Experienciando a modernidade na américa latina

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Experienciando a Modernidade na América Latina Maria Graciete Carramate Lopes Tiago A Bosi Concagh Gabrielle S. Carvalho

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Experienciando a Modernidade na América Latina

Maria Graciete Carramate Lopes

Tiago A Bosi Concagh

Gabrielle S. Carvalho

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NÉSTOR GARCIA CANCLINI – CULTURAS HÍBRIDAS (1ª Edição: 1990)

Nascido em 1939 na Argentina, Canclini estuda cultura na América Latina através de um viés multidisciplinar. Atualmente é docente da UAM no México.

Através de sua obra observa-se que o pensamento de Canclini é em parte tributário da linha dos Cultural Studies ingleses (Thompson, Williams) e do pensamento de Antonio Gramsci. Neste sentido a visão de cultura para Canclini está mais atrelada ao seu valor de uso, mesmo dentro de sociedades em que predomina a cultura de massa. Canclini se afasta de elementos da crítica adorniana e da própria escola de Frankfurt. Dentro das percepções do pensador, a idéia de que seria o produto que define o consumidor, ou que o valor de troca supera o valor de uso, traz certa limitação a analise de sociedades complexas.

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- Para o pensador argentino a modernidade na América Latina é impar em muitos sentidos devido a sua complexidade, especialmente porque uma série de formas arcaicas de culturas convivem com formas modernas se readaptando e se redefinindo. Esta constante troca entre moderno, arcaico; erudito, popular ou massivo, gera estas hibridizações culturais constatadas por Canclini.

- Canclini reflete sobre o processo de construção da cultura na América Latina e como as comunidades consideradas tradicionais se adaptaram ou não as novas dinâmicas socioeconômicas impostas pelo advento da globalização e das novas formas de difusão e controle da cultura como mercadoria.

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Como definir culto e popular na modernidade?

“A modernização diminui o papel do culto e do popular tradicionais no conjunto do mercado simbólico, mas não os suprime. Redimensiona a arte e o folclore, o saber acadêmico e a cultura industrializada, sob condições relativamente semelhantes.” (CANCLINI: 22)

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“Tivemos um modernismo exuberante e uma modernização deficiente” (CANCLINI: 67)

Segundo Canclini, “Os modernistas beberam em fontes duplas e antagônicas: de um lado, a informação internacional, sobretudo francesa; do outro, ‘um nativismo que se evidenciaria na inspiração e busca de nossas raízes (também nos anos 20 começam as investigações de nosso folclore)’.”

Os expoentes do modernismo brasileiro, como Mario e Oswald, buscaram através de suas obras encontrar a identidade nacional através de um ideal nativista e nacionalista que casou com a ascensão dos estudos folclóricos no inicio do século XX. A intelectualidade de maneira geral também se debruçou sobre a questão da identidade nacional através de macro-interpretações do caráter brasileiro (Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda)

Porém os ecos do pensamento modernista se mantiveram pulsantes através das décadas tanto no Brasil como em outros países da América Latina. De maneira geral se mantinha a convicção traduzida através do slogan: “só seremos modernos se formos nacionais.”

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Como aponta Canclini, o modernismo foi acima de tudo uma luta contra a concepção de nação presa às relações de poder caudilhescas e oligárquicas. Do pensamento marioandradiano até Brasília, pensava-se que só se sairia deste estado pré-moderno se a nação conseguisse assumir seu verdadeiro caráter nacional. Como aponta Ortiz, “o modernismo é uma idéia fora do lugar que expressa como projeto” (Citado em CANCLINI: 81)

A grande crise deste projeto moderno pode ser diagnosticada com o surgimento e a difusão do Tropicalismo no Brasil. O movimento junto com toda uma corrente de pensamento que ganhava força na época, denuncia e desmistifica a idéia de modernidade=progresso dentro do contexto nacional.O Brasil convive com o desenvolvimento e não ruma para ele.

O movimento apontou também para as contradições culturais da AL através de críticas a aqueles que queriam manter uma música pura e intocada calcada na tradição. Para isto, os tropicalistas operavam com o embaralhamento, ou a mistura de estilos: do brega com o erudito; da música moderna com a música tradicional, etc.

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Parque Industrial – Tom Zé (1968)http://www.youtube.com/watch?v=ocVggkmcF5Qhttp://letras.terra.com.br/tom-ze/80739/

Canclini aponta para o fato de que a partir do final da década de 1960 e da década de 1970, as contradições geradas pela modernização acelerada da AL se tornam cada vez mais escancaradas. Esvaziamento do projeto moderno de nação (Ditaduras). Indústria cultural se apropria da cultura popular. Paralelamente ocorrem grandes processos migratórios do campo para a cidade no momento em que a maioria dos países da AL se urbaniza rapidamente. Como pensar nas culturas tradicionais dentro do meio urbano/moderno?A Marvada Carne – André Klotzel (1985)http://www.youtube.com/watch?v=-bFhkd7dihw

Neste sentido, Caclini reflete sobre qual seria o papel da cultura popular dentro das novas dinâmicas de mercado de bens culturais e de indústria cultural.

