ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E … · 5.3 TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL ... mundo do...

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1 MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco 2010

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MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA

ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM

CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco

2010

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MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA

ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Educacional, do Centro Universitário FIEO, para a obtenção do título de mestre em Psicologia Educacional. Área de concentração: Ensino-aprendizagem. Linha de pesquisa: Ensino-aprendizagem no contexto social e político. Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

BATISTA DASILVA, Marcos A. Estudos e Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem – São Paulo: SP, 2010.150 f.

Dissertação – Mestrado em Psicologia Educacional Unifieo – Centro Universitário Fieo

1. Jovem 2. Mundo do trabalho 3. Escola. 4. Família.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA

ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM

Aprovado em: _____/___________________/ ______

Banca Examinadora:

Professor Dr. João Clemente de Souza Neto Instituição: Centro Universitário Fieo

_______________________________________________

Professora Drª. Cleomar Azevedo Instituição: Centro Universitário Fieo

_______________________________________________

Professor Dr. Rogério Adolfo de Moura Instituição: UNICAMP

_______________________________________________

SÃO PAULO

2010

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Dedico, em homenagem póstuma:

ao meu pai, João Batista da Silva,

à minha mãe, Amélia Marçal da Silva,

pais carinhosos e dedicados.

Que seus frutos sejam sempre de glória!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ser um sinal de rumo certo na minha vida. Aos Anjos,

Santos e Irmãos que sempre me inspiram, iluminam-me, protegem-me e

ensinam-me.

Agradeço à minha família, aos meus amigos, e a todos os que fazem parte, ou

fizeram parte de algum momento da minha vida, em especial ao Adriano, um

jovem que, com sua simplicidade, me ensinou a observar a natureza; que já

nos deixou, mas continuará sendo eternamente jovem.

A todos os professores que fizeram parte da minha trajetória, desde os anos

iniciais até o momento presente, com os quais aprendi a gostar de ler. Em

especial aos professores do Centro Universitário FIEO, que durante o

Programa de Mestrado mostraram-se sempre dedicados e com atenção

especial. Professores Doutores Márcia Siqueira de Andrade, João Clemente de

Souza Neto, Marisa Irene Siqueira Castanho, Maria Luiza Puglisi Munhoz,

Maria Laura Barbosa Franco, Cleomar Azevedo.

Aos Professores Dr. Rogério Moura, da UNICAMP, Drª. Cleomar Azevedo e Dr.

João Clemente de Souza Neto, da UNIFIEO, participantes da Banca de

Qualificação do Programa de Mestrado, pela possibilidade da troca e pelas

contribuições sempre determinantes para a conclusão deste estudo.

Ao Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto, pelo seu esforço intelectual

durante o desenvolvimento deste estudo, com suas orientações acadêmicas

eficazes e humanitárias.

Aos grupos de apoio de serviços gerais, administrativos e acadêmicos do

Centro Universitário FIEO, que, cada qual à sua maneira, fizeram parte do

cotidiano para a aquisição do conhecimento e aos colegas e amigos que fiz

durante o Programa de Mestrado, pelo companheirismo e estímulo, com os

quais também aprendi a ser e a conviver. Em especial, Rosa, Rodrigo,

Chocolate, Val, Raquel e Edna.

Ao Prof. Dr. Sigmar Malvezzi, do Instituto de Psicologia da USP, que contribuiu

de maneira eficaz com suas aulas para a minha percepção da relação homem-

trabalho.

Ao Professor Dr. Celso Beisiegel, da Faculdade de Educação da USP, com

quem tive a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a educação e

sociedade brasileira.

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Às Professoras Doutoras Marília Pontes Sposito, Maria Carla Corrochano, da

Faculdade de Educação da USP, pelo acolhimento sempre afetivo e efetivo nas

questões da juventude e pela simplicidade com que conduzem o processo de

aquisição de conhecimento de futuros jovens pesquisadores.

Aos colegas do Grupo de Estudos em Sociologia da Educação (GETESE),

coordenado pela Profª. Drª. Marília Pontes Sposito, por partilharem suas

vivências acadêmicas, em especial à Suely e à Bete, pelo carinho e

acolhimento.

Aos colegas de trabalho Fernando Puppo, Maria de Fátima Amaral e Carla

por me ajudarem a acreditar que seria possível fazer o curso, mesmo quando

todas as circunstâncias pareciam dizer o contrário.

À Direção da Faculdade Nossa Cidade (FNC), aqui representada por sua

diretora, Sra. Samira Fortunato, e pelo coordenador, Fernando Citroni, pela

oportunidade de pôr em prática os conhecimentos adquiridos.

Aos responsáveis pela unidade escolar onde foi realizada a pesquisa, por acreditarem na importância deste estudo para o desenvolvimento do processo de escolarização dos estudantes do Ensino Médio. Aos jovens adolescentes participantes desta pesquisa e suas famílias, por entenderem a relevância deste estudo, pela participação, colaboração e prontidão no decorrer das atividades propostas.

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Dirijo-me, sobretudo aos jovens adolescentes!

A iniciativa deste estudo é norteada pela crença de que o encaminhamento das

questões de interesse social só será efetivo com a aliança entre as ações do

Poder Público e a iniciativa da cada jovem e de cada comunidade.

Marcos Antonio Batista da Silva

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................... 10

ABSTRACT ................................................................................................ 11

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

2 JUVENTUDE E ADOLESCÊNCIA: DIFERENTES OLHARES ................ 27

2.1 JUVENTUDE, CONFLITOS E MODERNIDADE........................................ 32

2.2 JUVENTUDE, TRABALHO: UM CONTEXTO ........................................... 35

2.3 O NOSSO JOVEM ..................................................................................... 39

2.3.1 Conhecendo os jovens adolescentes participantes ............................ 41

3 FAMÍLIA, ESPAÇO DE PROTEÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS .. 45

3.1 FAMÍLIA: UMA CONSTITUIÇÃO .............................................................. 46

3.2 FAMÍLIA E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS ........................ 51

3.3 PERCEPÇÕES DE JOVENS SOBRE ESCOLHAS PROFISSIONAIS ..... 55

4 EDUCAÇÃO: CONVIVÊNCIA E APRENDIZAGEM ................................. 62

4.1 EDUCAÇÃO, ESTADO E SOCIEDADE .................................................... 63

4.2 EDUCAÇÃO: DIFERENTES REALIDADES ............................................. 67

4.3 EDUCAÇÃO E ENSINO MÉDIO ................................................................ 70

4.4 PERCEPÇÕES DE UM JOVEM DO ENSINO MÉDIO ............................. 71

4.4.1 Percepções dos jovens participantes da pesquisa sobre a escola .... 75

5 INSERÇÃO DE JOVENS E O MUNDO DO TRABALHO ........................ 85

5.1 TRABALHO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS ............................................ 85

5.2 TRABALHO: UM FAZER HUMANO .......................................................... 92

5.3 TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL .......................................................... 96

5.4 TRABALHO: A VISÃO DOS JOVENS ....................................................... 101

6 CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ................................. 107

6.1 CENÁRIOS E ATORES ............................................................................. 107

6.2 O CENÁRIO: CARAPICUÍBA, UMA ALDEIA DA PERIFERIA .................. 108

6.3 O PALCO: UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO ....................... 114

6.4 PERCEPÇÕES DOS JOVENS SOBRE OS ESPAÇOS DE

CONVIVÊNCIA, A FAMÍLIA, A ESCOLA E O TRABALHO ......................

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CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 127

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 133

ANEXOS .......................................................................................................... 145

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BATISTA DA SILVA, Marcos. A. (2010). Estudos e Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem. São Paulo: 2010. [Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Psicologia Educacional, Centro Universitário FIEO].

RESUMO

Esta pesquisa objetivou discutir a inserção laboral do jovem do Ensino Médio considerando a teoria e o cotidiano da prática familiar e escolar, no momento em que nossa sociedade vive um processo de intensa globalização e progresso tecnológico, que sugere reorganizações, frente às novas dinâmicas do trabalho humano. Ultimamente as instituições e organismos – como a UNESCO, OIT, Ministério do Trabalho e Ministério da Educação –, têm voltado seu foco para a formulação de políticas que contemplem o jovem adolescente na inserção do mundo do trabalho como um meio de socialização e de realização pessoal. O desenvolvimento deste trabalho foi norteado pelo referencial teórico sócio-histórico. Esta pesquisa contou com 50 jovens participantes de ambos os sexos, com idade entre 17 e 20 anos, estudantes do 3º ano do Ensino Médio, de escola pública, no município de Carapicuíba, SP, em busca do primeiro emprego. O presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica realizada, um aprofundamento da discussão sobre a categoria juventude e as repercussões da prática familiar e escolar, na escolha de trabalho de jovens e inserção laboral. É também uma pesquisa qualitativa, no sentido em que faz um levantamento através de coleta de dados dos jovens. Para coletar as informações na escola dos participantes, utilizamos questionários e a técnica de grupo focal, além da nossa vivência com essa temática. A pesquisa teve duração de um ano, e seus resultados atendem às exigências para a obtenção do Mestrado em Psicologia Educacional. Como conclusão, inferimos que os resultados sinalizaram para a necessidade do fortalecimento da autoestima do jovem, para a necessidade de a escola assumir o propósito de prepará-lo para o mundo do trabalho, compreendendo o seu entorno social. Observamos ainda que a família, além de garantir sobrevivência e estabilidade emocional, necessita dar condições para o jovem fazer suas escolhas. Contudo, os jovens, apesar de estarem inseridos em uma sociedade que vive uma crise no mercado de trabalho com desemprego e falta de capacitação, valorizam o trabalho, seja para realização pessoal, fonte de renda, meio de ganhar independência ou como contribuição social. No que tange à inserção no mercado de trabalho, creditam como dificuldades a falta de experiência e capacitação inadequada frente às novas dinâmicas do trabalho.

Palavras-chave: jovem; mundo do trabalho; escola; família.

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BATISTA DA SILVA, Marcos A. (2010). Studies and Impact of Family Practice and School Choice in Labour Youth. São Paulo: 2010. [Masters Dissertation – Masters Program in Educational Psychology, Academic Center FIEO].

ABSTRACT

This research discusses the labor insertion of the young high school considering the theory and practice of everyday family and school at a time when our society is undergoing a process of intense globalization, and of technological progress suggests that reorganizations, compared to the new dynamics of human labor. Lately the institutions and bodies such as UNESCO, OIT, Ministry of Labour and Ministry of Education, have turned their focus to the formulation of policies that address the adolescent in the insertion of the working world as a means of socialization and personal fulfillment. The development of this work was guided by socio-historical theories. This survey had 50 young people of both sexes aged between 17 and 20 years, students in the 3rd year of a public High School, in the town of Carapicuíba, SP, seeking their first job. This paper presents, through literature search was undertaken, a further discussion on the youth category and the impact of family practice and school choice in youth work and labor insertion. It is also a qualitative research, in that it makes a survey by collecting data from young people. To collect the information of participants in school, we used questionnaires and focus groups, as well as our experience with this topic. The search lasted one year; the search results meet the requirements for obtaining a Masters in Educational Psychology. In conclusion, we infer that the results signal the need for strengthening self-esteem, the need for the school to assume the purpose of preparing students for the world of labor, including the social environment. We further note the need to ensure family survival, emotional stability, and the empowerment of the youth to make their choices more consciously. However, young people, despite being embedded in a society where they have experienced a crisis in the labor market with unemployment, and lack of capacity, still value labor, whether as personal achievement, a source of income, or freedom, whether as a means of social contribution. Regarding the integration into the labor market, they credit difficulties to lack of experience and inadequate training due to the new dynamics of work. Keywords: young ; working life; school; family.

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1 INTRODUÇÃO

Trabalhar com temas envolvendo a juventude geralmente exige do

pesquisador alguns recortes, objetivando uma definição mais precisa sobre

essa categoria, tal é a multiplicidade de abordagens que esse conceito

contém.Há diferentes concepções no que se refere ao próprio ―objeto‖ ora em

estudo, o jovem e a análise da diversidade sociocultural que os envolvem mas

partiremos da definição de juventude de Abramo e Leon:

[...] uma faixa etária, um período da vida, um contingente

populacional, uma categoria social, uma geração... Mas todas essas

definições se vinculam, de algum modo, à dimensão de fase do ciclo

vital entre a infância e a maturidade‖. (ABRAMO e LEON, 2005, p.6)

Há fortes razões para estudar o atual contingente jovem brasileiro, em

primeiro lugar: sua magnitude. Em 2007, segundo a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(Pnad/IBGE), o Brasil possuía cerca de 50,2 milhões de jovens entre 15 e 29

anos, o que correspondia a 26,4% da população, embora esse contingente

populacional fosse maior do que o das últimas décadas do século 20

(ANDRADE, 2008, p. 25).

Em segundo lugar, pela necessidade de se fazer uma reflexão sobre a

educação de jovens. Neste sentido, quanto mais se articula o conhecimento

frente ao mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar

respostas, e, consequentemente, quanto mais incitados, mais serão levados a

um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Essa

relação dialética é cada vez mais assimilada na medida em que educadores e

educandos se fazem sujeitos do seu processo.

Em terceiro lugar, por estudar a juventude e alguns fatores que

acontecem neste período. O tema juventude tem sido bastante discutido na

sociedade contemporânea nos últimos anos, ampliando sua visibilidade e

relevância, a exemplo do discurso inaugural da posse da atual Presidenta do

Brasil, Dilma Rousseff, que abordou a questão social da juventude e suas

implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e popular.

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Contudo é preciso explorar essa temática, iniciando por dizer que existe

hoje, no Brasil, o uso concomitante de dois termos, adolescência e juventude,

que ora se superpõem, ora constituem campos distintos, mas complementares,

ora traduzem uma disputa por distintas abordagens e muitas vezes, as disputas

existentes restam escondidas na imprecisão dos termos. (ABRAMO e LEON,

2005, p. 6).

Já o termo adolescência1 tem como fundo um período da vida marcado

pela puberdade, pelas oscilações emocionais e características

comportamentais – já não é criança e entretanto não é ainda adulto. Essa é

uma perspectiva mais utilizada pelas ciências jurídicas e da saúde. O

ordenamento jurídico que emergiu da Constituição de 1988 propiciou um amplo

debate na sociedade brasileira acerca dos direitos da infância e da

adolescência. Esse debate incluiu os aspectos pedagógicos e sociais da

temática da adolescência, e definiu como faixa etária dessa fase da vida o

período que vai dos 12 aos 18 anos de idade, conforme estabelece o Estatuto

da Criança e do Adolescente – ECA, em consonância com algumas teorias

sociológicas e psicológicas, que foram utilizadas para explicar os problemas

sociais da adolescência. ―Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à

criança e ao adolescente.‖ (ECA)

A inspiração de reconhecer proteção especial para a criança e

adolescente, não é nova. Já a Declaração de Genebra de 1924 determinava ―a

necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial‖, da mesma

forma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas

(Paris, 1948) apelava ao ―direito a cuidados e assistência especiais‖; na mesma

orientação, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São

1 A noção de adolescência está mais consolidada, clara e difundida na sociedade brasileira,

contando com maior institucionalidade (da qual o marco legal, o ECA, e a existência de conselhos tutelares e de defesa em todos os níveis da federação são sua maior expressão), maior número de ações e atores comprometidos a sustentarem sua postulação. Para registro de tal noção, recolhemos a definição constante do Relatório da Situação da Adolescência Brasileira, elaborado e publicado pelo UNICEF em 2002: logo no início do texto, toma-se como ponto de partida a noção de adolescência como uma ―fase específica do desenvolvimento humano caracterizada por mudanças e transformações múltiplas e fundamentais para que o ser humano possa atingir a maturidade e se inserir na sociedade no papel de adulto‖; acrescenta-se, logo em seguida, que é ―muito mais que uma etapa de transição, contemplando uma população que apresenta especificidades, das quais decorrem uma riqueza e potencial únicos‖.(Abramo e Leon, 2005, p. 29)

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José da Costa Rica, 1969) alinhava, em seu art. 19: ―Toda criança tem direito

às medidas de proteção que na sua condição de menor requer, por parte da

família, da sociedade e do Estado‖. Ainda mais recentemente, as Regras

Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da

Juventude – Regras de Beijing (Res. 40/33 da Assembleia-Geral, de 29.11.85);

as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil –

Diretrizes de Riad (Assembleia-Geral da ONU, novembro/90); bem como As

Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de

Liberdade (Assembleia-Geral da ONU, novembro/90), lançaram as bases para

a formulação de um novo ordenamento no campo do Direito e da Justiça,

possível para todos os países, em quaisquer condições em que se encontrem,

cuja característica fundamental é a nobreza e a dignidade do ser humano

criança. Diante das influências normativas do cenário mundial, o Brasil passou

a adotar suas principais orientações. Entretanto a necessidade de normatizar e

naturalizar os conceitos ocorre simultaneamente aos momentos críticos de

consolidação de novas etapas do sistema capitalista.

Em quarto lugar, pela necessidade de refletir sobre a posição política e

econômica na questão do emprego para jovens. Na sociedade contemporânea

o trabalho é essencial para o desenvolvimento do sujeito e sua interação com a

sociedade. O período de hegemonia do projeto neoliberal em nosso país

provocou profunda desestruturação do mercado de trabalho e a diminuição do

papel do Estado no provimento de políticas sociais. O resultado da política

econômica desse período foi o baixo crescimento econômico e o achatamento

da renda das famílias. A conjunção desses fatores impôs aos filhos e filhas em

idade escolar a necessidade de buscar formas de incremento da renda familiar.

Com o objetivo de compreender as questões da relação juventude e

trabalho, por entendermos que o trabalho seja um meio de realização e de

construção da identidade dos jovens como um processo não dissociado das

mudanças que ocorrem na sociedade, buscamos estudar as repercussões da

prática familiar e escolar na escolha do trabalho do jovem.

O presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica

realizada, um aprofundamento da discussão sobre a categoria juventude e as

repercussões da prática familiar e escolar, na escolha de trabalho de jovens e

inserção laboral. Neste sentido o tema juventude e trabalho se reapresentam

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na agenda das principais universidades e centros de pesquisa do Brasil,

procurando responder aos questionamentos e desafios que emergem de um

mundo em transformação. Vários pesquisadores têm-se debruçado sobre esta

temática, a exemplo de (Sposito, 2009; Abramo & Leon, 2005a; Dayrell, 2003;

Corrochano &, Nakano, 2009; Peregrino, 2009). A compreensão da categoria

juventude está circunscrita, de maneira integrada, nas relações sociais,

culturais, políticas e econômicas.

Neste sentido sociólogos e psicólogos, como, Adorno, Ianni, Castoriadis,

Mannheim, Bourdieu, Souza Neto, Durkheim, Erikson, Piaget, Vigotski e outros,

defendem a família como espaço privilegiado para a formação dos valores

essenciais à convivência. Nela, a criança e o adolescente introjetam a ideia de

papeis e constroem o juízo moral, fundamentais à formação da identidade do

sujeito. Outro espaço importante dentro deste contexto é a escola, há um

consenso de que, na sociedade do conhecimento e da informação, a

escolarização tem valor inquestionável, “já que é capaz de proporcionar ao

individuo experiências e informações de sua cultura” (Rego, 2002, p. 48).

Entretanto, acreditamos que a escola precisa abrir um espaço para que

possam discutir projetos de vida que incluem o trabalho.

O que pressupõe que o trabalho permite aos sujeitos expandir suas

energias, desenvolver sua criatividade e realizar suas potencialidades. A ação

de trabalhar não é apenas extrair materiais da natureza, mas sim alterar seu

estado natural, definir e melhorar sua utilidade. Este ato é carregado de

aspectos sociais, em vista da manutenção material e imaterial pessoal e da

comunidade, bem como da coesão social (Braverman, 1987). Segundo os

clássicos da sociologia e da psicologia, cada descoberta na linha da tecnologia

e da ciência produz também uma mudança na divisão social do trabalho.

Isso não significa uma defesa da inserção precoce dos jovens no mundo

do trabalho. Ao contrário, o que defendemos é a mudança nos quadros da

desigualdade social, política, de oportunidades e de condição existencial de

nossa sociedade, o que implica em alterações de ações e valores sócio-

históricos sedimentados (Corrochano, 2008). Segundo nossa perspectiva, o

trabalho não se reduz a um método pedagógico, mas um meio para o

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desenvolvimento da educação profissional (Vygotsky, 2003). Não só se

introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a

atividade laboral a base do processo educativo.

Hoje, é muito tênue a separação entre escola e trabalho, pois ambos

mantêm uma reciprocidade. Similarmente, o fim primeiro da família não é

preparar o jovem para o trabalho, mas os procedimentos familiares têm uma

sintonia com o mundo do trabalho. Compartilhamos com o pensamento de

(Rossler, 2007) de que o ensino profissionalizante poderia ser uma solução

para o problema de educação para o trabalho e destacamos a importância de

refletir sobre as relações entre as esferas do mundo do trabalho e da

educação.

Segundo nossa perspectiva, o trabalho não se reduz a um método

pedagógico, mas um meio para o desenvolvimento da educação profissional

(Vygotsky, 2003). Não só se introduz o trabalho na escola, mas também a

escola no trabalho, sendo a atividade laboral a base do processo educativo.

Este estudo também se torna uma pesquisa qualitativa, no momento em

que procuramos interpretar o fenômeno que observamos, através da

compreensão de seus significados, valorizando a fala do jovem, por meio de

questionários e entrevistas, com cinquenta jovens de ambos os sexos, com

idade entre 17 e 20 anos,2 matriculados no terceiro ano do Ensino Médio de

uma escola pública de município de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Brasil.

A pesquisa foi realizada na própria escola dos sujeitos, numa sala de

aula, coletivamente, após breve explicação dos objetivos do trabalho pelo

aplicador da pesquisa e da devida autorização dos pais ou responsáveis dos

participantes menores de idade. Não foi obrigatório o preenchimento do

2 Ainda que para fins de definição de política pública, legislação e pesquisa seja possível fixar

um recorte etário para determinar quem são os jovens, deve-se ter em conta que ―juventude‖ é uma categoria em permanente construção social e histórica, isto é, varia no tempo, de uma cultura para outra, e até mesmo no interior de uma mesma sociedade. No Brasil, a adoção do recorte etário de 15 a 29 anos no âmbito das políticas públicas é bastante recente. A praxe anterior tomava por ―jovem‖ a população na faixa etária entre 15 e 24 anos. A ampliação desta faixa para os 29 anos não é uma singularidade brasileira, configurando-se, na verdade, numa tendência geral dos países que buscam instituir políticas públicas de juventude. Duas são as principais justificativas da mudança: maior expectativa de vida para a população em geral, e maior dificuldade desta geração em ganhar autonomia em função das transformações no mundo do trabalho. (Andrade, 2008, p.26)

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material impresso, dando-se ao participante a liberdade de devolvê-lo em

branco. Registre-se que, para que este trabalho fosse realizado, primeiramente

o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário

FIEO, tendo sido cumpridos todos os pré-requisitos necessários para a sua

realização.

Utilizamos um questionário com perguntas abertas e fechadas, de

autopreenchimento e sem identificação pessoal de aluno. O questionário foi

dividido da seguinte maneira. Em primeiro lugar foi levantado o perfil do

participante através de perguntas que nos informariam: sexo, idade, raça,

religião, naturalidade, estado civil entre outros.

A seguir, o questionário levantou informações sobre a família e o

domicílio: número de pessoas na casa, grau de parentesco, irmãos, renda

familiar, dados socioeconômicos. Em terceiro lugar, dados sobre cultura e

lazer: literatura, atividades, tecnologia, tempo livre, atitudes e comportamento.

E, por fim, questões de reflexões sobre algumas temáticas: o mundo do

trabalho, legislação trabalhista, profissões, escola, trabalho, expectativa

profissional, projeto de vida e família.

Dos cinquenta entrevistados, escolhemos nove para participarem de um

grupo focal de reflexão sobre temas relacionados à inserção no mundo do

trabalho, à escola, à família e às escolhas profissionais. A dinâmica do grupo

focal propicia uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com a

população que se deseja investigar e, ao mesmo tempo, de aprofundar alguns

temas nem sempre abordados num primeiro momento. Não obstante haver

críticas a essa metodologia, ela foi importante para o diálogo do pesquisador

com os adolescentes e destes entre si, no sentido de desvelar um pouco mais

o fenômeno estudado.

Neste estudo, privilegiamos dois participantes do grupo, por

entendermos que se envolveram com profundidade nos objetivos de nossa

pesquisa e ajudaram a enriquecer nossas reflexões. Carlos e Ariel são nomes

fictícios de dois jovens participantes. Carlos ofereceu-nos um panorama dos

temas abordados e nos permitiu inferir que a percepção pode ser um processo

muito mais pessoal do que comumente se crê. No relato da percepção de Ariel

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do que é ser jovem, observamos que ele tem sonhos e objetivos a alcançar,

mesmo que para isto deva vencer obstáculos; é preciso determinação.

Trabalhar um projeto de vida com jovens propicia ao pesquisador

revisitar sua própria história, repensar suas metas, desafios e retomar seus

sonhos, objetivando no jovem a capacidade de sonhar e desejar.

Especificamente quando iniciamos o projeto de pesquisa, tivemos como uma

das fontes inspiradoras o texto “Os sonhos dos adolescentes” de Contardo

Calligaris. Na época de sua publicação. no ano de 2007, enviamos ao autor um

e-mail, no qual dizíamos do nosso interesse sobre o artigo e que num futuro

próximo gostaríamos de elaborar um projeto de pesquisa, tendo já em vista o

ingresso no programa de pós-graduação, que abordasse a temática da

juventude, obtendo resposta encorajadora que fez com que tivéssemos uma

motivação ainda maior para este estudo.

Em uma das passagens do texto o autor comenta que os adolescentes

atualmente têm devaneios sobre o seu futuro, parecido com a vida da gente.

Acreditamos que o nosso sonho muitas vezes passa por ajustes entre nossas

aspirações e as necessidades concretas. Tanto para os estudantes quanto

para os jovens pesquisadores, as instituições escolares precisam ser sempre

interessantes para que possamos continuar sonhando, porque elas alavancam

um futuro, a possibilidade de ter uma vida muita mais próxima de nossos

sonhos. Acreditamos que é por meio do diálogo do discurso, como entendido

por (Habermas, 1987), que a confiança ativa é construída e se torna base de

renovação, criando oportunidade do resgate do direito de ser sujeito. Esta

dissertação teve como linha de pesquisa o ensino-aprendizagem no contexto

social e político, considerando os estudos e seus aspectos culturais, sociais e

psicológicos.

Ao retratar a visão do jovem participante partimos do princípio de que a

percepção do mundo é diferente para cada pessoa; cada um percebe um

objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial

importância para si próprio, e que ―o que o indivíduo percebe e como percebe

são importantes para a compreensão do comportamento humano‖ (BOCK,

1999, p. 51), aguçando, assim, sinais interiores e exteriores, provocando

reflexões críticas e gerando nas pessoas a necessidade de reavaliarem suas

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próprias crenças como mecanismo de preservação da qualidade de vida e da

sua identidade humana. O que implica que ―a percepção dos indivíduos é

influenciada pela cultura por meio de aprendizagem dos padrões culturais‖.

(AGUIAR, 2005, p. 269).

O PNDU (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Humano), em seu Paradigma de Desenvolvimento Humano nos coloca que:

―toda pessoa nasce com um potencial e tem direito de desenvolvê-lo‖. Todavia,

para desenvolver esse potencial, toda pessoa precisa de oportunidades. Nesse

contexto, o que a pessoa se torna ao longo da vida, depende basicamente

dessas oportunidades, mas, sobretudo, das escolhas que faz. Além de ter

oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas.

Diante do exposto, cabe um questionamento: De que forma as instituições,

como a família e a escola, podem ajudar o jovem a se projetar, mobilizar-se e

ter melhores condições e perspectivas de futuro, no âmbito profissional, que

envolvam escolhas efetivas?

Tomamos como princípio que a categoria juventude é uma construção

social, e dentro dessa forma de perceber o jovem, procuramos situar elementos

norteadores para o enfrentamento dos impasses próprios do mundo

globalizado, como as novas dinâmicas do trabalho, a educação, a família e a

própria juventude. A escola em tempos atuais, das periferias aos grandes

centros, exceção feita a algumas escolas técnicas de ensino profissionalizante,

não prepara o jovem em termos técnicos e teóricos para a inserção no mundo

do trabalho e por consequência não os habilita em experiências para escolhas

profissionais.

Em grande parte das escolas há uma preparação para a iniciação do

jovem no ensino superior, em detrimento de prepará-lo para sua inserção no

mundo do trabalho. Em nossa cultura, o vestibular ainda é visto como o

principal marco de passagem da juventude para a vida adulta. Constantemente

o vestibular é realizado de forma alienada, principalmente devido ao fato de o

jovem, mesmo depois de ter passado por ele, permanecer em simbiose com a

família, continuando dependente, sendo sustentado ainda por alguns anos.

Porém a grande maioria dos jovens tem, por motivos socioeconômicos,

abreviado os estudos para ingressar no mundo do trabalho, sem uma formação

eficiente e eficaz. Olhando para o universo jovem de nosso país observamos

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que essa juventude não é apenas uma massa, mas é uma juventude que traz

seus sonhos, esperanças, suas angústias, seu jeito próprio.

O aprofundamento deste estudo procura evidenciar a importância de a

sociedade ir ao encontro dos jovens, mobilizá-los para a participação na vida

comunitária, mostrando outras visões de mundo e contribuindo, como

cidadãos, para a construção de projetos de vida, na família, na sua

comunidade, na região e no país, fomentando ações de capacitação

profissional, estimulando-os para que retornem a uma vida de estudos e que

sejam atuantes em suas comunidades.

Contudo, é necessário que sejam criadas condições concretas de

melhoria do processo de escolarização, objetivando a valorização dos hábitos

de leitura, do pensamento lógico, do ensino de habilidades profissionais, além

de apoiá-los na busca por empreendimentos geradores de renda, estimulando

a criatividade e o comportamento empreendedor, sensibilizando-os para os

ideais do associativismo como estratégia indutora de desenvolvimento social

em nossa sociedade. Para Freire (1998), uma nova educação só poderá ser

possível com uma profunda mudança da sociedade, da política, da ética, do

cotidiano dos indivíduos e dos grupos sociais.

Sabemos que o Brasil, como país em desenvolvimento, tem capacidade

de mobilizar recursos financeiros e institucionais adequados para o

enfrentamento da problemática da juventude no contexto educacional e no

mundo do trabalho. Sempre serão louvadas iniciativas de indivíduos,

associações e empresas particulares como também medidas governamentais

de políticas públicas que venham atender as demandas da juventude brasileira.

Discutir a relação entre trabalho e o jovem é mais do que analisar a questão da

escolha profissional e da obtenção de um emprego. Significa contribuir para a

formulação de um projeto de vida, crivado de valores sobre o sentido do

trabalho como meio de realização pessoal e de participação na transformação

do mundo.

Na sociedade globalizada e de consumo, preparar para escolhas com

princípios éticos, na idade das opções, é vital para o desenvolvimento humano.

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Em cada época da história, educadores, intelectuais e instituições têm-se

preocupado com o processo de socialização e de profissionalização do jovem

que, deixado à deriva, poderia descambar para as práticas de violência. Não é

sem motivo que instituições e organismos como a UNESCO (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a OIT (Organização

Internacional do Trabalho), e os Ministérios do Trabalho e da Educação, tomam

como foco a necessidade da formulação de políticas que contemplem a

questão da formação para o trabalho e da inserção profissional do jovem.

Atualmente, este tema se reapresenta na agenda das principais

universidades e centros de pesquisa do Brasil, procurando responder aos

questionamentos e desafios que emergem de um mundo em transformação.

Vários pesquisadores têm-se debruçado sobre essa temática, a exemplo de

Sposito (2009), Abramo & Leon (2005), Dayrell (2003), Corrochano & Nakano

(2009) e Peregrino (2009).

O tema da juventude tem tomado corpo no Brasil, de forma bastante intensa nos últimos anos, ampliando e diversificando os focos anteriormente existentes e colocando novas questões e desafios para a construção de diagnósticos e ferramentas de trabalho para quem atua em ações e iniciativas dirigidas aos jovens [...] também se vinculam a diferentes perspectivas políticas relativas às propostas e projetos para o país. (ABRAMO E LEON, 2005, p. 29)

Nesse cenário, várias questões têm sido colocadas. A fase atual seria

uma ―moratória social‖, um compasso de espera que a sociedade oferece a

seus membros jovens que se preparam para exercer certas responsabilidades

(ERICSON, 1968). Esse processo de espera da emancipação familiar, no

entanto, não se produz da mesma forma para todos os jovens, devido às

diferentes práticas de criação das famílias (FIERRO,1995). Paralelamente a

esta emancipação em relação ao grupo familiar, laços importantes são

estabelecidos com grupos de amigos. Contudo, a influência familiar é decisiva

no tocante à formação de valores primordiais à vida. O critério cronológico é

insuficiente para caracterizar esta fase, pois nela interferem fatos sociais e

históricos (CARRANO, 2000; CASTRO & ABRAMOVAY, 2002).

