Faq Do Godinho

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FAQ do Candidato a Diplomatapor Renato Domith Godinho Fonte: http://web.mac.com/rgodinho/iWeb/Renato/FAQItamaraty.html Atualizada em: 27/04/06Apresentao O pblico-alvo desta FAQ so aquelas pessoas que esto prestando, pretendem prestar ou esto meramente pensando em prestar o Concurso para Admisso Carreira de Diplomata, vulgo concurso do Instituto Rio Branco. No existe, que eu saiba, nada parecido disponvel na internet. O interesse pela carreira e pelo concurso muito grande e crescente, enquanto a informao disponvel, de forma centralizada e organizada, escassa. Resolvi escrever esta FAQ depois de receber o ensimo pedido de informaes sobre o concurso e a carreira. No sei se por causa da ascenso de temas de poltica externa no interesse da opinio pblica, por causa da situao morna da economia privada nos ltimos anos ou simplesmente por efeito da minha faixa etria, de repente parece que todo amigo meu tem um amigo que quer prestar o concurso, isso quando no o querem meus prprios amigos. Ao invs de gastar meu tempo respondendo vezes sem conta s mesmas perguntas e ajudar se que ajudo a uns poucos, melhor seria, pensei, se trabalhasse em um texto que respondesse de uma s vez maior parte das perguntas que recebo e o pusesse na internet, ajudando ou no ajudando a todos os que quiserem ler. Esta FAQ representa, naturalmente, a opinio pessoal do autor, e no tem qualquer vnculo com o Ministrio das Relaes Exteriores, o Instituto Rio Branco, o governo brasileiro ou qualquer outra instituio pblica ou privada. No se pretende, tampouco, uma resposta definitiva a quaisquer das perguntas abaixo listadas. O concurso est sempre mudando; poucos anos no Ministrio, acompanhando mais ou menos de perto o tema, bastaram para convencer-me disso. Sai francs, entra francs, muda o sistema de correo de testes, desaparecem as provas orais, altera-se o peso relativo das matrias, evoluem os critrios das bancas examinadoras... Nos ltimos trs anos, cada concurso realizado teve certas regras e caractersticas nicas. Embora esta FAQ ainda se aplique muito bem ao concurso de hoje, nada garante que poder aplicar-se bem ao de amanh. Sei bem, ainda, que esta FAQ est longe de ser completa. Por sorte, tambm no a considero acabada. Se voc tem uma pergunta que no est relacionada aqui, e cr que uma resposta possa ser do interesse geral, ficarei muito grato se ma enviasse por emeio, que procurarei responder nesta pgina. Se no anoto meu endereo aqui, para me proteger dos farejadores automticos das listas de spam. Mas voc pode encontrar um link na pgina principal deste site. Ou escreva para renatogodinho em uol ponto com ponto br. Condies de uso Esta FAQ pblica e de uso livre. Seu objetivo foi o de reunir o mximo de respostas em um s lugar conveniente. Alm disso, esta FAQ no esttica, pois pretendo ampli-la e revis-la regularmente. Por isso, a nica condio imposta a seu uso que qualquer reproduo desta FAQ dever ser feita integralmente, contendo inclusive um link para esta pgina, que trar sempre a verso mais atual. O que o concurso do Instituto Rio Branco? Hoje, o Concurso para Admisso Carreira de Diplomata (CACD) ao mesmo tempo um vestibular para uma instituio pblica de ensino profissional, o Instituto Rio Branco (IRBr), e um concurso pblico federal, em que os aprovados tomam posse em um cargo de funcionrios pblicos federais da carreira de diplomata. Quem aprovado neste que um dos concursos mais concorridos do pas ingressa ao mesmo tempo no curso do IRBr e na carreira, no grau hierrquico de Terceiro Secretrio. Ganha o salrio integral de um diplomata em incio de carreira, mas no comea a trabalhar de fato seno aps concluir o curso, que

costuma durar dois anos. Nem sempre foi assim. At 1990 e poucos, s se ingressava na carreira depois de concludo o Rio Branco. Os alunos do instituto contavam para seu sustento apenas com uma relativamente magra bolsa de estudos. A vida de um riobranquino hoje bem mais feliz, ou, pelo menos, mais opulenta. Onde posso obter informaes sobre o concurso? A primeira coisa a fazer visitar a pgina do Instituto Rio Branco, que traz informaes sobre a carreira. L tambm tem um link para o edital do concurso e para o Guia de Estudos. O Guia uma publicao anual do Instituto. Ele fornece o importantssimo programa de cada matria que cai na prova. L voc tambm encontrar a bibliografia recomendada, dicas de estudo, exemplos de questes de anos anteriores e outras informaes teis. mais importante at, acredite, do que esta FAQ. Outro bom passeio visitar um dos escritrios regionais do Itamaraty, se houver um em sua cidade, ou o prprio Itamaraty, se voc est em Braslia. Ento voc encontrar impresso aquele mesmo Guia de Estudos em forma de livrinho, o que muito mais conveniente do que baix-lo da internet, poder conversar com as pessoas (no meu tempo de estudo os diplomatas do Escritrio em So Paulo, no Memorial da Amrica Latina, eram muito legais, e gostavam de prosear com candidatos. Talvez ainda gostem) e, finalmente, conferir as publicaes da Funag. Que histria essa de ingls no ser mais obrigatrio? No exatamente verdade. A prova de ingls sempre foi e continuar sendo obrigatria. Aconteceu, porm, que, desde 2005, ela deixou de ser eliminatria. E no foi s ela. TODAS as provas aps a primeira fase deixaram de ser eliminatrias, exceto a de portugus. Antigamente, toda prova era eliminatria, o que significava que era necessrio obter a nota mnima em todas. O resultado, no final da maratona, era que quase sempre acabavam entrando menos aprovados que vagas. Fazia bem para a imagem de mau do concurso, mas no meu entender era um desperdcio. Se precisamos contratar 30 diplomatas, por que admitir s 27? Uma deficincia em uma matria poderia ser amplamente compensada pela eficincia nas outras. Com a mudana, no devero mais sobrar vagas, e as pessoas vo ter de competir umas contra as outras, ao invs de competir contra as notas mnimas. A ordem de classificao que vai determinar quem fica e quem volta pra casa. Por exemplo, se 150 pessoas passarem na prova (eliminatria) de portugus, mas s houver 50 vagas naquele ano, os aprovados sero os que obtiverem as 50 melhores mdias em todas as provas. Em outras palavras: quem zerar ou tirar nota muito baixa em ingls, ou em outra prova qualquer, no passar no concurso de qualquer forma, simplesmente porque outros candidatos tero mdias melhores. por isso que achei um exagero toda a polmica criada na imprensa em torno da mudana. verdade que, em um concurso com 100 vagas, possvel que algum possa ser aprovado com uma baixa mdia em ingls, desde que compense nas outras. Mas no h de ser nada que no possa ser sanado as aulas de ingls que tive no Instituto Rio Branco foram muito boas bem acima da mdia peculiar a essa insigne instituio. Preciso saber falar francs? No. No meu ano o concurso sequer tinha prova de francs. Agora ela voltou e, ainda que no seja eliminatria, algum francs vai ajudar a fazer a diferena em relao a outros candidatos. Fora isso, j se foi o tempo em que o francs era a lngua diplomtica oficial. Hoje, se h um idioma oficial da diplomacia, o ingls. Francs ajuda, principalmente se voc for trabalhar um dia em um pas francfono, mas no mais essencial como foi no passado. O espanhol hoje muito mais til para um diplomata brasileiro, uma vez que estamos cercados de pases de fala hispnica com os quais mantemos relaes importantes.

