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1 EU QUERO ENTRAR NA REDE E PROMOVER UM DEBATE: AS TICS COMO VEÍCULO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E O EMPODERAMENTO DE IDOSOS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL RAFAELA ALVES LUZIA DA SILVA 1 Resumo: As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão por toda parte. Parece- nos difícil pensar em Promoção da Saúde desconsiderando este cenário. Diferentemente dos nativos digitais, idosos contemporâneos convivem com estas tecnologias de forma conflituosa, devido a pouca habilidade psicomotora e cognitiva para lidar com as ferramentas disponíveis. Aproximar os idosos destas novas tecnologias, de forma crítica e criativa, constitui um desafio. O presente trabalho apresenta uma proposta de intervenção no âmbito da Promoção da Saúde. Entendendo o conceito de saúde para além do modelo saúde - doença atenção, emerge a ideia de que para promover saúde será necessário direcionar um olhar atento para a integralidade do indivíduo. Nesse contexto, o bem estar físico, mental e social são fundamentais para fomentar a qualidade de vida. As TICs influenciam a forma de comunicar, conviver e até mesmo ensinar, impactando diretamente o social. Com base nisso e entendendo a internet como principal fonte para acesso à informação, inclusive de saúde, se torna relevante pensar em caminhos para que tal acesso seja realizado de forma crítica e ativa. Sendo assim, esse projeto a investigar de que forma as TICs podem ser utilizadas como recursos para o empoderamento e a participação social no grupo de idosos do território de Manguinhos. Desse modo, foi elaborado um ciclo de aprendizagem por meio da metodologia ativa onde o indivíduo foi posicionado como parte fundamental desse processo, com maior participação e controle do mesmo. Palavras-chave: TIC; Empoderamento; Idosos; Vulnerabilidade Social. INTRODUÇÃO A sociedade acompanhou nos últimos anos o avanço do processo econômico, tendo na terra, no capital e no trabalho as principais forças para o desenvolvimento. Atualmente, na sociedade do conhecimento, o conhecimento é o protagonista no processo de produção da sociedade, podendo ser considerado uma importante mola propulsora para o desenvolvimento da mesma (Cavalcanti et al.,2001). Paralelo a esse cenário, o uso das mais variáveis formas de tecnologias da informação e comunicação (TICs) para a realização de tarefas diárias é uma realidade cada vez mais presente em nosso cotidiano. É fácil perceber ao nosso redor os instrumentos, como por exemplo - televisão, laptops, smartphones, tablets e outros - que possibilitam a execução de atividades sejam elas escolares, profissionais ou pessoais. 1 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT, Brasil. E-mail: [email protected]

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EU QUERO ENTRAR NA REDE E PROMOVER UM DEBATE: AS TICS COMO

VEÍCULO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E O EMPODERAMENTO DE IDOSOS

EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL

RAFAELA ALVES LUZIA DA SILVA1

Resumo: As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão por toda parte. Parece-

nos difícil pensar em Promoção da Saúde desconsiderando este cenário. Diferentemente dos

nativos digitais, idosos contemporâneos convivem com estas tecnologias de forma conflituosa,

devido a pouca habilidade psicomotora e cognitiva para lidar com as ferramentas disponíveis.

Aproximar os idosos destas novas tecnologias, de forma crítica e criativa, constitui um desafio.

O presente trabalho apresenta uma proposta de intervenção no âmbito da Promoção da Saúde.

Entendendo o conceito de saúde para além do modelo saúde - doença – atenção, emerge a ideia

de que para promover saúde será necessário direcionar um olhar atento para a integralidade do

indivíduo. Nesse contexto, o bem estar físico, mental e social são fundamentais para fomentar

a qualidade de vida. As TICs influenciam a forma de comunicar, conviver e até mesmo ensinar,

impactando diretamente o social. Com base nisso e entendendo a internet como principal fonte

para acesso à informação, inclusive de saúde, se torna relevante pensar em caminhos para que

tal acesso seja realizado de forma crítica e ativa. Sendo assim, esse projeto a investigar de que

forma as TICs podem ser utilizadas como recursos para o empoderamento e a participação

social no grupo de idosos do território de Manguinhos. Desse modo, foi elaborado um ciclo de

aprendizagem por meio da metodologia ativa onde o indivíduo foi posicionado como parte

fundamental desse processo, com maior participação e controle do mesmo.

