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EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS PARA AS SENHORAS E SENHORITAS” DA SOCIEDADE BAIANA: o discurso performativo do Instituto Feminino da Bahia (1920 a 1968) Suely Moraes Ceravolo 1 Resumo: Tendo em vista o estudo mais amplo sobre a constituição do patrimônio cultural em retrospectiva, analisa-se o caso das exposições temporárias promulgadas de 1920 a 1968, pelo Instituto Feminino da Bahia (IFB), escola particular para mulheres na cidade do Salvador. O aporte teórico para a aproximação com as fontes priorizadas (noticias publicadas na mídia impressa e opúsculos), centra- se na observação do discurso performativo que tanto descreve como prescreve segundo Pierre Bourdieu (2013). Com essa base se destaca as diferentes finalidades das mostras temporárias para reproduzir modelos de percepção com vistas a manter a estrutura das relações de classe. Conclui-se que, sem abrir mão de princípios caros ao IFB, as exposições de curta duração ainda que com finalidades diferentes, visavam principalmente reforçar a dimensão feminina das mulheres da elite baiana tendo como modelo a mulher de um fausto passado. Palavras-chave: Instituto Feminino da Bahia, Exposições temporárias, Museologia, História dos Museus na Bahia, Patrimônio cultural na Bahia. Abordando as exposições temporárias do IFB Ao investigar a constituição do patrimônio cultural baiano em retrospectiva 2 , chama a atenção o investimento colecionista de Henriqueta Martins Catharino (1886-1969), que implantou o Instituto Feminino da Bahia (IFB), na cidade do Salvador. O conjunto de obras assistenciais, criadas a partir de 1923, compartilhadas com Monsenhor Flaviano Osório Pimentel, e o curso de Contabilidade, depois Escola Técnica de Comércio Feminina da Bahia recebeu a denominação Instituto Feminino em 1928, reconhecido de utilidade pública no ano seguinte 3 . Do projeto pedagógico constaram três segmentos museológicos: o Museu de Arte Antiga, o de Arte Popular, e o Geológico Econômico (ora Museu de Ciências Naturais ou Museu de História Natural) com a finalidade de apoiar aulas práticas 4 . 1 Docente do Departamento Museologia, PPG Museologia e PPG História FFCH/UFBA. 2 Projeto integrado ao GP Observatório da Museologia Baiana, linha História da Museologia na Bahia (CPNq); apoio PIBIC/UFBA com as seguintes bolsistas: 2013-2014: Milena de Jesus Santos ; 2014-2015: Jussara Santos Piedade; 2015-2016: Silvana M. M. B. de Almeida Castro. 3 Decreto Federal no. 17.329, 21 de março 1929 (PASSOS, 1993, p25); Lei no. 2176, 27 de junho de 1929 segundo informação no opúsculo Exposição de Bronze, Instituto Feminino da Bahia, 5 de outubro de 1959 (s/n). 4 Os museus estiveram incorporados à Divisão Cultural formada pela Biblioteca, a Escola Técnica de Comércio e Ginásio Feminino da Bahia, a Escola de Datilografia, e a Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia. No opúsculo de 1959 (s/p), o Museu Geológico Econômico aparece na Divisão de Economia Doméstica com o seguinte adendo: “em formação, criado para auxiliar as aulas práticas das Escolas e onde se encontram madeiras, minérios e demais riquezas da Bahia, que atestam a opulência do Brasil. Duas outras divisões compunham a estrutura do IFB: Divisão de Economia Doméstica e a de Assistência Social (cf. opúsculo Exposição de espelhos e rubis, 1963).

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EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS PARA AS “SENHORAS E SENHORITAS” DA

SOCIEDADE BAIANA: o discurso performativo do Instituto Feminino da Bahia (1920

a 1968)

Suely Moraes Ceravolo1

Resumo: Tendo em vista o estudo mais amplo sobre a constituição do patrimônio cultural em

retrospectiva, analisa-se o caso das exposições temporárias promulgadas de 1920 a 1968, pelo Instituto

Feminino da Bahia (IFB), escola particular para mulheres na cidade do Salvador. O aporte teórico para

a aproximação com as fontes priorizadas (noticias publicadas na mídia impressa e opúsculos), centra-

se na observação do discurso performativo que tanto descreve como prescreve segundo Pierre

Bourdieu (2013). Com essa base se destaca as diferentes finalidades das mostras temporárias para

reproduzir modelos de percepção com vistas a manter a estrutura das relações de classe. Conclui-se

que, sem abrir mão de princípios caros ao IFB, as exposições de curta duração ainda que com

finalidades diferentes, visavam principalmente reforçar a dimensão feminina das mulheres da elite

baiana tendo como modelo a mulher de um fausto passado.

Palavras-chave: Instituto Feminino da Bahia, Exposições temporárias, Museologia, História dos Museus na Bahia, Patrimônio cultural na Bahia.

Abordando as exposições temporárias do IFB

Ao investigar a constituição do patrimônio cultural baiano em retrospectiva

2, chama a

atenção o investimento colecionista de Henriqueta Martins Catharino (1886-1969), que

implantou o Instituto Feminino da Bahia (IFB), na cidade do Salvador. O conjunto de obras

assistenciais, criadas a partir de 1923, compartilhadas com Monsenhor Flaviano Osório

Pimentel, e o curso de Contabilidade, depois Escola Técnica de Comércio Feminina da Bahia

recebeu a denominação Instituto Feminino em 1928, reconhecido de utilidade pública no ano

seguinte3. Do projeto pedagógico constaram três segmentos museológicos: o Museu de Arte

Antiga, o de Arte Popular, e o Geológico Econômico (ora Museu de Ciências Naturais ou

Museu de História Natural) com a finalidade de apoiar aulas práticas4.

1 Docente do Departamento Museologia, PPG Museologia e PPG História FFCH/UFBA. 2

Projeto integrado ao GP Observatório da Museologia Baiana, linha História da Museologia na Bahia (CPNq); apoio PIBIC/UFBA com as seguintes bolsistas: 2013-2014: Milena de Jesus Santos ; 2014-2015: Jussara Santos Piedade; 2015-2016: Silvana M. M. B. de Almeida Castro. 3

Decreto Federal no. 17.329, 21 de março 1929 (PASSOS, 1993, p25); Lei no. 2176, 27 de junho de 1929 –

segundo informação no opúsculo Exposição de Bronze, Instituto Feminino da Bahia, 5 de outubro de 1959 (s/n). 4

Os museus estiveram incorporados à Divisão Cultural formada pela Biblioteca, a Escola Técnica de Comércio e Ginásio Feminino da Bahia, a Escola de Datilografia, e a Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia. No opúsculo de 1959 (s/p), o Museu Geológico Econômico aparece na Divisão de Economia Doméstica com o seguinte adendo: “em formação, criado para auxiliar as aulas práticas das Escolas e onde se encontram madeiras, minérios e demais riquezas da Bahia, que atestam a opulência do Brasil”. Duas outras divisões compunham a estrutura do IFB: Divisão de Economia Doméstica e a de Assistência Social (cf. opúsculo “Exposição de espelhos e rubis”, 1963).

