FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES identificando a exposição de idosos assistidos na...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE Centro de Educação e Saúde Curso de Bacharelado em Enfermagem Bruno Ferreira Barreto FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES: identificando a exposição de idosos assistidos na Estratégia Saúde da Família Cuité PB 2013

Transcript of FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES identificando a exposição de idosos assistidos na...

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

    Centro de Educao e Sade

    Curso de Bacharelado em Enfermagem

    Bruno Ferreira Barreto

    FATORES DE RISCO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES: identificando a

    exposio de idosos assistidos na Estratgia Sade da Famlia

    Cuit PB

    2013

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    Bruno Ferreira Barreto

    FATORES DE RISCO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES: identificando a

    exposio de idosos assistidos na Estratgia Sade da Famlia

    Monografia apresentada Coordenao do Curso de

    Bacharelado em Enfermagem do Centro de Educao e

    Sade da Universidade Federal de Campina Grande Campus Cuit, como requisito obrigatrio obteno do

    ttulo de Bacharel em Enfermagem.

    Orientador: Prof. Ms. Matheus Figueiredo Nogueira

    Cuit PB

    2013

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    Bruno Ferreira Barreto

    FATORES DE RISCO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES: identificando a

    exposio de idosos assistidos na Estratgia Sade da Famlia

    Monografia apresentada Coordenao do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Centro de Educao e

    Sade da Universidade Federal de Campina Grande

    Campus Cuit, como requisito obrigatrio obteno do

    ttulo de Bacharel em Enfermagem.

    __________________________________________________

    Prof. Ms. Matheus Figueiredo Nogueira

    Orientador UFCG

    __________________________________________________

    Profa. Ms. Isolda Maria Barros Torquato

    Membro UFCG

    __________________________________________________

    Profa. Ms. Glenda Agra

    Membro UFCG

    Cuit PB, 29 de abril de 2013.

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    DEDICATRIA

    A Deus, por ter me concedido o dom da vida, por ter me dado conhecimento, fora, f,

    sabedoria e perseverana e por estar ao meu lado em todos os momentos de minha vida e

    permitir que tudo se realizasse.

    Aos meus pais, Clodoaldo de A. Barreto e Maria Luzenir Ferreira pelo amor, carinho, por

    acreditarem nos meus sonhos e terem sido os responsveis pelas conquistas de minha vida,

    por terem me educado, me ensinado lies de vida para que eu me tornasse a pessoa que sou

    hoje.

    Aos meus irmos Claudio F. Barreto, Nagib Demostenes F. Barreto, Lucia de Ftima F.

    Barreto e Nereida F. Barreto, por sempre estarem ao meu lado e me apoiarem em todos os

    momentos da minha vida, pela fora, pelo seu amor. Tenho imenso orgulho de t- los como

    irmos.

    Aos meus sobrinhos Glauto e Laise e ao meu cunhado Geraldo, por seu carinho, apoio, por

    estarem presente em minha vida.

    As minhas tias Neta, Vilanir e Ftima e toda minha famlia. Pessoas Maravilhosas que mesmo

    distantes se fazem presente em minha vida.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Ao Amigo e Orientador, Prof. Matheus Figueiredo Nogueira. Muito obrigado pela confiana,

    apoio, pacincia, por sua dedicao, competncia, pelos os momentos de descontrao, por

    acreditar na ideia do projeto e se dispor a ajudar, sendo o responsvel direto para

    concretizao desse trabalho, por sua contribuio para meu crescimento pessoal e

    profissional.

    s professoras da banca de Monografia, Glenda Agra e Isolda Torquato, que participaram de

    minha formao como enfermeiro e se dispuseram a participar da banca e corrigir esse

    trabalho. Obrigado.

    Aos amigos do Curso de Bacharelado em Enfermagem CES/UFCG, Anderson A. Lima,

    Aureliano Miguel, Clcio A. Silva, Jan Necheell M. Lima, Jose J. Queiroz, Pedro Edson S.

    Brito, Ana Clara Dantas, Dayana Macedo, Tobias Lemos, Ibraim de C. Pinheiro e a todos os

    meus amigos da turma de enfermagem 2008.1. Meus agradecimentos pelo companheirismo,

    amizade, apoio, pelos momentos que partilhamos durante esses cinco anos.

    Ao Pr. Manoel Libnio, Pr. Elias, Camila Guedes, Danny Gomes, Inaldo Cndido, Iris Souto,

    Jaqueline Silva, Leandro, Mirilene, Gercilania Oliveira, Thalles Libnio, Welligton Lima e a

    todos os amigos que estiveram comigo durante esses anos. Por seu carinho, amizade, pelas

    brincadeiras, por terem me acolhido e compartilhado momentos de adorao a Deus.

    Aos professores da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cuit, que muito

    contriburam para minha formao profissional e pessoal, atravs de seus conhecimentos e

    experincias de vida, pela confiana, amizade e apoio. O meu muito Obrigado

    Ao Secretrio de Sade do Municpio de Cuit, Gentil Palmeira Venncio, que me recebeu e

    prontamente acolheu a ideia do projeto, contribuindo para que o projeto pudesse ser realizado.

    Aos idosos que me receberam em suas casas e se dispuseram a participar, sem vocs no seria

    possvel a realizao desse trabalho. Obrigado pelos momentos dispensados a mim e por

    terem compartilhado comigo as particularidade de suas vidas.

  • 5

    Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos.

    Pois comers do trabalho das tuas mos; feliz sers, e te ir bem.

    A tua mulher ser como a videira frutfera aos lados da tua casa; os teus

    filhos como plantas de oliveira roda da tua mesa. Eis que assim ser abenoado o homem que teme ao SENHOR.

    O SENHOR te abenoar desde Sio, e tu vers o bem de Jerusalm

    em todos os dias da tua vida.

    E vers os filhos de teus filhos, e a paz sobre Israel. Salmos 128:1-6

  • 6

    RESUMO

    As doenas cardiovasculares (DCV), definidas como um conjunto de doenas que afetam o

    sistema circulatrio, representam um importante problema de sade pblica devido sua

    complexidade e magnitude. Por sua etiologia multifatorial, faz-se necessrio conhecer quais

    fatores de riscos esto expostos os idosos, a fim de permitir a elaborao e implementao de

    estratgias de promoo da sade e preveno de agravos cardiovasculares. Dessa forma,

    objetiva-se com este estudo identificar os fatores de risco para doenas cardiovasculares que

    esto expostos idosos assistidos na Estratgia Sade da Famlia no municpio de Cuit PB.

    Trata-se de um estudo exploratrio descritivo com abordagem quantitativa, com amostra

    constituda por 70 idosos, sendo 50% do sexo masculino e 50% do sexo feminino. Aps

    aprovao da pesquisa pelo Comit de tica do Centro de Cincias da Sade da Universidade

    Federal da Paraba (CCS/UFPB) sob parecer n 202.268, os dados foram coletados por meio

    de um questionrio composto por duas partes: dados sociodemogrficos e econmicos e

    fatores de risco cardiovascular. Os resultados foram analisados descritivamente e

    apresentados em tabelas e grficos de modo a sistematizar a discusso e facilitar a

    compreenso. Os resultados mostram que a maior parte dos idosos possui entre 60 e 69 anos,

    casada, no alfabetizada, possui renda familiar de 1 a 2 salrios e so agricultores

    aposentados. Quanto aos fatores de risco, 45,72% encontra-se com sobrepeso e/ou obesidade;

    97,15% das mulheres e 77,13% dos homens tm circunferncia abdominal acima dos padres

    aceitveis; 42,86% apresentaram nveis normais de presso arterial e 47,62% de glicemia;

    85,7% no so tabagistas e 91,4% no consomem bebida alcolica; 51,4% so sedentrios;

    31% dos homens demonstraram nvel mdio de estresse e 34% das mulheres nvel elevado;

    54,2% so hipertensos e fazem tratamento regular, enquanto 81,4% referiram no ter diabetes;

    e 66% no apresentaram histria familiar para DCV. O percentual de participantes com dois

    ou mais fatores de risco totaliza 95,85%, com maior frequncia entre as mulheres (99,41%). A

    partir dos dados levantados, observa-se que os idosos esto expostos a variados fatores de

    risco para desenvolver DCVs, sendo esse percentual maior nas mulheres, o que gera a

    necessidade de intensificar os programas de ateno sade que reforcem a importncia da

    preveno dos fatores de risco para doenas cardiovasculares.

    Descritores: Doenas cardiovasculares. Fatores de risco. Idosos.

  • 7

    ABSTRACT

  • 8

    LISTA DE ILUSTRAES

    Grfico 1 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco

    tabagismo, segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013 ...................................

    54

    Grfico 2 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco consumo

    de bebida alcolica, segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013. ...................

    55

    Grfico 3 - Distribuio percentual dos participantes quanto prtica de atividade

    fsica, segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013...........................................

    56

    Grfico 4 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco nvel de

    estresse, segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013........................................

    57

    Grfico 5 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco

    Hipertenso Arterial Sistmica (HAS), segundo a varivel sexo. Cuit PB,

    2013 .................................................................................................................

    59

    Grfico 6 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco Diabetes

    Mellitus (DM), segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013.............................

    60

    Grfico 7 - Distribuio percentual dos participantes quanto ao fator de risco Histria

    familiar de Doena Cardiovascular, segundo a varivel sexo. Cuit PB,

    2013 .................................................................................................................

    61

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Caracterizao socioeconmica e demogrfica dos participantes segundo a

    varivel sexo. Cuit PB, 2013 .......................................................................

    42

    Tabela 2 - Exposio de idosos a fatores de risco para doenas cardiovasculares

    segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013 ......................................................

    47

    Tabela 3 - Exposio aos fatores de risco para doenas cardiovasculares associados

    bioqumica sangunea segundo a varivel sexo. Cuit PB, 2013 ..................

    50

    Tabela 4 - Simultaneidade dos fatores de risco cardiovasculares modificveis* em

    idosos, segundo a varivel sexo. Cuit - PB, 2013 ..........................................

    62

  • 10

    SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................................. 11

    1.1 Objetivos .......................................................................................................................... 15

    1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................................ 15

    1.1.2 Objetivos Especficos ..................................................................................................... 15

    2 REVISO DA LITERATURA ........................................................................................ 16

    2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares .......................................................... 17

    2.2 Consideraes gerais sobre as principais doenas cardiovasculares .......................... 25

    2.3 Interrelao entre envelhecimento, doenas cardiovasculares e seus fatores

    de risco ............................................................................................................................

    29

    3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 34

    3.1 Tipo de Estudo ................................................................................................................. 35

    3.2 Local do Estudo ............................................................................................................... 35

    3.3 Populao e Amostra ...................................................................................................... 36

    3.4 Instrumento de Coleta de Dados .................................................................................... 37

    3.5 Procedimentos de Coleta de Dados ................................................................................ 37

    3.6 Anlise dos Dados ............................................................................................................ 39

    3.7 Aspectos ticos ................................................................................................................ 39

    4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS ........................................................... 41

    4.1 Caracterizao socioeconmica e demogrfica dos participantes .............................. 42

    4.2 Dados relacionados exposio aos fatores de risco para doenas

    cardiovasculares .............................................................................................................

