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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA EXERCÍCIOS FUNCIONAIS NA MUSCULATURA EPAXIAL, BIOMECÂNICA E COMPORTAMENTO EM EQUINOS DE TRABALHO CAMILA FERNANDA FIDÊNCIO Mestrado 2019 PROZOOTEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

EXERCÍCIOS FUNCIONAIS NA MUSCULATURA EPAXIAL, BIOMECÂNICA E COMPORTAMENTO EM EQUINOS DE

TRABALHO

CAMILA FERNANDA FIDÊNCIO

Mestrado 2019

PROZOOTEC – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

CAMILA FERNANDA FIDÊNCIO

EXERCÍCIOS FUNCIONAIS NA MUSCULATURA EPAXIAL, BIOMECÂNICA E COMPORTAMENTO EM EQUINOS DE

TRABALHO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Sergipe como parte das exigências para obtenção do

título de Mestre em Zootecnia.

Orientadora:

Prof.ª Drª. Paula Gomes Rodrigues

Co-orientadora:

Prof.ª Dr.ª Kátia de Oliveira

SÃO CRISTÓVÃO – SE

2019

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Fidêncio, Camila Fernanda

F451e Exercícios funcionais na musculatura epaxial, biomecâmica e comportamento em equinos de trabalho / Camila Fernanda Fidêncio ; orientadora Paula Gomes Rodrigues. – São Cristóvão, 2019. 58 f. : il. Dissertação (mestrado em Zootecnia) –Universidade Federal de Sergipe, 2019.

O 1. Zootecnia. 2. Equinos - Biometria muscular. 3.

Cinemática. 4. Etologia equina. 5. Equinos - Treinamento funcional. I. Rodrigues, Paula Gomes orient. II. Título

CDU: 636.1:591.5

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“Pra quem sempre sofreu hoje em dia é feliz: fé em Deus;

Pra quem não alcançou tudo que sempre quis: fé em Deus;

Pra quem ama, respeita e crê, e pra aquele que paga pra ver:

Tenha fé, vai na fé, nunca perca a fé em Deus.”

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela força diária, saúde e principalmente fé, para eu trilhar

a minha jornada e realizar todos os meus sonhos.

À minha família, minha base de tudo. Meus pais: Maria luz da minha vida e Guilherme (in

memoriam) que sempre foi o maior incentivador dos meus estudos. Minha família pé vermelho, que

mesmo com a distância sempre estiveram torcendo por mim e felizes por cada conquista alcançada.

Meu noivo Victor por todo amor, respeito e incentivo desde o 1º período da graduação.

À minha orientadora Paula Rodrigues, pelo acolhimento e ajuda desde a graduação, por me

guiar até aqui. À minha co-orientadora Kátia, por toda ajuda, pelos conhecimentos passados e por

nos apresentar essa técnica que pode melhorar a vida daqueles que mais amamos: os cavalos.

A todos que foram essenciais para o desenvolvimento do experimento, que me ajudaram

embaixo de sol ou chuva: Alessandra, Allana, Amanda, Bruna’s, Bruno, Carol, Dani, Dayanne, Gabi,

Gerson, Isaías, Isabela, Jonas, Lahesgyla, Laís, Lavínia, Nathalia, Miradelson, Milena, Raquel,

Vanessa, Verônica, Vinícius e Wellington.

Ao professor Anselmo por toda a ajuda e parceria que foi de extrema importância para a

realização desse projeto.

Ao programa de pós-graduação em Zootecnia (PROZOOTEC/UFS) e todos os professores

envolvidos, pela disposição e os conhecimentos passados. Ao PROMOB pela concessão de apoio ao

programa de pós-graduação.

À CAPES com o auxílio de bolsa de estudos, sem a qual não seria possível a realização desse

estudo.

À EPMon pela parceria de sempre e por ceder o espaço e os animais para a realização desse

trabalho, foi a base de tudo. Gostaria de agradecer a todos os envolvidos, a todos os polícias que

participaram do projeto respondendo os questionários, ao Major S. Junior, Ten Célio, Sgt Leite, Sgt

Flávio e Cabo Santana. Em especial, Sgt. Adicley e Cabo Clistenes por todo auxílio que foi

fundamental para esse estudo e pela amizade que construímos.

Por último e não menos importante, a todos meus bichinhos: Boquim, Destaque, Fantasma,

Feroz, Fulgaz, Lady, Sankal, Saturno, e em especial, Ativo, Dragão, Flexa, Holifield, Imperador,

Monterey, Slash e Shakira, que me proporcionaram uma convivência incrível durante 3 meses e sem

vocês não seria possível a realização desse trabalho. Todo o meu carinho a vocês.

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SUMÁRIO

Página

RESUMO ..................................................................................................................................................... i

ABSTRACT ................................................................................................................................................. ii

LISTA DE TABELAS ................................................................................................................................. iii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................. iv

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................................................... v

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................................. 3

2.1 Anatomia funcional dos equinos ............................................................................................................ 3

2.1.1 Sistema esquelético ............................................................................................................................. 3

2.1.2 Sistema muscular ................................................................................................................................ 5

2.2 Avaliação ultrassonográfica da musculatura ........................................................................................... 7

2.3 Biomecânica em equinos........................................................................................................................ 9

2.4 Comportamento de equinos .................................................................................................................11

2.4.1 Relação entre agressividade e dor crônica .........................................................................................12

2.5 Exercícios funcionais terapêuticos .........................................................................................................13

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................17

CAPÍTULO 1 .............................................................................................................................................22

1.1 RESUMO ..............................................................................................................................................23

RESUMO ...................................................................................................................................................23

1.2 ABSTRACT ..........................................................................................................................................24

1.3 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................25

1.4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................................27

1.5 RESULTADOS ....................................................................................................................................35

1.6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................................37

1.7 CONCLUSÕES ....................................................................................................................................43

1.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................44

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RESUMO

FIDÊNCIO, Camila Fernanda. Exercícios funcionais na musculatura epaxial, biomecânica e comportamento em equinos de trabalho. Sergipe: UFS, 2019. 58p. (Dissertação – Mestrado em Zootecnia). O uso de exercícios funcionais melhora a flexibilidade e estimula o fortalecimento muscular, tornando os músculos mais bem preparados para realização de atividades físicas e promovendo uma melhor qualidade de vida aos animais. O objetivo foi avaliar a eficácia da aplicação de um programa de treinamento funcional sobre a musculatura epaxial, biomecânica e alterações comportamentais em equinos de trabalho. O experimento foi realizado no Esquadrão da Polícia Montada da Polícia Militar do Estado de Sergipe (Aracaju/SE). Foram utilizados 16 equinos sem raça definida, com peso médio de 418 ± 50 kg, ECC de 5,09 ± 0,71 e 14,0 ± 3,5 anos de idade. Estes animais foram distribuídos em delineamento ao acaso em dois grupos experimentais: submetidos (n=8) ou não (n=8) aos exercícios funcionais. Os exercícios foram realizados três vezes por semana durante três meses, e consistiram de técnicas de mobilização dinâmica, mobilização reflexiva, desequilíbrio dinâmico e alongamento passivo. Os dados de todas as variáveis foram coletados no início e final do estudo. As variáveis coletadas foram: biometria muscular, análise cinemática linear e comportamento. Foi avaliada a profundidade do músculo Longíssimus dorsi no lado esquerdo (LDE) e direito (LDD) e área transversal total do Musculus multifidus, lado esquerdo (MME) e direito (MMD). Para avaliação cinemática do andamento os animais foram filmados para determinação do comprimento da passada ao passo (CPp) e ao trote (CPt), e distância de passada ao passo (DPp) e ao trote (DPt). A avaliação comportamental consistiu na aplicação de questionários aos cavaleiros/amazonas que formavam os conjuntos com os animais, referente ao temperamento do animal antes, durante e após patrulhamento. Foi observado aumento (P<0,05) na área transversal total do MME e MMD nos animais submetidos aos exercícios funcionais. O CPp e CPt foi maior (P<0,05) nos cavalos submetidos ao treinamento funcional. A DPp foi positiva para ambos os tratamentos, ou seja, os animais realizaram a ultrapegada, entretanto, o valor de DPp foi maior (P<0,05) nos animais submetidos ao treinamento funcional. A DPt foi negativa para ambos os tratamentos, ou seja, os animais realizaram a retropegada, sendo os maiores valores observados nos equinos submetidos ao treinamento. Foi observada menor (P<0,05) sonolência e menor teimosia nos animais submetidos aos exercícios funcionais. Concluiu-se que o treinamento funcional promove hipertrofia no Musculus multifidus, aumenta o comprimento da passada, a distância da passada e ainda promove mudanças positivas na expressão do comportamento dos animais submetidos aos exercícios, que se apresentaram menos sonolentos e teimosos ao longo do dia de trabalho. Palavras-chave: biometria muscular, cinemática, etologia equina, treinamento funcional.

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ABSTRACT

FIDÊNCIO, Camila Fernanda. Functional exercises in the epaxial musculature, biomechanics and behavior in work horses. Sergipe: UFS, 2019. 58p. (Dissertation - Master in Animal Science).

The use of functional exercises improves flexibility and stimulates muscle strengthening, making muscles better prepared for physical activities and promoting a better quality of life for animals. The objective was to evaluate the effectiveness of the application of a functional training program on epaxial musculature, biomechanics and behavioral changes in working horses. The experiment was carried out in the Mounted Police Squad of the Military Police of the State of Sergipe (Aracaju / SE). Sixteen horses were used, with a mean weight of 418 ± 50 kg, BCS of 5.09 ± 0.71 and 14.0 ± 3.5 years of age. These animals were randomly assigned to two experimental groups: submitted (n = 8) or not (n = 8) to the functional exercises. The exercises were performed three times a week for three months, and consisted of techniques of dynamic mobilization, reflexive mobilization, dynamic imbalance and passive stretching. Data from all variables were collected at the beginning and end of the study. The variables collected were: muscular biometry, linear kinematic analysis and behavior. The depth of the Longissimus dorsi muscle on the left side (LDL) and right (LDR) and total cross section area of the Musculus multifidus, left side (MML) and right (MMR) were evaluated. For the kinematic evaluation of the gait, the animals were filmed for determination of stride length (CPp) for the walk (SLw) and trot (SLt), and tracking distance to the walk (TDw) and trotting (TDt). The behavioral evaluation consisted in the application of questionnaires to the horsemen / amazons that formed the sets with the animals, referring to the temperament of the animal before, during and after patrolling. An increase (P <0.05) was observed in the total cross-sectional area of MML and MMR in the animals submitted to functional exercises. SLw and SLt were higher (P <0.05) in horses submitted to functional training. The TDw was positive for both treatments, that is, the animals performed the overtracking, however, the value of TDw was higher (P <0.05) in the animals submitted to functional training. The TDt was negative for both treatments, that is, the animals performed the undertracking, being the highest values observed in the horses submitted to the training. Less (P <0.05) drowsiness and lower stubbornness were observed in the animals submitted to functional exercises. It was concluded that the functional training promotes hypertrophy in Musculus multifidus, increases the length of the past, the distance of the past and also promotes positive changes in the expression of the behavior of the animals submitted to the exercises, which were less sleepy and stubborn during the day of job.

