Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com...

47
1 O MOMENTO Com a Revolução Industrial iniciada na Europa no século XIII, toda a civilização entrava em uma nova fase caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade. O capitalismo se estrutura em moldes modernos com o surgimento de grandes complexos industriais. Ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. A chamada 2 a Revolução Industrial cria uma demanda por matéria-prima e mercado consumidor ; é o imperialismo em ação. As influências das potências européias sobre os países de baixa renda se fortificam neste novo quadro. A crise de 1873, que provoca a falência de investidores nas metrópoles européias devido ao excesso de produção e/ou à escassez de mercado consumidor, aumenta o interesse de tais potências por países que já possuem alguma dependência econômica ou política (por exemplo a Austrália, ex-colônia da Inglaterra e os países da América Latina em geral). Essa forma de dependência o historiador Nicolau Sevcenko chamou de indirect rule: “...as formas das relações que se estabeleceram entre as nações periféricas ao desenvolvimento industrial e os centros econômicos europeus, modeladas pela indirect rule do novo imperialismo, foram de natureza a dissolver-lhe as peculiaridades arcaicas e harmonizá-las com um padrão de homogeneidade internacional sintonizado com os modelos das matrizes do velho mundo. ”(SEVCENKO, 1981: 32)

Transcript of Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com...

Page 1: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

1

O MOMENTO

Com a Revolução Industrial iniciada na Europa no século XIII, toda a

civilização entrava em uma nova fase caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e

da eletricidade. O capitalismo se estrutura em moldes modernos com o surgimento de

grandes complexos industriais. Ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas

descobertas nos campos da Física e da Química.

A chamada 2a Revolução Industrial cria uma demanda por matéria-prima e

mercado consumidor ; é o imperialismo em ação. As influências das potências européias

sobre os países de baixa renda se fortificam neste novo quadro. A crise de 1873, que

provoca a falência de investidores nas metrópoles européias devido ao excesso de

produção e/ou à escassez de mercado consumidor, aumenta o interesse de tais potências

por países que já possuem alguma dependência econômica ou política (por exemplo a

Austrália, ex-colônia da Inglaterra e os países da América Latina em geral). Essa forma

de dependência o historiador Nicolau Sevcenko chamou de indirect rule:

“...as formas das relações que se estabeleceram entre as nações periféricas ao

desenvolvimento industrial e os centros econômicos europeus, modeladas pela indirect

rule do novo imperialismo, foram de natureza a dissolver-lhe as peculiaridades arcaicas

e harmonizá-las com um padrão de homogeneidade internacional sintonizado com os

modelos das matrizes do velho mundo. ”(SEVCENKO, 1981: 32)

Foi através desta “regra indireta” que os centros capitalistas europeus

estabeleceram seus padrões de vida como padrões universais, atingindo principalmente

suas áreas de influência da periferia do sistema. Os avanços tecnológicos e científicos

também dão margem à posturas ideológicas como o Positivismo de Auguste Comte e o

Socialismo Científico de Marx e Engels, que define o modo de produção da vida

material como agente condicionador do processo de vida social, político e intelectual

em geral. O Socialismo Científico era assim chamado porque não procurava construir

abstratamente uma sociedade ideal mas, baseando-se na análise das realidades

econômicas, da evolução histórica e do capitalismo, formula leis e princípios

determinantes da História em direção a uma sociedade sem classes e igualitária. O

Evolucionismo de Charles Darwin também é incorporado neste quadro; em seu livro A

Origem das Espécies de 1859, Darwin expõe seus estudos sobre a evolução das espécies

pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida pelo

Cristianismo.

Page 2: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

2Com a expansão do capitalismo, difundiram-se também estas idéias nascidas na

Europa, o abalo desta influência sobre as sociedades tradicionais foi gritante,

especialmente em países da periferia do sistema, como a Argélia com o Levante

Argelino de 1871, o Egito com o Movimento Nacional Egípcio de 1879-1882, e o Brasil

com a Guerra do Paraguai de 1864-1870 que abalou os ideais conservadores.

O Brasil do final do século XIX foi marcado por inúmeras agitações sociais,

desde movimentos separatistas como a Confederação do Equador, agitações

abolicionistas, a própria abolição e até a República. O maior centro populacional do

país, o Rio de Janeiro, também era considerado um grande centro comercial por

intermediar os recursos da economia cafeeira, a capital inicia o século XX em uma

situação realmente excepcional. A cidade era um espaço de confluência cultural e

econômica que se comunicava com todo o país e acumulava recursos no comércio, nas

finanças e já também nas aplicações industriais.

Ao mesmo tempo, com o processo de abolição e com a vinda de imigrantes, a

cidade passava por uma superlotação, que demandava capital móvel para fazer o

pagamento dos trabalhadores, agora livres. O então ministro da Fazenda, Rui Barbosa,

dá início à um processo de incentivo às atividades nas bolsa de valores, foi o chamado

Encilhamento. Este processo causou uma confusão maior ainda na cidade, pois fortunas

mudavam de mãos, dizia-se que “o rico de hoje era o tintureiro de ontem”, não se sabia

mais quem possuía poder político ou econômico. Adiciona-se a essa confusão, a enorme

e sempre crescente população da cidade que passou a se instalar em casarões formando

cortiços e verdadeiros “ântros de promiscuidade”.

Sob a influência das ideologias européias, o Estado brasileiro inicia o processo

de Regeneração do Rio de Janeiro, que tem como objetivo “higienizar” a cidade,

mandando a população pobre para a periferia (dando origem às favelas), e procurando

construir uma imagem moderna para a capital do país. A Regeneração foi financiada por

investidores estrangeiros que se aproveitavam da indirec rule, característica dominante

no país. Além disso a modernização da cidade facilitaria o espaço de fluxo de matéria-

prima aos portos brasileiros, e assim, facilitaria a ação do imperialismo.

Na República, “confrontavam-se” Liberais, que se representavam basicamente

pela elite paulista influenciada pelo cosmopolitismo progressista internacional e os

Conservadores representados pela vanguarda republicana, positivista e militar,

influenciada por estigmas de intolerância e isolamento. Na prática, os ideais destes dois

grupos são indiferenciáveis: “nada mais conservador do que um liberal no poder”, a

República dos Conselheiros se dava então, com o revezamento da gestão das duas

Page 3: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

3classes. O texto de Machado de Assis Esaú e Jacó ilustra bem a “política de acordos”

característica marcante no Brasil de então.

(texto do Machado)

É neste complexo quadro que se dá a formação de Euclides da Cunha, ele, como

muitos de seus contemporâneos sofreu as influências desta sociedade caótica e das

ideologias vindas de além mar.

O CONTEXTO

Para que consigamos compreender a obra de Euclides da Cunha de uma forma

mais completa, é estritamente necessário que façamos um breve parênteses, e olhemos

quais eram essas “tão famosas” idéias cientificistas, positivistas e deterministas que

influenciaram o autor, ou seja: vamos buscar as fontes nas quais Euclides da Cunha

“bebeu”. Tentar enquadrá-lo no contexto histórico-intelectual em que viveu.

Antes de mais nada, é importante relembrarmos que o continente Americano,

mais conhecido como Novo Mundo, sempre povoou o imaginário europeu. Exemplos

clássicos, são o mito do “bom Selvagem” de Rousseau (uma espécie de herança do

ideais da Revolução Francesa), onde o autor defendia a maior perfectibilidade do

homem americano ( nativo), por ter se conservado no seu estado natural. Outro exemplo

são as idéias de Buffon e De Pauw, que contrariamente a Rousseau, viam os americanos

como degradados, imaturos e decaídos.(SCHWARCZ, 1993:45)

Mas tal discussão não se finda no séc. XVIII. No século seguinte ela ganha

ainda mais amplitude, entrando no campo de ciência - que na época ganha o status de

ser a única e verdadeira forma de se ver e pensar o mundo. E dentro desse contexto

cientificistas, George Cuvier introduz o termo raça - mostrando a existência da herança

de caracteres físicos permanentes entre os vários grupos humanos (SCHWARCZ,

1993:47) - que, consequentemente irá se confrontar com os ideais igualitários da

Revolução Francesa, principalmente porque, a partir de então, o termo raça, estará

vinculado a outro: cidadania.

