Explorar a Educação

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DEVIR-CRIANÇA: experimentar e explorar outra educação Francisco J ódar e Lucía Gómez RESUMO -Devir-criança: experimentar e explorar out educação. Conhecemos a preocupação de Deleuze pela sobrecodificação do campo social e seu conceito de "devir", concebido como processo criativo pelo qual as minorias se metamorfoseiam e escapam do controle social. Partindo desses conceitos, este ensaio tenta caracterizar o "devir- criança" como "linha de fuga" pela qual se pode experimentar e explorar uma outra educação. Para isso, o artigo delineia elementos que possibilitem escapar e resistir à forma-homem que domina e codifica a educação dominante. É a partir desses elementos que se podem criar novas possibilidades para a educação concebida como criação de novas formas de fazer, pensar e sentir, capazes de resistir a um modo de existência que aprisiona a educação e na qual emerge o rosto do intolerável que faz de nossa banalidade cotidiana sua habitação permanente. Pavs-chaves: alteridade, educação, mudança socioinstitucional, identidade. ABSTRACT -Becoming-chi: to experience and to explore another education. We ali know DeIeuze 's concern for the process of overcodification of the social field and also his concept of "becoming", conceived as a creative process through which minorities transform themselves and in a certain way manage to escape the grip of social control. Taking up these concepts as its starting point, this paper tries to characterize "becoming- child" as a "line of flight" through which i t could be possible to experience and explore another education. To achieve this, we develop some elements which might help us to escape and resist the human-form that dominates and codify the dominant way of educating. It is on the basis of these elements, we argue, that we could create new forms of doing, thinking and feeling which could make possible to resist a way of Iiving that captures education and in which emerge those intolerable events that tend to take up our daily banality as its permament home. Keywords: othemess, education, socioinstitutional change, identity.

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Outras formas de educação. Devir-criança

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  • .l' DEVI R-CRIANA: experimentar e explorar outra

    educao Francisco J dar e Luca Gmez

    RESUMO - Devir-criana: experimentar e explorar outra educao. Conhecemos a preocupao de Deleuze pela sobrecodificao do campo social e seu conceito de "devir", concebido como processo criativo pelo qual as minorias se metamorfoseiam e escapam do controle social. Partindo desses conceitos, este ensaio tenta caracterizar o "devi rcriana" como "linha de fuga" pela qual se pode experimentar e explorar uma outra educao. Para isso, o artigo delineia elementos que possibilitem escapar e resistir forma-homem que domina e codifica a educao dominante. a partir desses elementos que se podem criar novas possibilidades para a educao concebida como criao de novas formas de fazer, pensar e sentir, capazes de resistir a um modo de existncia que aprisiona a educao e na qual emerge o rosto do intolervel que faz de nossa banalidade cotidiana sua habitao permanente. Palavras-chaves: alteridade, educao, mudana socioinstitucional, identidade.

    ABSTRACT - Becoming-child: to experience and to explore another education. We ali know DeIeuze 's concern for the process of overcodification of the social field and also his concept of "becoming", conceived as a creative process through which minorities transform themselves and in a certain way manage to escape the grip of social control. Taking up these concepts as its starting point, this paper tries to characterize "becomingchild" as a "line of flight" through which it could be possible to experience and explore another education. To achieve this, we develop some elements which might help us to escape and resist the human-form that dominates and codify the dominant way of educating. It is on the basis of these elements, we argue, that we could create new forms of doing, thinking and feeling which could make possible to resist a way of Iiving that captures education and in which emerge those intolerable events that tend to take up our daily banality as its permament home. Keywords: othemess, education, socioinstitutional change, identity.

  • Para mim, a sociedade nunca pra de escapar. ( . . . ) O problema, para a sociedade, o de parar de vazar. Michel [Foucaultl se admirava de que, apesar de todos os poderes, de toda a dissimulao e hipocrisia desses poderes, ns ainda conseguimos resistir. Eu, ao contrrio, admiro-me de que, ainda que tudo vaze, o governo consiga tapar o vazamento (Deleuze, 2002, p. 74).

    E mais aqum esto os devires que escapam ao controle, as minorias que no param de ressuscitar e de resistir. ( . . . ) Se os nmades nos interessaram tanto, porque so um devir, e no fazem parte da histria; esto excludos dela mas se metamoforseiam para reaparecerem de outro modo, sob formas inesperadas nas linhas de fuga de um campo social (Deleuze, 1992, p. 191).

    Quando ptria a terra de nossos filhos

    o conto de Kafka, Um relatrio para uma Academia, est sobre a mesa. Trata-se do relato que um macaco, um ser infra-humano, faz Academia, contando como sobreviveu ao cativeiro que o Homem lhe tinha imposto. Do relato desse singular sobrevivente destacamos:

    Eu no tinha sada mas precisava arranjar uma, pois sem ela no podia viver. (. .. ) I r em frente, ir em frente! S no ficar parado com os braos levantados, comprimido contra a parede de um caixote (Kafka, 1999, p. 63, p. 65).