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Pergunta Canclini: “Artesãos e espectadores: seriam os únicos papéis atribuídos aos grupos populares no teatro da modernidade?” (CANCLINI: 205)Para o pensador argentino, apesar da cultura popular e do folclore se verem muitas vezes engessadas pelas iniciativas dos antropólogos e folcloristas de preservar a cultura dita tradicional, a cultura popular hoje se dinamizou junto com o mercado de bens culturais se adaptando assim as novas relações de troca.Para compreender tal fenômeno, Canclini retorna a uma de suas indagações iniciais, “como entender o encontro do artesanato indígena com catálogos de arte da vanguarda sobre a mesa da televisão?”Para Canclini, a tradição popular também precisa, em muitos casos, se modernizar e se readaptar para poder resistir e se preservar.http://www.youtube.com/watch?v=0yz7FeGxSeE

A incorporação de elementos de novas culturas, assim como o domínio de técnicas e tecnologias oferece para as comunidades mais tradicionais uma gama de possibilidades de conquistas sociais e de inserção nas lógicas de mercado.http://www.youtube.com/watch?v=QKk3-BuYUZUhttp://www.producaocultural.org.br/slider/ailton-krenak/

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Nicolau Sevcenko (1952 - ) – atualmente leciona história da cultura na FFLCH-USP, já foi professor da PUC-SP e Unicamp; professor visitante e membro do Centro de Estudos de Cultura Latino Americana do King’s College, na Universidade de Londres; professor visitante também em universidades dos EUA; autor de vários livros e artigos no jornal Folha de São Paulo e na revista Carta Capital

Proposta: uso da crítica em três movimentos:

- desprendimento do ritmo acelerado;- a recuperação do tempo histórico da sociedade;- Uma sondagem do futuro e a ponderação de como as mudanças podem ser postas a favor dos valores humanos.

NICOLAU SEVCENKO – A CORRIDA PARA O SÉCULO XXI

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Recuperação do tempo histórico da sociedade• século XX

– avanços tecnológicos e aceleração– Segunda Guerra– intensificação das mudanças – período pós-industrial

• tecnologias da informação• desmanche do Estado de bem estar social/globalização

Desmanche do Estado de bem estar social/globalização desequilíbrios nas relações:

PessoaisIndivíduos/EstadoIndivíduos/ambienteIndivíduos/artesIndivíduos/corpo

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Para Sevcenko, os ganhos estéticos da arte às vezes se mostraram pouco eficientes no processo de mercantilização da cultura

Segundo Frederic Jameson, “tudo na sociedade de consumo assumiu uma dimensão estética”.

O que se percebe no fundo é uma dificuldade na percepção do que é cultura e o que é mercadoria, especialmente no processo em que esta mercadoria se introjeta no centro da cena cultural.

Sevcenko cita o projeto “regain the streets” que talvez seja uma resposta contundente a expropriação da cultura às vezes operada em nossa sociedade. O objetivo seria trazer a arte à rua, em um movimento de democratização da arte. E principalmente retirar a arte de seus espaços por excelência, dando assim, um tom menos formal e hierárquico. Além disso ele reitera a importância da consolidação da cultura Hip-Hop nas periferias das grandes metrópoles norte-americanas nos anos 80 como experiências pioneiras. Os frutos seriam rap, o sampling e a figura do DJ que hoje já foram incorporadas dentro da cultura de massas.

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A periferia e sua importância como espaço de trocas culturais

Biblioteca Exodus – Capão Redondo

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A biblioteca se situa no bairro Capão Redondo, e é uma idealização do escritor Ferréz e do grupo Racionais Mc´s. O intuito da biblioteca é proporcionar um centro de cultura para jovens ligados ao movimento hip-hop e da cultura da periferia em geral.

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TEIXEIRA COELHO – MODERNO PÓS MODERNOModerno• Representa a multiplicidade de conteúdos,• Os objetivos não são claros, não há uma definição concreta do que é moderno.• Ideia do novo• Distanciamento entre produção cultural e o povo• Visão de mundo, no qual consiste numa linguagem baseada mais na fabricação à

ação.

Modernidade • Fragmentação • A reflexão sobre um fato, é a critica, • Tentativa de conhecimento, • Através da interrogação, a dúvida e reflexão.• É a subjetividade, e autonomia, é a opção estética do artista, é a prevalência da

singularidade.• Relação de equilíbrio entre o moderno e a tradição, no qual possui uma relação

dialética.• A arte será mostrada o cotidiano, erotismo e a noite, o que prevalece é a forma.• Complexidade, contradição, ambigüidade, tensão e a inclusividade.

