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FÁBIO MACHADO CALHAO
Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu
(fêmea Colossoma macropomum x macho Piaractus mesopotamicus)
eviscerado e resfriado.
C u i a b á
2011
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FÁBIO MACHADO CALHAO
Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea Colossoma macropomum
X macho Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Animal da Universidade
Federal de Mato Grosso para a obtenção do
título de Mestre em Ciência Animal
Área de Concentração: Tecnologia de Produtos de Origem Animal
Orientador: Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho
Co-Orientadora: Profa. Dra. Janessa Sampaio de Abreu
C u i a b á
2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
FICHA CATALOGRÁFICA
“Permitida a cópia parcial deste documento, desde que citada a fonte – O Autor”
C152e
Calhao, Fábio Machado.
Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea
Colossoma macropomum x macho Piaractus mesopotamicus )
eviscerado e resfriado./ Fábio Machado Calhao. Cuiabá: UFMT,
2011.
56 fls.
Dissertação – Mestrado em Ciência Animal
Orientador: Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho
Co-orientadora: Profª. Drª Janessa Sampaio de Abreu
1.Tambacu. 2.Conservação. 3.Validade Comercial. I.Título.
CDU 636
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno: FÁBIO MACHADO CALHAO
Título: Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea Colossoma macropomum X
macho Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a
obtenção do título de Mestre em Ciência Animal.
Aprovado em:
Banca Examinadora:
______________________________
Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho
(Universidade Federal de Mato Grosso) (Orientador)
______________________________
Profa. Dr
a. Janessa Sampaio de Abreu
(Universidade Federal de Mato Grosso)
______________________________
Profa. Dr
a. Cássia Aldrin de Mello
(Universidade Federal de Mato Grosso)
_______________________________
Profa. Dr
a. Cleise de Oliveira Sigarini
(Universidade de Cuiabá)
_______________________________
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Dedico esta conquista ao incentivador e orientador
Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho, que
desde minha graduação defendia o desenvolvimento
científico contínuo e a relevância do estudo do
pescado. Com empenho, competência e paciência,
mais uma vez, me fez crescer pelo exemplo.
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AGRADECIMENTOS
A Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A Ele toda glória e louvor pela realização dessa
tarefa.
Aos meus pais Onira e Ronald pela valorização da educação.
A minha tia Anna Luíza pelas palavras de estímulo e incentivo deste os tempos de
infância.
A meu orientador, Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho, pelas oportunidades de
crescimento e pela fundamental contribuição prestada a minha vida profissional.
A minha co-orientadora Profa. Dra Janessa Sampaio de Abreu, pelo ensinamento e
carinho.
A minha amiga Profa. Dra Cássia Aldrin de Mello pelo ensinamento e amizade.
A colega Profa. Dra. Cleise de Oliveira Sigarini, por ter aberto as portas da indústria de
pescado para mim.
Aos meu colegas da Pós Graduação em Ciência Animal pelo carinho, companheirismo
e amizade, em especial a Elayna, Jorge, Buzutti, Celina, Marilu, Jovem Oster, Edenilce
(Micalatéia).
Aos professores e a Elaine da Pós Graduação em Ciência Animal, pelo
profissionalismo e empenho.
Ao Sr. João Pedro da Silva e equipe, Grupo Gaspar (Delicious Fish), que
disponibilizaram peixes, gelo em escama, tempo, atenção e carinho, tornando possível
este trabalho.
A minha noiva Letícia Figueiredo pelo amor, materializado em paciência e renúncia,
imprescindíveis para a conclusão desse trabalho
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“ A sabedoria é radiante e não murcha,
os que a amam a vêem sem dificuldade,
e os que a buscam a encontram;
ela própria se dá a conhecer aos que desejam.
Quem madruga por ela não se cansa:
e a encontra sentada junto a porta.”
Sb. 6,12-14.
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RESUMO
CALHAO, F. M. Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea
Colossoma macropomum X macho Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
56f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal), Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2011.
O pescado após a despesca sofre alterações enzimáticas e microbiológicas que
evoluem até a completa deterioração. Este trabalho objetivou estimar o prazo de
validade comercial do híbrido tambacu, eviscerado mantido em gelo. Foram utilizados
42 exemplares oriundos de piscicultura, com peso médio de 1,8 kg, abatidos por
hipotermia (gelo), e transportados para o Laboratório de Inspeção de Produtos de
Origem Animal da Universidade Federal de Mato Grosso onde foram eviscerados,
lavados com água clorada e mantidos em gelo sob temperatura de 0°C a -1°C. O
experimento foi conduzido em delineamento inteiramente ao acaso totalizando 28 dias,
com 14 tratamentos. As análises ocorreram a cada 2 dias com 03 repetições,
totalizando 42 unidades experimentais. Foram realizadas análises microbiológicas,
físico-químicas e inspeção sensorial. Houve efeito significativo para a contagem de
micro-organismos heterotróficos aeróbios psicrotróficos e Aeromonas spp. com
variações de 0,52 a 3,81 log ufc/g e 0,59 a 3,68 log ufc/g respectivamente. Para as
variáveis bases voláteis totais – (BVT), potencial hidrogeniônico (pH),
Enterobacteriaceae e heterotróficos aeróbios mesófilos não ocorreram diferenças
significativas no período. Considerando a inspeção sensorial e prova de cocção,
conforme o que preconiza Portaria n° 185/1997 MAPA, a partir dos 20 dias de
armazenamento o pescado se mostrou impróprio para o consumo.
Palavras-chave: tambacu, conservação, validade comercial.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Valores médios da contagem de Bactérias Heterotróficas Aeróbias Mesófilas em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo. ....................................................................................40
Figura 02 – Valores médios da contagem de Enterobacteriaceae em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo................................................................................................................................41
Figura 03 – Valores médios da contagem de Bactérias Heterotróficas Aeróbias Psicrotróficas em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo....................................................................................42
Figura 04 – Valores médios da contagem de Bactérias do gênero Aeromonas spp. em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo. .........................................................................................................43
Figura 05 – Valores médios de pH em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo. .....................................45
Gráfico 06 – Valores médios de BVT em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo.....................................46
Figura 07 – Degeneração da qualidade do tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado, armazenado em gelo durante 26 dias de estocagem, segundo os requisitos preconizados pela Portaria n° 185 de 13.04.1997/ MAPA. ............................................................................................................................47
Figura 08 – Exemplar sem alterações macroscópicas aparentes internamente............48
Figura 09 – Exemplar sem alterações macroscópicas aparentes externamente ..........48
Figura 10 – Exemplar apresentando olhos côncavos e levemente. ..............................49
Figura 11 – Exemplar apresentando olhos côncavos e não ocupando totalmente a órbita. .............................................................................................................................49
Figura 12 – Exemplar apresentando externamente muco amarelo-leitoso, manchas, impressões digitais e olhos hemorrágicos. ....................................................................50
Figura 13 - Exemplar apresentando musculatura hemorrágica difusa, e desprendendo dos ossos........................................................................................................................50
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SUMÁRIO
Página
CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................. 10
1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10
1.2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 12
1.2.1 O Pescado, consumo e cultivo .................................................................... 12
1.2.2 Características do pescado fresco ............................................................... 13
1.2.3 Deterioração química do pescado ............................................................... 14
1.2.3.1 Potencial Hidrogeniônico - pH ................................................................... 14
1.2.3.2 Bases voláteis totais - BVT......................................................................... 17
1.2.3.3 Óxido de trimetilamina (OTMA) e trimetilamina (TMA) ............................ 19
1.2.3.4 Oxidação lipídica ........................................................................................ 20
1.2.4 Deterioração microbiana do pescado ......................................................... 21
1.2.5 Inspeção sensorial ........................................................................................ 23
1.2.6 Refrigeração .................................................................................................. 24
1.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 27
CAPÍTULO 2: ARTIGO PARA PUBLICAÇÃO ........................................................... 35
“Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea Colossoma
macropomum X macho Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado”.