Ao ser legitimada, algumas das principais questões que a ciência irá estudar são

a origem e diversidade da humanidade - tendo sempre em vista uma resposta absoluta e

verdadeira. E o principal debate dobre essa questão se dará entre os monogenistas e

poligenistas. Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma

origem e que as diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor proximidade

Page 4: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

4do Éden (teoria difundida pela Igreja Cristã), os poligenistas, que baseados em recentes

estudos de cunho biológico, acreditavam que haviam diversos núcleos de produção

correspondentes aos diferentes grupos humanos(SCHWARCZ, 1993: 47). Conseqüentes

a esse debate, surgiram no séc. XIX disciplinas e sociedades não só divergentes como

rivais. Exemplos claros será o surgimento de antropologia criminal, que considerava

que a criminalidade era algo genético, a frenologia e a antropometria, que calculavam a

capacidade humana de acordo com o tamanho do cérebro de indivíduo estudado dos

diferentes grupos humanos, a craniologia, estudo do crânio, dentre outros.

Entretanto o debate tomará novo fôlego com a publicação do livro A Origem das

Espécies de Charles Darwin em 1859. A partir de então o termo raça ultrapassará o

campo da biologia, se estendendo às discussões culturais e políticas, além de imprimir o

conceito de evolução às duas visões descritas acima, que muitas vezes irão desvirtuar ou

“adaptar” as teorias darwinistas no que lhes fosse mais conveniente.

Os adeptos do poligenismo são os que melhor realizam essa “adaptação” das

teorias de Darwin e acabam tendo seus ideais mais difundidos em relação ao seus rivais

monogenistas (é importante frisar que nesse mesmo momento os dogmas da Igreja

estavam sendo questionados pelos cientistas). Exemplos disso são a sociologia evolutiva

de Spencer e a história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento do

“Imperialismo Europeu” que se instala nesse momento.

A espécie humana passa a ser tratada como gênero humano e suas diferenças

culturais são classificadas como diferenças entre espécies: o Homem é dividido e

hierarquizado por suas diferenças; e quanto mais longe uma “espécie” se manter da

outra melhor para todos. Mas surge um problema: o que fazer então com os grupos

miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte americanos

como Broca, Gobineau e Le Bom, consideravam a miscigenação um erro, uma quebra

das leis naturais, uma subversão do sistema. Segundo Lilia M. Schwarcz: “Os mestiços

exemplificavam, segundo essa última interpretação, a diferença fundamental entre as

raças e personificavam a ‘degeneração’ que poderia advir do cruzamento de espécies

diversas”.(SCHWARCZ, 1993: 56)

Frente a todo esse impacto causado pela publicação de Charles Darwin, outras

disciplinas- ainda vinculadas às duas visões sobre a origem e diferença do Homem- irão

surgir. Dentre elas, algumas se destacam: a Antropologia cultural ou Etnologia Social

que restitui a idéia de que a humanidade tinha apenas uma origem e sua diferença era

proveniente do processo evolutivo que ela estava fadada a passar e tinha como seus

principais defensores: Morgan, Tylor e Frazer, chamada de escola evolucionista.

Page 5: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

5Numa perspectiva mais vinculada ao poligenismo, aparece a escola determinista

geográfica de Ratzel e Buckle que afirmavam que o desenvolvimento ou não de uma

nação estava totalmente condicionada pelo meio físico. Houve também outra escola

determinista conhecida como “darwinismo social” ou “teoria das raças”, que

considerava a miscigenação algo negativo, já que não acreditava que as características

adquiridas não eram transmitidas, ou seja: as raças eram imutáveis. Tal escola

acreditava na existência de três raças bem distantes, o que invalidava a mestiçagem. O

mundo dividido culturalmente era conseqüência da divisão de raças, e havia a raça

superior. Muitos autores acreditavam nesse ideais como: Le Bom que achava que o

“gênero” humano compreendia espécies de diferentes origens. Taine que considerava o

indivíduo resultante direto de seu grupo construtor e que raça e nação são sinônimos.

Renase que acreditava na existência e hierarquização das três raças. E por fim Gobineau

que afirmava que o resultara da mistura era sempre um dano.(SCHWARCZ, 1993: 56)

Essas premissas da escola determinista, principalmente a que defendia a

existência de uma raça superior, serviram de base para um movimento que existe até

hoje: a Eugenia, que acreditava que só haveria progresso nas sociedades puras, apenas

uma raça estava fadada à perfectibilidade, a raça ariana e a humanidade estava dividida

em espécies: a miscigenação se torna algo irracional, contra todas as “leis naturais”. A

Europa e os E.U.A. . difundiram essas idéias pelo mundo, e elas irão influenciar

escritores e pensadores de toda parte.

Os europeus acreditavam que compunham um grupo humano puro, livre de

hibridização, muito mais perto da perfectibilidade e justamente por isso era o

responsável pela civilização dos demais grupos - argumento que justifica e legitima

tanto a colonização americana como o “Imperialismo Europeu”, o fardo do homem

branco. Já os norte americanos, mesmo tendo sido colônias da Europa, comprovaram

seu desenvolvimento, principalmente por terem evitado a miscigenação entre o branco

dominador e o negro escravo. E tudo o que foi dito acima serve de justificativa para que

o debate da mestiçagem se dê de forma muito menos complexa nesses lugares. No

Brasil, como no restante da América Latina, o mesmo não ocorre, a miscigenação é um

fato. E mais do que um fato, ela vai se tornar um obstáculo, quando estudiosos e até

mesmo cientistas (tanto nacionais como estrangeiros) forem analisar o território

brasileiro em busca de uma identidade nacional. O Brasil se tornara uma espécie de

laboratório vivo, onde cientistas procuraram comprovar na prática o que compuseram, e

onde “ilustrados” brasileiros buscaram desesperadamente uma unidade, uma

Page 6: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

6homogeneidade para definir o povo brasileiro, tendo como principal fonte de estudo , a

ciência do séc. XIX descrita acima.

A VIDA

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no

dia 20 de janeiro de 1866. Foi criado pelos parentes, pois sua mãe morreu quando ele

tinha três anos.

Após concluído o ginásio, ingressou na Escola Politécnica, para cursar

engenharia. Devido às dificuldades financeiras, Euclides teve que largar o curso, e

transferiu-se para Escola Militar da Praia Vermelha. Lá, reencontrou Benjamim

Constant, seu antigo professor no Colégio Aquino, e de quem absorveria idéias

positivista e republicanas.

Já identificado com os princípios republicanos, Euclides da Cunha cometeu um

ato de insubmissão contra a Monarquia, quando cadete na fortaleza da Praia Vermelha:

durante a visita do ministro da Guerra do Império, o conselheiro Tomás Coelho, atirou

seu sabre aos pés deste, num gesto de contestação ao regime. Foi expulso do Exército

por indisciplina.

Mudou-se para São Paulo e começou a escrever no jornal “A Província de São

Paulo” (futuro “Estado de São Paulo”, após a proclamação da República). Com a

vitória republicana, voltou ao Exército e concluiu a Escola Militar, formando-se em

Engenharia com bacharelado em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

Em 1894, foi praticamente exilado (dão-lhe a incumbência de dirigir a

construção de um quartel na cidade mineira de Campanha) por assumir posição

antiflorianista. De lá, voltou para São Paulo para escrever no “Estado de São Paulo”.

Em 1897, Euclides foi mandado para Canudos pelo jornal como correspondente

para reportar os eventos que lá ocorriam. Enviou uma série de artigos que, futuramente,

dariam origem ao “Os Sertões”. O livro foi concluído em São José do Rio Pardo, onde

morou até 1901.

“Os Sertões” alcançam repercussão nacional, permitindo a Euclides ingressar no

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras. Nada

disso fez com que Euclides tivesse sua vida mais facilitada. Continuou com a

Engenharia, com momentos de desemprego, enfrentando dificuldades financeiras.

