica como
sujeito (Lideranccedila 3)
151
A narrativa da lideranccedila ilustra a imagem cultivada por governos e poliacuteticos em
relaccedilatildeo a um sertatildeo inoacutespito pobre degradado apesar de outras alternativas para o semiaacuterido
serem pensadas e pesquisadas (COSTA 2010)
Para o autor
Prevaleceu a imagem de um sertanejo forte mas inferior pronto a receber esmolas
de uma regiatildeo pela qual se devota pena e socorros Essa imagem do atraso soacute
beneficiou e beneficia as classes dominantes receptoras histoacutericas principais das
lsquoobras contras as secasrsquo dos lsquobenefiacuteciosrsquo e lsquoajudasrsquo carreadas para o
semiaacuterido (COSTA 2010 p 38)
A certeza maior parece ser a de que as obras do projeto da transposiccedilatildeo realizadas ateacute
o momento e as que estatildeo por vir traratildeo apenas prejuiacutezos deterioraccedilatildeo na qualidade de vida
das famiacutelias do territoacuterio do ecossistema como um todo constataccedilatildeo que natildeo eacute nova neste
estudo O benefiacutecio eacute para outrem muito distante ldquosem identidade especiacuteficardquo mas natildeo para
os da regiatildeo comunidades quilombolas indiacutegenas e de trabalhadores rurais Um ldquoquadro
sombriordquo se configura como perspectiva a curto e meacutedio prazo para os povos da zona rural
inseridos nas aacutereas de influecircncia do projeto
[] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de onde eacute E
noacutes aqui vamos ficar com quecirc Vai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da
gente plantar e tudo e agente vai ficar acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o
rio jaacute taacute bastante seco mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo
Francisco (Grupo Focal 2)
Implementado agrave revelia de um debate mais amplo no paiacutes e sem dar ouvidos agraves
manifestaccedilotildees sociais argumentaccedilotildees teacutecnicas e poliacuteticas contraacuterias ao projeto a realizaccedilatildeo
do projeto da transposiccedilatildeo ratifica um modelo que privilegia uma estrateacutegia de
desenvolvimento territorial que ldquofavorece ganhos privados socializa custos socioespaciais e
impactos ambientaisrdquo acarretando em ldquoum desenvolvimento territorial espacialmente
seletivo ambientalmente predatoacuterio e socialmente excludenterdquo argumenta Leitatildeo (2009 apud
BRASIL 2011 p 92)
152
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS PARA
MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO
A educaccedilatildeo eacute a arma
mais poderosa que vocecirc pode usar
para mudar o mundo
(Nelson Mandela)
Este capiacutetulo apresenta os resultados das praacuteticas educativas realizadas pelo Projeto da
transposiccedilatildeo que se datildeo no acircmbito da sauacutede e do ambiente e das obras ou intervenccedilotildees
diretas implementadas nas aacutereas das comunidades remanescentes de quilombos em Salgueiro
Os resultados apresentados correspondem a avaliaccedilatildeo dos PBA`s das categorias
Contexto (objetivos justificativa populaccedilatildeo alvo meta) Estrutura (recursos humanos
cronograma) Processo (implantaccedilatildeo falhas metodologia) e Produto (resultados)
(WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004) agregando-se tambeacutem ao modelo proposto
aspectos criacuteticos relatados pelos sujeitos do estudo e referenciais teoacutericos
Segundo o governo os programas Baacutesicos Ambientais foram concebidos para ldquomitigar
os impactos negativos e otimizar os benefiacutecios trazidos pelo empreendimento de maneira
geralrdquo (BRASIL 2005)
Para execuccedilatildeo de alguns programas ambientais o MI contou ateacute dezembro de 2009
com parcerias teacutecnico-financeiras de oacutergatildeos eou instituiccedilotildees do Governo Federal Ao
observar o quadro de parcerias governamentais verificamos o envolvimento de pelo menos
dez instituiccedilotildees puacuteblicas que acreditamos terem competecircncia e conhecimento teacutecnico para
desenvolver os programas (BRASIL 2012 p 6) Entretanto a partir de janeiro de 2010 foi
contratada a empresa CMT Engenharia Ltda para realizar a execuccedilatildeo e acompanhamento de
medidas planos e programas ambientais definidos nos PBArsquos do PISF Isto significa a
transferecircncia direta da responsabilidade de execuccedilatildeo e monitoramento destes programas para
uma empresa privada
Do montante de recursos para o projeto da transposiccedilatildeo apenas 1182 foram
destinados agraves accedilotildees inseridas nos 38 Programas Baacutesicos Ambientais segundo o ldquoResumo
Executivo do Programa Baacutesico Ambientalrdquo elaborado pela Coordenaccedilatildeo Geral de Programas
Ambientais do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 2012)
Ainda conforme o mesmo documento a execuccedilatildeo financeira dos referidos PBArsquos foi
ateacute julho de 2012 de 66 para o PBA 4 e de 71 para o PBA 17 O PBA 21 teve uma
execuccedilatildeo de 10
153
Em novembro de 2012 o entatildeo Ministro da Integraccedilatildeo Nacional em exposiccedilatildeo feita
no senado federal apresentou como justificativa agraves dificuldades de execuccedilatildeo dos programas
ambientais os seguintes argumentos
a) Nuacutemero expressivo de programas a executar (38 programas)
b) Necessidade de ampla articulaccedilatildeo institucional na execuccedilatildeo das
accedilotildees ambientais
c) Conflitos sociais existentes na faixa de obra
d) Relocaccedilatildeo de famiacutelias residentes na faixa de obra
e) Estrutura fundiaacuteria com um nuacutemero muito grande de propriedades
sem documentaccedilatildeo (BRASIL 2012)
No entanto as dificuldades apresentadas pelo governo natildeo estatildeo sendo devidamente
enfrentadas haja visto o que jaacute apontava em 2010 o Relatoacuterio da Plataforma Dhesca Brasil21
quando afirmava
[] sobre as obras de compensaccedilatildeo especialmente a construccedilatildeo de infra-estrutura
(casas sistema de fornecimento de aacutegua construccedilatildeo de escolas etc) nas
comunidades quilombolas e camponesas impactadas pelas obras do canal da
transposiccedilatildeo [] as denuacutencias generalizadas de que nada ou muito pouco foi
cumprido (duas ou trecircs escolas e postos de sauacutede construiacutedos e a abandonados natildeo
fornecimento de aacutegua para irrigaccedilatildeo iniacutecio da construccedilatildeo de casas e posterior
abandono etc) Todas essas promessas constituem em diversas violaccedilotildees de direitos
(direito agrave moradia direito agrave escolaeducaccedilatildeo etc) aleacutem da simples indenizaccedilatildeo pela
ocupaccedilatildeo de territoacuterios pertencentes a estas comunidades (SAUER 2010 p 29)
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4
O Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental - PBA 4 eacute um programa compensatoacuterio
classificado como de ldquoampla atuaccedilatildeordquo cujo objetivo geral eacute
desenvolver accedilotildees educativas a serem formuladas atraveacutes de um processo
participativo visando capacitarhabilitar setores sociais com ecircnfase nos afetados
diretamente pelo empreendimento para uma atuaccedilatildeo efetiva na melhoria da
qualidade ambiental e de vida na regiatildeo (BRASIL 2012 p 18)
21
A Plataforma Dhesca Brasil ndash Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e
Ambientais eacute uma articulaccedilatildeo nacional de 36 movimentos e organizaccedilotildees da sociedade civil que desenvolve
accedilotildees de promoccedilatildeo defesa e reparaccedilatildeo dos Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais
(doravante abreviados em Dhesca) visando o fortalecimento da cidadania e a radicalizaccedilatildeo da democracia
Seu objetivo geral eacute contribuir para a construccedilatildeo e fortalecimento de uma cultura de direitos desenvolvendo
estrateacutegias de exigibilidade e justiciabilidade dos Dhesca bem como incidindo na formulaccedilatildeo efetivaccedilatildeo e
controle de poliacuteticas puacuteblicas sociais
154
Eacute visto tambeacutem como um dos programas estrateacutegicos portanto transversal aos demais
programas A avaliaccedilatildeo neste estudo traraacute sempre que necessaacuterio a interface do PBA 4 com
o PBA 17 e o PBA 21
O PBA 4 eacute considerado como
uma accedilatildeo estrateacutegica complementar agrave gestatildeo ambiental do empreendimento Para
tanto atuaraacute na mobilizaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da participaccedilatildeo das comunidades
envolvidas no planejamento e na execuccedilatildeo de accedilotildees destinadas a otimizar os
impactos positivos do Projeto de Integraccedilatildeo do Satildeo Francisco e minimizar os
impactos negativos (BRASIL 2010 p 11)
Sucintamente o mesmo apresenta como justificativa para sua realizaccedilatildeo que
Frente agraves mudanccedilas apontadas faz-se necessaacuteria uma accedilatildeo informada e participante
da populaccedilatildeo nos processos e produtos resultantes do PISF de modo a influenciar
nos rumos e tipos de soluccedilotildees para o desenvolvimento da regiatildeo afetada (BRASIL
2010 p 11)
Tendo sido reestruturado em 2010 com base na demanda do oacutergatildeo licenciador
IBAMA o Programa passou a ser subdividido em trecircs subprogramas Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental nas Comunidades nas Escolas e em Sauacutede (BRASIL 2010)
Essa subdivisatildeo ela jaacute veio com o novo formato do programa que em 2010 acredito
que o proacuteprio IBAMA ele foi reestruturado ele foi reformulado e ai jaacute veio com essa
nova roupagem com esse novo formato de ter trecircs programas antes era dividido
apenas em sauacutede e educaccedilatildeo e ai o subprograma de comunidades contempla as
comunidades quilombolas as comunidades reassentadas que satildeo essas que estatildeo
sendo transferidas para as vilas produtivas rurais comunidades indiacutegenas e
comunidades pertencentes ao programa de nuacutemero 15 que satildeo comunidades que
estatildeo localizadas em torno dos reservatoacuterios e dos canais (Teacutecnico 3)
A sua populaccedilatildeo alvo ldquosatildeo grupos sociais dos municiacutepios da Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) e da Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do projeto da transposiccedilatildeo em especial
Professores e Coordenadores Pedagoacutegicos do ensino formal (fundamental e meacutedio) Agentes
Comunitaacuterios e Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede das Secretarias Municipais de
Sauacutede Representantes das famiacutelias a serem reassentadas Representantes das famiacutelias que
receberatildeo abastecimento de aacutegua ao longo dos canais nas localidades definidas
Representantes dos atores sociais das comunidades quilombolasrdquo (BRASIL 2010 p 22-23)
A proposta metodoloacutegica estaacute assim desenhada
o Programa de Educaccedilatildeo Ambiental seraacute executado com base em metodologia
dialoacutegica e participativa na qual o processo de ensino aprendizagem se constitua
efetivamente em uma ldquovia de matildeo duplardquo em que os temas abordados os conceitos
e conteuacutedos sejam fruto de discussotildees aprofundadas tendo por interlocutores
principais os facilitadores da equipe de implementaccedilatildeo do mesmo com a populaccedilatildeo
155
das comunidades abrangidas com teacutecnicos municipais da aacuterea de sauacutede e do ensino
formal (BRASIL 2010 p 27)
A equipe responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees do Programa eacute de
teacutecnicos da CMT Engenharia LTDA com uma equipe de nove profissionais e a revisatildeo do
mesmo ficou sob responsabilidade de dois teacutecnicos do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e um da
CMT A descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a seguir seraacute feita por cada Subprograma que compotildee o PBA 4
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades
Esse Subprograma apresenta pelos documentos oficiais os seguintes objetivos
especiacuteficos
a) Desenvolver o mapeamento territorial de situaccedilotildees socioambientais face agraves
muacuteltiplas intervenccedilotildees planejadas e ou realizadas por trecircs programas ambientais
em suas interfaces com as accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental Os programas referidos
satildeo PBA 8 - Programa Ambiental de Assentamento de Populaccedilotildees o PBA 15 -
Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacutegua ao Longo
dos Canais e o PBA 17 - Programa de Desenvolvimento de Comunidades
Quilombolas
b) Desenvolver o Subprograma Educaccedilatildeo Ambiental em Comunidades dirigido aos
moradores das localidades apontadas pelos programas ambientais de
Reassentamento de Populaccedilotildees de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas e de parte das localidades beneficiadas pela implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de abastecimento de aacutegua (PBA 15) visando (1) realizar mapeamentos-
diagnoacutesticos e planos locais de accedilatildeo participativos e (2) formar agentes
socioambientais para a recepccedilatildeo de conhecimentos teacutecnicos Ambos os processos
educativos deveratildeo fortalecer a accedilatildeo protagonista e organizada dos habitantes na
mitigaccedilatildeo dos impactos negativos e otimizaccedilatildeo dos benefiacutecios do PISF
O total da populaccedilatildeo quilombola potencialmente beneficiaacuteria de acordo com o PBA 4
estaacute localizada em cinco municiacutepios de Pernambuco particularmente em 16 territoacuterios
quilombolas perfazendo um total de 1936 famiacutelias e 9680 pessoas Em Salgueiro as trecircs
comunidades quilombolas somam 894 famiacutelias (Conceiccedilatildeo das Crioulas - 800
156
ContendasTamboril - 47 e Santana- 47) e 4470 pessoas (C das Crioulas - 4000
ContendasTamboril - 235 e Santana - 235) segundo dados documentais
O Subprograma pretendia envolver diretamente no maacuteximo vinte pessoas de cada
comunidade para participarem dos processos de intervenccedilatildeo priorizadas como agentes
socioambientais multiplicadores e editores de conhecimentos Apontava como atuaccedilatildeo mais
intensa os anos de 2012 e 2013 e delimitou o periacuteodo de trecircs anos para implementaccedilatildeo do
Programa apoacutes aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo em 2010 (BRASIL 2010 p 19 23-24) Poreacutem
relatos afirmam terem sido concluiacutedas as atividades em 2011
As nossas accedilotildees aqui em Salgueiro encerraram no final de 2011 [] Mas a gente
trabalhou trecircs fases bem especiacuteficas com eles para composiccedilatildeo do diagnoacutestico
socioambiental [] (Teacutecnico 3)
Os resultados apresentados satildeo em relaccedilatildeo agrave execuccedilatildeo do Subprograma nas trecircs
Comunidades Quilombolas do estudo por estarem incluiacutedas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - o PBA 17
Em relaccedilatildeo ao segundo objetivo a meta previa que as 136 localidadescomunidades
trabalhadas constituam e ou fortaleccedilam organizaccedilotildees nas esferas de meio ambiente produccedilatildeo
cultura representatividade sauacutede entre outras coerentes com a noccedilatildeo de sustentabilidade ateacute
dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL 2010 p 14)
Debruccedilando sobre o segundo objetivo as narrativas apontam para o desenvolvimento
de trecircs fases do trabalho para elaboraccedilatildeo de ldquomapeamentos-diagnoacutesticos e planos locais de
accedilatildeo participativosrdquo que ocorreram em trecircs oficinas
[] A primeira oficina foi de mapeamento teacutecnico levantamento teacutecnico e meios de
informaccedilotildees a segunda oficina de mapeamento social utilizando a cartografia
social coisa que a gente jaacute tinha feito na educaccedilatildeo com bons resultados entatildeo a
gente resolveu incorporar isso tambeacutem com as comunidades quilombolas e a
terceira oficina de devolutiva que a gente chamou que era pra gente devolver esses
dados a eles que a gente tinha coletado compilado analisado e a gente criou essa
devolutiva e uma explanaccedilatildeo sobre o plano de capacitaccedilotildees do programa 17 que eacute
o Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas [] (Teacutecnico 3)
[] Noacutes comeccedilamos o trabalho com as comunidades com aquele painel rotativo
Este painel ele tinha algumas perguntas norteadoras praacute entender um pouco a
dinacircmica dessas comunidades como eacute que elas se organizaram como eacute que elas
estavam estruturadas como estava a questatildeo no caso do saneamento meio ambiente
e educaccedilatildeo sauacutede cultura Entatildeo fizemos essas atividades a partir dessa atividade
depois o mapa social [] Entatildeo a primeira etapa de trabalho com as comunidades
quilombolas foi exatamente ter esse levantamento esse diagnostico que foi feito a
partir dessas atividades [] (Gestora10)
157
A terceira oficina cujo material deu subsiacutedios para a construccedilatildeo de um diagnoacutestico
permitiu agrave equipe teacutecnica da CMT construir um plano de capacitaccedilatildeo Em seguida foram
organizadas oficinas de capacitaccedilatildeo para todas as comunidades oferecidas pelo Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo com envolvimento da CMT e outras instituiccedilotildees parceiras Essa atividade
segundo narrativas de gestores e teacutecnicos tinha como objetivo a formaccedilatildeo de agentes soacutecio-
ambientais
[] Esse diagnostico ele possibilitou a criaccedilatildeo do Plano de Capacitaccedilatildeo Esse plano
depois dessa primeira etapa ai teve o plano e ai teve as vaacuterias atividades de
educaccedilatildeo voltadas mais para rentabilidade para associativismo para
cooperativismo para a gestatildeo de recursos mesmo geraccedilatildeo de emprego e renda []
(Gestora 10)
[] Entatildeo nessa oficina devolutiva a gente devolveu as informaccedilotildees que a gente
tinha para o diagnoacutestico e aprovou com ata de reuniotildees o plano de capacitaccedilotildees
escolhidas por eles durante as oficinas de educaccedilatildeo ambiental [] A gente colocou
um leque de oficinas que o Ministeacuterio estava oferecendo e muitas algumas
comunidades achavam que natildeo eram necessaacuterias de acordo com suas
particularidades outras eles sugeriram e tambeacutem a partir da articulaccedilatildeo da CMT
com outras instituiccedilotildees acabou fluindo acabaram acontecendo algumas parcerias
[] (Teacutecnico 3)
Haacute relatos de que houve consulta nas comunidades sobre os temas para as oficinas e
em Santana houve a sugestatildeo para envolver como facilitadores pessoas da comunidade por
terem competecircncia e conhecerem bem a realidade quilombola poreacutem natildeo foram atendidos
[] Eles vieram primeiro aqui pra gente escolher quais os temas que a gente queria
falar [] Eu natildeo estou lembrada taacute no meu computador [] Eu participei [] Que
veio pra caacuteOs facilitadores [] Foram os facilitadores [] Uns eram de Salgueiro
de Petrolina [] Pessoas que viam facilitar as oficinas Natildeo era de fora as pessoas
(Grupo Focal 1)
[] e aiacute a princiacutepio a gente fez uma conversa que a ideia era a gente escolher os
cursos a gente fez isso Escolheu os cursos que a gente taacute laacute em Santana sabe quais
seriam melhores aproveitados que seriam mais faacuteceisa gente falou pra eles que a
gente tinha matildeo de obra a gente tinha pedagogo a gente tinha agente agriacutecola que
essas pessoas poderiam estar sendo aproveitadas e aiacute na contagem quando for rolar
os cursos a gente e aiacute a gente vai ver a possibilidade de encaixar essas pessoas []
Alguns jaacute foram interessantes que eles jaacute tinham um conhecimento que eacute a questatildeo
do resiacuteduo soacutelido a questatildeo do lixo que satildeo coisas mais faacuteceis que satildeo do dia a dia
deles Entatildeo essas foram bem aproveitadas eles gostaram e foi bem elogiado os
professores e tudo mas alguns realmente foi natildeo teve o aproveitamento []
(lideranccedila 1)
Em ContendasTamboril as narrativas transitam entre natildeo haver recordaccedilatildeo de ter
acontecido atividades pelo programa e de lembranccedilas sobre o que foi realizado na aacuterea pelo
PBA 4
158
[] Que eu tenha participado eu natildeo lembro natildeo de ter participado Pode acontecer
de ter algum de ter na comunidade onde foi chamada a comunidade e eu natildeo ter
participado [] Acho que tinha um trabalho que era pra ser feito que a gente tem
uma reserva muito grande que se foi falado em capacitaccedilatildeo pra artesanato da
proacutepria caatinga mas eu natildeo lembro se teve alguma coisa alguma capacitaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a isso eu natildeo lembro (Lideranccedila 2)
Era o dia todo tinha dia que era o dia todo [] Comeccedilava de 9h almoccedilava as 12h
comeccedilava a 1300 e ai terminava de 4 horas [] Os assuntos era falando sobre
accedilude sobre aacutegua sobre poccedilo [] Sobre meio ambiente [] Meio mundo de coisa
[] Era soacute pra comunidade Pra jovem adulto [] (Grupo Focal 2)
A problemaacutetica da aacutegua eacute diretamente relacionada com o projeto da transposiccedilatildeo que
aparece como um dos temas de oficina em ContendasTamboril
Foi justamente sobre esse negoacutecio da Transposiccedilatildeo Eles falando da transposiccedilatildeo
Um tema era esse falaram na Transposiccedilatildeo entatildeo noacutes perguntamos a ele se essa
aacutegua que ia passar ai vai servir pra noacutes se ia beneficiar noacutesdisseram depois a gente
vai vecirc como vai ser Eles natildeo garantiram nada natildeo (Grupo focal 2)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas tambeacutem foram realizadas oficinas com temas diversos
Eacute eu natildeo me lembro natildeo Eacute pelo povo da CMT eacute [] Teve vaacuterias atividades Teve
atividade sobre associativismo empreendedorismo [] Sei que foram muitas
atividades que foram feitas [] Oficinas [] Pra noacutes mesmo Pra comunidade []
Era Jovem adultotodo mundo quem quisesse [] Era um programa que todo mecircs
tinha [] Era mais na quinta e na sexta-feira [] Na quinta-feira aiacute vinha esse
equipe aiacute articulava alunos nas escolas e aiacute eles participavam o dia inteiro de
formaccedilatildeo [] Com a comunidade alunos Com o pessoal mesmo daqui Com as
lideranccedilas [] Oficina de criaccedilatildeo de pequenos animais [] Geraccedilatildeo de renda
tambeacutem teve [] Elaboraccedilatildeo de Projetos tambeacutem teve [] Oficina de como
elaborar projetos (Grupo Focal 1)
No quilombo de Santana e Conceiccedilatildeo das Crioulas satildeo identificados aspectos criacuteticos
que comprometeram o processo de aprendizagem e o envolvimento maior de pessoas da
comunidade
a) Os instrutores foram profissionais de fora das comunidades de fora do
municiacutepio o que em algumas oficinas dificultou a aprendizagem e envolvimento
maior do puacuteblico com os temas
[] eram profissionais que foram contratos pela CMT Entatildeo muitas pessoas
reclamavam eu participei de algumas oficinas e chegava assim natildeo eacute engraccedilado
mas era porque o professor falava falava e eles laacute tudo olhando para o professor no
silencio olhando mas natildeo conseguiam aproveitar quase nada [] ( Lideranccedila 1)
159
b) A linguagem utilizada por alguns instrutores dificultou a aprendizagem a
comunicaccedilatildeo com os alunos muitos agricultores que em vaacuterios momentos do
curso natildeo entenderam o que estava sendo falado
[] E uma questatildeo que tambeacutem a gente sentiu muito foi na questatildeo da linguagem
As pessoas que iam pro curso eram agricultores como as pessoas de Santana satildeo
todas a maioria eacute agricultores mesmos e eles natildeo conseguiam assimilar as
informaccedilotildees natildeo conseguiam entender o que o professor estava falando o que o
facilitador da oficina estava falando [] ( Lideranccedila 1)
[] Eles se comunicavam direito soacute natildeo sei se todo mundo entendia [] sei natildeo
[] (Grupo Focal 1)
c) Instrutores da proacutepria comunidade facilitariam a aprendizagem pela linguagem e
maior disponibilidade para tirar duacutevidas em qualquer horaacuterio aleacutem do momento
formal da oficina
E aiacute a gente entende que o curso que ele vai laacute passa oito horas no maacuteximo com o
pessoal e volta o que aquelas pessoas aproveitam Natildeo eacute mesma coisa de ser uma
coisa contiacutenua da pessoa que taacute laacute vai na casa conhece natildeo tem vergonha de tirar
duacutevida [] ( Lideranccedila 1)
d) Carga horaacuteria pequena poucos encontros e puacuteblico sem o perfil adequado para
alguns temas
[] A gente tinha pensado assim a gente escolheu acho que cinco ou seis cursos e
a gente achou que esses cursos iam ser contiacutenuos assim por exemplo Formataccedilatildeo
de projeto esse que a gente tava falando agora entatildeo ele ia um dia passava um
pouco de conhecimento as pessoas iam ficar com atividades para tentar elaborar
depois ele ia falava o que estava certo e o que estava errado a gente achou que isso
fosse mais um dia para cada tema mas natildeo Depois a gente recebeu a informaccedilatildeo do
pessoal do ministeacuterio que tinha vindo uma cartela completa de cursos e que a gente
ia receber todos os cursos e cada curso seria um dia Entatildeo as pessoas natildeo
assimilaram [] Tem alguns cursos que a gente percebia que algumas pessoas natildeo
iam conseguir alcanccedilar tipo formataccedilatildeo de projeto eacute um curso assim que eacute
interessante mas para as lideranccedilas que jaacute tem um pouquinho de conhecimento mas
como vai ensinar ao agricultor a fazer Projeto Eles natildeo vatildeo entender nada natildeo eacute
[] mas em um dia eacute praticamente impossiacutevel [] Era um dia (Lideranccedila 1)
e) As oficinas poderiam ter sido uma oportunidade de trabalho para profissionais da
comunidade que mesmo capacitados saem da comunidade para procurar
trabalho fora
[] Que a gente pensava que poderia ser uma coisa contiacutenua a gente tem matildeo de
obra mas as pessoas precisam sair da comunidade pra trabalhar fora [] (Lideranccedila
1)
160
f) Nuacutemero de participantes pequeno em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas por exemplo O criteacuterio de representaccedilatildeo deveria ser
proporcional ao nuacutemero de habitantes da comunidade para envolver mais
pessoas
O que eu acho eacute porque essas formaccedilotildees que teve foi por representaccedilotildees se a gente
tivesse dentro da escola digamos um planejamento melhor junto com essas pessoas
junto com o proacuteprio professor e colocando essa temaacutetica com o proacuteprio aluno ele
seria muito mais abrangente eu acho que teria mais resultados porque seria uma
clientela maior porque o territoacuterio eacute muito grande pra vocecirc ter representaccedilotildees
Digamos que numa comunidade de 4 mil habitantes vocecirc ter 30 pessoas numa
reuniatildeo neacute Eacute claro que tem quer ser uma coisa gradativa mas poderia ser maior
poderia ser bem maior (Grupo Focal 1)
O que pode ser apontado como resultado ou desdobramento das atividades realizadas
pelo Programas nas comunidades quilombolas tem perspectiva diferente para teacutecnicos e
gestores e para o puacuteblico ldquoreceptorrdquo da accedilatildeo pedagoacutegica ou seja para moradores e lideranccedilas
quilombolas
Na perspectiva de teacutecnicos e gestores desdobramento ou resultado eacute realizar
ldquoSeminaacuterio para fechar acordos e parceriasrdquo e produzir ldquodocumento com diagnoacutestico das
aacutereas quilombolasrdquo para serem tomadas decisotildees ldquoa partir da realidade de cada uma delasrdquo e
natildeo junto com elas tendo a populaccedilatildeo como protagonista
[] Vai ter o seminaacuterio agora esse ano como vocecirc deve estar sabendo e vai ser
tambeacutem pra amarrar essas parcerias pra estabelecer esse acordo Vai ter o
seminaacuterio se eu natildeo me engano final de outubro com todas as comunidades
quilombolas um seminaacuterio uacutenico com todas elas principalmente pra fechar os
acordos e as parcerias com essas instituiccedilotildees externas ao projeto (Teacutecnico 3)
[] Entatildeo assim hoje a gente conhece muito bem essas comunidades Esse material
ele estaacute na revisatildeo final porque tambeacutem eacute um material que vai dar a possibilidade de
qualquer um de qualquer oacutergatildeo ler esse documento e propor alternativas para a
comunidade mas de acordo com a realidade de cada uma delas Natildeo precisa nenhum
pesquisador chegar e propor coisas porque isso a gente sabe que tambeacutem natildeo daacute
certo ou vocecirc constroacutei com o outro ou seu projeto estaacute fadado ao fracasso total
Entatildeo nesse trabalho independente da instituiccedilatildeo ele vai olhar o material e vai falar
ldquobom nessa comunidade o importante o que eacute necessaacuterio eacute isso aquirdquo Porque o
material ficou tatildeo rico que vocecirc lendo eacute como se vocecirc estivesse na comunidade
Entatildeo noacutes estamos nessa fase agora nessa conclusatildeo na revisatildeo desse diagnoacutestico e
nessa revisatildeo tudo que foi todo esse conhecimento adquirido laacute possibilitou a
criaccedilatildeo desse plano de capacitaccedilatildeo com os quilombolas que eacute o que estamos
concluindo [] Vai sim vai para as comunidades A ideia eacute entregar para as
proacuteprias comunidades um para cada uma delas e depois ele deve ficar disponiacutevel
no site do Ministeacuterio como a maioria dos documentos na aacuterea do Entatildeo a gente
estaacute nessa fase (Gestora 10)
161
Na perspectiva de lideranccedilas e moradores quilombolas o resultado do trabalho de
educaccedilatildeo ambiental apresentou poucos sinais concretos Um dos exemplos apontado como
positivo foi a mudanccedila no tratamento dado aos resiacuteduos soacutelidos em Santana apoacutes uma das
oficinas
[] Uma coisa tambeacutem que teve no curso deles foi sobre o lixo a gente discutiu
sobre o lixo eles falaram como era [] Pronto foi soacute isso [] E essa eacute uma accedilatildeo
que a gente taacute colocando em praacutetica [] Porque a gente antigamente juntava os
munturos hoje natildeo a gente jaacute sabe o dia da coleta taacute separando praacute coleta Eacute quarta
aqui neacute [] Eacute quarta Eles passam aqui [] Tem [] Eles se mobilizaram fizemos
abaixo-assinado e aiacute a prefeitura atendeu Foi soacute isso mesmo que saiu eu acho
(Grupo Focal 3)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas um dos aspectos criacuteticos ou dificultadores para o
desdobramento do que foi trabalhado nas oficinas eacute a problemaacutetica de acesso agrave aacutegua que
inviabiliza desenvolver atividades de pecuaacuteria um dos temas debatidos
A temaacutetica sobre associativismo apresentou alguns resultados com melhora de gestatildeo
na associaccedilatildeo percebida principalmente nos siacutetios mais afastados da Vila Centro Mas de
maneira geral as mudanccedilas satildeo imperceptiacuteveis ateacute o momento como ldquoalgo vagordquo que natildeo
interfere e estaacute distante da realidade concreta de vida da comunidade
Alguma coisa [] Muito pouco Porque fizeram as oficinas mas natildeo na praacutetica
mesmo [] Mas quem ia fazer era noacutes aqui natildeo era eles natildeo Eles vieram daacute as
oficinas mas noacutes eacute que ia fazer Mas tambeacutem porque a circunstacircncia natildeo ajudou
[]
Foi justamente o periacuteodo de seca [] E era de criaccedilatildeo de animais E natildeo tinha
animais tambeacutem [] Algumas coisas Tem coisas que dependia da aacutegua [] Porque
desde que a gente procure parcerias [] Para algumas comunidades teve Nas outras
comunidades vizinhas nos Siacutetios [] Natildeo nos siacutetios Dentro do Territoacuterio mas nos
Siacutetios [] A gestatildeo dentro da associaccedilatildeo mesmo porque algumas coisas eles natildeo
tinham conhecimento (Grupo Focal 1)
[] O resultado disso ateacute agora mesmo nada natildeo apareceu nada ateacute ai [] (Grupo
Focal 2)
A falta de apoio financeiro para desenvolver projetos a partir dos conteuacutedos
trabalhados nas oficinas foi outro fator Cabe uma reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo dos temas em
funccedilatildeo da questatildeo climaacutetica assim como o apoio restrito do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo no
incentivo e apoio que viabilizasse projetos alternativas reais para melhoria da qualidade de
vida conforme descrito nos documentos como objetivo do PBA 4
Eu acho que tambeacutem vocecirc pergunta sobre os resultados disso Vocecirc tem a
formaccedilatildeo tem o conhecimento mas natildeo tem o financiamento pra colocar isso em
praacutetica aiacute vocecirc natildeo vai pra canto nenhum vocecirc natildeo tem as condiccedilotildees necessaacuterias
162
Entatildeo vocecirc daacute um conhecimento a uma pessoa mas ai ela natildeo tem de onde tirar praacute
por em praacutetica esse conhecimento aiacute natildeo tem como ir praacute frente (Grupo Focal 1)
[] Ateacute agora nada [] Soacute a aprendizagem mesmo as pessoas que participaram
aprendiam alguma coisa soacute isso mesmo Sem pratica mesmo ningueacutem faz nada
Eacute sem a praacutetica [] Eacute soacute teve o apoio mesmo mas o projeto que a gente mais se
interessou que foi a criaccedilatildeo de galinha de capoeira galinha caipira eles disseram
que talvez pudesse ajudar depois quando a gente se movimentou fizemos o projeto
e tudo aiacute eles disse que natildeo que natildeo podia ajudar que ia ajudar soacute com o apoio
Aiacute faltou o dinheiro [] Todo mundo se mobilizou achando que jaacute ia comeccedilar a
criar galinha aiacute cadecirc o dinheiro [] Faltou verba Aiacute parou (Grupo Focal 3)
Resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos entrevistados (Quadro
10)
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas TEMAS
TRABALHADOS POR
COMUNIDADE
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
Carga horaacuteria
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de lideranccedilas e
moradores quilombolas)
Santana
- Elaboraccedilatildeo de Projetos
- Resiacuteduos Soacutelidos
Agricultores
Estudantes
Lideranccedilas
Alunos
Todos os
interessados
CARGA
HORAacuteRIA
- 8 horas por oficina
(Mensal - manhatilde e
tarde por vaacuterios
meses)
- Publicaccedilatildeo de diagnoacutestico
geral das comunidades)
- Seminaacuterio Estadual com
comunidades quilombolas
(outubro2013)
- Falta de condiccedilotildees financeiras
para por em praacutetica os conteuacutedos
trabalhados nas oficinas
- Dificuldade de acesso agrave aacutegua
inviabilizando a praacutetica da
pecuaacuteria
ContendasTamboril
-Accedilude aacutegua poccedilo
- Transposiccedilatildeo
- Meio ambiente
Conceiccedilatildeo das Crioulas
-Associativismo
- Empreendedorismo
- Criaccedilatildeo de pequenos
animais
- Geraccedilatildeo de renda
- Elaboraccedilatildeo de
Projetos
Fonte A autora a partir de Informaccedilatildeo verbal (entrevistas e grupos focais 2013)
A partir do exposto trazemos uma reflexatildeo sobre o trabalho de educaccedilatildeo ambiental
das praacuteticas pedagoacutegicas vivenciadas pela populaccedilatildeo quilombola que vai aleacutem da proposta
metodoloacutegica e intenccedilotildees preconizadas nos documentos oficiais
As praacuteticas educativas estatildeo presentes em diversas aacutereas do conhecimento dirigidas a
vaacuterios segmentos da sociedade contribuindo para manutenccedilatildeo ou para mudanccedilas na realidade
poliacutetica econocircmica social e ambiental das pessoas envolvidas com essas praacuteticas
Almeida em a ldquoNatureza me disserdquo faz uma reflexatildeo de que a triacuteade ldquoinformaccedilatildeo
conhecimento sabedoriardquo natildeo pode ser vista como sinocircnimo Haacute que distingui-las e
considerar que saber pensar bem para enfrentar e conviver com os enormes problemas e
desafios em niacuteveis local e global depende da transformaccedilatildeo da informaccedilatildeo em conhecimento
e do conhecimento em sabedoria (SILVA F 2007)
163
Almeida afirma que ldquopodemos dispor de informaccedilatildeo e natildeo ter conhecimento algumrdquo
ou seja ser possuidor de muitas e valiosas informaccedilotildees natildeo implica na construccedilatildeo de
conhecimento (SILVA F 2007)
O modelo vigente de educaccedilatildeo seja formal ou informal ainda privilegia a transmissatildeo
de conteuacutedos o repasse de informaccedilotildees Para Almeida o conhecimento eacute construiacutedo com a
seleccedilatildeo de informaccedilotildees mais importantes da articulaccedilatildeo entre elas e da atribuiccedilatildeo de
significado das mesmas (SILVA F 2007)
Sendo o conhecimento o tratamento de informaccedilotildees se pode pensar num ldquotrabalho
artesanal do pensamento como se o mesmo tivesse matildeos para dar forma ao que vemos
ouvimos sentimos tocamos e apreciamosrdquo (SILVA F 2007 p 8)
Tratando-se de uma accedilatildeo com comunidades tradicionais detentoras de um
conhecimento proacuteprio nos parece pertinente a analogia feita pelo autor quando refere-se agrave
construccedilatildeo do conhecimento como semelhante ao trabalho do oleiro que com suas matildeos daacute
forma ao barro que se torna pote panela ou telha Tal analogia permite tambeacutem dizer que
informaccedilotildees e barro como o pensamento e o oleiro satildeo mateacuterias brutas a serem lapidadas
pelos dois artesatildeos - o artesatildeo do pensamento e o artesatildeo do tijolo e da telha Queremos com
isso realccedilar a importacircncia dos ldquodois artesatildeosrdquo que no mundo acadecircmico seria o professor e o
aluno o intelectual ou cientista e o leigo
A autora introduz uma compreensatildeo ampliada do que seja um intelectual contraacuterio ao
sinocircnimo de cientista ou acadecircmico para aquele que manteacutem viva a curiosidade sobre o
mundo agrave sua volta natildeo se contenta com uma soacute interpretaccedilatildeo e observa as vaacuterias faces do
mesmo fenocircmeno e faz da tarefa de transformar informaccedilotildees em conhecimentos uma praacutetica
sistemaacutetica permanente cotidiana Essa visatildeo nos apresenta o que Almeida chama de
intelectual da tradiccedilatildeo que satildeo artistas do pensamento que distantes dos bancos escolares e
universidades desenvolvem a arte de ouvir e ler a natureza agrave sua volta (SILVA F 2007 p
8)
Pensando agora em sabedoria natildeo podemos estabelecer uma relaccedilatildeo linear de que
todos que transformam informaccedilatildeo em conhecimento constroem sabedoria Natildeo eacute bem assim
Mesmo vivendo o ldquoseacuteculo da informaccedilatildeo a sociedade do conhecimentordquo como vem sendo
classificado o seacuteculo vinte e um estamos cercados e bombardeados de informaccedilotildees mas natildeo
podemos dizer que dispomos de um banco de sabedoria Para Silva F (2007 p 8)
A sabedoria parece ser mais um jeito de viver e sentir do pensamento uma maneira
de falar do mundo que associa simplicidade e sentimento de parentesco coragem e
afeto vontade de verdade e consciecircncia da incompletude e do erro Sendo maior
mais plena mais essencial e duradoura a sabedoria natildeo se reduz a um conjunto de
164
conhecimentos A sabedoria eacute como o lodo que manteacutem viva uma lagoa eacute o que
sobrevive em meio agrave superpopulaccedilatildeo das ideias dos conceitos das informaccedilotildees
Dando reconhecimento ao intelectual da tradiccedilatildeo muitas vezes detentor de rica
sabedoria fazemos menccedilatildeo aos povos tradicionais ao povo quilombola que possuem um
vasto conhecimento sobre a natureza e uma rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias
geraccedilotildees Conhecimentos que assumem grande importacircncia para diversas aacutereas da ciecircncia
Estes povos por possuiacuterem uma dependecircncia da natureza para sua subsistecircncia adquiriram
uma iacutentima relaccedilatildeo com esta bem como grande conhecimento e maneira diferente de usaacute-la e
manejaacute-la de forma sustentaacutevel jaacute que sua sobrevivecircncia depende diretamente dela (SOUSA
SANCHEZ 2013)
O intelectual da tradiccedilatildeo estaacute ldquovivordquo em cada comunidade quilombola e identificado
pelas suas lideranccedilas e moradores Cabe agrave academia e aos oacutergatildeo governamentais apreenderem
e reconhecerem o real lugar que deve ocupar esse saber ao pensar em poliacuteticas de educaccedilatildeo
ambiental
[] Eu acho que a gente estuda muito se ateacutem muitos aos livros e muitas vezes o
conhecimento ele jaacute vem sendo praticado e as pessoas jaacute satildeo detentoras do
conhecimento e da sabedoria porque essa questatildeo da educaccedilatildeo ambiental meu pai
jaacute eacute educador ambiental minha avoacute era mais educador ambiental do que eu quando
ela natildeo desmatava quando ela respeitava o habitat natural dos animais quando ela
natildeo caccedilava alguns tipos de animais esse animal natildeo falava em extinccedilatildeo como a
gente fala hoje falava lsquoesse animal tem pouco aqui natildeo pode matarrsquo ou entatildeorsquoesse
aiacute natildeo pode matar eacute eacutepoca desse animal fazer o ninho delersquo ou entatildeo lsquo esse animal
ele taacute prenha e tudorsquo entatildeo que jaacute era educada ambientalmente neacute (Lideranccedila 1)
Aproximando essas reflexotildees para o trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado para o
povo quilombola e natildeo com o povo quilombola parece natildeo ter havido o envolvimento dos
intelectuais da tradiccedilatildeo nas accedilotildees implementadas o que entre outras questotildees comprometeu
a consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos
Essa avaliaccedilatildeo se daacute no sentido de identificar aspectos que foram potencializados no
Subprograma comprometendo resultados junto agraves comunidades quilombolas Relacionamos
alguns fatores
a) Conteuacutedos trabalhados com ecircnfase na transmissatildeo de informaccedilotildees
b) Sendo temas relevantes o conteuacutedo e a linguagem em algumas oficinas natildeo
foram adequados agrave realidade dos participantes
c) Fraacutegil relaccedilatildeo dos conteuacutedos com a realidade quilombola
165
d) Natildeo inclusatildeo dos intelectuais da tradiccedilatildeo no caso os agricultores quilombolas e
outros profissionais da comunidade como potenciais instrutores para apontar
alternativas de enfrentamento aos problemas locais
e) Falta de apoio financeiro e de instituiccedilotildees parceiras para realizaccedilatildeo de projetos
aplicaacuteveis agrave realidade
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas
Este Subprograma apresenta como objetivo
Realizar a capacitaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos para a praacutetica da
Educaccedilatildeo Ambiental no Ensino Formal nas redes Municipais e Estaduais de
educaccedilatildeo visando contribuir para elaboraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas consistentes
no curriacuteculo escolar em conjunto com alunos e comunidade local considerando a
escola como o espaccedilo fundamental para a socializaccedilatildeo e desenvolvimento de
competecircncias em temaacuteticas ambientais bem como as relacionadas ao Projeto de
Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 124)
Eacute dirigido principalmente aos coordenadores pedagoacutegicos e professores que atuam
com alunos oriundos das localidades apontadas pelos PBA 8 15 e 17 visando a inclusatildeo de
temaacuteticas ambientais nos projetos educacionais em 18 das escolas de ensino fundamental e
meacutedio dos 17 municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ateacute dois anos a partir da
aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo 18 dos professores eou coordenadores pedagoacutegicos dos 17
municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) capacitados para desenvolver COM-
VIDAS22
nas suas escolas ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL
2010)
Em relaccedilatildeo agrave Salgueiro a meta apontava a capacitaccedilatildeo de 513 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 47 escolas do municiacutepio E tratando-se de comunidades
quilombolas procurando preencher o criteacuterio de no miacutenimo um professor e um coordenador
pedagoacutegico das (ou que atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo Programa
17 No total dos municiacutepios envolvidos a meta eacute a capacitaccedilatildeo de 5681 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 678 escolas (BRASIL 2010 p 125)
22
A Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida - Com-vida - eacute uma nova forma de organizaccedilatildeo na
escola que junta a ideia dos jovens da I Conferecircncia de criar ldquoconselhos de meio ambiente nas escolasrdquo com
os Ciacuterculos de Aprendizagem e Cultura proposto pelo educador Paulo Freire Estudantes satildeo os principais
articuladores da Com-vida Com-vidas podem ser criadas tambeacutem em outros espaccedilos e juntando gente de
empresas organizaccedilotildees da comunidade Associaccedilotildees (de bairro de moradores) em Organizaccedilotildees Natildeo-
Governamentais (ONGs) igrejas Comitecircs de Bacias Hidrograacuteficas (Brasil MMA e ME Formando COM-
VIDA Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola -Construindo Agenda 21 na Escola
Brasiacutelia 2012)
166
Como justificativa para elaboraccedilatildeo do Subprograma haacute o argumento governamental
de que
A Educaccedilatildeo Ambiental na escola eacute uma accedilatildeo complementar agrave gestatildeo do ambiente
escolar com reflexos persistentes que se estendem para as comunidades atraveacutes de
seus alunos e professores e no contexto do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco ndash PISF ela pode maximizar os impactos positivos e tornar mais diminuto
seus impactos negativos (BRASIL 2010 p 122)
Para implementaccedilatildeo do Subprograma foi previsto o trabalho pela equipe de Educaccedilatildeo
Ambiental no formato de quatro moacutedulos de capacitaccedilatildeo com duraccedilatildeo de quatro horas cada
em torno de quatro eixos temaacuteticos (BRASIL 2010 p 123)
a) Compreensatildeo do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e o papel da
Educaccedilatildeo na Ambiental na Mitigaccedilatildeo de Impactos
b) Construccedilatildeo do Mapeamento Ambiental participativo
c) Formaccedilatildeo da Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida COM-VIDA
conforme proposta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
d) Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) e a construccedilatildeo da Agenda Ambiental escolar
Com base nos temas acima o Subprograma pretende ldquoestimular para uma accedilatildeo
participante e emancipadora da comunidade escolar em decisotildees sobre os processos e
produtos resultantes do PISFrdquo intercalando entre os moacutedulos atividades modulares para
permitir a aplicabilidade dos conteuacutedos sugeridos nos momentos presenciais (BRASIL 2010
p 123-126)
A proposta prevecirc tambeacutem que apoacutes um ano de conclusatildeo da capacitaccedilatildeo dos
professores ocorreraacute uma Oficina com objetivo de verificar as experiecircncias na implantaccedilatildeo
das COM-VIDA
Narrativas mostram que foram feitas as atividades de formaccedilatildeo e que envolveram
profissionais que atuam junto agraves comunidades quilombolas
Esse programa felizmente ele jaacute estaacute praticamente concluiacutedo Fizemos o que tinha
sido proposto no documento trabalhamos com a capacitaccedilatildeo dos educadores dos 17
municiacutepios envolvendo o setor educacional tanto municipal como estadual []
(Gestora 10)
Realmente eles apareceram aqui [] e eles nos convidaram a participar de uma
formaccedilatildeo Foram alguns coordenadores que participaram dessa formaccedilatildeo inclusive
eu natildeo participei no primeiro momento dessa formaccedilatildeo fiquei de fora porque o meu
foco era outro era tecnologia mas depois eu voltei a participar [] Foi para os
167
professores da sede e da zona rural e os quilombolas tambeacutem Noacutes temos a
comunidade quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas [] A comunidade de Santana
tambeacutem e Contendas Na eacutepoca a gente tinha duas escolas multisseriadas aiacute tinha
uma coordenadora tambeacutem aqui ela era coordenadora participava dessa formaccedilatildeo
que era pra dar continuidade aos trabalhos (Gestora 5)
[] Todos que estavam no projeto estavam envolvidos e os quilombolas tambeacutem
(Gestora 7)
A temaacutetica da formaccedilatildeo inseriu questotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e seus
impactos questotildees sobre patrimocircnio puacuteblico e o projeto COM-VIDA compatiacutevel com os
eixos contidos no Subprograma
Era sobre o projeto de Integraccedilatildeo mesmo os impactos o que eacute que causa a
sustentabilidade o patrimocircnio puacuteblico sobre essas questotildees sobre o Comvida
tambeacutem ele enfatizaram nas uacuteltimas formaccedilotildees [] (Gestora 5)
Os instrutores foram da empresa CMT e todo material foi disponibilizado pelo projeto
da transposiccedilatildeo
[] todo material da formaccedilatildeo foram eles que disponibilizaram A gente soacute ficou
com o espaccedilo e garantiu os coordenadores e os professores [] eacute era o puacuteblico da
formaccedilatildeo Mas os instrutores deles o material tambeacutem era deles (Gestora 5)
A compreensatildeo mais geral desse processo de formaccedilatildeo pelos sujeitos do estudo traz o
seguinte desenho aceitar o que jaacute vem pronto pela CMT como forma de ter acesso a
informaccedilotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e cobrar o que eacute de direito em seguida Haacute uma
visatildeo tambeacutem de que a obra natildeo seraacute concluiacuteda se a comunidade natildeo tiver conhecimento e
natildeo se mobilizar
[] porque eu mesmo penso dessa forma se o professor natildeo tiver o conhecimento
se as comunidades natildeo tiverem esse conhecimento se elas natildeo forem mobilizadas
elas natildeo vatildeo aceitar nunca e essa obra natildeo vai terminar nunca A gente precisa
tambeacutem ateacute aprender a cobrar Jaacute que veio entatildeo vamos cobrar o que eacute de nosso
direito eacute isso que eu estimulo eles os professores os coordenadores (Gestora 5)
Quanto ao niacutevel de envolvimento dos participantes relatos potildeem em duacutevida que tenha
havido uma ldquoaccedilatildeo participante e emancipadorardquo Com a proposta de formaccedilatildeo toda
estruturada houve poucas possibilidades de articulaccedilatildeo e adequaccedilatildeo agrave realidade
[] Esse pessoal da CMT eacute que mais procura a gente vem procurar e fazer esses
encontros mas eacute como se fosse assim teu serviccedilo eacute isso e tu tem de daacute conta dessa
formaccedilatildeo Ou tu faz essa formaccedilatildeo ou a tua empresa estaacute descontratada Eacute dessa
forma que eu vejo Aiacute eles chegam aqui tem que ser tem que acontecer tem uns
que ainda satildeo mais maleaacuteveis que a gente consegue fazer essa articulaccedilatildeo mas eacute
que meu puacuteblico precisa disso eu queria isso daacute pra vocecirc fazer isso Tem uns que
satildeo mais maleaacuteveis mas tem outros [] eacute mas outros natildeo eacute isso aqui que tenho eacute
168
isso aqui que eu trago jaacute traz o livrinho pronto Esse livrinho que eu tenho eacute essa
alternativa que eu tenho pra vocecirc E aiacute a gente recebendo [] (Gestora 5)
O processo de formaccedilatildeo eacute percebido com ressalvas sem o devido acompanhamento e
continuidade fatores necessaacuterios para estimular e apoiar Coordenadores e professores Natildeo
houve um planejamento compatiacutevel com o calendaacuterio e organizaccedilatildeo da Secretaria municipal
outro aspecto que dificultou o monitoramento da proposta O fato de serem instrutores de uma
empresa contratada pelo projeto da transposiccedilatildeo tambeacutem contribui para as interrupccedilotildees no
processo e o natildeo envolvimento posterior para consolidar o trabalho nas escolas
[] Agora eu vejo assim a minha visatildeo neacute [] Acho que o projeto de formaccedilatildeo
continuada daqui da secretaria tinha um Projeto e ele entrava dentro do projeto
daqui soacute que por conta da quebra de natildeo ter um calendaacuterio organizado e nem ter
um monitoramento a gente teve perda Teve quebras e faltou monitoramento
(Gestora 7)
[] E assim o que eu vi que eu achei estranho eacute porque eles natildeo tem um
direcionamento uma continuidade eles tem o projeto mas eacute como se fosse um
evento natildeo tem uma continuidade mesmo nessa formaccedilatildeo e assim fica meio que
solto isso natildeo eacute interessante para o professor O professor precisa ter continuidade
no trabalho para que tambeacutem ele seja motivado pra que ele invista naquilo Ele
precisa ser investido e precisa ser motivado tambeacutem para fazer um investimento
naquele trabalho [] E assim eles comeccedilaram a formaccedilatildeo depois pararam Eacute uma
empresa contratada que vai embora entatildeo perde o contrato aiacute depois volta natildeo satildeo
as mesmas pessoas e natildeo eacute uma sequecircncia Porque noacutes fazemos formaccedilatildeo aqui no
municiacutepio mas a nossa formaccedilatildeo ela tem um direcionamento e tem uma
continuidade noacutes fizemos a formaccedilatildeo de agosto do ano passado e com o
encaminhamento da passada E assim eu natildeo vi essa continuidade assim hoje
mesmo acabou a formaccedilatildeo e ningueacutem mais aparece aqui como eacute que o professor vai
ser motivado (Gestora 5)
Refletindo sobre a proposta de uma formaccedilatildeo continuada relatos avaliam que a
mesma natildeo se efetivou apesar de uma ldquoproposta metodoloacutegica com base num diaacutelogo
democraacuteticordquo e da aceitaccedilatildeo dos profissionais ao trabalho oferecido O que aparece como
caracteriacutestica marcante do Subprograma eacute a realizaccedilatildeo de eventos fragmentados que natildeo
ganharam forccedila na rede escolar com dificuldades de articulaccedilatildeo tambeacutem junto agrave rede estadual
de ensino
[] Interessante boa A uacutenica coisa que faltou foi ter mais por ser uma coisa raacutepida
foi aquela coisa do monitoramento mesmo de estar mais junto de entrar nas
escolas dentro das comunidades O que faltou foi isso Vem pra formaccedilatildeo trabalhar
a formaccedilatildeo mas natildeo acompanha Porque tudo era bom e principalmente para o
Distrito todo mundo acolhia achando interessante e que era uma forma de fortalecer
o municiacutepio [] E acho que teve quebras e assim a gente teve tambeacutem algumas
dificuldades de se articular com a rede estadual porque o projeto natildeo era soacute pra rede
municipal era pra toda uma rede e teve momento que a gente natildeo teve articulaccedilatildeo
natildeo garantiu essa articulaccedilatildeo (Gestora 7)
169
Lembranccedilas de trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado junto agraves escolas sob
responsabilidade do SERTA23
eacute apresentado como exemplo que deu frutos contribuiu para
mudanccedilas na praacutetica pedagoacutegica de escolas do campo
Acho que aqui o municiacutepio de Salgueiro a gente avanccedilou mais no periacuteodo natildeo era
natildeo tem nada a ver com a transposiccedilatildeo no periacuteodo de 2004 ateacute 20082009 mais ou
menos com uma parceria um convecircnio que o municiacutepio firmou com uma ONG
chamada Serta que eacute daqui de Pernambuco [] Gloacuteria de Goitaacute Eacute aquela mesma e
aiacute a gente teve um trabalho com eles Um trabalho bem continuado [] De educaccedilatildeo
do campo que o foco deles eacute educaccedilatildeo do campo a proposta metodologia para
educaccedilatildeo do campo o desenvolvimento das escolas do campo de mudar um pouco
a cara das escolas do campo e a escola do campo ser propulsora de desenvolvimento
da comunidade Entatildeo entra a questatildeo da educaccedilatildeo ambiental sustentabilidade em
todos os sentidos Entatildeo acho que assim esse trabalho ele hoje eu diria que deu
mais fruto mais resultado porque foi um trabalho mais continuadoVocecirc vecirc as
escolas do campo hoje elas tem outro jeito outro jeito de tratar tambeacutem natildeo satildeo
todas porque algumas abraccedilaram a proposta outras mais outras menos [] Acho
que a transposiccedilatildeo do Ministeacuterio foram jaacute houve formaccedilatildeo e tudo mas assim eacute
muito pontual eventual [] (Gestora 6)
A constataccedilatildeo de que o Subprograma natildeo teve o acompanhamento devido para se
consolidar junto agraves escolas e comunidade local tendo se restringido aos momentos de
capacitaccedilatildeo com professores e coordenadores mostra uma fragilidade quanto aos
desdobramentos concretos da accedilatildeo
A consolidaccedilatildeo do projeto COM-VIDA um dos resultados pretendidos ficou
comprometido natildeo havendo o devido acompanhamento e incentivo aos professores para sua
implantaccedilatildeo nas escolas A carga horaacuteria pela sua restriccedilatildeo eacute vista como outro aspecto
dificultador para o ecircxito do Subprograma
[] Eacute um projeto de qualidade de vida Entatildeo no uacuteltimo encontro que eles vieram
aqui a uacuteltima formaccedilatildeo que vieram quando eu jaacute estava diretora de ensino eles
vieram e incentivaram que o objetivo era esse era instalar o Comvidas nas escolas e
aiacute eles fizeram toda a formaccedilatildeo o processo de formaccedilatildeo Deram vaacuterias dicas de
como a gente dar continuidade a esse trabalho mas assim natildeo foi dada
continuidade Assim natildeo vem natildeo tem uma continuidade um trabalho maior uma
cobranccedila ateacute pra que o professor seja motivado fica um trabalho meio solto
(Gestora 5)
[] Eu acho que natildeo caminhou muito natildeo Eu acho que o pessoal do Ministeacuterio do
Desenvolvimento da Integraccedilatildeo eles ateacute a gente jaacute fez algumas parcerias com eles
23
O Serviccedilo de Tecnologia Alternativa (Serta) eacute uma Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de interesse Puacuteblico
(Oscip) que tem como missatildeo formar jovens educadoresas e produtoresas familiares para atuarem na
transformaccedilatildeo das circunstacircncias econocircmicas sociais ambientais culturais e poliacuteticas na promoccedilatildeo do
desenvolvimento sustentaacutevel do campo Foi fundada em 1989 a partir de um grupo de agricultores teacutecnicos e
educadores que desenvolviam em comunidades rurais uma metodologia proacutepria para a promoccedilatildeo do meio
ambiente a melhoria da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas Desde sua origem teve
como foco o desenvolvimento e reconhecimento da importacircncia da agricultura familiar Atualmente o Serta
atua a partir de dois campi em Ibimirim (sertatildeo) agraves margens do Accedilude Poccedilo da Cruz e em Gloacuteria do Goitaacute
no Campo da Sementeira (regiatildeo do agreste) (SERVICcedilO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA 2014)
170
fizemos alguns estudos algumas formaccedilotildees e tal mas assim eacute muito eventual natildeo eacute
uma coisa continuada aiacute eu acho que nesse ponto natildeo se avanccedilou (Gestora 6)
Eu acho que a gente teve contato com os teacutecnicos para discutir o projeto de
formaccedilatildeo continuada [] E alguns teacutecnicos de laacute vinham discutiam a formaccedilatildeo
marcavam os dias e organizava o movimento de formaccedilatildeo continuada
principalmente do pessoal de sexta ao nono Acho que foi um movimento que natildeo
foi continuo natildeo foi continuado foi estanque teve quebras e acho que natildeo
condensou natildeo foi muito fortalecido [] Eu achei que era pequena Um projeto
desse natildeo pode ser trecircs dias e aiacute vai embora acontece que natildeo voltam de novo
(Gestora 7)
O resultado mais visiacutevel e evidente foram as informaccedilotildees obtidas em relaccedilatildeo ao
projeto da transposiccedilatildeo que muitos natildeo conheciam e desacreditavam na execuccedilatildeo de
empreendimentos como o PISF entre outros motivos pelo desvio de recursos puacuteblicos
ocorridos com outras obras para regiatildeo
Olha eu acho que o conhecimento foi o mais visiacutevel porque assim muita gente natildeo
conhecia e assim passou a conhecer a ter mais conhecimento a respeito da obra mas
que eles natildeo tinham e ateacute que eu vejo isso como o ponto negativo tambeacutem ia ter um
impacto tatildeo grande que eu acho que devia ter se preparado mais cedo [] veio um
pessoal tambeacutem fazer outra formaccedilatildeo aqui e eu falei isso e aiacute um coordenador
levantou e disse mas a gente natildeo acredita mais que as coisas vem e que vatildeo
acontecer porque satildeo vaacuterios poliacuteticos desviando obras vaacuterias pessoas que estatildeo e
que desviam as verbas entatildeo a gente natildeo acredita mais Talvez seja isso que falavam
e as pessoas natildeo acreditaram e ai houve esse desconhecimento esse despreparo
tanto das comunidades como aqui da cidade mesmo [] (Gestora 5)
Eu acredito que estava neacute E ele vinha com toda uma organizaccedilatildeo tanto de moacutedulo
como de apostila taacute entendendo Agora eacute isto que eu estou te dizendo eu acredito
que a rede neacute principalmente o pessoal do municiacutepio neacute os professores aderiram
abraccedilaram agora por conta de natildeo ter um acompanhamento laacute na base entendeu
Natildeo eacute soacute fazer a formaccedilatildeo vocecirc tem quer ir na base e vecirc como eacute que estaacute o projeto
se de fato entrou na sala de aula entrou nas comunidades Acho que faltou isso
tambeacutem (Gestora 7)
Haacute sugestatildeo de que os conteuacutedos da formaccedilatildeo e a visatildeo geral sobre o projeto da
transposiccedilatildeo precisavam estar mais acessiacuteveis agrave populaccedilatildeo como um todo e natildeo apenas entre
os teacutecnicos e secretaacuterios E para educaccedilatildeo formal seria importante inserir conteuacutedos sobre o
projeto da transposiccedilatildeo nas disciplinas em geral
Dentro das ciecircncias neacute Dava pra ter entrado dentro de geografia Agora mesmo a
gente estava discutindo algumas coisas neacute Ivone do Projeto Intermodal Da entrada
disso Tem conhecimento que estaacute muito na cabeccedila dos teacutecnicos dos secretaacuterios
acho que precisava estaacute mais no povo Acho que tem muita gente que desconhece
acho que precisava ter mais isso o que eacute o projeto Quais satildeo os impactos dele E
assim pras crianccedilas para os jovens pra todo mundo que tivesse nessa comunidade
em Salgueiro entendeu (Gestora 7)
171
Reforccedilando a proposta de ampliar o debate sobre o projeto da transposiccedilatildeo a formaccedilatildeo
deveria ser retomada de maneira continuada e formalizar amplamente nas escolas o projeto
como objeto de conhecimento sugere o mesmo entrevistado
Eu acho que tem de voltar urgente a coisa da formaccedilatildeo natildeo pode parar natildeo pode ser
uma formaccedilatildeo para uma rede tem que estar pensando nas duas a cidade os
educadores de todas as redes e pra pensar isso o que eacute que a gente fez ateacute agora
Onde a gente avanccedilou Onde a gente taacute precisando mudar E do que eacute que
Salgueiro talvez precisa a escola de Salgueiro pra falar sobre isso praacute aprender
sobre isso e para intervir nisso Porque se natildeo vai vir mais um projeto que ningueacutem
conhece [] Eacute o que vai impactar aqui Tem que estar nas escolas em todas as
escolas Eu acho que quase natildeo se fala Eu vejo falar na rua mas na escola eu natildeo
vejo como objeto de conhecimento Eu acho que precisava a gente tava ateacute fazendo
uma pesquisa pra comeccedilar a pegar neacute tanto o Projeto do Rio Satildeo Francisco como
todo esse movimento que a gente taacute vivendo praacute comeccedilar a entrar na escola neacute
(Gestora 7)
Na percepccedilatildeo de gestor da equipe da CMT uma conclusatildeo eou desdobramento do
trabalho refere-se agrave produccedilatildeo de publicaccedilatildeo fruto das oficinas e atividades intermodulares a
ser disponibilizada agraves escolas envolvidas
[] e a conclusatildeo desse trabalho vai ser uma publicaccedilatildeo jaacute estaacute pra ser publicado
chama Cadernos de Produccedilatildeo Coletiva Noacutes usamos nesse momento tambeacutem as
atividades inter-modulares neacute fazemos a capacitaccedilatildeo com eles e depois as
atividades inter-modulares e agora noacutes estamos concluindo essa publicaccedilatildeo Ao
final noacutes vamos entregar para todas as escolas participante do processo (Gestora 10)
Pelo exposto o processo de trabalho realizado junto aos profissionais da educaccedilatildeo natildeo
esteve calcado no que se refere Anastasiou (1998 apud PIMENTA ANASTASIOU 2002)
a um processo de ensinagem Incorporando as contribuiccedilotildees de Vasconcellos (1995 apud
PIMENTA ANASTASIOU 2002) a compreensatildeo do processo de ensinagem se amplia
como um meacutetodo dialeacutetico de ensino cujos momentos fundamentais satildeo trecircs a mobilizaccedilatildeo
para o conhecimento a construccedilatildeo do conhecimento e a elaboraccedilatildeo da siacutentese do
conhecimento
A mobilizaccedilatildeo para o conhecimento eacute possibilitar ao aluno um direcionamento para o
processo pessoal de aprendizagem sendo necessaacuterio que o professor provoque acorde
vincule e sensibilize o aluno em relaccedilatildeo ao objeto de conhecimento para deixaacute-lo ldquoligadordquo
durante o processo Importante para isto eacute articulaccedilatildeo entre a realidade concreta e o grupo de
alunos (aqui no caso grupo de professores) entre suas redes de relaccedilotildees visotildees de mundo
percepccedilotildees e linguagens de modo que possa acontecer o diaacutelogo (PIMENTA
ANASTASIOU 2002 p 214-215)
172
A construccedilatildeo do conhecimento eacute vista como momento da atividade do aluno quer seja
por meio de pesquisa estudo individual seminaacuterios o que permite estabelecer relaccedilotildees que
identificam como o objeto do conhecimento se constitui (LIBAcircNEO 1985 apud PIMENTA
ANASTASIOU 2002)
Segundo os autores as atividades dos alunos podem ser definidas por sete categorias
como
a) Significaccedilatildeo estabelecer os viacutenculos nexos do sujeito ao objeto do conhecimento
b) Problematizaccedilatildeo problema que se encontra na origem do conhecimento
c) Praacutexis accedilatildeo do sujeito sobre o objeto Permite articular conhecimento com a
praacutetica social que lhe deu origem
d) CriticidadeO conhecimento ligado a uma visatildeo criacutetica buscando a verdadeira
causa das coisas
e) Continuidade- ruptura partir de onde o aluno se encontra para um conhecimento
mais elaborado
f) Historicidade os conhecimentos estatildeo num quadro relacional e deixar claro que a
siacutentese atual pode ser superada por novas siacutenteses por ser histoacuterica e contextual
g) Totalidade Articular conhecimento com a realidade seus determinantes seus
nexos internos (combinar siacutentese com anaacutelise)
A elaboraccedilatildeo da siacutentese como terceiro momento estaacute relacionado ao momento da
sistematizaccedilatildeo da expressatildeo empiacuterica do aluno sobre o objeto apreendido Eacute o momento da
consolidaccedilatildeo de conceitos (PIMENTA ANASTASIOU 2002 p 214-215)
Na relaccedilatildeo mais direta com a avaliaccedilatildeo que nos interessa focaremos no momento da
construccedilatildeo do conhecimento por acreditarmos que houve uma fragilidade maior neste
momento comprometendo o elo entre o momento posterior (siacutentese do conhecimento) O fato
de o puacuteblico alvo ser profissional da educaccedilatildeo natildeo o coloca diferente no momento em que
estaacute como educando
Lembremos que neste Subprograma a queixa maior foi com a quebra a falta de
continuidade do processo a realizaccedilatildeo de encontros pontuais com coordenadores e
professores que descaracterizaram a formaccedilatildeo continuada ldquoesvaziandordquo o momento da
construccedilatildeo do conhecimento
Mas o trabalho gerou alguns frutos parece que em escolas da zona rural onde outros
projetos de educaccedilatildeo ambiental foram desenvolvidos e havia maior sensibilizaccedilatildeo para a
temaacutetica
173
[] Eu acho que a gente sente mais isso nos Projetos da zona rural Como eles
tiveram muito trabalho voltado para a sustentabilidade voltado para o
empoderamento do homem do campo haacute mudanccedila Eu acho que eles tem mais
projetos que educa para o meio ambiente Natildeo satildeo as Escolas do Campo Todas elas
tem assim mais um perfil voltado trabalha o problema local a seca como a gente
pode estabelecer convivecircncia [] E aiacute fazendo projetos a gente teve um movimento
desses a partir dos trabalhos do Ministeacuterio a gente desenvolveu na escola vaacuterios
projetos que davam conta de educar para o meio ambiente (Gestora 7)
O que se constata eacute que as praacuteticas educativas sejam nas escolas sejam em grupos
sociais ainda se realizam predominantemente por meio de repasse de muitos conteuacutedos
muitas informaccedilotildees e o educador natildeo instiga os participantes a pensar sobre eles
Lembrando Rubem Alves que acredita na funccedilatildeo e papel do professor como
provocador de espanto e que para ensinar o professor deve estar tambeacutem numa posiccedilatildeo de
maravilhamento ele traz a origem do verbo grego Thaumatesen que significa maravilhar-se
Para os gregos o pensamento comeccedila a funcionar quando noacutes ficamos perplexos diante do
objeto porque a gente natildeo entende o objeto a gente quer ver o objeto a gente quer entender o
objeto e aiacute fica ali meio bestificado diante daquela coisa Neste momento a curiosidade estaacute
funcionando a inteligecircncia comeccedila a funcionar e a gente comeccedila a fazer perguntas (ALVES
2010)
As palavras deste educador satildeo reveladoras da grande defasagem e distacircncia entre os
processos pedagoacutegicos em funcionamento nas vaacuterias instacircncias da educaccedilatildeo seja formal ou
informal E se tratando de formaccedilatildeo para educaccedilatildeo ambiental em realidades quilombolas o
fosso parece ser maior e mais complexo
O quadro 11 traz um resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos
entrevistados e do conteuacutedo do Subprograma
174
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Escolas
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA
HORAacuteRIA
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo
institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de gestores )
educaccedilatildeo)
Coordenadores e
professores das
Escolas Municipais e
Estaduais em
Salgueiro (Sede zona
rural comunidades
quilombolas)
Segundo narrativas
- Impactos do projeto
da transposiccedilatildeo
- Patrimocircnio Puacuteblico
- Projeto Com vida
Segundo o
Suprograma
- Compreensatildeo do
Projeto de Integraccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco e
o papel da Educaccedilatildeo
Ambiental na
Mitigaccedilatildeo de Impactos
-Construccedilatildeo do
Mapeamento
Ambiental
Participativo
-Formaccedilatildeo da
Comissatildeo de Meio
Ambiente e Qualidade
de Vida COM-VIDAs
-Projeto Poliacutetico
Pedagoacutegico (PPP) e a
construccedilatildeo da Agenda
Ambiental escolar
- 4 moacutedulos com
4 horas cada
Total de 16
horas
- Atividades
intermodulares
- Cadernos de Produccedilatildeo
Coletiva
-Conhecimento sobre o
Projeto da transposiccedilatildeo
- Professores aderiram
mas natildeo houve
acompanhamento para
implantar projeto nas
escolas
Fonte A autora a partir de informaccedilatildeo verbal de gestores (entrevistas 2013)
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede
Este Subprograma tem como objetivo
Desenvolver accedilotildees formativas junto aos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica visando agrave elevaccedilatildeo de seu conhecimento em
questotildees relacionadas agrave sauacutede coletiva para mitigaccedilatildeo prevenccedilatildeo e controle das
situaccedilotildees socioambientais potencialmente causadoras de agravos agrave sauacutede
decorrentes do empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo e implementaccedilatildeo de Planos
de Accedilatildeo (BRASIL 2010 p 148)
O puacuteblico envolvido com o Subprograma satildeo Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica em especial os que atuam nas localidades de intervenccedilatildeo
da Educaccedilatildeo Ambiental comunidades quilombolas beneficiadas pelo Programa 17
(Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas) Vilas Produtivas Rurais Programa 08
(Programa de Reassentamento de Populaccedilotildees) e localidades listadas no Programa 15
(Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura e Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao longo dos
Canais) Os momentos de capacitaccedilatildeo pretendiam envolver no maacuteximo trinta participantes
175
por municiacutepio cujo treinamento presencial seria de oito horas Quanto agraves aacutereas quilombolas o
criteacuterio foi de envolver no miacutenimo um ACS e um Coordenador de Atenccedilatildeo Baacutesica das (ou que
atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo PBA 17 (BRASIL 2010 p 148)
Como justificativa o Subprograma ressalta que
[] os Agentes comunitaacuterios de Sauacutede e os Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica satildeo
atores relevantes no processo de minimizaccedilatildeo dos impactos negativos na sauacutede
ambiental e humana decorrentes do PISF para isso eacute necessaacuterio elevar o
conhecimento desses profissionais sobre os temas relacionados agrave obra
sustentabilidade e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 147)
A proposta para o trabalho foi construiacuteda com base no que apresentava o Relatoacuterio de
Impacto Ambiental o RIMA afirma um dos teacutecnicos da equipe responsaacutevel pela execuccedilatildeo do
Subprograma
Elas satildeo baseadas no proacuteprio Relatoacuterio de Impacto Ambiental- do RIMA no estudo
e no relatoacuterio Tanto o EIA quanto o RIMA identificaram impactos negativos do
projeto na aacuterea de sauacutede dos municiacutepios (Teacutecnico 3)
A metodologia do Subprograma previa como primeiro momento apresentar a
proposta agraves Secretarias de Sauacutede dos dezessetes municiacutepios envolvidos na Aacuterea Diretamente
Afetada- ADA do projeto da transposiccedilatildeo com intuito de aprovaccedilatildeo e ajustes necessaacuterios
bem como acordos quanto ao acompanhamento dos Planos de Accedilatildeo a serem estruturados
apoacutes a realizaccedilatildeo das oficinas
Segundo gestor da equipe teacutecnica da CMT esse momento foi cumprido junto agraves
Secretarias de sauacutede dos municiacutepios inseridos no Subprograma
Entatildeo de acordo com os temas sugeridos nesses dois programas noacutes fizemos assim
primeiro fomos nessas 17 secretarias municipais e aiacute conversamos com o gestor
municipal fizemos um breve diagnoacutestico de tudo que estava acontecendo nesses
municiacutepios com relaccedilatildeo a sauacutede puacuteblica A partir daiacute noacutes pegamos entatildeo o que
esse gestor falou sobre o assunto os temas propostos nesses dois programas e
fizemos essa metodologia de trabalho (Gestora 10)
A meta consistia em capacitar 49 dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede eou
Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo do
PBA 4 Natildeo temos informaccedilotildees para dimensionar o atendimento desta meta
A oficina de formaccedilatildeo para os profissionais da aacuterea de sauacutede ldquoteria como
desdobramento o desenvolvimento de accedilotildees preventivas e educativas em direccedilatildeo a melhoria
da qualidade de vida e que reduzam a pressatildeo sobre o sistema de sauacutede decorrente do
empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo democraacutetica de Planos de Accedilatildeo Participativosrdquo
176
afirma documento do Subprograma (BRASIL 2010 p 147) As oficinas realizadas tiveram o
envolvimento tambeacutem de lideranccedilas comunitaacuterias aleacutem de profissionais da sauacutede com a
intenccedilatildeo de se tornarem multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede
[] Eram profissionais da sauacutede agentes ambientais agentes de sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias o pessoal da diretoria e da secretaria tambeacutem foram convidados A
princiacutepio foram mas depois desistiram no meio do caminho mas ficou a gente
ficaram os agentes de sauacutede os agentes ambientais e as lideranccedilas comunitaacuterias []
Das aacutereas quilombolas e das aacutereas natildeo quilombolas tambeacutem Das aacutereas comunitaacuterias
geral das comunidades que foram atingidas direta ou indiretamente na faixa do
canal e nas vilas (Lideranccedila 1)
Multiplicadores profissionais de sauacutede e essas lideranccedilas locais desses siacutetios
localizados proacuteximos aos canais e aos reservatoacuterios [] Formaccedilatildeo de
multiplicadores no caso da sauacutede multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede [] Teve
mais funcionaacuterios de sauacutede a gente teve meacutedicos nas oficinas com uma participaccedilatildeo
muito incisiva mesmo um trabalho popular de educaccedilatildeo popular mesmo excelente
enfermeiros teacutecnicos em enfermagem fisioterapeuta dentistas fonoaudioacutelogos
gestores tambeacutem participaram funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede comuns ali natildeo
teacutecnicos mas funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede porque tambeacutem lidam com o
atendimento ao publico natildeo eacute Entatildeo a gente achou importante isso tambeacutem
mesmo ele sendo funcionaacuterio aacutes vezes de uma aacuterea mais burocraacutetica a gente achou
importante eles participarem tambeacutem Eles tambeacutem foram convidados neacute Entatildeo foi
um puacuteblico diversificado justamente com essas lideranccedilas (Teacutecnico 3)
O Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede tem interface direta com o
Programa de Monitoramento de Vetores e hospedeiros de doenccedilas - O PBA 20 e o Programa
de Controle de Sauacutede Puacuteblica O PBA 21 o qual iremos tecer algumas consideraccedilotildees
O Programa de Controle da Sauacutede Puacuteblica - o PBA 21 segundo documento oficial
apresenta como objetivo ldquoassegurar a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees
beneficiadas pelo PISF garantindo o menor impacto negativo possiacutevel do Projeto nas
condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo vinculada ao empreendimentordquo (BRASIL 2012)
[] o Programa 21 como subprograma de educaccedilatildeo em comunidades ele estabelece
que a gente deve trabalhar alguns temas entatildeo satildeo vaacuterios temas De acordo com o
Projeto um projeto grande como esse nos documentos antigos ele estabelece bom
pra gente mitigar alguns desses provaacuteveis impactos noacutes temos que trabalhar com
esses temas por exemplo proliferaccedilatildeo de vetores de acidentes com animais
peccedilonhentos gravidez na adolescecircncia DSTAIDS violecircncia de gecircnero
principalmente doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas problema de saneamento baacutesico
(Gestora 10)
Um dos impactos do projeto da transposiccedilatildeo considerado positivo e relacionado
diretamente agrave sauacutede da populaccedilatildeo eacute identificado por entrevistada da Secretaria de Sauacutede Ela
aponta a detecccedilatildeo de agravos que passaram a ser tratados pelo serviccedilo de sauacutede a partir da
obrigatoriedade de exames admissionais para o trabalho nas obras do projeto Poreacutem
177
nenhuma parceria foi estabelecida com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo como apoio aos Governos
Estadual e Municipal no tocante agrave assistecircncia prestada pelas Unidades Municipais e Estaduais
de Sauacutede
Uma coisa boa do Projeto que eacute assim com o emprego para pessoa entrar no
serviccedilo do Projeto praacute participar dele eles tecircm que fazer o exame cliacutenico antes da
admissatildeo e nessa admissatildeo foi detectado casos de VDRL positivos e a gente
certamente a gente acredita que natildeo fosse esse Projeto se natildeo fosse obrigatoacuterio
esses exames a pessoa natildeo iria fazer entatildeo com isso tanto foi detectado VDRL
HIV e tambeacutem o tratamento [] Acompanhados aqui no CTA existe aqui ao lado da
S Sauacutede que eacute o COAS Ele eacute regional e eacute feito tanto o teste raacutepido e se necessaacuterio
o outro Eacute feito o tratamento tambeacutem aqui [] Veja em relaccedilatildeo ao tratamento HIV
DRL ele eacute regional entatildeo esse Projeto natildeo entrou com essa parte financeira []
Entatildeo realmente houve o aumento de gravidez tambeacutem na adolescecircncia (Gestora 3)
Haacute tambeacutem o aumento na demanda para atendimento nas Unidades de Sauacutede e com as
Equipes de Sauacutede da Famiacutelia visto como consequecircncia direta do projeto da transposiccedilatildeo O
aumento da violecircncia pelas narrativas tambeacutem eacute atribuiacutedo agraves obras do projeto sendo
provocada principalmente por pessoas que natildeo satildeo do municiacutepio
[] Tambeacutem porque o fluxo ele eacute bastante como posso dizer tem aquele vai e
vem das pessoas Hoje existe uma equipe que taacute aqui passa um ano e de repente
aquela equipe jaacute muda e jaacute vem novas pessoas O fluxo aumentou bastante de
presenccedila de pessoas isso e de consumo tambeacutem O comeacutercio aumentou tambeacutem
aumentou tambeacutem a demanda tambeacutem nos PSF porque aumentou o fluxo
aumentou a gravidez aumentou as DST e com isso aumenta tambeacutem o fluxo na
Unidade de Sauacutede [] Aumento assim aumentou a violecircncia em Salgueiro []
Aumentou mas os casos que a gente ouve falar satildeo de pessoas de fora que
aproveitam o movimentaccedilatildeo porque tem muita gente de fora e as proacuteprias daqui
Realmente tem mais roubos assaltos mas normalmente satildeo as pessoas de fora
(Gestora 3)
As percepccedilotildees de Gestor e teacutecnico envolvidos com a execuccedilatildeo do Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede detalham o que foi considerado como Proposta Integrada de
Educaccedilatildeo em Sauacutede cuja interface se constroacutei natildeo apenas com o PBA 21 mas tambeacutem com o
Programa Baacutesico Ambiental de Comunicaccedilatildeo Social o PBA 3 assim como detalha o
desdobramento do trabalho poacutes-oficinas
Essas comunidades elas foram agrupadas no nosso Programa de Sauacutede entatildeo o
Programa de Educaccedilatildeo Ambiental e Sauacutede elaborou uma proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede que atendesse o puacuteblico da aacuterea de sauacutede agentes de sauacutede
agentes de endemias e demais profissionais de sauacutede e essas localidades do
Programa 15 que estatildeo agrave margem ali dos reservatoacuterios e dos canais Entatildeo o
Ministeacuterio achou que dava pra conciliar esse trabalho com o puacuteblico de sauacutede
convidando as lideranccedilas locais porque natildeo haveria tempo haacutebil praacute gente trabalhar
Satildeo mais de duzentas comunidades e natildeo haveria tempo haacutebil para se trabalhar
especificamente com essas comunidades e aiacute foi criada a proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede incluindo essas localidades mais de duzentas localidades e
trabalhamos com esse puacuteblico agora nas Oficinas de Sauacutede que inclusive se
encerraram a semana passada terminando dezessete municiacutepios (Teacutecnico 3)
178
[] Agora noacutes estamos trabalhando um programa que a gente chamou de Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo Ambiental envolvendo o Programa 21 que eacute o de sauacutede
puacuteblica o de educaccedilatildeo ambiental em comunidade e o Programa de Comunicaccedilatildeo
Social Esse programa visa basicamente formar multiplicadores pra trabalhar com
um novo enfoque na sauacutede educaccedilatildeo em sauacutede que noacutes chamamos [] Noacutes
estamos trabalhando em 17 municiacutepios com uma proposta de quatro oficinas em
cada um desses municiacutepios e ao final dessas oficinas noacutes vamos fazer o Seminaacuterio
Integrado de Educaccedilatildeo em Sauacutede Satildeo trecircs seminaacuterios um vai acontecer em
Cajazeiras um em Brejo e um aqui em Salgueiro envolvendo os vaacuterios profissionais
que participaram com a gente dessas capacitaccedilotildees (Gestora 10)
As temaacuteticas abordadas nas oficinas segundo lideranccedila quilombola foram amplas
com ecircnfase nos impactos provocados pelo projeto da transposiccedilatildeo
[] O curso ele trata sobre os impactos da obra tanto no aspecto de meio ambiente
quanto no aspecto da sauacutede das pessoas quanto no aumento vai tanto da questatildeo da
poeira ateacute a questatildeo do aumento de trabalhadores e a questatildeo de doenccedilas
sexualmente transmissiacuteveis (DST) de gravidez eacute muito amplo todos os impactos
assim que a obra possa taacute trazendo pra cidade na questatildeo tambeacutem de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria (Lideranccedila 1)
Basicamente uma formaccedilatildeo de quatro moacutedulos dividido em quatro moacutedulos de oito
horas [] isso cada moacutedulo [] O primeiro moacutedulo a gente trabalhou de
proliferaccedilatildeo vetores e acidentes por animais peccedilonhentos o segundo moacutedulo
saneamento e doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas saneamento ambiental o terceiro
moacutedulo DST AIDS gravidez na adolescecircncia e prevenccedilatildeo agrave violecircncia e o quarto
moacutedulo a gente utilizou como um fechamento da agenda de prioridade que eacute um
documento que a gente criou ao longo dessas oficinas elaborado pelos proacuteprios
participantes [] (Teacutecnico 3)
O quadro 12 apresenta um resumo dos conteuacutedos trabalhados no Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede com base na proposta oficial e relatos de entrevistados
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede 2010 PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA HORAacuteRIA- PROCESSO DE
CULMINAcircNCIA DESDOBRAMENTOS
-Coordenadores de
atenccedilatildeo Baacutesica
-Agentes
Comunitaacuterios de
Sauacutede
-Agentes de sauacutede
ambiental
- Demais
profissionais de
sauacutede
-Lideranccedilas locais
4 MOacuteDULOS
- 1ordm Moacutedulo -
Proliferaccedilatildeo vetores e
acidentes por animais
peccedilonhentos
-2ordm Moacutedulo -
Saneamento
Ambiental e doenccedilas
de veiculaccedilatildeo hiacutedrica
- 3ordm Moacutedulo - DST
AIDS gravidez na
adolescecircncia e
prevenccedilatildeo agrave
violecircncia
- 4ordm Moacutedulo- Plano
de accedilatildeo - Agenda de
prioridade de
educaccedilatildeo em sauacutede
- 8 horas por moacutedulo
- Total de 32 horas
- 3 Seminaacuterios
Estaduais de
Educaccedilatildeo em
Sauacutede envolvendo
17 municiacutepios (08
em PE 04 na PB
e 05 no CE)
Seminaacuterio de
Pernambuco aconteceu no
municiacutepio de
Salgueiro em 200913
- Formar
multiplicadores de
educaccedilatildeo em sauacutede
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees verbais de gestores e teacutecnicos (entrevistas 2013)
179
A metodologia do trabalho consta de momentos de debate e reflexotildees teoacutericas
juntamente com momentos praacuteticos chamados de vivecircncias educativas onde eacute feita uma
dispersatildeo na aacuterea de trabalho fundamentando-se na Pedagogia da Alternacircncia relata gestora
da equipe da CMT
Uma coisa que foi muito interessante nesse trabalho eacute que assim noacutes temos entatildeo o
fasciacuteculo e ao final de cada um deles noacutes sugerimos vivecircncias educativas Entatildeo
noacutes fomos pra sala de aula passamos oito horas com esse grupo esse grupo tem a
parte conceitual e teoacuterica e depois esse grupo tem a parte praacutetica que satildeo as
vivecircncias educativas sugeridas e aiacute ele aprende com a gente a fazer essas vivencias
Depois ele vai pra comunidade ou pro seu posto de sauacutede onde ele atende e ai ele
replica essas vivencias educativas depois ele devolve pra gente esse resultado
Entatildeo noacutes chamamos de pedagogia da alternacircncia Noacutes temos um momento
praacuteticoteoacuterico temos um momento praacutetico e depois ele retorna pra gente
demonstrando o resultado lsquoolha noacutes fizemos essa vivecircncia educativa nessa
comunidade e nossos resultados satildeo essesrsquo (Gestora 10)
A pedagogia da alternacircncia teve sua origem na Franccedila entre agricultores insatisfeitos
com o sistema educacional de seu paiacutes que para eles natildeo atendia as especificidades de uma
Educaccedilatildeo para o meio rural Tal insatisfaccedilatildeo gerou um movimento em 1935 que levou ao
surgimento da Pedagogia da Alternacircncia (TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008)
A Pedagogia da Alternacircncia surgiu no Brasil em 1969 por meio da accedilatildeo do
Movimento de Educaccedilatildeo Promocional do Espiacuterito Santo (MEPES) o qual fundou as
entatildeo Escola Famiacutelia Rural de Alfredo Chaves Escola Famiacutelia Rural de Rio Novo
do Sul e Escola Famiacutelia Rural de Olivacircnia essa uacuteltima no municiacutepio de Anchieta O
objetivo primordial era atuar sobre os interesses do homem do campo
principalmente no que diz respeito agrave elevaccedilatildeo do seu niacutevel cultural social e
econocircmico (PESSOTTI 1978 apud TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008 p
3)
Hoje no Brasil haacute diversas experiecircncias de educaccedilatildeo escolar que adotam o meacutetodo da
Pedagogia da Alternacircncia sendo conhecidas principalmente as desenvolvidas pelas Escolas
Famiacutelia Agriacutecola (EFAs) e pelas Casas Familiares Rurais (CFRs) afirma Teixeira et al
(2008) A terminologia adotada para se referir agraves instituiccedilotildees que praticam a alternacircncia
educativa no meio rural eacute Centros Familiares de Formaccedilatildeo por Alternacircncia (CEFFAs)
A Pedagogia da Alternacircncia vem sendo utilizada haacute quase 40 anos no Brasil e haacute 243
CEFFAs (UNEFAB 2007 apud TEIXEIRA et al 2008) em atividade em todas as regiotildees e
em quase a totalidade dos estados brasileiros mas curiosamente natildeo existe nos estados de
Alagoas Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte (TEIXEIRA et al 2008) aacuterea de
intervenccedilatildeo direta do projeto da transposiccedilatildeo Mas mesmo com esse nuacutemero de instituiccedilotildees
envolvidas com a Pedagogia da Alternacircncia e significativo nuacutemero de educadores e
educadoras que a adotam ldquoessa proposta pedagoacutegica ainda eacute discutida com pouca ecircnfase no
180
meio acadecircmico e nos oacutergatildeos teacutecnicos e oficiaisrdquo (ESTEVAM 2003 apud TEIXEIRA
BERNART GLADEMIR 2008 p 3)
Segundo narrativa de lideranccedila quilombola e integrante da equipe de sauacutede no
municiacutepio a estrutura do curso teve conteuacutedos teoacutericos amplos e momentos praacuteticos
permitindo aproximaccedilatildeo com a realidade como preconiza a Pedagogia da Alternacircncia A
linguagem acessiacutevel do instrutor eacute outro aspecto positivo ressaltado que possibilitou uma
efetiva comunicaccedilatildeo com os participantes
[] Eacute amplo o curso eacute um curso muito bom pra gente porque foi um curso
continuo era muito amplo os temas mas foi um curso continuo onde a gente eram
exposto ali ele expunha os iacutendices os dados tudo mas a gente tirava muitas
duacutevidas conversava bastante conseguiu assimilar muita coisa ateacute porque vou
voltar a falar da linguagem a gente conseguia entender o que eacute que Leacuteo estava
falando [] e a gente foi pra campo tambeacutem entatildeo a gente ia pra campo agraves vezes eu
acompanhava outras vezes eu natildeo podia acompanhar a gente ia pra campo mas
como vivecircncia do que a gente tinha visto na sala de aula e aiacute a gente aprendia na
sala de aula e ia pra vivencia aprendia mais voltava ele orientava tudo direitinho
entatildeo foi muito proveitoso (Lideranccedila 1)
[] Satildeo praacuteticas de atividades intermodulares que eles realizaram entre um moacutedulo
e outro no vieacutes da educaccedilatildeo em sauacutede em comunidades prioritaacuterias seja urbana ou
rural mas comunidades prioritaacuterias dentro do enfoque deles natildeo tem como a gente
chegar olha tal comunidade eacute prioritaacuteria tem que trabalhar Entatildeo a gente ouvia
isso deles e aiacute eles tem essa liberdade de fazer onde quisessem de realizar onde
quisessem e ai vai ter apresentaccedilatildeo dessas vivecircncias e as agendas vatildeo estar laacute
exposta em cada stand de cada municiacutepio (Teacutecnico 3)
Como material didaacutetico houve o apoio de cinco cartilhas que compotildeem a ldquoColeccedilatildeo
de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquotratando dos seguintes temas Efeitos danosos dos Agrotoacutexicos
Saneamento Ambiental e Doenccedilas Relacionadas a aacutegua Proliferaccedilatildeo de vetores e Acidentes
com Animais Peccedilonhentos Prevenccedilatildeo agrave Violecircncia e Gravidez na Adolescecircncia Doenccedilas
Sexualmente Transmissiacuteveis e Aids (Figura 18)
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo
Fonte A autora 2013
181
Mas um aspecto nos chama atenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao material didaacutetico utilizado o
mesmo foi elaborado pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF e equipe de Comunicaccedilatildeo e
Educaccedilatildeo Ambiental da CMT Engenharia e natildeo contou com o envolvimento nem a
colaboraccedilatildeo das Secretarias Estadual e Municipal de Sauacutede dos estados nem de lideranccedilas e
ou grupos sociais locais o que eacute questionaacutevel ao tratar-se de uma abordagem de Educaccedilatildeo em
Sauacutede dialoacutegica
[] E o material que noacutes usamos foi o material que foi feito aqui pela equipe de
educaccedilatildeo ambiental e noacutes chamamos de coleccedilatildeo de educaccedilatildeo em sauacutede Satildeo cinco
fasciacuteculos trabalhando exatamente com esses temas (Gestor 10)
Questionamos a pertinecircncia e coerecircncia de um mesmo material didaacutetico ser destinado
a ao debate teoacuterico e estiacutemulo de vivecircncias educativas tanto para populaccedilotildees tradicionais
quilombolas indiacutegenas trabalhadores rurais como para moradores da zona urbana desses
municiacutepios Seraacute que a realidade em relaccedilatildeo aos assuntos abordados eacute a mesma para 17
municiacutepios em 3 estados diferentes do nordeste Como foram tratadas as particularidades
culturais e linguumliacutesticas destas populaccedilotildees em relaccedilatildeo a cada tema
Este eacute um aspecto a ser contextualizado quando se trata de uma praacutetica de educaccedilatildeo
em sauacutede numa perspectiva participante e problematizadora O trabalho de Educaccedilatildeo em
Sauacutede nesta perspectiva deveria privilegiar desde o primeiro momento o envolvimento dos
atores Esse envolvimento fortalece a comunicaccedilatildeo dialoacutegica a construccedilatildeo conjunta de
conteuacutedos e conhecimentos com abordagens mais proacuteximas da realidade das populaccedilotildees
permitindo uma formaccedilatildeo para a autonomia
Ressaltamos a lei nordm 116452008 que traz como obrigatoriedade para o curriacuteculo
oficial da Rede de Ensino a temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-brasileira e Indiacutegenardquo como
forma de fortalecer o conhecimento sobre estas populaccedilotildees suas tradiccedilotildees lutas conquistas e
direitos Qualquer material didaacutetico entatildeo deve respeitar esta particularidade (BRASIL 2008)
E concordando com o pensamento de Barbero (2008 p 11) ldquoO desafio fundamental
das poliacuteticas puacuteblicas eacute a heterogeneidade do puacuteblico em termos de sociedade portanto em
relaccedilatildeo a culturas sejam estas eacutetnicas de gecircnero de idade ou de sauacutederdquo
Durante a realizaccedilatildeo das oficinas foram elencadas prioridades e construiacuteda uma
agenda tida como diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados A ldquoagenda de prioridadesrdquo compocircs um Plano de Accedilatildeo entregue ao gestor
municipal
182
[] Uma agenda nos moldes de um plano de accedilatildeo mas eacute uma agenda de prioridade
de educaccedilatildeo em sauacutede o que eacute que pode ser feito o que eacute que vem sendo feito mas
que pode ser potencializado o que existe enquanto poliacutetica institucional mas nunca
saiu do papel [] (Teacutecnico 3)
Entatildeo foi um trabalho muito rico [] Entatildeo no dia do seminaacuterio que vai ser o
resultado final a culminacircncia de todo esse processo o gestor municipal ele vai
receber essa agenda de prioridade que eacute um documento extremamente importante
para um gestor puacuteblico um documento estrateacutegico mesmo de planejamento
estrateacutegico e essa agenda foi construiacuteda com as pessoas que trabalham com as
lideranccedilas comunitaacuterias que ficaram conosco nesse processo de capacitaccedilatildeo e agora
noacutes estamos jaacute finalizando e jaacute recebemos algumas delas (Gestor 10)
A realizaccedilatildeo de um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo em Sauacutede foi considerado o
momento de ldquocoroamentordquo do trabalho quando os municiacutepios expotildeem as vivecircncias
educativas realizadas com a comunidade
[] vai ter esse seminaacuterio final agora natildeo me recordo a data tambeacutem mas vai ser soacute
o seminaacuterio final onde a gente vai apresentar as vivencias e vai ver as outras
pessoas tambeacutem de outros municiacutepios que tambeacutem que tiveram esses momentos
para ser uma troca de experiecircncia mesmo para fechar os momentos todos que foram
vividos mas foi muito interessante porque eacute uma reflexatildeo a gente fez uma reflexatildeo
de todos os impactos da obra Tem coisas que a gente jaacute sabia jaacute tava vendo jaacute tava
sentindo de impacto e tinha coisas que a gente nem pensou que impactou esse lado
tambeacutem ( Lideranccedila 1)
[] E agora como culminacircncia a gente vai ter um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo
em Sauacutede entatildeo com oito municiacutepios aqui de Pernambuco cinco municiacutepios do
Cearaacute e quatro municiacutepios da Paraiacuteba totalizando os 17 municiacutepios que a gente
trabalha [] Vatildeo estar exposto em banner de cada municiacutepio Cada municiacutepio vai ter
seu stand com fotos que a gente chamou vivecircncias educativas [] Como a gente
queria a participaccedilatildeo da Secretaria Estadual da Sauacutede a gente reelaborou a proposta
do seminaacuterio pra trecircs seminaacuterios estaduais um em Pernambuco um no Cearaacute e um
na Paraiacuteba ou talvez na mesma semana [] Pernambuco vai ser 20 de setembro aqui
em Salgueiro na Paraiacuteba dia 17 de setembro na Cajazeiras e no Cearaacute de 18 de