Segundo Sposito (1996), a categoria juventude deve ser tomada como

um conceito cultural e histórico e abordada por uma perspectiva relacional. Por

essa ótica, definir a categoria adolescência significa visualizar sua inserção

num contexto social e compreender os processos de construção da sua

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identidade. Construir uma noção de juventude pela perspectiva da diversidade

implica considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas sim, como parte de

um processo de crescimento amplo de constituição de sujeitos, mas que tem

especificidades que marcam a vida de cada sujeito, de acordo com suas

vivências no contexto social (DAYRELL, 2003).

Talvez tenha sido Marx quem primeiro definiu a condição do jovem

pela perspectiva sócio-histórica. Nela, o jovem se define nas relações sociais.

Assim, por exemplo, tal como um negro é um negro, e só se torna escravo num

determinado contexto, podemos dizer que existem tantos modelos de

juventude quantos a cultura permitir. Quem trabalha com jovens pode perceber

que ser jovem é ser um pouco polivalente, é estar conectado com várias coisas

ao mesmo tempo, sem estar, aparentemente, ligado a coisa alguma. O jovem

costuma se angustiar profundamente com as relações afetivas, com os

vínculos dos relacionamentos grupais.

Não existe uma maneira única de ser jovem. Cada um constrói, à sua

maneira, um modo de ser, de agir, de confabular e de fazer sua história, dentro

de uma circunstância dada. O sentido existencial do jovem está em formação,

o que o faz necessitar de coisas concretas e de sonhos. É próprio ao jovem

ansiar por oportunidades, formular projetos de vida, deixar-se fascinar pela

liberdade, sonhar com experiências de realização no trabalho, nas amizades,

na sociedade. Se, de um lado, o jovem tem expectativas, de outro, as

instituições, o mercado, a família e a sociedade também têm seus projetos. A

dificuldade do jovem é integrar essas dimensões, uma vez que sua

subjetividade se constrói e é construída no conjunto das relações sociais e de

acordo com seu modo de assimilar e de responder às solicitações objetivas do

cotidiano e da história.

A desigualdade social e as contínuas transformações no mercado de

trabalho repercutem na vida e na formação do jovem. Essa realidade provoca o

poder público, a sociedade e a família a discutirem a realidade do emprego, da

capacitação profissional e da necessidade de políticas públicas voltadas à

população juvenil. Tal procedimento compreende não apenas a formulação e a

implementação de políticas de inserção, como também de programas

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socioculturais, capacitação profissional e para a cidadania, a oferta de

oportunidades de experiências de vida e o próprio conceito de trabalho.

Podemos definir trabalho como toda atividade pela qual o ser humano

utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para

atingir um determinado fim. É por intermédio do trabalho que o ser humano

transforma a natureza, constrói e reconstrói cultura e dá sentido à vida. É pelo

trabalho que o homem pode moldar e mudar a natureza e, ao mesmo tempo,

alterar a si próprio. O mundo do trabalho inclui uma abrangente diversidade de

capacidades heterogêneas, que vai do senso estético ao fazer.

O trabalho permite aos sujeitos expandir suas energias, desenvolver sua

criatividade e realizar suas potencialidades. A ação de trabalhar não é apenas

extrair materiais da natureza, mas sim alterar seu estado natural, definir e

melhorar sua utilidade. É um ato carregado de aspectos sociais, em vista da

manutenção material e imaterial, pessoal e da comunidade, bem como da

coesão social (BRAVERMAN, 1987). Segundo os clássicos da sociologia e da

psicologia, cada descoberta na linha da tecnologia e da ciência produz também

uma mudança na divisão social do trabalho.

O papel do indivíduo no mundo do trabalho contribui para a formação de

sua identidade. Tão ligado está o trabalho à definição de nossa identidade que,

quando somos apresentados a uma pessoa, a pergunta mais imediata que

fazemos, não é de onde ela vem, ou quem é sua família, mas o que ela faz e

em que trabalha. Se o trabalho assume tal importância em nossa vida, é

natural que não nos contentemos com o que ele nos traz. A metamorfose do

capital, descrita por Marx (1985), deixa perceber que o trabalho é a ação de

transformar o mundo e a nós mesmos. Em si, o trabalho é bom, mas pode ser

um mal em determinadas circunstâncias.

Prisioneiro de mecanismos de exploração e alienação, o trabalho deixa

de ser meio de realização e se transforma em instrumento de coisificação, que

aborta muitas perspectivas de criatividade e de um sentido emancipador da

vida. No mundo do lucro e da produção em massa, a desigualdade social

enfraquece as possibilidades de realização das potencialidades humanas,

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particularmente dos mais jovens. O capitalismo, em países como o Brasil, traz

uma cultura de exploração que produz e reproduz a desigualdade social,

impregnada nas políticas econômicas e públicas.

Nossa sociedade é marcada pela contradição. Se o trabalho é fonte de

exploração, por outro lado, é também fonte de emancipação. Por isso nos

perguntamos se é possível ao adolescente extrair do processo de trabalho a

felicidade, e nele manifestar suas potencialidades e criatividade? Entendemos

que a educação e a cultura tendem a ajudar o jovem a encontrar um sentido

para o trabalho, que contribua para a construção de um sentido para sua vida.

Uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido dentro do trabalho. Não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado/alienado com tempo (verdadeiramente) livre. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Em alguma medida, a esfera fora do trabalho estará maculada pela desefetivação que se dá no interior da vida laboral. (ANTUNES, 1999, p. 22)

Um princípio norteador para compreendermos a importância do sentido

do trabalho para o adolescente é que o homem modifica o mundo e a si

mesmo, produz cultura e se autoproduz, ou seja, é produto e produtor da

cultura. Na contemporaneidade, a produção não se dá apenas no campo

material, mas também no imaterial. A equivalência física e simbólica dos

produtos leva tudo a se transformar em mercadoria. Mesmo as relações entre

as pessoas ganham contornos mercadológicos (SOUZA NETO, 2008),

fundados numa filosofia do consumismo, pela qual o processo produtivo se

torna objetivo do homem, em vez de o homem ser o objetivo da produção.

Neste quadro de reflexão, cabe evidenciar a relação que se estabelece

entre adolescente e trabalho, vital na experiência do primeiro emprego. É uma

espécie de passaporte para a consolidação da autonomia, da formação da

identidade, do seu reconhecimento como alguém pelo grupo e pela família, é

poder escolher e adquirir coisas. Para o jovem, o ingresso no mundo do

trabalho constitui-se, tradicionalmente, em um marco da passagem da

condição juvenil para a vida adulta.

A inserção no mundo do trabalho tem sido uma das preocupações da

juventude e também, dos educadores e gestores das políticas públicas. Existe

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uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver programas e

ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o aumento da

vulnerabilidade social e pessoal desse segmento social, além da limitada oferta

de oportunidades e da falta de preparo específico do jovem para assumir

funções de trabalho.

Mesmo aqueles que conseguem superar todas as dificuldades e

terminar uma faculdade, não têm garantia de emprego. As diferenças entre a

teoria da escola, nos cursos de modo geral, e a prática, no mercado de

trabalho, acabam por atribuir à escolaridade com um papel modesto frente ao

treinamento em serviço ou ao estágio, na preparação do jovem trabalhador. O

diagnóstico dominante aponta para as dificuldades de aproveitar

oportunidades, especialmente em obter o primeiro emprego, em função do

despreparo e da desqualificação frente à competitividade. Essa realidade

coloca em xeque a proposta pedagógica da política educacional e da forma de

pensar e de agir das famílias.

A realidade de jovens brasileiros aponta como alternativa uma

reformulação das políticas públicas voltadas ao primeiro emprego, não apenas

no sentido de desestimular a busca precoce do mercado de trabalho, mas

também de construir um projeto de vida, preparar para a convivência humana,

para aprender a ser, saber e fazer. Portanto, a adquirir uma identidade pautada

na ética do cuidar de si, do outro e do planeta. Ingressar no mercado de

trabalho, sem base escolar, pode ser um fator desfavorável ao

desenvolvimento de uma trajetória profissional satisfatória.

Numa sociedade marcada pela transitoriedade, repleta de sinais

confusos, propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível, a escola, a

família e as demais instituições devem cuidar da formação ético-social e

profissional, para que o jovem possa modificar sua biografia e a de seus

companheiros. A procura por jovens com experiência profissional é um fator

que eleva a importância do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as

habilidades e conhecimentos profissionais. Com isso, uma grande parcela da

melhoria do sistema de ensino no país cabe às empresas. No cenário atual,

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caracterizado pela tecnologia e pela mudança de valores, várias são as

instâncias que respondem pela formação do adolescente.

Para os jovens, a escolha de uma profissão passa por uma questão de

identidade, de encontro de seu espaço social, de descoberta e construção de

um projeto de vida e, sobretudo, de oportunidades. Neste sentido, o jovem

necessita de grupos de apoio para subsidiar o autodesenvolvimento. Entre

esses grupos destacam-se a família, a escola e a comunidade.

Este estudo se distribui em duas partes, sendo que a primeira parte a

aborda percepções conceituais – subdividida em quatro capítulos: o primeiro

capítulo aborda a adolescência e juventude em seus referenciais conceituais e

ao final desse capítulo será apresentado o perfil do jovem participante da

pesquisa. O segundo capítulo discorre sobre a família como um espaço de

proteção e socialização de jovens, e, no final deste também, serão

apresentadas percepções de jovens sobre a influência da família nas questões

de escolhas profissionais. O terceiro capítulo trata das temáticas da educação,

enfocando uma reflexão sobre a percepção da escola como um centro de

convivência e de aprendizagem para a juventude, contendo alguns

depoimentos de jovens sobre esse espaço.

O quarto capítulo apresenta as questões da inserção laboral do próprio

ponto de vista dos jovens participantes e o mundo do trabalho.

Na segunda parte apresentamos as percepções metodológicas. E, por

fim, as considerações finais, onde buscamos sistematizar as questões

propostas nesta pesquisa, sem a pretensão de esgotá-las. Trata-se mais de

uma partilha de nossas reflexões com você, leitor, de quem esperamos não ser

um seguidor de instruções, mas alguém que possa criar e recriar a partir

dessas reflexões.

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2 JUVENTUDE E ADOLESCÊNCIA: DIFERENTES OLHARES

Este capítulo procurou incluir algumas evidências que dêem testemunho

sobre dois termos, adolescência e juventude que muitas vezes são descritos

como uma categoria genérica situação esta que foi abordada na introdução

deste trabalho. Neste sentido buscamos alguns referenciais como O Relatório

Situação Mundial da Infância 2011 que inova em sua edição ao apresentar a

adolescência como foco de análise, descrevendo essa fase da vida como um

período de oportunidades e define adolescência como a fase da vida entre 10

e 19 anos de idade.

Neste sentido a adolescência deve ser entendida, antes de tudo, como

uma fase especial de desenvolvimento, que precisa ser abordada a partir da

perspectiva dos direitos. Analisar o impacto de questões emergentes na

adolescência é poder investir no desenvolvimento dos adolescentes,

considerarmos que a essa geração caberá encontrar soluções para os desafios

da contemporaneidade, como a crise financeira mundial, o desemprego

estrutural, a mudança climática que gera degradação ambiental, a urbanização

e migração, o envelhecimento das sociedades.

Hoje e nas próximas décadas a luta contra a pobreza, as iniquidades e a

discriminação nunca atingirá seus objetivos sem a participação dos

adolescentes. O Brasil é um país jovem: 30% dos seus 191 milhões de

habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população possui entre 12 e 17

anos, uma população de mais de 21 milhões de adolescentes. Por isso, é

essencial que o Brasil atenda às necessidades específicas da adolescência

nas suas políticas. Caso contrário, corre-se o risco de que um grupo tão

significativo e estratégico para o desenvolvimento do País fique invisível em

meio às políticas públicas que focam prioritariamente na primeira fase da

infância e na fase seguinte da juventude.

Acreditamos para que a adolescência se torne realmente uma fase de

oportunidades para todos, será preciso: que as necessidades específicas da

adolescência sejam contempladas nas políticas públicas, e que a agenda

dessas políticas seja uma agenda específica e positiva focada na promoção do

desenvolvimento integral dos adolescentes; Que o apoio nas fases inicial e

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intermediária da infância seja complementado por investimentos em educação,

cuidados de saúde, proteção e participação dos adolescentes, principalmente

para os mais pobres e vulneráveis;

Que dados e informações sejam coletados para identificar os grupos

mais vulneráveis de adolescentes em todas as regiões e as iniquidades que os

afetam, para garantir-lhes mais investimentos, oportunidades e direitos; Que os

adolescentes sejam ouvidos nos processos de tomada de decisão como

condição essencial para se alcançar mais equidade. Que as escolas

aproveitem a facilidade de aprendizado dos adolescentes e contribuam para

que eles adquiram competências, habilidades e conhecimentos necessários

para desenvolver todo o seu potencial; Que um esforço especial seja feito para

reduzir a violência que atinge os adolescentes, com especial atenção para as

causas dos homicídios.

Para a OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE) a adolescência

constitui um processo fundamentalmente biológico durante o qual se acelera o

desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade. Abrange as

idades de 10 a 19 anos, divididas nas etapas de pré-adolescência (de 10 a 14

anos) e de adolescência propriamente dita (de 15 a 19 anos). Já o Mapa da

Violência -2011 -Os Jovens do Brasil-Julio Jacobo Waiselfisz trás o conceito

juventude como uma categoria essencialmente sociológica, que indica o

processo de preparação para o indivíduo assumir o papel de adulto na

sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos

15 aos 24 anos.

É preciso, então, considerar o contexto social mais especifico em que

vivem os sujeitos da pesquisa. Entretanto, é importante evidenciar que há

discordâncias quanto ao conceito de adolescência e juventude, já que na

literatura podemos encontrar tanto aqueles que defendem a perspectiva

desenvolvimentista,3 da qual é decorrente a referência de adolescência como

3 A visão desenvolvimentista aborda a adolescência como fenômeno universal e generalizado,

baseando-se na razão como principal mecanismo de apreensão e de vivência no mundo, através do amadurecimento e do predomínio da razão. O sujeito conseguiria aprender cada vez mais coisas sobre si mesmo e o mundo que o cerca. Esse processo ocorreria até a maturidade, quando o indivíduo já se teria formado, com todas as suas capacidades em funcionamento. (BERTOL & SOUZA, 2010, p. 824-839)

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uma etapa do desenvolvimento humano, como outros, que não defendem essa

visão e preferem e trabalham a constituição do subjetivo, considerando a

perspectiva histórico-social, da qual compartilhamos.

Isso posto, são muitas questões a serem exploradas, ao tentarmos

traçar um perfil do jovem; contudo, nesse processo fomos nos apercebendo

das semelhanças e diferenças entre todos aqueles que se encontram nesse

período de transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocionais

intensas. ―Construir uma visão da categoria juventude não é fácil,

principalmente porque os critérios que a constituem são históricos e culturais‖.

(DAYRELL, 2003, p.41),

A visão do jovem como ator estratégico do desenvolvimento está

orientada à formação de capital humano. Vygotsky defende uma abordagem

teórica e, consequentemente, uma metodologia que privilegia a mudança.

O seu esforço de mapear as mudanças ao longo do desenvolvimento deve-se, em parte, à tentativa de mostrar as implicações psicológicas do fato de os homens serem participantes ativos e vigorosos da sua própria existência. (VYGOTSKY, 1998 p.163).

O nosso sujeito em questão é o jovem, e Vygotsky (1996) buscou

compreender o jovem a partir de alguns aspectos fundamentais: sua inserção

em um modelo global de sociedade e suas ideologias, ou seja, na sua cultura

que também faz parte de sua constituição psicossocial. Dois fatores apontados

pelo autor capacitam o jovem a sentir-se membro de sua classe social e dela

participar: a vivência na sua comunidade, comungando de atividades e

interesses, e o uso de conceitos que permitem conhecer essas atividades e

interesses. Partilhando a ideologia de sua classe, esses conceitos se

desenvolvem inevitavelmente dentro de uma determinada ideologia social.

O amadurecimento intelectual do jovem não muda apenas o conteúdo

do pensamento (material totalmente novo e ligação a esferas novas da cultura,

como política, justiça, profissão, ética, ciência e ideologia), mas também

mudam e se enriquecem as próprias funções intelectuais, as formas do

pensamento, a estrutura e composição de suas operações intelectuais. Isso

significa que na juventude o pensamento pode operar logicamente com

conceitos, uma mudança que representa uma formação psíquica

qualitativamente nova. Em meio a todo o desenvolvimento biológico e cultural

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do jovem, as mudanças em seu pensamento permitem que ele possa conhecer

também sua realidade interna, ter autopercepção e auto-observação.

No que se refere à percepção, a abordagem de Vygotsky (1988) é

centrada no fato de que, ao longo do desenvolvimento humano, a percepção

torna-se cada vez mais um processo complexo, que se distancia das

determinações fisiológicas dos órgãos sensoriais, embora, obviamente,

continue a basear-se nas possibilidades desses órgãos físicos. Oliveira (1997)

estabelece de modo mais efetivo a divisão entre o mundo das vivências

internas e o mundo da realidade objetiva.

O desenvolvimento da consciência para um estado de autoconsciência

permite que as vivências internas e o mundo da realidade objetiva sejam

crescentemente mais discriminados. Dessa forma, a juventude é o momento

em que se pode falar de uma personalidade, ao mesmo tempo em que se pode

falar de uma visão de mundo, embora ainda em processo de desenvolvimento

Vygotsky (1996). A juventude caracteriza-se, então, por um maior domínio do

jovem sobre si mesmo e sobre o mundo à sua volta, no sentido de que pode

compreender-se melhor e conhecer sua realidade social.

Pode, além disso, usar sua vontade, que é considerada por Vygotsky

(1996) uma importante função psíquica superior. Dessa forma, o jovem está

mais consciente da distinção que existe entre seu mundo interno e seu mundo

exterior, o que pode trazer muitos conflitos, mas capacita-o a exercer melhor

sua vontade. Isso não quer dizer que não haja diversas determinações agindo

sobre essa vontade, mas que ela é uma função sobre a qual se tem muito mais

controle do que na infância.

Esses aspectos constitutivos da subjetividade do jovem permitem

estabelecer, à luz da teoria de Vygotsky (1996) que: a) é a partir da juventude

que o indivíduo pode compreender a sua própria inserção na sociedade, em

sua classe e na sociedade global; b) o pensamento do jovem ganha em

plasticidade, ao operar por conceitos, e ao possibilitar o uso da vontade no

encaminhamento de sua vida; e c) as transformações por que passa implicam

uma nova consciência de si mesmo e uma nova visão de mundo.

O jovem apresenta características que o capacitam a fazer escolhas e a

tomar decisões sobre suas aspirações e seu projeto de vida. Porém, de certa

forma, o jovem contemporâneo vive um paradoxo: por um lado, há uma

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padronização excessiva de gostos e de atitudes e, por outro lado, a condição

de jovem que o define como alguém que possui uma grande plasticidade.

Vygotsky (1996) também aponta para o pensamento do jovem como muito

mais flexível do que na infância, com possibilidade de ser dialético.

Mas nem sempre os contextos nos quais esse jovem se insere

contribuem para o desenvolvimento do pensamento dialético, questionador,

transformador. A percepção desenvolvimentista entende a adolescência como

uma fase da vida e que possui características biológicas e emocionais

especificas, relacionadas aos arroubos da juventude – rebeldia, impulsividade e

transformações hormonais, que ocorrem em um período de transição da vida

infantil para a fase adulta.

Abramo (1994), compreendendo que a noção mais usual do termo

juventude está relacionada às mudanças físicas, psicológicas e sociais, faz

observações examinando o pensamento de autores da categoria social como

Eisenstadt (1976), que apresenta a juventude como um fenômeno universal da

vida social, porém, e de modo peculiar, diz que cada sociedade define tais

etapas, atribuindo-lhes significados. Esse modo peculiar está relacionado à

forma da socialização do indivíduo na sociedade, porque somente a

socialização da família não é o suficiente para este processo de integração.

Áries (1981) nos revela que a fase da juventude foi se processando no

desenvolvimento da sociedade moderna ocidental, mediante a progressiva

instituição de um espaço preparatório para a vida adulta. Isso significa que

esse processo foi se modificando devido às transformações da família, do

trabalho, do processo escolar e de gênero. Obtendo maior visibilidade social, a

juventude, com o passar dos tempos, começa a ser introduzida na vida pública

e a se confrontar com os valores em circulação.

Abramo (2005) entende que é fundamental considerar, ao se

pensarem as idades, as relações entre as dimensões culturais e biológicas,

pois se há características universais dadas pelas transformações biológicas

que acontecem numa determinada fase, a forma como cada sociedade e, no

seu interior, cada grupo social representa essas transformações é muito

diversificada.

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32

Para Dayrell (2003), construir uma noção de juventude na perspectiva

da diversidade implica em considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas

sim como parte de um processo de crescimento mais totalizante de acordo com

as vivências dos sujeitos no seu contexto social. Diante desse panorama

apresentado, entendemos que a visão desenvolvimentista não contempla todo

o desenvolvimento sócio-histórico de experiências e questões vivenciadas

pelos sujeitos que nasceram em um determinado momento histórico, que

enfrenta mudanças psicológicas e sociais, culturais.

Dentre outros aspectos dessa discussão entendemos a juventude

como uma fase onde os sujeitos possuem características específicas que

marcam sua vida. Portanto, acreditamos que é nesse processo que cada um

deles vai se construindo e sendo construído como sujeitos. Desse modo os

jovens aqui pesquisados constroem determinados modos de ser jovem que

apresentam especificidades, o que não significa uma única maneira de ser

jovem.

2.1 JUVENTUDE, CONFLITOS E MODERNIDADE

O interesse pela juventude desponta de tempos em tempos. As crises e

os excessos, os conflitos e as explosões que a eles se seguem, acompanham

a história da preocupação social e acadêmica com a juventude.

[...] a tematização e uma maior visibilidade da juventude se constroem através do surgimento de um comportamento ―anormal‖ por parte de grupos de jovens delinqüentes, ou excêntricos, ou contestadores, implicando todos, embora de formas diferentes, em um contraste com os padrões vigentes. (ABRAMO, 1994, p. 8)

Podemos evidenciar o Movimento Juvenil Alemão, desencadeado por

jovens estudantes no século 19, como forma de articulação de um novo estilo

de vida, longe dos valores instituídos pelas gerações precedentes, com o

objetivo de fundar uma nova sociedade, que iria romper a unidade da vida em

nome do direito dos jovens de serem autônomos, porém seria necessário

―declarar guerra‖ a outras formas da vida adulta. Contudo, outras questões, ou

expressões, aconteceram para compor o desenvolvimento público da

juventude.

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33

Os anos de 1920 presenciaram a explosão desse interesse na razão

direta da comoção gerada pela turbulência social em Chicago, nos Estados

Unidos. Naquela época, toda uma geração de jovens tornou-se objeto de

estudos da sociologia, em busca de uma resposta às indagações acerca de

possíveis implicações entre juventude, violência, criminalidade e

desorganização social urbana, atribuídas as contraposições aos padrões

dominantes, que suscitam o tema do desvio no processo de integração dos

jovens à vida social. As questões da delinquência, da rebeldia e da revolta,

serviram de construção da problematização da questão da juventude ao longo

deste século.

Outra experiência que podemos destacar foi a da participação

traumatizante dos jovens europeus durante a Primeira Guerra Mundial, com

muitas mortes e sofrimento. Nos anos de 1950, pela explosão demográfica nas

urbes, e mais recentemente pelos elevados índices de disseminação das

doenças sexualmente transmissíveis, as ciências humanas privilegiaram o

exame da juventude sob a ótica do negativismo. Os excessos juvenis, tomados

como impulso da desordem urbana, colocaram em movimento esforços de

disciplinarização; associadas aos comportamentos disfuncionais, as pulsões da

juventude tornaram-se foco da assepsia social, que queria o controle e a

correção dos vícios, e nesse percurso as ciências reforçaram ao longo dos

anos a percepção de que boa parte das mazelas sociais poderia ser creditada

na conta da juventude e de seus anseios de diferenciação.

Firmou-se no imaginário social a associação entre a juventude e as

grandes questões de cada tempo: no século 21, quando emergem as

preocupações com o individualismo exacerbado e a criminalidade crescente, o

jovem emerge como individualista e responsável, em grande parte, pela

criminalidade urbana.

Entretanto, na sociedade contemporânea, a idéia de violência não está

mais associada somente às classes populares, de jovens das periferias dos

grandes centros que não conseguiam se inserir na sociedade, mas também se

estende à classe média, com características básicas de violência e exercícios

de crueldade. O fenômeno do jovem novo, que se abriu da difusão de

agressões a mendigos de rua, mulheres e homossexuais, entre outros,

caracteriza a intolerância às diferenças sociais. Simbolizando a perda de

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prestígio social, eles se tornaram objetos de ataque desses jovens que, no

fundo, temem o que possam a vir a ser, principalmente aqueles que ainda não

encontraram um sentido para suas vidas.

Muitos jovens que construíram uma violência subjetiva de culto ao corpo

cultivam músculos, representação da força, da beleza e do erotismo, mostram

o desamparo e o desalento. À medida que eles ganham músculos, usam a

violência, como um animal acuado que tenta manter o seu território. Esta é

uma juventude acuada, com menos liberdade do que em épocas passadas,

controlada, vigiada, seja pelo poder policial, seja em shoppings ou condomínios

de classe média, o que nos faz refletir sobre os mais de 50 milhões de jovens

da América Latina fora do mercado de trabalho, desvalidos e não reconhecidos

socialmente.

Esses conflitos carregam a possibilidade de ruptura do processo de integração do jovem à ordem, da transmissão da herança cultural ou mesmo da própria ordem social. [...] antes de tudo, a condição de transitoriedade: a juventude é entendida como uma etapa de transição, que processa a passagem de uma condição social recolhida e dependente a uma outra mais ampla; um período de preparação para o ingresso na vida social adulta. (ABRAMO,1994, p. 11-14)

Existe uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver

programas e ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o

aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a limitada oferta de

oportunidades e as especificidades da condição juvenil contemporânea.

Ao longo da história há grande variedade de caracterizações e

atribuições de sentido para essas crises da juventude. Para Sposito (2003), a

moderna concepção de juventude derivou de longas transformações a partir do

século 18, mas, com o advento da Segunda Guerra Mundial, incidiu sobre

alguns aspectos, como o alongamento do período de transição entre a infância

e a idade adulta e o retardamento da juventude para a inserção no mundo do

trabalho.

Esse panorama nos remete à questão do trabalho que é uma das

grandes preocupações da juventude atual e também o é no campo das

políticas públicas para a juventude. Para Andrade (2008), a inserção do jovem

no mercado de trabalho, tem sido marcada pelo signo da incerteza, porque ele

tendem a ocupar as ofertas de emprego que surgem, quase sempre de curta

duração e baixa remuneração, o que implica em pouca possibilidade de iniciar

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ou progredir na carreira profissional. Pesquisas nacionais4 têm mostrado que o

trabalho está entre os principais assuntos que mais mobilizam o interesse dos

jovens.

2.2 JUVENTUDE, TRABALHO: UM CONTEXTO

Se cada fase da vida é suscetível de se identificar com uma série de

papéis, atividades e relações, não cabem dúvidas de que a entrada no mundo

do trabalho seja uma delas. No caso dos jovens, assegurar-lhes o acesso a

empregos produtivos é contribuir para o desenvolvimento econômico

sustentável e equitativo, para o fortalecimento da democracia e uma maior

coesão social, e tendo acesso ao mundo do trabalho, ao crédito, à renda, ao

esporte, ao lazer, à cultura e à terra e proporcionar a garantia dos direitos a

satisfação das necessidades básicas dos jovens e as condições necessárias

para aproveitar as oportunidades disponíveis. Acreditamos que o futuro

desenvolvimento econômico e social dos países depende do aproveitamento

da energia e do desenvolvimento das habilidades dos jovens . O trabalho

adequado pode ser benéfico, desde que não impeça a realização de direitos. O

desemprego de jovens – que chega a 81 milhões de indivíduos – é hoje uma

preocupação em quase todos os países. (UNICEF). Vale dizer que a

centralidade do trabalho para os jovens não advém tão-somente do seu

significado ético, ainda que este seja relevante, mas resulta também, e

sobremaneira, da sua urgência enquanto problema.

[...] é, sobretudo enquanto um fator de risco, estabilizador das formas de inserção social e do padrão de vida, que o trabalho se manifesta como demanda urgente, como necessidade, no coração da agenda para uma parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca. (GUIMARÃES, 2004, p. 12)

No entanto, nas últimas décadas, em funções de intensas

transformações produtivas e sociais, ocorreram mudanças nos padrões de

transição de uma condição à outra. O diagnóstico dominante aponta para as

4 ―Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas‖, coordenada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e pelo Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Pólis), em 2005; e ―Retratos da Juventude Brasileira‖, coordenada por Abramo e Branco (2005).

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enormes dificuldades dos jovens em conseguir uma ocupação, principalmente

em obter o primeiro emprego, dado o aumento da competitividade, da demanda

por experiência e por qualificação no mercado de trabalho. Com isso, a

transição para a vida adulta tem sido retardada. A questão do trabalho é uma

das grandes preocupações da juventude e também o é no campo das políticas

públicas para a juventude.

Existe uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver

programas e ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o

aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a limitada oferta de

oportunidades, e as especificidades da condição juvenil contemporânea. O

desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior ao do

restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido aumento

das médias de escolarização dos jovens e uma melhoria nas condições de

trabalho, com a alta da formalização não se observou aumento correspondente

na oferta de empregos.

Diante de um cenário de altas taxas de desemprego, e de

desestruturação e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido?

Hoje, jovens de todas as classes e situações sociais expressam inseguranças

e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no

futuro. Por isso, é urgente a criação de programas específicos para essa

população. É na fase da juventude que o flagelo do desemprego ganha

contornos preocupantes, jovens na sua imensa maioria com baixa escolaridade

e falta de experiência para a inserção no mundo do trabalho.

O que leva a uma realidade em que justamente no início de vida

profissional e adulta se encontram numa condição de desemprego, desalento e

desprovidos da possibilidade de construção de um projeto de vida. O que

haveria de comum entre jovens? Que vínculos existem entre jovens que

possuem garantias familiares para se escolarizarem no tempo adequado e

outros de mesma idade que já se encontram diante dos desafios do mundo do

trabalho ou da constituição de uma família? O que têm em comuns jovens que

vivem em espaços sociais economicamente valorizados da cidade e jovens que

moram nas favelas e periferias? Jovens do sexo masculino e do sexo feminino,

ainda que de classes e idades semelhantes? Certamente, as respostas vão

muito além da agregação etária, mas apontam para a necessidade de refletir

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37

sobre as diferentes condições objetivas e percepções sobre os sentidos de ser

jovem hoje.

Somente dessa forma é possível dirigir um olhar sobre a juventude que

contemple a sua diversidade, mais adequado à situação real, ou seja, aquela

na qual a agregação arbitrária por idade não resume as identificações

possíveis num conjunto determinado de homens e mulheres que se reúnem

num universo de pesquisa. Nessa perspectiva, pode-se dizer que se está

diante de uma mesma geração quando os sujeitos, em alguma medida,

vivenciam espaços-tempos comuns de sensibilidades, saberes, memórias,

experiências históricas e culturais.

Diante do agravamento das condições de vida de ampla maioria da

população jovem brasileira – em especial os setores mais vulneráveis: jovens

negros e moradores de espaços populares – incide diretamente no aumento da

sensação de insegurança no presente e das incertezas quanto à vida futura.

Reguillo (2003) chama a atenção para o fato de que, em toda a América Latina,

a face mais visível dos jovens, principalmente os pertencentes aos setores

populares, foi aquela que os converteu nos principais operadores de violências

nas sociedades.

Não é de se estranhar, assim, que sobre eles tenham recaído as

principais ações – não necessariamente de políticas públicas – de controle

social tutelar e repressivo. Em conjunto com esse processo estigmatizado e

generalizável a todos os países da região, aprofundou-se a crise estrutural dos

anos 80, que fraturou as macroeconomias dos países e pulverizou a

microeconomia de pessoas e famílias. Nesse processo, muitos jovens vêm

pagando o preço de políticas econômicas que os excluem das possibilidades

de incorporar-se de maneira produtiva e cidadã à sociedade. Um dos grandes

desafios democráticos se relaciona com as encruzilhadas que podem ser

percorridas para que a participação social se torne objetivo e meta realizável

numa sociedade em que tantos jovens se encontram em processo de exclusão

econômica e marginalização social.

