EXPANSÃO URBANA E MOBILIDADE RESIDENCIAL: O CASO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO EXPANSÃO URBANA E MOBILIDADE RESIDENCIAL: O CASO DE VIÇOSA, MINAS GERAIS BOLSIST A: Sara Freitas Aniceto ORIENTA DOR (A): Profª Teresa Cristina de Almeida Faria Relatório Final, referente ao período de agosto/2013 a julho/2014, apresentado à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do PIBIC/CNPq.

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BOLSISTA: Sara Freitas Aniceto ORIENTADOR (A): Profª Teresa Cristina de Almeida FariaRelatório Final, referente ao período de agosto/2013 a julho/2014, apresentado à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do PIBIC/CNPq.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSACENTRO DE CINCIAS EXATASDEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

expanso urbana e mobilidade residencial: o caso de viosa, minas gerais

BOLSISTA: Sara Freitas Aniceto ORIENTADOR (A): Prof Teresa Cristina de Almeida Faria

Relatrio Final, referente ao perodo de agosto/2013 a julho/2014, apresentado Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do PIBIC/CNPq.

VIOSAMINAS GERAIS - BRASILAGOSTO/2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSACENTRO DE CINCIAS EXATASDEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RESUMO

EXPANSO URBANA E MOBILIDADE RESIDENCIAL: O CASO DE VIOSA, MINAS GERAIS

Este projeto avaliou o processo de expanso urbana e estruturao do espao intra-urbano da cidade de Viosa, na regio da Zona da Mata, em Minas Gerais, a partir da mobilidade residencial da populao em direo s reas de expanso da cidade. Esta mobilidade foi observada pela intensificao da produo imobiliria nas reas de expanso urbana, que compreende os bairros ao longo do eixo da Avenida Marechal Castelo Branco (Santo Antnio, Joo Braz, Liberdade, Inconfidncia e Silvestre), definidos na reviso do Plano Diretor (2008), ainda no aprovada. Com a supervalorizao imobiliria dos centros urbanos, alm de seu carter de constantes e intensas atividades, seja o fluxo de pessoas, veculos, informaes, etc., a tendncia da dinmica intra-urbana de cada vez mais se afastar do centro em direo s reas perifricas, locais cujo preo da terra seja menor e que apresente melhor qualidade de vida. O fenmeno da expanso urbana impulsiona a criao de novas centralidades, afastadas do centro principal, que podem vir a se tornar to influentes quanto este, ou mais ainda, nas atividades da cidade. A pesquisa tratou de identificar as particularidades presentes no processo de crescimento da cidade, da produo do espao urbano, e as potencialidades das reas estudadas. Aps coletar dados relativos produo imobiliria no local, junto ao mercado imobilirio, atravs das imobilirias mais atuantes no municpio, e Prefeitura Municipal de Viosa, atravs do IPLAM Instituto de Planejamento do Municpio de Viosa procuramos organizar os dados em planilhas e grficos de modo a ter uma viso quantitativa e qualitativa da atividade imobiliria na rea. Apesar do pequeno recorte temporal (2011-2012), que justificvel pela alta intensidade de atividades no ramo imobilirio em Viosa-MG, a pesquisa mostrou uma representatividade expressiva da rea analisada em relao produo na cidade como um todo, demonstrando que a rea de expanso est concentrando atividades e que possivelmente poder ser considerada uma nova centralidade da cidade.

