Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da...

34
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Departamento de Matemática Psicologia Educacional I Elaborado por: -Alice Martins; - Cati Matos; -Daniela Santos; -Diana Salgado. Licenciatura em Matemática Coimbra, 24 de Novembro de 2003

Transcript of Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da...

Page 1: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Departamento de Matemática

Psicologia Educacional I

Elaborado por: -Alice Martins;

- Cati Matos; -Daniela Santos; -Diana Salgado.

Licenciatura em Matemática

Coimbra, 24 de Novembro de 2003

Page 2: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

1

MUNDO DA DROGA…

Abre bem os olhos, enquanto é tempo Umas passas e arriscas a vida

A todo o momento Tentas regressar atrás e não consegues

Erras por aí, olhos vermelhos, Sem saberes nunca

Como solucionar tanto problema Tentas rir, jeito parvo, palhaço na arena

Interiormente às tiras, cá fora Gozas com todos

Iludido que até os superas Ontem assim, hoje também, mas amanhã…

Sê limpo!...

Page 3: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

2

Índice

o Introdução__________________________________3 o A nossa “calendarização”________________________5 o Debate_____________________________________6 o Quadro comparativo___________________________ 9 o Conversa com a Psicóloga________________________10 o P.S.P.______________________________________ 15 o C.A.T.______________________________________17 o U.P._______________________________________ 24 o Entrevistas_________________________________ 26 o Conclusão/Auto crítica_________________________ 30 o Bibliografia o Anexos

Page 4: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

3

INTRODUÇÃO A adolescência processa-se através da acumulação de sentimentos, vivências e emoções individuais, experimentados ao longo de várias fases e acontecimentos da vida. A este self ( que significa aquilo que é próprio, que é distinto dos outros) individual é necessário juntar o self social, obtido a partir da interacção com a sociedade e com o grupo de pares (companheiros). O adolescente, embora com avanços, recuos e momentos de turbulência, é capaz de se desprender da protecção da infância, autonomizar-se face aos pais, conseguir a sua maturação intelectual, resolver as questões do amor e da sexualidade e com tudo isso adquirir a sua identidade. O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ter um projecto e mostrar capacidade de decisão, definir uma identidade sexual e adquirir um sistema de valores. Os investigadores da Psicologia Social têm chamado a atenção para o facto de este processo ser completado «para fora», com o grupo de amigos como uma dimensão fundamental. O adolescente observa o meio, simplificando-o, e interage com o grupo, diferenciando-se socialmente dos companheiros. A auto-estima e a identidade estão relacionadas com todas estas tarefas da adolescência. Durante este período, ocorrem mudanças corporais. O adolescente sente-se desajustado no seu novo corpo. A sua auto-imagem é abalada mas como os colegas estão numa situação idêntica, vai ser mais fácil aceitar as transformações ocorridas, pois há solidariedade e apoio para enfrentar novos desafios. As ligações à família entram num processo de reestruturação necessário para o desenvolvimento pessoal do adolescente. Este processo ocorre com alguns conflitos e dificuldades que fragilizam o Eu. Os colegas vão reforçar o Eu do adolescente transmitindo-lhe segurança. O adolescente ensaia novos papéis, experimenta novas emoções, novos modos de relacionamento. O grupo permite a experimentação de novos papéis num esforço relacional próprio facilitando o processo de crescimento e impõe-se pela maneira de vestir, pela linguagem, pela música, pelos ritos e pelas experiências compartilhadas (tudo isso serve para manter a solidariedade do grupo e proclamar diante dos outros o seu carácter único.) Em suma, as mudanças vividas pelo adolescente implicam enfrentar experiências que são um desafio à sua auto-estima, à autonomia, à aquisição de uma identidade pessoal. Durante este processo existencial, surgem questões, como: ”Quem sou eu? A quem pertenço?” que levam à necessidade de identificação aos grupos.

Page 5: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

4

Mas porque é que os adolescentes se drogam? Há que ter em conta que cada “consumidor” é o resultado concreto da integração de três factores: indivíduo, droga e meio. Os adolescentes são caracteristicamente curiosos sobre o seu mundo em expansão e muito mais inclinados a correr riscos do que a maioria dos adultos. A experimentação pode ocorrer por mera curiosidade, pelo desejo de ousar, em virtude da oportunidade, por influência do seu grupo de companheiros, devido à necessidade de ser aceite por um grupo que já está envolvido com o uso de drogas ou pela necessidade de escapar da tensão, do tédio e das pressões da vida. O uso de drogas por parte de alguns adolescentes pode reflectir alienação, isto é, uma profunda rejeição dos valores de uma sociedade adulta que alguns jovens consideram cada vez mais impessoal e desinteressada pelo indivíduo. Resumidamente, as causas são:

Insegurança; Instabilidade; Sentimento de inferioridade; Curiosidade; Carências afectivas; Complexo de Édipo mal resolvido; Necessidade de mostrar

independência. Sendo assim, faz todo o sentido que a Escola tenha um papel activo

neste domínio, já que é um local de aprendizagem, de maturação, de crescimento e de enriquecimento. O viver a escola pode corresponder a um desafio, ao desenvolvimento das capacidades dos jovens que a frequentam.

Page 6: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

5

A nossa “calendarização”

30 Set. - Escolha do tema 7 Out. – Pesquisa na Internet 10 Out. – Secção de Jornalismo da A.A.C. 11 Out. – Debate 14 Out. – Pesquisa na Internet 16 Out. – Colégio de S. Pedro

- Escola Secundária Jaime Cortesão 17 Out. - Escola Secundária José Falcão (E.S.J.F.) 20 Out. – Psicóloga da E.S.J.F. 21 Out. - Psicóloga da E.S.J.F. 23 Out. – Centro de Atendimento a Toxicodependentes (C.A.T.) 27 Out. – C.A.T. 28 Out. – P.S.P. - Polícia de Segurança Pública (Brigada Anti-Crime

(B.A.C.)) 2 Nov. a 5 Nov. – Elaboração do plano 4 Nov. - C.A.T. 8 Nov. – Entrevistas com jovens 9 Nov. – Pesquisas em jornais, revistas e livros 10 Nov. – C.A.T. 11 Nov. – Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência (C.D.T.)

