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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - IESC Mestrado em Saúde Coletiva
ERIKA BARRETTO ALVES
“Fatores de risco para incidência de infecção por
Leishmania infantum na cidade de Teresina, Piauí.”
RIO DE JANEIRO
2012
ERIKA BARRETTO ALVES
Fatores de risco para incidência de infecção por Leishmania infantum na cidade de
Teresina, Piauí.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em
Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Saúde Coletiva.
Banca Examinadora da Qualificação
Guilherme Loureiro Werneck, DSc., IESC/UFRJ
Orientador
Valeska Carvalho Figueiredo, DSc., IESC/UFRJ
Paula Mendes Luz, DSc., IPEC/FIOCRUZ
Rio de Janeiro - RJ
2012
A474 Alves, Erika Barretto. Fatores de risco para incidência de infecção por Leishmania
infantum na cidade de Teresina, Piauí/ Erika Barretto Alves. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2012. 53 f.; 30cm. Orientador: Guilherme Loureiro Werneck. Dissertação (Mestrado) - UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2012. Inclui bibliografia. 1. Leishmaniose visceral. 2. Fatores de risco. 3. Infecção. 4. Estudos de coortes. 5. Epidemiologia. I. Werneck, Guilherme Loureiro. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título. CDD 614.534
Folha de Aprovação
ERIKA BARRETTO ALVES
FATORES DE RISCO PARA INCIDÊNCIA DE INFECÇÃO POR LEISHMANIA
INFANTUM NA CIDADE DE TERESINA, PIAUÍ.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.
Aprovada em 30/01/2012
______________________________________________________ Prof. Dr. Guilherme Loureiro Werneck, Doutor, IESC/UFRJ
_______________________________________________________ Profª. Drª. Valeska Carvalho Figueiredo, Doutora, IESC/UFRJ
_________________________________________________ Profª. Drª. Paula Mendes Luz, Doutora, IPEC/FIOCRUZ
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Deus por ter me iluminado e conduzido nessa jornada.
Aos meus pais, César e Nádia, os melhores do mundo, pelo amor incondicional, incentivo, fé,
entusiasmo, apoio e pelo modelo de ser humano que são.
À minha irmã, Livia, de quem me orgulho muito, pela parceria e amizade.
Aos meus avós, Barretto e Cecília, meus amores, pelo suporte, cuidado, gentileza, dedicação,
confiança e, claro, pelos mimos.
Aos meus avós, Clélio e Apparecida, pelo constante incentivo aos estudos, pelos
ensinamentos, pela força, nobreza e pelo exemplo que sempre foram. E, mesmo do céu,
sempre olham e torcem por mim e pela nossa família.
Ao meu namorado, Fábio, pelo apoio de sempre, pela compreensão, dedicação,
disponibilidade e carinho.
Aos meus tios, Clélio, Luiz, Nelson, Helder e Homero, que são homens exemplares e tem
papel fundamental na minha vida.
À minha tia/madrinha, Lu, que sempre foi uma amiga e incentivadora.
Às minhas tias, Sônia, Jussara e Fátima, que sempre tem palavras de motivação e carinho.
Aos meus primos, sempre amigos, divertidos e carinhosos.
Ao meu maltês, Téo, pelos momentos de alegria.
Ao meu orientador, Guilherme Loureiro Werneck, a quem admiro muito, pela forma como
conduziu a orientação deste trabalho, pela paciência, humildade, confiança, disponibilidade,
gentileza e pela indiscutível competência.
Às minhas super amigas Ligia e Estela (Mara), que são insubstituíveis, pela amizade
incondicional, lealdade, generosidade e pelos momentos impagáveis e inesquecíveis.
Aos meus amigos de longa data e que sempre estarão no meu coração: Carol, Gisele, Juliana,
Mayara, Yuri, Bruno, Ariana, Viviane, Fernanda e Kátia.
Às amizades que fiz no Mestrado e que farei questão de preservar: Anna Barreto, Érika
Magliano, Fábio Rebouças, Thaíse Gasser, Andréa Sobral, Vinicius Belo e Lilia Marques.
Às amigas da faculdade, Camila, Luciana, Silvia, Laila, Tati e Márcia, pelas conversas e
momentos de descontração.
Aos colegas Sérgio Aquino (que quase me obrigou a me inscrever no processo seletivo do
Mestrado), Lílian Lauria, Giselle Israel, Rosa Polari, Rosa Madeira, Mônica Edelenyi,
Cláudia Sá e Roberto pelo apoio e compreensão.
Ao corpo docente do IESC/UFRJ, que com toda certeza foi essencial para minha formação.
Aos funcionários do IESC/UFRJ, Ivisson e Fátima, sempre prestativos e gentis.
À CAPES pela bolsa de Mestrado.
SUMÁRIO página
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 12
1.1 Ciclo de Transmissão......................................................................................................12
1.2 Aspectos Epidemiológicos............................................................................................. 14
1.3 Aspectos Clínicos e Diagnósticos...................................................................................16
1.4 Tratamento......................................................................................................................18
1.5 Vigilância Epidemiológica..... ........................................................................................19
1.6 Controle.......................................................................................................................... 20
1.7 A Leishmaniose Visceral no Brasil................................................................................ 21
2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 23
3. OBJETIVOS .................................................................................................................... 24
4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 25
4.1 Cenário do Estudo......................................................................................... ................ 25
4.2 Desenho de Estudo e Plano Amostral................................................................... ........ 26
4.3 Coleta de Dados......................................................................................................... .... 26
4.4 Variáveis do Estudo....................................................................................................... 27
4.5 Análise de Dados........................................................................................................ ... 27
5. RESULTADOS................................................................................................................ 29
6. DISCUSSÃO................................................................................................................ ... 37
7. CONCLUSÃO................................................................................................................ . 44
8. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 45
9. ANEXO .......................................................................................................................... 51
Resumo
ALVES, Erika Barretto. Fatores de risco para incidência de infecção por Leishmania infantum
na cidade de Teresina, Piauí. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)
- Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.
A franca expansão geográfica da leishmaniose visceral (LV) se caracteriza como um dos
principais problemas de saúde pública no Brasil. O paradigma da doença tipicamente rural já
foi superado e seu ciclo está nitidamente estabelecido em áreas urbanas e periurbanas. Como
o processo de urbanização é relativamente recente, ainda há pouco conhecimento sobre a
epidemiologia da LV neste ambiente, em particular sobre fatores de risco para infecção
assintomática. Este estudo avaliou os fatores de risco demográficos, socioeconômicos e
ambientais para a incidência de infecção por Leishmania infantum em área urbana, na cidade
de Teresina, Piauí. Trata-se de um estudo de coorte no qual os indivíduos foram selecionados
em dois cenários: áreas onde intencionalmente havia algum tipo de intervenção no que diz
respeito ao controle de LV e áreas sem qualquer tipo de intervenção. No início do estudo os
participantes foram submetidos ao teste da intradermorreação de Montenegro (IDRM) e
responderam a um questionário referente aos fatores de risco para infecção pelo parasito.
Após 18 meses avaliou-se a incidência de infecção mediante nova testagem com IDRM entre
aqueles com resultado negativo no início do estudo. Associações entre as variáveis e a
incidência de infecção foram expressas por meio de riscos relativos (RR) e seus respectivos
intervalos de 95% de confiança (IC), estimados por modelos de regressão de Poisson com
variância robusta. Foi feita análise multivariada estratificada por tipo de cenário (áreas com
intervenção e área sem intervenção) utilizando-se a técnica de stepwise automático para
seleção de variáveis. Identificou-se uma incidência acumulada de infecção por L. infantum de
35% em 18 meses, bastante superior às encontradas em outros estudos semelhantes. Em áreas
sem intervenção a presença de fornos ou depósito no peridomicílio, o menor número de
pessoas e o menor tempo de residência no domicílio atual estiveram associados a incidências
mais altas de infecção. Já nas áreas com intervenção, o menor tempo de posse do cão e o
baixo nível de escolaridade também se mostraram associados à maior incidência. Os
resultados apontam para a necessidade de mais estudos longitudinais explorando as
características do ambiente peridoméstico e da estrutura do domicílio como potenciais
moduladores do risco de infecção, de forma a contribuir para uma melhor compreensão acerca
do comportamento epidemiológico da doença afim de que se estabeleçam medidas de controle
mais adequadas.
Palavras-chave: leishmaniose visceral; fatores de risco; infecção; estudos de coortes;
epidemiologia.
Abstract
The geographic spread of visceral leishmaniasis (VL) is considered one of the most important
public health concerns in Brazil. The paradigm of a typical rural disease has been overcome,
its transmission cycle is clearly established in many urban and peri-urban areas. As the
process of urbanization is relatively recent, there is little knowledge about the epidemiology
of VL in this environment, particularly about risk factors for asymptomatic infection. This
study evaluated demographic, socioeconomic and environmental risk factors for the incidence
of infection by Leishmania infantum in the urban area of the city of Teresina, Piauí, Brazil.
This is a cohort study in which the subjects were selected from two settings: areas where there
was some kind of intentional action with regard to the control of LV and areas without any
type of intervention. At the baseline, participants answered a questionnaire about risk factors
and infection with L. infantum was evaluated using the Montenegro skin test (MST). Those
with a negative result were tested again 18 months later. Associations between variables and
the incidence of infection were expressed by risk ratios (RR) and their respective 95%
confidence intervals (CI), estimated by using Poisson regression with robust variance. We
conducted a multivariate analysis stratified by type of setting (areas with and without
intervention) using stepwise procedures for variable selection. The cumulative incidence of
infection by L. infantum was 35% in 18 months, higher than those found in other similar
studies. In areas with no intervention the presence of tile oven or deposit in the backyard, the
lower number of people in household and a shorter time living in this house were associated
with higher incidence of infection. In areas with intervention, a shorter time of dog ownership
and lower level of literacy of household head were also associated with higher incidence. The
results indicate the need for more longitudinal studies exploring the features of the
peridomestic environment and household structure as potential factor modulating the risk of
infection. This would contribute to a better understanding of the epidemiological dynamics
and inform public health surveillance systems in order to establish appropriate control
measures.
Keywords: Leishmaniasis visceral; Risk factors; Infections; Cohort studies; Epidemiology.
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Incidência de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis sociodemográficas, segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007. Tabela 2 - Incidência de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis referentes à estrutura do domicílio, disponibilidade de serviços urbanos e propriedade de cão, segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007. Tabela 3 - Incidência de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis referentes ao ambiente peridoméstico e ao uso de inseticida , segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007. Tabela 4 – Modelo multivariado - Riscos relativos (RR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%) e p-valores para associação entre infecção por L. infantum e variáveis selecionadas, em área sem intervenção, Teresina-PI, 2007. Tabela 5 – Modelo multivariado - Riscos relativos (RR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%) e p-valores para associação entre infecção por L. infantum e variáveis selecionadas, em área com intervenção, Teresina-PI, 2007. Tabela 6 - Incidência de infecção por L. infantum, Riscos Relativos (RR) e seus Intervalos de Confiança (IC 95%) e p-valores, conforme perfis de risco, Teresina-PI, 2007. Tabela 7 - Percentual de perdas segundo características sócio-demográficas e área de intervenção, Teresina-PI, 2007.