Page 7: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

7Em 1909, ingressa no Colégio PedroII, no Rio de Janeiro, para ministrar a

cadeira de Lógica. No mesmo ano é assassinado pelo amante de sua mulher, Ana de

Assis, durante uma troca de tiros. Morre com 43 anos de idade. Ensaísta e narrador

extraordinário de Os sertões, Euclides da Cunha é o primeiro escritor a encarnar o

gigantismo da terra brasileira, fazendo de sua obra um dos principais alicerces da

consciência nacional.

A OBRA

1) CONTRASTES E CONFRONTOS, 1907. Coletânea de artigos saídos na imprensa

2) PERU X BOLÍVIA,1907. Estudo técnico sobre o litígio fronteiriço entre esses dois

países andinos. Através de material técnico e histórico, Euclides mostra os erros que

terminaram por orientar a delimitação territorial entre Peru e Bolívia.

3) À MARGEM DA HISTÓRIA,1909. Obra publicada após a morte de Euclides

também reunindo artigos saídos na imprensa.

4) CADERNETA DE CAMPO,1975

CANUDOS, DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO, 1939.

Ambos os livros foram organizados valendo-se de textos que Euclides publicou no

“Estado de São Paulo” entre Agosto e Setembro de 1897. Mostra como, ao produzir “Os

Sertões”, Euclides retrabalhou seus escritos anteriores.

Page 8: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

8

A CIÊNCIA E O PAÍS

A historiografia das ciências no Brasil é caracterizada pelo fato de considerar a

criação das universidades na década de 30 do século XX como sendo a introdução da

ciência no Brasil. A prática científica nos períodos anteriores a essa data é geralmente

considerada como resultado da influência européia, não passando de mera repetição e

copias das teorias vigentes na Europa.

Não acreditamos que todo o trabalho intelectual brasileiro desde meados do

século XIX possa ser considerado simples imitação, já que isso significaria "cair em

certo reducionismo, deixando de lado a atuação de intelectuais reconhecidos na época, e

mesmo desconhecer a importância de um momento em que a correlação entre a

produção cientifica e o movimento social aparece de forma bastante

evidenciada."(SCHWARCZ, 1993: 17)

No caso das teorias raciais parece ainda mais improvável a hipótese delas terem

sido "importadas" e reproduzidas aleatoriamente no Brasil. Elas podiam trazer uma

sensação de proximidade com a Europa e uma confiança no progresso e na civilização,

"pareciam justificar cientificamente organizações e hierarquias tradicionais que pela

primeira vez começavam a ser colocadas publicamente em questão"(SCHWARCZ,

1993: 18), mas também traziam um enorme mal estar. Como encarar a interpretação

pessimista da mestiçagem presente nessas teorias num país já tão miscigenado?

Aceitar, copiar e reproduzir essas teorias no Brasil iria inviabilizar um projeto de

construção nacional que mal tinha começado. Os homens de ciência brasileiros tiveram

que achar uma resposta original, adaptando essas teorias utilizando o que combinava e

descartando o que era problemático para a construção de um argumento racial no país.

Esses homens são encontrados nos grupos de intelectuais reunidos nos diversos

institutos de pesquisa e "longe de conformarem um grupo homogêneo (...) estes

intelectuais guardavam, porém, certa identidade que os unia: a representação comum de

que os espaço científicos dos quais participavam lhes davam legitimidade para discutir e

apontar os impasses e perspectivas que se apresentavam para o país"(SCHWARCZ,

1993: 37).

A ciência era para esses homens o único caminho possível para as

transformações e sobrevivência do Brasil. A vertente cientificista buscava encontrar as

leis que organizavam a sociedade brasileira, que determinavam a formação do gênio, do

espírito e do caráter do povo. Segundo essa mesma vertente, recorrendo à leis e métodos

Page 9: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

9gerais, seria possível encontrar as especificidades da evolução brasileira e, assim,

deduzir seu rumo. Como apontou Sevcenko essa atitude seria "uma versão desdobrada

do lema lapidar do positivismo: 'Prever para Prover"(SEVCENKO, 1981: 103).

A necessidade de conhecer o Brasil também estava calcada no medo que muitos

dessa geração tinham de que o país fosse invadido pelas potências expansionistas e

viesse a perder autonomia ou parte do território. O próprio Euclides da Cunha pregava a

necessidade da colonização do interior e a construção de uma rede interna de

comunicação viária.

Essa atitude reformista e salvacionista pretendia criar um saber próprio sobre o

Brasil nos seus mais diferentes aspectos e resultava em duas reações da comunidade

científica. A primeira era acreditar no curso natural dos acontecimentos, sublimando as

dificuldades presentes e transformando a sensação de inferioridade em um mito de

superioridade. A segunda era buscar m conhecimento profundo do país para descobrir

um certa ordem no caos presente.

Acreditamos que Euclides da Cunha esteja no segundo grupo, não só porque em

momento algum aponta o embranquecimento natural da população, mas, principalmente

pelas suas tentativas de determinar um tipo ético representativo da nacionalidade ou,

pelo menos, simbólico dela.

Euclides da Cunha e a comunidade científica

Na obra de Euclides da Cunha podemos perceber a influência de várias teorias

que estavam em voga na época e, por isso, temos que entender como ele entrou em

contato com elas. O regulamento implantado em 1874 na Escola Militar da Praia

Vermelha, onde Euclides da Cunha realizou seus estudos de engenharia, foi implantado

num "ambiente intelectual já permeável às doutrinas cientificistas, de cunho positivista,

evolucionista ou determinista."(SANTANA: 35)

Por adotar o modelo francês uma das principais características da Escola Militar

era a ênfase dada aos estudos matemáticos e um currículo que abrangia as ciências

básicas para a formação de um engenheiro. Segundo Walnice Galvão, o estudo na

Escola Militar foi muito importante para o conhecimento presente nos Sertões, "se

compararmos as áreas de conhecimento que lá são mobilizadas com o currículo da

Escola quando ele era aluno, verificamos que ele já estava familiarizado com boa parte

delas. Tinha estudado na Escola química orgânica, mineralogia, geologia, botânica,

arquitetura civil e militar, construção de estradas, desenho topográfico, ótica,

Page 10: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

10astronomia, geodésia, administração militar, tática e estratégia, história militar, balística,

mecânica racional, tecnologia militar e as matemáticas.(...) Como matérias de currículo,

não teriam sido obrigatoriamente estudadas a fundo, conforme se percebe no livro, mas

é com vistas afinadas para estes saberes que Euclides avalia Canudos e a

guerra."(SANTANA: 43)

Como podemos explicar então o fato de teorias não necessariamente ligadas com

a engenharia estarem presentes na obra de Euclides da Cunha, já que como afirma

Sevcenko, ele se utiliza de "bases genéricas do comtismo, para fundi-las com a

sociologia organicista e a filosofias biossociais de cunhagem inglesa e

alemã"(SEVCENKO, 1981: 149). O contato com as correntes cientificistas não se

davam exclusivamente via sala de aula, mas "incorporadas ao cotidiano dos alunos

através de revista e sessões de sociedades estudantis, onde se poderiam acompanhar os

debates das teorias cientificistas mais modernas, como as de Spencer, Haeckel e

Darwin."(SANTANA: 35)

Depois de formado, Euclides da Cunha continua em contato com os escritos

desses autores e também passa a ler escritos sobre o Brasil, como as obras de

Varnhagem, Morize, Caminhoá, Silvio Romero, Capistrano de Abreu, Teodoro

Sampaio, Derby, Saint-Hilaire, Liais. Em São Paulo Euclides da Cunha encontra alguns

desses novos autores que foram contratados para trabalhar nas recém implantadas

instituições, das quais são exemplos: a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo

(1886), o Instituto Agronômico de Campinas (1887), o Instituto Bacteriológico de São

Paulo (1892), a Escola Politécnica de São Paulo (1893) e o Museu Paulista (1894).

Euclides da Cunha era um integrante dessa comunidade científica e, apesar de só

entrar para o IHGB depois de escrever os Sertões, já era filiado ao IHSP desde 1897 e à

Comissão de História e Estatística de São Paulo desde 1898. Estes eram os espaços que

permitiam a relação entre os filiados e as outras instituições e, principalmente, a difusão

dos trabalhos dos pesquisadores.

