Eu Amo Voce Jmaj

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Tubo de ensaio | Bruno Nogueira • João Quadros 5 Nilton EU AMO VOCÊ 5. a edição

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Tubo de ensaio | Bruno Nogueira • João Quadros 5

Nilton

EU AMO VOCÊ5.a edição

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.1.DEU QUE FALAR

O tuga é algo que está dentro de todos nós. Algo que vem nonosso ADN, algo mais forte que nós e que nem sempre conse-guimos explicar.

Exemplos, somos o único povo do mundo que consegue andarcom um telemóvel até ele se desfazer de tão velho que está, massem nunca tirar o plástico que protege o ecrã. Já a levantar noscantos, quase que a pedir para ir embora, e o tuga tenta colá-lade novo com cuspo.

Os amigos a dizerem: «Então, não tiras esta porcaria?!»E o tuga: «Psst! Não mexas aí! Isto é para ficar quieto.»Esta será certamente uma herança portuguesa das capas dos

bancos no carro. Antigamente havia esta mania de manter ascapas para os estofos ficarem imaculados. O carro podia estar acair de podre, mas os estofos estão impecáveis.

Não sei se já repararam, mas somos também os únicos nomundo a usar o «aperto de mão à mecânico». Sempre que umportuguês tem a mão suja ou molhada e tem de cumprimentaralguém, dobra-a e oferece o pulso para a outra pessoa apertar.Por alguma razão que ainda não consegui explicar, o tuga é tão...chamemos-lhe educado, que prefere fingir que tem um coto,

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como se uma serra lhe tivesse levado o resto do braço, do quedeixar de cumprimentar os demais, e isso é de valor.

É impressão minha ou a maioria dos homens deste país sólava as mãos nas casas de banho públicas se lá estiverem outroshomens?

Reparem nas bombas de gasolina em que alguns estão a saire ainda vêm a apertar a braguilha. A minha dúvida é: Se elesainda estão a fechar as calças, lavaram as mãos com elas aber-tas ou saíram directamente do urinol para a rua? Pelo sim, pelonão, em bombas de gasolina ou centros comerciais nunca aper-tem as mãos a gente que veio do perímetro das casas de banho.

O que é que se passa com os símbolos nas casas de banho?Custa muito simplificar a coisa? Nos últimos anos noto quecomeçou uma mania de nos dificultarem a tarefa mais simplesdo mundo que é uma pessoa perceber onde é a casa de banhodos homens e onde é a das mulheres. Simples. Alguém se far-tou do bonequinho da cartola para nós e da bonequinha de saiapara elas e resolveu complicar. Ora é por cores, ora são os cro-mossomas, sim, porque eu estou cheio de vontade de fazer chi-chi e ainda tenho de me estar a lembrar das aulas de biologia.A setinha e o sinal de mais são as coisas que mais me ocorrequando estou a fazer chichi pelas calças abaixo. E os bonequi-nhos estranhos. Quase que é preciso consultar as soluções. Nóssabemos que na sociedade as coisas já não estão tão linearesquanto homem/mulher, mas enquanto não fizerem uma casa debanho para os que não são nem uma coisa nem outra, fiquem--se pelo básico.

Já agora, porque é que não metem também sudoku ou pala-vras cruzadas? Quem não acertar, fica à porta ou vá fazer em casa.

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Parem lá com isso, não me parece o sítio nem a hora correctapara complicar.

Quem é que inventou os fechos dos sutiãs? Ninguém me tira da ideia que uma coisa tão difícil de abrir

só pode ter sido pensada pelo pai de uma miúda com o peitogrande.

Valas comuns. O que é que me dizem, são ou não um sítioquentinho e aconchegado?

Já que falamos de coisas bonitas, atentemos para uma inven-ção portuguesa. Pergunto eu à ganância:

Será que foi por já estarmos habituados a ter de disfarçar aporcaria que fazemos que inventámos o papel higiénico àscores?

Que mais desculpas haverá para que os outros países pensemem curar doenças e nós só nos lembremos de coisas para tornara vida dos daltónicos ainda mais complicada?

Eu não posso deixar de perguntar: Ele nota?Eu confesso que não tenho assim uma relação tão grande com

o meu para que lhe possa perguntar isto directamente. Sou assimuma pessoa afastada, não mantenho relações de confiança como meu corpo todo.

Sei que a minha mão gosta de uma luva quentinha. Sei quea minha cabeça agradece um chapéu se estiver sol, sei que osmeus dentes não gostam de cáries. Mas será que ele gosta dopapel às cores? Terá cheiro e isso, parecendo que não, ajuda?Pelo sim, pelo não, sinto-me na obrigação de vos alertar. Secomeçarem a ver papel higiénico reciclado, desconfiem.

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Outra pergunta parva: Como é que um cego sabe se é de diaou de noite?

Já repararam que para lavar a cabeça o tuga usa «shampum».Não sei se é porque o champô está muito caro, o que é certo éque não encontro ninguém que use champô. Shampum é queestá a dar.

