Falando de-axe

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“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS - CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”. Falando de Axé ANO 1 Edição 06 Novembro de 2011 Òrìs à do Mês Egúngún, O Ancestral que vence a Morte (Esquecimento) Umbanda completou seus 103 anos de Fundação em 2011 Falando de Axé com Mãe Elis Peralta Nação Jèjí no Brasil Zumbi dos Palmares, o maior Ícone da resistência negra ao escravismo no Brasil

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“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS - CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.

Falando de Axé ANO 1 — Edição 06 Novembro de 2011

Òrìsà do Mês

Egúngún, O

Ancestral que vence

a Morte

(Esquecimento)

Umbanda completou

seus 103 anos de

Fundação em 2011

Falando de

Axé com Mãe

Elis Peralta

Nação Jèjí no Brasil

Zumbi dos Palmares, o maior

Ícone da resistência negra ao

escravismo no Brasil

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EDITORIAL Saudações amigos leitores, cá estamos nós, com mais uma edição da Falando de Axé, Novembro de 2011, que está um pouco atrasadinha, mas prontinha para a apreciação de vocês. Gostaríamos de comunicar à todos, que estamos diminuído as cores da revista, já que a mesma não é impressa, ficará melhor para àqueles que desejarem imprimi-la para ler, pois, os pedidos são muitos. Nossa equipe tem se esforçado bastante, para que a cada edição, a revista esteja melhor e do agrado de todos vocês. Por isso, contaremos sempre, com as críticas e sugestões de vocês, amigos leitores. Esperamos que gostem desta nova edição e uma Ótima Leitura à todos.

Hérick Lechinski - O Editor

" O l ó d ù m a r è (Meu Deus), aju-da-me a dizer a palavra da ver-dade na cara dos fortes, e a não mentir para ob-ter o aplauso dos débeis." - Mahatma Gandhi

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ÍNDICE Consciência Negra Pág. 04 Quem são os Bantus? Parte II Pág. 05 Criação do Mundo segundo a Tradição Bantu Pág. 08 Cultura Vòdún, a Nação Jèjí no Brasil Pág. 13 Òrìsà do Mês: Egúngún, o Ancestral que vence a Morte (esquecimento) Pág. 16 Odù do Mês: Òyékú méjì, o Odù da Morte Pág. 21 Folha do Mês: Tètèrègún, a Folha da Vida e da Morte Pág. 24 Existe Ògán raspado e Ìyàwó pode tocar atabaques? Pág. 26 Para onde caminha a Umbanda? Pág. 29 Entrevista do Mês: Mãe Elis Peralta Pág. 30 A Umbanda completou seus 103 anos de Fundação em 2011 Pág. 35 Livro do Mês: A Umbanda às suas ordens Pág. 36 Santo do Mês: Nossa Senhora do Rocio, a Mãe padroeira do Paraná Pág. 37 Personalidades Negras: Zumbi do Palmares Pág. 42 Contatos Pág. 47

Ìbà Olódùmarè Elédà mi - Saudações a Olódùmarè, O meu Criador.

Ilè Ògéré Ìbà - Terra, cujo poder se espalha por todo o Universo, Saudações.

Mo júbà Èsù Alágbára Irúnmalè - Eu respeitosamente saúdo Èsù, o Poderoso Venerável. Ìbà gbogbo - Saudações a Todos!!!

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Consciência Negra

Consciência e com ciência...

Consciência negra não é coisa só para negros, mas sim para todos, ne-

gros, brancos e de todas as cores, pois, antes de tudo somos iguais.

Iguais, semelhantes, esta é a consciência que todos devemos ter.

A lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro

no calendário escolar, o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei

também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-

Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas

sobre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos ne-

gros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da socieda-

de nacional.

Com a implementação dessa lei, o governo brasileiro espera contribuir

para o resgate das contribuição dos povos negros nas áreas social, eco-

nômica e política ao longo da história do país.

A escolha dessa data não foi por acaso: em 20 de novembro de 1695,

Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares- foi morto em uma emboscada

na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que

culminou com o início da destruição do quilombo Palmares.

Então, comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é u-

ma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura

histórica. Não somente a imagem do líder, como também sua importân-

cia na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888.

Porém, hoje as estatísticas sobre os brasileiros ainda espelham desigual-

dades entre a população de brancos e a de pretos e pardos. Há muito o

que melhorar.

Fonte: IBGE Teen

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QUEM SÃO OS BANTUS? Parte II

POVO BAKONGO O s b a k o n g o s e ambundos apresentam uma caracte-rística que é peculiar a todos os povos bantu, que é a extrema capacidade de assimilação e adaptação às condições, valores e crenças locais. São capazes de elaborar sucessivas releituras daqueles elementos religiosos que lhes são estra-nhos, recriando sempre e em cada cir-cunstância um novo discurso de sua vi-vência e prática cotidiana, acrescidos dos elementos até então exógenos a sua cultura. Quando do contato com os portu-gueses, sobretudo na esfera da religiosi-dade adaptaram-se perfeitamente ao catolicismo português, aceitando as no-vas divindades e seus atributos, cultuan-do os santos católicos ao lado de suas próprias divindades. Debalde clamavam as autoridades eclesiásticas portuguesas em África ou

no Brasil de que os negros estavam u-sando os santos católicos à maneira de feitiços, tal como usavam suas próprias divindades, acrescidos do fato de que em África, brancos católicos acabavam recorrendo aos poderes e saberes dos sacerdotes tradicionais. Os casamentos de nativos, ou casamentos mistos, eram celebrados na igreja de acordo com os ritos católicos, só que ao som de tambo-res e embalados por crenças nativas. Os enterros e velórios recebiam tanto a benção do padre católico quanto os e-xorcismos e oferendas do sacerdote da terra. A aceitação do catolicismo por parte dos africanos bantu sempre foi tranqüila na África ou no Brasil, mas sempre de acordo com suas conveniên-cias e decisões. No congo, relatam os cronistas, os santos católicos eram levados em pro-cissão e louvados ao lado dos Minkissi o que causava nos padres Capuchinhos profunda repugnância e revolta. As ir-mandades religiosas brasileiras são a clara demonstração dessa maneira pe-culiar de como os povos bantu encaram a questão da religiosidade. No pensa-mento mais profundo bantu impera a lei do nguzu ou do móoio, força vital que perpassa todos os elementos animados ou inanimados assim como todos os se-res humanos, não humanos e celestiais. Tudo possui nguzu e sem ele não há vi-da, não há movimento, não há realiza-ção. O nguzu diminui ou aumenta de a-cordo com o procedimento do indivíduo e sem ele o homem torna-se um morto-vivo. Uma estátua ou um ídolo podem tornar-se vivos e atuantes de acordo

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com o nguzu que recebe das mãos da-quele que o confeccionou ou daquele que através de seu próprio nguzu elabo-rou elementos para a sua vivificação. Tu-do que existe pode receber mais nguzu e tornar-se mais potente e ao contrário, pode também na mesma medida perder nguzo, tornar-se impotente e findar-se. Segundo a lógica bantu, Kalunga, aquele que se criou a si mesmo, ou Nzambi Am-pungo, o grande criador, é a fonte de to-da a potência e dele emana nguzu conti-nuamente, por isso sua criação é eficien-t e , p r e s e n t e e c o n t í n u a . Os bakongos foram o primeiro po-vo a ter contato com os portugueses, em 1483, através do navegador Diogo Cão que aportou na foz do Rio Zaire. O nave-gador foi acolhido pelo Mani de Soyo, dignitário de uma província do noroeste do Reino do Congo na época em que go-vernava o Reino o manicongo Nzinga a Nkuwa, que reinava da capital Mbanza Kongo, a alguns quilômetros terra aden-tro. O contato com os congoleses foi a-mistoso e Diogo Cão levou alguns bakon-gos consigo para o reino, cujo monarca representava e também deixou alguns homens em terra do manicongo. Quan-do retornou em 1485 os quatro bakon-gos que haviam passado dois anos em Portugal fizeram relatos muito positivos ao Rei sobre os novos instrumentos de guerra que conheceram, as novidades que viram, o que impressionou vivamen-te o Rei. Essas informações convenceram o Manicongo a enviar uma embaixada ao rei português, D.João II com o objeti-vo de aprender com os portugueses tu-do aquilo que seus súditos haviam visto

no outro lado do mundo, e com esses conhecimentos, ele, o manicongo, tor-nar-se-ia um monarca muito poderoso. Por sua vez, o rei português sonhava em solidificar em África alianças que garan-tissem sua passagem tranqüila para as Índias, essa sim, alvo da cobiça comerci-al portuguesa. A aliança entre os dois monarcas teve como conseqüência a cristianização do congo, num primeiro momento, e a implantação do escravis-mo comercial e da dominação portugue-s a e m Á f r i c a . Os bakongos, hoje, ocupam as pro-víncias angolanas de Cabinda, Uíge e Zai-re, onde nesta última se localiza a antiga capital do reino do Congo. É a terceira maior população de Angola e suas pro-vinciais situam-se a noroeste do país. São agricultores e sua principal fonte de alimentação está no plantio da mandio-ca, que consomem crua, cozida ou em forma de farinha. É um povo que se or-ganiza em clãs e tem na Kanda, o clã por descendência matrilinear, seu maior es-teio e apoio. Há um provérbio congolês que diz: Alguém apanhado fora do clã e como um gafanhoto sem asas. Na esfera religiosa, grande parte é cristã desde o século XVI por influência portu-guesa, mas continuam a professar sua religião tradicional. De acordo com suas concepções religiosas cada pessoa com-põe-se de quatro elementos: o corpo (nitu), duas almas, uma espiritual e ou-tra sensível ( moio e mfumu kutu ) e um nome (Zina). O deus criador é Nzambi Ampugo, mas raramente se dirigem dire-tamente a ele e sim por intermédio dos antepassados, os bakulus ou os Minkissi.

