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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS EXPRESSÕES LINGÜÍSTICAS METAFÓRICAS COMO RECURSO ARGUMENTATIVO EM PANFLETOS Graziellen Gelli P. Lima JOÃO PESSOA - PB 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS

EXPRESSÕES LINGÜÍSTICAS METAFÓRICAS COMO

RECURSO ARGUMENTATIVO EM PANFLETOS

Graziellen Gelli P. Lima

JOÃO PESSOA - PB 2007

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Graziellen Gelli P. Lima

EXPRESSÕES LINGÜÍSTICAS METAFÓRICAS COMO

RECURSO ARGUMENTATIVO EM PANFLETOS

Dissertação elaborada por Graziellen Gelli Pinheiro

Lima e apresentada ao Programa Pós-Graduação em

Letras da Universidade Federal da Paraíba, área de

concentração em Lingüística e Língua Portuguesa, com

vistas à obtenção do grau de Mestre em Letras.

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TERMO DE APROVAÇÃO

GRAZIELLEN GELLI PINHEIRO LIMA

EXPRESSÕES LINGÜÍSTICAS METAFÓRICAS COMO RECURSO

ARGUMENTATIVO EM PANFLETOS

Esta dissertação foi julgada e aprovada com distinção para a obtenção do título de Mestre em Letras, área de concentração em Lingüística e Língua Portuguesa, no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Aprovação: João Pessoa, 30 de maio de 2007.

Coordenadora PPLG / UFPB___________________________________________ Elisalva Madruga Dantas

Orientadora: ____________________________________________ Profª. Drª. Lucienne C. Espíndola

1º Examinador: ___________________________________________

Profª. Drª. Emília Maria Peixoto Farias

2º Examinador: ____________________________________________

Profª. Drª. Maria Ester Vieira de Sousa

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DEDICATÓRIA

A minha vovis, Dona Estela, (in memoriam) pelo exemplo de

perseverança, de fé e de vida. Pela lembrança e saudade, está

sempre presente em minha vida.

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AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus, que me confortou nos momentos

difícieis deste trajeto acadêmico;

Ao meu esposo Fábio, por compreender minha ausência emocional em

muitos momentos, pela paciência, pela crença de que tudo, no fim, dá certo e pela ajuda

com a formatação e impressão do trabalho;

À minha mãe, Auxiliadora, que sempre me apoiou com pensamentos

positivos, incentivando-me a continuar superando os obstáculos do dia-a-dia;

Ao grande amigo que conquistei na vida, Hermano, sempre generoso, disposto a

escutar-me e disponível em todos os momentos que precisei.

Às companheiras, do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas,

Ana Berenice e Juliana D’albuquerque, sempre compreensivas e solidárias;

Enfim, a todos os meus amigos que, além de entenderem minhas ausências,

justificadas, incentivaram-me para a realização deste trabalho;

Ao Programa de Pós-Graduação de Letras e Lingüística da Universidade Federal

da Paraíba.

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Agradecimento Especial

À minha orientadora

Profª. Drª. Lucienne C. Espíndola

Pela exigência, intensamente

positiva, pelo comprometimento,

dedicação e responsabilidade para com os

orientandos. Ela é, sem dúvida nenhuma, a

grande responsável pelo nosso crescimento

cultural, social e, precipuamente, pessoal.

Particularmente, se não fosse seu

estímulo, eu não teria chegado aqui. Então,

meu muito obrigada...

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NUNCA ANDES POR EL CAMINO TRAZADO, PUES ÉL

TE CONDUCE ÚNICAMENTE HACIA DONDE LOS

OTROS FUERON.1

GRAHAN BELL

1 Nunca andes pelo caminho traçado, pois ele te conduz apenas até onde os outros foram.

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RESUMO

Neste trabalho buscamos verificar a presença da metáfora conceptual e o funcionamento

argumentativo de expressões lingüísticas metafóricas em panfletos. Utilizamos como

embasamento teórico a Teoria da Argumentação, postulada por Ducrot (1988) e a

abordagem cognitivista, concepção apresentada por Lakoff e Johnson (2002 [1980]),

usada para identificar as expressões lingüísticas metafóricas. A hipótese que norteou

nossa pesquisa foi a de que as expressões lingüísticas metafóricas atualizadoras de

metáforas conceptuais funcionariam como estratégia argumentativa nesse corpus. O

resultado da pesquisa demonstrou a confirmação da hipótese levantada: as expressões

lingüísticas metafóricas funcionaram enquanto recurso argumentativo no referido

corpus.

Palavras-chave: Expressões Lingüísticas Metafóricas; Argumentação; Panfleto.

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RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo buscar la presencia de la metáfora conceptual y el

funcionamiento argumentativo de expresiones lingüísticas metafóricas en volantes. Nos

apoyamos teóricamente en la tesis de Ducrot (1988), con la Teoría de la

Argumentación, y en el abordaje cognitivista, concepción presentada por Lakoff y

Johnson (2002 [1980]), usado para identificar las expresiones lingüísticas metafóricas.

Nuestra hipótesis fue la de que las expresiones lingüísticas metafóricas actualizadoras

de metáforas conceptuales funcionarían como estrategia argumentativa en ese corpus.

El resultado de la investigación demostró la confirmación de la hipótesis: las

expresiones lingüísticas metafóricas han funcionado como recurso argumentativo en los

volantes analizados.

Palabras-clave: Expresiones Lingüísticas Metafóricas; Argumentación; Volante.

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SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................................... i

RESUMEN .................................................................................................................................. ii

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................... 14

1. A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO.................................................................................18

1.1 O auditório da perspectiva de Perelman ...................................................................... 18

1.2 Argumentação em Ducrot ........................................................................................... .18

1.2.1 Polifonia: um recurso lingüístico-argumentativo .................................. .............24

1.2.1.2 Polifonia de locutores .............................................................................. .26

1.2.1.3 Polifonia de enunciadores ........................................................................ .27

2. TRÊS CONCEPÇÕES DA METÁFORA...........................................................................31

2.1 Metáfora: Uma Questão de Referente .................................................................... ......32

2.2 Metáfora: Uma Questão de Transferência de significado ........................................... .37

2.3 Metáfora: Uma Questão de Mapeamento entre Domínios ......................................... .38

2.3.1 Desenvolvimento da Teoria Conceptual............................................................. .38

2.3.2 A Metáfora do Canal .......................................................................................... .40

2.3.3 Cruzamento entre Domínios Conceptuais: a natureza do

mapeamento metafórico .............................................................................................. .45

2.3.4 Representação das Metáforas Conceptuais ......................................................... .48

2.3.5 Classificação das metáforas, segundo os conceptualistas .................................. .49

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2.3.6 Metáfora e Cultura .............................................................................................. .58

2.4 A Metonímia ............................................................................................................... .59

3. A LINGUAGEM DA PROPAGANDA ............................................................................. .63

3.1 Alguns conceitos de propaganda e publicidade ......................................................... .63

3.1.1 Tipos de Propaganda ........................................................................................ .66

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..............................................................70

4.1 Corpus e Método.........................................................................................................70

4.2 Duas faces do panfleto: veículo de comunicação e suporte de gênero........................71

4.3 Por uma caracterização de panfletos...........................................................................76

4.4 Levantamento das metáforas e discussão....................................................................77

4.4.1 Metáforas Orientacionais....................................................................................77

4.4.2 Metáforas Estruturais..........................................................................................82

4.4.3 Metáforas Ontológicas........................................................................................86

4.4.3.1 Personificação............................................................................................90

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 95

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 97

ANEXOS ................................................................................................................................. 102

PANFLETO 1 (P1) ................................................................................................................ 103

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PANFLETO 2 (P2) ................................................................................................................ 104

PANFLETO 3 (P3) ................................................................................................................ 105

PANFLETO 4 (P4) ................................................................................................................ 106

PANFLETO 5 (P5) ................................................................................................................ 107

PANFLETO 6 (P6) ................................................................................................................ 108

PANFLETO 7 (P7) ................................................................................................................ 109

PANFLETO 8 (P8) ................................................................................................................ 110

PANFLETO 9 (P9) ................................................................................................................ 111

PANFLETO 10 (P10) ............................................................................................................ 112

PANFLETO 11 (P11) ............................................................................................................ 113

PANFLETO 12 (P12) ............................................................................................................ 114

PANFLETO 13 (P13) ............................................................................................................ 115

PANFLETO 14 (P14) ............................................................................................................ 116

PANFLETO 15 (P15) ............................................................................................................ 117

PANFLETO 16 (P16) ............................................................................................................ 118

PANFLETO 17 (P17) ............................................................................................................ 119

PANFLETO 18 (P18) ............................................................................................................ 120

PANFLETO 19 (P19) ............................................................................................................ 121

PANFLETO 20 (P20) ............................................................................................................ 122

PANFLETO 21 (P21) ............................................................................................................ 123

PANFLETO 22 (P22) ............................................................................................................ 124

PANFLETO 23 (P23) ............................................................................................................ 125

PANFLETO 24 (P24) ............................................................................................................ 126

PANFLETO 25 (P25) ............................................................................................................ 127

PANFLETO 26 (P26) ............................................................................................................ 128

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PANFLETO 27 (P27) ............................................................................................................ 129

PANFLETO 28 (P28) ............................................................................................................ 130

PANFLETO 29 (P29) ............................................................................................................ 131

PANFLETO 30 (P30) ............................................................................................................ 132

PANFLETO 31 (P31) ............................................................................................................ 133

PANFLETO 32 (P32) ............................................................................................................ 134

PANFLETO 33 (P33) ............................................................................................................ 135

PANFLETO 34 (P34) ............................................................................................................ 136

PANFLETO 35 (P35) ............................................................................................................ 137

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Pelo fato de tantos conceitos, que são importantes para nós, serem ou abstratos ou não claramente delineados em nossa experiência (as emoções, as idéias, o tempo etc.) precisamos apreênde-los por meio de outros conceitos que entendemos em termos mais claros (as orientações espaciais, os objetos etc.). (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980], p. 205)

Partindo-se da tese principal de que a língua é inerentemente argumentativa

(DUCROT, 1988), de que seus usos também o são (ESPÍNDOLA, 2004, p. 13) e da

necessidade de tentar entender seu funcionamento, o objetivo maior desta pesquisa é

demonstrar que expressões lingüísticas metafóricas, atualizadoras de uma metáfora

conceptual, são recursos argumentativos utilizados em panfletos com o objetivo de

conseguir uma maior adesão junto a seus possíveis leitores. Talvez mais que isso,

promover o aumento das vendas de produtos ou serviços por meio desse recurso.

Buscaremos comprovar a hipótese de que expressões lingüísticas metafóricas, que

atualizam uma metáfora conceptual, contribuem para a construção do(s) sentido(s) em

panfletos, constituindo-se, dessa forma, em um mecanismo argumentativo.

A publicação de Metaphors we live by (2002 [1980]), uma parceria feita entre

Mark Johnson e George Lakoff, muito contribuiu para que a metáfora pudesse ser

reconhecida como um fenômeno de natureza conceptual. Nessa compilação, mostrou-se

o importante papel que a metáfora exerce na nossa compreensão do mundo.

É com base, sobretudo, nessa e em outras publicações que justificamos o porquê

de se estudar a metáfora conceptual em panfletos. Ela faz parte, segundo Lakoff e

Johnson, da nossa vida cotidiana, não está apenas na linguagem, servindo tão somente

como um adorno tornando-a mais bela, mas está presente em nossas interações, em

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nossos pensamentos e ações, contribuindo, efetivamente, para a comunicação ordinária.

Contrária à visão clássica em que o fenômeno metafórico era entendido apenas como

um enfeite, um ornamento do discurso, uma manifestação estética que estava

necessariamente presente na linguagem de textos literários, a perspectiva cognitiva

assume a característica de fazer parte do pensamento e de nossas ações cotidianas,

porque compreendemos o mundo e falamos a respeito dele por meio de metáforas

construídas, principalmente, com base em experiências físicas com nossos corpos.

Ademais, incitou-nos averiguar se o panfleto, por vezes ‘discriminado’ por

muitos que não admitem seu real valor comunicativo e que faz uso, quase sempre, da

linguagem corrente, da linguagem diária, apresentaria expressões lingüísticas

metafóricas que atualizassem metáforas conceptuais do dia-a-dia. Contudo, o gérmen

motivador maior foi o fato de que, na literatura pesquisada, não se encontraram estudos

que contemplassem, satisfatoriamente, o panfleto como um veículo comunicativo2 de

múltiplos valores na interação diária. Aliás, em algumas publicações (CORRÊA, 1998;

SAMPAIO, 1999; SANDMANN, 2001) que versam sobre as ciências da comunicação

(turismo, propaganda, publicidade, mídia etc.), pouco é mencionado a respeito desse

meio de comunicação, panfleto. Televisão e rádio são os meios ou veículos de

comunicação sobre os quais mais se tem pesquisas acadêmicas. Capítulos inteiros

discorrem a respeito de sua importância na mídia, assim como também sua

caracterização. Outdoor, mala direta, folder, cartaz também ocupam espaço em

publicações da área de comunicação. Sublinhe-se, no entanto, que não é intenção propor

uma palavra final para todo o universo que o panfleto abarca. Decerto, é inegável que os

contributos deste trabalho pretendem chamar a atenção para a importância que se deve

ter com o panfleto não apenas em trabalhos acadêmicos, mas, e sobretudo, em

publicações (livros) que se detenham em analisá-lo cuidadosamente como o fazem com

outros veículos de comunicação. Particularmente, aqui, apontaremos como a linguagem

se projeta na tessitura textual, por meio de metáforas conceptuais, afinal essa foi uma

das motivações que nos incentivou a pesquisar, com perspicácia e afinco, o panfleto

como constituinte da e na comunicação diária.

Pelos motivos acima citados, queremos comprovar que a abordagem cognitiva,

que se confronta com a forma com que os retóricos entendiam a metáfora, de fato, faz

2 Entenda-se veículo comunicativo como uma forma de referir-se ao panfleto na perspectiva da teoria da

propaganda e/ou publicidade. Em outros momentos estaremos falando sobre ele na perspectiva de Marcuschi como um suporte de gênero. Esses termos serão usados como sinônimos.

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parte de nossas interações no dia-a-dia através de panfletos. Sentimos, além do exposto,

a necessidade de averiguar se expressões lingüísticas metafóricas poderão constituir-se

como mais um mecanismo de argumentação. Pensamos, dessa forma, que o referido

fenômeno contribuirá, mais ainda, com as pesquisas referentes à linguagem, sobretudo,

à linguagem do convencimento.

Para compor o corpus que integra este trabalho, coletamos panfletos em sinais de

trânsito e em estabelecimentos comerciais, no entanto, salientamos que colegas de curso

trouxeram alguns deles de estados vizinhos (Pernambuco, Ceará) também coletados em

sinais de trânsito ou distribuídos em paradas de ônibus. Como critério de seleção, nos

detivemos na presença do texto verbal, ainda que este viesse acompanhado de texto não-

verbal.

Para o primeiro capítulo, julgamos pertinente fazer um recorte de algumas

idéias desenvolvidas pela Teoria da Argumentação, postulada por Oswald Ducrot

(1988) e outros lingüistas que trabalham com a argumentação, dentre os quais Koch

(2001) e Espíndola (2004, 2005). Salientamos conceitos principais acerca da Nova

Retórica postulada por Perelman (1999) tendo em vista que ele conservou, da retórica

tradicional, a noção de auditório. Um conceito básico que orienta todas as atividades de

fala que envolvem as interações e que, segundo seu olhar, carrega uma distinção entre

auditório particular e auditório universal.

Reservamos, para o segundo capítulo, como arcabouço teórico, a visão

Referencialista e Descritivista que foram pautadas pelas exposições feitas,

principalmente, por Leezenberg (2001) e a Cognitivista, explicitada, essencialmente,

pelos trabalhos desenvolvidos pelos norte-americanos Lakoff e Johnson (1993, 2002

[1980]). Contudo, a ênfase ocorreu na última abordagem porque ela será utilizada

somente para a descrição das expressões lingüísticas metafóricas que atualizam

metáforas conceptuais. Antes disso, incluímos também as contribuições de Reddy

(1979) com a metáfora do canal. Seu ensaio The Conduit Metaphor (1979) muito

contribui para o afastamento da tradicional abordagem da metáfora como um mero

desvio da linguagem cotidiana e como um fenômeno de linguagens especiais, como a

poética e a persuasiva, haja vista que investigou, em enunciados lingüísticos, como nós

conceptualizamos metaforicamente o conceito de comunicação.

Ao terceiro capítulo destinamos discussões a respeito de definições e distinções

entre propaganda e publicidade, bem como suas finalidades. Nesse espaço, evidenciamos

como a propaganda, segundo alguns manuais, é construída, e elencamos alguns setores

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que se somam à função dos profissionais dessa área. Para tanto, nos apoiamos em alguns

mestres da área de comunicação como Sandmann (1993), Sampaio (1999), entre outros.

Por fim, o quarto capítulo tem como objetivo apresentar algumas ponderações a

respeito de nosso corpus, com base em Marcuschi (2003) e em teorias da propaganda e

publicidade. A análise e discussão dos resultados constituíram o passo seguinte. A

argumentação entre o locutor e o público-alvo foram vislumbradas a partir de orientações

discursivas decorrentes das expressões lingüísticas metafóricas. Ressaltamos a

possibilidade desta pesquisa ser aprofundada e servir como ponto de partida para o

desenvolvimento de outras.

Vale salientar que o presente estudo está inserido em um projeto maior, MGDA2.

2 Metáfora, Gênero Discursivo e Argumentação - Projeto integrado ao LASPRAT e coordenado

pela Profª. Drª. Lucienne C. Espíndola.

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1. TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO

Dizer que argumentar é uma prática recente nas interações cotidianas seria

rejeitar todo o postulado clássico em que filósofos e gregos se debruçaram, com esmero,

ao longo da história. O interesse pela arte de argumentar era algo latente desde o

homem grego, porque o objetivo vigente era saber falar convincentemente de forma

bonita e elegante nas exposições públicas feitas para propagar idéias. Embora seja um

exercício antigo, argumentar, nos dias atuais, é assunto que permanece em pauta graças

ao universo que abarca.

Para que se possa compreender esse ato astucioso, faz-se necessário um rápido,

porém atento, passeio pelos tratados retóricos. Obviamente, o recuo no tempo, para

tanto, não permitirá dar conta de todos os trabalhos que envolvem a argumentação no

campo da retórica. Todavia, para os fins desta pesquisa, cabe ressaltar estudos pautados

em Perelman (1999) cujo enfoque se dá numa perspectiva mais filosófica.

Este capítulo, assim, tem como ponto de partida a inclusão de reflexões feitas

por Perelman por ele levar em consideração um elemento de fundamental importância e,

portanto, determinante, na elaboração da argumentação – o auditório. A depender do

auditório, a construção do discurso, especificamente no corpus, aqui analisado, panfleto,

veiculará informações diferenciadas.

Numa perspectiva lingüístico-pragmática, retomamos algumas questões de suma

importância, como a polifonia, trabalhadas por Ducrot (1988) e colaboradores.

1.1. O Auditório na Perspectiva de Perelman

Embora de uma linha filosófica, é inegável que os contributos de Perelman só

agregam informações pertinentes no âmbito da linguagem, especialmente da que trata a

língua como inerentemente argumentativa. A propósito disso, afirma Perelman (1999, p.

29):

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Como o fim de uma argumentação não é deduzir conseqüências de certas premissas, mas provocar ou aumentar a adesão de um auditório às teses que se apresentam ao seu assentimento, ela não se desenvolve nunca no vazio. Pressupõe, com efeito, um contacto de espíritos entre o orador e o seu auditório: é preciso que um discurso seja escutado, que um livro seja lido, pois, sem isso, a sua acção seria nula.

Ademais desse objetivo da argumentação, o autor revela-nos que

O auditório não é necessariamente constituído por aqueles que o orador interpela expressamente. [...], deve-se concebê-lo como o conjunto daqueles que o orador quer influenciar pela sua argumentação (PERELMAN, 1999, p. 33).

Convém relembrar, aqui, que a análise de expressões lingüísticas metafóricas em

panfletos, nesta pesquisa, leva em consideração, também, o auditório, que em alguns

momentos chamaremos de público-alvo, nomenclatura usada na área da comunicação.

Dada a sua importância e peculiaridade, vale mencionar que as características do

auditório podem determinar a escolha de determinados fatos e/ ou argumentos que farão

parte de um discurso dirigido a padres, associações não-governamentais ou à reunião de

pais e mestres em uma escola.

Perelman distingue os discursos da seguinte forma: um discurso que é voltado

para um público particular, segundo ele, tem por objetivo persuadir; por outro lado,

quando está direcionado para um auditório universal visa convencer. Tal distinção versa

sobre as intenções que o orador tem, isto é, “pretende ele obter a adesão de alguns ou de

todo ser de razão?” (PERELMAN, 1999, p. 37).

1.2 Argumentação em Ducrot

A teoria da argumentação na língua nasceu da constatação de que certos encadeamentos não se comportavam como o previsto por uma análise semântica clássica. Ascombre e Ducrot postulam que algumas relações argumentativas, que não são retóricas no sentido próprio do

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termo, não estariam acrescentadas ao valor semântico fundamental do enunciado, mas deveriam ser consideradas elas mesmas como fundamentais, como lingüísticas no sentido pleno, isto é, presentes desde o nível mais profundo de análise (ESPÍNDOLA, 2004, p. 18).

A tradição lógico-filosófica, cujo postulado é o de que a função primária da

língua é representar a realidade, vai de encontro ao pensamento da Teoria da

Argumentação proposta por Ascombre e Ducrot, uma vez que essa teoria se reveste de

autoridade e nega que a função primordial da língua estaria reduzida a uma questão de

referenciação.

Ducrot afirma que sua teoria da argumentação (1988, p. 49) está destinada a se

opor à tradicional concepção de sentido. Revela-nos, ele, na primeira conferência da

Teoria da Argumentação, que o sentido de um enunciado está distinguido nas

indicações abaixo, todavia convém dizer que é a essa concepção de sentido à qual se

contrapõe Ducrot:

[…] objetivas, subjetivas e intersubjetivas. Las indicaciones objetivas consisten en una representación de la realidad, las subjetivas indican la actitud del locutor frente a la realidad y las intersubjetivas se refieren a las relaciones del locutor con las personas a quienes se dirige.

Para demonstrar, na prática, o funcionamento dessas distinções, Ducrot traz a

seguinte sentença:

( 1 ) Pedro es inteligente3.

Observa, então, que o aspecto objetivo caracteriza a descrição de Pedro e uma

espécie de admiração do locutor por Pedro indica o aspecto subjetivo, por último, o

aspecto intersubjetivo é alicerçado porque permitiria ao locutor pedir confiança ou não

em Pedro a seu destinatário. O autor enfatiza essa distinção trazendo a análise do

seguinte enunciado:

3 Trad.: Pedro é inteligente.

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( 2 ) Hace buen tiempo4.

