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Índices Urbanísticos Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre FAUUSP AUP 0573 Desenho Urbano: da teoria ao projeto

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Índices Urbanísticos

Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre

FAUUSP

AUP 0573 Desenho Urbano: da teoria ao projeto

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1. Densidade Demográfica

Densidade Demográfica é a relação entre a população e uma determinada área. Existem diferentes conceitos sobre densidade, que variam em função da população e a área que se estuda, mas a unidade é geralmente dada em habitantes por hectare, onde um hectare é igual a 10.000m² (ou abreviado em hab./ha).

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A) Densidade média urbana

É a relação entre a população urbana e área urbana (aquela ocupada pelo perímetro urbano). Às vezes se usa só a área efetivamente urbanizada.

Cidade densidade média área central periferia

São Paulo 71 hab./ha ±400 hab./ha ±50 hab./ha

Campinas 46 hab./ha ±200 hab./ha ±50 hab./ha

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b) Densidades residenciais ou habitacionais- é a relação entre uma população com a área do local de sua residência. Pode ser dividida em:

i. Densidade residencial bruta - é a relação entre a população residente e a área bruta que ela ocupa, sem descontar as vias, áreas verdes de uso frequente, escolas, áreas comerciais. Geralmente, excluem-se áreas verdes de uso esporádico (jardim botânico, zoológico, etc.), lagos, rios e usos industriais.

Tipologia Urbana Densidade Bruta Fontes

Favelas (RJ): 1.000-1.500 hab./ha Del Rio, 1990

Bairros verticalizados (SP): 300-400 hab./ha Gunn, 1994

Bairros populares horizontais (SP):

100-150 hab./ha Gunn, 1994

Bairros tipo "Jardins" (SP): 50-60 hab./ha Gunn, 1994

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ii. Densidade residencial líquida - é a relação entre a população residente e a área líquida, ou seja, a área ocupada pelos lotes residenciais. Quando os lotes residenciais não edificados são descontados no cálculo, dá-se o nome de densidade imobiliária.

iii. Densidade populacional horária - mede a variação da relação entre o número de pessoas que se encontram em uma determinada área em função de suas atividades econômicas em função do tempo.

Av. Paulista

Horário 7:00hs 14:00hs

Densidade 275 pessoas/ha 830 pessoas/há

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2. A Importância das Densidades

As densidades residenciais são utilizadas para o dimensionamento e localização da infra-estrutura, dos equipamentos sociais e de serviços públicos (esgoto, luz, água, escolas, transporte coletivo, parques, etc.).

Elas podem ser fixadas nas leis de zoneamento. Porém, por ele ser de difícil aferição pelos empreendedores imobiliários é que foram estipulados os outros índices (Taxa de Ocupação, Coeficiente de Aproveitamento, etc.)

A discussão das densidades urbanas ideais é uma discussão antiga. Frank Lloyd Wright densidades baixas 10 hab./ha

Le Corbusier densidades altas 3.000 hab./ha.

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Frank Lloyd Wright e a cidade de Broadacre (10 hab/ha)

FLW foi um dos mais famosos arquitetos americanos (1867-1959)

Em 1932 ele projetou a cidade de Broadacre

Era a antítese de uma cidade e a apoteóse do subúrbio. Era um modelo de planejamento urbano onde a cada família dos Estados Unidos seria dado um lote de um acre (4.000 m²) de terra de reservas federais e uma comunidade seria construída do nada (densidade 10 hab/ha).

Havia uma estação de trem, uns poucos edifícios de escritório e de apartamento.

Todo o transporte importante seria feito pelo automóvel e o pedestre só transitaria dentro dos confins dos lotes, onde a maioria da população residiria.

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Le Corbusier e o Plan Voisin (3.000 hab/ha)

Le Corbusier (Charles Edouard Jeanneret) foi um dos mais famosos arquitetos contemporâneos (1887-1965)

Em 1932 ele projetou O Plan Voisin para Paris

Nesse plano, Le Corbu propunha a destruição de uma parte da cidade e a construção de uma cidade de arranha-céus e grandes eixos viários, baseada nas 4 funções da Carta de Atenas: Habitar, trabalhar, recrear e circular

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O debate hoje em dia

Atualmente existe uma revalorização de densidades populacionais altas por parte dos pesquisadores urbanos.

Jane Jacobs (2000) considera as baixas densidades do modelo do subúrbio americano como o principal fator do declínio das cidades dos Estados Unidos. Segundo ela, baixas densidades reduzem a diversidade de usos das áreas urbanas, tornando-as mais desertas e acentuando problemas como criminalidade e vandalismo.

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Segundo Haughton & Hunter (1994) densidades urbanas maiores tem sido consideradas importante para se alcançar um desenvolvimento sustentável, pois:

1. A grande concentração de pessoas maximiza o uso da infra-estrutura instalada, diminuindo o custo relativo de sua implantação e reduzindo a necessidade de sua expansão para áreas perifericas.

2. Altas densidades reduzem também a necessidade de viagens já que a concentração de pessoas favorece as atividades econômicas como comércio e serviço a nível local.

3. Por fim, elas encorajam o pedestrianismo e viabilizam a implantação de sistema de transportes coletivos.

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Estudos realizados pelo Banco

do Trabalhador da Venezuela

(Banco Obrero) demonstraram

que os custos da infra-estrutura

urbana em função da densidade

se comportam como uma

parábola, cujo ponto de

otimização, para o caso de

Caracas, ficaria em torno dos

1.000 hab./ha (Ferrari, 1979,

p.350)(figura 5.1).

