FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - PE · das penas e gozos futuros, de Deus, o Criador, e de suas...

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R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749 FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 125 • Nº 2.143 • Outubro 2007 D EUS , C RISTO E C ARIDADE

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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 125 • Nº 2.143 • Outubro 2007D EUS , CR I S TO E CAR I D AD E

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

Revista de Espiritismo CristãoAno 125 / Outubro, 2007 / N o 2.143

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Diretor-substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO

NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

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Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça),CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

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Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES

Editorial

O Missionário da Terceira Revelação

Entrevista: Divaldo Pereira Franco

Estudar e viver integralmente o Espiritismo

Presença de Chico Xavier

Reverenciando Kardec – Emmanuel

Esflorando o Evangelho

Sepulcros abertos – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

60 anos do lançamento de “La Evangelio la9 Spiritismo” –

Affonso Soares

Seara Espírita

A vida atual e a futura – Juvanir Borges de Souza

Mapas – Richard Simonetti

Ante o Pacto Áureo – Guillon

A Allan Kardec – Inaldo Lacerda Lima

Impactos iniciais de O Livro dos Espíritos –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Espiritismo – André Luiz

Percepções mediúnicas desagradáveis –

Umberto Ferreira

Minha Igreja – Paulo Nunes Batista

Mantenha a esperança – Aylton Paiva

Allan Kardec – Primeira iniciação no Espiritismo (Capa)Retorno à Pátria Espiritual – José Martins Peralva

Sobrinho / José Cordeiro NettoMinha missão (Capa) – Allan KardecEm dia com o Espiritismo – A emoção humana –

Marta Antunes Moura

FEB na Marcha Cívica Nacional Em Defesa da Vida –Brasil Sem Aborto

O desafio da auto-aceitação – Carlos Abranches

Materialismo – Ronaldo Miguez

Espiritismo e Materialismo – Allan Kardec

Paladinos da luz – Luiz Eduardo Mourão

Seminário sobre “Comunicação e Relacionamento na Casa Espírita” na FEB-Rio

O que somos? – Mauro Paiva Fonseca

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SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual RR$$ 3399,,0000Número avulso RR$$ 55,,0000

PARA O EXTERIORAssinatura anual UUSS$$ 3355,,0000

AAssssiinnaattuurraa ddee RReeffoorrmmaaddoorr:: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

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Editorial

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m 1854, o Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail ouve falar, pela primeira vez,sobre o fenômeno das mesas girantes. Em maio de 1855, presencia o fenô-meno, constatando a sua autenticidade e predispondo-se a estudá-lo a fundo.

Em 12 de junho de 1856, o Prof. Rivail mantém um diálogo com o Espírito Ver-dade, o qual confirma a missão que outros Espíritos já lhe haviam anunciado eacrescenta: “Previno-te de que é rude a tua [missão], porquanto se trata de abalare transformar o mundo inteiro. [...] Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contrati ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás abraços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parece-rão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas;por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sus-tentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranqüilida-de, da tua saúde e até da tua vida, pois sem isso, viverias muito mais tempo. [...]Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agra-dar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse [...] coragem, perseverança e inaba-lável firmeza [...] prudência e tato [...]. Exigem-se, por fim, devotamento, abnega-ção e disposição a todos os sacrifícios”.*

Diante de tal revelação, o Prof. Rivail aceita tudo sem restrição e eleva a Deusuma prece: “Senhor! pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumpri-mento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida;dispõe do teu servo. [...]”.

Dez anos e meio depois, Kardec atesta que a comunicação do Espírito Verdade serealizou em todos os pontos e que, com a assistência dos bons Espíritos, enfrentouos desafios da missão recebida e executou a sua tarefa com ardor, determinação eperseverança, sem se preocupar com a maldade de que era alvo. Observa, ainda, asalegrias que estava vivenciando, vendo a obra crescer e a Doutrina Espírita se espa-lhar, consolando os aflitos.

Em março de 1869, retorna ao mundo espiritual, deixando à Humanidade aDoutrina Espírita codificada – o Consolador Prometido por Jesus materializadoentre os homens. E lega, também, a todos nós, um exemplo de humildade, dedica-ção e espírito de sacrifício, que deve ser seguido, fielmente, pelos que pretendamcolaborar, com êxito, na difusão de sua obra.

E

O Missionárioda Terceira Revelação

*Allan Kardec – Obras Póstumas – Segunda parte – “Minha missão”. (Ver páginas 26 e 27 desta edição.)

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vida atual do Espírito en-carnado é um fato tão na-tural, que dispensa de-

monstração. É uma realidade tan-gível, capaz de responder a qual-quer exame, satisfazendo à razão eaos sentidos por mais atrasada seapresente a criatura.

O que varia na compreensãodessa realidade é a percepção doser. Para uns é pura matéria pere-cível, desaparecendo com a mortedo corpo, na concepção materia-lista. Para o espiritualismo em ge-ral, o elemento espiritual (almaou espírito), com a morte do re-vestimento físico, continua a vidada essência espiritual em sua tra-jetória de ser imortal.

A teoria materialista tem atra-vessado os milênios e subsiste nosdias atuais, apesar de todas as de-monstrações que lhe são contrá-rias, de natureza religiosa, filosófi-ca e científica.

O materialismo, em seus múlti-plos conceitos, confunde-se oracom o nadismo, ora com o niilismoe com a descrença absoluta, nãoadmitindo a idéia de um Criador,nem a existência do espírito, comoum dos elementos do Universo.

Esse posicionamento, confuso econtraditório, para explicar todos osfenômenos do Universo, é profun-damente infeliz e negativista da rea-lidade, constituindo-se em “umadas chagas da sociedade”, conformeexpõem os Espíritos reveladores, naquestão 799 de O Livro dos Espíritos.

Nadismo e niilismo correspon-dem, assim, à existência de um cor-po físico, que tem duração variável,mas limitada, o qual, deixando deexistir, põe fim à vida humana e ade todos os seres viventes, sem ne-nhuma conseqüência.

Não cogita o materialismo dascausas que produzem a vida, nemmesmo a do corpo físico, com todaa sua complexidade de ordem ma-terial e moral, já que atribui tudo àmatéria, em combinações diferen-tes, resultantes do acaso.

Assim, para o materialista, opensamento, a razão e o raciocí-nio, as recordações, as esperançase a fé, ou seja, todos os sentimen-tos, seriam produzidos por órgãosdo corpo, tudo desaparecendocom a morte, que conduz ao na-da, sem quaisquer conseqüências,a não ser os restos mortais quetambém se desagregam.

O materialismo não explica, en-tretanto, por que um corpo, queantes da morte era capaz de produ-zir todos os fenômenos resultantes

de seus órgãos, torna-se inerte e in-capaz, repentinamente, embora suaconstituição física seja a mesma nasprimeiras horas nas quais se trans-forma em cadáver.

Nos campos moral e intelectual,de domínio do Espírito, torna-seextremamente difícil compreender,sob a tutela materialista, a existên-cia do bem e do mal, das virtudes edos maus pendores e de todas assuas conseqüências, se tudo pro-vém da mesma matéria.

Como pode o materialista, coe-rente com a teoria de que tudo pro-cede da matéria, atender ao deverde respeitar o que pertence a outrascriaturas, especialmente no que serefere aos bens morais, como ahonradez, a solidariedade, o cum-primento das obrigações e deveresdecorrentes das leis naturais e dasregras humanas?

Nada esperando de uma vida fu-tura, na qual não crê, o materialistapuro também nada pode esperar davida atual, uma vez que esta vai fin-dar sem produzir quaisquer conse-qüências, nem para ele, nem paraos outros.

As doutrinas materialistas são,pois, profundamente contraditó-rias no que se refere à vida, nas suasmúltiplas manifestações.

A vida atuale a futura*

AJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

*KARDEC, Allan. Obras póstumas. 39. ed.Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira parte,“A vida futura”, p. 231.

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A vida futura, sem prejuízo doque se refere à vida atual, é objetodas religiões e filosofias espiritua-listas de todas as épocas, variando,entretanto, seus ensinos, concep-ções e interpretações da naturezadas penas e gozos futuros, deDeus, o Criador, e de suas leis, queabrangem toda a criação.

Para algumas religiões, a vidafutura implica o desaparecimentodas individualidades, condensan-do-se elas no todo universal.

Para outras, os seres espirituais(almas), após as experiências deuma vida terrena, em corpos ma-teriais, são encaminhados a mun-dos ou esferas espirituais, de con-formidade com os méritos ouatrasos, conhecimentos ou igno-rância, conquistas intelecto-mo-rais ou desvios de cada ser.

O panteísmo, o deísmo, as dou-trinas dogmáticas, assim como oEspiritismo, são doutrinas espiri-tualistas, todas admitindo o prin-cípio inteligente independente damatéria, que a ela se liga em deter-

minadas circunstâncias, e se desli-ga para continuar a vida nos mun-dos espirituais.

Cada uma dessas doutrinas temseus característicos especiais.

Para o panteísmo, a alma indivi-dualiza-se na vida corporal e volta àmassa espiritual após a morte. Dessaforma, fora da vida corporal o sernão tem consciência de si mesmo,com as conseqüências morais idên-ticas às das doutrinas materialistas.

O deísmo compreende duas ca-tegorias distintas: deístas indepen-dentes e deístas providencialistas.

Os primeiros crêem em Deus eadmitem todos os seus atributos.Como Criador, estabeleceu leisque regem automaticamente todoo Universo. Para os deístas inde-pendentes não existe a ProvidênciaDivina, fazendo as criaturas o quequiserem, sem a intervenção supe-rior. Essa crença em um Deus indi-ferente ante toda a sua obra con-duz os homens ao orgulho e a umaindependência ilusória.

Já o deísta providencialista, nãosó crê na existência de Deus, co-mo também no seu poder criadore ainda na sua incessante inter-venção junto a toda a criação.

Para as doutrinas dogmáticas,que são diversas, a alma indepen-de da matéria e é criada por oca-sião do nascimento do ser. Sobre-vive à morte do corpo, conservan-do sua individualidade, mas semnenhum progresso, continuandocomo era durante a vida corporal,

por toda a eternidade, tan-to moral quanto intelec-tualmente.

Assim, para o dogma-

tismo religioso, os maus são con-denados ao inferno, perpetua-mente, enquanto os bons vão pa-ra o céu de delícias, também parasempre, mas isso por deduçãode homens falíveis em seus juízose julgamentos.

Essas religiões pregam a exis-tência de anjos e demônios, cria-dos para a eternidade, os primei-ros como seres privilegiados, sem-pre visando o bem, enquanto osoutros são praticantes do mal, tam-bém eternamente.

As doutrinas dogmáticas geramquestões e problemas variados, co-meçando por atribuir ao Criadorinjustiças que nem os homens jus-tos e esclarecidos praticariam, quala de uma condenação eterna porerros e maldades passageiros, quenão ultrapassam uma existência.

Nessas doutrinas ficam sem res-postas diversas questões, entre asquais:

a) o que ocorre com as criançasque morrem em tenra idade, se nãotiveram oportunidade de revelaremsuas tendências?

b) o que acontece com os doidos,cretinos e idiotas, que não têm dis-cernimento nem consciência desuas ações?

c) por que nascem pessoas em si-tuação de miséria, ou de doençasincuráveis, enquanto outras nas-cem em situações opostas, de rique-za e de boa saúde?

d) por que Deus cria almas privi-legiadas, como os anjos, e tambémos demônios, destinados ao induzi-mento e à prática do mal?

Essa síntese das idéias religiosase filosóficas aceitas e expostas

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pelas doutrinas materialistas eespiritualistas, acima referidas,mostra-nos as muitas contradi-ções de diversos de seus ensinoscom a verdade e a realidade.

Pensadores de todos os tempos,como Sócrates e Platão, na anti-güidade clássica, já haviam perce-bido algumas dessas incoerências,e, por isso mesmo, são considera-dos precursores da idéia cristã edo Espiritismo. (O Evangelho se-gundo o Espiritismo, “Introdução”,item IV.)

Mas, somente com a vinda doCristo, com a interpretação corretade seus ensinos, contidos nos Evan-gelhos, e com a presença do Conso-lador por Ele prometido e enviado,os homens tiveram a revelação dasverdades que se referem à vida, noseu real sentido, e dos conhecimen-tos que dizem respeito a Deus, oCriador do Universo, e às suas leiseternas de amor e de justiça, queabrangem toda a criação.

“Eu sou o pão da vida; aqueleque vem a mim não terá fome; equem crê em mim nunca terá sede.”(João, 6:35.)

Essa advertência figurada de Je-sus mostra que os ensinos do Mes-

tre eram os únicos capazes de aten-der à fome e à sede da verdade, queos homens sempre procuram saciar,através dos tempos, adotando idéiase conceitos que nem sempre corres-pondiam às realidades da vida.

Por isso, sempre vale a pena re-lembrar a previsão de Jesus comrelação ao futuro, uma vez que, aolado dos ensinos diretos deixadosaos homens, refere-se Ele tambémàs lições e revelações que se concre-tizariam com o Consolador.

Eis o que é relatado por João, nocapítulo 14, versículos 15 a 17 e 26de seu Evangelho:

Se me amardes, guardareis os

meus mandamentos.

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará

outro Consolador, para que

fique convosco para sempre.

O Espírito de Verdade, que o

mundo não pode receber, por-

que não o vê nem o conhece:

mas vós o conheceis, porque ha-

bita convosco, e estará em vós.

Mas aquele Consolador, o Espí-

rito Santo, que o Pai enviará em

meu nome, esse vos ensinará

todas as coisas, e vos fará lembrar

de tudo quanto vos tenho dito.

Jesus deixou claro no versículo26, acima transcrito, que o Con-solador enviado pelo Pai, em seunome, viria para ensinar aos ho-mens todas as coisas e relembrar--lhes tudo quanto Ele, o Cristo,havia dito.

Essa dupla missão é justamentea da Doutrina Espírita, o Conso-lador, que se baseia no Evangelhodo Cristo, interpretado em espíritoe verdade, com os acréscimos deconhecimentos novos, que os ho-mens de há dois mil anos não ti-nham condições de entender, co-mo ficou comprovado com a per-seguição e a condenação à mortedo Mestre e Senhor.

Assim, através da DoutrinaConsoladora, o Espiritismo, sãoretificados todos os desvios inter-pretativos e concepcionais das an-tigas religiões e filosofias, inclusi-ve muitas interpretações e práti-cas das igrejas cristãs, que se des-viaram do Cristianismo primitivolegado pelo Cristo.

A vida atual e a futura deixa-ram de ser uma incógnita para setornarem fatos perfeitamente ex-plicados e demonstrados pela ra-zão esclarecida.

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egundo velhas tradições ju-daicas, quando a comuni-dade não ia bem realiza-

vam-se reuniões especiais em que,por sortilégios religiosos, seuspecados eram transferidos paraum bode.

Sacrificava-se o animal, emseguida, e o seu sangue depuravaos fiéis. Daí a expressão corrente,bode expiatório, quando se pre-tende imputar a alguém a culpade outrem.

Seguindo essa mesma linha deraciocínio, os teólogos medie-vais entenderam que Jesus foi ocordeiro (eufemismo que subs-tituiu a expressão original) deDeus que veio expiar com seusangue a mácula do pecado ori-ginal, supostamente cometidopor suposto casal, Adão e Eva, emsuposto paraíso.

Talvez um dos prodígios ope-rados pelo Cristianismo tenhasido fazer de idéias fantasiosas,como a existência de Adão e Eva,o pecado original, e a redençãocom o sangue de Jesus, a crençade considerável parcela da Hu-manidade.