Lista de Figuras
Figura 1 - Modelo de Árvore de Regressão e Classificação para risco de infecção por L. infantum, Teresina-PI, 2007.
12
1 – Introdução
As leishmanioses são antropozoonoses que incluem um complexo de doenças
transmitidas por vetores, cujo espectro clínico varia desde úlceras localizadas de pele até um
quadro sistêmico letal. São causadas por mais de 20 espécies de protozoários do gênero
Leishmania, parasito identificado no fim do século XIX. Atualmente, estão entre as seis
doenças negligenciadas tidas como prioritárias pela Organização Mundial da Saúde. Estima-
se que cerca de 350 milhões de pessoas estejam sob risco de contrair leishmanioses e que dois
milhões de novos casos ocorram anualmente.
Quanto à forma clínica, as leishmanioses podem ser classificadas em leishmaniose
cutânea, mucocutânea e visceral. A forma visceral, objeto deste trabalho, é considerada uma
das doenças negligenciadas mais importantes nos dias de hoje devido a sua alta incidência e
letalidade, especialmente em crianças desnutridas e em indivíduos não tratados, além de ser
considerada como emergente em indivíduos soropositivos para o vírus da imunodeficiência
humana (HIV). Ademais, apresenta uma ampla distribuição pelo mundo, ocorrendo na Ásia,
Europa, Oriente Médio, África e nas Américas, onde também é chamada de leishmaniose
visceral americana ou calazar neotropical. Entretanto, a grande maioria dos casos humanos,
aproximadamente 90% deles, ocorre em um pequeno número de países, são eles: Índia,
Bangladesh, Nepal, Sudão, Etiópia e Brasil. E, na América Latina, onde a doença já foi
descrita em 12 países, aproximadamente 90% dos casos ocorrem no Brasil.
No Brasil, a leishmaniose visceral (LV) é popularmente conhecida como barriga
d’água ou calazar, e seu agente etiológico é o protozoário Leishmania infantum. Esta espécie
recebeu este nome por ter sido identificada, em 1904, em crianças com anemia esplênica
infantil. No Velho Mundo, a LV envolve outros agentes etiológicos e vetores de outras
espécies que não o flebotomíneo Lutzomyia longipalpis, que no Brasil é apontado como o de
maior importância epidemiológica (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND
PREVENTION, 2010; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010a; BRASIL, 2006).
1.1 Ciclo de Transmissão
L. infantum é um parasito intracelular obrigatório e sua presença gera uma supressão
reversível e específica da imunidade mediada por células, o que possibilita sua disseminação
13 no organismo. O cão doméstico desempenha o papel de reservatório do parasito no ambiente
urbano, e canídeos selvagens (por exemplo, raposas) e marsupiais no ambiente silvestre. Em
geral, a infecção canina apresenta maior prevalência que a humana e costuma preceder a
ocorrência de casos humanos. O seu papel no ciclo de transmissão do parasito no meio urbano
não deve ser subestimado, ainda mais considerando a alta freqüência de cães com infecção
assintomática, que também podem transmitir o parasito. Em países da Ásia, principalmente no
subcontinente indiano, há leishmaniose visceral antroponótica, na qual o reservatório é o ser
humano, diferentemente do que ocorre nas Américas e na região mediterrânea da Europa e
África, onde humanos não desempenham papel relevante como fonte de infecção (BRASIL,
2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).
Os vetores da doença são insetos denominados flebotomíneos, popularmente
conhecidos como mosquito palha ou birigui. No país, existem duas espécies principais ligadas
à transmissão de L. infantum, a Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, sendo a primeira
considerada mais relevante epidemiologicamente (BRASIL, 2006). Lu. longipalpis possui
ampla distribuição pelo Brasil, estando presente em todas as suas cinco regiões, inclusive na
região Sul, que até 2009, quando houve o primeiro registro de sua ocorrência, era considerada
livre do vetor (SOUZA ET AL., 2009). A Organização Mundial da Saúde (2010) aponta ainda
outras duas espécies potencialmente envolvidas na transmissão da L. infantum, a Lutzomyia
almerio e Lutzomyia salesi. Originalmente, Lu. longipalpis, nas regiões Norte e Nordeste, era
encontrada nas matas, participando do ciclo silvestre de transmissão da doença. Gradualmente
esse inseto foi se adaptando ao ambiente rural e, no fim dos anos 80, observou-se sua
adaptação ao ambiente urbano, particularmente à periferia das grandes cidades. Os bairros
onde há maior número do flebotomíneo são, em geral, locais onde houve destruição
ambiental, tornando as matas escassas e levando à formação de ilhas de vegetações isoladas.
Nota-se presença marcante da Lu. longipalpis tanto em ambiente intradomiciliar quanto no
peridomicílio. A ocorrência do flebotomíneo dentro e no entorno das casas mostra sua clara
adaptação aos diversos ambientes (BARATA ET AL., 2005). Estes insetos possuem o corpo
revestido por pêlos, são de cor clara e pequenos, medindo de 1 a 3 mm de comprimento. Na
fase larvária, desenvolvem-se em ambiente úmido e rico em matéria orgânica e de baixa
luminosidade, entretanto, na fase adulta se adaptam a ambientes diversos. Durante e após a
estação das chuvas há um aumento na densidade populacional dos flebotomíneos, resultando,
em princípio, em um período de maior transmissão da LV. A atividade desse inseto é
crepuscular e noturna. Durante o dia mantém-se em repouso, em locais úmidos e sombreados,
protegendo-se de ventos e predadores naturais (BRASIL, 2006). Eles tem grande facilidade
14 para adquirirem infecção de cães com LV e a infecção é altamente transmissível entre cão-
flebotomíneo-cão (VEXENAT ET AL, 2004).
O ciclo de transmissão se inicia quando a fêmea do flebotomíneo, cuja longevidade está
em torno de 20 dias, ao sugar o sangue de um mamífero infectado, ingere macrófagos
infectados pela forma amastigota da Leishmania. Esse macrófago é rompido no trato digestivo
anterior, liberando o parasito, que se reproduz e se diferencia em formas flageladas chamadas
de promastigotas, que colonizam o esôfago e faringe do vetor, onde permanecem aderidas
pelo flagelo, quando se diferenciam em formas infectantes. Após essa fase, ao realizarem
novo repasto sanguíneo em um hospedeiro, as fêmeas liberam junto com a saliva essas formas
promastigotas infectantes, denominadas promastigotas metacíclicas, que na epiderme do
hospedeiro penetrarão nas células do sistema mononuclear fagocitário, sendo o macrófago o
principal alvo. Dentro dos macrófagos, diferenciam-se em amastigotas, multiplicam-se até o
rompimento dos mesmos, ocasionando disseminação hematogênica para outros tecidos ricos
em células do sistema mononuclear fagocitário, como linfonodos, fígado, baço e medula
óssea. O período de incubação no homem varia de 10 dias a 24 meses, com média variando de
2 a 6 meses, e no cão esse período é bastante variado, de 3 meses a muitos anos, com média
variando de 3 a 7 meses (CARVALHO ET AL, 1995; BRASIL, 2006). Os cães, assim como
o homem, têm baixo número de parasitos circulantes, todavia, sua eficiência como fonte de
infecção vem da abundância de amastigotas na pele (VEXENAT, 1994)
1.2 Aspectos epidemiológicos
No mundo são registrados anualmente 500 mil novos casos e 59 mil óbitos por LV.
São 76 países com registro de casos, sendo 12 deles na Américas, onde ocorrem cerca de
4500 casos por ano. Juntamente com o Brasil, a Argentina e o Paraguai são países que
contabilizam maior número de casos na América Latina. A doença vem aumentando sua
importância em termos de saúde pública em virtude de sua urbanização (MARINS, 2011;
SILVA ET AL, 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007).
As características do parasito, as características ecológicas dos sítios de transmissão,
exposição atual e passada da população ao parasito, e as questões referentes ao
comportamento humano podem contribuir para a compreensão de sua epidemiologia. Como
os cães são os reservatórios para a L. infantum e também atraem flebotomíneos, especialmente
Lu. Longipalpis, o hábito de manter esses animais dentro de casa expõe os indivíduos a um
maior risco de infecção. Ademais, os cães são considerados a maior fonte de infecção para o
15 flebotomíneo na transmissão da LV para o homem e outros animais, entretanto,
freqüentemente, eles não apresentam qualquer sinal de doença, embora possam estar com um
grande número de amastigotas em exames parasitológicos de medula óssea e raspagem de
pele. A presença de galinheiro nas proximidades do domicílio é outro problema, uma vez que
se torna uma fonte de alimentos para o inseto, acarretando um maior contato deste com os
cães e humanos. Além disso, galinhas atraem animais silvestres carnívoros, que são também
reservatórios para LV (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010; SILVA ET AL, 2001).
Tradicionalmente, a doença aparece predominantemente em lugares mais remotos
(áreas rurais), afetando prioritariamente pessoas de classe socioeconômica menos favorecida e
desprovidas de cuidados à saúde, principalmente em países em desenvolvimento (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2008). A pobreza aumenta o risco de LV, já que habitações
mais pobres e sob condições sanitárias precárias, como falta de gestão de resíduos e sem
tratamento de esgoto, também propiciam à aproximação do vetor (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010). A doença está intimamente relacionada às mudanças no ambiente
tais como desmatamento, construção de barragens, novos sistemas de irrigação, urbanização e
migração de pessoas não imunes para áreas endêmicas (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010b).
Desde 1980, o Brasil tem vivido um aumento acentuado no número de casos de LV.
As epidemias antes restritas ao ambiente rural se expandiram para as áreas urbanas. A fome,
os períodos de seca intensa e a falta de terras geraram uma forte migração da população das
áreas rurais para a periferia das grandes cidades, lugares esses que não oferecem infra-
estrutura ou condições sanitárias adequadas e que contribuem para aproximar o ciclo silvestre
da doença das habitações urbanas. Nesse contexto, encontram-se pessoas susceptíveis
entrando em áreas de transmissão e muitas vezes mal nutridas, ocasionando um risco para a
doença ainda maior (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010c). Há também que se
considerar o fluxo migratório oposto, a entrada de reservatórios infectados em locais livres de
doença, como é o caso do Uruguai, que identificou a presença da Lu. longipalpis em seu
território e, por isso, se preocupa com o freqüente trânsito de pessoas juntamente com cães
possivelmente infectados pelas fronteiras do país com Argentina e Brasil, nações com
registros significativos de LV (SALOMÓN ET AL, 2011).
Mudanças ambientais também estão relacionadas ao risco de transmissão do parasito.