Há, nesse enunciado, o aspecto objetivo porque descreve o tempo num dado

momento: diz que não está chovendo, não há ventos, nem nuvens. Por outro lado, revela

o aspecto subjetivo porque o enunciado indica que o locutor faz uma avaliação positiva

a respeito do tempo (mesmo que o locutor não goste do ‘tempo bom’, o fato de ele usar

o adjetivo buen revela uma avaliação positiva do tempo, indicando, portanto, uma

espécie de apreciação perante o tempo). Além desses dois aspectos, afirma o autor que

esse mesmo enunciado veicula o aspecto intersubjetivo porque pode permitir que o

locutor proponha um passeio ao seu interlocutor.

Freqüentemente, diz Ducrot que o aspecto objetivo é chamado de denotação e de

conotação chamam-se os aspectos subjetivo e intersubjetivo. O autor, no entanto, se

opõe, como dito anteriormente, a essa interpretação e, em contraposição à concepção

tradicional de sentido, apresenta sua teoria. Complementa, ainda, seu pensamento

dizendo que a linguagem ordinária não possui uma parte objetiva, tampouco os

enunciados descrevem a realidade. Daí, ele objetiva

[...] suprimir esta separación entre denotación y connotación por las razones que explico en seguida. No creo que el lenguaje ordinario posea una parte objetiva ni tampoco creo que los enunciados del lenguaje den acceso directo a la realidad; en todo caso no la describen directamente. (DUCROT, 1988, p. 50)

Como forma de fortalecer sua contraposição à tradicional concepção de sentido,

o autor retoma a sentença (1) para dizer que o fato de o locutor afirmar ser Pedro uma

pessoa inteligente implica naturalmente que o locutor sugere ao seu interlocutor que

este se comporte de um jeito com Pedro. Isto é, “el aspecto objetivo se hace a través de

la expresión de una actitud y a través también de un llamado que el locutor hace al

interlocutor” ( DUCROT, 1988, p. 51), razão primeira, assumida por Ducrot, para

rechazar a distinção apresentada acima.

Ainda que a proposta de Ducrot seja a de estudar a estrutura da língua, parece-

nos pertinente chamar a atenção para o fato de que, em alguns momentos do

4 Trad.: Faz bom tempo.

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desenvolvimento de sua teoria, faz menção ao uso5 da língua. Quer dizer que a escolha

de uma palavra e não de outra, num dado contexto, permite o progresso ou não de uma

conversa. Para corroborar esse pensamento, Ducrot retoma a sentença Pedro es

inteligente afirmando não ser possível seguir seu discurso completando que luego no

podrá resolver ese problema. Muito mais coerente seria a construção Pedro es

inteligente, luego podrá resolver ese problema. Para que a primeira ‘possibilidade’ de

leitura (Pedro é inteligente, mas é incapaz de resolver esse problema) fosse ‘verdadeira’,

a construção da sentença deveria ser Pedro es inteligente pero no podrá resolver ese

problema. A inclusão do lexema pero no lugar de luego nos faz crer que, de fato, o

emprego de uma palavra funciona argumentativamente no discurso.

Segue, o autor, complementando sua tese em relação ao sentido, postulando que

“La palabra sentido significa por lo menos dos cosas. Por una parte significación y por

otra parte dirección” (DUCROT, 1988, p. 52), isto é, a polissemia que a palavra sentido

carrega nas línguas românicas é significativa porque indica que “el sentido de una

palabra es al mismo tiempo una orientación en el discurso” (DUCROT, 1988, p. 52).

Observe-se, assim, que a argumentação relaciona-se tanto ao sentido do enunciado

como à direção que este dá ao discurso.

Convém apontar, aqui, algumas noções semânticas que Ducrot julga

indispensáveis para que se entenda a Teoria da Argumentação. Noções de frase e

enunciado, significação e sentido não devem ser confundidas nessa teoria.

Assevera Ducrot que a distinção da primeira oposição, frase e enunciado, acima

explicitada, repousa na seguinte explicação. Se um falante profere três vezes seguidas a

sentença Hace buen tiempo (Faz bom tempo) significa que se tem três enunciados

sucessivos de uma única frase em espanhol. “Esto significa que el enunciado es, para

mi, una de las múltiples realizaciones posibles de una frase” (DUCROT, 1988, p. 53),

sendo, portanto, uma realidade empírica porque se pode observar quando um falante

‘fala’. Por outro lado, segundo explica o autor (DUCROT, 1988, p. 53), “La frase por el

contrario es una entidad teórica. Es la construcción del lingüista que le sirve para

explicar la infinidad de enunciados”. Como conseqüência, a frase não pode ser

observada porque não escutamos e não vemos frases, apenas escutamos enunciados.

Para explicar a segunda distinção significação e sentido, se posiciona Ducrot da

seguinte forma. “Por definición llamaré significación al valor semántico de la frase y

5 Saliente-se que os resultados de pesquisas desenvolvidas no LASPRAT apontam para o fato de que

tanto a língua como seu uso, adendo feito por Espíndola, são argumentativos.

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sentido al valor semántico del enunciado (es decir, de la realización de la frase). La

frase tiene pues una significación y el enunciado un sentido” (DUCROT, 1988, p. 57).

Apesar de, na acepção do autor, ser essa distinção arbitrária e terminológica, não

pretende, contudo, corresponder a todos os usos que geralmente se faz das palavras

significação e sentido.

Além dessas noções, revela Ducrot que o discurso é constituído por uma

sucessão de enunciados e que o discurso D pode ser fragmentado nos enunciados e1, e2,

e3 etc. e que cada um desses enunciados é a realização de uma frase. Há uma regra,

segundo Ducrot, que serve para aplicar essa segmentação.

supongamos que un discurso tenga los segmentos sucesivos S1 y S2. Si el segmento S1 tiene sentido solamente a partir del segmento S2, entonces la secuencia S1+S2 constituye un único enunciado. En otras palabras, si S1 hace alusión a S2, diré que hay un solo enunciado e que contiene a la vez los dos segmentos S1 y S2. (DUCROT, 1988, p. 53, 54)

( 3 ) Hace calor afuera, vamos a pasear6.

Para explicar a regra, citada anteriormente, aponta Ducrot para o contexto em

que, na Europa, o calor é uma razão para sair e passear. S1 Hace calor afuera é um

argumento para S2 vamos a pasear, constituindo-se, ambos, em um só enunciado.

Segundo o autor, em virtude da função argumentativa do enunciado acima, o primeiro

segmento não comporta uma informação completa. S1 não se torna compreensível se

não se conhece o segundo segmento. Aplica Ducrot essa tese também à sentença abaixo

para confirmá-la.

( 4 ) Hace calor afuera, no vamos a pasear7.

É perfeitamente possível que as sentenças (3) e (4) sirvam de argumento, em

uma situação européia, favorecendo ou não um passeio. O primeiro segmento,

notadamente, não veicula o mesmo sentido em (3) e em (4), porque, no primeiro

enunciado, o calor favorece o passeio, proporciona um exercício físico agradável. Por

6 Trad.: Faz calor lá fora, vamos passear. 7 Trad.: Faz calor lá fora, não vamos passear.

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outro lado, o segundo enunciado denota um sentido, para o calor, bem diferente em

relação ao primeiro por representar algo desagradável, que causa irritação. Ducrot diz

que o calor, nos dois enunciados, não é o mesmo. Não significa que, por se utilizar a

mesma palavra, em (3) e em (4), estejamos dizendo a mesma coisa nos dois discursos.

Dadas as diferenças entre enunciado (realidade empírica e observável) e frase

(entidade teórica, construída pelo lingüista), sentido (valor semântico do enunciado) e

significação (valor semântico da frase), o lingüista (DUCROT, 1988, p.56) define a

“língua como um conjunto de frases e descrevê-la é descrever as frases dessa língua”.

A Teoria da Argumentação, tese defendida por Ascombre e Ducrot (1994),

passou, durante seu desenvolvimento, por reformulações. A partir da constatação da

evolução dessa teoria, ela passa a ser dividida em quatro fases: Descritivismo Radical,

Descritivismo Pressuposicional, Argumentação como Constituinte da Significação e

Argumentatividade Radical. Outra fase denominada de Teoria dos Blocos, atualmente,

está sendo fonte de pesquisa. Contudo, é necessário dizer que tais fases não serão

contempladas neste estudo em razão de, primeiro, não ser fonte de nossa investigação e,

em segundo, por já terem sido apontadas em trabalhos acadêmicos.

1.2.1. Polifonia: um recurso lingüístico-argumentativo

Convém, aqui, fazer uma breve incursão no estudo polifônico proposto por

Ducrot por representar uma tática argumentativa muito usada em gêneros discursivos os

mais diversos. Ducrot (1987) propõe sua teoria levando em consideração uma oposição

à tese da unicidade do sujeito falante. Partindo das idéias de Bakhtin, Ducrot não enfoca

suas análises sobre textos como faz o teórico russo, porém centra suas análises em

enunciados que constituem esses textos. Assim, Ducrot quer provar que um enunciado

pode ser perpassado por outras vozes e/ou por vários sujeitos. Além das ligeiras

distinções, acima expostas, o autor faz outras de igual importância para que se possa

entender sua teoria.

No entanto, antes de apresentá-las, é importante destacar a origem do termo

polifonia. Proveniente do universo musical, designa um tipo de composição musical em

que se entrecruzam diversas vozes. Bakhtin, segundo Ducrot (1988), empregou o termo

polifonia para caracterizar e opor duas formas de literatura. Chama a primeira de

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dogmática, a una literatura en la cual se expresan bien sea una sola voz, la del autor (en el caso de una exposición teórica, de un ensayo), o bien varios personajes que de alguna manera son juzgados por el autor, de tal suerte que a cada momento el lector escucha la voz del autor decir lo que debe pensar de tal o cual personaje (1988, p. 15).

E a segunda é chamada de

Popular, polifónica o aun carnavalesca, existen varios personajes que se presentan por si mismos, como las máscaras del carnaval. No son juzgados por el autor y el sentido global de la novela o de la obra resulta sencillamente de la confrontación de esos personajes, sin que el autor dé a entender su propio punto de vista (1988, p. 15).

Quando Ducrot traz o termo polifonia para a Lingüística pretende mostrar que o

autor do enunciado “no se expresa nunca directamente, sino que pone en escena en el

mismo enunciado un cierto número de personajes” (1988, p. 16).

Retomando as distinções, inicialmente apontadas, em relação ao texto e ao

enunciado, Ducrot revela-nos que o sujeito da enunciação pode ser identificável através

de três funções muito diferentes. O sujeito empírico (SE) é o autor efetivo, o produtor

do enunciado. Determiná-lo, entretanto, não é uma tarefa fácil. Por exemplo, no caso de

uma circular administrativa, a quem atribuir a responsabilidade do enunciado - à

secretária, ao funcionário que ditou a carta ou ao superior que tomou as decisões?

O locutor (L) é o provável responsável pelo enunciado, ou seja, é a pessoa a

quem se atribui a responsabilidade da enunciação. É a ele que se refere o pronome eu e

as marcas de primeira pessoa do discurso. A distinção entre L/SE permite conceder a

fala a personagens incapazes de falar, como por exemplo, as lixeiras nas ruas que

apresentam escrito Não hesite em utilizar-me em que o pronome me remete à lixeira,

que não é SE, mas se apresenta como L. Ducrot explica ainda que é possível fabricar

enunciados sem L, enquanto que, com exceção de um milagre, um enunciado sempre

tem um SE. Esses enunciados sem locutor estão para a história em posição aos outros,

onde está marcado o locutor e que pertencem ao discurso.

O enunciador (E) corresponde ao ponto de vista que o locutor apresenta em seu

discurso. Em outras palavras, “no son personas sino “puntos de perspectiva” abstractos”

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(DUCROT, 1988, p. 20).

Conforme identifica Ducrot, a polifonia pode ocorrer em dois níveis: no nível do

locutor e no nível do enunciador. Passaremos a discorrer no próximo tópico sobre a

polifonia de locutores.

1.2.1.2. Polifonia de Locutores

Se o discurso de outro locutor é inserido na enunciação, ocorre a chamada

polifonia explícita ou de locutores, quer dizer, constatam-se pelo menos dois locutores

distintos, isto é, “(...) uma pluralidade de responsáveis dados como distintos e

irredutíveis” (DUCROT, 1987, p. 182).

Por definição, entendo por locutor um ser que é, no próprio sentido do enunciado, apresentado como seu responsável, ou seja, como alguém a quem se deve imputar a responsabilidade deste enunciado. É a ele que se refere o pronome eu e as outras marcas de primeira pessoa (DUCROT, 1987, p. 182)

Com base nessa assertiva, podemos elencar, como forma de exemplificação,

alguns recursos lingüístico-discursivos da polifonia de locutores. São eles: o uso de

aspas, o discurso relatado nas formas de estilo direto e indireto, citações, argumentação

por autoridade, nas formas de autoridade polifônica e arrazoado por autoridade8 etc.

Salientamos que citaremos os exemplos mais pertinentes para nosso trabalho. Vejamos

a análise abaixo:

Carla me falou: Eu irei cedo

Nesse exemplo, há duas marcas de 1ª pessoa, atribuídas a dois locutores

distintos. O L1 (me) é atribuído a um locutor, responsável pelo discurso como um todo,

e o L2 (eu) é atribuído a outro locutor. Quer dizer que essa enunciação apresenta-se

como dupla porque “o próprio sentido do enunciado atribuiria à enunciação dois

8 A propósito da argumentação por autoridade ver NASCIMENTO, E. P. do P. Jogando com as vozes do

outro: a polifonia – um recurso modalizador – na Notícia Jornalística. João Pessoa, 183p. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Federal da Paraíba, 2005.

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locutores distintos, eventualmente subordinados” (DUCROT, 1987, p. 186).

Em relação ao discurso relatado, Ducrot diz que tal discurso “procura reproduzir

na sua materialidade as palavras produzidas pela pessoa de quem se quer dar a conhecer

o discurso” (1987, p. 186). A língua escrita disponibiliza uma série de marcas para

reconhecermos que relatar é dizer que as palavras foram usadas pelo autor desse

discurso. Comumente são empregadas as aspas, o travessão, os dois pontos etc.

Em relação às aspas, a partir de Authier, Koch (2001, p. 53) enumera diferentes

funções, na operação de distanciamento. Dentre as diferentes funções, destacamos

apenas as aspas de diferenciação por ela representar a polifonia:

a) aspas de diferenciação – para o locutor mostrar que se distingue daquele que usa a palavra – “que somos irredutíveis” às palavras mencionadas”;

1.2.1.3 Polifonia de Enunciadores

Chamo de “enunciadores” estes seres que são considerados como se expressando através da enunciação, sem que para tanto se lhe atribuam palavras precisas; se eles “falam” é somente no sentido em que a enunciação é vista como expressando seu ponto de vista, sua posição, sua atitude, mas não, no sentido material do termo, suas palavras (DUCROT, 1987, p. 192)

Após mencionar alguns recursos lingüístico-discursivos que caracterizam a

polifonia de locutores, cabe, neste item, discorrer sobre o outro tipo de polifonia

apresentado por Ducrot. A polifonia de enunciadores é aquela em que “o próprio sentido

do enunciado atribuiria à enunciação dois locutores distintos, eventualmente

subordinados” (DUCROT, 1987, p. 186).

O locutor assume posições diferentes em relação a esses enunciadores, ora

aprovando-os, ora assimilando-se a eles, ora rechaçando-os. Ressalte-se, no entanto, que

essa atitude não se refere apenas à polifonia de enunciadores, mas está presente também

na polifonia de locutores.

De uma maneira análoga, o locutor, responsável pelo enunciado, dá

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existência, através deste, a enunciadores de quem ele organiza os pontos de vista e as atitudes (DUCROT, 1987, p. 193).

Como recursos lingüístico-discursivos da polifonia de enunciadores, Ducrot cita

a pressuposição, o humor e a ironia, a negação, entre outros que demonstram qual a

posição assumida pelo locutor frente ao enunciador. A análise da sentença abaixo

revela-nos um exemplo da polifonia de enunciadores:

(5) Creo que vamos a tener éxito, pero nada hay seguro en la vida9.

Nessa sentença (5), Ducrot nos mostra quatro enunciadores.

El primer enunciador E1 cree en el éxito y L se identifica con este enunciador. El enunciador da como objetivo a la enunciación mostrar su optimismo. El enunciador E2 concluye, a partir del éxito, hacia un optimismo absoluto, enunciador que es rechazado por el locutor. Ahora tenemos … pero nada hay de seguro en la vida, que es el punto de vista que presenta la falta de certeza frente a las cosas en la vida, atribuyendo a E3.El punto de vista del enunciador E3 es un elemento de la sabiduría universal. No puedo decir que el locutor se identifica con él, simplemente le da su aprobación. Finalmente tengo un enunciador E1 que a partir de la falta de certeza, concluye que el optimismo no debe ser absoluto. El locutor se identifica con este enunciador (DUCROT, 1988, p. 71).

Aferiu-se, anteriormente, que a língua oferece recursos lingüísticos variados que

nos autorizam a construir discursos polifônicos (perspectiva de Ducrot) e,

conseqüentemente, argumentativos também. Dentre eles, destacamos, a partir de

Ducrot, a pressuposição, uma vez que “nela o locutor atualiza dois enunciadores e

assume duas diferentes posições com relação a eles: aprova um e se identifica com o

outro” (NASCIMENTO e SILVA, 2005, p. 72)10.

Tomemos um exemplo clássico, trazido por Ducrot (1988, p. 66) para ilustrar a

pressuposição.

(6) Pedro dejó de fumar11.

9 Trad.: Penso que vamos ter sucesso, mas não há nada seguro na vida. 10 NASCIMENTO, E. P. do; SILVA, J. M. da. A pressuposição: um recurso polifônico na carta pessoal. In: Argumentação na língua: da pressuposição aos topoi. Editora Universitária. João Pessoa, 2005. 11 Trad.: Pedro deixou de fumar.

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Há dois enunciadores nessa sentença. E1 – Pedro fumaba antes12 e E2 – Pedro

no fuma ahora13. Daí, apreende-se que o primeiro enunciador é descrito como o

pressuposto e, em relação a ele, a posição de L é de aprovação. Já em relação ao E2,

descrito como conteúdo posto, a posição de L é de identificação porque

(…) lo que comúnmente se llama presuposición es aquello a lo cual el locutor da su aprobación y lo que se llama “lo afirmado” es aquello con lo cual el locutor se identifica (DUCROT, 1988, p. 67)14.

O ponto de vista expresso no sentido literal das palavras do enunciado é

denominado de posto. Já o pressuposto é o ponto de vista inferido a partir da enunciação

dessas palavras. Por isso não pode ser colocado em dúvida, já que ele não é declarado,

mas inferido. Nesses termos, não se pode contestar E1, apenas E2 visto que a

contestação só ocorre no nível do posto.

A partir do universo que abarca o estudo polifônico desenvolvido por Ducrot, e

seus colaboradores, podemos falar um pouco sobre a relevância dos estudos tanto no

âmbito da polifonia de locutores quanto no da polifonia de enunciadores.

É de fundamental importância afirmar que a posição do locutor, em relação aos

outros locutores ou enunciadores trazidos para o discurso, está diretamente vinculada às

funções argumentativas provenientes de tais posições. Isto é, por meio de recursos

lingüístico-discursivos (uso de aspas, discurso relatado, pressuposição etc.), podemos

identificar os responsáveis pelo discurso, assim como também, os pontos de vista

presentes num enunciado. O locutor, ora pode identificar-se com um dos E, como é o

caso da asserção, em que o L apresenta um ponto de vista e o assume. Identificar-se

com E quer dizer impor o ponto de vista desse enunciador. Ora pode dar sua aprovação

a um E; o L concorda com o E mesmo que o enunciado não tenha como objetivo fazer

admitir o ponto de vista desse (pressuposição). L pode, ainda, opor-se a um E, ou seja,

rechaça um ponto de vista. É o caso do humor: L apresenta um ponto de vista absurdo

que ele mesmo rechaça sem apresentar outro ponto de vista suscetível de corrigir o

primeiro.

12 Trad.:Pedro fumava antes. 13 Trad.: Pedro não fuma agora. 14 Trad.: o que comumente se chama de pressuposição é aquilo que o locutor aprova e o que se chama de

“o afirmado” é aquilo com o qual o locutor se identifica.

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Com base na exposição acima, podemos dizer que a posição do locutor trazida

para o discurso é relevante para que se possa entender a intenção(ões) pretendida(s) com

um X discurso ou com o uso de determinado recurso lingüístico-discursivo.

Este capítulo teve como foco principal a exposição de algumas idéias propostas

por autores que se interessam pelos estudos que envolvem os postulados da

argumentação. Desde os gregos é sabido que o objetivo de conseguir a atenção e/ou

tentar ‘vender’ uma idéia ou outra coisa já era um intento com fins de convencer o

outro. Embora, na antiguidade clássica, não houvesse tantos recursos como há, nos dias

atuais, o homem daquela época já demonstrava interesse em propagar suas idéias

‘convincentemente’. Posteriormente ao homem grego e as suas tentativas de

convencimento, o filósofo Perelman trouxe à tona o importante papel que o auditório

desempenha na construção do discurso seja ele de cunho religioso, filosófico ou

político. Grande contribuição que, somada aos estudos da argumentação pautados em

Ducrot, vem corroborar a tese de que tanto a língua, segundo o próprio Ducrot (1988),

como os usos que o falante faz dela, adendo feito por Espíndola (2004) à tese de Ducrot,

são inerentemente argumentativos.

Não podemos deixar de (re)lembrar que o recorte e a incursão na polifonia como

recurso lingüístico-discursivo é pertinente porque, quando da análise do corpus,

evidenciaremos a polifonia também como uma estratégia argumentativa que não

podemos deixar de enfocar na análise de expressões lingüísticas metafóricas que

atualizam metáforas conceptuais, como se verá no último capítulo.

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2. TRÊS CONCEPÇÕES DA METÁFORA

Este capítulo tem como objetivo apresentar três perspectivas da metáfora.

Salientamos, no entanto, que a ênfase será dada a abordagem de Lakoff e Johnson por

ser esta a perspectiva utilizada para identificar as expressões lingüísticas metafóricas

atualizadoras de metáforas conceptuais.

De acordo com Moisés (1978), uma parte da complexidade que o estudo da

metáfora abarca provém de suas ligações com outros recursos estilísticos que hoje, em

parte da literatura, reduziu-se meramente às figuras de linguagem ou de pensamento.

Decerto, parece-nos óbvio que as pesquisas que envolvem o estudo da metáfora

ressurgem, com maior ou menor ênfase, pautadas, embora em ‘novas formas’, na velha

retórica clássica de onde é ressuscitada para tomar seu lugar de destaque. Veremos,

neste capítulo, algumas questões pertinentes sobre algumas abordagens teóricas que

envolveram o fenômeno metafórico ao longo da história.

