ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E … · 5.3 TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL ... mundo do...
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MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA
ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco
2010
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MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA
ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Educacional, do Centro Universitário FIEO, para a obtenção do título de mestre em Psicologia Educacional. Área de concentração: Ensino-aprendizagem. Linha de pesquisa: Ensino-aprendizagem no contexto social e político. Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco
2010
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FICHA CATALOGRÁFICA
BATISTA DASILVA, Marcos A. Estudos e Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem – São Paulo: SP, 2010.150 f.
Dissertação – Mestrado em Psicologia Educacional Unifieo – Centro Universitário Fieo
1. Jovem 2. Mundo do trabalho 3. Escola. 4. Família.
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO
MARCOS ANTONIO BATISTA DA SILVA
ESTUDOS E REPERCUSSÕES DA PRÁTICA FAMILIAR E ESCOLAR NA ESCOLHA DO TRABALHO DO JOVEM
Aprovado em: _____/___________________/ ______
Banca Examinadora:
Professor Dr. João Clemente de Souza Neto Instituição: Centro Universitário Fieo
_______________________________________________
Professora Drª. Cleomar Azevedo Instituição: Centro Universitário Fieo
_______________________________________________
Professor Dr. Rogério Adolfo de Moura Instituição: UNICAMP
_______________________________________________
SÃO PAULO
2010
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Dedico, em homenagem póstuma:
ao meu pai, João Batista da Silva,
à minha mãe, Amélia Marçal da Silva,
pais carinhosos e dedicados.
Que seus frutos sejam sempre de glória!
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ser um sinal de rumo certo na minha vida. Aos Anjos,
Santos e Irmãos que sempre me inspiram, iluminam-me, protegem-me e
ensinam-me.
Agradeço à minha família, aos meus amigos, e a todos os que fazem parte, ou
fizeram parte de algum momento da minha vida, em especial ao Adriano, um
jovem que, com sua simplicidade, me ensinou a observar a natureza; que já
nos deixou, mas continuará sendo eternamente jovem.
A todos os professores que fizeram parte da minha trajetória, desde os anos
iniciais até o momento presente, com os quais aprendi a gostar de ler. Em
especial aos professores do Centro Universitário FIEO, que durante o
Programa de Mestrado mostraram-se sempre dedicados e com atenção
especial. Professores Doutores Márcia Siqueira de Andrade, João Clemente de
Souza Neto, Marisa Irene Siqueira Castanho, Maria Luiza Puglisi Munhoz,
Maria Laura Barbosa Franco, Cleomar Azevedo.
Aos Professores Dr. Rogério Moura, da UNICAMP, Drª. Cleomar Azevedo e Dr.
João Clemente de Souza Neto, da UNIFIEO, participantes da Banca de
Qualificação do Programa de Mestrado, pela possibilidade da troca e pelas
contribuições sempre determinantes para a conclusão deste estudo.
Ao Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto, pelo seu esforço intelectual
durante o desenvolvimento deste estudo, com suas orientações acadêmicas
eficazes e humanitárias.
Aos grupos de apoio de serviços gerais, administrativos e acadêmicos do
Centro Universitário FIEO, que, cada qual à sua maneira, fizeram parte do
cotidiano para a aquisição do conhecimento e aos colegas e amigos que fiz
durante o Programa de Mestrado, pelo companheirismo e estímulo, com os
quais também aprendi a ser e a conviver. Em especial, Rosa, Rodrigo,
Chocolate, Val, Raquel e Edna.
Ao Prof. Dr. Sigmar Malvezzi, do Instituto de Psicologia da USP, que contribuiu
de maneira eficaz com suas aulas para a minha percepção da relação homem-
trabalho.
Ao Professor Dr. Celso Beisiegel, da Faculdade de Educação da USP, com
quem tive a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a educação e
sociedade brasileira.
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Às Professoras Doutoras Marília Pontes Sposito, Maria Carla Corrochano, da
Faculdade de Educação da USP, pelo acolhimento sempre afetivo e efetivo nas
questões da juventude e pela simplicidade com que conduzem o processo de
aquisição de conhecimento de futuros jovens pesquisadores.
Aos colegas do Grupo de Estudos em Sociologia da Educação (GETESE),
coordenado pela Profª. Drª. Marília Pontes Sposito, por partilharem suas
vivências acadêmicas, em especial à Suely e à Bete, pelo carinho e
acolhimento.
Aos colegas de trabalho Fernando Puppo, Maria de Fátima Amaral e Carla
por me ajudarem a acreditar que seria possível fazer o curso, mesmo quando
todas as circunstâncias pareciam dizer o contrário.
À Direção da Faculdade Nossa Cidade (FNC), aqui representada por sua
diretora, Sra. Samira Fortunato, e pelo coordenador, Fernando Citroni, pela
oportunidade de pôr em prática os conhecimentos adquiridos.
Aos responsáveis pela unidade escolar onde foi realizada a pesquisa, por acreditarem na importância deste estudo para o desenvolvimento do processo de escolarização dos estudantes do Ensino Médio. Aos jovens adolescentes participantes desta pesquisa e suas famílias, por entenderem a relevância deste estudo, pela participação, colaboração e prontidão no decorrer das atividades propostas.
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Dirijo-me, sobretudo aos jovens adolescentes!
A iniciativa deste estudo é norteada pela crença de que o encaminhamento das
questões de interesse social só será efetivo com a aliança entre as ações do
Poder Público e a iniciativa da cada jovem e de cada comunidade.
Marcos Antonio Batista da Silva
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SUMÁRIO
RESUMO .................................................................................................... 10
ABSTRACT ................................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12
2 JUVENTUDE E ADOLESCÊNCIA: DIFERENTES OLHARES ................ 27
2.1 JUVENTUDE, CONFLITOS E MODERNIDADE........................................ 32
2.2 JUVENTUDE, TRABALHO: UM CONTEXTO ........................................... 35
2.3 O NOSSO JOVEM ..................................................................................... 39
2.3.1 Conhecendo os jovens adolescentes participantes ............................ 41
3 FAMÍLIA, ESPAÇO DE PROTEÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS .. 45
3.1 FAMÍLIA: UMA CONSTITUIÇÃO .............................................................. 46
3.2 FAMÍLIA E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS ........................ 51
3.3 PERCEPÇÕES DE JOVENS SOBRE ESCOLHAS PROFISSIONAIS ..... 55
4 EDUCAÇÃO: CONVIVÊNCIA E APRENDIZAGEM ................................. 62
4.1 EDUCAÇÃO, ESTADO E SOCIEDADE .................................................... 63
4.2 EDUCAÇÃO: DIFERENTES REALIDADES ............................................. 67
4.3 EDUCAÇÃO E ENSINO MÉDIO ................................................................ 70
4.4 PERCEPÇÕES DE UM JOVEM DO ENSINO MÉDIO ............................. 71
4.4.1 Percepções dos jovens participantes da pesquisa sobre a escola .... 75
5 INSERÇÃO DE JOVENS E O MUNDO DO TRABALHO ........................ 85
5.1 TRABALHO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS ............................................ 85
5.2 TRABALHO: UM FAZER HUMANO .......................................................... 92
5.3 TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL .......................................................... 96
5.4 TRABALHO: A VISÃO DOS JOVENS ....................................................... 101
6 CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ................................. 107
6.1 CENÁRIOS E ATORES ............................................................................. 107
6.2 O CENÁRIO: CARAPICUÍBA, UMA ALDEIA DA PERIFERIA .................. 108
6.3 O PALCO: UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO ....................... 114
6.4 PERCEPÇÕES DOS JOVENS SOBRE OS ESPAÇOS DE
CONVIVÊNCIA, A FAMÍLIA, A ESCOLA E O TRABALHO ......................
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 133
ANEXOS .......................................................................................................... 145
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BATISTA DA SILVA, Marcos. A. (2010). Estudos e Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem. São Paulo: 2010. [Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Psicologia Educacional, Centro Universitário FIEO].
RESUMO
Esta pesquisa objetivou discutir a inserção laboral do jovem do Ensino Médio considerando a teoria e o cotidiano da prática familiar e escolar, no momento em que nossa sociedade vive um processo de intensa globalização e progresso tecnológico, que sugere reorganizações, frente às novas dinâmicas do trabalho humano. Ultimamente as instituições e organismos – como a UNESCO, OIT, Ministério do Trabalho e Ministério da Educação –, têm voltado seu foco para a formulação de políticas que contemplem o jovem adolescente na inserção do mundo do trabalho como um meio de socialização e de realização pessoal. O desenvolvimento deste trabalho foi norteado pelo referencial teórico sócio-histórico. Esta pesquisa contou com 50 jovens participantes de ambos os sexos, com idade entre 17 e 20 anos, estudantes do 3º ano do Ensino Médio, de escola pública, no município de Carapicuíba, SP, em busca do primeiro emprego. O presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica realizada, um aprofundamento da discussão sobre a categoria juventude e as repercussões da prática familiar e escolar, na escolha de trabalho de jovens e inserção laboral. É também uma pesquisa qualitativa, no sentido em que faz um levantamento através de coleta de dados dos jovens. Para coletar as informações na escola dos participantes, utilizamos questionários e a técnica de grupo focal, além da nossa vivência com essa temática. A pesquisa teve duração de um ano, e seus resultados atendem às exigências para a obtenção do Mestrado em Psicologia Educacional. Como conclusão, inferimos que os resultados sinalizaram para a necessidade do fortalecimento da autoestima do jovem, para a necessidade de a escola assumir o propósito de prepará-lo para o mundo do trabalho, compreendendo o seu entorno social. Observamos ainda que a família, além de garantir sobrevivência e estabilidade emocional, necessita dar condições para o jovem fazer suas escolhas. Contudo, os jovens, apesar de estarem inseridos em uma sociedade que vive uma crise no mercado de trabalho com desemprego e falta de capacitação, valorizam o trabalho, seja para realização pessoal, fonte de renda, meio de ganhar independência ou como contribuição social. No que tange à inserção no mercado de trabalho, creditam como dificuldades a falta de experiência e capacitação inadequada frente às novas dinâmicas do trabalho.
