Expoentes de Lyapunov n~ao nulos e Hiperbolicidade Uniforme · Lyapunov em x na dire»c~ao de v. No...

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Universidade Federal da Bahia Instituto de Matem´ atica Curso de P ´ os-graduac ¸ ˜ ao em Matem ´ atica Dissertac ¸˜ ao de Mestrado Expoentes de Lyapunov n˜ao nulos e Hiperbolicidade Uniforme Luciana Silva Salgado Salvador-Bahia Mar¸co de 2008

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Universidade Federal da Bahia

Instituto de Matematica

Curso de Pos-graduacao em Matematica

Dissertacao de Mestrado

Expoentes de Lyapunov nao nulose Hiperbolicidade Uniforme

Luciana Silva Salgado

Salvador-BahiaMarco de 2008

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Salgado, Luciana Silva.Expoentes de Lyapunov nao nulos e Hiperbolici-dade Uniforme / Luciana Silva Salgado - Salvador: IM-UFBA, 2008. viii, 37p.Orientador: Augusto Armando de Castro Junior.Dissertacao de Mestrado - IM-UFBA. Programade Pos-Graduacao em Matematica, 2008.Bibliografia: p.27.Palavras-chave: 1. Sistemas Dinamicos; 2. Ex-poentes de Lyapunov; 3. Hiperbolicidade.

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Dissertacao sob orientacao do Prof. Dr.Augusto Armando de Castro Junior quesera apresentada ao colegiado do curso dePos-Graduacao em Matematica da Universi-dade Federal da Bahia, como requisito par-cial para obtencao do Tıtulo de Mestre emMatematica.

Banca examinadora:

Prof. Dr. Augusto Armando de Castro Junior (Orientador)

Prof. Dr. Vilton Jeovan Viana Pinheiro

Prof. Dr. Vitor Domingos Martins de Araujo

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Expoentes de Lyapunov nao nulos eHiperbolicidade Uniforme

Luciana Silva Salgado

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Agradecimentos

Ao meu amigo e orientador de mestrado Armando Castro por sua sensi-bilidade, atencao, amizade e por me mostrar uma paixao pela matematicaque entao desconhecia, voce e um grande exemplo para mim.

Aos caros professores do Instituto de Matematica da UFBA que sempreme incentivaram a continuar, todos voces sao pessoas fantasticas. Em par-ticular, Vilton Pinheiro por me mostrar a beleza matematica da Analise pelaprimeira vez e Enaldo Vergasta por seu carinho com todos, sua paciencia edisposicao em ajudar sempre.

A todos funcionarios do Instituto de Matematica da UFBA que desdeminha graduacao fazem parte dessa historia. Em particular, D. Zeze e Tania.

Professor Vıtor Araujo, por sua presenca nesta banca e por aceitar sermeu orientador de doutorado.

Aos meus colegas e amigos que sempre caminham comigo, longe ou perto,a me apoiar.

D. Neuza, minha mae, por estar presente na vida de seus filhos.

Augusto Salgado, meu pai, de quem herdei o gosto pelo estudo.

Meu querido Moara por ser voce comigo, quem me acalma e acende achama, forca minha, te adoro.

Icaro Sol, meu filho amado, sua compreensao e apoio com os sonhos desua mae sao indiscutıveis. Obrigada por sua confianca. Seu amor me fazuma pessoa melhor.

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A Deus, por tanto amor.

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Resumo

Provamos que se f e um difeomorfismo local C1 tal que os expoentes deLyapunov de toda medida de probalbilidade f -invariante sao positivos, entaof e uniformemente expansora. Apresentamos tambem uma versao deste re-sultado para difeomorfismo com um conjunto nao-uniformemente hiperbolico.Por fim, fizemos uma exposicao parcial sobre como os resultados de Cao ede Araujo-Alves-Saussol foram utilizados em Castro-Pinheiro-Oliveira paraobter um criterio de hiperbolicidade partindo de condicoes sobre os pontosperiodicos de sistemas conjugados a hiperbolicos.

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Abstract

We prove that if a C1 local diffeomorphism f is such that the Lyapunovexponents of every f -invariant probability measure are positive, then f isuniformly expanding. We also present a version of this result for diffeomor-phism with a non-uniformly hyperbolic set. Finally, we present an overviewof how the results in Cao and Araujo-Alves-Saussol were used by Castro-Oliveira-Pinheiro to get a criterion of hyperbolicity from conditions aboutperiodic points of the conjugated hyperbolic systems.

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1 Introducao

A nocao de sistema dinamico uniformemente hiperbolico foi propostapor Smale, e desde entao, muitos dos resultados obtidos em Sistemas Dinamicosdescrevem caracterısticas de hiperbolicidade tanto sob o aspecto topologicoquanto o da teoria da medida.

Em particular, o estudo das taxas de expansao nao-uniforme e condicoessobre um dado conjunto de pontos e suas relacoes com o comportamentouniformemente expansor e enfatizado em varios artigos recentes.

Desde Oseledets [14], sabe-se que se µ e medida invariante para umaaplicacao f de classe C1, entao o numero

λ(x, v) = limn→+∞

1

nlog ‖Dfn(x).v‖ (1)

e definido num conjunto de probabilidade total e e chamado de expoente deLyapunov em x na direcao de v.

No nosso estudo, provamos que se f e um difeomorfismo local C1 talque os expoentes de Lyapunov de toda medida de probabilidade f -invariantesao positivos, entao f e uniformemente expansora. E tambem uma versaodeste resultado para difeomorfismo com um conjunto nao-uniformementehiperbolico.

Abaixo, apresentamos uma descricao sucinta dos artigos usados na dis-sertacao.

Araujo, Alves e Saussol [3], provaram que se f e um difeomorfismo localC1 nao-uniformemente expansor (NUE) sobre um conjunto de probabilidadetotal, entao f e uniformemente expansor, usando o conceito de NUE e o teo-rema de Birkhoff para tal fim.