    Isto , desejar uma sada, construir uma linha de fuga. preciso pr-se a salvo dos prprios limites quando eles asfixiam, quando o habitat uma cidade plantada no deserto. isso o que diz o relato do sobrevivente: escapar para sobreviver vida no cativeiro. Quando se trata de encontrar uma sada que se aprende. ali, onde a vida se toma impossvel, que ela cresce. ali que se constri uma linha de fuga que consegue escapar sobrecodificao.

    Alguns anos aps Kafka ter escrito esse conto, depois da Primeira Guerra Mundial e j em plena crise econmica, Walter Benjamin escreve uma frase que antecipa o desastroso rosto da nova guerra que se estava desenhando no horizonte: "temos de nos preparar, sim, preciso, para sobreviver cultura". Mas Benjamin no pde ser contado entre os sobreviventes. Ele, que convocou para a vontade de sobreviver cultura na medida em que esta se edifica sobre o sangue e o sofrimento, terminou com a sua vida, suicidando-se. Ns, entretanto, fomos os que sobrevivemos cultura. Somos -saibamos ou no, queiramos ou no - os novos brbaros que Benjamin anunciava. Sobrevivemos. Somos sobreviventes.

    Primo Levi, tal qual uma inslita reencarnao do "macaco sobrevivente" de Kafka, aps ser libertado de Auschwitz, escreve para rememorar o que Benjamin j havia entrevisto: a arrepiante "vergonha de ser homem". Ele escreve que em Auschwitz s havia evases e suicdios: faltavam foras at para imaginar a mera possibilidade de uma linha de fuga. Algum tempo depois, ele se suicida.

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  • Primo Levi tampouco sobreviveu. Ns, sim. Somos sobreviventes em um mundo hostil e inspito.

    Miguel Morey (1994) discorda da afirmao de que, depois de Auschwitz, a poesia e a moral no so mais possveis. H, nesse "depois", um otimismo implcito, que faz supor que Auschwitz uma pgina j caduca da histria. Para Morey, pelo contrrio, Auschwitz no um modelo derrotado. o modo de tutela das populaes em nossa sociedade policial, na qual o confinamento a principal forma de gesto. Auschwitz a culminao de uma estratgia de tutela das populaes que tem, na escola, no quartel, na fbrica, no hospital, no manicmio, no crcere ou no hospcio, suas formas discretas e normais. Ns somos os sobreviventes e os herdeiros dessa forma de ser Homem.

    A cruel ampliao de Auschwitz para todo o planeta representa, com trgico realismo, essa "vergonha de ser homem" relatada por Levi. Seus limites coincidem potencialmente com os do planeta que habitamos, de tal modo que esse "impossvel depois de Auschwitz" do qual somos sobreviventes modifica a noo de "ptria". "Ptria" j no pode ser a terra de nossos pais e antepassados. Adquire uma estranha atualidade, "nesse impossvel depois de Auschwitz", aquela frmula de Nietzsche segundo a qual a nica ptria pensvel e habitvel tem por nome "o lugar onde vivem nossos filhos".

    Vs devereis ser expulsos de todas as terras - daquelas em que vs nascestes e daquelas em que nasceram os vossos antepassados! A terra na qual nasceram os vossos filhos a que devereis amar: que esse amor seja o vosso novo ttulo de nobreza - a terra por descobrir, nos mais distantes mares! essa terra que conclamo vossas velas a buscar e a buscar! em vossos filhos que devereis reparar o fato de serdes filhos de vossos pais: todo o passado devereis, assim, redimir! (Nietzsche, Assim falou Zaratustra, m, "De novas e velhas tbuas", p. 12)

    Ns, os sobreviventes da cultura, estamos envergonhados de sermos Homens desterrados do pas de nossos antepassados. na terra de nossos filhos, na qual se foge da forma Homem e se abre a possibilidade de explorar linhas de fuga e experimentar devires, que buscamos reparao.

    Trata-se de uma mudana de idade do mundo que, sem dvida, afeta a educao. Sobre o subsolo dessa nova forma de habitar o mundo, a educao se v irremediavelmente interpelada. Ns, sobreviventes da imagem Homem, encontramos na figura do filho ou da criana um horizonte sob o qual habitar o mundo. A educao seria, assim, basicamente, ensaio de novos experimentos da humanidade para alterar sua prpria configurao e tambm busca de imagens que escapem s vergonhas produzidas pela forma Homem de habitar o mundo.

