EXCELÊNCIA ESCOLAR E FORMAÇÃO CONTINUADA EM GUERRA ELETRÔNICA

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    ESCOLA DE APERFEIOAMENTODE OFICIAIS DA AERONUTICA

    DIVISO DE ENSINO

    RELATRIO DE PESQUISA

    EXCELNCIA ESCOLAR E FORMAO CONTINUADA EM

    GUERRA ELETRNICA NA FORA AREA BRASILEIRA

    Ttulo do Trabalho

    EDUCAO NA FORA AREA

    Linha de Pesquisa

    282CDIGO

    CAP 2/08

    Curso e Ano

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    RELATRIO DE PESQUISA

    EXCELNCIA ESCOLAR E FORMAO CONTINUADA EM

    GUERRA ELETRNICA NA FORA AREA BRASILEIRA

    Ttulo do Trabalho

    EDUCAO NA FORA AREA

    Linha de Pesquisa

    13/10/2008

    DATA

    CAP 2/08

    Curso

    Este documento resultado dos trabalhos do aluno do Curso de

    Aperfeioamento da EAOAR. Seu contedo reflete a opinio do autor,

    quando no citada a fonte da matria, no representando,

    necessariamente, a poltica ou prtica da EAOAR e do Comando da

    Aeronutica.

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    RESUMO

    Este trabalho buscou avaliar a influncia da harmonizao curricular do ciclo de

    educao continuada para a rea de Guerra Eletrnica (GE) sobre a excelncia

    escolar apresentada pelos alunos do Curso de Especializao em Anlise de

    Ambiente Eletromagntico (CEAAE) no mdulo tcnico durante o perodo de 1998 a

    2002. Para isso, utilizaram-se os mtodos de pesquisa descritiva, atravs de

    pesquisa documental e pesquisa bibliogrfica. Foram consultados documentos

    oficiais administrativos e normativos relacionados ao gerenciamento dos cursos,

    artigos em revistas especializadas das reas operacional e acadmica, bem como

    livros da rea de educao e da pesquisa educacional. Com a finalidade derespaldar a pesquisa, foram apresentados conceitos a respeito da teoria do

    currculo, dentre as quais se destaca a abordagem curricular por competncias de

    Philippe Perrenoud. Esta abordagem enfatiza a gnese do xito/fracasso escolar, e

    desta forma permite analisar as relaes entre a harmonizao curricular e a

    excelncia escolar, variveis estudadas neste trabalho. Para possibilitar um

    encadeamento lgico das idias foi realizada uma retomada das origens do CEAAE

    como passo inicial de um programa de institucionalizao da excelncia nos

    domnios da guerra na Fora Area Brasileira (FAB). Foram identificadas as

    caractersticas especiais do profissional que o CEAAE forma e o impacto de suas

    aes sobre o progresso da FAB. A partir da constatao da maturidade do modelo

    foi ressaltada a oportunidade de imprimir um olhar crtico sobre a dinmica do curso

    no sentido de identificar necessidades e/ou possibilidades de melhora. A estratgia

    escolhida para efetivar este olhar crtico foi o estudo da harmonia curricular entre as

    diversas fases do ciclo de formao continuada em GE e sua relao com a

    excelncia escolar. Finalmente, aps criteriosa anlise e interpretao dos dados,respaldada no embasamento terico apresentado, chegou-se concluso que a

    Excelncia Escolar apresentada pelos alunos do mdulo tcnico do CEAAE no

    perodo de 1998 a 2002 foi significativamente influenciada pela Harmonizao

    Curricular do ciclo de educao continuada em GE. Ressalta-se que os resultados

    obtidos a partir dos dados empregados so vlidos para o perodo de 1998a 2002.

    Palavras-chave: guerra eletrnica, currculo, educao continuada.

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    ABSTRACT

    This study aimed to evaluate the influence of curriculum harmonization of the cycle of

    continuing education for the area of Electronic Warfare on the school excellence

    displayed by the students of the Curso de Especializao em Anlise de Ambiente

    Eletromagntico (CEAAE) in technical module during the period of 1998 to 2002. To

    do this, using the methods of descriptive research, through documental and

    bibliographical research. Were consulted official documents and administrative

    regulations related to the management of courses, articles in magazines specialized

    areas of operational and academic as well as books in the area of education andeducational research. Aiming at to help to research, concepts were presented

    regarding the theory of curriculum, among which stands out the approach for

    curriculum skills of Philippe Perrenoud. This approach emphasizes the genesis of the

    success / failure at school, and thus allows consider relations between the curriculum

    harmonization and school excellence, variables studied in this work. To enable a

    logical sequence of ideas was made a resumption of the genesis of the CEAAE as

    an initial step in a program of institutionalization of excellence in the fields of war in

    the Brazilian Air Force (FAB). We identified the special characteristics of the

    professional manner by CEAAE and that the impact of their actions on the progress

    of FAB. From the observation of the maturity of the model was emphasized the

    opportunity to print a critical eye on the momentum of progress towards identifying

    needs and / or opportunities for improvement. The strategy chosen to carry out this

    critical view was the study of harmony between different curriculum stages of

    continuing education at EW and its relationship with the school excellence. Finally,

    after careful analysis and interpretation of data, accompanied the theoretical basispresented, it was concluded that the School Excellence presented by students during

    the period of 1998 to 2002 was significantly influenced by Harmonizing Curriculum of

    the continued education in Electronic Warfare. It is emphasized that the results

    obtained from the data used are valid for the period from 1998 to 2002.

    Key-words: electronic warfare, curriculum, continuing education

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Distribuio dos alunos por categoria: 1998 a 2002 .............. 48

    Figura 2 Distribuio de freqncias .................................................... 50

    Figura 3 Mdia Aritmtica da Excelncia Escolar por categoria .......... 51

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Anlise de pr-requisitos para o mdulo tcnico do CEAAE .. 39

    Quadro 2 Comparao entre pr-requisitos e contedos do mdulo

    operacional .............................................................................

    41

    Quadro 3 Comparao entre pr-requisitos e contedos do EENEM ... 42

    Quadro 4 Comparao entre pr-requisitos e contedos do Estudo

    Dirigido ...................................................................................

    42

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distribuio do corpo discente do CEAAE por categoria ....... 44

    Tabela 2 Clculo da Harmonizao Curricular: Corpo da Armada ....... 46

    Tabela 3 Clculo da Harmonizao Curricular: Quadro de Aviadores .. 47

    Tabela 4 Distribuio de freqncias .................................................. 49

    Tabela 5 Dados para clculo de 2 ....................................................... 52

    Tabela 6 Ordenando os dados ............................................................. 54

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    LISTA DE EQUAES

    Equao 1 Mdia Aritmtica x .................................................................. 49

    Equao 2 Desvio Padro ..................................................................... 50

    Equao 3 ndice de Contingncia C ........................................................ 51

    Equao 4 Valor 2 .................................................................................. 52

    Equao 5 Correlao vxy .......................................................................... 53

    Equao 6 Valor H .................................................................................... 54

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    As abreviaturas relacionadas encontram-se no corpo do presente trabalho e

    significam:

    AFA Academia da Fora Area

    CA Corpo da Armada

    CCSIVAM Comisso de Coordenao do Sistema de Vigilncia da Amaznia

    CEAAE Curso de Especializao em Anlise de Ambiente Eletromagntico

    CEAGAR Centro de Estudos e Avaliao da Guerra Area

    CGEGAR Centro de Guerra Eletrnica do COMGAR

    C&T Cincia e Tecnologia

    CIAAR Centro de Instruo e Adaptao da Aeronutica

    COGE Curso Operacional de Guerra Eletrnica

    COMGAR Comando-Geral de Operaes Areas

    CPEA Curso de Ps-Graduao Lato Sensuem Eletromagnetismo Aplicado

    CTA Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial

    DEPENS Departamento de Ensino da Aeronutica

    EAOAR Escola de Aperfeioamento de Oficiais da AeronuticaECEMAR Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronutica

    EEAr Escola de Especialistas de Aeronutica

    EMAER Estado-Maior da Aeronutica

    EN Escola Naval

    FAB Fora Area Brasileira

    FN Fuzileiros Navais

    GE Guerra EletrnicaGITE Grupo de Instruo Ttica e Especializada

    ITA Instituto Tecnolgico de Aeronutica

    LabGE Laboratrio de Pesquisa em Guerra Eletrnica e Vigilncia

    Eletromagntica da Amaznia

    PDN Poltica de Defesa Nacional

    PFCEAB Programa de Fortalecimento do Controle do Espao Areo

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    PPGAO Programa de Ps-Graduao em Aplicaes Operacionais

    PROEC Pr-reitoria de Extenso e Cooperao

    SIGE Simpsio de Aplicaes Operacionais em reas de Defesa

    SISGEA Sistema de Guerra Eletrnica da Aeronutica

    TI Trabalho Individual de Concluso do CEAAE

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    SUMRIO

    INTRODUO .............................................................................................. 111 EDUCAO EM GUERRA ELETRNICA ............................................... 17

    2 EDUCAO CONTINUADA: UMA DCADA DE CEAAE........................ 24

    2.1 HARMONIZAO CURRICULAR ........................................................... 24

    2.2 EXCELNCIA ESCOLAR ........................................................................ 30

    2.3 DIFERENAS INDIVIDUAIS: UMA QUESTO A CONSIDERAR .......... 33

    3 ANLISE DO MODELO CEAAE ............................................................... 37

    3.1 MDULO TCNICO ................................................................................ 37

    3.2 MDULO OPERACIONAL ...................................................................... 40

    3.3 ELEVAO DE NVEL ............................................................................ 40

    3.4 OFICIAL DO CORPO DA ARMADA DA MARINHA DO BRASIL ............ 44

    3.5 OFICIAL DO QUADRO DE AVIADORES DA AERONUTICA .............. 45

    3.6 CINCO ANOS DE EXCELNCIA ESCOLAR NO CEAAE ...................... 48

    CONCLUS O ............................................................................................... 56

    REFERNCIAS ............................................................................................. 59

    GLOSSRIO ................................................................................................. 61

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    INTRODUO

    A evoluo conceitual e tecnolgica da Fora Area Brasileira (FAB)

    ocorreu, nos seus primrdios, de maneira espordica, concomitantemente com osciclos de reaparelhamento (COMGAR, 2006). Surpreende, portanto, que nos dias

    atuais possamos nos deparar com notcias como esta:

    Em uma misso da CRUZEX III, dois Mirage 2000N do Arme de lAir,operando sob a vigilncia de um E-3F, e escoltados por Mirages 2000Cfranceses, foram abatidos pelos "agressores" do 1/14 GAV operandodesde a Base de Campo Grande (MS). [...] Mais surpreendente quenenhum sensor francs detectou: ou os F-5M ou o lanamento dos msseisou a presena do R99A. [...] Agora a FAB usava o quarteto: F-5M, MssilBVR Derby, R99A e o datalink. A vantagem ttica obtida pelos F-5M frente

    aos demais foi de tal modo superior, que impactou profundamente, no sno perodo da operao como alguns movimentos de governos Latino-americanos. (DEFESA@NET, 2006)

    Este tipo de notcia leva ao seguinte questionamento: como a FAB

    conseguiu atingir este nvel de operacionalidade e eficincia?