No artigo que e a principal referencia de nosso trabalho, Cao [1] apresen-tou uma versao deste resultado, na qual a hipotese de expansao nao-uniformee substituıda por expoentes de Lyapunov positivos em todas as direcoes e oTeorema Ergodico Subaditivo (Kingman) para obter sua tese, a qual e amesma de [3]. As diferencas entre as provas vistas em [1] e [3] sao abordadas

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na secao 5.

A ultima secao da dissertacao faz uma exposicao parcial sobre como [1]e [3] foram utilizados por Castro, Pinheiro e Oliveira [4], usando o ferra-mental de tempos hiperbolicos e o Lema de Pliss, para obter um criterio dehiperbolicidade partindo de condicoes sobre os pontos periodicos de sistemasconjugados a hiperbolicos.

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2 Enunciado dos principais resultados

Definicao 2.1. Seja f : M → M um difeomorfismo local C1 de uma

variedade M dotada da metrica Riemanniana que induz uma norma ‖.‖ no

espaco tangente e uma forma de volume dita Medida de Lebesgue.A aplicacao

f e dita uniformemente expansora se existem contantes c > 0 e σ > 1 tais que:

‖Dfnx (v)‖≥ c.σn‖v‖,∀x ∈ M, v ∈ TxM, n ≥ 1.

Proposicao 2.2. Seja f : M → M um difeomorfismo local C1 definido em

uma variedade riemanniana compacta.

Se

lim infn→+∞

1

nlog(‖(Dfn(x))−1‖) < 0 (2)

sobre um conjunto de probabilidade total, entao f e uniformemente expan-

sora.

Definicao 2.3. Para cada x ∈ M e v ∈ TxM , o numero

λ(x, v) = limk→+∞

1

klog ‖Dfk

x (v)‖

e dito expoente de Lyapunov, sempre que tal limite existir.

Teorema 2.4. Seja f : M → M um difeomorfismo local C1 numa variedade

riemanniana compacta. Se os expoentes de Lyapunov para toda medida de

probabilidade f -invariante sao positivos, entao f e uniformemente expansora.

Tambem temos uma versao destes resultados para f : M → M umdifeomorfismo local C1 tendo conjuntos invariantes com alguma estruturanao-uniformemente hiperbolica.

Lembramos aqui que se M uma variedade diferenciavel de dimensao n eTxM o espaco tangente a M no ponto x, o conjunto

TM = {(x, v), x ∈ M e v ∈ TxM}e uma variedade diferenciavel de dimensao 2n e e chamado de Espaco FibradoTangente a M .

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Definicao 2.5. Seja Λ ⊂ M um conjunto invariante de f com uma de-

composicao contınua Df -invariante do fibrado tangente sobre Λ, TΛM =

Ecs ⊕ Ecu. Λ e dito conjunto hiperbolico se f tem as direcoes de expansao

uniforme em Ecu e de contracao uniforme em Ecs, ou seja, existem constantes

c > 0 e σ > 1 tais que

‖Dfnx (vu)‖≥ c.σn‖vu‖ e ‖Dfn

x (vs)‖≤ c.σ−n‖vs‖∀x ∈ Λ, vs ∈ Ecs, vu ∈ Ecu, n ≥ 1.

Teorema 2.6. Seja f : M → M um difeomorfismo C1 e Λ um conjunto pos-

itivamente invariante para o qual o espaco tangente tem uma decomposicao

contınua Df -invariante TΛM = Ecs ⊕ Ecu.Se f tem todos os expoentes de

Lyapunov na direcao Ecu positivos e todos os negativos na direcao Ecs, sobre

um conjunto de probabilidade total, entao Λ e um conjunto hiperbolico.

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3 Lemas Preliminares

Nesta secao provamos alguns lemas que serao usados na demonstracao daproposicao 2.2.

Definicao 3.1. (Convergencia fraca-*)

Seja X um espaco normado e X′:= {l : X →R, l e linear e contınua}

o seu espaco dual. Dizemos que uma sequencia (ln)+∞n=1 converge fraca-* se

existe l ∈ X′tal que

limn→+∞

|ln(x)− l(x)| = 0, ∀x ∈ X.

Sejam M um espaco metrico compacto e f : M → M uma aplicacaocontınua.

Lema 3.2. Seja Mf o espaco das medidas f -invariantes, φ uma funcao

contınua sobre M. Se∫

φdµ < λ, ∀µ ∈ Mf , entao para todo x ∈ M , ∃ n(x)

tal que

1

n(x)

n(x)−1∑i=0

φ(f ix) < λ.

Prova:

Demonstrando por absurdo, suponhamos que ∃ x ∈ M tal que

1

n

n−1∑i=0

φ(f ix) ≥ λ, ∀ n.

Definimos uma sequencia de medidas de probabilidade

µn =1

n

n−1∑i=0

δf ix(·), n ≥ 1

onde cada δf ix e uma medida de Dirac suportada em f ix.

Seja µ um ponto de acumulacao fraco desta sequencia, quando n → +∞.

Tome uma subsequencia µnkque convirja para µ.

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Observe que µ e f -invariante, isto e, µ(f−1(A)) = µ(A): De fato, veja

que δx(f−i(A)) = δf ix(A).

Seja δf i(x)(A) = 1 ⇒ f i(x) ∈ A ⇒ x ∈ f−i(A) ⇒ δx(f−i(A)) = 1.

Por outro lado, suponha que f i(x) /∈ A ⇒ δf i(x)(A) = 0 ⇒ x /∈ f−i(A) ⇒δx(f

−i(A)) = 0.

Logo,

µ = limnk→+∞

µnk= lim

nk→∞1

nk

nk−1∑i=0

δf i(x)(·) =

= limnk→∞

1

nk

nk−1∑i=0

δx(f−i(·)).

