Etnografia sobre a participacao da juventude nas eleicoes municipais de iraucuda e itapage

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ UVA PROFESSOR: GLEIDSON VIERA EQUIPE: ANTÔNIA VERA MENDES PEREIRA MARIA JOSILÂNE DA COSTA MARTINS MIKAEL GOMES BRAGA DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA I ETNOGRAFIA: “PARTICIPAÇÃO DA JUVENTUDE NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012 NA CIDADE DE ITAPAJÉ E IRAUÇUBA” 12/12/2012 SOBRAL-CEARÁ

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É uma pesquisa e campo realizado por estudantes do curso de ciências sociais da UVA, que trás como tema principal, a participação da juventude nas eleições municipais 2012 na cidade de Itapajé e Iracuçuba. Tendo como foco, as diversificadas formas dos jovens se organizarem e expressarem sua maneira de ver a política.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

PROFESSOR: GLEIDSON VIERA

EQUIPE:

ANTÔNIA VERA MENDES PEREIRA

MARIA JOSILÂNE DA COSTA MARTINS

MIKAEL GOMES BRAGA

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA I

ETNOGRAFIA:

“PARTICIPAÇÃO DA JUVENTUDE NAS

ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012 NA

CIDADE DE ITAPAJÉ E IRAUÇUBA”

12/12/2012

SOBRAL-CEARÁ

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Etnografia:

“Um estudo etnográfico sobre a participação da juventude nas eleições municipais 2012

na cidade de Itapajé e Irauçuba”

RESUMO

Nossas análises giraram em torno de descobrir o nível de consciência política dos

jovens, seu engajamento nos comícios e reuniões dos candidatos e sua visão sobre essas

eleições. Este estudo de campo visa conhecer o potencial da juventude itapajeense e

irauçubeense no processo eleitoral dos respectivos municípios, assim como entender e

interpretar as diferentes formas e manifestações que os mesmo utilizam nesse espaço

eleitoral.

Nesse trabalho, foi a etnografia o meio para interpretar o significado do fenômeno

político para os jovens. Esta se realizou durante o período eleitoral, correspondente às

eleições municipais de 2012 na cidade de Itapajé e Irauçuba. Durante a mesma

interpretamos o significado que a campanha eleitoral adquire para os jovens e como

algumas instituições, vale especificar, partidos políticos, igrejas, organizações de jovens

e atores envolvidos nesse processo se comportam nessas circunstâncias.

Palavras chaves: eleições, juventude, consciência política, Irauçuba, Itapajé.

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Sumário

Contextualizando o espaço político e geográfico

do Município de Irauçuba e Itapajé ......................................................................................... 4

A grande força do potencial eleitoral jovem

das cidades de Irauçuba e Itapajé ............................................................................................ 6

A participação do jovem na política ........................................................................................ 7

A vivência da fé e o exercício da política ............................................................................... 9

Do discurso para a prática: Juventude ativa ......................................................................... 10

Considerações Finais ............................................................................................................... 13

Anexos ....................................................................................................................................... 14

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Contextualizando o espaço político e geográfico do município de Irauçuba e Itapajé

Nossas observações e análises da pesquisa de campo ocorreram nas cidades de Itapajé e

Irauçuba. No período que compreende 20 de Setembro (data que iniciamos esta

etnografia) até no período pós- eleitoral na qual expomos uma visão geral do objeto de

nossas investigações, que foi a participação da juventude no processo eleitoral dos

respectivos municípios.

Cabe-nos agora, expor o contexto político e geográfico dessas cidades, revelando quem

são os autores envolvidos no pleito eleitoral. Para não tornar um estudo cansativo,

resolvemos apresentar somente a situação dos candidatos eleitos nesses municípios.

A cidade de Irauçuba está localizada na Zona Norte do Estado do Ceará, principal via de

acesso: BR 222 a 150 km de Fortaleza e a 70 km de Sobral.