setembro em Brejo Santo (Teacutecnico 3)
No Seminaacuterio ocorrido em Pernambuco (setembro de 2013) foi elaborado um
documento geral - ldquoDocumento Siacutentese das Agendas de prioridades dos municiacutepios
contemplados pelo PISF em Pernambucordquo - referente aos 8 municiacutepios envolvidos E por
municiacutepio foi elaborado documento especiacutefico que para Salgueiro foi intitulado ldquoAgenda de
Prioridade de Educaccedilatildeo em Sauacutede do municiacutepio de Salgueirordquo (Anexos B e C)
Ao avaliar os dois documentos identificamos interseccedilotildees entre as prioridades
elencadas que relacionamos no quadro 13
183
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede ndash
Setembro2013 PONTOS ESPECIacuteFICOS DO
DOCUMENTO DE
SALGUEIRO
PONTOS COMUNS
(Interseccedilatildeo entre documento
geral e o de Salgueiro)
PONTOS ESPECIacuteFICOS NO
DOCUMENTO GERAL
(8 municiacutepios de Pernambuco)
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves
Unidades de Sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da
campanha de cacircncer de mama
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo agrave
leishmaniose e raiva humana
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de
resiacuteduos soacutelidos
Campanha de prevenccedilatildeo aos
diversos tipos de violecircncia e accedilotildees
de fiscalizaccedilatildeo e fortalecimento das
poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo
agrave sauacutede do homem
Campanhas educativas sobre
animais peccedilonhentos a partir da
realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras
instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes
para accedilotildees voltadas agrave educaccedilatildeo em
sauacutede
Melhores condiccedilotildees de trabalho e
investimento na formaccedilatildeo dos
Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Agentes de Endemias
Realizaccedilatildeo de campanhas e
palestras sobre defensivos agriacutecolas
direcionadas aos agricultores com
enfoque na utilizaccedilatildeo de
equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo
agrave praacutetica da agricultura orgacircnica e
destinaccedilatildeo correta das embalagens
destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
municipais em saneamento baacutesico e
manutenccedilatildeo adequada da rede
existente
Fonte A autora a partir de adaptaccedilatildeo de documentos disponibilizados por teacutecnico da CMT 2013
Dentre os pontos em comum a questatildeo dos resiacuteduos soacutelidos aparece como preocupaccedilatildeo
recente e objeto de atenccedilatildeo pela Prefeitura Municipal de Salgueiro juntamente com outros
municiacutepios da regiatildeo Em abril deste ano 22 municiacutepios dentre eles Salgueiro se reuniram
para elaboraccedilatildeo do Plano Integrado de Resiacuteduos Soacutelidos uma exigecircncia da Lei nordm 12305
aprovada desde 201024
O evento contou com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Estado e foi estipulado o prazo ateacute agosto2014 para os municiacutepios
concluiacuterem seus Planos que eacute o primeiro na lista dos instrumentos da Poliacutetica Nacional de
Resiacuteduos Soacutelidos (BRASIL 2010 SALGUEIRO 2014)
As providecircncias que comeccedilam a ser adotadas quatro anos depois de instituiacuteda a Poliacutetica
Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos eacute fruto tambeacutem da pressatildeo feita pelo Ministeacuterio Puacuteblico que
em todo estado de Pernambuco vem realizando audiecircncias puacuteblicas para sensibilizar a
sociedade em geral quanto a medidas concretas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos
soacutelidos (SALGUEIRO 2014)
Ressaltamos que esta temaacutetica aparece nas aacutereas quilombolas do estudo como um
problema grave e comum a todas pois natildeo haacute coleta de lixo e a praacutetica usual da populaccedilatildeo eacute
de queima e destino dos resiacuteduos soacutelidos ao relento
24
Lei 12305 de 02 de agosto de 2010 - Institui a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos Em seu artigo 6ordm estatildeo
os princiacutepios da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos soacutelidos I- a prevenccedilatildeo e a precauccedilatildeo II -o poluidor-pagador e
o protetor-recebedor III - visatildeo sistecircmica na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos que considere as variaacuteveis
ambiental social cultural econocircmica tecnoloacutegica e de sauacutede puacuteblica IV - e o desenvolvimento sustentaacutevel
184
De maneira geral a percepccedilatildeo sobre as oficinas eacute controversa
a) Permitiu reflexotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo seus impactos negativos e o que
pode ser feito para minimizaacute-los poreacutem a partir de uma postura individual Mas
iniciativas individuais por si soacute revertem neutralizam o que jaacute se apresenta como
ferida
[] e aiacute esse curso foi bom porque a gente pode conhecer outras coisas outros
impactos tambeacutem e pode refletir a respeito disso e pode pensar tambeacutem de que
forma que a gente pode estar agindo pra estaacute diminuindo esse impacto e natildeo se
colocar na posiccedilatildeo de hoje estou sendo impactada estou sendo viacutetima e aiacute natildeo se
colocar na posiccedilatildeo tambeacutem do que eacute que eu posso fazer para diminuir esse impacto
pra conseguir conviver com isso e viver com uma certa qualidade de
vida (Lideranccedila 1)
b) Capacitaccedilotildees que natildeo atingem a populaccedilatildeo
Capacitando as pessoas neacute em relaccedilatildeo agrave valorizaccedilatildeo do meio ambiente e tambeacutem
essa de sauacutede eacute com prevenccedilatildeo agrave sauacutede e aiacute eacute mais com lideranccedilas com agentes
comunitaacuterios de sauacutede mas eacute pouco natildeo atinge a populaccedilatildeo neacute ainda eacute pouco
(Gestora 4)
c) Mas tambeacutem uma accedilatildeo que ensinou muitas coisas sem ficar claro exatamente o quecirc
e para quecirc
Eu achei muito importante para a comunidade que a gente aprendeu vaacuterias coisas
(Grupo Focal 1)
E quanto ao Programa de Educaccedilatildeo Ambiental em seu conjunto seraacute que a sua
implementaccedilatildeo pode ser desvinculada das obras do projeto da transposiccedilatildeo Uma proposta
teacutecnica bem fundamentada e a aquisiccedilatildeo de conhecimentos por alguns segmentos da
populaccedilatildeo por si soacute garantem qualidade de vida e mudanccedila nos impactos e feridas
provocadas pelas obras Haacute gestor que acredita que sim
O Programa de Educaccedilatildeo Ambiental ele acontece independentemente da parte fiacutesica
da obra [] A parte fiacutesica tem vaacuterios programas para atender essa demanda enorme
essas vaacuterias questotildees que surgem neacute O que a gente percebe na parte de educaccedilatildeo
ambiental independente da questatildeo polecircmica ou natildeo da parte fiacutesica da obra as
pessoas gostam muito e o resultado hoje assim olhando eacute um resultado muito
positivo porque capacitamos muitas pessoas a cada dia que passa Entatildeo o programa
de educaccedilatildeo a equipe de educaccedilatildeo ela tem muita credibilidade em todos esses
puacuteblicos que ela permeou aiacute durante todo esse processo [] eacute uma avaliaccedilatildeo muito
positiva que eu faccedilo porque vocecirc daacute possibilidade da pessoa observar da pessoa
pensar e aprender coisas e eacute uma troca mesmo neacute Vocecirc estaacute sempre construindo
com o outro entatildeo eu acho que eu vejo a assim O projeto eacute beliacutessimo O Programa
de Educaccedilatildeo Ambiental ele eacute extremamente pensado e bem feito ele eacute apaixonante
185
entatildeo e isso a gente conseguiu transmitir para as pessoas que estaacute com a gente
nessas capacitaccedilotildees Entatildeo eu acho que o resultado eacute muito bom (Gestora 10)
A valorizaccedilatildeo dada ao formato da proposta ao teacutecnico ao que foi obtido como meta
institucional estaacute embutida na criacutetica feita por Lima (2004) ao apontar o tecnicismo como
um dos aspectos que reduz o campo da Educaccedilatildeo Ambiental com se fora homogecircneo e
consensual
O tecnicismo [] destaca e prioriza os aspectos teacutecnicos da questatildeo ambiental
encontrando nessa dimensatildeo tecnocientiacutefica as explicaccedilotildees e soluccedilotildees aos problemas
socioambientaisEssa leitura da realidade por se apoiar no saber da ciecircncia que eacute
reconhecido como o saber socialmente dominante se reveste de um poder especial e
aparece como argumento neutro objetivo e portador de uma autoridade que o
imuniza a qualquer questionamento (LIMA G 2004 p 87)
Mas haacute um outro entendimento que mostra como a praacutetica de educaccedilatildeo ambiental
poderia ser desenvolvida em aacutereas quilombolas construiacuteda a partir de poliacuteticas integradas
transversais em todas as aacutereas da gestatildeo de governo
[] Entatildeo se ele se aproximasse para dialogar praacute conseguir entender para criar
suas linhas a partir do entendimento para tirar os projetos a partir do entendimento
acho que ia funcionar melhor e natildeo a partir do entendimento que eles tem baseado
em livros ou baseados em outras comunidades normais que natildeo satildeo quilombolas
que natildeo tem a vivencia que a gente tem que natildeo tem a visatildeo de mundo que a gente
tem (Lideranccedila 1)
[] que se fizesse essa integraccedilatildeo essa volta que acho que a gente teve um
momento da gente andar junto mas agora perdeu de comeccedilar a discutir isso de
forma mais integrada Natildeo pode ser soacute educaccedilatildeo e sauacutede O Projeto eacute muito maior
passa por todas as secretarias Tem hora que o projeto vem como soacute fosse sauacutede e
educaccedilatildeo e a gente sabe que nenhum projeto mais eacute de duas Secretarias Eacute de
governo eacute de vestir a camisa Eacute aquela coisa da intersetorialidade Acho que o
projeto tinha que vir definindo em todas as secretarias qual eacute o papel de cada um
Eu acho que essa tem que ser a loacutegica entendeu No mais vamos esperar mais
felicidade pra Salgueiro mais desenvolvimento e o povo melhor
tambeacutem (Gestora 7)
Como consideraccedilatildeo geral avaliamos que o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental
carrega conteuacutedos que permeiam as aacutereas de educaccedilatildeo ambiente e sauacutede
Se queremos compreender o impacto da atividade humana sobre o ambiente e sobre
a sauacutede eacute necessaacuterio criar estrateacutegias especiacuteficas que a partir de conhecimentos
disciplinares e praacuteticas setoriais caminhem para uma abordagem
transdisciplinar (MINAYO 2002 p 175)
Para os sujeitos entrevistados essas abordagens transitam entre uma relaccedilatildeo direta e
necessaacuteria mas tambeacutem como o desafio de uma teia em construccedilatildeo Haacute uma compreensatildeo
186
de que caminham juntas quando o ser humano eacute considerado parte do ambiente estando
imbricadas as partes e o todo
Vida em harmonia com o ambiente rarr ambiente saudaacutevel rarr pessoa saudaacutevelrarr
inserida num ambiente saudaacutevel
[] Entatildeocaminham juntas eu acho que caminham juntas porque se vocecirc consegue
viver em harmonia com o ambiente que vocecirc vive vocecirc vai ter sauacutede Se vocecirc
consegue viver em harmonia com o ambiente vai ser um ambiente saudaacutevel e em
consequecircncia disso vocecirc vai ser uma pessoa saudaacutevel que estaacute inserida nesse
ambiente Entatildeo satildeo trecircs coisas que caminham juntinho educaccedilatildeo a sauacutede
ambiental e educaccedilatildeo ambiental (Lideranccedila 1)
[] Acho que todas satildeo uma ligadas uma com a outra Se a gente natildeo tem ambiente
a gente natildeo tem a sauacutede a gente natildeo tem educaccedilatildeo Pra tudo isso precisa de uma
forma do povo ter o conhecimento e o povo ainda natildeo tem o conhecimento mas eu
acho que todas essas coisas satildeo ligadas uma com a outra e a gente tem alguma
coisa jaacute tem natildeo eacute do zero que a gente tem (Lideranccedila 2)
Haacute uma compreensatildeo de meio ambiente como tudo que nos relacionamos referindo-se
tambeacutem ao ambiente construiacutedo e ao ambiente invisiacutevel
Em relaccedilatildeo ao meio ambiente eu acho que o ambiente eacute tudo que a gente estaacute se
relacionando satildeo as pessoas satildeo as casas eacute o rio satildeo as aacutervores Tudo o que eu
tenho que me relacionar pra poder conviver neacute E hoje tambeacutem tem um ambiente
construiacutedo um ambiente natural tudo eacute ambiente principalmente o ambiente que
tambeacutem natildeo eacute visiacutevel que eacute o ambiente das relaccedilotildees da convivecircncia e tudo isso
interfere na nossa qualidade de vida (Gestora 8)
A ideia de construccedilatildeo de ldquoteiardquo entre educaccedilatildeo ambiente e sauacutede nos remete ao que
afirma Minayo (2002 p 175) quando diz
A busca por aprofundar conceitos no encontro das aacutereas de sauacutede e ambiente eacute
crucial pois quando uma definiccedilatildeo das relaccedilotildees entre elas se produz sua
decodificaccedilatildeo na praacutetica tem consequecircncias reais tanto para a natureza quanto para
a populaccedilatildeo viva que a habita sejam vegetais animais ou gente
Haacute relatos com visotildees e percepccedilotildees de entrevistados sobre educaccedilatildeo ambiental e
educaccedilatildeo em sauacutede que permeadas por uma
Quanto agrave Educaccedilatildeo ambiental sujeitos do estudo a compreendem como
[] A forma da gente viver que agente tenta cada vez se harmonizar mais com a
natureza cada vez viver impactando menos a natureza eles satildeo educados e uma
forma disso eacute quando eles reconhecem que o ser humano ele natildeo foi educado com a
questatildeo do desmatamento que houve laacute o incomodo que eles tiveram o relato que a
gente tem de pessoas que sentiram o cheiro de aacutervores que foram desmatadas A
questatildeo das umburanas quem tinha laacute [] Quando eles veem os animais da caatinga
nos terreiros os animais da caatinga de forma geral nos terreiros eles olham e
conseguem perceber que o animal fica triste que o animal perdeu o habitat lsquoah esse
187
bichinho taacute perdido coitado natildeo tem mais pra onde ir vai ter que achar outro localrsquo
Entatildeo quando eles se incomodam com isso eacute uma educaccedilatildeo que eles tecircm [] Natildeo
precisou eles irem pra Faculdade natildeo precisou eles irem pra escola nenhuma pra
eles terem essa sensibilidade e aiacute Entatildeo educaccedilatildeo ambiental pra mim eacute isso eacute o
respeito aacute natureza eacute essa forma de aprender a conviver em harmonia com a
natureza que as pessoas de Santana jaacute tinham haacute muito tempo (Lideranccedila 1)
[] Olha eu acho que eacute mais do que necessaacuterio a Educaccedilatildeo Ambiental natildeo como
tema como tema da moda que vai passar Mas o meio ambiente hoje noacutes estamos
vivendo uma situaccedilatildeo de fenocircmeno tanto de seca como de enchente que se a
populaccedilatildeo tivesse se dado conta haacute mais tempo de que esse meio ambiente noacutes
estamos nele e somos parte dele e precisamos contribuir para que ele cada vez mais
esteja conservado para noacutes usufruir e os futuros moradores usufruiacuterem dele []
Agora eacute mais do que urgente a gente adotar essa EA como meacutetodo e como obrigaccedilatildeo
de governo mesmo tanto municipal estadual e federal para que a populaccedilatildeo possa
aprender a conviver melhor no meio ambiente Natildeo eacute com para o meio ambiente
mas que a gente possa conviver melhor como meio ambiente porque noacutes tambeacutem
somos parte desse meio ambiente (Lideranccedila 3)
A Educaccedilatildeo ambiental tratada como maneira de viver em harmonia com a natureza
sem destruiccedilatildeo uma ligaccedilatildeo estreita de ldquoempatia com a fauna e florardquo que provoca
incocircmodo e tristeza com os impactos gerados pelas obras do canal no territoacuterio
[] Acho que tem toda uma relaccedilatildeo natildeo eacute Natildeo daacute para trabalhar com gente sem
falar na relaccedilatildeo dessa gente com ele mesmo Porque ele faz parte tambeacutem do
ambiente natildeo estaacute fora dele Eu acho que tem tudo a ver Agora a gente precisa
avanccedilar mais nisso a gente ainda tem uma educaccedilatildeo ambiental muito ainda limitada
que eacute mais assim conteuacutedo e ciecircncia mas o conteuacutedo livre natildeo que eduque para o
meio ambiente [] Acho que o campo eacute muito mais fortalecido com isso do que a
cidade Em algumas aacutereas da cidade a gente taacute tirando alguns encaminhamentos por
exemplo o lixo eacute um objeto de estudo (Gestora 7)
Essas percepccedilotildees se aproximam da abordagem da Ecopedagogia quando em sua
compreensatildeo sobre a natureza trata-a com ldquo[] um todo dinacircmico relacional harmocircnico e
auto-organizado em interaccedilatildeo com as relaccedilotildees que se estabelecem na sociedaderdquo (AVANZI
2004)
Mas a ldquourgecircnciardquo referida por lideranccedila quilombola para que ldquogovernos adotem essa
educaccedilatildeo ambiental como meacutetodo e obrigaccedilatildeordquo precisa ser vista com ressalvas para natildeo
derivar ao que eacute chamado pela Ecopedagogia como ldquoambientalismo superficialrdquo
Enquanto o ambientalismo superficial apenas se interessa por um controle e gestatildeo
mais eficazes do ambiente natural em benefiacutecio do lsquohomemrsquo o movimento de
ecologia fundamentada na eacutetica reconhece que o equiliacutebrio ecoloacutegico exige uma
seacuterie de mudanccedilas profundas em nossa percepccedilatildeo do papel que deve desempenhar o
ser humano no ecossistema planetaacuterio (GUTIEacuteRREZ PRADO 2000 apud
AVANZI 2004 p 40)
Essa abordagem tece uma criacutetica agraves praacuteticas de educaccedilatildeo ambiental que muitas vezes
se fundamentam numa concepccedilatildeo de ambiente afastada das questotildees sociais
188
A educaccedilatildeo Ambiental muitas vezes limitou-se ao ambiente externo
sem se confrontar com os valores sociais com os outros com a
solidariedade natildeo pondo em questatildeo a politicidade da educaccedilatildeo e do
conhecimento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 40)
Quanto agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede chama nossa atenccedilatildeo a percepccedilatildeo de ser considerada
como a base de um trabalho de promoccedilatildeo em sauacutede mas restrito ao natildeo adoecer Uma
menccedilatildeo em atitudes individuais com foco comportamental mesmo trazendo a questatildeo da
promoccedilatildeo
Eu acho que eacute a base a educaccedilatildeo em sauacutede Hoje muitas vezes a gente natildeo
consegue trabalhar a promoccedilatildeo em sauacutede fica mais na parte mais curativa mas a
gente tem que resgatar a educaccedilatildeo sem sauacutede porque a gente tem que fazer com que
as pessoas natildeo adoeccedilam A gente tem que fazer com que as pessoas que a gente
consiga fazer realmente a prevenccedilatildeo que a gente consiga fazer a promoccedilatildeo em
sauacutede que a gente consiga diminuir esses iacutendices de gravidez na adolescecircncia com a
conscientizaccedilatildeo (Gestora 3)
Educaccedilatildeo em Sauacutede como trabalho de construccedilatildeo de transformaccedilatildeo do olhar da
realidade e de uma nova atitude Mas tambeacutem como uma aacuterea que precisa ser trabalhada
tecnicamente respeitando todas as etapas de um planejamento
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em sauacutede eu acho que tambeacutem ela tem que ter um
percurso e tem que ser planejado eu tenho que negociar conteuacutedo eu tenho que
planejar etapas para trabalhar no processo porque tambeacutem natildeo adianta eu acreditar
ter um ideal se eu natildeo botar o peacute no chatildeo e traccedilar estrateacutegias fazer o caminho Isso
eu acho importante tambeacutem que eu aprendi (Gestora 8)
Ao referir-me ao campo da Educaccedilatildeo Ambiental e da Educaccedilatildeo em Sauacutede natildeo poderia
deixar de mencionar a ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambientalrdquo instituiacuteda pela Funasa a partir de
2010 cujas consideraccedilotildees constam no referencial teoacuterico desta dissertaccedilatildeo
Na percepccedilatildeo de uma entrevistada haacute clareza do processo embrionaacuterio na construccedilatildeo
conceitual desta abordagem
[] Porque educaccedilatildeo em sauacutede ambiental eacute uma concepccedilatildeo recente Eacute estaacute em
construccedilatildeo Na verdade a gente natildeo tem essa visatildeo ainda mais estaacutevel
natildeo (Gestora 8)
Em levantamento documental de trabalhos com esta temaacutetica encontramos apenas um
artigo intitulado ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental Estrateacutegia de intervenccedilatildeo sobre os riscos e
exposiccedilatildeo a agrotoacutexicos na comunidade de Matotildees- Caucaia-CErdquo de autoria de Leonardo
Guilbert Cavalcante Arauacutejo como conclusatildeo do curso de especializaccedilatildeo em Vigilacircncia em
Sauacutede Ambiental da Escola de Sauacutede Puacuteblica de CEARAacute - ESP em 2010 que na verdade
189
tem como objeto de estudo a sauacutede ambiental e um dos seus objetivos especiacuteficos apresenta a
intenccedilatildeo de desencadear accedilotildees educativas em sauacutede ambiental
Estas consideraccedilotildees satildeo na verdade para sinalizar que os eixos de atuaccedilatildeo da aacuterea de
ldquoEducaccedilatildeo em sauacutede ambientalrdquo carregam saberes que perpassam pela sauacutede ambiental pela
educaccedilatildeo ambiental educaccedilatildeo em sauacutede e outros saberes das ciecircncias sociais que necessitam
estar articulados de forma transdisciplinar Nos parece que haacute necessidade de uma maior
apropriaccedilatildeo e aprofundamento quanto as concepccedilotildees que fundamentam tais saberes
O desafio eacute construir uma compreensatildeo criacutetica e holiacutestica que promova uma praacutetica
comprometida com a realidade de populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas assentadas etc com
respeito a suas diferenccedilas mas que principalmente as envolva no processo de planejamento de
accedilotildees e projetos que impactam significativamente em suas vidas e territoacuterios
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O PBA 17
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas ndash ou PBA 17 eacute um dos 38
Programas Baacutesicos Ambientais do PISF estruturado para ldquominimizar os impactos
socioambientais negativosrdquo preliminarmente apontados nos Estudos Ambientais realizados
pelo empreendimento sendo classificado como um Programa Compensatoacuterio O PBA 17 tem
interface com outros 5 Programas Ambientais dentre eles o PBA 4 objeto de avaliaccedilatildeo desta
dissertaccedilatildeo
A justificativa para realizaccedilatildeo do PBA 17 se fundamenta no argumento de que
A composiccedilatildeo do territoacuterio rural brasileiro eacute extremamente diversificada e
compreende uma seacuterie de categorias sociais distintas agraves quais estatildeo atrelados
tambeacutem direitos diferenciados ao contraacuterio do que se supunha no passado quando
da elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Ao contemplar essa diversidade eacute de extrema
importacircncia que os direitos baacutesicos dessas parcelas da populaccedilatildeo brasileira sejam
plenamente atendidos [] (BRASIL 2005 p 3)
O Programa eacute constituiacutedo por dois subprogramas o de Regularizaccedilatildeo das Terras
Quilombolas e o de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas Nossa avaliaccedilatildeo eacute
voltada ao Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas haja visto que
questotildees referentes agrave Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas foram abordadas no capiacutetulo 6
O objetivo do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas eacute
ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-estrutura
de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo afirma documento (BRASIL 2005
p 4)
190
A populaccedilatildeo que o PBA 17 abrange envolve 13 comunidades quilombolas em
Pernambuco num total de 1280 famiacutelias sendo 9 comunidades quilombolas situadas em
Mirandiba (Araccedilaacute Caruru Feijatildeo Januaacuterio Juazeiro Grande Pedra Branca Serra do
Talhado Serra Verde e Queimadas) Uma em FlorestaCarnaubeira da Penha (Massapecirc) e 3
em Salgueiro - Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e Contendas (BRASIL 2005 p 6)
Quanto agrave metodologia do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas eacute apontada uma abordagem participativa quando afirma que
O levantamento das necessidades de infra-estrutura nessas comunidades deveraacute ser
empreendido de forma participativa atraveacutes da aplicaccedilatildeo de dinacircmicas de grupo A
participaccedilatildeo da comunidade pressupotildee a existecircncia de divisatildeo no poder decisoacuterio
passando pelo controle das partes envolvidas no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo
dos projetos a serem implementados Portanto participar eacute tomar parte nas decisotildees
e ter parte nos resultados (BRASIL 2005 p 9)
As metas previstas para o Subprograma satildeo a melhoria dos indicadores
socioambientais e o desestiacutemulo agrave implementaccedilatildeo e agrave manutenccedilatildeo de programas
assistencialistas e paternalistas que gerem dependecircncia das populaccedilotildees quilombolas em
relaccedilatildeo aos organismos puacuteblicos (BRASIL 2005 p 4)
Para as comunidades quilombolas do nosso estudo foram previstas como ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo as accedilotildees e obras relacionadas no Quadro 14
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA ACcedilOtildeES PREVISTAS PARA AS 13
COMUNIDADES
Gestatildeo junto a Secretaria Estadual do
Trabalho e Sistema SEBRAE para
viabilizaccedilatildeo de capacitaccedilatildeo de jovens
quilombolas para atuaccedilatildeo como agentes de
turismo
Implantaccedilatildeo de placas de sinalizaccedilatildeo da
localizaccedilatildeo das comunidades Quilombolas
Identificaccedilatildeo das demandas das
Comunidades Quilombolas visando
desenvolvimento
Levantamento das demandas por
infra‐estruturas nas comunidades
quilombolas com base em meacutetodos
participativos
Construccedilatildeo de 50 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros
(Comunidade contemplada no Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-
Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais ndash PBA 15)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL
Construccedilatildeo de 20 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros (Por
dispor de abastecimento de aacutegua)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE C DAS CRIOULAS
(1) elaboraccedilatildeo de um plano de desenvolvimento territorial de forma
participativa (2) gestatildeo junto agrave Funasa para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo
de uma ETA em Beleacutem do Satildeo Francisco e de uma adutora desta
cidade ateacute a comunidade (18 km) (3) construccedilatildeo de reservatoacuterio
elevado com volume uacutetil igual a 144msup3 (4)implantaccedilatildeo de rede de
distribuiccedilatildeo de aacutegua com 6000 m de tubulaccedilatildeo de PVC com diacircmetros
de 50 a 100 mm e ramais domiciliares totalizando 6200 metros de
tubulaccedilatildeo em PVC de frac12 polegada (5) gestatildeo junto ao Governo
Estadual para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas
seacutepticas e sumidouros
(6) gestatildeo junto agrave Prefeitura de Salgueiro para viabilizaccedilatildeo da
construccedilatildeo de 500 novas moradias de alvenaria para substituiccedilatildeo das
casas de taipa (7) construccedilatildeo de mais 3 salas de aula na escola (8)
construccedilatildeo de um laboratoacuterio de informaacutetica para equipar a escola (9)
construccedilatildeo de um pousada de 300 msup2 a ser administrada pela
Associaccedilatildeo Quilombola(10) Melhoria de estradas de acesso agrave
comunidade de Conceiccedilatildeo de Crioulas dentre outras comunidades
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees do PBA 17 ndash 2005 e Resumo Executivo ndash julho 2012
191
A disponibilidade de informaccedilotildees para avaliar as accedilotildees descritas no quadro 14 satildeo
precaacuterias natildeo tendo sido encontrado em documentos oficiais um detalhamento sobre o quecirc e
como foram implementadas as obras pretendidas O relato de entrevistados expressa a
morosidade e natildeo realizaccedilatildeo do que foi prometido
Nas comunidades de Santana e ContendasTamboril a construccedilatildeo de banheiros uacutenica
obra prevista natildeo havia sido iniciada ateacute o segundo semestre de 2013
[] Olhe eu sei que foi feito novamente jaacute foi feito vaacuterias vezes a questatildeo do
mapeamento para fazer os banheiros nas residecircncias que natildeo tem banheiros mas
tambeacutem eacute uma coisa que estaacute bem atrasada porque as casas que jaacute foram feitas tecircm
algumas que jaacute estatildeo rachadas e os banheiros agora ainda foi feito um novo
levantamento um novo mapeamento pra ver se eacute construiacutedo os banheiros []
(Lideranccedila 1)
Em Conceiccedilatildeo das crioulas a informaccedilatildeo tambeacutem referente agrave construccedilatildeo de banheiros
eacute confusa e moradores afirmam ter sido construiacutedo apenas em um dos siacutetios da comunidade
A morosidade e incerteza quando a realizaccedilatildeo da obra fez com que moradores assumissem a
construccedilatildeo por conta proacutepria
Teve a questatildeo dos banheiros Isso soacute no siacutetio Paula [] Foi feito no Sitio Paula e
estava previsto para aqui [] Foi feito pela transposiccedilatildeo Ah foi pela Funasa
Eram banheiros pra caacute Esses banheiros jaacute foi feito o GPS e tudoFoi feito o
levantamento e ateacute agora natildeo chegou [] Pelo que eu entendi era aqui praacute Vila de
Conceiccedilatildeo [] Essa vila aqui e a Vila da Uniatildeo ali [] Ai foi feito um levantamento
atraveacutes dos agentes de sauacutede parece que deu 248 mas isso jaacute faz tempo uns
trecircsquatro anos Agora eles tiveram aqui esse ano parece que abril pra maio eles
tiveram aqui fazendo um levantamento mas muita gente que tinha dado os nomes jaacute
tinham construiacutedo seus banheiros outros jaacute tinham ido embora ai natildeo deu a cota
nessas duas Vilasaiacute eles andaram fazendo levantamento na zona rural Siacutetio
Lagoinha na divisa com Atikum (Grupo Focal 1)
Mas o nosso foco de avaliaccedilatildeo eacute o que vem sendo realizado pela Funasa-SuestPE
referente agrave construccedilatildeo de casas de alvenaria em substituiccedilatildeo agraves de taipa Esta foi uma accedilatildeo
inserida posteriormente no projeto da transposiccedilatildeo fruto da parceria FUNASA-MI a partir de
2008 Esta atividade segundo relato de lideranccedila foi a principal obra de compensaccedilatildeo
realizada pelo projeto
[] foram pactuadas vaacuterias obras de compensaccedilatildeo como eacute chamado para que a
comunidade sofresse os impactos mas que tivesse alguns benefiacutecios tambeacutem por
conta da obra e algumas dessas coisas elas foram realmente feitas a exemplo da
substituiccedilatildeo das casas de taipas por casas de alvenaria [] (Lideranccedila 1)
Dentre as metas apontadas no PBA 17 inferimos que as intervenccedilotildees iniciadas em
2008 pela Funasa estatildeo diretamente relacionadas a de ldquomelhoria dos indicadores
192
socioambientaisrdquo pois trazem como objetivo contribuir para o controle da doenccedila de Chagas
Na aacuterea do estudo haacute a presenccedila de triatomiacuteneos inseto transmissor da doenccedila de Chagas
conhecido popularmente como ldquobarbeirordquo ldquobicudordquo ldquoprocotoacuterdquo e encontrado em construccedilotildees
de taipa principal justificativa para as obras a serem executadas afirmam moradores
[] Foi falado assim lsquoque ia trocar a casa de barro pela alvenaria mode o bicudorsquo
[] A sauacutede em geral [] e as casas velhas que fosse derrubada e atirada praacute longe
Natildeo era pra fazer perto natildeo era pra deixar em peacute natildeo era pra deixar a cerca perto de
casa pra natildeo juntar o barbeiro pra vim pra casa (Grupo Focal 2)
Subjacente ao objetivo do Subprograma esta parceria incluiu obras natildeo apenas em
aacutereas quilombolas mas tambeacutem em aacutereas indiacutegenas inseridas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Indiacutegenas o PBA12 As obras estatildeo sendo executadas
com recursos do PAC nas chamadas Agraverea Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) do Projeto da transposiccedilatildeo (BRASIL 2012 p 6)
Em consonacircncia com a atual missatildeo institucional da Funasa a de ldquoPromover a sauacutede
puacuteblica e a inclusatildeo social por meio de accedilotildees de saneamento e sauacutede ambientalrdquo acreditamos
que a parceria FunasaMI se insere no Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle
da Doenccedila de Chagas (MHCDCh) que consta do leque de suas accedilotildees e programas
institucionais Este Programa fomenta a execuccedilatildeo natildeo apenas da reconstruccedilatildeo domiciliar
mas tambeacutem a sua restauraccedilatildeo e a apresenta como justificativa o argumento de que
A existecircncia de habitaccedilotildees cujas condiccedilotildees fiacutesicas favorecem a colonizaccedilatildeo de
triatomiacuteneos associados agrave pressatildeo de exemplares de procedecircncia silvestre
reinfestando o peri e o intradomiciacutelio a dificuldade de ecircxito no controle desses
vetores com inseticidas constituem fatores que recomendam a Melhoria da
Habitaccedilatildeo como medida essencial no Programa de Controle da Doenccedila de
Chagas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013a)
Para o referido Programa - MHCDCh
Seratildeo elegiacuteveis os municiacutepios localizados em aacuterea endecircmica da doenccedila de Chagas
com a presenccedila de vetor no intra ou peridomiciacutelio e com a existecircncia de habitaccedilotildees
que favoreccedilam a colonizaccedilatildeo do Triatomiacuteneo transmissor da doenccedila de Chagas que
sejam classificados como de alto risco de transmissatildeo da doenccedila conforme dados da
Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede (SVS) do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2014)
Neste cenaacuterio o municiacutepio de Salgueiro estaacute classificado como de alto risco de
transmissatildeo para doenccedila de Chagas segundo lista da Secretaria de Vigilacircncia agrave Sauacutede e accedilotildees
de caraacuteter educativo satildeo recomendadas como ldquoreforccedilordquo aos benefiacutecios da melhoria
habitacional (BRASIL 2014)
193
Tratando-se de trabalho em aacutereas quilombolas tal incumbecircncia foi assumida pela
Funasa a partir de 2003 com o Novo Modelo de Gestatildeo Puacuteblica do Governo Federal cujo
compromisso passou a incluir socialmente a populaccedilatildeo com difiacutecil acesso a serviccedilos de
atenccedilatildeo agrave sauacutede e saneamento Neste contexto accedilotildees da Funasa passaram a ser direcionadas
para municiacutepios com baixa cobertura de serviccedilos de saneamento e agraves populaccedilotildees vulneraacuteveis
(assentados remanescentes de quilombos e de reservas extrativistas) afirma Relatoacuterio de
Gestatildeo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Quanto ao projeto da transposiccedilatildeo a responsabilidade assumida pela Funasa em
Pernambuco abrangeu uma aacuterea maior de municiacutepios e populaccedilatildeo que a definida no
Subprograma de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas Foram pactuadas accedilotildees em
sete municiacutepios sendo trecircs em aacutereas indiacutegenas nas etnias Trukaacute em Cabroboacute Pipipatilden em
Floresta e Kambiwaacute em Ibimirim e em 18 comunidades quilombolas localizadas nos
municiacutepios de Cabroboacute (03) Carnaubeira da Penha (01) Custoacutedia (03) Mirandiba (08) e
Salgueiro (03) A estimativa institucional eacute de que seratildeo beneficiadas com melhorias
habitacionais cerca de quatro mil pessoas dentre moradores de aacutereas indiacutegenas e
quilombolas num total de 655 casas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2009)
Deste universo informaccedilotildees mais recentes mostraram que ateacute outubro de 2012 foram
concluiacutedas 448 casas o que representava 684 do total planejado (FUNDACcedilAtildeO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012a)
As obras satildeo executadas por empresa licitada pela Funasa de Pernambuco sob
coordenaccedilatildeo da Diesp - Divisatildeo de Engenharia de Sauacutede Puacuteblica e apesar de natildeo constar
como meta em seu Plano Operacional (2011) a accedilatildeo eacute citado como
Acompanhamento e Fiscalizaccedilatildeo das Obras concernentes ao lsquoDestaque
Orccedilamentaacuteriorsquo firmado entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e a
FunasaPresidecircncia o qual proporciona a execuccedilatildeo de obras contempladas no
lsquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrionalrsquo de forma a atender agraves exigecircncias da Licenccedila Ambiental do IBAMA
tendo-se originalmente como objeto Construccedilatildeo de 655 (seiscentos e cinquumlenta e
cinco) Unidades Habitacionais (substituiccedilatildeo de casas de taipa por casas de alvenaria)
e Construccedilatildeo de 04 (quatro) Postos de Sauacutede beneficiando comunidades indiacutegenas e
remanescentes de quilombos (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Em Relatoacuterio Executivo o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo apresentava ateacute junho de 2012
uma execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria de 71 para o PBA-17 em relaccedilatildeo as metas e atividades
previstas Mas diante da pouca visibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees contidas no quadro 14
inferimos ter havido uma destinaccedilatildeo do recurso principalmente para as obras de melhorias
habitacionais
194
Em Salgueiro essas obras foram realizadas nas trecircs comunidades quilombolas do
estudo num total de 106 casas tendo sido 100 concluiacutedas enquanto meta prevista pelo
projeto da transposiccedilatildeo (Quadro 15)
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria COMUNIDADE QUILOMBOLA OBRA PREVISTA (CASAS
DE ALVENARIA)
OBRA EXECUTADA
SANTANA 8 8
CONTENDASTAMBORIL 16 16
CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 82 82
TOTAL 106 106
Fonte A autora a partir de dados da Planilha FunasaSuest-PE (Diesp) - Outubro2012
Mas ainda haacute casas de taipa em todas as aacutereas quilombolas de Salgueiro e
dependendo das condiccedilotildees existentes continuam representando risco de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas para os moradores
O Manual da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b) ldquoElaboraccedilatildeo de Projeto de
Melhoria Habitacional para o controle da Doenccedila de Chagasrdquo traz os princiacutepios de
continuidade e contiguumlidade como criteacuterio importante para o controle de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas
ldquoVisando o maior impacto das accedilotildees no controle do vetor as melhorias deveratildeo ser
concentradas evitando-se a pulverizaccedilatildeo das mesmas obedecendo para isso os princiacutepios de
continuidade e contiguidaderdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b p 11)
Mas estes princiacutepios natildeo foram respeitados haja visto a natildeo substituiccedilatildeo ou
restauraccedilatildeo de 100 das casas de taipa das comunidades na accedilatildeo pelo projeto da
transposiccedilatildeo comprometendo assim o propoacutesito de controle na transmissatildeo da doenccedila de
Chagas principal justificativa para execuccedilatildeo das obras como medida compensatoacuteria
Agora com relaccedilatildeo as casas entatildeo soacute dava pra fazer x casas entatildeo cada comunidade
recebeu uma quantidade de casas entatildeo ficou assim muito rarefeito Entatildeo naquela
comunidade x tinha 10 casas mas ela soacute ia receber 04 casas entatildeo natildeo foi saneada
totalmente Na verdade o que se criou foi um paliativo Natildeo houve nada foi zero
Natildeo foi saneada a aacuterea porque a partir do momento que vocecirc constroacutei trecircs casas
mas se ficar uma casa ela estaacute contaminando a aacuterea Para que haja o saneamento da
aacuterea ela tem quer ter tanto eacute que tem que ter o princiacutepio da continuidade e da
contiguidade ou seja toda aquela aacuterea ela vai sendo saneada e vai abrangendo
entatildeo toda aquela aacuterea que ela passou essa aacuterea jaacute natildeo tem mais nada (Teacutecnico 1)
A gente tem uma comunidade que ela sofre muito com a questatildeo de doenccedilas de
Chagas embora aqui na Vila tenha poucas casas de taipa mas jaacute foi bem grande o
nuacutemero e ai por fora eacute que tem bastante entatildeo isso mudou acho que vai diminuir
bastante a incidecircncia de chagas dentro da comunidade [] Tem ainda tem mas se
fosse feito apenas uma jaacute era um passo jaacute natildeo eacute mais o zero [] entatildeo foi bom
(Grupo Focal 1)
195
Com a percepccedilatildeo de entrevistados fazemos uma avaliaccedilatildeo sobre a adequaccedilatildeo das casas
construiacutedas ao modo de vida das populaccedilotildees rurais quilombolas trazendo os aspectos criacuteticos
e possiacuteveis benefiacutecios destas obras para as famiacutelias
O modelo habitacional para as comunidades quilombolas e indiacutegenas de Pernambuco
foi elaborado pelo Departamento de Engenharia da Funasa em Brasiacutelia com uma concepccedilatildeo
de moradia mais urbana que rural sem adequaccedilatildeo agrave realidade local cujo projeto apresentava a
possibilidade de dois modelos uma para casa de quatro quartos e outro de dois quartos
dependendo do nuacutemero de familiares por habitaccedilatildeo natildeo sendo permitida nenhuma alteraccedilatildeo
Um projeto estruturado verticalmente sem consulta preacutevia agraves famiacutelias sem considerar
os desejos e tradiccedilatildeo de moradia das comunidades quilombolas e sem avaliar outras
alternativas de melhoria habitacional E para muitos moradores significando uma mudanccedila
que natildeo satisfez
[] Era um projeto que jaacute veio pronto Quem tinha uma famiacutelia maior tinha uma
maiorzinha quem tinha uma famiacutelia menor tinha uma mais pequena [] (Grupo
Focal 2)
A uacutenica coisa que a gente estava fazendo era substituir a casa de taipa pela de
alvenaria melhorando a sua qualidade de vida e muitas vezes jaacute havia ateacute aquela
preocupaccedilatildeo seraacute que realmente era isso que ele estava querendo [] mas houve
grandes questionamentos durante a execuccedilatildeo das casas quer dizer [] Era porque
natildeo queriam perder a casa ldquoporque a minha casa apesar de ser de taipa mas era uma
casa boardquo ldquo Porque essas casas novas natildeo tinham espaccedilo suficienterdquo natildeo se
respeitou a aacuterea que cada casa tinha quer dizer eu particularmente acharia que cada
casa deveria ser feito um levantamento da casa que existia do jeito que ela era e
transformaria ela apenas se melhoraria a qualidade da casa [] Eacute mas foi feito um
negoacutecio padratildeo tipo o tamanho eacute esse sem levar em consideraccedilatildeo as peculiaridades
de cada famiacutelia (Teacutecnico 1)
[] Na primeira conversa era []vai ter a substituiccedilatildeo da casa de taipa para casa de
alvenaria aiacute depois veio o projeto pronto natildeo mas essa casa eacute pequena mas a planta
assim eacute muito apertadinho natildeo tem sala Natildeo o projeto eacute pronto a planta da casa eacute
essa tem que ser executado dessa forma Entatildeo natildeo podia ser feito mudanccedila
nenhuma Depois que fosse entregue aiacute a famiacutelia pode mudar mas antes de ser
entregue natildeo podia ser feita mudanccedila nenhuma na casa ateacute serem entregues tem
que se entregues todas padronizadas (Lideranccedila 1)
[] O ruim eacute porque satildeo casas padronizadas elas natildeo respeitam o pensamento que
as pessoas entendem sobre essas casas a miacutestica disso entatildeo [] ( Grupo Focal 1)
Mas refiro-me novamente agraves normas teacutecnicas da Funasa que trazem outra orientaccedilatildeo
afirmando que ldquoos modelos natildeo pretendem padronizar os projetos e o objetivo eacute oferecer
subsiacutedios e sugestotildees devendo obrigatoriamente ser adequados agraves caracteriacutesticas da
localidade []rdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b)
196
A proacutepria accedilatildeo em si foi alvo de criacuteticas por vaacuterios fatores A moradia de taipa faz
parte da cultura local a construccedilatildeo em alvenaria nem sempre controla o risco de transmissatildeo
de doenccedila de Chagas a melhoria da casa de taipa representa menor custo aos cofres puacuteblicos
manteria o tamanho original das casas seria protegida contra a presenccedila de triatomiacuteneo e
teria sido uma alternativa mais compatiacutevel com a realidade quilombola eacute o que traz o relato
de lideranccedila
[] E a questatildeo da substituiccedilatildeo da casa de taipa por casa de alvenaria eacute assim eacute
porque eu particularmente a minha opiniatildeo eacute que a casa de taipa ela faz parte da
nossa cultura natildeo eacute Entatildeo eu acho que deve ser dada uma melhorada porque a
gente faz com pouco recurso entatildeo a questatildeo de fazer o reboco a madeira ser
trocada ser passado laacute o produto eu concordo com tudinho agora substituir casa de
taipa por casa de alvenaria eu acho que natildeo elimina a questatildeo do barbeiro que eacute o
foco que eles colocam porque muitas casas casarotildees que tem em Santana que natildeo eacute
revestido que natildeo eacute rebocado eacute alojamento de barbeiro tambeacutem E eacute de alvenaria e
a gente encontra barbeiro (Lideranccedila 1)
Aspectos relevantes como respeito aos haacutebitos e cultura local e envolvimento da
comunidade natildeo foram considerados na realizaccedilatildeo desta obra conforme consta no Manual da
Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b p 8)
As intervenccedilotildees pela Melhoria Habitacional devem levar em consideraccedilatildeo aspectos
da transmissatildeo da doenccedila comportamento e biologia dos vetores e hospedeiros
vertebrados mas acima de tudo deve ser planejada e executada tendo a comunidade
como condutora e parceira desse processo uma vez que as accedilotildees seratildeo efetuadas em
suas casas devendo ser respeitados os seus haacutebitos e sua cultura
E ao natildeo ser discutida outra alternativa para moradia em aacutereas quilombolas a
exemplo da melhoria ou restauraccedilatildeo das casas de taipa existentes trazemos novamente o que
preconiza o Programa MHCDCh natildeo contemplado nas accedilotildees do projeto da transposiccedilatildeo
O Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle da Doenccedila de Chagas
(MHCDCh) fomenta a execuccedilatildeo dos seguintes objetos Restauraccedilatildeo ndash reforma de
domiciacutelio visando agrave melhoria das condiccedilotildees fiacutesicas da casa bem como do ambiente
externo (peridomiciacutelio) Reconstruccedilatildeo ndash caso especial quando a estrutura da
habitaccedilatildeo natildeo suporte as melhorias necessaacuterias a mesma deveraacute ser demolida e
reconstruiacuteda (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b grifo nosso)
Durante todo processo a consulta o diaacutelogo e as negociaccedilotildees com a populaccedilatildeo
quilombola ficaram restritas a escolha das famiacutelias que seriam beneficiadas diferentemente
do proposto na metodologia do Subprograma que pretendia ser participativa com a
ldquocomunidade dividindo o poder decisoacuterio no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos projetos
a serem implementadosrdquo (BRASIL 2005 p 9)
197
De fato o que coube como decisatildeo ao povo quilombo neste processo foi apenas a
identificaccedilatildeo das famiacutelias processo que foi conduzido e definido pelas lideranccedilas e
Associaccedilatildeo de moradores de cada comunidade Criteacuterios foram definidos em cada quilombo
com niacuteveis diferenciados de detalhamento e rigor segundo nuacutemero de casas a serem
substituiacutedas dispersatildeo territorial tamanho das famiacutelias e interesses poliacuteticos locais
[] Como a gente fez A gente fez pela questatildeo de famiacutelias de quantas pessoas
moravam na casa quantas crianccedilas tinham na casa e a questatildeo de renda mesmo
Quando a gente mapeou tambeacutem as casas que tinham uma parte de taipa e uma
parte de alvenaria a que tinha maior parte de taipa a gente mapeou tambeacutem como
toda de taipa e aiacute quando a gente foi pro processo de escolha tambeacutem a gente deu
prioridade para quem a casa era toda de taipa pra quem tinha mais crianccedila na casa e
depois quem tinha um poder aquisitivo menor Fomos criando todos esses criteacuterios
[] Atraveacutes da associaccedilatildeo [] depois fizemos assembleia na associaccedilatildeo pra vecirc se
todo mundo concordava com as pessoas que tinham sido selecionadas e aiacute o pessoal
concordou a gente conseguiu fechar os oito nomes e a gente ainda colocou criou
mais um criteacuterio laacute em Santana mesmo que foi colocar a casa em nome da mulher
porque muitas vezes o homem vai embora muitas vezes o homem separa da mulher
e pra natildeo ter essa questatildeo de dividir essa casa ou de vender essa casa de acontecer
alguma coisa nesse sentido a gente colocou todas as casas em nome das mulheres
(Lideranccedila 1)
Pela comunidade Pelas lideranccedilas locais elas que faziam Natildeo interferiu porque no
caso se ela natildeo podia fazer tudo de uma vez ai entatildeo foi jogado para a comunidade
resolver As lideranccedilas foi que resolveram (Teacutecnico 1)
Desde o iniacutecio do projeto foi feita uma exigecircncia todas as casas de taipa teriam que
ser derrubadas por tratar-se de uma substituiccedilatildeo alegava a Funasa Condiccedilatildeo tambeacutem
questionaacutevel e polecircmica para a comunidade pois a dinacircmica de crescimento das famiacutelias
implica necessidade de novas moradias Haacute tambeacutem um significado em relaccedilatildeo a ldquovelha
casardquo na histoacuteria de pertencimento e no processo identitaacuterio das famiacutelias quilombolas
Eu penso assim que essa questatildeo do derrubar a casa velha deveria ser repensado
tambeacutem Porque uma casa natildeo eacute soacute uma construccedilatildeo em si ali teve momentos ali
teve uma vida teve uma histoacuteria aquela casa praacute vocecirc chegar laacute ai vai
simplesmente passou para uma nova etapa e derruba tudo natildeo eacute soacute derrubar a
parede vocecirc derrubou uma histoacuteria que teve ali naquela casa entatildeo isso deveria ser
repensado [] (Grupo Focal 1)
[] Agora eu natildeo vejo com bons olhos essa questatildeo de substituiccedilatildeo tambeacutem porque
as casas de taipa agrave medida que a famiacutelia vai aumentando os filhos vatildeo nascendo as
pessoas vatildeo aumentando as casas (Lideranccedila 1)
Aspectos relacionados agrave sauacutede como a diminuiccedilatildeo da poeira eacute visto como importante
pelo quilombolas principalmente no contexto de construccedilatildeo de uma grande obra como o
canal da transposiccedilatildeo que provoca um desequiliacutebrio ambiental com maior poluiccedilatildeo
atmosfeacuterica
198
Tem muitos que ficaram [] Eu acho que ficaram muito satisfeitos Ajudou na
questatildeo da poeira neacute porque a casa de barro tem muita poeira E tambeacutem o teto da
casa porque a casa de barro geralmente o teto ele eacute de telha muito velha e tambeacutem
sem contar os barbeiros que fica nas brechas neacute E hoje natildeo as casas tudo
bonitinhas rebocadinhas rebocada [] A telhinha toda dessa ceracircmica natildeo eacute telha
velha comum que aquela telha comum junta muita terra (Grupo Focal 3)
O que podemos inferir eacute que apesar de haver moradores satisfeitos em ter acesso a
uma casa de alvenaria este projeto habitacional foi executado em seu conjunto sem
considerar os costumes da comunidade sem conhecer o real significado de uma habitaccedilatildeo de
cada ambiente da casa cujo significado e representaccedilatildeo social parece natildeo ter sido apreendido
no momento de pensar e elaborar a concepccedilatildeo das casas
E particularizando alguns ambientes da casa a cozinha por exemplo aleacutem do
tamanho reduzido natildeo inseriu o fogatildeo agrave lenha utensiacutelio principal no preparo dos alimentos
para comunidades quilombolas que vivem na zona rural Com isto o uso de fogatildeo agrave gaacutes foi
imposto desrespeitando o haacutebito de preparo dos alimentos com fogatildeo de lenha comum em
todas as casas da comunidade
[] inclusive quando foi se passar de uma casa pra outra teve pessoas na
comunidade que foi preciso se desfazer de alguma coisa de dentro da casa pra poder
entrar Porque escolhia ou botava os trens ou ficava na rua [] Nem tem sala e nem
tem cozinha neacute na verdade [] Eacute Soacute tem quarto [] Porque quase natildeo tem
cozinha soacute tem quarto (Grupo Focal 2)
[] Entatildeo a gente tem casa de taipa enorme e aiacute as casas de taipa que satildeo
substituiacutedas jaacute tem uma planta que mesmo as casas de quatro quartos que satildeo pra
famiacutelias que tem mais filhos ela eacute muito pequenininha natildeo tem sala A sala eacute um
corredorzinho a cozinha muito espremidinha muito apertadinha (Lideranccedila 1)
[] mas tem a questatildeo tambeacutem da cozinha que normalmente no interior vocecirc tem o
fogatildeo agrave lenha vocecirc tem aquele fogatildeo a carvatildeo que usam mas nas casas natildeo teve
essa preocupaccedilatildeo entatildeo a maior dificuldade era vocecirc querer derrubar a casa e a
mulher ficava por uacuteltimo muitas vezes vocecirc natildeo derrubava onde tava onde era o
fogatildeo que era onde eles continuavam fazendo as suas comidas elaborando as suas
refeiccedilotildees ateacute fora da casa porque em casa natildeo tinham condiccedilotildees de fazer [] Era
porque a cozinha soacute se adequava um fogatildeo com botijatildeo de gaacutes [] Eacute natildeo eacute costume
da regiatildeo Entatildeo eu acho que houve muito isso tentou se jogar o urbano dentro do
rural que natildeo teria nenhuma condiccedilatildeo de ser (Teacutecnico 1)
Outro ambiente eacute a sala tambeacutem chamada pela comunidade de varanda foi substituiacuteda
por um espaccedilo pequeno que natildeo permite o encontro das famiacutelias e vizinhos para conversar
gerando insatisfaccedilatildeo entre muitos moradores Com isto o que se observa atualmente eacute que em
sua grande maioria as casas passaram por reformas apoacutes serem entregues pela Funasa Eacute o
que expressa a fala de moradores nos grupos focais
199
Apenas o nuacutemero de pessoas na famiacutelia eacute que determinava o modelo de casa Entatildeo
hoje vocecirc entra em algumas casas [] as pessoas estatildeo fazendo adequaccedilotildees do jeito
que eles queriam porque na verdade aquilo dali natildeo era o jeito das casas que eles
queriam Agora pra quem natildeo tem uma casa um quarto eacute uma casa(Grupo Focal1 )
[] Tudo eacute pequeno [] Eacute bem apertadinho e os material dos banheiros mesmo
[] Tudo eacute pequeno agora os quartos [] A maioria delas 99 foi modificada
depois Os proacuteprios donos mesmo foi quem modificou o seu [] Teve que fazer
sala e cozinha quem pode fazer fez De tijolo (Grupo Focal 2)
Outro aspecto eacute a estrutura de algumas casas construiacuteda com material inadequado
que com as explosotildees ocorridas com as obras do canal estatildeo provocando rachaduras em
algumas delas segundo relato de moradores em grupo focal
16 casas [] A minha jaacute estaacute rachada [] a minha taacute rachada rachadura de cima ateacute
embaixo e grande [] Todas estatildeo rachadas [] Rachou agora haacute pouco tempo Taacute
com muito tempo natildeo [] A estrutura que fizeram foi fraca natildeo teve
acompanhamento (Grupo Focal 2)
As narrativas de como estas obras tem sido executadas em aacutereas quilombolas o
modelo de casa adotado pelo projeto nos sinalizam para qual concepccedilatildeo e compreensatildeo de
habitaccedilatildeo para zona rural foi adotada A habitaccedilatildeo como elemento do ambiente que pode ou
natildeo promover sauacutede
Para Cohen et al (2004) a habitaccedilatildeo eacute um espaccedilo de construccedilatildeo da sauacutede e do seu
desenvolvimento se considerarmos o ambiente como determinante da sauacutede Pensando na
sauacutede da famiacutelia a habitaccedilatildeo acolhe a famiacutelia sendo espaccedilo essencial veiacuteculo de construccedilatildeo
de seu desenvolvimento
Numa visatildeo integradora de sauacutede natildeo haacute como desvincular a habitaccedilatildeo do conjunto de
elementos da promoccedilatildeo da sauacutede um dos fatores de determinaccedilatildeo da sauacutede no espaccedilo
construiacutedo sendo necessaacuteria a articulaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de habitaccedilatildeo sauacutede meio
ambiente e infraestrutura aqui particularmente a rural (COHEN et al 2004)
Ressignificar o que seja habitaccedilatildeo ampliando o olhar para uma concepccedilatildeo integradora
de habitaccedilatildeo que considere que usos seus habitantes fazem da mesma inserindo estilos de
vida e comportamentos de riscos Trata-se na verdade de uma concepccedilatildeo socioloacutegica
devendo o conceito de habitaccedilatildeo saudaacutevel incluir o seu entorno como ambiente e agenda da
sauacutede de seus moradores (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud
COHEN at al 2004 p 809)
Segundo os autores
O entendimento da habitaccedilatildeo como um espaccedilo onde a funccedilatildeo principal eacute ter a
qualidade de ser habitaacutevel faz com que uma anaacutelise incorpore a visatildeo das muacuteltiplas
200
dimensotildees que compotildeem a habitaccedilatildeo cultural econocircmica ecoloacutegica e de sauacutede
humana (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud COHEN
et al 2004 p 809)
E no tocante ao conjunto das accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas que deveriam estar amplamente divulgados
e debatidos pelos principais destinataacuterios das mesmas ainda satildeo em seu conjunto textos
teacutecnicos e intenccedilotildees desconhecidas da populaccedilatildeo como expressam moradores em um dos
grupos focais
Talvez noacutes tenhamos mais accedilotildees dentro desse projeto que natildeo seja talvez nem direto
a ele mas articulado por eles talvez a gente estaacute articulado por ele mas por a
gente natildeo conhecer esse programa no geralzatildeo no todo natildeo saber das accedilotildees entatildeo a
gente pouco sabe [] Aiacute eacute uma questatildeo do proacuteprio da forma como o proacuteprio
ministeacuterio tem o projeto (Grupo Focal 1)
Pelo exposto elencamos alguns aspectos criacuteticos da accedilatildeo
a) Particularidades e respeito agrave diversidade cultural ao se trabalhar com melhorias
habitacionais em aacutereas quilombolas natildeo foram incorporadas pela instituiccedilatildeo nem
firmadas na parceria com o MI a exemplo do que preconiza a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais que tem
como um dos objetivos especiacuteficos ldquoimplantar infra-estrutura adequada agraves
realidades soacutecio-culturais e demandas dos povos e comunidades
tradicionaisrdquo (BRASIL 2007)
b) Princiacutepios e diretrizes para melhorias habitacionais estabelecidos pela proacutepria
Funasa natildeo foram devidamente observados e considerados nas accedilotildees do projeto da
transposiccedilatildeo
c) O modelo de gestatildeo da Funasa centralizado em Brasiacutelia tolhe a autonomia e
iniciativa das Superintendecircncias Estaduais dificultando agraves equipes locais a
realizaccedilatildeo de trabalhos mais proacuteximos da realidade das populaccedilotildees quilombolas
Cria-se com isto uma distacircncia das realidades e demandas rurais com uma
execuccedilatildeo estritamente teacutecnica e burocraacutetica para cumprir o determinado pelo niacutevel
central com o ldquoengessamentordquo de accedilotildees que natildeo podem ser adequadas para
melhor uso do recurso puacuteblico satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo quilombola e real melhoria
de sua qualidade de vida
d) Alguns dos pontos criacuteticos identificados foram objeto de debate e de relatoacuterio
interno elaborado pela equipe de educaccedilatildeo em sauacutede da FunasaSuest-PE junto agrave
201
equipe da Diesp-PE em 2009 que mesmo concordando com os problemas
apontados natildeo logrou ecircxito para efetivar mudanccedilas concretas
202
9 CONCLUSOtildeES
A vulneraccedilatildeo socioambiental vivida pelas comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril Conceiccedilatildeo das Crioulas e seus territoacuterios consequecircncia do projeto de
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco se expressa de diversas maneiras
A vulneraccedilatildeo eacute uma realidade que faz parte da histoacuteria dessas populaccedilotildees e de seus
territoacuterios O projeto da transposiccedilatildeo agravou a situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo provocando novas
feridas marcas que podem ser vistas antes e depois do projeto da transposiccedilatildeo
O projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco foi implementado sem o governo
realizar amplo debate com a sociedade sem ouvir as criacuteticas e fundamentaccedilotildees teacutecnicas e
poliacuteticas para sua natildeo realizaccedilatildeo Eacute um empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de vaacuterios
direitos das comunidades quilombolas de Salgueiro abrindo feridas e traumas indeleacuteveis
O significado do rio Satildeo Francisco para moradores quilombolas e demais sujeitos do
estudo eacute carregado de simbolismos e agradecimento pelo benefiacutecio que ele traz agrave regiatildeo e
populaccedilotildees mas vem fortemente atrelado a uma preocupaccedilatildeo com a urgente necessidade de
sua revitalizaccedilatildeo Alia-se a essa compreensatildeo a certeza de que revitalizar o rio Satildeo Francisco
deveria anteceder um projeto de tamanha envergadura e impacto ambiental como o projeto da
transposiccedilatildeo
As reflexotildees trazidas pelo estudo indicam negligecircncia quanto agrave revitalizaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco quer pela pouca efetividade das accedilotildees previstas pelo governo em seu Projeto
de Revitalizaccedilatildeo quer pela inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo que estruture a revitalizaccedilatildeo como
poliacutetica puacuteblica
A percepccedilatildeo geral sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute de ser um empreendimento
fechado agrave mudanccedilas com obras e accedilotildees inegociaacuteveis com pouca transparecircncia e diaacutelogo com
as populaccedilotildees diretamente afetadas incluiacutedas as populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro A
lentidatildeo interrupccedilatildeo e reajustes exorbitantes no orccedilamento inicialmente previsto para o
projeto reforccedilam a falta de confianccedila da populaccedilatildeo quanto agrave conclusatildeo das obras e o natildeo
cumprimento das promessas feitas A principal necessidade e expectativa da populaccedilatildeo
quilombola em relaccedilatildeo ao projeto que seria o abastecimento de aacutegua para consumo humano
eacute visto como uma possibilidade cada vez mais distante confirmando que o empreendimento
iraacute beneficiar o agronegoacutecio e o poacutelo sideruacutergico do porto de Peceacutem em Fortaleza Cearaacute
As feridas sentidas pela populaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo satildeo fatores que
contribuem para o descreacutedito com os benefiacutecios do projeto anunciados pelo governo Fica
claro que o projeto da transposiccedilatildeo responde a um modelo de desenvolvimento com base no
203
crescimento econocircmico a qualquer custo com detrimento da inclusatildeo e melhora real das
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo quilombola
As feridas e condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo aparecem como violaccedilatildeo de direitos
O direito agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria meio para acesso a outros direitos baacutesicos e
fundamentais do povo quilombola natildeo vem sendo respeitado conforme proposto pelo projeto
da transposiccedilatildeo Direito assegurado aos povos quilombolas desde a Constituiccedilatildeo Federal a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute uma das promessas do projeto da transposiccedilatildeo mas que vem sendo
conduzido morosamente e sem perspectivas claras para as populaccedilotildees quilombolas Apenas
na comunidade de Santana houve accedilatildeo concreta do projeto para agilizar o processo Em
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo houve nenhuma contribuiccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo para dar seguimento aos processos de regularizaccedilatildeo
O direito agrave melhoria das condiccedilotildees de vida com infraestrutura adequada de
saneamento habitaccedilatildeo transporte educaccedilatildeo sauacutede condiccedilotildees de trabalho promessas feitas e
natildeo cumpridas pelo projeto O que pode ser observado ao caracterizar as trecircs comunidades
quilombolas eacute que houve comprometimento em muitos desses serviccedilos com o projeto da
transposiccedilatildeo Desde promessas natildeo cumpridas para implantaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede
educaccedilatildeo projetos de desenvolvimento local soluccedilotildees para questatildeo hiacutedrica como tambeacutem a
desestruturaccedilatildeo e piora no acesso aos serviccedilos que jaacute eram oferecidos agrave populaccedilatildeo
quilombola
Em Santana cujas obras do canal se realizam dentro do territoacuterio haacute vulneraccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com perda de territoacuterio e animais agrave agricultura familiar com perda de aacuterea
de sequeiro aos deslocamentos dentro e para fora dos territoacuterios por falta de passarelas na
aacuterea da construccedilatildeo do canal dificultando acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e mobilidade
geral agrave seguranccedila por episoacutedios de invasatildeo e roubo de animais no territoacuterio agrave vegetaccedilatildeo
com mudanccedila de paisagem pelo desmatamento provocado com as obras agraves condiccedilotildees de
sauacutede dos moradores pela poluiccedilatildeo sonora e atmosfeacuterica agrave situaccedilatildeo financeira das famiacutelias
por todas as perdas mencionadas e natildeo indenizadas justamente
Em ContendasTamboril haacute vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao acesso ao trabalho por natildeo
haver sido contratados moradores quilombolas nas obras do projeto agrave estrutura de casas que
se encontram rachadas em consequecircncia do impacto das obras ao aumento de acidentes de
motocicleta com mortes de moradores da comunidade agrave possiacutevel perda de territoacuterio com
obras em Tamboril com destruiccedilatildeo de aacuterea coletiva de plantio e de criaccedilatildeo de animais e de
casas sem consulta e diaacutelogo com a comunidade As ameaccedilas que pairam sobre o territoacuterio
204
ContendasTamboril sem que a populaccedilatildeo sequer saiba que obras o governo vai realizar em
seu aacuterea provocou uma vulneraccedilatildeo emocional
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apesar de natildeo sofrer diretamente com as obras do projeto
identificamos situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave estrada que daacute acesso agrave comunidade e aos
serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio e abastecimento de aacutegua Outras accedilotildees e obras previstas no
programa de compensaccedilatildeo natildeo foram cumpridas pelo projeto da transposiccedilatildeo como
elaboraccedilatildeo de plano de desenvolvimento territorial viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de uma ETA
construccedilatildeo de reservatoacuterio elevado implantaccedilatildeo de rede de distribuiccedilatildeo aacutegua viabilizaccedilatildeo de
construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros viabilizaccedilatildeo de construccedilatildeo de
500 novas moradias de alvenaria construccedilatildeo de salas de aula e laboratoacuterio de informaacutetica na
escola e construccedilatildeo de pousada
Quanto aos impactos positivos apontados pelo projeto a maioria natildeo se traduz como
melhora ou mudanccedila na qualidade de vidas das comunidades quilombolas
Os Programas Baacutesicos Ambientais ou programas compensatoacuterios natildeo representam a
real demanda das populaccedilotildees quilombolas do estudo caracterizando-se como medidas
paliativas e promessas natildeo cumpridas em sua totalidade No Programa de Educaccedilatildeo
Ambiental as peculiaridades culturais e ambiental de cada comunidade o envolvimento
direto da populaccedilatildeo o respeito ao saber local deveriam ancorar suas praacuteticas educativas o
material didaacutetico utilizado nas praacuteticas educativas natildeo deveria ser tratado como algo agrave parte a
linguagem os comportamentos as caracteriacutesticas regionais satildeo aspectos que natildeo podem ser
desprezados e sim elementos intriacutensecos na elaboraccedilatildeo de material didaacutetico-pedagoacutegico e em
praacuteticas educativas que se dizem dialoacutegicas e problematizadoras O resultado e
desdobramento deste programa natildeo foi percebido pela populaccedilatildeo envolvida na accedilatildeo se
caracterizando em vaacuterios momentos como oficinas educativas pontuais que natildeo puderam ser
colocadas em praacutetica pela falta de apoio teacutecnico e financeiro natildeo representando melhoria na
qualidade de vida da populaccedilatildeo nem do meio ambiente
Em relaccedilatildeo agraves obras executadas para mitigaccedilatildeo de impactos como a substituiccedilatildeo de
casas de taipa por alvenaria o que se constata eacute que houve satisfaccedilatildeo de alguns moradores
com as obras aliada a uma visatildeo criacutetica quanto agrave inadequaccedilatildeo do modelo habitacional pelo
tamanho dos cocircmodos e desrespeito aos haacutebitos da zona rural pela impossibilidade de ajustes
no projeto elaborado e discussatildeo de outras alternativas de melhoria habitacional mais
adequadas agrave realidade rural pela melhoria parcial das habitaccedilotildees mantendo o risco de
transmissatildeo da doenccedila de Chagas pela obrigatoriedade na demoliccedilatildeo das casas anteriores
sem a possibilidade de reparo para outros familiares
205
A intenccedilatildeo de diminuir a intensidade dos impactos negativos e condiccedilotildees de
vulneraccedilatildeo geradas pelo projeto da transposiccedilatildeo via programas compensatoacuterios vem se
mostrando insuficiente e tiacutemida quando comparada agraves feridas e traumas provocados pelo
projeto nas aacutereas quilombolas
Apesar do discurso oficial enaltecer a importacircncia da participaccedilatildeo da sociedade e
comunidade local natildeo houve empenho do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional para incentivar
o funcionamento de um comitecirc e efetivar um canal de participaccedilatildeo das instacircncias municipais
estaduais e dos movimentos sociais locais em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo
Eacute necessaacuterio uma maior inserccedilatildeo dos movimentos sociais das comunidades
quilombolas para interferir nos rumos do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante a estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o
Ministeacuterio da Integraccedilatildeo demais instituiccedilotildees governamentais e o movimento organizado das
comunidades quilombolas como instacircncia poliacutetica de controle social a exemplo de um
Comitecirc Gestor para o acompanhamento e monitoramento do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante e necessaacuterio a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas de todas as
conquistas legais fruto da sua luta e mobilizaccedilatildeo poliacutetica no paiacutes para assegurar direitos
efetivar poliacuteticas fazer cumprir o que determina a legislaccedilatildeo como uma das ferramentas de
enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco em suas vidas e territoacuterios
Grandes empreendimentos a exemplo do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco devem ser pensados elaborados e implementados com base no diaacutelogo junto agrave
populaccedilatildeo local poderes puacuteblicos e sociedade de forma ampla e democraacutetica para construir e
incorporar consensualmente medidas mitigadoras como forma de minimizaccedilatildeo de impactos
e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo nas aacutereas de influecircncia direta e indireta destes projetos
206
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Grupo 1 - Gestoresteacutecnicos da Funasa do Projeto em Salgueiro (MI) das Secretarias
Municipais de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Planejamento e Meio
Ambiente
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Instituiccedilatildeo a qual estaacute vinculado
Profissatildeoocupaccedilatildeo e o quanto tempo atua nela
Aspectos gerais do Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento profissional e institucional
3 Principais mudanccedilas observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo ao municiacutepio e comunidades
quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como ((recursos periodicidade atores)
7 Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
8 O que representa o rio Satildeo Francisco
9 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
10 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
11 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
221
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas
Grupo 3 ndash Lideranccedilas quilombolas das comunidades de Santana ContendasTamboril e
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Comunidade a qual pertence
Niacutevel de participaccedilatildeo em grupo da comunidade
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento com o Projeto ndash Participaccedilatildeo
3 Principais mudanccedilas na comunidade observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo as comunidades quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como (recursos periodicidade atores)
7 Conflitos existentes nas aacutereas quilombolas antes do PISF e apoacutes a sua implantaccedilatildeo
enfrentamento
8 8-Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
9 Influecircncias do PISF na estrutura de organizaccedilatildeo social e poliacutetica das comunidades
quilombolas
10 O que representa o rio Satildeo Francisco
11 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
12 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
13 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
222
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal
Comunidades quilombolas de Santana ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Conhecimento sobre o Projeto da transposiccedilatildeo (objetivos quando iniciou no municiacutepio e
em sua comunidade como foi divulgado na comunidade instituiccedilotildees envolvidas)
2 Significado das obras do Projeto de transposiccedilatildeo
3 Conflitos ocorridos entre famiacuteliascomunidades Quais
4 Obras executadas pela Funasa ndash Substituiccedilatildeo de casas de taipa atendimento da demanda
conflitos caracateriacutestica das casas atende a necessidade da populaccedilatildeo
5 Conhecimento sobre Programa de Educaccedilatildeo ambiental do PISF (objetivosmetas
atividades)
6 Desenvolvimento do programa na comunidade
7 Participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
8 Conhecimento sobre o Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas
(objetivosmetasatividades)
9 Accedilotildees realizadas por esse programa em sua comunidade
10 Niacutevel de participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
Aspectos da comunidade
11 Como vocecirc considera a vida em sua comunidade
12 Principais dificuldades das famiacutelias
13 Formas de sobrevivecircncia das famiacutelias (trabalho renda criaccedilatildeo de animais produccedilatildeo
agriacutecola)
14 Como avalia a sauacutede das famiacutelias
15 Problemas de sauacutede mais frequentes em sua comunidade
16 Causa desses problemas
17 Como se daacute o atendimento dos problemas de sauacutede na comunidade (locais procurados
facilidadedificuldade presenccedila de acs)
18 Tipo predominante de moradia
19 Fontes de abastecimento de aacutegua na comunidade
20 Forma de Tratamento da aacutegua para beber
21 Destino dos dejetos (fezes e urina) na comunidade
22 Accedilotildees realizadas pelo PISF para enfrentarcuidarresolver os problemas apontados
23 Resultados obtidos das accedilotildees
24 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
25 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
26 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
223
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
Salqueiro PE no periacuteodo de 2008 agrave 2013
Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute nenhum constrangimento ou
prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente bem como com as instituiccedilotildees
colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de participar e retirar o seu
consentimento
Vaacuterios estudos afirmam que eacute na base que se encontra a maior parte das informaccedilotildees mais
ricas e significativas para os processos de mudanccedilas Essa pesquisa poderaacute contribuir no sentindo de
subsidiar o processo de fortalecimento poliacutetico das populaccedilotildees quilombolas ampliando seu
empoderamento e inserccedilatildeo nas diversas accedilotildees e atividades propostas pelo Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
Seratildeo feitas entrevistas individuais com lideranccedilas e reuniotildees com a participaccedilatildeo entre 9 e 12
pessoas para conversarem sobre um assunto pesquisado com perguntas condutoras coordenadas pelo
pesquisador Essas reuniotildees chamados grupos focais seratildeo gravadas e depois seratildeo ouvidas e escritas
Os participantes poderatildeo responder da forma que achar melhor Os riscos relacionados com a
participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso
sua identidade venha a puacuteblico No entanto garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As
informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e
outras atividades cientiacuteficas no entanto estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Os benefiacutecios relacionados com a participaccedilatildeo dos membros da comunidade satildeo no sentido de
contribuir para o conhecimento e percepccedilatildeo dos aspectos relacionados agrave educaccedilatildeo em sauacutede ambiental
dos programas de educaccedilatildeo ambiental de apoio agraves comunidades quilombolas de apoio ao saneamento
baacutesico e de controle da sauacutede puacuteblica inseridos no PISF
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Poderei deixar de participar a qualquer momento sem que isso acarrete qualquer prejuiacutezo agrave
minha pessoa
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho na Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos telefones (81)
32226007 ou (81) 87875275 Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho ndash Pesquisadora
224
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado para
Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
SalqueiroPE no periacuteodo de 2008 agrave 2013 Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute
nenhum constrangimento ou prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente
bem como com as instituiccedilotildees colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de
participar e retirar o seu consentimento
Os sujeitos da pesquisa seratildeo gestores e teacutecnicos das instituiccedilotildees envolvidas com o PISF em
acircmbito federal estadual e municipal A definiccedilatildeo dos sujeitos consideraraacute o seu tipo de inserccedilatildeo
selecionando-se os informantes-chave representativos destes atores que integram o estudo
A partir da pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas seraacute possiacutevel analisar a
educaccedilatildeo e sauacutede ambiental desenvolvida no acircmbito do Projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas com ecircnfase nos
aspectos dos processos e percepccedilotildees dos programas e empoderamento dos sujeitos envolvidos
Os riscos relacionados com a participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser
constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso sua identidade venha a puacuteblico No entanto
garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas
em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e outras atividades cientiacuteficas no entanto
estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Sua colaboraccedilatildeo nesta pesquisa se daraacute pela participaccedilatildeo em entrevista semi-estruturada
teacutecnica na qual seratildeo feitas algumas perguntas e o entrevistado poderaacute livremente responder e ainda
incluir aspectos que ache pertinentes serem colocados Toda a conversa seraacute gravada e posteriormente
transcrita
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho pelo endereccedilo Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos
telefones (81) 32226007 ou (81) 87875275
Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho
Pesquisadora
225
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP
Educaccedilatildeo em Sauacutede ndash COREPE
QUESTIONAacuteRIO SOBRE CONHECIMENTOS ATITUDES E PRAacuteTICAS DA COMUNIDADE -
CAP
Data da Entrevista Nuacutemero da Casa
Nome do Entrevistador
Comunidade
Municiacutepio Estado
Endereccedilo do Entrevistado
1 Nome do Entrevistado ___________________________________________________________________
2 Dados dos moradores da casa
Nome Idade Sexo
Escolaridade
Analfabeto 1ordf a 4ordf 5ordf a 8ordf E Meacutedio 3ordm grau Curso
3 Acontecem festas ou reuniotildees em sua Comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Tipo Especificaccedilatildeo Como acontece e quando (anual mensal periacuteodo)
Social
Esportiva
Cultural
Religiosa
Outra
4 Participa de algum grupo na comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Grupo O que faz
5 O que a comunidade faz para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
6 O que faz vocecirc e sua famiacutelia para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
7 Fale sobre as instituiccedilotildees que trabalham nesta comunidade
Nome O que faz
226
8 Que serviccedilos de sauacutede vocecirc tem aqui na comunidade
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
9 Na sua opiniatildeo quais os principais problemas da Comunidade Por que esses problemas acontecem
Problemas Causas
10 As pessoas da comunidade adoecem do quecirc
________________________________________________________________________________
11 Qual os problemas de sauacutede mais frequumlente em sua famiacutelia
_______________________________________________________________________________
12 Quando as pessoas da comunidade estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
13 Quando as pessoas da sua famiacutelia estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
14 Que meios de transporte a comunidade utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
15 Que meios de transporte a sua famiacutelia mais utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
16 Vocecirc possui animais ( ) Sim ( ) Natildeo Quais
( ) Cachorro ( ) Gato ( ) Cavalo ( ) Pato ( ) Porco ( ) Gado ( ) Bode ( ) Jumento
( )Galinha ( ) Macaco ( ) OvelhaCarneiro ( ) Burro ( ) Outros______________________
17 Onde os animais satildeo criados
Curral Solto no quintal
Galinheiro Solto na rua
chiqueiro amarrado
18 O que tem na casa (observar) ( ) Cama ( ) TV ( ) Fogatildeo a gaacutes ( ) Fogatildeo agrave lenha ( ) Bicicleta ( ) Carro ( ) Raacutedio
( ) Geladeira ( ) Paraboacutelica ( ) Outros _________________________________________
19 Sua famiacutelia ouve raacutedio ( ) Sim ( ) Natildeo Quando ouve que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
20 Sua famiacutelia assiste TV ( ) Sim ( ) Natildeo Quando assiste que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
21 De que forma as notiacutecias chegam agrave comunidade
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet ( ) Telefone ( )Outro ____________________________
22 Sua famiacutelia tem mais acesso agraves notiacutecias atraveacutes de que
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet Telefone ( ) ( ) Outro _______________________
227
23 Conversar com a famiacutelia ateacute obter as informaccedilotildees sobre ocupaccedilatildeo e renda (citar os aposentados)
Renda aproximada da famiacutelia Ateacute 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3 SM ( ) 4 SM ( ) + 4 SM ( )
Nome No que trabalha
24 Tipo de moradia (observaccedilatildeo)
Parede Telhado Piso Cocircmodos
Madeira Amianto Cimento Cozinha
Tijolo Ceracircmica Ceracircmica Quarto
Palha Palha Madeira Banheiro
Lona Plaacutestico Lona Plaacutestico Chatildeo Batido Sala
Taipa
25 De onde vem a aacutegua que a sua famiacutelia utiliza
( ) Rede Puacuteblica ( ) Chafariz ( ) Rio ( ) Chuva ( ) Fonte Nascente ( ) Poccedilo feito pelo morador ( ) Poccedilo feito pela
FUNASA ( ) Outros __________________________
26 Como eacute tratada a aacutegua para beber
( ) Filtrada ( ) Fervida ( ) Clorada ( ) Coada ( ) Usa sem tratar ( ) Outros______________
27 Que destino eacute dado ao lixo em sua comunidade
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro ____________________________________
28 Em sua casa o que fazem com o lixo
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro _______________________________
29 Que destino eacute dado agraves fezes e urina das pessoas da casa
( ) Mato ( ) Quintal ( ) Rio ( ) Fossa Seca ( ) Vaso com descarga
( ) Outro __________________________________________________________________________
30 Informaccedilotildees adicionais da observaccedilatildeo do entrevistador
Utensiacutelio onde guarda a aacutegua para beber Animais soltos convivendo na moradia (estado de sauacutede) Limpeza
internae arredores da moradia Exposiccedilatildeo do lixo Aacutegua parada Esgoto Fezes Aparente estado nutricional das
crianccedilas e adulto E outras que julgar importante para o projeto
228
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco
DOCUMENTO SIacuteNTESE DAS AGENDAS DE PRIORIDADES DOS MUNICIacutePIOS
CONTEMPLADOS PELO PISF EM PERNAMBUCO
A Agenda de Prioridades do processo de formaccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutede constitui-se de diretrizes a
serem executadas para o enfrentamento dos problemas diagnosticados representando um acordo entre
os atores envolvidos Pretende-se com a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos contribuir com a
promoccedilatildeo da sauacutede das comunidades e municiacutepios nesse sentido foram identificadas como pontos em
comum dos municiacutepios de Pernambuco as seguintes diretrizes
Accedilotildees educativas de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo para promover o envolvimento da populaccedilatildeo
na gestatildeo adequada dos resiacuteduos soacutelidos
Realizaccedilatildeo de campanhas e palestras sobre defensivos agriacutecolas direcionadas aos agricultores
com enfoque na utilizaccedilatildeo de equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo agrave praacutetica da agricultura
orgacircnica e destinaccedilatildeo correta das embalagens destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas municipais em saneamento baacutesico e manutenccedilatildeo adequada da
rede existente
Campanhas educativas de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de violecircncia e accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e
fortalecimento das poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo agrave sauacutede do homem
Melhores condiccedilotildees de trabalho e investimento na formaccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de
Sauacutede e Agentes de Endemias
Campanhas educativas sobre animais peccedilonhentos a partir da realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes para accedilotildees voltadas agrave
educaccedilatildeo em sauacutede
Todas as diretrizes constituiacutedas pelos grupos participantes do processo de formaccedilatildeo de multiplicadores
dos 17 municiacutepios da ADA podem ser executadas por meio de articulaccedilotildees e parcerias entre os agentes
comunitaacuterios de sauacutede agende de combates agraves endemias coordenadores de atenccedilatildeo baacutesica lideranccedilas
comunitaacuterias setores do governo empresas e sociedade civil As diretrizes elencadas nas Agendas de
Prioridades municipais seratildeo desenvolvidas por meio de processos de mobilizaccedilatildeo criaccedilatildeo ou
fortalecimento de grupos e equipes de trabalho elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e planos de accedilatildeo e
campanhas educativas valendo-se de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos e de capacitaccedilotildees com temas
voltados agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede
229
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco
AGENDA DE PRIORIDADES DE EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE
DO
MUNICIacutePIO DE SALGUEIRO ndash PE
Apresentaccedilatildeo
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (PISF) vem se inserindo na realidade dos
dezessete municiacutepios que compreendem sua Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ocasionando
transformaccedilotildees no cenaacuterio socioambiental Desse modo para potencializar os possiacuteveis
impactos positivos e mitigar os negativos idealizou-se um conjunto de Programas Ambientais
que propotildee accedilotildees a serem executadas durante a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do empreendimento
Nesse contexto a partir de accedilotildees previstas pelos Programas Ambientais de Controle da Sauacutede
Puacuteblica Educaccedilatildeo Ambiental e de Comunicaccedilatildeo Social do PISF elaborou-se a Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo em Sauacutede norteada por uma abordagem educativa com o intuito de
formar multiplicadores de educaccedilatildeo em sauacutede nas comunidades da aacuterea de influecircncia do PISF
O processo de capacitaccedilatildeo visa proporcionar a praacutetica e socializaccedilatildeo de vivecircncias educativas
que satildeo experiecircncias relacionadas agraves informaccedilotildees e conceitos trabalhados durante os moacutedulos
presenciais e realizadas nas diversas aacutereas de atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias
Durante os moacutedulos foi proposta a construccedilatildeo de uma ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo
em Sauacutederdquo instrumento pelo qual os grupos participantes desse processo educativo
expressam de maneira sistematizada seu interesse em realizar determinadas atividades em
regime de colaboraccedilatildeo eou cooperaccedilatildeo
A Agenda visa nortear e potencializar a atuaccedilatildeo dos multiplicadores na prevenccedilatildeo dos
impactos relacionados agrave sauacutede e na melhoria da qualidade de vida das pessoas inserindo
novas metodologias e conceitos ou potencializando metodologias jaacute adotadas Assim
constitui-se de diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados representando um acordo entre os atores envolvidos Vale mencionar que os
participantes do processo de capacitaccedilatildeo seratildeo os protagonistas do planejamento e da
execuccedilatildeo das referidas diretrizes
Acredita-se que a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos entre os atores de um coletivo possa
contribuir com a promoccedilatildeo da sauacutede de suas comunidades nesse sentido a seguir seraacute
230
apresentada a ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo construiacuteda ao longo desse
processo de formaccedilatildeo de multiplicadores com o propoacutesito de indicar a trajetoacuteria identificada
pelos liacutederes comunitaacuterios e profissionais de sauacutede dos municiacutepios envolvidos
Abaixo seguem as diretrizes apontadas pelos representantes das comunidades e localidades
que juntas formam o municiacutepio de Salgueiro ndash PE
DIRETRIZES ACcedilOtildeES ESTRATEacuteGICAS RESPONSAacuteVEIS
Campanha de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de agressotildees
Identificar localidades onde mais acontece agressatildeo de gecircnero abusos sexuais maus tratos a incapazes entre outros
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica Conselho Municipal de
Sauacutede e USF
Realizar palestras onde os iacutendices estiverem mais altos
Incentivar a denuacutencia contra as agressotildees
Integraccedilatildeo entre as secretarias municipais
Promover campanha dos profissionais da sauacutede nas escolas e creches
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica USF NASF CREAS
escolas e creches
Promover campanhas de meio ambiente nas escolas e
creches
GTES Secretarias de Meio
Ambiente de Sauacutede de Accedilatildeo Social Desenvolvimento Agraacuterio
de Educaccedilatildeo e Serviccedilos Puacuteblicos
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Realizar palestras preventivas ou seminaacuterios nas escolas
USF e associaccedilotildees sobre as doenccedilas endecircmicas da regiatildeo
GTES Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia USF empresas construtoras escolas e as
lideranccedilas comunitaacuterias
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves Unidades de Sauacutede
Produzir viacutedeos com situaccedilotildees-problemas da comunidade para exibiccedilatildeo na proacutepria comunidade e encontrar possiacuteveis
soluccedilotildees
GTES USF lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho
Municipal de Sauacutede
Campanha de controle de animais
peccedilonhentos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre
animais peccedilonhentos e sua proliferaccedilatildeo
GTES USF lideranccedilas
comunitaacuterias IBAMA Secretaria
de Meio Ambiente Secretaria de Desenvolvimento Urbano e
escolas
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Promover palestras nas escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees sobre o tema proposto
GTES USF Secretarias de Meio Ambiente e de Obras e de
Infraestrutura escolas CDL
lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho Municipal de Sauacutede
Realizar oficinas de triagem e reaproveitamento de
reciclaacuteveis envolvendo as escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees
Fortalecer as accedilotildees de triagem jaacute existentes no municiacutepio
Utilizar a miacutedia (raacutedio carro de som redes sociais
televisatildeo etc) como mecanismo para sensibilizar a
populaccedilatildeo sobre a gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Campanha de promoccedilatildeo agrave sauacutede do
homem
Realizar levantamento por rua da quantidade de homens
com idade de 40 anos acima
ACSrsquos
Incentivar os homens a procurar os serviccedilos de sauacutede com
maior frequecircncia
ACSrsquos esposas namoradas
filhos etc
Encaminhar para realizaccedilatildeo do PSA (exame cliacutenico da
proacutestata)
USFrsquos com apoio da SMS
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da campanha de cacircncer de mama
Realizar levantamento por rua da quantidade de mulheres
sexualmente ativas e encaminhaacute-las para fazer o preventivo
ACSrsquos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre o
tema proposto
GTES USF escolas lideranccedilas
comunitaacuterias associaccedilotildees CREAS CRAS NASF e o
Conselho Municipal de Sauacutede
Promover uma passeata de incentivo a prevenccedilatildeo pelas
principais ruas do municiacutepio com faixas e auxiacutelio de um carro de som
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas comunitaacuterias Conselho
Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Realizar foacuteruns seminaacuterios encontros palestras etc como
forma de envolver e pactuar possiacuteveis parcerias com estes
grupos
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas
comunitaacuterias Conselho Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
231
Campanha de prevenccedilatildeo a
leishmaniose e raiva humana
Realizar palestras educativas nas USF escolas e
associaccedilotildees
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
epidemiologia Lideranccedilas comunitaacuterias e escolas
Promover campanhas informativas atraveacutes das redes sociais
carro de som e raacutedios (miacutedia)
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia lideranccedilas
comunitaacuterias e raacutedios
Participantes
Adeilson Severino de Souza Iara Suely Freire Maria Edlenne Figueredo Barboza William Carvalho
Alcemir da Silva Siqueira Idalina dos Santos Silva Maria Janeide Cordeiro
Allyson Francisco dos Santos Jairo de Souza Veriacutessimo Maria Liacutedia Alves do Nascimento
Ana Carolina da Silva Vieira Joatildeo Manoel Gondim Maria Lietice da Silva
Angela Maria Bezerra Joseacute Nilton da Silva Maria Mariano de Souza
Antonio de Padua da Silva Josilene Pereira da Silva Maria Rosicleide Vereda de Souza
Carlos Antocircnio Ramos Leite Karyne Dayane da Saacute Silva Maria Solange dos Santos
Dalma Reacutegia Pires Lucicleide Oliveira e Souza Milton Rodrigues Ramos
Denise Soares Ribeiro de Barros Manoel de Souza Gomes Norma Luacutecia de Souza Santos
Edson Rex Barbosa Ribeiro Manoel Francisco de Souza Agra Orisvaldo Matias Ferreira
Erasmo Joseacute Matias Gomes Marcella Alves Raneilda Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Espedito Antonio de Vasconcelos Maacutercia Isabel da Silva Ronivaldo Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Maria Auxiliadora de Vasconcelos Rosilene Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Fernanda Martins Maria de Faacutetima Cardoso Rosimeiry Arauacutejo Conserva
Francisco Afonso Vereda da Silva Juacutenior Maria do Socorro Leite Silveacuterio Sandra Maria da Silva
Souza
Francisca Claacuteudia Vidal dos Santos Maria do Socorro Silva Senilda Francisca da Silva
Francisco de Assis Sobrinho Maria do Socorro Angelim Tarcizo de Brito Ramos
Grupo Teacutecnico de Educaccedilatildeo em Sauacutede (GTES)
William Carvalho Josilene Pereira da Silva