Assim,

µnk(f−1(·)) =

1

nk

nk−1∑i=0

δ(f−i(f−1(·))) =

=1

nk

nk−1∑i=0

δ(f−i(·))︸ ︷︷ ︸

µnk

+1

nk

δ(f−nk(·))− 1

nk

δ(·) −→︸︷︷︸fraca−∗

µ.

Como φ e uma funcao contınua, temos

∫φdµ = lim

k→+∞

∫φdµnk

= limk→+∞

1

nk

nk−1∑i=o

φ(f ix) ≥ λ.

o que contradiz a hipotese de∫

φdµ < λ, provando o lema.♦

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Lema 3.3. Seja Mf o espaco das probabilidades f-invariantes, seja φ uma

funcao contınua sobre M. Se∫

φdµ < λ, ∀ µ ∈ Mf , entao ∃ N tal que

∀n ≥ N temos

1

n

n−1∑i=0

φ(f ix) < λ, ∀x ∈ M.

Prova:

Pelo Lema 3.2, para cada x ∈ M, ∃ n(x) ∈ N e c(x) < λ,tais que

1

n(x)

n(x)−1∑i=0

φ(f ix) < c(x).

Assim , por continuidade, para cada x ∈ M , ha uma vizinhanca Vx de x tal

que para todo y ∈ Vx, temos

1

n(x)

n(x)−1∑i=0

φ(f iy) < c(x).

M e compacto,logo existe cobertura finita V (x1), ..., V (xp) de M por vizin-

hancas deste tipo. Seja N = max{n(x1), ..., n(xp)} e c = max{c(x1), ..., c(xp)}.Daı, temos c < λ. Tome

α = maxx∈M‖φ(x)‖ = ‖φ‖.

Defina, a seguinte sequencia de aplicacoes:

N1(x) = min{n(xi); x ∈ Vxi, i = 1, ..., p}

e

Nk : M → N, k ≥ 0,

da seguinte forma

N0(x) = 0, Nk+1(x) = Nk(x) + N1(fNk(x)(x)), para x ∈ M .

Logo, para todo x ∈ M e n ∈ N, existe k tal que Nk ≤ n ≤ Nk+1.

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Daı,

n−1∑i=0

φ(f ix) =l−1∑

k=0

Nk+1∑j=Nk

φ(f i(x))+n∑

j=Nk+1

φ(f j(x)) ≤ cNl + αN ≤ cn + (|c|+ α)N .

Ja que, temos

para c ≥ 0 : cNk + αN ≤ cn + αN ≤ cn + (|c|+ α)N ;

e para c < 0 : cNk+αN = cn−c(n−Nk)+αN ≤ cn+|c|N+αN ≤ cn+(|c|+α)N .

Portanto, se tomarmos N = (2(|c|+ α)N)/(λ− c), temos

1

n

n−1∑i=0

φ(f ix) < λ, ∀x ∈ M, n ≥ N.♦

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4 Prova da Proposicao 2.2

Definicao 4.1. Uma aplicacao A : N×M → Gl(k,R) e um cociclo subaditivo

mensuravel sobre f se verifica as seguintes propriedades:

(i) A(n+m,x) ≤ A(n, fm(x))+A(m,x) , para quaisquer n,m ∈ N e x ∈ X.

(ii) A(n, .) : M → Gl(k,R) e uma funcao mensuravel para cada n ∈ N.

(iii) A(0, x) = Id, ∀x ∈ X.

Enunciaremos, agora, o teorema ergodico subaditivo de Kingman que serausado na proxima demonstracao.

Teorema 4.2. (Teorema Ergodico Subaditivo de Kingman)

Seja A : N×M → R um cociclo subaditivo sobre f tal que max{0,A(1, ·)} =:

A+(1, ·) ∈ L1(M,µ). Entao, para µ-quase todo ponto x ∈ M existe o limite

A∗ = limn→+∞

A(n, x)

n.

Alem disso, a funcao A∗ esta em L1(M,µ), e f -invariante e satisfaz

M

A∗dµ = limn→+∞

1

n

M

A(n, x)dµ(x).

Definicao 4.3. Um conjunto boreliano A e dito de probabilidade total em

M se, µ(A) = 1, para toda medida de probabilidade f -invariante em M .

Definicao 4.4. Uma medida de probabilidade f -invariante µ e dita ergodica

se para qualquer conjunto f -invariante A ∈ A (ou seja, f−1(A) = A) temos

µ(A) ∈ {0, 1}.

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Definicao 4.5. Dados µ ∈ M(M), F = {φ1, ..., φn} um conjunto finito de

funcoes contınuas φj : M → R e ε > 0 arbitrario, definimos

V (µ, F, ε) := {η ∈M(M); |∫

φjdη −∫

φjdµ |< ε,∀φj ∈ F}.

A topologia contendo,para cada medida µ, a colecao de todos os conjuntos

V (µ, F, ε) como base de vizinhanca em µ, com F e ε variaveis, e chamada

Topologia fraca-* em M(M). Esta topologia corresponde a nocao de con-

vergencia vista em 3.1

Observacao 4.6. Na proxima demonstracao usaremos o fato de Mf ser

compacto, isto e devido aos teoremas de Riesz-Markov e Banach-Alaoglu e e

comentado no apendice.

Vamos, enfim, aDemonstracao da Proposicao 2.2:

Seja Mf um espaco das medidas f -invariantes, munido da topologiafraca-*.

Defina φn(x) = log ‖(Dfnx )−1‖, n ∈ N.

Como f e um difeomorfismo local C1 sobre M temos que a aplicacaoφn(x) e uma funcao contınua sobre M .

Afirmacao 1. φn(x) = log ‖(Dfnx )−1‖ e um cociclo subaditivo.