    Nessa perspectiva, torna-se pertinente tentar extrair algo da idia que Nietzsche chamou de "terra de nossos filhos" e que aqui chamaremos de "a criana", na medida em que ela contm caractersticas que so constituintes desse pas de nossos filhos que j a nossa ptria - nica ptria para nossa

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  • educao, a dos sobreviventes. Uma educao que, basicamente, seguindo orientaes de Deleuze, encontra na "criana" do "devir-criana" uma ordem e um guia de experimentao que escapa imagem Homem que nos represa e nos sobrecodifica.Seguindo a orientao geral de que "o primeiro dado de uma sociedade que nela tudo vaza, tudo se desterritorializa" (Deleuze, 1996, p. 21), ensaiaremos um modo de entender essa dimenso "primeira" da sociedade por meio de uma figura que, enquanto modo de nomear a desterritorializao, tambm acaba por ser "primeira": a criana. Esse "primeira" no assinala, entretanto, como enfatiza Deleuze, uma mera precedncia cronolgica. Utilizamos "criana", pois, como figura para entender essas fugas, desterritorializaes ou linhas de fuga que "se do por todos os lados", que "constituem seu rizoma ou sua cartografia" e que "os dispositivos de poder querem represar, estancar".

    Nossa condio de sobreviventes nos convoca terra nova, ao povo novo, desterritorializao, nos convoca a experimentar e a explorar devires que fujam das formas sobrecodificadas e normalizadas de ser Homem. Formas cuja vergonha no se sofre apenas em situaes extremas, como as relatadas por Primo Levi, mas tambm em condies insignificantes, nos compromissos cotidianos que contramos com nossa poca:

    ( . . . ) ante a baixeza e a vulgaridade da existncia que impregnam as democracias, ante a propagao desses modos de existncia e de pensamento-para-omercado, antes os valores, os ideais e as opinies de nossa poca ( . . . ). Este sentimento de vergonha um dos mais poderosos motivos da filosofia. No somos responsveis pelas vtimas, mas diante das vtimas (Deleuze e Guattari, 1997, p. 140). E quanto vergonha de ser um homem, acontece de a experimentarmos tambm em circunstncias simplesmente derrisrias: diante de uma vulgaridade grande demais no pensar, frente a um programa de variedades, face ao discurso de um ministro, diante de conversas de bons vivants. um dos motivos mais potentes dafilosofia, o que faz dela forosamente uma filosofia poltica. ( ... ). A vergonha no termos nenhum meio seguro para preservar, e principalmente para alar os devires, inclusive em ns mesmos (Deleuze, 1992, p. 213).

    A alteridade do devir-criana

    Diante da vergonha de ser Homem e da exigncia de educar para no repetir Auschwitz (Adorno, 1998), uma resposta possvel devir-outro, o outro de Homem. Trata-se de uma questo, pois, de devir. Devir-mulher, devir-criana ...

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    E no h outro meio seno fazer como o animal (rosnar, escavar o cho, nitrir, convulsionar-se) para escapar ao ignbil: o pensamento mesmo est por vezes mais prximo de um animal que morre do que de um homem vivo ( ... ) (Deleuze e Guattari, 1992, p. 140).

  • Devir-criana. A educao animada pelo devir-criana; estranha necessidade de sobrevivente a nossa; estranha responsabilidade diante das vtimas do Homem.

    No devir acontece uma antropognese que se diferencia da configurao da forma Homem. Devir sempre experimentar e explorar a alteridade da forma do ser Homem:

    o devir no vai no sentido inverso, e no entramos num devir-Homem, uma vez que o homem se apresenta como uma forma de expresso dominante que pretende impor-se a toda matria, ao passo que mulher, animal ou molcula tm sempre um componente de fuga que se furta sua prpria formalizao (Deleuze, 1997, p. 1 1).

    Devir um processo. At mesmo quando uma criana quem devm, ela entra em um devir-criana, pois devir no reivindicar um estado j codificado e identificado; tampouco chegar a alcanar um estado predefinido e reivindicado por meio da cpia, do adestramento ou da imitao. Devir-criana , pelo contrrio, entrar em uma zona de vizinhana e indiscemibilidade na qual no seja possvel distinguir-se de uma criana. Ora, esse "uma" criana no , de nenhum modo, uma generalidade. Trata-se de uma singularidade em sua expresso mais elevada. O imprevisto ou no preexistente que em seu surgir acaba, em si mesmo, privado das caractersticas formais que fazem dizer a ("a" criana aqui presente .... ).

    Assim, a "criana" do devi r-criana no um sujeito nem um objeto da educao, mas uma figura da alteridade, isto , o Outrem que expressa um mundo possvel para as formas de viver e pensar a educao. A criana, enquanto devi r-criana ilimitado, que se introduz na educao, condio de possibilidade de outra educao porque um modo de experimentar o advento de outra educao possvel:

    Outrem surge neste caso como a expresso de um mundo possvel. Outrem um mundo possvel, tal como existe num rosto que o exprime, e se efetua numa linguagem que lhe d uma realidade. ( . .. ) Outrem sempre percebido como um outro, mas, em seu conceito, ele a condio de toda percepo, para os outros como para ns. a condio sob a qual passamos de um mundo a outro (Deleuze e Guattari, 1997, p. 29, p. 30).

