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FACULDADE BOA VIAGEM CPPA - Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração MPGE - Mestrado Profissional em Gestão Empresarial CRISTINA CAVALCANTE TAVEIRA A ATITUDE DO GESTOR DE PEQUENAS EMPRESAS DE PANIFICAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO DE GESTÃO DE PESSOAS À LUZ DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO RECIFE 2009

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FACULDADE BOA VIAGEM

CPPA - Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração

MPGE - Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

CRISTINA CAVALCANTE TAVEIRA

A ATITUDE DO GESTOR DE PEQUENAS EMPRESAS DE

PANIFICAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO DE GESTÃO DE

PESSOAS À LUZ DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

RECIFE

2009

FACULDADE BOA VIAGEM

CPPA - Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração

MPGE – Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

CRISTINA CAVALCANTE TAVEIRA

A ATITUDE DO GESTOR DE PEQUENAS EMPRESAS DE

PANIFICAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO DE GESTÃO DE

PESSOAS À LUZ DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

ORIENTADORA: LÚCIA MARIA BARBOSA DE OLIVERIA, Ph.D.

RECIFE

2009

Faculdade Boa Viagem

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração- CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes,

o acesso a dissertação do Mestrado Profissional em Gestão empresarial do Centro de Pesquisa

e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

"Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e

indiretas);

"Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência,

restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

"Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o

texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave

ou custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as

condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração.

_________________________________________________________________

Título da Dissertação: A Atitude do Gestor de Pequenas Empresas de Panificação da Região

Metropolitana do Recife em Relação ao conhecimento de Gestão de Pessoas à Luz do Mito da

Caverna de Platão.

Nome do Autor: Cristina Cavalcante Taveira

Data da aprovação: 27/07/2009

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2 (X)

Grau 3

Recife, 27 de julho de 2009

---------------------------------------

Assinatura do autora

CRISTINA CAVALCANTE TAVEIRA

A ATITUDE DO GESTOR DE PEQUENAS EMPRESAS DE

PANIFICAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO DE GESTÃO DE

PESSOAS À LUZ DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

ORIENTADORA: LÚCIA MARIA BARBOSA DE OLIVERIA, Ph.D.

RECIFE

2009

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de

Mestre em Administração do Centro de

Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração – CPPA da Faculdade Boa

Viagem

Taveira, Cristina Cavalcante

A atitude do gestor de pequenas empresas de panificação da região metropolitana do Recife em relação ao conhecimento de gestão de pessoas à luz do mito da caverna de Platão / Cristina

Cavalcante Taveira. – Recife: O Autor, 2009. 119 folhas : figuras; quadros Dissertação (mestrado) – Faculdade Boa Viagem. Administração, 2009.

Inclui Bibliografia e Apêndices.

1. Gestão de Pessoas 2. Pequenas Empresas 3. Atitude 4. Recursos Humanos 5. Comportamento Organizacional 6. Mito da Caverna de Platão I. Título.

CDU 658.3

T 232a FBV

Aos meus pais que são os melhores professores da escola da vida que

Deus poderia ter me dado.

À Fernanda, minha filha amada, planejada e desejada desde sempre.

AGRADECIMENTOS

À Deus, em primeiro lugar, não apenas, pela vida, mas pelas oportunidades de

crescimento, desenvolvimento e compreensão que sempre me proporcionou.

Aos meus pais, Fernando e Clesilma, que com o imenso amor que me guardam sempre

estão ao meu lado e derramam sobre mim o verdadeiro amor e apoio incondicional. Tenho a

certeza que não chegaria aqui sem a ajuda de vocês que transcendeu e muito o “paitrocínio”.

À minha filha, Fernanda, companheira tão amada e especial. Pela imensa compreensão

para a sua idade em “dividir” mamãe com este projeto. Sei que, também, tantos outros vão

surgir na sua vida e quero que esteja certa que ao seu lado sempre estarei e que seus sonhos

serão sempre, para mim, nossos.

Aos meus professores, sobretudo da graduação (UFPE) e do mestrado (FBV) pela

imensa generosidade de compartilhar comigo o conhecimento que já alcançaram. Em especial

atenção aos professores: Pedro Lincoln Mattos, Lillian Outtes, Jairo Dornelas, James Falk,

Sônia Calado, Madiana Rodrigues, Tarcísio Patrício, Walter Moraes, André Leão, Salomão

Farias, Marcos Primo, Eleonora Carvalho e Pierre Lucena, entre outros que contribuíram para

a realização deste projeto.

Aos meus muitos amigos que nada mais são do que a família que eu escolhi. Sou-lhes

imensamente grata pelo apoio, cuidado, conselhos e “puxões de orelha” que generosamente

sempre me dão. A distância geográfica e os meus sucessivos “nãos” aos encontros estes

últimos anos não foram capazes de diminuir o carinho que existe entre nós. Muito obrigada,

aos companheiros: Eduardo Matos, Bráulio Mecchi, Íris Foster, Anderson Silva, Rafaella

Vilaça, Gláucio Maciel, Luiz Gustavo Guimarães, Márcio Luiz, Danielle Meira, Luciano

Montenegro, Danielli Tenório, Isabella Moura, William Gutemberg, Alcione Donida, Bia

Fink, Francisco Dinarte, Roosevelt Suna, Alessandro Alves, Antônio Augusto, Nelson

Carvalho, Carlos Eduardo Aroxa, Tatiana Rollo, Aline Alves, Ricardo Dowsley, Keliane

Alves, Rogério Pinheiro, Manuella Ramos, Sheila Akemi, André Ferreira, Nilson Carvalho,

João Paulo Ramos, Ivan Alecrim, Cláudia Patrícia, entre tantos que contribuem para o meu

crescimento. Sem a presença de vocês, certamente, eu também seria muito pouco.

À vovó Creusa (in memorian) que tanto me faz falta e que tenho certeza que de onde

estiver vibrou com mais esta conquista.

Aos meus entrevistados que generosamente compartilharam comigo suas experiências

profissionais e de vida.

Aos meus colegas de mestrado, em especial ao núcleo de Gestão de Pessoas da Turma

3: Carolina Ramalho (Carol), Cristiane Andrade (Cris), Michelle Maurício (Mi) e Luís Carlos

(Lukar) pela seriedade e dedicação com que participaram e fizeram deste encontro tão

especial.

À Albina que tanto nos forneceu sua mão amiga, os olhos atentos e os ouvidos

compreensivos nesses meses de realização e luta. O nosso porto seguro nas dúvidas e nas

horas difíceis.

À minha orientadora, minha guia e meu norte nessa maravilhosa e longa viagem,

Lúcia Barbosa, pela generosidade e entendimento em me ajudar a “organizar” melhor os meus

pensamentos e, principalmente, pela sua maneira de transmitir conhecimento baseada na sua

capacidade de amar.

Enfim, a tudo e a todos que estiveram presentes em minha vida até hoje pela

contribuição de qualquer natureza que forneceram e que certamente colaboraram para que eu

chegasse até aqui e desejasse ainda muito mais.

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo a compreensão da atitude dos líderes de pequenas empresas do

setor de panificação em relação à Gestão de Pessoas à luz do mito da caverna de Platão com

base na epistemologia do conhecimento. Trata-se de um estudo exploratório qualitativo em

quatro panificadoras da Região Metropolitana do Recife. Os instrumentos de coleta de dados

foram: aplicação de questionário sócio-demográfico e entrevista semi-estruturada. Os dados

foram submetidos à análise de conteúdo categorial temática. As informações obtidas indicam

que, de acordo com a alegoria da caverna, três das quatro organizações se encontram no nível

dois (pístis e dóxa) e uma se encontra no processo de transição entre esse e o nível três

(dianóia). As “novas” maneiras de aquisição do conhecimento (consultorias, cursos

específicos, palestras e redes de relacionamento), em detrimento das “tradicionais” (cursos de

graduação e pós-graduação) parecem contribuir para uma possível mudança de “atitude” dos

gestores deste segmento em relação à Gestão de Pessoas.

PALAVRAS-CHAVES: atitude; pequenas empresas; gestão de pessoas; recursos humanos;

conhecimento; comportamento organizacional; “mito da caverna de Platão”.

ABSTRACT

This study aimed to comprehend attitude of the leaders in small businesses from the bakery

sector in accordance with the Human Resources Management approach, considering the myth

from Plato’s cave and based on the epistemology from the knowledge. It was adopted a

qualitative exploratory study of case into four bakeries from the Metropolitan Region of the

City of Recife. The instruments for data collection were: implementation of socio-

demographic questionnaire and semi-structured interview. Data were submitted to analysis of

categorical thematic content. The information obtained indicates that, according to the

allegory of the cave, three of the four organizations are at level two (pístis and dóxa) and one

is in the process of transition between this level and level three (dianóia). The "new" ways of

knowledge acquisition (consultancy, specific courses, conferences and relationships

networks), adopted in priority than the "traditional" (undergraduate courses and postgraduate

studies) seem to contribute to a possible "attitude" changing of the managers in this sector

under the Management of People approach.

KEY WORDS: attitude; small business; human resources management; knowledge;

organizational behavior; myth from Plato’s cave.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação do Pensamento de Platão ............................................................... 26

Figura 2 – A Premissa da Criação de Valor de RH ................................................................. 32

Figura 3 – Análise da Atitude .................................................................................................. 52

Figura 4 – Fatores Críticos de Sucesso do Negócio ................................................................ 73

Figura 5 – Recrutamento e Seleção ......................................................................................... 80

Figura 6 – Focos em Treinamento ........................................................................................... 81

Figura 7 – Avaliação de Desempenho ...................................................................................... 83

Figura 8 – Perfil de Remuneração e Benefícios ...................................................................... 87

Figura 9 – Autoavaliação dos Entrevistados ............................................................................ 92

Figura 10 – Categorização Temática ........................................................................................ 95

Figura 11 – Graus de Conhecimento X Gestão de Pessoas ...................................................... 98

Figura 12 – Alegoria da Caverna ............................................................................................. 99

Figura 13 – Processo de Ascensão ao Conhecimento ........................................................... 101

Figura 14 – Epistéme ............................................................................................................. 104

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Significados dos Símbolos do “Mito da Caverna” ................................................ 23

Quadro 2 – Interpretações do “Mito da Caverna” .................................................................... 24

Quadro 3 – Desafios Competitivos Vinculados à GEP ........................................................... 31

Quadro 4 – Caracteres da Estrutura Simples ........................................................................... 46

Quadro 5 – Fatores Relacionados ao Segmento ...................................................................... 61

Quadro 6 – Formas de Aquisição do Conhecimento ............................................................... 70

Quadro 7 – Subfatores de Funções/ Papel de Gestão de Pessoas ............................................ 78

Quadro 8 – Dificuldades Percebidas na Gestão de Pessoas .................................................... 91

SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................................... 13

1.1. Problematização ............................................................................................................. 13

1.2. Objetivo Geral ................................................................................................................ 17

1.3. Objetivos Específicos .................................................................................................... 17

1.4. Justificativas ................................................................................................................... 18

1.4.1. Justificativa Prática ............................................................................................. 18

1.4.2. Justificativa Teórica ............................................................................................ 19

2. Fundamentação Teórica..................................................................................................... 21

2.1. Introdução ...................................................................................................................... 21

2.2. O “Mito da Caverna” de Platão ..................................................................................... 21

2.3. História, Percepção e Atitude ........................................................................................ 27

2.4. Gestão de Pessoas .......................................................................................................... 30

2.5. Processos Básicos de Recursos Humanos ...................................................................... 36

2.6. Liderança ........................................................................................................................ 39

3. Metodologia ......................................................................................................................... 42

3.1. Posicionamento Epistemológico .................................................................................... 42

3.2. Caracterização do Tipo de Pesquisa .............................................................................. 44

3.3. Delimitação da Pesquisa: População, Amostra .............................................................. 45

3.3.1. População ............................................................................................................ 45

3.3.2. Amostra ............................................................................................................... 47

3.4. Coleta de Dados ............................................................................................................. 48

3.4.1. Entrevista ............................................................................................................ 49

3.4.2. Questionário de Dados Sócio-Demográficos ..................................................... 50

3.5. Análise de Dados ........................................................................................................... 51

3.6. Limites e Limitações ...................................................................................................... 52

3.6.1. Limites ................................................................................................................ 53

3.6.2. Limitações .......................................................................................................... 53

4. Análise e Discussão dos Dados ........................................................................................... 54

4.1. Apresentação e Análise dos Achados .................................................................... 54

4.2. Discussão dos Achados ......................................................................................... 97

5. Conclusões e Sugestões ..................................................................................................... 105

5.1. Conclusões .................................................................................................................... 105

5.2. Sugestões ..................................................................................................................... 105

5.2.1. Ação .................................................................................................................. 109

5.2.2. Pesquisas ........................................................................................................... 110

6. Referências Bibliográficas ............................................................................................... 111

Apêndice A – Questionário de Dados Sócio-Demográficos .............................................. 118

Apêndice B – Roteiro de Entrevista .................................................................................... 119

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Problematização

O pão é um alimento que faz parte da humanidade desde a pré-história quando o

homem observou a germinação de diversos grãos entre eles o trigo. Entretanto, foram os

egípcios que há 6000 anos descobriram a fermentação e, consequentemente, o próprio pão tal

qual é conhecido atualmente. Desde a sua descoberta até os dias de hoje esse produto sempre

esteve ligado à vida do ser humano em diversos aspectos: econômico, político, religioso,

artístico e cultural (ABIP, 2009).

O setor de panificação atende diariamente, no país, em média, a 40 milhões de

pessoas. Em 2008, foi identificado um crescimento nominal de 11,04% nas vendas no país

(PROPAN, 2009). Não estão incluídos nesse quantitativo os números de grandes redes ou

mesmo pequenos empreendimentos que se utilizam da “estratégia do pão” para alavancar a

venda de outros produtos.

As padarias são consideradas estabelecimentos especializados na “arte” desse produto

e independente do tamanho ou sofisticação fazem parte da rotina de consumo das pessoas, não

apenas, no produto principal, mas, também, pelo diversificado mix que pode ser encontrado

nessas empresas. Em Pernambuco, estão instalados 1.663 estabelecimentos e se observou um

aumento de 10,14% nas vendas em 2008 (PROPAN, 2009).

No Brasil, existem 5,7 milhões de organizações, 89,8% destas possuem natureza

comercial. Em relação ao porte, considera-se que uma pequena empresa possui entre 10 e 49

pessoas ocupadas. Esse critério é adotado tanto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) quanto pelo Statistical Office of the European Communities (EUROSAT)

(IBGE, 2006).

As pequenas empresas são consideradas como um dos principais agentes de

desenvolvimento e crescimento econômico do país (VEIT; GOLÇALVES FILHO, 2007).

Segundo Mintzberg (1995), as organizações costumam possuir características próprias e

necessitam ajustar suas políticas e práticas à estrutura correspondente para obter eficiência e

eficácia.

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Os estudos em Administração, frequentemente, têm desconsiderado a importância das

empresas de pequeno porte. Grande ênfase é dada às pesquisas em grandes organizações

(TORRÈS; JULIEN, 2005). Questiona-se, entretanto, se esse mesmo conhecimento produzido

em grandes empresas pode ser “aplicado” nas menores. Pergunta-se, também, se a

padronização de práticas gerenciais entre empresas inseridas em situações distintas é um

procedimento pertinente.

O conhecimento, de modo geral, não consiste em um produto acabado, estanque, ele

precisa estar adequado ao contexto (HANASHIRO, 2007). Sabe-se, porém, que mesmo entre

as empresas pequenas que tendem a possuir estruturas gerenciais menos complexas, é difícil

padronizar práticas, já que os fatores como localização, indústria, entre outros apresentam

extrema relevância (GILBERT; JONES, 2000).

A lógica da gestão de empresas de pequeno porte nem sempre é a eficiência

econômica. Líderes de pequenas empresas não atribuem sucesso ao seu negócio com base

apenas em fatores financeiros. Há outras recompensas consideradas importantes e que

influenciam o processo decisório, essa é apenas mais uma particularidade dessas organizações

(WALKER; BROWN, 2004).

O processo de gestão para fins de estudo e gerenciais pode ser subdividido em diversas

funções: Finanças, Operações, entre outras. Sabe-se, porém, que as pequenas empresas não se

apresentam de maneira divisionalizada e, sim, com uma característica própria denominada de

Estrutura Simples (MORGAN, 2000). Algumas organizações de pequeno porte, também,

configuram-se de forma ad hoc, essas são, entretanto, nítida minoria, e não foram observadas

no segmento de panificação.

Considera-se, dentre estas divisões, a Gestão de Pessoas (GP) como a função gerencial

que visa à cooperação dos indivíduos que atuam no contexto organizacional e também é

denominada Recursos Humanos (RH). Embora nem todas as empresas possuam um

departamento específico, o desenvolvimento das atividades de GP é de suma importância para

qualquer organização (GIL, 2001).

Dentre as inúmeras dificuldades de conhecimento, na gestão de pequenas empresas,

reconhece-se a Gestão de Pessoas como uma das mais importantes delas devido ao alcance

que possíveis deficiências nessa área podem causar às pessoas e às organizações envolvidas.

Encontram-se como principais entraves, nessa área, além da ausência de conhecimento do

gestor, o fato de a maior parte dos trabalhos acadêmicos enfatizar empresas de grande porte

(GILBERT; JONES, 2000).

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A Gestão de Pessoas atua através de aspectos conceituais e práticos para a promoção

de uma vida humana saudável e constituição de resultados legítimos de produtividade,

qualidade e desenvolvimento e competitividade sustentável para as organizações (LIMONGI-

FRANÇA, 2007). A efetiva contribuição de Recursos Humanos apenas ocorre, entretanto,

quando é capaz de agregar valor aos principais stakeholders (clientes, gerentes de linha,

empregados, acionistas) (ULRICH; BROCKBANK, 2007).

As práticas de GP, em pequenas empresas, são distintas daquelas concebidas para

grandes organizações. Não necessariamente, inclusive, precisam aderir ao método gerencial

tradicional, estruturado para grandes organizações (TORRÈS; JULIEN, 2005). A primeira

distinção que se faz notória entre pequenas e grandes empresas é que quem planeja e aplica as

políticas e práticas de GP nas pequenas e médias é o “dono” (GILBERT; JONES, 2000;

SOTO, 2008) ou mesmo um conjunto de pessoas, normalmente, constituídas por um grupo

familiar (AINSWORTH; COX, 2003).

É essencial que o indivíduo responsável pela Administração compreenda que qualquer

situação é capaz de gerar múltiplas interpretações. Apesar de dificilmente o ser humano ser

capaz de perceber, de maneira objetiva, todo “olhar” e pensamento que abordam de forma

limitada o contexto dentro das organizações. Em suma, toda visão embora não consiga captar

o todo é capaz de apreender, mesmo que em parte, a realidade observada (MORGAN, 2000).

Sabe-se, entretanto, que empresários de pequenos negócios têm uma tendência a aderir

a um processo denominado “encarceramento intelectual” que culmina, frequentemente, no

declínio da organização (DRUMMOND, 2004). Morgan (2000) denominou esse processo de

Prisão Psíquica e utilizou como instrumento metafórico a alegoria da caverna de Platão para

entender os limitadores internos vinculados ao comportamento dos administradores e de suas

respectivas empresas.

A compreensão do Comportamento Humano e suas particularidades são as

ferramentas para o entendimento de que uma organização é composta por pessoas que trazem

consigo necessidades, interesses, sonhos, potencialidades e limitações (CASADO, 2002). Os

gestores não fogem a essa realidade e a atuação deles dentro e fora do ambiente

organizacional são fortemente influenciadas por esses fatores inerentes aos seres humanos que

embora pareçam menos “lógicos” que a eficiência econômica, estão mais próximos ao

contexto factual.

O indivíduo é capaz de produzir afirmações avaliadoras tanto positivas quanto

negativas denominadas atitudes (ROBBINS, 2005). Essas, por sua vez, são importantes

porque afetam o comportamento no trabalho. A atitude de um indivíduo consiste em uma

16

relação dinâmica que envolve diversos aspectos da situação social assumida, sendo, pois, o

ambiente de relevante importância nesse processo (BERGAMINI, 1982).

O ser humano interpreta e organiza seu pensamento com base em suas impressões

sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente. Denominam-se essas impressões

de percepção (SOTO, 2008). A maneira como o indivíduo interpreta o que vê, ou seja, como

ele percebe determinada situação é fundamental para compreender as atitudes.

Uma possível investigação a ser empreendida, haja vista, o destacado problema

existente de produção científica adequada e a preparação educacional do gestor é a questão do

conhecimento. Nesse contexto, pretende-se utilizar para fins de compreensão um instrumento

sólido e reconhecido sobre as questões relativas ao desenvolvimento intelectual do ser

humano que é a renomada alegoria “da caverna”.

O “Mito da Caverna” de Platão se apresenta como relevante recurso já que permite

considerações filosóficas pertinentes ao tema relacionado ao conhecimento. A alegoria se

encontra no livro VII de A República e simbolicamente representa a ascensão do

desenvolvimento do conhecimento (COTRIM, 2000). A obra é reconhecida como uma das

mais belas e bem construídas expressões do pensamento humano (COTRIM, 2000; REALE;

ANTISERI, 1990; BERGAMINI; CODA, 1997; COSSUTTA, 1994).

O instrumento supracitado utiliza o contraste entre luz e sombra para explicar como

ocorrem os estágios do desenvolvimento que o indivíduo perpassa entre a caverna como

representação da ignorância e o sol que simboliza o verdadeiro conhecimento (COTRIM,

2000). A ideia apresentada por Platão explica a necessidade de compreender os objetos e as

formas de adquiri-los (CHAUÍ, 1994). Pode-se afirmar, também, que a alegoria da caverna

encontra-se em filigrana em todos os diálogos platônicos (JERPHAGNON, 1992).

Diversas são as interpretações feitas sobre a alegoria, uma delas pode ser desdobrada

em quatro aspectos: a questão da possibilidade do conhecimento (seria possível o ser humano

conhecer a realidade do mundo tal qual ela efetivamente é?); a questão do método (como

justificar uma pretensão de obtenção do conhecimento como legítima?); a questão do objeto

(o mundo material X realidade superior, realidade mutável e efêmera X essência eterna e

imutável) e, por fim, a questão dos instrumentos do conhecimento (os sentidos e a razão)

(MARCONDES, 2008).

Os critérios de análise da atitude foram estabelecidos com base na compreensão dos

instrumentos de aquisição do conhecimento. Para a GP, a “verdadeira” aprendizagem apenas

ocorre quando representa uma relativa mudança na conduta do indivíduo (SOTO, 2008). A

17

compreensão da Atitude de um ser se faz necessária devido ao alto grau de correlação que a

mesma possui com o comportamento humano (ROBBINS, 2005).

A utilização do Mito não constitui uma novidade no estudo da Administração,

conforme já mencionado. Morgan (2000) em seu livro As Imagens da Organização também

nos apresenta uma interpretação reconhecida à luz da alegoria supracitada.

Considera-se que através desse instrumento e da teoria pertinente se possa responder

adequadamente ao seguinte questionamento: Qual é a atitude dos líderes de pequenas

empresas de panificação da Região Metropolitana do Recife em relação à Gestão de Pessoas à

luz do “Mito da Caverna” de Platão?

1.2 Objetivo Geral

Compreender a atitude dos gestores de pequenas empresas de panificação da Região

Metropolitana do Recife em relação ao conhecimento de Gestão de Pessoas sob a ótica do

“Mito da Caverna” de Platão.

1.3 Objetivos Específicos:

Compreender a história de vida da organização e do gestor;

Compreender a maneira (acadêmica, profissional ou empírica) pela qual o

conhecimento sobre Gestão de Pessoas foi adquirido pelo gestor e pela empresa

e qual a relevância desse conhecimento para a prática da organização;

Compreender a importância e as possíveis contribuições, na percepção dos

gestores, da Gestão de Pessoas para as suas organizações e principais

stakeholders relacionados;

Verificar o conhecimento do gestor e as práticas adotadas em relação à Gestão

de Pessoas;

Identificar quais as dificuldades que o gestor encontra na Gestão de Pessoas de

pequenas empresas;

Identificar como o gestor se autoavalia em relação à Gestão de Pessoas;

Analisar a atitude do gestor em relação à Gestão de Pessoas à luz do “Mito da

Caverna” de Platão.

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1.4 Justificativas

1.4.1 Justificativa prática

A necessidade de estudar o processo de gestão em pequenas organizações é fruto da

experiência profissional da pesquisadora em pequenas empresas aliada aos estudos em

Administração que vem empreendendo desde o ano de 2000. A prática, frequentemente,

parecia estar dissociada das recomendações acadêmicas e a Administração tal qual era

apresentada não se enquadrava na dinâmica da pequena organização familiar em que a

experiência prática era adquirida. Destacada era a presença de uma dinâmica diferente da

observada pela Ciência em grandes empresas.

A gestão de pessoas, por sua vez, sempre teve um importante significado pessoal, já

que sua boa administração nitidamente se apresentava como um divisor de águas entre o

sucesso e o fracasso das empresas. Por menor que seja a organização, não prescinde de

pessoas bem preparadas independentemente da presença do gestor que geralmente acompanha

a execução do trabalho de maneira ostensiva e permanente.

Observou-se, também, que a gestão de empresas pequenas vem sendo, ao longo do

tempo, empreendida por pessoas sem qualquer conhecimento de Administração e que, apesar

de já possuir dois séculos de sistemático estudo, essa Ciência parece que não vem sendo

valorizada adequadamente.

Existem duas principais correntes, a primeira que acredita serem dispensáveis os

estudos específicos para gestão, haja vista alguns indivíduos lograrem êxito sem adquirir

qualquer conhecimento relacionado à gestão propriamente dita. A segunda, não apenas,

enfatiza a necessidade como defende inclusive a obrigatoriedade. A posição da autora é

nitidamente a segunda. Esclarece-se, pois, que esta aquisição do conhecimento não está

vinculada a um mero título acadêmico qualquer e, sim, da absorção do conhecimento em si

que pode ocorrer de diversas maneiras.

As pessoas vinculadas a primeira corrente, parecem se prender mais às exceções, que

ocorrem quando um ou outro líder apresenta uma “habilidade natural” e é realmente bem-

sucedido, do que à regra. A realidade, ou seja, a regra é que 49,9% das organizações encerram

suas atividades em até os dois anos de fundação, 56,4% até três anos e 59,9% até quatro anos

(SEBRAE, 2005). Notadamente, sem considerar os prejuízos sociais e emocionais que os

maus gestores causam todos os dias nas organizações e neles mesmos.