Esse risco pode diminuir rapidamente quando a distância do foco de transmissão aumenta,
fato esse explicado pelo alcance de dispersão do flebotomíneo ser limitado. Pessoas que
vivem em residências próximas a áreas de floresta estão sob maior risco de adquirirem
16 infecção. Em estudo conduzido na Venezuela, Feliciangeli (2006) mostrou que 85% dos
indivíduos infectados moravam entre 10 e 117 metros dessas áreas. Dependendo do sítio de
transmissão, mudanças naturais ou feitas pelo homem podem resultar tanto no aumento
quanto na diminuição da incidência da doença. Dentre essas modificações, pode-se incluir a
urbanização, domicialização do ciclo de transmissão e entrada de assentamentos em áreas de
floresta. O risco geralmente é maior para aquelas pessoas que habitam áreas periféricas
próximas a focos naturais (florestas) e, portanto, ao ciclo silvestre. Esse fenômeno tem sido
muito freqüente no Brasil, onde há uma ocupação acelerada e desordenada das periferias das
cidades de grande e médio porte.
Em áreas endêmicas, a maior parte dos casos de LV ocorre em crianças menores de 10
anos, sendo cerca de 40% delas menores de cinco anos. A razão para tal fato é a relativa
imaturidade imunológica celular agravada pela desnutrição, mais comumentemente
encontrada nas áreas afetadas pela endemia. Além disso, nestas áreas, a maioria dos adultos já
tem história de infecção clínica ou subclínica, sendo que aproximadamente 30% deles tem
história de infecção, detectada pela intradermorreação de Montenegro (IDRM), sem registro
de doença prévia. Todavia, em locais com foco de introdução recente, adultos são igualmente
atingidos (BRASIL, 2006),
No Brasil, são mais comuns infecções assintomáticas e formas mais brandas que
manifestações mais intensas da doença, apenas 20% dos indivíduos infectados desenvolvem a
doença clássica. Dentre os principais fatores de risco para a evolução para LV estão a má
nutrição, fatores genéticos e outras doenças infecciosas. Com relação às doenças infecciosas
como fator de risco, a infecção pelo HIV merece destaque nesse contexto, já que um
indivíduo portador desse vírus apresenta maior risco de desenvolver leishmaniose visceral,
bem como de ter sua resposta ao tratamento antirretroviral prejudicada (INSTITUTO
ADOLFO LUTZ, 2003; NASCIMENTO ET AL., 2005; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010).
1.3 Aspectos clínicos e diagnósticos
A infecção por L. infantum no homem gera hiperplasia reticuloendotelial que afeta o
baço, fígado, mucosa do intestino delgado, medula óssea, linfonodos e outros tecidos
linfóides. Uma grande parte dessas células está parasitada. O tempo de vida dos leucócitos e
eritrócitos fica reduzido, provocando granulocitopenia e anemia. A função hepática pode estar
alterada ou não; e a produção de protrombina diminui, o que juntamente com a
17 trombocitopenia pode acarretar hemorragia mucosa grave. A diarréia pode ocorrer como
resultado de parasitismo e ulceração do intestino. Infecções intercorrentes são comuns em
estados mais avançados, principalmente pneumonia e gastroenterite, causas freqüentes de
óbito. Pacientes com LV apresentam altos títulos de anticorpos específicos contra leishmania,
assim como uma depressão da resposta imune celular (CARVALHO ET AL, 1995; WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2010).
Quanto à sintomatologia, a infecção por L. infantum pode diversificar bastante,
gerando desde manifestações inaparentes e oligossintomáticas, caracterizadas por quadro
clínico discreto, de curta duração e que geralmente culmina em cura espontânea, a
manifestações graves, que se não tratadas levam o paciente ao óbito. O diagnóstico da
infecção em casos assintomáticos é realizado por meio de positividade em exames sorológicos
como enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) e imunofluorescência indireta (IFI) ou
ainda mediante reatividade à intradermorreação de Montenegro (IDRM) (BRASIL, 2006) .
Todos os exames sorológicos apresentam duas principais limitações como meio diagnóstico
de LV: a primeira é que anticorpos específicos permanecem detectáveis até vários anos após a
cura, assim, uma recidiva pode não ser fielmente diagnosticada pela sorologia; e a segunda é
que uma parte bastante significativa de pessoas saudáveis, sem história de leishmaniose
visceral, que vive em áreas endêmicas, é positiva para anticorpo anti-leishmania devido às
infecções assintomáticas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).
A IDRM é um teste que consiste na inoculação de um extrato antigênico de
leishmanias na face anterior do antebraço, cuja leitura é realizada 48-72 horas após esse
procedimento. É considerado positivo caso haja enduração maior ou igual a cinco milímetros
no local da inoculação (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2003). Este teste é um indicativo
de infecção atual ou passada por Leishmania. Ele, entretanto, não é utilizado para diagnosticar
a doença clínica, já que é negativo durante o curso da doença tornando-se positivo apenas
após a cura clínica na maior parte dos pacientes, em um período médio de seis meses a três
anos após término do tratamento (BORGES ET AL., 2003; BRASIL, 2006). Uma pesquisa,
realizada na cidade de Teresina, no Piauí, cujo objetivo era identificar os fatores associados à
positividade da IDRM em uma área urbana com grande força de transmissão, mostrou
prevalência de positividade de 36,7%, maior em homens, em pessoas com baixa escolaridade
e entre proprietários de cão por período igual ou maior a três anos. A prevalência aumentou
19% para cada aumento de dez anos na idade do indivíduo (GOUVÊA ET AL., 2007).
Os pacientes com a LV, ou seja, indivíduos sintomáticos, apresentam como quadro
clínico clássico febre, perda de peso, esplenomegalia, acompanhada ou não de hepatomegalia,
18 além de alterações no hemograma como anemia, trombocitopenia e/ou leucopenia. Essas
manifestações podem surgir em meses e até anos após a picada do flebotomíneo infectado
(CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008). O diagnóstico pode ser
sorológico, parasitológico ou pelo método do PCR (amplificação do DNA do parasita). Entre
os sorológicos, o ELISA e IFI são os mais utilizados no Brasil. Um resultado reagente deve
ser utilizado em combinação com achados clínicos para que um diagnóstico de LV seja
sustentado. Apenas um teste reagente na ausência de manifestações clínicas sugestivas de LV
não valida o início do tratamento. Quanto ao diagnóstico parasitológico, consiste na
visualização da forma amastigota do parasito pelo exame microscópico de aspirados de
tecidos. É o teste confirmatório clássico para LV. Embora possua alta especificidade, sua
sensibilidade é variável, sendo maior para punção aspirativa esplênica (93-99%) que para
punção de medula óssea (53-86%) e linfonodos (53-65%), embora a punção esplênica não
seja recomendada devido ao risco de sangramento. A detecção do DNA do parasito por PCR
no aspirado de sangue ou medula óssea é mais sensível que o exame microscópico, todavia
seu uso é atualmente restrito a hospitais de referência e centros de pesquisa. Os testes
diagnósticos vêm avançando ao longo dos anos, entretanto, nenhum deles apresenta
sensibilidade e especificidade de 100%, são, portanto, freqüentemente utilizados juntamente
com parâmetros clínicos e epidemiológicos (GONTIJO; MELO, 2004; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010; BRASIL, 2006).
Quando a doença evolui sem que diagnóstico e tratamento sejam feitos, instala-se um
quadro grave com hemorragias, icterícia e ascite com letalidade podendo chegar a 98%. É
comum que nesses pacientes a causa do óbito seja sangramento agudo, broncopneumonias,
septicemias, insuficiência cardíaca devido à anemia grave, caquexia, coagulopatias
transfusionais e/ou infecções bacterianas (BRASIL, 2006; INSTITUTO ADOLFO LUTZ,
2003) .
1.4 Tratamento
Em relação ao tratamento, ele só deve ser instituído após confirmação de doença. As
decisões terapêuticas em países endêmicos devem ser baseadas na relação de risco-benefício
dos medicamentos, no cenário dos serviços de saúde, na avaliação dos medicamentos
leishmanicidas e em algumas considerações do âmbito da saúde pública, como a prevenção de
resistência medicamentosa (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). A falha no
tratamento com o uso desses medicamentos em pacientes imunocompetentes com LV no
19 Novo Mundo é menor que 2% (SANTOS, 2002). O Ministério da Saúde (2006) recomenda
para o tratamento da LV os compostos antimoniais como droga de primeira escolha. No
Brasil, a única formulação disponível e que tem sido distribuída pelo governo é o antimoniato
N-metil glucamina. Antes do início do tratamento, o paciente deve ser rigorosamente
examinado em virtude dos efeitos colaterais do composto, principalmente sobre o aparelho
cardiovascular, pois o medicamento pode gerar distúrbios de repolarização. Ainda que o
tratamento instituído seja o adequado, a letalidade da doença pode alcançar 5% (WERNECK,
2010) ou mesmo 10% em alguns locais de acordo com a Organização Pan-Americana da
Saúde (2010). O prognóstico torna-se ainda pior quando associado à presença de
comorbidades. Em estudo realizado com pacientes diagnosticados com LV, no grupo que
apresentava comorbidade, a letalidade chegou a 18,4% (MONREAL et al., 2010) .
1.5 Vigilância Epidemiológica
Para que os doentes sejam tratados é preciso, obviamente, que eles sejam detectados, e
para tal, existem duas formas de detecção de caso: a passiva e a ativa. A detecção passiva de
caso ocorre quando o próprio paciente busca assistência à sua saúde por ocasião da doença em
instituições de saúde. O profissional que maneja o caso deve notificá-lo ao sistema de
vigilância epidemiológica, usando a definição de caso para leishmaniose visceral, já que é
uma doença de notificação compulsória. Esse tipo de registro abrange apenas uma fração do
número real de doentes, uma vez que o acesso ao atendimento para doenças negligenciadas é
limitado e os casos tratados no setor privado muitas vezes não são notificados, gerando assim,
a subestimação do número de casos. Já a detecção ativa dos casos se refere à ida de
profissionais de saúde até a comunidade visando o rastreamento da população com o objetivo
de encontrar casos de LV. Esse tipo de ação é bastante vantajosa em áreas onde a incidência
da doença é elevada, o conhecimento da população acerca da doença é deficiente e os serviços
de saúde frágeis (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). Segundo o Ministério da
Saúde (2006), configura-se um caso humano suspeito de LV quando o indivíduo oriundo de
área com ocorrência de transmissão apresenta febre e esplenomegalia ou quando o indivíduo
proveniente de área sem ocorrência de transmissão apresenta essas mesmas manifestações,
desde que descartados os diagnósticos diferenciais mais freqüentes da região. Um caso
humano confirmado é aquele definido através de critério clínico laboratorial, ou seja, quando
o parasito é encontrado nos exames parasitológicos direto e/ou cultura ou quando
imunofluorescência reativa com título de 1:80 ou mais, desde que excluídos outros
20 diagnósticos diferenciais; ou através de critério clínico epidemiológico, qual seja, paciente de
área de transmissão de LV, com suspeita clínica sem confirmação laboratorial, mas com
resposta favorável ao teste terapêutico.
1.6 Controle
As estratégias usualmente utilizadas para o controle da LV têm se mostrado pouco
efetivas para contenção da disseminação da doença no país. Elas estão pautadas nas seguintes
medidas: diagnóstico precoce e tratamento dos casos, redução da população de flebotomíneos
e eliminação dos reservatórios. Considera-se que o controle da doença não pode ser alcançado
investindo-se em apenas uma única estratégia de intervenção (BRASIL, 2006; MAIA-
ELKHOURY ET AL., 2008; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010; GONTIJO;
MELO, 2004) .