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O coeso empreendimento assistencialista e educacional pôs em destaque Dona

Henriqueta, personalidade da sociedade baiana. Sociedade essa que foi se integrando

paulatinamente ao regime republicano para partilhar ideais modernos e civilizatórios,

mantendo traços patriarcais e nichos delimitados para a atuação de mulheres. De família

abastada, culta e viajada, forte formação católica impregnando sua obra e modo de atuar no

mundo (QUEIROZ, 2014, p.61), dedicou-se a um “feminismo especial” para moldar mulheres

“moralmente fortes” (grifo da autora)(PASSOS, 1992; 1993; 2010). Contudo, deve-se

relativizar a dimensão „especial‟ do feminismo propugnado pelo IFB já que se alinhava às

questões de sua época contando, na Bahia, com outras frentes e representantes (VIEIRA,

2015)5. Além disso, foi um movimento que proliferou desde o inicio do século XX, a partir de

diferentes países europeus e, naqueles de predominância da religião católica, levou a Igreja a

se posicionar contra radicalismos e estabelecer conexões com mulheres ligadas ao movimento

(LlONA GONZÁLES, 1998, p.289-292)6. Dentre outras preocupações essa vertente do

feminismo pleiteava a salvaguarda dos bons costumes e a figura da mulher – mãe, bondosa,

servil -, a educação e o trabalho resultando em obras filantrópicas e cursos preparatórios para

a atuação fora do lar. Segundo a própria pesquisadora Elizete Passos o IFB ficou entre o

tradicional e o novo, sem abrir mão da formação religiosa (PASSOS, op.cit., 80-87).

A sede construída especialmente para instalar a escola e cursos, pensão e restaurante –

um casarão sólido e rico, pisos de mármore e madeira, largos ambientes e espaçosas áreas de

circulação conforme o site - está formado por três pavimentos. Abrigou um “vultuoso

patrimônio de arte que, distribuído pela casa, lhe deu aspecto de Museu” (grifo da

autora)(ALVES apud PASSOS, 1993, p.32-33), o que pode ser conferido, nos dias atuais, ao

se empreender visita aos dois museus mantidos pela Fundação Instituto Feminino da Bahia7: o

Henriqueta Catharino e o do Traje e do Têxtil. A respeito desses acervos, com peças que vieram

dos museus anteriores e das coleções amealhadas, conta-se com estudos acadêmicos

recentemente realizados8.

5 A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi criada no Rio de Janeiro, 1922; a filial na Bahia em 1931,

dirigida por Edith Mendes da Gama e Abreu. Advogava os mesmos ideais baseada na educação e trabalho,

mantendo os princípios da moral cristã e ajustando-se as imposições do universo masculino (VIEIRA, 2015).

Outras personalidades femininas baianas: a professora Anfrísia Santiago; Amélia Rodrigues dentre outras

(FERREIRA FILHO, 2003). 6

M. Llona González distingue: feminina: a ação social envidada por mulheres; feminista reivindicação de direitos de trabalho (LlONA GONZÁLES, 1998). 7

< http://www.institutofeminino.org.br/home/index.php>. Acesso 24.05.2016. O Instituto passou à Fundação em 19 de julho de 1950, Registro do Estatuto no. 713, Livro A, no. 9 de 25 de julho de 1950 (s/p)( opúsculo

“Exposição de Bronze”, 05.10. 1959. 8

Cito: OLIVEIRA, Ana Karina R. da. Museologia e ciência da informação: distinções e encontros entre áreas a partir da documentação de um conjunto de peças de 'roupas brancas'. Dissertação, ECA/USP, 2009

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O interesse em abordar as exposições temporárias do IFB se instala na possibilidade

de elucidar elementos específicos de comparação sobre a formação do ideário que deu

sustentação ao patrimônio cultural baiano, como já assinalado. Penso em outras coleções e

museus formados relativamente no mesmo período, mas, em circunstâncias e objetivos

distintos, caso do museu do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1894), e o do Estado

da Bahia (1918)(CERAVOLO, 2016 e 2011), em que predominava a presença masculina. Nesse

aspecto, a própria condição de escola particular para mulheres incita perscrutar a natureza

dos discursos que propagandeavam a apresentação de mostras de curta duração abertas ao

público.

Se é fato que exposições transmitem mensagens e, através delas, pode-se evidenciar

relações sociais que os objetos carregam na qualidade de mediadores dessas mesmas relações

(CURY, 2005), também o é como afirma Clovis Britto, a possibilidade de se transformarem

em “instrumentos de poder”, silenciando ou imortalizando temas e sujeitos, uma vez que tanto

o exposto – sujeito a escolhas – como a linguagem expositiva, são manipuláveis (grifo

meu)(BRITTO, 2016, p.22). Essas duas dimensões críticas despojam as exposições, mesmo as

de curta duração, de abordagens ingênuas no sentido do simples ato de mostrar. Nelas se

articulam a grafia (composição dos objetos entre si ou com outros itens) e certa construção

semântica cuja compreensão nem sempre explícita – portanto, latente - formam o discurso ou

narrativa expositiva. Acredito que, nessa perspectiva, pode-se empregar com propriedade a

expressão “fato comunicacional”, social e significante e de simbólico funcionamento proposta

por Jean Davallon (2003, p. 27-28), que vê as exposições como mídia agenciadora de objetos

dotadas de energia para modificar a relação dos visitantes com o mundo do qual os objetos

procedem.

No caso do IFB essas dimensões críticas e funcionais encadeiam-se a mais um fator

do qual não se pode descuidar: foi uma escola propondo determinado sistema de ensino. Isso

significa, pensando com Pierre Bourdieu (2013), que procurou reproduzir modelos de

percepção para manter a estrutura das relações de classe. Sob a “aparente neutralidade” de que

fala esse autor (grifo meu), o Instituto operava a distribuição e redistribuição do capital

(http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-27102009-002603/pt-br.php); SILVA, Ane Cristinane

da. O vestuário como elemento constituinte da identidade das mulheres de elite na Bahia (1890-1920) – A partir

da análise da Coleção do Museu Henriqueta Catharino em Salvador-Ba. Dissertação, Universidade Estadual de

Feira de Santana, 2009

(http://www2.uefs.br/pgh/docs/Disserta%C3%A7%C3%B5es/Disserta%C3%A7%C3%A3oAnaCristiane.pdf);

indicada nas referências a pesquisa de Marijara Souza Queiroz (Artes-visuais; 2014); SILVA, Joana Angélica

Flores. A representação das mulheres negras nos museus de Salvador: uma análise em branco e preto.

Dissertação. PPG Museologia, 2015

(https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/18548/1/JOANA%20SILVA.pdf.).

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cultural que lhe convinha ou interessava de modo bem objetivo e objetivado. As exposições

temporárias ali promovidas estavam perfeitamente encadeadas ao desenvolvimento das obras

assistenciais e educativas e, principalmente, aos princípios católicos advogados pelo IFB9.

Pode-se então perguntar: quais os fins; o que apresentavam; quais os temas e o cunho das

mensagens divulgadas pela mídia impressa?

