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www.revistafale.com.br | JANEIRO de 2013 | Fale! | 1 Revista de informação ANO VI— Nº 94 OMNI EDITORA www.revistafale.com.br À es פra de um lar Quase 40 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos em todo o país. Eles esperam que a Justiça defina seu destino: voltar para a família biológica ou ser encaminhados para adoção S USAN G REENFIELD “A tecnologia está moldando uma geração de crianças apáticas, incapazes de pensar por si próprias.” 1 519953 389005 94 ISSN 1519-9533 OMNIEDITORA R$ 12,00

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Revista de Informação

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Revista de informaçãoANO VI— Nº 94 OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br

À espera de um larQuase 40 mil crianças e adolescentes vivem

em abrigos em todo o país. Eles esperam que a Justiça defina seu destino: voltar para a família biológica ou ser encaminhados para adoção

SUSAN GREENFIELD “A tecnologia está moldando uma geração de crianças apáticas, incapazes de pensar por si próprias.”

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ISSN 1519-9533 OMNIEDITORA R$ 12,00

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MO025-12 - ANUNCIO BALANÇO 410x265.indd 1 28/01/13 14:57

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“NOSSA ECONOMIA É

MAIS FORTE QUANDO

USAMOS OS TALENTOS

E A CRIATIVIDADE DOS

IMIGRANTES CHEIOS

DE ESPERANÇAS. [A

REFORMA] NECESSITARÁ

DE UMA SEGURANÇA

SÓLIDA DAS FRONTEIRAS

OFERECENDO UM

CAMINHO [EM DIREÇÃO

À CIDADANIA]”

BARACK OBAMA, presidente dos

Estados Unidos, sobre a nova Lei

de Imigração

“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder” ABRAHAM LINCOLN

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Joaquim Barbosa e o Julgamento do MensalãoFRASES ANTOLÓGICAS DO MINISTRO DO STF

“[O conjunto probatório coloca Dirceu] como mandante das promessas de pagamento das vantagens indevidas a parlamentares para apoiar o governo”

“No Brasil, o que é público não se transmuta em privado se a verba é pública”

“Os atos que pratiquei nesse processo poderia classificar até de muito generosos”

“Marcos Valério mentiu em seu interrogatório. É interessante notar que ele muda de versão conforme as circunstâncias”

“A lavagem de dinheiro foi feita em uma ação orquestrada com divisão de tarefas típica de um grupo criminoso organizado”

“Eu nunca tinha ouvido isso, entrega de dinheiro a domicílio”

“Partidos políticos não são vocacionados ao repasse de grandes somas de dinheiro de um para o outro. Eles competem entre si. Teria que ser muito ingênuo para acolher essa alegação”

“[As provas] colocam o então ministro da Casa Civil na posição central da organização e da prática, como mandante das promessas de pagamento das vantagens indevidas a parlamentares para apoiar o governo. Entender que Marcos Valério e Delúbio Soares agiram e atuaram sozinhos, contra o interesse e a vontade de Dirceu, nesse contexto de reuniões fundamentais, é inadmissível”

“A empreitada criminosa é muito maior do que a que nós estamos examinando nesses autos”

FOTO: SCO_STF

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Meio ambiente e sustentabilidade

são nossas prioridades. O primeiro caderno verde

do Brasil. Toda terça-feira, informações sobre

meio ambiente e sustentabilidade.

Rua Barão de Aracati, 1320 - Aldeota www.oestadoce.com.br

Há mais de 4 anos plantando para o futuro.