- Unidade de Prevenção (U.P.) 12 Nov. – Entrevistas com jovens 14 a 23 Nov. – Elaboração do relatório

(Em simultâneo, foram feitas pesquisas em revistas, jornais, livros e

na Internet, no intuito de complementar as informações que iam sendo recolhidas.)

Page 7: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

6

DEBATE

”TOXICODEPENDÊNCIAS” CASA MUNICIPAL DA CULTURA (SALA POLIVALENTE)

Debate integrado no programa: UM EMBRIÃO DE CULTURA CIENTÍFICA_COIMBRA CAPITAL DA CULTURA. Oradores: Emília Duarte (FCTUC); Tice Macedo (FMUC); Moderador: Jorge Massada ( Jornal Expresso).

• Duas grandes questões: _O que causa o consumo compulsivo de drogas apesar das

consequências adversas? _O consumo de drogas leves é seguro?

• Cuidado! Há diferenças entre: _HABITUAÇÃO:

A diminuição do efeito da droga leva à necessidade de aumentar a dose para obter o mesmo efeito.

_DEPENDÊNCIA:

O organismo só funciona normalmente na presença da droga: Perturbações físicas e psíquicas na ausência de droga _sintomas de privação.

_VICIAÇÃO: Procura compulsiva da droga apesar de efeitos adversos.

• O que leva ao consumo compulsivo de drogas? _Será o Prazer? Não, pois com o passar do tempo deixa de haver prazer. _Será para eliminar sintomas de privação? Não, já que os sintomas podem ser minimizados com produtos

fármacos ( Mas há que ter em atenção que há recaídas).

Page 8: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

7

_Resposta: as drogas alteram o sistema no cérebro, ou seja, alteram a motivação que leva à procura da droga.

• A nível científico: _As drogas levam à libertação do neurotransmissor: Dopamina. _Existem diferenças entre estímulos naturais e drogas de abuso nos

efeitos no circuito de recompensa. Sabe-se, por exemplo, que a heroína faz libertar 5 vezes mais dopamina nesse sistema do que um alimento doce.

_Actualmente, recorre-se a técnicas de Imagiologia para conhecer os efeitos de drogas de abuso no cérebro. Estas permitem obter imagens deste órgão e do seu metabolismo. Tomar drogas provoca diminuição da actividade metabólica do córtex frontal (o qual é, entre outras funções, responsável pela tomada de decisões) e alterações bioquímicas e estruturais. Estas últimas referem-se a alterações no prolongamento dos neurónios.

• A memória das drogas: Um toxicodependente abstinente a quem foram mostradas seringas, objectos relacionados com a droga, etc.… é levado a consumir. Há um aumento da zona da amígdala, que é responsável pela memória das emoções, o que leva a recaídas.

• Observação: Há diferenças significativas entre um cérebro normal e um cérebro toxicodependente a nível do controlo, motivação, recompensa, memória e sua inter-relação.

• Conclusão: TOXICODEPÊNCIA: doença crónica, sujeita a recaídas mesmo após longos períodos de abstinência.

• Predisposição genética para o abuso de drogas: _Há pessoas que consomem drogas de vez em quando e não se tornam logo dependentes ao contrário de outras. Basta lembrarmo-nos do caso do alcoolismo: nem todas as pessoas que bebem regularmente são alcoólicas.

Page 9: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

8

• O consumo de drogas leves é seguro?

Por exemplo, o ecstasy: _Cria euforia, empatia e pensamento nublado.

_Faz aumentar a temperatura, o ritmo cardíaco e a pressão arterial.

_”Facilita o convívio numa festa.” _Após consumo, há degeneração de neurónios setononinérgicos e alterações no córtex cerebral (grande diminuição do prolongamento dos neurónios). Mesmo que haja regeneração do prolongamento, nunca é completa. Neste âmbito, foram realizadas experiências com chimpanzés onde os resultados são bem visíveis.

Haxixe:

Efeitos medicinais recomendam o seu uso pois descobriu-se que controla certas doenças auto-imunes. Mas esta droga compromete a aprendizagem dos adolescentes. No geral, os efeitos dependem da concentração da respectiva droga.

No final, foi dada a oportunidade ao público para colocar questões

e fazer comentários. Entre outros aspectos: _Liberalização de drogas: SIM ou NÃO? _Toxicodependência relacionada com a marginalidade e a prostituição. _A Droga não é só malefícios: há vários artistas que se drogam para escrever, pintar e compor melodias. Houve até quem tenha referido o evangelista S. João: segundo algumas opiniões, ele terá escrito o livro do Apocalipse (último livro da Bíblia) sob o efeito de drogas. (explicação: o Apocalipse foi escrito na ilha de Pátmos onde haveria papoilas “produtoras” de droga que provocavam alucinações.)

Page 10: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

9

Quadro 1: Quadro comparativo das escolas visitadas

ESCOLAS Colégio de São Pedro

Secundária Jaime

Cortesão

Secundária José Falcão

Onde e a Quem nos dirigimos

• Secretaria • Conselho Executivo (Directora)

• Secretaria • Porta do Conselho Executivo (não houve identificação)

• Secretaria • Conselho Executivo (um dos membros) • Gabinete da Psicóloga.

O que é feito por parte da Escola no âmbito da Toxicodependência?

Todos os anos, são feitas campanhas de prevenção que são incluídas num plano geral de actividades, plano esse elaborado no início de cada ano lectivo (este ano ainda não concluído).

Nada!

(ver conversa com a Psicóloga)

E por parte do Ministério da Educação?

Não foi questionado

“ Haver há (risos) …mas só no papel”

Não foi questionado

Haveria possibilidade de passar questionários? (requisitos)

• Credencial redigida pela professora responsável pelo nosso trabalho; • Análise prévia dos questionários pela directora; • Aprovação ou não dos mesmos.

• Autorização na DREC; • Questionários previamente analisados pela Escola.

• Autorização na DREC; • Questionários previamente analisados pela Escola.