Existem muitas razões para a relativa inefetividade do controle de reservatórios como
estratégia para o controle da transmissão da L. infantum. Em parte, ela vem sendo atribuída ao
longo tempo entre a realização do exame sorológico e a eliminação do cão, à baixa
sensibilidade da sorologia para identificar cães infectados e a baixa cobertura da população de
cães infectada. Além disso, em aproximadamente 45% dos domicílios dos quais o cão é
recolhido para ser sacrificado em conseqüência de infecção, há reposição dos animais em um
ano. Essa renovação canina por cães geralmente mais jovens acarreta algumas implicações
epidemiológicas como maior suscetibilidade e capacidade de procriação dos mesmos
(ANDRADE, 2007; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).
Existem muitos métodos para o controle dos flebotomíneos em ambiente doméstico e
peridoméstico, destacando-se o uso de produtos químicos, gestão ambiental e proteção
pessoal. Ainda que alguns métodos possam provocar um efeito consistente sobre a população
dos insetos, é fortemente recomendado que mais de um método faça parte da estratégia de
controle. Essa escolha depende da compreensão de aspectos locais da epidemiologia da
leishmaniose e um conhecimento detalhado da espécie do vetor envolvida, seu habitat,
alcance de vôo, preferências alimentares, locais de repouso, ciclo circadiano e sazonalidade.
O planejamento para manejo do vetor exige uma avaliação inicial da ecologia da área,
formulação de metas operacionais, escolha de método apropriado e monitoramento e
avaliação do programa. Além disso, dois outros pontos das medidas de controle são cruciais,
o custo-efetividade e a aceitabilidade da comunidade. Deve-se disponibilizar tempo e
21 recursos suficientes voltados à informação das comunidades e reforçar sua participação
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).
Atualmente, para o controle de doenças vetoriais no país, é preconizado que se
considerem três aspectos: a urbanização da população, a transformação do caráter
eminentemente rural dessas doenças de maneira concomitante com a transmissão urbana ou
peri-urbana e a descentralização das atividades do seu controle para os municípios (TAUIL,
2006). Costa (2008) sustenta que mais pesquisas precisam ser feitas para que o déficit de
informação relativo ao controle da LV seja superado, principalmente em relação ao papel dos
cães na amplificação da transmissão nas cidades, à utilização de novos inseticidas com ação
efetiva e aos determinantes ecológicos e moleculares envolvidos no ciclo de transmissão do
protozoário. É importante salientar que para o controle de doenças endêmicas como a LV,
também é de extrema necessidade que se criem meios para que a população amplie seus
conhecimentos acerca do assunto a fim de que se reduza o risco de exposição (GAMA ET
AL., 1998) .
1.7 A leishmaniose visceral no Brasil
O Nordeste é a região do país mais afetada pela LV, respondendo por quase 50% de
todos os casos registrados no Brasil e onde são registradas as maiores incidências da doença.
As taxas de incidência da LV vêm aumentando não apenas na região nordeste, mas também
nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Os casos entre crianças de 0 a 9 anos respondem
por quase 50% do total. Em 2010, foram registrados mais de 3500 casos da doença no país.
Quanto à letalidade, está na ordem dos 6%. Existem no Brasil atualmente 138 municípios
considerados de transmissão intensa do parasito, ou seja, aqueles que registraram em média
mais de 4,4 casos de LV por ano nos últimos três anos (MARINS, 2011).
A primeira grande epidemia brasileira em meio urbano ocorreu em Teresina, no Piauí,
entre 1981 e 1986, quando foram registrados quase mil casos da doença. A maioria destes,
oriundos de bairros recém formados, de assentamento de migrantes (COSTA, 1990; WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2002) . Posteriormente, foram descritas epidemias em
Natal/RN e São Luís/MA, e a partir daí, houve a disseminação para as outras regiões do país,
inclusive para região Sul. De 2006 a 2008, em mais de 1200 municípios de 21 Unidades
Federadas foi registrada a transmissão autóctone de LV. Foram identificados mais de 70 mil
casos entre 1980 e 2008 no Brasil, gerando mais de 3.800 óbitos. Em 1990, somente 10% dos
casos ocorriam fora da região Nordeste, todavia, em 2007, esse valor alcançou 50% dos casos.
22 Entre 2007 e 2010, o município responsável pelo maior número de casos no país foi
Fortaleza/CE, seguido de Araguaína/TO, Belo Horizonte/MG, Campo Grande/MS e
Teresina/PI (WERNECK, 2010; BRASIL, 2011).
No Brasil, em 1950, apenas um terço da população habitava as cidades, hoje mais de
80% da população vive nas cidades. Este processo de urbanização favoreceu a introdução de
doenças de caráter rural, como a LV, para dentro de áreas urbanas. A ocupação de um grande
contingente de susceptíveis nos subúrbios pobres das periferias das cidades, a freqüente
presença de cães, galinhas e porcos neste ambiente, gerando acúmulo de matéria orgânica, e
criando um ambiente extremamente favorável à existência de Lutzomyia longipalpis, uma vez
que o inseto se adapta facilmente às condições peridomésticas, favorece a manutenção do
ciclo de transmissão da LV nas cidades (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).
23
2 - Justificativa
A leishmaniose visceral é um grave problema de saúde pública e encontra-se em
franca expansão no Brasil. O paradigma da doença tipicamente rural já foi superado, seu ciclo
está nitidamente estabelecido em áreas urbanas e periurbanas, atingindo principalmente
populações mais pobres e crianças, sobretudo as que apresentam déficits nutricionais
(DANTAS-TORRES; BRANDÃO-FILHO, 2006; COSTA ET AL, 1990). O relativo
fracasso das medidas tradicionais de controle da LV no meio urbano aponta para a
necessidade de construção de novas bases para o seu enfrentamento, uma vez que após anos
de investimento, constata-se que essas estratégias foram insuficientes para frear a expansão da
doença e, por isso, tem sido bastante questionadas quando à sua real efetividade (WERNECK,
2010; OLIVEIRA ET AL, 2008).
Como o processo de urbanização é relativamente recente, ainda há pouco
conhecimento sobre a epidemiologia da LV neste ambiente. Em particular, são inúmeras as
lacunas no que diz respeito ao conhecimento sobre fatores de risco para infecção por
Leishmania infantum, especialmente em áreas urbanas. Estudos que abordem essa temática
podem contribuir para identificação de novos alvos de intervenção e para delimitar grupos sob
maior risco a serem priorizados na ação de controle e monitoramento clínico (GONTIJO;
MELO, 2004).
24
3 – Objetivos
* Objetivo Geral
- Avaliar os fatores de risco demográficos, socioeconômicos e ambientais para a
incidência de infecção por Leishmania infantum em área urbana, na cidade de Teresina-PI.
* Objetivos específicos
- Estimar a incidência acumulada de infecção por L. infantum na amostra do estudo e
em cada categoria de exposição aos diferentes potenciais fatores de risco.
- Verificar a existência de associação entre potenciais fatores de risco e a incidência de
infecção por Leishmania infantum.
- Caracterizar perfis de risco para infecção por L. infantum.
25
4- Materiais e Métodos
4.1 Cenário do estudo
O cenário do estudo é Teresina, capital do Piauí, estado localizado na região Nordeste
do país. A cidade possui uma população de mais de 800 mil habitantes, sendo 94% dela
urbana e 6% rural. Ocupa uma área de 1.392 km2 na confluência do Rio Parnaíba e Poti,
estando 72 metros acima do nível do mar. O clima é tropical, com chuvas no verão e no
outono. A temperatura média anual é de 26,7ºC. As maiores temperaturas são registradas nos
meses de agosto, setembro e outubro, quando a média das máximas é de 35,9ºC. O que
também contribui para o calor são os focos de fumaça resultantes da queima para preparo dos
solos agrícolas no entorno da cidade, no período de setembro a novembro. A cidade apresenta
ventos de baixa velocidade e uma precipitação total acima de 200 mm. A vegetação é
caracterizada pelo cerrado e caatinga, verificando-se árvores esparsas e arbustos, com áreas
periféricas cobertas por florestas tropicais e pastagens (IBGE, 2010; PREFEITURA
MUNICIPAL DE TERESINA, 2008). Possui um grande número de loteamentos irregulares
em áreas com restrições ambientais, tal como beira de rio e lagoas. O sistema de
abastecimento de água abrange 95% da população, entretanto, existem interrupções no
abastecimento em várias áreas da cidade. Há crescente ocupação habitacional sem adequado
sistema de saneamento. De acordo com dados de 2002, o sistema de esgoto possui uma
cobertura muito baixa, atendendo a apenas 13% da população abastecida com água. A
economia está intensamente concentrada no setor terciário, que compreende atividades de
governo, comércio e prestação de serviços; apresenta pouca diversificação econômica e
bastante fragilidade no setor agrícola, que abrange apenas 0,7% dos trabalhadores formais do
município. Uma parcela bastante significativa da população trabalha na informalidade e a
renda média entre as pessoas empregadas é baixa, correspondendo a 50% da renda média das
capitais brasileiras e a 77% das capitais nordestinas. O setor saúde do município vem se
desenvolvendo nos últimos anos e é considerado um centro de referência regional, com 366
estabelecimentos de saúde, sendo quase 80% deles privados (PREFEITURA MUNICIPAL
DE TERESINA, 2008).
26 4.2 Desenho de estudo e Plano amostral
Este é um estudo de coorte, cujo ponto de partida está calcado em um estudo realizado
por Werneck iniciado em 2004, no qual foi avaliada a efetividade das estratégias de controle
de LV em Teresina. Nesse estudo, dentre os 105 bairros da cidade foram selecionadas
intencionalmente dez áreas situadas em sete bairros que abrangessem contextos urbanos
variados no que dizia respeito à taxa de urbanização, cobertura vegetal e padrões de
transmissão da doença. Todas elas com transmissão recente (casos incidentes), duas com
taxas de incidência abaixo da média de toda a cidade e oito com taxas acima. Dentro de cada
área havia um padrão relativamente homogêneo de cobertura vegetal e uso do solo.
Posteriormente, cada uma dessas áreas foi divida em quadras contendo, em média, 25
domicílios. Dentro de cada uma das dez áreas, foram selecionadas aleatoriamente quatro
quadras, totalizando 40 quadras. Cada uma das quadras foi submetida a um tipo de
intervenção para o controle da LV: 1) controle vetorial com uso de inseticidas com efeito
residual no domicílio e anexos (Área A); 2) monitoramento da infecção canina com posterior
eliminação dos cães soropositivos (Área B); 3) combinação das duas intervenções (Área C);
4) ausência de intervenção (Área D). Uma pessoa de cada domicílio foi escolhida, também de
forma aleatória, e submetida ao teste de Montenegro. Na ausência do indivíduo sorteado ou
recusa, optou-se por substituí-lo pelo morador mais jovem. A linha de base foi composta por
1105 participantes. Desses, 408 (36,9%) apresentaram a primeira IDRM positiva e 697 o
resultado negativo. Desses com o teste negativo, 431 (61,8%) foram reexaminados 18 meses
após o primeiro teste. A população do presente estudo é formada então por todos os
moradores selecionados nas dez áreas que apresentaram este primeiro teste negativo, ou seja,
com enduração menor que cinco mm, e foram submetidos à segunda testagem.