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GUERRAS CULTURAIS• Caracterizada por revolução cultural que exigia muito mais do a

democracia• A sociedade começa a viver mais uma contradição do seu sistema(...)

sociedade da abundancia, os jovens se erguem contra os benefícios, sociedades sem beneficio reais

• Os jovens se manifestam contra a estrutura da cultura contra organização da vida cotidiana, recusa do planejamento da centralização da vida

• Revolução sexual, significou uma reivindicação do próprio corpo , afirmação do usar o corpo

• Reapossamento do corpo é uma das mais profundas das revoluções da humanidade

• Revolução cultural tratou –se de uma revolução na moral individual como por exemplo livre acesso à pílula anticoncepcional

• Na pós- modernidade a humanidade não se divide mais em homens e mulheres, há a presença dos homossexuais

• Profunda alteração da vida social houve a diminuição do poder simbólico da instituição publica

• Maio de 68 momento histórico em que o individuo resolve reivindicar –se como mais importante do que o coletivo ... que não era possível a construção do coletivo se antes o individuo não estivesse fortificado

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• Ives Durand desenvolveu a partir das Estruturas, um procedimento de modelização do imaginário, chamado AT-9 que possibilita a identificação dos símbolos presentes na paisagem mental de uma pessoa ou grupo facilitando a compreensão de seus comportamentos, reações.

• O uso das palavras todas indica é a existência, estruturando a linguagem, da figura do sexismo em outras palavras a batalha real do sexo, exemplo a palavra concubina no dicionário Aurélio ela aparece apenas no feminino como um substantivo quando refere-se ao homem utiliza-se o adjetivo concubinário. Ou seja, a mulher é substantivada e o homem cabe-se com um adjetivo.

• As palavras de hoje aparecem sempre as “formulas mais genéricas “anônimas abstratas que tendem a diluir os significados” (CALVINO), ou seja, a figura de generalidade, a substituição da espécie pelo gênero, do apagamento do singular pelo universal, do concreto pelo ideal.

• Os imaginários da identidade se confrontam de modo continuado e persistente em mais uma arena

• Alguns grupos desejam encerra-se dentro de territórios identitários limitados, outros tentam fundir-se no todo global.

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• Guerras civil; entraves entre metrópoles (ex. SP e RJ) cujos os modos e versões são parte do cotidiano

• A violência atual não tem mais motivações ideológicas ou outras, é uma dinâmica solteira, sem rumo resultante de um processo cultural que oficializou o culto à violência

• Identidade nacional brasileira assume a forma de um roteiro dramático e repleto de peripécias

• O concretismo no Brasil proponha a criação de uma poesia brasileira internacional, ou seja, uma poesia não regionalista, mas que abordasse temas contemporâneos que são globais, enquanto isso nas artes plásticas e no cinema há o caminho inverso, eles volta-se para aquilo que parecia próprio do país

• As complexidades e tensões identitárias também aparecem na América Latina, de um lado para estabelecer uma identidade nacional, e de outro as representações que o exterior faz dela. Ao mesmo tempo em que tenta se livrar dessas representações parece estar fascinadas por ela

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• Americanização cultural ocorre na América Latina • Nos países da América Latina não há uma integração nacional, eles se voltam para os

EU e Europa.• O espaço público é aquele onde se dá a invenção dos nós, em contraponto ao espaço

privado espaço e construção do seu individual espaço da autonomia interior, da elabora... (?)

• Espaços públicos são aqueles onde há uma troca, uma experiência vivida em comum • Arte publica proporciona um contato direto de algum modo prolongado, e que, por fazê-lo

cria condições para a construção de um imaginário comum.• Arte pública e o espaço público são representações e não presentificações • Cultura política é a cultura que nos permite conviver em sociedade, conviver nas cidades

nas polis. • Toda política cultural tem em algum momento de levar em conta o que querem as

pessoas comuns e não apenas os artistas e criadores culturais em geral os governos e mercado

• As politicas devem assim encontrar uma forma de permanecer atentas ao tema e lidar de outra vez com as identidades locais e a sua preservação descobrindo ao mesmo tempo alternativas que evitem o enrijecimento cultural identidade

• Planejar uma política condizente com essa aceitação é ampliar o leque da macropolítica cultural sem deixar de atender circuitos clássicos da cultura que vem sendo objeto de sucessivas politicas (?)

• A realidade social e cultural está na cidade

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Referencias

• COELHO, Teixeira. Moderno pós moderno. Porto Alegre, L&PM, 1986.

• ________. Guerras Culturais. São Paulo, Ed. Iluminuras, 1999.

• GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo, Edusp, 2008.

• SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI: No loop da montanha-russa. São Paulo, Cia. das Letras, 2001.