Page 11: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

10

CONVERSA COM A PSICÓLOGA Quando fomos à escola Secundária José Falcão, dirigimo-nos à Secretaria onde nos encaminharam para o Conselho Executivo. Neste local, foi-nos aconselhado o diálogo com a Psicóloga, Fátima Cosme. Foi marcada uma entrevista para o dia 20 de Outubro. Nesse dia, sem formalismos e sem entrevista estruturada, tínhamos como objectivo saber o que se faz na Escola no âmbito da Toxicodependência, bem como o conhecimento da sua experiência nesta área enquanto Psicóloga. Começámos por precisar o tema do nosso trabalho, direccionando assim o nosso diálogo...

Que tipo de intervenção é feita por parte da Escola no que respeita à Toxicodependência?

Há que pensar que não há um único tipo de intervenção, tudo

depende do estado em que se encontra o indivíduo. Assim são distinguidos 3 tipos de intervenção: prevenção; casos em que há suspeita; casos consumados. No concreto, a Escola organiza secções de informação em parceria com centros de atendimento a jovens, sendo de salientar o importante contributo da Associação de Estudantes e da Associação de Pais. São feitas “mesas redondas” (debates) com a participação de alunos, pais, professores, psicólogos, grupos de estagiários (Acção Social), psiquiatras e toxicodependentes. Nem todos os anos se torna possível realizar o mesmo tipo de actividades. Por vezes, aborda-se como tema principal a Toxicodependência, mas outras vezes fala-se de Distúrbios Alimentares, Sexualidade, Tabagismo, Alcoolismo,... No entanto, há um esforço contínuo para tornar as actividades cada vez mais recreativas de forma a cativar os alunos.

Então, e como é que se apercebem que um aluno poderá ser um potencial de risco?

Bem... os directores de turma têm um papel fundamental. Há

turmas que são consideradas de maior risco pois há sinais evidentes: dificuldade de integração na turma; quebra no rendimento escolar; falta de motivação; faltas intercalares; os

Page 12: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

11

alunos adoecem frequentemente e sem causa aparente; ou ainda os alunos andarem sozinhos pelos corredores. Estes sinais são avaliados em Concelho de Turma. Seguidamente, é chamado o aluno e juntamente com os pais, Psicóloga e directora de turma é procurada uma solução. No caso de o aluno manifestar interesse em corrigir-se, pode haver um acompanhamento pela Psicóloga.

Como é feito esse acompanhamento?

Todas as actividades têm por base a Dinâmica de Grupos. É dada ao aluno a oportunidade de ser ouvido sendo-lhe explicado que o facto de se pertencer a um grupo não implica dizer “sim” a todas as ideias desse mesmo grupo. Mas atenção! Nem todos os casos são resolvidos deste modo. Em casos problemáticos, o aluno é encaminhado para o C.A.T..

Mas centremo-nos novamente na Prevenção dita primária. Considera suficiente a prevenção feita pelas escolas?

...Para terem uma ideia, cerca de 95% dos alunos que reprovam no

10º ano são-no pelo facto de faltarem às aulas. Os Professores queixam-se da falta de tempo para leccionarem a matéria (programas muito extensos) (...) pelo que se torna muito difícil disponibilizar tempo dentro da carga horária lectiva. E, fora desta é praticamente impossível, uma vez que os alunos desta escola são quase todos aqui da cidade e têm o tempo muito ocupado (explicações, actividades desportivas, de lazer,...)... mas pronto... apesar de tudo faz-se muita coisa, mas não tanta como a necessária... Mas há que ter em conta que a prevenção passa também por uma boa relação pedagógica e uma boa relação com os pais (…). Há vazios interiores que não têm a ver com a família mas sim com o próprio crescimento. A adolescência é uma idade de experiências...

Com que idade têm aparecido alunos envolvidos com drogas?

Geralmente os jovens que experimentam, fazem-no aos 14/15

anos. No entanto, há que distinguir entre os que só experimentam e os que continuam.

Page 13: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

12

Os jovens nesta fase estão na construção da sua identidade, muitos têm uma baixa auto-estima e por isso procuram experiências novas. Daí que as actividades realizadas, com jovens nessa situação, pela Psicóloga, sejam actividades lúdicas com vista a fazer-lhes crescer a auto-estima e o amor próprio, fazendo-os convencer que afinal têm valor positivo. Tentar fomentar o bem, transmitir que são boas pessoas... esta é sem duvida a melhor forma de prevenção!

Por questões de tempo e disponibilidade por parte da Psicóloga, foi marcada uma 2ª secção. Depois de termos analisado a informação adquirida, verificamos a necessidade de abordar mais pormenorizadamente a interligação entre grupos e toxicodependência. Aproveitamos também para completar tudo o que tinha sido dito sobre a prevenção...

Mais uma vez realço que para uma boa prevenção é fundamental uma boa relação pedagógica, há que entusiasmar os alunos, ajudá-los a definir e estruturar um bom projecto de vida. E tudo isto só é possível se realmente houverem bons ambientes e se a escola for sinónimo de bem-estar.

Fale-nos um pouco sobre o adolescente enquanto membro de um grupo...

Os alunos identificam-se muito com o grupo, têm tendência a

juntar-se com jovens com características comuns, por exemplo, alunos de níveis socio-económicos idênticos (filhos de pais divorciados tendem a juntar-se). E os jovens organizam-se de tal modo que ocupam “territórios” próprios nas escolas havendo marcas exteriores evidentes ⎯ maneiras de vestir, por exemplo… Os grupos são uma espécie de espelho do adolescente dado que lhe dão uma imagem dele próprio. O grupo representa um outro “eu”. Não há um líder num grupo de adolescentes, todos são tratados de igual forma. Os pais não devem ser os melhores amigos do adolescente quando este atinge os 15/16 anos, apesar de muitos teimarem sê-lo. Qualquer processo de autonomização é difícil.