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O pescado é um produto que possui excelentes requisitos para uma
expansão da demanda, principalmente porque carrega a imagem de uma carne sem
contra indicações (HILSDORF e PEREIRA, 2009). Uma vez que esse valor biológico
é em função da qualidade dos aminoácidos presentes, o alto valor nutritivo atribuído
ao pescado é comprovado e justificado, sendo classificado como de primeira ordem
pela riqueza em aminoácidos (MACHADO, 1984). Soma-se ainda a mínima
presença de tecido conjuntivo, que contribui com a alta digestibilidade da carne. Mas
o consumo tem sido valorizado também por apresentar teores satisfatórios de
minerais como cálcio (fosfato tricálcio, carbonato de cálcio), fósforo, ferro e iodo; e
por carrear quantidades apreciáveis de ácidos graxos poliinsaturados da série
ômega-3 que além de função nutricional, cumprem papel funcional ligado a
prevenção de doenças cardiovasculares.
Essa reunião de características forma potencial estratégico de encorajamento
ao consumo baseado nos efeitos benéficos à nutrição e manutenção da saúde do
consumidor. Conforme Carvalho e Lemos (2009), a oferta e produção de carnes
mostram que no mundo, a produção e o consumo de pescado superam todas as
outras carnes e equivalem quase ao consumo de carne bovina e de frango juntas.
No Brasil, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) realizou estudo que
revela um aumento no consumo de pescado per capita no país. Houve um
crescimento de 6,46 kg para 9,03 kg por habitante/ano entre 2003 e 2009, o que
representou um aumento em torno de 40 % nos últimos sete anos. (BRASIL, 2010b).
Dentre as diversas regiões do país, a região Centro-Oeste, em especial o Estado de
Mato Grosso, conta com requisitos ideais para produção de peixes em larga escala,
como água em abundância, características de solo, clima adequado e grande
extensão territorial. Entre as espécies mais cultivadas no Estado encontram-se o
pacu (Piaractus mesopotamicus) e o híbrido tambacu (Colossoma macropomum x
Piaractus mesopotamicus), sendo este de importância econômica na aquicultura
brasileira, amplamente empregado na piscicultura e na prática de pesca esportiva,
devido ao rápido crescimento e ganho de peso. Além disso, o tambacu apresenta
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maior resistência ao estresse e doenças parasitárias se comparado com as espécies
puras pacu e tambaqui (MARTINS et al., 2002; TAVARES-DIAS et al., 2007).
O reconhecimento dos atributos deste peixe despertou não somente o interesse da
piscicultura, mas fez dele matéria prima dos entrepostos de pescado do estado e
produto final de peixarias e supermercados. Para o transporte, tanto da matéria
prima como do produto resfriado, o método de eleição é com o uso do gelo e,
segundo Machado (1984), o abaixamento da temperatura é um dos fatores mais
importantes na conservação do pescado, pois a velocidade de proliferação das
bactérias depende em parte da temperatura, além da influência sobre a velocidade
das reações químicas, que de modo geral são favorecidos pelo aquecimento.
Segundo Guerreiro (2009), para a conservação do pescado é preconizada a
combinação da ação do gelo e da câmara fria, visto que a refrigeração retarda o
crescimento microbiano e a ação das enzimas. Mas é também muito importante que
sejam aplicadas Boas Práticas de Fabricação (BPF), para garantir a segurança do
produto. Assim como as operações de pré e pós despesca, que devem ser
conduzidas de maneira a reduzir os fatores e as condições que desencadeiam a
rápida decomposição dos peixes e reduzir as características que levam a baixa
aceitação por parte dos consumidores.
Obedecidas todas as orientações quanto à obtenção, manipulação e
conservação do pescado, ainda fica a indagação sobre o prazo de validade
comercial deste produto, assunto que tem sido pouco estudado em peixes de água
doce, tornando-se importante a realização de pesquisas que avaliem a evolução da
deterioração destes peixes ao longo da armazenagem e a ampliação do prazo de
validade comercial (SCHERER et al., 2004). Esta questão se agrava por falta de
normatização que trate do prazo de validade comercial ou registro de procedência
para o pescado fresco ou resfriado comercializado no país, deixando estes produtos
a mercê de abusos sanitários ou avaliações e julgamentos de caráter
predominantemente subjetivo.
Este trabalho objetivou estimar o prazo de validade comercial do híbrido tambacu,
eviscerado, estocado refrigerado.
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CAPÍTULO 1
1.REVISÃO DE LITERATURA
1.1 Consumo e cultivo do pescado
Em 2003, o brasileiro consumia 6,46 Kg de pescado ao ano, mas entre os
anos de 2003 e 2009 ocorreu um crescimento no consumo de 39,78% resultando
em acréscimo médio anual de 6%, com destaque para o período entre 2008 e 2009
onde este crescimento atingiu 8%. O volume total consumido pela população
brasileira no ano de 2009 foi de 1,7 milhões de toneladas e o consumo habitante/ano
atingiu 9,03Kg, bem mais próximo dos 12 Kg por habitante/ano recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). No mesmo ano, deste total de consumo,
69,4% foi produzido no Brasil, restando apenas 4% da produção nacional destinada
ao mercado externo (BRASIL, 2010b). Parte desta produção vem da piscicultura
continental, que apresentou um salto de 60,2% no período de 2007 a 2009 e que
está concentrada nas tilápias (Oreochromis niloticus) produzidas principalmente no
Nordeste, Sul e Sudeste; carpas (Ciprinus carpio carpio) no Sul e Sudeste; e nos
peixes redondos, como o tambaqui (Colossoma macropomum), cultivado
principalmente na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste, pacu (Piaractus
mesopotamicus) cultivado principalmente em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e
o tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus), cujo o cultivo
cooncentra-se nas regiões Sudeste, Norte, Nordeste, e sobretudo no Centro-Oeste,
responsável por 73% da produção (OSTRENSKY, 2008). O tambacu é um híbrido
oriundo do cruzamento da fêmea do tambaqui e macho do pacu que representou,
em 2004, 4% da produção total da aquicultura nacional e o incremento da produção
desta espécie foi de 31% em relação ao ano anterior (ibid).
Sua importância econômica na aquicultura brasileira é resultado de seu rápido
crescimento e ganho de peso fundamental para o cultivo comercial. Além disso, o
tambacu apresenta maior resistência ao estresse e doenças parasitárias, se
comparado com as espécies puras pacu e tambaqui (MARTINS et al., 2002;
TAVARES-DIAS et al., 2007).
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1.2 Características do pescado fresco
A exemplo de carnes, leite e ovos, o músculo de pescado é importante fonte
de proteínas e também de lipídios (OGAWA e MAIA, 1999). É rico em ácidos graxos
poliinsaturados, como o ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA),
que apresentam efeitos redutores sobre triacilgliceróis e colesterol sanguíneo (JAY,
1992). As proteínas aparecem em elevados níveis, entre 10% e 20%, e contém
expressivos percentuais de outros constituintes nitrogenados. Mas o teor de
carboidratos normalmente é muito pequeno (NUNES, 1994; FAO, 1997). O pescado
possui ainda consideráveis teores de elementos minerais de importância fisiológica,
como Magnésio, Manganês, Zinco, Cobre, etc., além de vitaminas do complexo B, e
as vitaminas lipossolúveis A e D (OGAWA e MAIA, 1999).
O nível protéico, a elevada digestibilidade, o baixo teor de gordura e a
benéfica presença dos ácidos graxos poliinsaturados, que agem como protetores
cardiovasculares constroem a boa reputação da carne de peixe (HOLUB e HOLUB,
2004).
A preferência ao peixe como uma alternativa saudável se comparada à carne
de outros animais, tem relação com os aspectos de saúde, em particular, nos países
desenvolvidos onde a mortalidade por doença cardiovascular é elevada e o nível
sócio-cultural é alto (ALMEIDA FILHO et al., 2001), sendo um produto com teor
satisfatório em proteínas, gorduras insaturadas, vitaminas e minerais, o pescado tem
sido recomendado para pessoas de qualquer idade principalmente crianças,
adolescentes e idosos (RIQUIXO, 2001).
Desde a retirada do pescado da água inicia-se uma rápida série de alterações
que podem tornar o produto inaceitável para o consumo ou para a industrialização
(MEDEIROS, 2002). O tipo de captura (ZICAN, 1994) e as inúmeras fases de
processamento e transporte (CARDONHA et al., 1994) são considerados
importantes fontes de contaminação, e sistematicamente, as práticas de
manipulação artesanal ou industrial inadequadas dão como resultado produtos de
qualidade inferior e até mesmo deteriorados. Más condições de transporte,
comercialização e distribuição também contribuem para o aumento das perdas
(SANTOS, 2006).