Palavras-chave: TIC; Empoderamento; Idosos; Vulnerabilidade Social.

INTRODUÇÃO

A sociedade acompanhou nos últimos anos o avanço do processo econômico, tendo na

terra, no capital e no trabalho as principais forças para o desenvolvimento. Atualmente, na

sociedade do conhecimento, o conhecimento é o protagonista no processo de produção da

sociedade, podendo ser considerado uma importante mola propulsora para o desenvolvimento

da mesma (Cavalcanti et al.,2001).

Paralelo a esse cenário, o uso das mais variáveis formas de tecnologias da informação e

comunicação (TICs) para a realização de tarefas diárias é uma realidade cada vez mais presente

em nosso cotidiano. É fácil perceber ao nosso redor os instrumentos, como por exemplo -

televisão, laptops, smartphones, tablets e outros - que possibilitam a execução de atividades

sejam elas escolares, profissionais ou pessoais.

1Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT,

Brasil. E-mail: [email protected]

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O avanço tecnológico influencia diretamente na forma de viver, conviver e comunicar,

questões essenciais para o cotidiano. Um significativo reflexo do avanço tecnológico é a

possibilidade - até pouco tempo inexistente - de qualquer sujeito produzir e difundir sua própria

mensagem. Nesse mesmo sentido, Garbin et al., (2012) sinalizam a capacidade que a internet

tem, em detrimento das demais mídias - o rádio, a TV e o jornal - como fonte de informação.

Além de simplesmente acessar a informação, é possível criar a própria mensagem e

disseminá-la por meio da rede, com o potencial de atingir milhões de pessoas. Dessa maneira,

tais sujeitos se descolam do papel de expectadores e assumem também o papel de produtores e

disseminadores de informações sem serem submetidos ao rigor de avaliações acadêmicas, uma

vez que não existe regulação para a publicação de informação na internet.

Sobre a quantidade de informações produzidas na internet, Lévy (2001) utiliza a

expressão “Dilúvio de Informação”, fazendo uma metáfora com a Arca de Noé. Face ao caos e

ao volume de informações presentes na internet, é necessário que cada um faça a sua seleção

crítica e filtre as informações que deseja considerar e colocar na “arca”. Para tal, precisamos

“ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a navegar” nesse dilúvio (LÉVY, 2001, p.15).

Outro significativo reflexo do avanço tecnológico é a mudança de paradigma, no que

diz respeito à mediação dos saberes em diversos segmentos. Pires (2010, p.283) explicita que

o formato de interação construído pelo sistema escolar ao longo dos anos é constituído de

“processos interacionais essencialmente baseados no relacionamento face a face e na palavra

escrita”. A presença das TICs possibilitou novas maneiras de mediar tais saberes e também de

difundi-los.

As causas reais dos problemas de saúde devem ser atreladas ao conceito de

Determinantes Sociais da Saúde, definido como “os fatores sociais, econômicos, culturais,

étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de

saúde e seus fatores de risco na população” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p.78). Na

proposta do presente projeto, significa a possibilidade de acesso à informação de qualidade para

o desenvolvimento de questões da saúde e desenvolvimento social, independente das condições

em que vive.

Mediante os dados existentes sobre as condições de vida e saúde do território de

Manguinhos, onde estão localizados os atores deste projeto, é possível perceber que existe uma

grande lacuna para atuação dos profissionais de Promoção da Saúde neste espaço. Se a proposta

é que a população tenha conhecimento a respeito de fatores determinantes para sua própria

saúde, deve haver também uma preocupação em inseri-los efetivamente no processo de acesso

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à informação, com a elaboração de estratégias de ação mais assertivas. Ter acesso a

determinadas informações pode ser um recurso para a própria saúde.

