f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

21
MÚSICA E A FÍSICA QUÂNTICA Agora, vamos tratar da matéria. Sob a influência da física moderna, a matéria sofreu uma dissolução quase mais radical ainda do que a infligida ao tempo. Para o homem ocidental, não havia nada mais real do que a matéria: a cadeira na qual sento; a escrivaninha onde trabalho; a máquina de escrever em que fico martelando noites adentro... Atualmente, entretanto, os físicos nucleares constatam o que Buda e os sábios da Ásia já disseram: A matéria é o vazio. O material “não” é. Vamos começar esta seção sobre a matéria com uma citação do livro Der Rhythmus des Kosmos (em inglês, The Silent Pulse), do já citado psicólogo norte-americano George Leonard, um livro que eu recomendo bastante a qualquer pessoa que deseje saber mais sobre este assunto: “O microscópio eletrônico possibilita-nos olhar para dentro do corpo, que na sua beleza e terribilidade se movimenta tão livremente quanto o mar... Quanto mais se destaca a magnitude, tanto mais a carne se dissolve. As fibras musculares adquirem um aspecto inteiramente cristalino. Podemos ver que elas são constituídas de moléculas longas e espiraladas que obedecem a uma disposição organizada. Essas moléculas balançam como trigo ao vento, ligadas umas às outras e mantidas em seu lugar por ondas invisíveis que pulsam trilhões de vezes por segundo... De que são feitas as moléculas? Se nos aprofundarmos ainda mais no mundo microcósmico com o nosso microscópio eletrônico, veremos os átomos, minúsculas bolinhas sombrias dançando ao redor de suas posições fixas nas moléculas, trocando às vezes de lugar com seus parceiros num ritmo perfeito. E agora vamos examinar um desses átomos: seu interior está levemente velado por uma nuvem de elétrons. Chegamos mais perto, aumentando a ampliação. A camada de superfície se dissolve e entramos no seu interior, e lá encontramos... nada! “Em algum lugar desse vazio, sabemos, há um núcleo. Rasteamos o espaço todo e lá está ele: um pontinho minúsculo. Por fim, descobrimos algo consistente, sólido, um ponto de referência. Mas não! À medida que nos aproximamos do núcleo, ele também começa a se dissolver. Também ele nada mais é do que um campo oscilatório, ondas rítmicas. Dentro do núcleo há outros campos organizados: prótons, nêutrons, e ‘partículas’ ainda menores. Assim que nos aproximamos de uma partícula dessas, ela se desfaz em oscilações rítmicas. “Os cientistas ainda continuam a buscar as unidades de composição do mundo físico. Em nossos dias, estão procurando quarks, estranhas entidades subatômicas, que têm qualidades descritas com palavras como ‘estar em cima’, ‘estar em baixo’, ‘charme’, ‘estranheza’, ‘verdade’, ‘beleza’, ‘cor’ e ‘paladar’. Mas isso não importa. Se pudéssemos nos aproximar desses espantosos quarks, eles também se dissolveriam, 1

description

Artigo de música e física

Transcript of f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

Page 1: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

MÚSICA E A FÍSICA QUÂNTICA

Agora, vamos tratar da matéria. Sob a influência da física moderna, a matéria sofreu uma dissolução quase mais radical ainda do que a infligida ao tempo. Para o homem ocidental, não havia nada mais real do que a matéria: a cadeira na qual sento; a escrivaninha onde

trabalho; a máquina de escrever em que fico martelando noites adentro... Atualmente, entretanto, os físicos nucleares constatam o que Buda e os sábios da Ásia já disseram: A matéria é o vazio. O material “não” é.

Vamos começar esta seção sobre a matéria com uma citação do livro Der Rhythmus des Kosmos (em inglês, The Silent Pulse), do já citado psicólogo norte-americano George Leonard, um livro que eu recomendo bastante a qualquer pessoa que deseje saber mais sobre este assunto: “O microscópio eletrônico possibilita-nos olhar para dentro do corpo, que na sua beleza e terribilidade se movimenta tão livremente quanto o mar... Quanto mais se destaca a magnitude, tanto mais a carne se dissolve. As fibras musculares adquirem um aspecto inteiramente cristalino. Podemos ver que elas são constituídas de moléculas longas e espiraladas que obedecem a uma disposição organizada. Essas moléculas balançam como trigo ao vento, ligadas umas às outras e mantidas em seu lugar por ondas invisíveis que pulsam trilhões de vezes por segundo... De que são feitas as moléculas? Se nos aprofundarmos ainda mais no mundo microcósmico com o nosso microscópio eletrônico, veremos os átomos, minúsculas bolinhas sombrias dançando ao redor de suas posições fixas nas moléculas, trocando às vezes de lugar com seus parceiros num ritmo perfeito. E agora vamos examinar um desses átomos: seu interior está levemente velado por uma nuvem de elétrons. Chegamos mais perto, aumentando a ampliação. A camada de superfície se dissolve e entramos no seu interior, e lá encontramos... nada!

“Em algum lugar desse vazio, sabemos, há um núcleo. Rasteamos o espaço todo e lá está ele: um pontinho minúsculo. Por fim, descobrimos algo consistente, sólido, um ponto de referência. Mas não! À medida que nos aproximamos do núcleo, ele também começa a se dissolver. Também ele nada mais é do que um campo oscilatório, ondas rítmicas. Dentro do núcleo há outros campos organizados: prótons, nêutrons, e ‘partículas’ ainda menores. Assim que nos aproximamos de uma partícula dessas, ela se desfaz em oscilações rítmicas.

“Os cientistas ainda continuam a buscar as unidades de composição do mundo físico. Em nossos dias, estão procurando quarks, estranhas entidades subatômicas, que têm qualidades descritas com palavras como ‘estar em cima’, ‘estar em baixo’, ‘charme’, ‘estranheza’, ‘verdade’, ‘beleza’, ‘cor’ e ‘paladar’. Mas isso não importa. Se pudéssemos nos aproximar desses espantosos quarks, eles também se dissolveriam, também renunciariam a qualquer pretensão de solidez. Sua velocidade e posição também não seriam claras, só restando deles os relacionamentos e os padrões de vibração.