Palavras-chave: jovem; mundo do trabalho; escola; família.
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BATISTA DA SILVA, Marcos A. (2010). Studies and Impact of Family Practice and School Choice in Labour Youth. São Paulo: 2010. [Masters Dissertation – Masters Program in Educational Psychology, Academic Center FIEO].
ABSTRACT
This research discusses the labor insertion of the young high school considering the theory and practice of everyday family and school at a time when our society is undergoing a process of intense globalization, and of technological progress suggests that reorganizations, compared to the new dynamics of human labor. Lately the institutions and bodies such as UNESCO, OIT, Ministry of Labour and Ministry of Education, have turned their focus to the formulation of policies that address the adolescent in the insertion of the working world as a means of socialization and personal fulfillment. The development of this work was guided by socio-historical theories. This survey had 50 young people of both sexes aged between 17 and 20 years, students in the 3rd year of a public High School, in the town of Carapicuíba, SP, seeking their first job. This paper presents, through literature search was undertaken, a further discussion on the youth category and the impact of family practice and school choice in youth work and labor insertion. It is also a qualitative research, in that it makes a survey by collecting data from young people. To collect the information of participants in school, we used questionnaires and focus groups, as well as our experience with this topic. The search lasted one year; the search results meet the requirements for obtaining a Masters in Educational Psychology. In conclusion, we infer that the results signal the need for strengthening self-esteem, the need for the school to assume the purpose of preparing students for the world of labor, including the social environment. We further note the need to ensure family survival, emotional stability, and the empowerment of the youth to make their choices more consciously. However, young people, despite being embedded in a society where they have experienced a crisis in the labor market with unemployment, and lack of capacity, still value labor, whether as personal achievement, a source of income, or freedom, whether as a means of social contribution. Regarding the integration into the labor market, they credit difficulties to lack of experience and inadequate training due to the new dynamics of work. Keywords: young ; working life; school; family.
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1 INTRODUÇÃO
Trabalhar com temas envolvendo a juventude geralmente exige do
pesquisador alguns recortes, objetivando uma definição mais precisa sobre
essa categoria, tal é a multiplicidade de abordagens que esse conceito
contém.Há diferentes concepções no que se refere ao próprio ―objeto‖ ora em
estudo, o jovem e a análise da diversidade sociocultural que os envolvem mas
partiremos da definição de juventude de Abramo e Leon:
[...] uma faixa etária, um período da vida, um contingente
populacional, uma categoria social, uma geração... Mas todas essas
definições se vinculam, de algum modo, à dimensão de fase do ciclo
vital entre a infância e a maturidade‖. (ABRAMO e LEON, 2005, p.6)
Há fortes razões para estudar o atual contingente jovem brasileiro, em
primeiro lugar: sua magnitude. Em 2007, segundo a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(Pnad/IBGE), o Brasil possuía cerca de 50,2 milhões de jovens entre 15 e 29
anos, o que correspondia a 26,4% da população, embora esse contingente
populacional fosse maior do que o das últimas décadas do século 20
(ANDRADE, 2008, p. 25).
Em segundo lugar, pela necessidade de se fazer uma reflexão sobre a
educação de jovens. Neste sentido, quanto mais se articula o conhecimento
frente ao mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar
respostas, e, consequentemente, quanto mais incitados, mais serão levados a
um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Essa
relação dialética é cada vez mais assimilada na medida em que educadores e
educandos se fazem sujeitos do seu processo.
Em terceiro lugar, por estudar a juventude e alguns fatores que
acontecem neste período. O tema juventude tem sido bastante discutido na
sociedade contemporânea nos últimos anos, ampliando sua visibilidade e
relevância, a exemplo do discurso inaugural da posse da atual Presidenta do
Brasil, Dilma Rousseff, que abordou a questão social da juventude e suas
implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e popular.
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Contudo é preciso explorar essa temática, iniciando por dizer que existe
hoje, no Brasil, o uso concomitante de dois termos, adolescência e juventude,
que ora se superpõem, ora constituem campos distintos, mas complementares,
ora traduzem uma disputa por distintas abordagens e muitas vezes, as disputas
existentes restam escondidas na imprecisão dos termos. (ABRAMO e LEON,
2005, p. 6).
Já o termo adolescência1 tem como fundo um período da vida marcado
pela puberdade, pelas oscilações emocionais e características
comportamentais – já não é criança e entretanto não é ainda adulto. Essa é
uma perspectiva mais utilizada pelas ciências jurídicas e da saúde. O
ordenamento jurídico que emergiu da Constituição de 1988 propiciou um amplo
debate na sociedade brasileira acerca dos direitos da infância e da
adolescência. Esse debate incluiu os aspectos pedagógicos e sociais da
temática da adolescência, e definiu como faixa etária dessa fase da vida o
período que vai dos 12 aos 18 anos de idade, conforme estabelece o Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA, em consonância com algumas teorias
sociológicas e psicológicas, que foram utilizadas para explicar os problemas
sociais da adolescência. ―Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
criança e ao adolescente.‖ (ECA)
A inspiração de reconhecer proteção especial para a criança e
adolescente, não é nova. Já a Declaração de Genebra de 1924 determinava ―a
necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial‖, da mesma
forma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas
(Paris, 1948) apelava ao ―direito a cuidados e assistência especiais‖; na mesma
orientação, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São
1 A noção de adolescência está mais consolidada, clara e difundida na sociedade brasileira,
contando com maior institucionalidade (da qual o marco legal, o ECA, e a existência de conselhos tutelares e de defesa em todos os níveis da federação são sua maior expressão), maior número de ações e atores comprometidos a sustentarem sua postulação. Para registro de tal noção, recolhemos a definição constante do Relatório da Situação da Adolescência Brasileira, elaborado e publicado pelo UNICEF em 2002: logo no início do texto, toma-se como ponto de partida a noção de adolescência como uma ―fase específica do desenvolvimento humano caracterizada por mudanças e transformações múltiplas e fundamentais para que o ser humano possa atingir a maturidade e se inserir na sociedade no papel de adulto‖; acrescenta-se, logo em seguida, que é ―muito mais que uma etapa de transição, contemplando uma população que apresenta especificidades, das quais decorrem uma riqueza e potencial únicos‖.(Abramo e Leon, 2005, p. 29)
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José da Costa Rica, 1969) alinhava, em seu art. 19: ―Toda criança tem direito
às medidas de proteção que na sua condição de menor requer, por parte da
família, da sociedade e do Estado‖. Ainda mais recentemente, as Regras
Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da
Juventude – Regras de Beijing (Res. 40/33 da Assembleia-Geral, de 29.11.85);
as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil –
Diretrizes de Riad (Assembleia-Geral da ONU, novembro/90); bem como As
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de
Liberdade (Assembleia-Geral da ONU, novembro/90), lançaram as bases para
a formulação de um novo ordenamento no campo do Direito e da Justiça,
possível para todos os países, em quaisquer condições em que se encontrem,
cuja característica fundamental é a nobreza e a dignidade do ser humano
criança. Diante das influências normativas do cenário mundial, o Brasil passou
a adotar suas principais orientações. Entretanto a necessidade de normatizar e
naturalizar os conceitos ocorre simultaneamente aos momentos críticos de
consolidação de novas etapas do sistema capitalista.
Em quarto lugar, pela necessidade de refletir sobre a posição política e
econômica na questão do emprego para jovens. Na sociedade contemporânea
o trabalho é essencial para o desenvolvimento do sujeito e sua interação com a
sociedade. O período de hegemonia do projeto neoliberal em nosso país
provocou profunda desestruturação do mercado de trabalho e a diminuição do
papel do Estado no provimento de políticas sociais. O resultado da política
econômica desse período foi o baixo crescimento econômico e o achatamento
da renda das famílias. A conjunção desses fatores impôs aos filhos e filhas em
idade escolar a necessidade de buscar formas de incremento da renda familiar.
Com o objetivo de compreender as questões da relação juventude e
trabalho, por entendermos que o trabalho seja um meio de realização e de
construção da identidade dos jovens como um processo não dissociado das
mudanças que ocorrem na sociedade, buscamos estudar as repercussões da
prática familiar e escolar na escolha do trabalho do jovem.
O presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica
realizada, um aprofundamento da discussão sobre a categoria juventude e as
repercussões da prática familiar e escolar, na escolha de trabalho de jovens e
inserção laboral. Neste sentido o tema juventude e trabalho se reapresentam
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na agenda das principais universidades e centros de pesquisa do Brasil,
procurando responder aos questionamentos e desafios que emergem de um
mundo em transformação. Vários pesquisadores têm-se debruçado sobre esta
temática, a exemplo de (Sposito, 2009; Abramo & Leon, 2005a; Dayrell, 2003;
Corrochano &, Nakano, 2009; Peregrino, 2009). A compreensão da categoria
juventude está circunscrita, de maneira integrada, nas relações sociais,
culturais, políticas e econômicas.
