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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Normando. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 5(gt15):1-17
Fabricando máquinas abertas – notas sobre oprojeto Open Source Ecology Initiative (OSE)
GT 15 – Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos eculturas de investigação científica e tecnológica
Priscilla Normando
Resumo: Este trabalho busca descrever e analisar uma iniciativa em torno da criação e construção detecnologias e os elementos de governança que suscita. O Open Source Ecology (OSE) é uma iniciativaque pretende desenhar e contribuir todas as máquinas necessárias para começar uma civilização edeixar todos os projetos das máquinas abertos em uma plataforma web colaborativa. O que faz doOSE uma iniciativa mista, em parte baseada na web e em parte baseada em construções no mundoreal. Em linhas gerais descrevo a trajetória de um grupo que ao tentar inicialmente resolver problemascom a obsolescência programada das máquinas, prática geralmente incentivada por políticaseconômicas governamentais, por meio da criação de uma comunidade global de hackers. Muitas sãoas controvérsias concernentes ao OSE, especialmente entre a atuação de seu fundador – MarcinJakubowiski – e a cultura e comunidades hacker. Além da dificuldade de adquirir e inscrever asexpertises necessárias para que as máquinas possam ser reconstruídas e adaptadas em outros lugaresque não sua fazenda e galpão de produção, os aspectos de distribuição de poder e tomada de decisãodentro do grupo são considerados aqui um caso para pensar a governança das práticas tecnológicas.
Palavras-chave: Máquinas Abertas, Hackers, Governança, Comunidade, Expertises
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Introdução
Desde os anos quarenta do século XX uma técnica de design industrial limita a vida útil de produtos.
Chamada de obsolescência programada é usada como política e estratégia para aumentar o consumismo.
Basicamente, os produtos industriais desde o fim da segunda guerra mundial têm suas partes ou todo o seu
conjunto “quebrado”, obsoleto (caso de alguns aparelhos de celular ou computadores que acabam não tendo
sistemas operacionais que funcionem neles) e, usualmente, requerem que sejam repostos rapidamente. Esse
processo foi criado como uma forma de sustentar a produção industrial em massa e manter o crescimento das
plantas industriais. Da mesma forma, o “mantra” da inovação mantém a restrição de leis de direitos autorais
como um pré-requisito para a existência de bens industrializados (SILVA, 2012). Este artigo apresenta um
breve estudo de caso que procura superar a questão da obsolescência programada e das restrições de direitos
autorais por meio da construção da planta de cinquenta máquinas modulares abertas – o Open Source
Ecology (OSE). O projeto funciona por meio do uso de ferramentas web colaborativas para que o projeto
possa ser acessado e replicado de qualquer lugar do mundo1.
O principal objetivo do artigo é um esforço de análise do OSE por meio da questão da governança em
Ciência e Tecnologia. Entendemos que ao formar uma comunidade de construção de máquinas que
normalmente são desenhadas e construídas pela indústria, um dos setores da economia considerado
estratégico para o desenvolvimento social e altamente dependente da produção de conhecimento por parte de
cientistas e engenheiros, além dos direitos autorias vinculados a essa mesma produção. Fundamentalmente as
máquinas utilizadas na sociedade contemporânea depende da produção tecnocientífica, da restrição de
direitos autorais e de políticas governamentais. Colocamos então a pergunta: ao “hackear” máquinas de uso
comum na sociedade moderna estaria o OSE criando novas formas de governança em produção e
legitimação de práticas tecnológicas?
A pesquisa foi articulada em dois momentos. A pesquisa bibliográfica sobre internet, cultura hacker,
comunidade hacker e governança em Ciência e Tecnologia. Em seguida foi realizada netnografia. Os dados
sobre o OSE foram coletados pela internet entre janeiro de 2016 e junho de 2017. Para tanto lançou-se
mão do portal mantido pelo projeto <http://opensourceecology.org/>. Por meio deste endereço foi possível
acessar dados de colaboradores e colaborações do projeto, experimentar o wiki do projeto, assistir a vídeos
explicativos, visitar as ferramentas de produção colaborativa, vídeos, fotos, projetos, mapas e relatórios sobre
as experiências de construção das máquinas no mundo real. Outrossim, foram realizadas buscas em blogs,
fóruns de discussão e livros sobre o OSE que estão fora do conjunto de ferramentas virtuais acessíveis a
partir do endereço citado.