Key words: muscular biometry, kinematics, equine ethology, functional training.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Média e desvio padrão da espessura (cm) do Longissimus Dorsi e área transversal total (cm2) do Musculus Multifidus, nos lados direito (D) e esquerdo (E) do corpo de equinos submetidos ou não a treinamento funcional. ..................................................................................................... 35

Tabela 2 - Média e desvio padrão do comprimento (cm) da passada ao passo (CPp) e ao trote (CPt) e da distância (cm) da passada ao passo (DPp) e ao trote (DPt) em equinos submetidos ou não a treinamento funcional.................................................................................................................... 36

Tabela 3 - Escore* do comportamento de equinos de trabalho submetidos ou não ao de treinamento funcional. ...................................................................................................................................... 36

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Coluna vertebral de equinos, sendo as vértebras C = cervicais; T = torácicas; L = lombares; S = sacrais e Ca = caudais (Adaptado de HENSON, 2009). ............................................. 3

FIGURA 2 – Ilustração do exercício para fortalecimento do cinturão torácico: à esquerda a região torácica com curvatura normal e à direita o levantamento da região torácica durante estímulo. ...... 28

FIGURA 3 – Ilustração dos exercícios de fortalecimento da musculatura epaxial: 1 – extensão do pescoço; 2 – cabeça no peito; 3 – cabeça entre os cascos; 4 – cabeça entre os carpos; 5 – cabeça na espádua; 6 – cabeça na patela; 7 – cabeça no jarrete. ..................................................................... 29

FIGURA 4 – Ilustração do exercício de equilíbrio dinâmico: spinning para o lado direito. ........... 30

FIGURA 5 – Ilustração dos exercícios de alongamento do segmento apendicular: 1 – prostração do membro anterior; 2 – protração do membro posterior; 3 – cruzamento dos anteriores. ................... 30

FIGURA 6 – Imagem ilustrativa da avaliação ultrassonográfica dos músculos Longissimus Dorsi e Musculus Multifidus no lado esquerdo (E) dos animais.................................................................. 31

FIGURA 7 – Imagem ilustrativa da medida linear do comprimento da passada. ........................... 32

FIGURA 8 – Imagem ilustrativa da medida linear da distância da passada. .................................. 32

FIGURA 9 – Alterações corporais dos animais submetidos ao treinamento funcional. .................. 39

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LISTA DE ABREVIATURAS

AST – Área de seção transversal

Cm – centímetro

Cm² – centímetro quadrado

CPP – comprimento da passada ao passo

CPt – comprimento da passada ao trote

DPP – distância da pegada ao passo

DPt – distância da pegada ao trote

ECC – Escore de condição corporal

EPMon – Esquadrão da Polícia Montada

Kg – Quilogramas

L5 – 5ª vértebra lombar

LD – Longissimus Dorsi

LDD – Longissimus Dorsi lado direito

LDE – Longissimus Dorsi lado esquerdo

MM – Musculus Multifidus

MMD – Musculus Multifidus lado direito

MME – Musculus Multifidus lado esquerdo

NS – Não significativo

P – Probabilidade

TF – grupo submetido ao treinamento funcional

T17-18 – 17ª e 18ª vértebras torácicas

UFS – Universidade Federal de Sergipe

US – Ultrassonografia

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1. INTRODUÇÃO

A utilização de equinos em atividades de lazer, trabalho e esporte são comuns, e assim como

em atletas humanos, animais que realizam atividade física constante estão sujeitos a desordens

musculoesqueléticas (ALEMAN, 2008). A incidência dessas desordens é aumentada quando a

atividade física em questão não é realizada de forma correta, quando a intensidade dos

exercícios/trabalho é exagerada, nas ocasiões em que o cavaleiro ou amazona não possui um nível

mínimo de equitação ou até mesmo quando ocorre a utilização de equipamentos inadequados àquele

animal (CLAYTON, 2004; STUBBS e CLAYTON, 2008).

Estas desordens, quando não diagnosticadas logo no início ou quando não tratadas de maneira

adequada, acabam restringindo o movimento do animal devido ao estabelecimento de lesões

musculares que, com o passar do tempo, é responsável por causar grande desconforto físico ao animal

(CLAYTON, 2004; OLIVEIRA, 2017). Como consequência, o animal começa a apresentar uma

movimentação de baixa qualidade, desempenho atlético reduzido, claudicações, baixa capacidade de

concentração e vontade de trabalhar ou treinar reduzidas, resultando em uma diminuição no valor

comercial dos equinos, principal causa de perdas econômicas na equideocultura (HODGSON et al.,

2014).

Além disso, as dores musculares são capazes ainda de influenciar o comportamento dos

animais, tornando-os mais arredios e agressivos ao tentar defender-se de algo ou de alguma situação

que intensifica a sensação de desconforto (FUREIX et al., 2010). Na maioria das vezes, animais

classificados como agressivos acabam recebendo um manejo diferenciado ao longo do tempo, tais

como redução do tempo em liberdade e manipulação mais agressiva por parte dos tratadores, o que

acaba por piorar o comportamento inadequado dos animais sem resolver o problema efetivamente.

Apenas uma avaliação adequada poderá confirmar se o comportamento inadequado de um

determinado animal é decorrente de algum tipo de dor ou se é algo natural e inerente àquele indivíduo

(GOFF, 2016).

Para solucionar problemas musculares já estabelecidos e aumentar a proteção da musculatura

do animal contra lesões futuras é indicado a adoção de um programa de treinamento funcional. Este

programa consiste na realização de uma série de exercícios funcionais capazes de restaurar de forma

simples e não invasiva a funcionalidade de diversos grupos musculares, tornando-os mais flexíveis,

fortalecidos e preparados para realização de atividade física (STUBBS et al., 2011; GUIRRO et al.,

2012; OLIVEIRA, 2017). Com isso, os animais terão uma significativa melhora em seu bem-estar,

tornando-os mais dispostos e eficientes para realização de seu trabalho e/ou treinamento.

A ocorrência da maioria das alterações musculares pode ser verificada por meio de

ultrassonografia em tempo real. Com esta ferramenta é possível determinar a presença de atrofia e

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assimetrias musculares, bem como a eficácia de terapias e/ou da utilização de exercícios físicos

específicos por meio da hipertrofia e recuperação do músculo em questão (MCGOWAN et al., 2007b;

RADAELLI et al., 2011; STUBBS et al., 2011).

Outra forma de avaliar a integridade funcional de equinos atletas é por meio da análise

cinemática. Esta avaliação permite relacionar o andamento do animal com possíveis transtornos

musculares, uma vez que o desconforto causado por lesões e restrições musculares, é responsável por

causar uma piora na movimentação do animal (PIERCY, 2013).

Entretanto, é essencial uma avaliação precisa da condição musculoesquelética do cavalo para

saber qual tratamento de exercícios será selecionado. A aplicação dessas técnicas requer aprofundado

conhecimento da anatomia e fisiologia do sistema musculoesquelético equino, bem como de todos os

métodos do treinamento e suas indicações para cada indivíduo em particular (GOOF, 2009).

Diante do exposto, objetiva-se com esse estudo avaliar a eficácia da aplicação de exercícios

funcionais sobre a biometria da musculatura epaxial, biomecânica e o comportamento em equinos de

trabalho.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Anatomia funcional dos equinos

2.1.1 Sistema esquelético

O aparelho locomotor é um sistema orgânico complexo formado pelo sistema esquelético e

muscular que, juntos, são responsáveis por realizar o trabalho mecânico de movimentação do corpo,

estabilidade e suporte (KÖNIG e LIEBICH, 2016).

O sistema esquelético é composto por ossos, cartilagens e ligamentos (HODGSON et al.,

2014), que desempenham importantes funções de sustentação e conformação do corpo; proteção de

órgãos internos e delicados como o pulmão, coração e sistema nervoso central; armazenamento de

minerais como cálcio e fósforo; produção de várias células sanguíneas; determina a conformação,

mantem a postura e junto aos músculos realiza a movimentação do corpo (HINCHCLIFF et al., 2008;

HIGGINS e MARTIN, 2012).

O esqueleto equino é representado por 205 ossos e pode ser dividido em esqueleto axial e

apendicular. O esqueleto axial é compreendido por 34 ossos no crânio, 54 vértebras na coluna, 36

costelas e um esterno. Já o esqueleto apendicular é compreendido pelos membros torácicos e pélvicos,

contendo 40 ossos cada (GETTY, 1986; HENSON, 2009).

A coluna do cavalo é constituída por 7 vértebras cervicais, 18 torácicas, 6 lombares, 5 sacrais

e de 17 a 21 caudais (BACK e CLAYTON, 2013), como ilustrado na figura a seguir (Figura 1).

FIGURA 1 – Coluna vertebral de equinos, sendo as vértebras C = cervicais; T = torácicas; L = lombares; S = sacrais e Ca = caudais (Adaptado de HENSON, 2009).

Além de proteger órgãos internos, a coluna contribui com a sustentação do peso, absorção de

impacto e promove flexibilidade (HIGGINS e MARTIN, 2012).

Outras estruturas, como as articulações, são responsáveis pela movimentação junto ao

esqueleto. As articulações são formadas quando há a união de um ou mais ossos e são classificadas

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em fibrosas, cartilaginosas e sinoviais, sendo esta última de maior importância (GETTY, 1986;

ALVES, 2008). As articulações fibrosas apresentam os ossos conectados por tecido conjuntivo denso

e dispõem de pouca mobilidade; as articulações cartilaginosas conectam os ossos através de

cartilagem, permitindo poucos e limitados movimentos; e as articulações sinoviais conectam as

extremidades ósseas por meio de uma cavidade preenchida por fluido (líquido sinovial) e permitem

o movimento máximo (MCILWRAITH e VAN WEREEN, 2015).

A articulação sinovial apresenta grande estabilidade e evita que movimentos anormais sejam

realizados, reduz os impactos durante as atividades físicas, facilita a mobilidade e torna o atrito entre

os ossos praticamente inexistente devido a membrana sinovial que protege as extremidades ósseas.

Essa membrana produz o líquido sinovial que apresenta função lubrificante da articulação, e este é

responsável por evitar o atrito evitando que haja desgaste da mesma (DYCE et al., 2004).

No ponto de vista anatômico, as articulações sinoviais são classificadas como móveis,

permitindo o deslocamento do osso em três dimensões: flexão e extensão longitudinal

compreendendo o plano sagital, flexão lateral compreendendo o plano frontal, e os movimentos de

rotação. A direção desses movimentos depende da forma das superfícies articulares (ALVES, 2008).

Deste modo, a locomoção ideal dos cavalos ocorre quando não há restrição de movimento nas

articulações, ou seja, quando ocorre a perfeita contração e relaxamento dos músculos associados a

determinadas articulações, como, por exemplo, a articulação lombo-sacral (L6-S1) (OLIVEIRA,

2017). Essa articulação é responsável pela inclinação pélvica e colabora com a protração e retração

dos membros (CLAYTON, 2016). No ponto em que a coluna vertebral se liga com a pélvis encontra-

se a articulação sacro-ilíaca, é neste local que ocorre a transferência das forças de propulsão

estabelecidas pelo membro posterior para a coluna vertebral (HENSON, 2009).

Portanto, a restrição de movimento contribui para mudanças nas articulações prejudicando sua

funcionalidade e podendo promover o desenvolvimento de movimentos assimétricos (LILJEBRINK

e BERGH, 2010).

Assim, a estabilidade articular, a movimentação dos membros, a postura e a locomoção

dependem da ativação dos músculos. Os movimentos corporais, isto é, para frente, para os lados, para

trás ou até mesmo movimentos sem alteração de localização, são resultados de movimentos

coordenados de partes corporais individuais (ALVES, 2008). Estes movimentos dependem de grupos

funcionais de músculos, como acontece na locomoção dos cavalos em que os membros são movidos

devido à ativação desses músculos (KÖNIG e LIEBICH 2016).

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2.1.2 Sistema muscular

O sistema muscular dos equinos corresponde a mais de 700 músculos (PILLINER et al.,

2009), que são importantes para a sustentação do corpo do cavalo e representam de 40 a 45% do peso

corporal total do animal (HODGSON et al., 2014). Os músculos são formados por fibras musculares

responsáveis por transmitir o movimento ao esqueleto ao realizar a contração e por tendões que são

responsáveis por unir o tecido muscular ao esqueleto e transferir a força gerada pela contração

(ALVES, 2008; KÖNIG e LIEBICH 2016).

As fibras musculares ficam agrupadas nos fascículos (pequenos feixes) e são revestidas pelo

perimísio. Acima do perimísio encontra-se o endomísio, tecido conjuntivo que reveste o músculo

(HINCHCLIFF et al., 2008). Na terminação desse tecido conjuntivo encontram-se os tendões (DYCE

et al., 2004).

A contração muscular ocorre pelo encurtamento das miofibrilas em que os filamentos de

actina deslizam sobre os de miosina. Esse processo tem início com a chegada de um impulso nervoso

até a fibra muscular na região da placa motora, causando a despolarização das células e fazendo com

que o cálcio ionizado armazenado no retículo sarcoplasmático das fibras musculares seja liberado nos

túbulos transversos. O cálcio ionizado, ao atingir a actina, desbloqueia seus sítios de ligação e permite

a ligação entre a actina e miosina. Neste momento, na presença de ATP, ocorre o encurtamento do

sarcômero e a contração muscular propriamente dita (KLEIN, 2014).