Atuar no Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LAISS/CSEGSF/ENSP/FIOCRUZ),

ajudou a identificar uma demanda entre os idosos que frequentavam o laboratório. Ao sanar

curiosidades e dúvidas da utilização das TICs, era comum ao grupo o sentimento de

deslocamento, frente à era digital da nossa sociedade. Ou eles não tinham acesso às TIC ou

possuíam o recurso e não sabiam utilizá-lo. Eles serão os atores principais do projeto de

intervenção.

Com uma população cada vez mais envelhecida, vivendo em uma sociedade cada vez

mais digital, é fundamental investigar soluções metodológicas para que esse grupo deixe a

margem dos avanços tecnológicos e possa utilizar as TIC como recurso para a própria saúde e

qualidade de vida.

O público que o presente projeto se propõe atingir compreende um grupo de dez idosos

moradores do território de Manguinhos. O objetivo será desenvolver, através de uma

metodologia ativa e em conjunto com dez idosos moradores do território de Manguinhos, no

período de seis meses, a utilização crítica e ativa das TIC, visando ao empoderamento e à

participação social, na perspectiva da Promoção da Saúde.

Os atores que compõem esse projeto e são parte fundamental para o desenvolvimento

do mesmo, são moradores do território de Manguinhos, favela do Rio de Janeiro conhecida

pelos frequentes confrontos entre policiais e bandidos. É comum ver o território de Manguinhos

associado aos problemas enfrentados pelo local. Impulsionados pela mídia, o Complexo de

Manguinhos é reconhecido pelos recorrentes conflitos entre policiais e bandidos e recebeu o

apelido de Faixa de Gaza.

Muitas diferenças podem ser observadas entre as comunidades existentes no território,

no que diz respeito a histórico de ocupação, sua configuração geográfica, características dos

moradores entre outras. No entanto, o que essas comunidades compartilham é uma realidade de

exclusão social, desemprego, analfabetismo, vulnerabilidades, descaso de políticas públicas e

também violência.

Vale ressaltar que o projeto não tem a pretensão de solucionar todas as questões

sinalizadas como problemas. O intuito da proposta apresentada é que outros caminhos para a

abordagem da Promoção da Saúde sejam pensados, criados, avaliados, formalizados e

compartilhados. Nesse contexto, as TICs serão utilizadas como recurso fundamental para que

esse novos caminhos sejam possíveis.

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Considerando a natureza do projeto, uma proposta de intervenção no âmbito da

Promoção da Saúde, os resultados esperados são relacionados ao uso das TICs para aquisição

de maior autonomia nas questões relacionadas às condições de vida e saúde.

REFERENCIAL TEÓRICO

A Promoção da Saúde pode ser entendida como o processo de capacitação da

comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior

participação no controle deste processo (BRASIL, 2002). Essa definição, além de ampliar o

entendimento de saúde unicamente como o processo de saúde-doença-atenção, inclui o próprio

indivíduo como parte integrante e ativa deste processo.

Os princípios metodológicos e conceituais da Promoção da Saúde nos levam a refletir

como a proposta se tornará efetiva na prática, podendo desenvolver as potencialidades dos

sujeitos no sentido de criação de capacidades, visando ao empoderamento dos alunos. Nesse

ponto, Salazar (2004) traz à tona a questão que se aproxima dessa análise:

quando se fala de efetividade na Promoção da

Saúde é imprescindível considerar a construção

de capacidades dos indivíduos ou comunidades

para controlar os fatores que determinam sua

saúde ou o impacto desta capacidade sobre o

estado de saúde e seus determinantes.