Cabe ressaltar que pesquisas sobre as críticas com respeito ao projeto foram realizadas. Utilizamos as
palavras-chave open source ecology pelos sistemas de buscas DuckDuckGo e Google – 16 de junho de 2017
- foram listados mais de oitenta e cinco mil resultados. No entanto, a maioria deles são apenas reportagens ou
1http://opensourceecology.org/
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notas sobre a existência do OSE. Escolhemos duas das mais acessadas críticas ao projeto, todas
realizadas por meio de blogs pessoais. Ritson (2016) demonstrou a dificuldade de lidar com a
comunicação via web. Alega que as mudanças e moderações realizadas pelos blogueiros ou donos de
sites podem por em risco a compreensão de controvérsias e a manutenção do objeto de pesquisa. Não
há uma linha do tempo estática de postagens e comentários, então imprimimos a tela de todas as
consultas e as arquivamos.
O trabalho está dividido em três partes. Primeiro estabelecemos algumas notas teóricas, logo
que ao descrever o objeto nem sempre é possível fazer toda a abordagem de toda a teoria que se
pretende utilizar, especialmente em páginas limitadas. Em seguida descrevemos e analisamos o OSE.
Na terceira parte estão as considerações finais com respeito ao caso apresentado.
Notas Teóricas
Neste tópico abordo de maneira preliminar as perspectivas das teorias que serão usadas nas
descrição e análise. Como em qualquer abordagem teórica, há limitações quanto o que a teoria versa e
o que o objeto descrito permite em termo de análises. Por exemplo, as distinções entre ciência e
tecnologia, em especial no concernente às pesquisas que dão origem às abordagens. Por vezes, as
teorias surgem a partir dos estudos sobre a produção de conhecimento científico e não diretamente
vinculadas a análises sobre a produção de tecnologia. Como nem sempre tecnologias surgem a partir
de pesquisas científicas, ou dentro de centros de pesquisa como universidades, as teorias a respeito de
ciência podem não ser suficientes para analisar as facetas da tecnologia. Portanto, as aproximações
realizadas neste trabalho foram adaptadas em direção a um objeto que possui como base a produção e
compartilhamento de tecnologias.
Utilizei as interpretações sobre pragmatismo e modos de vida realizadas por Bruno Latour.
Latour desenvolve a crítica a distinção entre cultura e natureza por meio da reformulação da ideia de
sujeito e objeto, suas historicidades, da questão dos pontos de vista, das redes estabelecidas entre entes
ou actantes e dos caminhos pelos quais o conhecimento é adquirido. Sua principal empresa é a revisão
e crítica de tradições filosóficas que estabeleceram a divisão ontológica entre humanos e não-
humanos. Busca desepistemologizar e reontologizar a forma como os discursos sobre o mundo são
construídos, ou seja, o conhecimento.
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O pensador francês defende que o conhecimento é uma trajetória que projeto em seu discurso
aquilo que foi retroativamente construído e validado por determinadas instâncias de poder. Essa
validação que, tanto o existencialismo francês quanto as tradições alemãs chamaram de reificação de
uma essência ou uma precedência metafísica do ser sobre as coisas, traz consigo o argumento pela
obviedade de que humanos são dotados de algum tipo específico de anima, enquanto coisas não. Para
Latour o encantamento do conhecimento ocorre exatamente quando imaginamos a existência não
apenas do abismo entre cultura e natureza, mas que o conhecimento sobre as coisas é produzido por
meio de saltos e não por uma trajetória permeada de historicidades e relações de agenciamento.
Diz Latour, “conhecimento se torna um mistério se você o imagina como um salto entre
alguma coisa que possui história e alguma coisa que não se move ou não tem história; se torna
claramente acessível se você permite que se torne um vetor contínuo em que o tempo é sua essência”
(2008, p.88). Deslindar o conhecimento é, portanto, estabelecer as conexões entre ideias, cadeias de
experiências, o movimento entre humanos e coisas, o movimento entre coisas e coisas, o movimento
entre coisas e humanos. Ideias, termos, experiência, correlação entre entes – inclui-se aqui humanos –
e a cadeias que estes formam uma rede de atores, o conhecimento se estabelece a partir dela.
A partir disso, para compreender uma tecnologia e os conhecimentos envolvidos ali é preciso
compreender como se formam a(s) rede(s) de atores que a forma(m) e dão suporte – uma rede
sociotécnica. Tal significa lidar com a ontologia social estabelecida. Uma rede com continuidades e
descontinuidades, dependências entre actantes, a qual pode, porém, ter por caráter sua topologia
centralizada. Para fins deste trabalho é importante lembrar e ressaltar que uma tecnologia é uma
construção típica das atividades humanas dependente de tempo, ou melhor, feita ao longo do tempo.
As cadeias de experiências, que ajudam a dizer se uma tecnologia funciona ou não, é prejudicial ou
não, está vinculada a seus usos e a seu funcionamento. Um tipo de conhecimento distinto, em boa
parte, daquele produzido pelas ciências.