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Online TECH

COMUNICAÇÃO

Câmera policialA empresa Taser, a mesma que fabrica pistolas incapacitantes lançou a filmadora Axon Flex, acoplada a óculos, que produz áudio e vídeo compatível com smartphones como iPhones e outros aparelhos com sistema android. A ideia original é servir o aparato policial já que em alguns países é comum filmar o procedimento de abordagem para dar transparência e evitar versões que não a da polícia. FONTE www.taser.com/flex PRODUTO Axon Flex

COMPUTAÇÃO

Sinta o jogoO PlayStation Vita é o console portátil da Sony que traduz a tentativa da empresa de liderar o mercado de jogos para equipamentos portáteis, que explodiu com a popularidade de aplicações para smartphones e tablets. O console portátil tátil e com sensores de movimento é considerado o sucessor do PlayStation Portátil. Os jogadores podem se conectar por meio de redes celulares ou redes Wi-Fi, além do produto ser equipado com a tecnologia de GPS. FONTE br.playstation.com/psvita/

PRODUTO PS Vita PREÇO US$ 300

PATENTES

Ação contra FaceA empresa Rembrandt IP Management anunciou um processo contra o Facebook, alegando que a maior rede social do mundo utiliza indevidamente patentes registradas pelo holandês Joannes Jozef Everardus Van Der Meer, já falecido. As patentes estão associadas à empresa de tecnologia Aduna, criada pelo holandês (também chamado de Jos van der Meer). O processo contra o Facebook foi aberto no estado da Virgínia, EUA.

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História de Capa

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Quase 40 mil crianças e adolescentes vivem

em abrigos no Brasil. Aprovada em 2009, a Lei Nacional da Adoção regula a situação das crianças que estão em uma das 2.046

instituições de acolhimento. P O R A M A N D A C I E G L I N S K I

FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

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Em uma ampla sala colorida, cercado por cuidadoras, um grupo de seis bebês, com 6 meses de idade em mé-dia, divide o mesmo espaço, brinquedos

e histórias de vida. Todos eles vivem em uma insti-tuição de acolhimento enquanto aguardam que a Justiça defina qual o seu destino: voltar para a família biológica ou ser encaminhados para adoção.

A realidade das 27 crianças que moram no Lar da Criança Padre Cícero, em Taguatinga, no Distrito Federal (DF), repete-se em outras instituições do país. Enquanto aguardam os trâmites judiciais e as tentativas de reestruturação de suas famílias, vivem em uma situação indefinida, à espera de um lar. Das 39.383 crianças e adolescentes abrigadas atualmente, apenas 5.215 estão habilitadas para adoção. Isso representa menos de 15% do total, ou apenas um em cada sete meninos e meninas nessa situação.

Aprovada em 2009, a Lei Nacional da Adoção regula a situação das crianças que estão em uma das 2.046 instituições de acolhimento do país. A legislação enfatiza que o Estado deve esgotar todas as possibi-lidades de reintegração com a família natural antes de a criança ser en-caminhada para adoção, o que é visto como o último recurso. A busca pelas famílias e as tentativas de reinserir a criança no seu lar de origem podem levar anos. Juízes, diretores de instituições e outros profission-ais que trabalham com adoção criticam essa lentidão e avaliam que a criança perde oportunidades de ganhar um novo lar.

“É um engodo achar que a nova lei privilegia a adoção. Em vez disso, ela estabelece que compete ao Estado promover o saneamento das deficiências que possam existir na família original e a ênfase se sobressai na colocação da criança na sua família biológica. Com isso, a lei acaba privilegiando o inter-esse dos adultos e não o bem-estar da criança”,

avalia o supervisor da Seção de Colocação em Família Substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude do DF, Walter Gomes.

Mas as críticas em relação à legislação não são unânimes. O juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça Nicolau Lupianhes Neto avalia que não há equívoco na lei ao insistir na reintegração à família

natural. Para ele, a legislação traz muitos avanços e tem aju-dado a tornar os processos mais céleres, seguros e transparentes. “Eu penso que deve ser assim [privilegiar a família de origem], porque o primeiro direito que a criança tem é nascer e crescer na sua família natural. Todos nós temos o dever de procurar a todo momento essa permanência na família natural. Somente em último caso, quando não houver mais solução, é que devemos promover a destituição do poder familiar”, defende.