(SALAZAR, 2004, p.24)

Uma das estratégias para a criação de capacidade e de aprendizagem significativa que

pode ser entendida como relevante e de fundamental importância para a Promoção da Saúde é

“o desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais, no sentido da aquisição de maior controle

e maior poder de decisão (Empowerment)” (GARBIN et al., 2012, p.348).

Considerando que um caminho possível para fomentar o empoderamento é “através da

divulgação de informação, educação para a saúde e intensificação das habilidades vitais”

(BRASIL, 2002, p.14), é relevante potencializar as possibilidades de acesso à informação bem

fundamentada, como sua divulgação.

São cinco as estratégias que podem ser realizadas no âmbito da Promoção da Saúde:

políticas públicas saudáveis, ambientes favoráveis à saúde, ação comunitária, habilidades

pessoais e reorientação do sistema de saúde (BRASIL, 2002). São incontáveis as ações que

podem ser pensadas, desenvolvidas e colocadas em prática em diferentes territórios, com o

intuito de atender aos princípios da Promoção da Saúde. Carvalho e Gastaldo (2007) enfatizam

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que algumas das estratégias tidas como prioridade para a Promoção da Saúde merecem

destaque, como por exemplo, o desenvolvimento da capacidade dos sujeitos individuais e o

fortalecimento de ações comunitárias.

A análise das estratégias acima citadas leva ao conceito de empoderamento,

amplamente discutido pelos princípios teórico-metodológicos da Promoção da Saúde e que

podem englobar ganhos ou avanços do capital social e cultural. Tal conceito possui grande

relevância, uma vez que “está presente, por exemplo, nas definições de saúde pública e

promoção da saúde e no âmago de estratégias da promoção da saúde como as de participação

comunitária, educação em saúde e políticas públicas saudáveis” (CARVALHO E GASTALDO,

2007, p.2031).

O Estatuto do Idoso classifica como idosas aquelas pessoas com idade igual ou superior

a 60 anos, no caso dos países em desenvolvimento como o Brasil. Segundo o IBGE (2012)

existem aproximadamente 20 milhões de idosos no Brasil. Esse número representa a proporção

de 7,4% de idosos em relação aos 191 milhões de habitantes que residem no país (BRASIL,

2003).

A tendência demográfica do grupo de habitantes a partir de 60 anos é de crescimento

significativo. No entanto, vale ressaltar que longevidade não é sinônimo de qualidade de vida.

Visando o envelhecimento de maneira positiva, a Organização Mundial de Saúde adotou o

conceito de Envelhecimento Ativo. Tal conceito pode ser definido como “o processo de

otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar

a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (OMS, 2005, p. 13).

O objetivo desta política é que sejam criadas ações nos três pilares que a fundamentam:

participação, saúde e segurança. Este projeto atua diretamente no pilar de participação. O fato

desta parcela da população ter crescido em uma época onde as TICs não existiam na dimensão

de hoje, faz com que seja estabelecido um fator de estranhamento com o universo da web e os

termos que a acompanham. Diferentemente dos nativos digitais2, os idosos contemporâneos

convivem com as tecnologias de forma conflituosa (BRITO, 2012).

A sociedade possui uma visão estereotipada desses idosos, associando esse grupo a

imagem de pessoas frágeis, doentes, inúteis ou até mesmo incapazes, o que pode culminar em

rejeição (MARTINS;RODRIGUES, 2004). Entendendo que ter um papel social ativo é um fator

2Grupo de crianças, adolescentes e jovens adultos que nasceram na era digital e convivem com o universo das

tecnologias com propriedade.

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significativo para a qualidade de vida e um envelhecimento saudável, este grupo foi escolhido

como alvo para o projeto.

Tavares e Souza (2012) apontam que esse grupo possui algumas particularidades no que

tange ao ensino e aprendizagem das TICs. Questões recorrentes da própria idade, como a baixa

visão e dificuldades motoras, somadas à necessidade de aprendizagem constante para conseguir

acompanhar a velocidade dos avanços tecnológicos, podem ser consideradas barreiras que

dificultam relacionar as TICs com os idosos.