Quais so os requisitos para passar no concurso?

Legalmente, preciso ser brasileiro nato, estar em dia com as obrigaes eleitorais e de servio militar, ter a ficha limpa na polcia e ser formado em um curso superior reconhecido no Brasil pelo Ministrio da Educao (MEC). Qualquer curso superior. Apesar de mais ou menos metade dos aprovados no concurso serem via de regra formados em direito, e muitos outros em relaes internacionais, conheo diplomatas formados em engenharia, medicina, letras e cincia da computao. Eu mesmo sou formado em jornalismo. Diplomas estrangeiros, s se reconhecidos pelo MEC. J na prtica, para passar no concurso exige-se um domnio bastante razovel do programa previsto para as provas; boa capacidade de raciocnio e principalmente de escrita; bom nvel em ingls. J disse que esse concurso tem fama de ser um dos mais difceis do pas. bem mais difcil do que ser aprovado em um vestibular concorrido, como o da Fuvest; bem mais fcil do que compor uma boa sinfonia em quatro movimentos ou projetar a nova gerao de CPUs. Talvez seja mais fcil que ser aprovado nos mais concorridos trainees para gerncia de multinacionais no Brasil. Espero no ter que ressalvar que, apesar de tudo o que disse acima, fcil e difcil so conceitos relativos; o que fcil para um pode ser muito difcil para outro, e vice-versa. Eu tenho dupla nacionalidade. Serei aceito no concurso? A Constituio reza que, exceto as excees, quem pede para ser naturalizado como nacional de outro pas perde a identidade brasileira. No entanto, j ficou estabelecido que, em boa parte dos casos em que um brasileiro tem uma nacionalidade estrangeira, no foi ele que pediu uma outra nacionalidade a dupla nacionalidade apenas reconhecida, segundo as leis prprias do pas estrangeiro, e portanto no h perda da nacionalidade brasileira. Assim sendo, no h obstculos ao ingresso desses seres cosmopolitas no concurso. E no, no vo suspeitar que voc um agente duplo trabalhando para vender o Brasil para a Itlia. S tem uma coisa: a Lei do Servio Exterior afirma que, para casar-se com estrangeiros, os diplomatas precisam da autorizao do Ministro de Estado. Estudando para o concurso Quanto tempo devo estudar? Voc espera mesmo que eu responda a isso? Esquea. H pessoas que estudam por meia dcada at passarem. Outras (rarssimas, admito) no estudam quase nada. Eu fiz seis meses de um curso preparatrio com aulas cinco vezes por semana, todas as noites, comparecendo s aulas, e lendo, com vagar, os livros mais interessantes da bibliografia. No podia fazer mais porque, afinal, tinha que trabalhar e cuidar de que minha namorada no me largasse. J na reta final, a seis semanas das provas da terceira fase, as que eu mais temia, larguei tanto o cursinho quanto o emprego e estudei intensamente, sozinho, oito horas por dia, sublinhando (ugh!) fazendo fichamentos (argh!) e tudo mais. Funcionou, para mim. Cada um dever encontrar a frmula que melhor lhe convier. importante ter conscincia do grau de conhecimento necessrio e das prprias deficincias localizadas. Preciso ler toda a bibliografia listada no Guia de Estudo? No. Deixe-me dizer isso de novo. No. No desperdice seu tempo esgotando a lista pretensiosa, redundante e por vezes desnecessria que costumam publicar no Guia. No quero dizer com isso que no haja obras importantes arroladas l. Pelo contrrio: a maior parte do que voc vai precisar estar l. Porm, priorize as disciplinas e, dentro delas, selecione as obras mais proveitosas. Evite as excessivamente especializadas. Por outro lado, se voc puder, no tenha medo de gastar dinheiro com livros. Construa uma pequena biblioteca pessoal. Eu, particularmente, nunca gostei de ler em bibliotecas, e acho chato ficar pegando ttulos emprestado e pedindo renovao constantemente. Eu gastei mais de mil reais, se me lembro bem. Compre o que der em bons sebos e o resto nas livrarias. Voc estar comprando bons livros, que lhe sero proveitosos