Prova:

Como φn e contınua, e mensuravel. Ademais,

φm+n(x) = log ‖(Dfm+nx )−1‖ = log ‖(Dfm(Dfn))−1‖ =

= log ‖(Dfm(fn(x)) ·Dfn(x))−1‖ ≤ log(‖(Dfm(fn(x)))−1‖ · ‖(Dfn(x))−1‖) =

= log ‖(Dfm(fn))−1‖+ log ‖(Dfn(x))−1‖ = φm(fn(x)) + φn(x).

Isto prova a afirmacao 1.

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Daı, pelo teorema ergodico subaditivo (teorema 4.2), temos que o limite

limn→+∞

1

nφn(x) =: φ(x)

existe para µ− qtp x e toda medida µ f -invariante.Alem disso, φ e f -invariante e integravel.

Afirmacao 2. φn

ne dominada.

Prova:

De fato,

‖(Dfn)−1‖ = ‖[Πn−1j=0 (Df(f j(x)))]−1‖ ≤ Πn−1

j=0‖(Df(f j(x)))−1‖.

Como f e difeomorfismo local (Df)−1 e uniformemente limitada superi-

ormente, digamos por uma constante S > 0. Assim,

‖(Dfn)−1‖ ≤ Sn ⇒ 1

nlog ‖(Dfn)−1‖ ≤ 1

nlog ‖(Df)−1‖ ≤ log S.

Por outro lado, Df−1 tambem e limitada inferiormente ja que

‖(Dfn(x)−1)‖−1 = inf‖v‖=1

‖(Dfn) · v‖ = inf‖v‖=1

‖[(Πn−1j=0 Df(f j(x))) · v]‖ ≤

≤ inf‖v‖=1

{Πn−1j=0‖(Df(f j(x)))‖ · ‖v‖} ≤ ‖Df‖n ⇒

‖Df‖−n ≤ ‖(Dfn)−1(x)‖ ⇒ − log ‖Df‖ ≤ log ‖(Dfn(x))−1‖n

.

Portanto, tomando r = max{log ‖Df‖, log S} temos ‖φn

n‖ ≤ r,∀n.

Provando assim a afirmacao 2.

Portanto, pelo Teorema da Convergencia Dominada de Lebesgue, temos

limn→+∞

∫φn

ndµ =

∫φdµ, para toda medida invariante µ.

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Por hipotese,

lim infn→+∞

1

nlog ‖(Dfn

x )−1‖ < 0

num conjunto de medida de probabilidade total. Isto implica que φ < 0,para µ− qtp x para qualquer medida invariante µ.

Assim,∫

φdµ < 0,∀µ ∈Mf .

Agora provemos que ∃ L ∈ N e λ < 0 tais que

1

L

∫φLdµ < λ, ∀µ ∈Mf :

Ora, para uma dada medida µ ∈Mf , pelo teorema 4.2, temos

limn→+∞

∫φn

ndµ =

∫φdµ.

Ja que∫

φdµ < 0, ∃ nµ ∈ N tal que∫

φn

ndµ < 1

2

∫φdµ, ∀n ≥ nµ.

Note que fixada µ, a aplicacao x 7−→ φnµ

nµe contınua.

Para provarmos a uniformidade usaremos argumento padrao de compaci-dade da esfera unitaria na topologia fraca-* e a consequente compacidade dosubconjunto Mf das probabilidades f -invariantes.

(O argumento aqui usado e similar ao do Lema 3.3, so que refere-se acompacidade de Mf no lugar da de M)

Assim, tomando εµ = 14‖ ∫

φdµ‖, temos que o conjunto

Vµ = {µ′; ‖∫

φnµ

dµ−∫

φnµ

dµ′‖ < εµ}

e aberto na topologia fraca-*, vizinhanca de µ.

Veja que

∫φnµ

dµ′ =∫

φnµ

dµ′ −∫

φnµ

dµ +

∫φnµ

dµ ≤

≤ 1

2

∫φdµ + εµ =

1

4

∫φdµ, ∀µ′ ∈ Vµ.

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Daı, ∪Vµ e uma cobertura de Mf e ja que este e compacto (teoremas 7.1e 7.2), podemos achar uma subcobertura finita, digamos V µ1, ..., V µl.

Se denotarmos nj = nµje λ = max{−εµj

, j = 1, ..., l}, entao, λ < 0 e∀ν ∈Mf , existe uma vizinhanca

(V µj) 3 ν, para algum j, tal que vale1

nj

∫φnj

dν < λ.

Observe que

‖Dfnjk(x)‖ ≤ ‖Πk−1t=0 [Dfnjt(fnj)]‖ ≤

≤ Πk−1t=0 ‖[Dfnj(fnjt)]‖ ⇒ log ‖Dfnjk(x)‖ ≤ log Πk−1

t=0 ‖[Dfnj(fnjt)]‖ ⇒

⇒ φnjk ≤k−1∑t=0

φnj(f tnj(x)),

para algum k ∈ N e j = {1, ..., l} fixado.

Dada ν ∈ Vµj, ja que ν e f -invariante,

1

knj

∫φnj

(fknj(x))dν ≤ 1

k

k−1∑t=0

1

nj

∫φnj(f

tnj(x))dν =

=1

k

k−1∑t=0

1

nj

∫φnj(x)dν < λ ⇒

∫φknj

knj

< λ.

Assim, se fizermos L = mmc{nl}, entao 1L

∫φLdµ < λ.