José Elisnaldo Mota Pinto, o Zé Mota (37 anos) foi eleito prefeito de Irauçuba nas

eleições ocorridas no dia Sete (7) de Outubro numa disputa bastante acirrada. Ele teve

um total de 7.090 enquanto seu adversário Heleno Araújo obteve 6847 votos. A

diferença pro Zé Mota foi de 243 votos.

Ocorreu uma grande comemoração nas ruas da cidade. Fogos de artifícios, gritos e

passeatas os militantes da campanha fizeram a festa. O distrito de Missí e Juá foram

fundamentais na vitória de Zé Mota. Só no Missí a maioria foi de mais de 350 votos.

Aqui na sede o candidato Heleno Araújo ganhou com mais de 200 votos.

Com a vitória de Zé Mota o grupo político liderado por Nonatinho entra para o terceiro

mandato á frente da prefeitura municipal de Irauçuba. Com o slogan de campanha

“Fazer Ainda Mais Por Irauçuba” que proporcionou um reconhecimento de seu

governo.i

Para vereador o TSE informa que tem 57 candidatos cadastrados, pelos diversos

partidos que formam as duas coligações que disputarão as Eleições 2012.ii A relação dos

vereadores eleitos em Irauçuba foram Valderina (43 anos), Prof. Elis Roberto (35 anos),

Cleia Caetano (33 anos), Joao Mario (49 anos), Walmar Braga (58 anos) e Eufrasio (51

anos).

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Itapajé encontra-se localizada no Norte do Estado do Ceará, na região serrana entre o

Vale do Curu e Serra de Uruburetama, a 119 km de Fortaleza e a uma altitude de 262

metros.

Ciro Braga (PTB) foi eleito com 52,82% (16.070 votos) o mais jovem prefeito de

Itapajé. Pra quem vê de fora se admira e pensa que realmente Ciro (30 anos) disputou a

eleição para prefeito, mas não foi bem assim.

Ciro estava disputando as eleições 2012 para o cargo de vereador e quem estava

concorrendo à prefeitura era o seu pai, o ex-prefeito Batista Braga. As duas campanhas

estavam indo muito bem, Batista e Ciro arrastavam multidões por onde passavam e para

alguns era dada como certa a dobradinha da família Braga. Mas um escândalo

envolvendo o seu pai por acusação de ficha suja fez com que no último comício para

evitar uma possível cassação, Batista Braga renunciasse a candidatura de prefeito e Ciro

renunciasse a de vereador e ficasse no lugar do pai. iii

Houve uma reviravolta na cidade, principalmente da oposição por “achar um

ato condenável e que isso não poderia de forma alguma acontecer”, mas a lei dá essa

brecha na qual a usaram e pra todos os efeitos foi uma manobra limpa. Passada essa

polêmica, que pelo resultado não abalou em nada a campanha, Ciro Braga acabou por

vencer as eleições.

Quanto aos candidatos eleitos para legislar nos próximos quatro (4) anos no Município

de Itapajé foram DR. IDER (54 anos), JOÃO CAMARÁ (44 anos), ERNANDO

MESQUITA (42 anos), DIMAS CRUZ (63 anos), LIRINHA (66 anos), RAIMUNDO

POLICIA (45 anos), JOSIFRAN ALVES (45 anos), BRUNO FRANCISCO (30 anos),

ESTELINHA (46 anos), NONATO DA SANTA RITA (38 anos), CHICO CRUZ (54

anos), HAROLDO MOTA (46 anos) e RICARDO GÓIS (42 anos). Vale ressaltar que

estavam concorrendo 93 vereadores e alguns (uma parcela significativa) eram de jovens

entre 19 á 29 anos.iv

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A grande força do potencial eleitoral jovem das cidades de Irauçuba e Itapajé

O eleitorado jovem da cidade de Irauçuba correspondente á faixa etária que vai

dos 16 (dezesseis) aos 34 (trinta e quatro anos) possui um montante de 8.315 jovens que

podem mudar o cenário político local.

