Fale! Brasilia

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Revista de informação ANO X — Nº 11 OMNI EDITORA www.revistafale.com.br R$ 9,00 JUSTIÇA JÁ, REVOLUÇÃO NO JUDICIÁRIO Saiba quais as projeções para o ano que chega. O que muda no cenário político, econômico e tecnológico B RASÍLIA 9771519 53000 51 1 0 0 0

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Revista Fale! Brasilia _ Cenários 2011

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Revista de informaçãoANO X — Nº 11OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br

R$ 9,00

JUSTIÇA JÁ, REVOLUÇÃO NO JUDICIÁRIO

Saiba quais as projeções para o ano que chega. O que

muda no cenário político, econômico e tecnológico

BRASÍLIA

977151953000

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OS 30 CEARENSES MAIS INFLUENTESP R Ê M I O L U B B A D 2 0 1 1

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OS 30 CEARENSES MAIS INFLUENTESP R Ê M I O L U B B A D 2 0 1 1

1. ObjetivosPremiar anualmente 30 Cearenses utilizando o critério de influência. No famoso Dicionário Aurélio o adjetivo influente é definido como “quem influi ou exerce influência”. Trata-se de um fato ou ação que afeta pessoas, coisas ou o curso de um evento, especialmente quando funciona sem qualquer esforço aparente direto. Influência também se traduz no poder de influenciar ou afetar, sustentado no prestígio, riqueza, habilidade ou posição. Em qualquer situação, traduz reconheci mento e credibilidade.

2. CategoriasSão cinco categorias: 1. Politicos 2. Empresários&Empreendedores 3. Artistas&Intelectuais 4. Profissionais Liberais 5. Esportes.

Você pode indicar um nome pela internet. É só entrar no site da revista Fale!.

Para indicar um nome para a lista dos

30 Cearenses Mais Influentes,

entre no site www.revistafale.com.br

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R E V I S T A D E I N F O R M A Ç Ã O

EDITOR&PUBLISHER LUÍS-SÉRGIO SANTOS

EDITOR SENIOR ISABELA MARTIN

EDITOR ASSOCIADO Luís Carlos Martins EDITOR DE ARTE Jon Romano REDAÇÃO Cinara Sá, Liana Costa, Carlos Mazza e Camila Torres COLABORADORES Fernando Maia, Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa

DIRETOR DE ARTE Eduardo Vasconcelos DESIGNER GRÁFICO Breno Aôr

GERENTE COMERCIAL Dena de Marchi n e-mail: [email protected] JURÍDICO Mauro Sales BRASÍLIA (61) 8188.8873

SÃO PAULO (11) 6497.0424

IMAGEM Agência Brasil, AE, Reuters REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 n Fones: (85) 3247.6101 n CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará n e-mail: fale@revistafale.

com.br n home-page: www.revistafale.com.br Fale! é publicada pela Omni Editora Associados Ltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção.

Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos

assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de

Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2010 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos

reservados. IMPRESSÃO Celigráfica n Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call

(55+85) 3247.6101 or by e-mail: [email protected]

A Omni Editora não autoriza ninguém a falar em seu nome para angariar convites, presentes, empréstimos, permutas, benefícios de qualquer ordem. Qualquer relação comercial só terá validade sob

contrato formal com a Omni através de sua diretoria.

TIRAGEM DESTA EDIÇÃO: 11.000 EXEMPLARES

DIRETOR EDITOR LUÍS-SÉRGIO SANTOS

ISSN 1519-9533

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ArenaPolíticaTalkingHeadsOnlinePeriscópio

EM CENAPresidente Lula durante cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural 2010, no Rio de Janeiro no dia 2 de outubro de 2010

“Não verei vocês até ano que vem. Mas estejam certos de uma coisa: eu disputei eleições em 1989, 1994 e 1998 e perdi. E, a cada vez que

perdia, eu não me escondia. Eu voltava para a rua. Depois, ganhei 2002, ganhei 2006. Elegemos a companheira Dilma, que pode fazer um governo melhor do que eu fiz. Se quando eu perdia eu não me escondia, por que vou me esconder agora que eu ganhei?

LULA, em discurso no interior de Pernambuco

S E Ç Õ E S

36Freio no PIB A estimativa da CNI para

a expansão da economia é de 4,5% em 2011, em contraponto dos 7,5% de crescimento do Produto Interno Bruto — PIB em 2010. Outros indicadores registrarão, igualmente, desaceleração no próximo ano

28Difícil oposiçãoA derrota nas urnas do

presidenciável do PSDB, José Serra, trouxe aos tucanos um desafio para os próximos anos: se fortalecer como uma legenda efetiva de oposição. Alguns analistas avaliam que o PSDB precisa se estruturar internamente e renovar suas lideranças

CAPA: FOTO JARBAS OLIVEIRA

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16 E agora, Dilma? Dilma Rousseff é a presidente

eleita do Brasil! E agora? Com a difícil tarefa de escolher a composição dos Ministérios, tem a seu favor a maioria no Congresso, mas ainda é desconhecida pela comunidade mundial e precisará trabalhar duro para construir uma boa imagem

ECONOMIA

||PausePOLÍTICA

10 Talking Heads12 Online

48 Consumo50 Última Página

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PRÓXIMA EDIÇÃO

A próxima edição da revista Fale! trará uma reportagem especial sobre a história da publicação, com uma entrevista com o editor Luis-Sérgio Santos, depoimentos de pessoas que fizeram parte da história da revista e uma retrospectiva das capas de cada uma das 77 edições. Edições anteriores da revista podem ser encontradas no site. O conteúdo tem acesso livre e está disponibilizado na íntegra. Acesse www.revistafale.com.br/edicoesanteriores

Navegue no site da revista Fale! e acesse reportagens, entrevistas, vídeos, blogs, edições anteriores e suas versões digitais. Todo o conteúdo é livre e na íntegra

Além de se informar, que tal ouvir uma boa música? A Fale! FM oferece músicas dos anos 1980 ao jazz, incluindo clássicos e novidades do cenário musical. O internauta pode conferir a programação em www.revistafale.com.br/falefm

Uma década de história

EDIÇÃO ESPECIAL

O Twitter invade FortalezaO Twitter, com suas mensagens de 140 caracteres, está revolucionando a Internet e se tornando uma das redes sociais mais influentes no Brasil. A

revista Fale! foi ao Marina Park Hotel conferir a terceira edição do TweetFor, o maior evento de mídias sociais do

Brasil. O encontro reuniu mais de 600 tuiteiros da cidade que, em meio a muita feijoada e shows musicais, festejaram e fortaleceram os laços virtuais criados no miniblog. A edição especial — exclusivamente digital — está disponível no site.

FALE! FM

O melhor dos anos 1980 e do jazz

Está acontecendo no site da revista Fale! a votação para a edição de 2011 do prêmio Os 30 Cearenses Mais Influentes — Prêmio Lubbad 2011. Serão premiados os 30 nomes que mais influenciaram, de forma direta ou indireta, a sociedade cearense. São cinco categorias de escolha: Políticos, Empresários&Empreendedores, Artistas&Intelectuais, Profissionais Liberais e Esportes. A lista dos nomes será escolhida através de indicação aberta que pode ser feita pelo endereço www.revistafale.com.br/30mais2011.html

INFLUENTES

Site recebe indicações para a lista de 2011

Agora você também pode saber tudo sobre o que acontece no Planalto Central através do blog da revista Fale! Brasília. No site você encontra as principais atualizações do Distrito Federal, com informação em tempo real e análise dos fatos. Para acessar, bastar entrar em http://www.revistafale.com.br/blog/falebrasilia/

ENTREVISTA

Blog da Fale! Brasília está no ar

OS 30 CEARENSES MAIS INFLUENTESP R Ê M I O L U B B A D 2 0 1 1

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8 | Fale! | DEZEMBRO DE 2010 www.revistafale.com.br

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Uma revista com a cara de Brasília.

www.revistafale.com.br/brasilia

(61) 8188.8873

A revista de informação de Brasília. Toda grande cidade merece uma grande revista.

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“Já sei o que vou fazer. Vou dar um tempo de três meses para que eu não continue falando como presidente. Depois dessa quarentena, voltarei a falar, mas daí já como ex-presidente.”

LULA, programando sua rotina após deixar a presidência da República

TalkingHeads

Eu sou um perfeccionista.

Sou insaciável nisso. E sinto que há tantas coisas em que posso melhorar.

SERENA WILLIAMS, tenista norte-americana considerada pela Associação Feminina de Tênis como número 1 do mundo

Eu me preparo para eleger até um poste. E sem luz!

LUIZIANNE LINS, prefeita de Fortaleza (PT), ao ser indagada pelo repórter Eliomar de Lima, do jornal O Povo, sobre os preparativos para sua sucessão em 2012, no dia 6 de dezembro de 2010

Eu estou livre, não tenho mais compromisso com a prefeita.

CID GOMES, governador do Ceará, em entrevista à Rádio O Povo-CBN, sobre sua relação com a prefeita Luizianne Lins

Não me peça para avaliar a administração dela. Eu não vou fazer isso, não.

CID GOMES, referindo-se à gestão municipal de Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza

A própria percepção de que a política é a área mais corrupta, já é um problema. Pensar isso é uma falsidade grande. Você tem um sistema de corrupção implantado também na economia, nas instituições religiosas, veja o exemplo da pedofilia.

ROBERTO ROMANO, professor de Filosofia e Ética da Unicamp, sobre o ranking de corrupção da Transparência Internacional

||Pau

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W I K I L E A K S , T R A N S P A R Ê N C I A

Esta revelação é um ataque à comunidade internacional.

HILLARY CLINTON, secretária de Estado dos EUA, sobre a publicação não autorizada de 250 mil documentos do Departamento de Estado norte-americano pelo site Wikileaks.

O que a censura revela? Ela revela medo. JULIAN ASSANGE, criador do Wikileaks, em entrevista ao jornal britânio The Guardian, em julho de 2010

Se um jornalismo é bom, então é controverso em sua natureza.

JULIAN ASSANGE, criador do Wikileaks, em entrevista ao jornal britânio The Guardian, em julho de 2010

O objetivo do Wikileaks é reformar o mundo através da transparência.

JULIAN ASSANGE, criador do Wikileaks, em entrevista ao jornal britânio The Guardian, em julho de 2010

LETAL Julian Paul Assange jornalista e ciberativista australiano é o fundador do Wikileaks FOTO EUROPA PRESS

Não há autismo intelectual que impeça o mais medíocre dos jornalistas de perceber a ardilosa campanha organizada contra a WikiLeaks.

DIEGO ESCOSTEGUY, jornalista

A prisão de Julian Assange é um teste claro, voltaireano: não precisamos concordar com nada do que ele diz para aceitar que tem o direito de fazê-lo.

PAULO MOREIRA LEITE, jornalista

Julian Assange se permitiu publicar praticamente qualquer coisa que

ele quiser, não importa se é sobre os meandros dos abusos a prisioneiros iraquianos, o duplo papel que o Paquistão desempenha no Afeganistão ou os e-mails pessoais de Sarah Palin.

TIME, revista semanal amricana descrevendo a atividade de Assange, ao mesmo tempo em que o

inclui na lista dos mais influentes do mundo

Viva num mundo WikiLicado ou exploda a internet. A escolha é sua.

JOHN NAUGHTON, no jornal inglês The Guardian

A informação nunca foi tão livre. Mesmo em países com regimes autoritários, redes de informação estão a ajudando as pessoas a descobrir os fatos e fazem com que governos sejam mais responsáveis.

HILLARY CLINTON, secretária de Estado dos EUA, citada pelo The Guardian

@wikileaks Lights on. Rats out.

||Pause

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Celular com PSP q Tanto se falou e

especulou que a criação do PlayStation Phone foi confirmada pela Sony. Ele rodará a futura versão 3.0 do Android (a Gingerbread) e virá com a loja Sony Marketplace, com jogos desenvolvidos para o aparelho.

O celular terá processador Qualcomm de 1GHz, 512MB de memória RAM e 1GB de memória ROM. A tela pode ser de 3,7 ou 4,1 polegadas, além de uma entrada para cartões microSD. O PSP Phone manterá os botões laterais, mas terá um trackpad multitouch no lugar do joystick. A Sony ainda não divulgou o possível preço nem a data exata do lançamento, que poderá ser ainda neste ano.