Ja que ( 1L)φL e funcao contınua sobre M, pelo Lema 3.3, ∃N ∈ N tal que

1

n

n−1∑i=0

1

LφL(f i(x)) < λ, ∀n ≥ N , ∀x ∈ M. (3)

(Isto e quase o que precisamos: Se L = 1, entao 1nφn(x) ≤ ∑n−1

i=1 φ(f i(x)) <

λ ⇒ φn(x) < λn, ∀n ∈ N que e o resultado desejado)

(Aqui ainda nao vale a subaditividade de φL em relacao a f , mas sim emrelacao a fL. Trocar f por fL neste momento nao garante que todas as µfL-invariantes tem sua integral menor que λ)

13

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Queremos uma expressao em que apareca os intermediarios e nao apenasos multiplos de L, portanto usando a subaditividade, temos para todo k ∈ N

φkL(x) ≤k−1∑i=0

φL(f iL(x)),

e entao, para algum 0 ≤ j < L,

φkL(x) ≤ φj(x) +k−2∑i=0

φL(f iL+j(x)) + φL−j(f(k−1)L+j(x)).

(Basta fazer fkL = fL−j ◦ f (k−1)L ◦ f j e aplicar a regra da cadeia e asubaditividade em φkL)

Somando em j = 0, ..., L− 1 e dividindo por L, temos

φkL(x) ≤ 1

L

L−1∑j=0

[φj(x) +k−2∑i=0

φL(fLi+j(x) + φL−j(f(k−1)L+j(x)))] =

=1

L

L−1∑j=0

[φj + φL−j(f(k−1)L(f j(x)))] +

1

L

k−2∑i=0

L−1∑j=0

φL(fLi+j(x)).

Seja c1 > 1 uma cota para

‖φL−j‖ = supx∈M

‖φL−j(x)‖,∀0 ≤ j ≤ L, digamos,c1 = maxi=1,...,L

maxx∈M

φi(x).

Daı,

φkL ≤L−1∑j=0

k−2∑i=0

φL

L(f iL+j(x))+2c1 ≤

L(k−1)−1∑t=0

φL

L(f t(x))+2c1 <︸︷︷︸

(3)

L(k−1)λ+2c1,

se L(k − 1)− 1 > N .

Logo, temos φkL(x) ≤ L(k − 1)λ + 2c1,∀ k tal que L(k − 1) ≥ N .

Assim, para algum n ≥ N + 2L, podemos decompor n = kL + j, onde0 ≤ j < L. Entao,(k − 1)L = n− (L + j) > N.

14

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Novamente, usando a subaditividade, obtemos

φn(x) ≤ φkL(x) + φj(fkL(x)) ≤ L(k − 1)λ + 2c1 + c1.

Logo, φn(x) ≤ L(k − 1)λ + 3c1.

Como (k − 1)L < n, obtemos

1

nφn(x) ≤ L(k − 1)

nλ +

3

nc1 =

=[(L(k − 1)) + L + j

n+

L− j

n

]λ +

3c1

n≤ λ

2⇒

⇒ φn ≤ nλ

2,∀n > N,

ondeL(k − 1)

n−→ 1 e N > Ntal que

3c1

n<

∣∣∣λ8

∣∣∣, L

n<

1

8.

Assim, se tomarmos

k = max{N + 2L,6c1

(−λ)}, obtemos

1

nφn(x) ≤ λ

2,∀x ∈ M,n ≥ k.

Seja c−1 = max{‖(Dfx)−1‖, . . . , ‖(Dfk−1

x )−1‖, 1}.Daı,

‖(Dfx)−1‖ ≤ c−1e

λn2 ,∀n ≥ 1.

Ademais, ∃c > 0 e λ < 0 tais que

‖Dfnx (v)‖ ≥ ce−

λn2 ‖v‖, ∀x ∈ M, v ∈ TxM, n ≥ 1.♦

Escolio 1. Seja φn um cociclo subaditivo contınuo em uma variedade M

compacta tal que

lim infn→+∞

1

nφn < 0,∀ n.

Entao,∃ λ < 0 e N0 > 0 tais que φn < nλ, ∀ n > N0.

15

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5 Provas dos Teoremas

Apresentamos agora o enunciado do importante

Teorema 5.1. (Teorema de Oseledets - versao nao invertıvel)

Seja A : N ×M → Gl(n,R) um cociclo sobre uma transformacao men-

suravel f : M → M com log+‖A(1, ·)‖, onde log+ = max{0, log}, integravel

em relacao a uma medida f -invariante µ em M . Para µ − qtp x ∈ M ex-

iste um inteiro positivo t(x) ≤ n, numeros λ1(x) < . . . < λt(x)(x) e espacos

lineares {0} = F0(x) ⊂ F1(x) ⊂ . . . ⊂ Ft(x)(x) = Rn tais que:

1) Se F ⊂ Fi(x) e um subespaco linear com F ∩ Fi−1(x) = 0 entao

limn→+∞

1

nlog inf ‖A(n, x)v‖ = lim

n→+∞log sup ‖A(n, x)v‖ = λi(x),

onde o ınfimo e o supremo sao tomados sobre todos os vetores v ∈ F

tais que ‖v‖ = 1;

2)

limn→+∞

1

nlog | det A(n, x)| =

t(x)∑i=1

(dimFi(x) + dimFi−1(x))λi(x).

Este teorema e de suma importancia na teoria de sistemas dinamicos esera usado de maneira bem direta juntamente a proposicao 2.2 na demons-tracao do proximo teorema.

16

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Prova do Teorema 2.4

Pelo Teorema 5.1 , existe um conjunto B ⊂ M tal que µ(B) = 1, ∀µ ∈Mf , com as propriedades:(1)Existe uma funcao mensuravel s : B → Z∗ com s ◦ f = s.(2)Se x ∈ B, existem numeros reais λ1(x) < ... < λs(x)(x).(3)Se x ∈ B, existem subespacos lineares 0 = F0(x) ⊂ ... ⊂ Fs(x)(x) = TxM .(4)Se x ∈ B e 0 < i ≤ s(x), entao

limn→∞

1

nlog ‖Dfn

x (v)‖ = λi(x),∀v ∈ Fi(x)\Fi−1(x).