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As alterações físico-químicas e microbiológicas que ocorrem no pescado
dependem do modo de abate, da concentração de enzimas endógenas e da
contaminação microbiana. O manejo, dos peixes no momento do sacrifício, e as
condições de armazenagem produzem efeitos importantes na qualidade
microbiológica, química e sensorial das espécies (OZOGUL e OZOGUL, 2004). Tais
alterações dependem também das condições de armazenamento, tamanho do
pescado, assim como do teor de lipídeos, entre outros. Assim, têm-se diversos
fatores a considerar e muitos ainda continuam no nível de hipóteses (HUSS, 1998).
No Brasil as características do peixe fresco considerado próprio para
consumo são determinadas por legislação, com destaque para o Regulamento da
Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), a partir do
artigo 442 (BRASIL, 1952a), e a Portaria nº 185 do Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento (BRASIL, 1997), Todavia, critérios de avaliação para cada espécie
de peixe não estão definidos, e ainda hoje persiste uma grande lacuna legal a cerca
do prazo de validade comercial para o pescado fresco ou resfriado comercializado
no País. Para agravar o quadro, soma-se ainda a ausência de normatização que
garanta a procedência deste produto que é vendido a granel, sem embalagem ou
qualquer tipo de referência a sua origem, condenando o pescado a um padrão
sanitário retrógado, duvidoso e marginal.
1.3 Deterioração química do pescado
1.3.1 Potencial Hidrogeniônico (pH)
Após a morte, o suprimento de oxigênio para o tecido muscular é
interrompido, pois o sangue deixa de ser bombeado pelo coração e não circula mais
pelas brânquias, onde, nos peixes vivos, se enriquecia de oxigênio. Desta forma a
produção de energia se restringe a glicólise. O pH muscular nos peixes vivos, está
próximo da neutralidade. A glicólise post mortem resulta no acúmulo de ácido lático,
com a concomitante diminuição de pH do músculo. A quantidade de ácido lático
produzida está relacionada com a quantidade de carboidrato (glicogênio)
armazenado no tecido vivo. Em geral, o músculo do pescado contém um nível
relativamente baixo de glicogênio, comparado aos mamíferos e, por esta razão, é
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gerado menor quantidade de ácido lático após a morte. Entretanto, a espécie de
pescado, o estado nutricional do peixe, a quantidade e grau de esgotamento no
momento da morte têm um grande efeito nos níveis de glicogênio armazenado e,
conseqüentemente, no pH post mortem final. Logo após a glicólise, certas
transformações autolíticas, tais como o rompimento de proteínas, proporcionam as
condições ótimas para o crescimento e reprodução da microbiota contaminante, a
qual pode produzir aminas que elevam o pH do pescado (HUSS, 1998) tornando-o,
segundo a legislação brasileira, impróprio para consumo, quando apresentarem
valores de pH (carne externa) superiores ou iguais a 6,8 e valores superiores ou
iguais a 6,5 (carne interna) (BRASIL, 1952a).
Na conservação do pescado fatores que influem no rigor mortis
desempenham papéis importantes, pois estão diretamente relacionados com
estágios iniciais de deterioração (FAO, 2008). Após a captura, o peixe deve ser
imediatamente submetido à baixas temperaturas com o objetivo de prolongar ao
máximo o período de pré-rigor e de rigor mortis, em que não há ação incisiva de
enzimas tissulares e micro-organismos. Com o início do rigor mortis, o pH do peixe
cai de 7,0 para 6,5, subindo rapidamente para níveis entre 6,6 e 6,8 (KAI; MORAIS,
1988). Com a deterioração do pescado, o pH atinge níveis mais elevados devido à
decomposição de aminoácidos e da uréia e à desaminação oxidativa da creatina
(SOARES et al., 1998).
O rigor mortis cursa com perda da extensibilidade e plasticidade dos
músculos não apresentando mais os ciclos de contração e relaxamento (BYKOWSKI
e DUTKIEWICZ, 1996) e é abreviado no pescado pela exaustão deste, falta de
oxigênio e temperaturas elevadas, e prolongado pela redução do pH e resfriamento
adequado (CONNEL, 1988).
A deterioração compreende todas as alterações que ocorrem desde a captura
do pescado até a putrefação (FRAZIER E WESTHOFF 1993). É o conjunto das
reações autolíticas e microbianas que ocorrem simultaneamente no alimento depois
da morte, originando produtos com sabores e odores desagradáveis, tornando o
alimento rejeitado ou impróprio para o consumo (ALMAS, 1981). O estado de
nutrição, idade (maturidade sexual), fatores ligados à espécie (CONNEL, 1988;
HUSS, 1997), o manejo dos peixes no momento do sacrifício, o modo de abate, a
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concentração de enzimas endógenas, a contaminação microbiana e as condições de
armazenagem são efeitos importantes ao avaliar a qualidade microbiológica,
química e sensorial das espécies (OZOGUL e OZOGUL, 2004). Segundo Sikorski et
aI. (1990), as questões básicas que afetam a qualidade do pescado são os fatores
indutores do metabolismo anaeróbio, estado de acidez muscular, contagem inicial
das bactérias e temperatura.
Outras razões para a rápida decomposição do pescado estão associadas ao
rápido desenvolvimento do rigor mortis, à constituição frouxa do tecido conectivo, à
insaturação dos lipídeos, além da estrutura coloidal da sua proteína muscular, com
grande quantidade de substâncias extrativas nitrogenadas livres, como aminoácidos
e o óxido de trimetilamina (OTMA), este presente, sobretudo em pescado marinho.
(OGAWA; MAIA, 1999; OETTERER, 2004). Por outro lado, em peixes de água doce,
onde o OTMA não está presente, espera-se um nível de bases voláteis geralmente
baixo e o principal responsável pelo aumento do potencial hidrogeniônico (pH) vem
do processo de deterioração conduzido pela ação das enzimas exógenas das
bactérias específicas de deterioração ( KYRANA E LOUGOVOIS, 2002).
Com a evolução da deterioração, o pH alcança níveis mais elevados devido à
quebra de aminoácidos e da uréia e da desaminação oxidativa da creatina e o
acúmulo de compostos alcalinos, como amônia e trimetilamina (TMA) no
desdobramento óxido de trimetilamina (OTMA) por ação enzimática da Shewanella
putrefasciens (SOARES et al., 1998; RODRIGUEZ et al., 2004).
As alterações autolíticas são responsáveis pela perda inicial de qualidade.
Nesta primeira fase, ocorre acúmulo de intermediários de adenosina trifosfato (ATP),
glicogênio e creatina livre. O ATP é decomposto por ação enzimática, perde uma
molécula de fósforo e dá origem a adenosina difosfato (ADP). A seguir o processo
de degradação ocorre com a formação de adenosina monofosfato (AMP), inosina
monofosfato (IMP), inosina (Ino) e hipoxantina (Hx). A degradação dos catabólitos
do ATP ocorre de forma semelhante na maioria das espécies de pescado, mas a
velocidade de cada reação (de um catabólito a outro) varia muito entre as espécies.
A hipoxantina tem um efeito direto no sabor, visto que quando há acúmulo desta
substância, um sabor amargo é percebido no pescado deteriorado. Durante a
resolução do rigor mortis, enzimas autolíticas, calpaínas e catepsinas são liberadas,
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degradando alguns componentes musculares e estas enzimas são responsáveis
pelo relaxamento da musculatura e possuem alta correlação com a textura da carne
do pescado (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994; HUSS, 1998).
As substâncias extrativas nitrogenadas disponíveis nos músculos, na forma
de aminoácidos livres, peptídeos simples como anserina, glutationa, OTMA, creatina
e taurina exercem importante papel no aparecimento de outros produtos de
degradação, uma vez que a presença destas substâncias constitui o ponto
fundamental de partida para a atividade dos micro-organismos. Portanto, os
métodos químicos mais utilizados para a avaliação da qualidade do pescado são:
nitrogênio das bases voláteis totais (N-BVT), nitrogênio da trimetilamina (N-TMA),
além de hipoxantina (Hx), produtos resultantes da degradação de ATP (OGAWA;
MAIA, 1999).