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CRENÇAS BAKONGO

Para os bakongos Nzambi Ampun-go é o deus criador que se criou a si mesmo ou é o incriado. Como primeiro ato de criação, Nzambi criou um grande saco colocando nele todas as coisas ne-cessárias a sobrevivência do homem. Depositou ali o ar, a terra, a água, o fo-go, os animais úteis e perigosos ao ho-mem, as plantas comestíveis e veneno-sas, a maldade e a bondade, ou seja, tu-do que fosse necessário para o homem viver em harmonia. Criou também as di-vindades, boas e más, as atitudes, a saú-de e a doença. Feito isso, Nzambi deu um nó na boca do saco, selando com es-se nó o segredo da vida, pertencente a-penas a Nzambi e a ninguém mais. Para o homem bakongo, viver bem é viver de acordo com as leis da nature-za, buscando a harmonia entre todas as

coisas, pois, segundo ele, o bom comple-menta o ruim, o falso complementa o verdadeiro, e assim por diante. Tudo po-de ser feito pelo homem, todas as ações são possíveis e factíveis, apenas ao ho-mem não é dado conhecer o segredo da vida, o nó feito por Nzambi ao fechar o saco da criação. Quando o homem des-cobrir e compartilhar esse segredo com Nzambi o saco da criação se autodestrui-rá porque o segredo da vida foi desven-dado e esse só Nzambi pode saber. Como todos vivem no mesmo saco da existência a comunidade é composta não apenas dos homens vivos, mas tam-bém dos homens mortos (os antepassa-dos) e daqueles que estão para nascer. Nenhuma atitude mais séria, ou uma a-ção mais objetiva são tomadas na comu-nidade sem antes se consultar o ante-passado, ou um Nkissi. Daí que a figura do Nganga, o sacerdote é muito impor-tante entre esse povo.

Por Profº. Dr. Sérgio Paulo Adolfo (Tata Kiundudulu)

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Criação do Mundo segundo a Tradição Bantu

Segundo a história tradicional contada pêlos mais idosos e categorizados Nganga (sacerdotes) de tribo bantu (Angola), que todos os povos negros descenderiam dos Bungu e estes diretamente do Nzambi (Deus Supremo da mitologia bantu).

Eis a história tal qual foi contada, da criação do Mundo e a ascendência divina destes povos. Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga (Deus Supremo e Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter criado o Mundo e tudo quanto nele existe , criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que, por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e do-minasse todos os animais selvagens, por ele criado.

Disse a sua esposa que passaria a chamar-se Ná Kalunga, em virtude da filha que iria

dar a luz, se chamar Kalunga.

Com efeito, tal como Nzambi tinha anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha. Esta foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na Sanzala dia Nzambi (aldeia de Deus). Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua es-posa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retornaria. Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acom-panhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto q u e , a l é m d e s e u m a r i d o , e r a t a m b é m s e u D e u s . Contrariada, mas impotente para obrigar Nzambi a desistir do seu intento, limitou-se a deixar ir à filha com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.

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Logo que anoiteceu, Nzambi, instantaneamente, construiu uma Kuabata (palhoça), na qual instalou uma só cama. Ao ver único leito, a filha recusou-se a dormir com o pai e saiu, a cho-rar da cabana.

Ao ver a recusa da filha e não podendo convencê-la de outra forma, disse-lhe que se não

viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta. Transitada de medo pelo que acabava de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana,

deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite, mas durante todo o tempo que durou a viagem. Finda esta, regressaram a casa e, Ná Kalunga, tal como tinha previsto, veri-ficou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida pelo fato e pelo desgosto, no meio das maiores blasfêmias, enforcou-se numa árvore, perante os olhos atônitos da filha e de Nzam-bi, que nada fez para evitar tal suicídio.

Desgostoso pela atitude da mulher, que não compreendeu os seus desígnios para povoar o

Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente, a amaldiçoou e transformou-a num espíri-to maligno, a quem deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na Terra).

A partir dessa altura, Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga,

a qual depois da morte da mãe passou a chamar-se também Ndala Karitanga e a ser a segunda divindade.

Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que deixou

apavorada. Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e a insultá-la, di-zendo que ainda ia devorá-la, enquanto ela envergonhada, pedia perdão a mãe e dizia que de nada era culpada, posto que, seu pai a tal a tinha obrigado. No meio desta aflição, acordou e contou ao pai o pesadelo.

Este a sossegou, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que

agora era espírito mal, pois nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedir comida. Portan-to, disse Nzambi, vamos dar-lhe. Levantaram-se ambos e Nzambi preparou um pequeno montículo de terra, junto da porta casa simulando uma sepultura. Disse ele então a filha, que fosse buscar carne e outra comida e a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras: Mam’é nzanga ua-ku-kurila. Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n’eza ny ku ku cheha (minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, venho matar-te). Nzambi (aldeia de Deus).

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Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua esposa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retor-naria.

Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acom-

panhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto que, além de seu marido, era também seu Deus.

Chegado que foi o tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual Nzambi deu também, o no-me de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade.

Logo que o seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, Nzambi ordenou-lhe que ca-

sasse com sua mãe Kalunga, para que esta concebesse dele muitos filhos de ambos os sexos, a fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais.

Cumprindo as ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram e tiveram um filho e uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse com sua mãe e a filha casasse com seu pai, dizendo que já não se justificava a primeira união que ele tinha ordenado, informando-os, ainda que depois daquelas uniões, as seguintes se fizes-sem sós entre primos. Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer, para a que sua descendência crescesse e multiplicasse, para que lutasse contra as doenças e os

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feitiços que um dos descendentes do sexo feminino, viria a possuir, porque ele lhes lega-ria.

Disse, também, que viriam outros descendentes divinos e que após deixarem a vida ter-

rena, cada um dentro de sua atribuição, iria supervisionar o mundo que ele havia criado. Nzambi despediu-se de todos, chamando depois, o seu cão, que sempre o acompanhava,

dirigiu-se para à Sanzala Kasembe diá Nzambi (Aldeia Encantada de Deus), e dali subiu para o espaço, levando consigo o cão.

Naquela altura as rochas estavam moles, por terem sido formadas a pouco tempo. Ainda

hoje se podem observar as pegadas esculpidas, numa rocha ali existente, especialmente do pé direito de Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão, estas pegadas existem também em diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola.(vide pré - história da Lunda do autor).

Foi, pois, dali, que o Nzambi subiu à TCHEUNDA TCHA NZAMBI (aldeia de deus), ou céu

como nós lhe chamamos, onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e cas-tigar os maus.

A pergunta feita a diferentes sacerdotes bantu, como é e quem foi que criou Nzambi, e-

les responderam que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.

A resumida lenda que acabamos de expor, foi contada por dois velhos naturais da região

do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuca e o outro Sá Hongo, ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, o segundo faleceu na sua terra natal com cer-ca de 90 anos em 1994.

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Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola,

de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a Sanzala Kasembe diá Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do Mbanze. Dão-lhe estes nomes, por estar perto do Meue (estrangulamento) do Kasai.

Neste ponto, o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Segundo a tradição oral,

foi junto à nascente do Mbanze que se estabeleceram, primeiramente, os chefes e autoridades divinas, Ndumba ua Tembu, Muambumba, Muaxisenge e outros, quando fugiram à soberania do Muatianvua. Foi naquele mesmo ponto que mais tarde, reuniram-se novamente, e ali planearam a separação e distribuição de terras que cada um deveria ocupar.

Lenda é a narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, na qual os fatos históri-cos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética *.

Nzambi s.m. – Deus Criador. Autor da existência e de suas características domi-nantes - o bem e mal.

Conquanto seja o Ente supremo, não rege diretamente os destinos do Universo. No tocante

ao nosso planeta, serve-se de intermediários a entidade espiritual. Em face das atribuições de que se revestem, assumem o caráter de semideuses. Por efeito desse privilégio, é a elas, pois, a quem os crentes se dirigem em suas emergências. Decorrentemente, a quem prestam culto.

Enquanto as entidades espirituais permanecem nas profundezas do globo. Nzambi paira

em toda parte, sem lugar determinado. Pelo alheamento a que votou os problemas mundanos, só são invocados em última instância. Tal como noutros povos, também existem sinônimos para de-signá-lo, Kalunga, Lumbi lua Suku, etc.

Kalungangombe, o juiz dos mortos, tem o poder de suprimir a existência. Mas, se Nzambi não concordar com a decisão, o mortal continuará subsistindo. Portanto, intervém quando neces-sário.

Do Livro: Crenças, Adivinhação e Medicina Tradicionais dos TCHOKWE do Norte de Angola

Por Tata Mungangaiami, Curitiba–PR.

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CULTURA VÒDÚN, A NAÇÃO JÈJÍ NO

BRASIL

Como costume da maioria dos povos no mundo, o culto aos antepassados é um elo com o passado que dá sentido e justifica o presente e faz projetar o fu-turo. Esse tipo de culto é movido pela admiração, saudade e também utilizado como um oráculo de orientação e aconselhamento. A terminologia ´´Vòdún´´ é designada para explicar os fenômenos da natureza e como deificação de ances-tral. Este é um costume dos Povos que habitam o Benin, Togo, Gana e Nigéria. Fazendo um recorte étnico poderíamos falar que tal nome ´´Vòdún´´ é usual dos Povos Fòn, Gún, Ajá (antigo Èwé), Bariba e Somba.

Falando sobre Vòdún, podemos dizer que um grande raio que cai sobre u-

ma árvore pode ser chamado de Vòdún e como um ancestral que teve uma gran-de relevância aos olhos de um povo também pode ser elevado ao status de Vòdún.

Em sua pátria-raiz, o Benin, o Culto aos Vòdún é de extrema importância

para constituição familiar, fazendo um tipo de organograma de importâncias e or-

ganizando a questão hierárquica dentro da chamada ´´ Hεnnù´´ ou família. O

culto também é importante como resgate e manutenção das tradições mais re-

motas das famílias tradicionais do Benin e assim mantendo-se vivo o elo com o

passado.