Neste sentido sociólogos e psicólogos, como, Adorno, Ianni, Castoriadis,
Mannheim, Bourdieu, Souza Neto, Durkheim, Erikson, Piaget, Vigotski e outros,
defendem a família como espaço privilegiado para a formação dos valores
essenciais à convivência. Nela, a criança e o adolescente introjetam a ideia de
papeis e constroem o juízo moral, fundamentais à formação da identidade do
sujeito. Outro espaço importante dentro deste contexto é a escola, há um
consenso de que, na sociedade do conhecimento e da informação, a
escolarização tem valor inquestionável, “já que é capaz de proporcionar ao
individuo experiências e informações de sua cultura” (Rego, 2002, p. 48).
Entretanto, acreditamos que a escola precisa abrir um espaço para que
possam discutir projetos de vida que incluem o trabalho.
O que pressupõe que o trabalho permite aos sujeitos expandir suas
energias, desenvolver sua criatividade e realizar suas potencialidades. A ação
de trabalhar não é apenas extrair materiais da natureza, mas sim alterar seu
estado natural, definir e melhorar sua utilidade. Este ato é carregado de
aspectos sociais, em vista da manutenção material e imaterial pessoal e da
comunidade, bem como da coesão social (Braverman, 1987). Segundo os
clássicos da sociologia e da psicologia, cada descoberta na linha da tecnologia
e da ciência produz também uma mudança na divisão social do trabalho.
Isso não significa uma defesa da inserção precoce dos jovens no mundo
do trabalho. Ao contrário, o que defendemos é a mudança nos quadros da
desigualdade social, política, de oportunidades e de condição existencial de
nossa sociedade, o que implica em alterações de ações e valores sócio-
históricos sedimentados (Corrochano, 2008). Segundo nossa perspectiva, o
trabalho não se reduz a um método pedagógico, mas um meio para o
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desenvolvimento da educação profissional (Vygotsky, 2003). Não só se
introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a
atividade laboral a base do processo educativo.
Hoje, é muito tênue a separação entre escola e trabalho, pois ambos
mantêm uma reciprocidade. Similarmente, o fim primeiro da família não é
preparar o jovem para o trabalho, mas os procedimentos familiares têm uma
sintonia com o mundo do trabalho. Compartilhamos com o pensamento de
(Rossler, 2007) de que o ensino profissionalizante poderia ser uma solução
para o problema de educação para o trabalho e destacamos a importância de
refletir sobre as relações entre as esferas do mundo do trabalho e da
educação.
Segundo nossa perspectiva, o trabalho não se reduz a um método
pedagógico, mas um meio para o desenvolvimento da educação profissional
(Vygotsky, 2003). Não só se introduz o trabalho na escola, mas também a
escola no trabalho, sendo a atividade laboral a base do processo educativo.
Este estudo também se torna uma pesquisa qualitativa, no momento em
que procuramos interpretar o fenômeno que observamos, através da
compreensão de seus significados, valorizando a fala do jovem, por meio de
questionários e entrevistas, com cinquenta jovens de ambos os sexos, com
idade entre 17 e 20 anos,2 matriculados no terceiro ano do Ensino Médio de
uma escola pública de município de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Brasil.
A pesquisa foi realizada na própria escola dos sujeitos, numa sala de
aula, coletivamente, após breve explicação dos objetivos do trabalho pelo
aplicador da pesquisa e da devida autorização dos pais ou responsáveis dos
participantes menores de idade. Não foi obrigatório o preenchimento do
2 Ainda que para fins de definição de política pública, legislação e pesquisa seja possível fixar
um recorte etário para determinar quem são os jovens, deve-se ter em conta que ―juventude‖ é uma categoria em permanente construção social e histórica, isto é, varia no tempo, de uma cultura para outra, e até mesmo no interior de uma mesma sociedade. No Brasil, a adoção do recorte etário de 15 a 29 anos no âmbito das políticas públicas é bastante recente. A praxe anterior tomava por ―jovem‖ a população na faixa etária entre 15 e 24 anos. A ampliação desta faixa para os 29 anos não é uma singularidade brasileira, configurando-se, na verdade, numa tendência geral dos países que buscam instituir políticas públicas de juventude. Duas são as principais justificativas da mudança: maior expectativa de vida para a população em geral, e maior dificuldade desta geração em ganhar autonomia em função das transformações no mundo do trabalho. (Andrade, 2008, p.26)
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material impresso, dando-se ao participante a liberdade de devolvê-lo em
branco. Registre-se que, para que este trabalho fosse realizado, primeiramente
o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário
FIEO, tendo sido cumpridos todos os pré-requisitos necessários para a sua
realização.
Utilizamos um questionário com perguntas abertas e fechadas, de
autopreenchimento e sem identificação pessoal de aluno. O questionário foi
dividido da seguinte maneira. Em primeiro lugar foi levantado o perfil do
participante através de perguntas que nos informariam: sexo, idade, raça,
religião, naturalidade, estado civil entre outros.
A seguir, o questionário levantou informações sobre a família e o
domicílio: número de pessoas na casa, grau de parentesco, irmãos, renda
familiar, dados socioeconômicos. Em terceiro lugar, dados sobre cultura e
lazer: literatura, atividades, tecnologia, tempo livre, atitudes e comportamento.
E, por fim, questões de reflexões sobre algumas temáticas: o mundo do
trabalho, legislação trabalhista, profissões, escola, trabalho, expectativa
profissional, projeto de vida e família.
Dos cinquenta entrevistados, escolhemos nove para participarem de um
grupo focal de reflexão sobre temas relacionados à inserção no mundo do
trabalho, à escola, à família e às escolhas profissionais. A dinâmica do grupo
focal propicia uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com a
população que se deseja investigar e, ao mesmo tempo, de aprofundar alguns
temas nem sempre abordados num primeiro momento. Não obstante haver
críticas a essa metodologia, ela foi importante para o diálogo do pesquisador
com os adolescentes e destes entre si, no sentido de desvelar um pouco mais
o fenômeno estudado.
Neste estudo, privilegiamos dois participantes do grupo, por
entendermos que se envolveram com profundidade nos objetivos de nossa
pesquisa e ajudaram a enriquecer nossas reflexões. Carlos e Ariel são nomes
fictícios de dois jovens participantes. Carlos ofereceu-nos um panorama dos
temas abordados e nos permitiu inferir que a percepção pode ser um processo
muito mais pessoal do que comumente se crê. No relato da percepção de Ariel
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do que é ser jovem, observamos que ele tem sonhos e objetivos a alcançar,
mesmo que para isto deva vencer obstáculos; é preciso determinação.
Trabalhar um projeto de vida com jovens propicia ao pesquisador
revisitar sua própria história, repensar suas metas, desafios e retomar seus
sonhos, objetivando no jovem a capacidade de sonhar e desejar.
Especificamente quando iniciamos o projeto de pesquisa, tivemos como uma
das fontes inspiradoras o texto “Os sonhos dos adolescentes” de Contardo
Calligaris. Na época de sua publicação. no ano de 2007, enviamos ao autor um
e-mail, no qual dizíamos do nosso interesse sobre o artigo e que num futuro
próximo gostaríamos de elaborar um projeto de pesquisa, tendo já em vista o
ingresso no programa de pós-graduação, que abordasse a temática da
juventude, obtendo resposta encorajadora que fez com que tivéssemos uma
motivação ainda maior para este estudo.
Em uma das passagens do texto o autor comenta que os adolescentes
atualmente têm devaneios sobre o seu futuro, parecido com a vida da gente.
Acreditamos que o nosso sonho muitas vezes passa por ajustes entre nossas
aspirações e as necessidades concretas. Tanto para os estudantes quanto
para os jovens pesquisadores, as instituições escolares precisam ser sempre
interessantes para que possamos continuar sonhando, porque elas alavancam
um futuro, a possibilidade de ter uma vida muita mais próxima de nossos
sonhos. Acreditamos que é por meio do diálogo do discurso, como entendido
por (Habermas, 1987), que a confiança ativa é construída e se torna base de
renovação, criando oportunidade do resgate do direito de ser sujeito. Esta
dissertação teve como linha de pesquisa o ensino-aprendizagem no contexto
social e político, considerando os estudos e seus aspectos culturais, sociais e
psicológicos.
Ao retratar a visão do jovem participante partimos do princípio de que a
percepção do mundo é diferente para cada pessoa; cada um percebe um
objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial
importância para si próprio, e que ―o que o indivíduo percebe e como percebe
são importantes para a compreensão do comportamento humano‖ (BOCK,
1999, p. 51), aguçando, assim, sinais interiores e exteriores, provocando
reflexões críticas e gerando nas pessoas a necessidade de reavaliarem suas
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próprias crenças como mecanismo de preservação da qualidade de vida e da
sua identidade humana. O que implica que ―a percepção dos indivíduos é
influenciada pela cultura por meio de aprendizagem dos padrões culturais‖.
(AGUIAR, 2005, p. 269).
O PNDU (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Humano), em seu Paradigma de Desenvolvimento Humano nos coloca que:
―toda pessoa nasce com um potencial e tem direito de desenvolvê-lo‖. Todavia,
para desenvolver esse potencial, toda pessoa precisa de oportunidades. Nesse
contexto, o que a pessoa se torna ao longo da vida, depende basicamente
dessas oportunidades, mas, sobretudo, das escolhas que faz. Além de ter
oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas.
Diante do exposto, cabe um questionamento: De que forma as instituições,
como a família e a escola, podem ajudar o jovem a se projetar, mobilizar-se e
ter melhores condições e perspectivas de futuro, no âmbito profissional, que
envolvam escolhas efetivas?