19

Encontra-se, ainda, na academia, espaço para a produção de teoria consistente e

adequada às empresas de pequeno porte. Observa-se, também, que utilização das teorias, na

prática, merece melhor atenção; dessa forma o objetivo desse trabalho é contribuir com o

entendimento da dinâmica de GP, nesse contexto, e auxiliar a encontrar soluções legítimas e

coerentes com a realidade de pequenas empresas.

O setor de panificação foi escolhido pela relevância de sua presença para a sociedade

como um todo. É um contexto organizacional que está presente na vida cotidiana das pessoas

e possui uma extensa população de estabelecimentos diferentes que vão desde as padarias de

subúrbio até a sofisticação das “lojas de conveniência”, as quais foram escolhidas como

objetos deste estudo.

1.4.2 Justificativa teórica

A lacuna existente entre a teoria e a prática na Administração pode apresentar duas

fontes principais: os gestores e a academia. Nota-se que é demasiadamente grande a

quantidade de gestores sem o preparo adequado para uma “leitura” do ambiente

organizacional (FULLER-LOVE, 2006). Nesse caso, há um descompasso entre quem produz

ciência e quem a aplica.

Faz-se necessário o deslocamento do indivíduo de uma postura adotada com base em

“impressões” a uma atitude em que as pessoas se elevem nos graus de Conhecimento

propostos por Platão até que, se possível, possa alcançar o nível de ciência ou intuição

intelectual.

A proposta deste trabalho, portanto, é contribuir com a melhora do entendimento não

apenas da prática de Gestão de Pessoas encontrada em empresas de panificação da Região

Metropolitana do Recife, residente no denominado mundo visível, mas, sobretudo, das razões

que estão por trás, no mundo inteligível também proposto por Platão.

Este estudo pode contribuir para gestores, estudantes de Administração nos diversos

níveis e, sobretudo, para a academia, principalmente, nas áreas de Gestão de Pessoas e

Comportamento Organizacional por trazer à luz um tema que, embora não seja recente,

encontra-se carente de estudos.

A originalidade do trabalho se deve à utilização da alegoria da Caverna como pano de

fundo para compreender a atitude dos líderes em relação à Gestão de Pessoas. O

direcionamento dado por Morgan (2000) possui um enfoque distinto por apresentar diversas

20

metáforas que envolvem o pensamento do gestor. Neste estudo, pretende-se deslocar esse

entendimento para o nível individual do gestor, sem qualquer pretensão de desenvolver uma

abordagem psicológica propriamente dita.

Os pressupostos de Platão diziam que se o homem permanecesse dominado,

restringido pelos sentidos nada poderia aprofundar em termos de conhecimento e vivenciaria

um mundo de aparências (VIEIRA; BOEIRA, 2006). A fim de romper esse vínculo com a

simples aparência se procurou investigar os instrumentos do conhecimento dos indivíduos

responsáveis pela gestão das pequenas empresas de panificação que são os pontos que

culminarão na intenção de comportamento.

Neste momento, é importante a utilização de um embasamento teórico sobre os graus

de conhecimento identificados por Platão e acerca da teoria de Gestão de Pessoas e

Comportamento Organizacional que colabore para o entendimento da atitude dos gestores.

21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Introdução

Acredita-se que o conhecimento humano possa, quiçá deva, ser construído dentro de

uma abordagem multidisciplinar. É necessário para isso, depois de identificado o problema de

pesquisa, verificar os elementos envolvidos na compreensão do tema proposto. Neste

momento, deve-se percorrer a literatura existente de maneira precisa a fim de obter o máximo

de “conhecimento” possível que venha a efetivamente auxiliar no entendimento do tema

proposto.

O objetivo deste trabalho consiste na análise da atitude dos gestores de panificação da

Região Metropolitana do Recife em relação à Gestão de Pessoas. Será utilizado, como pano

de fundo, a alegoria da “caverna’ de Platão. Faz-se necessário investigar a teoria em busca de

subsídios para o entendimento da abordagem e aspectos escolhidos. O primeiro tema a ser

apresentado vincula-se à própria alegoria proposto, neste estudo, como referencial conceitual.

2.2 O “Mito da Caverna” de Platão

Aristócles foi um filósofo que nasceu em Atenas, na Grécia, no ano de 428 a.C. e é

mais conhecido pelo seu pseudônimo Platão. Era um destacado discípulo de Sócrates e

considerado como um dos maiores pensadores do mundo ocidental até hoje. Sócrates não

deixou nenhum registro escrito, mas diversos autores “imortalizaram” seu conhecimento,

sendo Platão o mais famoso deles (REALE; ANTISERI, 1990).

O “Mito da Caverna” encontra-se no livro VII de A República do autor anteriormente

citado. O questionamento da fidedignidade dos relatos apresentados por alguns acadêmicos

acerca da “isenção” do próprio Platão nas ideias apresentadas não constitui nenhum demérito

para a obra deixada (BERGAMINI; CODA, 1997). A alegoria pretende explicar a evolução

do processo de conhecimento. A maioria dos indivíduos, segundo Platão, encontra-se preso

em uma caverna (COTRIM, 2000).

A função da metáfora no pensamento filosófico é apresentar através do emprego de

imagens uma espécie de equivalente concreto da análise pretendida. Na obra estudada, a

22

analogia ocorre de forma alegórica já que aparece como uma construção narrativa

(COSSUTTA, 1994).

Existem diversas interpretações a respeito da alegoria da caverna. A acepção

ontológica (graus de ser), a epistemologia (graus de conhecer), a política e a mítica ou

religiosa (REALE; ANTISERI, 1990).

As interpretações supracitadas não são consenso na literatura. A maior parte dos

autores considera apenas os aspectos ontológicos e epistemológicos como Chauí (1994),

Jerphagnon (1992) e Cotrim (2000). Marcondes (2008), por sua vez apenas aceita o que os

filósofos denominam de “graus de conhecer”.

Neste momento, serão apresentadas breves descrições acerca de cada visão de Platão

segundo Reale & Antiseri (1990) e Reale (1994), por se constituir como a interpretação mais

ampla acerca da alegoria.

1. Aspectos Ontológicos da Realidade:

A Ontologia corresponde àquilo que se entende por realidade ou grau de ser. Conhecer

os aspectos ontológicos é a capacidade de decodificar a maneira de determinado indivíduo

perceber uma situação. Em termos platônicos, até que ponto a pessoa é capaz de ver. Para

isso, o autor subdividiu o “mundo” em Inteligível e Sensível.

A metáfora apresenta a prisão de pessoas imobilizadas dentro de uma caverna onde a

única visão disponível é a imagem de sombras projetadas na parede. Luz e sombra se

relacionam com a contemplação intuitiva das essências das Ideias, isto é, da realidade em seu

fundo (JERPHAGNON, 1992).

Se o indivíduo permanecesse dentro da caverna, não veria senão as sombras e as

tomaria por realidade. O mundo, segundo o autor, possui duas dimensões: o visível que

consiste no mundo físico e ético percebido por intermédio da aparência sensível das coisas e o

inteligível que apenas pode ser apreendido pelo pensamento (CHAUÍ, 1994). No Quadro 1,

observa-se a descrição da simbologia contida na alegoria.

23

Sombras da Caverna Aparência sensível das coisas

Estátuas e Artefatos As coisas sensíveis

Muro Divisor de água das coisas sensíveis e suprassensíveis

Além do muro A realidade no seu ser verdadeiro (as Ideias)

Sol A Ideia do Bem

Sombras diretas além

do muro; imagens

refletidas na água (fora

da caverna)

Sombras e imagens das verdadeiras realidades produzidas pela luz do sol

Quadro 1: SIGNIFICADOS DOS SÍMBOLOS DO “MITO DA CAVERNA”

Fonte: Adaptado de REALE, G. História da filosofia antiga. Vol.2. São Paulo: Loyola, 1994.

2. Planos de Conhecimento:

Os planos se vinculam ao grau de conhecer das pessoas, ou seja, até que ponto o

indivíduo é capaz de perceber os aspectos que fazem parte da “essência” do sujeito, objeto ou

situação observada. Existem diversos graus do conhecer que, de acordo com Platão, se

relacionam diretamente com o grau do ser (JERPHAGNON, 1992).

Estabelecem-se quatro “estágios” que embora não se encontrem apresentados na

alegoria de forma explícita foram identificados e discutidos por diversos filósofos

contemporâneos. Os “graus de conhecer” são: eikasía (conjetura feita a partir das imagens ou

dos reflexos das coisas, impressões); pístis (crença) e dóxa (opinião) - confiança que

depositamos na sensação e na percepção; diánoia (conhecimento discursivo) e noésis

(intuição intelectual) ou espistéme (ciência) - conhecimento à luz do bem (CHAUÍ, 1994;

JERPHAGNON, 1992).

3. Concepção Política:

A acepção política se torna plausível devido à própria obra em que a alegoria está

inserida no texto de A República. Neste livro, o autor disserta sobre as qualidades necessárias

a um bom governante, além das tradicionais discussões sobre as características e atitudes

desejáveis a quem se dispuser a exercer uma função pública. Platão, inclusive, faz uma breve

análise da situação política do povo ateniense da época (REALE; ANTISERI, 1990). Esse

24

conjunto de elementos ratifica o entendimento de que esta possa vir a ser uma das

interpretações dadas ao Mito da Caverna.

4. Aspecto Místico e Teológico:

Platão, bem como Sócrates, acreditava existir o que a ciência denomina de metafísica,

inclusive, sabe-se que seu próprio discípulo Aristóteles, também, ratificava essa ideia. Essa

visão se relaciona com o entendimento ontológico do autor que acreditava na existência da

alma antes, inclusive, de qualquer experiência material (REALE; ANTISERI, 1990). O ser

humano já trazia consigo experiências anteriores, não sendo, pois, uma “tabula rasa”.

A crença na separação entre o corpo e a consciência perpassa, não apenas, por Platão,

mas, também, pelo próprio cristianismo que foram filosofias que obtiveram sucesso ao

estabelecerem uma hierarquia em que a consciência pode dominar as vontades e paixões

advindas do corpo (BOAVA; MACEDO, 2006).

No Quadro 2, serão sintetizadas as possíveis interpretações a respeito do Mito,

descritas a seguir.

1. Aspectos Ontológicos da

Realidade

Os planos do ser sensível e supra-sensível/ inteligível

2. Planos de Conhecimento Os diferentes níveis e graus de conhecimento

3. Concepção Política O poder deve ser utilizado como serviço à Cidade com vista da

atuação do Bem

4. Aspecto Místico e

Teológico

Origem do conceito cristão de “conversão”

Quadro 2: INTERPRETAÇÕES DO “MITO DA CAVERNA”

Fonte: Adaptado de REALE, G. História da filosofia antiga. Vol.2. São Paulo: Loyola, 1994.

Outra corrente de pensamento, conforme já mencionado, considera que apesar de

legítima a divisão e leitura acima, melhor seria a interpretação que privilegiasse a

epistemologia, ou seja, através da problemática do conhecimento. Nesse contexto, os quatro

aspectos críticos da caverna são: possibilidade do conhecimento (até que ponto é possível

conhecer a realidade objetiva?); método (como se justifica uma busca pelo conhecimento

como verdadeiramente legítima?); objeto (mundo material ou realidade superior, realidade

25

mutável e perecível ou essência eterna e imutável?) e instrumentos do conhecimento (os

sentidos e a razão) (MARCONDES, 2008).

Em relação aos instrumentos de aquisição do conhecimento, os sentidos, ou seja, a

percepção pressupõe a utilização consciente ou não do sistema de valores do ser humano, a

maneira particular de ver o mundo, adicionada aos aspectos do objeto e do próprio ambiente

que juntos constituem um dos instrumentos do conhecimento humano. A razão, através do

cognitivo permite ao indivíduo a reflexão do que está sendo apresentado e se estabelece uma

espécie de processo comparativo com aquilo que ele já conhece e que a partir das novas

informações recebidas, consegue estabelecer um novo juízo de valor.

Segundo Marcondes (2008), a argumentação do autor passa por alguns aspectos que

dizem respeito ao processo de escolha, toda vez que um indivíduo se determina a fazer ou não

determinada ação ele empreende um processo de tomada de decisão. Essa avaliação, por sua

vez, não ocorre de maneira aleatória ela acontece com base em princípios, de um

conhecimento pré-estabelecido. A ideia da racionalidade está claramente explícita nesse

contexto.

As ciências do comportamento nos apresentam, entretanto, um desmembramento

desse processo através do denominado “tripé da atitude”. Através dele, é possível

compreender que não apenas o cognitivo é acionado com a nova informação que se apresenta,

mas, também, o componente relacionado às emoções, conhecido como afetivo. Embora, não

esteja explicitado claramente na alegoria pode-se inferi-lo através de elementos presentes no

mito.

Um dos mais claros elementos é a necessidade de que o indivíduo ao sair da caverna

tenha um tempo de adaptação. No comportamento humano, isso é importante para que os

componentes, afetivo e cognitivo, consigam chegar a um equilíbrio acerca da “decisão” a ser

tomada que culminará no terceiro e último aspecto: o elemento comportamental, ou seja, a

intenção de comportamento do indivíduo perante uma pessoa, situação ou objeto, em suma,

sua atitude.

Transcorrido o tempo de adaptação, ocorre a “verdadeira” aquisição do conhecimento

proposta por Platão. Em GP, diversos autores como Soto (2008), Limongi-França (2007),

entre outros, acreditam que o processo de aprendizagem deve promover a mudança no

comportamento através da adoção de novos hábitos, atitudes, conhecimentos e habilidades.

Uma mudança de comportamento em relação a determinado fator, dessa forma, não se

resume na mera aquisição de elementos cognitivos como a primeira vista pode parecer ser,

mas sim, através de um processo individual que envolve, inclusive, a ponderação dos

26

sentimentos. Entretanto, é necessário acrescentar nesse contexto a existência de fatores

externos ao ser humano que podem “frear” ou mesmo impossibilitar que o conhecimento

adquirido venha a fazer parte de uma mudança de atitude e, consequentemente, de

comportamento.

Na Administração, consoante já mencionado, a relação com o mito da caverna não

pode ser considerada um evento inédito já que Morgan (2000) também se utilizou desse

recurso para ratificar uma das metáforas apresentadas em seu livro As imagens da

Organização, mais precisamente a da prisão psíquica. Entretanto, o autor apenas tinha como

objetivo ilustrar a ideia apresentada na “imagem” da organização e se limitou a estabelecer

um paralelo entre o claro e o escuro para ratificar seu entendimento sem conferir

interpretações detalhadas acerca dos tons de cinza existentes entre a “ignorância” e o “saber”.

Naturalmente, essa abordagem não diminui em nada o valor dessa obra para os estudos

organizacionais. O maior ou menor aprofundamento na utilização de uma alegoria filosófica

como recurso interpretativo passa pelas escolhas que o autor ou o pesquisador assumem como

objetivo em seu estudo.

Dentre as visões apresentadas, este trabalho assume como norte de seu entendimento o

denominado “grau de conhecer” já que a problemática do estudo está centrada no

conhecimento que os gestores têm sobre Gestão de Pessoas. Será apresentada na Figura 1 uma

síntese da estrutura do pensamento em relação aos graus de conhecer de Platão.

Figura 1- REPRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO DE PLATÃO

Fonte: Adaptado de CHAUI, M.S. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 1ª Ed. São

Paulo: Brasiliense, 1994.

Eikásia

Pístis e Dóxa

Diánoia

Nóesisou Espitéme

27

Após compreender a linha de pensamento do processo de análise a ser empreendido,

cabe a apresentação de alguns fatores que influenciam a atitude dos indivíduos.

2.3 História, Percepção e Atitude

Um dos grandes compromissos da estratégia exploratória de pesquisa escolhida neste

estudo é o “dar” voz e ouvidos a classes pouco privilegiadas pelo interesse acadêmico

comum. Ser capaz de ouvir reivindicações, emoções, angústias, sugestões, enfim apreender o

ponto de vista do entrevistado e não do pesquisador.

Sem conhecer a história que está por trás tanto do gestor quanto das organizações,

provavelmente, incorrer-se-ia no equívoco de uma análise superficial, quiçá tendenciosa; onde

haveria a nítida desconsideração dos pressupostos platônicos que norteiam este estudo. Sabe-

se, pois, que a história de um indivíduo ou de uma organização compõe a maneira como

ambos percebem e lidam com o mundo.

Em suma, a história de cada ser humano afeta a percepção dos indivíduos tanto no

ambiente empresarial quanto fora dele. A percepção é o processo de organizar e interpretar as

impressões sensoriais (ROBBINS, 2005). Maior importância é dada à percepção relacionada

às pessoas, já que interfere no comportamento que o indivíduo terá dentro do contexto

organizacional.

O ser humano desenvolve um processo de interpretação daquilo que é visto e a essa

interpretação é o que ele compreende como “realidade”. Essa é a explicação para que duas

pessoas “vejam” a mesma coisa de maneira diferente (SOTO, 2008). A descrição do

comportamento humano não se apresenta de maneira simples, que possa ser colocada em um

contínuo de uma reta, muito menos ocorre de forma a permitir uma previsibilidade da ação

em um ponto qualquer de uma curva (BERGAMINI, 1982).

Diversos fatores afetam esse processo no ambiente de trabalho. Observa-se que

existem três principais grupos que interferem na percepção do indivíduo: condições/

características pessoais do observador, do observado e existentes na situação em si (SOTO,

2008; ROBBINS, 2005). Muitos conflitos organizacionais tornam-se institucionalizados nas

atitudes, valores, crenças, rituais e outros aspectos adentrando na cultura organizacional. Os

conflitos subjacentes podem ser extremamente difíceis de identificar e resolver, bem como a

história pode influenciar o presente de maneira sutil (MORGAN, 2000).

28

Faz-se importante considerar todos os fatores internos e externos ao indivíduo, haja

vista existir uma tendência natural do ser humano de atribuir à outra pessoa ou ao ambiente as

dificuldades encontradas que atuam como fatores extrínsecos. Aos sucessos, a situação se

inverte e é a si mesmo que o indivíduo enxerga como essencial ao resultado alcançado.

Denomina-se de Teoria da Atribuição o exposto acima (GRIFFIN; MOORHEAD, 2006,

ROBBINS, 2005; SOTO, 2008).

Observam-se, ainda, diversos equívocos inerentes ao pensamento humano quando

atua de forma irrefletida, são eles: Percepção seletiva (percebe-se a parte que está vinculada

aos interesses do observador), similaridade assumida (consiste em perceber o outro com base

em suas próprias características), estereotipagem (julgar o indivíduo, com base no

entendimento que se tem do grupo ao qual o mesmo pertence), efeito de halo (julgar com base

em uma única característica), entre outros (GRIFFIN; MOORHEAD, 2006, ROBBINS, 2005;

SOTO, 2008).

Independente de o processo ocorrer com ou sem maiores reflexões, a percepção é que

vai estabelecer o “olhar” do indivíduo para a situação e direcionar o seu comportamento. Essa

interpretação que é feita da realidade influencia na Atitude e atua diretamente no processo de

tomada de decisão (SOTO, 2008).

As atitudes, segundo Robbins (2005) são afirmações avaliadoras em relação aos

objetos, pessoas ou situações. Essas apresentam três componentes: Cognitivo, Afetivo e

comportamental (ROBBINS, 2005; ROBBINS, 2004; GRIFFIN; MOORHEAD, 2006).

O constructo Atitude, segundo Robbins (2005), costuma ser empregado, no senso

comum, referindo-se apenas ao Componente Afetivo, ou seja, de que maneira o indivíduo se

sente a respeito de alguma coisa, pessoa ou situação. Entretanto, deve-se compreender como

um conjunto dos três componentes supracitados, refletidos na intenção de comportamento.

O componente cognitivo diz respeito à utilização da razão. O afetivo às emoções, ou

seja, como o indivíduo se sente em relação a algo. Por último, após atingir um relativo

equilíbrio entre os componentes anteriores, a pessoa apresenta uma intenção de agir

denominada elemento comportamental (ROBBINS, 2005; ROBBINS, 2004; GRIFFIN;

MOORHEAD, 2006).

A relação entre os três componentes é dinâmica e envolve vários questionamentos do

indivíduo dentro do seu contexto social, tendo o ambiente destacada relevância

(BERGAMINI, 1982). O choque entre duas ou mais atitudes ou mesmo entre a atitude e o

comportamento gera o fenômeno de dissonância cognitiva, sabe-se, porém, que o indivíduo

tende a promover de alguma maneira o reequilíbrio (ROBBINS, 2005).

29

Frequentemente se observa, por parte da comunidade científica, uma supervalorização

do componente cognitivo da atitude, apenas nos últimos vinte anos é que o tema relacionado à

emotividade é inserido no contexto organizacional (SOTO, 2008). Steven Pinker (2004)

apresenta uma argumentação contrária que reafirma a importância das emoções na vida e nas

escolhas do ser humano.

Recentemente, outros autores, também, têm reconhecido a importância e,

consequentemente, aumentado o interesse pelo componente afetivo da atitude (SOTO, 2008;

GRIFFIN; MOORHEAD, 2006). O fato de o indivíduo apresentar uma predisposição de

comportamento não, necessariamente, significa dizer que ele consiga atuar conforme

pretendeu (ROBBINS, 2005; ROBBINS, 2004; GRIFFIN; MOORHEAD, 2006). Fatores

externos ou ocorridos a posteriori podem atuar e alterar o comportamento,

independentemente da vontade da pessoa, inclusive.

Os moderadores mais evidentes para as ciências do comportamento são: importância

da atitude (aquelas que refletem valores fundamentais, identificação com pessoas ou grupos

valorizados pelo indivíduo ou mesmo interesse próprio); a especificidade (alta percepção de

correlação entre a atitude e o comportamento); acessibilidade (atitudes mais lembradas

tendem a prever melhor o comportamento); pressões sociais (do ambiente de trabalho, do

grupo de referência ou da sociedade de modo geral) e experiência direta com a atitude (quão

nova é a situação para o indivíduo e de que maneira ela se dá) (ROBBINS, 2005).

As atitudes são importantes nas organizações por influenciar significativamente o

comportamento das pessoas. Nessa seção, destacou-se a influência do contexto ou ambiente

onde o indivíduo esteja inserido para tomar a decisão de comportamento. Sabe-se que esse

entendimento que o indivíduo adquire influencia nas suas atitudes. Com a temática centrada

na Gestão de Pessoas, questiona-se:

QN1: Como é a história de vida das empresas e do gestor?

QN2: De que maneira o gestor e a empresa adquiriram conhecimento acerca de Gestão

de Pessoas? E qual a relevância desse conhecimento para a prática da organização?

QN3: Qual a importância e as contribuições feitas da GP para as organizações e os

principais stakeholders relacionados na visão dos gestores?

30

Faz-se necessário, neste momento, não apenas perguntar aos gestores, mas,

principalmente, à literatura a respeito dos pressupostos relevantes acerca da Gestão de

Pessoas.

2.4 Gestão de Pessoas

A denominada Era Informacional/ Global no final do século XX trouxe alterações nos

principais elementos econômicos, modelos produtivos, processos de trabalho e,

principalmente, mudanças sociais do ponto de vista dos stakeholders organizacionais

(TEIXEIRA; ZACCARELLI, 2007).

A necessidade de adequar Gestão de Pessoas (GP) à nova realidade se dá pelas

constantes mudanças ocorridas no cenário internacional que fomentam modelos que

promovam a competitividade (ULRICH, 1998). São papéis das empresas, nesse novo

ambiente competitivo, a tomada de consciência na sociedade, preservação e manutenção da

espécie e o respeito às realidades sociais, culturais e políticas dos lugares em que atuam

(TEIXEIRA; ZACCARELLI, 2007). Na área de Gestão de Pessoas, o estudo encontra-se

alinhado aos conceitos envolvidos na denominada Gestão Estratégica de Pessoas (GEP) por

esse ser, até o presente momento, o entendimento mais avançado do saber na área.

A nomenclatura de GEP surgiu na academia na década de 1980 (ALBUQUERQUE,

2002). Os seus princípios residem no processo da criação de valor percebido, dessa forma a

orientação se fundamenta no estudo das necessidades e prioridades dos diversos tipos de

stakeholders externos e internos da organização (ULRICH; BROCKBANK, 2005). A tarefa

principal da Gestão Estratégica de Pessoas é mobilizar a energia emocional com o objetivo de

estimular e desenvolver as competências humanas necessárias, a fim de viabilizar as

competências organizacionais (FISHER, 2002; ULRICH; BROCKBANK, 2005).

A Gestão Estratégica de Pessoas de uma organização encontra-se vinculada,

fundamentalmente, à visão que os atores organizacionais envolvidos no processo têm do

contexto em que estão inseridos, em síntese, da sua percepção da situação que se apresenta

(ALBUQUERQUE, 2002). O gestor que pretende se tornar global deve considerar um

conjunto complexo de questões relacionadas à localização geográfica, culturas, leis e práticas

empresariais (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005). Destaca-se, inclusive, a

necessidade de observar as mudanças sócio-culturais mencionadas acima com cautela já que o

31

foco dos estudos de GEP consiste na interação humana nos processos de trabalho (GIL,

2001).

No Quadro 3, observam-se os desafios competitivos vinculados à GEP que afetam as

organizações na concepção de Bohlander; Snell e Sherman (2005) e Ulrich (1998). Este

último acrescenta, por fim, o item 7 relacionado à Reversão e Transformação.

Ulrich & Brockbank (2005) introduzem, também, o desafio relacionado ao foco na

capacidade organizacional. Segundo esses autores, a capacidade pode ser considerada o DNA

da competitividade. No âmbito organizacional, o conceito de competitividade está vinculado à

vantagem competitiva que se encontram associadas à competência organizacional (GOMES;

BORIN; BARRELLA; SOARES, 2007).

1. Globalização

2. Adoção de Tecnologia

3. Gerenciamento de Mudança

4. Desenvolvimento do Capital Humano

5. Reação ao Mercado (Cadeia de Valor para a Competitividade Empresarial)

6. Contenção de Custos

7. Reversão e Transformação

Quadro 3: DESAFIOS COMPETITIVOS VINCULADOS À GEP

Adaptado de: BOHLANDER, G.W., Snell, S., Sherman, A. Administração de recursos humanos. São Paulo:

Pioneira Thomson Learning, 2005) e ULRICH, D. Os campeões de recursos humanos: inovando para obter

melhores resultados. São Paulo: Futura, 1998.