Page 14: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

13

O grupo é um local de crescimento sendo muito fortes os laços afectivos que unem os seus elementos. Basta ver, por exemplo, que assumir uma relação amorosa fora do grupo faz com que o adolescente se afaste criando por parte dos restantes membros sentimentos de desconforto. Mas, se, por outro lado, essa relação for entre elementos do grupo, os outros sentem-se “traídos” e com ciúmes. Mas é importante que os adolescentes se integrem em outros tipos de grupos, por exemplo grupos de catequese, de escuteiros, desportivos, de voluntariado. Todos estes têm objectivos bem definidos e isto é fundamental na construção da identidade. Nota--se que, geralmente, estes jovens são pessoas “protegidas” e quase sem risco.

E qual é o papel do grupo no consumo de drogas?

Não é obrigatório que se forme um grupo para consumir. A maior

parte dos que começam, experimentam aos 14/15 anos, mas por vezes é um amigo de fora do grupo que incentiva a que se experimente. Estes grupos são, no geral, formados por 2/3 elementos e no máximo 4/5, talvez para tentarem passar despercebidos.

Pela sua experiência, quais os motivos apontados pelos alunos para a experimentação?

É assim: a primeira causa nunca é fundamentada. Nunca há um

“porque” definido. É simplesmente uma coisa banal. “O problema da Toxicodependência é apenas o sintoma de outros problemas”. ”Experimentei porque experimentei”. Os adolescentes nunca dizem as verdadeiras causas, eles próprios não as sabem, nunca dizem “meti-me na droga porque os meus pais dão-se mal”. Só ao fim de um longo acompanhamento é que se dão conta das verdadeiras causas, e da ligação entre elas. (…) Mas houve um que disse: “ Fumo haxixe porque fico mais calmo, mais carinhoso.” Grande parte dos adolescentes com estas experiências até são pessoas sensíveis, cultas, que gostam de ler... e há aquela ideia que todos estes jovens têm um historial familiar complexo o que é uma ideia errada. Não há um perfil para “toxicodependente”. Os casos aparecem em todas as situações: famílias unidas, famílias desfeitas(...). Não é o

Page 15: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

14

facto de o adolescente ser filho de pais separados que o leva a experimentar, pesa mais o facto do adolescente viver num clima de falta de vida conjugal, os chamados casamentos falsos. Os jovens vivem num paradoxo... “pais com amantes e os filhos sabem”, “A minha mãe está casada com um homem que tem outras mulheres (...)”.

Perante todos estes problemas familiares, considera a Escola capaz

de colmatar estes vazios interiores?

Esta escola é sem dúvida um bom exemplo disso. A Associação de Estudantes tem feito inclusive, um trabalho excelente. No 1º ano é feita uma boa recepção dos alunos sendo-lhes explicado o funcionamento e horários da escola. Os alunos precisam de apoio e essa é certamente a melhor forma de prevenção. Mas apesar de tudo, há uma necessidade permanente por parte das Escolas em melhorar e avaliar estratégias. O nosso lema deve ser:” Promoção dos comportamentos saudáveis em vez de comportamentos de risco.”.

… no final do diálogo, a psicóloga referiu ainda que tem havido uma preocupação crescente em reforçar a segurança na escola ( trabalho realizado em parceria com a P.S.P – “ Escola Segura”).

Page 16: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

15

P.S.P Conseguimos, aqui, obter informações sobre os tipos de drogas e os

respectivos dados estatísticos, bem como a intervenção desta nas escolas.

Qual a intervenção da PSP nas Escolas?

“ Ao surgir, um caso de drogas nas Escolas, a situação é “ocultada”.”

PORQUÊ?

“Com vista a não alarmar os pais dos alunos e a Sociedade em geral.”

Como é resolvida esta situação?

Diálogo com:

ALUNO ESCOLA

POLÍCIA

PAIS DO ALUNO

“ Ai, ai, eu prometo que nunca mais volto a fazer isso...! “

“Ok, então desta vez passa!...”

“ MAS… se a situação se repetir”

“O aluno é encaminhado para a C.D.T. (com o comum acordo do aluno e dos pais) ”

Page 17: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

16

Os principais tipos consumidos nas escolas: -haxixe; -ecstasy; -heroína.

A C.D.T. não é muito bem aceite

pela sociedade, pois ainda persiste

aquela ideia de que “drogados vão para a

cadeia”.

“O haxixe e o ecstasy não criam dependência…”

Então, qual o problema? “Os que consomem este tipo de drogas, … depois querem experimentar outras mais pesadas”.

Chefe

Monteiro

Page 18: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

17

C.A.T.

“A Droga é a porta de uma vida morta.”

“Libertar-se da toxicodependência é reconquistar aos poucos a capacidade de ser livre e só o consegue quem esteja de facto motivado para isso e aceite a ajuda de outros, sabendo que

perdeu parte da sua autonomia.”

Por indicação da Psicóloga, Fátima Cosme, dirigimo-nos ao C.A.T., onde tivemos a oportunidade de dialogar com o Dr. Paulo Abrantes (director desta instituição) que nos esclareceu algumas dúvidas, bem como nos explicou o modo de funcionamento deste centro.

I.D.T. ( Instituto da Droga e da Toxicodependência)― tem por missão garantir a unidade do planeamento, da gestão, da fiscalização e da avaliação de todas as etapas relacionadas com a prevenção, redução de danos, tratamento e reinserção social. C.A.T.

� O que é? Funciona como um centro de consultas externas ( ou seja, não há internamento dos toxicodependentes).

� Quando foi fundado?

O C.A.T. foi fundado em 1977. Na época funcionava como centro de estudos e profilaxia de Drogas, sendo completamente independente, contrariamente ao que se passa nos dias de hoje, que depende do Ministério da Saúde.

� Membros do C.A.T.:

I.D.T.

U.P. C.A.T. C.D.T. U.T. U.D. C.T.

Page 19: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

18

― médicos: -4 psiquiatras -2 médicos de clínica geral; ― psicólogos clínicos;

― técnicos de serviço social (que têm como função a elaboração de relatório, acompanhamento das doenças, atendimento e apoio às famílias);

― enfermeiros. � Afluência de adolescentes:

Os consumos dos adolescentes são geralmente, haxixe, pastilhas, as chamadas drogas recreativas. Quanto à heroína, não é muito consumida nesta faixa etária (a população heroínomana é cada vez mais envelhecida). Assim, tendo em conta que esta instituição “trabalha” com consumidores de drogas pesadas, os adolescentes são, normalmente, encaminhados para a C.D.T..