Já a juventude itapajeense, em termos absolutos, constitui um dos maiores

segmentos da população. Há em torno de 15.858 de jovens entre 16 á 34 anos no

município de Itapajé segundo o TRE-CE (2012), isto é, mais de um quarto da

população.v

É grande a necessidade de reconhecer a juventude itapajeense e irauçubeense

como uma peça fundamental para a construção de uma cidade mais democrática e justa

para com seus próprios habitantes, sendo assim, faz-se de extrema importância os

jovens se organizarem e cobrarem do poder público, de instituições privadas ou ONGs

um (re)conhecimento sobre suas demandas e anseios. Visto que na última década o

Estado brasileiro passou a ter um olhar diferenciado sobre este segmento por entender

que era necessário constituir políticas públicas que reconhecessem as especificidades de

suas demandas. Em 2005 por meio da Lei n° 11.129 foi criada a Política Nacional de

Juventude, a saber: Secretaria Nacional de Juventude, Conselho Nacional de Juventude;

e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).

Como presenciamos acima, os jovens de Irauçuba e Itapajé constituem uma

grande camada de eleitores que podem decidir essa eleição. Segundo os dados do

Tribunal Superior Eleitoral – TSE (setembro de 2012) a população entre 16 e 17 anos,

ou seja, a parcela dos jovens que tem a opção de votar constitui em termos

proporcionais 9, 115% da população dos respectivos municípios. A primeira vista

aparenta um percentual baixo, no entanto se observarmos em termos absolutos o

número corresponde a 2.425 jovens que tem a opção de votar. Se ampliarmos esta

análise para os jovens entre 18 a 24 anos, que tem, em tese, a obrigação do voto, esta

margem amplia significativamente, atingindo 36.568% do eleitorado, representando em

termos absolutos 9.968 eleitores.vi

Esta massa de jovens constitui um número decisivo

para Irauçuba e Itapajé na qual pode influir no resultado dessas eleições.

Diante deste quadro, marqueteiros políticos, agências de publicidade, núcleos de

inteligência de partidos políticos formulam estratégias e planos para conseguir o voto

deste contingente. Uma tarefa árdua e difícil, pois não existe uma juventude

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homogênea. A característica central deste segmento é sua múltipla identidade e

diferentes recortes sejam de gênero, cultural, religioso, classe social, etc. O que os

jovens das diferentes origens sociais, tribos culturais e de gênero compartilham é um

mesmo momento histórico. Portanto formular discursos para este segmento demanda

entender a complexidade da juventude.

A proposição de políticas públicas capazes de efetivar direitos constitui a tônica

para este segmento ávido por novas ações do Poder Público que dialogue com sua

realidade. Os candidatos terão que se desdobrar, pois além de comparar governos terão

que apresentar propostas que tenham relação com os anseios das diferentes juventudes.

A participação do jovem na política

Diante de nossa observação participante, pudemos perceber a grande diversidade que a

própria juventude entende por política e como ela se comporta de forma heterogênea

nessas manifestações. Levando em consideração as eleições municipais que se

aproxima, podemos conceber a perceptível participação dos jovens em diferentes

formas de atuarem, de expressarem suas ideias e como também, está proporcionando

uma nova perspectiva na organização política.

Muitos jovens participam de uma maneira eufórica, defendendo seus candidatos, no que

muitas vezes resulta em conflitos, outros buscam ser parciais sem fazer nenhum tipo de

manifestação.

“Particularmente, adoro esse momento, vejo como uma grande oportunidade para ser

feitas manifestações, pois alguns candidatos, que são fichas sujas, querem e tentam

buscar de qualquer forma serem eleitos, e é aí, que nós podemos nos manifestar para

escolher pessoas capazes de alcançar objetivos benéficos para a própria comunidade”

Rogério Sousa de 17 anos, Estudante.

