EXPRESSõES! nº 17

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E X P R E S S õ E S ! Mais que dizer - transmitir. Ed. 17 Ano 2 José Danilo Rangel - Rafael de Andrade - Douglas Diógenes - Laisa Winter - Carlos Moreira - César Augusto - Herbert Weil - Isabel Almeida - Alberto Lins Caldas - Bruno Honorato - Guilherme Sanjuan - Adaídes Batista - Eliaquim T. Cunha - Gabi Amadio -Gabriel Ivan - Botôto

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Edição de dezembro da Revista Digital de Literatura e Outras Artes EXPRESSõES! Com José Danilo Rangel, Rafael de Andrade, Laisa Winter, Alberto Lins Caldas, Bruno Honorato, Carlos Moreira, Guilherme Sanjuan, Adaídes Batista, Eliaquim T. Cunha, Herbert Weil, Gabi Amadio, César Augusto, Douglas Diógenes, Gabriel Ivan, Botôto e Isabel Almeida.

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E X P R E S S õ E S !Mais que dizer - transmitir. Ed. 17 Ano 2

José Danilo Rangel - Rafael de Andrade - Douglas Diógenes - Laisa Winter - Carlos Moreira - César Augusto - Herbert Weil - Isabel Almeida - Alberto Lins Caldas - Bruno Honorato - Guilherme Sanjuan - Adaídes Batista - Eliaquim T. Cunha - Gabi Amadio -Gabriel Ivan - Botôto

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 02

EDITORJosé Danilo Rangel

CO-EDITOR:Rafael de Andrade

COLABORADORES:Laisa Winter - Quadro a Quadro

Alberto Lins Caldas - ContoBruno Honorato - Crônica

Douglas Diógenes - Fotos, PoesiaIsabel Almeida - Fotos

Carlos Moreira - PoesiaGuilherme Sanjuan - Poesia

César Augusto - PoesiaGabi Amadio - PoesiaHerbert Weil - Poesia

Adaídes Batista - PoesiaEliaquim T. Cunha - Poesia

Gabriel Ivan (fotos) e Botôto - EXTRA

Capa: Saudades do Madeira, Gabriel Ivan

e x p e d i e n t e

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ÍNDICE

Preâmbulo..................................................................04Krauzer.........................................................................06É Assim Que Funciona.....................................................................12Quem Me Fez E Quem Me Faz......................................................17Krauzer e Alberto Lins Caldas - Texto Lido Como Crítica..............21Poesia..............................................27Quadro a Quadro: Pecados Íntimos................................46EXTRA: Saudades do Madeira.....................................49Do Leitor.......................................................................60Envio de Material........................................................................61

Krauzer Por Alberto Lins Caldas

Conto

É Assim que Funciona!Por Bruno Honorato

Crônica

pág. 06

pág. 12

Saudades do MadeiraPor Gabriel Ivan

EXTRA

pág. 49

Krauzer e Alberto Lins CaldasPor Rafael de Andrade

Literatura em Rede

pág. 21

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Começo com um agradecimento, porque todo mês um conjunto de misteriosos artífices têm ajudado à revista a se disseminar, obrigado, pois assim, pouco a pouco, vamos conquistando mais e mais espaço, apresentando mais e mais artistas. Espero que possamos retribuir, mantendo um trabalho de qualidade e, sempre que possível, melhorando-o.

A capa da 17ª edição da EXPRESSõES! destaca o ensaio de Gabriel Ivan e traz Bo-tôto como modelo. A proposta é voltar os olhos aos acontecimentos que têm cercado o Rio Madeira, através de uma leitura de seus momentos anteriores às Usinas e outros eventos que acabaram por lhe mudar. É como um alerta. Você pode conferir outras fotos do ensaio “Saudades do Madeira” na seção EXTRA, página 49.

Além disso, o 17º número é iniciado com o conto “Krauzer”, de Alberto Lins Cal-das, primeira vez participando da revista, dono de um modo de escrever que se estabe-lece sobre pressupostos muito diversos daqueles aos quais estamos habituados.

Depois, uma crônica do Bruno Honorato. “É Assim que Funciona!” que tem cheiro e gosto de atualidade, nos leva a um daqueles momentos quando as convenções per-dem o bom senso. Em seguida, no decodificando, reflito um tanto sobre as possibili-dades perdidas e surgidas para nós, quando aceitamos que somos produtos do meio.

No Literatura em Rede, Rafael de Andrade retoma o tema de “Krauzer” e oferece uma leitura evidenciando os pressupostos dos quais é adepto. Para quem gosta de poe-sia, neste número, a seção Poesia está muito bem servida e ainda tem estreias na revista: Guilherme Sanjuan, Adaídes Batista, Eliaquim T. Cunha.

Mais à frente, Laisa Winter continua prodigiosa na busca de filmes que nos fazem pensar “onde ele encontrou esse?”. “Pecados Íntimos”, filme de Todd Field, é o seu tema.

E, por fim, duas novidades - no mês de novembro fiz uma participação na TV local, apareci no programa Viva Porto Velho, com apresentação de Viriato Moura. Fa-lamos sobre poesia e tudo mais.

Além de mim, outros dois colaboradores da revista, Isabel Almeida (Bel Izzy) e Douglas Diógenes, também fizeram aparições na TV, numa reportagem sobre fotogra-fia em Porto Velho. Temos trabalhos dos dois nesse número da revista, fotos da feira internacional de artesanato, no entresseções.

Espero que goste.

Porto Velho - Dezembro de 2012José Danilo Rangel

PREÂMBULO

José Danilo Rangel é entrevistado por Viriato Mou-ra no programa Viva Porto Velho

Douglas Diógenes e Isabel Almeida (Bel Izzy), parti-cipam de matéria no Amazônia TV.

Para conferir clique na imagem.

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Conto

K r a u z e rAlberto Lins Caldas

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o professor de teologia krauzerfoi contratado por nos do nobre colegiado

dos professores de teologiapra ser depois da morte do velio

e nobre professor de teologiao novo professor de teologia

da nossa nobre faculdade de teologiamas o novo professor de teologia

o professor de teologia krauzernão podia adivinhar jamaisnem mesmo nos do nobrecolegiado dos professores

de teologia da faculdade de teologiao q esperava por ele

aqui nessa nossa tão austerafaculdade velia de teologia

na nossa mui amada cidadepor assim dizer teologicaisso não passaria jamaispela mente do professor

de teologia krauzerquando recebeu o convite

enviado por mim mesmoo professor de teologia

encarregado pelos nobres professoresde teologia do nobre colegiado

de professores de teologiada nobre faculdade de teologia

pra administrar a congregassãodos professores de teologia

da mais ilustre faculdade de teologiado nosso amado pais

q honramos e fazemos ser maismais q todos entre os paizes

com essa mesma faculdade de teologiaq honramos sendo professores

de teologia conforme a mesma teologiaisso de convidar e contratar o professor

de teologia krauzer pra ser professorde teologia no lugar do velio

e estimado professor de teologiamorto pouco antes inesperadamente

foi no primeiro dia da guerra

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mais isso não vem ao cazoporq uma coiza nada tem a vercom a outra mas durante anos