Ora, mensagens impressas formam discursos através da palavra que, ainda sob a lupa

analítica de Bourdieu, nutrem e modelam e são dotadas de força estruturante. Tanto

prescrevem (determinam) sob a aparência de descrição ou, ao contrário, denunciam sob a

aparência de enunciação. Em tal sutil entrelaçamento há o propósito de romper ou produzir

um “novo senso comum”, introduzindo práticas e experiências veiculadas por um grupo

autorizado ou dele investido (grifo meu). Têm-se o discurso performativo em que a autoridade

e reconhecimento estão implícitos, e as representações tornadas legítimas pela eficácia

simbólica e classificatória. Bourdieu em outro trecho escreve: a “magia performativa”

resolve-se na “alquimia da representação” (grifo do autor). E completa: o “porta-voz dotado

de poder pleno de falar e agir em nome do grupo” substitui o próprio grupo. Esse

representante nomeia e contribui para formar a estrutura do mundo e, quanto mais

amplamente reconhecido mais profundamente atua sobre esse mesmo mundo , transmitindo

uma “expressão unitária de suas experiências” (grifo meu)(BOURDIEU, 1998:117-119 e 81-

83). Nesse ponto se instala a questão da eficácia que advém daquele que detém o discurso, o

representante da identidade de um determinado grupo, e da crença associada às propriedades

econômicas ou culturais que o grupo tem em comum. O resultado é sinergético: quanto maior

o elo entre a crença e propriedades que o grupo detém maior serão as condições de impor uma

visão única de identidade razão para que, na luta e disputa do capital simbólico, as categorias

de percepção – impostas, diga-se - assumem lugar determinante (BOURDIEU, 2003:116-

117).

Pode-se constatar a dinâmica desse jogo auto-alimentador de um grupo para si mesmo

na posição que o IFB ocupou no espaço social, congregando em um só lugar, o capital

econômico, o social e o simbólico. Modelo de escola, exemplo do que a Bahia podia oferecer

de melhor, formador de gerações de moças da camada média e alta da sociedade baiana

(PASSOS, 1993), não chega surpreender a verdadeira prática em promover exposições

9 Foi contínua a aproximação do IFB com membros da Igreja católica. Em termos de exposição temporária

colaborou com a primeira Exposição da Imprensa Católica realizada no saguão do Palácio da Sé promovendo a

divulgação e venda da respectiva literatura, apresentação de obras raras (A Semana Catholica, 18.10.36). A segunda

exposição foi realizada em 1938 (Segunda Exposição de Imprensa Catholica, commemorativa do aniversário

da "SEMANA CATHOLICA"; A Semana Catholica, 20.03).

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temporárias para fazer circular valores culturais e, ao mesmo tempo, incentivo à sociabilidade

dos mesmos estratos sociais. A análise de duas fontes documentais aqui priorizadas ajuda a

examinar mais de perto algumas dessas articulações. São elas: notícias em jornais e opúsculos

preparados como “lembranças” de exposições.

As atividades do IFB eram continuamente publicizadas na mídia impressa10

soteropolitana (e outros estados brasileiros), a exemplo de reportagens sobre visitas importantes,

bazares de caridade, participação em comissões, congressos, atividades das alunas, concursos

realizados, propaganda de cursos, ações assistencialistas, festas e congraçamentos, noticias

sobre eventos religiosos católicos, os museus, as exposições etc., foram cuidadosamente

recortadas e agrupadas no álbum “Recordando...”, disponibilizado no

arquivo da Biblioteca Marieta Alves do IFB11

. Aos moldes de testemunho biográfico se a

formação do álbum pretendia guardar a memória do Instituto, guardou igualmente a forte

presença de Dona Henriqueta, a “alma” das obras de educação e trabalho 12

, embora primasse

pela modéstia e discrição (PASSOS, 1993, p.16). Sob o ângulo do capital social é preciso

frisar que foi figura de vulto e circulava nas rodas de políticos, intelectuais, alto clero e elite,

mantendo uma troca recíproca de benesses (PASSOS, 1993, p.45)13

. Fator que, sem dúvida,

deve ter facilitado o acesso aos jornais. Por mais esse motivo o álbum-arquivo é de interesse

para o pesquisador.

Quanto aos opúsculos destinavam-se a contextualizar o apresentado nas exposições. A

reconhecida e respeitada historiadora Marieta Alves (1892-1981) foi autora de alguns deles,

chancelando a importância e legitimidade do exposto, logo, de valor simbólico. Os opúsculos

descrevem certa historiografia, o material e a técnica, usos e funções dos exemplares da

cultura material ali apresentados em conjuntos diversificados associando -os, em geral, aos

lares dos grupos de elite do passado reforçando o gosto e o comportamento feminino para as

mulheres de elite do então tempo presente. Quando não, pensando-se nas mostras de artefatos

da cultura popular, o efeito era o mesmo pela angulação da narrativa em nome da guarda das

tradições. Ou seja, em valores centrados nas visões do mesmo grupo social, por ele e para ele

dirigido.

10

Não se desconsidera que jornais são fonte de discursos ideológicos pela subordinação às classes dominantes e,

assim, sujeitos a criticas e limitações (LUCA, 2005:116). 11

O arquivo de Dona Henriqueta acha-se em processo de organização conforme nos informaram no IFB, o que impossibilita nesse momento consultas aos documentos. 12

A exposição de arte culinária do Instituto Feminino, A Tarde 09.12 1933. 13

Cita-se a isenção de impostos (A Tarde, 10.04.1936).

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Para nos aproximarmos desses aspectos se faz necessário, em primeiro lugar,

distinguir as finalidades apontando para duas fases na baliza cronológica definida entre as

décadas de 1920 a 1960, como veremos adiante.

Finalidades das exposições de curta duração no IFB

Exposições temporárias referem-se à duração – período curto -, em contraste com as

de longa duração. Não faltam exemplos desde o século XIX desse modo efêmero de

apresentação para incitar a curiosidade alcançando um vantajoso número de visitantes,

garantia de sucesso e difusão de idéias e coisas (e vice-versa)14

. Provocar o interesse foi um

dos argumentos de que se valeu o IFB para comercializar, divulgar ou apresentar produtos, peças

de valor preferencialmente relacionadas ao universo feminino e a tradição, ou do folclore

com o objetivo de estimular “artistas modestos e incultos” cujos trabalhos não tinham lugar em

ambientes luxuosos15

. O Instituto trabalhava com o consenso de que exibir conjuntos

aguçaria o “interesse maior” no lugar de um único exemplar16

. Mas, sob a argumentação

calcada na sedução quase instintiva por algo novo ou desconhecido, com certa qualidade

“neutra” relembrando Bourdieu, se lê finalidades bem objetivas ao se elencar a seqüência de

exposições (VIDE Apêndice). É possível observar dois momentos distintos e, embora com

poucas mudanças no conteúdo informativo das notícias, a ênfase na chamada para a „arte‟,

após a década de 1940, sugere que as mudanças na conjuntura cultural pelas quais o país

passou durante as sucessivas décadas tocaram, de algum modo o IFB sem que, no entanto,

mudasse efetivamente suas orientações.