Normalmente são o mesmo tipo de pessoas que diz «onteon-tem».

Ainda sobre essa coisa para lavar a cabeça, já me começa a irri-tar essa mania que as marcas de champô têm de volta e meiaanunciarem que os seus produtos dão mais 10% de eficácia. Vejoanúncios de televisão a dizer: Agora com mais 10% de eficácia.A pergunta para estas bestas é: Vocês acham que ainda não esta-mos preparados para a eficácia toda de uma vez?

Quantos anos mais vão dá-la aos bocadinhos? Eles estão lá sentados na fábrica a pensar: Bem, vamos dar

mais 10% de eficácia que é para aqueles malucos irem testandoisto aos poucos. Não vamos abusar... e 10% já é coisa para per-derem a cabeça!

É que se o novo tem mais 10% de eficácia, o último champôque comprei era uma porcaria. Já nem pergunto como é que elesmedem a eficácia de um champô. Fazem-no correr em pista detartan?

Obrigam-no a fazer testes psicotécnicos?Uma ideia: Dêem logo a eficácia toda e comecem a inventar

outra porcaria qualquer. Agradecido.

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Impressão minha ou o português é o único povo do mundoque está só a ver?

Entramos em loja qualquer, a empregada pergunta se preci-samos de ajuda e o que é que o tuga responde?: «Não, não. Estousó a ver.»

Ainda por cima é mentira porque o português é incapaz deestar só a ver (mesmo numa casa de strip), nós escolhemos qual-quer coisa como escolhemos fruta, a mexer!

No caso da fruta mexemos e cheiramos para ter a certeza de queaquela é a fruta que estamos a escolher. O tuga pega na maçã,cheira para ter a certeza que é uma maçã. Não vá ser uma bananadisfarçada de maçã, que as bananas têm a mania de fazer isso.

Continuando, por mais estranho que possa parecer, os por-tugueses dizem que estão só a ver porque não gostam que oempregado venha ter com eles. Mas se ele não disser nada, passapor antipático.

Por isso é que em muitas lojas já optaram pelo método: «Seprecisar de ajuda, diga!», que é o mesmo que se o empregadoquisesse dizer: «Se precisar de ajuda, diga, se não, veja, mexa,revire, desarrume, e ponha-se na alheta porque eu já sei que nãovai comprar nada!»

Eu que nasci em Angola lanço esta dúvida: Cada vez quealguém diz que deu um tiro no escuro, morre ou não um afri-cano?

Não sentem o ar mais puro? Estava aqui a ler quantos já mor-reram com a gripe A e pensei que já se notasse que o ar estámenos carregado.

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Não percebo estas leis ambientais. Por um lado, querem queas pessoas separem o lixo e proteja o ambiente, por outro, dei-xam o Fidel Castro estar a apodrecer a céu aberto há mais deduzentos anos.

Enquanto a Vanessa Fernandes deu três voltas a correr ao pla-neta, estava eu aqui a pensar: antes de ser famoso, o Tony Car-reira chamava-se ou não António Autocarro?

Da mesma forma descarada, pergunto se deveria ou não haveruma hora certa para as pessoas irem pagar as contas no multi-banco.

Há lá coisa pior que querermos levantar dez euros para o táxie termos de levar com a malta que resolveu carregar o telefone,pagar o gás, a água, a electricidade, a tv-cabo e mais as transfe-rências para a conta do filho que está a estudar em Coimbra paraser um grande médico e daqui a uns anos dar também ele secaaos doentes que morrem a prazo nas salas de espera?

Eu não consigo assistir a cenas destas sem que tenha vontadede espancar o indivíduo. Porque eles nunca estão organizados.Andam ali às voltas com os papéis e tiram o cartão e voltam acolocar e vêem o saldo e enganam-se no código.

Marquem uma hora certa para isso ou vai começar a morrergente.

Agora que já limpei isto da alma, pergunto-vos honesta-mente: As pessoas que se divorciam não deveriam ser obrigadasa devolver os presentes?

Esta semana descobri que se vão desatrelar mais dois que vimatrimoniar.

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Ora se eu já fiquei chateado por a minha amiga me ter con-vidado e feito perder um dia que dificilmente recupero – mesmoque continuassem casados nunca lhes perdoaria isso –, irrita-meainda mais que me tenham feito gastar mais do que mereciamnuma prenda que agora ficou para o noivo, que ainda por cimanem me convidou para o casamento dele porque eu vinha daparte dela. Basicamente ofereci uma coisa de duzentos e cin-quenta euros a um caramelo que não conheço de lado nenhum!

Vão divorciar-se? Chatice, tenho muita pena, então venha paracá a prenda. Sem pruridos. Até deveria ser de lei.

Em vez de um acordo ortográfico, entre Portugal e Brasil nãoserá mais urgente fazer um acordo pornográfico?