Almofada ou controle? Estranho, mas interessante. Um controle remoto em forma de almofada, ou vice-versa. O Pillow Remote Control é universal e pode ser usado para controlar TV, DVD, TV a cabo, entre outros aparelhos

eletrônicos. Além, claro, de ser almofada. Na loja americana Brookstone, ele custa US$ 29,95. É até útil para quem costuma se afundar no sofá e assistir televisão.

Elegância custa caroEm tempos de smartphones, o HTC Desire chega

para aquecer a concorrência. Com design elegante, o aparelho roda com Android 2.2, tem tela de 3,7 polegadas que reconhece múltiplos toques e conta com Wi-Fi, Bluetooth e GPS. Ele é armado com o processador Qualcomm Snapdragon, de 1 GHz, o que garante rapidez nas tarefas. Seu espaço de armazenamento interno de 512 MB é um dos pontos fortes, além da memória RAM de 576 MB.

O Desire vem com entrada para cartões microSD e acompanha um cartão de 8 GB. A tela reconhece múltiplos toques e seu teclado virtual se apresenta em bom tamanho. Um TrackBall óptico funciona como mouse a ajuda na navegação. Um recurso interessante é o Leap View, que exibe como miniatura as áreas de trabalho do aparelho.

A parte traseira do celular tem uma textura que evita escorregões e oferece maior conforto e segurança no manuseio. Outra função é o controle de volume das ligações recebidas. Funciona assim: quando você se esquece de mudar o volume da campainha do celular e recebe uma ligação durante uma reunião, por exemplo,

Tweet nas alturasJá imaginou ler um tweet escrito

diretamente do ponto mais alto do mundo? A companhia telefonia Ncell, subsidiária da sueca Telionera, tornou isso uma realidade. No final de outubro, a empresa concluiu a instalação de suma base localizada no Monte Everest, a 5,2 mil metros de altura, que fornecerá o serviço de telefonia 3G para toda a região.

Assim, quem estiver se aventurando nas alturas de lá pode fazer ligações, videoconferências, entrar em sites, redes sociais e ter acesso à todo o conteúdo da web. Antes, os alpinistas se conectavam por satélite pagando tarifas altíssimas.

A instalação será fixa e permanente — ao contrário do que a Motorola fez anteriormente, quando inaugurou no mesmo local uma estação temporária, em uma ação de publicidade —, aumentará a velocidade de navegação e tornará os serviços de telecomunicações mais acessíveis para as comunidades e turistas da região.

O QUE É NOVO

basta virar o aparelho com a tela para baixo e o som é cortado e fica no modo silencioso.

Alguns pontos negativos: a câmera de 5 megapixels registra imagens escuras e cores pobres. A duração da bateria também deixa a desejar, pois fica abaixo de seus principais concorrentes, como Galaxy S e o Nokia N8. Alguns testes foram feitos e a bateria durou pouco mais de sete horas, em ligações. O modelo tem o corpo na cor preta, acabamento metálico, com detalhes acobreados e prateados. E o preço é salgado: R$ 1.735.

Um pré-pago pós-pago. Agora é possível recarregar seu celular pré-pago usando o cartão de crédito. Para aproveitar a novidade, o usuário se cadastra no site RecargaNet e pode comprar de R$ 22 a R$ 60 em créditos. O serviço está disponível para as operadoras Vivo, TIM, Oi e Nextel. Já as transações são feitas com as bandeiras Visa, Master, Amex e Hipercard. Inicialmente, o valor máximo de recargas por mês é de R$ 100 e os pagamentos não podem ser parcelados.

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Colorgraf Anuncio Revista 205x275mm.indd 1 12/17/2008 5:17:44 PM

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FL ÁVIO PAIVA

EM LANÇAMENTO NO MÊS DE DEZEMBRO, A CASA DO MEU MELHOR AMIGO (Cor-tez Editora, 2010) é um livro e CD infantil que fala sobre amizade. O autor, Flávio Paiva, é jornalista, escritor e compositor. Escreve sempre às quintas-feiras no Ca-derno 3 do Diário do Nordeste. Além de atuar profissionalmente no campo da cul-tura, Flávio Paiva participa intensamente de ações culturais e de cidadania. Já foi, por exemplo, membro efetivo do Grupo de Cultura e Identidade, do Planejamento Estratégico da Região Metropolitana de Fortaleza (Planefor); e integrante do grupo

de formulação e articulação do Pacto de Cooperação do Ceará; dentre outros. Flávio Paiva escreve livros tanto para crianças, quanto para adultos, nas áreas de cultura, cidadania, gestão compartilhada, mobilização

social e infância. O último livro para o público adulto do jornalista foi Eu era assim – Infância, Cultura e Consumismo (Cortez Edito-

ra, 2009). Nesta entrevista, o autor fala de sua nova obra: o livro e CD A Casa do Meu Melhor Amigo. O escritor fala do que o ins-pira a escrever e a compor para crianças, além do seu processo de criação e da participação dos filhos e amigos na construção da obra. Flávio Paiva fala também da combinação da literatura com a música: como é fazer um livro-CD que é ao mesmo tempo ficção e realidade?

Fale! Que tipo de literatura você apresenta ao leitor no livro/cd A Casa do Meu Melhor Amigo?

Flávio Paiva. A principal característica da minha literatura infantojuvenil é a revelação do cotidiano como expressão estética. Assim como nos outros livros, em A Casa do Meu Melhor Amigo, eu dou um testemunho da minha infância, da infância dos meus filhos e do que guardo de lembrança das nossas relações com os nossos ami-gos, nossos códigos, nossos quereres, nossas buscas, nossas virtudes e jeito de ser.

Fale! Então são relatos verdadeiros?Flávio Paiva. Todas as histórias que escrevo são verdadeiras porque nascem da minha experiência pessoal. Em A Casa do Meu Melhor Amigo, a nar-rativa está sempre na primeira pessoa, mas é uma primeira pessoa que conta com o nós e o eles na hora de tratar a ficção que está implícita na rea-lidade. É com essa dinâmica de pronomes que os personagens carregam a ação.

Fale! E onde entra a imaginação nessa forma de contar?Flávio Paiva. Procuro aceitar a maneira desregra-

da com que os personagens me levam a imagi-nar, porque entendo que desse modo fica mais

10PERGUNTASPARA

FOTO MAURÍCIO ALBANO

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contar a história das músicas e daí surgiram os livros-CDs.

Fale! A partir de 2011 o ensino da música volta a ser obrigatório nas escolas. Como você acha que o seu trabalho pode ser aproveitado nos espaços pedagógicos?Flávio Paiva. Muitos estudos de neu-rociência comprovam o papel da música no desenvolvimento cogni-tivo. Quando ouvimos música, uma série de atividades voltadas para a percepção é desencadeada em nosso cérebro. Noto que meus livros-CDs têm contribuído para que muitas

As purezas e impurezas do real estão cheias de encanto e prefiro lançar mão dessa magia a escrever histórias como produto forçosamente exclusivo da imaginação.

fácil também para o leitor exercitar a sua imaginação. A convivência natu-ral do real e do imaginário no mesmo espaço e tempo depura qualquer ar-tificialidade que queira se intrometer na história.

Fale! Você pode dar exemplos de como faz essa mistura de ficção e não-ficção?Flávio Paiva. Para redescrever a re-alidade, dando ao vivido o caráter literário, evito fazer simples trans-posições. O livro e CD A Casa do Meu Melhor Amigo está cheio des-ses exemplos. Para a cena do pai que procura reconciliação com o filho, um garoto que pratica bullying na escola, tomei emprestado um borda-do que a minha mãe fez com a oração do Anjo da Guarda para os meus fi-lhos, a partir do qual eu havia feito uma canção de ninar. No momento que o menino cupim deseja conhe-cer um bebê humano, a visita é feita à residência de um casal amigo que estava com uma menininha recém--nascida e eu tinha feito uma canti-ga para ela. Quer dizer, os fatos são concretos, o que se torna ficcional é o que eles podem exprimir literaria-mente.

Fale! É a esse “tomar emprestado” que você chama de testemunho?Flávio Paiva. Exatamente. Sempre fui um grande admirador da dimensão fantasiosa que existe na realidade. As purezas e impurezas do real es-tão cheias de encanto e prefiro lançar mão dessa magia a escrever histórias como produto forçosamente exclusi-vo da imaginação.

Fale! Como nos livros e CDs Flor de Maravilha, Benedito Bacurau e A Festa do Saci, a sua narrativa em A Casa do Meu Melhor Amigo combina literatura com música. O que tem lhe levado a escolher esse caminho?Flávio Paiva. Não foi bem uma esco-lha, considerando que gosto de uti-lizar a música em tudo o que faço. Somente há pouco mais de dez anos venho experimentando essa apro-ximação com mais atenção ao que ela tem de essencial para a nossa formação. Primeiro eu fiz um CD, em 1999, para o meu filho Lucas e depois fiz outro CD, em 2011, para o meu filho Artur. Depois comecei a

cas inéditas, algumas com parcei-ros. Como se deu essa construção?Flávio Paiva. O desenvolvimento da ação produz e consome emoções que ganham a liberdade de se encon-trar com as emoções do leitor pelo significado das palavras e dos sons. Por isso o livro e CD A Casa do Meu Melhor Amigo tem 10 capítulos e 10 músicas. Cada música faz parte dos sentimentos de cada capítulo. Ape-sar de ter uma certa facilidade para compor, há várias situações que a minha sensibilidade não basta para traduzir integralmente a emoção na sua movimentação sonora. Nesses casos procuro recorrer ao talento de amigos que são admiráveis artistas da música para me ajudar.

Fale! Quem lhe ajudou a contar a parte musicada da história do livro e CD A Casa do Meu Melhor Amigo?Flávio Paiva. Das dez músicas que in-tegram a narrativa do livro e CD, eu fiz sete em parcerias com Orlângelo Leal, Rebeca Matta, Boeing, RuKah, Anna Torres, Vicky Verônica, Abido-ral Jamacaru, Hérlon Robson, Carol Damasceno e com os meus filhos Lucas e Artur. A gravação do CD, que foi primorosamente produzida e dirigida pelo Luiz Waack, conta com a interpretação alternada do Lucas Espíndola e do Rodolfo Rodrigues, com a participação especial do An-dré Abujamra, do Edvaldo Santana, da Ná Ozzetti e do Sérgio Espíndola, além de músicos do nível de Amilcar Rodrigues, Antonio Bombarda, Dani Krotoszinski, Daniel Szafran, Kuki Stolarski, Mauricio Pereira, Reinal-do Chulapa e Ricardo Garcia.

Fale! Qual é mesmo a grande men-sagem que o leitor pode esperar deste livro-CD?Flávio Paiva. Em um trabalho que une literatura e música para combi-nar ficção e não-ficção existem tan-tas mensagens quanto a capacidade do leitor de se encontrar na sua con-tação e cantação. As ilustrações de Tati Moes também agregam muito valor ao texto literário e às canções porque apresentam uma tempera-tura voltada para o acolhimento do leitor. Entretanto, eu diria que o vórtice que catalisa e expande toda a trama de A Casa do Meu Melhor Amigo é a amizade. A amizade dos amigos alados. n

crianças se interessem pela leitu-ra dos textos após ouvir as músicas correlacionadas de forma temática. Noto também pelas perguntas que elas me fazem costumeiramente que o espaço de criação do leitor torna-se bem mais expandido quando am-bientado ao mesmo tempo pela lite-ratura e pela música. Neste aspecto, além de servir para as aulas de mú-sica em si, já que o livro-CD traz as partituras das composições, a Casa do Meu Melhor Amigo leva para o ensino da música um contexto lite-rário propício à criação de sentido para a realidade e para a fantasia.

Fale! No livro e CD A Casa do Meu Melhor Amigo, você traz 10 músi-

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Política

E AGORA, DILMA?

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E AGORA, DILMA?Dilma Vana Rousseff foi eleita

no dia 31 de outubro presidente da República para o período de 2010 a 2014. Sem nunca ter disputado uma eleição, ela é

a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do país

O DIA “V”. Dilma Rousseff faz o primeiro pronunciamento como

presidente eleita do Brasil tendo ao

lado Michel Temer, senador Magno Malta, deputado José Eduardo Cardozo, José Eduardo Dutra, Antonio Palocci

e Cid Gomes. FOTO MARCELLO CASAL _ ABR

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COM LULA. Em Brasília, o presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, comemoram a vitória no Palácio da Alvorada. Abaixo, a presidente eleita Dilma Rousseff ao chegar para entrevistas no Brasilia Imperial Hotel e, em Porto Alegre, eleitores festejam nas ruas a vitória de Dilma Rousseff à Presidência da RepúblicaFOTO WILSON DIAS_ ABR, RICARDO STUCKERT _ PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E MARCELLO CASAL JR. _ ABR

POLÍTICA

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OR VOLTA DAS 22 HORAS DO ÚLTIMO DIA 31 DE OUTUBRO, Dilma Rousseff discursou pela

primeira vez como a nova presi-dente do Brasil. Ao lado de alia-dos políticos, falou sobre honrar o compromisso com as mulheres, redução da carga tributária, er-radicação da miséria, liberdade

de imprensa, religiosa e de culto. O primeiro pronunciamento oficial,

lido, durou cerca de 20 minutos. Emociona-da, ela já parecia imaginar os desafios que a espera. E não são poucos.