A análise das capacidades internas visa à avaliação dos recursos organizacionais.

Identifica-se, pois, as forças e fraquezas no processo de formulação da estratégia

organizacional. Objetiva-se orientar os gestores sobre as necessidades futuras de recursos e

competência a serem desenvolvidas, bem como suportar a definição de opções estratégicas

viáveis (ALBUQUERQUE, 2002).

Morgan (2000) considera como competência administrativa básica do administrador a

capacidade de “ler” e entender o que ocorre no contexto organizacional. Entretanto, é

imprescindível ao gestor possuir o conhecimento necessário para poder interpretar

adequadamente o seu contexto.

32

Fleury e Sampaio (2002) advertem para o fato de que o diagnóstico de uma

determinada cultura organizacional seja trabalhado sempre com uma perspectiva histórica,

observar-se-á o contexto em que a organização foi criada e o papel de seu fundador. Dessa

forma, consegue-se compreender melhor o sistema de valor existente da empresa.

Com o objetivo de compreender o aspecto de criação de valor proposta por Ulrich e

Brockbank (2005), faz-se necessário a compreensão das características de uma GEP. A Figura

2 representa a premissa de criação de valor que embasa este trabalho.

Naturalmente, essas premissas foram concebidas pelos autores, que tinham em vista

um departamento estruturado de RH dentro de um contexto de uma grande empresa, contudo

os conceitos apresentados pelos autores podem ser utilizados para analisar como um “Gestor

de Pessoas” precisa atuar para obter os benefícios de uma GEP na sua organização.

Figura 2 - A PREMISSA DE CRIAÇÃO DE VALOR DE RH

Fonte: ULRICH, D.; BROCKBANK, W. The HR value proposition. Massachusetts, Boston: Havard Business

School Press, 2005. Tradução livre.

1. Conhecer a realidade externa dos negócios: São quatro os aspectos identificados

essenciais para, do ponto de vista da gestão de pessoas, análise da realidade externa:

tecnologia, economia e questões legais, demografia da força de trabalho e, por fim, a

globalização que afeta todos os aspectos anteriores.

Conhecer a Realidade Externa

dos Negócios

Atender aos Stakeholders

Internos e Externos

Realizar Práticas do RH

Construir Recursos do RH

Garantir Profissionalismo de

RH

33

2. Atender aos stakeholders internos e externos: Os denominados stakeholders externos

são os investidores e os consumidores. Em termos de GP em pequenas empresas,

dificilmente a figura do investidor está dissociada do gestor principal. Os stakeholders

internos, por sua vez, são estabelecidos em dois grupos: gerente de linha e

empregados.

3. Realizar práticas do RH: Gerenciamento eficiente e eficaz dos fluxos de pessoas,

performance, informação e trabalho. No primeiro caso, como as pessoas entram,

transitam, crescem e saem da organização. O segundo fluxo considera o que vincula as

pessoas ao trabalho desenvolvido, avaliação de desempenho e promoção de

recompensas financeiras e não financeiras. O terceiro aspecto considera a maneira

como a informação circula e como se compartilha conhecimento. Por último, avalia-se

como se dá o processo de trabalho, controle e quais esforços são considerados para um

alto desempenho.

4. Construir recursos do RH: Desenvolvimento da estratégia de RH e da organização de

forma integrada. Define-se, neste ponto, como questão fundamental a criação de uma

cultura organizacional baseada na aquisição de capacidades organizacionais. Gestão de

pessoas pode conseguir isso através do desenvolvimento de seis passos: (1)

identificação da unidade organizacional e organização de um workshop, (2)

priorização de tendências no ambiente de negócio, (3) especificação dos recursos de

vantagem competitiva e desenvolvimento de medidas para obtenção dessas vantagens,

(4) definição das capacidades organizacionais desejáveis junto com as expressões

culturais de comportamento dessas capacidades, (5) identificação das práticas que

possuem maior influência na criação e sustentabilidade da cultura desejada e, por

último, (6) desenvolvimento de um plano de implementação de tudo o que foi

estabelecido.

5. Garantir o profissionalismo de RH: O primeiro aspecto a ser considerado é a

definição dos papéis de RH (advogado dos funcionários, desenvolvimento de capital

humano, parceiro estratégico e expert funcional). Na gestão de pessoas,

aparentemente, pode ocorrer choque entre os papéis que o mesmo gestor deve

desempenhar. O segundo ponto diz respeito às capacidades de GP que fazem a

diferença (contribuição estratégica, conhecimento do negócio, entrega de RH,

34

tecnologia de RH e credibilidade pessoal. Todos os aspectos supracitados encontram-

se inter-relacionados). Por último, são considerados os aspectos de desenvolvimento

do profissional responsável pela gestão de pessoas (o foco na aplicação, aceitação de

múltiplos estilos de aprendizagem, apresentação da informação via múltiplos canais,

estabelecimento de um programa para a realidade da organização, articulação de ideias

para esclarecer os objetivos desejados, adquirir e construir sua imagem baseada no

respeito e criar um ambiente amigável de aprendizagem).

Constata-se que os gestores responsáveis apresentam uma dificuldade na compreensão

de princípios importantes como o ajustamento do homem em circunstâncias de trabalho e

obtenção de níveis esperados de eficiência (BERGAMINI, 1982).

O problema principal consiste no fato de que poucos empresários de pequenas e

médias organizações recebem treinamento para gerenciar. Um número pequeno possui

formação profissional específica ou mesmo outra qualificação formal em Administração. O

resultado é o gerenciamento baseado na experiência própria e no senso comum (FULLER-

LOVE, 2006). Para Platão, esses líderes encontram-se no nível da eikásia, ou seja, das

sensações. A depender da experiência do gestor, no máximo, posicionar-se-ia o gestor no

nível pístis e dóxa que se limitam à utilização de recursos cognitivos de crença e opinião, sem

qualquer compromisso com a “realidade” objetiva.

Problemas de gestão são as principais causas de insucesso citadas por especialistas na

área do empreendedorismo. Leite (2000) enumera os fatores que mais contribuem com esse

fenômeno como: experiência de gestão; planejamento financeiro; análise de localização;

controles gerenciais; gastos excessivos; dedicação insuficiente; expansão e gestão de contas a

receber. Na área de gestão de pessoas, essa questão se apresenta de forma ainda mais

problemática já que os estudos são direcionados predominantemente para grandes empresas e

nem sempre se adéquam ao contexto de uma pequena e média empresa (GILBERT; JONES,

2000).

A prática de Gestão de Pessoas em pequenas empresas pode ocorrer de forma

diferente das observadas em grandes organizações. Não se pode, entretanto, inferir ou mesmo

estabelecer um padrão para GP para organizações de pequeno porte já que os aspectos

contextuais influenciam e alteram as necessidades de cada empresa (GILBERT; JONES,

2000). A importância do conhecimento das práticas utilizadas nesse tipo de organização se

deve ao fato de a maior parte das pessoas trabalhar em pequenas e médias empresas (GIL,

35

2001). Dessa forma, faz-se necessário o aprofundamento a fim de estabelecer uma adequação

da GEP ao contexto das Pequenas Empresas.

O entendimento da maneira de o líder desenvolver as práticas de gestão deve estar

adequado ao contexto organizacional e esse aspecto não se refere exclusivamente à Gestão de

Pessoas. Estudos relacionados aos métodos de gestão de pequenas e médias empresas

concluem que essas organizações não necessariamente precisam aderir às formas clássicas de

gerenciamento (TORRÈS; JULIEN, 2005).

Acrescenta-se, por fim, o fato de que a transformação em Recursos Humanos apenas

ocorre quando efetivamente ultrapassa o discurso retórico e que se deve moldar o

comportamento organizacional de forma a assegurar valor para os stakeholders envolvidos

(ULRICH; BROCKBANK, 2005).

Neste trabalho, não existem pressupostos acerca do que será encontrado. Procurar-se-á

compreender o que ocorre e as razões envolvidas à luz do entendimento de realidade e do

processo de conhecimento concebido por Platão. As práticas observadas neste estudo são:

Recrutamento e Seleção; Treinamento e Desenvolvimento; Avaliação de Desempenho;

Remuneração e Benefícios.

Após o exposto acima, convém realizar a seguinte indagação:

QN4: Qual o conhecimento que o gestor tem de GP?

Abordar-se-á, no presente momento, os principais processos acerca da Gestão de

Pessoas e as considerações pertinentes.

2.5 Processos Básicos de Recursos Humanos

Apesar de as mudanças ocorridas no contexto das empresas ter alterado o papel antes,

predominantemente, operacional e hoje estratégico da Gestão de Pessoas (LIMONGI-

FRANÇA, 2007), observa-se que todas as empresas, independentemente de porte ou estrutura,

bem como do grau de formalização, possuem algumas rotinas básicas de Recursos Humanos.

Trata-se de processos pelos quais as organizações, necessariamente, precisam realizar a fim

de atingir seus objetivos.

36

Neste ponto, serão apresentados alguns conceitos básicos a respeito das principais

rotinas tradicionalmente aplicadas em Gestão de Pessoas. O primeiro que merece destaque

está vinculado ao processo de entrada de novos indivíduos no ambiente da empresa.

a) Recrutamento e Seleção

O recrutamento consiste no processo de atrair pessoas com a finalidade de integrá-las

ao contexto organizacional. O preenchimento de uma vaga pode requerer uma procura dentro

ou fora da organização, recrutamento externo e interno, respectivamente (LIMONGI-

FRANÇA; ARELLANO, 2002). Independentemente da maneira adotada, faz necessário

observar alguns procedimentos básicos que vão desde a definição do perfil do candidato até a

escolha dos locais onde esse profissional será atraído ao processo seletivo (ZACCARELLI;

TEIXEIRA, 2007).

Definidos os parâmetros e as formas de captação, a empresa empreende o processo

seletivo propriamente dito que ocorre mediante a escolha dos indivíduos que melhor se

ajustam às necessidades da empresa. Diversas técnicas podem ser empreendidas: entrevistas,

provas de conhecimento, testes psicológicos e técnicas vivenciais (provas situacionais,

dinâmicas de grupo, psicodrama e avaliação de saúde) (LIMONGI-FRANÇA, 2007).

As práticas relativas a essas funções vêm sendo empreendidas por pessoas que não

dispõem de conhecimento e experiência suficiente para a realização desta tarefa (GIL, 2001).

A importância da existência de um procedimento adequado ocorre pelo fato de que serão as

pessoas que trabalham na organização que irão gerar e sustentar a vantagem competitiva das

empresas (ZACCARELLI; TEIXEIRA, 2007).

Outra rotina comum às empresas diz respeito ao fornecimento de conhecimentos e

promoção de habilidades para o desempenho da atividade profissional do indivíduo.

b) Treinamento e Desenvolvimento

A principal distinção que existe entre Treinamento e Desenvolvimento está

relacionada com o objetivo. O primeiro enfatiza a aquisição de habilidades vinculadas ao

cargo do indivíduo, ou seja, foca no aprimoramento das características em um curto prazo de

tempo. O segundo, por sua vez, promove um crescimento profissional através de transmissão

37

de conhecimento independentemente da função atual do empregado e possui, por sua vez, um

caráter de longo prazo (LIMONGI-FRANÇA, 2007).

O Modelo de Sistemas de Treinamento prevê a realização de quatro fases: avaliação

das necessidades, projeto, implementação e avaliação. Na primeira etapa, deve-se realizar a

análise da empresa, da tarefa e das pessoas. No projeto, devem constar os objetivos

instrucionais, a prontidão e a motivação dos treinandos, os princípios da aprendizagem e as

características dos instrutores. Na implementação, são considerados os métodos a serem

utilizados mais adequados ao local (dentro ou fora do ambiente organizacional) e ao tipo do

cargo (gerencial e não-gerencial). Por último, na avaliação, procura-se apreender as reações, o

aprendizado, o comportamento e os resultados (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005).

O próximo processo inerente à rotina de GP é a utilização de métodos capazes de

verificar o desempenho dos indivíduos.

c) Avaliação de Desempenho

A tarefa de avaliar pessoas faz parte da rotina de qualquer indivíduo ou organização

mesmo que realizada de maneira informal (GIL, 2001). Este instrumento confere à

administração importantes informações que servirão de base para a tomada de decisões a

respeito de remuneração e benefícios, bonificações, promoções, demissões, necessidade de

treinamento e planejamento de carreira (LIMONGI-FRANÇA, 2007).

Segundo Nasif (2007), existem duas vertentes da avaliação de Desempenho: técnico/

operacional (foco no indivíduo) e desenvolvimento/ aprendizagem (foco no grupo). A

principal finalidade, na primeira corrente, é comparar pessoas. Os avaliadores promovem uma

avaliação vertical ou mesmo é realizada uma auto-avaliação. Os métodos mais utilizados são:

checklist, escala gráfica, escolha forçada, avaliação por resultados, incidentes críticos, misto e

a própria auto-avaliação.

A segunda abordagem, ainda segundo esse autor, objetiva o desenvolvimento das

pessoas. A avaliação ocorre entre os pares e pela própria pessoa e a auto-avaliação e o sistema

de 360 graus são os métodos próprios dessa vertente.

O último processo a ser abordado diz respeito às maneiras de remuneração e

benefícios.

38

d) Remuneração e Benefícios

A remuneração é considerada um tópico de grande interesse das organizações por

constituir o maior componente do custo operacional de uma organização. Uma nova

abordagem, entretanto, vem sendo discutida que é a transformação da visão de remuneração

para a de recompensas (HANASHIRO, 2007). Uma das muitas distinções que existem

correspondem à mudança do foco que, na visão tradicional, se concentra no passado, no

realizado, para o futuro, vinculado aos objetivos a serem alcançados.

Na abordagem mais comum, a remuneração é fixada, principalmente, no cargo

ocupado pelo empregado. O grande entrave deste sistema é desconsiderar os possíveis

esforços empreendidos pelo indivíduo no desempenho de suas funções. A alternativa

elaborada seria a remuneração com base na análise da pessoa e do conjunto de suas

habilidades. Não obstante, exista a dificuldade de aplicação desta possibilidade em atividades

não estruturadas (HIPÓLITO, 2002).

A vinculação da estratégia com os objetivos e estratégias organizacionais não ocorre

por mera discordância conceitual e se baseia, sobretudo, no valor motivador que a

remuneração possui. Destacam-se às questões relativas ao pagamento equitativo (comparação

com os valores recebidos pelos mesmos profissionais dentro e fora da organização), à teoria

da expectância (prediz que o nível de motivação de um indivíduo depende da atratividade das

recompensas buscadas e da probabilidade de obtê-las) e, por último, ao sigilo sobre o

pagamento (considerado como um dos principais fatores de desconfiança no sistema de

remuneração) (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005).

Os principais componentes da remuneração são: remuneração fixa (salário e

benefícios) e remuneração variável (curto e longo prazo). O salário contempla o “valor do

profissional” para organização e se baseia em aspectos como legislação, mercado, política

salarial. São considerados benefícios a assistência médica, seguro de vida, auxílio transporte,

entre outros. A remuneração variável de curto prazo diz respeito à participação nos lucros

e/ou nos resultados. A de longo prazo, por sua vez, contempla a participação acionária.

Após a apresentação dos pressupostos conceituais a respeito das práticas, questiona-se:

QN5: Quais as práticas adotadas pela empresa?

39

Um dos aspectos-chave da gestão de pequenos empreendimentos se refere ao exercício

da liderança, entretanto, é pertinente, neste momento, discorrer acerca de literatura específica

e relacionada a este tema.

2.6 Liderança

Nos diversos tipos de sociedade, independentemente de seu grau de desenvolvimento,

existem diferentes grupos e organizações. Nesse contexto, o mesmo indivíduo participa

simultaneamente de vários grupos (BRAGHIROLLI; PEREIRA; RIZZON, 1994).

Organização são unidades sociais estabelecidas intencionalmente e continuamente

reconstruídas com a finalidade de atingir objetivos específicos (LAKATOS; MARCONI,

1999).

A teoria da identidade social, baseada na liderança, considera que no processo de um

grupo específico ocorre uma espécie de despersonalização do indivíduo em favor do papel a

que ele venha exercer dentro do contexto, cada um com suas funções e status (HOGG, 2001).

Considera-se o status um lugar ou posição que o indivíduo ocupa na estrutura social de

acordo com o julgamento coletivo ou de opinião de um determinado grupo (LAKATOS;

MARCONI, 1999). Onde existem diversas pessoas, encontrar-se-ão relações que envolvem

poder inerentes ao contexto organizacional (ROBBINS, 2005).

Nos meandros de uma empresa, precisa-se identificar a proximidade das relações de

poder com a liderança. Deve-se empreender um aprofundamento conceitual da liderança

considerando as influências políticas que envolvem líderes e liderados (PEELE, 2005).

Liderança é considerada a capacidade de influenciar um determinado grupo para o alcance de

metas (SOTO, 2008; ROBBINS, 2005). Diversas são as abordagens desenvolvidas sobre

liderança, pode-se citar: a baseada nos traços, a com o foco nos estilos de liderança, a

situacional ou contingencial e a contemporânea que contempla os aspectos de liderança

carismática, transformacional, entre outras (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002).

Nas organizações, faz-se necessário considerar o aspecto relacional do processo de

liderança, ou seja, abordar tanto os fatores relacionados aos líderes quanto aos liderados

(BOLDEN; GOSLING, 2006). Durante um período de tempo significativo, o enfoque

principal da liderança restringia-se ao poder imposto pelo líder aos seus liderados

(BERGAMINI, 1982). Desconsiderava-se, dessa maneira, a forte influência que o grupo de

liderados tem na situação.

40

A efetividade da liderança que, frequentemente, era considerada como uma influência

unilateral, fortemente moderada pelos caracteres de personalidade do líder, ganhou uma nova

ótica: a bilateralidade. Dessa forma, as características de ambos (líder e liderados) precisam

ser consideradas nesse processo (SOGUNRO, 1998). A visão unilateral distorcia os esforços a

serem empreendidos criando uma espécie de “hiperfoco” na figura do líder (BOLDEN;

GOSLING, 2006). Essa visão apresentava a relação de forma equivocada, concentrando toda

a responsabilidade dos resultados obtidos, apenas, na habilidade ou perícia do gestor.

Deve-se considerar, não apenas, o estilo preferido e as características do líder, como,

também, ao tipo de grupo que é liderado, a tarefa a ser executada e o ambiente organizacional

(BERGAMINI, 1982). Entretanto, o líder, ainda assim, é considerado como stakeholder de

destacada relevância, já que possui o papel de estabelecer direções através do

desenvolvimento de uma visão do futuro e, posteriormente, comunicar e estimular as pessoas

a transcender possíveis obstáculos (ROBBINS, 2005).

A própria Teoria da Identidade Social baseada na liderança reconhece a importância

do papel do líder no processo de condução da organização, embora considere, naturalmente, a

importância dos liderados (HOGG, 2001). Vale destacar que a figura do líder transcende

qualquer cargo ou posição hierárquica, já que a liderança em si não carece de

institucionalização (SROUR, 1998). Infere-se dessa forma que nem todo gestor é líder e que

nem todo líder precisa ser gestor.

A distinção entre líder e gestor, segundo Carroll & Levy (2008), ocorre no

entendimento que as pessoas têm do que significa cada um dos termos. O conceito de líder

apresenta um aspecto intangível e, de certa forma, ambíguo. O gestor, por sua vez,

caracteriza-se pelo pragmatismo, especificidade e clareza de atribuições.

Na gestão de empresas de estrutura simples, Mintzberg (1995), enfatiza a importância

e influência do gestor principal na organização. Na verdade, o fundador - que costuma ser o

líder de organizações de pequeno porte – tem fundamental importância por ter a concepção

global do projeto da organização e o poder para estruturar, desenvolver e construir os

elementos simbólicos da sua visão (FLEURY; FISHER et al., 1989).

Na Gestão de Pessoas, o líder pode desenvolver as políticas e práticas de RH e,

principalmente, estabelecer as diretrizes da cultura organizacional. Essa cultura se reproduz de

forma holográfica no comportamento dos empregados (MORGAN, 2000).

Justifica-se, dessa forma, que o administrador exponha as suas dificuldades e mesmo

se autoavalie para fins da criação de elementos para a análise da sua trajetória de vida e sua

relação factual com a Gestão de Pessoas, com a organização e até consigo mesmo.

41

Após, questionar acerca da GEP, em si, e de considerar as principais rotinas de

Recursos Humanos, convém perscrutar as particularidades existentes dentro do contexto do

gestor enquanto líder de suas empresas.

QN6: Quais as dificuldades encontradas na Gestão de Pessoas de suas empresas?

QN7: Como o gestor se avalia em relação à Gestão de Pessoas?

Depois de finalizada a exposição acerca dos principais temas vinculados ao estudo, é

chegado o momento de descrever a maneira como o trabalho será desenvolvido em campo e

os pressupostos ideológicos que se façam pertinentes para melhor compreensão e análise

deste trabalho.

42

3 METODOLOGIA

Não existe uma única maneira de se apreender o conhecimento, tampouco existe a

pesquisa ideal (RICHARDSON; PERES; WANDERLEY, 2007); nesse ir e vir científico o

pesquisador, diversas vezes, necessita utilizar recursos dos mais diversos para tentar

responder aos questionamentos propostos. A pesquisa em Administração é conceituada como

uma investigação sistemática capaz de fornecer informações através da obtenção de dados

confiáveis para orientação de decisões empresariais (COOPER; SCHINDLER, 2003).

A sistematização científica, consoante à compreensão, ocorre através do método cuja

ideia é antiga e remonta aos tempos de Demócrito e, do próprio, Platão (RICHARDSON;

PERES; WANDERLEY, 2007). A principal função do método em um trabalho acadêmico é

descrever a maneira pela qual o conhecimento foi produzido.

A denominada Ciência da Gestão é definida como a aplicação do método científico e

do raciocínio analítico ao processo de tomada de decisões dos executivos (VIEIRA; BOEIRA,

2006). Encontram-se diversas estratégias em Administração para compreender a dinâmica

própria do contexto organizacional. Foi escolhido, entretanto, para fins deste trabalho o estudo

exploratório qualitativo.

Para atingir o objetivo de compreensão da Atitude dos gestores do segmento de

panificação da Região Metropolitana do Recife é interessante, em princípio, estabelecer o

posicionamento, não apenas, do trabalho científico, mas da própria pesquisadora como parte

essencial para compreensão da pesquisa como um todo.

3.1 Posicionamento Epistemológico

A natureza do projeto científico não prescinde a formalização da postura

epistemológica do pesquisador. A importância se deve ao fato do posicionamento

fundamentar-se em pressupostos ontológicos e da natureza humana que permitem que o leitor

compreenda o ponto de vista do pesquisador acerca do mundo que o rodeia (RICHARDSON;

PERES; WANDERLEY, 2007).

Compreende-se, pois, que todos os cursos da pesquisa assumem essa perspectiva já

que a forma, como o pesquisador vê o mundo, afeta os tipos de pergunta e as possíveis

43

explicações que ele é capaz de aceitar (COOPER; SCHINDLER, 2003). Faz-se necessário,

então, pois, estabelecer os principais aspectos conceituais “aceitáveis” por parte da

pesquisadora.

Apesar de o presente estudo se basear em uma abordagem qualitativa, pode-se

considerar este trabalho vinculado ao paradigma Positivista. Essa visão científica consiste, em

nível ontológico, na existência de um realismo crítico de maneira que a “realidade” só pode

ser apreendida de maneira imperfeita e probabilística. Os achados provavelmente verdadeiros

que podem ser obtidos através de falsificação de hipóteses, inclusive com utilização de

métodos qualitativos de apreensão de conhecimento (DENZIN; LINCOLN, 2008).

O processo de raciocínio das considerações do problema de pesquisa se deu de

maneira reflexiva. Nesse contexto, indução e dedução são utilizadas de forma seqüencial.

Estão inseridas como proposta para o estudo não apenas questões relacionadas ao “como”,

mas, sobretudo, “por que”. Esse processo gera uma espécie de pensamento circular

(COOPER; SCHINDLER, 2003).

É importante destacar que a maneira de questionar afeta o “olhar” dado a este trabalho

e justifica as escolhas metodológicas assumidas. Destaca-se, inclusive, que a metodologia

reflexiva deve ser compreendida como a capacidade de formular suas perspectivas através das

perspectivas do “outro” e construídas junto com a pesquisa (VERGARA, 2008). Evita-se, na

medida do possível, os potenciais equívocos que poderiam ser causados pela pesquisadora em

“estudar” os indivíduos pesquisados com base no contexto de sua visão particular de mundo.

O presente trabalho está inserido no denominado Movimento Humanista que apresenta

a importância da administração como sistema social. Sendo considerado, pois, o ser humano

como o centro do processo administrativo em detrimento do sistema técnico que era a visão

corrente da chamada escola clássica ou científica (MAXIMIANO, 1997).

Precisamente a pesquisa encontra-se alinhada ao Novo Movimento das Relações

Humanas que consiste em uma abordagem integrativa que combina uma visão positiva da

natureza humana ao estudo científico. Seu objetivo principal é a prescrição de boas práticas na

maior parte das situações (STONER; FREEMAN, 1985).

O estudo desenvolvido, entretanto, também sofre influência da denominada

abordagem contextualista atribuída a Pettigrew. A principal preocupação dessa linha

encontra-se vinculada a três principais aspectos: o contexto (O porquê – interno e externo), o

processo (Como – ações e reações) e o conteúdo (O quê – Área objeto) (HANASHIRO,

2007).

44

A abordagem contempla a visão de que, apenas, é possível compreender o

comportamento e a maneira de ser de um indivíduo dentro de um contexto geográfico,

histórico e cultural, em que o funcionamento total da situação tem relação direta com aspectos

significativos do seu meio (BRAGHIROLLI; PEREIRA; RIZZON, 1994). Desta maneira, não

há como “desconsiderar” circunstâncias que representativamente vieram a fazer parte das

experiências vivenciadas pelos indivíduos que possam vir a ser investigados.

Após apresentar as considerações pertinentes, estabelecer-se-ão agora os requisitos de

caracterização da tipologia investigatória e seus desdobramentos correlatos.

3.2 Caracterização dos Tipos de Pesquisa

O estudo possui caráter exploratório já que as razões envolvidas na problemática de

pesquisa não se encontram satisfatoriamente esclarecidas. Segundo Cooper & Schindler

(2003), a exploração se faz necessária quando o pesquisador não tem uma ideia elaborada e

precisa do que será encontrado na pesquisa, onde a área de investigação seja nova ou mesmo

as variáveis importantes possam estar ainda desconhecidas.