“De que, então, é feito o corpo? De vazio e ritmo. No âmago do corpo, no cerne mesmo do mundo, não há solidez de matéria. Só existe a dança!” “

Lao Tsé disse: “O que faz a roda ser uma roda é o vazio entre os aros”. Nesse sentido, o que faz um átomo ser um átomo é o vazio entre as partículas elementares – um vazio que se mostra para nós cada vez maior à medida que é ampliado. Se ampliássemos um átomo até ele Ter a dimensão do Empire State Building, de Nova York, seu núcleo seria do tamanho de um grão de sal. É assim, portanto, que temos que imaginar a matéria – assim vazia; um grão de sal rodopiando através do Empire State Building, numa velocidade de aproximadamente 60.000 km por segundo. Ou então: se comprimíssemos um ser humano reduzindo-o àquelas partes que de fato podem ser chamadas de “matéria”, ele seria invisível a olho nu, pois teria o tamanho de um átomo. Mais uma metáfora para ajudar a imaginação, essa tomada de empréstimo a Isaac Asimov: “Se quiséssemos preencher todo o volume de um átomo com o núcleo, teríamos de possuir mil trilhões de núcleos atômicos”. Esta é, portanto, a relação com o núcleo, juntamente com tudo aquilo que com suas limitações pode ser definido como “matéria” – uma militrilionésima parte daquilo que é o vazio e o “nada”!

1

Page 2: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

Mas também o núcleo se dissolve, se divide em partículas cada vez menores, em dimensões cada vez mais vazias, quanto mais avançados em nossas aproximações, e isso já vem acontecendo há meio século: sempre que uma partícula nuclear “final”, menor, “indivisível” é descoberta, não demora mais do que alguns anos para que se descubra uma outra ainda menor.

No princípio era o átomo (em grego atomos = o “indivisível”, porém – e isso é muito interessante – “aquilo que é sagrado para os deuses”; esta última acepção era originalmente entendida, não como realidade material, mas no plano da harmonia como o menor intervalo musical significativo, expresso pela relação 45:46!). Depois vieram os elétrons, os nêutrons e os prótons (da palavra grega: “o primeiro”, porque também se acreditou que o próton fosse o “primeiro” e a menor de todas as partículas); em seguida, uma série inacreditável de partículas cada vez menores, até os fótons e quarks, os hídrons e léptons, os gluônios, tíons e míons e, mais recentemente, os rishones, e tohus e vohus (as três últimas partículas foram descobertas por físicos israelitas, em 1980. Duas foram denominadas segundo a palavra hebraica tohu va-vohu: tohu = deserto, wohu = vazio).

Tohu va-vohu = vem do Gênese (1:2) e significa “sem forma e vazio”, quer dizer, o estado do mundo antes de Deus tê-lo posto em ordem. Em hebraico, rishon é o mesmo que próton em grego: o mais original, o primeiro de todos os seres.

Mais de duzentas dessas partículas foram descobertas. Muitos físicos estão cientes de que a palavra “partícula elementar” só pode ser usada no sentido irônico. Na verdade, nada é menos “elementar” do que o que costumamos chamar de “partículas elementares”. Muitas delas, não muito elementares, existem por minúsculas frações de segundo antes de se desintegrarem em partículas ainda menores ou em ondas de energia. Como já dissemos, elas se movem tanto do passado para o futuro quanto do futuro para o passado. Então existe de fato o que costuma ser uma prerrogativa dos contos de fadas: uma vida que se move para trás, do que virá a ser para o que já foi. O que foi “amanhã” será “ontem”.

Visto que cada uma dessas partículas têm sua antipartícula, sabemos que há “antimatéria” e, conseqüentemente, um “antimundo”. Nele, cada partícula tem carga oposta à de sua contraparte no nosso mundo “real” (palavra que só pode vir escrita entre aspas!). Um elétron não é mais negativo, mas positivo e, vice-versa, um próton não é mais positivo, mas tem carga negativa. Já se conseguiu até fazer antimatéria nas condições artificiais de laboratório, embora em quantidade mínima e somente por frações de segundos. Agora os físicos perguntam: “Onde está a antimatéria que deve Ter sido criada junto com a matéria, no começo do universo...?” Isaac Asimov responde que “talvez haja galáxias inteiras constituídas apenas de antimatéria”.

O físico atômico austro-americano Fritjof Capra fez o seguinte comentário: “A criação e a destruição de partículas materiais é uma das conseqüências mais espetaculares da equivalência entre massa e energia. A diferenciação entre matéria e espaço vazio teve de ser definitivamente abandonada quando se descobriu que partículas são meras condensações locais do campo, concentrações de energia que podem desaparecer outra vez no espaço subjacente”.

Um dos primeiros a compreender as implicações da dissolução da matéria “no nada” – já nos anos ’20 – foi Niels Bohr, um dos pais da moderna física atômica: “Para termos um paralelo quanto à lição sobre o vazio da teoria atômica... precisamos nos voltar para as afirmações epistemológicas com que nos confrontaram pensadores como Buda e Lao Tsé...

“Lembremo-nos de que foram os matemáticos hindus que primeiro trabalharam na idéia do “zero” já no século VI. Dos matemáticos da Índia, o “zero” passou a ser adotado na Arábia; em seguida, descobriram-no matemáticos europeus. Sem o “zero”, todo o raciocínio matemático ocidental (sobre o qual se fundamenta a física moderna) seria impossível. A preocupação do Hinduísmo com o “vazio”, com o “nada”, foi o impulso original, visto que os cientistas hindus derivaram o conceito matemático de zero da noção filosófica e espiritual do “nada”. Por isso, no cálculo diferencial 0:0 (zero) pode ser qualquer número – zero, um ou o

2

Page 3: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

infinito.

Os sábios zen já haviam desenvolvido a fórmula do shikisokuseku no século XIV: “A matéria é o vazio”. E: “O vazio é matéria”.