    A resposta para esta questo est ligada a institucionalizao da excelncia

    no campo da guerra. Para que possamos entender este conceito ser necessrio

    retroceder no tempo e procurar suas origens histricas.

    Por volta de 1806, os exrcitos Prussianos foram praticamente dizimadospelas tropas de Napoleo, apesar de possurem a mesma competncia e o mesmo

    nvel de treinamento que os mantiveram com a fama de exrcito invencvel nos

    cinqenta anos anteriores. Nesta poca, um grupo de cinco oficiais responsveis

    pela reconstruo do exrcito da Prssia, dentre os quais se inclua o ento Major

    Karl Von Clausewitz, notou a dependncia que os exrcitos tinham, at aquela

    poca, do comando de gnios militares, tal qual Napoleo (COSTA, 2003).

    Este grupo entendeu que a nica maneira de eliminar esta dependncia

    seria atravs da diluio desta genialidade pela organizao militar como um todo,

    ou seja, atravs da Institucionalizao da Excelncia.

    Nos conflitos modernos, a necessidade desta institucionalizao se torna

    mais acentuada em funo da onipresena da tecnologia na arte da guerra, onde o

    preo da obsolescncia cada vez mais alto. No contexto da FAB, iniciativas como

    a criao do Programa de Fortalecimento do Controle do Espao Areo (PFCEAB)

    revestem-se de rara importncia em virtude do desenvolvimento tecnolgico que

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    trazem consigo.

    Mas no basta possuir a tecnologia mais moderna. Na guerra de Yom

    Kippur, por exemplo, as Foras Armadas rabes possuam superioridade numrica

    e at mesmo tecnolgica. No entanto, foram as Foras Armadas de Israel que

    saram vitoriosas, pois possuam recursos humanos melhor capacitados, capazes deinovar, desenvolver, entender, explorar e causar assimetria no espao de batalha.

    Ao invs de se limitar a formar recursos humanos apenas para repetir estratgias,

    modelos, mtodos, tticas e procedimentos operacionais, eles buscaram a

    excelncia na rea de defesa (CGEGAR, 2003).

    Seguindo este exemplo, a FAB se lanou em 1998 na Busca de Excelncia,

    capacitando militares e civis para o exerccio de atividades de anlise, sntese,

    avaliao, pesquisa e desenvolvimento de concepes, mtodos, modelos,

    conceitos tticos, procedimentos e tecnologias, todas relacionadas com aplicaes

    operacionais. O CEAAE foi o passo inicial deste processo, que hoje conta tambm

    com o Programa de Ps-Graduao em Aplicaes Operacionais (PPGAO).

    Ao completar uma dcada de prtica do modelo, o CEAAE atingiu um nvel

    de maturidade que habilita e incentiva a realizao de estudos visando conhecer em

    nveis mais elevados sua dinmica e desta forma permitir a realizao dos ajustes

    necessrios ao seu aperfeioamento.

    A experincia adquirida nos corpos discente e docente do CEAAE temincentivado a reflexo sobre seu papel como processo de Educao Continuada na

    rea de GE. O aprofundamento no conhecimento dos relacionamentos no processo

    ensino-aprendizagem que se obtm desta reflexo pode no apenas subsidiar o

    aperfeioamento do currculo do CEAAE, como servir de apoio metodolgico em

    estudos envolvendo cursos de ps-graduao lato sensu.

    Esta reflexo sobre o CEAAE como processo de Educao Continuada ser

    conduzida nesta pesquisa pela anlise do currculo do ciclo de formao continuadaem GE, composto de curso de formao bsica (Curso de Formao de Oficiais),

    elevao de nvel (estudo dirigido e Estgio de Elevao de Nvel em Estatstica e

    Matemtica EENEM) e formao continuada (mdulo operacional e mdulo

    tcnico do CEAAE).

    A anlise presente neste trabalho estar limitada aos alunos das turmas do

    CEAAE de 1998 a 2002 pertencentes ao Quadro de Engenharia da Aeronutica, ao

    Corpo da Armada (CA) da Marinha do Brasil e ao Quadro de Oficiais Aviadores,

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    sendo que destes ltimos sero analisados apenas os que concluram o curso da

    Academia da Fora Area (AFA) a partir de 1990.

    Esta anlise se inicia pela comparao das disciplinas do mdulo tcnico do

    CEAAE com as disciplinas especializadas do Curso de Graduao em Engenharia

    Eletrnica do ITA, que servir de referencial. O resultado desta primeira etapaconsistiu de um conjunto de disciplinas do Curso Fundamental do ITA, que foram

    identificadas como pr-requisitos de referencia para o mdulo tcnico.

    Na continuao, o mdulo operacional, a elevao de nvel e o curso de

    formao bsica sero comparados com estes pr-requisitos de referencia. A

    quantificao da Harmonizao Curricular ficar restrita apenas a anlise dos cursos

    de formao bsica (ITA, Escola Naval e Academia da Fora Area). Neste trabalho

    o conceito de harmonizao remete ao processo de formao continuada que se

    inicia na formao das competncias bsicas desenvolvidas nos Cursos de

    Formao de Oficiais em reas afins as cincias exatas e engenharia e que so

    empregados como ferramentas para enfrentar o processo de desenvolvimento de

    novas competncias, agora especializadas nos domnios da engenharia eletrnica e

    computao dentro do CEAAE.

    Completada a anlise da Harmonizao Curricular, ser realizada a anlise

    da Excelncia Escolar. O conceito de Excelncia Escolar empregado neste trabalho

    o apresentado por Perrenoud (1999a): ... a excelncia escolar feita, noidealmente, mas tal como julgada dia aps dia, dentro do funcionamento habitual da

    escola ... . Este ser relacionado ao processo de avaliao empregado no CEAAE,

    que se materializa atravs das notas obtidas pelos alunos nas disciplinas do mdulo

    tcnico.

    O questionamento sobre a eficincia do currculo do curso de formao

    bsica do oficial aviador, alvo principal do ciclo de formao continuada em GE na

    Fora Area, foi abordada pela primeira vez por Pires (2001). Na ocasio, Pires(2001) propunha uma retomada de uma capacitao mais tcnica do oficial aviador,

    em detrimento de uma formao humanstica mais voltada para a administrao.

    Sua alegao era a de que esta capacitao mais tcnica seria a chave para o

    desenvolvimento das competncias necessrias a soluo dos problemas

    complexos que o oficial aviador encontraria nos primeiros postos da carreira, onde

    existe uma srie de fatores tecnolgicos intervenientes.

    Pires (2001) argumentava que as atribuies do oficial aviador no incio de

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    carreira estavam inerentemente ligadas ao perfil do engenheiro de operao e por

    vezes a do engenheiro de manuteno. Esta conceituao de nveis de atuao dos

    engenheiros na execuo das suas atividades foi, segundo Pires (2001),

    inicialmente empregada entre os professores da Universidade de So Paulo (USP) e

    acabaram sendo aceitos dentro do Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA) comosendo de senso comum.

    Nesta conceituao, a Engenharia de Operao aquela onde o engenheiro

    responsvel por operar um sistema de maior ou menor complexidade, sendo

    capaz de com esta operao proporcionar o produto para o qual o sistema foi

    projetado. Ele tambm deve ser capaz, segundo Pires (2001), de detectar problemas

    e obter solues imediatas e ainda indicar quando necessria a manuteno.

    J a Engenharia de Manuteno um nvel posterior, onde o profissional

    deve ser capaz de tomar as medidas corretivas e preventivas necessrias para que

    o sistema continue funcionando, de acordo com as caractersticas de desempenho

    para o qual foi projetado. Pires (2001) ressalta que neste nvel no h a

    preocupao de modificar substancialmente o sistema, somente de fazer com que

    ele possa funcionar adequadamente.

    Pires argumenta que uma anlise das atribuies do oficial aviador no

    aspecto operacional dentro do contexto de avanos tecnolgicos constantes, onde a

    aplicao cada vez maior de sistemas eletrnicos computadorizados de operao daaeronave em si e de combate leva o piloto a um ambiente onde necessrio operar

    um sistema complexo, caracteriza-o como um engenheiro de operao.

    Este perfil demanda um conjunto de competncias, ou seja, um conjunto de

    recursos cognitivos (saberes, capacidades, informaes, etc.) para solucionar com

    pertinncia e eficcia uma srie de situaes (PERRENOUD apud SOARES, 2004).

    Segundo Soares (2004), estas competncias, ainda que no possam ser

    vistas, podem ser observadas atravs da manifestao da mobilizao deconhecimentos a fim de enfrentar uma determinada situao.

    Reforando a viso de Pires (2001), Beason (2000) argumenta que a

    natureza sofisticada da Cincia e Tecnologia (C&T) exige a ateno de

    especialistas, o que exige anos de estudo e experincia de pesquisa. Para Beason

    (2000), o piloto da Fora Area precisa ser um oficial tcnico, competente em C&T e

    capaz de compreender e influenciar todas as fases do processo de aquisio do

    cientista que executa a pesquisa bsica ao executivo da indstria que constri o

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    sistema de armamento para obter para a rea operacional o que ela precisa, pois

    ao contrrio de civis, os guerreiros tcnicos fornecem um contexto imediato e

    operacional para concentrar C&T de modo a ter um mximo de utilidade.

    Para compreender o ciclo de formao continuada em GE neste processo de

    capacitao do Guerreiro Tcnico que a Fora Area demanda, necessrio lanarmo das teorias de abordagem curricular. Sperb (1979) ajudar a compreender os

    problemas gerais de currculo atravs do conhecimento de seus fundamentos

    histricos e de suas relaes com os objetivos da educao.

    Bireaud (1995), por sua vez, ajudar a compreender a funo da formao

    continuada, as caractersticas do modelo pedaggico tradicional, bem como os

    fundamentos da pedagogia por objetivos. Recorrer-se- tambm a Gil (2008), que

    ajudar no reconhecimento dos fatores interferentes no processo de aprendizagem,

    bem como na anlise de objetivos e contedos das estruturas curriculares sob

    anlise.