Os equinos apresentam, de forma geral, dois tipos de fibras musculares esqueléticas: fibras do

tipo I (vermelhas) e fibras do tipo II (brancas). As fibras vermelhas são classificadas como de

contração lenta dependentes do metabolismo aeróbico para produção de energia, são menos

susceptíveis a fadiga e, geralmente, são encontradas nos músculos estabilizadores. Já as fibras brancas

são classificadas como de contração rápida que utilizam o metabolismo glicolítico anaeróbico para

síntese de ATP de forma mais rápida, geralmente são encontradas nos músculos mobilizadores que

se fadigam mais rápido (DYCE, 2004). Os equinos possuem ainda outros tipos de fibras musculares,

como aquelas do tipo IIA e IIX, que possuem metabolismo intermediário quando comparadas às do

tipo I e II (DYCE, 2004; REGATIERI e MOTA 2012).

Os músculos responsáveis pela movimentação do esqueleto equino podem ser divididos em

grandes grupos, tais como: músculos do pescoço (Splenius, Rhomboideus, Serratus ventralis cervicis,

Sternocephalicus, Braquiocephalicus e Omotransversarius); músculos do cinturão torácico (Serratus

Thoracis, Pectoralis, Subclavius e Trapezius); músculos epaxiais (Musculus Multifidus, Longíssimus

Dorsi e Iliocostalis); músculos abdominais (Rectus, Transversus e Oblíquus internus e externus) e

sublombares (Iliopsoas e Psoas minor) e músculos pélvicos (Gluteus Medius e superficial, Bíceps

femoris, Semitendinosus, Semimembranosus, Tensor fascie latae e Gracilis) (STUBBS e CLAYTON,

2008).

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Os músculos são nomeados de acordo com sua função ou de acordo com os lugares que estão

localizados, e podem ser apresentados em dois sistemas: superficiais e profundos. Os músculos

superficiais estão logo abaixo da pele, enquanto que os profundos encontram-se intrinsicamente

ligados às articulações, às vertebras e à parte óssea (PILLINER et al., 2009; OLIVEIRA, 2017).

O fortalecimento dos músculos do pescoço é importante para que o cavalo tenha um melhor

equilíbrio e distribuição de peso. O trabalho em conjunto da cabeça e pescoço permite que o animal

altere com maior facilidade o seu centro de gravidade. Quando a cabeça e o pescoço se abaixam, o

centro de gravidade se move para frente porque mais peso é transferido aos membros torácicos e, ao

contrário disso, quando a cabeça e o pescoço se levantam o centro de gravidade recua e mais peso é

deslocado aos membros pélvicos (PILLINER et al., 2009).

Ao considerar os músculos epaxiais, destaca-se o Longissimus Dorsi (LD), músculo

superficial de grande importância ao equino devido à sua destacada influência na extensão e flexão

da coluna vertebral (D’ANGELIS et al., 2007). O LD é o maior músculo presente no corpo do equino,

que se origina dos processos espinhosos do sacro, vértebras lombares, torácicas e asa do ílio. Em

conjunto com o Iliocostalis, o LD é capaz ainda de promover a flexão lateral do dorso.

Dentre a musculatura epaxial, o músculo classificado como profundo é o Musculus Multifidus

(MM). O mesmo desempenha uma função importante de estabilização da coluna ao atuar como a

principal fonte de ligação entre suas vértebras, por este motivo é também chamado de músculo

estabilizador (ALVES et al., 2007; STUBBS e CLAYTON, 2008; OLIVEIRA, 2017).

A região tóraco-lombar é responsável por fornecer sustentação ao dorso do cavalo e, além de

dar condições ao animal para que suporte melhor o peso do cavaleiro, esta capacidade é alcançada

por meio da ação do MM em conjunto com os músculos abdominais. Caso isto não ocorra devido ao

enfraquecimento destes grupos musculares, o LD começa a apresentar espasmos musculares devido

ao esforço excessivo que o mesmo passa a realizar (OLIVEIRA, 2017). Ao longo do tempo, o LD

acaba cedendo à pressão constante do cavaleiro sobre seu dorso e o animal começa a apresentar

lordose (CLAYTON et al., 2012).

Estes músculos podem sofrer alterações em seu tamanho, desde a hipertrofia ocasionada pelo

treinamento correto e constante, até a atrofia causada por patologias, uso de equipamentos e

treinamentos inadequados (TABOR, 2015).

Assim como em humanos, uma das principais causas de lombalgias em equinos é a atrofia do

MM. Hides et al. (2008), estudaram a lombalgia em humanos ao comparar MM de pacientes com ou

sem histórico de dor lombar crônica, e constataram que os pacientes com lombalgia possuíam a área

de seção transversal (AST) do MM significativamente menor quando comparados aos pacientes sem

lombalgia. Além disso, verificaram ainda que os pacientes com lombalgia apresentavam assimetria

lateral no músculo, com distribuição de dor unilateral ipsilateral ao de menor tamanho.

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O MM, quando atrofiado, interfere na estabilização da coluna do cavalo e na habilidade de

seus movimentos e, mesmo que o animal apresente redução nos sintomas de dor na região, este

músculo pode não necessariamente apresentar regeneração e redução na atrofia, a menos que se

realizem exercícios de treinamento específico a fim de reativar e fortalecer esse músculo (STUBBS

e CLAYTON, 2008). Além da dor, um dos sinais de atrofia do MM é a presença de espasmos

musculares palpáveis no LD devido ao aumento de sua tensão ao tentar compensar a inativação do

MM (CLAYTON, 2016). Oliveira (2017) relatou a importância do MM em melhorar a qualidade do

desempenho de equinos atletas, principalmente em movimentos que necessitam de grande

transferência de força dos membros pélvicos para a coluna, movimentos estes, naturalmente

desestabilizadores.

O desenvolvimento muscular na região da garupa é importante para melhorar a locomoção do

cavalo através do aumento da protração dos membros pélvicos e uma maior flexibilidade. De acordo

com Hill e Crook (2010), a manipulação dos músculos caudais (glúteo superficial, semitendinoso,

semimembranoso e bíceps femoral) aumenta a protração passiva dos membros pélvicos, e esses

associados com uma maior retração dos membros torácicos promovem uma melhoria na flexibilidade

e na flexão lateral do corpo do cavalo.

Os membros torácicos apresentam função de controlar a impulsão da projeção do cavalo para

frente e age como amortecedores dando uma maior estabilidade na postura. Enquanto os membros

pélvicos são propulsores e responsáveis por mover o cavalo para frente geralmente em grande

velocidade (PILLINER et al., 2009; BIKNEVICIUS et al., 2004). Se esses membros apresentam um

alinhamento adequado, consequentemente o animal vai apresentar um maior equilíbrio e uma maior

agilidade na locomoção.

2.2 Avaliação ultrassonográfica da musculatura

Algumas tecnologias são utilizadas para aperfeiçoar o potencial atlético máximo dos equinos,

e isso pode ser verificado por meio dos numerosos trabalhos publicados nos últimos anos, sendo

possível observar que uma das tecnologias comumente utilizada é a ultrassonografia (US)

(D’ANGELIS et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2014; OLIVEIRA et al., 2015; STUBBS et al., 2011).

No Brasil é notório o interesse do uso da US para diagnóstico de claudicações (FONSECA et

al., 2006), entretanto, é crescente o uso dessa tecnologia para diagnosticar ou observar a presença de

dores lombares além de verificar a funcionalidade dos músculos em equinos.

A US é uma técnica quantitativa e qualitativa utilizada para avaliar mudanças musculares

quanto ao seu tamanho e simetria em resposta a um treinamento específico (STUBBS et al., 2011),

sendo comumente utilizada para adquirir esses dados por ser de fácil e rápida obtenção, e por

corresponder à anatomia in vivo do animal (OLIVEIRA et al., 2014).

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Esta tecnologia fornece imagens em tempo real das seções transversais completas dos

músculos e, com essa ferramenta, é possível determinar as dimensões de um músculo, verificar a

eficácia de um tratamento ou exercício, avaliar a presença ou não de atrofia muscular e ainda

diagnosticar lombalgias (MCGOWAN et al., 2007a; STUBBS et al., 2011). Permite ainda, avaliar o

percentual de diferentes tipos de fibras musculares, o volume e a espessura muscular. Por ser um

método não invasivo e de baixo custo, a US é mais frequentemente utilizada do que a ressonância

magnética, tomografia e biopsia muscular (RADAELLI et al., 2011).

Para verificar a efetividade de um treinamento aplicado ao equino pode-se utilizar a biometria

muscular, que permite avaliar a funcionalidade do músculo indicando se o músculo se encontra

atrofiado, hipertrofiado ou em tamanho normal (OLIVEIRA et al., 2014). A biometria é o estudo das

mensurações das regiões do corpo do animal, podendo associar a resultados cinemáticos, visto que a

biometria pode ser realizada em regiões anatômicas que compreendem parte dos estudos da

biomecânica (ANDRADE, 2014).

Geralmente, é utilizado o valor médio obtido após captação de 2 a 3 imagens de um músculo,

o objetivo é evitar pequenas variações da posição ou angulação da sonda que podem causar pequenas

diferenças entre as imagens. No entanto, Stubbs et al. (2011) relataram que uma única medição é

suficiente, visto que estes autores não encontraram diferença entre 3 medições realizadas na AST ao

analisar o MM. De acordo com Oliveira et al. (2014), na avaliação biométrica do Longissimus Dorsi,

Multifidus, Gluteus Medius e Biceps Femoris em equinos, a US tem apresentado boa confiabilidade

e repetibilidade.

A US pode ser utilizada em diversas regiões do corpo de um animal, entretanto, algumas

regiões são mais acessíveis e fornecem imagens ultrassonográficas melhores, como por exemplo, o

LD (D’ANGELIS et al., 2007). Segundo Tabor (2015), a mensuração do LD é feita com base em sua

espessura muscular e na área transversal, devido ao seu grande tamanho, já no caso de um músculo

menor como o MM, a US é capaz de fornecer uma medida direta de suas dimensões.

Atualmente, diversos são os estudos realizados em equinos para verificar a funcionalidade de

músculos através da biometria muscular. Stubbs et al. (2011), ao analisarem a AST do MM em 6

diferente níveis (T10, T12, T14, T16, T18 e L5) na coluna vertebral de oito equinos, constataram que

todos os níveis avaliados apresentaram diferentes tamanhos do MM. Em outra pesquisa, Oliveira et

al. (2014) utilizaram a US para avaliar os músculos LD e MM em oito equinos atletas submetidos a

treinamento com a rédea Pessoa. Esses autores não encontraram diferença no LD ao utilizar a rédea

Pessoa (5,45 cm inicial e 7,06 cm final), porém, verificaram hipertrofia no músculo MM (8,03 cm²

inicial e 14,29 cm² final).

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Através de outro estudo foi possível verificar a eficácia da utilização da US para medir a AST

do MM, Tabor (2014) observou um aumento no tamanho desse músculo em cavalos de corrida após

realização de exercícios de mobilização dinâmica durante 90 dias.

2.3 Biomecânica em equinos

Biomecânica é a ciência que estuda os movimentos de um corpo vivo bem como as estruturas

envolvidas na execução do movimento (músculos, ossos, tendões e ligamentos). A biomecânica pode

ser subdividida em: cinética, que corresponde ao estudo das forças aplicadas ao corpo responsáveis

por gerar e alterar o movimento; e cinemática, que descreve os deslocamentos lineares e angulares do

movimento (CLAYTON, 2004; BACK e CLAYTON, 2013), relacionadas com o tempo,

deslocamento, aceleração e velocidade (HINCHCLIFF et al., 2008).

O primeiro estudo relacionado à biomecânica de equinos foi realizado em 1887 pelo fotógrafo

inglês Muybridge, responsável pelo primeiro registro quadro a quadro do galope de um cavalo de

corrida (MUYBRIDGE, 2012). Atualmente, com o desenvolvimento de novas tecnologias e com o

advento do computador, câmeras digitais de alta resolução e filmagens utilizando a técnica

slowmotion, foi possível dar início e tornar extremamente preciso e complexo os estudos referentes à

biomecânica de humanos e animais atletas, evidenciando determinados aspectos que, por observação

visual, não poderiam ser notados na inspeção clínica.

