FACERES · 2018. 10. 9. · Perfil imunológico de pacientes portadores de HIV em uma população...
Transcript of FACERES · 2018. 10. 9. · Perfil imunológico de pacientes portadores de HIV em uma população...
CFACERES
Faculdade CERES — FACERES
Curso de Medicina
Trabalho de Conclusão de Curso
Perfil imunológico de pacientes portadores de HIV em uma população de São José do Rio Preto / SP
Orientador: Renato Ferneda de
Souza
Aluna: Esteia Viana Peres
São José do Rio Preto — SP
2017
Sumário
1.INTRODUÇÃO 1
2.DESENVOLVIMENTO 3
3.CASUÍSTICA E MÉTODOS 5
4.RESULTADOS 6
5.CONCLUSÃO 12
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12
Perfil imunológico de pacientes portadores de HIV em uma população de São José do Rio Preto / SP
Esteia Viana Feres' Renato Ferneda de Souza2
Acadêmica da Faculdade Ceres de Medicina (FACERES). Médico infectologista, docente da Faculdade Ceres de Medicina (FACERES).
Palavras-chave: análise epidemiológica, perfil imunológico
Introdução:
A epidemiologia tem como principal objetivo melhorar os indicadores de
saúde das populações, sendo uma ciência fundamental para a saúde pública. É
essencial no processo de identificação e mapeamento de doenas emergentes,
como o HIV/AIDS. É uma disciplina relativamente nova e usa métodos
quantitativos para estudar a ocorrência de doenças nas populações humanas e
para definir estratégias de prevenção e controle das mesmas. Na maioria das
vezes, ocorrem grandes atrasos entre as descobertas epidemiológicas e a sua
aplicação na população. A epidemiologia é frequentemente utilizada para
descrever o estado de saúde de grupos populacionais. O conhecimento da carga
de doenças que subsiste na população é essencial para as autoridades em
saúde.2
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) tem um longo período
de incubação e, sem tratamento, cerca de metade dos infectados com o vírus da
imunodeficiência humana (HIV) desenvolvem a doença dentro de nove anos de
infecção. O vírus é encontrado no sangue, sêmen e nas secreções vaginais. A
tran,smissão ocorre principalmente através da relação sexual ou do
compartilhamento de agulhas contaminadas. O vírus também pode ser
2
transmitido através da transfusão de sangue contaminado ou de seus derivados,
e de uma mãe infectada ao seu bebê durante o parto ou ainda pela
amamentação (transmissão vertical). O diagnóstico é realizado pelos testes para
detecção da infecção pelo HIV, sendo divididos basicamente em quatro grupos:
detecção de anticorpos, detecção de antígenos, cultura virai e amplificação do
genoma do vírus.3
Perfil imunológico: baseia-se na contagem de células T CD4+ em
sangue periférico. Possui implicações prognósticas na evolução da infecção pelo
HIV pois é a medida de imunocompetência celular, sendo útil no
acompanhamento de pacientes infectados pelo HIV. Pode-se dividir a contagem
de células T CD4+ em sangue periférico em quatro faixas:
maior que 500 células/mm3 caracteriza o estágio da
infecção pelo HIV com baixo risco de doença. Há boa resposta às
imunizações de rotina e boa confiabilidade nos testes cutâneos de
hipersensibilidade tardia.
Entre 200 e 500 células/mm3: estágio caracterizado
por surgimento de sinais e sintomas menores ou alterações
constitucionais. Risco moderado de desenvolvimento de doenças
oportunistas.
Entre 50 e 200 células/mm3: estágio com alta
probabilidade de surgimento de doenças oportunistas.
Menor que 50 células/mm3: estágio com grave
comprometimento de resposta imunitária. Alto risco de surgimento de
doenças oportunistas e alto risco de vida com baixa sobrevida.
3
Estes valores levam em conta apenas a avaliação quantitativa.
Alterações qualitativas na função dos linfócitos podem permitir o surgimento de
condições oportunistas em pacientes com níveis diferentes de células T CD4+.