Apresentaremos algumas características de três visões ou, também chamadas,

correntes da metáfora: Referencialista, Descritivista e Conceptualista. As explanações

referentes às primeiras correntes serão pautadas, sobretudo, nas exposições de

Leezenberg (2001) enquanto que a corrente Conceptualista será desenvolvida, levando-

se em consideração estudos desenvolvidos sobre a metáfora por Lakoff e Johnson

(2002, 1993), Barcelona (2003), Kovecses (2002), entre outros. A última abordagem

terá um espaço maior não porque consideramos as outras menos importantes. Pensar

nesses termos seria, no mínimo, uma atitude pouco coerente com uma investigação

acadêmica. Mais que isso, seria esquecer todos os tratados literários que durante anos e

anos se dispuseram a cuidar com esmero desse tema. A abordagem cognitiva perpassará

um caminho mais longo por ser a norteadora para a identificação das expressões

lingüísticas metafóricas, tendo em vista que é por meio dessa perspectiva, com a teoria

da argumentação, que verificaremos se a presença e o funcionamento de expressões

lingüísticas metafóricas constituem-se em um mecanismo argumentativo usado em

panfletos.

Não nos propomos esgotar todas as possibilidades de mostrar como a metáfora

foi analisada no decorrer da história até porque não seria possível. O intuito, aqui, é

denotar alguns pontos de vista de três correntes a respeito da metáfora, desde os

retóricos, Aristóteles, Cícero e Quintiliano, até os cognitivistas, Lakoff e Johnson,

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destacando algumas características relevantes de cada uma delas e apontando algumas

críticas teóricas pertinentes que são feitas por alguns estudiosos do fenômeno

metafórico.

2.1. Metáfora: Uma Questão de Referente

O estudo da metáfora, que remonta ao período clássico, foi (e continua sendo)

visto como um fenômeno puramente lingüístico, apenas de arte e retórica. Reconhecida

como uma mera figura de linguagem, desde Aristóteles, não despertava muito interesse

entre os estudiosos daquela época, especialmente os que tratavam o estudo da

linguagem como uma ciência. De certo modo, era um recurso de deleite e prazer apenas

utilizado pelo poeta, pois, além de a metáfora não ter sido considerada como um objeto

de estudo de caráter científico, somente o poeta era capaz de falar e/ou escrever por

meio de metáforas. Os estudos sobre a questão da metáfora alertavam para o fato de que

ela era uma linguagem figurada, servindo como instrumento de embelezamento para o

discurso. Quando alguém quisesse falar de um dado tema que não envolvesse

ornamentação poética, deveria fazer uso de um discurso literal, portanto, sem o emprego

de metáforas.

Embora não gozasse de muito prestígio entre os que diziam ‘fazer ciência’ com

o estudo da linguagem, durante certo tempo, segundo Leezenberg (2001), a abordagem

referencialista, que descrevia o efeito da metáfora em termos de uma semelhança entre

os referentes contida nas expressões, obteve uma ênfase respeitável.

Cícero e Quintiliano, filósofos e retóricos clássicos, conforme Leezenberg

(2001), entendiam a metáfora de maneira semelhante. Para o primeiro, a resposta para a

interpretação da metáfora advinha da semelhança entre os referentes das palavras. A

origem da metáfora residia na necessidade de se buscar expressar noções para as quais

não existiam palavras. Isto é, se não houvesse uma palavra para expressar um

determinado sentido, então, buscar-se-ia, através da similaridade entre os objetos

indicados, uma outra que pudesse representar o sentido pretendido. Através dessa

semelhança, a palavra que era, figurativamente, emprestada de outro campo semântico

fazia com que uma propriedade, até então, aparentemente, ‘desconhecida’ se tornasse

conhecida.

Para corroborar esse pensamento, discorre Aristóteles (s/d, p. 177) que

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[...] as metáforas não devem ser tomadas de longe, mas de objetos que pertençam a um gênero próximo ou a uma espécie semelhante, de maneira que se dê um nome àquilo que até aí não o tinha e veja-se claramente que o objeto designado pertence ao mesmo gênero.

Vejamos, através do exemplo apresentado por Leezenberg (2001), como a

citação, acima levantada, se confirma.

(1) Rica colheita.

Nessa sentença, não há, pelo menos de forma aparente, nenhuma expressão que

indique abundância específica para a palavra colheita, de modo que a palavra rica é

tomada do campo das ciências econômicas para, assim, expressar a idéia de fartura que

não é ‘própria ou peculiar’ para se falar de terra. A metáfora, dito de outra forma, seria

entendida como uma espécie de comparação abreviada ou condensada porque não se

utilizava o elemento comparador, este era colidido quando se falasse por meio de

metáforas. É mister que a metáfora seja tirada da analogia, que se aplique a ambos os

termos e provenha de objetos pertencentes ao mesmo gênero, de acordo com Aristóteles

(p. 182), essa é uma característica ímpar da metáfora.

Segundo os estudiosos clássicos, a origem da metáfora estava pautada na

necessidade de se expressar noções para as quais não existiam palavras. Isto é, por meio

da similaridade existente entre os objetos indicados e a palavra usada figurativamente, o

falante fazia com que uma propriedade não relacionada com a palavra - porque

normalmente é utilizada em outro contexto, por exemplo, a palavra rica das ciências

econômicas - se tornasse utilizada em outro lugar ‘pouco comum’. É conveniente, além

do exposto, mostrar que para Aristóteles (p. 177)

É preciso também que a metáfora seja tomada de coisas belas; ora, a beleza de uma palavra, [...] reside quer nos sons, quer na significação; o mesmo se diga da sua fealdade.

Leezenberg (2001) chama a atenção para o fato de que, para Cícero, a

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interpretação correta da palavra que é utilizada metaforicamente só é justificada pela

similaridade entre o referente. Cícero define a metáfora como uma compreensão da

similitude dentro de uma única palavra que é posta em um lugar diferente, pouco usual,

como ocorre com a palavra rica. Isto é, por meio da similitude que essa palavra contém

com o que se quer expressar sobre como foi a colheita é que se dá essa interpretação.

Leezenberg (2001) diz que Cícero não vê problemas em se usar nome de alguma coisa

para referir-se a outra. No entanto, para que se considere uma metáfora com status de

boa, o falante deveria evitar uma falsa analogia, semelhanças que fossem distantes ou

ainda deveria impedir a vulgaridade, por uma questão de efeito não-estético, porque a

estética coloca as coisas tão visíveis aos nossos olhos que quando se utilizasse da

vulgaridade esse efeito seria “destruído”. Todavia, alerta Leezenberg, Cícero não nos

explica como o deslocamento que envolve a metáfora surge da simples compreensão de

uma similaridade.

Quintiliano concorda com Cícero no que tange à naturalidade que o falante

possui para expressar inconscientemente metáforas. Segundo Leezenberg (2001), para

Quintiliano, essa não-consciência se dava pelo fato de que eram utilizadas porque eram

necessárias para revestir a expressão com ares de belo. Esse retórico não sugere que a

metáfora seja desviante ou imprópria por definição, porém o seu uso, em contextos

específicos, pode não ser adequado.

Desde Cícero e Quintiliano, as idéias que envolvem o fenômeno da metáfora têm

sido fonte de investigação. Entretanto, as reflexões desenvolvidas por tais filósofos não

se restringem ao período clássico. Discutidas, nos dias de hoje, entre diversos autores

(HENLE – 1958, MOOIJ – 1976, FOGELIN – 1988, apud LEEZENBERG 2001), há

três características peculiares à visão referencialista contemporânea, as quais encerram

contradições, dificultando, muitas vezes, sua compreensão.

A primeira delas é a correlação acentuada entre metáfora e símile elíptico. Nessa

questão, sugere-se que o significado literal de uma metáfora seria equivalente ao de uma

comparação. Salientamos que os exemplos (de 1 a 9) foram dados por Leezenberg

(2001) para corroborar a tese da metáfora defendida tanto pela abordagem

referencialista como pela descritivista.

(2) O homem é um lobo.

Nessa sentença (2), os autores, já citados, nos explicam que o homem, na

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realidade, não é, necessariamente, um lobo, mas diz-se que grande parte dos homens é

como (elemento comparador elidido) um lobo. Nessa perspectiva, argumentam os

referencialistas que a comparação torna-se mais fraca do que a metáfora, ou seja,

quando o elemento comparador é introduzido na sentença provoca um certo

‘empobrecimento’ no discurso, tornando-o, assim, menos belo.

Para essa abordagem, definir a metáfora como símile elíptico implica dizer que o

significado está apenas abreviado, como se fosse apenas uma questão da presença ou

não da partícula como.

A segunda característica relevante para os autores referencialistas é a questão de

que se toma o referente das expressões usadas para determinar a interpretação da

metáfora. É necessário recuperar, para a compreensão da metáfora, mais informações do

que apenas o termo comparante (como, tal qual etc.).

(3) John é um leão.

Levando-se em consideração a abordagem referencialista, a sentença (3), acima,

deve ser entendida pelo fato de que John e leão compartilham a propriedade da bravura.

Fato que deve ser esclarecido é que esse ponto, de acordo com Leezenberg, apenas é

apresentado pelos autores clássicos, deixando, assim, uma lacuna no que se refere à sua

explicação.

Do mesmo modo que a segunda característica é uma conseqüência natural da

primeira, assim também o é a terceira em relação à segunda. Os referencialistas dizem

que a metáfora é derivada no sentido de que é uma função da interpretação literal. A

verdade é que eles não explicam, de maneira clara e satisfatória, a relação exata entre o

que seriam ou como se constituiriam a interpretação literal e a figurativa da metáfora;

apenas nos deixam supor que as metáforas teriam uma espécie de duplo sentido: o

sentido literal, que serve como base, e o figurativo, que é derivado daquele e que ambos

os significados, de certa forma, são ativos.

Leezenberg (2001) apresenta alguns problemas na abordagem do fenômeno

metafórico. A primeira questão problemática é que “a noção de comparação ou de

similaridade não explica ou reduz de alguma forma o aspecto figurativo da metáfora:

comparações podem ser tão figurativas quanto metafóricas” (LEEZENBERG, 2001, p.

73).

Em (2), parte de uma provável similaridade entre homem e lobo não é o bastante

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para explicar a aceitação ou fundamentar a metáfora.

Sentenças como

(4) Dicionários são minas de ouro.

não podem ser interpretadas, de acordo com Leezenberg (2001), apenas pelo fato de

que dicionários e minas compartilham uma propriedade que denota algo de valor ou

lugares de onde coisas podem ser retiradas. O que difere tais propriedades é o fato de

que dos dicionários são ‘retiradas’ noções de cunho intelectual e abstrato, por outro

lado, das minas de ouro são ‘tirados’ objetos materiais de valor econômico. Tais

constatações servem para demonstrar que a similaridade não é absoluta. Portanto, a

compreensão de tal metáfora será baseada na noção que o interpretante tenha em relação

ao que seja (de) valor.

Outro ponto passível de questionamento e que, também, é discutido pelo teórico

é o fato de que é possível construir metáforas com palavras sem um referente, ou seja,

utilizando-se de termos sem extensão15, como seres ficcionais, por exemplo.

(5) João é um Don Giovani.

(6) Sally é um dragão.

O que ocorre nas sentenças (5) e (6) é a não-existência de seres verdadeiros ou

reais que sirvam como referentes das expressões. Sabe-se que em (5) Don Giovani nada

mais é do que um personagem fictício, objeto de desejo do universo feminino. Trata-se

de uma representação imaginária de um homem ideal. Na sentença (6), dragão é um

animal que faz parte da história mitológica, é um ser também do mundo imaginário que

foi bastante representado em desenhos infantis e por meio de histórias do mundo de faz

de conta. Isso implica dizer que, embora os referencialistas argumentem que a metáfora

compara propriedades de referentes, nos exemplos acima, não poderíamos considerá-los

como sentenças metafóricas uma vez que não têm referentes no mundo real.

São essas as discussões principais que permeiam o estudo da metáfora do ponto

de vista dos referencialistas. A base que fundamenta essa corrente está diretamente

relacionada com o referente, pois é uma condição determinante para a interpretação da

15 Conjunto de coisas que o termo nomeia.

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metáfora.

2.2. Metáfora: Uma Questão de Transferência de Significado

A abordagem Descritivista difere da corrente anterior pelo fato de que a

insistência não está mais no referente, ou seja, a interpretação da metáfora não envolve

as propriedades dos objetos. Ao contrário, para os descritivistas ocorre uma insistência

no aspecto do sentido, pois são as informações associadas à intensão16 que determinam

a interpretação. Dito de outra maneira, são alguns aspectos do sentido da palavra que

irão determinar a interpretação da metáfora. Sob esse prisma, ela envolve uma mudança

no significado e não na referência. O que importa, de fato, nessa abordagem, é a

dissimilitude, isto é, para essa corrente, é justamente a falta de semelhança entre as

palavras, denominadas de “oposição lógica” ou “conflito semântico”, que permite o

reconhecimento da metáfora.

É, portanto, através desse choque semântico que o falante vai em busca de uma

correlação interpretativa entre as palavras, para, assim, compreender ou reconhecer a

metáfora. Na visão dos descritivistas, a metáfora é apreendida através da descrição

contida no sentido das palavras. Voltemos ao exemplo (2) e vejamos, em seguida, como

ocorre a interpretação da metáfora pelos descritivistas.

(2) O homem é um lobo.

Segundo a abordagem Descritivista, não é o sentido literal da expressão lobo que

determina a interpretação da metáfora. Através do choque semântico (elemento

surpresa), essa expressão adquire um sentido metafórico através do qual buscamos, por

meio dessa não-semelhança, a compreensão de que literalmente homens não são lobos.

Ou seja, é por meio de uma transferência de significados que podemos reconhecer a

“oposição lógica” entre os termos e daí, então, buscar significados para a metáfora.

Há que se ressaltar que, segundo Leezenberg, há dúvidas quanto ao fato do que

realmente separa a linguagem literal da metáfora e de outros tipos de linguagem

figurativa. Tal problema parece fadado ao princípio de que a “anomalia semântica” não

é o suficiente, pelo menos para Leezenberg, para que uma sentença ou uma afirmação

16 Conjunto de traços que identificam a extensão.

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seja considerada uma metáfora. Ele critica a ênfase de que a metáfora advém de um

choque semântico porque muitas das metáforas não exibem essa anomalia semântica,

como podemos averiguar nas sentenças abaixo.

(7) A vida não é um mar de rosas.

(8) Ancorage é uma cidade fria.

(9) Isso é uma pocilga.

Quando um falante profere a sentença (7), pode estar querendo referir-se a

algumas coisas que não são de fato pertencentes à vida, por exemplo, quer dizer,

literalmente, que nem existe um mar feito de rosas nem tampouco que a vida é um mar

de rosas. Na sentença (8), tem-se o fenômeno da ambigüidade e não necessariamente

uma metáfora, uma vez que Ancorage pode ter um clima, quase sempre, frio e, ao

mesmo tempo, pode ser uma cidade cujos habitantes são indiferentes entre si, por

exemplo. Por último, na sentença (9) aparece um dêitico cuja interpretação, metafórica

ou literal, dependerá da referência.

Nos três casos acima, não há, como aduz a abordagem, uma incompatibilidade

entre as expressões que nos autorize a declarar que são verdadeiramente metáforas.

De um modo geral, são esses traços que distinguem a metáfora estudada pelos

referencialistas e pelos descritivistas. A distinção entre as correntes, como vista

anteriormente, reside no fato de que aqueles buscam explicar a metáfora através de um

referente enquanto que estes a caracterizam como tal por meio da falta de semelhança

entre as expressões. Examinemos, no próximo tópico, as posições a respeito da metáfora

de George Lakoff, em parceria com Mark Johnson.

2.3. Metáfora: Uma Questão de Mapeamento entre Domínios

2.3.1. Desenvolvimento da Teoria Conceptual

O nascimento da Semântica Cognitiva ocorreu em meados da década de 70 do

século XX, época em que a metáfora começava a ser reconhecida com uma base de

natureza cognitiva principalmente na área das ciências da linguagem. A metáfora,

nesses termos, torna-se objeto de interesse central também para a Psicologia Cognitiva

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que busca explicitar o processo de compreensão da metáfora.

Como forma de fundamentar as idéias que envolviam o fenômeno metafórico,

foram realizadas pesquisas, desde processos de memória de adultos a análises da

metáfora no quadro teórico da inteligência artificial, que, indiretamente, relacionavam-

se com a linguagem figurada.

No entanto, foi num contexto de efervescência em que se desenvolviam as

pesquisas na área da cognição e da metáfora, na década de 80, com a publicação do

livro Metaphors we live by de Mark Johnson e George Lakoff, traduzido para o

português como Metáforas da vida cotidiana, que a metáfora passou a ser difundida,

efetivamente, para o mundo como um fenômeno de significativa relevância cognitiva

cuja presença estava, necessariamente, na linguagem cotidiana. Embora recente, esse

modelo semântico conta hoje com a participação de pesquisadores que trabalham nos

diferentes níveis de análise da linguagem, da Fonologia à Pragmática.

Na apresentação à edição brasileira (ZANOTTO, MOURA, NARDI, VEREZA,

p. 11), parte introdutória do livro, foi mencionado que

Esta obra de Lakoff e Johnson representa uma consolidação da ruptura paradigmática que vinha ocorrendo desde a década de 1970, pondo em crise o enfoque objetivista da metáfora [...] e atribuindo a ela um status epistemológico. Essa virada paradigmática rompe com a tradição retórica iniciada com Aristóteles, no século IV a.C., contribuindo assim definitivamente para mudar uma história de mais de dois milênios.

Embora de grande poder explicativo, não podemos deixar de falar que essa obra

provocou um grande impacto na época, desencadeando muitas pesquisas. O pensamento

clássico vigente era o de que a ciência era feita através da razão e do literal, enquanto

construída por meio da imaginação e da metáfora estava a poesia. A metáfora e a poesia

serviriam apenas para ornar o discurso com bonitas palavras.

Como forma de solidificar a idéia ‘recém nascida’ da metáfora conceptual dizem

os autores que

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A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação poética e um ornamento retórico – é mais uma questão de linguagem extraordinária do que de linguagem ordinária. [...] Por essa razão, a maioria das pessoas acha que pode viver perfeitamente bem sem metáfora. Nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também o pensamento e na ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só pensamos mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 45).

Lakoff e Johnson assumem que todas as correntes da filosofia ocidental,

Racionalismo Cartesiano, Empirismo, Positivismo etc. poderiam dar acesso a verdades

absolutas a respeito do mundo objetivo porque a linguagem constituía o espelho da

realidade objetiva. Partindo-se dessas idéias, as espécies de linguagem figurada

deveriam ser evitadas quando se quisesse falar objetivamente. Porém, a partir da década

de 70 do século passado, momento em que se dá, de forma mais enfática, a mudança

paradigmática, o postulado do objetivismo, segundo o qual temos a capacidade de

acessar verdades incondicionais, é derrubado e cede lugar ao postulado de que

O conhecimento da realidade, tenha sua origem na percepção, na linguagem ou na memória, precisa ir além da informação dada. Ele emerge da interação dessa informação com o contexto no qual ela se apresenta e com o conhecimento preexistente do sujeito conhecedor (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p.13).

2.3.2. Metáfora do Canal

Procedentes do caminho, inicialmente, aberto por Reddy (1979) que no ensaio

The Conduit Metaphor17 investigou, com cuidado e rigor, a conceptualização do

conceito de comunicação, é que estão pautados os postulados de Lakoff e Johnson. Suas

investigações constituem-se, dessa forma, numa continuidade da pesquisa de Reddy,

que tentou averiguar como os falantes de língua inglesa lidam com o problema da

comunicação. Para tanto, ele partiu dos seguintes questionamentos: “Que tipo de

histórias as pessoas contam sobre seus atos de comunicação? e, Quando esses atos

17 Traduzido para o português como Metáfora do Canal.

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perdem o rumo, como é que as pessoas descrevem o que está errado e o que precisa de

conserto”( REDDY, 1979, p. 285)?

Essa análise estendeu-se a enunciados que utilizamos para falar de comunicação.

Com a percepção de que eles poderiam ser organizados em categorias, Reddy (apud

LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 16) destaca que:

1º. A linguagem funciona como um canal, transferindo pensamentos corporeamente de uma pessoa para outra; 2º. Na fala e na escrita, as pessoas inserem seus pensamentos e sentimentos nas palavras; 3º. As palavras realizam a transferência ao conter pensamentos e sentimentos e conduzi-los às outras pessoas; 4º. Ao ouvir e ler, as pessoas extraem das palavras os pensamentos e os sentimentos novamente.

Nesse sentido, nos é revelado que a metáfora do canal é “uma comunicação com

sucesso garantido, na qual o ouvinte (ou leitor) teria o simples trabalho de pegar o

significado que está nas palavras e colocá-lo na sua cabeça”( LAKOFF e JOHNSON,

2002 [1980], p. 16).

Reconhecendo a pertinência através de casos significativos de metáforas

demonstradas por Reddy, Lakoff (apud ORTONY, 1993), numa revisão de seus

escritos, afirma que o mérito dado a Reddy reside no fato de que ele foi o primeiro a

demonstrar as características da metáfora através de uma rigorosa análise lingüística.

Muito embora Lakoff reconheça que outros intelectuais contribuíram para o estudo da

metáfora, observa que alguns deles, no entanto, não são explicitados no decorrer de seu

trabalho.

Indo mais além do que Reddy constatou, os autores defendem que, do mesmo

modo que a metáfora do canal não é meramente uma forma de se falar sobre a

comunicação, assim também são as metáforas diárias que influenciam nossa vida.

Lakoff, embora reconheça que as expressões lingüísticas são governadas por

generalizações, com a Teoria Contemporânea da Metáfora, questiona quais são, então,

as generalizações que governam as expressões lingüísticas referidas classicamente como

metáforas poéticas. Responde, imediatamente, dizendo que a teoria clássica é falsa.

Segundo ele, as generalizações que governam essas expressões não estão no âmbito da

linguagem, mas sim na esfera do pensamento, uma vez que nosso sistema conceptual é

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estruturado por um sistema metafórico, no qual estão inclusos muitos conceitos

abstratos do dia-a-dia. Tal argumento justifica que a tradicional distinção literal-

figurativo é pouco consistente. A propósito disso, ele apresenta as falsas suposições da

teoria clássica a respeito dos conceitos abstratos:

Toda linguagem convencional diária é literal, e nenhuma é metafórica; Todo problema subjetivo pode ser compreendido literalmente, sem metáfora; Somente a linguagem literal pode ser contigentemente verdadeira ou falsa; Todas as definições dadas no léxico de uma língua são literais, não metafóricas; Os conceitos usados na gramática de uma língua são todos literais; nenhum é metafórico. (LAKOFF, apud ORTONY, 1993, p. 204).

A ruptura desse pensamento resultou em um novo paradigma em que a

linguagem deixa de expressar apenas simples formas de dizer e passa a expressar

formas de pensar e agir (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 19).