Devido à natureza do problema apresentado, a abordagem utilizada em relação ao

método foi qualitativa e a estratégia o estudo de caso múltiplo. Neste trabalho, não se

pretendia encontrar regularidades, mas, sim, a compreensão dos agentes, bem como das

razões que os levaram a agir daquela maneira (GODOI; BALSANI, 2006).

A escolha também advém da necessidade de aprofundamento e da natureza do

problema estudado a fim de alcançar o objetivo da compreensão da atitude dos gestores. A

necessidade de se buscar o conhecimento de uma situação ou caso em particular é um dos

principais argumentos da escolha da estratégia adotada (GODOY, 2006).

Neste trabalho, consoante já explicitado, o direcionamento é o referente aos estudos

contextuais, cuja descrição ocorre com base no grupo ao qual o indivíduo pertence. Dessa

forma, a coleta de dados acontece no ambiente em que a pessoa se encontra inserida

(RICHARDSON; PERES; WANDERLEY, 2007).

Ao apresentar a tipologia e estratégias de pesquisa a serem adotadas, nota-se a

oportunidade de definir aspectos relevantes como a população e a amostra que oportunamente

fizeram parte deste estudo.

45

3.3 Delimitação da Pesquisa: População, Amostra

Os estudos científicos estão situados no rol das observações sistematicamente

realizadas em relação a um objeto específico. Neste trabalho, considerou-se o objeto como o

estudo de um determinado conjunto de gestores do setor de panificação da Região

Metropolitana do Recife. Abaixo será apresentada a descrição da população vinculada à

pesquisa.

3.3.1 População

A população é o conjunto de elementos que possuem determinadas características

(RICHARDSON; PERES; WANDERLEY, 2007). Neste trabalho, é composta pelas quatro

empresas escolhidas para composição do estudo de caso múltiplo. As empresas foram

convidadas a participar deste trabalho pelo critério da acessibilidade e por possuírem algumas

características comuns vinculadas à história de vida das organizações. Podem-se destacar

aquelas que dizem respeito ao porte (pequenas empresas) e ao tipo (lojas de conveniência ou

delicatessen).

Vários critérios são utilizados para considerar o que constitui um pequeno

empreendimento como: medidas econômicas, número de empregados, natureza do negócio ou

estrutura formal (GILBERT; JONES, 2000). Adotou-se a classificação adotada pelo SEBRAE

que considera como pequena empresa aquela que possui número inferior a 50 empregados.

As empresas, para fins deste estudo, encontram-se inseridas no padrão denominado

por Mintzberg (1995) como Estrutura Simples que se caracteriza pela existência de um gestor

principal, em geral, o fundador ou um empresário que pode ter um grupo de pessoal de apoio -

em nível de supervisão - e um grupo de operadores denominado núcleo operacional

(MORGAN, 2000). Essa estrutura envolve duas exigências fundamentais: a divisão do

trabalho em diferentes tarefas e a coordenação do processo de forma eficiente e eficaz

(MINTZBERG, 1995).

Cada tipo de organização parece possuir características e nichos distintos nos quais se

desenvolve (MORGAN, 2000). As principais fraquezas dessa estrutura se relacionam

exatamente com sua principal característica a centralização do poder e, consequentemente,

com a Gestão como um todo ficar atrelada às habilidades, características, limitações e, até

46

mesmo, humores do gestor principal. Os liderados podem ser afetados negativamente pelas

restrições da estrutura (MINTZBERG, 1995).

Como aspectos positivos, a centralização também desponta como significativa, haja

vista a facilidade de manobra, por parte do gestor, que não se encontra vinculado a outros para

atuar em uma situação de ameaça ou oportunidade. Também, essa liderança se dá, muitas

vezes, de forma missionária baseada em carisma e a proximidade com o “dono”, por outro

lado, pode ser positiva (MINTZBERG, 1995).

No Quadro 4, observam-se as características identificadas pelo autor sobre essa

estrutura.

Principal Mecanismo de Coordenação: Supervisão Direta

Parte chave da organização: Cúpula Estratégica

Principais parâmetros para delinear: Centralização, estrutura orgânica

Fatores situacionais: Pequena e jovem; sistema técnico sem

sofisticação; ambiente dinâmico; possivelmente

hostilidade extrema ou grandes necessidades de

poder do gerente de topo; não acompanhando a

moda.

Quadro 4: CARACTERES DA ESTRUTURA SIMPLES

Fonte: Mintzberg, H. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. São Paulo: Atlas, 1995.

Nesse contexto, é notória a importância do líder para o sucesso organizacional, dessa

forma se justifica a escolha dos gestores como componentes essenciais ao entendimento das

questões propostas pelo trabalho.

O setor de panificação foi escolhido por apresentar números expressivos para a

economia do país, há atualmente em torno de 63.200 estabelecimentos comerciais com um

faturamento anual de R$ 43,98 bilhões em 2008 (PROPAN, 2009). Vale salientar que os

números supracitados não contemplam as receitas obtidas pelos produtos panificados

comercializados nas grandes redes e pequenos estabelecimentos também conhecidos como

“mercadinhos”. Adiciona-se aos argumentos a proximidade que as pessoas possuem com esse

tipo de organização.

No Estado de Pernambuco, encontram-se instaladas 1.663 empresas, estando em 12º

lugar em número de padarias instaladas no país. Não há um número exato de gestores

envolvidos, haja vista existirem diversos tipos de configuração de gestão (individual, com

47

cônjuge ou grupo familiar), bem como, com frequência o mesmo grupo gestor possui mais de

um empreendimento na região em que atua.

Não foram encontrados, também, dados oficiais a respeito da população exata da

Região Metropolitana do Recife de padarias, logo, para fins deste trabalho, dada a sua

natureza qualitativa, serão utilizados os quantitativos estaduais para fins meramente

informativos da relevância dessa indústria para o contexto local.

3.3.2 Amostra

O estabelecimento de uma amostra ocorre por diversos fatores: custo, maior acuidade

dos resultados, maior velocidade na coleta de dados, disponibilidade de elementos da

população (COOPER; SCHINDLER, 2003). Devido ao aprofundamento existente aos

questionamentos elaborados, serão estudadas quatro empresas, escolhidas pelo critério de

acessibilidade, conforme já mencionado.

Por se tratar de um estudo de casos múltiplos não há necessidade de representatividade

numérica da população escolhida. Segundo Godoy (2006), existem três tipos de estudos de

caso: etnocaso; casos “geradores de teoria” e casos “exemplares”. Pela natureza deste trabalho

a opção metodológica pode ser atribuída a este último.

As empresas escolhidas são estabelecimentos bem-sucedidos em bairros tradicionais

(Casa Forte, Torre, Várzea e Aldeia). São características próprias dessa indústria a

continuidade no negócio e a expansão entre um núcleo familiar primário que possui um ou

mais estabelecimentos vinculados.

A empresa A, localiza-se no bairro da Torre, e foi considerada pela PROPAN

(Programa de Apoio à Panificação), órgão que atua na área de consultoria especializada

vinculado à Associação Brasileira da Indústria de Panificação (ABIP), como empresa

destaque de 2007. Sua gestão é compartilhada por dois sócios principais e a esposa de um

deles.

A empresa B, situa-se no bairro de Casa Forte e constitui em um tradicional

estabelecimento comercial na sua localidade, observa-se que o processo de criação se

relaciona com a empresa A. A gestão é compartilhada por três membros de um mesmo grupo

familiar (Pai, mãe e filha). A empresa C, encontra-se no bairro da Várzea e possui uma gestão

realizada entre marido e mulher, porém a sociedade se dá entre a mulher e seu irmão que é

48

proprietário da empresa D. A empresa D, por sua vez, está situada em Aldeia e, também,

possui gestão compartilhada entre marido e mulher.

Após apresentar as características das empresas estudadas, descrever-se-ão, neste

momento, os procedimentos referentes à coleta de dados.

3.4 Coleta de Dados

A coleta de dados consiste na maneira pela qual o pesquisador tem acesso às

informações (COOPER; SCHINDLER, 2003). Neste estudo, os métodos de coleta foram

realizados através de entrevista em profundidade semiestruturada e aplicação de questionário

sócio-demográfico.

Durante as visitas foram feitas observações que puderam contribuir para o

entendimento da atitude dos gestores. Não houve, neste caso, qualquer intenção de realizar

um processo de triangulação com a fala do entrevistado, mas, sim, contribuir para a

compreensão da problemática proposta.

O procedimento de coleta ocorreu nas seguintes etapas:

1. Realização do primeiro contato, pessoalmente ou por telefone, com a finalidade de

agendar o primeiro encontro;

Nesta etapa, não ocorreu nenhum problema. Os contatos eram realizados devido à

acessibilidade nas empresas A, B e D. No caso da empresa C, como havia vínculo com a “D”

houve aceitação de imediato para a participação da pesquisa.

2. No primeiro momento, haja vista os participantes já estarem de acordo da sua

participação, foram feitas a explanação dos objetivos da pesquisa, a realização da

aplicação do questionário, depois de finalizado o procedimento, foi agendado um

novo encontro para a entrevista;

Não houve grandes dúvidas por parte dos entrevistados. Nas empresas B, C e D, a

aplicação dos questionários e realização da entrevista aconteceu no mesmo dia. Na empresa

A, houve necessidade de agendamento de um segundo encontro.

49

3. Realização da entrevista, no local e hora de interesse do entrevistado. Foi facultado

aos entrevistados: rever a entrevista através da transcrição com o objetivo de

acrescentar, reformular ou mesmo retirar qualquer informação que se fizesse

pertinente;

Nas empresas C e D, as entrevistas foram realizadas na própria loja do gestor. Em

horário e dias de pouco movimento. Porém, algumas breves interrupções foram feitas,

geralmente, os clientes cumprimentando os proprietários. Nas empresas A e B, a coleta se deu

no escritório, onde funciona a parte administrativa da padaria.

4. Reenviar aos entrevistados interessados os conteúdos da transcrição e realização das

intervenções necessárias;

Não houve interesse dos entrevistados em revisar o conteúdo, apenas de conhecer o

“resultado” da pesquisa.

5. Finalizada a etapa de coleta e liberação do material para a etapa de análise;

O material seguiu para transcrição com o profissional contratado e devolvido para

análise.

Apresentar-se-á, neste momento, a descrição dos procedimentos relativos à entrevista

com os gestores. Nessa etapa, houve um ajuste de procedimentos devido às características da

empresa A. Inicialmente, apenas os proprietários seriam entrevistados, mas como nessa

organização havia uma pessoa “encarregada” do setor de Gestão de Pessoas, uma supervisora

passou a fazer parte da amostra.

3.4.1 Entrevista

A entrevista é considerada a técnica que permite o desenvolvimento de uma estreita

relação entre as pessoas (RICHARDSON; PERES; WANDERLEY, 2007). A realização de

entrevistas em profundidade, semiestruturadas possui um alto grau de interação entre

pesquisador e pesquisado. Possibilitou-se, ainda, neste estudo, ao entrevistado a oportunidade

de rever, alterar e reformular possíveis colocações.

Neste trabalho, escolheu-se a entrevista baseada em um roteiro por apresentar uma

preparação de uma sequência, sem retirar a flexibilidade do entrevistador em ordenar e

50

formular os questionamentos (GODOI; MATOS, 2006). As perguntas se encontram dispostas

no “APÊNDICE B” deste trabalho.

Vale salientar que o estabelecimento de um roteiro não consiste, necessariamente, em

uma previsibilidade de conversação (GODOI; MATOS, 2006). Não havia pressupostos a

priori, mas sim uma disposição de verificar junto ao gestor quais os elementos que

compunham o contexto próprio e que podiam ser utilizados para explicar a atitude perante a

Gestão de Pessoas nas organizações estudadas.

Estabeleceu-se, também, a plena liberdade por parte do entrevistado em relação aos

métodos de registro, foi facultada a presença, ausência e possíveis pausas nos instrumentos de

gravação nos momentos em que fossem do interesse do interlocutor. Nenhum entrevistado

solicitou o desligamento dos aparelhos para fazer comentários adicionais. Apenas, algumas

interrupções ocorreram nas empresas A e D para resoluções de problemas cotidianos não

relacionados com a pesquisa.

O tempo médio de duração das entrevistas foi de 45 minutos sem contar com o tempo

dedicado à aplicação do questionário e explicação dos objetivos da pesquisa. Na empresa A,

foram feitas duas visitas e o tempo total gasto foi de aproximadamente quatro horas. Na

empresa B, também, foram realizados dois encontros, no primeiro foram feitas as sondagens

com as duas gestoras e no último com o gestor principal, no cômputo geral foram despendidas

cinco horas. Apenas uma incursão foi feita na empresa C e a visita durou em torno de duas

horas. Na empresa D, o gestor se esqueceu do horário agendado o que resultou no tempo total

de três horas e meia.

Notas de campo foram feitas em todas as etapas da pesquisa de observações que se

fizeram pertinentes. As entrevistas foram transcritas integralmente por um profissional de

comunicação social e apenas foram utilizadas após conferência da pesquisadora.

Foram coletados alguns dados sócio-demográficos dos líderes e das empresas, a fim de

deixar mais claro e objetivo os aspectos relevantes e presentes dos gestores e suas respectivas

organizações, consoante ao próximo item.

3.4.2 Questionário de dados sócio-demográficos

Os dados sócio-demográficos visam à obtenção de maior clareza no processo de

contextualização das empresas e de seus gestores. O seu conteúdo está disposto no

“APÊNDICE A” deste trabalho.

51

A escolha e a maneira de analisar os dados são fundamentais para o estudo, dessa

forma, a seguir apresentar-se-ão as considerações pertinentes à análise dos dados.

3.5 Análise de Dados

Existem diversas maneiras de se analisar os dados de uma entrevista e isso não

consiste em uma mera questão processual (MATTOS, 2006). Os dados deste trabalho foram

analisados com base na denominada Análise de Conteúdo. A Análise de Conteúdo é uma

técnica que pretende apreender o que está sendo dito acerca de determinado tema

(VERGARA, 2008) e tem se apresentado como importante instrumento na investigação

humana nas Ciências Sociais (RICHARDSON; PERES; WANDERLEY, 2007).

Segundo Bardin (2009), consiste em um conjunto de instrumentos metodológicos que

procura analisar as comunicações. Adotou-se, neste estudo, uma abordagem qualitativa

categorial temática. A Unidade de registro e conteúdo é a frase ou oração que venham a

aparecer no decorrer da entrevista e venham a esclarecer os questionamentos propostos.

As questões norteadoras foram elaboradas com base nos moderadores da atitude

propostos por Robbins (2005) e se encontram alinhadas aos objetivos específicos para

compreender a atitude. Em relação à alegoria da caverna, a meta era identificar os elementos

existentes na fala dos entrevistados com base nos graus de conhecimento propostos por

Platão.

A primeira fase foi empreendida através da análise de conteúdo com base na

categorização temática. Os dados obtidos por empresa estão no APÊNDICE C, deste estudo.

A Segunda etapa preocupou-se com o conceito de atitude, estabelecendo uma relação entre os

“achados” e a compreensão da atitude propriamente dita. A melhor compreensão de como o

os critérios analíticos, dessa fase, dá-se através da observação da Figura 3 adaptada pela

autora dos manuais de Comportamento Organizacional.

52

Figura 3 - ANÁLISE DA ATITUDE

Adaptado de: ROBBINS, S.P. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2005.; GRIFFIN, R.

W.; MOORHEAD, G. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Ática, 2006.

Logo após esses fatores estarem previamente compreendidos, estabeleceu-se uma

comparação entre os “dados” e os quatro estágios do desenvolvimento:

1 Eikasía - Conjetura feita a partir das imagens ou dos reflexos das coisas, impressões;

2 Pístis (crença) e Dóxa (opinião) - Confiança que depositamos na sensação e na

percepção;

3 Diánoia - Conhecimento discursivo;

4 Noésis (intuição intelectual) ou Espistéme (ciência) - Conhecimento à luz do “Bem”,

na Gestão de Pessoas, refere-se à Gestão Estratégica de Pessoas.

Na próxima seção, serão tratados os assuntos relativos aos dados encontrados e suas

respectivas interpretações com base na literatura acadêmica.

3.6 Limites e Limitações

Dificilmente um estudo científico escapará de restrições impostas por limites e

limitações. Neste momento, serão apresentados os limites e limitações, respectivamente.

3. Comportamental

2. Afetivo

1. Cognitivo

6. Comportamento

4.

Moderadores

da Atitude

5. Outros

Fatores

53

3.6.1. Limites

Um dos aspectos que se faz claro delimitar é a escolha do número máximo de

empresas e gestores entrevistados. Nitidamente, mais conveniente seria aguardar o fenômeno

da exaustão, ou seja, quando novas ideias não mais acrescentassem informações relevantes ao

trabalho. Porém, existem limitações de ordem temporal e financeira para uma incursão deste

porte. Neste caso, um limite imposto por uma limitação.

O tema do trabalho se restringe à visão dos gestores, neste caso, os proprietários que

são os responsáveis pela administração das padarias. Este estudo, portanto, não se propõe a

gerar informações capazes de fornecer um possível diagnóstico organizacional. Apesar deste

limite, foi necessário acrescentar à pesquisa o depoimento de uma supervisora com a

finalidade de promover o enriquecimento do entendimento das questões elaboradas. A

principal razão para essa escolha diz respeito à particularidade desta empresa, conforme será

mais bem fundamentado na seção referente à história de vida das organizações.

3.6.2. Limitações

Como se trata de um estudo qualitativo de caráter exploratório, vale salientar que não

se pretende encontrar aspectos generalizáveis aos empreendimentos localizados na Região

Metropolitana de Recife, muito menos a estender a outras regiões. Esse fenômeno ocorre

devido a vários fatores: à própria abordagem contextualista, às diferenças de porte dos

empreendimentos, à diversificação do mix de produtos entre as empresas, à localização

geográfica, às distinções de modelos gerenciais, enfim, n fatores ratificam a ideia de que as

questões suscitadas e os possíveis achados; embora, possam vir a ter o condão de estabelecer

relação com empreendimentos similares, não o tem como objetivo principal.

Logo, apesar de ser um estudo positivista, não se considera esse como um problema de

natureza estrutural pela característica exploratória deste trabalho. Bem como pelo

aprofundamento pretendido que suscitou a restrição do número de empresas estudadas.

Serão apresentados, neste momento, os “achados” deste estudo científico.

54

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A análise será apresentada com base e na ordem dos objetivos específicos que fazem

parte deste estudo. Os dados de categorização temática realizada, por empresa, estão dispostos

no APÊNDICE C deste trabalho.

4.1 Apresentação e Análise dos Dados

As entrevistas foram submetidas à análise de categorização temática, segundo a

Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2009). As categorias encontradas estão dispostas

no final desta seção e foram identificadas, inclusive, a existência de subcategorias, todavia

para melhor entendimento deste trabalho elas serão apresentadas em bloco.

Devido ao caráter semidiretivo das entrevistas, não foi possível realizar uma análise

com uma unidade de registro com base nas respostas dadas e, sim, uma categorização

temática ampla que procurou identificar quais temas poderiam ser extraídos do contexto do

diálogo. Optou-se pelo critério referencial, ou seja, as unidades de registro eram analisadas

com base no vínculo que existia entre o assunto e o ponto de vista do autor.

Essa escolha foi realizada porque, embora a conversação fosse norteada por um

roteiro, não se observou uma regularidade entre a fala de um entrevistado com a de outro.

Aspectos relativos ao segmento, diversas vezes, eram percebidos como característica da

organização, por exemplo.

A fim de melhorar o entendimento dos resultados do estudo e a apresentação dos

dados, adotou-se a construção linear com base nos objetivos específicos da pesquisa. Os

dados encontrados estarão dispostos, neste item, até o penúltimo objetivo específico. O último

será apresentado na próxima seção, por se tratar das discussões dos achados propriamente

ditas.

O primeiro objetivo específico analisado diz respeito à compreensão da história de

vida da organização e do leitor. O objetivo tanto do conhecimento quanto da apresentação

dessas informações é proporcionar uma breve visão dos “caminhos” percorridos por essas

pessoas e empresas até o ponto em que efetivamente se encontram hoje.

55

a) Compreender a história de vida da organização e do gestor;

Em relação à história de vida, não foi focada a questão do “passado” em si, mas a

compreensão do presente através de uma ótica embasada em acontecimentos relevantes tanto

aos indivíduos quanto às suas respectivas organizações. Apesar de existirem quatro empresas,

neste trabalho, inúmeras serão as referências de umas às outras, já que há vínculos entre as

empresas A e B e entre as C e D. A primeira categoria temática encontrada que auxilia a

compreensão desse aspecto são os Fatores Relacionados ao Segmento.

Nessa classificação, foram agrupadas todas as características, que de alguma forma, os

gestores percebessem fazer parte das organizações similares presentes na Região

Metropolitana do Recife. Naturalmente, alguns aspectos convergem com os achados de

Características da Organização, porém a distinção foi realizada com base na percepção do

entrevistado conforme já apresentado.

Embora que de maneira direta nem todas as subcategorias foram citadas por todas as

empresas pesquisadas, observa-se que mesmo que de forma indireta ficava clara, no contexto

das entrevistas, a consciência daquilo que nem sempre foi verbalizado por todos os gestores.

Encontram-se nestas subcategorias diversos temas. A complexidade da gestão que

esse tipo de pequena empresa tem que lidar todos os dias (produção, comercialização) é o

primeiro fator a ser apresentado, conforme trecho a seguir:

“É...é...como se fosse um processo realmente uma padaria...daquele que produz,

daquele que separa a matéria-prima, daquele que assa, daquele que embala até o

que vende e finaliza o processo.” (Entrevistado 2)

A mudança do perfil desse tipo de negócio que outrora era fortemente vinculado ao

pão francês e, hoje, está muito mais próximo do fenômeno de food service ampliou a

necessidade do empresário de panificação de estar atento às novas tendências como afirma o

gestor.

“Quem foi dinâmico neste setor da panificação, ele está bem. Quem ficou pensando

no passado, está mal. E aí é como eu sempre digo: ele está na UTI.” (Entrevistado

6)

Outro aspecto que merece destaque em relação a esse tema são as respostas seguintes

que indicam que apesar de ambos os entrevistados possuírem bastante tempo na indústria,

algumas vezes afirmam não conhecer nada a respeito do setor em que trabalham e outras não

56

são capazes de perceber as mudanças ocorridas como os demais entrevistados foram

unânimes em observar.

“(...) mas, na parte de panificação muito pouco...assim...eu ainda não-não conheço

muita coisa (...).” (Entrevistado 4)

“(...) O que mudou era que antigamente a gente só vendia pães, depois começamos

a vender a parte de mercearia, a mudança foi essa.” (Entrevistado 5)

Parte desse comportamento de afastamento ou alienação pode ser melhor

compreendido no contexto particular do empreendimento, vinculado às questões de liderança

que serão abordadas posteriormente.

A mudança do perfil promoveu uma tendência de crescimento do setor e esse não é

apenas um fato que se encontra na fala dos entrevistados, o segmento de panificação cresceu

11,04% em 2008. No mesmo período, grandes redes varejistas como Pão de Açúcar e

Carrefour cresceram 8,51% e 8,1%, respectivamente. No estado de Pernambuco, a média de

crescimento das empresas foi de 10,14% (PROPAN, 2009).

A atratividade deste tipo de empreendimento também é um fator destacado pelos

entrevistados como consequência do “pão francês”. Conforme se observa a seguir:

“Hoje o pão francês é só um chamariz para o cliente poder estar vindo aqui todos

os dias que a gente tem até uma pesquisa que o cliente, ele frequenta uma média de

catorze vezes, ao - durante o mês, a padaria.” (Entrevistado 3)

A criação de um programa de consultoria especializada e a existência da cooperação

promovida pela formação de redes de relacionamento entre padarias, que são organizações

que têm por objetivo a realização de marketing cooperado, diminuição de custos de

consultoria e troca de experiências com outras empresas indicam que “novas maneiras” em

termos aquisição de conhecimento estão sendo utilizadas em panificação.

A existência de embasamento teórico em detrimento das limitações impostas pelo

senso comum e pela aquisição de experiência contrasta com os achados de Fuller-Love

(2006); o que pode ser um indício de que, neste segmento, pequenas empresas tendem a

adotar um comportamento diferente devido aos fatores supracitados.

Salienta-se que a aquisição deste conhecimento alterou a própria forma de gestão da

produção e aliada às mudanças tecnológicas dos fornos promoveu um aumento da

autonomia para o gestor. Os “segredos do negócio” antes ficavam restritos a um pequeno

número de colaboradores e, hoje, encontram-se acessíveis a qualquer empreendedor.

57

Ocorreu com isso, consequentemente, uma espécie de “perda de poder” por parte de

alguns empregados considerados de suma importância para esse tipo de organização: os

“pasteleiros” e os “mestres-padeiros”. A utilização do procedimento de “pré-pesagem”

contribuiu significativamente para essa mudança. Conforme se verifica no trecho a seguir:

“Hoje você já faz a pré-pesagem e antigamente não, tinha. Era aquele negócio de

aquele padeiro é quem tem a receita (...), isso tudo causava um certo transtorno,

né? Porque você não conseguia administrar.” (Entrevistado 7)

Outra característica do setor é a necessidade de um grande número de profissionais

para que a empresa consiga desenvolver suas atividades e isso faz com que essas organizações

possuam um alto custo da mão-de-obra. A baixa qualificação do profissional que trabalha

em panificação, também, apresentou-se como uma característica comum, conforme a seguir.

“Ele vem praticamente do zero, eles todos são assim (...).” (Entrevistado 1)

A carga horária dos empregados oscila entre oito e dez horas e, não raro, os

empregados são submetidos à “hora extra”. O trabalho também, segundo os entrevistados,

requer um esforço físico e/ ou emocional elevado e os atuais layout´s, dos empreendimentos

estudados não contemplam a existência de lugares para intervalos de descanso ou para

refeições reservadas. Os indivíduos estão de certa forma, durante todo o período laboral,

expostos ou ao calor dos fornos, na área de produção, ou ao contato direto com o público na

“loja”.