Avaliar a maneira com que um equino se movimenta fornece importantes dados aos

pesquisadores, treinadores e profissionais da área a respeito dos pontos positivos e problemas que um

animal possui. De acordo com Gomez Alvarez (2007), a locomoção de um equino poderia ser

avaliada por um observador, porém é uma análise muito subjetiva e que não permite avaliações

precisas de determinadas regiões do corpo do animal, como por exemplo, do dorso, cuja

movimentação pode apresentar alterações muito sutis imperceptíveis por observação visual. Sendo

assim, a análise cinética e cinemática permite um exame detalhado da postura e locomoção equina.

A análise cinemática é baseada na relação entre posição do animal versus tempo, que pode ser

obtida por meio de análises videográficas, bidimensionais ou tridimensionais, com auxílio de

computador e programas de análises de imagens (HINCHCLIFF et al., 2008). Esta análise se baseia

no registro de imagens e avaliação de pontos marcados no corpo do animal, permitindo a mensuração

de diferentes variáveis durante o movimento, tais como: angulação das articulações, distâncias

vertical e horizontal do centro de massa, velocidade e aceleração (BOBBERT et al., 2005;

MIYASHIRO, 2012).

Bystrom et al. (2009) realizaram a avaliação cinemática com o objetivo de descrever os

movimentos da sela e cavaleiro em 7 equinos de adestramento de alto nível enquanto realizavam trote

em uma esteira. Esses autores verificaram que o movimento da sela e cavaleiro está relacionado com

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os movimentos do cavalo e que o movimento de sela também pode ser influenciado pelo cavaleiro.

Portanto, com esse estudo é possível compreender que conhecer os movimentos da sela e do cavaleiro

são importantes para prevenir tanto lesões ortopédicas quanto musculares.

Alvarez et al. (2008) utilizaram a manipulação quiroprática em dez cavalos e avaliaram a

cinemática ao passo e ao trote antes da manipulação, após três horas e depois de três semanas. Esses

autores verificaram através da cinemática que a manipulação quiroprática teve um efeito menos

prolongado na parte torácica, menor inclinação da pélvis e melhor simetria do movimento padrão da

pélvis.

A avaliação biomecânica permite aferir o ritmo, regularidade, simetria, amplitude e suspensão

de qualquer andamento do equino, seja ele o passo, trote ou galope. O passo é definido com um

movimento de quatro tempos em que o animal movimenta apenas um dos membros de cada vez. O

trote é um movimento de dois tempos onde ocorre alternância entre as diagonais esquerda e direita

separadas por um momento em suspensão, e o galope pode ser classificado como um andamento de

três tempos (quando ocorre apoio sobre um membro anterior, sobre uma diagonal e um membro

posterior, seguido por um momento em suspensão) ou de quatro tempos (quando cada membro entra

em contato com o solo individualmente, com um momento em suspensão antes de se iniciar um novo

ciclo) (CLAYTON et al., 2012).

Na locomoção do cavalo, os membros passam por ciclos de movimentos repetitivos chamados

de passadas (PILLINER et al., 2009). A distância da passada está relacionada com a amplitude do

passo, portanto, o animal que apresenta a retropegada realiza um passo curto e como consequência a

amplitude é pequena e a frequência do passo é alta, ao contrário da ultrapegada que o animal apresenta

um passo longo e a amplitude é grande e frequência baixa. Já o animal que realiza a sobrepegada

apresenta uma amplitude e frequência média (CHIROLLI et al., 2015).

A distância da passada é a distância entre o casco do membro torácico e o membro pélvico

ipsilateral (PILLINER et al., 2009). Quando o casco do membro pélvico aterrissa a frente do local

onde o casco torácico ipsilateral estava anteriormente apoiado no solo, é chamado de ultrapegada e

são gerados valores positivos. Quando o casco do membro pélvico aterrissa exatamente no local onde

o casco torácico estava anteriormente, é chamado sobrepegada e são geradores de valores iguais a

zero. Quando o casco do membro pélvico aterrissa atrás do local onde estava anteriormente o casco

do membro torácico, é chamado de retropegada e são gerados valores negativos (BACK e

CLAYTON, 2013; OLIVEIRA et al., 2015).

Em um estudo realizado por Oliveira et al. (2015), foi possível observar que equinos

submetidos a treinamento de ginástica laboral durante 90 dias apresentaram um aumento na distância

da passada ao se comparar o início (-11,43 cm) e final do experimento (5,30 cm), contudo, esta

melhora não foi encontrada em equinos submetidos a exercícios de mobilização dinâmica (-8,30 e -

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6,44 cm, fase inicial e final respectivamente) e animais sedentários (-15,00 e -13,17 cm no início e

final do estudo, respectivamente).

Já o comprimento da passada é medido pela distância percorrida do mesmo membro ao fixar

no solo consecutivamente (PILLINER et al., 2009; BACK e CLAYTON, 2013). DVOŘÁKOVÁ et

al. (2009) realizaram um estudo para avaliar os movimentos de dois equinos durante cinco semanas

de hipoterapia e observaram um comprimento de passada de 169 cm e 189 cm.

Oliveira et al. (2015), ao avaliarem o comprimento da passada ao passo durante 90 dias,

observaram que os equinos submetidos a ginástica laboral apresentaram valores superiores no

comprimento da passada no início (146,00 cm) e ao final das avaliações (156,67 cm) quando

comparado aos equinos submetidos a exercícios de mobilização dinâmica (137,33 e 139,67 cm,

respectivamente no início e ao final do experimento) e animais sedentários (126,00 e 126,67 cm, na

fase inicial e final do estudo respectivamente).

2.4 Comportamento de equinos

Atualmente, uma das maiores preocupações de qualquer criação zootécnica é com o bem-estar

dos animais (AFONSO, 2010), no entanto, para garantir o bem-estar dos animais é necessário que as

cinco liberdades sejam respeitadas. O conceito das cinco liberdades foi sugerido pela primeira vez

em 1965 pelo relatório do Comitê Brambell e, em 1967, elas foram propostas pelo Conselho de Bem-

Estar de Animais de Produção. As cinco liberdades são: liberdade nutricional, liberdade sanitária;

liberdade ambiental; liberdade comportamental e liberdade psicológica (MOLENTO, 2006).

Ou seja, os animais devem estar livres de livres de desnutrição, fome e sede; ausentes de

doenças e ferimentos, com garantia de saúde animal; devem ser mantidos em instalações adequadas

e com um espaço mínimo disponível; devem expressar o seu comportamento natural da espécie; e

estar livres de fatores que provoquem medo e estresse nos animais (MOLENTO, 2006). Caso

contrário, o bem-estar é comprometido e os animais podem apresentar alterações comportamentais

mediante estresse.

Para verificar alterações comportamentais, podem ser realizadas análises que indiquem se o

animal está tentando lidar com alguma adversidade (BROOM e FRASER, 2015). Devido à sua

facilidade de execução, baixo custo e por ser uma técnica não invasiva, uma das técnicas mais

utilizadas para avaliação do bem-estar de animais é o uso de etogramas, responsáveis por caracterizar

o comportamento do animal ao longo do tempo com base no grau e frequência com que cada

comportamento é executado ao longo do dia ou quando o animal é submetido à situações adversas

(FRASER, 1993; ANDRIOLI e BRITO, 2009).

Para isso, é necessário que o avaliador possua um conhecimento prévio do comportamento

natural de uma espécie para, só então, realizar as devidas comparações e obter os resultados. O

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comportamento de um animal pode ser influenciado por sua genética (algumas raças tendem a ser

mais temperamentais que outras); experiências anteriores (uso inadequado de uma contenção

dolorosa, por exemplo); e pelo estado emocional atual em que o animal se encontra (como por

exemplo apresentar um comportamento agressivo ao tentar impedir que uma área dolorida de seu

corpo seja manuseada) (GOFF, 2016).

Uma forma de avaliar o comportamento e bem-estar de equinos durante ou após seu trabalho

ou treinamento é a aplicação de questionários relacionados ao seu temperamento. Pessoa et al. (2016)

aplicaram um questionário para avaliação do comportamento de equinos de patrulhamento urbano

submetidos ao confinamento total ou parcial durante o trabalho na rua, os autores observaram que os

animais totalmente confinados ficavam mais alertas, medrosos e nervosos durante o trabalho. Estes

autores concluíram então que a soltura dos animais é uma prática que promove o bem-estar dessa

espécie.

Em um questionário aplicado por Gontijo et al. (2014) aos tratadores de equinos de

patrulhamento urbano com o intuito de verificar o temperamento dos animais, verificou-se os

comportamentos de brincalhão, curioso, nervoso e assustado, sendo classificado em escore de 1

(menor intensidade) a 3 (maior intensidade). Os autores observaram que 40% dos animais eram

assustados, 36% curiosos, 30% nervosos e 16% brincalhões.

Vale destacar que as avaliações etológicas devem ser feitas e repetidas sempre pelo mesmo

avaliador, e que este indivíduo seja, de preferência, uma pessoa que faça parte do convívio diário do

animal de maneira que esteja familiarizada com seu comportamento normal (GOFF, 2016).

Após o término da avaliação, cabe ao ser humano tomar uma decisão ética sobre a qualidade

de vida do animal e quais atitudes deverão ser adotadas de modo a melhorá-la (BROOM e

MOLENTO, 2004; MAIA et al., 2013).

2.4.1 Relação entre agressividade e dor crônica

Diversos são os fatores que podem aumentar a agressividade nos animais, tais como

características individuais e situações de estresse, entretanto, a dor física variando desde um mero

desconforto até uma dor aguda, é considerada o principal fator capaz de desencadear agressividade

(ANDERSON et al., 2000; ANDERSON et al., 1998; GOFF, 2016). Segundo Fureix et al. (2010), as

dores crônicas são causadores de estresse e também podem alterar o comportamento normal de

equinos.

Por serem presas, é possível que os equinos não demonstrem sinais de dor para que não seja

perseguido pelos predadores, isto pode explicar o porquê da grande dificuldade em se observar sinais

de dor ou desconforto nestes animais (MILLS e NANKERVIS, 2000).

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A dor pode ser expressa por duas formas: pelo componente sensitivo-discriminativo que é

quando o animal apresenta um estímulo aversivo a localização corporal, como a presença de

claudicação e sensibilidade ao local da dor; e componente afetivo-motivacional que é quando o

animal apresenta uma resposta emocional e mudança comportamental devido à dor, como a

agressividade e o fato de evitar alguma situação ou objeto (GOFF, 2016). Ou seja, muitas vezes um

equino é rotulado como agressivo ou teimoso quando, na verdade, o animal está apenas reagindo às

dores constantes que possui em determinada região do corpo.

De acordo com Fureix et al. (2010), a dor crônica no dorso é o problema de maior incidência

em equinos de esporte e, ao mesmo tempo, o menos compreendido clinicamente. Landman et al.

(2014) encontraram problemas no dorso em 32% de 805 equinos atletas avaliados quanto a presença

de dores crônicas. Já Fonseca et al. (2006) concluíram que 100% dos animais atletas da raça Quarto

de Milha avaliados apresentaram problemas nas vertebras tóraco-lombar após avaliação por meio de

ultrassom e termografia.

O efeito da dor crônica sobre o comportamento destes animais ainda é pouco estudado.

Contudo, é possível que a agressividade, teimosia, medo e até mesmo ansiedade sejam problemas

relacionados a algum tipo de desconforto, podendo refletir no desempenho atlético e no trabalho dos

animais no campo e em grandes centros urbanos.

A fisioterapia para cavalos, nesse caso os exercícios funcionais, pode ser positivo para

promover o bem-estar de cavalos que sofrem com lombalgias, além de trazer benefícios econômicos

ao seu proprietário aumentando a qualidade de vida do animal (TABOR, 2015).

2.5 Exercícios funcionais terapêuticos

Nos últimos anos, diferentes técnicas de terapia manual realizadas em humanos para

tratamento de distúrbios musculoesqueléticos passaram a ser utilizadas também em equinos. Essas

técnicas como, quiropraxia, osteopatia, fisioterapia, exercícios terapêuticos e etc., são aplicadas pelo

uso das mãos ao corpo, realizando o deslocamento do tecido mole ou articular, promovendo diferentes

efeitos fisiológicos ou biomecânicos. Em equinos ainda são poucos os estudos que evidenciam os

efeitos da terapia manual, no entanto, algumas pesquisas já demonstram que a terapia através da

manipulação da coluna vertebral promove uma hipertonicidade muscular, aumento da amplitude de

movimento articular e redução de dor (HAUSSLER, 2009).