A partir do percurso que a metáfora galgou no decorrer dos séculos em que sua

presença foi, reconhecidamente, ubíqua na linguagem cotidiana, as concepções clássica

e/ou retórica que permeavam os estudos metafóricos perdem um pouco de consistência

teórica. Pensar em verdades únicas, inquestionáveis como as falsas suposições, acima,

descritas por Lakoff, passa a ser um raciocínio questionável.

Dentro desse contexto paradigmático, Lakoff e Johnson desvelam duas

importantes dicotomias que perpassavam a literatura desde o início dos estudos

metafóricos. O uso de uma figura de linguagem, como a metáfora, era considerado um

desvio comumente praticado pelos ‘literatos’, que se detinham na linguagem puramente

poética. Nem a linguagem corrente nem a científica deveriam utilizar-se de tal recurso.

Desfazendo essa ‘falsa’ proposição, os cognitivistas comprovaram, astuciosamente, que

tanto a literatura quanto a linguagem diária constituem-se, também, metaforicamente.

Aquela tese fundamentada na distinção Linguagem Literal e Linguagem Metafórica

perde terreno.

Paralelamente a essa ‘falsa’ assunção, a separação em duas linhas de raciocínio

Linguagem Cotidiana e Linguagem Literária, também, tem sua abrangência fortemente

diminuída. A conotação metafórica que recai sobre a fala cotidiana, porque muitos

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conceitos abstratos e emoções são representados metaforicamente, acaba com o sentido

de que a linguagem é muito mais literal do que metafórica. Ou seja, na literatura, assim

como no cotidiano, existe uma enorme quantidade de metáforas, dessa maneira,

contribui para desfazer a idéia de que o uso de uma figura de linguagem era um desvio

praticado na área da literatura e que não deveria existir na ciência, muito menos na fala

cotidiana. A era de estudos sobre a metáfora veiculada pelos cognitivistas, que têm no

seu cerne o reconhecimento desse fenômeno, pode encerrar, de um modo geral, a

discussão das dicotomias acima levantadas.

Com isso cai por terra a dicotomia linguagem literária/linguagem cotidiana, assim como o conceito de figura que a fundamenta: a figura não é mais considerada algo desviante, marginal ou periférico, mas sim um fenômeno central na linguagem e no pensamento, sendo onipresente em todos os tipos de linguagem, na cotidiana e científica inclusive (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 21).

Os pesquisadores da metáfora conceptual avançaram em seus estudos de modo

que descobriram que a linguagem revela um imenso sistema conceptual metafórico, que

rege também nosso pensamento e nossa ação (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p.

19). Quer dizer, as metáforas que, na tradição literária, eram utilizadas como um recurso

para enfeitar o discurso porque se tratava de uma questão da linguagem, na perspectiva

cognitiva, tomam um outro viés. O caminho é o que leva em consideração a cognição

porque as metáforas estão infiltradas em nossos discursos não para orná-los, mas porque

compreendemos e experienciamos uma coisa em termos de outra, e, segundo os autores,

essa é a essência da metáfora (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 47,48).

A semântica cognitiva quer combater a idéia, de fato presente em abordagens

formais, de que a linguagem estabelece uma relação de correspondência direta com o

mundo. Para os aliados da abordagem cognitiva, o significado nada tem a ver com a

relação de pareamento entre linguagem e mundo. Emerge, ao contrário, de dentro para

fora, sendo, assim, motivado. A significação lingüística nasce das nossas interações

corpóreas, dos movimentos de nossos corpos em interação com o meio que nos

circunda, justificando, assim, porque muitos conceitos que governam a nossa atividade

cotidiana estruturam o que percebemos, o modo como nos comportamos no mundo e

nossas relações com outras pessoas. A criança, na história da aquisição contada pela

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Semântica Cognitiva, inicialmente aprende esquemas de movimento e categorias de

nível básico. Por exemplo, a criança se move várias vezes em direção a certos alvos.

Desses movimentos, manifesta-se um esquema imagético sinestésico, isto é, uma

memória de movimento, em que há um ponto de partida, um percurso e um ponto de

chegada. Tal esquema, que surge diretamente de nossa experiência corpórea com o

mundo, ancora o significado de nossas expressões lingüísticas sobre o espaço.

Assim sendo, o significado lingüístico não é arbitrário porque é derivado de

esquemas sensório-motores. São, portanto, as nossas ações no mundo que nos permitem

apreender diretamente esquemas imagéticos espaciais e são esses esquemas que dão

significado às nossas expressões lingüísticas.

(10) Fui do quarto para a sala.

(11) Vim de Roraima.

(12) Estamos em João Pessoa.

(13) Nascemos no Brasil

O que dá sentido às sentenças acima não é uma relação de correspondência com

o mundo, nem uma relação de dialogia com o outro, nem os encadeamentos discursivos,

porém é o fato de que em 10 e 11 está presente o esquema imagético CAMINHO, e em

12 e 13, o esquema RECIPIENTE. Esses esquemas, organizações sinestésicas

apreendidas, carregam uma memória de movimentação ou de experiência. É essa

memória que ampara nosso pensar e falar. Como conseqüência, pode-se afirmar ser o

significado uma questão da cognição geral e não um fenômeno prioritariamente

lingüístico.

No entanto, nem todos os nossos conceitos resultam desses esquemas. Há, pois,

domínios da experiência cuja conceptualização depende de mecanismos de abstração. A

Semântica Cognitiva privilegia dois mecanismos: a metáfora e a metonímia. Nesses

termos, a metáfora define-se por um conjunto de correspondências matemáticas entre

um domínio da experiência e outro domínio. O próximo item tratará dessa e de outras

questões pertinentes.

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2.3.3. Cruzamento entre os Domínios Conceptuais: a natureza do mapeamento

metafórico

Kovecses (2002) afirma que a metáfora conceptual pode ser caracterizada pela

fórmula A é B, em que o domínio alvo, A, é compreendido em termos do domínio

fonte, B. No entanto, tal fórmula não é precisa, principalmente nos casos de metáforas

conceptuais estruturais em que um conceito é entendido por meio de outro conceito e

não como um sendo exatamente o outro, como demonstra a fórmula acima.

Sabendo que a metáfora conceptual é baseada em nossas experiências corpóreas

e culturais, ela se constituirá das correspondências entre os elementos constituintes do

domínio conceptual fonte e do domínio conceptual alvo. O domínio conceptual mais

próximo da experiência, normalmente, é o mais concreto. Como o próprio nome sugere,

a fonte, entendida como um recipiente, é de onde retiramos alguns elementos

conceptuais para conceptualizar outro domínio conceptual – alvo, que recebe os

elementos estruturantes, ou seja, é o destino. É a relação, ou melhor, o cruzamento entre

esses dois domínios o que os cognitivistas nomeiam de mapeamento. Vale ressaltar que

a Teoria geral da Metáfora é caracterizada por esses mapeamentos que ocorrem entre os

domínios. Nesse processo, conceitos abstratos que usamos no dia-a-dia como, por

exemplo, tempo, mudança, estado e outros se transformam em metáforas.

Num estudo pioneiro sobre esse assunto, Lakoff & Johnson (2002 [1980])

demonstram que conceptualizamos sistematicamente muitos domínios da experiência

através de metáforas conceptuais, isto é, projetando neles outros domínios. Por

exemplo, conceptualizamos uma discussão (um debate verbal) através da metáfora

DISCUSSÃO É GUERRA (sem que para isso tenhamos que ter experiência pessoal da

guerra, mas porque temos dela imagens mentais mais ricas). Entre os dois domínios

estabelecem-se analogias estruturais: os participantes de uma discussão correspondem

aos adversários em uma guerra; o conflito de opiniões corresponde às diferentes

posições dos beligerantes; levantar objeções corresponde a atacar e manter uma opinião

a defender; desistir de uma opinião corresponde a render-se etc. Tal como uma guerra,

uma batalha ou uma luta, também uma discussão, um debate ou o processo de

argumentação pode dividir-se em fases, desde as posições iniciais dos oponentes até a

vitória de um deles, passando por momentos de ataque, defesa, retirada, contra-ataque.

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Como realizações lingüísticas desta metáfora conceptual, atacamos ou defendemos

determinada idéia ou argumento, tomamos posições e utilizamos estratégias, atacamos

cada ponto fraco da argumentação de alguém, demolimos a argumentação do outro,

acabamos por ganhar ou por perder etc. Saliente-se, também, que além disso, na maioria

das vezes, nosso corpo reflete essas ações seja num gesto mais agressivo ou até mesmo

em uma tentativa de proteção, num simples cruzamento de braços manisfestamos que

não temos interesse nas posições do outro, pois o que interessa é a nossa estratégia de

retirada ou mesmo de contra-ataque.

Outra ilustração relevante, que complementa essa explicação, nos diz que “A

linguagem da discussão não é poética, ornamental ou retórica; é literal. Falamos sobre

discussão dessa maneira porque a concebemos assim e agimos de acordo com o modo

como concebemos as coisas”. (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 48).

Vejamos como ocorre o processo do mapeamento metafórico entre os domínios

fonte e alvo em outras metáforas conceptuais representadas, abaixo, em letras

maiúsculas.

(14) O AMOR É MÁGICO

(15) TEMPO É DINHEIRO

Retomando a idéia central anteriormente apresentada no início deste tópico, tem-

se, respectivamente, nas metáforas conceptuais (14 e 15), o domínio conceptual fonte,

MAGIA e DINHEIRO, fornecendo, pelos menos parcialmente, elementos estruturantes

para a compreensão do domínio alvo, AMOR e TEMPO. Isso implica dizer que é a

partir do domínio fonte que tiramos alguns aspectos do que seja MAGIA e de como

concebemos o DINHEIRO para conceptualizar, para falarmos a respeito do domínio

alvo AMOR e TEMPO. Podemos dizer que um provável interlocutor ‘pega’ em um

recipiente parte de suas experiências corpóreas sobre o mundo da magia e do dinheiro e

as leva para um outro destino, no qual essas experiências servirão para ajudá-lo a falar e

a compreender conceitos como o amor e o tempo.

Nos exemplos acima de metáfora conceptual, ocorre a correspondência entre

parte de elementos constituintes de um domínio conceptual fonte e parte de elementos

constituintes de um domínio conceptual alvo. Segundo essa abordagem, ocorre um

mapeamento entre os domínios, uma projeção parcial de um domínio sobre o outro. As

correspondências são parciais porque elas não projetam todos os aspectos da estrutura

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do domínio fonte para o domínio alvo, mas apenas aqueles que vão colaborar para uma

melhor compreensão do domínio alvo. Os estudiosos da Teoria da Metáfora Conceptual

dizem que

É importante notar que a estruturação metafórica aqui envolvida é apenas parcial e não total. Se fosse total, um conceito seria, de fato, o outro e não simplesmente entendido em termos de outro. Por exemplo, o tempo realmente não é dinheiro. [...] Não há bancos de tempo. (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 57)

Outra forma de conceptualização do tempo é quando ele se estrutura via o

esquema espacial do CAMINHO. Nesse sentido, as sentenças abaixo são também

metafóricas porque nelas o TEMPO é conceituado por meio de correspondências com o

esquema espacial.

(16) De ontem para hoje, Joaquim adoeceu.

(17) A palestra foi de terça a sexta-feira.

Há, desse modo, nessas expressões lingüísticas metafóricas, o mapeamento de

um domínio mais concreto da experiência CAMINHO, na conceituação de um domínio

da experiência mais abstrato, o TEMPO.

Esses e outros exemplos mostram que a metáfora envolve uma analogia sistemática

e coerente entre a estrutura interna de dois domínios da experiência e,

conseqüentemente, todo o conhecimento relevante associado aos conceitos e domínios

em causa. Os mesmos exemplos mostram também que a metáfora tende a ser

unidirecional: através dela, geralmente conceptualizamos domínios abstratos em termos

de domínios concretos e familiares. O que quer dizer que a conceptualização de

categorias abstratas se fundamenta, em grande parte, na nossa experiência concreta

cotidiana. As metáforas conceptuais desempenham, pois, um papel crucial na

conceptualização de muitos domínios.

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2.3.4. Representação das Metáforas Conceptuais

Lakoff (apud ORTONY, 1993) revela que teorias contemporâneas da metáfora

comumente representam tanto as metáforas conceptuais quanto suas expressões

lingüísticas de forma peculiar. As metáforas conceptuais são escritas em letras

maiúsculas, pois se referem ao mapeamento conceptual enquanto que suas expressões

lingüísticas metafóricas, que representam os conceitos e a realização superficial de cada

mapeamento, são escritas em letras minúsculas e podem existir várias expressões

lingüísticas para uma única metáfora conceptual. Complementa, ainda, seu pensamento,

justificando que é importante guardar ambas as distinções pelo fato de que a metáfora,

além de envolver um mapeamento conceptual, envolve também suas expressões

lingüísticas individuais.

A metáfora conceptual – interna à representação mental, baseada, também, no

meio ambiente, na cultura e na formação de conceitos dos indivíduos – revela como

pensamos e agimos. Partindo-se desse princípio, construímos expressões lingüísticas

que denotam como percebemos ou como vivenciamos os conceitos de AMOR,

DINHEIRO e DISCUSSÃO, respectivamente. No entanto, antes de analisarmos as

expressões lingüísticas metafóricas, é importante dizer que em (18) e (19) tem-se a

atualização da metáfora conceptual explicitada no item anterior através das metáforas

(14) e (15).

(18) Estou enfeitiçada por João. / A magia por ela passou.

(19) O seu tempo está se esgotando. / Eu perdi muito tempo namorando Fernando.

(20) Quando conversarem, vá diretamente ao alvo. / Ela sempre ganha as discussões.

Observe-se que, nas expressões lingüísticas da sentença (18), há alguns

elementos do domínio conceptual fonte, MAGIA (representadas aí pelas palavras

enfeitiçada e magia), que estruturam, pelo menos parcialmente, em nossa cultura,

elementos do domínio conceptual alvo, AMOR. Segundo os cognitivistas, transferimos,

parcialmente, o conceito do que seja mágico para falarmos do amor, porque assim o

experienciamos, assim o vivenciamos, pelo menos algumas pessoas. Logo, recorremos a

palavras do domínio conceptual fonte, para expressarmos nosso pensamento; isso ocorre

‘inconsciente’ e ‘involuntariamente’ a respeito do domínio conceptual alvo AMOR.

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Nas expressões lingüísticas da sentença (19), as palavras tempo esgotando e

perdi tempo estruturam nosso pensamento sobre a forma como concebemos o domínio

conceptual alvo TEMPO. Este, nos tempos atuais, principalmente na cultura ocidental, é

vivenciado como um recurso limitado e de bastante valor e que pode ser orçado e/ou

poupado, por isso falamos sobre ele como se fosse um recurso tão valioso como o

dinheiro, porque transferimos, de certo modo, uma parte do valor que o dinheiro

adquiriu na sociedade capitalista – pós-revolução industrial – para falarmos

metaforicamente sobre o tempo. Contudo, vale ressaltar que para outras culturas, como

a oriental, o tempo pode ser concebido não com esse valor ‘comercial’, mas com valores

espirituais, dessa forma, tal análise não se aplicaria a esse caso.

Em (20) diretamente, alvo e ganha discussões, ocorre o processo semelhante às

sentenças (19), em que compreendemos uma discussão como se de fato ela fosse uma

guerra (em que há, num campo de batalha, dois lados opostos, enfrentando-se, com

armas – aqui seriam os argumentos – e defendendo-se – com contra-argumentos – em

prol de conseguir vencer seu adversário), por isso nos valemos de palavras e de ações

corporais equivalentes a esse processo de luta/conquista. Isso ocorre, de acordo com as

proposições cognitivistas, porque nossa experiência cultural de discussão nos faz agir e

falar utilizando palavras relativas a uma peleja como se a discussão fosse, de fato, uma

guerra. Daí, apreende-se que a compreensão da discussão determinará o modo como

falamos a respeito dela.

Tais exemplos nos serviram para demonstrar como ocorrem as correspondências

entre elementos do domínio conceptual fonte e os elementos do domínio conceptual

alvo. Isto é, elas, as correspondências, são embasadas em nossas experiências culturais

de modo que as expressões lingüísticas “não são simples formas de dizer, mas formas

de pensar e agir” (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 19).

2.3.5. Classificação das metáforas, segundo os conceptualistas.

Uma vez entendido que, para essa abordagem, a essência da metáfora é

compreender e experienciar uma coisa em termos de outra, os autores nos revelam três

categorias ou tipos de metáforas conceptuais, distinguidas através de sua função

cognitiva. Nesses termos, diferenciam-se em: estruturais, orientacionais e ontológicas.

A metáfora conceptual estrutural é aquela em que “um conceito é estruturado

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metaforicamente em termos de outro” (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p.59). Para

ilustrar tal definição, tomemos o exemplo de Lakoff (apud ORTONY, 1993, p. 206), em

que uma relação amorosa pode ser descrita da seguinte maneira:

(21) Nossa relação chegou a um beco sem saída.

(22) Nossa relação está sem rumo.

(23) Olha até onde fomos.

(24) Agora não podemos voltar atrás.

(25) Nós devemos seguir caminhos diferentes.

Essas expressões lingüísticas metafóricas demonstram que o amor é

conceptualizado como uma viagem em que os viajantes estão no mesmo veículo e

compartilham objetivos semelhantes. Geralmente, uma relação amorosa (viagem)

começa cheia de sonhos, idéias, planejamentos, porém, depois de um período de tempo,

termina em um lugar pouco agradável, nesse caso, beco sem saída. A metáfora

conceptual estrutural de onde subjazem as sentenças acima é O AMOR É UMA

VIAGEM. Por meio dela, demonstra-se que a compreensão do amor é entendida e até

mesmo vivenciada em termos de uma viagem. Outro exemplo de como compreende-se

o amor é através da metáfora, também, estrutural AMOR É GUERRA (LAKOFF e

JOHNSON, 2002 [1980], p. 115). Algumas expressões lingüísticas metafóricas

atualizam essa metáfora, vejamos os exemplos a seguir,

(26) Ele é conhecido por suas inúmeras conquistas rápidas.

(27) Ela lutou por ele, mas sua amante venceu.

(28) Não há acordo entre eles, se é que eu tenha visto algum.

de tal modo que - para as pessoas envolvidas nas situações acima – é perceptível que as

palavras em destaque conquistas, lutou, venceu, não há acordo corroboram a tese de

que o conceito de AMOR é entendido por alguns aspectos, negativos nesse caso, da

guerra. O conceito, parcial, do domínio fonte GUERRA é usado para estruturar o

conceito do domínio alvo AMOR, veiculado por meio de palavras que apontam para

uma peleja amorosa entre o casal. Alguns aspectos do que seja uma batalha, aqui, entre

dois ou mais amantes, são mapeados, transferidos para se falar sobre as relações

amorosas conflitantes.

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Gostaríamos de lembrar que, quase que diariamente, os noticiários nos revelam

situações em que companheiros chegam inclusive ao ponto de tirar a vida de seu

parceiro (a), por motivos os mais espantosos, e quando entrevistados, por vezes,

declaram a relação amorosa como um conflito armado, como se o sentimento entre eles

fosse vivenciado, literalmente, como uma GUERRA e, por isso, tentam justificar tal

ação, como uma maneira de se livrar por completo de um adversário.

Os cognitivistas afirmam que a diferença de se compreender o AMOR em

termos de uma VIAGEM ou de uma GUERRA está no fato de que as experiências de

cada pessoa com esse sentimento fazem com que ela fale ou tenha determinadas

posições a respeito do tema de uma forma (VIAGEM) ou de outra (GUERRA).

Portanto, tanto conceito como atividade e linguagem são metaforicamente estruturadas.

Um outro autor, que também estuda o fenômeno metafórico, Kovecses (2002, p.

06), explica que se nós queremos entender melhor um conceito, somos mais bem

sucedidos, usando outro conceito que seja mais concreto, físico ou mais tangível do que

o primeiro, para atingir esse propósito18.

Outra categoria de metáfora conceptual é a orientacional, aqui não se estrutura

um conceito com base em outro, como ocorre com a metáfora conceptual estrutural,

mas se organiza um sistema de conceitos em relação a um outro (LAKOFF e

JOHNSON, 2002 [1980], p. 59).

A denominação dada a essas metáforas decorre do fato de sua relação com o

campo espacial. Para os autores, nossos corpos motivam a formação dos conceitos. Esse

tipo de metáfora leva em consideração orientações espaciais do tipo: para cima, para

baixo; dentro, fora; centro, periférico etc. As orientações não ocorrem de forma

aleatória, arbitrária, ao contrário, é partindo dos movimentos do corpo humano e da

forma como interage com o meio, que as orientações espaciais, bem como os conceitos

metafóricos, são construídos.

Lakoff avalia que a questão cultural não pode ser separada da questão espacial,

assim os conceitos podem variar de cultura para cultura. Cita como exemplo o fato de

que em certas culturas o futuro é conceptualizado como estando na frente, enquanto que

em outras, como estando atrás; isso implica dizer que a mesma motivação física

encontra bases culturais distintas para a “criação” da mesma metáfora, todavia, é a

coerência dentro do sistema que servirá de parâmetro para a escolha de uma e não de

18 If we want to better understand a concept, we are better off using another that is more concret, physical,

or tangible than the former for this purpose.

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outra. Citemos como exemplo a metáfora FELIZ É PARA CIMA (LAKOFF e

JOHNSON, 2002 [1980], p. 60). A partir dela, tomamos o conceito abstrato do que seja

feliz e construímos expressões lingüísticas do tipo:

(29) Estou me sentindo para cima hoje.

(30) Meu astral subiu.

(31) Pensar nela sempre me levanta o ânimo.

De acordo com os autores, a base física para construir tais expressões é a de que

a “postura ereta corresponde a um estado emocional positivo” (LAKOFF e JOHNSON,

2002 [1980], p.60). Por outro lado, se atualizamos a metáfora orientacional TRISTE É

PARA BAIXO (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 60) por meio de expressões

lingüísticas metafóricas orientacionais do tipo

(32) Eu caí em depressão.

(33) Estou no fundo do poço.

(34) Ele está mesmo para baixo estes dias.

conclui-se que a depressão e a tristeza nos fazem ficar com uma postura caída, com os

ombros recaídos, portanto, nessa perspectiva cognitiva, essa é a base física para

construir tais expressões.

DOENÇA E MORTE SÃO PARA BAIXO

(35) Ela caiu morta.

(36) Sua saúde está em declínio.

(37) Lázaro se levantou dos mortos.

Essas expressões lingüísticas, que atualizam a metáfora acima, têm suas bases

físicas relacionadas ao fato de que nos mantemos deitados porque estamos doentes ou

mortos; isso se opõe à posição vertical, quando estamos em pé, vivos e bem de saúde.