� Como é feito o tratamento?

O tratamento reduz-se fundamentalmente ao acompanhamento com Psicólogos e Psiquiatras, e só no caso destas terapias não resultarem é que se recorre às chamadas terapias de substituição, onde é utilizado a metadona, substância semelhante à heroína, e que só é utilizada em casos em que é difícil haver reabilitação.

� Então, qual o objectivo da terapia de substituição?

Tem como objectivo a redução de riscos, isto é, evitar a prostituição, a transmissão de doenças infecto-contagiosas e a marginalização da sociedade.

� O que é feito nos casos de tratamento com sucesso? Há uma preocupação na reinserção dos utentes no meio social. Para tal, são encaminhados para programas de emprego “protegido”, como o caso do projecto Vida-Emprego (programa que visa potenciar a reinserção social e profissional de toxicodependentes como parte integrante e fundamental do processo de tratamento).

Page 20: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

19

Dos dados estatísticos cedidos pelo C.A.T. , seleccionámos os mais relevantes no nosso estudo, e apresentamo-los em gráficos:

0 200 400 600

Género

MasculinoFeminino

fig. 1: Género dos utentes.

0

100

200

300

400

500

600

dos 0 aos14

dos 15aos 19

dos 20aos 24

>24

Idade dos utentes

totalmasculinofeminino

fig. 2: Idade dos utentes.

Page 21: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

20

Escolaridade

1% 9%

41%

16%

12%

4%

17%

Nunca foi à Escola /Nunca completou o 1ºCiclo1º Ciclo completo (antiga 4ª Classe)

2º Ciclo completo (6ºAno)

3º Ciclo completo /Equivalente (9º Ano)

Secundário completo/ Equivalente (12ºAno)Bacharelato /Licenciatura

Desconhecido

fig. 3: Grau de escolaridade dos utentes.

0

50

100

150

200

250

300

Actividade Estudante

FormaçãoProfissional(Remunerada)Empregado (tempointeiro ou parcial)

Desempregado/àprocura de emprego

Inactivo Económ.(Pensionista,inválido, domést.)Outro

fig. 4: Actividade laboral.

Page 22: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

21

161

2 3 0 7

481

0

100

200

300

400

500

Situação de residênciaHabitação Condigna

HabitaçãoDegradada

Centro de Abrigo

Rua

Instituições (Prisão /Clínica)

Desconhecido

fig. 5: Situação de Residência dos utentes.

Tratamentos Anteriores

9%

17%

74%

SimNãoDesconhecido

fig. 6: Percentagem de utentes que já esteve em tratamento. Pela análise dos gráficos acima apresentados, podemos concluir que a quantidade de utentes do sexo masculino é o quádruplo da quantidade dos de sexo feminino. Podemos constatar, sem grande surpresa, que a maioria dos utentes tem mais de 25 anos; note-se que estes já estão em

Page 23: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

22

tratamento, isto é, não só experimentaram na adolescência (ou não), como passaram para as drogas pesadas (heroína, cocaína…). Muitos dos utentes não exercem nenhuma actividade, talvez a tenham perdido devido ao seu estado físico e psíquico; muitos também ainda mantêm o emprego ou já foram reinseridos na sociedade. Dos casos conhecidos, a maior parte vive em habitação condigna. Ainda podemos dizer que uma parte significativa esteve anteriormente em tratamento, o que quer dizer que têm recaídas, pois é… “entrar” é fácil mas “sair”… Na sequência desta entrevista e aproveitando as informações cedidas pela secção de jornalismo da Associação Académica de Coimbra (A.A.C.), incluímos aqui um testemunho de um indivíduo integrado no projecto Vida-Emprego… Reinserção na primeira pessoa Nascer de novo Aos 14 anos, João (nome fictício) viu-se envolvido num mundo com regras e comportamentos muito próprios. Durante muito tempo, a vida passou-lhe ao lado, para se tornar semelhante a tantas outras. Hoje, é com pesar que olha para o passado. “Sei que perdi muitas coisas, agora vou ver se as encontro. Ainda sonho com a vida.”, diz enquanto acende mais um cigarro. Estamos sentados numa mesa de café, frente a frente. No entanto, o olhar dele viaja, recua 25 anos no tempo. Lembra-se que, tal como tantos outros, começou a fumar marijuana por pura curiosidade. Da erva a outros estupefacientes mais pesados foi um passo, mas garante que “sempre soube que a droga não levava a lado nenhum”. O resto da história ganha contornos familiares: viveu nas ruas, roubou a família e os amigos, esteve preso. E foi na prisão que decidiu mudar de vida. Não é que não tivesse tentado antes, mas “faltava-me sempre a coragem e os meios para sair da droga”. João respira fundo e diz ser impressionante como nunca faltava heroína na prisão. Talvez por isso, cada vez que pedia ajuda, esta era “insuficiente”. Mas um dia “atingiu o fundo do poço”, como gosta de dizer. A morte do pai veio dar-lhe a força de que precisava para apostar numa cura. E assim foi. Depois de sair da prisão, João iniciou um tratamento de desintoxicação e foi logo encaminhado para o Programa Vida-Emprego. E é já com um brilhozinho nos olhos que João fala desta nova etapa da vida e da reviravolta de “180