Collins, no entanto, estabelece que a ciência e a tecnologia operam sobre a distinção do papel
de experts e leigos na produção de ciência e tecnologia. Prima forma, a expert seria aquela pessoa que
possui conhecimentos e habilidades reconhecidos, de forma explícita ou tácita, em determinada área e
a leiga seria a pessoa que não possui especialização ou conhecimento em determinado tema 2. As
2 Entendo que cabe aqui observar que essa é um distinção importada de tradução da língua inglesa. Noportuguês, o termo leigo possui denotação de pessoa que participa de uma religião sem fazer parte do corposacerdotal ou a pessoa que não possui religião. O sentido utilizado por Collins e outros autores é conotativo oufigurativo me português.
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formulações de Collins estão em cerca de quais as nuances estão entre uma e outra definição e que tipo
de expertises são necessárias para contribuir ou participar de determinado campo.
O primeiro ponto e principal para este trabalho é que Collins mapeia e codifica uma furta-cor
de tipos ou categorias de expertises, estabelecida por meio do que ele denomina de tabela periódica
das expertises. O reconhecimento de que a pessoa possui determinado conhecimento ou habilidade
passa por critérios estabelecidos – tacitamente ou não – por uma comunidade. Os matizes que formam
um ou outro tipo de detenção de habilidades e conhecimentos variam por meio de critérios específicos
como acreditações – título acadêmicos, por exemplo –, experiência e portfólio ou trajetória. A partir
desses critérios gera-se reconhecimento sobre os níveis de expertise que variam desde o completo
desconhecimento, passando pelo senso comum, informações, a expertise interacional e a expertise
contributiva. As capacidades de compreensão e interação dependem de uma série de vivências que
permitem ao sujeito dominar uma série de fatores que não são ou não podem ser explicitadas sem
interações adequadas.
Para autor as expertises são adquiridas por meio de socialização. Para ser especialista ou
dominar habilidades é necessário um período considerável de interações relevantes entre membros da
comunidade. Para ele há uma trajetória entre a “completa ignorância” e a “completa especialização” e
no seio das comunidades de conhecimento, encontramos indivíduos nos mais variados estágios de
conhecimentos e habilidades. Fazendo com que as distinções entre sujeito simplesmente informado e
expertises interacionais e entre expertises interacionais e expertises contributivas sejam as distinções
mais importantes (Collins, 2008). O sujeito informado é aquela pessoa que sabe que o assunto existe; o
expert interacional é capaz de falar com alguma propriedade sobre o assunto; e o expert contributivo é
aquele que possui níveis mais avançado de conhecimento sendo capaz de contribuir para o campo de
conhecimento em questão.
Do coproducionismo foram adaptadas algumas categorias para o contexto de produção das
máquinas, da governança da OSE e da participação nas ferramentas web. Neste trabalho privilegiei as
análises sobre globalização e ecologismo na “sociedade do conhecimento” feitas pela autora. No
entanto, para deixar claros alguns pontos desenvolvo parte do que estou compreendendo como
coproducionismo a partir da leitura dos textos da autora.
Jasanoff se debruça sobre as formas como a ciência e o direito produzem em conjunto sistema
de verdade ou sistemas de explicação e correspondência de fatos como verdade. As diferenças entre
linguagem, epistemes e métodos entre as duas áreas é ressaltada pela autora para mostrar como esse é
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um ponto de cooperação e validação. Enquanto o direito procura utilizar a linguagem humana primeira
a ciência e a tecnologia acabam por desenvolver uma linguagem própria capaz de especificar e
inscrever seus achados e inventos. No entanto, ao validarem em conjunto determinada visão de mundo
cooperam para que instâncias de poder se criem, perpetuem ou desfaçam. Assim, ciência e direito
coproduzem o senso comum no mundo contemporâneo por meio de engajamento uma com a outra,
pela competição por instâncias de autoridade, por construção de fundamentos epistemológicos e,
finalmente, em sua influência sobre a esfera pública. Nas palavras da autora, “the framework of co-
production draws attention to the simultaneous formation of social and natural order in knowledge
societies (2008, p.772).”
Para os ECTS os fundamentos metodológicos para entender as plataformas tecnológicas é
seguir engenheiros e construtores a partir de suas interações sociais. Trata-se de estabelecer retratos do
desenho, produção, distribuição e uso por contextos político, cultural e social (JASANOFF, 2008).