Logo nos primeiros meses de seu manda-to, Dilma deverá tomar decisões importantes para o encaminhamento de seu projeto. His-

toricamente, os presidentes eleitos aproveitam o pou-co desgaste de sua imagem para pôr em prática, nesse período, medidas acerca de assuntos delicados.

De acordo com o atual momento do Brasil, em medidas de-licadas leia-se reforma tributária e previdenciária. Elas são fundamentais para a continuação do crescimento do país, mas por conta de alguns efeitos, enfrentam obstáculos para serem aprovadas. A reforma previdenciária significa criar regras mais rigorosas que restringem o acesso e reduzem os benefícios. Medidas assim deixam a população insatisfeita e os parla-mentares receosos.

Quanto à reforma tributária, o entrave é a pressão dos gover-

P

Eu vou zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa,

vou zelar pela mais ampla liberdade religiosa e de culto. Vou zelar pela observação criteriosa e

permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados na

nossa própria Constituição.

DEZEMBRO DE 2010 | Fale! | 19www.revistafale.com.br

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TRANSIÇÃO. A presidenta eleita, Dilma Rousseff e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de registro em cartório do balanço de oito anos do governo, em BrasíliaFOTO ANTONIO CRUZ_ABR

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Dilma Vana Rousseff é a primeira mulher a assumir a presi-

dência da República, para um mandato no período de 2010 a 2014. Sem nunca ter disputado uma eleição, ela é a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do país. Economista, ex-ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma teve a elei-ção definida quando atingiu 55,43% dos votos válidos no segundo turno das eleições, ante 44,57% do candidato do PSDB, José Serra.

Na campanha, Dilma destacou as conquistas dos

dois mandatos do governo do presidente Lula, que a indicou para concorrer à Presidência. O seu mote de campanha foi a necessi-dade de o Brasil continuar crescendo na economia com inclusão social. A presidente eleita ressaltou que 28 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria ao longo desses quase oito anos e prometeu trabalhar para erradicar defi-nitivamente a pobreza no país.

No comando da Casa Civil, a presidente eleita, conhe-cida por seu estilo durona, coordenou o Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC), uma das principais marcas do governo Lula, com ações em praticamente todas as áreas, desde infraestrutura até segurança pública. Dilma também foi responsável pelo lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, de forte apelo social.

Mineira de nascimento, Dilma começou na política no movimento estudantil, em Belo Horizonte. Combateu a ditadura militar (1964-1985), o que a levou à prisão, onde foi torturada. Em liberda-de, recomeçou a vida em Porto Alegre, ao lado do

A militância política de Dilma começa na ditadura

POLÍTICA

COLETIVA. A candidata do PT, Dilma Rousseff,

comenta o cancelamento da

participação do ex-funcionário do

Palácio do Planalto, Demétrius Felinto,

em audiência da CCJ do Senado FOTO ELZA FIÚZA _ ABR

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nadores contra a simplificação ou re-dução dos tributos, pois para eles isso representa perda de arrecadação. Mas essa reforma faz-se necessá-ria. O Brasil possui uma das cargas de impostos mais altas do mundo: o equivalente a 33% do PIB nacio-nal. A elevada tributação prejudica a competitividade dos exportadores brasileiros e provoca distorções nos preços, complicando a vida de em-presários e da população.

Essas duas reformas são urgen-tes e Dilma já se mostrou disposta a avançar nesse sentido, mas não deu detalhes sobre como vai resolver a questão. O que se pode dizer é que a concretização ou não das reformas irá por à prova a capacidade de ne-gociação da presidente no Congresso Nacional, já que as propostas têm de passar pelas mãos dos parlamenta-res e dependem de suas decisões.

A seu favor, Dilma conta com a maioria no Congresso: dos 513 de-putados, a coligação que apoiou sua candidatura elegeu 311. No Senado, a situação também é favorável: 48 senadores dos 81 acentos.

A escolha da composição dos Mi-

nistérios representa outro desafio para Dilma, pois ela terá de admi-nistrar a briga por cargos no novo governo, disputada pelos partidos da enorme coligação que a ajudou na eleição. A começar pelo PMDB, que não deverá se contentar com pouco; afinal, seu apoio foi fundamental para a vitória petista.

Dilma ainda é desconhecida pela comunidade mundial e precisará trabalhar duro para construir uma boa imagem lá fora e mostrar autori-dade para representar o Brasil. Terá de manter a posição privilegiada que o Brasil possui nos círculos interna-cionais e sua relevância nos debates, conquistados ao longo dos governos de FHC e Lula. Nesse sentido, Dilma foi levada para reunião do G20, na Coreia do Sul, para ser apresentada à comunidade internacional. Um bom começo: antes mesmo de to-mar posse, ela já foi escolhida a 16ª pessoa mais poderosa do mundo, segundo a lista da Forbes. Ficou na frente até mesmo de Lula (33ª), Ste-ve Jobs (17ª) e Nicolas Sarkozy (19ª).

Estar no lugar de um dos presi-dentes mais populares da história

Valorizarei a transparência na

administração pública, não haverá compromisso

com o erro, o desvio e o mal feito. Serei rígida na defesa do interesse

público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão

com meu respaldo.

ex-deputado Carlos Araújo, com quem era casada à época. Na capital gaúcha, participou da fundação do PDT de Leonel Brizola. Em 2000, deixou a sigla, junto com alguns trabalhistas históricos, como o ex-prefeito de Porto Alegre Sereno Chaise, e se

filiou ao PT.Dilma nasceu em 14 de

dezembro de 1947, em Belo Horizonte, em uma família de classe média alta. Filha da professora Dilma Jane Rousseff e do advogado Pedro Rousseff, um búlga-ro naturalizado brasileiro

com quem adquiriu o gosto pela leitura. De acordo com pessoas próximas, Dilma era uma devoradora de livros, tendo construído uma sólida formação intelectual. Até os 15 anos, estudou no tradicio-nal Colégio Sion, atual Co-légio Santa Doroteia, escola

onde eram educadas as filhas da elite da capital mineira. Ao ingressar no ensino médio, passou para o Colégio Estadual, escola pública mista, mais liberal, onde surgiram muitos dos líderes da resistência à ditadura em Minas.

ICONOGRAFIA. A foto afixada na ficha de Dilma Rousseff no DOPS de São Paulo, tirada em janeiro

de 1970. A família Rousseff, da esquerda para a direita, o filho mais velho, Igor, a mãe, Dilma Jane Coimbra Silva, as filhas Dilma Vana e Zana Lúcia, e o pai Pedro [Pétar] Rousseff. E, Dilma Rousseff encontra Leonel BrizolaFOTOS: BANCO DE DADOS

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Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui. Recebi hoje de milhões de brasilei-ras e brasileiros a missão mais impor-tante de minha vida. Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades repre-sentativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!

Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país: Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social. Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa. Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto. Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição. Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.

Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões. O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família. É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à im-prensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquan-to houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem aban-donadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos merca-dos de financiamento, limitando a alavan-cagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequi-líbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.

Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos

O primeiro discurso da nova presidente da República, Dilma Rousseff, à Nação após a confirmação da vitória

serviços públicos. Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.

Zelaremos pela meritocracia no funcio-nalismo e pela excelência do serviço público. Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo. Valorizarei o Micro Empreen-dedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.

As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.

Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.

Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.

Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

POLÍTICA

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O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.

Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas. Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde. Me comprometi tam-bém com a melhoria da segurança pública. Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos. Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.

A visão moderna do desenvolvimen-to econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a edu-cação e saúde de qualidade. É aquela que convive com o meio ambiente sem agredí--lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromis-sos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa. Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.

Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que

não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presi-denta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os parti-dos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na admi-nistração pública. Não haverá compromis-so com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradeci-mentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.

Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho. Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre

nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos natural-mente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.

Sei que um líder como Lula nunca esta-rá longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e gene-rosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado. Saberei consolidar e avançar sua obra.

Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo. Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de tra-balho. Passado o debate de projetos agora é hora de união. União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, indepen-dente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.

Sempre com a convicção de que a Na-ção Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.

Muito obrigada. n

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do Brasil e ter de lidar com uma massa populacional acostumada com um líder carismático, talvez seja o maior dos desafios. As expec-tativas em torno de Dilma não são pequenas e as comparações com seu ex-chefe serão inevitáveis.

Ela deverá mostrar jogo de cin-tura para atender todas as deman-das das cinco regiões brasileiras, enfrentar ataques da oposição e dialogar com as forças que movem a sociedade — entre elas, a impren-sa austera. Nessa agenda desa-fiadora, Dilma precisa mostra-se forte e independente da sombra de Lula, que a acompanhou durante

toda a construção de sua candida-tura. Mas ao mesmo tempo, se não for habilidosa, corre o risco de, sem a ajuda do antecessor, não dar con-ta dos problemas.

Um sinal desse processo de des-vinculação da imagem de Dilma da figura de Lula aconteceu logo nos primeiros momentos depois da vitória petista: Lula não estava presente durante o primeiro pro-nunciamento da presidente. Ele também já avisou que não partici-pará ativamente do próximo gover-no. O que poderá fazer, como costu-ma acontecer com ex-presidentes, é servir como conselheiro. “O gover-

no de Dilma tem que ser a cara e a semelhança da Dilma”, afirmou Lula.

Prestes a fa-zer parte da lista de mulheres que presidem países sul-americanos, Dilma já é prota-gonista de um capítulo importante para a história política brasileira e deverá se esforçar para se mostrar habilidosa na administração de seu capital político, adquirido com os 56% dos votos que recebeu. n

Democracia e princípios Registro um compromisso com meu país: valorizar a democracia em toda a sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais básicos, da alimentação, do emprego, da renda, da moradia digna e da paz social.

Erradicação da miséria e mais empregos Reforço meu compromisso fundamental que mantive e reiterei ao longo da campanha: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e para todas as brasileiras. Ressalto entretanto, que essa ambiciosa meta não será realizada apenas pela vontade do governo. Ela é importante. Mas, esta meta é um chamado à nação.

Liberdade de imprensa Eu vou zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa, vou zelar pela mais ampla liberdade religiosa e de culto. Vou zelar pela observação criteriosa

e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados na nossa própria Constituição.

Mercado interno No curto prazo não contaremos

com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar

nosso crescimento. Por isso se tornam mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e

nossas próprias decisões econômicas.

Fim do protecionismo Eu estou longe de dizer com isso que pretendemos fechar o país ao mundo, muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais, pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizarem plenamente suas vocações; propugnando contra a guerra cambial que ocorre hoje no mundo.

Inflação e gastos públicos Cuidaremos de nossa economia

com toda a responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável. Por isso faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.

Investimentos sociais Recusamos as visões de ajuste que recaem sobre programas sociais, serviços essenciais à população e os necessários investimentos para o bem do país.

Desenvolvimento Vamos buscar o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas social e ambientalmente sustentáveis. Para isso, zelaremos pela nossa poupança pública, zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência no serviço público.

Pequeno empreendedor Valorizarei o microempreendedor individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de

Rousseff prospecta sobre os principais assuntos no seu governo

POLÍTICA

ALEGRIA. Presidente Lula e a presidente

eleita, Dilma Rousseff

comemoram a vitória no Palácio da Alvorada

FOTO RICARDO STUCKERT _ PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

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aperfeiçoamento econômico.

Austeridade fiscal Mas, acima de tudo, quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Pré-Sal Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas naturais sempre com pensamento de longo prazo . Por isso, trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal, do marco regulatório do modelo de partilha do Pré-Sal.

Agências reguladoras As agências reguladoras terão todo o respaldo para atuar com determinação e autonomia voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade do controle dos setores regulados. Apresentaremos sempre

com clareza nossos planos de ação governamental.

Educação, saúde e segurança pública Eu me comprometi nesta campanha com a qualificação da educação e dos serviços de saúde. Me comprometi com a melhoria da segurança pública, com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias e comprometem nossas crianças e nossos jovens. Reafirmo aqui esses compromissos.