Maria Mariano de Souza Maria do Socorro Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Senilda Francisca da Silva
Alcemir da Silva Siqueira Espedito Antocircnio de Vasconcelos
LUacuteCIA MARIA SOBRAL BARACHO
Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco
um olhar sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica do Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo
Oswaldo Cruz para obtenccedilatildeo do grau de
mestre em Ciecircncias
Aprovado em 16062014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Profordf Drordf Idecirc Gomes Dantas Gurgel
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
____________________________________
Prof Dr Joseacute Bento Rosa da Silva
Departamento de Histoacuteria
Centro de Filosofia e Ciecircncias HumanasUFPE
____________________________________
Profordf Drordf Lia Giraldo da Silva Augusto
Departamento de Sauacutede Coletiva
Centro de Pesquisas Aggeu MagalhatildeesFIOCRUZ
Aos meus queridos e amados pais Raimundo e
Iracema pelos exemplos deixados de eacutetica
respeito generosidade solidariedade e pelo
esforccedilo em me proporcionar as melhores
oportunidades de aprendizagem Agrave presenccedila
sutil de ambos que me acompanha em todos
os momentos importantes da minha vida
Agrave meu pai Raimundo Baracho que tendo
dedicado sua vida profissional agrave sauacutede
puacuteblica me incentivou a trilhar este caminho
Aos queridos familiares irmatildeos Alexandre e
Socorro cunhados Nazareacute e Ivaldy sobrinhos
Pablo Bernardo Joatildeo Gabriel Isabela
Rodrigo Luciana Raquel Bruno sobrinhos
netos ldquoBibi e Xandinhordquo pelo apoio carinho
incentivo presenccedila e alegria em vaacuterios
momentos desta trajetoacuteria
AGRADECIMENTOS
Sou grata a vaacuterias pessoas e situaccedilotildees que permitiram construir esta dissertaccedilatildeo Ao
nominar pessoas e especificar situaccedilotildees corro o risco de natildeo incluir tudo e todas mas a minha
gratidatildeo eacute ampla e profunda
Agradeccedilo agrave Funasa em Pernambuco aos colegas e amigos da equipe de Educaccedilatildeo em
Sauacutede e Sauacutede Ambiental de Desenvolvimento de Recursos Humanos e da Capacitaccedilatildeo e ao
Superintendente Estadual pelo apoio e disponibilidade nos encaminhamentos necessaacuterios agrave
aprovaccedilatildeo institucional para conquista deste projeto pessoal e profissional Agradeccedilo tambeacutem
agrave Funasa o valioso apoio oferecido para realizaccedilatildeo do trabalho de campo deste estudo
Agrave Professora Idecirc minha orientadora que me acolheu desde o momento de meu
retorno da Espanha para ingressar nesta nova etapa de desafio na Fiocruz Agradeccedilo sua
paciecircncia bom humor clareza nas orientaccedilotildees e incentivo para natildeo desanimar em momentos
de dificuldade
Ao Professor Dr Andreacute Monteiro Costa pelas orientaccedilotildees no processo de construccedilatildeo
deste estudo
Aos professores do mestrado pela disponibilidade em compartilhar sua experiecircncia e
saber contribuindo direta e indiretamente com todo meu processo de aprendizagem
Aos colegas da turma do mestrado pela troca e oportunidade de aprendizagem
amizade e encontros alegres
Agrave Secretaria Acadecircmica em especial agrave Glauco pelo profissionalismo e presteza em
todos os momentos de necessidade de apoio administrativo
Aos familiares em especial irmatildeos sobrinhos e cunhados pelo apoio e incentivo
Agraves amigas e amigos que compartilharam vaacuterios momentos de alegria duacutevidas e
questionamentos durante esta trajetoacuteria Em especial Agrave Joselma pela amizade alegria
orientaccedilatildeo acadecircmica incentivo e disponibilidades de valiosos materiais teoacutericos Agrave Magali
por acreditar e mostrar que os obstaacuteculos iam ser superados Agrave Marcinha pela contribuiccedilatildeo
valiosa no trato com as informaccedilotildees do campo e pela escuta paciente Agrave Anginha pela
acolhida sempre e escuta amorosa Agrave Luiacuteza pelo carinho apoio e confianccedila transmitida Agrave
Glaciene e sua irmatilde pelo valiosa contribuiccedilatildeo na realizaccedilatildeo do trabalho de campo e por todas
as orientaccedilotildees Agraves amigas Acircngela Brenda Meacutercia pelo carinho incentivo e presenccedila Agrave Bete
pela presenccedila amiga e alegre pela convivecircncia paciente no momento mais difiacutecil de
construccedilatildeo deste trabalho e colaboraccedilatildeo efetiva Agrave Jessyka pela amizade troca de experiecircncia
apoio e efetiva colaboraccedilatildeo
Aos queridos amigos da Ecovila em especial Jorge e Emiacutelia pelo afeto cuidado e
apoio Agrave Emiacutelia pelas mensagens de conforto confianccedila e alegria Agrave Jorge pela presenccedila
carinhosa pela escuta pelas orientaccedilotildees acadecircmicas e material disponibilizado
Agrave Nakeida querida terapeuta que acompanha os momentos importantes da minha
vida pelo cuidado profissional e afetivo contribuindo profundamente na minha caminhada de
auto-conhecimento crescimento pessoal e espiritual
Agrave Patriacutecia pelo cuidado comigo e com a minha casa suporte fundamental para
tranquilidade na realizaccedilatildeo deste trabalho
Agrave Maristela vizinha querida pelo apoio alegria e ldquomimosrdquo culinaacuterios
Aos colegas do Setor de Educaccedilatildeo em Sauacutede da Funasa por terem sempre me apoiado
e se disponibilizado a assumir minhas atribuiccedilotildees durante minha ausecircncia
Aos gestores teacutecnicos e populaccedilatildeo quilombola que me acolheram e contribuiacuteram com
suas narrativas valiosas durante todo trabalho de campo
Ao povo quilombola de Santana Conceiccedilatildeo das Crioulas e ContendasTamboril em
especial as lideranccedilas professores e os moradores que participaram das entrevistas e grupos
focais Agradeccedilo a disponibilidade em me receber e confianccedila em compartilhar suas
percepccedilotildees expectativas frustraccedilotildees inquietaccedilotildees e me possibilitar uma rica aprendizagem e
grande admiraccedilatildeo
Com a certeza de que a ldquoalmardquo deste trabalho estaacute no conteuacutedo apresentado por todas
as narrativas destes sujeitos o meu profundo agradecimento
[] A aacutegua serpeia entre musgos
seculares
Leva um recado de existecircncia a homens
surdos
E vai passando vai dizendo
Que esta mata em redor eacute nossa
companheira
Eacute pedaccedilo de noacutes florescendo no chatildeo
Que rumor eacute esse na mata
Por que se alarma a natureza
Aihellipeacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Natildeo natildeo haveraacute para os ecossistemas
aniquilados
Dia seguinte
O ranuacutenculo da esperanccedila natildeo brota
No dia seguinte
O vazio da noite o vazio de tudo
Seraacute o dia seguinte
Carlos Drummond de Andrade
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar
sobre comunidades quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano 2014 Dissertaccedilatildeo (Mestrado
Acadecircmico em Sauacutede Puacuteblica)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo
Cruz Recife 2014
RESUMO
O Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo tem gerado inuacutemeras
situaccedilotildees de conflitos socioambientais um dos exemplos de injusticcedila ambiental registrado
pela Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental O projeto eacute apresentado pelo governo como
ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecioeconocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agrave
seca do semiaacuterido nordestino Este estudo analisou a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente do
Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas em Salgueiro-semiaacuterido pernambucano- e as
accedilotildees implementadas para minimizaacute-la Para isto caracterizou-se o Projeto da Transposiccedilatildeo
sua proposta oficial e percepccedilatildeo dos sujeitos foram caracterizadas as populaccedilotildees e territoacuterios
quilombolas identificou-se a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios e foram avaliadas as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo projeto para minimizar a vulneraccedilatildeo A metodologia foi um estudo de
caso descritivo com abordagens qualitativa e quantitativa Os dados primaacuterios obtidos com
entrevistas e grupos focais e os secundaacuterios com base em questionaacuterios aplicados com
famiacutelias quilombolas em 2009 As conclusotildees apontam que o projeto da transposiccedilatildeo eacute um
empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de direitos das comunidades quilombolas de
Salgueiro provocando feridas e traumas indeleacuteveis Dentre os ldquoimpactos positivosrdquo
mencionados neste estudo a maioria natildeo se concretiza enquanto melhora ou mudanccedila na
qualidade de vida dessas comunidades Ao contraacuterio os impactos negativos satildeo uma realidade
e dificilmente seratildeo revertidos como ldquointencionardquo o projeto Violaccedilatildeo do direito agrave
informaccedilatildeo agrave decisatildeo pelos quilombolas quanto a projetos que afetem a vida e seu territoacuterio
Programas Ambientais natildeo representam a demanda das populaccedilotildees quilombolas
caracterizando-se em sua maioria como medidas paliativas e natildeo cumpridas Eacute necessaacuteria a
estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
demais instituiccedilotildees governamentais e movimento quilombola para acompanhamento e
monitoramento do projeto Eacute necessaacuteria a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas das
conquistas legais fruto de mobilizaccedilotildees poliacuteticas para assegurar direitos e fazer cumprir o
que determina a legislaccedilatildeo uma das ferramentas de enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e
vulneraccedilatildeo provocada pela transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
Palavras-chaves Populaccedilatildeo quilombola Vulnerabilidade social Vulneraccedilatildeo Territoacuterio
Educaccedilatildeo em Sauacutede Educaccedilatildeo Ambiental Projeto da transposiccedilatildeo Rio Satildeo Francisco Meio
Ambiente
BARACHO Luacutecia Maria Sobral Wounds of the transposition of Satildeo Francisco A look at
the quilombola communities of Pernambuco semiarid Dissertation (Master in Public
Health)-Centro de Pesquisas Aggeu Magalhatildees Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Recife 2014
ABSTRACT
The project of the transposition of the Satildeo Francisco River the object of our study has
generated numerous cases of environmental conflicts one of the examples of environmental
injustice registered by the Brazilian Environmental Justice Network The project is presented
by the government as a guarantee of water for socio-economic development of the most
vulnerable states to drought in semi-arid northeast This study analyzed the socio-
environmental vulnerableness arising from the transposition project in quilombola territories
of Santana ContendasTamboril and Conceiccedilatildeo das Crioulas in Salgueiro - semiarid of
Pernambuco - and the actions taken to minimize it For this the Transposition Project its
official proposal and perception of the subjects were characterized the quilombola
populations and territories were characterized it was identified the perception of subjects as
to vulnerableness arising from the transposition in their territories and the educational
practices and actions taken by the project to minimize the vulnerability were evaluated The
methodology was a descriptive case study with qualitative and quantitative approaches The
primary data obtained through interviews and focus groups and the secondary ones based on
questionnaires with quilombola families in 2009 Findings indicate that the transposition
project is an undertaking that has generated violation of rights of quilombola communities of
Salgueiro causing wounds and indelible traumas Among the positive impacts mentioned in
this study the majority does not materialize as improving or changing the quality of life of
these communities In contrast the negative impacts are a reality and are unlikely to be
reversed how the project intends Violation of the right to information to the decision by
the quilombolas as to projects that affect the life and territory Environmental programs do
not represent the demand of quilombola populations characterized mostly as a palliative and
not performed it is required to structure a channel of effective and regular communication
between the Ministry of Integration other government institutions and quilombola movement
following and monitoring the project it is necessary the appropriation by the quilombola
communities of the legal achievements the result of political mobilization to ensure the
rights and enforce what is determined by the legislation one of the coping tools to violation
of rights and vulnerableness caused by the transposition of the Satildeo Francisco River
Key words Quilombola Population Vulnerability vulnerableness Territory Health
Education Environmental Education Project implementation Satildeo Francisco River
Environment
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA 66
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana 89
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana 89
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das obras do canal 91
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de Santana 91
Figura 6 - Mazuca de Santana 99
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril 105
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril 105
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de Moradores de ContendasTamboril 117
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas 126
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo - C das Crioulas 126
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas 132
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira - C Crioulas 135
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute - C Crioulas 135
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas 136
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas 143
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo 180
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana 94
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem-
Comunidade de Santana 95
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana 97
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana 98
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana 100
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade
de Santana 100
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de
Santana 101
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana 103
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana 104
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril 112
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem -
Comunidade de ContendasTamboril 116
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de ContendasTamboril 117
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril 119
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de
ContendasTamboril 120
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de
ContendasTamboril 121
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber - Comunidade de ContendasTamboril 121
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade ContendasTamboril 123
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril 124
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas 131
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 133
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 134
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo
das Crioulas 136
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 138
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 139
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas 140
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das
Crioulas 141
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de
Conceiccedilatildeo das Crioulas 142
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede 36
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013 51
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos 56
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale 57
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin 57
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs 58
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto 75
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas 83
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo 88
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas 162
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Escolas 174
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede 2010 178
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental
em Sauacutede ndash Setembro2013 183
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das
Comunidades Quilombolas 190
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por
alvenaria 194
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 OBJETIVOS 23
21 GERAL 23
22 ESPECIacuteFICOS 23
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 24
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS 24
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS 27
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS 31
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila 31
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico 33
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente 37
334 Educaccedilatildeo ambiental 40
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO 46
41 DESENHO DO ESTUDO 46
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA 47
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO 47
44 SUJEITOS DO ESTUDO 49
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E
PERIacuteODO DE ESTUDO 50
451 Entrevista 50
452 Grupo focal 52
453 Dados secundaacuterios 53
4531 Levantamento documental 53
4532 Dados de questionaacuterio - CAP 54
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS 56
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS 58
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO -
DISCURSO OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS
SUJEITOS 60
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO 80
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA 81
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA 89
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 90
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 94
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL 105
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 106
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 111
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 125
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO 127
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO
QUESTIONAacuteRIO CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 130
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO
FRANCISCO A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS 144
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS
PARA MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO 152
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4 153
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades 155
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas 165
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede 174
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O
PBA 17 189
9 CONCLUSOtildeES 202
REFEREcircNCIAS 206
APEcircNDICE A ndash Roteiro de Entrevistas 220
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas 221
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal 222
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana 223
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado
para Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal 224
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP 225
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco 228
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco 229
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O olhar para as populaccedilotildees quilombolas nos remete ao desenvolvimento da sociedade
colonial quando milhotildees de negros foram escravizados vindos do continente africano
trazidos em porotildees nos navios negreiros Este acontecimento marcou um longo periacuteodo da
nossa histoacuteria sendo o Brasil o paiacutes que mais importou escravos africanos e o que por uacuteltimo
aboliu formalmente a escravidatildeo no continente americano
A palavra ldquoquilombordquo em sua etimologia bantu quer dizer acampamento guerreiro na
floresta Segundo Freitas et al (2011 p 2) a palavra quilombo
foi popularizada no Brasil pela administraccedilatildeo colonial em suas leis relatoacuterios atos
e decretos para se referir agraves unidades de apoio muacutetuo criadas pelos rebeldes ao
sistema escravista e agraves suas reaccedilotildees organizaccedilotildees e lutas pelo fim da escravidatildeo no
Paiacutes
Com significado especial tambeacutem para os libertos em seu caminho de conquista e
liberdade obteve dimensotildees e conteuacutedos amplos Ainda podemos nos pegar pensando um
quilombo num impulso quase inconsciente como um local habitado por negros que lutando
de forma sangrenta almejam a liberdade com a luta
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que representa 63 vivendo no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Cerca de 90 se autodeclaram negros Os uacutenicos estados que natildeo registram
ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
As populaccedilotildees quilombolas satildeo um fato e muitas ainda vivem em comunidades
formadas por forte viacutenculo de parentesco mantendo ainda vivas tradiccedilotildees culturais e
religiosas Os membros da comunidade estatildeo ligados a trabalhos rurais ou culturas de
subsistecircncia e muitos dependem de programas de transferecircncia de renda como o Bolsa
Famiacutelia1 (FREITAS et al 2011)
O registro histoacuterico tradicional eacute de que os quilombos eram das regiotildees de grande
concentraccedilatildeo de escravos situados em locais de difiacutecil acesso distante dos centros urbanos
1 O Programa Bolsa Famiacutelia eacute um programa de transferecircncia direta de renda que beneficia famiacutelias em situaccedilatildeo
de pobreza e de extrema pobreza em todo o paiacutes O Bolsa Famiacutelia integra o Plano Brasil Sem Miseacuteria criado
pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social em 2004 que tem como foco de atuaccedilatildeo os 16 milhotildees de
brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e estaacute baseado na garantia de renda
inclusatildeo produtiva e no acesso aos serviccedilos puacuteblicos
17
Esse isolamento estrateacutegia necessaacuteria para sobrevivecircncia dos grupos e garantia de sua
organizaccedilatildeo dificulta a obtenccedilatildeo de informaccedilotildees precisas e a ampliaccedilatildeo do conhecimento
sobre as comunidades remanescentes de quilombos que carrega com suas tradiccedilotildees e
relaccedilotildees territoriais proacuteprias uma identidade eacutetnica e cultural a ser respeitada e preservada
Segundo Arruti (2006 p 26) as chamadas comunidades remanescentes de quilombos
constitui
Categoria social relativamente recente representa uma forccedila social relevante no
meio rural brasileiro dando nova traduccedilatildeo agravequilo que era conhecido como
comunidades negras rurais (mais ao centro sul e sudeste do paiacutes) e terras de preto
(mais ao norte e nordeste) que tambeacutem comeccedilam a penetrar no meio urbano dando
nova traduccedilatildeo a um leque variado de situaccedilotildees que vatildeo desde antigas comunidades
negras rurais atingidas pela expansatildeo dos periacutemetros urbanos ateacute bairros no entorno
dos terreiros de candombleacute
Como resultado da luta do povo negro desde a eacutepoca da colocircnia e reorganizada nos
anos 1980 o reconhecimento das comunidades quilombolas ocorreu com a Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 ano de comemoraccedilatildeo do centenaacuterio da Lei Aacuteurea
As mobilizaccedilotildees nacionais ocorridas em torno de uma Assembleia Nacional
Constituinte contaram com a participaccedilatildeo ativa das comunidades quilombolas que num
esforccedilo de organizaccedilatildeo em niacutevel nacional conseguiram incluir na Constituiccedilatildeo Federal o
reconhecimento da existecircncia dos quilombos na sociedade nacional e a garantia do acesso agraves
suas terras como um direito expresso no artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
Constitucionais (ADTC)
O artigo 68 da Constituiccedilatildeo Federal (1988) versa sobre o direito de propriedade das
terras quilombolas afirmando que ldquoaos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir-
lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 2004b p 159)
Este artigo apesar de inserido sem maiores discussotildees na Carta Constituinte
permaneceu sem aplicaccedilatildeo ateacute 1995 momento em que ganha forccedila o tema dos quilombos
produzindo impactos sociais com o debate em torno do caso de Rio das Ratildes2 que no ano do
tricentenaacuterio de morte de Zumbi dos Palmares ganhou destaque na imprensa em debates
poliacuteticos e anaacutelises acadecircmicas (ARRUTI 2006)
A populaccedilatildeo remanescente de quilombos pode ser enquadrada como um grupo
minoritaacuterio dentro da populaccedilatildeo negra (FREITAS et al 2011)
2 Rio das Ratildes ndash Reconhecida em 1993 pela FCP como ldquocomunidade remanescente de quilombosrdquo situada no
Sertatildeo Baiano aproximadamente a 80 km de Bom Jesus da Lapa
18
A situaccedilatildeo de alijamento social ou inserccedilatildeo social desqualificada associada agrave
invisibilidade de suas necessidades reais confere agrave populaccedilatildeo negra em geral e agraves
quilombolas em particular uma condiccedilatildeo de vulnerabilidade que se expressa clara e
especialmente nos indicadores soacutecio-econocircmicos e de sauacutede Em uacuteltima instacircncia este aspecto
estaacute relacionado ao histoacuterico brasileiro de poliacuteticas puacuteblicas racistas que impocircs ao negro no
que tange a programaccedilatildeo das poliacuteticas de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede um
lugar marginal na sociedade em que pese suas aguerridas lutas no sentido de garantir sua
cidadania
Dentre as vaacuterias definiccedilotildees sobre comunidade quilombola o Centro de Cultura Luiacutes
Freire (CCLF)3 compreende como
Os grupos eacutetnicos que assim se auto-identificam e que se mobilizam politicamente
em torno de demandas comuns e diferenciadas do conjunto da sociedade nacional
especialmente o direito ao territoacuterio que tradicionalmente ocupam e que estaacute na base
de sustentaccedilatildeo de sua etnicidade (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 7)
O desafio dos governos e da sociedade brasileira frente agraves comunidades quilombolas
torna-se enorme ao se deparar com o natildeo reconhecimento desde o passado colonial dos seus
direitos territoriais base para o usufruto dos demais direitos sociais econocircmicos e culturais
(BRASIL 2011)
Dentre as demandas comuns e diferenciadas para o povo negro e comunidades
quilombolas foi aprovada em 2006 pelo Conselho Nacional de Sauacutede a ldquoPoliacutetica Nacional
de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negrardquo instrumento que tem por objetivo combater a
discriminaccedilatildeo eacutetnico-racial nos serviccedilos e atendimentos oferecidos no Sistema Uacutenico de
Sauacutede bem como promover a equumlidade em sauacutede da populaccedilatildeo negra O tema da equidade
aparece no bojo das discussotildees sobre as desigualdades historicamente sofridas pela populaccedilatildeo
negra e comunidades quilombolas e as desigualdades sociais - em qualquer que seja seu niacutevel
- como relevante fator determinante das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees eacute um fato
indiscutiacutevel (BARATA 2009)
Desigualdades sociais em sauacutede em sua maioria satildeo injustas remetendo a
distribuiccedilatildeo desigual de poder e propriedade Pensar na promoccedilatildeo da equidade em sauacutede para
populaccedilatildeo negra estaacute impliacutecita a questatildeo das desigualdades eacutetnicas
3 CCLF - eacute uma Organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola
19
ldquoQualquer consideraccedilatildeo das desigualdades sociais em relaccedilatildeo a grupos eacutetnicos carrega
a dupla determinaccedilatildeo a posiccedilatildeo social que tais grupos ocupam na sociedade e a
aceitaccedilatildeorechaccedilo que possam ter frente aos grupos majoritaacuteriosrdquo (BARATA 2009 p 56)
Ampliando a reflexatildeo para aleacutem das desigualdades sociais em sauacutede a referecircncia agrave
populaccedilatildeo negra e formaccedilatildeo de quilombos nos remete a temaacutetica do racismo e suas diversas
nuances que com os avanccedilos no conhecimento cientiacutefico levaram a construccedilatildeo nos Estados
Unidos do conceito de ldquoRacismo Ambientalrdquo o qual segundo Pacheco (2007 p 9) consiste
nas
injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma implacaacutevel sobre etnias e
populaccedilotildees mais vulneraacuteveis O Racismo Ambiental natildeo se configura apenas atraveacutes
de accedilotildees que tenham uma intenccedilatildeo racista mas igualmente atraveacutes de accedilotildees que
tenham impacto lsquoracialrsquo natildeo obstante a intenccedilatildeo que lhes tenha dado origem [hellip]
A autora defende que este conceito desafia a humanidade ao ampliar as visotildees de
mundo no sentido da busca por uma sociedade igualitaacuteria e justa na qual democracia plena e
cidadania ativa natildeo sejam direitos de poucos privilegiados (PACHECO 2007)
Eacute um conceito que manteacutem ligaccedilatildeo estreita com o conceito de justiccedila ambiental e
segundo Porto estaacute relacionado originalmente agrave luta contra a discriminaccedilatildeo racial e eacutetnica
presente nos movimentos pelos direitos civis da sociedade norte-americana nos anos 70 e 80
(PORTO 2009) O foco inicial foi a luta contra o chamado racismo ambiental ampliando
para a defesa pelos direitos humanos universais e incorporando outras formas de
discriminaccedilatildeo aleacutem da racial como classe social etnia e gecircnero (BULLARD 1994 PORTO
2007 apud PORTO 2009)
O Mapa de conflitos causados pelo Racismo Ambiental no Brasil4 identificou em seu
levantamento inicial que a maioria das denuacutencias envolvia problemas ocorridos
principalmente no campo longe dos centros urbanos e da atenccedilatildeo da miacutedia (PACHECO
2008b)
A temaacutetica do Racismo Ambiental tem crescido como preocupaccedilatildeo no Brasil entre
outras situaccedilotildees em face da construccedilatildeo de grandes obras de infra-estrutura consideradas
megaprojetos de desenvolvimento econocircmico dito sustentaacuteveis realizadas com recursos do
Governo Federal notadamente do Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) cujo impacto
nas populaccedilotildees que entrecruzam seus caminhos ainda natildeo se sabe precisar embora seja
possiacutevel estimar
4 O levantamento inicial do ldquoMapa de Conflitos causados por Racismo Ambiental no Brasilrdquo foi apresentado dia
20 de junho de 2007 no Encontro do GT Racismo Ambiental (PACHECO 2007)
20
As denuacutencias contra o Racismo Ambiental englobam contaminaccedilotildees por resiacuteduos
toacutexicos que afetam comunidades afrodescendentes indiacutegenas caiccedilaras pescadores
tradicionais e marisqueiras em vaacuterias regiotildees do Brasil como o turismo predatoacuterio que
avanccedila pelo litoral do Nordeste mas talvez sejam as grandes obras de infra-estrutura como a
construccedilatildeo de hidreleacutetricas e as mudanccedilas de curso dos rios assim como os mega-
empreendimentos da monocultura que causam danos mais irreversiacuteveis agrave vida de povos
indiacutegenas de remanescentes de quilombos e de populaccedilotildees tradicionais afirma a autora
(PACHECO 2008b p 3)
Ao referir-se a grandes obras de infra-estrutura como megaprojetos no Brasil haacute o
projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco objeto do nosso estudo aprovado pelo governo
brasileiro em 2006 e apresentado como ldquogarantiardquo de aacutegua para o desenvolvimento soacutecio-
econocircmico dos estados mais vulneraacuteveis agraves secas na regiatildeo do semiaacuterido nordestino Mas as
secas do Nordeste satildeo perioacutedicas e como um fenocircmeno natural e previsiacutevel natildeo haacute como
combatecirc-las Entretanto haacute que se pensar em formas em tecnologias apropriadas para o
enfrentamento aos seus efeitos tornando assim possiacutevel a convivecircncia do homem com o meio
aacuterido que sempre sofreu de deficiecircncia hiacutedrica
Para o enfrentamento a esta problemaacutetica vaacuterios foram os projetos apresentados pelo
governo federal em diferentes momentos poliacuteticos do paiacutes e relatos sobre projetos para
transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco datam da eacutepoca do Brasil Impeacuterio
O projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco como fora inicialmente chamado na
deacutecada de 1990 apresenta-se como um dos mais polecircmicos projetos governamentais
passando a ser denominado em momentos poliacuteticos de maior embate do governo com a
sociedade e os movimentos sociais como Projeto de Integraccedilatildeo das Bacias do rio Satildeo
Francisco Atualmente foi rebatizado oficialmente como Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo
Francisco com as Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional o PISF (MENEZES
ROCHA F 2010)
Este projeto eacute um empreendimento financiado pelo PAC e faz parte de uma poliacutetica
desenvolvimentista e de crescimento econocircmico com forccedila no novo milecircnio adotada no
Brasil e paiacuteses em desenvolvimento desde a deacutecada de 80 num contexto de recessatildeo global
O projeto da transposiccedilatildeo estaacute inserido no bojo maior de uma poliacutetica de
desenvolvimento hegemocircnica mundial cuja ecircnfase eacute o crescimento econocircmico que na maior
parte das vezes natildeo vem sendo acompanhado por um desenvolvimento social Ao contraacuterio
esse modelo hegemocircnico trata cada vez mais a maioria da humanidade como objetos Objetos
21
que podem ser usados a serviccedilo do lucro e outros vistos como supeacuterfluos podem ser
descartados (PACHECO 2008a)
Se tratando de projeto como o da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco as condiccedilotildees para
que se estabeleccedilam eacute a expulsatildeo de populaccedilotildees de moradores rurais eou invasatildeo dos seus
territoacuterios atingindo diretamente as condiccedilotildees de vida de agricultores de comunidades rurais
sejam quilombolas ou indiacutegenas Projeto que tem gerado inuacutemeras situaccedilotildees de conflitos
socioambientais eacute um dos exemplos concretos de injusticcedila ambiental registrado pela Rede
Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA)5
Como profissional da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (Funasa) oacutergatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede passamos a visitar desde 2008 comunidades indiacutegenas e quilombolas para
desenvolver e acompanhar accedilotildees de educaccedilatildeo em sauacutede no programa de substituiccedilatildeo de casas
de taipa por alvenaria fruto de parceria Funasa ndash Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) no
referido projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
A aproximaccedilatildeo com a realidade dos municiacutepios na regiatildeo semiaacuterida do estado e
particularmente com as comunidades quilombolas despertou nosso interesse em compreender
a vulneraccedilatildeo socioambiental considerando a representaccedilatildeo das obras da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco na vida dessas populaccedilotildees sobre as marcas desse empreendimento em seu
territoacuterio assim como identificar o lugar das praacuteticas de educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental implementadas
A realizaccedilatildeo deste trabalho de pesquisa orientou-se pela seguinte pergunta Como a
vulneraccedilatildeo socioambiental se expressa na vida das comunidades quilombolas de
Salgueiro em consequecircncia do Projeto de Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco e que
accedilotildees tecircm sido implementadas para minimizaacute-la
Em nosso estudo lanccedilamos um olhar sobre populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro
vivendo em regiotildees da zona rural do semiaacuterido nordestino afetadas pelo projeto da
transposiccedilatildeo A intenccedilatildeo eacute trazer um olhar criacutetico sobre os verdadeiros beneficiaacuterios deste
empreendimento
O capiacutetulo correspondente agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica aborda aspectos conceituais que
orientam este trabalho Satildeo discutidas as categorias vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo pelo lugar
que ocupam na realidade das comunidades quilombolas afetadas pela transposiccedilatildeo As
5 A Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental (RBJA) resulta da iniciativa de movimentos sociais sindicatos de
trabalhadoresas ONGs entidades ambientalistas ecologistas organizaccedilotildees de afrodescendentes e indiacutegenas e
pesquisadoresas universitaacuteriosas Foi criada no Coloacutequio Internacional sobre Justiccedila Ambiental Trabalho e
Cidadania realizado no campus da UFF- Niteroacutei de 24 a 27 de setembro de 2001 e teve o apoio de redes
semelhantes dos Estados Unidos Chile e Uruguai
22
categorias espaccedilo territoacuterio lugar e paisagem satildeo elementos conceituais norteadores na
compreensatildeo da dinacircmica das mudanccedilas ocorridas nas aacutereas quilombolas do estudo em
consequecircncia das intervenccedilotildees do projeto Em um terceiro e uacuteltimo bloco satildeo apresentados
aspectos da educaccedilatildeo educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental com base em algumas
abordagens existentes
No capiacutetulo 4 eacute descrito o percurso metodoloacutegico Para contemplar as especificidades
do objeto de estudo foi realizado um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa Visotildees de mundo valores e percepccedilotildees enriquecem os conteuacutedos das dimensotildees
natildeo quantificaacuteveis relacionadas ao significado e representaccedilatildeo do projeto da transposiccedilatildeo no
contexto social poliacutetico e cultural das comunidades quilombolas O enfoque quantitativo
subsidiou a descriccedilatildeo das aacutereas quilombolas caracterizando-as em aspectos socioambientais
Resultados e discussatildeo estatildeo contidos no capiacutetulo 5 6 7 e 8 relacionados a cada
objetivo especiacutefico do estudo O capiacutetulo 5 traz conteuacutedos que caracterizam a situaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e o Projeto da Transposiccedilatildeo o capiacutetulo 6 apresenta aspectos das comunidades
quilombolas e seu territoacuterio o capiacutetulo 7 conteacutem questotildees relacionadas ao impacto e
vulneraccedilatildeo provocados pelo Projeto o capiacutetulo 8 avalia as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas por dois Programas Baacutesicos Ambientais (PBA) para mitigar impactos e
vulneraccedilatildeo Dentre os 38 Planos e PBArsquos contidos no Projeto da Transposiccedilatildeo foram
avaliados o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental 4 (PBA 4) e o Programa de Apoio agraves
Comunidades Quilombola 17 (PBA 17)
O foco do estudo esteve direcionado aos pressupostos de que empreendimentos da
natureza do projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco afetam sobremaneira a vida de
populaccedilotildees quilombolas provocando impactos socioambientais e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo
marcantes de que estudos sobre populaccedilotildees quilombolas em Salgueiro concernentes ao tema
satildeo escassos e de que essas populaccedilotildees natildeo se apropriaram das propostas e praacuteticas de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental realizadas pelo projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco
Esperamos que este estudo contribua para o processo de compreensatildeo e identificaccedilatildeo
das situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo as quais estatildeo submetidas as populaccedilotildees quilombolas de
Salgueiro com o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco que decirc visibilidade ao que
ainda pode ser invisiacutevel aos governos aos gestores responsaacuteveis por aprovar e implementar
poliacuteticas puacuteblicas confirmando o que jaacute era previsto e denunciado pelos movimentos sociais
e segmentos contraacuterios agrave transposiccedilatildeo
23
2 OBJETIVOS
21 GERAL
Analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
em territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la
22 ESPECIacuteFICOS
a) Caracterizar o Projeto da Transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco considerando a
proposta oficial e a percepccedilatildeo dos sujeitos
b) Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios quilombolas da aacuterea do estudo
c) Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave vulneraccedilatildeo decorrente da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco nos territoacuterios quilombolas
d) Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees implementadas pelo projeto para minimizar a
vulneraccedilatildeo
24
3 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
31 VULNERABILIDADE E VULNERACcedilAtildeO ndash ASPECTOS CONCEITUAIS
As categorias aqui referidas assumem grande importacircncia na vida e histoacuteria de
comunidades quilombolas Olhar para essas dimensotildees particularmente em aacutereas afetadas por
um empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco eacute olhar para uma
realidade cujas mudanccedilas e impactos natildeo estatildeo profundamente identificados mensurados nem
avaliados onde conflitos e inseguranccedilas fazem parte da vida dessas populaccedilotildees
O termo vulnerabilidade bastante empregado nos uacuteltimos anos apresenta distintas
perspectivas de interpretaccedilatildeo Em uso desde a deacutecada de 1990 principalmente no campo das
respostas agrave epidemia de HIVAids o conceito tecircm sido objeto de estudos que ampliaram sua
compreensatildeo para aleacutem dos campos da sauacutededoenccedila inserindo em sua percepccedilatildeo aspectos
comportamentais culturais econocircmicos e poliacuteticos
Em sua origem o termo vulnerabilidade vem da aacuterea da advocacia internacional pelos
Direitos Universais do Homem designando grupos ou indiviacuteduos fragilizados juriacutedica ou
politicamente na promoccedilatildeo proteccedilatildeo ou garantia de seus direitos de cidadania (ALVES
1994)
Entre outras concepccedilotildees haacute uma abordagem multifatorial agrave questatildeo da
vulnerabilidade apresentada por Kalipeni (2000 apud SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007)
cujo autor apresenta a proposta de Watts e Bohle (1993) de estrutura tripartite sobre
vulnerabilidade que consiste na interseccedilatildeo entre trecircs poderes sendo entitlement o que diz
respeito ao direito das pessoas empowerment ou empoderamento que se refere agrave participaccedilatildeo
poliacutetica e institucional dessas pessoas e a poliacutetica econocircmica sobre a organizaccedilatildeo estrutural-
histoacuterica da sociedade e suas decorrecircncias
Desse modo
a vulnerabilidade agraves doenccedilas e situaccedilotildees adversas da vida distribui-se de maneira
diferente segundo os indiviacuteduos regiotildees e grupos sociais e relaciona-se com a
pobreza com as crises econocircmicas e com o niacutevel educacional Ao multifatorializar a
vulnerabilidade acrescenta ainda que a vulnerabilidade depende do local e do
clima restringindo-se portanto agrave dimensatildeo geograacutefica (KALIPENI 2000 apud
SAacuteNCHEZ BERTOLOZZI 2007 p 320)
Uma outra compreensatildeo aponta o conceito de vulnerabilidade como fundamental para
a vigilacircncia agrave sauacutede como tambeacutem para definiccedilatildeo de prioridades e tomada de decisotildees Nesta
perspectiva circunstacircncias variadas determinam como se daacute a vulnerabilidade de indiviacuteduos
25
ou populaccedilotildees em relaccedilatildeo a determinados agravos E tais circunstacircncias podem ser agrupadas
da seguinte forma 1) os que dependem diretamente das accedilotildees individuais configurando o
comportamento do indiviacuteduo a partir de um determinado grau de consciecircncia que ele
manifesta 2) os que dizem respeito agraves accedilotildees comandadas pelo poder puacuteblico iniciativa
privada e agecircncias da sociedade civil voltadas a diminuiccedilatildeo das chances de ocorrecircncia de
danos agrave sauacutede e 3) os que fazem parte de um conjunto de determinantes relativo ao
acesso a informaccedilotildees financiamentos serviccedilos bens culturais liberdade de
expressatildeo (TAMBELLINI CAMARA 1998)
Outra leitura faz a discussatildeo e a desconstruccedilatildeo entre os termos vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo trazendo natildeo apenas suas diferenccedilas conceituais mas tambeacutem as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo que cada termo carrega para as poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede e para as
poliacuteticas puacuteblicas em geral
Mesmo compartilhando a mesma raiz semacircntica que deriva do latim vulnus cujo
significado eacute ldquoferidardquo os dois conceitos por natildeo terem a mesma extensatildeo precisam ser
diferenciados afirma Schramm (2012)
O termo vulnerabilidade para o autor eacute uma condiccedilatildeo compartilhada pelo universo de
todos os seres na medida em que todos os seres vivos satildeo por essecircncia vulneraacuteveis pela
condiccedilatildeo de finitude e mortalidade que os caracteriza Poreacutem vulneraccedilatildeo eacute entendida como a
condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute ferido (ou traumatizado) (SCHRAMM 2012 p 38)
Como exerciacutecio de desconstruccedilatildeo e para caracterizar a distinccedilatildeo entre os dois
conceitos Schramm (2012) se debruccedila sobre o que estaacute no dicionaacuterio da liacutengua portuguesa
que define o adjetivo vulneraacutevel ao que ldquopode ser fisicamente (mas poderiacuteamos acrescentar
psiquicamente) feridordquo e o substantivo vulnerabilidade agrave ldquoqualidade ou estado do que eacute ou
se encontra vulneraacutevelrdquo Quanto ao substantivo vulneraccedilatildeo este refere-se ao ldquoato ou efeito de
vulnerarrdquo (HOUAISS VILLAR 2001 p 2884)
Ao aproximar os dois pares de conceitos o autor chega ao entendimento de que
ldquoo conceito de vulnerabilidade se refere a uma potencialidade e vulneraccedilatildeo a uma efetivaccedilatildeo
de tal potencialidade isto eacute a vulnerabilidade eacute em princiacutepio sempre em potecircncia e a
vulneraccedilatildeo em atordquo (SCHRAMM 2012 p 39)
Com este olhar vulnerabilidade eacute a possibilidade de ser ferido e engloba tanto o
aspecto referente agrave dimensatildeo fiacutesica quanto o contido na perspectiva social Ou seja todos satildeo
suscetiacuteveis a serem feridos em algum grau bastando para isto estar vivos Mas o que
pretende o autor com essa reflexatildeo eacute mostrar que haacute graus diferentes de suscetibilidades que
26
nem todos estatildeo suscetiacuteveis na mesma intensidade Assim eacute construiacuteda a diferenccedila entre
vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo
A distinccedilatildeo entre os dois termos desfaz a ambiguidade visto que ldquose algueacutem deixa de
ser vulneraacutevel eacute porque ele tem se tornado vulneradordquo (KOTTOW 2008 apud SCHRAMM
2012 p 37)
A justificativa apresentada pelo autor para a necessidade de distinguir os termos e
fazer uma anaacutelise conceitual parte da preocupaccedilatildeo com o contexto concreto o qual se analisa
A desconstruccedilatildeo como referido anteriormente pode mostrar como o termo ldquovulnerabilidaderdquo
estaacute vinculado a uma praacutetica estando sempre ligada a uma intervenccedilatildeo que teraacute
necessariamente consequecircncias que poderatildeo ser boas ou natildeo
Um dos pontos de vista em que o termo ldquovulnerabilidaderdquo pode ser considerado
problemaacutetico eacute no da eacutetica aplicada na eacutetica aplicada aos sistemas vivos ou da bioeacutetida pois
se trata de ldquocondiccedilotildees humanas que a sociedade enfrenta de modo muito diferenterdquo
(KOTTOW 2008 apud SCHRAMM 2012 p 43)
Na perspectiva do social satildeo essas condiccedilotildees humanas que se estabelecem de forma
diferenciada que para Schramm (2012) se apresentam como
Vulneraccedilatildeo diz respeito agrave vulnerabilidade consubstanciada De fato se todos satildeo
potencialmente (ou virtualmente) vulneraacuteveis enquanto seres vivos nem todos satildeo
vulnerados concretamente devido a contingecircncias como o pertencimento a uma
determinada classe social a uma determinada etnia a um dos gecircneros ou
dependendo de suas condiccedilotildees de vida inclusive seu estado de sauacutede Em suma
parece razoaacutevel considerar mais correto distinguir a mera vulnerabilidade da efetiva
lsquovulneraccedilatildeorsquo vendo a primeira como potencialidade e segunda como uma situaccedilatildeo
de fato pois isso tem consequecircncias relevantes no momento da tomada de
decisatildeo (SCHRAMM 2006 p 192)
A reflexatildeo feita ateacute o momento nos remete agrave condiccedilatildeo em que se encontra a populaccedilatildeo
quilombola do nosso estudo afetada por um projeto governamental e suscetiacutevel a situaccedilatildeo de
vulneraccedilatildeo
O contexto social e poliacutetico a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo quilombola de
Salgueiro reforccedila a importacircncia desta linha de abordagem e sua pertinecircncia segundo o autor
extende-se para uma bioeacutetica da proteccedilatildeo ldquoque diferencia pacientes vulneraacuteveis suscetiacuteveis e
vulnerados quando se trata de saber quais indiviacuteduos ou populaccedilotildees merecem ser protegidos
contra danos que natildeo satildeo capazes de enfrentar sozinhosrdquo (SCHRAMM 2008 p 187)
A natildeo clareza sobre esta distinccedilatildeo haja visto a densidade do termo vulnerabilidade
traz consequecircncias duvidosas sobre as praacuteticas de amparo e proteccedilatildeo e o porque das mesmas
as quais podem prejudicar principalmente os de fato vulnerados A natildeo clareza ou confusatildeo
27
quanto a quem ou que grupos satildeo realmente vulnerados dificulta identificar claramente os
eventuais atores das praacuteticas pretendidas (SCHRAMM 2012)
A proposta de uma bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute uma construccedilatildeo recente embora a ideia de
um ethos protetor seja mais antiga Termo que provem do grego ldquoethosrdquo significando
ldquomoradardquo dos animais lugar ldquoprotegidordquo e em seguida o ldquolugar onde se habitardquo quando
aplicado tambeacutem aos humanos (BLACKBURN 1997 LALANDE 1972 apud SCHRAMM
2012 p 45) Foi a partir desta ressignificaccedilatildeo transitando de um sentido amplo (sistemas e
ambientes) para um mais restrito (indiviacuteduos caracteriacutesticas pessoais e cidadatildes) que a
bioeacutetica de proteccedilatildeo pocircde ser pensada como uma ferramenta cuja funccedilatildeo praacutetica seria proteger
tanto indiviacuteduos quanto populaccedilotildees humanas ndash bem como outros seres vivos e ambientes
naturais- contra ameaccedilas que podem afetaacute-los de forma significativa inclusive ameaccedilando
suas existecircncias e sua preservaccedilatildeo (SCHRAMM 2012 p 49)
A bioeacutetica da proteccedilatildeo eacute considerada como instrumentos teoacutericos e praacuteticos para
enfrentar conflitos morais relativos agraves praacuteticas humanas Praacuteticas que provocam efeitos
danos irreversiacuteveis sobre os seres vivos em particular indiviacuteduos e populaccedilotildees humanas
inseridas em seus contextos ecoloacutegicos biotecnocientiacuteficos e socioculturais (SCHRAMM
2005)
Apesar de tido como um dispositivo de proteccedilatildeo agraves pessoas e populaccedilotildees a bioeacutetica da
proteccedilatildeo daacute lugar a conflituosidade e abrange desdobramentos poliacuteticos As medidas
protetoras disponibilizadas podem ser aceitas ou natildeo diferentemente de uma praacutetica
paternalista
Assim a bioeacutetica da proteccedilatildeo se volta para a populaccedilatildeo de vulnerados os feridos com
carecircncia de recursos em vaacuterios niacuteveis como econocircmicos financeiros e ateacute existenciais e natildeo
apenas os expostos agrave condiccedilatildeo de vulnerabilidade
32 ESPACcedilO TERRITOacuteRIO LUGAR E PAISAGEM ndash REPRESENTACcedilAtildeO NOS
QUILOMBOLAS
Sem entrar na discussatildeo sobre a precedecircncia entre territoacuterio e espaccedilo natildeo raro se
confunde esses dois conceitos Haacute os que consideram o territoacuterio vindo antes do espaccedilo como
haacute os que consideram o contraacuterio (SANTOS SILVEIRA 2001)
Entretanto encontrar uma uacutenica definiccedilatildeo para espaccedilo ou para territoacuterio natildeo eacute tarefa
faacutecil principalmente se considerarmos que cada vocaacutebulo recebe vaacuterias compreensotildees Daiacute
qualquer definiccedilatildeo natildeo eacute fixa ao contraacuterio eacute mutaacutevel flexiacutevel Historicamente os conceitos a
28
exemplo do que ocorreu com espaccedilo e territoacuterio carregam diferentes significados (SAQUET
2008)
Em sua obra Por uma geografia nova (1978) Milton Santos traz o conceito de espaccedilo
como central compreendendo-o como um verdadeiro campo de forccedilas cuja formaccedilatildeo eacute
desigual Eis a razatildeo pela qual a evoluccedilatildeo espacial natildeo se apresenta de igual forma em todos
os lugares (SANTOS M 1978 p 122)
Com este olhar o espaccedilo era visto a partir do que ele oferece a alguns e recusa a
outros pelas escolha de localizaccedilatildeo entre as atividades e entre os homens de acordo com suas
caracteriacutesticas e funcionamento Enfim o espaccedilo tido como resultado de uma praacutexis coletiva
cujas relaccedilotildees sociais satildeo reproduzidas (SANTOS M 1978 p 171)
O autor nos apresenta a noccedilatildeo de espaccedilo como fator de evoluccedilatildeo social e natildeo apenas
condiccedilatildeo Ou seja a evoluccedilatildeo do espaccedilo se daacute pelo movimento da sociedade total
Sendo o espaccedilo aleacutem de instacircncia social tambeacutem organizado pelo homem satildeo
agregadas diferentes variaacuteveis como o espaccedilo social e o espaccedilo geograacutefico O espaccedilo social
refere-se ao espaccedilo humano lugar de vida e trabalho enquanto o espaccedilo geograacutefico eacute
organizado pelo homem vivendo em sociedade Portanto cada sociedade historicamente
produz cria seu espaccedilo como lugar de sua proacutepria reproduccedilatildeo
A partir desta premissa Santos M (2012 p 12) define espaccedilo como
uma instacircncia da sociedade ao mesmo tiacutetulo que a instacircncia econocircmica e a instacircncia
cultural-ideoloacutegicaA economia estaacute no espaccedilo assim como o espaccedilo estaacute na
economia O mesmo se daacute com o poliacutetico-institucional e com o cultural-ideoloacutegico
Isso quer dizer que a essecircncia do espaccedilo eacute social Nesse caso o espaccedilo natildeo pode ser
apenas formado pelas coisas os objetos geograacuteficos naturais e artificiais cujo
conjunto nos daacute a Natureza O espaccedilo eacute tudo isso mais a sociedade cada fraccedilatildeo da
natureza abriga uma fraccedilatildeo da sociedade atual
O autor apresenta como conceito baacutesico que o espaccedilo constitui uma realidade
objetiva um produto social em permanente processo de transformaccedilatildeo e ao impor sua
realidade a sociedade natildeo pode operar fora dele Apreender a relaccedilatildeo do espaccedilo com a
sociedade eacute condiccedilatildeo sine qua non haja visto que a sociedade define a compreensatildeo dos
efeitos dos processos (tempo e mudanccedila) e dita as noccedilotildees de forma funccedilatildeo e estrutura
Em termos mais concretos sempre que a sociedade (totalidade social) sofre mudanccedilas
as formas ou objetos geograacuteficos (tanto os novos como os velhos) assumem novas funccedilotildees
Cria-se entatildeo uma nova organizaccedilatildeo espacial fruto da totalidade da mutaccedilatildeo (SANTOS F
M 2012)
29
Com as definiccedilotildees apresentadas ateacute aqui Santos M (2012) aponta os elementos que
fazem parte do espaccedilo que satildeo os homens as firmas as instituiccedilotildees o meio ecoloacutegico e as
infraestruturas Os homens se constituem parte do espaccedilo seja pela oferta de seu trabalho
seja como candidatos a isso As firmas e as instituiccedilotildees respondem segundo suas
competecircncias pelas demandas dos homens de cada indiviacuteduo como parte da sociedade total
Entatildeo as firmas tecircm como funccedilatildeo produzir bens serviccedilos e ideias e as instituiccedilotildees se
encarregam de produzir as normas ordens e legitimaccedilotildees O meio ecoloacutegico refere-se ao
conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do trabalho humano E por
uacuteltimo as infraestruturas consideradas como o trabalho humano concretizado e espacializado
na forma de casas plantaccedilotildees caminhos etc (SANTOS F M 2012) Vale ressaltar que os
elementos descritos sofrem variaccedilotildees quantitativas e qualitativas sendo portanto variaacuteveis
que sofrem mudanccedilas no movimento do tempo histoacuterico
Pensemos agora o territoacuterio que para populaccedilotildees quilombolas estaacute vinculado a sua
afirmaccedilatildeo de identidade eacutetnica social poliacutetica e cultural
O entendimento que Milton Santos no apresenta sobre territoacuterio refere-se geralmente
a extensatildeo apropriada e usada Mas ele traz o sentido da palavra territorialidade como
sinocircnimo de ldquopertencer agravequilo que nos pertence [] esse sentimento de exclusividade e limite
ultrapassa a raccedila humana e prescinde da existecircncia de Estadordquo (SANTOS SILVEIRA 2001
p 19)
Com isto o autor apresenta a ideia de que territorialidade como anaacutelogo a aacuterea de
vivecircncia e de reproduccedilatildeo chega ateacute os proacuteprios animais Poreacutem ao pensar na territorialidade
humana agrega-se tambeacutem a preocupaccedilatildeo com o destino construccedilatildeo do futuro o que entre
os seres vivos eacute privileacutegio do homem (SANTOS SILVEIRA 2001)
O territoacuterio natildeo deve ser entendido apenas como uma aacuterea delimitada e constituiacuteda por
relaccedilotildees de poder do Estado como se faz na geografia por incorrer no erro de engessar seu
uso e natildeo considerar as formas diversas de enfocaacute-lo em toda sua complexidade que leva em
consideraccedilatildeo muitos atores e muitas relaccedilotildees sociais (SAQUET 2008)
Os autores compreendem a partir da leitura de Milton Santos que o territoacuterio pode ser
considerado
[] como delimitado construiacutedo e desconstruiacutedo por relaccedilotildees de poder que
envolvem uma gama muito grande de atores que territorializam suas accedilotildees como o
passar do tempo No entanto a delimitaccedilatildeo pode natildeo ocorrer de maneira precisa
pode ser irregular e mudar historicamente bem como acontecer uma diversificaccedilatildeo
das relaccedilotildees sociais num jogo de poder cada vez mais complexo (SAQUET 2008 p
32)
30
Trazendo a reflexatildeo sobre lugar Santos M (2012) nos traz a compreensatildeo de
localizaccedilatildeo como um momento do imenso movimento do mundo que eacute apropriado em um
ponto geograacutefico um lugar Mas ressalta que localizaccedilatildeo e lugar natildeo devem se confundir em
que pese a sua estreita relaccedilatildeo ou imbricamento
Cada lugar estaacute sempre mudando de significaccedilatildeo consequecircncia do movimento social
O lugar pode ser o mesmo mas as localizaccedilotildees mudam Lugar eacute o objeto ou conjunto de
objetos A localizaccedilatildeo eacute um feixe de forccedilas sociais se exercendo em um lugar Um importante
aspecto ao pensar numa anaacutelise refere-se a periodizaccedilatildeo considerando que as mesmas
variaacuteveis mudam de valor de acordo com o periacuteodo histoacuterico (SANTOS F M 2012)
Por sua vez a paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si
aspectos cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees diferentes
(SANTOS F M 2012 p 68)
Disto resultam configuraccedilotildees mais bem preparadas para certas inovaccedilotildees do que
outras o que implica em ter aacutereas onde
a) As inovaccedilotildees podem ser imediatamente aceitas e integradas ao sistema
b) As inovaccedilotildees precisam passar por um maior nuacutemero de distorccedilotildees a afim de se
integrarem ao sistema
c) A estrutura imposta (inovaccedilotildees) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas
A uacuteltima caracterizaccedilatildeo - referente ao item c - nos parece pertinente a uma das aacutereas
de estudo desta dissertaccedilatildeo e no capiacutetulo de resultados teceremos algumas consideraccedilotildees
A percepccedilatildeo que se tem da paisagem eacute relativa quanto agrave localizaccedilatildeo que se estaacute
assumindo escalas diferentes conforme onde estejamos A sua dimensatildeo entatildeo eacute diretamente
relacionada agrave dimensatildeo da percepccedilatildeo o que chega aos sentidos (SANTOS M 1988)
E sintetizando o que seja paisagem Santos M (1988 p 21) afirma
Tudo aquilo que noacutes vemos o que nossa visatildeo alcanccedila eacute a paisagem Esta pode ser
definida como o domiacutenio do visiacutevel aquilo que a vista abarca Natildeo eacute
formada apenas de volumes mas tambeacutem de cores movimentos odores
sons etc
31
As conceituaccedilotildees construiacutedas com base nas categorias trazidas por Milton Santos pelo
seu enfoque dinacircmico histoacuterico social e poliacutetico se conformam atualmente no contexto do
projeto da transposiccedilatildeo como pilares para compreender as transformaccedilotildees que se processam
nas aacutereas quilombolas do estudo
33 EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE E AMBIENTE ndash CAMINHOS POSSIacuteVEIS
Onde quer que haja mulheres e
homens haacute sempre o que fazer haacute
sempre o que ensinar haacute sempre o
que aprender
Paulo Freire
331 Educaccedilatildeo ndash por onde muita coisa comeccedila
Comeccedilemos pensando que natildeo haacute uma uacutenica forma de ensinar natildeo haacute um uacutenico
modelo de educaccedilatildeo e a escola natildeo eacute o uacutenico lugar o uacutenico espaccedilo onde a educaccedilatildeo acontece
e muitas vezes nem eacute o melhor lugar A praacutetica da educaccedilatildeo natildeo se daacute apenas no ensino
escolar nem o professor profissional eacute o seu uacutenico praticante (BRANDAtildeO 2002)
Como bem lembra Carlos Rodrigues Brandatildeo (2002 p 55) ldquotoda educaccedilatildeo sonha
uma pessoa Sonha mesmo um tipo de mundo realizado atraveacutes de diferentes categorias de
interaccedilotildees entre pessoasrdquo Pensar sobre educaccedilatildeo e falar sobre ela eacute pois pensarmos e
falarmos em sonhos de outros mundos e sonhos de outros sujeitos no mundo
Estes sonhos possiacuteveis ou natildeo podem ter a educaccedilatildeo como ferramenta e Paulo
Freire em sua primeira obra ressaltou a politicidade da educaccedilatildeo entendida como praacutetica de
opressatildeo ou de liberdade (FREIRE 1981)
Referindo-se a uma praacutetica educativo-criacutetica ou progressista Freire em sua obra
Pedagogia da Autonomia identifica alguns saberes como fundamentais como conteuacutedos
obrigatoacuterios agrave organizaccedilatildeo programaacutetica da formaccedilatildeo docente (FREIRE 2003)
Para este trabalho destacamos alguns destes saberes ou princiacutepios com o intuito de
contribuir com o pensar e agir como sujeitos no mundo e por consideraacute-los atinentes ao tema
do nosso estudo com populaccedilotildees quilombolas E com a certeza de que tudo que eacute referido
pelo autor instiga nossa reflexatildeo para criacutetica e autocriacutetica como seres potencialmente
educadores eacute que foi tatildeo difiacutecil ldquoelegerrdquo
32
Mas ousamos arriscar neste exerciacutecio realccedilando quatro saberes ou princiacutepios
-Educar exige respeito aos saberes dos educandos ndash lsquo [] pensar certo coloca ao
professor ou mais amplamente agrave escola o dever de natildeo soacute respeitar os saberes com
que os educandos sobretudo os da classe populares chegam a ela saberes
socialmente construiacutedos na praacutetica comunitaacuteria - mas tambeacutem [] discutir com os
alunos a razatildeo de ser de alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos
conteuacutedosrsquo
-Ensinar exige risco aceitaccedilatildeo do novo e rejeiccedilatildeo a qualquer forma de
discriminaccedilatildeo -rsquoFaz parte igualmente do pensar certo a rejeiccedilatildeo mais decidida a
qualquer forma de discriminaccedilatildeo A praacutetica preconceituosa de raccedila de classe de
gecircnero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democraciarsquo
-Ensinar exige o reconhecimento e a assunccedilatildeo da identidade cultural ndash lsquo [] Umas
das tarefas mais importantes da praacutetica educativo-criacutetica eacute propiciar as condiccedilotildees em
que os educandosas em suas relaccedilotildees uns com os outros e todos com o professor ou
a professora ensaiam a experiecircncia profunda de assumir-se Assumir-se como ser
social e histoacuterico como ser pensante comunicante transformador criador realizador
de sonhos capaz de ter raiva porque capaz de amar Assumir-se como sujeito porque
capaz de reconhecer-se como objeto A assunccedilatildeo de noacutes mesmos natildeo significa a
exclusatildeo dos outros Eacute a lsquooutredadersquo do lsquonatildeo eursquo ou do tu que me faz assumir a
radicalidade de meu eursquo
- Ensinar exige a curiosidade ndash Se haacute uma praacutetica exemplar como negaccedilatildeo da
experiecircncia formadora eacute a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e em
consequecircncia a do educador Eacute que o educador que entregue a procedimentos
autoritaacuterios ou paternalistas que impedem ou dificultam o exerciacutecio da curiosidade
do educando termina por igualmente tolher sua proacutepria curiosidade (FREIRE 2003
p 30-36 grifo nosso)
Esta curiosidade eacute o que Rubem Alves chama de espanto maravilhamento em seu
documentaacuterio ldquoAprender a aprenderrdquo6 onde refere-se ao educadora como aquele que precisa
ter vontade de ensinar para isto deve ser o ldquoprofessor do espanto um contador de histoacuteriasrdquo
Ele nos lembra que o ensino deve incentivar a imaginaccedilatildeo que a aprendizagem tem que nos
deixar intrigados que para ensinar eacute preciso saber fazer as perguntas e natildeo oferecer respostas
Ou seja o educadora tem a missatildeo de provocar espanto e curiosidade nos
educandosas (ALVES 2010)
Numa linguagem freireana haacute modelos de escolas e de aprendizagem que natildeo satildeo
criacuteticas nem transformadoras mas conservadoras bancaacuterias onde se daacute predominantemente
uma transmissatildeo de conhecimentos
E Alves (2010) refere-se a estas escolas fazendo uma analogia com gaiolas e paacutessaros
que satildeo ou natildeo encorajados a voar
6 O documentaacuterio faz parte da coleccedilatildeo Rubem Alves Os quatro Pilares (1- Aprender a aprender) que tem como
base o Relatoacuterio para a UNESCO da Comissatildeo Internacional sobre Educaccedilatildeo para o Seacuteculo XXI coordenado
por Jacques Delors que editado na forma de libro ldquoEducaccedilatildeo Um Tesouro a Descobrirrdquo de 2010 conteacutem
capiacutetulo sobre ldquoquatro pilaresrdquo onde se propotildee uma educaccedilatildeo direcionada para os quatro tipos fundamentais
de educaccedilatildeo aprender a conhecer aprender a fazer aprender a viver com os outros aprender a ser eleitos
como os quatro pilares fundamentais da educaccedilatildeo Documentaacuterio elaborado em Brasiacutelia julho de 2010
33
Escolas que satildeo gaiolas existem para que os paacutessaros desaprendam a arte do voo
Paacutessaros engaiolados satildeo paacutessaros sob controle Engaiolados seu dono pode levaacute-los
para onde quiser Paacutessaros engaiolados sempre tecircm dono Escolas que satildeo asas natildeo
amam paacutessaros engaiolados O que eles amam satildeo paacutessaros em voo Existem para
dar aos paacutessaros coragem para voar Ensinar o voo isso elas natildeo podem fazer
porque o voo jaacute nasce dentro dos paacutessaros O voo natildeo pode ser ensinado Soacute pode
ser encorajado
E a educaccedilatildeo estaacute presente em nossa vida de maneira diversa e em todos os lugares
Estamos envolvidos com a educaccedilatildeo em casa na rua na igreja na escola no clube etc Seja
para aprender seja para ensinar seja para aprender-e-ensinar (BRANDAtildeO 2002)
Misturamos a vida com uma ou vaacuterias educaccedilotildees
Educaccedilatildeo imposta centralizada pelo poder que usa o saber e exerce controle sobre o
mesmo como ferramenta para manter a desigualdade econocircmica social poliacutetica e cultural
entre homens e mulheres Educaccedilatildeo como praacutetica de liberdade vivenciada entre todos para
tornar comum aquilo que eacute comunitaacuterio como bem como trabalho ou como vida
332 Educaccedilatildeo em sauacutede ndash Breve histoacuterico
O campo da educaccedilatildeo em sauacutede nos remete ao redirecionamento das praacuteticas de sauacutede
intenccedilatildeo que aparece nos discursos da sauacutede puacuteblica desde a deacutecada de 1980 articulando-se
em torno da ideia de promoccedilatildeo da sauacutede
Num olhar retrospectivo haacute marcos nesta trajetoacuteria que discorremos brevemente neste
estudo desde a oacutetica da chamada educaccedilatildeo sanitaacuteria
As deacutecadas de 1950 e 1960 foram consideradas como periacuteodo aacuteureo da educaccedilatildeo
sanitaacuteria no Brasil quando propostas das poliacuteticas oficiais articulam sauacutede e educaccedilatildeo Os
avanccedilos observados na eacutepoca foram em campos como a valorizaccedilatildeo da higiene mental a
implantaccedilatildeo das escolas maternais creches e parques infantis (MELO 1987)
No entanto as concepccedilotildees da educaccedilatildeo e da sauacutede natildeo consideravam as questotildees
sociais nem o processo histoacuterico de sua origem e manutenccedilatildeo (LOUREIRO 1989 apud
MORH SCHALL 1992) A doenccedila era reduzida a uma relaccedilatildeo de causa e efeito de cunho
estritamente bioloacutegico reforccedilada pelas descobertas bacterioloacutegicas
O movimento da eacutepoca tinha como base uma ideologia modernizadora orientada para
hegemonia da burguesia industrial no domiacutenio da sociedade (LUZ 1981 apud MORH
SCHALL 1992)
A participaccedilatildeo da comunidade perspectiva que surge na deacutecada de 1960 tinha o
intuito de mobilizar as populaccedilotildees a colaborarem com os agentes de sauacutede e serviccedilos
34
implantados nas zonas rurais e periferias das cidades E um traccedilo da poliacutetica nacional de
sauacutede era a centralizaccedilatildeo administrativa que perdurou mais fortemente ateacute a criaccedilatildeo do
SUS (CANESQUI 1984 apud MORH SCHALL 1992)
Em 1971 com base na lei 569271 torna-se obrigatoacuteria a educaccedilatildeo em sauacutede nas
escolas brasileiras de 1ordm e 2ordm graus cujo objetivo era estimular o conhecimento e a praacutetica da
sauacutede baacutesica e da higiene Para operacionalizaccedilatildeo da lei foi estabelecida uma aprendizagem
atraveacutes de accedilotildees e natildeo de exposiccedilotildees prioritariamente o que natildeo ocorreu de fato (BRASIL
1974)
Vale ressaltar que a formaccedilatildeo teoacuterica de professores em assuntos relacionados agrave
educaccedilatildeo em sauacutede era deficiente comprometendo o desempenho dos mesmos para uma
aprendizagem voltada a realidade concreta dos alunos (MOURA 1990 SCHALL et al 1987
apud MORH SCHALL 1992)
A formaccedilatildeo precaacuteria de professores era atribuiacuteda a vaacuterios aspectos dentre eles
metodoloacutegicos inadequaccedilatildeo de conteuacutedos falta de material de apoio etc
O resultado desta praacutetica eacute que os conhecimentos desenvolvidos (transmitidos) natildeo se
traduzem em mudanccedila de comportamentos ou de haacutebitos - propoacutesito principal - seja por falta
de condiccedilotildees de internalizaccedilatildeo ou por natildeo possuir significado para a realidade do estudante
A tradicional concepccedilatildeo da educaccedilatildeo sanitaacuteria voltada para a mudanccedila de
comportamento comeccedila a ser superada pela compreensatildeo da praacutetica educativa como um
compromisso com a transformaccedilatildeo da realidade
A deacutecada de 1970 pautada por reformas na aacuterea da poliacutetica de sauacutede tambeacutem tem o
marco da pedagogia de Paulo Freire abraccedilada pelas accedilotildees de sauacutede poreacutem natildeo assumida no
contexto geral do paiacutes As reformas na poliacutetica de sauacutede foram fomentadas pela crise do
modelo biomeacutedico de alto custo e baixa resolutividade com accedilotildees centradas na cliacutenica e
amparado em uma concepccedilatildeo biologicista do processo sauacutede-doenccedila Este quadro fez surgir
no cenaacuterio das poliacuteticas de sauacutede proposiccedilotildees para inovar as bases dos sistemas de sauacutede
com foco em um conceito ampliado de sauacutede na relaccedilatildeo entre sauacutede e qualidade de
vida (DANTAS 2010)
Na ocasiatildeo a pedagogia de Paulo Freire foi acolhida pela sauacutede popular em suas
formas organizadas de movimento popular e identificada com as metas gerais das camadas
trabalhadoras por contemplar suas condiccedilotildees de vida e sauacutede A pedagogia libertadora de
Freire inspirou propostas de Educaccedilatildeo Popular em Sauacutede que em sua essecircncia visam romper
a relaccedilatildeo verticalizada educadora-educandoa e a transitoriedade das accedilotildees pois valorizam
35
trocas interpessoais o diaacutelogo e a compreensatildeo do saber popular (VASCONCELOS 2001
apud GUIMARAtildeES LIMA 2012 p 896)
Os movimentos populares construiacuteram uma nova articulaccedilatildeo entre a educaccedilatildeo e a
sauacutede onde satildeo consideradas as condiccedilotildees de vida e trabalho como fatores predisponentes
essenciais (CANESQUI 1984 MORH SCHALL 1992) Este contexto influenciou
sobremaneira as concepccedilotildees e praacuteticas da educaccedilatildeo em sauacutede
Novas abordagens de educaccedilatildeo em sauacutede passam a ser inseridas tanto no contexto
escolar como fora dele com distintos grupos populacionais devendo ser pensadas de acordo
com cada situaccedilatildeo em particular Relacionamos entatildeo aspectos que passam a ser incluiacutedos em
uma praacutetica de educaccedilatildeo em sauacutede
a) Considerar as peculiaridades cultural e ambiental de cada comunidade
b) Olhar criticamente campanhas de cunho nacional que natildeo respeitam as
peculiaridades regionais como por exemplo denominaccedilotildees atribuiacutedas a vetores
de doenccedilas ou haacutebitos culturais e sociais distintos de populaccedilotildees geograficamente
proacuteximas por estarem condenadas ao fracasso
c) Trabalhar com atividades e conteuacutedos pertinentes agrave realidade dos alunos
d) Estimular professores a planejarem e executarem projetos de investigaccedilatildeo
conjuntamente com seus alunos em torno de algum problema de sauacutede relevante
para a aacuterea de abrangecircncia da escola propondo accedilotildees e alternativas de
enfrentamento
e) Considerar o conhecimento popular acerca de determinada situaccedilatildeo valorizando-
o trabalhando junto e a partir dele e natildeo inferiorizando-o
f) Desenvolver atividades tambeacutem em associaccedilotildees de moradores e outros grupos
organizados das comunidades
Estes aspectos ou propoacutesitos contribuiacuteram para que a educaccedilatildeo ambiental e a
educaccedilatildeo em sauacutede fosse assumida de forma mais ampla do que a simples aquisiccedilatildeo de
conhecimento - poreacutem importante e indispensaacutevel afirma as autoras - mas tambeacutem como
momento de reflexatildeo e questionamento das condiccedilotildees de vida suas causas e consequecircncias e
se transformando em instrumento para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidadania (MORH
SCHALL 1992)
Acontecimentos no contexto internacional tambeacutem ocorridos na deacutecada de 1970
exerceram forte influecircncia nos rumos da educaccedilatildeo em sauacutede no Brasil apontando na direccedilatildeo
36
de uma abordagem voltada para promoccedilatildeo da sauacutede
Em 1976 na Conferecircncia de Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede em Alma-Ata
(ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE 1978) configura-se a relevacircncia das praacuteticas
educativas e a proposta da promoccedilatildeo da sauacutede Os conceitos firmados na Conferecircncia de
Alma-Ata satildeo retomados e ampliados a partir da deacutecada de 1980 em torno da ampliaccedilatildeo do
conceito de sauacutede
que passa a ser relacionado agrave qualidade de vida na compreensatildeo da
responsabilidade dos governos pela sauacutede de suas populaccedilotildees na ideia da
intersetorialidade como forma de atuaccedilatildeo frente agrave complexidade dos determinantes
da sauacutede e da doenccedila e no reconhecimento da participaccedilatildeo comunitaacuteria e individual
no planejamento organizaccedilatildeo operaccedilatildeo e controle dos cuidados primaacuterios de
sauacutede (SANTOS 2005 apud DANTAS 2010 p 27)
A OMS em 1986 oficializa o termo promoccedilatildeo da sauacutede a partir do que preconizou a
I Conferecircncia Mundial de Promoccedilatildeo da Sauacutede em Ottawa definindo-a como
processo de capacitaccedilatildeo da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de
vida e sauacutede incluindo uma maior participaccedilatildeo no controle deste processo Para
atingir um estado de completo bem-estar fiacutesico mental e social os indiviacuteduos e
grupos devem saber identificar aspiraccedilotildees satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente Assim a promoccedilatildeo da sauacutede natildeo eacute
responsabilidade exclusiva do setor sauacutede e vai para aleacutem de um estilo de vida
saudaacutevel na direccedilatildeo de um bem-estar global (BRASIL 2002 p 19)
Na Carta de Ottawa foram apontados cinco focos de atuaccedilatildeo para expressar o
significado das accedilotildees de promoccedilatildeo da sauacutede (Quadro 1)
Quadro 1 - Sistematizaccedilatildeo dos Focos de atuaccedilatildeo da Promoccedilatildeo da Sauacutede
FOCOS DE ATUACcedilAtildeO DA PROMOCcedilAtildeO DA SAUacuteDE
A construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas
saudaacuteveis - por
compreender que a
promoccedilatildeo da sauacutede
vai aleacutem dos cuidados
de sauacutede e requer a
identificaccedilatildeo e a
remoccedilatildeo de
obstaacuteculos para a
adoccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas saudaacuteveis
nos setores que natildeo
estatildeo diretamente
ligados agrave sauacutede
A criaccedilatildeo de
ambientes favoraacuteveis
agrave sauacutede - considerando que
mudanccedilas nos modos
de vida de trabalho e
de lazer tem um
significativo impacto
sobre a sauacutede e a
proteccedilatildeo do meio
ambiente e a
conservaccedilatildeo dos
recursos naturais
devem fazer parte de
qualquer estrateacutegia de
promoccedilatildeo da sauacutede
Reforccedilo agrave accedilatildeo
comunitaacuteria- cujo
centro deste processo
eacute o incremento do
poder das
comunidades a posse
e o controle dos seus
proacuteprios esforccedilos e
destino
Desenvolvimento de
habilidades pessoais - para que as
populaccedilotildees possam
exercer maior
controle sobre sua
proacutepria sauacutede e sobre
o meio ambiente bem
como fazer opccedilotildees
que conduzam a uma
sauacutede melhor
Reorientaccedilatildeo dos
serviccedilos de sauacutede - Os
serviccedilos de sauacutede
precisam adotar uma
postura abrangente que
perceba e respeite as
peculiaridades culturais
Esta postura deve apoiar
as necessidades
individuais e
comunitaacuterias para uma
vida mais saudaacutevel
abrindo canais entre o
setor sauacutede e os setores
sociais poliacuteticos
econocircmicos e
ambientais na
perspectiva da promoccedilatildeo
da sauacutede
Fonte Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1986)
37
Tambeacutem como importante referecircncia na ampliaccedilatildeo do conceito de sauacutede a Carta de
Ottawa apresenta como preacute-requisitos para a sauacutede a paz habitaccedilatildeo educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo
renda ecossistema estaacutevel recursos sustentaacuteveis justiccedila social e equumlidade (BRASIL 2002 p
19-20)
No entanto criacuteticas diretas ao que aponta a Carta de Ottawa satildeo feitas por Carvalho
(2007 apud DANTAS 2010) ao identificar ambiguidades relativas agrave traduccedilatildeo das estrateacutegias
quanto a se constituiacuterem como propostas e praacuteticas emancipadoras ou conservadoras mesmo
que articule a promoccedilatildeo da sauacutede a elementos ligados potencialmente a uma perspectiva
transformadora como participaccedilatildeo comunitaacuteria educaccedilatildeo em sauacutede e empowerment
Somando agraves criacuteticas de Carvalho Albuquerque e Stotz (2004) consideram que apesar
dos avanccedilos obtidos com a nova abordagem de promoccedilatildeo da sauacutede a educaccedilatildeo em sauacutede
conteacutem elementos de uma praacutetica conservadora e de dominaccedilatildeo de saber
Tradicionalmente a educaccedilatildeo em sauacutede tem sido um instrumento de dominaccedilatildeo de
afirmaccedilatildeo de um saber dominante de responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos pela reduccedilatildeo
dos riscos agrave sauacutede A educaccedilatildeo em sauacutede hegemocircnica natildeo tem construiacutedo sua
integralidade e pouco tem atuado na promoccedilatildeo da sauacutede de forma mais ampla
(ALBUQUERQUE STOTZ 2004 p 260)
E apesar da educaccedilatildeo como ldquocomponente central na promoccedilatildeo da sauacutederdquo o seu
entendimento e a sua implementaccedilatildeo podem ser efetivados segundo visotildees ldquoque vatildeo desde o
campo de uma pedagogia criacutetica onde se destaca a educaccedilatildeo popular ateacute o campo tradicional
que trabalha com uma educaccedilatildeo formal instrucional que desconsidera o saber do outrordquo
(ALBUQUERQUE 2003 apud DANTAS 2010 p 29)
Em uma perspectiva dialoacutegica a praacutetica da educaccedilatildeo em sauacutede tem um importante
papel no processo de construccedilatildeo de novos modos de se implementar as praacuteticas de sauacutede Esta
abordagem permite processos de mediaccedilatildeo entre saberes estabelecendo uma relaccedilatildeo estreita e
de aproximaccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo construindo novos formatos para as relaccedilotildees
entre educadoresas e educandosas incentivando a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
para mudanccedilas de suas condiccedilotildees de vida e sauacutede
333 Educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente
O campo de conhecimento referido como ldquoSauacutede Ambientalrdquo ou ldquoSauacutede e Ambienterdquo
se daacute a partir da relaccedilatildeo entre o ambiente e o padratildeo de sauacutede de uma
populaccedilatildeo (TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
38
A constituiccedilatildeo brasileira (1988) denominada Constituiccedilatildeo Cidadatilde garante em seu
artigo 225 o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (BRASIL
2004a) Outros artigos da Constituiccedilatildeo Federal e a lei Orgacircnica do SUS nordm 80801990
apontam ldquoa moradia o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo
o transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo como fatores determinantes e
condicionantes da sauacutede (BRASIL 1990)
Nos anos 1990 a questatildeo ambiental foi sendo institucionalizada como um problema a
ser tratado por poliacuteticas puacuteblicas Entretanto a gestatildeo das questotildees de meio ambiente e sauacutede
por exemplo permaneceu desarticulada Poucos satildeo os princiacutepios e diretrizes da Agenda 21 e
de outras convenccedilotildees internacionais que vem sendo cumpridos
A Sauacutede Ambiental inicialmente esteve relacionada nas Ameacutericas quase que
exclusivamente ao saneamento e qualidade da aacutegua Entretanto no Brasil a Sauacutede Ambiental
incorporou como situaccedilotildees de risco questotildees como saneamento aacutegua para consumo humano
poluiccedilatildeo quiacutemica pobreza equidade condiccedilotildees psicossociais e a necessidade de um
desenvolvimento sustentaacutevel para preservar as geraccedilotildees atuais e futuras (TAMBELLINI
CAcircMARA 2003)
Os estudos em Sauacutede do Trabalhador desenvolvidos no Brasil contribuiacuteram para
explicitar a existecircncia de outras populaccedilotildees expostas aos perigos gerados pela poluiccedilatildeo
proveniente das empresas e natildeo apenas a populaccedilatildeo de trabalhadores A partir do final da
deacutecada de 1970 e durante toda deacutecada de 1980 ficou claro o elo existente entre estas questotildees
e o sistema de sauacutede possibilitando a inclusatildeo de uma Sauacutede Ambiental no setor
As questotildees sauacutede e ambiente comeccedilam a ter visibilidade com a construccedilatildeo de uma
vigilacircncia da sauacutede ambiental a partir do ano 2000 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Cidades em
2003 que provoca o debate sobre saneamento ambiental e se daacute a convocaccedilatildeo da I
Conferecircncia Nacional de Sauacutede e Ambiente Essas iniciativas satildeo o ldquofermentordquo para a
construccedilatildeo de uma poliacutetica integrada de sauacutede ambiental (CAcircMARA NETTO AUGUSTO
2009)
Para a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (1990 apud TAMBELLINI CAcircMARA 1998)
a relaccedilatildeo Sauacutede e Ambiente incorpora todos os elementos e fatores que
potencialmente afetam a sauacutede incluindo entre outros desde a exposiccedilatildeo a fatores
especiacuteficos como substacircncias quiacutemicas elementos bioloacutegicos ou situaccedilotildees que
interferem no estado psiacutequico do indiviacuteduo ateacute aqueles relacionados com aspectos
negativos do desenvolvimento social e econocircmico dos paiacuteses
39
Para o Ministeacuterio da Sauacutede
[] o campo da sauacutede ambiental compreende a aacuterea de sauacutede puacuteblica afeita ao
conhecimento cientiacutefico e agrave formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e agraves correspondentes
intervenccedilotildees (accedilotildees) relacionadas agrave interaccedilatildeo sobre a sauacutede humana e os fatores do
meio ambiente natural e antroacutepico que a determinam condicionam e influenciam
com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da
sustentabilidade (CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE 2007)
Desde entatildeo a aacuterea de Sauacutede Coletiva comeccedilou a considerar a questatildeo ambiental entre
as prioritaacuterias a serem cuidadas junto agrave sauacutede das coletividades
Por outro lado natildeo haacute como esquecer que o fazer sauacutede em sua conceituaccedilatildeo mais
ampla - tal como foi adotado pelo arcabouccedilo juriacutedico-legal que conforma o Sistema Uacutenico de
Sauacutede (SUS) - exige o conhecimento do modo como a comunidade constroacutei suas
representaccedilotildees de mundo e como este aspecto interfere nas praacuteticas de sauacutede Trata-se de se
levar em conta o fato de que as praacuteticas relacionadas agrave sauacutede estatildeo diretamente ligadas ao
cotidiano e agraves relaccedilotildees que as pessoas constroem entre si e com o ambiente que as
cerca (GUERRERO 2007)
Com este enfoque a aacutereas da Educaccedilatildeo em Sauacutede e Ambiente estabelecem uma
estreita relaccedilatildeo e suas praacuteticas tecircm se consolidado nos uacuteltimos anos
No acircmbito do Ministeacuterio da Sauacutede tem sido estruturado pela Funasa no campo das
praacuteticas educativas a aacuterea de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental que se insere no bojo da sauacutede
ambiental e compotildee o Departamento de Sauacutede Ambiental Instituiacuteda haacute quase trecircs anos vem
desenvolvendo trabalhos em comunidades quilombolas indiacutegenas e com populaccedilotildees
assentadas
Tendo passado por um reordenamento em sua estrutura e competecircncias a Funasa em
niacutevel nacional incorporou a partir de 2010 dentre outras finalidades a de ldquoformular e
implementar accedilotildees de promoccedilatildeo e proteccedilatildeo agrave sauacutede relacionadas com as accedilotildees estabelecidas
pelo Subsistema Nacional de Vigilacircncia em Sauacutede Ambientalrdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2010) Tal competecircncia criou a necessidade de um Departamento de Sauacutede
Ambiental que abriga a aacuterea teacutecnica denominada Educaccedilatildeo em sauacutede ambiental estruturada
com equipes multiprofissionais em todas as unidades da federaccedilatildeo
A Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013a) reconhece a Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
como
uma aacuterea de conhecimento teacutecnico que contribui efetivamente na formaccedilatildeo e o
desenvolvimento da consciecircncia criacutetica do cidadatildeo estimulando a participaccedilatildeo o
controle social e sustentabilidade socioambiental utilizando entre outras estrateacutegias
a mobilizaccedilatildeo social a comunicaccedilatildeo educativainformativa e a formaccedilatildeo
permanente
40
E a define como
um conjunto de praacuteticas pedagoacutegicas e sociais de conteuacutedo teacutecnico poliacutetico e
cientiacutefico que no acircmbito das praacuteticas de atenccedilatildeo agrave sauacutede deve ser vivenciada e
compartilhada por gestores teacutecnicos trabalhadores setores organizados da
populaccedilatildeo e usuaacuterios do SUS Baseia-se entre outros princiacutepios no diaacutelogo
reflexatildeo respeito agrave cultura compartilhamento de saberes accedilatildeo participativa
planejamento e decisatildeo local participaccedilatildeo controle social sustentabilidade
socioambiental mobilizaccedilatildeo social e inclusatildeo social (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL
DE SAUacuteDE 2013a)
Em 2012 a instituiccedilatildeo realizou em outubro o I Encontro Nacional de Educaccedilatildeo em
Sauacutede Ambiental cujo objetivo foi nivelar a formaccedilatildeo sobre o tema na Fundaccedilatildeo e
estabelecer diretrizes de atuaccedilatildeo da aacuterea para 2013 Os temas abordados foram
Fundamentaccedilotildees Teoacutericas e Metodoloacutegicas de Sauacutede Ambiental Praacuteticas Setoriais na aacuterea de
Educaccedilatildeo em Sauacutede e Promoccedilatildeo da Sauacutede no cenaacuterio atual (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE
SAUacuteDE 2012b)
A temaacutetica educaccedilatildeo em sauacutede e ambiente eacute uma aacuterea que transita pelos
conhecimentos da sauacutede ambiental educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo ambiental e temas afins
334 Educaccedilatildeo ambiental
Realizar atividades de educaccedilatildeo ambiental requer conhecer as concepccedilotildees das pessoas
envolvidas sobre meio ambiente afirma Reigotta (1991)
O autor apresenta trecircs categorias para explicar concepccedilotildees sobre meio ambiente A
categoria Antropocecircntrica cujas caracteriacutesticas evidenciam a utilidade de recursos naturais
para a sobrevivecircncia do ser humano a categoria Naturalista que considera o meio ambiente
como sinocircnimo de natureza intocada evidenciando-se apenas os aspectos naturais e a
categoria Globalizante onde haacute relaccedilotildees reciacuteprocas entre natureza e sociedade (REIGOTTA
1991)
A Educaccedilatildeo Ambiental (EA) passa a ser vista como um novo campo de atividade e do
saber no final do seacuteculo XX Com o propoacutesito de reconstruir a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo
sociedade e meio ambiente visava formular respostas teoacutericas e praacuteticas aos desafios
colocados por uma crise socioambiental global (LIMA G 2004)
Entender o que trata a Educaccedilatildeo Ambiental eacute importante para que se possa
compreender tanto as inter-relaccedilotildees entre o homem e o ambiente como tambeacutem suas
expectativas satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamento e condutas (BEZERRA 2007)
41
As abordagens e perspectivas da Educaccedilatildeo Ambiental (EA) tecircm acompanhado o
conceito histoacuterico do termo ldquodesenvolvimentordquo e ldquomeio ambienterdquo (SANTOS J 2000)
Passando da compreensatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental associada agrave preservaccedilatildeo de
sistemas vivos para a concepccedilatildeo restrita de conservaccedilatildeo da biodiversidade novos conceitos
foram incorporados assim como vaacuterias instituiccedilotildees ambientais inseriram a Educaccedilatildeo
Ambiental com uma concepccedilatildeo mais ampla dando destaque ao ser humano como principal
protagonista na manutenccedilatildeo do planeta (GAYFORD DORION 1994 SATO 1994
CONFEREcircNCIA DE ESTOCOLMO 1970 apud SANTOS J 2000)
No campo da legislaccedilatildeo uma das referecircncias sobre Educaccedilatildeo Ambiental eacute o que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Ambiental - PNEA (Lei no 9795 de 27 de abril de
1999) ao entender por
educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade
constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias
voltadas para a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo
essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidadrsquo (Art 1o) Afirma tambeacutem
em seu Art 2deg que lsquoA educaccedilatildeo ambiental eacute um componente essencial e
permanente da educaccedilatildeo nacional devendo estar presente de forma articulada em
todos os niacuteveis e modalidades do processo educativo em caraacuteter formal e natildeo-
formal (BRASIL 1999)
Ao referir-se agrave Educaccedilatildeo Ambiental natildeo-formal em seu art 13 a poliacutetica diz ser
entendida como as accedilotildees e praacuteticas educativas voltadas agrave sensibilizaccedilatildeo da coletividade sobre
as questotildees ambientais e agrave sua organizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na defesa da qualidade do
ambiente (BRASIL 1999)
Ainda no campo legal o Brasil possui desde 1981 uma Poliacutetica Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6938 de 31081981) que tem como um dos princiacutepios ldquoa educaccedilatildeo ambiental
a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para
participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981)
Proposta no Brasil em 1999 a Educaccedilatildeo Ambiental apresentava o objetivo de
disseminar o conhecimento sobre o ambiente e como funccedilatildeo principal contribuir para uma
atitude da sociedade mais consciente em relaccedilatildeo agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e seu uso
sustentaacutevel
A compreensatildeo sobre sustentabilidade formulada nas deacutecadas de 70 e 80 teve uma
definiccedilatildeo na Conferecircncia para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ocorrida em 1992 no
Rio de Janeiro conhecida como Rio 92 cujo conceito refere-se agrave qualidade de vida integrada
nos ecossistemas na qual se incluem as comunidades Sustentabilidade eacute tambeacutem um
42
equiliacutebrio de caraacuteter eacutetico econocircmico social cultural ambiental na produccedilatildeo e reproduccedilatildeo
social e inclui a democracia a pluralidade e reproduccedilatildeo social
A ideia central dessas Poliacuteticas eacute de harmonizaccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico
com a preservaccedilatildeo ambiental e a qualidade de vida Entretanto apesar de consideradas
avanccediladas e coerentes com as demandas contemporacircneas observa-se que haacute uma distacircncia
quanto ao cumprimento dessas legislaccedilotildees bem como a ecircnfase numa sustentabilidade
orientada pelo mercado e numa educaccedilatildeo ambiental convencional ou conservadora Uma
concepccedilatildeo educativa tradicional com foco na transmissatildeo de conhecimentos e informaccedilotildees
foi denominada por Paulo Freire (1974) como educaccedilatildeo bancaacuteria Sua ecircnfase eacute na mudanccedila
comportamental dos indiviacuteduos sem transformaccedilatildeo da realidade nem das causas que
acarretam problemas socioambientais
A Educaccedilatildeo Ambiental conservadora busca a partir dos mesmos referenciais
constitutivos da crise encontrar sua soluccedilatildeo sem transformaccedilatildeo da realidade servindo
inclusive como mecanismo de reproduccedilatildeo dos interesses dominantes da loacutegica do capital
Para aleacutem das caracteriacutesticas de uma Educaccedilatildeo Ambiental formal natildeo formal ou
informal haacute denominaccedilotildees e compreensotildees diversas como educaccedilatildeo ambiental criacutetica
emancipatoacuteria ou transformadora e ecopedagogia entre outras cujas concepccedilotildees
fundamentam praacuteticas e reflexotildees pedagoacutegicas relacionadas agrave questatildeo ambiental Essas e
outras nomenclaturas estatildeo inseridas na necessidade de ressignificar os sentidos identitaacuterios e
fundamentais dos diferentes posicionamentos poliacuteticos pedagoacutegicos das praacuteticas de EA
(LAYRARGUES 2004)
Guimaratildees (2004 p 27) aponta para uma Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica definida natildeo
como uma evoluccedilatildeo conceitual agrave chamada Educaccedilatildeo Ambiental Conservadora mas como
uma contraposiccedilatildeo ao referencial teoacuterico que compreende e explica o mundo de forma
fragmentada simplificando e reduzindo a realidade com perda da riqueza e diversidade da
relaccedilatildeo
A Educaccedilatildeo Ambiental Criacutetica eacute vista por Guimaratildees (2004) como uma re-
significaccedilatildeo da EA pela necessidade de diferenciar uma accedilatildeo educativa que seja capaz de
contribuir com a transformaccedilatildeo de uma realidade que historicamente se coloca em uma