Custo de Infra-estrutura X densidades.

Baseado em Ferrari, 1979, pag. 350.

Hab./ha

US

$/h

ab.

0

50

100

150

200 300 700 1000 1300 1700 1900

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Celson Ferrari (ibid.) 250 - 450 hab./ha densidades econômicas

Fred Rodrigues (1986) < 100 hab./há inviabilizam a presença de serviços e > 1.500 hab./ha geram "deseconomias“

ONU 450 hab./ha

Associação Americana de Saúde Pública 680 hab/ha

Mascaro (1986): Custos da infra-estrutura urbana (água, luz, esgoto, pavimentação)

Custos do edifício (construção, terreno e capital)

Custos da energia gasta para manutenção (iluminação, elevadores, refrigeração)

densidade bruta 450 a 540 hab./ha

Segundo o autor estas densidades poderiam ser atingidas pela combinação de edifícios de 3 a 4 pavimentos com blocos de 8 a 10.

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2.Outros índices urbanísticos

1. AC – Área Total Construída é a soma das áreas cobertas de todos os pavimentos de uma edificação;

2. CA – Coeficiente de Aproveitamento é a relação entre a Área Construída Computável e a área do lote.

3. TO – Taxa de Ocupação é a relação entre a área da projeção horizontal da edificação ou edificações e a área do lote;

4. TP – Taxa de Permeabilidade é a relação entre a parte permeável, que permite a infiltração de água no solo, livre de qualquer edificação, e a área do lote;

5. Recuo é o afastamento mínimo exigido da construção em relação às divisas do lote podendo ser Frontal, Lateral e de Fundo.

6. Dimensão Máxima de Quadra são as medidas máximas do perímetro e área que uma quadra pode ter.

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3. Exercício prático:

Dado:

CA = Coeficiente de Aproveitamento = 2,0

TO = Taxa de Ocupação = 0,5

TP = Taxa de Permeabilidade = 0,2

RF = Recuo de Frente = Recuo de Fundo = 5,0 m RL = Recuo Lateral de ambos os lados = 3,0 m

AT = Área do Terreno = 15 x 30 = 450 m2

Calcular:

AC = Área Total Construída

APT = Área de Projeção do Térreo

Índice de Elevação = Número de Pavimentos

AP = Área Premeável Mínima

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AC = AT x CA = 450 x 2,0 = 900 m2

AMPT = Área Máxima de Projeção do Térreo = AT x TO = 450 x 0,5 = 225 m2

APT = Área de Projeção do Térreo com os recuos = {[30 – (2 x 5)] x [15 – (2 x 3)]} = [30 – 10] x [15 – 6] = 20 x 9 = 180 m2

AP = TP x AT = 0,2 x 450 = 90 m2

Portanto, o edifício terá 5 pavimentos de 180 m2, perfazendo 900 m2 de Área Total Construída

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4. Exemplos práticos

Pacaembu: bairro tipo

“Jardins”: zona exclusiva

residencial de densidadebaixa

CA = 1,0

TO = 0,5

lote padrão = ±500 m2

Densidade =± 50 hab/ha

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Lapa: zona de uso misto

densidade baixa

CA = 1,0

TO = 0,5

lote padrão = ±250 m2

densidade = ±130 hab/ha

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Cerqueira César: zona de

uso misto densidade alta

CA = 4,0

TO = 0,35

lote remebrado = ±500 m2

densidade = ±500 hab/ha

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Cidade Tiradentes: zona de

uso misto densidade baixa

periférica

CA = 1,0

TO = 0,8

lote padrão = ±125 m2

densidade = ±350 hab/ha

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5. Bibliografia:

DEL RIO, V. (1990) Introdução ao Desenho Urbano no

Processo de Planejamento. São Paulo: Pini.

GUNN, Philip (1994) Relações Sociais e produção de

Inovação na Metrópole: percepções e realidades em

São Paulo. In: IEA-USP (org.) Macrometrópole:

aspectos Sociais e Populacionais. São Paulo: IEA-

USP, p. 1-45.

HAUGHTON, G. & HUNTER, C. (1994) Sustainable

cities. Londres: Jessica Kingsley Publishers.

JACOBS, J. (2000) Morte e Vida das Grandes Cidades.

São Paulo: Martins Fontes.

FERRARI, Celson (1979) Curso de Planejamento

Municipal Integrado. São Paulo: Livraria Pioneira

Editora.

MASCARÓ, Juan (1986) A forma urbana e seus custos. In: TURKIENCZ, B. & MALTA, M. (eds.) Desenho Urbano: Anais do II SEDUR – Seminário sobre Desenho Urbano no Brasil. Brasília: UnB, p. 61-68.

RODRIGUES, Fred (1986) Desenho Urbano, cabeça, campo e prancheta. São Paulo: Projeto Editores.

SÃO PAULO (cidade). Atlas Ambiental do Município de São Paulo. São Paulo: SVMA, 2002 (acessível no sítio http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br)

_____________. Lei No. 13.430 de 13 de setembro de 2002 – institui o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Diário Oficial do Município de São Paulo, São Paulo, 14 de setembro de 2002.

______________. Lei No. 13.885 de 25 de agosto de 2004 - institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dispõe sobre o parcelamento, disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo. Diário Oficial do Município de São Paulo, São Paulo, p. 1-68, 6 de outubro de 2004.