Os fatores acima se vinculam à Qualidade de Vida e afetam significativamente, não

apenas, os empregados, mas à própria organização, conforme conclusão a seguir:

“(...) Eu acho que em tudo que a gente consegue recursos para eles trabalhar (...)

assim tentar ajudar na qualidade de vida deles, eu acho que eles produzem melhor,

eu acho que eles trabalham melhor, eu acho que ele erram menos, eu acho que eles

queimariam menos produtos, eu acho que eles teriam mais atenção na hora de estar

manipulando um produto, eu acho que eles assim, melhorariam bastante a

produtividade e no atendimento”. (Entrevistado 2)

O problema da ausência de prioridades das organizações no que diz respeito à

Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) não se restringe, apenas, ao segmento de panificação,

poucas entidades, mesmo as maiores têm buscado soluções para problemas dessa natureza,

cujo impacto afeta o resultado da empresa (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002).

A existência desses fatores acaba por provocar o denominado stress ocupacional que,

por sua vez, produz um fenômeno denominado spillover que é o efeito que uma situação ou

58

problema provoca na vida familiar das pessoas ou vice-versa (HALBESLEBEN; ZELLARS,

2007). Os Gestores, em suas falas, acabam por reportar situações como essa que demonstram

a influência das dificuldades relacionadas à QVT na vida pessoal e profissional dos

empregados. Conforme conclui o mesmo entrevistado.

“É porque o funcionário começa a trabalhar tão mecanicamente que assim eu acho

que ele chega em casa achando que continua no sistema da padaria ou não

consegue viver em casa direito, então traz para a padaria os costumes de casa.”

Destaca-se, também, como característica do segmento, a questão das diferenças entre

gerações e entre regiões (Nordeste X Sul/Sudeste) observadas pela empresa A; dentre os

entrevistados é a que possui mais tempo de escolaridade e de treinamento específico em

panificação, o que lhe forneceu uma visão mais ampliada do mercado como um todo através

de uma postura crítica, conforme trechos da entrevista da gestora:

“Sul e Sudeste, lá eles realmente têm pessoas de nível pra lidar com a empresa,

então assim eles lidam a padaria como uma empresa, não como algo que veio de

pai para filho (...).”

“Não sei se eu estou falando algo que foi a geração que eu vivi que foi a geração do

meu pai, né? (...). São pessoas que vê a padaria que ele tem que mandar, ele tem

que fazer, ele não pode delegar porque se delegar para o outro vai dar errado,

sabe?”

Serão apresentados, neste momento, os subtemas que emergiram da categoria

Características da Organização. Os primeiros aspectos comuns que correspondem a todas as

empresas é a natureza familiar, não apenas, na constituição ou aquisição, mas,

principalmente, na gestão das empresas. Mesmo no caso da empresa A, que é administrada

por dois sócios distintos, a relação entre eles é de parentesco, são primos. Pelo que se obteve

de informação, essa parece ser, inclusive, a realidade da maioria das panificadoras da Região

Metropolitana do Recife.

As organizações deste setor também costumam passar por processos sucessórios, ou

seja, passam de pai para filho, conforme citação da gestora A. Muitas vezes, por mais de

uma geração, essa é a realidade das empresas estudadas, consoante comentário do

entrevistado 3.

“(...) e foi dada a sucessão de pai pra filho é...eu acho que foi em 1986 (...) e em

2004 foi dada a outra sucessão que foi quando eu entrei na (nome da empresa).”

59

Outro aspecto comum entre as organizações estudadas é, embora exista esse vínculo

consanguíneo entre elas, a independência administrativa. E que embora fique claro que as

empresas “se ajudem” ou mesmo “troquem ideias” entre si, existe um núcleo gestor

independente. A empresa A está vincula com a empresa B e a C com a D, com as devidas

ressalvas acima.

Todas as panificadoras estudadas parecem possuir excelência no atendimento e nos

seus produtos. São empresas bem posicionadas tanto no setor quanto nas suas respectivas

localidades. A proximidade das padarias, principalmente dos gestores, com seus clientes

também é característica notória em todas as organizações. Na empresa C, por exemplo, na

chegada da pesquisadora para a realização da entrevista, ao questionar a empregada que

trabalha no caixa sobre o entrevistado, obteve a resposta da localização do proprietário através

da própria cliente que estava sendo atendida. Os gestores são, de fato, muito acessíveis aos

seus clientes.

Em relação à “profissionalização”, a empresa A é considerada mais estruturada do

ponto de vista gerencial, sendo a única, inclusive, que possui um nível intermediário hoje

realizado por supervisores, antes por um gerente de fato. As demais empresas não possuem

empregados responsáveis, nem instrumento de controle de qualquer natureza além,

naturalmente, da supervisão direta que desenvolvem.

Os proprietários, também, não atuam sozinhos, todas as empresas possuem mais de

um gestor. A empresa A, duas sócias; a empresa B, pai, mãe e filha; a empresa C, mulher e

marido, eventualmente a mãe também “supervisiona” e na empresa D marido e mulher. A

ordem das personagens nessa apresentação possui um significado que denota a ordem de

poder observada.

Com exceção da empresa D, que é uma organização recente, todas as empresas vêm

passando por mudanças sucessivas ao longo dos anos, sobretudo, no perfil que aumentou o

mix de produtos oferecidos pela empresa, bem como pela utilização de sistemas de

informação. Entretanto, a “cultura” parece estar sendo preservada. Conforme se observa no

trecho a seguir:

“É a cultura permaneceu, a tradição é a mesma, só mudaram umas coisas

organizacionais.” (Entrevistado 2)

É importante observar a preservação da cultura, por parte das empresas, de maneira a

não comprometer o costume local que mesmo onde existe um processo de profissionalização

60

em desenvolvimento há um “cuidado”, uma espécie de “limite”, de acordo com o trecho

abaixo:

“O Sul e Sudeste é muito diferente da gente. Lá eles têm pessoas...assim...poucas

padarias que eu fui lá tem o dono dentro. Não que eu ache isso bom (...). Eu sou

daquelas pessoas que eu gosto de estar no salão atendendo cliente (...). Eu acho que

o cliente nosso gosta disso”. (Entrevistado 3)

Essa preocupação verbalizada de como o “cliente gosta’, também demonstra

sensibilidade que as empresas possuem ao buscar referências, sem, porém, perder o senso

crítico, tampouco deixar de compreender as necessidades do seu mercado.

Outra característica comum às organizações diz respeito à baixa rotatividade dos

empregados.

“Não é interessante ter rotatividade por uma questão de custo, o custo de

indenização é muito alto e a gente tenta o máximo possível (...).” (Entrevistado 1)

Embora o custo seja importante, a questão parece não se limitar a isso. Os fatores que

envolvem o treinamento dos novos empregados, já que a maior parte deles não tem qualquer

qualificação também parece afetar.

“O nosso funcionário, essas pessoas que ficam tanto o profissional brasileiro ainda

é um dos melhores profissionais de ser humano do mundo, agora infelizmente o que

precisa deles é escola, é preparação que eles não têm.” (Entrevistado 6)

Destacam-se, também, referências ao próprio cliente, sobretudo para os empregados

que atuam na área de atendimento, como se lê no trecho seguinte:

“O funcionário meu do atendimento tem boa comunicação com os clientes, são

funcionários antigos, ã... é o cliente gosta. Você mesmo se vai numa boutique e é

atendida por aquela funcionária, você não quer que a funcionária saia da loja,

né?.” (Entrevistado 6)

O centro das atenções dessas empresas, realmente, é o cliente e parece ser a razão de o

sucesso existir independentemente da forma de gestão e estrutura dessas organizações. Em

resumo, os caminhos são diferentes, mas o fim de todas é o mesmo. O consumidor é, mais do

que a razão de existir, é o móvel de todos os recursos cognitivos e emocionais na condução

dos empreendimentos estudados.

Os subtemas ou subcategorias dos Fatores Relacionados ao Segmento se encontram

sintetizados no Quadro 5.

61

Subtemas Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

Complexidade da gestão X X

Mudança do “perfil” de

padaria

X X X X

Tendência de crescimento X X X X

Atratividade da loja X X X X

“Novas maneiras” de aquisição

de conhecimento

X

Cooperação entre as padarias X X

Aumento de autonomia para o

gestor

X

Perda do poder técnico por

parte dos empregados

X X

Grande número de

empregados

X

Custo de mão-de-obra X

Mão-de-obra uniforme X X X X

Qualidade de Vida no

Trabalho

X X

“Gerações” de gestão X

“Diferenças regionais” na

gestão

X

Quadro 5: FATORES RELACIONADOS AO SEGMENTO

Depois de concluir os aspectos comuns. Serão apresentadas agora as particularidades e

aspectos vinculados à história de vida de cada empresa em si e de seus gestores principais. Ao

apresentar esses dados, será utilizada as subcategorias Características da Organização e

Fatores Relacionados ao Gestor. A apresentação será realizada de maneira individual (por

organização) a fim de promover melhor entendimento das especificidades de cada empresa,

consoante a estratégia de pesquisa adotada.

62

Empresa A:

Essa organização foi fundada, no bairro da Torre, em 1935, por um senhor português e

foi adquirida pelos atuais proprietários em 1970. A compra foi realizada por um grupo de três

pessoas da mesma família também de ascendência portuguesa. A empresa atua nos setores

varejista e atacadista. A responsabilidade da administração, à época, ficou por encargo do

atual gestor da empresa B. Após alguns anos, esse empresário adquiriu mais duas padarias e

começou a realizar a gestão de uma delas e a sua esposa da outra. Um dos sócios, sobrinho do

gestor, sugeriu a compra da parte do terceiro sócio ao antigo administrador e sócio, sugestão

aceita de imediato. Esse sobrinho, também, recebeu de seu pai a parte dele e passou, a partir

desse momento, a gerir a empresa com sua então namorada e atual esposa.

Após “incompatibilidades” de práticas com o gestor da empresa B que é seu pai, a

respondente da pesquisa foi realizar cursos específicos para a gestão de padarias e ao

regressar assumiu uma terceira empresa que hoje não faz mais parte do grupo de seu núcleo

familiar.

A esposa do outro sócio e atual corresponsável pela administração, também, realizou o

mesmo treinamento e ambas resolveram “mudar” alguns procedimentos administrativos na

padaria, conforme técnicas que aprenderam nessa experiência. Pouco mais de um ano de

efetiva “nova administração”, a organização recebeu do PROPAN (Programa de Apoio à

Panificação) um prêmio de empresa destaque 2007.

Muita coisa foi modificada, sobretudo em termos de marketing, parcerias com

fornecedores e até mesmo na disposição dos produtos e da própria loja em si. Conforme

comentário abaixo.

“É, foi só uma questão de gestão, de informatização, mais uma questão assim de

modernidade da loja, banho de loja.” (Supervisora)

A parte de produção também sofreu alterações significativas com o advento da “pré-

pesagem”, esse processo forneceu agilidade neste setor na empresa.

Na parte da gestão propriamente dita, a administração era realizada pelas duas sócias e

por um gerente da loja. No mês de junho de 2008, entretanto, houve uma reunião com todos

os empregados da padaria para informar que seria implementado o sistema de dois turnos na

empresa em aproximadamente oito meses. Esse fato efetivamente aconteceu no mês de

fevereiro do ano de 2009 e teve os seguintes impactos: redução da jornada de trabalho e,

63

consequentemente, da remuneração percebida pelos colaboradores, já que era frequente o

desenvolvimento de “horas-extras”.

No mesmo período, aconteceram dois processos concomitantes: o pedido de

desligamento do gerente da empresa (que estava de acordo com as alterações iminentes) e a

implementação dos dois turnos. Esse fato comprometeu sensivelmente tanto o atendimento ao

consumidor quanto o clima organizacional da empresa que ainda sente os efeitos das

“mudanças”. Isso gerou um “despertar” em relação à Gestão de Pessoas. Conforme

comentário da gestora.

“Pois é, vê, isso refletiu tanto agora de fevereiro pra gente que a gente realmente,

foi quando a gente despertou, disse: Não, a gente realmente precisa. E a gente viu

como uma-uma falta, uma falha na gestão de pessoas faz tanta diferença, como isso

é passado para o cliente e o cliente nota isso da gente”.

A situação gerencial atual é a de cinco supervisores, sendo quatro na área de

atendimento e uma em Recursos Humanos e Produção e ao todo existem trinta e cinco

empregados trabalhando em dois turnos. Por haver um profissional específico para atuação no

setor, optou-se pela entrevista com a supervisora, sem os objetivos de apreender a percepção

dos “empregados” e sim, compreender melhor as políticas e práticas de GP.

A escolha desse tipo de liderança, disseminada em praticamente cinco pessoas

diferentes, foi feita devido às circunstâncias do momento com o pedido de demissão do antigo

gerente. Devido ao fato de não haver nenhuma pessoa com perfil de liderança, a empresa

recrutou os quatro empregados mais antigos para assumir as funções. Na percepção dos

entrevistados, essa é, atualmente, uma das dificuldades em relação à GP.

Apesar de existirem “problemas” no atual sistema de liderança, fica clara a existência

de autonomia por parte do grupo de supervisão. Isso foi explicitado tanto no discurso da

supervisora entrevistada quanto por parte da gestora principal, respectivamente, nos trechos a

seguir.

“Eu sou pessoa de ver o problema e resolver, identificar e ir lá resolver e não

somente trazer para os donos resolverem, eu vou lá e resolvo, até mesmo porque

eles me dão autonomia para isso.”

“Eles têm total liberdade de agir sim. A gente diz a eles: ó, se tem alguma dúvida e

eu não estou aqui, ligue e pergunte, mas assim do mesmo jeito que eu posso errar,

você também pode errar, agora assim eu acho que todo mundo tem que ter atitude,

se você é líder tem que fazer.”

Observa-se, também, que faz parte das características dessa organização a questão da

“cobrança” em relação aos empregados. Conforme, enfatiza a supervisora de RH:

64

“A cobrança em cima deles, em cima do funcionário é 100%, né?”

Pode ser esse, inclusive, mais um possível fator de insatisfação por parte dos

empregados. Contudo, deve-se salientar que a percepção da insatisfação e das consequências

das “mudanças” é das entrevistadas já que a investigação da percepção dos empregados não

faz parte do escopo da pesquisa.

Empresa B:

A empresa localiza-se no bairro de Casa Forte e foi fundada em 1980, pelo atual gestor

principal. Ao procurar um novo cliente para seus pães de uma padaria que possuía no bairro

de Casa Amarela, o entrevistado se sentiu mal recebido pelo então dono da mercearia, à

época. Após esse fato, resolveu comprar uma pequena casa que estava desocupada na mesma

localidade e deu início às suas atividades no bairro. Atua tanto no setor varejista quanto

atacadista e possui trinta e cinco empregados em um único turno de trabalho.

O gestor possui uma grande experiência em padaria, à época da entrevista estava,

conforme enfatiza, com cinquenta e um anos, um dia e quatro horas de tempo de trabalho no

setor de panificação que é sua única experiência desde que chegou de Portugal aos dezesseis

anos.

Iniciou suas atividades na padaria do tio e posterior sogro quando chegou de seu país

de origem. Trabalhou em diversas padarias no Recife e em uma em Campina Grande. Viaja

sempre pelo Brasil e exterior para conhecer as novas “tendências”. Fez o curso do PROPAN e

costuma frequentar feiras e palestras relacionadas ao seu negócio.

O empresário possui três filhos. Um deles chegou a atuar na empresa, mas desistiu de

trabalhar em panificação, uma gerencia a empresa A que é de copropriedade da família e a

terceira desenvolve suas atividades profissionais na empresa B, junto ao pai, porém restrita à

área administrativa. A esposa, também, trabalha com ele atualmente na mesma empresa e

possui um alto grau de afinidade com a sua forma de gestão.

O gestor principal concentra todas as decisões acerca da gestão do negócio em suas

mãos. Os demais gestores têm restrições claras e atuam, na prática, como supervisores do

administrador, restringindo-se às rotinas administrativas em si da padaria. Há discordâncias

entre a “melhor maneira” em relação à Gestão de Pessoas, conforme se observa no relato da

filha:

65

“Não, não, porque como eu disse a você, eu não tenho liberdade pra assumir essa

parte. A partir do momento que eu tiver, aí vai ser diferente, mas por enquanto eu

não tenho, então eu acho que agora nesse momento não. Entendeu, porque...é

difícil porque trabalhar com pai, então ele é o dono, então ele manda então eu não

me meto, eu não me meto em relação a isso. Então...muita coisa aqui eu não gosto

de me meter não, só falo a minha opinião e pronto. Se ele quiser aceitar ele aceita,

se não...”

Apesar de assumir que sua opinião é levada em consideração, o sentimento de falta de

autonomia é maior do que em relação à supervisora da empresa A, que se sente

completamente “livre” para atuar, conforme se observa na seção própria.

A filha, então, não sente possuir autonomia de atuação o que pode justificar as atitudes

de “afastamento” quando procura se restringir às suas atribuições em detrimento do “todo”

organizacional. A literatura considera esse comportamento uma atitude frequente em

empresas que possuem como característica o exercício de uma liderança paternalista

(PELLEGRINI; SCANDURA, 2008).

A restrição da autonomia não se limita, apenas, a problemas em caso de

compartilhamento de gestão, mas também no próprio comportamento dos empregados como o

que se observa no comentário da mãe:

“É complicado porque realmente hoje em dia é o seguinte...se você tiver na frente tá

uma beleza, mas você virou as costas...realmente...tem uns, não são todos! Mas, são

uns, tens uns que a gente tem que estar sempre na frente porque se não, não

trabalham.”

Os autores citados acima explicam que os indivíduos não se sentem “responsáveis”

pelo desenvolvimento de seu trabalho, em organizações que possuem essa característica de

liderança. Os gestores procuram compensar ou eliminar esses comportamentos estando mais

presentes, através de uma supervisão ostensiva.

A parte de Gestão de Pessoas da empresa é feita de maneira informal e o processo de

tomada de decisões a respeito da área é feita quase que exclusivamente pelo gestor principal,

conforme se observa na fala do próprio gestor principal as características do seu estilo de

liderança:

“(...) às vezes, eu sou grosso com eles (...) tem que ser grosso porque é...a escola

que eles têm, às vezes eles não entendem, só entende na base da grosseria (...) e

depois eu faço carinho com eles, hum.”

A parte de treinamentos é vinculada à empresa A, naquilo que diz respeito àqueles

realizados fora da empresa e parece existir uma relação de “admiração” profissional entre o

66

gestor principal e a filha que é responsável pela empresa A. Maiores detalhes sobre as práticas

serão tratadas na seção própria.

Empresa C:

A fundação se deu em 1949 e foi adquirida pelo pai dos sócios em 1985 que faleceu

cinco anos depois. Neste período, a administração desta e de outra empresa da família

localizada no Barro ficou por conta da mãe dos atuais sócios. Após, a empresa ter passado por

várias dificuldades e próxima à falência, os dois irmãos um com 14 e a outra com 16

resolveram “assumir” a empresa. O apoio técnico veio por parte de um tio, proprietário de

uma rede de padarias na Paraíba que chegou a arrendar a empresa C para sua filha enquanto

os sobrinhos “aprendiam” a gerir a outra padaria com as suas orientações.

Após a devolução da empresa, os irmãos optaram por vender a outra empresa e

investir apenas nesta, localizada na no bairro da Várzea. Até dezembro de 2008, a padaria era

administrada pelos dois irmãos e os seus cônjuges. O irmão construiu uma galeria no bairro

de Aldeia em sociedade com a irmã e inaugurou a empresa D.

A empresa atua exclusivamente no setor varejista e possui vinte e quatro empregados

em um único turno de trabalho. A gestão da padaria, segundo a própria entrevistada principal,

é feita de maneira muito “desorganizada”. Apesar de tudo, acredita que consegue manter os

empregados envolvidos, graças ao diálogo e ao respeito mútuo que procura desenvolver com

eles.

As práticas são intuitivas e se baseiam numa espécie de “visão humanista” muito clara

que parece efetivamente apresentar resultados. Gilbert e Jones (2008) concluíram que as

pequenas empresas, apesar de adotarem práticas predominantemente informais em Gestão de

Pessoas, conseguiam alcançar resultados eficazes o que parece convergir com a percepção

deste trabalho.

Não há problemas de relacionamento, na visão da gestora, entre os membros da

organização. Entretanto, a entrevistada verbaliza o desejo de criar um sistema de supervisão

que vem tentando implementar, há algum tempo, sem sucesso devido à resistência dos

empregados em serem “supervisionados” por outras pessoas que não os proprietários.

Os dois irmãos seguiram com os estudos até o fim do ensino médio e não fizeram

novos cursos no segmento de panificação. A empresa se filiou ao GRUPÃO e os empresários

das empresas C e D, costumam ir juntos aos eventos.

67

Empresa D

A empresa D surgiu de uma oportunidade observada pelo gestor no bairro em que

construiu uma galeria e reside atualmente. Segundo ele, o consumidor era obrigado a comprar

pão em uma loja de conveniência de um posto de gasolina o que, no seu entendimento, não

era apropriado. Apesar de ser a “menor” das empresas estudas, vale ressaltar que a

organização se encontra alinhada às mesmas características em nível de perfil organizacional

e público alvo. Em suma, a mesma possui natureza semelhante a das “novas panificadoras”

que estão mais próximas ao modelo de lojas de conveniência ou delicatessen como também

são conhecidas.

O empreendimento tem aproximadamente 6 meses de funcionamento e tem

apresentado sucesso até o momento, na percepção do gestor. Atua exclusivamente no setor

varejista e possui oito empregados durante a semana e recebe o reforço de dois colaboradores

nos sábados e domingos. Os gestores também desempenham funções operacionais, sobretudo

no caixa. A equipe de trabalho ainda é “nova” e está em processo de aprendizagem

organizacional, segundo o gestor:

“A casa é nova e a gente ainda está formando a equipe, formando o pessoal.”

Utiliza a experiência que adquiriu na empresa C e permanece com os procedimentos

de gestão de maneira intuitiva e pouco estruturada. Mantém a mesma metodologia do diálogo

e não parece apresentar maiores problemas com os empregados. O gestor parece se identificar

com empresas pequenas, conforme colocações abaixo:

“Eu acho que toda empresa pequena ela tem muito a cara do dono, não é verdade?

(...) Empresa grande é uma coisa fria (...).”

No próximo item, será abordado o segundo objetivo específico deste estudo com a

apresentação dos dados obtidos na entrevista com os gestores referentes a este tema.

68

b) Compreender a maneira (acadêmica, profissional ou empírica) pela qual o

conhecimento sobre Gestão de Pessoas foi adquirido pelo líder e pela empresa e qual

a relevância desse conhecimento para a prática da organização;

Este objetivo possui dois desdobramentos distintos, o primeiro se refere à forma de

aquisição do conhecimento visto de uma forma ampla, o segundo diz respeito à importância

do conhecimento de Gestão de Pessoas para a organização. Foram utilizados aspectos

encontrados nas categorias Funções / Papel da Gestão de Pessoas e Fatores Relacionados ao

Gestor e Fatores Críticos de Sucesso para atendimento deste objetivo específico que para

melhor compreensão, será subdividido em tópicos.

b.1) Formas de Aquisição do Conhecimento:

Em relação a este item, especificamente, os achados da literatura sobre pequenas

empresas se apresentam parcialmente congruentes com a situação encontrada. Segundo

Fuller-Love (2006), conforme já apresentado, os empresários de empresas de pequeno porte

possuem baixa escolaridade e a gestão de suas empresas é realizada predominantemente pelo

senso comum e na própria experiência.

No que diz respeito à escolaridade, no grupo estudado, em parte, essa afirmação se

aplica já que os principais gestores, realmente possuem essa característica, conforme se

observa abaixo:

“Na verdade, é, eu não tenho muita bagagem escolar. Eu nunca fui um aluno

exemplar, nunca me identifiquei com sala de aula e para agravar ainda mais isso

perdi meu pai aos catorze anos. (...) a minha bagagem não é escolar, a minha

bagagem é de vida devido à situação.” (Entrevistado 1)

No entanto, consoante já apresentado, novas formas de aquisição “não tradicionais”

para pequenas empresas foram encontradas neste segmento. Como a realização de cursos

especializados, a contratação de empresas de consultoria e a própria formação de uma espécie

de “grupo” de padarias têm alterado a maneira de gerir as padarias.

Observa-se, contudo, que, em relação ao conhecimento da Gestão de Pessoas em si, a

realidade é ainda muito próxima do senso comum, sobretudo, pela ausência de critérios

institucionalizados. Tudo indica que empregado, neste tipo de estrutura, não tenha clareza

sobre o que realmente a organização espera dele. Embora a percepção da pesquisadora tenha

69

ocorrido com base nas rotinas de GP e nos aspectos que emergiram no decorrer da entrevista,

um melhor esclarecimento se verificaria, apenas, em um estudo que abordasse, também, a

percepção dos empregados.

Apenas a empresa A adota uma postura mais “profissionalizada”. Ainda assim se

observou, por outro lado, que essa maneira, pelo exposto no item referente à “história de

vida” não se apresenta mais “eficiente e eficaz” por si só, possivelmente porque a construção

da Gestão de Pessoas, mesmo nesta empresa, ainda não esteja completamente estruturada.

Conforme se observa no comentário a seguir:

“(...) esses pontos que eu estou abordando são algumas dificuldades que a gente, às

vezes, tem aqui na padaria por a gente não ter um RH, muito, uma gestão de

pessoas muito bem feita, muito mais fechada, isso às vezes acontece.” (Gestora)

As demais empresas, por sua vez, apesar de possuírem práticas menos estruturadas

costumam possuir políticas sólidas que têm resultado em uma aparente qualidade tanto no

atendimento ao cliente quanto nos produtos. O clima organizacional e a baixa rotatividade

também são fatores que fazem parte do dia a dia dessas empresas como confirma o

comentário a seguir:

“(...) e a menina lá que veio (da consultoria) até comentou: - É impressionante

como aqui eles trabalham no bem-estar” (Entrevistado 7)

Outro fator que contribui para isso é a disposição em manter os profissionais na casa.

Não existe, aparentemente, a insegurança gerada pelo “medo” de demissão. Os empregados

são valorizados pelas empresas pelo tempo de serviço, não obstante, seja verificado não

apenas a necessidade, mas, também, a disposição em atualizá-los.

“Eu gosto muito de funcionário antigo, agora tem que treinar ele.” (Entrevistado 6)

Todas as empresas afirmaram fazer o possível para permanecer com o empregado na

empresa, segundo os gestores, isso tem se construído através de um diálogo franco com os

subordinados, conforme se observa a seguir.