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O Culto preserva muito a questão familiar tendo em seu mais velho o cha-

mado ´´Hεnnùgán´´ ou também conhecido como ´´Dàá´´ o Grande Patriarca. Entrando no âmbito religioso e apoiado nos costumes familiares a religião Vòdún ´´Vòdúnsínsɛn´´ é organizada por clãs como as famílias no Benin são organiza-das e com o mesmo cunho orgranomático onde os Vòdún são divididos por clãs. E cada clã tem o seu fundador chamado de Akɔ Vòdún que é a liderança e o mais respeitado, ele também recebendo o nome de Gbenúgán, Akɔnɔ, Akɔsú ou Dàdá/Dàá. Existem outras variáveis de nomenclaturas para tal cargo dependendo do costume de cada povo ou família. Também é atribuído a cada Vòdún um do-mínio de algum fenômeno da natureza ou costume como a caça, pesca, guerra, agricultura e afins. O que nós conhecemos como Culto Vòdún com tais divisões e organização foi fruto do pensamento de um revolucionário que viveu entre os séc. X e XI com o nome de Yegú Tennú Gesu, filho do Rei Tenú Gesú da cidade de Tàdó que mais tarde o jovem Yegú seria conhecido como Agàsú (O Bastardo), Ajáhutɔ (O matador de Ajá), Kpɔví (O filho da pantera), Kpɔsú (A Pantera-macho), Dàdáxó (O grandioso Patriarca) e como Kɔkpon (O rei fundador da ter-ra). Ele foi o fundador da cidade do Allada e seus filhos fundaram muitas cidades e como principais a cidade do Dànxomɛ, Glènxwé, Ajácɛ ou Hògbònú (Porto No-vo).

O culto tem uma divisão básica entre dois elementos: Àyì (Terra) e Jí (Céu)

e assim temos os Àyìvòdún que seriam os Vòdún ligados aos elementos e fenô-menos da Terra que é encabeçado por Sàkpàtá e os Jívòdùn que seriam os Vòdún ligados aos elementos e fenômenos do céu que é encabeçado por Xɛbyosò. Dentro desta divisão existem subdivisões e classificações como exem-plo:

Àyìvòdún: Vòdún da terra Zùnvòdún: Vòdún da floresta. Atínhùnvé: Vòdún que habita o interior das árvores. Não seria: àtín-

mɛvòdún ou Àtínvòdún Sòvòdún: Vòdún do trovão e raio. Tɔvòdún: Vòdún das águas Hεnnùvòdún: Vòdún de ancestrais reais. Em relação às práticas religiosas existem tanto no Benin quanto no Brasil

cerimônias públicas e privadas. Isto é uma característica do Culto Vòdún e a par-

ticipação da comunidade é de extrema importância, pois as festas públicas são

realizadas para o contato dos ancestrais com os seus descendentes, assim acon-

tecendo uma troca importantíssima entre o passado e o presente. No Benin os

cultos mais importantes são dos Hεnnùvòdún por estar mais próximo a uma rea-

lidade atual, porém existem os cultos tradicionais que podemos destacar três:

Xɛbyosò, Sàkpàtá e Dàn. No Brasil a herança dos cultos reais pouco ficou, mas

dos três principais Vòdún, sim!

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Em suma, podemos dizer que o Culto Vòdún é basicamente uma forma de

cultuar ancestrais e fenômenos da natureza. Estes dois misturam-se quando o culto é praticado assim como, exemplo: Sògbó é um Vòdún ancestral ligado ao poder do raio.

No Brasil, algumas formas de Culto chegaram como O Kerebetãn de

Zòmádonù (Tradição dos Mina/Dànxomé - Maranhão), Os Tambores do Egito e Turquia (Tradição Ewe, Fanti, Ashanti e Ajá – Maranhão), Zo godo Bogun Male Hundó (Tradição dos Maxí/Bariba - Bahia), Xwe Sejá Hùn De (Tradição dos Maxí/Bariba - Bahia), Xwe Kpo Zenhen (Tradição dos Aja/Ayizo – Bahia), Xwe Kpo e Ji (Tradição dos Maxí/Savalú - Bahia), Casa Amarela (Tradição dos Fòn/Dànxomé – Pernambuco), Xwé Kpɔ Dàgbá (Tradição dos Màxí/Alàdá – Rio de Janeiro) e também em algumas casas no Sul do Brasil dentro do costume do rito Batuque.

Em relação à relevância do nome do Culto no Brasil temos O Kerebetãn

(Xwélegbetan) de Zomadonu com os Cultos Reais, Os Tambores com os Vòdún

Togolêses e Ganêses, Zo Godo Bogun Male Hundó com o culto aos Sòvòdún,

Xwe Se Já Hùn De com os cultos a Dàn e Sàkpàtá, Xwé Kpɔ Dàgbá com o culto a

Sakpatá, Gú, Dàn, Atòlú e Jɔ.

Por Ralph Mesquita (Doté Vodùnnò Zodaáví Fasóví Xebyososí)

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ÒRÌSÀ DO MÊS

Egúngún, o Ancestral que vence a Morte (Esquecimento)

Egúngún, o que é? Um culto? Uma atividade folclórica? Uma divindade? Um conjunto de divindades? A representação dos mortos? Em fim... O que é e para que é que serve Egúngún? Você quer descobrir? Se você amigo leitor, deseja realmente entender um pouco mais sobre isso, viaje

comigo nesta leitura e desvende alguns dos vários mistérios que envolvem essa Divin-dade: EGÚNGÚN.

Egúngún é uma palavra só, que representa muitas coisas, primeiramente é preci-

so entender que Egúngún é o culto aos ancestrais veneráveis do sexo masculino, note que a palavra venerável designa pessoas veneráveis, ou seja, não é qualquer ancestral. Na visão tradicionalista yorùbá, um homem, para se tornar um ancestral venerável, pre-cisa concluir algumas etapas na vida material e espiritual. Algumas delas são: Ser inici-ado, especialmente em Ifá, que é o grande revelador do destino humano. Ter cumprido as determinações de Ifá, ter sido um devoto ou sacerdote de òrìsà sério e comprometi-do, ter após seu falecimento, sido submetido aos rituais de ajéjé (rituais fúnebres). No campo material ele necessita de algumas coisas como, ter adquirido casa própria, constituído família (ter muitos filhos), ter atingido idade avançada (mais de 60 anos de idade), ter uma influência social e familiar muito grande. Esses são alguns dos requisi-tos necessários para que um homem, após seu falecimento, seja considerado pela

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sociedade yorùbá, um ancestral vene-rável, ou seja, um homem digno de culto, um membro da sociedade Egúngún.

Ora, eu disse sociedade egúngún cer-

to? Certo! Pois é isso que egúngún é, uma sociedade que representa os ancestrais masculinos dignos de culto.

Além disso, a palavra egúngún repre-

senta um òrìsà, ou seja, uma divindade que lidera e representa essa sociedade. Muitos dizem que egúngún não é òrìsà, o que é um grande equivoco, pois, na visão yorùbá, tu-do aquilo que é cultuado para trazer benefí-cios aos seres humanos, é considerado òrìsà. Assim como, tudo aquilo que é APE-NAS (veja, APENAS) apaziguado para não prejudicar o homem é considerado um ajó-gun.

Sendo, egúngún um òrìsà, porque ra-

zão seu culto é diferente das demais divin-dades? Eu digo! Pelo simples fato de que nenhum culto é igual ao outro! Ifá é òrìsà, porém possui um culto e símbolos diferen-tes das demais divindades, assim como Ògún, Òsàlá, Òsun e muitas outras divinda-des. Todas possuem suas particularidades, logo, é preciso entender que a iniciação visa muito mais que fazer uma festa no domingo e apresentar o Ìyàwó (Adósù, Elégùn,

Awòrìsà) a comunidade, a iniciação em qual-quer òrìsà, tem como objetivo principal tor-nar aquela pessoa um membro do culto da-quela determinada divindade. No Brasil, tal-vez pelo egoísmo de nosso povo, foi aglo-merado, num mesmo sacerdote, várias fun-ções, que faz com que o mesmo, indepen-dente de ser iniciado ou não em determina-do òrìsà, inicie outras pessoas, não conde-no isso, porém isso foge do principio de que, só podemos dar aquilo que temos. Sen-do assim, só posso dar o àse de Òsun para alguém, se eu tiver este àse, se não, o máxi-mo que posso fazer é indicar alguém de confiança que o tenha. Na Nigéria é assim que funciona, uma pessoa pode perfeita-mente, ser iniciada em quantas divindades quiser e PUDER, para isso existe Ifá, para mostrar a necessidade daquele determinado Orí (cabeça).

Logo, qualquer culto tem seu grupo

de devotos e sacerdotes, que podem adorar outras divindades, sem problema, mas, sa-bendo que cada culto e cada divindade tem sua forma e suas particularidades.

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Voltando à Egúngún, bem, já sabemos que além de tudo, egúngún é um òrìsà com

um culto diferenciado, mas é uma divindade que auxilia o ser humano em seu desenvolvimento material, mental e espiritual, agora nos resta saber pra que serve essa energia, certo?

Bem, egúngún pode ser saudado, evocado e reverenciado por vários motivos,

alguns deles são: Òkànràn méjì: Mostra a necessidade de se cultuar egúngún para que o ancestral

não fique em esquecimento e para que a vida de seus descendentes seja de alegria e felicidade.

Òfún méjì: Mostra a necessidade de agradar egúngún para evitar que o espirito de uma criança abortada (propositalmente) retorne na forma de Àbíkú.

Òwónrín méjì: Mostra a necessidade de cultuar egúngún para que a pessoa volte a dormir bem, pois pode estar sendo vítima de algum ègún (espirito maléfico).

Lembrando que, Egúngún representa a divindade e o culto, em quanto Égún

representa um determinado ancestral venerável, já a palavra Ègún representa qualquer espírito que esteja perdido e que se alimenta da energia vital das pessoas, causando à elas insônia e outros tipos de problemas.