A ampliação de conhecimentos sobre as diferentes realidades juvenis,

necessidades insatisfeitas, motivações e subjetividades em curso,

especialmente àquelas relacionadas com os jovens pobres que mais

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dificuldades enfrentam para realizar escolhas alternativas e projetos

autônomos, é condição necessária para a definição de políticas públicas

sintonizadas com os sujeitos e realidades que se quer transformar. A

participação dos jovens nos assuntos públicos está entre as preocupações do

debate sobre a ampliação dos processos democráticos. Não é incomum que

dados de pesquisas de opinião pública sejam distorcidos pelas mídias que

pintam quadros que apresentam os jovens contemporâneos como

conservadores e sem perspectivas, ou seja, nova geração, porém,

politicamente mais velha do que seus próprios pais, que teriam contestado o

sistema dominante.

Deixa-se de reconhecer que não há mais valores pertencentes a

apenas uma geração, que há desconfiança generalizada da população na

política e que em todos os lugares e idades há dificuldades para se encontrar

meios de ação para a resolução dos problemas coletivos. A crítica mais

acentuada sobre os jovens pode estar na função sociológica que as

sociedades modernas atribuíram à juventude, de ser agente de revitalização da

vida social. Em grande medida, as generalizações sobre a apatia juvenil são

agravadas pela insuficiência de pesquisas que permitam, com alguma

precisão, apreender e interpretar as situações pelas quais os jovens, em

diferentes contextos e condições econômicas e sociais, expressam processos

de recusa, impossibilidades ou mesmo apontam para novas práticas de

participação de solidariedade e conflito que já praticam ou com as quais

aceitariam se envolver.

Muitas dessas práticas se tornam invisíveis para os sentidos

dominantes, que dizem ser mais legítimos determinados ideais de participação

ou mitos participativos do passado, tais como aqueles que se associam ao

jovem radical dos anos 60. Ao mesmo tempo em que há pouca participação

juvenil em espaços políticos formais, nota-se a presença de jovens em outros

tipos de ações coletivas que contribuem para a constituição de espaços

públicos em torno de diferentes experiências sociais participativas.

2.3 O NOSSO JOVEM

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Nosso contato com os jovens pesquisados deixou evidente que eles

buscam oportunidades, pensam a respeito de suas condições, de suas

experiências de vida, posicionam-se, possuem desejos e propostas de projetos

de vida, e entre eles está o trabalho. Sposito (2007) nos revela que a crescente

visibilidade da juventude como alvo da ação pública se remete para o

desdobramento da conjuntura socioeconômica, provocando debate sobre o

desemprego juvenil.

O cenário de crise e de produção de desigualdades nas sociedades

capitalistas reflete a situação do jovem no mercado de trabalho, confirmando

esse problema da juventude. A discussão acerca do trabalho coloca-se como

um dos grandes temas que merecem atenção no campo das políticas públicas

para a juventude, no intuito de se ter ações concretas gerando oportunidades.

Neste sentido, os jovens devem ser reconhecidos como um grupo social

atingido pelas atuais dinâmicas no mundo do trabalho, tanto no que se refere à

sua inserção quanto no que diz respeito à sua capacitação para o mundo do

trabalho.

Atualmente vemos uma primeira movimentação no país, no sentido de

implementar políticas governamentais para a juventude. Nas leituras realizadas

para este trabalho, em diferentes momentos pudemos perceber a construção

da história dos jovens sempre atrelada à história das crianças, seja na

elaboração de legislações ou na história das instituições de atendimento à

juventude desassistida socialmente.

O termo juventude, assim como os jovens com mais de 18 anos, ficou

por muito tempo fora da temática social, até meados dos anos 90, quando uma

nova emergência do tema se produz, basicamente relacionada às dificuldades

de inserção e integração social numa conjuntura marcada pela extensão dos

fenômenos de exclusão decorrentes da crise do trabalho e do aumento da

violência, resultando em profundas dificuldades de estruturar projetos de vida.

O tema juventude tem tomado corpo, no Brasil, de forma bastante intensa nos

últimos anos, ampliando e diversificando os focos anteriormente existentes e

colocando novas questões e desafios para a construção de diagnósticos, e tal

multiplicidade de abordagens contém diferentes concepções no que diz

respeito ao próprio objeto em questão. Acredita-se que uma boa parte das

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ações públicas e privadas, como, por exemplo, programas desenvolvidos tanto

pelo Estado como por ONGs, no campo da saúde, do lazer, da defesa de

direitos, da prevenção de violência, de educação complementar e alternativa,

passaram a definir seu público-alvo dessa maneira. Muitos movimentos sociais

também passaram a incorporar em suas pautas bandeiras de defesa dos

direitos das crianças e adolescentes e dos jovens.

Os centros urbanos brasileiros, marcados pelas enormes distâncias

sociais, põem em contato territórios informados pelo simbólico e permeados

pelo econômico. Nesse particular, nossa geografia urbana impõe experiências

que diferem de qualquer cidade das sociedades centrais. A disparidade de

renda, a presença ou ausência das benfeitorias sociais e a maior ou menor

dificuldade de acesso às benesses são os elementos mais visíveis da rede de

significados que o jovem deve aprender a decodificar. A convivência com o

outro, na interconectividade das histórias vividas, mostra que uns têm acesso

amplo ao conjunto de benfeitorias sociais, outros renunciam a elas e alguns se

apropriam daquelas que lhes parecem indispensáveis. Assim, o jovem é

chamado a construir ativamente as redes de significado, sob pena de sucumbir

aos apelos do estranho e aos perigos da cidade.

A visibilidade mais ou menos explícita da distância entre os diversos

grupos sociais que convivem no meio urbano – e as formas como essas

distâncias são preenchidas – não é um problema menor, já que toca a temática

da regulação a exemplo de atitudes comuns aos jovens, que, se contêm um

viés de agressão, são também formas de reivindicação.

Os jovens brasileiros têm emitido sinais, mais ou menos visíveis, da negação

frente a formas tradicionais de participação, tais como as que se expressam

pela filiação a partidos, sindicatos e organizações estudantis. No entanto,

ações coletivas juvenis deixam de ser notadas ou valorizadas devido ao seu

caráter tópico, descontínuo e muito frequentemente desprovidas de ideologias

facilmente reconhecidas – esquerdas e direitas, por exemplo – das quais se

revestem. Entretanto, as novas formas e temas pelos quais os jovens se

mobilizam na esfera pública também indicam o quadro de crise das formas

tradicionais de participação e socialização política. Sem dúvida, pensar os

distintos significados da participação política para a juventude pode representar

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um importante aporte para captar não só como ela reproduz, mas

principalmente, como constrói novas respostas a essa questão.

2.3.1 Conhecendo os jovens adolescentes participantes

Participaram deste estudo 50 jovens de ambos os sexos, com idade5

entre 17 e 20 anos, de camadas populares,6 estudantes do 3º ano do Ensino

Médio, em escola pública, no município de Carapicuíba, SP, todos em busca

do primeiro emprego. A fixação de alguns critérios permitiu traçar o perfil dos

sujeitos desta pesquisa – ―quem‖ – e definir – ―como‖ – cercar esses jovens,

delimitando, dessa forma, o meu campo de estudo. Ao tentarmos traçar um

perfil dos jovens participantes fizemos algumas perguntas: Quem era o jovem?

Quais eram suas características?

De acordo com os dados7 fornecidos pela escola, é importante

mencionar que a maioria dos jovens que abandonam os estudos são do

período noturno. Daí pode implicar que, na maioria das vezes, isso pode ser

devido à inserção no mundo do trabalho ou por desvio juvenil, o que reforça o

propósito deste estudo de pôr na pauta do debate juvenil a inserção laboral dos

jovens e nos remetem a políticas públicas da juventude que atendam as

necessidades dos jovens para conciliar trabalho e escolarização.

Pudemos constatar por meio desta pesquisa que dos cinquenta

participantes, 34 eram do sexo feminino (68%) e 16 do sexo masculino (32%).

Em relação à faixa etária, uma parte significativa dos entrevistados era menor

de idade (41,5%), enquanto que os demais já haviam atingido a maioridade

5 A faixa etária escolhida corresponde à idade média de alunos do 3ª ano do Ensino Médio e

por já possuírem, em termos de legislação trabalhista, idade para inserção no mundo do trabalho. 6 Camadas populares decorrentes da pobreza e privação – inclusive quanto às condições de

habitabilidade, segurança alimentar trabalho e geração de renda. 7 A partir dos dados fornecidos pela escola pesquisada sobre o rendimento dos alunos

referentes ao período de 2004 a 2006, pudemos observar que em relação ao Ensino Médio, nosso objeto de estudo, no ano de 2004, 93% dos alunos foram promovidos, com 5% de retidos e 2% de evadidos. Já no ano de 2005, houve aprovação para 84%, retenção para 8% e evasão de 8%. Contudo, no ano de 2006, verificou-se 93% de aprovação, com 4% de retenção, e outros 3% de abandono. Observamos também que a maioria dos jovens que abandonam os estudos são do período noturno.

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(58,5%). Foi percebido também que na questão da religião ou culto predominou

a religião católica (88,8%) em detrimento do protestantismo (11,2%).

Dos relatos coletados, percebemos que em relação ao estado civil dos

entrevistados, a totalidade era constituída por solteiros (100%). No que se

refere ao local de nascimento, todos relataram ter nascido no Estado de São

Paulo (100%). No entanto, vale destacar algumas peculiaridades regionais.

(44,4%) dos entrevistados relataram ter nascido na região da Grande São

Paulo. Outros (11,2%) relataram ter nascido no interior do estado e o restante

(44,4%) era de nascidos na capital do Estado de São Paulo. Daí se evidencia

que nenhum entrevistado nasceu no município em que a pesquisa foi realizada.

Entre os entrevistados, a grande maioria era de raça branca (77,7%) e

os demais que se intitulavam negros (23,3%). Essa diferença percentual entre

negros e brancos nos remete a um passado histórico, e ao examinar mos a

trajetória do negro no Brasil, verificamos que ―introduzido como escravo, ele foi

desde o primeiro momento chamado à execução das tarefas mais duras, como

mão de obra fundamental de todos os setores produtivos‖. (RIBEIRO, 2004, p.

228-241).

Diante do exposto acreditamos ser de extrema importância o sistema de

cotas, muito discutido na atualidade, como forma de compensação das

desigualdades sociais vigentes em nosso país. A aplicação política de cotas

beneficiaria principalmente a população negra. A primeira instituição federal de

ensino superior a programar o sistema de cotas foi a Universidade de Brasília

(UnB). Um dos autores da proposta da UnB, o professor José Jorge de

Carvalho, do Departamento de Antropologia, acredita que o sistema de cotas é

a única forma de se resolver o problema da exclusão racial no curto prazo. O

preconceito está presente nas salas de aula. Afirma o professor: Há poucos

negros na universidade e isso dificulta que eles se unam para lutar por seus

direitos. É preciso mudar o tipo de relação que existe na academia.

Com relação à população do sexo feminino ser maior do que a do sexo

masculino o mesmo se pode observar a partir de pesquisas como a Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (A Pnad/IBGE (2010) mostra que no Brasil, no grupo dos 15 aos 17

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anos, 57% das meninas está no Ensino Médio, etapa correta para essa faixa

etária. Entre os meninos, o atraso é maior, apenas 47% cursam a série

indicada para a idade. Essa situação, apesar de faltarem estudos conclusivos,

pode estar relacionada ao fato de os meninos sofrerem mais pressão social

para entrar no mercado de trabalho.

Os dados apresentados nesta pesquisa nos revelam que a totalidade

(100%) dos entrevistados alega nunca terem utilizado drogas. E os motivos

apresentados na pesquisa foram vários, entre eles mencionamos a falta de

curiosidade, o medo, a falta de oportunidade, o perigo, em função da família,

da sociedade, porque faz mal a saúde. A partir dos resultados da pesquisa

podemos inferir que os jovens de hoje são ―espertos‖ sobre o uso de drogas,

não apenas conhecendo seus efeitos, mas distinguindo entre o uso ocasional e

o vício.

Acreditamos que para resistir à pressão do grupo, os jovens precisam de

muito mais do que um simples aviso contra o perigo das drogas; necessitam de

maneira imprescindível que ocorra o diálogo na escola, na família e na

sociedade para enfatizar sobre os efeitos potencialmente fatais da mistura

entre diferentes tipos de drogas: como o consumo de álcool, cigarros e drogas

durante a gravidez pode prejudicar o feto; que qualquer um pode se tornar um

usuário crônico ou um viciado; e que mesmo os não-viciados podem sofrer

consequências graves e fatais.

Vale ressaltar que atualmente grande parte das escolas públicas e

particulares participam de um programa de prevenção e resistência às drogas

promovido pela Policia Militar do Estado. Geralmente o curso é ministrado para

alunos do Ensino Fundamental, com grande aprovação pela comunidade

escolar, o que de certa forma é um referencial positivo para o desenvolvimento

ético das crianças em formação e poderá repercutir de forma positiva no futuro.

Apesar de não termos dados específicos sobre esses programas, que

avalizem a compreensão aqui exposta, pensar nessas questões é entender

que essas ações, geram consequências à comunidade e a todas as suas

instituições, entre elas a escola, beneficiando a família, melhorando a

qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de

vida. Nesse sentido acreditamos que a força do processo socializador exercido

pela família e outras instituições,como a escola pode influenciar de maneira

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significativa o desenvolvimento dos jovens. A educação é essencial para o

desenvolvimento e o bem-estar dos adolescentes e jovens. Objetivando

superar com sucesso os múltiplos riscos ao seu desenvolvimento e a seus

direitos. Para dar-lhes a oportunidade de adquirir habilidades para ganhar a

vida de maneira adequada, e os conhecimentos de que necessitam para

proteger-se e exercer seus direitos, é necessária uma variedade maior de

opções educacionais.

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3 FAMÍLIA, ESPAÇO DE PROTEÇÃO, E SOCIALIZAÇÃO DE

JOVENS

Encontramos na nossa literatura vários autores que acreditam que a

família é um forte espaço de socialização que tem influências significativas

entre seus membros. [...] A família, entendida como o primeiro contexto de

socialização, exerce, indubitavelmente, enorme influência sobre a criança e o

adolescente (REGO, 2002, p. 55). Para Vygotsky (1988), é no ambiente familiar

que a criança inicia o seu processo de aprendizagem e, ao considerar a

aprendizagem como profundamente social, afirma que, quando os pais ajudam

e orientam a criança desde o início de sua vida, dão a ela uma atenção social

mediada, e assim desenvolvem um tipo de atenção voluntária e mais

independente, que ela utilizará na classificação e organização de seu

ambiente.

Entendemos que a temática da família é vital para a organização da

sociedade, bem como para o desenvolvimento das formas de sociabilidade dos

jovens. Na adolescência, os espaços onde são possíveis as interações sociais

se expandem. Consequentemente, debilita-se muitas vezes a força do

referencial familiar, caso este não esteja suficientemente bom para se opor ao

novo grupo.

Essa emancipação, durante esse processo de aquisição de autonomia

pessoal como elemento constituinte, é um traço destacado na nova situação

social do adolescente, o que nos faz compartilhar o pensamento de Minuchin

(1982), que nos revela que a família sempre tem passado por mudanças que

correspondem às mudanças da sociedade e que assume ou renuncia a

funções de proteção e socialização de seus membros em resposta às

necessidades da cultura, atendendo basicamente a dois objetivos: a proteção

psicossocial de seus membros e a acomodação a uma cultura e à transmissão

dessa cultura.

Este momento também está vinculado proximamente a outros

processos de evolução na vida dos jovens, a exemplo do processo da

identidade, ―[...] com complexa e em permanente redefinição, segundo a

multiplicidade de experiências e jogos relacionais dos quais o sujeito participa‖

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(CARRANO, 2000, p. 18), que na realidade dos indivíduos produzem-se de

maneira conjunta e, em geral, de maneira integrada. Neste sentido a influência

familiar no desenvolvimento dos jovens é indizível, uma vez que a partir dela

ele adquire os seus primeiros conceitos, que formarão, ao longo do tempo, os

alicerces de seu caráter, servindo de orientação para os inúmeros caminhos

que a vida imporá durante sua trajetória. Acreditamos que a família tem papel

fundamental neste processo a partir de diferentes mecanismos, como

recompensas, castigos, observações, imitações.

Entretanto, a família não tem um poder absoluto, porque ―nem os pais

poderão ―talhar‖ em seus filhos as características cognitivas, sociais e de

personalidade que rigidamente e a priori desejem‖ (MORENO e CUBERO

1995, p.190). Isso implica que deverão ser consideradas também, ao longo

deste desenvolvimento, as experiências positivas e negativas vividas no interior

da família.

3.1 FAMÍLIA: UMA CONSTITUIÇÃO

A Constituição estabelece que

[...] a família é à base da sociedade e que, portanto, compete a ela, juntamente com o Estado, a sociedade em geral e as comunidades assegurar à criança e aos adolescentes, o exercício de seus direitos fundamentais.

Porém, quando pensamos hoje o conceito de família, é comum imaginá-

la como se sempre tivesse existido na forma monogâmica e perfeita. Entretanto

a família é uma instituição historicamente constituída que, ao longo do tempo,

sofre modificações em função das transformações econômicas, culturais e

sociais, o que provoca também a produção de diferentes subjetividades; nesse

sentido, tais manifestações repercutem também na formação do jovem

adolescente.

Elaborar um quadro completo da origem da família, portanto, é tarefa

extremamente difícil e complexa. Compreender as concepções de família na

atualidade requer que se resgate a historicidade das formas de organização

familiar. Na literatura há um grande número de estudos respeitáveis que

mostram que a família passou por transformações consideráveis, evoluindo

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junto com o homem e foi, ao contrário do que se pensava, resultado de um

longo processo. Canevacci (1976) nos revela que os laços familiares

permanentes são condicionados pela cultura, e não por necessidades

biológicas. A família não é, portanto, algo biológico, algo natural ou dado, mas

produto de diferentes formas históricas de organização entre os humanos.

[...] a idéia de família foi o resultado de uma evolução, através de estágios sucessivos de desenvolvimento, dos quais a família monogâmica constituiu a última forma [...] cada uma dessas famílias teve uma longa vida nas tribos da humanidade, com períodos de infância, de maturidade e de decadência. (MORGAN in CANEVACI, 1976, p. 56-61)

Ao examinarmos a trajetória da família ao longo dos tempos,

encontramos o antigo regime da aristocracia européia, onde havia as casas

grandes que consistiam em agrupamentos de 40 a mais de pessoas, inclusive

não consanguíneos e agregados, e pautavam-se por excessiva hierarquia com

nenhuma privacidade; os bebês nobres eram amamentados por amas-de-leite

formando seus primeiros vínculos com alguém que não pertencia à família.

Já a estrutura da família camponesa se diferenciava da aristocrática, em

que a autoridade social não estava investida ―na figura paterna, mas na própria

aldeia. Esta estrutura familiar comportava poucos filhos, que usualmente eram

enviados, por volta de 6 a 10 anos, para a casa de outro camponês para um

período de aprendizagem; aprendiam a depender da aldeia e não dos pais. A

amamentação era realizada pela mãe com escasso envolvimento emocional,

como uma tarefa incomodativa e consumidora de tempo. É importante observar

que tanto na família camponesa como na aristocrática o treino de hábitos

higiênicos eram pouco fiscalizados e o controle da vida sexual na fase genital

era também superficial.

No Brasil, identificamos a passagem do modelo patriarcal feudal ao

modelo patriarcal nuclear burguês. A história da instituição familiar, no Brasil,

tem como ponto de partida o modelo patriarcal, importado pela colonização e

adaptado às condições sociais do Brasil de então, latifundiário e escravagista.

O patriarca era o detentor das posses, não apenas de seu latifúndio, mas de

sua família, de seus agregados e escravos. Nessa configuração, a mulher era

considerada propriedade do patriarca. Mercadoria cambiável nos casamentos

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arranjados, depois de casada, cabia à mulher administrar a casa e servir ao

marido como reprodutora.

Com o advento da revolução industrial, pode-se falar em uma estrutura

familiar característica da classe trabalhadora, em que todos os componentes

deveriam trabalhar para garantir o sustento, sujeitando-se a extensos horários

de trabalho e, em muitos casos, tendo a mulher alçada ao mercado de

trabalho, assumindo frequentemente o papel de sustentáculo da família.

Singly (2007) apreende a família como um espaço no qual os indivíduos

acreditam proteger a sua individualidade, ao mesmo tempo em que sofrem

intervenção do Estado mediante o apoio e a regulação sobre as relações dos

seus componentes. Entende que ao longo das últimas décadas a discussão

sobre a crise da família, no Ocidente, foi propiciada pelos efeitos do divórcio,

pelo enfraquecimento da instituição do casamento e da baixa taxa de

nascimentos.

Esses acontecimentos tanto indicaram a compreensão de que se

delineara o enfraquecimento da família, quanto sugeriram a análise do

surgimento de novos modelos familiares, caracterizados, por sua vez, pelas

mudanças nas relações entre os sexos e as gerações, tais como: controle mais

intenso da natalidade, autonomia relativa da sexualidade, inserção da mulher

no mercado de trabalho, entre outras.

Ao acompanharmos as transformações no âmbito da família moderna,

focalizando os comportamentos interpessoais, entendemos, pela visão do

autor, que nas sociedades contemporâneas ocidentais os indivíduos não se

parecem com aqueles das gerações precedentes, devido ao surgimento do

indivíduo original e autônomo, resultante da imposição dessas sociedades, as

quais fazem vigorar razões tanto ideológicas quanto objetivas.

Para Singly (2007, p. 54), [...] as famílias são dependentes da sociedade

na medida em que devem atuar em um jogo cujas regras e o desenrolar das

partes lhes são parcialmente desconhecidos.” Isso implica que, sob essa visão,

a família contemporânea é relacional, é privada e pública, é individualista e

precisa de horizonte intergeracional. Entretanto é amplamente reconhecida a

importância da família8 no cuidado e no bem-estar de seus integrantes, uma

8 De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) art. 25: ―Entende-se por

família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes‖.Art.

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vez que é ela o âmbito privilegiado e o primeiro a proporcionar a garantia de

sua sobrevivência, o aporte afetivo fundamental para seu pleno

desenvolvimento e para a sua saúde integral, absorção de valores éticos e de

conduta, e a sua introdução na cultura e na sociedade em que estão inseridas.

Essa importância adquire contornos ainda mais decisivos no caso dos

indivíduos mais vulneráveis, como por exemplo, as crianças, os adolescentes e

jovens, os idosos e os doentes.

Nessa perspectiva, por iniciativa do Estado e a sociedade elaboraram-se

documentos a fim de estabelecer políticas públicas que visam atender a

família, a exemplo do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos

Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária,9

que estabelecem conceitos sobre a família e descrevem o marco situacional e

as perspectivas das Políticas Sociais voltadas a potencialização das famílias,

onde são apontadas também perspectivas sobre uma noção de família

ampliada para dar conta do desenvolvimento do adolescente.

Diante do exposto, abordamos aqui a questão do (CRAS) Centro de

Referência da Assistência Social, que é uma unidade pública estatal

descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização

e oferta de serviços da proteção básica do Sistema Único de Assistência Social

– SUAS, nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e Distrito

Federal. Dada sua capilaridade nos territórios, caracteriza-se como a principal

porta de entrada desse sistema social, ou seja, é uma unidade que possibilita o

acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de

Assistência Social. E esta compreende a família como um espaço contraditório,

marcado por desigualdades e, até mesmo, violência.

Nessa direção, ao eleger-se a matricidade social10 como eixo do sistema

social, a família é enfocada em seu contexto sociocultural e econômico, com

4º: ―É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária‖. 9 Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Brasília-DF. CONANDA, 2006, p. 47. 10 A matricidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de Assistência Social. E define a família como conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, cuja sobrevivência e reprodução social pressupõem obrigações recíprocas e o compartilhamento de renda e ou dependência econômica.

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composições distintas e dinâmicas próprias. Essa compreensão busca superar

a concepção tradicional de família, o modelo padrão, a unidade homogênea

idealizada e acompanhar a evolução do seu conceito, reconhecendo que

existam arranjos distintos, em constante movimento e transformação. Contudo,

as novas concepções de família na sociedade moderna, muitas vezes

contribuem para uma educação deficitária dos filhos, porque ao mesmo tempo

em que podem suprir necessidades materiais, muitas vezes, não conseguem

desenvolver um processo afetivo e de aprendizagem. O crescente número de

relações pouco duradouras tem tido consequências drásticas no que diz

respeito à estrutura da família. Atualmente, poucas são as famílias onde se

encontra pai, mãe e filhos vivendo em harmonia sob o mesmo teto, o que gera

certa desestrutura.

No entanto, alguns especialistas afirmam que esse termo deve ser

revisto. Desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente,

ausência de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem

a ver com as condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o

que pode ocorrer em qualquer modelo familiar. No caso específico da influência

da família no desempenho escolar dos filhos, fatores relativos à vida

extraescolar dos alunos impactam no aprendizado: o contexto familiar do qual a

criança ou adolescente se origina, a escolaridade dos pais, a valorização que a

família atribui à escolarização, a preocupação com a boa trajetória dos filhos, o

acompanhamento dos estudos e a participação efetiva na vida escolar dos

estudantes são elementos centrais para um aprendizado eficiente.

O fato de os pais estarem inseridos do mercado de trabalho, não terem

escolaridade, serem pobres ou serem ricos, negros ou brancos, não os exime

da responsabilidade pela criação dos filhos. Antes do trabalho, ou qualquer

outra coisa, deve vir o direito à vida. Os pais retiram esse direito quando se

ausentam e não participam do desenvolvimento dos filhos. Essa ausência pode

ser preenchida por sentimentos de frustração e abandono.

A família é também, o primeiro "mundo" que habitamos, podendo nos

parecer acolhedor ou hostil, e como tal, regras, costumes, linguagens. Na

relação família–escola, podemos questionar em alguns momentos e nos

perguntarmos: por que a família é tão mal vista? Os professores dão algumas

pistas. Eles dizem que quem leciona faz também o papel de assistente social, a

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escola está no lugar da família, onde o professor não ensina apenas, mas

ajuda o aluno a sobreviver. Isso ocorre muitas vezes porque os pais não

desenvolvem o papel que sempre lhe coube: criar e cuidar bem dos filhos,

orientá-los nos estudos e prepará-los para a vida.

―A educação (recebida na família, na escola e na sociedade de um modo geral) cumpre um papel primordial na constituição dos sujeitos. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, conseqüentemente, influenciam o comportamento da criança na escola‖. (VYGOTSKY, 1984, p. 87)

A influência do lar como hábitat da criança e da família, assim como a

influência do meio social mais amplo, é muito grande, principalmente na

primeira infância e na adolescência, e essas são fases críticas do

desenvolvimento do ser humano, que sempre requerem um maior cuidado e

atenção.

3.2 A FAMÍLIA E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS

O estudo das profissões é abordado de forma sistemática na

sociologia somente a partir da metade do século 20, e existem vários autores e

várias teorias que debatem nesse campo. Entre eles Freidson (1996), que

elabora uma teoria do profissionalismo e consolida o paradigma do poder das

profissões, com sua análise das profissões. Para ele, uma profissão é um tipo

de ocupação que se distingue das outras por seu conhecimento e competência

especializados, que são necessários para a realização das tarefas numa

divisão de trabalho, ele identifica profissão como um princípio ocupacional de

organização do trabalho.

Kober (2003) faz uma análise da teoria das competências. Ele

combina cinco elementos para construir o modelo das competências: normas e

recrutamento, que privilegiam o nível de diploma, valorização da mobilidade e

do acompanhamento individualizado da carreira, novos critérios de avaliação,

que privilegiam as qualidades pessoais, como responsabilidade, autonomia,

capacidade de trabalhar, instigação à formação contínua, o aprender sempre e,

por fim, a desvalorização dos antigos sistemas de classificação fundados nos

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níveis de qualificação e originados nas negociações coletivas, com

negociações individuais de salários e benefícios.

Quando o assunto é a percepção da juventude sobre as escolhas

profissionais, é importante destacar o processo da Orientação Vocacional. A

Orientação Profissional é uma atividade que vem sendo desenvolvida pelos

psicólogos e pedagogos por todo o século 20 e sua finalidade não se modificou

muito durante esses anos, visando sempre traçar o perfil dos sujeitos e

encontrar, para eles, atividades profissionais que servissem a esse perfil.

Testes de interesse, de aptidão e de personalidade foram os instrumentos

básicos utilizados nesse campo.

Esta perspectiva tradicional de Orientação Profissional estava baseada

em alguns pressupostos importantes de serem destacados: liberdade de

escolha, igualdade de oportunidades e individualismo. O sujeito é visto nessas

teorias, comumente chamadas de teorias psicológicas, como um sujeito livre

para escolher dentre as alternativas e possibilidades que o meio social lhe

oferece. No entanto, para que essa liberdade possa ser exercida, é preciso que

se dê aos sujeitos igualdade de oportunidades.

A crítica a essas perspectivas começa exatamente no questionamento

de seus pressupostos: não há liberdade de escolha para todos e nem

igualdade de oportunidades em nossas sociedades; não existe esse indivíduo

isolado que possui características pessoais naturais ou potencialidades

naturais desenvolvidas pelo aproveitamento das condições que lhe foram

ofertadas pela sociedade. Essas idéias de igualdade, liberdade e

individualidade ocultam a desigualdade social existente em nossas sociedades

e o processo de construção dos sujeitos nas condições sociais desiguais.

Essas teorias tornaram-se, ao longo de tempo, instrumentos de

manutenção do status quo e de dissimulação da realidade. Diante do exposto,

devemos considerar nesse processo de escolha a perspectiva sócio-histórica,

cuja definição já foi evidenciada neste estudo. Se verificarmos que diferentes

ritos contemporâneos estão perdendo a força. O vestibular não tem mais a

aura do passado. De um modo geral, os diplomas não têm mais o

reconhecimento social de antigamente. Os novos heróis propostos aos jovens

pela mídia são aqueles que fazem fortuna rapidamente. A educação nacional é

atacada de todos os lados.

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Nunca os professores foram tão desconsiderados. A entrada em um

meio profissional não oferece mais um quadro definitivo. As confrarias

corporativistas desaparecem com os pequenos trabalhos. As grandes

empresas, outrora familiares, onde se entrava como estagiário para sair

aposentado depois de ter tido uma promoção interna começam a fazer parte da

história. A crise econômica dos anos 2000 e a globalização da economia

transformam o sistema. Muitas profissões propostas aos jovens não são

conhecidas de seus pais, impedindo a noção de uma transmissão de memória

e colocando novamente esses últimos ou os outros adultos à parte da

dimensão iniciática.

Nos rituais tradicionais, na verdade, se os adultos são postos de lado,

eles sabem, por já terem vivido essa experiência, que isso passa. Os rituais de

passagem na adolescência visam marcar a ruptura dos jovens com seus laços

domésticos e consagrar a saída da vida restrita à família para a vida

comunitária. Em nossa cultura, o vestibular ainda é visto como marco principal

desse evento. Entretanto, como foram observados anteriormente, os processos

ritualísticos de nossa sociedade foram ao longo do tempo sendo

desenergizados, culminando em pseudorrituais. Dessa forma, vemos o

vestibular como um desses pseudorrituais, não somente porque na maioria das

vezes é realizado de forma alienada, mas principalmente devido ao fato de o

jovem, mesmo depois de ter passado por ele, permanecer em simbiose com a

família, pois continua dependente sendo sustentado ainda por alguns anos.

Calligaris (2007), em artigo intitulado ―Os sonhos dos adolescentes‖, para o

jornal Folha de S. Paulo, comenta:

[...] os jovens de hoje sabem que sua origem não fecha seu destino: sua vida não tem que acontecer necessariamente no lugar onde nasceram sua profissão não tem que ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma proliferação extraordinária de ficções e informações, eles conhecem uma pluralidade inédita de vidas

possíveis. (CALLIGARIS, 11 jan. 2007, p. E10)

Nesse sentido, a função social do educador é ser agente de

transformação; cabe a ele auxiliar na organização dos desejos e necessidades

da população com a qual trabalha. É importante identificarmos de que forma a

compreensão dos fenômenos conhecidos como ritos de passagem podem ser

úteis na realização de trabalhos de orientação profissional e vice-versa.

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Acreditamos que uma sociedade tão carente de simbolismos formais dessa

ordem, como a nossa, acaba criando, por meio dos recursos disponíveis,

outras formas de cristalizar seus aspectos mais subjetivos, tão necessários

para o desenvolvimento do sujeito.

É importante lembrar que, muitas vezes, os jovens, hoje

desempregados, são os trabalhadores infantis de anos atrás. Dessa forma, o

aumento das oportunidades de trabalho decente para jovens não pode ser

dissociado dos esforços de erradicação do trabalho infantil e da melhoria de

perspectivas de emprego para adultos. Além do mais, o problema do

desemprego de jovens reflete e perpetua défices de trabalho decente nas

famílias e comunidades.