Tomamos como princípio que a categoria juventude é uma construção
social, e dentro dessa forma de perceber o jovem, procuramos situar elementos
norteadores para o enfrentamento dos impasses próprios do mundo
globalizado, como as novas dinâmicas do trabalho, a educação, a família e a
própria juventude. A escola em tempos atuais, das periferias aos grandes
centros, exceção feita a algumas escolas técnicas de ensino profissionalizante,
não prepara o jovem em termos técnicos e teóricos para a inserção no mundo
do trabalho e por consequência não os habilita em experiências para escolhas
profissionais.
Em grande parte das escolas há uma preparação para a iniciação do
jovem no ensino superior, em detrimento de prepará-lo para sua inserção no
mundo do trabalho. Em nossa cultura, o vestibular ainda é visto como o
principal marco de passagem da juventude para a vida adulta. Constantemente
o vestibular é realizado de forma alienada, principalmente devido ao fato de o
jovem, mesmo depois de ter passado por ele, permanecer em simbiose com a
família, continuando dependente, sendo sustentado ainda por alguns anos.
Porém a grande maioria dos jovens tem, por motivos socioeconômicos,
abreviado os estudos para ingressar no mundo do trabalho, sem uma formação
eficiente e eficaz. Olhando para o universo jovem de nosso país observamos
20
que essa juventude não é apenas uma massa, mas é uma juventude que traz
seus sonhos, esperanças, suas angústias, seu jeito próprio.
O aprofundamento deste estudo procura evidenciar a importância de a
sociedade ir ao encontro dos jovens, mobilizá-los para a participação na vida
comunitária, mostrando outras visões de mundo e contribuindo, como
cidadãos, para a construção de projetos de vida, na família, na sua
comunidade, na região e no país, fomentando ações de capacitação
profissional, estimulando-os para que retornem a uma vida de estudos e que
sejam atuantes em suas comunidades.
Contudo, é necessário que sejam criadas condições concretas de
melhoria do processo de escolarização, objetivando a valorização dos hábitos
de leitura, do pensamento lógico, do ensino de habilidades profissionais, além
de apoiá-los na busca por empreendimentos geradores de renda, estimulando
a criatividade e o comportamento empreendedor, sensibilizando-os para os
ideais do associativismo como estratégia indutora de desenvolvimento social
em nossa sociedade. Para Freire (1998), uma nova educação só poderá ser
possível com uma profunda mudança da sociedade, da política, da ética, do
cotidiano dos indivíduos e dos grupos sociais.
Sabemos que o Brasil, como país em desenvolvimento, tem capacidade
de mobilizar recursos financeiros e institucionais adequados para o
enfrentamento da problemática da juventude no contexto educacional e no
mundo do trabalho. Sempre serão louvadas iniciativas de indivíduos,
associações e empresas particulares como também medidas governamentais
de políticas públicas que venham atender as demandas da juventude brasileira.
Discutir a relação entre trabalho e o jovem é mais do que analisar a questão da
escolha profissional e da obtenção de um emprego. Significa contribuir para a
formulação de um projeto de vida, crivado de valores sobre o sentido do
trabalho como meio de realização pessoal e de participação na transformação
do mundo.
Na sociedade globalizada e de consumo, preparar para escolhas com
princípios éticos, na idade das opções, é vital para o desenvolvimento humano.
21
Em cada época da história, educadores, intelectuais e instituições têm-se
preocupado com o processo de socialização e de profissionalização do jovem
que, deixado à deriva, poderia descambar para as práticas de violência. Não é
sem motivo que instituições e organismos como a UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a OIT (Organização
Internacional do Trabalho), e os Ministérios do Trabalho e da Educação, tomam
como foco a necessidade da formulação de políticas que contemplem a
questão da formação para o trabalho e da inserção profissional do jovem.
Atualmente, este tema se reapresenta na agenda das principais
universidades e centros de pesquisa do Brasil, procurando responder aos
questionamentos e desafios que emergem de um mundo em transformação.
Vários pesquisadores têm-se debruçado sobre essa temática, a exemplo de
Sposito (2009), Abramo & Leon (2005), Dayrell (2003), Corrochano & Nakano
(2009) e Peregrino (2009).
O tema da juventude tem tomado corpo no Brasil, de forma bastante intensa nos últimos anos, ampliando e diversificando os focos anteriormente existentes e colocando novas questões e desafios para a construção de diagnósticos e ferramentas de trabalho para quem atua em ações e iniciativas dirigidas aos jovens [...] também se vinculam a diferentes perspectivas políticas relativas às propostas e projetos para o país. (ABRAMO E LEON, 2005, p. 29)
Nesse cenário, várias questões têm sido colocadas. A fase atual seria
uma ―moratória social‖, um compasso de espera que a sociedade oferece a
seus membros jovens que se preparam para exercer certas responsabilidades
(ERICSON, 1968). Esse processo de espera da emancipação familiar, no
entanto, não se produz da mesma forma para todos os jovens, devido às
diferentes práticas de criação das famílias (FIERRO,1995). Paralelamente a
esta emancipação em relação ao grupo familiar, laços importantes são
estabelecidos com grupos de amigos. Contudo, a influência familiar é decisiva
no tocante à formação de valores primordiais à vida. O critério cronológico é
insuficiente para caracterizar esta fase, pois nela interferem fatos sociais e
históricos (CARRANO, 2000; CASTRO & ABRAMOVAY, 2002).
Segundo Sposito (1996), a categoria juventude deve ser tomada como
um conceito cultural e histórico e abordada por uma perspectiva relacional. Por
essa ótica, definir a categoria adolescência significa visualizar sua inserção
num contexto social e compreender os processos de construção da sua
22
identidade. Construir uma noção de juventude pela perspectiva da diversidade
implica considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas sim, como parte de
um processo de crescimento amplo de constituição de sujeitos, mas que tem
especificidades que marcam a vida de cada sujeito, de acordo com suas
vivências no contexto social (DAYRELL, 2003).
Talvez tenha sido Marx quem primeiro definiu a condição do jovem
pela perspectiva sócio-histórica. Nela, o jovem se define nas relações sociais.
Assim, por exemplo, tal como um negro é um negro, e só se torna escravo num
determinado contexto, podemos dizer que existem tantos modelos de
juventude quantos a cultura permitir. Quem trabalha com jovens pode perceber
que ser jovem é ser um pouco polivalente, é estar conectado com várias coisas
ao mesmo tempo, sem estar, aparentemente, ligado a coisa alguma. O jovem
costuma se angustiar profundamente com as relações afetivas, com os
vínculos dos relacionamentos grupais.
Não existe uma maneira única de ser jovem. Cada um constrói, à sua
maneira, um modo de ser, de agir, de confabular e de fazer sua história, dentro
de uma circunstância dada. O sentido existencial do jovem está em formação,
o que o faz necessitar de coisas concretas e de sonhos. É próprio ao jovem
ansiar por oportunidades, formular projetos de vida, deixar-se fascinar pela
liberdade, sonhar com experiências de realização no trabalho, nas amizades,
na sociedade. Se, de um lado, o jovem tem expectativas, de outro, as
instituições, o mercado, a família e a sociedade também têm seus projetos. A
dificuldade do jovem é integrar essas dimensões, uma vez que sua
subjetividade se constrói e é construída no conjunto das relações sociais e de
acordo com seu modo de assimilar e de responder às solicitações objetivas do
cotidiano e da história.
A desigualdade social e as contínuas transformações no mercado de
trabalho repercutem na vida e na formação do jovem. Essa realidade provoca o
poder público, a sociedade e a família a discutirem a realidade do emprego, da
capacitação profissional e da necessidade de políticas públicas voltadas à
população juvenil. Tal procedimento compreende não apenas a formulação e a
implementação de políticas de inserção, como também de programas
23
socioculturais, capacitação profissional e para a cidadania, a oferta de
oportunidades de experiências de vida e o próprio conceito de trabalho.
Podemos definir trabalho como toda atividade pela qual o ser humano
utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para
atingir um determinado fim. É por intermédio do trabalho que o ser humano
transforma a natureza, constrói e reconstrói cultura e dá sentido à vida. É pelo
trabalho que o homem pode moldar e mudar a natureza e, ao mesmo tempo,
alterar a si próprio. O mundo do trabalho inclui uma abrangente diversidade de
capacidades heterogêneas, que vai do senso estético ao fazer.
O trabalho permite aos sujeitos expandir suas energias, desenvolver sua
criatividade e realizar suas potencialidades. A ação de trabalhar não é apenas
extrair materiais da natureza, mas sim alterar seu estado natural, definir e
melhorar sua utilidade. É um ato carregado de aspectos sociais, em vista da
manutenção material e imaterial, pessoal e da comunidade, bem como da
coesão social (BRAVERMAN, 1987). Segundo os clássicos da sociologia e da
psicologia, cada descoberta na linha da tecnologia e da ciência produz também
uma mudança na divisão social do trabalho.
O papel do indivíduo no mundo do trabalho contribui para a formação de
sua identidade. Tão ligado está o trabalho à definição de nossa identidade que,
quando somos apresentados a uma pessoa, a pergunta mais imediata que
fazemos, não é de onde ela vem, ou quem é sua família, mas o que ela faz e
em que trabalha. Se o trabalho assume tal importância em nossa vida, é
natural que não nos contentemos com o que ele nos traz. A metamorfose do
capital, descrita por Marx (1985), deixa perceber que o trabalho é a ação de
transformar o mundo e a nós mesmos. Em si, o trabalho é bom, mas pode ser
um mal em determinadas circunstâncias.