Pontos como simetria e assimetria na construção das plataformas, dentro e fora dos grupos relevantes;
as conexões e agenciamentos entre actantes; a produção da verdade ou de conceitos de verdade por
meio consenso ou de solução de controvérsias; as performances dentro e fora das comunidades de
interesse.
Trigueiro (2008) esclarece da necessidade de legitimação da prática tecnológica. Essa
legitimação passa pela relação de reconhecimento de um grupo para com outro grupo, indivíduo ou
dominação. Na contemporaneidade o reconhecimento da capacidade científico e tecnológica
ultrapassou as barreiras do reconhecimento cognitivo para o questionamento, no seio das sociedades,
sobre que tipo de impacto as tecnologias geram. Seja ele ambiental, político ou social.
O leigo passou não apenas a requerer ter voz e poder sobre o que deve ou não ser produzido
em termos de ciência e tecnologia. Se tornando possível ator na construção da governança em C&T. A
produção de conhecimento deixar de ser “autolegitimável” para ser coproduzida. Entra, então, a noção
de contexto de produção considerando outras subjetividades que não a de cientistas e engenheiros.
Entram técnicos, pessoas comuns, agentes estatais. A construção da legitimação da tecnologia passa a
depender também dos leigos. Assumindo dimensões interinstituicionais, de acordo com Trigueiro.
Para o entendimento do OSE é importante compreender o grupo como uma modalidade de
grupo da sociedade civil organizada. Por isso propomos a utilização da tabela de “contexto
institucional da produção científico-tecnológica”. Neste esquema há a divisão em duas dimensões
uma inter-organizacional e uma dimensão das atitudes e comportamentos dos pesquisadores. A
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primeira dimensão se divide em dois níveis: um estrutural e outro processual. No nível estrutural os
grupos dominantes, principais organizações ligadas a prática científico-tecnológica, os insumos e
recursos necessário. No nível processual está a alocação dos recursos, a formulação de políticas, a
definição e execução de programas. O que interessa para o estudo aqui proposto está na outra coluna.
Os atores atuam por meio de uma série de interesses sobre as práticas em questão, em comunidades
hackers a divisão descrita por Trigueiro é posta de lado, ou pelo menos deveria ser posta de lado, para
que as práticas tecnológicas sejam integradas e horizontalizadas.
Essas dimensões levam ainda a outras questões relativas a governança na contemporaneidade.
Como a possibilidade da concepção de plantas tecnológicas universais. É comum que um carro seja
construído da mesma forma em diversos países diferentes, ou um celular, ou ainda a construção da
interface de um sistema na web. Todos esses são exemplos de design universal em que há no funda a
ideia de que o uso do artefato terá o mesmo significado onde quer que seja utilizado. Feenberg (2013)
argumenta que a produção desse tipo de desenho é uma ferramenta de poder e dominação essencial
nas sociedades do século XXI. Esse poder representa a ausência ou pela menos ameaça à democracia,
pois significa administrar o meio no qual as pessoas vivem ou determinar como elas lidam com o
mundo. Assim, democratizar o desenho das tecnologias é democratizar a sociedade.
Richard Sclove (1995) explica que na segunda metade do século XX mostrou os efeitos da
tecnologia. Suas consequências vão desde questões ambientais, modificações nos modos de vida
humano, inclusive as colaterais. Esses fatores deixam, segundo o autor assim como Feenberg, claro
que a tecnologia é uma construção social. Os artefatos tecnológicos são produto de práticas sociais
estabelecidas e que se modificam com eles ou a partir deles. Formando assim um sistema. O Open
Source Ecology tenta, por meio da construção de artefatos, compor crítica a políticas de construção de
artefatos que incentivam os danos apontados por Sclove.
OSE – Open Source Ecology
No início dos anos 2000, o físico Marcin Jakubowski tinha a sensação de que seu doutorado era
inútil. Decidiu, então, trocar a carreira acadêmica por uma fazenda para plantar grãos. Em poucos dias
de trabalho na fazenda, trator que comprara começou a quebrar constantemente. Um problema que
podemos chamar de dependência homem-máquina latourniano (LATOUR, 2012). Meses depois, em
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suas próprias palavra, “ele estava quebrado”. Transgredindo as fronteiras entre expertises, resolveu
passar de cliente/consumidor para construtor de máquinas (COLLINS & EVANS, 2002). Para resolver
o problema, ele decidiu reunir alguns amigos e a construir eles mesmos um trator. Curiosamente o
trator manufaturado de Jakubowski nunca quebrou3 e necessita apenas de algumas manutenções
básicas.