Contudo, a idéia do pressuposto de que o jovem escolhe uma profissão

a partir das condições em que vive, da influência da família e em função de

suas habilidades e aptidões não é uma idéia que sempre existiu; é algo que

teve início quando se instalou na sociedade o modelo do capitalismo. E neste

momento coloca-se uma questão: se tudo está na mão do sujeito, o momento

de sua escolha profissional torna-se muito importante. Esse é um momento de

conflito, e não devemos imaginar que o futuro de uma pessoa dependerá

principalmente de sua opção profissional e que essa escolha não poderá ser

alterada, principalmente devido a inúmeras influências que interferem nesse

processo.

Entre eles podemos mencionar as características da profissão, o

mercado de trabalho, a importância social da profissão, o histórico pessoal, a

satisfação pessoal, a satisfação material, a vocação e o dom, a remuneração,

as habilidades necessárias para o desempenho da profissão, a trajetória para

se chegar a esse processo de escolha profissional, como: a escolarização, o

vestibular, os custos da formação.

Outros fatores que merecem destaques aqui são os grupos sociais, e

entre eles está a família e o grupo de amigos, de onde se espera que venham

as principais pressões nesse processo de escolha. Não podemos aqui deixar

de fazer menção às profissões ditas ocultas, muito comuns nos centros

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urbanos, como catadores de produtos para reciclagem, limpadores de vidros de

carro em semáforos entre outras, que são originarias do sistema atual

capitalista, seja por falta de escolarização, família ou políticas públicas. Para

Bock ―o indivíduo é escolhido para uma profissão pelas influências dos fatores

sociais, da estrutura de classes, dos meios de comunicação e, de certa forma,

da herança social‖ (BOCK, 1999, p. 248). Considerando que esse pensamento

esteja correto, ao negar a possibilidade de liberdade de escolha, acabamos

também percebendo esse indivíduo como reflexo da organização social, sem

autonomia frente a essas determinações.

3.3 PERCEPÇÕES DE JOVENS SOBRE ESCOLHAS PROFISSIONAIS

Perguntamos aos jovens adolescentes participantes se eles já haviam

pensado sobre ter uma profissão. De acordo com os resultados desta

pesquisa, os participantes foram unânimes em afirmar que já pensaram em ter

uma profissão (100%). Muito embora nem todos soubessem a área em que

gostariam de ingressar, como apontam os resultados a seguir: ciências

humanas (22%), ciências exatas (33%) e ciências biológicas (33%) e (12%)

não escolheram ainda.

Ao serem questionados sobre suas escolhas, os pesquisados relataram

como fatores que influem no processo de escolha: a importância social e a

remuneração, o mercado de trabalho, as habilidades necessárias para o

desempenho, os caminhos para chegar à profissão desejada, a satisfação

pessoal, a vocação e o dom, o grupo social em que estão inseridos e a própria

história pessoal.

A seguir selecionamos percepções de sete participantes por entender

que evidenciam de forma específica a temática abordada, sobre os motivos

pelos quais escolheram, a princípio, as respectivas áreas.

(P1) ―Biológica, pois gosto desta área, acho interessante, sabemos o

que acontece no corpo ao redor da gente e também porque é uma

coisa que vem crescendo a cada dia.‖

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(P2) ―Nutricionista porque envolve a alimentação, saúde e boa

forma.‖

(P3) ―Ator/diretor de teatro/arte-educador, porque reconheço a

importância e o poder da arte no meio social e desejo contribuir para

sua compreensão e disseminação.‖

(P4) ―Engenharia aeronáutica, pelo dinheiro, pelo desafio de querer o

melhor, por consequência, o mais fácil.‖

(P5) ―Técnico em informática, porque tenho facilidade em aprender e

ensinar nesse ramo.‖

(P6) ―Professora de filosofia, porque me identifico com essa

profissão, talvez porque desde pequena vejo minha mãe lecionando.‖

(P7) ―Física, porque sempre fui bom com matérias exatas.‖

Diante de algumas das escolhas acima descritas podemos notar que são

profissões tidas como tradicionais: Engenharia, Física, Filosofia, Informática,

Nutrição, Artes, Biologia, Jornalismo. Entretanto, o cenário das profissões

ganha novos contornos no século 21, com profissões que surgem, ou são

reinventadas, na proporção das mudanças tecnológicas, como administradores

de comunidades virtuais, engenheiros de rede, tecnólogo em criogenia,

especialista em ensino a distância (EAD), que buscam espaço em uma fatia do

mercado de trabalho que até então não existia.

As inovações e mudanças não se restringem às novas profissões, tais

inovações afetam tanto os profissionais que já possuem formação quanto os

adolescentes em processo de definição de carreira. As profissões tidas como

―tradicionais‖ não vão acabar, segundo a opinião de alguns especialistas, que

sugerem que os profissionais mais experientes precisarão se adaptar. Já na

opinião do economista e sociólogo Gilson Schwartz (2000), em sua obra As

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Profissões do Futuro, com o advento e explosão de crescimento da Internet,

várias profissões foram criadas para ampliar ou consolidar redes de

conhecimento. Isto é, as novas profissões não mudaram apenas as relações

pessoais, mas mexeram também na engenharia das empresas.

Por essa razão, acreditamos que todas as profissões têm um papel na

organização da vida humana. Uns planejam, outros executam; alguns se

dedicam a pesquisar, enquanto outros divulgam as pesquisas: assim,

complementando-se, os profissionais das mais diversas áreas são os

responsáveis pela construção deste organismo complexo e maravilhoso

chamado sociedade. Enfim somos constantemente colocados diante de

escolhas. Optar, decidir, protagonizar a nossa própria história.

Contudo, para os jovens, a escolha de uma profissão passa por uma

questão de identidade, de encontro de seu espaço, de descoberta e da

construção de um projeto de vida. Neste sentido o jovem necessita muito de

um grupo de apoio para desencadear o seu desenvolvimento e

autodesenvolvimento. Por outro lado, sabemos que a família não é a única a

interferir no processo de decisão do jovem; temos a mídia, a igreja, os grupos

de amigos, as referências e as condições sócio-históricas e econômicas que

interferem de forma contundente na subjetividade do jovem adolescente.

Nos jovens entrevistados, percebemos essa interferência, conforme

descrição de nove participantes a seguir:

(P1) ―Por mais que a minha mãe viva dizendo que o ITA não é para

mim, todo mundo me apóia. Só o que eles gastam com escola e livro

e todo tipo de material que eu preciso já é um grande tipo de

contribuição; o psicológico eu vou trabalhando me encorajando.‖

(P2) ―Eles me apóiam em minhas decisões, principalmente porque

escolhi uma área de atuação difícil, que é a arte. Venho fazendo isso

de forma amadora há muito tempo e meus familiares apoiaram, sim,

dentro de suas limitações.‖

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(P3) ―Elas querem o melhor para mim, e estão sempre pegando no

meu pé em relação aos estudos, para que eu tenha um futuro.‖

(P4) ―Minha família acredita que contribui muito; tenho muita base,

me ensinaram a respeitar o próximo, a ser educado, ser honesto, me

incentiva nos estudos.‖

(P5) ―Porque me proporcionam toda estrutura possível para o meu

futuro.‖

(P6) ―Porque eles me apóiam e me incentivam para os estudos.‖

(P7) ―É sempre bom receber conselhos de pessoas experientes, o

que nos ajuda a decidir o que é melhor.‖

(P8) ―Porque estão sempre presentes na minha vida.‖

(P9) ―Eles contribuem pagando meus estudos e dando suporte para

que eu aproveite o mesmo. Porém, acho que a família se fecha em

uma posição mais conservadora.‖

Essas respostas fazem eco a outras pesquisas realizadas. De acordo

com Soares (1997, 2002), os pais constroem projetos para o futuro do filho e

desejam que ele corresponda à imagem sobre ele projetada, propondo, muitas

vezes, objetivos que na realidade eram sonhos seus que não puderam realizar

na juventude. O filho se torna, então, um depositário das aspirações dos pais,

absorvendo a responsabilidade de escolher a profissão que o pai não pôde

seguir (ANDRADE, 1997). De alguma maneira, os pais introduzem em seus

discursos seus próprios desejos sobre os projetos de seus filhos, e a forma

como estes vivenciam suas ocupações também é fator influente na decisão do

jovem.

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Segundo Filomeno (1997), o filho estabelece conceitos e valores acerca

das profissões de acordo com o que se fala em família. Analisando os relatos

de adolescentes, podemos fazer certas observações interessantes sobre o

universo pesquisado e constatar que a identificação com as profissões e com

profissionais se dão por meio das relações que o jovem estabelece com o

mundo adulto. Daí a importância dessas identificações com os pais e com

outros membros da família com os quais o jovem interage.

Esses dados foram comprovados nesta pesquisa ―Estudos e

Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do

Jovem‖, em que a maioria dos sujeitos da pesquisa mencionam a contribuição

da família para o futuro profissional. A família é citada em diferentes aspectos

como exemplo de modelo de conduta no desempenho de seus papéis sociais e

das normas e valores; referem-se à família também como mantenedora de

papéis sociais conservadores, porém participativa e estruturalista,

principalmente no apoio social e emocional.

Diante do exposto, buscamos referências em autores como Santos

(2005), em que a família é apontada pela literatura como um dos principais

aspectos que podem tanto ajudar quanto dificultar o jovem no momento da

decisão profissional. No momento em que o adolescente está construindo sua

identidade tanto pessoal como vocacional a influência da família é de extrema

importância.

A problemática da adolescência já foi estudada à exaustão por muitos

autores. Ericson (1972), explicita que é nesse período que se organiza a

construção da identidade, sendo esta a base do desenvolvimento do indivíduo.

Já Bohoslavsky (1988), quando se refere à identidade ocupacional, diz que a

adolescência não é vista como algo definido, mas sim "como um momento de

um processo submetido às mesmas leis e dificuldades daquele que conduz à

conquista da identidade pessoal" (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 30). Apesar de a

identidade ocupacional se desenvolver como um aspecto da identidade

pessoal, pode-se dizer que são dois processos que caminham juntos em

determinado momento de transição – a adolescência – da vida do indivíduo.

Os jovens pesquisados evidenciam que as famílias contribuem com

indicadores, os quais sugerem que eles estão tendo uma formação escolar de

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60

qualidade, sendo apoiados nos processos de escolha e decisão de projeto de

vida e recebem investimentos em capacitação profissional. Mas essas famílias

também esperam resultados.

Elas se concentram muito na escolaridade dos filhos, e a preocupação

com o desemprego pode ser uma das razões, mas não é a única.

independentemente do grau de envolvimento dos pais com os filhos ou certa

incapacidade de acompanharem culturalmente a escola dos filhos.

Os pais não têm tempo e principalmente não estão no tempo dos filhos.

Não compreendem a matéria de que é feita a escola dos filhos e são

incapazes, às vezes, de conversar sobre o que os filhos aprendem ou deviam

aprender. Deixam de conversar com os filhos e não são exigentes, nem com os

filhos, nem com a escola ao nível das aprendizagens, dos conhecimentos e

técnicas, da utilidade do que aprendem.

Em vez de buscar a compreensão da complexidade e da qualidade das

aprendizagens, os pais pressionam a escola sobre as classificações, as quais,

ainda que sem conteúdo, permitem a transição e o ingresso no mundo do

trabalho ou no Ensino Superior. Acreditamos que a presença dos pais na vida

escolar tem significativo valor para os estudos dos filhos, dando-lhes apoio,

colocando-os em boas escolas, incentivando, participando da vida escolar dos

filhos entre outras ações. Percebe-se que, no contexto escolar, existem

diversas maneiras de os pais participarem efetivamente do processo educativo,

já que essa participação é necessária, considerando-se que, ao relacionar-se

com a escola, a família participa da construção do sucesso escolar de

diferentes maneiras.

Já quando perguntamos a esses mesmos jovens sobre a composição de

suas famílias e quais suas contribuições para sua formação e desenvolvimento,

os dados obtidos sugerem que a influência da família para o futuro profissional

do jovem é deveras importante.

Entre os participantes pesquisados, a maioria, cerca de (77,7%) mora

com os pais, e há entre 4 e 5 pessoas morando no domicílio, enquanto que

(22,3%) só vive em domicílio com a figura materna. Em relação ao número de

irmãos, (55,6%) têm até 2 irmãos, e para a totalidade dos entrevistados ficou

caracterizado que não possuem dependentes (100%).

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No que se refere à renda familiar, a grande maioria (77,8 %) tem até 3

pessoas contribuintes na família, sendo que para esse mesmo percentual

corresponde o teto de rendimento familiar corresponde a um valor acima de 3

salários mínimos. Entretanto, há também famílias que sobrevivem com renda

mensal de 1 salário mínimo (11,1%).

A pesquisa também demonstra que a situação ocupacional dos pais dos

entrevistados apresenta a prevalência da figura materna constituindo a maioria

das chefias das famílias, pois (88,8%) das mães trabalham e em contrapartida

apenas (66,6%) dos pais trabalham atualmente. Essa disparidade caracteriza

também a situação de escolaridade dos pais, pois grande parte das mães dos

entrevistados possui curso superior (55,8%), o Ensino Médio e o Ensino

Fundamental totalizando (44,2%). Em relação à figura paterna, ficou

evidenciado que a maioria possui somente o Ensino Médio (77,8%).

Observamos também que na grande maioria dos casos estavam presentes na

composição familiar o pai a mãe e os irmãos. Em relação à renda familiar, a

grande maioria vive com mais de três salários mínimos. Entretanto no domicílio

de alguns dos entrevistados ainda não existe infraestrutura básica de

saneamento. A realidade muitas vezes contradiz as pesquisas de opiniões

divulgadas pela mídia, que apontam índices de desenvolvimento humano

positivos. Há ainda grande preocupação, porque este é um país emergente e

com grande desigualdade.

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4. EDUCAÇÃO: CONVIVÊNCIA E APRENDIZAGEM

Este capítulo é resultado de uma reflexão sobre a percepção da escola

como sendo um espaço de convivência e aprendizagem para a juventude. Nas

ultimas décadas, tem se tornado cada vez mais evidente a importância da

educação na construção das práticas democráticas e da modernidade. Este

tema tem ocupado e preocupado grande parte da sociedade, mobilizando a

atenção de Organismos como a UNESCO (Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o Ministério da Educação, além de

pesquisadores, especialistas em educação, bem como os demais cidadãos.

Tal interesse pode ser visto como resultante das novas e complexas

demandas do mundo contemporâneo e globalizado. Entre elas, podemos

destacar: as novas dinâmicas do trabalho, a profissionalização do jovem e seu

processo de inserção no mundo do trabalho e o papel da família. Diante deste

novo contexto social estaria a escola de hoje, na sua prática cotidiana, sendo

uma instituição ainda capaz de reproduzir o conhecimento disponível para que

os jovens tenham instrumentos para enfrentar o mundo do trabalho e

reproduzir as relações de autoridade e seleção presentes na nossa sociedade?

Estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID

(2008) relata que mais da metade dos latino-americanos entre 15 e 19 anos

não têm um nível adequado de educação para conseguir um trabalho bem

remunerado. No Brasil, o percentual de jovens nesta situação é de 71,6%.

Entretanto, de modo geral os jovens na atualidade têm expectativas sobre o

futuro profissional muito semelhantes às de todos que procuram um

crescimento e um desenvolvimento social.

Os jovens sonham com um dia a dia que, para muitos de nós, não é

apenas um sonho, e sim, resultado de um projeto de vida, angústias ou

frustrações. Com os relatos colhidos nesta pesquisa ―Estudos e Repercussões

da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem ‖, exceção feita

às distinções necessárias que serão expostas no capítulo sobre a inserção do

jovem e o mundo do trabalho, pudemos notar um consenso, a partir das

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respostas, de que todos os participantes já pensaram em ter uma profissão

(100%), porém os resultados da pesquisa sugerem que os jovens precisam

ainda ajustar seus sonhos às necessidades (segurança no trabalho, assistência

médica, dinheiro, entre tantas outras).

Cabem aqui alguns questionamentos: nos tempos atuais, existe esse

espaço no mundo do trabalho para a juventude? A escola desperta interesse

quando carrega consigo uma promessa de futuro? O que significa ―escolher‖

numa sociedade onde as oportunidades não são iguais para todos? Coloca-se,

então, um desafio para os profissionais que trabalham com os alunos do

Ensino Médio público: saber quem é esse jovem, conhecer o mundo do

trabalho na atual sociedade capitalista, entender o significado das reais

possibilidades de escolha desse jovem e compreender que há algo muito maior

que permeia e condiciona a efetivação das escolhas: a realidade

socioeconômica.

Contudo, a realidade não determina definitivamente o destino do jovem

economicamente desfavorecido, mas com certeza reduz a probabilidade de ele

atingir suas metas, ou mesmo força a modificação de suas escolhas, levando-o

a negá-las ou a adaptá-las para obter maiores chances de se inserir no ensino

universitário ou no mundo do trabalho. Todos parecem concordar que, na

chamada sociedade do conhecimento, a escolarização tem um valor

inquestionável, ―já que é capaz de proporcionar ao indivíduo experiências e

informações de sua cultura‖ (REGO, 2002, p. 48). Cabe a nós o esforço de

examinar essas questões sob a ótica da educação.

4.1 EDUCAÇÃO, ESTADO E SOCIEDADE

Ao abordarmos a temática da educação, proponho pensarmos a

juventude como uma oportunidade que implica tratar os jovens como sujeitos

de sua própria história e não como objeto das expectativas dos adultos. Deve

ser um processo interacional onde ambos devem contribuir para o crescimento

do sujeito. Essa mudança de olhar que supera a visão de jovens como objeto

do problema e se firma na visão de jovem como sujeito de oportunidades, nos

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leva a uma perspectiva importante para a ação do sistema educacional, do

trabalho e da mobilização da sociedade em nosso país. ―Há indicações de que

uma parcela importante dos jovens brasileiros está, atualmente,

experimentando uma série de fragilidades e vulnerabilidades, o que leva a que

se fale em uma ‗crise dos jovens‘.‖ (CAMARANO et al., 2004, p. 11-20)

O país tem ainda o desafio de superar o uso excessivo de medidas de

abrigo e de privação de liberdade para adolescentes em conflito com a lei. Em

ambos os casos, cerca de dois terços dos internos são negros. Cerca de 30 mil

adolescentes recebem medidas de privação de liberdade a cada ano, apesar

de apenas 30% terem sido condenados por crimes violentos, para os quais a

penalidade é amparada na lei. Hoje, há mais de 11 mil jovens brasileiros

privados de liberdade, levantamento feito pela Secretaria Nacional dos Direitos

Humanos (2009).

As causas sociológicas do aumento da violência dos jovens são

dominadas pela crise econômica e o desemprego. De acordo com (CALIMAM,

2006) diante de certos comportamentos e estilos de vida não convencionais,

muitas pessoas atribuem qualificações e rótulo a indivíduos com diferentes

abordagens relacionadas ao desvio social e à delinquência juvenil. Acreditamos

que um jeito de reconstruir esse panorama poderá se dar por intermédio da

educação.

A educação existe em todas as esferas da vida do indivíduo. Ela existe

em cada cultura, participando do processo de produção de crenças e ideias, de

qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e

poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é a sua

força.

A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as s gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais. (DURKHEIM, 1978, p. 41)

Já para Freire (1983), a educação muitas vezes vem sendo utilizada

pela classe dominante para transmitir sua hierarquia de valores, na qual se

tomou o ato educativo como um depósito de conteúdos que o professor faz no

aluno a partir de uma premissa inicial: o professor possui a cultura e o saber; o

aluno ignora e, por isso, necessita ser levado a esse saber. Isso implica que é

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importante elucidar no educando sua criticidade, criatividade e ação diante do

que está dado: é preciso que o oprimido tenha consciência de sua opressão.

Isso implica que a formação do homem democrático exige que se encontre um

método de ensino capaz de permitir ao indivíduo apropriar-se do sentido

altamente cambiante da sociedade e do tempo em que ele está vivendo.

A educação deve estar a serviço da formação de traços de

personalidade e consciência crítica que levem à formação da personalidade

democrática. Há uma inadequação de nossa educação atual, cheia de

verborragia e pouca prática, em relação ao clima cultural que vem se

prolongando no país: nenhum sistema educativo é capaz de manter na nova

geração a estabilidade afetiva e a integridade mental, a menos que esteja

unido em uma estratégia comum com as influências sociais que atuam fora da

escola.

Somente mediante a cooperação dessas influências sociais, em nossos

dias de modo especial, será possível colocar um freio nas influências sociais

que, de outra parte, desorganizam a vida da comunidade de conhecimento

concreto da realidade, de nossa sociedade. Devemos incentivar as forças

positivas da industrialização. A Escola, então, passaria a ser uma instituição

local, centrada democraticamente no seu educando e na sua comunidade,

vivendo sob sua circunstância em verdadeira comunidade de trabalho e de

estudo, prática e dinâmica que deve enfrentar dificuldades, resolver questões e

identificar-se com sua realidade.

Conforme as idéias de Freire (1987), uma prática de sala de aula

deveria desenvolver a criticidade dos alunos. Paulo Freire condenava o ensino

oferecido pela ampla maioria das escolas, isto é, as ―escolas burguesas‖, o

qual ele qualificou de educação bancária, onde o professor age como quem

deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras,

o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se,

de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele

propunha para despertar a consciência dos oprimidos. Ele dizia que, enquanto

a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a

educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

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No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a idéia de que

tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, não há futuro a

priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crítica aos intelectuais

de esquerda que consideravam a emancipação das classes desfavorecidas

como uma inevitabilidade histórica. Seu ponto de vista implica a concepção do

ser humano como ―histórico e inacabado‖ e, consequentemente, sempre pronto

a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade

de formação rigorosa e permanente.

Já para Tragtenberg (1985), a educação tem o pensamento voltado para

os limites da escola como instituição disciplinadora e burocrática e as

possibilidades da autogestão pedagógica como iniciação à autogestão social.

A burocracia escolar é poder, repressão e controle. As propostas do autor

mostram as possibilidades de organização das lutas das classes subalternas e

da participação política do trabalhador na empresa escola visando à

reeducação dos próprios trabalhadores em geral e dos trabalhadores em

educação, em particular.

A possibilidade de desvincular saber de poder, no plano escolar, reside na criação de estruturas de organização horizontais, onde professores, alunos e funcionários formem uma comunidade real. É um resultado que só podem provir de muitas lutas, de vitórias setoriais, derrotas também. Mas sem dúvida a autogestão da escola pelos trabalhadores da educação – incluindo os alunos – é a condição de democratizar a escola. Sem a escola democrática não há regimes democráticos; portanto, a democratização da escola é fundamental e urgente, pois ela forma o homem, o futuro cidadão. (TRAGTENBERG, 1985, p. 40-.45)

Diante dessa discussão, entendemos, entretanto ao estabelecer os fins

da educação no país, nossos legisladores, pelo menos em teoria, falam sobre o

que deve determinar e controlar o trabalho educacional em todos os seus graus

e modalidades. De certo modo falam a respeito de uma educação idealizada,

ou falam da educação a partir de uma ideologia. Mas, do outro lado do palco,

intelectuais, educadores e estudantes fazem todos os dias a crítica da prática

da educação no Brasil. Eles levantam questões e afirmam que, do Ministério à

escola infantil, a educação nega no cotidiano o que afirma na lei. E o esforço

em examinar estas questões pode significar uma importante contribuição para

os estudos das complexas relações entre o indivíduo e a sociedade.

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4.2 EDUCAÇÃO: DIFERENTES REALIDADES

Retomando as questões que nos remetem à conceituação de educação

e sua situação num contexto social, podemos, antes de mais nada, dizer que a

educação sempre expressa uma doutrina pedagógica, a qual, implícita ou

explicitamente, se baseia em uma filosofia de vida, concepção de homem e

sociedade. Além disso, devido ao fato de que numa realidade social concreta, o

processo educacional se dá através de instituições especificas (família, igreja,

escola, comunidade) que se tornam porta-vozes de uma determinada doutrina

pedagógica.

Essa posição foi primeiramente sistematizada por Émile Durkheim, que

não especificava os conteúdos educacionais, mas partia do conceito do homem

egoísta que precisa ser moldado para a vida social. As novas gerações

apresentam uma flexibilidade para assimilar, internalizar, perceber e,

finalmente, reproduzir os valores, as normas e as experiências das gerações

mais velhas. Isso implica que o processo educacional é midiatizado

basicamente pela família, mas também por instituições do Estado, como as

escolas.

Podemos perceber, portanto, que é a partir da escola que a criança e o

jovem fazem uma ponte importante e favorável com o mundo exterior, por meio

da socialização que a escola permite. Contudo, é a partir da percepção no

contexto escolar que o aprendente adquire conhecimento por meios sensoriais,

o que contribui para que exista um processo de aprendizagem. E a escola

também pode fazer uma mediação por meio do valor simbólico (valor dado a

um elemento de forma subjetiva) e do contexto social. Isso implica que o

contexto social no qual a pessoa está inserida tem como característica facilitar

e mediar a absorção do conhecimento, que tem início no nascimento e

acompanha a pessoa durante toda a vida.

A percepção escolar está vinculada à forma pelo qual a criança e o

adolescente percebem e adquirem conhecimentos no ambiente escolar, os

quais serão utilizados posteriormente na vida adulta, e também aos valores já

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assimilados e acomodados por eles em outros contextos sociais. Na escola, a

criança ou adolescente aprende diversos elementos de socialização, como a

convivência com diferentes grupos do âmbito escolar, uma vez que é a partir

disso que a criança e/ou adolescentes irão aprender e desenvolver

relacionamentos sociais, viver em sociedade, isto é, tornar-se um indivíduo

social.

No âmbito escolar, a criança se defronta com maiores exigências sobre

o modo de se relacionar com os outros: passa a estabelecer relações tanto

com adultos quanto com seus iguais e a se deparar com diferentes contextos e

novas regras. Há diversas formas de interação social como fatores

determinantes na formação de crenças e valores dos indivíduos, o que

pressupõe que as relações entre diferentes contextos da vida têm merecido

cada vez mais a atenção de pesquisadores que partilham perspectivas sociais

do funcionamento e do desenvolvimento humano.

Tanto a família quanto a escola, duas instituições cuja relação é nosso

objeto de análise, sofreram transformações profundas ao longo da nossa

história. Mediador e regulador dessa relação, o papel do Estado também foi se

modificando. Ao percorrer essa história, podemos compreender a origem de

algumas ideias que ainda hoje estão presentes no pensamento educacional e

verificar sua atualidade ou anacronismo.

A recuperação deste fio condutor pode inspirar cada município a

identificar conexões desse cenário geral com a história local, com seus traços

específicos, e assim melhor compreender o terreno simbólico no qual irá atuar.

Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo deslocada da periferia para

o centro da família. Do mesmo modo, ela passou a ser o foco principal do

sistema educativo.

O deslocamento é fruto de uma longa história de emancipação, na qual

as propostas educacionais têm grande peso. Esse movimento alinha-se ao dos

direitos humanos e consolida-se na Carta Internacional dos Direitos da Criança,

de 1987, que registra o acesso da criança ao status de sujeito de direitos e à

dignidade de pessoa. Tais conquistas invertem a concepção de aluno como

página em branco, encerrada no projeto inicial da escola de massa e que

organizava a hierarquia das posições no sistema escolar. Essas mudanças

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incidem diretamente na transformação das relações entre as gerações, tanto

entre pais e filhos, quanto entre professores e alunos.

Segundo a LDB, (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) os

profissionais da educação devem ser os responsáveis pelos processos de

aprendizagem, mas não estão sozinhos nessa tarefa. A lei prevê a ação

integrada das escolas com as famílias e estas estão inseridas em uma

comunidade, localizada em determinado território, com seus costumes, valores

e histórias, a que chamaremos de contexto social.

Contudo, no âmbito das condições para o sucesso escolar, a literatura

aponta para a importância da qualidade das relações entre a família e escola,

como meio de potencializar a eficácia de ambos os sistemas.

[...] A escola é, então vista como portadora de uma função social porque compartilha com as famílias a educação das crianças e jovens, uma função política, pois contribui para a formação dos cidadãos. (REGO, 2002, p. 48).

A educação existe também onde não há escola. e por toda parte pode

haver redes e estruturas sociais de transferências de saber de uma geração a

outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino

formal e centralizado. Contudo nem sempre os contextos nos quais a pessoa

se insere contribuem para o desenvolvimento do pensamento questionador e,

transformador.

[…] O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas... (LEONTIEV, 1978)

Isso implica que a cada fase do seu desenvolvimento o homem adquire

os meios para intervir de forma competente no seu mundo e em si mesmo.

Bock, quando aborda a concepção de mundo do sujeito, comenta:

Ao escolher uma forma de se envolver no mundo do trabalho bem como a atividade que vai desenvolver, a pessoa mobiliza imagens que adquiriu durante sua vida [...]. ―Ao pensar numa profissão, a pessoa mobiliza uma imagem que foi construída a partir de sua vivência por meio de contatos pessoais, de exposição à mídia, de leituras (biografias, romances, revistas etc.), identificação ou um afastamento da profissão‖. (BOCK, 2002, p. 78-79)

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Partindo do pressuposto de que não existe o indivíduo isolado em nossa

sociedade a pergunta que nos cabe é: Existe liberdade de escolha e igualdade

de oportunidades em nossa sociedade para todos? Essas ideias de igualdade,

liberdade e individualidade, ocultam a desigualdade social existente em nossa

sociedade e o processo de construção dos sujeitos em condições sociais

desiguais.

4.3 EDUCAÇÃO E ENSINO MÉDIO

No Brasil, a oferta de Ensino Médio é majoritariamente de

responsabilidade do poder público estadual. Em 2009, dos mais de oito milhões

de matrículas computadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP), 85,9% eram oriundas de redes estaduais de ensino.

Matrículas no Ensino Médio nas redes federais e municipais perfaziam apenas

2,4% e na rede privada 11,7%. Para alguns, como na opinião do membro do

Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo e professor da

UNESP (Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖) João Palma

Filho, tem havido, nos últimos tempos, ampla discussão e avaliação de

propostas para uma etapa de ensino cada vez mais em evidência: o Ensino

Médio.

Em recente entrevista ao boletim Juventude na Cena, João Palma

partilha suas opiniões sobre a necessidade de um currículo mínimo para o

Ensino Médio, que possa ser construído de maneira democrática e participativa

e não seja o fechamento da escolaridade elementar do brasileiro que, assim,

torna-se um candidato potencial para o ensino superior, independentemente de

sua vontade. É bom dizer que nem todo mundo quer ir para o Ensino Superior

e não há problema nisso, se a pessoa tiver acesso a uma boa educação

básica. Mas o Ensino Médio continua espremido entre o Ensino Fundamental e

o Superior, servindo apenas como uma etapa preparatória para este último.

O campo educacional, de modo geral, acabou contaminado por um

discurso politicamente correto, que é o seguinte: ―a escola deve formar para a

cidadania‖. Outro senso comum é o de que a escola deve desenvolver no aluno

o ‖pensamento crítico‖. O que nos chama atenção nesses argumentos é o fato

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de que são menos frequentes afirmações sobre a função da escola no que diz

respeito ao conteúdo e seu papel na formação para o trabalho. Nossa

preocupação é a seguinte: sem conteúdo e sem trabalho, qual é a cidadania

que a escola consegue promover? O maior problema do Ensino Médio não é

ter ou não conteúdo, mas a escolha desse conteúdo. O que interessa para o

jovem de hoje? E o que é importante que esse jovem aprenda hoje? Sobre

essa temática, mencionamos a seguir um depoimento de um jovem estudante

do Ensino Médio.

4.4. Percepções de um jovem do Ensino Médio

―Marcelo Teixeira de Morais,11 17 anos, é estudante do 3º ano do ensino médio e

participante do projeto Jovens Agentes pelo Direito à Educação (JADE). A situação da

educação hoje no estado de São Paulo pode ser resumida pela palavra precariedade. No

caso do Ensino Médio, considero que é um ensino completamente defasado e com uma

estrutura falida. Muitos jovens estão na escola sem ter clareza do porquê de estarem nela.

Vão para lá, porque é um espaço de encontro, porque é lá que estão seus amigos. Mas os

sentidos desta escola não são de conhecimento dos estudantes. A precariedade não é uma

realidade exclusiva da educação.‖

Diante desse quadro, é importante mencionar, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional e a Reforma do Ensino Médio, que define novas

diretrizes. A partir da Lei Nº 9.394 e do Decreto-lei Nº 2.208/97, e também pela

Lei Nº 11.684/08, novas relações são estabelecidas. No momento em que o

Ensino Médio é alvo de políticas governamentais, de preocupações nacionais e

de avaliação, vale a pena relatar pesquisas que lançam luz sobre esse nível de

ensino, para, no mínimo, abalar mitos veiculados pela mídia sobre as

contradições entre escola pública e escola particular.