“O diálogo é que faz a diferença para que a gente não canse.” (Entrevistado 1)

A importância tanto da consultoria especializada quanto da rede de relacionamentos,

fornecedores e órgãos governamentais também é destacada na fala dos entrevistados tanto na

70

aquisição do próprio conhecimento quanto no que diz respeito aos treinamentos de

empregados, ou seja, ajudam a promover a criação de capacidades organizacionais.

“(...) eu acho que o segredo não existe, nada que uma pesquisa, nada como uma

informação como o SEBRAE não possa dar (...).” – Entrevistado 1

“A gente tem o treinamento do...que vem às vezes do PROPAN, que vêm às vezes

algumas pessoas da parte de atendimento (...).”

Como se pode observar, ainda, as formas “alternativas” de aquisição de conhecimento

estão sendo largamente utilizadas pelos entrevistados. Destaca-se, também, a existência de

uma longa experiência no segmento de panificação. Conforme já citado anteriormente,

diversas vezes transcendendo gerações.

No Quadro 6, estão agrupados os dados relativos à forma de aquisição do

conhecimento.

Empresa

A

Empresa

B

Empresa

C

Empresa

D

Formas de

Aquisição

Gestora Supervisora “Pai” “Mãe” “Filha” Gestora Gestor

Formação Escolar Pós-

graduada

Superior

incompleto

Ensino

Fundamental

Incompleto

Ensino

Médio

Graduada Ensino

Médio

Ensino

Médio

Cursos em

Administração

Marketing Recursos

Humanos

Não Não Não Não Não

Cursos em

Panificação

Sim Não Sim Não Sim Não Não

Consultoria

Especializada –

Gestão

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não

Consultoria

Especializada em

Gestão de Pessoas

Não Não Não Não Não Não Não

Grupo de

empresas de

panificação

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não

Experiência em

Panificação

(Anos)

12 3 51 33 7 16 14

Palestras Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim

Feiras/ Eventos Sim Não Sim Não Sim Sim Sim

Visitas a outros

estabelecimentos

de referência

Sim Não Sim Não Sim Sim Sim

Quadro 6: FORMAS DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO

O próximo objetivo específico trata da importância do conhecimento de Gestão de

Pessoas na percepção dos gestores, essa informação é relevante, por também fazer parte do

71

conjunto de moderadores da atitude. Dessa forma, se o gestor considera importante o

“conhecimento” em si, ele tenderá a buscá-lo.

b.2) Importância do Conhecimento sobre Gestão de Pessoas:

Em relação ao conhecimento em si, quatro dos sete entrevistados consideraram o

conhecimento relevante para o desempenho de suas atividades e assumiram a necessidade de

saber mais a respeito da área. Conforme se observa a seguir:

“(...) como eu não sou formado, eu sei um pouco menos do que deveria, nisso aí eu

sou falho e preciso estar me atualizando, me reciclando para melhorar isso.”

(Entrevistado 1)

Os demais entrevistados, de certa forma, consideraram que a experiência que

adquiriram na prática é suficiente para a realização de suas funções em Gestão de Pessoas.

“A gente...como nós temos muito tempo de panificação, né? A gente olha, às vezes

pelo olhar, não é?” (Entrevistado 5)

A seguir, será abordado o próximo objetivo específico que investiga os valores

percebidos pelos gestores em relação à Gestão de Pessoas na suas respectivas organizações.

c) Compreender a importância e as possíveis contribuições na percepção da Gestão de

Pessoas para as suas organizações e principais ‘stakeholders’ relacionados;

Importância da Atitude é considerada um dos moderadores da atitude. Isso significa

dizer que quando o indivíduo considera determinada atitude importante, ele tende a ficar mais

atento em relação a ela (ROBBINS, 2005). Os entrevistados foram praticamente unânimes em

afirmar a importância que a Gestão de Pessoas tem para as empresas deles.

“O meu sucesso está diretamente ligado ao quadro de funcionários.” (Entrevistado

1)

“Muitas padarias ainda não abriram os olhos para esse lado, como isso é uma

coisa fundamental dentro de uma padaria.” (Entrevistado 3)

“Vê só, eu acho que a Gestão de Pessoas em qualquer empresa é primordial,

porque assim...hoje existem muitas empresas que trabalham com máquinas, só que

máquinas têm que ser manipuladas por alguém, né?” (Entrevistado 2)

72

A Proximidade com os empregados se refletiu em várias entrevistas e parece ser o

“conhecimento adquirido com a vida” mais utilizado pelos respondentes, sobretudo nas

empresas B, C e D. Considerado por muito, até mesmo, como a chave do sucesso da gestão.

Não se trata, inclusive, da mera manutenção de diálogo, do saber ouvir, mas estar realmente

próximo ao empregado.

“Você vê o funcionário todo dia, acaba que vira uma família, acaba absorvendo

problema do funcionário, o funcionário absorve o nosso problema.” (Entrevistado

1)

“Eu sei de todo meu funcionário, o que é complicado aqui. O que é complicador e o

que não é.” (Entrevistado 6)

Essa necessidade de se sentir próximo, porém pode advir da dificuldade de “confiar”

que parece ser característica do gestor da “geração antiga”. Essa dificuldade é assumida por

vários entrevistados e se encontra na fala do entrevistado 7 abaixo:

“Na verdade, eu acredito até que isso funcione, porque...pronto...na semana

passada, minha filha se operou e eu saí uma semana daqui e eu saí e estava tudo

bem, tudo tranquilo, mas é o que vejo...é aquela sensação do seu “eu” que não lhe

deixa descansar, entende?”

Então, é possível que essa desconfiança faça com que o gestor se aproxime mais do

que lhe ameaça. O componente afetivo atua de maneira muito significativa, o qual pode

indicar que influencia na atitude em si. Não, entretanto, deve-se desconsiderar a proximidade

física que as empresas promovem aliada à relevância do tempo de relacionamento, já que

todas as empresas afirmam possuir um baixo grau de rotatividade e possuem um grande

tempo no mercado.

As possíveis contribuições da Gestão de Pessoas para as organizações e seus

stakeholders foram destacadas por diversos gestores, sobretudo, na categoria Fatores Críticos

de Sucesso. Embora, nem todas as empresas foram explícitas em considerar a GP como

essencial ao negócio da organização, boa parte dos subfatores apresentados se vinculam

diretamente ao conceito de GEP.

Para a Gestão Estratégica de Pessoas proposta por Ulrich e Brockbank (2005), não é

suficiente apenas que a Gestão de Pessoas seja capaz de efetuar as suas “rotinas”, mas sim

possuir uma visão ampla tanto da organização quanto do seu mercado a fim de ser capaz de

alinhar as estratégias de RH à criação de capacidades organizacionais relevantes. O foco deixa

de ser interno, para se tornar global, considerando, inclusive, diversos atores internos e

externos.

73

A Figura 4 apresenta, na parte central, os fatores identificados por todas as empresas e

nos círculos laterais as especificidades de cada empresa. Apenas a empresa C não acrescentou

nenhum subtema diferente. A empresa B, por sua vez, apresentou um fator digno de destaque

já que denota a “visão” que a mesma possui sobre de que maneira o negócio precisa ser

administrado, seus valores e, quiçá, suas limitações a serem analisadas no seu contexto

próprio, conforme se observa no trecho a seguir:

“Se você, realmente...em todo negócio, se o dono não tiver na frente...realmente não

funciona muito bem, né?” (Entrevistado 5)

Figura 4 - FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO DO NEGÓCIO

No próximo objetivo específico foi investigado o conhecimento acerca da Gestão de

Pessoas tanto na fala quanto no comportamento dos gestores/organizações.

*Atendimento

*Qualidade dos Produtos

*Proximidade com o cliente

EMPRESA "A"

* Fidelização

*Gestão de Pessoas

EMPRESA" B"

* O dono precisa estar à frente do negócio

*Ser dinâmico perante o mercado

*Aproveitamento de "oportunidades

*Conhecimento técnico do proprietário

EMPRESA "C"

EMPRESA "D"

*Localização

*Dinamismo

*Gestão de Pessoas

74

d) Verificar o conhecimento do gestor e as práticas adotadas em relação à Gestão de

Pessoas;

Com a finalidade de melhorar o entendimento, este tópico também foi subdividido em

duas partes distintas: conhecimento do gestor e práticas adotadas. O primeiro (d.1) procurou

verificar os conceitos acerca da GP e encontra-se predominantemente inserido no contexto

relacionado a Funções/ Papel da Gestão de Pessoas. O segundo (d.2) apresenta dados

referentes as categorias Práticas de Gestão de Pessoas.

d.1) Conhecimento do Gestor

Faz-se importante informar que os dados a respeito do entendimento conceitual em

relação à GP estavam dispersos ao longo de toda a entrevista e, não apenas, na pergunta

correspondente do roteiro. Os dados estão dispostos no Quadro 7, no fim da seção.

Na verdade, no questionamento específico sobre o conceito de GP na percepção dos

gestores, os entrevistados se mostraram desconfortáveis, conforme se observa a seguir:

“Ai...chegou no meu ponto fraco (risos). Ó, é como eu disse, eu não entendo muito,

então assim, eu acho que a Gestão de Pessoas, eu acho que é, como diz...é lidar com

as pessoas e isso é uma coisa muito complicada.” (Entrevistado 3)

Entretanto, se observervou que no decorrer do diálogo os conceitos emergiam com

maior desenvoltura. Todos os entendimentos encontrados, também, se encontram coerentes

com a literatura acadêmica. Visando a melhor comprrensão dos subtemas encontrados,

primeiro serão apresentados os aspectos convergentes até a apresentação das individualidades.

Foram considerados comuns a todas as organizações estudadas os itens: lidar

diretamente com as pessoas e manter diálogo com os empregados.

“Eu acho que Gestão de Pessoas é isso aí seria lidar diretamente com as pessoas,

seria visar, né?” (Entrevistado 2)

“Mulher, eu acredito que assim um bom diálogo.” (Entrevistado 7)

Segundo Gil (2001), no próprio conceito de Gestão de Pessoas, está explícito a ideia

de se “lidar com as pessoas”. Em relação ao comentário sobre o diálogo, sabe-se que a

75

comunicação com os empregados é considerado por Limongi-França (2007) como um dos

enfoques comportamentais e administrativos desta área.

Alguns aspectos foram contemplados apenas em duas ou mais organizações. A

empresa A foi a organização que mais contribuiu em termos conceituais, provavelmente, pela

existência de uma profissional participante de um curso superior em Recursos Humanos

conferiu uma visão mais “técnica” acerca da GP.

A gestora, também, por sua vez, fez considerações pertinentes. Lembra-se, entretanto,

que no curso que ela participou na consultoria especializada havia um módulo específico em

Gestão de Pessoas. As contribuições específicas nesta organização foram:

• Melhorar a produtividade/ atendimento

“(...) eu acho que em tudo que a gente consegue recursos para ele trabalhar (...), eu

acho que eles assim...melhorariam bastante a produtividade e no atendimento.”

(Supervisora)

• Promover a Qualidade de Vida dos empregados

“(...) assim, tentar ajudar eles na qualidade de vida deles (...)” (Supervisora)

• Estruturar a organização (organograma, nível hierárquicos)

“O organograma, se eles não souberem cada posição onde cada um esteja, né?

Quem é subordinado e quem não é..aí começa muito conflito.”(Gestora)

• Organizar o trabalho (estruturação de tarefas, estabelecimento de funções)

“Orientar as tarefas dos funcionários, certo? (Supervisora)

“Desde assim...que é que você...você entrou...o que é que você...Quais são as suas

atividades do dia? Quais são as suas obrigações. Acho que se não tiver isso tudo

muito certinho, né?” (Gestora)

Foram encontradas também convergência de fatores entre as empresas A e B.

Novamente, não foram encontrados achados divergentes da literatura técnica. Não parecem

existir razões significativas para a ocorrência desses elementos apenas nestas empresas.

Consoante se observa a seguir.

76

• Assertividade/ Firmeza

“A presença, a liderança, hum.” (Entrevistado 6)

• Ajudar

“Eu acho que as pessoas nos ajudam, né? E a gente tem que ajudar elas.”

(Entrevistado 2)

• Promover segurança/ confiança dos empregados

“Eles confiarem mim (...).” (Entrevistado 6)

• Executar o trabalho (quando necessário)

“(...) quando eles têm dificuldade em algum produto, eles me chamam (...).”

(Entrevistado 6)

A empresa B, por sua vez, acrescentou a importância da liderança na Gestão de

Pessoas. É possível que esse fator tenha emergido devido ao comportamento exercido pelo

gestor nesta empresa, conforme observa o próprio empresário no comentário disposto no item:

Promover segurança/ confiança dos empregados. Inclusive, o trecho em si indica uma

característica que destaca a figura do “líder” como uma espécie de referência, de “cuidador”

ratificando os indícios do exercício de uma liderança paternalista, conforme já observado em

história de vida.

As empresas A e D apresentam os temas a seguir. Não existem indícios aparentes de

particularidades nestas contribuições em detrimento das demais organizações pesquisadas.

• Educar/ orientar

“A gestão de pessoas entra exatamente aí. É mostrar para ele, é ensinar a ele.”

(Entrevistado 2)

“Um profissional de recursos humanos ele tem o objetivo de educar

organizacionalmente a parte da organização.” (Entrevistado 2)

• Incentivar/ apoiar/envolver

“Eu creio que um funcionário, ele se sente parte da empresa, ele precisa se sentir

parte da empresa e isso não é fácil.”(Entrevistado 1)

77

• Motivar

“(...) porque você está lidando com seres humanos, pessoas que têm famílias que

saem de suas casas para trabalhar pra gente e a gente tem que motivar para que

eles vistam a nossa camisa, sejam da nossa equipe (...).” (Entrevistado 1)

“Em tudo que as pessoas trabalham bem, as pessoas trabalham motivadas

fazem...basicamente, não o que eu quero...fazem as coisas pelas quais eu planejei

que elas façam.” (Entrevistado 2)

Para ilustrar, este tema, será apresentado abaixo uma consideração do Gil (2001) a fim

de enriquecer um dos temas mais frequentes em Comportamento Organizacional, que

costuma ser mal compreendido pelo senso comum e diz respeito à importância da motivação

no ambiente de trabalho.

A evidência de que de fato uma pessoa não é capaz de motivar outra não pode, no

entanto, significar que o fenômeno da motivação deva ser desconsiderado pelos

gerentes. Muito pelo contrário; os gerentes precisam estar atentos à motivação de

seus empregados. (pág. 202)

As empresas A, C e D, por sua vez, acrescentaram o fator Observar as dificuldades do

empregado. Não existem indícios aparentes para a ocorrência ter acontecido apenas nessas

organizações, conforme se observa no registro abaixo.

“(...) ver assim também qual é a dificuldade dele.” (Entrevistado 7)

As empresas B e C, por sua vez, registraram a importância da manutenção de um bom

clima organizacional. Esse fator possui indícios das convergências em termos do estilo de GP

dessas duas empresas. Indiretamente, observou-se que a empresa D possui um pensamento

aparentemente similar, embora não tenha havido a devida verbalização. Observar o trecho

abaixo:

“E aí você gerir pessoas é você chegar a um consenso pra que a gente possa

trabalhar em harmonia, porque a pior coisa que tem é você trabalhar em um clima

pesado”. (Entrevistado 7)

A maneira também de “aferir” este clima é realizado através de observação direta dos

gestores e diálogos mantidos com a equipe de trabalho. A empresa C, por sua vez, apresenta

como fator de orientação “com amor”. Notadamente, o papel de orientar já foi exposto, porém

este subfator emergiu após a ênfase dada à maneira. Conforme já foi exposto, embora não

78

existam práticas estruturadas, o empregado é visto de uma maneira muito “humana” e isso

norteia toda a maneira de se lidar com a equipe, como se verifica na fala a seguir:

“(...) porque se você tem que chamar atenção, você tem que chamar atenção, mas

em amor para poder não criar revolta, você tem que conversar (...).” (Gestora)

Em seguida, as empresas C e D destacam a importância da valorização do empregado

que advém, também, da visão compartilhada entre os entrevistados acerca da “política” que

deve nortear a GP.

“(...) e eu enquanto gestor preciso reconhecer e esse é o meu reflexo reconhecer

mais a eficiência de cada funcionário meu e eu preciso reconhecer a cada dia isso e

é isso que eu preciso melhorar.” (Entrevistado 1)

As informações desta seção foram sintetizadas no Quadro 7 a seguir.

Quadro 7: SUBFATORES DE FUNÇÕES/ PAPEL DE GESTÃO DE PESSOAS

•Manter diálogo com os empregados

•Lidar diretamente com as pessoasA, B, C e D•Melhorar a produtividade/ atendimento

•Promover a Qualidade de Vida dos empregados

•Organizar o trabalho (estruturação de tarefas, estabelecimento de funções)

•Estruturar a organização (organograma, nível hierárquicos)

A•Assertividade/ Firmeza

•Ajudar

•Promover segurança/ confiança dos empregados

•Executar o trabalho (quando necessário)

A e B

•LiderançaB•Educar/ orientar

•Incentivar/ apoiar/envolver

•MotivarA e D

•Observar as dificuldades do empregadoA, C e D

•Manutenção de um bom clima organizacionalB e C

•Orientar "com amor"C

•Valorizar o empregadoC e D

79

Para concluir este objetivo específico, serão apresentadas as práticas de Gestão de

Pessoas das empresas estudadas.

d.2) Práticas de Gestão de Pessoas

As práticas da organização equivalem, para fins de análise, ao comportamento tanto

dos gestores quanto das empresas. A categoria utilizada foi Práticas de Gestão de Pessoas que

possui os seguintes subtemas: recrutamento e seleção; treinamento; avaliação de

desempenho; remuneração e benefícios e desenvolvimento.

A utilização de perguntas objetivas baseadas nas principais rotinas de Recursos

Humanos também funcionou como uma espécie de “lembrança” já que os entrevistados

consideravam não “fazer nada” em relação à GP. Os Questionamentos foram introduzidos no

roteiro pelo fato de a especificidade (perguntar aspectos específicos, concretos em detrimento

dos gerais) ser um dos moderadores da atitude. O primeiro aspecto a ser abordado diz respeito

ao recrutamento e seleção, os quais consistem nas formas de busca e escolha dos novos

empregados da organização.

Recrutamento e Seleção:

A escolha de pessoas para trabalhar no contexto organizacional representa um papel

estratégico (ZACCARELLI; TEIXEIRA, 2007). No momento do recrutamento e seleção, as

empresas procedem praticamente da mesma maneira, conforme apresentado no final na

Figura 5.

Na etapa critérios, apenas a empresa B afirmou explicitamente procurar a vida pessoal

dos candidatos, mas ficou implícito que durante a entrevista as demais empresas, também, o

faziam.

“Numa entrevista eu quero saber da vida pessoal da pessoa.” (Entrevistado 6)

Os critérios verbalizados estão de acordo com a “teoria” já que a busca deve abordar

tanto em aspectos profissionais quanto pessoais. A fase das entrevistas é reconhecida como

fundamental no processo seletivo (LIMINGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002).

80

Em relação à questão do período de experiência, trata-se de uma prática informal

realizada por todas as empresas. O sentimento é de como se o “olho” quisesse ver melhor,

necessitasse de mais informações, as quais apenas podem ser obtidas através de um

determinado período. O procedimento, apesar de pouco usual, parece se adaptar bem às

necessidades dessas organizações.

“(...) assim, ele chama a pessoa, faz um teste, a pessoa vem, passa uma semana aqui

e se ele gostar, ele fica com a pessoa.” (Entrevistado 4)

Para finalizar, vale mencionar a “reclamação” maciça dos gestores em relação à

qualificação profissional dos candidatos a emprego.

“Ele vem praticamente do zero, eles todos são assim e aí a gente tem que investir

em cursos, em palestras para tentar dar uma melhorada no profissional para que

eles possam atender nosso cliente com satisfação.” (Entrevistado1)

Esse fato dificulta e muito a inserção de “novos” membros e pode ser mais uma

possibilidade para compreender a baixa rotatividade.

Na Figura 5, serão delineados os processos que envolvem recrutamento e seleção das

empresas estudadas.

Figura 5 – RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

Recrutamento:

*Currículos deixados nas empresas

*Indicação de empregados

*Agências de trabalho

Critérios:

*Experiência Profissional

*Vida Pessoal

*Habilidades de comunicação (Atendentes)

Técnicas Utilizadas:

*Entrevista

*Teste: redação, operações matemáticas básicas

*Perídodo de experiência (1 semana, em média)

81

O próximo tópico diz respeito aos treinamentos. Também não existem maiores

divergências de pensamento entre as empresas B, C e D. Porém contrasta, significativamente,

da empresa A.

Treinamento:

A necessidade do treinamento é destacada por todos, até mesmo pelo problema da

baixa qualificação do profissional brasileiro. Embora, esse fator não costuma diminuir o valor

do profissional que é tido como “esforçado” e “trabalhador”. Conforme comentário do gestor

6 a seguir:

“O nosso funcionário, essas pessoas que ficam tanto o profissional brasileiro ainda

é um dos melhores profissionais de ser humano do mundo, agora infelizmente o que

precisa deles é escola, é preparação que eles não têm.”

A visão é a mesma, mas a maneira de como fornecer essa preparação para o

profissional é que se altera. Conforme se observa na Figura 6:

Figura 6 – FOCOS EM TREINAMENTO

No conjunto de empresas, existe a necessidade de formação do profissional, de acordo

com a “maneira de trabalhar” da casa.

“Eu prefiro que ele aprenda a minha escola, hã, talvez eu não tenha muitos

problemas por conta disso.” (Entrevistado 6)

Na verdade, como a pesquisa tem o foco direcionado no gestor, não se pode concluir

que esse entrevistado realmente não tem problemas. Entretanto, ao analisar outro membro da

mesma empresa no comentário a seguir:

Empresas B, C e D

•Ênfase no treinamento interno

•Realiza treinamento externo

Empresa A

•Ênfase no treinamento externo

•Realiza treinamento interno

82

“É...muita coisa que eu vejo, muita coisa eu vejo errada aqui, mas infelizmente

assim (...).” (Entrevistado 4)

Fica claro que não é possível afirmar quais tipos de problema efetivamente existem

nas organizações estudadas, visto que não era objetivo, mas que o fato de o gestor não ser

capaz de “ver” não pode ser utilizado para afirmar que dificuldades não existam.

A empresa A, por sua vez, nesse aspecto parece encarregar os treinamentos às

organizações especializadas e fornecedores. A questão da “ênfase’ por ser verificada nos

comentários dos entrevistados 2 e 6, respectivamente:

“Geralmente a gente manda os mais novos. Hoje (maio) eu tô mandando para

treinamento os que entraram agora esse ano e aí eu vou junto com eles, certo?”

“O planejamento a gente faz u-umas duas, três vezes no ano, não planeja são as

oportunidades que vão surgindo no-no SENAI, SEBRAE.”

O fato de a supervisora responsável acompanhar os treinamentos também é um

indicativo da importância que eles têm para empresa.

“Aí geralmente eu digo: - olha o treinamento...a gente não aprendeu isso? Vamos

fazer do jeito que foi no treinamento. Então, realmente eu preciso ir para saber

realmente o que foi que eles aprenderam ou não.” (Supervisora)

A importância do treinamento, segundo a academia, é imprescindível no

desenvolvimento e fortalecimento de competências organizacionais, consideradas essenciais à

implementação de estratégias (BOHLANDER; SNEEL; SHERMAN, 2005). É um processo

sistemático para a promoção da aquisição de habilidades, conceitos e atitudes (LIMONGI-

FRANÇA, 2007).

O tipo de treinamento mais encontrado nas empresas estudadas foi o denominado

Treinamento no Local de Trabalho (TLT), que além de ser o mais utilizado pela maioria das

empresas é o que oferece o treinamento nas condições reais dos indivíduos, bem como

promovem uma melhora no relacionamento de gestores e empregados (BOHLANDER;

SNEEL; SHERMAN, 2005).

No setor de produção das empresas, foi o treinamento profissionalizante que, segundo

os autores supracitados, está adequado ao perfil de operadores de máquinas, portanto,

também, coerente com os achados científicos. Na parte de atendimento ao cliente, a ênfase

parece estar sendo dada às habilidades interpessoais o que se ajusta à atividade.

83

A frequência dos treinamentos que, na maior parte, não é planejada e a questão da

escolha do funcionário tem sido, principalmente, duas: necessidade (do empregado e da

organização) e interesse, conforme observamos abaixo:

“A gente tem que escolher a pessoa certa para isso, porque a gente aqui, a gente

manda um atendente que tá aéreo, não quer nem saber, têm outros que se

interessam.” (Entrevistado 5)

Mesmo que de uma forma pouco estruturada, parecem estar claros os princípios

presentes entre o treinamento e os conhecimentos, habilidades e atitudes requeridos por cada

cargo.

A etapa seguinte é avaliar o processo de avaliação de desempenho.

Avaliação de Desempenho:

Esse é o aspecto que, embora, em parte já fosse esperado, chama mais atenção. Não

pela maneira como é feita na maior parte das empresas “no olho”, mas pela ausência nítida de

critérios de avaliação, conforme se observa na Figura 7.

Figura 7 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Empresas B, C e D

Empresa A

84

Nesse aspecto, o “excesso de confiança” em que se baseia a observação parece

imperar. Observa-se no extrato a seguir a maneira principal que as empresas B, C e D

realizam suas avaliações de desempenho.

“A gente trabalha assim mais no olhômetro.” (Entrevistado 7)

A outra forma de avaliação de desempenho é a consulta aos clientes, também

realizado, aparentemente de maneira informal, e se limita ao setor de atendimento ou à

qualidade dos produtos. Entretanto, a “experiência” adquirida na prática no ambiente de

trabalho, não consegue evitar o fenômeno natural, consequência dessa maneira de avaliar

pessoas, conforme se pode ver abaixo:

“É complicado porque realmente hoje em dia é o seguinte...se você tiver na frente tá

uma beleza, mas você virou as costas...realmente...tem uns, não são todos! Mas, são

uns, tens uns que a gente tem que estar sempre na frente porque se não, não

trabalham.” (Entrevistado 5)

“Agora mesmo eu fui ali...se você aparece aí ele já muda, se você dá as costas...isso

é verdade.” (Entrevistado 5)

É provável que o simples “olhar” fornecido pela experiência apesar de gozar de plena

confiança por parte dos gestores não tenha a capacidade de controle esperada e precise,

realmente, passar por processos de atualização para que possa verdadeiramente “ver”.