mesmo na hiptese de voc no passar. Evite estudar uma pilha de xerox mal encadernados. Ler em livros muito mais cmodo e tem menos cara de estudo. Se vai ter que passar um bom tempo estudando para o concurso, bom tornar a experincia o mais agradvel possvel. Que matrias devo priorizar nos meus estudos? Ingls fundamental. No basta um ingls desses de CCAA. O nvel da prova altssimo, a exigncia que se escreva um ingls correto de verdade, um ingls que o norte-americano mdio provavelmente no alcanaria. Portugus tambm, e ainda mais complicado, pois a banca exigente e idiossincrtica. Se a primeira fase a que quantitativamente mais elimina, a prova de portugus talvez seja a mais terrvel. Como Parcas munidas de canetas vermelhas, a inescrutvel Banca Corretora parece determinar s cegas quem vai passar e quem no vai, por melhor que seja o vernculo praticado pelos pobres mortais em seu poder. Seu julgamento, porm, no to arbitrrio. Na verdade, o importante aprender o portugus DELA, da banca. Um portugus todo quadrado, certinho, virgulado, objetivo e sem firulas. H muita m vontade contra o excesso de zelo da banca de portugus, inclusive de minha parte, mas s vezes penso que, no fundo, ela pode ter razo. Ou no. Afora isso, as provas de Histria e de Poltica Internacional (antes Questes Internacionais Contemporneas) so as mais importantes em termos de contedo. E, por fim, apesar de menos exigentes, no se pode ignorar as provas de Economia, Direito (internacional e administrativo) e Geografia. possvel passar estudando s as apostilas da Funag? No. Para quem no sabe, a Funag a editora do Ministrio das Relaes Exteriores (MRE). Ela publica apostilas chamadas "Manual do Candidato", uma para cada matria da prova. Portugus, Histria, Geografia, etc. Considere-as um ponto de partida, um porto seguro que lhe dar uma idia do tipo de contedo abrangido pelas provas. No suficiente estudar s nelas, vai ser preciso correr atrs dos livros. As apostilas da Funag podem ser adquiridas nos Escritrios Regionais do Itamaraty, em algumas livrarias especializadas e na prpria Funag, na sede do MRE ou em sua loja virtual na internet. Que livros voc recomenda que eu estude? Posso recomendar alguns que eu usei e gostei. Voc faria muito bem se cruzasse algumas outras listas, porque a utilidade dos livros deve variar de acordo com o conhecimento que cada um j tem das matrias. A vo, por disciplina: Histria: Histria do Brasil, Boris Fausto, Edusp. Para histria da diplomacia no Brasil, temos o incontornvel Histria da Poltica Exterior do Brasil, Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, Editora da UnB. Para histria geral, o melhor ler os quatro livros de Eric Hobsbawm, historiador cuja feira s comparvel sua oniscincia: Era das Revolues, Era do Capital, Era dos Imprios e Era dos Extremos. Apesar de serem boas as edies da Companhia das Letras, aproveite e compre-os em ingls, na Livraria Cultura ou em bons sebos, para treinar tambm a leitura no idioma. Complete-os, porm, com a leitura de um bom livro texto de Histria Geral, mais resumido. O livro Diplomacy, de Henry Kissinger, mais focado em alta poltica internacional, tambm uma boa pedida. Tambm sugiro l-lo em ingls. Geografia: por incrvel que parea, o melhor a fazer nessa matria deixar de lado a maior parte da bibliografia recomendada e estudar em livros de geografia do 2 grau. muito bom o de Demtrio Magnolli e Regina Arajo. Chama-se Projetos de Ensino de Geografia, e tem dois volumes: Geografia do Brasil e Geografia Geral. A apostila de geografia da Funag baseada nesse livro, mas o livro muito melhor. Economia: Economia Brasileira Contempornea, vrios autores, Ed. Atlas. O livro excelente, cobre histria econmica do Brasil, macroeconomia, microeconomia, contas nacionais, histria do pensamento econmico, tudo. E muito fcil de entender, comparado com outros manuais que existem por a (desconfiem do chamado manual dos professores da USP! Para no-economistas, grego). O livro clssico de Celso Furtado, Formao Econmia do Brasil, alm de tambm ser muito bom e muito claro,

serve tambm para a prova de histria. Poltica Internacional (ex-Questes Internacionais Contemporneas): para esta disciplina mais difcil arrumar um livro de base. O contedo disperso e fica rapidamente ultrapassado. Um ponto de partida o manual da Funag. H tambm os livros que esto na bibliografia do Guia de Estudos. Mas o negcio ficar atualizado, ler artigos e revistas sobre Alca (que, alis, j era), Mercosul, EUA, etc. etc. Tem um site chamado RelNet (www.relnet.com.br) que bem bacana. L voc pode fazer um cadastro e receber por email boletins dirios com uma coletnea de notcias de jornais do Brasil e do mundo sobre esses temas. No prprio site tem um monte de artigos que vale a pena ler. Direito: Um livro muito bom o Curso de Direito Internacional Pblico, Guido Soares, Editora Atlas. Para o direito interno, consulte uns livrinhos da Editora Saraiva, baratos, da coleo Sinopses Jurdicas. Os mais importantes so os vols. 17 e 18, mas o vol. 1 e o vol. 19 tambm podem servir (leia-se: seu contedo pode cair na prova). Voc tem alguma dica para a hora de estudar? Eu segui uma dica que um amigo me passou, com excelentes resultados. Tenha um caderno de fichamentos para cada disciplina. A cada coisa que ler, um captulo de um livro, um tpico do plano de estudos, faa logo em seguida o fichamento em que voc resumir as principais idias do trecho lido e anotar suas observaes, dvidas e correlaes mentais com outros livros, idias ou captulos que j tenha lido. Na prxima vez em que for estudar essa matria, leia primeiro o fichamento que escreveu da vez anterior. Se, ao ler, perceber que lhe vieram dvidas acerca do contedo, esclarea-as voltando ao texto original. Em seguida, retome o livro e avance por mais um captulo ou trecho e faa novo fichamento no caderno. V dormir. Na terceira vez em que for estudar a disciplina, leia tanto o fichamento do primeiro dia quanto o do segundo. Avance mais um trecho, etc. Sempre, ao comear uma sesso de estudos, leia todos os fichamentos anteriores at j ter relido o primeiro deles por trs vezes. Na quarta, descarte a releitura daquele e comece j do segundo. Com esse mtodo, voc repassa cada contedo especfico da matria cinco vezes: uma ao ler, outra ao fichar, e mais trs vezes com as releituras do fichamento. Se isso no fixar a matria em sua cabea, no sei o que o far. Voc tem alguma dica para a hora de fazer as provas? Tenho. O formato das provas muda um pouco a cada ano, mas alguma coisa posso dizer da minha experincia. No Teste de Pr-Seleo (TPS): no meu tempo, a primeira fase da prova no era preparada pelo Cespe, que apenas a aplicava, e portanto no empregava o ignominioso mtodo de anular uma questo correta para cada questo errada que o candidato marcar. A partir do segundo semestre de 2003, o Cespe passou tambm a elaborar a prova, e esse mtodo passou a ser usado desde ento. Fazer isso significa desencorajar o chute, pois em muitos casos torna-se melhor deixar a questo em branco do que arriscar a perder um ponto. Para mim isto privilegia o estudo obcecado e a memria em detrimento da capacidade de raciocnio, da inteligncia e da criatividade. No mtodo do Cespe, o candidato tem que saber a resposta. No mtodo antigo, sempre se podia chutar, procedendo por eliminao e raciocinando com mil hipteses e correlaes em torno de uma questo desconhecida para chegar a uma ou duas alternativas provveis. Mesmo com as regras do Cespe, acho que vale a pena chutar algumas questes, desde que se tenha mais de 60% de certeza. E por fim um conselho prtico e bvio: reserve um tempo para preencher, sem erros, o carto de resposta. Na prova de portugus: Faa todos os exerccios menores e deixe a redao para o fim. A redao demanda tanta energia mental que, se voc comear por ela, poder ficar esgotado demais para fazer direito