Em seu trabalho "Ensino médio: função do estado ou da empresa?",

Whitaker (2001) nos revela que a mais importante descoberta de sua pesquisa

foi a de relacionar fatores complexos ligados ao preparo para o vestibular.

Observou que, embora fugindo da escola pública, supostamente inoperante, e

frequentando o Ensino Médio e mesmo o Ensino Fundamental em escola

11

Texto produzido a partir de entrevista concedida no dia 24/maio/2010, “Juventude na Cena.” In: Ação

Educativa nº13, junho de 2010.

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particular, os privilegiados necessitam mais do que nunca daquilo que há 10

anos batizou-se de "efeito cursinho". No entanto, a categoria dos sem-cursinho

sofre quedas vertiginosas na proporção entre inscritos e matriculados,

demonstrando que pagar mensalidades caríssimas durante os anos que

antecedem o vestibular pode ser útil a muitos propósitos dos pais, quando

investem na educação dos filhos, mas não elimina os gastos com um, dois e

até três anos de cursinho.

Outros trabalhos surgiram com o propósito de tratar especificamente da

reforma do Ensino Médio, um deles, uma tese de doutorado. Vianna (2001),

realizando uma pesquisa, propõe três hipóteses: em primeiro lugar, a reforma

do ensino não representaria um avanço em relação ao processo de

universalização de ensino médio; em segundo, esta agudizaria o dualismo

entre formação geral e formação para o trabalho; por fim, a reforma não

alteraria as condições de precariedade com que se realiza o trabalho de ensino

e aprendizagem no Ensino Médio.

―Por que a gente tem que ir à escola? Para aprender o quê? O que seria um conteúdo

básico para o ensino médio? Na minha escola, os professores têm foco no vestibular. São

aplicados testes e a gente realiza exercícios que caíram na FUVEST e na PUC, muitas

vezes, em meio a ameaças. O vestibular aparece como uma polícia que garante o êxito do

aluno. Não acho que minha escola seja uma regra, pelo contrário.‖

―Mas o foco tem que ser mesmo o vestibular? Será que todo jovem tem que ir para a

faculdade e quer isso? Se não, qual é a proposta para quem não quer? Eis a questão...

Como não conheço outra escola, não tenho uma proposta, mas seria possível pensar numa

escola que ajudasse os jovens nas suas vivências, no vestibular e no mundo do trabalho?

Por que não fazer diversos projetos de ensino médio com focos e objetivos diferentes, sem

que um valesse mais do que o outro? Não é uma idéia que eu tenha muito bem formulada e

quando comentei isso com amigos eles disseram que não podia ser. ―

Mas não pode? De toda forma, essa idéia vai na contramão do que vejo acontecer, porque

hoje todo mundo tem o mesmo material, o mesmo currículo. Se bem que, na escola em que

estudo, os livros didáticos e os livros dos alunos, fornecidos pelo governo estadual, têm

sido utilizados como material de apoio. Para apoiar a mesa. Apenas alguns professores

recorrem a esse material ou ele é utilizado em momentos muito específicos. O argumento

recorrente dos professores para criticá-lo é de que ele oferece conteúdos que estão muito

defasados quando comparados aos saberes e aos conhecimentos que são problematizados

pelos professores da escola. Essa afirmação pode estar correta, mas o uso pouco

sistemático desse material não é, em minha opinião, o problema.

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Desde que foi implementada a reforma, alguns professores têm recorrido ao

SARESP para atestar que nossa escola está acima da média estadual, como se

estivéssemos isolados dos problemas que afetam outras escolas. ―Nossa escola é boa‖.

Meus questionamentos sobre esse assunto são os seguintes: a política atual não está

incentivando a competição entre as escolas? Até que ponto incentivar a competição entre

escolas de ensino médio favorece a educação? Será que, se todas as escolas se

ajudassem os resultados não seriam melhores? A cooperação não ajudaria mais do que a

competição com base em provas e avaliações? Na verdade, tenho mais perguntas do que

respostas e a impressão de que consertar é um processo sempre muito difícil.

Embora descabido, penso que, às vezes, é melhor destruir tudo o que já existe

para reconstruir outra coisa. Isso talvez diminuísse a existência de programas que são ―tapa

buraco‖. Não tenho muita clareza sobre o que resolveria, mas certamente ―tapa buraco‖ não

dá certo. É preciso medidas muito mais abrangentes para a educação, até porque há

clareza de que os problemas são sérios: as pessoas não estão se formando direito, há um

monte de gente criticando e se manifestando contrariamente a tudo que está sendo feito.‖

Como pudemos observar pelo relato de Marcelo, estudante do Ensino

Médio, e seu questionamento sobre o sistema educacional, especificamente do

Ensino Médio, apesar de o país ter uma legislação como o Estatuto da Criança

e do adolescente – ECA, que proporciona ao adolescente o direito à educação,

visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da

cidadania e qualificação para o trabalho, a escola não possibilita a inserção dos

alunos e nem os habilita para o mundo do trabalho.

Esse fato poderia sugerir que o jovem brasileiro teria hoje maiores

chances de ingressar no mercado de trabalho em profissões que exijam maior

qualificação, além de uma maior possibilidade de cursar o ensino superior, ou

um curso técnico profissionalizante. Mas tudo isto está ocorrendo? Entre a

escolha profissional realizada e a efetivação dessa escolha, há um caminho

repleto de fatores condicionantes que podem interferir na realização do curso

ou da profissão desejada. Entretanto, para muitos especialistas em educação,

a escola tem uma importância fundamental para o desenvolvimento do ser

humano.

O panorama apresentado por Marcelo nos remete a algumas

inquietações de Constantino (2004). Como conciliar a teoria e a prática no

sistema educacional vigente? Como formar um profissional com situações de

ensino-aprendizagem que promovam a aproximação entre o pensar e o agir,

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isto é, que gere um novo cenário para que os aprendizes vivenciem novas

formas de sentir, pensar e agir?

Dessa forma, a escolha profissional do aluno do Ensino Médio público

coloca-se como questão, visto que elementos como a necessidade de

trabalhar, a falta de recursos para pagar um cursinho pré-vestibular ou uma

faculdade, a impossibilidade de concorrer em pé de igualdade com alunos

oriundos de classes economicamente favorecidas, podem ter um peso decisivo

na concretização de suas escolhas.

Vivendo numa sociedade capitalista que não oferece emprego para

todos, que emprega profissionais qualificados para trabalhos não qualificados,

que incentiva a competição individual para o ingresso na universidade e no

mercado de trabalho, as reais chances de realização das escolhas dos alunos

egressos do Ensino Médio público mostram-se bastante reduzidas, já que as

opções profissionais são entremeadas por fatores sociais e seus determinantes

políticos e econômicos.

Neste sentido nos reportamos ao pensamento de Vygotsky (2003) que

nos revela que

[...] o trabalho não é nem método e nem meio de ensino, mas a matéria-prima da educação profissional. Nela não só se introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a atividade laboral a base do processo educativo. (Vygotsky, 2003 p. 182-188).

... o que implica que uma das alternativas para o Ensino Médio seriam as

escolas técnicas profissionalizantes, que podem de certa forma capacitar o

jovem para o mundo do trabalho e oferecer um ambiente para o ensino-

aprendizagem.

Rossler (2007) destaca a importância de refletirmos sobre as relações

entre as esferas do mundo do trabalho e da educação. Considera que a

educação e o trabalho são interligados e que recusar-se a encarar esse dado

seria uma forma de negação da própria especificidade da educação. Contudo,

para Rossler:

Educação e trabalho sujeitam-se, submetem-se, à lógica e aos interesses da acumulação de capital, uma vez que quem passa a ditar as formas de trabalho, o que deve ser socializado em termos dos requisitos necessário para o processo de trabalho e ainda como deve ser socializado, é o próprio sistema econômico, político e social vigente. [...] Educação e trabalho, portanto sempre estiveram

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intimamente, ou melhor, ontologicamente, interligados num mesmo movimento de produção e reprodução do gênero humano, o qual se expressa na dialética maior entre os processos ontológicos de apropriação e objetivação (ROSSLER, 2007, p. 96-101).

Isso implica que as interações entre as esferas da educação e do

trabalho têm contribuído para o ajuste da educação às necessidades de

reprodução do capital. E na medida em que se fundamentem em teorias

psicológicas do conhecimento e aprendizagem que reproduzem os elementos

valorativos presentes no universo ideológico contemporâneo, a educação

escolar reproduz, de ponta a ponta, da seleção dos seus conteúdos aos

métodos de ensino, a lógica e os interesses dos sistemas capitalistas de

produção, perdendo então, sua própria especificidade como mediação social

fundamental na reprodução tanto dos indivíduos como do gênero humano.

Acreditamos que nenhum sistema educativo é capaz de manter na nova

geração a estabilidade afetiva e a integridade mental, a menos que esteja

unido em uma estratégia comum com as influências sociais que atuam fora da

escola. Devemos incentivar as forças positivas da industrialização, onde a

escola passaria a ser uma instituição local, centrada democraticamente no seu

educando e na sua comunidade local, vivendo sob sua circunstância.

4.4.1. PERCEPÇÕES DOS JOVENS PARTICIPANTES DA PESQUISA

SOBRE A ESCOLA

Determinantes individuais e sociais não devem ser a função ideológica

do processo de ensino-aprendizagem que medeia interesses antagônicos, de

um lado o do capital e do outro o do trabalho. O quê e como se ensina na

escola não deveria depender dos interesses daquele que financia a escola.

Podemos dizer então que a rede de ensino oficial formal se torna

indispensável? Em absoluto e este é o posicionamento de (FREITAG, 1986)

sobre os setores educacionais:

[...] transmitem uma ideologia eclética em que se combinam elementos de ideologia democrática com a tecnocrática (educação com mecanismo de democratização e educação com investimento) e que em seu sincretismo asseguram a manutenção da falsa consciência das classes subalternas. (FREITAG, 1986, p.137)

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Isso implica que parte da população, ao acreditar pertencer a um

sistema educacional democrático, procura-o para ascensão social, e esses

alunos, se não obtiverem êxito na escola, nem no mercado de trabalho,

acreditam que eles são os culpados, por inferirem que ambas as esferas

(pública e particular) são regidas pelo princípio da igualdade de chances, onde

os culpados não percebem ainda a institucionalização da desigualdade de

chances consumada entre o ensino público e o particular. Nesse sentido, faz-

se necessário que o sujeito procure se conscientizar e conhecer.

Severino (1992) diz que o conhecimento pressupõe a existência de um

sujeito conhecedor e de um objeto a ser conhecido, mediado pelo ato de

conhecer.

É a relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, na qual o sujeito aprende informações a respeito do objeto. É a atividade do psiquismo humano, que torna presente à sensibilidade ou à inteligência um determinado conteúdo, seja ele do campo empírico ou do próprio campo ideal. (SEVERINO, 1992, p. 38)

Dentro dessa perspectiva, será oportuno repensar e questionar o papel

da escola como trabalho educativo. A escola prepara as crianças para o mundo

real? Estude com afinco, tire boas notas e você encontrará um bom emprego

com um salário alto? A área de educação está possibilitando que as escolas,

além do conhecimento formal, gerem capacitação e profissionalização aos

estudantes?

Durante esta pesquisa de ―Estudos e Repercussões da Prática Familiar

e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem ‖ coletamos diversos depoimentos

dos jovens participantes sobre o papel da escola em suas vidas. Os resultados

desse conjunto de opiniões são bastante relevantes para o tema que

exploramos neste capítulo, por possibilitarem análises do impacto da

escolarização sobre aspectos das configurações estatais, sociais e familiares.

No nosso entender, as premissas esboçadas por Vygotsky em sua

abordagem, já mencionadas neste trabalho, são extremamente importantes

para a compreensão do tema em pauta. A seguir. percepções dos jovens

participantes desta pesquisa sobre o papel que a escola exerce em suas vidas:

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(P1) ―A escola sempre cumpriu com suas responsabilidades e está

sempre em busca de seus objetivos.‖

(P2) ―Se a pessoa além de estudar tiver boa vontade, sim, mas

nem tudo o que acontece na vida da gente tem há ver com a

escola.‖

(P3) ―Por bem ou por mal, ela nos coloca em contato com o mundo,

mas proporciona diariamente diversas experiências.‖

(P4) ―A escola serve para adquirir conhecimento. Venho

aprendendo muito com a escola, sem contar que convivemos com

pessoas muito diferentes umas das outras e temos que respeitá-

las, aprender a conviver com as diferenças.‖

(P5) ―Para formar um indivíduo com conhecimento, para saber o

que está falando e não ser ignorante e um (fofolete) do governo.‖

(P6) ―Para socializar e trazer conhecimento ao indivíduo.‖

(―P7) ―Para aprender a viver em sociedade, uma preparação e até

um apoio nos estudos, pois estudar em casa também dá certo.‖

(P8) ―Simples e unicamente para formar o cidadão participativo; isto

engloba todo o resto.‖

(P9) ―Para educar e ensinar as crianças a serem boas pessoas no

mundo.‖

(P10) ―Para preparar para ter uma boa profissão, para ensinar

algumas coisas para os filhos.‖

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(P11) ―Nos dá lições sobre a vida, apresenta o que é necessário:

socializar e preparar a pessoa para o trabalho.‖

(P12) ―Preparar para a vida profissional.‖

(P13) ―A escola serve para ajudar o indivíduo se enquadrar na

sociedade e ajudar no preparo para um futuro brilhante.‖

Diante dessas respostas, observamos que questões como educação e

trabalho estão interligadas dentro desse contexto. Notamos também que o

papel da escola para 15% dos jovens está vinculado ao processo de

socialização; para 15% está relacionado à educação; para 33% à aquisição de

conhecimento e, por fim, para 37%, cabe-lhe proporcionar crescimento.

Os jovens sujeitos desta pesquisa acreditam que a escola tem

contribuído para o seu futuro profissional (88,8%), por considerarem a escola

como referência para que possam adquirir conhecimentos, trocar experiências,

socializarem e se prepararem para o mercado de trabalho de forma humanista.

Além de ser uma estrutura sólida que lhes dá base para a sua formação,

cumprindo o papel social a que se propõe.

Por estarem ainda fora do mundo do trabalho, acreditamos que os

jovens não têm as dimensões exatas das exigências do mercado do trabalho.

Um dos fatores seria a questão da experiência, ou seja, a falta dela. Onde

adquirir essa experiência, na escola? Há ainda um discurso na educação para

que o aluno domine os conteúdos antes da prática, mas quando adquirir

experiência? A qualificação resolverá o problema de todos? A educação

resolverá todos os problemas de demanda de vagas de trabalho? O estudo

também nos revela que a escola, na opinião dos jovens pesquisados, tem a

função de formar cidadãos participativos que não sejam passíveis de

manipulação pelo poder. Segundo Foucault o poder não existe, o que existem

são práticas ou relações de poder.

O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente por que ele não pesa como uma força que diz não, mas que de fato permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma

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instância negativa que tem por função reprimir. (FOUCAULT, 2003, p. 181)

Diante de outras questões abordadas relacionadas a outras práticas

educacionais como, por exemplo, realização de cursos extracurriculares,

pudemos observar que (66,6%) participam dessas atividades, sejam esses

cursos pré-vestibulares, de idiomas ou profissionalizantes. Já relacionado a

práticas culturais percebemos, também pelos dados desta pesquisa, que a

totalidade dos jovens pesquisados pratica ou frequenta atividades

socioculturais relacionadas a artes, esportes e lazer.

Porém, apenas parte dessa população tem o hábito de ler livros sem a

exigência da escola (66,6%), talvez porque, em tempos atuais, a Internet tenha

ocupado grande parte do tempo livre de jovens que não trabalham. Diante disto

constatamos que os entrevistados, na sua grande maioria, têm acesso à

informática e a utilizam em seus domicílios (88,9%) e que em (78%) dos casos

pertencem a alguma comunidade virtual de sites de relacionamentos, em

detrimento de outras comunidades como religiosas (11,%) e culturais (11,%).

Diante desse panorama de cultura e desenvolvimento, os dados da

pesquisa sugerem uma posição sobre algumas características apresentadas,

como: a prática e atividades culturais e esportivas, e de tecnologia. No aspecto

da tecnologia é notório que nos últimos anos, os programas educativos

proliferaram rapidamente, invadindo residências e escolas, seduzindo

estudantes, professores e toda a família com recursos de multimídia, muita

diversão e informação. Paralelamente, o surgimento da Internet também trouxe

novos conhecimentos e consequências, além de tornar todo tipo de informação

mais acessível a todos.

Segundo Pesquisa do Ibope/Nielsen (2009), o brasileiro, no mês de

junho daquele ano navegou, em média, 44h59 na Internet. O dado é 10,6%

maior do que no mês anterior. O levantamento estima que até o primeiro

semestre de 2009 existiam 62,3 milhões de pessoas com algum tipo de acesso

à Internet no Brasil, incluindo escola, bibliotecas e lanhouses. Os que possuem

uma conexão ativa de Internet em casa são 25,6 milhões. A atividade mais

praticada na Internet é o uso de programas de mensagens instantâneas, que

representou uma fatia de 7h15 da média do tempo de uso no mês. A segunda

atividade é a navegação em comunidades de relacionamento, que consumiu

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4h17. Entre as dez categorias analisadas na pesquisa, o tempo de navegação

caiu em apenas três: jogos, sites de busca e vídeos ou filmes.

A pesquisa também demonstra que o Brasil, no mês de junho de 2009,

ficou à frente de países como Estados Unidos, Japão e Reino Unido em tempo

gasto na rede.

O poder da tecnologia das comunicações sobre o desenvolvimento é imenso. Satélites, computadores, fax, telefones, redes informatizadas, tudo isso globalizou a informação, interligando o mundo‖. (QUEIROZ e AZEVEDO, 2008, p. 55).

Contudo é importante que os jovens saibam usufruir da tecnologia de

maneira satisfatória.

Por meio da informática é possível acessar enormes bibliotecas de dados a partir de algumas teclas de computador. Mas o mais importante nesse fluxo é obter informações apropriadas e desenvolver a capacidade para analisá-las. [...] jovens com acesso a toda essa tecnologia, empregam sua inteligência em caminhos tortuosos, ilegais, denotando assim falta de educação e conscientização melhor direcionada, desde os primeiros ensinamentos. Não só a falta de recursos produz a alienação e a ignorância. O excesso tem nos mostrado que as conseqüências são bem mais perniciosas. Toda forma de saber serve para o bem e para o mal. (QUEIROZ e AZEVEDO, 2008, p. 55)

A tecnologia e a cultura (arte) também são uma prática dos jovens

pesquisados; neste sentido, compartilhamos com o posicionamento de

Vygotsky:

A arte tem função pedagógica, nos permite utilizar a representação simbólica de conceitos como: o controle consciente do comportamento, lembrança voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento, que foram emitidos por Vygotsky e sintetizados como funções psicológicas superiores (VYGOTSKY in REGO, 2002, p. 24)

Outra característica encontrada nos relatos dos jovens aponta na

direção das práticas desportivas, envolvendo, neste caso, o corpo. Muitos

autores se referem ao corpo, entre eles Foucault.

O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular [...] mas a partir do momento em que o poder produziu este efeito como consequência direta de suas conquistas, emergiu inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo pelo poder [...]. O poder, longe de impedir o saber, o produz. Se foi possível constituir um saber sobre o corpo, foi através de um conjunto de disciplinas militares escolares. É a partir de um

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poder sobre o corpo que é possível um saber fisiológico, orgânico sobre o corpo. (FOUCAULT, 2004, p.146-149)

A televisão na questão do lazer também é uma referência para alguns

jovens. Entretanto, a televisão pode ter outra dimensão entre a dominação

ideológica e a necessidade de educar a sociedade brasileira, diante das

mudanças econômicas e sociais do país. Foucault (1996), ao estudar a

Sociedade Disciplinar, constata que sua singularidade reside na existência do

desvio diante da norma e, assim, para normalizar o sujeito moderno, foram

desenvolvidos mecanismos e dispositivos de vigilância capazes de interiorizar

a culpa e causar no indivíduo remorsos por seus atos. Se os dispositivos do

poder, segundo Foucault, buscavam, no trabalho, controlar o tempo do cidadão

para torná-lo mais útil, economicamente, na TV, o controle do tempo se dá em

seu momento de não trabalho, após sua jornada de trabalho, de forma a torná-

lo menos útil, talvez, em seu aspecto político.

A disciplina televisiva .....pode ir um pouco além, fabricando fenômenos,

por meio da vigilância hierárquica que se estabelece entre dois gêneros: o

telejornalismo e a telenovela. Por outro lado, a televisão também pode ter uma

melhor aplicação e cabe ao homem utilizá-la de forma adequada e em prol de

objetivos sociais, por exemplo, como vem sendo utilizada em alguns momentos

em prol de uma educação à distância.

Contudo, não podemos perder de vista as contradições presentes da

história que proporcionam transformações da realidade. Cabe aos educadores

escolher de forma crítica entre uma educação que traga contribuições para que

a sociedade se transforme, ou uma educação que esteja voltada para a

reprodução e dominação, ou seja, para o empobrecimento da individualidade

humana. (Rossler, 2007).

E, por fim, para pensarmos em educação de qualidade hoje é preciso ter

em mente que a família esteja presente na vida escolar dos alunos jovens em

todos os sentidos. Ou seja, é preciso haver uma interação entre escola, família

e indivíduo. Neste sentido, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) formaliza e institui a gestão democrática nas escolas, colocando em

pauta que a família é imprescindível, pois é um espaço de orientação na

construção da identidade do ser humano e deve promover uma parceria,

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juntamente com a escola, a fim de contribuir para o desenvolvimento integral

da criança e do jovem.

Dayrell (1996) busca contribuir com esta discussão quando aborda o seu

olhar sobre a escola, levando o entendimento da mesma enquanto espaço

sócio-cultural, buscando compreender alunos e professores como sujeitos

sócio-culturais, ou seja, os sujeitos que reproduzem e elaboram uma cultura

própria a partir das experiências sociais vividas por eles.

Afirma que esses sujeitos na escola desempenham um papel ativo no

cotidiano, que define o que a escola é realmente, pois esta pode possibilitar ou

limitar, conflitando ou dialogando constantemente com a sua organização.

Concordamos com o autor que a escola deve ser uma instituição dinâmica,

fruto de um processo de construção social. Com esse olhar, ressaltamos que

determinados aspectos e dimensões presentes no cotidiano escolar não devem

ser neutralizados ou julgados sem importância para a educação por serem

muitas vezes sequer notados.

Buscamos revelar a forma como os sujeitos, na escola, lidam com o

espaço, o tempo e com os seus ritos cotidianos em que os atores vivenciam o

espaço escolar como uma unidade sóciocultural complexa, onde convivem

diversidades que devem ser assumidas e tratadas como um elemento

desencadeador do processo educativo.

Acreditamos que a escola deve ser o lugar onde o aluno deve ser

formado de forma ampla, fazendo com que o processo de humanização seja

aprofundado nesse indivíduo, aprimorando as dimensões e habilidades que

são comuns a nós, seres humanos. Pensar que o acesso ao conhecimento, às

experiências culturais, às experiências sociais diversas, contribuem como

suporte para desenvolvimento do aluno de forma individual, como sujeito sócio-

cultural, contribui para ajudar a aprimorar a vida social desses indivíduos.

Faz-se necessário o aprofundamento e ampliação das análises que,

como afirma Dayrell (1996), buscam apreender a escola na sua dimensão

cotidiana, apurando nosso olhar sobre a instituição escolar, seu fazer e seus

objetivos, e contribuindo desta forma para a problematização da função social

da escola. Será oportuno repensar a escola. A escola prepara as crianças para

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o mundo real? Estude com afinco, tire boas notas e você encontrará um bom

emprego com um alto salário.

Atualmente, boa formação e notas altas não bastam para garantir o

sucesso de alguém, principalmente o dos jovens adolescentes aqui retratados.

O mundo mudou. A maioria dos jovens em busca do primeiro emprego

encontram dificuldades e principalmente aqueles em situação de

vulnerabilidade, da periferia dos grandes centros. Os pais esperam resultados.

Eles se concentram muito na escolaridade de seus filhos, têm como

preocupação o desemprego, o desvio social, a inserção laboral, mas para tanto

se faz necessário um trabalho educativo na atividade laboral em que as

exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do

educando prevaleçam sobre o aspecto produtivo. Acreditamos que o trabalho é

um meio de socialização e interação para o jovem. O primeiro emprego pode

ser decisivo para a sua vida.

A juventude brasileira é maior que as dificuldades existentes. É com

essa afirmação que Pochmann (2007) inicia sua análise sobre a situação do

primeiro emprego do jovem no Brasil. Superar as barreiras para a melhor

distribuição de renda e melhores condições de educação é parte importante da

transformação da realidade controversa e difícil do jovem. Demonstrar que o

emprego juvenil está associado à precarização do trabalho, à falta de

profissionalização, e à urgente geração de emprego, são caminhos para que

possamos pensar nas políticas de geração de emprego juvenil colocadas hoje

em nosso país.

Pochmann (2007) analisa a situação da educação no Brasil como fator

fundamental para a superação de exploração no trabalho juvenil. A capacitação

do jovem e a possibilidade de postergar sua entrada no mercado de trabalho

são caminhos apontados para as políticas públicas juvenis de primeiro

emprego. O sistema educacional que deveria formar o jovem, dentre outras

possibilidades, também para o mercado de trabalho, contribui para sua

exclusão, pois a escola ainda não incluiu as novas tecnologias, que para os

jovens são parte de seu dia a dia. Outro fator relevante para a melhoria e

inclusão do ensino no Brasil é o investimento, propiciando ao jovem ter mais

condições de acesso e permanência no ensino, não sofrendo com as barreiras

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de falta de vagas e de desestímulo nas escolas. O ensino é capaz de evitar a

marginalização juvenil.

O jovem requer espaço e oportunidade para viver o seu tempo, munido de condições suficientes tanto para ampliar o tempo de não trabalho, associado ao processo educacional, bem como uma melhor preparação para o ingresso em condições adequadas no mercado. [...] o jovem brasileiro tem garra e sabe o que quer (POCHMANN, 2007, p. 114).

Fazendo uma breve reflexão, tendo em conta a retrospectiva histórica da

educação, percebemos que nos anos 50 a educação estava a serviço de

pequenos grupos, favorecendo uma elite, que tinha como propósito formar

lideranças com conteúdos que favoreciam a reflexão, a crítica, enfim, que

levavam ao pensamento e à instituição de um saber. Logo em seguida, com o

processo da industrialização, nos deparamos com outra situação, em que a

grande massa da população precisava aprender a ler, a escrever. Tem início,

nesse momento social, um processo de educação de massas, onde muitas

escolas são construídas com o objetivo de formar mão de obra para o mercado

de trabalho, onde o método escolar se assemelha a uma linha de produção:

produzia-se com muita rapidez, o que implicava uma escola seriada. Sob essa

ótica, acreditamos que a escola segmentou o saber; produz-se um

conhecimento desvinculado da vida real e, no caso dos jovens ―objeto‖ deste

estudo, acreditamos que a escola não prepara o jovem para o mercado de

trabalho. Se a escola produz um conhecimento fragmentado, e vivemos de

maneira totalitária, onde temos de resolver várias situações ao mesmo tempo,

como esse jovem em formação participará do mundo do trabalho globalizado,

onde o conhecimento encontra com a vida?

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5. INSERÇÃO DE JOVENS E O MUNDO DO TRABALHO

Este capítulo faz uma reflexão sobre o mundo do trabalho que afeta

alguns coletivos, de modo especial os jovens. A partir de uma análise do

próprio significado do trabalho e seus sentidos, abordaremos os efeitos dessa

nova organização produtiva do trabalho. O que nos leva a interrogações em

torno do lugar da esfera do trabalho na vida dos jovens em sua etapa de

transição para a vida adulta, de suas expectativas para esse espaço, diante de

um cenário de avanço tecnológico, globalização, desemprego, das novas ou

não relações entre educação e trabalho e das ações públicas implementadas

por diferentes atores para lidar com esse panorama. Neste sentido, ao final

deste capítulo os participantes evidenciam suas respostas sobre a percepção

que têm do trabalho. Para quem pensa a juventude e a percepção de valores,

seus sentidos e seus significados, faz-se necessária uma melhor compreensão

da realidade juvenil, entender os discursos que os jovens têm, em suas

diferentes formas e visões. São muitos os caminhos possíveis, e entre eles

está o trabalho.

5.1 TRABALHO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS

Podemos definir trabalho como toda atividade na qual o ser humano

utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para

atingir um determinado fim. Por intermédio do trabalho, o homem acrescenta

um mundo novo à cultura e ao mundo natural já existente.

O trabalho é, portanto, a ação ou o resultado de determinado esforço realizado pelo homem. E a ação da força do trabalho também é percebida como capacidade de trabalho, que na sociedade do capitalismo é tida como mais uma mercadoria que é comprada e vendida, numa transação entre o trabalhador – possuidor da força de trabalho – e o capitalista – o detentor do capital. (CORREIA, 2000, p.13)

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Quando pensamos sobre o papel do trabalho, verificamos que ele nos

permite expandir nossas energias, desenvolver nossa criatividade e

realizarmos potencialidades. Mas, sobretudo, o trabalho continua sendo vital

para o sujeito e para a sociedade, pois engendra uma contribuição social

possível. A organização do trabalho expressa um modo de ser, de pensar e de

agir de uma determinada civilização. Diante de várias discussões que

envolvem o homem e o trabalho observamos que o processo de racionalização

e otimização está formatando o sistema de produção. Dos trabalhadores que

permanecem no sistema produtivo, exige-se grande variedade de habilidades e

flexibilidade, soluções criativas, alto grau de envolvimento com a empresa e

capacidade para tomar conhecimento de todo o processo produtivo.

Portanto, o homem deve ser capaz de realizar várias atividades, bem

como intervir no processo e no ambiente de trabalho. Em contrapartida, existe

a intensificação do trabalho por meio do enxugamento da estrutura e também

dos métodos de trabalho. Diante desses fatores, grandes mudanças e desafios

irão fazer parte desse contexto, como a evolução acelerada do conhecimento

humano.

Pessoas cada vez mais conscientes de seus direitos e do valor que têm;

acesso a informações, novos tipos de trabalho, profissões e especializações; a

crescente preocupação com a conservação ambiental, somados à globalização

e o impacto das novas tecnologias... Tudo isso implica que o impacto das

novas tecnologias não deverá ficar somente no âmbito das empresas, e sim,

ser inseridas nos parâmetros curriculares oficiais e não aparecer de modo

tímido. Nós precisamos de uma educação em movimento e a mesma deverá

ser inserida na vida das pessoas, ocasionando múltiplos benefícios como forma

de inclusão. Porém, essas questões da modernidade são processos que

geram incertezas e repercutem nas diversas dimensões na sociedade.

Entendemos a globalização como uma organização civilizatória, fonte de possibilidades e impossibilidades que desafiam o desenvolvimento humano. Tanto quando produz o desemprego, a globalização acentua o fascínio pelas descobertas tecnológicas, abre caminhos ao redescobrimento do Planeta e faz do homem um ser especial. [...] A globalização é um movimento histórico que assume configuração própria e interfere no local e vice-versa. Como desdobramento da modernidade, ultrapassa diferenças de tempo e espaço, elimina fronteiras geográficas, varre distâncias de raças, nações, religiões e ideologias, amortece antagonismos de classes. (SOUZA NETO, 2004, p. 92-93)

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Os impactos da competição, tecnologização e globalização na relação

homem–trabalho estão marcados por uma série de mudanças de caráter

estrutural para a qual contribui o enorme avanço do conhecimento científico e

suas correspondentes inovações na área produtiva e globalizações do cenário

mundial. A globalização como um processo não pode ser reduzida à dimensão

econômica. Globalização ―significa a experiência cotidiana da ação sem

fronteiras nas dimensões da economia, da informação, da ecologia, da técnica,

dos conflitos transculturais e da sociedade civil‖ (BECK, 1999, p. 46).

Nesse contexto, dinheiro, tecnologia, mercadorias, informações, bem

como as pessoas, ultrapassam as fronteiras, como se elas não existissem. A

separação dos continentes e das nações torna-se, assim, uma questão de

aparência. Para Aguiar (2005) a globalização cria novos espaços sociais que

podem modificar as culturas, os valores locais, exigindo, assim, uma nova

composição no lugar da que existia. Gorender (1997) define a globalização

como a aceleração intensa dos processos de internacionalização, inerentes ao

capitalismo desde sua fase original nos séculos 15 E 16. O autor ainda destaca

os efeitos da terceira revolução tecnológica, centrada na informática e nas

telecomunicações, com influência dominante a partir da década de 70 do

século passado.