1.3.2 Bases voláteis totais (BVT)
Tradicionalmente a avaliação da qualidade do peixe vem se baseando em
testes sensoriais. Mas, a aproximadamente um século na Alemanha, foi iniciada a
avaliação química da deterioração de pescado comprovado através de pesquisas
que a determinação dos níveis de BVT considerado um método padrão para a
realização da inspeção de peixes (KÖNIG, 1910 apud TIMM; JORGENSEN, 2002).
Desde então, o método de determinação de BVT tem sido amplamente empregado
na avaliação da qualidade dos peixes, sendo o método não-sensorial mais usado na
avaliação da qualidade do pescado fresco e congelado (HUSS, 1995; PEREIRA,
2004). As bases voláteis totais são formadas pelo amoníaco (amônia), TMA,
dimetilamina (DMA) e monometilamina (MMA). O composto mais acentuado é o
amoníaco produzido principalmente pelas enzimas endógenas e de origem
bacteriana (SIKORSKI et al., 1990). Peixes marinhos e peixes de água doce, de
acordo com Contreras-Guzmán (1994), quando armazenados em gelo apresentam
evoluções de BVT distintas. A comparação entre esses grupos mostra que nem
sempre as espécies de água doce alcançam o limite de aceitação do pescado de 30
mg BVT/l00g (BRASIL, 1997) durante o período de estocagem (CONNELL, 1995).
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Porém, esse valor nem sempre é o mesmo para todas as espécies, o que torna
importante a realização de estudos para determinar o nível para cada uma delas.
Apesar da análise de BVT ser relativamente simples de realizar, tem sido
verificado que o teste só apresenta aumentos consistentes quando o pescado está
próximo da rejeição, de modo que não seria útil para prognosticar o prazo de
validade comercial a partir de dados intermediários; porém, teria relevância como
indicador do período máximo de comercialização (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994;
HUSS, 1998). Pela legislação brasileira (BRASIL, 1997), o limite preconizado para o
pescado ser considerado aceitável é de 30 mg de BVT/100g de carne, pois este
valor parece ser compatível com os limites de aceitação sensorial e contagem de
micro-organismos de muitas espécies. No entanto, há o consenso de que nos
elasmobrânquios este valor de BVT é irreal, pois a matéria-prima chega à indústria
com valores acima de 30 mg de BVT/100g. Valores em torno de 60 mg de BVT são
comuns em cações com qualidade sensorial e microbiológica aceitável. Já em
peixes de água doce a utilização deste parâmetro é questionada, pois estes
possuem quantidades mínimas de OTMA, que por ação microbiana origina TMA.
Então, os critérios estabelecidos por esta legislação parecem não ser adequados
para todos os tipos de peixes, pois algumas espécies apresentam níveis de BVT
acima do padrão permitido, mas demonstram estar em condições microbiológicas e
sensoriais favoráveis ao consumo. Da mesma forma, outros tipos de peixes, mesmo
contendo níveis de BVT compatíveis com a legislação, oferecem condições
desfavoráveis ao consumo (TAHA, 1988).
Cardinal et al. (2004) afirmam que valores elevados de BVT e TMA são um
forte indicador de baixa qualidade de peixes resfriados, estocados por duas
semanas sob temperatura de 4°C. Entretanto, segundo Ababouche et al. (1996) as
diferenças dos resultados entre várias espécies de peixes confirmam que a
produção de TMA e de BVT não pode ser utilizada como indicadores universais de
qualidade, como um padrão específico para todas as espécies. Este fato se justifica
pelas diferentes concentrações de OTMA em cada uma delas, principalmente entre
os elasmobrânquios e os teleósteos, e também porque foram sugeridos, por estes
autores, limites críticos distintos de BVT, dependendo da espécie em questão (25 -
-
19
35mg de BVT/100g de sardinha e 30 - 35mg de BVT/100g de peixes de água fria em
geral).
O maior evento bioquímico, na fase do pós-rigor, é a alteração do teor de
nitrogênio não protéico (particularmente dos aminoácidos livres), produzindo amônia
e outras bases voláteis totais, como TMA, DMA, traços de MMA e propilamina. A
amônia formada nesta fase é oriunda da descarboxilação ou desaminação dos
aminoácidos. O primeiro caso é conseqüência da ação de bactérias descarboxilases
positivas (presentes na pele e no trato digestivo). No segundo caso, há ação de
bactérias anaeróbias que realizam desaminação de aminoácidos livres
(CONTRERAS-GUZMÁN, 1994). A partir do pós-rigor a amônia gerada pela ação
microbiana soma-se à produzida anteriormente e, por isso, seus níveis aumentam
significativamente após a primeira semana de estocagem. Entretanto, devido a
maior facilidade analítica, costuma-se determinar o nitrogênio volátil em vez da
amônia através do teste de quantificação das bases voláteis totais (BVT) (ibid).
1.3.3 Óxido de trimetilamina (OTMA) e trimetilamina (TMA)
O OTMA constitui uma parte característica e importante da fração nitrogenada
não protéica nas espécies marinhas, porém está ausente em espécies de água
doce, exceto na tilápia (Oreochromis niloticus) (BYSTEDT, et al, 1959). É um
composto solúvel em água, de baixo peso molecular (HUSS, 1995), que embora
inodoro, origina compostos que podem alterar o odor do pescado como a TMA -
amina volátil, com odor forte e desagradável, característico de peixes em estado de
deterioração (DYER, 1945). É típico de peixes marinhos e invertebrados, e tem sua
origem a partir de duas fontes principais: acúmulo pela ingestão de fitoplâncton ou
biosintetisado pelos próprios animais (HUSS, 1995; VOOYS, 2002). Já Contreras-
Guzmán (1994) propôs três teorias para a origem do OTMA: origem exógena - a
partir da síntese por algas marrons, verdes e vermelhas, que ao serem ingeridas por
peixes herbívoros e zooplâncton acabam passando por todos os elos da cadeia
alimentar, de acordo com a quantidade necessária para cada espécie; origem
endógena - de acordo com a salinidade do meio os peixes podem excretar o
excesso ou sintetizar; e origem mista - onde os peixes possuem um mecanismo que
-
20
garante nível mínimo desta substância no organismo, eliminando o excesso ingerido
pela dieta ou sintetizando-o em períodos de carência.
Ainda sobre o OTMA e sua função no metabolismo animal, Vooys (2002)
relatou sobre hipóteses propostas por vários pesquisadores. Esta substância pode
ser um produto final do metabolismo não-tóxico de proteínas, pode atuar na
osmorregulação intracelular, também pode proteger o animal contra as baixas
temperaturas da água, além de estabilizar as enzimas no caso de altas
concentrações de uréia ou altas pressões atmosféricas.
É certo que pode ser encontrado em quantidade de 1 a 5% do tecido
muscular e, dependendo da espécie do pescado, pode apresentar variações em sua
concentração. Os teleósteos geralmente apresentam concentração de
aproximadamente 1%, enquanto que nos elasmobrânquios esta concentração
ultrapassa 1,5% (FRASER; SUMAR, 1998). Em algumas espécies de pescado que
não contêm OTMA, ou nos quais a deterioração é devida à microbiota não redutora
de OTMA, observa-se um leve aumento de BVT durante o armazenamento,
provavelmente como resultado da desaminação e descarboxilação de aminoácidos.
No peixe congelado, porém, a atividade bacteriana é inibida e o OTMA é convertido
em quantidades equimolares de dimetilamina (DMA) e formaldeído (FA) pela enzima
autolítica OTMA-dimetilase (HUSS, 1998). A DMA formada pode ser empregada
como indicador de deterioração durante o armazenamento de pescado congelado,
da mesma forma que a TMA é utilizada na alteração microbiana do pescado não
congelado (GALLARDO et al.,1990b). E em peixes em decomposição pode ser
relacionada com a redução bacteriana do OTMA, geralmente associada a gêneros
bacterianos típicos de ambiente marinho (como Alteromonas, Photobacterium spp.,
Vibrio spp. e Shewanella putrefasciens) e também com bactérias da família
Enterobacteriaceae e Aeromonas spp. (HUSS, 1995).