E, mais uma vez, Fritjof Capra: “Temos de ver como ambos os fundamentos da física do século XX – a teoria quântica e a teoria da relatividade – nos obrigam a encarar o mundo de uma forma semelhante à dos hindus, budistas ou taoístas... A física moderna nos leva a uma visão de mundo que se assemelha à visão de mundo dos místicos de todas as eras e tradições...”

A dança cósmica do deus Shiva, por exemplo, transmite ao hindu a mesma concepção de matéria que os físicos obtêm de certos aspectos da teoria de campo e da teoria quântica. Num dos famosos sutras budistas, atribuído ao próprio Buda, temos o seguinte: “A forma é o vazio e o vazio é a forma. O vazio não se distingue da forma, e a forma não se diferencia do vazio. O que é a forma é o vazio; o que é o vazio é a forma”.

BERENDT, Joachim-Ernst. NADA BRAHMA – A música e o universo da consciência, com prefácio de Fritjof Capra. Tradução de Zilda Hutchinson Schild e Clemente Raphael Mahl, 1ª edição, pp. 129-132, Editora Cultrix, São Paulo, 1993.

Bibliografia Recomendada:

WOLF, Fred Alan e TOBEN, Bob. ESPAÇO-TEMPO E ALÉM Rumo a Uma Explicação do Inexplicável – A Nova Edição, tradução de Hernani Guimarães Andrade e Newton Roberval Eichenberg, Editora Cultrix, São Paulo, 1991.

HAWKING, Stephen W. UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO DO BIG BANG AOS BURACOS NEGROS, introdução de Carl Sagan, tradução de Maria Helena Torres, 10ª edição (e/ou a nova edição ilustrada), Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1988.

3

Page 4: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

INTRODUÇÃO

-O Paco de Lucia disse, em uma reportagem, que as unhas são a parte mais importante do corpo do violonista, daí o imenso cuidado que ele tem com elas ...

-Para mim, a parte mais importante é o corpo todo. A saúde integral do artista, do ser humano ,vem primeiro. É prioritária a qualquer aspecto técnico do fazer música .

. . .

O inocente e aparentemente corriqueiro diálogo acima foi o ponto crucial que iniciou uma das

mais intensas buscas pelo conhecimento e pelo auto-aperfeiçoamento da minha carreira artística .Sempre curioso e atento ao que acontece no universo musical, especialmente na galáxia

maravilhosa do violão, era com a excitação dos pioneiros que eu descobria um dos mais promissores avanços da técnica: o uso de unhas artificiais .

Recentemente, assistindo a uma entrevista televisiva do concertista Fabio Zanon, fiquei surpreso

com o detalhe – o entrevistador perguntava ao concertista porque suas unhas pareciam diferentes. E o

virtuose esclarecia, com a naturalidade dos grandes, que se tratava de unhas artificiais, coladas às unhas

naturais, para reforço. E que resultava em melhor projeção de som, mais segurança para o intérprete e menos desgaste durante a longa prática de estudos e peças .

Imediatamente adquiri o produto para experimentar a novidade, visto que a curiosidade é uma

das minhas principais características. Foi como a descoberta do fogo, senti-me como o primata selvagem

do filme do Stanley Kubrick – "2001 – Uma Odisséia no Espaço" – que, após tocar o misterioso monolito, teve um salto quântico evolucional. Que sonoridade! Que segurança aquilo não

proporcionava! Descobri-me tocando horas sem fim, numa espécie de febre, de desabafo, de ânsia não

satisfeita por longos anos e agora finalmente saciada. As unhas finalmente tinham a forma apropriada, o comprimento, a espessura e resistência ideais, enfim, o paraíso dos contos de fada .

Em um ou dois dias, a unha sintética finalmente se soltou. Aparentemente, a única e pequena

gota do adesivo instantâneo (sugerida pelo fabricante do produto) poderia ser o suficiente para uma

garota atingir o efeito estético desejado, mas definitivamente não era o bastante para a intensa

solicitação que um violonista poderia fazer. Com todo o cuidado para que o excesso de cola não

atingisse a pele dos dedos, consegui uma perfeita adesão da unha sintética por toda a superfície de

minhas unhas naturais. O processo todo acabou por se repetir algumas vezes nos próximos dias. Bastava a unha sintética se soltar para que a nova camada de cola fosse aplicada .

Por fim, minhas unhas naturais tinham sido reduzidas a uma fina e quebradiça película. Pensei

que o constante descolar da unha sintética era a causa, e passei a utilizar um produto químico especial

disponível no mercado, que dissolvia as unhas artificiais sem arrancá-las das naturais. Agora, a fina película acabou perdendo qualquer rigidez, tornando-se mole como uma folha de gelatina .

O que estaria acontecendo? Onde eu estaria errando? Qual seria a minha falha? O que mais

4

Page 5: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

eu poderia fazer? Parei de usar as unhas sintéticas, e resolvi esperar que minhas unhas naturais crescessem

novamente. Tudo parecia estar indo bem: as novas unhas ainda tinham a curvatura perfeita das

sintéticas, e eram ainda mais espessas e resistentes. Um estranho ponto branco surgiu por debaixo da

unha do meu dedo indicador da mão direita. E compreendi porque as novas unhas estavam mais

espessas: era uma hiperqueratose – uma produção excessiva do material componente das unhas, em

resposta ao fungo que estava se desenvolvendo sob a unha ...

Por sorte, minha esposa é uma excelente médica, e cuidou excepcionalmente bem de minhas unhas, restaurando a saúde original perdida pela minha "angst" de artista .

. . .

Um dia, comprei em uma banca de jornal uma revista sobre CDs de música erudita. Um dos artigos falava sobre a gravadora EGTA, com maravilhosos lançamentos que enriqueceriam minha

coleção de gravações de violão erudito. Muito entusiasmado, liguei para o número de telefone publicado

para pedir um exemplar de cada título diferente. Quem atendeu foi – nada mais, nada menos que – o próprio Everton Gloeden .Como um violonista com Curso Superior em Música – eu havia me formado Bacharel em

Violão aproximadamente uma década antes – eu sabia muito bem com quem estava falando, embora

não o conhecesse pessoalmente. Minha admiração pelo Everton (e pelo seu irmão Edelton) vinha

desde meus anos como estudante de música pré-universitário. Era muito famosa, entre os estudantes

de violão erudito que aspiravam à carreira de concertista, a sua gravação da obra integral de Bach

para alaúde – mais ou menos o equivalente para os violonistas do que seria o estudo e a gravação integral do "Cravo Bem Temperado" para os pianistas .