Page 11: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

11

O LIVRO

A divisão interna da obra é fruto da influência sofrida por Euclides do

historiador francês Taine, o qual formulou no seu livro “Histoire de la Littérature

Anglaise(1863)”, a concepção naturalista da história – teoria que defendia que a

história é determinada por três fatores: meio, raça e momento. Tal concepção naturalista

foi seguida pelo autor ao dividir “Os Sertões” em três partes correspondentes aos

fatores de Taine: “A Terra”, “O Homem” e “A Luta” . É também do historiador francês

a citação que consta na nota preliminar do livro a qual traz a idéia que o “narrador

sincero” deveria ser capaz de se sentir um bárbaro entre os bárbaros, com um antigo

entre os antigos.

No plano interpretativo, o professor Alfredo Bosi propõe a divisão da obra em

dois grandes planos: primeiro o plano histórico, que corresponde a parte final do livro –

“ A Luta” – , sendo que este é seguido pelo plano interpretativo que, por sua vez,

corresponde às duas divisões iniciais do mesmo (“A Terra” e “O Homem”). O

momento histórico se reflete na obra tanto na estrutura determinista (que defende que os

estudos devem partir dos aspectos geológicos, passando para detecção das variações

climáticas para finalmente chegar ao último elo da cadeia que é o homem) quanto no

raciocínio homólogo entre as ciências, onde verificamos a transposição de idéias da

biologia e geologia para a explicação dos fenômenos humanos.

Como pudemos observar ao longo do presente trabalho, Euclides da Cunha era,

em poucas palavras, um engenheiro militar, republicano, positivista que viveu na

segunda metade do século XIX em um país culturalmente preso à França; e é com esse

indivíduo que devemos nos dialogar durante a leitura desta obra. Até agora, nos

detemos em fazer uma análise do momento, do contexto, da vida, da ciência no Brasil,

que envolveram o autor e sua obra, pois acreditamos que esse é o instrumental teórico

necessário para analisar um texto de tão profundo impacto quanto “Os Sertões”. Uma

leitura que eventualmente não atente para estes detalhes pode deixar de observar a

importância desta obra, ou então, cometendo um anacronismo imensurável, taxá-la de

racista.

Passemos agora ao texto e suas características principais.

A “Nota Preliminar” da obra mostra, de uma maneira resumida, qual é o

instrumental teórico do autor. Quando Euclides usa termos como “sub-raça sertaneja”,

Page 12: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

12ele admite ser adepto tanto do determinismo biológico quanto do darwinismo social. A

marcha da civilização avançaria inexoravelmente sobre o sertão “no esmagamento

inevitável das raças fracas pelas raças fortes” (GALVÃO, 1998: 14), porém, a

Campanha de Canudos constituía em um retrocesso, um crime. Este é o primeiro

grande contraste de uma obra cheia deles: os homens desenvolvidos do sul e do litoral

que deveriam civilizar a sub-raça que vivia isolada na “terra ignota” do interior, leva na

verdade a morte para homens, mulheres, velhos e crianças.

O PLANO INTERPRETATIVO

As características de topógrafo, engenheiro e geógrafo, colocam em destaque a

riqueza técnica e a sensibilidade do autor na descrição das várias paisagens do Brasil.

Um exemplo dos conhecimentos técnicos é quando o mesmo explica a sazonalidade e a

previsibilidade das secas do nordeste. Neste trecho fica demonstrado que o autor não só

descreve como problematiza as questões climáticas porque tem conhecimento de causa.

“Como quer que seja, o penoso regime dos estados do Norte está em função de agentes

desordenados e fugitivos, sem leis ainda definidas, sujeita às perturbações locais,

derivadas da natureza da terra. Daí as correntes aéreas que o desequilíbram. (...)Um

dos motivos da seca repousa, assim, na disposição topográfica.(GALVÃO, 1998: 43)

O sertão é tão inóspito que até a natureza se contorce para ali viver. E como a

natureza também o homem se modifica e se adapta a ela.

Euclides denuncia de certa forma o fato desta área ser muito mal estudada, e,

até nessa questão, culpa a natureza por isso. O sertão e o sertanejo são algo nunca dantes

entendidos e estudados e isto é um dos fatores que fizeram de sua obra tão lida e tão

comentada na época.

As comparações entre o sul e o norte mostram que desde o início da obra

Euclides tem como objetivo mostrar como que, através do determinismo geográfico, se

formou uma sub-raça mestiça no sertão. O sul seria a terra que atraí o homem e o norte

a que expulsa, como podemos ver nos trechos abaixo:

“E por mais inexperto que seja o observador – ao deixar as perspectivas majestosas,

que se desdobram ao Sul, trocando-as pelos cenários emocionantes daquela natureza

torturada, tem a impressão persistente de calcar fundo recém-sublevado de um mar

extinto, tendo ainda estereotipada naquelas camadas rígidas a agitação das ondas

voragens”(GALVÃO, 1998: 29)

Page 13: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

13“ Ora, estas largas divisões, apenas esboçadas, mostram já uma essencial entre o Sul e

o Norte, absolutamente distintos pelo regime meteorológico, pela disposição da terra e

pela transição variável entre o sertão e a costa.”(GALVÃO, 1998: 74)

A partir de tais comparações o autor toma como certeza que a aclimatação dos

indivíduos seria prejudicial para o desenvolvimento dos mesmo. O europeu do que

colonizou o Norte teria sido corrompido pelo clima, já o do sul teria mantido as

características superiores pela mesma razão.

“A aclimatação traduz um evolução regressiva. O tipo desaparece num esvaecimento

contínuo, que se lhe permite a descendência até à extinção total. Como o inglês nas

Barbadas, na Tasmânia ou n Austrália, o português no Amazonas, se foge ao

cruzamento, no fim de poucas gerações tem alterados os caracteres físicos e morais de

uma maneira profunda, desde a tez, que se acobreia pelos sóis e pela eliminação

incompleta do carbono, ao temperamento, que se debilita despido das qualidades

primitivas. A raça inferior, o selvagem bronco, domina-o; aliado ao meio vence-o,

esmaga-o, anula-o na concorrência formidável ao impaludismo, ao hepatismo, às

pirexias esgotantes, às canículas abrasadoras, e aos alagadiços

maleitosos.”(GALVÃO, 1998: 79)

Neste trecho temos em resumo a idéia do porquê que o autor descreve tão

detalhadamente a terra. São as teorias deterministas, tanto biológicas quanto

geográficas, que o norteam. O homem é um fruto de seu lugar. Para o Euclides que

escreve antes de ver pessoalmente o desmonte criminoso do arraial de Canudos, as leis

européias são as máximas vigentes.

Os tipos brasileiros, como o sertanejo e o gaúcho, resultaram não só da

mestiçagem mas também da interação entre homem e natureza, homem e sociedade.

Continua a operar o paralelo entre as séries, especialmente entre as mais próximas: as

espécies de plantas e de animais devem a sua anatomia e fisiologia tanto à herança

quanto a seculares esforços de adaptação ao meio e aos outros organismos. A simetria,

que se dá por provada no nível genético e no nível mesológico, estendendo-se ao social.

E os caracteres raciais ora confirmam-se ora se alteram no curso histórico da luta pela

vida.

A descrição geográfica da região onde se instala o “Belo Monte” de

Conselheiro, é detalhada, o que dá à obra uma característica própria do autor. O clima, o

Page 14: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

14solo, os ventos, as chuvas, a temperatura, os animais e o homem, tudo é descrito não só

apenas por um observador atento mas por um cientista natural.