    No aspecto conceitual, a abordagem por competncia encontrar um espao

    especial. Para tanto recorrer-se- tanto a Perrenoud (1999) quanto a Silva (2008)

    para identificar a noo de competncia e sua implicao na construo do

    currculo. O conceito de excelncia escolar e a importncia do processo de

    avaliao escolar no processo de ensino-aprendizagem. Estes conhecimentos sero

    de grande utilidade para a identificao das competncias demandadas pelasdisciplinas do mdulo tcnico do CEAAE a partir do conhecimento da poltica

    educacional do ITA e dos contedos das disciplinas.

    Para atingir o seu objetivo, este trabalho foi estruturado da seguinte forma:

    a) Capitulo 1 Educao em Guerra Eletrnica foram destacados aspectos

    relevantes da problemtica da formao de recursos humanos em GE na FAB,

    evidenciando a correo da construo e implementao do modelo de Ps-

    graduao representado pelo CEAAE. E a partir da constatao de suamaturidade se prope um olhar crtico procurando atingir o conhecimento

    necessrio ao seu aperfeioamento.

    b) Captulo 2 Educao continuada: uma dcada de CEAAE realiza-se uma

    investigao onde o CEAAE analisado como um elo do ciclo de formao

    continuada para a rea de GE na FAB. Esta investigao montada sobre a

    anlise das variveis Harmonizao Curricular e Excelncia Escolar. Esta anlise

    desenvolvida com base no referencial terico da abordagem curricular por

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    competncias de Philippe Perrenoud.

    c) Captulo 3 Anlise do Modelo CEAAE realizada a apresentao e anlise

    dos documentos coletados sobre o currculo e rendimento escolar dos alunos do

    CEAAE de 1998 a 2002. Esta anlise se desenvolve a partir da metodologia

    proposta no Captulo 2, com destaque para o emprego de ferramentasestatsticas de anlise especialmente selecionadas em funo da caracterstica

    psico-pedaggica do trabalho de pesquisa.

    E por fim, so apresentadas as concluses e recomendaes do trabalho.

    A partir desta apresentao inicial possvel vislumbrar uma excitante

    jornada em busca do conhecimento. E como at a mais longa jornada se inicia no

    primeiro passo ...

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    1 EDUCAO EM GUERRA ELETRNICA

    Voar, Combater, Vencer muito mais que entrar em uma aeronave de

    combate, atirar no inimigo e derrub-lo. Vencer a guerra implica em atingir osobjetivos polticos estabelecidos, isto , fazer prevalecer os interesses nacionais.

    Este conceito no apresenta novidade, mas desperta a ateno para a necessidade

    de garantir o domnio sobre os vrios aspectos de um conflito.

    No contexto da Cincia, Tecnologia e Inovao para o combate, destaque

    deve ser dado ao domnio do espectro eletromagntico. Este domnio obtido por

    um conjunto de aes que apiam as operaes militares e que exigem o

    conhecimento sobre as emisses inimigas, contramedidas de comando, controle e

    comunicaes e supresso da defesa area inimiga (ALVES, 1999). Na FAB, esta

    atividade denominada de GE e abrange todos os nveis da guerra.

    Em seu nvel estratgico so definidas polticas de formao e capacitao

    de recursos humanos. Esta capacitao tem por finalidade preparar o pessoal da

    aeronutica para entender melhor e explorar as interaes dos ambientes de guerra.

    Para tanto, os currculos das escolas de formao inicial (AFA, EEAr, ITA),

    adaptao (CIAAR), aperfeioamento (EAOAR) e Comando e Estado Maior

    (ECEMAR) so continuamente atualizados (ALVES, 1999).O Comando-Geral de Operaes Areas COMGAR (rgo central do

    Sistema de Guerra Eletrnica da Aeronutica SIGEA) iniciou um trabalho de

    formao continuada para rea de GE com cursos de curta durao em vrios

    nveis. Entretanto, percebeu que estas aes no foram suficientes para atingir a

    proficincia desejada em anlise de ambiente eletromagntico. Identificou, ento, a

    necessidade de buscar um ensino cientfico que buscasse as bases do

    conhecimento (ALVES, 1999).O COMGAR procurou desta maneira um ensino acadmico, no nvel de ps-

    graduao, que lhe permitisse alcanar a excelncia no domnio de assuntos

    relacionados guerra. Inicialmente este conhecimento foi buscado no exterior,

    atravs de alguns de seus oficiais que foram enviados para os Estados Unidos,

    Inglaterra e Frana para realizar cursos de ps-graduao de carter cientfico e

    operacional. Entretanto, esta iniciativa, apesar de necessria, no foi suficiente para

    garantir a massa crtica necessria para atender as necessidades do SISGEA. Esta

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    18

    deficincia levou o Centro de Guerra Eletrnica do COMGAR CGEGAR

    (atualmente Centro de Estudos e Avaliao da Guerra Area CEAGAR) a procurar

    o ITA para uma parceria na realizao de um curso de ps-graduao em GE

    (ALVES, 1999).

    Esta parceria deu origem a um Programa de Busca de Excelncia criadoem 1998 com o objetivo de capacitar militares e civis para o exerccio de atividades

    de anlise, sntese, avaliao, pesquisa e desenvolvimento de concepes,

    mtodos, modelos, conceitos tticos, procedimentos e tecnologias, todas

    relacionadas com Aplicaes Operacionais (OLIVEIRA, 2008)

    Este programa permitiu que o ITA, o COMGAR e o Estado-Maior da

    Aeronutica (EMAER) desenvolvessem uma parceria em consonncia com as

    Diretrizes do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) que se iniciou com

    a criao do CEAAE atravs da Portaria N 304/GM3, de 07 de maio de 1998

    (OLIVEIRA, 2008).

    O CEAAE, conforme avaliao do COMGAR (RESENDE, 2008), tem

    proporcionado sensvel evoluo nos conceitos operacionais da FAB. Esta viso

    reforada por Oliveira (2008) que destaca a contribuio do curso para a

    consecuo da Poltica de Defesa Nacional (PDN) no que se refere ao atendimento

    as Orientaes Estratgicas para o fortalecimento da capacitao nacional no

    campo da Defesa, bem como na operacionalizao do envolvimento entre ossetores industrial, universitrio e tcnico-cientfico.

    A Doutrina de Defesa Brasileira respalda a organizao acadmica

    estabelecida para o CEAAE na medida que orienta para aes conjuntas

    envolvendo instituies de ensino e pesquisa e organizaes operacionais do

    Ministrio da Defesa com o objetivo de modernizar os meios e a concepo de

    emprego para melhor defender os interesses do Brasil (OLIVEIRA, 2008).

    O CEAAE um curso de ps-graduao lato sensu constitudo de doismdulos:

    a) um mdulo operacional, realizado no Grupo de Instruo Ttica e

    Especializada (GITE), da Primeira Fora Area em Natal, RN; e

    b) um mdulo tcnico realizado no ITA, sob a coordenao da Pr-Reitoria de

    Extenso e Cooperao (PROEC/IEX).

    O mdulo operacional pr-requisito para o mdulo tcnico visando

    obteno do certificado de Especialista em Anlise de Ambiente Eletromagntico. O

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    Trabalho Individual (TI) de concluso de curso requisito do mdulo tcnico e

    constitui-se de um trabalho de cunho cientfico, cujo relatrio tcnico, devidamente

    documentado, avaliado mediante uma defesa oral perante uma banca

    examinadora designada pelo Conselho Consultivo do CEAAE.

    A banca constituda por pesquisadores e oficiais que atuam nos setores daGE. Segundo Oliveira (2008), este processo visa proporcionar uma formao mais

    adequada do que a obtida por cursos constitudos apenas por disciplinas.

    Oliveira (2008) destaca que a elaborao e defesa oral do TI compem uma

    parte expressiva da doutrina em que o CEAAE se baseia, uma vez que:

    a) em cada TI abordada uma necessidade operacional delimitada pelo Grande

    Comando ao qual o aluno est subordinado, em acordo com a coordenao

    do CEAAE; e

    b) a superviso dos TI realizada em conjunto por um orientador do CEAAE,

    professor ou instrutor, e um orientador externo, designado pela coordenao

    do CEAAE seguindo critrios reconhecidos pelo ITA.

    O CEAAE se consolidou como curso de capacitao tcnica dos rgos

    operacionais na rea de GE. Neste aspecto Resende (2008) destaca que os

    trabalhos realizados no CEAAE ao longo dos ltimos dez anos foram responsveis

    pela implantao da cultura de utilizao do mtodo cientfico para a resoluo de

    problemas de cunho operacional. Sendo que diversos deles elucidaram assuntoscomplexos acerca do emprego do vetor areo, solucionando questes tcnicas dos

    equipamentos da frota da Fora Area.

    Segundo Oliveira (2008), este sucesso se deu em grande parte pelo

    delineamento de aes fundamentadas no objetivo de formar profissionais de

    concepo com alto nvel de qualificao atravs de atividades de educao

    continuada no campo da tecnologia avanada de interesse aeroespacial delineadas

    em acordo com os padres de excelncia estabelecidos no decreto de criao doITA.

    Oliveira (2008) destaca tambm alguns pressupostos que permitiram a

    consolidao do modelo de ps-graduao desenvolvido pelo CEAAE:

    a) a realizao de cursos de especializao a partir de demandas do Comando

    da Aeronutica uma das atribuies do ITA;

    b) o CEAAE permite que o ITA participe de atividades de interesse operacional

    dos Comando Militares por intermdio de atividades de ensino e pesquisa;

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    c) a execuo do TI permite que os alunos do CEAAE exeram uma ao

    integradora entre o ITA e os outros Institutos do CTA em reas de interesse

    operacional;

    d) a execuo do TI permite que os alunos do CEAAE promovam a participao

    do ITA em atividades de interesse operacional do setor aeroespacial emcolaborao com o setor industrial; e

    e) os professores do ITA envolvidos na orientao de TI tm a oportunidade de

    identificar linhas de pesquisa de interesse operacional que exijam

    desenvolvimento de pesquisa avanada em programa de ps-graduao

    stricto sensu.

    O sucesso do modelo do CEAAE motivou o COMGAR, o CTA e a Comisso

    para Coordenao do Sistema de Vigilncia da Amaznia (CCSIVAM) a implantar o

    Laboratrio de Pesquisa em Guerra Eletrnica e Vigilncia Eletromagntica da

    Amaznia (LabGE) em 2001. Segundo Oliveira (2008), este investimento na infra-

    estrutura do curso possibilitou a incorporao de critrios mais adequados para a

    fixao do nmero de vagas ofertadas, definio do quadro de pessoal dedicado

    ao curso, bem como a compatibilizao do calendrio de atividades do CEAAE com

    o ano letivo do ITA.