No caso das privatizações de empresas no Brasil, como as das áreas

de telecomunicações na época do governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso, observamos que o governo privatizou para não ficar com a tecnologia

atrasada, porque se supõe que as empresas não tinham condições de

desenvolvimento tecnológico. Nos tempos atuais seria pertinente uma

privatização dos terminais de aeroportos dos principais centros do país. O

importante é que tenhamos grandes empresas públicas no país que funcionem

como repartições públicas, mas sim, que funcionem com poder de competição

e não político, e não podem compactuar com o avanço do poder político no

controle das empresas para gerar apenas recursos positivos para campanhas

políticas.

Há relativamente poucos anos, afirmou-se que o desenvolvimento dos

países mais pobres dependeria do seu isolamento do mercado mundial e da

confiança apenas nas próprias forças. A experiência recente demonstrou que

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os países que foram excluídos registraram estagnação e recessão, e aqueles

que se permitiram sair do isolamento, conseguiram entrar na corrente geral de

interligação das atividades econômicas em nível internacional. Mas, sobretudo

será necessário abandonar uma mentalidade que considera os pobres —

pessoas e povos — como um fardo e como importunos, que pretendem

consumir tudo o que os outros produziram. Os pobres pedem o direito de

participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade

de trabalho, criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos. A

elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural

e até econômico da humanidade inteira.

Para alguns especialistas, como Dominique Peccoud,12 a globalização é

marcada por uma dinâmica baseada no poder do mais forte, onde não há lugar

para aquele que perde e onde, contrariamente, o vencedor é sempre mais

vencedor. Para conciliar globalização e desenvolvimento humano, analisa que

é necessário inserir regras de distribuição, de igualdade, em uma sociedade

onde coexistem três dimensões: em primeiro lugar, a empresa e o livre

mercado, que são necessários porque é exatamente ali que se cria a riqueza.

Em segundo lugar, os "governos", que vão promover a redistribuição da

riqueza para o bem do mercado e para uma maior coesão social. Em terceiro

lugar, a estruturação da sociedade civil – isto é, a família, as associações locais

ou internacionais como Organizações Não Governamentais – ONGs e também

todas as grandes tradições religiosas e filosóficas, porque são necessários

valores compartilhados para se criar uma lei. Finaliza enfocando que o

liberalismo desenfreado viveu o que tinha para viver e os grandes

empreendedores percebem isso atualmente.

Então devemos construir uma saída, precisamos ter consciência de tudo

que representa o investimento em educação (ao invés de pensar

exclusivamente em termos de consumismo) e fazer dialogar entre elas as

grandes tradições políticas, sociais, religiosas para encontrarmos os valores

em comum sobre os quais se poderá construir um "governo" global,

imprescindível no contexto da globalização. Para Aguiar (2005), o processo de

globalização é contextualizado a partir de uma complexa mistura de processos

12 : Dominique Peccoud,12 do External Relations and Partnerships International Labor Office

(Genebra).

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que modificam os fundamentos em que se apoiavam a sociedade,

consequentemente, gerando incertezas e riscos cujos efeitos podem produzir

conflitos sociais como autoconfrontos. A globalização recoloca, assim, o

problema da perda da razão de ser, do paradigma do pensamento até então

dominante.

Ao refletir sobre que caminhos poderiam sustentar estes novos

paradigmas e ao mesmo tempo a construção de uma sociedade justa e

humana, somos levados a pensar na relação entre o homem e o trabalho.

Segundo Castanho (2002, p. 251-2), ―o homem da atualidade encontra-se

imerso em um mundo cujo desenvolvimento tecnológico e científico acelera

processos de produção, de comunicação e da aplicação dos conhecimentos‖.

Isso implica que as complexidades trazem novas emergências e desafios para

a sociedade e para o campo do trabalho.

Aubert (2004) nos revela que estamos testemunhando o surgimento de

um novo indivíduo, cujas formas de ser, fazer e sentir, diferem profundamente

das de seus antecessores. Os indivíduos resultantes dessas mudanças têm

aspectos contraditórios: um enfoque sobre a satisfação imediata dos seus

desejos e a intolerância pela frustração da busca do absoluto, ainda é

relevante. Malvezzi (2010) diz que ―a gestão do Imediatismo tornou-se uma

demanda significativa da capacitação profissional, neste momento histórico‖.

Acreditando que todo este processo moderno possa gerar riscos,

Bauman (2004), quando fala sobre modernidade e seus riscos, nos revela que

uma das características do que ele chama de ―modernidade sólida‖ era que as

maiores ameaças para a existência humana eram muito mais óbvias. Isto

implica que os perigos eram reais, palpáveis, e não havia muito mistério sobre

o que fazer para neutralizá-los ou, ao menos, aliviá-los. Era óbvio, por exemplo,

que alimento, e só alimento, era o remédio para a fome. Os riscos de hoje são

de outra ordem, não se pode sentir ou tocar muitos deles, apesar de estarmos

todos expostos, em algum grau, às suas consequências.

Não podemos, por exemplo, cheirar, ouvir, ver ou tocar as condições

climáticas que gradativamente, mas sem trégua, estão se deteriorando a

diminuição das matérias primas e das fontes de energia não renováveis, e os

processos de globalização sem controle político ou ético, que solapam as

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bases de nossa existência e sobrecarregam a vida dos indivíduos com um grau

de incerteza e ansiedade sem precedentes, ocasionando uma nova dinâmica

na formatação da relação homem–trabalho. Para confrontar sua condição

existencial e enfrentar seus desafios, a humanidade precisa se colocar acima

dos dados da experiência a que tem acesso como indivíduo. Ou seja, a

percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de

intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência

individual.

Quando se refere ao conceito de pós-modernidade, Bauman (2006)

expõe uma das razões pelas quais passou a falar em ―modernidade líquida‖ e

não em ―pós-modernidade‖: porque para ele pós-modernidade significa uma

sociedade que se refere a um tipo de condição humana, enquanto ―pós-

modernismo‖ refere-se a uma visão de mundo que pode surgir, mas não

necessariamente, da condição pós-moderna. Ser um pós-modernista significa

ter uma ideologia, uma percepção do mundo, uma determinada hierarquia de

valores que, entre outras coisas, descarta a ideia de um tipo de

regulamentação normativa da comunidade humana, assume que todos os tipos

de vida humana se equivalem, que todas as sociedades são igualmente boas

ou más. No contexto apresentado pelo autor tudo é temporário, as relações, o

trabalho, a relação homem-trabalho, é isso que sugere a metáfora da ―liquidez‖

para caracterizar o estado da sociedade moderna: como os líquidos, ela

caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições,

quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que

tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades ―auto-

evidentes‖. Sem dúvida a vida moderna foi desde o início ―desenraizadora‖,

―derretia os sólidos e profanava os sagrados‖, como os jovens Marx13 e

Engels14 notaram.

Mas enquanto no passado isso era feito para ser novamente ―re-

enraizado‖, agora todas as coisas – empregos, relacionamentos, know-hows

etc. – tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis. A nossa

13 Karl Heinrich Marx (1818-83), intelectual alemão fundador da doutrina comunista moderna, atuou como economista, filósofo, historiador, teorico político e jornalista. 14 Friedrich Engels (1820-95) foi um importante filósofo alemão. Juntamente com Karl Marx, criou o marxismo.

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é uma era, portanto, que se caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e

subverter as tradições, mas por evitar que padrões de conduta se congelem em

rotinas e tradições. O que me interessa é, portanto, tentar compreender quais

as consequências dessa situação para a lógica do indivíduo, para seu

cotidiano.

Quando nos referimos à crise do sistema capitalista e ao mundo do

trabalho, podemos também nos reportar às ideias de Antunes (1999), quando

aborda a crise da sociedade do trabalho, afirmando que é absolutamente

necessário qualificar de que dimensão se está tratando: em primeiro lugar, se é

uma crise da sociedade do trabalho abstrato. Em segundo lugar, se se trata da

crise do trabalho também em sua dimensão concreta, enquanto elemento

estruturante do intercâmbio social entre os homens e a natureza. No primeiro

caso, da crise da sociedade do trabalho abstrato, há uma diferenciação que

nos parece decisiva e que em geral tem sido negligenciada.

A questão essencial aqui é: a sociedade contemporânea é ou não

predominantemente movida pela lógica do capital, pelo sistema produtor de

mercadorias, pelo processo de valorização do capital? Se a resposta for

afirmativa, a crise do trabalho abstrato somente poderá ser entendida como a

redução do trabalho vivo e a ampliação do trabalho morto. Acredita que sem a

precisa e decisiva incorporação desta distinção entre trabalho concreto e

abstrato, quando se diz adeus ao trabalho, comete-se um forte equívoco

analítico, pois se considera de maneira una um fenômeno que tem dupla

dimensão.

Com isso entramos num ponto crucial, que constitui o eixo central da

obra Os Sentidos do Trabalho: uma vida cheia de sentido fora do trabalho.

Para Antunes (1999), que supõe uma vida dotada de sentido dentro do

trabalho, não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado e

tempo livre. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com

uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Em alguma medida, a esfera fora

do trabalho estará maculada pela desefetivação que se dá no interior da vida

laborativa. Como o sistema global do capital dos nossos dias abrange também

as esferas da vida fora do trabalho, a desfetichização da sociedade de

consumo tem como necessidade imprescindível a desfetichização do modo de

produção das coisas. O que torna a sua conquista muito mais difícil, se não se

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inter-relaciona decisivamente a ação pelo tempo livre com a luta contra a lógica

do capital e a vigência do trabalho abstrato.

Uma vida cheia de sentido em todas as esferas do ser social, somente

poderá efetivar-se pela demolição das barreiras existentes entre tempo de

trabalho e tempo de não-trabalho, de modo que, a partir de uma atividade vital

cheia de sentido, autodeterminada, para além da divisão hierárquica que

subordina o trabalho ao capital hoje vigente e, portanto, sob bases inteiramente

novas, possa se desenvolver uma nova sociabilidade. Se o trabalho torna-se

dotado de sentido, será também a partir da arte, da poesia, da pintura, da

literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá

humanizar-se e emancipar-se em seu sentido mais profundo.

5.2 TRABALHO: UM FAZER HUMANO

O termo felicidade pode funcionar como um conceito que organiza a

compreensão da finalidade humana. Esse pressuposto nos faz refletir sobre a

questão das novas bases do trabalho, contudo,

No decorrer da história, as pessoas buscam sem cessar a felicidade. Modernamente, instaurou-se a crença no poder da tecnologia para construir a sociedade da abundância e do tempo livre. [...] Entretanto, talvez estejamos passando por uma das maiores crises da história, marcada pelo desemprego e pelo comportamento antiético. (SOUZA NETO e LIBERAL, 2004, p. 14).

Diante do exposto, Bendassolli (2007) diz que a base moderna do

trabalho, pode ter como consequências um enfraquecimento do trabalho e

contextualizar novas dinâmicas na relação homem-trabalho. Pensamento este

que faz com que Richard Sennett (2004) analise em A corrosão do caráter a

questão induzida pela instabilidade profissional sob o capitalismo flexível,

baseando-se em relatos de vida, notadamente de trabalhadores condenados à

mobilidade, o que não lhes possibilita o estabelecimento de vínculos duráveis.

Sennett (2009) filósofo americano, considerado um crítico do

capitalismo, amplia o campo dessa discussão, opinando que podemos alcançar

uma vida material mais humana, se pelo menos entendermos as coisas; para o

autor, a questão central não é a felicidade, mas a formação do ser humano.

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Em O artífice, Sennett (2009) dá continuidade ao seu projeto iniciado na

década de 1990, quando se voltou para o entendimento do novo mundo do

trabalho. Ele acrescenta que o caminho para isso é a atividade artesanal. A

habilidade artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o

desejo de um trabalho bem feito por si mesmo. O sistema capitalista não tem

sido eficaz ao desenvolver as pessoas. Uma vez que entendamos o que as

pessoas são capazes de alcançar, em termos de qualidade de trabalho e

autodesenvolvimento, a questão passa a ser como organizar as instituições do

trabalho para promover essas habilidades.

Em O Artífice, o autor centra-se na habilidade artesanal definida por ele

como ―[...] um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho

bem-feito por si mesmo‖ (Sennett 2009, p. 19). Para falar dessa habilidade

natural para o trabalho, a busca de soluções para os problemas com os quais

se depara no trabalho, reafirma a vinculação entre o fazer e o pensar, seja o

Artífice um carpinteiro ou um regente de orquestra. O que o torna um Artífice é,

principalmente, uma condição humana especial: o engajamento. Contudo é

importante ressaltar uma crítica às práticas motivacionais que incentivam a

competição, aos avanços tecnológicos divergentes do trabalho do Artífice.

Para Sennett (2009) é possível aprender conhecendo a técnica, mas

essa aprendizagem está intimamente ligada à disposição de experimentar por

meio do erro. A aprendizagem da técnica envolve também a repetição, não

uma repetição fragmentada e mecanizada de ações, mas uma repetição que

permita ao Artífice tomar consciência das coisas. Nessa tomada de

consciência, torna-se possível aprimorar seu autocontrole, utilizar de forma

adequada e equilibrada suas forças e habilidades, sincronizar corpo e mente e

concentrar-se naquilo que faz, de forma a envolver-se emocional e

intelectualmente com sua atividade e tornar-se um bom Artífice.

Sua contribuição traz discussões sobre os testes de inteligência e sua

capacidade real de avaliar as habilidades do Artífice, o autor advoga a tese de

que a aprendizagem dessas habilidades inicia-se na infância e é aprimorada

pelos jogos infantis. Considera que é por meio do jogo que ocorre a apreensão

de regras pelas crianças, que testam seus limites e vão apreendendo o mundo

das coisas. Sendo assim, o fazer (trabalhar) nasce do brincar. Sennett (2009)

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finaliza sua obra enfatizando três questões centrais relativas ao trabalho:

Primeiro, é ele que nos coloca no mundo e define as relações que

estabelecemos; segundo, este fazer não é neutro, nem os objetos que ele cria;

e terceiro, é importante o orgulho pelo trabalho, mas ele não deve se constituir

em uma cegueira.

Dessa forma, o autor deseja romper com a aura de inocência diária que

rodeia o trabalho humano. Ele pode não ser para o bem comum, pode causar o

mal, por isso, é necessário que o Artífice reflita constantemente sobre os

aspectos éticos relativos ao seu trabalho. O texto nos remete a uma reflexão

sobre a relação ser humano-trabalho, em que ser ou não ser um artífice não

parece tratar-se somente de uma questão, mas de algo essencial para trazer o

sentimento de realização no trabalho e, portanto, essencial para a saúde

mental do trabalhador. Tal reflexão perpassa pela necessidade da criação de

ambientes de trabalho mais saudáveis, que favoreçam essa ligação afetiva e

positiva com o trabalho.

Diante do exposto podemos inferir que podemos alcançar uma vida

material mais humana, se pelo menos entendermos como são feitas estas

coisas. Sennett (2009) acredita que as pessoas podem se desenvolver por

meio do trabalho e que isso tem consequências psicológicas, recompensas

como autorrespeito e o respeito dos outros, e o caminho para isto é a atividade

artesanal. A habilidade artesanal designa um impulso humano básico e

permanente, o desejo de um trabalho bem feito por si mesmo.

O sistema capitalista tem sido incompetente em promover o

desenvolvimento das pessoas, visto o que as pessoas são capazes de

alcançar, em termos de qualidade de trabalho e autodesenvolvimento. Aí a

questão passa a ser como organizar as instituições do trabalho para promover

essas habilidades.

. Em A corrosão do caráter, diferentemente de em O artífice (2009), o

que o autor destaca e critica são os elementos de mediação que se interpõem

ao homem em sua relação com o trabalho. Enfim, que lugar esse homem

ocupa no mundo. O autor procura explicar o incômodo em relação à temática

do livro. Segundo ele, nas discussões com Hannah Arendt (2004), as questões

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sobre o homem e sua práxis trouxeram-lhe não só explicações, mas dúvidas.

Dúvidas que se centraram no ―porquê‖ e no ―como‖ fazemos as coisas.

Por outro lado quando revisitamos, Arendt (2004), em A Condição

Humana, verificamos que a perda do espaço público como local privilegiado e

único da prática da democracia e a diminuição do status do homem de ser

político (que age) para Homo faber (que cria) até Animal laborans (que se

reproduz), nos remete à condição do homem em sua relação com o trabalho.

Nesse sentido a autora aborda três dimensões que considera importantes da

vida ativa: Labor – atividade assinalada pela necessidade do processo

biológico e que assegura, por isso mesmo, a manutenção da espécie,

denotando a proximidade do homem com os outros animais; por isso, Hannah

Arendt atribui essa atividade ao Animal laborans. Acrescenta que o trabalho é a

atividade que nos remete ao artificialismo da existência humana, pois, ao

contrário da primeira, não está preocupada com o ciclo vital natural, mas sim

com a criação de artefatos a partir da natureza, que acabam por engendrar um

mundo diferente do mundo natural, um mundo de objetos que se interpõe entre

a natureza e o homem e entre os próprios homens; essa atividade é atribuída

ao Homo faber.

E finaliza evidenciando a ação como a atividade (única) que se exerce

entre os homens diretamente, sem a mediação das coisas ou da matéria; trata-

se, aqui, da condição política dos homens, na sua extrema pluralidade, e é

aqui, segundo Hannah Arendt, que se encontra a liberdade enquanto

capacidade de reger o próprio destino, para começar algo novo e imprimir no

mundo a lembrança, a história, que dão eternidade à condição humana. Ao

criar organismos políticos, o homem cria algo novo que o imortaliza, pois

ultrapassa a sua morte. Somente a Ação é tipicamente humana e pressupõe a

presença de outros; por isso é a condição humana fundamental.

Temos observado que é brutal o abismo socioeconômico que separa os

ricos e os pobres no mundo. Podemos inferir que bem mais da metade da

humanidade ainda enfrenta o drama agudo da fome, da falta de habitação, do

desemprego, do desamparo à saúde e à educação; enquanto isso, uma

pequena parcela da população mundial detém grande parte da renda

econômica do planeta. Ou seja: enquanto a grande maioria não tem o mínino

necessário para sobreviver dignamente, uma maioria pode se dar ao luxo de

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consumir de tudo e esbanjar o supérfluo. Assim, é principalmente entre essa

minoria com poder aquisitivo que ocorre o fenômeno do consumo alienado.

Não tem sentido falarmos em consumismo alienado entre povos famintos,

esmagados pela miséria e pelas injustiças sociais.

No padrão de consumo sadio, uma pessoa adquire um produto tendo em

vista suas reais necessidades e pelo prazer de utilizá-lo. Já no consumo

alienado, o prazer do uso é muitas vezes substituído pelo poder de posse.

Assim, uma grande quantidade de coisas é comprada apenas para ser

possuída e não usufruída. O consumidor alienado age como se a felicidade

consistisse apenas numa questão de poder sobre as coisas, ignorando o

prazer obtido com aquilo que ama. Para o filósofo alemão Horkheimer (1976),

quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as

coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais

genuínos.

Assim, a vontade de consumo perde sua relação com a personalidade

do indivíduo ao se desvincular de suas necessidades reais. Induzido pela

máquina publicitária, o consumo deixa de ser um meio para o prazer pessoal e

se transforma num fim em si mesmo. Torna-se um ato apenas movido pela

novidade e pela liquidez do produto. E considerando que é na fase da

juventude que o consumismo se faz latente, destaco o poema Eu Etiqueta, de

Carlos Drummond de Andrade (2001): ―Em minha calça está grudado um

nome/ Que não é meu de batismo ou de cartório/ Um nome... estranho [...]‖

que, faz critica e discute o consumismo na sociedade o que nos faz pensar

sobre o papel da propaganda (mídia) como instrumento de produção cultural e

que tem um papel decisivo na forma de estruturação da sociedade capitalista e

principalmente dos jovens no processo de construção de sua identidade.

5.3 - TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL

Neste estudo que objetiva estudar as repercussões da prática familiar e

escolar na escolha do trabalho do jovem e diante do panorama apresentado

sobre o universo do trabalho, podemos observar que essas novas práticas

configuram um novo cenário, e ao tomarmos a juventude como foco, é possível

trazer algumas reflexões e questionamentos e dados secundários que possam

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corroborar com este estudo, além de algumas ilustrações dos resultados

obtidos com esta pesquisa. Então, como os jovens poderão encontrar um

sentido no trabalho, frente a possibilidades de desemprego, e falta de

qualificação?

Quando pensamos a juventude como sendo somente um processo de

transição para a vida adulta, corremos o risco de compreendê-la por aquilo que

os jovens adolescentes não são mais ou ainda não são. Acreditamos ser

necessário conhecer os processos de transição e suas trajetórias que

caracterizem suas realidades históricas sociais para uma melhor compreensão.

Grande parte da literatura do campo psicológico ou sociológico inclui o

processo de inserção no mundo do trabalho, seja esse trabalho temporário ou

um meio de sobrevivência, como momento de transição para a vida adulta dos

jovens adolescentes. Entretanto, devemos entender que juntamente para esse

momento de inserção laboral, corroboram outros eventos sociais e

psicológicos, dentre os quais destacamos a família, o processo de

escolarização, assuntos já abordados em capítulos anteriores, mas, por sua

vez, essas influências acabam sendo decorrentes de mudanças sociais que

englobam novas perspectivas de inserção no mundo do trabalho dos jovens.

Consideramos que o primeiro emprego é decisivo para a trajetória

profissional do jovem, principalmente quando o mercado reproduz a

desigualdade do sistema educacional, ou seja, reserva os melhores postos de

trabalho aos mais qualificados. Pochmann (1998) retrata essa dura realidade

dos jovens brasileiros e aponta como alternativa uma reformulação das

políticas públicas de primeiro emprego para que possam estar associadas à

manutenção do jovem no sistema educacional, e não apenas estimulá-lo

precocemente a sair para o mercado de trabalho. ―A juventude brasileira é

maior que as dificuldades existentes.‖ É com essa afirmação o autor inicia sua

análise sobre a situação do primeiro emprego do jovem no Brasil. Superar as

barreiras para a melhor distribuição de renda e melhores condições de

educação é parte importante do papel para a transformação da realidade

controversa e difícil do jovem.

Demonstrar que o emprego juvenil está associado à precarização do

trabalho, à falta de profissionalização e à urgente criação de vagas, são

caminhos para que possamos pensar as políticas de geração de emprego

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juvenil colocadas hoje em nosso país. O primeiro emprego é decisivo para a

trajetória futura do jovem. Ao ingressar precariamente no mercado de trabalho,

sem ter completado o ensino regular, por exemplo, o jovem desfavorece seu

desempenho ao longo de sua trajetória profissional. O mercado de trabalho

reproduz a desigualdade verificada no sistema educacional, estabelecendo os

melhores postos de empregos aos melhor qualificados, ou seja, aos filhos de

ricos que tiveram a sua inatividade financiada pelos pais. Essas reflexões

fazem parte do mundo atual, e devem ser discutidas pela sociedade, nos

debates acadêmicos, nas propostas da política, nas empresas; afinal,

mudanças são necessárias no trabalho, na sociedade, mas é preciso

contextualizá-las.

Bauman (2004) nos revela um mundo repleto de sinais confusos,

propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível, que traz consigo uma

misteriosa fragilidade de laços humanos. Investiga de que forma nossas

relações tornam-se cada vez mais "flexíveis", gerando níveis de insegurança

sempre maiores. A prioridade a relacionamentos em ―redes‖, as quais podem

ser tecidas ou desfeitas com igual facilidade – e frequentemente sem que isso

envolva nenhum contato além do virtual –, faz com que não saibamos mais

manter laços de longo prazo. E isso afeta não apenas as relações amorosas e

os vínculos familiares. O autor busca esclarecer, registrar e apreender de que

forma o homem sem vínculos — figura central dos tempos modernos — se

conecta. Dentro deste contexto os jovens de hoje deveriam, apesar de tudo,

apesar de todas as tendências em contrário e de todas as pressões de fora,

reter na consciência e na memória o valor da durabilidade, da constância, do

compromisso.

Os jovens não podem mais contar, como as gerações mais antigas, com

a natureza permanente do mundo lá fora, com a durabilidade das instituições

que tinham antes toda a probabilidade de sobreviver aos indivíduos. Assim, o

único sentido duradouro, o único significado que tem chance de deixar traços,

rastos no mundo, de acrescentar algo ao mundo exterior, deve ser fruto de seu

próprio esforço e trabalho. Nesse sentido, os jovens podem contar unicamente

com eles próprios e só haverá em suas vidas o sentido e a relevância que

forem capazes de lhes dar. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

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2007), apontou que o Brasil possuía cerca de 50,2 milhões de jovens entre 15

e 29 anos, o que correspondia a 26,4% da população. Outras pesquisas

repetem várias estatísticas que comparam a população jovem à população

mundial, como o relatório de Tendências Globais de Emprego para a

Juventude, da Organização Mundial do Trabalho (OIT, 2010). Vale ressaltar

que esses estudos evidenciam uma tendência de crescimento da população

jovem, e, a partir dessa tendência, podemos inferir que existe uma dificuldade

de absorção de toda essa mão de obra juvenil e que o trabalho está entre os

principais assuntos que mais mobilizam o interesse dos jovens, já que é

também um dos direitos essenciais da pessoa humana e dos mais importantes

direitos de cidadania. Vale dizer que a centralidade do trabalho para os jovens

não advém tão-somente do seu significado ético, ainda que este seja relevante,

mas resulta também, e sobremaneira, da sua urgência enquanto problema.

[...] é, sobretudo enquanto um fator de risco, instabilizador das formas de inserção social e do padrão de vida, que o trabalho se manifesta como demanda urgente, como necessidade, no coração da agenda para uma parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca. (GUIMARÃES, 2004, p. 12)

O ingresso no mundo do trabalho constitui-se, tradicionalmente, em

um dos principais marcos da passagem da condição juvenil para a vida adulta,

mas não o único. No entanto, nas últimas décadas, em função de intensas

transformações produtivas e sociais, ocorreram mudanças nos padrões de

transição de uma condição à outra. O diagnóstico dominante aponta para as

enormes dificuldades dos jovens em conseguir uma ocupação, principalmente

em obter o primeiro emprego, dado o aumento da competitividade, da demanda

por experiência e por qualificação no mercado de trabalho. Com isso, a

transição para a vida adulta tem sido retardada. A questão do trabalho é uma

das grandes preocupações da juventude e também o é no campo das políticas

públicas para a juventude. Existe uma convicção generalizada de que é

necessário desenvolver programas e ações que melhorem a situação atual,

levando-se em conta o aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a

limitada oferta de oportunidades e as especificidades da condição juvenil

contemporânea.

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O desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior

ao do restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido

aumento das médias de escolarização dos jovens e uma melhora nas

condições de trabalho – com alta da formalização –, não se observou aumento

correspondente na oferta de empregos. Más condições de trabalho, baixa

remuneração, longas jornadas, dificuldade de conciliar trabalho e escola, altas

taxas de desemprego e desajuste entre o estudo recebido e as exigências do

mercado, podem estar relacionados a esse panorama vivido por muitos jovens

que estão no mercado de trabalho e os que ainda estão tentando encontrar

nele um lugar.

Mesmos aqueles que conseguem superar todas as dificuldades e

terminar uma faculdade, não têm garantia de emprego. As diferenças entre a

teoria da escola nos cursos de forma geral e a prática no mercado de trabalho

acabam deixando a escolaridade com um papel mais modesto do que o

treinamento em serviço ou o estágio na preparação do jovem trabalhador. A

procura por jovens com experiência profissional é outro fator que eleva a

importância do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as habilidades

e conhecimentos profissionais. Com isso, uma grande parcela da melhoria do

sistema de ensino no país cabe às empresas.

Diante de um cenário de altas taxas desemprego, e de

desestruturação e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido?

Hoje, jovens de todas as classes e situações sociais expressam inseguranças

e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no

futuro. Eles vivenciam, de modo sofrido e dramático, o que alguns estudiosos

têm chamado de ―medo de sobrar‖ (Novaes, 2007). Observamos também que o

jovem tenta se inserir no mundo de trabalho de diversas maneiras, surgem

novas formas de participações informais, e que na maioria das vezes são

ocultas, ou seja, são trabalhos poucos reconhecidos, como guardadores de

carros, catadores de latinhas, limpadores de vidros em semáforos, entre outros.

Alguns pesquisadores, como Camarano et al, (2004) constatam que o

desemprego incide mais sobre os grupos de escolaridade baixa e ou mediana,

com uma média entre 5 de 11 anos de estudo, o que implica que esse jovem

está propício, devido à sua condição, a aceitar qualquer trabalho que apareça.

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Em contrapartida, tem outra parcela que fica à espera de melhores condições

de trabalho, em busca de melhores oportunidades e uma inserção mais

adequada ao seu contexto. Mas acreditamos que esses eventos não

aconteçam somente em relação à escolaridade, mas são decorrentes também

do fator familiar: jovens que, tendo uma família, poderão ou não permitir-se

esse compasso de espera e seletividade. Acreditamos também em

possibilidades de trabalhos artesanais como forma de inserir os jovens

adolescentes no mundo do trabalho, de forma que eles possam desenvolver

potencialidades, continuar estudando, ajudando as famílias e se

desenvolvendo.

5.4 TRABALHO: A VISÃO DOS JOVENS

Hoje, diante dos pressupostos para o trabalho e a questão do trabalho

se apresentando como uma incógnita para o futuro, Baptista (2002), em seu

artigo ―Identidade profissional: questões atuais‖, indaga: O que ocorre com a

identidade do ser humano que se questiona algo que já foi considerado

fundamental para sua constituição? O papel profissional, uma flexibilização do

trabalho provoca uma fluidez na caracterização dos papéis [...] a situação de

emprego também se modifica ou deixa de existir‖. (BAPTISTA, 2002, p. 150)

Estamos vivendo, hoje em dia, uma situação paradoxal: de um lado, temos a idealização da realidade profissional, modelo tradicional de aquisição e desenvolvimento da identidade profissional e, de outro, uma vivência, por parte da maioria da população, que contrasta frontalmente essa idealização. A maior parte das pessoas não tem percepção clara quanto a esta questão ser um problema temporário, fruto de uma crise momentânea, ou ser uma transformação permanente da realidade social. (BAPTISTA, 2002, p. 150)

Contudo, os jovens de hoje ainda continuam sonhando com seu

futuro profissional e com a escolha de uma profissão. É importante que os

jovens adquiram conhecimento do mundo do trabalho, para poderem de forma

mais efetiva, com a contribuição da escola, da mídia, se perceber no mundo do

trabalho. Diante do panorama apresentado, a seguir evidencio dados na nossa

pesquisa ―Percepção dos jovens sobre o trabalho‖ com relação a essa temática

(mundo do trabalho).

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Referente à questão em que os pesquisados demonstraram o seu

conhecimento sobre o mundo do trabalho, a pesquisa nos revela, que a maioria

dos jovens sabe pouco sobre este assunto (66,6%). Com relação ao que os

jovens esperam do mundo do trabalho, foram colocados como indicativos:

dinheiro, fama, poder, posição social e realização. Pudemos constatar pelas

respostas obtidas junto aos pesquisados que metade deles afirma ter como

expectativa do mundo do trabalho a realização pessoal (50%), e que o poder

não é uma questão importante. Indicadores como dinheiro (22%), posição

social (22%) e, por fim, fama (6%).

Corrochano (2002), em sua pesquisa ―O olhar de jovens operários sobre

o trabalho‖, conclui que o olhar do jovem a respeito de mercado de trabalho

perpassa por três questões: independência pessoal (a independência em

relação aos pais, a autonomia financeira e, a partir desta, a maior autonomia

em outras esferas da vida); dignidade: (associada à possibilidade de prover sua

família com os meios necessários para a sobrevivência de maneira honesta,

bem como o fato de não ser confundido com o ―bandido‖, o ―marginal‖) e

realização pessoal (―o trabalho tem a ver com satisfação pessoal, fazer o que

gosta‖). Esse fato foi percebido pelos nossos jovens pesquisados. Fazendo

uma breve análise comparativa, encontramos pontos em comuns, que podem

ser resumidos no trabalho como realização pessoal e ascensão social.