Prisioneiro de mecanismos de exploração e alienação, o trabalho deixa
de ser meio de realização e se transforma em instrumento de coisificação, que
aborta muitas perspectivas de criatividade e de um sentido emancipador da
vida. No mundo do lucro e da produção em massa, a desigualdade social
enfraquece as possibilidades de realização das potencialidades humanas,
24
particularmente dos mais jovens. O capitalismo, em países como o Brasil, traz
uma cultura de exploração que produz e reproduz a desigualdade social,
impregnada nas políticas econômicas e públicas.
Nossa sociedade é marcada pela contradição. Se o trabalho é fonte de
exploração, por outro lado, é também fonte de emancipação. Por isso nos
perguntamos se é possível ao adolescente extrair do processo de trabalho a
felicidade, e nele manifestar suas potencialidades e criatividade? Entendemos
que a educação e a cultura tendem a ajudar o jovem a encontrar um sentido
para o trabalho, que contribua para a construção de um sentido para sua vida.
Uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido dentro do trabalho. Não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado/alienado com tempo (verdadeiramente) livre. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Em alguma medida, a esfera fora do trabalho estará maculada pela desefetivação que se dá no interior da vida laboral. (ANTUNES, 1999, p. 22)
Um princípio norteador para compreendermos a importância do sentido
do trabalho para o adolescente é que o homem modifica o mundo e a si
mesmo, produz cultura e se autoproduz, ou seja, é produto e produtor da
cultura. Na contemporaneidade, a produção não se dá apenas no campo
material, mas também no imaterial. A equivalência física e simbólica dos
produtos leva tudo a se transformar em mercadoria. Mesmo as relações entre
as pessoas ganham contornos mercadológicos (SOUZA NETO, 2008),
fundados numa filosofia do consumismo, pela qual o processo produtivo se
torna objetivo do homem, em vez de o homem ser o objetivo da produção.
Neste quadro de reflexão, cabe evidenciar a relação que se estabelece
entre adolescente e trabalho, vital na experiência do primeiro emprego. É uma
espécie de passaporte para a consolidação da autonomia, da formação da
identidade, do seu reconhecimento como alguém pelo grupo e pela família, é
poder escolher e adquirir coisas. Para o jovem, o ingresso no mundo do
trabalho constitui-se, tradicionalmente, em um marco da passagem da
condição juvenil para a vida adulta.
A inserção no mundo do trabalho tem sido uma das preocupações da
juventude e também, dos educadores e gestores das políticas públicas. Existe
25
uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver programas e
ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o aumento da
vulnerabilidade social e pessoal desse segmento social, além da limitada oferta
de oportunidades e da falta de preparo específico do jovem para assumir
funções de trabalho.
Mesmo aqueles que conseguem superar todas as dificuldades e
terminar uma faculdade, não têm garantia de emprego. As diferenças entre a
teoria da escola, nos cursos de modo geral, e a prática, no mercado de
trabalho, acabam por atribuir à escolaridade com um papel modesto frente ao
treinamento em serviço ou ao estágio, na preparação do jovem trabalhador. O
diagnóstico dominante aponta para as dificuldades de aproveitar
oportunidades, especialmente em obter o primeiro emprego, em função do
despreparo e da desqualificação frente à competitividade. Essa realidade
coloca em xeque a proposta pedagógica da política educacional e da forma de
pensar e de agir das famílias.
A realidade de jovens brasileiros aponta como alternativa uma
reformulação das políticas públicas voltadas ao primeiro emprego, não apenas
no sentido de desestimular a busca precoce do mercado de trabalho, mas
também de construir um projeto de vida, preparar para a convivência humana,
para aprender a ser, saber e fazer. Portanto, a adquirir uma identidade pautada
na ética do cuidar de si, do outro e do planeta. Ingressar no mercado de
trabalho, sem base escolar, pode ser um fator desfavorável ao
desenvolvimento de uma trajetória profissional satisfatória.
Numa sociedade marcada pela transitoriedade, repleta de sinais
confusos, propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível, a escola, a
família e as demais instituições devem cuidar da formação ético-social e
profissional, para que o jovem possa modificar sua biografia e a de seus
companheiros. A procura por jovens com experiência profissional é um fator
que eleva a importância do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as
habilidades e conhecimentos profissionais. Com isso, uma grande parcela da
melhoria do sistema de ensino no país cabe às empresas. No cenário atual,
26
caracterizado pela tecnologia e pela mudança de valores, várias são as
instâncias que respondem pela formação do adolescente.
Para os jovens, a escolha de uma profissão passa por uma questão de
identidade, de encontro de seu espaço social, de descoberta e construção de
um projeto de vida e, sobretudo, de oportunidades. Neste sentido, o jovem
necessita de grupos de apoio para subsidiar o autodesenvolvimento. Entre
esses grupos destacam-se a família, a escola e a comunidade.
Este estudo se distribui em duas partes, sendo que a primeira parte a
aborda percepções conceituais – subdividida em quatro capítulos: o primeiro
capítulo aborda a adolescência e juventude em seus referenciais conceituais e
ao final desse capítulo será apresentado o perfil do jovem participante da
pesquisa. O segundo capítulo discorre sobre a família como um espaço de
proteção e socialização de jovens, e, no final deste também, serão
apresentadas percepções de jovens sobre a influência da família nas questões
de escolhas profissionais. O terceiro capítulo trata das temáticas da educação,
enfocando uma reflexão sobre a percepção da escola como um centro de
convivência e de aprendizagem para a juventude, contendo alguns
depoimentos de jovens sobre esse espaço.
O quarto capítulo apresenta as questões da inserção laboral do próprio
ponto de vista dos jovens participantes e o mundo do trabalho.
Na segunda parte apresentamos as percepções metodológicas. E, por
fim, as considerações finais, onde buscamos sistematizar as questões
propostas nesta pesquisa, sem a pretensão de esgotá-las. Trata-se mais de
uma partilha de nossas reflexões com você, leitor, de quem esperamos não ser
um seguidor de instruções, mas alguém que possa criar e recriar a partir
dessas reflexões.
27
2 JUVENTUDE E ADOLESCÊNCIA: DIFERENTES OLHARES
Este capítulo procurou incluir algumas evidências que dêem testemunho
sobre dois termos, adolescência e juventude que muitas vezes são descritos
como uma categoria genérica situação esta que foi abordada na introdução
deste trabalho. Neste sentido buscamos alguns referenciais como O Relatório
Situação Mundial da Infância 2011 que inova em sua edição ao apresentar a
adolescência como foco de análise, descrevendo essa fase da vida como um
período de oportunidades e define adolescência como a fase da vida entre 10
e 19 anos de idade.
Neste sentido a adolescência deve ser entendida, antes de tudo, como
uma fase especial de desenvolvimento, que precisa ser abordada a partir da
perspectiva dos direitos. Analisar o impacto de questões emergentes na
adolescência é poder investir no desenvolvimento dos adolescentes,
considerarmos que a essa geração caberá encontrar soluções para os desafios
da contemporaneidade, como a crise financeira mundial, o desemprego
estrutural, a mudança climática que gera degradação ambiental, a urbanização
e migração, o envelhecimento das sociedades.
Hoje e nas próximas décadas a luta contra a pobreza, as iniquidades e a
discriminação nunca atingirá seus objetivos sem a participação dos
adolescentes. O Brasil é um país jovem: 30% dos seus 191 milhões de
habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população possui entre 12 e 17
anos, uma população de mais de 21 milhões de adolescentes. Por isso, é
essencial que o Brasil atenda às necessidades específicas da adolescência
nas suas políticas. Caso contrário, corre-se o risco de que um grupo tão
significativo e estratégico para o desenvolvimento do País fique invisível em
meio às políticas públicas que focam prioritariamente na primeira fase da
infância e na fase seguinte da juventude.
Acreditamos para que a adolescência se torne realmente uma fase de
oportunidades para todos, será preciso: que as necessidades específicas da
adolescência sejam contempladas nas políticas públicas, e que a agenda
dessas políticas seja uma agenda específica e positiva focada na promoção do
desenvolvimento integral dos adolescentes; Que o apoio nas fases inicial e
28
intermediária da infância seja complementado por investimentos em educação,
cuidados de saúde, proteção e participação dos adolescentes, principalmente
para os mais pobres e vulneráveis;
Que dados e informações sejam coletados para identificar os grupos
mais vulneráveis de adolescentes em todas as regiões e as iniquidades que os
afetam, para garantir-lhes mais investimentos, oportunidades e direitos; Que os
adolescentes sejam ouvidos nos processos de tomada de decisão como
condição essencial para se alcançar mais equidade. Que as escolas
aproveitem a facilidade de aprendizado dos adolescentes e contribuam para
que eles adquiram competências, habilidades e conhecimentos necessários
para desenvolver todo o seu potencial; Que um esforço especial seja feito para
reduzir a violência que atinge os adolescentes, com especial atenção para as
causas dos homicídios.
Para a OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE) a adolescência
constitui um processo fundamentalmente biológico durante o qual se acelera o
desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade. Abrange as
idades de 10 a 19 anos, divididas nas etapas de pré-adolescência (de 10 a 14
anos) e de adolescência propriamente dita (de 15 a 19 anos). Já o Mapa da
Violência -2011 -Os Jovens do Brasil-Julio Jacobo Waiselfisz trás o conceito
juventude como uma categoria essencialmente sociológica, que indica o
processo de preparação para o indivíduo assumir o papel de adulto na
sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos
15 aos 24 anos.