Desde Darwin sabe-se que oser humano é a culminância deum processo evolutivo que co-

meçou com organismos unicelu-lares, até atingir a complexidadenecessária para o aparecimentoda inteligência na Terra.

Adão e Eva constituem figurassimbólicas, que poderiam impres-sionar os fiéis do passado, mas nãoatendem às necessidades do pre-sente, quando antes de crer deve-mos cogitar de compreender, sobo crivo da razão.

Para quem admite a existênciade Adão e Eva, fica a pergunta:

Que crime inominável teriamcometido, capaz de derramar-separa sempre em culpa sobre todaa raça humana?

A malícia popular fala da ma-çã, simbolizando o sexo.

O pecado de exercitar o sexono paraíso.

Basta ler o texto bíblico, emGênesis, para se saber que não foinada disso.

O crime nem mesmo foi trans-gressão criminosa, e muito me-nos foi passível de prisão.

Jeová não queria que comes-sem o fruto da árvore da ciênciado bem e do mal. Eles comeram.

Mas como poderiam ter incor-rido em desobediência antes de

saboreá-lo, e, portanto, sem ternoção do que é desobediência?

E por que haveria toda a des-cendência humana de pagar porisso, em flagrante injustiça, jáque, atendendo ao mais elemen-tar princípio de direito, os filhosnão podem pagar pelos crimesdos pais?

Darwin pôs por terra as teo-rias teológicas do pecado origi-nal, da existência de Adão e Eva eda expiação dos pecados huma-nos pelo sangue derramado porJesus.

A Doutrina Espírita, antes deDarwin, em nenhum momentopretende desmerecer o trabalhode Jesus, nem deixa de reconhe-cer seus méritos e sua grandezaespiritual.

Isso está bem patente na ques-tão 625 de O Livro dos Espíritos,quando o mentor espiritual pro-clama que Jesus é a maior figurada Humanidade.

Reconhecendo isso, Kardec fa-la de Jesus em todas as suas obrase deu-se ao trabalho de escreverO Evangelho segundo o Espiritismo

Mapas

SRI C H A R D SI M O N E T T I

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para exaltar a importância dosprincípios morais enunciadospelo Mestre Nazareno.

A concepção espírita sobre Je-sus distingue-se das demais reli-giões evangélicas, em algunspontos.

Jesus não é o filho de Deus en-carnado. É um irmão nosso, Es-pírito já puro e perfeito quandoa Terra surgiu, há quatro bilhõese quinhentos milhões de anos.

E não veio lavar com seu sanguesupostos pecados, injustamenteherdados pela Humanidade.

Foi o professor que veio ensi-nar as regras para nos comportar-mos como filhos de Deus, supe-rando limitações e habilitando--nos a caminhar mais depressarumo à nossa gloriosa destinação.

Ainda que possa parecer umaheresia, podemos proclamar, àluz da Doutrina Espírita: mesmoque Jesus não viesse, continua-ríamos evoluindo.

Somos seres perfectíveis, des-tinados à perfeição. Lá chegare-mos, inexoravelmente, mais cedoou mais tarde, porquanto é avontade de Deus, que não falhajamais em seus objetivos.

Jesus veio acelerar a marcha,mostrando-nos como andar deforma mais rápida e segura.

É como se caminhássemos àprocura de uma cidade distante,sem um mapa, sem noção de di-reção. Demandaria meses de via-gem. Com um mapa chegaría-mos bem mais depressa.

Jesus trouxe esse mapa, enun-

ciando princípios que regemnossa evolução moral para que,cumprindo-os, nos ajustemosmais rapidamente à ordem uni-versal, apressando o passo, rumoà perfeição.

Qual o papel da Doutrina Es-pírita nessa história?

Diríamos que Jesus nos deu omapa do coração.

O Espiritismo nos oferece omapa da razão.

Jesus falava a uma Humanida-de adolescente, incapaz de gran-des vôos do raciocínio.

O Espiritismo fala a uma Hu-manidade amadurecida, intelec-tualmente, para compreender aextensão de suas responsa-bilidades, com a certezade uma vida que não aca-ba nunca, da qual nuncase ausenta a justiça deDeus.

Fácil perceber a conjuga-

ção de princípios que se comple-tam, dirigidos ao sentimento e àrazão, em variados contextos:

• PerdãoJesus recomendava que per-

doemos não sete vezes, mas se-tenta vezes sete, perdão incondi-cional, para que sejamos filhosde nosso Pai que está nos Céus.

O Espiritismo demonstra ser in-dispensável que perdoemos, por-quanto todo sentimento de ódio,rancor, mágoa, ressentimento de-sajusta o nosso psiquismo, situan-do-nos à mercê das sombras.

• CultoJesus nos convidava à comu-

nhão com Deus em termos deabsoluta simplicidade. No

célebre encontro com amulher samaritana expli-cou que o culto a Deus

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deve ser despido de formalismose exterioridades.

O Espiritismo explica que to-da intermediação, no empenhode nossa comunhão com o sa-grado, através de ritos e rezas,ofícios e oficiantes, desvitaliza aemoção e dificulta esse contato.

• EnfermidadeJesus dispensava os beneficiá-

rios de suas curas dizendo-lhesque não pecassem mais para quenão lhes sucedesse pior.

O Espiritismo ensina que to-do mal praticado em pensamen-tos, palavras ou ações é umaagressão que fazemos a nós mes-mos, habilitando-nos a penosospadecimentos para a retificação.

• ConvivênciaJesus convidava a fazermos ao

semelhante todo o bem que de-sejamos receber.

O Espiritismo informa ser in-dispensável praticar a caridade,porquanto essa é a fórmula fun-damental para nos livrarmos doegoísmo, o sentimento geradorde todos os males humanos.

Jesus convidava ao Bem.O Espiritismo exorta-nos a

que sejamos bons.Por isso, se Jesus trouxe a reve-

lação do Amor, o Espiritismo nostraz a revelação do Dever, chama-dos que somos à vivência dosprincípios cristãos, não por meroideal ou sonho, mas porque agorasabemos que assim deve ser feitoe o conhecimento da verdade im-plica em compromisso com ela.

Ante oPacto Áureo

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eus vos guarde na res-ponsabilidade da guardade tão grande e valioso

tesouro.Tão simples de ser divulgado.

Cria porém dificuldades paraquem queira transformá-lo eminstrumento de opressão e im-posição porque o reverso damedalha virar-se-á e os atingi-dos serão justamente os que as-sim procederem.

Simples como instrumento deaproximação. Quando usado comhumildade e amor transpõe asmais altas montanhas levandoaos mais longínquos recantos amensagem de esperança.

Continuai, meus irmãos, comesta tarefa abençoada de darseguimento aos ensinos de Nos-so Senhor Jesus Cristo dentrodo padrão do amor. Continuaidando seguimento à luz, ligan-do-a a outras tomadas, que bus-quem sintonizar com os vossossentimentos, sem pensar emcatequizar.

Lutai com as armas que Jesustrouxe ao mundo, para vencerem defesa da luz que os ven-davais da incompreensão tentamapagar. Ela foi confiada à vossaguarda para que a mantenhais

acesa. É vossa a responsabili-dade perante a Humanidade ediante das tribulações trazidaspelas incompreensões.

Porfiai, meus amigos, paraque nunca se esgote o patrimô-nio que vos confiaram.

Jamais o imponhais a quemquer que seja, mas não permitique o enterrem, para ocultá-lodo conhecimento da Humani-dade. Ele deve permanecer vivoe atuante dentro desta Casa enos corações que sintonizem nomesmo padrão de entendimen-to de que a Revelação é perma-nente e progressiva e não po-derá deixar de ser propagada.

Sem impô-la a quem querque seja, estaremos dando otestemunho de que o Pacto Áu-reo continua vivo e atuante noscorações.

Paz. Deus nos abençoe e aVirgem Maria nos assista.

Guillon

(Mensagem recebida pelo médium

Olímpio Giffoni, em 5/10/1978, na

Federação Espírita Brasileira, no Rio de

Janeiro-RJ.)

Fonte: Reformador de abril de 1979,

p. 23(139).

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Reformador: Qual o impacto queO Livro dos Espíritos provocou emsua vida?Divaldo: Quando fui orientado pe-lo Espírito Manuel Vianna de Car-valho, a ler O Livro dos Espíritos, noano de 1946, ele me informou que,através do estudo dessa obra básica

do Espiritismo, eu encontraria oselementos fundamentais para tor-nar-me espiritista. O seu desconhe-cimento, embora eu fosse médium,não me credenciava à compreensãoda finalidade da existência terre-na, do destino, dos sofrimentos, daimortalidade. Li-o, pois, uma, duas,diversas vezes (e continuo estudan-do-o), fascinando-me com os seus

ensinamentos, com a lógica dasquestões – perguntas, respostas,e os comentários do Codifica-dor – desde o primeiro mo-mento, o que resultou numareal modificação de metas em

minha atual existência. Sem oconhecimento dessa obra excep-

cional, eu continuaria tropeçan-do nas sombras da ignorância e daperturbação, comprometendo-mecom o erro cada vez mais.

Reformador: Quais foram suasprimeiras atuações espíritas

no Brasil e no Exterior?Divaldo: Em a noi-

te de 27 de março

de 1947, na União Espírita Sergi-pana, em Aracaju, proferi a pri-meira palestra espírita desta mi-nha existência carnal. No dia ime-diato, por solicitação do entãopresidente da mesma, José MartinsPeralva Sobrinho, pronunciei asegunda, a fim de atender ao pú-blico que acorreu àquela nobreInstituição. Em seqüência, viajeiao interior do Estado da Bahia,dando prosseguimento ao com-promisso espontaneamente assu-mido. Em março de 1948, viajei aBelo Horizonte, onde pronuncieidiversas conferências. A primeirapalestra fora do Brasil foi em Bue-nos Aires, na Confederación Espi-ritista Argentina, a convite da Fe-deración Espiritista Juvenil Argen-tina, dirigida por Juan AntonioDurante, no mês de novembro de1962. No ano seguinte, estive emMontevidéu, a convite da SociedadEspírita hacia la Verdad, quandoproferi a primeira palestra noUruguai. Posteriormente, estive emAssunção, no Paraguai, havendo

Estudar e viver integralmente

o EspiritismoDivaldo Pereira Franco é entrevistado sobre os 150 anos de O Livro dos Espíritos e os

60 anos de seu trabalho na difusão do Espiritismo, e faz comentários acerca do

Movimento Espírita no Brasil e no Exterior

DI VA L D O FR A N C OEntrevista

11Outubro 2007 • Reformador 337777

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visitado até este momento 59 paí-ses dos cinco continentes.

Reformador: Qual avaliação ou li-ção que destaca em seus 60 anos delabor na difusão do Espiritismo?Divaldo: Fazendo uma análise evo-cativa das atividades desenvolvidasnestes sessenta anos de dedicaçãoà Doutrina Espírita e sua vivência,constato que poderia haver pro-duzido muito mais. Nada obstante,considerando as circunstâncias decada período, verifico haver-me de-sincumbido do compromisso mo-ral que assumi espontaneamente,com o melhor de mim mesmo.Eram muito mais difíceis as via-gens, o acesso aos veículos de co-municação de massa, a conquistados auditórios leigos. Sendo fun-cionário autárquico, vinculado aoInstituto de Previdência e Assistên-cia do Estado (IPASE), somentedispunha dos fins de semana, dosferiados, das férias, que aplicava noatendimento aos convites que meeram formulados. Em diversas ci-dades do Brasil e de inúmeros paí-ses, tive a honra de proferir publi-camente palestras espíritas emmeios hostis, enfrentando regimestotalitários, como em Portugal eEspanha, situações de beligerância,como no Panamá e Venezuela.

Constato que venho realizandoo que me é possível até o limite dasforças, conforme o sábio conceitodo egrégio Codificador. Tenho con-seguido resistir a muitos embates,a acusações de toda ordem, a agres-sões morais e físicas, ao descaso e àzombaria, a perseguições sistemá-ticas, sem que jamais haja revidado

ou me permitido o luxo de defesa.Em silêncio, e tentando fazer o me-lhor ao meu alcance, sigo adiante,buscando o Guia e Modelo da Hu-manidade, que foi plantado numacruz, e o eminente mestre AllanKardec, que pagou altíssimo preçopela coragem de ser fiel à tarefa quelhe foi concedida, conforme narraem Obras Póstumas, quando analisao primeiro decênio após a publica-ção de O Livro dos Espíritos, em ad-mirável nota de rodapé ao seu diá-logo com o Espírito Verdade acercade sua missão. Compreendi, desdecedo, que a dedicação a uma causado relevo do Espiritismo, além deser honra que considero não mere-cer, é um desafio às forças do Malque conspiram contra o Bem naTerra. Nunca, porém, têm me fal-tado o apoio, a dedicação e o cari-nho dos Benfeitores espirituais ede amigos especiais que são maisdo que irmãos. Assim, nunca desa-nimei, prosseguindo com imensaalegria na lavoura do Senhor.

Reformador: Como analisa os 150anos da Doutrina Espírita?Divaldo: Este período que medeiaentre a data do surgimento do Es-piritismo no mundo, em 18 deabril de 1857, e a atualidade, con-firma a excelência da Doutrina queos guias da Humanidade trouxe-ram à Terra e da qual Allan Kardecse fez o Codificador. Isto porque,embora as relevantes conquistasdo pensamento científico, filosófi-co e tecnológico houvessem alcan-çado patamares jamais dantes ima-ginados, nenhum dos seus ensina-mentos foi ultrapassado, nenhum

dos seus paradigmas sofreu qual-quer alteração, antes, pelo contrá-rio, os seus postulados têm recebi-do confirmação dos mais diferen-tes ramos do conhecimento, man-tendo-se perfeitamente atuais. OEspiritismo tem podido avançarcom as doutrinas científicas e filo-sóficas que nele encontram as ex-plicações necessárias para a per-feita compreensão dos fenômenosque vêm estudando.

Reformador: A que fatores atribui aampla disseminação do Espiritismoem nosso país?Divaldo: Inicialmente, à destinaçãohistórica reservada ao Brasil, nacondição de Coração do Mundo,Pátria do Evangelho, na feliz ima-gem ditada pelo Espírito Hum-berto de Campos através do vene-rando apóstolo da mediunidadeFrancisco Cândido Xavier. Depois,às personagens ilustres e nobresque o abraçaram no século XIX eno seguinte, dentre os quais, Dr.Bezerra de Menezes, Ewerton Qua-dros, Bittencourt Sampaio, para ci-tar apenas alguns dentre os incon-táveis servidores de Jesus, nesse pe-ríodo, seguidos por médiuns notá-veis como Frederico Júnior, Eurí-pedes Barsanulfo, Francisco Cân-dido Xavier, Zilda Gama, Yvonnedo Amaral Pereira, os inesquecí-veis conferencistas Manuel Viannade Carvalho, Ivon Costa, Lameira deAndrade, Batuíra, Cairbar Schutel,dentre outros eminentes divulga-dores e escritores tais como Deo-lindo Amorim, José HerculanoPires, Carlos Imbassahy, Ismael Go-mes Braga, Leopoldo Machado,

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investigadores da talha de HernaniGuimarães Andrade... as obras deamor, de caridade e de ilumina-ção de consciências, que têm si-do erguidas em todo o País, con-firmando o seu caráter cristão edignificador.

