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EVANGELISMO DE ORAÇÃO E ATOS PROFÉTICOS (Ed Silvoso) Conforme vimos, evangelizar através da oração é conversar com Deus sobre aqueles que estão à nossa volta, antes de conversar diretamente com estas pessoas sobre Deus. Em Lucas 10, lemos: “E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: ‘Paz seja nesta casa’. E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido. E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: ‘É chegado a vós o reino de Deus’” (vv. 5, 8, 9). Esta é a única ocasião nos evangelhos em que Jesus ensina um método de evangelismo. Ele nos ensina a fazer quatro coisas pelos perdidos: 1. Abençoá-los com paz; 2. Ter comunhão com eles; 3. Cuidar de suas necessidades; 4. Proclamar-lhes as boas novas. O primeiro passo abre a porta para o segundo, e assim por diante. Este processo recomendado por Jesus requer que nos tornemos pastores das pessoas que estão em nosso círculo de influência. Elas ainda não sabem que somos seus pastores, mas devemos saber que elas são nossas ovelhas. Precisamos começar preocupando-nos com elas. 1. Por que comunicar paz aos perdidos. Temos estado em guerra com eles. Se Jesus era conhecido como amigo dos pecadores, não podemos ser seus inimigos. Nossa bandeira ao abordar os perdidos tem sido “arrependa-se ou queime no inferno”. No entanto, pregar a verdade sem amor é como dar um beijo em alguém com mau hálito. Não importa quão bom seja o beijo, tudo que ficará na memória da pessoa será o nosso mau hálito! É isto que acontece quando, em ira ou desgosto, dizemos aos perdidos como suas vidas são más e depravadas, e como certamente estão indo para o inferno. Embora isso seja verdade, nossa abordagem negativa bloqueia e distorce a mensagem central da Bíblia: que Deus enviou seu Filho, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (ver João 3.17).

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Extraído do livro: "EVANGELISMO DE ORAÇÃO", Ed Silvoso, Editora Atos.

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EVANGELISMO DE ORAÇÃO E ATOS PROFÉTICOS (Ed Silvoso) Conforme vimos, evangelizar através da oração é conversar com Deus sobre aqueles que estão à nossa volta, antes de conversar diretamente com estas pessoas sobre Deus. Em Lucas 10, lemos:

“E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: ‘Paz seja nesta casa’. E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido. E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: ‘É chegado a vós o reino de Deus’” (vv. 5, 8, 9).

Esta é a única ocasião nos evangelhos em que Jesus ensina um método de evangelismo. Ele nos ensina a fazer quatro coisas pelos perdidos:

1. Abençoá-los com paz; 2. Ter comunhão com eles; 3. Cuidar de suas necessidades; 4. Proclamar-lhes as boas novas.

O primeiro passo abre a porta para o segundo, e assim por diante. Este processo recomendado por Jesus requer que nos tornemos pastores das pessoas que estão em nosso círculo de influência. Elas ainda não sabem que somos seus pastores, mas devemos saber que elas são nossas ovelhas. Precisamos começar preocupando-nos com elas.

1. Por que comunicar paz aos perdidos.

Temos estado em guerra com eles. Se Jesus era conhecido como amigo dos pecadores, não podemos ser seus inimigos. Nossa bandeira ao abordar os perdidos tem sido “arrependa-se ou queime no inferno”. No entanto, pregar a verdade sem amor é como dar um beijo em alguém com mau hálito. Não importa quão bom seja o beijo, tudo que ficará na memória da pessoa será o nosso mau hálito! É isto que acontece quando, em ira ou desgosto, dizemos aos perdidos como suas vidas são más e depravadas, e como certamente estão indo para o inferno. Embora isso seja verdade, nossa abordagem negativa bloqueia e distorce a mensagem central da Bíblia: que Deus enviou seu Filho, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (ver João 3.17).