o resumo e os outros exerccios, mesmo que voc no tenha usado todo o tempo disponvel. Escreva de forma contida e precisa. Evite viajar na maionese, e s esnobe erudio se tiver muita certeza do que est falando e de que aquilo se aplica estritamente ao caso analisado. No procure enfeitar a redao. Reserve um tempo para passar a redao a limpo. Pelo menos meia hora, melhor se forem quarenta minutos. Apesar do que eu disse sobre a banca corretora, sou dos que acreditam em sua previsibilidade. Se for reprovado, v obter vista da prova, como seu direito. Estude as correes e os critrios que a banca usou, e tente aprender com os seus erros. Procure escrever como a banca quer que escreva. Em todas as provas: se voc acabou a prova muito antes do tempo mximo, porque jogou fora a chance de ir melhor. Todo mundo sabe que tempo dinheiro, mas nem todos se do conta de que, em uma prova, tempo NOTA. Se obtenho nota 5,5 em duas horas, poderia conseguir 6,5 ou 7,0 se dispusesse de quatro. Deixe a preguia para outra hora. Resolva primeiro todas as questes que sabe, e labute nas que no sabe at o fim. Sempre se pode ter uma idia luminosa, preencher um branco, refinar um argumento ou encontrar um erro nos vinte minutos finais. Como diriam os personagens de Monteiro Lobato, d tratos bola at descobrir a resposta para aquela questozinha que te dar 0,2 ponto ou at acabar-se o tempo. Nas provas orais: no momento em que escrevo, no 1 semestre de 2006, j no h provas orais. Quando voltarem, voltarei tambm a falar delas. Cursos preparatrios Devo fazer um curso preparatrio? Um curso preparatrio ou uma preparao com professores particulares no indispensvel, mas muito recomendvel. Para alm das aulas e do contedo propriamente dito, um curso lhe abrir a oportunidade de ter contato rpido com os temas, de receber dicas de bibliografia e principalmente de socializar e conhecer gente que quer o mesmo que voc. Dependendo de sua personalidade, se voc tem que estudar por meses a fio, melhor no faz-lo sozinho, em casa, arriscando-se ao desnimo e depresso. Um curso d nimo para continuar a estudar nem que seja apenas por se estar pagando caro a pessoas que, como eu, so demasiado preguiosas quando se trata de estudo. Alis, pode chegar um momento em que o cursinho deixa de ajudar e comea a atrapalhar. Entre a segunda e a terceira fases, o que fiz foi SAIR do cursinho para que me sobrasse mais tempo para estudar de verdade. O tempo gasto no trnsito e em aulas irregulares e lentas, que tinham de atender a vrias pessoas, passou para mim a no valer mais a pena a partir de certo ponto. Os cursos preparatrios e as aulas particulares, por fim, so muito caros. Se no pode arcar com o tempo e o dinheiro necessrios, o melhor que tem a fazer encontrar outros candidatos em sua cidade e montar com eles um grupo de estudos. De novo: isso funciona para prazos mais longos. Estou convencido de que estudar sozinho mais eficiente quando o tempo curto. O que melhor? Fazer um curso completo ou contratar professores particulares individualmente? Nenhuma opo melhor em si. Depende do que estiver disponvel em sua cidade. De maneira geral, So Paulo e Braslia, por exemplo, so conhecidos por seus cursos preparatrios bem organizados e bem preparados. J o Rio de Janeiro at h algum tempo no tinha cursinhos completos, mas a ex-capital federal e ex-sede do Itamaraty conta com um rico leque de excelentes professores particulares especializados no concurso do Rio Branco, que precisam ser contatados e contratados individualmente. Nesse sistema voc tem a vantagem de poder selecionar os melhores professores em cada matria, contornando o maior problema dos cursinhos, que a irregularidade do nvel das aulas. Pelo relato de meus colegas cariocas, porm, aviso que contratar dessa maneira professores para vrias disciplinas pode sair MUITO mais caro do que pagar a

mensalidade de um cursinho completo. Quais so os cursos preparatrios disponveis em minha cidade? H poucos anos era muito difcil encontrar fora de Braslia ou So Paulo um curso preparatrio especializado, mas agora h cursos em diversas grandes capitais do pas, e outros esto aparecendo todo ano. A lista que segue est longe de ser completa. Se voc aluno, professor, dono ou simpatizante de um curso no listado aqui, faa a gentileza de me mandar um e-meio (endereo disponvel na minha pgina web) listando as informaes de contato, o endereo e, se houver, o endereo web do curso, que terei o maior prazer em inclu-lo neste espao. Braslia Curso JB (tambm conhecido como Cursinho do Ministro, talvez pelo fato de o dono ser um diplomata de carreira. At 2004, o nome era Cursinho do Conselheiro. Veja hierarquia da carreira). Dados Carreira Diplomtica (outro curso bastante conhecido em Braslia) Dados Belo Horizonte IBRAE o primeiro, e dificilmente ainda o nico, curso preparatrio para o Rio Branco em Minas Gerais. Alvares Cabral, N 397 - sala 1901 Telefone: (031) 3224-8073 So Paulo Grupo de Humanidades - o curso que fiz. Recomendo. Dados Curso Rio Branco (no confundir com o prprio Instituto Rio Branco) Dados Curso Itamaraty (no confundir com o Itamaraty) Dados Professores particulares em So Paulo (DDD 011): Alison Francis (Ingls) 3864-0409 Claudia Simionato (Portugus) 9681-8022 Jos Roberto Franco da Fonseca (Direito Internacional) 3255-8326 Tnia Melo (Ingls) 3275-9423 Rio de Janeiro Argus Cultura Dados Curso Clio - quem me indicou elogiou muito sua infraestrutura, corpo docente e acervo. Rua Gonalves Dias, 85, 5 andar, Centro Telefones: (21) 2221-9879 / 2221-2958 Professores privados no Rio (todos com DDD 021): Adriano da Gama Khury (Portugus) 2551-5162 Edgar Pcego (Histria do Brasil) 2539-8014 Eduardo Garcia (Portugus) 2205-7484 Ldia Bronstein (Geografia) 2239-4723 Marcus Vinicius (Histria Geral e Questes Internacionais Contemporneas) 2535-3018 Paul Rickets (Ingls) 2511-0940 Raquel Dana (Ingls) 2235-0254 Snia Ramos (Portugus) 2239-8418 Suzana Roisman (Ingls) 2274-5874