Existem várias bases físicas e sociais possíveis para a metáfora. Exemplificando,

a felicidade está normalmente relacionada, em uma perspectiva física, com uma postura

ereta, nossas características de alegria são denunciadas através de um sorriso amável,

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nossos olhos espalham expansividade, inconscientemente, levamos nosso queixo para

uma posição mais elevada, abrimos nossos ombros. Esse tipo de manifestação, segundo

Lakoff, não é feita casualmente, mas porque as metáforas orientacionais estão

enraizadas em nossas experiências física e cultural. A propósito disso, dizem Lakoff e

Johnson que

Uma metáfora pode servir como um veículo para a compreensão de um conceito apenas em função de sua base experiencial. [...] Existem várias bases físicas e sociais possíveis para a metáfora. A coerência no âmbito do sistema geral parece motivar em parte a escolha de uma dessas bases em detrimento da outra. Por exemplo, a felicidade é habitualmente associada, numa perspectiva física, a um sorriso e a um sentimento geral de expansividade (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 65, 66).

Retomando, neste item estamos apresentando a classificação das metáforas

conceptuais, de acordo com Lakoff e Johnson. Primeiramente, vimos algumas

expressões lingüísticas metafóricas que atualizavam as metáforas estruturais AMOR É

UMA VIAGEM e AMOR É GUERRA. Em seguida, as metáforas orientacionais

expostas foram FELIZ É PARA CIMA, TRISTE É PARA BAIXO e DOENÇA E

MORTE SÃO PARA BAIXO. Seguindo a classificação, as metáforas ontológicas

apresentadas, a seguir, são INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE, MENTE É UMA

MÁQUINA e MENTE É UM OBJETO QUEBRADIÇO.

A última categoria, metáfora ontológica, é aquela em que um conceito abstrato é

transformado em entidades, objetos ou substâncias. Isto é, “formas de se conceber

eventos, atividades, emoções, idéias etc. como entidades e substâncias”. (LAKOFF e

JOHNSON, 2002 [1980], p.76). Analisemos as expressões lingüísticas construídas a

partir da metáfora INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE (LAKOFF e JOHNSON, 2002

[1980], p. 76):

(38) Precisamos combater a inflação.

(39) A inflação me deixa doente.

Quando utilizamos tais expressões para nos referirmos à inflação – processo de

elevação de preços – as selecionamos de modo que a nossa concepção de inflação é a de

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que ela é uma entidade que precisa ser combatida porque está abaixando nosso padrão

de vida ou, ainda, porque é uma substância que nos deixa enfermos. Falamos dela

assim porque combater ou eliminar a inflação se torna parte de como agimos. Não nos

apercebemos, quase sempre, que quando nos referimos à inflação a entendemos como

uma entidade perpassada por atributos humanos. Por isso, pensamos que podemos ser

acuados, atacados, ou nos deixar abater por ela. Esse tipo ou categoria de metáfora é

utilizado, segundo Lakoff e Johnson, para nos referirmos a algo, para quantificar, para

motivar ações, além de utilizá-las para demonstrar o modo como compreendemos

eventos, ações, estados. Eles afirmam que as finalidades para usar as metáforas

ontológicas servem a propósitos diferentes. Aqui, são indicadas, conforme Lakoff e

Johnson (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 77, 78) duas sentenças,

respectivamente, para:

Referir-se

(40) Meu medo de insetos está enlouquecendo a minha mulher.

(41) Estamos trabalhando em direção à paz.

Quantificar

(42) Terminar este livro exigirá muita paciência.

(43) Há tanto ódio neste mundo.

Traçar objetivos e motivar ações

(44) Ele foi para Nova Iorque em busca de fama e fortuna.

(45) Ela viu o casamento como a solução de seus problemas.

Existe uma grande variedade de metáforas ontológicas que usamos para outras

finalidades, além das expostas acima, como bem mostram os autores de Metáforas da

vida cotidiana. Um outro dado importante levantado pelos cognitivistas é o fato de que,

devido à grande variedade de objetivos a que se destinam as metáforas orientacionais e

as ontológicas, a maioria das expressões lingüísticas “não é sequer percebida como

metafóricas”( LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 79).

Vale chamar a atenção para o fato de que há outras metáforas ontológicas,

segundo os cognitivistas, cuja elaboração é mais ‘cuidadosa’. Exemplos clássicos são

MENTE É UMA MÁQUINA, atualizadas pelas sentenças abaixo.

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(46) Ainda estamos remoendo a solução para essa equação.

(47) A minha mente simplesmente não está funcionando hoje.

(48) Estou um pouco enferrujado hoje.

e

MENTE É UM OBJETO QUEBRADIÇO, através da qual são construídas as seguintes

expressões lingüísticas metafóricas.

(49) Eu estou em pedaços.

(50) Ela é facilmente esmagada.

(51) A experiência o despedaçou.

Tanto as metáforas como as expressões lingüísticas metafóricas que delas

subjazem permitem-nos falar a respeito da mente de modo distinto, porque enfocamos

diferentes aspectos da experiência mental. As metáforas MENTE É UMA MÁQUINA e

MENTE É UM OBJETO QUEBRADIÇO nos dão concepções distintas a respeito da

mente. Para os cognitivistas, a segunda metáfora é menos rica que a primeira pelo fato

de que apenas nos referimos a uma força psicológica enquanto que a primeira nos

permite falar sobre a mente como algo que pode estar “ligado” ou “desligado”, pois tem

um nível de eficiência, uma capacidade produtiva, um mecanismo interno, uma fonte de

energia e uma condição operacional (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 80).

Outra inferência que nos chama atenção é que, geralmente, esses tipos de metáforas

estão de tal forma onipresentes em nossa mente que tais descrições não ocorrem, para a

maioria de nós, como sendo um fenômeno metafórico.

Dentre as metáforas ontológicas, é evidenciado pelos autores o processo de

personificação nos quais os objetos físicos são concebidos como pessoas. Esse processo

permite-nos compreender muitas entidades não-humanas baseadas em traços, atividades

e motivações próprias do ser humano (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 87).

Exemplos clássicos de personificação explicitados pelos estudiosos são os seguintes:

(52) A vida me trapaceou.

(53) A inflação está devorando os nossos lucros.

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(54) O câncer finalmente o pegou.

(55) A inflação roubou as minhas economias.

Embora os autores argumentem que as metáforas ontológicas têm sua

veracidade reconhecida em conceber experiências que não são humanas como tendo

traços inerentemente humanos, Espíndola (2005, p. 21) afirma ser possível falar em dois

tipos de metáforas ontológicas, quando concebemos objetos, conceitos e processos

como entidades; há entidades com status de ser humano e outros com status de animais,

seres vivos.

A primeira é aquela em que uma experiência ou objeto físico é concebido como uma entidade animada (uso de características ou ações próprias de um ser vivo). Ou seja, tomamos características do domínio origem (um determinado ser animado) e as projetamos para o domínio alvo (a experiência sobre a qual estamos fazendo referência). Nesse caso, vamos observar uma animação (dotar uma experiência de traços de um ser vivo).

De acordo com Espíndola, retomando a sentença (53), podemos inferir que essa

expressão lingüística metafórica está realizando o mapeamento ou o cruzamento de

algumas características do domínio origem que são projetadas para falar da experiência

sobre a qual estamos fazendo referência, que é o domínio alvo. A metáfora da qual

subjaz a sentença acima é A INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO. Referimo-nos à

inflação como um ser vivo dotado de características que lhe são peculiares e que nos

fazem agir e falar sobre ela dessa forma e não de outra. Porém, necessariamente, não há,

veiculada na sentença, uma ação pertinente ou própria ao ser humano. Devorar é uma

ação muito mais característica do animal e não do homem. Ressalte-se que é muito mais

comum ouvirmos a utilização de tal verbo sempre referindo-se ao mundo, ao habitat dos

animais.

Além dessa observação, Espíndola (2005) também demonstra que a inflação,

pelo menos em nossa cultura, pode ser compreendida ou experienciada por meio da

seguinte metáfora INFLAÇÃO COMO DOENÇA. Segue, ainda, seu ponto de vista

dizendo que essa “metáfora ontológica também não pode ser considerada como sendo

uma personificação (humanização de um processo), mas como a animação desse

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processo, no sentido de algo com a vida, mas não humano” (p. 22). Essa metáfora pode

ser atualizada ou materializada pela expressão lingüística:

(56) A inflação precisa ser combatida com a vacina certa.

O segundo exemplo de metáfora ontológica apresentado por Espíndola (2005) é

aquele em que personificamos experiências, ou seja, “essas são concebidas como

pessoas ou a elas são atribuídas características de pessoas” (p. 22). Vejamos, abaixo, a

expressão lingüística metafórica que, de fato, humaniza uma experiência humana e que

é atualizada pela metáfora conceptual ontológica A INFLAÇÃO É UM

ADVERSÁRIO.

(57) A inflação ludibriou as melhores mentes econômicas de nosso país.

Como visto anteriormente, a personificação propriamente dita não é um processo

geral e único, uma vez que ela seleciona aspectos humanos distintos, como no caso da

inflação, por exemplo, que pode ser empregada como uma maneira de humanizar nossas

experiências ou para animá-las. Nesse sentido, há pesquisas (ESPÍNDOLA, 2005, p. 28)

que apontam para o fato de que

Quanto ao efeito dessas metáforas na publicidade, nossa hipótese é de que o uso da personificação faz com que os produtos e serviços que estão sendo vendidos sejam aproximados dos virtuais compradores, através da atribuição de características ou ações (animação ou humanização), ao que está sendo vendido (divulgado).

Vale ressaltar, ainda, que há a metáfora conceptual com base metonímica, tese

defendida, inicialmente, por Barcelona (2003). Quer dizer, há casos em que o processo

metonímico, como analisado em panfletos, neste trabalho, e em publicidades de revistas

e sites da web (ESPÍNDOLA, 2005), deixa de representar apenas um recurso referencial

e passa a veicular comportamentos humanos, caracterizando, portanto, uma metáfora

com base metonímica. A metonímia, nesse caso, é personificada, humanizada. A

propósito disso, afirma Barcelona (2003, p. 11) que the metonymic conceptual

motivation of metaphor. A ocorrência da metáfora com base metonímica será apreciada

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no decorrer da análise do corpus.

2.3.6. Metáfora e Cultura

Metáfora e cultura, nos estudos lakoffianos, estabelecem uma relação de

matrimônio, pois nossos valores estão diretamente enraizados na cultura que nos

circunda. Segundo revelam Lakoff e Johnson, há conflitos de natureza cultural que são

‘transportados’ para as metáforas. A publicação de Metáforas da vida cotidiana

baseada, sobretudo, em análises lingüísticas da língua inglesa revela-nos que há, nos

EUA, subculturas que valorizam uma metáfora em detrimento da outra. A escolha de

uma metáfora será ‘coerente’ de acordo com os valores culturais de um povo.

Chamando a atenção para o fato de que há grupos que, contrários às ideologias vigentes

em uma cultura ou de uma subcultura, criam suas próprias metáforas, pensa-se ser

perfeitamente possível, nesses termos, que em outros países ocorra algo semelhante. No

Brasil, há grupos ou associações que, por acreditarem em convicções distintas da

maioria da população brasileira, criam suas próprias regras, estatutos, legislações e

inclusive sua linguagem própria, com metáforas que lhes pertencem e que, talvez,

possam ser compartilhadas por outros grupos, mas não necessariamente.

TEMPO É DINHEIRO é uma metáfora que se justifica pela forma como o

conceito de trabalho se desenvolveu na cultura ocidental pós-revolução industrial em

que o dinheiro é associado à quantidade de tempo que um empregado ‘gasta’

desempenhando determinada função. É um conceito, portanto, resultante de sociedades

industrializadas e que pode não ser compartilhado por uma comunidade em que o

conceito de tempo não esteja direta nem culturalmente vinculado ao dinheiro.

Falar de valores culturais implica que eles são decorrentes de processos como o

capitalismo, a industrialização, a competição e o prestígio social, só para citar alguns

exemplos. Como forma de solidificar seu pensamento, os autores cognitivistas

asseveram que os mapeamentos entre os domínios vão depender de um momento

histórico ou social vivido por uma sociedade, não sendo, portanto, conceitos universais

que governam as metáforas. Para corroborar tal pensamento, os cognitivistas (LAKOFF

e JOHNSON, 2002 [1980], p. 74) mostram que

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Nem todas as culturas dão a prioridade que damos à orientação para cima – para baixo. Há aquelas em que “equilíbrio” e “centralidade” desempenham um papel bem mais importante do que aquele que exercem em nossa cultura. Consideremos, por exemplo, a orientação não espacial ativo – passivo. Para nós, ATIVO É PARA CIMA e PASSIVO É PARA BAIXO, na maior parte dos casos. Mas há culturas em que a passividade é mais valorizada do que a atividade.

2.4. A Metonímia

A princípio, pode parecer obscura a distinção entre o fenômeno metafórico e a

metonímia, todavia há que se ressaltar que suas naturezas têm princípios diferentes. A

definição cognitiva dada à metonímia é a de que estamos usando uma entidade para nos

referirmos a uma outra que está relacionada a ela (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980],

p. 91, 92), portanto é um recurso referencial, porque nos permite colocar em foco

determinados aspectos da entidade à qual nos referimos, ao passo que, na metáfora, sua

função é o da compreensão, visto que compreendemos uma coisa em termos de outra. A

característa principal que as distinguem, na realidade, é o fato de que na metáfora ocorre

a projeção de parte de alguns elementos entre dois domínio conceptuais distintos (fonte

e alvo), enquanto na metonímia não existe um cruzamento ou uma projeção parcial de

elementos entre dois domínios diferentes, porque há apenas um único domínio.

Uma vez entendida a distinção entre os dois processos, estamos incumbidos de

guardar as devidas semelhanças. Ambas, metáfora e metonímia, promovem o

entendimento, são formas das quais nós dispomos para falarmos da maneira como

pensamos no cotidiano a respeito de inúmeros temas (amor, tempo, saúde etc.) e não são

recursos reduzidos meramente a uma questão da linguagem, de uso apenas retórico ou

poético. O processo metonímico, da mesma forma que o metafórico, não se dá aleatória

ou isoladamente, porque os conceitos também são sistemáticos. Além dessas analogias,

a metonímia é representada, assim como as metáforas, em letras maiúsculas e as

expressões lingüísticas metonímicas subjacentes são retratadas por meio de letras

minúsculas. Citemos, para um melhor entendimento, algumas ocorrências de

metonímias retomadas por Lakoff e Johnson (p. 94, 95):

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PARTE PELO TODO

(58) Ponha seu traseiro aqui.

(59) Nós não contratamos cabeludos.

Note-se que parte de nosso entendimento geral das coisas do mundo é

representada através de referências. Na sentença (58), imaginemos um contexto, no qual

estamos nos reportando a uma pessoa pedindo que se sentasse, perto ou não de nós. No

entanto, mencionamos esse fato fazendo uma alusão a uma parte específica do corpo de

nosso interlocutor. O mesmo processo de referenciação, isto é, método pelo qual

abstraímos determinada característica para falar ou representar uma entidade, pode ser

explicitado na sentença (59). Recuperando um possível contexto que trate de relações

empregatícias, infere-se que o gerente de uma loja seleciona uma característica, que os

possíveis candidatos não devem possuir, para referir-se a todos aqueles que queiram

pleitear a (s) vaga (s) oferecida (s).

LUGAR PELA INSTITUIÇÃO

(60) A Casa Branca não está se pronunciando.

(61) Wall Street está em pânico.

As palavras destacadas, nas sentenças acima, não são fortuitas, pois elas

denotam os conceitos metonímicos pelos quais organizamos nosso pensamento em

relação às instituições. Comumente, falamos a respeito de ações, que acontecem em

muitos lugares, atribuindo suas conseqüências às instituições que os representam. Na

sentença (60), não é a avenida, o asfalto, as lojas, os postes etc. que sentem pânico,

porém é o lugar como um todo, as pessoas que vivem ou passam por lá, que estão

vivenciando esse sentimento.

Convém acrescentar que a perspectiva cognitivista revela que conceitos

metonímicos são também sistemáticos como os metafóricos, porque permitem que

conceptualizemos uma coisa por sua relação com outra. A propósito disso os autores

afirmam que

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Quando pensamos em um Picasso, não estamos pensando apenas em uma obra de arte: mas estamos também pensando na relação dessa obra com o artista, isto é, a sua concepção de arte, sua técnica, seu papel na história da arte etc. Reverenciamos um Picasso, mesmo que seja um esboço que ele tenha feito quando adolescente, por causa da relação dessa obra com o artista (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 96)

Dado o objetivo desta pesquisa, convém, neste momento, fazer um breve resumo

dos principais enfoques que a metáfora obteve nas perspectivas apresentadas.

Em um primeiro momento, a metáfora foi apresentada sob o panorama

referencialista. Ela foi estudada como uma questão de semelhança entre os referentes. A

linguagem que propusesse ser objetiva e clara deveria evitar o uso de metáforas, porque

estas eram características peculiares da linguagem poética, constituindo, seu uso, um

desvio da linguagem que se dizia culta. Para alicerçar a tese postulada por essa

abordagem, apresentou-se, a partir de Leezenberg (2001), as idéias de autores clássicos

como Cícero e Quintiliano.

Em seguida, a metáfora foi apresentada num enfoque descritivista, em que é

estudada com base em uma transferência de significados. Ocorre, segundo Leezenberg,

um conflito semântico que permite ao falante buscar significados novos para uma

determinada sentença metafórica, apresentada em um contexto específico. Sendo essa a

principal característica dessa corrente.

Por fim, debruçamo-nos sobre os contributos cognitivistas. Percorremos o

nascimento dos estudos metafóricos cujo berço foi construído, inicialmente, por Reddy,

passamos pelo desenvolvimento da teoria, cruzando os domínios conceptuais, a

representação e a classificação das metáforas. Viajamos pelo espaço cultural metafórico

sem esquecer de visitar os espaços metonímicos, num processo de entendimento da

teoria da metáfora conceptual.

Como exposto anteriormente, há que se guardar semelhanças e distinções entre

os processos metafóricos e metonímicos. Metáfora e metonímia têm sido consideradas

como figuras de estilo, isto é, mecanismos retóricos de ornamentação da linguagem. E

são essas metáforas criativas e poéticas, tipicamente usuais na linguagem literária, que

mais têm sido estudadas por filósofos, retóricos e críticos literários. Mas a metáfora e a

metonímia não são exclusivas da linguagem literária ou de outras formas de criação

lingüística, nem são essencialmente mecanismos retóricos. Metáfora e metonímia são

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instrumentos cognitivos e a linguagem corrente do dia-a-dia está recheada de expressões

metafóricas e metonímicas. São elas as mais importantes do ponto de vista cognitivo.

Para a Lingüística Cognitiva, esses dois processos são fenômenos verdadeiramente

conceptuais e constituem importantes modelos cognitivos. A principal diferença

existente entre ambos, como demonstrado anteriormente, é a de que enquanto a

metáfora envolve domínios cognitivos da experiência humana diferentes, como a

projeção da estrutura de um domínio origem numa estrutura correspondente de um

domínio alvo, a metonímia realiza-se dentro de um mesmo domínio, ativando e

realçando um sub-domínio por referência a outro sub-domínio do mesmo domínio.

Além dessas distinções, devemos retomar a diferença entre metáfora conceptual e

expressão lingüística metafórica. O primeiro termo refere-se ao mapeamento conceptual

e o segundo representa os conceitos e a realização superficial de cada mapeamento. Daí,

os cognitivistas representarem a metáfora conceptual por meio de letras maiúsculas e a

expressão lingüística metafórica, podendo existir várias para uma única metáfora

conceptual, em letras minúsculas.

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3. A LINGUAGEM DA PROPAGANDA

Neste capítulo, faremos algumas considerações acerca dos termos propaganda e

publicidade. Apresentaremos definições e conceitos de ambos os termos, pautados em

alguns especialistas da(s) área(s) de comunicação: Sampaio (1999), Sant’Anna (1996),

Sandmann (2001), entre outros. Ademais, daremos um panorama a respeito de tarefas

concernentes à propaganda, bem como uma ligeira tipologia estabelecida por Sampaio.

Um rápido passeio pela história da propaganda se faz necessário para que se perceba

que ela faz parte da história do homem desde tempos remotos e que, portanto, não é, a

priori, uma inovação do século passado. Não podemos deixar de lado, evidentemente, a

exposição de certos padrões de desenvolvimento por que passa a propaganda e alguns

recursos por ela utilizados para alcançar sua finalidade. Conseqüentemente, falar em

finalidade pede, de antemão, algumas menções a respeito dos que trabalham nessa área.

Ressalte-se que não faremos uma grande incursão em relação aos profissionais da área,

no entanto, evidenciaremos os que nos parecem pertinentes para o entendimento das

idéias presentes neste capítulo.

3.1. Alguns conceitos de propaganda e publicidade

Certamente, um lingüista contemporâneo já se perguntou sobre o que é ou como

se processa a propaganda, não porque não tivesse nenhuma informação sobre o assunto,

não é isso. Mas porque essa palavra, especialmente nos séculos XX e XXI, envolve

algumas questões relevantes para a sociedade moderna. Divulgar idéias religiosas,

políticas, de cunho sócio-econômico são alguns dos exemplos a que se destina a

propaganda.

Convém, no entanto, fazer um breve recuo no tempo e trazer à tona um pouco de

história a respeito do uso dos termos que, aparentemente, nos parece recente para, então,

mergulhar, de fato, no universo da propaganda e/ou publicidade.

A propósito da história, argumenta Sampaio (1999) que a propaganda remonta a

Roma Antiga, uma vez que tinha garantido seu espaço na vida do Império. Compara

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Sampaio que as paredes das casas, que se localizavam em áreas de maior movimentação

na cidade, eram bastante disputadas, como nos dias atuais são as páginas de uma grande

revista ou o intervalo comercial dos programas de maior audiência da televisão ou do

rádio. De caráter artesanal, já naquela época, observava-se alguma técnica: pintava-se a

parede de branco e, sobre esse fundo, a mensagem publicitária. De preferência em

vermelho ou preto, cores que chamavam “mais a atenção” sobre o branco (SAMPAIO,

1999, p. 20).

Um pouco mais tarde, época em que Roma já tinha um cunho religioso mais

solidificado e já se tornara centro do poder espiritual no Ocidente, a Igreja criou,

segundo o próprio autor, uma congregação religiosa para “propagar a fé”, origem, aliás,

da palavra “propaganda” (SAMPAIO, 1999, p. 20). Além dessa origem, aponta

Sampaio (1999, p. 25) que, na língua inglesa, há três termos que melhor explicitam

distintos aspectos da propaganda:

Adversiting: anúncio comercial, propaganda que visa divulgar e promover o consumo de bens (mercadorias e serviços); assim como a propaganda dita de utilidade pública, que objetiva promover comportamentos e ações comunitariamente úteis (não sujar as ruas, respeitar as leis de trânsito, doar dinheiro ou objetos para obras de caridade, não tomar drogas etc.).