Porém, a política por questão cultural, é vista como sinônimo de corrupção e isso nos

fazem associarmos política á algo negativo. As pessoas ainda não sabem da importância

da participação na política e principalmente, a juventude, que encara como um local

onde só existem pessoas desonestas, fazendo coisas desonestas e com o nosso dinheiro!

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Muldiane Luz, Secretária de Educação de Irauçuba.

“Como jovem procuro fazer a minha parte dentro de minha comunidade, participando

politicamente e acreditando que é, através desse aspecto que podemos mudar a nossa

realidade, e é por isso que devemos refletir e conhecer as propostas de cada candidato

que irá nos representar futuramente, defendendo os interesses da comunidade e está

sempre contribuindo para construção de uma cidade melhor.” Rogério Sousa

Ao analisar e tentar entender como a juventude vê e interpreta sobre a política e sua

participação nesse processo que ocorre no país, em especial, nas eleições municipais,

cujo governo está mais presente na vida desses jovens. Percebe-se o envolvimento, a

empolgação, que em muita das vezes geram conflitos, mal entendidos, desavenças que

ultrapassam os limites levando especificamente, esses jovens, defenderem seus

candidatos como se fossem “deuses”, não admitindo que os opositores apontem seus

erros e falhas. Diante disso, cria-se uma rivalidade fora do comum, proporcionando

discussões verbais e até físicas por aglutinarem em grupos e provocarem aqueles que

têm opiniões contrárias as suas.

Durante os comícios levam bandeiras, cantam suas musicas que tornam verdadeiros

hinos, vestem blusas que representam as cores do partido de seus candidatos e, ao

reconhecer outra pessoa que faz parte do mesmo movimento gritam o numero que faz

apologia ao candidato como forma de cumprimento e socialização com o grupo

envolvido.

Ao indagar uma jovem sobre o que a leva á defender e agir de determinada forma

demonstrando assim sua paixão pelo candidato, ela relatou:

“... desde criancinha escuto minha mãe falar desse Batista Bragavii

, e como ela fala tão

bem dele, passei a gostar também. Gosto muito dele, pois ele sempre dá atenção, quer

seja em época eleitoral, quer seja fora do governo, pois quando qualquer um precisar

de ajuda é só procurar ele (...) por isso, ele não perde essa eleição.”

Rita de Cássia Miranda, 26 anos, Dona de Casa.

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Num sábado observando o movimento político na cidade de Itapajé, na qual aconteciam

comícios dos dois maiores candidatos á prefeito, mesmo sendo em bairros opostos,

havia um ponto central, onde devido ao trânsito ocorria um encontro dos eleitores,

encontro esse que mesmo sendo por alguns segundos, percebia-se a rivalidade expressas

por esses jovens com provocações, pegavam bandeiras, rasgava-as e em alguns

momentos chegava á arremessar suas próprias bandeiras contra seus adversários, de

longe podia ver o barulho que pegava no carro onde estavam.

Ainda havia aqueles que em grupo saiam pelas ruas em motos e carros de som

provocando os adversários. Essas manifestações provocam diversas reações naqueles

eleitores que ainda não tomaram uma posição, em alguns casos chega á se contagiar

com a alegria desses jovens que transmitem paixão através de suas diversificadas

formas de se expressarem. Em outros casos, desperta raiva e repúdio pela maneira que

são feitas essas demonstrações de apoio.

A vivência da fé e o exercício da política

Quando estávamos á campo, nos comícios dos candidatos á pleitearem um cargo na

prefeitura e câmara municipal, percebemos a presença nítida de vários jovens

pertencentes á grupos religiosos, como católicos, evangélicos, adventistas, enfim, o

envolvimento desse segmento nos fez questionar a vivência da fé e o exercício da

política para o mesmo. Pois a discussão sobre fé e política sempre foi marcada por

aparentes dicotomias. Isso pode ser verificado numa conversa informal que

presenciamos de um ‘crente convicto’, afirmando que fé e política não se misturam e

que religião – entendida como uma das formas de vivência da fé – seria um dos temas

não questionáveis em circuitos públicos de análise da vida social.