Diversos estudos realizados com seres humanos comprovaram que há uma redução

significativa das dores nas costas após realização de exercícios funcionais que atuam principalmente

sobre o MM, promovendo a estabilidade da coluna (TABOR, 2015). Este efeito dos exercícios

funcionais sobre o MM também já foi comprovado na espécie equina (STUBBS et al., 2011;

OLIVEIRA et al., 2015; TABOR, 2015).

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O treinamento funcional terapêutico é uma das diversas técnicas que existe dentre os

tratamentos fisioterapêuticos aplicados às desordens sensoriais e motoras do sistema

musculoesquelético provocadas pelo esporte ou trabalho (MCGOWAN et al., 2007a). Entretanto,

previamente à aplicação dos exercícios funcionais é necessário que se determine de forma precisa as

desordens musculoesqueléticas que os animais possuem.

Segundo Allen et al. (2010), para constatar a ocorrência de lombalgia em equinos os sintomas

que podem ser observados são: claudicação, atrofia muscular, assimetria muscular; alto grau de

sensibilidade das vértebras da região tóraco-lombar; visualizar desequilíbrio, assimetria no

andamento e qualquer sinal de desconforto no animal em movimento, em linha reta e em círculo sobre

uma superfície plana.

Outra forma de constatar a presença de alguma desordem musculoesquelética é através de

testes de restrição de movimento. Segundo Oliveira (2017), para identificar as principais restrições

de movimento e a funcionalidade dos equinos deve-se realizar uma avaliação funcional do animal,

para isso é necessário observar a postura do animal em estação; avaliar a estrutura anatômica para

identificação de alterações ósseas; quantificar a força muscular para verificar se determinado músculo

apresenta força considerada “normal”; avaliar a elasticidade muscular por meio de teste de amplitude

de movimento, determinar sua flexibilidade de forma a identificar déficits dos movimentos articulares

e avaliar a estabilidade articular para identificar a capacidade de estabilização da articulação sacro-

ilíaca.

A avaliação precisa da condição musculoesquelética é essencial para gerenciar qual tipo de

tratamento será aplicado ao animal e, por fim, estabelecer quais exercícios funcionais deve ser

aplicado com a intenção de restaurar os movimentos para a melhoria funcional e reabilitação de

desempenho (GOFF, 2009).

Os exercícios funcionais podem reduzir as restrições de movimento em qualquer segmento da

coluna ao promover maior flexibilidade, redução da tensão e relaxamento dos músculos, melhora da

coordenação motora e fortalecimento muscular (OLIVEIRA, 2017). Contudo, estes exercícios devem

ser sempre realizados após aquecimento prévio do animal, já que o aquecimento aumenta a

temperatura corpórea e, consequentemente, desencadeia um relaxamento do musculoesquelético e

aumento da flexibilidade muscular (GUIRRO et al., 2012).

As restrições de movimento podem ser consequência da má conformação do animal,

treinamento inadequado e utilização de equipamentos de maneira errada. Segundo Oliveira (2017),

as restrições podem ocorrer em qualquer articulação e/ou intersegmento vertebral do corpo do animal,

e podem ou não estar acompanhadas de sinais de dor ou desconforto. Segundo o autor, as principais

restrições de movimento encontradas em equinos atletas e de trabalho compreendem as articulações

atlanto-occiptal/atlanto-axial (C0-C2), articulação cervical-torácica (C7-T1), segmentos intervertebrais

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da T3-T11, articulação tóraco-lombar, articulações do lombo-sacral e sacro-ilíaca e o complexo da

espádua.

Os problemas decorrentes destas restrições são diversos, os mais comumente observados são

a fraca capacidade de sustentação do dorso, distribuição desigual do peso do animal entre os

membros, grande tensão muscular, ausência de flexibilidade, atrofia de diversos músculos,

capacidade de propulsão e amplitude de passada reduzida (CLAYTON, 2004; OLIVEIRA et al.,

2014; OLIVEIRA, 2017).

Os exercícios funcionais recomendados para amenizar, ou até mesmo acabar com as restrições

musculares, são: fortalecimento da musculatura epaxial, fortalecimento do cinturão torácico,

alongamentos e fortalecimento da musculatura pélvica, conforme metodologia descrita por Stubbs e

Clayton (2008) e Oliveira (2017).

Exercícios de mobilização dinâmica aumentam a amplitude do movimento articular e

fortalece a musculatura no qual o exercício é associado (CLAYTON et al., 2012). A mobilização

dinâmica ocorre quando o animal é guiado com o auxílio de um petisco e exercita sua musculatura

por meio de flexões longitudinais e laterais de pescoço, dorso e pélvis. Eles podem ser divididos em:

extensão cervical, flexão lateral da cabeça, flexão longitudinal da cabeça e pescoço e flexão lateral

do pescoço e dorso (HAUSSLER, 2009; CLAYTON, 2016).

Stubbs et al. (2011) avaliaram o efeito dos exercícios de mobilização dinâmica (extensão

cervical, flexão cervical longitudinal e flexão cervical lateral) durante 90 dias sobre o MM em seis

regiões específicas da coluna de oito equinos. Os autores observaram um aumento significativo no

tamanho do MM em todas as regiões avaliadas, além do estabelecimento de simetria muscular entre

os lados esquerdo e direito do corpo dos animais.

O mesmo foi observado por Oliveira et al. (2015) quando avaliaram o efeito dos exercícios

de mobilização dinâmica (extensão cervical, flexão cervical longitudinal e flexão cervical lateral) e

ginástica laboral (extensão cervical, flexão cervical longitudinal, flexão cervical lateral, flexão lateral

da pélvis, recuo, caminhada sobre obstáculos e spinning) em equinos. Os autores verificaram que os

grupos submetidos a exercícios de mobilização dinâmica e ginástica laboral apresentaram hipertrofia

do MM, e um maior tamanho desse músculo comparado aos animais sedentários.

Os exercícios de fortalecimento muscular promovem uma resposta neuroreflexiva a um

estímulo manual aplicado em determinada área do corpo do animal (OLIVEIRA, 2017). A resposta

do estímulo é a flexão e/ou flexão lateral de articulações intervertebrais específicas através da

ativação de músculo mobilizadores das regiões cervical, torácica e lombar por meio de exercícios de

levantamento do esterno, cernelha e tórax, flexão unilateral da pélvis e flexão bilateral da pélvis

(GOFF, 2009; CLAYTON, 2016).

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Utilizar de técnicas de fortalecimento muscular e alongamentos são práticas essenciais que

irão trazer incontáveis benefícios ao animal, maximizando seu desempenho atlético e sua capacidade

de realizar determinado trabalho, além de poder proporcionar ainda um maior grau de bem-estar ao

animal.

O alongamento passivo corresponde ao elongamento das fibras musculares e ligamentos

promovendo aumento da flexibilidade e amplitude de movimento do pescoço, dorso ou membros e

reduzindo o risco de lesões de músculos e tendões (KANEPS, 2016; OLIVEIRA 2017). O

alongamento pode ser passivo ou ativo: o passivo consiste na aplicação de força a um determinado

segmento do corpo ou membro a fim de alongar os músculos relaxados além de seus comprimentos

normais de descanso (HAUSSLER, 2010). O alongamento ativo promove o alongamento no animal

por meio do uso de seus próprios movimentos, geralmente utiliza-se cenoura como petiscos para

indução de alongamentos do pescoço e tronco a fim de estimular o animal a aumentar sua flexão e/ou

extensão (STUBBS e CLAYTON, 2008). Os exercícios de alongamento passivo usualmente aplicado

são: protração, retração e cruzamento dos membros torácicos e pélvicos (GOFF, 2009; HAUSSLER,

2016).

Os exercícios de desequilíbrio dinâmico têm como objetivo melhorar o equilíbrio, estabilidade

e coordenação motora por meio de exercícios que induzem a contração muscular do animal em

resposta ao deslocamento de seu centro de gravidade durante um movimento. Isso pode ser obtido

pela aplicação de exercícios de recuo, caminhada sobre obstáculos e spinning (OLIVEIRA, 2017).

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CAPÍTULO 1

EXERCÍCIOS FUNCIONAIS NA MUSCULATURA EPAXIAL, BIOMECÂNICA E

COMPORTAMENTO EM EQUINOS DE TRABALHO

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1.1 RESUMO

RESUMO

FIDÊNCIO, Camila Fernanda. Exercícios funcionais na musculatura epaxial, biomecânica e comportamento em equinos de trabalho. Sergipe: UFS, 2019. 58p. (Dissertação – Mestrado em Zootecnia). O uso de exercícios funcionais melhora a flexibilidade e estimula o fortalecimento muscular, tornando os músculos mais bem preparados para realização de atividades físicas e promovendo uma melhor qualidade de vida aos animais. O objetivo foi avaliar a eficácia da aplicação de um programa de treinamento funcional sobre a musculatura epaxial, biomecânica e alterações comportamentais em equinos de trabalho. O experimento foi realizado no Esquadrão da Polícia Montada da Polícia Militar do Estado de Sergipe (Aracaju/SE). Foram utilizados 16 equinos sem raça definida, com peso médio de 418 ± 50 kg, ECC de 5,09 ± 0,71 e 14,0 ± 3,5 anos de idade. Estes animais foram distribuídos em delineamento ao acaso em dois grupos experimentais: submetidos (n=8) ou não (n=8) aos exercícios funcionais. Os exercícios foram realizados três vezes por semana durante três meses, e consistiram de técnicas de mobilização dinâmica, mobilização reflexiva, desequilíbrio dinâmico e alongamento passivo. Os dados de todas as variáveis foram coletados no início e final do estudo. As variáveis coletadas foram: biometria muscular, análise cinemática linear e comportamento. Foi avaliada a profundidade do músculo Longíssimus dorsi no lado esquerdo (LDE) e direito (LDD) e área transversal total do Musculus multifidus, lado esquerdo (MME) e direito (MMD). Para avaliação cinemática do andamento os animais foram filmados para determinação do comprimento da passada ao passo (CPp) e ao trote (CPt), e distância de passada ao passo (DPp) e ao trote (DPt). A avaliação comportamental consistiu na aplicação de questionários aos cavaleiros/amazonas que formavam os conjuntos com os animais, referente ao temperamento do animal antes, durante e após patrulhamento. Foi observado aumento (P<0,05) na área transversal total do MME e MMD nos animais submetidos aos exercícios funcionais. O CPp e CPt foi maior (P<0,05) nos cavalos submetidos ao treinamento funcional. A DPp foi positiva para ambos os tratamentos, ou seja, os animais realizaram a ultrapegada, entretanto, o valor de DPp foi maior (P<0,05) nos animais submetidos ao treinamento funcional. A DPt foi negativa para ambos os tratamentos, ou seja, os animais realizaram a retropegada, sendo os maiores valores observados nos equinos submetidos ao treinamento. Foi observada menor (P<0,05) sonolência e menor teimosia nos animais submetidos aos exercícios funcionais. Concluiu-se que o treinamento funcional promove hipertrofia no Musculus multifidus, aumenta o comprimento da passada, a distância da passada e ainda promove mudanças positivas na expressão do comportamento dos animais submetidos aos exercícios, que se apresentaram menos sonolentos e teimosos ao longo do dia de trabalho. Palavras-chave: biometria muscular, cinemática, etologia equina, treinamento funcional.

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1.2 ABSTRACT

FIDÊNCIO, Camila Fernanda. Functional exercises in the epaxial musculature, biomechanics and behavior in work horses. Sergipe: UFS, 2019. 58p. (Dissertation - Master in Animal Science).