Publicity: informação disseminada editorialmente (através de jornal, revista, rádio, TV, cinema ou outro meio de comunicação público) com o objetivo de divulgar informações sobre pessoas, empresas, produtos, entidades, idéias, eventos etc., sem que para isso o anunciante pague pelo espaço ou tempo utilizado na divulgação da informação.

Propaganda: Propaganda de caráter político, religioso ou ideológico, que tem como objetivo disseminar idéias dessa natureza.

Sandmann (2001), cujo título de seu livro foi emprestado para nomear o presente

capítulo A linguagem da propaganda, revela-nos alguns conceitos e idéias a respeito

dessa discussão. Iniciemos pelo termo propaganda que, de acordo com os dicionários

Wahrig (alemão) e Webster’s (inglês), tinha como meta principal cuidar da propagação

da fé (SANDMANN, 2001, p. 9), nome extraído de uma congregação criada em 1622,

em Roma.

Atualmente, a palavra propaganda tem diferentes formas de compreensão

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segundo o idioma no qual está inserida. No inglês, por exemplo, tem sua conotação

relacionada, restritamente, à propagação de idéias, sobretudo, políticas, por vezes,

denotando um sentido pejorativo. No entanto, para a propaganda comercial ou de

serviços é utilizado o termo advertising. Já em alemão, emprestou-se do francês a

palavra Reklame, para ‘propagar’ as idéias comerciais.

Nas palavras de Sant’Anna (1996, p. 75)

Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a qualidade do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de tornar público um fato, uma idéia. Propaganda é definida como a propagação de princípios e teorias. Foi traduzida pelo Papa Clemente VII, em 1597, quando fundou a Congregação da Propaganda, com o fito de propagar a fé católica pelo mundo. Deriva do latim propagare, que significa reproduzir por meio de mergulhia, ou seja, enterrar o rebento de uma planta no solo. Propagare, por sua vez, deriva de pangere, que quer dizer enterrar, mergulhar, plantar. Seria então a propagação de doutrinas religiosas ou princípios políticos de algum partido.

A propaganda, na língua portuguesa, tem um destaque diferente porque está

intrinsecamente relacionada à publicidade. Por vezes, tais terminologias são empregadas

sinonimamente sem muito cuidado quanto ao uso. Todavia, para pessoas que trabalham

nessa área, há uma diferença perspicaz e tênue envolvendo-a; para aquelas que não

trabalham nesse campo, o que vale é o emprego de uma pela outra, sem implicar,

contudo, em grandes problemas. Aqui, somos aliados, no que tange a essa questão, a

Sandmann quanto a uma ligeira distinção. O primeiro termo, publicidade, está

designado para a propagação de idéias enquanto que o segundo, propaganda, está

direcionado para a venda de produtos ou serviços. De todo modo, o autor revela-nos que

a propaganda seria um termo mais geral e que pode, sim, ser usado em ambos os

sentidos. No nosso entender, todavia, devemos respeitar suas peculiaridades.

Para os propósitos deste estudo, entenderemos que propaganda ou publicidade

tem como objetivo conseguir, por meio da palavra, especialmente expressões

lingüísticas metafóricas atualizadoras de metáforas conceptuais, ou por outros

mecanismos, convencer, levar o consumidor à prática de uma ação, a compra. Nas

palavras de Sampaio (1999, p. 25), dito de outra forma, propaganda é a divulgação de

um produto ou serviço com o objetivo de informar e despertar interesse de compra/uso

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nos consumidores.

Para tanto, utilizar-se-á de determinados recursos para alcançar esse fim. Para

reforçar tal prática, Mucchielli (1978, p. 23) expõe:

A publicidade e a propaganda fazem-se passar por informação ou educação, mas seu objetivo real, como vimos, não é transmitir uma mensagem e sim utilizar a comunicação (com todos os seus recursos) para orientar os indivíduos e os grupos, a fim de levá-los a agir na direção esperada.

3.1.1. Tipos de Propaganda

Diz Sampaio (1999) que os anunciantes, ao fazerem propaganda, a dividem em

dois grandes blocos. O primeiro deles é

A propaganda com objetivos promocionais é aquela cuja função básica é a venda de produtos ou serviços de uma empresa. Pode ser direta, como é o caso de um anúncio sobre a liquidação de uma loja, ou indireta, como no caso em que se anunciam as virtudes – ou simplesmente o nome – de determinada marca de produto ou serviço (1999, p. 28).

Ainda de acordo com esse teórico, há algumas tarefas que são próprias desse

instrumento de vendas e negócios. São elas:

- Divulgação da marca (de produto ou serviço) ou empresa para torná-la mais íntima dos consumidores que já a conhecem ou fazê-la conhecida pelos que não a conheçam. - Promoção da marca ou empresa para seus consumidores, visando aumentar sua presença entre eles ou ressaltando seus aspectos mais competitivos em relação ao que existe no mercado e é oferecido pela concorrência. - Criação do mercado para a marca ou empresa através da conquista de mais consumidores. - Expansão do mercado através da conquista de mais consumidores. - Correção do mercado, quando a imagem da marca ou empresa não estiver sendo percebida de maneira adequada pelos consumidores ou quando estes não estiverem corretamente informados das características e vantagens do produto ou serviço do anunciante. - Educação do mercado, quando o consumo depender da formação de

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uma atitude ou hábito do consumidor. - Consolidação do mercado, quando o importante for solidificar uma posição conquistada, através da reafirmação das qualidades da marca ou empresa. - Manutenção do mercado, através da constante reafirmação das características e vantagens da marca ou empresa e da ação de resposta aos ataques e esforços da concorrência (SAMPAIO, 1999, p. 28, 29).

O outro grupo denomina-se propaganda de caráter institucional, que tem por

meta principal, embora também veicule um sentido promocional, explicitar filosofia,

objetivos e ações de organizações públicas ou privadas, com teor, nas palavras do

próprio autor, eminentemente informativo (SAMPAIO, 1999, p. 29).

Outros gêneros de propaganda institucional válidos e também empregues são os que atendem, de forma indireta, a um objetivo institucional. Ou seja, geram simpatia e ajudam a construir uma boa imagem das empresas anunciantes sem que, para isso, a propaganda fale especificamente sobre elas. Podem se encaixar nesse caso a propaganda comunitária (em prol de alguma causa social), de fundo cultural (promovendo algum tipo de expressão artística), de utilidade pública (incentivando comportamentos úteis, pessoal e socialmente), de caráter beneficente, de fundo cívico (destacando datas e eventos) e outras de características e objetivos semelhantes (SAMPAIO, 1999, p. 29).

Com o advento da modernidade e da globalização, em que as pessoas estão

adquirindo novas responsabilidades (com o trabalho, com a família, nos estudos etc.),

novos desafios também chegam para os que fazem propaganda. A modernidade,

especificamente no âmbito da propaganda, trouxe consigo, maneiras diversas de

estimular o público. Programas especializados em computação gráfica, por exemplo,

fazem verdadeiros ‘milagres’, tecnológicos, com os males que assolam as mulheres.

Rugas, estrias, celulites e outros fantasmas femininos, são ‘quase que milagrosamente’

sanados através de técnicas ou cremes. Sabe-se, obviamente, que as imagens exibidas

para corroborar a tese de funcionamento desses recursos, na maioria dos casos, é

atribuída ao profissional que trabalha com programas que ‘camuflam’ os fantasmas.

Queremos dizer, enquanto consumidoras, que a crença de tais efeitos, muitas vezes, é

atribuída às imagens gráficas do conhecido antes e depois que são facilmente

encontradas em revistas, propagandas televisivas etc.

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As grandes empresas buscam o aperfeiçoamento contínuo de seus empregados

através de cursos, palestras, treinamentos nacionais e até internacionais. Tudo isso para

tentar conseguir a adesão do público. Contudo, estamos vivendo em uma sociedade

saturada por estímulos e é por meio dessa saturação que se torna difícil, para os

profissionais dessa área, prender a atenção e fazer com que assimilemos as idéias que

chegam até nós, consumidores.

Para cumprir a tarefa de conseguir a atenção do público, a propaganda deve,

segundo Sampaio (1999), obedecer a certos padrões de desenvolvimento.

Primeiramente, são definidos os objetivos da propaganda, que tarefa deve

cumprir (apresentar um novo preço, indicar o aumento das vendas, incentivar o uso de

terminado produto etc.), e quais informações serão transmitidas para o cumprimento dos

objetivos.

Em seguida, é realizado um trabalho de pesquisa de mercado para aferir quais

são os consumidores que se quer atingir. Perfil social, econômico, psicológico e cultural

do público-alvo, são algumas informações relevantes para pesquisa de mercado. Além

dessas informações, busca-se, também, saber como a concorrência age sobre eles.

Depois, estuda-se por meio de quais argumentos esse público reage mais

positivamente. A par dessas informações, a fase seguinte é a montagem da propaganda.

Ela define o conteúdo do anúncio, quais pontos devem ser ressaltados, de que modo os

argumentos devem ser apresentados (comparando, persuadindo, informando etc.), o

período de duração da propaganda e através de quais meios (no nosso caso - o panfleto)

será divulgada.

Ela pode ser feita diretamente pelo anunciante no veículo ou com o auxílio de

corretores através de agências de propaganda. Por essas razões, ou seja, pelo fato de que

a propaganda necessita do auxílio desses profissionais para chegar ao seu público-alvo

(os consumidores), há alguns setores que se somam à sua função (veículo,

consumidor,agência, anunciantes etc.).

Quando alguns desses setores se integram, tem-se um imenso leque de recursos

que podem ser utilizados na criação da propaganda, claro, obedecendo a sua natureza.

Aspectos fonéticos, como rima e ritmo, ortográficos com o uso de grafias exóticas ou

aspectos sintáticos do tipo topicalização ou simplicidade estrutural são levados em

consideração. Ambigüidade, linguagem figurada, personificação, metáfora, desvios

lingüísticos da norma padrão são aspectos semânticos de igual importância na criação

da propaganda, segundo Sandmann.

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Ainda de acordo com Sampaio (1999, p. 26)

A propaganda é, pois, a mistura de diversos ramos das artes, das ciências e das atividades técnicas, combinados de forma a planejar, criar, desenvolver, produzir e emitir mensagens de caráter comercial. A função principal da propaganda é de um lado, - essencialmente - disseminar informações, raciocínios e idéias que permitam aos consumidores estarem mais informados sobre os produtos e serviços existentes e à sua disposição, e, de outro, possibilitar aos anunciantes o aumento de seus negócios, através da conquista de mais consumidores.

Mucchielli (1978), em seu capítulo que versa sobre A linguagem da Publicidade,

salienta limitações e características da linguagem publicitária. Segundo ele, “A

mensagem publicitária deve ter uma comunicação ultra-rápida e quase mesmo

instantânea” (MUCCHIELLI, 1978, p. 49). A mensagem é, por vezes, verbal e não-

verbal. O anúncio veicula alguma informação e, normalmente, traz alguma imagem para

deixar a mensagem mais entendível. Outro recurso, por ele apresentado, é o de usar a

linguagem de que o público-alvo se serve, certamente, para aproximar produto e serviço

do cliente. Transformar o desejo latente em motivação de compra, leva o publicitário a

inventar uma linguagem que provoque, isto é, que motive (MUCCHIELLI, 1978, p. 50).

Este capítulo teve como finalidade principal expor alguns conceitos dos termos

propaganda e publicidade na perspectiva de alguns especialistas da área da

comunicação. Também incluímos dois tipos de propaganda aduzidos por Sampaio, além

de algumas tarefas que são próprias da propaganda com objetivos promocionais.

Discorremos brevemente sobre certos padrões de desenvolvimento, por meio dos quais

a propaganda deve passar para conseguir a atenção do público, além de mencionar

alguns profissionais que trabalham na área de propaganda e/ou publicidade.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo constitui a análise propriamente dita dos panfletos que integram o

corpus deste trabalho. O intuito é validar a hipótese norteadora deste estudo: as

expressões lingüísticas metafóricas que atualizam metáforas conceptuais seriam

responsáveis pela construção do(s) sentido(s) em panfletos, constituindo-se, dessa

forma, em um mecanismo argumentativo.

A(s) metáfora(s) conceptual(is) encontrada(s) nos panfletos analisados, será(ao)

evidenciada(s), separadamente, acompanhando cada panfleto. Após destacar as

metáforas e suas respectivas expressões lingüísticas metafóricas, abordaremos, de

maneira geral, a função exercida pelas expressões lingüísticas metafóricas.

4.1. Corpus e Método

Antes de iniciar o processo descrito acima, convém, no entanto, fazer algumas

ponderações a respeito da coleta dos panfletos. Como já havia trabalhado com a análise

de panfletos na qualidade de bolsista de iniciação científica (PIBIC) no período de

janeiro de 2001 a janeiro de 2002, consta, no acervo total de panfletos da presente

pesquisa, os que foram coletados naquela época e outros que foram coletados

posteriormente, no período de maio de 2005, início deste trabalho, até os dias atuais.

Nos dois períodos de estudo e análise de panfletos, a coleta se deu de forma muito

simples. Alguns passeios pelo centro da cidade ou mesmo algumas paradas em sinais de

trânsito já foram suficientes para coletá-los, além de outros que foram trazidos graças à

colaboração de colegas, desde a graduação até o mestrado, que os trouxeram, inclusive,

de outras cidades, como já mencionado. É necessário revelar que o único critério usado

para coletar os panfletos foi a presença de texto verbal. Além desse não foi utilizado

nenhum outro critério em virtude de que estaríamos interferindo, de forma mais direta,

na análise do corpus. Tudo isso, justifica-se pela tentativa de ser o mais ‘imparcial’

possível.

Dentre todos os panfletos coletados no decorrer da pesquisa, tem-se, na

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somatória, um total de 200. Porém, foram selecionados, dentre esses, trinta e um que

apresentaram ocorrência de metáforas conceptuais. Note-se que alguns dos panfletos

analisados apresentaram a ocorrência de mais de uma metáfora conceptual. Porém, por

uma questão metodológica, os enumeramos de acordo com a análise, por isso, no total,

constam 35 panfletos.

Não podemos deixar de dizer que, em alguns momentos, a dúvida ‘panfleto ou

folheto’ foi pertinente. Então, partindo desse questionamento, a tarefa principal foi

caracterizar nosso objeto de análise. Para tanto, usamos como subsídio duas

perspectivas teóricas, as quais serão apresentadas em seguida.

4.2. Duas Faces do Panfleto: veículo de comunicação e suporte de gênero

Neste item, levantamos algumas definições que podem ser dadas ao panfleto.

Elas, como será visto, podem ocorrer, inicialmente, de duas formas. É inegável que o

panfleto, nas teorias publicitárias, seja enfocado/nomeado como um veículo de

comunicação, como o são a televisão, a mala direta, o folder ou um encarte qualquer.

Isso acontece porque a perspectiva adotada é a que envolve o universo da propaganda

e/ou publicidade, daí a primeira face do panfleto chamar-se de veículo de comunicação.

Por outro lado, se estamos trabalhando numa perspectiva cujo embasamento teórico se

dá no nível lingüístico-discursivo, o panfleto pode ser mencionado por outro viés, como

suporte de gênero.

Salientamos, contudo, que essa distinção é feita no sentido de contribuir para o

entendimento de como o panfleto pode ser visto neste estudo. Embora haja essa

diferenciação, que se dá na nomenclatura porque os níveis teóricos são distintos, o

emprego de ambas as definições não altera, a nosso entender, o modo de falar ou de ver

o panfleto. Isto é, pensamos que essas nomenclaturas não se contradizem, como pode, a

princípio, parecer, pois se tratam apenas de níveis teóricos diferentes. É relevante,

ainda, expor que estaremos, em vários momentos, usando os termos sinonimamente

para referir-nos ao panfleto. A propósito da nomenclatura, discorre Sampaio (1999, p.

82) que

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Veículo de propaganda é qualquer meio de comunicação que leve uma mensagem publicitária do anunciante aos consumidores, seja um simples boletim de associação de amigos de bairro até uma rede nacional de televisão.

A bibliografia existente sobre os veículos ou, também chamados, meios de

comunicação são os mais diversos. Há aqueles que atingem altos pontos de audiência no

ibope como as emissoras de televisão, o rádio, o jornal e algumas revistas. Por outro

lado, existem aqueles dirigidos para uma única pessoa, como é o caso da mala direta.

Convém mencionar, entre esses extremos, outro importante veículo de comunicação

usado na mídia: a principal rede internacional de computadores – Internet, popularmente

nomeada de Net.

Em relação à especificidade dos veículos de comunicação, argumenta Sampaio

(1999, p. 83) que

Há veículos com orientação para grandes massas de consumidores, como a televisão, parte das emissoras de rádio e algumas revistas e jornais. E existem veículos direcionados para grupos muito precisos de consumidores, como revistas médicas, de engenharia e para aficionados de algum esporte, emissoras de rádio voltadas para determinados gêneros de programação, jornais de comunidades e mala direta.

Complementa seu pensamento em relação à escolha do melhor veículo, dizendo

que essa tarefa pode ter o mesmo grau de facilidade e de dificuldade, dependendo, para

tanto, do objetivo do publicitário. Nesses termos, a especificidade do público-alvo

visado, bem como os recursos disponíveis para a tarefa a que se destina a propaganda,

são algumas características que devem ser levadas em consideração no momento da

escolha do veículo. Como forma de corroborar esse pensamento, afirma Sampaio (1999,

p. 84) que

Quando uma pessoa quer vender um automóvel usado, seu trabalho de seleção de mídia limita-se a escolher uma seção de classificados de um dos jornais da cidade. Quando uma fábrica de cigarros precisa divulgar uma de suas marcas mais populares, é preciso selecionar grande quantidade de veículos em diversos meios, planejando para que as sobreposições de audiência não sejam grandes a ponto de

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comprometer a eficiência dos investimentos aplicados. A esse trabalho de seleção dos meios e veículos, análise do perfil da audiência (ouvinte, espectador ou leitor) e seu comportamento em relação ao veículo, realização e estudo das pesquisas sobre o assunto e definição das estratégias e táticas a serem empregadas, chama-se genericamente de mídia.

Para subsidiar a questão do suporte, nos afiliamos às idéias expostas por

Marcuschi (2003, p. 9-40). Em seu artigo intitulado A questão do suporte dos gêneros

textuais, é discutido o seu posicionamento sobre a relação que se estabelece entre o

suporte e o gênero textual. O lingüista assevera que sua “tese central é a de que todo

gênero tem um suporte, mas a distinção entre ambos nem sempre é simples e a

identificação do suporte exige cuidado” (2003, p. 9). O autor alimenta suas idéias,

afirmando que não é propósito seu estabelecer uma tipologia de suportes, na realidade,

suas intenções encaminham para o fato de que é praticamente inegável que eles, os

suportes, contribuem não apenas para a seleção de gêneros, mas também para a sua

forma de apresentação. Embora o autor diga que não será seu objetivo analisar o

caminho que o suporte trilhou ao longo da história, sugere, ao mesmo tempo, que seria

interessante observar sua variedade que passa das paredes interiores de cavernas ao

pergaminho, ao outdoor e, finalmente, chega à Internet.

Uma observação preliminar pode ser feita a respeito da importância do suporte. Ele é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado. Mas isto não significa que o suporte determine o gênero e sim que o gênero exige um suporte especial (MARCUSCHI, 2003, p. 10).

Apesar de o autor mostrar essa relação entre o suporte e o gênero, argumenta ele

que podem ocorrer casos complexos em que o suporte determinará a distinção que o

gênero recebe. Para sustentar essa tese, Marcuschi traz o seguinte exemplo e comenta

(2003, p. 10):

“Paulo, te amo, me ligue o mais rápido que puder. Te espero no fone 55 44 33 22. Verônica.”

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Se isto estiver escrito num papel colocado sobre a mesa da pessoa indicada (Paulo), pode ser um bilhete; se for passado pela secretária eletrônica é um recado; remetido pelos correios num formulário próprio, pode ser um telegrama; exposto num outdoor pode ser uma declaração de amor. O certo é que o conteúdo não muda, mas o gênero é aqui identificado na relação com o suporte. Portanto, há que se considerar este aspecto como um caso de co-emergência, já que o gênero ocorre (surge, concretiza-se e circula) numa relação de fatores combinados no contexto emergente.

Outra observação pertinente feita pelo lingüista reside no fato de que, apesar de

os dicionários trazerem definições acerca do suporte, elas não dão conta do universo que

envolve este fenômeno. Por isto, dirá ele que

Intuitivamente entendemos como suporte de gênero um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Numa definição sumária, pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto (MARCUSCHI, 2003, p. 11).

Marcuschi (2003, p. 12) também nos revela que o suporte pode assim ser

expresso:

( a ) suporte é um lugar físico ou virtual;

( b ) suporte tem formato específico;

( c ) suporte serve para fixar e mostrar o texto.

Outra noção que nos traz Marcuschi a respeito desse tema refere-se às categorias

de análise do suporte. Ele as define de maneira resumida, sem muitas discussões. Aqui,

constam apenas aquelas que consideramos mais relevantes do ponto de vista deste

trabalho, isto é, aquelas que vão colaborar para uma melhor compreensão a respeito do

panfleto.

A primeira categoria por ele explicitada é o discurso que “diz respeito à própria

materialização do texto em seu aspecto enunciativo e é o texto em seu funcionamento

sócio-histórico” (MARCUSCHI, 2003, p. 15). A segunda categoria apresentada é a

noção de texto que, “em essência, trata-se de um evento comunicativo em que aspectos

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lingüísticos, sociais e cognitivos estão envolvidos de maneira central e integrada” [...]

(MARCUSCHI, 2003, p. 16). Por último, destacaremos a noção de canal e meio em

que, “tecnicamente, o canal seria o meio físico de transmissão de sinais; este é o caso do

rádio, da televisão e do telefone quando vistos como emissora ou aparelho operando

como canal de transmissão” (MARCUSCHI, 2003, p. 18).

Para concluir seu pensamento em relação às categorias explicitadas, argumenta

Marcuschi que

Há aqui uma certa confusão entre suporte, canal, meio e serviço. Parece que a noção de canal é difusa e abriga todo tipo de fenômeno incluindo ali o próprio suporte quando se vê o papel como canal (2003, p. 18).

Muito embora afirme o autor que não há muita clareza entre as noções citadas, é

pertinente ressaltar que, como dito anteriormente, neste estudo, muitas vezes, usaremos

os termos suporte ou veículo para falarmos do panfleto.

Como forma de sustentar as idéias que envolvem o fenômeno de diferenciação

entre gênero e suporte, após a explanação sobre diversas categorias de análise do

suporte, elenca Marcuschi alguns suportes convencionais e outros denominados

incidentais e, ao mesmo tempo, faz um breve comentário de cada um.