Egúngún também é muito cultuado para que a pessoa tenha longevidade, saúde e

resistência. É usado também para solucionar problemas na família, ou seja, o espirito continua orientando os descendentes nos assuntos familiares. Egúngún também pode quebrar com certas negatividades que perseguem uma mesma família por 7 gerações, ou seja, se aquela família sofre muito com mudanças por 7 gerações, o problema pode estar em algum erro cometido por algum ancestral, que só será solucionado através do culto de egúngún.

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Por último, desejo falar sobre a polê-mica: MULHER X EGÚNGÚN, PODE OU NÃO PODE?

SIM, PODE! O porquê, eu explico: Mulheres também possuem pai, avô,

bisavô e etc... Certo? Certo! Logo, o que as impediria de terem contato com o culto de egúngún? Nada!

Na Nigéria, algumas mulheres, por orientação de Ifá, precisam cultuar egún-gún e são iniciadas neste culto, esta são as Ìyá-agan.

Elas possuem uma responsabilidade

igual a dos Òjè e Olójè, a diferença é que as mulheres não podem vestir a roupa, is-so a tarefa para os homens.

No Brasil este interdito foi criado por

algum motivo, que realmente desconheço, talvez pelo fato de terem associado aqui, egúngún à uma outra energia que repre-senta os ancestrais masculinos, esta cha-mada de Orò, que de fato, as mulheres não podem ter nenhum tipo de envolvimento.

Há uma cantiga de Orò que a tradu-

ção seria mais ou menos assim: “A mulher pode descobrir o awo de

Gèlèdè Elas podem descobrir o awo de E-

gúngún,

Elas podem descobrir o awo de Ìgúnnukò

Elas podem assistir Agemo Porém, elas não podem descobrir o

awo de Orò.”(...) Awo é uma palavra que possui vá-

rios sentidos, nesse seria segredo. Ìgúnnukò e Agemo são outros tipos

de culto aos ancestrais. Para Egúngún podemos oferecer de

tudo, uma comida que algum ancestral nosso gostava, bebidas e etc...

Porém, as oferendas prediletas do

Òrìsà Egúngún são: Èko (akassa), Àkàrà (acarajé), Obì, Orógbó, Otí (Gyn) e Àgbò (carneiro).

Lembremos que, a religião dos ori-

xás é uma religião INICIÁTICA, ou seja, pa-ra fazer certas coisas é necessário ter INI-CIAÇÃO, pois só através dela que se ad-quiri o axé para colocar em prática certos conhecimentos e até se aprofundar mais. E no que se diz respeito à Egúngún, isso de-ve ser levado muito a sério, há uma orin (cântico) que explica bem isso:

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“Bàbá ímàlè Mo le o, Bàbá ímàlè Ogberi to l’oun fé seré awo Bàbá ímàlè le o!” (...) “O pai dos imalé É bravo! O pai dos imalé Com o não iniciado que quer descobrir o awo (segredo)” (...) Ousar a praticar atos que você nunca viu, ou a evocar e alimentar energias que vo-

cê desconhece, é um risco muito grande! Tudo tem seu tempo e sua hora, por isso, tenha Súùrú (paciência). Eu Zarcel Carnielli (Ilésire) espero que este texto tenha lhe ajudado a desvendar um

pouco, dos muitos mistérios criado em torno desta energia, agradeço ao amigo Hérick Le-chiski pelo espaço e ao meu amigo e sacerdote Bàbá Olójè Àpésì (Rasaki Sàlámì Sàláwu), que me ajudou e muito a escrever essa matéria.

Desejo à todos que o Àse de Egúngún os acompanhe por toda a vida! Ire o!

Por Zarcel Carnielli

(Bàbá Ilésire Òsàlásínà Omigbàmi)

Ilé Àÿç Àpésì Ôlöõjê Templo de Culto Tradicional

Iorubá São Paulo - SP

Bàbálöòrìsà e Ôlöõjê Rasaki

Tel: 11 6448-9094

Page 21: Falando de-axe

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ODÙ DO MÊS

Õyêkú méjì

O Odù da Morte Õyêkú méjì, Èjì Õyê ou Èjì

Ôlögbôn é o segundo (2º) Odù

na ordem de Ifá, fala no

Mërìndínlógún Ifá (Jogo de bú-

zios) com treze (13) búzios a-

bertos e três (3) búzios fecha-

dos. É um odù de natureza fe-

minina, ligado ao elemento á-gua, regente do Oeste.

Õyêkú méjì (Èjì Ôlögbôn) é

o oposto (complemento) de Èjì Ogbè (Èjì Onílê), enquanto Èjì ogbè é a Luz, Õyêkú méjì é as

Trevas. Enquanto um é a vida, o

outro é a morte, Ogbè rege o

Dia, Õyêkú rege a Noite. Ogbè rege o Sol (Òòrùn), Õyêkú rege a

Lua (Òÿùpá).

Quando a Morte (Ikú) veio à

Terra (Àiyé) pela primeira vez,

venho através deste signo (Odù). Por isso Õyêkú rege tudo que

esteja ligado a Ikú. Rege o Ajéjé (culto fúnebre)

e tudo que estiver ligado ao mesmo. Regendo também as al-

mas desencarnadas.

Sob a regência deste Odù,

vieram ao Mundo os peixes, o

couro do Crocodilo, o focinho do

Hipopótamo, o chifre do Rinoce-

ronte e todos os animais e aves

Noturnas.

Foi através deste Odù, que

os seres humanos aprenderam

a comer peixes.

Este Odù possui domínio

sobre as nodosidades das Árvo-

res e também sobre os nós das

cordas.

É um signo bastante peri-

goso, rege a Madrugada.

- Àwon Òrìÿà que falam neste Odù = Ìyámi Odù (Odùlogboje), Nàná Bùkúù, Sõnpõnná, Egúngún, Ômôlú, Ôlökun, Yèmôja, Abíkú. - Suas cores = O Negro (dúdú).

- Suas folhas = Tëtë (Amarunthus viridis – Caruru),

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Ewé egbo, Ôsàn, Wëwë, Etípönlá (Boerhaavia diffusa – Erva tos-

tão), Àgbáyun. - Corpo Humano = Rege o maxilar superior.

- Os filhos deste Odù = As pessoas nascida sob este odù

(signo) são pessoas bastante negativas, mesquinhas, que só pen-

sam em si. Velhos, ranzinzas. São perturbadas por ègún (espíritos

perdidos) e devem cultuar Egúngún (Ancestrais) para obterem re-

alizações. Devem tomar cuidado com acidentes e mortes prema-

turas. Devem estar sempre bem amparados espiritualmente.

Quando assim estão, serão pessoas prósperas, porém pão-duras.

Alguns filhos deste odù, geralmente são Abíkú. Geralmente pos-

suem problemas de sangue.

- Èwò’s deste Odù = As pessoas que nascem neste odù, não de-

vem comer ave de rapina (qualquer uma), não devem usar perfu-

mes fortes, roupas vermelhas, não podem beber vinho de palma,

não devem cultivar plantas e flores espinhosas e nem oferecê-las

em oferendas às Divindades (Irúnmôlê), não podem destruir for-

migueiros, devem evitar utilizar-se de amuletos e o principal, to-

car em coisas mortas (animais, pessoas, etc.).

Odù em Ire – Positivo

Este Odù em Ire fala de Vida Longa, mudanças favoráveis, fim de

situação difícil e sofrimento, o recebimento de conselhos que de-

vem ser seguidos. Prosperidade. Vitória sobre Inimigos, descobri-

mento de pessoa falsa (falso amigo). Fidelidade amorosa. Fim de

brigas amorosas. Manter sempre a calma para atingir realizações.

Boa Intuição. Tudo que for realizado a noite terá sucesso. Bên-

çãos de Egúngún.

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Odù em Ibi – Negativo

Este Odù em Ibi fala de Morte prematura, doenças, principalmen-

te de sangue, no maxilar superior e bexiga, depressão. Fim de si-

tuações agradáveis, notícias desagradáveis chegando, cansaço,

esgotamento. Evitar tomar decisões. Vitória dos Inimigos, traição

e vingança por parte dos inimigos. Falta de dinheiro, desempre-

go, caminhos fechados. Problemas emocionais, rompimento amo-

roso sem volta. Doenças em casas. Problemas com abortos

(Abíkú). Pessoa sofrendo perturbações psíquicas, obsessões, pes-

soa vê fantasmas. Problemas com Ègún e Egúngún, não vestir

roupa preta e nem sair após as 00h00min.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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Tètèrègún – A Folha da Vida e da Morte

FOLHA DO MÊS

Nome Yorùbá = Tètèrègún, Tètè Egún, Tètèègúndò. Nome Bantu = Mueki Rizanga. Nomes Populares = Cana-do-brejo, Cana-de-macaco, Cana-do-mato, Sanguelavô, Sangolovô, Ubacaia. Nome Científico = Costus spicatus. Tètèrègún é uma folha nativa do Brasil, é encontrada em todo o território nacional e também e outros continentes. Folha Gún (de exitação), Masculina, ligada ao elemento Ar.

É da regência de Obàtálá e Bàbá Egúngún. Uma das folhas mais utilizadas dentro da Liturgia do Culto a Òrìsà no Brasil (Candomblé) e na Nigéria (Èsìn yorùbá). Folha de grande importância e fundamen-to, e isso se dão ao fato, de Tètèrègún ser capaz de proporcionar a Vida ou a Morte a alguém. A mesma é utilizada em Iniciações (Igbèrè), na sacralização de elementos ri-tualísticos, em magias e medicinas = Oògùn, etc. No Brasil, é uma das oito (8) principais fo-lhas (ewé) que fazem parte da composi-ção do Àgbo (mistura vegetal) que banha o Iniciado (Ìyàwó) no período de reclusão para seu Orixá. Representando a Morte (para a vida profana) e a Vida (nascimento para a vida religiosa). É também capaz de provocar o transe em omo Obàtálá (filhos de Oxalá), omo Sàngó (filhos de Xangô) e omo Ògún (filhos de Ògún). É uma das principais folhas de Obàtálá (Oxalá), sendo utilizada em quase todos os ritos que se utilizam de folhas, para o Grande Rei do Pano Branco. Medicinalmente a Cana-do-brejo é utiliza-da no combate a solitárias, vermes e prin-cipalmente nos casos de cálculos renais.