The use of functional exercises improves flexibility and stimulates muscle strengthening, making muscles better prepared for physical activities and promoting a better quality of life for animals. The objective was to evaluate the effectiveness of the application of a functional training program on epaxial musculature, biomechanics and behavioral changes in working horses. The experiment was carried out in the Mounted Police Squad of the Military Police of the State of Sergipe (Aracaju / SE). Sixteen horses were used, with a mean weight of 418 ± 50 kg, BCS of 5.09 ± 0.71 and 14.0 ± 3.5 years of age. These animals were randomly assigned to two experimental groups: submitted (n = 8) or not (n = 8) to the functional exercises. The exercises were performed three times a week for three months, and consisted of techniques of dynamic mobilization, reflexive mobilization, dynamic imbalance and passive stretching. Data from all variables were collected at the beginning and end of the study. The variables collected were: muscular biometry, linear kinematic analysis and behavior. The depth of the Longissimus dorsi muscle on the left side (LDL) and right (LDR) and total cross section area of the Musculus multifidus, left side (MML) and right (MMR) were evaluated. For the kinematic evaluation of the gait, the animals were filmed for determination of stride length (CPp) for the walk (SLw) and trot (SLt), and tracking distance to the walk (TDw) and trotting (TDt). The behavioral evaluation consisted in the application of questionnaires to the horsemen / amazons that formed the sets with the animals, referring to the temperament of the animal before, during and after patrolling. An increase (P <0.05) was observed in the total cross-sectional area of MML and MMR in the animals submitted to functional exercises. SLw and SLt were higher (P <0.05) in horses submitted to functional training. The TDw was positive for both treatments, that is, the animals performed the overtracking, however, the value of TDw was higher (P <0.05) in the animals submitted to functional training. The TDt was negative for both treatments, that is, the animals performed the undertracking, being the highest values observed in the horses submitted to the training. Less (P <0.05) drowsiness and lower stubbornness were observed in the animals submitted to functional exercises. It was concluded that the functional training promotes hypertrophy in Musculus multifidus, increases the length of the past, the distance of the past and also promotes positive changes in the expression of the behavior of the animals submitted to the exercises, which were less sleepy and stubborn during the day of job.

Key words: muscular biometry, kinematics, equine ethology, functional training.

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1.3 INTRODUÇÃO

A utilização de equinos em atividades de lazer, trabalho e esporte são comuns, e assim como

em atletas humanos, animais que realizam atividade física constante estão sujeitos a desordens

musculoesqueléticas (ALEMAN, 2008). A incidência dessas desordens é aumentada quando a

atividade física em questão não é realizada de forma correta, quando a intensidade dos

exercícios/trabalho é exagerada, nas ocasiões em que o cavaleiro ou amazona não possui um nível

mínimo de equitação ou até mesmo quando ocorre a utilização de equipamentos inadequados àquele

animal (CLAYTON, 2004; STUBBS e CLAYTON, 2008).

Estas desordens, quando não diagnosticadas logo no início ou quando não tratadas de maneira

adequada, acabam restringindo o movimento do animal devido ao estabelecimento de lesões

musculares que, com o passar do tempo, é responsável por causar grande desconforto físico ao animal

(CLAYTON, 2004; OLIVEIRA, 2017). Como consequência, o animal começa a apresentar uma

movimentação de baixa qualidade, desempenho atlético reduzido, claudicações, baixa capacidade de

concentração e vontade de trabalhar ou treinar reduzidas, resultando em uma diminuição no valor

comercial dos equinos, principal causa de perdas econômicas na equideocultura (HODGSON et al.,

2014).

Além disso, as dores musculares são capazes ainda de influenciar o comportamento dos

animais, tornando-os mais arredios e agressivos ao tentar defender-se de algo ou de alguma situação

que intensifica a sensação de desconforto (FUREIX et al., 2010). Na maioria das vezes, animais

classificados como agressivos acabam recebendo um manejo diferenciado ao longo do tempo, tais

como redução do tempo em liberdade e manipulação mais agressiva por parte dos tratadores, o que

acaba por piorar o comportamento inadequado dos animais sem resolver o problema efetivamente.

Apenas uma avaliação adequada poderá confirmar se o comportamento inadequado de um

determinado animal é decorrente de algum tipo de dor ou se é algo natural e inerente àquele indivíduo

(GOFF, 2016).

Para solucionar problemas musculares já estabelecidos e aumentar a proteção da musculatura

do animal contra lesões futuras é indicado a adoção de um programa de treinamento funcional. Este

programa consiste na realização de uma série de exercícios funcionais capazes de restaurar de forma

simples e não invasiva a funcionalidade de diversos grupos musculares, tornando-os mais flexíveis,

fortalecidos e preparados para realização de atividade física (STUBBS et al., 2011; GUIRRO et al.,

2012; OLIVEIRA, 2017). Com isso, os animais terão uma significativa melhora em seu bem-estar,

tornando-os mais dispostos e eficientes para realização de seu trabalho e/ou treinamento.

A ocorrência da maioria das alterações musculares pode ser verificada por meio de

ultrassonografia em tempo real. Com esta ferramenta é possível determinar a presença de atrofia e

assimetrias musculares, bem como a eficácia de terapias e/ou da utilização de exercícios físicos

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específicos por meio da hipertrofia e recuperação do músculo em questão (MCGOWAN et al., 2007b;

RADAELLI et al., 2011; STUBBS et al., 2011).

Outra forma de avaliar a integridade funcional de equinos atletas é por meio da análise

cinemática. Esta avaliação permite relacionar o andamento do animal com possíveis transtornos

musculares, uma vez que o desconforto causado por lesões e restrições musculares, é responsável por

causar uma piora na movimentação do animal (PIERCY, 2013).

Entretanto, é essencial uma avaliação precisa da condição musculoesquelética do cavalo para

saber qual tratamento de exercícios será selecionado. A aplicação dessas técnicas requer aprofundado

conhecimento da anatomia e fisiologia do sistema musculoesquelético equino, bem como de todos os

métodos do treinamento e suas indicações para cada indivíduo em particular (GOOF, 2009).

Diante do exposto, objetiva-se com esse estudo avaliar a eficácia da aplicação de exercícios

funcionais sobre a biometria da musculatura epaxial, biomecânica e o comportamento em equinos de

trabalho.

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1.4 MATERIAL E MÉTODOS

A execução do projeto foi aprovada (protocolo 07/2017) pelo Comitê de Ética em Pesquisa

com Animais de Produção (CEPAP) da Universidade Federal de Sergipe e foi realizado segundo as

normas do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), de acordo com a

lei nº 11.794/2008.

Local, delineamento e período do experimento

O experimento foi realizado entre os meses de janeiro a abril de 2018, no Esquadrão da Polícia

Montada (EPMon) do Estado de Sergipe, localizado nas dependências do Parque da Cidade situado

no município de Aracaju/SE.

Foram utilizados 16 equinos sem raça definida, sendo 14 machos castrados e 2 fêmeas, com

peso corporal médio de 418 ± 50 kg, escore de condição corporal de 5,09 ± 0,71 e idade média de 14

± 3,5 anos. Os animais foram previamente examinados quanto ao seu estado geral de saúde e para

constatação de ausência de qualquer tipo de lesão musculoesquelética previamente existente.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, no qual os animais foram alojados

em um de dois grupos experimentais: com (n = 8 animais) ou sem (n = 8 animais) realização de

treinamento funcional.

Em período pré-experimental de 30 dias os animais foram habituados aos exercícios

funcionais. Posteriormente, iniciou-se o período experimental com a aplicação regular dos exercícios

funcionais e coletas de dados.

A coleta dos dados foi realizada no início (dia 0) e ao final (dia 90) do estudo, sendo a primeira

coleta de dados realizada no dia anterior (d -1) ao primeiro dia de execução do treinamento funcional.

Alojamento dos animais, dieta e rotina de trabalho

Os animais foram alojados em baias individuais de alvenaria (16m2 de área total) contendo

em seu interior comedouros de alvenaria e bebedouros automáticos. A dieta dos animais foi

padronizada e calculada de acordo com as recomendações descritas no NRC (2007) de forma a

garantir as exigências nutricionais mínimas de equinos adultos submetidos à atividade física leve.

Para isso, considerou-se 2% de consumo de matéria seca por dia com base no peso corporal de cada

animal, e manteve-se a relação entre alimento concentrado e volumoso de 30% e 70%,

respectivamente.

O alimento concentrado foi composto por ração comercial peletizada (Proequi Melaçada®) e

o alimento volumoso por feno de tifton (Cynodon spp). Os animais receberam água e sal mineral

(Guabiphos Centauro 80®) à vontade. O alimento volumoso foi fornecido em três refeições diárias,

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28

sendo: ⅓ do total ofertado às 07:00h, ⅓ às 11:00h e ⅓ às 18:00h. Já o alimento concentrado era

fracionado em duas refeições diárias: metade às 04:00h e a outra metade às 14:30h.

Todos os animais foram submetidos ao mesmo regime de trabalho durante todo o período

experimental que consistia em 6 horas de patrulhamento/dia realizado duas vezes na semana. Nos

demais dias da semana os animais permaneceram em repouso no interior de suas baias, sem realização

de qualquer tipo de atividade física neste período.

Peso e escore de condição corporal

O peso corporal foi estimado por meio de fita de pesagem própria para equinos (Ortovet). O

escore de condição corporal (ECC) foi determinado visualmente e por meio de palpação utilizando

uma escala variando de 1 (animal extremamente emaciado) a 9 (animal extremamente obeso)

desenvolvida por Henneke et al. (1983).

Programa de treinamento funcional

Previamente ao início da sessão do treinamento funcional, os animais foram aquecidos ao

passo durante 10 minutos, conduzidos pelo cabresto. Os exercícios funcionais foram realizados três

vezes por semana em dias alternados, de acordo com a metodologia de Stubbs e Clayton (2008) e

Oliveira (2017), durante 90 dias. Foram selecionados exercícios funcionais visando fortalecimento

da musculatura do cinturão torácico, epaxial e pélvica, bem como alongamento dos segmentos

apendiculares, com objetivos de melhorar a qualidade de suporte do dorso e amplitude da passada

dos animais durante o patrulhamento.

Para o fortalecimento do cinturão torácico foi realizado o exercício de levantamento do

esterno, por meio de aplicação manual de pressão na linha média ventral dos músculos peitorais. Este

exercício foi conduzido visando o fortalecimento dos músculos do cinturão torácico (trapézio, serrátil

cervical e torácico, subclávio e peitoral) (Figura 2). Adotaram-se cinco repetições com duração de

cinco segundos cada.

FIGURA 2 - Ilustração do exercício para fortalecimento do cinturão torácico: 1 - região torácica com curvatura normal; 2 - levantamento da região torácica durante estímulo.

1 2

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29

Para o fortalecimento da musculatura epaxial foram aplicados exercícios de mobilização

dinâmica que consistiram em: extensão cervical; flexão cervical longitudinal (cabeça no peito, cabeça

entre os carpos, cabeça entre os cascos) e flexão cervical lateral (cabeça na espádua, cabeça na patela

e cabeça no jarrete) para os lados direito e esquerdo (Figura 3). Foram adotadas cinco repetições com

duração de cinco segundos cada. Estes exercícios foram realizados com o auxílio de um petisco

(cenoura) para que os animais assumissem a postura correta dos exercícios e se mantivessem na

posição ideal durante o tempo requerido.

FIGURA 3 - Ilustração dos exercícios de fortalecimento da musculatura epaxial: 1 – extensão do pescoço; 2 – cabeça no peito; 3 – cabeça entre os carpos; 4 – cabeça entre os cascos; 5 – cabeça na espádua; 6 – cabeça

na patela; 7 – cabeça no jarrete.

1

2 3 4

5 6 7

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30

Para fortalecimento da musculatura pélvica foi realizado o exercício de desequilíbrio

dinâmico denominado spinning. Este exercício consistiu em encorajar o animal a realizar um pequeno

círculo ao passo de forma a cruzar seus membros pélvicos durante o movimento. Adotaram-se dez

voltas completas para cada lado, direito e esquerdo (Figura 4).

FIGURA 4 - Ilustração do exercício de equilíbrio dinâmico: spinning para o lado direito.

Para o alongamento passivo foram realizados exercícios de protração dos membros torácicos

e pélvicos e cruzamento dos membros torácicos (Figura 5). Foram realizadas 3 repetições com

duração de 30 segundos cada.

FIGURA 5 - Ilustração dos exercícios de alongamento do segmento apendicular: 1 – prostração do membro anterior; 2 – protração do membro posterior; 3 – cruzamento dos anteriores.

Avaliação biométrica da musculatura epaxial

A avaliação biométrica da musculatura consistiu na determinação da espessura (cm) do

músculo Longíssimus Dorsi e da área (cm²) transversal total do Musculus Multifidus. Para isso, foi

utilizado um aparelho de ultrassom (Honda electronics, HS-1500) com transdutor linear de 3 MHz e

probe de 12 cm de comprimento. As regiões previamente submetidas às avaliações foram limpas com

água e sabão e, após secagem completa do local, foi utilizado gel próprio para ultrassonografia para

melhorar a qualidade das imagens obtidas. Durante este procedimento os animais foram mantidos

1 2 3

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31

sobre piso plano e pavimentado, com os quatro membros apoiados no solo e contidos por meio de

cabrestos apenas (OLIVEIRA et al., 2014).