O primeiro passo para que a criança possa ser encaminhada à adoção é a abertura de um processo de destituição do poder familiar, em que os pais poderão perder a guarda do filho. Antes disso, a equipe do abrigo precisa fazer uma busca ativa para incen-tivar as mães e os pais a visitarem seus filhos, identificar as vulnera-bilidades da família e encaminhá-la aos centros de assistência social para tentar reverter as situações de violência ou violação de di-reitos que retiraram a criança do lar de origem. Relatórios mensais são produzidos e encaminhados às varas da Infância. Se a con-clusão for que o ambiente familiar permanece inadequado, a equipe indicará que o menor seja en-caminhado para adoção, decisão que caberá finalmente ao juiz.

Walter Gomes critica o que chama de “obsessão” da lei pelos laços sanguíneos. “Essa ênfase acaba demonstrando um certo preconceito que está incrustado na sociedade que é a superval-orização dos laços de sangue. Mas a biologia não gera afeto. A lei acaba traduzindo o precon-ceito sociocultural que existe em relação à adoção.”

Uma das novidades intro-duzidas pela lei – e que também contribui para a demora nos *Os nomes das crianças foram trocados em acordo com o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

História de Capaa

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A diretora do abrigo Lar da Criança Padre Cícero, Maria da Glória Nascimento, em Brasília FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

processos - é o conceito de família extensa. Na impossibilidade de a criança retornar para os pais, a Justiça deve tentar a reintegração com outros parentes, como avós e tios. Luana* foi encaminhada ao Lar da Criança Padre Cícero quando tinha alguns dias de vida. A menina já completou 6 meses e ainda aguarda a decisão da Justiça, que deverá dar a guarda dela para a avó, que já cuida de três netos. A mãe de Luana, assim como a de vários bebês da institu-ição, é dependente de crack e não tem condições de criar a filha.

O chefe do Núcleo Especiali-zado da Infância e Juventude da Defensoria Pública de São Paulo, Diego Medeiros, considera que

o problema não está na lei, mas na incapacidade do Estado em garantir às famílias em situação de vulnerabilidade as condições necessárias para receber a criança de volta. “Como defensoria, en-tendemos que ela é muito mais do que a Lei da Adoção, mas o fortal-ecimento da convivência familiar. O texto reproduz em diversos mo-mentos a intenção do legislador de que a prioridade é a criança estar com a família. Temos que questionar, antes de tudo, quais foram os esforços governamentais destinados a fortalecer os vínculos da criança ou adolescentes com a família”, aponta.

Pedro* chegou com poucos dias de vida ao Lar Padre Cícero. A

mãe o entregou para adoção junto com uma carta em que deixava clara a impossibilidade de criar o menino e o desejo de que ele fosse acolhido por uma nova família. Mesmo assim, aos 6 meses de vida, Pedro ainda não está habili-tado para adoção. Os diretores do abrigo contam que a mãe já foi convocada para dizer, perante o juiz, que não deseja criar o filho, mas o processo continua em tramitação. Na instituição onde Pedro e Luana moram, há oito crianças cadastradas para adoção. Dessas, apenas duas, com graves problemas de saúde, têm menos de 5 anos de idade.

Enquanto juízes, promotores, defensores e diretores de abrigos

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FONTE: CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÕES _ 2012

AS DUAS FACES DA ADOÇÃOPerfil de crianças disponíveis para adoção e a expectativa das famílias potenciais receptoras

História de Capaa

se esforçam para cumprir as determinações legais em uma corrida contra o tempo, a fila de famílias interessadas em adotar uma criança cresce: são 28 mil pretendentes cadastrados e ap-enas 5 mil crianças disponíveis. Para a vice-presidenta do Institu-to Brasileiro de Direito da Famíl-ia, Maria Berenice Dias, os bebês abrigados perdem a primeira in-fância enquanto a Justiça tenta re-solver seus destinos. “Mesmo que eles estejam em instituições onde são super bem cuidados, eles não criam uma identidade de sentir o cheiro, a voz da mãe. Com tantas

crianças abrigadas e outras tantas famílias querendo adotar, não se justifica esse descaso. As crianças ficam meses ou anos depositadas em um abrigo tentando construir um vínculo com a família biológi-ca que na verdade nunca existiu”, critica.