Chamam-se suportes convencionais “aqueles que foram desenhados com a

função específica de serem suportes” (MARCUSCHI, 2003, p. 21). Cita como exemplo:

livro em papel, livro didático, jornal (diário), revista de informação (semanal/mensal),

revista científica (boletins e anais), quadro de avisos, outdoor, encarte, folder,

luminosos, faixas etc. “Os denominados suportes incidentais são apenas meios casuais

que emergem em situações especiais ou até mesmo corriqueiras, mas não são

convencionais, como os apontados no item anterior” (p. 29). Exemplos desses suportes

são: embalagem, pára-choques e pára-lamas de caminhão, roupas, corpo humano,

paredes, muros, paradas de ônibus, e-mail, mala direta etc.

Como se pode perceber não há referência, no artigo em cujas idéias nos

pautamos, ao corpus que nos propomos analisar, panfleto. Já foi mencionado, no início

deste trabalho, que não se encontrou referências ao panfleto que fossem pertinentes nem

satisfatórias. Às vezes, em compilações de cunho publicitário, há pouca menção dada a

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ele. Diante desta constatação, o desafio é, então, apresentar uma caracterização com

base no corpus a nossa disposição e em nossas leituras.

4.3 Por uma caracterização de panfletos

Com base na análise do corpus, podemos aferir que os 200 (duzentos) panfletos

coletados apresentam semelhanças bastante pertinentes.

Sabemos que o panfleto, cuja circulação ocorre de maneira rápida, deve ter uma

ação imediata, isto é, ao ser entregue para um possível leitor, este deve ser ‘induzido’,

em um curto espaço de tempo, a fazer o que diz a mensagem ali escrita. Espera-se que,

se uma mensagem veicula a promoção de aparelhos de telefonia móvel para a população

em geral, o virtual comprador, no momento da leitura, em que são apresentados

argumentos os mais diversos, vá ao estabelecimento e adquira um dos aparelhos em

promoção.

Se um possível comprador está passando por um sinal de trânsito, próximo aos

grandes centros comerciais e recebe um panfleto veiculando uma promoção de óculos,

devemos imaginar que as informações contidas ali devem ser suficientes para levá-lo à

ótica e, ali, buscar esclarecimentos maiores que não constavam no panfleto.

De maneira geral, a grande maioria dos panfletos coletados segue esse padrão.

As informações veiculadas são curtas para que o consumidor as leia e,

conseqüentemente, lhe despertem o interesse pela aquisição de algo.

É necessário mencionar que há também, no corpus, panfletos que mais parecem

uma folha de periódico por tantas informações apresentadas. No entanto, pelos

propósitos deste trabalho não entraremos no mérito da questão.

Em relação ao formato, como abordado por Marcuschi (2003), podemos afirmar

que segue certa especificidade. Tem tamanho mais ou menos padrão, não é muito

grande, nem muito pequeno. Alguns apresentam informações apenas em um dos lados

da folha, outros veiculam informações na frente e no verso. Em termos de texto não-

verbal, verificamos que quando o layout apresenta-se mais elaborado, isto é, com um

acabamento mais cuidadoso, a imagem, geralmente, corrobora o texto escrito.

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4.4 Levantamento das metáforas e discussão

Apresentaremos, nesta seção, através de quadros, ocorrências de metáforas

conceptuais e respectivas expressões lingüísticas metafóricas. Serão apresentadas em

letras maiúsculas, representação formalizada pelos cognitivistas, enquanto que as

expressões lingüísticas metafóricas serão elencadas abaixo de cada metáfora, em letras

minúsculas. Acompanhando cada expressão lingüística metafórica, há a referência dos

panfletos. Por exemplo, P1 corresponde ao panfleto 1 que consta nos anexos. Em

seguida, de forma mais específica e detalhada, tecemos algumas ponderações acerca da

função(es) semântico-discursiva(s), e possivelmente argumentativa(s), em panfletos.

4.4.1 Metáforas Orientacionais

A propósito de metáforas orientacionais, Lakoff e Johnson (2002 [1980], p. 59)

afirmam que elas “dão a um conceito uma orientação espacial como, por exemplo,

FELIZ É PARA CIMA”. Por meio dessa metáfora conceptual orientacional, é possível

construirmos expressões do tipo Estou me sentido para cima hoje. Com base nessa

assertiva, os cognitivistas seguem sua tese dizendo que as “metáforas de espacialização

estão enraizadas na experiência física e cultural; elas não são construídas ao acaso”

(2002 [1980], p. 65). Daí, dizer-se que nossa postura, quando estamos felizes, fica ereta,

com ombros abertos e queixo elevado indicando uma inclinação, física ou afetiva,

positiva.

As metáforas orientacionais encontradas no corpus foram: MAIS É MELHOR (4

ocorrências), MAIS É PARA CIMA (3 ocorrências), MENOS É MELHOR e DENTRO

É POSITIVO / FORA É NEGATIVO (3 ocorrências). Em seguida, apresentamos a

discussão das metáforas e elencamos as expressões ligüísticas metafóricas que as

atualizam.

MAIS É MELHOR (3 ocorrências)

P1. (...) O maior centro de ortodontia do país, Mais de 23 clínicas no

país, mais de 25.000 grupos de ortodontistas, Aqui você encontra muito

mais tecnologia e qualidade no tratamento do seu sorriso.

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P2. (...) aumentamos os prazos (...)

P3. Mais completa rede de assistência médica em João Pessoa,

contando com mais de 1.000 médicos e 200 locais de atendimento,

Melhor e mais moderno hospital próprio (...)

Note-se, pela mensagem, veiculada no P1 O maior centro de ortodontia do país, o

que segue logo abaixo, expressões lingüísticas metafóricas orientacionais, vai

corroborar a metáfora MAIS É MELHOR: Mais de 23 clínicas no país, mais de 25.000

grupos de ortodontistas, Aqui você encontra muito mais tecnologia e qualidade no

tratamento do seu sorriso.

Tais sentenças orientam para o fato de que, na empresa CION, o cliente pode

confiar nos serviços ali prestados, pois a credibilidade é ‘assegurada’ e ‘confirmada’

pela idéia, já internalizada pela maioria da população, de que MAIS É MELHOR.

A análise dessa expressão [...] aumentamos os prazos, presente no P2, mais uma

vez, nos faz acreditar que, usando a metáfora orientacional MAIS É MELHOR, o

locutor, Talentos de Ouro, persuade seus clientes, fazendo-lhes crer que a opção de um

prazo longo, com um número maior de parcelas, é uma grande vantagem por ele

oferecida e que, portanto, deve e pode ser utilizada.

Fazendo uso da mesma tática empregada pela Talentos de Ouro, o locutor do P3,

Unimed, construiu argumentativamente seu texto pautato na idéia transmitida pelas

expressões Mais completa rede de assistência médica de João Pessoa, contando com

mais de 1.000 médicos e 200 locais de atendimento, Melhor e mais moderno hospital

proprio [...], que, por sua vez, atualizam a metáfora MAIS É MELHOR. Ela funciona

como respaldo e sanciona, ao memso tempo, os Cinco ótimos motivos para você

adquirir um plano de saúde Unimed João Pessoa.

MAIS É PARA CIMA (3 ocorrências)

P4. Quanto mais produtos você adquirir, mais vantagens você terá.

P5. (...) máximo de conforto e segurança, mais alta tecnologia e profissionais

altamente treinados.

P6. Aumente suas chances, aprenda um novo idioma.

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Vejamos agora como essa metáfora conceptual, atualizada por expressões

lingüísticas metafóricas, orienta argumentativamente o discurso.

No P4, a metáfora é atualizada ou é ativada pela expressão lingüística metafórica

Quanto mais produtos você adquirir, mais vantagens você terá. A Caixa Econômica

Federal, banco popular governamental, está oferecendo vantagens (desconto na taxa de

juros, redução na taxa de cheque especial, isenção temporária de cesta de serviços etc.)

em relação à contratação de serviços (empréstimo, conta corrente, produtos de crédito

pessoal, cartão de crédito, cheque especial) assegurando, aos possíveis leitores/clientes,

mais benefícios.

Como forma de tentar convencer seu público-alvo a contratar um dos serviços

oferecidos, o locutor usa a estratégia da metáfora orientacional MAIS É PARA CIMA,

visto que em nossa cultura, a depender do contexto, tal metáfora veiculará aspectos ou

atitudes positivas.

No P5, são as expressões máximo de conforto e segurança, mais alta tecnologia e

profissionais altamente treinados que nos dão o sentido de orientação MAIS É PARA

CIMA. Trata-se, nesse caso, de uma empresa cuja tarefa principal é a de equipar

veículos. Estrategicamente, como forma de argumentar junto aos possíveis clientes, a

empresa, Z Equipadora, usa, conscientemente ou não, em seu panfleto, expressões

lingüísticas metafóricas que orientam o discurso para uma determinada leitura. Note-se

que o auditório desse panfleto não é geral. É específico: adolescentes, já que a

apreciação e o intento de equipar um carro não é objetivo primordial para o público da

terceira idade, por exemplo. Com base nesse pensamento, o produtor do texto buscou e

selecionou expressões que levassem o público-alvo a contratar o serviço de

equipamento de veículos. Utilizando-se da idéia de que hoje em dia, principalmente, a

juventude quer ‘estar por dentro do que há de melhor’ (máximo de conforto e

segurança, mais alta tecnologia e profissionais altamente treinados) o mecanismo foi

usar uma linguagem que denotasse tal idéia.

Aumente suas chances, aprenda um novo idioma, expressão contida no P6,

revela-nos que à medida que acrescentamos, nesse caso, uma substância (chances de

aprender um novo idioma) em um recipiente (currículo), teremos maiores oportunidades

em concorrer a um emprego em relação a um outro candidato que não domina outro

idioma. Recuperando o senso comum ou informações compartilhadas, infere-se que,

atualmente, pessoas que sabem uma língua estrangeira têm vantagem sobre aquelas que

não a estudaram. A seleção de tal expressão não foi aleatória, foi estratégica e

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propositadamente utilizada com o objetivo de chamar o público-alvo para, mediante o

aprendizado de uma língua estrangeira, o fato de que quanto mais habilidades você

demonstrar em seu currículo, em relação a um possível concorrente, mais chances você

terá de crescer, de chegar ‘por cima’.

MENOS É MELHOR (4 ocorrências)

P7. (...) o Atavarejo tem menos custos.

P8. Natal de preços baixos é aqui.

P9. (...) paga as menores parcelas.

P10. Baixamos os juros.

Os panfletos 7, 8, 9 e 10 apresentam a metáfora conceptual orientacional MENOS

É MELHOR, atualizadas, porém, por expressões ligüísticas metafóricas diferentes.

É mister ressaltar que, embora pareça contraditório dizer que MENOS É

MELHOR, no contexto em que se encontram veiculadas as expressões ligüísticas, isto

é, momento de comemorações natalinas veiculado em dois panfletos, (P7) Por só

vender à vista, o ATAVAREJO tem menos custos, essa economia vai para o seu bolso! e

(P8) Natal de preços baixos é aqui!!!, é perfeitamente aceitável e funciona como um

forte argumento para as vendas, uma vez que esse é o período em que, normalmente, as

pessoas buscam economizar em virtude de presentear um maior número de familiares e

amigos.

Em se tratando de uma época em que o capitalismo está devorando nossos lucros,

é de se aceitar que quanto menor o preço de um produto ou serviço, melhor para o nosso

bolso. Podemos então afirmar que, inteligentemente, o locutor empregou uma expressão

lingüística metafórica que orienta, no contexto acima descrito, o discurso para

conclusões financeiramente positivas.

A mesma estratégia pode ser confirmada, nos panfletos (P9) e (P10), através das

respectivas expressões metafóricas Aqui você pega os maiores valores e paga as

menores parcelas e Baixamos os juros [...]

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DENTRO É POSITIVO / FORA É NEGATIVO (3 ocorrências)

P11. Vai ficar de fora dessa?

P12. Entre na faculdade

P13. Você entra como aluno (...)

“Nós projetamos a nossa própria orientação dentro-fora sobre outros objetos

físicos que são delimitados por superfícies” (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p.

81). As expressões lingüísticas metafóricas Vai ficar de fora dessa?, Entre na faculdade

e Você entra como aluno(...) nos orientam em relação a objetos físicos.

O P11 veicula uma propaganda na qual o locutor, UNIBRATEC, está em busca

de pessoas interessadas em aprender, em qualificar-se com a “única Faculdade

Especialista em Informática”. Como forma de conseguir a adesão do público-alvo, a

estratégia argumentativa empregada direciona o virtual leitor a crer que Ficar de fora

dessa é não fazer parte, é estar excluído dessa oportunidade. Como consequência, essa

atitude revela uma posição negativa.

Há contextos em que ‘estar de fora’ é positivo, no entanto, no contexto descrito

acima, a mesma sentença designa uma atitude negativa. A Instituição de Ensino

Superior utiliza, como forma de corroborar sua tese de que FORA É NEGATIVO, a

sentença “única Faculdade Especialista em Informática”. Não está incluído nessa

Faculdade é deixar de aproveitar uma grande oportunidade no mercado de trabalho, pois

espera-se, numa entrevista, que o avaliador/entrevistador ‘veja com bons olhos’ o fato

de o entrevistado fazer parte da “única Faculdade Especialista em Informática”.

O responsável pelo discurso veiculado nos panfletos 12 e 13 vale-se das

expressões metafóricas Entre na faculdade e Você entra como aluno (...) para tentar

promover determinadas atitudes de seus leitores. As instituições, UNIBRATEC e

IEPEC, objetivam, conscientemente ou não, por meio da metáfora orientacional

DENTRO É POSITIVO, atualizada pelas expressões lingüísticas metafóricas acima

apresentadas, fazer com que seus virtuais interlocutores se submetam ao processo

seletivo para ingressar nas respectivas instituições.

Conclui-se, então, que os locutores, as faculdades, utilizam,

argumentativamente, as expressões lingüísticas metafóricas atualizadoras das metáforas

orientacionais DENTRO É POSITIVO / FORA É NEGATIVO com o intuito de

convencer o público-alvo a fazer parte da faculdade, já que essa é uma ação positiva e

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que não deve ser ‘descartada’.

Sobre o processo polifônico, salientamos que são as expressões lingüísticas

metafóricas que remetem para o domínio fonte (conhecimento prévio) E1, que pode ser

caracterizado como E1, enquanto que o domínio alvo, o novo conceito construído, a

partir de elementos selecionáveis do domínio fonte, poderá ser entendido como E2. A

identificação desse diálogo entre domínios semânticos diferentes (domínio fonte e

domínio alvo) leva-nos a postular as expressões lingüísticas metafóricas como recursos

polifônicos.

Vejamos, em seguida, a análise de outra categoria de metáfora, a estrutural.

4.4.2 Metáforas Estruturais

Afirmam os estudiosos que a ocorrência desse tipo de metáfora é verificada

quando compreendemos um conceito, que é mais abstrato, através de um outro conceito

que é, normalmente, mais concreto. Tal compreensão sempre será parcial porque do

contrário um conceito seria de fato o outro.

As metáforas estruturais encontradas em 11 panfletos foram as seguintes:

FUTURO É UMA CONSTRUÇÃO (1 ocorrência) e TEMPO É UM BEM VALIOSO

(10 ocorrências).

FUTURO É UMA CONSTRUÇÃO (1 ocorrência)

P 14. Cadastre-se o quanto antes para começar a construir seu futuro já; Comece

hoje mesmo a construir seu futuro, sendo uma profissional de venda direta .

Através da análise das expressões lingüísticas metafóricas Cadastre-se o quanto

antes para começar a construir seu futuro já e Comece hoje mesmo a construir o seu

futuro, sendo uma profissional de venda direta, podemos inferir que é perfeitamente

possível, e porque não dizer plausível?, afirmar que tais expressões atualizam a

metáfora conceptual estrutural FUTURO É UMA CONSTRUÇÃO.

Considerando que o conceito mais concreto de construção (domínio fonte) está

fornecendo parcialmente o entedimento do conceito mais abstrato de futuro (domínio

alvo), constatamos que esse mapeamento revela a forma sob a qual compreendemos o

conceito de futuro no panfleto em questão. Esse mesmo mapeamento mostra uma

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tentativa de persuadir um possível leitor.

Quando se pensa, por exemplo, que a linguagem desse veículo de comunicação,

muitas vezes, não é elaborada por empresas especializadas no ramo publicitário, torna-

se necessário dizer que, nesse panfleto, o locutor, astuciosamente, construiu uma

sentença a fim de provocar determinadas atitudes no virtual interlocutor. Todavia, o fato

de o panfleto ter sido elaborado, possivelmente, por pessoas cujos estudos não foram

pautados na área da comunicação não impediu que o produtor do texto usasse,

estrategicamente, a metáfora orientacional FUTURO É UMA CONSTRUÇÃO com o

objetivo de conseguir a adesão dos virtuais leitores.

Na realidade, a constatação, acima verificada, confirma claramente a tese

apresentada e defendida pelos teóricos cognitivistas Lakoff e Johnson: as metáforas

fazem parte de nossa vida cotidiana. “O conceito é metaforicamente estruturado, a

atividade é metaforicamente estruturada e, em conseqüência, a linguagem é

metaforicamente estruturada” (2002 [1980], p. 48).

TEMPO É UM BEM VALIOSO (10 ocorrências)

P15. (...) Não perca tempo.

P16. Valorize seu tempo.

P17. TEMPO É DINHEIRO

P18. Não perca tempo.

P19. Dinheiro rápido.

P20. Seu dinheiro na hora certa.

P21. Invista em você e no seu sucesso.

P22. Dinheiro rápido.

P23. Não perca.

P24. Dinheiro na hora.

É de fundamental importância dar uma explicação de o porquê estarmos

utilizando o conceito metafórico específico TEMPO É UM BEM VALIOSO.

Os conceitos metafóricos TEMPO É DINHEIRO, TEMPO É UM RECURSO e TEMPO É UM BEM VALIOSO formam um único sistema conceptual baseado em subcategorização, uma vez que, na nossa sociedade, o dinheiro é um recurso limitado, e recursos

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limitados são bens valiosos (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 52).

Embora afirmem os autores cognitivistas que há expressões referentes à metáfora

TEMPO É DINHEIRO, que se referem “especificamente a dinheiro (gastar, investir,

orçar, lucrar, custar), outras a recursos limitados (usar, esgotar etc..), e outras a bens

valiosos (ter, dar, perder etc.)”(2002 [1980], p. 52), em nossa análise, entendemos que

o conceito metafórico TEMPO É UM BEM VALIOSO abrange e envolve as outras

duas subcategorizações.

Pelo fato de a metáfora conceptual estrutural TEMPO É UM BEM VALIOSO ter

sido recorrente em 10 panfletos, pensamos ser cansativo fazer a análise de todas as

ocorrências visto que a função argumentativa presente em quase todos os panfletos é

semelhante. Daí, optamos, então, por analisar apenas algumas dessas ocorrências.

No P15, tem-se uma expressão lingüística metafórica (...) Por isso não perca

tempo, (...) atualizando o conceito metafórico TEMPO É UM BEM VALIOSO. O

panfleto veicula uma propaganda que oferece cursos de idiomas, os mais diversos, que,

por sua vez, aumentarão as chances daqueles que os fizerem de conseguir um emprego.

Conseqüentemente, com ele, o virtual leitor poderá adquirir e/ou aumentar sua renda.

Ou seja, a mensagem (expressão) nos diz, implicitamente, que devemos investir nosso

tempo, fazendo algo que nos dê um retorno, nesse caso, financeiro. Por outro lado,

podemos concluir, também, que para competir por um emprego, em um mercado de

trabalho competitivo, não devemos estar parados, estagnados no tempo, perdendo-o.

Parte de como entendemos ou de como lidamos com o dinheiro, através de tal

expressão, é projetada para a maneira de como estamos concebendo o tempo, pois

cotidianamente pensamos e agimos como se parte dele fosse um bem valioso e

esgotável assim como é o dinheiro, pelo menos na nossa cultura.

Note-se que no p16, da instituição de ensino superior UNIPÊ, a expressão

lingüística metafórica Valorize seu tempo, no contexto no qual está inserida, isto é, a

seleção de um concurso, está diretamente associada à idéia, já internalizada por nós, de

que o tempo é um bem ou um recurso muito valioso, sobretudo nos dias atuais em que,

principalmente, os meios de comunicação o tratam como se fosse uma nota de dinheiro

de alto valor. A partir de tal expressão, podemos deduzir outras informações, por

exemplo, a de que as empresas, atualmente, estão exigindo não apenas experiência em

uma determinada área, mas, principalmente, a capacitação, a profissionalização. Isso

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implica dizer que a expressão lingüística metafórica valorize seu tempo para o público-

alvo desse panfleto - provavelmente as pessoas que estão pensando em ingressar em

uma faculdade, particular, nesse caso – tem, pelo menos, duas implicações: a de que

devem investir certa quantidade de dinheiro todos os meses durante um período

determinado, caso sejam aprovadas, além do fato de estarem utilizando o período de

tempo correspondente às aulas de maneira rentável, assistindo-as, aprendendo, isto é,

não estarão desperdiçando seu tempo, por exemplo, estando ociosos em casa.

Algo bastante peculiar ocorre com a análise do panfleto da UNIBRATEC, P17,

pois se tem uma expressão lingüística metafórica que coincide com a metáfora

conceptual estrutural TEMPO É UM BEM VALIOSO que aparece na frente e no verso

do panfleto (TEMPO É DINHEIRO). Ressalte-se que esse fenômeno é novo do ponto

de vista dos panfletos analisados até então, já que esse é o primeiro que se utiliza da

metáfora conceptual não apenas concretizada lingüisticamente, mas também reforçada

pela linguagem não-verbal. Saliente-se que não nos propomos verificar como tal

linguagem funciona na construção de um dos possíveis sentidos nesse panfleto,

contudo, não podemos deixar de evidenciar que ela é também mais uma estratégia da

qual o locutor se utiliza para convencer, talvez mais categoricamente, o virtual leitor de

que quem não sabe investir seu tempo adequadamente, tentando uma possível vaga para

ingressar na instituição, estará perdendo dinheiro, um bem valioso, porque não terá

oportunidade de conseguir um emprego e, por conseguinte, uma renda.

No P18, que veicula uma promoção a partir de uma data comemorativa, dia dos

pais, a expressão lingüística metafórica Não perca tempo!!! também pode ser explicada

de forma bem semelhante ao caso anterior. Nesse panfleto, veicula-se uma super

promoção dia dos pais, que está direcionada, pelo contexto comemorativo, para um

público específico: o(s) filho(s), que sabe(m) que o pai está procurando um aparelho de

som para seu automóvel, já que o panfleto oferece apenas essa opção. A partir daí,

concluímos que o filho não deve desperdiçar ou perder tempo procurando esse tipo de

presente ou outras promoções, afinal de contas ele estará investindo seu tempo indo

adquiri-los na loja SOL AUTO PEÇAS LTDA.