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“Têtêrêgún òjò do m’pá Têtêrêgún òjò wo bi wá”

Têtêrêgún é como a chuva que mata.

Têtêrêgún é como a chuva que dá

vida.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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Existe Ògán Raspado e Ìyàwó Pode Tocar Atabaques?

Para responder essas perguntas, precisamos discorrer um pouco sobre o que é Ìyàwó e o que seria Ògán.

Há uma grande polêmica acerca do tema em título. Hoje, sobretudo no Sudeste,

há uma grande discussão em relação se aqueles que foram iniciados na Religião dos Òrìsàs, Raspados, “Adoxados”, contudo não são manifestados por Òrìsà (rodantes), seri-am ou não Ògáns. Nesse aspecto, afirmo de forma indubitável, com toda a segurança que não, ou seja, Ògáns Não São Raspados! Face ao exposto, surge a indagação: Àqueles que são raspados, “adoxados”, entretanto não são manifestados por Òrìsà, seriam o que, então? Respondo categoricamente: Ìyàwó – Iniciado na Religião do Culto aos Òrìsàs - Candomblé!

Hoje, infelizmente, pela falta de cultura e, sobretudo, pela falta de interesse à

busca da informação correta, muitos crêem que o “ato de tocar atabaques” está corre-lacionado ao tipo de iniciação, o que é uma inverdade. Nesse sentido, não há óbices re-ligiosos fundamentados que interditem um Ìyàwó homem que não manifeste Òrìsà, em tocar atabaques. Aqui, posso mencionar uma lista de Grandes Tocadores, todos não Ògáns, que são respeitados pela sua arte musical, inclusive por Ògáns e, chamados por muitos de Ògáns.

O fato da confusão generalizada em acreditar que um Ìyàwó Raspado que não é

manifestado por Òrìsà seja Ògán e não Ìyàwó em grande parte, deve-se aos próprios sa-cerdotes, vejamos:

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O indivíduo que entra em uma Casa de Candomblé, antes mesmo de ser suspenso,

confirmado, ou iniciado, mas que não é manifestado por Òrìsà é chamado pelo sacerdo-te como? Ògán! Seus “irmãos”, o chamam de qual forma? Ògán! Como ele se autodeno-mina? Ògán! Quando esse indivíduo (“Ògán”) adentra oficialmente na religião, se ao invés de ser confirmado como ògán, ele for raspado e adoxado, ele está sendo iniciado como Ìyàwó? Portanto é Ìyàwó - e não Ògán. Não obstante, todos, inclusive seu Sacer-dote continuarão (via de regra é isso que ocorre) a chamá-lo de Ògán e não Ìyàwó! Ali-ás, se perguntarmos aos Sacerdotes, uma definição sobre Ògán, a maioria será breve e dirão erroneamente: Ògán é o indivíduo homem que não é manifestado por Òrìsà, sem discorrer sobre os pormenores com acuro.

Desta forma, observa-se que esse erro comum, decorre do processo de aprendiza-

gem do noviço na religião. No exemplo supracitado, o correto, independente de manifes-tar ou não, o noviço deverá ser considerado “Àbían”. O fato do Àbían não manifestar Òrìsà, a priori não lhe concede a posição de Ògán. Esse “status”, além de indevido, gera as inevitáveis dúvidas sobre o tema em questão, principalmente no futuro da vida reli-giosa desse noviço.

Ante a afirmativa acima; o que seria um Ògán? À luz do Candomblé Tradicional Baiano, Ògán é o indivíduo (Homem) que não é

manifestado por Òrìsà, mas que é CONFIRMADO (E NÃO INICIADO). A princípio, esse Ògán, em suma, é “apontado” (escolhido) por um Òrìsà em alguma determinada festa, ou mesmo função dentro do Ilé Òrìsà. Na ocasião, esse Ògán é “suspenso”, por outros desta confraria. Daí, o advento do termo “Ògán Suspenso”. Deste momento, à diante, es-se indivíduo passa a executar tarefas no Ilé Òrìsà, sem cunho religioso.

Posteriormente, a Ìyálòrìsà/Bàbálòrìsà, determinará que esse Ògán (suspenso),

deverá ser Confirmado (leia-se confirmado e não iniciado) – geralmente para o Òrìsà que o suspendeu. Daí a razão de na Bahia, por exemplo, um Ògán ser do Òrìsà Ògún (ele é filho de Ògún), mas ser chamado de Ògán de Omolú (pois, muito embora o Òrìsà dele ser Ògún, ele fora suspenso e, posteriormente confirmado para ser Ògán do Omolú de “beltrana”). O processo de Confirmação de um Ògán diverge demasiadamente do processo de iniciação (Ìyàwó).

Não posso aprofundar no tema, por tratar-se de Awo (segredo que não compete

àqueles que não são iniciados). Mas um Ògán Confirmado, não saí à sala no “Arole Ko-murajo” (cantiga destinada à Ìyàwó). Há um conjunto de cânticos e rituais específicos para a Confirmação de um Ògán (que reitero, não se trata do “Arole Komurajo”). Caso esse Ògán, por exemplo, seja confirmado Alabê, há ainda, outra seqüência especifica de cantigas; o mesmo ocorre para alguns outros títulos.

Quando pensamos em iniciação no culto aos Òrìsàs na África, não são encontra-

dos indícios/relatos de alguma iniciação com o “modus” da Confirmação de Ògán no Brasil. Em verdade, esse tema é muito mais polêmico que parece. Quando pensamos em Confirmação de ògán, temos que entender que esse indivíduo não está sendo iniciado em todas as etapas que a religião apregoa, dessa forma,

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jamais o Ògán poderá proceder a iniciação de um Ìyàwó. Mas se na África, berço da cultura dos Òrìsàs não há esse processo, qual teria si-

do a razão do aparecimento deste no Brasil? Vejo como um fato histórico, liderado pe-las Ìyálòrìsàs de outrora, à busca da manutenção da hegemonia da mulher nos cargos de liderança nas comunidades Nàgó.

Quando da fundação das mais tradicionais Casas de Candomblé da Bahia, todas,

sem exceção, tiveram o apoio religioso de homens (iniciados – porém não rodantes), e-xemplifico: Bangbose Obitiko, Okarinde, Oje Lade, Oba Sanya, dentre outros. Entretanto, após a fundação dessas casas, para que não houvesse a concorrência masculina no sa-cerdócio, as Ìyálòrìsàs começaram a não iniciar homens (quer seja rodante, quer não). Contudo, a figura masculina permanecia essencial para o bom andamento da casa. Nes-se sentido, como manter o homem na casa de Candomblé, com funções distintas, sem que esse se tornar-se Sacerdote futuramente e, por conseqüência, concorrente do poder supra-sumo da mulher? Criando a figura do Ògán (ou seja, realizando alguns rituais para que os homens não rodantes – pudessem ser partícipes de algumas atividades na casa).

Nessa busca contumaz, as mulheres do Candomblé da Bahia, cercearam da religi-

ão os homens rodantes (uma espécie de apartheid), configurando status e poder aos Ògáns, figuras criadas pelas mesmas, - mas que não lhe ameaçavam na supremacia do Candomblé. À eles eram concedidas funções como Tocar Atabaques e Cantar. Razão pela qual, erroneamente, crê-se que somente os Ògáns podem tocar atabaques.

Diante disso, o que posso afirmar é que, se não rodante e homem – independente

de Ògán ou Ìyàwó, ele pode tocar sim atabaques. O que digo, mas por concepção religi-osa minha, sem embasamento teológico algum, é que a privação em tocar atabaques deve ocorrer àqueles que são manifestados por Òrìsà. Essa óptica deve-se única e exclu-sivamente há eminente possibilidade de um Ìyàwó que manifeste Òrìsà, poder entrar em transe, durante a execução do toque. O mesmo emprega-se às mulheres, também, sem fundamentação teológica.

Por fim, apesar de distintos, não vejo como macular, o iniciado não rodante, de-

nominar-se Ògán, sobretudo pelo vício de linguagem, fato que ocorre mesmo comigo. No entanto, é importante que todos saibam que são distintos, com funções distintas, com processos iniciatórios distintos!

Espero, com a explanação acima, tirar um pouco da dúvida de muitos sobre a

questão!

Por Carlos Vinícius Santana (Òpotún Vinícius)

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Para onde caminha

a Umbanda?

Hoje, com seus 103 anos de Fundação, a Umbanda (Brasileira) se alastra por todo o País (Brasil), der-ramando-se até pelos países vizinhos. Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Venezuela já possuem Tendas Umbandistas. Qual o futuro dessa religião que já preocupou au-toridades eclesiásticas, dirigentes religiosos, pasto-res, sociólogos, psicólogos e até adeptos do Ocultis-mo? Tornar-se-á a Religião oficial do Brasil? Estagnar-se-á? Irá para o esquecimento? Ou continuará se alastrando por todo o Globo ter-restre? Malgrado o combate que ainda lhe fazem, ela con-tinua crescendo assustadora e solenemente.

Não temos dúvidas de algumas falhas, desentendi-mentos, obscuridades, segredos invioláveis, imper-feições superficiais, porém, passíveis de correções e aprimoramento com o tempo. O Catolicismo foi assim; o Protestantismo sofreu perseguições, o Kar-decismo teve críticas e ceticismo. Mas o povo e o tempo tudo mudam. Adaptando a Umbanda e seus rituais à organiza-ção do Catolicismo, à dedicação do Protestantismo e à filosofia do Kardecismo, teremos uma Religião quase perfeita. Quase perfeita, porque perfeição só em Deus. Conciliaremos também o Atavismo a adoração te-merosa que guardamos, desde tempos remotíssimos, às coisas misteriosas ou respeito a um Ser Supre-mo que nos criou e que passa de geração, através do inconsciente coletivo, porém de modo mais ra-cional. Existe no subconsciente de cada um. Faz parte da humanidade e levará séculos para desa-parecer. A Umbanda Brasileira, como é praticada, é única no Mundo. Não existe similar, nem mesmo na Áfri-ca – Uma de suas Raízes – Pois lá não há tupis e nem baianos. Uma coisa é certa: Ela (a Umban-da) permanecerá inapagável no seio do povo, por-que a sua tônica principal é a Caridade pura e desinteressada. Está concorde aos ensinamentos milenares de Jesus Cristo (sincretizado com Oxalá), cujos princípios e fundamentos, eternos e imutá-veis, constituem a base do Espiritualismo, da qual nossa Umbanda faz parte.