    O investimento contnuo nas atividades do CEAAE tem permitido manter o

    padro de excelncia na formao dos Especialistas em GE. Reforando este pontode vista, Resende (2008) destaca que os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelos

    alunos do CEAAE continuam a superar em muito as expectativas da Fora Area,

    tanto na consistncia tcnica como na aplicabilidade imediata do conhecimento

    gerado.

    Para que os conhecimentos cientficos gerados no mbito do CEAAE

    possam atingir seu pblico-alvo, so empregados alguns meios especficos de

    divulgao, dos quais Oliveira (2008) destaca:a) revista Spectrum do COMGAR, editada semestralmente;

    b) apresentao oral do TI, que permite a participao de orientadores externos

    e chama a ateno dos oficiais que influenciaro na designao de novos

    candidatos;

    c) a realizao anual do Simpsio de Guerra Eletrnica (SIGE), atualmente em

    sua 11 edio e sob a nova e mais ampla denominao de Simpsio de

    Aplicaes Operacionais em reas de Defesa, que permitiu uma ampla

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    divulgao das pesquisas em GE junto comunidade operacional, acadmica

    e industrial, bem como contribuiu para a divulgao de realizaes de

    diversos ex-alunos do CEAAE por meio de apresentaes tcnicas; e

    d) os Encontros de Centros de Guerra Eletrnica dos Comandos Militares que

    propiciam oportunidades para a divulgao de resultados operacionais e aidentificao de necessidades operacionais em GE.

    Todo o sucesso obtido nestes dez anos de prtica do modelo do CEAAE no

    impede (na verdade exige) que se mantenha um olhar crtico no sentido de

    identificar necessidades e/ou possibilidades de melhora. Esta experincia tem

    evidenciado o surgimento de papis especficos na dinmica de grupo das turmas

    do CEAAE: oficiais da Marinha do Brasil (Armada, Fuzileiros) e dos quadros de

    Engenharia exercendo liderana tcnica sobre os oficiais dos quadros formados pela

    AFA.

    Este fato estimula questionamentos a respeito do processo de formao

    continuada do oficial da FAB para a rea de GE. A harmonia deste processo

    depende da composio curricular do curso de formao bsica no que tange ao

    desenvolvimento de competncias que permitiro dar continuidade no aprendizado

    em GE. Conscientes da necessidade de minimizar possveis descontinuidades no

    ciclo de formao em GE, o conselho consultivo do CEAAE instituiu, desde a

    primeira turma do curso, um processo de elevao de nvel dos alunos. At 2006este processo consistia de um estudo dirigido (ITA, 2001) realizado antes do mdulo

    operacional. Ao final do estudo era realizada uma prova como avaliao diagnstica.

    A partir de 2006 este estudo dirigido foi substitudo pelo EENEM.

    O EENEM tem por objetivo empregar subsdios tericos nas disciplinas de

    matemtica (clculo e aplicaes) e estatstica na realizao do CEAAE ou em

    Anlise Operacional.

    Levando em conta os fatos expostos e o interesse em esclarec-los,apresenta-se o seguinte questionamento: qual a relao entre a excelncia escolar

    apresentada pelos alunos no mdulo tcnico do CEAAE no perodo de 1998 a 2002

    e a harmonizao entre os currculos dos cursos e estgios de formao inicial e

    continuada para a rea de GE ?

    O conceito de Excelncia Escolar empregado neste trabalho o

    apresentado por Perrenoud (1999a): ... a excelncia escolar feita, no idealmente,

    mas tal como julgada dia aps dia, dentro do funcionamento habitual da escola.... E

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    que ser relacionado ao processo de avaliao empregado no CEAAE, que se

    materializa atravs dos conceitos obtidos pelos alunos nas disciplinas do curso.

    Durante o processo de pesquisa bibliogrfica e documental no foi

    encontrada nenhuma referncia a mudanas significativas nos currculos dos cursos

    analisados no perodo de 1998 a 2008. Portanto, foi possvel delimitar a anlise aoperodo de 1998 a 2002 (cinco anos) mantendo-se, entretanto, sua relevncia para a

    interpretao do perodo de dez anos como um todo.

    Um estudo desta natureza permite avaliar de forma mais criteriosa as

    necessidades de formao e especializao do militar atuante no SISGEA, e desta

    forma colabora para o pleno emprego da GE na Fora Area.

    No decorrer deste trabalho, o conceito de formao continuada em GE ser

    aplicado apenas na anlise do conjunto que abrange os cursos de formao de

    oficiais (formao inicial) da FAB e o CEAAE (formao continuada). O Curso

    Operacional de Guerra Eletrnica COGE (formao continuada) ser analisado

    apenas como parte integrante do CEAAE na figura do mdulo operacional.

    O conceito de harmonizao, para efeito de anlise neste trabalho, remete

    ao processo de formao continuada que se inicia na formao das competncias

    bsicas desenvolvidas nos cursos de formao de oficiais em reas afins as cincias

    exatas e engenharia e que so empregados como ferramentas para enfrentar o

    processo de desenvolvimento de novas competncias, agora especializadas nosdomnios da engenharia eletrnica e computao dentro do CEAAE.

    Visando organizar e facilitar a obteno de respostas, esta questo principal

    poder ser desmembrada em questes subsidirias que nortearo o trabalho de

    pesquisa, a saber:

    a) de que forma os currculos dos cursos e estgios oferecidos aos oficiais da

    FAB colaboram para a formao continuada dos profissionais atuantes no

    SISGEA ?b) de que forma a excelncia escolar dos alunos do CEAAE representa a

    harmonia e continuidade em sua educao em GE ?

    Para orientar a busca pelas respostas a estas questes estabelecemos

    como objetivo geral deste trabalho analisar a harmonizao curricular entre os

    cursos e estgios de formao inicial e continuada para a rea de GE.

    O cumprimento deste objetivo nos remete a algumas etapas a serem

    cumpridas e os objetivos especficos a elas inerentes:

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    a) analisar o conceito de educao continuada empregado na FAB, com nfase

    para os modelos aplicados pelo SISGEA;

    b) analisar os currculos dos cursos e estgios que compe o ciclo de educao

    continuada para a rea de GE na FAB; e

    c) levantar a excelncia escolar apresentada pelos alunos do CEAAE no perodode 1998 a 2002.

    A poltica de recursos humanos que se desenvolve a partir das escolhas

    curriculares realizadas podem conduzir uma Fora Armada em direo a sua misso

    institucional ou afasta-la dela. Conhecer o tipo de Guerreiro que a FAB est

    formando pode ser a chave para direcionar esforos para a formao do Guerreiro

    que realmente precisamos. Este tipo de conhecimento a principal contribuio

    deste trabalho, que longe de encerrar o debate sobre o assunto, pode se considerar

    vitorioso se conseguir acrescentar uma pequena laje que seja a esta infinita

    estrada do saber.

    Compreender e avaliar a harmonia do currculo e seus reflexos sobre um

    processo de educao continuada em GE demandam mtodo e reflexo terica.

    Estes alicerces sero o alvo da prxima etapa da pesquisa.

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    2 EDUCAO CONTINUADA: UMA DCADA DE CEAAE

    A preocupao de compreender o passado para extrair subsdios que

    orientem o presente e o futuro (GRESSLER, 1983) evidencia o carter histrico dareflexo em curso nesta pesquisa educacional. Afinal, dez anos uma marca

    significativa de maturidade para um curso de ps-graduao lato sensu.

    Esta idia reforada por Pilati (2006) quando afirma que: Os cursos de

    especializao [...] foram concebidos e consolidados historicamente como atividades

    acadmicas que possuem grande mutabilidade, dinamicidade e temporalidade. Esta

    instabilidade intrnseca se manifesta, segundo Fonseca (2004), em uma

    multiplicidade de funes, tais como a qualificao para docncia no ensino

    fundamental e mdio, a atualizao ou reciclagem profissional, a preparao para o

    mestrado, a educao continuada, a especializao profissional em sentido estrito,

    alm da qualificao para o ensino superior.

    No caso do CEAAE, as funes mais visveis so a especializao

    profissional (em GE) e a preparao para o mestrado (pr-qualificao para o

    PPGAO). Entretanto, neste trabalho, o papel do CEAAE como instrumento de

    educao continuada para a rea de GE estar no centro das atenes.

    Este posicionamento, entretanto, sofre objees com a argumentao deque isto provocaria sua descaracterizao como uma formao em nvel de ps-

    graduao. Em resposta, recorre-se a Pilati (2006) no que defende que a

    especializao destinada aos graduados e no a qualquer interessado.

    Permanecendo, portanto, a ser concebida como uma modalidade de formao ps-

    graduada.

    2.1 HARMONIZAO CURRICULAR

    Relacionar a formao profissionalizante em uma estrutura de educao

    continuada conforme apresentada por Bireaud (1995) significa ver o ciclo formao

    inicial, mundo profissional e formao contnua como articulados de forma a ter

    seqncia adequada. A descrio sistemtica de uma rea de interesse para

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    compreender a harmonia deste ciclo aplicado educao continuada em GE remete

    ao carter descritivo da pesquisa educacional em curso neste trabalho (GRESSLER,

    1983).

    O aluno do CEAAE o elemento bsico dessa pesquisa, cujo universo

    composto, com base na portaria de criao do curso, por oficiais da FAB, oficiais deoutras Foras Armadas e civis cujas inscries no CEAAE foram aprovadas pelo

    EMAER. Isto abre as portas para uma ampla gama de perfis curriculares na

    formao inicial dos alunos que chegam ao mdulo tcnico do CEAAE. Uma

    reduo de escopo, ento se faz necessria no que se refere anlise da varivel

    harmonizao curricular. Optou-se desta forma por trabalhar apenas com os

    currculos dos cursos de formao de oficiais do quadro de engenharia formados

    pelo ITA, dos cursos de formao de oficiais formados pela Escola Naval (EN) e dos

    cursos de formao de oficiais da AFA.

    A preocupao com os alunos oriundos do Curso de Formao de Oficiais

    Aviadores da AFA de certa forma evidente em virtude da linha de pesquisa de

    educao na Fora Area em que este trabalho se enquadra. Por outro lado, a

    escolha do currculo do Curso de Formao do CA ganha fundamento na

    inquietao que fomenta este trabalho e que se formou na experincia diria no

    corpo discente e docente do CEAAE. A anlise do currculo do Curso de Formao

    de Oficiais Engenheiros, em especial o de Engenheiro Eletrnico do ITA temespecial importncia como parmetro para a identificar os pr-requisitos para as

    disciplinas do mdulo tcnico do CEAAE.