    47

    5 CONSIDERAES FINAIS............................................................................................. 64

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 68

    APNDICES

    Apndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    Apndice B Instrumento de Coleta de Dados

    ANEXOS

    Parecer do Comit de tica em Pesquisa

    Termo de Autorizao Institucional

  • 11

    1 Introduo

  • 12

    As doenas cardiovasculares (DCV), definidas como um conjunto de doenas que

    afetam o sistema circulatrio, incluindo vasos sanguneos e corao, representam um

    importante problema de sade pblica devido sua complexidade e magnitude. Dados de um

    relatrio da Organizao Mundial da Sade (OMS) sobre doenas crnicas mostraram que as

    doenas cardiovasculares no ano de 2005 foram responsveis por 17.528.000 bitos em todo

    mundo, ocupando a primeira posio como causa de morte.

    No Brasil, segundo o Ministrio da Sade no ano de 2008, as doenas do aparelho

    circulatrio ocuparam a primeira posio como causas de bitos em todas as regies do pas

    (norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul), destacando-se as doenas cerebrovasculares e as

    doenas isqumicas do corao (BRASIL, 2009). No municpio de Cuit, estado da Paraba,

    que conta com uma populao de 19.978 habitantes, dados do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE, 2010) sobre as morbidades hospitalares mostra que dos 89

    bitos ocorridos entre os anos de 2005 a 2010, 29 (32,5%) foram decorrentes de doenas do

    aparelho circulatrio.

    Segundo Carvalho e Alfenas (2008), essas doenas apresentam etiologia multifatorial,

    decorrendo de fatores causais como susceptibilidade gentica, idade, presena de hipertenso

    arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, obesidade, inatividade fsica, hbitos alimentares

    inadequados, tabagismo, etilismo e estresse. Cada um desses fatores tem um modo de

    influenciar diretamente no desencadeamento das doenas cardiovasculares e quanto maior a

    exposio do indivduo aos fatores de risco, maior a possibilidade de adoecer, como apontam

    os estudos epidemiolgicos realizados nesta temtica.

    Para Smeltzer e Bare (2009), a incidncia de doena coronariana e infarto aumentam

    com a idade, sendo que mais da metade das pessoas com doenas coronarianas tem pelo

    menos 65 anos de idade e uma histria familiar positiva tambm est associada ao maior risco

    de desenvolver cardiopatia. Segundo Pinto (2008), a hipertenso atuando como fator de risco

    aumenta a carga de trabalho ventricular fazendo que ocorra o espessamento e aumento do

    corao, condies que podem levar insuficincia cardaca.

    Fatores como obesidade, nvel elevado de colesterol, sedentarismo e hbitos

    alimentares inadequados tambm se configuram como inimigos da sade cardiovascular. A

    obesidade, condio multifatorial caracterizada pelo acmulo excessivo de tecido adiposo

    corporal provoca alteraes fisiopatolgicas como o aumento nas propriedades inflamatrias,

    disfuno endotelial e alteraes do sistema nervoso autossmico, as quais promovem a

    instalao adicional de fatores de risco cardiovascular (MIRANDA; MARTINEZ;

    LATERZA, 2011).

  • 13

    O sedentarismo tambm constitui fator de grande relevncia, pois, alm de ser causa

    para obesidade e sobrepeso tambm favorece o aparecimento de doenas do aparelho

    cardiocirculatrio (SILVA et al., 2011). J no Diabetes Mellitus, distrbio metablico, as altas

    concentraes de glicose plasmtica levam ao desenvolvimento de degeneraes crnicas

    associadas falncia de diversos rgos, principalmente olhos, rins, corao, nervos e vasos

    sanguneos (BARBOSA; OLIVEIRA; SEARA, 2009).

    De acordo com a American College of Sports Medicine (ACSM, 2012), o tabagismo

    configura-se como um grave problema de sade pblica, uma vez que possibilita o aumento

    do risco de cncer e doenas cardiovasculares por ocasionar o aumento da frequncia

    cardaca, presso arterial, ritmos cardacos anormais e alterar negativamente os nveis de

    colesterol, causando danos aos vasos sanguneos e aumentando o risco de coagulao do

    sangue. No sistema cardiovascular, o consumo elevado e frequente de lcool esto associados

    ao aumento da presso arterial, desregulao de lipdeos e triglicerdeos e maior risco de

    infarto do miocrdio e doenas cerebrovasculares (SADOCK; ALCOTT, 2007). O estresse

    mental outro fator capaz de desencadear eventos cardiovasculares. A reao exacerbada ao

    estresse identifica indivduos com maior risco de desenvolver, hipertenso, infarto do

    miocrdio e morte sbita (NBREGA; CASTRO; SOUZA, 2007).

    Compreendendo que as doenas cardiovasculares so as principais causas de

    morbidade e mortalidade na populao brasileira e que muitos fatores de risco contribuem de

    modo significativo para o surgimento destas, segundo captulo da Classificao Internacional

    de Doenas (CID), as principais so: as doenas cerebrovasculares, as doenas isqumicas do

    corao, as hipertensivas, a aterosclerose e a insuficincia cardaca. Outras condies clnicas

    tambm categorizadas como doenas do aparelho circulatrio so: febre reumtica,

    aneurisma, prolapso da vlvula mitral, pericardite aguda, insuficincia da vlvula mitral e

    cardiomegalia (CID-10, 2007).

    A doena cerebrovascular, de acordo com a definio de Pimenta (2009) pode ser

    entendida como uma patologia que atinge vasos localizados no crebro, ocasionada por um ou

    mais fatores de riscos, que atingem desde a microcirculao cerebral at os grandes vasos

    cerebrais, como as artrias cartidas internas. O Acidente Vascular Cerebral o principal

    agravo cerebrovascular. Segundo dados do Ministrio da Sade, no Brasil em 2008, entre as

    doenas cardiovasculares, as cerebrovasculares ocuparam o primeiro lugar na mortalidade

    com 97.881bitos (BRASIL, 2010).

    No que se refere s doenas isqumicas, no ano de 2008, dados do Ministrio da

    Sade mostraram que elas foram a segunda maior causa de bitos no pas, sendo responsveis

  • 14

    por 94.912 mortes. Nessa categoria se enquadra o Infarto Agudo do Miocrdio (IAM),

    processo no qual as clulas miocrdicas no corao so destrudas de forma permanente

    medida que as clulas so privadas de oxignio; e a Angina, sndrome caracterizada por dor

    no peito, membro superior e pescoo, ocorre quando a oferta de oxignio ao miocrdio

    insuficiente para suprir a sua demanda, decorrente de esforo fsico, frio e agitao (RANG;

    DALE, 2007).

    A Hipertenso Arterial Sistmica (HAS), que alm de fator de risco tambm consiste

    em uma doena cardiovascular, definida como nveis pressricos sanguneos sustentados

    acima de 140/90 mmHg, resultando em aumento do tnus muscular vascular perifrico, da

    resistncia arteriolar e a reduo da capacitncia do sistema venoso (HOWLAND; MYCEK,

    2006). J a aterosclerose, definida como uma doena sistmica crnica caracteriza-se

    por leses inflamatrias arteriais que amadurecem e modificam-se com a progresso da

    doena, levando a deposio de lipdios na parede da camada ntima (MANTECUCCO;

    MACH, 2009; AZEVEDO; VICTOR; OLIVEIRA, 2010). A Insuficincia Cardaca (IC)

    consiste numa sndrome clnica caracterizada pela incapacidade do corao bombear sangue

    para satisfazer as necessidades de oxignio e nutrientes por parte dos tecidos (ANDRADE,

    2009).

    Reconhecendo a existncia de uma ligao intrnseca entre as doenas

    cardiovasculares e a populao idosa, pertinente ressaltar que na contemporaneidade, com

    expectativas de aumento deste segmento populacional no Brasil e no mundo, h uma forte

    tendncia da elevao da incidncia das doenas crnicas em idosos, sobretudo as doenas

    cardiovasculares. Estudo observacional de Vitor et al. (2009) sobre a prevalncia de fatores de

    risco para doenas cardiovasculares em pacientes geritricos atendidos em ambulatrio,

    mostrou que nos setenta e seis idosos estudados, fatores como obesidade, sobrepeso,

    hipertenso arterial sistlica, nveis elevados de colesterol total e LDL foram frequentes nessa

    amostra, fazendo-se presentes em mais da metade dos pacientes. Tambm foi identificado

    percentual significativo de nveis glicmicos elevados.

    Diante dessa realidade aumenta-se a preocupao com esta populao, haja vista os

    idosos apresentarem condies que os tornam mais susceptveis ao desenvolvimento de

    mltiplas doenas. Esta vulnerabilidade advm de alteraes celulares e extracelulares no

    idoso, as quais provocam modificaes no aspecto fsico e reduo da funo. A capacidade

    de manuteno da homeostasia reduzida e os sistemas orgnicos no funcionam com

    eficincia mxima em virtude dos dficits celulares e teciduais (SMELTZER; BARE, 2009).

  • 15

    Considerando assim o impacto das doenas cardiovasculares (DCV) nos idosos em

    termos de prevalncia, morbimortalidade e custos, haja vista ser uma populao exposta a

    diversos fatores predisponentes para doenas cardiovasculares, bem como a inexistncia na

    literatura de estudos na rea no municpio de Cuit PB, justifica-se a necessidade premente

    de identificar os fatores de risco para doenas cardiovasculares que a populao idosa est

    exposta.

    O interesse em estudar o tema surgiu devido identificao de afinidade com a rea de

    Ateno Sade do Adulto e do Idoso, a partir de vivncias em aulas tericas e prticas que

    abordavam a temtica das doenas que afetam o sistema cardiovascular e a importncia da

    assistncia sistematizada de enfermagem. Este fato, aliado aos momentos experimentados

    durante estgios em Unidades de Sade do municpio de Cuit PB, em que foi possvel

    conhecer melhor a populao e suas morbidades, despertou a motivao para desenvolver este

    estudo que visa responder o seguinte questionamento: quais fatores de risco cardiovasculares

    os idosos do municpio de Cuit esto expostos? Esse um conhecimento essencial para que

    se possam desenvolver estratgias que se voltem para preveno e controle eficaz das doenas

    cardiovasculares no segmento populacional estudado.

    1.1 Objetivos

    1.1.1 Objetivo Geral

    Identificar os fatores de risco para doenas cardiovasculares que esto expostos idosos

    assistidos na Estratgia Sade da Famlia no municpio de Cuit PB.

    1.1.2 Objetivos Especficos

    Descrever as caractersticas sociodemogrficas e econmicas dos sujeitos da pesquisa;

    Verificar o estilo de vida dos participantes do estudo e correlacion-lo com o risco de

    desenvolvimento de doenas cardiovasculares.