Texto de J. Edson Orphanake (Livro ―A Umbanda às suas Ordens)

Readaptado por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

Page 30: Falando de-axe

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Falando de Axé com Mãe Elis Peralta

ENTREVISTA DO MÊS

Falando de Axé

Mãe Elis, você poderia nos falar como e

quando você conheceu a Umbanda e o que

lhe levou a escolher a mesma como Religi-

ão?

Mãe Elis

Tenho uma história muito “peculiar” em re-

lação à Umbanda. Desde nova, freqüentava

um Centro de Umbanda no qual meu Pai era

médium, porém, confesso, ia obrigada, de-

testava e não me sentia bem, conforme fui

crescendo, minha aversão também, chegan-

do ao ponto de por volta dos meus 14 anos,

tomar cinco tranqüilizantes para não ter que

ir numa gira com meus pais. Muita água

passou por debaixo da ponte, mas de certa

forma, minha vida sempre se entrelaçava

com a Umbanda e eu cada vez “correndo”

mais dela. Até que num belo dia, numa as-

sistência, sentadinha, temerosa, ressabiada e

indo porque andava “sentindo-me” muito

mal fisicamente, Mª Cigana pela 1ª vez em

minha vida me fez sentir a força de sua in-

corporação, daí por diante enveredei por um

longo caminho, iniciei numa casa de Can-

domblé, que tocava Umbanda também, a-

prendi, conheci vários universos dentre es-

sas maravilhosas religiões, fui de

“Umbanda Traçada”, “Omolokô”,

“Umbanda Branca”, tive a honra de conhe-

cer pessoas que foram muito generosas em

me passar aprendizados, e me direcionar

nessa maravilhosa religião que é a Umban-

da.

Falando de Axé

O que é Umbanda e o que esta magnífica

Religião Brasileira representa para você?

Mãe Elis

Umbanda representa pra mim o sentido da

força grandiosa da natureza, é a maleabili-

dade das Águas, a firmeza e transformação

da Terra, o ímpeto do Fogo, o dinamismo

do Ar, é a união desses elementos que se

traduzem também por Orixás, que se conso-

lida em nossa Doutrina em nosso Pentagra-

ma Umbandista que é a manifestação do es-

pírito em prol da Caridade e da Evolução

espiritual, através dos ensinamentos de nos-

sos Mentores e do Pai maior. É o som do

atabaque, o conselho amoroso do Preto-

Velho, a seriedade do Caboclo, a faceirice

das moças, a firmeza do Exú, o jogo de cin-

tura da Malandragem e a felicidade das Cri-

anças (erês)...

É também a oportunidade dada a nós que

escolhemos e fomos escolhidos de propagar

a simplicidade e força de nossa religião. É

ter orgulho, porque em nossa Doutrina fala-

mos com o “Alto” e com o “Embaixo”,

Page 31: Falando de-axe

31

lidamos com dores, sorrimos, transforma-

mos, abraçamos, sem distinção de cor, raça,

credo, saber, condição material, espiritual e

até opção sexual, sabemos que perante a e-

les todos somos um... Umbanda (Uma Ban-

da)...

Falando de Axé

Como você descreve a Umbanda de hoje,

será que possui diferença em relação à Um-

banda de antes?

Mãe Elis

A Umbanda é uma religião tão vasta justa-

mente por essa capacidade mutável que pos-

sui, capacidade de agregar as mais diferen-

tes visões, doutrinas e principalmente opor-

tunidade de aprender com os ensinamentos

daqueles que são muitas vezes mal vistos

pela “sociedade”. Exemplos dessa diferença

da nossa “Umbanda de antes”, podemos ver

em entidades que vieram somar a nossa reli-

gião e que antes eram desconhecidas, tais

como:

Malandros, Ciganos, Baianos, Marinheiros,

Cangaceiros...

Outra mudança fundamental e que realmen-

te nesse centenário se torna o divisor de Á-

guas para uma estrutura complexa, firme e

cada vez mais forte, é a busca do aprendiza-

do, é o entendimento, que assim como o

mundo, evolui, precisamos mostrar que nos-

sa religião é tão forte justamente por ser

fundamentada na força e ensinamentos da

própria Natureza.

Falando de Axé

O que você poderia nos falar sobre o com-

pletar dos 103 anos de Fundação da Um-

banda, neste ano?

Mãe Elis

Podemos dizer que somos vitoriosos...

Porque completar 103 anos de uma religião

completamente descriminada, em que pode-

mos constatar absurdos vindos, não somente

de outras religiões que esquecem o sentido

principal do livre-arbítrio, fraternidade, a-

mor ao próximo e de um Pai maior que é

UNO a todos, temos também adeptos de

nossa própria Umbanda (que se intitulam

umbandistas...) que transformam nossa reli-

gião em algo muito longe do que foi e é

passado por nossos Guias espirituais.

Mas graças a Lei Divina, paralelo a tudo is-

so, existe um movimento cada vez maior

vindo de todas as esferas, espirituais e car-

nais de desmistificar, ensinar e realmente

fundamentar nossa religião, por isso pode-

mos dizer que nesse momento ela se encon-

tra em processo de crescimento estrutural.

Falando de Axé

Para você, qual é a Importância das Crian-

ças e dos Jovens dentro da Religião Umban-

dista?

Mãe Elis

Assim como para qualquer religião ou o

próprio mundo, eles são o futuro...

Temos que descortinar a nós primeiramente

Page 32: Falando de-axe

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e depois aos nossos filhos, eles têm que te-

rem orgulho e entendimento, para ao serem

questionados sobre sua religião, poderem

dizer livremente: Sou Umbandista, sem

medo de retaliações, chacotas ou descrimi-

nações. A mediunidade não pode ser vista

como um fardo, tem que ser explicada pois

é uma faculdade inerente a todos nós e de-

senvolvê-la cria em nós uma energia alta-

mente positiva e Divina.

Em todas as religiões, vemos Pais que le-

vam seus filhos e ensinam desde novos o

caminho de sua Fé e a vivência se dá por

osmose, porque na nossa que é tão bela não

o fazemos também?

Afinal, ensinamos a ter Fé, praticamos a

Caridade, valorizamos muito a ajuda ao ir-

mão, nossa religião não é para ser escondida

e sim propagada e somente através de nos-

sas crianças e do ensinamento de nossa

Doutrina, atingiremos esse ideal.

Falando de Axé

O que justifica pra você, a Umbanda ser u-

ma religião tão descriminada?

Mãe Elis

A falta de conhecimento, de divulgação, de

clareza sobre a verdade de nossa doutrina.

A vaidade de alguns que intitulam que seu

guia pratica o mal, que castiga, que sua casa

é “forte” porque faz “trabalhos pesados”...

Casas que cobram, trabalham com amarra-

ções, prometem milagres e comercializam a

fé, e para todos esses casos recorrem ao no-

me de Umbanda. Transformando a grande

oportunidade do ato da incorporação num

verdadeiro circo de horrores...

Falando de Axé

Em seu Templo de Umbanda, é realizado

algum projeto social?

Se sim, por quê?

Se não, por quê?

Mãe Elis

Nesse momento ainda não. Estou em fase

de estruturar os médiuns de minha casa, atu-

almente somos por volta de 50, tenho mé-

diuns comigo há 3 anos, que é o tempo que

nossa Casa foi fundada - 15/11/2008, exata-

mente no centenário da Umbanda, mas des-

de de seu início visei o desenvolvimento

mediúnico, trabalhando de portas fechadas,

ou em pontos da Natureza, até por falta de

local para trabalho, neste ano em 23/04/11

abrimos nossa Tenda à Público numa belís-

sima Homenagem ao grande Sr. Ogum.

Trabalhamos desde então com muito desen-

volvimento, Giras de atendimento ao públi-

co, e como converso muito com eles, temos

que fundamentar nossa casa, poderíamos

dizer que eles são os funcionários de uma

grande empresa e que precisam estar bem

capacitados para poder crescer cada vez

mais. Já estamos em andamento com proje-

tos de ensino para nossas Crianças e Jovens,

Tratamento Holístico para os que necessita-

rem e muito por vir daqui pra frente.

Falando de Axé

De acordo com a sua vivência, o que você

acredita que falta, para que nossa religião

seja mais respeitada e menos descriminada

por todos?

Page 33: Falando de-axe

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Mãe Elis

Cabe a nós, médiuns de Umbanda, mudar

essa imagem negativa cultuada ao longo do

tempo. Entender que “Levar ao mundo in-

teiro a Bandeira de Oxalá” está muito mais

do que palavras de nosso hino... Está em

mostrar a verdadeira face da Umbanda, que

é uma religião que prega as mesmas verda-

des e busca a mesma paz de espírito que to-

das as outras religiões. Umbanda é dedica-

ção, disciplina, doação, respeito, reforma

íntima, é a conscientização sobre o Bem e o

Mal. Umbanda não é milagre, mas mereci-

mento. É estudo e consciência e não como-

dismo ou achismo. É respeito à natureza,

pois Umbanda é natureza.

Falando de Axé

Mãe Elis, você poderia nos falar o que Mãe

Oxum, seu Orixá de Cabeça e Vovó Cam-

binda representam em sua vida?

Mãe Elis

Nossa!

Simplesmente assim: TUDO!

Oxum é minha Vida, meu Caminho, minha

Luz, minha Srª Amada, Querida, que me a-

calenta, me repreende, me direciona e me

dá sentido...