Page 24: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

23

graus” que ela deu. O projecto fez com que tivesse entrado “numa reinserção a sério” e com uma verdadeira oportunidade de “começar uma nova vida”. Depois de 25 anos a viver no mundo da droga, João tinha agora em mãos o ensejo de voltar a ser parte integrante da sociedade. Recomeçar a viver não foi fácil, pois além do emprego, ele próprio teve que se adaptar às pessoas, e as pessoas a ele. A discriminação foi um dos primeiros obstáculos com que João teve de aprender a lidar. É que conviver com um ex-toxicodependente levou a “que desconfiassem de mim no início”. Mas o desconforto revelou-se passageiro. Diz João que “há medida que o tempo foi passando, as pessoas foram ganhado confiança e aceitaram-me”. Hoje, este ex-toxicodependente tem uma vida estável e consegue manter-se afastado de quaisquer drogas. Isto é, além da metadona que toma diariamente e do cigarro que de vez em quando insiste em fumar, o trabalho na Câmara Municipal de Coimbra é, de resto, o grande vício e a grande terapia de João. “A droga mexe muito com uma pessoa”. João tem consciência de que já não conhece o jovem de 14 anos, esse ficou para trás. A pessoa que é hoje é um filho da droga. Quase que como um paradoxo, é com um tom visivelmente emocionado que João diz que perdeu “muitos sentimentos, muitas emoções” e agora não consegue chorar. O olhar dele perde-se com as pessoas que passam na rua, enquanto repete que “não consigo chorar”. “A droga deixou-me marcas irreversíveis. Não sei amar ninguém”, continua. João é casado com uma ex-toxicodependente e tem uma filha de 11 anos. Limpo de quaisquer substâncias e com uma vida assente, João agradece ao Programa Vida-Emprego por lhe ter vindo a devolver a auto-estima. Diz que já não é “um tipo mau”, mas que ainda lhe faz alguma confusão ”enfrentar a sociedade”. E acrescenta: “Só eu sou o culpado por aquilo que passei”. Talvez por isso, quando lhe perguntei que palavra usaria para definir esses 25 anos, ele me respondeu “deserto”. Talvez por isso João diga tão convictamente que “drogas nunca mais. Não vou dizer desta água não beberei, mas já bebi dela durante muito tempo e não quero voltar a fazê-lo”.

Page 25: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

24

U.P.

Por sugestão do Doutor Paulo Abrantes, director do CAT, e da Doutora Marta, psicóloga da C.D.T., dirigimo-nos à Unidade de Prevenção para conhecermos o trabalho desenvolvido por esta instituição. Tivemos o prazer de falar com a Doutora Cristina Roma, directora desta unidade que nos elucidou sobre o verdadeiro papel aqui desempenhado. Ao contrário do que erradamente se pensa, a U.P. não contacta directamente com toxicodependentes, “trabalhamos no “antes de”, da prevenção”. Todas as actividades são o resultado de protocolos feitos entre o I.D.T. e as Câmaras Municipais, sendo financiadas pelo Ministério da Saúde. No entanto, estas actividades não se realizam sem o pedido prévio das escolas. São acções pontuais, integradas por exemplo no plano da Área-Escola e a sua duração é estipulada de acordo com o número de situações de risco (se há consumo ou não), avaliação essa feita pela psicóloga da respectiva escola. Nas secções realizadas, os adolescentes têm a oportunidade de serem ouvidos. Colocam dúvidas do tipo: “Se eu consumir isto o que é que me acontece?” e afirmações como: ”O cannabis não faz mal!”, desencadeiam “confrontos” com a U.P.. Esta tem o papel de esclarecer e clarificar vários aspectos nomeadamente o facto de as drogas leves trazerem muitos malefícios: destruição dos neurónios, alterações nos órgãos genitais e em caso de gravidez o futuro bebé poderá nascer desmembrado. Para além disso, a U.P. trabalha o auto-conceito, a auto-estima, as competências individuais e sociais e a própria construção da identidade. Para esse fim, são desenvolvidas actividades lúdicas como, por exemplo, jogar ao “Gostarzinho” (a partir dos 6/7 anos), “Aldeia do Gostar” (a partir dos 12 anos) e “Flor da Idade” (a partir dos 14 anos) (jogos ― cuja autora é Graça Gonçalves ― que foram considerados pela U.E. como sendo dos melhores jogos didácticos). Estes jogos visam prevenir de forma indirecta, sendo valorizados os sentimentos e os afectos já que são constituídos por um conjunto de questões que conseguem fazer com que os jovens exteriorizem as suas experiências, algo quase impossível num diálogo directo.

A U.P. pretende ainda incutir nos adolescentes o sentido da responsabilidade:” Se te drogares és responsável por isso.” Uma das escolas referidas pela Dra. Cristina Roma foi a Escola D. Dinis, tendo sido elogiada pelo facto de nem sequer ser necessária uma

Page 26: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

25

grande intervenção por parte da U.P. já que os professores têm muita formação a nível da toxicodependência. Inclusivé foi aí criado um gabinete (de nome apelativo) para atendimento de jovens. Um dos maiores problemas da U.P. na sua intervenção nas escolas é o facto de só se poderem realizar actividades entre Setembro e Março devido à realização de testes, provas globais e exames, depois deste período.

Page 27: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

26

Entrevistas Conversámos com alguns jovens no sentido de compartilharem

connosco a sua experiência. Aqui ficam alguns testemunhos…

Com que idade começaste a… -sair…?

-beber…? -fumar…?

Por influência de quem? Já experimentaste drogas?

Qual a sensação?

(21 anos) “Experimentei fumar aos 13anos, com a minha prima, quando saíamos. Aos 17 anos comecei a fumar nos (22 anos) fins-de-semana e em festas e “Comecei a sair aos 14 anos quando dei por mim aos 18 com os meus irmãos e seus já estava dependente (…). Comecei amigos… Comecei a beber aos 16 a beber aos 14, no meu grupo, por influência e continuo porque por influência dos amigos; continuo gosto… experimentei tabaco porque gosto e para me divertir com os meus irmãos durante a mais. Também por influência e infância.(…) e comecei a fumar curiosidade, aos 20 anos, aos 15 e não consigo deixar por experimentei charro e erva. completo. Aos 17, experimentei Deu para esquecer os problemas com os meus irmãos, haxixe e “entrar” num mundo só meu!...” (charro)… além disso, também

já experimentei pólen, erva e bolota. Continuo a consumir no

meu grupo quando há. Faço isto para me libertar de alguns

preconceitos; ver a vida de outra perspectiva; esquecer os problemas; divertir-me e por ritmo ( isto é, fumando alguns dias seguidos, ao fim desses dias, já apetece…) mas, paro durante algum tempo para depois na próxima ficar com a “moca”. Às vezes, fico poético (…) outras

nem sequer me apetece falar…”

Page 28: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

27

(22 anos) “Experimentei tabaco aos 9 anos por influência dos amigos (…) mas só aos 20/21 comecei a fumar regularmente… talvez devido a alguns problemas que tinha(…). Comecei a beber álcool aos 15 anos no meu grupo, e continuo a beber porque gostei (…) já experimentei charro e erva (em cachimbo), só experimentei!