Reconhecendo o contexto social em que há a dependência de humanos para com as máquinas,
começou a mapear um conjunto daquelas as quais considera chave para a manutenção do que define o
grupo define como vida moderna. Essa dependência forma o mundo, o qual é feito de redes híbridas e
interdependentes entre humanos e não humanos (LATOUR, 1994), no caso do projeto OSE, os não-
humanos são máquinas necessárias a produção de energia, de alimentos, a construção de casas, de
telecomunicações, de transporte, dentre outras.
A partir dessa experiência começou a mapear um conjunto de máquinas que considera chave
para a manutenção do define como vida moderna. A intenção é construir blueprints – manuais ou
mapas de construção completos, onde constam todos os detalhes necessários para que o artefato seja
construído ou feita sua manutenção – das máquinas e disponibilizá-los para qualquer pessoa ao redor
do mundo. Ainda, fazer com que os projetos custem uma pequena fração do que custaria uma máquina
industrial, seja por problemas de patentes, seja por questões de marca ou logísticas.
Esses blueprints seriam uma solução possível, de acordo com o OSE, para a falta de
sustentabilidade econômica imposta aos consumidores por meio da obsolescência programada. De
acordo com a descrição do projeto: “a missão do Open Source Ecology (OSE) é criar uma economia
de código aberto. Uma economia livre, de código aberto, é uma economia eficiente a qual incrementa
a inovação por meio da colaboração aberta”4. É essencial ressaltar que se trata do esforço de construir
uma ecologia de máquinas, logo que as máquinas do OSE devem todas trabalhar como um conjunto
modular, inclusive capaz de criar outras máquinas. Isto por intercâmbio de peças entre as máquinas –
como em um jogo de lego – ou pela construção de novas peças.
O projeto ainda está em desenvolvimento. Os coordenadores do OSE declaram que seus
valores são compatíveis com uma cultura aberta de colaboração livre para disruptura da próxima
economia, incluindo os próximos padrões de empreendedorismo e disrupção/inovação tecnológica.
Cinquenta máquinas foram mapeadas, classificadas sob o espectro de seis necessidades básicas da vida
humana – moradia/habitat, agricultura, energia, indústria, materiais e transporte – e estão sendo3https://www.ted.com/talks/marcin_jakubowski/transcript?language=en4<http://opensourceecology.org/about-overview/>
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construídas desde a base sob desenhos modulares. Essas partes podem ser usadas para construir uma
série de máquinas, assim como outra série de máquinas pode ser construída a partir de outras,
sucessivamente. São os subprojetos Civilization Starter Kit – CSK – e Global Village Construction Set
– GVCS. Este é o mesmo modelo utilizado em kernels de sistemas operacionais de computador como
o UNIX.
A intenção do projeto pode ser compreendida como a tentativa de inverter ou de criar simetrias
nas redes sociotécnicas (LATOUR, 2008) concernentes às plataformas tecnológicas da produção
dessas máquinas. Ao criar uma rede de construtores por meio da disponibilização de blueprints –
manuais ou mapas de construção completos, onde constam todos os detalhes necessários para que o
artefato seja construído ou feita sua manutenção – das máquinas para qualquer pessoa ao redor do
mundo, o OSE se propõe a inserir novos atores na rede, assim como empoderar outros que já fazem
parte dela. Esse empoderamento pode ser localizado na intenção de fazer com que os projetos custem
uma pequena fração do que custaria uma máquina industrial, seja por problemas de patentes, seja por
questões de marca ou logísticas. Esses blueprints seriam uma solução possível, de acordo com o OSE,
para a falta de sustentabilidade econômica imposta aos consumidores por meio da obsolescência
programada. Falta de sustentabilidade que se traduz em produção de poder por parte de um centro de
cálculo que desenha, constrói e mantém o monopólio das máquinas.
Ao tentar construir uma ecologia de máquinas, pois de acordo com a descrição do projeto as
máquinas devem trabalhar em conjunto de forma a serem um conjunto modular e integrado com
intercâmbio de peças entre elas e também a capacidade da construção de novas peças a partir delas, o
OSE tem como missão criar uma rede de máquinas de código aberto. De acordo com o site do grupo
“a missão do Open Source Ecology (OSE) é criar uma economia de código aberto. Uma economia
livre, de código aberto, é uma economia eficiente a qual incrementa a inovação por meio da
colaboração aberta”. Pode-se compreender essa tentativa, pelas vias dos conceitos de Latour, como
uma tentativa de intervenção na tradução e na mediação dessa rede sociotécnica. A proposta de
construir novas relações entre humanos e máquinas por meio da abertura do código dessas e do ensino
de como projetar e fabricar suas próprias máquinas acaba por se traduzir na missão de modificar as
relações que fundamentam a própria economia mundial. Ao mudar a forma como as máquinas podem
chegar e permanecer perto das pessoas, o processo de tradução e mediação também muda, pois, a
forma de conexão na rede é restabelecida (LATOUR, 1994).