As exigências. Os abrigos que acolhem crianças e adolescentes no país estão cheios, mas ainda assim famílias esperam anos na fila para adotar um filho. A de-mora nos processos de destituição do poder familiar, em que os pais perdem a guarda e a criança pode

ser encaminhada à adoção, expli-ca em parte esse fenômeno. Outro motivo é a discrepância entre o perfil das crianças disponíveis e as expectativas das famílias.

A maior parte dos pretendentes procura crianças pequenas, da cor branca e sem irmãos. Dos 28 mil candidatos a pais incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, 35,2% aceitam apenas crianças brancas e 58,7% buscam alguma com até 3 anos. Enquanto isso, nas instituições de acolhimento, mais de 75% dos 5 mil abrigados têm entre 10 e 17 anos, faixa etária que apenas 1,31% dos candidatos está disposto a aceitar.

Quase mil crianças e adoles-centes já foram adotados por meio do cadastro, criado em 2008. Antes da ferramenta, que é administrada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), as unidades federativas tinham bancos de dados próprios, o que dificultava a troca de informações e a adoção interestadual.

Para o juiz auxiliar da Correge-doria Nacional de Justiça Nicolau Lupianhes Neto, é possível perce-ber uma mudança na postura das famílias pretendentes, que têm flexibilizado o perfil buscado. A principal delas diz respeito à faixa etária: antes a maioria aceitava apenas bebês, mas hoje a adoção de crianças até 4 ou 5 anos de idade está mais fácil.

“A gente observa que isso tem mudado pelos próprios números do cadastro, mas essa transfor-mação não vai acontecer da noite para o dia porque faz parte de uma cultura”, aponta o magistrado. Uma barreira difícil de ser su-perada ainda é a adoção de irmãos. Apenas 18% aceitam adotar irmãos e 35% dos meninos e meninas têm irmãos no cadastro. A lei determina que, caso a criança ou adolescente tenha irmãos também disponíveis para adoção, o grupo não deve ser

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separado. Os vínculos fraternais só podem ser rompidos em casos excepcionais, que serão avaliados pela Vara da Infância.

Outros fatores são entraves são a presença de algum tipo de deficiência física ou doença grave, condição que atinge 22% dos in-cluídos no cadastro. Bianca* tem 5 meses de idade e chegou com pou-cos dias de vida ao Lar da Criança Padre Cícero, em Taguatinga, no Distrito Federal. A mãe, usuária de crack, tentou fazer um aborto e Bi-anca ficou com sequelas em função das agressões que sofreu ainda na barriga. Ela tem paralisia cerebral parcial. Apesar da deficiência, é uma menina esperta, ativa e muito carinhosa. Os médicos que acom-

panham o tratamento de Bianca no Hospital Sarah, em Brasília, estão animados com a sua evolução, segundo a assistente social Re-nata Cardoso. “Mas a gente sabe que no caso dela a adoção vai ser difícil”, diz.

Aos 37 anos, Renata sabe muito bem como é a realidade das cri-anças que vivem nos abrigos, mas têm poucas chances de ser ado-tada. Ela chegou ao Lar da Criança Padre Cícero aos 7 anos de idade, com três irmãos. Órfãos de mãe, eles não podiam morar com o pai, que era alcoólatra. Houve uma tentativa de reintegração quando o pai se casou, mas ela e os irmãos passaram poucos meses na casa da madrasta e logo retornaram para a

instituição. “Não deu certo”, lem-bra. Dois de seus irmãos saíram do abrigo após completar 18 anos e formaram suas próprias famílias. Renata quis continuar o trabalho de Maria da Glória Nascimento, a dona Glorinha, diretora do lar. Ela nunca foi adotada oficialmente por Glorinha, mas ela e os irmãos são tratados como se fossem filhos biológicos.