    Experimentar e explorar o devir-criana que interior educao a fim de que tanto o modo de fazer educao quanto a prpria criana devenham outra coisa. Assim, introduzir o devir-criana nas formas de pensar e viver a educao no simplesmente promover um pensar, escrever, falar ou, em suma, educar "para" as crianas; segue-se disso, por um lado, que quem pensa, escreve, fala ou educa e, por outro, que quem recebe esse pensamento, essa escrita, fala ou

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  • educao no , em nenhum dos dois casos, uma entidade prefixada de antemo e de uma vez por todas. Ao contrrio, esse "para" um processo em devir. Devir, duplamente e em paralelo, entre uns e outros, em direo alteridade de ambos. Assim o expressam Deleuze e Guattari, recorrendo ao experimento, empreendido por Artaud, de escrever "para" os analfabetos.

    Artaud dizia: escrever para os analfabetos - falar para os afsicos, pensar para os acfalos. Mas que significa "para"? No "com vista a . . . ". Nem mesmo" em lugar de ... ". "diante". uma questo de devir. O pensador no acfalo, afsico ou analfabeto, mas se torna. Torna-se ndio, no pra de se tornar, talvez "para que" o ndio, que ndio, se torne ele mesmo outra coisa e possa escapar sua agonia. Pensamos e escrevemos para os animais. Tornamo-nos animal, para que o animal tambm se torne outra coisa. (. .. ). O devir sempre duplo, e este duplo devir que constitui o povo por vir e a /lava terra (Deleuze e Guattari, 1997, p. 14 1-142, grifo no orginal).

    Expem-se, na seqncia, quatro caractersticas que compem o complexo processo de devir-criana:

    (i) so de soar e sabem de sabor'; (ii) ocupam o espao em intensidade; (iii) so portadoras de uma lngua menor; (iv) possuem uma vitalidade criadora.

    Essas caractersticas no so propriamente da criana: no devir-criana nunca se criana, da mesma forma que a criana, quando criana, no sabe que o . Algum j escutou, alguma vez, as crianas se chamarem mutuamente de crianas? Alm disso, essas caractersticas tampouco nascem do saber que faz da criana objeto de conhecimento e sujeito de disciplina(o). Trata-se de caractersticas que tentam revelar a alteridade da criana ao mesmo tempo que conformam orientaes para outra educao. Uma educao em movimento que, ao experimentar e explorar a linha de fuga que o devir-criana, escapa e se desterritorializa da forma Homem.

    So de soar, sabem de sabor

    As formas constituem a raiz do habitar. Fora das formas, no Fora absoluto, no h vida possvel, apenas o caos e o nada. As formas, ao mesmo tempo que liberam o caos, conformam o viver. So algo assim como a casa do ser, abrigo do caos e da intemprie.

    O fato de que duas formas dominantes de habitar o mundo contemporneo sejam a linha reta e a identidade inscrita em um documento no casual. Isso faz parte de nossa perversa vontade de proteo contra o caos. Linha reta: o cami-

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  • nho mais curto que une dois pontos. Documento de identidade: registro que nos afirma como firmes e estveis, inflexveis, slidos e fixos em uma personalidade civil ou nas marcas de uma identidade social. Vontade de casa neutra, sem dobras nem equvocos.

    Mas tambm conhecemos outras formas de habitar o mundo. No o Fora do caos total, nem tampouco a casa neutra. Mas as imediaes da primeira e a fachada da segunda. Espao de contato entre o interior e o exterior. Os arredores. Ali, onde, ao andar, as pessoas se requebram e fazem ginga; onde, para no topar nas cantoneiras, elas, cantando e danando, desviam-se e inventam passos. um espao de finta e de balano. Nos seus arredores tudo se desformaliza, no se segue reto nem correto, mas tambm no se chega ao caos total. Tampouco lugar de palavra unvoca. Ali no se est inteiramente fora da linguagem e da casa, mas em seus aforas e imediaes, em suas margens (Pardo, 1994). Por isso, os que a esto nos levam na lbia.

    Que animal especificamente humano rueiro por antonomsia? A criana. Habitante dos aforas e das margens da casa.

    As crianas so o que so ao cantar e contar nas imediaes da casa, sem chegar ao Fora absoluto. Elas no so, elas soam2 Elas no sabem de saber, elas sabem de sabor. Saber saboreado a partir do lugar do desejo. Cultura oral, saber mastigado, gostosura. Isso acontece com elas porque a criana no algum que habite de pleno direito a casa da linguagem, pois a criana no fala por inteiro mas s pela metade e incorretamente.

    A criana , pois, essa animalidade especificamente humana que faz vacilar o solo firme e sobrecodificado da cidade dos homens sensatos. Uma animalidade humana que faz vacilar o solo neutro. E isso que nos faz cambalear d samba, faz som, ressoa. Seu cantar no de maiorias. Ela canta (s) manhs: cria novas auroras. Jurisprudncia? So sons instituintes.

    o que faz a criana: saber, aprender e criar. E isso estando em caminho, ou melhor, sendo-o. Inscrita no enigma do descobrir. Surpreendendo na renovada experincia intensiva do real, fonte de inquietude e afirmao de vida. Sabe que a informao no pode substituir o pensamento. Sabe das perguntas sem respostas que, em forma de enigma, povoam o real. Ela nos ensina que a pedagogia efetiva no pode ser a pedagogia do abstrato, nem tampouco da dominao tcnica do mundo. A criana orienta a educao em seu devir-criana: deixar de fazer da experincia uma coisa que no esteja comprometida com ningum nem seja transformadora de nada. Experincia sem sabor, sem tom nem som.