  • 16

    2 Reviso da Literatura

  • 17

    2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares

    Fator de risco cardiovascular pode ser definido como sendo o conjunto de fatores que

    aumentam a probabilidade de ocorrncia de uma doena no corao, artrias e veias. O

    conceito fator de risco para o desenvolvimento de doenas cardiovasculares (DCV) foi

    exposto pela primeira vez, a partir de um artigo do Framingham Heart Study, em

    1961, ligando a presena de condies antecedentes especficas como hipertenso arterial,

    nveis elevados de colesterol e/ou reduzidos de HDL-colesterol, tabagismo, diabetes mellitus

    e idade (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2012).

    Atualmente as causas de doenas cardiovasculares j esto bem conhecidas e

    determinadas. Estudos cientficos reconhecem vrios grupos de fatores de risco para

    desenvolv-las, sendo a classificao mais adotada a tradicional ou clssica, em que se

    destacam nesta categoria duas formas de agrupamento: os fatores de risco cardiovasculares

    modificveis e os nos modificveis (PINTO, 2008).

    Os fatores de risco modificveis, queles sobre o qual o indivduo pode exercer

    controle, podem ser modificados atravs da adoo de novos comportamentos ou um novo

    estilo de vida, e respondem por aproximadamente 80% da totalidade dos casos de doena

    cardaca coronariana e doena cerebrovascular. Entre eles podemos destacar a m

    alimentao, sedentarismo e consumo de sal (OMS, 2011). J os fatores de risco no

    modificveis so aqueles em que o indivduo no exerce controle, no pode alterar, pois

    independe de sua vontade, como a idade, o sexo, a histria familiar ou a sua raa

    (SMELTZER et al., 2009).

    A seguir, sero descritos cada um dos principais fatores de risco para doenas

    cardiovasculares:

    I Idade

    Os fatores de risco para as doenas cardiovasculares so mais prevalentes e mais graves

    com o aumento da idade, ocorrendo tambm maior tempo de exposio a esses fatores.

    Apesar de muitos idosos no apresentarem doenas evidentes, outras comorbidades, doenas

    subclnicas e alteraes funcionais e anatmicas acabam sendo desenvolvidas pelo prprio

    processo de envelhecimento, modificando assim a estrutura cardiovascular e facilitando a

    atuao dos mecanismos fisiopatolgicos das doenas (AFIUNE, 2011).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Art%C3%A9riahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Veia

  • 18

    Segundo estudo de Farias et al. (2009) sobre a mortalidade cardiovascular por sexo e

    faixa etria em So Paulo, no perodo de1996 a 1998 e 2003 a 2005, as DCV apresentam-se

    como importante causa de mortalidade em todas as faixas etrias, sendo essa importncia

    maior nos indivduos de 70 anos ou mais. Dentre o total de bitos por DCV registrados no

    municpio de So Paulo de 1996 a 1998 (62.833) e 2003 a 2005 (62.223), a proporo de

    bitos na faixa dos 20 a 29 anos foi de 0,9% (n=545) e 0,7% (n=412), respectivamente. Na

    faixa dos 70 anos ou mais, essa proporo atingiu 53,5% (n=33.622) e 57% (n=35.332) nos

    mesmos perodos.

    II Sexo

    Segundo Batlouni, Freitas e Savioli Neto (2011), at o ano de 2006 nos Estados

    Unidos, a principal causa de mortalidade em pacientes com 65 anos ou mais, no sexo

    feminino, foram as doenas cardiovasculares seguidas de neoplasias, das doenas

    cerebrovasculares (DCBV) e doenas pulmonares crnicas. No sexo masculino, para a mesma

    faixa etria, as principais causas de mortalidade foram as doenas cardiovasculares, seguidas

    de neoplasias, doenas pulmonares obstrutivas crnicas e DCV. O Ministrio da Sade

    (BRASIL, 2006) destaca como fator de risco cardiovascular ser homem com idade acima de

    45 anos e mulher acima de 55 anos.

    III Histria Familiar

    De acordo com Pinto (2008), a histria familiar permite realizar clinicamente, de

    forma no invasiva, simples e rpida, o estudo gentico de cada indivduo, explicando porque,

    uns desenvolvem sinais de doena prematura e outros no. Os parentes em primeiro grau, de

    pessoas com doena coronria, tm maior risco de desenvolver a doena do que a populao

    em geral.

    Os fatores de risco cardiovasculares so na sua maioria hereditrios e, por essa razo,

    influenciados por fatores genticos. A histria familiar representa interaes nicas,

    genmicas e ecolgicas, que interferem no perfil metablico durante a vida de uma famlia.

    do conhecimento comum que a histria familiar de DCV um fator preditivo do risco

    cardiovascular de um indivduo, mesmo depois de se ajustar o risco, levando-se em

    considerao os fatores de risco pessoais como a hipertenso, tabagismo e nveis de

    lipoprotenas alterados (BOURBON, 2008).

  • 19

    A maioria dos fatores de risco cardiovasculares tem uma forte ligao com fatores

    genticos, sendo que em alguns casos a relao mais linear do que em outros. Tem-se

    conhecimento, por exemplo, que o colesterol elevado pode ser de origem gentica quando o

    doente apresenta uma mutao patognica no gene que codifica para o receptor das LDL, no

    gene que codifica para a Apo B ou para a Pro protena convertase subtilisinaquexina tipo 9

    (PCSK9). Desta forma a mutao em um destes genes afeta a funo da protena, sendo que

    normalmente o alelo com a mutao no produz uma protena funcional causando deste modo

    a Hipercolesterolemia Familiar, uma doena monognica com transmisso mendeliana e com

    elevado risco cardiovascular (BOURBON, 2008).

    IV Hipertenso Arterial Sistmica

    A hipertenso arterial sistmica (presso sangunea elevada) a fora exercida pelo

    sangue na parede das artrias decorrente do bombeamento do corao, constituindo-se assim

    como uma presso sangunea sustentada igual ou maior que 140/90 mmHg. um problema

    comum nos idosos, sendo fator de risco de grande significatividade para o desenvolvimento

    de doena cardiovascular (ROACH, 2009).

    Essa doena acomete uma em cada quatro pessoas adultas e estima-se que atinja em

    torno de 25% da populao brasileira adulta, chegando a mais de 50% aps os 60 anos e

    estando presente em 5% das crianas e adolescentes. A hipertenso responsvel por 40%

    dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficincia renal terminal.

    (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSO, 2012). No sistema cardiocirculatrio, de

    acordo com Pinto (2008), a doena aumenta a carga de trabalho do corao, provocando

    hipertrofia do msculo cardaco, em particular o ventrculo esquerdo, o que pode levar ao

    desenvolvimento de insuficincia cardaca. Tambm favorece o aparecimento da

    arteriosclerose, aumentando a probabilidade de formao de cogulos sanguneos, trombo-

    embolias e rotura dos vasos sanguneos.

    De acordo com Freitas et al. (2011), o mecanismo bsico que explica o aumento da

    presso sistlica com o avanar da idade a perda da distensibilidade e elasticidade dos vasos

    de grande capacitncia, resultando em aumento da onda de pulso. Nessas condies, a presso

    diastlica tende a ficar normal ou at baixa devido reduo da complacncia dos vasos de

    grande capacitncia. No idoso observa-se um aumento ntido da resistncia perifrica com

    reduo do dbito cardaco consequente da aterosclerose, o que leva ao processo de

    envelhecimento do vaso.

  • 20

    O envelhecimento pode determinar modificaes tanto na arquitetura como na

    composio da parede vascular. Entre essas modificaes esto a liberao de menor

    quantidade de xido ntrico, que um importante fator de relaxamento vascular; a diminuio

    da sensibilidade da musculatura lisa vascular aos efeitos da endotelina, um potente

    vasoconstritor; o dimetro dos vasos e do contedo de colgeno aumenta; e ocorre

    fragmentao das elastinas arteriais e deposio lipdica de clcio, com concomitante perda de

    elasticidade. Todas essas alteraes observadas no idoso podem interagir com outros potentes

    fatores de risco cardiovascular, como dislipidemias, obesidade e diabetes (FREITAS et al.,

    2011).

    A maioria das pessoas com hipertenso arterial no apresenta nenhum sintoma no

    incio da doena. Quando presentes, os sintomas atribudos ao aumento de presso so dor de

    cabea, cansao, tonturas, sangramento pelo nariz, porm podem no estar associados

    hipertenso. A nica forma de saber se sofre da doena verificando a presso arterial

    regularmente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSO, 2012).

    V Diabetes Mellitus

    O Diabetes Mellitus (DM), de acordo com Jenna e Barry (2012), do American

    Collegeof Sports Medicine (ACSM), constitui-se um fator de risco cardiovascular,

    caracterizando-se por nveis elevados de glicemia na corrente sangunea. Os nveis normais

    em jejum variam de 60-100mg/dL. Com o decorrer do tempo o corpo torna-se menos eficiente

    em permitir que a glicose do sangue seja transportada aos msculos, para ser utilizado como

    energia, ocorrendo, por conseguinte, o aumento dos nveis glicmicos, refletindo no

    desenvolvimento de danos aos vasos sanguneos e as artrias coronrias.

    um distrbio metablico que resulta em vrios graus de insuficincia de insulina,

    podendo ser classificada em dois tipos principais: o DM tipo 1 ou insulinodependente

    (DMID) e o DM tipo 2 no insulinodependente (DMND).

    No DM tipo 1 a produo de insulina insuficiente ou de qualidade deficiente, ou uma

    conjugao dos dois, resultando assim nas clulas do organismo que no conseguem absorver

    do sangue a glicose necessria ainda que seu nvel se mantenha elevado e seja expelido.

    Aparece com maior frequncia nas crianas e nos jovens, podendo tambm ser diagnosticada

    em adultos e at em idosos. No tipo 2 o pncreas capaz de produzir insulina, mas a

    alimentao incorreta e a vida sedentria torna o pncreas resistente ao da insulina,

  • 21

    obrigando aumentar sua atividade, at que a insulina que produz deixa de ser suficiente

    (MELO, 2010).

    Os sintomas apresentados so polidipsia, poliria, viso turva, perda ponderal e

    hiperfagia, e em suas formas mais graves, cetoacidose ou estado hiperosmolar no-cettico.

    Frequentemente as manifestaes clnicas no so evidentes ou esto ausentes, principalmente

    no estgio de pr-diabetes. Desta forma, a hiperglicemia pode j estar presente muito tempo

    antes do diagnstico da doena. Consequentemente, o diagnstico de DM ou pr-diabetes

    descoberto em decorrncia de resultados anormais de exames de sangue ou de urina

    realizados em avaliao laboratorial, ou quando da descoberta de complicao relacionada ao

    DM (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2012).

    Os idosos constituem um grupo especfico em que o Diabetes manifesta-se e os

    sintomas caractersticos costumam estar ausentes ou os menos comuns podem ocorrer.