4.3 Coleta de Dados
A coleta de dados foi feita no próprio domicílio do indivíduo selecionado. No
momento da visita, esses indivíduos responderam a um questionário (Anexo 1) referente aos
fatores de risco para a infecção por L. infantum, que lhes foi aplicado por um entrevistador, e
foram submetidos ao teste de Montenegro, utilizando-se 0,1 ml de antígeno de leishmania
injetado por via intradérmica. O antígeno foi preparado e fornecido pelo Centro de Referência
para os Reagentes de Diagnóstico (Biomanguinhos – FIOCRUZ/RJ) usando uma cepa de
Leishmania amazonensis. A leitura do teste foi feita após 48-72 horas e as pessoas cujo
27 resultado foi negativo, foram novamente visitadas 18 meses depois para um novo teste. A
coleta de dados foi conduzida de janeiro de 2004 a março de 2007 nas dez áreas selecionadas.
4.4 Variáveis de estudo
Variáveis de exposição incluíram uma série de características socioeconômicas e
demográficas, assim como aquelas que descrevem a estrutura do domicílio e o ambiente
peridoméstico (Anexo 1). Foram obtidos dados sobre idade, sexo, escolaridade do chefe da
família, história de migração (se já morou fora de Teresina), número de pessoas no domicílio,
história de leishmaniose visceral no domicílio, tipo de sistema de esgoto, presença de
galinheiro, presença de canil e presença de cães na casa. O principal desfecho do estudo é a
incidência de infecção por L. infantum avaliada a partir do resultado do segundo teste de
Montenegro dentre aqueles negativos no início do estudo.
4.5 Análise de dados
A medida de freqüência utilizada foi incidência acumulada. A associação entre as
variáveis e a incidência acumulada de infecção por Leishmania infantum foi expressa pelo
risco relativo (RR) e seu respectivo intervalo de confiança (IC) e p-valor, estimado pelo
modelo de regressão de Poisson com variância robusta. Foi feita uma análise multivariada
estratificada por área de intervenção (áreas com intervenção e área sem intervenção)
utilizando-se a técnica de stepwise automático para seleção de variáveis, sendo o critério para
permanecer no modelo um p-valor menor que 0.05.
A análise dos dados visando a identificação dos perfis de risco foi feita por meio do
método de Árvores de Regressão e Classificação (Classification and Regression Trees -
CART), que pode ser entendida como uma regra para predizer uma variável dependente por
meio dos valores de suas variáveis preditoras, bem como uma forma de identificar perfis de
risco. Neste procedimento exploratório, a amostra é subdividida por meio de subseqüentes
divisões binárias, buscando a formação de sub-amostras menos heterogêneas em relação à
incidência da LV (“nós”). Dentro de cada “nó” o algoritmo seleciona a variável que melhor
explica a variabilidade dos dados e o poder discriminatório diminui a cada divisão. É um
procedimento de simples aplicação que possibilita a detecção de interações entre variáveis e
produz resultados facilmente interpretáveis, além de ser uma alternativa a outros métodos
estatísticos de regressão e classificação (TACONELI, 2009; LOH; SHIH, 1997). No presente
28 estudo foi definido como critério que em cada “nó” deveria haver pelo menos 20 unidades de
observação (indivíduos).
As análises estatísticas foram feitas utilizando-se os softwares Stata 9.0 (STATA
Corp., College Station, TX) e S-plus 4.5 (Statci).
29
5- Resultados
Foram incluídos no estudo 431 indivíduos com a primeira IDRM negativa, sendo 93
(21.6%) oriundos da área onde não houve intervenção e 338 (78.4%) da área onde houve
algum tipo de intervenção. A incidência acumulada de infecção em 18 meses na área sem
intervenção foi de 48.4% e na área com intervenção 32.2%. A tabela 1 mostra a descrição dos
participantes do estudo em relação às suas características sócio-demográficas, por área de
intervenção. A grande maioria deles é do sexo feminino e mais da metade tem entre 20 e 39
anos de idade, em ambas as áreas. Quanto à escolaridade do chefe da família, houve
predominância de indivíduos que cursaram o quinto ano do ensino fundamental ou mais.
Quase 60% dos entrevistados já moraram fora de Teresina. Na localidade sem intervenção,
38.7% das pessoas viviam entre cinco e seis anos na residência, e na com intervenção, a maior
parte delas (40.9%) vivia há sete anos ou mais. Na grande maioria dos domicílios moravam
três pessoas ou mais e não havia história de LV. Em relação à associação entre variáveis de
exposição e a incidência de infecção, apenas a escolaridade do chefe da família se mostrou
associada ao desfecho na área com intervenção, os indivíduos com maior tempo de estudo
apresentaram risco 39% menor que aqueles que estudaram por tempo menor.
30 Tabela 1 - Incidência acumulada de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis sociodemográficas, segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007.
Variável Área sem intervenção Área com intervenção
N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%) N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%)
Sexo
Feminino 59 (63.4) 24 (40.7) 1.0 237 (70.1) 71 (29.9) 1.0
Masculino 34 (36.6) 21 (61.8) 1.51 (0.84-2.72) 101 (29.9) 38 (37.6) 1.25 (0.84-1.86)
Idade
< 10 anos 6 (6.5) 2 (33.3) 1.0 17 (5.0) 7 (41.1) 1.0
10-19 anos 18 (19.4) 8 (44.4) 1.33 (0.28-6.27) 78 (23.1) 23 (29.5) 0.71 (0.30-1.66)
20-29 anos 25 (26.9) 13 (52.0) 1.56 (0.35-6.91) 84 (24.9) 28 (33.3) 0.80 (0.35-1.85)
30-39 anos 23 (24.7) 12 (52.2) 1.56 (0.35-6.99) 91 (26.9) 29 (31.9) 0.77 (0.33-1.76)
40-49 anos 14 (15.0) 8 (57.1) 1.71 (0.36-8.07) 49 (14.5) 16 (32.6) 0.79 (0.32-1.92)
50 anos ou + 7 (7.5) 2 (28.6) 0.85 (0.12-6.08) 19 (5.6) 6 (31.6) 0.76 (0.25-2.28)
Escolaridade do chefe da família
Elementar 22 (23.9) 14 (63.6) 1.0 58 (17.3) 27 (46.5) 1.0
Maior que elementar 70 (76.1) 31 (44.3) 0.69 (0.37-1.30) 278 (82.7) 80 (28.8) 0.61 (0.39-0.95)
Morou fora de Teresina
Não 39 (41.9) 22 (56.4) 1.0 138 (41.1) 45 (32.6) 1.0
Sim 54 (58.1) 23 (42.6) 0.75 (0.42-1.35) 198 (58.9) 64 (32.3) 0.99 (0.67-1.45)
Tempo no domicílio
< 01 ano 2 (2.2) 1 (50.0) 1.0 25 (7.5) 8 (32.0) 1.0
01-02 anos 13 (14.0) 6 (46.2) 0.92 (0.11-7.66) 47 (14.1) 12 (25.5) 0.79 (0.32-1.95)
03-04 anos 24 (25.8) 13 (54.2) 1.08 (0.14-8.28) 79 (23.7) 31 (39.2) 1.22 (0.56-2.66)
05-06 anos 36 (38.7) 15 (41.7) 0.83 (0.11-6.30) 46 (13.8) 13 (28.3) 0.88 (0.36-2.13)
07 anos ou + 18 (19.3) 10 (55.5) 1.11 (0.14-8.67) 136 (40.9) 45 (33.1) 1.03 (0.48-2.19)
Número de pessoas no domicílio
1 1 (1.1) 1 (100.0) 1.0 5 (1.5) 1 (20.0) 1.0
2 11 (11.8) 5 (45.5) 0.45 (0.05-3.89) 35 (10.3) 7 (20.0) 1.0 (0.12-8.12)
03 ou + 81 (87.1) 39 (48.1) 0.48 (0.06-3.50) 298 (88.2) 101 (33.9) 1.69 (0.23-12.14)
História de LV no domicílio
Não 89 (95.7) 43 (48.3) 1.0 329 (97.3) 107 (32.5) 1.0
Sim 4 (4.3) 2 (50.0) 1.03 (0.25-4.27) 9 (2.7) 2 (22.2) 0.68 (0.16-2.76)
A tabela 2 apresenta de forma descritiva as características do domicílio dos
entrevistados, a disponibilidade de serviços urbanos e variável referente à posse de cão. Em
mais de 90% dos domicílios visitados havia presença parcial ou não havia forro, e a parede
era de tijolo em mais de 80% dos domicílios. A cerca era de alvenaria em 53.3% das
residências da área com intervenção e de outros materiais em 54.8% das residências na área
31 sem intervenção. Na grande maioria das residências o piso era de cerâmica ou cimento. O
abastecimento de água era predominantemente proveniente da rede geral de abastecimento e a
rede de esgoto consistia na rede de saneamento público ou fossa séptica em 78,5% dos
domicílios da área sem intervenção e em 82% deles na com intervenção. A maior parte dos
entrevistados não tinha cão. A tabela também mostra que os indivíduos de área com
intervenção, que habitam residências cujo sistema de abastecimento de água se dá por meio de
poço ou rio apresentaram risco 37% menor para infecção. Além disso, aqueles da mesma área,
que possuíam cão há três anos ou mais, manifestaram risco 49% menor em relação aos que
não tinham cão.
Tabela 2 - Incidência acumulada de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis referentes à estrutura do domicílio, disponibilidade de serviços urbanos e propriedade de cão, segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007.