Pessoas com deficiência e os mais necessitados Disse na campanha que as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso, teriam toda a minha atenção. Quero reafirmar aqui, neste espaço, esse compromisso com todos aqueles mais necessitados.

Oposição Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que

não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio. A partir da minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de opinião política.

Reforma política Nosso país precisa melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, por uma reforma política, que eleve os valores republicanos, avançando e fazendo avançar nossa jovem democracia.

Combate a corrupção e transparência Valorizarei a transparência na administração pública, não haverá compromisso com o erro, o desvio e o mal feito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. n

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2011SER OPOSIÇÃO, DESAFIO PARA O PSDBO cientista político Humberto Dantas acredita que seria positivo para o PSDB a ruptura da atual hierarquia partidária, centrada em poucos nomes do Estado de São Paulo Por Rita Tavares e Anne Warth

POLÍTICA

A DERROTA NAS URNAS DO PRESIDENCIÁVEL do PSDB, José Serra, trouxe aos tucanos um desafio hercúleo para os próximos anos: se fortalecer como uma legenda efetiva de oposição. Apesar de o partido ter vencido o pleito em Estados estratégicos, como São Paulo com Geraldo Alckmin e Minas Gerais com Antônio Anastasia, analistas políticos consultados pela Agência Estado destacam que antes

de partir para se tornar, de fato, uma legenda de oposição, o PSDB precisa se estruturar internamente e abrir espaço para a renovação de suas lideranças.

Nessa equação, os analistas avaliam que o maior obstáculo para a reorganização do PSDB pode ser o ex-governador José Serra, caso ele se imponha como candidato natural da legenda à disputa presidencial

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2011SER OPOSIÇÃO, DESAFIO PARA O PSDB

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de 2014. “Serra ainda está em clima de campanha. Precisa parar, por-que está começando a atrapalhar o partido, que desse jeito não terá chances”, resume o cientista políti-co Fernando Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas — FGV.

Mesmo recolhido publicamente, já que Serra nega-se a dar entre-vistas (até 15/12), o ex-governador é atuante nos bastidores do PSDB. Ao ser derrotado pela presidente eleita Dilma Rousseff no segundo turno da eleição, Serra anunciou: a luta continua. E essa postura do ex--governador pode tirar dos holofo-tes do cenário político o desejo dos governadores Alckmin e Anastasia de fazer de suas gestões as grandes vitrines do partido nos próximos anos.

O cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, acredita que seria positivo para o PSDB a ruptura da atual hierarquia partidária, cen-trada em poucos nomes do Estado de São Paulo — além de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o grande expoente. “Isso não cabe mais; só funciona quando se tem poder na mão”, afirma. O ca-minho apontado é abrir espaço para a chamada “ala jovem” que reúne os governadores Alckmin e Anastasia, além de Beto Richa (PR) e o senador eleito Aécio Neves (MG). Afinal, es-tão mortos os grandes caciques que assinaram o manifesto de criação do PSDB, como Franco Montoro, Mário Covas e José Richa — pai do governador do Paraná. A exceção é FHC que tem quase 80 anos.

Quando o partido foi fundado em 1988, Aécio ainda era o tímido neto de Tancredo Neves, eleito dois anos antes deputado federal pelo PMDB. Passados 22 anos e três der-rotas sucessivas dos tucanos para o PT na disputa pela presidência da República, o ex-governador de Mi-nas está entre os que podem mudar o PSDB - ou sair do partido, hipó-tese que muitos especialistas não descartam, caso ocorra resistência à sua candidatura.

Ao falar na possibilidade de Aé-cio migrar de legenda, Humberto Dantas destaca: “O PSB tem aquilo que a oposição mais deseja: o Nor-deste. E se Aécio conseguir flertar

grande porta-voz tucano para dis-cutir os problemas do País e fazer oposição ao governo de Dilma. “Ter um discurso único é fundamental.” Mas ele adverte que o conceito de “refundação” é ruim porque está associado a algo que não certo ou até que fracassou. O ideal é propor uma “repaginação” que implica em manter a estrutura tradicional, mas buscar uma atualização política.

“O PSDB precisa de uma organi-zação partidária para atrair novos eleitores e filiados”, reforça Abru-cio. Ou seja, o partido terá de am-pliar sua base política que, desde o começo, sempre teve forte apoio entre os setores mais organizados da sociedade, mas não entre o elei-torado mais popular. Ao contrário do PMDB e do PT, o PSDB nunca foi um partido que se espalhou pelo Brasil. Em 2002, foram eleitos 72 deputados federais. Na eleição se-guinte, 65. Neste ano, os tucanos conquistaram 53 vagas na Câmara dos Deputados.

Dantas defende que a oposição precisa aprender a ser oposição. “Primeiro a oposição precisa exis-tir, se continuar a ser feita com base nas pesquisas de opinião pública e no medo de se posicionar contra elas não dá. Oposição não se faz por meio de pesquisa, você pode até não dizer o que povo quer, mas tem que bater”, sustenta.

Naturalmente, a ação do PSDB vai estar estritamente ligada ao desempenho do governo Dilma. “O PSDB poderá voltar ao centro do palco como alternativa de poder ou ainda ficar em situação mais difícil”, pondera Pio, referindo-se ao sucesso ou fracasso do novo go-verno. Mas o cientista alerta para o risco de se atrasar decisões até que se tenha um quadro consolidado da gestão Dilma.

Independentemente do caminho que decida trilhar, os analistas con-cordam que o desafio do PSDB para se consolidar como uma referência de oposição, assim como foi o PT nos governos de José Sarney e Fer-nando Henrique Cardoso, não será tarefa fácil. Mas, a favor dos tuca-nos tem o fato de que o popularís-simo presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estará mais no centro dos holofotes. n

POLÍTICA

Prefiro dar a eles um crédito de confiança.

Pelo menos o benefício da dúvida.” No entanto,

as dúvidas ainda são na Fazenda o ministro responsável por uma o

da política fiscal.

com os pessebistas, a eleição de 2014 será bem emocionante.”. Em-bora não descarte uma ruptura, o cientista político Carlos Pio, da Universidade de Brasília, acredi-ta que apenas a ameaça de que ela ocorra pode ser suficiente para que o PSDB opte por Aécio. E pondera que a favor dele tem ainda o fator novidade, pois ainda não foi testado na disputa pelo Planalto.

Dantas acredita que o PSDB precisa jogar como partido - coeso, e não com interesses individuais. “Já está provado que São Paulo não ganha eleição sozinho”, afirma. “É bom o PSDB tirar olhos de São Pau-lo e despaulistar.” A derrota de Ser-ra pode desidratar a força paulista no partido - ou ao menos, esvaziar o grupo de Serra, já que o mais pro-vável é que ele fique sem mandato até 2014, porque não se imagina que ele dispute a Prefeitura de São Paulo.

RepaginadaPara o cientista político Sidney

Kuntz, a mudança do PSDB passa por algumas vertentes. Em primei-ro lugar, é preciso arrumar a casa, reestruturar o discurso e chegar a um consenso sobre quem será o

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Revisitando o poder da mídiaPor Venício A. de Lima

Os resultados da pesqui-sa CNI/Ibope divulgados no dia 16 de dezembro confirmam uma clara tendência dos últimos anos

e, ao mesmo tempo, recolocam uma importante questão sobre o poder da grande mídia tradicional. De fato, a aprovação pessoal e a confiança no presidente Lula atingiram novos re-cordes, 87% e 81%, respectivamente; e a avaliação positiva do governo su-biu para 80%, outro recorde [íntegra da pesquisa disponível aqui].

A confirmação dessa tendência ocorre apesar da grande mídia e sua cobertura política do presidente e de seu governo ter sido, ao longo dos dois mandatos, claramente hostil ou, como disse a presidente da ANJ, desempenhando o papel de oposição partidária.

Isso significa que a grande mídia perdeu o seu poder?

Parece não haver dúvida de que a mídia tradicional não tem mais hoje o poder de “formação de opinião” que teve no passado em relação à imensa maioria da população brasileira. E por que não?

Um texto clássico dos estudos da comunicação, escrito por dois fundadores deste campo, ainda na metade do século passado, afirmava que para os meios de comunicação exercerem influência efetiva sobre os seus públicos é necessário que se cumpram pelo menos uma das seguintes três condições, válidas até hoje: monopolização; canalização ao invés de mudança de valores básicos, e contato pessoal suplementar. Com relação à monopolização afirmam:

“Esta situação se concretiza quando não se manifesta qual-quer oposição crítica na esfera dos meios de comunicação no que concerne à difusão de valores, políticas ou imagens públicas. Vale dizer que a monopolização desses meios ocorre na falta de uma contrapropaganda. Neste sentido restrito, essa monopo-

lização pode ser encontrada em diversas circunstâncias. É claro, trata-se de uma característica da estrutura política de uma socie-dade autoritária, onde o acesso a esses meios encontra-se to-talmente bloqueado aos que se opõem à ideologia oficial” [cf. Paul Lazarsfeld e Robert K. Merton, “Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada” in G. Cohn, org. Comunicação e Indústria Cultural; CEN; 1ª. ed., 1971; pp. 230-253].Aparentemente, a monopolização

do discurso político “mediado” pela grande mídia – em regimes não-au-toritários – foi quebrada pelo enorme aumento das fontes de informação, sobretudo com a incrível dissemina-ção e capilaridade social da internet.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, quando de sua rápida visita ao Brasil, em abril passado, o fundador do diário espanhol El País, Juan Luis Cebrian, afirmava:

“...a internet é um fenômeno de desintermediação. E que futuro aguarda os meios de comunica-ção, assim como os partidos polí-ticos e os sindicatos, num mundo desintermediado? Do início ao fim da última campanha presidencial americana, circularam pela web algo como 180 milhões de vídeos sobre os candidatos Obama e McCain, mas apenas 20 milhões haviam saído dos partidos Demo-crata e Republicano. As próprias organizações políticas foram ul-

trapassadas pela movimentação dos cidadãos. Como ordenar tudo isso? Não sei. (...) ...hoje existem 2 bilhões de internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária já tem acesso à rede. Há 200 milhões de páginas web à escolha do navegante. Na rede, você diz o que quer, quando quiser e a quem ouvir, portanto, o acesso à informação aumentou de forma espetacular. Isso é fato.”A disseminação da internet – ou

seja, a quebra do monopólio infor-mativo da grande mídia – aliada a mudanças importantes em relação à escolaridade e à redistribuição de renda que atingem boa parte da população brasileira, certamente ajudam a compreender os incríveis índices de aprovação de Lula e de seu governo, mesmo enfrentando a “oposição” da grande mídia.

Isso não significa, todavia, que a grande mídia tenha perdido todo o seu poder. Ao contrário, ela continua poderosa, por exemplo, na constru-ção da agenda pública e na temerosa substituição de várias funções tra-dicionais dos partidos políticos, vale dizer, do enfraquecimento deles.

A grande mídia, em particular a mídia impressa (jornais e revistas), ainda continua poderosa como ator político em relação à reduzida parce-la da população que se situa na ponta da pirâmide social e exerce influência significativa nas esferas do poder responsáveis pela formulação das políticas públicas, inclusive no setor das comunicações.

O fenômeno Lula, que deixa o poder, como observou um analista, “amado pelo povo e detestado pela mídia”, deve servir, não só para uma reavaliação do papel da mídia de massa tradicional, mas também como horizonte para aqueles que trabalham pela universalização da liberdade de expressão e pela efeti-vação do direito à comunicação. nVenício A. de Lima é jornalista, sociólogo, mestre, doutor e pós-doutor.

A grande mídia, em particular a mídia impressa, ainda continua

poderosa.

Artigo

DEZEMBRO DE 2010 | Fale! | 31www.revistafale.com.br

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CERCA DE 87 MILHÕES DE PROCESSOS SE ENCONTRAM tramitando na Justiça brasileira – praticamente um processo para cada dois habitantes no país. A taxa de congestionamento no judiciário nacional é de 71%, ou seja, de cada 100 processos abertos, apenas 29 são so-lucionados no mesmo ano. Esse é o retrato da justiça brasileira divulgado pelo relatório Justiça em Núme-

ros, do Conselho Nacional de Justiça, referente ao ano de 2009. No Ceará, a situação ainda é mais preocupante. O Estado tem o maior índice de congestionamento em processos de segunda instância do país – 89,9%.