Por hipotese, se x ∈ B, entao λi(x) > 0, para i = 1, ..., s(x).Daı, para todo x ∈ B, ∃N(x) tal que

‖Dfnx (v)‖ ≥ e(nλ1(x))/2‖v‖,

para n ≥ N(x) e v ∈ TxM .

Assim,‖(Dfn

x )−1‖ < e(−nλ1(x))/2,

para n ≥ N(x) e

lim infn→∞

1

nlog ‖(Dfn

x )−1‖ ≤ −λ1(x)

2< 0.

Portanto, pela Proposicao 2.2, f e uniformemente expansora.♦

Vejamos a diferenca entre esta demonstracao e a apresentada em [3].

Definicao 5.2. Um difeomorfismo local C1 f : M → M e uma aplicacao

nao-uniformemente expansora (NUE) em x ∈ M se

lim infn→+∞

1

n

n−1∑j=0

log ‖(Dffjx)−1‖ < 0.

Em [3], os autores investigaram se uma condicao NUE pode ainda implicarcomportamento de expansao uniforme forte.

17

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Na hipotese dos lemas em [3] temos NUE num conjunto de probabili-dade total enquanto em [1] o autor percebeu que podia usar

∫φdµ < λ.

Mesmo de maneira implıcita, Araujo-Alves-Saussol passaram por esta inte-gral, chegando a ela pela condicao de NUE, que e mais forte que a de todosos expoentes de Lyapunov positivos.

Observe que esses lemas levam a tese do teorema principal em ambos osartigos. Entretanto, no caso de [3] os lemas sao utilizados diretamente paraobter o teorema e em [1] o autor ainda teve de passar pela proposicao 2.2.

O que Cao fez a mais foi supor que os expoentes de Lyapunov sao todospositivos, chegando a hipotese 1

L

∫φLdµ < λ, pela aplicacao do teorema

ergodico de Kingman, depois ajustou as contas para poder aplicar os lemase chegar ao resultado desejado.

Abaixo o enunciado do teorema apresentado no artigo [3]:

Teorema 5.3. Seja f : M → M um difeomorfismo local C1 definido numa

variedade Riemanniana compacta. Se f e nao-uniformemente expansora sobre

um conjunto de probabilidade total, entao f e uniformemente expansora.

Os lemas usados na demonstracao deste teorema foram os seguintes:

Lema 5.4. Se

lim infn→∞

1

n

n−1∑j=0

φ(f j(x)) < 0

vale num conjunto de probabilidade total, entao e valido para todo x ∈ X.

Lema 5.5. Existe c0 > 0 tal que∑mN−1

j=0 φ(f jx) ≤ − c2m + c0, ∀x ∈ X e

m ≥ 1.

Prova do Teorema 2.6Devido a continuidade dos fibrados, basta tomar

φn(x) = log ‖Df−n|Ecux‖

ouφn(x) = log ‖Dfn|Ecs

x‖,

e aplicar o escolio 1, obtendo a prova do mesmo modo que no teorema 2.4.

18

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6 Um criterio de hiperbolicidade para sistemas

conjugados a expansores

Neste capıtulo apresentamos como a Proposicao 2.2 pode ser aplicada aoutros resultados.

Seja g : M → M um difeomorfismo local C2, M variedade riemanniana.

Definicao 6.1. Seja z ∈ M um ponto regular. Dizemos que k ∈ N e um

tempo ξ-hiperbolico para z se, para i = 1, ..., k, temos

Πij=1‖[Dg|(gk−j(z))]

−1‖ ≤ ξi.

O seguinte lema sera muito util no que segue:

Lema 6.2. (Lema de Pliss)

Dados λ > 0, ε > 0 e H > 0, existem N0 = N0(λ, ε, H) e δ = δ(λ, ε, H) >

0 tais que, se a1, a2, . . . , an sao numeros reais, satisfazendo

N∑n=1

an ≤ Nλ,

N ≥ N0, |an| ≤ H para n = 1, . . . , N , entao existe l ≥ Nδ, 1 ≤ n1 ≤. . . ≤ nl ≤ N tal que

n∑i=nj+1

ai ≤ (n− nj)(λ + ε),

para todo j = 1, . . . , l e nj < n ≤ N .

19

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Uma propriedade interessante de tempos hiperbolicos para difeomorfis-mos locais e que, sob condicoes de proximidade entre segmentos de orbitas,um tempo ξ−hiperbolico para um ponto x ∈ M sera tambem tempo

√ξ-

hiperbolico para os pontos de uma vizinhanca de x:

Lema 6.3. (Versao simplificada da Proposicao 2.23 em [5])

Seja g : M → M um difeomorfismo local numa variedade riemanni-

ana compacta M . Suponha que k seja um tempo ξ−hiperbolico para x ∈M .Entao, existe δ > 0 tal que, para todo y ∈ M cujo k-segmento de orbita

dista a menos de δ do de x, temos k como tempo√

ξ−hiperbolico para y.

Prova:

De fato, seja δ > 0 tal que

‖[Dg(y)]−1‖ ≤ 1√ξ· ‖[Dg(z)]−1‖, ∀y, z ∈ M, tais que d(y, z) < δ.

Considere agora xj = gj(x) e yj = gj(y) com d(xj, yj) < δ,e j = 0, . . . , k.

Daı, para l < k, temos

Πlj=1‖[Dg(yk−j)]

−1‖ ≤ Πlj=1

1√ξ‖[Dg(xk−j)]

−1‖ ≤( 1√

ξ

)l

· (ς)l = (√

ς)l,

implicando que k e tempo ξ-hiperbolico para y.♦Seja g : M → M um difeomorfismo local C2 topologicamente conjugado

a um endomorfismo C1 expansor.