Em outro momento da pesquisa, quando perguntamos aos jovens

participantes para que serve o trabalho, obtivemos algumas respostas que

vale a pena serem destacadas e discutidas a seguir:

(P1) ―Para a minha sobrevivência, e também para ter mais

conhecimentos, aprender a lidar com as pessoas.‖

(P2) ―Para estabilizar e desenvolver o indivíduo como pessoa na

sociedade.‖

(P3) ―Para quem faz o que gosta acabar sendo prazeroso e

estimulante, mas para eles e para quem não gosta é apenas um

meio de ganhar dinheiro para sobreviver e ser um cidadão ativo,

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pois a sociedade impõe que precisamos ser alguém e preciso

trabalhar e se sustentar.‖

(P4) ―O trabalho serve para melhorar o conhecimento das pessoas

e para melhorar a vida social também.‖

(P-5) ―O trabalho é a realização e práticas de talento.‖

(P6) ―O trabalho serve para melhorar a pessoa, para ajudar na

renda familiar.‖

(P-7) ―Trabalho serve para nos testar, em todos os sentidos, pôr em

prática nossos dotes para ser homem profissional.‖

(P-8) ―Para dar condição de termos o que desejamos.‖

Nos relatos colhidos, tendo em vista a opinião sobre o trabalho,

podemos observar pelas respostas dos jovens que o trabalho é o meio pelo

qual se produz riqueza, aumenta-se o poder de compra, além de ser indicativo

de importância social.

Subjetivo porque proporciona prazer, concretiza sonhos e aspirações e

realização. Como indicativo social, desenvolve cidadania, inserção social,

socialização, fama e reconhecimento. As respostas também relacionam o

trabalho à independência, ou seja, é a partir do trabalho que os jovens se

sentem mais autônomos. Percebemos também que o trabalho está relacionado

à necessidade, mas também ao crescimento e desenvolvimento. As respostas

sugerem percepções, sentidos e valores.

Diante desse panorama, entendemos que homem e trabalho

estabelecem uma relação desde o início da existência daquele. Com a

necessidade do acúmulo do capital por parte daqueles que contratam a força

de trabalho e com as evoluções das tecnologias relacionadas, o conceito de

trabalho e suas implicações foram estudadas e questionadas por vários

historiadores.

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Considerando, então, a influência do trabalho na vida do ser humano,

assim como as transformações ocorridas no mercado de trabalho, em

decorrência tanto das novas tecnologias como da divisão de tarefas, podemos

observar que as respostas dos participantes reforçam o conceito de trabalho de

CORREIA (2000):

[...] A ação da força de trabalho também percebida como a capacidade de trabalho, que na sociedade do capitalismo é tida como mais uma transação entre o trabalhador – possuidor da força de trabalho – e o capitalista – detentor do capital. (CORREIA, 2000, p. 13)

Quando um dos entrevistados responde para que serve o trabalho,

dizendo: ―Para a minha sobrevivência...‖ (P1), o relato do jovem condiz com o

pensamento de Correia (2000) quando se refere à essência do trabalho para

que o ser humano consiga concretizar seus sonhos e ideais: [...] pois é por

meio deles que cria e constrói bens necessários à sua sobrevivência e à de

outras pessoas, como também obtém recursos para adquirir outros bens.

(CORREIA, 2000, p. 17)

―O trabalho serve para melhorar o conhecimento das pessoas e para

melhorar a vida social também‖ (P4). ―Além de ser o meio de sustentar, suprir

as necessidades do homem, desenvolve este, tanto consigo mesmo, quanto

com o mundo, ao qual ele oferece suas atividades. O trabalho é a realização e

prática dos talentos.‖ Quando (P2) diz: ―Para estabilizar e desenvolver o

indivíduo como pessoa na sociedade‖, observamos que a resposta sugere uma

concepção de trabalho que vai ao encontro aos pensamentos de Franco

(2004): ―Nesse momento, percebemos que o trabalho em nossa sociedade é

um dos eixos estruturais de nossa civilização‖ (FRANCO, 2004, p. 179). Mas

para que possamos ter esta concepção de trabalho, precisamos antes de tudo

retornar às suas concepções e essências. Os homens e os animais irracionais

despendem energias para suprir suas carências mais elementares, mas para o

animal irracional este instinto se concretiza e tem um fim em si mesmo, até que

sintam novamente as mesmas necessidades. Já para o homem, essas

necessidades vão além de um suprimento físico.

―Trabalho serve para nos testar, em todos os sentidos, pôr em prática

nossos dotes para ser um bom profissional‖ (P7), quando P7 fala sobre o

trabalho podemos perceber as ideias de Braverman (1987)

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[...] não é apoderar-se de materiais da natureza, tais como esta oferece, e sim alterar este estado natural e melhorar sua utilidade. O que distingue o homem do animal irracional, é que o homem pensa, idealiza e produz e o resultado provém da imaginação, o que não ocorre com os outros animais. O homem ―imprime ao material o projeto de vida que tinha conscientemente em mira. ―Portanto, o homem tem um propósito, enquanto os outros animais agem pelo instinto. (BRAVERMAN, 1987, p. 49)

Segundo outro jovem, o trabalho serve ―Para dar condição de termos o

que desejamos‖ (P8), ou seja, o consumismo. E será que o trabalho atualmente

corresponde a essas aspirações? E como compreendê-lo na vida moderna?

Segundo Queiroz e Azevedo (2008):

A divisão da geografia em campos de conhecimento da sociedade e da natureza tem propiciado um aprofundamento temático de seu objeto de estudo. Muitos alunos pensam que o consumismo é apenas o exagerado volume de coisas que compramos e que simbolizam a vida moderna, tais como beleza, higiene etc. Mas o consumismo não está apenas na atitude e no desejar coisas. O consumismo é uma mentalidade que nos induz a criar e recriar necessidades perdulárias, isto é gastar excessivamente, sem consciência das conseqüências para a natureza. (QUEIROZ; AZEVEDO, 2008, p. 49).

Isso implica que o jovem, ao integrar-se e fazer parte do todo,

considerando o consumismo, a vida moderna, significa aprender, aproximar-se

com cuidado, atenção e firmeza. A concordar e discordar sem romper, nem

agredir, a ceder em prol do coletivo e fazer de sua ação um instrumento em

busca de transformação,seja em qualquer grupo social, seja na escola, no

mundo do trabalho, seja na família, e é neste grupo social que a história de

vida de uma pessoa começa muito antes de seu nascimento e vai se

processando ao longo do tempo.

Ao adolescer, além de representar um momento de crise, é também, e

muito mais, o momento em que escolhas são feitas e projetos começam a ser

construídos. Neste momento o jovem além de nascer para si mesmo, nasce

para a sociedade, questionando o que quer, o que pode alcançar e para onde

vai. Giddens (1997), ao caracterizar a sociedade como uma sociedade de

riscos, afirma que as transformações científicas e tecnológicas provocam

mudanças que envolvem desde a realidade biológica de cada pessoa até o

contexto econômico e social.

No âmbito do emprego de jovens, a rápida globalização do mundo e os

avanços tecnológicos oferecem novas oportunidades de trabalho produtivo.

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Porém, para muitos jovens, essas tendências apenas aumentam sua

vulnerabilidade inerente. O que vemos hoje é que com o processo de

globalização, as desigualdades se acentuaram, seja nos níveis de renda, sejam

no desenvolvimento de conhecimentos e capacitações para o mercado de

trabalho. Isso implica também em insegurança no momento presente, somado

ao fato de o Estado não conseguir normatizar essas problemáticas pela criação

de políticas públicas voltadas para o trabalho de jovens. Espero que este

estudo contribua para a discussão e o conhecimento do estado das pesquisas

sobre a juventude e estimule a emergência de novas investigações sobre o

tema.

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6 CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Com o objetivo de compreender a percepção do jovem sobre a inserção

no mundo do trabalho e qual é a contribuição da família e da escola nesse

processo, realizamos uma pesquisa, de caráter qualitativo que procurou

valorizar a fala do jovem, por meio de um questionário aberto, com cinquenta

jovens adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 17 e 20 anos,

matriculados no terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública de

município de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Brasil.

6. 1 CENÁRIOS E ATORES

A pesquisa foi realizada na própria escola dos sujeitos, numa sala de

aula, coletivamente, após breve explicação dos objetivos do trabalho pelo

aplicador da pesquisa e da devida autorização dos pais ou responsáveis dos

participantes menores de idade. Não foi obrigatório o preenchimento do

material impresso, dando-se ao participante a liberdade de devolvê-lo em

branco. Registre-se que, para que este trabalho fosse realizado, primeiramente

o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário

FIEO, tendo sido cumpridos todos os pré-requisitos necessários para a sua

realização. (Documento em anexo).

Utilizamos um questionário com perguntas abertas e fechadas, de

autopreenchimento e sem identificação pessoal de aluno. O questionário

utilizado (Anexo) é uma adaptação de instrumentos propostos pelo IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Por meio do questionário

podem-se identificar dados importantes. O questionário foi dividido da seguinte

maneira. Em primeiro lugar foi levantado o perfil do participante através de

perguntas que nos informariam: sexo, idade, raça, religião, naturalidade, estado

civil entre outros.

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A seguir, levantaram-se informações sobre a família e o domicílio –

número de pessoas, grau de parentesco, irmãos, renda familiar, dados

socioeconômicos. Em terceiro lugar levantamos dados sobre cultura e lazer –

literatura, atividades, tecnologia, tempo livre, atitudes e comportamento. E, por

fim, apresentamos questões para reflexão sobre algumas temáticas: o mundo

do trabalho, legislação trabalhista, profissões, escola, expectativa profissional,

trabalho, projeto de vida e família.

Dos cinquenta entrevistados, escolhemos nove para participarem de um

grupo focal de reflexão sobre temas relacionados à inserção no mundo do

trabalho, à escola, à família e às das escolhas profissionais. A dinâmica do

grupo focal permite uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com

a população que se deseja investigar, e, ao mesmo tempo, de aprofundar

alguns temas nem sempre abordados num primeiro momento. Não obstante

haver críticas a essa metodologia, ela foi importante para o diálogo do

pesquisador com os adolescentes e destes entre si, no sentido de desvelar um

pouco mais o fenômeno estudado.

6.2 O CENÁRIO : CARAPICUÍBA, UMA ALDEIA DA PERIFERIA

Com a doação em 1580, pelo capitão-mor Jerônimo Leitão, Governador

da Província, de terras para fundar uma povoação no local conhecido por

"Carapicuíba", que em tupi-guarani, significa peixe (cará ou acará) comprido

(picu ou pucu) que não serve para ser comido, ruim (iba). Neste espaço a

Companhia de Jesus reuniu os índios catequisados que viviam na região. Em

1615, Afonso Sardinha o velho, proprietário das terras vizinhas a Carapicuíba,

construiu com os índios uma capela, entregando-a aos jesuítas. Em torno desta

construiu-se a aldeia, ponto de passagem das expedições que se dirigiam aos

sertões do sul.

Em 1698, alegando esgotamento das terras para a lavoura, os jesuítas

tentaram a transferência dos aldeados para Itapecerica, determinando a

destruição das casas e da igreja, mas, diante a recusa dos índios de

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abandonar a localidade, reconstruíram-nas gradualmente, obedecendo ao

traçado original. A igreja somente foi reerguida em 1736, tendo como orago

Foto do Largo da Aldeia de Carapicuíba.Fonte: http://www.carapicuiba.sp.gov.br

São João Batista, alterado, no século 19, para Santa Catarina e, atualmente,

São Pedro é o padroeiro do Município. O núcleo pertenceu sucessivamente à

administração de Santana de Parnaíba, Embu, Cotia e Barueri.

Com a chegada de imigrantes, principalmente italianos e japoneses, e

migrantes de outros Estados, o povoamento da região deslocou-se na direção

da ferrovia, junto ao rio Tietê. No início do século 20, momento em que a

cidade de São Paulo começava a intensificar seu processo industrial, a

principal atividade nas terras que futuramente corresponderiam a Carapicuíba

era a criação de gado, secundada pela instalação de dois frigorificos. Além

disso, uma outra atividade começaria a despontar na região nas primeiras

décadas de 1900 comum em diferentes trechos do rio Tietê: a extração de

areia era uma atividade necessária ao crescimeneto urbano de São Paulo.

Na área que corresponde atualmente à Lagoa de Carapicuíba, foi

iniciada a mineração de areia nas primeiras décadas do século 20, cujo

depósito foi formado num passado geológico distante. Ali foram depositados

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areia, cascalho e argila, formando um grande depósito de areia, que com o

advento da industrialização no início do século 20, ajudou a impulsionar a

construção civil, que tomava corpo na capital, e passou a se utilizar dessa

matéria prima para encorpar a argamassa, dar liga e durabilidade à estrutura

da construção. A estrada de ferro Sorocabana concedeu uma cancela para

facilitar o embarque da areia para São Paulo. Dada a qualidade da areia

retirada e a potencialidade dos "bancos" encontrados, a extração era negócio

de lucro certo, entretanto, as crateras deixadas no solo, aborreceram membros

da comunidade.

Durante, praticamente, três séculos e meio, o território brasileiro conheceu uma utilização fundada na exploração dos seus recursos naturais pelo trabalho direto e concreto do homem, mais do que pela incorporação de capital à natureza que durante esse tempo, teve um papel relevante na seleção das produções e dos homens. Nos cem anos que vão da metade do século XIX à metade do século XX, algumas áreas conhecem a implantação de um meio técnico, meio mecanizado, que altera a definição do espaço e modifica as condições do seu uso. (SANTOS, 1994, p. 45)

Com isso, a extração passa a ser tamanha, que provoca o

aprofundamento e aumenta/ e extensão da/ a cava, transformando-a num

grande "buracão". A exploração desse veio de areia continua até os dias de

hoje, em área que pertence ao município de Barueri. Para se ter a dimensão da

profundidade desse local, na década de 60 o buraco ali formado era tamanho,

que serviu como cenário de trechos do filme brasileiro chamado "Roberto

Carlos em Ritmo de Aventura". Nessa mesma década, porém, houve um

empreendimento do Governo do Estado de São Paulo realizou no local obras

para a retificação do rio Tietê. Com as explosões para o desvio e

aprofundamento do terreno, que definiria o novo curso do rio, houve o

rompimento de barreira que separava o rio da cava, provocando a invasão das

águas para dentro da mesma. Tudo o que havia lá embaixo, como

maquinários, caminhões e casas que serviam como escritórios das

mineradoras, foi encoberto pelas águas, transformando o local num grande e

profundo lago.

Um adequado planejamento ambiental mexe com muitos interesses, sendo estruturalmente um potencializador de conflitos. [...] Em nossa realidade difícil, nem sempre o ambientalmente correto segue junto com os anseios sociais, e encontrar o ponto de equilíbrio entre a

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norma técnica e a justiça social nem sempre é tarefa fácil. (MORAES, 1994, p. 25-26)

Mesmo diante deste fato, a extração continuou, sendo realizada por

maquinários que dragam a areia das águas. Nos dias de hoje esse grande lago

é conhecido como "a lagoa de Carapicuíba", tendo aproximadamente 800 m de

largura por 1000 m de comprimento, tomando praticamente toda a parte norte

da cidade. Por ela passam oito mil litros de esgoto por segundo, que saem de

vários bairros das zonas sul, oeste e central de São Paulo e percorrem uma

tubulação 9,5 km até Barueri. Na estação local, o esgoto é tratado e volta para

o rio Tietê. Para os técnicos da Sabesp a situação chegou ao limite. Uma

liminar proibiu o funcionamento das mineradoras que atuavam na área.

Atualmente, as margens da lagoa do lado de Carapicuíba foram aterradas e em

suas margens plantou-se grama, como parte de um grande projeto de

reurbanização da região central de Carapicuíba.

Durante muitos anos um lixão fez parte da paisagem geográfica da

cidade. Com o seu fim, acaba também o estigma do município e da população,

que tinha que conviver com o mau cheiro e visão nada agradável de seu lixão.

Essa área, que durante mais de 20 anos arranhou a imagem da cidade, será

transformada em parque aquático. Desde que foi desativado, em abril de 2001,

o lixão de Carapicuíba deixou de ser o grande problema na vida dos cidadãos

que residem próximos ao local.

Mas o encerramento das atividades dificultou a vida de quem vivia do

lixo, pois, como afirmam, seus ganhos serão menores. O lixão, que por um

longo período contribuiu para a degradação da imagem de Carapicuíba,

originou-se há cerca de 23 anos, quando um desvio na calha do rio Tietê

propiciou uma vala de 5 metros de profundidade. Nela, passou a ser

depositado todo o lixo do município e de municípios vizinhos. Foram mais de

20 anos de desconforto e problemas de saúde para milhares de moradores das

regiões próximas ao lixão. Segundo informações contidas no Inventário de

Resíduos Sólidos da CETESB, aproximadamente 3 mil catadores trabalham

em lixões na Grande São Paulo. Desse total, 643 são menores de 14 anos. Os

residentes em Carapicuíba eram em número de 150, sendo 53 menores.

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De aldeia a município: o distrito é criado com a denominação de

Carapicuíba, pela Lei Estadual nº 233, de 24 de dezembro de 1948, fazendo

parte do Município de Barueri. Assim permanece no quadro fixado pela Lei

Estadual nº 2.456, de 30-XII-1953, para vigorar, respectivamente no período de

1954-1958, assim permanecendo em divisão territorial datada de I-VII-1960.

Elevado à categoria de Município com a denominação de Carapicuíba, por Lei

Estadual nº 8092, de 28 de fevereiro de 1964, desmembrado de Baueri,

constituindo-se em Distrito Sede. Sua instalação verificou-se no dia 26 de

março de 1965. A Lei Estadual no 4.954, de 27 de dezembro de 1985, cria o

Distrito de Aldeia de Carapicuíba e o incorpora ao município de Carapicuíba.

Lei Estadual no 4.954, de 27 de dezembro de 1985, cria o Distrito de Vila Dirce

o e incorpora ao Município de Carapicuíba. Em divisão territorial datada de 01-

VI-1995, o Município é constituído de 3 Distritos: Carapicuíba, aldeia de

Carapicuíba e Vila Dirce. Assim permanecendo em divisão territorial datada de

15-VII-1997. (IBGE, ano).

Carapicuíba fica situada a noroeste da capital do Estado de São Paulo, a

apenas 23 km da Praça da Sé – marco zero – e pertence à 1ª Região

Administrativa da Grande São Paulo. Com população total em 2009 (IBGE) de

403.502 habitantes, Carapicuíba possui como limites as seguintes cidades: ao

Norte, limita-se com Barueri; ao Sul, com Cotia; a Leste, com Osasco e a

Oeste, com Jandira e Barueri. Possui 34 km2 e sua topografia é bastante

acidentada, tendo como acessos principais as rodovias Presidente Castelo

Branco ao norte, Raposo Tavares ao sul e Avenida dos Autonomistas a leste

(Osasco). A nova obra do governo do Estado, o Rodoanel Mário Covas interliga

a cidade a quase todas as demais rodovias que cortam o Estado, bem como às

marginais Tietê e Pinheiros. O prefeito atual é Sergio Ribeiro. Altitude: 717

metros, Posição Geográfica: Latitude 23º - 36º Sul Longitude 45º - 55º Oeste,

Clima: frio e seco.

A história de Carapicuíba se confunde com a ação dos bandeirantes

portugueses. Fundada em 1580, pelo padre José de Anchieta, conquistou sua

Emancipação política e administrativa em 26 de Março de 1965, e tem como

característica principal a facilidade de acesso a toda a região metropolitana da

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capital do estado. Carapicuíba tornou-se, assim, tipicamente, uma cidade-

dormitório e grande fornecedora de mão de obra especializada para todos os

setores da indústria de São Paulo. Possui um grande défice habitacional, e

uma população operária, com baixa renda familiar, que dificultam a consecução

das soluções propostas para melhorar o perfil do Município de Carapicuíba.

Com baixa arrecadação de impostos por seu pequeno número de

indústrias e na sua maioria pequenas empresas prestadoras de serviços, o

Município depende de repasses dos governos Estadual e Federal. Essas

condições aumentam a responsabilidade da Administração para com a

população, buscando soluções práticas para as questões sociais além do

esporte, lazer, turismo e cultura, partindo do mínimo necessário até atingir as

metas de oferecer ao povo de Carapicuíba o orgulho de ser brasileiro.

A atual administração do município criou um canal de comunicação com

a população sobre o (PDT) Plano Diretor Participativo de Carapicuíba. Além

dos tradicionais informes veiculados pela mídia escrita e eletrônica sobre o

processo participativo, adotou agora o Blog, como uma ferramenta de diálogo

com o Grupo de Acompanhamento do Plano Diretor. A intenção é utilizar esse

canal para atualizar e divulgar atividades, bem como, disponibilizar as

informações necessárias para que todos possam acompanhar e debater as

questões relativas ao planejamento e ao andamento do Plano diretor da

cidade. Ou seja, a Administração deseja que seja esse um espaço no qual os

munícipes possam expor ideias do que querem e o que projetam para

Carapicuíba nos próximos anos. Foto do Município de Carapicuíba:

r

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114

6.3 O PALCO: UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO

A escola onde foi realizada a pesquisa é uma escola pública, e sua

escolha se deu por vários fatores: em primeiro lugar, por ter alunos do Ensino

Médio, condição fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Em

segundo lugar, pela receptividade dos responsáveis pela escola, entendendo a

importância deste trabalho de pesquisa e sua importância para o crescimento e

desenvolvimento dos alunos, além do incentivo ao trabalho acadêmico, em

particular o deste pesquisador, e ressaltar as dificuldades que às vezes são

encontradas para a realização deste tipo de trabalho. A escola pública em

questão, situada no Município de Carapicuíba, Foi criada por volta dos anos 60.

Em 1977, com o projeto de reorganização da rede púbica do sistema de ensino

do governo do Estado de São Paulo, a escola passou a atender,

prioritariamente, o Ensino Médio, em todos os seus três turnos, com algumas

salas de Ensino Fundamental para atender à demanda.

A Escola possui aproximadamente 2.200 alunos, sendo 1.600 alunos do

Ensino Médio, divididos pelos três horários em que a escola funciona. A grande

maioria dos alunos vem de outras regiões que não a central – bairros e vilas

distantes do centro. Em termos de infraestrutura a Escola possui biblioteca,

onde os alunos têm livre acesso ao acervo. Conta também com um laboratório

de ciências, que serve às disciplinas de Química, Física e Biologia, em bom

estado de conservação, porém não se promovem feiras de ciências. Há

também dois laboratórios de informática, que os alunos utilizam para realizar

atividades escolares. Duas quadras de esportes, cobertas, são utilizadas

pelos/por todos os alunos para práticas desportivas. Em termos de

acessibilidade, a escola não dispõe de rampas e nem elevadores, porém, há

banheiros adaptados. Embora a escola não organize eventos com projetos de

atividades culturais, artísticas e tampouco em relação a programas de

orientação profissional e vocacional, fora do período letivo, a escola permanece

aberta para a comunidade nos finais de semana. É onde a comunidade pratica

esportes, artesanato, atividades de informática entre outras.

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Contudo a escola conta com grades, muros altos e portões fechados

durante as aulas. O prédio é antigo, mas sua fachada mantém boa aparência

devido às pinturas constantes. Não há ventiladores nas salas.O portão da

secretaria, que era o único que propiciava visão do exterior, na verdade, do

estacionamento da escola, foi trocado por um totalmente fechado, e uma parte

do pátio foi tomada por um muro para aumentar o estacionamento, usado pela

diretoria e professores. Esses fatos desgostaram grande parte da população

escolar.

6.4 PERCEPÇÕES DOS JOVENS SOBRE OS ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA,

A FAMÍLIA, A ESCOLA E O TRABALHO

Para a reflexão que apresentaremos a seguir, selecionamos dois

participantes do grupo, por entender que se envolveram em profundidade com

os objetivos de nossa pesquisa e ajudaram a enriquecer nossas reflexões.

Carlos e Ariel são nomes fictícios. Carlos nos ofereceu um panorama dos

temas abordados e nos permitiu inferir que a percepção pode ser um processo

muito mais pessoal do que comumente se crê.

Qualquer reflexão acerca dos espaços de convivência da juventude se

defronta com o debate sobre as contradições inerentes às questões sociais.

Estas se encontram circunscritas no bojo do modelo econômico e social

adotado pelo Brasil, tal como explicitam Souza Neto (2008), Ianni (1988),

Fernandes (1978) e Castel (1999).

No decorrer da pesquisa, especialmente no grupo focal, Carlos

demonstrou seu afeto e respeito pela família e reconhecimento pela sua

influência na construção dos valores que nortearam a escolha profissional:

“Meus pais sempre incentivaram meus estudos; de começo, eles não queriam

que eu trabalhasse, com medo de prejudicar meus estudos. Eles sempre me

acompanharam em relação às coisas novas e me incentivam.”

Sociólogos e psicólogos, como Winnicott, Adorno, Ianni, Castoriadis,

Mannheim, Bourdieu, Souza Neto, Durkheim, Erikson, Piaget, Vygotsky e

outros, defendem a família como espaço privilegiado para a formação dos

valores essenciais à convivência. Nela, a criança e o adolescente introjetam a

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ideia de papeis e constroem o juízo moral, fundamentais à formação da

identidade do sujeito. Winnicott nos oferece material para inferir que uma

família suficientemente boa marca positivamente a existência e interfere nas

formas de pensar, de ser e de agir.

Todas as vezes que Carlos se referiu à família o fez com admiração e

gratidão. Isto talvez demonstre que para além das questões financeiras e

familiares, há outras variáveis que, pela perspectiva winnicottiana, determinam

o que é uma família suficientemente boa. Mesmo diante das transformações

das responsabilidades familiares, a nosso juízo, a família permanece vital para

a integração e a inserção do sujeito. Na era dos direitos humanos, no quadro

da doutrina de proteção integral, o que se observa é que a Constituição

brasileira, as legislações sociais e as políticas públicas consagram o princípio

da família como base do desenvolvimento do sujeito.

Em que pesem os dramas da família brasileira, a situação econômica e

as práticas de violência, a família continua a ser valorizada como um dos

pilares de garantia da coesão social. Nesse sentido, os clássicos da sociologia

e da psicologia nos permitem afirmar que a família sempre influenciou e

continua a influenciar as escolhas e decisões do sujeito, seja positiva, seja

negativamente. Ao longo da história, verificamos as nuanças dessa influência.

Na sociedade da era da informação, outras instituições partilham com a família

esse papel.

Carlos diz que sua família tem contribuído para o seu futuro profissional

e que seus pais sempre incentivaram seus estudos, mas não concordam que

ele comece a trabalhar antes de terminar o Ensino Médio. Nem todas as

famílias podem adotar esse procedimento, mas a família de Carlos interfere

diretamente em sua formação para que ele possa fazer uma boa escolha.

Contudo, as mutações no mundo do trabalho fazem com que haja necessidade

de um olhar aprofundado para o percurso dos jovens na busca do primeiro

emprego, porque a sociedade é fundada e organizada a partir do trabalho.

Isso não significa uma defesa da inserção precoce dos jovens no mundo

do trabalho. Ao contrário, o que defendemos é a mudança nos quadros da

desigualdade social, política, de oportunidades e de condição existencial de

nossa sociedade, o que implica em mudanças de ações e valores sócio-

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históricos sedimentados (Corrochano, 2008). Segundo nossa perspectiva, o

trabalho não se reduz a um método pedagógico, mas constitui um meio para o

desenvolvimento da educação profissional (Vygotsky, 2003). Não só se

introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a

atividade laboral a base do processo educativo.

Hoje, é muito tênue a separação entre escola e trabalho, pois ambos

mantêm uma reciprocidade. Similarmente, o fim primeiro da família não é

preparar o jovem para o trabalho, mas os procedimentos familiares têm uma

sintonia com o mundo do trabalho. Compartilhamos o pensamento de Rossler

(2007), de que o ensino profissionalizante poderia ser uma solução para o

problema de educação para o trabalho e destacamos a importância de refletir

sobre as relações entre as esferas do mundo do trabalho e da educação.

O depoimento e o posicionamento de Carlos reúnem um conjunto de

evidências sobre a importância da família na sua formação. A partir dela, o

adolescente adquiriu os conceitos que formam os alicerces de seu caráter e

que orientarão sua vida. Por esse olhar, podemos, ainda, perceber que os

conceitos de educação e de aprendizagem ao longo da vida se iniciam na

família. A família tem papel fundamental nesse processo, por meio das práticas

que valorizam e corrigem: recompensas, castigos, afeto, emulações, imitações,

em vista de aprender a lidar com frustrações. É bom ressaltar que a pessoa

incapaz de lidar com frustrações e emoções tem muita dificuldade para marcar

posições no mundo do trabalho.

Entretanto, nenhuma instituição, nem mesmo a família, tem poder

absoluto sobre o adolescente e o jovem, que conserva sua autodeterminação

de fazer opções e traçar caminhos. O que defendemos é a influência da família

e não um determinismo ou reducionismo. Devemos considerar, portanto, as

experiências positivas e negativas vividas no interior da família. É importante

destacar que a família não é uma instituição isolada. Está vinculada aos

dramas da sociedade. É um produto social e cultural. Quando boa o suficiente,

a família é um espaço de proteção e de resistência contra as mazelas e

perversidades da sociedade.

A família protege quando cria as condições para que a criança e o

adolescente tenham estabilidade emocional e segurança, dentro de um

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desenvolvimento integral e saudável, pela perspectiva de Vygotsky, Piaget,

Freire e outros. Portanto, a família interfere no desenvolvimento individual e,

consequentemente, influencia o comportamento da criança e do jovem na

escola, bem como os resultados que ele irá atingir. Em síntese, sem pretender

assumir a defesa da família, nem apresentá-la como um bem, um mal ou uma

panaceia para todos os desafios da juventude, entendemos a fala de Carlos

como um dos veios de compreensão da instituição familiar.

Se, para os clássicos da sociologia e da psicologia a família era

responsável pela socialização primária e a escola pela secundária, hoje essa

distinção já não é tão clara, sobretudo na escola, que acabou por assumir

ambos os papeis. Para abordar a questão do trabalho dos adolescentes,

acreditamos que é essencial ouvir o que ele mesmo diz sobre a relação entre

profissionalização e escola. Carlos tem a seguinte percepção:

―A escola hoje, infelizmente, não é mais a que a sociedade espera,

ou seja, vamos à escola em busca de conhecimento e lá ―você

encontra‖ tudo, violência, drogas, más influências e etc. A escola

estadual, em vez de ter pessoas mais estudadas, é considerada

como um depósito de humanos. Os pais saem para trabalhar e

deixam os filhos na escola.‖

Carlos faz alusão à escola como um conjunto de contradições, um

depósito humano, o que mostra uma percepção de aspectos

predominantemente negativos. O que parece é que a escola reproduz todas as

mazelas sociais. Essa percepção está mais próxima de Bourdieu. Mas é

importante olhar a escola como uma instituição que reproduz as mazelas

sociais, mas também transforma essas mazelas e cria condições de mudança

para o sujeito, como a veem Freire ou Gramsci.

Carlos deixa nas entrelinhas que a escola que frequenta está um tanto

perdida e não conseguiu absorver todas as suas novas atribuições. Seu papel

não é mais somente ensinar. Para Rego (2002),

[...] a escola ganhou função social, que transita entre o ensinar, o cuidar e o proteger. Isso porque compartilha com as famílias a educação das crianças e jovens, uma função política, pois contribui para a formação dos cidadãos, e uma função pedagógica‖ (Rego, 2002, p. 48).

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Nesse sentido, a escola ultrapassa o papel educativo, pensamento este

que vai de encontro com o posicionamento de Clerget, que vê ―a escola como

um local protetor para o equilíbrio psicológico do adolescente‖ (Clerget, 2004,

p. 218).

O conjunto de solicitações que se aloja no interior da escola e cobra dela

soluções de todos os tipos se apresenta para Carlos como descontrole e falta

de rumo. Quando lhe foi perguntado o que esperava da escola, ele nos

respondeu, por ordem de importância: ―Em primeiro lugar, conhecimento; em

segundo lugar, crescimento; em terceiro lugar, socialização; em quarto lugar,

educação; e, por fim, uma preparação para o mundo do trabalho‖. Acrescentou

que a escola não contribui para capacitação profissional do aluno: ―A escola só

contribui com meus conhecimentos básicos, não com o profissionalismo‖.

O depoimento traz à tona o desconhecimento das prioridades da escola

e do conjunto de uma trajetória profissional. O básico, o genérico, é peculiar às

instituições família e escola. Sem esses ―conhecimentos básicos‖, não há como

alguém se qualificar profissionalmente. Sem conhecer as operações e as

noções elementares da matemática e da física, sem o domínio da língua

materna, o saber fazer fica seriamente comprometido. A escola contribui para

formar integralmente o sujeito. Seu grande desafio está no campo da

profissionalização, um ramo em que as empresas parecem ter mais

competência e tecnologia disponível. Neste caso, continua indispensável a

parceria entre a escola e a empresa. Algumas experiências de parceria entre

escola e empresa, no Brasil, demonstram que esse deve ser o novo projeto a

ser perseguido pelas políticas públicas de educação.