Data: ___/___/________________________ ___ ___ ________________________________Prof Teresa Cristina de Almeida Faria Sara Freitas Aniceto ORIENTADORA BOLSISTA PIBIC/CNPqSUMRIO

1. CONSIDERAES INICIAIS ................................................................................... 11.1. INTRODUO ............................................................................................ 11.2. OBJETIVOS ................................................................................................. 31.2.1. GERAL .......................................................................................... 31.2.2. ESPECFICOS .............................................................................. 31.3. METODOLOGIA ......................................................................................... 32. REFERENCIAL TERICO ........................................................................................ 42.1. EXPANSO URBANA E NOVAS CENTRALIDADES ........................... 42.2. DINMICAS DO MERCADO IMOBILIRIO .......................................... 52.3. MOBILIDADE RESIDENCIAL .................................................................. 63. A FORMAO DO ESPAO URBANO EM VIOSA-MG ................................... 83.1. HISTRICO DO PROCESSO DE FORMAO DO ESPAO URBANO EM VIOSA-MG ................................................................................................ 83.2. A EVOLUO URBANA DA REA DE ESTUDO ................................. 94. DISCUSSO DOS RESULTADOS ......................................................................... 115. REFERNCIA BIBLIOGRFICA ........................................................................... 16APNDICES ................................................................................................................. 18

1. CONSIDERAES INICIAIS1.1 INTRODUOEste projeto pretende avaliar o processo de expanso urbana e estruturao do espao intra-urbano da cidade de Viosa, na Zona da Mata mineira, a partir da mobilidade residencial da populao em direo s reas de expanso da cidade, que compreende os bairros de Inconfidncia, Joo Braz, Liberdade, Santo Antnio, e o distrito de Silvestre, localizados ao longo do eixo da Avenida Marechal Castelo Branco.A cidade de Viosa possui uma rea aproximada de 279 Km. Ao norte, a cidade se limita com os municpios de Teixeiras e Guaraciaba; ao sul, com Paula Cndido e Coimbra; a leste com Cajuri e So Miguel do Anta e a Oeste com Porto Firme. Desde a dcada de 70, a cidade de Viosa tem se caracterizado por um rpido crescimento demogrfico e urbano, decorrente da expanso da Universidade Federal de Viosa e surgimento de outras instituies particulares de ensino superior. Como consequncia, um grande contingente populacional migrou para a cidade de Viosa. Inicia-se um processo de intensa atividade imobiliria, concentrada principalmente no Centro e em locais prximos Universidade, que um dos maiores, se no o principal, indutor da dinmica urbana de Viosa. (RIBEIRO FILHO, 1997).Devido topografia acidentada da cidade, o mercado imobilirio se voltou para a verticalizao, em grande medida, orientado aos segmentos de maior poder aquisitivo. Esse mercado se tornou ao longo do tempo, bastante dinmico e competitivo, provocando uma supervalorizao do solo urbano, refletindo no preo dos imveis e impulsionando a expanso da cidade em direo s reas mais distantes do centro.O alto adensamento se localiza nas reas mais valorizadas da cidade, principalmente nos bairros Ramos e Centro, e consequentemente as reas de menor adensamento coincidem, em sua maioria, com os vetores de crescimento urbano desejado.A reviso, ainda no aprovada, do Plano Diretor da cidade, indica que o vetor de crescimento desejado se estende principalmente para a Avenida Castelo Branco e os bairros Joo Braz, Violeira, Silvestre e Novo Silvestre.A partir de dados acerca da produo imobiliria, essa pesquisa pretende analisar o crescimento e expanso territorial de Viosa nas reas de estudo enfatizando o papel da mobilidade intraurbana, buscando identificar as reas de maior crescimento urbano, atravs do comportamento do mercado imobilirio.A deciso de mudar de endereo pode ser analisada sob diferentes perspectivas. Para os economistas urbanos, ela estaria associada satisfao das necessidades habitacionais das famlias, adequando-as ao ciclo de vida e posio social; j os ecologistas humanos tratam o fenmeno como parte do processo de expanso das cidades, que insere crescimento e sucesso. Alguns estudos, como o de Rossi (1980), ressaltam que a mobilidade residencial tem relao direta com o funcionamento do mercado imobilirio e s consequentes mudanas na estrutura intraurbana, como valorizao do solo e dos imveis. As estratgias de atuao dos capitalistas imobilirios, por exemplo, atravs de inovaes da moradia, criando novas necessidades habitacionais, ou readequando as habitaes s mudanas na estrutura familiar, implicam no deslocamento de demanda solvvel (classe de renda alta). (FARIA, 2004).Segundo Abramo & Faria (1998), o capital imobilirio utiliza estratgias de ao, tais como a delimitao de reas de valorizao e a inovao/diferenciao do produto-habitao. Estas alteram o padro de ocupao de toda uma rea e definem o acesso diferenciado das famlias com diferentes rendimentos.Outro aspecto seria a atrao ou expulso que certas reas impem s famlias por suas caractersticas fsicas e culturais. Em geral, o movimento das famlias concomitante com a melhoria da quantidade e qualidade dos atributos residenciais, levando-as a preferirem/valorizarem certas reas em consequncia de suas insatisfaes em relao a outras. As dinmicas do espao urbano produzem os deslocamentos intra-urbanos, especialmente analisados nessa pesquisa na forma da migrao residencial. Esses deslocamentos por sua vez condicionam os padres da organizao social no espao. A mobilidade espacial acionada na anlise como um fenmeno inerente ao processo de estruturao do espao urbano, no havendo a necessidade de ser estudada como um objeto em si. Desse modo, a quantificao e a qualificao dos fluxos migratrios intra-urbanos, atravs do recolhimento dos dados acerca da concentrao da produo imobiliria em determinadas reas, nos permite avaliar a dinmica de crescimento e expanso urbana.