Minha “Velha” é a calma em pessoa (como

é diferente de mim...), é dona de uma sabe-

doria ímpar, que me faz ouvir, que me mos-

trou ao longo desse caminho a minha mis-

são e a deles (meus guias) junto a mim e a

essas “crianças”, seus “fiotos” como ela ca-

rinhosamente os chama. Mas tem muito

mais, tem a seriedade de DªJupira, a firmeza

de seu Giramundo, a esperteza de Mariazi-

nha, o desprendimento de seu Caveira, a le-

veza de Mª Cigana e o ensinamento e talvez

a maior lição de vida espiritual que já tive

que se chama Mª Navalha (um dia em outra

prosa eu conto...).

Falando de Axé

Para finalizar essa nossa maravilhosa con-

versa, qual é a Mensagem que a senhora

deixa para os Umbandistas?

Mãe Elis

Orgulhem-se de serem Umbandistas, tragam

no Peito, na Alma, na Fé. Estudem, pois, só

assim daremos base e traremos respeito a

nossa religião. E acima de tudo pratiquem a

Umbanda, sejam umbandistas 24 horas ao

dia e não somente no momento de adentrar

em sua Tenda. Deixo a todos um ponto feito

pela médium e intérprete Rosana Pinheiro

no qual o transformei em hino da T.U.E.A -

Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda, que

acho perfeito como mensagem a todos os

Umbandistas...

“ESTAVA NA BEIRA DE UM CAMINHO,

CHORANDO, SOFRENDO SOZINHO,

DE REPENTE UMA LUZ ME APARECEU,

ESSA LUZ VEIO DE OXALÁ,

ESSA LUZ VEIO DE DEUS.

ESSA LUZ ME APONTOU UM NOVO

CAMINHO,

HOJE SOU FILHO DE UMBANDA,

NUNCA MAIS ESTOU SOZINHO.

É, É, É, É,

UMBANDA É PRA QUEM TEM FÉ,

PRA QUEM TEM FÉ

É, É, É, É,

UMBANDA É CARIDADE,

UMBANDA É FELICIDADE.”

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T.U.E.A - Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda Cascadura - Rio de Janeiro/RJ. Tel. 21 3471-2114

http://www.estradacigana.blogspot.com/

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Umbanda completou seus 103 anos de Fundação em 2011

A Umbanda completou (15/11/2011) seus 103 anos, desde que o Caboclo das 7 Encruzilhadas

anunciou o seu início. Foram 103 anos difíceis de perseguições, incompreensões e todo o tipo de

preconceito que se possa imaginar. Não foram anos fáceis e os anos que vem pela frente não serão

menos difíceis do que os que passaram, isso porque o preconceito ainda é grande e muitos ainda

vêem a Umbanda apenas como forma de trazer a pessoa amada em 7 dias ou qualquer outro tipo

de “amarrações” que anunciam por aí, sujando o nome da nossa religião.

Mas nós resistimos e resistiremos a qualquer tipo de preconceito porque o verdadeiro umbandista

trás dentro de si a esperança das crianças, a firmeza dos caboclos, a sabedoria dos pretos velhos, a

coragem do povo baiano, a capacidade de adaptação do povo cigano e o jogo de cintura dos nossos

compadres e comadres.

O verdadeiro umbandista não vai ao terreiro à procura de trazer a pessoa amada em 7 dias, não

vai ao terreiro à procura de amarrações e nem à procura de riquezas materiais. O verdadeiro

umbandista está sempre à procura de outro tipo de riqueza, a riqueza espiritual, a riqueza da

sabedoria em lidar com as questões difíceis do dia-a-dia, a paciência de aguardar o que não está

em tempo, a firmeza e a coragem para enfrentar de frente todas as intempéries da vida, a

capacidade de mudar quando a mudança é realmente necessária e a alegria de receber apenas o

que lhe é designado.

O verdadeiro umbandista sabe como agir ou sabe a quem recorrer quando lhe falta a sabedoria

para lidar com as questões mais difíceis, quando lhe falta coragem para encarar de frente o que

deve ser encarado, quando lhe falta o olhar da simplicidade para enxergar o verdadeiro motivo

das coisas e quando lhe falta o jogo de cintura para lidar com os inimigos mais traiçoeiros que

aparecem.

Sim, estamos aqui pacientemente firmes levando a nossa mensagem para todos os que desejam

ouvi-la, senti-la e vivê-la. Somos e sempre devemos ser a mão que acolhe sem pré julgamentos, sem

o olhar de reprovação e apenas com a bondade no coração e na alma.

Parabéns, Umbanda, por seus 103 anos e por todos os outros que ainda virão. Obrigado,

Umbanda, por fazer de nós pessoas ainda melhores.

http://www.saravaumbanda.com/textos/103-anos-de-umbanda

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A Umbanda

às suas Ordens

J. Edson Orphanake Tríade Editorial

Livro do Mês Ao apresentarmos esta obra, não foi o nosso intuito fazermos Umbanda. Quando nascemos, ela já existia. Nem ensiná-la em suas práticas a pais de santo, babá e tatás. Mas, formularmos pequeno e humilde estudo, até mesmo superficial, de sua existência, visando mostrar virtudes, princípios e fundamentos, além de falhas (não dos guias e protetores, mas de dirigentes e praticantes), que sirvam para orientar futuros interessados em dar-lhes bases estruturais definitivas. Vintes e poucos anos de estudos e pesquisas não foram suficientes para penetrarmos “in totum” a Umbanda. Mesmo porque sua profundidade é infinita como a espiritualidade, da qual faz parte... Mas, se nosso pequeno estudo puder, ainda que insuficientemente, contribuir para melhorar a compreensão de irmãos carentes de entendimento de pontos que lhes pareçam obscuros, no emaranhado religioso Umbandista, já nos damos por satisfeitos.

O Autor.

Altera a Lei no 9.394, de 20

de dezembro de 1996,

modificada pela Lei . 10.639,

de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional,

para incluir no currículo

oficial da rede de ensino a

obrigatoriedade da temática

“História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena”.

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A Falando de Axé esse mês, através da coluna Santo do Mês, homenageia Nossa Senhora do Rocio, a Santa Padroeira do Paraná, sincretizada com a Orixá Oxum e algu-mas vezes com a Orixá Iemanjá, em alguns Templos de Umbanda do Paraná, uma ma-neira que o Idealizador desta Revista, Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè) encontrou para homenagear a Santa Padroeira de seu Estado (Paraná), que tem sua festa come-morativa realizada todo dia 15 de Novembro na Cidade de Paranaguá, cidade onde o mesmo nasceu e reside. Vamos agora conhecer um pouco de Nossa Senhora do Rocio.

O culto à Virgem do Rocio teve inicio no séc. XVII, logo após a elevação do pe-

lourinho em Paranaguá, em 1648. Quando, em 1686, os habitantes desta Vila, às margens de sua baia, foram assolados por uma peste, essa gente recorreu aos favores de Maria, Mãe de Jesus, invocada neste título, para que os livrasse desta terrível lamúria. Desde aí, esta Virgem vem sendo o socorro das aflições dos devotos católicos paranaenses. Rocio era o perímetro das Vilas, onde terminava a povoação, o arruamento, e começava a se condensar orvalho matutino. Rocio quer dizer orvalho, em português arcaico Nossa Se-nhora do Rocio é Nossa Senhora do Orvalho Matutino, Nossa Senhora do Amanhecer.

O Paraná amanheceu no rocio de Paranaguá As festas do Rocio fizeram-se famosas pelos fandangos caboclos, com violas, rabe-

cas, e tambores de madeira tiradas das árvores das ilhas e dos manguezais da baía de Paranaguá. Na gravura da Impressora Paranaense (casa fundada pelo Barão do Sêrro Azul), o pintor paranaense Arthur Nísio - na época do Centenário do Paraná (1953) - i-dealizou a Virgem, orvalhando com sua bênção, seu santuário e a baía, antes das modi-ficações que o afastaram do mar.

O Papa Paulo VI em 1977 declarou Nossa Senhora do Rocio como a padroeira do

Paraná, sendo a iniciativa ratificada pelo governador Jaime Canet.

SANTO DO MÊS

Nossa Senhora do Rocio, A Mãe Padroeira do

Paraná

15 de Novembro

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A proclamação como Rainha do Paranaguá Foi durante a 24ª Assembléia dos Bispos do Paraná, que Dom Bernardo José Nol-

ker comunicou a realização de uma aspiração do Episcopado e do povo do Paraná: Nossa Senhora do Rocio fora proclamada Padroeira Perpétua do Estado do Paraná. No dia 11 de março de 1977. A petição havia sido feita por dois Arcebispos e 22 bispos do Estado do Paraná, além dos pedidos formais do governador do Estado, Poder Legislativo e Judiciário. A concessão feita ao estado do Paraná, pelo que se sabe, é a única, não constando que outros Estados a tenham conseguido ou solicitado.

O Decreto Decreto, Protocolo CD 768/77 da Sagrada Congregação para os sacramentos e o

culto Divino, declara em nome do Papa Paulo VI, Nossa Senhora do Rosário do Rocio eleita Padroeira do Paraná, junto a Deus. O Protocolo fez-se acompanhar de Breve Apos-tólico (carta) com data de 30 de julho de 1977, assinada pelo Cardeal João Villot, Secre-tário de Estado do Vaticano, declarando Nossa Senhora do Rocio Padroeira do Paraná para o presente e futuro, "ad aeternum". Dom Bernardo José Nolker, Bispo da Diocese de Paranaguá, onde está o Santuário da padroeira, entende que o privilégio que o Papa concedeu servirá para intensificar a devoção a Nossa Senhora.

D. João Francisco Braga, primeiro Arcebispo do Paraná, há mais de cinqüenta a-

nos. Assim se expressava: "Que a província Eclesiástica de Maria tenha o seu Santuário, de Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá".