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Quando abençoamos os perdidos, paramos de amaldiçoá-los. Não percebemos a frequência com que amaldiçoamos as pessoas, do contrário não faríamos mais isso. Quando dizemos: “Estes adolescentes bebem e até se drogam antes de dirigir; logo, logo, vão acabar se matando”, estamos amaldiçoando. Quando pronunciamos bênçãos sobre nossos vizinhos, nossa cidade é edificada. Mas quando os amaldiçoamos, destruímos a cidade a partir da quadra onde moramos: “Pela bênção dos homens de bem a cidade se exalta, mas pela boca dos perversos é derrubada” (Pv 11.11). Comunicamos paz a fim de neutralizar os demônios designados para cegar as pessoas para a luz do Evangelho. Através dos seus demônios, o diabo está ativamente cegando as pessoas, porque a luz não pode ser obstruída passivamente. São eles que tentam roubar a semente que é lançada nos corações (ver Lucas 8.5, 12). Paulo coloca a tarefa de abrir os olhos dos perdidos em nossas mãos, num contexto de evangelismo e guerra espiritual: “...a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus...” (At 26.17, 18). Para lidar de forma efetiva com nossos inimigos espirituais, não podemos conferir-lhes ainda mais poder, abordando os perdidos em ira. A Bíblia nos ensina claramente que a nossa ira não resolvida dá lugar ao diabo em nosso círculo de influência (Ef 4.26, 27). Maldições só vão fortalecer o domínio demoníaco sobre aqueles que estamos tentando salvar. Para reverter esta situação, precisamos renunciar nossa ira e começar a comunicar paz aos perdidos. Bênçãos são mais poderosas que maldições porque estas podem ser quebradas. Na “queda de braço celestial”, a mão da bênção sempre vence a mão da maldição. Uma atmosfera de bênçãos enfraquece o domínio dos demônios, que logo esmorecem e “saem da mesa”. Paz tangível que muda o clima espiritual. Quando proferimos bênçãos sobre aqueles que estão em nosso círculo de influência, mais cedo ou mais tarde, pessoas que costumavam nos evitar começarão a nos procurar, abrindo a porta para a comunhão (segundo passo). Isso acontece porque realmente sentem as bênçãos que proclamamos sobre elas – elas se sentem abençoadas! Jesus descreveu este tipo de paz como algo quase tangível em Lucas 10. É neste ponto do seu ministério que vemos uma clara mudança no clima espiritual (vv. 17, 18). O momento-chave foi quando os setenta, diferentemente dos doze, concordaram em se misturar de forma amistosa e conciliatória com as mesmas pessoas que o diabo estava usando contra Jesus – os “lobos”, como Jesus os chamara (v. 3). A mudança aconteceu precisamente quando os discípulos comunicaram paz àqueles que estavam prontos para feri-los. Esta ação levaria à reconciliação e à comunhão (vv. 5, 7).

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Para entender melhor isso, devemos lembrar que Satanás não pode nos ferir com apenas um golpe, ele precisa de dois. O primeiro golpe do inimigo é fazer alguém nos ferir tanto que permitimos que o sol se ponha sobre a ira que surgiu em nosso interior. Quando fazemos isso, damos lugar ao diabo. Em seguida, ele entra em nosso acampamento, com total capacidade para nos ferir, porque lhe demos oportunidade para isso. Nossa recusa em perdoar constitui uma espécie de maldição, conforme ilustrado na parábola dos dois devedores em Mateus 18.22, 23. O diabo sabe como desferir este golpe duplo a fim de obter direito legal sobre nós. Se a ira não resolvida dá direito legal ao diabo, então abençoar aqueles que ele usa para nos deixar irados deve anular esta legalidade. Ao comunicar paz sobre cada cidade os setenta anularam a legalidade do diabo numa vasta região. Sem autoridade para sustentá-lo, o diabo não tinha para onde ir, senão para baixo (v. 18). O golpe de Jesus foi uma estratégia envolvente, projetada para cobrir uma área com muitas cidades e povoados. Em Romanos 16.20 lemos que “o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés”. Às vezes damos mais valor para a guerra do que para a paz. O texto diz que o Deus da paz esmagará Satanás e Ele faz isso debaixo dos nossos pés — daí a necessidade de andarmos em paz (ver também Ef 6.15). Jesus já derrotou o diabo no Calvário. Nossa parte agora é marchar em paz sobre o território onde Satanás jaz derrotado pelo sangue derramado na Cruz!