É preciso, então, considerar o contexto social mais especifico em que
vivem os sujeitos da pesquisa. Entretanto, é importante evidenciar que há
discordâncias quanto ao conceito de adolescência e juventude, já que na
literatura podemos encontrar tanto aqueles que defendem a perspectiva
desenvolvimentista,3 da qual é decorrente a referência de adolescência como
3 A visão desenvolvimentista aborda a adolescência como fenômeno universal e generalizado,
baseando-se na razão como principal mecanismo de apreensão e de vivência no mundo, através do amadurecimento e do predomínio da razão. O sujeito conseguiria aprender cada vez mais coisas sobre si mesmo e o mundo que o cerca. Esse processo ocorreria até a maturidade, quando o indivíduo já se teria formado, com todas as suas capacidades em funcionamento. (BERTOL & SOUZA, 2010, p. 824-839)
29
uma etapa do desenvolvimento humano, como outros, que não defendem essa
visão e preferem e trabalham a constituição do subjetivo, considerando a
perspectiva histórico-social, da qual compartilhamos.
Isso posto, são muitas questões a serem exploradas, ao tentarmos
traçar um perfil do jovem; contudo, nesse processo fomos nos apercebendo
das semelhanças e diferenças entre todos aqueles que se encontram nesse
período de transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocionais
intensas. ―Construir uma visão da categoria juventude não é fácil,
principalmente porque os critérios que a constituem são históricos e culturais‖.
(DAYRELL, 2003, p.41),
A visão do jovem como ator estratégico do desenvolvimento está
orientada à formação de capital humano. Vygotsky defende uma abordagem
teórica e, consequentemente, uma metodologia que privilegia a mudança.
O seu esforço de mapear as mudanças ao longo do desenvolvimento deve-se, em parte, à tentativa de mostrar as implicações psicológicas do fato de os homens serem participantes ativos e vigorosos da sua própria existência. (VYGOTSKY, 1998 p.163).
O nosso sujeito em questão é o jovem, e Vygotsky (1996) buscou
compreender o jovem a partir de alguns aspectos fundamentais: sua inserção
em um modelo global de sociedade e suas ideologias, ou seja, na sua cultura
que também faz parte de sua constituição psicossocial. Dois fatores apontados
pelo autor capacitam o jovem a sentir-se membro de sua classe social e dela
participar: a vivência na sua comunidade, comungando de atividades e
interesses, e o uso de conceitos que permitem conhecer essas atividades e
interesses. Partilhando a ideologia de sua classe, esses conceitos se
desenvolvem inevitavelmente dentro de uma determinada ideologia social.
O amadurecimento intelectual do jovem não muda apenas o conteúdo
do pensamento (material totalmente novo e ligação a esferas novas da cultura,
como política, justiça, profissão, ética, ciência e ideologia), mas também
mudam e se enriquecem as próprias funções intelectuais, as formas do
pensamento, a estrutura e composição de suas operações intelectuais. Isso
significa que na juventude o pensamento pode operar logicamente com
conceitos, uma mudança que representa uma formação psíquica
qualitativamente nova. Em meio a todo o desenvolvimento biológico e cultural
30
do jovem, as mudanças em seu pensamento permitem que ele possa conhecer
também sua realidade interna, ter autopercepção e auto-observação.
No que se refere à percepção, a abordagem de Vygotsky (1988) é
centrada no fato de que, ao longo do desenvolvimento humano, a percepção
torna-se cada vez mais um processo complexo, que se distancia das
determinações fisiológicas dos órgãos sensoriais, embora, obviamente,
continue a basear-se nas possibilidades desses órgãos físicos. Oliveira (1997)
estabelece de modo mais efetivo a divisão entre o mundo das vivências
internas e o mundo da realidade objetiva.
O desenvolvimento da consciência para um estado de autoconsciência
permite que as vivências internas e o mundo da realidade objetiva sejam
crescentemente mais discriminados. Dessa forma, a juventude é o momento
em que se pode falar de uma personalidade, ao mesmo tempo em que se pode
falar de uma visão de mundo, embora ainda em processo de desenvolvimento
Vygotsky (1996). A juventude caracteriza-se, então, por um maior domínio do
jovem sobre si mesmo e sobre o mundo à sua volta, no sentido de que pode
compreender-se melhor e conhecer sua realidade social.
Pode, além disso, usar sua vontade, que é considerada por Vygotsky
(1996) uma importante função psíquica superior. Dessa forma, o jovem está
mais consciente da distinção que existe entre seu mundo interno e seu mundo
exterior, o que pode trazer muitos conflitos, mas capacita-o a exercer melhor
sua vontade. Isso não quer dizer que não haja diversas determinações agindo
sobre essa vontade, mas que ela é uma função sobre a qual se tem muito mais
controle do que na infância.
Esses aspectos constitutivos da subjetividade do jovem permitem
estabelecer, à luz da teoria de Vygotsky (1996) que: a) é a partir da juventude
que o indivíduo pode compreender a sua própria inserção na sociedade, em
sua classe e na sociedade global; b) o pensamento do jovem ganha em
plasticidade, ao operar por conceitos, e ao possibilitar o uso da vontade no
encaminhamento de sua vida; e c) as transformações por que passa implicam
uma nova consciência de si mesmo e uma nova visão de mundo.
O jovem apresenta características que o capacitam a fazer escolhas e a
tomar decisões sobre suas aspirações e seu projeto de vida. Porém, de certa
forma, o jovem contemporâneo vive um paradoxo: por um lado, há uma
31
padronização excessiva de gostos e de atitudes e, por outro lado, a condição
de jovem que o define como alguém que possui uma grande plasticidade.
Vygotsky (1996) também aponta para o pensamento do jovem como muito
mais flexível do que na infância, com possibilidade de ser dialético.
Mas nem sempre os contextos nos quais esse jovem se insere
contribuem para o desenvolvimento do pensamento dialético, questionador,
transformador. A percepção desenvolvimentista entende a adolescência como
uma fase da vida e que possui características biológicas e emocionais
especificas, relacionadas aos arroubos da juventude – rebeldia, impulsividade e
transformações hormonais, que ocorrem em um período de transição da vida
infantil para a fase adulta.
Abramo (1994), compreendendo que a noção mais usual do termo
juventude está relacionada às mudanças físicas, psicológicas e sociais, faz
observações examinando o pensamento de autores da categoria social como
Eisenstadt (1976), que apresenta a juventude como um fenômeno universal da
vida social, porém, e de modo peculiar, diz que cada sociedade define tais
etapas, atribuindo-lhes significados. Esse modo peculiar está relacionado à
forma da socialização do indivíduo na sociedade, porque somente a
socialização da família não é o suficiente para este processo de integração.
Áries (1981) nos revela que a fase da juventude foi se processando no
desenvolvimento da sociedade moderna ocidental, mediante a progressiva
instituição de um espaço preparatório para a vida adulta. Isso significa que
esse processo foi se modificando devido às transformações da família, do
trabalho, do processo escolar e de gênero. Obtendo maior visibilidade social, a
juventude, com o passar dos tempos, começa a ser introduzida na vida pública
e a se confrontar com os valores em circulação.
Abramo (2005) entende que é fundamental considerar, ao se
pensarem as idades, as relações entre as dimensões culturais e biológicas,
pois se há características universais dadas pelas transformações biológicas
que acontecem numa determinada fase, a forma como cada sociedade e, no
seu interior, cada grupo social representa essas transformações é muito
diversificada.
32
Para Dayrell (2003), construir uma noção de juventude na perspectiva
da diversidade implica em considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas
sim como parte de um processo de crescimento mais totalizante de acordo com
as vivências dos sujeitos no seu contexto social. Diante desse panorama
apresentado, entendemos que a visão desenvolvimentista não contempla todo
o desenvolvimento sócio-histórico de experiências e questões vivenciadas
pelos sujeitos que nasceram em um determinado momento histórico, que
enfrenta mudanças psicológicas e sociais, culturais.
Dentre outros aspectos dessa discussão entendemos a juventude
como uma fase onde os sujeitos possuem características específicas que
marcam sua vida. Portanto, acreditamos que é nesse processo que cada um
deles vai se construindo e sendo construído como sujeitos. Desse modo os
jovens aqui pesquisados constroem determinados modos de ser jovem que
apresentam especificidades, o que não significa uma única maneira de ser
jovem.
2.1 JUVENTUDE, CONFLITOS E MODERNIDADE
O interesse pela juventude desponta de tempos em tempos. As crises e
os excessos, os conflitos e as explosões que a eles se seguem, acompanham
a história da preocupação social e acadêmica com a juventude.
[...] a tematização e uma maior visibilidade da juventude se constroem através do surgimento de um comportamento ―anormal‖ por parte de grupos de jovens delinqüentes, ou excêntricos, ou contestadores, implicando todos, embora de formas diferentes, em um contraste com os padrões vigentes. (ABRAMO, 1994, p. 8)
Podemos evidenciar o Movimento Juvenil Alemão, desencadeado por
jovens estudantes no século 19, como forma de articulação de um novo estilo
de vida, longe dos valores instituídos pelas gerações precedentes, com o
objetivo de fundar uma nova sociedade, que iria romper a unidade da vida em
nome do direito dos jovens de serem autônomos, porém seria necessário
―declarar guerra‖ a outras formas da vida adulta. Contudo, outras questões, ou
expressões, aconteceram para compor o desenvolvimento público da
juventude.