muitos anos pra ser ezatonão pude deixar de relacionar

a guerra ao professor de teologia krauzere o convite q eu mesmo escrevi

e o contrato q eu mesmo assineiem nome da nobre congregassão

dos nobres professores de teologiada nobre faculdade de teologia

mas sabendo q nada é sem razãoinda penso na intima relassão

se posso dizer teologicase com certeza teologica

não foi mesmo moralentre o convite feito por mim

sob as ordens do nobre colegiadode professores de teologia

da nobre faculdade de teologiaao professor de teologia krauzere o comesso nefando da guerra

mas isso realmente não vem ao cazoo convite ao professor de teologiakrauzer e o primeiro dia da guerra

q se estendeu por demaziado e angustiozotempo com certeza so tem uma relassão

podemos dizer teologicajamais moral posso moralmente garantir

se é q toda moral não se relacionainsondavelmente com toda a teologia

e não podia ser diferentee isso é profundamente insondavel

e realmente não vem ao cazoo professor de teologia krauzerera diferente demais dos outros

professores de teologia do nobrecolegiado de professores de teologia

e diferente demais de todosos professores de teologia

de qualquer nobre faculdadede professores de teologia

posso mesmo com certeza afirmar

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q o professor de teologia krauzerera como uma doenssa q se alastra

o professor de teologia krauzefoi uma epidemia uma peste uma praga

q infesta tudo q infesta todosq se alastrou demais alem do suportavel

alem do mais não acreditavadefinitivamente

em nada daquilo q deve acreditarum nobre professor de teologia

sendo ou não sendo deste nobrecolegiado de professores de teologia

ou de qualquer outro nobre colegiadode professores de teologia

de qualquer outra nobre faculdade de teologianão acreditava nem fazia

com q os outros acreditassemmas ao contrario o professor

de teologia krauzer faziaexatamente o oposto o inverso

do q deve fazer qualquer professorde teologia sendo ou não do nobre

colegiado de professores de teologiaisto é

o professor de teologia krauzerfazia definitivamente

q não se acreditasse em nadaacho mesmo q ele o professor de teologiakrauzer persistia pra q não se acreditasse

q se acreditasse apenas no nadanum nada de crenssa uma crenssa de nada

jamais naquilo q um professor de teologiasendo ou não do nobre

colegiado de professores de teologiaduma nobre faculdade de teologia

deve fazer pra se crerprofundamente no q se deve crer

não apenas um professor de teologiasendo ou não sendo do nobre

colegiado de professores de teologiamas naquilo q todos devem crer

pra q o mundo continue assimpra q nosso pais continue assim

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pra q os corpos permanessam assimpra q os sonhos pra q os dezejos

as palavras as frazes o sentidoa gramatica a sintaxe a numismaticaa historia a cosmologia e sigilografia

continuem todos assimpra q os professores de teologia

do nosso nobre colegiadode professores de teologia

possa continuar sendoprofessores de teologia

fazendo parte do nobre colegiadode professores de teologia

e q a propria teologiacontinue sendo teologia

isso foi duramente discutidopor todos nos professores de teologia

do nobre colegiado de professoresde teologia dessa nobre faculdade

de teologia discutido mais q duramentediria mesmo q exaustivamente

e não é necessario dizer sempresem a presenssa nefasta infausta e tragica

do professor de teologia krauzerpor isso chegamos enfim ao desfecho

da longa historia do professor de teologiakrauzer aqui entre nos da nobre

faculdade de teologiaentre nos do nobre colegiado de teologia

desfecho esse q todos sabemconcordam e conhecem bem demais

...................................................................................................................................Alberto Lins Caldas publicou os livros “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “Gorgonas” (Cepe, Recife, 2008),

“Senhor Krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009), “Minos” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2011) e colabora em várias revistas

literárias e blogs de literatura e arte.

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 11Foto : Isabel Almeida

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Crônica

É ASSIM QUE FUNCIONA!Bruno Honorato

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Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, acontrário, o seu ser social que lhe

determina a consciência.

Karl Marx............................................................................

De início, pensei em escrever sobre as formas de poder. Escreverei ainda. Mas um dia desses, um fato nada ordinário preencheu meu pulmão de uma poesia política barata que me obrigou à caneta. Ou ao teclado. Um fato ba-rato que pode até não servir de muita inspiração, mas pelo menos, rendeu além de roupas molha-das, um texto que precisava ser escrito.

Era preciso pagar contas. Várias. Isso é normal hoje em dia. Imprimir boletos, anotar números de contas bancárias pra quitar os livros da faculdade, sacar as notinhas de animais bra-sileiros e todo o processo a que estamos acostu-mados. Lembrando que essa história é bem ge-nérica. Aconteceu, acontecerá, acontece. Com qualquer um mesmo. É um elemento cotidiano transformado em prosa. Enfim. Este é um conto sobre a vida.

O rapaz foi ao banco. Não almoçou. Sabia que não daria tempo caso enchesse a barriga antes. A burocracia não deixa. Deu meio dia e ele foi, em passo rápido, até a rua principal da cidade. Onde os bancos se aglomeram como trabalhadores no ônibus, e onde o horário de al-moço dos transeuntes beira o divino. Chegando lá (o local eclodindo pessoas mal humoradas de tanto esperarem), o rapaz pediu uma senha, reparou no número (265) e se escorou próximo a uma cadeira. No alto dos guichês, observou, infeliz, o número da senha que se seguia (181). Ele realmente perdeu a esperança em almoçar.

O tempo passava e os números pa-reciam tão vagarosos e preguiçosos quanto a justiça brasileira. Ele não sabia mais para onde olhar. Tinha caixas eletrônicos que de tanto ob-servados pareciam já ganhar expressões de vergonha ou desaprovação. Crianças chorando, conversas sobre o jogo de quarta-feira, a porta giratória anunciando os excessos de metais nas bolsas e nos cintos e todo um mosaico de con-

versas e fatos espalhados pela vida. O que fazer? Diante da demora, do

tédio? Talvez nem a flor e a náusea de Drum-mond faria aquele momento se tornar menos lotado de uma frustração social nada agradá-vel. E, por incrível, que pareça o celular com o jogo da cobrinha pareceu muito sedutor naquela hora. Assim o fez. E quando quase batia seu re-corde, à mercê do título de “cobra mestre”, uma moça e seu crachá sem aproximam e anunciam ao seu pé do ouvido, como uma declaração de amor feita de má vontade:

- É proibido utilizar celulares aqui.- Ok.Ele deveria esperar olhando para a

cara maquínica dos atendentes ou para o mau--humor dos caixas eletrônicos. Não podia passar o tempo. Era preciso senti-lo minuto por minuto. Senha por senha.

Ele, confessando para si mesmo, não quis retrucar ou talvez observar que por mais que suas feições pudessem ser o mais “terrorístico” possível, não estava nos planos dele informar a planta do banco para algum maníaco do lado de fora, implantar bombas caseiras embaixo de uma mesa ou jogar alguma arma bioquímica na velhinha da fila de idosos. Ainda assim, sentiu--se incomodado.