No entanto, apesar de ser bastante difundida em vários segmentos, tal leitura não se

sustenta quando confrontada com a realidade. Pois nos mais variados tempos históricos,

fé e política sempre estiveram bastante relacionadas, demonstrando que na intersecção

entre estes dois campos ainda há muito que se debater, refletir e propor!

Partindo de uma rápida olhada para a história, vemos que importantes movimentos e

atores políticos estiveram inspirados e movidos pela fé. Também diagnosticamos a

crença no transcendente como elemento inspirados de ações individuais e coletivas no

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campo da luta política, da construção da cidadania e da emancipação dos sujeitos

históricos, como por exemplo, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Mãe Stella de

Oxossi, Madre Tereza de Calcutá, e tantas outras, associando sua forte crença religiosa e

as lutas por elas representadas.viii

Para os cristãos, essa dimensão do engajamento político baseia-se na forte participação

do próprio Jesus nos temas relativos á luta por justiça para seu povo. Sem confundir

política com religião, mas sem negar a dimensão política da fé, Jesus pregou que era

papel de seus (suas) seguidores (as) comprometerem-se com a vida de seus (suas)

irmãos (ãs), assumindo seus dilemas e articulando-se -politicamente- na construção de

outro sistema de organização social baseado na solidariedade, na fraternidade e na

comunhão.ix

De modo bastante contundente, Jesus Cristo defendeu os oprimidos, contrapondo-se ao

sistema econômico e religioso vigente. E foi perseguido por sua posição - política – de

afirmar a vida como valor central de sua pregação. Enfrentou as conseqüências ultimas

desta sua opção radical, inspirando seus (suas) seguidores (as) ao mesmo tipo de

engajamento e opção em defesa da vida.

A vivência da fé e o exercício da política é relatado na fala abaixo, por um militante

cristão: “ (...) Sem dúvida, que a fé e a política podem ( e devem) dialogar e que

esses diálogos é possível emergir direitos, conquistas e novos espaços para toda a

sociedade.”

Do discurso para a prática: Juventude ativa

Nesta eleição, centenas de jovens devem comparecer ás urnas. Mas o que os candidatos

reservam de propostas e projetos para esse grupo?

Na cidade de Irauçuba, o candidato Zé Mota numa entrevista realizada para conosco,

quando foi indagado sobre as possíveis políticas públicas voltadas para os jovens desta

cidade, ele relatou de forma espontânea a preocupação em fazer política COM a própria

juventude, pois ela deve está consciente de seu papel na sociedade, cobrando, dando

ideias e formulando ações para serem executadas, mas infelizmente, segundo o relato do

Zé Mota, a juventude não ‘sabe o que quer’, sendo assim, deve haver uma contrapartida

do gestor municipal em proporcionar uma nova maneira dos jovens se mobilizarem e

participarem da vida política do município, como também, está colaborando para

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reverter esse quadro. Quanto às propostas anunciadas em seu governo, enfatizou a

criação da praça da juventude, um cursinho pré-vestibular na cidade e articulação para

viabilizar novos empregos.

Em Itapajé, a bandeira defendida por Ciro Braga é a juventude, tanto a urbana como a

rural. O candidato compreende a juventude como um período precioso na formação do

cidadão, por isso irá trabalhar em três grandes eixos: Esporte, Cultura e Qualificação

profissional. x No esporte irá resgatar o futebol amador incentivando á reestruturação

dos times nos bairros; fortalecimento das escolinhas de esporte com foco nas categorias

de base; Apoio a liga de futebol de Itapajé. Na cultura apoiará os movimentos de

juventude organizados como teatro de rua, grupos de quadrilhas do município, grupos

de danças, musicais, capoeira. Além de incentivar e organizar os festivais Culturais na

cidade. E por fim na qualificação profissional, que realizará parcerias com instituições

de formação profissional buscando cursos rápidos para capacitar os jovens em seu

primeiro emprego, como também buscar parcerias com empresas para incentivar a

absorção do jovem no mercado de trabalho.