1.2 OBJETIVOS1.2.1 GERALAvaliar o processo de expanso urbana e estruturao do espao intra-urbano da cidade de Viosa - MG.

1.2.2 ESPECFICOSIdentificar a intensidade da produo imobiliria nas reas de expanso (os bairros Inconfidncia, Joo Braz, Liberdade, Santo Antnio e Silvestre) em relao produo imobiliria no restante da cidade de Viosa MG, alm de identificar suas caractersticas, de forma a entender as dinmicas urbanas e de funcionamento do mercado imobilirio.

1.3 METODOLOGIAPara alcanar os objetivos desta pesquisa foi necessria primeiramente uma pesquisa bibliogrfica referente aos temas de mobilidade residencial, migrao intra-urbana, estruturao urbana e mercado imobilirio.Posteriormente foi realizada uma primeira visita a campo, com a presena da orientadora, para reconhecimento da rea de estudo, sendo possvel j nessa visita observar os padres de ocupao e a infraestrutura urbana da rea.A etapa seguinte foi uma pesquisa documental junto ao IPLAM Instituto de Planejamento Municipal de Viosa referente aos Alvars de Construo e Habite-se emitidos nos anos de 2011 e 2012. Tal recorte temporal foi escolhido devido ao fato de j existirem dados disponveis de estudos prvios at o ano de 2010, alm disso, no seria necessria a anlise da evoluo dos dados ao longo dos anos para atender aos objetivos do presente estudo.Em ltima instncia foi realizada uma pesquisa aos sites das imobilirias mais atuantes na cidade de Viosa, a fim de contabilizar os imveis disponveis para a venda nas reas de estudo e suas caractersticas, e comparar com o nmero de imveis disponveis nas mesmas imobilirias no restante do municpio.Todos os dados coletados foram organizados em planilhas descritivas e resumidos em grficos a fim de fazer uma sntese de todas as informaes disponveis.