Nesse aspecto o projeto ajuda a pôr à luz o fato de que as máquinas não são inertes, mas
agenciam a capacidade e as estruturas de sobrevivência das pessoas no mundo. Exemplo disso é a
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forma como o grupo declara seus valores e sua visão para quando o projeto estiver “desenvolvido”. Os
coordenadores do OSE declaram que seus valores são compatíveis com uma cultura aberta de
colaboração livre para disruptura da próxima economia, incluindo os próximos padrões de
empreendedorismo e disrupção/inovação tecnológica. Assim, nota-se a preocupação, bastante comum
em projetos de abertura de código técnico, de ressaltar a capacidade de sujeito que objetos possuem na
constituição do social, formando o que Latour chama de atores híbridos, pois a ação social
estabelecida conjuga máquinas, humanos, e suas políticas (LATOUR, 2004).
O método utilizado para abrir e explicar a caixa preta das máquinas industriais é a construção
prévia e teste das máquinas em um local físico e a disponibilização dos projetos por meio de
ferramentas web. Todo o processo de concepção, desenho e construção é documentado e
disponibilizado via plataformas colaborativas como wiki e dazuki5, seguindo os mesmos moldes de
comunidades hackers e de escrita de software livre6. O nome dado dentro do OSE para este processo é
modelo de plataforma distributiva – Distributive Enterprise (DE) model. De acordo com o relatório de
trabalho do OSE:
“We will be publishing not only the machine designs that have been tested over the
past year, but a model of production that allows anybody to build the machine (or have
it built) anywhere in the world. This will be a test case for distributed open source
manufacturing applied to heavy equipment. The main challenge will probably be
adapting builds to local supply chains, which will require developing an open supply
chain database. We will publish both the quick-build version that can be cut with
CNC, and the older, manually-built version for builds where CNC cutting is not
available.7”
Até julho de 2016, havia mais de dez mil colaboradores de dezoito diferentes países e idiomas
interagindo via wiki e fórum. Mais de 120 máquinas foram replicadas em países como Rússia, África
do Sul, Austrália e Alemanha. As pessoas podem contribuir por meio de três possibilidades de
participação: desenvolvimento, organização e suporte. Desenvolvimento consiste em fazer a
5<http://opensourceecology.org/wiki/>, <http://opensourceecology.dozuki.com/>6 Um exemplo dessas plataformas é a rede social Github <https://github.com/>, que usa protocolos de versionamento de código e permite que usuário disponibilizem, copiem e colaborem com a construção do projetos uns dos outros.
7<http://opensourceecology.org/ose-4-year-review/>
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concepção, planta e a construção de novas máquinas ou remixar projetos já existentes. Também é
possível organizar oficinas de trabalho, conferências, grupos de replicadores e revisar os artigos da
Wiki por meio da participação no grupo de organização. O grupo de suporte se responsabiliza por
responder e ajudar pessoas que estejam tentando replicar ou desenvolver suas próprias máquinas.
A partir da divisão de níveis de expertise desenvolvida por Collins & Evans (2002) para a
análise de produção tecnológica, é possível classificar os níveis de expertise necessárias para cada uma
das três possibilidades de participação. Para integrar o grupo algum tipo de conhecimento anterior na
área é necessário, ou seja, pelo menos algum tipo de expertise contributiva será necessário. Desta
forma, pessoas interessadas, mas sem conhecimentos prévios são possíveis participantes para cursos e
oficinas ou até mesmo compradores de máquinas já fabricadas.
O lugar físico ou, como é conhecido, o quartel general do projeto OSE é a fazenda de
Jakubowski no estado do Missouri no EUA. Todas as máquinas originalmente pensadas são
construídas e testadas lá. Assim como oficinas de construção e o escritório administrativo ficam na
mesma propriedade. A despeito das ferramentas web e do discurso inclusivo, há uma tendência de que
tanto membros quanto contribuidores eventuais do OSE sejam tecnologistas, engenheiros, arquitetos.
Em outras palavras, especialistas na área de criação e construção de máquinas.
O projeto é financiado por meio de doações, consultorias, cursos, campanhas de financiamento
coletivo e parcerias. Doadores recebem o reconhecimento público com o selo True Fans publicizado
no sítio web do projeto. Em julho de 2016, os True Fans somavam mais de 100 pessoas ao redor do
mundo. A próxima fase do projeto, a qual será um instituto para o aprendizado em construção de
máquinas, ultrapassou em 130% a meta de financiamento feita pela plataforma de financiamento
coletivo Kickstarter. Do mesmo modo, OSE lança mão de parcerias com a fundação TED 8, a Open
Source Hardware Association9, a Shuttleworth Foundation10, a Kauffman Foundation11 e a Wikispeed12.