Williams Gonalves (Histria Geral e Q.I.C.) 2568-4354 Que curso voc recomenda? O curso que eu fiz chama-se Grupo de Humanidades. Fica num sobrado simptico dentro de uma vilinha na Vila Mariana, em So Paulo. Estava longe de ser perfeito, claro. Havia professores muito bons e outros nem tanto. Mas no me arrependo, em absoluto. Na poca, era o nico, creio, a ter um mdulo extensivo, com aulas todos os dias da semana. No saberia, porm, recomendar o melhor curso. Cada um tem seus pontos fortes e fracos, horrios diferentes, mensalidades diferentes. Se houver opo em sua cidade, sugiro que visite alguns, pea para assistir a algumas aulas, e chegue sua prpria concluso. O Instituto Rio Branco Quanto tempo dura o curso do Rio Branco? (PROFA-I) O Programa de Formao e Aperfeioamento de Diplomatas, estritamente falando, dura um ano. O curso do Rio Branco, porm, costuma durar mais. Como desde 2002 o curso transformou-se em um mestrado, h aulas adicionais que fazem parte do mestrado, mas no do PROFA-I, e h tempo previsto para sesses de estudo com seu orientador e para elaborar a dissertao acadmica. Conte, portanto, com dois anos de vida acadmica. Eu ganharei uma bolsa durante o curso? Como j disse acima, ao ingressar no Rio Branco, o aluno ingressa tambm na carreira diplomtica, no grau de Terceiro Secretrio. No tem necessidade alguma de uma bolsa de estudos, visto que recebe o salrio integral do incio da carreira. H aulas de lnguas? H aulas obrigatrias de ingls, francs e espanhol. O objetivo que todos egressem do Rio Branco com conhecimento operativo das trs lnguas. Alm disso, o Instituto Rio Branco oferece aulas opcionais de diversos outros idiomas, do alemo ao chins, passando pelo rabe. No meu tempo, a turma reunia um nmero mnimo de interessados e entrava em contato com um professor, que era ento remunerado pela instituio. Recentemente, esse sistema sofreu reformas, e ainda no est claro qual ser o novo mtodo de ensino de lnguas estrangeiras que no as trs j mencionadas. Quais so as matrias estudadas? Alm dos idiomas, o PROFA-I tem aulas de Linguagem Diplomtica, Direito Internacional, Histrias das Relaes Exteriores do Brasil, Poltica Externa Brasileira, Economia Internacional, Teoria das Relaes Internacionais e Leituras Brasileiras. Alm dessas disciplinas regulares, o Instituto Rio Branco costuma oferecer outras disciplinas, ligadas ou no atividade do mestrado, segundo seus objetivos. H ainda uma fervilhante atividade de seminrios e palestras que pe os alunos em contato com personalidades acadmicas, diplomatas, polticos e autoridades do Brasil e do mundo. Como assim, Mestrado em Diplomacia? Desde 2002 o curso do Instituto Rio Branco tem valor de mestrado, o que requer, como sua atividade principal, o preparo pelo aluno de uma dissertao acadmica. Esta pode versar sobre temas ligado s relaes internacionais do Brasil, ao direito internacional, economia internacional ou questes de identidade nacional. Como v, a margem ampla. O aluno escolhe seu orientador acadmico dentre uma lista de nomes fornecida pelo Instituto. Nem todos so professores do Rio Branco. O curso do Rio Branco reconhecido pela CAPES como Mestrado Profissional, avaliado com conceito

4 em uma escala de 1 a 7. Como foi, pra voc, estudar no Rio Branco? O Rio Branco muito idealizado por quem est fora. Quando se entra, descobre-se que um curso como o de qualquer universidade, com algumas aulas boas, outras ruins, professores srios, professores picaretas, trabalhos entregues na ltima hora e, dependendo do caso, uma ou outra guerrinha de bolas de papel amassado. A diferena que os alunos vestem terno e gravata e ganham j o salrio inicial da carreira, para estudar. Eu no sou maluco de desprezar o privilgio de receber dinheiro para estudar, mas verdade que alguns se cansam cedo das carteiras do Rio Branco e querem logo ir para o Itamaraty, para trabalhar como gente grande. Para mim, com certeza, o contato com minha turma foi a melhor coisa do Rio Branco: o concurso se encarrega de que muitas pessoas inteligentes e interessantes iro tornar-se seus colegas. Voc gostou das aulas? Gostei muito de poucas e razoavelmente de algumas, o que me coloca, em grau de satisfao, acima da mdia das pessoas de minha turma e de outras turmas que conheo. Acho que o problema que muitos chegam ao Rio Branco esperando demais e se decepcionam. Por mais que reclamem do curso ou das aulas, porm, no vi ningum, at agora, desistir da carreira por causa disso. possvel ser reprovado? Teoricamente, sim. Teoricamente, o Rio Branco insere-se naqueles trs anos de estgio probatrio, previstos em lei, durante os quais o funcionrio pblico recm-ingresso ainda no adquiriu estabilidade na carreira, podendo ser demitido sem necessidade de uma acusao grave e de um processo administrativo. Assim, em teoria, se um aluno no passar no Rio Branco, no ser confirmado no Servio Exterior em outras palavras, perder o emprego. Na prtica, s ser reprovado quem se esforar muito para isso. Afinal, se voc passou no concurso porque lhe sobra capacidade para acompanhar o curso, a menos que resolva mandar tudo s favas, faltar maior parte das aulas e no fazer nenhuma prova ou trabalho. Se voc no fizer a dissertao de mestrado, ter, de todo modo, cumprido o PROFA-I e prosseguir sua carreira normalmente, apenas sem o ttulo acadmico. possvel, ainda, ficar de segunda poca em uma disciplina ou outra. Nesses casos, pode-se combinar com o professor a feitura de um trabalho ou uma prova suplementar que resolva o problema. Poderei, durante o Rio Branco ou depois dele, exercer alguma outra atividade remunerada na iniciativa privada? Diplomatas so funcionrios pblicos federais e portanto devem ter dedicao exclusiva ao Estado, sob pena de inqurito administrativo e possvel exonerao. Excees nicas: atividades de magistrio e remunerao a ttulo de direitos autorais por obras de autoria prpria (e.g., livros, artigos, fotografias). Tenho colegas que do aula em faculdades particulares, sem problema. E haver tempo disponvel para isso? Tempo, durante o curso no Rio Branco, h. Depois, vai depender da diviso em que for trabalhar, do ritmo do seu chefe e da sua prpria disposio e prioridades. Durante o curso, h quantos meses de frias por ano? Dois meses de recesso, janeiro e julho. No final de dezembro (23 em diante) tambm no costuma haver aulas. Mas oficialmente s temos um ms de frias, e aps um ano no Rio Branco podemos tir-las e ganhar o adicional de frias como todo funcionrio de carteira assinada, mas o perodo de frias tem de