    Enquanto nos jovens a glicosria pode ser observada com valores de glicemia acima de 180

    mg/dL, nos idosos geralmente s ocorre quando a glicemia ultrapassa 220 mg/dL, em virtude

    de uma menor taxa de filtrao glomerular nesta faixa etria. Nesta populao comum

    reduo nos mecanismos da sede, sendo a presena de sintomas como mialgia, fadiga,

    adinamia, estado confusional e incontinncia urinria frequente. Outro sintoma apresentado

    a diurese osmtica e ocorre quando os nveis glicmicos se tornam muito elevados, podendo

    levar aos sinais e sintomas como (poliria, polidipsia e perda ponderal). Com frequncia,

    estes indivduos apresentam queixas de turvao visual, presena de infeces fngicas e

    bacterianas que podem ser o primeiro sinal de descompensao glicmica tanto em idoso

    quanto nos mais jovens (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2012).

    VI Obesidade

    Obesidade o aumento da gordura corporal, em comparao com a massa magra, de

    etiologia multifatorial, que ocorre em consequncia de alteraes metablicas das clulas

    adiposas. uma doena epidmica, responsvel pelo aumento na incidncia de doenas

    crnicas nas quais os riscos de morbidade e mortalidade esto relacionados com o grau de

    sobrepeso. O nmero de obesos tem aumentado drasticamente nos ltimos anos, e esse

    aumento tem sido observado tambm entre os idosos, gerando implicaes negativas pelo

    impacto na qualidade de vida e independncia com limitao na execuo das atividades de

    vida diria e na mobilidade (HAGEMEYER; REZENDE, 2011).

  • 22

    A obesidade uma das patologias nutricionais que mais tem apresentado nveis de

    prevalncia, tanto nos pases desenvolvidos como nos pases em desenvolvimento, assumindo

    assim propores epidmicas, o que inclui o Brasil (PINTO, 2011). A obesidade definida

    como um distrbio nutricional e metablico caracterizado pelo aumento de massa adiposa no

    organismo, refletindo em um aumento de peso corpreo (HERNANDES; VALENTINI,

    2010).

    De acordo com a Organizao Mundial da Sade (2012), o sobrepeso e a obesidade

    constituem o quinto maior risco para ocorrncia de mortes globais. A cada ano morrem 2,8

    milhes de adultos como resultado do excesso de peso ou obesidade. Alm disso, 44% da

    carga de diabetes, 23% da carga de doena isqumica do corao e entre 7% e 41% dos

    encargos de cncer esto atribudos ao sobrepeso e obesidade. No ano de 2008 estimava-se

    que 1,5 bilhes de adultos, com 20 anos ou mais estavam acima do peso e destes mais de 200

    milhes de homens e cerca de 300 milhes de mulheres eram obesos. A causa fundamental da

    obesidade e do sobrepeso o desequilbrio energtico entre calorias consumidas e calorias

    gastas. Percebe-se que no mundo tem havido um aumento da ingesto de alimentos com

    energia densa que so ricos em gordura, sal e acares, mas pobres em vitaminas, minerais e

    outros micronutrientes, e uma diminuio da atividade fsica, devido natureza cada vez mais

    sedentria de muitas formas de trabalho, mudando os modos de transporte e urbanizao.

    A obesidade configura-se como fator de risco independente para DCV, incluindo

    DAC, infarto do miocrdio (IM), angina, insuficincia cardaca congestiva (ICC), acidente

    vascular cerebral, hipertenso e fibrilao atrial. Essa sndrome tambm causa de

    incapacidade funcional, reduo da qualidade e expectativa de vida e aumento da mortalidade.

    Condies crnicas, como doena renal, osteoartrose, cncer, Diabetes Mellitus tipo 2, apneia

    do sono, doena heptica gordurosa no alcolica (DHGNA), HAS e, mais importante, DCV,

    esto diretamente relacionadas com incapacidade funcional e com a obesidade (ABESO,

    2012).

    VII Dislipidemias

    Dislipidemias, tambm chamadas de hiperlipidemias, referem-se ao aumento dos

    lipdios no sangue e constituem fator de risco para doenas cardiovasculares (DCV). Os trs

    componentes bsicos de dislipidemia so LDL (lipoprotena de baixa densidade), HDL

    (lipoprotena de alta densidade) e triglicerdeos. Partculas de LDL e triglicrides contribuem

    para a formao de bloqueios nas artrias coronrias, aumentando o risco de doena

  • 23

    cardaca. Inversamente, as partculas de HDL ajudam a remover o colesterol LDL de

    circulao, reduzindo o risco de doenas cardiovasculares. Os nveis ideais de lipdios e

    lipoprotenas, incluem um colesterol total de menos 200mg/dL, LDL inferior a 100mg/dL,

    HDL acima de 40mg/dL, e nveis de triglicerdeos abaixo de 150mg/dL (ACSM, 2012).

    As formas graves de dislipidemia podem ser acompanhadas de sinais clnicos

    caractersticos, como presena de xantomas tuberosos tendneos, arco corneal e xantelasmas

    nas hipercolesterolemias (especialmente a hipercolesterolemia familiar), xantomas eruptivos

    nas hipertrigliceridemias, alteraes retinianas nas hipertrigliceridemias, xantomas planares

    nas hipoalfalipoproteinemias e deposies lipdicas em rgos linfides, como na doena de

    Tangier e opacificaes de crnea (IZAR, 2011).

    VIII Tabagismo

    O tabagismo um dos hbitos mais potentes e viciantes, sendo uma das maiores

    ameaas para a sade no mundo atual e futuro. Alm disso, enquanto a prevalncia do

    consumo de tabaco diminuiu entre os homens em alguns pases de alta renda, est

    aumentando entre os jovens e as mulheres. Em mdia, 47,5% dos homens e 10,3% das

    mulheres so fumantes. O Tabaco continua a ser a segunda maior causa de morte no

    mundo. Em 2030, se as tendncias atuais continuarem, as mortes associadas ao fumo devem

    ultrapassar os nove milhes (YANBEAVA et al., 2007).

    As principais consequncias da exposio fumaa do cigarro para o sistema

    cardiovascular incluem os acidentes vasculares cerebrais agudos, a angina do peito, o infarto

    do miocrdio, doena coronariana e a morte sbita cardaca por isquemia miocrdica. Os

    mecanismos pelos quais o tabagismo aumenta o risco de doena cardaca so mltiplos e

    interagem uns com os outros. Esses mecanismos incluem aumento da agregao plaquetria,

    vasoconstrico, disfuno endotelial, aumento da rigidez arterial, aumento da aterosclerose,

    aumento do estresse oxidativo, aumento do tamanho do infarto e diminuio da defesa

    antioxidante, inflamao, diminuio da produo energtica no msculo cardaco e uma

    diminuio da atividade do sistema parassimptico (OLIVEIRA, 2009).

    IX Alcoolismo

    O etanol consumido, pelo menos em parte, pelas suas propriedades de alterar o

    humor. Quando usado com moderao, socialmente aceitvel e no lesivo, todavia, quando

  • 24

    utilizado em excesso, o lcool pode causar acentuado dano fsico e psicolgico. O uso abusivo

    do lcool um risco muito difundido e causa a morte de muitas pessoas. Estima-se que 50%

    dos adultos do mundo ocidental bebem lcool, e cerca de 5% a 10% tem alcoolismo crnico

    (KUMAR et al., 2008).

    O lcool tem vrios efeitos sobre o sistema cardiovascular, como leso do miocrdio

    que pode levar ao aparecimento de cardiomiopatia congestiva dilatada (cardiomiopatia

    alcolica). O consumo exagerado causa leso heptica acompanhante, resultando em

    concentraes diminudas de HDL, aumentando a probabilidade de cardiopatia coronariana.

    Alcoolismo crnico tambm se associa a uma incidncia aumentada de hipertenso (KUMAR

    et al., 2008). O lcool agride o corao de pessoas que no costumam beber com frequncia,

    aumentando a produo cardaca em repouso, a frequncia cardaca e o consumo de oxignio

    pelo miocrdio (SADOCK; ALCOTT, 2007).

    X Sedentarismo

    O sedentarismo est aumentando em muitos pases e tem implicaes importantes para

    as doenas no transmissveis (DNT), tais como as doenas cardiovasculares e diabetes. A

    inatividade fsica est associada com 3,2 milhes de mortes por ano, incluindo 2,6 milhes em

    pases de baixa e mdia renda; mais de 670.000 mortes prematuras (pessoas com idade

    inferior a 60 anos); cerca de 30% de diabetes e os encargos de cardiopatia isqumica. Entre as

    razes para o sedentarismo esto a pouca participao em atividades fsicas no lazer, durante

    atividades domsticas e ocupacionais, como tambm o uso dos modos de transporte. O

    aumento da urbanizao resultou em vrios fatores ambientais que podem desencorajar a

    participao em atividades fsicas, tais como: violncia de alta densidade de trfego, baixa

    qualidade do ar, poluio, falta de parques, caladas e esportes/recreao (OMS, 2011).

    As doenas mais comumente causadas ou agravadas pelo sedentarismo so as doenas

    coronarianas, a obesidade, a hipertenso, o diabetes e a depresso (BENVEGN JNIOR,

    2011). De acordo com Gouveia et al. (2007), o estilo de vida sedentrio tende a aumentar nas

    sociedades desenvolvidas, com efeito negativo na qualidade de vida, apresentando maiores

    taxas de mortalidade e morbidade cardiovascular e risco acrescido de obesidade. Segundo o

    American College of Sports Medicine (2012), a inatividade em qualquer idade resulta no

    desenvolvimento de doenas crnicas como obesidade, diabetes tipo 2 e doena

    cardiovascular, como tambm podem levar morte prematura. Para os adultos mais velhos, a

  • 25

    inatividade pode levar perda de massa muscular, coordenao e equilbrio. Estas perdas vo

    limitar a sua capacidade para realizar tarefas dirias e pode comprometer sua independncia.

    XI Estresse

    O estresse pode ser compreendido como um conjunto de reaes do organismo,

    caracterizadas pelo desequilbrio da homeostase, em resposta a presena de ameaas e/ou

    agresses de estmulos ambientais, de origem psquica ou fsica, inusitados ou hostis. Ele

    contribui para ocorrncia de grande nmero de enfermidades, tanto de ordem psquica como

    orgnica. O que tem se observado que existe associao entre distrbios emocionais e

    alteraes nas funes viscerais, como a hipertenso arterial, se evidencia quando as

    estruturas lmbicas, responsveis pelas emoes, so acionadas e produzem respostas

    cardiovasculares e respiratrias. O que se pode inferir das relaes pesquisadas que o risco

    de desenvolvimento da hipertenso arterial e a reatividade cardiovascular parecem ser

    influenciados por fatores emocionais como impulsividade, hostilidade, estressores, ansiedade

    e raiva (FONSECA et al., 2009).