No entanto, essas e tantas outras barreiras não devem ser consideradas impedimentos.

Pelo contrário, devem servir como indicador para que ações assertivas sejam pensadas para esse

público. Em uma sociedade cada vez mais digital e com a expectativa de vida aumentando

significativamente, é imprescindível experimentar metodologias para um grupo ávido por

informação e autonomia.

METODOLOGIA

A natureza do projeto pressupõe que a equipe de profissionais tenha uma aproximação

com a temática das TICs e com os pressupostos da Promoção da Saúde, já que eles serão

responsáveis pela mediação com o grupo de idosos ao longo dos encontros e também analisarão

os instrumentos de avaliação. Não existe um número específico para que a condução do projeto

seja possível. No entanto, é indicado que aos menos dois profissionais acompanhem os

encontros presenciais.

O caráter participativo faz com que o público que se pretende atingir esteja presente em

todas as etapas do processo, incluindo o diagnóstico participativo e o desenvolvimento do

programa de oficinas. Essa preocupação direciona as atividades que serão realizadas nas

oficinas para o real interesse e necessidade de tais idosos.

Neste cenário, vale ressaltar que a utilização das TICs no projeto será direcionada para

além da possibilidade simplesmente instrumental, se diferenciando assim dos cursos de

informática tradicionais. Segundo Martin-Barbero (2000), quando o sistema educacional olha

para as novas tecnologias apenas como instrumento, perde de vista a possibilidade de se inserir

neste novo contexto da sociedade atual, que traz consigo formas diferenciadas de aprendizagem.

Sendo assim, a proposta é que seja atribuído significado às várias possibilidades de utilização

das TICs, no âmbito da Promoção da Saúde.

Devido à natureza experimental do projeto, a ideia inicial é formar uma turma piloto

com dez idosos, que se encontrarão semanalmente, durante seis meses. Visando a criação de

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um grupo heterogêneo, e entendendo que essa característica irá enriquecer as trocas que

oportunamente surgirão, serão estabelecidas apenas três limitações: a idade (igual ou superior

a 60 anos), o sexo (o ideal é que a amostra compreenda cinco mulheres e cinco homens) e o

nível de escolaridade (considerando o tempo disponível para a execução do projeto, o ideal é

que o idoso seja alfabetizado). Sendo assim, não serão estabelecidos outros limites como a

profissão, renda, origem social, composição familiar, ocupação etc.

O viés prático do projeto, representado por meio de oficinas de caráter educativo -

participativo pressupõe que todo o processo de aprendizagem seja pensado visando as ações

necessárias para que exista uma aprendizagem significativa por parte dos alunos (LEMOS,

2011).

O esforço de elaborar ações que visem a aprendizagem significativa tem como intuito

fomentar a participação social, entendida como a “manifestação concreta de ações que visam

objetivos específicos atrelados a dinâmicas individuais ou coletivas que favorecem a formação

de redes com destacada tolerância entre seus componentes, a despeito da diversidade e

heterogeneidade individual que poderá suscitar reorganização social e política”

(WALLERSTEIN, 2009).

Para Bodstein e Zancan (2004), avaliar iniciativas e ações que sejam de natureza

participativa requer um modelo de avaliação que extrapole os modelos tradicionais, pautados

apenas na mensuração de efeito e impacto. Nesse sentido, a sistematização de momentos de

análise ao longo do projeto se faz necessária, pois “identifica pistas que ajudam a compreender

a realidade e a construir sentidos que a façam mais compreensível” (AKERMAN, 2002 apud

BECKER et al, 2004, p. 664).