Reformador: E no Exterior, comoavalia a difusão do Espiritismo?Divaldo: Felizmente, fora do Brasil,o Movimento Espírita vem-se es-truturando com segurança, firma-do nos alicerces da Codificação,conforme herdamos do ínclito mes-tre Allan Kardec. Em toda parte,os espíritas estão se movimentan-do com eficiência, trabalhandoem prol de corretas traduções dasobras de Kardec, que, no passa-do, não receberam os cuidados ne-cessários, havendo sido adulteradasou mal interpretadas. Concomitan-temente, com esforço e dedicação,empenham-se para levar a Doutri-na aos grandes veículos da mídia,desmistificando-a das acusações deque tem sido vítima pela intolerân-cia e má-fé dos seus opositores, quea atacam sem a conhecer sequer.Espíritas devotados têm viajadopelos mais diferentes rincões le-vando a mensagem clara e purada Doutrina, sensibilizando todosquantos os vão ouvir e com elesconviver. Igualmente, o trabalhonobre de tradução de outras obraspara enriquecimento dos interes-sados tem contribuído eficazmen-te para a sua difusão.

Reformador: O que tem a dizer so-bre o CEI, que está completando 15anos de fundação?

Divaldo: Em ocasião muito felizfoi criado o Conselho Espírita In-ternacional, que vem reunindoas instituições espíritas em umasaudável unificação de propósitoscom o objetivo de se evitar movi-mentos nacionalistas com carac-terísticas estranhas à Codifica-ção, alterações e enxertos perso-nalistas que lhe modificariam aestrutura. Graças a essa provi-dencial realização, os CongressosMundiais, que resultam dos En-contros freqüentes, nos diferen-tes países, oferecem uma paisa-gem harmônica dos conteúdosdoutrinários, firmando-se com-promissos de fidelidade e respei-to à Codificação, que é a linhamestra e o piloti de segurança daDoutrina.

Reformador: Poderá transmitiruma mensagem aos leitores deReformador?Divaldo: O conhecimento do Es-piritismo, conforme o herdamosde Allan Kardec e dos eminentescooperadores do mestre, comoLéon Denis, Gabriel Delanne, Ale-xander Aksakof, Cesare Lombro-so, Ernesto Bozzano, somente pa-ra citar alguns, liberta o ser huma-no dos atavismos infelizes que oretêm na retaguarda, oferecendo--lhe o abençoado campo terrestrede lutas em favor do aperfeiçoa-mento moral. Estudar, portanto, oEspiritismo, para vivê-lo integral-mente, consciente da finalidadeexistencial, é o compromisso quefirmamos no Grande Lar antes doretorno ao corpo físico.

13Outubro 2007 • Reformador 337799

A Allan KardecInaldo Lacerda Lima

Allan Kardec! Além, nas celestes planuras,dentre os gênios do Bem foste escolhido, um dia,para cumprir, aqui, Missão que hoje irradia.Bênçãos de Amor e Fé, de Paz e de venturas!...

Vieste codificar, com sublime porfia,o almo Consolador que o bom Pai, das alturas,a pedido do Cristo enviou às criaturashumanas deste mundo ainda de alma sombria.

Recebe, pois, Kardec, em meus singelos versos,homenagens de Amor e de agradecimentopelo Sol da Esperança em que já vejo, imersos,

Muitos milhões de irmãos, crescendo nessa Luzque o Espiritismo vem trazer a quem alentoprocure no Evangelho eterno de Jesus!

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ntes de Kardec, embora não nos faltasse acrença em Jesus, vivíamos na Terra atribuladospor flagelos da mente, quais os que expomos:

o combate recíproco e incessante entre os discípu-los do Evangelho;

o cárcere das interpretações literais;o espírito de seita;a intransigência delituosa;a obsessão sem remédio;o anátema nas áreas da filosofia e da ciência;o cativeiro aos rituais;a dependência quase absoluta dos templos de

pedra para as tarefas da edificação íntima;a preocupação de hegemonia religiosa;a tirania do medo, ante as sombrias perspectivas

do além-túmulo;o pavor da morte, por suposto fim da vida.

Depois de Kardec, porém, com a fé raciocinadanos ensinamentos de Jesus, o mundo encontra noEspiritismo Evangélico benefícios incalculáveis,como sejam:

a libertação das consciências;a luz para o caminho espiritual;a dignificação do serviço ao próximo;o discernimento;o livre acesso ao estudo da lei de causa e efeito,

com a reencarnação explicando as origens do sofri-mento e as desigualdades sociais;

o esclarecimento da mediunidade e a cura dosprocessos obsessivos;

a certeza da vida após a morte;o intercâmbio com os entes queridos domiciliados

no Além;a seara da esperança;o clima da verdadeira compreensão humana;o lar da fraternidade entre todas as criaturas;a escola do Conhecimento Superior, desvendando

as trilhas da evolução e a multiplicidade das “mora-das” nos domínios do Universo.

Jesus – o amor.Kardec – o raciocínio.Jesus – o Mestre.Kardec – o Apóstolo.

Seguir o Cristo de Deus, com a luz que AllanKardec acende em nossos corações, é a norma re-novadora que nos fará alcançar a sublimação dopróprio espírito, em louvor da Vida Maior.

(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xaiver, em reu-

nião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 24/1/1969,

em Uberaba, Minas.)

Fonte: Reformador de abril de 1979, p. 23(139).

14 Reformador • Outubro 2007 338800

A

Presença de Chico Xavier

ReverenciandoKardec

Pelo Espírito Emmanuel

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esde o lançamento da pri-meira edição de O Livro dosEspíritos, surgiram signifi-

cativas repercussões sobre a obra.De maneira romanceada, vibrantee com riqueza de detalhes, CanutoAbreu focaliza magistralmente osmomentos próximos e o dia dolançamento do livro inaugural doEspiritismo, merecendo de Emma-nuel o comentário de que era uma“[...] tarefa de elevado alcancemoral [...]” e “[...] nem compõemsimples tecitura de fios douradosde ficção. [...] é a revivescência delembranças [...]”.1 Mas, vamos àsfontes de episódios históricos.

No dia 18 de abril de 1857, umdos primeiros adquirentes do no-vo livro foi o jornalista G. du Cha-lard. Pouco tempo depois, numbelo artigo publicado no Courrierde Paris, aos 11 de julho de 1857,este escrevia, entre outras coisas:

O Livro dos Espíritos, do Sr.

Allan Kardec, é uma página no-

va do grande livro do infinito, e

estamos persuadidos de que um

marcador assinalará essa pági-

na. [...] Não conhecemos abso-

lutamente o autor, mas confes-

samos abertamente que fica-

ríamos felizes em conhecê-lo.

Aquele que escreveu a intro-

dução que inicia O Livro dos Es-

píritos deve ter a alma aberta a

todos os sentimentos nobres.2

Entre as correspondências pu-blicadas no primeiro número deRevue Spirite, Kardec transcreve aenviada por um capitão reforma-do da cidade de Bordeaux, escritaaos 25 de abril de 1857:

[...] Quem quer que leia esse

livro meditando, como eu, en-

contrará tesouros inesgotáveis

de consolações, pois que ele

abarca todos as fases da exis-

tência. [...]3

Sobre o mesmo período de tem-po, Léon Denis divulgou, em 1898,*observação muito oportuna:

O abade Leçanu, em sua His-

tória de Satanás, aprecia nes-

tes termos o alcance moral do

Espiritismo:

“Observando-se as máximas de

O Livro dos Espíritos, de Allan

Kardec, faz-se o bastante para

se tornar santo na Terra”.4

A publicação inaugural daDoutrina Espírita foi se dissemi-nando pelo mundo. O Codifica-dor transcreve carta recebida doPeru, de onde destacamos:

Sabíamos que O Livro dos Espí-

ritos tem leitores simpáticos em

todas as partes do mundo, mas

certamente não teríamos sus-

Impactos iniciais de

O Livro dos Espíritos

15Outubro 2007 • Reformador 338811

DAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

*N. da R.: Ano em que foi publicada a 1a

edição de Cristianismo e Espiritismo.

Léon Denis leu O Livro dosEspíritos aos 18 anos

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peitado encontrá-lo entre os

selvagens da América do Sul,

não fosse uma carta que nos fo-

ra enviada de Lima, há poucos

meses [...].

....................................................

Há mais de dez anos freqüento

os povos aborígenes que habi-

tam a encosta oriental dos An-

des, nestas regiões americanas

dos confins do Peru. Vosso O

Livro dos Espíritos, que adquiri

numa viagem a Lima, acompa-

nha-me nestas solidões. [...]

....................................................

[...] Um dia ousei traduzir algu-

mas passagens e fiquei bastante

surpreendido ao ver que eles o

compreendiam muito melhor

do que eu havia pensado, consi-

derando-se certas observações

muito judiciosas que faziam. [...]

....................................................

[...] Ademais, a idéia dos Espí-

ritos não é nova para eles; está

em suas crenças e eles estão per-

suadidos de que é possível con-

versar com os parentes faleci-

dos que os vêm visitar. O ponto

importante de tudo isso é tirar

partido para os moralizar, e não

creio que seja impossível, por-

quanto ainda não têm os vícios

de nossa civilização. [...] A meu

ver, labora-se em erro quando

se imagina que só podemos in-

fluenciar as criaturas ignorantes

falando-lhes aos sentidos. [...] –

Dom Fernando Guerrero.5

Kardec recebeu outras mani-festações das Américas sobre o li-vro, como a carta do presidente daSociedade Espírita do México:

[...] Foi o vosso O Livro dos Espí-

ritos, felizmente chegado entre

nós, que nos abriu os olhos e nos

convenceu da realidade dos fa-

tos que se propagam com tanta

rapidez em todos os pontos do

globo, fazendo-nos compreen-

dê-los. [...] – Ch. Gourgues.6

Um fato notável é relatado pe-lo Espírito Hilário Silva. Em umamanhã de abril de 1860, o Codi-ficador recebeu encomenda que

continha uma longa carta assi-nada por Joseph Perrier e umexemplar de O Livro dos Espíri-tos. O missivista relatava sua his-tória e o desejo de se suicidar, jo-gando-se nas águas do rio Sena,quando sobre a mureta da PonteMarie encontrou um livro. Aoabri-lo, leu em seu frontispício:“Esta obra salvou-me a vida.

Leia-a com atenção e tenha bomproveito. – A. Laurent.

Estupefato, li a obra – ‘O Livrodos Espíritos’ – ao qual acrescen-tei breve mensagem, volume esseque passo às suas mãos abnega-das, autorizando o distinto amigoa fazer dele o que lhe aprouver”. Omissivista acrescentou: “Salvou--me também. Deus abençoe as al-mas que cooperaram em sua pu-blicação. – Joseph Perrier”.7

Em região de tradição muçul-mana houve análise no periódicoAkhbar, de Argel, de 15 de outu-bro de 1861: “[...] um livro de altafilosofia, de uma moral eminen-temente pura e, principalmente,de um efeito muito consoladorpara a alma humana [...]”.8

Episódio histórico e marcanteocorreu com Léon Denis, aos 18anos. Ele passava defronte a umalivraria em Tours e chamou-lhe aatenção o novo título exposto –O Livro dos Espíritos:

Comprei imediatamente o li-

vro, e assimilei o seu conteú-

do. Encontrei ali uma solução

clara, completa, lógica do pro-

blema universal. Firmou-se a

minha convicção. A teoria es-

pírita dissipou minha indife-

rença e minhas dúvidas. Li a

obra com avidez, às escondi-

das de minha mãe, que con-

trolava com desconfiança as

minhas leituras. Mas ela havia

encontrado o meu esconderi-

jo e lia a obra na minha ausên-

cia. Ela se convenceu, como

eu, da grandeza e da beleza

dessa revelação.9

16 Reformador • Outubro 2007338822

“A teoriaespíritadissipouminha

indiferençae minhasdúvidas”

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Embora seja publicação recente,merece destaque a análise do autorfrancês Jean Prieur sobre fatos dasépocas iniciais do Espiritismo:

O sucesso foi imediato e fulgu-

rante. Ele será total e duradou-

ro: cinqüenta edições em cin-

qüenta anos. E isto continua até

os dias de hoje ainda melhor,

depois que o feliz autor caiu no

domínio público.

Há mais comentários:

Todos os meios sociais encon-

tram interesse nos textos do li-

vro, que vai dar uma pincelada

de rejuvenescimento ao cristia-

nismo; todos, desde os operários

de Lyon e de Bordeaux até certos

médicos, advogados, artistas, al-

tos funcionários como o Sr. Du-

faux cuja filha era médium, até

intelectuais como Camille Flam-

marion, e mesmo Napoleão III

que enviou a Kardec uma car-

ruagem não oficial para bus-

cá-lo e recebê-lo em parti-

cular no Palácio das Tulhe-

rias. Na ocasião da morte

de Kardec, em 1869, o nú-

mero de adeptos foi ava-

liado em um milhão. De-

ram prosseguimento à sua

obra dois discípulos dignos

dele: Léon Denis e Gabriel

Delanne. Seus livros, ignorados

da Universidade e das Igrejas,

são constantemente reedita-

dos. As revistas e os grupos

vindos deste pensamento são

numerosos, vivos e tendem a

se multiplicar.10

Referências:1ABREU, Silvino Canuto. O livro dos espí-

ritos e sua tradição histórica e lendária.

São Paulo: Edições LFU, 1992. p. 25.2KARDEC, Allan. Revista espírita. 4. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2005. Janeiro de

1858, “A Doutrina Espírita”, p. 64.3Idem, ibidem. p. 67.4DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo.

15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “Notas

Complementares” n. 6, p. 265.5KARDEC, Allan. Revista espírita. 3. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2005. Maio de 1859,

“O Livro dos Espíritos entre os selva-

gens”, p. 208-210.6Idem, ibidem. Julho de 1861, “Correspon-

dência”, p. 304-306.7XAVIER, Francisco C. O espírito da ver-

dade. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

Cap. 52, p. 127.8KARDEC, Allan. Revista espírita. 3. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2006. Novembro de 1861,

“Opinião de um jornalista”, p. 470-471.9LUCE, Gaston. Vida e obra de Léon Denis.

(Trad. Miguel Maillet). São Paulo: Edicel,

1968. p. 27.10PRIEUR, Jean. Allan Kardec et son épo-

que. Paris: Éditions du Rocher, 2004.

Gabriel Delanne: abordagemfilosófico-científica da Doutrina

Espiritismo é a nossa grande esperança e, por todos os títulos,é o Consolador da humanidade encarnada; mas a nossa mar-

cha é ainda muito lenta. Trata-se de uma dádiva sublime, para aqual a maioria dos homens ainda não possui “olhos de ver”. Esma-gadora porcentagem dos aprendizes novos aproxima-se dessa fontedivina a copiar antigos vícios religiosos. Querem receber proveitos,mas não se dispõem a dar coisa alguma de si mesmos. Invocam averdade, mas não caminham ao encontro dela. Enquanto muitos es-tudiosos reduzem os médiuns a cobaias humanas, numerosos cren-tes procedem à maneira de certos enfermos que, embora curados,crêem mais na doença que na saúde, e nunca utilizam os própriospés. Enfim, procuram-se, por lá, os espíritos materializados parao fenomenismo passageiro, ao passo que nós outros vivemos à pro-cura de homens espiritualizados para o trabalho sério.

O

Fonte: Nosso lar. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 43, “Em conver-sação”, p. 287-288.

André Luiz

Espiritismo

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18 Reformador • Outubro 2007338844

odos os homens possuemalgum tipo de mediunida-de que lhes permite perce-

ber a presença dos Espíritos. Al-guns, porém, são dotados de fa-culdades mais ostensivas, como avidência, que lhes enseja a oportu-nidade de perceber, com nitidez,os Espíritos e o mundo espiritual.