    A lgica encontrada para a anlise da harmonizao curricular corresponde

    a uma inverso da ordem cronolgica em que o ciclo se constri. Este processo foi

    organizado em fases, comeando pelo mdulo tcnico do CEAAE (formao

    continuada) e retrocedendo at o curso de formao profissional inicial (formao de

    oficiais). Conforme adiantado anteriormente, cada passo desta anlise foi focado naquesto dos pr-requisitos, ou nas palavras de Perrenoud (1999): ..., a tudo o que

    seus alunos deveriam saber ao entrar em sua aula, ....

    O carter profissionalizante em GE do CEAAE levar a procurar as

    competncias que permitiro ao Especialista em Anlise de Ambiente

    Eletromagntico confrontar a sua prtica com situaes de trabalho no ambiente

    operacional da Fora Area. Isto conduziu a pesquisa documental na procura de

    dados sobre as competncias exigidas dos alunos para poderem cursar, de maneira

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    eficaz, o mdulo tcnico do CEAAE.

    Neste ponto conveniente introduzir alguns conceitos que nos guiaro em

    nosso caminho por esta anlise, entre os quais destacamos o de currculo. A

    UNESCO apud Sperb (1979) encara o currculo como todas as atividades,

    experincias, materiais, mtodos de ensino e outros meios empregados peloprofessor e considerados por ele, no sentido de alcanar os fins da educao.

    Um aspecto relevante na anlise de um currculo so os objetivos por ele

    expressos. Nesta questo, Sperb (1979) se posiciona afirmando que os mesmos

    devem: ... definir claramente o que se espera em relao formao de

    comportamentos, para, a seguir, precisar as reas de experincias humanas atravs

    das quais o educando possa formar tais comportamentos.

    O contedo outro elemento do currculo cuja anlise deve ser considerada.

    Neste tpico Sperb (1979) ressalta que: A validez de um contedo [...] existe na

    proporo de sua coerncia com os fins previstos e de sua adequao ao tipo de

    currculo. Ou seja, a anlise dos contedos no pode perder de vista os objetivos

    expressos pelo currculo.

    A forma como estes contedos so agrupados em disciplinas, tambm deve

    ser levada em conta na anlise do currculo. Se para Phenix apud Sperb (1979) uma

    disciplina pode ser considerada como conhecimento cuja qualidade especial ser

    apropriada para o ensino e prestar-se para a aprendizagem, Gail Inlow apud Sperb(1979) distingue uma disciplina por trs caractersticas que a definem:

    conhecimentos e conceitos gerados por e relacionados com uma determinada rea

    da vida, mtodos de descoberta e de constatao de conhecimentos e hipteses

    dentro de tal rea e, como terceira caracterstica, a constante evoluo.

    Como rea do conhecimento, a GE destaca a necessidade de um cuidado

    especial sobre as forma de determinao dos contedos. Seu carter multidisciplinar

    nos coloca em alerta: os conhecimentos, aquisies e competncias requeridospelo exerccio de uma profisso no devem estar, de nenhum modo, subordinados

    s exigncias de uma nica disciplina ou microdisciplina de investigao

    (BIREAUD, 1995).

    Bireaud (1995) defende uma formao profissionalizante superior que

    ministre aos estudantes elementos de cultura geral relativos rea freqentada e

    que lhes forneam os instrumentos metodolgicos que lhes permitam adquirir

    competncias, as metacompetncias profissionais. Estas competncias so

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    definidas por Reuchlin apud Bireaud (1995) como: competncias relativamente

    estveis que do a possibilidade de se adquirirem as diretamente utilizveis do

    ponto de vista profissional, e que se encontram em permanente evoluo.

    Malglaive apud Bireaud (1995) define o termo teoria ou saberes tericos

    como aqueles que se preocupam com o conhecimento do real e da sua atividade esaberes prticos quando se trata de conhecimentos relativos ao sobre esse

    mesmo real, enfatizando a diferena de comportamento como divisor de guas entre

    teoria e prtica. Isto ressalta o problema da articulao e da coerncia a estabelecer

    o equilbrio entre ensinos mais prescritivos (visando ao) e ensinos de ndole

    mais crtica (visando o conhecimento). A diviso em mdulos do modelo do CEAAE

    reflete bem esta preocupao com o equilbrio da composio curricular.

    Estes e outros conceitos que servem de base para a anlise ficam mais

    claros a luz da teoria. Para obter uma viso panormica recorreremos a Mizukami

    apud Gil (2008), que define cinco abordagens para o fenmeno educativo:

    a) Abordagem Tradicional - nesta abordagem o professor visto como o

    especialista, como o elemento fundamental na transmisso de contedos. O

    aluno considerado um receptor passivo, at que, de posse dos

    conhecimentos necessrios, torna-se capaz de ensin-los a outros e a

    exercer eficientemente uma profisso.

    b) Abordagem Comportamentalista - para os defensores docomportamentalismo ou behavioristas, o conhecimento resultado direto da

    experincia. Nesta abordagem a escola reconhecida como a agncia que

    formalmente educa e os modelos educativos so desenvolvidos com base na

    anlise dos processos por meio dos quais o comportamento modelado e

    reforado. O professor visto como um planejador educacional que transmite

    contedos que tm como objetivo o desenvolvimento de competncias.

    c) Abordagem Humanista - o desenvolvimento da personalidade dos indivduos o foco principal desta abordagem e Carl Rogers um dos seus principais

    tericos. Nela o professor no transmite contedos, mas d assistncia aos

    estudantes, atuando como facilitador da aprendizagem. Os estudantes so

    considerados num processo contnuo de descoberta de si mesmos e o

    contedo emerge das suas prprias experincias.

    d) Abordagem Sociocultural - os aspectos socioculturais so enfatizados nesta

    abordagem. Assim como o construtivismo, esta abordagem pode ser

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    considerada interacionista. No entanto, o sujeito enfatizado como

    elaborador e criador do conhecimento. Um dos principais representantes

    desta corrente Paulo Freire, para quem a verdadeira educao a

    educao problematizadora.

    Para a anlise da harmonizao curricular adotou-se como referencialterico abordagem curricular por competncias, pois enfatiza a competncia como

    construda na prtica que incita os alunos a adotarem uma postura pr-ativa.

    Segundo Soares (2004), a mais conhecida referncia conceitual na abordagem

    curricular por competncia no Brasil encontrada nas obras de Philippe Perrenoud.

    Este educador suo de mais de sessenta anos, professor da Faculdade de

    Psicologia e Cincias da Educao de Genebra foi, segundo Cysneiros (2004),

    provavelmente o mais produtivo educador europeu em teoria da didtica na ltima

    dcada. A influncia de sua obra se faz sentir na definio de Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCN: ver www.mec.gov.br) no governo do Presidente

    Fernando Henrique Cardoso (CYSNEIROS, 2004).

    Em apoio a esta escolha recorremos a Ribeiro (2000) quando destaca que a

    preparao da FAB requer a busca incessante de competncias que levem a uma

    postura pr-ativa diante da evoluo acelerada das concepes e tecnologias dos

    cenrios contemporneos.

    O conceito de competncia bsico para esta abordagem. Sob a tica dePerrenoud (1999), competncia ... uma capacidade de agir eficazmente em um

    determinado tipo de situao, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a

    eles. Segundo Perrenoud (1999), ela capacita a ... fazer relacionamentos,

    interpretaes, interpolaes, inferncias, invenes, em suma, complexas

    operaes mentais cuja orquestrao s pode construir-se ao vivo, em funo tanto

    de seu saber e de sua percia quanto de sua viso de situao.

    Perrenoud (1999) destaca, entretanto, que A abordagem por competnciasno rejeita nem os contedos, nem as disciplinas, mas sim acentua sua

    implementao. Esta viso conduziu a pesquisa documental para a consulta de

    documentos histricos que permitissem ... identificar e a encontrar os

    conhecimentos pertinentes (PERRENOUD, 1999) do currculo: carga horria,

    ementas, contedos, concepes didticas, recomendaes de bibliografia, etc.

    Atravs deles pretende-se identificar os recursos cognitivos (saberes, capacidades,

    informaes, etc.) que sero mobilizados. Esta anlise levou em conta s demandas

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    por disciplina e a composio do currculo como um todo.

    Conforme mencionado anteriormente, o primeiro passo consistiu da anlise

    do mdulo tcnico do CEAAE, visando identificar os pr-requisitos necessrios. As

    disciplinas da ps-graduao stricto sensu com contedo similar as do CEAAE

    foram usadas como referncia para a anlise curricular. Em uma segunda etapa foifeita a anlise da composio curricular do mdulo operacional. Neste caso a

    anlise teve por objetivo identificar as colaboraes que o currculo do mdulo

    operacional fornece para o xito escolar do aluno no mdulo tcnico. Para tanto, foi

    necessria a anlise da evoluo do currculo do mdulo operacional no perodo

    considerado.

    Na terceira etapa foi feita uma anlise da evoluo da atividade de

    nivelamento visando o mdulo tcnico do CEAAE, nesta anlise est includo o

    EENEM. At este ponto no h diferenciao no currculo, pois as atividades so

    comuns e compulsrias, independentemente da formao profissional inicial

    especfica de cada aluno.

    Na quarta etapa foram analisados (no que foi pertinente) os currculos do

    Curso de Formao de Oficiais Aviadores da AFA, de Formao de Oficiais do CA

    da EN e de Formao de Oficiais de Engenharia do ITA. Nesta etapa procurou-se

    quantificar a varivel harmonizao curricular.

    Esta anlise foi desenvolvida levando em conta alguns conceitos quepermeiam a abordagem por competncias de Philippe Perrenoud. Um deles,

    emprestado de Lvi-Strauss, o conceito de bricolage. Nele a competncia deve

    envolver a inveno, ou seja, a capacidade de formular hipteses, de improvisar, de

    desempenhar-se bem diante de uma dada situao. Perrenoud apud Silva (2008)

    entende que a ao no aplicao pura de saberes, o que, por sua vez, pressupe

    um funcionamento mental complexo que envolve a contextualizao, a

    descontextualizao e a recontextualizao.O conceito de mobilizao de recursos fundamental para a anlise dos

    componentes dos currculos. Perrenoud apud Silva (2008) os descreve como:

    (...) conhecimentos processuais ou procedimentais; saberes oriundos daexperincia ou de lembranas mais ou menos vagas que se referem ao quefaz ou ao que se viu fazer em situaes comparveis; de saberes tericospara mobilizar ou construir um problema, os processos envolvidos e asestratgias disponveis nesse processo; de saberes metodolgicos e quepropiciem hipteses para ordenar as questes, memorizar, compararhipteses, complementar e verificar dados etc.; saberes que orientam a

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    busca de informaes, de conselhos, de ajuda, em bases de dados ou noambientem mais ou menos prximo; enfim, todos os saberes tticos eorganizacionais.