2. REFERENCIAL TERICO2.1 EXPANSO URBANA E NOVAS CENTRALIDADESInspirado pelo pensamento marxista, David Harvey aborda a expanso urbana como um processo inerente ao sistema capitalista uma vez que simultaneamente, intensificao (de desejos e necessidades sociais, de populaes totais, e assim por diante) e expanso geogrfica (HARVEY, 2005, p.64). A expanso urbana pode ser entendida, ento, como um processo decorrente da intensificao da urbanizao nos centros originais e que como consequncia impulsiona a expanso geogrfica da urbanizao para novos centros.O entendimento das direes da expanso urbana segundo Villaa (2001) comea com uma questo importante sobre o que provoca o crescimento em sentido a uma rea: se a sua demanda ou sua disponibilidade de infraestrutura. Ou seja, se uma rea seria mais valorizada pela intensificao do processo de urbanizao, sendo assim necessrios investimentos na infraestrutura dessa rea, ou se uma j existente infraestrutura atua como um atrativo para o crescimento urbano na sua direo.Cada vez mais o que se observa nas cidades brasileiras uma tendncia de expanso urbana baseada na atrao exercida pela implantao de grandes equipamentos de comrcio, servios, lazer e habitao, geralmente destinados s classes de maior renda, afastados dos grandes centros urbanos (PIRES, 2007). Esses empreendimentos muitas vezes acontecem a partir de uma parceria do poder pblico juntamente iniciativa privada implicando em intervenes na infraestrutura urbana da rea a serem implantados.Os investimentos em uma infraestrutura expansionista, direcionada para fora dos grandes centros, promove o fenmeno de criao de novas centralidades. Embora Villaa (2001) afirme que as cidades brasileiras ainda no podem ser classificadas como polinucleadas, por ainda possurem um centro principal que hierarquicamente mais influente que as novas centralidades, fato que estas desempenham significativo valor tanto nas atividades de comrcio e servio quanto na produo imobiliria das cidades.Nas cidades contemporneas, os novos centros so formados tambm pelos deslocamentos da elite que no abre mo do valor simblico do centro (VILLAA, 2001). Alm disso, agora quem regula essa movimentao em direo s reas afastadas o mercado imobilirio, configurando assim um novo processo de formao das periferias, diferente daquele caracterizado pela expulso das camadas de renda mais baixo das reas centrais, que haviam se tornado inacessvel a essa populao. (PIRES, 2007)

2.2 DINMICAS DO MERCADO IMOBILIRIOPor estar inserido no sistema capitalista, o mercado imobilirio dinmico e inevitavelmente expansvel (HARVEY, 2005, p. 43). Uma vez que a produo do espao urbano nas cidades tipicamente capitalistas a partir do final do sculo XIX tem como maior agente o mercado imobilirio (VILLAA, 2001) a dinmica desse mercado define a organizao espacial das cidades e, consequentemente, a organizao social dos indivduos nesse espao.Para explicar de que modo o mercado imobilirio influencia na hierarquizao do espao urbano segundo a organizao social dos indivduos, vlido citar um pargrafo de Mendona e Costa (2008, pg. 2):O espao urbano o espao social fisicamente realizado ou objetivado (Bourdieu, 1997), um espao diferenciado pela posio relativa dos agentes sociais e pela sua capacidade diferenciada de apropriao dos recursos nele constitudos. As estruturas sociais convertidas em estruturas espaciais produzem uma hierarquizao prtica das diversas regies do espao construdo. (...) Desenvolve-se, assim, uma cidade segregada, em que a hierarquia social e a apropriao desigual dos recursos urbanos reproduzida em uma diferenciao social naturalizada nas estruturas mentais. Essa diferenciao apropriada e, em grande parte dos casos, construda pela dinmica empresarial de produo de moradia, no processo de formao de sobre-lucros de localizao, cuja origem est justamente no acesso diferenciado que a localizao dos terrenos propicia ao uso do valor de uso complexo que representa a cidade (RIBEIRO, 1997:49). A ao do mercado na criao de espaos diferenciados acaba por determinar uma lgica de representao do espao urbano, definindo os espaos do desejo na escolha da localizao residencial.No advento do capitalismo, havia uma forte interveno do estado nessa produo do espao urbano e apesar de ainda ter grande poder de regulao atravs das leis urbansticas, o poder pblico muitas vezes age de maneira a apenas criar condies para a atuao do mercado imobilirio (PIRES, 2007). Dessa forma, com o Estado privilegiando os meios de produo atravs de suas polticas pblicas, colabora para a formao de uma cidade heterognea em termos de distribuio de infraestrutura e valorizao do espao urbano, acarretando nas diferentes formas de apropriao dos recursos urbanos pelas diferentes capacidades de apropriao desses recursos, j discutida anteriormente. E como qualquer estrutura dentro do sistema capitalista, o mercado imobilirio visa o lucro e por isso, sua produo , em grande parte, voltada para as classes de mais alta renda. So propostos novos estilos de vida que so vendidos como objetos de desejo, porm, as camadas de menor poder tem menos acesso a essa produo e assim a segregao scio-espacial favorecida. Uma vez que o mercado imobilirio prioriza as reas mais valorizadas da cidade, com melhor infraestrutura, ou maior capacidade de expanso, aquela parcela da sociedade, com menor poder de apropriao da produo capitalista desse mercado, obrigada a ocupar reas no to bem equipadas em relao infraestrutura.Nesse sentido, o mercado imobilirio grande responsvel tambm pela valorizao de certas reas. Com a implantao de grandes empreendimentos vem a necessidade de uma reordenao de infraestrutura, alm de surgir um novo modo de urbanizao e atividades econmicas, culturais, etc. na rea (PIRES, 2007).