As imagens foram obtidas com a probe orientada transversalmente à linha média dorsal em

um ângulo de 45º aproximadamente (STUBBS et al., 2011). Para obtenção da imagem do músculo

Longíssimus dorsi a probe foi posicionada entre os dois últimos processos transversos torácicos (T17-

T18) (D’ANGELIS et al., 2007), para Musculus multifidus utilizou-se a quinta vértebra lombar (L5)

como o trabalho de Stubbs et al. (2011) (Figura 6). As imagens obtidas foram salvas e posteriormente

avaliadas em computador com auxílio do software IMAGEJ®.

FIGURA 6 - Imagem ilustrativa da avaliação ultrassonográfica dos músculos Longissimus Dorsi e Musculus

Multifidus no lado esquerdo (E) dos animais.

As avaliações ultrassonográficas foram realizadas nos lados esquerdo e direito do corpo dos

animais para que, desta forma, também fosse determinada a existência ou não de simetria muscular

no animal.

Avaliações cinemáticas lineares

Após aquecimento ao passo durante dez minutos, os animais foram conduzidos, com auxílio

de cabresto, até uma pista plana com piso de areia onde foram feitas filmagens utilizando câmera

digital de alta resolução (Sony cyber-shot DSC-H300). A câmera foi posicionada sobre um tripé,

cerca de 10 metros de distância do animal, e o zoom ajustado de forma que fossem capturadas de 2 a

3 passadas do animal. Os vídeos foram feitos em duplicatas para cada andamento, passo e trote. Todas

as filmagens foram realizadas no lado esquerdo do animal, de forma a padronizar a metodologia

(MYASHIRO, 2012). Os valores médios considerando as duas filmagens, para cada andamento,

foram utilizados nas análises estatísticas.

Os vídeos obtidos foram avaliados em computador com auxílio do programa Kinovea® versão

0.8.15 (MIYASHIRO, 2012) para determinação do comprimento de passada e distância da passada

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(OLIVEIRA et al., 2015). Para isto, uma régua de madeira de 1,0m de comprimento foi utilizada no

cenário das filmagens para calibração do programa e determinação das distâncias (MIYASHIRO,

2012).

O comprimento de passada foi definido como a distância percorrida por um mesmo membro

ao tocar no solo duas vezes consecutivas, neste caso considerou-se o membro posterior esquerdo

como referência (PROCÓPIO, 2005; MIYASHIRO, 2012) (Figura 7).

FIGURA 7 - Imagem ilustrativa da medida linear do comprimento da passada.

A distância da passada foi definida como a distância máxima obtida entre as pinças dos cascos

dos membros anterior e posterior, ambos do lado esquerdo, quando apoiados no solo sucessivamente

(Figura 8). Para análise de distância da passada foram adotadas três classificações: ultrapegada

(quando o casco do membro pélvico aterrissava a frente do local onde o casco torácico ipsilateral

estava anteriormente apoiado no solo) gerando valores positivos; sobrepegada (quando o casco do

membro pélvico aterrissava exatamente no local onde o casco torácico estava anteriormente) gerando

valores iguais a zero; e retropegada (quando o casco do membro pélvico aterrissava atrás do local

onde estava anteriormente o casco do membro torácico) gerando valores negativos, conforme descrito

por Oliveira et al. (2015).

FIGURA 8 - Imagem ilustrativa da medida linear da distância da passada.

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33

Avaliação comportamental

O comportamento dos animais foi avaliado antes, durante e após o trabalho de patrulhamento,

uma vez ao mês, durante todo o período experimental. Para isso, foi aplicado um questionário aos

cavaleiros/amazonas que formavam os conjuntos com os animais do experimento. Os

cavaleiros/amazonas foram previamente treinados para que se familiarizassem com a definição de

cada comportamento.

O questionário foi adaptado de acordo com a metodologia descrita por Pessoa et al. (2016),

considerando os seguintes comportamentos:

Alerta: animal com pescoço e orelhas eretas direcionadas ao objeto e/ou pessoa de interesse;

Assustado: animal se assusta facilmente e/ou reage com medo a determinadas situações e/ou

objetos;

Curioso: animal demonstra interesse por objetos, pessoas ou animais que se aproximam, não há

medo nem agressividade;

Distraído: animal desvia a atenção para outras situações que não seja a colocação/retirada dos

equipamentos e comandos de equitação durante o trabalho;

Nervoso: animal excitado e de difícil controle, alterna os andamentos, pode ou não demonstrar

agressividade contra objetos, animais ou pessoas, apresenta mudanças bruscas de comportamento, dá

coices, murcha as orelhas e/ou tenta morder durante a colocação/retirada dos equipamentos;

Sonolento: animal cabisbaixo com olhos parcial ou totalmente fechados, podendo as orelhas

estarem posicionadas horizontalmente;

Teimoso: animal fica girando ao ser montado, tenta evitar a colocação ou retirada dos

equipamentos, durante o patrulhamento reluta em obedecer a determinados comandos, neste caso não

há sinais de medo ou agressividade;

As frequências de ocorrência de cada um dos sete comportamentos avaliados foram

determinadas e classificadas dentro de uma escala de 1 a 5, onde:

1 = NUNCA: tal comportamento nunca era observado;

2 = RARAMENTE: tal comportamento raramente era observado;

3 = OCASIONALMENTE: tal comportamento ocasionalmente era observado;

4 = FREQUENTEMENTE: tal comportamento era observado na maior parte do tempo;

5 = EXTREMAMENTE: tal comportamento era observado durante todo o tempo.

Análises estatísticas

Os dados obtidos foram avaliados estatisticamente pelo programa Statistical Analysis

Systems® (SAS, 2015). Os efeitos fixos do tratamento (com ou sem treinamento funcional),

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características musculares, biomecânica e comportamental, foram analisados por meio de análise de

variância considerando o modelo misto (PROC MIXED) após teste de normalidade dos dados. Foi

considerado como erro aleatório o animal dentro de tratamento. As médias das características

musculares e biomecânica foram comparadas pelo teste F e as médias das características

comportamentais pelo teste de Student, considerando 5% de significância.

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35

1.5 RESULTADOS

Características biométricas musculares

O músculo Longissimus Dorsi, tanto do lado esquerdo quanto do lado direito do corpo do

animal, não apresentou aumento de espessura com a realização dos exercícios funcionais, ou seja,

não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos (Tabela 1).

Contudo, a área transversal (cm²) do Musculus Multifidus foi maior (P<0,05) nos animais

submetidos ao programa de treinamento funcional, para os lados direito e esquerdo (Tabela 1).

Não foi observado diferença (P>0,05) quanto a simetria entre lados esquerdo e direito do LD

e MM, ou seja, não houve diferença no tamanho destes músculos ao se comparar os dois lados do

corpo do animal.

Tabela 1 - Média e desvio padrão da espessura (cm) do Longissimus Dorsi e área transversal total (cm2) do Musculus Multifidus, nos lados direito (D) e esquerdo (E) do corpo de equinos submetidos ou não a treinamento funcional.

Variável Sem Treinamento Funcional Com Treinamento funcional Valor de P*

LDD 6,825 ± 0,52 6,858 ± 0,54 0,7857

LDE 6,801 ± 1,39 6,918 ± 1,39 0,8860

MMD 4,931 ± 1,92 5,675 ± 1,92 0,0161

MME 4,641 ± 1,82 5,452 ± 1,82 0,0057

*P = probabilidade.

Avaliações cinemáticas lineares

O comprimento de passada ao passo (CPp) e ao trote (CPt) diferiram entre os tratamentos

(P<0,05), os animais submetidos ao treinamento funcional apresentaram maior (P<0,05) CPp e CPt

quando comparados àqueles que não realizaram o treinamento (Tabela 2).

A distância da passada ao passo (DPp) e ao trote (DPt) diferiu entre os tratamentos (P<0,05),

os animais submetidos aos exercícios funcionais apresentaram mais distância de passada ao passo e

ao trote (Tabela 2). Para ambos os tratamentos a DPp foi positiva, ou seja, os animais realizaram a

ultrapegada ao passo. Para a DPt foram encontrados valores negativos para os dois tratamentos,

indicando que todos os animais realizaram a retropegada durante o trote.

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Tabela 2 - Média e desvio padrão do comprimento (cm) da passada ao passo (CPp) e ao trote (CPt) e da distância (cm) da passada ao passo (DPp) e ao trote (DPt) em equinos submetidos ou não a treinamento funcional.

Variável Sem treinamento funcional Com treinamento funcional Valor de P*

CPP

CPT

DPP

DPT

182,125 ± 19,82

221,159 ± 30,62

12,721 ± 12,48

-11,632 ± 12,12

190, 682 ± 24,69

233,505 ± 24,15

18,475 ± 11,79

-5,688 ± 11,94

0,0436

0,0477

0,0131

0,0119

*P = probabilidade.

Características comportamentais

Os comportamentos de alerta, assustado, curioso, distraído e nervoso não diferiram entre os

tratamentos (P>0,05). Entretanto, os animais submetidos ao treinamento funcional apresentaram

menor sonolência e teimosia (P<0,05), como ilustrado na tabela abaixo (Tabela 3).

Tabela 3 - Escore* do comportamento de equinos de trabalho submetidos ou não ao treinamento funcional.

Comportamento Sem treinamento funcional Com treinamento funcional Valor de P**

Alerta 3,30 ± 0,11 3.27 ± 0,12 0,8445

Assustado 2,40 ± 0,10 2,44 ± 0,10 0,7940

Curioso 2,41 ± 0,10 2,45 ± 0,10 0,5618

Distraído 2,55 ± 0,10 2,35 ± 0,11 0,3082

Nervoso 1,76 ± 0,08 1,68 ± 0,08 0,4658

Sonolento 2,26 ± 0,09 1,90 ± 0,09 0,0091

Teimoso 2,53 ± 0,11 2,04 ± 0,12 0,0037

*Escore: 1 = nunca; 2 = raramente; 3 = ocasionalmente; 4 = frequentemente; 5 = o tempo todo tal comportamento foi expresso. **P = Probabilidade.

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37

1.6 DISCUSSÃO

O Longissimus dorsi é considerado o músculo epaxial superficial mobilizador mais importante

do corpo do equino, sendo responsável ainda pela elevação e sustentação da cabeça (RITRUECHAI

et al., 2008). A posição em que se encontra na coluna do cavalo permite que este músculo controle o

movimento do dorso, além de apresentar funções na coluna vertebral de flexão lateral quando ativo

unilateralmente e extensão quando ativo bilateralmente (D’ANGELIS et al., 2007; RITRUECHAI et

al., 2008; PILLINER et al., 2009).

Durante a atividade física o LD é intensamente trabalhado. D’Angelis et al. (2007) avaliaram

doze cavalos puro sangue árabe submetidos a treinamento aeróbico durante 90 dias recebendo ou não

suplementação de creatina e verificaram que a hipertrofia do músculo ocorreu com ou sem a

suplementação de creatina, constatando a eficiência do treinamento e não da suplementação.

O resultado desse estudo corrobora com o achado de Oliveira et al. (2015). Esses autores não

observaram efeito significativo na espessura do LD ao comparar grupo de equinos de equoterapia

submetidos a exercícios de mobilização dinâmica (5,40 e 5,80 cm, no início e ao término do estudo

respectivamente), ginástica laboral (4,94 no início e 5,18 cm ao final do período experimental) e em

animais sedentários (5,26 e 5,02 cm, respectivamente no início e final das avaliações). Ou seja, pode-

se afirmar que os exercícios funcionais aplicados em ambos os estudos não foram eficientes em

promover uma mudança significativa na espessura do LD.

Ainda segundo estes autores, para promover uma alteração significativa no músculo diversos

fatores podem interferir nos resultados, tais como características individuais, tipo, intensidade e

duração da atividade física. A utilização dos cavalos deste trabalho em patrulhamento urbano pode

contribuir para que os animais estivessem mais propensos à uma atrofia muscular dorsal,

provavelmente isto ocorreu pelo fato dos militares passarem longas horas montados sobre esta região.

Segundo Clayton et al. (2010), os exercícios de mobilização dinâmica auxiliam de maneira

bastante efetiva no fortalecimento da musculatura epaxial, mais especificamente na musculatura

profunda, afirmação comprovada pelos resultados encontrados nesse estudo ao identificar um

aumento significativo na área transversal do MM.