A gravidade dos dados revelados pelo CNJ exigiu a criação de iniciativas que visassem à diminuição da estagnação do judiciário local. A principal delas partiu da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Ceará: o movimento “Justiça Já – Não dá Mais para esperar”. “O movimento não se detém apenas

JUSTIÇA JÁ, REVOLUÇÃO NO JUDICIÁRIOSegundo o Conselho Nacional de Justiça, o poder judiciário do Ceará é o mais congestionado dos Estados brasileiros. Conheça o movimento da OAB-CE que pretende mudar essa realidade

LIDERANÇA. Valdetário Monteiro,

presidente da OAB-CE, é um dos responsáveis pelo

movimento que pretende recuperar a

justiça cearense

O movimento não se detém apenas às críticas ao Poder Judiciário, mas apresenta sugestões e soluções para se combater a morosidade do Judiciário.

VALDETÁRIO MONTEIRO

POLÍTICA

32 | Fale! | DEZEMBRO DE 2010 www.revistafale.com.br

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JUSTIÇA JÁ, REVOLUÇÃO NO JUDICIÁRIOSegundo o Conselho Nacional de Justiça, o poder judiciário do Ceará é o mais congestionado dos Estados brasileiros. Conheça o movimento da OAB-CE que pretende mudar essa realidade

às críticas ao Poder Judiciário, mas apresenta sugestões e soluções para se combater a morosidade do Judiciário. Ele será referência e exemplo nacional na luta pela agi-lidade da Justiça no Brasil”, expli-ca Valdetário Monteiro, presidente da OAB-CE.

A luta pela melhora do judiciá-rio cearense começou ainda em ju-nho, quando a OAB-CE, juntamen-te com suas seccionais, pesquisou o funcionamento das comarcas no interior e na capital. Os pro-blemas identificados foram des-de à falta de juízes ao excesso de tercerização de funcionários. “Em Aracati, faltam juízes e servidores. Em Iguatu, a cada dez servidores, apenas dois são do Judiciário. Pre-cisamos não só de magistrados como de técnicos treinados e com-petentes. Qualquer forma de letar-gia deve ser considerada grande injustiça”, afirma Valdetário.

Na tentativa de solucionar as de-ficiências identificadas, foi instalado o Fórum Estadual Permanente em Defesa da Justiça – a primeira ação do “Justiça Já”. O objetivo do fórum é apontar soluções para a lentidão dos julgamentos no Estado. “O fó-rum virá para contribuir com as po-líticas públicas, fazendo movimento pela agilidade. Esperamos ocupar o espaço institucional que nos cabe, criar consciência da importância da participação de todos os segmentos da sociedade”, disse Edmir Martins, coordenador da iniciativa. De acor-do com ele, o fórum terá a compo-sição de pelos menos 11 grupos da OAB-CE e representantes do poder público, da imprensa e da sociedade civil organizada.

Em novembro, as iniciativas do “Justiça Já” atingiram seu ápi-

criação de novas comarcas do Tri-bunal de Justiça.

A reunião foi uma oportunidade para que o movimento manisfes-tasse ao governador a preocupação de entidades como a OAB com o a falta de agilidade do poder judi-ciário cearense, evidenciada pelo relatório do CNJ, e a necessidade de que medidas urgentes fossem tomadas para reverter a situação. “O Judiciário no Ceará precisa de um choque de gestão já”, sustentou Ophir ao participar de audiên-cia com o governador. Diante das reinvindicações, Cid Gomes mos-trou-se solícito e declarou apoio ao “Justiça Já”. O governador afirmou ter conhecimento dos problemas da Justiça, embora não estivesse ciente da gravidade da situação até a visita dos advogados, e se com-prometeu a analisar e a tomar as providências que estiverem ao al-cance do executivo cearense.

Segundo o presidente da OAB na-cional, a iniciativa da seccional cea-rense é um momento histórico, não apenas para a OAB-CE, mas para toda a advocacia brasileira. “Justi-ça Já é um movimento a partir dos anseios da sociedade, e o advogado, como integrante da Justiça, pede que o Judiciário saia desse esta-do de letargia e sirva à sociedade”, pontuou Ophir. Mas, para ele, é necessário que o judiciário também faça a sua parte. “Tenho muito or-gulho da advocacia do Ceará e espe-ro que esse movimento sirva como exemplo para todas as Seccionais do Brasil se engajarem na luta por uma Justiça melhor”.

Interior do Ceará. Tam-bém o interior do Estado sofre com a falta de agilidade do poder judi-

ce com o ato cívico realizado em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, um dos símbolos do poder judiciá-rio cearense. O movimento reuniu mais de 500 pessoas. Entre elas, o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, que participou da ca-minhada que partiu do fórum em direção ao Palácio Iracema. Após a manifestação, o presidente nacional da OAB e a diretoria da OAB-CE en-tregaram ao governador Cid Gomes um documento contendo sugestões para acabar com a morosidade do Judiciário cearense, durante reu-nião realizada na residência oficial do governador. Dentre as ações reivindicadas pela OAB-CE estão a realização de concursos públicos para a contratação de servidores e de novos juízes, ampliação de 30% do orçamento do Poder judiciário, promoção da Semana da Sentença e

Tenho muito orgulho da advocacia do Ceará e espero que esse movimento sirva como exemplo para todas as Seccionais do Brasil se engajarem na luta por uma justiça melhor.

OPHIR CAVALCANTE, presidente nacional da OAB

DEZEMBRO DE 2010 | Fale! | 33www.revistafale.com.br

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89,9%78,8%

68,5%64,7%

60,4%58,1%56,5%

51,8%50,7%

47,3%46,5%45,8%

41,9%41,6%40,9%

38,2%35,4%

32,1%29,8%

28,7%26,6%%

24,9%

Ceará

Sergipe

São Paulo

Pará

Mato Grosso

Amapá

Roraima

Rio de Janeiro

Bahia

Tocantins

Mato Grosso do Sul

Espírito Santo

Rondônia

Pernanbuco

Minas Gerais

Rio Grande do Norte

Acre

Amazonas

Santa CatarinaPrananáParaíbaRio Grande do SulGoiásDistrito FederalAlagoasPiauíMédia Total

20,2%17,3%

nd*nd*

50,5%

* Dados não disponíveisFONTE: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

O relatório Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça mediu o congestionamento dos poderes judiciários estaduais em processos de segunda instância. Na lista, o Ceará é líder

OS NÚMEROS DO JUDICIÁRIO ESTADUAL

COM O GOVERNADOR. A diretoria da OAB-CE apresentou um documento com reinvindicações ao governador Cid

POLÍTICA

ciário. No Crato, por exemplo, as Comarcas vinculadas a Sub-secção da OAB Crato enfrentam acúmulo de processos, número reduzido de servidores nos Fó-runs, demora na remessa de re-cursos ao Tribunal de Justiça, além de não cumprimento dos horários agendados para reali-zação de audiência. Não demo-rou muito, portanto, para que os integrantes da subsecção locali-zada na região do Cariri aderis-se em “Justiça Já”.

O Fórum Hermes Parayba foi palco da realização de um ato cívico promovido pela ordem na região do Crato. A manifes-tação contou com a presença de advogados e advogadas ca-ririenses e representantes de entidades civis organizadas. Na ocasião, o presidente Sub-secção, Fabrício Siebra Felício Calou, entregou manifesto de apoio ao “Justiça Já” ao dire-tor do Fórum, Francisco José

Mazza Siqueira, e solicitou medidas urgentes para acabar com a morosida-de na prestação jurisdi-

cional. Dentre as propos-tas, estão a implantação da

Vara que foi destinada por lei à Comarca do Crato; o retorno dos dois expedientes forense; a contratação de novos serviços e um mutirão para julgamento dos feitos cíveis e criminais que há anos estão adormecidos nas estantes das Secretarias das Varas de Justiça. n

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Economia

O BRASIL RETOMOU O CICLO DE EXPAN-são interrompido com a crise internacional. O crescimento de 7,6% do PIB em 2010 é, inclusi-ve, o mais expressivo da década. A indús-tria mostra o melhor desempenho entre os setores de atividade. Esta são algumas in-formações relevantes do documento “Pers-pectiva da Economia Brasileira 2010-2011”, da Confederação Na-cional da Indústria. Ali, entre outras coisas

está a projeção de crescimento de 4,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 e uma es-timativa de expansão de 7,6% em 2010.

Segundo a CNI, o fim das desonerações tributárias adotadas para atenuar os efeitos da crise econômica, o Programa de Sustentação do Investimento do BNDES e as restrições ao crédito ao consumidor devem diminuir o

2011UM FREIO NO PIBA estimativa da CNI para a expansãoda economia é de 4,5% em 2011, em contraponto dos 7,5% de crescimento do Produto Interno Bruto — PIB em 2010. Três fatores explicam esse ritmo decrescimento: consumo das famílias, investimentos e setor externo

ritmo de expansão do consumo em 2011. Um dos princi-pais responsáveis pela queda é o consumo familiar. Ele, que foi o carro chefe da elevação do PIB em 2010 – con-siderado pela CNI como o mais expressivo da década – deverá crescer 5,1% em 2011, em oposição à expasão de 7,9% alcançada em 2010.

Outros indicadores registrarão, igualmente, desa-celeração no próximo ano, conforme das estimativas da entidade. A indústria, cujo PIB fechou 2010 com um incremento de 10,9%, irá aumentar 4,5% este ano, en-quanto os investimentos, que se expandirão 24,5% e re-presentam um grande fator no aumento do PIB em 2010, devem reduzir seu crescimento quase pela metade em 2011, com um aumento de 13,5%.

A inflação, que deve atingir 5,8% este ano – bem aci-ma do centro da meta inflacionária de 4,5% –, cairá a 5% em 2011, pressionada pelos preços dos alimentos, prevê a CNI. A taxa nominal de juros subirá de 10,75% este ano para 12% no próximo ano, enquanto o juro médio real se elevará de 4,6% para 6,3%. A taxa de desemprego irá diminuir em quase um ponto percentual, refluindo de 6,8% da População Economicamente Ativa (PEA), em 2010, para 6% no ano que vem.

A edição especial do Informe Conjuntural projeção que o déficit público nominal crescerá de 2,9% do PIB, este ano, para 3,2% em 2011, e o superávit público pri-mário cairá de 2,3% para 2,2% do PIB. Já a dívida pú-blica líquida registrará ligeiro decréscimo, atingindo 40,8% do PIB em 2010 e 40,4% em 2011. As exportações, que devem fechar este ano em US$ 198 bilhões, subirão para US$ 228 bilhões no próximo ano, mas a elevada expansão das importações, que passarão de US$ 183 bi-lhões a US$ 224 bilhões, pela valorização do câmbio, re-duzirá drasticamente o saldo comercial. Prevê a CNI que o superávit da conta de comércio cairá de US$ 15 bilhões este ano para US$ 4 bilhões em 2011. A taxa nominal de câmbio não deve se alterar, permanecendo em R$ 1,70 agora e no final de 2011.

Investimentos estrangeirosO fluxo de investimento estrangeiro direto continua-

rá forte em 2011, devido à maior atratividade do Brasil no cenário internacional. Esse tipo de investimento, que somou US$ 25,9 bilhões em 2009 e U$ 30 bilhões

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em 2010, deverá chegar à sifra de US$ 45 bilhões em 2011. Esse vo-lume é o responsável por financiar parcialmente o déficit em conta cor-rente que, hoje, é de cerca de US$ 48 bilhões, no acumulado em 12 meses.

A entrada de capitais estran-geiros, entretanto, continuará com o processo de valorização do real, dificultando um crescimento mais

intenso da produção industrial do-méstica. Segundo o documento da Confederação Nacional da Indús-tria, o papel do governo será, por-tanto, o de investir em medidas de contenção de curto prazo para impedir a valorização do real em 2011, como acúmulo de reservas e aumento das tributações sobre carteira.

A década de ouroA economia brasileira deverá en-

cerrar o ano de 2010 com o maior nível de crescimento econômico das últimas duas décadas, com taxa ao redor de 7,5%. Para que o Brasil atin-ja essa marca será necessário apenas que o PIB tenha desempenho de 5% no último trimestre do ano quando

Há um descompasso en-tre a evolução da demanda doméstica e a evolução da produção. O forte ritmo de expansão do investimento e do consumo não tem alcan-çado na mesma intensidade a produção da indústria de transformação. Essa avaliação fica nítida no segundo semes-tre, quando o crescimento da indústria se reduziu.

A valorização cambial está na raiz desse problema. Reverter esse processo não é

trivial. O câmbio valorizado tem suas funções na eco-nomia. De um lado, favore-ce o controle da inflação e o acesso a bens e insumos importados. De outro, viabi-liza a absorção de poupança externa em uma economia de baixa taxa de poupança.