    2.2 EXCELNCIA ESCOLAR

    A pesquisa educacional aqui apresentada, apesar de no caracterizar uma

    pesquisa experimental, trabalha com dados histricos de um processo de avaliao

    escolar. Este, segundo Perrenoud (1999a), determina que um ... grau de aquisio

    de conhecimentos e de competncias deve ser avaliado por algum, e esse

    julgamento deve ser sustentado por uma instituio para tornar-se mais do que uma

    simples apreciao subjetiva e para fundar decises [...] ou de certificao.Em um primeiro momento, poderia ser questionado por que no empregar

    como indicador da excelncia escolar os resultados dos alunos em testes de

    conhecimentos administrados no mbito de uma pesquisa independente da

    avaliao escolar, partindo do princpio que se estaria medindo a mesma coisa,

    porm de modo mais padronizado e mais confivel. Entretanto, Perrenoud (1999a)

    alerta sobre a discusso sobre as relaes que o resultado destes testes e a

    excelncia escolar reconhecida nos mesmos alunos pelo sistema educativoinstitucional.

    Para Perrenoud (1999a) fica a impresso de que os pesquisadores preferem

    seus instrumentos de avaliao s apreciaes dos professores porque estariam

    mais prximos da realidade das competncias dos alunos. Apesar de reconhecer um

    fundo de verdade neste pensamento, Perrenoud (1999a) ressalta que os

    pesquisadores em educao passam, com muita freqncia, da crtica docimolgica

    da avaliao escolar tentao de substitu-la, por ocasio de uma pesquisa, por

    seus prprios instrumentos, mudando assim de varivel dependente sem perceber.

    Desta forma, optou-se por empregar dados que ... resultam do julgamento

    diferencial que a organizao escolar faz dos alunos, da base de hierarquias de

    excelncia estabelecidas em momentos do curso que ela escolhe e conforme

    procedimentos de avaliao que lhe pertencem (PERRENOUD, 1999a).

    Esta posio no deve ser confundida com uma exaltao da excelncia

    escolar como prtica ideal de avaliao. Ela se apresenta como ferramenta

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    adequada para o objetivo deste trabalho. O que no impede que Perrenoud (1999a)

    a coloque em cheque sob a perspectiva de uma avaliao formativa.

    O emprego da excelncia escolar como mtrica nos remete a crena na

    possibilidade de medida do comportamento humano, mesmo que por mtodos

    indiretos. Miguel (1970) nos adverte que esta medida ser sempre de carterestatstico.

    Miguel (1970) define medida como: ... a atribuio de nmeros a realidades

    empricas segundo determinadas regras. Entre as escalas de medida mais comuns

    citaremos: a Escala Nominal, a Escala Ordinal, a Escala de Intervalos e a Escala de

    Razes.

    Apesar da classificao ser considerada um nvel inferior de medida

    (MIGUEL, 1970), um dos princpios bsicos de toda cincia. A escala nominal ou

    enumerativa pode, segundo Miguel (1970) elaborar-se sempre que entre os

    elementos que queremos analisar, possa realizar-se empiricamente a operao de

    igualdade e desigualdade.

    Para Miguel (1970): a escala ordinal pode elaborar-se sempre que se

    possam realizar com os elementos da pesquisa, as operaes de igualdade e de

    ordem, isto , sempre que se possa dizer que uma coisa maior que ou menor

    que outra sob determinado aspecto. Miguel (1970) destaca ainda que os principais

    valores estatsticos a serem empregados sob o critrio da escala ordinal so aMediana, os percentis, a correlao ordinal e um grande nmero de tcnicas no-

    paramtricas.

    A escala de intervalos, segundo Miguel (1970), pode ser aplicada a um

    conjunto de elementos empricos quando com eles podemos realizar as operaes

    de igualdade, de ordem e de igualdade de intervalos. Na escala de intervalos, a

    unidade usada como medida a mesma em toda a extenso da escala, mas tem o

    inconveniente, segundo Miguel (1970), de que o ponto zero da escala no conhecido e no pode ser determinado. Neste trabalho emprega-se a escala de

    intervalos para ambas as variveis.

    A escala de razes, segundo Miguel (1970), pode ser usada com elementos

    nos quais podemos distinguir quais so iguais ou desiguais, podemos orden-los,

    podemos apreciar a igualdade das diferenas e sobretudo a igualdade de razes.

    A luz da estatstica descritiva empregada no trabalho, a excelncia escolar

    se apresenta como varivel dependente. Entretanto, importante relembrar o

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    carter histrico e no experimental da pesquisa. A harmonizao curricular

    aparece, ento, como varivel independente, porm com caracterstica mais de

    atributo relacionado ao curso de formao do aluno (Miguel, 1970).

    Na anlise dos dados de excelncia escolar, o primeiro passo foi tabulao

    do rendimento escolar dos alunos. Analisaram-se as notas das turmas formadas de1998 at 2002. A populao ficou constituda, portanto, dos alunos pertencentes s

    primeiras cinco turmas do CEAAE. A amostra empregada foi composta dos Oficiais

    Aviadores formados pela AFA a partir de 1990, pelos Oficiais da Marinha do Brasil

    pertencentes ao CA e pelos Oficiais Engenheiros formados pelo ITA, perfazendo

    68% da populao.

    Os dados foram ordenados numa distribuio de freqncias. Os intervalos

    de classe so categorias numricas com respeito s quais os dados obtidos na

    pesquisa so ordenados. Segundo Miguel, o nmero de intervalos de classe numa

    determinada pesquisa, via de regra, no deve ser superior a 20 nem inferior a 10.

    Neste trabalho empregou-se 10 intervalos de classe para a excelncia escolar.

    Uma vez construdas as tabelas de freqncias com seus respectivos

    intervalos de classe foi feita a representao grfica dos dados atravs de

    histograma. De posse destes instrumentos, foram realizados os clculos das

    medidas de tendncia central (mdia).

    No prximo passo, foram realizadas as medidas de variabilidade (desviopadro), uma vez que as medidas de tendncia central poderiam oferecer uma viso

    errada da realidade (MIGUEL, 1970).

    A curva normal ajuda a interpretar os fenmenos psico-educacionais sob o

    ponto de vista estatstico. Miguel (1970) exemplifica afirmando que o fenmeno da

    inteligncia apresenta caractersticas aplicveis curva normal. Isto significa que se

    for pega uma amostra significativa de indivduos, encontrar-se- pessoas muito

    inteligentes e quase na mesma proporo encontraremos pessoas muito poucointeligentes. Na mesma amostra encontraremos uma maior percentagem de

    inteligncia mdia.

    O estudo das correlaes na pesquisa psico-pedaggica , segundo Miguel

    (1970), de uma importncia extraordinria. Para este trabalho as correlaes so

    tambm muito importantes. Se nas cincias exatas usa-se o termo funo quando

    se conhece a relao exata entre duas ou mais variveis, nas cincias psico-

    pedaggicas esta relao no exatamente conhecida, e por isso falamos em

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    correlao, entendendo por este termo a concomitncia entre duas ou mais

    variveis.

    A medida que a correlao for mais perfeita, se aproxima mais da funo,

    isto , a correlao seria perfeita se o resultado fosse 1, e correlao nula, se o

    resultado fosse zero. Segundo Miguel (1970), podemos falar de correlao muitointensa (0,90 1), correlao alta (0,70 0,90), correlao moderada (0,40 0,70),

    correlao baixa (0,20 0,40) e correlao muito pequena (0 0,20).

    Segundo Miguel (1970), a concomitncia ou correlao entre duas ou mais

    variveis pode ser positiva ou negativa. Existe correlao positiva quando as duas

    variveis analisadas seguem uma mesma direo, negativa quando as duas seguem

    direes opostas e correlao nula quando entre as variveis no h concomitncia

    nenhuma.

    Na pesquisa psico-pedaggica, Miguel (1970) ressalta o cuidado a ser

    tomado com o tipo de varivel a ser analisada ao aplicar o mtodo das correlaes.

    Quando so analisadas variveis em trs ou mais categorias, Miguel (1970)

    recomenda o emprego da correlao ndice de Contingncia C, o que foi feito em

    nosso trabalho.

    Feita a anlise da correlao, o prximo passo comprovar se os resultados

    obtidos so significativos. Segundo Miguel (1970), um estatstico significativo a um

    nvel de confiana (5% = 1,96 ou 1% = 2,58) quando podemos assegurar que talestatstico no zero (hiptese nula). Pois bem, o problema de comprovar se as

    diferenas obtidas em vrios grupos so ou no significativas, o objeto principal da

    anlise de varincia.

    Na anlise de varincia aplicada neste trabalho optou-se por usar tcnicas

    no-paramtricas visando simplicidade na realizao dos clculos. Das tcnicas

    no-paramtricas, foi escolhida a anlise de varincia por sries ordenadas

    (Kruskal-Wall). O objetivo deste teste verificar se mais de duas amostras provmde uma mesma populao. As amostras independentes podem ser de diferente

    tamanho e exigem uma medida pelo menos de tipo ordinal.

    2.3 DIFERENAS INDIVIDUAIS: UMA QUESTO A CONSIDERAR

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    A anlise criteriosa da validade dos dados disponveis a luz da cincia

    estatstica de suma importncia para uma pesquisa como esta, que envolve dados

    de avaliao de aprendizagem. Segundo Gil (2008), a aprendizagem fortemente

    influenciada pelas diferenas individuais relativas s habilidades dos estudantes. As

    diferenas de desempenho dos alunos em muitos cursos podem ser explicadas pelonvel intelectual dos aluno, suas aptides especficas, assim como os conhecimentos

    e as habilidades desenvolvidas anteriormente.

    Os contedos de um curso como o CEAAE podero ser aprendidos mais

    facilmente por estudantes com talento para matemtica do que por estudantes com

    maior aptido verbal. Gil (2008) ressalta ainda a importncia da motivao do aluno

    na determinao do sucesso da aprendizagem: A motivao que nos impulsiona

    para a ao, e tem origem numa necessidade.

    Alunos motivados aprendem muito mais facilmente do que os no

    motivados, entretanto Gil (2008) refora que a motivao constitui um problema

    bastante complexo, uma vez que tem origem numa necessidade, no podendo ser,

    a rigor, determinada por um fator externo, como a ao educativa do professor.

    O professor, segundo Gil (2008), quando define objetivos de ensino,

    seleciona os contedos e determina as estratgias de ensino, leva em considerao

    uma certa homogeneidade da classe. Mas naturalmente os estudantes apresentam

    muitas diferenas entre si. Desta forma, o conhecimento da distribuio dosestudantes segundo certas variveis relevantes pode ser um importante auxiliar no

    trabalho docente.