Histórico A referência histórica mais antiga é de 1686, quando da epidemia chamada

"Peste da Bicha", em Paranaguá, narrada por Vieira dos Santos, quando a cidade conta-va com apenas 38 anos de fundação e a devoção à Virgem do Rocio já havia conquista-do a população que a cultuava num modesto oratório doméstico, próximo à praia, onde fora encontrada por pescadores. Em fases sucessivas de acontecimentos, esta devoção tem longa história até o estágio atual. Entre outras seguem-se algumas datas marcan-tes. Em 1939 a imagem de Nossa Senhora deixou seu Santuário em Paranaguá, para ser transportada à Curitiba, em viagem triunfal, a fim de presidir os atos que marcaram o Jubileu da Congregação Mariana da Catedral.

Em 1948, pelo Jubileu Episcopal de D. Ático Eusébio da Rocha, Arcebispo Metropo-

litano, realizou-se o 1º Congresso Mariano do Paraná, que antes do atual decreto tinha um sentido apenas popular.

Em 1953, pela terceira vez a imagem esteve em Curitiba para presidir o Congresso Eucarístico Nacional, na oportunidade, o Paraná comemorava o seu 1º Centenário da Emancipação Política. Nessa ocasião, a imagem peregrinou tam-bém durante 105 dias, pelo interior do Estado.

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Começaram então a chegar às mãos do arcebispo Metropolitano, Dom Manoel da Silveira Delboux, inúmeros pedidos para solicitar ao Papa que declarasse N. Sra. do Ro-cio Padroeira do Estado do Paraná , o que hoje tornou-se realidade. Perante o privilé-gio agora concedido e em face da atual renovação da igreja, no sentido de atualizar-se. D. Bernardo afirmou: "Não é coincidência mais esta conquista mariana, onde os Reden-toristas têm um importante papel. Nosso Fundador, S. Afonso de Ligório foi grande de-voto de Maria e deixou esta herança espiritual a seus filhos que a levam através dos séculos. Sob nosso cuidados estão o Santuário de Aparecida, em Aparecida/SP; a igreja do Perpétuo Socorro em Curitiba recebendo mais de 30 mil fiéis por semana. E, agora, em Paranaguá, o Santuário de N. Sra. do Rocio, Padroeira do Paraná. Os Redentoristas teriam então nesse momento a missão de fortalecer a devoção mariana, porque os bra-sileiros são devotos de Maria desde as origens de nossa história, a partir da catequese de Anchieta.

Atualidades Todo o ano, de 06 a 15 de Novembro, realiza-se na histórica cidade de Paranaguá,

litoral do Paraná - Brasil, a Festa de Nossa Senhora do Rocio, Padroeira do Estado. O dia da Festa, 15 de Novembro, é marcado por inúmeras celebrações, para as

quais acorrem milhares de fiéis romeiros de varias cidades do Paraná, além da incon-tável presença de devotos da Diocese de Paranaguá, onde se localiza o Santuário da Pa-droeira.

"A devoção a Nossa Senhora do Rocio tem raízes profundas na vida do povo do

litoral do Paraná, pois data dos meados do século XVII, pouco tempo após a elevação de Paranaguá à Vila, em 1648" (Pe. Karl Eugene Esker, Jornal "Voz Vicentina do Para-ná").

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Segundo nos relata o historiador paranaense Vieira dos Santos, já em 1686 os ha-

bitantes da então Vila de Paranaguá "haviam recorrido aos favores da Virgem do Rocio para que os livrasse da terrível peste que assolava o litoral, nessa época". Antes dessa data, sabemos somente que um pescador chamado Pai Berê achou a imagem que é de Nossa Senhora do Rosário, em estilo barroco. Uma lenda diz que ele retirou a imagem da margem da baía na rede, enquanto pescava. Outra diz que a encontrou num campo de rosas loucas, no barranco à beira da baía. Por um tempo ficou num oratório na ca-sa de Pai Berê, onde se tornou objeto da devoção dos pescadores, sendo batizada com o nome de Nossa Senhora do Rocio.

"O culto à imagem se difundiu, aumentando a fé e a esperança em Nossa Senho-

ra do Rosário do Rocio, atraindo devotos não somente das redondezas, mas também da Vila"

(Waldomiro Ferreira de Freitas, Aspecto Histórico e Turístico de Paranaguá). Milagres atribuídos a Nossa Senhora do Rocio Através dos anos, a devoção cresceu até o milagre que deu fim a peste, em 1686,

milagre que se repetiu ao longo dos séculos em inúmeras ocasiões em que a Santa do Rocio atendeu aos seus devotos com curas individuais e coletivas, como nos casos da Peste Bubônica, em 1901 e da Gripe espanhola, em 1918.

Há ainda inúmeros registros do socorro da Virgem do Rocio prestado aos mari-

nheiros em violentas tempestades e tragédias no mar, os quais se tornaram seus devo-tos e a homenagearam com procissões e comoventes romarias pelas ruas da cidade, ru-mo ao Santuário. É o caso do navio "Raul Soares", no dia 26 de junho de 1931; do navi-o "Philadélphia", em julho de 1931; e do navio "Maria M", no dia 08 de agosto de 1932.

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Oração à Nossa Senhora do Rocio, A Padroeira do Paraná

(15 de Novembro) Virgem Gloriosa do Rocio, Mãe e Rainha de teus filhos todos, eis-nos aqui para

te louvar, te bendizer e agradecer por tudo que somos, por tudo que temos, por tudo que fomos chamados a ser.

Humildemente pedimos, ó Mãe bondosa, o teu olhar misericordioso sobre todos os nossos momentos de desamor, sobre todos os nossos pecados.

Imploramos aos teus pés, Mãe querida do Rocio, aquela chuva de graças sobre graças para nossa Pátria, as nossas famílias, os nossos filhos, os idosos, os doentes e aflitos, os deprimidos e os excluídos.

Fortalece as nossas comunidades, faze crescer o Reino da Paz, da justiça, do amor, do perdão e da misericórdia. Virgem Senhora do Rocio, Santa Mãe querida, abençoa - nos, protege-nos, leva-

nos ao encontro eterno com teu Filho Jesus. Amém. Assim seja!

Fonte: http://www.cot.org.br/igreja/ns-rocio.php

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Zumbi, símbolo da resistência negra

PERSONALINADES NEGRAS

Zumbi dos Palmares, o maior ícone da resistência negra ao escravismo no

Brasil

Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra. A data transfor-mada em Dia Nacional da Consciência Negra pelo Movimento Negro Unificado em 1978 – não foi escolhida ao acaso, e sim como homenagem a Zumbi, líder máxi-mo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra, assassinado em 20 de novembro de 1695. O Quilombo dos Palmares foi fundado no ano de 1597, por cerca de 40 escravos foragidos de um engenho situado em terras pernambucanas. Em pouco tempo, a organização dos fundadores fez com que o quilombo se tor-nasse uma verdadeira cidade. Os negros que escapavam da lida e dos ferros não pensavam duas vezes: o destino era o tal quilombo cheio de palmeiras.

Com a chegada de mais e mais pessoas, inclusive índios e brancos foragi-

dos, formaram-se os mocambos, que funcionavam como vilas. O mocambo do ma-caco, localizado na Serra da Barriga, era a sede administrativa do povo quilom-bola. Um negro chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos Pal-mares.

Alguns anos após a sua fundação, o Quilombo dos Palmares foi invadido

por uma expedição bandeirante. Muitos habitantes, inclusive crianças, foram de-golados. Um recém-nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a Antônio Melo, um padre da vila de Recife. O menino, batizado pelo padre com o nome de Francisco, foi criado e educado pelo religioso, que lhe ensinou a ler e escrever, além de lhe dar noções de latim, e o iniciar no estudo da Bíblia. Aos 12 anos o menino era coroinha. Entretanto, a população local não aprovava a atitu-de do pároco, que criava o negrinho como filho, e não como servo.

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Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, Francisco não se confor-mava em ser tratado de forma diferente por causa de sua cor. E sofria muito ven-do seus irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos e praças públi-cas. Por isso, quando completou 15 anos, o franzino Francisco fugiu e foi em bus-ca do seu lugar de origem, o Quilombo dos Palmares. Após caminhar cerca de 132 quilômetros, o garoto chegou à Serra da Barriga. Como era de costume nos qui-lombos, recebeu uma família e um novo nome. Agora, Francisco era Zumbi. Com os conhecimentos repassados pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em in-teligência e coragem. Aos 17 anos tornou-se general de armas do quilombo, uma espécie de ministro de guerra nos dias de hoje.

Com a queda do rei Ganga Zumba, morto após acreditar num pacto de paz com os senhores de engenho, Zumbi assumiu o posto de rei e levou a luta pela liberdade até o final de seus dias. Com o extermínio do Quilombo dos Palmares pela expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, Zum-bi fugiu junto a outros sobreviventes do massacre para a Serra de Dois Irmãos, então terra de Pernambuco.

Contudo, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi traído por um de seus prin-

cipais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo. Zumbi foi então torturado e capturado. Jorge Velho matou o rei Zum-bi e o decapitou, levando sua cabeça até a praça do Carmo, na cidade de Recife, onde ficou exposta por anos seguidos até sua completa decomposição.

“Deus da Guerra”, “Fantasma Imortal” ou “Morto Vivo”. Seja qual for a tra-

dução correta do nome Zumbi, o seu significado para a história do Brasil e para o movimento negro é praticamente unânime: Zumbi dos Palmares é o maior íco-ne da resistência negra ao escravismo e de sua luta por liberdade. Os anos foram passando, mas o sonho de Zumbi permanece e sua história é contada com orgu-lho pelos habitantes da região onde o negro-rei pregou a liberdade.

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A Revista Falando de Axé está fazendo uma promo-ção de divulgação, faça suas divulgações na Revista, nos próximos meses: Janeiro, Fevereiro e Março. GRATUITAMENTE!!! É só entrar em contato conosco, mandando sua di-vulgação pelo e-mail: [email protected] Ou nos contatando pelos telefones: 41 8469-1985 (OI) – 41 9805-9770(TIM), Hérick Lechinski.

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Em Janeiro de 2012 - AGUARDEM...

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