Muito feliz por conhecer alguém a quem admirava há muitos anos, além de adquirir maravilhosas

gravações para a minha coleção, passei a ter aulas com uma das personalidades mais cativantes que já encontrei na vida .Estudei com vários dos melhores professores e artistas disponíveis na cidade de São Paulo –minha cidade natal que nunca deixei por mais de um mês – mas me surpreendi com a assombrosa qualidade dos ensinamentos que recebi do Everton .Foi com ele que tive o diálogo com o qual iniciei o texto. O que aprendi com ele era tão

revolucionário quando comparado à técnica que eu possuía, que tive a necessidade interior de parar

tudo o que já tinha feito e humildemente "recomeçar do zero". Foi muito comum para mim, enquanto

estudante universitário de música, observar alunos de canto lírico trocarem de professor(a) e reiniciarem

os estudos de técnica respiratória e de vocalização do zero, do início absoluto, para corrigirem vícios

5

Page 6: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

técnicos e aperfeiçoarem o timbre e sua capacidade de interpretação artística. Portanto, foi muito natural

que eu fizesse o mesmo – não porque o professor assim o indicasse, mas porque minha experiência o

exigia como atitude coerente de quem busca objetivos com a mais profunda sinceridade de seu coração .

Na primeira aula reparei que o Everton usava um tipo diferente de unha sintética: as chamadas

"unhas de porcelana", que são feitas de uma resina especial, moldada a partir de um pó sobre as unhas

naturais. Ele explicou que este tipo de unha deveria ser aplicado por uma manicure experiente que

renovasse a aplicação a cada quinze dias. Passei então a procurar o produto em lojas de cosméticos e também alguma boa manicure .Minha esposa, então, como a médica conscienciosa que é e como alguém que realmente se

importa, me passou um carinhoso porém determinado "pito". E recomendou que estudasse de novo

certos aspectos do meu curso médico (que eu andava negligenciando profundamente durante o processo

emocional de negação do conhecimento clínico e científico, face à maravilhosa perspectiva de ter unhas

perfeitas .(Uma simples e rápida consulta a um Atlas de Dermatologia de minha biblioteca médica pessoal foi o suficiente para que eu começasse uma campanha contra o uso das unhas sintéticas .

Principiei discretamente desaconselhando o uso das unhas sintéticas em um fórum sobre violão

erudito na Internet. De fato, elas não foram criadas para o uso constante, e o fabricante recomenda

nunca usá-las por mais de 48 horas seguidas. Muitos já haviam testado as unhas sintéticas e chegado às

mesmas conclusões. No entanto, muitos jovens estudantes tiveram reações negativas muito intensas ,

pois se sentiram ameaçados em suas crenças e convicções pessoais, na onipotência própria da juventude .

E eis que o próprio Fabio Zanon, um colaborador constante deste fórum, relatou que usava as

unhas há muitos anos, e que desejava saber mais profundamente sobre a razão dos argumentos que eu apresentava .Como reside grande parte do ano em Londres, onde é Mestre no King's College – admirado

como grande conhecedor e intérprete das obras de Villa-Lobos – Zanon combinou um encontro em sua

residência em uma de suas estadas no torrão natal. Durante o encontro, mostrou-se uma pessoa

incrivelmente paciente, ouvindo com diligência e muita atenção todos os pontos sobre o assunto ,

checando-os no Atlas de Dermatologia que levei e fazendo muitas perguntas. Coincidentemente, o autor

do livro é professor na escola de medicina na mesma universidade – King's College – o que muito

colaborou para a abertura mental do grande artista que, em suas próprias palavras, não gosta de mudanças .Poucos dias depois, quando um jovem internauta protestou defendendo o uso das unhas

sintéticas, Fabio Zanon publicou uma pequena mas sincera nota, onde afirmava já ter deixado de usar as

unhas sintéticas – ao menos em dois dos quatro dedos em que as usava – numa transição para a volta às

6

Page 7: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

unhas naturais .Entretanto, a celeuma continuou. Com a insistência dos jovens aspirantes a artista, ameaçados

em seus sonhos e esperanças por um estranho, simplesmente publiquei o pequeno texto do Atlas na

íntegra, com as referências bibliográficas. Eis que o moderador do fórum, então estudante do primeiro

ano de Odontologia (porém abandonando o curso para seguir a carreira de violonista), interveio com um

artigo onde achava interessante o fato de minha contribuição já trazer um lado científico, porém que isso

estava se tornando um problema, visto que vários artistas consagrados estavam usando as unhas

sintéticas sem jamais levantar queixas quanto ao estado de saúde de suas unhas. A partir de então ,

limitei-me ao mínimo que minha consciência ditava: sempre que alguém solicitava informações sobre as

unhas (que não fossem diretamente relacionadas com a produção de um timbre esteticamente

adequado), recebia de minha parte uma recomendação para que consultasse o profissional especializado

–um médico dermatologista .

. . .

Um par de semanas atrás (na primeira semana de julho de 2001), voltei a me encontrar pessoalmente com o Everton, que já não usava mais as unhas sintéticas ("unhas de

porcelana") ,ostentando unhas saudáveis e perfeitas. Num rápido e intenso diálogo, quando pediu orientações para

fortalecer as próprias unhas – que, segundo ele, são finas demais – acabou por me convencer a redigir

um artigo sério sobre a saúde das unhas, salientando a tremenda carência do meio violonístico. De fato ,

poucos autores músicos se ocuparam do tema, e sempre apenas sobre técnicas de lixamento e polimento da margem livre que produziria o som em contato com as cordas do instrumento .