Considerando os pontos abordados acima, o acompanhamento da evolução deste projeto

será realizada de maneira gradativa, em etapas, como pode ser visto no Quadro 1. O intuito

desse fluxo é analisar as diferentes etapas do processo e assim poder realizar ajustes, caso seja

necessário, para aprimorar as próximas etapas e garantir maior efetividade no projeto. Vale

ressaltar que apesar da sistematização prevista, a avaliação estará presente ao longo do projeto,

extrapolando tais etapas.

Outros instrumentos estão previstos no processo: a lista de presença será preenchida

semanalmente, e o portfólio individual, a auto avaliação e o relatório de satisfação serão

preenchidos a cada dois meses, no final das etapas 1, 2, 3 e 4.

Para que a avaliação seja efetiva, é imprescindível que esta seja totalmente

descentralizada. Becker et al (2004) enfatiza que o envolvimento de todos os participantes, é

crucial desde a sua concepção, até a avaliação. Quando bem conduzida, a prática avaliativa de

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projetos de PS pode “dar suporte à construção de melhores práticas em políticas públicas ou

intervenções sociais, produzindo e sistematizando conhecimentos e respondendo às demandas

por novos referenciais com alternativas conceituais e propostas de intervenção indutoras de

mudanças em realidades locais de exclusão e dependência” (SÁ e MOYSÉS, 2009, p. 29). Por

esse motivo, a avaliação na PS tem dimensão política e fim social.

Quadro 1 – Ciclo do Projeto

Fonte: Elaborado pelo autor com base em PEREIRA E NEVES, 2011.

Duração: 6

semanas

Duração: 6

semanas

Duração: 6

semanas

Duração: 6

semanas

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RESULTADOS

Minayo (2009) aponta os indicadores como o caminho para medir os resultados a serem

alcançados. Isto acontece, pois estes são parâmetros que devem ser utilizados para analisar se

a proposta está sendo bem conduzida e se o objetivo será realmente alcançado. Atuando como

“sinalizadores da realidade”, os indicadores são instrumentos que auxiliam os responsáveis

pelo projeto a entender o andamento do mesmo.

Os seguintes indicadores foram definidos para esse projeto de intervenção: participação

efetiva nas oficinas oferecidas de pelo menos 70% de presença em seis meses de encontros;

independência na utilização dos recursos tecnológicos (TICs); incremento de pelo menos 70%

do nível de aprendizado do grupo de idosos frente aos recursos tecnológicos; índice de

satisfação frente as necessidades pessoais do público alvo de pelo menos 70%; frequência nas

oficinas oferecidas e percepção dos alunos frente à influência dos DSS nas questões de saúde.

Como resultados esperados podem ser citados maior domínio das TICs, utilização

crítica e ativa das TICs, maior autonomia nas questões relacionadas às condições de vida e

saúde, participação social em eventos que demonstrem interação social em diferentes formatos

e empoderamento do grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse projeto busca combinar empoderamento, participação social e TICs na perspectiva

da Promoção da Saúde, para os idosos moradores de um território vulnerável. Todas essas

características juntas atribuem um caráter inovador ao projeto. Com isso, pode-se proporcionar

uma vasta gama de aprendizagem, gerando conhecimento com e entre todos os envolvidos.

Pensar nas variáveis que compõem esse projeto é ao mesmo tempo um desafio e uma

oportunidade. Na medida em que se coloca em debate a questão dos idosos e a dupla exclusão

(digital e social) a qual muitos são submetidos, abre-se espaço para reflexões, ações e trocas de

experiências. Amplia-se assim a possibilidade de investir na qualidade de vida e

desenvolvimento social desse grupo.

Por fim, é fundamental que todo o ciclo de aprendizagem significativa proposto neste

projeto de intervenção, incluindo a avaliação, seja divulgado não só no local onde o projeto foi

desenvolvido como também na internet. Compartilhar as etapas de desenvolvimento, assim

como as lições aprendidas e o resultado do projeto pode servir de insumo para que outras

iniciativas de intervenção sejam pensadas e/ou aprimoradas.

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REFERÊNCIAS

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