    Ocupar o espao em intensidade

    Aquilo que nos faz danar, o tom e o som, faz o corpo se mexer. Corpo sempre transao, experincia de encontro, conjuno, disjuno e abertura. O corpo a experincia da liberdade e de seus limites. O corpo quando ginga

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  • simplesmente se solta ... A gente se solta, levado por sons instituintes. Dar-se um corpo, ganh-lo: a tarefa interminvel de se tentar chegar ao corpo que se solta e que nunca se alcana inteiramente. ali, onde aquilo que nos faz sobreviver se desformaliza, que se d a disjuno entre eu e corpo. o que possibilita o movimento do outro que no eu, o movimento do que est em fuga. s nesse despejo que possvel se (re)criar. S se vive morrendo. O exerccio da desformalizao: isso que prprio da criana. Ele implica a construo de uma vida em imanncia ou de um "corpo sem rgos", que se "define somente por zonas de intensidade, de limiares, de gradientes, de fluxos" (Deleuze, 1996, p. 22).

    As crianas ocupam as ruas - em manada. Insidiosa tribo que resiste unificao e se ope a todos os estratos de organizao, tanto do organismo quanto das organizaes de poder. Artistas coletivos dos caminhos, habitantes da experincia potica do real.

    O Homem se pergunta: "onde estiveste?". E a resposta da criana um mapa de trajetos, sempre dinmico. As crianas ocupam as ruas com um mapa cartografado de intensidades, repartindo e distribuindo afectos. So mapas de extenso (com trajetos) e de intensidade (com afectos). Com as intensidades no apenas ocupam o espao sem contar nem medir, mas tambm sustentam os trajetos e conectam o distante. No mapa da criana, o meio se compe de qualidades, de substncias, de foras e acontecimentos. Assim, por exemplo, na rua de paraleleppedos (matria), de repente "bum" (rudos), um carro (personagem) bate (drama). E desde ento aquela se toma a rua da batida. E ali ela brincar de bater. a singularizao do indeterminado.

    Deve-se sublinhar que ali, onde h apenas um indiferenciado espao social, as diversas singularizaes criam uma classificao . Os trajetos de intensidade plasmam um sistema de distines, distncias e proximidades que expressam o ndice e a densidade da ocupao. Isso reflexo de um princpio anlogo ao que atua na natureza em geral e que rege todos os fenmenos da vida, desde as formas mais elementares da organizao biolgica at aos sistemas de comunicao mais complexos. A saber: toda percepo possibilitada pela recepo de uma novidade relativa, pela marca de uma diferena, isto , pela criao de um contraste, de uma descontinuidade ou de uma variao (Bateson, 1993). Assim como os rgos sensoriais s podem perceber diferenas, o mapa da infncia s traa variaes contnuas. Mapear o mundo com as intensidades do mundo. esse o andar com os ps na terra da criana.

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    A criana no pra de dizer o que faz ou tenta fazer: explorar os meios, por trajetos dinmicos, e traar o mapa correspondente. (. . . ) Os mapas no devem ser compreendidos s em extenso, em relao a um espao constitudo por trajetos. Existem tambm mapas de intensidade, de densidade, que dizem respeito ao que preenche o espao, ao que subtende o trajeto. (. .. ) essa distribuio de afecros ( . . . ) que constitui Ul11l1lapa de intensidade. sempre uma constelao afetiva. ( . . . ) o mapa das foras ou intensidades tampouco uma derivao do

  • corpo, uma extenso de uma imagem prvia, um supleme/lto ou um depois. (. .. ) Pelo contrrio, o mapa de intensidades que distribui os afectos, cuja ligao e valncia constituem a cada vez a imagem do corpo, imagem sempre remanejvel ou transformvel em funo das constelaes afetivas que a determinam (Deleuze, 1997, p. 73, p. 76, p. 77).

    A ocupao do espao da criana um estar no mundo sem medida. As raridades e a densidade do que aparece criam a distncia e a proximidade no mapa da criana. Mapa composto de trajeto, singularidades e intensidades que no restabelecem um princpio de identidade, a imagem de um corpo j dado e acabado, de um corpo do qual se uma subjetividade. A individuao sem identidade desenha um mapa com o jogo da repetio e da diferena, feito de trajetos e intensidades, no qual o corpo dana e fluidez, algo que transcorre e est em curso. Isso substitui o mapa do idntico e do variado.