“Com o tempo, a gente sentiu que ela ia cuidar da gente como filho. Não tive vontade de ir embo-ra, nunca vi aqui como um abrigo, sempre vi como minha casa e ela [Glorinha] como minha mãe. Ela sempre ensinou que nós iríamos crescer para cuidar dos menores e foi assim”, conta.n

Criança à espera de adoção brinca no abrigo Lar da Criança Padre Cícero, em Brasília FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

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Comportamento

AMEAÇA DIGITALA neurocientista Susan Greenfield diz que “a tecnologia está moldando

uma geração de crianças

apáticas, incapazes de

pensar por si próprias.”

usan Greenfield, cientista e pesquisadora britânica especialista em psicologia do cérebro é incisiva na conclusão de sua pesquisa sobre mídias sociais, as novas ferramentas de comunicação podem fazer o cérebro regredir ao grau infantil declara ela em entrevista à revista New Scientist.

“A tecnologia está moldando uma geração de crianças apáticas, incapazes de pensar por si próprias.” Quem faz essa afirmação é a neurocientista Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford e membro da Câmara dos Lordes, a câmara alta do parlamento do Reino Unido.

Segundo Greenfield, navegar em excesso por redes sociais pode fazer o cérebro regredir, pois a exposição repetida a flashes de imagens em progra-mas de TV, jogos de videogame ou redes sociais pode infantilizar o cérebro, tornando-o similar ao de uma criança pequena, que se atrai por manifestações sonoras e luminosas.

De forma simples, o que a neurocientista prega é que quanto mais uma criança navegar por redes sociais ou jogar os games de PC ou consoles, menos tempo há para a aprendizagem de fatos específicos e para trabalhar a forma como estes elementos se rela-cionam entre si. “Eles estão destinados a perder a consciência de quem e o que eles são:

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AMEAÇA DIGITAL

não alguém, ou qualquer pessoa, mas ninguém”, diz.

Greenfield acredita que as mentes das novas gerações estão se desenvolvendo de maneira diferente das de gerações anteri-ores. “O cérebro”, diz ela, “tem plasticidade: é requintadamente maleável, e uma alteração signifi-cativa em nosso meio ambiente e comportamento traz consequên-cias”.

Segundo a neurologista, sua

principal preocupação é como os jogos de computador pode-riam realçar o que ela chama de “processo” sobre o “conteúdo” - o método sobre o sentido - na ativi-dade mental.

Ela expõe um catálogo de repercussões que levariam o u895009833599151mo um declínio na imaginação linguística e visual; atrofia da criatividade; e falta dos verbos e das estruturas essenciais para condicionar um pensamento

complexo.Embora não haja provas

concretas de que as redes sociais infantilizam seus usuários, Susan Greenfield sustenta que a ciência já provou que o ambiente pode influenciar a maneira como o cé-rebro funciona e que a tecnologia está influenciando a forma como as pessoas pensam no século 21.

New Scientist: Você acha que a tecnologia digital esta tendo

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um impacto nos nossos cérebros. Como você responde para aqueles que dizem não haver evidências para isso?Susan Greenfield: Quando as pessoas dizem que não há evidências, você pode virar de volta e dizer, que tipo de evidên-cia você poderia imaginar que houvesse? Nós vamos ter que esperar por vinte anos e ver que as pessoas estão diferentes das gerações precedentes? Às vezes você simplesmente não pode ir a um laboratório e ter a evidência durante uma noite. Eu penso que há suficientes indicações que nós devíamos falar bastante ao invés de nos estressarmos sobre o fato de não podermos provar instanta-neamente em um laboratório.