    2.2 Consideraes gerais sobre as principais doenas cardiovasculares

    De acordo com a Organizao Mundial de Sade (OMS, 2011), as doenas

    cardiovasculares so a principal causa de morte em todo o mundo. Calcula-se que no ano de

    2005, morreram 17 milhes de pessoas, destas 7,2 milhes foram decorrente de Doena

    Isqumica (DIC) e 5,7 por Acidente Vascular Enceflico (AVE). Essas mortes ocorrem

    igualmente para ambos o sexos, sendo mais de 80% em pases de baixa e media renda. A

    estimativa para o ano de 2030 que morrero cerca de 23,6 milhes de pessoas por DCV,

    principalmente por Doena Cardaca e Acidente Vascular Enceflico devendo manter-se

    nessa projeo.

    As mortes por Doenas Cardiovasculares ocorrem em 82% dos indivduos com 65

    anos ou mais, refletindo assim, grande incidncia e prevalncia dessas doenas nessa

    populao. A prevalncia das Doenas Cardiovasculares como Hipertenso, Doena

    coronariana, Insuficincia Cardaca e Acidente Vascular Enceflico tendem a aumentar

    aproximadamente 40% em indivduos entre 40 a 59 anos, para 70 a 75 % entre indivduos de

    60 a 79 anos e ultrapassa 80% de prevalncia entre indivduos acima de 80 anos (FREITAS,

    2010).

  • 26

    O Acidente Vascular Enceflico (AVE) uma doena de incio sbito, caracterizada

    por perturbao focal e global da funo cerebral, de origem vascular e, cujos sinais persistem

    por mais de 24 horas. Tem origem a partir da deposio de gordura na parede dos vasos

    cerebrais, formao de hemorragias ou cogulos de sangue. Os sintomas mais comuns

    incluem dormncia sbita unilateral na face, braos ou pernas, confuso, dificuldade para

    falar ou entender a fala; dificuldade de enxergar com um ou ambos os olhos, dificuldade em

    andar, tonturas, perda de equilbrio ou coordenao, dor de cabea severa de causa

    desconhecida, e fraqueza ou perda de conscincia (OMS, 2011). Agnol et al. (2010), em seu

    trabalho sobre a identificao dos fatores de risco modificveis em pacientes internados com

    AVE, mencionam os seguintes fatores de risco que podem contribuir para seu

    desenvolvimento: a hipertenso arterial sistmica (HAS), o abuso de lcool, sedentarismo,

    tabagismo, diabetes mellitus, cardiopatias, hipercolesterolemia e uso de contraceptivos orais.

    No Brasil as doenas cardiovasculares ocorrem na proporo de um para cada trs

    bitos. Em nvel mundial, o infarto agudo do miocrdio (IAM), doena do aparelho

    cardiocirculatrio, possui relevante impacto em termos de mortalidade e nmero de

    hospitalizaes (SOARES; NASCIMENTO, 2009). O IAM refere-se a um processo pelo qual

    uma ou mais regies do corao apresentam diminuio intensa e prolongada no suprimento

    de oxignio devido insuficincia do fluxo sanguneo coronrio, consequentemente

    ocasionando a morte do tecido miocrdico. A principal causa do infarto a aterosclerose,

    processo no qual placas de gordura se desenvolvem no interior das artrias coronrias, criando

    dificuldade passagem do sangue. Outros fatores etiolgicos incluem espasmo da artria

    coronria, embolia, doenas infecciosas que causam inflamao arterial, hipxia, anemia,

    esforo ou estresse intenso na presena da Doena da Artria Coronria (NETTINA, 2007).

    A incidncia de IAM em pessoas na faixa etria de 65 a 74 anos dez vezes maior do

    que entre pessoas de 35 a 44 anos (FREITAS, 2010). Aproximadamente 10% dos IAMs

    ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. Brancos e negros so igualmente afetados. Os

    homens apresentam maior risco do que as mulheres, embora a diferena diminua com a idade.

    As mulheres so protegidas contra o Infarto durante sua vida frtil, entretanto com o perodo

    de menopausa quando h reduo do hormnio estrognio ocorre o aumento do risco

    (KUMAR et al., 2008).

    Os sintomas que indicam um IAM abrangem dor no peito no aliviada com o repouso

    ou nitroglicerina. A dor ocorre de repente na rea subesternal inferior, de intensidade forte e

    excruciante, durando vrias horas do dia. O indivduo pode queixar-se de presso no peito,

    ombros, irradiando-se para os braos, geralmente o esquerdo, no pescoo e maxilar. A dor que

  • 27

    o paciente idoso sente no IM pode ser atpica, como o desmaio. Pacientes com demncia

    podem no conseguir expressar sensaes de dor. Os idosos com IAM podem no relatar dor

    no peito, por apresentarem menor percepo da dor ou terem aprendido a ignorar os sintomas,

    aparentemente esperando certa intensidade de dor com o progredir da idade (ROACH, 2009).

    Outro agravo coronariano a Angina, definida como uma sndrome clnica

    caracterizada pela presena de sintomas como desconforto no peito, mandbula, ombros,

    costas, brao e que agravada por esforo ou estresse emocional e aliviada por repouso

    ou nitroglicerina. A Angina ocorre como resultado de uma obstruo aterosclertica e 70%

    dos casos ocorre em pelo menos uma grande artria epicrdica, o que leva a um desequilbrio

    entre a oferta de sangue e demanda de oxignio do miocrdio (AMERICAN HEART

    ASSOCIATION, 2009). Outras causas incluem a doena cardaca valvar, cardiomiopatia

    hipertrfica, hipertenso no controlada, vasoespasmo e disfuno do endotlio sem relao

    com a aterosclerose (OTOOLE, 2008).

    So reconhecidos trs tipos de angina: estvel, instvel e variante. A Angina estvel

    uma dor previsvel que ocorre por esforo fsico. Ela acontece decorrente do aumento da

    demanda sobre o corao, ocasionada por um estreitamento fixo dos vasos coronarianos quase

    sempre por ateroma. Na Angina Instvel a dor ocorre com cada vez menos esforo fsico,

    podendo acontecer no repouso. Essa patologia semelhante envolvida no IAM, com a

    presena de trombo de plaquetas e fibrina associada a uma placa ateromatosa rota, mas sem

    ocluso completa do vaso. A Angina Variante, por sua vez, ocorre em repouso causado por

    vasoespasmo da artria coronria (RANG; DALE, 2007).

    A aterosclerose, quarta categoria de doena cardiovascular mencionada neste captulo,

    uma doena degenerativa crnica dos vasos, caracterizada por um processo inflamatrio

    ocasionado por hipercolesterolemia. Ela d origem a complicaes clnicas agudas que

    incluem o IAM e o AVE, resultantes da ruptura da placa de ateroma e trombose (AQUINO,

    2010).

    Segundo Nettina (2007), a placa constituda de macrfagos repletos de lipdios,

    fibrina, produtos de dejeto celular e protenas plasmticas, cobertas por uma camada externa

    fibrosa. A placa formada quando o endotlio lesado por lipoprotenas de baixa densidade

    (LDL), subprodutos da fumaa do cigarro, hipertenso, hiperglicemia, infeco, aumento do

    nvel de hemocistena, hiperfibrinogenemia e lipoprotena A. A ocorrncia de uma resposta

    inflamatria, torna o endotlio pegajoso e, com isso, atrai outras molculas de adeso, com o

    passar do tempo, a placa se espessa, aumenta de tamanho e se calcifica, causando uma

    obstruo gradativa da luz do vaso. No final do processo, as leses se complicam e podem

  • 28

    causar obstruo coronria significativa atravs da hemorragia e ulcerao da placa. Esse

    processo aterosclertico comea na tenra infncia e continua durante toda a vida.

    Em pacientes susceptveis, a aterosclerose se desenvolve a partir da influncia de

    condies que lesam o endotlio, como envelhecimento, hipertenso arterial sistmica,

    hipercolesterolemia, diabetes, tabagismo e a prpria obesidade. Esses fatores danificam o

    endotlio e estimulam uma reao inflamatria proliferativa na parede vascular (GOMES et

    al., 2009).

    Outro agravo do corao a ser abordado a Insuficincia cardaca (IC). No grupo das

    doenas cardiovasculares, a IC apresenta elevada taxa de internao hospitalar, morbidade e

    mortalidade, consumindo grandes recursos financeiros do sistema de sade no Brasil e em

    outros pases (GUSTAVO, 2012). De acordo com Arajo, Machado Neto e Arajo (2011), a

    IC pode ser caracterizada como um comprometimento da funo do corao devido falha

    em uma das cavidades que perde a capacidade de ejetar com eficincia todo sangue que

    chega. Ela pode se desenvolver de duas formas: Insuficincia Cardaca Aguda, que um

    acontecimento sbito e catastrfico que ocorre devido a qualquer situao que torne o corao

    incapaz de uma ao eficaz; e a Insuficincia Cardaca Congestiva, uma condio crnica que

    se desenvolve gradualmente, s vezes durante anos.

    Entre as principais causas de origem da IC esto hipertenso arterial, a doena

    arterial coronria e a disfuno ventricular, que se apresentam com maior frequncia em

    homens acima de 25 anos. No Brasil, a principal etiologia da IC a cardiopatia isqumica

    crnica associada hipertenso arterial. Em determinadas regies geogrficas do pas e em

    reas de baixas condies socioeconmicas, ainda existem situaes especiais de IC, como

    associadas doena de Chagas, endomiocardiofibrose e a cardiopatia valvular reumtica

    crnica (ANDRADE, 2009).

    A IC a primeira causa cardiovascular de hospitalizao no pas. Em 2007 a IC foi

    responsvel por 2,6% das hospitalizaes e por 6% dos bitos registrados pelo SUS-MS no

    Brasil, consumindo 3% do total de recursos utilizados para atender todas as internaes

    realizadas pelo sistema (ANDRADE, 2009). No estado da Paraba no ano de 2009 ocorreram

    6.945 internaes decorrentes da IC, sendo a taxa de mortalidade de 8,45%. O sexo masculino

    foi o mais acometido pela doena com 3.622 internaes. Entre a faixa etria de 40 a 44 anos

    constatou-se um aumento de mais de 50% nas internaes que no refletida na taxa de

    mortalidade at a faixa de 70 a 74 onde ocorre um aumento drstico da morbidade e

    mortalidade. Observou-se, tambm, que aps os 40 anos aumenta muito a quantidade de

  • 29

    internaes nos hospitais devido ao desgaste cardaco ocorrido com o passar dos anos

    (ARAUJO; MACHADO NETO; ARAUJO, 2011).