-
21
1.3.4 Oxidação lipídica
O lipídio é a principal fonte de energia para os animais e ocorrem em maior
quantidade em peixes de águas continentais que peixes marinhos (CONTRERAS-
GUZMÁN, 1994). O desenvolvimento da oxidação destas gorduras dos peixes
depende da temperatura de estocagem, e com o tempo ocorre o desenvolvimento
de sabores e odores desagradáveis. Estes processos de oxidação, que são
autocatalíticos, envolvem o oxigênio e os lipídios insaturados. O primeiro passo leva
à formação de peróxidos que não conferem nenhum sabor, mas podem levar ao
aparecimento de colorações castanhas ou amarelas no tecido do peixe. O peróxido,
perdendo uma molécula de hidrogênio, produz hidroperóxido. A degradação de
hidroperóxidos dá origem à formação de aldeídos, cetonas, álcoois, pequenos
ácidos carboxílicos, que originam um extenso espectro de odores e sabores, entre
estes, um forte sabor de ranço (HUSS, 1997). Sabores indesejáveis foram também
verificados no bacalhau (Gadus mohua) por Love (1992), pela presença do cis-4-
heptanal, resultado da oxidação de ácidos graxos polinsaturados. O que se observa
é que o alto teor de ácidos graxos insaturados, mesmo em espécies magras como o
bacalhau (Gadus mohua) podem ocasionar problemas na qualidade com relação à
oxidação da gordura.
1.4 Deterioração microbiana do pescado
Peixes capturados em água limpas e muito frias carregam um número menor
de micro-organismos que peixes capturados em águas mornas e/ou poluídas,
portanto, a microbiota do peixe recém capturado depende do meio ambiente em que
este se encontra (MEDEIROS, 2002). A contagem destes micro-organismos é
comumente empregada para indicar a qualidade sanitária dos alimentos e mesmo
que os patógenos estejam ausentes e que não tenham ocorrido alterações nas
condições sensoriais do alimento, um número elevado de micro-organismos
heterotróficos aeróbios mesófilos (BHAM) indica que o alimento é insalubre
(FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Mas o pescado, mesmo capturado em águas não poluídas, deteriora-se em
pouco tempo se não devidamente processado, e uma das causas desta deterioração
-
22
é a multiplicação rápida das bactérias da microbiota natural do pescado, que
normalmente são psicrotróficas, como Pseudomonas spp., Achromobacter spp. e
Flavobacterium spp., sendo capazes de se desenvolver enquanto o pescado está
armazenado no gelo (LISTON, 1980). Essa biota Gram negativa psicrotrófica
predominante em ambientes sob temperaturas entre 0ºC e 7ºC (FORSYTHE, 2002),
quando presentes em número elevado, pode causar uma variedade de alterações
em alimentos mantidos sob refrigeração devido à capacidade proteolítica e lipolítica
da maioria dos gêneros deste grupo (FERREIRA et al., 2002), enquanto que em
temperaturas mais elevadas, predominam os mesófilos Gram positivos, como
Microccocus spp, Corynebacterium spp., Bacillus spp., cuja a presença também esta
associada a deficiências ao longo da cadeia produtiva, sendo utilizados para
evidenciar informações a respeito de possível prazo de validade comercial do
produto (MORTON, 2001).
A musculatura interna de peixes vivos e saudáveis é considerada
bacteriologicamente estéril, porém é possível encontrar uma grande concentração
de micro-organismos no intestino (10³ - 108 UFC/g), pele e muco superficial
(variando de 100 a milhões por cm2). O número e o tipo de micro-organismos
encontrados em peixes recém capturados variam de acordo com o local da pesca
(qualidade da água, salinidade, etc), a temperatura da água, a sazonalidade e o
método de captura (ICMSF, 1974; NICKELSON et al., 2001).
A microbiota do pescado de água doce é composta por espécies dos gêneros
Aeromonas spp., Lactobacillus spp., Brevidumbacterium spp., Alcaligenes spp. e
Streptoccocus spp., além da maioria dos gêneros encontrados em água salgada e
no intestino de pescado de origem marinha ou de água doce, estão presentes os
gêneros Alcaligenes spp., Pseudomonas spp., Flavobacterium spp., Vibrio spp.,
Bacillus spp., Clostridium spp. e Escherichia spp. (FRAZIER; WESTHOFF, 1993).
De acordo com Nickelson et al., (2001) é o gênero Pseudomonas que tem
papel de destaque em grande parte da deterioração de peixes, onde atuam na
metabolização de várias substâncias no tecido muscular originando produtos
relacionados à formação de “off-flavours” e “off-odours”, tais como metil mercaptano,
dimetil-dissulfeto, gás sulfídrico e TMA. Estas bactérias, ao serem quantificadas no
pescado recém-capturado, apresentam-se em quantidades muito menores que as
-
23
de outros gêneros. Possivelmente a grande capacidade de multiplicação em baixas
temperaturas ou de metabolização de moléculas protéicas bem como suas
atividades bioquímicas faz com que esse gênero bacteriano tenha tanta importância
na deterioração do pescado (ibid). A deterioração, quando causada por
Pseudomonas spp., é caracterizada pela ocorrência de odores adocicados, fétidos e
sulfidrílicos. Entretanto, em temperaturas altas de armazenamento (15-30ºC) os
principais responsáveis pela deterioração são as diferentes espécies da família
Vibrionaceae, Enterobacteriaceae, bem como bactérias Gram positivas (HUSS,
1995).
Os micro-organismos heterotróficos aeróbios mesófilos (BHAM) têm como
temperatura ótima para crescimento a faixa entre 30°C e 45°C, sendo a temperatura
mínima de 5°C e máxima de 47°C (GERMANO e GERMANO, 2001), podendo ser
encontrados em alimentos resfriados (JAY, 2005). Sua contagem é utilizada para
estimar a possível presença de patógenos no alimento e, mesmo que eles estejam
ausentes e não tenham ocorrido alterações sensoriais no alimento, acaba por
estimar sua qualidade sanitária, sendo útil para medir as condições da matéria-
prima, a eficiência dos procedimentos (por exemplo, tratamento térmico), as
condições higiênicas durante o processamento, as condições sanitárias dos
equipamentos e utensílios, e ainda o perfil tempo x temperatura durante a
armazenagem e distribuição (FAO, 2008). Entretanto, no Brasil ainda não existe
padrão microbiológico para mesófilos em pescados, mas um padrão bastante
utilizado por muitos pesquisadores é o da International Commission on
Microbiologycal Specifications for Foods (ICMSF), que determina como tolerância
para amostra indicativa 107 UFC/g (FAO, 2008).
1.5 Inspeção sensorial do pescado
As primeiras alterações sensoriais que acontecem no peixe durante o
armazenamento estão relacionadas com o odor, a aparência e a textura, sendo as
mudanças no odor desenvolvidas desde o início da estocagem (CHURCH, 1998).
Na análise sensorial, a aparência, o odor, o sabor e a textura são avaliados
empregando os órgãos dos sentidos (HUSS, 1998) e seguindo uma marcha de
-
24
inspeção visual pré-estabelecida na portaria n° 185 (BRASIL, 1997). Almeida (1998)
estudou as alterações post-mortem em tambaqui (Colossoma macropomum)
procedente da piscicultura e conservado em gelo em Manaus-AM, e de acordo com
os resultados obtidos por meio da avaliação sensorial, essa espécie teve validade
comercial até 43 dias de estocagem em gelo, demonstrando que os peixes de
criatórios de clima tropical de água doce apresentam validade comercial mais
prolongada do que as espécies de peixes de clima temperado e frio.
1.6 Refrigeração do pescado
O resfriamento ágil é um dos fatores mais importantes na conservação do
pescado, pois a velocidade de proliferação das bactérias depende em partes da
temperatura, além da influência sobre a velocidade das reações químicas, que de
modo geral são favorecidos pela manutenção da temperatura ambiente
(MACHADO,1984). Caracterizando-se, portanto, como medida preventiva que
desempenha papel decisivo na contenção da decomposição acelerada do pescado.