    Assim, seguindo o exemplo anterior, o invlucro "paraleleppedo-'bum'carro-batida", como qualidade comum a dois momentos, identifica a prpria rua como sempre diferente de si mesma, de acordo com suas intensidades e o trajeto que sustenta o devir. E os diferentes invlucros no cessaro de manter entre si uma "relao mvel": de um mapa a outro, sem a busca do original, mas na trajetria dos diversos deslocamentos. Os mapas j no tm a funo de comemorar, mas de mobilizar. Trata-se de uma forma de organizar o espao e o tempo que expande a percepo e infla a alma, isto , torna sensveis (sonoras, audveis, visveis, legveis ... ) foras ordinariamente imperceptveis. por mero acaso que o movimento subversivo ou revolucionrio de estar no espao pblico chamado de "ocupar a rua"? A esse respeito Manuel Delgado definiu perfeitamente o personagem do pblico que, enquanto transeunte, habita a urbe, como sendo oposto s identidades substantivas da cidade ordenada e geomtrica:

    o transeunte, com efeito, sempre atento, em situao de viglia perptua, um ser do fora, seu reino o reino do que pennanentemente escapa. O personagem do pblico, sempre, de um modo ou outro, cultural e socialmente desfiliado, demite-se desse corpo que agora, na rua, nesse espao de desterritorializao e reterritorializao generalizadas e constantes, um puro fluido, algo que corre ( . . . ). O transeunte, como o danarino, no possui nada. Ou melhor dizendo: possui to-somente seu prprio corpo. Ele seu corpo. Sem identidade especfica - a no ser a insinuada, a simulada, a involuntariamente delatada nos deslizes e fIOS atos falhos -, sem esse interior que oculta ou dissimula, o animal pblico s pode ser o que seu corpo faz e o que se passa com seu corpo. Nesse mbito, o ato social no , uma vez que no pode ser resumido em una nica identidade substa/ltiva; nem sequer poderamos dizer dele que est, uma vez que no um estado. O ator social acontece, seu devir corresponde ao reino do acontecer (Delgado, 2001, p. 28, grifo do original).

    Ora, sabe-se que as crianas se expressam com o artigo indefinido "um" ("vamos fazer de conta que eu sou um cavalo e tu, um gato"). a potncia do

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  • devir que vai para alm da passagem de indivduo a sujeito e aponta na direo do impessoal. Quer dizer, na direo daquilo que, por ser maior que o "eu", transborda da identidade com que nos dotam e com que ordenamos o mundo. Potncia do devir que advm com o trampolim que abre o universo do possvel e lana o ser sua infinitude.

    As crianas se exprimem assim, Uln pai, Uln corpo, um cavalo. Esses indefinidos freqentemente parecem resultar de uma falta de detemzinao devida s defesas da conscincia. (00') Contudo, o indefinido no carece de nada, sobretudo de determinao. Ele a determinao do devir, sua potncia prpria, a potncia de um impessoal que no uma generalidade, mas uma singularidade no mais alto grau: por exemplo, ningum imita o cavalo, assim como no se imita tal cavalo, mas tornamo-nos um cavalo, atingindo uma zona de vizinhana em que j no podemos distinguir-nos daquilo que nos tornamos. A arte tambm atinge esse estado celestial que j nada guarda de pessoal nem de racional. sua maneira, a arte diz o que dizem as crianas (Deleuze, 1997, p. 77, grifo no originaI).

    Lngua menor

    A identidade em si mesma no existe, ela se forma em um plano puramente relacional. um texto tecido com discursos e percursos (Serres, 1981). Trata-se de uma questo de conectar e desconectar, bifurcar e unir. Todas as unidades so de contato. Resultante de uma partio, com seus deslocamentos, choques e encontros. O devir-criana sabe dessas mutretas. A criana no cessa de abrir e fechar contatos, nos fora a pensar a riqueza das relaes. A criana o outro de uma identidade clausurada.

    Mas as mveis fronteiras da identidade no so to lbeis e formigantes a ponto de ser preciso reconect-las continuamente. Existem princpios organizadores que escapam conscincia do sujeito: a linguagem, tal como toda instituio social, pressupe funes mentais que operam em nvel inconsciente e, por isso, escapam conscincia do sujeito falante ou pensante. possvel, ento, um uso da linguagem que avive a discrdia simblica, a identidade e o sentido do que somos? Um funcionamento da linguagem que, embora menor, enerve os rgos da palavra de tal forma que sua emisso tensione os aparelhos semiticos em direo terra de nossos filhos?

    Com base em suas pesquisas sobre a aquisio da linguagem e, em particular, sobre o balbucio nas ecolalias da criana, anteriores aos primeiros fonemas, morfemas e frases (antes da "fase do espelho"), Julia Kristeva ( 1981) afirma que h, na linguagem, uma funo potica que escapa ao significado e ao ego transcendental. Trata-se da funo de refigurao e renovao do cdigo social. Uma funo potica da linguagem ocultada pelo discurso unvoco, racional e

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  • cientfico. Uma funo que destri e renova o cdigo social e que, dada sua heterogeneidade, acolhe e sustenta um "sujeito em processo" (Kristeva, 1977). Sujeito sempre criana, balbuciador de uma lngua menor.