    Entre as doenas cardiovasculares a hipertenso arterial sistmica (HAS) uma

    doena altamente prevalente em indivduos idosos. De acordo com o Ministrio da sade a

    HAS definida como presso arterial sistlica maior ou igual a 140 mmHg e uma presso

    arterial diastlica maior ou igual a 90 mmHg, em indivduos que no esto fazendo uso de

    medicao anti-hipertensiva. A HAS a mais frequente das doenas cardiovasculares e o

    principal fator de risco para complicaes como acidente vascular cerebral, infarto agudo do

    miocrdio, alm da doena renal crnica terminal. No Brasil so cerca de 17 milhes de

    portadores de hipertenso arterial, o equivalente a 35% da populao de 40anos e mais. Ela

    responsvel por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por 25% das

    mortes por doena arterial coronariana e, em combinao com o diabetes, 50% dos casos de

    insuficincia renal terminal (BRASIL, 2006).

    De acordo com Freitas et al. (2011), a hipertenso uma doena altamente prevalente

    em indivduos idosos, constituindo-se um fator determinante na morbidade e mortalidade

    elevada dessa populao. Ela est presente em mais de 60% dos idosos, frequentemente

    associada a outras doenas, como a arteriosclerose e o diabetes mellitus, conferindo a esses

    indivduos alto risco para a morbimortalidade cardiovascular.

    Para Jobim (2008), so trs fatores principais que esto implicados na gnese da

    hipertenso no idoso: a distensibilidade da aorta, o volume do ventrculo esquerdo e a

    velocidade de ejeo do ventrculo esquerdo. Com o avanar da idade ocorrem alteraes nas

    propriedades da artria aorta, ela desenvolve processos aterosclerticos que a torna mais

    rgida, diminuindo assim a sua distensibilidade; ocorrem tambm outras alteraes com o

    idoso, como a diminuio da frequncia cardaca, da resposta contrtil do miocrdio,

    diminuio da complacncia arterial e elevao da ps-carga. Essas modificaes juntas

    contribuem para a reduo do debito cardaco, da frao de ejeo ventricular e da capacidade

    mxima de trabalho do ventrculo esquerdo.

    2.3 Interrelao entre envelhecimento, doenas cardiovasculares e seus fatores de risco

    O envelhecimento um processo do desenvolvimento normal, envolvendo alteraes

    neurobiolgicas estruturais, funcionais e qumicas. Fatores ambientais e socioculturais tambm

    atuam sobre o organismo, entre eles podemos citar a qualidade e estilo de vida, dieta,

    sedentarismo e exerccio, no qual esto ligados ao envelhecimento fisiolgico ou patolgico

  • 30

    (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). Para Oliveira, Rezende e Moraes (2010), o

    envelhecimento pode ser definido como processo biolgico complexo relacionado a fatores

    intrnsecos, prprios do organismo, como a apoptose (morte celular programada), e extrnsecos,

    fatores do meio externo que vem atuar no indivduo, como doenas e estilo de vida.

    Enquanto o envelhecimento consiste em um processo desenvolvido ao longo do tempo,

    a velhice pode ser compreendida como a ltima fase do ciclo da vida, caracterizada pela

    reduo da capacidade funcional, calvcie, cabelos brancos, reduo da capacidade de trabalho

    e da resistncia, como tambm se associam perdas dos papis sociais, solido, perdas

    psicolgicas, motoras e afetivas. Na maioria das pessoas, tais manifestaes somticas e

    psicossociais comeam a se tornar mais evidentes a partir do fim da terceira dcada de vida ou

    pouco mais, ou seja, muito antes da idade cronolgica que demarca o incio da velhice. Deve

    ser assinalado que no h uma conscincia clara de que, por meio de caractersticas fsicas,

    psicolgicas, sociais e culturais e espirituais, possa ser anunciado o incio da velhice.

    (PAPALO NETTO, 2011)

    Para Santos (2010), a velhice a ltima fase do processo de envelhecer humano, no

    sendo, portanto, um processo como o envelhecimento, mas um estado que caracteriza a

    condio do ser humano idoso. As alteraes corporais no idoso incluem os cabelos brancos,

    calvcie, rugas, diminuio dos reflexos, compresso da coluna vertebral e enrijecimento

    articular. Entretanto estas caractersticas podem estar presentes sem, necessariamente, ser

    idoso, como possvel ser idoso e atravs de plsticas, uso de cremes e ginsticas especficas,

    mascarar-se a idade. Torna-se, ento, difcil, fixar a idade para entrar na velhice, pois no d

    para determinar a velhice pelas alteraes corporais.

    Conforme o autor anteriormente mencionado, o significado cronolgico do termo idoso

    diferente para pases em desenvolvimento e pases desenvolvidos. Nos primeiros,

    consideram-se idosas quelas pessoas com 60 anos e mais; nos segundos so idosas as pessoas

    com 65 anos e mais. Essa definio foi estabelecida pela Organizao das Naes Unidas, por

    meio da Resoluo n 39/125, durante a Primeira Assembleia Mundial das Naes Unidas

    sobre o Envelhecimento da Populao. Entretanto, o idoso no pode ser conceituado apenas

    pelo plano cronolgico, pois ele tem vrias dimenses: biolgica, psicolgica, social, espiritual

    e outras, que necessitam ser consideradas para determinar-se um conceito. Porm, v-se como

    necessria uma uniformizao com base cronolgica do ser humano idoso brasileiro, a ser

    utilizada, principalmente, no ensino. Para efeitos legais o Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741, de

    1 de outubro de 2003), estabelece que idoso a pessoa com idade igual ou superior a sessenta

    anos.

  • 31

    Com as atuais expectativas de aumento da populao idosa no Brasil, a tendncia das

    doenas crnicas eleva-se, sobretudo as doenas cardiovasculares. Estudo de Veras (2009),

    sobre o envelhecimento populacional contemporneo descreve que no Brasil a cada ano 650

    mil novos idosos so incorporados populao brasileira. Em outras palavras, o nmero de

    idosos passou de 3 milhes, em 1960, para 7 milhes, em 1975, e 20 milhes em 2008 - um

    aumento de quase 700% em menos de 50 anos.

    A doena cardiovascular a principal causa de mortalidade na populao idosa. Em

    aproximadamente 50% das pessoas entre 65 e 74 anos e em 60% daquelas com mais de 75 anos

    so encontradas evidncias de doena cardiovascular. Diante deste cenrio e com a maior

    parcela da populao alcanando idade avanada essas doenas continuaro a ser uma ameaa

    sade e ao bem estar dessas pessoas (ROACH, 2009).

    Estudos epidemiolgicos tm demonstrado que os principais fatores de risco para

    doenas coronarianas incluem as alteraes genmicas, metabolismo lipdico, diabetes mellitus

    e sedentarismo. Enquanto a hipertenso arterial, insuficincia cardaca e acidente vascular

    cerebral so consideradas as doenas cardiovasculares mais prevalentes. A idade o principal

    fator de risco cardiovascular global. Esses fatores de risco se tornam mais prevalentes e mais

    graves com o aumento da idade, alm maior tempo de exposio. Muitas vezes, processos

    patolgicos no so visveis, mas alteraes funcionais e anatmicas atuam modificando a

    estrutura cardiovascular, proporcionando maior fragilidade a mecanismos fisiopatolgicos

    (OLIVEIRA; REZENDE; MORAES, 2010).

    De acordo com Afiune (2011), com o avanar da idade, o corao e os vasos sanguneos

    apresentam alteraes morfolgicas e teciduais, mesmo sem a presena de doenas. O marco

    do envelhecimento cardiovascular em humanos so alteraes como o aumento da presso

    arterial sistlica, da presso de pulso, da massa do ventrculo esquerdo (VE), aumento na

    incidncia de doena arterial coronariana (DAC) e fibrilao arterial (FA).

    As principais modificaes anatmicas e funcionais que ocorrem no sistema

    cardiovascular como consequncia do envelhecimento no corao incluem: a diminuio do

    tamanho e flexibilidade da matriz de colgeno, deposio de lipdeos no miocrdio, infiltrao

    de lipdios e calcificao das vlvulas artica e mitral. Ocorre tambm a diminuio do

    enchimento diastlico ventricular esquerdo, diminuio do dbito cardaco em esforo mximo

    e da frao de ejeo. Nas artrias ocorrem redistribuio e rearranjo molecular da elastina e

    colgeno nas paredes arteriais, calcificao, perda de elasticidade dos vasos e acumulao de

    depsitos nas paredes e aumento da tenso sistlica (FERREIRA, 2010).

  • 32

    So duas as teorias que explicam o processo de envelhecimento cardiovascular: a teoria

    fisiolgica e a teoria orgnica. Segundo a teoria fisiolgica, as alteraes na matriz protica

    extracelular, especialmente no colgeno do corao e vasos do idoso, justificam um aumento

    progressivo da rigidez pericrdica, valvular, miocrdica e vascular associados idade. J a

    teoria orgnica envolve a teorias imunolgica e a neuroendcrina. A imunolgica explica que

    as alteraes no sistema cardiovascular so decorrentes de disfuno imunolgica programada.

    Por outro lado, a teoria neuroendcrina em associao com a fisiolgica, explica que o sistema

    cardiovascular sofre significativa reduo de sua capacidade funcional com o envelhecimento.

    Em repouso o idoso no apresenta reduo importante do dbito cardaco, mas em situaes de

    maior demanda, tanto fisiolgico (esforo fsico) como patolgicas (doena arterial coronria),

    os mecanismos para a sua manuteno podem falhar, resultando em processos isqumicos

    (AFIUNE, 2011).

    Diversos fatores esto envolvidos na origem das modificaes sofridas pelo corao da

    pessoa idosa, como o dano celular oxidativo direto relacionado a radicais livres, erros no

    mecanismo de reparo cromossmico e perda de informao gentica em decorrncia do

    encurtamento telomrico resultando em acmulo de mutaes somticas e alteraes na sntese

    protica, falhas na regulao apopttica resultando na substituio fibrosa dos micitos e tecido

    de conduo, hipertrofia dos micitos restantes, acmulo de agresses ambientais resultando

    em dficit funcional progressivo, aterosclerose e enrijecimento vascular global e substituio

    fibrosa e calcificao valvar mais evidente em mitral e artica (OLIVEIRA; REZENDE;

    MORAES, 2010).

    Os fatores de risco cardiovascular (FRCV) apresentam alta prevalncia e causam

    impacto na morbimortalidade dos idosos. A presena de fatores de risco cardiovascular ocorre

    mais de forma associada, o que caracteriza maior risco se comparado a atuao de cada fator de

    forma isolada. Alm da predisposio gentica, fatores ambientais podem contribuir para uma

    agregao de fatores de risco cardiovascular em famlias com estilo de vida pouco saudvel

    (FERREIRA et al., 2010).

    Estudo de Ferreira et al. (2010), sobre a prevalncia de fatores de risco cardiovascular

    em idosos usurios do Sistema nico de Sade de Goinia, mostrou que estes ocorreram de

    maneira simultnea em mais da metade dos idosos, e os mais prevalentes foram: hipertenso

    arterial, obesidade central e sedentarismo. As prevalncias foram: 80,4% de hipertenso

    arterial; 83,3% de obesidade central; 59,8% de sedentarismo; 32,2% de obesidade total; 23,4%

    de dislipidemias; 19,1% de diabetes mellitus; 10,0% de tabagismo e 5,9% de consumo de

    bebida alcolica. Quanto simultaneidade, 2,4% dos idosos no apresentaram FRCV. A

  • 33

    simultaneidade de dois ou mais FRCV ocorreu em 87,3% dos idosos e mostra-se com maior

    frequncia entre as mulheres. Foram avaliados 418 idosos, e a amostra caracterizou-se pelo

    predomnio do sexo feminino (66,0%), mdia de idade de 70,7 7 anos (60 a 98 anos).