grave crise socioambiental Para o autor essa abordagem pretende subsidiar uma percepccedilatildeo
de mundo mais complexa e instrumentalizada para uma intervenccedilatildeo que contribua no
processo de transformaccedilatildeo da realidade socioambiental que eacute complexa Aproximando-se do
pensamento de Edgar Morin Guimaratildees traz para EA Criacutetica suas relaccedilotildees dialoacutegicas da
43
parte e do todo da ordem da desordem e da organizaccedilatildeo na complexidade Uma compreensatildeo
de que o conhecimento deve comportar tanto a diversidade quanto a multiplicidade
Inclui tambeacutem como referecircncia para sua produccedilatildeo teoacuterica a compreensatildeo de Milton
Santos para olhar o espaccedilo socioambiental como reflexo da dialeacutetica constitutiva do real o
processo de totalizaccedilatildeo na interaccedilatildeo entre local e global entre a luta de classes entre
desenvolvimento e subdesenvolvimento (GUIMARAtildeES 2004)
Para o fazer pedagoacutegico Paulo Freire apresenta as possibilidades de uma leitura
problematizadora e contextualizadora do real que tambeacutem vai fundamentar a Educaccedilatildeo
Ambiental Criacutetica
A Educaccedilatildeo Ambiental Emancipatoacuteria parte de uma reflexatildeo feita por Lima (2004)
sobre a Educaccedilatildeo Ambiental Convencional ao identificar alguns problemas poliacuteticos
pedagoacutegicos e epistemoloacutegicos nas propostas de Educaccedilatildeo Ambiental implementadas
Duas foram as motivaccedilotildees que levaram o autor agraves criacuteticas e consideraccedilotildees sobre a
Educaccedilatildeo Ambiental convencional Uma primeira quando identifica como problema o campo
da Educaccedilatildeo Ambiental convencional ser visto de forma homogecircnea e consensual apesar de
plural e diverso fundamentada em valores interesses e objetivos tambeacutem diversos A segunda
motivaccedilatildeo que aponta para um conjunto de reducionismos que natildeo considera a vasta
complexidade da questatildeo ambiental convertendo-a agrave singularidade de uma de suas
dimensotildees Ele refere-se por exemplo
as abordagens ecologicistas abordagens tecnicistas abordagens que destacavam os
efeitos mais aparentes dos problemas ambientais e desprezavam suas causas mais
profundas abordagens individualistas e comportamentalistas e agraves que convergiam
toda ecircnfase da praacutetica educativa sobre os problemas relacionados ao consumo
deixando de lado os problemas ligados agrave esfera da produccedilatildeo (LIMA G 2004
p 87)
Segundo Lima (2004) em termos teoacutericos e conceituais a EA Emancipatoacuteria procura
enfatizar e associar as noccedilotildees de mudanccedila social e cultural de emancipaccedilatildeolibertaccedilatildeo
individual e social e de integraccedilatildeo no sentido de complexidade
A Ecopedagogia outra abordagem que nos chama a atenccedilatildeo eacute apresentada por Avanzi
(2004) como movida pelo mesmo propoacutesito da Educaccedilatildeo Ambiental - cuidar da qualidade de
vida do planeta- poreacutem com aspectos que se contrapotildeem e se complementam A perspectiva
aqui apresentada de forma sucinta tem a intenccedilatildeo de compreender a relaccedilatildeo da Ecopedagogia
com a Educaccedilatildeo Ambiental
Como primeiros esboccedilos a autora traz uma compreensatildeo sobre Educaccedilatildeo Sociedade e
Natureza sob o prisma da Ecopedagogia
44
Quanto agrave Educaccedilatildeo a compreensatildeo se constroacutei dentro de uma concepccedilatildeo freireana
cuja reflexatildeo sobre a realidade traz a possibilidade de encontrar seus elementos opressores
Na perspectiva freireana ldquoEducaccedilatildeo eacute essencialmente um ato poliacutetico que visa
possibilitar aoagrave educandoa a compreensatildeo de seu papel no mundo e de sua inserccedilatildeo na
histoacuteriardquo (FREIRE 1987 ANTUNES 2002 apud AVANZI 2004 p 37)
Essa abordagem privilegia estabelecer um processo dialoacutegico baseado em temas
relacionados ao contexto doa educandoa e sua compreensatildeo preliminar dos mesmos com o
intuito tanto de ampliar aquela compreensatildeo inicial como de intervir na realidade (AVANZI
2004)
A Ecopedagogia entatildeo em sua compreensatildeo sobre educaccedilatildeo pretende
[] desenvolver um novo olhar para a educaccedilatildeo um olhar global uma nova
maneira de ser e estar no mundo um jeito de pensar a partir da vida cotidiana que
busca sentido em cada momento em cada ato que pensa a praacutetica (Paulo Freire) em
cada instante de nossas vidas evitando a burocratizaccedilatildeo do olhar e do
pensamento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 37)
Quanto agrave sociedade esta eacute vista historicamente em que os fatos satildeo tidos como
elementos estruturais de um todo dialeacutetico mutaacutevel e que natildeo pode ser apreendido de uma soacute
vez (AVANZI 2004)
A Ecopedagogia ao tecer criacuteticas agrave hegemonia neoliberal constroacutei o debate em torno
da sustentabilidade acreditando na incompatibilidade que haacute entre o princiacutepio do lucro
proacuteprio do modelo de desenvolvimento capitalista e a sustentabilidade considerada em suas
dimensotildees social poliacutetica econocircmica cultural e ambiental (GADOTTI 2000 apud
AVANZI 2004)
Quanto agrave natureza o pensamento que fundamenta a Ecopedagogia tem como
referecircncia a nova fiacutesica o holismo especialmente em Fritjof Capra e Leonardo Boff
Alimenta-se tambeacutem das propostas de povos indiacutegenas latino-americanos O que haacute em
comum nestas vertentes satildeo a concepccedilatildeo de universo como rede de relaccedilotildees intrinsecamente
dinacircmicas e a revalorizaccedilatildeo da consciecircncia como aspecto-chave das relaccedilotildees entre natureza e
a sociedade O propoacutesito maior eacute a harmonia ambiental que ldquosupotildee toleracircncia respeito
igualdade social cultural de gecircnero e aceitaccedilatildeo da biodiversidaderdquo (GUTIEacuteRREZ PRADO
2000 apud AVANZI 2004 p 39)
A Educaccedilatildeo Ambiental sob a oacutetica da Ecopedagogia eacute uma mudanccedila de
entendimento em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida atrelada agrave busca da construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo
saudaacutevel e equilibrada com o contexto com o outro e com o ambiente
45
As concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental aqui apresentadas sucintamente - EA criacutetica
EA Emancipatoacuteria e a Ecopedagogia enriquecem a olhar para uma Educaccedilatildeo Ambiental que
em uacuteltima instacircncia pretende contribuir para uma mudanccedila social com melhor qualidade de
vida para o ambiente
46
4 PERCURSO METODOLOacuteGICO
41 DESENHO DO ESTUDO
Identificar situaccedilotildees de vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco em populaccedilotildees e territoacuterios quilombolas de Pernambuco
particularmente nas comunidades de Salgueiro parece ser um campo aberto incipiente sendo
necessaacuterio um olhar particularizado possiacutevel por meio de um estudo de caso
Para Ponte (2006 p 2) estudo de caso eacute tido como
uma investigaccedilatildeo que se assume como particulariacutestica isto eacute que se debruccedila
deliberadamente sobre uma situaccedilatildeo especiacutefica que se supotildee ser uacutenica ou especial
pelo menos em certos aspectos procurando descobrir o que haacute nela de mais
essencial e caracteriacutestico e desse modo contribuir para a compreensatildeo global de um
certo fenocircmeno de interesse
Minayo (2007 p 164) complementa a compreensatildeo do que eacute estudo de caso
afirmando que
os estudos de caso utilizam estrateacutegias de investigaccedilatildeo qualitativa para mapear
descrever e analisar o contexto as relaccedilotildees e as percepccedilotildees a respeito da situaccedilatildeo
fenocircmeno ou episoacutedio em questatildeo E satildeo uacuteteis para gerar conhecimento sobre
caracteriacutesticas significativas de eventos vivenciados tais como intervenccedilotildees e
processos de mudanccedila
Nesta dissertaccedilatildeo desenvolvemos um estudo de caso com abordagem qualitativa e
quantitativa As dimensotildees natildeo quantificaacuteveis e que se referem a visotildees de mundo valores e
percepccedilotildees foram obtidas com as narrativas dos sujeitos das aacutereas do estudo - populaccedilatildeo
quilombola gestores e teacutecnicos As dimensotildees quantificaacuteveis ou dados secundaacuterios
adquiridos com aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e levantamento documental complementaram a
abordagem
O conhecimento e percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco o
significado do rio Satildeo Francisco os aspectos e situaccedilatildeo da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a
caracterizaccedilatildeo das trecircs comunidades quilombolas do estudo e a inserccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo em suas aacutereas as situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo provocadas pelo projeto e as accedilotildees de
caraacuteter compensatoacuterio e de mitigaccedilatildeo desenvolvidas pelos Programas Baacutesicos Ambientais
constituem o leque dos conteuacutedos dissertados neste estudo
A partir das proposiccedilotildees dos Programas Baacutesicos de Educaccedilatildeo Ambiental (PBA 04) e
Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (PBA 17) e sua interface com o Programa
47
de Controle de Sauacutede Puacuteblica (PBA 21) o estudo traz consideraccedilotildees sobre o quecirc e como
foram implementados estes PBArsquos qual ou quais concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental e de
Educaccedilatildeo em Sauacutede fundamentaram as propostas sempre enriquecida com a percepccedilatildeo dos
sujeitos do estudo
42 ABORDAGEM QUALITATIVA E QUANTITATIVA
A abordagem qualitativa permitiu avaliar a dinacircmica interna do processo e identificar
o sistema de valores crenccedilas representaccedilotildees haacutebitos atitudes e opiniotildees com a possibilidade
de incorporar o significado e a intencionalidade como inerentes aos atos agraves relaccedilotildees e agraves
estruturas sociais Essa abordagem foi trabalhada com dados primaacuterios e dados secundaacuterios
Os dados primaacuterios foram obtidos com a realizaccedilatildeo de entrevistas e grupos focais e os dados
secundaacuterios foram por anaacutelise documental
Mesmo havendo vaacuterios modelos de estudo para abordagens qualitativas Deslandes e
Assis (2004 p 4) ressaltam os pontos comuns deste enfoque
Apesar da diversidade entre as abordagens qualitativas existe o propoacutesito comum
em analisar o significado pelos sujeitos aos fatos relaccedilotildees e
praacuteticas isto eacute avaliando tanto as interpretaccedilotildees quanto a praacutetica dos
sujeitos
A abordagem quantitativa foi realizada com a anaacutelise de dados secundaacuterios colhidos
do questionaacuterio Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas (CAP) aplicado em 2010 pela Funasa-
SuestPE com representantes de famiacutelias quilombolas contempladas com as obras de
substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria
43 AacuteREA DE ABRANGEcircNCIA DO ESTUDO
O estudo eacute voltado ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco no estado de
Pernambuco oficialmente denominado ldquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com
Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste Setentrional - O PISFrdquo que nos uacuteltimos anos tem sido
palco de grandes investimentos pelo governo federal com recursos do PAC
O Projeto de transposiccedilatildeo executado pelo MI afeta dentre outras populaccedilotildees
comunidades indiacutegenas e quilombolas em nosso estado
Nosso estudo lanccedila um olhar sobre populaccedilotildees do sertatildeo pernambucano que vivem e
lutam para conviver e sobreviver nas regiotildees da seca e caatinga Um olhar particularizado
48
para comunidades remanescentes de quilombos situadas na aacuterea de abrangecircncia do Projeto da
Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco cujas accedilotildees afetam direta e indiretamente suas condiccedilotildees
de vida e do territoacuterio com impactos ainda natildeo mensuraacuteveis nos aspectos culturais sociais de
sauacutede ambientais poliacuteticos e econocircmicos
Na aacuterea de abrangecircncia do projeto da transposiccedilatildeo haacute quinze municiacutepios com
presenccedila de comunidades quilombolas Destes 11 municiacutepios satildeo em Pernambuco com 55
comunidades quilombolas dois municiacutepios satildeo na Paraiacuteba com trecircs comunidades
quilombolas e dois no Rio Grande do Norte com duas comunidades quilombolas o que
representa 60 comunidades quilombolas vivendo em aacuterea diretamente afetada (ADA) pelo
projeto As bacias hidrograacuteficas sob influecircncia do projeto da transposiccedilatildeo em Pernambuco satildeo
dos rios Moxotoacute Terra Nova e Briacutegida
No estado essa temaacutetica tem um destaque pela histoacuteria de resistecircncia agrave escravidatildeo na
formaccedilatildeo de quilombos O histoacuterico quilombo de Palmares foi formado em uma regiatildeo
situada na entatildeo Capitania de Pernambuco entre o final do seacuteculo XVI e iniacutecio do seacuteculo
XVII atualmente situando-se no estado de Alagoas Posteriormente jaacute no seacuteculo XIX a
proviacutencia de Pernambuco foi palco da formaccedilatildeo do quilombo de Catucaacute dessa vez em regiatildeo
localizada na Zona da Mata proacutexima agrave capital (COMISSAtildeO PROacute-IacuteNDIO DE SAtildeO PAULO
2013)
O estudo foi realizado no municiacutepio de Salgueiro localizado na bacia do Rio Terra
Nova Sertatildeo Central Pernambucano e distante 518 km de Recife O municiacutepio eacute a cidade de
maior realce dentre os oito que compotildeem a chamada Regiatildeo de Desenvolvimento do Sertatildeo
Central estando nas chamadas Aacutereas Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Salgueiro eacute dividido por
cinco distritos Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas Umatildes Pau Ferro e Vasques Os dados
populacionais apresentam Salgueiro com aproximadamente 56641 habitantes dos quais
10923 satildeo residentes na zona rural o que representa quase 20 de toda populaccedilatildeo Dentre o
total de habitantes da zona rural 5607 satildeo homens e 5219 satildeo mulheres (IBGE 2010)
O municiacutepio estaacute em regiatildeo de clima Semi-aacuterido-quente com temperatura meacutedia anual
de 25ordm C e precipitaccedilatildeo pluviomeacutetrica de 450 a 600 miliacutemetros por ano com chuvas
concentradas nos meses de dezembro a marccedilo Salgueiro limita-se ao norte com a cidade de
Penaforte no Cearaacute ao sul com o municiacutepio de Beleacutem de Satildeo Francisco agrave leste com os
municiacutepios de Verdejante Mirandiba e Carnaubeira da Penha e ao Oeste com Cabroboacute Terra
Nova Serrita e Cedro todos em Pernambuco (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013)
49
Seu potencial econocircmico desponta com predomiacutenio na agricultura e comeacutercio
varejista tendo como principais produtos agriacutecolas a cebola o tomate o algodatildeo herbaacuteceo o
milho a banana o feijatildeo o arroz e a manga A economia da mesorregiatildeo estaacute voltada para a
agricultura de subexistecircncia e a agropecuaacuteria extensiva onde se destaca a caprinocultura e a
avicultura (SALGUEIRO 2013)
Quanto a representaccedilotildees governamentais e equipamentos urbanos Salgueiro concentra
a grande maioria destes equipamentos em relaccedilatildeo aos municiacutepios da regiatildeo Haacute em sua sede
um aeroacutedromo um campus da Universidade de PernambucoUPE representado pela
Faculdade de Ciecircncia e Tecnologia de SalgueiroFacites um campus do Instituto
Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sertatildeo Pernambucano a Faculdade
de Ciecircncias Humanas do Sertatildeo Central Fachusc uma Unidade Teacutecnica do
Prorural O Hospital Regional Inaacutecio de Saacute uma Agecircncia de trabalho a Sede da
Gerecircncia Regional de EducaccedilatildeoGRE do Sertatildeo Central a sede da VII Gerecircncia
Regional de SauacutedeGeres uma unidade da Aacuterea Integrada de Seguranccedila (AIS)
agecircncias bancaacuterias a sede do Escritoacuterio Regional do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional onde funciona a sede do PISF dentre outras (AGEcircNCIA ESTADUAL DE
PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO 2013 p 110)
44 SUJEITOS DO ESTUDO
Dentre os habitantes da zona rural de Salgueiro estatildeo os moradores de trecircs
comunidades remanescentes de quilombos populaccedilatildeo de interesse deste estudo inseridos na
Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do Projeto de transposiccedilatildeo
A populaccedilatildeo quilombola residente em Salgueiro tem em torno de 906 famiacutelias
distribuiacutedas nas comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas (800 famiacutelias) Santana (64 famiacutelias)
e Tamboril Contendas (42 famiacutelias)
Aleacutem da populaccedilatildeo quilombola satildeo sujeitos da pesquisa trabalhadores do Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo (coordenadores e teacutecnicos dos programas) gestores e teacutecnicos municipais da
sauacutede educaccedilatildeo ambiente desenvolvimento rural e da Funasa em Pernambuco que
participaram do estudo nos momentos das entrevistas e grupos focais
A amostra foi do tipo intencional na qual os sujeitos foram selecionados
considerando sua relaccedilatildeo de vivecircncia ou experiecircncia profissional com o Projeto da
Transposiccedilatildeo
50
45 INSTRUMENTOS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS E PERIacuteODO DE
ESTUDO
Para esse estudo de caso foi feita uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas diversas de pesquisa na
tentativa de abranger a complexidade do objeto de estudo conforme indica Minayo (2007)
Foi feito uma triangulaccedilatildeo metodoloacutegica com os procedimentos de anaacutelise
documental entrevistas e grupos focais
A coleta de dados secundaacuterios para contextualizaccedilatildeo do problema consistiu na
consulta e anaacutelise de documentos escritos oficiais e cientiacuteficos pertinentes ao tema de
interesse e a sistematizaccedilatildeo descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de dados de questionaacuterios aplicados nas
trecircs comunidades
O periacuteodo do estudo foi de 2008 agrave 2013 a partir da vigecircncia do Projeto da
transposiccedilatildeo quando houve licenccedila de instalaccedilatildeo emitida pelo IBAMA (LI nordm 4382007) e
efetivaccedilatildeo da parceria Funasa - MI em 2008
451 Entrevista
Entrevista eacute o encontro entre duas pessoas para a coleta de dados por meio de uma
conversaccedilatildeo profissional (MARCONI LAKATOS 2006) Para Kvale (1996) entrevistar eacute
uma atividade que estaacute mais proacutexima da arte do que dos meacutetodos sociais padronizados
Neste estudo a entrevista foi semi-estruturada com perguntas abertas onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questatildeo sem se prender agrave
indagaccedilatildeo formulada (MINAYO 2010)
Realizamos entrevistas individuais com gestores teacutecnicos e lideranccedilas das aacutereas
quilombolas afetadas pelo projeto da transposiccedilatildeo O roteiro das entrevistas explorou a
compreensatildeo e percepccedilatildeo geral dos sujeitos sobre o Projeto e os impactos provocados sobre a
situaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas sobre as accedilotildees educativas e obras
desenvolvidas pelos programas ambientais sobre o entendimento quanto agrave educaccedilatildeo em
sauacutede educaccedilatildeo ambiental e sauacutede ambiental e a relaccedilatildeo entre os temas sobre o significado
do Rio Satildeo Francisco (Apecircndices A e B)
51
Para anaacutelise do discurso as entrevistas foram organizadas em dois grupos distintos
a) Grupo 1 rarr entrevistas feitas com gestores e teacutecnicos do niacutevel municipal da
FUNASA Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e da CMT Engenharia (empresa
contratada pelo MI para desenvolver os Programas Baacutesicos Ambientais)
b) Grupo 2 rarr entrevistas feitas com as lideranccedilas quilombolas das trecircs comunidades
do estudo
As narrativas mencionadas na dissertaccedilatildeo estatildeo identificadas da seguinte forma
a) Gestoresas (1 agrave 10) como Gestora 1 Gestora 2 e assim sucessivamente
b) Teacutecnicosas (1 agrave 3) como Teacutecnicoa 1 Teacutecnicoa 2 Teacutecnicoa 3
c) Lideranccedilas (1 agrave 3) como Lideranccedila 1 Lideranccedila 2 Lideranccedila 3
Foram realizadas 16 entrevistas sendo sete com gestores das Secretarias Municipais
de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Desenvolvimento Urbano e Obras seis com
gestores e teacutecnicos da Funasa-SuestPE (02) do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e da CMT
Engenharia (04) e trecircs com lideranccedilas quilombolas nos meses de julho agosto e setembro de
2013 em Salgueiro e Recife (Quadro 2)
Quadro 2 - Mapeamento das entrevistas realizadas - setembro2013
ENTREVISTAS REALIZADAS Gestores da P MS - 07
(Grupo1)
Gestor e teacutecnicos do MI
e CMT - 04 (Grupo1)
Gestor e teacutecnico da
Funasa - 02 (Grupo1)
03 Lideranccedilas quilombolas
(Grupo 2)
Coordenaccedilatildeo do PSF de
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Direccedilatildeo da Vigilacircncia em Sauacutede
Direccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica (Ex-
Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo)
Coordenaccedilatildeo de Ensino da Sec
Municipal de Educaccedilatildeo
Secretaria de Desenvolvimento
Urbano e Obras
Secretaria de Desenvolvimento
Rural1
02 Gestor (MI e
CMT)
02 Teacutecnicos da CMT
Gestor da Sauacutede
Ambiental da Funasa
Teacutecnico da Diesp
Lideranccedila na Comunidade
de Contendas Tamboril e do
Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Salgueiro
Lideranccedila da Comunida-de
de Santana2
Lideranccedila da C de
Conceiccedilatildeo das Crioulas3
Fonte A autora 2013
Nota 1 Lideranccedila na Comunidade de Santana 2 Agente de Sauacutede ambiental da S Sauacutede
3 Diretor de Fomento
de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Desenvolvimento Rural
52
452 Grupo focal
Grupos focais satildeo grupos de discussatildeo que dialogam sobre um tema em particular ao
receberem estiacutemulos apropriados para o debate constituindo-se em uma teacutecnica amplamente
utilizada por se ter contato com a populaccedilatildeo que se quer investigar sendo uma
complementaccedilatildeo de um estudo qualitativo Desenvolvem-se mediante um guia de perguntas
que vatildeo do geral ao especiacutefico sendo coordenado por um moderador que estimula a
participaccedilatildeo desde o coletivo ao individual
Foram convidados a participar dos grupos focais lideranccedilas professores e moradores
das comunidades quilombolas Os grupos focais foram identificados no estudo a partir da
anaacutelise do discurso de Kvale como Grupo Focal 1 Grupo Focal 2 e Grupo Focal 3
Os grupos focais tiveram representaccedilotildees de cada segmento que de forma voluntaacuteria
foram convidados pelas lideranccedilas a reunir-se num mesmo momento em local dia e horaacuterio
definido pela comunidade
Ao todo participaram dos grupos focais 45 moradores das trecircs comunidades
quilombolas O Grupo Focal 1 - ocorrido em Conceiccedilatildeo das Crioulas - na tarde do dia 28 de
setembro de 2013 na sede da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) na
Vila Sede contou com 14 moradores o Grupo Focal 2 aconteceu no territoacuterio de
ContendasTamboril na manhatilde do dia 29 de setembro de 2013 na casa de uma moradora ao
lado da sede da associaccedilatildeo de moradores e contou com a presenccedila de 15 moradores e o
Grupo Focal 3 que foi realizado em Santana na tarde do dia 29 de setembro de 2013 na sede
da escola local - Siacutetio Recanto - e contou com a presenccedila de 16 moradores
Os grupos focais com a populaccedilatildeo quilombola abordaram os seguintes temas
percepccedilatildeo sobre o projeto da transposiccedilatildeo e os impactos mais significativos de vulneraccedilatildeo
socioambiental para as comunidades e territoacuterio o significado do rio Satildeo Francisco para a
comunidade e regiatildeo o conhecimento sobre o que foi realizado no acircmbito das accedilotildees de
educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental a partir da sondagem de dois programas baacutesicos
ambientais e o processo de construccedilatildeo de casas realizadas pela Funasa (importacircncia da
demanda envolvimento da comunidade se houve conflitos e como vem sendo enfrentados
adequaccedilatildeo das casas agraves necessidades de moradia local) - (Apecircndice C)
53
453 Dados secundaacuterios
4531 Levantamento documental
Os dados secundaacuterios foram obtidos atraveacutes de levantamento documental cujo
objetivo foi resgatar as principais informaccedilotildees referentes ao Projeto da transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco e as comunidades quilombolas em Pernambuco Documentos das esferas
governamentais e natildeo governamentais que tratem de poliacuteticas planos programas e projetos
onde aparecem questotildees da vulnerabilidade socioambiental implementaccedilatildeo e impactos do
Projeto da transposiccedilatildeo em aacutereas quilombolas situaccedilatildeo territorial os programas baacutesicos
ambientais e suas atividades educativas foram catalogadas para anaacutelise de conteuacutedo
As informaccedilotildees foram obtidas de acordo com Marconi e Lakatos (2006) de escritos
secundaacuterios transcritos de fontes primaacuterias contemporacircneas Documentos oficiais desde
relatoacuterios planos legislaccedilotildees publicaccedilotildees e materiais didaacuteticos sobre o Projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pertinentes aos temas da educaccedilatildeo em sauacutede educaccedilatildeo
ambiental impactos e demais conteuacutedos pertinentes agraves comunidades quilombolas foram
objeto de consulta para anaacutelise de conteuacutedo
Foram analisados diversos documentos relacionados ao Projeto da transposiccedilatildeo e aos
povos quilombolas Documentos oficiais de instituiccedilotildees governamentais como Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional SEPPIR FUNAI Funasa Fundaccedilatildeo Cultural Palmares Programa Brasil
Quilombola Incra legislaccedilotildees diversas e de entidades natildeo governamentais como Centro de
Cultura Luiz Freire ASA ACQEP dentre outras
Foi tomado como referecircncia o modelo de Laurence Bardin cuja funccedilatildeo primordial eacute o
desvendar criacutetico Para Bardin (2011) a anaacutelise de conteuacutedo ldquoeacute um conjunto de instrumentos
de cunho metodoloacutegico em constante aperfeiccediloamento que se aplicam a discursos (conteuacutedos
e continentes) extremamente diversificadosrdquo
Caracteriacutesticas como autenticidade credibilidade representatividade e significaccedilatildeo
(clareza) satildeo alguns dos atributos que conferem qualidade aos documentos como afirma
Flick (2009)
A avaliaccedilatildeo de dois Programas Baacutesicos Ambientais enquanto documentos oficiais foi
incluiacuteda no conjunto da anaacutelise documental Para avaliaccedilatildeo destes PBArsquos foi adotado o
meacutetodo de avaliaccedilatildeo centrado na anaacutelise criacutetica dos objetivos traccedilados por cada Programa
Esta abordagem se distingue pelo fato de que os propoacutesitos de uma atividade satildeo
especificados e a avaliaccedilatildeo concentra-se na medida em que esses propoacutesitos foram
54
alcanccedilados possibilitando mecanismos para determinar a realizaccedilatildeo das metas (WORTHEN
SANDERS FITZPATRICK 2004)
Para estes autores avaliaccedilatildeo eacute identificaccedilatildeo esclarecimento e aplicaccedilatildeo de criteacuterios
defensaacuteveis para determinar o valor (valor ou meacuterito) a qualidade a utilidade a eficaacutecia ou a
importacircncia do objeto avaliado em relaccedilatildeo a esses criteacuterios que precisa ser realizada a partir
de questotildees (WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004)
Foram avaliadas informaccedilotildees sobre Contexto Estrutura Processo e produto
A base documental nos possibilitou retratar as comunidades quilombolas do estudo
sem a pretensatildeo de esgotar toda a riqueza e diversidade das mesmas enriquecendo nossa
caracterizaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos sujeitos entrevistados e presentes nos grupos focais tendo
como ldquopano de fundordquo as marcas atuais com o projeto da transposiccedilatildeo
4532 Dados de questionaacuterio - CAP7
A abordagem quantitativa se deu por meio da utilizaccedilatildeo de variaacuteveis dos dados
secundaacuterios obtidos com a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio CAP instrumento adaptado a partir do
modelo desenvolvido por Lawrence Green y Marshall Kreuter (GREN KREUTER 1991)
O referido questionaacuterio denominado originalmente de CAHP (conhecimentos
atitudes habilidades e praacuteticas da popoulaccedilatildeo-alvo) eacute uma das ferramentas do modelo de
planejamento PRECEDE-PROCEDE proposta pelos autores e que foi aplicado em vaacuterias
partes do mundo para o desenvolvimento de programas educativos a partir dos anos de 1970
Esse modelo consiste aleacutem da fase diagnoacutestica de quatro fases de planejamento sendo uma
fase de implementaccedilatildeo e trecircs fases de avaliaccedilatildeo contida na etapa PROCEDE pensada em
reconhecimento agrave expansatildeo da educaccedilatildeo em sauacutede incluiacutedo a partir de 1991
O questionaacuterio CAP compotildee a fase PRECEDE por tratar-se de vaacuterias etapas
diagnoacutesticas sejam de caraacuteter social epidemioloacutegico ambiental educacional ecoloacutegico
poliacutetico e administrativo
A proposta do questionaacuterio foi apresentada agrave Equipe teacutecnica de Educaccedilatildeo em Sauacutede da
Funasa-Suest-PE em 2008 como ferramenta para anaacutelise diagnoacutestica junto agraves comunidades
onde haveria intervenccedilatildeo institucional pelo projeto da transposiccedilatildeo O questionaacuterio foi
aplicado em aacutereas com populaccedilotildees quilombolas e indiacutegenas com representantes das famiacutelias
7 Questionaacuterio CAP ndash Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da Comunidade instrumento aplicado com 287
moradores de comunidades quilombolas inseridas no PISF pela Equipe de Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental
(Saduc) da FunasaSuest-PE no periacuteodo de 2008 agrave 2010
55
que iriam ter suas casas substituiacutedas de taipa por alvenaria uma das ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo realizadas pelo MI ndash PISF contidas no PBA 17 um dos 38 Programas
Baacutesicos Ambientais
Neste estudo o questionaacuterio CAP foi utilizado para um diagnoacutestico educacional antes
de desenvolver e implementar planos de intervenccedilatildeo tendo sido aplicados 99 questionaacuterios
com moradores de Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e ContendasTamboril todas
comunidades quilombolas de Salgueiro contempladas com as obras realizadas pela Funasa-
SuestPE
Em relaccedilatildeo agrave comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pela sua extensatildeo territorial e
contingente populacional os dados obtidos com o CAP representam um consolidado de
questionaacuterios aplicados em quinze siacutetios visitados O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
conta com 21 subdivisotildees ou siacutetios aleacutem da Vila Centro ou Sede
Apoacutes aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios as informaccedilotildees analisadas foram devolvidas agraves
comunidades em oficinas educativas realizadas em 2011 pela FunasaSuest-PE (Setor de
Educaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental)
O questionaacuterio semi-estruturado continha perguntas sobre vaacuterios aspectos desde
questotildees ambientais mais especiacuteficas como a estrutura de saneamento baacutesico (aacutegua lixo
dejetos) a organizaccedilatildeo soacutecio-poliacutetica e comunitaacuteria o niacutevel de escolarizaccedilatildeo as formas de
trabalho e renda questotildees de sauacutede manifestaccedilotildees culturais formas de lazer e acesso agrave
informaccedilatildeo (Anexo A)
Para as trecircs aacutereas do estudo apresentamos aspectos considerados mais significativos
para caracterizaccedilatildeo geral das famiacutelias e do territoacuterio segundo respostas obtidas com o
questionaacuterio CAP enriquecendo com narrativas dos sujeitos e fontes documentais
Os objetivos especiacuteficos do estudo e as ferramentas teacutecnicas para consecuccedilatildeo dos
mesmos estatildeo representados no quadro 3 sintetizando as abordagens qualitativas e
quantitativas adotadas
56
Quadro 3 - Resumo das Teacutecnicas por objetivos TEacuteCNICA Objetivo1- Caracterizar o
Projeto da Transposiccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco
considerando a proposta oficial e a percepccedilatildeo dos
sujeitos
Objetivo2- Caracterizar as populaccedilotildees e os territoacuterios
das aacutereas quilombolas do
estudo
Objetivo3- Identificar a percepccedilatildeo dos sujeitos
quanto agrave vulneraccedilatildeo
decorrente da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco nos
territoacuterios quilombolas
Objetivo4-Avaliar as praacuteticas educativas e accedilotildees
implementadas pelo
projeto da transposiccedilatildeo para minimizar a
vulneraccedilatildeo
Levantamento
documental
Aspectos populaccedilatildeo
localizaccedilatildeo territorial questotildees ambientais
organizaccedilatildeo social e
poliacutetica questotildees culturais e de acesso a serviccedilos
Fontes IBGE relatoacuterios
do MIN EIARIMA
SEPPIR Fundaccedilatildeo
Cultural Palmares Centro
de Cultura Luiz Freire Secretarias Estadual e
Municipal de Sauacutede e Educaccedilatildeo (ACQPe)
Mapa de Injusticcedila Social
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe Funasa- dados Questionaacuterio CAPoutros)
Documentos oficiais e de
demais instituiccedilotildees CCLF Fundaccedilatildeo Cultural
Palmares Funasa
ACQPe artigos textos cientiacuteficos
Documentos oficiais do
MI da Funasa artigos textos cientiacuteficos
Entrevistas Gestores teacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT escritoacuterio
do Projeto em
Salgueiro ACQPe
lideranccedilas moradores
quilombolas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Gestoresteacutecnicos do
municiacutepio da Funasa
do MI e CMT
(escritoacuterio do Projeto
em Salgueiro) ACQPe
lideranccedilas
Grupos focais Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF) Lideranccedilaspopulaccedilatildeo
professores (03 GF)
Lideranccedilas populaccedilatildeo
professores (03 GF)
Fonte A autora 2014
46 PROCEDIMENTOS E TEacuteCNICA DE ANAacuteLISE DOS DADOS
A anaacutelise de conteuacutedo dos dados primaacuterios foi feita partir do que propotildee Kvale (1996)
O autor aponta cinco principais tipos de anaacutelise como a condensaccedilatildeo de significados a
categorizaccedilatildeo de significados a estrutura de significados atraveacutes da narrativa a interpretaccedilatildeo
de significados e o meacutetodo ad hoc de geraccedilatildeo de significados Dessas a condensaccedilatildeo de
significados eacute a mais utilizada e foi adotada nesse estudo (KVALE 1996)
A condensaccedilatildeo de significados consiste em condensar as passagens das entrevistas e
grupos focais que se relacionam a uma questatildeo especiacutefica do estudo passando a compor o
que o autor chama de Unidades Naturais de Anaacutelise mantidas na coluna da esquerda de um
quadro organizador Na coluna da direita desse mesmo quadro ficaratildeo os temas centrais que
consistem na apresentaccedilatildeo do tema que dominam as unidades naturais relacionadas agraves
passagens condensadas na coluna da esquerda No mesmo quadro abaixo das duas colunas
seraacute feita uma descriccedilatildeo essencial da questatildeo da pesquisa com a interpretaccedilatildeo do
pesquisador sobre os aspectos trazidos pelos entrevistadosas (KVALE 1996)
A representaccedilatildeo do modelo proposto estaacute contida no quadro 4
57
Quadro 4 - Modelo adaptado de Kvale
Questatildeo de Pesquisa
Unidades Naturais de Anaacutelise Temas Centrais
Trechos da entrevista e grupo focal relacionados agrave
pergunta da pesquisa
Apresentaccedilatildeo do tema que domina a unidade
natural conforme a compreensatildeo do pesquisador
e da forma mais simples possiacutevel
Descriccedilatildeo Essencial da questatildeo de pesquisa
Descriccedilatildeo de todos os temas abordados na entrevista e grupo focal conforme a interpretaccedilatildeo do pesquisador
acerca da questatildeo comentada pelo entrevistado e participante do grupo focal
Fonte Gurgel (2007)
Esta anaacutelise foi aplicada aos dados qualitativos provenientes das entrevistas (gestores
teacutecnicos e lideranccedilas) e dos grupos focais (moradores professores e lideranccedilas quilombolas)
tatildeo logo foi feita a transcriccedilatildeo dos conteuacutedos gravados A leitura do material transcrito
permitiu identificar a percepccedilatildeo de gestores e quilombolas quanto aos aspectos relacionados
nos itens 451 e 452
A anaacutelise documental dos conteuacutedos do material selecionado teve como referecircncia o
modelo definido por Bardin (2011) Centrada em documentos foi feita uma classificaccedilatildeo e
indexaccedilatildeo com o objetivo de se obter uma representaccedilatildeo condensada da informaccedilatildeo para
consulta e armazenagem Os criteacuterios apontados por Bardin para organizaccedilatildeo de uma anaacutelise
satildeo preacute-anaacutelise exploraccedilatildeo do material e o tratamento dos resultados - codificaccedilatildeo e
inferecircncia (SANTOS F M 2012) O quadro 5 resume os aspectos de cada criteacuterio de anaacutelise
Quadro 5 - Modelo adaptado de Bardin
Anaacutelise de Conteuacutedo
Preacute-anaacutelise Exploraccedilatildeo do Material Tratamento Dos resultados
-Organizaccedilatildeo de material
(corpus da pesquisa)
-ObservarrarrExaustividade
representatividade
homogeneidade
pertinecircncia exclusividade
-ldquoLeitura flutuanterdquo rarr
organizaccedilatildeo de iacutendice com
formulaccedilatildeo de
pressupostos a serem
confirmados ou natildeo ao final
do estudo
-Codificaccedilatildeo dos dados e agregados
em unidades de registro (tema
palavra ou frase)
-Enumeraccedilatildeo de regrasrarr a
presenccedila ou ausecircncia de elementos
ou unidades de registros
-Outros fatoresrarr frequecircncia
intensidade medida atraveacutes dos
tempos dos verbos direccedilatildeo
(favoraacutevel neutra ou desfavoraacutevel)
ordem estabelecida e concorrecircncia
(presenccedila simultacircnea de 2 ou mais
unidades de registro)
-Categorizaccedilatildeo por criteacuterios de semacircntica (temas)
sintaacutetico (verbos adjetivos e pronomes) leacutexico
(sentido e significado das palavras) e expressivo
(variaccedilotildees na linguagem e na escrita)
-Organizaccedilatildeo das informaccedilotildees em 2 etapasrarr
inventaacuterio (isolam-se elementos comuns) e
classificaccedilatildeo (divide-se elementos e impotildeem- se
organizaccedilatildeo)
-Inferecircnciararrorientada por diversos poacutelos de
comunicaccedilatildeo (emissor receptor mensagem e
canal)
-Interpretaccedilatildeo dos dados rarr retornar ao referencial
teoacuterico
- Ferramenta tecnoloacutegica (computador) rarr p
anaacutelise profunda dos dados
-Possiacuteveis teacutecnicas anaacutelise categorial de
avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo de expressatildeo e das
relaccedilotildees
Fonte Santos M (2012)
A anaacutelise de dados dos questionaacuterios CAP se deu por meio da Estatiacutestica Descritiva
teacutecnica realizada para o tratamento de dados secundaacuterios com apresentaccedilatildeo por meio de
tabelas
58
As principais categorias de anaacutelise referidas neste estudo foram vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo - com o olhar sobre especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos
sauacutede relaccedilotildees familiares) acesso a serviccedilos e poliacuteticas especiacuteficas problemas ambientais
situaccedilatildeo de rendatrabalho e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica territoacuterio espaccedilo lugar e paisagem
ndash com o olhar sobre as mudanccedilas nas aacutereas quilombolas as alteraccedilotildees percebidas e existentes
a partir do projeto conteuacutedos praacuteticas e processos da educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental onde as propostas e accedilotildees dos programas baacutesicos ambientais foram descritas
considerando especificidades eacutetnicas (cultura educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede) para
compreender como estaacute sendo desenvolvido o Programa as accedilotildees implantadas modalidade e
niacuteveis de participaccedilatildeo percepccedilatildeo dos sujeitos quanto agrave educaccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo
ambiental o significado do rio Satildeo Francisco situaccedilotildees - educaccedilatildeo e sauacutede sauacutede ambiente
Projeto da transposiccedilatildeo cultura poder acesso participaccedilatildeo especificidades eacutetnicas (cultura
educaccedilatildeo rituais religiosos sauacutede relaccedilotildees familiares) e organizaccedilatildeo sociopoliacutetica
Para operacionalizaccedilatildeo das avaliaccedilotildees de cada PBA foram trabalhadas quatro
categorias agrave luz da metodologia sugerida por Worthen Sanders e Fitzpatrick (2004)
As categorias foram avaliadas quanto a sua adequaccedilatildeo ao problema e para cada uma
delas foi feito o exerciacutecio de identificaccedilatildeo de elementos criacuteticos construiacutedo por meio das
entrevistas grupos focais referenciais teoacutericos e relatoacuterios do projeto Cada uma destas
categorias apresenta um nuacutemero diversificado de variaacuteveis a serem avaliadas (Quadro 6)
Quadro 6 - Categorias de Avaliaccedilatildeo dos PBAs
Avaliaccedilatildeo do Contexto Categorias de anaacutelise Pontos Criacuteticos
Justificativa Populaccedilatildeo territoacuterio Objetivos
geral e especiacuteficos
Metas Indicadores Atividades
Identificados por meio das
entrevistas grupos focais
referenciais teoacutericos e relatoacuterios
do projeto da transposiccedilatildeo Avaliaccedilatildeo de Estrutura Recursos Humanos Recursos Materiais
Recursos Financeirosorccedilamento
Avaliaccedilatildeo de Processo Implantaccedilatildeo Falhas
Procedimentos (meacutetodo)
Avaliaccedilatildeo de Produto Resultadosdesdobramentos
Fonte Modelo adaptado de Worthen et al (2004)
47 CONSIDERACcedilOtildeES EacuteTICAS
O presente estudo compotildee o Projeto de Pesquisa Impactos do projeto de integraccedilatildeo
do Rio Satildeo Francisco sob coordenaccedilatildeo do pesquisador Andreacute Monteiro Costa doutor em
sauacutede puacuteblica do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhatildees (CPqAMFiocruzMS) tendo sido
59
aprovado pelo Processo CAAE 13474513400005190 no Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do
CPqAM segundo a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de SauacutedeCNS nuacutemero 19696 a qual
estabelece diretrizes e Normas Reguladoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos
Toda pesquisa envolvendo seres humanos acarreta riscos Neste estudo a relaccedilatildeo com
os sujeitos se deu a partir de entrevistas e realizaccedilatildeo de grupos focais Estima-se que os riscos
quanto agraves dimensotildees fiacutesica psiacutequica moral intelectual social cultural ou espiritual seratildeo
minimizados os quais conforme a Resoluccedilatildeo 19696 (inciso V-1a) satildeo admissiacuteveis quando
oferecem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender prevenir ou aliviar um
problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa Por envolver comunidades o estudo
esteve atento ao inciso III - 31 Resoluccedilatildeo 19696 que preconiza respeitar sempre os valores
culturais sociais morais religiosos e eacuteticos bem como os haacutebitos e costumes
Como provaacuteveis benefiacutecios para populaccedilatildeo do estudo espera-se que o conhecimento
produzido contribua para a percepccedilatildeo criacutetica e identificaccedilatildeo de situaccedilotildees de vulnerabilidade e
vulneraccedilatildeo as quais as populaccedilotildees quilombolas estatildeo submetidas com o projeto da
transposiccedilatildeo a compreensatildeo dos processos educativos desenvolvidos pelas accedilotildees de educaccedilatildeo
em sauacutede e educaccedilatildeo ambiental e de obras implementadas pelos PBArsquos seus desdobramentos
e resultados para mitigar impactos do projeto da transposiccedilatildeo nas aacutereas quilombolas maior
clareza quanto a compreensatildeo dos reais objetivos do projeto da transposiccedilatildeo identificaccedilatildeo
dos noacutes criacuteticos ao processo de regularizaccedilatildeo das terras quilombolas
Para os envolvidos no estudo foi obtido o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) apresentado natildeo oportunidade a justificativa objetivos e procedimentos
utilizados na pesquisa Todo cuidado foi tomado para proteger e preservar os sujeitos com o
anonimato e sigilo necessaacuterio nos momentos de entrevista e grupos focais respeitando o
viacutenculo de confianccedila estabelecido
Este projeto consta de dois tipos de TCLEs um direcionado agrave populaccedilatildeo quilombola
(Apecircndice D) e outro aos Gestores e Teacutecnicos dos niacuteveis Federal Estadual e Municipal
(Apecircndice E)
60
5 O PROJETO DA TRANSPOSICcedilAtildeO E O RIO SAtildeO FRANCISCO - DISCURSO
OFICIAL ASPECTOS CRIacuteTICOS PERCEPCcedilAtildeO DOS SUJEITOS
[] Eacute o projeto do governo federal Cuja aacutegua
natildeo chegaraacute ao pobre
A miacutedia a serviccedilo Isso encobre
Deixando a situaccedilatildeo normal
Tudo isso eacute injusticcedila social
A maior parte do projeto eacute irrigaccedilatildeo
No sertatildeo produzir ateacute marisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O Nordeste brasileiro vive haacute seacuteculos o contexto da seca e suas consequecircncias Afirma
Silva A (2011) que a ideia de transpor aacuteguas do Rio Satildeo Francisco remonta haacute mais de um
seacuteculo e segundo a autora
Surge pela primeira vez no seacuteculo XIX num ambiente em que a seca do Nordeste
Brasileiro jaacute contribuiacutea como hoje para o agravamento das mazelas sociais daquela
regiatildeoComo eacute de consenso sabemos que a seca no nordeste eacute uma parte dos grandes
problemas do nosso paiacutes e tambeacutem objeto de anaacutelise e controveacutersias (SILVA A
2011)
Houve trecircs momentos entre o final do seacuteculo XIX e todo o seacuteculo XX em que foi
travado debate sobre a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco Nos dois primeiros momentos -
entre 1882 e 1985 e entre 1993 e 1994 questotildees poliacutetico eleitorais predominaram
provocando criacuteticas da Companhia Hidro Eleacutetrica do Satildeo Francisco (CHESF) por falta de
fundamentaccedilatildeo e consistecircncia teacutecnica principalmente pela retirada de aacutegua do rio
considerada absurda (300 a 500msup3s) (ANDRADE 2002) Mas eacute no ano de 1847 que pela
primeira vez eacute elaborada a ideia da transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco apresentada
pelo engenheiro Marcos de Macedo ao Parlamento e tambeacutem ao Imperador Pedro II poreacutem
natildeo obteve apoio (CAULA MOURA 2006 apud SILVA A 2011)
A ideia oficial do projeto de transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco originada durante o
Impeacuterio foi elaborada como resposta agrave calamidade provocada pela grande seca daquele
seacuteculo que levou agrave morte quase dois milhotildees de habitantes do Nordeste Essa resposta foi
apresentada pela Comissatildeo Cientiacutefica de Exploraccedilatildeo chefiada pelo engenheiro e fiacutesico
brasileiro Guilherme Schuch de Capanema o Baratildeo de Capanema com a proposta de
construccedilatildeo de accediludes e a integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com os rios do Nordeste
Setentrional Eacute construiacutedo entatildeo em 1884 o primeiro Accedilude no Cearaacute (em Quixadaacute)
61
inaugurado entretanto 22 anos apoacutes quando foi criada a Inspetoria Federal de Obras contra a
Seca (IFOCS) (LIMA L 2005)
A temaacutetica da transposiccedilatildeo passa entatildeo a fazer parte da mente e imaginaccedilatildeo natildeo
apenas de engenheiros mas de intelectuais como Euclides da Cunha e em diversos governos
da Repuacuteblica projetos para transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco passam a ser elaborados
(MELLO 2004 apud SILVA A 2011)
Apesar dos projetos elaborados por governos da Repuacuteblica para a transposiccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco eacute a partir de meados do seacuteculo XX que interferecircncias sistemaacuteticas do Estado
Brasileiro na regiatildeo do semiaacuterido satildeo observadas como por exemplo a destinaccedilatildeo de
porcentagem de rendas tributaacuterias federais em projetos de aproveitamento do potencial
econocircmico do rio Satildeo Francisco e afluentes como definido na Constituiccedilatildeo de 1946 (SILVA
A 2011)
Tambeacutem nesta eacutepoca em virtude dos periacuteodos de seca que agravavam a situaccedilatildeo das
populaccedilotildees mais pobres o movimento a favor da transposiccedilatildeo conquista adeptos O projeto de
autoria do engenheiro Maacuterio Ferracuti propondo a construccedilatildeo de barragem para represar o
Satildeo Francisco perto de Cabroboacute (PE) cujo propoacutesito seria bombear aacutegua para o Cearaacute e o Rio
Grande do Norte ganha ampla divulgaccedilatildeo em 1958 (MELLO 2004 COELHO 2004 apud
SILVA A 2011)
A partir dos anos de 1980 as iniciativas poliacuteticas referentes a projetos para o rio Satildeo
Francisco se intensificaram Debates e ideias a respeito da transposiccedilatildeo se deram em
momentos como candidaturas eleitorais indiretas agrave presidecircncia da repuacuteblica como no caso do
entatildeo candidato Maacuterio Andreazza em 1983 que incluiu em sua plataforma poliacutetica o projeto
da transposiccedilatildeo poreacutem derrotado o mesmo ficou no esquecimento
No iniacutecio dos anos de 1990 a proposta foi retomada pelo Ministro da Integraccedilatildeo
Nacional do governo de Itamar Franco o Sr Aluiacutesio Alves com o projeto de construccedilatildeo de
um canal em Cabroboacute Mas o TCU e o Ministeacuterio da Agricultura natildeo aprovam o projeto
Ainda nos anos de 1990 eacute organizado na Cacircmara dos Deputados Federais o grupo de
trabalho - A transposiccedilatildeo das Aacuteguas do Rio Satildeo Francisco que passa a ser conhecido como
ldquoProjeto Satildeo Franciscordquo Em 1994 no Governo de Fernando Henrique Cardoso eacute feito um
redesenho do projeto pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do Satildeo Francisco e do
Parnaiacuteba (CODEVASF) que irrigaria o semiaacuterido com obras para serem efetivadas em 25 a
30 anos Este projeto final foi estruturado sob responsabilidade do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundaccedilatildeo de Ciecircncia
Aplicaccedilotildees e Tecnologia Espaciais (FUNCATE) Visto pelo governo Fernando Henrique
62
Cardoso como soluccedilatildeo consistente para o problema da seca no semiaacuterido nordestino o projeto
da transposiccedilatildeo provocou e provoca disputas poliacuteticas e concepccedilotildees distintas de agentes
sociais sobre o que eacute ou poderia ser o rio Satildeo Francisco Tais concepccedilotildees estatildeo presentes nos
debates sobre a estruturaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do projeto apontando olhares que compotildeem
constroem e produzem distintos objetos para o futuro do rio Satildeo Francisco (SILVA A
2011)
Sempre com a justificativa de que o projeto iria resolver os problemas provocados
pela seca no nordeste a ideia da transposiccedilatildeo renasce nos vaacuterios governos e mesmo natildeo
estando nas campanhas eleitorais dos governos anteriores tambeacutem natildeo se encontrava na
campanha do Governo do Presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva que aprovou e deu iniacutecio a
implementaccedilatildeo do mesmo
O projeto vai renascer das cinzas pautado num discurso salvacionista e
desenvolvimentista e passa a integrar o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento -
PAC aleacutem de novamente trazer agrave discussatildeo nacional as opiniotildees diversas e
contraditoacuterias sobre o projeto (SILVA A 2011 p 5)
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrional-PISF foi apresentado pelo Governo Lula como a soluccedilatildeo para a inseguranccedila
hiacutedrica no Semiaacuterido Eacute um empreendimento que se apresenta com o principal objetivo de
assegurar a oferta de aacutegua em 2025 a cerca de 12 milhotildees de habitantes de 390 municiacutepios de
pequenas meacutedias e grandes cidades da regiatildeo semiaacuterida dos estados de Pernambuco Cearaacute
Paraiacuteba e Ria Grande do Norte Em suma segundo documentos oficiais eacute garantir a oferta de
aacutegua para uma populaccedilatildeo e uma regiatildeo que sofrem com a escassez e a irregularidade das
chuvas (BRASIL 2004c p 9)
O Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) confirma que jaacute no Brasil-Colocircnia foram
escritos os primeiros relatos sobre a seca no Nordeste que falam das migraccedilotildees para regiotildees
natildeo afetadas pela falta drsquoaacutegua Ressalta que a regiatildeo do Projeto encontra-se na aacuterea do
chamado Poliacutegono das Secas sendo que o Nordeste Setentrional (parte do Semiaacuterido ao norte
do rio Satildeo Francisco) eacute a aacuterea que mais sofre os efeitos de secas prolongadas abrangendo
parcialmente os Estados de Pernambuco Cearaacute Paraiacuteba e Rio Grande do Norte (BRASIL
2004c)
Entretanto assessores ligados agrave Articulaccedilatildeo no Semi-aacuterido Brasileliro (ASA8)
afirmam que ldquoo problema da regiatildeo natildeo eacute a falta de aacutegua mas sim seu mau gerenciamento
8 ASA - Rede formada por mil organizaccedilotildees da sociedade civil que atuam na gestatildeo e no desenvolvimento de
poliacuteticas de convivecircncia com a regiatildeo semiaacuterida se consolida enquanto articulaccedilatildeo em Foacuterum Paralelo da
63
Natildeo adianta simplesmente ter aacutegua precisa ter abastecimento e descentralizaccedilatildeo Hoje 70
dos accediludes do nordeste satildeo privatizadosrdquo (MERLINA 2007 p 11)
O principal objetivo do projeto da transposiccedilatildeo apontado pelo governo estaacute presente
na compreensatildeo de entrevistados seja com esperanccedila com criacuteticas com duacutevidas
Eu acho que a questatildeo desse projeto ele eacute uma situaccedilatildeo que traz um certo conflito de
ideias assim o rio Satildeo Francisco eacute como se fosse sagrado e ele eacute importantiacutessimo
e esse projeto que eacute antigo oferece a perspectiva de melhorar a qualidade de vida
dessas populaccedilotildees Aiacute fica aquele conflito entre mexer naquilo que eacute sagrado e ser
realmente beneficiado pela aacutegua do rio Satildeo Francisco Porque eacute muita tecnologia
vocecirc transformar um rio trazer um rio eacute como se vocecirc pegasse e fizesse uma
sangria no rio (Gestora 8)
[] Olha o projeto em si eacute um projeto muito grande que a gente natildeo tem muitos
meios principalmente teacutecnico para ter o conhecimento para falar e aprofundar esse
projeto mas a expectativa eacute que ele traga algo [] Gera uma expectativa de
melhorias mas que a gente natildeo sabe o que pode acontecer [] O que diz no projeto
eacute que a aacutegua vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos
animais mas assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas
plantam e aiacute precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
[] soacute se for laacute para o final dele porque pra noacutes aqui eu natildeo acredito que traga essas
coisas de valor natildeo Porque jaacute que a gente natildeo vai ser abastecido com ele com a
aacutegua dele qual eacute o futuro que vai ter pra noacutes Natildeo acredito natildeo (Grupo Focal 2)
A percepccedilatildeo geral dos sujeitos entrevistados eacute de que o Projeto da transposiccedilatildeo eacute um
projeto imposto que teve que ser aceito sem o devido preparo do municiacutepio das suas
comunidades quilombolas e populaccedilatildeo rural diretamente afetadas
Quando eu recebi jaacute foi assim toma recebe eacute isso aqui chegou e agora tu tem que
acolher Eacute dessa forma que eu vejo Talvez ateacute eu esteja equivocada o prefeito tenha
recebido convite e tudo natildeo sei mas pelo menos da minha parte eu percebi isso
Natildeo de jeito nenhum [] Eles chegaram se instalaram e contrataram essa empresa
que eacute a CMT E aiacute tem essa empresa contratada com pessoas que satildeo da regiatildeo mas
muitas natildeo satildeo aqui de Salgueiro principalmente os que estatildeo aqui Acho que o
municiacutepio natildeo estava preparado pra receber tambeacutem (Gestora 5)
[] Quando a gente vecirc que a gente vive no semiaacuterido tem essa dificuldade de
conveniecircncia com o semiaacuterido mas a gente vecirc que natildeo foi um projeto que foi
escolhido pelo menos dada agrave opiniatildeo do povo escolhido pelo povo ele veio de
cima pra baixo (Gestora 2)
Com orccedilamento previsto para R$ 46 bilhotildees em 2007 o projeto vem sofrendo
reajustes anuais passando em 2009 a custar R$ 52 bilhotildees em 2011 aumentou para R$ 68
bilhotildees chegando em 2012 a R$ 82 bilhotildees o que significa um aumento de 80 do valor
Sociedade Civil realizado em 1999 durante a 3ordf Conferecircncia das Partes da Convenccedilatildeo de Combate agrave
Desertificaccedilatildeo e agrave Seca (COP3) ocorrida em Recife
64
inicial da obra O governo federal argumenta que os reajustes se deram em funccedilatildeo da
necessidade de detalhamento no projeto executivo que desenvolvido ao longo da obra
incorreu em grande discrepacircncia com o projeto baacutesico (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O custo elevado do projeto suscita criacuteticas e questionamentos demonstrando o
descreacutedito com a eficiecircncia e eficaacutecia do governo e a falta de responsabilidade ambiental
[] E eacute muito dinheiro a gente vecirc falar em tantos zerinhos e ai seraacute que vai ser
concluiacuteda mesmo essa obra Seraacute que natildeo vai ser uma obra faraocircnica que vai ficar
aiacute Seraacute que vai trazer os benefiacutecios seraacute que vai chegar ateacute o final E depois que
chegar ateacute o final quanto tempo seraacute que o rio vai conseguir sustentar essa obra pra
valer a pena o tanto de dinheiro que foi gasto (Lideranccedila 1)
Ao longo de quase sete anos com menos da metade das obras concluiacutedas o projeto
sofreu vaacuterias paralisaccedilotildees e vem sendo justificadas pelo governo por diversas dificuldades em
sua execuccedilatildeo que vatildeo desde o excessivo parcelamento ou fragmentaccedilatildeo com 57 contratos e
90 empresas a serem gerenciadas pela necessidade de incremento nos quantitativos e de
adiccedilatildeo de serviccedilos novos associada agraves dificuldades para negociaccedilatildeo de aditivos culminando
com a paralisaccedilatildeo de vaacuterios lotes no final de 2010 e iniacutecio de 2011 pelas dificuldades na
articulaccedilatildeo interinstitucional para resolver os problemas de interferecircncias e desapropriaccedilotildees
aleacutem do quadro de servidores do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional insuficiente para
execuccedilatildeo do empreendimento (BRASIL 2012)
No entanto questionamos se um projeto nas dimensotildees e complexidade do projeto da
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco poderia ser iniciado sem a atualizaccedilatildeo e revisatildeo do seu
projeto baacutesico elaborado ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso
Em defesa da sua gestatildeo de governo o entatildeo Ministro da integraccedilatildeo Fernando
Bezerra Coelho argumenta que a legislaccedilatildeo natildeo define regras muito claras para elaboraccedilatildeo do
projeto baacutesico e que ldquoapesar de cumprida toda legislaccedilatildeordquo eacute uma obra de engenharia
complexa Em contrapartida o Ministro do TCU Raimundo Carrero apresenta outros
argumentos contraacuterios ao do Ministro da Integraccedilatildeo afirmando que a lei de licitaccedilatildeo de
contratos eacute clara e que no artigo 6ordm haacute vaacuterios incisos detalhando o que eacute um projeto baacutesico
Acrescenta que um projeto baacutesico mal feito deficiente e sem planejamento tem como
resultado obras paralisadas obras mal feitas de maacute qualidade e sem o resultado esperado pela
populaccedilatildeo O que na praacutetica vem ocorrendo com o projeto da transposiccedilatildeo
(TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
Exemplo de mal planejamento e descaso neste projeto foi o desabamento de um tuacutenel
em um dos lotes das obras da transposiccedilatildeo em abril de 2011 apoacutes terem sido cavados 112
65
metros de profundidade O desabamento natildeo provocou nenhum acidente natildeo havendo
feridos mas as obras ficaram paralisadas por um ano e meio representando grande prejuiacutezo
aos cofres puacuteblicos (TRANSPOSICcedilAtildeO 2013)
O projeto da transposiccedilatildeo jaacute foi alvo de vaacuterias denuacutencias e desde 2005 o Tribunal de
Contas da Uniatildeo (TCU) encontra irregularidades que chegam a R$ 734 milhotildees O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo Nacional teve que investigar contratos que natildeo foram honrados pagamentos
duplicados por obras superfaturamento e pagamentos de serviccedilos natildeo executados
A lentidatildeo e interrupccedilatildeo das obras aparece como mais um fator de descreacutedito quanto
aos ldquobenefiacuteciosrdquo do projeto aumento de inseguranccedila na vida das populaccedilotildees e prejuiacutezo para
comunidade que arca com o dinheiro destinado ao projeto
[] eu acho que por mais que as pessoas falem divulguem faccedilam muita
propaganda natildeo assim eu proacutepria natildeo tenho domiacutenio o que vai significar isso []
O que eu acho ruim eacute que a obra eacute muito lenta vocecirc natildeo vecirc o resultado aiacute isso
tambeacutem desanima as pessoas natildeo eacute Eu acho que se ela tivesse seguido o ritmo que
ela tinha iniciado jaacute tivesse algum resultado aiacute as pessoas podiam ter uma posiccedilatildeo
e ter uma expectativa ou se organizar contra ou a favor aiacute deixa todo mundo nessa
coisa mexeu com a rotina das cidades As cidades tinham muita gente do exeacutercito
No sertatildeo melhorou e tal mas deu uma parada agora Natildeo sei Vocecirc indo no sertatildeo
vocecirc vecirc que estaacute uma situaccedilatildeo ruim nesse sentido deu uma quebra (Gestora 8)
[] E outra coisa teve um tempo atraacutes que ela fez uns trechos ai que ela fez que
com o tempo por ela ter sido parada foi prejudicada e teve que ser feito de novo neacute
[] E isso sai caro praacute comunidade porque queira ou natildeo queira esse dinheiro sai do
nosso bolso porque quem paga essa obra aiacute eacute noacutes neacute Tudo que noacutes compra tem um
imposto e o imposto vai praacute laacute pra de laacute vim dinheiro para esse pessoal Aiacute
complica [] (Grupo Focal 3)
O Projeto da transposiccedilatildeo inclui obras de infra-estrutura hiacutedrica em dois sistemas
independentes denominados Eixo Norte e Eixo Leste que captaratildeo aacutegua do rio Satildeo Francisco
entre as barragens de Sobradinho (Eixo Norte) e Itaparica (Eixo Leste) no Estado de
Pernambuco Os sistemas compostos de canais estaccedilotildees de bombeamento de aacutegua pequenos
reservatoacuterios e usinas hidreleacutetricas para auto-suprimento iratildeo atender agraves necessidades de
abastecimento de municiacutepios do semiaacuterido do Agreste Pernambucano e da Regiatildeo
Metropolitana de Fortaleza afirmam os documentos oficiais As bacias hidrograacuteficas
beneficiadas satildeo do rio Jaguaribe no Cearaacute do rio Piranhas-Accedilu na Paraiacuteba e Rio Grande do
Norte do rio Apodi no Rio Grande do Norte do rio Paraiacuteba na Paraiacuteba dos rios Moxotoacute
Terra Nova e Briacutegida em Pernambuco na bacia do rio Satildeo Francisco O chamado Eixo Norte
abrange 222 municiacutepios afetando 71 milhotildees de pessoas e o Eixo Leste satildeo 168 municiacutepios
afetando 49 milhotildees de pessoas (BRASIL 2004c p 3)
66
A aacuterea de abrangecircncia do Projeto foi categorizada em trecircs unidades de anaacutelise de
acordo com a distribuiccedilatildeo e intensidade dos impactos previsiacuteveis relacionados ao mesmo
Foram consideradas Aacuterea de Influecircncia Indireta (AII) onde ocorrem os efeitos indiretos da
integraccedilatildeo das aacuteguas Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) onde se datildeo principalmente as
transformaccedilotildees ambientais diretas decorrentes do empreendimento e Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) onde se datildeo os contatos diretos entre as estruturas fiacutesicas do
Empreendimento (canais reservatoacuterios estaccedilotildees de bombeamento etc) e a regiatildeo onde ele
estaacute implantado sendo definida como uma faixa ao longo das estruturas do Projeto com 5 km
de largura para cada lado (BRASIL 2004c)
A AID abrange o conjunto das aacutereas dos municiacutepios atravessados pelos Eixos de
conduccedilatildeo da aacutegua perfazendo um total de 86 municiacutepios sendo 16 em Pernambuco 30 na
Paraiacuteba 19 no Rio Grande do Norte e 21 no Cearaacute (BRASIL 2004c)
Figura 1 - Aacuterea de abrangecircncia do PISF conforme AID AII e ADA
Fonte RIMA do Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (BRASIL 2004)
Contraacuterio ao projeto da transposiccedilatildeo Suassuna (2009) fundamenta sua posiccedilatildeo a partir
do que argumenta Alberto Darker que diz existirem trecircs condiccedilotildees baacutesicas que justificam a
transposiccedilatildeo de aacuteguas de um rio existirem uma bacia com muita aacutegua sobrando e terras e
relevo que natildeo sirvam para irrigaccedilatildeo outra bacia com terras irrigaacuteveis mas com carecircncia de
aacutegua e uma relaccedilatildeo custo-benefiacutecio viaacutevel para a realizaccedilatildeo da obra No caso da transposiccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco as trecircs natildeo se enquadram tendo em vista haver demanda por aacutegua nas
terras cultivaacuteveis proacuteximas ao rio existir aacutegua na regiatildeo das bacias receptoras faltando
apenas o estabelecimento de uma poliacutetica eficiente para a sua distribuiccedilatildeo e posterior
86 Municiacutepios PE 16 PB 30 RN 19 CE 21
67
consumo das populaccedilotildees e por uacuteltimo faltar sustentaccedilatildeo energeacutetica e financeira para a
execuccedilatildeo da obra (SUASSUNA 2009 p 200)
Como projeto polecircmico haacute narrativas de que as obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias
para regiatildeo do sertatildeo apesar dos impactos gerados
Eacute polecircmico natildeo eacute mas natildeo vou entrar acho que de forma geral eu acho que as
obras satildeo importantes satildeo necessaacuterias pra essa regiatildeo do sertatildeo regiatildeo do
semiaacuterido muita seca e tal eu acho que elas satildeo necessaacuterias e acho que tem gerado
impactos positivos e negativos claro como todo projeto grandioso feito esse neacute
[] (Gestora 6)
[] Existem muitos impactos ambientais a gente sabe disso [] O projeto natildeo foi
concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo menos quando
tiver aacutegua as pessoas possam usar (Gestora 2)
Eacute visto como um projeto que mexe com o imaginaacuterio das pessoas por haver um rio
imenso que vai ser ldquomexidordquo e que cria uma expectativa irreal
Eu acho que esse projeto ele tem uma caracteriacutestica muito interessante porque ele
mexe com o imaginaacuterio das pessoas que eacute um rio imenso que vai ser mexido o
corpo dele vai ser mexido neacute E as pessoas ficam muito assim numa expectativa
que natildeo eacute real Eu lembro que nessas primeiras reuniotildees todos tanto os quilombolas
quanto os indiacutegenas eram contra a transposiccedilatildeo do rio neacute Foi na eacutepoca que ainda
estavam aquelas manifestaccedilotildees e tal (Gestora 8)
As informaccedilotildees repassadas satildeo poucas e natildeo se sabe a sustentabilidade do Projeto para
o rio Haacute muitas promessas feitas pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo em reuniotildees com as
comunidades quilombolas natildeo cumpridas ateacute o momento
Natildeo eu acho que tem ponto positivo inclusive eu disse eu sou a favor do
progresso Eu acho que a gente precisa progredir mesmo mas a gente natildeo pode
perder a nossa cultura (Gestora 5)
Mas assim eu destaco por exemplo o municiacutepio de Salgueiro eacute um municiacutepio que
hoje tem outra visibilidade ele tem o desenvolvimento que a gente percebe muito
claramente a partir das obras (Gestora 6)
[] No comeccedilo eles viram como seria uma coisa interessante mas quando foi pra
praacutetica eacute um negoacutecio que eles perceberam que natildeo era porque se eles assumissem a
promessa era interessante Mas o pior eacute que haacute a promessa muito deles falam que
vai indenizar tambeacutem natildeo chegaram nem a indenizar e a questatildeo do compromisso
com a aacutegua que ia ter aacutegua 24h por dia que iam abastecer [] Por isso eu lhe digo
o Projeto Satildeo Francisco seria bom se assumisse os compromissos mas haacute muita
promessa na hora quando chega mas no decorrer do tempo isso eacute esquecido e o
povo que entraram na onda eacute que fica sofrendo [] no aspecto midiaacutetico ele eacute
colocado como uma coisa muito positiva que seria muito bom Assim eu jaacute ouvi eu
natildeo sei tenho pouco conhecimento que esse projeto tambeacutem natildeo iria nem beneficiar
o pessoal do semiaacuterido na verdade ele ia beneficiar criadores de camarotildees que
68
estariam laacute no Rio Grande do Norte Entatildeo seria mais um meio do agronegoacutecio
(Grupo Focal 1)
Haacute narrativas que demonstram uma esperanccedila de que o projeto da transposiccedilatildeo seja
uma soluccedilatildeo como primeira necessidade ao problema de aacutegua na regiatildeo para o
abastecimento humano principalmente para populaccedilatildeo da zona rural mas que tambeacutem atenda
outras demandas
Ele traz em si a ideia da gente pelo menos solucionar a questatildeo de abastecimento
de aacutegua e aiacute a gente tem esse abastecimento de aacutegua urbano essa eacute a primeira ideia
E no segundo momento pensar a utilizaccedilatildeo dessa aacutegua tambeacutem com outras
utilidades Mas natildeo podemos negar que o abastecimento humano eacute o principal
objetivo para quem estaacute aqui na regiatildeo do sertatildeo pra quem convive e tem ideia do
que eacute o periacuteodo de seca de estiagem nessa regiatildeo [] (Gestora 1)
[] agora se vai ter essa aacutegua que vai atravessar o Pernambuco eu acho que se vier
pra caacute se pensar uma maneira de trazer jaacute que ela passa em Salgueiro tirar a aacutegua
para abastecer a zona rural de Salgueiro do proacuteprio municiacutepio Eu acho que eacute
interessante isso aiacute (Grupo Focal 1)
Haacute visotildees e compreensotildees antagocircnicas entre os discursos de gestores teacutecnicos e
populaccedilatildeo quilombola ao referir-se de maneira mais geral sobre o Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
O Sertatildeo eacute o espaccedilo brasileiro
Conhecido tambeacutem por semiaacuterido
Desde ontem e hoje eacute retratado
Como ruim e tambeacutem seco por inteiro
Os poderosos indicam esse roteiro
Aproveitam-se falando em soluccedilatildeo
Com projeto faraocircnico e ilusatildeo
E o povo continua no aprisco
A histoacuteria do Rio Satildeo Francisco
Eacute maior que essa tal transposiccedilatildeo []
(Trecho do Poema de Severino Santos Terto 2010)
O semiaacuterido brasileiro compreende os estados do Cearaacute Piauiacute Rio Grande do Norte
Paraiacuteba Alagoas Sergipe Pernambuco parte da Bahia e pequena parcela do estado de Minas
Gerais (DUQUE 2008)
Essa regiatildeo traz como parte do imaginaacuterio dos brasileiros a ideia de ser inoacutespita e
deseacutertica com poucos recursos hiacutedricos e seres humanos vivendo em situaccedilatildeo de fome e
miseacuteria (ROCHA F 2010) No entanto a realidade desmente este imaginaacuterio na medida em
que
[] satildeo mais de 20 milhotildees de pessoas o que torna o Semiaacuterido a regiatildeo rural mais
populosa do Brasil Estudos e experiecircncias recentes provam a viabilidade econocircmica
69
da regiatildeo atraveacutes da convivecircncia com as suas caracteriacutesticas climaacuteticas e a sua fauna
e sua flora (COELHO 2005 RIBEIRO 2007 SILVA 2008 apud ROCHA F
2010)
A regiatildeo eacute banhada pelo rio Satildeo Francisco considerado o maior rio totalmente
brasileiro com 286330 quilocircmetros de extensatildeo que atravessam os estados de Minas Gerais
Bahia Pernambuco Sergipe e Alagoas Descoberto em 1501 foi chamado Oparaacute para os
indiacutegenas que significa rio-mar rio dos currais para os tropeiros rio das borboletas para os
barqueiros e velho Chico para os nordestinos Sua nascente real e geograacutefica eacute na Serra
dacuteAgua municiacutepio de Medeiros Minas Gerais e desaacutegua no oceano atlacircntico nas divisas
entre os estados de Alagoas e Sergipe (SILVA et al 2003)
Apesar de conhecido como ldquorio da unidade nacionalrdquo por aproximar o sertatildeo do
litoral projetos e poliacuteticas puacuteblicas implementadas manteacutem distante esse ideaacuterio de unidade
por natildeo contemplar e incluir todas as diversidades sociais e culturais existentes na regiatildeo
Para a populaccedilatildeo quilombola e para outros sujeitos do estudo o rio Satildeo Francisco
assume significados diversos que passam pelo divino daacutediva de Deus para o nordeste como
o rio que permite o desenvolvimento do vale do Satildeo Francisco o rio que oferece aacutegua para o
consumo da populaccedilatildeo como recurso para o plantio na agricultura familiar9 como
perspectiva de vida
[] para mim o Rio satildeo Francisco eacute um bem uma daacutediva de Deus para o nordeste
como um sinal de vida Entendo e quero ateacute sugerir que cada um de noacutes tenha o Rio
Satildeo Francisco como esse grande presente de Deus porque eacute um rio de aacutegua potaacutevel
e que cruza o sertatildeo ou cruza o nordeste numa grande extensatildeo territorial neacute []
(Lideranccedila 3)
[] O rio Satildeo Francisco representa muita coisa boa pra gente Quando aqui a gente
taacute na hora mais sofrida aqui o cabra se desloca daqui pra beira do rio arruma um
serviccedilo vai trabalhar plantar uma roccedila arruma o que comer porque aqui o cabra soacute
tem de ano em ano no inverno quando chove quando natildeo chove todo mundo aqui
eacute sofrido [] (Grupo Focal 1)
De grande importacircncia soacute de a gente ser abastecido por ele neacute Jaacute eacute um grande
valor que a gente deve dar ao rio Satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
[] o rio ele eacute importante demais porque se natildeo fosse a aacutegua do rio aqui natildeo tinha
mais gente jaacute tinha morrido tudo de sede porque natildeo tem de onde vim aacutegua ela
vem do rio Se natildeo fosse o rio laacute a comunidade de todo canto natildeo vivia mais no
lugar deles natildeo tinha que se deslocar pra laacute [] Eacute ou cara ou barata mas a sorte da
gente eacute essa aacutegua do rio (Grupo Focal 3)
9 A agricultura familiar caracterizada pela associaccedilatildeo de vaacuterios subsistemas ndash roccedilados pequenas criaccedilotildees de
vaacuterias espeacutecies de animais quintais colheitas etc era capaz de produzir gecircneros alimentiacutecios e gerar renda
para a compra dos bens natildeo produzidos no sistema (DUQUE 2008)
70
[] Olhe o rio Satildeo Francisco eacute uma perspectiva de vida mesmo para a populaccedilatildeo
do sertatildeo As pessoas tem muito amor pelo rio Satildeo Francisco [] (Gestora 8)
O potencial hiacutedrico do rio Satildeo Francisco possibilitou o muacuteltiplo uso de suas aacuteguas
quer para o abastecimento humano para agricultura irrigada geraccedilatildeo de energia navegaccedilatildeo
piscicultura lazer e turismo Entretanto o que representa riqueza vem provocando tambeacutem
problemas de natureza socioambiental e econocircmica considerando que haacute alguns anos o uso
indiscriminado e descuidado do rio vem afetando o seu curso natural como assoreamento o
desmatamento de suas vaacuterzeas a poluiccedilatildeo a pesca predatoacuteria as queimadas o garimpo e a
irrigaccedilatildeo
Com o debate ampliado em torno da situaccedilatildeo criacutetica do rio Satildeo Francisco o Comitecirc da
Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF)10
incorporou em seu Plano Diretor de
Recursos Hiacutedricos em 2004 como criteacuterio para definiccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica da bacia
o conceito de vazatildeo ecoloacutegica11
Segundo Machado (2008) essa compreensatildeo se contrapotildee ao
que preconiza a obra da transposiccedilatildeo ao ser constatado pelo Plano a escassez de aacutegua para
muacuteltiplos usos com a recomendaccedilatildeo da locaccedilatildeo externa apenas para consumo humano e
dessedentaccedilatildeo animal O Projeto da transposiccedilatildeo dentre outras contradiccedilotildees apresenta um
planejamento do uso das aacuteguas do Satildeo Francisco sem a preocupaccedilatildeo com sua vazatildeo nem com
as consequecircncias desse procedimento
A preocupaccedilatildeo com o rio Satildeo Francisco e sua revitalizaccedilatildeo aparece em vaacuterias falas
com afirmaccedilotildees de que o rio encontra-se poluiacutedo e que em vaacuterios trechos o niacutevel de suas
aacuteguas estaacute muito baixo
[] E eu te digo com todas as letras o rio Satildeo Francisco em Minas Gerais ele estaacute
praticamente morto O rio Satildeo Francisco aqui Bahia e Pernambuco eu natildeo tenho
nem como comparar ao trecho que eu conheccedilo dele em Minas Gerais Em relaccedilatildeo a
desmatamento como eu te falei a contaminaccedilatildeo das aacuteguas por agrotoacutexico
principalmente assoreamento existem muitos trechos que natildeo satildeo mais navegaacuteveis
muitos aqui como o nordeste tambeacutem mas em Minas Gerais principalmente []
(Teacutecnico 3)
[] uma das exigecircncias eacute que seria o saneamento de toda a bacia do Satildeo Francisco
uma vez que a demanda pela aacutegua vai ser substancial poreacutem tem quer ser
preservada essa aacutegua justamente a questatildeo da contaminaccedilatildeo e do uso dessa aacutegua
10
O Comitecirc da Bacia Hidrograacutefica do Rio Satildeo Francisco (CBHSF) eacute um oacutergatildeo colegiado integrado pelo poder
puacuteblico sociedade civil e empresas usuaacuterias de aacutegua que tem por finalidade realizar a gestatildeo descentralizada e
participativa dos recursos hiacutedricos da bacia na perspectiva de proteger os seus mananciais e contribuir para o
seu desenvolvimento sustentaacutevel Para tanto o governo federal lhe conferiu atribuiccedilotildees normativas
deliberativas e consultivas Foi criado por decreto presidencial em 5 de junho de 2001 11
Vazatildeo Ecoloacutegica Eacute a demanda necessaacuteria de aacutegua a manter em um rio de forma a assegurar a manutenccedilatildeo e
conservaccedilatildeo dos ecossistemas aquaacuteticos naturais aspectos da paisagem de outros de interesse cientiacutefico ou
cultural (GONDIM 2006 apud SARMENTO 2007)
71
que tem quer ser realmente bem racionalizada e bem conscientemente utilizada eacute o
que vem natildeo ocorrendo ateacute hoje [] Entatildeo o rio Satildeo Francisco ele jaacute taacute com a
capacidade muito criacutetica de comportar porque a sua exploraccedilatildeo eacute muito grande
poreacutem o seu cuidado natildeo eacute devido natildeo tem a devida atenccedilatildeo [] a gente vem
acompanhando os grandes projetos que satildeo desenvolvidos nessa aacuterea e a questatildeo do
assoreamento e da agropecuaacuteria e agroinduacutestria ela afeta muito justamente a toda a
bacia do Satildeo Francisco (Gestora 9)
Segundo Machado (2008) a revitalizaccedilatildeo de bacias hidrograacuteficas eacute um conceito
teacutecnico-cientiacutefico ainda em elaboraccedilatildeo no Brasil e natildeo estaacute previsto em nossa legislaccedilatildeo
como poliacutetica puacuteblica
O Decreto de 5 de junho de 2001 foi a base para a criaccedilatildeo em 2004 do Projeto de
Conservaccedilatildeo e Revitalizaccedilatildeo da Bacia do rio Satildeo Francisco no acircmbito do Ministeacuterio do Meio
Ambiente (MMA) em parceria com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e outros 14
Ministeacuterios Como poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo permanente envolvendo a
populaccedilatildeo local e os governos federal estadual e municipal tem prazo de execuccedilatildeo de vinte
anos segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (MACHADO 2008)
O Projeto de revitalizaccedilatildeo da bacia do Rio Satildeo Francisco tem como objetivo geral
promover a melhoria das condiccedilotildees de oferta de aacutegua da bacia segundo os seus usos
prioritaacuterios (BRASIL 2001) Em seus objetivos especiacuteficos incluem-se a despoluiccedilatildeo da
aacutegua de esgotos e agrotoacutexicos conservaccedilatildeo de solos convivecircncia com a seca reflorestamento
e recomposiccedilatildeo de matas ciliares gestatildeo e monitoramento da bacia gestatildeo integrada dos
resiacuteduos soacutelidos educaccedilatildeo ambiental criaccedilatildeo e manejo de unidades de conservaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo da biodiversidade (MACHADO 2008)
Segundo Machado (2008 p 195) com o Decreto a revitalizaccedilatildeo passou entatildeo a ser
entendida como um conjunto de accedilotildees a serem realizadas visando agrave melhoria da qualidade e
ao aumento da quantidade de aacutegua na bacia
Desde 2004 o Projeto foi incluiacutedo nos Planejamentos Plurianuais do Governo Federal
para os quadriecircnios 2004-2007 2008-2011 e 2012-2015 como forma de assegurar os recursos
para a implementaccedilatildeo das accedilotildees (BRASIL 2014)
No Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA documento que detalha os objetivos
sociais econocircmicos e ambientais do Projeto de transposiccedilatildeo as accedilotildees previstas pelo governo
para a revitalizaccedilatildeo da Bacia do Satildeo Francisco
[] se apresentam com um sentido mais amplo com recuperaccedilatildeo ambiental de
aacutereas degradadas preservaccedilatildeo de ecossistemas relevantes pouco degradados e
promoccedilatildeo do desenvolvimento sociocultural das populaccedilotildees que aiacute
vivem (BRASIL 2004c p 16 grifo nosso)
72
Entretanto a preocupaccedilatildeo de que as accedilotildees para revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo Francisco natildeo
saiam do papel vem acompanhada do receio de que natildeo haveraacute aacutegua para passar no canal
caso as obras da transposiccedilatildeo sejam concluiacutedas outra inseguranccedila tambeacutem presente na fala de
lideranccedilas e gestores entrevistados
E a gente sabe que se a gente natildeo cuidar dele essa transposiccedilatildeo tambeacutem natildeo vai dar
essa aacutegua a esse povo Eacute um sonho [] mas a gente sabe que provavelmente ela natildeo
possa nem ser construiacuteda que ela natildeo possa ser finalizada essa obra de
transposiccedilatildeo Ela pode ateacute ser construiacuteda mas a aacutegua se a gente natildeo cuidar vem de
onde [] (Lideranccedila 2)
[] se o rio seca se natildeo consegue fazer a revitalizaccedilatildeo do Satildeo Francisco se a
revitalizaccedilatildeo fica soacute no papel que esse rio venha a secar como outros rios que a
gente sabe que jaacute veio a secar de onde essa parte do sertatildeo todinha vai beber Que a
gente bebe aacutegua do Satildeo Francisco aleacutem da questatildeo das frutas laacute do vale do Satildeo
Francisco essas coisas todas pra gente a importacircncia eacute de beber aacutegua mesmo e aiacute
de onde que a gente vai beber [] (Lideranccedila 1)
[] E que todo esse bem que passa laacute e vai passar por noacutes ele seja esse sinal
sempre de vida e que seja cuidado pela gente ou pelas populaccedilotildees ribeirinhas desse
rio que natildeo seja um sinal de morte mas um sinal de vida [] (Lideranccedila 3)
Medidas que impactem positivamente no processo de revitalizaccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco vatildeo aleacutem de condutas individuais da responsabilizaccedilatildeo individual dos que vivem
na regiatildeo do semiaacuterido como tambeacutem do cuidado com a preservaccedilatildeo da nascente do rio
poliacutetica que deveria preceder o projeto da transposiccedilatildeo como expressam entrevistados
Eacute exatamente eacute justamente uma questatildeo da conscientizaccedilatildeo do uso da aacutegua e da
utilizaccedilatildeo dessa aacutegua Entatildeo positivamente ou seja a comunidade estaacute se voltando
realmente pra essa realidade no caso o uso indiscriminado e irracional dos recursos
naturais eacute que vai impactar no futuro [] quer dizer o que se destroacutei hoje o custo
para se recuperar eacute muito maior que inclusive a gente estaacute vendo hoje o custo que eacute
recuperar ou tentar preservar o rio Satildeo Francisco [] que eacute o mais grave para a
sobrevivecircncia do rio que eacute justamente onde existem as nascentes a preservaccedilatildeo das
nascentes de todo o sistema que daacute continuidade entendeu Porque se natildeo vocecirc vai
construir fazer todo o investimento e na hora de utilizar o rio morreu porque natildeo
teve mais a continuidade que ele deveria ter a preservaccedilatildeo e o cuidado (Teacutecnico 1)
[] eu acho que pela Transposiccedilatildeo taacute descuidando das comunidades ela natildeo vai
cuidar tambeacutem do rio Satildeo Francisco natildeo Era pra ter feito isso primeiro pra depois
fazer o canal cuidar primeiro da nascenccedila praacute poder ser que tirasse o quinhatildeo deles
no canal (Grupo Focal 2)
Natildeo satildeo apenas atitudes mais conscientes da populaccedilatildeo quanto ao uso indiscriminado
da aacutegua e dos demais recursos naturais nem tampouco a adoccedilatildeo de intervenccedilotildees para
preservaccedilatildeo da nascente do rio que iratildeo frear ou recuperar toda degradaccedilatildeo sofrida pelo rio
Satildeo Francisco mas tambeacutem e principalmente a adoccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica que
73
transforme o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco em um Programa
Segundo Machado (2008 p 195)
[] diversos fatores poliacuteticos e administrativos entre eles o embate em torno da
transposiccedilatildeo tem impedido tal mudanccedila Na praacutetica as accedilotildees em execuccedilatildeo
custeadas com recursos orccedilamentaacuterios da Uniatildeo priorizam o saneamento ambiental
ou seja a qualidade da aacutegua na bacia enquanto a quantidade de aacutegua na bacia e no
Rio Satildeo Francisco natildeo tem sido considerada nas accedilotildees em curso
Poreacutem natildeo haacute como negar a relaccedilatildeo direta entre as discussotildees em torno do Projeto de
Revitalizaccedilatildeo a partir do projeto de transposiccedilatildeo Para Machado (2008) o confronto poliacutetico e
social em torno da perspectiva da obra de transposiccedilatildeo das aacuteguas do Rio Satildeo Francisco criou
o termo ldquorevitalizaccedilatildeordquo para se opor agrave transposiccedilatildeo A polecircmica gerada pelo projeto a
contestaccedilatildeo feita por atores sociais contraacuterios a obra da transposiccedilatildeo deu ecircnfase a questatildeo da
ldquoRevitalizaccedilatildeordquo a partir do argumento da fragilidade do rio e de sua bacia indicativo
premente da necessidade da revitalizaccedilatildeo antes da transposiccedilatildeo ou em contraposiccedilatildeo a ela
E corroborando com o pensamento de Machado um dos entrevistados afirma
[] Por outro lado o rio tambeacutem ele tem sido viacutetima de todo descaso e descuido
durante todo esse periacuteodo E eu lembro que no auge mesmo de todos esses conflitos
em relaccedilatildeo ao projeto eu dizia e muita gente se colocava ao contraacuterio porquecirc
achava que o rio ia ter um prejuiacutezo grande com o projeto eu acho que pela primeira
vez se colocou o rio Satildeo Francisco em pauta porque ateacute entatildeo natildeo se tinha
discussatildeo a gente tem inuacutemeras cidades em torno desse rio e inuacutemeras cidades que
jogavam esgoto dentro do rio A gente tinha vaacuterias aacutereas de assoreamento e isso de
forma crescente e ningueacutem e de repente o rio passou a ser o tema principal e aiacute
quem trouxe essa discussatildeo Foi a obra se natildeo tivesse transposiccedilatildeo todo mundo ia
continuar de braccedilo cruzado [] Algumas accedilotildees comeccedilaram a ser efetivadas mas
acho inclusive que tem que ter uma accedilatildeo mais intensiva no sentido se eacute a fonte que
a gente tem aiacute a gente natildeo pode pensar soacute como fonte de exploraccedilatildeo de aacutegua mas a
gente vai utilizar essa aacutegua A gente vai ter que pensar como eacute que garante a
vitalidade dele natildeo falo nem de revitalizaccedilatildeo eacute a vitalidade mesmo [] Entatildeo o
projeto hoje eu natildeo tenho duacutevida nenhuma que ele foi o foco principal pra dizer
assim o rio comeccedila a ser visto (Gestora 1)
No entanto o Projeto de Revitalizaccedilatildeo da Bacia do Rio Satildeo Francisco coordenado
pelo governo federal ainda natildeo logrou ecircxito na consolidaccedilatildeo de um arranjo institucional
afirma Machado (2008) para quem dentre os aspectos apontados como dificultadores para
implantaccedilatildeo do Projeto estatildeo
a dispersatildeo das accedilotildees e natildeo visualizaccedilatildeo pelos diversos atores sociais interessados a
amplitude das linhas de accedilatildeo a polecircmica em torno do projeto de transposiccedilatildeo das
aacuteguas do rio as dificuldades operacionais do Ministeacuterio coordenador do Projeto a
concentraccedilatildeo de grande parte dos recursos financeiros no Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
Nacional e as diferentes percepccedilotildees acerca das prioridades de um programa de
revitalizaccedilatildeo da bacia como fatores que dificultam a transformaccedilatildeo do projeto em
um programa efetivo de revitalizaccedilatildeo a falta de articulaccedilatildeo de accedilotildees intersetoriais
74
entre ministeacuterios e os demais niacuteveis do governo federal estadual e municipal
(MACHADO 2008 p 204)
Entre os fatores apontados merece destaque a polecircmica em torno da transposiccedilatildeo das
aacuteguas do Rio Satildeo Francisco pois para os setores de instituiccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas
movimentos sociais Ministeacuterio Puacuteblico e comunidades tradicionais da bacia a transposiccedilatildeo
inviabilizaria a revitalizaccedilatildeo da bacia (MACHADO 2008)
Documentos oficiais do projeto apontam que vaacuterios satildeo os impactos decorrentes da
obra da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e segundo o RIMA
impactos satildeo potenciais alteraccedilotildees provocadas pelo Projeto no meio ambiente e
podem ocorrer em uma ou mais fases do Projeto (de planejamento de construccedilatildeo e
de operaccedilatildeo) A anaacutelise dos impactos eacute realizada a partir de uma matriz de
classificaccedilotildees conhecida como lsquoMatriz de Impactosrsquo [] A principal funccedilatildeo da
Matriz de Impactos eacute auxiliar a tomada de decisatildeo quanto agrave viabilidade ou natildeo do
empreendimento pois permite identificar os impactos que mereceratildeo maior atenccedilatildeo
quando se formulam as medidas ambientais Mitigadoras ou
Potencializadoras (BRASIL 2004c p 73)
Os impactos descritos pelo PISF somam 44 dos quais 23 satildeo considerados como de
maior relevacircncia para o projeto (11 positivos e 12 negativos)
Em nosso estudo identificamos como de maior interesse 25 impactos sendo 15
impactos negativos e 10 vistos como impactos positivos
Entre os 10 impactos positivos chama nossa atenccedilatildeo o fato de que oito seratildeo
ldquousufruiacutedosrdquo apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto ou seja 80 deles enquanto que apenas
um (10) jaacute estaacute sendo sentido durante a fase de construccedilatildeo do projeto mas de forma
temporaacuteria (geraccedilatildeo de emprego e renda) O outro impacto previsto para aparecer nas fases
de construccedilatildeo e de operaccedilatildeo do projeto apresenta sinais evidentes apenas na aacuterea urbana de
Salgueiro e regiatildeo (dinamizaccedilatildeo da economia regional)
O impacto positivo - ldquoDiminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeordquo - eacute
apontado com efeito apenas na fase de operaccedilatildeo do projeto Poreacutem com os atrasos ocorridos
em toda execuccedilatildeo do projeto a perspectiva de concretizaccedilatildeo deste impacto parece estar cada
vez mais distante e incerta A sobrevivecircncia da populaccedilatildeo natildeo pode esperar e o ecircxodo rural eacute
uma realidade confirmada por relato de moradores em grupo focal ao constatarem que haacute
jovens saindo das aacutereas quilombolas agrave procura de alternativas de trabalho e natildeo retornam
independente de estarem ou natildeo trabalhando no projeto da transposiccedilatildeo
Porque o que a gente teve de ecircxodo rural muitos jovens que saiacuteram daqui para
trabalhar laacute na Transposiccedilatildeo que foram morar em Salgueiro Eles ainda natildeo
retornaram e muitos dos meus alunos que eu vejo que jaacute concluiacuteram ensino meacutedio
75
jaacute trabalharam na Transposiccedilatildeo Hoje estatildeo alguns largou Eles natildeo voltam pra caacute
mas laacute jaacute natildeo tem transposiccedilatildeo pra trabalhar entatildeo Salgueiro caiu nessa armadilha
aiacute Foi um BUM de crescimento de uma vez aiacute levou muita gente praacute cidade mas a
estrutura de Salgueiro pra suportar o tanto de gente que tem laacute essa esperanccedila toda
vai ser um problema que Salgueiro vai ter que administrar isso (Grupo Focal 1)
Diferentemente do panorama descrito sobre os ldquoimpactos positivosrdquo dos 15 impactos
negativos seis deles ou seja 40 jaacute estatildeo sendo sentidos nas fase de construccedilatildeo do projeto e
continuaratildeo repercutindo na vida da populaccedilatildeo quilombola e do ambiente na fase de operaccedilatildeo
do projeto Somando agravequeles que iratildeo aparecer ldquoapenasrdquo na fase de operaccedilatildeo que satildeo mais
quatro impactos - ou seja 266 - seratildeo mais de 60 os impactos negativos que iratildeo
reverberar na vida da populaccedilatildeo e do ambiente O impacto ldquoperda de terras potencialmente
agricultaacuteveisrdquo considerado vital para a manutenccedilatildeo da agricultura familiar entre os
quilombolas estaacute classificado como dano ldquoapenasrdquo na fase de construccedilatildeo do projeto poreacutem o
que jaacute ocorreu no territoacuterio de Santana e estaacute para acontecer em ContendasTamboril
repercutiraacute negativamente tambeacutem na fase de operaccedilatildeo do projeto e dificilmente seraacute
revertido por medidas chamadas mitigadoras como constam no projeto Ambas situaccedilotildees
seratildeo descritas mais adiante
Resumo com os impactos elencados relacionando-os as fases do projeto em que
poderatildeo ser mais evidentes (Quadro7)
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Continua)
IMPACTOS NEGATIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Introduccedilatildeo de tensotildees e riscos sociais durante a fase de obra
2 Ruptura de relaccedilotildees sociocomunitaacuterias durante a fase de
obra
3 Riscos de acidentes com a populaccedilatildeo
4 Aumento das emissotildees de poeira]
5 Aumento eou aparecimento de doenccedilas
6 Aumento da demanda por infra-estrutura de sauacutede
7 Perda de terras potencialmente agricultaacuteveis
8 Pressatildeo sobre a infra-estrutura urbana
9 Perda e fragmentaccedilatildeo de cerca de 430 hectares de aacutereas com
vegetaccedilatildeo nativa e de haacutebitats de fauna terrestre
10 Diminuiccedilatildeo da diversidade da fauna terrestre
11 Risco de introduccedilatildeo de espeacutecies de peixes potencialmente
daninhas ao homem nas bacias receptoras
12 Risco de proliferaccedilatildeo de vetores
13 Ocorrecircncia de acidentes com animais peccedilonhentos
14 Modificaccedilatildeo do regime fluvial das drenagens receptoras
15 Iniacutecio ou aceleraccedilatildeo dos processos de desertificaccedilatildeo
76
Quadro 7 - Relaccedilatildeo de impactos negativos e positivos do PISF segundo fase do projeto
(Conclusatildeo)
IMPACTOS POSITIVOS FASES DO PROJETO
Planejamento Construccedilatildeo Operaccedilatildeo
1 Geraccedilatildeo de empregos e renda durante a implantaccedilatildeo
2 Dinamizaccedilatildeo da economia regional
3 Aumento da oferta e da garantia hiacutedrica
4 Abastecimento de aacutegua das populaccedilotildees rurais
5 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a situaccedilotildees
emergenciais de seca
6 Dinamizaccedilatildeo da atividade agriacutecola e incorporaccedilatildeo de
novas aacutereas ao processo produtivo
7 Diminuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da emigraccedilatildeo da regiatildeo
8 Reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo da populaccedilatildeo a doenccedilas e oacutebitos
9 Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre a infra-estrutura de sauacutede
10 Melhoria da qualidade da aacutegua nas bacias receptoras
Fonte Brasil (2004 p 75)
Haacute discursos que referem-se aos impactos alguns como positivos outros expressam as
marcas os impactos negativos gerados pelo projeto da transposiccedilatildeo caracterizando-se como
situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo para populaccedilotildees da zona rural para populaccedilotildees quilombolas
Acho que tem impacto e grande neacute Na populaccedilatildeo Acho que ateacute no povo Hoje
mesmo natildeo eacute o mesmo povo em Salgueiro A gente tem outro povo aqui acho que
teve ganhos praacute populaccedilatildeo mas tem muita gente que estaacute vindo neacute (Gestora 7)
[] Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas
mesmo elas precisavam ter um preparo maior O que eu percebo eacute muita
insatisfaccedilatildeo em algumas comunidades rurais que foram que impactou natildeo eacute que a