Por quatorze dias estudei entre seis e oito horas diárias, findos os quais havia estudado mais de

vinte e seis livros médicos e científicos, resultando em aproximadamente quarenta páginas datilografadas

apenas com notas pessoais para posterior referência, e algumas gravuras e fotos selecionadas. Há

material suficiente para se produzir um livro orientado exclusivamente para violonistas (um projeto já em pauta), sendo virtualmente impossível esgotar o assunto em um único artigo .Porém, não poderia me apoiar na linguagem técnica tão arduamente conquistada nem nas

confortáveis formas pré-estabelecidas que determinam a redação de uma monografia voltada para a

comunidade científica. O desafio está em resumir toda a pesquisa em termos que possam ser

compreendidos por leigos, resultando em uma nova compreensão dos cuidados e conceitos envolvidos

para a preservação da saúde de suas unhas, e finalmente em um comportamento consciente e maduro que garanta as melhores condições para uma carreira longa e sem percalços .

Tenham sempre em mente que as unhas crescem muito lentamente, e que todo tratamento de

7

Page 8: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

doenças das unhas, portanto, será longo, podendo comprometer seriamente os compromissos, prazos e

oportunidades tão arduamente conquistados por artistas que lutam por um lugar ao sol num mercado tão restrito e exigente quanto o da música instrumental – seja erudita ou não .

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DAS UNHAS

Matriz da unha: é uma fina e delicada camada de células que formam a unha, à semelhança de

um bulbo capilar formador de pêlo ou cabelo. As células da matriz se dividem, migram para a raiz da

unha e, lá, diferenciam-se, e produzem a queratina da unha. A constante adição de novas células e sua

produção de queratina são responsáveis pelo crescimento da unha. Esta, à medida que vai crescendo ,

"desliza" sobre o leito ungueal .Leito ungueal: é a parte do dedo que podemos visualizar através da transparência da unha, ao

qual a unha é fortemente aderida e que é constituído por células epiteliais que são contínuas com as

camadas superiores da pele, conhecidas como estrato basal e estrato espinhoso da epiderme .Vale da unha: é o sulco formado entre as laterais da unha e a pele do dedo .Corpo da unha: é a unha propriamente dita, ou a sua parte aderida através da qual por transparência visualizamos o leito ungueal .Raiz da unha: é a porção da unha que fica incluída ("escondida") sob uma dobra da pele. As

células do leito ungueal situadas sob a raiz da unha constituem justamente outra definição da matriz da unha .Lúnula: é a "meia-lua" com aspecto de crescente, de tom mais claro, que é totalmente visível

nas unhas dos primeiros dedos (contados a partir do polegar) e que está totalmente coberta nas unhas

dos quintos dedos. A lúnula é descrita como um reflexo da queratinização parcial das células nessa região .Margem oculta: é a borda ou limite da unha onde se encontra a raiz .

Margem lateral: são as bordas ou limites laterais da unha, e que "mergulham" na pele do dedo ,

formando os vales das unhas. A margem lateral é fortemente aderida sob uma dobra de pele, à semelhança da raiz da unha .Margem livre: é a borda ou limite externo da unha – a parte que costumamos lixar e polir segundo as diferenças anatômicas individuais e objetivos estéticos para a produção do som .Perioníquio: é o espessamento da epiderme na margem lateral das unhas, especialmente na proximidade de sua margem livre .

Eponíquio: é a borda da dobra cutânea que recobre a raiz da unha – também conhecida como cutícula .

Hiponíquio: é a espessamento da epiderme que se une à borda livre da placa ungueal, sob sua

superfície inferior, e que se nota facilmente na mão em que mantemos as unhas curtas para pressionar as

cordas do violão na escala (ou "espelho" do instrumento), facilmente perceptível assim que as aparamos mais rentemente .

8

Page 9: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

CONSTITUIÇÃO DA UNHA

A unha é constituída essencialmente por escamas córneas compactas, fortemente aderidas umas

às outras, formadas com uma substância protéica chamada queratina. (Às vezes encontramos o termo

"ceratina" em algumas traduções. Embora seja uma tradução mais correta, que deriva da mesma palavra grega que originou "cinema" – dizemos "cinema" e não "quinema"; o uso consagrou a forma

"queratina", principalmente para distingui-la do grupo das ceras .(Existem mais de vinte queratinas distintas no epitélio humano. Pelo menos oito outras

queratinas, chamadas queratinas duras, são específicas dos cabelos e das unhas. São chamadas às

vezes de ?-queratinas (alfa-queratinas), para diferenciá-las das queratinas encontradas nas penas das

aves, que têm uma origem evolucionária diferente e cuja estrutura molecular é totalmente diferente ,chamadas de ?-queratinas (beta-queratinas) .

Dependendo da seqüência de aminoácidos que formarem a molécula protéica das queratinas ,

podemos ainda classifica-las em dois tipos: tipo I – queratinas ácidas, e tipo II – queratinas neutras ou

básicas. A estrutura molecular das queratinas é sempre na forma de um filamento simples – o que a

diferencia estruturalmente das estruturas de colágeno – uma importante proteína presente em

praticamente todos os tecidos do corpo humano, e cuja estrutura é semelhante à da molécula de DNA

)porém com três filamentos ao invés de dois .(Constatamos pela experiência pessoal que a maioria dos violonistas brasileiros acredita que a

unha seja feita de colágeno, existindo mesmo aqueles que – vítimas de uma mentalidade mágica –

aderem a estranhas dietas, baseadas em alimentos "ricos em colágeno", para "fortalecer as unhas". Todo

alimento protéico, durante o processo digestivo, é degradado em seus aminoácidos constituintes. Desta

forma, se um indivíduo consumisse "colágeno puro", em hipótese alguma este "colágeno" permaneceria

intacto ou seria assimilado como tal pelas unhas. Os aminoácidos da dieta poderão ser utilizados pelo

organismo na síntese de novas moléculas de colágeno, mas nunca prioritariamente para "fortalecer" as

unhas. O organismo utilizaria o alimento segundo suas próprias necessidades e prioridades metabólicas ,

e dificilmente a síntese de unhas seria uma necessidade premente. Tudo o que ingerimos na dieta será