O sertão é a terra esquecida pela metrópole portuguesa e posteriormente pela

monarquia brasileira. Nela se formou isolada geograficamente um povo mestiço que se

diferenciou dos mestiços litorâneos, para melhor, em razão do próprio isolamento no

qual se mantiveram. Não podemos esquecer que “o sertanejo é antes de tudo um forte”

porque não é como “os mestiços neurastênicos do litoral”. Eis, então, outro grande

contraste que permeia toda a obra de Euclides da Cunha. Mas antes de mais nada, o

autor reforça que toda “a mestiçagem extremada é um retrocesso”, o que vai de

encontro com as teorias vigentes. Nessa época, dizer que o homem branco não superior

à qualquer tipo de mestiçagem é uma ofensa a uma lei que até então era inquestionável.

“ Porque ali ficaram, inteiramente divorciados do resto do Brasil e do mundo, murados

a leste pela Serra Geral, tolhidos no ocidente pelos amplos campos gerais, que se

desatam para o Piauí e que ainda hoje o sertanejo acredita sem fins. O meio atraía-o e

guardava-os.”(GALVÃO, 1998: 190)

“O abandono em que jazeram teve função benéfica. Libertou-os da adaptação

penosíssima a um estádio social superior, e simultaneamente, evitou que descambassem

para as aberrações e vícios dos meios adiantados”(GALVÃO, 1998: 103)

Eis porque o sertanejo leva vantagem sobre o mestiço do litoral. O primeiro

permaneceu isolado enquanto o segundo teve que forçosamente se submeter às regras

dos indivíduos superiores.

Para ilustrar a idéia de que o sertanejo é um forte, Euclides da Cunha cria a

metáfora da rocha viva. Como vimos na época que escreveu os Sertões Euclides estava

em São José para reconstruir um ponte que havia tombado, ele acaba encontrando uma

base muito firme para essa reconstrução: o granito. A partir daí desenvolve uma

correlação entre a pedra e o homem do sertão.

Respondendo à criticas de que essa metáfora entrava em contradição com sua

afirmação da inexistência da unidade racial brasileira o próprio Euclides explica-a numa

segunda edição do livro.

"Rocha viva...A locução sugere-me um símile eloqüente.

Page 15: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

15De fato, a nossa formação como a do granito surge de

três elementos principais1 . Entretanto quem ascende por um

cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a

argila pura do feldspato decomposto, variamente colorida; além

da mica fracionada, rebrilhando escassamente sobre o chão;

adiante friável, do quartzo triturado; mais longe o bloco

moutnné, de aparência errática; de e por toda a banda a mistura

desses mesmos elementos com a adição de outros, adventicios,

formando a incaracterístico solo arável, altamente complexo.

Ao fundo, porém, removida a camada superficial, está o núcleo

compacto e rijo da pedra. Os elementos esparsos, em cima, nas

mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até os

materiais estranhos trazidos pelo vento, ali estão, embaixo,

fixos numa dosagem segura, e resistentes, e íntegros.

Assim, à medida que aprofunda, o observador se

aproxima da matriz de todo definida no local. Ora o nosso caso

é idêntico - desde que sigamos das cidades do litoral para os

vilarejos do sertão.

A principio uma dispersão estonteadora de atributos, que

vão de todas as nuances da cor a todos os aspectos do caráter:

Não há distinguir-se o brasileiro intrincado misto de brancos,

negros e mulatos de todos os sangues e de todos os matizes.

Estamos à superfície da nossa gens, ou melhor, seguindo à letra

a comparação de há pouco, calcamos o húmos indefinido da

nossa raça. Mas estranhando-nos na terra vemos os primeiros

grupos fixos - o caipira no sul, e o tabaréu, ao norte - onde já

se tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A

mestiçagem generalizada produz, entretanto, ainda todas as

variedades das dosagens díspares dos cruzamentos. Mas a

medida que prosseguimos estas últimas se atenuam.

Vai-se notando maior uniformidade nos caracteres

físicos e morais. Por fim a rocha viva - o sertanejo"(CUNHA,

1939: 580)

1 Os tres elementos que tem relação com o granito seriam o indígena = feldspato, africano = mica e o europeu = quartzo. Podemos observar essa relação na figura do granito.

Page 16: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

16Euclides da Cunha não encontra o tipo brasileiro, que segundo ele próprio talvez

nem exista, mas estabelece um símbolo da nacionalidade, símbolo que podia se prestar

"a operar como um eixo sólido que centrasse, dirigisse e organizasse as reflexões

desnorteadas sobre a realidade nacional."(SEVCENKO, 1981: 106)

Igualmente importantes são as descrições do tipo de vida e dos costumes

sertanejos. Euclides mostra, à seu modo, como esses homens simples vivem, as suas

relações com os animais e coma a natureza local, bem como o seu fanatismo religioso,

seu respeito á morte, sua “psique” de uma forma geral.

“ O homem dos sertões – pelo que esboçamos – mais do que qualquer outro está em

função imediata da terra. É uma variável dependente no jogar dos elementos. Da

consciência da fraqueza, para os debelar, resulta, mais forte, este apelar constante

para o maravilhoso, esta condição inferior de pupilo estúpido da divindade. Em

paragens mais benéficas a necessidade de um tutela sobrenatural não seria tão

imperiosa”(GALVÃO, 1998: 126)

Antônio Conselheiro é mostrado como um indivíduo marcado por uma

biografia dotada de elementos sobrenaturais. Carismático e penitente, o profeta

conseguiu reunir muitos sertanejos de fé extremada. O povoado é descrito como se

constituísse um agrupamento de bárbaros, uma tribo e até mesmo um clã. O autor dá

considerável destaque para o fator que chegado certo tempo, todo o tipo de gente se

dirige para Canudos o que causou um despovoamento das cidades vizinhas. Porém uma

vez dentro do arraial, os diferentes se tornavam iguais e a coletividade de

homogeinizava de uma forma que surpreendente.

“O sertanejo simples transmudava-se, penetrando-o, no fanático destemeroso bruto.

Absorvia-o a psicose coletiva”(GALVÃO, 1998: 163)

Em linhas gerais, podemos definir esta parte do livro, o plano interpretativo de

Bosi, a partir dos contrastes nela enunciados. São eles os travados entre a região sul e

norte do Brasil, entre o litoral e o sertão nordestino, entre o sertão seco (infernal) e o

sertão depois da chuvas (padisíaco) e finalmente entre o mestiço do sertão – curiboca –

e o mestiço do litoral – mulato.

As descrições ricamente cheias de detalhes preparam o leitor para o plano

histórico onde os fatos de desencadearão. Mais do que saber o que foi a Campanha,

Euclides da Cunha nos oferece a partir de seu livro um “raio x” do sertão e do sertanejo

como nunca fora antes feito. O leitor vai para “A Luta” sabendo quem e como vivem os

atores deste triste episódio da história brasileira.

Page 17: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

17

O FINAL

É importante pensar no mito que se criou em torno tanto do autor, quanto da

obra. Existe ainda hoje uma relação passional com a figura de Euclides: duas cidades

brigam para decidir aonde vão ficar seus restos mortais – São José do Rio Pardo, aonde

escreveu o livro e Cantagalo, hoje também conhecida como Euclidolândia, aonde

nasceu. O livro, publicado cinco anos após o fim de Canudos, mesmo sendo um ataque

ao exército e uma denúncia do genocídio causado pela República, é um sucesso e vende

muito assim que publicado. Criador e criatura viram ícones. Mas para entender a criação

deste mito, é preciso ver que este é um quebra-cabeça de várias partes.

O próprio Dante Moreira Leite, justifica a importância e repercussão do livro

por sua linguagem.