transposiccedilatildeo vai passar no meio do terreno dela vai precisar se deslocar tem muitos
com insatisfaccedilatildeo muito grande (Gestora 2)
Para Rigotto e Teixeira (2009) a possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda pelos
empreendimentos leva a uma legitimaccedilatildeo simboacutelica que aliado a falta de informaccedilotildees claras
fidedignas e democraticamente debatidas ndash inclusive nos processos de licenciamento
ambiental satildeo responsaacuteveis por um processo de ocultaccedilatildeo dos impactos sociais e ambientais
e corroboram para a desmobilizaccedilatildeo e baixa capacidade de mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
atingida
Mas haacute narrativa de sujeitos que mostra que os impactos estatildeo visiacuteveis e classificados
como de ordem ambiental social que inclui o econocircmico e psicoloacutegico A percepccedilatildeo eacute de
que os diferentes niacuteveis de impactos trazem dimensotildees positivas e negativas para o municiacutepio
para a populaccedilatildeo
[] Entatildeo a gente teria o impacto ambiental eacute inerente natildeo tem como fazer uma
obra sem trabalhar o meio ambiente A gente teria o impacto social haacute de certa
forma uma mudanccedila na composiccedilatildeo no periacuteodo [] e aiacute esse social vem junto com
o econocircmico E a gente tem um outro impacto que eacute alguns podem considerar
77
social mas eu tenho tratado muito de outra forma que eacute o psicoloacutegico mesmo eacute o
mais interno de cada pessoa mas que termina sendo uma consequecircncia direta que
mesmo que defenda o projeto que mesmo que ache que aquilo eacute o necessaacuterio mas
mexe mesmo com o eu de cada um principalmente as populaccedilotildees que estatildeo em
torno da obra (Gestora 1)
A oferta de trabalho que aparece como um aspecto positivo pelo projeto eacute analisado
de forma criacutetica pelos entrevistados por serem empregos temporaacuterios e natildeo absorverem a
maior parte da populaccedilatildeo local principalmente da zona rural das populaccedilotildees quilombolas
inseguras com a falta de alternativas de trabalho em suas comunidades pela falta de
incentivos puacuteblicos para convivecircncia com o semiaacuterido e pelo transtorno das obras da
transposiccedilatildeo em seus territoacuterios O ecircxodo rural com a procura de trabalho na cidade jaacute eacute um
problema a ser enfrentado pelo municiacutepio de Salgueiro
Mas eu acho que do lado positivo teve muitos empregos que sugiram aqui []
(Gestora 5)
[] A gente tem uma caracteriacutestica diferenciada que eacute 80 da populaccedilatildeo toda estaacute
na aacuterea urbana embora essa aacuterea urbana natildeo tivesse a condiccedilatildeo de concentrar ou de
estar recebendo mas tambeacutem se o municiacutepio natildeo tinha nenhuma poliacutetica de fixaccedilatildeo
do homem no campo entatildeo era isso E por outro lado mesmo sem essa condiccedilatildeo
Salgueiro passou a atrair os municiacutepios vizinhos e aiacute crescia a situaccedilatildeo e a gente
observa a gente teve prejuiacutezo no processo mesmo no planejamento urbano a gente
tem aacutereas de ocupaccedilatildeo irregular os tipos de moradia natildeo foram trabalhadas entatildeo
tudo isso tinha uma repercussatildeo muito negativa na vida das pessoas e era
complementado pela questatildeo da violecircncia e os indicadores sociais muito baixos
(Gestora 1)
Surgem tambeacutem questionamentos sobre a funccedilatildeo social do trabalho nas obras do
canal por terem certeza de que a aacutegua natildeo vai beneficiar as comunidades quilombolas e
permitir o plantio a criaccedilatildeo de animais enfim melhorar suas condiccedilotildees gerais de vida
Aiacute graccedilas agrave Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela depois sai de
laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela Eacute estou Estou achando bom por
que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Aiacute vamos supor que essa aacutegua passe
nesse canal mas natildeo sirva pra noacutes Do que eacute que esse trabalho vai servir agora Se a
aacutegua vai passar aqui e noacutes natildeo vamos ter aacutegua pra plantar porque se vocecirc planta
vocecirc tem o que comer neacute Vocecirc plantou vocecirc tira o que comer vocecirc tem como tirar
o seu dinheirinho por fora ateacute porque a feira taacute bem aiacute neacute (Grupo Focal 3)
Mas como afirma Rigotto e Teixeira (2009) as comunidades por estarem excluiacutedas
dos processos de decisatildeo satildeo colocadas diante da ldquoalternativa infernalrdquo escolher entre a falta
de opccedilotildees de trabalho e geraccedilatildeo de renda e o emprego nesses novos empreendimentos
As reflexotildees e consideraccedilotildees gerais feitas sobre o projeto da transposiccedilatildeo torna visiacutevel
mesmo que para reafirmar o que jaacute vem sendo dito por pesquisadores estudiosos e pela
78
populaccedilatildeo que ao contraacuterio do discurso governamental os principais beneficiaacuterios do Projeto
seratildeo as empresas de agronegoacutecio com irrigaccedilatildeo da fruticultura para exportaccedilatildeo e a
carcinicultura
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de
onde eacute E noacutes aqui vamos ficar com quecirc (Grupo Focal 2)
[] Eu fui pro Foacuterum Social Nordestino havia muito embate sobre o Projeto [] e
assim laacute jaacute era muito criticado esse projeto porque na verdade natildeo seria um projeto
para beneficiar quem ele tava dizendo que ia beneficiar e sim ele tinha umas entre
linhas que na verdade era o agronegoacutecio eram os grandes criadores de camarotildees
que seria laacute para o Rio Grande do Norte Aiacute jaacute era bastante criticado [] (Grupo
Focal 1)
A ecircnfase num modelo de crescimento sem desenvolvimento eacute a loacutegica de sustentaccedilatildeo
de empreendimentos como o projeto da transposiccedilatildeo Para Couqueiro (2012 p 50)
os empreendimentos precisam se adequar aos ecossistemas e natildeo o contraacuterio A
relaccedilatildeo do homem com o semiaacuterido tem sido desastrosa fruto do modelo de
desenvolvimento que tem como base o crescimento econocircmico a qualquer custo
Quem determina as poliacuteticas econocircmicas para a regiatildeo eacute o capital por isso o uso
dos recursos naturais as relaccedilotildees de trabalho e o produto desse trabalho satildeo
controlados por uma elite agroindustrial que conta com apoio do estado
Concepccedilatildeo compartilhada na fala de entrevistados
Agora eacute claro se a gente natildeo tiver cuidado tambeacutem o desenvolvimento chega e o
povo fica a mercecirc neacute Natildeo melhora a vida do povo Acho que eu sou de uma
regiatildeo tambeacutem da zona rural e na zona rural principalmente onde a obra passa mais
proacutexima tem sempre impacto maior e eu soacute de uma aacuterea dessa(Gestora 6)
[] Porque essa comunidade aqui eacute uma comunidade de agricultura familiar neacute
As pessoas plantam soacute pro consumo se sobrar um excedente vende mas eacute soacute praacute o
consumo E taacute com uns trecircs anos que natildeo chove aqui Aiacute por isso eacute que o pessoal taacute
assim taacute dando tanto valor ao trabalho na firma Porque se fosse um ano de inverno
que o pessoal plantasse tinha muita gente que natildeo deixava natildeo sua roccedila praacute ir praacute
firma natildeo Ateacute porque a firma hoje em dia eacute o uacutenico meio que os pais de famiacutelia tatildeo
tendo pra sustentar a famiacutelia [] (Grupo Focal 3)
Mas a crenccedila na forccedila da luta da pressatildeo e organizaccedilatildeo popular como forma de fazer
valer as promessas do governo de mudar os rumos deste projeto estaacute presente como uma ldquoluz
no fim do tuacutenelrdquo na fala de moradores quilombolas durante grupo focal
[] Eu na verdade nesse embate eu ficava muito na duacutevida porque eu acho que
poderia sim beneficiar os criadores de camaratildeo mas eu acredito muito na forccedila do
povo e o povo poderia transformar essa realidade a partir se teria um laacute na ponta
79
mas teria todo um corpo que ia estaacute desde o comeccedilo ateacute o final entatildeo era
muitodava para o povo transformar [] Assim como eu acho que o natildeo
funcionamento o natildeo acontecimento as promessas natildeo cumpridas soacute estatildeo
acontecendo justamente porque o povo ainda estaacute passivo porque nessa linha de
protesto se abrisse um protesto aqui nessa regiatildeo contra esse abandono que estaacute
tendo eu acho que teria uma soluccedilatildeo (Grupo Focal 1)
Ao longo deste capiacutetulo o discurso oficial sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute construiacutedo
de ldquomaneira positiva e esperanccedilosardquo para que populaccedilotildees rurais quilombolas indiacutegenas
assentadas ldquoacreditemrdquo ou ldquotenham feacuterdquo que suas vidas iratildeo mudar substancialmente para
melhor No entanto as narrativas dos sujeitos e as reflexotildees construiacutedas por autores deixam
vir agrave tona contradiccedilotildees a distacircncia entre o discurso oficial e a realidade as vaacuterias nuances e
dimensotildees dos impactos provocados pelas intervenccedilotildees feitas ateacute o momento nas aacutereas
quilombolas e regiatildeo de abrangecircncia
80
6 POPULACcedilOtildeES QUILOMBOLAS E SEU TERRITOacuteRIO
Por ser de laacute
do sertatildeo
laacute do cerrado
Laacute do interior do mato
da caatinga do roccedilado
(Lamento Sertanejo Dominguinhos)
Os quilombolas satildeo vistos como um grupo que apresenta uma cultura e uma histoacuteria
particular marcadas pela influecircncia negra natildeo soacute nas atividades agriacutecolas mas tambeacutem nas
religiosas Falar sobre essas populaccedilotildees nos remete tambeacutem a uma relaccedilatildeo de intimidade com
a natureza que para muitos pode ter ficado num passado longiacutenquo ou numa forma
ldquoultrapassada e arcaicardquo de estar no mundo ocidental cuja relaccedilatildeo homem-natureza se mostra
bastante fragilizada e distante
Mas de maneira persistente as comunidades quilombolas manteacutem vivos haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e formas de sobrevivecircncia natildeo predominantes no modelo vigente seja
por natildeo terem sido ldquocontaminadosrdquo pelas mudanccedilas do mundo atual muitas das vezes pelo
isolamento geograacutefico e ou exclusatildeo social seja pela natildeo adaptaccedilatildeo e opccedilatildeo em preservar as
formas de vida transmitidas como heranccedila familiar
Definiccedilotildees sobre o que sejam comunidades tradicionais mais especificamente as
quilombolas satildeo abordagens mais recentes Entretanto segundo Arruda e Diegues (2001 p
23) haacute um consenso sobre o uso do termo populaccedilatildeo indiacutegena significando etnia referindo-
se a povos que guardam uma continuidade histoacuterica e cultural desde antes da chegada dos
europeus na Ameacuterica Para estes autores haacute um intenso debate e ateacute uma confusatildeo sobre o
significado dos termos ldquopopulaccedilotildees nativasrdquo ldquotribaisrdquo ldquoindiacutegenasrdquo e ldquotradicionaisrdquo Mas
adotaram uma definiccedilatildeo mais ampla substituindo o termo ldquopovos tribaisrdquo por ldquopovos
nativosrdquo que se aplica aos viventes em aacutereas geograacuteficas especiacuteficas e apresentam as
seguintes caracteriacutesticas
a) Ligaccedilatildeo intensa com os territoacuterios ancestrais
b) Auto-identificaccedilatildeo e reconhecimento pelos outros povos como grupos culturais
distintos
c) Linguagem proacutepria muitas vezes diferentes da oficial
d) Presenccedila de instituiccedilotildees sociais poliacuteticas proacuteprias e tradicionais
e) Sistemas de produccedilatildeo voltados principalmente agrave subsistecircncia
81
Atualmente fruto da luta e de maior visibilidade destas populaccedilotildees foi instituiacuteda a
Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais
que na forma do Decreto nordm 6040 de 7022007 em seu artigo 3ordm entende
povos e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais que possuem formas proacuteprias de organizaccedilatildeo social que
ocupam e usam territoacuterios e recursos naturais como condiccedilatildeo para sua reproduccedilatildeo
cultural social religiosa ancestral e econocircmica utilizando conhecimentos
inovaccedilotildees e praacuteticas gerados e transmitidos pela tradiccedilatildeo (BRASIL 2013)
Ao referir-se a comunidades remanescentes de quilombos cuja identidade eacutetnica os
distingue do restante da sociedade Souza (2008) ressalta que a identidade eacutetnica corresponde
a um processo de auto-identificaccedilatildeo bastante dinacircmico e natildeo se reduz a elementos materiais
ou traccedilos bioloacutegicos distintivos como cor da pele por exemplo
61 ASPECTOS FUNDIAacuteRIOS ndash CAMINHOS PARA REGULARIZACcedilAtildeO DO
TERRITOacuteRIO QUILOMBOLA
ldquoDe uma coisa sabemos a terra natildeo pertence ao homem eacute o homem que
pertence a terra Disso temos certeza Todas as coisas estatildeo interligadas
como o sangue que une uma famiacutelia Tudo estaacute relacionado entre si Tudo
quanto agride a terra agride os filhos da terra Natildeo foi o homem quem
teceu a trama da vida ele eacute meramente um fio da mesma Tudo o que ele
fizer agrave trama a si proacuteprio faraacuterdquo
(Discurso feito pelo liacuteder dos iacutendios Suquamish e Duwaminsh Chefe
Seattle ao presidente americano Franklin Pierce em 1854)
No Brasil haacute mais de trecircs mil comunidades remanescentes de quilombos que
localizam-se em vinte quatro estados da federaccedilatildeo sendo a maior concentraccedilatildeo nos estados
do Maranhatildeo Bahia Paraacute Minas Gerais e Pernambuco o que significa 63 localizadas no
Nordeste Brasileiro Isso representa 117 milhatildeo de quilombolas divididos em 214 mil
famiacutelias Os uacutenicos estados que natildeo registram ocorrecircncias destas comunidades satildeo o Acre e
Roraima e o Distrito Federal (BRASIL 2013)
Para Santos as comunidades quilombolas passaram a ser reconhecidas como parte do
ldquoprocesso civilizatoacuterio nacionalrdquo e portanto portadoras de direitos apenas cem anos apoacutes a
aboliccedilatildeo da escravidatildeo no Brasil quando em 1988 com a Constituiccedilatildeo Federal foi incluiacutedo o
principal direito que refere-se agrave questatildeo fundiaacuteria (SANTOS F L 2013)
A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Transitoacuterias
versa sobre o direito de propriedade das terras quilombolas ldquoAos remanescentes das
82
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras eacute reconhecida a propriedade
definitiva devendo o Estado emitir-lhes os tiacutetulos respectivosrdquo (BRASIL 1988)
Aleacutem de influenciar no processo da Constituinte de 1988 o Movimento Negro no
Brasil tambeacutem foi determinante na construccedilatildeo das constituiccedilotildees estaduais da Bahia (artigo 51
do ADCT) Goiaacutes (artigo 16 do ADCT) Maranhatildeo (artigo 229 do ADCT) Mato Grosso
(artigo 33 do ADCT) e Paraacute (artigo 332) que reconhecem o direito dos remanescentes dos
quilombos agrave propriedade de suas terras tradicionais Em outros estados como Espiacuterito Santo
Mato Grosso do Sul Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Sul e Satildeo Paulo
existe legislaccedilatildeo natildeo constitucional sobre a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de terras
quilombolas (ROCHA 2012)
Em 2003 eacute aprovado o Decreto nordm 4887 que regulamenta o procedimento para
identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo demarcaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposiccedilotildees
Constitucionais Transitoacuterias O Decreto tambeacutem define quais satildeo as terras consideradas
quilombolas caracterizadas como ldquosatildeo terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reproduccedilatildeo fiacutesica social econocircmica e
culturalrdquo (BRASIL 2003)
Eacute da Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) de 1989 cujo Brasil
eacute signataacuterio que o Decreto no
4887 empresta o princiacutepio da autodeterminaccedilatildeo como criteacuterio
fundamental para determinar os grupos como sendo quilombolas (Art 2ordm sect 1) Cabe ao
Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) por meio do Instituto Nacional de
Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) ao Distrito Federal Estados e Municiacutepios a
competecircncia para realizar todo procedimento descrito neste Decreto em parceria com os
Institutos de Terras Estaduais e diaacutelogo com a FCP e Ministeacuterio Puacuteblico (BRASIL 2003)
Segundo Santos F L (2013 p 1)
A partir de 2003 com o Decreto 4887 a questatildeo quilombola no Brasil ganhou
novos contornos e novas perspectivas uma vez que a operacionalizaccedilatildeo da poliacutetica
puacuteblica de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria passou a considerar as diversas formas de uso
apropriaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do territoacuterio das comunidades quilombolas
Salientamos ainda que o Decreto nordm 48872003 estabeleceu que a titulaccedilatildeo das terras
quilombolas eacute de modalidade coletiva com claacuteusulas de inalienabilidade impenhorabilidade
e imprescritibilidade sendo emitido o tiacutetulo em nome de associaccedilotildees que legalmente
representam as comunidades quilombolas (BRASIL 2003) Em 2004 a Instruccedilatildeo Normativa
Nordm16 do INCRAMDA acrescenta a definiccedilatildeo de terras em seu art 4ordm
83
[] bem como as aacutereas detentoras de recursos ambientais necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo
de seus costumes tradiccedilotildees cultura e lazer englobando os espaccedilos de moradia e
inclusive os espaccedilos destinados aos cultos religiosos e os siacutetios que contenham
reminiscecircncias histoacutericas dos antigos quilombos (INCRA 2004)
Poreacutem apenas em setembro de 2008 eacute publicada Instruccedilatildeo normativa ndeg 49 do
INCRAMDA que estabelece em detalhes os procedimentos administrativos incluindo outras
etapas como a desintrusatildeo (apoacutes a demarcaccedilatildeo das terras) e o registro das terras ocupadas por
quilombolas previamente regulamentados no referido Decreto (SANTOS F L 2013)
Nas regiotildees de maior concentraccedilatildeo de comunidades remanescentes de quilombos ateacute
outubro de 2013 foram certificadas pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP)12
2408
comunidades quilombolas e haacute 996 processos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria em curso O
documento de Certificaccedilatildeo emitido pela FCP garante agraves famiacutelias quilombolas a regularizaccedilatildeo
territorial junto ao INCRA Para o processo de certificaccedilatildeo a autodefiniccedilatildeo eacute necessaacuteria para
a caracterizaccedilatildeo dos remanescentes de quilombos e seraacute registrada no Cadastro Geral junto agrave
FCP que expediraacute certidatildeo (BRASIL 2013)
Aleacutem da certificaccedilatildeo de terras quilombolas cabe agrave FCP auxiliar juridicamente as
comunidades dos quilombos apoacutes expediccedilatildeo do tiacutetulo para a defesa da posse da terra
Ateacute o iniacutecio de 2013 o INCRA titulou 207 territoacuterios quilombolas beneficiando
12906 famiacutelias representando apenas 1014 das que jaacute satildeo certificadas (FUNDACcedilAtildeO
CULTURAL PALMARES 2013)
Sucintamente uma descriccedilatildeo das etapas para homologaccedilatildeo das terras quilombolas que
possuem certificaccedilatildeo pela FCP (Quadro 8)
Quadro 8 - Etapas para Homologaccedilatildeo das Terras de Comunidades Quilombolas
ETAPAS PARA HOMOLOGACcedilAtildeO DAS TERRAS DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS
Fase inicial Abertura de processo no INCRA para reconhecimento de Territoacuterios Quilombolas ndash
procedimento que seraacute feito por qualquer interessado das entidades ou associaccedilotildees
representativas de quilombolas ou de ofiacutecio pelo INCRA Elaboraccedilatildeo de RTID Iniacutecio do estudo da aacuterea que consiste na caracterizaccedilatildeo espacial econocircmica ambiental e
sociocultural da terra ocupada pela comunidade A identificaccedilatildeo dos limites das terras das
comunidades remanescentes de quilombos eacute feita a partir de indicaccedilotildees da proacutepria comunidade
bem como a partir de estudos teacutecnicos e cientiacuteficos inclusive relatoacuterios antropoloacutegicos
Anaacutelise e julgamento
de recurso ao RTID
Apoacutes a publicaccedilatildeo do RTID o processo eacute aberto para contraditoacuterio
Portaria de
Reconhecimento
Portaria que declara os limites do territoacuterio
DecretaccedilatildeoEncaminh
amento
Decreto presidencial que autoriza a desapropriaccedilatildeo privada encaminhamentos a entes puacuteblicos
que tenham a posse
Desintrusatildeo Notificaccedilatildeo e retirada dos ocupantes
Titulaccedilatildeo Emissatildeo de tiacutetulo de propriedade coletiva para a comunidade em nome de sua associaccedilatildeo
legalmente constituiacuteda
Fonte Adaptado de INCRA (2008)
Nota 1-Relatoacuterio teacutecnico de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo
12
A Fundaccedilatildeo Cultural Palmares (FCP) criada em 1988 eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio da
Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira
84
A afirmaccedilatildeo dos direitos territoriais das comunidades quilombolas - garantido no
artigo 68 do Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais e Transitoacuterias - eacute o que existe de mais
representativo e desperta uma seacuterie de questotildees que envolvem aspectos soacutecio-econocircmicos
espaciais juriacutedicos culturais e mais recentemente ambientais que levam agrave questatildeo do
significado dessas comunidades no mundo contemporacircneo e sua efetiva inserccedilatildeo cidadatilde
(FREITAS et al 2011)
O ldquoSertatildeo Quilombolardquo uma publicaccedilatildeo do Centro de Cultura Luis Freire (2008 p
11)13
afirma que
Um aspecto comum agrave grande maioria das comunidades sejam as surgidas antes ou a
partir do final do seacuteculo XIX eacute que os territoacuterios se constituiacuteram desde o iniacutecio a
partir do uso de terras natildeo apenas para moradia e cultivos de subsistecircncia mas para
diversas praacuteticas ndash coleta caccedila pesca rituais sagrados ndash que pouco a pouco foram
criando viacutenculos afetivos e sentimentos de pertenccedila
Apesar do governo defender desde 2003 que a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute a base para a
implantaccedilatildeo de alternativas de desenvolvimento aleacutem de garantir a reproduccedilatildeo fiacutesica social e
cultural de cada comunidade haacute um longo caminho a ser percorrido pelas comunidades
quilombolas haja vista a situaccedilatildeo de lentidatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de titulaccedilatildeo
territorial (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 2003 p 25)
Ao sair do acircmbito da Fundaccedilatildeo Cultural Palmares a partir do Decreto nordm 48872003 a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria de territoacuterios quilombolas ao ser assumida pelo INCRA traz o tema
para o acircmbito da questatildeo agraacuteria sem deixar de fazer parte da dimensatildeo eacutetnica e cultural
Para Germani (2010 apud SANTOS F L 2013)
O problema da questatildeo quilombola se insere no bojo da questatildeo agraacuteria agrave medida
que envolve disputas poliacuteticas e territoriais motivadas pela desigual estrutura
fundiaacuteria brasileira capitaneada lsquo [] pelos interesses antagocircnicos entre os agentes
hegemocircnicos do capital o Estado as organizaccedilotildees e os movimentos sociais de luta
pelana terrarsquo
Todavia mesmo natildeo havendo um nuacutemero significativo de tiacutetulos entregues agraves
comunidades quilombolas no Brasil Santos F L (2013 p 1) acredita que
[] jaacute haacute hoje uma seacuterie de intervenccedilotildees puacuteblicas em curso em diversas
comunidades quilombolas em vaacuterias regiotildees do Paiacutes que do ponto de vista
13
O CCLF eacute uma organizaccedilatildeo de Direitos Humanos com trinta e cinco anos de atuaccedilatildeo quinze dos quais na
promoccedilatildeo e defesa dos direitos da populaccedilatildeo quilombola A partir de 2000 passa a colaborar com o
fortalecimento institucional da Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) o que vem a
ocorrer em 2006 com a Comissatildeo Estadual de Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(CEACQPE) e com a Coordenaccedilatildeo Nacional de Articulaccedilatildeo das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(CONAQ)
85
geograacutefico tem acionado um novo processo de (re) produccedilatildeo do espaccediloterritoacuterio
dessas comunidades quilombolas agrave medida que uma seacuterie de transformaccedilotildees
territoriais estaacute ocorrendo como resultado da regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
No acircmbito da luta poliacutetica o povo quilombola jaacute enfrentou ameaccedilas concretas agrave
manutenccedilatildeo das conquistas obtidas no campo da regularizaccedilatildeo dos seus territoacuterios Como
exemplo foi ajuizada pelo Partido Democrata (DEM) uma Accedilatildeo Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN no
3239-9600) no Supremo Tribunal Federal que contestava
principalmente o direito agrave terra das comunidades que uma vez tituladas se tornam
inalienaacuteveis e coletivas E em maio de 2007 o deputado Valdir Collato (PMDBndashSC)
apresentou o Projeto de Decreto Legislativo no44 de 2007 com o objetivo de suspender a
aplicaccedilatildeo do Decreto no
4887 e anular todos os atos administrativos expedidos com base
neste Decreto Ambas ameaccedilas foram barradas com base no artigo 68 da Constituiccedilatildeo
Federal (BISPO 2012 p 1)
Estes fatos refletem a ideologia conservadora representada no Congresso ao tratar a
questatildeo fundiaacuteria segundo interesses das oligarquias rurais e agraacuterias tentando barrar as
conquistas poliacuteticas de Estado dos povos quilombolas que do ponto de vista da legislaccedilatildeo
tentam resgatar a diacutevida histoacuterica com este segmento da sociedade a fim de assegurar mais
justiccedila social em que pese todos os entraves concretos agrave efetivaccedilatildeo das conquistas juriacutedicas
ateacute entatildeo
Os discursos e conquistas legais suscitam esperanccedilas poreacutem as demandas das
comunidades quilombolas relativas ao territoacuterio no Brasil vem sendo respondidas com
morosidade As causas dessa letargia vatildeo desde as estruturais econocircmicas poliacuteticas e
histoacutericas como tambeacutem a insuficiecircncia teacutecnica e de orccedilamento fruto da natildeo priorizaccedilatildeo
poliacutetica com a questatildeo (SAUER 2010)
Em Pernambuco essa realidade natildeo eacute diferente do restante do paiacutes haja visto que das
121 comunidades quilombolas atualmente reconhecidas apenas duas satildeo tituladas que satildeo as
Comunidades de Castainho no Municiacutepio de Garanhuns e a de Conceiccedilatildeo das Crioulas em
Salgueiro uma das trecircs Comunidades deste estudo
A luta da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas pelo territoacuterio eacute marcada por
conflitos com fazendeiros que desde o iniacutecio do seacuteculo XX de forma iliacutecita foram
adquirindo terras em suas aacutereas acarretando a diminuiccedilatildeo significativa do que havia sido
conseguido com o suor de muitos As invasotildees por parte de fazendeiros presenciada pelos
moradores provocaram uma diminuiccedilatildeo expressiva dos territoacuterios das muitas famiacutelias que
dependem deles para sobrevivecircncia
86
Os brancos chegavam e pediam me decirc aqui praacute eu colocar um curral para deixar o
gado ai [] Ai as pessoas jaacute dava os filhos pra eles serem padrinho e aiacute eles iam
entrando se apossando [] eles ficaram com tudo e noacutes quase nada (CENTRO DE
CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 21)
Foi no ano de 2000 que Conceiccedilatildeo das Crioulas recebeu o tiacutetulo de seu territoacuterio pela
FCP oacutergatildeo na eacutepoca responsaacutevel pela titulaccedilatildeo das terras quilombolas A concessatildeo do tiacutetulo
no entanto natildeo implicou a retirada dos ocupantes natildeo quilombolas (proprietaacuterios eou
posseiros) que continuavam a gerar conflitos e episoacutedios de violecircncia em Conceiccedilatildeo das
Crioulas As providecircncias necessaacuterias natildeo foram adotadas para a desapropriaccedilatildeo e o
reassentamento Em 2004 foi aberto novo procedimento de titulaccedilatildeo no INCRA trazendo
uma esperanccedila de que os fazendeiros fossem desapropriados e o problema fundiaacuterio
solucionado E desde 2008 o processo encontrava-se em fase de RTID
A luta pela regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Santana tem como marco o ano de 2006
quando foi enviada solicitaccedilatildeo agrave FCP para certificaccedilatildeo da comunidade obtida em
12032007 Em 2011 o INCRAMDA publicou no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo e no Diaacuterio
Oficial de Pernambuco o RTID referente ao quilombo que foi ldquobatizadordquo de comunidade
remanescente quilombola Santana III (INCRA 2011 p 108) O RTID foi elaborado com base
no Relatoacuterio Antropoloacutegico estruturado pelo antropoacutelogo Geraldo Barboza de Oliveira Juacutenior
em 2009 a pedido do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF como parte do Subprograma de
Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que consta do Programa Baacutesico Ambiental de
Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas o PBA 17 Com base no Relatoacuterio
Antropoloacutegico de Caracterizaccedilatildeo Histoacuterica Econocircmica Ambiental e Soacutecio-Cultural da
Comunidade Remanescente do Quilombo de Santana
Tal ocupaccedilatildeo eacute legitimada pela lembranccedila de seus moradores A relaccedilatildeo com a terra
eacute marco da existecircncia da comunidade de remanescente de quilombo de Santana Os
relatos satildeo de uma objetividade singular quanto se trata dos limites da comunidade
de Santana (OLIVEIRA JUacuteNIOR 2009 apud BRASIL 2011 p 104)
Ressaltamos que a publicaccedilatildeo do RTID natildeo avanccedilou no tocante ao detalhamento mais
atual e fiel das particularidades da comunidade quilombola de Santana particularmente no
contexto das obras da transposiccedilatildeo e seus impactos na aacuterea (BRASIL 2011) Isto demonstra
que apesar de mais um passo ter sido dado para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de
Santana haacute inuacutemeras contradiccedilotildees e interesses poliacuteticos e econocircmicos envolvendo a questatildeo
e o processo para titulaccedilatildeo definitiva continua
O quilombo de Contendas formado pelas localidades de Contendas e Tamboril tem
apenas o territoacuterio de Tamboril certificado pela FCP 2007 e natildeo haacute informaccedilotildees sobre outras
87
etapas do processo Tamboril eacute um territoacuterio desapropriado pelo INCRA comprado para
reforma agraacuteria Essa aacuterea historicamente eacute de uso da comunidade para o plantio para a
pecuaacuteria para subsistecircncia das famiacutelias Desde 1998 o natildeo reconhecimento deste territoacuterio
como um quilombo desencadeou um conflito entre os quilombolas e o governo
A gente trabalha nesta terra haacute muitos anos Jaacute vem de 100 anos meu avocirc morreu
com a idade de 100 anos eu acho que noacutes jaacute pagamos essa terra Jaacute taacute mais do que
paga a gente desde crianccedila trabalhando nessa terra Eu estou com 64 anos natildeo
estou mais trabalhando nela mas tem minha famiacutelia meus filhos genros netos Aiacute
a gente ta querendo ficar com ela como quilombola pelos quilombolas (CENTRO
DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008 p 24)
Apenas o processo de certificaccedilatildeo natildeo traz a seguranccedila necessaacuteria sobre os direitos ao
territoacuterio O discurso do governo de que para esta comunidade as condiccedilotildees satildeo mais
favoraacuteveis natildeo tranquiliza a populaccedilatildeo quilombola de ContendasTamboril
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute diz ldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacute mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos []
(Lideranccedila 2)
O PBA 17 jaacute referido anteriormente traz a justificativa de que
Independente da situaccedilatildeo em que se encontrem os territoacuterios quilombolas situados
nos municiacutepios de influecircncia direta do empreendimento partiu-se da constataccedilatildeo de
que se faz necessaacuterio em caraacuteter imediato a agilizaccedilatildeo dos processos de
reconhecimento demarcaccedilatildeo e desintrusatildeo dos mesmos a fim de garantir a
estabilizaccedilatildeo e a seguranccedila das comunidades quilombolas (BRASIL 2005 p 3)
O subprograma de Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas que constitui o PBA 17
apresenta como objetivo
Apoiar o processo de reconhecimento e garantia territorial das comunidades que se
auto definem como quilombolas situadas na aacuterea de influecircncia direta do
empreendimento atraveacutes do estabelecimento de uma parceria entre o Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo Nacional e o INCRAMDA com a alocaccedilatildeo de recursos para
identificaccedilatildeo delimitaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo fundiaacuteria dos territoacuterios quilombolas
(BRASIL 2005 p 4)
E como meta esse subprograma aponta a ampliaccedilatildeo do nuacutemero de territoacuterios
quilombolas regularizados bem como a reduccedilatildeo dos conflitos pela posse de terra
Mas as intenccedilotildees e o discurso governamental natildeo se concretizam em uma praacutetica
efetiva que garanta o cumprimento de sua meta haja visto que nas aacutereas do nosso estudo
88
apenas a comunidade de Santana teve o apoio do MI que com a contrataccedilatildeo de um
antropoacutelogo elaborou o Relatoacuterio Antropoloacutegico ferramenta necessaacuteria para avanccedilar no
RTID junto ao INCRA
Para a comunidade de ContendasTamboril nenhuma medida concreta foi tomada ateacute o
momento De forma sucinta a situaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo (Quadro 9)
Quadro 9 - Situaccedilatildeo juriacutedica quanto agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das comunidades do estudo
MUNICIacutePIO COMUNIDADE SITUACcedilAtildeO JURIacuteDICA
CONTRIBUICcedilAtildeO DO
PISF NO PROCESSO DE
REGULARIZACcedilAtildeO
SIM NAtildeO
Salgueiro
Santana - Em 2006 - Reconhecida pela FCP (12032006)
- Em 2011- Publicaccedilatildeo pelo INCRA do RTID
X
X
Contendas
Tamboril
-Reconhecida pela FCP em 02032007 (apenas a
aacuterea Tamboril)
-Tamboril- aacuterea desapropriada pelo INCRA
gerando conflitos
X
X
Conceiccedilatildeo das
Crioulas
-Em 2000 - Titulada em 14072000 pela FCP
-Em 2004 - Processo de Regularizaccedilatildeo aberto no
INCRA
- Em 2008 - Elaboraccedilatildeo de RTID
X
X
X
Fonte A autora 2014
Quanto a novos processos de titulaccedilatildeo em marccedilo de 2008 havia vinte e uma
comunidades quilombolas de Pernambuco com processos abertos no INCRA poreacutem em
apenas seis processos havia sido tomada alguma providecircncia por parte do INCRA
(ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE
PERNAMBUCO 2008)
Conforme a Articulaccedilatildeo das Comunidades Quilombolas do Estado de Pernambuco
(ACQEP)14
ainda permanece na agenda de prioridades em primeiro lugar a luta pela
titulaccedilatildeo da terra ao lado de demandas relativas agraves poliacuteticas sociais e recursos para o
desenvolvimento de atividades geradoras de renda (ARTICULACcedilAtildeO DAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011)
Para Sauer (2010 p 6)
[] o direito ao territoacuterio eacutetnico eacute condiccedilatildeo sine qua non para a garantia de outros
direitos humanos como o direito agrave alimentaccedilatildeo ao trabalho e agrave moradia bem como
agrave preservaccedilatildeo da cultura ancestral das comunidades quilombolas [] A morosidade
do Estado em garanti-los consubstancia uma violaccedilatildeo de direitos humanos por
omissatildeo e perpetua a injusticcedila histoacuterica de que as comunidades quilombolas satildeo
viacutetimas
14
Organizaccedilatildeo criada em 2003 em Pernambuco com objetivo de ldquoarticular as comunidades do estado para que a
luta pela garantia dos direitos dos quilombolas avance de forma integradardquo (ARTICULACcedilAtildeO DAS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO 2011) A sua fundaccedilatildeo deu-se
durante o II Encontro das Comunidades Quilombolas de Pernambuco que a Associaccedilatildeo Quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas promoveu em maio de 2003 com o apoio do Centro de Cultura Luiz Freire A
representaccedilatildeo estadual encontra-se sediada em Conceiccedilatildeo das Crioulas
89
E ao referir-se ao Projeto de transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco Sauer (2010)
acrescenta que as obras violam os direitos humanos dessas populaccedilotildees principalmente o
direito agrave terra e territoacuterio
Essa violaccedilatildeo causada pela implementaccedilatildeo de um projeto de governo como o projeto
da transposiccedilatildeo desrespeita o que preconiza a Constituiccedilatildeo Federal quando estabelece como
princiacutepios norteadores da Repuacuteblica Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e
institui como objetivos construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria garantir o
desenvolvimento nacional erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades
sociais e regionais e promover o bem de todos sem preconceito de origem raccedila sexo cor
idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo Portanto a concretizaccedilatildeo do direito de
propriedade agraves comunidades quilombolas eacute um passo para efetivar esses preceitos (GAMA
OLIVEIRA 2007)
62 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA
A comunidade quilombola de Santana em Salgueiro Pernambuco eacute adscrita ao
distrito de Umatildes desde 1910 e formada pelos siacutetios Livramento Jurema Olaria Recanto e a
proacutepria Santana que representa o centro da comunidade Neste Siacutetio foi erguida a igreja
catoacutelica dedicada agrave Senhora Santana
A figura 2 mostra o mapa do territoacuterio de Santana produzido por moradores
quilombolas No mapa haacute indicaccedilatildeo do acesso ao siacutetio Olaria (esquerda parte inferior do
mapa) a igreja e as casas no centro da comunidade (esquerda parte superior) estrada para
Salgueiro (direita parte inferior) dentre outras caracteriacutesticas do territoacuterio A figura 3 mostra
uma das casas do Siacutetio Recanto onde realizamos o grupo focal
Figura 2 - Mapa do Quilombo Santana
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 40)
Figura 3 - Siacutetio Recanto Quilombo de Santana
Fonte A autora 2013
90
A partir da histoacuteria oral estima-se que o quilombo de Santana existe haacute cerca de 200
anos com uma aacuterea de 2402 hectares
Durante todo o seacuteculo XX
essas famiacutelias foram estabelecendo relaccedilotildees sociais econocircmicas e de casamento
entre si vivendo da agricultura e superando juntas os periacuteodos de seca
especialmente a de 1932 quando a memoacuteria dos mais velhos recordam os tempos de
comer chique-chique patildeo de mucunatilde lavado em sete aacuteguas farinha feita da cuca de
umbu xereacutem pipoca mugunzaacute doce e branco piratildeo feito com a farinha da cuca do
umbuzeiro beiju de parreira [] (CENTRO DE CULTURA LUIacuteS FREIRE 2008
p 39)
O acesso de Santana se daacute por estrada natildeo pavimentada a uma distacircncia de 24 km da
sede de Salgueiro 10 km a oeste do distrito de Umatildes e a 20 km da cidade de Terra Nova Em
Relaccedilatildeo agrave Recife encontra-se a uma distacircncia de 554 km (BRASIL 2011)
63 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA E O PROJETO DE
TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Que rumor eacute esse na mata
e Por que se alarma a natureza
Aieacute a moto-serra que mata
Cortante oxigecircnio e beleza
Carlos Drummond de Andrade
O projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco pode ser visto com um marco na
histoacuteria desta comunidade com sua histoacuteria podendo ser escrita antes e depois desse projeto
O quilombo de Santana estaacute proacuteximo ao canal do Eixo Norte no trecho I dentro da
Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) Inicialmente identificada pelo projeto como comunidade
rural e inserida no Programa Ambiental de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacuteguas ao
Longo dos Canais (PBA15) foi posteriormente incluiacuteda no Programa Ambiental de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas- o PBA 17 objeto de atenccedilatildeo no capiacutetulo 8
deste estudo (BRASIL 2005 p 3)
Com as visitas feitas por teacutecnicos do MI antes do iniacutecio das obras do canal a
comunidade criou uma expectativa positiva em torno do Projeto pois os rumores eram de que
chegaria aacutegua e haveria empregos para todos Acreditava-se que a ldquocara da comunidade ia
mudarrdquo mas que seria para melhor
[] o primeiro contato que a gente teve com o pessoal do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
foi com Carlos Braga O primeiro contato que a gente teve e ele falou que o projeto
91
viria para melhorar a comunidade para mudar a cara da comunidade que ia ser um
projeto muito bom e todo mundo ficou muito feliz achando que ia ter acesso agrave aacutegua
pra agricultura foi o que deu a entender na primeira conversa [] Com o passar do
tempo a gente foi conhecendo melhor o projeto foi sendo apresentado pra gente e a
gente ficou sabendo que seria aacutegua para o consumo humano e que as comunidades a
5 km pra cada lado do canal seriam atendidas com aacutegua para o consumo humano
mas que natildeo teria acesso a aacutegua pra agricultura[] (Lideranccedila 1)
Atualmente as obras do canal passam dentro do territoacuterio de Santana (Figuras 4 e 5) e
vem deixando marcas profundas de degradaccedilatildeo ambiental e perdas A populaccedilatildeo chegou a
acreditar que haveria um diaacutelogo e consulta com o MI sobre o ritmo das obras os trechos em
que a obra ia acontecer como preservar a mata e aacutervores centenaacuterias poreacutem o processo se
deu como se fora em ldquoterras de ningueacutemrdquo
[] E aiacute acabou que parte do nosso territoacuterio precisou ser cedido 100 m para cada
lado do canal a gente teve que ceder para o Ministeacuterio pra construccedilatildeo do canal e aiacute
aleacutem do barulho da poeira que a obra causa mesmo o que mais doeu assim na
comunidade vecirc foi aacutervores que tinham um valor histoacuterico pra gente um valor
sentimental e que a gente viu assim ser cortadas ser dizimadas e natildeo teve nenhum
respeito porque a gente faz todo um trabalho ambiental de respeito de natildeo
desmatar tem aacutervores assim que a gente nem sabe haacute quantos anos estavam ali e a
gente viu ser derrubado foi doloroso essa parte Natildeo porque na verdade assim a
gente achou a gente achava que como a terra era nossa eles natildeo iam chegar laacute e
desmatar assim Soacute que natildeo foi bem assim A obra vinha avanccedilando e a gentersquo natildeo
mas eles natildeo vatildeo entrar aquirsquo porque quando a obra passou as pessoas que iam ser
indenizadas natildeo tinham sido indenizadas ainda e a gente achou que natildeo fosse
acontecer que natildeo ia ser assim mas a obra veio e veio e passou realmente e foi
derrubando foi muito raacutepido e a gente meio que ficou atocircnico sem acreditar natildeo
mas como assim A terra eacute nossa e a gente natildeo derrubou essas aacutervores e agora eles
vem e derrubam Foi muito raacutepido mesmo assim a gente natildeo acreditava mesmo A
gente achou que espera aiacute a terra eacute da gente Entatildeo eles primeiro vatildeo vir aqui vatildeo
conversar com a gente mas natildeo foi (Lideranccedila 1)
Figura 4 - Placa afixada pelo MI ao lado das
obras do canal
Fonte A autora 2013
Figura 5 - Obras do canal - Territoacuterio do Quilombo de
Santana
Fonte A autora 2013
Com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 399 habitantes totalizando 85 famiacutelias
vivendo da agricultura familiar e pecuaacuteria o quilombo de Santana tinha terras destinadas agrave
92
agricultura que satildeo de responsabilidade de cada nuacutecleo familiar reunindo pais filhos e netos
mas no ciclo da colheita costumavam adotar o sistema de mutiratildeo quando todos
trabalhavam juntos nas roccedilas uns dos outros (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008
p 39)
No entanto com as obras da transposiccedilatildeo temos que nos referir a essa forma de
sobrevivecircncia como coisa do passado em virtude da interferecircncia de forma violenta e
devastadora nos meios de subsistecircncia das famiacutelias nas aacutereas de plantio coletivo chamada
sequeiro15
onde se davam as praacuteticas de agricultura familiar e da pecuaacuteria
Como afirma Rinaldo Arruda as populaccedilotildees tradicionais dentre elas as quilombolas
apresentam um modelo de ocupaccedilatildeo do espaccedilo e uso dos recursos naturais voltado
principalmente para a subsistecircncia com fraca articulaccedilatildeo com o mercado baseado
em uso intensivo de matildeo de obra familiar tecnologias de baixo impacto derivadas
de conhecimentos patrimoniais e habitualmente de base sustentaacutevel Essas
populaccedilotildees ndash caiccedilaras ribeirinhos seringueiros quilombolas e outras variantes ndash em
geral ocupam a regiatildeo haacute muito tempo natildeo tecircm registro legal de propriedade
privada individual da terra definindo apenas o local de moradia como parcela
individual sendo o restante do territoacuterio encarado como aacuterea de uso comunitaacuterio
com seu uso regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas
internamente (ARRUDA 2000 p 274)
Narrativas feitas por lideranccedilas confirmam as marcas deixadas no territoacuterio na forma
de vida dos moradores na paisagem
E aiacute de perca mesmo assim fica pra gente a questatildeo do territoacuterio que era nessa aacuterea
que era uma roccedila comunitaacuteria de aacuterea de sequeiro que todo mundo ia laacute plantava
laacute e se perdeu Eu mesma natildeo consigo localizar nem onde era tamanha foi a
transformaccedilatildeo desmatou uma faixa muito grande assim eu natildeo tenho nem como
localizar onde era essa roccedila (Lideranccedila 1)
No olhar de Milton Santos por haver geografias desiguais no mundo surgem
configuraccedilotildees com preparos diferentes uma das outras para o que ele chama de certas
inovaccedilotildees (SANTOS F M 2012)
Podemos pensar entatildeo que a realidade de Santana se apresenta como uma aacuterea onde
A estrutura imposta (inovaccedilatildeo) manteacutem uma tatildeo grande oposiccedilatildeo relativamente agraves
formas existentes que estas nunca se acham inteiramente integradas ao novo este e
o velho operam lado a lado embora natildeo sejam duas entidades separadas e
autocircnomas Por conseguinte a paisagem eacute formada pelos fatos do passado e do
presente (SANTOS F M 2012 p 68)
15
Aacuterea de sequeiro eacute assim eacute um espaccedilo que agente usa mesmo quando natildeo tem aacutegua de jeito nenhum mas eacute
um espaccedilo para tirar umbu tirar lenha tirar estacas para criar os animais soltos bode vacas Eacute uma aacuterea
assim que a gente precisa pra se sustentar pra se manter [] Eacute uma aacuterea coletiva que a gente precisa praacute
sobreviver porque como eacute zona rural entatildeo a gente tem necessidades especificas e a gente precisa dessa aacuterea
para sobreviver (informaccedilatildeo verbal - Lideranccedila 1)
93
Compreender a organizaccedilatildeo espacial do quilombo Santana e de sua evoluccedilatildeo a partir
das obras da transposiccedilatildeo pode ser possiacutevel Segundo Santos M (2012) com base numa
aprimorada interpretaccedilatildeo do processo dialeacutetico entre formas estrutura e funccedilotildees (categorias
do meacutetodo geograacutefico) atraveacutes do tempo Na tentativa de adaptaccedilatildeo para o contexto espacial
da aacuterea em estudo aproximamos as definiccedilotildees feitas pelo autor para cada categoria em
questatildeo
a) A forma como aspecto visiacutevel de uma coisa ao arranjo ordenado de objetos a um
padratildeo (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser considerado como o proacuteprio canal
que estaacute sendo construiacutedo
[] Passou no meio da comunidade e ai dividiu Ficou o lugar que a gente tem as
casas e o lugar que a gente planta no riacho e aiacute do outro lado no meio mesmo
onde fica o canal onde era a roccedila comunitaacuteria e do outro lado era onde a gente
criava bode vacas soltas na caatinga e grande parte de Santana taacute do outro lado
pelo mapa vocecirc vai vecirc que tem um pedacinho de Santana e ai o canal passa do outro
lado eacute a maior faixa de Santana e ai fica do outro lado do canal [] (Lideranccedila 1)
b) A funccedilatildeo relacionada a uma tarefa ou atividade esperada de uma forma pessoa
instituiccedilatildeo ou coisa (SANTOS F M 2012 p 69) pode ser associada agraves
passarelas e passagens necessaacuterias e solicitadas pela populaccedilatildeo assim como a
finalidade uacuteltima do canal que poderia ser beneficiar a populaccedilatildeo local
[] A questatildeo das passarelas a gente conversou para aumentar a quantidade de
passarelas para nossos animais conseguir ir e voltar mas ai natildeo foi feito A gente
vem conversando sobre o aumento de passarelas e natildeo estaacute sendo feito ainda eles
falam que vai vecirc que o engenheiro vai vecirc e tal e natildeo foi visto ainda (Lideranccedila 1)
O projeto natildeo foi concluiacutedo natildeo tem aacutegua ainda no canal A expectativa eacute que pelo
menos quando tiver aacutegua as pessoas possam usar O que diz no projeto eacute que a aacutegua
vai servir para essas comunidades para o consumo das pessoas e dos animais mas
assim a expectativa em si do povo natildeo eacute soacute essa porque as pessoas plantam e aiacute
precisa da aacutegua pra plantar pra irrigar a cultura (Gestora 2)
c) A estrutura que implica a inter-relaccedilatildeo de todas as partes de um todo o modo de
organizaccedilatildeo ou construccedilatildeo (SANTOS F M 2012 p 69) podemos associaacute-la agraves
vaacuterias dimensotildees implicadas no projeto e nas obras do canal
[] A gente vecirc as questotildees das matas em si dos espaccedilos dos territoacuterios das
pessoas A comunidade de Santana mesmo passou o Projeto de Integraccedilatildeo passou
mesmo pelo territoacuterio de Santana e aiacute tem essa questatildeo de impacto em relaccedilatildeo ao
territoacuterio mesmo do espaccedilo e comunidade que envolve toda a questatildeo social e
econocircmica O pessoal foi indenizado no espaccedilo do canal mas soacute o espaccedilo onde
passa o canal A comunidade ficou de um lado o territoacuterio onde as pessoas
trabalhavam criavam os animais ficou do outro lado do canal (Gestora 2)
94
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo focal 3)
64 UM RETRATO DE SANTANA DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP E A
PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Santana foram aplicados sete questionaacuterios CAP representando 875 das
famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
No aspecto escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 32 pessoas sendo 19
homens e 13 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias eram constituiacutedas
por mais homens que mulheres (593 para 407) entretanto o niacutevel de escolaridade geral
entre homens e mulheres eacute muito proacuteximo com as mulheres apresentando percentual de
846 com algum grau de escolaridade e os homens com 842 Entre as pessoas sem
nenhuma escolaridade a tendecircncia se manteve com percentual quase igual entre homens e
mulheres analfabetos (158 para homens e 153 para mulheres) Quanto ao grau de
escolarizaccedilatildeo para o ensino fundamental as mulheres aparecem com 615 concluiacutedo e os
homens com 579 Para o ensino meacutedio 263 dos homens haviam concluiacutedo contra 23
das mulheres (Graacutefico 01) Nenhum membro das famiacutelias tinha curso superior
Graacutefico 1 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A comunidade contava com duas escolas municipais estando uma sem funcionamento
e outra que funcionava em condiccedilotildees precaacuterias Poreacutem atualmente as escolas estatildeo fechadas e
95
as crianccedilas da comunidade precisam deslocar-se para estudar nos Distritos de Umatildes e Pau
Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras do canal
Olha laacute em Santana a escola de laacute foi fechada mas foi fechada porque tinha um
nuacutemero pequeno de crianccedilas Inclusive noacutes temos uma ata aqui assinada pelos pais
jaacute dizendo que aceitavam o fechamento da escola Porque era uma escola
multisseriada e soacute tinha 21 crianccedilas entatildeo elas essas crianccedilas foram multisseriada
desde educaccedilatildeo infantil ateacute o quinto ano aiacute tornava assim mais dificultoso tanto
para o professor como para o municiacutepio que tambeacutem precisava ter uma merendeira
uma auxiliar e entatildeo as crianccedilas de laacute foram transferidas para escolas Algumas
estudam na de Umatildes outras estudam no Pau Ferro Entatildeo elas foram transferidas de
comum acordo com as famiacutelias e elas foram estudar nessas escolas (Gestora 2)
Tem hora que o desvio estaacute interrompido e vocecirc tem que arrodear laacute por outro local
aiacute tem a escola da gente que fica laacute do outro lado do canal [] a questatildeo da escola
construccedilatildeo de escolas tambeacutem foi prometido tambeacutem e natildeo foi construiacutedo
(Lideranccedila 1)
Quanto agraves questotildees referentes agrave sauacutede as informaccedilotildees do questionaacuterio fazem menccedilatildeo
agrave estrateacutegia de sauacutede da famiacutelia pela Secretaria Municipal de Sauacutede com presenccedila do agente
comunitaacuterio pelo PACS e visita de meacutedico a idosos da comunidade Os problemas de sauacutede
mais frequentes na comunidade apontados pelo questionaacuterio CAP apresentam uma coerecircncia
com as narrativas dos sujeitos do estudo indicando uma relaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo
(Graacutefico 2)
Graacutefico 2 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem- Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2010
As obras da transposiccedilatildeo vecircm comprometendo e fragilizando a sauacutede de moradores
conforme relatos que confirmam os agravos em torno de problemas respiratoacuterios provocados
pela poluiccedilatildeo ambiental Consequecircncia das inuacutemeras explosotildees para construccedilatildeo do canal
houve um aumento na frequecircncia de problemas de sauacutede entre os moradores tanto de ordem
fiacutesica como emocional Haacute relatos de episoacutedios constante de gripes e de problemas
96
respiratoacuterios aleacutem de alteraccedilotildees na pressatildeo arterial com os sobressaltos provocados nos
momentos das explosotildees Pessoas portadoras de deficiecircncia tecircm vivenciado momentos de
inseguranccedila e medo Algumas casas na comunidade tambeacutem apresentam grandes rachaduras
provocadas pelas explosotildees A narrativa abaixo e reveladora dessas situaccedilotildees
Tem Poeira [] Olhe aiacute quem taacute fazendo tratamento por causa da poeira E o
meacutedico jaacute disse que eacute a poeira do canal [] Poeira quente Oi aqui de um lado e de
outro se vocecirc andar na caatinga assim quando vocecirc sair fora ningueacutem vai taacute com
qualidade de roupa natildeo soacute eacute terra ao redor do canal umas duzentas trezentas
braccedilas soacute eacute terra mesmo [] Tem gente que tem alguns deficientes em casa que na
hora que estoura as bombas chega minha sogra mesmo eacute uma ela tem uma
deficiente que na hora que estoura as bombas ateacute passar mesmo daacute um medo a
pressatildeo sobe laacute pra cima [] tem gente que ajeita as casa deixa as casa bem
bonitinha aiacute com as explosatildeo quando vocecirc olha assim as casas estatildeo terminando de
rachar ateacute embaixo e eles natildeo ligam pra isso ai natildeo eles querem saber que estatildeo
terminado a obra deles [] Quando daacute cinco horas que paacutera vocecirc vai praacute casa
pensa que eacute chuva neacute Soacute terra (Grupo Focal 3)
As medidas adotadas pelas pessoas da comunidade quando estatildeo doentes segundo
informaccedilotildees do questionaacuterio CAP mostra uma maior procura pelo atendimento hospitalar
(428) e posto de sauacutede (357) em detrimento ao uso das praacuteticas tradicionais como
consultas ao rezador (143) e uso de remeacutedios caseiros (714) que juntas representam 2144
(Graacutefico 2)
Entretanto o Centro de Cultura Luiz Freire afirma que haacute situaccedilotildees particulares de
sauacutede que continuam a ser tratadas pelas pessoas de referecircncia na comunidade como as
rezadeiras e benzedeiras
As praacuteticas tradicionais de reza e cura satildeo recorrentes no quilombo Santana Existem
rezadeiras e benzedeiras atuantes que satildeo procuradas para os casos de mau olhado quebrante
dor de cabeccedila e espinhela caiacuteda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 41)
Quanto ao atendimento de sauacutede oferecido agrave comunidade os serviccedilos satildeo prestados no
Posto de Sauacutede do Distrito de Pau Ferro cujo acesso estaacute mais difiacutecil com as obras da
transposiccedilatildeo
[] agora ateacute pra gente ateacute para o ser humano ir pra Pau Ferro para ter acesso agrave
sauacutede e tudo encontra dificuldade porque agraves vezes vocecirc vai aiacute o desvio eacute por outro
local depois vocecirc vai e o desvio jaacute eacute por outro local [] o PSF fica do outro lado
canal [] mas a princiacutepio foram muitas promessas com relaccedilatildeo agrave sauacutede PSF foi
prometido natildeo foi cumprido [] (Lideranccedila 1)
A assistecircncia agrave sauacutede oferecida agrave Comunidade de Santana parece distante do que
preconiza a Poliacutetica Nacional de Sauacutede Integral da Populaccedilatildeo Negra que tem como um dos
objetivos especiacuteficos ldquoGarantir e ampliar o acesso da populaccedilatildeo negra do campo e da floresta
97
em particular as populaccedilotildees quilombolas agraves accedilotildees e aos serviccedilos de sauacutederdquo (BRASIL p 39
2007)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de Santana os
dados do questionaacuterio mostravam uma predominacircncia para o trabalho na agricultura (583)
seguido da renda proveniente da aposentadoria (25) (Graacutefico 3)
Graacutefico 3 - Fonte de Renda - Comunidade Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE
2010
A agricultura familiar base de produccedilatildeo da comunidade eacute exercida com o cultivo
principalmente de arroz feijatildeo milho cebola tomate coentro e pimentatildeo Os agricultores
estatildeo politicamente organizados na Associaccedilatildeo Quilombola de Santana instituiccedilatildeo que busca
potencializar as demandas poliacuteticas da comunidade (LUCENA 2013)
Lucena (2013 p 3) ressalta tambeacutem como atividade existente na comunidade
Tambeacutem eacute relevante destacar a atividade de artesanato desenvolvida por um grupo
de mulheres da comunidade O artesanato eacute constituiacutedo por bordados e rendas O
grupo estaacute atualmente buscando articular tambeacutem a produccedilatildeo de colares usando
sementes da Caatinga A renda das famiacutelias eacute acrescida com a aposentadoria rural e
o Cartatildeo Bolsa Famiacutelia
Poreacutem as obras da transposiccedilatildeo somada agrave situaccedilatildeo climaacutetica vem interferindo na
forma tradicional de trabalho das famiacutelias quilombolas de Santana e da regiatildeo do semiaacuterido
Haacute narrativas de que as obras da transposiccedilatildeo ldquovem resolvendordquo temporariamente
para uma parcela da comunidade as dificuldades financeiras e de trabalho Mas a pergunta de
como seraacute apoacutes a conclusatildeo das obras aparece no discurso como uma preocupaccedilatildeo concreta
[] Sim a transposiccedilatildeo [] Foi 2009 ou 2010 [] Foi 2009 Pois eacute na eacutepoca eu
tava aqui mas quando eu tava eu pelejei praacute entrar mas natildeo entrei aiacute tambeacutem fui
embora Aiacute graccedilas aacute Deus que eu entrei aqui numa firma fiquei uns tempo nela
depois sai de laacute e entrei aqui na transposiccedilatildeo ainda estou nela [] Eacute estou Estou
achando bom por que noacutes natildeo consegue trabalhar aonde [] Oh Mas uma coisa eu
98
digo a vocecircs taacute certo que essa Transposiccedilatildeo ela taacute seguindo agora mas a pessoa tem
que pensar assim veja se eu estou errada hoje taacute tendo emprego vamos dizer pros
pai de famiacutelia sustentar sua famiacutelia tudo que tem comeccedilo tem fim Essa obra
comeccedilou igualmente um dia ela vai ter que terminar quando ela terminar quem taacute
na firma vai vazar o dinheiro vai acabar neacute [] (Grupo Focal 3)
A Comunidade de Santana organizada em torno da Associaccedilatildeo Quilombola eacute
vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
(ACQEP) que atua na luta pela garantia dos direitos dos quilombolas no Estado
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que metade dos entrevistados (50) participava da associaccedilatildeo de moradores e a
outra metade se dividiu entre os que natildeo estavam inseridos em nenhum grupo (375) e os
que participam de grupos religiosos (125)
Poreacutem ao referir-se a participaccedilatildeo em eventos realizados na aacuterea quase a metade dos
entrevistados (429) mencionou participaccedilatildeo em eventos de caraacuteter religioso seguido de
eventos culturais (286) sociais e esportivos (Graacutefico 4)
Graacutefico 4 - Participaccedilatildeo em Grupos e Eventos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Como equipamentos coletivos haacute na comunidade os espaccedilos das igrejas catoacutelica e
evangeacutelica as escolas (atualmente fechadas) o campo de futebol e as roccedilas nas eacutepocas de
mutirotildees (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 40) atualmente prejudicadas
com as obras do canal da transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo aos eventos que ocorrem no quilombo de Santana Lucena faz menccedilatildeo as
comemoraccedilotildees no mecircs junho quando a comunidade realiza festejos juninos envolvendo
comunidades circunvizinhas A noite de Satildeo Joatildeo (2306) eacute animada com quadrilhas e muito
forroacute E ao teacutermino do forroacute por volta de quatro horas da manhatilde eacute realizada a volta da
ressaca tradiccedilatildeo de visitar as residecircncias da comunidade As pessoas satildeo recebidas pelas
famiacutelias com comida e bebida e a volta soacute termina apoacutes a visita a todas as casas da
99
comunidade na tarde do dia 24 de junho Essa tradiccedilatildeo aleacutem de ser uma confraternizaccedilatildeo
fortalece os laccedilos de amizade entre as pessoas da comunidade (LUCENA 2013) Outros
significativos na comunidade satildeo descritos pelo autor
a comunidade tambeacutem organiza a festa de sua padroeira Santana evento realizado
na terceira semana de Julho Um outro elemento importante da comunidade de
Santana eacute a danccedila da Manzuca16
Atualmente atraveacutes da Associaccedilatildeo Quilombola de
Santana a Manzuca estaacute sendo revigorada na comunidade O grupo de Manzuca eacute
constituiacutedo por pares de danccedilarinos na sua maioria senhores e senhoras Mas jaacute estaacute
sendo realizado um trabalho para inserir os jovens na danccedila da Manzuca Ela eacute mais
danccedilada durante as festas juninas Desde 2009 que a Manzuca faz parte dos atrativos
juninos da cidade de Salgueiro [] (LUCENA 2013 p 3 grifo nosso)
A Manzuca de Santana existe desde o surgimento da comunidade no iniacutecio do seacuteculo
XIX A gravura abaixo mostra um momento festivo da comunidade com a Manzuca sendo
danccedilada tambeacutem por jovens da comunidade resultado do incentivo realizado pela Associaccedilatildeo
de Moradores de Santana (Figura 6)
Figura 6 - Mazuca de Santana
Fonte Moura (2012)
Com referecircncia as opccedilotildees de lazer existentes na comunidade pelos dados do
questionaacuterio haacute predominacircncia do uso da televisatildeo como diversatildeo para as mulheres (46) e
da bebida alcooacutelica (263) como diversatildeo para os homens o que nos parece uma
precariedade nas opccedilotildees existentes podendo significar principalmente para os homens um
risco agrave sauacutede
Agraves crianccedilas a mesma precariedade de opccedilotildees eacute observada estando reservado
principalmente brincadeiras de corrida (273) e ida ao catecismo (182) como formas de
diversatildeo (Graacutefico 5)
16
A Mazuca eacute um ritmo que mistura influecircncias indiacutegenas e africanas numa mescla de pandeiro ganzaacute e batida
de peacutes A Mazuca nasceu do encontro de escravos que fugiam para ldquoo meio do matordquo e laacute encontravam os
iacutendios Juntos eles reproduziam as festas de Mazurca danccedila popular polonesa que animava as casas-grandes
dos engenhos vistas e ouvidas de longe pelos negros da senzala (OLIVEIRA JUNIOR 2009 apud LUCENA
2013)
100
Graacutefico 5 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Ao referir-se agraves formas como chegam agraves notiacutecias na comunidade os dados do CAP
apontaram que o raacutedio eacute um veiacuteculo importante na transmissatildeo de informaccedilotildees com 353
das respostas seguido do uso do telefone (294) Apesar da precariedade quanto agrave telefonia
na aacuterea sendo uma das promessas feitas pelo MI e natildeo cumpridas junto agrave inclusatildeo digital
esse recurso tem uma penetraccedilatildeo nas formas da comunidade estabelecer os seus contatos
sendo mantidas ainda de maneira significativa o viacutenculo entre as pessoas para fazer circular
as informaccedilotildees A comunicaccedilatildeo pessoa-pessoa aparece com o mesmo percentual da
comunicaccedilatildeo por televisatildeo com 176 das respostas (Graacutefico 6)
Graacutefico 6 - Como chegam as notiacutecias e meios de transporte mais utilizados - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
101
As possibilidades de deslocamento e acesso agrave comunidade anteriormente feita por
dois caminhos devidamente identificados (por Salgueiro e pelo Distrito de Umatildes) hoje
encontra-se prejudicada com as obras da transposiccedilatildeo sendo mais um transtorno na vida dos
moradores de Santana
Dentro do territoacuterio o livre deslocamento de pessoas e animais tambeacutem estaacute
comprometido e mesmo com mobilizaccedilotildees da comunidade o problema natildeo foi resolvido
[] por enquanto soacute tem um garantido que eacute o da passagem principal pra
Salgueiromas o da passagem para os animais pra pessoas irem pra o outro lado do
territoacuterio natildeo tem nada garantido Essa eacute a questatildeo apesar das pessoas jaacute terem se
mobilizadojaacute terem enviado abaixo-assinado pedindo mostrando neacute necessidade
dessas passarelas a gente natildeo teve nenhuma resposta [] (Grupo Focal 3)
O abastecimento de aacutegua em Santana segundo o questionaacuterio CAP aponta uma
procedecircncia maior pela rede puacuteblica (75) com abastecimento tambeacutem por accedilude (25)
Poreacutem ter as casas com encanaccedilatildeo ligadas ao sistema da Compesa estaacute longe de significar
ldquoaacutegua chegando com frequecircnciardquo nas residecircncias da comunidade Antes do projeto da
transposiccedilatildeo havia uma diversificaccedilatildeo na forma de abastecimento dependendo do siacutetio que
incluiacutea aacutegua vindo do Riacho Grande de barragens cacimbas adutoras e cisternas (BRASIL
2011)
Segundo Brasil (2011) houve interrupccedilatildeo eou desvio do Riacho Grande para
fornecimento de aacutegua e o isolamento da barragem prejudicando a criaccedilatildeo e a irrigaccedilatildeo
O tratamento da aacutegua para consumo humano segundo 625 do questionaacuterio vem
sendo feito por meio do uso do cloro distribuiacutedo principalmente pelo agente de sauacutede
havendo 25 de respostas para o natildeo tratamento da aacutegua para beber (Graacutefico 7)
Graacutefico 7 - Procedecircncia da aacutegua e tratamento para consumo humano - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Nosso estudo confirma a precarizaccedilatildeo do abastecimento de aacutegua com as obras da
transposiccedilatildeo a partir da anaacutelise dos discursos
102
Apesar de haver encanaccedilatildeo em alguns siacutetios da comunidade como Recanto Jurema e
Olaria a aacutegua natildeo chega igualmente nessas aacutereas poreacutem a Compesa envia mensalmente a
cobranccedila para as famiacutelias pagarem por um serviccedilo que natildeo eacute prestado
[] Mas realmente eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc cozinhar feijatildeo eacute natildeo ter aacutegua pra vocecirc
dar a uma galinha eacute natildeo ter aacutegua mesmo [] Natildeo tem aacutegua nem pra vocecirc beber
que muitas vezes vocecirc vai no pote taacute soacute laacute aquele restinho vocecirc rapa com o caneco
no copo ainda sai com gosto de barro e vocecirc tem que tomar porque soacute tem ela []
Agora tem uma coisa a aacutegua pode vim pouco agora duvido que o papel laacute da casa
que noacutes vive eacute de R$ 80 a 100 pra pagar vem eu quero vecirc Pode num vim um pingo
drsquoaacutegua na torneira mas no final do mecircs eles traz os papelzinho com 80 a 100 sem
mentira nenhuma [] Eacute porque eles natildeo se preocupam com o motivo da pessoa natildeo
ter aacutegua eles natildeo se preocupa com a feira que a pessoa tem que botar dentro de casa
com o dinheirinho daacute aacutegua que a pessoa tira pra pagar com os filhos que a pessoa
tem praacute criar eles querem saber que tenha soacute aquele dinheiro pra pagar aacutegua pra
natildeo faltar natildeo pode faltar de jeito nenhum porque se faltar seu nome vai pra o SPC
vocecirc fica com seu nome sujo Muitas vezes por causa de cinco reais mas num vecirc
que passa o mecircs todinho e natildeo sai uma gota de aacutegua se vocecirc quiser ter aacutegua pra
lavar roupa pra beber vocecirc tem que botar uma lata em cima da cabeccedila e sair
caccedilando em pleno seacuteculo XXI Eles natildeo pensam nisso ai neacute [] Mesmo natildeo tendo
aacutegua nas torneiras aqui ainda chega aacutegua mas nos dois outros siacutetios tem Jurema
Olaria que natildeo chega aacutegua de jeito nenhum mesmo assim o pessoal continua
pagando (Grupo Focal 3)
A forma principal de abastecimento em alguns siacutetios tem sido pela contrataccedilatildeo de
carros-pipa
Eacute de carro-pipa [] E ali em Jurema tem [] Laacute natildeo chega de jeito nenhum Eacute laacute eacute
muito sofrimento aqui de vez em quando chega uma aguinha para noacutes fazer mas
laacute [] Hoje mesmo quando noacutes vinha praacute caacute Salete vinha com a lata seca vinha laacute
de cima [] (Grupo Focal 3)
O destino do lixo e dos dejetos foram aspectos inseridos no diagnoacutestico
socioambiental identificados a partir do questionaacuterio CAP
Quanto ao destino do lixo na aacuterea quilombola quase 63 das respostas mostraram que
o lixo eacute queimado ou jogado ao relento na comunidade (25) As precaacuterias condiccedilotildees de
saneamento na comunidade fazem com que os dejetos sejam lanccedilados ao relento com 75
das respostas (Graacutefico 8) Natildeo haacute serviccedilo puacuteblico de coleta de resiacuteduos nem de esgotamento
sanitaacuterio e as praacuteticas da queima e descarte do lixo ao relento bem como os esgotos agrave ceacuteu
aberto satildeo danosas agrave sauacutede humana e do ambiente
103
Graacutefico 8 - Destino dado ao lixo e aos dejetos - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Dados mostram a diversidade de animais que havia no territoacuterio em 2010 criados
soltos no terreiro Animais domeacutesticos e de pequeno porte existentes na comunidade (Graacutefico
9)
Graacutefico 9 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Em Santana a atividade pecuaacuteria se constitui pela criaccedilatildeo de pequenos animais
caprinos ovinos aves suiacutenos e gado Poreacutem com as obras do canal e sem passagens
adequadas para o deslocamento dos animais conforme reivindicaccedilatildeo dos moradores essa
atividade estaacute seriamente comprometida representando mais um prejuiacutezo para comunidade
[] E o territoacuterio que a gente criava os animais soltos que a gente perdeu tudinho
porque ficou do outro lado Eu falo assim perdeu eacute nosso soacute que assim como eacute que
a gente vai criar animal se natildeo tem como o animal ir e vir [] (Lideranccedila 1)
Os dados do questionaacuterio CAP nos trazem como consolidado geral e confirmando o
que foi descrito ateacute o momento os problemas considerados mais criacuteticos para a comunidade
aparecendo com mais metade das respostas (555) a escassez de aacutegua para consumo humano
e a falta de assistecircncia agrave sauacutede (222) (Graacutefico 10)
104
Graacutefico 10 - Problemas gerais - Comunidade de Santana
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No iniacutecio do Projeto em reuniotildees ocorridas com os teacutecnicos do MI vaacuterias foram as
promessas feitas e registradas em ata pela Associaccedilatildeo Hoje passados cinco anos do iniacutecio
das obras a populaccedilatildeo tem clareza de que o propoacutesito maior das reuniotildees e visita dos teacutecnicos
era obter a assinatura dos moradores em documento oficial com a concordacircncia para que as
obras do canal fossem feitas em seu territoacuterio Haacute uma queixa contundente de que a populaccedilatildeo
natildeo teve conhecimento do real transtorno e das perdas do dano ambiental que haveria no
territoacuterio para evitar que as obras fossem feitas
[] falando tambeacutem na questatildeo de que vieram aqui pra dizer se era bom a
Transposiccedilatildeo a gente tem em ata e eles colocaram que tudo isso ia ser discutido e ia
ser garantido a questatildeo da passarela a questatildeo do projeto de desenvolvimento local
projeto econocircmico de desenvolvimento local a questatildeo da educaccedilatildeo que aqui na
comunidade ia melhorar a questatildeo da sauacutede tambeacutem eles colocaram que ia
melhorar mas tudo isso eles colocaram pra que as pessoas assinassem praacute que a
obra passasse porque se as pessoas natildeo assinassem numa comunidade tradicional e
se as pessoas tivessem colocado o peacute em cima se tivesse conhecimento mesmo do
quecirc que era do transtorno que essa obra ia trazer ela natildeo passaria (Grupo Focal 3)
Em Santana com base nas narrativas dos sujeitos podemos resumir o que foi
prometido pelo MI enquanto Projeto da Transposiccedilatildeo e natildeo cumprido ateacute o momento
a) Melhoria da assistecircncia agrave sauacutede com PSF
b) Melhoria no serviccedilo de Educaccedilatildeo
c) Quiosque cidadatildeo (com inclusatildeo digital e telefonia)
d) Projeto econocircmico de desenvolvimento local
e) Passarelas
f) Construccedilatildeo de banheiros
g) Indenizaccedilotildees
105
65 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS E TAMBORIL
O quilombo de Contendas existe haacute mais de cem anos eacute formado pelas localidades de
Contendas e Tamboril Estaacute a 24 km da sede do municiacutepio de Salgueiro e faz fronteira
tambeacutem com o municiacutepio de Terra Nova Conta com uma populaccedilatildeo de 47 famiacutelias A
maioria das residecircncias estaacute na aacuterea de Contendas e laacute se encontra o terreno dos descendentes
de Zeacute Simiatildeo
A figura 7 mostra o mapa de ContendasTamboril elaborado por moradores
quilombolas onde haacute referecircncia sobre o acesso pela BR 232 (parte superior do mapa) os
riachos do Tamboril e de Contendas as casas e igreja (direita do mapa na aacuterea Contendas)
aacuterea agricultaacutevel (direita na aacuterea Tamboril) etc A figura 8 retrata um dos acessos agrave aacuterea
Contendas mostrando a casa onde realizamos o grupo focal com a comunidade
Figura 7 - Mapa da comunidade ContendasTamboril
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire (2008 p 25)
Figura 8 - Acesso na Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
De acordo com o Centro de Cultura Luiz Freire no livro ldquoQuilombos do sertatildeo de
Pernambucordquo
A histoacuteria de Contendas eacute contada a partir da histoacuteria de vida de Joseacute Simiatildeo dos
Reis fundador da comunidade O negro velho chamado Chico entatildeo morador da
Fazenda Tamboril foi quem acolheu o menino Joseacute Simiatildeo dos Reis com trecircs anos
de idade Zeacute Simiatildeo chamado de Pai Nanatildeo cresceu cm Tamboril mas tinha muitos
familiares em Contendas Quando resolveu morar em Contendas jaacute havia algumas
famiacutelias de brancos habitando o lugar Contam que eacute deste tempo que se estabeleceu
uma relaccedilatildeo de compadrio entre os negros descendentes de Simiatildeo e os brancos Em
funccedilatildeo de difiacuteceis condiccedilotildees de vida a permanecircncia dos negros na regiatildeo foi
diminuindo ficando soacute trecircs casas As situaccedilotildees de discriminaccedilatildeo perpassam a
trajetoacuteria dos descendentes de Pai Nanatildeo que apesar das estrateacutegias de conviecircncia e
compadrio recordam que a comunidade sempre fora dividida em moradores negros
e brancos Natildeo queriam que namorasse com os filhos de Simiatildeo porque diziam que
ele era negro cativo Mas hoje mesmo essas famiacutelias estatildeo misturadas na famiacutelia
de noacutes [] Atualmente eacute quilombola em Contendas quem reconhece a importacircncia
e a descendecircncia de Joseacute Simiatildeo dos Reis (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 24 grifo nosso)
106
Hoje as principais lideranccedilas da comunidade satildeo a Sra Antonia e o Sr Joseacute Francisco
Nascimento conhecido como Zeacute Muniz A Sra Antonia eacute filha de Joseacute Simiatildeo dos Reis cuja
propriedade tem 21 hectares de siacutetio e onde residem quarenta e quatro famiacutelias (aacuterea
Contendas) O Sr Zeacute Muniz eacute o presidente da Associaccedilatildeo dos Produtores Rurais de
Contendas A aacuterea de Tamboril tem cerca de 900 hectares e residem trecircs famiacutelias
66 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL E O PROJETO
DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
Desde o iniacutecio do Projeto da transposiccedilatildeo o discurso do MI eacute vago quanto agraves obras a
serem feitas na comunidade de ContendasTamboril e quanto aos benefiacutecios no acesso agrave aacutegua
da transposiccedilatildeo
[] quando eles vieram pra caacute a gente jaacute sabia que jaacute ele jaacute tinha dito aqui na
comunidade E a questatildeo quando a gente perguntava e aacutegua vai ficar aacutegua pra
trabalhar E aiacute a gente nem sabia que ia passar esse canal aqui neacute A gente achava
que no riacho que eacute onde a gente trabalha aqui que passa ai na comunidade de
Umatildes a gente perguntou e essa aacutegua vai ser possiacutevel a gente ter acesso a ela Ele
disse natildeo isso ai eacute uma questatildeo que vem depois [] (Grupo Focal 2)
Tendo sido inicialmente identificada como uma aacuterea rural pelo EIA (Estudo de
Impacto Ambiental) o quilombo de ContendasTamboril foi inserido no Programa Ambiental
de Implantaccedilatildeo de Infra-Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais PBA 15 cujo objetivo eacute ldquoimplantar sistemas de abastecimento de aacutegua visando agrave
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees em comunidades situadas na Aacuterea Diretamente
Afetada do PISF aleacutem de reduzir os riscos associados a eventuais tentativas de uso
clandestino das aacuteguas dos canais e reservatoacuteriosrdquo (BRASIL 2005) e posteriormente inserido
no Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas outro Programa Baacutesico
Ambiental o PBA 17 que iremos abordar mais adiante
O Cronograma de Execuccedilatildeo que consta do PBA 15 previa ateacute dezembro de 2015 a
conclusatildeo das atividades necessaacuterias para implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de
abastecimento As atividades programadas foram a elaboraccedilatildeo dos projetos baacutesicos de sistema
de abastecimento de aacutegua para as comunidades (2007 agrave meados de 2012) a assinatura dos
convecircnios com prefeituras eou oacutergatildeos estaduais para implantaccedilatildeo das obras (segundo
semestre de 2012 agrave janeiro de 2013) e a implantaccedilatildeo das obras dos sistemas de abastecimento
(fevereiro de 2012 agrave dezembro de 2015) (BRASIL 2005 p 18) No entanto ateacute junho de
107
2012 apenas 1 do valor previsto para o programa havia sido executado conforme Resumo
Executivo do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo (BRASIL 2012)
Com as obras da transposiccedilatildeo ameaccedilas concretas recaem sobre o territoacuterio de
Contendas Tamboril sem o devido conhecimento e consentimento da populaccedilatildeo e de sua
Associaccedilatildeo de Moradores O territoacuterio quilombola localiza-se proacuteximo ao trecho VI do Eixo
Norte do projeto considerado uma etapa futura pelo PISF na Aacuterea Diretamente Afetada
(ADA) Tal etapa que inclui a construccedilatildeo de um reservatoacuterio no territoacuterio quilombola
identificado em documento oficial como ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo desde 2004 (BRASIL
2004 p 50) natildeo era do conhecimento da populaccedilatildeo ateacute meados de setembro de 2013 quando
comeccedilaram a chegar pessoas desconhecidas da populaccedilatildeo na aacuterea fazendo mediccedilotildees no
terreno poreacutem sem esclarecer o objetivo da accedilatildeo De maneira vaga diziam ser para obras da
transposiccedilatildeo que iriam passar no territoacuterio
[] Eacutecomeccedilou a chegar pessoas laacute medindo pedindo o auxilio do pessoal da
comunidade pra saber onde eacute que vai passar mas depois foi que quando ldquoo que eacute
que estaacute acontecendordquo Natildeo eacute porque aqui vai passar o ramal vai ser muito bom pra
vocecircs vai passar dentro da comunidade mas noacutes natildeo fomos informados A gente
tem a propriedade mas natildeo eacute informada do que eacute que vai acontecer entendeu
(Lideranccedila 2)
Ateacute aquele momento a populaccedilatildeo tinha como percepccedilatildeo geral de que natildeo iria ser
atingida diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo mas a possibilidade de construccedilatildeo de um
ldquoramalrdquo que na realidade eacute o ldquo Reservatoacuterio Tamborilrdquo dentre os vinte e quatro reservatoacuterios
previstos pelo PISF17
provocou uma inquietaccedilatildeo e preocupaccedilatildeo entre os moradores pelos
transtornos que haveraacute na vida da populaccedilatildeo principalmente na forma de subsistecircncia por
afetar a aacuterea destinada agrave agricultura familiar
[] Assim noacutes ateacute o momento a gente natildeo foi atingido Tem uma previsatildeo que a
gente ficou sabendo tambeacutem haacute poucos dias que a gente ia ser atingido vai passar
um ramal exatamente onde a gente trabalha e aonde a gente tava morando que eacute
naquela parte do Tamboril [] E aiacute se esse ramal passar se esse canal passar laacute vai
ser sim muito atingido porque noacutes jaacute estaacutevamos com as casas prontas morando laacute
no Tamboril e eacute a aacuterea onde a gente trabalha se passar laacute a gente natildeo vai ter como
trabalhar (Lideranccedila 2)
A falta de informaccedilatildeo oficial aliado aos boatos de que ateacute casas de alvenaria seratildeo
derrubadas inclusive as receacutem construiacutedas por um dos programas do projeto da transposiccedilatildeo
17
Reservatoacuterio ndash Locais onde a aacutegua fica armazenada Podem variar em tamanho Ao todo no PISF seratildeo
construiacutedos 24 reservatoacuterios (BRASIL 2004c p 44)
108
o PBA 17 mostra o descaso e desrespeito do MI com os direitos de cidadania no acesso agrave
informaccedilatildeo e o desperdiacutecio do dinheiro puacuteblico que constroacutei para em seguida destruir
De fato o que ocorre em ContendasTamboril eacute uma violaccedilatildeo de direitos dos termos
da Convenccedilatildeo 196 da OIT - ao natildeo fornecer informaccedilotildees condizentes com os planos
governamentais e natildeo considerar as demandas das comunidades as quais devem concordar
com as obras
Haacute tambeacutem outra grande preocupaccedilatildeo que eacute a ameaccedila de destruiccedilatildeo da aacuterea
agricultaacutevel e de preservaccedilatildeo localizada no territoacuterio Tamboril
As casas de ser derrubadas satildeo o menos agora toda a comunidade trabalha naquela
aacuterea laacute essa aacuterea de caacute ela natildeo eacute agricultaacutevel o mais agricultaacutevel eacute laacute [] Aonde vai
passar o ramal [] Provavelmente na agricultura sejam todos agora as casas que
vatildeo ser derrubadas satildeo menos que tem mais pra caacute do que pra laacute [] Umas quinze
casas Natildeo menos Acho que eacute umas oito casas (Grupo focal 2)
[] a gente tem a aacuterea pra noacutes eacute grande a gente tem uma aacuterea em que a gente briga
por cima de tudo por essa aacuterea que ela seja preservada mesmo Eacute no nosso
territoacuterio Eacute dentro do nosso territoacuterio e esse eacute aonde iraacute passar se vai passar o
canal Eacute o ramal Aleacutem de atingir a aacuterea que eacute preservada vai atingir tambeacutem a
nossa aacuterea de plantaccedilotildees (Lideranccedila 2)
De maneira incipiente jaacute havia na ocasiatildeo do nosso trabalho de campo uma intenccedilatildeo
da comunidade em negociar a localizaccedilatildeo da obra mesmo sem a clareza do que realmente vai
ser construiacutedo no territoacuterio e de forma organizada ir ao MI para conhecer oficialmente o que
estaacute previsto nos documentos do Projeto Nenhuma visita oficial do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo
na aacuterea nenhum contato com as lideranccedilas apenas os trabalhadores fazendo mediccedilotildees e
divulgando um ldquobenefiacutecio que natildeo eacute explicadordquo
[] Jaacute avisaram na comunidade que as casas que estatildeo feitas laacute vatildeo ter que sair e
assim a gente natildeo tem uma explicaccedilatildeo uma coisa que nos explique que nos diga o
que eacute que vai acontecer mesmo com a gente [] Aiacute vai ser muito prejudicial se
acontecer isso neacute Se a gente taacute tentado vecirc a possibilidade jaacute que eacute um ramal se
natildeo daacute pra passar mais pra laacute ou mais pra caacute seja laacute como for pra gente negociar soacute
que no momento soacute diz o pessoal laacute a gente soacute vecirc o pessoal que vai fazer as
mediccedilotildees mas a gente natildeo tem uma informaccedilatildeo do que eacute que vai acontecer como eacute
que vai acontecer [] A gente na comunidade taacute decidido que a gente vai fazer
que a gente pode fazer uma reuniatildeo e a gente conversar soacute que apareceu essas
pessoas aiacute a gente eles ldquo natildeo natildeo eacute com a genterdquo mas aiacute tambeacutem natildeo sabe dizer
com quem eacute e onde eacute que a gente vai buscar essas informaccedilotildees na comunidade o
que eacute que vai acontecer [] (Lideranccedila 2)
Assim a gente vai tirar a comissatildeo da comunidade e a gente quer conversar com o
pessoal laacute do escritoacuterio mesmo [] porque jaacute que a gente vai nessa comissatildeo a
gente vai primeiro cobrar documento o que eacute que vai acontecer na comunidade que
a gente natildeo tava sabendo tem essas mediccedilotildees jaacute tem avaliaccedilotildees e a gente saber o
que eacute esse documento aonde ele estava e porque isso natildeo foi apresentado pra gente
[] Eacute isso que a gente estaacute cobrando porque se jaacute sabia que tinha um projeto que ia
109
passar esse ramal a gente jaacute devia ter o documento em matildeos E isso nem foi
apresentado nem documento quando eles chegaram jaacute foi fazendo as mediccedilotildees
como se aqui fosse como se natildeo tivesse ningueacutem no meio [] E dai a gente vecirc o
que eacute que eles vatildeo poder fazer e o que eacute que a gente vai poder fazer tambeacutem na
comunidade pra gente pelo menos tomar peacute E aonde eacute que a gente vai ficar o quecirc
que vai acontecer porque que natildeo apresentaram o documento pra gente e daiacute por
diante a gente tomar alguns encaminhamentos nessa reuniatildeo (Grupo Focal 2)
A situaccedilatildeo atual do territoacuterio Contentas Tamboril que natildeo tem o tiacutetulo definitivo de
posse eacute outro aspecto que preocupa a populaccedilatildeo diante da ameaccedila de construccedilatildeo do
reservatoacuterio pelo projeto da transposiccedilatildeo Por natildeo se sentirem ldquooficialmenterdquo proprietaacuterios
questionam se o governo iria indenizar caso se concretizem as obras em seu territoacuterio Mas
para a populaccedilatildeo quilombola o maior interesse natildeo eacute indenizaccedilatildeo e sim assegurar o seu
direito agrave terra sinocircnimo de vida de sobrevivecircncia
E ainda tem outra E os outros o canal vai passar dentro do terreno mas vatildeo ser
beneficiado com dinheiro neacute Eles vatildeo pagar E noacutes Que diz que o terreno eacute do
governo [] E dinheiro se acaba e aterra natildeo se acaba pra pessoa plantar
Natildeo tem dinheiro que vale [] Mesmo que a terra fosse minha eu natildeo queria esse
dinheiro porque eu natildeo ia viver pro resto da vida com esse dinheiro que eacute uma
mixaria (Grupo Focal 2)
[] porque eacute a aacuterea que a gente trabalha e ainda natildeo foi o INCRA ainda natildeo nos
deu a posse (Lideranccedila 2)
O desafio colocado para o projeto da transposiccedilatildeo como tambeacutem para o INCRA eacute
considerar e implementar em suas accedilotildees categorias de anaacutelise sobre a questatildeo territorial
particulares ao povo quilombola que amplie o olhar e o planejar das poliacuteticas puacuteblicas para
compreender e respeitar que
A organizaccedilatildeo soacutecio-espacial e as formas produtivas das comunidades quilombolas
satildeo orientadas por dimensotildees poliacuteticas histoacutericas sociais ambientais e culturais
Essas dimensotildees tornam-se manifestas na execuccedilatildeo pelo grupo de tarefas coletivas
como por exemplo a coleta de frutas nativas ou de moluscos a confecccedilatildeo da
farinha de mandioca no uso e na reparticcedilatildeo das terras a serem cultivadas entre os
membros de uma mesma famiacutelia na forma de uso dos recursos naturais na
terminologia utilizada para designar elementos da natureza e teacutecnicas agriacutecolas na
realizaccedilatildeo de festas de santo ou ainda na delimitaccedilatildeo de espaccedilos sagrados entre
outros Portanto a reproduccedilatildeo fiacutesica e social desses grupos estaacute diretamente
relacionada com a manutenccedilatildeo do seu territoacuterio (SANTOS F L 2013 p 4)
A maneira como o projeto da transposiccedilatildeo vem implementando suas accedilotildees nas aacutereas
quilombolas contraria o que preconiza a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel
dos Povos e Comunidades Tradicionais instituiacuteda pelo Decreto Presidencial Nordm 6040 de 7 de
fevereiro de 2007 que parece distante em sua efetivaccedilatildeo Dentre os princiacutepios desta Poliacutetica
110
estaacute ldquoa promoccedilatildeo dos meios necessaacuterios para a efetiva participaccedilatildeo dos Povos e Comunidades
Tradicionais nas instacircncias de controle social e nos processos decisoacuterios relacionados aos seus
direitos e interessesrdquo no artigo 1ordm paraacutegrafo X (BRASIL 2007)
Na praacutetica apesar de haver um escritoacuterio de representaccedilatildeo do MI em Salgueiro o
acesso agraves informaccedilotildees natildeo acontece o canal de comunicaccedilatildeo efetivo entre os teacutecnicos do
projeto da transposiccedilatildeo e populaccedilatildeo quilombola via suas entidades organizadas natildeo estaacute
estabelecido e o sentimento eacute de distanciamento descaso inviabilizando de fato o controle
social destas e de outras populaccedilotildees quanto agraves decisotildees que afetam diretamente suas vidas
[] quando eles vatildeo na comunidade eles datildeo o endereccedilo eles diz que tatildeo agrave
disposiccedilatildeo no entanto quando a gente vai a gente nunca encontra as pessoas que a
gente quer falar Aiacute fica passando de um pra outro de um pra outro [] Eacute mais faacutecil
a gente conseguir falar com Dilma do que a gente resolver um problema aqui na
comunidade Assim deixa muito a desejar nessa parte de a gente natildeo ter um acesso
mais constante ou uma discussatildeo que a gente chame e aiacute eles venham Natildeo natildeo eacute
tatildeo assim na praacutetica natildeo funciona muito bem deixa muito a desejar (Lideranccedila 2)
As terras que estatildeo sendo ldquomexidasrdquo tambeacutem passaratildeo a ser cobiccediladas por quem tem
recurso financeiro e a comunidade pode sofrer pressotildees para vendecirc-la por qualquer valor e
passar a ser apenas um trabalhador rural diarista nas terras que um dia foram suas
Neste quadro de inseguranccedila satildeo feitas comparaccedilotildees com a realidade atual de
Petrolina
[] eu penso que aqui vai acontecer o que aconteceu em Petrolina nos projetos Em
Petrolina soacute tem mais japonecircs esse pessoal de outros paiacutes neacute Por quecirc Porque
pegaram os bestas laacute atraacutes que a terra natildeo prestava pra nada neacute Compraram e eles
tem muita tecnologia Estatildeo os japonecircs aiacute os estrangeiros laacute bem plantado e os
donos da terra eu acho que ateacute de desgosto morreram [] Do mesmo jeito eu
imagino que vai acontecer aqui [] Porque vai chegar gente ai botando jaacute aconteceu
aqui no municiacutepio neacute de pequenas propriedades o povo ldquoEacute terra Natildeo isso aiacute natildeo
tem mais valor bota qualquer dinheiro o povo vende e acabou Daiacute haacute pouco vai
nascer um grande proprietaacuterio ai e o povo vai ficar soacute sendo trabalhador rural
diarista nas terras do povo que um dia foi sua (Grupo Focal)
Com as obras a comunidade acredita que as terras passam a ter outro valor e quem
tem recurso financeiro pode tornaacute-la produtiva conseguindo apoios para grandes projetos o
que natildeo vem sendo viabilizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para os pequenos agricultores das
comunidades quilombolas
[] Taacute vendo ai Aiacute eles chegam aqui vecirc a terra produtiva porque eles tendo
condiccedilatildeo eles faz mesmo porque o rico ele tem o poder deles laacute em cima natildeo eacute que
nem noacutes pobre natildeo eacute Eles chega aiacute praacute tirar uma perna daacutegua pra produccedilatildeo das
roccedila deles eles tira soacute natildeo pode tirar noacutes de Santana Contendas e outros encostados
Se noacutes tirar noacutes vamo pra cadeia (Grupo Focal 2)
111
Ao mesmo tempo que surgem essas preocupaccedilotildees o grupo relembra a condiccedilatildeo em
que se encontra a regularizaccedilatildeo do territoacuterio ainda sem titulaccedilatildeo aumentando ainda mais o
sentimento de fragilidade e risco O territoacuterio foi reconhecido pela FCP em 2007 e aguarda o
documento definitivo a ser emitido pelo INCRA A fala de lideranccedila local ilustra esse
contexto e preocupaccedilatildeo
[] A gente foi reconhecido pela Fundaccedilatildeo a gente tem a documentaccedilatildeo do
reconhecimento tem a emissatildeo de posse mas noacutes natildeo temos o tiacutetulo taacute nessa
questatildeo Porque fica a gente procura o tiacutetulo aiacute dizldquoNatildeo eacute a comunidade que estaacute
mais andada porque natildeo tem fazendeiro laacute natildeo tem intruso a comunidade eacute uma
comunidade soacute aonde era um proprietaacuterio soacuterdquo mas a gente natildeo tem o tiacutetulo Entatildeo
significa dizer que noacutes estamos laacute mas noacutes ainda natildeo somos os donos [] (lideranccedila
2)
Para a comunidade de ContendasTamboril haacute uma certeza a de que o projeto da
transposiccedilatildeo seraacute para os que tem dinheiro os grandes agricultores e a imagem objetiva o
retrato descrito por moradores em relaccedilatildeo ao PISF eacute de destruiccedilatildeo com a terra sendo
ldquoremexidardquo virando um ldquobagaccedilordquo
[] porque a gente sabe realmente que quem vai ficar com essa aacutegua satildeo os grandes
proprietaacuterios os que possa ter dinheiro noacutes somos pequenos noacutes natildeo temos
condiccedilotildees de pagar essa aacutegua que eles vatildeo se vier A gente jaacute sabia que natildeo ia
passar [] Natildeo vai melhora praacute gente natildeo sobre o canal eu acho eu natildeo sei natildeo Eu
natildeo conheccedilo de nada mas eu penso assim vai deixar muito ai eacute a terra estiorada
Vai torar no meio desbanderar praacute um lado e praacute outro e ficar soacute (Grupo Focal 2)
Pelos relatos o projeto da transposiccedilatildeo significa preocupaccedilatildeo questionamentos e
inseguranccedila para os moradores da Comunidade de ContendasTamboril
67 UM RETRATO DE CONTENDAS TAMBORIL DADOS DO QUESTIONAacuteRIO CAP
E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em ContendasTamboril foram aplicados 14 questionaacuterios CAP representando 875
das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 59
pessoas sendo 32 homens e 27 mulheres (meacutedia de 04 pessoas por famiacutelia) Essas famiacutelias
eram constituiacutedas por mais homens que mulheres (542 para 458) entretanto apresentou
o niacutevel de escolaridade igual entre homens e mulheres com 78 de homens e mulheres com
algum grau de escolaridade Entre as pessoas sem escolaridade os homens apresentam um
112
percentual acima do das mulheres com 538 de homens analfabetos para 465 de
mulheres o que significa um contingente expressivo de pessoas ainda sem acesso agrave
escolarizaccedilatildeo haja visto a meta institucional do municiacutepio de ldquo ofertar programas de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos com fins de erradicaccedilatildeo do analfabetismordquo (SALGUEIRO
2014)
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo os homens aparecem com maior
grau de escolaridade Para o ensino fundamental cursaram 513 dos homens e entre as
mulheres foram 487 Quanto ao ensino meacutedio os homens aparecem com um percentual
bem acima do das mulheres tendo 666 deles concluiacutedo o ensino meacutedio enquanto apenas
333 da mulheres tiveram essa oportunidade Nenhum membro das famiacutelias tinha curso