    A Psicologia, argumenta Gil (2008), sempre se preocupou em estabelecer

    leis suficientemente gerais para explicar o comportamento humano, mas os

    pesquisadores logo perceberam que as leis gerais de um fenmeno apresentam

    importantes variaes, a ponto de as diferenas individuais tornarem-se o prprio

    objeto de investigao de muitos psiclogos.A Psicologia Diferencial aparece, segundo Gil (2008), como um campo de

    estudo das diferenas fsicas, intelectuais e de personalidade entre as pessoas.

    Assevera ainda que apesar dos vrios questionamentos sobre o assunto, possvel

    dizer que as pessoas apresentam diferenas individuais por dois motivos principais,

    quais sejam, ou j nasceram diferentes umas das outras ou porque passaram por

    experincias diferentes ao longo de suas vidas. O primeiro motivo refere-se s

    chamadas variveis inatas. O segundo refere-se s variveis adquiridas, que se

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    desenvolvem em decorrncia da exposio das pessoas ao ambiente. A

    harmonizao curricular envolvendo a formao inicial e a formao continuada para

    a rea de GE se caracteriza desta segunda forma.

    Segundo Gil (2008), o principal fundamento da Psicologia Diferencial a

    curva de Gauss ou da distribuio normal. Essa curva foi desenvolvida a partir daconstatao matemtica de que o resultado da medida de alguns fenmenos, tais

    como a altura das pessoas ou a evoluo do preo das mercadorias ao longo do

    tempo, tendiam a se manter prximos da mdia aritmtica.

    Uma propriedade das distribuies normais que poucos elementos so

    encontrados nas reas correspondentes aos extremos da curva. A maioria tende a

    concentrar-se em torno da mdia. Gil (2008) afirma que muitas das caractersticas

    dos seres humanos, tais como a estatura, o peso e o nvel intelectual, apresentam

    distribuio normal, podendo ser representadas de maneira semelhante a essa

    curva. Assevera ainda que muitos dos traos dos estudantes que so importantes do

    ponto de vista pedaggico tambm se distribuem dessa forma.

    Para Gagn apud Gil (2008): A aprendizagem inferida quando ocorre uma

    mudana ou modificao no comportamento, mudana esta que permanece por

    perodos relativamente longos durante a vida do indivduo. Gil (2008) conclui a partir

    desta definio que ... ocorre aprendizagem quando uma pessoa manifesta

    aumento da capacidade para determinados desempenhos em decorrncia deexperincias por que passou.

    Sobre a aprendizagem, Gil (2008) ressalta a sua complexidade afirmando

    que a mesma: ... no se limita aquisio original de uma resposta aprendida, mas

    compreende tambm seu desaparecimento posterior (extino), sua reteno aps

    um intervalo de tempo (memria) e seu valor na aquisio de uma resposta nova ou

    diferente (transferncia).

    A aprendizagem compreendida no dia-a-dia da escola, segundo Gil (2008),de modo restrito, geralmente envolvendo os significados de:

    a) aquisio de conhecimentos pela experincia ou atividade intelectual;

    b) aquisio da capacidade para fazer, praticar ou empreender uma ao; e

    c) desenvolvimento da capacidade de exercer uma profisso.

    Gil (2008) credita ao trabalho de Bloom e seus colaboradores a mudana no

    uso dado pelos educadores para este conceito, que passou a incluir as mudanas

    de interesses, atitudes e valores. Gil (2008) conclui a partir desta definio que: ...

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    3 ANLISE DO MODELO CEAAE

    Oliveira (2002) destaca que a organizao do currculo do mdulo tcnico do

    CEAAE tem possibilitado a execuo da estratgia de Ensino e Pesquisa na rea deGE por estar baseada nos seguintes pressupostos:

    a) a formao acadmica do aluno do CEAAE deve ser fundamentada em

    conhecimentos consolidados em disciplinas ministradas por trs

    Departamentos de Ensino da Diviso de Engenharia Eletrnica do ITA; e

    b) as atividades didticas do CEAAE devem, sempre que possvel, utilizar as

    metodologias top-down e just in time.

    O primeiro pressuposto, segundo Oliveira (2002), garante que o currculo do

    CEAAE espelhe-se em uma organizao de ensino de engenharia consolidada e

    facilita a sua integrao na estrutura funcional do ITA. Quanto ao segundo

    pressuposto, argumenta que este possibilita a insero de informaes operacionais

    nas atividades didticas. Isto ocorre, em virtude de algumas matrias serem

    organizadas para enfatizarem as caractersticas de sistemas ou dispositivos

    segundo uma viso funcional voltada para equipamentos de aplicaes operacionais

    (metodologia top-down).

    Esta metodologia permite que os conhecimentos cientficos, nas reas deeletromagnetismo, dispositivos eletrnicos, mtodos matemticos computacionais,

    etc, sejam apresentados de forma integrada, facilitando a compreenso de

    procedimentos de projeto e de medidas eletrnicas e opto-eletrnicas. J a

    metodologia just in time garante, segundo Oliveira (2002), que conhecimentos e

    procedimentos cientficos avanados sejam utilizados apenas em determinados

    estgios das matrias que sejam determinantes para a compreenso detalhada de

    informaes relevantes para o perfil do aluno do CEAAE. O modelo assim definidoapresenta caractersticas tais que o habilitam como candidato a instrumento de

    formao continuada para a GE, mas falta identificar a continuidade das conexes

    curriculares.

    3.1 MDULO TCNICO

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    O mdulo tcnico do CEAAE, sob responsabilidade da Diviso de

    Engenharia Eletrnica do ITA, tem seu currculo constitudo atualmente por doze

    matrias. No perodo entre 1998 e 2002 o curso era composto de dez disciplinas,

    sendo que nove delas eram avaliadas quantitativamente. Nossa anlise nestetrabalho se restringir a estas nove disciplinas:

    a) EE-01 Fundamentos de Microondas;

    b) EE-02 Antenas e Propagao;

    c) EE-03 Fundamentos de Fotnica;

    d) EE-04 Probabilidade e Variveis Aleatrias;

    e) EE-05 Princpios de Telecomunicaes;

    f) EE-06 Sistemas de Comunicao, Navegao e Vigilncia;

    g) EE-07 Comunicaes Digitais;

    h) EE-08 Processamento Radar; e

    i) EE-09 Inteligncia Artificial.

    O currculo do Curso de Graduao em Engenharia Eletrnico (ITA, 2008a),

    por sua vez, apresenta as seguintes informaes sobre as disciplinas:

    a) carga horria semanal - correspondentes a cada matria, indicando o nmero

    de horas semanais destinado exposio terica da matria, o nmero de

    horas de aula de exerccios, o tempo usado em laboratrio, desenho, projeto,visita tcnica ou prtica desportiva e o nmero de horas estimadas para

    estudo em casa, necessrias para acompanhar o curso;

    b) requisito - matria que o aluno j deva ter cursado ou condio que deve

    satisfazer antes de cursar determinada matria;

    c) ementa - contedo programtico da matria, representando os tpicos a

    serem abordados durante o tempo previsto no perodo; e

    d) bibliografia - indicao de at 3 referncias bibliogrficas que o professorpoder fazer uso como texto ao ministrar a matria.

    Os currculos tem em comum o fato de apresentarem como informao til

    para comparao os contedos e carga horria. O resultado desta comparao

    entre os contedos constantes nas ementas do currculo dos cursos de engenharia

    do ITA e do CEAAE pode ser observado na Quadro 1. Esta tabela relaciona as

    disciplinas do CEAAE com disciplinas passveis de serem consideradas como seus

    pr-requisitos.

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    Definir os pr-requisitos importante para o sistema escolar e para os

    alunos. Nas palavras de Perrenoud (1986):

    Quanto mais o aluno captar o sentido e a utilidade da aprendizagem, tivervontade de trabalhar, conseguir descodificar a mensagem pedaggica ecomunicar com o professor, dispuser de pr-requisitos que lhe permitam

    integrar as noes e informaes novas reestruturando a um nvel superiora sua organizao cognitiva, mais a ao pedaggica atingir o seu fim.

    Quadro 1 Anlise de pr-requisitos para o mdulo tcnico do CEAAE.

    DISCIPLINAS

    PR-REQUISITOS EE-01

    EE-02

    EE-03

    EE-04

    EE-05

    EE-06

    EE-07

    EE-08

    EE-09

    FIS-53 INTRODUO AO MATLABFIS-46 ONDAS E FSICA MODERNA

    FIS-32 ELETRICIDADE E MAGNETISMOMAT-46 FUNES DE VARIVEL COMPLEXAMAT-36 CLCULO VETORIALMAT-32 EQUAES DIFERENCIAIS ORDINRIASMAT-27 LGEBRA LINEARMAT-22 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IIMAT-17 VETORES E GEOMETRIA ANALTICAMAT-12 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IFonte: o autor.

    O currculo de referncia (ITA, 2008) no prev pr-requisitos na rea de

    matemtica para as disciplinas FIS-46 e FIS-32, apesar do clculo diferencial eintegral ser intensivamente aplicado nas disciplinas EE-01, EE-02 e EE-03 do

    currculo do CEAAE que as tem como pr-requisito. Entretanto, este fato no

    invalida o conjunto de disciplinas como pr-requisito para o mdulo tcnico do

    CEAAE.

    Para que seja possvel avaliar a profundidade desejvel na abordagem

    destes contedos, recorremos a Sakane (1997) quando ressalta que um dos

    principais aspectos que deveriam ser considerados na elaborao do currculo doCPEA (Curso de PG lato sensu em Eletromagnetismo Aplicado denominao

    inicial que viria a ser modificada para CEAAE quando da publicao da portaria do

    curso) era a curta durao do curso (mdulo tcnico), associada formao que no

    a de Engenharia Eletrnica dos seus potenciais alunos.

    Sakane (1997) previa que as disciplinas tcnicas do CPEA seriam diferentes

    das ministradas no Curso de Graduao do ITA, em funo das ltimas serem de

    longa durao e organizadas em uma grade curricular de 5 anos, sendo dois anos

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    de slida formao bsica em matemtica e fsica.

    A estrutura modular com disciplinas (matrias) de diferentes duraes

    tambm foi aconselhada por Sakane (1997), argumentando que desta forma seria

    possvel nivelar rapidamente os alunos e instru-los com os pr-requisitos bsicos.

    Com base na experincia adquirida na preparao de Oficiais Aviadorespara cursarem o mestrado no exterior (Estados Unidos e Gr-bretanha) atravs de

    elevao de nvel, Sakane (1997) comenta que foi verificado que a maior

    necessidade de preparao residia, pela ordem, em conhecimentos de

    fsica/eletromagnetismo bsico, matemtica e probabilidade.

