Exemplos de Narradores

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Exemplos de narradores Narrador observador: “Era uma vez em Felicidade um velho tão unha-de-fome que andava uma semana com o chinelo esquerdo, pé direito com sapato - para ninguém dizer que ele era pobre. Depois andava outra semana com o chinelo direito, o pé esquerdo com sapato: chinelo é mais barato e, assim, os sapatos duravam anos. Até que um dia ele morreu, sem desconfiar que aquela dor nas costas era de andar com um pé mais alto que o outro.(Domingos Pellegrini: “A árvore que dava dinheiro”) Narrador onisciente: “Se o ronco de um quadrimotor rompe a calma da manhã, os olhos da velhinha se erguem assustados do canteiro de couves para o céu (...) e então ela olha para os canteiros, seus canteiros, que ela rega toda manhã e de tempos em tempos cava com a enxadinha e semeia, ela olha e tem medo, seu coração, que já morreu em muitas mortes e que sempre ressuscitou com a valentia de uma planta rebelde, parece agora temer coisas jamais vistas, coisas obscuras e terríveis que lhe anunciam o ronco do avião sobre sua cabeça, as notícias que os olhos, num intervalo do croché, vão tentando decifrar no jornal largado sobre a mesa, ou os ouvidos atentos recolhem das conversas.” (Luiz Vilela:Preocupações de uma velhinha) Narrador intruso: Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faça-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais pode saltar o capítulo; vá direto a narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos. (Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas)

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Exemplos de narradores

Narrador observador:Era uma vez em Felicidade um velho to unha-de-fome que andava uma semana com o chinelo esquerdo, p direito com sapato - para ningum dizer que ele era pobre. Depois andava outra semana com o chinelo direito, o p esquerdo com sapato: chinelo mais barato e, assim, os sapatos duravam anos. At que um dia ele morreu, sem desconfiar que aquela dor nas costas era de andar com um p mais alto que o outro.(Domingos Pellegrini:A rvore que dava dinheiro)

Narrador onisciente:Se o ronco de um quadrimotor rompe a calma da manh, os olhos da velhinha se erguem assustados do canteiro de couves para o cu (...) e ento ela olha para os canteiros, seus canteiros, que ela rega toda manh e de tempos em tempos cava com a enxadinha e semeia, ela olha e tem medo, seu corao, que j morreu em muitas mortes e que sempre ressuscitou com a valentia de uma planta rebelde, parece agora temer coisas jamais vistas, coisas obscuras e terrveis que lhe anunciam o ronco do avio sobre sua cabea, as notcias que os olhos, num intervalo do croch, vo tentando decifrar no jornal largado sobre a mesa, ou os ouvidos atentos recolhem das conversas. (Luiz Vilela:Preocupaes de uma velhinha)

Narrador intruso:Que me conste, ainda ningum relatou o seu prprio delrio; faa-o eu, e a cincia mo agradecer. Se o leitor no dado contemplao destes fenmenos mentais pode saltar o captulo; v direto a narrao. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que interessante saber o que se passou na minha cabea durante uns vinte a trinta minutos.(Machado de Assis:Memrias Pstumas de Brs Cubas)

Narrador testemunha:Acaminho de casa, entro num botequim da Gvea para tomar um caf junto ao balco. Na realidade estou adiando o momento de escrever(...)Ao fundo do botequim umcasalde pretos acaba de sentar-se, numa das ltimasmesas demrmoreao longo daparede de espelhos.(...)Passo a observ-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garom, inclinando-se para trs na cadeira, e aponta no balco um pedao de bolo sob a redoma.(Fernando Sabino:A ltima Crnica)

Narrador Protagonista:"Era um menino triste. Gostava desaltar comos meus primos e fazer tudo o que eles faziam. Metia-me com os moleques por toda parte. Mas, no fundo, era um menino triste. s vezes dava para pensar comigo mesmo, e solitrio andava por debaixo dasrvores da horta, ouvindo sozinho a cantoria dos pssaros." (Jos Lins do Rego:Menino do Engenho)

Narrador modo dramtico:-- bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?-- Sei dizer no senhor: no tomo caf.-- Voc dono do caf, no sabe dizer?-- Ningum tem reclamado dele no senhor.-- Ento me dcaf com leite, po e manteiga.-- Caf com leite s se for sem leite.-- No tem leite?-- Hoje, no senhor.(Fernando Sabino:Conversinha Mineira)