Segundo Robbins (2005), um dos vieses mais nocivos às organizações é o promovido pelo

“excesso de confiança”. Esse problema tende a gerar acomodação em relação à aquisição de

“novos conhecimentos”.

Na empresa A, por sua vez, o processo também ocorre “no olho” e na consulta de

clientes, porém não se limita a apenas isso. A avaliação é realizada, também, com base em

dois instrumentos: checklist diário e acompanhamento funcional, conforme vemos abaixo:

“Tudo que eles têm que fazer, a gente observa e vai marcando diariamente se eles

fizeram ou não. Isso aí é o cheklist das tarefas deles e aí sobre o andamento do

comportamento de cada um, a gente tem um acompanhamento funcional que ali diz

quem estava doente e tá com atestado e quem não tá. Quem discutiu com um amigo,

quem levou uma reclamação, naquele dia, de um cliente, certo?” (Entrevistado 2)

O checklist é um dos métodos mais simples de aplicação e parece ser bem adequado

ao contexto desse tipo de empresa. O acompanhamento funcional, também chamado de

método de incidentes críticos, doravante a isso, também se ajusta bem, porém com a ressalva

85

de que não deva se tornar um “livro negro”, onde apenas os aspectos negativos venham a ser

registrados.

A avaliação de desempenho é uma espécie de apreciação sistemática de cada pessoa

em função das atividades que ela desempenha. Entretanto, ela existe por razões específicas, as

quais dizem respeito ao grau de contribuição de cada empregado; avaliar a situação do

indivíduo em relação à média requerida pelo cargo; dar subsídios para a criação do perfil do

cargo; fornecer elementos para remuneração e promoção e elaboração de planos de ação para

desempenho insatisfatório (NASSIF, 2007).

A empresa A, contudo, apesar de utilizar métodos simples e eficazes perde a

oportunidade de melhores resultados por utilizar esse instrumento de maneira muito limitada

apenas para fins de controle. Não aproveita, por exemplo, as informações para justificar ou

mesmo utilizar como critérios para promoção e benefícios.

A ausência de justificativas, entretanto, pode gerar nos empregados o sentimento de

injustiça, de “predileção” ou “ciúmes” identificados, não apenas, na empresa A como nas

demais. Em resumo, a falta de critérios ou de divulgação deles, por parte da organização, pode

fazer com que a percepção de justiça do empregado se altere e pode ter como consequência

alterações no comportamento do grupo.

Remuneração e Benefícios:

A importância da remuneração transcende o caráter transacional e instrumental em

uma relação de trabalho (HANASHIRO, 2007). Suas principais características em uma GEP é

o vínculo que deve possuir com as estratégias organizacionais.

As empresas estudadas, por sua vez, ao que parece ainda não compreenderam as

oportunidades e, principalmente, as características básicas que precisam nortear essa área que

tem alto impacto sobre o comportamento dos colaboradores.

Em relação à remuneração e benefícios, todas as empresas apresentam um

comportamento similar. Os empregados recebem a remuneração básica do sindicato e os

benefícios regulares são escassos, conforme se observa no trecho a seguir.

“Vê só, a gente tem aqui uma remuneração que é igual a-a remuneração da tabela

do sindicato. (...) é ...assim de benefícios hoje só tem vale transporte porque o plano

de saúde, a empresa é empresarial, mas é o funcionário que paga 100%.”

(Supervisora)

86

O plano de saúde, neste caso, embora não possa ser fornecido diretamente pela

empresa se constitui como benefício indireto, já que o valor pago pelos planos empresariais

costuma ser inferior ao praticado nas categorias individual e familiar. A ausência do mesmo

na Figura 8 ocorre por esse aspecto apenas ter ocorrido na empresa A. As demais empresas

não mencionaram qualquer novo elemento ao rol supracitado.

Os cargos “mais elevados” de mestre-padeiro, pasteleiro e confeiteiro ou as

denominadas “pessoas de confiança” recebem um adicional, no primeiro caso o critério é

institucional e tem como base os valores de mercado para essa categoria de profissional. No

segundo, não há qualquer justificativa clara acerca das características desses indivíduos,

tampouco o percentual que eles recebem a mais pelo valor que possuem para a organização.

Embora, tempo de serviço pareça fazer parte desse critério ambíguo.

O “adicional de confiança”, também, não é explícito na fala dos entrevistados,

entretanto, ao serem questionados os gestores principais assumiram que alguns membros

recebem remuneração a mais, mas sem o conhecimento dos demais membros da equipe.

“Só tem um funcionário que (o gestor) paga um pouquinho mais, porque é uma

pessoa que produz muito aqui na padaria, é uma pessoa de confiança de (gestor).”

(Entrevistado 4)

Entretanto, todos são passíveis de receber “auxílios” de natureza esporádica a que

venham efetivamente precisar, bem como alguns “agrados” eventuais, conforme se observa a

seguir.

“aí eles: - (nome do gestor), a gente vai fazer uma farrinha ali na barraquinha, dá

um, dá um dinheirinho pra ajudar a gente, aí eu dou e eles ficam satisfeitos, felizes.

Está doente, eu acompanho (...,) morreu uma pessoa da família pai, mãe, isso aqui

eu faço.” (Entrevistado 6)

Identificou-se como prática cultural a utilização da “caixinha de natal” que é a

colocação de um recipiente na loja para colaboração dos clientes, porém a própria empresa

costuma “ajudar” também. O valor arrecadado é dividido por todos os empregados. Conforme

afirmação da supervisora da empresa A:

“(...) a empresa permite que a gente coloque uma caixinha na loja e aí eles acabam

ajudando também, eles acabam assim colocando alguma coisa lá para colaborar

com a gente...aí isso é dividido pra todo mundo (...).”

Não se observa, nas empresas B, C e D, qualquer vínculo por produtividade, embora a

maioria pretenda implementar algum sistema dessa natureza, encontra dificuldade de fazê-lo

87

por não conseguir “individualizar” a contribuição de cada empregado. Isso acontece,

provavelmente, por conta do processo de avaliação de desempenho acrescidos da própria

maneira de trabalhar nas empresas.

Apenas a gestora da empresa A afirma possuir uma meta coletiva para atendimento e

iniciou uma coleta de dados de produção para implementação do sistema de metas, dessa vez,

individual. A supervisora da mesma empresa, entretanto, desconhece qualquer adicional ou

projeto dessa natureza vinculado à produtividade.

“Pesquisadora: Mas, um outro, nenhuma, nenhum, nada, nenhum acréscimo por

produtividade?

Supervisora: Nenhum.”

Esse fato, não necessariamente, indica que o adicional não faça parte das práticas da

empresa. O mais provável é que a parte de remuneração seja considerada “estratégica” e,

sendo assim, não é, ainda, compartilhada com a supervisora. Outro fator possível, é que as

metas estabelecidas até o momento são consideradas “altas demais” e não venham sendo

atingidas pela equipe o que geraria o sentimento de inexistência da mesma.

Enfim, a “realidade” apenas poderia ser conhecida com uma abordagem diferente de

pesquisa que considerasse a organização como um todo o que foge do escopo deste estudo.

Entretanto, o mais provável é que em todas as empresas as “regras” parecem que não são

repassadas de maneira clara para os empregados.

A síntese dos achados se encontra descritas na Figura 8.

Figura 8 – PERFIL DE REMUNERAÇÃO E BENEFÍCIOS

Remuneração do Sindicato

Benefícios: Vale-transporte

Adicional Funcional e/ou adicional de confiança

Auxílios Esporádicos: Remédios, enterros etc.

88

No próximo item, será abordada a questão acerca de desenvolvimento que é um tema

que a literatura costuma estudar juntamente com treinamento. Entretanto, para facilitar o

entendimento de ambos houve uma separação. Outro ponto diz respeito ao fato de esse

parecer ser uma política de Gestão de Pessoas das empresas estudadas, mais do que uma mera

prática.

Desenvolvimento:

O que difere o treinamento do desenvolvimento é o objetivo que o move, se a

preocupação é na aquisição de habilidades para a realização da tarefa, há treinamento. Se,

entretanto, a organização se preocupa em “estimular” a aquisição de habilidades para o

exercício de outros cargos ou mesmo para o crescimento em si do indivíduo, trata-se de

desenvolvimento (LIMONGI-FRANÇA, 2007).

Apesar de ser considerada uma organização com poucos “níveis hierárquicos” como

infere o gestor 1:

“(...) não tem muita escala de crescimento.” (Entrevistado 7)

Os gestores são unânimes em concluir que permitem sim o crescimento profissional e

não são raros os exemplos dados. Ou seja, para o gestor desde que o empregado “se esforce”

ele tem chance sim de crescer, isso inclusive é um dos comportamentos mais “observados”.

“Vejo. Com certeza. Muitos funcionários aqui assim... na competência, assim

dedicada mesmo ao trabalho, pessoa esforçada, você vê que é uma pessoa que vale

a pena você investir nessa pessoa.” (Entrevistado 7)

Outra preocupação relativa a esse tema é uma espécie de valorização da “prata da

casa” citada pelo gestor 1 e ratificado pelo gestor 6, conforme se observa abaixo:

“Eu gosto muito de funcionário antigo, agora tem que treinar ele.”

O ponto importante é, além de existir uma valorização desse profissional, que também

exista uma preocupação com a atualização de seus conhecimentos. No próximo item, serão

abordados os aspectos que caracterizam as organizações tanto do ponto de vista dos

entrevistados quanto da ótica da pesquisadora.

89

Neste momento, serão feitas agora as considerações a respeito do próximo objetivo

específico que procura identificar os fatores internos ou externos que vieram a influenciar o

comportamento ou a provocaram da mudança de atitude.

e) Identificar quais as dificuldades que o gestor encontra na Gestão de Pessoas de

pequenas empresas;

As dificuldades se apresentaram de uma forma muito particular, ou seja, apesar de

existir semelhanças nos estilos de gestão, cada empresa percebe problemas diferentes. As

empresas A e C afirmam possuir dificuldades na formação de liderança. Observou-se esse

fato no seguinte comentário da gestora da empresa C:

“Eu acho que a principal dificuldade é você substituir, como a empresa da gente, a

gente é muito no dia a dia, muito no operacional, a dificuldade é arrumar uma

pessoa que nos substitua.”

Mesmo a empresa A, que já tem essa cultura há algum tempo, a saída do antigo

gerente foi de “promover” pessoas que até então eram hierarquicamente iguais aos atuais

subordinados, o que gerou a resistência. Cabe o comentário que, no momento das entrevistas,

apenas essas duas empresas efetivamente “tentaram’ desenvolver liderança com seus

empregados o que pode justificar a ausência dessa “percepção” por parte das demais

empresas.

A empresa A informou, ainda, ter várias dificuldades em relação à promoção da

Qualidade de Vida dos funcionários, entretanto, acredita se tratar de um problema de falta

de recursos financeiros. Independente disso, a organização vem empreendendo esforços em

melhoras em relação à Qualidade de Vida dos empregados como a criação de dois turnos e

investimentos diversos, sobretudo, em estrutura física, conforme observa a supervisora de

Recursos Humanos:

“Não, a gente está começando a organizar isso aí...acho que daqui para o próximo

mês a gente já tem alguma coisa pronta.”

A dificuldade da empresa B em lidar com problemas de resistência de empregados

antigos diz respeito à própria história da organização que apesar de não ser a “mais velha” é a

que possui a equipe mais “antiga”. E o processo de produção da padaria, conforme nos afirma

o gestor principal, era muito diferente do praticado atualmente o que fomentou profundas

90

mudanças e as respectivas resistências por parte dos empregados, consoante o empresário

apresenta em sua fala:

“(...) a mudança para, desse pessoal é muito difícil.”

Merece destaque, também, a dificuldade encontrada para se lidar com as mulheres

no ambiente de trabalho. As empresas B e C verbalizaram suas opiniões, respectivamente:

“E as mulheres são difíceis de trabalhar com elas, ô meu Deus, é complicado. (C:

Por quê?) Eu não sei as mulheres são muito ciumentas, a roupa, a maneira de

vestir, a maneira de falar, a maneira de trabalho (...).”

“(...) principalmente na área de atendimento que é tudo mulher...e

mulher...mulher...Jesus...mulher é complicado. (Risos) Mulher é ciumenta demais.”

Outro fato comum das empresas B e C, diz respeito à importância de os empregados se

ajustarem tanto ao gestor quanto à equipe por conta dos possíveis problemas de

relacionamento. Talvez seja a maneira encontrada de preservar um “bom clima

organizacional”. Conforme o trecho:

“Não, veja só. Tem uns que são resistentes, hum. (...) ele não se ajusta à minha

maneira de trabalho, nem à maneira de trabalho dos colegas, hã? Às vezes, não é

nem comigo é com os próprios colegas, hã? Esse não dá de jeito nenhum.”

A baixa qualificação dos profissionais se vincula às empresas B e D e já foram

suficientemente apresentadas, bem como os aspectos vinculados ao perfil do empregado (“

só trabalha quando o dono olha”) que foi apresentado pela empresa B, mas que mereceria

maior investigação já que pode se conseqüência da atual política de GP daquela empresa.

A empresa C apresentou a problemática do sentimento de injustiça que alguns

empregados apresentam quando se sentem preteridos em relação a outros. Esse “sentimento”

tem um aspecto tão relevante que interfere nas “práticas” das empresas e em relação à

remuneração, principalmente.

O gestor da empresa D, por sua vez, também, considera uma dificuldade a falta de

conhecimento conforme também já exposto e, por fim, ele menciona a questão dos

incentivos fiscais; o que faz absolutamente muito sentido devido ao número de empregos que

esse segmento cria. Conforme ele afirma a seguir:

“São dois pontos críticos: a parte administrativa, a parte fiscal e a parte de

qualificação, a gente não está tendo acesso a pessoas aptas para trabalhar aí nós

temos que preparar as pessoas.”

91

No Quadro 8, será apresentada a síntese dos “achados” em relação às dificuldades dos

gestores.

Dificuldades

Percebidas

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

Resistência por

parte dos

empregados às

lideranças

escolhidas

X X

Qualidade de Vida

no Trabalho

X

Recursos

financeiros

X

Resistência a

Mudanças

X

Comportamento das

mulheres

X X

Problemas de

relacionamento

X X

Baixa formação

profissional dos

empregados

X X

Perfil dos

empregados

X

Sentimento de

injustiça

X

Baixa formação

profissional do

gestor

X

Incentivos fiscais X

Quadro 8 – DIFICULDADES PERCEBIDAS DA GESTÃO DE PESSOAS

O próximo tópico discorrerá sobre a maneira como os entrevistados se avaliam em

relação à GP que consiste no penúltimo objetivo específico deste trabalho.

f) Identificar como o líder se autoavalia em relação à Gestão de Pessoas;

Os temas relacionados ao objetivo específico acima foram categorizados em Fatores

Relacionados ao Gestor. Foram baseados nesta categoria a autopercepção das características

dos entrevistados e dos requisitos necessários a um administrador que lide com pessoas.

Inclusive é com base na visão dos entrevistados que houve a separação dos achados

em três níveis distintos: aspectos positivos, negativos e neutros, conforme se observa no

Figura 9.

92

Figura 9 – AUTOAVALIAÇÃO DOS ENTREVISTADOS

A primeira dimensão que chama atenção nesse subtema diz respeito à satisfação com

a tarefa de lidar com pessoas. A própria literatura considera como relevante esse aspecto, já

que se trata de um moderador da atitude de um indivíduo (ROBBINS, 2005). Observando o

total dos respondentes apenas dois se consideram desconfortáveis com a tarefa de lidar

diretamente com os empregados. A maioria, entretanto, mantém posicionamento conforme

afirmação a seguir:

“Eu acho que as pessoas têm tipo assim, pessoas...é terrível trabalhar com pessoas

porque é complicado, mas é satisfatório quando você vê que um dia você...é....fez

algo por alguém ou motivou aquela pessoa (...). Eu acho que eu tenho muito essa

característica, assim...porque as pessoas me procuram (...).” (Entrevistado 2)

Outro fator que praticamente decorre do primeiro é a dificuldade em lidar com

“pessoas”, que aparece na fala de praticamente todos os entrevistados. A principal razão,

segundo ele, refere-se à complexidade inerente ao ser humano consoante registro a seguir.

“Na minha cabeça é complicado porque cada cabeça é um mundo, né?”

(Entrevistado 7)

Aspectos Positivos

•Autonomia

•Acessível aos empregados

•Larga experiência prática no setor

•Conhecimento técnico

•Satisfação em Lidar com pessoas

•Proatividade

AspectosNegativos

•Falta de autonomia

•Pouco conhecimento em relação à Gestão de Pessoas

•Dificuldade em lidar com as pessoas

•Dificuldade em lidar com delegar/ confiar

•Falta de conhecimento formal

Aspectos Neutros

•Perfil gerencial

•Perfil operacional

•Necessidade de capacitação

93

Outra característica conhecida, não apenas, da Atitude, mas, também, da Gestão de

Pessoas e da Administração em si é o poder, surgido nas entrevistas sob a ótica da

Autonomia. O poder, no contexto organizacional, por si só, outorga a capacidade de mandar,

ordenar, dispor, mostrar o que deve ser feito, enfim exercer autoridade sobre outrem (SOTO,

2008). Merece destaque, entretanto, o fato de essa característica ter emergido principalmente

em quem se sente restringido em relação à tomada de decisões. Conforme se observa a seguir.

“(...) tudo tem que ser com ele antes...antes de eu resolver algo com o funcionário.

Então, primeiro eu falo com ele pra depois falar com o funcionário. “ (Empresa B –

Filha)

Os demais gestores, com exceção da supervisora da empresa A, sequer verbalizaram

possuir essa característica, porém ela se encontrava implícita no contexto da entrevista.

Destacam-se, também, as questões relacionadas ao conhecimento técnico, dentro do

segmento de panificação, possuí-lo, segundo esse entrevistado é, também, um fator crítico de

sucesso do negócio. Conforme se observa abaixo.

“Se o proprietário não tiver muito conhecimento, hum, dentro da própria

panificação, ele não vai ter escola nunca.” (Entrevistado 6)

A acessibilidade ao empregado foi mencionada em várias entrevistas e promove,

segundo alguns entrevistados, uma espécie de proximidade entre os proprietários e seus

respectivos empregados. Não se trata, até mesmo, da mera manutenção de diálogo, do saber

ouvir, mas estar realmente próximo ao empregado.

“Você vê o funcionário todo dia, acaba que vira uma família, acaba absorvendo

problema do funcionário, o funcionário absorve o nosso problema.”(Entrevistado 1)

“Eu sei de todo meu funcionário, o que é complicado aqui. O que é complicador e o

que não é.” (Entrevistado 6)

Talvez a proximidade se dê pela convivência, como afirmou o entrevistado 1, porém

também pode advir da dificuldade de “confiar” que parece ser característica do gestor da

“geração antiga”. Essa dificuldade de confiança e, consequentemente, de delegação é

assumida pelos entrevistados e pode resultar da falta de profissionais qualificados para

substituir o proprietário, conforme se observa no trecho a seguir da gestora da empresa A.

“Sul e Sudeste, lá eles realmente têm pessoas de nível pra lidar com a empresa.”

94

Não, entretanto, deve-se desconsiderar a importância da proximidade física que são

promovidas pela estrutura física atual e do tempo de relacionamento existente entre a

organização e seus empregados.

A falta de conhecimento formal é um aspecto que merece destaque no grupo

estudado, apenas dois entrevistados possuem curso superior completo. E, alguns entrevistados

reconhecem que isso prejudica as atividades profissionais, conforme tratado na seção

destinada a esse tópico.

O fator acima, também, gera por consequência a necessidade de mais capacitação e o

sentimento que os entrevistados verbalizaram de possuir poucos conhecimentos específicos

em relação à GP, conforme comentário a seguir.

“Mais assim eu acho que o principal que eu preciso hoje para melhorar o meu

problema mesmo, para melhorar a minha forma de trabalhar é exatamente mais

capacitação.” (Entrevistado 2)

A larga experiência no setor percebida como sendo uma característica de cinco dos

sete entrevistados, também, se apresenta de maneira a explicar o excesso de confiança que os

gestores possuem na condução de seus negócios.

“A gente...como nós temos muito tempo de panificação, né?a gente olha, às vezes,

pelo olhar, não é?” (Entrevistado 5)

A proatividade, também, foi considerada como uma autoimagem da supervisora da

empresa A.

“Porque eu sou o tipo do profissional que se precisar de mim na produção eu vou,

se precisar que resolva alguma coisa do escritório, eu resolvo, eu acho que eu tenho

que ser dinâmica um pouquinho, fazer bastante coisa. E eu sou pessoa de ver um

problema, identificar e ir lá resolver e não somente levar para os donos resolverem,

eu vou lá e resolvo.”

Por fim, residem as questões relacionadas ao perfil do gestor operacional e

gerencial. Conforme se observa a seguir, esse perfil influencia a gestão como um todo e

fornece sentido a aspectos relevantes que interferem na atitude dos entrevistados.

“Eu acho que a principal dificuldade é você substituir, como a empresa da gente, a

gente é muito no dia a dia, muito no operacional, a dificuldade é arrumar uma

pessoa que nos substitua.” (Entrevistado 7)

95

A autoavaliação foi considerada por também ser um dos moderadores da atitude

apresentadas por Robbins (2005). Na próxima seção, serão abordadas todas as questões que se

fizerem convenientes no entendimento da atitude sob a ótica do “Mito da Caverna” de Platão.

Neste momento, serão apresentadas, na Figura 10, as categorias temáticas que

emergiram da fala dos entrevistados, bem como os comentários acerca de cada um dos temas

identificados.

Figura 10 – CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA.

Descrição do processo de categorização:

Cabe apresentar, nesse momento, os critérios adotados para a realização da categorização

temática deste trabalho. O “norte” principal para o processo foi concebido através da

percepção do entrevistado em relação às idéias verbalizadas, ou seja, no momento da fala,

procurou-se identificar qual era o “objeto”, “pessoa” ou “situação” referidas pelos gestores.

Categorias Temáticas

1. Fatores Relacionados ao

segmento

2. Fatores Críticos de Sucesso do

Negócio

3. Funções / Papel da Gestão de

Pessoas

4. Fatores Relacionados ao

Gestor

5. Práticas de Gestão de Pessoas

5.1. Recrutamento e Seleção

5.2. Treinamento

5.3. Avaliação de Desempenho

5.4. Remuneração e Benefícios

5.5. Desenvolvimento

6. Características da Organização

7. Dificuldades na Gestão de Pessoas

96

1. Fatores Relacionados ao Segmento – Neste item, foram agrupadas todas as

características mencionadas que direta ou indiretamente estavam relacionadas ao segmento de

panificação.

2. Fatores Críticos de Sucesso do Negócio – Foram reunidos os aspectos que se

relacionavam diretamente com o sucesso, não apenas, da padaria dos gestores, mas de toda e

qualquer estabelecimento que atue nesse setor na percepção dos entrevistados.

3. Funções / Papel da Gestão de Pessoas – Vinculam-se a essa categoria os conceitos que

os entrevistados verbalizaram do que era ou do que deveria ser a Gestão de Pessoas.

4. Fatores Relacionados ao Gestor – A esta categoria, relacionam-se os achados tantos

vinculados ao próprio gestor quanto àqueles que se referem ao que se pode denominar de um

“gestor hipotético”. Em suma, os aspectos que poderiam se atribuir a uma pessoa que

estivesse exercendo um papel de “gestor de pessoas”.

5. Práticas de Gestão de Pessoas – Esse tema especificamente ensejou o

desmembramento em cinco subcategorias que foram identificadas com base no ciclo das

práticas básicas de Recursos Humanos, ou seja, quando era possível dissociar plenamente um

processo de outro. Subtemas:

5.1. Recrutamento e Seleção – Por não haver um recrutamento espontâneo por parte da

organização fora do momento em que as empresas efetivamente estavam dispostas a

selecionar um empregado, esses processos foram categorizados de maneira única. Estão

vinculados ao subtema os aspectos identificados nos processos de recrutamento e seleção.

5.2. Treinamento - Encontram-se as políticas e práticas que envolvem o processo de

treinamento das empresas.

5.3. Avaliação de Desempenho – Podem-se considerar, nessa subcategoria, as políticas e

práticas de avaliação de desempenho dos empregados utilizados pela organização.

5.4. Remuneração e Benefícios – Pela natureza destes processos, as práticas também

foram agrupadas juntas. Vinculam-se todos os aspectos identificados em relação a

remuneração e benefícios dos empregados nas empresas estudadas.

5.5. Desenvolvimento – Apesar desta prática comumente ser estudada junto com o

treinamento, considerou-se que os processos divergem nitidamente no contexto estudado no

“momento” em que efetivamente ocorre e gerou uma categorização à parte. Foram agrupados,

neste item, tudo aquilo que diz respeito ao desenvolvimento dos empregados.

97

6. Característica da Organização – Estão agrupados todos os aspectos atribuídos pelos

entrevistados às suas respectivas empresas.

7. Dificuldades na Gestão de Pessoas – Foram organizados neste item aspectos

verbalizados pelos gestores acerca das dificuldades presentes no cotidiano deles para “gerir

pessoas” nas suas respectivas organizações.

4.2 Discussão dos Achados

Conforme descrito no item anterior, o último objetivo específico necessário à plena

compreensão das questões deste trabalho será analisado nesta seção.

g) Analisar a Atitude do Gestor em Relação à Gestão de Pessoas à Luz do Mito da

Caverna.

O “mito da caverna” como figura alegórica parece ter contribuído significativamente

para a compreensão dos processos que envolvem a atitude dos gestores. A natureza dinâmica

da representação simbólica promovida por Platão se ajusta de maneira adequada ao processo

interno da atitude e suas possíveis relações com o comportamento.

A epistemologia do conhecimento contribui, principalmente, com o entendimento de

que, embora esteja vinculada de sobremaneira ao elemento cognitivo do ser humano, não

desconsidera a existência do afetivo e do comportamental na promoção do equilíbrio do

denominado “tripé da atitude”.

Apesar de não ser possível estabelecer um reconhecimento direto dos componentes

supracitados na alegoria, não será difícil compreender que a importância deles está inserida no

contexto simbólico de maneira a justificar a utilização desse instrumento como “pano de

fundo” da referida análise. O primeiro ponto a ser abordado será a promoção do paralelo entre

a Gestão de Pessoas e a alegoria.