Mais um tempo depois, seu telefone toca e, ruborizado, ele levanta e vai para fora do banco. Atende ao telefone antes que os crachás o intimassem mais uma vez. Alguns minutos de-pois, ele entra. Ou pelo menos tenta. Seguindo o fluxo de uma pequena fila que passava pela porta giratória, ele se surpreende com uma bar-ra de acrílico que fecha a entrada. Parecia as antigas pegadinhas do Silvio Santos. Ele tenta mexer um pouco pensando que foi algum erro ou engano. Não foi engano:

- Já passou de uma hora. – Disse o guarda.

- Como?- Já passou de uma hora, ninguém

mais entra.- Mas eu estava aí agorinha pouco,

só saí pra atender uma ligação. – O rapaz diz ainda conturbado.

- São normas, passou de uma hora ninguém entra.

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- Você me viu saindo, eu já estava en-trando, fechou na hora que eu ia entrar – Disse nosso herói já não tão calmo.

- Já é mais de uma hora, acabou o expediente.

- Eu tenho a senha, olha a hora que eu cheguei, faz uma hora que estou aqui, está registrado na senha. – Disse o rapaz mostrando o pedaço frouxo de papel.

- Acabou o expediente.Pronto. Já não se tratava de raiva.

E não era uma raiva clássica. Bruta. Vinda dos confins dos nossos instintos. Era uma raiva que não parecia vir só dele. Parecia vir de todos que um dia passaram por isso. Que passariam. Uma raiva que vinha de seus pais e seus avós, quan-do falavam sobre o certo e o errado enquanto brincava com um boneco velho. Uma raiva que vinha dos poemas de Brecht, da revolta de Ban-deira e da indignação de Spiegelman. Uma raiva coletiva. Uma mágoa do mundo.

- Chama o gerente.- Oi?- Chama o gerente. Não é você quem

vai pagar os juros das minhas contas quando atrasar. Não é VOCÊ que paga meus livros e meus impostos. Eu só saio daqui quando pagar essas contas. Chama o gerente. Agora. – Havia raiva, mas também havia uma serenidade e um equilíbrio notáveis.

- Fala com aquele moço ali. – Disse o guarda apontando um direção.

- Não tem ninguém ali. Eu quero fa-lar com o gerente. Você não vai resolver o meu problema. Você o criou. Com um pouco de bom senso isso seria evitado, mas você quer fazer jus ao seu salário. Quer mostrar que a máquina funciona bem. Me chame, por favor, o gerente, que eu só saio daqui quando falar com ele. - O rapaz disse quase calmo.

O guarda fez sinal que aguardasse e falou em voz baixa ao celular. Isso se repetiu várias vezes porque o rapaz não saía de perto da porta e sempre fazia menção de que estava esperando o gerente. Encostou-se na porta e realmente propôs, sem dizer nenhuma palavra, que não sairia dali enquanto não falasse com o gerente.

Depois de uns vinte minutos, em

meio às observações curiosas de quem sacava dinheiro, algo aconteceu. E não foi o gerente. O guarda tinha chamado três PM’s para tirar o ra-paz do banco. O PM mal humorado, o PM bem humorado e o PM neutro. Mas, diga-se de pas-sagem, a convicção daquele estudante comum não iria perder sua eloquência e sua vontade mesmo com uma demonstração de hostilidade tão declarada. Por que ele não havia chamado o gerente?

- O que está acontecendo aqui, se-nhor? – disse o PM mal humorado. O rapaz ex-plicou toda a situação. Não se exaltou em ne-nhum momento. Transformou sua raiva em uma retórica respeitosa que expôs a situação de uma forma objetiva e justa.

- Mas meu amigo, o banco fecha às 13:00 horas – disse o PM mal humorado, segui-do do PM bem humorado e do PM neutro.

- Mas como assim? Ele viu que eu fi-quei cinco minutos fora daqui, ele deixou as ou-tras pessoas entrarem, fechou a porta pra mim. A senha está aqui marcando a hora que eu che-guei! – Disse o rapaz achando aquilo uma puta palhaçada.

- Ele fez o trabalho dele, meu amigo. – Já começando a se enraivecer.

- Isso não faz sentido, não estou pe-dindo um favor, estou pagando minhas contas! Não fiquei lá fora uma hora e depois voltei. Aten-di um telefonema, já que não posso atender aqui dentro, e voltei, todo mundo viu!

- Senhor, ninguém viu. Se fosse as-sim todo mundo poderia vir, pegar uma senha, sair e voltar só na hora do atendimento. Só vale se você estiver lá dentro.

- Eu passei no máximo cinco minutos lá fora. A senha mostra a hora que eu cheguei. Ele poderia, por bom senso, ter me deixado en-trar. Acho que devia ser um minuto depois das 13:00. Pessoas passaram na minha frente. Isso tudo é só pra mostrar serviço? – Agora o rapaz parecia armado de argumentos.

- Senhor a senha não quer dizer nada! – Disse o PM mal humorado.

- Se não quer dizer nada, então por que pegamos ela? – Ele não pode evitar um tom de graça. O PM parecia se irritar ainda mais.

- Se você tivesse dito para o guarda

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que ia sair e já iria voltar seria diferente.- Hum!? Eu tenho que deixar recado

com ele agora? Que placa diz isso? A única pla-ca que eu li foi a que diz que celulares não são permitidos. – Mentiu ele. Mas usou a placa como base para o argumento debochado, mas justo. O PM mal humorado, agora andando de uma ponta à outra, pareceu muito insultado:

- Não vou discutir com você. – Saiu, deixando o PM neutro e o PM bem humorado conversando com o rapaz que ainda tentava jus-tificar tudo e mostrar a situação no mínimo injus-ta que se apresentava:

- Me chama o gerente, eu converso com ele.

- Amigo, eu sei que a situação não é agradável, mas essas coisas acontecem. Eu não posso fazer muita coisa. Meu amigo tam-bém não. Eu sei que você perdeu muito tempo, e tempo é algo precioso pra todos nós. Mas é assim que a empresa trabalha, é assim que a lei estabelece. Você deve se conformar. – Dis-se o PM bem humorado. E é difícil imaginar o que o rapaz teria dito se ele não tivesse sido tão incrivelmente educado, coisa que mesmo sem expressar muito, o nosso herói levou muito em consideração.

- São pensamentos como esse que deixam tudo estar como está. É por isso que es-tamos onde estamos. Vocês só seguem ordens. Só fazem o seu trabalho. Não conseguem ir, além disso. Eu perco meu tempo porque pes-soas como vocês só fazem o seu trabalho. Isso não me parece nada com uma conversa ética. Com uma atitude pensada. São só as regras não é?

- É assim que funciona.E o rapaz percebeu que não era pra

estar certo ou errado. Era simplesmente assim. Apenas acontecia. Porque era assim que funcio-nava. Porque é assim que funciona. Essa frase se perpetuou em nosso herói e ecoou bem fun-do mesmo. Percebeu um pouco de realidade. Um balde d’água de realidade.