Variável Área sem intervenção Área com intervenção
N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%) N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%)
Forro
Completo 6 (6.5) 3 (50.0) 1.0 9 (2.7) 2 (22.2) 1.0
Parcial ou sem forro 87 (93.5) 42 (48.3) 0.96 (0.29-3.11) 328 (97.3) 106 (32.3) 1.45 (0.35-5.89)
Parede
Tijolo 77 (82.8) 35 (45.4) 1.0 298 (88.2) 94 (31.5) 1.0
Outro 16 (17.2) 10 (62.5) 1.37 (0.68-2.77) 40 (11.8) 15 (37.5) 1.12 (0.86-1.45)
Cerca
Alvenaria 42 (45.2) 20 (47.6) 1.0 180 (53.3) 53 (29.4) 1.0
Outro 51 (54.8) 25 (49.0) 1.02 (0.57-1.85) 158 (46.7) 56 (35.4) 1.20 (0.82-1.75)
Piso
Cimento ou cerâmica 83 (89.2) 39 (47.0) 1.0 320 (94.7) 105 (32.8) 1.0
Madeira ou terra/barro 10 (10.8) 6 (60.0) 1.27 (0.54-3.01) 18 (5.3) 4 (22.2) 0.67 (0.24-1.83)
Sistema de Abastecimento de Água
Rede geral 52 (55.9) 30 (57.7) 1.0 234 (69.2) 85 (36.3) 1.0
Poço ou rio 41 (44.1) 15 (36.6) 0.63 (0.34-1.17) 104 (30.8) 24 (23.1) 0.63 (0.40-0.99)
Rede de Esgoto
Rede geral e fossa séptica 73 (78.5) 35 (47.9) 1.0 277 (82.0) 85 (30.7) 1.0
Fossa rudimentar/vala/outro 20 (21.5) 10 (50.0) 1.04 (0.51-2.10) 61 (18.0) 24 (39.3) 1.28 (0.81-2.01)
Tempo com cão
Não tem 63 (75.0) 29 (46.0) 1.0 218 (70.6) 77 (35.3) 1.0
≤ 2 anos 10 (11.9) 6 (60.0) 1.30 (0.54-3.13) 36 (11.6) 12 (33.3) 0.94 (0.51-1.73)
03 anos ou + 11 (13.1) 8 (72.7) 1.57 (0.72-3.45) 55 (17.8) 10 (18.2) 0.51 (0.26-0.99)
32 A tabela 3 mostra as variáveis que descrevem o ambiente peridoméstico e a variável
relativa ao uso de inseticida. A maioria dos entrevistados possuía outros animais domésticos
no domicílio ou peridomicílio. A presença de canil foi registrada em uma minoria de
habitações, bem como a presença de galinheiro e de depósito ou forno. Jardim foi encontrado
em mais de 90% das residências, plantas dentro da casa foram identificadas em uma minoria
de domicílios e história de uso de inseticida em quase 70% dos mesmos. Nenhuma das
variáveis expostas nesta tabela se mostrou associada à incidência de infecção.
Tabela 3 - Incidência acumulada de infecção por L. infantum detectada por Intradermorreação de Montenegro e risco relativo (RR) e seu intervalo de confiança (IC 95%) para a associação entre infecção por L. infantum e variáveis referentes ao ambiente peridoméstico e ao uso de inseticida , segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007.
Variável Área sem intervenção Área com intervenção
N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%) N (%) Conversão +
(%) RR (IC 95%) Outros animais no domicílio ou ambiente peridoméstico
Não 41 (44.1) 18 (43.9) 1.0 167 (49.4) 49 (29.3) 1.0
Sim 52 (55.9) 27 (51.9) 1.18 (0.65-2.14) 171 (59.6) 60 (35.1) 1.19 (0.81-1.74)
Presença de canil no ambiente peridoméstico
Não 88 (94.6) 42 (47.7) 1.0 315 (93.2) 104 (33.0) 1.0
Sim 5 (5.4) 3 (60.0) 1.25 (0.38-4.05) 23 (6.8) 5 (21.7) 0.65 (0.26-1.61)
Presença de galinheiro no ambiente peridoméstico
Não 87 (93.5) 42 (48.3) 1.0 332 (98.2) 106 (31.9) 1.0
Sim 6 (6.5) 3 (50.0) 1.03 (0.32-3.34) 6 (1.8) 3 (50.0) 1.56 (0.49-4.93)
Presença de depósito ou forno no quintal
Não 90 (96.8) 42 (46.7) 1.0 325 (96.4) 106 (32.6) 1.0
Sim 3 (3.2) 3 (100.0) 2.14 (0.66-6.91) 12 (3.6) 2 (16.7) 0.51 (0.12-2.06)
Jardim
Sim 91 (97.8) 43 (47.2) 1.0 316 (94.6) 105 (33.2) 1.0
Não 2 (2.2) 2 (100.0) 2.11 (0.51-8.73) 18 (5.4) 4 (22.2) 0.66 (0.24-1.81)
Plantas dentro de casa
Não 84 (90.3) 41 (48.8) 1.0 302 (89.3) 103 (34.1) 1.0
Sim 9 (9.7) 4 (44.4) 0.91 (0.32-2.54) 36 (10.7) 6 (16.7) 0.48 (0.21-1.11)
Já usou inseticida
Sim 62 (66.7) 26 (41.9) 1.0 229 (67.8) 70 (30.6) 1.0
Não 31 (33.3) 19 (61.3) 1.46 (0.80-2.64) 109 (32.2) 39 (35.8) 1.17 (0.79-1.73)
A tabela 4 mostra a análise multivariada estratificada dos dados. Na área onde não
houve qualquer tipo de intervenção, foi identificada um risco de infecção 81% maior para
33 moradores de domicílios com presença de depósito ou forno no quintal. A presença de um
número maior de indivíduos no domicílio trouxe um risco 54% menor em residências com
duas pessoas e 57% menor naquelas com três pessoas ou mais, em relação aos domicílios
individuais. Em relação ao tempo em que o indivíduo vive no domicílio, esta variável mostrou
que indivíduos que vivem no local há mais de um ano tem menor risco de infecção em
comparação com aqueles que ali vivem há menos de um ano.
Tabela 4 – Modelo multivariado - Riscos relativos ajustados (RR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%) e p-valores para associação entre infecção por L. infantum e variáveis selecionadas, em área sem intervenção, Teresina-PI, 2007. Variável RR IC (95%) p-valor Presença de depósito ou forno no quintal Não 1.0 Sim 1.81 1.29-2.55 0.001 Nº de pessoas no domicílio 1 1.0 2 0.46 0.24-0.88 0.021 3 ou mais 0.43 0.28-0.65 <0.001 Tempo no domicílio < 01 ano 1.0 01-02 anos 0.45 0.23-0.86 0.016 03-04 anos 0.52 0.35-0.77 0.001 05-06 anos 0.43 0.28-0.65 <0.001 07 anos ou + 0.56 0.36-0.86 0.009
A tabela 5 mostra que para as áreas onde houve algum tipo de intervenção, o risco de
infecção foi 58% menor entre os indivíduos com cão há três anos ou mais quando comparados
àqueles que não tem cão. Pessoas com maior nível de escolaridade apresentaram um risco
44% menor de infecção do que aquelas com menos tempo de estudo.
Tabela 5 – Modelo multivariado - Riscos relativos ajustados (RR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%) e p-valores para associação entre infecção por L. infantum e variáveis selecionadas, em área com intervenção, Teresina-PI, 2007. Variável RR IC (95%) p-valor Tempo com cão Não tem 1.0 ≤ 2 anos 0.89 0.55-1.45 0.662 03 anos ou + 0.42 0.22-0.83 0.012 Escolaridade do chefe da família Elementar 1.0 Maior que elementar 0.56 0.40-0.78 0.001
34 A figura 1 mostra os perfis de risco para infecção por L. infantum por meio do método
CART. No modelo, foram incluídos apenas 378 dos 431 indivíduos, uma vez que esses foram
os únicos que apresentaram informação completa em todas as variáveis do estudo. Nesta
“árvore” pode-se identificar oito diferentes “perfis de risco”, ou seja, grupos de indivíduos
com diferentes características e apresentando variadas probabilidades de infecção (quadrados
sombreados).
O perfil de maior risco para infecção (75%) se refere aos indivíduos com menor
escolaridade e que nunca moraram fora de Teresina, enquanto que para os que tinham a
mesma escolaridade, mas já moraram fora da cidade, o risco caiu para 43%. O perfil de menor
risco (5%) inclui os que apresentaram maior nível de escolaridade, viviam em área onde
houve algum tipo de intervenção e que estavam com o cão há cinco anos ou mais. Os
indivíduos com maior escolaridade, vivendo em área sem intervenção, do sexo feminino e
com 30 anos ou mais tiveram uma probabilidade de infecção de 60% e, para aqueles com
mesmo nível de escolaridade e residentes da mesma área, mas que eram do sexo masculino, o
risco foi de 59%. Para os com maior escolaridade, moradores de área com intervenção, com
cão há quatro anos ou menos e cujo domicílio abriga três pessoas ou mais, a probabilidade foi
de 33%.
35 Figura 1 – Modelo de Árvore de Regressão e Classificação para risco de infecção por L. infantum, Teresina-PI, 2007.
Utilizando o risco relativo (RR) como medida de associação entre os perfis e infecção
por L. infantum, ao compararmos o perfil de menor risco (perfil de referência) com os outros,
vimos que o perfil 8 apresenta risco de infecção 14 vezes maior do que o perfil 1 (p=0.007). O
perfil 7 tem um risco dez vezes maior que o perfil de referência (p=0.016) e o perfil 6 um
risco 11 vezes maior (p=0.013). O perfil 5 apresenta risco cerca de oito vezes maior (p=0.02)
e o 4, aproximadamente, seis vezes mais (p=0.05) (Tabela 6).
36 Tabela 6 - Incidência acumulada de infecção por L. infantum, Riscos Relativos (RR) e seus Intervalos de Confiança (IC 95%) e p-valores, conforme perfis de risco, Teresina-PI, 2007.
Perfil Características Incidência (%) RR (IC 95%) p-valor
1 escolaridade maior que elementar + área com intervenção + tempo com cão ≥ 5 anos 5.0 1.0
2 escolaridade maior que elementar + área com intervenção + tempo com cão < 5 anos + nº de pessoas no domicílio < 3 15.0 2.8 (0.33-23.36) 0.342
3 escolaridade maior que elementar + área sem intervenção + sexo feminino + idade < 30 anos 25.0 4.77 (0.60-37.62) 0.138
4 escolaridade maior que elementar + área com intervenção + tempo com cão < 5 anos + nº de pessoas no domicílio ≥ 3
33.0 6.83 (0.99-46.82) 0.050
5 escolaridade até elementar + morou fora de Teresina 43.0 8.88 (1.27-61.90) 0.027
6 escolaridade maior que elementar + área sem intervenção + sexo masculino 59.0 11.86 (1.69-83.29) 0.013
7 escolaridade maior que elementar + área sem intervenção + sexo feminino + idade ≥ 30 anos 60.0 10.92 (1.55-76.89) 0.016
8 escolaridade até elementar + nunca morou fora de Teresina 75.0 14.25 (2.06-98.37) 0.007
37
6- Discussão dos Resultados
A incidência acumulada de infecção em 18 meses encontrada no presente estudo foi de
35%, valor bastante superior aos encontrados em outros estudos semelhantes. Em pesquisa
conduzida na Vila de Santana do Cafezal, no Pará, a incidência ao final de um ano, detectada
por IDRM, foi de 11,5% e no segundo ano de estudo de 3,6% (SILVEIRA et al, 2009). Caldas
(2001), em Raposa-MA, encontrou uma incidência de infecção assintomática pelo mesmo
método de 10,8%.
O tempo de residência com o cão se mostrou como um fator de proteção contra a
infecção por L. infantum em áreas onde houve intervenção. Os indivíduos proprietários do cão
há três anos ou mais apresentaram risco 58% menor do que aqueles que não tinham cão.