33
Os anos de 1920 presenciaram a explosão desse interesse na razão
direta da comoção gerada pela turbulência social em Chicago, nos Estados
Unidos. Naquela época, toda uma geração de jovens tornou-se objeto de
estudos da sociologia, em busca de uma resposta às indagações acerca de
possíveis implicações entre juventude, violência, criminalidade e
desorganização social urbana, atribuídas as contraposições aos padrões
dominantes, que suscitam o tema do desvio no processo de integração dos
jovens à vida social. As questões da delinquência, da rebeldia e da revolta,
serviram de construção da problematização da questão da juventude ao longo
deste século.
Outra experiência que podemos destacar foi a da participação
traumatizante dos jovens europeus durante a Primeira Guerra Mundial, com
muitas mortes e sofrimento. Nos anos de 1950, pela explosão demográfica nas
urbes, e mais recentemente pelos elevados índices de disseminação das
doenças sexualmente transmissíveis, as ciências humanas privilegiaram o
exame da juventude sob a ótica do negativismo. Os excessos juvenis, tomados
como impulso da desordem urbana, colocaram em movimento esforços de
disciplinarização; associadas aos comportamentos disfuncionais, as pulsões da
juventude tornaram-se foco da assepsia social, que queria o controle e a
correção dos vícios, e nesse percurso as ciências reforçaram ao longo dos
anos a percepção de que boa parte das mazelas sociais poderia ser creditada
na conta da juventude e de seus anseios de diferenciação.
Firmou-se no imaginário social a associação entre a juventude e as
grandes questões de cada tempo: no século 21, quando emergem as
preocupações com o individualismo exacerbado e a criminalidade crescente, o
jovem emerge como individualista e responsável, em grande parte, pela
criminalidade urbana.
Entretanto, na sociedade contemporânea, a idéia de violência não está
mais associada somente às classes populares, de jovens das periferias dos
grandes centros que não conseguiam se inserir na sociedade, mas também se
estende à classe média, com características básicas de violência e exercícios
de crueldade. O fenômeno do jovem novo, que se abriu da difusão de
agressões a mendigos de rua, mulheres e homossexuais, entre outros,
caracteriza a intolerância às diferenças sociais. Simbolizando a perda de
34
prestígio social, eles se tornaram objetos de ataque desses jovens que, no
fundo, temem o que possam a vir a ser, principalmente aqueles que ainda não
encontraram um sentido para suas vidas.
Muitos jovens que construíram uma violência subjetiva de culto ao corpo
cultivam músculos, representação da força, da beleza e do erotismo, mostram
o desamparo e o desalento. À medida que eles ganham músculos, usam a
violência, como um animal acuado que tenta manter o seu território. Esta é
uma juventude acuada, com menos liberdade do que em épocas passadas,
controlada, vigiada, seja pelo poder policial, seja em shoppings ou condomínios
de classe média, o que nos faz refletir sobre os mais de 50 milhões de jovens
da América Latina fora do mercado de trabalho, desvalidos e não reconhecidos
socialmente.
Esses conflitos carregam a possibilidade de ruptura do processo de integração do jovem à ordem, da transmissão da herança cultural ou mesmo da própria ordem social. [...] antes de tudo, a condição de transitoriedade: a juventude é entendida como uma etapa de transição, que processa a passagem de uma condição social recolhida e dependente a uma outra mais ampla; um período de preparação para o ingresso na vida social adulta. (ABRAMO,1994, p. 11-14)
Existe uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver
programas e ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o
aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a limitada oferta de
oportunidades e as especificidades da condição juvenil contemporânea.
Ao longo da história há grande variedade de caracterizações e
atribuições de sentido para essas crises da juventude. Para Sposito (2003), a
moderna concepção de juventude derivou de longas transformações a partir do
século 18, mas, com o advento da Segunda Guerra Mundial, incidiu sobre
alguns aspectos, como o alongamento do período de transição entre a infância
e a idade adulta e o retardamento da juventude para a inserção no mundo do
trabalho.
Esse panorama nos remete à questão do trabalho que é uma das
grandes preocupações da juventude atual e também o é no campo das
políticas públicas para a juventude. Para Andrade (2008), a inserção do jovem
no mercado de trabalho, tem sido marcada pelo signo da incerteza, porque ele
tendem a ocupar as ofertas de emprego que surgem, quase sempre de curta
duração e baixa remuneração, o que implica em pouca possibilidade de iniciar
35
ou progredir na carreira profissional. Pesquisas nacionais4 têm mostrado que o
trabalho está entre os principais assuntos que mais mobilizam o interesse dos
jovens.
2.2 JUVENTUDE, TRABALHO: UM CONTEXTO
Se cada fase da vida é suscetível de se identificar com uma série de
papéis, atividades e relações, não cabem dúvidas de que a entrada no mundo
do trabalho seja uma delas. No caso dos jovens, assegurar-lhes o acesso a
empregos produtivos é contribuir para o desenvolvimento econômico
sustentável e equitativo, para o fortalecimento da democracia e uma maior
coesão social, e tendo acesso ao mundo do trabalho, ao crédito, à renda, ao
esporte, ao lazer, à cultura e à terra e proporcionar a garantia dos direitos a
satisfação das necessidades básicas dos jovens e as condições necessárias
para aproveitar as oportunidades disponíveis. Acreditamos que o futuro
desenvolvimento econômico e social dos países depende do aproveitamento
da energia e do desenvolvimento das habilidades dos jovens . O trabalho
adequado pode ser benéfico, desde que não impeça a realização de direitos. O
desemprego de jovens – que chega a 81 milhões de indivíduos – é hoje uma
preocupação em quase todos os países. (UNICEF). Vale dizer que a
centralidade do trabalho para os jovens não advém tão-somente do seu
significado ético, ainda que este seja relevante, mas resulta também, e
sobremaneira, da sua urgência enquanto problema.
[...] é, sobretudo enquanto um fator de risco, estabilizador das formas de inserção social e do padrão de vida, que o trabalho se manifesta como demanda urgente, como necessidade, no coração da agenda para uma parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca. (GUIMARÃES, 2004, p. 12)
No entanto, nas últimas décadas, em funções de intensas
transformações produtivas e sociais, ocorreram mudanças nos padrões de
transição de uma condição à outra. O diagnóstico dominante aponta para as
4 ―Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas‖, coordenada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e pelo Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Pólis), em 2005; e ―Retratos da Juventude Brasileira‖, coordenada por Abramo e Branco (2005).
36
enormes dificuldades dos jovens em conseguir uma ocupação, principalmente
em obter o primeiro emprego, dado o aumento da competitividade, da demanda
por experiência e por qualificação no mercado de trabalho. Com isso, a
transição para a vida adulta tem sido retardada. A questão do trabalho é uma
das grandes preocupações da juventude e também o é no campo das políticas
públicas para a juventude.
Existe uma convicção generalizada de que é necessário desenvolver
programas e ações que melhorem a situação atual, levando-se em conta o
aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a limitada oferta de
oportunidades, e as especificidades da condição juvenil contemporânea. O
desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior ao do
restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido aumento
das médias de escolarização dos jovens e uma melhoria nas condições de
trabalho, com a alta da formalização não se observou aumento correspondente
na oferta de empregos.
Diante de um cenário de altas taxas de desemprego, e de
desestruturação e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido?
Hoje, jovens de todas as classes e situações sociais expressam inseguranças
e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no
futuro. Por isso, é urgente a criação de programas específicos para essa
população. É na fase da juventude que o flagelo do desemprego ganha
contornos preocupantes, jovens na sua imensa maioria com baixa escolaridade
e falta de experiência para a inserção no mundo do trabalho.
O que leva a uma realidade em que justamente no início de vida
profissional e adulta se encontram numa condição de desemprego, desalento e
desprovidos da possibilidade de construção de um projeto de vida. O que
haveria de comum entre jovens? Que vínculos existem entre jovens que
possuem garantias familiares para se escolarizarem no tempo adequado e
outros de mesma idade que já se encontram diante dos desafios do mundo do
trabalho ou da constituição de uma família? O que têm em comuns jovens que
vivem em espaços sociais economicamente valorizados da cidade e jovens que
moram nas favelas e periferias? Jovens do sexo masculino e do sexo feminino,
ainda que de classes e idades semelhantes? Certamente, as respostas vão
muito além da agregação etária, mas apontam para a necessidade de refletir
37
sobre as diferentes condições objetivas e percepções sobre os sentidos de ser
jovem hoje.
Somente dessa forma é possível dirigir um olhar sobre a juventude que
contemple a sua diversidade, mais adequado à situação real, ou seja, aquela
na qual a agregação arbitrária por idade não resume as identificações
possíveis num conjunto determinado de homens e mulheres que se reúnem
num universo de pesquisa. Nessa perspectiva, pode-se dizer que se está
diante de uma mesma geração quando os sujeitos, em alguma medida,
vivenciam espaços-tempos comuns de sensibilidades, saberes, memórias,
experiências históricas e culturais.
Diante do agravamento das condições de vida de ampla maioria da
população jovem brasileira – em especial os setores mais vulneráveis: jovens
negros e moradores de espaços populares – incide diretamente no aumento da
sensação de insegurança no presente e das incertezas quanto à vida futura.
Reguillo (2003) chama a atenção para o fato de que, em toda a América Latina,
a face mais visível dos jovens, principalmente os pertencentes aos setores
populares, foi aquela que os converteu nos principais operadores de violências
nas sociedades.