superior (Graacutefico 11)
Graacutefico 11 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
No territoacuterio quilombola ContendasTamboril haacute um preacutedio reformado pela
prefeitura onde funcionou a Escola Municipal Joana Maria de Jesus com ensino ateacute a antiga
quarta seacuterie do ensino fundamental Mas atualmente a escola estaacute fechada e os moradores
precisam deslocar-se para a Escola Municipal Maria Dalva Gonccedilalves de Barros no Distrito
de Umatildes distante 6 km
[] Na questatildeo das escolas ateacute a proacutepria escola que tinha laacute do municiacutepio foi
fechada e aiacute taacute em outra comunidade taacute em Umatildes onde os alunos que estudam de
primeira ateacute o segundo grau eles estudam em Umatildes E laacute eles tecircm uma escola
lindiacutessima foi construiacuteda pela prefeitura [] ( Lideranccedila 2)
[] Funcionava [] Ela deixou de funcionar bem em 2005 [] 2008 neacute []
Mas assim a escola deixou de funcionar assim a gente tem que ser reto estudavam
aqui ateacute a quarta seacuterie aqui tinha a escola de Umatildes soacute que natildeo tinha alfabetizaccedilatildeo
aiacute as matildees queriam que as crianccedilas ficasse neacute Aiacute chegou agora um lei pras crianccedilas
estudar mais novo aiacute entonse natildeo tinha professor aqui ai a prefeitura disse que natildeo
podia ter dois expedientes aqui aiacute ficou os que jaacute ia pra laacute e que jaacute precisavam de laacute
e as matildees pegou mandou os pequeninos (Grupo Focal 2)
113
A populaccedilatildeo lembra que o preacutedio foi reformado mas por haver poucas crianccedilas para
os primeiros anos de ensino natildeo se justificava a manutenccedilatildeo de um professor na escola
alegava a Secretaria de Educaccedilatildeo Municipal Enquanto a escola funcionou atendeu
satisfatoriamente agrave comunidade que expressa boas lembranccedilas Hoje haacute queixa de que o
preacutedio com boa estrutura natildeo estaacute sendo utilizado para outras atividades e vem se
deteriorando
Porque aqui tem a escola foi reformada soacute que natildeo tem professor [] Natildeo taacute
funcionando [] aiacute alunos tem que ir pra Umatildes alunos de trecircs quatro anos tem
que ir pra Umatildes porque natildeo funciona a escola daqui da comunidade [] Era natildeo
ficou aluno suficienteos pequeninos natildeo tinha escola para os pequenininhos aiacute
foram tirando ateacute que acabou-se [] Taacute sendo usada natildeo ela taacute laacute abandonada Ela
vai cair a qualquer momento porque tando fechada [] mas era uma escola
decente de escola de comunidade da zona rural acho que natildeo tinha uma mais bonita
do que a daqui natildeo era decente ela ficou decente [] De fato que a escola daqui era
bem zelada tinha uma merendeira de boas qualidades ela natildeo eacute daqui tambeacutem natildeo
mas ela se preocupava muito (Grupo Focal 2)
A decisatildeo de fechar a escola apesar de aprovada em reuniatildeo parece natildeo ter sido um
processo bem debatido com a compreensatildeo dos que estavam presentes Em reuniatildeo com a
Associaccedilatildeo de Moradores e Secretaacuteria de Educaccedilatildeo foi assinado um documento pelos
moradores concordando em fechar a escola por escassez de alunos em funccedilatildeo da reforma
educacional e implantaccedilatildeo do ensino multisseriado poreacutem haacute moradores que assinaram sem
ter clareza do que estavam assinando
[] houve uma reuniatildeo na associaccedilatildeo onde a gente tratava desse assunto referente agrave
escola e na eacutepoca era multisseriado acho que eacute isso que chama quando tem vaacuterias
seacuteries E para a Secretaria de Educaccedilatildeo ela achava que tava tendo prejuiacutezo com os
meninos porque tava multisseriado e veio a secretaria aqui vocecircs lembram disso
Lembro [] Foi laacute na escola [] E veio a secretaacuteria aqui soacute que quando a secretaacuteria
chegou que o pessoal foi dizer que achava melhor que tivesse laacute na escola a
secretaacuteria fez um reboliccedilo e botou o papel pra eles assinar e tinha pessoas que natildeo
queria assinar e ela praticamente ldquovocecirc vai ter que assinar porque vocecirc taacute aqui na
reuniatildeordquo e assinou o documento sem que muitas pessoas natildeo tava tendo
conhecimento do que era aquilo que estava assinando [] (Grupo Focal 2)
A lembranccedila de que houve uma articulaccedilatildeo posterior com o Sindicato de
Trabalhadores Rurais de Salgueiro para avaliar se o processo poderia ser revertido natildeo
logrou ecircxito pois a comunidade ldquonatildeo identificava outra alternativardquo O mais importante para
alguns era natildeo prejudicar as crianccedilas que precisavam estudar natildeo importando sob que
condiccedilotildees Haacute reflexotildees que demonstram ter sido um equiacutevoco aceitar o que a prefeitura
apresentou como ldquoopccedilatildeordquo
114
Depois a gente foi eu e parece que outras pessoas a gente eu vim pra caacute praacute
comunidade pra gente conversar e jaacute os pais tinham uns que dizia ldquonatildeo eu assinei
porque meu filho estava sendo prejudicado porque tava sendo multisseriadordquo e
ficou nesse impasse aiacute porque a gente soacute pode tomar algum encaminhamento a
partir da comunidade Se a comunidade diz que tava satisfeito com aquilo natildeo era
eu que vinha laacute do sindicato pra dizer ldquonatildeo isso natildeo taacute bemrdquo Mas a gente sabe que
a comunidade teve prejuiacutezo quando assinou o documento quando ela levou esse
documento pra laacute que foi assinado Mas foi discutido natildeo foi bem explicado mas
veio para a comunidade pra ser discutido [] (Grupo Focal 2)
O registro de promessas feitas e natildeo cumpridas pela gestatildeo municipal anterior quanto
agrave estrutura que ia ser montada para aacuterea de educaccedilatildeo caracteriza mais um descaso com os
direitos dessa populaccedilatildeo e que eacute possiacutevel estruturar alternativas de ensino dentro do proacuteprio
territoacuterio
[] E a ex-prefeita disse ldquovai ter educaccedilatildeo vai ter professor aqui pra vocecircs pra
crianccedilasrdquo Ela falou que ia ter a educaccedilatildeo infantil soacute que [] ficou por laacute mesmo
Por quecirc ficou por laacute [] Na realidade ele sabe que o problema acontece mas a
comunidade natildeo se mobilizou e aconteceu isso Mas ele sabe que isso natildeo devia ter
acontecido [] Ia ter educaccedilatildeo infantil ia ter tudo soacute que nada apareceu (Grupo
Focal 2)
Aleacutem da situaccedilatildeo descrita anteriormente as condiccedilotildees de deslocamento dos alunos
para escola em Umatildes eacute precaacuteria com o transporte disponibilizado pelo municiacutepio sem as
devidas condiccedilotildees de seguranccedila e conforto Eacute necessaacuterio fazer um deslocamento de quase dois
quilocircmetros agrave peacute com crianccedilas menores de cinco agravando-se a situaccedilatildeo com o inverno A
mobilizaccedilatildeo para apresentar o problema agrave prefeitura aparece como necessaacuteria para dar ciecircncia
agrave precariedade do transporte puacuteblico
Laacute em Umatildes Precisa do ocircnibus velho pra poder ir pra laacute [] Arriscando uma vida
O ocircnibus as crianccedilas tem que se deslocar de casa quando tem um laacute do outro lado
acolaacute ela vai pra pista pegar o ocircnibus 2600m [] Dois mil e seiscentos metros
Meninos de quatro anos [] Do Tamboril tambeacutem vem pra ai pra pegar ocircnibus []
Vai praacute casa de a peacutes na terra quente levando chuva [] E tem dia que no inverno eacute
obrigado a deixar o menino numa casa que tiver mais perto O transporte natildeo eacute de
qualidade natildeo o ocircnibus eacute [] O ocircnibus natildeo eacute um transporte bom natildeo [] O ocircnibus eacute
cheio eacute muito cheio eacute muito aluno [] Eacute a prefeitura [] Eacute mas se noacutes matildees e noacutes
pais num chega laacute na prefeitura e falar o que estaacute acontecendo a prefeitura natildeo
saber nunca (Grupo Focal 2)
Entretanto estas condiccedilotildees ferem o que estaacute definido pela Prefeitura Municipal de
Salgueiro quando define a responsabilidade da Secretaria de Educaccedilatildeo
Atender aos alunos da educaccedilatildeo infantil e do ensino fundamental
matriculados na Rede Municipal de Ensino com programas
suplementares de alimentaccedilatildeo transporte escolar e material didaacutetico-escolar e
outros (SALGUEIRO 2014)
115
O Programa Brasil Quilombola em seu Diagnoacutestico de Accedilotildees Realizadas2012
apresenta dados preocupantes no tocante agrave educaccedilatildeo das comunidades quilombolas no Brasil
um dos aspectos da Chamada Nutricional Quilombola18
A Educaccedilatildeo eacute outro aspecto relevante quando analisamos a situaccedilatildeo socioeconocircmica
das comunidades quilombolas no Brasil De acordo com os dados do CADUNICO
235 dos quilombolas natildeo sabem ler Eacute um dado preocupante uma vez que a
meacutedia nacional de acordo com o Censo 2010 eacute de 9 Na Chamada Nutricional
Quilombola haacute uma especial anaacutelise com relaccedilatildeo agrave escolaridade da matildee das crianccedilas
de 0 a 5 anos das comunidades pesquisadas 436 delas possuiacuteam ateacute 4 anos de
escolaridade completos Ao se analisar o universo das escolas cadastradas como
quilombolas no Censo Escolar pode-se perceber a pequena incidecircncia de escolas
que possuem seacuteries para aleacutem do quinto ano ou quarta seacuterie A cobertura da
Educaccedilatildeo para Jovens e Adultos tambeacutem eacute pequena (BRASIL 2011 p 24)
E ressaltamos a importacircncia de direitos adquiridos com a Constituiccedilatildeo Federal quando
em seu artigo 205 capiacutetulo III determina
A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e
incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho
(BRASIL 1988 p 121)
Do que diz a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e
Comunidades Tradicionais que define em um dos seus objetivos especiacuteficos
garantir e valorizar as formas tradicionais de educaccedilatildeo e fortalecer processos
dialoacutegicos como contribuiccedilatildeo ao desenvolvimento proacuteprio de cada povo e
comunidade garantindo a participaccedilatildeo e controle social tanto nos processos de
formaccedilatildeo educativos formais quanto nos natildeo-formais (BRASIL 2007 art 3)
Estas e outras ferramentas legais assumem caraacuteter poliacutetico importante na luta pelo
direito agrave educaccedilatildeo para as populaccedilotildees quilombolas
Em relaccedilatildeo ao projeto da transposiccedilatildeo nenhuma interferecircncia foi feita para contribuir
na melhoria do serviccedilo oferecido agrave comunidade natildeo tendo saiacutedo do papel as promessas que
constam no Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas que traz como
objetivo ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo (BRASIL 2005 p 4)
18
ldquoChamada Nutricional Quilombolardquo ndash realizada em agosto de 2006 foi uma iniciativa conjunta entre o
Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) a Secretaria Especial de Poliacuteticas de
Promoccedilatildeo da Igualdade Racial (Seppir) o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e o Fundo das Naccedilotildees Unidas para a
Infacircncia e Adolescecircncia (Unicef)
116
Os aspectos referentes agrave sauacutede mostram pelas respostas do questionaacuterio que as
pessoas da comunidade satildeo acometidas principalmente de gripe (23) problemas de
hipertensatildeo (187) gastrite (146) e febre (146) que representam 71 das situaccedilotildees
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 553 das respostas a
procura pelo hospital (333) e posto de sauacutede (22) mas continua presente em 444 das
respostas a praacutetica de tratar de forma tradicional com a procura do rezador (167) do uso
do chaacute (167) e do remeacutedio caseiro (11) (Graacutefico 12)
Graacutefico 12 - De que as pessoas mais adoecem e o que fazem quando adoecem - Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Quanto agrave descriccedilatildeo da populaccedilatildeo para o atendimento na Unidade de Sauacutede ldquomais
proacuteximardquo a populaccedilatildeo se mobilizou com apoio do Sindicato Rural para redefinir o viacutenculo
com Salgueiro ou Terra Nova que faz divisa com o territoacuterio ContendasTamboril Na
redefiniccedilatildeo territorial e poliacutetica foi acordado o atendimento no Distrito de Umatildes em
Salgueiro para toda populaccedilatildeo da aacuterea quilombola
Reformas feitas no Posto de Sauacutede satildeo mudanccedilas que a comunidade acredita terem
sido efetivadas com recurso do projeto da transposiccedilatildeo
Teve uma questatildeo que mudou soacute uma questatildeo eacute que aqui tinha a divisatildeo tinha
deles que mora bem aqui aiacute atravessa o Riacho e tinha que ir pra Terra Nova aiacute com
essa explicaccedilatildeo que teve que ele foi feito a gente levou praacute prefeitura teve umas
coisas que foi levada praacute prefeitura e que o posto de Umatildes ia atender todo o pessoal
ai mudou nessa questatildeo E o pessoal que tava laacute excluiacutedo que era praacute Terra Nova
passou a ser atendido em Umatildes E a outra coisa que teve eacute porque natildeo teve
diretamente na comunidade mas o PFS de Umatildes ele foi reformado atraveacutes desse
projeto com o dinheiro do projeto que foi melhorado o posto que natildeo tinha
condiccedilotildees de ser atendido (Grupo Focal 2)
O serviccedilo de sauacutede oferecido no Distrito de Umatildes a exemplo da educaccedilatildeo conta com
atendimento meacutedico esporaacutedico e o trabalho de um agente de sauacutede e de endemias para
visitas domiciliares
117
[] A comunidade eacute atendida em Umatildes Agraves vezes tem a visita do meacutedico laacute eu
acho que eacute uma vez por mecircs natildeo tenho bem a certeza que eacute soacute uma vez por mecircs que
eles vatildeo atender Jaacute melhorou porque tinha uma questatildeo do territoacuterio era parte de
Terra Nova parte de Salgueiro e aiacute era uma questatildeo poliacutetica [] Tem o Agente de
Sauacutede mesmo que eacute da prefeitura que ele natildeo eacute ligado a comunidade mas tem o
Agente de Sauacutede Tem tambeacutem um Agente de Endemias que esse assim a
comunidade ateacute natildeo conhece muito mas taacute dizendo que eacute um Agente de Endemias
[] ( Lideranccedila 2)
As morbidades apontadas pelos entrevistados e a grande procura pelo atendimento
hospitalar e posto de sauacutede mostra a fragilidade da atenccedilatildeo baacutesica na aacuterea bem como a falta
de um trabalho de prevenccedilatildeo e promoccedilatildeo que poderiam impactar positivamente no quadro de
adoecimento apresentado
O agente de sauacutede que visita a aacuterea natildeo eacute da comunidade mas haacute boas referecircncias em
relaccedilatildeo ao seu trabalho apesar da sobrecarga de atividades pois responsabiliza-se por
acompanhar trecircs aacutereas
Natildeo daqui do lugar tem Ela vem laacute de fora [] Ela atende aqui muito bem mas natildeo
eacute daqui natildeo Soacute que ela atende toda a regiatildeo [] Eacute muita coisa pra ela A correria eacute
grande [] E natildeo eacute soacute aqui natildeo Ela atente outros siacutetios tambeacutem Eacute Ela atende umas
trecircs aacutereas Contendas Baixio da Velha e Baixio do Gravataacute (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo agraves formas de sobrevivecircncia e fonte de renda das famiacutelias de
ContendasTamboril os dados do questionaacuterio confirma que a populaccedilatildeo vive do trabalho na
agricultura (385) seguido da renda proveniente de trabalhos como pedreiro (308) da
aposentadoria (192) e como encanador (115) (Graacutefico 13)
Graacutefico 13 - Fonte de Renda-Comunidade de
ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
Figura 9 - Cartaz Semente Crioula ndash Associaccedilatildeo de
Moradores de ContendasTamboril
Fonte A autora 2013
Com a situaccedilatildeo climaacutetica a atividade agriacutecola estaacute comprometida e os trabalhadores
da comunidade de ContendasTamboril continuam precisando sair de suas aacutereas de seu lugar
118
para conseguir trabalho e garantir a sobrevivecircncia de suas famiacutelias Sem infra-estrutura para
desenvolver-se e sem trabalho para os quilombolas eacute grande o ecircxodo rural
Daqui taacute indo trabalhar em Ouricuri no Piauiacute no Recife em todo canto Se desse
prioridade pro daqui o cara natildeo ia deixar a famiacutelia se largar no meio do mundo
(Grupo Focal 2)
A figura 9 mostra a divulgaccedilatildeo do projeto Semente Crioula19
criado em 2009 sob
coordenaccedilatildeo executiva do Centro de Cultura Luiz Freire e que teve duraccedilatildeo inicial de dois
anos O projeto teve o propoacutesito de capacitar as famiacutelias a gerirem seus sistemas de produccedilatildeo
alimentar de forma sustentaacutevel Ou seja de modo que atendesse as necessidades baacutesicas de
consumo proacuteprio geraccedilatildeo de renda e sem agressatildeo ao meio ambiente A comunidade de
ContendasTamboril foi uma das beneficiadas em Pernambuco (OBSERVATOacuteRIO
QUILOMBOLA 2009)
Mesmo com relatos de que o projeto da transposiccedilatildeo representou um aumento na
oferta de emprego mesmo que temporariamente os moradores da comunidade natildeo se
sentiram beneficiados pelas empresas construtoras as chamadas ldquofirmasrdquo Natildeo haacute registro de
moradores de ContendasTamboril terem sido aceitos apesar da procura formal por trabalho
marcado por grande burocracia e situaccedilotildees consideradas de humilhaccedilatildeo A percepccedilatildeo eacute de
que natildeo haacute um criteacuterio de aproveitamento das pessoas do lugar natildeo haacute um percentual de
vagas a ser preenchido primeiramente por essas pessoas para em seguida ldquoabrir a porta para
os de forardquo
[] Poucos vatildeo Eacute uma burocracia doida aiacute botam os curriacuteculos e nunca foram
chamados eacute uma humilhaccedilatildeo [] Daqui de Contendas noacutes natildeo teve nenhum que
nunca trabalhou nessas firmas da Transposiccedilatildeo Natildeo nunca foi Deveria ter uma
prioridade porque eu trabalho em obra a gente chega numa cidade a prioridade eacute do
povo da cidade [] Foram deixaram curriacuteculo uma humilhaccedilatildeo coisa de passar
quatro cinco dias indo todo dia de madrugada e natildeo foram chamados [] Eu acho
que a transposiccedilatildeo devia tentar tambeacutem na parte de emprego dar prioridade ao povo
do lugar mas a burocracia eacute tatildeo grande que muitos daqui vatildeo mesmo e natildeo
consegue se empregar (Grupo Focal 2)
No entanto o Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas afirma
que entre as suas metas estaacute a melhoria dos indicadores socioambientais e dentre estes
19
O projeto intitulado Semente Crioula - Resistecircncia Quilombola soberania alimentar na caatinga foi fruto de
um convecircnio de cooperaccedilatildeo teacutecnica firmado em 2009 para beneficiar 400 famiacutelias quilombolas Envolveu a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (Embrapa) e a Secretaria de Promoccedilatildeo de Poliacuteticas de Igualdade
Racial (Seppir) e somou um investimento de US$ 200 mil (cerca de R$ 434 mil) parte do montante financiado
pela Agecircncia Canadense para o Desenvolvimento Internacional (Cida) Foram beneficiadas pelo convecircnio as
comunidades de Conceiccedilatildeo das Crioulas Contendas e Santana (situadas no municiacutepio de Salgueiro) Jatobaacute e
Santana (em Cabroboacute) e Feijatildeo (em Mirandiba) (OBSERVATOacuteRIO QUILOMBOLA 2009)
119
indicadores estaacute a diminuiccedilatildeo da evasatildeo da populaccedilatildeo quilombola para centros urbanos
(BRASIL 2005 p 4) o que efetivamente natildeo vem se concretizando com o projeto da
transposiccedilatildeo
Outro fato que compromete a consecuccedilatildeo do indicador referido acima eacute a ameaccedila das
obras no territoacuterio com a construccedilatildeo do reservatoacuterio Tamboril que comprometeraacute
sobremaneira as condiccedilotildees de sobrevivecircncia das famiacutelias e consequentemente sua
permanecircncia na comunidade
O Decreto nordm 60402007 jaacute mencionado traz em seu artigo 3ordm paraacutegrafo I como um
dos objetivos especiacuteficos ldquogarantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o
acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural
e econocircmicardquo (BRASIL 2007)
A Comunidade de ContendasTamboril conta com uma Associaccedilatildeo dos Produtores
Rurais com sede na aacuterea Contendas e eacute vinculada agrave Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas de Pernambuco (ACQEP) jaacute referida anteriormente
Os dados do questionaacuterio CAP no tocante a participaccedilatildeo em grupos organizados
mostrou que quase a totalidade dos entrevistados (933) participava da associaccedilatildeo de
moradores enquanto que 67 disse participar de outra organizaccedilatildeo natildeo governamental
Quanto aos eventos com envolvimento da comunidade a opiniatildeo foi de que os de caraacuteter
religioso social e cultural tem igualmente a participaccedilatildeo de 286 da comunidade (Graacutefico
14)
Graacutefico 14 - Participaccedilatildeo em grupos e eventos - Comunidade de Contendas Tamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas doze opccedilotildees de divertimento Mas a bebida apareceu com maior
percentual (226) seguido da opccedilatildeo danccedilar forroacute (17) Jogar futebol e ouvir muacutesica
aparecem com 132 respectivamente
120
Para as mulheres foram apontadas oito formas de lazer Assistir televisatildeo (286) e
danccedilar forroacute (238) apareceram como as primeiras opccedilotildees Chama nossa atenccedilatildeo que danccedilar
o cocircco apareceu como penuacuteltima opccedilatildeo de divertimento para homens e mulheres parecendo
estar ldquoenfraquecidardquo essa danccedila tradicional que tem forte influecircncia indiacutegena e africana
O lazer para crianccedilas aparece de forma curiosa com o mesmo percentual para estudar
e brincar 226 respectivamente seguido de jogar futebol e correr com 13 cada (Graacutefico
15)
Na aacuterea Contendas haacute um campo de futebol o cruzeiro onde se encontra o terreno de
Zeacute Simiatildeo referecircncia histoacuterica na formaccedilatildeo do quilombo (CENTRO DE CULTURA LUIZ
FREIRE 2008 p 25)
Graacutefico 15 - Opccedilotildees de lazer para homens mulheres e crianccedilas ndash Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
A forma de veiculaccedilatildeo das notiacutecias se daacute principalmente por meio de raacutedio (295)
seguido de telefone com 27 2 conforme respostas dos entrevistados
O meio de transporte mais utilizado pela comunidade segundo os questionaacuterios eacute o
carro (27) a maior parte das vezes alugado por moradores e a moto (194) que teve seu
121
uso incrementado como meio de locomoccedilatildeo Poreacutem o uso de carroccedila e animal juntos
representam 238 das formas de deslocamento (Graacutefico 16)
Graacutefico 16 - Notiacutecias e os meios de transporte mais utilizados - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
O abastecimento drsquoaacutegua na comunidade eacute feito exclusivamente pela rede puacuteblica
segundo 100 das respostas A comunidade eacute abastecida atraveacutes da adutora que abastece a
cidade de Serrita cuja origem da aacutegua eacute do Rio Satildeo Francisco Quanto ao tratamento clorar e
coar aparecem com 46 das respostas respectivamente O cloro eacute entregue pelo agente de
sauacutede (Graacutefico 17)
Graacutefico 17 - Como eacute tratada a aacutegua de beber -
Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP-
FunasaSuest-PE 2010
A situaccedilatildeo de aacutegua na comunidade eacute narrada pelos entrevistados
[] laacute tem aacutegua encanada e laacute natildeo eacute aacutegua tratada do jeito que vem no cano chega
no pote das pessoas [] Eacute que eacute da Compesa e natildeo eacute tratada a aacutegua [] Tem sim
o agente de sauacutede tem a preocupaccedilatildeo de levar o cloro todo mecircs taacute levando embora
tenha pessoas na comunidade que natildeo use mas tem laacute o agente de sauacutede faz a sua
parte (Lideranccedila 2)
122
Pelo Rio Satildeo Francisco [] Adutora do sertatildeo [] (Grupo Focal 2)
Haacute uma satisfaccedilatildeo em dizer que haacute aacutegua encanada e natildeo precisam de carro-pipa para
abastecimento mas como o tratamento eacute feito em casa pelos moradores haacute casos de diarreia
que podem ser consequecircncia do tratamento incorreto e irregular poreacutem eles atribuem ao
calor Lembram que haacute uma promessa feita pelo projeto da transposiccedilatildeo de fazer uma
estaccedilatildeo de tratamento em Umatildes
[] Chega [] Natildeo senhora [] Graccedilas agrave Deus natildeo Eacute adutora do sertatildeo trata em
casa [] CloroEacute o agente de sauacutede eacute quem traz aquele clorinho A gente bota em
casa [] ] Em relaccedilatildeo a acontecerem casos [] Eacute muito difiacutecil mas acontece []
Acontece porque com uma quentura dessa daqui a gente desunera junto [] Em
um ano jaacute teria que ter uma estaccedilatildeo de tratamento [] Era em um ano jaacute deveria ter
[] Tem muita distribuiccedilatildeo daqui pra laacute e ela natildeo eacute tratada teria que ser tratada em
Umatildes Tem um reservataacuterio laacute (Grupo Focal 2)
A promessa para melhorar o abastecimento de aacutegua fez parte de diagnoacutestico realizado
pelo projeto da transposiccedilatildeo na aacuterea mas ateacute o momento apenas obras do Proacute-Rural foram
feitas como a construccedilatildeo de um accedilude
Foi feito um levantamento disso e que iriam tomar uma decisatildeo pra tentar levar essa
aacutegua potaacutevel pra o povo Continua da mesma forma foi feito vaacuterias questotildees
hiacutedricas e tambeacutem na questatildeo que ia na eacutepoca os accediludes que ia ser construiacutedos
natildeo sei Teve um accedilude laacute que foi feito mas foi o Proacute-Rural neacute que foi feito com a
ajuda do Proacute-Rural [] (Lideranccedila 2)
Quanto agraves obras do projeto da transposiccedilatildeo haacute uma compreensatildeo de que sendo
construiacutedo no leito dos coacuterregos isso impediraacute que chegue aacutegua nos riachos onde a
populaccedilatildeo planta comprometendo assim a agricultura familiar Em siacutentese os coacuterregos de
onde flui aacutegua para os riachos estatildeo sendo desviados para as bacias o que potildee em risco a vida
dos riachos ameaccedilados de secar
[] Como eacute que eles estatildeo fazendo Tatildeo tirando [] Natildeo vai chegar aacutegua no riacho
mais de jeito nenhum [] Aiacute nos coacuterregos maiores estatildeo sendo feitas as bacias aiacute
dessa forma natildeo vai mais chegar aacutegua no riacho E o pessoal planta na beira dos
riachos [] Pelo contraacuterio vai eacute secar mesmo Secar porque natildeo vai chegar
quando natildeo tinha parede no meio a aacutegua descia [] Porque o canal taacute passando Aiacute
passa o canal e ainda tem os coacuterregos que corre para o riacho e que vai correr pra
dentro das bacias e do canal ai ela natildeo vai passar pra esse lado aqui Eacute como se
fechasse as veias (Grupo Focal 2)
Em relaccedilatildeo ao lixo os dados do questionaacuterio mostram que a praacutetica comum eacute queimar
com 86 das respostas ou jogar ao relento ou enterrar para 7 respectivamente (Graacutefico
18)
123
O serviccedilo de coleta de lixo natildeo eacute feito pelo municiacutepio na comunidade e mesmo
sabendo que natildeo eacute uma praacutetica saudaacutevel para sauacutede nem para o ambiente moradores satildeo
obrigados a manter essa conduta por falta de alternativa e de responsabilizaccedilatildeo do poder
puacuteblico
Natildeo tem Aqui natildeo tem coleta de lixo Praacute eu natildeo vecirc o lixo no terreiro eu queimo
diz pra natildeo queimar mas eu acho que eacute melhor queimar praacute laacute do que taacute
amontoando (Grupo Focal 2)
O diagnoacutestico feito pelo projeto da transposiccedilatildeo mencionado anteriormente tambeacutem
apontou a problemaacutetica dos resiacuteduos soacutelidos sem no entanto ter sido tomada nenhuma
providecircncia
[] na questatildeo do lixo foi levantado muita coisa foi levantava mas eu natildeo vi assim
outros avanccedilos [] (Lideranccedila 2)
O destino dos dejetos eacute feito por vaso com descarga (857) pelo sistema de
esgotamento sanitaacuterio e 143 por fossa seca (Graacutefico 18)
O Programa de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - PBA 17 - afirmava
em 2005 que ldquoa comunidade foi beneficiada pelo Projeto Renascer com a construccedilatildeo de 25
unidades habitacionais e apenas estas possuiacuteam banheiro e destinaccedilatildeo para os esgotos (fossa
seacuteptica)rdquo (BRASIL 2005 p 21)
Atualmente com as obras realizadas pela Funasa-MS fruto de parceria com o projeto
da transposiccedilatildeo foram construiacutedas mais oito casas de alvenaria em substituiccedilatildeo as de taipa
que possuem banheiro e destino final dos dejetos Essa accedilatildeo contida no PBA 17 seraacute tratada
no capiacutetulo 8 desta dissertaccedilatildeo
Graacutefico 18 - Destino dado ao lixo e aos dejetos ndash Comunidade ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
124
Os animais criados na Comunidade de ContendasTamboril eram principalmente
galinha (23) Animais domeacutesticos como gato e cachorro somam 21 assim como o bode e
o porco tambeacutem com 21 importante na atividade pecuaacuteria A predominacircncia eacute de que satildeo
criados soltos (58) ou em cercados (315) (Graacutefico 19)
Graacutefico 19 - Animais criados e local de criaccedilatildeo - Comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Poreacutem com o projeto da transposiccedilatildeo se construiacutedo o ldquoReservatoacuterio Tamborilrdquo
haveraacute transtornos que iratildeo atingir diretamente a criaccedilatildeo de animais e a atividade pecuaacuteria de
subsistecircncia das famiacutelias quilombolas
[] Meu problema eacute com o criar com o criatoacuterio e da minha comunidade que vai se
acabar depois da Transposiccedilatildeo passar dentro da propriedade [] Ai quando rachar
no meio natildeo pode o bicho passar [] Quando tirar a terra do canal noacutes vamos ter
que cada um criar uma porca porque eacute presa porque bode noacutes natildeo pode mais criar
nem bode nem ovelha [] E nem gados [] Natildeo tem pastos (Grupo Focal 2)
Como problemas mais gerais existentes na Comunidade e ressaltando questotildees jaacute
mencionadas anteriormente foram elencados seis problemas sendo a falta de assistecircncia agrave
sauacutede a principal demanda a ser resolvida na comunidade (50) (Graacutefico 20)
Graacutefico 20 - Problemas gerais existentes - comunidade de ContendasTamboril
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
125
Outro aspecto atribuiacutedo ao projeto da transposiccedilatildeo cujo impacto eacute negativo refere-se
ao aumento de acidentes de tracircnsito nas estradas provocado pelo crescimento de fluxo
principalmente de motocicletas
A questatildeo da violecircncia a questatildeo de acidentes os acidentes de tracircnsito Na minha
comunidade mesmo esse ano jaacute teve vaacuterias perdas Com a firma o pessoal laacute tem
que comprar a sua motinha a primeira coisa que vecirc eacute moto e aiacute o tracircnsito aumenta
a questatildeo do poder aquisitivo tambeacutem aumenta e aiacute as pessoas tem a gente tem
perdido alguns (Lideranccedila 2)
Em ContendasTamboril com base nas narrativas vaacuterias satildeo as promessas feitas pelo
projeto da transposiccedilatildeo identificadas pelo MI e que natildeo saiacuteram do papel
E aiacute assim ficou ainda tem muita coisa que foi feito levantamento que a gente no
diagnoacutestico que a gente via onde foi feito o diagnoacutestico com a comunidade
(Lideranccedila 2)
Relacionamos pontos que tiveram maior realce e podem subsidiar avaliaccedilotildees e
reivindicaccedilotildees poliacuteticas pela comunidade
a) Questatildeo hiacutedrica Construccedilatildeo de accedilude e de reservatoacuterio para tratamento
b) Funcionamento da escola na comunidade
c) Melhoria do transporte escolar
d) Destino adequado do lixo
e) Esclarecimentos e negociaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves obras do Reservatoacuterio Tamboril
f) Questatildeo fundiaacuteria - agilizaccedilatildeo de procedimentos para regularizar o territoacuterio
g) Assistecircncia agrave sauacutede
h) Acesso ao trabalho nas empresas contratadas pelo projeto
68 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS
Em Salgueiro o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute o mais antigo e o primeiro a
ser certificado no Estado Localizado no II Distrito do municiacutepio de Salgueiro Conceiccedilatildeo das
Crioulas fica a 42 km da sede com percurso de 15 km de asfalto e 27 km de estrada de terra
Situa-se a 550 km de Recife Hoje com uma aacuterea de 16885 hectares o quilombo possui uma
populaccedilatildeo de aproximadamente 4000 habitantes 750 famiacutelias (AacuteGUAS 2013)
126
Figura 10 - Mapa da Comunidade C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 11 - Igreja N Srordf da Conceiccedilatildeo-C das Crioulas
Fonte A autora 2013
A figura 10 mostra um mapa elaborado pelos moradores com representaccedilatildeo dos
vaacuterios siacutetios e equipamentos sociais existentes vegetaccedilatildeo aacutereas de lazer e os limites do
territoacuterio
A figura 11 mostra a igreja Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo na Vila Sede marco da
histoacuteria e fundaccedilatildeo do quilombo
Em relaccedilatildeo agrave sua formaccedilatildeo o ldquoSertatildeo Quilombolardquo tem o registro de que
A histoacuteria da comunidade eacute contada a partir da luta de seis negras livres que
chegaram na regiatildeo Trabalhando fortemente no cultivo fiaccedilatildeo e venda do algodatildeo
conseguiram comprar trecircs leacuteguas em quadra das terras que arrendavam No dia 1ordm de
janeiro de 1802 as negras fundadoras da Comunidade receberam a escritura de
posse de suas terras concretizada em um cartoacuterio da localidade referenciada como
Torre com dezesseis selos feita por Joseacute Delgado A origem do nome do quilombo
estaacute associada agrave chegada de um homem chamado Francisco Joseacute que fugido da
guerra carregou consigo a imagem de nossa senhora da Conceiccedilatildeo Depois de girar
pelo sertatildeo achou abrigo nas terras das crioulas Laacute construiacuteram uma capela e
tornaram a santa padroeira do povoado desde entatildeo conhecido como Conceiccedilatildeo das
Crioulas Esta histoacuteria eacute contada nos mais diversos siacutetios ligando a identidade da
comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas agrave descendecircncia das suas fundadoras que
atraveacutes do trabalho tomaram a iniciativa de legitimar o terreno (CENTRO DE
CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21)
A ideia de que as mulheres negras natildeo chegaram ali na condiccedilatildeo de escravas eacute
unacircnime e a memoacuteria das crioulas eacute associada ao poder da autonomia e articulaccedilatildeo entre os
siacutetios que foi consolidando o sentido de unidade e a capacidade de organizaccedilatildeo poliacutetica Eacute em
Conceiccedilatildeo das Crioulas que fica a sede da Comissatildeo de Articulaccedilatildeo Estadual das
Comunidades Quilombolas (AECQPE)
127
69 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS E O
PROJETO DE TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
O quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas segundo documentos oficiais do projeto da
transposiccedilatildeo encontra-se na chamada aacuterea de influecircncia direta (AID) Localizado a cerca de
cinquenta quilocircmetros do canal a ser construiacutedo no trecho I do Eixo Norte a comunidade natildeo
sofreraacute diretamente impacto ambiental com as obras nem na fase de construccedilatildeo nem na fase
operacional do projeto (BRASIL 2005 p 2)
Apesar de natildeo ser atingido diretamente pelas obras da transposiccedilatildeo a Comunidade de
Conceiccedilatildeo das Crioulas agrega um grande nuacutemero de atividades previstas pelo SubPrograma
de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas (PBA 17) descrito no capiacutetulo 8
A percepccedilatildeo geral do projeto expressa nas narrativas eacute recheada de esperanccedila mas
tambeacutem de criacuteticas ao projeto por natildeo beneficiar quem oficialmente aparece como puacuteblico
prioritaacuterio A esperanccedila eacute de ver resolvido o problema do abastecimento de aacutegua na aacuterea
criacutetico para a maior parte dos siacutetios que compotildee o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das Crioulas mas
tambeacutem que as demais accedilotildees prometidas sejam cumpridas Haacute uma expectativa que eacute aleacutem de
uma esperanccedila de que haja justiccedila social no projeto da transposiccedilatildeo beneficiando de fato
quem realmente precisa
[] Olha esperamos que uma vez concluiacutedo a populaccedilatildeo possa se beneficiar do
resultado final desse projeto que eacute a aacutegua no qual o pessoal tanto espera e os
projetos que estaacute paralelo a essa obra que satildeo os projetos de infra-estrutura de
estrada de eletrificaccedilatildeo e de geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo Eacute isso que se
espera neacute Que os pequenos que os pequenos produtores da agricultura familiar
possam se beneficiar disso tambeacutem neacute Natildeo soacute as grandes empresas natildeo soacute o
agronegoacutecio Que haja justiccedila social nessa obra Eacute o que eu espero (Lideranccedila 3)
[] mas em termo de aacutegua mesmo se houver a possibilidade de tambeacutem a aacutegua sair
dessa rede desse canal que vai atravessar Pernambuco eu acho que eacute muito
interessante porque noacutes estamos trabalhando dentro do municiacutepio porque noacutes
estamos tendo muita dificuldade aqui na questatildeo da aacutegua porque a aacutegua vem do
municiacutepio do Beleacutem do Satildeo Francisco [] (Grupo Focal 1)
Moradores fazem tambeacutem uma menccedilatildeo ao projeto como mais uma obra faraocircnica que
natildeo funcionaraacute comparando-a com a transnordestina que realiza obras em Salgueiro
Porque estaacute sendo mais uma piracircmide do Egito esse canal E que vai ficar aiacute que
nem essa estrada de ferro que a gente tinha ai antes e que na verdade natildeo funcionou
e que os trilhos estaacute ai Daqui ateacute Recife eles estatildeo fazendo outra por cima que a
gente natildeo sabe se vai funcionar tambeacutem [] Eacute a Transnordestina (Grupo Focal 1)
128
Em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees e debates sobre o projeto da transposiccedilatildeo a percepccedilatildeo eacute de
que ficaram restritos ao iniacutecio do projeto antes da fase de construccedilatildeo das obras O Ministeacuterio
da Integraccedilatildeo e o governo municipal natildeo incentivaram a organizaccedilatildeo de uma instacircncia
poliacutetica de controle social para acompanhamento do projeto em suas diversas etapas
Lideranccedila de Salgueiro se ressente de natildeo ter sido viabilizado esse canal apesar da certeza de
que eacute uma necessidade e um direito
De fato noacutes fomos noacutes tivemos num primeiro momento algumas informaccedilotildees de
alguma discussatildeo sobre a construccedilatildeo das bacias de transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco isso se deu num primeiro momento assim quando os projeto tavam vindo
pro municiacutepio neacute Mas no momento a gente natildeo teve o governo natildeo manteve uma
poliacutetica de acompanhamento durante as obras neacute [] (Lideranccedila 3)
Houve a proposta de se constituir um Comitecirc Gestor que natildeo foi adiante mas visto
como importante retomar a ideia pela necessidade de haver um monitoramento de
funcionamento do projeto e de respostas eficazes agraves demandas das populaccedilotildees sejam
quilombolas indiacutegenas ou assentados
No municiacutepio no princiacutepio da obra da discussatildeo das obras noacutes ateacute ainda
comeccedilamos a discutir a proposta do comitecirc de controle dessas obras aqui porque
acreditamos que a populaccedilatildeo tem que participar disso Tanto para esse controle
social do serviccedilo como o uso como puder interferir puder sugerir E noacutes
comeccedilamos nessa discussatildeo sentamos na perspectiva de chamar as igrejas chamar
os sindicatos chamar os conselhos chamar a sociedade [] E uma das discussatildeo era
criar esse Comitecirc de Gestatildeo neacute que com certeza ele viraacute porque quando a obra
tiver funcionando algueacutem vai ter que fazer a gestatildeo dela neacute Monitorar
acompanhar neacute E eu acredito que se natildeo foi naquele momento a gente vai precisar
numa hora criar um oacutergatildeo [] O MI esteve convidado a estar nesse momento mas
ele natildeo fez tanta forccedila assim praacute gente criar esse oacutergatildeo poliacutetico de gestatildeo (Lideranccedila
3)
Nesse aspecto o municiacutepio tem uma limitaccedilatildeo de acompanhamento embora a gente
tenha uma diretoria de gestatildeo ambiental mas falta essa questatildeo a gente observa o
proacuteprio Estado tem essa dificuldade de estar fazendo um acompanhamento mais de
perto [] Com o ministeacuterio a gente vem tentando porque tem uma relaccedilatildeo que eacute
antes da obra e durante Antes a gente jaacute avaliava toda essa questatildeo de impacto Foi
feito todo o estudo de impacto ambiental e a gente jaacute tinha um pouco isso Entatildeo
algumas coisas em tese jaacute estariam preacute-agendadas [] Entatildeo eu diria que hoje o
acompanhamento ambiental relativo agrave obra ele ainda apresenta algumas
deficiecircncias Agraves vezes chega denuacutencia de uma comunidade e de outras a gente tenta
acionar mas a gente mesmo natildeo tem o controle disso no acompanhamento para ter
dados mais concretos mas tem a visatildeo tem a fala das comunidades que nem
sempre isso tem sido assegurado (Gestora 1)
As informaccedilotildees sobre o projeto chegam de forma fragmentada dificultando a
compreensatildeo do todo a mobilizaccedilatildeo e reivindicaccedilatildeo em torno das principais demandas para
populaccedilatildeo
129
[] Pelo que a gente pela informaccedilatildeo Talvez a gente esteja alheio porque as accedilotildees
do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo elas vatildeo chegando assim tem projeto tal ai pronto
Mas o projeto como um todo pra gente perceber o que a gente pode buscar laacute o que
a gente pode requisitar e que pode ser desenvolvido aqui a gente natildeo tem esse
domiacutenio (Grupo Focal 1)
A fala de representante do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo afirma que haacute uma interlocuccedilatildeo
formal com entidade governamental federal que atua junto aos quilombolas mas sem
nenhuma articulaccedilatildeo com organizaccedilotildees natildeo governamentais com as Associaccedilotildees que
representem o povo quilombola na aacuterea do projeto
Na verdade com relaccedilatildeo a quilombolas a gente tem muito mais com a Fundaccedilatildeo
Palmares Entatildeo assim esse ano natildeo veio houve algumas mudanccedilas na Fundaccedilatildeo
mas ela estaacute sendo convocada Com relaccedilatildeo inclusive ao acompanhamento das
accedilotildees ela tambeacutem acompanha propotildee tambeacutem algumas coisas mas eacute mais com a
Fundaccedilatildeo Palmares do que qualquer outra ONG (Gestora 10)
Quanto agrave gestatildeo da aacutegua o RIMA afirma que o Cearaacute Rio Grande do Norte e Paraiacuteba
jaacute contavam com oacutergatildeos gestores de recursos hiacutedricos tendo o Cearaacute como referecircncia na
administraccedilatildeo deste recurso
O Estado do Cearaacute eacute atualmente uma referecircncia na administraccedilatildeo de aacutegua Sua
poliacutetica de recursos hiacutedricos eacute gerida pela Companhia de Gestatildeo dos Recursos
Hiacutedricos (COGERH) que coordena 123 accediludes puacuteblicos estaduais e federais aleacutem
de canais e adutoras [] Os Estados da Paraiacuteba e do Rio Grande do Norte tambeacutem jaacute
criaram seus oacutergatildeos gestores dos recursos hiacutedricos preparando a regiatildeo para o uso
mais eficiente da aacutegua (BRASIL 2005 p 11)
Apesar da existecircncia desde 2001 do Comitecirc de Bacia Hidrograacutefica do Satildeo Francisco
(CBHSF) que trazia em sua constituiccedilatildeo uma composiccedilatildeo ldquodiversificada e democraacuteticardquo com
representantes de vaacuterios segmentos da sociedade civil natildeo havia representaccedilatildeo de
comunidades quilombolas Foi apenas em 2006 com uma alteraccedilatildeo regimental que se deu a
ampliaccedilatildeo da representaccedilatildeo dos povos indiacutegenas e a incorporaccedilatildeo de comunidades
quilombolas entre os membros titulares do comitecirc (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA
DO SAtildeO FRANCISCO 2014) Com base na Lei nordm 12984 de 30 de dezembro de 2005 que
instituiu a Poliacutetica Estadual de Recursos Hiacutedricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hiacutedricos de Pernambuco - SIGRHPE foi incluiacuteda a representaccedilatildeo destas
populaccedilotildees na composiccedilatildeo dos Comitecircs de Bacia Hidrograacutefica (COBHs) (Artigo 46
subseccedilatildeo II)
Paraacutegrafo 1ordm Nos COBHs de bacias cujos territoacuterios abranjam terras indiacutegenas e de
remanescentes de quilombos devem ser incluiacutedos representantes
130
I - dos oacutergatildeos gestores nacionais das comunidades indiacutegenas e de quilombolas
como parte da representaccedilatildeo da Uniatildeo II- das comunidades indiacutegenas ali residentes
e III- das comunidades de remanescentes de quilombos ali residentes
(PERNAMBUCO 2005)
Apesar das estruturas legais em torno da questatildeo hiacutedrica e do Comitecirc da Bacia do Rio
Satildeo Francisco mencionar a representaccedilatildeo quilombola natildeo identificamos pelos relatos dos
sujeitos sua representaccedilatildeo formal em nenhuma das instacircncias que discutem e acompanham a
questatildeo hiacutedrica no Estado
Na atual gestatildeo do CBHSF eleita em junho de 2013 em niacutevel nacional (Gestatildeo 2013-
2016) haacute representaccedilatildeo quilombola de um conselheiro titular e outro suplente das
Associaccedilotildees quilombola de Lagoa das Piranhas em Bom Jesus da Lapa e da Associaccedilatildeo
quilombola Santo Inaacutecio no municiacutepio de Ibiassucecirc ambas do estado da Bahia Ressaltamos
que o Comitecirc com 62 membros titulares tem uma representaccedilatildeo de apenas 33 das
comunidades tradicionais (COMITEcirc DE BACIA HIDROGRAacuteFICA DO SAtildeO FRANCISCO
2014)
610 UM RETRATO DE CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS DADOS DO QUESTIONAacuteRIO
CAP E A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas foram aplicados 78 questionaacuterios CAP representando
95 das famiacutelias que tiveram suas casas de taipa substituiacutedas por alvenaria pelo projeto da
transposiccedilatildeo Os dados apresentados satildeo a consolidaccedilatildeo dos questionaacuterios aplicados nas aacutereas
Siacutetios Siacutetio Paus Branco Rodeador Queimadas Paula Boqueiratildeo Riacho do Juazeiro Sede
Vila Uniatildeo Lagoinha Barrinha Chapada Mulungu e Garrote Morto o que representa 70
das aacutereas que constituem o territoacuterio quilombola
Em relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade a resposta dos entrevistados referiu-se a 331
pessoas sendo 176 homens e 155 mulheres (meacutedia de quatro pessoas por famiacutelia) Essas
famiacutelias eram constituiacutedas mais por homens do que por mulheres (532 para 468) e
tambeacutem apresentaram niacutevel de escolaridade maior entre os homens com 53 tendo alguma
escolaridade em relaccedilatildeo a 47 das mulheres Curiosamente em relaccedilatildeo agraves pessoas sem
escolaridade os homens tambeacutem apresentam uma quantidade maior de analfabetos com
534 para 466 de mulheres Eacute um contingente expressivo de pessoas nesse universo sem
acesso agrave escolarizaccedilatildeo apesar de haver escolas funcionando na comunidade e o programa de
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA)
131
Quando particularizamos por niacutevel de escolarizaccedilatildeo 58 dos homens cursaram o
ensino fundamental contra 42 das mulheres Quanto ao ensino meacutedio as mulheres
aparecem com um percentual bem acima dos homens tendo 617 delas concluiacutedo o ensino
meacutedio enquanto apenas 383 dos homens tiveram essa oportunidade Em relaccedilatildeo ao ensino
superior apenas duas mulheres tiveram acesso (08) (Graacutefico 21)
Graacutefico 21 - Niacutevel de Escolaridade - Comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Na Vila Sede de Conceiccedilatildeo das Crioulas funcionam duas escolas municipais a Escola
Joseacute Neacuteu e a Escola Professor Joseacute Mendes (SALGUEIRO 2013) Possui tambeacutem mais seis
escolas espalhadas no territoacuterio com o ensino fundamental e educaccedilatildeo infantil Os
documentos oficiais do projeto da transposiccedilatildeo registram que as escolas que estatildeo em outros
siacutetios que natildeo as da Vila Centro atendem os indiacutegenas Atikum que haacute demanda por uma
escola teacutecnica para avanccedilar no processo de educaccedilatildeo diferenciada aleacutem da necessidade de
equipar a escola com um laboratoacuterio de informaacutetica Na eacutepoca estava sendo iniciado o
Programa Tele-sala (BRASIL 2005 p 19)
Em seu artigo sobre o quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas Aacuteguas (2013) enaltece
aspectos importantes na construccedilatildeo de uma educaccedilatildeo diferenciada no territoacuterio
Aleacutem da sua lideranccedila na atuaccedilatildeo poliacutetica Conceiccedilatildeo das Crioulas destaca-se
tambeacutem pela formulaccedilatildeo de um projeto de educaccedilatildeo diferenciada e pelo trabalho
132
inovador com o artesanato Quanto agrave primeira iniciativa trabalha com uma
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo em que os valores a cultura os costumes as tradiccedilotildees a
sabedoria das pessoas mais velhas e a histoacuteria dos antepassados fazem parte do
processo histoacuterico da comunidade (AQCC 2008) A experiecircncia eacute considerada uma
referecircncia para o movimento quilombola brasileiro e para outras organizaccedilotildees que
atuam na aacuterea da educaccedilatildeo (AacuteGUAS 2013 p 6)
Dentre os equipamentos sociais relacionados agrave educaccedilatildeo haacute na Vila Sede uma
biblioteca afro-indiacutegena a primeira do Brasil que expressa a marca da identidade dos povos
quilombola e indiacutegena que habitam o mesmo territoacuterio e lutam por uma educaccedilatildeo diferenciada
(Figura 12)
Figura 12 - Preacutedio da biblioteca Afro-indiacutegena Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Nos aspectos referentes ao estado de sauacutede os entrevistados alegaram que vaacuterios satildeo
os problemas de sauacutede que afetam a populaccedilatildeo aparecendo como os cinco mais frequentes a
gripe (218) hipertensatildeo arterial (186) dores de cabeccedila (11) febre (10) e doenccedila de
Chagas (82) representando quase 70 das situaccedilotildees
Questotildees de sauacutede que podem estar relacionadas ao deacuteficit de aacutegua e seu consumo
inadequado apareceram com pouca frequecircncia como casos de diarreia (43) dor abdominal
(1) vocircmito (07) e verminose (04)
As medidas para cuidar dos problemas de sauacutede satildeo em 62 das respostas a procura
pelo posto de sauacutede (342) e hospital (278) As formas mais tradicionais de tratamento
representam juntas 292 das alternativas adotadas pelas famiacutelias como o remeacutedio caseiro
(17) o rezador (64) o chaacute (53) e o raizeiro (05) (Graacutefico 22)
133
Graacutefico 22 - Doenccedilas que mais acometem e o que fazem quando adoecem- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2011
Como segundo distrito de Salgueiro Conceiccedilatildeo das Crioulas conta com um posto de
sauacutede na Vila Sede com funcionamento do Programa de Sauacutede da Famiacutelia Em 2013 foi
iniciada uma reforma e ampliaccedilatildeo no preacutedio da Unidade de Sauacutede sob responsabilidade da
Secretaria Municipal de Sauacutede em convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede natildeo tendo nenhuma
relaccedilatildeo com o projeto da transposiccedilatildeo (Figura13)
Figura 13 - Obras da reforma de ampliaccedilatildeo do PSF- Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora 2013
Representante da Secretaria de Sauacutede detalha a equipe que compotildee a Unidade de
Sauacutede da Famiacutelia e o apoio oferecido pelo municiacutepio para deslocamento dos profissionais que
natildeo satildeo moradores da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas
09 ACS um enfermeiro um meacutedico 01 Dentista auxiliar de enfermagem a
recepccedilatildeo auxiliar de serviccedilos gerais e a pessoa da farmaacutecia Essa equipe tanto o
134
meacutedico enfermeiro dentista auxiliar de enfermagem eles se deslocam daqui de
Salgueiro para Conceiccedilatildeo todos os dias Entatildeo haacute um carro que eacute locado aqui na
Secretaria municipal de Salgueiro que transporta que leva essa equipe todos os dias
praacute Conceiccedilatildeo E a gente leva tambeacutem a gente paga as refeiccedilotildees desses profissionais
laacute Entatildeo eacute uma equipe muito boa uma equipe muito integrada [] E o avanccedilo que
teve desde o ano passado noacutes conseguimos a ampliaccedilatildeo e reforma da Unidade de
Sauacutede que jaacute estaacute em processo de licitaccedilatildeo [] Natildeo eacute diretamente com o Ministeacuterio
da Sauacutede Eacute parceria com o MS mas natildeo em relaccedilatildeo ao PISF E assim laacute eacute uma
aacuterea bastante extensa acho que vocecirc observou a gente tem ACS que daacute sede para
sua aacuterea eacute 30 km (Gestora 3)
Quanto as formas de sobrevivecircncia da comunidade os entrevistados apontaram uma
predominacircncia de pessoas vivendo com aposentadoria (393) seguida de pessoas que vivem
da agricultura (308) e do bolsa famiacutelia (205) o que representa 91 das fontes de renda
das famiacutelias As demais atividades somam 9 das alternativas de trabalho (Graacutefico 23)
Graacutefico 23 - Fonte de Renda- Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE 2010
Os dados acima mostram a presenccedila da atividade agriacutecola poreacutem sem a forccedila de
outrora Ao chegaram ao local aonde hoje eacute o territoacuterio de Conceiccedilatildeo das crioulas as
mulheres negras passaram a viver da agricultura baseada no plantio do algodatildeo De acordo
com informaccedilotildees da prefeitura municipal de Salgueiro
[] Ateacute 1987 o algodatildeo foi o sustentaacuteculo da economia quilombola mas com o
ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sinteacuteticos a populaccedilatildeo assistiu a sua
decadecircnciaHoje atraveacutes de uma agricultura de subsistecircncia seus habitantes
sobrevivem plantando milho feijatildeo mandioca jerimum e melancia (SALGUEIRO
2013)
A atividade de artesanato apesar de natildeo estar entre as respostas do questionaacuterio eacute
importante expressatildeo de identidade da comunidade e representa tambeacutem uma fonte de renda
Na Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira eacute onde se encontram os diversos artesanatos
produzidos para comercializaccedilatildeo (Figura 14)
135
No livro Sertatildeo Quilombola do CCLF haacute menccedilatildeo ao artesanato como uma atividade
reconhecidamente forte e que atraveacutes dele a comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas consegue
transformar trabalho em renda (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 22)
Quanto ao artesanato uma atividade que sempre existiu em Conceiccedilatildeo das Crioulas
ganhou novo impulso como alternativa econocircmica diante da crise do algodatildeo dos
anos 1980 A partir de 2001 o projeto Imaginaacuterio Pernambucano na Comunidade
foi viabilizado atraveacutes de uma parceria entre a AQCC a Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) Mais de trinta produtos foram desenvolvidos atraveacutes de oficinas de gestatildeo
de qualidade e de consultorias de design ndash tais como as populares bonecas de fibra
de caroaacute (AgraveGUAS 2013 p 6 grifo do autor)
Figura 14 - Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira -
C Crioulas
Fonte A autora 2013
Figura 15 - Artesanato em ceracircmica e fibra de caroaacute -
C Crioulas
Fonte Centro de Cultura Luiz Freire- Sertatildeo
Quilombola (2008 p 22)
A inserccedilatildeo em grupos na comunidade pelas respostas do questionaacuterio mostra o
expressivo envolvimento dos moradores com a Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das
Crioulas (674) seguida da participaccedilatildeo com o sindicato (109) e com a associaccedilatildeo
indiacutegena Atikum (87) (Graacutefico 24)
Os eventos que envolvem a participaccedilatildeo das famiacutelias segundo respostas obtidas
apontam os de cunho religioso (392) e social (298) como de maior frequecircncia seguido
dos eventos culturais (138)
136
Graacutefico 24- Participaccedilatildeo em grupos e eventos na comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
A Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas (AQCC) (Figura 16) fundada
em 2000 desenvolve vaacuterios trabalhos e estabelece parcerias diversas Tem como objetivos o
desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua histoacuteria a
valorizaccedilatildeo das suas potencialidades a conscientizaccedilatildeo do povo negro da sua importacircncia
para construccedilatildeo de uma sociedade justa e igualitaacuteria a quebra da barreira do preconceito e
discriminaccedilatildeo racial A AQCC eacute formada por 10 associaccedilotildees de produtores e trabalhadores
rurais provenientes dos diversos siacutetios que compotildee o povoado (SALGUEIRO 2004)
Figura 16 - Sede da AQCC e Crioulas Viacutedeo - C Crioulas
Fonte A autora 2013
Em ldquoSertatildeo Quilombolardquo um pouco mais sobre a Associaccedilatildeo e seus projetos
[] a AQCC - Associaccedilatildeo Quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas desenvolve
vaacuterios trabalhos ligados a territorialidade geraccedilatildeo de renda educaccedilatildeo e juventude
Entre eles estaacute o Crioulas Viacutedeo produtora de viacutedeos formada pela juventude
quilombola da comunidade [] Dentre as comunidades quilombolas de
137
Pernambuco Conceiccedilatildeo das Crioulas eacute pioneira na organizaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo e
articulaccedilatildeo das lutas quilombolas tornando-se uma referecircncia tanto no acircmbito
regional como nacional (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE 2008 p 21-23)
Relato de uma gestora confirma a dinacircmica da organizaccedilatildeo da comunidade e sua
incessante luta e articulaccedilatildeo poliacutetica
[] os ACS tambeacutem satildeo muito politizados e a comunidade tambeacutem [] Eles sabem
dos seus direitos dos seus deveres tambeacutem e sempre estatildeo reivindicando suas
melhorias [] eacute um a comunidade bastante politizada que reivindica seus direitos
que sabe quais satildeo seus direitos como e tambeacutem seus deveres e que sempre que a
gente solicita alguma reuniatildeo alguma coisa que a gente precise da comunidade eles
estatildeo ali junto Entatildeo se vocecirc quer marcar uma reuniatildeo em Conceiccedilatildeo de algum
tema eles jaacute se articulam rapidamente Haacute vaacuterias associaccedilotildees tambeacutem em
Conceiccedilatildeo das Crioulas e a gente consegue quando quer marcar alguma coisa a
gente consegue rapidamente se articular com eles e mobilizar fazer uma
mobilizaccedilatildeo Entatildeo eacute uma comunidade bastante unida que realmente sabe o que quer
[] (Gestora 3)
Com referecircncia as formas de lazer os dados do questionaacuterio mostram que para os
homens foram mencionadas vinte e trecircs opccedilotildees de divertimento As quatro primeiras opccedilotildees
somam 593 sendo jogar bola a atividade de lazer preferida (203) seguida da bebida
com 14 da danccedila (133) e da televisatildeo com 117
Para as mulheres foram apontadas vinte e seis formas de lazer As quatro primeiras
opccedilotildees que somam 597 mostram que assistir televisatildeo vem como primeiro divertimento
(29) seguido de danccedilar forroacute com 13 ouvir raacutedio com 95 e jogar futebol com 82
(Graacutefico 25a)
O lazer para crianccedilas aparece com dezesseis opccedilotildees mas as quatro primeiras
representam 78 das frequecircncias sendo brincar no terreiro (21) estudar (204) jogar
futebol (197) e assistir televisatildeo (17) as com maior envolvimento das crianccedilas Brincar
no terreiro e estudar tecircm quase o mesmo percentual (Graacutefico 25b)
Como espaccedilos coletivos promotores de lazer haacute na comunidade na Vila Sede o
campo de futebol a quadra poliesportiva e a praccedila
138
Graacutefico 25a - Formas de diversatildeo para homens e mulheres - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- Funasa Suest-PE 2011
Graacutefico 25b - Formas de diversatildeo para crianccedilas - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Os canais de comunicaccedilatildeo apontados pelo questionaacuterio indicam que as notiacutecias satildeo
veiculadas principalmente pelo raacutedio (365) de pessoa a pessoa (34) e por telefone (20)
Quanto aos meios de transporte mais usados pelas famiacutelias quase 80 estatildeo
distribuiacutedos entre o carro (28) moto (227) bicicleta (166) e cavalo (118) (Graacutefico
26)
139
Graacutefico 26 - Como chegam as notiacutecias e transporte mais usados na comunidade -
Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
O acesso agrave Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo eacute faacutecil como descreve Aacuteguas (2013 grifo
nosso)
[] Depois de um trajeto de 514 km entre Recife e Salgueiro satildeo mais 15 km pela
BR-116 que conduzem a uma estrada de terra que ndash laquoentre faveleiras caroaacutes
quixabeiras marmeleiros juaacutes mandacarus e macambirasraquo como descreve
Calheiros (2009 43) - sacudiraacute o viajante por mais 25 km ateacute a Vila Centro o
principal povoado do quilombo
Mas providecircncias jaacute vem sendo tomadas pela AQCC junto aos governos estadual e
federal para melhora da estrada de acesso agrave comunidade
Vocecirc falou aiacute da acessibilidade mas na questatildeo da acessibilidade em julho noacutes
fizemos um manifesto Desse manifesto o proacuteprio governo se comprometeu disse
que natildeo tinha condiccedilotildees de bancar o projeto todo mas ia ser o nosso parceiro que
atraveacutes de conhecimento dele em Brasiacutelia junto com a gente ele ia correr atraacutes
Esperamos isso ele dava o resultado ateacute o comeccedilo de abril (Grupo Focal 1)
O acesso agrave aacutegua na comunidade segundo as respostas do CAP indica que as
principais fontes satildeo a cisterna (40) aacutegua de accedilude (25) e poccedilo (10) representando 75
das maneiras de abastecimento O tratamento da aacutegua para consumo humano eacute 583 clorada
seguida de 378 coada seguida de 4 sem tratamento algum (Graacutefico 27)
140
Graacutefico 27 - De onde vem a aacutegua e como eacute tratada - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
As narrativas mostram que a situaccedilatildeo de abastecimento de aacutegua eacute precaacuterio mesmo em
aacuterea onde haacute encanamento e o fornecimento de aacutegua eacute pela Compesa no caso da Vila Sede
como tambeacutem nos demais siacutetios
Pela Compesa eacute Natildeo noacutes temos encanamento soacute [] [] Eacute muito difiacutecil chegar
aacutegua aqui noacutes tem sofrido [] Quando chega uma aguinha e agraves vezes com o carro -
pipa que tambeacutem natildeo daacute para atender a todo mundo sempre fica aquela diferenccedila
Chega numa parte da rua a outra fica tudo seca com os baldes na calccedilada laacute sem
aacutegua [] E aiacute passa em umas aacutereas meio estranhas e ai [] entenderam que
tambeacutem jaacute furaram a proacutepria rede da adutora que vem pra caacute com autorizaccedilatildeo da
Compesa e isso pra noacutes tem sido muito difiacutecil porque aqui agraves vezes vem uma
aguinha a cada quinze dias vinte dias agraves vezes tira o mecircs sem nem vim mas a
conta todo mecircs taacute ali taxa miacutenima que vocecirc use ou natildeo tem que pagar (Grupo
Focal 1)
Natildeo em relaccedilatildeo ao Projeto laacute natildeo passa o canal A aacutegua de laacute ela vem de Beleacutem de
Satildeo Francisco tem uma encanaccedilatildeo que tem uma caixa drsquoaacutegua e a distribuiccedilatildeo na
Vila eacute pelo Beleacutem de Satildeo Francisco E em relaccedilatildeo a aacuterea noacutes estamos falando da
Vila em relaccedilatildeo ao restante da aacuterea eacute abastecida com carro pipa [] Isso porque
nos soacute temos aacutegua que vem de Beleacutem de S Francisco praacute Vila praacute sede (Gestora 3)
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas - PBA 17- traz em sua descriccedilatildeo
da comunidade de Conceiccedilatildeo das Crioulas que
A comunidade vem lutando por uma adutora que viria de Beleacutem do Satildeo Francisco -
faltam18 km para chegar aleacutem da construccedilatildeo de uma ETA em Beleacutem do Satildeo
Francisco para a 2ordf fase que estaacute em processo de licitaccedilatildeo (FUNASA) Registrou-se
a existecircncia de algumas cisternas (BRASIL 2005 p 20)
E eacute uma luta que continua no momento atual sem obter ecircxitos concretos
[] E eacute isso que tambeacutem noacutes tivemos em Recife essa semana correndo atraacutes de
reunir laacute e noacutes tivemos a oportunidade de falar com a Secretaria de Recursos
Hiacutedricos laacute e eles anotaram umas coisas (Grupo Focal 1)
141
A situaccedilatildeo se agrava quando refere-se ao tratamento para consumo humano pelo
abastecimento feito das cisternas com carros-pipa
Isso tem cisternas poreacutem essa aacutegua vem do carro pipa Que antigamente ateacute uns uns
2 meses atraacutes essa aacutegua vinha aqui da compesa o carro pipa pegava aqui na
Compesa soacute que tem uns 2 meses mais ou menos que essa aacutegua ela eacute pega
diretamente no Iboacute E a gente conversando em reuniatildeo com a vigilacircncia essa aacutegua
estaacute sendo pega bruta sem tratamento E a recomendaccedilatildeo que se tem eacute que coloque
as pastilhas Soacute que o pipeiro fala que se colocar as pastilhas na hora que pega a
aacutegua as pastilhas corroacutei o pipa Aiacute tem essa dificuldade que eles natildeo querem
colocar porque corroacutei aquele material como eacute o metal neacute E eles estatildeo segundo
algumas informaccedilotildees colocando diretamente na Cisterna (Gestora 3)
O destino do lixo na aacuterea pelos dados do questionaacuterio mostra que jogar ao relento
(56) e queimar (398) satildeo as praacuteticas mais comuns a exemplo do que apareceu nos dados
das comunidades de Santana e ContendasTamboril Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apenas 16
do lixo eacute coletado (Graacutefico 28)
No entanto o que eacute descrito em documento do projeto da transposiccedilatildeo eacute de que existe
coleta de lixo semanal na comunidade poreacutem que a praacutetica de queimar permanece sendo
feita em uma aacuterea dentro do territoacuterio Natildeo fica claro se haacute coleta em todos os vinte e um
siacutetios e pela dimensatildeo da aacuterea uma coleta semanal eacute pouco haja visto o nuacutemero de famiacutelias
e produccedilatildeo de lixo e a distacircncia entre os siacutetios
O municiacutepio de Salgueiro estaacute projetando um aterro sanitaacuterio que possivelmente no
futuro iraacute receber o lixo da comunidade Registrou-se a existecircncia de uma campanha
AQCCescolas para coleta seletiva (BRASIL 2005 p 20)
Os dejetos estatildeo sendo lanccedilados em 90 das respostas no mato com apenas 10
sendo em vaso com descarga (Graacutefico 28)
Documento do projeto da transposiccedilatildeo afirma
Natildeo existem banheiros na comunidade Projeto do Estado conveniou a construccedilatildeo de
30 banheiros mas ainda natildeo saiu do papel Atualmente os lanccedilamentos de esgoto
das casas da Vila vatildeo para o accedilude de onde vem a aacutegua para consumo (BRASIL
2005 p 20)
Graacutefico 28 - Destino do lixo e dos dejetos da comunidade - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
142
A praacutetica de criaccedilatildeo de animais eacute presente na aacuterea poreacutem pelas respostas com
predominacircncia para a criaccedilatildeo de galinhas e cachorro com 21 respectivamente seguido de
gato (158) Outros animais da pecuaacuteria como porco (15) bode (98) e gado (6) satildeo
criados com menor frequecircncia Os animais satildeo criados soltos (77) (Graacutefico 29)
Informaccedilotildees da Prefeitura Municipal de Salgueiro indicavam a existecircncia de pequenos
criatoacuterios de ovinos caprinos bovinos e suiacutenos na comunidade (SALGUEIRO 2014)
Graacutefico 29 - Animais criados na comunidade e como satildeo criados - Quilombo de Conceiccedilatildeo das Crioulas
Fonte A autora a partir do questionaacuterio CAP- FunasaSuest-PE2011
Como descriccedilatildeo mais detalhada da aacuterea central de Conceiccedilatildeo das Crioulas a Vila
Centro Aacuteguas (2013 p 3) relata
A Vila Centro eacute um simpaacutetico aglomerado de casas cercado pela vegetaccedilatildeo da
caatinga e pelo recorte das serras20
No seu nuacutecleo estaacute a pequena capela azul e
branca a praccedila e um pequeno comeacutercio Tambeacutem no povoado se concentram as
principais estruturas da comunidade a sede da AQCC a biblioteca Afroindiacutegena (a
primeira do Brasil) o posto de sauacutede a quadra poliesportiva o campo de futebol a
Casa Comunitaacuteria Francisca Ferreira as escolas de ensino fundamental e meacutedio o
banco de sementes o mercado puacuteblico e a lavanderia comunitaacuteria dentre outros
espaccedilos coletivos
A figura 17 mostra o mercado puacuteblico localizado na Vila Centro de Conceiccedilatildeo das
Crioulas
20
O quilombo eacute delimitado pela Serra das Princesas por Jatobaacute pelo territoacuterio indiacutegena Atikum pela Serra
Redonda e pela Serra do Urubu (CALHEIROS 2009 apud AacuteGUAS 2013)
143
Figura 17 - Mercado puacuteblico ndash C das Crioulas
Fonte A autora 2013
Os questionaacuterios tambeacutem apontaram problemas gerais da comunidade de Conceiccedilatildeo
das Crioulas que agrupamos por ordem de prioridade segundo frequecircncia das respostas
a) estatildeo hiacutedrica Falta de aacutegua falta de Cisterna
b) Dificuldade financeira
c) SauacutedeFalta de assistecircncia falta de ambulacircncia e casos de doenccedila de Chagas
d) Precaacuterio sistema de comunicaccedilatildeo
e) Dificuldade de transporte
f) Educaccedilatildeo Falta de escola
g) Questatildeo social e poliacutetica Falta de apoio para trabalho comunitaacuterio
h) Moradia Falta de moradia existecircncia de casas de taipa
i) Situaccedilotildees de violecircncia
Pelos dados apresentados com o questionaacuterio CAP e a narrativa dos sujeitos as
principais caracteriacutesticas das aacutereas do estudo apontam que os problemas das trecircs
comunidades quilombolas se datildeo em torno de questotildees de saneamento ambiental
(abastecimento de aacutegua tratamento para consumo humano destino de lixo e dejetos) do
acesso aos serviccedilos de sauacutede e educaccedilatildeo de dificuldades financeiras por falta de condiccedilotildees
de trabalho em suas comunidades e regiatildeo e dificuldades de deslocamento e de transporte
144
7 IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO DA TRANSPOSICcedilAtildeO DO RIO SAtildeO FRANCISCO
A PERCEPCcedilAtildeO DE SUJEITOS
Ao realizar o estudo com populaccedilotildees quilombolas afetadas por um grande
empreendimento como o projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco encontramos na
definiccedilatildeo e condiccedilatildeo de vulnerados construiacuteda por Schramm (2012) uma relaccedilatildeo estreita
com as diversas situaccedilotildees as quais estatildeo submetidas estas populaccedilotildees
A distinccedilatildeo feita pelo autor sobre vulnerabilidade e vulneraccedilatildeo traz a possibilidade de
vislumbrar quais situaccedilotildees provocadas pelas accedilotildees do projeto satildeo de maior contundecircncia na
vida das populaccedilotildees e dos seus territoacuterios
Trazer aspectos de vulneraccedilatildeo nos aproxima dos impactos provocados com as obras do
projeto da transposiccedilatildeo principalmente quando nos debruccedilamos sobre as narrativas feitas
pelos sujeitos do estudo
No capiacutetulo 5 fizemos reflexotildees sobre os impactos do projeto que segundo o RIMA
satildeo definidos como ldquopotenciais alteraccedilotildees provocadas no meio ambienterdquo o que nos faria
pensar numa condiccedilatildeo de vulnerabilidade pela potencialidade do que ainda poderia acontecer
(SCHRAMM 2012) Poreacutem transcorridos sete anos da implementaccedilatildeo do projeto haacute um
quadro social e ambiental que mostra o que de fato jaacute aconteceu nas aacutereas quilombolas com
situaccedilotildees que aparecem como marcas indeleacuteveis de uma condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo
Relatos de que a vida jaacute foi melhor que haacute muitas mazelas que haacute pessoas tristes
deixam claro os niacuteveis de vulneraccedilatildeo a qual estaacute submetida a populaccedilatildeo natildeo apenas a
quilombola mas indiacutegena e da zona rural
[] E se eles natildeo tiver um recursinho pensando em noacutes de onde eacute que noacutes vamos
tirar Porque antes dela passar todo mundo aqui tinha o seu bichinho tinha a sua
carninha pra comer tinha os seus bichinhos pra vender neacute Ou ruim ou mal mas
tinha agora natildeo tem [] (Grupo Focal 3)
[] Traz destruiccedilatildeo praacute algumas comunidades quilombolas e indiacutegenas [] Natildeo
porque por onde essa transposiccedilatildeo taacute passando taacute acabando com o territoacuterio das
pessoas As aacutereas agricultaacuteveis que as pessoas utilizavam praacute plantar praacute colocar os
animais aiacute taacute destruindo o rio Representa muitas coisashellip poluiccedilatildeo pra colocar os
animais sem destruir [] (Grupo Focal 1)
A partir do que conceitua Schramm (2012) a populaccedilatildeo desse estudo encontrava-se
em uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade - condiccedilatildeo de quem pode ser ferido - e encontra-se
atualmente em uma situaccedilatildeo vulnerada - referindo-se a condiccedilatildeo de quem jaacute estaacute
traumatizado ferido
145
Com o projeto da transposiccedilatildeo as comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas estatildeo submetidas a condiccedilatildeo de vulneradas
haja visto o que de fato jaacute se apresenta como impacto em seus territoacuterios no ambiente na
condiccedilatildeo de subsistecircncia e psiacutequica das famiacutelias Enfim haacute um quadro de vulneraccedilatildeo em
aspectos gerais de suas vidas
[] Eu nasci na zona rural tambeacutem Outro dia desse a secretaacuteria falou parece que
doacutei no sangue Eu disse doacutei no sangue eu natildeo gosto de ver essas comunidades
tristes que assim meu desejo eacute que elas se sintam felizes que estejam bem e
principalmente como eu estou diretora de ensino sou professora e humanamente
vocecirc natildeo quer ver ningueacutem infeliz e triste Vocecirc que ver as pessoas felizes e ai para
elas ter essa felicidade elas precisavam ter uma qualidade de vida melhor para elas
estarem felizes tambeacutem ter uma mudanccedila boa pra elas Foi uma mudanccedila triste
brusca e em muitos pontos ruim (Gestora 2)
E a Resoluccedilatildeo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) - Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis (Ibama) nordm 186 em seu
artigo 1ordm define impacto ambiental como
[] qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas ou bioloacutegicas do meio
ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das
atividades humanas que direta ou indiretamente afetem a sauacutede a seguranccedila e o
bem-estar da populaccedilatildeo as atividades sociais e econocircmicas as condiccedilotildees esteacuteticas e
sanitaacuterias do meio ambiente e qualidade dos recursos ambientais (CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 1986)
Santos (2008 apud SANTOS R 2009) apresenta o olhar da harmonia que
interrompida pela accedilatildeo do homem gera impacto
Impacto ambiental eacute o desequiliacutebrio consequumlente de um dano que se vale de
agentes diversos capazes de interromper a harmonia existente na relaccedilatildeo
entre ser vivo e natureza por causa da accedilatildeo do homem sobre o meio
ambiente (SANTOS 2008 apud SANTOS R 2009 p 89)
Com essa compreensatildeo pode-se inferir que havia uma harmonia nos territoacuterios
quilombolas na relaccedilatildeo entre os seres vivos e o meio ambiente um equiliacutebrio ecoloacutegico que
ao ser quebrado pela accedilatildeo humana se configurou como impacto ambiental E por natildeo se
restringir ao meio fiacutesico o impacto trouxe consequecircncias para a populaccedilatildeo local As
intervenccedilotildees do projeto provocaram impactos que se expandiram da natureza para as famiacutelias
quilombolas daiacute serem impactos socioambientais com consequecircncias natildeo apenas ao meio
ambiente mas ao proacuteprio homem (SANTOS R 2009)
146
Detalhando um pouco mais cada tipo de impacto o ambiental eacute percebido como
[] se a gente voltar aqui para o ambiental natildeo haacute duvida o projeto ele faz eu natildeo
sei se eu poderia usar o termo devastaccedilatildeo mas eacute mais ou menos isso que vocecirc sente
em toda regiatildeo e principalmente porque Salgueiro estaacute no eixo natildeo soacute de um
projeto mas dos dois A gente tem aacuterea no municiacutepio que passa o canal de
transposiccedilatildeo mas ao lado passa a ferrovia entatildeo a aacuterea que se teve de desmatar e aiacute
vocecirc tem um impacto na flora e vocecirc tem um impacto na fauna Natildeo tenho duacutevida
nenhuma que isso vai ter tambeacutem contribuiccedilotildees na questatildeo climaacutetica mas jaacute eacute
visiacutevel e vocecirc sente soacute basta observar sem fazer um aprofundamento mais teacutecnico
da questatildeo Entatildeo isso aiacute acredito tambeacutem que natildeo tem como fazer obras sem que
eles existam Aiacute a gente tem que pensar as medidas que podem estaacute minimizando
reduzindo um pouco esses impactos mas ele eacute forte e ele eacute visiacutevel e ele taacute ai e a
gente tem que pensar como eacute que compensa isso a partir do investimento de outras
aacutereas dessa questatildeo de preservaccedilatildeo de floresta e fauna mesmo a gente considerando
que a caatinga ela eacute o bioma uacutenico aqui no sertatildeo [] (Gestora 1)
[] ai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da gente plantar e tudo e agente
vai ficar [] acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o rio jaacute taacute bastante seco
mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo Francisco (Grupo Focal 2)
O considerado impacto social parece ter ldquosido minimizadordquo ao referir-se as condiccedilotildees
atuais do municiacutepio que desenvolveu poliacuteticas puacuteblicas de capacitaccedilatildeo e preparo da
populaccedilatildeo urbana para ldquoreceberrdquo o projeto
A gente sempre tinha o receio de que o impacto social seria maior da obra do
projeto porque eacute muita gente que vinha de fora A gente trabalhou o incentivo a
utilizar a matildeo de obra local a gente trabalhou cursos de capacitaccedilatildeo em parceria
com as empresas com o governo federal para capacitar matildeo de obra local mas
mesmo assim a gente sabia que vinha um povo de fora [] Entatildeo esse impacto aqui
elevou o social e o econocircmico As pessoas passaram a ter poder aquisitivo entatildeo
isso teve uma repercussatildeo direta no comeacutercio isso teve uma repercussatildeo direta no
setor de serviccedilos e por outro lado o projeto em si ele jaacute atraia uma seacuterie de outros
juntos (Gestora 1)
O impacto psicoloacutegico ou emocional talvez um aspecto ldquoinvisiacutevelrdquo para o governo
tem relegada sua importacircncia e enfrentamento
E ai vem esse outro que ningueacutem trata que eacute o psicoloacutegico e ai eu digo porque vi
famiacutelia chorar porque quem estaacute em torno da obra entatildeo de repente vocecirc mora aqui
e eacute isso passa a ser problema [] Eu moro aqui a 4050 anos e ai jaacute estou com meus
6070 anos e eu tenho que ser desalojado de onde eu construiacute minha vida para ir pra
outro lugar Isso eu acho que eacute uma situaccedilatildeo que eacute complexa porque a gente natildeo
estaacute falando nem dos mais novos que tem uma condiccedilatildeo de adaptaccedilatildeo mais raacutepida
A gente fala dos mais velhos que muitas vezes natildeo sabia nem por onde nem a quem
recorrer nessa situaccedilatildeo apesar de todo processo ter sido discutido (Gestora 1)
Acho que principalmente as comunidades rurais que foram as mais afetadas mesmo
elas precisavam ter um preparo maior [] Assim eu acho que eles deveriam ter um
preparo maior psicologicamente teria que ter sido arrumada a vida deles []
(Gestora 5)
147
Os resultados do estudo mostram que os impactos socioambientais provocados pelo
projeto da transposiccedilatildeo favorecem a condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo que hoje se verifica nas aacutereas
quilombolas de Salgueiro
Prejuiacutezos em relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com inuacutemeras perdas e impossibilidade de manter a
criaccedilatildeo
[] Eu tinha um criatoriozinho mas por causa desse canal ele passou pra laacute ai
passou [] Foi embora O que pude pegar eu vendi [] Tinha gente aqui que tinha
trecircs vacas leiteiras neacute Tirava leite pouquinho ou muito que nem a minha sogra
ela tirava leite fazia um queijinho Hoje as duas vacas que ela tinha morreu de
fome e de sede Por quecirc Foi laacute para o outro lado ela tinha que sair dentro das
caatingas aqui pra ir buscar a vaca praacute daacute aacutegua e praacute daacute milho comprado Todo
mundo sabe aqui que natildeo estou mentindo o que foi que aconteceu Chegou um dia
que a vaca passou pra o outro lado e natildeo teve como voltar e a uacutenica vaacutelvula que ela
tinha que era ela e a novilha morreu (Grupo Focal 3)
Restriccedilotildees impostas aos animais para deslocamento dentro do territoacuterio o que
provocou aleacutem das perdas de animais por morte desaparecimento venda e inclusive
situaccedilotildees de roubo Este quadro gera mais fragilidade e inseguranccedila aos moradores
quilombola para manutenccedilatildeo de suas criaccedilotildees
[] Contando com todo mundo aqui natildeo foi pouco natildeo [] Eacute porque o territoacuterio do
lado de caacute onde o pessoal cria os animais eacute ateacute pouco entatildeo os animais natildeo vatildeo ter
mais acesso a alimentaccedilatildeo dos animais era do lado de laacute a bebida aacutes vezes era do
lado de laacute aiacute natildeo tem mais acesso pra ir pra laacute Entatildeo as pessoas venderam os
animais tiveram mais acesso a pessoas vindo de fora e roubar teve ateacute questatildeo de
roubo aqui de animais animais que foram embora [] Animais que caiacuteram se
atolaram na terra e morreram [] Era um criatoacuterio aqui que praticamente acabou
Cria mais natildeo Quem natildeo vendeu perdeu foi embora desapareceu roubaram e
pronto [] (Grupo Focal 3)
Destruiccedilatildeo de aacuterea de sequeiro prejudicando a agricultura familiar e indenizaccedilotildees
irrisoacuterias pelas perdas quando satildeo pagas
[] Do outro lado Do lado de laacute [] Eles passaram mesmo no meio do terreno era
duzentos e tantos metros porque era uma roccedila duzentos e tantos metros Agora
acabou tudo [] Natildeo eacute brincadeira natildeo eacute chatildeo Natildeo sabe nem mais onde eacute o
lugar[hellip] passaram por cima ai [] E Era uma roccedila coletiva de toda comunidade []
A minha mesma eles usou trecircs terreninhos foi 3 mil reais [] Uma indenizaccedilatildeo
pequena [] Teve gente aqui que natildeo receberam nada [] Aquilo natildeo eacute
indenizaccedilatildeo natildeo aquilo eacute uma esmola que o governo estaacute achando que o povo eacute
esmoler isso natildeo eacute dinheiro um terreno bom como eacute esse daqui receber uma
mixaria [] A empresa de Bom Nome Eacute a empresa que usa ai diz que daqui vai praacute
beira do rio pro mode bombear aacutegua no canal [] Os terrenos que ela utilizou ela
estragou meio mundo de coisa e a onde ela passa que cavaram os buracos pra enfiar
os postes eacute tudo os negoacutecios de ferro Trezentos reais eles pagam por um poste paga
natildeo falaram em pagar mas ateacute hoje natildeo pagou a ningueacutem Pagou a ningueacutem natildeo
[] (Grupo Focal 3)
148
A base da economia agriacutecola do sertatildeo satildeo atividades pastoris com o predomiacutenio da
criaccedilatildeo extensiva de gado bovino e animais ruminantes de pequeno porte (caprinos e ovinos)
assim como a cultura de espeacutecies resistentes agrave estiagem como algodatildeo e a carnauacuteba nas aacutereas
mais secas e em aacutereas mais uacutemidas a produccedilatildeo de gratildeo (milho e feijatildeo) e mandioca afirma
Suassuna (2002) O comprometimento dessas culturas de subsistecircncia vem dificultando a vida
do povo quilombola com piora das condiccedilotildees de trabalho e alimentaccedilatildeo
Inseguranccedila quanto agrave permanecircncia no territoacuterio pela ameaccedila concreta de perda e
ruptura do viacutenculo com agrave terra sinocircnimo de identidade e pertencimento agraves raiacutezes e tradiccedilotildees
quilombolas
[] e tambeacutem a questatildeo dos territoacuterios que fere mesmo a questatildeo eacutetica moral das
comunidades porque o territoacuterio das comunidades aqui eles natildeo satildeo em si apenas
terra para eles a questatildeo natildeo eacute terra eacute territoacuterio eacute afirmaccedilatildeo eacute confirmaccedilatildeo de sua
identidade ali onde moravam seus antecedentes onde foram enterrados onde
trabalhavam onde retira a lenha onde retira o carvatildeo entatildeo eacute uma coisa muito forte
Toda essa questatildeo de dizer ah foi indenizado a gente sabe que dinheiro nenhum
recompensa o espaccedilo que a gente tem porque eacute uma coisa muito mais profunda natildeo
eacute soacute uma questatildeo de plantar e de colher a questatildeo do territoacuterio pra gente eacute uma coisa
muito ligada agrave identidade a gente que eacute feita da gente entatildeo achei que foi um
impacto negativo a questatildeo de passar o canal dentro de algumas comunidades natildeo
foram por todas mas [] (Gestora 2)
Desmatamento no territoacuterio quilombola autorizada por oacutergatildeos ambientais provocando
indignaccedilatildeo entre as famiacutelias pela agressatildeo ao meio ambiente Eacute evidente o sentimento de
injusticcedila com a restriccedilatildeo imposta aos povos tradicionais pelos mesmos oacutergatildeos ambientais ao
manejo da vegetaccedilatildeo quando necessaacuterio e a ldquoliberaccedilatildeo irrestritardquo para o MI executar as obras
da transposiccedilatildeo agraves custas de grande devastaccedilatildeo ambiental
[] E o pior que a gente tinha esses terreninhos aiacute se a pessoa fosse botar uma broca
tinha que pedir autorizaccedilatildeo ao IBAMA e aiacute se derrubar uma Brauacutena pagava no sem
quanto [] 2 mil [] Uma aroeira um umbuzeiro aiacute eles vai meteram o sarrafo
pra riba derrubaram umburana umbuzeiro todos tipo de pau brauacutena aroeira
esbagaccedilaram tudo aiacute os dono que era dono que pagava imposto natildeo tinha esse
direito de botar uma broca pra mode fazer uma rocinha [] Matou matou foi muito
gameleira aiacute nas caatinga morreu foi muito ai por causa da terra [] Isso ai eacute 225m
de largura no terreno todo terreno que cruzou aiacute O que eacute que eacute a bagaceira de
madeira aiacute Uma coisa horriacutevel (Grupo Focal 3)
[] Olhe de negativo a gente sabe toda a questatildeo ambiental como desmatamento
como escavaccedilatildeo tudo isso a gente vecirc como impactos negativos como a natildeo
implantaccedilatildeo de viveiros pra repor a vegetaccedilatildeo que foi retirada a gente natildeo vecirc isso
possa ser que tenha mas natildeo temos conhecimento de nenhuma aacuterea aqui no
municiacutepio de Salgueiro [] (Gestora 2)
149
Descaso e descompromisso com a vida das populaccedilotildees quilombolas suscitam as
perguntas qual o niacutevel de responsabilizaccedilatildeo do governo em provocar tantos danos e
prejuiacutezos Quem eacute que vai pagar por isto
[] E aiacute quem foi que pagou o prejuiacutezo Alguns dele veio laacute dizer lsquotoma Vileni
aqui a indenizaccedilatildeo que tua vaca morreu por culpa da transposiccedilatildeorsquo Foi Natildeo
Querem mais eacute que ela se dane se ela morrer de fome natildeo tatildeo nem aiacute que natildeo eacute
eles Natildeo se preocupa O ponto negativo que eu acho eacute isso aiacute [] (Grupo Focal 3)
Narrativas apontam para uma mudanccedila de paisagem na aacuterea quilombola que com as
intervenccedilotildees (estrutura imposta) adquiriu nova configuraccedilatildeo com grande oposiccedilatildeo agraves formas
existentes passando a ser ldquodesconhecidardquo pela populaccedilatildeo (SANTOS F M 2012)
Para Santos M (2012 p 68)
A paisagem formada pelos fatos do passado e do presente traz em si aspectos
cumulativos do tempo bem como do uso de novas teacutecnicas consequecircncia de
adaptaccedilotildees que satildeo imposiccedilotildees observadas em niacuteveis velocidades e direccedilotildees
diferentes
Narrativa ilustra essa realidade
[] onde eu moro quando eu abro a minha janela jaacute natildeo tenho a mesma paisagem
eu jaacute natildeo tenho o accedilude que tinha e abastecia jaacute ficou do outro lado do canal porque
dividiu propriedade no meio os acessos tiveram que ser modificados entatildeo tudo
isso modificou muito a vida rural ai vocecirc estaacute numa situaccedilatildeo numa estabilidade
(Gestora 1)
O quadro de vulneraccedilatildeo descrito mostra a contradiccedilatildeo do discurso oficial do projeto da
transposiccedilatildeo a distacircncia do que vem sendo veiculado pela miacutedia sobre as obras e seus
impactos positivos e do desrespeito agraves conquistas legais dos povos tradicionais
O descumprimento pelo governo dos preceitos legais aprovados para estes povos
caracteriza-se como violaccedilatildeo de direitos e pode ser observado em vaacuterias dimensotildees
No que preconiza a Convenccedilatildeo nordm 169 da OIT sobre povos indiacutegenas e tribais que
vigora com forccedila de lei no Brasil desde 2004 em seu artigo 7ordm quando diz no primeiro
paraacutegrafo
Os povos interessados deveratildeo ter o direito de escolher suas proacuteprias prioridades no
que diz respeito ao processo de desenvolvimento na medida em que ele afete as
suas vidas crenccedilas instituiccedilotildees e bem-estar espiritual bem como as terras que
ocupam ou utilizam de alguma forma e de controlar na medida do possiacutevel o seu
proacuteprio desenvolvimento econocircmico social e cultural Aleacutem disso esses povos
deveratildeo participar da formulaccedilatildeo aplicaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos planos e programas de
desenvolvimento nacional e regional suscetiacuteveis de afetaacute-los diretamente (BRASIL
2004d)
150
No que determina o Decreto nordm 60402007 que institui a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) em seu
artigo 3ordm ao definir como desenvolvimento sustentaacutevel ldquoo uso equilibrado dos recursos
naturais voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geraccedilatildeo garantindo as
mesmas possibilidades para as geraccedilotildees futurasrdquo e dentre seus objetivos especiacuteficos
[] garantir aos povos e comunidades tradicionais seus territoacuterios e o acesso aos
recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reproduccedilatildeo fiacutesica cultural e
econocircmica e garantir os direitos dos povos e das comunidades tradicionais afetados
direta ou indiretamente por projetos obras e empreendimentos (BRASIL 2007)
Natildeo obstante esta e outras conquistas legais fruto da luta do povo negro e
comunidades tradicionais o que se configura eacute uma realidade poliacutetica em que accedilotildees
governamentais satildeo pautadas por modelo baseado na crenccedila de que o crescimento econocircmico
tradicional em que maior investimento-produccedilatildeo-consumo permitiria simultaneamente
maior nuacutemero de empregos e melhor qualidade de vida para uma parcela cada vez maior da
populaccedilatildeo e um modelo de desenvolvimento que em nome de um crescimento econocircmico
natildeo incorpora os excluiacutedos do sistema
Projetos governamentais com recursos do PAC a exemplo da transposiccedilatildeo tecircm a
marca de intervenccedilotildees distantes da realidade local e com motivaccedilotildees natildeo expliacutecitas como
afirma Leitatildeo
O PAC corrobora a tradiccedilatildeo do Estado brasileiro em atuar no territoacuterio via projetos
sem plano recheados de discursos deslocados da praacutetica a que efetivamente se
propotildeem e das motivaccedilotildees que de fato se baseiam Esses mecanismos []
corroboram a tendecircncia agrave reproduccedilatildeo das desigualdades regionais e sociais e em
uacuteltima instacircncia agrave fragmentaccedilatildeo do espaccedilo regional via investimento de caraacuteter
seletivo (LEITAtildeO 2009 p 209 apud BRASIL 2011 p 92)
Corroborando com o autor a narrativa de lideranccedila complementa esta reflexatildeo ao
explicitar o quatildeo eacute preciso repensar o modelo poliacutetico vigente o caraacuteter assistencialista e
paternalista das poliacuteticas puacuteblicas voltadas agraves populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas rurais etc
[] Entatildeo faltam boas escolas as escolas integradas com a realidade da zona rural
e que a zona rural natildeo seja um sinocircnimo de pobreza nem de tratar essas pessoas
como coitadinhos pobrezinhos miseraacuteveis mas como pessoas que deixaram de
gozar da poliacutetica puacuteblica do qual eles tem direito ao longo desse tempo Entatildeo a
gente natildeo pode natildeo pode nem deve continuar com essa ideia de que os menos
favorecidos da sociedade eles estatildeo ali porque estatildeo precisando das migalhas das
poliacuteticas puacuteblicas Eles precisam ser inseridos dentro da poliacutetica puacuteblica como
sujeito (Lideranccedila 3)
151
A narrativa da lideranccedila ilustra a imagem cultivada por governos e poliacuteticos em
relaccedilatildeo a um sertatildeo inoacutespito pobre degradado apesar de outras alternativas para o semiaacuterido
serem pensadas e pesquisadas (COSTA 2010)
Para o autor
Prevaleceu a imagem de um sertanejo forte mas inferior pronto a receber esmolas
de uma regiatildeo pela qual se devota pena e socorros Essa imagem do atraso soacute
beneficiou e beneficia as classes dominantes receptoras histoacutericas principais das
lsquoobras contras as secasrsquo dos lsquobenefiacuteciosrsquo e lsquoajudasrsquo carreadas para o
semiaacuterido (COSTA 2010 p 38)
A certeza maior parece ser a de que as obras do projeto da transposiccedilatildeo realizadas ateacute
o momento e as que estatildeo por vir traratildeo apenas prejuiacutezos deterioraccedilatildeo na qualidade de vida
das famiacutelias do territoacuterio do ecossistema como um todo constataccedilatildeo que natildeo eacute nova neste
estudo O benefiacutecio eacute para outrem muito distante ldquosem identidade especiacuteficardquo mas natildeo para
os da regiatildeo comunidades quilombolas indiacutegenas e de trabalhadores rurais Um ldquoquadro
sombriordquo se configura como perspectiva a curto e meacutedio prazo para os povos da zona rural
inseridos nas aacutereas de influecircncia do projeto
[] vai trazer essa benfeitoria praacute algueacutem longe que ningueacutem sabe nem de onde eacute E
noacutes aqui vamos ficar com quecirc Vai desmantelar com noacutes acaba com os terrenos da
gente plantar e tudo e agente vai ficar acabar de matar noacutes acabar de secar o rio o
rio jaacute taacute bastante seco mesmo daqui uns dias taacute abrindo eacute cacimba no rio satildeo
Francisco (Grupo Focal 2)
Implementado agrave revelia de um debate mais amplo no paiacutes e sem dar ouvidos agraves
manifestaccedilotildees sociais argumentaccedilotildees teacutecnicas e poliacuteticas contraacuterias ao projeto a realizaccedilatildeo
do projeto da transposiccedilatildeo ratifica um modelo que privilegia uma estrateacutegia de
desenvolvimento territorial que ldquofavorece ganhos privados socializa custos socioespaciais e
impactos ambientaisrdquo acarretando em ldquoum desenvolvimento territorial espacialmente
seletivo ambientalmente predatoacuterio e socialmente excludenterdquo argumenta Leitatildeo (2009 apud
BRASIL 2011 p 92)
152
8 PRAacuteTICAS EDUCATIVAS E ACcedilOtildeES IMPLEMENTADAS ndash MEDIDAS PARA
MITIGAR IMPACTOS E VULNERACcedilAtildeO
A educaccedilatildeo eacute a arma
mais poderosa que vocecirc pode usar
para mudar o mundo
(Nelson Mandela)
Este capiacutetulo apresenta os resultados das praacuteticas educativas realizadas pelo Projeto da
transposiccedilatildeo que se datildeo no acircmbito da sauacutede e do ambiente e das obras ou intervenccedilotildees
diretas implementadas nas aacutereas das comunidades remanescentes de quilombos em Salgueiro
Os resultados apresentados correspondem a avaliaccedilatildeo dos PBA`s das categorias
Contexto (objetivos justificativa populaccedilatildeo alvo meta) Estrutura (recursos humanos
cronograma) Processo (implantaccedilatildeo falhas metodologia) e Produto (resultados)
(WORTHEN SANDERS FITZPATRICK 2004) agregando-se tambeacutem ao modelo proposto
aspectos criacuteticos relatados pelos sujeitos do estudo e referenciais teoacutericos
Segundo o governo os programas Baacutesicos Ambientais foram concebidos para ldquomitigar
os impactos negativos e otimizar os benefiacutecios trazidos pelo empreendimento de maneira
geralrdquo (BRASIL 2005)
Para execuccedilatildeo de alguns programas ambientais o MI contou ateacute dezembro de 2009
com parcerias teacutecnico-financeiras de oacutergatildeos eou instituiccedilotildees do Governo Federal Ao
observar o quadro de parcerias governamentais verificamos o envolvimento de pelo menos
dez instituiccedilotildees puacuteblicas que acreditamos terem competecircncia e conhecimento teacutecnico para
desenvolver os programas (BRASIL 2012 p 6) Entretanto a partir de janeiro de 2010 foi
contratada a empresa CMT Engenharia Ltda para realizar a execuccedilatildeo e acompanhamento de
medidas planos e programas ambientais definidos nos PBArsquos do PISF Isto significa a