A questão, entretanto, é como fazer para que essa preocupação com a juventude não se

converta em pura estratégia eleitoreira? Ou então, que as promessas destes períodos

tornem-se ações e programas que incidem de maneira superficial na vida dos/das jovens

itapajeense e irauçubense.

Visto que nos últimos dez (10) anos a juventude tem ganhado visibilidade pública, em

decorrência de uma serie de processos que explicitaram a necessidade de ações,

programas e projetos que incidam especificamente sobre suas vidas.

E foram notórias, de forma estratégica, nos discursos pronunciados pelos candidatos de

ambas as cidades, a incorporação em seus planos de governo proposta especifica para

esse segmento da população.

A internet é, em ano de eleição, principalmente, um meio estratégico para atingir jovens

com informações políticas. Isso pode ser verificado de forma abundante nas cidades de

Itapajé e Irauçuba, na qual foi nosso campo de estudo e observações. Pois a internet é

considerada fundamental para disponibilizar informações para adolescentes/jovens

itapajeense e irauçubense.

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A web mostra uma força bastante expressiva, superando canais tradicionais (como

rádios, por exemplo) e se consolidando como um espaço real de busca por notícias.

Diante de tudo que foi mostrado, catalogado e questionado, vale ressaltar que é

importante que os jovens estejam organizados na direção política do processo eleitoral e

que possa colaborar programaticamente para o debate sobre os direitos da juventude e

sobre o ponto de vista dos jovens, sobre todas as questões do desenvolvimento das

cidades. Não basta ter jovens participando da mobilização durante o processo eleitoral.

O fundamental é que a juventude atue tanto na mobilização, quanto na formulação das

políticas e na definição dos rumos das campanhas, mais do que uma tática para a

conquista de votos o tema juventude é fundamental para o efetivo debate sobre as

políticas publicas e para a construção de novos olhares sobre o desenvolvimento local.

Novas institucionalidades – há hoje, no Brasil, duas novas institucionalidades

responsáveis por pensar, formular e dar coordenadas para implementação de políticas

públicas voltadas para a juventude no âmbito federal. Desde 2005, começou a funcionar

a Secretaria Nacional de Juventude (SJN) e o Conselho Nacional de Juventude (CNJ). O

primeiro organismo tem como responsabilidade integrar programas e ações do governo

federal, sendo referência na formulação de políticas e ações do governo. Já o CNJ atua

como interlocutor entre o governo e a sociedade civil, no debate de políticas públicas da

juventude. Sua missão, entre outras, é acompanhar e avaliar as ações governamentais

dirigidas aos jovens e assessorar a SNJ na formulação de diretrizes.xi

Para isso é fundamental que os jovens se organizem, participem diretamente da política

e pratiquem a democracia participativa, não só nos períodos eleitorais, mas cobrar,

fiscalizar os representantes políticos escolhidos para governar nossa cidade, afim de se

tornarem atores do desenvolvimento sobre a construção e o destino da sociedade em que

vivem, entendendo que quem faz política não é só quem está no poder, mas cada um de

nós, sujeitos sociais.xii

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que a metodologia empregada, a maneira de coletar os dados e as

técnicas utilizadas para tal, à relação estabelecida com os pesquisados, na busca da

intersubjetividade e ao mesmo tempo do estranhamento, bem como toda trajetória de

questionamento sobre a juventude e definição do objeto são momentos ligados e

interdependentes. As técnicas utilizadas foram desde a observação direta, atentando

sempre para os imponderáveis surgidos no decorrer do trabalho, as entrevistas,

observação de eventos relacionados com o tema: comícios, passeatas, circulação por