“Se assim é, se a obra de Euclides da Cunha apresenta contradições tão nítidas

– algumas das quais foram percebidas pelos primeiros leitores e críticos – pode-se

perguntar como pôde ter uma repercussão tão grande. Esta não será compreendida se

não lembrarmos o seu valor literário; embora não seja livro fácil, nem destinado a uma

leitura desatenta, Os Sertões contém elementos de intensa dramaticidade, apresentados

numa linguagem solene e adequada à grandeza da narrativa”. (LEITE, 1983:229)

Talvez o que mais marcou sua vida, tanto quanto sua obra, foi a sua viagem a

canudos. Euclides era um cientificista, dentre muitas outras coisas, que vivia em uma

época em que não se “ia à luta”. Teóricos trabalhavam apenas sobre livros, mas

Euclides vai a Canudos e suas idéias ganham dinâmica. Dante Moreira Leite analisa

como tal experiência repercutiu em uma linguagem muito mais realista e vibrante:

“(...) o estilo de Euclides, capaz de transmitir ao leitor a vibração de revolta

diante dos acontecimentos de Canudos; além disso, como o livro pretende ser

estritamente realista e, mais ainda, um livro de ciência, a sua prosa dramática adquire,

talvez por estar contida nos limites da realidade histórica, uma intensidade que não

teria na ficção.” (LEITE, 1983:222)

Page 18: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

18Muitas de suas concepções são alteradas. Diversas vezes, Canudos é associado

ao movimento francês da Vendéia – como aparece : “Canudos era a nossa Vendéia” –

sendo visto como um movimento monarquista por Euclides. Mas, “o contato direto com

as condições físicas e morais do sertanejo”(BOSI) , como defende Bosi, acabou por

desmentir o pressuposto.

No entanto, como depois também vai apontar Bosi, a interpretação se achava

presa a um sistema de pensar fatalista. Entre o observador atento e a “cidadela-mundéu”

dos jagunços havia mais do que um simples olhar desprevenido: a fixação do homem e

o relato da luta não se fariam sem a tela das mediações ideológica e literária. Antônio

Conselheiro vai ser sempre o fruto mórbido de uma cultura propensa à desordem e ao

crime. Como a sociedade que o produziu, ele tende a reviver esquemas regressivos de

conduta e linguagem. Como aparece no livro:

“É natural que estas camadas profundas de nossa estratificação étnica se

sublevassem numa anticlinal extraordinária – Antônio Conselheiro... As fases

singulares da sua existência não são, talvez, períodos sucessivos de uma moléstia

grave, mas são, com certeza, resumo abreviado, dos aspectos predominantes de mal

social gravíssimo. Por isso o infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido

por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a história

como poderia ter ido para o hospício. Porque ele para o historiador não foi um

desequilibrado. Apareceu como integração de caracteres diferenciais – vagos,

indecisos, mal percebidos quando dispersos a multidão, mas enérgicos e definidos,

quando definidos numa ‘individualidade’ (... ) É difícil traçar no fenômeno a linha

divisória entre as tendências ‘pessoais e as tendências coletivas: a vida resumida do

homem é um capítulo instantâneo da vida de sua sociedade...”

A linguagem, como já explicitamos anteriormente, é extremamente marcante e

importante em Os Sertões. Euclides se utiliza inúmeras vezes de estilos e figuras com

certas finalidades. Em suas “Notas de Leitura”, ele mesmo afirma:

“Vemos o quanto é forte esta alavanca – a palavra – que levanta sociedades

inteiras, derriba tiranias seculares”.

Bosi atenta par o uso da linguagem como modo de explicar e fundamentar o que

não tem fundamento nem explicação, a “ideologia do inapelável”. Daqui se entende o

Page 19: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

19uso exaustivo de intensificações e antinomias, que imprimem um sentido

grandiloqüente ao texto, além de: “reportar ao seu vezo de agigantar o tamanho,

agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as distâncias, acentuar as diferenças,

exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em suma, ver nas coisas todas a sua

face desmedida e extrema.” (BOSI: 6)

Um exemplo do próprio Sertões:

“Muito baixo no horizonte, o Sol descia vagarosamente, tangenciando com o

limbo rutilante o extremo das chapadas remotas e o seu último clarão, a cavaleiro das

sombras, que já se adunavam nas baixadas, caía sobre o dorso a montanha... Aclarou-o

por momentos. Iluminou, fugaz, o préstito, que seguia à cadência das rezas. Deslizou,

insensivelmente, subindo, à medida que lentamente ascendiam as sombras, até ao alto,

onde os seus últimos raios cintilaram nos píncaros altaneiros. Estes fulguraram por

instantes, como enormes círios, prestes acesos, prestes apagados, bruxuleando na

meia-luz do crepúsculo.

Brilharam as primeiras estrelas. Rutilando na altura, a cruz resplandecente de

Órion, alevantava-se sobre os sertões...” (CUNHA, 1985:314,315)

Mas todo este estilo “rebuscado”, se explique pela narrativa tratar de uma

realidade já vista e já sentida e qualificada como trágica. Assim, a montagem do relato

acaba dependendo de uma série cronológica, o que deixa que a liberdade estilística se

faça maior no momento da elocução (pelo uso intensivo das figuras de linguagem).

E foi realmente este seu estilo que o consagrou logo que publicou pela primeira

vez Os Sertões, mesmo sendo o seu conteúdo, quem traz sua importância: a de

conseguir ultrapassar o científico, ir à luta, ver, sentir e mudar.

Sua visão mundo muda com sua vivência em Canudos. Mas talvez seja um

pouco complicado tratar da visão de mundo de um homem tendo lido apenas um livro

seu. Nicolau Sevcenko, em sua tese de doutoramento, faz uma análise minuciosa do

que ele mesmo entende por “visão de mundo”, porém, para isso, se baseia em

praticamente tudo que o autor deixou escrito. Como aparece na referida tese:

“A partir da maneira como Euclides da Cunha dispõe, dá coerência, organiza e

estrutura as concepções e idéias que lhe suscita a realidade circunjacente, no interior

do espaço peculiar aberto por sua linguagem, é que podemos descortinar a sua visão

de mundo. Assumem preponderância aqui as suas anotações de caráter mais pessoal,

Page 20: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

20que serão cotejadas com as grandes diretrizes imprimidas pelo autor à sua obra e que

vêm de ser apresentadas.” (SEVCENKO, 1981:211)

Porém, talvez sua visão cientificista e sua posição de republicano decepcionado

ajudem a compreender seu mundo. Principalmente depois de Canudos, ele via uma

inversão em sua sociedade. Mas o mais importante de pensar é como ele aparece como

um homem de contradições e contrários. Tanto ele escreve e argumenta opondo

elementos, como vive em um oscilar de posições. Quando Euclides vai a Canudos,

perde este discurso factual e determinista; o inelutável e intransponível do fato vai

cedendo às inflexões de um pensamento propriamente humano. A linguagem de

denúncia e protesto que finaliza a narração de uma Canudos destruída cumpre a função

de um apelo em que, como Bosi afirma: “pode aparecer um nós empenhado no que

diz.”

Então vamos ao final de canudos:

“Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao

esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu

no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos

morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente

dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos

fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas

cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma

perspectiva maior, a vertigem...

Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se

amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos

filhos pequeninos?...

E de que modo comentaríamos, coma só fragilidade da palavra humana, o fato

singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos

na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho que se nos entregara, confiante – e a

quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa história?

Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as

casas, 5200, cuidadosamente contadas.

Page 21: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

21Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de

Antônio Conselheiro.

Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado graças à indicação de

um prisioneiro. Removida breve camada de terra, apareceu no triste sudário de um

lençol imundo, em que mãos piedosas haviam desprazido algumas flores murchas, e

repousando sobre uma esteira velha, de tabua, o corpo do ‘famigerado e bárbaro’

agitador. Estava hediondo. Envolto no velho hábito azul de brim americano, mãos

cruzadas ao peito, rosto tumefacto e esquálido, os olhos fundos cheios de terra – mal o

reconheceram os que mais de perto o haviam tratado durante a vida.

Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa – único prêmio, únicos

despojos opimos de tal guerra! -- faziam-se mister os máximos resguardos para que se

não desarticulasse ou deformasse, reduzindo-se a uma massa agulheta de tecidos

decompostos.

Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua

identidade: importava que o país se convencesse bem de que estava, afinal extinto,

aquele terribilíssimo antagonista.

Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça

tantas vezes maldita – e como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca

jeitosamente brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda,

empastada de escaras e de sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores.

Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa, aquele

crânio. Que a ciência dissesse a última palavra. Ali estavam, no relevo de

circunvoluções expressivas, as linhas essenciais do crime e da loucura...”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro acaba mas não termina. Com esta obra o Brasil ganhava uma das suas

mais importantes reflexões sobre a identidade nacional. O escritor do início da obra,

positivista que acreditava na república, é o mesmo que denuncia a dor a fome e a

barbárie. Canudos foi um crime cometido para e pela reiteração da república. O cancro

monarquista nunca existiu naquela terra esquecida pelos seus governantes e o Estado só

chegara tão longe para trazer a injustiça e a morte. Essa não era a república reclamada

pelo autor.

Page 22: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

22Como identidade nacional, podemos tirar desta obra a seguinte frase: “A nação

brasileira é o resultado de uma angústia racial”. Euclides sofre essa angústia da qual as

“leis” européias não dão conta. O Brasil é um país sem seu tipo antropológico definido e

ele, Euclides da Cunha, é o primeiro que se propões a fazer um estudo a fundo desses

cruzamentos todos que nos formam. Euclides não mascarou a realidade porque não

pregou uma falsa igualdade social entre as “raças”, o que seria feito por outros como

Oliveira Viana, ou Afonso Celso. Se hoje podemos enxergar mais longe que Euclides é

porque somos pigmeus olhando do ombro de gigantes como ele.

Page 23: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

23

Sites sobre Euclides de Cunha e Canudos

Centro de Estudos Euclides da CunhaO Centro de Estudos Euclides da Cunha - CEEC, órgão da Universidade do Estado da Bahia - UNEB possui um acervo valioso sobre Canudos.URL: www.uneb.br/Ceec/Ceec.html

* * * * *Movimento Popular e Histórico de Canudos"Uma viagem ao sertão de Antônio Conselheiro através das várias atividades culturais com os camponeses, incluindo cantorias, poesias, celebrações populares a beira do açude do Cocorobó, e muito mais..." URL: www.infonet.com.br/canudos

* * * * *Centro de Estudos Culturais Euclides da Cunha"Euclides da Cunha, Os Serrotes, Canudos e a Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo"URL: www.geocities.com/Athens/7269

* * * * *Canudos 100 Anos"Site totalmente dedicado ao episódio da Guerra de Canudos. (...) Fotos, bibliografia, história e Fórum de Discussão". URL: www.ax.apc.org/~eraldojunior/hp13.htm

* * * * *Acervo da Historia do Brasil"Coletânea de fatos históricos importantes ocorridos no Brasil. Os 100 anos de Canudos".URL: www.e-net.com.br/historia

* * * * *O Olho da HistóriaO Olho da História: Revista de História Contemporânea é um periódico semestral, editado pela Oficina Cinema-História, que tem o objetivo de promover discussões sobre a História, as humanidades e as artes na contemporaneidade. O número 3 da revista aborda o tema Canudos. URL: www.ufba.br/~revistao/sumario3.html

* * * * *Canudos - A Guerra sem fimCANUDOS - 100 ANOS. A Guerra Sem Fim. Antônio Edson. URL: www.cidadanet.org.br/artigos/canudos.htm

* * * * *Canudos"Página com várias curiosidades sobre Canudos, feita por alunos do 2° ano colegial." URL: www.geocities.com/CollegePark/Lab/6434/canudos.html

* * * * *

Page 24: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

24Fotos sobre Canudos

URL:www.fundaj.gov.br/docs/canud/fotos.htm

* * * * *

Os Sertões IllustratedPágina do pesquisador norte americano Thomas O. Beebee URL:www2c.meshnet.or.jp/~taxi/07-97/sertao/sertoes1.html

* * * * *

Site da Casa de Cultura Euclides da Cunha, com vasto material sobre Euclides e Os SertõesURL: http://www2.rantac.com.br/casaeuclidiana/

* * * * *

O Berrante Online é um site sobre temas ligados a Euclides da Cunha e a realidade da cultura brasileira em geralhttp://www.berrante.com.tj

* * * * *

Coletivo Euclidianohttp://pagina.de/euclides

* * * * *

Página organizada pela família de Euclides da Cunhawww.euclidesdacunha.com.br

* * * * *

Textos e ficha técnica do documentário Os Sertões produzido pela TV Cultura - SPhttp://www.tvcultura.com.br/resguia/outros/estbra/sertoes/canud.htm

http://www. portfolium.com.br/caudos.htm * * * * *

Os mais completos sites sobre Canudos

http://www. portfolium.com.br/livro.htm http://www. portfolium.com.br/caudos.htm

Obs. : Os sites quadriculados foram os visitados pelos autores do presente trabalho.

Page 25: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

25Estudos realizados sobre o livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha

1. Título: Os Sertões - Campanha de CanudosAutor: Euclides da CunhaImprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902. Assunto: História, Sertão, Guerra de CanudosResumo: Um clássico seminal da literatura canudense, que influenciou várias gerações de estudiosos, denominado pelo próprio autor de "livro vingador". Durante mais de 50 anos foi texto hegemônico do tema Canudos, e atualmente está traduzido para mais de 10 idiomas e com número superior a 40 edições brasileiras.

2. Título: Os Sertões de Euclides da Cunha Autor: Pedro A. PintoImprenta: 1ª edição: Livraria Francisco Alves, 1930.Assunto: Os Sertões, Canudos. Resumo: "É uma espécie de dicionário sobre o vocabulário usado por Euclides e explicações sobre termos regionais." Júlio José Chiavenato.

3. Título: Canudos - Diário de uma ExpediçãoAutor: Euclides da CunhaImprenta:1ª edição: Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Editora, 1939, 186 p. Assunto: CanudosResumo: Escritos de Euclides da Cunha, em publicação póstuma com introdução de Gilberto Freyre, que descreve de forma minuciosa a viagem por Salvador e Canudos, através de crônicas, apontamentos e cartas, além dos artigos escritos em jornais.

4. Título: As Colectividades AnormaisAutor: Nina RodriguesImprenta: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.Assunto: Medicina, Antônio ConselheiroResumo:

5. Título: Meu Folclore - História da Guerra de CanudosAutor: J. SaraImprenta: 1ª edição: Euclides da Cunha, Museu de Bendegó, 1957.Assunto: Guerra de CanudosResumo:A história de canudos, versejada por José Aras, que adotou o pseudônimo de J. Sara.

6. Título: A Verdade sobre Os Sertões - Análise Reivindicatória da Campanha de CanudosAutor: Dante de MeloImprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1958, 257 p.Assunto: Os Sertões, CanudosResumo: Crítica veemente a Euclides da Cunha e Os Sertões, que, segundo o autor, teria uma visão falsa, dos acontecimentos de Canudos.

Page 26: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

267. Título: A' Margem D"Os Sertões"

Autor: Luís Viana FilhoImprenta: 1ª edição: Salvador, Livraria Progresso Editora, 1960, 50 p. Assunto: Os Sertões, CanudosResumo: O autor escreve ativa defesa do seu pai, o conselheiro Luís Viana, governador da Bahia na época da guerra de Canudos, das acusações que lhe foram destinadas por Dante de Melo no livro"A Verdade sobre Os Sertões"

8. Título: Introdução ao Pensamento de Euclides da Cunha Autor: Clóvis MouraImprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1964, 166 p.Assunto: Euclides da Cunha, CanudosResumo: Um importante trabalho de análise sobre Eulcides da Cunha e sua obra.

9. Título: Caderneta de CampoAutor: Euclides da CunhaNotas: Introdução, notas e comentários de Olímpio de Souza AndradeImprenta: São Paulo, Cultrix / INL, 1975, 198 p.Assunto: Sertão, Guerra de CanudosResumo: Este livro reproduz alguns dos mais importantes momentos dos textos canudenses como benditos, ABCs e falas de prisioneiros.