Não sei. Só estão a seguir o meu raciocínio, mas uma coisadessas só poderia trazer benefícios a Bragança em geral e aosdois países em particular.

Quem é a pessoa que tomou conta da cara da Manuela MouraGuedes? Eu não sei quem ela é, mas isso não se faz. A Sra.Manuela é boa pessoa e não merecia que esta senhora tomasseconta da cara dela. Eu digo senhora, mas pelas bochechas tam-bém posso arriscar que tenha sido o Dr. Mário Soares.

Já que este livro se está a tornar uma partilha, aproveito paradividir mais um pensamento com o caro leitor que pelos vistosnão deve ter mais nada para fazer. Então aqui vai mais umadúvida à discussão: porque é que em vez da Maddie, os raptoresnão levaram um dos gémeos? Assim ninguém se chateava.

Da mesma forma me revolto contra o pai biológico dapequena Esmeralda. Aquela história da menina que foi adoptada

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e depois entregue ao pai adoptivo. Então mas o senhor não sabiafazer gémeas? Assim, era uma para ele outra para o GNR e nãose falava mais no assunto. Às vezes parece que não pensam.

A minha teoria é que um pai que tem gémeos vive descan-sado. Acontece alguma coisa a um, tem outro. Nesse caso, umdeles pode até dedicar-se a desportos radicais que uma pessoanem se importa. Telefonam da escola: O seu filho partiu acabeça. O que é que um pai pensa: Não me importa, tenho aquioutro igualzinho, está impecável!

Nem se devia chamar gémeos, devia chamar-se back up.

Já vos disse que sei falar francês em sete línguas diferentes?Espectáculo!

Outra coisa que continuo a não perceber é esta mania de osambientalistas quererem baixar o aquecimento global!

Como é que algum homem pode ser contra uma coisa que,mais dia, menos dia, fará com que as mulheres andem o anointeiro de top?

O arco-íris é ou não o clima a ser um bocadinho «larilas»?Sem querer ofender ninguém, não consigo perceber o que se

poderá passar para de repente o clima se armar em «panisgazinho».O clima tem coisas espectaculares e viris, consegue mandar

para cá tornados, raios, tufões, ventos que arrancam casas edepois assim do nada anda a fazer «corzinhas» no ar como sede repente estivesse a convidar as nuvens para uma festa gay.

Prefiro que o clima me leve o telhado da casa, a andar comessas mariquices.

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O WC Pato tapa ou não o nariz quando as pessoas se sentamna sanita?

Ainda não percebi também o que anda a fazer a Al-Qaeda. O 11 de Setembro já foi em 2001 e as torres das Amoreiras

em Lisboa continuam de pé porquê?

Que história esta de homens serem mães? Será bom para a criança ouvir a outra mãe a gritar: «Zé Car-

los, vem dar de mamar ao teu filho!»

Vocês não têm nada a ver com isso, mas às terças-feiras, pelas10h53 da manhã, dá-me para reparar que alguns portuguesespensam que Expresso é um autocarro.

Lê-se tão pouco em Portugal que fico com a ideia de que algu-mas pessoas entram num livro com o mesmo medo de quementra na água fria do mar.

Porque é que as pessoas folheiam os livros novos na livraria? Estão com a esperança de encontrar lá alguma coisa?Eu vejo as pessoas a fazer isso e parece que se esqueceram lá

de um documento.«E tinha quase a certeza que o tinha deixado aqui...»; ou estão

à procura de algum ponto onde o autor tenha falado deles.«Será que ele diz alguma coisa sobre mim?»O que é que haverá no meio do livro que nos leve a fazer tal

coisa?Paremos então com isso.

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Há uma coisa gravíssima em Portugal que é o facto de a nossabandeira ter deixado de ser símbolo de uma nação para passara ser conotada com futebol. Bandeira na janela não é patriotismo,é porque vai haver Europeu ou Mundial.

Mas a grande questão é que convém avisar a malta que temeste ímpeto que o lado vermelho é para a direita. Já que se que-rem armar em patriotas, ao menos façam-no da forma correcta.Agora o senhor Scolari vai ali contar novamente as notas dosordenados que ganhou enquanto vocês andavam a pendurar abandeira ao contrário.

Eu não frequento, mas os leitores irão certamente a casa daspessoas, certo? Então será que lhes podem explicar que não ésuposto vestirmos os cães?

Se a ideia fosse que o animal saísse à rua com camisas maisfloridas do que os casacos do Goucha, eu acho que Deus, ou láquem fez os cães, ter-se-ia lembrado disso.

Ninguém roça o assunto nas notícias, mas aposto que todasas pessoas que foram atacadas por cães vinham vestidas deforma duvidosa. E ninguém pode culpar um animal por ter bomgosto.

A semana passada vi um documentário sobre ursos panda emextinção. Eu acho que os pandas não estão em extinção, são osanimais feios que os matam.

Toda a gente se derrete com os pandas, os outros ficam comciúmes e limpam-lhes o sebo. Não só apoio como acho muitobem!

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