vários bairros da cidade em dias de reuniões, etc. Houve também coleta de matérias de

campanha dos partidos concorrentes, desde material fornecido por eles, até utilização

dos programas eleitorais veiculadas pelo rádio.xiii

O recorte aqui realizado vai ao sentido de captar o significado da política no cotidiano

de alguns jovens. Na qual diziam também: “não gostarem de política”, mas quando

perguntadas sobre algum candidato, em especial durante entrevistas que envolveram

mais de uma pessoa nas ruas, imediatamente começavam a debater, um apontando

qualidades do candidato X, outro os defeitos, numa empolgação e demonstrando um

nível de conhecimento do tema, que contrariava a expressão genérica inicial.

Não há uma recusa em participar do jogo eleitoral. Pelo contrário, em muitos momentos

ele aparece como uma disputa apaixonada entre os vizinhos, parentes e amigos, como

definidor de acertos e erros encarados como indivíduos, que conferem prestigio ou são

objeto de ridicularização.

Além disso, ainda que seja para falar mal, os entrevistados demonstraram um gosto de

falar de política, um nível de informação e uma paixão que contraria sua expressão

genérica de que não gostam de política.

Esta é uma etnografia que abre um novo debate. Um debate em que os eleitores jovens

precisam ser repensados e vistos como atores políticos, que possuem escolhas próprias

baseadas em valores coletivos e que votam de acordo com pensamentos e interesses

muitas vezes desconhecidos para quem pretende tê-los como interlocutores.

O que nos cabe como pesquisadores é contribuir para a compreensão do universo

pesquisado. O resultado e a inquietante sensação de que sempre haverá algo mais á ser

dito sobre o tema, e que o ponto final só é possível depois do reconhecimento que o

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destino de nossas pesquisas, como diria Weber, ao contrário das obras de arte, que se

valorizam com o tempo, é serem superadas.

Anexos

i http://terradaamizade.blogspot.com.br/2012/10/ze-mota-e-eleito-prefeito-de-iraucuba.html ii http://www.eleicoes2012.info/candidatos-iraucuba-ce/

iii http://blogueirodouglas.blogspot.com.br/2012/10/como-sera-ciro-braga-na-prefeitura-

de.html

iv http://www.eleicoes2012.info/candidatos-itapage-ce/

v http://www.tre-ce.jus.br/

vi http://www.tre-ce.jus.br/eleicao/eleicoes-2012

vii

Candidato á prefeito de Itapajé, onde governou esta cidade por 12 anos e renunciou no final da corrida eleitoral para lançar o nome de seu filho, Ciro Braga, como substituto ao cargo. viii

Revista Mundo Jovem – um retrato sobre a religião e política para jovens ix Artigo “Os pentecostais: entre a fé e a política” de Etiane Caloy Bovkalovski Doutoranda-Universidade

Federal do Paraná/CNPq e Marionilde Dias Brepohl da Universidade Federal do Paraná x Dados obtidos através de conversas informais e panfletos contendo suas propostas.

xi IPEA, Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados,publicou o livro"Juventude e Políticas Públicas no

Brasil" que traz análises sobre a situação do jovem no País e a garantia de seus direitos na atualidade. xii

MAGALHÃES Nara. 1998. O Povo Sabe Votar, Uma Visão Antropológica. Petrópolis: Vozes/Unijuí. xiii

MAGALHÃES Nara. 1998. O Povo Sabe Votar, Uma Visão Antropológica. Petrópolis: Vozes/Unijuí. 140 pp.

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Fotos:

Batista Braga ao lado de Ciro Braga – Nação 14 (prefeito eleito em Itapajé)

(imagens do candidato concorrente ao pleito eleitoral da cidade de Itapajé – ‘Família Onze’)

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(comício no distrito de Missi/Irauçuba)

(Zé Mota – prefeito eleito em Irauçuba)