Definicao 6.4. (Aplicacao Nao-Uniformemente Expansora sobre um con-

junto)

Dizemos que um difeomorfismo local f e NUE sobre um conjunto X, se

existe η < 0 tal que

lim infn→∞

1

n

n−1∑j=0

log ‖[Df(f j(x))]−1‖ ≤ η < 0, ∀x ∈ X.

20

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Lema 6.5. Suponha que g e topologicamente conjugada a uma aplicacao

expansora f. Seja x um ponto regular recorrente de g. Se Per(g) e NUE,

entao todos os expoentes de Lyapunov de x sao positivos.

Prova:

Seja δ > 0 tal que dada qualquer bola B(z, δ) os ramos inversos corre-

spondentes de g sao difeomorfismos bem definidos. Se ξ = eη, η < 0 como na

definicao de NUE, ξ < ξ′ < 1 fixado e seja ε > 0 tal que (√

ξ′)−1 − ε > 1.

Desde que x seja um ponto regular ∃ n0 ∈ N tal que

(ξ1 − ε)n.‖v1‖ < ‖Dgn(x).v1‖ < (ξ1 + ε)n.‖v1‖, ∀v1 ∈ E1;∀n ≥ n0.

Onde os E1 e o autoespaco de Lyapunov associado a log(ξ1) o menor

expoente de Lyapunov.

Agora,pelo lema 6.2, existe n1 > n0 tal que para qualquer ponto y e n > n1

onde

Πnj=0‖[Dg(gj(y))]−1‖−1 ≥ ξ−n,

temos, entao que y tem pelo menos n0 tempos hiperbolicos menores que n.

Fixemos 0 < δ′ ≤ δ tal que

‖[Dg−1(y)]‖ ≤ 1√ξ′‖Dg−1(z)‖, ∀z, y; d(z, y) < δ′,

onde g−1 designa qualquer ramo inverso de g.

Escolhemos 0 < δ′′ < δ′ tal que se g−n e uma composicao arbitraria de n

ramos inversos de g, entao diam(g−n(B(z, δ′′))) < δ′,∀z ∈ M, ∀n ∈ N. Isto

ocorre pois e valido para o sistema expansor f que e conjugado a g.

Como x e um ponto recorrente, escolhemos n2 ≥ n1 um tempo de retorno

tal que uma vizinhanca Vx ⊂ B(x, δ′′) de x e dada por gn2 sobre B(x, δ′′).

Portanto, escrevendo G := (gn2|Vx)−1, G : B(x, δ′′) → Vx ⊂ B(x, δ′′) tem

um ponto fixo p ∈ Vx, que e periodico de perıodo n2 por g.

21

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Por hipotese, p e um ponto periodico hiperbolico para o qual temos

Πn2−1j=0 ‖[Dg(gj(p))]−1‖−1 ≥ ‖ξ−n2‖ ⇒ ‖DG(p)‖ ≤ ‖ξn2‖.

Por nossa escolha de n1 e pela equacao acima, existe um tempo ξ′-hiperbolico

n0 < n′ < n2 para p. Devido ao lema 6.3, n′ e tambem√

ξ′-hiperbolico para

x. Em particular, isto implica que

‖Dgn′(x).v‖ ≥√

ξ′−n′‖v‖,∀v ∈ TpM.

Portanto, ξ1 ≥√

ξ′−1 − ε > 1.

Isto significa que o menor dos expoentes de Lyapunov de x e maior que

0, e portanto todos os outros o sao.♦

Definicao 6.6. (Sombreamento por Pontos Periodicos)

Seja f : M → M uma aplicacao e Λ ⊂ M um conjunto compacto f -

invariante.Dizemos que (f, Λ) tem a propriedade de sombreamento por pon-

tos periodicos se dados ε > 0, α > 0 tais que para todo segmento de orbita

{x, . . . , fn(x)} ⊂ Λ com d(fn(x), x) < α, existe um ponto periodico p ∈ M

com perıodo n tal que d(f j(p), f j(x)) < ε,∀0 ≤ j ≤ n.

Neste caso, dizemos que a orbita de p ε-sombreia o segmento de orbita

{x, . . . , fn(x)}.

Se Λ ⊂ M e um conjunto compacto, hiperbolico, invariante por umdifeomorfismo f , entao a teoria classica de sistemas hiperbolicos implica que(f, Λ) tem a propriedade de sombreamento por pontos periodicos. O mesmotambem e valido para qualquer sistema que e topologicamente conjugado af .

22

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Teorema 6.7. Seja g : M → M um difeomorfismo local C2 sobre uma

variedade compacta M . Suponha que existe um conjunto compacto invari-

ante Λ ⊂ M tal que (g, Λ) tem a propriedade de sombreamento por pontos

periodicos.Se g e NUE sobre o conjunto de pontos periodicos Per(g), entao g

e uma aplicacao expansora sobre Λ.

Notamos que o conjunto de pontos recorrentes regulares de Oseledets e umconjunto de probabilidade total, devido ao Teorema de Oseledets (teorema5.1) e ao Teorema de Recorrencia de Poincare (teorema 7.3). Isto significaque este conjunto tem medida igual a 1 para qualquer medida g-invariante, e olema 6.3 implica que todos os expoentes de Lyapunov sao positivos. Portanto,nosso teorema 6.7 e obtido pela aplicacao do lema 6.3 para a proposicao 2.2.♦

Como finalizacao, faremos um breve comentario sobre o resultado analogoao que provamos aqui, mas no contexto de difeomorfismos, feito tambem em[4].

Definicao 6.8. (Conjunto Nao-uniformemente Hiperbolico - NUH)

Seja g : M → M um difeomorfismo sobre uma variedade compacta M.