Pode-se inferir que a posse de cão por mais tempo em área sob intervenção pressupõe que
esses cães são sadios, uma vez que permaneceram no domicílio mesmo quando medidas de
controle estavam sendo tomadas na região, como testagem e posterior sacrifício dos animais
positivos, medida essa que em outro estudo resultou na redução da incidência de infecção em
humanos em 55% (WERNECK, 2007). Andrade (2007) aponta que em aproximadamente
45% dos domicílios dos quais o cão é recolhido para ser sacrificado em conseqüência de
infecção, há reposição dos animais em um ano. Essa renovação por cães geralmente mais
jovens acarreta algumas implicações epidemiológicas como maior suscetibilidade a diferentes
doenças e capacidade de procriação dos mesmos. Sendo assim, esses animais mais novos e
com menor tempo no domicílio estariam mais vulneráveis e, portanto, tornariam-se, por
conseqüência, amplificadores da infecção, expondo os moradores do local a um maior risco.
Há ainda a hipótese dos cães serem de companhia, quer dizer, animais que permanecem
dentro da residência e não no quintal ou peridomicílio, o que reduziria a possibilidade de
terem contato com flebotomíneos infectados. Há ainda a possibilidade de que esses cães
sejam mais resistentes à infecção e não funcionem como reservatório ideal para a infecção, na
verdade atuando como uma barreira para a transmissão para humanos. Em estudo conduzido
em área urbana de Natal/RN, foi visto que em famílias que tinham membros com infecção
assintomática, o número de cães não era significativamente maior que o de outras famílias
livres do parasito (JERÔNIMO ET AL, 2004). Entretanto, resultados diferentes também
foram encontrados em outros estudos. Caldas et al (2002), por exemplo, em estudo
prospectivo realizado no município de Raposa/MA, utilizando incidência como medida de
infecção, refere que o risco de infecção assintomática em crianças que viviam em locais (casa
38 ou vizinhança) onde foi reportada a presença de cães era maior. Em estudo sobre fatores de
risco para infecção por L. infantum, cujo cenário foi área urbana do estado de Minas Gerais, a
presença de cães e galinhas na vizinhança ou domicílio tendiam a aumentar o risco de
infecção, quando esta era identificada por meio de teste de Montenegro (MORENO ET AL,
2005).
A escolaridade mais baixa se mostrou associada a uma maior incidência de infecção
em áreas onde houve intervenção. Neste contexto, os indivíduos com mais tempo de estudo
apresentaram risco 44% menor de ter infecção. Maior tempo de estudo pode ter sido detectado
como um fator de proteção apenas nestas áreas de intervenção, pois, supõem-se que pessoas
com maior escolaridade seriam mais bem instruídas acerca da doença e poderiam apresentar
maior adesão às medidas que estão sendo implementadas, facilitando a remoção de cães
infectados e contribuindo para as ações de controle vetorial. Informar a população é uma
medida de controle importante como forma de reduzir o risco de exposição, contudo, essa
medida deve estar aliada às demais estratégias de controle, pois uma ação implementada de
forma isolada, possivelmente, não acarretará resultados satisfatórios no que diz respeito à
redução dos casos de infecção e de LV (GAMA, 1998; BRASIL, 2006). Entendendo que
pessoas com pouco tempo de estudo geralmente tem baixo poder aquisitivo e pertencem a
classes sociais menos favorecidas, o estudo realizado por Cavalcante (2009) vem a confirmar
esses resultados. Ele aponta que locais habitados por indivíduos de status socioeconômico
baixo são descritos como ambientes propícios à ocorrência de LV, pois, são áreas onde há
acúmulo de matéria orgânica em conseqüência da presença de animais domésticos, o que
favoreceria a aproximação e permanência do vetor, ocasionando aumento no risco de
transmissão. Oliveira (2008) identificou a baixa renda familiar e baixo nível de escolaridade
como fatores de risco para infecção assintomática em contatos familiares de pacientes com
LV. Barão (2007) menciona que mesmo em área de baixa endemicidade, como Araçatuba/SP,
a distribuição dos casos assintomáticos segue um gradiente socioeconômico. Oliveira e
Maciel (2003), em estudo conduzido em João Pessoa/PB, encontraram uma maior ocorrência
de LV nas pessoas com índices mais baixos de escolaridade e baixa renda familiar.
Contrapondo esses achados, Caldas et al (2002) aponta em sua pesquisa que analfabetismo
não se mostrou associado ao risco aumentado de infecção. Oliveira (2006), em estudo de
caso-controle no qual estabeleceu escores para identificar fatores de risco microambientais
para LV em área urbana, mostrou que residências que ofereciam melhor ambiente para o vetor
como quintal sujo, matéria orgânica abundante, sombra e umidade, tinham escore mais alto,
ou seja, maior risco para desenvolver a doença.
39
A presença de depósito ou forno no quintal se mostrou como um fator de risco para a
infecção em áreas em que nenhuma intervenção estava sendo implementada. Lima (2011)
reforça este resultado ao afirmar que mesmo vivendo em áreas endêmicas e sob o mesmo
nível de exposição, condições de moradia precárias e inadequadas contribuem para a
proliferação do vetor no ambiente. Como nesta situação mostrada pelo estudo nos referimos a
uma região onde não houve implementação de estratégias para contenção da população de
flebotomíneos, as atitudes e os hábitos dos moradores em relação ao domicílio e seu entorno
podem se refletir de maneira ainda mais relevantes no que diz respeito à probabilidade de ser
infectado pelo parasito, já que, a simples presença desses depósitos e fornos poderia servir de
habitat para estes vetores aumentando o risco de infecção.
O presente estudo mostrou também que nas áreas sem intervenção os indivíduos que
habitavam domicílios com mais moradores apresentaram menor risco de infecção. Esse
resultado pode significar que em um ambiente onde não há medidas para controle da
transmissão, um maior número de pessoas na residência reduz a chance individual de ser
picado. Para Gouvêa (2007), que também encontrou resultados semelhantes, como há mais
pessoas disponíveis, a chance de se tornar vítima de picadas de flebotomíneo infectados
estaria reduzida.
Para a área onde não houve intervenção, este estudo mostrou que, pessoas que
residiam no domicílio há mais tempo, apresentaram menor risco de infecção do que aquelas
que ali estavam há menos de um ano. Essa variável poderia ser compreendida como uma
proxy de migração interna, neste caso, indicando que indivíduos que residem há pouco tempo
em uma determinada localidade seriam aqueles com piores condições de vida, já que precisam
se deslocar com mais freqüência em busca de moradia. Neste caso, os locais de moradia
ocupados pelas famílias com menor estabilidade habitacional possuiriam piores condições de
saneamento e de conservação e seriam também aqueles ambientes que sofrem poucas
melhorias, afinal é um lugar de moradia muitas vezes temporário, o que reduziria o
envolvimento e a ligação do morador com a habitação. E, como já muito discutido, condições
de vida precárias contribuem para o aumento da transmissão das doenças infecciosas e
parasitárias (DANTAS-TORRES, BRANDÃO-FILHO, 2006). Gama (1998) aponta entre as
medidas para maior controle das doenças endêmicas a melhoria da infra-estrutura sanitária,
assim como o melhoramento das habitações. Cavalcante (2009), em contrapartida, utilizando
a variável tempo de moradia, não encontrou associação estatisticamente significativa entre
infectados que residiam há menos de cinco meses no local e infecção por L. infantum. Esses
dados encontrados sugerem que para que se proteja a população do parasito em áreas urbanas
40 se fará necessário medidas direcionadas não apenas ao indivíduo, mas também ao
microambiente de suas casas e vizinhança (OLIVEIRA, 2006).
Com relação aos perfis de risco 5 e 8, foi visto que entre os indivíduos de baixa
escolaridade a probabilidade de infecção foi maior entre aqueles que nunca moraram fora de
Teresina. Essa variável foi concebida como uma maneira de identificar migração como
possível fator de risco para a incidência de infecção, entretanto, considerando que os
indivíduos que entraram no estudo apresentavam em seu início a mesma condição, isto é,
IDRM negativo, não se poderia esperar que o risco fosse necessariamente maior entre os
indivíduos com história de migração. Esta variável talvez cumpriria melhor este papel caso o
estudo estivesse se referindo à doença (LV), pois aí então um indivíduo oriundo de fora da
cidade teria maior risco em desenvolvê-la, já que, diferentemente do morador de área
endêmica, seria uma pessoa sem história de exposição prévia ao parasito, portanto, sem
resistência imunológica quanto à progressão clínica para a doença. Costa (1990) reforça essa
idéia quando descreve a epidemia de LV no Piauí nos anos 80 e afirma que a presença de um
número significativo de pessoas susceptíveis (imigrantes) produziu condições necessárias à
ocorrência da epidemia. Para Silva (2001) a migração, especialmente aquela em direção à
periferia das grandes cidades, é um dos fatores favoráveis à urbanização da LV. Os habitantes
de áreas endêmicas permanecem constantemente e por mais tempo expostos ao vetor
infectante, presente predominantemente no ambiente intra e peridomiciliar, gerando uma
resposta imune celular, o que se traduz em capacidade de responder a essa infecção. O teste
de Montenegro positivo representa uma medida de resistência adquirida e pode mostrar o
contingente de indivíduos que apresentou infecção que se resolveu espontaneamente. A
positividade do teste tende a aumentar com a idade, refletindo a transmissão cumulativa ao
longo dos anos, podendo ser uma proxy para tempo de exposição individual à infecção. Ainda
há muito a estudar acerca dos fatores envolvidos na aquisição de infecção por L. infantum,
especialmente sobre o motivo pelo qual a maior parte da população infectada é capaz de
controlar a progressão da mesma e sobre o possível papel da genética nessa proteção.
(JERÔNIMO, 2008; CAVALCANTE, 2009; CALDAS, 2002; GOUVÊA, 2007; WERNECK,
2002; D’OLIVEIRA JÚNIOR, 1997; JERÔNIMO, 2004).
Os perfis 2 e 4 mostram que, em uma área com intervenção, o risco de infecção foi
maior entre aqueles cujo domicílio era habitado por mais moradores. Ainda que esses
números representem pessoas de maior escolaridade e que vivem em áreas onde há algum tipo
de intervenção, talvez este possa ser um subgrupo sob maior risco no que diz respeito à infra-
estrutura sanitária deficiente dentro do grupo todo. Esse dado aparece como um indicador
41 sócio-econômico, mais pessoas no domicílio como reflexo de condições econômicas mais
desfavoráveis. Cavalcante (2009) identificou a presença de mais de quatro moradores na
residência associada à incidência de infecção por L. infantum. Gontijo e Melo (2004) alertam
que a alta densidade populacional somada à proximidade entre as habitações favoreceria para
uma rápida expansão da LV em ambiente urbano. Oliveira (2003) e Barão (2007) defendem
que a doença está relacionada com baixa renda, precárias condições sanitárias e de moradia,
bem como está concentrada nas áreas mais pobres da periferia. Nos resultados do estudo de
Lima (2010) não foi encontrada associação significativa entre número de residentes no imóvel
e presença de infecção humana verificada pela IDRM.
No perfil de risco 6, os indivíduos com maior escolaridade, de áreas sem intervenção e
do sexo masculino, apresentaram risco de infecção de 59% e 11 vezes maior que o do perfil 1.