Quando não há disponibilidade de quantificação da carga virai, pode-se
considerar a contagem de células T CD4+ para iniciar ou alterar terapêutica
antirretrovira1.1
Desenvolvimento:
A epidemia da infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana
O do tipo 1 (HIV-1) compõe um fenômeno global e instável, foi caracterizada em
usuários de drogas injetáveis, homossexuais e indivíduos submetidos a
transfusão sanguínea.
Causada pelo HIV, um retrovírus específico, a AIDS acomete o sistema
imunológico, levando à ocorrência de diversas infecções oportunistas. É sabido
que o sistema nervoso central e o sistema imunológico são os alvos principais
da infecção pelo vírus da AIDS. Há uma relação direta entre a fase da infecção
pelo HIV, o comprometimento imunológico do paciente e as complicações
neurológicas ocasionadas.
A supressão da resposta imunológica é um fato que contribui para o
aparecimento de infecções oportunistas por diversos agentes etiológicos e de
algumas formas de neoplasias, definindo-se assim o perfil da AIDS. A
pneumonia, a toxoplasmose encefálica, a tuberculose pulmonar atípica ou
disseminada e a retinite por citomegalovírus estão entre as infecções
oportunistas que mais acometem tais pacientes.5
4
A terapia antirretroviral de alta potência (Highly Active AntiRetroviral
Treatment- HAART), incorporada no Brasil a partir de 1996, tem seus benefícios
evidentemente demonstrados em pacientes sintomáticos, tornando mais lento o
curso da doença e prolongando o tempo de vida. Por outro lado, a não adesão
aos medicamentos antirretrovirais interfere com a sua efetividade, o que pode
acarretar resistência virai e aumentar o risco das manifestações clinicas, além
de diminuir o tempo de vida dos portadores. Este fato está relacionado à
variáveis socioeconômicas, ao aparecimento de efeitos colaterais, à intolerância
posológica, à necessidade de controle médico periódico, e, ainda, ao tempo e à
complexidade do tratamento.
As infecções oportunistas e coinfecções constituem-se num dos
principais fatores de risco de morte do paciente acometido pelo HIV-1/ AIDS.
Estudos apontam que uma das infecções causadas pelo vírus da AIDS
pode afetar diretamente a função auditiva em virtude da natureza neurotrópica
do vírus, que geralmente se manifesta neurologicamente. Cerca de 20 a 40%
dos pacientes apresentam algum tipo de manifestação auditiva e/ou vestibular
em decorrência da infecção pelo vírus da AIDS. As manifestações diferem-se
desde alterações de membrana timpânica, otites variadas (externa, média
crônica, média secretora), otorréia, zumbido, vertigem, perda auditiva condutiva,
sensorioneural até as alterações das vias auditivas centrais.4
A análise de perfis epidemiológicos em estudos da primeira década dos
anos 2000 mostravam que a população mais atingida pela AIDS possui idade
igual ou superior a 18 anos, é do sexo masculino, tem trabalho de baixa renda,
5
é sem escolaridade, é individuo separado/divorciado ou viúvos, é
homo/bissexual.6
Entre as doenças oportunistas detectadas com índice de incidência superior a
3%, destacam-se a turberculose, monillase/candidíase oral e a
neurotoxoplasmose. Em média, entre 18 e 21% dos portadores necessitam de
internação hospitalar para tratamento das doenças oportunistas, resultando em
2,63 internações/ano por paciente.'