Essa situação é uma amea-ça ao processo de crescimen-to sustentado. A provável alta dos juros, em resposta à ace-leração da inflação, irá criar maior pressão sobe o câmbio, exacerbando as dificuldades de competição dos produtos brasileiros.

Restrições à

competitividade limitam cres-cimento da indústria

O balanço da manufatura nos dois anos pós-crise mos-tra que os segmentos sujeitos à competição internacional, tanto nos mercados globais como no mercado doméstico, seguem em dificuldades. As perdas são concentradas na indústria, o que torna sua per-cepção pela sociedade mais difícil. A continuidade desse processo terá como consequ-ência uma indústria menor e menos diversifica-da. n

Câmbio e competitividade

DEZEMBRO DE 2010 | Fale! | 37www.revistafale.com.br

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confrontado com o mesmo período de 2009.

No entanto, para o PIB atingir os 8% projetado pelo governo fede-ral, em especial pelo ministro Guido Mantega, será necessário que o PIB apure desempenho de 7% no último trimestre, fato que não é nenhum desatino, mas com baixa probabi-lidade de ocorrência considerando que a taxa já está em desaceleração desde o segundo trimestre. O carro chefe deste crescimento quase-chi-nês ficará a cargo dos setores indus-trial e de serviços, ambos apoiados sobre o estímulo fiscal e monetário empenhado pelo governo federal ao longo de 2009 e 2010.

Dessa forma, o Brasil deverá encerrar o ano de 2010 como a 8ª maior economia do mundo, e já em 2011 deverá ultrapassar com facili-dade a Itália e ocupar a 7ª posição, refletindo tanto a debilidade do país europeu como a forte valorização do real que potencializa o PIB em dólares.

Além de toda comemoração que o governo Lula fará ao passar o bas-tão para Dilma, e transferir parte de seu capital político pelas condições econômicas que se encontra o País, a nova comandante terá pela frente, de acordo com especialistas, uma “década de ouro”, graças às condi-ções internacionais favoráveis ao Brasil, proporcionadas por eventos de relevância mundial como a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas do Rio de Janeiro.

Situação heterogêneaA crise internacional, que se instau-rou após setembro de 2008, ocasio-nou uma série de problemas à in-dústria de transformação brasileira. Passados dois anos do início desse período, pode-se avaliar, a partir dos dados relativos à produção, ex-portação, importação, faturamento e emprego, como os diversos setores da indústria se encontram.

A principal conclusão é a gran-de heterogeneidade de recuperação dos diversos setores da indústria de transformação em relação ao perío-do pré-crise (acumulado de janeiro--setembro de 2008). Constata-se que existe espaço para reabilitação da produção e das exportações em determinados ramos e uma entrada

considerável de produtos impor-

2008 20092010

estimativa2011

projeção

Atividade econômicaPIB (variação anual)

5,2% -0,6% 7,6% 4,5%

PIB industrial (variação anual)

4,1% -6,4% 10,9% 4,5%

Consumo das famílias (variação anual)

5,7% 4,2% 7,9% 5,1%

Formação bruta de capital fixo (variação anual)

13,6% -10,3% 24,5% 13,5%

Taxa de Desemprego (média anual - % da PEA)

9,3% 7,9% 6,8% 6%

InflaçãoInflação (IPCA - variação anual)

5,9% 4,3% 5,8% 5%

Taxa de jurosTaxa nominal de juros

(taxa média do ano) 12,45% 10,13% 9,90% 11,84%

(fim do ano) 13,75% 8,75% 10,75% 12%

Taxa real de juros (taxa média anual e defl: IPCA)

6,4% 5% 4,6% 6,3%

Contas públicas*Déficit público nominal (% do PIB)

2,06% 3,38% 2,90% 3,20%

Superávit público primário (% do PIB)

3,45% 2,06% 2,30% 2,20%

Dívida pública líquida (% do PIB)

38,9% 43,4% 40,8% 40,4%

Taxa de câmbioTaxa nominal de câmbio - R$/US$

(média de dezembro) 2,39 1,75 1,70 1,70

(média do ano) 1,83 1,99 1,76 1,70

Setor externoExportações (US$ bi) 197,9 153 198 228

Importações (US$ bi) 173 1w 183 224

Saldo comercial (US$ bi) 25 25,3 15 4

Saldo em conta corrente (US$ bi) -28,2 -24,3 -50 -70

PERSPECTIVAS DA ECONOMIA BRASILEIRA 2010 - 2011O crescimento do consumo doméstico deverá se sobrepor à demanda externa como principal estímulo de crescimento da economia. Outro ponto positivo é a recuperação dos emergentes

* Não inclui as empresas dos Grupos Petrobras e EletrobrasFONTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA — CNI

ECONOMI A& NEGÓCIOS

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Taxa de crescimento da produção Ao verificar a variação entre janeiro/setembro 2010 e janeiro/setembro 2008 (%), vê-se que diversos setores da economia ainda não se recuperaram totalmente da crise

Edição, impr. e reprod. de gravações

Máq., apar. e materiais elétricos

Vestuário e acessórios

Madeira

Refino de petróleo e álcool

Calçados e artigos de couro

Material elétr., apar. e equip. de cominicações

Borracha e plástico

Fumo

Máquinas e equipamentos

Metalurgia básica

Têxtil

Bebidas

Celulose, papel e prod. de papel

Outros equip. de transporte

Mobiliário

Máquina para escrit. e equip. de informática

Farmacêuticas

Produto de metal

Outros prod. químicos

Equip. de instrum. méd. -hospitalar, ópticos e etc

Diversos

Perfum., sabões, deterg. e prod. de limpeza

Minerais não metálicos

Veículos automotores

Alimentos

FONTE: PIM_IBGE

-30 -20 -10 0 10 20 30

tados em diversos segmentos indus-triais.

Analisando os efeitos da crise em cada setor a partir da produção in-dustrial (PIM-PF-IBGE), tem-se o se-guinte cenário: na comparação com o ano de 2009, dos 26 setores ana-lisados, 24 apresentam crescimen-to da produção, com destaque para Máquinas e equipamentos, Veículos automotores, Produtos de metal e Metalurgia básica – todos com taxa de crescimento superior a 20% na comparação entre janeiro e setembro de 2010 e 2009. Os dois primeiros se-tores receberam fortes estímulos de políticas públicas no período de crise, como redução de impostos (IPI) e/ou juros mais baixos. Todavia, na com-paração entre o período de 2010 e

2008, dos 26 setores, 12 apresentam taxa negativa, ou seja, não recupera-ram o nível de produção do pré-crise.

O documento da CNI aponta que os principais ramos industriais com produção inferior ao período pré-cri-se são Material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações, máquinas, aparelhos e materiais elé-tricos, fumo, madeira e metalurgia básica — todos com nível 5,0% infe-rior a 2008. Na mesma base de com-paração, os setores que melhor se recuperaram são bebidas, Farmacêu-tica, Perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza e outros equi-pamentos de transporte – com taxas de crescimento superiores a 5,0%. Esses setores — à exceção de Outros equipamentos de transporte — estão

ligados ao aquecimento da economia doméstica e ao crescimento do poder de compra da classe C.

Outro indicador importante da evolução dos setores da indústria é o valor das exportações e das impor-tações (SECEX-MDIC). Os dados das exportações no acumulado janeiro--setembro demonstram que, dos 22 setores analisados, apenas dois apre-sentam queda entre 2010 e 2009. Frente ao mesmo período de 2008, 19 desses 22 setores exibem variação negativa nas exportações. Essa situa-ção realça a perda de mercado exter-no das indústrias nacionais, refletin-do tanto o câmbio apreciado, como a queda de dinamismo do comércio internacional.

Os setores com queda mais ex-pressiva nas exportações (superior a 20,0%) frente a 2008 são Outros equipamentos de transporte, Mate-rial eletrônico e de comunicações, Produtos de madeira, Confecção de artigos do vestuário e acessórios, Metalurgia básica (um dos principais setores da pauta de exportação na-cional) e Edição, impressão e repro-dução de gravações. Os três setores com crescimento das exportações em relação a 2008 são Celulose, papel e produtos de papel, Produtos alimen-tícios e bebidas e Produtos químicos – setores com grande participação na pauta de exportação brasileira.

Nas importações o cenário é de aumento do valor importado para to-dos os setores frente a 2009. Em rela-ção ao mesmo período de 2008, dos 22 setores pesquisados, 17 cresce-ram. Esse fato demonstra o aumen-to da entrada de produtos importa-dos de variados setores da indústria de transformação na economia nacional, que ocorreu em função principalmente do câmbio valori-zado e do aquecimento do mercado doméstico. Os setores em que as importações superaram o período pré-crise em mais de 20,0% são Confecção de artigos do vestuário e acessórios, Veículos automotores, reboques e carrocerias, Produtos de minerais não-metálicos, Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, Mó-veis e indústrias diversas e Produ-tos têxteis. Esses são segmentos da indústria que, na sua maioria, estão fortemente ligados ao atendimento do mercado interno. n

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2011MANTEGA, UM NOVO DISCURSOSob Dilma, o ministro da Fazenda Guido Mantega adota discurso repaginado. Pragmático ele deverá assumir, no novo governo, o papel de gestor austero das contas públicas, avaliam especialistas. Por Francisco Carlos de Assis e Ricardo Leopoldo

GUIDO MANTEGA É UM SOLDADO

do PT. Se a presi-dente eleita Dilma Rousseff pedir para ele viabili-zar um superávit primário de mais de 3,1% do PIB em

2011, ele certamente vai cumprir essa missão.” O comentário do cientista político Carlos

Melo, professor do Insper, sintetiza a aval-iação dos especialistas ouvidos pela Agên-

cia Estado sobre a mudança de discurso — para um viés mais fiscalista — que o

ministro da Fazenda, Guido Mantega, passou a adotar assim que foi con-

vidado por Dilma para permanecer “40 | Fale! | DEZEMBRO DE 2010 www.revistafale.com.br

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2011MANTEGA, UM NOVO DISCURSO

no comando dessa pasta.Segundo o diretor do Eurasia

Group para a América Latina em Nova York, Christopher Garman, o ministro da Fazenda é pragmá-tico e deverá assumir, no novo go-verno, o papel de gestor austero das contas públicas. Isso porque, continua Garman, esta é a orien-tação da presidente eleita Dilma Rousseff: “Mantega tem um perfil de executor de medidas, não é um formulador.”

Na avaliação dos agentes eco-nômicos, Mantega se tornou nos últimos dois anos numa autorida-de pública menos preocupada com o equilíbrio das contas federais e mais empenhada em levar o País a um crescimento muito forte, so-bretudo num ano eleitoral e sob o comando do popularíssimo presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o próprio ministro, o crescimento deve chegar perto de 8%, “para fechar 2010 com chave de ouro”.

Na entrevista coletiva realizada recentemente em Brasília, na qual foi feito um balanço dos quatro anos do Programa de Aceleração do Cres-cimento (PAC), Mantega disse que o governo vai diminuir as despesas de custeio da máquina administrativa. Segundo ele, tal postura será ne-cessária para que o Banco Central possa reduzir os juros e ampliar os investimentos no País. O ministro ressaltou que a meta do superávit primário para 2011 é de 3,1% do Produto interno bruto e será cum-prida à risca.

Para o economista Felipe Salto, da Tendências, o ministro Guido

Mantega merece o “benefício da dú-vida” quanto à elevação do superávit primário em 2011. “É preciso, con-tudo, que o governo apresente uma proposta formal à sociedade sobre como vai conter os gastos”, disse. De acordo com um diretor de um gran-de banco internacional que atua em Nova York “há sinais fortes de que o novo governo deve anunciar no co-meço de janeiro, logo após a posse, um programa fiscal bem rígido” com o objetivo de conquistar a confiança

dos agentes econômicos em relação ao compromisso de Dilma Rousseff de administrar bem o caixa federal até 2014.

Para o economista da Tendên-cias, o superávit das receitas sobre as despesas deve avançar em 2011, mas não deve atingir o objetivo de 3,1% do produto interno bruto, pois deve chegar a 2,6% do PIB. “Se a meta de 3,1% do PIB de superávit for atingida no ano que vem será um bom sinal de que o governo estará engajado para melhorar a eficiência das contas públicas, o que é funda-mental para permitir que o BC corte os juros no médio prazo”, disse. “O mandato de um ministro está atre-lado a resultados, inclusive na área fiscal. Se Mantega não cumpri-los, sua permanência no novo governo será curta”, avalia o professor Car-los Melo.