Nos panfletos 19 (Dinheiro rápido ), 20 (Seu dinheiro na hora certa), 21 (Invista

em você e no seu sucesso), 22 (Dinheiro rápido), 23 (Não perca.) e 24 (Dinheiro na

hora), cujas expressões lingüísticas metafóricas estão em destaque, a metáfora TEMPO

É UM BEM VALIOSO, assim como nas análises anteriores, evidencia, de forma

bastante categórica, que em nossa sociedade o tempo, um conceito abstrato, é entendido

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em termos de um conceito mais concreto dinheiro, bem valioso.

Averiguamos através de expressões lingüísticas metafóricas, presentes nos

panfletos aqui analisados, que foi uma tática argumentativa usada pelos

locutores/publicitários a fim de conseguir determinadas atitudes dos virtuais leitores.

Usadas como uma orientação, incialmente, discursiva, as expressões lingüísticas

metafóricas, atualizadoras da metáfora conceptual estrutural, tiveram como propósito

posterior ou simultâneo, uma orientação atitudinal. Ou seja, a partir da estruturação

discursiva, da metáfora, espera-se determinados comportamentos em virtude dela.

Assim como ocorreu com as expressões lingüísticas atualizadoras de metáforas

conceptuais orientacionais, também podemos constatar que as expressões lingüísticas

atualizadoras de metáforas conceptuais estruturais podem ser caracterizadas como um

processo polifônico. A partir da recorrência da metáfora conceptual estrutural TEMPO

É UM BEM VALIOSO podemos inferir que: a) são as expressões lingüísticas

metafóricas que remetem para o domínio origem (conhecimento prévio), que pode ser

caracterizado como E1, enquanto o domínio alvo, o novo conceito construído, por meio

de elementos selecionados do domínio fonte, pode ser entendido como E2. b) as

expressões lingüísticas metafóricas atualizadoras da metáfora conceptual estrutural

acima apresentadas configuraram-se como um processo polifônico e, como

consequência, argumentativo, uma vez que os enunciadores foram trazidos,

possivelmente, com o intuito de desencadear atitudes dos virtuais leitores.

4.4.3 Metáforas Ontológicas

Neste item, serão expostas as metáforas ontológicas cuja finalidade principal é a

de, conforme afirma Espíndola (2005, p.21), transformar conceitos abstratos em

entidades – coisas ou seres (animais ou humanos).

[...] as nossas experiências com objetos físicos (especialmente com nossos corpos) fornecem a base para uma variedade extremamente ampla de metáforas ontológicas, isto é, formas de conceber eventos, atividades, emoções, idéias etc. como entidades e substâncias (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p.76)

Com base no raciocínio acima, verificamos, nos panfletos a seguir, algumas dessas

construções metafóricas.

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ESPERANÇA É UM OBJETO (1 ocorrência)

P25. Leve uma camisa para você e esperança para as crianças do NACC.

O conceito de esperança como um objeto pode ser verificado no P25. Através do

uso da expressão lingüística metafórica Leve uma camisa para você e esperança para

as crianças do NACC (núcleo de apoio à criança com câncer) é observado que tal

conceito dá origem a um outro, estruturando o conceito de esperança como um objeto

que pode ser transportado, atualizando, assim, a metáfora ESPERANÇA É UM

OBJETO (CAMISA).

O locutor usa, argumentativamente, a expressão lingüística metafórica, de base

ontológica, visando atentar o virtual leitor para a boa ação que este pode fazer, ajudando

crianças portadoras de câncer. O intuito é tentar garantir que os possíveis leitores

possam comover-se, e, assim, talvez, comprar a camisa. Como conseqüência de tal ação,

o dinheiro adquirido com a venda das camisas, alimentará o sentimento de esperança e

deixará as crianças com uma expectativa de otimismo em relação às suas vidas.

CURSOS SÃO OBJETOS (1 ocorrência)

P26. O curso de inglês que você leva para onde quiser (...)

A assertiva “Compreender nossas experiências em termos de objetos ou

substâncias” (LAKOFF E JOHNSON, 2002 [1980], p.75) pode ser verificada na leitura

do P26, cuja expressão lingüística metafórica O curso de inglês que você leva para onde

quiser e faz no seu tempo livre nos permite compreender uma atividade, o curso de

inglês, como um objeto (um brinquedo, por exemplo) que pode ser deslocado de um

lugar a outro. As metáforas são construídas a partir de nosso cotidiano, de nossas

experiências, de tal sorte que nossas orientações espaciais servem como base para

construções de expressões lingüísticas metafóricas, como essa encontrada no panfleto.

A metáfora ontológica CURSOS SÃO OBJETOS é utilizada como recurso para

convencer o leitor de que é possível estudar, mesmo para aquelas pessoas que não têm

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tempo, uma língua estrangeira. O locutor, estrategicamente, nos dá alternativas para

estudarmos no horário e local mais conveniente. Isto é, oferecendo um serviço que

poucos estabelecimentos disponibilizam.

SONHOS SÃO OBJETOS VALIOSOS (1 ocorrência)

P27. Tão importante quanto realizar seus sonhos é garantir que eles estejam bem

protegidos.

Quanto à expressão lingüística metafórica Tão importante quanto realizar seus

sonhos é garantir que eles estejam bem protegidos, presente no P27, podemos tecer

algumas considerações visto que ela faz parte do seguro residencial oferecido pelo

Banco da Caixa Econômica Federal.

Ainda que tenhamos a linguagem não-verbal confirmando ser o sonho, na

realidade, a casa própria, não podemos deixar de considerar tal expressão como a

atualização de uma metáfora ontológica.

O substantivo masculino sonho, é um conceito, talvez ‘imposto’ pela mídia

governamental, compartilhado (e por que não dizer internalizado?) pela maioria da

população brasileira como sinônimo, do clichê, ‘da tão sonhada casa própria’.

Protegemos, através de um serviço bancário, documentos pessoais, oficiais, jóias,

bens de consumo como casa e carro etc. Com base nessa proposição, o locutor,

estrategicamente, ‘troca’, nesse caso, a casa própria, pelo sonho porque o efeito de

sentido gerado por essa mudança funciona como um forte argumento junto aos virtuais

clientes.

Empregar o lexema sonhos lembra-nos realizações, geralmente, difíceis de serem

concretizadas, alcançadas. Então, o fato de protegê-los, para o público-alvo19, pessoas

de baixo poder aquisitivo, mostra-se, no panfleto, como uma condição, quase que

indispensável. Garantir a proteção da casa própria não veicula o mesmo sentido

argumentativo quando se diz que os sonhos estão bem protegidos.

19 Casa própria é um termo já popularizado. Enquanto que para aquelas pessoas cujas condições

financeiras são elevadas, o termo usado equivalente seria patrimônio.

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ESPAÇOS FÍSICOS SÃO EVENTOS (1 ocorrência)

P28. A praia é bela, o loteamento é show.

Podemos verificar que a expressão lingüística metafórica encontrada no P28 A

praia é bela, o loteamento é show atualiza a metáfora ontológica ESPAÇOS FÍSICOS

SÃO EVENTOS.

De acordo com o Novo Aurélio (p. 1850), show é assim definido:

Espetáculo de teatro, rádio, televisão etc., ger. de grande montagem, que se destina à diversão, e com a atuação de vários artistas de larga popularidade, ou às vezes de um só: Um show de dança e música popular brasileira; o show do Chico Anísio. Dar um show. Fig.1. Ter uma atuação brilhante, fazer um brilhareto; dar um baile: O conferencista deu um show de erudição. 2. Dar escândalo; fazer cena: O turista deu um show quando lhe roubaram a carteira.

Embora o conceito desse substantivo, talvez, já tenha adquirido novos sentidos,

podemos confirmar, aqui, a presença tanto da metáfora conceptual ontológica acima

elencada, como mecanismos persuasivos presentes no P28.

Como táticas argumentativas presentes na análise desse panfleto, podemos elencar

duas: a primeira é o recurso da polissemia causada pelo lexema bela. Referindo-se ao

nome da praia onde está localizado o loteamento e, qualificando-o, ao mesmo tempo, o

locutor espera causar determinados comportamentos. Para um possível cliente que

procura um espaço físico, loteamento, no qual possa gozar seus momentos de lazer, ter

esse panfleto em suas mãos constitui uma possível atitude: comprar um lote. Some-se a

isso o fato da imagem não-verbal demonstrar que, de fato, a praia é bela.

A metáfora ontológica constitui a segunda tática. Conceber espaços físicos como

eventos demonstra muito mais do que uma forma de entendermos o espaço físico em

termos de um evento. Show, embora seja um tipo de evento, designa uma atividade,

para algumas pessoas, que resulta prazerosa.

Concluimos então que, habilidosamente, visando vender o loteamento, o locutor

empregou palavras que expressassem deleite e prazer, através da expressão lingüística

metafórica e da polissemia, como recursos argumentativos.

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CURSOS SÃO RECIPIENTES (1 ocorrência)

P29. No Children’s Course do CCAA ele vai encontrar histórias cheias de humor,

desenhos interativos e filmes educativos, com os temas preferidos das crianças (...).

É visto que o locutor, CCAA, responsável pelo que é veiculado no P29, utiliza-

se da expressão lingüística metafórica No Children’s Course do CCAA ele vai encontrar

histórias cheias de humor, desenhos interativos e filmes educativos, com os temas

preferidos pelas crianças, [...], para convencer o público-alvo, pais e crianças, de que lá

eles encontrarão o que procuram.

Chegamos a tal entendimento analisando a metáfora ontológica CURSOS SÃO

RECIPIENTES, isto é, a instituição nos faz crer que o curso é um recipiente, dentro do

qual as crianças encontrarão o que necessitam para o desenvolvimento das habilidades

cognitivas necessárias na construção do conhecimento. Constata-se que há um processo

metafórico apontando para o fato de que ‘dentro daquele curso’ a criança terá acesso ao

universo próprio de crianças: histórias cheias de humor, desenhos, filmes educativos,

com os temas preferidos pelas crianças.

4.4.3.1 Personificação

“Talvez as metáforas ontológicas mais óbvias sejam aquelas nas quais os objetos

físicos são concebidos como pessoas” (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980], p. 87). Os

autores ainda evidenciam a personificação (p. 88) como uma “categoria geral que cobre

uma enorme gama de metáforas, cada uma selecionando aspectos diferentes de uma

pessoa ou modos diferentes de considerá-la”. Nesses termos, a personificação nos

permite entender algumas características e ações em termos humanos.

ATIVIDADES SÃO PESSOAS (2 ocorrências)

P30. Turismo solidário no Cariri.

P31. (...) Muita música, dança, manifestações folclóricas, artesanato e outras

atrações da cultura popular paraibana estão lhe esperando nos meses de janeiro e

fevereiro.

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No P30, turismo, substantivo masculino que designa uma atividade cujos

objetivos podem ser recreativos, culturais etc., é compreendido por meio de um adjetivo

característico aos seres humanos: solidário.

Baseando-se no fato de que o turismo é uma atividade que envolve, normalmente,

um ou vários grupos de pessoas, na qual é identificável uma dependência ou uma

responsabilidade mútua entre os envolvidos (por exemplo, guia turístico e os

participantes de uma expedição), o locutor selecionou o adjetivo solidário,

astuciosamente, por ele assinalar tais definições. Ou seja, objetivando, possivelmente,

aproximar o interlocutor (leitores) de seus objetivos, o responsável pelo panfleto

construiu uma sentença, na qual pudesse haver uma identificação entre o que está sendo

promovido, o turismo em Camalaú, e os possíveis participantes da atividade proposta.

Entedemos que a metáfora ontológica deva ser ATIVIDADES SÃO PESSOAS (têm

sentimentos).

A expressão lingüística metafórica em destaque, no P31, no quadro acima,

representa a definição cognitivista da metáfora ontológica dada por Lakoff e Johnson

(2002, p. 76), pois parte de nossa experiência é usada para expressarmos “formas de

conceber eventos, atividades, emoções, idéias etc. como entidades e substâncias”.

ATIVIDADES SÃO PESSOAS é uma metáfora conceptual ontológica que

demonstra um ato de esperteza, veiculada pela PBTUR. O texto é criado de maneira que

o público-alvo (principalmente os turistas) sinta-se privilegiado com o fato de que

‘pessoas’, representadas por atividades locais típicas, estão aguardando a sua presença.

Logo, podemos inferir que essa foi a estratégia argumentativa utilizada pela empresa

oficial de turismo para promover o Estado da Paraíba.

Faz necessário (re)lembrar que há uma discussão permeando o liame existente entre

os processos metafóricos e metonímicos. Buscando repaldo em Barcelona (2003),

podemos afirmar que é perfeitamente possível encontrarmos casos de metáforas com

base metonímica. Ocorre no P31 esse processo. Inicialmente tem-se uma metonímia

ATIVIDADES PELAS PESSOAS, todavia, essa metonímia é personificada, isto é,

atributos humanos são conferidos, no caso do P31, a atividades que são desenvolvidas

por pessoas. Ou seja, a metáfora do tipo personificação tem base metonímica. Esse

processo ocorre na análise de muitos panfletos.

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MARCAS SÃO PESSOAS (1 ocorrência)

P32. (...) Estas e outras conceituadas marcas convidam você a visitá-las no maior

evento de franquias da região Centro-Oeste.

Nossa experiência com um objeto específico, o convite, favorece-nos falar - nesse

contexto específico, no P32, isto é, o maior evento de franquias da região Centro-

Oeste, no qual estão presentes conceituadas marcas - a respeito desse evento, como se as

entidades que se encontram lá presentes, fossem, de fato, pessoas.

O ato de convidar pessoas para qualquer evento é uma ação praticada pelos seres

humanos. Pensando argumentativamente, o fato de o locutor ‘ter concedido voz’ às

marcas conceituadas, recurso polifônico, personificando-as, revela-nos uma tentativa de

aproximação entre empresas de grande porte e seu público-alvo. A propósito disso

observa Espíndola (2005, p. 28) que

Produtos e instituições, através do recurso da personificação, são apresentadas ao consumidor como entidades, o que gera uma ‘falsa’ identidade entre os virtuais compradores e o produto divulgado – recurso significativamente utilizado para vender. Saliente-se também que a personificação dota os produtos e instituições de poderes maiores de satisfação junto aos virtuais consumidores, uma vez que, através da metáfora ontológica, deixam de ser produtos ou instituições comuns e passam a se apresentar com poderes que não possuem na realidade.

Presentes, nesta análise, estão duas características que abarcam o estudo

metafórico. A primeira é o fato de o locutor usar parte de sua experiência com eventos,

festas para “tratá-las como entidades discretas” (LAKOFF e JOHNSON, 2002 [1980],

p. 75), validando o conceito da metáfora ontológica.

Em relação à segunda característica, retomamos Espíndola (2005) quando ela diz

que (p. 22)

A segunda metáfora ontológica é a que personifica experiências – ou seja, essas são concebidas como pessoas ou a elas são atribuídas características de pessoas. Nesse caso, constatamos, de fato, a humanização [..].

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para respaldar essa análise. Dizendo em outras palavras, essa metáfora de

personificação é o segundo tipo apresentado pela autora.

OBJETOS SÃO PESSOAS (3 ocorrências)

P33. O presente que tem a cara de quem ganha.

P34. O presente que tem a cara de quem ganha.

P35. (...) A gente só não pode ter orgulho de um trânsito que desrespeita a vida.

Podemos perceber, em ambos os panfletos, P33 e P34, através da expressão O

presente que tem a cara de quem ganha o processo metafórico da personificação. A

metáfora OBJETOS SÃO PESSOAS é uma tentativa de traçar um elo de ligação entre o

consumidor e o estabelecimento comercial.

Não foi fortuita a atitude da loja, Marisa, de humanizar seus produtos. O efeito de

sentido provocado por esse processo de humanização é mostrar, para os virtuais

clientes, que há afinidades entre eles.

Demonstrar semelhanças entre objetos, vendidos naquele estabelecimento, e

pessoas foi a tática argumentativa usada pela loja com o objetivo de aumentar suas

vendas, isto é, aproximando-se ‘humanamente’ de seus clientes. Tal análise valida, mais

ainda, a tese postulada por Espíndola (2005) no sentido de que expressões lingüísticas

metafóricas, neste caso, atualizadoras da personificação, foram usadas estrategicamente,

numa tentativa de fazer o possível comprador identificar-se com o estabelecimento.

O processo metafórico com base metonímica, anteriormente citado, pode ser

compravado na análise do P35. Isto é, o locutor, o governo do Estado da Paraíba, por

meio da STTRANS, quer provocar determinadas atitudes nos possíveis

leitores/condutores. Para alcançar o objetivo de minimizar os acidentes, o governo faz

uma campanha voltada para o correto uso da faixa de pedestres. Como forma de

fortalecer a argumentação, é criado um slogan Existem vários motivos pra se orgulhar

de João Pessoa. A gente só não pode ter orgulho de um trânsito que desrespeita a vida

o qual veicula um processo metonímico personificado. Novamente, há uma tentativa de

estabelecer um elo de aproximação entre o leitor e a campanha, personificando-a,

tornando-a mais humana.

As expressões lingüísticas metafóricas enquanto recurso polifônico não

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constituiram uma estratégia pecualiar às metáforas orientacionais e estruturais, elas

também estão presentes na metafóra ontológica, especialmente na personificação. Isto é,

as expressões lingüísticas metafóricas que remetem para o conhecimento prévio,

domínio fonte, podem ser caracterizadas como E1, já o novo conceito construído,

domínio alvo, a partir de alguns elementos selecionados do domínio origem, pode ser

entendido como E2. O ponto de vista do E1 é colocado em cena para aproximar

leitor/consumidor do E2.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os panfletos ocupam espaço nas ruas, calçadas, sinais de trânsito. São, na

perspectiva lingüística, suportes que servem para mostrar o texto, denunciando,

muitas vezes, a visão de mundo daqueles que identificamos enquanto locutores.

Analisando-se o panfleto, que tem como objetivos principais a divulgação e a venda

de produtos ou serviços, é possível verificarmos alguns recursos discursivos que são

articulados em prol da execução desses objetivos a serem cumpridos.

Nos panfletos aqui analisados, as expressões lingüísticas metafóricas

atualizadoras de metáforas conceptuais configuraram-se como um recurso polifônico

e, portanto, argumentativo. Como visto no capítulo 1 sobre a Teoria da

Argumentação, a polifonia caracteriza-se, por apresentar, num “mesmo enunciado,

um certo número de personagens lingüísticos” (DUCROT, 1988, p. 16). Dentre os

dois tipos de polifonia apresentadas, a polifonia de enunciadores, caracterizada pela

colocação de diferentes pontos de vista, num mesmo enunciado, mostrou-se

pertinente nessa análise.

Por definição, a metáfora conceptual consiste no fato de compreendermos uma

coisa em termos de outra. Nesse processo há uma projeção parcial entre os elementos

constituintes de dois domínios conceptuais distintos: fonte e alvo. Já asseverado por

Silva (2006), a polifonia de enunciadores foi constatada, em sua análise, porque

expressões metafóricas que remetem para o domínio fonte, podem ser caracterizadas

como E1, enquanto o domínio alvo, novo conceito construído, pode ser caracterizado

como E2. O domínio alvo (E2) pode ser entendido parcialmente em termos do

domínio origem (E1).

Com base em tal proposição, podemos confirmar serem as expressões

lingüísticas metafóricas um recurso polifônico, e, consequentemente, uma estratégia

argumentativa presente em panfletos, utilizada pelos locutores com vistas a promover

determinadas atitudes do público-alvo, auditório.

Confirmando a hipótese, foi possível comprovar, por meio da análise, que as

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expressões lingüísticas metafóricas foram responsáveis, em grande medida, pela

construção dos sentidos em panfletos, exercendo, assim, função argumentativa.

Além disso, corroboramos a tese postulada por Espíndola (2005) quando afirma

ser a personificação uma estratégia argumentativa que visa assegurar a aproximidade

entre locutor e interlocutor, resultado também confirmado por Silva (2006). Uma vez

assegurado que a língua (DUCROT, 1988) e seu uso (ESPÍNDOLA, 2004) são

argumentativos, podemos inserir as expressões lingüísticas metafóricas encontradas

em panfletos no rol dos recursos lingüístico-discursivos que dispomos para

convencer o outro, para provocar atitudes, para promover ações.

Embora este trabalho não seja de caráter quantitativo, ao contrário, é

qualitativo, pensamos ser importante fazer um esboço final das metáforas

encontradas, as quais foram atualizadas por várias expressões lingüísticas

metafóricas.

Metáforas Orientacionais – 13 panfletos

Metáforas Estruturais – 11 panfletos

Metáforas Ontológicas – 5 panfletos

Personificação – 6 panfletos

Faz-se necessário observar que, de fato, as metáforas conceptuais e suas

expressões lingüísticas metafóricas encontradas no corpus, fazem parte da linguagem

ordinária, cotidiana. Observamos que a metáfora conceptual não é somente uma

questão de linguagem poética, como frisavam os retóricos clássicos.

Não nos propomos finalizar as observações aqui apontadas. Pretendemos com

este trabalho instigar o interesse pelo estudo realmente científico do panfleto. Aquele

que o concebe como um instrumento de representação do pensamento e da cultura,

através do qual a ‘publicidade’ se expressa. Dessa forma, esperamos que este

trabalho possa contribuir, de alguma forma, para a compreensão da linguagem, da

comunicação humana. Esperamos, outrossim, que este estudo possa despertar o

interesse para outras análises mais profundas, numa correlação multidisciplinar com

a Psicologia, a Sociologia, ou mesmo com outras linhas da Lingüística Atual.

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SANDMANN, Antonio. A Linguagem da Propaganda. São Paulo: Contexto. –

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ANEXOS

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METÁFORAS ORIENTACIONAIS

PANFLETO 1 (P1)

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PANFLETO 2 (P2)

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PANFLETO 3 (P3)

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PANFLETO 4 (P4)

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PANFLETO 5 (P5)

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PANFLETO 6 (P6)

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PANFLETO 7 (P7)

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PANFLETO 8 (P8)

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PANFLETO 9 (P9)

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PANFLETO 10 (P10)

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PANFLETO 11 (P11)

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PANFLETO 12 (P12)

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PANFLETO 13 (P13)

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METÁFORAS EXTRUTURAIS

PANFLETO 14 (P14)

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PANFLETO 15 (P15)

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PANFLETO 16 (P16)

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PANFLETO 17 (P17)

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PANFLETO 18 (P18)

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PANFLETO 19 (P19)

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PANFLETO 20 (P20)

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PANFLETO 21 (P21)

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PANFLETO 22 (P22)

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PANFLETO 23 (P23)

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PANFLETO 24 (P24)

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METÁFORAS ONTOLÓGICAS

PANFLETO 25 (P25)

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PANFLETO 26 (P26)

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PANFLETO 27 (P27)

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PANFLETO 28 (P28)

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PANFLETO 29 (P29)

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PERSONIFICAÇÃO

PANFLETO 30 (P30)

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PANFLETO 31 (P31)

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PANFLETO 32 (P32)

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PANFLETO 33 (P33)

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PANFLETO 34 (P34)

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PANFLETO 35 (P35)