Mesmo com maior escolaridade, essas pessoas habitam área onde não houve intervenção, o
que por si só já é capaz de gerar uma incidência de infecção maior quando comparada às áreas
onde houve alguma medida de controle (WERNECK, 2007). Quanto ao sexo, a diferença do
risco entre homens de uma forma geral e mulheres com 30 anos ou mais foi muito pequena.
Silveira et al (2008) encontrou em seu estudo que na distribuição de novos casos de infecção
por L. infantum não houve diferença significativa (p>0.05) entre homens (47.7%) e mulheres
(52.3%) assim como Nascimento (2005), que encontrou em seu estudo desenvolvido em São
José de Ribamar/MA que em relação à IDRM nenhum sexo mostrou predominância. Já Lima
(2010), apontou maior positividade na reação ao teste de Montenegro em indivíduos do sexo
masculino, fato explicado pelas atividades ocupacionais desenvolvidas pelos homens que os
deixariam mais expostos ao risco. Quanto ao perfil 3, as mulheres com 29 anos ou menos
apresentaram risco bem menor do que as que tinham idade superior. Talvez haja menor
exposição entre as mulheres mais jovens, especialmente as das duas faixas etárias mais
baixas, uma vez que a atividade do flebotomíneo é basicamente noturna. Caldas (2002) e
Moreno (2005) identificaram que permanecer ao ar livre (fora de casa) à noite, principalmente
entre 18h e 22h, aumenta o risco de infecção, assim como um estudo argentino que apontou
maior atividade do flebotomíneo após o por do sol (SANTINI ET AL, 2010). Em estudo
conduzido no Maranhão, foi encontrado que o risco relativo para infecção foi 8% maior para
os indivíduos maiores de 15 anos, utilizando IDRM (CAVALCANTE, 2009). Resultado
diferente foi encontrado por Silveira et al (2008). Em seu estudo, mostrou que a incidência de
infecção (55%) foi maior entre indivíduos de grupos mais jovens, com 20 anos ou menos,
sendo 30% na primeira década de vida.
42
Em relação às limitações do estudo, deve-se destacar que o banco de dados utilizado
fora construído a partir de um estudo de intervenção especificamente delineado para avaliar a
efetividade de diferentes estratégias de controle da LV na cidade de Teresina. Sendo assim,
este trabalho apresentou limitações no que diz respeito à adequação do banco de dados
utilizado, além da grande perda de seguimento, afinal 38.2% dos indivíduos com primeiro
teste de Montenegro negativo não se submeteram à segunda testagem. Essa perda produziu o
pequeno tamanho amostral do estudo para análise estratificada por área de intervenção, o que
gera, por conseguinte, a perda do poder estatístico para identificação dos fatores de risco
como estatisticamente significativos. Contudo, a maior preocupação em relação às perdas diz
respeito à possibilidade de não terem sido aleatórias. Entretanto, analisando-se as perdas
(tabela 7) segundo algumas características sócio-demográficas, foi visto que não houve
grande variabilidade entre as características avaliadas e todas as diferenças entre as categorias
de exposição não foram estatisticamente significativas. De acordo com Lash et al (2009)
quando a participação no estudo ou a perda de seguimento está associada apenas com a
exposição ou com desfecho, não há condição suficiente para gerar um viés de seleção.
Outra questão é que algumas variáveis incluídas podem ser entendidas como uma
medida indireta de exposição, mostrando a importância do uso de variável proxy para
identificar fatores de risco (MORENO, 2005). Entretanto, a escolha de algumas variáveis
proxy, como por exemplo a que se referia a ter morado fora de Teresina, podem não ter sido
adequadas para este estudo. Outro ponto limitante foi a utilização de apenas um método
diagnóstico para identificação de infecção assintomática, a IDRM, que apresenta restrições,
tais como, ser um teste que fora desenvolvido para diagnóstico de leishmaniose tegumentar,
mas que na presença de LV permanece negativo durante doença ativa e se torna positivo após
cura. Entretanto, em alguns casos, induz a uma resposta imunológica apenas pela inoculação
do extrato de leishmania, e não em resposta à infecção (BORGES ET AL, 2003).
43 Tabela 7 - Percentual de perdas segundo características sócio-demográficas, segundo área de intervenção, Teresina-PI, 2007. Área sem intervenção Área com intervenção Perdas P-valor Perdas P-valor
Características N % N % Sexo Feminino 43 42.6 0.504 138 36.8 0.546 Masculino 20 37.0 66 39.5 Idade < 10 anos 4 40.0
0.418
6 26.1
0.108
10-19 anos 15 45.4 53 40.5 20-29 anos 23 47.9 62 42.5 30-39 anos 14 38.9 54 37.2 40-49 anos 6 30.0 15 23.4 50 anos ou + 1 12.5 14 42.4 Escolaridade do chefe da família Elementar 9 29.0 0.172 32 35.6 0.687 Maior que elementar 51 42.5 169 37.8 Fora Teresina Não 34 46.6 0.156 67 32.7 0.056 Sim 29 35.4 137 40.9 Tempo no domicílio < 01 ano 9 81.8
0.001
52 67.5
0.000 01-02 anos 17 58.6 39 45.3 03-04 anos 16 40.0 35 30.7 05-06 anos 9 20.0 23 33.3 07 anos ou + 12 40.0 52 27.7 Número de pessoas no domicílio 1 2 66.7
0.640 5 50.0
0.546 2 8 42.1 17 32.7 03 ou + 53 39.8 182 37.9
44
7- Conclusão
O presente estudo identificou uma incidência de infecção por L. infantum bastante
superior à encontrada em outros estudos semelhantes, além disso, mostrou que em área sem
intervenção a presença de fornos ou depósito, o número de pessoas e o tempo residindo no
domicílio estavam associados à incidência de infecção. E, em áreas com intervenção, o tempo
com o cão e o nível de escolaridade também se mostraram associados ao desfecho.
Com relação aos oito perfis de risco apresentados, o que representava maior risco de
infecção se referia aos indivíduos com menor nível de escolaridade e que nunca haviam
morado fora de Teresina. Muitos dos perfis incluíram variáveis que não apareceram como
significativas nas análises multivariadas estratificadas. Esses resultados mostram o grau de
complexidade envolvido no risco de infecção por L. infantum e indicam a necessidade de
serem desenvolvidas novas pesquisas que enfoquem o papel dos fatores de risco de forma
integrada, explorando mais suas interrelações do que suas ações isoladas para determinação
dos níveis de infecção em áreas urbanas.
Apesar da série de limitações, os resultados apontam para a necessidade de mais
estudos longitudinais explorando melhor as características do ambiente peridoméstico e da
estrutura do domicílio que podem modular o risco de infecção, assim haverá uma maior
compreensão acerca da situação epidemiológica da doença e de seu comportamento afim de
que se estabeleçam medidas de controle mais adequadas.
45
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51
Anexo 1
Questionário 1. Identificação do domicílio e do chefe do domicílio:
1.1. Número da ficha: ....................................
1.2. Data da entrevista: ......../......../...............
1.3. Nome do chefe do
domicílio:............................................................................................
...................................................................................................................................................
1.4. Endereço:.........................................................................................................................
...................................................................................................................................................
1.5. Bairro: .............................................
1.6. Referência: ......................................................................................................................
1.7. Nome da Vila / Favela / Conj. Habitacional:
....................................................................
1.8. Sexo: 1.9 Idade em anos: ........................................
1.10. Escolaridade: Nunca estudou 1a a 2a série do 2o grau 1a a 3a série do 1o grau 3a série do 2o grau 4a a 7a série do 1o grau Superior completo 8a série do 1o grau Não sabe / não respondeu
1.11. Ocupação: .......................................................................................................................
1.12. Bairro onde exerce suas atividades profissionais: ..........................................................
1.13. Já morou fora de Teresina?
1.14. Há quanto tempo mora neste domicílio?.........................................................................
2. Relação dos moradores do domicílio (adicionalmente ao chefe do domicílio):
No Nome Idade Sexo Já teve calazar? Quando? Parentesco com o chefe 1 2 3 4 5 Nome e número do indivíduo
3. Animais Domésticos no domicílio:
3.1. Relação dos cães existentes no domicílio:
No Nome Idade Sexo Raça Tempo de moradia Teste calazar 1
2
1
4
3
6
5
9
7
Sim 1 Não 2 NR 9
Fem 1 Masc 2
52 2 3 4 5
3.2. Existem gatos no domicílio? ......................
3.3. Existem aves de corte no domicílio?..........
3.4. Existem porcos no domicílio?....................
3.5. Existem ovinos no domicílio?.....................
3.6. Existem cavalos/mulas/jumentos?..............
3.7. Existem pássaros no domicílio?.................
3.8. Existem caprinos no domicílio?..................
4. Características da habitação:
4.1. Tipo da habitação..
4.2. Tipo de cercado....
4.3. Paredes.................
4.4. Teto ............
4.5. Forro ....................
4.6. Piso .........
4.7. Água ........
4.8. Esgoto ........
4.9. Plantas dentro da casa .........
4.10. Anexos (dentro da propriedade)
a) Galinheiro....
b) Canil............
c) Curral .........
d) Depósito .....
e) Forno ..........
4.11. Tem jardim ou quintal?.
5. Uso de inseticidas
5.1. Sua casa já foi borrifada com inseticida?
5.2. Última borrifação
Sim 1 Não 2 Quantos?.........................
Casa 1 Apartamento 2
Muro de alvenaria 1 Outro 2
Tijolo rebocado 1 Tijolo sem reboco 2 Outro 3
Telha / laje 1 Madeira / palha 2 Misto 3
Cerâmica 1 Cimento 2 Madeira 3 Terra/Barro 4 Outro 5
Sim 1 Não 2
Rede geral 1 Poço 2 Rio 3 Outro 4
Rede geral 1 Fossa séptica 2 Fossa rudimentar 3 Vala 4 Outro 5
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2 Sim 1 Não 2 Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2 Sim 1 Não 2
< 1 mês 1 1 a 6 meses 2 6 a 12 meses 3 > 12 meses 4
Sim 1 Não 2
Sim 1 Não 2 Quantos?............
Sim 1 Não 2 Quantos?............
Sim 1 Não 2 Quantos?............
Sim 1 Não 2 Quantos?............
Sim 1 Não 2 Quantos?............
Sim 1 Não 2 Quantos?............
53
5.3. Local borrifado
6. Dados dos exames da pessoa selecionada:
6.1. Descrição da Intradermorreação (foi possível realizar a segunda leitura, se foi
reagente ou não, características da reação e diâmetro):................................................
...................................................................................................................................................
6.2. Esta foi a primeira pessoa a ser sorteada no domicílio ou houve necessidade de
segundo um sorteio?........................................................................................................
6.3. Houve complicações ou quaisquer problemas durante a entrevista, coleta de material
sanguíneo ou execução da intradermorreação? Descreva:...........................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
Responsável pelo preenchimento e data: ...................................................
Intra-domicílio 1 Extra-domicílio 2 Ambos 3