New Scientist: Então, que evidência existe ?Susan Greenfield: Existem várias evidências, por exemplo, o artigo “Anomalias micro estrutur-ais em adolescentes com desor-dem de vício em internet”, no Jor-nal PLoS One. Nós sabemos que o cérebro humano pode mudar e o meio ambiente pode mudá-lo. Há um aumento de pessoas com desordem de espectro autista. Existem as bofetadas-divertidas que aumentaram com o apelo do Twitter, Eu penso que isso mostra que a atitude das pessoas com as outras e consigo mesmas está mudando.

New Scientist: Mais alguma?Susan Greenfield: Há o artigo no jornal Neuron, que diz que existem dados de que o cérebro irá mudar. Ele também analisa a evidência mostrada com a questão da violência, distração e o vício em crianças, ligadas à perversão da tecnologia.

New Scientist: O que faz as redes sociais e jogos de computa-

dor diferentes das tecnologias precedentes e qual a temeridade que elas despertam?Susan Greenfield: O fato de que as pessoas estão usando a maior parte das suas horas acordadas usando elas. Quando eu era uma criança, televisão era o centro da casa, assim como o piano vitoriano era. É muito diferente o uso de uma televisão, quando você está sentado em volta e aproveitando com outros, comparando com quando você está no seu quarto e olhando o computador até duas ou três da manhã sozinho. En-tão, não são as tecnologias em si mesmo que estou criticando, mas como elas são usadas e o tempo estendido que as quais são usadas. Eu não digo que a tecnologia de-compõe o cérebro, eu nunca faria esse julgamento de valor.

New Scientist: A tecnologia digital foi defendida, em termos

de bem estar, pelo relatório do Nominet Trust. O que você pensa sobre isso?Susan Greenfield: Eu dou as boas vindas a esse relatório. É um me-ticuloso e compreensivo conjunto de fatos e informações. Mas, inevi-tavelmente, ele não pode alcançar conclusões muito firmes. Eu acho que ele foi usado para questões furtivas, como apenas dizer: “Bem, está tudo OK então”, mas eu penso que está muito longe de estar tudo OK. Eu nunca encon-trei um familiar ou professor que nunca pensou que não devíamos falar sobre isso. Apenas restringir o acesso das crianças à internet não ajuda o bastante. Ao contrário disso, eu devo perguntar: “O que nós podemos oferecer às crianças? Nós deveríamos estar planejando um meio ambiente em três dimen-sões para as nossas crianças em vez de colocá-las na frente de um em duas dimensões.” n

A neurocientista Susan Greenfield

Comportamento

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maisINFLUENTES 2013

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A CRESCENTEPRESENÇA DA FIGURA FEMININA EM CARGOS DE GESTÃO, TEM REAL-MENTE FEITO A DIFERENÇA, JÁ QUE ATRIBUTOS CARACTERÍSTICOS DA MULHER COMO A SENSIBILIDADE, A INTUIÇÃO E UMA ABORDAGEM MAIS HUMANA DE SITUAÇÕES E CIRCUNSTÂNCIAS, SE CONFIGURAM CADA VEZ MAIS RECORRENTES COMO PROCEDIMENTOS FUNCIONAIS

NO MERCADO DE TRABALHO.

Educação

ANA FLÁVIA CHAVES

REITORA FAZ A DIFERENÇAPOR LUIZ ANTÔNIO ALENCAR n FOTO CHICO PERES

Ana Flávia Chaves é reitora do Cen-tro Universitário Estácio FIC-Faculdade Integrada do Ceará. Iniciou a carreira em 1999 como professora e depois como coordenadora do Curso de Ciências Con-tábeis. Em 2005, passou a exercer a fun-ção de Diretora Acadêmica, até assumir a direção geral da instituição em 2008. É formada em Ciências Contábeis pela Uni-versidade Federal do Ceará, Mestre em Controladoria pela USP-Universidade de São Paulo e Doutoranda em Desen-volvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha. É casada com o professor da Universidade Estadual do Ceará ( UECE), Lauro Chaves Neto e mãe de duas crianças, Gabriel e Ana Alice.