2.3 MOBILIDADE RESIDENCIALO espao urbano, entendido como uma representao materializada da sociedade que nele habita, uma estrutura dinmica e que se molda de acordo com os movimentos que dentro dele acontecem. A mobilidade populacional um fator condicionante da estruturao do espao urbano no s em termos de organizao espacial mas tambm da organizao social de uma cidade. A mobilidade populacional (podendo ser tratada por mobilidade espacial, visto que estamos abordando as dinmicas do espao urbano) tem um sentido bastante amplo, englobando, segundo BASSAND & BRULHARDT (1980, apud LAGO, 2000) numa escala maior, os deslocamentos de longa distncia (as migraes, sejam elas pendulares ou permanentes) e tambm, numa escala intra-urbana, os deslocamentos de curta distncia, referentes mobilidade residencial, que o foco desta pesquisa.De acordo com Lago (2000, p. 45) a mobilidade espacial dos homens indissocivel da mobilidade espacial dos bens de consumo e de produo, de capitais, de empresas, de tecnologias e de informaes. Adaptando esse pensamento para a dinmica intraurbana, a mobilidade residencial estaria associada s mudanas de localizao do capital imobilirio e dos investimentos pblicos na cidade, como as obras de infraestrutura e implantao de equipamentos urbanos.Outra questo a se levar em conta ao estudar a mobilidade residencial, seria a relao dessa com outros dois tipos de mobilidade: a profissional e a social. Uma vez que os movimentos migratrios muitas vezes esto associados a mudanas de emprego ou de posio na estrutura social. Essa posio social alm de condicionar de maneira objetiva a situao socioeconmica do indivduo influencia subjetivamente na diviso simblica do espao urbano. Derivando dessa ideia, a mobilidade residencial est atrelada diretamente ao mercado imobilirio que fornece o chamado estoque habitacional e cabe a cada famlia se adaptar a ele. Segundo Cadwallader (1992, apud Lago, 2000, p. 49) a mobilidade, portanto, interpretada como um fenmeno do mercado imobilirio, em que a oferta de moradia tratada como uma varivel constante e a mudana de residncia, como uma forma de comportamento adaptativo das famlias ao quadro de ofertas.

3. A FORMAO DO ESPAO URBANO EM VIOSA-MG3.1. HISTRICO DO PROCESSO DE FORMAO DO ESPAO URBANO EM VIOSA-MG

Figura 1: Localizao de Viosa em Minas Gerais e no Brasil. Fonte: Wikipdia. Disponvel em . Acesso em Julho de 2014.