- Eu trabalho oito horas por dia, estudo feito um condenado, pago imposto, venho pagar contas, estou pagando até pelo ar-condicionado aqui de dentro pra encher o seu bolso de dinhei-ro e esquentar a marmita daquele guarda e você

vem me dizer que é assim que funciona?- Não posso fazer nada senhor.O rapaz observou os olhares curio-

sos, alguns até em tom de apoio, que direciona-vam para ele. Olhou aqueles olhares. Sentiu um pouco deles em si. Um pouco de si em cada um. Alguns pareciam assustados, outros igualmente revoltados. Um silêncio que só ele ouviu se esta-beleceu. O rapaz virou e saiu do banco.

A chuva já começara. Colocou seus boletos, que começavam a se empapar de chu-va, no bolso. Rasgou a senha do banco e jogou no primeiro lixo público que viu. Olhou para bai-xo. Seguiu a direção que levava até seu traba-lho. Num passo ininterrupto, ele passou como um fantasma pelas ruas e pessoas e vitrines. Não sentiu raiva, não sentiu tristeza, não sentiu a chuva. Seu único arrependimento, que mais tarde iria lhe torturar quando encostasse a cabe-ça no travesseiro era de que deveria ter espera-do o gerente chegar.

Deveria ter insistido. Mas até lá, ape-nas seguiu seu rumo embaixo de uma água des-tilada e fria. Voltou para o trabalho sem contas, sem honra, sem glória, com fome, molhado e com um sentimento do mundo inteiro nas cos-tas. Não por obra do destino, por algum erro hu-mano, ou quem sabe pela infelicidade inerente ao mundo. Mas porque é assim que funciona.

.....................................................................Fonte: http://www.newsrondonia.com.br/lerNoticias.php?news=26473

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 16Foto : Douglas Diógenes

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QUEM ME FEZ E QUEM ME FAZPor José Danilo Rangel

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CONCEPÇÕES E AÇÕES

A forma como entendemos o mundo, a gente nele e a nós mesmos, determina as pos-sibilidades das nossas ações. Talvez não efeti-vamente, não chegando a evitar que um com-portamento possa se realizar, tira-nos, contudo, a motivação de atuar neste ou naquele sentido, fazendo-nos agir dentro do que achamos possí-vel.

A alguém que crer, por exemplo, no mundo sobrenatural e ne sua influência sobre o mundo natural, não vai parecer absurdo ou in-fantil ou inútil, acender velas com determinadas cores em determinados dias da semana. Para quem acredite nas ciências, entanto, tal compor-tamento não apenas soará primitivo, como será eliminado do repertório pessoal.

Ao pensarmos sobre nós mesmos e chegarmos a conclusões, ou mesmo conside-rando o conjunto de ideias que temos a respeito de quem somos e de onde viemos e cuja origem desconhecemos, não apenas chegamos a en-tendimentos do que somos ou de onde viemos, também condicionamos as possibilidades que temos de nos mudar e de mudar o que nos cer-ca.

Os tópicos a seguir iniciam pensa-mentos a respeito dos limites e possibilidades em que implicam certas concepções.

QUEM ME FEZ?

Na mitologia Judaico-cristã, Deus modelou o homem a partir do barro, na mitolo-gia grega há uma imagem muito próxima na qual Prometeu e seu irmão, Epimeteu, isso segundo Hesíodo, são incumbidos da tarefa de modelar os homens e todos os animais. Tais metáforas, ao que parece, demonstram um entendimento básico a respeito da modelação, da construção do homem.

Contudo, a modelação, ou constru-ção, feita por um deus, ou por dois, a quem jul-gamos superiores e perfeitos, por um lado nos envaidece e por outro, nos tira a necessidade (talvez fosse melhor dizer a possibilidade, quem sabe a responsabilidade?) de nos criarmos a

nós mesmos, pelo menos de nos reinventarmos.Além disso, uma coisa é crermo-nos

como criações divinas, outra coisa bem distinta e mesmo incômoda é entregar a autoria do que somos não a um deus, mas a um conjunto de acidentes mais ou menos organizados, ao aca-so.

Talvez seja tão simples quanto pare-ce - a forma como consideramos a feitura do que somos depende de a quem atribuímos a obra. Pensamos um tanto sobre o mundo, já que, como outros, é a ele que atribuo a construção do homem.

TECIDO, FIO E TECELÃO

Não sei quem primeiro empregou o termo “tecido social”, sei que é uma imagem muito eficaz para explicar como se configura e se mantém a organização do mundo das rela-ções. O que é um tecido? Um conjunto de fios entrelaçados de maneira tal que sua integração faz pensar que o resultado não se trata de mui-tas partes, mas de um todo sólido.

Claro que a complexidade das so-ciedades atuais, caleidoscópicas, não condiz exatamente com qualquer imagem de unidade que se pretenda impor, tantos são os matizes e trajetos de seus fios. Assim, o tecido social trata-se na verdade de um colorido tecido social sustentado por uma complexa rede de fios mais ou menos coerentes entre si. Seja como for, a sociedade se confecciona e trabalha como um

A forma como entende-mos o mundo, a gente nele e a nós mesmos, determina as possibilida-des das nossas ações.

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tecelão tomando fios e os entrelaçando segundo os padrões ditados pelas circunstâncias.

Considerando que a personalidade de um homem, seu modo de ser, de pensar e de agir, estabelece-se segundo a interação com esse conjunto de coisas a ele antecedentes e que esta própria interação está condicionada a fatores que lhe excedem, podemos imaginar que a construção desse sujeito tem uma relação muito próxima com o derredor.

Um pouco mais de imaginação e po-demos deduzir, posto que o homem é resultado de uma interação, de sua relação com o mundo: não existe um homem se não existe um mundo.

O MUNDO ME FEZ

Aceitar-se como filho do mundo, pro-duto de uma interação não é coisa fácil para to-dos, talvez, para ninguém, mais difícil ainda é, em especial, para aquelas pessoas que determi-nam o próprio valor em cima daquilo que acre-ditam ter de essencial, suas qualidades apriorís-ticas, já que questiona a validade de qualquer uma de nossas características. Assim, questio-na nossas “essencialidades”, julgando-as como uma produção, como derivado de uma intera-ção, o que nos faz pensar - são elas, nossas essencialidades, realmente nossas? O que tem valor em mim é meu mesmo? E o que não tem valor a quem pertence?

Talvez por isso, talvez também por isso, muita gente prefira rejeitar tal entendimen-to, o de que é filho do mundo. Mas não é tão ruim assim, pois, se vendo as coisas desse modo, o mundo reclama a autoria do que somos, possi-bilita, entanto e ao mesmo tempo, que a recupe-remos para tornarmo-nos filhos de nós mesmos, ou pelos menos, participar da nossa “criação“.

SE ALGUÉM FEZ - FAÇO!

Embora seja uma grande pancada na própria vaidade e outra bem na cara do amor--próprio, imaginar-se como produto de uma in-teração com mundo tem o seu lado positivo. O pensamento é simples, se o mundo me “fez” a

partir da relação que tive com ele, posso tam-bém me fazer, por que não?

Talvez não seja tão simples assim, mas só o fato de se conceber como algo elabo-rado a partir de uma dinâmica já é um começo. Desconfio que tal postura é imprescindível para o primeiro passo em direção à autoautoria, ou seja, assinar-se a si mesmo como autor, pois o conhecimento de que o mundo age sobre quem somos traz em seguida uma questão: como ele age sobre nós, como ele nos cria?