Vêem os bons Espíritos e as suasexpressões simpáticas, assim comoos Espíritos inferiores e suas fei-ções perturbadoras, os ambien-tes espirituais agradáveis eos desagradáveis. Alémdisso, às vezes, captamos pensamentos dos en-carnados, bem como,em certos casos, as suasmás intenções.

A percepção do que é bom,positivo, causa-lhes bem-estar esensação de paz; a do que é ruim,negativo, muitas vezes, provoca--lhes sensação de mal-estar, des-conforto e, em alguns casos, per-turbação. Essas percepções desa-gradáveis ocorrem, com maiorfreqüência – e provocam maisdesconforto – nos médiuns queainda não conseguiram livrar-sedos defeitos que atraem os Espíri-tos inferiores.

É natural que desejem, e atépeçam, para ficar livres delas. Éprovável que não consigam anu-lá-las completamente, porque afaculdade mediúnica, que lhespermite captar o que é bom é amesma; no entanto, a Espirituali-dade pode intervir em seu bene-fício, controlando as manifesta-ções, para que ocorram apenas

no momento dos trabalhos me-diúnicos, e amenizando ou anu-lando os seus efeitos desagradá-veis. Isso, todavia, depende da dis-ciplina e do esforço dos própriosmédiuns, no sentido de combateras imperfeições, que seduzem osEspíritos malfazejos, e desenvol-ver as virtudes, que atraem osbons Espíritos.

Afirma Kardec:

[...] As qualidades que, de prefe-

rência, atraem os bons Espíritos

são: a bondade, a benevolência, a

simplicidade do coração, o amor

do próximo, o desprendimento

das coisas materiais. Os defeitos

que os afastam são: o orgulho,

o egoísmo, a inveja, o ciúme, o

ódio, a cupidez, a sensualidade e

todas as paixões que escravizam

o homem à matéria. (O Livro

dos Médiuns, cap. XX, item 227,

Ed. FEB.)

As virtudes que atraemos bons Espíritos são asmesmas que afastam osinferiores e vice-versa.

Um defeito que exercepoderosa atração sobre os

Espíritos inferiores, conseqüên-cia imediata das imperfeições ci-tadas, é a maledicência. O prazerde comentar o mal, os defeitosdos outros, é sinal indiscutível deimperfeição moral. Os que costu-mam maldizer do próximo man-têm os ouvidos e olhos abertospara tomar conhecimento dosseus defeitos e desacertos.

Dessa forma, despertam a aten-ção e o interesse dos Espíritos vi-ciosos, que descobrem a afinidade

Percepções mediúnicas

TUM B E RTO FE R R E I R A

desagradáveis

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que existe entre eles; daí a atraçãopassa a ser natural.

O hábito de comentar o mal, asnotícias ruins, os acontecimentoschocantes, polui o ambiente dolar e cria um estado mental nega-tivo que, igualmente, atrai e favo-rece a ação dos Espíritos inferiores.Eles aproveitam esses momentospara exercer a sua influência sobreos médiuns, projetando-lhes natela mental cenas desagradáveis;assim favorecem a irritabilidade eos desentendimentos com os seusfamiliares.

Nesse caso, além da mudançade hábitos, da leitura edificante e depreces, é fundamental a realizaçãodo Evangelho no lar.

Não nos referimos ao costumecompreensível que qualquer cida-dão tem de assistir ao noticiárioda mídia e à leitura de jornais erevistas. No entanto, não se podedeixar de salientar que, mesmonesse caso, quem se envolve emo-cionalmente e fica indignado ou

irritado com as injustiças contri-bui para a criação de um ambien-te negativo em casa. Não é neces-sário parar de assistir aos progra-mas de televisão ou de ler sobre osassuntos referidos; é importante

tomar o cuidado de evitar envol-vimento, alterações emocionais,irritação, indignação; é indispen-sável manter a serenidade.

Certa vez, um médium nos disseque o seu mentor espiritual lhehavia recomendado afastar-se doestádio de futebol. Ante a nossa es-tranheza, explicou-nos que a reco-mendação foi justa e oportuna, por-quanto ele não conseguia mantero equilíbrio emocional; irritava-secom jogadores e árbitros e até gri-tava palavras ofensivas. Essas for-tes reações emocionais refletiam--se no seu desempenho mediúnico.Além disso – acrescentamos –, po-deriam facilitar a ação dos Espíri-tos inferiores, que aproveitam to-das as ocasiões favoráveis para di-ficultar o trabalho do bem.

19Outubro 2007 • Reformador 338855

Minha IgrejaPaulo Nunes Batista

Sobre a rocha segura da Verdade,a minha Igreja, para sempre erguida,é Prece de Louvor, agradecida;é Luz, acesa, para a eternidade.

Templo da Paz, abriga a Humanidade;foi de Felicidade construída.Do Aroma da Harmonia, revestida,é, da Beleza, reino e majestade.

Nela trago a Justiça entronizada.Deus, nela, fez a Lúcida Morada,para servir aos náufragos da Dor.

Em júbilos de hosana, e, no “assim seja”,a asa do Bem eleva minha Igrejaalém dos céus puríssimos do Amor.

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antenha sempre a espe-rança na vida e em você.

Somos todos filhosde Deus, o Criador da Vida e doUniverso.

Quando você estiver vivendomomentos ou horas de tristeza edesesperança, em que o céu deseus sentimentos esteja com nu-vens pesadas e carregadas, prestesa explodirem em raios fulminan-tes ou chuva torrencial, pense noAmor infinito de Deus para comas suas criaturas – para com você.

O Sol que nos aquece e nutre avida é o mesmo Sol que alimen-tou e aqueceu milhões de seres,neste planeta maravilhoso, nopassar dos séculos que se sucedemininterruptamente.

As estrelas que, hoje, você vê eque se derramam pelo céu, for-mando a esteira da Via Láctea, sãoos bilhões de sóis e planetas queacompanham os homens atravésdo tempo e das civilizações.

Pense nessa grandeza e nesseAmor de Deus e sua alma produ-zirá as energias da fé, da confian-ça, do otimismo e da alegria, afas-tando ou diminuindo as aflições.

No mundo-escola em que nosencontramos, as dificuldades eatribulações são lições que deve-remos aprender com fé e inteli-gência para construirmos a verda-deira felicidade.

Se você for envolvido por in-compreensões, procure entendera posição do antagonista e, comserenidade, tente esclarecer as cau-sas que as geraram.

Se você está carregando encar-gos e constrangimentos

por causa de familiares,auxilie-os no que pu-

der, mas não retiredeles os seus com-

promissos e as possíveis lições deque também precisam. Ajudar nãoé assumir totalmente o encargo dooutro, pois isso será tirar-lhe a res-ponsabilidade perante a vida.

Se você está enfrentando umproblema, procure acalmar-se.Ore a Deus, ligando-se a Ele parareceber forças e compreensão a fimde, analisando a questão, encon-trar a possível solução.

Deus criou você – individuali-dade imortal, eterna – não apenaso seu corpo. Ele lhe deu movi-mento e desenvolveu as suas per-cepções, que os sentidos e a inteli-gência admiravelmente lhe per-mitem apropriar.

Ele acendeu em você a luz doraciocínio e a chama do amor.

Ele sustenta a sua vida, ampa-ra-o na busca de soluções para osobstáculos que lhe testam a apren-dizagem pela experiência.

Pense nisso e seja qual for aprova ou expiação que lhe amar-gure as horas, confie. Prossiga tra-balhando no bem, para si mesmoe para o próximo, e os raios daalegria aquecerão a sua alma.

Lembre-se, o Amor é a luz do Solbrilhando para todas as criaturas eninguém deve viver sem esperançae nem se sentir órfão de Deus.

Mantenha aesperança

MAY LTO N PA I VA

20 Reformador • Outubro 2007338866

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21Outubro 2007 • Reformador 338877

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“A sua garganta é um sepulcro aberto.”

– PAULO. (ROMANOS, 3:13.)

Sepulcros abertos

eportando-se aos espíritos transviados da luz, asseverou Paulo que têm a

garganta semelhante a sepulcro aberto e, nessa imagem, podemos emoldu-

rar muitos companheiros, quando se afastam da Estrada Real do Evangelho

para os trilhos escabrosos do personalismo delinqüente.

Logo se instalam no império escuro do “eu”, olvidando as obrigações que nos

situam no Reino Divino da Universalidade, transfigura-se-lhes a garganta em ver-

dadeiro túmulo descerrado. Deixam escapar todo o fel envenenado que lhes trans-

borda do íntimo, à maneira dum vaso de lodo, e passam a sintonizar, exclusivamen-

te, com os males que ainda apoquentam vizinhos, amigos e companheiros.

Enxergam apenas os defeitos, os pontos frágeis e as zonas enfermiças das pessoas

de boa vontade que lhes partilham a marcha.

Tecem longos comentários no exame de úlceras alheias, ao invés de curá-las.

Eliminam precioso tempo em palestras compridas e ferinas, enegrecendo as

intenções dos outros.

Sobrecarregam a imaginação de quadros deprimentes, nos domínios da suspeita

e da intemperança mental.

Sobretudo, queixam-se de tudo e de todos.

Projetam emanações entorpecentes de má-fé, estendendo o desânimo e a descon-

fiança contra a prosperidade da santificação, por onde passam, crestando as flores

da esperança e aniquilando os frutos imaturos da caridade.

Semelhantes aprendizes, profundamente desventurados pela conduta a que se

acolhem, afiguram-se-nos, de fato, sepulcros abertos...

Exalam ruínas e tóxicos de morte.

Quando te desviares, pois, para o resvaladiço terreno das lamentações e das

acusações, quase sempre indébitas, reconsidera os teus passos espirituais e recorda

que a nossa garganta deve ser consagrada ao bem, pois só assim se expressará, por

ela, o verbo sublime do Senhor.

R

Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 51, p. 127-128.

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oi em 1854 que pela primeiravez ouvi falar das mesas gi-rantes. Encontrei um dia o

magnetizador, Senhor Fortier, aquem eu conhecia desdemuito tempo e que me dis-se: Já sabe da singular pro-priedade que se acaba dedescobrir no Magnetismo?Parece que já não são so-mente as pessoas que sepodem magnetizar, mastambém as mesas, conse-guindo-se que elas girem ecaminhem à vontade. – “É,com efeito, muito singu-lar, respondi; mas, a rigor,isso não me parece radical-mente impossível. O fluidomagnético, que é uma es-pécie de eletricidade, podeperfeitamente atuar sobreos corpos inertes e fazerque eles se movam.” Osrelatos, que os jornais pu-blicaram, de experiênciasfeitas em Nantes, em Mar-selha e em algumas outrascidades, não permitiam dúvidasacerca da realidade do fenômeno.

Algum tempo depois, encontrei--me novamente com o Sr. Fortier,

que me disse: Temos uma coisamuito mais extraordinária; não sóse consegue que uma mesa se mo-va, magnetizando-a, como tam-

bém que fale. Interrogada, ela res-ponde. – Isto agora, repliquei-lhe, éoutra questão. Só acreditarei quan-do o vir e quando me provarem

que uma mesa tem cérebro parapensar, nervos para sentir e quepossa tornar-se sonâmbula. Até lá,permita que eu não veja no caso

mais do que um conto pa-ra fazer-nos dormir em pé.

Era lógico este raciocí-nio: eu concebia o movi-mento por efeito de umaforça mecânica, mas, igno-rando a causa e a lei do fe-nômeno, afigurava-se-meabsurdo atribuir-se inteli-gência a uma coisa pura-mente material. Achava--me na posição dos incré-dulos atuais, que negamporque apenas vêem umfato que não compreen-dem. Há 50 anos, se a al-guém dissessem, pura esimplesmente, que se po-dia transmitir um despa-cho telegráfico a 500 léguase receber a resposta dentrode uma hora, esse alguémse riria e não teriam falta-do excelentes razões cientí-

ficas para provar que semelhantecoisa era materialmente impossí-vel. Hoje, quando já se conhece alei da eletricidade, isso a ninguém

Allan KardecPrimeira iniciação no Espiritismo

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F

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Experiência com o mocho

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espanta, nem sequer ao campo-nês. O mesmo se dá com todos osfenômenos espíritas. Para quemquer que não conheça a lei que osrege, eles parecem sobrenaturais,maravilhosos e, por conseguinte,impossíveis e ridículos. Uma vezconhecida a lei, desaparece a mara-vilha, o fato deixa de ter o que re-pugne à razão, porque se prende àpossibilidade de ele produzir-se.

Eu estava, pois, diante de umfato inexplicado, aparentementecontrário às leis da Natureza e quea minha razão repelia. Ainda nadavira, nem observara; as experiên-cias, realizadas em presença de pes-soas honradas e dignas de fé, con-firmavam a minha opinião, quan-to à possibilidade do efeito pura-mente material; a idéia, porém, deuma mesa falante ainda não meentrara na mente.

No ano seguinte, estávamos emcomeço de 1855, encontrei-me como Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, queme falou daqueles fenômenos du-rante cerca de uma hora, com o en-tusiasmo que consagrava a todasas idéias novas. Ele era corso, detemperamento ardoroso e enérgicoe eu sempre lhe apreciara as quali-dades que distinguem uma grandee bela alma, porém desconfiava dasua exaltação. Foi o primeiro queme falou na intervenção dos Espí-ritos e me contou tantas coisas sur-preendentes que, longe de me con-vencer, me aumentou as dúvidas.Um dia, o senhor será dos nossos,concluiu. Não direi que não, res-pondi-lhe; veremos isso mais tarde.

Passado algum tempo, pelomês de maio de 1855, fui à casa da

sonâmbula Sra. Roger, em com-panhia do Sr. Fortier, seu magne-tizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier ea Sra. Plainemaison, que daquelesfenômenos me falaram no mes-mo sentido em que o Sr. Carlottise pronunciara, mas em tom mui-to diverso. O Sr. Pâtier era funcio-nário público, já de certa idade,muito instruído, de caráter grave,frio e calmo; sua linguagem pau-sada, isenta de todo entusiasmo,

produziu em mim viva impressãoe, quando me convidou a assistiràs experiências que se realizavamem casa da Sra. Plainemaison, àrua Grange-Batelière, 18, aceiteiimediatamente. A reunião foi mar-cada para terça-feira1 de maio àsoito horas da noite.

Foi aí que, pela primeira vez,

presenciei o fenômeno das mesasque giravam, saltavam e corriamem condições tais que não deixa-vam lugar para qualquer dúvida.Assisti então a alguns ensaios,muito imperfeitos, de escrita me-diúnica numa ardósia, com o au-xílio de uma cesta. Minhas idéiasestavam longe de precisar-se, mashavia ali um fato que necessaria-mente decorria de uma causa. Euentrevia, naquelas aparentes futili-dades, no passatempo que faziamdaqueles fenômenos, qualquer coi-sa de sério, como que a revelaçãode uma nova lei, que tomei a mimestudar a fundo.

Bem depressa, ocasião se meofereceu de observar mais atenta-mente os fatos, como ainda o nãofizera. Numa das reuniões da Sra.Plainemaison, travei conhecimen-to com a família Baudin, que resi-dia então à rua Rochechouart. OSr. Baudin me convidou para as-sistir às sessões hebdomadáriasque se realizavam em sua casa e àsquais me tornei desde logo muitoassíduo.