transferecircncia direta da responsabilidade de execuccedilatildeo e monitoramento destes programas para
uma empresa privada
Do montante de recursos para o projeto da transposiccedilatildeo apenas 1182 foram
destinados agraves accedilotildees inseridas nos 38 Programas Baacutesicos Ambientais segundo o ldquoResumo
Executivo do Programa Baacutesico Ambientalrdquo elaborado pela Coordenaccedilatildeo Geral de Programas
Ambientais do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 2012)
Ainda conforme o mesmo documento a execuccedilatildeo financeira dos referidos PBArsquos foi
ateacute julho de 2012 de 66 para o PBA 4 e de 71 para o PBA 17 O PBA 21 teve uma
execuccedilatildeo de 10
153
Em novembro de 2012 o entatildeo Ministro da Integraccedilatildeo Nacional em exposiccedilatildeo feita
no senado federal apresentou como justificativa agraves dificuldades de execuccedilatildeo dos programas
ambientais os seguintes argumentos
a) Nuacutemero expressivo de programas a executar (38 programas)
b) Necessidade de ampla articulaccedilatildeo institucional na execuccedilatildeo das
accedilotildees ambientais
c) Conflitos sociais existentes na faixa de obra
d) Relocaccedilatildeo de famiacutelias residentes na faixa de obra
e) Estrutura fundiaacuteria com um nuacutemero muito grande de propriedades
sem documentaccedilatildeo (BRASIL 2012)
No entanto as dificuldades apresentadas pelo governo natildeo estatildeo sendo devidamente
enfrentadas haja visto o que jaacute apontava em 2010 o Relatoacuterio da Plataforma Dhesca Brasil21
quando afirmava
[] sobre as obras de compensaccedilatildeo especialmente a construccedilatildeo de infra-estrutura
(casas sistema de fornecimento de aacutegua construccedilatildeo de escolas etc) nas
comunidades quilombolas e camponesas impactadas pelas obras do canal da
transposiccedilatildeo [] as denuacutencias generalizadas de que nada ou muito pouco foi
cumprido (duas ou trecircs escolas e postos de sauacutede construiacutedos e a abandonados natildeo
fornecimento de aacutegua para irrigaccedilatildeo iniacutecio da construccedilatildeo de casas e posterior
abandono etc) Todas essas promessas constituem em diversas violaccedilotildees de direitos
(direito agrave moradia direito agrave escolaeducaccedilatildeo etc) aleacutem da simples indenizaccedilatildeo pela
ocupaccedilatildeo de territoacuterios pertencentes a estas comunidades (SAUER 2010 p 29)
81 PROGRAMA BAacuteSICO DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL ndash O PBA 4
O Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental - PBA 4 eacute um programa compensatoacuterio
classificado como de ldquoampla atuaccedilatildeordquo cujo objetivo geral eacute
desenvolver accedilotildees educativas a serem formuladas atraveacutes de um processo
participativo visando capacitarhabilitar setores sociais com ecircnfase nos afetados
diretamente pelo empreendimento para uma atuaccedilatildeo efetiva na melhoria da
qualidade ambiental e de vida na regiatildeo (BRASIL 2012 p 18)
21
A Plataforma Dhesca Brasil ndash Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e
Ambientais eacute uma articulaccedilatildeo nacional de 36 movimentos e organizaccedilotildees da sociedade civil que desenvolve
accedilotildees de promoccedilatildeo defesa e reparaccedilatildeo dos Direitos Humanos Econocircmicos Sociais Culturais e Ambientais
(doravante abreviados em Dhesca) visando o fortalecimento da cidadania e a radicalizaccedilatildeo da democracia
Seu objetivo geral eacute contribuir para a construccedilatildeo e fortalecimento de uma cultura de direitos desenvolvendo
estrateacutegias de exigibilidade e justiciabilidade dos Dhesca bem como incidindo na formulaccedilatildeo efetivaccedilatildeo e
controle de poliacuteticas puacuteblicas sociais
154
Eacute visto tambeacutem como um dos programas estrateacutegicos portanto transversal aos demais
programas A avaliaccedilatildeo neste estudo traraacute sempre que necessaacuterio a interface do PBA 4 com
o PBA 17 e o PBA 21
O PBA 4 eacute considerado como
uma accedilatildeo estrateacutegica complementar agrave gestatildeo ambiental do empreendimento Para
tanto atuaraacute na mobilizaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da participaccedilatildeo das comunidades
envolvidas no planejamento e na execuccedilatildeo de accedilotildees destinadas a otimizar os
impactos positivos do Projeto de Integraccedilatildeo do Satildeo Francisco e minimizar os
impactos negativos (BRASIL 2010 p 11)
Sucintamente o mesmo apresenta como justificativa para sua realizaccedilatildeo que
Frente agraves mudanccedilas apontadas faz-se necessaacuteria uma accedilatildeo informada e participante
da populaccedilatildeo nos processos e produtos resultantes do PISF de modo a influenciar
nos rumos e tipos de soluccedilotildees para o desenvolvimento da regiatildeo afetada (BRASIL
2010 p 11)
Tendo sido reestruturado em 2010 com base na demanda do oacutergatildeo licenciador
IBAMA o Programa passou a ser subdividido em trecircs subprogramas Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental nas Comunidades nas Escolas e em Sauacutede (BRASIL 2010)
Essa subdivisatildeo ela jaacute veio com o novo formato do programa que em 2010 acredito
que o proacuteprio IBAMA ele foi reestruturado ele foi reformulado e ai jaacute veio com essa
nova roupagem com esse novo formato de ter trecircs programas antes era dividido
apenas em sauacutede e educaccedilatildeo e ai o subprograma de comunidades contempla as
comunidades quilombolas as comunidades reassentadas que satildeo essas que estatildeo
sendo transferidas para as vilas produtivas rurais comunidades indiacutegenas e
comunidades pertencentes ao programa de nuacutemero 15 que satildeo comunidades que
estatildeo localizadas em torno dos reservatoacuterios e dos canais (Teacutecnico 3)
A sua populaccedilatildeo alvo ldquosatildeo grupos sociais dos municiacutepios da Aacuterea Diretamente
Afetada (ADA) e da Aacuterea de Influecircncia Direta (AID) do projeto da transposiccedilatildeo em especial
Professores e Coordenadores Pedagoacutegicos do ensino formal (fundamental e meacutedio) Agentes
Comunitaacuterios e Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede das Secretarias Municipais de
Sauacutede Representantes das famiacutelias a serem reassentadas Representantes das famiacutelias que
receberatildeo abastecimento de aacutegua ao longo dos canais nas localidades definidas
Representantes dos atores sociais das comunidades quilombolasrdquo (BRASIL 2010 p 22-23)
A proposta metodoloacutegica estaacute assim desenhada
o Programa de Educaccedilatildeo Ambiental seraacute executado com base em metodologia
dialoacutegica e participativa na qual o processo de ensino aprendizagem se constitua
efetivamente em uma ldquovia de matildeo duplardquo em que os temas abordados os conceitos
e conteuacutedos sejam fruto de discussotildees aprofundadas tendo por interlocutores
principais os facilitadores da equipe de implementaccedilatildeo do mesmo com a populaccedilatildeo
155
das comunidades abrangidas com teacutecnicos municipais da aacuterea de sauacutede e do ensino
formal (BRASIL 2010 p 27)
A equipe responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees do Programa eacute de
teacutecnicos da CMT Engenharia LTDA com uma equipe de nove profissionais e a revisatildeo do
mesmo ficou sob responsabilidade de dois teacutecnicos do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo e um da
CMT A descriccedilatildeo e avaliaccedilatildeo a seguir seraacute feita por cada Subprograma que compotildee o PBA 4
811 Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas comunidades
Esse Subprograma apresenta pelos documentos oficiais os seguintes objetivos
especiacuteficos
a) Desenvolver o mapeamento territorial de situaccedilotildees socioambientais face agraves
muacuteltiplas intervenccedilotildees planejadas e ou realizadas por trecircs programas ambientais
em suas interfaces com as accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental Os programas referidos
satildeo PBA 8 - Programa Ambiental de Assentamento de Populaccedilotildees o PBA 15 -
Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura de Abastecimento de Aacutegua ao Longo
dos Canais e o PBA 17 - Programa de Desenvolvimento de Comunidades
Quilombolas
b) Desenvolver o Subprograma Educaccedilatildeo Ambiental em Comunidades dirigido aos
moradores das localidades apontadas pelos programas ambientais de
Reassentamento de Populaccedilotildees de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas e de parte das localidades beneficiadas pela implantaccedilatildeo de infra-
estrutura de abastecimento de aacutegua (PBA 15) visando (1) realizar mapeamentos-
diagnoacutesticos e planos locais de accedilatildeo participativos e (2) formar agentes
socioambientais para a recepccedilatildeo de conhecimentos teacutecnicos Ambos os processos
educativos deveratildeo fortalecer a accedilatildeo protagonista e organizada dos habitantes na
mitigaccedilatildeo dos impactos negativos e otimizaccedilatildeo dos benefiacutecios do PISF
O total da populaccedilatildeo quilombola potencialmente beneficiaacuteria de acordo com o PBA 4
estaacute localizada em cinco municiacutepios de Pernambuco particularmente em 16 territoacuterios
quilombolas perfazendo um total de 1936 famiacutelias e 9680 pessoas Em Salgueiro as trecircs
comunidades quilombolas somam 894 famiacutelias (Conceiccedilatildeo das Crioulas - 800
156
ContendasTamboril - 47 e Santana- 47) e 4470 pessoas (C das Crioulas - 4000
ContendasTamboril - 235 e Santana - 235) segundo dados documentais
O Subprograma pretendia envolver diretamente no maacuteximo vinte pessoas de cada
comunidade para participarem dos processos de intervenccedilatildeo priorizadas como agentes
socioambientais multiplicadores e editores de conhecimentos Apontava como atuaccedilatildeo mais
intensa os anos de 2012 e 2013 e delimitou o periacuteodo de trecircs anos para implementaccedilatildeo do
Programa apoacutes aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo em 2010 (BRASIL 2010 p 19 23-24) Poreacutem
relatos afirmam terem sido concluiacutedas as atividades em 2011
As nossas accedilotildees aqui em Salgueiro encerraram no final de 2011 [] Mas a gente
trabalhou trecircs fases bem especiacuteficas com eles para composiccedilatildeo do diagnoacutestico
socioambiental [] (Teacutecnico 3)
Os resultados apresentados satildeo em relaccedilatildeo agrave execuccedilatildeo do Subprograma nas trecircs
Comunidades Quilombolas do estudo por estarem incluiacutedas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas - o PBA 17
Em relaccedilatildeo ao segundo objetivo a meta previa que as 136 localidadescomunidades
trabalhadas constituam e ou fortaleccedilam organizaccedilotildees nas esferas de meio ambiente produccedilatildeo
cultura representatividade sauacutede entre outras coerentes com a noccedilatildeo de sustentabilidade ateacute
dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL 2010 p 14)
Debruccedilando sobre o segundo objetivo as narrativas apontam para o desenvolvimento
de trecircs fases do trabalho para elaboraccedilatildeo de ldquomapeamentos-diagnoacutesticos e planos locais de
accedilatildeo participativosrdquo que ocorreram em trecircs oficinas
[] A primeira oficina foi de mapeamento teacutecnico levantamento teacutecnico e meios de
informaccedilotildees a segunda oficina de mapeamento social utilizando a cartografia
social coisa que a gente jaacute tinha feito na educaccedilatildeo com bons resultados entatildeo a
gente resolveu incorporar isso tambeacutem com as comunidades quilombolas e a
terceira oficina de devolutiva que a gente chamou que era pra gente devolver esses
dados a eles que a gente tinha coletado compilado analisado e a gente criou essa
devolutiva e uma explanaccedilatildeo sobre o plano de capacitaccedilotildees do programa 17 que eacute
o Programa de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas [] (Teacutecnico 3)
[] Noacutes comeccedilamos o trabalho com as comunidades com aquele painel rotativo
Este painel ele tinha algumas perguntas norteadoras praacute entender um pouco a
dinacircmica dessas comunidades como eacute que elas se organizaram como eacute que elas
estavam estruturadas como estava a questatildeo no caso do saneamento meio ambiente
e educaccedilatildeo sauacutede cultura Entatildeo fizemos essas atividades a partir dessa atividade
depois o mapa social [] Entatildeo a primeira etapa de trabalho com as comunidades
quilombolas foi exatamente ter esse levantamento esse diagnostico que foi feito a
partir dessas atividades [] (Gestora10)
157
A terceira oficina cujo material deu subsiacutedios para a construccedilatildeo de um diagnoacutestico
permitiu agrave equipe teacutecnica da CMT construir um plano de capacitaccedilatildeo Em seguida foram
organizadas oficinas de capacitaccedilatildeo para todas as comunidades oferecidas pelo Ministeacuterio da
Integraccedilatildeo com envolvimento da CMT e outras instituiccedilotildees parceiras Essa atividade
segundo narrativas de gestores e teacutecnicos tinha como objetivo a formaccedilatildeo de agentes soacutecio-
ambientais
[] Esse diagnostico ele possibilitou a criaccedilatildeo do Plano de Capacitaccedilatildeo Esse plano
depois dessa primeira etapa ai teve o plano e ai teve as vaacuterias atividades de
educaccedilatildeo voltadas mais para rentabilidade para associativismo para
cooperativismo para a gestatildeo de recursos mesmo geraccedilatildeo de emprego e renda []
(Gestora 10)
[] Entatildeo nessa oficina devolutiva a gente devolveu as informaccedilotildees que a gente
tinha para o diagnoacutestico e aprovou com ata de reuniotildees o plano de capacitaccedilotildees
escolhidas por eles durante as oficinas de educaccedilatildeo ambiental [] A gente colocou
um leque de oficinas que o Ministeacuterio estava oferecendo e muitas algumas
comunidades achavam que natildeo eram necessaacuterias de acordo com suas
particularidades outras eles sugeriram e tambeacutem a partir da articulaccedilatildeo da CMT
com outras instituiccedilotildees acabou fluindo acabaram acontecendo algumas parcerias
[] (Teacutecnico 3)
Haacute relatos de que houve consulta nas comunidades sobre os temas para as oficinas e
em Santana houve a sugestatildeo para envolver como facilitadores pessoas da comunidade por
terem competecircncia e conhecerem bem a realidade quilombola poreacutem natildeo foram atendidos
[] Eles vieram primeiro aqui pra gente escolher quais os temas que a gente queria
falar [] Eu natildeo estou lembrada taacute no meu computador [] Eu participei [] Que
veio pra caacuteOs facilitadores [] Foram os facilitadores [] Uns eram de Salgueiro
de Petrolina [] Pessoas que viam facilitar as oficinas Natildeo era de fora as pessoas
(Grupo Focal 1)
[] e aiacute a princiacutepio a gente fez uma conversa que a ideia era a gente escolher os
cursos a gente fez isso Escolheu os cursos que a gente taacute laacute em Santana sabe quais
seriam melhores aproveitados que seriam mais faacuteceisa gente falou pra eles que a
gente tinha matildeo de obra a gente tinha pedagogo a gente tinha agente agriacutecola que
essas pessoas poderiam estar sendo aproveitadas e aiacute na contagem quando for rolar
os cursos a gente e aiacute a gente vai ver a possibilidade de encaixar essas pessoas []
Alguns jaacute foram interessantes que eles jaacute tinham um conhecimento que eacute a questatildeo
do resiacuteduo soacutelido a questatildeo do lixo que satildeo coisas mais faacuteceis que satildeo do dia a dia
deles Entatildeo essas foram bem aproveitadas eles gostaram e foi bem elogiado os
professores e tudo mas alguns realmente foi natildeo teve o aproveitamento []
(lideranccedila 1)
Em ContendasTamboril as narrativas transitam entre natildeo haver recordaccedilatildeo de ter
acontecido atividades pelo programa e de lembranccedilas sobre o que foi realizado na aacuterea pelo
PBA 4
158
[] Que eu tenha participado eu natildeo lembro natildeo de ter participado Pode acontecer
de ter algum de ter na comunidade onde foi chamada a comunidade e eu natildeo ter
participado [] Acho que tinha um trabalho que era pra ser feito que a gente tem
uma reserva muito grande que se foi falado em capacitaccedilatildeo pra artesanato da
proacutepria caatinga mas eu natildeo lembro se teve alguma coisa alguma capacitaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a isso eu natildeo lembro (Lideranccedila 2)
Era o dia todo tinha dia que era o dia todo [] Comeccedilava de 9h almoccedilava as 12h
comeccedilava a 1300 e ai terminava de 4 horas [] Os assuntos era falando sobre
accedilude sobre aacutegua sobre poccedilo [] Sobre meio ambiente [] Meio mundo de coisa
[] Era soacute pra comunidade Pra jovem adulto [] (Grupo Focal 2)
A problemaacutetica da aacutegua eacute diretamente relacionada com o projeto da transposiccedilatildeo que
aparece como um dos temas de oficina em ContendasTamboril
Foi justamente sobre esse negoacutecio da Transposiccedilatildeo Eles falando da transposiccedilatildeo
Um tema era esse falaram na Transposiccedilatildeo entatildeo noacutes perguntamos a ele se essa
aacutegua que ia passar ai vai servir pra noacutes se ia beneficiar noacutesdisseram depois a gente
vai vecirc como vai ser Eles natildeo garantiram nada natildeo (Grupo focal 2)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas tambeacutem foram realizadas oficinas com temas diversos
Eacute eu natildeo me lembro natildeo Eacute pelo povo da CMT eacute [] Teve vaacuterias atividades Teve
atividade sobre associativismo empreendedorismo [] Sei que foram muitas
atividades que foram feitas [] Oficinas [] Pra noacutes mesmo Pra comunidade []
Era Jovem adultotodo mundo quem quisesse [] Era um programa que todo mecircs
tinha [] Era mais na quinta e na sexta-feira [] Na quinta-feira aiacute vinha esse
equipe aiacute articulava alunos nas escolas e aiacute eles participavam o dia inteiro de
formaccedilatildeo [] Com a comunidade alunos Com o pessoal mesmo daqui Com as
lideranccedilas [] Oficina de criaccedilatildeo de pequenos animais [] Geraccedilatildeo de renda
tambeacutem teve [] Elaboraccedilatildeo de Projetos tambeacutem teve [] Oficina de como
elaborar projetos (Grupo Focal 1)
No quilombo de Santana e Conceiccedilatildeo das Crioulas satildeo identificados aspectos criacuteticos
que comprometeram o processo de aprendizagem e o envolvimento maior de pessoas da
comunidade
a) Os instrutores foram profissionais de fora das comunidades de fora do
municiacutepio o que em algumas oficinas dificultou a aprendizagem e envolvimento
maior do puacuteblico com os temas
[] eram profissionais que foram contratos pela CMT Entatildeo muitas pessoas
reclamavam eu participei de algumas oficinas e chegava assim natildeo eacute engraccedilado
mas era porque o professor falava falava e eles laacute tudo olhando para o professor no
silencio olhando mas natildeo conseguiam aproveitar quase nada [] ( Lideranccedila 1)
159
b) A linguagem utilizada por alguns instrutores dificultou a aprendizagem a
comunicaccedilatildeo com os alunos muitos agricultores que em vaacuterios momentos do
curso natildeo entenderam o que estava sendo falado
[] E uma questatildeo que tambeacutem a gente sentiu muito foi na questatildeo da linguagem
As pessoas que iam pro curso eram agricultores como as pessoas de Santana satildeo
todas a maioria eacute agricultores mesmos e eles natildeo conseguiam assimilar as
informaccedilotildees natildeo conseguiam entender o que o professor estava falando o que o
facilitador da oficina estava falando [] ( Lideranccedila 1)
[] Eles se comunicavam direito soacute natildeo sei se todo mundo entendia [] sei natildeo
[] (Grupo Focal 1)
c) Instrutores da proacutepria comunidade facilitariam a aprendizagem pela linguagem e
maior disponibilidade para tirar duacutevidas em qualquer horaacuterio aleacutem do momento
formal da oficina
E aiacute a gente entende que o curso que ele vai laacute passa oito horas no maacuteximo com o
pessoal e volta o que aquelas pessoas aproveitam Natildeo eacute mesma coisa de ser uma
coisa contiacutenua da pessoa que taacute laacute vai na casa conhece natildeo tem vergonha de tirar
duacutevida [] ( Lideranccedila 1)
d) Carga horaacuteria pequena poucos encontros e puacuteblico sem o perfil adequado para
alguns temas
[] A gente tinha pensado assim a gente escolheu acho que cinco ou seis cursos e
a gente achou que esses cursos iam ser contiacutenuos assim por exemplo Formataccedilatildeo
de projeto esse que a gente tava falando agora entatildeo ele ia um dia passava um
pouco de conhecimento as pessoas iam ficar com atividades para tentar elaborar
depois ele ia falava o que estava certo e o que estava errado a gente achou que isso
fosse mais um dia para cada tema mas natildeo Depois a gente recebeu a informaccedilatildeo do
pessoal do ministeacuterio que tinha vindo uma cartela completa de cursos e que a gente
ia receber todos os cursos e cada curso seria um dia Entatildeo as pessoas natildeo
assimilaram [] Tem alguns cursos que a gente percebia que algumas pessoas natildeo
iam conseguir alcanccedilar tipo formataccedilatildeo de projeto eacute um curso assim que eacute
interessante mas para as lideranccedilas que jaacute tem um pouquinho de conhecimento mas
como vai ensinar ao agricultor a fazer Projeto Eles natildeo vatildeo entender nada natildeo eacute
[] mas em um dia eacute praticamente impossiacutevel [] Era um dia (Lideranccedila 1)
e) As oficinas poderiam ter sido uma oportunidade de trabalho para profissionais da
comunidade que mesmo capacitados saem da comunidade para procurar
trabalho fora
[] Que a gente pensava que poderia ser uma coisa contiacutenua a gente tem matildeo de
obra mas as pessoas precisam sair da comunidade pra trabalhar fora [] (Lideranccedila
1)
160
f) Nuacutemero de participantes pequeno em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo quilombola de
Conceiccedilatildeo das Crioulas por exemplo O criteacuterio de representaccedilatildeo deveria ser
proporcional ao nuacutemero de habitantes da comunidade para envolver mais
pessoas
O que eu acho eacute porque essas formaccedilotildees que teve foi por representaccedilotildees se a gente
tivesse dentro da escola digamos um planejamento melhor junto com essas pessoas
junto com o proacuteprio professor e colocando essa temaacutetica com o proacuteprio aluno ele
seria muito mais abrangente eu acho que teria mais resultados porque seria uma
clientela maior porque o territoacuterio eacute muito grande pra vocecirc ter representaccedilotildees
Digamos que numa comunidade de 4 mil habitantes vocecirc ter 30 pessoas numa
reuniatildeo neacute Eacute claro que tem quer ser uma coisa gradativa mas poderia ser maior
poderia ser bem maior (Grupo Focal 1)
O que pode ser apontado como resultado ou desdobramento das atividades realizadas
pelo Programas nas comunidades quilombolas tem perspectiva diferente para teacutecnicos e
gestores e para o puacuteblico ldquoreceptorrdquo da accedilatildeo pedagoacutegica ou seja para moradores e lideranccedilas
quilombolas
Na perspectiva de teacutecnicos e gestores desdobramento ou resultado eacute realizar
ldquoSeminaacuterio para fechar acordos e parceriasrdquo e produzir ldquodocumento com diagnoacutestico das
aacutereas quilombolasrdquo para serem tomadas decisotildees ldquoa partir da realidade de cada uma delasrdquo e
natildeo junto com elas tendo a populaccedilatildeo como protagonista
[] Vai ter o seminaacuterio agora esse ano como vocecirc deve estar sabendo e vai ser
tambeacutem pra amarrar essas parcerias pra estabelecer esse acordo Vai ter o
seminaacuterio se eu natildeo me engano final de outubro com todas as comunidades
quilombolas um seminaacuterio uacutenico com todas elas principalmente pra fechar os
acordos e as parcerias com essas instituiccedilotildees externas ao projeto (Teacutecnico 3)
[] Entatildeo assim hoje a gente conhece muito bem essas comunidades Esse material
ele estaacute na revisatildeo final porque tambeacutem eacute um material que vai dar a possibilidade de
qualquer um de qualquer oacutergatildeo ler esse documento e propor alternativas para a
comunidade mas de acordo com a realidade de cada uma delas Natildeo precisa nenhum
pesquisador chegar e propor coisas porque isso a gente sabe que tambeacutem natildeo daacute
certo ou vocecirc constroacutei com o outro ou seu projeto estaacute fadado ao fracasso total
Entatildeo nesse trabalho independente da instituiccedilatildeo ele vai olhar o material e vai falar
ldquobom nessa comunidade o importante o que eacute necessaacuterio eacute isso aquirdquo Porque o
material ficou tatildeo rico que vocecirc lendo eacute como se vocecirc estivesse na comunidade
Entatildeo noacutes estamos nessa fase agora nessa conclusatildeo na revisatildeo desse diagnoacutestico e
nessa revisatildeo tudo que foi todo esse conhecimento adquirido laacute possibilitou a
criaccedilatildeo desse plano de capacitaccedilatildeo com os quilombolas que eacute o que estamos
concluindo [] Vai sim vai para as comunidades A ideia eacute entregar para as
proacuteprias comunidades um para cada uma delas e depois ele deve ficar disponiacutevel
no site do Ministeacuterio como a maioria dos documentos na aacuterea do Entatildeo a gente
estaacute nessa fase (Gestora 10)
161
Na perspectiva de lideranccedilas e moradores quilombolas o resultado do trabalho de
educaccedilatildeo ambiental apresentou poucos sinais concretos Um dos exemplos apontado como
positivo foi a mudanccedila no tratamento dado aos resiacuteduos soacutelidos em Santana apoacutes uma das
oficinas
[] Uma coisa tambeacutem que teve no curso deles foi sobre o lixo a gente discutiu
sobre o lixo eles falaram como era [] Pronto foi soacute isso [] E essa eacute uma accedilatildeo
que a gente taacute colocando em praacutetica [] Porque a gente antigamente juntava os
munturos hoje natildeo a gente jaacute sabe o dia da coleta taacute separando praacute coleta Eacute quarta
aqui neacute [] Eacute quarta Eles passam aqui [] Tem [] Eles se mobilizaram fizemos
abaixo-assinado e aiacute a prefeitura atendeu Foi soacute isso mesmo que saiu eu acho
(Grupo Focal 3)
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas um dos aspectos criacuteticos ou dificultadores para o
desdobramento do que foi trabalhado nas oficinas eacute a problemaacutetica de acesso agrave aacutegua que
inviabiliza desenvolver atividades de pecuaacuteria um dos temas debatidos
A temaacutetica sobre associativismo apresentou alguns resultados com melhora de gestatildeo
na associaccedilatildeo percebida principalmente nos siacutetios mais afastados da Vila Centro Mas de
maneira geral as mudanccedilas satildeo imperceptiacuteveis ateacute o momento como ldquoalgo vagordquo que natildeo
interfere e estaacute distante da realidade concreta de vida da comunidade
Alguma coisa [] Muito pouco Porque fizeram as oficinas mas natildeo na praacutetica
mesmo [] Mas quem ia fazer era noacutes aqui natildeo era eles natildeo Eles vieram daacute as
oficinas mas noacutes eacute que ia fazer Mas tambeacutem porque a circunstacircncia natildeo ajudou
[]
Foi justamente o periacuteodo de seca [] E era de criaccedilatildeo de animais E natildeo tinha
animais tambeacutem [] Algumas coisas Tem coisas que dependia da aacutegua [] Porque
desde que a gente procure parcerias [] Para algumas comunidades teve Nas outras
comunidades vizinhas nos Siacutetios [] Natildeo nos siacutetios Dentro do Territoacuterio mas nos
Siacutetios [] A gestatildeo dentro da associaccedilatildeo mesmo porque algumas coisas eles natildeo
tinham conhecimento (Grupo Focal 1)
[] O resultado disso ateacute agora mesmo nada natildeo apareceu nada ateacute ai [] (Grupo
Focal 2)
A falta de apoio financeiro para desenvolver projetos a partir dos conteuacutedos
trabalhados nas oficinas foi outro fator Cabe uma reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo dos temas em
funccedilatildeo da questatildeo climaacutetica assim como o apoio restrito do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo no
incentivo e apoio que viabilizasse projetos alternativas reais para melhoria da qualidade de
vida conforme descrito nos documentos como objetivo do PBA 4
Eu acho que tambeacutem vocecirc pergunta sobre os resultados disso Vocecirc tem a
formaccedilatildeo tem o conhecimento mas natildeo tem o financiamento pra colocar isso em
praacutetica aiacute vocecirc natildeo vai pra canto nenhum vocecirc natildeo tem as condiccedilotildees necessaacuterias
162
Entatildeo vocecirc daacute um conhecimento a uma pessoa mas ai ela natildeo tem de onde tirar praacute
por em praacutetica esse conhecimento aiacute natildeo tem como ir praacute frente (Grupo Focal 1)
[] Ateacute agora nada [] Soacute a aprendizagem mesmo as pessoas que participaram
aprendiam alguma coisa soacute isso mesmo Sem pratica mesmo ningueacutem faz nada
Eacute sem a praacutetica [] Eacute soacute teve o apoio mesmo mas o projeto que a gente mais se
interessou que foi a criaccedilatildeo de galinha de capoeira galinha caipira eles disseram
que talvez pudesse ajudar depois quando a gente se movimentou fizemos o projeto
e tudo aiacute eles disse que natildeo que natildeo podia ajudar que ia ajudar soacute com o apoio
Aiacute faltou o dinheiro [] Todo mundo se mobilizou achando que jaacute ia comeccedilar a
criar galinha aiacute cadecirc o dinheiro [] Faltou verba Aiacute parou (Grupo Focal 3)
Resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos entrevistados (Quadro
10)
Quadro 10 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em
Comunidades Quilombolas TEMAS
TRABALHADOS POR
COMUNIDADE
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
Carga horaacuteria
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de lideranccedilas e
moradores quilombolas)
Santana
- Elaboraccedilatildeo de Projetos
- Resiacuteduos Soacutelidos
Agricultores
Estudantes
Lideranccedilas
Alunos
Todos os
interessados
CARGA
HORAacuteRIA
- 8 horas por oficina
(Mensal - manhatilde e
tarde por vaacuterios
meses)
- Publicaccedilatildeo de diagnoacutestico
geral das comunidades)
- Seminaacuterio Estadual com
comunidades quilombolas
(outubro2013)
- Falta de condiccedilotildees financeiras
para por em praacutetica os conteuacutedos
trabalhados nas oficinas
- Dificuldade de acesso agrave aacutegua
inviabilizando a praacutetica da
pecuaacuteria
ContendasTamboril
-Accedilude aacutegua poccedilo
- Transposiccedilatildeo
- Meio ambiente
Conceiccedilatildeo das Crioulas
-Associativismo
- Empreendedorismo
- Criaccedilatildeo de pequenos
animais
- Geraccedilatildeo de renda
- Elaboraccedilatildeo de
Projetos
Fonte A autora a partir de Informaccedilatildeo verbal (entrevistas e grupos focais 2013)
A partir do exposto trazemos uma reflexatildeo sobre o trabalho de educaccedilatildeo ambiental
das praacuteticas pedagoacutegicas vivenciadas pela populaccedilatildeo quilombola que vai aleacutem da proposta
metodoloacutegica e intenccedilotildees preconizadas nos documentos oficiais
As praacuteticas educativas estatildeo presentes em diversas aacutereas do conhecimento dirigidas a
vaacuterios segmentos da sociedade contribuindo para manutenccedilatildeo ou para mudanccedilas na realidade
poliacutetica econocircmica social e ambiental das pessoas envolvidas com essas praacuteticas
Almeida em a ldquoNatureza me disserdquo faz uma reflexatildeo de que a triacuteade ldquoinformaccedilatildeo
conhecimento sabedoriardquo natildeo pode ser vista como sinocircnimo Haacute que distingui-las e
considerar que saber pensar bem para enfrentar e conviver com os enormes problemas e
desafios em niacuteveis local e global depende da transformaccedilatildeo da informaccedilatildeo em conhecimento
e do conhecimento em sabedoria (SILVA F 2007)
163
Almeida afirma que ldquopodemos dispor de informaccedilatildeo e natildeo ter conhecimento algumrdquo
ou seja ser possuidor de muitas e valiosas informaccedilotildees natildeo implica na construccedilatildeo de
conhecimento (SILVA F 2007)
O modelo vigente de educaccedilatildeo seja formal ou informal ainda privilegia a transmissatildeo
de conteuacutedos o repasse de informaccedilotildees Para Almeida o conhecimento eacute construiacutedo com a
seleccedilatildeo de informaccedilotildees mais importantes da articulaccedilatildeo entre elas e da atribuiccedilatildeo de
significado das mesmas (SILVA F 2007)
Sendo o conhecimento o tratamento de informaccedilotildees se pode pensar num ldquotrabalho
artesanal do pensamento como se o mesmo tivesse matildeos para dar forma ao que vemos
ouvimos sentimos tocamos e apreciamosrdquo (SILVA F 2007 p 8)
Tratando-se de uma accedilatildeo com comunidades tradicionais detentoras de um
conhecimento proacuteprio nos parece pertinente a analogia feita pelo autor quando refere-se agrave
construccedilatildeo do conhecimento como semelhante ao trabalho do oleiro que com suas matildeos daacute
forma ao barro que se torna pote panela ou telha Tal analogia permite tambeacutem dizer que
informaccedilotildees e barro como o pensamento e o oleiro satildeo mateacuterias brutas a serem lapidadas
pelos dois artesatildeos - o artesatildeo do pensamento e o artesatildeo do tijolo e da telha Queremos com
isso realccedilar a importacircncia dos ldquodois artesatildeosrdquo que no mundo acadecircmico seria o professor e o
aluno o intelectual ou cientista e o leigo
A autora introduz uma compreensatildeo ampliada do que seja um intelectual contraacuterio ao
sinocircnimo de cientista ou acadecircmico para aquele que manteacutem viva a curiosidade sobre o
mundo agrave sua volta natildeo se contenta com uma soacute interpretaccedilatildeo e observa as vaacuterias faces do
mesmo fenocircmeno e faz da tarefa de transformar informaccedilotildees em conhecimentos uma praacutetica
sistemaacutetica permanente cotidiana Essa visatildeo nos apresenta o que Almeida chama de
intelectual da tradiccedilatildeo que satildeo artistas do pensamento que distantes dos bancos escolares e
universidades desenvolvem a arte de ouvir e ler a natureza agrave sua volta (SILVA F 2007 p
8)
Pensando agora em sabedoria natildeo podemos estabelecer uma relaccedilatildeo linear de que
todos que transformam informaccedilatildeo em conhecimento constroem sabedoria Natildeo eacute bem assim
Mesmo vivendo o ldquoseacuteculo da informaccedilatildeo a sociedade do conhecimentordquo como vem sendo
classificado o seacuteculo vinte e um estamos cercados e bombardeados de informaccedilotildees mas natildeo
podemos dizer que dispomos de um banco de sabedoria Para Silva F (2007 p 8)
A sabedoria parece ser mais um jeito de viver e sentir do pensamento uma maneira
de falar do mundo que associa simplicidade e sentimento de parentesco coragem e
afeto vontade de verdade e consciecircncia da incompletude e do erro Sendo maior
mais plena mais essencial e duradoura a sabedoria natildeo se reduz a um conjunto de
164
conhecimentos A sabedoria eacute como o lodo que manteacutem viva uma lagoa eacute o que
sobrevive em meio agrave superpopulaccedilatildeo das ideias dos conceitos das informaccedilotildees
Dando reconhecimento ao intelectual da tradiccedilatildeo muitas vezes detentor de rica
sabedoria fazemos menccedilatildeo aos povos tradicionais ao povo quilombola que possuem um
vasto conhecimento sobre a natureza e uma rica cultura adquirida ao longo de vaacuterias
geraccedilotildees Conhecimentos que assumem grande importacircncia para diversas aacutereas da ciecircncia
Estes povos por possuiacuterem uma dependecircncia da natureza para sua subsistecircncia adquiriram
uma iacutentima relaccedilatildeo com esta bem como grande conhecimento e maneira diferente de usaacute-la e
manejaacute-la de forma sustentaacutevel jaacute que sua sobrevivecircncia depende diretamente dela (SOUSA
SANCHEZ 2013)
O intelectual da tradiccedilatildeo estaacute ldquovivordquo em cada comunidade quilombola e identificado
pelas suas lideranccedilas e moradores Cabe agrave academia e aos oacutergatildeo governamentais apreenderem
e reconhecerem o real lugar que deve ocupar esse saber ao pensar em poliacuteticas de educaccedilatildeo
ambiental
[] Eu acho que a gente estuda muito se ateacutem muitos aos livros e muitas vezes o
conhecimento ele jaacute vem sendo praticado e as pessoas jaacute satildeo detentoras do
conhecimento e da sabedoria porque essa questatildeo da educaccedilatildeo ambiental meu pai
jaacute eacute educador ambiental minha avoacute era mais educador ambiental do que eu quando
ela natildeo desmatava quando ela respeitava o habitat natural dos animais quando ela
natildeo caccedilava alguns tipos de animais esse animal natildeo falava em extinccedilatildeo como a
gente fala hoje falava lsquoesse animal tem pouco aqui natildeo pode matarrsquo ou entatildeorsquoesse
aiacute natildeo pode matar eacute eacutepoca desse animal fazer o ninho delersquo ou entatildeo lsquo esse animal
ele taacute prenha e tudorsquo entatildeo que jaacute era educada ambientalmente neacute (Lideranccedila 1)
Aproximando essas reflexotildees para o trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado para o
povo quilombola e natildeo com o povo quilombola parece natildeo ter havido o envolvimento dos
intelectuais da tradiccedilatildeo nas accedilotildees implementadas o que entre outras questotildees comprometeu
a consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos
Essa avaliaccedilatildeo se daacute no sentido de identificar aspectos que foram potencializados no
Subprograma comprometendo resultados junto agraves comunidades quilombolas Relacionamos
alguns fatores
a) Conteuacutedos trabalhados com ecircnfase na transmissatildeo de informaccedilotildees
b) Sendo temas relevantes o conteuacutedo e a linguagem em algumas oficinas natildeo
foram adequados agrave realidade dos participantes
c) Fraacutegil relaccedilatildeo dos conteuacutedos com a realidade quilombola
165
d) Natildeo inclusatildeo dos intelectuais da tradiccedilatildeo no caso os agricultores quilombolas e
outros profissionais da comunidade como potenciais instrutores para apontar
alternativas de enfrentamento aos problemas locais
e) Falta de apoio financeiro e de instituiccedilotildees parceiras para realizaccedilatildeo de projetos
aplicaacuteveis agrave realidade
812 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental nas Escolas
Este Subprograma apresenta como objetivo
Realizar a capacitaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos para a praacutetica da
Educaccedilatildeo Ambiental no Ensino Formal nas redes Municipais e Estaduais de
educaccedilatildeo visando contribuir para elaboraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas consistentes
no curriacuteculo escolar em conjunto com alunos e comunidade local considerando a
escola como o espaccedilo fundamental para a socializaccedilatildeo e desenvolvimento de
competecircncias em temaacuteticas ambientais bem como as relacionadas ao Projeto de
Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 124)
Eacute dirigido principalmente aos coordenadores pedagoacutegicos e professores que atuam
com alunos oriundos das localidades apontadas pelos PBA 8 15 e 17 visando a inclusatildeo de
temaacuteticas ambientais nos projetos educacionais em 18 das escolas de ensino fundamental e
meacutedio dos 17 municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ateacute dois anos a partir da
aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo 18 dos professores eou coordenadores pedagoacutegicos dos 17
municiacutepios da Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) capacitados para desenvolver COM-
VIDAS22
nas suas escolas ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo dessa reestruturaccedilatildeo (BRASIL
2010)
Em relaccedilatildeo agrave Salgueiro a meta apontava a capacitaccedilatildeo de 513 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 47 escolas do municiacutepio E tratando-se de comunidades
quilombolas procurando preencher o criteacuterio de no miacutenimo um professor e um coordenador
pedagoacutegico das (ou que atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo Programa
17 No total dos municiacutepios envolvidos a meta eacute a capacitaccedilatildeo de 5681 professores e
coordenadores pedagoacutegicos de 678 escolas (BRASIL 2010 p 125)
22
A Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida - Com-vida - eacute uma nova forma de organizaccedilatildeo na
escola que junta a ideia dos jovens da I Conferecircncia de criar ldquoconselhos de meio ambiente nas escolasrdquo com
os Ciacuterculos de Aprendizagem e Cultura proposto pelo educador Paulo Freire Estudantes satildeo os principais
articuladores da Com-vida Com-vidas podem ser criadas tambeacutem em outros espaccedilos e juntando gente de
empresas organizaccedilotildees da comunidade Associaccedilotildees (de bairro de moradores) em Organizaccedilotildees Natildeo-
Governamentais (ONGs) igrejas Comitecircs de Bacias Hidrograacuteficas (Brasil MMA e ME Formando COM-
VIDA Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola -Construindo Agenda 21 na Escola
Brasiacutelia 2012)
166
Como justificativa para elaboraccedilatildeo do Subprograma haacute o argumento governamental
de que
A Educaccedilatildeo Ambiental na escola eacute uma accedilatildeo complementar agrave gestatildeo do ambiente
escolar com reflexos persistentes que se estendem para as comunidades atraveacutes de
seus alunos e professores e no contexto do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco ndash PISF ela pode maximizar os impactos positivos e tornar mais diminuto
seus impactos negativos (BRASIL 2010 p 122)
Para implementaccedilatildeo do Subprograma foi previsto o trabalho pela equipe de Educaccedilatildeo
Ambiental no formato de quatro moacutedulos de capacitaccedilatildeo com duraccedilatildeo de quatro horas cada
em torno de quatro eixos temaacuteticos (BRASIL 2010 p 123)
a) Compreensatildeo do Projeto de Integraccedilatildeo do rio Satildeo Francisco e o papel da
Educaccedilatildeo na Ambiental na Mitigaccedilatildeo de Impactos
b) Construccedilatildeo do Mapeamento Ambiental participativo
c) Formaccedilatildeo da Comissatildeo de Meio Ambiente e Qualidade de Vida COM-VIDA
conforme proposta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
d) Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) e a construccedilatildeo da Agenda Ambiental escolar
Com base nos temas acima o Subprograma pretende ldquoestimular para uma accedilatildeo
participante e emancipadora da comunidade escolar em decisotildees sobre os processos e
produtos resultantes do PISFrdquo intercalando entre os moacutedulos atividades modulares para
permitir a aplicabilidade dos conteuacutedos sugeridos nos momentos presenciais (BRASIL 2010
p 123-126)
A proposta prevecirc tambeacutem que apoacutes um ano de conclusatildeo da capacitaccedilatildeo dos
professores ocorreraacute uma Oficina com objetivo de verificar as experiecircncias na implantaccedilatildeo
das COM-VIDA
Narrativas mostram que foram feitas as atividades de formaccedilatildeo e que envolveram
profissionais que atuam junto agraves comunidades quilombolas
Esse programa felizmente ele jaacute estaacute praticamente concluiacutedo Fizemos o que tinha
sido proposto no documento trabalhamos com a capacitaccedilatildeo dos educadores dos 17
municiacutepios envolvendo o setor educacional tanto municipal como estadual []
(Gestora 10)
Realmente eles apareceram aqui [] e eles nos convidaram a participar de uma
formaccedilatildeo Foram alguns coordenadores que participaram dessa formaccedilatildeo inclusive
eu natildeo participei no primeiro momento dessa formaccedilatildeo fiquei de fora porque o meu
foco era outro era tecnologia mas depois eu voltei a participar [] Foi para os
167
professores da sede e da zona rural e os quilombolas tambeacutem Noacutes temos a
comunidade quilombola de Conceiccedilatildeo das Crioulas [] A comunidade de Santana
tambeacutem e Contendas Na eacutepoca a gente tinha duas escolas multisseriadas aiacute tinha
uma coordenadora tambeacutem aqui ela era coordenadora participava dessa formaccedilatildeo
que era pra dar continuidade aos trabalhos (Gestora 5)
[] Todos que estavam no projeto estavam envolvidos e os quilombolas tambeacutem
(Gestora 7)
A temaacutetica da formaccedilatildeo inseriu questotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e seus
impactos questotildees sobre patrimocircnio puacuteblico e o projeto COM-VIDA compatiacutevel com os
eixos contidos no Subprograma
Era sobre o projeto de Integraccedilatildeo mesmo os impactos o que eacute que causa a
sustentabilidade o patrimocircnio puacuteblico sobre essas questotildees sobre o Comvida
tambeacutem ele enfatizaram nas uacuteltimas formaccedilotildees [] (Gestora 5)
Os instrutores foram da empresa CMT e todo material foi disponibilizado pelo projeto
da transposiccedilatildeo
[] todo material da formaccedilatildeo foram eles que disponibilizaram A gente soacute ficou
com o espaccedilo e garantiu os coordenadores e os professores [] eacute era o puacuteblico da
formaccedilatildeo Mas os instrutores deles o material tambeacutem era deles (Gestora 5)
A compreensatildeo mais geral desse processo de formaccedilatildeo pelos sujeitos do estudo traz o
seguinte desenho aceitar o que jaacute vem pronto pela CMT como forma de ter acesso a
informaccedilotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo e cobrar o que eacute de direito em seguida Haacute uma
visatildeo tambeacutem de que a obra natildeo seraacute concluiacuteda se a comunidade natildeo tiver conhecimento e
natildeo se mobilizar
[] porque eu mesmo penso dessa forma se o professor natildeo tiver o conhecimento
se as comunidades natildeo tiverem esse conhecimento se elas natildeo forem mobilizadas
elas natildeo vatildeo aceitar nunca e essa obra natildeo vai terminar nunca A gente precisa
tambeacutem ateacute aprender a cobrar Jaacute que veio entatildeo vamos cobrar o que eacute de nosso
direito eacute isso que eu estimulo eles os professores os coordenadores (Gestora 5)
Quanto ao niacutevel de envolvimento dos participantes relatos potildeem em duacutevida que tenha
havido uma ldquoaccedilatildeo participante e emancipadorardquo Com a proposta de formaccedilatildeo toda
estruturada houve poucas possibilidades de articulaccedilatildeo e adequaccedilatildeo agrave realidade
[] Esse pessoal da CMT eacute que mais procura a gente vem procurar e fazer esses
encontros mas eacute como se fosse assim teu serviccedilo eacute isso e tu tem de daacute conta dessa
formaccedilatildeo Ou tu faz essa formaccedilatildeo ou a tua empresa estaacute descontratada Eacute dessa
forma que eu vejo Aiacute eles chegam aqui tem que ser tem que acontecer tem uns
que ainda satildeo mais maleaacuteveis que a gente consegue fazer essa articulaccedilatildeo mas eacute
que meu puacuteblico precisa disso eu queria isso daacute pra vocecirc fazer isso Tem uns que
satildeo mais maleaacuteveis mas tem outros [] eacute mas outros natildeo eacute isso aqui que tenho eacute
168
isso aqui que eu trago jaacute traz o livrinho pronto Esse livrinho que eu tenho eacute essa
alternativa que eu tenho pra vocecirc E aiacute a gente recebendo [] (Gestora 5)
O processo de formaccedilatildeo eacute percebido com ressalvas sem o devido acompanhamento e
continuidade fatores necessaacuterios para estimular e apoiar Coordenadores e professores Natildeo
houve um planejamento compatiacutevel com o calendaacuterio e organizaccedilatildeo da Secretaria municipal
outro aspecto que dificultou o monitoramento da proposta O fato de serem instrutores de uma
empresa contratada pelo projeto da transposiccedilatildeo tambeacutem contribui para as interrupccedilotildees no
processo e o natildeo envolvimento posterior para consolidar o trabalho nas escolas
[] Agora eu vejo assim a minha visatildeo neacute [] Acho que o projeto de formaccedilatildeo
continuada daqui da secretaria tinha um Projeto e ele entrava dentro do projeto
daqui soacute que por conta da quebra de natildeo ter um calendaacuterio organizado e nem ter
um monitoramento a gente teve perda Teve quebras e faltou monitoramento
(Gestora 7)
[] E assim o que eu vi que eu achei estranho eacute porque eles natildeo tem um
direcionamento uma continuidade eles tem o projeto mas eacute como se fosse um
evento natildeo tem uma continuidade mesmo nessa formaccedilatildeo e assim fica meio que
solto isso natildeo eacute interessante para o professor O professor precisa ter continuidade
no trabalho para que tambeacutem ele seja motivado pra que ele invista naquilo Ele
precisa ser investido e precisa ser motivado tambeacutem para fazer um investimento
naquele trabalho [] E assim eles comeccedilaram a formaccedilatildeo depois pararam Eacute uma
empresa contratada que vai embora entatildeo perde o contrato aiacute depois volta natildeo satildeo
as mesmas pessoas e natildeo eacute uma sequecircncia Porque noacutes fazemos formaccedilatildeo aqui no
municiacutepio mas a nossa formaccedilatildeo ela tem um direcionamento e tem uma
continuidade noacutes fizemos a formaccedilatildeo de agosto do ano passado e com o
encaminhamento da passada E assim eu natildeo vi essa continuidade assim hoje
mesmo acabou a formaccedilatildeo e ningueacutem mais aparece aqui como eacute que o professor vai
ser motivado (Gestora 5)
Refletindo sobre a proposta de uma formaccedilatildeo continuada relatos avaliam que a
mesma natildeo se efetivou apesar de uma ldquoproposta metodoloacutegica com base num diaacutelogo
democraacuteticordquo e da aceitaccedilatildeo dos profissionais ao trabalho oferecido O que aparece como
caracteriacutestica marcante do Subprograma eacute a realizaccedilatildeo de eventos fragmentados que natildeo
ganharam forccedila na rede escolar com dificuldades de articulaccedilatildeo tambeacutem junto agrave rede estadual
de ensino
[] Interessante boa A uacutenica coisa que faltou foi ter mais por ser uma coisa raacutepida
foi aquela coisa do monitoramento mesmo de estar mais junto de entrar nas
escolas dentro das comunidades O que faltou foi isso Vem pra formaccedilatildeo trabalhar
a formaccedilatildeo mas natildeo acompanha Porque tudo era bom e principalmente para o
Distrito todo mundo acolhia achando interessante e que era uma forma de fortalecer
o municiacutepio [] E acho que teve quebras e assim a gente teve tambeacutem algumas
dificuldades de se articular com a rede estadual porque o projeto natildeo era soacute pra rede
municipal era pra toda uma rede e teve momento que a gente natildeo teve articulaccedilatildeo
natildeo garantiu essa articulaccedilatildeo (Gestora 7)
169
Lembranccedilas de trabalho de educaccedilatildeo ambiental realizado junto agraves escolas sob
responsabilidade do SERTA23
eacute apresentado como exemplo que deu frutos contribuiu para
mudanccedilas na praacutetica pedagoacutegica de escolas do campo
Acho que aqui o municiacutepio de Salgueiro a gente avanccedilou mais no periacuteodo natildeo era
natildeo tem nada a ver com a transposiccedilatildeo no periacuteodo de 2004 ateacute 20082009 mais ou
menos com uma parceria um convecircnio que o municiacutepio firmou com uma ONG
chamada Serta que eacute daqui de Pernambuco [] Gloacuteria de Goitaacute Eacute aquela mesma e
aiacute a gente teve um trabalho com eles Um trabalho bem continuado [] De educaccedilatildeo
do campo que o foco deles eacute educaccedilatildeo do campo a proposta metodologia para
educaccedilatildeo do campo o desenvolvimento das escolas do campo de mudar um pouco
a cara das escolas do campo e a escola do campo ser propulsora de desenvolvimento
da comunidade Entatildeo entra a questatildeo da educaccedilatildeo ambiental sustentabilidade em
todos os sentidos Entatildeo acho que assim esse trabalho ele hoje eu diria que deu
mais fruto mais resultado porque foi um trabalho mais continuadoVocecirc vecirc as
escolas do campo hoje elas tem outro jeito outro jeito de tratar tambeacutem natildeo satildeo
todas porque algumas abraccedilaram a proposta outras mais outras menos [] Acho
que a transposiccedilatildeo do Ministeacuterio foram jaacute houve formaccedilatildeo e tudo mas assim eacute
muito pontual eventual [] (Gestora 6)
A constataccedilatildeo de que o Subprograma natildeo teve o acompanhamento devido para se
consolidar junto agraves escolas e comunidade local tendo se restringido aos momentos de
capacitaccedilatildeo com professores e coordenadores mostra uma fragilidade quanto aos
desdobramentos concretos da accedilatildeo
A consolidaccedilatildeo do projeto COM-VIDA um dos resultados pretendidos ficou
comprometido natildeo havendo o devido acompanhamento e incentivo aos professores para sua
implantaccedilatildeo nas escolas A carga horaacuteria pela sua restriccedilatildeo eacute vista como outro aspecto
dificultador para o ecircxito do Subprograma
[] Eacute um projeto de qualidade de vida Entatildeo no uacuteltimo encontro que eles vieram
aqui a uacuteltima formaccedilatildeo que vieram quando eu jaacute estava diretora de ensino eles
vieram e incentivaram que o objetivo era esse era instalar o Comvidas nas escolas e
aiacute eles fizeram toda a formaccedilatildeo o processo de formaccedilatildeo Deram vaacuterias dicas de
como a gente dar continuidade a esse trabalho mas assim natildeo foi dada
continuidade Assim natildeo vem natildeo tem uma continuidade um trabalho maior uma
cobranccedila ateacute pra que o professor seja motivado fica um trabalho meio solto
(Gestora 5)
[] Eu acho que natildeo caminhou muito natildeo Eu acho que o pessoal do Ministeacuterio do
Desenvolvimento da Integraccedilatildeo eles ateacute a gente jaacute fez algumas parcerias com eles
23
O Serviccedilo de Tecnologia Alternativa (Serta) eacute uma Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de interesse Puacuteblico
(Oscip) que tem como missatildeo formar jovens educadoresas e produtoresas familiares para atuarem na
transformaccedilatildeo das circunstacircncias econocircmicas sociais ambientais culturais e poliacuteticas na promoccedilatildeo do
desenvolvimento sustentaacutevel do campo Foi fundada em 1989 a partir de um grupo de agricultores teacutecnicos e
educadores que desenvolviam em comunidades rurais uma metodologia proacutepria para a promoccedilatildeo do meio
ambiente a melhoria da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas Desde sua origem teve
como foco o desenvolvimento e reconhecimento da importacircncia da agricultura familiar Atualmente o Serta
atua a partir de dois campi em Ibimirim (sertatildeo) agraves margens do Accedilude Poccedilo da Cruz e em Gloacuteria do Goitaacute
no Campo da Sementeira (regiatildeo do agreste) (SERVICcedilO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA 2014)
170
fizemos alguns estudos algumas formaccedilotildees e tal mas assim eacute muito eventual natildeo eacute
uma coisa continuada aiacute eu acho que nesse ponto natildeo se avanccedilou (Gestora 6)
Eu acho que a gente teve contato com os teacutecnicos para discutir o projeto de
formaccedilatildeo continuada [] E alguns teacutecnicos de laacute vinham discutiam a formaccedilatildeo
marcavam os dias e organizava o movimento de formaccedilatildeo continuada
principalmente do pessoal de sexta ao nono Acho que foi um movimento que natildeo
foi continuo natildeo foi continuado foi estanque teve quebras e acho que natildeo
condensou natildeo foi muito fortalecido [] Eu achei que era pequena Um projeto
desse natildeo pode ser trecircs dias e aiacute vai embora acontece que natildeo voltam de novo
(Gestora 7)
O resultado mais visiacutevel e evidente foram as informaccedilotildees obtidas em relaccedilatildeo ao
projeto da transposiccedilatildeo que muitos natildeo conheciam e desacreditavam na execuccedilatildeo de
empreendimentos como o PISF entre outros motivos pelo desvio de recursos puacuteblicos
ocorridos com outras obras para regiatildeo
Olha eu acho que o conhecimento foi o mais visiacutevel porque assim muita gente natildeo
conhecia e assim passou a conhecer a ter mais conhecimento a respeito da obra mas
que eles natildeo tinham e ateacute que eu vejo isso como o ponto negativo tambeacutem ia ter um
impacto tatildeo grande que eu acho que devia ter se preparado mais cedo [] veio um
pessoal tambeacutem fazer outra formaccedilatildeo aqui e eu falei isso e aiacute um coordenador
levantou e disse mas a gente natildeo acredita mais que as coisas vem e que vatildeo
acontecer porque satildeo vaacuterios poliacuteticos desviando obras vaacuterias pessoas que estatildeo e
que desviam as verbas entatildeo a gente natildeo acredita mais Talvez seja isso que falavam
e as pessoas natildeo acreditaram e ai houve esse desconhecimento esse despreparo
tanto das comunidades como aqui da cidade mesmo [] (Gestora 5)
Eu acredito que estava neacute E ele vinha com toda uma organizaccedilatildeo tanto de moacutedulo
como de apostila taacute entendendo Agora eacute isto que eu estou te dizendo eu acredito
que a rede neacute principalmente o pessoal do municiacutepio neacute os professores aderiram
abraccedilaram agora por conta de natildeo ter um acompanhamento laacute na base entendeu
Natildeo eacute soacute fazer a formaccedilatildeo vocecirc tem quer ir na base e vecirc como eacute que estaacute o projeto
se de fato entrou na sala de aula entrou nas comunidades Acho que faltou isso
tambeacutem (Gestora 7)
Haacute sugestatildeo de que os conteuacutedos da formaccedilatildeo e a visatildeo geral sobre o projeto da
transposiccedilatildeo precisavam estar mais acessiacuteveis agrave populaccedilatildeo como um todo e natildeo apenas entre
os teacutecnicos e secretaacuterios E para educaccedilatildeo formal seria importante inserir conteuacutedos sobre o
projeto da transposiccedilatildeo nas disciplinas em geral
Dentro das ciecircncias neacute Dava pra ter entrado dentro de geografia Agora mesmo a
gente estava discutindo algumas coisas neacute Ivone do Projeto Intermodal Da entrada
disso Tem conhecimento que estaacute muito na cabeccedila dos teacutecnicos dos secretaacuterios
acho que precisava estaacute mais no povo Acho que tem muita gente que desconhece
acho que precisava ter mais isso o que eacute o projeto Quais satildeo os impactos dele E
assim pras crianccedilas para os jovens pra todo mundo que tivesse nessa comunidade
em Salgueiro entendeu (Gestora 7)
171
Reforccedilando a proposta de ampliar o debate sobre o projeto da transposiccedilatildeo a formaccedilatildeo
deveria ser retomada de maneira continuada e formalizar amplamente nas escolas o projeto
como objeto de conhecimento sugere o mesmo entrevistado
Eu acho que tem de voltar urgente a coisa da formaccedilatildeo natildeo pode parar natildeo pode ser
uma formaccedilatildeo para uma rede tem que estar pensando nas duas a cidade os
educadores de todas as redes e pra pensar isso o que eacute que a gente fez ateacute agora
Onde a gente avanccedilou Onde a gente taacute precisando mudar E do que eacute que
Salgueiro talvez precisa a escola de Salgueiro pra falar sobre isso praacute aprender
sobre isso e para intervir nisso Porque se natildeo vai vir mais um projeto que ningueacutem
conhece [] Eacute o que vai impactar aqui Tem que estar nas escolas em todas as
escolas Eu acho que quase natildeo se fala Eu vejo falar na rua mas na escola eu natildeo
vejo como objeto de conhecimento Eu acho que precisava a gente tava ateacute fazendo
uma pesquisa pra comeccedilar a pegar neacute tanto o Projeto do Rio Satildeo Francisco como
todo esse movimento que a gente taacute vivendo praacute comeccedilar a entrar na escola neacute
(Gestora 7)
Na percepccedilatildeo de gestor da equipe da CMT uma conclusatildeo eou desdobramento do
trabalho refere-se agrave produccedilatildeo de publicaccedilatildeo fruto das oficinas e atividades intermodulares a
ser disponibilizada agraves escolas envolvidas
[] e a conclusatildeo desse trabalho vai ser uma publicaccedilatildeo jaacute estaacute pra ser publicado
chama Cadernos de Produccedilatildeo Coletiva Noacutes usamos nesse momento tambeacutem as
atividades inter-modulares neacute fazemos a capacitaccedilatildeo com eles e depois as
atividades inter-modulares e agora noacutes estamos concluindo essa publicaccedilatildeo Ao
final noacutes vamos entregar para todas as escolas participante do processo (Gestora 10)
Pelo exposto o processo de trabalho realizado junto aos profissionais da educaccedilatildeo natildeo
esteve calcado no que se refere Anastasiou (1998 apud PIMENTA ANASTASIOU 2002)
a um processo de ensinagem Incorporando as contribuiccedilotildees de Vasconcellos (1995 apud
PIMENTA ANASTASIOU 2002) a compreensatildeo do processo de ensinagem se amplia
como um meacutetodo dialeacutetico de ensino cujos momentos fundamentais satildeo trecircs a mobilizaccedilatildeo
para o conhecimento a construccedilatildeo do conhecimento e a elaboraccedilatildeo da siacutentese do
conhecimento
A mobilizaccedilatildeo para o conhecimento eacute possibilitar ao aluno um direcionamento para o
processo pessoal de aprendizagem sendo necessaacuterio que o professor provoque acorde
vincule e sensibilize o aluno em relaccedilatildeo ao objeto de conhecimento para deixaacute-lo ldquoligadordquo
durante o processo Importante para isto eacute articulaccedilatildeo entre a realidade concreta e o grupo de
alunos (aqui no caso grupo de professores) entre suas redes de relaccedilotildees visotildees de mundo
percepccedilotildees e linguagens de modo que possa acontecer o diaacutelogo (PIMENTA
ANASTASIOU 2002 p 214-215)
172
A construccedilatildeo do conhecimento eacute vista como momento da atividade do aluno quer seja
por meio de pesquisa estudo individual seminaacuterios o que permite estabelecer relaccedilotildees que
identificam como o objeto do conhecimento se constitui (LIBAcircNEO 1985 apud PIMENTA
ANASTASIOU 2002)
Segundo os autores as atividades dos alunos podem ser definidas por sete categorias
como
a) Significaccedilatildeo estabelecer os viacutenculos nexos do sujeito ao objeto do conhecimento
b) Problematizaccedilatildeo problema que se encontra na origem do conhecimento
c) Praacutexis accedilatildeo do sujeito sobre o objeto Permite articular conhecimento com a
praacutetica social que lhe deu origem
d) CriticidadeO conhecimento ligado a uma visatildeo criacutetica buscando a verdadeira
causa das coisas
e) Continuidade- ruptura partir de onde o aluno se encontra para um conhecimento
mais elaborado
f) Historicidade os conhecimentos estatildeo num quadro relacional e deixar claro que a
siacutentese atual pode ser superada por novas siacutenteses por ser histoacuterica e contextual
g) Totalidade Articular conhecimento com a realidade seus determinantes seus
nexos internos (combinar siacutentese com anaacutelise)
A elaboraccedilatildeo da siacutentese como terceiro momento estaacute relacionado ao momento da
sistematizaccedilatildeo da expressatildeo empiacuterica do aluno sobre o objeto apreendido Eacute o momento da
consolidaccedilatildeo de conceitos (PIMENTA ANASTASIOU 2002 p 214-215)
Na relaccedilatildeo mais direta com a avaliaccedilatildeo que nos interessa focaremos no momento da
construccedilatildeo do conhecimento por acreditarmos que houve uma fragilidade maior neste
momento comprometendo o elo entre o momento posterior (siacutentese do conhecimento) O fato
de o puacuteblico alvo ser profissional da educaccedilatildeo natildeo o coloca diferente no momento em que
estaacute como educando
Lembremos que neste Subprograma a queixa maior foi com a quebra a falta de
continuidade do processo a realizaccedilatildeo de encontros pontuais com coordenadores e
professores que descaracterizaram a formaccedilatildeo continuada ldquoesvaziandordquo o momento da
construccedilatildeo do conhecimento
Mas o trabalho gerou alguns frutos parece que em escolas da zona rural onde outros
projetos de educaccedilatildeo ambiental foram desenvolvidos e havia maior sensibilizaccedilatildeo para a
temaacutetica
173
[] Eu acho que a gente sente mais isso nos Projetos da zona rural Como eles
tiveram muito trabalho voltado para a sustentabilidade voltado para o
empoderamento do homem do campo haacute mudanccedila Eu acho que eles tem mais
projetos que educa para o meio ambiente Natildeo satildeo as Escolas do Campo Todas elas
tem assim mais um perfil voltado trabalha o problema local a seca como a gente
pode estabelecer convivecircncia [] E aiacute fazendo projetos a gente teve um movimento
desses a partir dos trabalhos do Ministeacuterio a gente desenvolveu na escola vaacuterios
projetos que davam conta de educar para o meio ambiente (Gestora 7)
O que se constata eacute que as praacuteticas educativas sejam nas escolas sejam em grupos
sociais ainda se realizam predominantemente por meio de repasse de muitos conteuacutedos
muitas informaccedilotildees e o educador natildeo instiga os participantes a pensar sobre eles
Lembrando Rubem Alves que acredita na funccedilatildeo e papel do professor como
provocador de espanto e que para ensinar o professor deve estar tambeacutem numa posiccedilatildeo de
maravilhamento ele traz a origem do verbo grego Thaumatesen que significa maravilhar-se
Para os gregos o pensamento comeccedila a funcionar quando noacutes ficamos perplexos diante do
objeto porque a gente natildeo entende o objeto a gente quer ver o objeto a gente quer entender o
objeto e aiacute fica ali meio bestificado diante daquela coisa Neste momento a curiosidade estaacute
funcionando a inteligecircncia comeccedila a funcionar e a gente comeccedila a fazer perguntas (ALVES
2010)
As palavras deste educador satildeo reveladoras da grande defasagem e distacircncia entre os
processos pedagoacutegicos em funcionamento nas vaacuterias instacircncias da educaccedilatildeo seja formal ou
informal E se tratando de formaccedilatildeo para educaccedilatildeo ambiental em realidades quilombolas o
fosso parece ser maior e mais complexo
O quadro 11 traz um resumo das atividades realizadas com base na narrativa dos
entrevistados e do conteuacutedo do Subprograma
174
Quadro 11 - Temas trabalhados em oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Escolas
PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA
HORAacuteRIA
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo
institucional)
DESDOBRAMENTOS
(percepccedilatildeo de gestores )
educaccedilatildeo)
Coordenadores e
professores das
Escolas Municipais e
Estaduais em
Salgueiro (Sede zona
rural comunidades
quilombolas)
Segundo narrativas
- Impactos do projeto
da transposiccedilatildeo
- Patrimocircnio Puacuteblico
- Projeto Com vida
Segundo o
Suprograma
- Compreensatildeo do
Projeto de Integraccedilatildeo
do rio Satildeo Francisco e
o papel da Educaccedilatildeo
Ambiental na
Mitigaccedilatildeo de Impactos
-Construccedilatildeo do
Mapeamento
Ambiental
Participativo
-Formaccedilatildeo da
Comissatildeo de Meio
Ambiente e Qualidade
de Vida COM-VIDAs
-Projeto Poliacutetico
Pedagoacutegico (PPP) e a
construccedilatildeo da Agenda
Ambiental escolar
- 4 moacutedulos com
4 horas cada
Total de 16
horas
- Atividades
intermodulares
- Cadernos de Produccedilatildeo
Coletiva
-Conhecimento sobre o
Projeto da transposiccedilatildeo
- Professores aderiram
mas natildeo houve
acompanhamento para
implantar projeto nas
escolas
Fonte A autora a partir de informaccedilatildeo verbal de gestores (entrevistas 2013)
813 O Subprograma de educaccedilatildeo ambiental em sauacutede
Este Subprograma tem como objetivo
Desenvolver accedilotildees formativas junto aos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica visando agrave elevaccedilatildeo de seu conhecimento em
questotildees relacionadas agrave sauacutede coletiva para mitigaccedilatildeo prevenccedilatildeo e controle das
situaccedilotildees socioambientais potencialmente causadoras de agravos agrave sauacutede
decorrentes do empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo e implementaccedilatildeo de Planos
de Accedilatildeo (BRASIL 2010 p 148)
O puacuteblico envolvido com o Subprograma satildeo Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica em especial os que atuam nas localidades de intervenccedilatildeo
da Educaccedilatildeo Ambiental comunidades quilombolas beneficiadas pelo Programa 17
(Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas) Vilas Produtivas Rurais Programa 08
(Programa de Reassentamento de Populaccedilotildees) e localidades listadas no Programa 15
(Implantaccedilatildeo de Infra-estrutura e Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao longo dos
Canais) Os momentos de capacitaccedilatildeo pretendiam envolver no maacuteximo trinta participantes
175
por municiacutepio cujo treinamento presencial seria de oito horas Quanto agraves aacutereas quilombolas o
criteacuterio foi de envolver no miacutenimo um ACS e um Coordenador de Atenccedilatildeo Baacutesica das (ou que
atuam nas) Comunidades Quilombolas beneficiadas pelo PBA 17 (BRASIL 2010 p 148)
Como justificativa o Subprograma ressalta que
[] os Agentes comunitaacuterios de Sauacutede e os Coordenadores de Atenccedilatildeo Baacutesica satildeo
atores relevantes no processo de minimizaccedilatildeo dos impactos negativos na sauacutede
ambiental e humana decorrentes do PISF para isso eacute necessaacuterio elevar o
conhecimento desses profissionais sobre os temas relacionados agrave obra
sustentabilidade e qualidade de vida (BRASIL 2010 p 147)
A proposta para o trabalho foi construiacuteda com base no que apresentava o Relatoacuterio de
Impacto Ambiental o RIMA afirma um dos teacutecnicos da equipe responsaacutevel pela execuccedilatildeo do
Subprograma
Elas satildeo baseadas no proacuteprio Relatoacuterio de Impacto Ambiental- do RIMA no estudo
e no relatoacuterio Tanto o EIA quanto o RIMA identificaram impactos negativos do
projeto na aacuterea de sauacutede dos municiacutepios (Teacutecnico 3)
A metodologia do Subprograma previa como primeiro momento apresentar a
proposta agraves Secretarias de Sauacutede dos dezessetes municiacutepios envolvidos na Aacuterea Diretamente
Afetada- ADA do projeto da transposiccedilatildeo com intuito de aprovaccedilatildeo e ajustes necessaacuterios
bem como acordos quanto ao acompanhamento dos Planos de Accedilatildeo a serem estruturados
apoacutes a realizaccedilatildeo das oficinas
Segundo gestor da equipe teacutecnica da CMT esse momento foi cumprido junto agraves
Secretarias de sauacutede dos municiacutepios inseridos no Subprograma
Entatildeo de acordo com os temas sugeridos nesses dois programas noacutes fizemos assim
primeiro fomos nessas 17 secretarias municipais e aiacute conversamos com o gestor
municipal fizemos um breve diagnoacutestico de tudo que estava acontecendo nesses
municiacutepios com relaccedilatildeo a sauacutede puacuteblica A partir daiacute noacutes pegamos entatildeo o que
esse gestor falou sobre o assunto os temas propostos nesses dois programas e
fizemos essa metodologia de trabalho (Gestora 10)
A meta consistia em capacitar 49 dos Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede eou
Coordenadores da Atenccedilatildeo Baacutesica ateacute dois anos a partir da aprovaccedilatildeo da reestruturaccedilatildeo do
PBA 4 Natildeo temos informaccedilotildees para dimensionar o atendimento desta meta
A oficina de formaccedilatildeo para os profissionais da aacuterea de sauacutede ldquoteria como
desdobramento o desenvolvimento de accedilotildees preventivas e educativas em direccedilatildeo a melhoria
da qualidade de vida e que reduzam a pressatildeo sobre o sistema de sauacutede decorrente do
empreendimento atraveacutes da construccedilatildeo democraacutetica de Planos de Accedilatildeo Participativosrdquo
176
afirma documento do Subprograma (BRASIL 2010 p 147) As oficinas realizadas tiveram o
envolvimento tambeacutem de lideranccedilas comunitaacuterias aleacutem de profissionais da sauacutede com a
intenccedilatildeo de se tornarem multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede
[] Eram profissionais da sauacutede agentes ambientais agentes de sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias o pessoal da diretoria e da secretaria tambeacutem foram convidados A
princiacutepio foram mas depois desistiram no meio do caminho mas ficou a gente
ficaram os agentes de sauacutede os agentes ambientais e as lideranccedilas comunitaacuterias []
Das aacutereas quilombolas e das aacutereas natildeo quilombolas tambeacutem Das aacutereas comunitaacuterias
geral das comunidades que foram atingidas direta ou indiretamente na faixa do
canal e nas vilas (Lideranccedila 1)
Multiplicadores profissionais de sauacutede e essas lideranccedilas locais desses siacutetios
localizados proacuteximos aos canais e aos reservatoacuterios [] Formaccedilatildeo de
multiplicadores no caso da sauacutede multiplicadores em educaccedilatildeo em sauacutede [] Teve
mais funcionaacuterios de sauacutede a gente teve meacutedicos nas oficinas com uma participaccedilatildeo
muito incisiva mesmo um trabalho popular de educaccedilatildeo popular mesmo excelente
enfermeiros teacutecnicos em enfermagem fisioterapeuta dentistas fonoaudioacutelogos
gestores tambeacutem participaram funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede comuns ali natildeo
teacutecnicos mas funcionaacuterios da Secretaria de Sauacutede porque tambeacutem lidam com o
atendimento ao publico natildeo eacute Entatildeo a gente achou importante isso tambeacutem
mesmo ele sendo funcionaacuterio aacutes vezes de uma aacuterea mais burocraacutetica a gente achou
importante eles participarem tambeacutem Eles tambeacutem foram convidados neacute Entatildeo foi
um puacuteblico diversificado justamente com essas lideranccedilas (Teacutecnico 3)
O Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede tem interface direta com o
Programa de Monitoramento de Vetores e hospedeiros de doenccedilas - O PBA 20 e o Programa
de Controle de Sauacutede Puacuteblica O PBA 21 o qual iremos tecer algumas consideraccedilotildees
O Programa de Controle da Sauacutede Puacuteblica - o PBA 21 segundo documento oficial
apresenta como objetivo ldquoassegurar a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede das populaccedilotildees
beneficiadas pelo PISF garantindo o menor impacto negativo possiacutevel do Projeto nas
condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo vinculada ao empreendimentordquo (BRASIL 2012)
[] o Programa 21 como subprograma de educaccedilatildeo em comunidades ele estabelece
que a gente deve trabalhar alguns temas entatildeo satildeo vaacuterios temas De acordo com o
Projeto um projeto grande como esse nos documentos antigos ele estabelece bom
pra gente mitigar alguns desses provaacuteveis impactos noacutes temos que trabalhar com
esses temas por exemplo proliferaccedilatildeo de vetores de acidentes com animais
peccedilonhentos gravidez na adolescecircncia DSTAIDS violecircncia de gecircnero
principalmente doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas problema de saneamento baacutesico
(Gestora 10)
Um dos impactos do projeto da transposiccedilatildeo considerado positivo e relacionado
diretamente agrave sauacutede da populaccedilatildeo eacute identificado por entrevistada da Secretaria de Sauacutede Ela
aponta a detecccedilatildeo de agravos que passaram a ser tratados pelo serviccedilo de sauacutede a partir da
obrigatoriedade de exames admissionais para o trabalho nas obras do projeto Poreacutem
177
nenhuma parceria foi estabelecida com o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo como apoio aos Governos
Estadual e Municipal no tocante agrave assistecircncia prestada pelas Unidades Municipais e Estaduais
de Sauacutede
Uma coisa boa do Projeto que eacute assim com o emprego para pessoa entrar no
serviccedilo do Projeto praacute participar dele eles tecircm que fazer o exame cliacutenico antes da
admissatildeo e nessa admissatildeo foi detectado casos de VDRL positivos e a gente
certamente a gente acredita que natildeo fosse esse Projeto se natildeo fosse obrigatoacuterio
esses exames a pessoa natildeo iria fazer entatildeo com isso tanto foi detectado VDRL
HIV e tambeacutem o tratamento [] Acompanhados aqui no CTA existe aqui ao lado da
S Sauacutede que eacute o COAS Ele eacute regional e eacute feito tanto o teste raacutepido e se necessaacuterio
o outro Eacute feito o tratamento tambeacutem aqui [] Veja em relaccedilatildeo ao tratamento HIV
DRL ele eacute regional entatildeo esse Projeto natildeo entrou com essa parte financeira []
Entatildeo realmente houve o aumento de gravidez tambeacutem na adolescecircncia (Gestora 3)
Haacute tambeacutem o aumento na demanda para atendimento nas Unidades de Sauacutede e com as
Equipes de Sauacutede da Famiacutelia visto como consequecircncia direta do projeto da transposiccedilatildeo O
aumento da violecircncia pelas narrativas tambeacutem eacute atribuiacutedo agraves obras do projeto sendo
provocada principalmente por pessoas que natildeo satildeo do municiacutepio
[] Tambeacutem porque o fluxo ele eacute bastante como posso dizer tem aquele vai e
vem das pessoas Hoje existe uma equipe que taacute aqui passa um ano e de repente
aquela equipe jaacute muda e jaacute vem novas pessoas O fluxo aumentou bastante de
presenccedila de pessoas isso e de consumo tambeacutem O comeacutercio aumentou tambeacutem
aumentou tambeacutem a demanda tambeacutem nos PSF porque aumentou o fluxo
aumentou a gravidez aumentou as DST e com isso aumenta tambeacutem o fluxo na
Unidade de Sauacutede [] Aumento assim aumentou a violecircncia em Salgueiro []
Aumentou mas os casos que a gente ouve falar satildeo de pessoas de fora que
aproveitam o movimentaccedilatildeo porque tem muita gente de fora e as proacuteprias daqui
Realmente tem mais roubos assaltos mas normalmente satildeo as pessoas de fora
(Gestora 3)
As percepccedilotildees de Gestor e teacutecnico envolvidos com a execuccedilatildeo do Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede detalham o que foi considerado como Proposta Integrada de
Educaccedilatildeo em Sauacutede cuja interface se constroacutei natildeo apenas com o PBA 21 mas tambeacutem com o
Programa Baacutesico Ambiental de Comunicaccedilatildeo Social o PBA 3 assim como detalha o
desdobramento do trabalho poacutes-oficinas
Essas comunidades elas foram agrupadas no nosso Programa de Sauacutede entatildeo o
Programa de Educaccedilatildeo Ambiental e Sauacutede elaborou uma proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede que atendesse o puacuteblico da aacuterea de sauacutede agentes de sauacutede
agentes de endemias e demais profissionais de sauacutede e essas localidades do
Programa 15 que estatildeo agrave margem ali dos reservatoacuterios e dos canais Entatildeo o
Ministeacuterio achou que dava pra conciliar esse trabalho com o puacuteblico de sauacutede
convidando as lideranccedilas locais porque natildeo haveria tempo haacutebil praacute gente trabalhar
Satildeo mais de duzentas comunidades e natildeo haveria tempo haacutebil para se trabalhar
especificamente com essas comunidades e aiacute foi criada a proposta integrada de
educaccedilatildeo em sauacutede incluindo essas localidades mais de duzentas localidades e
trabalhamos com esse puacuteblico agora nas Oficinas de Sauacutede que inclusive se
encerraram a semana passada terminando dezessete municiacutepios (Teacutecnico 3)
178
[] Agora noacutes estamos trabalhando um programa que a gente chamou de Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo Ambiental envolvendo o Programa 21 que eacute o de sauacutede
puacuteblica o de educaccedilatildeo ambiental em comunidade e o Programa de Comunicaccedilatildeo
Social Esse programa visa basicamente formar multiplicadores pra trabalhar com
um novo enfoque na sauacutede educaccedilatildeo em sauacutede que noacutes chamamos [] Noacutes
estamos trabalhando em 17 municiacutepios com uma proposta de quatro oficinas em
cada um desses municiacutepios e ao final dessas oficinas noacutes vamos fazer o Seminaacuterio
Integrado de Educaccedilatildeo em Sauacutede Satildeo trecircs seminaacuterios um vai acontecer em
Cajazeiras um em Brejo e um aqui em Salgueiro envolvendo os vaacuterios profissionais
que participaram com a gente dessas capacitaccedilotildees (Gestora 10)
As temaacuteticas abordadas nas oficinas segundo lideranccedila quilombola foram amplas
com ecircnfase nos impactos provocados pelo projeto da transposiccedilatildeo
[] O curso ele trata sobre os impactos da obra tanto no aspecto de meio ambiente
quanto no aspecto da sauacutede das pessoas quanto no aumento vai tanto da questatildeo da
poeira ateacute a questatildeo do aumento de trabalhadores e a questatildeo de doenccedilas
sexualmente transmissiacuteveis (DST) de gravidez eacute muito amplo todos os impactos
assim que a obra possa taacute trazendo pra cidade na questatildeo tambeacutem de especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria (Lideranccedila 1)
Basicamente uma formaccedilatildeo de quatro moacutedulos dividido em quatro moacutedulos de oito
horas [] isso cada moacutedulo [] O primeiro moacutedulo a gente trabalhou de
proliferaccedilatildeo vetores e acidentes por animais peccedilonhentos o segundo moacutedulo
saneamento e doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedricas saneamento ambiental o terceiro
moacutedulo DST AIDS gravidez na adolescecircncia e prevenccedilatildeo agrave violecircncia e o quarto
moacutedulo a gente utilizou como um fechamento da agenda de prioridade que eacute um
documento que a gente criou ao longo dessas oficinas elaborado pelos proacuteprios
participantes [] (Teacutecnico 3)
O quadro 12 apresenta um resumo dos conteuacutedos trabalhados no Subprograma de
Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede com base na proposta oficial e relatos de entrevistados
Quadro 12 - Resumo da Programaccedilatildeo de Oficinas ndash Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede 2010 PUacuteBLICO
ENVOLVIDO
TEMAS
TRABALHADOS
CARGA HORAacuteRIA- PROCESSO DE
CULMINAcircNCIA DESDOBRAMENTOS
-Coordenadores de
atenccedilatildeo Baacutesica
-Agentes
Comunitaacuterios de
Sauacutede
-Agentes de sauacutede
ambiental
- Demais
profissionais de
sauacutede
-Lideranccedilas locais
4 MOacuteDULOS
- 1ordm Moacutedulo -
Proliferaccedilatildeo vetores e
acidentes por animais
peccedilonhentos
-2ordm Moacutedulo -
Saneamento
Ambiental e doenccedilas
de veiculaccedilatildeo hiacutedrica
- 3ordm Moacutedulo - DST
AIDS gravidez na
adolescecircncia e
prevenccedilatildeo agrave
violecircncia
- 4ordm Moacutedulo- Plano
de accedilatildeo - Agenda de
prioridade de
educaccedilatildeo em sauacutede
- 8 horas por moacutedulo
- Total de 32 horas
- 3 Seminaacuterios
Estaduais de
Educaccedilatildeo em
Sauacutede envolvendo
17 municiacutepios (08
em PE 04 na PB
e 05 no CE)
Seminaacuterio de
Pernambuco aconteceu no
municiacutepio de
Salgueiro em 200913
- Formar
multiplicadores de
educaccedilatildeo em sauacutede
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees verbais de gestores e teacutecnicos (entrevistas 2013)
179
A metodologia do trabalho consta de momentos de debate e reflexotildees teoacutericas
juntamente com momentos praacuteticos chamados de vivecircncias educativas onde eacute feita uma
dispersatildeo na aacuterea de trabalho fundamentando-se na Pedagogia da Alternacircncia relata gestora
da equipe da CMT
Uma coisa que foi muito interessante nesse trabalho eacute que assim noacutes temos entatildeo o
fasciacuteculo e ao final de cada um deles noacutes sugerimos vivecircncias educativas Entatildeo
noacutes fomos pra sala de aula passamos oito horas com esse grupo esse grupo tem a
parte conceitual e teoacuterica e depois esse grupo tem a parte praacutetica que satildeo as
vivecircncias educativas sugeridas e aiacute ele aprende com a gente a fazer essas vivencias
Depois ele vai pra comunidade ou pro seu posto de sauacutede onde ele atende e ai ele
replica essas vivencias educativas depois ele devolve pra gente esse resultado
Entatildeo noacutes chamamos de pedagogia da alternacircncia Noacutes temos um momento
praacuteticoteoacuterico temos um momento praacutetico e depois ele retorna pra gente
demonstrando o resultado lsquoolha noacutes fizemos essa vivecircncia educativa nessa
comunidade e nossos resultados satildeo essesrsquo (Gestora 10)
A pedagogia da alternacircncia teve sua origem na Franccedila entre agricultores insatisfeitos
com o sistema educacional de seu paiacutes que para eles natildeo atendia as especificidades de uma
Educaccedilatildeo para o meio rural Tal insatisfaccedilatildeo gerou um movimento em 1935 que levou ao
surgimento da Pedagogia da Alternacircncia (TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008)
A Pedagogia da Alternacircncia surgiu no Brasil em 1969 por meio da accedilatildeo do
Movimento de Educaccedilatildeo Promocional do Espiacuterito Santo (MEPES) o qual fundou as
entatildeo Escola Famiacutelia Rural de Alfredo Chaves Escola Famiacutelia Rural de Rio Novo
do Sul e Escola Famiacutelia Rural de Olivacircnia essa uacuteltima no municiacutepio de Anchieta O
objetivo primordial era atuar sobre os interesses do homem do campo
principalmente no que diz respeito agrave elevaccedilatildeo do seu niacutevel cultural social e
econocircmico (PESSOTTI 1978 apud TEIXEIRA BERNART GLADEMIR 2008 p
3)
Hoje no Brasil haacute diversas experiecircncias de educaccedilatildeo escolar que adotam o meacutetodo da
Pedagogia da Alternacircncia sendo conhecidas principalmente as desenvolvidas pelas Escolas
Famiacutelia Agriacutecola (EFAs) e pelas Casas Familiares Rurais (CFRs) afirma Teixeira et al
(2008) A terminologia adotada para se referir agraves instituiccedilotildees que praticam a alternacircncia
educativa no meio rural eacute Centros Familiares de Formaccedilatildeo por Alternacircncia (CEFFAs)
A Pedagogia da Alternacircncia vem sendo utilizada haacute quase 40 anos no Brasil e haacute 243
CEFFAs (UNEFAB 2007 apud TEIXEIRA et al 2008) em atividade em todas as regiotildees e
em quase a totalidade dos estados brasileiros mas curiosamente natildeo existe nos estados de
Alagoas Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte (TEIXEIRA et al 2008) aacuterea de
intervenccedilatildeo direta do projeto da transposiccedilatildeo Mas mesmo com esse nuacutemero de instituiccedilotildees
envolvidas com a Pedagogia da Alternacircncia e significativo nuacutemero de educadores e
educadoras que a adotam ldquoessa proposta pedagoacutegica ainda eacute discutida com pouca ecircnfase no
180
meio acadecircmico e nos oacutergatildeos teacutecnicos e oficiaisrdquo (ESTEVAM 2003 apud TEIXEIRA
BERNART GLADEMIR 2008 p 3)
Segundo narrativa de lideranccedila quilombola e integrante da equipe de sauacutede no
municiacutepio a estrutura do curso teve conteuacutedos teoacutericos amplos e momentos praacuteticos
permitindo aproximaccedilatildeo com a realidade como preconiza a Pedagogia da Alternacircncia A
linguagem acessiacutevel do instrutor eacute outro aspecto positivo ressaltado que possibilitou uma
efetiva comunicaccedilatildeo com os participantes
[] Eacute amplo o curso eacute um curso muito bom pra gente porque foi um curso
continuo era muito amplo os temas mas foi um curso continuo onde a gente eram
exposto ali ele expunha os iacutendices os dados tudo mas a gente tirava muitas
duacutevidas conversava bastante conseguiu assimilar muita coisa ateacute porque vou
voltar a falar da linguagem a gente conseguia entender o que eacute que Leacuteo estava
falando [] e a gente foi pra campo tambeacutem entatildeo a gente ia pra campo agraves vezes eu
acompanhava outras vezes eu natildeo podia acompanhar a gente ia pra campo mas
como vivecircncia do que a gente tinha visto na sala de aula e aiacute a gente aprendia na
sala de aula e ia pra vivencia aprendia mais voltava ele orientava tudo direitinho
entatildeo foi muito proveitoso (Lideranccedila 1)
[] Satildeo praacuteticas de atividades intermodulares que eles realizaram entre um moacutedulo
e outro no vieacutes da educaccedilatildeo em sauacutede em comunidades prioritaacuterias seja urbana ou
rural mas comunidades prioritaacuterias dentro do enfoque deles natildeo tem como a gente
chegar olha tal comunidade eacute prioritaacuteria tem que trabalhar Entatildeo a gente ouvia
isso deles e aiacute eles tem essa liberdade de fazer onde quisessem de realizar onde
quisessem e ai vai ter apresentaccedilatildeo dessas vivecircncias e as agendas vatildeo estar laacute
exposta em cada stand de cada municiacutepio (Teacutecnico 3)
Como material didaacutetico houve o apoio de cinco cartilhas que compotildeem a ldquoColeccedilatildeo
de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquotratando dos seguintes temas Efeitos danosos dos Agrotoacutexicos
Saneamento Ambiental e Doenccedilas Relacionadas a aacutegua Proliferaccedilatildeo de vetores e Acidentes
com Animais Peccedilonhentos Prevenccedilatildeo agrave Violecircncia e Gravidez na Adolescecircncia Doenccedilas
Sexualmente Transmissiacuteveis e Aids (Figura 18)
Figura 18 - Cartilhas ldquo Coleccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo - PBA 4- Projeto da transposiccedilatildeo
Fonte A autora 2013
181
Mas um aspecto nos chama atenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao material didaacutetico utilizado o
mesmo foi elaborado pelo Ministeacuterio da Integraccedilatildeo - PISF e equipe de Comunicaccedilatildeo e
Educaccedilatildeo Ambiental da CMT Engenharia e natildeo contou com o envolvimento nem a
colaboraccedilatildeo das Secretarias Estadual e Municipal de Sauacutede dos estados nem de lideranccedilas e
ou grupos sociais locais o que eacute questionaacutevel ao tratar-se de uma abordagem de Educaccedilatildeo em
Sauacutede dialoacutegica
[] E o material que noacutes usamos foi o material que foi feito aqui pela equipe de
educaccedilatildeo ambiental e noacutes chamamos de coleccedilatildeo de educaccedilatildeo em sauacutede Satildeo cinco
fasciacuteculos trabalhando exatamente com esses temas (Gestor 10)
Questionamos a pertinecircncia e coerecircncia de um mesmo material didaacutetico ser destinado
a ao debate teoacuterico e estiacutemulo de vivecircncias educativas tanto para populaccedilotildees tradicionais
quilombolas indiacutegenas trabalhadores rurais como para moradores da zona urbana desses
municiacutepios Seraacute que a realidade em relaccedilatildeo aos assuntos abordados eacute a mesma para 17
municiacutepios em 3 estados diferentes do nordeste Como foram tratadas as particularidades
culturais e linguumliacutesticas destas populaccedilotildees em relaccedilatildeo a cada tema
Este eacute um aspecto a ser contextualizado quando se trata de uma praacutetica de educaccedilatildeo
em sauacutede numa perspectiva participante e problematizadora O trabalho de Educaccedilatildeo em
Sauacutede nesta perspectiva deveria privilegiar desde o primeiro momento o envolvimento dos
atores Esse envolvimento fortalece a comunicaccedilatildeo dialoacutegica a construccedilatildeo conjunta de
conteuacutedos e conhecimentos com abordagens mais proacuteximas da realidade das populaccedilotildees
permitindo uma formaccedilatildeo para a autonomia
Ressaltamos a lei nordm 116452008 que traz como obrigatoriedade para o curriacuteculo
oficial da Rede de Ensino a temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-brasileira e Indiacutegenardquo como
forma de fortalecer o conhecimento sobre estas populaccedilotildees suas tradiccedilotildees lutas conquistas e
direitos Qualquer material didaacutetico entatildeo deve respeitar esta particularidade (BRASIL 2008)
E concordando com o pensamento de Barbero (2008 p 11) ldquoO desafio fundamental
das poliacuteticas puacuteblicas eacute a heterogeneidade do puacuteblico em termos de sociedade portanto em
relaccedilatildeo a culturas sejam estas eacutetnicas de gecircnero de idade ou de sauacutederdquo
Durante a realizaccedilatildeo das oficinas foram elencadas prioridades e construiacuteda uma
agenda tida como diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados A ldquoagenda de prioridadesrdquo compocircs um Plano de Accedilatildeo entregue ao gestor
municipal
182
[] Uma agenda nos moldes de um plano de accedilatildeo mas eacute uma agenda de prioridade
de educaccedilatildeo em sauacutede o que eacute que pode ser feito o que eacute que vem sendo feito mas
que pode ser potencializado o que existe enquanto poliacutetica institucional mas nunca
saiu do papel [] (Teacutecnico 3)
Entatildeo foi um trabalho muito rico [] Entatildeo no dia do seminaacuterio que vai ser o
resultado final a culminacircncia de todo esse processo o gestor municipal ele vai
receber essa agenda de prioridade que eacute um documento extremamente importante
para um gestor puacuteblico um documento estrateacutegico mesmo de planejamento
estrateacutegico e essa agenda foi construiacuteda com as pessoas que trabalham com as
lideranccedilas comunitaacuterias que ficaram conosco nesse processo de capacitaccedilatildeo e agora
noacutes estamos jaacute finalizando e jaacute recebemos algumas delas (Gestor 10)
A realizaccedilatildeo de um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo em Sauacutede foi considerado o
momento de ldquocoroamentordquo do trabalho quando os municiacutepios expotildeem as vivecircncias
educativas realizadas com a comunidade
[] vai ter esse seminaacuterio final agora natildeo me recordo a data tambeacutem mas vai ser soacute
o seminaacuterio final onde a gente vai apresentar as vivencias e vai ver as outras
pessoas tambeacutem de outros municiacutepios que tambeacutem que tiveram esses momentos
para ser uma troca de experiecircncia mesmo para fechar os momentos todos que foram
vividos mas foi muito interessante porque eacute uma reflexatildeo a gente fez uma reflexatildeo
de todos os impactos da obra Tem coisas que a gente jaacute sabia jaacute tava vendo jaacute tava
sentindo de impacto e tinha coisas que a gente nem pensou que impactou esse lado
tambeacutem ( Lideranccedila 1)
[] E agora como culminacircncia a gente vai ter um Seminaacuterio Estadual de Educaccedilatildeo
em Sauacutede entatildeo com oito municiacutepios aqui de Pernambuco cinco municiacutepios do
Cearaacute e quatro municiacutepios da Paraiacuteba totalizando os 17 municiacutepios que a gente
trabalha [] Vatildeo estar exposto em banner de cada municiacutepio Cada municiacutepio vai ter
seu stand com fotos que a gente chamou vivecircncias educativas [] Como a gente
queria a participaccedilatildeo da Secretaria Estadual da Sauacutede a gente reelaborou a proposta
do seminaacuterio pra trecircs seminaacuterios estaduais um em Pernambuco um no Cearaacute e um
na Paraiacuteba ou talvez na mesma semana [] Pernambuco vai ser 20 de setembro aqui
em Salgueiro na Paraiacuteba dia 17 de setembro na Cajazeiras e no Cearaacute de 18 de
setembro em Brejo Santo (Teacutecnico 3)
No Seminaacuterio ocorrido em Pernambuco (setembro de 2013) foi elaborado um
documento geral - ldquoDocumento Siacutentese das Agendas de prioridades dos municiacutepios
contemplados pelo PISF em Pernambucordquo - referente aos 8 municiacutepios envolvidos E por
municiacutepio foi elaborado documento especiacutefico que para Salgueiro foi intitulado ldquoAgenda de
Prioridade de Educaccedilatildeo em Sauacutede do municiacutepio de Salgueirordquo (Anexos B e C)
Ao avaliar os dois documentos identificamos interseccedilotildees entre as prioridades
elencadas que relacionamos no quadro 13
183
Quadro 13 - Resumo das Diretrizes construiacutedas pelo Subprograma de Educaccedilatildeo Ambiental em Sauacutede ndash
Setembro2013 PONTOS ESPECIacuteFICOS DO
DOCUMENTO DE
SALGUEIRO
PONTOS COMUNS
(Interseccedilatildeo entre documento
geral e o de Salgueiro)
PONTOS ESPECIacuteFICOS NO
DOCUMENTO GERAL
(8 municiacutepios de Pernambuco)
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves
Unidades de Sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da
campanha de cacircncer de mama
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Campanha de prevenccedilatildeo agrave
leishmaniose e raiva humana
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de
resiacuteduos soacutelidos
Campanha de prevenccedilatildeo aos
diversos tipos de violecircncia e accedilotildees
de fiscalizaccedilatildeo e fortalecimento das
poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo
agrave sauacutede do homem
Campanhas educativas sobre
animais peccedilonhentos a partir da
realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras
instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes
para accedilotildees voltadas agrave educaccedilatildeo em
sauacutede
Melhores condiccedilotildees de trabalho e
investimento na formaccedilatildeo dos
Agentes Comunitaacuterios de Sauacutede e
Agentes de Endemias
Realizaccedilatildeo de campanhas e
palestras sobre defensivos agriacutecolas
direcionadas aos agricultores com
enfoque na utilizaccedilatildeo de
equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo
agrave praacutetica da agricultura orgacircnica e
destinaccedilatildeo correta das embalagens
destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
municipais em saneamento baacutesico e
manutenccedilatildeo adequada da rede
existente
Fonte A autora a partir de adaptaccedilatildeo de documentos disponibilizados por teacutecnico da CMT 2013
Dentre os pontos em comum a questatildeo dos resiacuteduos soacutelidos aparece como preocupaccedilatildeo
recente e objeto de atenccedilatildeo pela Prefeitura Municipal de Salgueiro juntamente com outros
municiacutepios da regiatildeo Em abril deste ano 22 municiacutepios dentre eles Salgueiro se reuniram
para elaboraccedilatildeo do Plano Integrado de Resiacuteduos Soacutelidos uma exigecircncia da Lei nordm 12305
aprovada desde 201024
O evento contou com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Estado e foi estipulado o prazo ateacute agosto2014 para os municiacutepios
concluiacuterem seus Planos que eacute o primeiro na lista dos instrumentos da Poliacutetica Nacional de
Resiacuteduos Soacutelidos (BRASIL 2010 SALGUEIRO 2014)
As providecircncias que comeccedilam a ser adotadas quatro anos depois de instituiacuteda a Poliacutetica
Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos eacute fruto tambeacutem da pressatildeo feita pelo Ministeacuterio Puacuteblico que
em todo estado de Pernambuco vem realizando audiecircncias puacuteblicas para sensibilizar a
sociedade em geral quanto a medidas concretas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos
soacutelidos (SALGUEIRO 2014)
Ressaltamos que esta temaacutetica aparece nas aacutereas quilombolas do estudo como um
problema grave e comum a todas pois natildeo haacute coleta de lixo e a praacutetica usual da populaccedilatildeo eacute