Há muitas formas de nossa relação com o mundo participar do que somos, seja assimilando ideias a partir das relações inter-

pessoais que firmamos ao longo da vida, seja respondendo à demanda que o mundo nos joga às costas, se entendemos como o mundo nos modelar podemos também nos modelar.

Por fim, digo, que não concebo ma-neira de o dia chegar em que possamos exigir, como únicos autores, os direitos autores sobre nós mesmos, já que a influência que o mundo tem sobre nós antecede até nossas primeiras atividades intelectuais, daí que ele sempre vai ter uma participação no que somos. Contudo, ser capaz de ser o maior contribuidor da obra é que somos parece suficiente. O que me diz?

.....................................................................

O conhecimento de que o mundo age sobre quem somos traz em seguida uma questão: como ele age sobre nós, como ele nos cria?

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 20Foto : Isabel Almeida

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Literatura em Rede

Krauzer e Alberto Lins Caldas: o texto lido como crítica Rafael de Andrade

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 22

1.A Estética Política de Lins Caldas

Foi o próprio Alberto Lins Caldas que me mostrou pela primeira vez que um texto pode ter inúmeras leituras quando estudávamos – ou melhor, ele me ensinava junto a outros profes-sores do Centro de Hermenêutica. Não que es-tas leituras venham essencialmente de leitores diferentes, o mesmo leitor pode ter formas di-ferentes de encarar o texto. Com esta perspecti-va que pretendo ler o conto “Krauzer” enquanto leitor de arte, amante de arte, pesquisador de literatura, cientista social, vagabundo e escritor de merdas de bêbado, segundo Bukowski.

Primeiro, encaixo a literatura de Cal-das dentro de uma divisão que fiz até então, a partir de certas leituras: de que a arte se divide em duas vertentes diretas, como uma grande ár-vore, um simples recurso didático. Obviamente a simples imagem não cria no leitor uma visão prática desta divisão, sendo necessário o deta-lhamento em dois pontos:

1 - De um eixo, temos a literatura (Literatura) alienante, fruto de uma visão “bur-guesa” de arte, de pouco preparo, pronta para anestesiar as massas, e não somente as mas-sas – os artistas mais cultos são também – vide a adoração à Chico Buarque como inventor da roda literária por parte destes enganados. Desta produção, chamada de arte dos ricos, simulacro de arte, produto-cultura industrializado que va-ria de Paulo Coelho até Crepúsculo. Coisa sem graça e sem sal que visa o lucro de seus au-tores, escritores por profissão, e mascarar, ser-vindo como aparelho ideológico, no sentindo ex-tremamente marxista de ideologia apontado por Althusser em Aparelhos Ideológicos de Estado.

Sigo Tolstoi ao afirmar que isto ‘não é arte’ e sim um ‘simulacro’, um ‘engodo’, ex-plorado de forma cada vez mais eficiente pelo capital desde o fazer do romance moderno e que a massa cada vez mais formatada, compra e transforma em vida – chorando nos eventos, ao lançar de cada livro, filme, novo.

2 - No segundo eixo, neste sim en-

caixo Lins Caldas e a Rafael de Andrade, temos a literatura (literatura) que visa desvelar, des-mascarar as variadas faces da ideologia que recai sobre os homens graças ao desejo alie-nante dos dominantes, de sua classe dominado-ra. Essa forma de arte se apossa dos mesmos recursos do simulacro citado acima, mas com a diferença que ela se pretende enquanto fala do mundo-horror e da beleza, amor, vida como espaços de resistência dentro do mesmo, não como verdade absoluta sempre presente aqui ou no céu vindouro.

Essa arte – a arte, porque a outra não é arte - é formada de técnica, vontade e sen-timento, mas um sentimento de confronto. E são inúmeras as formas que ela usa para ser confronto, entre elas a apatia frente ao mun-do, como se ele não fosse ideal ou importante, como se faltasse algo, mostrando a alienação da vida. Outra forma é a partir do desprezo à vida como ela é. Outra forma é a mostra do hor-ror, da doença, da morte, do momento em que o homem percebe que o mundo do trabalho lhe roubou tudo e que nunca chegou à viver. Estas são algumas peças usadas por Lins Caldas em suas obras.

E aqui tenho que afirmar algo: não podemos ver o mundo como um duplo: ele é es-sencialmente dialético, assim como é o mundo da arte. Posso tê-lo dividido em dois, mas não ex-

Sigo Tolstoi ao afirmar que isto “não é arte” e

sim um “simulacro”

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cluo a participação dos membros dos dois ei-xos, nas duas formas, vindo um Poeta-profeta do consumo a escrever arte e ao contrário. O mundo é feito dessas afirmações e negações de seu próprio papel enquanto escritor e em outras atividades: mesmo o trabalhador mais alienado tem sua força revolucionária que se expressa, os exemplos seriam inúmeros. Dessa forma apresento aqui como foi a transformação de meu pensamento com relação à arte e literatura:

1º - Arte pela Arte: escrevia, lia e ten-tava fundamentar em meus breves textos essa forma de expressão como algo isolado do mun-do, me apoiando na visão do “gênio criador” que Balzac aponta no prefácio da Comédia Humana. Arte que olha para si mesmo dentro de seus jo-gos e valores internos, dando forma ao mundo em um caminho único.

2º - Alienação/Revelação do mundo: divisão do mundo em arte enquanto alienação e ou revelação do mundo, desmascarando ide-ologias de dominação. Já escrevi sobre o tema nesse texto. Posso adicionar o papel fundamen-tal da sociologia neste momento, sendo vista apenas como forma de ver um momento, uma realidade, nunca como verdade absoluta – ape-

nas mais uma forma de ler o mundo.

3º - Processo Dialético: um adendo à visão anterior, dessa forma o artista, assim como todas as pessoas em convívio social, po-dem migrar da arte alienante para a arte revela-dora, buscando espaços – de forma consciente ou não – de rebeldia, de contradição em suas produções. Revelação pode ser visto como a ilu-minação kantiana, mas no sentido estrito de per-cepção de suas condições reais de vida. Mesmo que com essa transformação de minha pers-pectiva de arte do mais simples ao mais comple-xo, creio que ainda não estou no fim do caminho e que posso adicionar pontos quartos, quintos ou sextos nessa discussão, o que farei sem o menor medo de afirmar que mudei ou expandi minha opinião.

E aqui eu aponto uma perspectiva política da obra de Lins Caldas, pois não exis-te ponto neutro no mundo – ou se está pela mudança ou pela manutenção, que se expres-sa na neutralidade também. A divisão que ele mesmo estabeleceu entre arte e não arte é uma forma de posicionamento que se atém contra à formação rápida, contra a sujeição da arte aos ditames dessa forma de ver o mundo. Por mais que tenha insistido em uma arte pela arte, eu só pude acreditar nessa visão por algum tempo. O autor de Krauzer, quando se diz contra o nacio-nalismo, contra o poder da língua, da história e da sociologia não está dizendo algo totalmente novo: mas em contexto e de forma totalmente nova – não podemos crer que a crítica literária de Lins Caldas é nova, podemos adicionar essa “qualidade”, com todo cuidado, à sua produção literária.