10. Título: O Episódio de Canudos de Euclides da CunhaAutor: Grover Chapman.Imprenta: Rio de Janeiro, Salamandra, 1978, 56 p.Assunto: Pinturas, Canudos, "Os Sertões"Resumo: Trechos de "Os Sertões" ilustrados com pinturas de Grover Chapman

11. Título: 80 anos de Os Sertões de Euclides da Cunha (1902-1982)Coordenação: Célio PinheiroImprenta: São Paulo: Arquivo do Estado, 1982. Assunto: Edição comemorativa. Resumo:

12. Título: Toponímia Indigenista em Os Sertões de Euclides da Cunha. Autor: Daury da Silveira Santos Imprenta: Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.Assunto: Euclides da Cunha

13. Título: Euclides, A Espada e a Letra - Florianistas e Castilhistas no Massacre de Canudos, Comte e outras influências reacionárias, as antecipações do autor de Os SertõesAutor: Franklin de Oliveira.Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, 144 p.Assunto: Biografia, Euclides da CunhaResumo:

Page 27: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

2714. Título: Os Médicos Baianos e "Canudos"

Autor: Alberto Martins da Silva.Imprenta: 1ª edição: Salvdor, IHGB, s.d., 17 p.Assunto: Biografia, Euclides da CunhaResumo: Opúsculo onde o autor apresenta dados biograficos dos médicos que participaram da Guerra de Canudos

15. Título: Edição Crítica de "Os Sertões"Autora: Walnice Nogueira GalvãoImprenta: 1ª edição: São Paulo, Brasiliense, 1985, 728 p.Assunto: Euclides da Cunha, Canudos Resumo: O livro Os Sertões numa publicação explicativa e crítica.

16. Título: Sertão de Euclides da Cunha - Família e Poder: uma Leitura Autora: Eugênia Menezes Vernaide WanderleyImprenta: Recife: Cadernos de Estudos Sociais, v.7, n.2, p. 277-304, jul./dez. 1991. Assunto: Canudos, Euclides da Cunha (1866-1909) Resumo:

17. Título: Canudos e Outros TemasAutor: Euclides da CunhaImprenta: 1ª edição: 1992. 3ª edição Revista e Ampliada: Gráfica do Senado Federal, 1994. Assunto: Canudos, ReportagensResumo: Contém as reportagens intituladas "Canudos - Diário de uma Expedição", que deram origem a Os Sertões, quinze trabalhos e duas cartas.

18. Título: As Meninas de Belo Monte Autor: Júlio José ChiavenatoImprenta: 1ª edição: São Paulo, Pagina Aberta, 1993.Assunto: Romance, CanudosResumo: Ficção sobre a trajetória de crianças sobreviventes de Canudos.

19. Título: A Sociologia dos Sertões Autor: Adelino BrandãoImprenta: Artium Editora, 1994, 194 p. Assunto: Euclides da Cunha, CanudosResumo: Análise de Os Sertões, escrito por um estudioso da vida e da obra de Euclides da Cunha.

20. Título: Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Através dos Sertões - Os Livros, os Autores Autor: Paulo Dantas NetoImprenta: São Paulo: Massao Ohno, 1996, 112 p. Assunto: Biografias de Literatos, Literatura BrasileiraResumo:

Page 28: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

2821. Título: O Olho da História - Revista de História Contemporânea, v.2, n.3

Autoria: Vários Imprenta: Salvador, Oficina Cinema-História, Departamento e Mestrado em História - UFBA, 1996Assunto: Cinema, Canudos, Antônio ConselheiroResumo: Revista que contém um Dossiê Canudos com importantes artigos e entrevistas sobre o temas.

22. Título: Índice Remissivo: Documentação Histórica sobre Canudos.Autoria: CEEC - UNEB Imprenta: 1ª edição: Salvador, Universidade do Estado da Bahia, Centro de Estudos Euclides da Cunha, 1996, 64 p.Assunto: Documentos Históricos, CanudosResumo:

23. Título: Guia do Acervo do CEECImprenta: 1ª edição: Salvador, CEEC-UNEB, 1997, 60 p.Assunto: Documentos Históricos, CanudosResumo: Valioso instrumento de consulta sobre o acervo do Centro de Estudos Euclides da Cunha, que compreende documentação escrita e oral, além de vasta biblioteca.

24. Título: Roteiro de Leitura: Os Sertões de Euclides da CunhaAutor: Adilson CitelliImprenta: Editora Ática, 1998, 160 p.Assunto: Euclides da Cunha, CanudosResumo: "Roteiro de leitura é uma coleção didática que tem por objetivo enriquecer a leitura de obras significativas da literatura brasileira e da literatura portuguesa, abrangendo diversos períodos e gêneros literários. Escrita com clareza e objetividade, é dirigida a estudantes de segundo grau, pré vestibulandos, alunos de letras, jornalismo, comunicação e a todos que se interessam por literatura." Os Editores.

25. Título: Poemas do Grande SertãoAutor: Renato Castello BrancoImprenta: T. A. Queiroz EditorResumo: Livro de poesias baseado na obra de Euclides da Cunha.

26. Título: Terra Ignota - A Construção de "Os Sertões" Autor: Luiz Costa LimaImprenta: Civilização BrasileiraAssunto: Os Sertões, Canudo

Page 29: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

2927. Título: Canudos - Fato e Fabula: Uma Leitura d'Os Sertões, de Euclides da

Cunha. Autor: Lourival Holanda Barros Orientador: Philippe Willemart Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP. Tipo de Trabalho: Tese (Doutorado), 129 p. Ano: 1992 Assunto: Crítica Literária, Literatura Brasileira. Localização: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USPResumo:

28. Título: A Contribuição das Ciências Naturais para o Consórcio da Ciência e da Arte em Euclides da CunhaAutor: José Carlos Barreto de SantanaOrientadora: Maria Amélia Mascarenhas DantesInstituição: Universidade de São Paulo / USP - SPTipo de Trabalho: Dissertação (Mestrado) Ano: 1998 Assunto: Localização: Biblioteca da USP - SPResumo: Este trabalho tem, como ponto de partida, o estudo das relações existentes entre um dos discursos científicos euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse campo do conhecimento. Entendo que a formação e atuação como engenheiro, e as relações de Euclides da Cunha com a comunidade cientifica, bem como a existência, na sua obra, de um conteúdo relacionado às Ciências Naturais e a inclusão, no próprio texto, de referências explícitas a viajantes naturalistas, geólogos e botânicos, devem refletir o momento histórico pelo qual passava o conhecimento científico no Brasil, entre o final do século XIX e o limiar do século XX. Assim, a formação, as relações, a presença de tal conteúdo e tais referências, indicam a possibilidade de o autor e da obra servirem como elementos para uma reflexão sobre a prática científica no país, no período indicado.Buscar-se-á, assim, contribuir para o entendimento de questões relacionadas com o conceito e valorização das ciências e também para a análise de aspectos da profissionalização e relação entre os cientistas no Brasil do final do século XIX e início do século XX.Euclides da Cunha e sua obra são escolhidos, então, como objeto privilegiado de uma pesquisa que pretende situá-los no contexto cultural de seu tempo e espaço, ao mesmo tempo em que busca as marcas da atividade científica, procurando desvendar, através da sua estrutura, interligação e desdobramentos, as suas relações com outras áreas culturais.

Page 30: Euclides da Cunha – Contexto Histórico · Web viewMas surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e norte

30

BIBLIOGRAFIA

SCHWARCZ, Lilia Mortiz, O Espetáculo das Raças - Cientistas, Instituições e questão racial no Brasil 1870 - 1930 São Paulo, Cia das Letras, 1993.

SKIDEMORE, Thomas E., O Brasil Visto de Fora, Rio de Janeiro Paz na Terra, 1994.

VENTURA Roberto. CANUDOS COMO CIDADE ILETRADA: EUCLIDES DA CUNHA NA URBS MONSTRUOSA, Extraído de: Abdala Jr, Benjamin & Alexandre, Isabel, orgs. Canudos Palavra de Deus Povo da Terra. São Paulo, Editora Senac São Paulo, Boitempo Editorial, 1997. p. 89-99.

SEVCENKO, Nicolau; Euclides da Cunha e Lima Barreto: A Literatura como missão, 1900-1920.Tese de doutoramento, departamento de História FFLCH – USP, São Paulo 1981.

GALVÃO, Walnice Nogueira. “Os Sertões – Campanha de Canudos : Edição Crítica de”. Ática, 1998, p.14

LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1983, 4a edição

BOSI, Alfredo : “A releitura de ‘Os sertões’ hoje”. Arquivo retirado da Internet