  • 34

    3 Metodologia

  • 35

    3.1 Tipo de Estudo

    Consta de um estudo exploratrio e descritivo com abordagem quantitativa. De

    acordo com Gil (2008), a pesquisa exploratria visa proporcionar maior familiaridade com o

    problema, com vistas a torn-lo mais explcito ou a construir hipteses. De maneira geral,

    utiliza-se o levantamento bibliogrfico; entrevista com pessoas que tiveram participao com

    o problema pesquisado e anlise de exemplos que estimulem a compreenso. J a pesquisa

    descritiva tem como objetivo principal identificar as caractersticas de determinada populao

    ou fenmeno, ou o estabelecimento de relaes entre variveis. Uma de suas caractersticas

    mais importante est na utilizao de tcnicas padronizadas de coleta de dados. Pesquisas que

    tem como objetivo estudar as caractersticas de um grupo, como idade, sexo, procedncia,

    nvel e escolaridade, nvel de renda e estado de sade.

    A pesquisa quantitativa de acordo com Boaventura (2007) trabalha e se expressa

    atravs de nmeros e dados estatsticos, se utilizando na coleta e anlise dos dados, de

    percentagem, mdia, mediana, moda, desvio- padro, anlise de regresso ou de correlao.

    3.2 Local do Estudo

    O estudo foi realizado na cidade de Cuit, localizada na microrregio do Curimata

    Ocidental Paraibano, a 230 km da Capital Joo Pessoa. Conforme os dados do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2010) possui um contingente populacional de

    aproximadamente 19.978 habitantes, dos quais 9.833 so do sexo masculino e 10.145 so do

    sexo feminino, com densidade demogrfica de 26,3 hab./km2.

    Mais especificamente, serviram como campo para o desenvolvimento deste estudo 05

    (cinco) Unidades de Sade da Famlia (USF) vinculadas Secretaria Municipal de Sade que

    compem a rede de sade nos servios de ateno bsica na zona urbana do municpio, so

    elas: USF Ezequias Venncio, USF Luiza Dantas de Medeiros, USF Raimunda Domingos,

    USF Ablio Chacon e USF Diomedes Lucas. importante salientar que estas representam a

    totalidade das USF da zona urbana deste municpio, havendo ainda mais 04 (quatro) USF na

    zona rural, mas que no sero contempladas neste estudo (SECRETARIA MUNICIPAL DE

    SADE DE CUIT, 2012).

    As Unidades de Sade da Famlia da zona urbana foram selecionadas pela facilidade

    do acesso e porque as mesmas foram campo de estgio da disciplina Estgio Supervisionado I

    componente curricular do 9 perodo do Curso de Bacharelado em Enfermagem da

  • 36

    Universidade Federal de Campina Grande, o que proporcionou um contato prvio com os

    possveis participantes do estudo.

    3.3 Populao e amostra

    Segundo Richardson (2008), uma populao uma coleo de elementos ou sujeitos

    que partilham caractersticas comuns. O elemento a unidade ou membro da populao

    particular que submetida a um estudo, chamada de populao alvo. Em termos estatsticos,

    populao pode ser o conjunto de indivduos que trabalham em um mesmo lugar, alunos

    matriculados em uma mesma universidade, produo de refrigeradores de uma fbrica e etc.

    A populao neste estudo foi constituda pelos idosos que residem no municpio de

    Cuit e que so cadastrados e assistidos nas Unidades de Sade da Famlia da zona urbana, os

    quais representam um total de 2.406 idosos, estando distribudos por USF da seguinte forma:

    USF Ablio Chacon 581 idosos; USF Ezequias Venncio 518; USF Luiza Dantas 455;

    USF Diomedes Lucas 467; e USF Raimunda Domingos 385 (SECRETARIA

    MUNICIPAL DE SADE DE CUIT, 2012).

    Mediante a impossibilidade de coletar dados da populao total, recorreu-se a um

    clculo amostral, realizado via on-line, a fim de identificar uma amostra do tipo aleatria

    simples, correspondente a um subconjunto selecionado para se obter informaes relativas s

    caractersticas dessa populao. Marconi e Lakatos (2010) descrevem o conceito de amostra

    como uma poro ou parcela, criteriosamente selecionada da populao; um subconjunto do

    universo. Assim, considerando um percentual mnimo de 95% para a exposio de idosos a

    fatores de risco cardiovasculares, erro amostral de 5% e nvel de confiana de 95%, a amostra

    foi composta por 70 participantes. Como se pretendia fazer comparativos dos resultados

    quanto ao sexo dos participantes, a amostra foi composta intencionalmente por 50% de

    participantes do sexo masculino e 50% do sexo feminino.

    Foram considerados como critrios de incluso da amostra:

    Ter idade igual ou superior a 60 anos;

    Ser cadastrado e acompanhado pela Estratgia Sade da Famlia;

    Possuir resultado de exames da bioqumica sangunea (glicose e lipdeos/fraes)

    recentes (mnimo de trs meses);

    Concordar em participar livremente da pesquisa;

    Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE (Apndice A);

  • 37

    Apresentar condies fsicas e mentais para responder ao questionrio de coleta de

    dados.

    Considerando que alguns participantes no possuam resultados de exames da

    bioqumica sangunea, este critrio de incluso antes estabelecido, foi desconsiderado ainda

    no incio do procedimento de coleta de dados.

    3.4 Instrumento para coleta de dados

    H diversas formas e maneiras de se coletar dados para investigar determinado

    problema, contudo, o maior determinante para escolha do instrumento a ser adotado, o

    sujeito ou objeto de estudo. Dentre esses podemos destacar o questionrio, a entrevista, a

    observao, entre outros. Para este estudo foi escolhido o questionrio (Apndice B) a ser

    preenchido pelos idosos selecionados para compor a amostra com a co-participao do

    pesquisador participante, caso haja necessidade.

    O questionrio uma tcnica de investigao composta por um conjunto de questes

    que so submetidas a pessoas com o propsito de obter informaes sobre conhecimentos,

    crenas, sentimentos, valores, interesses, expectativas, comportamento presente e passado. Ele

    consiste em traduzir os objetivos da pesquisa em questes especficas. As respostas a esses

    questionamentos iro fornecer as caractersticas da populao pesquisada ou testar hipteses

    da pesquisa (GIL, 2008).

    O questionrio deste estudo foi elaborado pelo pesquisador participante sendo

    composto por duas partes: a primeira relativa caracterizao da amostra enquanto dados

    sociodemogrficos e econmicos; e a segunda relacionada aos objetivos propostos para o

    estudo contendo exclusivamente questes objetivas (mltipla escolha e lacunas).

    3.5 Procedimentos para coleta de dados

    Na fase inicial, foram seguidos os seguintes procedimentos: 1. Cadastramento da

    pesquisa na Plataforma Brasil na pgina eletrnica da Comisso Nacional de tica em

    Pesquisa (CONEP); 2. Solicitao de autorizao para o desenvolvimento deste estudo,

    atravs de um requerimento, o Termo de Autorizao Institucional (Anexo A) ao Secretrio

    Municipal de Sade do municpio de Cuit- PB, para realizar a pesquisa nas referidas

    Unidades de Sade da famlia, com sua devida assinatura da folha de rosto; e 3. Submisso da

  • 38

    folha de rosto para o Comit de tica em Pesquisa (CEP), para apreciao e aprovao do

    projeto.

    Aps a autorizao do CEP do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal

    da Paraba (CCS/UFPB), sob parecer nmero 202.268, foi dado incio as atividades da coleta

    no ms de maro de 2013, inicialmente com a realizao de reunies com o (a) enfermeiro (a)

    e os agentes de sade das USFs, para possibilitar o acesso ao grupo a ser pesquisado. A

    coleta de dados deu-se atravs de visitas domiciliares em companhia dos agentes comunitrios

    de sade, como tambm em dias de atendimento aos idosos nas Unidades.

    Ao identificar o idoso, o pesquisador participante apresentou a pesquisa, sua finalidade

    e importncia e convidou-lhe a participar desta. Tambm foi explicado o modo de

    preenchimento do questionrio, o carter voluntrio, o anonimato da participao e a

    possibilidade da desvinculao da pesquisa sem danos pessoais. Em seguida os participantes

    foram convidados leitura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Aps a

    leitura foi solicitada a assinatura deste e assim deu-se incio a aplicao do questionrio, a

    medio antropomtrica, a aferio da presso arterial e a verificao dos resultados dos

    exames laboratoriais.

    Para a avaliao antropomtrica (peso, estatura e circunferncia abdominal) foi utilizada

    a seguinte tcnica:

    Peso: verificado atravs de balana digital e com o participante descalo, sendo

    os valores descritos em quilogramas (kg);

    Estatura: medida com uma fita mtrica colocada em uma parede. Os

    participantes foram colocados encostados parede, apoiados na zona lateral das

    coxas, cabea e olhos dirigidos para frente, sendo o valor registrado em

    centmetros (cm);

    Circunferncia abdominal: medida no ponto intermdio entre a crista ilaca e o

    bordo inferior da caixa torcica (ltima costela), sendo o valor registrado em

    centmetros (cm);

    Presso arterial: aferida com uso de um esfigmomanmetro e estetoscpio, no

    brao direito e esquerdo (para maior segurana do valor), colocados em uma

    superfcie plana, ao nvel do corao e com o participante sentado. Antes da

    medio os indivduos permaneceram sentados (em estado de repouso) por pelo

    menos 10 minutos.

  • 39

    ndice de Massa Corporal (IMC): foi calculado atravs da frmula

    peso/estatura2.

    3.6 Anlise dos dados

    Aps o trmino do procedimento de coleta de dados, o software Excel 2010 foi

    utilizado na construo de um banco de informaes a partir das respostas apontadas para os

    itens contidos no questionrio. Aps agrupamento das informaes procedeu-se a anlise

    descritiva e quantitativa dos dados, utilizando medidas simples de frequncia absoluta (fi) e

    relativa (fr). Foi feita ainda uma anlise comparativa dos dados tendo como base a varivel

    sexo.

    A avaliao e anlise dos fatores de risco cardiovasculares teve por base os seguintes

    documentos: a V Diretrizes Brasileiras de monitorizao Ambulatorial (MAPA), III Diretrizes

    Brasileiras de Monitorizao Residencial da Presso Arterial (MPRA), IV Diretriz Brasileira

    sobre Dislipidemias e preveno da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as

    Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2009 e as Diretrizes Brasileiras de Obesidade

    2009. Ademais, os resultados foram apresentados e descritos em forma de tabelas e figuras, de

    modo a permitir uma melhor compreenso e anlise dos dados obtidos.