Viosa, como grande parte das cidades interioranas de Minas Gerais, teve seu processo de formao do espao urbano vinculado histria da explorao do ouro e a decorrente formao de pequenos povoados em torno de igrejas. Seguiu desenvolvendo-se no modelo de cidade colonial at que este no mais atendia aos anseios modernos da elite local, a partir do final do sculo XIX e incio do sculo XX sofre transformaes urbanas de carter moderno, sanitarista, inspirado em planos como o de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Outro grande fator determinante da formao do espao urbano de Viosa foi a implantao da estrada de ferro que atuou como eixo norteador do desenvolvimento da cidade. (RIBEIRO FILHO, 1997).Mas a partir da implantao da Universidade Federal de Viosa, na dcada de 20 - nessa poca apenas Escola Superior de Agricultura e Veterinria- que a cidade mais sofreu transformaes em seu espao urbano. Agindo como um fator de cristalizao da cidade, o campus configurou-se como um limitante da expanso de Viosa. Apesar disso, com sua federalizao na dcada de 70, a Universidade agiu tambm como impulsionadora de um acelerado processo de urbanizao na cidade.Com o processo de expanso da Universidade veio a admisso de novos estudantes, professores e funcionrios somadas a busca por oportunidades de trabalho ligadas de maneira indireta Universidade. Esse incremento na populao intensificou a atividade imobiliria na cidade, a regio central foi a primeira a se verticalizar por ser a que oferecia melhor infraestrutura urbana, alm disso, a cidade sofreu importante expanso horizontal para reas mais distantes da Universidade por conta de parte da populao que no dispunha de recursos para ocupao na regio central, e tambm com a incorporao de novos loteamentos destinados a classes mais altas tambm em reas perifricas.O processo de acentuada verticalizao que ocorria em apenas alguns bairros da cidade, na rea central e suas adjacncias, j indicava a forte influncia que o mercado imobilirio sempre exerceu no espao urbano de Viosa, direcionando seu capital para as reas mais valorizadas. Essa valorizao da rea central, que produto de vrios fatores, gerou um movimento de migrao da classe mdia para reas mais afastadas, como o caso da rea estudada nesta pesquisa, e que acabou por tambm ser apropriada por esse mercado, como ser discutido posteriormente neste relatrio.

3.2. A EVOLUO URBANA DA REA DE ESTUDO

Figura 2: Localizao da rea de estudo. Mapa elaborado pela autora.

A reviso do Plano Diretor de Viosa, desenvolvida em 2008, porm at hoje no aprovada, indica a rea de estudo como vetor de crescimento desejado, se estendendo pela Avenida Castelo Branco, principal acesso cidade, em direo aos bairros Santo Antnio, Joo Braz, Violeira, Inconfidncia, Silvestre e Novo Silvestre. Alm disso, segundo pesquisa anterior realizada por Morais (2012), na ltima dcada foi possvel observar um crescimento em direo a esse vetor, indo em direo ao distrito de Silvestre, reforado pela implantao de instituies privadas de ensino superior na regio, como a ESUV, criada em 2001, e a UNIVIOSA, em 2004.O distrito de Silvestre a regio mais antiga da rea de estudo, tendo seu povoamento iniciado no final do sculo XIX, com a construo da Estao Velha aps a implantao da ferrovia na cidade. O distrito abriga o primeiro condomnio fechado de Viosa, o Parque do Ip, construdo na dcada de 1970, voltado para a classe mdia alta, que difere do perfil da populao local.O bairro Inconfidncia o que possui uma forma de ocupao urbana mais diferenciada da rea de estudo, constituindo-se num loteamento, do final da dcada de 70, com legislao de Uso e Ocupao do solo especfica e ocupado integramente por edificaes residenciais unifamiliares e com aspectos semelhantes a um condomnio fechado devido presena de vigilncia em perodo integral que faz o controle do acesso de veculos e pedestres ao bairro.Ainda como objeto de estudo dessa pesquisa, e estando inseridos no vetor de expanso da cidade, temos os bairros Santo Antnio, Joo Braz e Liberdade, que so caracterizados pela maior intensidade de atividade imobiliria (MORAIS, 2012). A ocupao do bairro Santo Antnio teve incio na dcada de 60, sendo hoje um dos maiores bairros da cidade. O Joo Braz, implantado na dcada de 70, era parte de um conjunto de loteamentos destinados classe mdia, e sofreu ocupao mais expressiva a partir da dcada de 80 (RIBEIRO FILHO, 1997). Desmembrando-se do distrito de Silvestre, o bairro Liberdade o mais recente, do final da dcada de 90 e atualmente caracterizado por intensa atividade imobiliria, sendo a maioria da populao residente formada por estudantes devido presena da ESUV no bairro (MORAIS, 2012).