2. Comunhão de duas vias.

Depois que você quebrou o gelo com seus vizinhos, não vá correndo compartilhar o Evangelho com eles. O próximo passo é a comunhão, não a proclamação. Esta só se fará no último passo. A comunhão lhe dá a oportunidade de mostrar aceitação incondicional, recebendo seus vizinhos assim como são, e não como você gostaria que eles fossem. Com muita frequência, agimos de forma muito diferente de Cristo em nossa interação com os perdidos, especialmente com aqueles que são pecadores “diplomados e assumidos”. Nós mal os suportamos, e deixamos dolorosamente claro que não vemos a hora que mudem e se tornem mais parecidos conosco. Esta é a uma atitude destrutiva, indigna de Cristo e de seu reino. O modelo de Jesus propõe uma comunhão de duas vias, com uma ênfase em receber e não em dar de forma unilateral: “Comei do que vos for oferecido” (Lc 10.7).

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Um dos piores erros que cometemos é tratar os descrentes como pessoas sujas, como se não tivessem qualquer valor a menos que se tornem cristãos. Além de errada, esta atitude é muito degradante e só aumenta a distância entre eles e nós. Pior que isso, aumenta o abismo entre eles e Jesus, a quem representamos. Jesus sempre tratou os pecadores com respeito (ex. Zaqueu, a mulher adúltera, etc.). Portanto, nunca devemos tratar os perdidos como pessoas sem valor. Independentemente do nível de pecado em que se encontrem, os perdidos sempre têm valor como seres humanos porque também foram criados à imagem de Deus. Quando permitimos que os descrentes façam alguma coisa por nós, afirmamos seu valor e dignidade como projeto e criação de Deus.

3. Cuidar de suas necessidades. Abençoar os perdidos abre a porta para a comunhão, e a comunhão acaba nos levando ao próximo passo: uma oportunidade para suprir alguma de suas necessidades. Isto só vai acontecer depois que eles confiarem em nós o bastante para nos contar quais são suas necessidades. Nossos vizinhos, antes distantes, vão começar a dividir seus problemas mais profundos, porque sentem que temos uma resposta. E vão pedir a nossa ajuda porque agora têm uma prova tangível de que realmente nos importamos com eles. Embora sua necessidade mais importante seja a salvação, eles ainda não sabem disso. Através de suas necessidades naturais, Deus cria uma avenida para mostrar-lhes que Jesus veio para salvá-los e não condená-los. Além disso, Ele parece ter uma inclinação especial para com as necessidades dos descrentes (ver Mt 9.36, 12.15, 14.14, 19.2, 21.14). A oração é o vestígio mais tangível da eternidade que existe no coração humano. Ainda que não obtenha uma resposta de oração imediata, quando você ora pelas necessidades das pessoas, está tocando estas pessoas no nível mais profundo, o nível do coração. É o ponto mais próximo deles que você pode chegar. Mais cedo ou mais tarde, este toque haverá de atingi-los. Seja paciente. Até um pescador perito não pode forçar o peixe a fisgar a isca. Pescar exige paciência.

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4. Caminho seguro agora. Depois que concluímos estes três passos, é mais fácil levar nossos vizinhos ao Senhor. Você já os abençoou com o que mais falta aos descrentes, que é a paz; supriu-os com a comunhão mais protetora e restauradora que já experimentaram; e ofereceu oração por suas principais necessidades, para as quais não conseguiram achar solução sozinhos. Agora é natural que eles perguntem: “Diga-me, quem é este Deus que me ama?” Eles se sentem seguros para se aproximar de você, porque houve uma melhora gradual no clima espiritual de seu relacionamento durante os passos anteriores do processo. O abençoar abre a porta para a comunhão desinteressada; a comunhão estabelece um nível de confiança, permitindo que eles abram conosco suas necessidades mais urgentes. A oração trata dessas necessidades; ao intercedermos por eles, o Reino de Deus se aproxima deles de forma tangível: “É chegado a vós o reino de Deus” (Lc 10.9). Observe que não os levamos até o Reino — levamos o Reino até eles!