No primeiro momento de 1920 a 1941, a maior parte das exposições destinava-se a dar

visibilidade à produção das obras assistenciais com fins de benemerência: trabalhos manuais,

prendas domésticas e trabalho feminino operaram como sinônimos no contexto das notícias.

Vânia C. de Carvalho (2008, p.71 ss) analisando repertórios femininos na apropriação do espaço

doméstico na cidade de São Paulo na passagem do XIX para o século seguinte, nos diz que a

maneira mais comum de ornamentar espaços da casa se fazia através da confecção de

trabalhos manuais, denominados “artes aplicadas ou artes decorativas”. Atribuir afinidade

14 As Exposições Universais do século XIX influenciaram a promoção de mostras temporárias para diferentes

fins chegando a alterar o vitrinismo de lojas e magazines (BARBUY, 1999; 2006); na Bahia nas exposições

provinciais no mesmo século (CUNHA, 2010); no Rio de Janeiro nos museus comerciais (BORGES, 2011,

p.154). Prática comum de sociedades, associações e institutos de história e geografia cita-se a Sociedade de

Geografia em Portugal (PEREIRA, 2005). No século XX, modelo para bienais de arte contemporânea (LARA

FILHO, 2013). 15

Opúsculo – Museu de Arte Popular, Instituto Feminino da Bahia, 3.07.1957, p.7. 16

As victorias do Instituto Feminino. Trabalhos artisticos expostos. A Tarde, 06.06.1932.

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com a arte distanciava esse fazer dos trabalhos pesados, braçais, masculinos. Vendidos em

salas de exposições17

os despregavam da delimitação disciplinadora do ficar na casa

dirigindo-os para o mercado, gerando receita para auxiliar as mulheres que dela necessitavam.

Cursos e exposições faziam parte das estratégias financeiras e simbólicas, norteadas pelo

aspecto delicado da “natureza feminina” (grifos meus).

Dando-se crédito à organização cronológica do álbum “Recordando...” a primeira

mostra do IFB ocorreu, provavelmente, nos anos 1920. A pequena nota intitulada Uma

exposição de pintura e prendas domesticas, informa tratar-se de trabalhos de alunas de certa

senhorita Maria Esther de Menezes, apresentados nos salões da agência de trabalhos da

Associação das Senhoras de Caridade, ateliê São José18

. O anúncio posterior de 1941,

intitulado Exposição de trabalhos no Instituto Feminino da Bahia19

, reafirma a venda de

peças e o envio de uma coleção de bonecas, lenços e rendas para o evento comandado pela

Associação das Senhoras Brasileiras (Rio de Janeiro)20

, destino também dos trabalhos da mostra

antecedente.

Ao analisar exposições dessa natureza, sobretudo na dimensão dos fins pretendidos, as

noticias abrem pistas para compreender como um evento expositivo podia (pode ainda)

determinar e expressar os limites polarizados do espaço social. De um lado, o grupo privilegiado

promotor do evento. De outro, o grupo necessitado da “mulher que luta pela vida”, vendendo

seus trabalhos. Contudo, não era somente a venda que operava como diferencial na distribuição

dos recursos culturais e econômicos. Expressões como -

exposição aberta para a “culta população”21

, ou público “escolhido”22

-, deixam sinais

evidentes das distâncias sociais. Por sua vez, nesse jogo de inclusão ou exclusão,

classificatório e hierarquizante como propõe Bourdieu, era oportuno reforçar as qualidades e

habilidades da mulher baiana: perfeição, beleza, delicadeza, gosto, arte e perícia.

17 De acordo com Vânia Carvalho a primeira Exposição de Arte Feminina nacional foi realizada no Rio de

Janeiro em 1919, incentivada pela senhora Epitácio Pessoa então presidente (CARVALHO, 2008, p.77). 18

Houve duas agências com os mesmos objetivos e fins distintos: a de Colocação (indicar jovens para trabalhar em repartições públicas, bancos e casas comerciais), prestar esclarecimentos e orientação; a de Trabalhos para auxiliar as mulheres a ganhar seu sustento sem saírem do lar (PASSOS, 1993, p. 38). Quanto a noticia 19

A Tarde, 07.08.1941. 20

Fundada em 1920, pela mobilização da igreja católica para estimular o auxilio à pobreza, assim, assistência caritativa em razão do crescimento do processo de industrialização mas pouco trabalho, ampliação dos centros urbanos e famílias em situação de miséria (SILVA, Claudia Neves da. A prática caritativa ontem e hoje: a quem se destina?. < http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st8/Silva,%20Claudia%20Neves%20da.pdf>. Acesso

31.05.2016. 21

Grande exposição de trabalhos femininos – Era Nova, 29.07.1932 (”Recordando...”, arquivo da Biblioteca do

IFB). 22

Comemorado com festas o 5º. aniversario do Instituto Feminino. A Tarde, 06.10.1941.

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O gosto foi usado em outras circunstâncias. Nas exposições para benemerência

podiam se associar o gosto, a arte e a bondade da mulher baiana para divulgar a obra

assistencial. A exposição de arte culinária (1933), apresentando as iguarias “finas, arranjadas

com arte e esmero” das alunas de um curso do IFB, foi anunciada em mais de um jornal23

. O

mesmo aconteceu na Exposição de "ARTE CULINÁRIA", publicada no jornal A Tarde em

27.11,1940 que, no entanto, pretendeu informar a finalização de cursos e promover o

“serviço” do Restaurante (prédio do Politeama) aberto aos visitantes, ao que parece como um

atrativo a mais. No dia seguinte (28), o mesmo jornal informa o encerramento de uma

exposição e abertura da mostra de “trabalhos de agulha” de alunas e colaboradoras, com

ênfase na obra de educação moral com base nos princípios do cristianismo, franqueada à

visitação pública naquele que era lugar de ordem que tanto honrava a Bahia; o IFB24

.

A partir de 1941, nota-se um progressivo deslocamento da beneficência para a arte,

agora com outra conotação sem deixar de lado o aspecto feminino. A notícia O Aniversário de

uma util instituição. Exposição de Arte e Festa da Amizade no Instituto Feminino (A Tarde,

01.10), foi evento realizado para o 18º aniversário de fundação do Instituto. Na

impossibilidade de inaugurar oficialmente o prédio novo (bairro Politeama), alunas e

colaboradoras insistiram na repetição de uma exposição sobre “arte feminina da Bahia

antiga”, com primeira versão no 1º. Congresso Eucarístico Nacional, um ano antes. Recorrer

à categoria arte, nesse momento, refere-se aos objetos do Museu do Instituto e peças

“pertencentes ás coleções de distintas familias bahianas” ajudando a abrilhantar o evento. O

evento programado, incluindo a festa organizada pelas alunas cujo resultado reverteria em bolsa

de viagem (Bolsa Mons. Flaviano) para o próprio alunato, merecia a atenção da “Bahia culta”,

segundo o jornal.