Assim, uma das formas rotineiras e consagradas de manter baixas as
temperaturas de armazenamento do pescado é a utilização de gelo, que pode ser
produzido na forma de escamas, em tubos, em placas ou triturado e ser elaborado
com água doce ou marinha. A água doce deve ser potável e a água do mar deve ser
límpida e não contaminar o pescado (GRAHAM et al., 1993). Muitos patógenos
estão relacionados com a qualidade da água, ou até mesmo do gelo utilizado na
conservação, e/ou procedimento pós-captura (HUSS, 1998). A importância da
qualidade microbiológica do gelo é enfatizada quando sua finalidade é de conservar
alimentos, especialmente os peixes. Germano e Germano (2003) afirmam que o
contato dos peixes com gelo produzido com água de má qualidade é um dos meios
mais frequentes de contaminação destes produtos. Vieira et al. (2004), em pesquisa
sobre a qualidade microbiológica do gelo usado num dos principais pontos de
comercialização de Fortaleza – Ceará, isolaram 90 cepas pertencentes a diferentes
gêneros bacterianos.
Conforme o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal (RIISPOA) (BRASIL, 1952a) entende-se por “fresco” o pescado dado
ao consumo sem ter sofrido qualquer processo de conservação, a não ser a ação do
-
25
gelo, “resfriado” o pescado devidamente acondicionado em gelo e mantido em
temperatura entre -0,5 a -2ºC, e “congelado” o pescado em temperatura não superior
a -25ºC.
O pescado de regiões tropicais conserva-se por mais tempo em gelo do que o
pescado de águas temperadas, podendo ultrapassar três semanas o período de
conservação. Esta diferença estaria relacionada com a microbiota do pescado de
água tropical, que, ao contrário do pescado de água temperada, demora de uma a
duas semanas para se desenvolver; isto é, as bactérias potencialmente
psicrotróficas presentes necessitam de algum tempo para se adaptarem à
temperatura de refrigeração (GRAM et al., 1989; HUSS, 1998). Segundo Huss
(1998) a tilápia (Oreochromis niloticus) pode ser conservada em gelo por até 27
dias. Este autor ainda explica que pescados destas regiões apresentam tempo de
validade comercial superior aos pescados de regiões frias ou temperadas,
provavelmente também pelo fato de o número dos micro-organismos mesófilos ser
maior do que o número dos psicrotróficos nas regiões tropicais registrando-se o
inverso nas regiões temperadas/frias. Franco et al., (1996) acrescentam ainda que
as bactérias psicrotróficas participam diretamente do processo de deterioração do
pescado, pelo fato de se multiplicarem bem nessas condições.
Leitão (1988) constatou que o período de armazenamento em gelo do
pescado de origem tropical é maior que aqueles que se originam de águas
temperadas, porque sua microbiota caracteristicamente composta por bactérias
mesofílicas apresenta reduzida capacidade de multiplicação em temperaturas de
refrigeração e menor aptidão para produção de compostos de degradação. Outro
fator relevante é que em temperaturas tropicais a ação da água de degelo durante o
armazenamento realiza a lavagem dos peixes, contribuindo para o aumento do
período de armazenamento.
Também deve ser destacado que nos peixes tropicais mantidos sob
refrigeração o crescimento bacteriano passa por um período denominado de fase de
latência ou (fase “log”), que perdura por uma ou duas semanas, antes que a fase de
crescimento exponencial seja atingida. A composição da microbiota também é muito
alterada durante a estocagem. Assim, sob resfriamento em meio aeróbio, a
microbiota dos peixes tropicais é composta basicamente por Pseudomonas spp. e
-
26
Shewanella putrefasciens após uma a duas semanas. Ambas são consideradas
como bactérias especificamente deteriorantes de peixes armazenados sob
refrigeração (HUSS, 1995). Leitão e Silveira (1992) estudaram peixes de piscicultura
e a temperatura da água de onde o pescado foi capturado e verificaram que há
influencia direta no crescimento dos micro-organismos. O pescado capturado em
águas com maiores temperaturas tiveram a fase lag mais longa que o pescado
capturado em águas com menores temperaturas. Elisabetta et al. (2001) concluíram
que a condição ideal para o armazenamento da tilápia (Oreochromis niloticus) é sua
colocação sem demora (0h) no gelo, o que garantiria uma validade comercial de 21
dias. Britto (2007) trabalhando com jaraqui, (Semaprochilodus spp.) encontrou prazo
de validade comercial de 18 e 21 dias de estocagem entre camadas de gelo,
indicando que cuidados dispensados no manejo do pescado garantem uma extensa
validade comercial e permitem que a espécie seja comercializada e transportada aos
mercados nacionais e internacionais.
No capítulo seguinte será descrito o trabalho intitulado Estimativa de
validade comercial do híbrido tambacu (fêmea Colossoma macropomum X macho
Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
-
27
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35
2 CAPÍTULO 2: ARTIGO PARA PUBLICAÇÃO
RESUMO
CALHAO, F. M. Estimativa de validade comercial do híbrido tambacu (fêmea
Colossoma macropomum x macho Piaractus mesopotamicus) eviscerado e
resfriado 2011 56f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal), Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá,
2011.
O pescado após a despesca sofre alterações enzimáticas e microbiológicas que
evoluem até a completa deterioração. Este trabalho objetivou estimar o prazo de
validade comercial do híbrido tambacu, eviscerado e refrigerado. Foram utilizados 42
exemplares oriundos de piscicultura, com peso médio de 1,8 kg, abatidos por
hipotermia (gelo), e transportados para o Laboratório de Inspeção de Produtos de
Origem Animal da Universidade Federal de Mato Grosso onde foram eviscerados,
lavados com água clorada e submetidos ao resfriamento. O experimento foi
conduzido em delineamento inteiramente ao acaso totalizando 28 dias, com 14
tratamentos. As análises ocorreram a cada 2 dias com 03 repetições, totalizando 42
unidades experimentais. Foram realizadas análises microbiológicas, físico-químicas
e inspeção sensorial. Houve efeito significativo para a contagem de micro-
organismos heterotróficos aeróbios psicrotróficos e Aeromonas spp. com variações
de 0,52 a 3,81 log ufc/g e 0,59 a 3,68 log ufc/g respectivamente. Para as variáveis
bases voláteis totais – (BVT), potencial hidrogeniônico (pH), Enterobacteriaceae e
heterotróficos aeróbios mesófilos não ocorreram diferenças significativas no período.
Considerando a inspeção sensorial e prova de cocção, conforme o que preconiza
Portaria n° 185 (BRASIL, 1997), a partir dos 20 dias de armazenamento o pescado
se mostrou impróprio para o consumo.
Palavras- chave: tambacu, conservação, validade comercial.
-
36
INTRODUÇÃO
O pescado sofre após a despesca alterações enzimáticas, e microbiológicas,
tornado se bastante sensível à deterioração (ASHIE et. al,1996) sendo difícil prever
o prazo de validade comercial, posto que fatores como espécie, estado nutricional,
procedência, processo de captura, qualidade da água, temperatura de estocagem, e
manipulação influenciam no tempo de conservação. Características intrínsecas
como o pH próximo à neutralidade, a elevada atividade de água nos tecidos, a
quantidade de ácidos graxos insaturados, pouco tecido conjuntivo, enzimas
autolíticas e a alta atividade metabólica da microbiota também contribuem para a
alta permissibilidade do pescado (SOARES et al., 1998). Este conjunto de
variáveis torna o pescado altamente perecível e susceptível a uma série de
contaminantes e por consequência, dependente de uma cadeia produtiva que
disponha de métodos e processos tecnológicos que garantam extensão seu prazo
de validade comercial, mantendo suas características sanitárias, sensoriais e
nutritivas minimamente alteradas (ALMEIDA FILHO, 2006).
Os peixes, além dos micro-organismos não patogênicos inerentes ao produto,
podem ser contaminados por um grande número de bactérias patogênicas oriundas
do ambiente aquático ou do processamento, resultando em riscos à saúde do
consumidor e/ou encurtamento do prazo de validade comercial normalmente
esperado para o produto (RANZANI-PAIVA et al., 2004).