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Atos proféticos Atos proféticos são encontrados em toda a Bíblia e são importantes e poderosos agentes de transformação. Deus disse a Jeremias que fosse à casa do oleiro onde veria um vaso ser quebrado e refeito nas mãos do oleiro, como ilustração concreta de como Deus transforma o natural por meio do sobrenatural (ver Jr 18.1–10). Em outra ocasião, uma pedra foi amarrada a um livro de profecias e lançada no rio Eufrates para ilustrar o iminente juízo de Deus contra a Babilônia (ver Jr 51.60–64). Um ato profético é a modelagem no microcosmo de uma verdade ainda não manifesta no macrocosmo correspondente. É uma parábola viva na qual os personagens abraçam e representam uma verdade que está sendo negada ou rejeitada no contexto mais amplo. Somos instruídos a não desprezar pequenos começos (Zc 4.10). Uma mudança de paradigma, embora pequena quando introduzida por um ato profético, nunca é irrelevante. Não há como calcular a extensão da transformação que uma mudança imperceptível de paradigma pode causar à nossa volta. Por que atos proféticos são tão poderosos? João 8.44 diz:

“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira”.

Quando lemos que o diabo é mentiroso, presumimos que ele mente para nós, mas não para seus subordinados. Se o diabo contasse a verdade aos seus demônios, ele teria de revelar alguns fatos desagradáveis sobre o final dos tempos – sua completa derrota. Se ele permitisse que seus seguidores conhecessem a verdade sobre o destino que lhes espera, é seguro presumir que suas tropas não lutariam por ele com tanta intensidade. O primeiro propósito de uma mentira é sempre exercer alguma forma de controle sobre a pessoa que está sendo enganada. A verdade é sempre mais poderosa que a mentira; mas aqueles que acreditam numa mentira ficam, dentro do escopo dessa mentira, sob o controle do mentiroso.

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Por outro lado, quando até mesmo um grupo pequeno de pessoas afetadas por tais mentiras realiza um ato profético que exemplifica e declara o oposto do que é proclamado por uma mentira específica, então um círculo de verdade é desenhado ao redor do diabo, expondo seu estratagema para que todos o vejam, pois ele não suporta a verdade. A fim de ter êxito, um mentiroso deve ocultar o fato de que é um mentiroso; do contrário, ninguém crerá em suas mentiras. O diabo evita a verdade para que seu disfarce não seja descoberto. Um ato profético faz exatamente isso: altera e expõe, através da inserção da verdade, o disfarce diabólico cuidadosamente orquestrado de mentiras entretecidas. Nossa hora oportuna chega quando a mentira é exposta e sua aura de imutabilidade é removida. Embora as circunstâncias na esfera natural ainda possam parecer as mesmas, um ato profético chama à existência coisas que ainda não existem, como se já existissem. Num ato de guerra espiritual dirigido contra o diabo, confessamos com os nossos lábios o que escolhemos crer em nossos corações. É o que está implícito em Apocalipse 12.11: “E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte”. A verdade espiritual nunca pode permanecer dormente; precisa ser declarada. E quando isto acontece, a verdade desafia e, no fim, muda aquilo que se lhe opõe. Como resultado, o que se pensava ser impossível (por causa da mentira de Satanás) torna-se possível agora (através da verdade de Jesus) – e não somente naquele tempo e espaço específicos, mas também depois. Como ondulações numa lagoa, a verdade falada se projeta para fora em círculos cada vez maiores, postos em movimento pelo ato profético inicial. Quando abrimos um buraco nas trevas, a princípio a luz passa apenas com certa dificuldade por ele. Mas ela continua se espalhando, até que o manto de escuridão uma vez impenetrável acaba desaparecendo. Foi isso que aconteceu em San Nicolas (Argentina) em 1997 em que, um ato profético simples, porém de coragem, não apenas destruiu o poder do engano de Satanás sobre a cidade (que dizia que a cidade era dele e que nada mudaria seu “status quo espiritual”), mas continua a espalhar esperança por todo o mundo. Muitos dos 360 representantes de quatro continentes que participaram daquela campanha evangelística voltaram para suas cidades de origem e realizaram atos proféticos semelhantes com resultados semelhantes. Hoje, inúmeras cidades experimentaram uma mudança no clima espiritual para melhor como resultado indireto do que foi feito ali — uma impres-sionante colheita cuja origem foi a despretensiosa semente plantada pela primeira vez em minha cidade natal!