4. APRESENTAO DOS RESULTADOSAps anlise dos documentos disponibilizados no IPLAM, foi avaliar a intensidade da atividade imobiliria na rea de estudo.O total de Alvars de Construo emitidos no municpio dentro do recorte temporal analisado foi de 409 emisses em 2011 e 405 emisses em 2012, sendo que respectivamente 93 (22,73%) e 105(25,93%) foram emitidos para a rea de estudo (Ver grficos 1 e 2), indicando uma grande representatividade desta rea em relao produo imobiliria mais recente na cidade.

Grfico 1 ( esq.) e Grfico 2 ( dir.): Nmero de Alvars de Construo emitidos em 2011 e 2012, respectivamente, na rea de estudo em relao ao restante do municpio. Grficos elaborados pela autora. Fonte: IPLAM

Ao somarmos os Alvars de Construo emitidos em 2011 e 2012 para a rea de estudos foi possvel verificar um total de 198 documentos, sendo que desse total grande parte se concentra nos bairros Santo Antnio (39,9%) e Joo Braz (25,3%). O bairro com menor atividade imobiliria segundo esses dados foi o Liberdade com um total de 11,1% dos documentos emitidos (Ver grfico 3), contrariando informaes referenciadas anteriormente nesse relatrio que apesar de apontar os dois primeiros bairros aqui citados como de intensa atividade imobiliria, incluam tambm o Liberdade como um dos mais dinmicos nesses termos.

Grfico 3: Nmero de Alvars de Construo emitidos em 2011 e 2012 por bairro analisado. Grfico elaborado pela autora. Fonte: IPLAM

No que se refere s emisses do Habite-se, de 225 documentos emitidos no municpio em 2011, 51(22,67%) foram emitidos na rea analisada, e em 2012 foram 57(26.27%) de um total de 217 emitidos em toda a cidade (Ver grficos 4 e 5). O que permite entender a expressividade da produo imobiliria anterior a esse perodo estudado, uma vez que o Habite-se garantido apenas a edificaes j concludas.

Grfico 4 ( esq.) e Grfico 5 ( dir.): Nmero de Habite-se emitidos em 2011 e 2012, respectivamente, na rea de estudo em relao ao restante do municpio. Grficos elaborados pela autora. Fonte: IPLAM

Nesse perodo, o bairro que teve o maior nmero de registros de Habite-se foi o Santo Antnio seguido pelo bairro Joo Braz, reafirmando a posio desses dois bairros como os mais dinmicos em termos de produo imobiliria, j o bairro com menor atividade nessa categoria de anlise foi o Inconfidncia (Ver grfico 6).

Grfico 6: Nmero de Habite-se emitidos em 2011 e 2012 por bairro analisado. Grfico elaborado pela autora. Fonte: IPLAM

Grfico 7: Nmero de imveis disponveis para a venda nas imobilirias mais atuantes de Viosa MG na rea de estudo em relao ao restante de municpio. Grfico elaborado pela autora. Fonte: IPLAMNos sites das principais imobilirias de Viosa foi feito um levantamento do nmero de imveis disponveis para a venda nas reas de estudo e do nmero total de imveis disponveis no municpio, novamente sendo encontrada uma proporo de aproximadamente 25% dos imveis concentrados na rea de estudo (Ver grfico 7).