Os integrantes da família Enterobacteriaceae que apesar de serem
associados à contaminação de origem fecal, não necessariamente têm o trato
intestinal de homens e animais com o “habitat” natural, estando presentes no meio
ambiente de um modo geral, sobretudo aqueles envolvendo unidades de
manipulação podendo portanto serem considerados como indicadores de qualidade
higiênico sanitária dos alimentos (KORNACKI; JOHNSON, 2001).
Nos mesófilos está a grande maioria dos micro-organismos, sejam eles
patogênicos ou deterioradores. Altas contagens de mesófilos em alimentos apontam
deficiência higiênica ao longo da cadeia produtiva, que pode ser desde a aquisição
da matéria prima, até a estocagem em condições impróprias, evidenciando
informações a respeito do possível prazo de validade comercial de alimentos ou
iminentes alterações sensoriais nos produtos (MORTON, 2001).
-
37
O grupo dos psicrotróficos, quando presentes em números elevados podem
causar uma variedade de alterações em alimentos mantidos sob refrigeração, em
virtude da capacidade proteolítica e lipolítica da maioria dos gêneros deste grupo
que têm na água seu “hábitat” natural (BRASIL, 1993). Diversos autores trabalhando
com pescado verificaram contagens altas de micro-organismos psicrotróficos no final
do período de estocagem de pescado, o que demonstra a importância destes no
prazo de validade comercial do produto (HOZBOR et al., 2006; BRITTO et al.,
2007; HERNÁNDEZ et al., 2008). Dentro destes estudos incluem-se trabalhos com
espécies do gênero Aeromonas spp, presentes naturalmente no ecossistema
aquático de criação, fazendo parte da flora microbiana normal de organismos
aquáticos (SALTON e SCHNICK, 1973; FRAIRE, 1978), consequentemente,
encontrados na superfície dos peixes, e comumente consumidos pela população
(SILVA, 2007).
No Brasil o padrão de qualidade vigente para avaliação do pescado tem como
referência o Regualmento de inspeção industrial e sanitário de produtos de origem
animal - RIISPOA (BRASIL, 1952), que classifica como pescado fresco aquele que,
dentre outros parâmetros físico-químicos, apresente pH de carne interna inferior a
6,5; e a Portaria n° 185 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) (BRASIL, 1997) que estabelece, dentre outros critérios, o limite máximo
para bases voláteis totais em pescados de 30 mg de BVT/100g, excluídos os
Elasmobrânquios, além de preconizar a avaliação sensorial e a prova de cocção
como recursos no julgamento da qualidade do pescado. Contudo, ainda não existe
padrão oficial que aborda validade comercial em nossa legislação.
Considerando-se que o prazo de validade comercial de peixes de água doce
ainda é um assunto que tem sido pouco estudado, torna-se importante a realização
de pesquisas que avaliem a evolução da deterioração destes peixes ao longo da
armazenagem e a ampliação da vida útil. Neste sentido o presente trabalho
objetivou a partir de monitoramento microbiológico, físico-químico e inspeção
sensorial, estimar o prazo de validade comercial da carne do híbrido tambacu
eviscerado e resfriado.
MATERIAL E MÉTODOS
-
38
No mês de agosto de 2010 foram obtidos 42 exemplares de híbrido tambacu
(Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) não eviscerados com
aproximadamente 1,8 kg cada, provenientes de pisciculturas do distrito de Primavera
do Norte, município de Sorriso/MT. Após a captura com anzol, os mesmos foram
imediatamente sacrificados por hipotermia em gelo, acondicionados em caixas
isotérmicas de poliestireno expandido em camadas intercaladas de gelo em escama
(na proporção de 2:1) e transportados ao Laboratório de Inspeção de Produtos de
Origem Animal da Universidade Federal de Mato Grosso, localizado no município de
Santo Antônio do Leverger – MT. No laboratório foram eviscerados, lavados com
água clorada e novamente acondicionados em camadas de peixe e gelo em
escamas na mesma proporção de 2:1, permanecendo em temperatura de 0°C a -
1°C (temperatura próxima a do ponto de fusão do gelo) em câmara isotérmica,
calibrada e mantida a 2ºC durante todo o período do experimento.
Ainda no mesmo dia em que foram capturados, os peixes foram submetidos
às análises, sendo o primeiro dia de análise correspondente ao primeiro dia de
estocagem (dia zero). As análises foram repetidas a cada 2 dias de estocagem
sempre em triplicata, e destes resultados foram obtidas médias para obtenção dos
valores utilizados.
As análises microbiológicas foram à quantificação de micro-organismos
heterotróficos aeróbios mesófilos e psicrotróficos através de metodologia
recomendada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL,
2003), e da quantificação de bactérias do gênero Aeromonas spp conforme
metodologia descrita por Downes e Ito (2001). As análises físico-químicas foram
feitas de acordo com a portaria de nº. 185 do MAPA (BRASIL, 1997).
Após colheita de material para análise microbiológica de cada tratamento, foi
feita a análise sensorial dos peixes para observação de requisitos de qualidade
relativos ao peixe fresco como aparência geral, firmeza de musculatura e ausência
de impressão digital, olhos ocupando toda a cavidade orbitária límpidos, convexos e
brilhantes, odor e cor característicos bem como a prova de cocção (ibid),
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente ao acaso com 14
tratamentos ou dias de estocagem em gelo (0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22,
24, 26) e três repetições para cada tratamento, totalizando 42 unidades amostrais.
-
39
As análises dos dados foram realizadas por meio do programa SAEG, análise
de variância e por análise de regressão, ao se desdobrarem os graus de liberdade
dos fatores em seus componentes lineares e quadráticos para escolha do modelo de
regressão que melhor descrevesse as observações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Bactérias Heterotróficas Aeróbias Mesófilas (BHAM)
Na Figura 1 observamos que as BHAM não apresentaram resultados
significativos a (P
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40
Figura 1 – Valores médios da contagem de Bactérias Heterotróficas Aeróbias Mesófilas em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e refrigerado.
Pautado por esta norma e analisando isoladamente os resultados de valores
encontrados para o micro-organismo em questão, poder-se-ia opinar por estocagem
mais prolongada, sugerindo prazo de validade comercial diferente daquele
encontrado pelo experimento. Tal divergência vem confirmar a importância do
monitoramento conjunto de parâmetros microbiológicos, físico-químicos e sensoriais.
Enterobacteriaceae
Analisando-se a figura 2, observamos as contagens de Enterobacteriaceae,
que no dia 0 (zero) e no 26º dia foram de 3,18 log ufc/g e 2,54 log ufc/g
respectivamente, não evidenciando desenvolvimento microbiológico significativo a
(P
-
41
exponencial ou que a competição com as bactérias heterotróficas aeróbias
psicrotróficas tenha interferido em seu desenvolvimento.
Figura 2 – Valores médios da contagem de Enterobacteriaceae em tambacu (Colossoma
macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
Bactérias Heterotróficas Aeróbias Psicrotróficas (BHAP)
Na Figura 3, pode ser observado que a contagem de Bactérias Heterotróficas
Aeróbias Psicrotróficas em tambacu apresentaram variação significativa (P
-
42
Figura 3 – Valores médios da contagem de Bactérias Heterotróficas Aeróbias Psicrotróficas em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e estocado em gelo.
Os valores das contagens de BHAP iniciais refletem o baixo nível de
contaminação dos peixes, que tem relação direta com a carga de micro-organismos
do ambiente de origem do pescado e que, conforme explicaram Ward e Baj (1988),
sofrem influência do nível de poluição da água. Esta baixa contagem é produto das
próprias características do habitat dos espécimes deste estudo, constituído por um
grande tanque de engorda com mais de 90 hectares de lâmina d’água e renovação
constante e abundante de água. Tais características da origem certamente
exerceram influência no perfil microbiológico do tambacu eviscerado, resfriado e
consequentemente em seu prazo de validade comercial.
Batista et al (2004) que pesquisaram alterações bioquímicas post-mortem de
matrinxã (Brycon cephalus) procedente da piscicultura, mantido em gelo, verificaram
contagens de bactérias psicrotróficas acima de 6 log ufc/cm² após 16 dias de
estocagem, a que relacionaram ao fato deste grupo de bactérias participarem muito
mais do processo de deterioração do que o grupo de bactérias mesófilas.