O acervo do IFB era visto com bons olhos; bastante valorizado. Em reportagem de

1947, uma cronista social pondera que essa valoração se dava em razão das “artes femininas

de caráter tipicamente local”, o que não acontecia com as coleções do Museu do Estado da

Bahia, “decepcionante” no seu entender por ter arte européia25

. O que não correspondia à

verdade dos fatos, pois, ao menos parte do que foi integrado aos dois acervos advinha de

indivíduos ou famílias que tinham, ou podiam, se dar ao luxo de adquiri-los para uso ou

herdá-los formando coleções de objetos, muitos deles provenientes do exterior; um dos fatores

23

A exposição de arte culinária do Instituto Feminino - O Estado da Bahia - 09.12 e em A Tarde 09.12 1933

(“Recordando...”, arquivo da Biblioteca do IFB). 24

Encerramento de cursos e abertura de exposição do I. Feminino da Bahia - A Tarde – 28.11

(”Recordando...”, arquivo da Biblioteca do IFB). 25

Um Museu de Arte Feminina. Reportagem de Olga Obry A Gazeta (São Paulo), 26.02.1947.

Page 9: EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS PARA AS SENHORAS E ......Segundo a própria pesquisadora Elizete Passos o IFB ficou entre o tradicional e o novo, sem abrir mão da formação religiosa (PASSOS,

que responde pelas posses das anunciadas distintas famílias26

. Realinhando o ufanismo da

cronista não se tratava, portanto, de algo tipicamente „local‟. Mas, sim, do assenhorear-se de

objetos muitas vezes fabricados fora do país (a exemplo da prata de procedência portuguesa),

e para cá trazidos e usados nos ambientes de casas da aristocracia do passado, cujas mulheres

deviam se orgulhar em possuí-los e ostentá-los, pois, indícios do estilo de vida e da posição

no espaço social, desse modo materialmente representado (BOURDIEU, 2003, p.73ss).

Fato é que as noticias serviam para reafirmar continuamente o lugar soberano do IFB

para e na cultura baiana. Elizete Passos concluiu, em sua pesquisa, que o Instituto ao lado

das famílias foi eficiente na propagação dos valores morais (PASSOS, 1993, p.141). Ao que

podemos acrescentar: igualmente eficiente para sancionar determinadas categorias de percepção

como se pode ler em um trecho da reportagem, acima citada, de 1941:

O que a Bahia possue de antigo em objetos d‟arte feminina, joias, leques,

vestidos, lenços, caixas trabalhos de agulha, penas, cabelos, conchas, etc.,

poderá ser visto pelos nossos conterraneos num conjunto harmonioso e

distinto.

O gosto do I. F. B procurando organizar para a Bahia um Museu de arte

antiga feminina é louvável e digno de todo apôio. Visa essa instituição

conservar ou o que fez ou possui a mulher bahiana de outros tempos,

concorrendo assim para o incremento e o apreço das nossas tradições.

O „antigo‟ se torna categoria de valoração para fixar a condição de testemunho.

Associado à forma museu que transmite a idéia de solidez e perpetuidade, e um acervo de

objetos preciosos ou singulares que pertenciam às mulheres de elite do passado a notícia

deixa, nas entrelinhas, a tentativa de conter o esquecimento de uma tradição supostamente

compartilhada por toda uma sociedade. Aplicando a lógica bourdieusiana, tratava-se de

mecanismo para forjar a unidade cultural através do exposto e da exposição. Uma

revivescencia da Bahia de outros tempos, na manchete do dia 07 de novembro (A Tarde),

anuncia a continuidade do mesmo evento. Com uma diferença: o que “mais chamava a

atenção” era um manequim apresentando uma autêntica “preta bahiana” recoberta pela saia

rodada, pano da costa, torço “tudo de seda”, camisa bordada, jóias em ouro, diamantes,

balangandãs de prata. Mesmo que a imprensa maneje informações, a essa altura o IFB já tinha

seu espaço consolidado, autorizado e legitimado – era o emissor das informações -. Pode-se

pensar no silenciamento, como propõe Clovis Brito acima mencionado, manipulando o

26 O governo da Bahia comprou a considerada rica Coleção Góes Calmon e seu palacete para compor o acervo

do Museu do Estado da Bahia, vendidos por seus descendentes (CERAVOLO, 2011).

Page 10: EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS PARA AS SENHORAS E ......Segundo a própria pesquisadora Elizete Passos o IFB ficou entre o tradicional e o novo, sem abrir mão da formação religiosa (PASSOS,

referente (manequim/preta baiana), para ocultar um fato conhecido, mas, não „memorável‟: o

que estava exposto era a mulher negra, escrava da elite de outrora27

.

Ao se acompanhar a seqüência cronológica das exposições de 1944 a 1968, é perceptível

o foco nas comemorações anuais da fundação do IFB. Possivelmente as exposições dos

trabalhos femininos não deixaram de existir, mas, perdem o lugar preponderante. A junção

com a arte vai se deslocando do fazer feminino para qualificar objetos que haviam

pertencido à mulher do fausto passado. A despeito do Instituto se manter firme como baluarte

em defesa da família e das tradições sem romper com essas estruturas (PASSOS, 1993, p.142),

para além de suas portas o mundo passava por profundas transformações. Depois de 1945, não

foram poucas as mudanças culturais motivadas pelo espraiar do fenômeno da cultura de massa

e produtos rapidamente consumidos, inclusive no Brasil (NAPOLITANO, 2008). No pós-

guerra, os “anos dourados”, insuflados pelo desenvolvimento econômico, caracterizarou-se pela

revolução cultural atingindo a família, a casa e as relações entre os sexos e as gerações

(HOBSBAWM, 1995, p.314 ss). A arte moderna dava entrada na Bahia com novos

artistas, suscitando debates acalorados na imprensa local, embora apresentados em salões

ou bienais de São Paulo. Ao que tudo indica as exposições de arte passaram a chamar mais

a atenção do que as de prendas domésticas,

justo quando se abriam museus especializados no país28

. Por ora, uma conexão que poderá

melhor se confirmar com a abertura e acesso aos arquivos do IFB.

É preciso salientar que o IFB se tornou um espaço expositivo reconhecido29

. Seus salões

serviram para apoiar outros eventos. Em 1944, no mês de setembro, a Exposição de Arte da

Velha China apresentou pinturas, “bibelots” e inúmeras “curiosidades” dando espaço para o

padre Narciso Irala, missionário jesuíta na China que comentou as condições de sofrimento

por que passavam os chineses em guerra, ao que o jornal (ou teria sido o IFB?),

assumindo posição ideológica registrou logo no inicio do texto: em luta contra os japoneses

27 Para maiores detalhes sobre a relação da mulher negra no IFB, consultar: SILVA, Joana Angélica Flores. A

representação das mulheres negras nos museus de Salvador: uma análise em branco e preto. Dissertação. PPG

Museologia, 2015. Disponível em https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/18548/1/JOANA%20SILVA.pdf.

Acesso 02.06.2016. 28

Na década de 1940 ocorreu a implantação de museus de arte no Brasil. Cito: o de São Paulo (MASP), idealizado por Assis Chateaubriand, empresário e jornalista, e Pietro Maria Bardi em 1947; o de Arte Moderna

(MAM) no Rio de Janeiro em 1948. 29

Eram poucos os espaços para exposições temporárias na cidade do Salvador. Em linhas gerais: o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; o Museu do Estado instalado na Casa Góes Calmon (bairro Nazaré) se ressentia de problemas estruturais e falta de espaço justamente para apresentar temporárias (CERAVOLO, 2011); salas da Biblioteca Pública; da Associação Cultural Brasil Estados Unidos; o Bar Anjo Azul (1949; pinturas murais de Carlos Bastos); Galeria Oxumaré (exposição e vendas de obras; 1951-1961; particular) recebia artistas modernos e intelectuais.