Outro estudo mostrou que os pacientes que tinham AIDS apresentavam
a caquexia como o sinal mais prevalente, seguido de febre e astenia, 30% com
contagem de CD4 < 350 céí/mm3 sintomáticos apresentando infecções
oportunistas pela pneumonia pelo Pfiroveci e toxoplasmose cerebral. Entre os
pacientes com carga virai indetectável, 64,3% deles estavam em uso de terapia
antirretroviral, mostrando associação estatisticamente significativa entre a carga
virai indetectável e uso de terapia antirretroviral. Do total 45,2% tinham aids,
50,1% apresentavam carga virai detectável, 30% contagem de CD4<350
cél/mm3 e 64,1% estavam em uso de terapia antirretrovira1.8
É evidente que a queda na contagem de linfácitos T-CD4+ representa
comprometimento do sistema imunológico, facilitando a instalação de uma
infecção oportunista e afetando negativamente a sobrevida dos portadores.
Casuística e métodos:
Tipo do estudo: o estudo realizado foi prospectivo longitudinal.
Local: O estudo foi realizado no Complexo de Doenças Transmissíveis
Unidade 1 (CDT), localizado em São José do Rio Preto/SP. É o serviço de
referência para o tratamento de portadores de HIV do município. Realiza
acolhimento e aconselhamento em IST/AIDS, atendimento de exposição sexual
ao vírus HIV, exames laboratoriais, além de referência para acidentes de
trabalho com exposição a material biológico para profissionais de saúde.
Coleta de dados e período de estudo: foram acompanhados em
atendimento médico os pacientes portadores de HIV em terapia antirretroviral no
CDT no período de Janeiro de 2011 a Dezembro de 2015. Foram coletados
dados como sexo, idade, tempo de diagnóstico do HIV, nadir de linfácitos T-CD4
e carga virai de HIV, nível atual de linfácitos T-CD4 e carga virai atual..
Critérios de inclusão: foram considerados para o estudo os portadores
de HIV.
População: foram incluídos no estudo 264 pacientes.
Análise de dados: os dados coletados foram analisados no Office Excel
2012.
Resultados: Foram avaliados 264 pacientes no estudo, nos dados descritos na
casuística. Primeiramente, 104 pacientes do sexo feminino e 160 pacientes do sexo
masculino (figura 1).
Contagem de Sexo
160
Feminino Masculino
Figura 1: contagem de sexo.
7
A média geral de idade foi de 42 anos, e variou entre 20 e 87 anos (figura
2).
Idade (anos) 70
, 60
50
40
30
20
10
\l>" ça>.' Q•
' A A
0.•"' cP,' (0(2\ oip'• s.s \ •
(:,2" 0,;1 . \osy›, 9).5\
Ç3t).9, N.\
Figura 2: idade dos pacientes por faixa etária.
O tempo de doença variou entre 2 e 380 meses, sendo a média geral de
108 meses (figura 3).
Tempo de doença (meses) 70
1 60
50
40
30
20
10
O
(44, 86) (128, 170] (212, 254) (296, 338] [2, 44] (86, 128] (170, 212) (254, 296) (338, 380]
8
Figura 3: tempo de doença em meses.
O nível nadir de linfácitos T-CD4 variou entre 3 e 1533 céls/mm3, sendo
a média geral de 383 céls/mm3 (figura 4).
Nadir Linfácitos T-CD4 ' 60
Figura 4: nível nadir de Linfócitos "TCD4
A média geral do nível de Linfácitos T-CD4 atual foi de 520 células/mm3,
o valor mínimo foi 20 células/mm3 e o valor máximo foi 1420 células/mm3 (figura
5).
9
Linfácitos T-CD4 atual
,0\ 00\ 11,0\ 05,0\ P Q,\ „ No\ ,Q., \ \-1,0 K.,§)0 , opun
Figura 5: nível de linfácitos T-CD4 atual.
O nível nadir de carga virai variou entre O e 1.820.000 cópias/mm3,
sendo a média geral de 110.426 cópias/mm3. 131 pacientes (49,6%) possuíam
entre O e 140.000 cópias/mm3.
3 1 O 1 O
140 — 131
120
100
80
60
40
20 - 1-6
( 140
000,
280
000 o o
oc
g coo
( 420
000,
560
000
( 560
000,
700
000
( 700
000,
840
000
(840
000,
980
000
(980
000,
112
0000
( 112
0000
, 126
0000
( 154
0000
, 168
0000
(168
0000
, 182
0000
10
Nadir carga viral
Figura 6: nível nadir de carga virai.