    3.2 MDULO OPERACIONAL

    O mdulo operacional do CEAAE, realizado sobre a gide do COMGAR,

    ocorre simultaneamente com o Curso Operacional de Guerra Eletrnica para Oficiais

    COGE-OF. Este curso era denominado de Curso Bsico de Guerra Eletrnica at

    2003. O COGE composto das seguintes disciplinas (COMGAR, 2008):

    a) Introduo Guerra Eletrnica;

    b) Viso Sistmica da Guerra Eletrnica;c) Fundamentos da Guerra Eletrnica; e

    d) Laboratrio de Guerra Eletrnica.

    possvel fazer uma correlao entre os pr-requisitos identificados para o

    mdulo tcnico e os contedos abordados no mdulo operacional. O resultado desta

    comparao pode ser observado no Quadro 2. Esta anlise mostra que os

    contedos das disciplinas do mdulo operacional cobrem menos que 20% dos pr-

    requisitos de referncia, pois tanto os contedos quanto a profundidade soinferiores aos previstos nas duas disciplinas da rea de fsica identificadas como

    pr-requisito. Perrenoud (1986) ressalta a importncia desta anlise:

    [ ... ] no se pode compreender realmente o que se passa no quadro de ummesmo ensino se no se souber o que se passa depois. Inversamente, preciso saber o que se passou antes, na medida em que as caractersticase as diferenas dos alunos que iniciam um mesmo ensino resultam emparte da sua escolaridade anterior.

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    3.3 ELEVAO DE NVEL

    A elevao de nvel para o CEAAE realizada atravs do EENEM desde2007, antes disso, era realizada atravs de um estudo dirigido realizado antes do

    incio das aulas do mdulo operacional.

    Quadro 2 Comparao entre pr-requisitos e contedos do mdulo operacional.

    DISCIPLINAS

    PR-REQUISITOS

    INTRODUO

    GUERRA

    ELETRNICA

    VISOS

    ISTM

    ICADA

    GUERRAELETR

    NICA

    FUNDAMENTO

    SDA

    GUERRAELETR

    NICA

    LABORATRIODE

    GUERRA

    ELETRNICA

    FIS-53 INTRODUO AO MATLABFIS-46 ONDAS E FSICA MODERNAFIS-32 ELETRICIDADE E MAGNETISMOMAT-46 FUNES DE VARIVEL COMPLEXAMAT-36 CLCULO VETORIALMAT-32 EQUAES DIFERENCIAIS ORDINRIASMAT-27 LGEBRA LINEARMAT-22 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IIMAT-17 VETORES E GEOMETRIA ANALTICAMAT-12 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I Fonte: o autor.

    O objetivo do EENEM (COMGAR, 2008) capacitar oficiais intermedirios,

    subalternos ou civis assemelhados servindo em Unidade que seja elo do SISGEA ou

    Unidade do Exrcito Brasileiro e Marinha do Brasil, que esteja indicado para realizar

    o CEAAE de forma a empregar subsdios tericos nas disciplinas de Matemtica

    (Clculo e suas aplicaes) e Estatstica.

    A anlise do contedo do EENEM com os pr-requisitos de referncia para o

    mdulo tcnico pode ser observada atravs da Quadro 3. Esta anlise mostra que o

    contedo das disciplinas do EENEM cobrem algo em torno de 40% dos pr-

    requisitos identificados como referncia neste trabalho. Por outro lado, oferece um

    treinamento em estatstica visando disciplina de AO-01 Introduo a Avaliao

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    Operacional, que passou a fazer parte do currculo do CEAAE em 2006. Como a

    anlise foi restrita as turmas de 1998 a 2002, no foi considerado pr-requisito para

    esta disciplina.

    O estudo dirigido usado antes de 2007 (ITA, 2001) foi tambm comparado

    com os pr-requisitos (referncia) e o resultado pode ser observado no Quadro 4.

    Quadro 3 Comparao entre pr-requisitos e contedos do EENEM.

    DISCIPLINAS

    PR-REQUISITOS

    MATEMTICA ESTATSTICA

    FIS-53 INTRODUO AO MATLABFIS-46 ONDAS E FSICA MODERNA

    FIS-32 ELETRICIDADE E MAGNETSMOMAT-46 FUNES DE VARIVEL COMPLEXAMAT-36 CLCULO VETORIALMAT-32 EQUAES DIFERENCIAIS ORDINRIASMAT-27 LGEBRA LINEARMAT-22 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IIMAT-17 VETORES E GEOMETRIA ANALTICAMAT-12 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IFonte: o autor.

    Este estudo aborda algo em torno de 50 % do contedo de referncia e ao

    seu final realizada uma avaliao diagnostica. Isto fornece ao corpo docente domdulo tcnico subsdios para uma avaliao inicial menos intuitiva e menos

    influenciada pelas aparncias ... (PERRENOUD, 1986). Desta forma, os

    professores tem a possibilidade de guiar uma ao compensatria baseada neste

    diagnstico inicial e evitar o que Rosenthal & Jacobson apud Perrenoud (1986)

    denomina de Efeito Pigmalio. Neste efeito o professor marque de modo mais ou

    menos consciente os alunos que tero grande facilidade, os que partida tero

    maiores dificuldades, entre uns e outros a massa de alunos mdios e a partir desta

    avaliao intuitiva desenvolve um conceito prognstico marcado por um certo

    fatalismo que pode dever-se a idia de que os alunos so ou no dotados (ideologia

    do dom) ou a idia de que impossvel compensar desigualdades acumuladas

    desde h muito tempo, e como conseqncia passam a tomar atitudes

    inconscientes que, de uma forma ou de outra, acabam por tornar o prognstico uma

    realidade.

    A observao da tabela permite identificar uma diferena de estratgia entre

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    os dois mtodos de elevao de nvel no que se refere aos contedos abordados. O

    estudo dirigido trabalhava os contedos previstos para a formao de nvel mdio e

    se estendia aos contedos mais bsicos da formao superior para as cincias

    exatas. Por outro lado, o contedo do EENEM foca diretamente o contedo

    matemtico de nvel superior, porm se estendendo mais profundamente.

    Quadro 4 Comparao entre pr-requisitos e contedos do Estudo Dirigido.

    DISCIPLINA

    PR-REQUISITOS

    Geometria

    Trigonometria

    Logaritmo

    Funesdevar

    ivelreal

    Representao

    grficadefunes

    Equaes

    Limiteecontinu

    idade

    ClculoDiferen

    cial

    ClculoIntegral

    Matrizes

    NmerosComp

    lexos

    OndasEletromagnticas

    Antenas

    Modulao

    FIS-53 INTRODUO AO MATLABFIS-46 ONDAS E FSICA MODERNAFIS-32 ELETRICIDADE E MAGNETSMOMAT-46 FUNES DE VARIVEL COMPLEXAMAT-36 CLCULO VETORIALMAT-32 EQUAES DIF. ORDINRIAS

    MAT-27 LGEBRA LINEARMAT-22 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IIMAT-17 VETORES E GEOMETRIA ANALTICAMAT-12 CLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL IFonte: o autor.

    A diferena de estratgia se estende viso inerente ao emprego do

    mtodo. Enquanto o estudo dirigido partia do princpio que os contedos j eram do

    conhecimento dos alunos que precisavam desenvolver as competncias para sua

    articulao em nveis mais elevados, o EENEM aponta para uma abordagem queleva em conta que os contedos podem ser inditos, ou seja, podem estar sendo

    apresentados pela primeira vez aos alunos.

    No que concerne ao EENEM, deve tambm ser levado em conta opo

    feita de no abordar os contedos da rea de fsica, o que deixa uma lacuna

    significativa no processo de elevao de nvel considerando as caractersticas

    peculiares das disciplinas do mdulo tcnico do CEAAE.

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    Conclumos, ento, a anlise de pr-requisitos na etapa de formao

    continuada em GE. Na seqncia ser feita a anlise da etapa de formao inicial

    para os alunos oficiais.

    Na Tab. 1 possvel observar a composio do corpo discente do CEAAE

    no perodo sob anlise neste trabalho (1998 a 2002). A observao da tabelapermite identificar duas caractersticas importantes do corpo discente do CEAAE: o

    Oficial Aviador da Fora Area o principal usurio do curso (65,91 %) e a presena

    significativa de oficiais das demais Foras Singulares (22,73 %).

    Tabela 1 Distribuio do corpo discente do CEAAE por categoria.

    COMANDO CATEGORIA N DE ALUNOS %AERONUTICA CIVIL 01 2,27

    AVIADOR 29 65,91ENGENHEIRO 01 2,27INFANTARIA 01 2,27ESPECIALISTA 02 4,55

    EXRCITO BRASILEIRO ENGENHEIRO 01 2,27COMUNICAES 04 9,09

    MARINHA DO BRASIL CORPO DA ARMADA 04 9,09FUZILEIRO NAVAL 01 2,27TOTAL 44 100

    Fonte: o autor.

    A primeira caracterstica compreensvel, uma vez que as funes na rea

    de GE previstas nos regimentos das Unidades que so elos do SISGEA so, em sua

    maioria, direcionadas para o Quadro de Oficiais Aviadores. A segunda reflete a

    Poltica de Guerra Eletrnica de Defesa no que concerne aplicao do conceito de

    interoperabilidade.

    Uma outra caracterstica evidente a diversidade de categorias, cada uma

    delas com diferentes estruturas curriculares quanto formao profissional militar

    inicial. Isto levou a uma restrio de escopo na anlise da varivel harmonizao

    curricular. Para anlise foi escolhida a categoria dos Oficiais Aviadores da Fora

    Area e a dos Oficiais do CA da Marinha do Brasil.

    Para que uma escala pudesse ser feita foi necessrio estabelecer uma

    referncia. A referncia usada neste trabalho foi o currculo do oficial Engenheiro

    Eletrnico do ITA, para o qual ser considerada uma harmonizao curricular de

    100% (cem por cento).

    O clculo do valor desta varivel levou em conta a compatibilidade de

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    contedo e a relao de carga horria. Determinou-se primeiro a relao entre o

    contedo da disciplina analisada e o contedo da disciplina de referncia, caso a

    relao entre a carga horria da disciplina analisada e da disciplina de referncia

    fosse igual ou superior a relao entre contedos, prevalecia a relao de

    contedos. Caso fosse inferior, prevalecia a relao entre as cargas horrias.

    3.4 OFICIAL DO CORPO DA ARMADA DA MARINHA DO BRASIL

    Os oficiais da Marinha do CA so formados pela EN, instituio de ensino

    superior mais antiga do Brasil (ESCOLA NAVAL, 2008). Os Cursos de Graduao

    na rea de Cincias Navais possuem habilitaes em Eletrnica (HE), Mecnica