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“fascistas”30

. A pintora paulista Guiomar Fagundes teve seus quadros, retratando motivos

baianos, expostos por um dia em 1948; estava voltando para o Sul31

. Livros e fotografias

sobre a história da cidade do Salvador foram apresentados durante o 1º. Congresso de

História da Bahia (1949)32

, e a primeira exposição de numismática aconteceu nas salas do

IFB, promovida pela Sociedade Baiana de Numismática, patrocinada pela Prefeitura, integrando

o II Congresso de História da Bahia. Na oportunidade foi inaugurada a “sala do Museu”, com

a entronização do crucifixo que pertenceu à Soror Joana Angélica, heroína baiana (1952)33

.

Em 1956, o Instituto deu apoio a 1ª. Exposição Bíblica na Bahia,

colaborando com o período intensivo de estudo das sagradas escrituras (duração um mês)34

.

Pelo noticiário deduz-se que o IFB mantinha uma agenda anual de eventos expositivos

e outros extraordinários em momentos especiais do ano, caso da Quaresma ou Natal. Duas

noticias informam exposições de imagens do Menino Jesus ou presépios na época de Natal,

para reviver a tradição cristã dos antepassados (1953 e 1956)35

. Transcrevo um detalhe

curioso publicado em 1953, dando relevo ao fato de que “visitantes homens de letras [e], figuras

do magistério (...)” e “figuras de todas as classes sociais” haviam apreciado a

exposição. Ensina Teun A. van Dijk (2004, p.9), que a frase não pode isolar-se do contexto, o

que corrobora com a noção de que o contexto de produção de sentido para o texto da mídia

era o próprio Instituto. Em uma noticia dessa natureza, o leitor poderia completá-la com a

informação largamente sabida do vínculo religioso mantido pelo Instituto. Em período

natalino a própria natureza das exposições indicava que a piedade cristã suplantava questões

de gênero ou diferenças sociais.

A aproximação com o folclore e o turismo é outra vertente da qual o Instituto

participou ativamente. Não foram poucas as noticias recolhidas no álbum sobre o tema em

que o Instituto esteve presente, ora anunciando o Museu de Arte Popular36

, ora recepcionando

participantes do III Congresso Nacional de Folclore (1955) com exposição de peças do acervo

30 Jornal s/indicação, 26.07.1944. 31 PINTURA. Uma exposição de telas na Bahia. A Tarde, 26.02.1948 32

Exposições de história e arte inauguradas, ontem, no Instituto Feminino. Com a presença dos congressistas de História da Bahia. Visita a Candeias, hoje - Sessão Plenária. s/indicação jornal, 24.04.1949

(”Recordando...”, arquivo da Biblioteca do IFB). 33

Respectivamente: Para a 1a. Exposição Numismática da Bahia. Já se inscreveram varios colecionadores de

Moedas e Medalhas. A Tarde, 17.06.1952; Instalado o II Congresso de História da Bahia, A Tarde, 30.6.1952. 34

Na seqüência: Semana Católica, 29.07.1956; convite de abertura - 02.09.1956; Inaugurada a primeira exposição bíblica, A Tarde, 03.09.1956. 35

A Exposição de Imagens de Deus Menino. A Tarde, 24.12.53; Exposição de presepes e imagens do Menino

Jesus. A Tarde, 08.12.1956 36

Relicario da Baianidade. Diario da Bahia, 13.03.1954

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de “artistas obscuros que fixaram por vezes genialmente os ritos africanos”37

, ou ainda de arte

e técnica popular38

, oportunidade para inaugurar o referido museu na extensa programação

prevista39

. São apenas exemplos de um tema que ocupou as páginas dos periódicos

soteropolitanos.

Por volta dos anos de 1950 já era evidente que o turismo significava um importante

segmento para o desenvolvimento econômico e expansão do comércio. As chamadas

“Cidades Museu” - Olinda, Ouro Preto e a capital da Bahia - disputavam, no dizer do

anônimo R M L, “milhões de dólares”40

. Não foi sem intenção que intelectuais baianos como

José Antonio do Prado Valladares e Godofredo Filho, ressoando o discurso preservacionista

do IPHAN, e o geógrafo Milton Santos, saíram na defesa do patrimônio arquitetônico civil da

cidade do Salvador (CERAVOLO, 2016). Não por acaso, a vistosa e sintomática manchete do

longo artigo Bahia: palavra mágica e manancial folclórico, publicado no A Tarde (29.09.1956),

convidava o leitor para visitar o Museu de Arte Popular no IFB, oportunidade para admirar o

acervo41

.

Já se observou as diferenças sutis nas duas fases não se descartando certo ajuste às

mudanças que aconteciam no mundo em que o IFB estava, necessariamente, entremeado. O

cultivo das obras de benemerência surge vez ou outra sob outro formato; em festas que

acompanhavam os eventos expositivos com jantares e apresentações culturais contando com

convidados especiais e fundos destinados para as obras de caridade. Desperta interesse a

festejada comemoração dos 25 anos de fundação, anunciada ano antes (1948). A notícia relata

o objetivo do IFB em dotar a Bahia de um museu com objetos de arte e valor para fins

educativos42

, o que nos traz um dado explicativo, porém, certamente não único para a

formação das coleções. No ano seguinte aconteceu o evento propriamente dito expondo jóias

e objetos de prata paralelamente ao elegante jantar beneficente, cujos fundos destinavam-se à

Campanha da Criança. Na oportunidade ali se reuniu a “alta sociedade” (expressão do jornal)

estando presente o governador (Otavio Mangabeira), o prefeito Vanderley Pinho,

37 Os Panos da Costa das Autenticas Baianas. As Exposições no C. de Turismo no I. Feminino. A Tarde,

10.11.1955. 38

A grande atração do Congresso: a Exposição de Arte e Técnica Populares no I. Feminino. Estado da Bahia,

01.11. 1955. 39

III Congresso Brasileiro de Folclore. O programa inicial inclui conferências, exposições e demonstrações de candomblé. A Tarde, 29.06.57. 40

Diário de Noticias, seção Turismo, Notas e Informações, 15-16.11.1959 41

A coleção de artefatos populares do IFB forma outra vertente de pesquisa a ser explorada. Um marco inicial pode ter sido a criação do Museu Regional de Arte Antiga, atribuída ao Mons. Flaviano Pimentel, em 1932 (Museu Regional de Arte Antiga. Autoria J. Berbet Tavares. O Imparcial 24.09.1938). Igualmente e associado ao quesito turismo os cursos de “Tradição” ministrados desde 1936, por Marieta Alves pelo IFB. 42

Pratas da Bahia, em exposição. Diario de Noticias, 10.10.1948

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personalidades do alto clero (Monsenhor Apio Silva), em uma longa lista de autoridades 43

.