    Tomando isso em considerao, e de acordo com a leitura que, seguindo Lyotard, Deleuze ( 1997, p. 129) faz da "infncia", pode-se avaliar que o que poderamos chamar "infncia" - isto , "no o que se fala" - no uma poca da vida, no algo que passa e deixa de estar presente, mas "esse movimento que arrasta a lngua e traa sempre um limite diferido da linguagem", movimento que est sempre no discurso, mas que no se deixa escrever na escrita, que escapa formalizao. O que talvez exija a presena de um leitor que no sabe ou ainda no sabe ler.

    A criana faz, assim, vibrar a lngua, desiquilibra-a e a conduz a regies nas quais habita o desejo de uma minoria muda e desconhecida. a que a lngua corcoveia e rodopia. Cada um pode, em sua lngua, expor recordaes, narrar ou raciocinar, mas isso, sozinho, no o habilita a devir outra coisa. A ao balbuciante do devir-criana um uso menor da lngua no qual a lngua trabalha sobre si mesma, liberando uma lngua estrangeira e desconhecida. A criana movimento presente no discurso. Sujeito da palavra em processo, sempre por ler e escrever. Incerto apelo alfabetizao.

    A criana apela incerta alfabetizao do mesmo modo que o aprender no se esgota no resultado do aprendido nem chegar a saber o j sabido. -se criana no movimento do aprender, no balbuciar da lngua e na criao de uma lngua menor e no fazer brotar e emergir de modo inesperado aquele texto que o currculo (Lundgren, 1992). Currculo no , assim, mera recapitulao da tradio ou simples texto do saber selecionado. campo arriscado de deciso e recriao. Um currculo efetivamente lido sustenta o movimento em que consiste o aprender. Com efeito, no h aprender a ler e escrever sem devir-criana, estrangeiro prpria lngua. Paidia, pois, como o tranado que tece esse renascer em cada ocasio do aprender.

    Devir-criana, figura que se confirma como processo vivo da paidia. Nesse ofcio de ditos -lidos, ouvidos e falados - que educar, o devir-criana procura, agora, a potncia que ativa uma melhor dita3, pois faz frutificar o corpo de ditos que codificam a tradio e a memria de um povo. Contra os ditados e a ditadura do dado e dos modelos faz ressurgir um povo sempre menor, inesperado e desconhecido, sempre inacabado e em curso:

    As minorias e as maiorias no se distinguem pelo nmero. Uma minoria pode ser mais numerosa que uma maioria. O que define a maioria um modelo ao qual preciso estar conforme: por exemplo, o europeu mdio adulto macho habitante das cidades . . . Ao passo que uma minoria no tem modelo, um devir, um processo. Pode-se dizer que a maioria no ningum. Todo mundo, sob um ou outro aspecto, est tomado por um devir minoritrio que o arrastaria por caminhos desconhecidos caso consentisse em segui-lo. Quando uma minoria

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  • cria para si modelos, porque quer tornar-se majoritria, e sem dvida isso inevitvel para sua sobrevivncia ou salvao (por exemplo, ter um Estado, ser reconhecido, impor seus direitos). Mas sua potncia provm do que ela soube criar, e que passar mais ou menos para o modelo, sem dele depender (De1euze, 1992, p. 214).

    a -na construo de um povo sempre menor-que talvez resida a criao "fabuladora" mais interessante de um ponto de vista poltico da lngua menor e minoritria que est inserida no movimento do devir-criana e que o alimenta:

    Compete funo fabuladora inventar um povo. ( . . . ) um povo por vir ainda enterrado em suas traies e renegaes. (. .. ) Precisamente, no um povo chamado a dominar o mundo. um povo menor, eternamente menor, tomado num devir-revolucionrio. ( . . . ) sempre em devir, sempre inacabado. Bastardo j no designa um estado de famlia, mas o processo ou a deriva das raas (Deleuze, 1997, p. 14).

    o que pode um recm-nascido

    A criana vitalidade. A indeterminao do recm-nascido torvelinho de foras, arte vitalista de criao. Ali, onde agora existe uma criana, corre um fluxo e logo se formar uma turbulncia. Devir-criana participar de um movimento que desafia a pulso geomtrica do poder, resistir mesmice tanocrtica, o mortio poder que no inventa e apenas destri. Assim como recm-nascido vitalidade, a criana traz vida a este mundo.

    o beb apresellfa essa vitalidade, querer-viver obstinado, cabeudo, indomvel, diferente de qualquer vida orgnica: com uma criancinha j se tem uma relao pessoal orgnica, mas no com o beb, que concentra em sua pequenez a energia suficiente para arrebentar os paralelepdos. (. .. ) No h dvida de que num beb a vOllfade de potncia se manifesta de maneira infinitamente mais precisa que no homem de guerra. Pois o beb combate, e o pequeno a sede irredutvel das foras, a prova mais reveladora das foras (Idem, p. 151-152, grifo no original).