O que a caracteriza como parte de uma rede de colaboração para a economia aberta que roda sobre a
ecossistemas web e tecnologias classificas como disruptivas (Rifkin, 2013).
O OSE, como será colocado abaixo, assume o discurso do hackerismo, mas os significados e a
recepção das práticas dentro da comunidade são criticados por um suposto funcionamento em
contrário a isso. Há um arranjo interorganizacional entre órgãos de fomento – todas fundações
8<http://www.ted.com/talks/lang/en/marcin_jakubowski.html>9<http://www.oshwa.org/>10<https://www.shuttleworthfoundation.org/>11<http://www.kauffman.org/>12A hacker group that is constructing open source cars. <http://wikispeed.org/>
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privadas, mas que fazem uso de recursos públicos de forma direta e indireta -, instituições de
divulgação de ciência e tecnologia, a busca por produção de Capital Social de forma a articular e
viabilizar o projeto. Coadunando com a ideia de que a dimensão estrutural é um componente essencial
para a governança da tecnologia em uma sociedade (TRIGUEIRO, 2008). Mesmo em uma
comunidade que se entende como pertencente a cultura hacker.
As críticas a respeito do OSE estão subscritas em um conjunto maior feito em relação às
iniciativas e à própria ideia de economia aberta ou livre – software libre, hardware livre, educação
aberta, conhecimento colaborativo, plataformas de compartilhamento. Em geral, basta que esses
projetos tomem corpo para que formas tradicionais de abordagem administrativa e econômica tomem
o lugar das ideias iniciais defendidas pelos fundadores dos projetos. A partir do momento em que a
tecnologia madura, o discurso da profissionalizada da gestão entre em cena. O relatório do quarto ano
de trabalho do OSE13 cita o blog CNET como um exemplo desse tipo de crítica ao projeto14.
Outro blog, o Object Guerrilla, que fala sobre design sustentável, veicula uma postagem em
que critica a falta de inovação nos projetos desenvolvidos pelo OSE. Global warming, peak oil, and
aquifer depletion are all consequences of more efficient resource-extraction technology. When I lived
at Arcosanti, Paolo Soleri used to speak about a "better kind of wrongness" -- a hybrid car saves gas,
but it's still a car, which contributes to wasteful land use patterns, gobbles up rubber and steel, etc.
We must be focused on resource-building technology, not merely better means of exploitation15.
Outros críticos fundamentam seus questionamentos sobre o estilo de liderança realizado por
Jakubowski e o acusam de utilizar os conhecimentos das pessoas para acelerar seu negócio, de acordo
com eles, uma start up em construção de máquinas e educação tecnológica. O blog16 da fundação P2P
publicou duas postagens em que dois supostos ex-participantes do OSE denunciam a estrutura
hierárquica estabelecida nos trabalhos do grupo. Uma das pessoas inclusive chama essa estrutura de
ditatura do Jakubowski. Algo “muito distinto” do esperado em uma comunidade hacker/maker
(Erickson, 2009).
13<http://opensourceecology.org/ose-4-year-review/>14<http://www.cnet.com/news/pulling-back-from-open-source-hardware-makerbot-angers-some-adherents/>15<http://objectguerilla.blogspot.com.br/2012/03/open-source-ecology.html>16<https://blog.p2pfoundation.net/crisis-at-the-factor-e-farm/2009/08/10?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+P2pFoundation+(P2P+Foundation)> and <https://blog.p2pfoundation.net/a-makerhacker-communitys-critique-of-open-source-ecology/2013/07/28>.
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Essas críticas trazem à tona o problema da motivação do agente tecnológico (TRIGUEIRO,
2008), em suas mais diversas camadas. É possível compreender aqui um processo de embate entre o
que leigos e experts, tanto no tipo de tecnologia produzida na OSE quanto nos arranjos comunitários a
que a OSE adere, sobre o que é uma motivação válida para o projeto de máquinas abertas baseado em
cultura colaborativa. Trigueiro (valores) chama a esse tipo de fenômeno de “ideologia da prática”. A
questão aqui é muito mais de valores, crenças e modelos, conscientes e internalizados, do que atitudes
necessariamente calculadas para esse ou aquele rumo. Se tomarmos essas noções é possível refletir
sobre as críticas feitas acima como a perspectiva de um processo a que o OSE, ao crescer e se tornar
mundialmente famoso, passaria: de comunidade de hackers a uma organização estruturada em moldes
mais tradicionais. Ou seja, uma organização com certo grau de hierarquia, dominação e burocracia; ao
invés de uma cultura horizontalizada e libertária em seus fazeres. Se há uma ideologia da prática na
cultura hacker é de se esperar que os grupos que a ela se vinculam estejam aptos a mudar. A questão é
em que direção caminham e como se modificam. A questão é como formar certos consensos em escala
global, sem a presença de instituições estruturantes e certo nível de centralização.