Eram bastante numerosas essasreuniões; além dos freqüentado-res habituais, admitiam-se todosos que solicitavam permissão paraassistir a elas. Os médiuns eram asduas senhoritas Baudin, que escre-viam numa ardósia com o auxíliode uma cesta, chamada carrapetae que se encontra descrita em O Li-vro dos Médiuns. Esse processo,que exige o concurso de duas pes-soas, exclui toda possibilidade deintromissão das idéias do médium.Aí, tive ensejo de ver comunicaçõescontínuas e respostas a perguntas

23Outubro 2007 • Reformador 338899

1A data ficou em branco no manuscrito.

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“Eu entrevia

[...] no

passatempo

que faziam

daqueles

fenômenos,

qualquer

coisa de sério”

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formuladas, algumas vezes, até, aperguntas mentais, que acusavam,de modo evidente, a intervençãode uma inteligência estranha.

Eram geralmente frívolos os as-suntos tratados. Os assistentes seocupavam, principalmente, de coi-sas respeitantes à vida material, aofuturo, numa palavra, de coisas quenada tinham de realmente sério; acuriosidade e o divertimento eramos móveis capitais de todos. Dava onome de Zéfiro o Espírito que cos-tumava manifestar-se, nome perfei-tamente acorde com o seu caráter ecom o da reunião. Entretanto, eramuito bom e se dissera protetor dafamília. Se com freqüência fazia rir,também sabia, quando preciso, darponderados conselhos e manejar,se ensejo se apresentava, o epigra-ma, espirituoso e mordaz. Relacio-namo-nos de pronto e ele me ofe-receu constantes provas de grandesimpatia. Não era um Espírito mui-to adiantado, porém, mais tarde,assistido por Espíritos superiores,me auxiliou nos meus trabalhos.Depois, disse que tinha de reencar-nar e dele não mais ouvi falar.

Foi nessas reuniões que come-cei os meus estudos sérios de Espi-ritismo, menos, ainda, por meio derevelações, do que de observações.Apliquei a essa nova ciência, comoo fizera até então, o método expe-rimental; nunca elaborei teoriaspreconcebidas; observava cuidado-samente, comparava, deduzia con-seqüências; dos efeitos procuravaremontar às causas, por dedução epelo encadeamento lógico dos fa-tos, não admitindo por válida umaexplicação, senão quando resolvia

todas as dificuldades da questão.Foi assim que procedi sempre emmeus trabalhos anteriores, desde aidade de 15 a 16 anos. Compreen-di, antes de tudo, a gravidade da ex-ploração que ia empreender; per-cebi, naqueles fenômenos, a chavedo problema tão obscuro e tãocontrovertido do passado e do fu-turo da Humanidade, a soluçãoque eu procurara em toda a minhavida. Era, em suma, toda uma re-volução nas idéias e nas crenças; fa-zia-se mister, portanto, andar coma maior circunspeção e não levia-namente; ser positivista e não idea-lista, para não me deixar iludir.

Um dos primeiros resultadosque colhi das minhas observaçõesfoi que os Espíritos, nada mais sen-do do que as almas dos homens,não possuíam nem a plena sabe-doria, nem a ciência integral; queo saber de que dispunham se cir-cunscrevia ao grau, que haviamalcançado, de adiantamento, e quea opinião deles só tinha o valor deuma opinião pessoal. Reconheci-da desde o princípio, esta verdademe preservou do grave escolho decrer na infalibilidade dos Espíritose me impediu de formular teoriasprematuras, tendo por base o quefora dito por um ou alguns deles.

O simples fato da comunicaçãocom os Espíritos, dissessem eles oque dissessem, provava a existênciado mundo invisível ambiente. Jáera um ponto essencial, um imen-so campo aberto às nossas explora-ções, a chave de inúmeros fenô-menos até então inexplicados. Osegundo ponto, não menos impor-tante, era que aquela comunicação

permitia se conhecessem o estadodesse mundo, seus costumes, se as-sim nos podemos exprimir. Vi lo-go que cada Espírito, em virtudeda sua posição pessoal e de seusconhecimentos, me desvendavauma face daquele mundo, do mes-mo modo que se chega a conhecero estado de um país, interrogandohabitantes seus de todas as classes,não podendo um só, individual-mente, informar-nos de tudo.Compete ao observador formar oconjunto, por meio dos documen-tos colhidos de diferentes lados,colecionados, coordenados e com-parados uns com outros. Condu-zi-me, pois, com os Espíritos, co-mo houvera feito com homens.Para mim, eles foram, do menorao maior, meios de me informar enão reveladores predestinados.

Tais as disposições com que em-preendi meus estudos e neles pros-segui sempre. Observar, comparare julgar, essa a regra que constan-temente segui.

Até ali, as sessões em casa do Sr.Baudin nenhum fim determinadotinham tido. Tentei lá obter a reso-lução dos problemas que me inte-ressavam, do ponto de vista da Filo-sofia, da Psicologia e da natureza domundo invisível. Levava para cadasessão uma série de questões prepa-radas e metodicamente dispostas.Eram sempre respondidas com pre-cisão, profundeza e lógica. A partirde então, as sessões assumiram ca-ráter muito diverso. Entre os assis-tentes contavam-se pessoas sérias,que tomaram por elas vivo interessee, se me acontecia faltar, ficavamsem saber o que fazer. As perguntas

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fúteis haviam perdido, para a maio-ria, todo atrativo. Eu, a princípio,cuidara apenas de instruir-me;mais tarde, quando vi que aquiloconstituía um todo e ganhava asproporções de uma doutrina, tivea idéia de publicar os ensinos re-cebidos, para instrução de toda agente. Foram aquelas mesmas ques-tões que, sucessivamente desen-volvidas e completadas, constituí-ram a base de O Livro dos Espíritos.

No ano seguinte, em 1856, fre-qüentei ao mesmo tempo as reu-niões espíritas que se celebravamà rua Tiquetone, em casa do Sr.Roustan e Srta. Japhet, sonâmbu-la. Eram sérias essas reuniões e serealizavam com ordem. As comu-nicações eram transmitidas porintermédio da Srta. Japhet, mé-dium, com auxílio da cesta de bico.

Estava concluído, em grandeparte, o meu trabalho e tinha asproporções de um livro. Eu, po-rém, fazia questão de submetê-loao exame de outros Espíritos, como auxílio de diferentes médiuns.Lembrei-me de fazer dele objeto deestudo nas reuniões do Sr. Roustan.Ao cabo de algumas sessões, dis-seram os Espíritos que preferiamrevê-lo na intimidade e marcarampara tal efeito certos dias nos quaiseu trabalharia em particular com aSrta. Japhet, a fim de fazê-lo commais calma e também de evitar asindiscrições e os comentários pre-maturos do público.

Não me contentei, entretanto,com essa verificação; os Espíritosassim mo haviam recomendado.Tendo-me as circunstâncias postoem relação com outros médiuns,

sempre que se apresentava oca-sião eu a aproveitava para proporalgumas das questões que me pa-reciam mais espinhosas. Foi assimque mais de dez médiuns presta-ram concurso a esse trabalho. Dacomparação e da fusão de todas asrespostas, coordenadas, classifica-das e muitas vezes retocadas no si-lêncio da meditação, foi que ela-borei a primeira edição de O Livrodos Espíritos, entregue à publici-dade em 18 de abril de 1857.

Pelos fins desse mesmo ano, asduas Srtas. Baudin se casaram;as reuniões cessaram e a famíliase dispersou. Mas, então, já asminhas relações começavam a di-latar-se e os Espíritos me multi-plicaram os meios de instrução,tendo em vista meus ulteriorestrabalhos.

Fonte: KARDEC, Allan. Obras póstumas. 39.

ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “A minha pri-

meira iniciação no Espiritismo”, p. 295-301.

Capa

Registramos a desencarnação,em Cuiabá, no dia 20 de agosto,do confrade José Cordeiro Netto,trabalhador incansável no Movi-mento Espírita matogrossense. Foicoordenador da Secretaria daFederação Espírita do Estado de

Mato Grosso por muitos anos edesempenhou atividades junto avárias instituições espíritas deCuiabá.

Aos seareiros do Consolador,em seu retorno à Pátria Espiritual,rogamos as bênçãos de Jesus.

25Outubro 2007 • Reformador 339911

Retorno à Pátria Espiritual

Desencarnou em Belo Horizon-te, no dia 3 de setembro, o confra-de José Martins Peralva Sobrinho,dedicado servidor da Seara Espí-rita. Estudioso das obras de AllanKardec e das psicografadas porFrancisco Cândido Xavier, Mar-tins Peralva, como era conhecido,além de excelente expositor da

Doutrina e do Evangelho, era con-sagrado escritor, tendo publicado,pela Editora da Federação Espí-rita Brasileira, os livros Estudandoa Mediunidade, Estudando o Evan-gelho, Mediunidade e Evolução eO Pensamento de Emmanuel; pe-la Editora da União Espírita Mi-neira, Mensageiros do Bem.

José MartinsPeralva Sobrinho

José Cordeiro Netto

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ergunta (à Verdade) – BomEspírito, eu desejara sabero que pensas da missão que

alguns Espíritos me assinaram.Dize-me, peço-te, se é uma provapara o meu amor-próprio. Tenho,como sabes, o maior desejo decontribuir para a propagação daverdade, mas, do papel de simplestrabalhador ao de missionário emchefe, a distância é grande e nãopercebo o que possa justificar emmim graça tal, de preferência atantos outros que possuem talentoe qualidades de que não disponho.

Resposta – Confirmo o que tefoi dito, mas recomendo-te muitadiscrição, se quiseres sair-te bem.Tomarás mais tarde conhecimen-to de coisas que te explicarão oque ora te surpreende. Não esque-ças que podes triunfar, como po-des falir. Neste último caso, outrote substituiria, porquanto os de-sígnios de Deus não assentam nacabeça de um homem. Nunca,pois, fales da tua missão; seria amaneira de a fazeres malograr-se.Ela somente pode justificar-se pe-la obra realizada e tu ainda nadafizeste. Se a cumprires, os homenssaberão reconhecê-lo, cedo outarde, visto que pelos frutos é quese verifica a qualidade da árvore.

P. – Nenhum desejo tenho cer-tamente de me vangloriar de umamissão na qual dificilmente creio.Se estou destinado a servir de ins-trumento aos desígnios da Provi-dência, que ela disponha de mim.Nesse caso, reclamo a tua assistên-cia e a dos bons Espíritos, no sen-tido de me ajudarem e ampara-rem na minha tarefa.

R. – A nossa assistência não tefaltará, mas será inútil se, de teulado, não fizeres o que for neces-sário. Tens o teu livre-arbítrio, doqual podes usar como o entende-res. Nenhum homem é constran-gido a fazer coisa alguma.

P. – Que causas poderiam deter-minar o meu malogro? Seria a insu-ficiência das minhas capacidades?

R. – Não; mas, a missão dos re-formadores é prenhe de escolhos eperigos. Previno-te de que é rude atua, porquanto se trata de abalar etransformar o mundo inteiro. Nãosuponhas que te baste publicar umlivro, dois livros, dez livros, para emseguida ficares tranqüilamente emcasa. Tens que expor a tua pessoa.Suscitarás contra ti ódios terríveis;inimigos encarniçados se conjura-rão para tua perda; ver-te-ás a bra-ços com a malevolência, com a ca-

lúnia, com a traição mesma dosque te parecerão os mais dedicados;as tuas melhores instruções serãodesprezadas e falseadas; por maisde uma vez sucumbirás sob o pe-so da fadiga; numa palavra: terás desustentar uma luta quase contínua,com sacrifício de teu repouso, datua tranqüilidade, da tua saúde e atéda tua vida, pois, sem isso, viveriasmuito mais tempo. Ora bem! nãopoucos recuam quando, em vez deuma estrada florida, só vêem sob ospassos urzes, pedras agudas e ser-pentes. Para tais missões, não bastaa inteligência. Faz-se mister, pri-meiramente, para agradar a Deus,humildade, modéstia e desinteres-se, visto que Ele abate os orgulho-sos, os presunçosos e os ambiciosos.Para lutar contra os homens, sãoindispensáveis coragem, perseve-rança e inabalável firmeza. Tam-bém são de necessidade prudênciae tato, a fim de conduzir as coisas demodo conveniente e não lhes com-prometer o êxito com palavras oumedidas intempestivas. Exigem-se,por fim, devotamento, abnegaçãoe disposição a todos os sacrifícios.

Vês, assim, que a tua missão es-tá subordinada a condições quedependem de ti.

Espírito Verdade

Minha missão

P

Diálogo de Allan Kardec com o Espírito Verdade, em 12 de junho de 1856,

sendo médium a Srta. Aline C.

Capa

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Eu – Espírito Verdade, agrade-ço os teus sábios conselhos. Aceitotudo, sem restrição e sem idéiapreconcebida.

Senhor! pois que te dignastelançar os olhos sobre mim paracumprimento dos teus desígnios,faça-se a tua vontade! Está nastuas mãos a minha vida; dispõe doteu servo. Reconheço a minha fra-queza diante de tão grande tarefa;a minha boa vontade não desfale-cerá, as forças, porém, talvez metraiam. Supre à minha deficiência;dá-me as forças físicas e morais queme forem necessárias. Ampara-menos momentos difíceis e, com oteu auxílio e dos teus celestes men-sageiros, tudo envidarei para cor-responder aos teus desígnios.

NOTA – Escrevo esta nota a 1o

de janeiro de 1867, dez anos e meiodepois que me foi dada a comuni-cação acima e atesto que ela se rea-lizou em todos os pontos, pois ex-perimentei todas as vicissitudesque me foram preditas. Andei emluta com o ódio de inimigos encar-niçados, com a injúria, a calúnia, ainveja e o ciúme; libelos infames sepublicaram contra mim; as melho-res instruções foram falseadas; traí-ram-me aqueles em quem eu mais

confiança depositava, pagaram-mecom a ingratidão aqueles a quemprestei serviços. A Sociedade de Pa-ris se constituiu foco de contínuasintrigas urdidas contra mim poraqueles mesmos que se declaravama meu favor e que, de boa fisiono-mia na minha presença, pelas cos-tas me golpeavam. Disseram que osque se me conservavam fiéis esta-vam à minha soldada e que eu lhespagava com o dinheiro que ganha-va do Espiritismo. Nunca mais mefoi dado saber o que é o repouso;mais de uma vez sucumbi ao exces-so de trabalho, tive abalada a saúdee comprometida a existência.

Graças, porém, à proteção e as-sistência dos bons Espíritos queincessantemente me deram mani-festas provas de solicitude, tenhoa ventura de reconhecer que nun-ca senti o menor desfalecimentoou desânimo e que prossegui,sempre com o mesmo ardor, nodesempenho da minha tarefa, semme preocupar com a maldade deque era objeto. Segundo a comu-nicação do Espírito de Verdade,eu tinha de contar com tudo issoe tudo se verificou.

Mas, também, a par dessas vi-cissitudes, que de satisfações expe-rimentei, vendo a obra crescer de

maneira tão prodigiosa! Com quecompensações deliciosas forampagas as minhas tribulações! Quede bênçãos e de provas de realsimpatia recebi da parte de mui-tos aflitos a quem a Doutrina con-solou! Este resultado não moanunciou o Espírito de Verdadeque, sem dúvida intencionalmente,apenas me mostrara as dificulda-des do caminho. Qual não seria,pois, a minha ingratidão, se mequeixasse! Se dissesse que há umacompensação entre o bem e o mal,não estaria com a verdade, por-quanto o bem, refiro-me às satis-fações morais, sobrelevaram demuito o mal. Quando me sobrevi-nha uma decepção, uma contra-riedade qualquer, eu me elevavapelo pensamento acima da Hu-manidade e me colocava anteci-padamente na região dos Espíritose desse ponto culminante, dondedivisava o da minha chegada, asmisérias da vida deslizavam porsobre mim sem me atingirem. Tãohabitual se me tornara esse modode proceder, que os gritos dosmaus jamais me perturbaram.