Outra amostra do universo social em que circulava Dona Henriqueta e a resposta também social

para o empreendimento que monitorava.

Mesmo apoiando outros eventos a tônica - arte e feminino -, se manteve a cada

oportunidade re-ligando as mulheres aos papéis que não convinha à sociedade desestruturar:

no fazer (trabalhos manuais), na cozinha (culinária), no gosto para a escolha de adornos

domésticos luxuosos, no conhecimento de uma cultura distintiva apreendida na escola. Nessa

plataforma se alicerçavam valores vinculando a moral ao cultural. Nesse plano ou dimensão,

as finalidades das exposições de curto espaço de tempo ou da existência de um museu ; este

sinônimo de tempo contínuo e perene.

O duplo discurso dos opúsculos

A partir dessas observações insistindo nos elos que nortearam as exposições do Instituto,

dirijo a análise para os opúsculos 1952 a 196844

, que acompanhavam as mostras comemorativas

do aniversário de fundação do IFB.

O propósito dos opúsculos era o de, aparentemente, apresentar de forma sintética

aspectos técnicos dos objetos (surgimento e ou origem; qualidades da matéria-prima; modo de

fabricação; fabricantes; variações tipológicas), o desenvolvimento através do tempo, usos e

funções e, por vezes, os possuidores famosos. Isso se refletia na Bahia, via de regra, vinculando

os objetos aos pertences da aristocracia rural e aos “titulares do Império” conhecedores do

esplendor e pompa (opúsculo, 1965 – Candeiros e Candelabros). Esse o tempo histórico que

suscitava atenção e não faltavam elogios: “selo inconfundível de nobreza”, exemplo de

“longa polidez” (opúsculo, 1953). A notícia da doação do manto da princesa Isabel deve ter

causado entusiasmo. Entregue em solenidade divulgada nos jornais

em 1953, a enaltecida “dádiva” 45

, reflete uma vez mais o ativo simbólico que o Instituto tão

43

Instituto Feminino. Estado da Bahia, 07.10.1948. Assinada por Maria Patricia, pseudônimo de Nícia Maria

Valente Dantas que de 1946 a 1950, escrevia para a coluna social desse jornal. 44

No Instituto há ainda opúsculos que podem ser adquiridos (1959; 1960; 1962; 1964; 1965; 1966 e 1967). A complementação foi realizada na Biblioteca Marieta Alves, pela bolsista Silvana M. M. B. de Almeida Castro (PIBIC/UFBA – 2015-1016). 45

Nesta Capital o Principe D. João. Doará ao Instituto Feminino Um Manto de Cerimonia e Vestido da Princesa Izabel. Diario da Bahia, 05.03.1953; Valiosa oferta do Principe D. João ao Museu do Instituto

Feminino. Um manto e um vestido da Princesa Izabel que estavam no castelo do Conde D'Eu, Diario da Bahia,

06.03.1953; Estado da Bahia, 24.03.1953.

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bem capitalizava. O “histórico manto” ficou exposto para visitação pública, e ganhou uma

grande fotografia no jornal46

.

Observe-se, em primeiro lugar, a preciosidade do apresentado: a prata (1948); jóias e

rendas (1949); madrepérolas e missangas (1950); louças antigas (1951); cristal (1953);

novamente a louça e a porcelana (1955); belezas do mar nos lares da Bahia (1956); marfim

também da Bahia antiga (1957); relógios femininos e - masculinos - (1958); peças em bronze

(1959); vasos decorativos (1960); talheres e paliteiros (1961); mobiliário e outros elementos

decorativos dos lares de antanho (1962); espelhos e rubis (1963); leques, lenços e luvas (1964);

candieiros e candelabros (1965); opalinas (1966); miniaturas (1967) e condecorações e peças

brasonadas (1968). O discurso parece descritivo, no entanto, prescreve valores e, a cada tema,

o associam ao gênio criador, a qualidade da sensibilidade da arte, o fino gosto para as coisas

que convinham constar em um lar “autêntico”, como ensinava o passado.

Um segundo aspecto da intencionalidade das mensagens alude à dimensão educativa

fundamentada na filosofia católica do IFB. Não obstante em todas as noticias dos jornais

perceba-se a intenção prescritiva do discurso, nos opúsculos fica mais ressaltado pelo fato óbvio

de que neles a „fala‟ não tinha a intermediação da mídia impressa. Nos textos sem assinatura,

ou nos de autoria de Marieta Alves há sempre uma assertiva dirigida aos ensinamentos morais,

éticos, honrosos, de caráter e a confirmação do que era adequado ao comportamento da mulher.

Afinal, as exposições destinavam-se a “trabalhar para o aprimoramento da educação da

juventude e prazer espiritual de seus amigos”. O Museu e a exposição serviam para esmerar a

estética através do belo para que se manifestassem as “atitudes finas, elegantes, graciosas,

polidas e educadas”, logo, uma exposição prioritariamente para as senhoras e senhoritas

da elite (Biscuits, 28º aniversário, 1952). Mesmo anos depois, o que era mostrado

para sinalizar hábitos finos, o vestuário,

complementos, enxovais, etc., visava as senhoras de uma “boa sociedade”47

.

Considerações finais

Em uma espécie de contato/contágio as coisas serviam de lição para as senhoras ou

senhoritas que precisavam aprender ou, então, rememorar o convívio próximo com os rastros

46 O manto da Princesa Isabel. O Estado da Bahia, 24.03.1953. 47

Folder de divulgação Exposição de Vestuário e Objetos Domésticos da 2ª. Metade do século XVIII. I Festival do Barroco/O Barroco Luso-Brasileiro. Salvador, 16.07.1968.

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do passado. Nas exposições encontravam um nicho, um “oásis” em oposição ao grotesco

decorrente da “era atômica”. Uma perfeita imagem descrita por Marieta Alves48

, de que os

muros do IFB dividiam o mundo em um “for a” e um “dentro”. Em outra metáfora o Instituto

estava ali para que, tal como a chama do rubi, rememorar a força da fé e confortar os não tinham

nem luz e calor (opúsculo/1963). Expressões e dísticos plenos de intenção classificatória em

que o poder performativo, autorizado pelo grupo, reforçava as categorias de percepção que quis

cultivar.

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48

Texto de Marieta Alves, exposição de Miniaturas, 5.10.1967.

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Apêndice - Exposições Temporárias do Instituto Feminino da Bahia (?) 1920-1968

ANO EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS IFB TITULO/TEMA

Década de 1920 (?)

Exposição/ Benemerência Uma exposição de pintura e prendas domesticas.