Krauzer é um exemplo dessa crí-tica de Caldas ao mundo. Crítica essa que se pode esperar dele, que pude ver enquanto to-mava café ou almoçava no CENHPRE e mais, em suas obras literárias. Não é a primeira vez que leio este texto e hoje o vejo de uma forma diferente, quem sabe uma terceira leitura venha depois desta, com uma visão totalmente diferen-te, estar vivo, lendo e aprendendo é o que há de belo no grotesco do mundo.

Não existe ponto neutro no mundo – ou se está pela mudança ou pela manutenção.

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2. Krauzer: uma apresentação.

É um professor de teologia contrata-do após a morte do velho professor de teologia, de uma faculdade velha de teologia de uma ci-dade extremamente teológica. A primeira per-gunta que vem à cabeça é o que significa essa teologia, este estudo da natureza divina ou da manifestação social do divino. Sabemos que deus pode ser apenas uma face do grande es-pectro que ronda nosso mundo, que é ligação fundadora de todo o mundo. Por trás da aliena-ção que é firmada nas escolas, nas igrejas, há uma vontade, poderosa como um deus. Dessa forma, a faculdade de teologia pode ser a facul-dade de qualquer coisa ou a faculdade em si, a universidade.

Essa “faculdade de teologia” tem um objetivo: fazer o país ser o maior entre todos os outros países, formada por aparelhos burocráti-cos, colegiados e congregações. Thomas Kuhn propõe que a ciência e seus paradigmas são crenças tomadas por todos seus participantes e esta crença é uma condição sine qua non para a participação dos mesmos. A “faculdade de teo-logia” é como um aparelho científico onde todos creem no poder da ciência como mudança para o mundo – é também uma das faces da ideolo-gia, a ciência – fora os espaços de resistência – bem sabemos que serve aos interesses econô-mico e ideológico dos poderosos, mais teologia, mais poder divino.

No caso, o velho professor de teolo-gia faleceu no primeiro dia de guerra e o pro-fessor Krauzer foi contratado graças à morte do mesmo. Então, o narrador afirma, existe uma grande relação entre a contratação do professor de teologia Krauzer e a guerra, cujo primeiro dia se estendeu de forma angustiante. Essa relação só pode ser teológica, ou moral, ou não moral. Mas nada disso importa. Vejo que existe no tex-to uma relação grande entre a guerra, a mora-lidade, a verdade teológica que “não importa” porque deve permanecer velada, mesmo que o narrador afirme que pode haver – ou há – certa importância.

O professor Krauzer era diferente de todos os outros professores desta ou de qual-quer outro professor de teologia, sendo como uma doença que se alastra. Penso ver algo au-tobiográfico ou é uma forma pela qual vejo Lins Caldas professor do curso de história e orienta-dor de pesquisa. Não acreditava em nada que os professores devem acreditar – isso corrobora com aquilo que algumas pessoas que admiram Lins Caldas de alguma forma falam que ele é como um vírus ou um buraco negro.

Eu que sempre me referi a ele como mestre, eu hoje também recebo algumas alcu-nhas negativas e positivas do meu precursor. Esse buraco negro do Krauzer o faz um profes-sor que afirma a crença no nada e em nada mais. O conto faz parte de um conjunto de afirmações que ouvi em outros textos e da própria boca do autor, um pedido de mudança, de abandono das crenças padrões do mundo – forma de encarar as coisas que me acompanha até então, mesmo lendo outros teóricos.

Atacando aquilo que os professo-res de teologia defendem, o professor Krauzer ataca aquilo que faz o mundo continuar sendo infinitamente, a teologia como forma de orga-

Por trás da alienação que é firmada nas escolas, nas

igrejas, há uma vontade, po-derosa como um deus

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nização desse mundo continuar sendo. Enfim, chega-se ao fim da história do professor de teo-logia Krauzer, que todos sabem o fim. Eu sabe-ria o fim, eu sei o fim. Um recorte de uma gran-de obra que eu não saberei onde vai. Pode-se dizer que eu perdi o fio da meada. Daquele ano para este (2007 - 2012) eu tive que abandonar a hermenêutica do presente para aprender socio-logia, antropologia, agora ciências da educação, sempre tendo a literatura como minha amante, mas eu abandonei a leitura de Lins Caldas como eixo norteador de minha forma de ver literatura. Mas creio que é isso que ele queria tanto para eu quanto para Sheila, Eliaquim, Carol, Fabrício e Ricardo, para todos nós.

Por essa diferença de caminhos e pela proximidade, vejo em Krauzer uma crítica ao mundo vivido e ao mundo teórico, que na vida do professor são a mesma coisa em contato. A teologia é a ideologia que move o mundo que Krauzer combate em sua vida e que por isso, meu final, fora expulso para terras selvagens onde John, o selvagem, está com sua mãe loira e gorda. Ou o Admirável Mundo Novo que é a barbárie e não temos para onde fugir?

Esta é uma lição para todos nós: des-de Platão até Bernard Marx, todos que falam o que o sistema não deseja são expulsos e por que nós, ainda estamos aqui a falar pelos coto-velos? O sistema nos permite se fechar em volta de pequenos círculos oligárquicos e falar asnei-ras entre nós. É preciso romper estes limites e trazer a todos uma arte que fuja dos enlatados norte americanos. Com certeza isso nos matará ou nos expulsará de nossas casas.

Não esgoto minha leitura desse texto. Na verdade é apenas uma apresentação singe-la. A apresentação do texto de um dos maiores inimigos que tive que, por declarar guerra aberta àquela Literatura que eu tinha na escrita e na forma ideal, se tornou um grande amigo a quem faço questão de apresentar e ler.

Ao indesejável professor Krauzer.

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Todos que falam o que o sistema não deseja são expulsos e por que nós, ainda estamos aqui a falar pelos cotovelos?

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 26Foto : Douglas Diógenes

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P O E S I A

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A DICÇÃO

a dicção de um pássaroé coisa grave

nem um poetamantém tanta tensãona arte de cortar o cantocontra o ar

há que se ter ciênciae paciência pra sentiro canto maduroabrindo seu olhar

mirando o muroo fio o sol

e soltoplantar no tempoaquela nota

que só elaavepode dar

ninguém se enganecom sua falsa facilidade

a dicção de um pássaroé assunto grave

Carlos Moreira

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COMO OUSAS...

como ousas ser tão proativa comnosso trabalhoe falar que simpodemos agilizar o relatório nohorário de almoçono horário do cigarrofosse este o tempo onde o Partenon acabara deser inauguradote armaríamos uma emboscadae cravaríamos nas tuas costasa mais enferrujadae afiadadasfacas.

Guilherme Sanjuan

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ÀS VEZES

às vezes me pergunto se você invejameu cigarropor estar constantemente na minha bocaassim como eu invejo as pessoasque estão constantemente na sua

Guilherme Sanjuan

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LIVRE, MAS NEM TANTO

Querem que você seja assim,mas você é o contrário,querem que você faça assim,mas você faz o contrário,se dizem sim, você diz não.