Fonte: KARDEC, Allan. Obras póstumas.

39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “Minha

missão”, p. 312-316.

Capa

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egundo o Dicionário Houaiss,emoção é agitação de sen-timentos; abalo afetivo ou

moral; turbação, comoção. A Me-dicina conceitua como “paixõesou sensibilidades caracterizadaspor mudanças físicas no corpo,como a alteração da freqüênciacardíaca e atividade respiratória,reações vasomotoras e alteraçõesno tônus muscular”.1 A Biologiaensina que as emoções são meca-nismos evolutivos da sobrevivên-cia humana, moduladas por hor-mônios e neurotransmissores. APsicologia informa que a emoção éuma reação orgânica de intensida-de e duração variáveis, geralmen-te acompanhada de alterações res-piratórias, circulatórias, etc., e degrande excitação mental. A Filoso-fia aplica a “[...] esse nome qual-quer estado, movimento ou con-dição que provoque no animal ouno homem a percepção de valor,alcance ou importância, que de-terminada situação tem para suavida, suas necessidades, seus inte-resses”.2 Emoção, no dizer de Aris-tóteles (Ethica nicomachea. II, 4),

seria a afeição da alma, acompa-nhada pelo prazer ou pela dor.

Para a Doutrina Espírita, a am-plificação das emoções produz aspaixões que conduzem os homensà realização de grandes coisas,boas ou más.3

Eis o que afirma Kardec:

As paixões são alavancas que de-

cuplicam as forças do homem e

o auxiliam na execução dos de-

sígnios da Providência. Mas, se,

em vez de as dirigir, deixa que

elas o dirijam, cai o homem nos

excessos e a própria força que,

manejada pelas suas mãos, po-

deria produzir o bem, contra ele

se volta e o esmaga.

Todas as paixões têm seu prin-

cípio num sentimento, ou numa

necessidade natural. O princípio

das paixões não é, assim, um

mal, pois que assenta numa das

condições providenciais da nos-

sa existência. A paixão propria-

mente dita é a exageração de

uma necessidade ou de um sen-

timento. Está no excesso e não

na causa e este excesso se torna

um mal, quando tem como con-

seqüência um mal qualquer.

Toda paixão que aproxima o ho-

mem da natureza animal afas-

ta-o da natureza espiritual.

Todo sentimento que eleva o

homem acima da natureza

animal denota predominância

do Espírito sobre a matéria e

o aproxima da perfeição.4

As alterações físicas e fi-sionômicas comuns nasmanifestações emo-cionais serviram debase para a constru-ção da atual teoria fi-siológica da emoção. Comesta teoria, iniciou-se umperíodo de férteis pesquisascientíficas no Planeta, como adesenvolvida pela equipe dopsicólogo James Gross, professorda Universidade de Stanford, naCalifórnia, Estados Unidos, ou acoordenada pela professora Dona-tella Marazziti, da Universidadede Pisa, Itália. Estas e outras contri-buições semelhantes são conside-radas estudos éticos, realizados no

S

Em dia com o Espiritismo

A emoçãohumana

MA RTA AN T U N E S MO U R A

28 Reformador • Outubro 2007 339944

reformador outubro 2007 - b.qxp 26/10/2007 10:06 Page 28

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ser humano vivo, utilizando-se demodernos recursos tecnológicos,como a ressonância magnética as-sociada a programas de computa-ção eletrônica. Tais pesquisas im-pulsionam o desenvolvimento dasneurociências, sobretudo porqueoferecem subsídios à compreensãoda complexa personalidade huma-na e das patologias mentais relacio-nadas ao desequilíbrio emocional.

O Espiritismo amplia essa com-preensão. Demonstra que a emo-ção está intimamente relacionada

às manifestações da afetividade eda sensibilidade do ser espiritual,o qual, em seus processos naturaisde percepção e intercâmbio me-diúnicos, evidencia reações de sim-patia e antipatia, com “[...] as suasraízes profundas no espírito, nasutilíssima entrosagem dos flui-dos peculiares a cada um [...]”.5

Sob o impacto emocional,“[...] o homem recebe ‘certa quan-tidade de força mental’ em seucampo de pensamento, como ofio recebe a ‘carga da eletricidadepositiva’. O ponto de recepção estáefetivamente no cérebro, mas se acriatura não está identificada coma lei de domínio emotivo, que

manda selecionar as emissõesque chegam até nós, ambien-

tará a força perturbadoradentro de si mesmo, na

intimidade das célulasorgânicas, com grandeprejuízo para as zonasvulneráveis”.6

As forças que caracteri-zam a emoção humana, tais

como medo, pesar, alegria, rai-va ou luxúria, surgem numa re-

gião do cérebro denominada siste-ma límbico. Em termos evolu-tivos, o sistema límbico aparecepela primeira vez nos mamíferos eestá situado na superfície média docérebro, logo abaixo do neocórtex,local de processamento racional.O sistema límbico, popularmenteconhecido como o “centro da emo-ção”, é área onde existem diferen-tes tipos de células que formam seisestruturas neurais distintas, comcaracterísticas e funções específicas,mas que trabalham de forma inte-

grada, associadas à ação de hormô-nios ou de neurotransmissores.

Julgamos importante destacarque as emoções podem ser educa-das ou controladas, segundo ascomprovações científicas. Existeconsenso entre os cientistas de quea criança na faixa dos três a cincoanos já identifica, por exemplo, anatureza das emoções, boas e más,evolutivamente herdadas dos an-cestrais. Investigações científicasrealizadas com crianças menores,a partir de 18 meses, demonstramcomo ocorre o desenvolvimentodo paladar, caracterizado pelo pra-zer ou nojo (repugnância) ao ali-mento. Neste contexto, admite-seque distúrbios psicossociais, comofobias, agressividade, etc., podemser precocemente reconhecidos econtrolados pela ação de proces-sos educativos, associados, ou não,a tratamentos médico-psicológi-cos. Assim, a educação modernacoloca a emoção em pé de igualda-de com a razão, não mais a consi-derando algo inoportuno, um fe-nômeno incontrolável, mesmo noque diz respeito às enfermidades aela relacionadas.

Além do mais, afirma DanielGoleman, o controle emocionalsurge na vida do Espírito comoum premente imperativo:

Estes são os tempos em que o

tecido social parece esgarçar-se

com rapidez cada vez maior; em

que o egoísmo, a violência e a

mesquinhez de espírito parecem

estar fazendo apodrecer a bonda-

de de nossas vidas comunitárias.

Aqui, a defesa da importância

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emocional depende da ligação

entre sentimento, caráter e ins-

tintos morais. [...] Os que estão

à mercê dos impulsos – os que

não têm autocontrole – sofrem

uma deficiência moral. A capaci-

dade de controlar os impulsos é

a base da força de vontade e do

caráter. Justamente por isso, a

raiz do altruísmo está na empa-

tia, a capacidade de ler emoções

nos outros; sem um senso da ne-

cessidade ou desespero do outro,

não há envolvimento. E se há

duas posições morais que nossos

tempos exigem são precisamente

estas, autocontrole e piedade.7

Elisabeth Pacherie, pesquisadorado Instituto Jean Nicod, de Paris,afirma que o autocontrole emo-cional é também governado pornormas sociais: “Nossas emoçõesnão são somente reguladas pelasconseqüências de nossas ações,mas pela consciência das emoçõesque os outros exprimem em rela-ção a estas ações. Nós imaginamoscomo a nossa conduta é percebida

e julgada pelos outros; conformesua aprovação ou reprovação senti-mos vergonha, orgulho ou culpa”.8

Em síntese, o equilíbrio das emo-ções preserva a saúde física e psí-quica, evitando somatizações inde-sejáveis, uma vez que “[...] do quehá em abundância no coração, dis-so fala a boca”. (Mateus, 12:34.)

Perante tais colocações, é medi-da de bom senso, segundo o Espí-rito André Luiz, alimentar-se des-tes medicamentos evangélicos:

Ajude sempre.

Não tema.

Jamais desespere.

Aprenda incessantemente.

Pense muito.

Medite mais.

Fale pouco.

Retifique, amando.

Trabalhe feliz.

Dirija, equilibrado.

Obedeça, contente.

Não se queixe.

Siga adiante.

Repare além.

Veja longe.

Discuta serenamente.

Faça luz.

Semeie paz.

Espalhe bênçãos.

Lute, elevando.

Seja alegre.

Viva desassombrado.

Demonstre coragem.

Revele calma.

Respeite tudo.

Ore, confiante.

Vigie, benevolente.

Caminhe, melhorando.

Sirva hoje.

Espere o amanhã.9

Referências:1DAVIS, F. A. Dicionário médico enciclopé-

dico taber. Tradução de Fernando Gomes do

Nascimento. 1. ed. brasileira (17. ed. ame-

ricana). São Paulo: Manole, 2000. p. 572.2ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filo-

sofia. Coordenação de Alfredo Bosi. Tra-

dução de Ivone Castilho Benedetti. 4. ed.

São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 311.3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 89.

ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 907.4Idem, ibidem. Questão 908, comentário

de Kardec.5XAVIER, Francisco Cândido. O consola-

dor. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed.

2004. Questão 173.6______. Missionários da luz. Pelo Espíri-

to André Luiz. 41. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2006. Cap. 14, p. 302.7GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocio-

nal. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. p. 12.8PACHERIE, Elisabeth. “Sentimentos sob

controle” In: Mente e cérebro. Tradução de

Marcel Croveil. Edição especial, n. 9. São

Paulo: Ediouro-Duetto Editorial. p. 25.9XAVIER, Francisco Cândido. Agenda cris-

tã. Pelo Espírito André Luiz. 16. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2007. Cap. 5.

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No dia 15 de agosto ocorreu aMarcha Cívica Nacional Em Defe-sa da Vida – Brasil Sem Aborto,em Brasília. O evento foi promo-vido pelo Movimento Brasil SemAborto, contando na sua Comis-são Organizadora com as institui-ções: Federação Espírita Brasi-leira (FEB), Arquidiocese de Bra-sília, Legião da Boa Vontade (LBV),Conselho Interdenominacionalde Igrejas Evangélicas do Brasil,Seicho-no-ie, Iniciativa das Reli-giões Unidas (URI), e várias ou-tras representações da SociedadeCivil e Entidades Religiosas.

A Marcha saiu das cercaniasda Catedral de Brasília e caminhoupela Esplanada dos Ministériosem direção ao palco montado emfrente ao Congresso Nacional.Cerca de vinte mil pessoas estive-ram presentes. Houve apresenta-ções artísticas e manifestações depersonalidades, como o bispo au-xiliar da diocese de São Paulo,Dom Pedro Luiz Stringhini (re-presentante da CNBB), pastorFad Faraj (Conselho Interdeno-minacional de Igrejas Evangéli-cas do Brasil), Nestor João Ma-

sotti (presidente da FEB), Marí-lia de Castro (Rede Brasileira deEntidades Filantrópicas), Marle-ne Nobre (Associação Médico--Espírita do Brasil); Paulo Maia(Federação Espírita do DistritoFederal), Inaildo Viana (Legiãoda Boa Vontade), políticos, comoa ex-senadora Heloísa Helena e odeputado Luiz Carlos Bassuma.

A FEB montou uma tenda deapoio e de distribuição de mate-rial, próximo ao palco, com am-pla entrega do Suplemento deReformador (de agosto) sobre “AVida e o Aborto na visão espírita”

e outro folheto com os textos doopúsculo sobre Aborto, de suaCampanha Em Defesa da Vida.Neste local a FEB atendeu, tam-bém, a escolares que tinham atarefa de preparar trabalhos so-bre o tema “Aborto”. Nos diasanteriores houve carreata em vá-rios locais do Distrito Federal efarta distribuição de material so-bre a Marcha, a qual foi coorde-nada por Jaime Ferreira Lopes,presidente do Movimento BrasilSem Aborto. Definiu-se que aMarcha Nacional será repetidaanualmente.

FEB na Marcha CívicaNacional Em Defesa da Vida –

Brasil Sem Aborto

Nestor João Masotti, presidente da FEB, falando ao públicodurante o evento

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elicidade exige esforço. E umdos mais importantes é jo-gar fora o que não presta e

não serve mais para se atingir atranqüilidade interior.

Tirar fardos inúteis dos ombrosé tarefa imediata. Ser feliz é a me-ta. É preciso definitivamente dei-xar de ser um carregador de tra-lhas mentais e emocionais, que sófazem atrapalhar a caminhadarumo à alegria plena de umcoração amadurecido.

Há uma multidão depessoas carregando ummausoléu de crençaslimitantes e autopu-nitivas dentro de si.

Acreditam que nãosão capazes de gran-des conquistas e fazemquestão de mostrar is-so a si mesmas todos osdias. Chegam a torcercontra a própria felicidade,preferindo pensar que nuncavão conseguir o que almejam por-que não sabem ou não queremaprender como chegar lá.

Não há escapatória. Se a pessoaquer crescer, precisa resolver mui-to bem suas pendências com opassado. E nesse “ontem” de sua

vida, não me refiro a reencarna-ções anteriores, mas sim à atual,onde teve início uma série deemoções básicas que esperam porsoluções adequadas, no imediatode seu tempo presente.

Precisamos aprender a parar dejogar a culpa de nossos fracassos e

insucessos atuais no passado lon-gínquo de outras vidas. Esse me-canismo de fuga é mais uma arti-manha da zona íntima de confor-to de quem não quer mexer no“vespeiro” da necessidade da trans-

formação interior e assumir suareal responsabilidade pelos atos eemoções do presente.

Ora, se a vida superior nospreserva da lembrança de vivên-cias marcantes de encarnaçõespassadas, é porque se faz neces-sário extrair da nova oportuni-dade reencarnatória tudo que elanos propicia de reorganização

pessoal de nossas atitudes coma lei de amor. É preciso apa-

gar temporariamente opassado para jogar o fo-

co da renovação nopresente real de nos-sas possibilidades.

Auto-ace i taçãoimplica satisfação e

alegria por eu serquem sou. Significa re-

conhecimento de meuslimites, mas também com-

preensão de minhas chancesde crescimento e autocarinho

diante de meus esforços em buscade um ser melhor.

Entre as características de umser humano que aprendeu a se au-to-aceitar está o fato de ele se reve-lar ao mundo uma criatura feliz.As pessoas que construíram essaautopercepção e sustentam-na

O desafio daauto-aceitação

FCA R LO S AB R A N C H E S

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diariamente estão sempre em boacompanhia. Aqueles que dizemser felizes, mas se autodestroemou prejudicam os outros, não sãofelizes essencialmente.

Quem se auto-aceita não vêbarreiras em procurar alguém. Aocontrário, oferece-se às relaçõespessoais como um presente, eaceita o outro como uma dádivaa ser descoberta também. E se ocaso for ficar só por um tempo,aceita o momento com maturi-dade, porque, para ele, estar so-zinho nunca será um problema,e sim uma oportunidade de sen-tir-se em paz.

Quem se aceita aprende a con-viver com elogios e sobretudo a ofe-recê-los, reconhecendo-os comoestímulos a si mesmo e aos outros.Pára com aquela conduta de falsahumildade, de dizer que não me-rece o reconhecimento, que acre-dita não passar de um pontinhode quase-nada diante da grande-za de tudo. Se eu me amo,será natural que admita apossibilidade de outrosme amarem também.