1931 Exposição/Benemerência A Belleza na simplicidade - Diario de Noticias; Uma exposição de trabalhos femininos. A Tarde; Instituto

Feminino da Bahia - Jornal do Commercio 1932 Exposição Trabalhos Grande Exposição de Trabalhos Femininos. ERA NOVA;

29.07 ; A Tarde – 06.08

1933 Exposição Arte Culinária Uma exposição no Instituto Feminino - A Tarde 23.07; A Exposição de Arte Culinária do Instituto Feminino. O

Estado da Bahia 09.12 1933 Exposição Trabalhos Femininos Grande Exposição de Trabalhos Femininos - O Estado da

Bahia 09.12

1935 Exposição prendas Linda exposição de prendas, no Instituto Feminino - O Imparcial 17.07

1936 Exposição Trabalhos manuais O Instituto Feminino da Bahia e a sua 5a. Exposição da Agencia de Trabalhos - O Imparcial 01.08

1936 Exposição Trabalhos Femininos Uma exposição de bellos trabalhos - A Tarde 27.07; 5ª. 1937 Exposição Trabalhos Manuais Uma reunião do Circulo Social de Estudos, estando aberta

a exposição de trabalhos manuaes. A Tarde 24.07

1940 Exposição Trabalhos Manuais Exposição de "ARTE CULINÁRIA" - A Tarde - 27.11; Encerramento de cursos e abertura de exposição no I. Feminino da Bahia. A Tarde 28.11

1941 Exposição Trabalhos Manuais( Exposição de Trabalhos no Instituto Feminino. A Tarde - 07.08

1941 Comemorativa – 18º aniversário do IFB 2ª. Exposição de Arte da Bahia antiga

O Aniversario de uma útil Instituição. A Tarde – 01. 10. 1941; Uma revivência da Bahia de outros tempos e Uma exposição no Instituto Feminino. A Tarde – 01.10; 07.10; 11/10

1944 Exposição Arte Exposição de Arte da Velha China. No Instituto Feminino – Objetos raros. Caracteres da arte dos chins. (?) - 26.07

1944 Exposição Arte Feminina *Inauguração “Sala Museu”

Exposição de Arte Feminina. (?) 1944. Abertura 01.10

1947 Comemorativa - 24º aniversário IFB O 24o. Aniversario do Instituto Feminino. Exposição de Arte Antiga Feminina. A Tarde 29.09

1948 Exposição pinturas da artista Guiomar Fagundes

Pintura. Uma exposição de telas na Bahia. A Tarde - 26.02.1948.

1948 Comemorativa 25 anos do IFB Exposição Pratas da Bahia

Pratas da Bahia, em exposição. No Instituto Feminino - Programa de realizações para o ano das Bodas de Prata -

Exposições extraordinárias: "joias e rendas da Bahia antiga". Diário de Notícias 10.10.1948

1949 Exposição de Livros e Fotos Exposições de história e arte inauguradas, ontem, no Instituto Feminino. Com a presença dos congressistas de

História da Bahia. ? 24.04

1949 Exposição Arte Sacra Exposição de Arte Sacra no Instituto Feminino. A Tarde 27.10

1949 Comemorativa – 26º aniversario IFB Uma Exposição de Arte Antiga. Joias e rendas de outras épocas. A Tarde 06.10

1950 Comemorativa – 27º aniversário IFB Exposição Madrepérolas e Missangas. A Tarde 17.10 1951 Exposição Louças Antigas da Bahia 28o Aniversário do Instituto Feminino da Bahia. ? 09.04 1952 Exposição Arte Antiga Exposição de Arte Antiga no Instituto Feminino da Bahia.

Estado da Bahia - 03.07

1952 Comemorativa - 29º aniversário IFB Exposição de Biscuits. Opúsculo 1953 Exposição do Manto da Princesa Isabel Encerrou-se a Exposição do Manto da Princesa Izabel.

Diario da Bahia - 06.03

1953 Comemorativa – 30º aniversário IFB Exposições de Cristais. Opúsculo

Page 18: EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS PARA AS SENHORAS E ......Segundo a própria pesquisadora Elizete Passos o IFB ficou entre o tradicional e o novo, sem abrir mão da formação religiosa (PASSOS,

1953 Exposição de Natal A Exposição de Imagens de Deus Menino. Tarde -24.12 1954 Exposição Arte Antiga Exposição de Arte Antiga. A Tarde - 07.1 1954 Exposição sobre Império Exposição Princesa Isabel e sua época. Diario de Notícias

(?) 1954

1955 Comemorativa - 32º aniversário IFB Exposição de Louças e Porcelanas. A Tarde -13.08 1955 Exposição Arte Antiga e Arte Popular

Exposição de Arte e Técnica Populares Os Panos da Costa das Autenticas Bahianas. As Exposições no C. de Turismo no I. Feminino. A Tarde - 10.11; A Grande Atração do Congresso: a exposição de arte e tecnica populares no I. Feminino. Estado da Bahia - 01.11

1956 Exposição Bíblica A 1a Exposição Bíblica na Bahia. CONVITE. Semana Catolica, 09.9

1956 Comemorativa - 33º aniversário IFB Exposição das Belezas do Mar nos Lares da Bahia - A Tarde, 05.10. Opúsculo

1956 Exposição de Natal Exposição de presepes e imagens do Menino Deus. A Tarde - 08.12.1956

1957 Comemorativa - 34º aniversário IFB Joias de Marfim da Bahia Antiga. A Tarde – 15.10

1957 Museu de Arte Popular 3º Congresso Brasileiro de Folclore. Opúsculo 1958 Exposição da Quaresma Exposição da Quaresma. A Tarde 23.04.1958 1958 Comemorativa - 35º aniversário IFB Exposição de Relógios. Opúsculo - Texto Marieta Alves 1958 Exposição Folclore Franqueada ao Público a Exposição Folclorica. Diario de

Noticias - 30.12.1958

1959 Comemorativa - 36º aniversário IFB Exposição de Bronze. Opúsculo - Texto Marieta Alves 1959 Exposição de Natal Exposição de 'DEUS MENINO' (prorrogada). Diario de

Noticias – 04.02.1959

1960 Comemorativa - 37º aniversário IFB Exposição de Vasos Decorativos. Opúsculo -Texto Marieta Alves

1961 Comemorativa - 38º aniversário IFB Exposição de Talheres e Paliteiros. Opúsculo - Texto Marieta Alves

1962 Comemorativa – 39º aniversário IFB Exposição Retrospectiva dos Lares de Antanho. Opúsculo. Texto Marieta Alves

1963 Comemorativa – 40º aniversário IFB Exposição de Eseplhos e Rubis. Opúsculo. Texto Marieta Alves

1964 Comemorativa – 41º aniversário IFB Exposição de Leques, Lenços e Luvas. Opúsculo. Texto Marieta Alves

1964 Exposição “Atividades do “Catolicismo” no Brasil e no exterior.

Exposição no Instituto Feminino da Bahia. Apresentação de publicações e documentário do jornal “Catolicismo” .

Dia 28.09.1964 – abertura da exposição e visita a exposição permanente.

1965 Comemorativa – 42º aniversário IFB Exposição de Candieiros e Candelabros. Opúsculo. Texto Marieta Alves

1966 Comemorativa – 43º aniversário IFB Exposição de Opalinas. Opúsculo. Texto Marieta Alves 1967 Comemorativa – 44º aniversário IFB Exposição de Miniaturas. Opúsculo. Texto Marieta Alves 1968 Exposição de Vestuário e Objetos

Domésticos da 2ª. Metade do século XVIII I Festival do Barroco/O Barroco Luso-Brasileiro

1968 Comemorativa – 45º aniversário IFB Exposição de Condecorações e Peças Brasonadas. Opúsculo - Texto Marieta Alves