Verifica-se que cada ascensão nos níveis propostos pelo autor, apenas ocorre quando o

ser humano é submetido a uma situação de dissonância cognitiva. Naturalmente, a alteração

do status quo pode ocorrer por fatores internos ou externos aos indivíduos. A pessoa, no caso

o gestor, tenderá à promoção de um “novo” equilíbrio (ROBBINS, 2005). A “mudança” em

termos de conhecimento são os denominados “graus de conhecer”.

98

O reconhecimento dessas etapas no “mito”, neste trabalho, é estabelecido através das

políticas e práticas utilizadas pelos gestores em relação à teoria já consolidada de Gestão de

Pessoas. Embora o saber esteja em constante reconstrução, a “ideia do Bem”, proposta por

Platão, pode ser vinculada à Gestão Estratégica de Pessoas. Nesta corrente científica,

considerou-se, principalmente, a proposição de criação de valor de Ulrich e Brockbank

(2005).

O paralelo estabelecido para fins deste estudo está disposto na Figura 11. A escolha do

desenho da pirâmide foi realizada por representar uma relação entre o número de pessoas que

se vincula aos graus de conhecimento. Segundo Platão, a maioria das pessoas se encontra

presa ao que ele denominou “mundo visível” que equivalem aos dois níveis inferiores eikásia

e pístis e dóxa (COTRIM, 2000).

Na eikásia, encontram-se os gestores que utilizam apenas as próprias sensações. No

pístis e dóxa, os indivíduos tomam decisões com base em opiniões e sensações desenvolvidas

exclusivamente através da experiência e do senso comum. Na diánoia, as pessoas são capazes

de utilizar de forma consistente os princípios e práticas de Gestão de Pessoas e na noésis e

epistéme são capazes de alinhar à GP às estratégias da organização.

Figura 11 – GRAUS DE CONHECER X GESTÃO DE PESSOAS

A primeira etapa do entendimento da alegoria é visualizar os aspectos mencionados.

No primeiro trecho da alegoria se apresenta a imagem principal que se encontra na Figura 12.

Noésis ou Epistéme = GEP

Diánoia = GP

Pístis e dóxa = Aspectos inscipientes baseados no senso comum

Eikásia = Aspectos baseados apenas nos sentidos

99

“Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com

uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo comprimento dessa gruta.

Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira

que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de

voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se

queima ao longe, numa elevação, por detrás deles; entre a fogueira e os

prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno

muro, no gênero dos tapumes que os homens dos „robertos‟ colocam diante do

público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.” (PLATÃO, 2000:

pág.210)

Figura 12 - ALEGORIA DA CAVERNA

Fonte: www.google.com/imagens

Os homens presos nessa situação estão no primeiro nível identificado pelo autor como

eikásia e é descrito como o estágio inicial em que a maior parte dos seres humanos se

encontra, conforme se observa no trecho abaixo do autor.

“Veja também ao longo desse muro homens que transportam toda a espécie de

objetos, que ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de

madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns

falam, outros seguem calados.

Semelhantes a nós – continuei. - Em primeiro lugar, pensas que nessas condições,

eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais do que as sombras

projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?” (PLATÃO, 2000: pág.210)

Neste grau, os indivíduos utilizam no seu processo de decisão apenas as imagens que

são capazes de enxergar no fundo da caverna que se encontra de frente para eles. Não é

possível sequer se ver os companheiros que estão amarrados na mesma situação. É como se

aqui a pessoa não tivesse nenhum referencial externo. O direcionamento das ações humanas

fica, apenas, vinculado aos sentidos, ao elemento afetivo não existindo, pois, o contrapeso da

Sombras

Saída

Subida Seres

Humanos

Fogueira

100

razão. Por mais desconfortável que essa situação se apresente, é a realidade conhecida pelo

indivíduo.

Neste estudo, não se pode afirmar que os entrevistados analisados se encontrem em

semelhante situação. Pode-se inferir isso através da existência de redes de relacionamentos,

participação em cursos, visitas a outros empreendimentos. Enfim, inúmeros fatores abordados

anteriormente indicam que nenhum dos gestores se encontra “amarrado” e sem possibilidade

de enxergar nada a sua volta.

O indivíduo, entretanto, não ascende de uma forma natural, ele é compelido através de

um antagonismo que ocorre entre a força do eros , uma espécie desejo de mudança causado

pelo desconforto emocional ou racional que venha a se estabelecer, e a força do hábito, medo

provocado pelo possível contato com o desconhecido (MARCONDES, 2008). Em termos de

comportamento, conforme já mencionado, é a ocorrência do processo de dissonância.

Na busca de promover um novo “equilíbrio”, o ser humano poder vir a buscar novas

maneiras de ajustamento. Dá-se início a primeira transição para o nível seguinte. Conforme se

observa no fragmento a seguir.

“E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos

transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era

a voz da sombra que passava?

Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e

curados da sua ignorância, para se ver, regressados à sua natureza, as coisas se

passassem deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a

endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer

tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas

sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até

então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e

via a verdade, voltado para os objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada

um desses objetos que se passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era?

Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos

outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?”(PLATÃO, 2000:

pág.210 e 211)

Esse é o estado que se estabelece no segundo nível pístis e dóxa; onde as crenças e os

valores são devidamente compartilhados provavelmente em termos de aprendizagem social.

Embora os indivíduos sejam capazes de “ver” os objetos e as pessoas, por conta da “luz”,

continuam a acreditar que os valores e conhecimento que possuíam até o presente momento

eram os “verdadeiros”.

Todos os respondentes foram “desamarrados” e obtiveram conhecimento em gestão de

empresas de panificação de diversas formas, inclusive, alguns, na própria área de Gestão de

Pessoas. Mas, a maioria dos entrevistados não se sente confortável ao entrar em contato com

essa “nova realidade”, com essa maneira distinta de se administrar uma padaria, continua

101

restrita ao universo do nível dois. Há, entretanto, o reconhecimento da necessidade de mudar,

porém dentro dos limites de cada um, conforme se observa no trecho a seguir.

“Eu acho que, não acho que mudaria não, porque não tem nada pra mudar não,

é...cada um...É, eu tenho como um filho meu que diz assim: “ah mãe, a gente tem

que mudar as coisas”. Mas a mudança dele é muito alta, né? Então a gente tem que

mudar da maneira que pode...” (Entrevistado 5)

Nesse estágio, o indivíduo utiliza como recurso a confiança em que deposita nas

sensações, nas opiniões e no senso comum (CHAUI, 1994). Essa é a principal razão, por

exemplo, para as empresas B, C e D utilizarem como processo de avaliação de desempenho,

exclusivamente, a observação direta e possíveis contribuições de clientes. Diversos trechos

citados anteriormente indicam que a experiência adquirida na prática era considerada, por

esses gestores, o principal, quando não, o único referencial para a tomada de decisão na área

de GP.

Entretanto, Platão (2000) descreve que alguns indivíduos podem prosseguir em um

caminho diferente. Conforme se observa no fragmento a seguir.

Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e

voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objetos para os quais podiam olhar, e

julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe

mostravam? (pág.211)

Ao iniciar o movimento de subida da caverna o indivíduo se submete a uma

luminosidade intensa, já que na caverna há uma baixa incidência de luz, e a partir daí se inicia

um processo de adaptação considerada por Platão como tão ou mais importante do que a

própria força do eros que faz com que ele inicie o processo de subida (MARCONDES, 2008).

A representação dessa imagem se encontra na Figura 13.

Figura 13 – PROCESSO DE ASCENSÃO AO CONHECIMENTO

Fonte: www.google.com/imagens

102

Caso o indivíduo não se sinta “seguro” ele empreende um esforço em manter a

situação em que se encontra. Observa-se na fala do entrevistado 7, inserido no conjunto das

empresas B, C e D, que houve em algum momento uma tentativa de ascensão promovida pelo

contato com o “conhecimento”.

O componente cognitivo, desse gestor, já é capaz de perceber os benefícios de uma

possível mudança, entretanto, é “freado” pelo elemento afetivo. Ocorre o reequilíbrio interno

de maneira a “justificar” o atual comportamento de manutenção do status quo.

“Gestor: (...) ontem eu estava até falando com um senhor que ele trabalha no mar,

ele é marinheiro e ele disse: - (nome da gestora), eu acho linda a vida no campo,

mas eu necessito do mar pra viver. É como se fosse um remédio pra ele, então,

assim, padaria hoje assim pra eu estar aqui é como se fosse um remédio pra mim, tu

entende? Eu amo de paixão estar aqui dentro, dirigindo, de estar embalando a

bolacha (...) quando eu não estou aqui é me sinto mal, eu gosto de estar aqui, mas

olha...os empregados....

Pesquisadora: Mas, aí eu digo assim quando você relaxou e você aceitou que era a

forma de você gerir é a forma que lhe faz bem...

Gestor: Pronto, exatamente. É.

Pesquisadora: Então, você hoje está bem resolvida em relação a você mesma...

Gestor: O problema é que não é o certo.

Pesquisadora: E o que é o certo?

Gestor: (Risos) Eu acredito que um negócio mais gerenciadozinho, não sei...não

sei...não sei o que é o “certo”. Eu sei que antigamente eu entrava mais em conflito

com isso, mas hoje não, hoje eu aceitei que é porque eu gosto. É assim mesmo...”

O entrevistado 7, ainda, chega a descrever o sentimento que possui em relação e essa

mudança e o relaciona como a “maneira aprendida” que se reflete nas dificuldades de

alteração da atitude e, consequentemente, do comportamento. Tudo indica que a principal

causa, não apenas para este gestor, reside na dificuldade em confiar, conforme se observa no

trecho a seguir:

“(...) quando você passa por aí e vê altas padarias organizadas, é...com...aquelas

pessoas gerenciando, então aí você vê...Poxa, como é fácil ver os outros, mas no dia

a dia o modo que você aprendeu foi esse, então se torna difícil...é como se fosse uma

muralha que...entendeu? é uma dificuldade enorme de você ter, arrumar pessoas de

confiança que realmente vão botar, deixar tranqüilo, eu acho que a maior

dificuldade é essa que a gente não consegue confiar naquela pessoa que fique no

seu lugar.”

Embora não consista em um processo simples, a ascensão e adaptação do “olhar é

possível, conforme se observa no trecho a seguir.

E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não

o deixassem fugir antes de o arrastarem até a luz do Sol, não seria natural que ele

se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os

103

olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos

serem os verdadeiros objetos? (PLATÃO, 2000: pág. 211)

A empresa A, dentre as organizações estudadas, é a única que iniciou o seu processo

de transição para o nível três diánoia que é uma espécie de conhecimento discursivo. Onde a

organização inicia, através de seus gestores, o desenvolvimento de práticas de Gestão de

Pessoas.

Encontra-se em transição, porque, segundo Chaui (1994), a distância que há entre o

segundo e o terceiro nível é, significativamente, maior do que na transição anterior. As

práticas nessa empresa ainda não se encontram solidamente consolidadas conforme

constatação nos depoimentos dos próprios responsáveis pela área.

Provavelmente, a distância seja maior pela própria questão da transição entre os

ambientes, simbolizados pela ideia do claro e escuro, necessitar de um tempo maior de

adaptação (MARCONDES, 2008). Embora seja nítido o movimento de ascensão da empresa

A, observa-se que a adaptação ainda não está completamente realizada, conforme se observa

no trecho a seguir.

“Vê só, a gente tá no início, eu acho. A gente tá no início e eu acho que a gente tem

muito a melhorar ainda. Eu digo que eu quero ganhar em 2010 o prêmio de Gestão

de Pessoas do PROPAN e ela (a gestora) dizia pra mim e pro antigo gerente que

saiu: – Vocês vão receber o prêmio lá em BH...e ele saiu, mas eu ainda continuo

querendo ganhar o prêmio de Gestão de Pessoas...a equipe toda, né?”

(Supervisora)

A próxima etapa, segundo Platão, consiste na ascensão que conduz ao nível máximo

que é a Noésis (intuição intelectual) ou Espistéme (ciência). É o conhecimento à luz do

“Bem”, ou seja, através da absorção de teoria consistente capaz de possibilitar um processo de

tomada de decisões mais eficiente e eficaz.

Em relação à Gestão de Pessoas, essa etapa envolveria a existência de uma atitude

coerente com os aspectos estratégicos possibilitados por essa área. O autor descreve abaixo o

momento em que o indivíduo efetivamente se ajusta neste nível e conforme se visualiza na

Figura 14.

Precisava se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro

lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos

homens e dos outros objetos, refletidas na água, e, por último, para os próprios

objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio

céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do

que se fosse o sol e o seu brilho de dia.

104

E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá

possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se

regozijaria com a mudança e deploraria os outros? (PLATÃO, 2000: 211-212)

Figura 14 - EPISTÉME

Fonte: www.google.com/imagens

No próximo capítulo, serão apresentadas as conclusões e sugestões deste estudo.

105

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Diversas são as interpretações que surgem a partir de um estudo científico. As

inferências foram realizadas neste trabalho considerando a complexidade e a

multidisciplinaridade. O primeiro aspecto a ser apresentado diz respeito às conclusões.

5.1 Conclusões

O objetivo deste trabalho era compreender a atitude dos líderes de pequenas empresas

de panificação da Região Metropolitana do Recife em relação à Gestão de Pessoas à luz do

“mito da caverna” de Platão. Diversos são os fatores que se apresentam relevantes para o

entendimento desta atitude dos gestores das padarias estudadas. Os que aparentemente

possuem maior importância no cômputo geral são as questões relativas ao conhecimento em

Gestão de Pessoas, a própria dinâmica da liderança existente na organização e o estilo de

gestão da empresa.

As padarias estudadas, apesar de resguardarem as suas particularidades, possuem

características e práticas relativamente homogêneas. As empresas B, C e D possuem uma

maior congruência de elementos em relação à GP. A organização A apresenta práticas

gerenciais amplamente consideradas distintas das demais empresas, entretanto, na Gestão de

Pessoas as diferenças existentes entre a empresa A e as demais não são tão destacadas apesar

de existirem alguns processos mais estruturados.

A história das pessoas e das organizações contribuiu com o entendimento de como a

aquisição de experiências ao longo da vida influenciava a percepção e a própria abertura para

repensar e, porventura, alterar as práticas correntes. Nesse fator, destaca-se a importância da

mudança do perfil deste tipo de empreendimento, das diferenças regionais e de estilo

gerenciais.

A promoção de troca de experiências que ocorreu com a adesão aos grupos de

empresas similares, bem como a um programa destinado à consultoria específica parece

promover um ganho significativo em termos de aquisição de conhecimento para o setor.

Mudanças tecnológicas em equipamentos e técnicas de produção proporcionaram, também,

um acréscimo de poder por parte dos gestores em detrimento dos empregados.

106

Os instrumentos para absorção de novas maneiras de administração estão voltados,

principalmente, para a troca de experiências entre as padarias, as consultorias especializadas e

cursos de curta duração, tanto para os gestores quanto para os seus empregados. A formação

tradicional, nesse grupo, apresenta-se de forma limitada possivelmente promovida pela

extensa carga horária dos gestores, no presente, e pela história de vida, no passado.

Os achados indicam que o grupo estudado valoriza o conhecimento formal, inclusive,

o de Gestão de Pessoas o que em parte ratifica a adesão aos instrumentos “não tradicionais”

devido à melhor adequação ao estilo de vida desses gestores. Os entrevistados foram capazes

de identificar os possíveis benefícios envolvidos para as empresas e para os principais

stakeholders: clientes e empregados. O foco no cliente também é uma característica marcante

nas empresas estudadas.

Na área de Gestão de Pessoas, os principais pontos críticos se referem ao custo de

mão-de-obra, à baixa qualificação profissional e à Qualidade de Vida no Trabalho. Por fim, o

setor apresenta uma tendência de crescimento significativa provocada, principalmente, pelo

fenômeno de food service.

As práticas adotadas pelas empresas são baseadas principalmente em observação

direta. Apesar de intuitivas, parecem se ajustar bem ao contexto, exceto pela ausência de

critérios bem definidos em relação aos empregados. Existe o sentimento de injustiça, na

percepção dos entrevistados, sentido pelos seus colaboradores, possivelmente decorrente da

falta de fatores objetivos, os quais justifiquem a postura adotada pelas organizações.

A ausência de relatos de maiores problemas por parte dos gestores, possivelmente,

ocorre não pela inexistência dos mesmos, mas pela impossibilidade de enxergá-los, devidos às

mesmas limitações apresentadas por Morgan (2000) na metáfora da prisão psíquica. Como

este estudo se baseia na percepção dos gestores não se pode concluir que os empregados se

encontram realmente satisfeitos, que esse diálogo que se apresenta “tão aberto” e que ainda

não esconda, na realidade, diversos problemas que não emergiram completamente no estudo.

Na empresa A, observa-se além da adoção de práticas um pouco mais estruturadas, a

autonomia para o grupo supervisor. Esta, inclusive, das quatro empresas estudadas é a única

que mantém um sistema intermediário entre os proprietários e seus respectivos empregados.

As rotinas de GP, entretanto, precisam estar consolidadas em políticas sólidas e vinculadas à

estratégia da organização, caso contrário reduz significativamente o processo de criação de

valor para a organização como um todo.

As principais dificuldades encontradas em gerir pessoas em organizações de pequeno

porte foram: o processo de formação de liderança (por questões internas aos gestores e de

107

qualificação dos profissionais contratados); a necessidade de recursos (principalmente

financeiros) para promover entre outros, a qualidade de vida dos empregados; a resistência

dos empregados antigos; o ajustamento de um novo membro à equipe e a baixa qualificação

da mão-de-obra.

Os líderes se autoavaliam inseguros em relação à Gestão de Pessoas devido à falta de

conhecimento. Tudo indica, porém, que pretendem “compensar” isso promovendo um bom

clima organizacional, uma maneira “mais humana” de ver e tratar o empregado, apresentando

uma imagem que transmita segurança, motivação, incentivo e educação. Na educação, fica

claro o papel social que os gestores parecem incorporar em suas organizações, considerados

por alguns, verdadeiras escolas. Esse aspecto foi identificado por Rodrigues (2004) como dos

mais importantes e negligenciados por muitos líderes de um modo geral.

A alegoria de Platão continua contemporânea e a visão geral é de que os entrevistados

em algum momento da história de vida deles começaram a ter acesso a algum tipo de

“conhecimento”, mas a maioria dos líderes ainda permanece com as práticas de gestão

conhecidas. Muitas vezes, o componente afetivo é o grande responsável pela manutenção do

status quo alimentado pelo sentimento de insegurança que estes indivíduos têm em delegar.

Naturalmente, a ausência de conhecimentos específicos em relação à Administração

em si contribui para esse fato, já que os indivíduos não dominam os instrumentos de controle

identificados pela Ciência. Neste aspecto, o “saber” como tem sido apresentado, possui um

caráter tanto positivo quanto negativo. O primeiro é a ampliação do mapa cognitivo dos

líderes com conhecimentos contextualmente adequados às padarias, no entanto, mesmo na

recepção dessas novas informações o gestor sempre vai utilizar a bagagem que possui para

avaliar às práticas repassadas.

Dessa forma, o ponto negativo é o indivíduo não ser capaz de absorver toda a

potencialidade do que recebe pelas limitações pré-existentes. Não se trata, entretanto, de um

fator determinante já que os instrutores, bem como os próprios gestores podem “compensar”

essas deficiências de diversas maneiras como com estudo dirigido, por exemplo.

No que diz respeito à atitude do gestor em relação à GP à luz do “mito”, existem

quatro “graus” de conhecimento: eikásia (inexistência de políticas e práticas); pístis e dóxa

(práticas baseadas em opiniões e senso comum); diánoia (Gestão de Pessoas estruturada) e

noésis e epistéme (Gestão Estratégica de Pessoas). As empresas B, C e D, se encontram no

segundo nível e a organização A apresenta um processo de transição entre os níveis dois e

três.

108

A maior parte dos entrevistados, conforme a teoria já previa está, predominantemente,

imersa no mundo das sensações, das crenças. E é possível que esses empresários realmente

estejam sendo eficazes em alguns aspectos, mas é provável que melhorassem muito com a

aquisição do conhecimento para aí, sim, decidir o que melhor convém a cada empresa. Fuller-

Love (2006), entre outros, identificou o baixo grau de conhecimento em Administração como

característica de pequenas empresas. Neste ponto, o setor de panificação parece se afastar do

mainstream.

O processo de transição que vai do nível inferior eikásia até o mais elevado noésis e

epistéme se apresenta como um longo caminho a ser percorrido pelos indivíduos. Estrada esta

em que existem diversos momentos de dissonância, de reajustamento. A subida apresentada

por Platão é promovida por um forte conflito provocado tanto por elementos internos quanto

externos.

Nas empresas estudadas, o que parece contribuir para um indicativo de ascensão de

todas as empresas estudadas é a existência de gestores, quase em sua totalidade,

completamente envolvidos com suas respectivas organizações. Mais do que isso, há uma

nítida satisfação no desenvolvimento de suas atividades, poderia até afirmar que os indivíduos

entrevistados “amam” o que fazem.

Devido ao forte vínculo emocional existente entre esses líderes e suas panificadoras,

ratifico a crença de que todas as organizações estudadas possuem possibilidades nítidas de

crescimento em termos de profissionalização. O elemento afetivo que até então atuou no

sentido de manutenção do status quo possivelmente será o mesmo que promoverá a busca de

conhecimentos gerenciais.

As mudanças promovidas no setor ainda não terminaram e provavelmente haverá um

impacto ainda maior tanto do fenômeno de food service quanto na comercialização de

produtos. Essas alterações colocarão os gestores de novos desafios já competirão em “novos”

mercados o que possivelmente vão exigir novas habilidades da parte deles. As empresas se

encontram muito atentas ao processo de alteração do cenário atual e por essa razão

dificilmente vão entrar em um processo de “encarceramento intelectual” identificado por

Drummond (2004).

Este trabalho, por fim, pode ser um ponto de partida para a abertura de novas

possibilidades nos estudos de Gestão de Pessoas em pequenas empresas através de uma

abordagem multidisciplinar que enfatiza as questões humanas nas pesquisas empreendidas no

contexto organizacional.

109

A seguir serão apresentadas as sugestões de ação e pesquisa que emergiram deste

trabalho.

5.2 Sugestões

As sugestões têm por objetivo fazer uma reflexão acerca do que foi verificado no

ambiente da pesquisa, a fim de contribuir efetivamente com a realidade, neste caso, das

empresas do setor de panificação, da academia e das consultorias de um modo geral. Iniciar-

se-ão os comentários a respeito das ações.

5.2.1 Ação

Em relação às empresas, sugere-se a aquisição de conhecimentos principalmente nas

áreas de Comportamento Organizacional e de Gestão de Pessoas. A investigação sobre

possíveis problemas que estejam ocorrendo, também, poderia ser feita através de consultoria

na área de GP, já que algumas questões podem aparentemente estar relacionadas com outros

setores como produção, marketing.

Para a academia as indicações são de criação de cursos apropriados aos profissionais

de pequenas empresas em outros formatos dos praticados atualmente, já que grande parte dos

empresários não dispõe do tempo necessário para um curso superior e, inclusive, não

necessita dos “títulos”. A ação seria, exatamente, repensar novas formas de transmissão de

conhecimento para esse tipo de empresa.

Nas consultorias, são necessários novos investimentos na parte de conscientização dos

clientes acerca das possibilidades de uma GP estratégica, bem como, dentro do possível, não

se limitar aos problemas identificados, atuando, também, de maneira preventiva. Fornecer aos

clientes não apenas as chamadas “soluções de prateleira”, mas, sim, subsídios que

possibilitem a efetiva estruturação de uma gestão eficiente e eficaz, a qual permita aos

empresários e empregados o conhecimento das razões de existir das políticas e práticas

adotadas.

110

5.2.2 Pesquisas

As possibilidades de pesquisas são diversas. Numa delas pode ser verificar a visão dos

empregados das empresas de panificação sobre a Gestão de Pessoas. Outra abordagem pode

ocorrer através da investigação dos fatores observados neste estudo e em outros relativos a

contextos similares, realizando uma sondagem quantitativa nas empresas de panificação para

verificar a incidência ou não dos achados.

Estudos que aprofundem as maneiras de gestão do Sul e Sudeste e do Nordeste

também poderiam ser realizados. Estudar organizações bem estruturadas na parte de GP e

conhecer as suas práticas, também ajudaria a compreender melhor a adequação dos

instrumentos nessas empresas. Em suma, há muito que se investigar a respeito não apenas da

atitude do gestor, mas da Gestão de Pessoas em empresas de panificação em si e de suas

decorrências.

111

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APÊNDICE A – Questionário Sócio-Demográfico

QUESTIONÁRIO:

EMPRESA:

LOCALIZAÇÃO:

FUNDAÇÃO:

EMPREGADOS:

FORMA DE GESTÃO:

Nº DE GESTORES:

GERAÇÃO DA GESTÃO:

CONSULTORIA:

ASSOCIAÇÃO:

OBS:

GESTOR:

IDADE:

ESCOLARIDADE:

FORMAÇÃO

ESPECÍFICA:

CURSOS ESPECÍFICOS

DE PANIFICAÇÃO:

TEMPO DE GESTÃO:

OBS:

119

APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista

1. Como foi o processo de criação da organização?

2. Em que momento da história da organização o gestor começou a fazer parte da mesma?

3. Qual a situação encontrada?

4. Como é atualmente no seu entendimento é o segmento de panificação?

5. Conte um pouco de sua experiência acadêmica e profissional.

6. O que os empregados significam para a empresa e para o gestor?

7. O que, na sua concepção, é Gestão de Pessoas?

8. Qual a importância da Gestão de Pessoas para os empregados?

9. Qual a importância da Gestão de Pessoas para os clientes?

10. Qual a importância da Gestão de Pessoas para os fornecedores?

11. Quais, na sua percepção, são as suas atribuições e importância como gestor de pessoas?

12. Como o gestor recruta e seleciona pessoas?

13. Quais os critérios e de que maneira são planejados e realizados os treinamentos dos

empregados?

14. Objetiva-se o desenvolvimento dos empregados?

15. Como é realizada a avaliação do desempenho dos empregados?

16. Como é feita a remuneração? Quais os critérios?

17. Como é decidido o desligamento dos empregados?

18. Quais as dificuldades encontradas para gerir pessoas em organizações de pequeno porte?

19. Como o gestor se auto-avalia como gestor de pessoas?

20. Há alguma coisa que o gestor mudaria em sua Gestão de Pessoas?

21. Como o gestor avalia os conhecimentos seus conhecimentos e da própria organização em

relação à Gestão de pessoas?