Em relação à carga virai atual, 239 (90,5%) pacientes eram indetectáveis
(figura 7).
300
250 239
200
150
100
50
o
2340
00, 2
5200
0
(720
00, 9
0000
(360
00, 5
4000
( 540
00, 7
2000
3060
00, 3
2400
0
( 180
00, 3
6000
(900
00, 1
0800
0
1800
00, 1
9800
0
2700
00, 2
880
00
1980
00, 2
1600
0
2520
00, 2
7000
0
2880
00, 3
0600
0
1620
00, 1
8000
0
2160
00, 2
3400
0
1440
00, 1
6200
0
1260
00, 1
4400
0
1080
00, 1
2600
0
11
Carga virai atual
1 0 0 2 O 2
o o o oo
o
Figura 7: nível atual de carga virai.
Em relação às doenças oportunistas, do total de 264 pacientes do
estudo, 26 (9%) apresentaram tuberculose, 21 (7,9%) apresentaram
neurotoxoplasmose) e 7 (2,6%) apresentaram pneumocistose (figura 8). A
prevalência geral de doenças oportunistas nesta população foi de 20%.
Prevalência das doenças oportunistas
Tuberculose • Neurotoxoplasmose Pneumocistose a Total
Figura 8: prevalência das doenças oportunistas.
a 12
Conclusão:
4111 O perifl imunológico constitui fator decisivo na sobrevida, mortalidade e
prevalência das doenças oportunistas nos portadores de HIV.
A terapia antirretroviral altera positivamente a história natural do HIV,
sendo observado o aumento substancial do nível de linfócitos T-CD4 após meses
ou anos de tratamento regular, assim como a indetecção dos níveis de carga
virai do HIV na maioria dos pacientes.
Por fim, a prevalência das doenças oportunistas na população do estudo
foi semelhante àquela descrita em outros estudos.
Referências Bibliográficas:
Biblioteca virtual em saúde. AIDS: etiologia, clínica, diagnóstico e tratamento.
Ministério da Saúde, Brasil.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Aids etiologia clinica diagnostico
tratamento.pdf. Consultado em 08/11/17.
Beaglehole, R. Kjellstrõm, Tord. Epidemiologia básica. 2a Ed.Livraria Santos
Editora, 2010.
Departamento de vigilância, prevenção e controle das IST, do HIV/AIDS e das
hepatites virais. O que é HIV. Ministério da Saúde, Brasil.
http://www.aids.gov.bript-br/publico-geral/o-que-e-hiv. Consultado em
08/11/17.
Araújo, E. Zucki, F. Corteletti L. et al. Perda auditiva e síndrome da
imunodeficiência adquirida: revisão sistemática. J Soc Bras Fonoaudiol.
2012;24(2):188-92.
Furini, A. Schiesari Junior, A. Souza, M. et al. Perfil das coinfecçôes em
indivíduos soropositivos para o HIV-1 atendidos em um Hospital Escola do
13
Noroeste Paulista, Brasil: dados preliminares. Rev Panam Infectol
2010; 13(3):39-42.
Ferreira BE, Oliveira IM, Paniago AMM. Qualidade de vida de portadores de
HIV/AIDS e sua relação com linfócitos CD4+, carga virai e tempo de
diagnóstico. Rev Bras Epidemiol 2012; 15(1): 75-84:
Pieri FM, Laurenti R. HIV/AIDS: perfil epidemiológico de adultos internados em
hospital universitário. Cienc Cuid Saude 2012; 11(suplem.):144-152.
Trevisol ES, Pucci P, Justino AZ, Pucci N, da Silva ACB. Perfil epidemiológico
dos pacientes com HIV atendidos no sul do Estado de Santa Catarina, Brasil,
em 2010. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 22(1):87-94, jan-mar 2013.