Desconfiança Apesar da mu-dança do discurso do ministro Man-tega sinalizar o compromisso com a austeridade fiscal, alguns analistas econômicos veem essa repaginação com certa desconfiança. O ex-minis-tro da Fazenda e sócio da Tendência Consultoria Integrada, Mailson da Nóbrega, prefere dar um crédito de confiança à Dilma e a Mantega no quesito política fiscal: “Prefiro dar a eles um crédito de confiança. Pelo menos o benefício da dúvida.” No entanto, avalia que as dúvidas ainda são muitas porque “continua na Fa-zenda o ministro responsável por uma grande deterioração da polí-tica fiscal” nos últimos oito anos.

O que tem deixado os analistas um tanto céticos com a mudança

É preciso que o governo apresente uma proposta

formal à sociedade sobre como vai conter os gastos. Há sinais fortes de que o novo governo

deve anunciar no começo de janeiro, logo após

a posse, um programa fiscal bem rígido.

DEZEMBRO DE 2010 | Fale! | 41www.revistafale.com.br

ECONOMI A& NEGÓCIOS

Page 42: Fale! Brasilia

de discurso de Mantega é o fato de que o próprio ministro e a presiden-te eleita (que comandou a Casa Civil do governo Lula) — que agora fazem um discurso com viés austero - são os mesmos que afiançaram a políti-ca expansionista do governo do pre-sidente Lula.

Na avaliação do professor da

Prefiro dar a eles um crédito de confiança.

Pelo menos o benefício da dúvida.” No entanto,

as dúvidas ainda são muitas porque “continua

na Fazenda o ministro responsável por uma

grande deterioração da política fiscal.

PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, do ponto de vista político é normal que um governo em final de man-dato não queira tomar medidas im-populares e é mais aceitável que um governo em início de mandato tome medidas amargas. “Então vejo este discurso como uma diretriz, certa-mente dada pela própria Dilma, que não quer correr o risco, principal-mente na área fiscal, o que implica-ria em alguma forma de ajuste”, diz.

Além disso, continua Lacerda, as decisões na área econômica têm de serem olhadas muito em função do contexto. Lula, de acordo com ele, teve como um dos seus principais desafios vencer a crise. Mas Dilma vive outro momento. “Nós estamos vivendo uma guerra cambial, inter-nacional, o Brasil terá um cresci-mento razoável neste ano, mas cujo desafio é garantir uma sustentabi-lidade. Então, ela precisa de mais realismo. Tem que pensar mais com a cabeça de economista, com mais racionalidade”, defende.

O economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, acredita que pelo menos boa intenção a equi-pe econômica de Dilma tem. “Me parece que estão debruçados sobre as planilhas procurando uma forma de reduzir as despesas desde que foi formada a equipe de transição do governo Dilma”, diz ele. A questão, de acordo com Mailson da Nóbrega, é saber se o que a presidente eleita tem defendido “vem mesmo do cora-ção” ou é apenas a repetição do que escreveram para ela. n

CRÉDITO. Mailson dá crédito de

confiança ao novo Governo

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2011INDÚSTRIA AMEAÇADA?O Brasil não está em processo de desindustrialização? Para uns é “simplista” a avaliação segundo a qual o incremento dos importados no Brasil em 2010 necessariamente significa uma onda de desindustrialização no PaísPor Ricardo Leopoldo

OBRASIL NÃO ESTÁ EM PROCESSO de desindustriali-zação. Esta é uma avaliação comum entre autoridades do governo, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do BN-DES, Luciano Cou-tinho, acadêmicos, como os professores Fernando Sarti, da Unicamp, e Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, e ana-listas, entre eles o economista-chefe da MB Associados, Sér-gio Vale. “A indústria

criou, pelo menos, quatro milhões de empre-gos entre 2003 e 2010”, comentou Sarti.

Com base em dados do IBGE dessazonalizados, Sarti apontou que a produção do setor manufaturei-ro de transformação avançou 30,16% em termos reais

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entre janeiro e março de 2003 e o terceiro trimestre deste ano. “Estes dados indicam que não há um mo-vimento clássico de desindustriali-zação, que se caracteriza pelo esva-ziamento da atividade e geração de postos de trabalho pelas empresas do setor”, comentou.

Sarti destacou que é “simplista” a avaliação segundo a qual o incre-mento dos importados no Brasil neste ano necessariamente significa uma onda de desindustrialização no País, como afirma a Fiesp e a CNI. “É preciso avaliar que a partir de 2004, a economia nacional começa a crescer com o grande reforço do mercado doméstico, que passou a elevar de forma expressiva a deman-da agregada”, comentou.

“Desde 2006, os investimentos em toda a economia cresceram em maior velocidade que o PIB por 19 trimestres seguidos, o que dá uma dimensão de quanto as indústrias passaram a ser mais relevantes no desenvolvimento do nível de ativida-de interno”, ressaltou.

Para o ministro do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio, Mi-guel Jorge, a Fiesp está errada ao dizer que há desindustrialização no Brasil. “Um País que importa US$ 125 bilhões em máquinas e equipa-mentos, em que o desemprego chega a 6,1% e a indústria produz a pleno vapor, com resultados trimestrais apontando que nunca tiveram tanta rentabilidade, falar em desindus-trialização é um paradoxo”, afirmou.

“Mesmo com a entrada de má-

cou que tal expansão das indústrias de máquinas e equipamentos nacio-nais reflete que companhias de todos os setores, como os produtores de alimentos, roupas, eletrodomésticos e carros, estão produzindo bem mais para atender o incremento do consu-mo da população nacional nos últi-mos seis anos.

Luciano Coutinho não acredi-ta que as indústrias estão perdendo participação relativa na formação do PIB. Contudo, ele aponta que os se-tores manufatureiros compõem um complexo fabril grande, diversifica-da e que precisa ser fortalecido. “Nós não podemos ter uma estrutura pro-dutiva só calcada nas commodities”, comentou. “Não podemos esquecer a indústria manufatureira e os ser-viços sofisticados”, afirmou.

Importados Mas o forte in-gresso de importados, que para es-sas autoridades e analistas ainda não trouxe a desindustrialização para o País, não pode persistir no longo prazo. Se isso ocorrer, pode-rá sim haver impactos sobre as fá-bricas nacionais e sobre os milhares de empregos. O mesmo argumento é reforçado por entidades empre-sariais do setor, como Fiesp e CNI, que, ao contrário das avaliações fei-tas, enfatizam com vigor que a de-sindustrialização no País já avança rápido.

Na avaliação dos especialistas, a indústria nacional enfrenta um as-sédio “preocupante” de concorren-tes internacionais por causa de dois fatores. Um deles é o câmbio valo-rizado. De acordo com a série tem-poral do BC 11.753, a cotação efetiva do real ante o dólar em outubro de 2010 apresentava uma apreciação de 32,29% ante junho de 1994. “O câmbio é um problema muito sério que prejudica a capacidade de com-petição muito difícil das empresas nacionais do setor com suas concor-rentes internacionais”, comentou Sérgio Vale.

Um outro elemento importante é a fraca recuperação da economia mundial, que leva muitos países desenvolvidos a exportarem com avidez para manter os empregos de fábricas que não conseguem vender produtos nos seus mercados domés-ticos. De acordo com o IBGE, os importados apresentaram uma alta

Um País que importa US$ 125 bilhões em máquinas

e equipamentos, em que o desemprego chega a 6,1% e a

indústria produz a pleno vapor, com resultados trimestrais apontando

que nunca tiveram tanta rentabilidade, falar em

desindustrialização é um paradoxo.

CRÉDITO. Mailson dá crédito de

confiança ao novo Governo

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quinas no País em maior volume, o setor que engloba fabricantes des-tes equipamentos é um dos que está mais crescendo no Brasil”, disse o professor Fernando Sarti Ele desta-

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de 7,4% no terceiro trimestre ante abril e junho deste ano, enquanto subiram 40,9% em relação aos mes-mos três meses de 2009. Tal veloci-dade foi bem superior à registrada pelas exportações, pois de julho a setembro de 2010 subiram 2,4% na margem e aumentaram 11,3% em comparação ao mesmo período do ano passado.

O professor Ricardo Carneiro salienta que embora boa parte das mercadorias importadas seja de má-quinas e equipamentos que ajudam a expandir a produção nacional, al-gumas indústrias estão perdendo a capacidade de operar em razão da disputa cambial bastante desigual. “Se o yuan apresenta perto de 30% de depreciação ante o dólar e o real está sobrevalorizado em quase 30% em relação à moeda norte-america-na, isso gera uma diferença de 60% a favor da mercadoria chinesa que ingressa no Brasil ou compete com o produto nacional no exterior”, res-saltou o professor Antônio Correa de Lacerda.

Carneiro, Lacerda e outros eco-nomistas destacam que, no curto prazo, a solução para este problema deve começar pela redução da força do real ante o dólar. E tal mudança no câmbio, segundo eles, requer re-dução gradual e continua dos juros reais, que estão hoje ao redor de 6%. A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) quer reduzir tais taxas para 2% em 2014. De acordo com o novo governo, um ajuste fiscal pouco su-perior a 3% do PIB, a começar em 2011, é necessário para que nos pró-ximos quatro anos tal redução dos juros se torne um fato. n

O ano de 2010 registrou um forte crescimento da economia brasileira, com o PIB se expandindo 7,6% (estimativa CNI). O intenso crescimento econômico se deu mesmo com uma trajetória de perda deritmo a partir do segundo trimestre. O crescimento do PIB só não foi maior, basicamente, por duas razões: a) grandeparte das medidas de desoneração tributária foram suspensas no fim doprimeiro trimestre; e b) a valorização doreal fez parte do crescimento da demanda doméstica escoar para o setor externo— via aumento das importações.

Em 2010, o real manteve tendência de valorização frente ao dólar – ainda que menos intensa que nos últimos anos – o que deixou a moeda em patamar apreciado. A taxa de câmbio R$ / US$ valorizou 2,9% entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010 e acumula valorização de 28% na comparação com dezembro de 2008. A taxa de câmbio real em relação à cesta das moedas dos 13 principais parceiros comerciais do país acumula valorização de 25% na mesma comparação.

Medidas de curto prazo foram utilizadas para impedir maior valorização do real em 2010. Das principais, destaca-se a aquisição, pelo Banco Central, de US$ 46,8 bilhões em reservas entre janeiro e novembro de 2010, que totalizaram, no início de dezembro, US$ 286,4 bilhões.

O governo ainda

reinstituiu o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em renda fixa e ampliou a alíquota.

As medidas limitaram a valorização do real, mas pouco fizeram para tirar a taxa de câmbio do patamar apreciado onde se encontra, pois as razões para a valorização do câmbio permanecem.

A lenta recuperação da atividade econômica dos países desenvolvidos provocou uma intensificação no uso de políticas monetárias expansionistas nesses países com o objetivo de conter os efeitos da crise econômica. Essa prática, contudo, gera desequilíbrios para as cotações entre as diferentes moedas.

Os Estados Unidos, em particular, mantêm juros baixos e injetam bilhões de dólares em sua economia, o que gera a tendência de desvalorização da moeda norte-americana. A

valorização é intensificada no Brasil pela elevada diferença entre a taxa de juros doméstica e as internacionais, o que continua a exercer forte estímulo para a entrada de capital de curto prazo. Além disso, os países emergentes – e em especial o Brasil – exibiram ao longo do ano uma recuperação econômica mais intensa do que as economias mais desenvolvidas, o que estimula investimentos externos e a entrada de moeda estrangeira.

As exportações brasileiras, que haviam recuado aos níveis de 2007 no fim de 2009, registraram crescimento de 31% no acumulado em 2010 até novembro, totalizando US$ 181 bilhões. A taxa de expansão das vendas externas mantém-se acima de 30% desde agosto, de forma que as exportações deverão fechar o ano em torno de US$ 198 bilhões. n

Comércio exterior brasileiro recuperaníveis pré-crise

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2011A INTERNET INVADE A SUA TVO presidente executivo da Sony, Howard Stringer,tem como meta conseguir um lucro operacional de 160 bilhões de ienes ( US$1,7 bilhão) no ano até março de 2011, contra um lucro de 31,8 bilhões de ienes no ano anterior. Uma estratégia para isso é um novo perfil de TV trazendo a internet para dentro. Um risco é a empresa precisar enfrentar um acúmulo de estoques à medida que a competição se acirra ao final do ano caso a economia desacelere.