    3.7 Aspectos ticos

    O crescimento rpido das pesquisas envolvendo seres humanos tem levado a

    preocupaes ticas e debates quanto proteo dos direitos dos indivduos que participam

    das pesquisas de enfermagem. De acordo com Medeiros e Silva (2010), a tica pode ser

    compreendida como o modo de ser dos humanos, um conjunto de valores que dirigem o

    comportamento do homem em relao aos outros em busca do equilbrio das relaes sociais.

    Durante a realizao desta pesquisa foram explicados aos participantes os objetivos e

    finalidades do estudo, quais as vantagens na sua participao, participao voluntria, retirada

    ou excluso do estudo, o carter confidencial das informaes, como tambm o nome,

    endereo e nmero do telefone dos pesquisadores para possveis esclarecimentos sobre o

    assunto, ou para comunicarem a desistncia.

    Essas informaes atenderam as normas da Resoluo n 196/96 do Conselho

    Nacional de Sade (BRASIL, 1996). De acordo com Nogueira et al. (2012), esta resoluo o

    principal instrumento normativo que regula as pesquisas com seres humanos, tendo como

  • 40

    objetivo proteger e assegurar os direitos e deveres que dizem respeito comunidade

    cientfica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Como esta pesquisa foi realizada diretamente

    com seres humanos, seguiu todos os princpios descritos nessa resoluo.

    Segundo a Resoluo mencionada, as pesquisas envolvendo seres humanos devem

    atender s exigncias ticas e cientficas fundamentais como: o Consentimento livre e

    esclarecido dos indivduos-alvo (autonomia), avaliao dos riscos e benefcios, tanto atuais

    como potenciais, individuais ou coletivos (beneficncia), comprometendo-se com o mximo

    de benefcios e o mnimo de danos e riscos, garantia de que danos previsveis sero evitados

    (no maleficncia), relevncia social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos

    da pesquisa e minimizao do nus para os sujeitos vulnerveis, o que garante a igual

    considerao dos interesses envolvidos, no perdendo o sentido de sua destinao scio-

    humanitria (justia e equidade) (BRASIL, 1996).

    Todas essas exigncias foram devidamente respeitadas durante a operacionalizao

    desta pesquisa, assim como as premissas observadas na Resoluo n. 311/2007 do Conselho

    Federal de Enfermagem, que trata do Cdigo de tica Profissional (COFEN, 2007).

  • 41

    4 Anlise e Discusso dos Resultados

  • 42

    Neste captulo sero expostos os resultados obtidos por meio do procedimento de

    coleta de dados junto aos idosos participantes da pesquisa, assim como a anlise e discusso

    pertinente. Para uma melhor compreenso da leitura, duas sesses foram didaticamente

    construdas: a primeira relacionada caracterizao socioeconmica e demogrfica dos

    participantes; e a segunda relativa identificao dos fatores de risco para doenas

    cardiovasculares que esto expostos idosos assistidos na Estratgia Sade da Famlia no

    municpio de Cuit PB, com sua respectiva avaliao e discusso.

    4.1 Caracterizao socioeconmica e demogrfica dos participantes

    A amostra do estudo foi composta 70 participantes, sendo 35 do sexo masculino e 35

    do feminino. Os dados sociodemogrficos esto apresentados na Tabela 1 abrangendo cinco

    variveis, so elas: faixa etria, estado civil, escolaridade renda familiar e profisso,

    caracterizadas segundo o sexo dos participantes.

    Tabela 1 - Caracterizao socioeconmica e demogrfica dos participantes segundo a

    varivel sexo. Cuit PB, 2013.

    Variveis Socioeconmicas

    e demogrficas

    Total Sexo

    Masculino Feminino

    f % f % f %

    Faixa Etria

    60 a 69 anos 32 45,71 12 34,29 20 57,14

    70 a 79 anos 29 41,43 19 54,29 10 28,57

    80 a 89 anos 8 11,43 3 8,57 5 14,29

    > 90 anos 1 1,43 1 2,85 0 0

    Total 70 100,0 35 100,0 35 100,0

    Estado Civil

    Solteiro 4 5,71 0 0 4 11,43

    Casado 46 65,71 29 82,87 17 48,57

    Vivo 10 14,29 2 5,71 8 22,86

    Unio Consensual 3 4,29 2 5,71 1 2,85

    Divorciado 7 10,0 2 5,71 5 14,29

    Total 70 100,0 35 100,0 35 100,0

    Escolaridade

    NA 44 62,86 28 80,0 16 45,72

    EFI 23 32,85 5 14,30 18 51,43

  • 43

    EFC 1 1,43 1 2,85 0 0

    EMI 1 1,43 1 2,85 0 0

    EMC 1 1,43 0 0 1 2,85

    ES 0 0 0 0 0 0

    Total 70 100,0 35 100,0 35 100,0

    Renda Familiar

    < 1 salrio 16 22,86 7 20 9 25,71

    De 1 a 2 salrios 50 71,43 27 77,15 23 65,71

    > 3 salrios 4 5,71 1 2,85 3 8,58

    Total 70 100,0 35 100,0 35 100,0

    Profisso

    Agricultor 60 85,71 33 94,28 27 77,14

    Do lar 4 5,71 0 0 4 11,42

    Func. pblico 2 2,86 2 5,72 0 0

    Aux. Ser. Gerais 2 2,86 0 0 2 5,72

    Outros 2 2,86 0 0 2 5,72

    Total= 70 100 35 100,0 35 100,0

    Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

    Legenda: NA = No alfabetizado, EFI = Ensino Fundamental Incompleto, EFC = Ensino Fundamental

    Completo, EMI = Ensino Mdio Incompleto, EMC = Ensino Mdio Completo, ES = Ensino Superior.

    Conforme mostra a Tabela 1, no que diz respeito varivel faixa etria possvel

    observar que grande parte dos participantes 45,71% (n= 32) so idosos mais jovens, os quais

    encontram-se na faixa de 60 a 69 anos, sendo esse percentual maior entre as mulheres

    (57,14%) do que nos homens (34,29%). Esse resultado corroborado pelo estudo de Pereira,

    Barreto e Passos (2008), onde encontraram maior percentual de mulheres nessa faixa etria, e

    que entre os idosos, 59,4% eram mulheres e 40,6% homens.

    No estudo de Ramos (2008) sobre a prevalncia de fatores de risco cardiovasculares,

    58,4% (398) eram do sexo feminino e 41,6% (284) do sexo masculino. No Brasil, a faixa

    etria dos 60 anos ou mais (faixa etria em que as pessoas so consideradas idosas no pas) a

    que mais cresce em proporo, exibindo um dos crescimentos mais acelerados do mundo

    (MARTINS; CAMARGO; BIASUS, 2009). De acordo com a pesquisa nacional por amostra

    de domiclios (PNAD) realizada em 2011, a populao residente no Brasil foi estimada em

    195,2 milhes, um aumento de 1,8% (3,5 milhes) em relao a 2009. As mulheres

    representavam 51,5% (100,5 milhes) da populao e os homens, 48,5% (94,7 milhes).

    O predomnio significativo de mulheres nessa faixa etria pode ser explicado pela

    tendncia de envelhecimento da populao, como tambm em decorrncia do contingente

  • 44

    populacional do sexo feminino ser maior do que o masculino. No perodo de 2001 a 2011, o

    crescimento do nmero de idosos de 60 anos ou mais de idade, em termos absolutos,

    marcante: passou de 15,5 milhes de pessoas para 23,5 milhes de pessoas. A maioria da

    populao idosa de 60 anos ou mais de idade composta por mulheres (55,7%), devido aos

    efeitos da mortalidade diferencial por sexo (IBGE, 2012), o que justifica o resultado

    encontrado neste estudo.

    Com relao ao estado civil, 65,71% (n=46) dos participantes so casados.

    Comparando os dados desta varivel com relao ao sexo, 82,87% (n=29) dos participantes

    do sexo masculino so casados, enquanto no sexo feminino 48,57% (n=17) encontram-se

    neste estado civil. De acordo com o IBGE (2011), a partir dos 60 anos de idade, as taxas de

    nupcialidade obtidas para pessoas do sexo masculino so mais que o dobro que as das

    mulheres. Tal realidade suficientemente satisfatria para explicar o resultado obtido quanto

    ao estado civil. Devido sobremortalidade masculina entre os idosos nas idades mais

    avanadas, h mais mulheres do que homens na populao, tornando menores as

    probabilidades de casamentos das mulheres mais idosas. Para todos os grupos etrios, a partir

    de 30 anos, as taxas de nupcialidade dos homens foram maiores em 2011 do que em 2001. Os

    homens se unem mais tarde que as mulheres e so eles que mantm as mais altas taxas de

    nupcialidade legal.

    No que concerne varivel escolaridade, verifica-se na Tabela 1 que 62,86% (n= 44)

    dos idosos so analfabetos, destes 80% (n=28) so homens e 45,72% (n=16) mulheres.

    Acredita-se que este perfil de escolaridade tenha relao direta com as condies sociais dos

    mesmos, os quais quando jovens no tiveram oportunidade de estudar, iniciando

    precocemente suas atividades no mercado de trabalho. A elevada prevalncia de

    analfabetismo entre os idosos pode estar associada a necessidade de execuo de atividades

    econmicas, longas jornadas de trabalho, falta de incentivo governamental, dentre outros

    fatores. Em contrapartida, a baixa autoestima diante das dificuldades financeiras tambm

    influenciava na percepo de no haver necessidade de conduzir os estudos, sendo o trabalho

    uma ferramenta que proporcionava renda em curto prazo.

    De acordo com Perez (2011), o problema do analfabetismo que acomete as populaes

    mais idosas tem relao direta com o fato de ser este um grupo social abandonado pelo Poder

    Pblico quanto a realizao de polticas educacionais. A excluso da populao idosa da

    educao leva a compreenso do sistema educacional como uma estrutura burocrtica criada

    com o fim de promover a formao e a qualificao da mo-de-obra jovem para o mercado de

  • 45

    trabalho, desta maneira, como se sabe, a excluso dos idosos do mercado de trabalho pr-

    determinaria a sua excluso do contexto da educao.

    No estudo de Jardim e Leal (2009), 80% dos participantes no sabiam ler/escrever ou

    eram apenas alfabetizados ou possuam o ensino fundamental incompleto; 18% tinham ensino

    fundamental completo e ensino mdio, incompleto ou completo; e apenas 2% possuam

    ensino superior incompleto ou completo, aproximando-se com os resultados do presente

    estudo.

    Segundo a PNAD (2011), a taxa de analfabetismo no pas mostrou-se maior nos

    grupos de idades mais elevadas, comportamento observado em todas as Grandes Regies. A

    maioria dos analfabetos permaneceu entre as pessoas com 25 anos ou mais de idade, 96,1%

    deles.