O Musculus multifidus é um músculo profundo responsável por estabilizar a coluna vertebral.

Os músculos estabilizadores da coluna são inibidos pela dor, o que resulta em instabilidade das

articulações vertebrais e predispõe o animal à patologias dorso-lombares, por isso se torna importante

a realização de exercícios que ativem a funcionalidade do MM (STUBBS et al., 2011). De acordo

com McGowan et al. (2007), os músculos profundos são ativados no processo de reaprendizado

durante a reabilitação, obtido através da aplicação de exercícios estáticos e dinâmicos (atividades

indolores e controladas).

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38

Resultados semelhantes ao presente estudo foram encontrados por outros pesquisadores.

Stubbs et al. (2011) realizaram exercícios de mobilização dinâmica em equinos durante cinco dias na

semana ao longo de 3 meses. Os autores observaram o aumento na área transversal do MM ao

comparar as medidas iniciais (9,1 e 9,2 cm², lado esquerdo e direito respectivamente) com as finais

(10,6 cm² para o lado esquerdo e 10,6 cm² para o lado direito).

Estes resultados foram semelhantes àqueles encontrados por Oliveira et al. (2015), que

também observaram aumento na área transversal do MM em animais submetidos a ginástica laboral

e mobilização dinâmica quando comparados a animais sedentários após 90 dias de exercícios. Já

Tabor (2015) observou aumento da área transversal do MM a partir de seis semanas após início de

treinamento com exercícios de mobilização dinâmica realizado durante cinco dias na semana ao longo

de 3 meses.

Os valores encontrados para a área transversal do MM foram menores quando comparados

àqueles obtidos por Stubbs et al. (2011) e Oliveira et al. (2015). Isto ocorreu, possivelmente, pelo fato

dos animais do presente estudo apresentaram um MM muito atrofiado devido ao seu tipo de trabalho,

incapaz de estimular o fortalecimento deste músculo, outro fator é a variação natural quanto ao

tamanho muscular entre animais e até mesmo nos diferentes níveis espinhais de cada indivíduo em

particular (MCGOWAN et al., 2007).

Estes resultados diferem de outra pesquisa em que o MM apresentou maior simetria após 90

dias de exercícios funcionais (STUBBS et al., 2011). O treinamento funcional em equinos que

apresentam assimetria muscular promove desenvolvimento muscular e propicia o estabelecimento de

simetria; em equinos que já apresentam simetria, o músculo atrofiado se desenvolve igualmente em

ambos os lados, como observado no presente estudo.

A atrofia muscular pode ser unilateral ou bilateral nos músculos epaxiais, sendo um sinal

clínico de dores lombares. Esse é um dos principais problemas encontrados em equinos atletas capaz

de reduzir seu desempenho atlético devido à menor amplitude dos movimentos e limitação da

flexibilidade (ALLEN et al., 2010; TABOR, 2015).

Em humanos, diversos estudos foram realizados utilizando ultrassonografia para identificar

atrofia unilateral e/ou bilateral, e os resultados encontrados constataram que pacientes sintomáticos

para lombalgia apresentavam atrofia no MM, sendo que as lombalgias eram sempre mais evidentes

no lado onde a atrofia era mais acentuada (HIDES et al., 1996; HIDES et al., 2008). Como não foi

encontrada diferença entre os lados direito e esquerdo dos músculos avaliados neste estudo, mas foi

observada mudança na musculatura para ambos os lados, é possível inferir que a atrofia muscular dos

animais avaliados fosse bilateral.

No entanto, mesmo com essas diferenças entre os trabalhos, em ambos os casos houve uma

hipertrofia significativa desse músculo.

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Apesar de não ter sido verificado efeito significativo sobre a simetria da musculatura epaxial,

pode-se inferir que cavalos submetidos ao treinamento funcional tiveram alterações visuais na postura

de suas linhas dorsais (Figura 9).

FIGURA 9 - Alterações posturais na linha dorsal dos animais submetidos ao treinamento funcional.

Os parâmetros quantitativos da mecânica do movimento equino são: velocidade de

movimento, frequência do passo e comprimento da passada (DVOŘÁKOVÁ et al., 2009). O

andamento é realizado dentro de uma faixa de velocidade limite (CLAYTON, 2016) e comprimento

da passada está relacionado com a velocidade do andamento, ou seja, ao aumentar a velocidade

consequentemente diminui o comprimento da passada e aumenta a frequência do passo, entretanto, é

D0

D0

D0 D60

D60

D90

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possível aumentar a velocidade de movimento e o comprimento da passada ao diminuir a frequência

do passo (HINCHCLIFF et al., 2008; BACK e CLAYTON, 2013).

Quanto mais o cavalo for capaz de aumentar a velocidade e o comprimento do passo sem

aumentar a frequência, melhor será seu movimento (DVOŘÁKOVÁ et al., 2009). A velocidade

média pode aumentar à medida que se aumenta a retração do membro (HASANEINI et al., 2014).

A alteração no CP ao passo depende das alterações na protração e retração do membro

(OLIVEIRA et al., 2015). A retração e protração dos membros pélvicos estão relacionadas com a

flexibilidade e são dependentes da amplitude de movimento (flexão e extensão) da garupa, enquanto

os membros torácicos são dependentes da flexão e extensão da articulação do cotovelo com auxílio

da rotação e deslocamento da escápula (HILL e CROOK, 2010; CLAYTON et al., 2011; OLIVEIRA

et al., 2015). Portanto, a amplitude de movimento melhora com exercícios funcionais, sendo

necessárias atividades físicas que estimulem e fortaleçam a musculatura dessas regiões (CLAYTON

et al., 2011).

Exercícios de alongamento passivo são frequentemente usados para que os cavalos produzam

movimentos eficientes para melhorar elasticidade e flexibilidade, aliviar a dor, prevenir lesões e

melhorar o desempenho atlético. A flexibilidade determina a amplitude de movimento em uma

articulação ou grupo de articulações. Existem evidências que demonstram que o alongamento

aumenta a flexibilidade e que essa é a chave para praticamente todos os movimentos (FRICK, 2010).

De acordo com Haussler (2018) os exercícios de alongamento passivo dos membros apresentam

efeitos relativos sob o comprimento da passada e amplitude do movimento.

Em um estudo realizado por Hill e Crook (2010) observaram um aumento no CP ao realizarem

terapia de massagem nos músculos caudais do membro posterior em equinos. Diferente dos resultados

encontrados por Rose et al. (2009) quando avaliaram o CP ao passo e não observaram diferença após

realização de exercícios de alongamento durante três dias/semana ao longo de oito semanas, estes

autores utilizaram em cada sessão duas repetições de 10 e 20 segundos sucessivamente. Nesse estudo,

os exercícios de alongamento dos segmentos apendiculares foram eficientes em promover maior

aumento no CP.

Em outro estudo, Oliveira et al. (2015) realizaram exercícios de mobilização dinâmica e

ginástica laboral (extensão cervical, flexão cervical longitudinal e flexão cervical lateral, flexão

lateral da pélvis, caminhada sobre obstáculos, recuo e spinning) durante 90 dias. Estes autores

observaram diferença no CP ao passo no grupo submetido a ginástica laboral, valores superiores

comparado aos grupos submetidos somente aos exercícios de mobilização dinâmica e animais

sedentários.

Desta forma pode-se dizer que a execução de exercícios para o alongamento e fortalecimento

da musculatura dorsal é capaz de promover melhorias na cinemática linear dos equinos. Os resultados

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encontrados por Oliveira et al. (2015) corroboram com aqueles obtidos neste trabalho, estes autores

também realizaram exercícios para os músculos epaxiais. Entretanto, foi adicionado ao programa de

treinamento com ginástica localizada sobre o músculo abdominal reto, para isso os animais foram

submetidos a caminhadas sobre obstáculo e recuo, obtendo maiores diferenças e valores de

comprimento de passada àqueles observados no presente estudo. Possivelmente o músculo abdominal

reto do equino promove maior protração pélvica e, consequentemente, um aumento no comprimento

da passada.

Já as alterações na DP dependem de alterações do CP em todos os andamentos (CLAYTON,

1995; PILLINER et al., 2009). A DP ao passo foi semelhante àquela encontrada por Oliveira et al.

(2015), estes autores concluíram que somente a ginástica laboral promoveu aumento da DP quando

comparada com a mobilização dinâmica e animais sedentários. Esses autores observaram valores

negativos na DP semelhante a esse estudo, indicando que ambos os tratamentos realizaram

retropegada.

As técnicas desses exercícios variam de acordo com a direção, amplitude, velocidade, duração

e a força aplicada, portanto a combinação de posições, técnicas e duração das sessões de alongamento

são difíceis de definir qual a mais eficaz para aumentar a amplitude de movimento (HAUSSLER,

2016). Há necessidade de mais pesquisas para melhor elucidar os benefícios do alongamento sobre a

cinemática dos equinos, e assim, promover melhoria na flexibilidade.

Os equinos são animais que apresentam aversão por coisas ou lugares que lhe causaram dor,

e, em decorrência disso, expressam respostas emocionais (TAYLOR et al., 2002). Essas respostas

podem ser comportamentos como agressividade, medo, teimosia ou ansiedade. No presente estudo,

os animais submetidos ao treinamento funcional apresentaram menor sonolência e teimosia quando

comparado ao outro grupo, ou seja, apresentaram-se mais receptivos às ajudas do cavaleiro.

A menor sonolência é um resultado positivo para animais de patrulhamento, pois esta

mudança comportamental reflete em uma maior atenção do animal aos comandos do

cavaleiro/amazona, maior disposição e rapidez em responder aos comandos. Muitas vezes um animal

é rotulado como teimoso erroneamente, sendo essa recusa do animal em obedecer a determinados

comandos uma forma de evitar uma sensação desagradável de dor. Segundo Dyson et al. (2018),

equinos que apresentam resistência aos comandos são classificados como problemáticos e, como

consequência, muitas vezes acabam sendo punidos e/ou expostos à treinamento ainda mais intenso.

Isso ocorre por falha do montador/treinador em reconhecer que a razão pela resistência do animal é a

dor, contudo, o reconhecimento da dor em animais é muito complexo e necessita de avaliações

comportamentais associadas com avaliações fisiológicas e de desempenho (WAGNER, 2010;

STUBBS et al., 2011).

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Equinos com problemas vertebrais apresentavam comportamento de agressividade em relação

aos humanos (FUREIX et al., 2010). Isso demonstra que animais que sentem algum desconforto

podem demonstrar alterações comportamentais. Entretanto, é importante salientar que a dor é

subjetiva e os animais apresentam respostas individuais variadas ao expressá-la, sendo assim, difícil

de avaliar quando o animal está com dor sem um histórico prévio do seu comportamento e do seu

temperamento (GOFF, 2016).

Considerando estes fatores, os questionários aplicados no presente estudo foram respondidos

sempre pelo mesmo cavaleiro/amazona, uma pessoa que possui um convívio intenso e prolongado

com o animal avaliado. Além disso, os militares estão familiarizados com o comportamento do seu

conjunto, indicando que possuem grande capacidade de perceber qualquer alteração comportamental

que o animal possa apresentar.

Nenhum comportamento foi expresso de forma máxima em nenhum dos grupos

experimentais. Estes valores são similares aos encontrados por Kim et al. (2013), que avaliaram o

comportamento de 114 equinos do Instituto Nacional de Ciência Animal, e Gontijo et al. (2014) que

estudaram o temperamento de equinos da Cavalaria da Polícia Militar do Paraná utilizaram escore de

1 (menor intensidade) a 3 (maior intensidade).

Vale salientar a extrema importância da realização contínua e frequente dos exercícios

funcionais para que os benefícios alcançados relacionados à capacidade de suporte do dorso,

qualidade da passada e comportamento dos equinos não apresente um retrocesso.

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1.7 CONCLUSÕES

Equinos na função de patrulhamento submetidos a um programa de treinamento funcional

desenvolvem hipertrofia da musculatura epaxial de sustentação da coluna, tornando-os mais

preparados para atividade física e promovendo melhorias na amplitude da passada. Além disso, a

realização de exercícios funcionais é capaz ainda de promover mudanças positivas na expressão do

comportamento dos animais, reduzindo a sonolência e teimosia ao longo do dia de trabalho.

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