de queima e destino dos resiacuteduos soacutelidos ao relento
24
Lei 12305 de 02 de agosto de 2010 - Institui a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos Em seu artigo 6ordm estatildeo
os princiacutepios da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos soacutelidos I- a prevenccedilatildeo e a precauccedilatildeo II -o poluidor-pagador e
o protetor-recebedor III - visatildeo sistecircmica na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos que considere as variaacuteveis
ambiental social cultural econocircmica tecnoloacutegica e de sauacutede puacuteblica IV - e o desenvolvimento sustentaacutevel
184
De maneira geral a percepccedilatildeo sobre as oficinas eacute controversa
a) Permitiu reflexotildees sobre o projeto da transposiccedilatildeo seus impactos negativos e o que
pode ser feito para minimizaacute-los poreacutem a partir de uma postura individual Mas
iniciativas individuais por si soacute revertem neutralizam o que jaacute se apresenta como
ferida
[] e aiacute esse curso foi bom porque a gente pode conhecer outras coisas outros
impactos tambeacutem e pode refletir a respeito disso e pode pensar tambeacutem de que
forma que a gente pode estar agindo pra estaacute diminuindo esse impacto e natildeo se
colocar na posiccedilatildeo de hoje estou sendo impactada estou sendo viacutetima e aiacute natildeo se
colocar na posiccedilatildeo tambeacutem do que eacute que eu posso fazer para diminuir esse impacto
pra conseguir conviver com isso e viver com uma certa qualidade de
vida (Lideranccedila 1)
b) Capacitaccedilotildees que natildeo atingem a populaccedilatildeo
Capacitando as pessoas neacute em relaccedilatildeo agrave valorizaccedilatildeo do meio ambiente e tambeacutem
essa de sauacutede eacute com prevenccedilatildeo agrave sauacutede e aiacute eacute mais com lideranccedilas com agentes
comunitaacuterios de sauacutede mas eacute pouco natildeo atinge a populaccedilatildeo neacute ainda eacute pouco
(Gestora 4)
c) Mas tambeacutem uma accedilatildeo que ensinou muitas coisas sem ficar claro exatamente o quecirc
e para quecirc
Eu achei muito importante para a comunidade que a gente aprendeu vaacuterias coisas
(Grupo Focal 1)
E quanto ao Programa de Educaccedilatildeo Ambiental em seu conjunto seraacute que a sua
implementaccedilatildeo pode ser desvinculada das obras do projeto da transposiccedilatildeo Uma proposta
teacutecnica bem fundamentada e a aquisiccedilatildeo de conhecimentos por alguns segmentos da
populaccedilatildeo por si soacute garantem qualidade de vida e mudanccedila nos impactos e feridas
provocadas pelas obras Haacute gestor que acredita que sim
O Programa de Educaccedilatildeo Ambiental ele acontece independentemente da parte fiacutesica
da obra [] A parte fiacutesica tem vaacuterios programas para atender essa demanda enorme
essas vaacuterias questotildees que surgem neacute O que a gente percebe na parte de educaccedilatildeo
ambiental independente da questatildeo polecircmica ou natildeo da parte fiacutesica da obra as
pessoas gostam muito e o resultado hoje assim olhando eacute um resultado muito
positivo porque capacitamos muitas pessoas a cada dia que passa Entatildeo o programa
de educaccedilatildeo a equipe de educaccedilatildeo ela tem muita credibilidade em todos esses
puacuteblicos que ela permeou aiacute durante todo esse processo [] eacute uma avaliaccedilatildeo muito
positiva que eu faccedilo porque vocecirc daacute possibilidade da pessoa observar da pessoa
pensar e aprender coisas e eacute uma troca mesmo neacute Vocecirc estaacute sempre construindo
com o outro entatildeo eu acho que eu vejo a assim O projeto eacute beliacutessimo O Programa
de Educaccedilatildeo Ambiental ele eacute extremamente pensado e bem feito ele eacute apaixonante
185
entatildeo e isso a gente conseguiu transmitir para as pessoas que estaacute com a gente
nessas capacitaccedilotildees Entatildeo eu acho que o resultado eacute muito bom (Gestora 10)
A valorizaccedilatildeo dada ao formato da proposta ao teacutecnico ao que foi obtido como meta
institucional estaacute embutida na criacutetica feita por Lima (2004) ao apontar o tecnicismo como
um dos aspectos que reduz o campo da Educaccedilatildeo Ambiental com se fora homogecircneo e
consensual
O tecnicismo [] destaca e prioriza os aspectos teacutecnicos da questatildeo ambiental
encontrando nessa dimensatildeo tecnocientiacutefica as explicaccedilotildees e soluccedilotildees aos problemas
socioambientaisEssa leitura da realidade por se apoiar no saber da ciecircncia que eacute
reconhecido como o saber socialmente dominante se reveste de um poder especial e
aparece como argumento neutro objetivo e portador de uma autoridade que o
imuniza a qualquer questionamento (LIMA G 2004 p 87)
Mas haacute um outro entendimento que mostra como a praacutetica de educaccedilatildeo ambiental
poderia ser desenvolvida em aacutereas quilombolas construiacuteda a partir de poliacuteticas integradas
transversais em todas as aacutereas da gestatildeo de governo
[] Entatildeo se ele se aproximasse para dialogar praacute conseguir entender para criar
suas linhas a partir do entendimento para tirar os projetos a partir do entendimento
acho que ia funcionar melhor e natildeo a partir do entendimento que eles tem baseado
em livros ou baseados em outras comunidades normais que natildeo satildeo quilombolas
que natildeo tem a vivencia que a gente tem que natildeo tem a visatildeo de mundo que a gente
tem (Lideranccedila 1)
[] que se fizesse essa integraccedilatildeo essa volta que acho que a gente teve um
momento da gente andar junto mas agora perdeu de comeccedilar a discutir isso de
forma mais integrada Natildeo pode ser soacute educaccedilatildeo e sauacutede O Projeto eacute muito maior
passa por todas as secretarias Tem hora que o projeto vem como soacute fosse sauacutede e
educaccedilatildeo e a gente sabe que nenhum projeto mais eacute de duas Secretarias Eacute de
governo eacute de vestir a camisa Eacute aquela coisa da intersetorialidade Acho que o
projeto tinha que vir definindo em todas as secretarias qual eacute o papel de cada um
Eu acho que essa tem que ser a loacutegica entendeu No mais vamos esperar mais
felicidade pra Salgueiro mais desenvolvimento e o povo melhor
tambeacutem (Gestora 7)
Como consideraccedilatildeo geral avaliamos que o Programa Baacutesico de Educaccedilatildeo Ambiental
carrega conteuacutedos que permeiam as aacutereas de educaccedilatildeo ambiente e sauacutede
Se queremos compreender o impacto da atividade humana sobre o ambiente e sobre
a sauacutede eacute necessaacuterio criar estrateacutegias especiacuteficas que a partir de conhecimentos
disciplinares e praacuteticas setoriais caminhem para uma abordagem
transdisciplinar (MINAYO 2002 p 175)
Para os sujeitos entrevistados essas abordagens transitam entre uma relaccedilatildeo direta e
necessaacuteria mas tambeacutem como o desafio de uma teia em construccedilatildeo Haacute uma compreensatildeo
186
de que caminham juntas quando o ser humano eacute considerado parte do ambiente estando
imbricadas as partes e o todo
Vida em harmonia com o ambiente rarr ambiente saudaacutevel rarr pessoa saudaacutevelrarr
inserida num ambiente saudaacutevel
[] Entatildeocaminham juntas eu acho que caminham juntas porque se vocecirc consegue
viver em harmonia com o ambiente que vocecirc vive vocecirc vai ter sauacutede Se vocecirc
consegue viver em harmonia com o ambiente vai ser um ambiente saudaacutevel e em
consequecircncia disso vocecirc vai ser uma pessoa saudaacutevel que estaacute inserida nesse
ambiente Entatildeo satildeo trecircs coisas que caminham juntinho educaccedilatildeo a sauacutede
ambiental e educaccedilatildeo ambiental (Lideranccedila 1)
[] Acho que todas satildeo uma ligadas uma com a outra Se a gente natildeo tem ambiente
a gente natildeo tem a sauacutede a gente natildeo tem educaccedilatildeo Pra tudo isso precisa de uma
forma do povo ter o conhecimento e o povo ainda natildeo tem o conhecimento mas eu
acho que todas essas coisas satildeo ligadas uma com a outra e a gente tem alguma
coisa jaacute tem natildeo eacute do zero que a gente tem (Lideranccedila 2)
Haacute uma compreensatildeo de meio ambiente como tudo que nos relacionamos referindo-se
tambeacutem ao ambiente construiacutedo e ao ambiente invisiacutevel
Em relaccedilatildeo ao meio ambiente eu acho que o ambiente eacute tudo que a gente estaacute se
relacionando satildeo as pessoas satildeo as casas eacute o rio satildeo as aacutervores Tudo o que eu
tenho que me relacionar pra poder conviver neacute E hoje tambeacutem tem um ambiente
construiacutedo um ambiente natural tudo eacute ambiente principalmente o ambiente que
tambeacutem natildeo eacute visiacutevel que eacute o ambiente das relaccedilotildees da convivecircncia e tudo isso
interfere na nossa qualidade de vida (Gestora 8)
A ideia de construccedilatildeo de ldquoteiardquo entre educaccedilatildeo ambiente e sauacutede nos remete ao que
afirma Minayo (2002 p 175) quando diz
A busca por aprofundar conceitos no encontro das aacutereas de sauacutede e ambiente eacute
crucial pois quando uma definiccedilatildeo das relaccedilotildees entre elas se produz sua
decodificaccedilatildeo na praacutetica tem consequecircncias reais tanto para a natureza quanto para
a populaccedilatildeo viva que a habita sejam vegetais animais ou gente
Haacute relatos com visotildees e percepccedilotildees de entrevistados sobre educaccedilatildeo ambiental e
educaccedilatildeo em sauacutede que permeadas por uma
Quanto agrave Educaccedilatildeo ambiental sujeitos do estudo a compreendem como
[] A forma da gente viver que agente tenta cada vez se harmonizar mais com a
natureza cada vez viver impactando menos a natureza eles satildeo educados e uma
forma disso eacute quando eles reconhecem que o ser humano ele natildeo foi educado com a
questatildeo do desmatamento que houve laacute o incomodo que eles tiveram o relato que a
gente tem de pessoas que sentiram o cheiro de aacutervores que foram desmatadas A
questatildeo das umburanas quem tinha laacute [] Quando eles veem os animais da caatinga
nos terreiros os animais da caatinga de forma geral nos terreiros eles olham e
conseguem perceber que o animal fica triste que o animal perdeu o habitat lsquoah esse
187
bichinho taacute perdido coitado natildeo tem mais pra onde ir vai ter que achar outro localrsquo
Entatildeo quando eles se incomodam com isso eacute uma educaccedilatildeo que eles tecircm [] Natildeo
precisou eles irem pra Faculdade natildeo precisou eles irem pra escola nenhuma pra
eles terem essa sensibilidade e aiacute Entatildeo educaccedilatildeo ambiental pra mim eacute isso eacute o
respeito aacute natureza eacute essa forma de aprender a conviver em harmonia com a
natureza que as pessoas de Santana jaacute tinham haacute muito tempo (Lideranccedila 1)
[] Olha eu acho que eacute mais do que necessaacuterio a Educaccedilatildeo Ambiental natildeo como
tema como tema da moda que vai passar Mas o meio ambiente hoje noacutes estamos
vivendo uma situaccedilatildeo de fenocircmeno tanto de seca como de enchente que se a
populaccedilatildeo tivesse se dado conta haacute mais tempo de que esse meio ambiente noacutes
estamos nele e somos parte dele e precisamos contribuir para que ele cada vez mais
esteja conservado para noacutes usufruir e os futuros moradores usufruiacuterem dele []
Agora eacute mais do que urgente a gente adotar essa EA como meacutetodo e como obrigaccedilatildeo
de governo mesmo tanto municipal estadual e federal para que a populaccedilatildeo possa
aprender a conviver melhor no meio ambiente Natildeo eacute com para o meio ambiente
mas que a gente possa conviver melhor como meio ambiente porque noacutes tambeacutem
somos parte desse meio ambiente (Lideranccedila 3)
A Educaccedilatildeo ambiental tratada como maneira de viver em harmonia com a natureza
sem destruiccedilatildeo uma ligaccedilatildeo estreita de ldquoempatia com a fauna e florardquo que provoca
incocircmodo e tristeza com os impactos gerados pelas obras do canal no territoacuterio
[] Acho que tem toda uma relaccedilatildeo natildeo eacute Natildeo daacute para trabalhar com gente sem
falar na relaccedilatildeo dessa gente com ele mesmo Porque ele faz parte tambeacutem do
ambiente natildeo estaacute fora dele Eu acho que tem tudo a ver Agora a gente precisa
avanccedilar mais nisso a gente ainda tem uma educaccedilatildeo ambiental muito ainda limitada
que eacute mais assim conteuacutedo e ciecircncia mas o conteuacutedo livre natildeo que eduque para o
meio ambiente [] Acho que o campo eacute muito mais fortalecido com isso do que a
cidade Em algumas aacutereas da cidade a gente taacute tirando alguns encaminhamentos por
exemplo o lixo eacute um objeto de estudo (Gestora 7)
Essas percepccedilotildees se aproximam da abordagem da Ecopedagogia quando em sua
compreensatildeo sobre a natureza trata-a com ldquo[] um todo dinacircmico relacional harmocircnico e
auto-organizado em interaccedilatildeo com as relaccedilotildees que se estabelecem na sociedaderdquo (AVANZI
2004)
Mas a ldquourgecircnciardquo referida por lideranccedila quilombola para que ldquogovernos adotem essa
educaccedilatildeo ambiental como meacutetodo e obrigaccedilatildeordquo precisa ser vista com ressalvas para natildeo
derivar ao que eacute chamado pela Ecopedagogia como ldquoambientalismo superficialrdquo
Enquanto o ambientalismo superficial apenas se interessa por um controle e gestatildeo
mais eficazes do ambiente natural em benefiacutecio do lsquohomemrsquo o movimento de
ecologia fundamentada na eacutetica reconhece que o equiliacutebrio ecoloacutegico exige uma
seacuterie de mudanccedilas profundas em nossa percepccedilatildeo do papel que deve desempenhar o
ser humano no ecossistema planetaacuterio (GUTIEacuteRREZ PRADO 2000 apud
AVANZI 2004 p 40)
Essa abordagem tece uma criacutetica agraves praacuteticas de educaccedilatildeo ambiental que muitas vezes
se fundamentam numa concepccedilatildeo de ambiente afastada das questotildees sociais
188
A educaccedilatildeo Ambiental muitas vezes limitou-se ao ambiente externo
sem se confrontar com os valores sociais com os outros com a
solidariedade natildeo pondo em questatildeo a politicidade da educaccedilatildeo e do
conhecimento (GADOTTI 2000 apud AVANZI 2004 p 40)
Quanto agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede chama nossa atenccedilatildeo a percepccedilatildeo de ser considerada
como a base de um trabalho de promoccedilatildeo em sauacutede mas restrito ao natildeo adoecer Uma
menccedilatildeo em atitudes individuais com foco comportamental mesmo trazendo a questatildeo da
promoccedilatildeo
Eu acho que eacute a base a educaccedilatildeo em sauacutede Hoje muitas vezes a gente natildeo
consegue trabalhar a promoccedilatildeo em sauacutede fica mais na parte mais curativa mas a
gente tem que resgatar a educaccedilatildeo sem sauacutede porque a gente tem que fazer com que
as pessoas natildeo adoeccedilam A gente tem que fazer com que as pessoas que a gente
consiga fazer realmente a prevenccedilatildeo que a gente consiga fazer a promoccedilatildeo em
sauacutede que a gente consiga diminuir esses iacutendices de gravidez na adolescecircncia com a
conscientizaccedilatildeo (Gestora 3)
Educaccedilatildeo em Sauacutede como trabalho de construccedilatildeo de transformaccedilatildeo do olhar da
realidade e de uma nova atitude Mas tambeacutem como uma aacuterea que precisa ser trabalhada
tecnicamente respeitando todas as etapas de um planejamento
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em sauacutede eu acho que tambeacutem ela tem que ter um
percurso e tem que ser planejado eu tenho que negociar conteuacutedo eu tenho que
planejar etapas para trabalhar no processo porque tambeacutem natildeo adianta eu acreditar
ter um ideal se eu natildeo botar o peacute no chatildeo e traccedilar estrateacutegias fazer o caminho Isso
eu acho importante tambeacutem que eu aprendi (Gestora 8)
Ao referir-me ao campo da Educaccedilatildeo Ambiental e da Educaccedilatildeo em Sauacutede natildeo poderia
deixar de mencionar a ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambientalrdquo instituiacuteda pela Funasa a partir de
2010 cujas consideraccedilotildees constam no referencial teoacuterico desta dissertaccedilatildeo
Na percepccedilatildeo de uma entrevistada haacute clareza do processo embrionaacuterio na construccedilatildeo
conceitual desta abordagem
[] Porque educaccedilatildeo em sauacutede ambiental eacute uma concepccedilatildeo recente Eacute estaacute em
construccedilatildeo Na verdade a gente natildeo tem essa visatildeo ainda mais estaacutevel
natildeo (Gestora 8)
Em levantamento documental de trabalhos com esta temaacutetica encontramos apenas um
artigo intitulado ldquoEducaccedilatildeo em Sauacutede Ambiental Estrateacutegia de intervenccedilatildeo sobre os riscos e
exposiccedilatildeo a agrotoacutexicos na comunidade de Matotildees- Caucaia-CErdquo de autoria de Leonardo
Guilbert Cavalcante Arauacutejo como conclusatildeo do curso de especializaccedilatildeo em Vigilacircncia em
Sauacutede Ambiental da Escola de Sauacutede Puacuteblica de CEARAacute - ESP em 2010 que na verdade
189
tem como objeto de estudo a sauacutede ambiental e um dos seus objetivos especiacuteficos apresenta a
intenccedilatildeo de desencadear accedilotildees educativas em sauacutede ambiental
Estas consideraccedilotildees satildeo na verdade para sinalizar que os eixos de atuaccedilatildeo da aacuterea de
ldquoEducaccedilatildeo em sauacutede ambientalrdquo carregam saberes que perpassam pela sauacutede ambiental pela
educaccedilatildeo ambiental educaccedilatildeo em sauacutede e outros saberes das ciecircncias sociais que necessitam
estar articulados de forma transdisciplinar Nos parece que haacute necessidade de uma maior
apropriaccedilatildeo e aprofundamento quanto as concepccedilotildees que fundamentam tais saberes
O desafio eacute construir uma compreensatildeo criacutetica e holiacutestica que promova uma praacutetica
comprometida com a realidade de populaccedilotildees quilombolas indiacutegenas assentadas etc com
respeito a suas diferenccedilas mas que principalmente as envolva no processo de planejamento de
accedilotildees e projetos que impactam significativamente em suas vidas e territoacuterios
82 O PROGRAMA DE APOIO AgraveS COMUNIDADES QUILOMBOLAS ndash O PBA 17
O Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas ndash ou PBA 17 eacute um dos 38
Programas Baacutesicos Ambientais do PISF estruturado para ldquominimizar os impactos
socioambientais negativosrdquo preliminarmente apontados nos Estudos Ambientais realizados
pelo empreendimento sendo classificado como um Programa Compensatoacuterio O PBA 17 tem
interface com outros 5 Programas Ambientais dentre eles o PBA 4 objeto de avaliaccedilatildeo desta
dissertaccedilatildeo
A justificativa para realizaccedilatildeo do PBA 17 se fundamenta no argumento de que
A composiccedilatildeo do territoacuterio rural brasileiro eacute extremamente diversificada e
compreende uma seacuterie de categorias sociais distintas agraves quais estatildeo atrelados
tambeacutem direitos diferenciados ao contraacuterio do que se supunha no passado quando
da elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Ao contemplar essa diversidade eacute de extrema
importacircncia que os direitos baacutesicos dessas parcelas da populaccedilatildeo brasileira sejam
plenamente atendidos [] (BRASIL 2005 p 3)
O Programa eacute constituiacutedo por dois subprogramas o de Regularizaccedilatildeo das Terras
Quilombolas e o de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas Nossa avaliaccedilatildeo eacute
voltada ao Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas haja visto que
questotildees referentes agrave Regularizaccedilatildeo das Terras Quilombolas foram abordadas no capiacutetulo 6
O objetivo do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas eacute
ldquoPromover o desenvolvimento destas comunidades atraveacutes da implantaccedilatildeo de infra-estrutura
de saneamento baacutesico educaccedilatildeo sauacutede transportes etcrdquo afirma documento (BRASIL 2005
p 4)
190
A populaccedilatildeo que o PBA 17 abrange envolve 13 comunidades quilombolas em
Pernambuco num total de 1280 famiacutelias sendo 9 comunidades quilombolas situadas em
Mirandiba (Araccedilaacute Caruru Feijatildeo Januaacuterio Juazeiro Grande Pedra Branca Serra do
Talhado Serra Verde e Queimadas) Uma em FlorestaCarnaubeira da Penha (Massapecirc) e 3
em Salgueiro - Conceiccedilatildeo das Crioulas Santana e Contendas (BRASIL 2005 p 6)
Quanto agrave metodologia do Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades
Quilombolas eacute apontada uma abordagem participativa quando afirma que
O levantamento das necessidades de infra-estrutura nessas comunidades deveraacute ser
empreendido de forma participativa atraveacutes da aplicaccedilatildeo de dinacircmicas de grupo A
participaccedilatildeo da comunidade pressupotildee a existecircncia de divisatildeo no poder decisoacuterio
passando pelo controle das partes envolvidas no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo
dos projetos a serem implementados Portanto participar eacute tomar parte nas decisotildees
e ter parte nos resultados (BRASIL 2005 p 9)
As metas previstas para o Subprograma satildeo a melhoria dos indicadores
socioambientais e o desestiacutemulo agrave implementaccedilatildeo e agrave manutenccedilatildeo de programas
assistencialistas e paternalistas que gerem dependecircncia das populaccedilotildees quilombolas em
relaccedilatildeo aos organismos puacuteblicos (BRASIL 2005 p 4)
Para as comunidades quilombolas do nosso estudo foram previstas como ldquomedidas
compensatoacuteriasrdquo as accedilotildees e obras relacionadas no Quadro 14
Quadro 14 - Accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de Desenvolvimento das Comunidades Quilombolas COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTANA ACcedilOtildeES PREVISTAS PARA AS 13
COMUNIDADES
Gestatildeo junto a Secretaria Estadual do
Trabalho e Sistema SEBRAE para
viabilizaccedilatildeo de capacitaccedilatildeo de jovens
quilombolas para atuaccedilatildeo como agentes de
turismo
Implantaccedilatildeo de placas de sinalizaccedilatildeo da
localizaccedilatildeo das comunidades Quilombolas
Identificaccedilatildeo das demandas das
Comunidades Quilombolas visando
desenvolvimento
Levantamento das demandas por
infra‐estruturas nas comunidades
quilombolas com base em meacutetodos
participativos
Construccedilatildeo de 50 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros
(Comunidade contemplada no Programa de Implantaccedilatildeo de Infra-
Estrutura de Abastecimento de Aacutegua agraves Populaccedilotildees ao Longo dos
Canais ndash PBA 15)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CONTENDAS TAMBORIL
Construccedilatildeo de 20 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros (Por
dispor de abastecimento de aacutegua)
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE C DAS CRIOULAS
(1) elaboraccedilatildeo de um plano de desenvolvimento territorial de forma
participativa (2) gestatildeo junto agrave Funasa para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo
de uma ETA em Beleacutem do Satildeo Francisco e de uma adutora desta
cidade ateacute a comunidade (18 km) (3) construccedilatildeo de reservatoacuterio
elevado com volume uacutetil igual a 144msup3 (4)implantaccedilatildeo de rede de
distribuiccedilatildeo de aacutegua com 6000 m de tubulaccedilatildeo de PVC com diacircmetros
de 50 a 100 mm e ramais domiciliares totalizando 6200 metros de
tubulaccedilatildeo em PVC de frac12 polegada (5) gestatildeo junto ao Governo
Estadual para viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas
seacutepticas e sumidouros
(6) gestatildeo junto agrave Prefeitura de Salgueiro para viabilizaccedilatildeo da
construccedilatildeo de 500 novas moradias de alvenaria para substituiccedilatildeo das
casas de taipa (7) construccedilatildeo de mais 3 salas de aula na escola (8)
construccedilatildeo de um laboratoacuterio de informaacutetica para equipar a escola (9)
construccedilatildeo de um pousada de 300 msup2 a ser administrada pela
Associaccedilatildeo Quilombola(10) Melhoria de estradas de acesso agrave
comunidade de Conceiccedilatildeo de Crioulas dentre outras comunidades
Fonte A autora a partir de informaccedilotildees do PBA 17 ndash 2005 e Resumo Executivo ndash julho 2012
191
A disponibilidade de informaccedilotildees para avaliar as accedilotildees descritas no quadro 14 satildeo
precaacuterias natildeo tendo sido encontrado em documentos oficiais um detalhamento sobre o quecirc e
como foram implementadas as obras pretendidas O relato de entrevistados expressa a
morosidade e natildeo realizaccedilatildeo do que foi prometido
Nas comunidades de Santana e ContendasTamboril a construccedilatildeo de banheiros uacutenica
obra prevista natildeo havia sido iniciada ateacute o segundo semestre de 2013
[] Olhe eu sei que foi feito novamente jaacute foi feito vaacuterias vezes a questatildeo do
mapeamento para fazer os banheiros nas residecircncias que natildeo tem banheiros mas
tambeacutem eacute uma coisa que estaacute bem atrasada porque as casas que jaacute foram feitas tecircm
algumas que jaacute estatildeo rachadas e os banheiros agora ainda foi feito um novo
levantamento um novo mapeamento pra ver se eacute construiacutedo os banheiros []
(Lideranccedila 1)
Em Conceiccedilatildeo das crioulas a informaccedilatildeo tambeacutem referente agrave construccedilatildeo de banheiros
eacute confusa e moradores afirmam ter sido construiacutedo apenas em um dos siacutetios da comunidade
A morosidade e incerteza quando a realizaccedilatildeo da obra fez com que moradores assumissem a
construccedilatildeo por conta proacutepria
Teve a questatildeo dos banheiros Isso soacute no siacutetio Paula [] Foi feito no Sitio Paula e
estava previsto para aqui [] Foi feito pela transposiccedilatildeo Ah foi pela Funasa
Eram banheiros pra caacute Esses banheiros jaacute foi feito o GPS e tudoFoi feito o
levantamento e ateacute agora natildeo chegou [] Pelo que eu entendi era aqui praacute Vila de
Conceiccedilatildeo [] Essa vila aqui e a Vila da Uniatildeo ali [] Ai foi feito um levantamento
atraveacutes dos agentes de sauacutede parece que deu 248 mas isso jaacute faz tempo uns
trecircsquatro anos Agora eles tiveram aqui esse ano parece que abril pra maio eles
tiveram aqui fazendo um levantamento mas muita gente que tinha dado os nomes jaacute
tinham construiacutedo seus banheiros outros jaacute tinham ido embora ai natildeo deu a cota
nessas duas Vilasaiacute eles andaram fazendo levantamento na zona rural Siacutetio
Lagoinha na divisa com Atikum (Grupo Focal 1)
Mas o nosso foco de avaliaccedilatildeo eacute o que vem sendo realizado pela Funasa-SuestPE
referente agrave construccedilatildeo de casas de alvenaria em substituiccedilatildeo agraves de taipa Esta foi uma accedilatildeo
inserida posteriormente no projeto da transposiccedilatildeo fruto da parceria FUNASA-MI a partir de
2008 Esta atividade segundo relato de lideranccedila foi a principal obra de compensaccedilatildeo
realizada pelo projeto
[] foram pactuadas vaacuterias obras de compensaccedilatildeo como eacute chamado para que a
comunidade sofresse os impactos mas que tivesse alguns benefiacutecios tambeacutem por
conta da obra e algumas dessas coisas elas foram realmente feitas a exemplo da
substituiccedilatildeo das casas de taipas por casas de alvenaria [] (Lideranccedila 1)
Dentre as metas apontadas no PBA 17 inferimos que as intervenccedilotildees iniciadas em
2008 pela Funasa estatildeo diretamente relacionadas a de ldquomelhoria dos indicadores
192
socioambientaisrdquo pois trazem como objetivo contribuir para o controle da doenccedila de Chagas
Na aacuterea do estudo haacute a presenccedila de triatomiacuteneos inseto transmissor da doenccedila de Chagas
conhecido popularmente como ldquobarbeirordquo ldquobicudordquo ldquoprocotoacuterdquo e encontrado em construccedilotildees
de taipa principal justificativa para as obras a serem executadas afirmam moradores
[] Foi falado assim lsquoque ia trocar a casa de barro pela alvenaria mode o bicudorsquo
[] A sauacutede em geral [] e as casas velhas que fosse derrubada e atirada praacute longe
Natildeo era pra fazer perto natildeo era pra deixar em peacute natildeo era pra deixar a cerca perto de
casa pra natildeo juntar o barbeiro pra vim pra casa (Grupo Focal 2)
Subjacente ao objetivo do Subprograma esta parceria incluiu obras natildeo apenas em
aacutereas quilombolas mas tambeacutem em aacutereas indiacutegenas inseridas no Programa de
Desenvolvimento de Comunidades Indiacutegenas o PBA12 As obras estatildeo sendo executadas
com recursos do PAC nas chamadas Agraverea Diretamente Afetada (ADA) e de Influecircncia Direta
(AID) do Projeto da transposiccedilatildeo (BRASIL 2012 p 6)
Em consonacircncia com a atual missatildeo institucional da Funasa a de ldquoPromover a sauacutede
puacuteblica e a inclusatildeo social por meio de accedilotildees de saneamento e sauacutede ambientalrdquo acreditamos
que a parceria FunasaMI se insere no Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle
da Doenccedila de Chagas (MHCDCh) que consta do leque de suas accedilotildees e programas
institucionais Este Programa fomenta a execuccedilatildeo natildeo apenas da reconstruccedilatildeo domiciliar
mas tambeacutem a sua restauraccedilatildeo e a apresenta como justificativa o argumento de que
A existecircncia de habitaccedilotildees cujas condiccedilotildees fiacutesicas favorecem a colonizaccedilatildeo de
triatomiacuteneos associados agrave pressatildeo de exemplares de procedecircncia silvestre
reinfestando o peri e o intradomiciacutelio a dificuldade de ecircxito no controle desses
vetores com inseticidas constituem fatores que recomendam a Melhoria da
Habitaccedilatildeo como medida essencial no Programa de Controle da Doenccedila de
Chagas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013a)
Para o referido Programa - MHCDCh
Seratildeo elegiacuteveis os municiacutepios localizados em aacuterea endecircmica da doenccedila de Chagas
com a presenccedila de vetor no intra ou peridomiciacutelio e com a existecircncia de habitaccedilotildees
que favoreccedilam a colonizaccedilatildeo do Triatomiacuteneo transmissor da doenccedila de Chagas que
sejam classificados como de alto risco de transmissatildeo da doenccedila conforme dados da
Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede (SVS) do Ministeacuterio da Sauacutede (BRASIL 2014)
Neste cenaacuterio o municiacutepio de Salgueiro estaacute classificado como de alto risco de
transmissatildeo para doenccedila de Chagas segundo lista da Secretaria de Vigilacircncia agrave Sauacutede e accedilotildees
de caraacuteter educativo satildeo recomendadas como ldquoreforccedilordquo aos benefiacutecios da melhoria
habitacional (BRASIL 2014)
193
Tratando-se de trabalho em aacutereas quilombolas tal incumbecircncia foi assumida pela
Funasa a partir de 2003 com o Novo Modelo de Gestatildeo Puacuteblica do Governo Federal cujo
compromisso passou a incluir socialmente a populaccedilatildeo com difiacutecil acesso a serviccedilos de
atenccedilatildeo agrave sauacutede e saneamento Neste contexto accedilotildees da Funasa passaram a ser direcionadas
para municiacutepios com baixa cobertura de serviccedilos de saneamento e agraves populaccedilotildees vulneraacuteveis
(assentados remanescentes de quilombos e de reservas extrativistas) afirma Relatoacuterio de
Gestatildeo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Quanto ao projeto da transposiccedilatildeo a responsabilidade assumida pela Funasa em
Pernambuco abrangeu uma aacuterea maior de municiacutepios e populaccedilatildeo que a definida no
Subprograma de Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas Foram pactuadas accedilotildees em
sete municiacutepios sendo trecircs em aacutereas indiacutegenas nas etnias Trukaacute em Cabroboacute Pipipatilden em
Floresta e Kambiwaacute em Ibimirim e em 18 comunidades quilombolas localizadas nos
municiacutepios de Cabroboacute (03) Carnaubeira da Penha (01) Custoacutedia (03) Mirandiba (08) e
Salgueiro (03) A estimativa institucional eacute de que seratildeo beneficiadas com melhorias
habitacionais cerca de quatro mil pessoas dentre moradores de aacutereas indiacutegenas e
quilombolas num total de 655 casas (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2009)
Deste universo informaccedilotildees mais recentes mostraram que ateacute outubro de 2012 foram
concluiacutedas 448 casas o que representava 684 do total planejado (FUNDACcedilAtildeO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012a)
As obras satildeo executadas por empresa licitada pela Funasa de Pernambuco sob
coordenaccedilatildeo da Diesp - Divisatildeo de Engenharia de Sauacutede Puacuteblica e apesar de natildeo constar
como meta em seu Plano Operacional (2011) a accedilatildeo eacute citado como
Acompanhamento e Fiscalizaccedilatildeo das Obras concernentes ao lsquoDestaque
Orccedilamentaacuteriorsquo firmado entre o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional e a
FunasaPresidecircncia o qual proporciona a execuccedilatildeo de obras contempladas no
lsquoProjeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco com Bacias Hidrograacuteficas do Nordeste
Setentrionalrsquo de forma a atender agraves exigecircncias da Licenccedila Ambiental do IBAMA
tendo-se originalmente como objeto Construccedilatildeo de 655 (seiscentos e cinquumlenta e
cinco) Unidades Habitacionais (substituiccedilatildeo de casas de taipa por casas de alvenaria)
e Construccedilatildeo de 04 (quatro) Postos de Sauacutede beneficiando comunidades indiacutegenas e
remanescentes de quilombos (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2011)
Em Relatoacuterio Executivo o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo apresentava ateacute junho de 2012
uma execuccedilatildeo orccedilamentaacuteria de 71 para o PBA-17 em relaccedilatildeo as metas e atividades
previstas Mas diante da pouca visibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees contidas no quadro 14
inferimos ter havido uma destinaccedilatildeo do recurso principalmente para as obras de melhorias
habitacionais
194
Em Salgueiro essas obras foram realizadas nas trecircs comunidades quilombolas do
estudo num total de 106 casas tendo sido 100 concluiacutedas enquanto meta prevista pelo
projeto da transposiccedilatildeo (Quadro 15)
Quadro 15 - Obras executadas em aacutereas quilombolas-substituiccedilatildeo de casas de taipa por alvenaria COMUNIDADE QUILOMBOLA OBRA PREVISTA (CASAS
DE ALVENARIA)
OBRA EXECUTADA
SANTANA 8 8
CONTENDASTAMBORIL 16 16
CONCEICcedilAtildeO DAS CRIOULAS 82 82
TOTAL 106 106
Fonte A autora a partir de dados da Planilha FunasaSuest-PE (Diesp) - Outubro2012
Mas ainda haacute casas de taipa em todas as aacutereas quilombolas de Salgueiro e
dependendo das condiccedilotildees existentes continuam representando risco de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas para os moradores
O Manual da Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b) ldquoElaboraccedilatildeo de Projeto de
Melhoria Habitacional para o controle da Doenccedila de Chagasrdquo traz os princiacutepios de
continuidade e contiguumlidade como criteacuterio importante para o controle de transmissatildeo da
doenccedila de Chagas
ldquoVisando o maior impacto das accedilotildees no controle do vetor as melhorias deveratildeo ser
concentradas evitando-se a pulverizaccedilatildeo das mesmas obedecendo para isso os princiacutepios de
continuidade e contiguidaderdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b p 11)
Mas estes princiacutepios natildeo foram respeitados haja visto a natildeo substituiccedilatildeo ou
restauraccedilatildeo de 100 das casas de taipa das comunidades na accedilatildeo pelo projeto da
transposiccedilatildeo comprometendo assim o propoacutesito de controle na transmissatildeo da doenccedila de
Chagas principal justificativa para execuccedilatildeo das obras como medida compensatoacuteria
Agora com relaccedilatildeo as casas entatildeo soacute dava pra fazer x casas entatildeo cada comunidade
recebeu uma quantidade de casas entatildeo ficou assim muito rarefeito Entatildeo naquela
comunidade x tinha 10 casas mas ela soacute ia receber 04 casas entatildeo natildeo foi saneada
totalmente Na verdade o que se criou foi um paliativo Natildeo houve nada foi zero
Natildeo foi saneada a aacuterea porque a partir do momento que vocecirc constroacutei trecircs casas
mas se ficar uma casa ela estaacute contaminando a aacuterea Para que haja o saneamento da
aacuterea ela tem quer ter tanto eacute que tem que ter o princiacutepio da continuidade e da
contiguidade ou seja toda aquela aacuterea ela vai sendo saneada e vai abrangendo
entatildeo toda aquela aacuterea que ela passou essa aacuterea jaacute natildeo tem mais nada (Teacutecnico 1)
A gente tem uma comunidade que ela sofre muito com a questatildeo de doenccedilas de
Chagas embora aqui na Vila tenha poucas casas de taipa mas jaacute foi bem grande o
nuacutemero e ai por fora eacute que tem bastante entatildeo isso mudou acho que vai diminuir
bastante a incidecircncia de chagas dentro da comunidade [] Tem ainda tem mas se
fosse feito apenas uma jaacute era um passo jaacute natildeo eacute mais o zero [] entatildeo foi bom
(Grupo Focal 1)
195
Com a percepccedilatildeo de entrevistados fazemos uma avaliaccedilatildeo sobre a adequaccedilatildeo das casas
construiacutedas ao modo de vida das populaccedilotildees rurais quilombolas trazendo os aspectos criacuteticos
e possiacuteveis benefiacutecios destas obras para as famiacutelias
O modelo habitacional para as comunidades quilombolas e indiacutegenas de Pernambuco
foi elaborado pelo Departamento de Engenharia da Funasa em Brasiacutelia com uma concepccedilatildeo
de moradia mais urbana que rural sem adequaccedilatildeo agrave realidade local cujo projeto apresentava a
possibilidade de dois modelos uma para casa de quatro quartos e outro de dois quartos
dependendo do nuacutemero de familiares por habitaccedilatildeo natildeo sendo permitida nenhuma alteraccedilatildeo
Um projeto estruturado verticalmente sem consulta preacutevia agraves famiacutelias sem considerar
os desejos e tradiccedilatildeo de moradia das comunidades quilombolas e sem avaliar outras
alternativas de melhoria habitacional E para muitos moradores significando uma mudanccedila
que natildeo satisfez
[] Era um projeto que jaacute veio pronto Quem tinha uma famiacutelia maior tinha uma
maiorzinha quem tinha uma famiacutelia menor tinha uma mais pequena [] (Grupo
Focal 2)
A uacutenica coisa que a gente estava fazendo era substituir a casa de taipa pela de
alvenaria melhorando a sua qualidade de vida e muitas vezes jaacute havia ateacute aquela
preocupaccedilatildeo seraacute que realmente era isso que ele estava querendo [] mas houve
grandes questionamentos durante a execuccedilatildeo das casas quer dizer [] Era porque
natildeo queriam perder a casa ldquoporque a minha casa apesar de ser de taipa mas era uma
casa boardquo ldquo Porque essas casas novas natildeo tinham espaccedilo suficienterdquo natildeo se
respeitou a aacuterea que cada casa tinha quer dizer eu particularmente acharia que cada
casa deveria ser feito um levantamento da casa que existia do jeito que ela era e
transformaria ela apenas se melhoraria a qualidade da casa [] Eacute mas foi feito um
negoacutecio padratildeo tipo o tamanho eacute esse sem levar em consideraccedilatildeo as peculiaridades
de cada famiacutelia (Teacutecnico 1)
[] Na primeira conversa era []vai ter a substituiccedilatildeo da casa de taipa para casa de
alvenaria aiacute depois veio o projeto pronto natildeo mas essa casa eacute pequena mas a planta
assim eacute muito apertadinho natildeo tem sala Natildeo o projeto eacute pronto a planta da casa eacute
essa tem que ser executado dessa forma Entatildeo natildeo podia ser feito mudanccedila
nenhuma Depois que fosse entregue aiacute a famiacutelia pode mudar mas antes de ser
entregue natildeo podia ser feita mudanccedila nenhuma na casa ateacute serem entregues tem
que se entregues todas padronizadas (Lideranccedila 1)
[] O ruim eacute porque satildeo casas padronizadas elas natildeo respeitam o pensamento que
as pessoas entendem sobre essas casas a miacutestica disso entatildeo [] ( Grupo Focal 1)
Mas refiro-me novamente agraves normas teacutecnicas da Funasa que trazem outra orientaccedilatildeo
afirmando que ldquoos modelos natildeo pretendem padronizar os projetos e o objetivo eacute oferecer
subsiacutedios e sugestotildees devendo obrigatoriamente ser adequados agraves caracteriacutesticas da
localidade []rdquo (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b)
196
A proacutepria accedilatildeo em si foi alvo de criacuteticas por vaacuterios fatores A moradia de taipa faz
parte da cultura local a construccedilatildeo em alvenaria nem sempre controla o risco de transmissatildeo
de doenccedila de Chagas a melhoria da casa de taipa representa menor custo aos cofres puacuteblicos
manteria o tamanho original das casas seria protegida contra a presenccedila de triatomiacuteneo e
teria sido uma alternativa mais compatiacutevel com a realidade quilombola eacute o que traz o relato
de lideranccedila
[] E a questatildeo da substituiccedilatildeo da casa de taipa por casa de alvenaria eacute assim eacute
porque eu particularmente a minha opiniatildeo eacute que a casa de taipa ela faz parte da
nossa cultura natildeo eacute Entatildeo eu acho que deve ser dada uma melhorada porque a
gente faz com pouco recurso entatildeo a questatildeo de fazer o reboco a madeira ser
trocada ser passado laacute o produto eu concordo com tudinho agora substituir casa de
taipa por casa de alvenaria eu acho que natildeo elimina a questatildeo do barbeiro que eacute o
foco que eles colocam porque muitas casas casarotildees que tem em Santana que natildeo eacute
revestido que natildeo eacute rebocado eacute alojamento de barbeiro tambeacutem E eacute de alvenaria e
a gente encontra barbeiro (Lideranccedila 1)
Aspectos relevantes como respeito aos haacutebitos e cultura local e envolvimento da
comunidade natildeo foram considerados na realizaccedilatildeo desta obra conforme consta no Manual da
Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede (2013b p 8)
As intervenccedilotildees pela Melhoria Habitacional devem levar em consideraccedilatildeo aspectos
da transmissatildeo da doenccedila comportamento e biologia dos vetores e hospedeiros
vertebrados mas acima de tudo deve ser planejada e executada tendo a comunidade
como condutora e parceira desse processo uma vez que as accedilotildees seratildeo efetuadas em
suas casas devendo ser respeitados os seus haacutebitos e sua cultura
E ao natildeo ser discutida outra alternativa para moradia em aacutereas quilombolas a
exemplo da melhoria ou restauraccedilatildeo das casas de taipa existentes trazemos novamente o que
preconiza o Programa MHCDCh natildeo contemplado nas accedilotildees do projeto da transposiccedilatildeo
O Programa de Melhorias Habitacionais para o Controle da Doenccedila de Chagas
(MHCDCh) fomenta a execuccedilatildeo dos seguintes objetos Restauraccedilatildeo ndash reforma de
domiciacutelio visando agrave melhoria das condiccedilotildees fiacutesicas da casa bem como do ambiente
externo (peridomiciacutelio) Reconstruccedilatildeo ndash caso especial quando a estrutura da
habitaccedilatildeo natildeo suporte as melhorias necessaacuterias a mesma deveraacute ser demolida e
reconstruiacuteda (FUNDACcedilAtildeO NACIONAL DE SAUacuteDE 2013b grifo nosso)
Durante todo processo a consulta o diaacutelogo e as negociaccedilotildees com a populaccedilatildeo
quilombola ficaram restritas a escolha das famiacutelias que seriam beneficiadas diferentemente
do proposto na metodologia do Subprograma que pretendia ser participativa com a
ldquocomunidade dividindo o poder decisoacuterio no planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo dos projetos
a serem implementadosrdquo (BRASIL 2005 p 9)
197
De fato o que coube como decisatildeo ao povo quilombo neste processo foi apenas a
identificaccedilatildeo das famiacutelias processo que foi conduzido e definido pelas lideranccedilas e
Associaccedilatildeo de moradores de cada comunidade Criteacuterios foram definidos em cada quilombo
com niacuteveis diferenciados de detalhamento e rigor segundo nuacutemero de casas a serem
substituiacutedas dispersatildeo territorial tamanho das famiacutelias e interesses poliacuteticos locais
[] Como a gente fez A gente fez pela questatildeo de famiacutelias de quantas pessoas
moravam na casa quantas crianccedilas tinham na casa e a questatildeo de renda mesmo
Quando a gente mapeou tambeacutem as casas que tinham uma parte de taipa e uma
parte de alvenaria a que tinha maior parte de taipa a gente mapeou tambeacutem como
toda de taipa e aiacute quando a gente foi pro processo de escolha tambeacutem a gente deu
prioridade para quem a casa era toda de taipa pra quem tinha mais crianccedila na casa e
depois quem tinha um poder aquisitivo menor Fomos criando todos esses criteacuterios
[] Atraveacutes da associaccedilatildeo [] depois fizemos assembleia na associaccedilatildeo pra vecirc se
todo mundo concordava com as pessoas que tinham sido selecionadas e aiacute o pessoal
concordou a gente conseguiu fechar os oito nomes e a gente ainda colocou criou
mais um criteacuterio laacute em Santana mesmo que foi colocar a casa em nome da mulher
porque muitas vezes o homem vai embora muitas vezes o homem separa da mulher
e pra natildeo ter essa questatildeo de dividir essa casa ou de vender essa casa de acontecer
alguma coisa nesse sentido a gente colocou todas as casas em nome das mulheres
(Lideranccedila 1)
Pela comunidade Pelas lideranccedilas locais elas que faziam Natildeo interferiu porque no
caso se ela natildeo podia fazer tudo de uma vez ai entatildeo foi jogado para a comunidade
resolver As lideranccedilas foi que resolveram (Teacutecnico 1)
Desde o iniacutecio do projeto foi feita uma exigecircncia todas as casas de taipa teriam que
ser derrubadas por tratar-se de uma substituiccedilatildeo alegava a Funasa Condiccedilatildeo tambeacutem
questionaacutevel e polecircmica para a comunidade pois a dinacircmica de crescimento das famiacutelias
implica necessidade de novas moradias Haacute tambeacutem um significado em relaccedilatildeo a ldquovelha
casardquo na histoacuteria de pertencimento e no processo identitaacuterio das famiacutelias quilombolas
Eu penso assim que essa questatildeo do derrubar a casa velha deveria ser repensado
tambeacutem Porque uma casa natildeo eacute soacute uma construccedilatildeo em si ali teve momentos ali
teve uma vida teve uma histoacuteria aquela casa praacute vocecirc chegar laacute ai vai
simplesmente passou para uma nova etapa e derruba tudo natildeo eacute soacute derrubar a
parede vocecirc derrubou uma histoacuteria que teve ali naquela casa entatildeo isso deveria ser
repensado [] (Grupo Focal 1)
[] Agora eu natildeo vejo com bons olhos essa questatildeo de substituiccedilatildeo tambeacutem porque
as casas de taipa agrave medida que a famiacutelia vai aumentando os filhos vatildeo nascendo as
pessoas vatildeo aumentando as casas (Lideranccedila 1)
Aspectos relacionados agrave sauacutede como a diminuiccedilatildeo da poeira eacute visto como importante
pelo quilombolas principalmente no contexto de construccedilatildeo de uma grande obra como o
canal da transposiccedilatildeo que provoca um desequiliacutebrio ambiental com maior poluiccedilatildeo
atmosfeacuterica
198
Tem muitos que ficaram [] Eu acho que ficaram muito satisfeitos Ajudou na
questatildeo da poeira neacute porque a casa de barro tem muita poeira E tambeacutem o teto da
casa porque a casa de barro geralmente o teto ele eacute de telha muito velha e tambeacutem
sem contar os barbeiros que fica nas brechas neacute E hoje natildeo as casas tudo
bonitinhas rebocadinhas rebocada [] A telhinha toda dessa ceracircmica natildeo eacute telha
velha comum que aquela telha comum junta muita terra (Grupo Focal 3)
O que podemos inferir eacute que apesar de haver moradores satisfeitos em ter acesso a
uma casa de alvenaria este projeto habitacional foi executado em seu conjunto sem
considerar os costumes da comunidade sem conhecer o real significado de uma habitaccedilatildeo de
cada ambiente da casa cujo significado e representaccedilatildeo social parece natildeo ter sido apreendido
no momento de pensar e elaborar a concepccedilatildeo das casas
E particularizando alguns ambientes da casa a cozinha por exemplo aleacutem do
tamanho reduzido natildeo inseriu o fogatildeo agrave lenha utensiacutelio principal no preparo dos alimentos
para comunidades quilombolas que vivem na zona rural Com isto o uso de fogatildeo agrave gaacutes foi
imposto desrespeitando o haacutebito de preparo dos alimentos com fogatildeo de lenha comum em
todas as casas da comunidade
[] inclusive quando foi se passar de uma casa pra outra teve pessoas na
comunidade que foi preciso se desfazer de alguma coisa de dentro da casa pra poder
entrar Porque escolhia ou botava os trens ou ficava na rua [] Nem tem sala e nem
tem cozinha neacute na verdade [] Eacute Soacute tem quarto [] Porque quase natildeo tem
cozinha soacute tem quarto (Grupo Focal 2)
[] Entatildeo a gente tem casa de taipa enorme e aiacute as casas de taipa que satildeo
substituiacutedas jaacute tem uma planta que mesmo as casas de quatro quartos que satildeo pra
famiacutelias que tem mais filhos ela eacute muito pequenininha natildeo tem sala A sala eacute um
corredorzinho a cozinha muito espremidinha muito apertadinha (Lideranccedila 1)
[] mas tem a questatildeo tambeacutem da cozinha que normalmente no interior vocecirc tem o
fogatildeo agrave lenha vocecirc tem aquele fogatildeo a carvatildeo que usam mas nas casas natildeo teve
essa preocupaccedilatildeo entatildeo a maior dificuldade era vocecirc querer derrubar a casa e a
mulher ficava por uacuteltimo muitas vezes vocecirc natildeo derrubava onde tava onde era o
fogatildeo que era onde eles continuavam fazendo as suas comidas elaborando as suas
refeiccedilotildees ateacute fora da casa porque em casa natildeo tinham condiccedilotildees de fazer [] Era
porque a cozinha soacute se adequava um fogatildeo com botijatildeo de gaacutes [] Eacute natildeo eacute costume
da regiatildeo Entatildeo eu acho que houve muito isso tentou se jogar o urbano dentro do
rural que natildeo teria nenhuma condiccedilatildeo de ser (Teacutecnico 1)
Outro ambiente eacute a sala tambeacutem chamada pela comunidade de varanda foi substituiacuteda
por um espaccedilo pequeno que natildeo permite o encontro das famiacutelias e vizinhos para conversar
gerando insatisfaccedilatildeo entre muitos moradores Com isto o que se observa atualmente eacute que em
sua grande maioria as casas passaram por reformas apoacutes serem entregues pela Funasa Eacute o
que expressa a fala de moradores nos grupos focais
199
Apenas o nuacutemero de pessoas na famiacutelia eacute que determinava o modelo de casa Entatildeo
hoje vocecirc entra em algumas casas [] as pessoas estatildeo fazendo adequaccedilotildees do jeito
que eles queriam porque na verdade aquilo dali natildeo era o jeito das casas que eles
queriam Agora pra quem natildeo tem uma casa um quarto eacute uma casa(Grupo Focal1 )
[] Tudo eacute pequeno [] Eacute bem apertadinho e os material dos banheiros mesmo
[] Tudo eacute pequeno agora os quartos [] A maioria delas 99 foi modificada
depois Os proacuteprios donos mesmo foi quem modificou o seu [] Teve que fazer
sala e cozinha quem pode fazer fez De tijolo (Grupo Focal 2)
Outro aspecto eacute a estrutura de algumas casas construiacuteda com material inadequado
que com as explosotildees ocorridas com as obras do canal estatildeo provocando rachaduras em
algumas delas segundo relato de moradores em grupo focal
16 casas [] A minha jaacute estaacute rachada [] a minha taacute rachada rachadura de cima ateacute
embaixo e grande [] Todas estatildeo rachadas [] Rachou agora haacute pouco tempo Taacute
com muito tempo natildeo [] A estrutura que fizeram foi fraca natildeo teve
acompanhamento (Grupo Focal 2)
As narrativas de como estas obras tem sido executadas em aacutereas quilombolas o
modelo de casa adotado pelo projeto nos sinalizam para qual concepccedilatildeo e compreensatildeo de
habitaccedilatildeo para zona rural foi adotada A habitaccedilatildeo como elemento do ambiente que pode ou
natildeo promover sauacutede
Para Cohen et al (2004) a habitaccedilatildeo eacute um espaccedilo de construccedilatildeo da sauacutede e do seu
desenvolvimento se considerarmos o ambiente como determinante da sauacutede Pensando na
sauacutede da famiacutelia a habitaccedilatildeo acolhe a famiacutelia sendo espaccedilo essencial veiacuteculo de construccedilatildeo
de seu desenvolvimento
Numa visatildeo integradora de sauacutede natildeo haacute como desvincular a habitaccedilatildeo do conjunto de
elementos da promoccedilatildeo da sauacutede um dos fatores de determinaccedilatildeo da sauacutede no espaccedilo
construiacutedo sendo necessaacuteria a articulaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de habitaccedilatildeo sauacutede meio
ambiente e infraestrutura aqui particularmente a rural (COHEN et al 2004)
Ressignificar o que seja habitaccedilatildeo ampliando o olhar para uma concepccedilatildeo integradora
de habitaccedilatildeo que considere que usos seus habitantes fazem da mesma inserindo estilos de
vida e comportamentos de riscos Trata-se na verdade de uma concepccedilatildeo socioloacutegica
devendo o conceito de habitaccedilatildeo saudaacutevel incluir o seu entorno como ambiente e agenda da
sauacutede de seus moradores (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud
COHEN at al 2004 p 809)
Segundo os autores
O entendimento da habitaccedilatildeo como um espaccedilo onde a funccedilatildeo principal eacute ter a
qualidade de ser habitaacutevel faz com que uma anaacutelise incorpore a visatildeo das muacuteltiplas
200
dimensotildees que compotildeem a habitaccedilatildeo cultural econocircmica ecoloacutegica e de sauacutede
humana (ORGANIZACcedilAtildeO PAN-AMERICANA DA SAUacuteDE 2000 apud COHEN
et al 2004 p 809)
E no tocante ao conjunto das accedilotildees e obras previstas pelo Subprograma de
Desenvolvimento de Comunidades Quilombolas que deveriam estar amplamente divulgados
e debatidos pelos principais destinataacuterios das mesmas ainda satildeo em seu conjunto textos
teacutecnicos e intenccedilotildees desconhecidas da populaccedilatildeo como expressam moradores em um dos
grupos focais
Talvez noacutes tenhamos mais accedilotildees dentro desse projeto que natildeo seja talvez nem direto
a ele mas articulado por eles talvez a gente estaacute articulado por ele mas por a
gente natildeo conhecer esse programa no geralzatildeo no todo natildeo saber das accedilotildees entatildeo a
gente pouco sabe [] Aiacute eacute uma questatildeo do proacuteprio da forma como o proacuteprio
ministeacuterio tem o projeto (Grupo Focal 1)
Pelo exposto elencamos alguns aspectos criacuteticos da accedilatildeo
a) Particularidades e respeito agrave diversidade cultural ao se trabalhar com melhorias
habitacionais em aacutereas quilombolas natildeo foram incorporadas pela instituiccedilatildeo nem
firmadas na parceria com o MI a exemplo do que preconiza a Poliacutetica Nacional de
Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais que tem
como um dos objetivos especiacuteficos ldquoimplantar infra-estrutura adequada agraves
realidades soacutecio-culturais e demandas dos povos e comunidades
tradicionaisrdquo (BRASIL 2007)
b) Princiacutepios e diretrizes para melhorias habitacionais estabelecidos pela proacutepria
Funasa natildeo foram devidamente observados e considerados nas accedilotildees do projeto da
transposiccedilatildeo
c) O modelo de gestatildeo da Funasa centralizado em Brasiacutelia tolhe a autonomia e
iniciativa das Superintendecircncias Estaduais dificultando agraves equipes locais a
realizaccedilatildeo de trabalhos mais proacuteximos da realidade das populaccedilotildees quilombolas
Cria-se com isto uma distacircncia das realidades e demandas rurais com uma
execuccedilatildeo estritamente teacutecnica e burocraacutetica para cumprir o determinado pelo niacutevel
central com o ldquoengessamentordquo de accedilotildees que natildeo podem ser adequadas para
melhor uso do recurso puacuteblico satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo quilombola e real melhoria
de sua qualidade de vida
d) Alguns dos pontos criacuteticos identificados foram objeto de debate e de relatoacuterio
interno elaborado pela equipe de educaccedilatildeo em sauacutede da FunasaSuest-PE junto agrave
201
equipe da Diesp-PE em 2009 que mesmo concordando com os problemas
apontados natildeo logrou ecircxito para efetivar mudanccedilas concretas
202
9 CONCLUSOtildeES
A vulneraccedilatildeo socioambiental vivida pelas comunidades quilombolas de Santana
ContendasTamboril Conceiccedilatildeo das Crioulas e seus territoacuterios consequecircncia do projeto de
transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco se expressa de diversas maneiras
A vulneraccedilatildeo eacute uma realidade que faz parte da histoacuteria dessas populaccedilotildees e de seus
territoacuterios O projeto da transposiccedilatildeo agravou a situaccedilatildeo de vulneraccedilatildeo provocando novas
feridas marcas que podem ser vistas antes e depois do projeto da transposiccedilatildeo
O projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco foi implementado sem o governo
realizar amplo debate com a sociedade sem ouvir as criacuteticas e fundamentaccedilotildees teacutecnicas e
poliacuteticas para sua natildeo realizaccedilatildeo Eacute um empreendimento que tem gerado violaccedilatildeo de vaacuterios
direitos das comunidades quilombolas de Salgueiro abrindo feridas e traumas indeleacuteveis
O significado do rio Satildeo Francisco para moradores quilombolas e demais sujeitos do
estudo eacute carregado de simbolismos e agradecimento pelo benefiacutecio que ele traz agrave regiatildeo e
populaccedilotildees mas vem fortemente atrelado a uma preocupaccedilatildeo com a urgente necessidade de
sua revitalizaccedilatildeo Alia-se a essa compreensatildeo a certeza de que revitalizar o rio Satildeo Francisco
deveria anteceder um projeto de tamanha envergadura e impacto ambiental como o projeto da
transposiccedilatildeo
As reflexotildees trazidas pelo estudo indicam negligecircncia quanto agrave revitalizaccedilatildeo do rio
Satildeo Francisco quer pela pouca efetividade das accedilotildees previstas pelo governo em seu Projeto
de Revitalizaccedilatildeo quer pela inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo que estruture a revitalizaccedilatildeo como
poliacutetica puacuteblica
A percepccedilatildeo geral sobre o projeto da transposiccedilatildeo eacute de ser um empreendimento
fechado agrave mudanccedilas com obras e accedilotildees inegociaacuteveis com pouca transparecircncia e diaacutelogo com
as populaccedilotildees diretamente afetadas incluiacutedas as populaccedilotildees quilombolas de Salgueiro A
lentidatildeo interrupccedilatildeo e reajustes exorbitantes no orccedilamento inicialmente previsto para o
projeto reforccedilam a falta de confianccedila da populaccedilatildeo quanto agrave conclusatildeo das obras e o natildeo
cumprimento das promessas feitas A principal necessidade e expectativa da populaccedilatildeo
quilombola em relaccedilatildeo ao projeto que seria o abastecimento de aacutegua para consumo humano
eacute visto como uma possibilidade cada vez mais distante confirmando que o empreendimento
iraacute beneficiar o agronegoacutecio e o poacutelo sideruacutergico do porto de Peceacutem em Fortaleza Cearaacute
As feridas sentidas pela populaccedilatildeo com as obras da transposiccedilatildeo satildeo fatores que
contribuem para o descreacutedito com os benefiacutecios do projeto anunciados pelo governo Fica
claro que o projeto da transposiccedilatildeo responde a um modelo de desenvolvimento com base no
203
crescimento econocircmico a qualquer custo com detrimento da inclusatildeo e melhora real das
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo quilombola
As feridas e condiccedilatildeo de vulneraccedilatildeo aparecem como violaccedilatildeo de direitos
O direito agrave regularizaccedilatildeo fundiaacuteria meio para acesso a outros direitos baacutesicos e
fundamentais do povo quilombola natildeo vem sendo respeitado conforme proposto pelo projeto
da transposiccedilatildeo Direito assegurado aos povos quilombolas desde a Constituiccedilatildeo Federal a
regularizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute uma das promessas do projeto da transposiccedilatildeo mas que vem sendo
conduzido morosamente e sem perspectivas claras para as populaccedilotildees quilombolas Apenas
na comunidade de Santana houve accedilatildeo concreta do projeto para agilizar o processo Em
ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas natildeo houve nenhuma contribuiccedilatildeo do projeto da
transposiccedilatildeo para dar seguimento aos processos de regularizaccedilatildeo
O direito agrave melhoria das condiccedilotildees de vida com infraestrutura adequada de
saneamento habitaccedilatildeo transporte educaccedilatildeo sauacutede condiccedilotildees de trabalho promessas feitas e
natildeo cumpridas pelo projeto O que pode ser observado ao caracterizar as trecircs comunidades
quilombolas eacute que houve comprometimento em muitos desses serviccedilos com o projeto da
transposiccedilatildeo Desde promessas natildeo cumpridas para implantaccedilatildeo de serviccedilos de sauacutede
educaccedilatildeo projetos de desenvolvimento local soluccedilotildees para questatildeo hiacutedrica como tambeacutem a
desestruturaccedilatildeo e piora no acesso aos serviccedilos que jaacute eram oferecidos agrave populaccedilatildeo
quilombola
Em Santana cujas obras do canal se realizam dentro do territoacuterio haacute vulneraccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave pecuaacuteria com perda de territoacuterio e animais agrave agricultura familiar com perda de aacuterea
de sequeiro aos deslocamentos dentro e para fora dos territoacuterios por falta de passarelas na
aacuterea da construccedilatildeo do canal dificultando acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e mobilidade
geral agrave seguranccedila por episoacutedios de invasatildeo e roubo de animais no territoacuterio agrave vegetaccedilatildeo
com mudanccedila de paisagem pelo desmatamento provocado com as obras agraves condiccedilotildees de
sauacutede dos moradores pela poluiccedilatildeo sonora e atmosfeacuterica agrave situaccedilatildeo financeira das famiacutelias
por todas as perdas mencionadas e natildeo indenizadas justamente
Em ContendasTamboril haacute vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo ao acesso ao trabalho por natildeo
haver sido contratados moradores quilombolas nas obras do projeto agrave estrutura de casas que
se encontram rachadas em consequecircncia do impacto das obras ao aumento de acidentes de
motocicleta com mortes de moradores da comunidade agrave possiacutevel perda de territoacuterio com
obras em Tamboril com destruiccedilatildeo de aacuterea coletiva de plantio e de criaccedilatildeo de animais e de
casas sem consulta e diaacutelogo com a comunidade As ameaccedilas que pairam sobre o territoacuterio
204
ContendasTamboril sem que a populaccedilatildeo sequer saiba que obras o governo vai realizar em
seu aacuterea provocou uma vulneraccedilatildeo emocional
Em Conceiccedilatildeo das Crioulas apesar de natildeo sofrer diretamente com as obras do projeto
identificamos situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave estrada que daacute acesso agrave comunidade e aos
serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio e abastecimento de aacutegua Outras accedilotildees e obras previstas no
programa de compensaccedilatildeo natildeo foram cumpridas pelo projeto da transposiccedilatildeo como
elaboraccedilatildeo de plano de desenvolvimento territorial viabilizaccedilatildeo da construccedilatildeo de uma ETA
construccedilatildeo de reservatoacuterio elevado implantaccedilatildeo de rede de distribuiccedilatildeo aacutegua viabilizaccedilatildeo de
construccedilatildeo de 30 banheiros com fossas seacutepticas e sumidouros viabilizaccedilatildeo de construccedilatildeo de
500 novas moradias de alvenaria construccedilatildeo de salas de aula e laboratoacuterio de informaacutetica na
escola e construccedilatildeo de pousada
Quanto aos impactos positivos apontados pelo projeto a maioria natildeo se traduz como
melhora ou mudanccedila na qualidade de vidas das comunidades quilombolas
Os Programas Baacutesicos Ambientais ou programas compensatoacuterios natildeo representam a
real demanda das populaccedilotildees quilombolas do estudo caracterizando-se como medidas
paliativas e promessas natildeo cumpridas em sua totalidade No Programa de Educaccedilatildeo
Ambiental as peculiaridades culturais e ambiental de cada comunidade o envolvimento
direto da populaccedilatildeo o respeito ao saber local deveriam ancorar suas praacuteticas educativas o
material didaacutetico utilizado nas praacuteticas educativas natildeo deveria ser tratado como algo agrave parte a
linguagem os comportamentos as caracteriacutesticas regionais satildeo aspectos que natildeo podem ser
desprezados e sim elementos intriacutensecos na elaboraccedilatildeo de material didaacutetico-pedagoacutegico e em
praacuteticas educativas que se dizem dialoacutegicas e problematizadoras O resultado e
desdobramento deste programa natildeo foi percebido pela populaccedilatildeo envolvida na accedilatildeo se
caracterizando em vaacuterios momentos como oficinas educativas pontuais que natildeo puderam ser
colocadas em praacutetica pela falta de apoio teacutecnico e financeiro natildeo representando melhoria na
qualidade de vida da populaccedilatildeo nem do meio ambiente
Em relaccedilatildeo agraves obras executadas para mitigaccedilatildeo de impactos como a substituiccedilatildeo de
casas de taipa por alvenaria o que se constata eacute que houve satisfaccedilatildeo de alguns moradores
com as obras aliada a uma visatildeo criacutetica quanto agrave inadequaccedilatildeo do modelo habitacional pelo
tamanho dos cocircmodos e desrespeito aos haacutebitos da zona rural pela impossibilidade de ajustes
no projeto elaborado e discussatildeo de outras alternativas de melhoria habitacional mais
adequadas agrave realidade rural pela melhoria parcial das habitaccedilotildees mantendo o risco de
transmissatildeo da doenccedila de Chagas pela obrigatoriedade na demoliccedilatildeo das casas anteriores
sem a possibilidade de reparo para outros familiares
205
A intenccedilatildeo de diminuir a intensidade dos impactos negativos e condiccedilotildees de
vulneraccedilatildeo geradas pelo projeto da transposiccedilatildeo via programas compensatoacuterios vem se
mostrando insuficiente e tiacutemida quando comparada agraves feridas e traumas provocados pelo
projeto nas aacutereas quilombolas
Apesar do discurso oficial enaltecer a importacircncia da participaccedilatildeo da sociedade e
comunidade local natildeo houve empenho do Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional para incentivar
o funcionamento de um comitecirc e efetivar um canal de participaccedilatildeo das instacircncias municipais
estaduais e dos movimentos sociais locais em relaccedilatildeo agraves obras da transposiccedilatildeo
Eacute necessaacuterio uma maior inserccedilatildeo dos movimentos sociais das comunidades
quilombolas para interferir nos rumos do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante a estruturaccedilatildeo de um canal de comunicaccedilatildeo efetivo e regular entre o
Ministeacuterio da Integraccedilatildeo demais instituiccedilotildees governamentais e o movimento organizado das
comunidades quilombolas como instacircncia poliacutetica de controle social a exemplo de um
Comitecirc Gestor para o acompanhamento e monitoramento do projeto da transposiccedilatildeo
Eacute importante e necessaacuterio a apropriaccedilatildeo pelas comunidades quilombolas de todas as
conquistas legais fruto da sua luta e mobilizaccedilatildeo poliacutetica no paiacutes para assegurar direitos
efetivar poliacuteticas fazer cumprir o que determina a legislaccedilatildeo como uma das ferramentas de
enfrentamento agrave violaccedilatildeo de direitos e vulneraccedilatildeo provocada pelo projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco em suas vidas e territoacuterios
Grandes empreendimentos a exemplo do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo
Francisco devem ser pensados elaborados e implementados com base no diaacutelogo junto agrave
populaccedilatildeo local poderes puacuteblicos e sociedade de forma ampla e democraacutetica para construir e
incorporar consensualmente medidas mitigadoras como forma de minimizaccedilatildeo de impactos
e situaccedilotildees de vulneraccedilatildeo nas aacutereas de influecircncia direta e indireta destes projetos
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220
APEcircNDICE A ndash Roteiro de Entrevistas
Grupo 1 - Gestoresteacutecnicos da Funasa do Projeto em Salgueiro (MI) das Secretarias
Municipais de Sauacutede Educaccedilatildeo Desenvolvimento Rural Planejamento e Meio
Ambiente
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Instituiccedilatildeo a qual estaacute vinculado
Profissatildeoocupaccedilatildeo e o quanto tempo atua nela
Aspectos gerais do Projeto da transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento profissional e institucional
3 Principais mudanccedilas observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo ao municiacutepio e comunidades
quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como ((recursos periodicidade atores)
7 Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
8 O que representa o rio Satildeo Francisco
9 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
10 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
11 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
221
APEcircNDICE B ndash Roteiro de Entrevistas
Grupo 3 ndash Lideranccedilas quilombolas das comunidades de Santana ContendasTamboril e
Conceiccedilatildeo das Crioulas
Apresentaccedilatildeo conhecer um pouco do entrevistado
Nome
Comunidade a qual pertence
Niacutevel de participaccedilatildeo em grupo da comunidade
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Informaccedilotildees sobre o Projeto da transposiccedilatildeo
2 Niacutevel de envolvimento com o Projeto ndash Participaccedilatildeo
3 Principais mudanccedilas na comunidade observadas apoacutes o iniacutecio do Projeto
4 Aspectos positivos e negativos do PISF em relaccedilatildeo as comunidades quilombolas
5 Conhecimento sobre os Programas Baacutesicos Ambientais PBA de Educaccedilatildeo Ambiental e
PBA de Apoio agraves Comunidades Quilombolas (pergunta pertinente a aacuterea do entrevistado)
6 Se os conteuacutedos desse Programa (objetivosmetasatividades) vecircm sendo desenvolvidos
nas aacutereas quilombolas e como (recursos periodicidade atores)
7 Conflitos existentes nas aacutereas quilombolas antes do PISF e apoacutes a sua implantaccedilatildeo
enfrentamento
8 8-Benefiacutecios conseguidos ou que poderatildeo haver para as comunidades quilombolas
9 Influecircncias do PISF na estrutura de organizaccedilatildeo social e poliacutetica das comunidades
quilombolas
10 O que representa o rio Satildeo Francisco
11 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
12 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
13 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
Aspectos gerais da Comunidade
1-Consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees de vida das comunidades quilombolas do estudo
(emprego educaccedilatildeo sauacutede transporte saneamento - aacutegua esgoto resiacuteduos soacutelidos moradia
estrada) Opinar sobre cada comunidade separadamente
222
APEcircNDICE C ndash Roteiro para Grupo Focal
Comunidades quilombolas de Santana ContendasTamboril e Conceiccedilatildeo das Crioulas
Aspectos gerais do Projeto da Transposiccedilatildeo do rio Satildeo Francisco
1 Conhecimento sobre o Projeto da transposiccedilatildeo (objetivos quando iniciou no municiacutepio e
em sua comunidade como foi divulgado na comunidade instituiccedilotildees envolvidas)
2 Significado das obras do Projeto de transposiccedilatildeo
3 Conflitos ocorridos entre famiacuteliascomunidades Quais
4 Obras executadas pela Funasa ndash Substituiccedilatildeo de casas de taipa atendimento da demanda
conflitos caracateriacutestica das casas atende a necessidade da populaccedilatildeo
5 Conhecimento sobre Programa de Educaccedilatildeo ambiental do PISF (objetivosmetas
atividades)
6 Desenvolvimento do programa na comunidade
7 Participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
8 Conhecimento sobre o Programa de Apoio agraves Comunidades Quilombolas
(objetivosmetasatividades)
9 Accedilotildees realizadas por esse programa em sua comunidade
10 Niacutevel de participaccedilatildeo da comunidade nas atividades
Aspectos da comunidade
11 Como vocecirc considera a vida em sua comunidade
12 Principais dificuldades das famiacutelias
13 Formas de sobrevivecircncia das famiacutelias (trabalho renda criaccedilatildeo de animais produccedilatildeo
agriacutecola)
14 Como avalia a sauacutede das famiacutelias
15 Problemas de sauacutede mais frequentes em sua comunidade
16 Causa desses problemas
17 Como se daacute o atendimento dos problemas de sauacutede na comunidade (locais procurados
facilidadedificuldade presenccedila de acs)
18 Tipo predominante de moradia
19 Fontes de abastecimento de aacutegua na comunidade
20 Forma de Tratamento da aacutegua para beber
21 Destino dos dejetos (fezes e urina) na comunidade
22 Accedilotildees realizadas pelo PISF para enfrentarcuidarresolver os problemas apontados
23 Resultados obtidos das accedilotildees
24 Percepccedilatildeo sobre Meio Ambiente
25 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Ambiental
26 Percepccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo em Sauacutede
223
APEcircNDICE D ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Lideranccedilas Moradores Quilombolas de Conceiccedilatildeo das Crioulas
ContendasTamboril E Santana
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
Salqueiro PE no periacuteodo de 2008 agrave 2013
Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute nenhum constrangimento ou
prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente bem como com as instituiccedilotildees
colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de participar e retirar o seu
consentimento
Vaacuterios estudos afirmam que eacute na base que se encontra a maior parte das informaccedilotildees mais
ricas e significativas para os processos de mudanccedilas Essa pesquisa poderaacute contribuir no sentindo de
subsidiar o processo de fortalecimento poliacutetico das populaccedilotildees quilombolas ampliando seu
empoderamento e inserccedilatildeo nas diversas accedilotildees e atividades propostas pelo Projeto da transposiccedilatildeo do
rio Satildeo Francisco
Seratildeo feitas entrevistas individuais com lideranccedilas e reuniotildees com a participaccedilatildeo entre 9 e 12
pessoas para conversarem sobre um assunto pesquisado com perguntas condutoras coordenadas pelo
pesquisador Essas reuniotildees chamados grupos focais seratildeo gravadas e depois seratildeo ouvidas e escritas
Os participantes poderatildeo responder da forma que achar melhor Os riscos relacionados com a
participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso
sua identidade venha a puacuteblico No entanto garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As
informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e
outras atividades cientiacuteficas no entanto estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Os benefiacutecios relacionados com a participaccedilatildeo dos membros da comunidade satildeo no sentido de
contribuir para o conhecimento e percepccedilatildeo dos aspectos relacionados agrave educaccedilatildeo em sauacutede ambiental
dos programas de educaccedilatildeo ambiental de apoio agraves comunidades quilombolas de apoio ao saneamento
baacutesico e de controle da sauacutede puacuteblica inseridos no PISF
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Poderei deixar de participar a qualquer momento sem que isso acarrete qualquer prejuiacutezo agrave
minha pessoa
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho na Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos telefones (81)
32226007 ou (81) 87875275 Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho ndash Pesquisadora
224
APEcircNDICE E ndash Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Utilizado para
Gestores e Teacutecnicos dos Niacuteveis Federal Estadual e Municipal
TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tiacutetulo do Projeto Feridas da transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco um olhar sobre populaccedilotildees
quilombolas do Semiaacuterido Pernambucano Instituiccedilatildeo Proponente NESCCPqAMFIOCRUZ
Coordenadora do Projeto Luacutecia Maria Sobral Baracho
Vocecirc estaacute sendo convidadoa a participar da pesquisa acima citada que tem como objetivo analisar a vulneraccedilatildeo socioambiental decorrente da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco em
territoacuterios quilombolas do semiaacuterido pernambucano e as accedilotildees implementadas para
minimizaacute-la considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas de
SalqueiroPE no periacuteodo de 2008 agrave 2013 Sua participaccedilatildeo natildeo eacute obrigatoacuteria e sua recusa natildeo lhe traraacute
nenhum constrangimento ou prejuiacutezo em relaccedilatildeo aos pesquisadores e com a instituiccedilatildeo proponente
bem como com as instituiccedilotildees colaboradoras A qualquer momento da pesquisa vocecirc pode desistir de
participar e retirar o seu consentimento
Os sujeitos da pesquisa seratildeo gestores e teacutecnicos das instituiccedilotildees envolvidas com o PISF em
acircmbito federal estadual e municipal A definiccedilatildeo dos sujeitos consideraraacute o seu tipo de inserccedilatildeo
selecionando-se os informantes-chave representativos destes atores que integram o estudo
A partir da pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas seraacute possiacutevel analisar a
educaccedilatildeo e sauacutede ambiental desenvolvida no acircmbito do Projeto da transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco
considerando as vulnerabilidades socioambientais das comunidades quilombolas com ecircnfase nos
aspectos dos processos e percepccedilotildees dos programas e empoderamento dos sujeitos envolvidos
Os riscos relacionados com a participaccedilatildeo dos sujeitos da pesquisa podem ser
constrangimentos perante pessoas e instituiccedilotildees caso sua identidade venha a puacuteblico No entanto
garantimos que isso natildeo ocorreraacute sob hipoacutetese alguma As informaccedilotildees obtidas poderatildeo ser utilizadas
em eventos cientiacuteficos como congressos seminaacuterios e outras atividades cientiacuteficas no entanto
estando resguardada a identidade de cada sujeito envolvido
Sua colaboraccedilatildeo nesta pesquisa se daraacute pela participaccedilatildeo em entrevista semi-estruturada
teacutecnica na qual seratildeo feitas algumas perguntas e o entrevistado poderaacute livremente responder e ainda
incluir aspectos que ache pertinentes serem colocados Toda a conversa seraacute gravada e posteriormente
transcrita
O presente documento consta de duas vias A primeira ficaraacute em posse da pesquisadora e a
segunda em posse do participante
Qualquer esclarecimento seraacute realizado atraveacutes do contato com Luacutecia Maria Sobral
Baracho pelo endereccedilo Rua Frei Jaboatatildeo 280- bloco C apt 603- Torre ndash RecifePE ou pelos
telefones (81) 32226007 ou (81) 87875275
Endereccedilo eletrocircnico lubaracho8yahoocombr
Recife _____ de _________________ de 2013
_______________________________________________________
Nome e assinatura do Participante
___________________________________________
Luacutecia Maria Sobral Baracho
Pesquisadora
225
ANEXO A ndash Questionaacuterio sobre Conhecimentos Atitudes e Praacuteticas da
Comunidade ndash CAP
Educaccedilatildeo em Sauacutede ndash COREPE
QUESTIONAacuteRIO SOBRE CONHECIMENTOS ATITUDES E PRAacuteTICAS DA COMUNIDADE -
CAP
Data da Entrevista Nuacutemero da Casa
Nome do Entrevistador
Comunidade
Municiacutepio Estado
Endereccedilo do Entrevistado
1 Nome do Entrevistado ___________________________________________________________________
2 Dados dos moradores da casa
Nome Idade Sexo
Escolaridade
Analfabeto 1ordf a 4ordf 5ordf a 8ordf E Meacutedio 3ordm grau Curso
3 Acontecem festas ou reuniotildees em sua Comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Tipo Especificaccedilatildeo Como acontece e quando (anual mensal periacuteodo)
Social
Esportiva
Cultural
Religiosa
Outra
4 Participa de algum grupo na comunidade ( ) Sim ( ) Natildeo
Grupo O que faz
5 O que a comunidade faz para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
6 O que faz vocecirc e sua famiacutelia para se divertir
Homens
Mulheres
Crianccedilas
7 Fale sobre as instituiccedilotildees que trabalham nesta comunidade
Nome O que faz
226
8 Que serviccedilos de sauacutede vocecirc tem aqui na comunidade
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
9 Na sua opiniatildeo quais os principais problemas da Comunidade Por que esses problemas acontecem
Problemas Causas
10 As pessoas da comunidade adoecem do quecirc
________________________________________________________________________________
11 Qual os problemas de sauacutede mais frequumlente em sua famiacutelia
_______________________________________________________________________________
12 Quando as pessoas da comunidade estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
13 Quando as pessoas da sua famiacutelia estatildeo doentes o que fazem (a quem procuram Posto de Sauacutede
Agente de Sauacutede Rezador Pajeacute Curador)
________________________________________________________________________________
14 Que meios de transporte a comunidade utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
15 Que meios de transporte a sua famiacutelia mais utiliza ( ) Ocircnibus ( ) Carro ( ) Moto ( ) Animal ( ) Bicicleta
( ) Barco ( ) Carroccedila ( ) Outros____________________________________
16 Vocecirc possui animais ( ) Sim ( ) Natildeo Quais
( ) Cachorro ( ) Gato ( ) Cavalo ( ) Pato ( ) Porco ( ) Gado ( ) Bode ( ) Jumento
( )Galinha ( ) Macaco ( ) OvelhaCarneiro ( ) Burro ( ) Outros______________________
17 Onde os animais satildeo criados
Curral Solto no quintal
Galinheiro Solto na rua
chiqueiro amarrado
18 O que tem na casa (observar) ( ) Cama ( ) TV ( ) Fogatildeo a gaacutes ( ) Fogatildeo agrave lenha ( ) Bicicleta ( ) Carro ( ) Raacutedio
( ) Geladeira ( ) Paraboacutelica ( ) Outros _________________________________________
19 Sua famiacutelia ouve raacutedio ( ) Sim ( ) Natildeo Quando ouve que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
20 Sua famiacutelia assiste TV ( ) Sim ( ) Natildeo Quando assiste que programa mais gosta
________________________________________________________________________________
21 De que forma as notiacutecias chegam agrave comunidade
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet ( ) Telefone ( )Outro ____________________________
22 Sua famiacutelia tem mais acesso agraves notiacutecias atraveacutes de que
( ) Raacutedio ( ) Jornal ( ) Carro de Som ( ) TV ( ) Revista ( ) Alto Falante telefone ( )
( ) Pessoa agrave Pessoa ( ) Internet Telefone ( ) ( ) Outro _______________________
227
23 Conversar com a famiacutelia ateacute obter as informaccedilotildees sobre ocupaccedilatildeo e renda (citar os aposentados)
Renda aproximada da famiacutelia Ateacute 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3 SM ( ) 4 SM ( ) + 4 SM ( )
Nome No que trabalha
24 Tipo de moradia (observaccedilatildeo)
Parede Telhado Piso Cocircmodos
Madeira Amianto Cimento Cozinha
Tijolo Ceracircmica Ceracircmica Quarto
Palha Palha Madeira Banheiro
Lona Plaacutestico Lona Plaacutestico Chatildeo Batido Sala
Taipa
25 De onde vem a aacutegua que a sua famiacutelia utiliza
( ) Rede Puacuteblica ( ) Chafariz ( ) Rio ( ) Chuva ( ) Fonte Nascente ( ) Poccedilo feito pelo morador ( ) Poccedilo feito pela
FUNASA ( ) Outros __________________________
26 Como eacute tratada a aacutegua para beber
( ) Filtrada ( ) Fervida ( ) Clorada ( ) Coada ( ) Usa sem tratar ( ) Outros______________
27 Que destino eacute dado ao lixo em sua comunidade
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro ____________________________________
28 Em sua casa o que fazem com o lixo
( ) Coleta Puacuteblica ( ) Queimado ( ) Joga no Rio ( ) Joga em terreno baldio
( ) Enterrado ( ) Deixa no quintal ( ) Outro _______________________________
29 Que destino eacute dado agraves fezes e urina das pessoas da casa
( ) Mato ( ) Quintal ( ) Rio ( ) Fossa Seca ( ) Vaso com descarga
( ) Outro __________________________________________________________________________
30 Informaccedilotildees adicionais da observaccedilatildeo do entrevistador
Utensiacutelio onde guarda a aacutegua para beber Animais soltos convivendo na moradia (estado de sauacutede) Limpeza
internae arredores da moradia Exposiccedilatildeo do lixo Aacutegua parada Esgoto Fezes Aparente estado nutricional das
crianccedilas e adulto E outras que julgar importante para o projeto
228
ANEXO B ndash Documento Siacutentese das Agendas de Prioridades dos Municiacutepios
Contemplados Pelo PISF em Pernambuco
DOCUMENTO SIacuteNTESE DAS AGENDAS DE PRIORIDADES DOS MUNICIacutePIOS
CONTEMPLADOS PELO PISF EM PERNAMBUCO
A Agenda de Prioridades do processo de formaccedilatildeo de Educaccedilatildeo em Sauacutede constitui-se de diretrizes a
serem executadas para o enfrentamento dos problemas diagnosticados representando um acordo entre
os atores envolvidos Pretende-se com a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos contribuir com a
promoccedilatildeo da sauacutede das comunidades e municiacutepios nesse sentido foram identificadas como pontos em
comum dos municiacutepios de Pernambuco as seguintes diretrizes
Accedilotildees educativas de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo para promover o envolvimento da populaccedilatildeo
na gestatildeo adequada dos resiacuteduos soacutelidos
Realizaccedilatildeo de campanhas e palestras sobre defensivos agriacutecolas direcionadas aos agricultores
com enfoque na utilizaccedilatildeo de equipamentos de proteccedilatildeo estiacutemulo agrave praacutetica da agricultura
orgacircnica e destinaccedilatildeo correta das embalagens destes produtos
Criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas municipais em saneamento baacutesico e manutenccedilatildeo adequada da
rede existente
Campanhas educativas de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de violecircncia e accedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e
fortalecimento das poliacuteticas puacuteblicas jaacute existentes
Campanhas educativas de promoccedilatildeo agrave sauacutede do homem
Melhores condiccedilotildees de trabalho e investimento na formaccedilatildeo dos Agentes Comunitaacuterios de
Sauacutede e Agentes de Endemias
Campanhas educativas sobre animais peccedilonhentos a partir da realizaccedilatildeo de palestras
especialmente na zona rural
Articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo com outras instituiccedilotildees e oacutergatildeos competentes para accedilotildees voltadas agrave
educaccedilatildeo em sauacutede
Todas as diretrizes constituiacutedas pelos grupos participantes do processo de formaccedilatildeo de multiplicadores
dos 17 municiacutepios da ADA podem ser executadas por meio de articulaccedilotildees e parcerias entre os agentes
comunitaacuterios de sauacutede agende de combates agraves endemias coordenadores de atenccedilatildeo baacutesica lideranccedilas
comunitaacuterias setores do governo empresas e sociedade civil As diretrizes elencadas nas Agendas de
Prioridades municipais seratildeo desenvolvidas por meio de processos de mobilizaccedilatildeo criaccedilatildeo ou
fortalecimento de grupos e equipes de trabalho elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos e planos de accedilatildeo e
campanhas educativas valendo-se de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos e de capacitaccedilotildees com temas
voltados agrave Educaccedilatildeo em Sauacutede
229
ANEXO C ndash Agenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutede do Municiacutepio de
Salgueiro ndash Pernambuco
AGENDA DE PRIORIDADES DE EDUCACcedilAtildeO EM SAUacuteDE
DO
MUNICIacutePIO DE SALGUEIRO ndash PE
Apresentaccedilatildeo
O Projeto de Integraccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco (PISF) vem se inserindo na realidade dos
dezessete municiacutepios que compreendem sua Aacuterea Diretamente Afetada (ADA) ocasionando
transformaccedilotildees no cenaacuterio socioambiental Desse modo para potencializar os possiacuteveis
impactos positivos e mitigar os negativos idealizou-se um conjunto de Programas Ambientais
que propotildee accedilotildees a serem executadas durante a implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do empreendimento
Nesse contexto a partir de accedilotildees previstas pelos Programas Ambientais de Controle da Sauacutede
Puacuteblica Educaccedilatildeo Ambiental e de Comunicaccedilatildeo Social do PISF elaborou-se a Proposta
Integrada de Educaccedilatildeo em Sauacutede norteada por uma abordagem educativa com o intuito de
formar multiplicadores de educaccedilatildeo em sauacutede nas comunidades da aacuterea de influecircncia do PISF
O processo de capacitaccedilatildeo visa proporcionar a praacutetica e socializaccedilatildeo de vivecircncias educativas
que satildeo experiecircncias relacionadas agraves informaccedilotildees e conceitos trabalhados durante os moacutedulos
presenciais e realizadas nas diversas aacutereas de atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede e lideranccedilas
comunitaacuterias
Durante os moacutedulos foi proposta a construccedilatildeo de uma ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo
em Sauacutederdquo instrumento pelo qual os grupos participantes desse processo educativo
expressam de maneira sistematizada seu interesse em realizar determinadas atividades em
regime de colaboraccedilatildeo eou cooperaccedilatildeo
A Agenda visa nortear e potencializar a atuaccedilatildeo dos multiplicadores na prevenccedilatildeo dos
impactos relacionados agrave sauacutede e na melhoria da qualidade de vida das pessoas inserindo
novas metodologias e conceitos ou potencializando metodologias jaacute adotadas Assim
constitui-se de diretrizes a serem executadas para o enfrentamento dos problemas
diagnosticados representando um acordo entre os atores envolvidos Vale mencionar que os
participantes do processo de capacitaccedilatildeo seratildeo os protagonistas do planejamento e da
execuccedilatildeo das referidas diretrizes
Acredita-se que a proposiccedilatildeo de novas praacuteticas e acordos entre os atores de um coletivo possa
contribuir com a promoccedilatildeo da sauacutede de suas comunidades nesse sentido a seguir seraacute
230
apresentada a ldquoAgenda de Prioridades de Educaccedilatildeo em Sauacutederdquo construiacuteda ao longo desse
processo de formaccedilatildeo de multiplicadores com o propoacutesito de indicar a trajetoacuteria identificada
pelos liacutederes comunitaacuterios e profissionais de sauacutede dos municiacutepios envolvidos
Abaixo seguem as diretrizes apontadas pelos representantes das comunidades e localidades
que juntas formam o municiacutepio de Salgueiro ndash PE
DIRETRIZES ACcedilOtildeES ESTRATEacuteGICAS RESPONSAacuteVEIS
Campanha de prevenccedilatildeo aos diversos tipos de agressotildees
Identificar localidades onde mais acontece agressatildeo de gecircnero abusos sexuais maus tratos a incapazes entre outros
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica Conselho Municipal de
Sauacutede e USF
Realizar palestras onde os iacutendices estiverem mais altos
Incentivar a denuacutencia contra as agressotildees
Integraccedilatildeo entre as secretarias municipais
Promover campanha dos profissionais da sauacutede nas escolas e creches
GTES Coordenaccedilatildeo de Atenccedilatildeo Baacutesica USF NASF CREAS
escolas e creches
Promover campanhas de meio ambiente nas escolas e
creches
GTES Secretarias de Meio
Ambiente de Sauacutede de Accedilatildeo Social Desenvolvimento Agraacuterio
de Educaccedilatildeo e Serviccedilos Puacuteblicos
Programas de combate agraves doenccedilas
endecircmicas
Realizar palestras preventivas ou seminaacuterios nas escolas
USF e associaccedilotildees sobre as doenccedilas endecircmicas da regiatildeo
GTES Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia USF empresas construtoras escolas e as
lideranccedilas comunitaacuterias
Disponibilizar viacutedeos educativos agraves Unidades de Sauacutede
Produzir viacutedeos com situaccedilotildees-problemas da comunidade para exibiccedilatildeo na proacutepria comunidade e encontrar possiacuteveis
soluccedilotildees
GTES USF lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho
Municipal de Sauacutede
Campanha de controle de animais
peccedilonhentos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre
animais peccedilonhentos e sua proliferaccedilatildeo
GTES USF lideranccedilas
comunitaacuterias IBAMA Secretaria
de Meio Ambiente Secretaria de Desenvolvimento Urbano e
escolas
Accedilotildees educativas sobre gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Promover palestras nas escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees sobre o tema proposto
GTES USF Secretarias de Meio Ambiente e de Obras e de
Infraestrutura escolas CDL
lideranccedilas comunitaacuterias e o Conselho Municipal de Sauacutede
Realizar oficinas de triagem e reaproveitamento de
reciclaacuteveis envolvendo as escolas oacutergatildeos puacuteblicos CDL USF e associaccedilotildees
Fortalecer as accedilotildees de triagem jaacute existentes no municiacutepio
Utilizar a miacutedia (raacutedio carro de som redes sociais
televisatildeo etc) como mecanismo para sensibilizar a
populaccedilatildeo sobre a gestatildeo de resiacuteduos soacutelidos
Campanha de promoccedilatildeo agrave sauacutede do
homem
Realizar levantamento por rua da quantidade de homens
com idade de 40 anos acima
ACSrsquos
Incentivar os homens a procurar os serviccedilos de sauacutede com
maior frequecircncia
ACSrsquos esposas namoradas
filhos etc
Encaminhar para realizaccedilatildeo do PSA (exame cliacutenico da
proacutestata)
USFrsquos com apoio da SMS
Campanha de prevenccedilatildeo ao cacircncer
do colo do uacutetero e fortalecimento da campanha de cacircncer de mama
Realizar levantamento por rua da quantidade de mulheres
sexualmente ativas e encaminhaacute-las para fazer o preventivo
ACSrsquos
Realizar palestras nas escolas USF e associaccedilotildees sobre o
tema proposto
GTES USF escolas lideranccedilas
comunitaacuterias associaccedilotildees CREAS CRAS NASF e o
Conselho Municipal de Sauacutede
Promover uma passeata de incentivo a prevenccedilatildeo pelas
principais ruas do municiacutepio com faixas e auxiacutelio de um carro de som
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas comunitaacuterias Conselho
Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
Envolvimento de diversos grupos
sociais em accedilotildees voltadas agrave sauacutede
Realizar foacuteruns seminaacuterios encontros palestras etc como
forma de envolver e pactuar possiacuteveis parcerias com estes
grupos
GTES USF escolas integrantes
de redes socais lideranccedilas
comunitaacuterias Conselho Municipal de Sauacutede Secretarias
Municipais e comunidade
231
Campanha de prevenccedilatildeo a
leishmaniose e raiva humana
Realizar palestras educativas nas USF escolas e
associaccedilotildees
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
epidemiologia Lideranccedilas comunitaacuterias e escolas
Promover campanhas informativas atraveacutes das redes sociais
carro de som e raacutedios (miacutedia)
GTES USF Coordenaccedilatildeo de
Epidemiologia lideranccedilas
comunitaacuterias e raacutedios
Participantes
Adeilson Severino de Souza Iara Suely Freire Maria Edlenne Figueredo Barboza William Carvalho
Alcemir da Silva Siqueira Idalina dos Santos Silva Maria Janeide Cordeiro
Allyson Francisco dos Santos Jairo de Souza Veriacutessimo Maria Liacutedia Alves do Nascimento
Ana Carolina da Silva Vieira Joatildeo Manoel Gondim Maria Lietice da Silva
Angela Maria Bezerra Joseacute Nilton da Silva Maria Mariano de Souza
Antonio de Padua da Silva Josilene Pereira da Silva Maria Rosicleide Vereda de Souza
Carlos Antocircnio Ramos Leite Karyne Dayane da Saacute Silva Maria Solange dos Santos
Dalma Reacutegia Pires Lucicleide Oliveira e Souza Milton Rodrigues Ramos
Denise Soares Ribeiro de Barros Manoel de Souza Gomes Norma Luacutecia de Souza Santos
Edson Rex Barbosa Ribeiro Manoel Francisco de Souza Agra Orisvaldo Matias Ferreira
Erasmo Joseacute Matias Gomes Marcella Alves Raneilda Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Espedito Antonio de Vasconcelos Maacutercia Isabel da Silva Ronivaldo Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Maria Auxiliadora de Vasconcelos Rosilene Maria da Conceiccedilatildeo Alves
Fernanda Martins Maria de Faacutetima Cardoso Rosimeiry Arauacutejo Conserva
Francisco Afonso Vereda da Silva Juacutenior Maria do Socorro Leite Silveacuterio Sandra Maria da Silva
Souza
Francisca Claacuteudia Vidal dos Santos Maria do Socorro Silva Senilda Francisca da Silva
Francisco de Assis Sobrinho Maria do Socorro Angelim Tarcizo de Brito Ramos
Grupo Teacutecnico de Educaccedilatildeo em Sauacutede (GTES)
William Carvalho Josilene Pereira da Silva
Maria Mariano de Souza Maria do Socorro Silva
Faacutetima Freire de Carvalho Senilda Francisca da Silva
Alcemir da Silva Siqueira Espedito Antocircnio de Vasconcelos