Dizemos que um conjunto invariante S ⊂ M e um conjunto Nao Uniforme-

mente Hiperbolico (NUH) se

(1) ∃TSM = Ecs ⊕ Ecu decomposicao Dg-invariante;

(2) Existem η > 0 e uma metrica Riemanniana adaptada para a qual qual-

quer ponto p ∈ S satisfaz

lim infn→∞

1

n

n−1∑j=0

log ‖Dg(gj(p))|Ecs(gj(p))‖ ≤ η,

lim infn→∞

1

n

n−1∑j=0

log ‖[Dg(gj(p))|Ecu(gj(p))]−1‖ ≤ η.

23

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Definicao 6.9. (Decomposicao Dominada)

Seja f : M → M um difeomorfismo sobre uma variedade compacta M e

seja X ⊂ M um subconjunto invariante (isto e, f(X) = X). Diz-se que uma

decomposicao TxM = E ⊕ E e dominada se e somente se

(i) A decomposicao e Df -invariante, ou seja, Df(E(x)) = E(f(x)) e Df(E(x)) =

E(f(x));

(ii) ∃0 < λ < 1 e algum l ∈ N tais que, ∀x ∈ X

supv∈E,‖v‖=1

{‖Df l(x) · v‖} · ( infv∈E,‖v‖=1

{‖Df l(x) · v‖})−1 ≤ λ.

Os autores usaram estas definicoes para mostrar que se g e topologi-camente conjugada a uma aplicacao hiperbolica f , entao os expoentes deLyapunov de todo ponto recorrente regular de g sao nao-nulos no seguintelema:

Lema 6.10. Suponha que g e topologicamente conjugado a uma aplicacao

hiperbolica f. Seja x um ponto recorrente regular de g. Suponha que Per(g) e

NUH e que a decomposicao TPer(g)M = Ecs⊕Ecu e decomposicao dominada.

Entao, os expoentes de Lyapunov de x sao nao nulos.

e o aplicaram para demonstrar o teorema abaixo:

Teorema 6.11. Seja f : M → M um difeomorfismo C1 sobre uma variedade

Riemanniana compacta, com um conjunto positivamente invariante Λ para o

qual o fibrado tangente tem uma decomposicao contınua TΛM = Ecs⊕Ecu. Se

f tem expoentes de Lyapunov positivos na direcao Ecu e negativos na direcao

Ecs sobre um conjunto de probabilidade total, entao f |Λ e uniformemente

hiperbolica.

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7 Apendice

Teorema 7.1. (Banach-Alaoglu)

Seja X um espaco normado.Entao, a bola fechada unitaria do dual X∗

de X e compacta na topologia fraca-*.

Teorema 7.2. (Riesz-Markov)

Seja M um espaco metrico compacto e C0(M) o espaco das funcoes

contınuas de M em R. Entao, o dual de C0(M) e o espaco das medidas

borelianas finitas com sinal sobre M .

Teorema 7.3. (Recorrencia de Poincare - Versao Probabilıstica)

Seja f : X → X, X um espaco de probabilidade. Entao, µ − qtp x ∈ X

e recorrente.

7.1 Compacidade do espaco Mf

Pelo teorema de Banach-Alaoglu, a bola fechada unitaria B∗[0, 1] doespaco dual de um espaco normado e compacta na topologia fraca-*. Ora, oteorema de Riesz-Markov da-nos que o espaco M(M) das medidas de prob-abilidade finitas com sinal de um dado espaco M e isomorfo (C0(M))∗.

Veja que Mf na prova da proposicao 2.2 e um subconjunto fechado deB∗M [0, 1]:

Com efeito, seja µn ∈Mf uma sequencia convergindo na topologia fraca-* para uma certa medida µ. Para vermos que µ ∈ Mf , basta mostrarmosque para toda φ contınua fixada vale

M

φ ◦ fdµ =

M

φdµ.

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De fato, temos∫

Mφ ◦ fdµn −→︸︷︷︸

fraca−∗

∫M

φ ◦ fdµ e∫

Mφdµn −→︸︷︷︸

fraca−∗

∫M

φdµ.

Como o limite e unico e∫

Mφ ◦ fdµn =︸︷︷︸

µn∈Mf

∫M

φdµn ⇒∫

Mφ ◦ fdµ =

∫M

φdµ

e ja que φ ∈ C0(M) e qualquer, obtemos µ f -invariante.

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Referencias

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[3] Alves J, Araujo V and Saussol B, 2003, On the uniform hyperbolicityof some nonuniformly hyperbolic systems, Proc. Am. Math. Soc. 1311303-9.

[4] Castro A., Oliveira K., Pinheiro V., 2006, Shadowing by non-uniformlyhyperbolic periodic points and uniform hyperbolic, Nonlinearity 20 75-85.

[5] Castro A., 2004 Fast mixing for attractors with mostly contracting cen-tral direction, Ergod. Theory Dyn. Syst. 24 17-44.

[6] Bonatti C., Viana M., SRB measures for partially hyperbolic systemswith mostly contracting central direction, Israel J. Math. 115 (2000),157-193. MR 2001j:37063a.

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[9] Mane R., Ergodic Theory and Differentiable Dynamics, Springer-Verlag,1987.

[10] Pliss V., On a conjecture due to Smale, Diff. Uravnenija 8 (1972), 262-268. MR 45:8957

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[12] Shub M., Global Stability of Dynamical Systems, Springer-Verlag, NewYork (1987). MR 87m:58086

27

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[13] Mane R, 1988, A proof of the C1 stability conjecture, Publ. Math.I.H.E.S. 66 161-210.

[14] Oseledets V, 1968, a multiplicative ergodic theorem: Lyapunov charac-teristic numbers for dynamical systems, Trans. Moscow Math Soc. 19197-231.

28

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Index

Abstract, viiiAgradecimentos, vApendice, 25

Enunciado dos principais resulta-dos, 3

Introducao, 1

Lemas preliminares, 5

Prova da Proposicao 2.2, 9Provas dos Teoremas 2.4 e 2.6, 16

Resumo, vii

Um criterio de hiperbolicidade parasistemas conjugados a ex-pansores, 19

29