coincidir com o recesso no Rio Branco. Terei um estgio no exterior ao fim do Rio Branco? Por quanto tempo? Essa uma pergunta sensvel. Tradicionalmente havia um estgio de trs meses em uma embaixada ou outro posto do Brasil no exterior. Esse estgio, porm, nunca foi considerado parte integrante do curso do Rio Branco, e sua durao, formato e destino costumam ficar merc das preferncias flutuantes dos diretores do Instituto e dos manda-chuvas do Itamaraty. A turma de 2002, por exemplo, foi enviada por um ano inteiro ao exterior, deixando de matar a sede anual da Secretaria de Estado em Braslia por novos diplomatas. A turma seguinte pagou pela prolongada ausncia da anterior ficando sem estgio e sendo lotada imediatamente nos departamentos e divises do Ministrio. Talvez volte a haver estgio em anos vindouros. Talvez no. E o PROFA-II? No tenho a menor idia de por que o PROFA-I chama-se PROFA-I, pois no h nenhum PROFAII. Isso no quer dizer que o diplomata no tenha que voltar a estudar. Ao longo de sua carreira, ele poder voltar duas vezes s mesas escolares do Rio Branco: uma vez para fazer o Curso de Aperfeioamento de Diplomatas (CAD), obrigatrio para promoo ao cargo de Primeiro Secretrio; e outra para o Curso de Altos Estudos (CAE), obrigatrio para promoo ao cargo de Ministro de Segunda Classe. Carreira diplomtica O que faz um diplomata? O diplomata o funcionrio pblico que cuida da formulao da poltica externa e do manejo dirio das relaes exteriores do Estado Brasileiro, incluindo o apoio a cidados brasileiros no exterior. Voc com certeza j ouviu falar que, com a globalizao, as tecnologias de comunicao e transporte e a crescente interdependncia entre os Estados, os pases envolvem-se em um nmero cada vez maior de questes cada vez mais especializadas etc. etc. etc. Na prtica, isso significa, para os diplomatas, mais trabalho. H cada vez mais rgos internacionais, reunies e foros bilaterais (dois pases), plurilaterais (alguns pases) e multilaterais (um monto de pases) sobre os temas mais diversos, nos quais o Brasil tem pelo menos algum interesse. Isso, somado cada vez maior comunidade brasileira na dispora e necessidade de abrir novas embaixadas em pases menores, explica por que o governo est atualmente ampliando em 25% o quadro de diplomatas. Qual a diferena entre embaixada e consulado? O diplomata trabalha nos dois? Em tese, uma embaixada a representao do Estado Brasileiro junto a um Estado estrangeiro. Trata, portanto, dos contatos polticos e econmicos intergovernamentais, e sempre se localiza na capital poltica do pas em questo. Um consulado um posto avanado do Estado Brasileiro em outro pas, com o fim principalmente de prestar apoio aos brasileiros no exterior, mas tambm, supostamente, de realizar atividades de divulgao cultural, promoo comercial e assistncia iniciativa privada. Se em cada pas h no mximo uma embaixada do Brasil, por outro lado em um s pas pode haver diversos consulados, desde que a existncia de vrias cidades importantes ou com grande presena de brasileiros o justifique. comum ainda que a embaixada acumule as funes de consulado na capital em que se localiza. No incio do sculo XX, havia, no Brasil, carreiras separadas para funcionrios diplomticos e consulares. De h muito, porm, as carreiras so unificadas, e o diplomata pode servir tanto em embaixadas quanto em consulados. Como o dia a dia de um diplomata? O dia-a-dia do diplomata pode ser muito diferente, dependendo de onde ele est e do que est fazendo. Podemos dividi-lo em dois momentos principais: exterior e Braslia. Toda a carreira se alterna entre

estes momentos: alguns anos no exterior, alguns em Braslia. Alguns no exterior, alguns em Braslia. E assim vai... T bom, como o dia-a-dia de um diplomata quando no Brasil? Quando se est em Braslia, como o meu caso atualmente e sempre o caso de quem est comeando, o diplomata um funcionrio pblico, um burocrata do Ministrio das Relaes Exteriores. H montes de divises, departamentos e reas, cada uma cuidando de uma coisa. ONU, meio-ambiente, desarmamento, cultura, fome no mundo, Mercosul, Alca, relaes bilaterais (um departamento para cada continente) e por a vai. Prepara-se discursos, relatrios, instruem-se as embaixadas no exterior, faz-se pesquisas, viaja-se para participar de encontros internacionais que duram alguns dias. H tambm divises administrativas, em que o diplomata no vai cuidar de poltica externa, mas do funcionamento do Ministrio: RH, material, patrimnio, passagens areas, hotis, passagens etc. H por fim o Cerimonial, que organiza a logstica de eventos que o Brasil sedia, organiza visitas de Chefes de Estado ao Brasil e planeja e acompanha as viagens do nosso Presidente ao exterior. onde existe de fato aquele trabalho clich de um diplomata dispor quem senta onde no jantar, fazer convites, preparar salamaleques. Mas no s isso. O Cerimonial planeja agendas, reserva hotis, sales de convenes, prepara transportes, credenciais e coordena o trabalho de segurana com a Polcia Federal e o Exrcito. Ao longo de sua carreira, um diplomata trabalhar em diversas divises, e ter de se adaptar a assuntos e rotinas um tanto diferentes. Muitas tarefas, no entanto, envolvem escrever. Escrever para as embaixadas nossas no exterior, dando-lhes instrues, escrever para as embaixadas estrangeiras aqui, escrever para outros ministrios de modo a coordenar polticas ou pedir apoio ou participao em algum evento, escrever relatrios para serem lidos pelo secretrio-geral, pelo ministro e pelo presidente da repblica. Escrever discursos para algum pronunciar, escrever, escrever, escrever... H ainda incontveis reunies de debate, coordenao ou negociao, seja dentro do Ministrio, seja com outros Ministrios, seja com outros pases. E no exterior? No exterior que o diplomata fica realmente parecido com o conceito que as pessoas tm de diplomata. Com seus companheiros de embaixada (de dois a vinte e poucos diplomatas brasileiros, dependendo do pas, mais diversos oficiais e assistentes de chancelaria e outros funcionrios), ele ir acompanhar a vida poltica do pas e fazer relatrios para os colegas da diviso correspondente em Braslia, sob o comando do Embaixador, que o chefe do posto. Podero agitar eventos culturais, participar de coquetis com autoridades do pas e com diplomatas de outros pases, preparar o terreno para visita de autoridades brasileiras ao pas em que ele estiver, cuidar da administrao da embaixada, responder imprensa local se ela quiser saber algo sobre o Brasil, e em geral ajudar a representar nosso pas no exterior. Devero escrever muito, tambm, preparando comunicados e relatrios para seus pares em Braslia. Nos consulados, os diplomatas ajudaro os cidados brasileiros no exterior. Sero a face amiga do Estado brasileiro para o brasileiro que est l fora. Vistos, casamentos, prises, expulses, imigrao, crimes, comrcio, negcios... no ache que brasileiro no d trabalho. A vida de um diplomata, enfim, poder ser muito diferente dependendo da rea de trabalho, quer se esteja no exterior, quer no Brasil. Qual o perfil para ser diplomata? Que pergunta estranha... mas como j ma fizeram algumas vezes, vou responder. No h um "perfil" para ser diplomata. J vi gente de todo tipo, l. Todo tipo. Mas acho que, em termos de formao acadmica e interesses, o tipo padro formado em direito, tem interesse por questes internacionais e gosto por lnguas. Talvez um pendor para a insanidade leve, mas isso controverso. Porm, j escrevi que a vida do diplomata muda muito ao longo da vida. A cada poucos anos um tema, uma situao, um pas, uma lngua diferentes. Acho, portanto, que uma caracterstica desejvel a capacidade de adaptao e de acomodao.