E você acha que é livre,que você é como quer ser, que você faz como quer fazer,porque diz não, quando dizem sim.

José Danilo Rangel

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ANTES DA VIDA POÉTICA

há de chegar o tempoque em meu ser se instalaráa poética vidaa poesia será intensa e fulgurante vidaterminará o martíriode escavar nas minas escuras e profundasdo euas palavras organizadasque transmitem sentimentosposturas, açõespara a compreensãodessa gente degenerada quesó percebe a poesiaquando já está morta - impressa.o escrever para não morrerestará dirigido e expelidonessa tempo-vida-poética, o escrever é supérfluoo resto?o resto será excremento

Adaídes Batista (Dadá)in: A Sobra das Noites

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LUTA

minha luta é secasem gritossem alaridosminha luta é somente minharonca no peitoinflama a gargantanão precisa falarminha luta é a dos loucosignora os que a rodeiama cabeça ocupa-se comigonuma digladiação de explicaçõessobra eu em estilhaçossobre a camaa minha luta existe como a vidasem explicaçõespulsando intensamentepara denunciar sua existência.

Adaídes Batista (Dadá)in: A Sobra das Noites

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SE

Olhei lá dentro… dentro da maletaque ela deixou, por descuido, abertacreio que não foi, por descuido,ela não descuida;

Estou mais certa quefoi uma desatenção, da parte dela,uma distração quase explícita,daquelas propositais;

Olhei lá dentro… dentro da maletaque ela deixou, por descuido, aberta,em cima da mesa; tinha de tudo aliformol, remédio, alicate, tesoura,ossos, fusíveis, fios, agulhas, peles,entre outra coisas,uma partícula apassivadora;

Enquanto eu olhavao formol, o remédio,o alicate, a tesoura,os ossos, os fusíveis,os fios, as agulhas, as peles,entre as outras coisas,e uma partícula apassivadorapensava comigo mesma,e mais uns outros eus,como essas bugigangas são feiasinúteis, pesadas,até mesmo vistosas demais,de mau gosto;

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Tive a sensação exata…algo parecido já me havia sidoguardado e usado, não há novidade,talvez eu já vira inúmeros outros objetosdesse mesmo tipo,talvez recentemente, no entanto,tenho que confessar;

Dessa vez impressionaramde maneira diferente,que lá dentro…dentro da maleta,o formol, o remédio,o alicate, a tesoura,os ossos, os fusíveis,os fios, as agulhas, as peles,entre as outras coisase uma partícula apassivadora,foi quando percebiela não pode ser outro alguém,ela é poeta…

Eliaquim T. Cunha

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ANTIPATIAou Novo Documento de Texto(2)

naoprecisasorrires

quequando chegascom humor de poucos amigos

dizendotudoque é precisosem dizer nada

ederrubando bestas emoinhoscom teu levantar de sobrancelha

já sefaz presenteum sorrisooculto

que quandoenvenenao povo vivocom teus

ditose nãoditos

com teusolharesinauditos

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etransforma em flor murcha os momentos mais comunsque antes eram sódatavelhaem calendário

e me dá vontadede acolhersem ventoedeslizeessa flor venenosaeobtusa

em minha memóriade lobo velhosem sorrisosem palavra

só uma lembrançasem vidaa flutuar no meu pensarde fim de tarde

em teus contornosde lábiose em tua fúriadevastadora

destruindo o mundoe acalentando minhas mágoas

Bruno Honorato

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QUADRICULADO

e é claroquando chegarese o quadriculado do teu vestidodesprender-se deoutros vestidoseoutrasmarcaslevando-me a lembrarda tua

singularidade

eesquecer-medo floraldeoutros significadosperdidosemisturadosna multidão

nada

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podereifazerouresistir

anão

ser

tedestacardo resto do mundoe

tímido e mal feitoeclodirumsorriso amarelado

e sem passado

Bruno Honorato

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SENTEI LÁ FORA

Sentei lá fora para ouvir a chuva cairÁgua caindo é bomÁgua cor de noite, com som de chuá

O céu pisca pra mim, retribuoObservo o frenesi da naturezaMuito calmoFico muito calmo com a agitação

Os contornos da mata ao longeSobre o céu branco de eletricidadeMe lembram árvores de Mondrian

As folhas caídas se molham, trememE pequenas poças na grama Criam universos paralelos

Tiro a roupa e corro pela chuvaOs pingos grandes e gelados de escuridão acertam meu peito nuOs pés quase escorregam nos paralelepípedos encharcados Mesmo assim corro, sem ver chãoSem ver nadaO vento da madrugada corta minhas pernas

Na verdade, continuo sentadoE a chuva não há maisPela latrina Escorrem pensamentos temporais

Herbert Weil

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SOLTEI O AR, AFUNDEI RÁPIDO

Soltei o ar, afundei rápido

Fui descendo e a superfícieFicou menos atraente

Não sabia se sentia frioOu se algo tocava meus pésApenas continuei abismando

Me tornei parte do todoSem distinguir limpo de imundoFui até o fundoE deitei sobre o lodo

Inerte, esperei de olhos apertadosAté o fôlego escapar Subi com mãos e pés apressadosAlgas no olhar

Cego, dedilhando ondasMe afogando com o ar que fora meuAli, todos entenderamSubiu outro daquele que desceu

Herbert Weil

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NÃO RESISTA

Não resista Pois quando se entregaLogo se vê a imagemTão esperada surgir, como sempre inesperada, Sobressaltando teus olhosEnquanto tuas mãos trabalham para impressionarE delatar o teu jeito.Eu fico esperando o desenhoSe dentro dele tem algo que me cabeSe talvez por um instante eu estivesse ali; o risco que corta, sinaliza o risco que é serEssa mania de pintar loucuras.Eu gosto quando te vejo em algum corredor eu aplaudo, quando se vestem de ti.E já fica explícito o meu posto de dedicarMeu contemplar infinito Imaginando tuas imagens por aí...

Gabi AmadioBlog: http://poetagabiamadio.blogspot.com.br/

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SEM RECEITAS

Estou doenteE não é qualquer doençaque médico qualquer cure.Enquanto minha rua chove cinzaE o mato cresceAndo doente.A tevê fala qualquer besteira sem importânciaE o mundo correEnquanto estou doente.Não posso tomar uma pílulaNem algum chá azedo feito pela mão da mãe.Estou doente e a cura parece não virE não saiNem com grito, com reza, com choro.Diria que a alma dói se ainda a possuísseDiria que arde mais que álcool na feridaMas nada é comparável.Estou doenteE a cura não veio.

Douglas Diógenes

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VIAGEM

Sempre viajaremos,para longe,sempre para longee para sempre.Em busca de quem somos,viajaremos para quem somos,e por isso tão longe,e para sempre.

e nunca chegaremos,e nunca iremos parare nunca será para sempre viajar,se já nos conhecemos.

mas de tão distantes sonhamos,sonhamos sempre distantesas viagens para onde fomos,até um dia que seremos aqueles de antes,antes de quando sempre sonhamos.

a vida que sonhamos,é o modo que sonhamos a vidaé o gosto da viagem e da despedida,despedida que nunca damos.