Há um consenso de que, na sociedade do conhecimento e da

informação, a escolarização tem valor inquestionável, ―já que é capaz de

proporcionar ao indivíduo experiências e informações de sua cultura‖ (REGO,

2002, p. 48). Entretanto, os jovens acreditam que a escola precisa abrir um

espaço para que possam discutir projetos de vida, que incluem o trabalho. Em

síntese, a escola precisa concretizar os quatro pilares da educação levantados

pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –

UNESCO: saber aprender, saber ser, saber conviver e saber fazer, uma vez

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que a educação ocorre de forma permanente, ao longo da vida. Por essa

perspectiva, temas sobre as inquietações dos jovens, seus temores e

expectativas, devem integrar o currículo.

Carlos tem o hábito da leitura e gostaria de poder fazer cursos de

capacitação profissional, artes e idiomas. Porém, não realiza nenhum e

tampouco pratica esportes. Participa de comunidades virtuais, religiosa e

cultural. Utiliza o tempo livre descansando e, na maioria das vezes, com jogos

de computador e videogames. Já participou de uma ONG que auxilia

adolescentes a ingressarem no mercado de trabalho. Nela, prendeu elementos

de legislação trabalhista. Com base nessa experiência, comenta que ―...acho

importante que todas as pessoas tenham informações sobre o assunto para se

prevenirem de eventuais restrições‖. Nunca exerceu atividade remunerada e

está em busca de seu primeiro emprego. Pensou em ter uma profissão na área

de recursos humanos para trabalhar no departamento de pessoal. Sobre suas

expectativas no mundo do trabalho, responde: ―realização, poder, dinheiro,

posição social e fama‖. Esses são elementos peculiares e essenciais do

consumismo.

Carlos deseja trabalhar para sua autorrealização, para ser independente

e crescer, e para satisfazer suas necessidades materiais e imateriais. Ele

comenta que o trabalho, num país capitalista como o Brasil, é muito importante

e que precisamos de capital para sobreviver e ter lazer. Observa que o trabalho

é parte da nossa vida e por isso é necessário ser capaz de adaptar-se às

mudanças do mundo do trabalho. O trabalho para Carlos tem valor forte, o

influencia, o faz aprender, conhecer pessoas, dá prazer e o desenvolve como

cidadão; espera sucesso e reconhecimento, porém acredita que a dificuldade

da inserção do jovem no mundo do trabalho é causada pela falta de

experiência profissional: ―[...] a sociedade em si dificulta [para] o jovem no seu

primeiro emprego; por não ter experiência profissional, ele é excluído‖.

Contudo, acredita que o ―trabalho é parte da nossa vida e por isso temos que

se adaptar para (sic.) esse novo mundo‖.

No que se aplica ao processo de escolha profissional, onde foram

observadas diferentes dimensões (motivação para os estudos, motivação para

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o sucesso escolar, socialização), a pesquisa revelou que essas geralmente são

ações mescladas com afetos, que propiciam melhorar o desenvolvimento e as

escolhas dos jovens. Entretanto não existem dados conclusivos, no que se

refere às razões pelas quais a pessoa escolhe uma ou outra profissão. Essa

questão que pode ser entendida sob a ótica sociológica, a partir da qual as

escolhas são apresentadas como herança ocupacional que se manifesta por

meio das profissões transmitidas de pais para filhos, ou no acesso a

determinadas novas profissões – situação socioeconômica e mercado de

trabalho dos pais. Já a ótica psicológica, analisa as relações existentes entre

os traços de personalidade, orientação vocacional, que supõe considerar a

visão sócio-histórica – em que o ser humano aqui é histórico e social – e parte

do fundamento de que existe uma intervenção viva entre o sujeito e o objeto,

uma relação entre o mundo real e o sujeito, uma vinculação indissociável entre

o mundo objetivo e a subjetividade, em que acreditamos.

O participante Carlos finaliza dizendo: ―O que me torna motivado na vida

é Deus. A Bíblia é um manual de vida; minha vida é motivada e levada pelo

Senhor, eixo da força para todos os dias lutar pelos meus objetivos‖. Isso

implica que outras esferas sociais e sujeitos estão mobilizados no universo da

juventude, principalmente na fase da adolescência, onde ocorre o processo de

emancipação familiar: entre eles estão os grupos religiosos, as comunidades

virtuais e o grupo de amigos. Diante do relato do jovem participante podemos

refletir sobre a ação das políticas públicas existentes para a juventude, que se

propõem proporcionar aos jovens acesso à educação, à qualificação

profissional e à cidadania, criando oportunidades para utilizar capacidades,

tendo acesso ao mundo do trabalho, ao crédito, à renda, ao esporte, ao lazer, à

cultura e à terra. Proporcionarem a garantia dos direitos, com ofertas de

serviços que garantam a satisfação das necessidades básicas dos jovens e as

condições necessárias para aproveitar as oportunidades disponíveis. Mas

estão efetivamente atingindo os objetivos propostos?

Documento Diálogo Nacional para uma Política Pública de Juventude

(2006) elaborado pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas) e POLIS (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em

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Políticas Sociais) define política pública para juventude como sendo ―[...] o

conjunto de princípios, estratégias e ações que contempla as distintas

realidades dos jovens, estabelecendo seus direitos e responsabilidades e

afirmando suas identidades e potencialidades [...]‖ Contudo, diante do exposto,

articular as temáticas juventude e participação não é tarefa simples e torna-se

um importante desafio, especialmente no contexto atual do Brasil. Ainda há

dificuldades na visualização das necessidades e direitos específicos dos jovens

que garantam atualmente uma igualdade de direitos a todos.

Apontar para uma inserção social e produtiva para os jovens se faz

necessário. O desafio passa a ser o de combinar programas que proporcionem

políticas de transferência de renda, elevação quantitativa e qualitativa de

escolaridade, assistência a famílias de jovens em situação de vulnerabilidade

social, formação tecnológica, serviços comunitários, esporte e lazer, além de

uma nova abordagem da articulação entre o mundo do trabalho e a educação

para jovens. Porém surgem iniciativas no âmbito dos municípios, como Barueri,

na Grande São Paulo, que neste ano de 2011 implantou a Assessoria de

Política Públicas para a Juventude, objetivando formular ações capazes de

atender essa população, e também no âmbito federal, que já no discurso

inaugural do atual governo, teve abordada a questão social da juventude e

suas implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e

popular.

6.4.1 Percepção de Ariel: o que é ser jovem?

Ser jovem é ter sonhos e lutar para alcançá-los, ter determinação,

vencer obstáculos. Ser jovem é ter opinião, atitude, participar dos

movimentos, ir a baladas, navegar na Internet, ficar, namorar,

estudar, se divertir, trabalhar para comprar o que queremos sem ter

que ficar pedindo dinheiro aos nossos pais e ter um futuro. Ser

jovem é também perceber as coisas que estão erradas, como

corrupção, discriminação, falta de emprego para nós jovens e lugar

para tirar um lazer. Ser jovem é viver intensamente, experimentar

coisas novas, ter coisas novas. Ser jovem é saber viver a vida sim,

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seja com responsabilidade ou não, sempre com muita criatividade e

vontade de mudar aquilo que não está bom. E o nosso país precisa

disso, precisa de jovens interessados a mudar. Jovens precisam

fazer a diferença com a esperança de que nosso país tem chance

de ainda continuar mudando pra valer.‖

Na percepção de Ariel do que é ser jovem, observamos em seu relato

que ele tem sonhos e objetivos a alcançar, mesmo que para isso deva vencer

obstáculos e precise de determinação. Muitos outros jovens não têm a

determinação de Ariel, seja por outros contextos sociais e/ou emocionais. O

abandono de sonhos e ideais pelos jovens em algumas situações tem sua

origem no próprio processo de escolarização. Metade dos jovens com idade

entre 15 e 17 anos não está matriculada na etapa da educação básica em que

deveria estudar: o Ensino Médio. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios – Pnad (IBGE, 2009) mostram que há mais de cinco milhões de

estudantes nessa situação. No Norte, apenas 39,1% dos alunos nessa faixa

etária cursa o Ensino Médio.

Diante disso, como conciliar a inserção social do jovem, de pertencer a

uma sociedade globalizada e em rede em vista da necessária capacitação para

o mercado de trabalho e preparo básico para a vida? Por sua vez, as famílias

apresentam dificuldades para reverter esse quadro devido à sua condição

social, que marca o seu cotidiano, forçando de certa maneira o ingresso

precoce do adolescente no mercado de trabalho, independente de se tratarem

de empregos tidos como formais, ou, dependendo da condição do jovem, de

inserção em trabalhos não formais, a exemplo dos flanelinhas, guardadores de

carros, limpadores de vidros em semáforos, entre outros. Além da necessidade

de aumentar a renda, o trabalho dos jovens é valorizado pelas famílias por seu

potencial socializador, uma vez que, em tese, mantém os jovens ocupados e

longe dos desvios da vivência na rua, como as drogas e a criminalidade. De

acordo com Calimam (2006), diante de certos comportamentos e estilos de

vida não convencionais muitas pessoas atribuem qualificações e rótulos a

indivíduos com diferentes abordagens relacionadas ao desvio social e à

delinquência juvenil.

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No esboço de um relato sobre o que é ser jovem, é importante

contextualizarmos que a sociedade atual está fortemente apoiada, em seu

desenvolvimento, a fatos relativos a âmbitos socioeconômicos, emocionais e

culturais, que convergem das diversas maneiras de o jovem perceber e intervir

no mundo. Na sociedade contemporânea, com o processo de globalização, das

novas tecnologias de informação e dinâmicas de trabalho, vivemos momentos

que promovem uma multiculturalidade que em certos momentos rompem com

alguns referenciais tidos como tradicionais. Há substituições de cenários,

meios de comunicação, família, escola, trabalho, espaços privados,

individualização. Nesse contexto, como o jovem pode construir a sua

identidade?

Diante do relato de Ariel estabelece-se de modo mais efetivo a divisão

entre o mundo das vivências internas e o mundo da realidade objetiva. O

desenvolvimento da consciência para um estado de autoconsciência permite

que as vivências internas e o mundo da realidade objetiva sejam

crescentemente mais discriminados. Dessa forma, a juventude é o momento

em que se pode falar de uma personalidade, ao mesmo tempo em que se pode

falar de uma visão de mundo, embora ainda em processo de desenvolvimento.

Em consonância com a teoria de Vygotsky, acreditamos que é a partir da

juventude que o indivíduo pode compreender a sua própria inserção na

sociedade, ganhando em plasticidade, ao operar por conceitos, e ao possibilitar

o uso da vontade no encaminhamento de sua vida, objetivando transformações

que passam a implicar em uma nova consciência de si mesmo e uma visão de

mundo, capacitando-o a fazer escolhas e a tomar decisões sobre suas

aspirações e seu projeto de vida.

Porém, de certa forma, o jovem contemporâneo vive um paradoxo:

por um lado, há uma padronização excessiva de gostos e de atitudes e, por

outro lado, a condição de jovem que o define como alguém que possui uma

grande inquietude, que busca um sentido para a sua vida. Mas nem sempre os

contextos nos quais esse jovem se insere contribuem para o desenvolvimento

do pensamento dialético, questionador, transformador. Portanto seja no âmbito

familiar, escolar ou no trabalho, acreditamos que essas possibilidades, se não

estiverem acopladas a uma rede de sustentação mais ampla, a exemplo de

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políticas públicas para a juventude, onde haja espaços que possam garantir o

desenvolvimento de um sentido para a juventude, o jovem terá dificuldades em

exercitar o seu papel de ator social.

Os jovens estão em todos os lugares e a todo tempo, eles querem ser

notados, capacitados, educados e inseridos nos espaços que lhes cabe, mas

para isso necessitam ser preparados para fazer escolhas positivas; precisam

ser capacitados em termos éticos, cuidando de si e do outro, da sua

escolarização, e estar aptos a uma inserção no mercado de trabalho, visando

crescimento e desenvolvimento sociais. Falar sobre a temática da juventude e

trabalho ―[...] exige do pesquisador alguns recortes, a fim de objetivar uma

definição mais precisa sobre o adolescente pesquisado, tendo em vista a

diversidade sociocultural que o envolve‖. (SILVA e MUNHOZ, 2010, p.235).

Contudo, é importante evidenciar que há diferentes visões conceituais

relacionadas à definição de adolescência, uma vez que se encontram na

literatura correntes psicológicas que defendem a perspectiva

desenvolvimentista da qual decorre a concepção de adolescência como uma

etapa do desenvolvimento humano, entendendo a adolescência como uma

fase da vida que possui características biológicas e emocionais específicas,

com a ideia de evolução até a maturidade regida pelo desenvolvimento

biológico. Como também aqueles que adotam a perspectiva por nós defendida,

trabalhamos com a perspectiva a partir de referências históricas e sociais.

(PERALVA, 1997; DAYRELL, 2003; CHARLOT, 2000).

Para efeitos desta análise da percepção de Ariel do que é ser jovem,

acreditamos ser importante: em primeiro lugar, considerar que os jovens,

apesar de estarem inseridos em uma sociedade que tem vivido uma crise no

mercado de trabalho, como desemprego e falta de capacitação adequada,

valorizam o trabalho, seja para a realização pessoal, como fonte de renda,

como meio de liberdade ou como contribuição social. Entretanto, a inserção no

mundo do trabalho para o jovem é difícil, devido à falta de experiência e

capacitação adequada frente às novas dinâmicas do trabalho no mundo

globalizado, que está em constante transformação, devido ao impacto que

causam as novas tecnologias, flexibilidade e individualização do trabalho.

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Em segundo lugar, inserir o jovem no mundo do trabalho supõe políticas

públicas de inserção laboral, onde sejam priorizadas jornadas de trabalho

compatíveis com os estudos e programas de capacitação. Pensar nessa

questão é entender que essas ações não são apenas privilégios para os

jovens, mas sim, ações que geram consequências positivas para toda

comunidade, entre elas a escola, beneficiando a família, melhorando a

qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de

vida.

Como o jovem apresenta uma percepção de si mesmo e do trabalho,

são dados importantes para a compreensão dos novos desafios decorrentes da

globalização, das novas tecnologias, da educação e dos níveis de qualificação

para o ingresso no mundo do trabalho.

E, por fim, constatamos que os indicadores que evidenciam o relato de

Ariel pressupõem percepções de que o jovem não é um ser isolado, sendo

formado pelo processo em curso, tendo vivências e experiências passadas e

um futuro potencial. Para (O‘Gormam, 1981, p. 28) ―[...] a pessoa humana é um

ser social e histórico, imerso numa rede de relacionamentos.‖ Entendemos,

então, que a percepção da realidade não é estática, mas acompanha todo um

projeto de vida. Certamente a percepção do mundo é diferente para cada

pessoa; cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os

aspectos que têm especial importância para si própria. ―O que o indivíduo

percebe e como percebe são importantes para a compreensão do

comportamento humano‖ (BOCK, 1999, p. 51), aguçando, assim, sinais

interiores e exteriores, provocando reflexões críticas e gerando nas pessoas a

necessidade de reavaliarem suas próprias crenças como mecanismo de

preservação da qualidade de vida e da sua identidade humana. O que

pressupõe que as pessoas pensam, sentem, agem e têm reações por desejos

e aspirações, desencadeando, assim, uma percepção e valoração no contexto

do seu próprio processo histórico social, dimensionando ações reflexivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Os participantes desta pesquisa são jovens de ambos os sexos,

urbanos, do município de Carapicuíba, Estado de São Paulo, Brasil, com idade

entre 17 e 20 anos, estudantes de uma escola pública do terceiro ano do

Ensino Médio, pertencentes a famílias das camadas populares. Este estudo é

resultado de uma pesquisa sobre a influência da família e da escola na

formação do jovem para o mundo do trabalho. Toma como princípio a

juventude enquanto uma construção sócio-histórica, onde se pressupõe que as

abordagens sobre ela variam de acordo com os contextos social, histórico,

econômico e cultural em que são formuladas e propiciam a afirmação que a

juventude não é somente concebida como uma etapa de transição para a vida

adulta, como um processo que enfatiza somente os aspectos cronológicos.

Dentro dessa forma de perceber o jovem, procuramos situar elementos

norteadores para o enfrentamento dos impasses próprios do mundo

globalizado, como as novas dinâmicas do trabalho, a educação, a família e a

própria juventude.

O percurso de socialização destes jovens passa pelas famílias de camadas

populares a que pertencem. Isso implica que vivenciaram esse processo com

uma população dos centros urbanos, cujas condições de habitação muitas

vezes são precárias, assim como o acesso à saúde, à educação e ao

saneamento básico e dispõe de renda familiar reduzida. Nessas famílias, os

cuidados com os filhos em seu processo de socialização primário cabem

principalmente à figura materna, enquanto a figura paterna tem, muitas vezes,

importância menor nesse processo, que pode ser visto como um processo de

incursões de padrões culturais para organizar o comportamento individual, em

que a família é citada em diferentes aspectos a exemplo de modelo de conduta

no desempenho de seus papéis sociais e das normas e valores.

Os participantes muitas vezes se referem à família como sendo

mantenedores de papéis sociais conservadores, desejando que os jovens

construam projetos de vida que correspondam a expectativas dos próprios

pais, seja para responder à imagem sobre eles projetada da própria juventude

ou em projetos de vida que visem o aumento de renda da família, sem

considerar o desejo do próprio jovem. O que implica que a família pode tanto

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ajudar quanto dificultar o jovem no momento de suas escolhas, entre elas a

profissional, no momento em que o jovem está construindo sua identidade

tanto pessoal como vocacional. Contudo outras instituições como, escola,

igreja, mídia, além do grupo de pares também aparecem como transmissores

de valores.

Entendemos que a escola é um espaço que acolhe, e onde o jovem

pode aprender, mas não basta apenas passar um volume grande de

conteúdos: é preciso preparar para pensar. Deve ser um território em que o

jovem possa exercitar suas vivências e convivências. É nesse espaço de

convivência e aprendizagem, em que se dão encontros e relações, que o jovem

questiona valores e começa a construir seu projeto de vida. Porém, muitos

esforços ainda precisam ser construídos objetivando uma maior aproximação

da escola com a vida cotidiana dos jovens.

O trajeto escolar que esses jovens percorrem, nem sempre é um

caminho de possibilidades para que se solidifiquem ações que promovam a

capacitação e a potencialidade para que eles consigam uma inserção de

trabalho. Essas ações que deveriam ser direcionadas ao fortalecimento das

habilidades, da empregabilidade, propiciando um futuro próximo com tomada

de decisões favoráveis. Desse modo, cabe ao sistema educacional um papel

mais representativo na percepção de comportamentos, buscando significados

nas diversidades socioculturais que contribuam para a reflexão e propiciem

uma melhor qualidade nessa fase.

Tendo isso em mente, foi importante conhecer os aspectos das

percepções dos jovens do Ensino Médio de escola pública, por favorecer uma

visão mais ampla do tema juventude e inserção laboral. A partir dessas

reflexões e pressupostos podem-se atingir profissionais que trabalham com

grupo de adolescentes, e que, ao longo de sua atuação, podem ser

privilegiados com essa discussão. Entendemos que nessa convivência o

trabalho com jovens se pauta na construção de vínculo que viabiliza a

percepção das contradições pessoais e grupais. objetivando novos caminhos.

Contudo, nos tempos atuais, no momento em que a sociedade exibe um

cenário de crise de valores e ao mesmo tempo de transformações tecnológicas

e sociais que repercutem na forma e na diversidade de modos do jovem

participar socialmente e buscar uma inserção no mundo do trabalho, o presente

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estudo propicia uma reflexão necessária, no propósito de questionarmos

também que jovem e que sociedade queremos formar.

Isso implica que a contribuição da família e do processo de

escolarização como influência no desenvolvimento do jovem, fortalecendo sua

a autoestima e dando-lhe suporte para o seu crescimento pessoal e social,

poderá ser um dos caminhos para a cidadania, propiciando uma relação mais

humanitária entre o homem e o trabalho. Temos, de um lado, a família como

garantia de sobrevivência com um aporte afetivo fundamental para o pleno

desenvolvimento de seus integrantes, objetivando saúde, absorção de valores

éticos e de conduta, introdução na cultura e na sociedade. Por outro lado, a

escola, desenvolvendo um trabalho educativo, expressando o desenvolvimento

de competências pessoais e sociais que alavancam o jovem na busca uma

inserção social em sentido abrangente, que inclui o trabalho, para que ele

possa fazer parte de uma sociedade globalizada, com impactos tecnológicos,

que necessitam aproximar a prática ao discurso no processo de socialização

da juventude.

Entretanto, para uma expressiva parcela dos jovens desta pesquisa, os

caminhos para o mundo do trabalho são íngremes. Várias pesquisas sobre

essa temática, a exemplo das realizadas por organizações internacionais como

a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2008) nos revelam crescimento

da população jovem. A partir dessa condição, pode-se dizer que há uma

tendência de o mercado de trabalho não conseguir absorver toda essa

demanda de jovens. Segundo o mesmo relatório, a condição do jovem é bem

mais precária que a dos adultos, pois as chances de aqueles estarem

desempregados são três vezes maiores do que as destes, tanto no cenário

nacional como no internacional.

Um dos motivos principais dos relatos dos jovens participantes desta

pesquisa no que se refere à dificuldade de inserção no mercado de trabalho é a

falta de experiência, uma característica forte que se pode atribuir também a

este grupo. Entendemos que é nesta fase da juventude que o adolescente vai à

busca do seu primeiro emprego. No entanto, ele se depara com uma nova

organização produtiva no mundo do trabalho, originária dos impactos da

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competição, da tecnologização e da globalização na relação homem-trabalho,

que estão marcadas por uma série de mudanças, de caráter estrutural, para os

quais contribuem o enorme avanço do conhecimento científico e suas

correspondentes inovações na área produtiva e globalizações do cenário

mundial, que são inerentes ao capitalismo.

Com base nessas considerações, para que o jovem participante da

nossa pesquisa possa vivenciar esse novo ambiente em que ele quer se inserir

– o mundo do trabalho –, principalmente numa sociedade propensa a mudar

com bastante rapidez, ele necessita de contar com instituições como a família,

a escola, e outras esferas que propiciem uma formação ética, social e

profissional, para que ele possa modificar sua biografia e a de seu grupo.

Compreendemos a partir de reflexões desta pesquisa que a escola atual,

principalmente a escola pública do Ensino Médio não tem recursos humanos e

materiais que supram a necessidade de capacitação exigida pelo mercado de

trabalho, cabendo às empresas o treinamento em serviço, para obter e

aperfeiçoar as habilidades e conhecimentos profissionais, principalmente para

atender um cenário caracterizado pela nova dinâmica do trabalho, novas

tecnologias e globalização.

Diante dessas considerações, fica evidenciado que a atual escola não

comporta as necessidades do mundo do trabalho, o que pode significar que a

mesma não reúne qualidades que capacitem os jovens a se inserirem no

mercado. E aqui cabe um questionamento: é papel da escola preparar para o

mundo do trabalho? Os jovens acreditam que são necessárias mudanças,

visando uma escola que além de transmitir conhecimentos, também possa criar

um espaço de socialização, objetivando assim discussões, reflexões para que

os jovens se posicionem sobre suas reais necessidade sociais, alavancando-o

e impulsionando-o a pensar a vida e a orientação profissional, criando

tendências. A escola precisa abrir um espaço para o jovem discutir seu projeto

de vida, e não se fala em projeto de vida sem discutir o trabalho, onde podem

ser abordadas, sobre o tema, as inquietações dos jovens, seus temores e

expectativas, possibilitando que ele perceba o trabalho como realização

pessoal e meio de participação, cooperação e sobrevivência. Originando-se

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assim uma escola que compartilhe seu papel transformador do entorno social

do jovem na sociedade contemporânea.

A família também deve ser incluída nesse processo de desenvolvimento

do jovem na busca do primeiro emprego, por sua função de garantir

sobrevivência, estabilidade emocional, e condições de aprendizagem durante o

processo de socialização em conjunto com a sociedade e o Estado, pois, como

diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art. 227: ―É dever da família,

da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta

prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão‖. Essas

ações podem favorecer o processo de escolhas profissionais de jovens em

diferentes dimensões, como motivação para os estudos, motivação para o

sucesso escolar, socialização. Ações estas que devem ser acompanhadas de

combinações de afetos, que ajudam a melhorar o desenvolvimento e as

escolhas dos jovens, estejam elas focadas na ótica sociológica ou psicológica,

já discutidas no corpo deste estudo.

Falar sobre a percepção do jovem sobre o trabalho é considerar que,

apesar de estarem inseridos em uma sociedade onde os jovens têm vivido uma

crise no mercado de trabalho frente às novas dinâmicas do trabalho no mundo

globalizado e em constante transformação, devido aos impactos causados

pelas novas tecnologias e flexibilidade e individualização do trabalho, com

desemprego e falta de capacitação adequada, os jovens valorizam o trabalho,

seja como realização pessoal, como fonte de renda, como meio de liberdade,

como contribuição social. Contudo um trabalho para a juventude supõe

políticas públicas de inserção no mundo do trabalho, onde sejam priorizadas

jornadas de trabalho compatíveis com as de estudos, e programas de

capacitações. Pensar nessa questão é entender que essas ações não são

apenas privilégios para os jovens, mas sim, ações que têm consequências

sobre toda comunidade, beneficiando a escola e a família, melhorando a

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qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de

vida.

Este estudo é o produto de um processo realizado por muitas mãos: dos

facilitadores encarregados dos jovens, dos responsáveis pelo trabalho junto

aos jovens, dos jovens participantes e por fim a aqueles que contribuíram para

a adequação da proposta a uma realidade possível, especificamente aos

autores que fundamentam este trabalho, que ajudaram a criar com maior

sinergia e a consolidar diversas contribuições na área educacional, no campo

do trabalho, no tocante ao papel da família e à percepção da juventude,

transformando-o em material acessível a educadores. Cada pesquisador há de

encontrar um jeito de caminhar na perspectiva de novas percepções das

pessoas.

São muitos os caminhos possíveis. Nesta caminhada, cada passo tem

um propósito, cada percepção tem um sentido. Dos levantamentos

preliminares, da escolha da epistemologia, do método, dos estudos, das

entrevistas, da troca de experiências... enfim foram vários os percursos para

estudar as repercussões da prática familiar escolar na escolha do trabalho do

jovem. As reflexões a partir dos pressupostos que atingem todos os

profissionais que trabalham com grupos de jovens e que, ao longo de sua

atuação, aprendem que não existem certezas absolutas ao se lidar com

pessoas. Nesta convivência constatamos que o trabalho com jovens se pauta

na construção de vínculo que viabiliza a percepção das contradições pessoais

e grupais e a construção de novos caminhos.

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Instituto PÓLIS: http://www.polis.org.br

IPEA: http://www.ipea.gov.br

MEC:http://www.mec.gov.br/

Ministério do Trabalho:http://www.mte.gov.br/

OIT :http://www.oit.org.br/

PNUD:http://www.pnud.org.br/home/

PROJOVEM: http://www.projovem.gov.br

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Secretaria Geral da Presidência da República: http://www.presidencia.gov.br

UNESCO: http://unesdoc.unesco.org

UNESCO:http://www.unesco.org/pt/brasilia

UNICEF BRASIL: http://www.unicef.org.br

Universidade de Brasilia:http://www.unb.br

ANEXOS

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ANEXO A - MODELO DE QUESTIONÁRIO

QUESTIONÁRIO

I-Perfil do Entrevistado

1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. Idade

3. A sua cor ou sua raça é: ( ) Branca ( ) Preta ( )Amarela ( )Parda ( ) Indígena

4. Qual sua religião:

5. Local de nascimento: Cidade/Estado/Pais

6. Qual é o seu estado civil: ( )Solteiro (a) ( ) Casado(a) ( )Divorciado

( ) Viúvo(a) ( ) Desquitado(a)ou separado judicialmente

7. Você tem alguma deficiência que limite suas atividades habituais:

( ) Não ( ) Sim Qual:

II - Família e Domicílio

8. Você reside em domicílio com:

( ) pai ( ) avó ( )sozinho ( )tios

( ) mãe ( ) avô ( )esposa ( )outros

9. Qual é o seu estado civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( )Divorciado(a)

( ) Viúvo(a) ( ) Desquitado(a) ou separado(a) judicialmente

10. Você tem alguma deficiência que limite suas atividades habituais:

( ) Não ( ) Sim Qual:________________________________

11. Quantidade de pessoas no domicílio:

12. Número de irmãos:

13. Número de pessoas que contribuem

com a renda familiar:

14. Você possui dependentes:

( ) não ( ) sim Quantos: _____________

15. Qual é a sua a renda familiar:

( ) 1 SM ( ) 1-2 SM ( ) 2-3 SM ( ) 3-4 SM ( ) 4-5 SM ( ) + que 5 SM

(SM)= Salário Mínimo

16. Pai trabalha: ( ) Sim ( ) não

17. Função:

18. Grau de escolaridade do pai:

19. Mãe trabalha : ( ) Sim ( ) não

20. Função:

21. Grau de escolaridade da mãe:

22. Qual é o seu tipo de domicílio: ( ) casa ( ) apto ( ) cômodo

23. O domicílio é: ( ) próprio ( ) alugado ( ) cedido ( ) outro

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24. Você possui conta corrente ou poupança: ( ) sim ( ) não

25. Você possui plano de saúde ( ) sim ( ) não

26. Você possui cartão de crédito ( ) sim ( ) não

27. No seu domicílio existe:

( ) Rádio

( ) Geladeira ou Freezer

( ) TV

( ) Aparelho de DVD

( ) Máquina de lavar roupa

( ) Máquina de lavar louça

( ) Aparelho de som

( ) Microcomputador

( ) Linha telefônica instalada

( ) Forno microondas

( ) Celular

( ) Filtro d’água

( ) Aparelho de ar condicionado

( ) Secador

( ) Fogão

( ) Automóvel

III-Cultura e Lazer

28. Qual foi o ultimo livro que você leu que não fosse exigência escolar:

29. Enumere de 1 a 6-por ordem de importância a frequência em que você pratica ou frequenta

algumas das seguintes atividades:

( ) esportes ( ) artes ( ) cursos profissionalizantes ( ) curso de idiomas

( ) pré- vestibulares ( ) outros. Quais?

30. Você tem acesso a informática: ( ) sim ( ) não

31. Enumere de 1 a 5, por ordem de frequência, o local onde você utiliza o computador: ( )

casa ( ) escola ( ) lanhouse ( )casa de amigos ( )outros

32. Enumere de 1 a 5, por ordem de importância, a sua participação em uma ou mais das

seguintes comunidades ou agremiações :

( ) virtual ( ) esportivas ( ) religiosas ( ) teatro ( ) outras. Qual: ___________

31.Como você utiliza seu tempo livre?

32.Você já utilizou drogas: ( ) não ( ) sim Comente:

33.Você já teve algum tipo de problema com a justiça: ( ) não ( ) sim Comente:

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IV- Reflita e responda às questões abaixo: 1. Você já teve alguma ocupação remunerada? ( ) sim ( ) não

2. Você exerce atualmente algum tipo de trabalho remunerado?

( ) sim ( ) não

3. O que você sabe do mundo do trabalho ?

( ) nada ( ) muito pouco ( ) pouco ( ) bastante

4. Enumere por ordem de importância de 1 a 5, O que você espera do mundo do trabalho ?

( ) dinheiro ( ) fama ( )poder ( ) posição social ( ) realização ( ) outras quais:

5. Enumere por ordem de importância de 1 a 5, O que você espera da escola ?

( ) socialização ( )educação ( )conhecimento ( ) crescimento

( ) preparar para o mundo do trabalho:

6. Enumere de 1 a 5 , por ordem de importância; Por que você deseja trabalhar ?

( ) necessidade ( )independência ( ) crescimento ( )auto realização

( ) outra -qual

7. Em sua opinião para que serve a escola?

8. Você já pensou em ter uma profissão? ( ) sim ( ) não Qual:

_____________________________________ por quê?______________________________

9-Você acha que sua família tem contribuído para o seu futuro profissional? ( )sim ( ) não

Comente:__________________________________________________________________

10- Você acha que seu grupo de amigos tem contribuído para o seu futuro profissional?

11-Você conhece a Legislação Trabalhista? Comente.

12-Em sua opinião para que serve o trabalho?

13-Você acha que a escola tem contribuído para o seu futuro profissional?

( ) sim ( ) não – Por quê?

14- O que em sua opinião dificulta a inserção no mundo do trabalho ?

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ANEXO B - MODELO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1- Qual a sua expectativa para o primeiro emprego?

2- Qual o sentido do trabalho para você?

3- Qual o valor do trabalho para você?

4- Qual a percepção do trabalho para você?

5- Você acredita que sua vida ira mudar após o primeiro emprego? Por quê?

6- O que motiva você na vida?

7- Em sua opinião quais outros grupos sociais ou instituições têm contribuído

para o seu futuro profissional?

8- Quando você necessita de dinheiro a quem você recorre?

9- Você frequenta alguma igreja? Por quê?

10- Em sua opinião o que é ser jovem?

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ANEXO C - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA FIEO