"espalhado" pelo corpo todo – podendo ser encontrados vestígios nas unhas, fato que determina a

importância dada ao estudo delas pela Medicina Legal. São famosos os casos de homicídio por envenenamento descobertos pelo estudo de resíduos toxicológicos nas unhas das vítimas .A queratina é rica em enxofre (cerca de 14%), devido às ligações cruzadas do tipo ponte

dissulfeto presentes nas extremidades de suas moléculas, as quais são responsáveis pela insolubilidade

9

Page 10: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

desta proteína. O enxofre é o composto químico responsável pelo cheiro característico que sentimos quando queimamos unhas ou cabelos. A queratina é, assim, a principal responsável pela

impermeabilidade da pele. No entanto, a unha tem uma estrutura porosa, o que permite a natural e

regular troca de umidade e gases com o meio ambiente. A unha pode, portanto, ficar hiper-hidratada e

amolecida (quando em contato prolongado com a umidade), ou ressecada e quebradiça quando por um motivo qualquer sofrer desidratação (ou quando for coberta por uma película química

impermeabilizante). Existem queratinas características de células epiteliais em atividade proliferativa -

estas queratinas específicas são muito úteis para o diagnóstico de cânceres epiteliais (carcinomas) .Em todos os organismos vivos, a síntese das proteínas ocorre a partir de um grupo de vinte

aminoácidos distintos, que são idênticos em todas as espécies. Para os seres humanos, oito destes

aminoácidos (nove para o bebê) são essenciais: uma vez que não são sintetizados pelo organismo ,

devem ser obtidos através da alimentação. A má nutrição irá causar uma insuficiência na disponibilidade

de aminoácidos, o que poderá ter sérias implicações na saúde do organismo, tais como severas

deficiências na síntese das proteínas constituintes dos órgãos, produção insuficiente de hormônios ,

comprometimento grave do sistema imunológico, prejuízo do crescimento e desenvolvimento das

crianças e jovens, e uma infinidade de outras complicações graves. A outra importante causa de

deficiências na síntese protéica é a informação genética herdada dos pais: a incrível flexibilidade da

coluna de acrobatas contorcionistas não se deve a um treinamento físico, e sim a uma doença genética conhecida genericamente como colagenose .

Além de fornecer os aminoácidos que constituirão as proteínas do corpo, a dieta também deve

suprir o organismo com vitaminas, que são essenciais no metabolismo da síntese protéica. Por exemplo ,

a hidroxilação é uma atividade bioquímica importante para a formação de moléculas de colágeno. A

importância da hidroxilação do colágeno torna-se evidente no escorbuto. Todos sabemos que o

escorbuto é causado por uma deficiência dietética de ácido ascórbico (vitamina C). Os primatas e as

cobaias perderam a capacidade de sintetizar ácido ascórbico, razão pela qual têm que adquiri-lo da dieta .

Há uma maneira bastante prática para se entender e visualizar o processo: qualquer indivíduo com

noções elementares de culinária sabe que se usa sumo de limão para evitar que frutas (maçã, banana ,abacate) e verduras (alcachofra) escureçam por oxidação. O sumo do limão é, portanto, um

antioxidante. O exemplo mais comum de oxidação é a ferrugem. Existe uma enzima importante na

síntese do colágeno, chamada prolil hidroxilase. O ácido ascórbico é um agente redutor (antioxidante)

muito eficaz – ele mantêm a prolil hidroxilase em uma forma ativa, provavelmente por manter seu átomo

de ferro no estado ferroso, reduzido. O colágeno sintetizado na ausência de ácido ascórbico é

insuficientemente hidroxilado e, portanto, tem uma menor temperatura de fusão. Esse

10

Page 11: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

colágeno anormal não pode formar fibras adequadamente, e isso causa as lesões cutâneas e a fragilidade de vasos

sanguíneos, tão destacados no escorbuto. A dieta adequada deve, desta forma, suprir não só os

aminoácidos (proteínas) e vitaminas, mas também os chamados oligoelementos, como por exemplo os minerais já citados ferro e enxofre, além de cobre, zinco, magnésio e muitos outros .

Distinguimos assim as doenças genéticas, onde a seqüência correta das unidades estruturais

básicas das proteínas – os aminoácidos – é modificada, alterando assim a conformação final (o

arranjo tridimensional dos átomos da molécula) e a função das proteínas, como resultado de uma

informação genética defeituosa, das doenças por dieta inadequada, onde o fornecimento dos

aminoácidos, vitaminas e oligoelementos é insuficiente para o funcionamento correto do metabolismo das células, órgãos e tecidos do corpo .

Essenciais também para o nosso sistema imunológico, as proteínas formam uma classe especial

de macromoléculas por serem capazes de reconhecer especificamente moléculas muito diversas e

interagir com elas – esta propriedade das proteínas hoje é famosa devido às campanhas esclarecedoras

sobre AIDS (ou SIDA – Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida). O repertório de vinte tipos de

cadeias laterais (relacionadas com os vinte aminoácidos) permite que as proteínas se enovelem em

estruturas distintas e formem superfícies e fendas complementares (tipo chave-fechadura). O poder de

catálise das enzimas vem de sua capacidade de ligar substratos em orientações precisas e de estabilizar

estados de transição na produção e na quebra de ligações químicas. Mudanças de conformação

transmitidas entre locais distantes nas moléculas protéicas são a base da capacidade das proteínas de traduzir energia e informação .

PELE E ANEXOS

A pele constitui o revestimento protetor do corpo, sendo também o seu maior órgão. Sua constituição especial evita o dessecamento do organismo, a perda excessiva da temperatura, a

penetração de agentes patogênicos e protege contra os raios solares. Ao mesmo tempo aproveita essa ação dos raios solares para a produção de determinadas vitaminas, como a vitamina D .

Na pele, encontram-se alguns dos anexos como: pêlos, unhas, glândulas sebáceas, sudoríparas e mamárias, que desempenham funções específicas .