Por se aceitar, a pessoa desco-bre a beleza de conviver com seu seressencial, sem máscaras, sem pre-cisar forjar uma realidade queainda não é em si. Poderá atingir

seu objetivo, mas ainda falta umlongo caminho pela frente, quepode e deve ser trilhado com au-to-aceitação e desejo de acertarsempre mais.

Por se aceitar, a criatura reco-nhece que certos atos menos feli-zes não têm a força de derrubá-lamoralmente, e por isso considera--os no tamanho real de seus im-pactos. Nem mais, nem menos.Apenas o peso adequado para oque eles merecem.

Quem se aceita aprende a reco-nhecer e atender a suas necessida-des. Sabe que se não se amar, nãovai poder amar alguém. Ao mesmotempo, sabe dizer “não” na horaexata, como o pai que cuida comatenção e afeto do filho que lhepede tudo, mas que deve aprendera conviver com o necessário.

Aceitar-se implica se autodeter-minar. A pessoa dedica-se a consu-mir suas energias vitais na defini-ção de metas e na concretização

de seus ideais de felicidade. E issoimplica manter os pés no chão

da realidade e aplicar as forças deforma sábia na definição de umavida saudável e equilibrada.

Na pessoa que se aceita, a guer-ra interior já acabou. Ela não per-de tempo em ficar se martirizan-do. Parte logo para saber o queprecisa fazer a fim de colaborar,uma vez por todas, com a melho-ria do mundo. É a hora em que,conforme afirma Emmanuel, a“cruz” se transforma na espadafincada no chão, cravando o fimdos conflitos e a primazia da paz.E é muito bom estar em paz paratrabalhar em harmonia pelo bemdo mundo.

Como nesse contexto íntimoas armas foram depostas e defini-tivamente guardadas, a dor quecostumava visitar o ser e às vezesnele fazer morada já não encon-tra mais espaço para permanecer,deixando o lugar para a felicida-

de duradoura.Auto-aceitar-se

é deixar que a cons-ciência de si mesmo

tome conta do cora-ção, entregando-o ma-

duro e resoluto às forçasmais elevadas da vida, para

que o Senhor faça de nós defi-nitivamente instrumentos fiéisde sua imensa paz.

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egundo Allan Kardec, hádois tipos de materialis-tas: os que o são por sis-

tema, e racionalizam a seu modoo ceticismo,1 e os que permane-cem materialistas por falta de al-guma coisa melhor (O Livro dosMédiuns, cap. III). São estes últi-mos aqueles que, desencantadoscom os abusos religiosos, decidi-ram afastar-se da fé. Não poden-do mais aceitar o irracionalismodas teologias tradicionais, deser-tam das suas fileiras e abraçam oceticismo, porém o fazem maispor falta de opção do que porconvencimento.

Os primeiros, orgulhosos desua posição, encastelam-se empontos de vista, e quase semprerecusam o conhecimento que pos-sa contrariar seus princípios. Ossegundos, tão logo se lhes apre-

sente uma opção de acordo comas exigências de seu intelecto, aban-donam o ceticismo e aderem no-vamente à fé.

Muitos militantes da DoutrinaEspírita já foram declaradamenteateus, em virtude de uma recusaabsoluta para aceitar crenças tra-dicionais que pretendem impordogmas como a humanização deDeus (antropomorfismo), os cas-tigos eternos, a divindade de Cris-to, a herança do pecado original, ocriacionismo bíblico, além de ou-tros como a infalibilidade papal,salvação pela fé, inerrância bíbli-ca, etc. É por isso que muitos estu-dantes da área científica acabampor migrar da religião para o ateís-mo, e num primeiro momento nãodeixam de ter razão.

A Ciência tem um modelo po-sitivo de pesquisa, aceitando so-mente aquilo que de alguma formapode ser demonstrado, enquantoas religiões acientíficas pregam o“creio, mesmo que seja absurdo”.

O método científico, entretan-

to, não tem conseguido “provar” ainexistência de Deus. Em pesqui-sa realizada em 1996, junto à co-munidade científica norte-ame-ricana sobre crença religiosa, 40%dos entrevistados declararamacreditar em Deus à sua maneira.Ora, se a Ciência pudesse provardefinitivamente a não-existênciade Deus, não poderia haver, tam-bém, nenhum homem de ciênciaque admitisse a sua existência.Nem ao menos como hipótese.Podemos então, em função disso,estabelecer o seguinte princípio:possuir uma mentalidade científi-ca não é o mesmo que ser ateu.Não é a fé incompatível com aCiência, mas a abordagem não--científica da fé.

É fato que, em alguns casos, sepoderá encontrar pessoas revesti-das de razoável grau de informa-ção, abraçando crenças irracionais.O que vem demonstrar que infor-mação não é tudo, quando se trata

Materialismo

SRO NA L D O MI G U E Z

1Atitude ou doutrina segundo a qual ohomem não pode chegar a qualquer conhecimento indubitável; dúvida, des-crença.

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de analisar conceitos religiosos. Háque se considerar, nesses casos, osaspectos emocionais e os condicio-namentos que constituem, às vezes,grandes entraves à liberdade depensamento, mesmo em presençade grande erudição. Conheci umpsiquiatra bastante estudioso, assí-duo freqüentador de congressos eseminários, que fugia do assuntovida após a morte como o diabofoge da cruz. Era impossível con-versar com ele sobre isso, pois quese apavorava nitidamente.

Com o desenvolvimento dos tra-balhos de Allan Kardec, no séculoXIX, o abismo natural entre Reli-gião e Ciência começou a ser du-ramente questionado. Não haveriamais lugar, a partir daí, para a reli-gião dogmática e nem para a ciên-cia de negação. Libertos do cativei-ro teológico, pensadores de todasas partes iniciaram sua marcha emdireção ao conhecimento, sem falardaqueles que, repensando e pes-quisando aspectos religiosos, des-cobriram a janela científica da fé,demonstrando que, pela lógica, tu-do no Universo pode ser ou pode-rá ser um dia explicado, e que essefato não exclui ou anula a idéia deDeus, o Criador do principal obje-to de pesquisa de toda a Ciência: aNatureza. Que Deus, o “motor pri-mordial”,2 origem de todas as coi-sas, não é fruto apenas de concep-

ções puramente devocionais. Pode--se chegar a Ele, também, pela viada análise objetiva do conhecimen-to, que, a partir de um determina-do ponto, torna inevitável a buscapor fontes transcendentes ao uni-verso sensorial. Portanto, não éapenas uma questão de fé, mastambém de bom senso e maturi-dade intelectual. “Deus não jogadados com o Universo” declaravaEinstein, que nunca se afirmouadepto de nenhuma religião, masjamais ousou, também, negar aexistência de um princípio criadore de uma matemática universal.

A “moda” do materialismo, de-

sencadeada no século XIX e iníciodo século XX, que foi na verdadeuma reação à mordaça da religiãoque tratava intelectuais comohereges, já não tem hoje a mesmaforça. Os tempos mudaram e ointelecto humano, desvencilhadodas algemas da irracionalidade, es-tá aberto para qualquer tipo de co-nhecimento. Há interesse por tu-do. Hoje temos uma nova visão demundo, e ninguém mais acreditaque aquilo que os olhos não vêemnão pode existir. Os radicalismos,tanto na fé quanto na Ciência, nãomais se coadunam com a mentali-dade nova do Terceiro Milênio.

35Outubro 2007 • Reformador 440011

2Concepção Aristotélica de Deus, quepartindo do pressuposto de que tudo noUniverso está em movimento, neces-sariamente deve existir um primeiro mo-tor imóvel. É uma concepção bem de acor-do com a paixão grega pelo racionalismoe pela razão.

Espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo. Nãoé, pois, de admirar que tenha por adversários os materialistas.

Mas, como o materialismo é uma doutrina cujos adeptos mal ou-sam confessar que o são (prova de que não se consideram muitofortes e têm a dominá-los a consciência), eles se acobertam com omanto da razão e da ciência. E, coisa estranha, os mais cépticos che-gam a falar em nome da religião, que não conhecem e não com-preendem melhor que ao Espiritismo. Por ponto de mira tomam omaravilhoso e o sobrenatural, que não admitem. Ora, dizem, poisque o Espiritismo se funda no maravilhoso, não pode deixar de seruma suposição ridícula. Não refletem que, condenando, sem restri-ções, o maravilhoso e o sobrenatural, também condenam a religião.

Com efeito, a religião se funda na revelação e nos milagres. Ora,que é a revelação, senão um conjunto de comunicações extraterre-nas? Todos os autores sagrados, desde Moisés, têm falado dessa espé-cie de comunicações. Que são os milagres, senão fatos maravilhosose sobrenaturais, por excelência, visto que, no sentido litúrgico, cons-tituem derrogações das leis da Natureza? Logo, rejeitando o maravi-lhoso e o sobrenatural, eles rejeitam as bases mesmas da religião.

O

Fonte: O livro dos espíritos. 90. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. “Conclu-são II”. (Transcrição parcial.)

Allan Kardec

Espiritismo e Materialismo

reformador outubro 2007 - b.qxp 26/10/2007 10:07 Page 35

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xatamente aos 3 de outubro de 1947 vinha alume a versão em esperanto de O Evangelho se-gundo o Espiritismo, de Allan Kardec, graças ao

fervor idealístico de Ismael Gomes Braga e do entãopresidente da FEB, AntônioWantuil de Freitas. Era o se-gundo passo de uma longajornada que teve início noano anterior, quando a FEBpublicava a primeira ediçãode La Libro de la Spiritoj (OLivro dos Espíritos), na ma-gistral tradução de Luís daCosta Porto Carreiro Neto,certamente em cumprimen-to a um programa delineadopelo Alto para a irradiaçãoda Doutrina em todos os re-cantos do Planeta.

De lá para cá, muitas obrasdoutrinárias importantes,além da Codificação, foramvertidas para a Língua Inter-nacional Neutra e publica-das pela Casa de Ismael e ou-tras editoras, mas La Evan-gelio sempre revestiria signi-ficado especial por afirmarao mundo a indissolúvel vin-culação entre o Espiritismo e os ensinos e exemplosde Jesus.

Um sem-número de almas, espalhadas pelo mun-

do inteiro na coletividade esperantista, têm sido econtinuam a ser beneficiadas por essa obra de Kar-dec, cuja 4a edição já está em preparo na FEB.

A bela tradução de Ismael Gomes Braga, bem co-mo o seu edificante e conso-lador conteúdo, sempre têmmerecido justos e sentidoselogios dos esperantistas, emi-nentes ou modestos, espíri-tas ou não, pelo que vale apena recordar manifestaçõesda primeira hora a respeitodessa feliz iniciativa da Fede-ração, registradas em Refor-mador de 1947 e 1948.

De Vinícius (1878-1966),pseudônimo de Pedro de Ca-margo, “[...] o maior educa-dor e evangelizador espíritados nossos tempos”, segundoa autorizada palavra de ZêusWantuil, em Grandes Espíri-tas do Brasil:

“Belo na forma e edifican-te no fundo:

O Evangelho segundo o Es-piritismo no idioma univer-

sal! É uma obra de valor e importância tão grandes,que só futuramente os homens poderão reconhecer”.(Reformador, fevereiro de 1948, p. 17(37).)

60 anos do lançamento de �La Evangelio la9Spiritismo�

E

36 Reformador • Outubro 2007 440022

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

Frontispício da 1ª edição deLa Evangelio la9 Spiritismo

reformador outubro 2007 - b.qxp 26/10/2007 10:07 Page 36

Page 37: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - PE · das penas e gozos futuros, de Deus, o Criador, e de suas leis, que abrangem toda a criação. Para algumas religiões, a vida futura implica

De Carlos Domingues (1896-1974), então presi-dente da Liga Brasileira de Esperanto e membro daComissão Lingüística da Associação Universal deEsperanto:

“Tradução magistral... Congratulo-me com a FEBpor essa iniciativa tão meritória e tão oportuna... De-sejo acentuar o prazer com que os esperantistas do mun-do todo, e provavelmente de todas as convicções, aco-lherão uma obra de tal porte, passada para o idiomaneutro por um estilista de pulso... É uma felicidade pa-ra os dois movimentos contarem com os perseverantesserviços de tão dedicados e cultos obreiros”. (Reforma-dor, janeiro de 1948, p. 16(20).)

De Gyula Baghy (1891-1967), húngaro, ator,poeta e escritor dos mais fecundos da literatura doesperanto:

“[...] Essas edições da Federação Espírita Brasilei-ra compensam muito a falta de nossa literatura, e oaparecimento de obra em tal estilo é de grande van-tagem para as nossas letras.

[...] Hoje que vivemos um período histórico noqual não se considera muito a natureza da alma, éum refrigério para o espírito ler-se alguma coisa quenão seja o tratamento de fenômenos puramente ma-teriais ou louvores à matéria que por si mesma éinepta, não possui a força criadora. [...]” (Reforma-dor, abril de 1948, p. 11(79).)

Mas o mundo espiritual, representado por um dosmais brilhantes poetas brasileiros, Cruz e Souza(1861-1898), reservaria delicada aprovação à inicia-tiva da Casa de Ismael, permitindo-lhe ditasse aomédium Francisco Cândido Xavier, em 28 de novem-bro de 1947, e publicado em Reformador de dezembrodo mesmo ano, p. 10 (278), o belo soneto com que fi-nalizaremos o presente registro. À época, a Redaçãoinformava, em nota de rodapé, que “o médium tinhaem mão o volume da edição em Esperanto de OEvangelho segundo o Espiritismo e meditava sobre asignificação do grande livro em língua mundial,

quando se lhe apresentou o Poeta, falando-lhe daelevação desse trabalho e a seguir lhe deu o sonetoque aqui apresentamos”.

“La Evangelio la9 Spiritismo

Torna a beleza do Evangelho SantoA renovar-se para o mundo inteiro,Santificante e lúcido roteiroÀ claridade excelsa do Esperanto.

É a mensagem dos filhos do CruzeiroAo mundo que transborda angústia e espanto,Estandarte sublime, sacrossanto,De verdades eternas mensageiro.

Simples, nobre, feliz, vasta e divina,Eis que a língua dos Povos descortinaO Código da Vida, claro e puro!

Salve Brasil da Paz, augusto e grande,De onde o Esperanto em luz se eleva e expandePara a Glória terrestre do futuro!”

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Cruz e Souza: um dos mais brilhantespoetas brasileiros

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Page 38: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - PE · das penas e gozos futuros, de Deus, o Criador, e de suas leis, que abrangem toda a criação. Para algumas religiões, a vida futura implica

o capítulo 4 de Lázaro Re-divivo,1 obra de mensagensmediúnicas do Irmão X,

trazida a nós pelas mãos incansá-veis de Francisco Cândido Xavier,o autor, sob o título “Aos Médiuns”,procura estimular os portadoresde faculdades mediúnicas a per-sistirem em suas tarefas.

Ao afirmar que “[...] é necessárioarmar o coração para os grandestestemunhos”, Irmão X frisa que“[...] todos os que marcharam navanguarda da verdade e da luz so-freram o assédio da mentira e datreva [...]” e relaciona Espíritos, nes-te contexto, que deixaram suas mar-cas na História. Giordano Bruno,Galileu Galilei, Jan Hus, JohannesGutenberg, Louis Pasteur, ThomasAlva Edison e Johann HeinrichPestalozzi são citados no menciona-do texto, exemplificando aquelesque “[...] pugnaram com Jesus pelo

mundo melhor”. Reve-renciando-lhes a

memória, “[...]as gerações pos-teriores exalta-

ram-lhes os sacrifícios, aureolan-do-lhes o nome de glória universal”.