Segundo Ana Flávia, a sensibilidade

como elemento de gestão cria um equi-líbrio com o racional, no sentido de ins-taurar uma percepção das peculiaridades de cada membro da equipe no sentido de estimulá-lo a dar o melhor de si na sua tarefa. A emoção no sentido de cuidar do outro identificando seu lado huma-no, cria colaboradores motivados e emo-cionalmente envolvidos no processo de trabalho.

A reitora adianta uma que uma mis-são deve ser vivenciada e internalizada para que instituição caminhe dentro de todo um consenso de responsabilidade social e cidadania, preservando e dando relevância à integridade pessoal de cada indivíduo, para que se instaure um todo integrado e harmonizado, já que se tra-

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balha com educação,que abrange um leque bem mais amplo de pos-sibilidades humanas e pessoais.

Ana Flávia esclarece ainda que a liderança feminina incorpora padrões de multifuncionalidade na avaliação de possibilidades e alternativas, harmonizando e oti-mizando antagonismos para que se estabeleça um sentido de grupo notadamente mais eficiente para o alcance da realização da missão em curso. O fator equipe é fun-damental no sentido dos méritos dos resultados serem partilhados como elemento motivacional prio-ritário.

A FIC conta com 23 mil alunos, 400 professores e 200 colabora-dores, um crescimento apresen-tado em relação a 2011 de 30 %. “Um sábio é aquele faz todos en-tenderem de modo simples algo

complexo, “assevera Ana Flávia Chaves que assegura que o papel dos educadores na Estácio FIC é justamente trabalhar o potencial de cada aluno no sentido de uma agilização oportuna dos procedi-mentos didáticos. “Temos alunos de classes sociais, credos e origens diferentes, de modo que colabora-mos para que cada um deles esteja apto para o mercado de trabalho, esse é o nosso foco maior,” com-plementa a reitora.

A instituição além de disponi-bilizar bibliotecas virtuais e pre-senciais nas suas duas unidades, oferece 20 mil ofertas de emprego e estágio trabalhando o aluno para que seja devidamente aceito nes-sas oportunidades de inserção no mercado, ofertadas e disponíveis.

Ana Flávia assinala ainda que a FIC oferece material didático a todos os seus alunos e tablets para os cursos de Direito, Administra-ção e Arquitetura.

Como mãe, mulher e gestora, Ana Flávia coloca cada um des-ses itens como desdobramento oportuno um do outro para que a tarefa administrativa adquira diferenças bem mais relevantes e expressivas. É por essas e outras que a mulher faz realmente a di-ferença. n

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Memória

OscarNiemeyerO ESTILO NA ARQUITETURAPOR RENATA GIRALDI n FOTOS AGÊNCIA BRASIL

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SÍMBOLO DA VANGUARDA E DA CRÍTICA AO

CONSERVADORISMO DE IDEIAS E PROJETOS, O CARIOCA

OSCAR RIBEIRO DE ALMEIDA DE NIEMEYER SOARES, DE

104 ANOS, É APONTADO COMO UM DOS MAIS INFLUENTES

NA ARQUITETURA MODERNA MUNDIAL. OS TRAÇOS

LIVRES E RÁPIDOS CRIARAM UM NOVO MOVIMENTO NA

ARQUITETURA. A CAPITAL BRASÍLIA É APENAS UMA DAS

SUAS NUMEROSAS OBRAS ESPALHADAS PELO BRASIL E

PELO MUNDO.