(20 anos) “Experimentei tabaco aos 11/12 anos

com amigas minhas, todas a primeira vez. Depois comecei a fumar em festas. Agora estou agarrada. Aos 16, comecei a beber

e experimentei charro, também já experimentei erva, pólen, cogumelos,

pastilhas, ecstasy e md.(…) Experimentei porque me apeteceu;

para não morrer ignorante… O que “bateu” mais foi os cogumelos,

porque é um alucinogénio.

“A verdade é que tudo começa com uma passa do amigo, depois nos dias de festa, depois todos os dias, chegamos às pesadas e depois…

… depois tudo começa a escurecer, a ficar cada vez mais fundo… até que chegamos a uma altura em que

nada nem ninguém nos pode ajudar…”

Page 29: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

28

Cannabis

Alucinogénio

Estimulantes

Narcóticos

Drogas Haxixe Liamba LSD Ecstasy Cocaína Heroína Calão

Hax, Afegão, merda, Líbano

Boi, cola doce, erva, merda, banana

ácido, pills, cones

Pastilha, droga do

amor, comprimido

Coca, coco

Heróica, cavalo, pó,

açúcar, chnouk,

heroa neve

Uso médico - - - - Anestesiante - Alguns produtos comercializados

-

-

-

-

Coboroitaltina Sadaritosil

-

Dependência física

Grau desconhecido

-

Moderada Possível Grande

Dependência psíquica

Moderada

Grau desconhecido

Moderada

Grande

Tolerância - - - - Duração dos efeitos

2 a 4 horas

10 horas

6 a 8 horas

2 horas

3 a 6 horas

Modos de administração

Oral, fumada

Oral, injectada,

inalada

Oral

Injectada,

inalada

Oral, injectada, inalada, fumada

Lesões orgânicas

Não

Sim

Não

Sim

Não

Possíveis efeitos

Euforia, desinibição, aumento do

apetite, comportamento descoordenado

Ilusões e alucinações,

fraca percepção do tempo e do

espaço

Náuseas, perda da noção do espaço, euforia,

aumento de energia,

sentimentos de empatia e vontade

de comunicar

Crescente estado de insónias e excitação,

pupilas dilatas,

aumento de pulsação e

pressão sanguínea,

falta de apetite

Euforia, sonolência, depressão

respiratória, pupilas

contraídas e náuseas

Efeitos de doses excessivas

Fadiga, paranóia, possibilidade de

psicose

Viagem mais longa e intensa, psicose e morte em alguns casos

Taquicardia, hipertermia,

vómitos, desmaios, ansiedade, depressões profundas,

estados paranóides

Agitação, aumento de temperatura, alucinações, convulsões e

morte em alguns casos

Respiração lenta e

superficial, pele fria e húmida,

estado de coma e

possibilidade de morte

Síndrome de abstinência

Insónia, hiperactividade, diminuição do

apetite

Não confirmado

Apatia, longos períodos de grande instabilidade,

depressão, desorientação

Olhos lacrimosos,

bocejos, instabilidade

Quadro 2: Quadro sinóptico das principais drogas consumidas pelos adolescentes.

Page 30: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

29

Conclusão/Auto-crítica Escolhemos o tema a “Toxicodependência” porque, na nossa opinião é um dos maiores flagelos da actualidade e não podemos ficar indiferentes perante esta problemática cada vez mais comum nas classes etárias mais jovens. Na nossa opinião, empenhámo-nos vivamente na realização deste trabalho e todos os elementos do grupo tiveram uma acção construtiva e participativa na sua edificação. Na globalidade, os objectivos gerais e específicos, expressos no plano, foram atingidos. No entanto, tivemos dificuldade em organizar e seleccionar a informação adquirida, já que a Toxicodependência é um tema tão vasto que dificulta a focalização estrita num determinado ponto. Conseguimos obter informações sobre os principais tipos de drogas consumidas na adolescência (ecstasy e haxixe, as chamadas “drogas recreativas”, pois são as drogas economicamente mais acessíveis cuja origem é infelizmente desconhecida pela maioria dos adolescentes); as principais causas que levam ao primeiro consumo (influência dos companheiros ou mera curiosidade); a influência do grupo ao qual o adolescente pertence e o papel preventivo das escolas. Uma boa prevenção no meio escolar começa por uma reflexão levada a efeito com o pessoal escolar para que não haja equívocos sobre o que significa as toxicodependências e que compreendam que as drogas põem em jogo o sentido da vida. Passa a seguir, pela organização de debates, com os alunos, a fim de que estes se possam exprimir livremente sobre as suas preocupações e tenham a possibilidade de obter uma resposta para as suas dúvidas e assim desenvolverem o seu espírito responsável e a sua capacidade de autonomia. Por vezes, o facto da escola não ser aliciante gera falta de interesse por parte dos alunos. Por isso, há necessidade de tornar mais agradáveis e mais lúdicos os espaços que existem na escola. Por outro lado, é fundamental uma boa relação pedagógica. Não é imperativo que os professores sejam especialistas nos problemas da droga, mas como educadores profissionais devem saber ler sinais de risco (mudanças acentuadas no comportamento escolar – quebras bruscas nas notas do aluno e aumentos nas faltas), e em função desse conhecimento saber como agir, como orientar e como ajudar. E, qual a influência do grupo? O relacionamento com os colegas ocupa um lugar-chave no desenvolvimento do jovem, na sua experiência pessoal e no seu próprio crescimento psicológico. Não nos esqueçamos que os adolescentes influenciam e imitam os outros. Se o grupo tem bons ideais, o adolescente é influenciado pela positiva, mas se o seu grupo é o passaporte