    Seu saber o do desejo e da alegria. E a alegria, como sustenta Spinoza, sempre boa, vida que resiste morte. A vitalidade da criana milagre que rompe a velha ordem das coisas. A criana: capacidade de regressar eternamente vida, alegria que afirma a vida no real. Seu dizer sim vida, em sua modesta potncia, impugnao da tristeza e da servido. Aquilo que ao homem lhe concedido apenas uma ou outra vez, foi-lhe dado pela primeira vez criana. Trata-se da capacidade de manter transaes com a liberdade e a alegria, a felicidade e o gozo.

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  • a aposta pedaggica de responder vitalidade da natalidade e de acolher os novos seres humanos que chegam ao velho mundo dos adultos. Responsabilidade diante do devir-criana da escolaridade e hospitalidade do devir-criana da escolaridade. O desafio est em que a educao "deve preservar essa novidade e introduzi-Ia como algo novo em um mundo velho, que, por mais revolucionrio que possa ser em suas aes, sempre, do ponto de vista da gerao seguinte, obsoleto e rente destruio" (Arendt, 1979, p. 243).

    A educao animada pelo devir-criana

    Pouco antes de se suicidar, Benjamin escrevia a Adorno que "o encanto das crianas consiste, sobretudo, em ser um corretivo da sociedade; uma das indicaes que nos so dadas da 'felicidade no disciplinada'" (Vsquez, 1996, p. 105). Para Benjamin, um antdoto contra nosa pobreza de experincia, a dos sobreviventes, aprender com a criana. Talez o principal ensinamento da criana seja o de mostrar e expressar algumas orientaes para ativar nossa capacidade de renovar a existncia.

    O devir-criana da educao mobiliza o Outro da pedagogia e com isso injeta vida no desejo de alteridade. As caractersticas do devir-criana aqui expostas, alm de orientar possibilidades para alm do j dado, tambm tornam visveis condies que pesam sobre nossa educao e fazem dela a instituio histrica que . Nesse sentido, uma poltica da educao animada pelo devircriana ajuda a renovar as formas de pensar e viver a educao que hoje so insustentveis: a educao-para-a-sociedade, subordinada preparao para a chamada vida ativa e para o dia de amanh; a educao do homem distanciado do mundo; a educao que oferece experincias de aprendizagem, mas na qual o aprender no pressupe experincia alguma.

    O fato de que a educao seja esse ponto no qual, s custas da criana, se comea o Homem, o mundo da forma-Homem, no pode nos fazer esquecer que isso se edifica a partir de uma imensa perda, perda que nenhum modelo de ser Homem pode preencher, nem substituir. Essa perda tem a ver com a solidificao e sobrecodificao das linhas de fuga inseridas no devir-criana. Vale aqui o que, seguindo Juan de Mairena e para chamar a ateno sobre o modo pelo qual o sculo da criana asfixiou a criana, diz Larrosa (1997, p. 77): "Houve um pedagogo: chamava-se Herodes",

    A arrepiante experincia simbolizada por Auschwitz talvez seja a amarga evidncia da exatido dessa afirmao. No podemos, ainda assim, deixar de ver que para alm dos vrios rostos de Herodes e sob nossa experincia cotidiana pulsa a energia do devir-criana. Nova forma de sobreviver na humana repetio dos homens por obra dos homens. O devir-criana como processo criativo de uma educao que resista s vergonhas do presente.

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  • Notas do tradutor

    1. No original, "son de sonar". Os autores fazem aqui um jogo de palavras, tirando proveito de semelhanas fonticas entre "son" ("som"), "son" ("so", terceira pessoa plural do presente indicativo do verbo ser) e "sonar" ("soar").

    2. No original: "Su son no es de ser, es de sonar". 3. No original: "mayor dicha". Traduzi "dicha" por "dita", no sentido de "sorte", existen

    te mas pouco utilizado em portugus, para manter o jogo de palavras com "dichos" ("ditos", em portugus).

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    Traduo de Tomaz Tadeu, do original em espanhol (com agradecimentos a prof." Sandra Mara Corazza, pela ajuda na reviso).

    Francisco J dar professor do Departamento de Didtica e Organizao Escolar na Faculdade de Filosofia e Cincias da Educao da Universidade de Valncia, Espanha.

    Luca Gmez professora do Departamento de Psicobiologia e Psicologia Social na Faculdade de Psicologia da Univesidade de Valncia, Espanha.

    Endereo para correspondncia:

    Francisco Jdar Rico Universidad de Valencia, Facultad de Filosofia y Ciencias de la Educacin, Dept. Didtica y Organizacin Escolar Av. Blasco Ibfez, 30 46010 Valencia -Espanha E-mail: [email protected]

    Luca Gmez Snchez Universidad de Valencia, Facultad de Psicologia, Dept. Psicobiologa Av. Blasco Ibfez, 2 1 460 10 Valencia - Espanha E-mail: [email protected]

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