César AugustoBlog: http://sempropositodeproposito.blogspot.com.br/

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Através do ato,o homem

se converte em fato.

José Danilo Rangel

Tweet Poético

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Pecados Íntimos nos mos-tra personagens que vivem uma vida de mentiras transbordando dramas pessoais. Difícil não lembrar de “Beleza Americana”. O sonho da classe média de uma bela casa, uma família linda e feliz, mesmo que de mentira. Pecados Íntimos insiste exa-tamente nessa vontade de vencer e de pura perfeição. Todo o drama do filme é acompanhado de uma narração onisciente que nos apresenta os personagens e um pouco de suas vidas como um programa

educativo ou uma fábula. Ao longo do filme toda a pompa e a boa postura de pessoas tão alinhadas acabam destruídas, e a vida de toda a vizinhança torna-se algo irrisório.

Sarah (Kate Winslet) uma in-feliz dona de casa e babá da própria fi-lha, vive enfurnada em seu mundo, assim como o marido que depende tanto de sua dose diária de pornografia que se esquece do mundo real. Brad (Patrick Wilson), um bonitão desesperado para tirar férias da vida adulta, cuja esposa se faz, às vezes,

Pecados Íntimos

uadrouadroa

por Laisa Winter

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de homem da casa e só sente prazer em trabalhar. É por intermédio de Lucy, filha de Sarah, e Aaron, filho de Brad, que os dois acabam se aproximando e se envol-vendo, à vista de todos, principalmente das mulheres da vizinhança que ao mes-mo tempo em que debocham do homem que passeia no parque com o filho, não conseguem disfarçar o olhar de cobiça.

Também temos Ronnie (Jackie Earle Haley) um pedófilo que sai da cadeia após cumprir dois anos por se exibir para crianças. Sua presença na vizinhança é perfeita para que todos esqueçam seus pecados e passem a usá-lo como bode ex-piatório. Afinal, o pecado dele passa todo dia na TV. E por mais que Ronnie não te-nha molestado nenhuma criança, sua pre-sença é perigosa não por ele ser perigo-so, mas por incitar o ódio de pessoas tão desequilibradas quanto ele. É certo que nenhum pai gostaria de um molestador à solta na vizinhança, eu também não.

Em uma noite onde todos cor-rem para resolver suas vidas, Brad, de-siste do plano de fuga após perceber que pode sim continuar com sua vida de dona de casa, assim como Sarah, que ao per-der a filha no parquinho e ao reencontrá--la, pede desculpas aos prantos e ouve um carinhoso - Está tudo bem, mamãe.

Nesse momento fica mais cla-ro a escolha do título original do filme, “Lit-tle children”, uma referência a todos esses

adultos com sonhos infantis que não foram realizados. Já com todos em suas casas reunidos em família, e sem Brad e Sarah ameaçando a ordem da perfeição estabe-lecida pela vizinhança, tudo volta aos tri-lhos sob o relato de um narrador que ao final parece ter se divertido com a folia de seus peões que acabam por voltar cada qual para seu tabuleiro.

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Ficha Técnica

Título Original: Little childrenPaís: Estados UnidosAno: 2006Direção:FIELD, ToddElenco: Kate Winslet - Jennifer Con-nelly - Patrick Wilson - Jackie Earle Haley - Noah Emmerich - Gregg Edel-man - Phyllis Somerville - Raymond J. Barry - Jane Adams - Ty Simpkins - Sadie Goldstein - Helen Carey - Sa-rah Buxton - Mary B. McCann - Trini Alvarado

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 48Foto : Isabel Almeida

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Extra

Saudades do MadeiraPor Gabriel Ivan

O ensaio Saudades do Madeira foi criado a partir do momento em que um artista de Porto Velho (RO) cha-

mado Botôto sentiu o desejo de expressar seus sentimentos e vontades através de uma vida em cena para o espectador,

sobretudo o que tem se tornado cada vez mais contínuo no nosso Rio Madeira. A decrepitude é evidente ao passar do

tempo, deixando de existir um novo espetáculo das nossas águas correntes. Saudades do Madeira traduz a ligação do

homem ao rio, a natureza e traz à população a mensagem de reflexão por nossas ações, assim como traduz uma

mensagem de amor ao meio ambiente.

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Me lambuzei na lama Trazendo um fôlego de vida Porque na ira dos homens Jamais ninguém faria isso Além disso a saudade Me toma cada vez mais Por cada pose que fiz

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 51Foto : Gabriel Ivan

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O sacrifício de mostrar o Rio Madeira Não me impedia Mesmo com a lama Entrando no meu nariz

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 53Foto : Gabriel Ivan

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Foram estes os momentos que passei Coloquei toda minha saudade pra fora Mostrando a falta de cuidados com o Madeira O Rio que a gente nunca esquece Quando viaja pra fora Suas águas reluzem O véu de tecido azul, roxo, vermelho Como se fosse um linho fino Com querubins e anjos desenhados nele

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 55Foto : Gabriel Ivan

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Saudades do Madeira Me fez passar por esta experiência Para mostrar ao povo A nossa falta de consciência

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 57Foto : Gabriel Ivan

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O que nos resta agora É unir nossas mãos E parar essa destruição.

Botôto

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EXPRESSõES! Dez de 2012 | 59Foto : Gabriel Ivan

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DO LEITOR

[email protected]

A EXPRESSõES! tem se moldado ao longo do tempo, e por diversas orientações, uma delas é a opinião dos leitores que sempre dão interes-santes feedbacks a respeito de toda ela, mas, pelo facebook. Se você tem uma crítica, uma sugestão, mande para nós, temos bons ouvidos,

Obrigado.José Danilo Rangel

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ENVIO DE MATERIAL

Para submeter o seu texto, foto ou desenho para a revista EXPRESSõES!, é muito fácil: escreva um e-mail explicitando a vontade de ter o seu tra-balho publicado na revista, anexe o material, na extensão em que ele es-tiver, .doc, .jpeg, e outros, e seus dados (nome, idade, ocupação, cidade) com a extensão .doc, para o endereço:

[email protected]

Para contos, a formatação é a seguinte, fonte arial, 12, espaço simples, máximo de 10 páginas.

Para crônicas, arial, 12, espaço simples, máximo de 5 páginas,

Para poesia, arial, 12, espaço simples, máximo de 10 páginas.

Ainda temos as seções Decodificando, que abarca leituras de diversos temas, e a 10 Dicas, também com proposta de abraçar uma temática di-ferenciada, onde você pode sugerir filmes, revistas, música, conselhos e não sei mais o quê, além dessas, a seção EXTRA, visa abranger o que ainda não couber nas outras seções.

Para fotos ou desenhos, a preferência é por imagens com resoluções grandes, por conta da edição, e orientação retrato, por conta da estética da revista.

A revista EXPRESSõES! sai todo dia 10, de cada mês, então, até o dia 20 de cada mês aceitamos material,

Porto Velho - Outubro de 2012José Danilo Rangel

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EXPRESSõES!mais que dizer - transmitir!