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EM SUA PRIMEIRA VISITA AO BRASIL, o pre-sidente mundial da Sony, o britânico de 68 anos, Ho-ward Stringer falou sobre a importância da convergên-cia entre mídia dos produ-tos da companhia. Depois de amargar prejuízos fi-nanceiros, a empresa ja-ponesa tenta inovar trans-formando seus produtos em aparelhos multimídias. Um dos maiores sucessos de vendas da empresa, o Walkman, virou sucata de-pois da chegada do iPod e o seu maior sucesso atual, o videogame PlayStation,

vem perdendo espaço para o Xbox da Microsoft.Stringer, primeiro presidente não japonês a assumir

a presidência da companhia, acredita que para voltar à liderança no mercado de eletrônicos, é preciso integrar as mídias e proporcionar serviços mais atraentes aos novos consumidores. O foco da empresa agora está vol-tado para o desenvolvimento de TVs de alta definição com acesso à Internet e tecnologia 3D.

Na última edição da Copa do Mundo realizada na África do Sul, a Sony transmitiu boa parte dos jogos com a tecnologia 3D. O próximo passo da companhia é investir em aparelhos com IPTV (Internet Protocol Television) que irá proporcionar imagem e som de óti-ma qualidade que utiliza o protocolo da Internet para enviar sinal através da própria rede.

Em parceria com as gigantes da informática, a Sony se uniu ao Google e à Intel no projeto do Google TV. A intenção da marca é levar a mesma experiência da internet para a TV. O aparelho desenvolvido pela Sony chegou ao mercado americano em outubro desse ano e dispõe de modelos de 24, 32, 40 e 46 polegadas. Em-

presas como as redes NBC e HBO e os jornais The New York Times e USA Today já confirmaram a produção de conteúdos para o projeto.

O serviço do Google TV permite aos usuários, bai-xar aplicativos diretos da TV, gravar seus programas fa-voritos e ainda utilizar o celular como controle remoto. Para isso, é necessário ter a TV da Sony com acesso à Internet ou um aparelho adaptador que já vem com um teclado parecido com o do computador. Os preços das TVs variam entre U$ 600 e U$ 1.400 e o receptor da marca Logitech Revue custa U$ 300.

A Sony Internet TV já pode ser encontrada no Brasil em alguns aparelhos da linha Bravia e nos leitores de Blu-ray da marca, mas o Google TV ainda não tem data para chegar ao Brasil.

Por aqui, o PlayStation 3, novo console da Sony lan-çado no segundo semestre de 2010, é um exemplo de interatividade da marca. O PS3, como é conhecido, é mais do que um videogame é uma verdadeira central de entretenimento que une jogos, leitor de Blu-ray, e uma central digital, a Playstation Network, uma rede de aplicativos para jogar online com outros usuários e baixar jogos, inclusive em 3D. Tudo isso sem fios.

A Sony tenta conquistar o espaço perdido na era di-gital se reposicionando no mercado. Para isso, o atual presidente precisou solucionar os problemas internos da companhia. Stringer utilizou a comunicação para integrar os diversos setores da empresa. Anteriormen-te, os engenheiros e os designers, por exemplo, traba-lhavam separados. Ele também decidiu aproximar a divisão de eletrônicos com a de entretenimento, ofere-cendo não só produtos mas também serviços.

A multinacional japonesa Sony emprega hoje mais de 167 mil funcionários no mundo inteiro e fatura cerca de 130 bilhões de reais anuais. A companhia tenta recu-perar a liderança no mercado de eletrônicos de olho nos avanços tecnológicos sob a plataforma da interativida-de e conectividade de seus produtos.

Howard Stringer foi presidente da CBS e começou sua carreira na Sony em 1997 como presidente da filial americana. Em 2005, ele assumiu a presidência mun-dial da companhia.

2011A INTERNET INVADE A SUA TV

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CONSUMO

Eu quero!Confira os principais lançamentos no mercado do luxo, tecnologia e design

GELADEIRA JACK DANIELS Seguindo a linha Vintage, a geladeira personalizada com a marca do famoso uísque Jack Daniels promete agradar tanto os amantes da bebida quanto os amantes da tendência retrô.

BEAUTY POR CALVIN KLEIN

Calvin Klein FragrancesUS$ 50 – 30 ml

A grife americana Calvin Klein apresentou sua mais

nova fragrância feminina: Calvin

Klein Beauty. Desenvolvida

pelos perfumistas

Sophie Labbé e

Carlos Benaim, a fragrância é formada

por notas de abelmosco,

jasmin atemporal e cedro. A campanha publicitária foi

estrelada pela atriz Diane Kruger.

DRINKS PRECIOSOS

Cosmopolitan, Mojito e Sex on the Beach já são drinks consagrados. No entanto, você nunca deve ter visto

a coleção Limelight da Piaget, que criou jóias

inspiradas neles. É de dar água na boca!

NEXUS S US$ 529 (desbloqueado)O smartphone Nexus S desembarcará no Brasil somente no primeiro trimestre de 2011 e já é o lançamento mais esperado da Samsung no país. Versão atualizada do excepcional Nexus One, o Nexus S já vem com a nova atualização 2.3 do Android, sistema operacional do Google. Ele chegará no mercado americano no dia 16 de dezembro e promete ser a febre do natal.

UR-103T SHINING T Fabricado com a tecnologia AlTin – uma mistura de Alumínio, Titânio e Nitreto – o UR-103T Shining T, da grife suíça Urwerk, só tem resistência menor do que a do diamante. Revestido em ouro 18 quilates, é a mais nova sensação da alta relojoaria.

SANDÁLIA DIAMANTE Roberto CavalliUS$ 1.515Comemorando 40 anos de carreira, o estilista Roberto Cavalli acaba de lançar sua coleção Primavera/Verão 2011, em Milão. A sandália Diamante, que faz parte da coleção, é uma excelente opção para uma festa black-tie, bem como para as comemorações de final de ano.

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NOVO MACBOOK AIR AppleUS$ 1.599

A Apple acaba de lançar o novo MacBook Air. O modelo ganhou uma versão ainda mais portátil e mais fina, sem comprometer a funcionalidade e o design.

CHANEL CÔTE D’AZUR COLLECTION 2010 ChanelBatons – US$ 30, Esmaltes – US$ 27

A Chanel se inspirou nas belezas naturais da eterna Saint Tropez. A nova coleção de maquiagem da marca apresenta cores vibrantes para lábios e unhas. Os produtos já estão disponíveis para venda através do site oficial da grife francesa.

AUDI S5 SPORTBACK US$ 80.000O Audi S5 Sportback é o modelo esportivo da linha A5 Sportback. Equipado com motor V6 TFSI, com 333 cv de potência e 440 Nm de torque entre 2.200 e 5.900 giros, o Audi S5 Sportback acelera de 0 a 100 km/h em apenas 5,4 segundos. Seu conjunto motriz também conta com câmbio S-tronic de 7 marchas, dupla embreagem e tração integral Quattro.

BABY DIOR DiorVestido branco - US$ 688Vestido azul - US$ 408A grife Christian Dior apresentou a coleção Outono/Inverno 2010 de sua linha infantil. Materiais nobres, como seda pura e cashmere, são utilizados na confecção de vestidos, jeans, tops e pólos para a garotada que já segue a tendência fashion dos pais.

DIOR MINAUDIÈRE R$ 269,90O Dior Minaudière é o mais novo estojo de maquiagem lançado pela grife Christian Dior. A novidade em maquiagem da Christian Dior é o estojo Dior Minaudière. No formato de uma mini Clucth, é ideal para levar na bolsa. O estojo vem com três tonalidades de sombras e três de gloss.

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Wikileaks: tiro no pé?Por Carlos Castilho

Areação de vários governos e de parte da imprensa mundial contra o site Wiki-leaks e seu criador, Julian Assange, corre o risco de

se transformar num tiro no pé, caso os desafetos do polêmico ativista australiano não se dêem conta dos rumos que o caso está tomando.

O debate mundial deflagrado pela divulgação de quase 250 mil documentos secretos da diplomacia norte-americana acabou transfor-mando Assange numa personalidade mundial e, ao que tudo indica, num ícone da polêmica sobre o livre fluxo de informações na internet. É o diz o sociólogo Manuel Castells, num artigo1 sobre o caso Wikileaks, talvez o melhor texto já publicado sobre o caso nas últimas semanas.

As acusações ao fundador do Wikileaks começam a se mostrar frágeis e controvertidas. A principal delas é a de que ele pôs em risco a segurança norte-americana ao divul-gar documentos secretos acumula-dos ao longo de quase 10 anos.

A acusação feita por autoridades de Washington, e referendadas por parte da imprensa norte-americana, esbarram na informação de militar do exército dos EUA, Bradley Man-ning, que está sendo investigado sob a suspeita de ter baixado ilegalmente 150 mil documentos do Departamen-to de Estado. Manning seria a fonte original dos documentos divulgados pelo Wikileaks.

Esta informação foi endossada pelo ministro de Relações Exteriores, e ex-primeiro ministro da Austrália, Kevin Rudd, para quem a culpa do vazamento das informações é dos Estados Unidos. Mas o debate sobre a autenticidade dos documentos e da identidade dos autores pelo vaza-mento acabou sendo ofuscado por dois outros fatos.

O primeiro é a controvertida acusação de estupro feita por duas mulheres suecas, segundo as quais Assange não teria interrompido um

ato sexual consensual mesmo depois do rompimento da camisinha que ele usava. Na Suécia, o tema pode ser sé-rio e justificar uma ação judicial, mas noutros países pode facilmente ser associado a fatores bem menos gra-ves do ponto de vista penal e policial.

Mas como Assange está no meio de uma polêmica mundial envol-vendo interesses muito fortes, a acusação de estupro foi rapidamente endossada pela Interpol, que lançou uma ordem mundial de captura. Esta semana, em Londres, ele se entregou à Scotland Yard e ganhou o status de personalidade mundial. Seus “15 minutos” de fama podem acabar se estendendo para mais de uma semana.

A outra conseqüência é o inicio de uma guerrilha cibernética de dimensões nunca vistas na Internet. A pressão norte-americana levou os sites Amazon e PayPal a suspen-der as operações comerciais com o Wikileaks, mas em compensação o Facebook resolveu manter a página da organização em sua rede social. Além disso começaram a pipocar pelo mundo “espelhos” do site da Wikileaks com o objetivo de ampliar a divulgação dos documentos secretos. Em questão de dias surgiram mais de 700 “espelhos”.

Assange disse, pouco antes de ser preso, que ele ainda tem cinco gibabytes de documentos secretos e que vai divulgá-los em breve. Isto equivale mais ou menos a uma pilha de documentos em folhas de papel

com 45 metros de altura2. A ameaça tanto pode ser um blefe como pode ser real, o que certamente elevará a temperatura do debate em torno da figura deste australiano de 39 anos, que está sendo chamado de jornalis-ta, mas que na verdade é um pro-gramador autodidata, porque nunca concluiu o curso de física e matemá-tica, em seu país .

Ao focar na personalidade do fundador do Wikileaks, os desafe-tos de Assange procuram desviar o rumo do debate para um espaço que lhes parece mais favorável. Segundo pessoas que convivem com Assange, ele não é nenhum santo ou modelo de comportamento sexual, e portanto é mais vulnerável perante a opinião pública mundial do que o princípio da liberdade no fluxo de informações do qual o Wikileaks é hoje um paradig-ma mundial.

A batalha está migrando para o terreno complexo das percepções onde vale mais a versão do que o fato. Para alguns isto equivale a um desvio grave, mas, para quem lida com a opinião pública, a versão pode passar a fato a ser levado em conta na análise contextual, independente da ausência de sua correlação com o que se poderia chamar de verdade.

As acusações de estupro cer-tamente irão alimentar um debate picante sobre o comportamento de Assange, que ficará em evidência tanto pela sua performance na cama quanto pelo seu projeto na web. E a multiplicação de espelhos do Wikile-aks pode ampliar a polêmica mundial sobre a liberdade no fluxo de infor-mações na web, muito além do que esperam e desejam as autoridades norte-americanas. n 1. Artigo publicado no jornal espanhol La Vanguardia, no dia 30/112. Um gigabyte equivale a uma pilha de papel com 9,1 metros de altura.

Carlos Castilho é Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC e é integrante da direção do Observatório da Imprensa.Artigo retirado do site Observatório da Im-prensa (www.observatoriodaimprensa.com.br)

O início de uma guerrilha cibernética de

dimensões nunca vistas na Internet.

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