A legislação brasileira não menciona nenhum valor para ser adotado como o
limite de aceitação para contagem de BHAP na musculatura dos peixes, entretanto,
Liston (1980) concluiu que apesar da quantidade de bactérias encontrada no
pescado em processo de deterioração ser alta, apenas uma parte pode ser
denominada de bactérias especificamente deteriorantes. E Huss (1998) acrescentou
que grande parte destas bactérias presentes no pescado deteriorado não
desempenha nenhum papel no processo de deterioração.
-
43
Aeromonas spp.
Através da Figura 4 pode ser observado que a contagem de Aeromonas spp
apresentou variação significativa (P
-
44
validade comercial dos produtos. Cada produto pesqueiro possui suas próprias
bactérias específicas de deterioração, e é o número dessas bactérias e não o
número total de micro-organismos que estabelece relação com a duração do tempo
de estocagem do produto. Portanto o prazo de vida comercial dos peixes é
determinado pela quantidade e o tipo de bactérias presentes, bem como pela
temperatura empregada no armazenamento dos mesmos (NICKELSON et al. 2001).
Britto et al. (2007) avaliaram a deterioração bacteriológica do jaraqui inteiro
(Semaprochilodus spp.) conservado em gelo e observaram variação na contagem de
bactérias do gênero Aeromonas spp. de 3,30 log ufc/g a 6,76 log ufc/g e Lanzarin
(2010) que estudou filé de pintado (Pseudoplatystoma coruscans) apresentou
resultado semelhante, com contagens variando de 2,64 log ufc/g à 8,8 log ufc/g
durante 37 dias de estocagem. Neste experimento as contagens para este micro-
organimsmo, em tambacu eviscerado, resfriado, não foram elevadas, não
ultrapassando 3,68 log ufc/g. Mas deve-se considerar que, dentro do gênero
Aeromonas spp. encontram-se espécies patogênicas ao homem e espécies
deteriorantes, que exercem influência negativa no prazo de validade comercial
normalmente esperado para o produto (OGAWA e MAIA, 1999; RANZANI-PAIVA et
al., 2004). Levando-se em conta que esta microbiota está presente no pescado,
geralmente mantido resfriado, visualiza-se clara necessidade de revisão da
legislação brasileira, no que tange ao estabelecimento de limite máximo aceitável
para contagem de BHAP e também para Aeromonas spp.
pH
A Figura 5 apresenta os dados de pH os quais não foram estatisticamente
significativos (P
-
45
Figura 5 – Valores médios de pH em tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado e resfriado.
O RIISPOA (BRASIL, 1952), classifica como pescado fresco aquele
que, dentre outros parâmetros físico-químicos, apresente pH de carne interna
inferior a 6,5. Neste trabalho os valores iniciais de pH são de 6,4 entretanto, logo
decrescem, oscilando entre 6,1 e 6,2 e atingem o pH de 6,2 no 26 º dia, não
evidenciando alterações significativas do pH que ultrapassem o limite determinado
pela legislação para pescado resfriado. Portanto, indicado maior tempo de
estocagem com base no parâmetro pH. Esse comportamento apresentado pelos dos
valores de pH provavelmente é produto do adequando manejo de obtenção e abate,
pela agilidade na captura e curto tempo transcorrido até a insensibilização, visto que
os peixes eram imersos em gelo ainda dentro do barco de captura. E de acordo
com Poli et al. (2005), as reações químicas provindas do estresse instalado fazem
com que os peixes entrem em estado de rigor mortis muito rapidamente após o
abate. O estresse provoca ainda, uma redução das reservas de glicogênio da
musculatura dos peixes e, conseqüentemente, menor acúmulo de ácido lático. Isso
faz com que o pH da carne fique próximo da neutralidade, acelerando a ação das
enzimas musculares (auto-hidrólise), ou o desenvolvimento de bactérias, tendo
como conseqüência a degradação mais rápida do pescado e menor vida de
prateleira.
Também devem ser considerados como fatores de influência os cuidados
com a hipotermia e manutenção do resfriamento em gelo, que foram assegurados
desde o momento da captura e seguiram até o fim do experimento, sem falhas ou
oscilações, contribuindo para a ocorrência destes resultados de pH, um vez que a
temperatura de refrigeração é um catalisador negativo das reações químicas.
-
46
BVT
Na Figura 6 observa-se que as BVT deste estudo atingiram concentrações de 16,08
mg BVT/100g no primeiro dia de análise e 20,13 mg BVT/100g no 26º dia de
estocagem e não apresentaram resultados significativos (P
-
47
Neste experimento a inspeção sensorial (quadro 1) considerou o pescado
impróprio para o consumo a partir do 21º dia de estocagem, diferente do indicado
pelos valores de BVT. Tal dado é importante, pois reafirma que este limite
estabelecido pelo RIISPOA não deve ser utilizado separadamente como indicador
de qualidade devendo estar associado a outros parâmetros físico-químicos,
bacteriológicos e sensoriais. Ou seja, os parâmetros físico-químicos não devem ser
empregados isoladamente, pois podem provocar equívocos devido à variação de
resultados encontrados.
Inspeção sensorial
REQUISITOS
AVALIADOS
Portaria n° 185
13.04.1997 MAPA
DIAS DE ESTOCAGEM
0 AO 10° 12° AO 20° 22° AO 26°
PELE Úmida, tensa e
bem aderida
Úmida, tensa e bem
aderida
Úmida, tensa e
bem aderida
com impressão
digital
ESCAMAS Aderidas,
translúcidas, Aderidas, translúcidas,
Aderidas,
translúcidas Aderidas, opacas
MUCO Aquoso e
transparente Aquoso e transparente aquoso e opaco
Opaco a leitoso e
muito viscoso
OLHOS brilhantes e
salientes brilhantes e salientes
sem brilho e
côncavo
Frouxo na órbita
côncavo, opaco e
hemorrágico
MUSCULA-
TURA
Firme e aderida
aos ossos
Firme e aderida aos
ossos
Firme e aderida
aos ossos
Desprendendo dos
ossos na porção
ventral
COR,
ODOR Característicos Característicos Característicos
Odor pútrido
pronunciado
PROVA DE
COCÇÃO
Características
organolépticas
próprias
Características
organolépticas
próprias
Características
organolépticas
próprias
Odor desagradável,
pútrido
Quadro 1 – Degeneração da qualidade do tambacu (Colossoma macropomum X Piaractus mesopotamicus) eviscerado, armazenado em gelo durante 26 dias de estocagem, segundo os requisitos preconizados pela Portaria n° 185 de 13.04.1997/ MAPA.
A análise sensorial esquematizada no quadro 1 apresenta requisitos avaliados
durante todo o período de estocagem, evidenciando que nos primeiros 10 dias
nenhuma alteração macroscópica pôde ser detectada (Figuras 8 e 9), concordando
-
48
com a baixa contaminação inicial, com a lenta evolução microbiológica e com o
indicado pelos parâmetros físico-químicos.
Figura 8 – Exemplar sem alterações macroscópicas aparentes externamente
Figura 9 – Exemplar sem alterações macroscópicas aparentes internamente
A partir do 12° dia de estocagem os exemplares começaram a apresentar os
primeiros sinais de redução da qualidade, mais pronunciadamente nos olhos, que
-
49
lentamente perderam a concavidade e translucidez (Figura 10 e 11). A partir do 16°
dia, a coloração do muco era diferente do que foi observado na primeira semana de
estocagem, porém mas a cor, o odor e a prova de cocção ainda não caracterizava o
pescado como inapto ao consumo.
Figura 10 – Exemplar no 12° dia apresentando olhos côncavos e levemente.
Figura 11 – Exemplar no 12° dia apresentando olhos côncavos e não ocupando
totalmente a órbita.
Entre o 18° e 22° dia de estocagem é o odor que mais sofre alterações, sendo
que neste último dia, apresentou prova de cocção marcada por nítido odor
desagradável e pútrido. Neste estágio o estado geral é precário, com farta presença
de muco amarelo-leitoso, olhos profundos, opacos, hemorrágicos (Figura 12) A
-
50
musculatura flácida, com extensas áreas hemo