Alm disso, dos dados obtidos tambm foi feita uma anlise em cima das tipologias arquitetnicas recorrentes na rea, sendo possvel observar um intenso processo de verticalizao. A maioria dos imveis disponveis para compra na rea se tratavam de apartamentos, sendo que as casas foram a segunda tipologia habitacional mais recorrente, seguido de lotes vazios e poucas unidades comerciais do tipo loja (Ver Apndice A.). Resultado semelhante foi obtido em relao s edificaes que receberam Alvar de Construo (Ver Apndice B) ou Habite-se (Ver Apndice C) uma vez que a maioria era de uso multifamiliar, seguido por residncias unifamiliares e de uso misto, sendo pouco expressivo o nmero de edificaes de uso exclusivamente comercial (Ver Tabelas 1, 2, 3 e 4).

Figura 3: Vista do Bairro Joo Braz a partir do mesmo bairro mostrando o processo de verticalizao. Foto: Sara Freitas Aniceto, 2014.

Alm do intenso processo de verticalizao (Ver Figura 3) tambm possvel identificar o carter residencial dos bairros de estudo, que ainda esto deficientes de um comrcio local bem estruturado, o que tambm foi possvel observar nas visitas a campo. Apesar do distrito de Silvestre e do bairro Santo Antnio possurem um comrcio bem consolidado devido ao fato de serem bairros mais antigos, os moradores da regio de estudo ainda so bem dependentes do Centro em termos de comrcio e servios, principalmente no bairro Liberdade onde no h nenhum imvel comercial em funcionamento. Se de acordo com Pires (2007) com a implantao de grandes empreendimentos vem a necessidade de uma reordenao de infraestrutura, alm de surgir um novo modo de urbanizao e atividades econmicas, culturais, etc. na rea essa metamorfose urbana no foi possvel de ser observada nos bairros de estudo quando se leva em considerao a implantao das instituies de ensino superior.

Tabela 1: Tabela de usos das edificaes que receberam Alvar de Construo na rea de estudo em 2011. Tabela elaborada pela autora. Fonte: IPLAM.

Tabela 3: Tabela de usos das edificaes que receberam Habite-se na rea de estudo em 2011. Tabela elaborada pela autora. Fonte: IPLAM.Tabela 4: Tabela de usos das edificaes que receberam Habite-se na rea de estudo em 2012. Tabela elaborada pela autora. Fonte: IPLAM.Tabela 3: Tabela de usos das edificaes que receberam Habite-se na rea de estudo em 2011. Tabela elaborada pela autora. Fonte: IPLAM.5. REFERNCIA BIBLIOGRFICAABRAMO, P.; FARIA T. C. Mobilidade Residencial na Cidade do Rio de Janeiro: consideraes sobre os setores formal e informal do mercado imobilirio. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 11., 1998, Caxambu, Anais do XI ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, Caxambu/MG, 1998

FARIA, Teresa C. Favelas na Periferia: reproduo ou mudana nas formas de produo e acesso terra e moradia pelos pobres urbanos. Tese de Doutoramento. IPPUR/UFRJ, 2004.

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MORAIS, T. D.; FARIA T. C.; OLIVEIRA, M. M. Expanso urbana e mobilidade espacial: o caso de Viosa, Minas Gerais.

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VILLAA, F. Espao Intra-Urbano no Brasil. 2 ed. So Paulo: Studio Nobel, 2001.

APNDICE APLANILHAS DESCRITIVAS DOS IMVEIS DISPONVEIS PARA VENDA NAS IMOBILIRIAS MAIS POPULARES DE VIOSA

APNDICE BPLANILHAS DESCRITIVAS DOS ALVARS DE CONSTRUO EMITIDOS PARA AS REAS DE ESTUDO NOS ANOS DE 2011 E 2012

APNDICE CPLANILHAS DESCRITIVAS DOS HABITE-SE EMITIDOS PARA AS REAS DE ESTUDO NOS ANOS DE 2011 E 2012