Page 31: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

30

para entrar no ritual da droga, o adolescente começa a manifestar desinteresse pelas actividades específicas desta idade. À partida, pensámos ser possível dialogar com adolescentes em situação de risco, mas tal não se concretizou pois todos sabemos que se trata de um assunto delicado e que envolve questões de confidencialidade. Por outro lado, e ao contrário do que tínhamos planeado, não realizámos questionários devido a todas as burocracias respeitantes à autorização, à dificuldade em elaborar questões (já que, se por acaso o aluno nunca tivesse experimentado, ele seria levado a pensar que experimentar é completamente natural; porém no caso de já ter experimentado poderia não confessar com receio de os dados virem a ser divulgados) e ao facto de termos investido noutras actividades. A informação cedida pela P.S.P foi muito limitada já que determinadas estatísticas relacionadas com consumo e tráfico de droga não podem ser fornecidas a cidadãos não directamente ligados com o serviço judicial. Mas apesar destas limitações, foi-nos claramente explicado o papel da P.S.P nas escolas. Na nossa opinião, julgamos contraditória a visão das entidades judiciais face à ideia da comunidade em geral no que se refere aos malefícios das drogas leves (“ O cannabis não faz mal”_ chefe Monteiro). Este facto torna-se compreensível uma vez que para esta entidade, as drogas pesadas são o alvo mais problemático. No C.A.T, para podermos ser recebidos pelo director deste centro foi solicitada a realização de uma carta. Da entrevista com o Dr. Paulo Abrantes ficámos esclarecidas sobre o funcionamento geral do I.D.T e que “o C.A.T é apenas uma parcela”. Ficamos ainda a saber que há grande afluência a estes centros embora a afluência dos adolescentes seja pouco significativa. Quanto ao debate (inserido no âmbito de:”Coimbra, Capital Nacional da Cultura”) a que assistimos ficámos com uma ideia geral sobre a Toxicodependência, a nível científico. Lamentamos apenas a ausência nesta conferência do psicólogo Carlos Amaral Dias, cuja prestação iria, certamente, de acordo com os objectivos do nosso trabalho. No que se refere às escolas visitadas, notamos uma grande semelhança nas exigências impostas para a “passagem” de questionários, entre as escolas Jaime Cortesão e José Falcão (escolas públicas). Já quanto ao modo como fomos recebidos, existe uma grande assimetria: na escola de Jaime Cortesão houve uma evidente falta de interesse e disponibilidade demonstrada pelos membros do Conselho Executivo, ao passo que na de José Falcão foi notável a amabilidade manifestada pela psicóloga com quem dialogámos. Este diálogo foi extremamente importante pois, foi por nós considerado o contributo mais valioso da nossa pesquisa.

Page 32: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

31

A nível de estratégias, optámos por entrevistas abertas pelo facto de não sabermos à partida que informações nos poderiam ser dadas, e até que ponto poderiam ser úteis. Estamos conscientes que houve, da nossa parte, algumas falhas que se traduzem na falta da síntese de informação, da expressão e conexão de ideias que se reflectiu na elaboração deste relatório, daí que tenhamos decidido sistematizar os dados em esquemas ao invés de textos. Para finalizar, aqui deixamos algumas ideias que consideramos importantes e que devemos ter em conta perante esta problemática que é a Toxicodependência na Adolescência: _ Os pais ou encarregados de educação devem ser informados, corresponsabilizados e implicados na busca de alternativas; _ A escola deve mostrar aos jovens os verdadeiros prazeres da vida, estimulando-os para o futuro e ajudando-os a idealizar projectos/planos de vida; e a nós, como futuros professores/ educadores cabe-nos a responsabilidade de consciencializar e alertar os alunos para os malefícios das drogas. Mas há que ter em conta que uma boa prevenção passa principalmente por preconizar sentimentos de auto-confiança, responsabilidade, auto-estima e dinamismo, tendo por lema:

“Promoção dos comportamentos saudáveis em vez de prevenção de comportamentos de risco.”

Page 33: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

32

Bibliografia

Avanizini, G.; 1980; O Tempo da Adolescência; Edições 70; Claes, M.; 1985; Os Problemas da Adolescência; Lisboa/São Paulo;

Verbo; Coelho, Manuel – Pinto; Ser Herói para a Heroína; Frasquilho, Maria Antónia; 1996; Comportamentos – problema em

Adolescentes; Machado, Ernesto M.; Como evitar a droga: manual prático de

prevenção; Manual Pedagógico; 1988; Os professores e a droga; Colecção

Projecto Vida; Lisboa; Marques, Ana Paula; 1996; Consumo de drogas em meio escolar –

linhas de orientação e actuação; Lisboa; edição Programa de promoção e educação para a saúde;

Nowlis, Helen; A verdade sobre drogas; Patrício, Luís Duarte; 1995; Droga de Vida, Vidas de Droga; Lisboa;

Bertrand; Pina, Maria Edite Prata; O Consumo de drogas em meio escolar; Sampaio, Daniel; 1998; Vivemos livres numa prisão; Lisboa; Caminho; Sensi, Maria Grazia; Drogas: posso fazer uma pergunta; Sprinthall,Norman A., Collins, W. Andrews; 1994; Psicologia do

Adolescente, uma abordagem desenvolvimentista; Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian;

Walder, Patrick; 1999; Ecstasy & C.:tudo sobre as drogas de diversão;

Também fizemos pesquisa em alguns jornais e visitámos alguns sites:

Jornal A Cabra – Jornal Universitário de Coimbra; nº 78; Revista Fórum Estudante; nº 144; http://www.drogasnao.com http://www.drogas.pt http://saúde.sapo.pt/gKBH http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/materias/drogas/drogas-0007.htm http://padrejulio.do.sapo.pt/droga/ http://www.ladonegro.net.html

Page 34: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de ...guy/psiedu1/Medo.pdf · O fim da adolescência corresponde justamente à capacidade de atingir a autonomia, ... Resumidamente,

33

Anexos