Trazendo os argumentos de Jassanoff sobre o papel da ciência (2004, p. 274) para as questões
tecnológicas, as críticas e parcerias estabelecidas pelo OSE evidenciam tensões entre as ideias e as
práticas dentro dos projetos para a produção em código aberto. Na vida moderna as máquinas possuem
papel fundamental, mas não se trata apenas de questões materiais. Construir máquinas exige
considerar valores éticos, políticas, regionalidades, dimensões cognitivas, capacidades locais do ponto
de vista da geografia humana e natural.
OSE é um projeto para construção de máquinas abertas e educação que pode ser compreendido
pelo conceito de globalização estabelecido por Jasanoff (2004a): uma rede mundial como finalidade
tecnológicas, econômicas, políticas, educacionais e ecológicas. A experiência do físico e fazendeiro
Marcin Jakubowski, iniciada nos anos 2000, após notar a obsolescência programa do trator que usava
em sua fazenda e, com outros amigos, construir sua própria máquina se fundamenta tanto em
conhecimento tecnocientífico quanto em questionamentos de cunho político. O grupo iniciado por
Jakubowski questiona, por meio de ações de desenho tecnológico, educacionais e de divulgações e
mídia, os fundamentos da obsolescência programada e todo aparato tecnopolítico (Feenberg, 2013)
que sustenta a economia capitalista desde a segunda metade do século XX.
Pode-se entender que a experiência do OSE se faz por meio da construção de um sistema
sócio-tecnológico. O OSE mapeou máquinas consideradas essenciais para o modo de vida moderno,
porém aderindo ao discurso da globalização de que é possível viver uma vida comum
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harmoniosamente no mesmo planeta. Mesmo com as limitações da necessidade de conservação e
preservação da vida. Um discurso político muito comum em fóruns sobre ambientalismo e em disputa
sobre as possibilidades da manutenção do estilo de vida “moderno” com as possibilidades de
preservação e conservação do meio ambiente. (Jasanoff, 2004)
O ponto defendido pelo projeto em última instância é de que é possível que pessoas no mundo
inteiro consigam viver com comodidades como carros, tratores, água quente, automação de produção,
computadores, dentre outros bens por meio de uma economia aberta e de compartilhamento. Logo que
por meio do reaproveitamento dos módulos, do melhoramento global dos projetos, tanto os custos
diretos quanto os custos marginais das máquinas diminuiriam.
Conclusão
Na primeira década do século XXI iniciativas vinculadas ou alegadamente pertencentes a
cultura hacker e de código aberto aumenta bastante. Rifikin (2014) aponta para esse fenômeno como
uma alternativa para a economia vigente. Os coordenadores do projeto OSE alegam fazer parte dessa
“nova” alternativa de produção como criadores, construtores e educadores levando às pessoas
conhecimento e as ajudando a desenvolver expertises. A pesquisa realizada demonstrou, no entanto,
controvérsias fundamentais oriundas do sistema econômico capitalista. Tanto dentro no seio do projeto
quanto na rede de colaboradores as estruturas hierárquicas, a questão do conhecimento tácito, a relação
local versus local, a sustentabilidade, ruídos nas informações e comunicações foram localizadas no
projeto. Não sendo, debalde, uma exclusividade do projeto, mas um problema comum em tentativas de
produção de tecnologias de domínio público ou de código aberto.
Há na forma como os artefatos da OSE são concebidos algumas inovações, como a construção
conjunta das máquinas, a abertura do código técnico delas, as intenções de quem participa do projeto
em conseguir fazer máquinas com menor pegada ambiental. Além desses fatores a constituição de uma
comunidade global que possui algum nível de cooperação. Esses aspectos formam algumas diferenças
na forma de cima para baixo como normalmente as tecnologias são desenhadas, construídas e
distribuídas na contemporaneidade. Porém, alguns problemas estruturais que concernem a governança
das práticas tecnológicas não se mostraram tão superadas no breve estudo aqui apresentado. Em
especial, na distribuição de poder dentro do grupo e as formas de financiamento do projeto. Apesar das
arrecadações por meio de financiamento coletivo, boa parte do capital da organização vem de
fundações de fomento.
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