Quanto tempo se passa no exterior? O tempo varia segundo a carreira de cada um. Voc pode ficar mais tempo no exterior ou mais no Brasil. razovel supor que metade da vida profissional de um diplomata, em mdia, desenvolve-se em postos no exterior. No possvel, porm, passar mais de oito anos consecutivos no exterior (dez anos para embaixadores), e dificilmente um diplomata passa mais de trs anos em um s posto. Se eu no quiser, serei obrigado a me mudar para um determinado pas? No. Ningum obrigado a ir para onde no quer, embora o Ministrio disponha de diversas maneiras de incentivar e convencer as pessoas a irem para pases prioritrios para a poltica externa. Alis, s removido (transferido para um posto no exterior) quem se inscreve, internamente, em um plano de remoo. Porm, como a ascenso na carreira tem entre seus requisitos legais um nmero mnimo de anos de servio no exterior, todos tero que se inscrever mais cedo ou mais tarde, caso queiram progredir na carreira. O salrio no exterior, sempre muito maior do que no Brasil, tambm incentivo relevante. Como , ento, que escolho os pases onde vou servir? H muita flexibilidade e razovel poder de escolha, embora seja difcil obter uma vaga nos postos mais concorridos. Voc escolhe para que pas ir segundo as vagas disponveis no momento em que pede a remoo, escolha esta condicionada por regras que se alteram a cada plano. Os postos no exterior so classificados em A (pases desenvolvidos e cidades com boa qualidade de vida, como Paris, Nova York, etc.), B (pases e cidades com qualidade de vida intermediria, como Praga, Montevidu, Santiago), e C (o resto, como Pequim, Nova Delhi, Quito e cidades da frica subsaariana). Esto estudando criar uma categoria D, para os postos em que a vida mais difcil. O sentido dessa categorizao que h vrias regras para equilibrar a escolha dos postos e reduzir privilgios e injustias: em postos C, por exemplo, voc ganha mais em relao ao custo de vida do pas e depois tem o direito de sair para um posto A; no se pode ir para dois postos A consecutivos, etc. possvel seguir uma carreira acadmica paralela diplomtica? So cada vez mais raros os casos de diplomatas como Guimares Rosa, Joo Cabral de Melo Neto, Jos Guilherme Merquior e outros, que conseguem conciliar a atividade de diplomata com uma carreira extremamente bem sucedida em outra rea, como a acadmica. Ser que isso quer dizer que os diplomatas hoje tm que trabalhar mais? De qualquer forma, isso no quer dizer que no haja abertura. Muitos aproveitam seus perodos no exterior para fazer um doutorado, por exemplo, conciliando-o com o trabalho. Diversos outros seguem dando aulas e publicando livros. No h licenas especiais para isso, porm, exceto licenas no-remuneradas. Se quer seguir carreira acadmica, por sua conta. Como a hierarquia da carreira? a seguinte, de cima para baixo na cadeia alimentar: Ministro de Primeira Classe (vulgo Embaixador). Ministro de Segunda Classe (vulgo Ministro) Conselheiro Primeiro Secretrio Segundo Secretrio Terceiro Secretrio Exceto em casos especiais, apenas um diplomata que alcana o grau de Ministro de Primeira Classe pode servir como embaixador do Brasil em algum pas estrangeiro, da esse grau ser chamado, por comodidade, de Embaixador. Em pases pequenos e menos importantes, com embaixadas menores, um Ministro de Segunda Classe pode eventualmente servir como Embaixador. H tambm indicaes polticas, normalmente raras, em que o Presidente da Repblica designa algum de fora da carreira como Embaixador.

Foi o caso, por exemplo, do ex-presidente Itamar Franco, na Itlia. Nesses casos, o embaixador civil poder contar como seus assessores com diplomatas de carreira experientes. Se virar diplomata, vou chegar a ser embaixador? Quando? Com a ampliao dos quadros, o aumento da idade mdia em que se ingressa na carreira e o afunilamento das promoes, a maior parte dos diplomatas que hoje ingressam no Itamaraty no chegar nunca ao grau de Ministro de Primeira Classe, nem chefiar uma embaixada. No obstante, a carreira est cheia de oportunidades de realizao profissional e pessoal. No preciso ser embaixador para se envolver em negociaes internacionais, contribuir para formar a posio brasileira em diversos temas ou gozar ao redor do mundo de experincias de vida gratificantes, em contato com pessoas e culturas interessantes e diferentes. Como ficam o cnjuge e os filhos quando o diplomata vai morar no exterior? fato conhecido que a vida pode no ser l muito fcil para a famlia de um diplomata. Para o cnjuge no-funcionrio do Servio Exterior, e dependendo de sua profisso, pode ser difcil levar adiante uma vida profissional mudando-se de pas a cada trs ou quatro anos. O mesmo motivo torna no trivial a educao dos filhos. A maior parte dos diplomatas opta por manter seus filhos em escolas de rede internacional, como a escola americana ou a escola francesa, ao menos quando esto no exterior. Isso lhes permite manter currculo e lngua constantes ao longo de tantas mudanas. So escolas caras, contudo. Por fim, no h nenhum acordo internacional facilitando o emprego de cnjuges ou familiares de diplomatas quando no exterior e, exceto por um acrscimo de salrio baseado no nmero de dependentes, no h outra forma de apoio do MRE s famlias no estrangeiro. Uma reivindicao antiga dos funcionrios uma ajuda de custo para educao, mas no h perspectivas de que seja atendida, por enquanto. Quanto ganha um diplomata? O Ministrio do Planejamento divulga uma lista, atualizada periodicamente, com os salrios de todos os servidores pblicos federais. Os salrios dos diplomatas, de Terceiro Secretrio a Ministro de Primeira Classe (vulgo "Embaixador") esto todos l. Adianto que hoje, maio de 2006, um Terceiro Secretrio entra na carreira recebendo R$ 5.103,65 brutos (R$ 3.538,44 aps impostos e previdncia). Aps seis meses de estudo, o salrio sobe para at R$ 3.853,59 lquidos ou um pouco menos, dependendo da avaliao individual que lhe fizerem. Achou muito ou pouco? Tem gente que reclama, mas o fato que est correndo, no Congresso, projeto de lei para o aumento dos salrios dos funcionrios do Servio Exterior, o que inclui diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria. O que foi dito vale para o Brasil. No exterior, os salrios so maiores e calculados em dlar. difcil precisar os valores, pois variam de posto para posto de acordo com o custo de vida local e outros fatores e, de pessoa para pessoa, de acordo com o estado civil do diplomata, seu nvel hierrquico e o nmero de seus dependentes. Em mdia, porm, um Terceiro Secretrio pode esperar ganhar entre quatro e cinco mil dlares, lquidos, quando no exterior. Um Conselheiro, em torno de sete a nove mil. Um Embaixador, em torno de onze a quinze mil, alm de verbas para gastos com recepes oficiais e representao. Alm disso, os diplomatas no exterior recebem uma ajuda de custo para o aluguel, que cobre de 60 a 100% do valor do contrato at um valor determinado, dependendo do posto.

