EVANGELHO DE JESUS

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EVANGELHO DE JESUS Leitura do Pe Mário de Oliveira [Capa do livro e foto de Mário de Oliveira]

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EVANGELHO DE JESUS | Leitura do Pe Mário de Oliveira

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EVANGELHO DE JESUS

Leitura do Pe Mário de Oliveira

[Capa do livro e foto de Mário de Oliveira]

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por

J. C. Macedo

A visão de mundo que temos relaciona-se às circunstâncias da memória da pessoa em si que gera a necessidade de estar em comunidade, logo, a geração de uma cultura própria. Quando se fala de Divindade e de Igreja fala-se de Cultura feita de narrativas, fala-se de fé no algo que nos transcende, e então, sobressai a História que nos chega de geração em geração. Neste algo que é da pessoa e é da comunidade está a identidade humana localizada em raízes, mas também o algo que nos chega de outros mundos humanos, como é o caso da Religião – essa marca sociocultural que carregamos, primeiro, pela educação familiar, e depois, pela fé que alimentamos na Tradição de sermos o que somos no âmbito da nossa comunidade, de maneira crítica ou não. Quando ouvi, pela primeira vez, na Lixa [norte de Portugal], o padre Mário de Oliveira [o Pe Mário da Lixa], conheci um trabalho cultural e teológico, essencialmente cristão e contrário ao igrejismo mercantil do catolicismo imperialmente romano sediado no Vaticano, um trabalho que lhe valeu a perseguição política dos esbirros fascistas de Salazar, por um lado, e dos bispos mercantilmente pançudos, por outro lado. Obviamente, o padre revolucionário ficou isolado, mas, não deixou de lutar bravamente para demonstrar que a liberdade da pessoa só existe quando ela batalha por si e pela sua comunidade. O amigo comum Manuel Reis, que dirige o Centro de Estudos do Humanismo Crítico, a partir de Guimarães [Portugal] e com diretório para a América Latina, enviou-me o livro EVANGELHO DE JESUS, SEGUNDO MARIA, MÃE DE JOÃO MARCOS, E MARIA MADALENA, na praça literária a partir de Março de 2012. É o mais novo trabalho de Mário de Oliveira, agora, na forma de provérbios.

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E neste campo literário, posso afirmar que é uma obra de excelência cultural e teológica na avaliação crítica do mito e da fé – do mito, o poder identitário que escraviza e corrompe; da fé, a identidade religiosa das pessoas que comungam a liberdade. Não por acaso, este livro de Mário vem sugerido por Reis como um traço do humanismo crítico que eleva a consciência para o acto libertador na óptica da Sociedade que se exprime por vontade própria. O livro surge, também, no momento em que a professora Joanne Paisana e Reis lançam outra leitura: A FACE RELIGIOSA DE WILLIAM BLAKE. O ´velho diabo´ londrino soube esconder através da sua arte uma religiosidade sublimada na estética socialmente apocalíptica, e agora, num paralelo necessário, lembro que Jesus fez o mesmo e que Paulo/Saulo, mesmo a trair a herança judaica jesuana, continuou o ritual para dar à luz uma Igreja poderosamente temporal. Entretanto, e seccionando as circunstâncias, nem Jesus nem Blake ousaram ser mais do que eram, e foram o que realizaram entre mulheres virtuosas, enquanto Paulo/Saulo ousou imitar o império romano para legar à humanidade uma corrente que corrompe e destrói teologicamente... É o que leio, também, na história que Mário de Oliveira nos traz através de provérbios, pois, a leitura dos textos não reconhecidos pelo Vaticano, e particularmente o texto de Maria Madalena, demonstram que o jesuanismo foi esquecido tão logo a percepção de Poder foi arquitectada pela visão paulina. Ora “a memória é (um)a força motriz da identidade e quando ela é culturalmente preservada torna-se voz e acto da humanidade, cuja fé em si mesma transita entre a telúrica essência e a luminosidade cósmica” [João Barcellos – in O discurso libertador de Manuel Reis como aposta de Cultura Nova sob a óptica do Jesuanismo; artigo. Rio de Janeiro - Brasil, 2009]. Assim é que reencontro o Pe Mário da Lixa nos evangelhos lidos, analisados e apresentados na forma de provérbios – i.e., uma forma literária que possibilita uma outra leitura criativa, aquela pela qual a filósofa e matemática Hypatia, de Alexandria, expressava a liberdade religiosa, sem que com isso se perca a perspectiva antropológica do assunto em pauta: a memória e a identidade da pessoa.

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Ninguém é pobre ou rico por opção: o poder que corrompe cria as condições para a concepção social e econômica de quem é mandado e de quem manda; assim é na Sociedade, assim é na Igreja. A saber, portanto: a Igreja imita o mercantilismo capitalista para se manter societariamente activa na sua identidade corporativa mundializada [católica] segundo a visão paulina, logo, a acção teológica paulina não poderia ter por referências a Palavra jesuana nem a memória de Maria Madalena. A análise antropológica feita por Mário de Oliveira é, neste livro, uma admirável licção de ousadia pela liberdade de expressão segundo a História registada por quem a vivenciou. Eis que a memória de quem viveu os momentos jesuanos não poderia ser “aproveitada” para gerar um novo evangelho para os gentios alheios à realidade religiosa judaica; por isso, ou foi esquecida ou foi deturpada! O livro EVANGELHO DE JESUS, SEGUNDO MARIA, MÃE DE JOÃO MARCOS, E MARIA MADALENA é um instrumento para análises antropológicas profundas, por mais preocupantes que elas se apresentem à [in]consciência de quem somente vê o mundo pela fé de uma divindade que lhe castra a liberdade...

MACEDO, J, C. – jornalista e editor. EVANGELHO DE JESUS, SEGUNDO MARIA, MÃE DE JOÃO MARCOS, E MARIA MADALENA - Edium Editores [www.ediumeditores.org]; Portugal, 2012.