NIEMEYER MORREU NO ANO PASSADO, NO DIA 5 DE

DEZEMBRO, ÀS 21H55MIN, NO HOSPITAL SAMARITANO,

NO RIO DE JANEIRO, EM BOTAFOGO, ONDE ESTAVA

INTERNADO DESDE O DIA 2 DE NOVEMBRO, VÍTIMA DE

COMPLICAÇÕES RENAIS E DESIDRATAÇÃO, O ARQUITETO

OSCAR NIEMEYER, DE 104 ANOS.

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Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Nie-meyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, per-guntaram para Niemeyer se ele ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva:

“O dia em que

eu não mais me

indignar é porque

morri.”Em 1934, Niemeyer se formou

na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que cha-mava de arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao escritório, em Copaca-bana, no Rio de Janeiro. A frequ-ência caiu depois de duas cirur-gias – uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na vesícu-la. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção urinária.

Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia. Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunis-ta Brasileiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da legenda. Durante a ditadura (1964-1985), ele se autoexilou na França. Nesse período foi à então União Soviética.

Em 2007, Niemeyer presen-teou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com uma escultura na qual há uma imagem monstruo-sa que ameaça um homem que se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de constru-ção da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.

Independentemente das polê-

micas, Niemeyer se transformou em sinônimo de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões--postais da cidade foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.

O Palácio da Alvorada, a resi-dência oficial da Presidência da República, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em junho de 1958. Na obra, os pilares que Niemeyer desenhou para a fa-chada do prédio, passaram a ser o emblema de Brasília.

A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os pré-dios do Supremo Tribunal Fede-ral (STF) e o Congresso Nacional – formado por duas semiesferas simbolizando a Câmara dos De-putados (voltada para cima) e o Senado (voltada para baixo).

Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral Metropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível por meio de uma passa-gem subterrânea. No teto da igre-ja, há anjos dependurados.

Em janeiro de 2012, Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de 82 anos, que morreu em consequên-cia de um enfisema pulmonar, no Rio. Desde então, segundo ami-gos, o arquiteto passou a sair me-nos de casa e ficou mais fechado.

MORREU “O

ÚLTIMO GRANDE

ARQUITETO DO

SÉCULO 20”A morte do arquiteto Oscar

Niemeyer ganhou destaque na imprensa de Portugal. O site do jornal Público, de Lisboa, infor-ma que morreu “o último grande

arquiteto do século 20”. Já o site do Diário de Notícias lembra que Niemeyer era “o mais importante arquiteto brasileiro” e “também um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna em nível mundial”.

A agência de notícias Lusa tam-bém faz reverência e diz que “o arquiteto brasileiro deixou mais de 600 obras em todo o mundo, sendo considerado um ícone da arquitetura moderna”.

Em Portugal, há apenas uma grande obra de Oscar Niemeyer — três edifícios (hotel, casino e centro de convenções) que fazem parte de um complexo turístico do Funchal, na Ilha da Madeira. Os edifícios foram projetados pelo brasileiro em 1966, quando esta-va exilado em Paris, e concluídos uma década depois — dois anos após a Revolução dos Cravos.

Em 2001, foi publicado em Por-tugal o livro O Nosso Niemeyer, sobre a obra do Funchal. O livro, que inclui a biografia do brasilei-ro, foi escrito por Carlos Oliveira Santos, professor da Faculdade de Arquitetura de Lisboa.

No ano passado, Oscar Nie-meyer projetou o Museu de Arte Contemporânea de Ponta Delga-da para a Ilha de São Miguel, nos Açores. Com Portugal em reces-são econômica, não há previsão de quando a obra poderá ser executa-da. Para Lisboa, o arquiteto ainda desenhou a futura sede da Funda-ção Luso-Brasileira, que também ainda não foi construída.

A passagem dos 100 anos de Niemeyer, em 2007, foi registrada pela imprensa lusitana e come-morada com a exposição Brasília 50 Anos, Niemeyer 100 Anos, em Cascais, próximo a Lisboa.

Como muitos brasileiros, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares tinha ascendência portu-guesa. Ao blog da Embaixada de Portugal, o arquiteto contou que

Memória