Outros temas Quem voc?

Inclu essa pergunta porque entendo que a compreenso e interpretao de um texto, e principalmente de um texto que contenha opinies e pontos de vista pessoais, como este, depende de se saber quem foi que o escreveu. O mesmo juzo, emitido por um embaixador no final da carreira, por um filho e neto de diplomatas, por uma jovem terceira secretria ou por um acadmico no-diplomata ser recebido de forma diferente por quem o l, caso este saiba de quem partiu. Pois bem, nasci em 1979, em uma famlia de classe mdia. Meu pai oficial da Aeronutica. Com exceo de um ano vivido com minha famlia na Frana, quando contava seis anos, nunca, at hoje, passei mais do que uns poucos dias em qualquer pas estrangeiro. Sou formado em jornalismo pela Universidade de So Paulo. Nunca, antes de completar a universidade, cogitei seriamente prestar o concurso do Instituto Rio Branco e ingressar na carreira diplomtica; alis, por muito tempo sequer sabia da existncia desse instituto ou devotava qualquer interesse diplomacia como atividade ou profisso. No h diplomatas em minha famlia, nem nunca, at me envolver com o concurso, conheci nenhum. Durante a faculdade, e ao longo de dois anos depois de formado, trabalhei como jornalista em diversos veculos, com emprego fixo ou como freelancer, incluindo a revista Superinteressante, a Revista Submarino (na internet, hoje extinta), a Folha de S. Paulo, o site de tecnologia Hotbits e outros. No sei bem explicar at hoje por que prestei o concurso. Jornalistas e diplomatas, creio, tm em comum o entenderem e fazerem de tudo um pouco, sem conhecerem a fundo coisa alguma. Meu pai j me chamava a ateno para o concurso h alguns anos sem que eu lhe tivesse dado bola. No incio de 2002, porm, resolvi prest-lo s para ver, sem estudar, e fui reprovado na prova de portugus da segunda fase. Meu interesse, porm, foi capturado, e no segundo semestre do mesmo ano procurei um curso preparatrio. Prestei o concurso no ano seguinte e fui aprovado. Ingressei na carreira diplomtica em julho de 2003, aos 24 anos de idade. Conclu o curso do Instituto Rio Branco em maro de 2005. Minha dissertao de Mestrado em Diplomacia foi aprovada com o tema A poltica-externa norte-americana e a influncia dos grupos de presso no Congresso dos Estados Unidos. Hoje, maro de 2006, como Terceiro Secretrio, trabalho no Departamento de Integrao do Ministrio das Relaes Exteriores. At agora, no fui removido (transferido para um posto no exterior), e no espero s-lo por pelo menos um ano, ainda. Minha experincia profissional no exterior resume-se, por enquanto, a viagens curtas para participar de reunies entre governos dos pases do Mercosul. Quando ingressamos no Rio Branco, o Itamaraty nos providencia residncia em Braslia? Providencia nada. Mas quem est na carreira tem EXPECTATIVA de direito a um apartamento funcional. H um bloco de apartamentos do Ministrio em Braslia que destinado aos diplomatas recmingressos. So 36 apartamentos de um quarto, sala, varanda, banheiro e cozinha na Asa Sul. Muito bons para um solteiro, apertados, mas suficientes, para um casal, pssimos para quem tem filhos. Como so s 36, h uma lista de espera. Dentro da mesma turma, o nmero de dependentes o principal critrio para ordenar a lista, e a classificao no concurso o desempate. Para voc ter uma idia, depois de um ano e meio, a minha turma (ingresso em 7/2003) ainda no havia acabado de receber os apartamentos. Eu recebi o meu aps um ano de espera. A demora para os que entram na carreira agora provavelmente ser bem maior do que para mim, por causa do aumento do nmero de vagas. Em suma: no conte com apartamento to cedo. Em tempo: depois de alguns anos, chega-se por outra lista de espera aos chamados apartamentos definitivos, de dois ou trs quartos. Mas esses realmente demoram, e os que esto chegando do exterior tm prioridade sobre os recm-ingressos. Uma pgina do site do MRE informa que o Ministrio possui ao todo 450 imveis no Distrito Federal. No imaginava que fossem tantos. O MRE fornece alguma passagem area para minha cidade natal, periodicamente, ou sempre que quiser visitar meus familiares terei de arcar com as despesas de passagem?

No somos deputados. Ganhamos nosso salrio e nos viramos com ele. Sequer as despesas da primeira mudana para Braslia sero cobertas pelo MRE, embora futuras mudanas para o exterior sim. Serei reprovado no concurso por causa da minha tatuagem? No h NADA escrito em lugar nenhum que proba as pessoas de usarem tatuagens no Itamaraty. No vou negar que a instituio no tenha superado todos os seus ranos conservadores, tradicionalistas ns trabalhamos de terno e gravata, pra comear. Quando havia provas orais, teoricamente, e digo TEORICAMENTE, seria possvel um aluno ser mal visto por um ou mais membros da banca por caua de uma tatuagem demasiado agressiva ou aparente e acabar reprovado, embora esse jamais seria o motivo oficial. No momento, porm, no h provas orais, de modo que faltam at os instrumentos para um controle como esse. E eu conheo diplomatas que usam tatuagens. H uma idade mxima, ou "certa", para entrar na carreira? No. Consta que h muitos anos havia uma idade mxima de 28 anos, mas foi derrubada por inconstitucional. Conheo quem tinha visto mais de quarenta primaveras quando entrou na carreira. A idade mdia de entrada vem aumentando desde que se passou a exigir curso superior completo para entrar na carreira. Casos de pessoas que comeam a carreira com trinta, trinta e poucos anos, mestrado e at doutorado completos so bastante comuns. Na minha turma, a caulinha tinha 21 anos e a mais velha 41. H porm, segundo a Lei do Servio Exterior, certos limites mximos de idade para determinados graus da hierarquia. Se, antes de atingido o limite para Conselheiro, por exemplo, o funcionrio no for promovido a Ministro de Segunda Classe, ele entra para o chamado Quadro Especial e, apesar de continuar trabalhando normalmente, no poder mais ser promovido. *** Aqui termina a FAQ do Candidato Diplomacia. Espero que lhe possa ser de algum proveito. Se voc tem uma pergunta que no est relacionada aqui, e cr que uma resposta possa ser do interesse geral, ficarei muito grato se ma enviasse por emeio, que procurarei responder nesta pgina. Voc pode encontrar um link na pgina principal deste site.