Aproveitando a atualidade daobra, embora tenha sido editadapela primeira vez em 1946, procura-mos neste artiguete adicionar, aosnomes já relacionados, outros Es-píritos que levaram a bom termoas missões com as quais se compro-meteram antes de reencarnar, ape-sar de enfrentarem, como aquelesoutros, obstáculos implacáveis.

Começando por Samuel Hahne-mann, o criador da Homeopatia,que precocemente sofreu obstinadacampanha contrária ao objetivo al-mejado, o que gerou grandes pade-cimentos ao autor do Organon daArte de Curar (1810).2 Um homemque foi capaz, ainda jovem, de for-mular conceitos como:“[...] é a elei-ção do medicamento e a maneirade usá-lo que caracteriza o verda-deiro médico, o que não está liga-do a nenhum sistema, que recusao que não é investigado por ele mes-mo e não toma a palavra de outrem,tendo a coragem de pensar por simesmo e tratar de acordo comisto”.3 Portanto, não foi surpreen-dente que tenha composto a equi-pe espiritual responsável pela Co-dificação, sendo sua contribuiçãomais visível na mensagem do item10, que encerra o capítulo IX deO Evangelho segundo o Espiritismo.4

Franz Anton Mesmer, autor da

teoria do magnetismo animal, co-nhecida pelo nome de mesmeris-mo. Após muitas experiências, reco-nheceu que podia curar através daimposição de suas mãos, estabele-cendo a máxima: “De todos os cor-pos da Natureza, é o próprio ho-mem que com maior eficácia atuasobre o homem”.5 Durante muitosanos promoveu a cura de enfermosa partir de seu próprio fluido vital,correspondendo ao perfil daquelesque se sacrificam por amor ao seutrabalho e a seus irmãos, superandocríticas impróprias e agressões ver-bais, priorizando o cumprimentoda missão assumida ainda no planoespiritual. Allan Kardec, na RevueSpirite (março de 1858) assegurava:

O magnetismo preparou o ca-

minho do Espiritismo, e o rápido

progresso desta última doutrina

se deve, incontestavelmente, à

Paladinos da luz

NLU I Z ED UA R D O MO U R Ã O

SamuelHahnemann

Franz AntonMesmer

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vulgarização das idéias sobre a

primeira. Dos fenômenos mag-

néticos, do sonambulismo e do

êxtase às manifestações espíritas

não há mais que um passo; tal é

sua conexão, que, por assim di-

zer, torna-se impossível falar de

um sem falar do outro [...].6

Não custa lembrar que a técni-ca desenvolvida por Mesmer temsimilaridade com a aplicação dopasse magnético pelos espíritas daatualidade.

Nascido em 1688, Emanuel vonSwedenborg foi profundo estudio-so da Bíblia. Por volta dos 56 anos,iniciou uma nova etapa de estudos,investigando as relações da almahumana com Deus e o Universo,dentro do contexto cristão. Atra-vés de obras como Céu e Inferno eA Nova Jerusalém, foi consideradoum dos precursores das idéias es-píritas, como demonstram suas pa-lavras: “[...] o mundo dos Espíri-tos, do céu e do inferno, abriu-seconvincentemente para mim, e aíencontrei muitas pessoas de meuconhecimento e de todas as condi-

ções. Desde então diariamente oSenhor abria os olhos de meu Es-pírito para ver, perfeitamente des-perto, o que se passava no outromundo e para conversar, em plenaconsciência, com anjos e Espíritos”.7

Após desencarnar em 1772, conti-nuou sua tarefa esclarecedora, comoprova sua contribuição em “Prole-gômenos” de O Livro dos Espíritos.8

Com obras que foram publica-das entre 1847 e 1883, fica claro queLouis Alphonse Cahagnet antecedeuà obra de Kardec, mas também asucedeu. A partir do intercâmbiocom Espíritos desencarnados, utili-zando pacientes em estado sonam-búlico ou de êxtase, desenvolveu ahabilidade de magnetizador, queo tornou célebre, criando a pri-meira “Sociedade dos Magnetiza-dores Espiritualistas”, por sugestãodo Espírito Swedenborg,9 citado noparágrafo anterior. Utilizando co-mo mote “Sede prudente, não ad-mitais nem rejeiteis nada sem umexame maduro; aquilo que não pu-derdes compreender, jamais digaisque não é!”,10 aproximou-se docontexto da Codificação que AllanKardec nos legou, tendo suas obras,também, sofrido o batismo do fogo.Apesar dos entraves, suportou semdesanimar os ataques à Doutrina.

Poderíamos, certamente, relacio-nar outros nomes com contribui-ções relevantes à Causa Espírita,mas o que deve prevalecer, a despei-to da quantidade de modelos dispo-níveis, é “[...] o dever de estudarsempre, escolhendo o melhor paraque as nossas idéias e exemplos re-flitam as idéias e os exemplos dospaladinos da luz”,11 como destaca

Emmanuel, também através dolabor de Chico Xavier.

Referências:1XAVIER, Francisco Cândido. Lázaro redi-

vivo. Pelo Espírito Irmão X. 10. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 1995. Cap. 4, p. 27-30.2http://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_

Hahnemann3ht tp : / /www. feparana .com.br /b io -

grafias/samuel_hahnemann.htm4KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. 118. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2001. Cap. IX, item 10, p. 166-167.5ht tp : / /www. feparana .com.br /b io -

grafias/franz_mesmer.htm6KARDEC, Allan. Revista espírita. 4. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2005. Março de 1858,

“Magnetismo e Espiritismo”, p. 149.7ht tp : / /www. feparana .com.br /b io -

grafias/emanuel_swedenborg.htm8KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 90. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2007. “Prolegômenos”.9Reformador de maio de 2004, “Pesqui-

sadores pré-kardequianos”, de Carlos

Bernardo Loureiro, p. 25(183).10http://www.espiritismogi.com.br/bio-

grafias/louis.htm11XAVIER, Francisco Cândido. Pensamen-

to e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 4, p. 26.

Emanuel von Swedenborg

Louis AlphonseCahagnet

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A Sede Seccional da FEB, noRio de Janeiro, foi cenário, em 18de agosto passado, para mais umevento da série que, durante o cor-rente ano, vem celebrando os 150anos de existência do Espiritismo.

Cerca de 300 pessoas reuniram--se, das 9h às 16h, no Salão de Con-ferências da Av. Passos, 30, parao seminário sobre “Comunicaçãoe Relacionamento na Casa Espíri-ta”, a cargo de César Soares dosReis, presidente da Capemi. Com-puseram a Mesa dos trabalhos osconfrades Affonso Soares e AloísioGhiggino, respectivamente diretoresda FEB e do Conselho Espírita doEstado do Rio de Janeiro (CEERJ).

Ao discorrer sobre os temas“Como vemos um Centro Espí-rita?”, “O Centro Espírita comofoco irradiador de um novo pro-cesso educativo”, “Evolução daCiência e evolução moral”, “Evan-gelho vivido é caridade aplica-da”, “Valores do relacionamento:consigo mesmo e com o outro” e“As leis morais como síntese daética espírita”, César enfatizou afundamentalíssima condição pa-ra o bom cumprimento, e porconseguinte o bom êxito, de to-do e qualquer serviço na searaespírita, a saber: a vivência da ver-

dadeira humildade e da cari-dade em suas expressões

de benevolência,indulgência eperdão.

Após a exposição, que ocupoua parte da manhã, o conferencistarespondeu com profundidade atodas as questões formuladas pelopúblico presente, com o que maisse evidenciou a feliz oportunida-de da iniciativa desse trabalhoconjunto da Casa de Ismael e doCEERJ, a ensejar sólida orienta-ção aos confrades que assumemas responsabilidades inerentes àdireção dos centros espíritas.

Também participaram do en-contro, através da TVCEI –tvcei.com, espectadores de Por-tugal, Estados Unidos, Espanha,Alemanha, Japão, Colômbia, Fran-ça, Suíça, Reino Unido, Itália,Guatemala, Argentina, Finlândiae Israel, bem como de 34 cidadesdo Brasil.

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Seminário sobre“Comunicação e Relacionamento

na Casa Espírita” na FEB-Rio

Aspecto parcial do público na Sede Seccional da FEB, no Rio de Janeiro

César Soaresdos Reis

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eremos obra do acaso? Se-remos frutos de combina-ções físico-químicas segun-

do as leis da matéria? Ou seremosresultado de combinações genéti-cas, conforme as leis biológicas, semvínculos ascendentes espirituais?

De acordo com instruções dosEspíritos superiores, quando en-carnados somos formados poruma tríplice natureza compostade espírito, perispírito e corpo ma-terial. O Espírito que somos é acentelha energética inteligente, in-dividualizada pelo Criador. Con-siderada isoladamente, não pos-sui forma definida que a circuns-creva. É a sede do pensamento,da inteligência e das sensações.Sua expressão luminosa infinita-mente variável expressa o graude elevação do ser.

A forma normal das criaturas,tanto encarnadas como desen-carnadas, é a humana; assim, oEspírito, para se apresentar e seexpressar na vida real extrafísica,precisará de um veículo que lhepermita atender a essa necessida-de. Este veículo é o perispírito,cuja natureza, embora ainda ma-terial, é, contudo, de uma consti-tuição etérea, e sua densidade de-penderá da natureza e do estadointelectual e moral do Espírito.

Para os Espíritos que necessi-tem viver na superfície do Orbeem razão dos impositivos da leido progresso, através da encar-nação pelo nascimento biológi-co, o perispírito funciona comoo plano organogênico de umcorpo carnal gerado pela fecun-dação e que passa a ser o seuveículo de expressão no planomaterial.

Através do corpo físico, o Es-pírito interage com os de sua es-pécie, utilizando os sentidos ade-quados àquele modelo de vida.Este corpo é comandado peloEspírito, sede da vontade e da in-teligência, e suas ordens são trans-mitidas através do perispírito, oqual é também transmissor parao Espírito das sensações que im-pressionam os sentidos do corpofísico.

Esse conjunto tríplice e harmo-nioso vive imerso num mundoextrafísico e num mundo mentalde cujas existências, geralmentenão se dá conta, mas com os quaisinterage incessantemente, permu-tando pensamentos e energiasatravés da sintonia estabelecidacom seus afins.

Deus é a inteligência supremaque cria, alimenta e preside avida em todos os seus aspectos.

Assim, quer no plano materialquanto no espiritual ou extrafí-sico, a vida se desenrola segundoa ação permanente de leis perfei-tas, sábias, justas e automáticas.O favoritismo não faz parte dasleis do Criador! Expressando oamor infinito com que crioucada ser, Deus, conhecedor dasnecessidades dos homens, enviouà Terra seu mensageiro, na pessoado Mestre Jesus, que nos legou otesouro do Evangelho, roteiro per-feito para libertação das criatu-ras ainda cativas da inferioridadee do mal.

Almas em progresso rumo àangelitude, poderemos acelerarou não o próprio aperfeiçoamen-to. As metas que desejarmos al-cançar e os esforços que empreen-dermos na consecução desseobjetivo definirão a velocidadeevolutiva com que nos conduzi-remos na vida. Entretanto, adep-tos viciados do sofisma e do “des-culpismo”, os homens fecham osolhos e tapam os ouvidos à rea-lidade das próprias necessida-des, sem coragem para encará--las e, assim, erradicar as fraque-zas e as imperfeições que lhesdificultem a ascensão à felicidadee à paz, como também às con-quistas da vida superior.

O que somos?S

MAU RO PA I VA FO N S E C A

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Bahia: Seminário do Saber EspíritaA Federação Espírita do Estado da Bahia promoveuem Salvador, no dia 19 de agosto, o segundo Seminá-rio do Saber Espírita, neste ano, sobre o tema “Me-diunidade e Transtornos Psíquicos”, tendo como sub-temas: “Os problemas da mediunidade”, “Os trans-tornos psíquicos”, “Ética da transformação” e “AQualificação na Casa Espírita”.

São Paulo: Encontro Estadual daMediunidade

Dia 19 de agosto ocorreu, em São Paulo (SP), o En-contro Estadual da Mediunidade, promovido pelaUnião das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo (USE), com base no livro Orientação ao Cen-tro Espírita, recém-aprovado pelo Conselho Federa-tivo Nacional e reeditado pela FEB.

Rondônia: Encontro de TrabalhadoresA Federação Espírita de Rondônia promoveu, no pe-ríodo de 24 a 26 de agosto, o XXI Encontro deTrabalhadores Espíritas, tendo como tema central“150 anos de esclarecimento e consolo”. Dos assun-tos tratados no Encontro, destacamos: Palestra sobreos 150 anos de O Livro dos Espíritos; Análise do Ce-nário do Movimento Espírita Estadual; e CampanhaEm Defesa da Vida desde a concepção.

Pernambuco: Congresso para PaisDe 24 a 26 de agosto, a Comissão Estadual de Espiri-tismo promoveu no Teatro Beberibe, do Centro deConvenções de Pernambuco, em Olinda (PE), o IICongresso Espírita para Pais e Educadores Infanto--Juvenil, tendo como tema “Educando Consciências,Iluminando Corações”. Atuaram no evento SandraBorba Pereira, Fernando Tavares e Adenáuer Novais.

Estados Unidos: Seminários paraTrabalhadores Espíritas

O Conselho Espírita dos Estados Unidos, com oapoio do Conselho Espírita Internacional e da Fede-

ração Espírita Brasileira, promoveu seminários parapreparação de trabalhadores: no dia 1o de setembro,em Boston, no Allan Kardec Spiritist Society of Mas-sachusetts; nos dias 8 e 9 de setembro, em Filadélfia,no Centro Solar Espírita. Os seminários foram de-senvolvidos pelo diretor da FEB, Antonio Cesar Perride Carvalho, que também proferiu palestras em NewYork, New Jersey e Danbury (Connecticut).

Pará: Capacitação para coordenadores deESDE

A União Espírita Paraense promoveu em sua sede,em Belém, no dia 2 de setembro, a Capacitação paraCoordenadores de ESDE das Casas Espíritas, tendocomo tema central: “Espiritismo: do conhecimento àvivência do amor”. O evento teve por objetivo ense-jar momentos de reflexão sobre a importância do Es-tudo Sistematizado da Doutrina Espírita e seu papelcomo agente transformador na vivência espírita.Foram abordados os subtemas: “Visão transforma-dora do ESDE”; “Ação criadora na aprendizagem” e“Viver vivenciando”.

Distrito Federal: Alfabetização de Jovens eAdultos

O Centro de Voluntariado do Distrito Federal, emparceria com a Federação Espírita do Distrito Fede-ral, promove na sede desta o Curso de Alfabetizaçãopara Jovens e Adultos, destinado a jovens acima de15 anos e adultos. O trabalho é gratuito e realizadopor voluntários capacitados pela Fundação Banco doBrasil. Informações: (61) 3340-6127.

Cuiabá (MT): Teatro da UFMT recebeMaria de Magdala

Com a promoção da Federação Espírita do Estadode Mato Grosso, o Teatro da Universidade Federal deMato Grosso apresentou, nos dias 4 e 5 de agosto, apeça “Maria de Magdala – A mulher que muitoamou”, uma produção e apresentação do Grupo Es-pírita de Arte Cristã Juventude Ativa.

Seara Espírita

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