Basicamente a pele apresenta duas camadas superpostas: epiderme (externa) e derme (interna) .Dependendo da região anatômica, a espessura das camadas varia .A epiderme é considerada como um exemplo típico de epitélio pavimentoso estratificado

queratinizado, e não só contém células implicadas na queratinização – os queratinócitos – como também

11

Page 12: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

outros tipos celulares que desempenham funções diversas. Os melanócitos sintetizam a melanina, as

células de Langerhans estão relacionadas com a captação de antígenos e as células de Merckel com terminações nervosas .Na derme estão localizadas terminações nervosas e os anexos .A pele, além do que foi acima mencionado, é um órgão que relaciona o organismo como um

todo ao mundo exterior, por intermédio das terminações nervosas, sendo assim também um importante

fator de interação social – outro detalhe da importância da saúde da pele. O profissional médico especializado nas doenças da pele é o Dermatologista .

ORIGEM EMBRIOLÓGICA DA UNHA

Assim como o pêlo, a unha é formada por uma invaginação de epiderme para a derme. Desta

forma, tem origem ectodérmica – uma origem "nobre", pois o Sistema Nervoso Central (entenda-se cérebro e medula espinhal) também se origina de uma invaginação da ectoderme .

VELOCIDADE DE CRESCIMENTO DAS UNHAS

Em média, as unhas crescem por volta de 0,1mm (um décimo de milímetro) ao dia, sendo o crescimento mais rápido no verão do que no inverno, mais rápido nas unhas das mãos do que dos pés, e

mais rápido na mão dominante (mais rápido na mão direito nos destros, mais rápido na mão esquerda nos canhotos). As unhas individuais diferem ligeiramente nas velocidades de crescimento .

Desta forma, em circunstâncias normais, as unhas dos dedos das mãos (quirodáctilos) levam

cerca de cinco meses para crescer inteiramente, e as unhas dos dedos dos pés (artelhos ou pododáctilos)

levam de 12 a 18 meses, razão pela qual as unhas dos dedos das mãos exigem ser cortadas mais freqüentemente .

A velocidade do crescimento das unhas é a razão pela qual o tratamento de suas doenças é tão

demorado, o que resulta em pouca adesão do paciente ao tratamento, geralmente abandonado, o que cronifica (perpetua) as doenças das unhas .Por isso é tão importante a compreensão da natureza e fisiologia das unhas por parte dos

violonistas. Uma parada de cinco meses para tratar unhas doentes ou seriamente danificadas pode

resultar no cancelamento de turnês, contratos de gravação, sociedades camerísticas (duos, trios ,

quartetos, etc.), a perda de um ano letivo por ausência em Música de Câmara ou abstinência da

apresentação da suficiência do instrumento (peças e estudos) perante as Bancas Examinadoras das

Faculdades de Música. Pode resultar mesmo na perda da obtenção da uma Bolsa de Estudos (graduação

12

Page 13: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

ou pós-graduação: Especialização, Mestrado, Doutorado) em território nacional ou no estrangeiro –

frustrando desta maneira uma carreira internacional na sua fase mais crítica – justamente no começo .As unhas variam no seu aspecto, forma, tamanho e resistência com a idade, não havendo

diferenças no que diz respeito ao sexo. As unhas da criança são mais finas e menores, e com a idade tornam-se mais grossas .

O EXAME FÍSICO DAS UNHAS

Semiotecnicamente, as unhas devem ser inspecionadas e palpadas simplesmente pela compressão da borda livre .As alterações que deverão ser referidas propedeuticamente são :a) cor e suas variações à compressão da borda livre ;b) forma ;c) resistência e espessura ;d) cutícula .

a) cor e variações: este é um estudo tão complexo que demandaria um espaço muito grande para o texto necessário, além de exigir uma competência preliminar em outras matérias básicas do curso médico, devendo, portanto, ficar restrito aos estudantes e profissionais de medicina ;

b) forma: igualmente complexa, mas podemos destacar as unhas em forma de "vidro de relógio "

característica dos "dedos hipocráticos", que se caracterizam pelas últimas falanges dos dedos em forma

aproximadamente esférica, descrita classicamente na literatura médica como "baqueta de tambor". Pode

ter origem genética (congênita); ou decorrente de falhas da nutrição; ou em quadros cardíacos ou de câncer .A deformação oposta é a "unha em colher" ou coiloníquia, uma expressão de alteração metabólica em alguns casos de subnutrição global e em muitos tipos de anemia .

O "sulco de Beau" é um sulco transversal, caminhando da raiz da unha até a borda livre, e as

depressões puntiformes também podem ocorrer em afecções que comprometam a nutrição .Freqüentemente nestes casos também ocorrem estrias esbranquiçadas ou leuconíquia (manchas de um

branco leitoso). Como a unha também cresce lateralmente e não apenas no sentido do comprimento ,

mais ou menos como um leque que se abre, o uso inadequado de unhas sintéticas por longos períodos

pode impedir esta expansão lateral, causando uma invaginação da unha – ou seja, criando uma

deformidade estrutural na forma de um ou mais sulcos, aumentando o risco de "encravamento ."

A deformação conseqüente a onicofagia ("comer unha" ou "roer unha") adquire diversas formas, e exprime a insegurança, o sentimento de inferioridade, a ansiedade excessiva, enfim, a angústia constante principalmente presente em crianças e nos jovens .

A ausência de uma unha congênita ou anoníquia corresponde à falta de elementos genéticos da matriz ungueal .

c) resistência e espessura: a resistência e a espessura são variáveis com a idade, menores

13

Page 14: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

na infância e na velhice, e mais consistentes na idade adulta .

As alterações da resistência e espessura são a paquiníquia (unha grossa), a escleroníquia (unha dura), a onicogripose (unha grossa e encurvada no sentido longitudinal), a onicorrexis (unha

excessivamente frágil e mole), a helconíxia (destruição da unha deixando à vista o leito ungueal), a

onicocauxis (deslocamento da unha a partir da matriz e por debaixo cresce nova unha que expulsa a antiga) e a coloníquia (adelgaçamento das unhas) .

Alguns violonistas acreditam que podem corrigir curvaturas indesejadas aplicando repetidamente

uma certa pressão na borda livre da unha. A prática mostra que não se obterá o efeito desejado ,

podendo mesmo se criar deformidades pela manipulação obsessiva (tiques nervosos). O constante

flexionamento da margem livre irá causar a fadiga da estrutura: do mesmo modo que um pedaço de

arame (como um clipe de papel) que irá se romper se for repetidamente entortado no mesmo ponto, a unha se tornará frágil e propensa a se quebrar ou rasgar .

Muitos acreditam que há vantagem em se colar reforços ou pequenas tiras de esparadrapo na

margem livre da unha durante as longas horas de estudo. É uma ilusão: o tira-e-põe destes "reforços" irá

arrancar camadas da estrutura escamosa da unha, tornando-a fina e quebradiça na parte que mais sofre

com o atrito das cordas. Geralmente não se percebe esta perda de camadas até que o dano seja extenso .

O mesmo se dá quando se utilizam esmaltes com reforço de fibras: estes produtos cosméticos não foram

desenvolvidos para o uso que o violonista faz - técnicas de rasgueado raspam o esmalte, o músico passa

mais um pouco do produto, o resultado é sempre uma maçaroca de camadas diferentes – e o músico

acaba por arrancar o esmalte todo ou recorrendo a solventes como a acetona, que fragiliza e amolece as

unhas. Então o desespero faz com que se apele para fortalecedores de unha tipo "casco de cavalo": o

formaldeído (cancerígeno) e os álcoois destes produtos realmente enrijece as unhas, porém causam

severa desidratação (daí a necessidade de glicerinas nas fórmulas) e a excessiva rigidez aumenta o risco

de quebras ou rasgos. A unha traumatizada, mais fina, é muito mais suscetível a todos os tipos de

doenças, desde infecções (fungos, bactérias, etc.) até o descolamento do leito ungueal ou um rasgo com hemorragia. Note-se que a definição clínica de onicólise (destruição da unha) é justamente o

descolamento da placa ungueal de seu leito. Intérpretes de certos estilos musicais, como o "blues", estão

sujeitos a este tipo de traumatismo por forçarem demais um "bend" (técnica de esticar uma corda com a

ponta do dedo, alterando a altura da nota digitada – tipicamente na chamada "blue note"). Neste caso ,

deve-se imediatamente manter a unha pressionada contra o leito, com o uso de um curativo tipo

bandeide – obviamente sem permitir que o adesivo entre em contato com a unha, não só para evitar a

descamação, mas também para não arrancar de novo a unha de seu leito. Recomenda-se uma consulta o

14

Page 15: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

quanto antes com um médico, para evitar que a unha deixe de aderir ao leito – um quadro que pode se tornar irreversível .

Geralmente, as alterações de resistência e espessura são dependentes dos processos inflamatórios de diversas etiologias: micoses, infecções purulentas por diversas bactérias, sífilis, etc .d)cutícula: a cutícula normal é um prolongamento da pele da extremidade dos dedos, de

espessura mais fina, e aderente à borda proximal da unha, tendo função protetora desta última. É ricamente vascularizada, e pela diminuição da espessura é mais sensível à dor .A cutícula pode se inflamar, constituindo, pela infecção estreptocócica, o panarício ungueal ,

que poderá ser parcial ou total. Outras infecções comuns são as micóticas por epidermofíceas, muito

comuns em lavradores e domésticas, principalmente pela umidade quase permanente, constituindo o

"habitat" preferido para as epidermofíceas se desenvolverem .

É MUITO IMPORTANTE SALIENTAR QUE TODOS OS SINAIS DESCRITOS, CADA UM ISOLADAMENTE, POR SI SÓ, NÃO DETERMINAM O DIAGNÓSTICO DA AFECÇÃO

)DOENÇA (EM CAUSA. SOMENTE O MÉDICO TEM A QUALIFICAÇÃO TÉCNICA E LEGAL

NECESSÁRIA PARA EXAMINAR O QUADRO COMO UM TODO, FAZER O DIAGNÓSTICO E PRESCREVER O TRATAMENTO ADEQUADO .

Um outro aspecto muito importante a se considerar é o uso de colas instantâneas (tipo "super -

bonder"). Seu uso ocasional em unhas trincadas ou rachadas, mesmo em casos de extrema necessidade

)alguns minutos antes de uma apresentação, por exemplo ,(representa um risco elevado. Qualquer um

pode entender que um ponto rígido em uma estrutura flexível sujeita a esforços é um ponto com imensa

probabilidade de fratura. Imaginem a cena: o músico no palco (solando ou integrando um grupo de

música de câmara), totalmente confiante na resistência da cola, sofrendo uma quebra da unha justamente

onde foi colada (ou bem próximo ao "remendo"). Então será tarde demais, o momento emocionalmente

traumático dificilmente será esquecido... Os adesivos instantâneos são extremamente tóxicos, podendo

causar inclusive reações alérgicas. A intensidade destas reações alérgicas pode causar a perda da unha ,ou mesmo quadros clínicos muito sérios .

CONCLUSÃO

Não há soluções milagrosas. Para se manter as unhas saudáveis, devemos seguir certos princípios gerais de boa saúde :

.Dieta variada (alimentar-se corretamente, evitando os excessos e vícios) .Equilíbrio entre as atividades de trabalho e laser

.Dormir somente o que for necessário, desenvolvendo bons hábitos de sono regular (procurar recolher-se e despertar sempre nos mesmos horários (

.Cuidados com a higiene devem ser incentivados e mantidos .Observar uma correta postura física em todas as atividades e conhecer os princípios

ergonométricos envolvidos em cada atividade específica .Devido a uma enorme variedade de elementos a serem considerados para cada indivíduo ,

procurar conselho médico sempre que necessário

15

Page 16: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

.Manter as unhas no menor comprimento possível para evitar traumatismos .Evitar o uso abusivo de todos os tipos de produtos químicos

.Toda medicação, ainda que de uso externo, ou mesmo o uso de vitaminas, deverá ter aconselhamento médico prévio

.Acidentes acontecem: sempre tenha cuidado .A arte musical não está nas suas unhas, e sim no seu coração – adapte a técnica para o

tipo de unhas que você tem.

16

Page 17: f30932808 m Sica e a f Sica Qu Ntica

17