Não é de se estranhar, assim, que sobre eles tenham recaído as
principais ações – não necessariamente de políticas públicas – de controle
social tutelar e repressivo. Em conjunto com esse processo estigmatizado e
generalizável a todos os países da região, aprofundou-se a crise estrutural dos
anos 80, que fraturou as macroeconomias dos países e pulverizou a
microeconomia de pessoas e famílias. Nesse processo, muitos jovens vêm
pagando o preço de políticas econômicas que os excluem das possibilidades
de incorporar-se de maneira produtiva e cidadã à sociedade. Um dos grandes
desafios democráticos se relaciona com as encruzilhadas que podem ser
percorridas para que a participação social se torne objetivo e meta realizável
numa sociedade em que tantos jovens se encontram em processo de exclusão
econômica e marginalização social.
A ampliação de conhecimentos sobre as diferentes realidades juvenis,
necessidades insatisfeitas, motivações e subjetividades em curso,
especialmente àquelas relacionadas com os jovens pobres que mais
38
dificuldades enfrentam para realizar escolhas alternativas e projetos
autônomos, é condição necessária para a definição de políticas públicas
sintonizadas com os sujeitos e realidades que se quer transformar. A
participação dos jovens nos assuntos públicos está entre as preocupações do
debate sobre a ampliação dos processos democráticos. Não é incomum que
dados de pesquisas de opinião pública sejam distorcidos pelas mídias que
pintam quadros que apresentam os jovens contemporâneos como
conservadores e sem perspectivas, ou seja, nova geração, porém,
politicamente mais velha do que seus próprios pais, que teriam contestado o
sistema dominante.
Deixa-se de reconhecer que não há mais valores pertencentes a
apenas uma geração, que há desconfiança generalizada da população na
política e que em todos os lugares e idades há dificuldades para se encontrar
meios de ação para a resolução dos problemas coletivos. A crítica mais
acentuada sobre os jovens pode estar na função sociológica que as
sociedades modernas atribuíram à juventude, de ser agente de revitalização da
vida social. Em grande medida, as generalizações sobre a apatia juvenil são
agravadas pela insuficiência de pesquisas que permitam, com alguma
precisão, apreender e interpretar as situações pelas quais os jovens, em
diferentes contextos e condições econômicas e sociais, expressam processos
de recusa, impossibilidades ou mesmo apontam para novas práticas de
participação de solidariedade e conflito que já praticam ou com as quais
aceitariam se envolver.
Muitas dessas práticas se tornam invisíveis para os sentidos
dominantes, que dizem ser mais legítimos determinados ideais de participação
ou mitos participativos do passado, tais como aqueles que se associam ao
jovem radical dos anos 60. Ao mesmo tempo em que há pouca participação
juvenil em espaços políticos formais, nota-se a presença de jovens em outros
tipos de ações coletivas que contribuem para a constituição de espaços
públicos em torno de diferentes experiências sociais participativas.
2.3 O NOSSO JOVEM
39
Nosso contato com os jovens pesquisados deixou evidente que eles
buscam oportunidades, pensam a respeito de suas condições, de suas
experiências de vida, posicionam-se, possuem desejos e propostas de projetos
de vida, e entre eles está o trabalho. Sposito (2007) nos revela que a crescente
visibilidade da juventude como alvo da ação pública se remete para o
desdobramento da conjuntura socioeconômica, provocando debate sobre o
desemprego juvenil.
O cenário de crise e de produção de desigualdades nas sociedades
capitalistas reflete a situação do jovem no mercado de trabalho, confirmando
esse problema da juventude. A discussão acerca do trabalho coloca-se como
um dos grandes temas que merecem atenção no campo das políticas públicas
para a juventude, no intuito de se ter ações concretas gerando oportunidades.
Neste sentido, os jovens devem ser reconhecidos como um grupo social
atingido pelas atuais dinâmicas no mundo do trabalho, tanto no que se refere à
sua inserção quanto no que diz respeito à sua capacitação para o mundo do
trabalho.
Atualmente vemos uma primeira movimentação no país, no sentido de
implementar políticas governamentais para a juventude. Nas leituras realizadas
para este trabalho, em diferentes momentos pudemos perceber a construção
da história dos jovens sempre atrelada à história das crianças, seja na
elaboração de legislações ou na história das instituições de atendimento à
juventude desassistida socialmente.
O termo juventude, assim como os jovens com mais de 18 anos, ficou
por muito tempo fora da temática social, até meados dos anos 90, quando uma
nova emergência do tema se produz, basicamente relacionada às dificuldades
de inserção e integração social numa conjuntura marcada pela extensão dos
fenômenos de exclusão decorrentes da crise do trabalho e do aumento da
violência, resultando em profundas dificuldades de estruturar projetos de vida.
O tema juventude tem tomado corpo, no Brasil, de forma bastante intensa nos
últimos anos, ampliando e diversificando os focos anteriormente existentes e
colocando novas questões e desafios para a construção de diagnósticos, e tal
multiplicidade de abordagens contém diferentes concepções no que diz
respeito ao próprio objeto em questão. Acredita-se que uma boa parte das
40
ações públicas e privadas, como, por exemplo, programas desenvolvidos tanto
pelo Estado como por ONGs, no campo da saúde, do lazer, da defesa de
direitos, da prevenção de violência, de educação complementar e alternativa,
passaram a definir seu público-alvo dessa maneira. Muitos movimentos sociais
também passaram a incorporar em suas pautas bandeiras de defesa dos
direitos das crianças e adolescentes e dos jovens.
Os centros urbanos brasileiros, marcados pelas enormes distâncias
sociais, põem em contato territórios informados pelo simbólico e permeados
pelo econômico. Nesse particular, nossa geografia urbana impõe experiências
que diferem de qualquer cidade das sociedades centrais. A disparidade de
renda, a presença ou ausência das benfeitorias sociais e a maior ou menor
dificuldade de acesso às benesses são os elementos mais visíveis da rede de
significados que o jovem deve aprender a decodificar. A convivência com o
outro, na interconectividade das histórias vividas, mostra que uns têm acesso
amplo ao conjunto de benfeitorias sociais, outros renunciam a elas e alguns se
apropriam daquelas que lhes parecem indispensáveis. Assim, o jovem é
chamado a construir ativamente as redes de significado, sob pena de sucumbir
aos apelos do estranho e aos perigos da cidade.
A visibilidade mais ou menos explícita da distância entre os diversos
grupos sociais que convivem no meio urbano – e as formas como essas
distâncias são preenchidas – não é um problema menor, já que toca a temática
da regulação a exemplo de atitudes comuns aos jovens, que, se contêm um
viés de agressão, são também formas de reivindicação.
Os jovens brasileiros têm emitido sinais, mais ou menos visíveis, da negação
frente a formas tradicionais de participação, tais como as que se expressam
pela filiação a partidos, sindicatos e organizações estudantis. No entanto,
ações coletivas juvenis deixam de ser notadas ou valorizadas devido ao seu
caráter tópico, descontínuo e muito frequentemente desprovidas de ideologias
facilmente reconhecidas – esquerdas e direitas, por exemplo – das quais se
revestem. Entretanto, as novas formas e temas pelos quais os jovens se
mobilizam na esfera pública também indicam o quadro de crise das formas
tradicionais de participação e socialização política. Sem dúvida, pensar os
distintos significados da participação política para a juventude pode representar
41
um importante aporte para captar não só como ela reproduz, mas
principalmente, como constrói novas respostas a essa questão.
2.3.1 Conhecendo os jovens adolescentes participantes
Participaram deste estudo 50 jovens de ambos os sexos, com idade5
entre 17 e 20 anos, de camadas populares,6 estudantes do 3º ano do Ensino
Médio, em escola pública, no município de Carapicuíba, SP, todos em busca
do primeiro emprego. A fixação de alguns critérios permitiu traçar o perfil dos
sujeitos desta pesquisa – ―quem‖ – e definir – ―como‖ – cercar esses jovens,
delimitando, dessa forma, o meu campo de estudo. Ao tentarmos traçar um
perfil dos jovens participantes fizemos algumas perguntas: Quem era o jovem?
Quais eram suas características?
De acordo com os dados7 fornecidos pela escola, é importante
mencionar que a maioria dos jovens que abandonam os estudos são do
período noturno. Daí pode implicar que, na maioria das vezes, isso pode ser
devido à inserção no mundo do trabalho ou por desvio juvenil, o que reforça o
propósito deste estudo de pôr na pauta do debate juvenil a inserção laboral dos
jovens e nos remetem a políticas públicas da juventude que atendam as
necessidades dos jovens para conciliar trabalho e escolarização.
Pudemos constatar por meio desta pesquisa que dos cinquenta
participantes, 34 eram do sexo feminino (68%) e 16 do sexo masculino (32%).
Em relação à faixa etária, uma parte significativa dos entrevistados era menor
de idade (41,5%), enquanto que os demais já haviam atingido a maioridade
5 A faixa etária escolhida corresponde à idade média de alunos do 3ª ano do Ensino Médio e
por já possuírem, em termos de legislação trabalhista, idade para inserção no mundo do trabalho. 6 Camadas populares decorrentes da pobreza e privação – inclusive quanto às condições de
habitabilidade, segurança alimentar trabalho e geração de renda. 7 A partir dos dados fornecidos pela escola pesquisada sobre o rendimento dos alunos
referentes ao período de 2004 a 2006, pudemos observar que em relação ao Ensino Médio, nosso objeto de estudo, no ano de 2004, 93% dos alunos foram promovidos, com 5% de retidos e 2% de evadidos. Já no ano de 2005, houve aprovação para 84%, retenção para 8% e evasão de 8%. Contudo, no ano de 2006, verificou-se 93% de aprovação, com 4% de retenção, e outros 3% de abandono. Observamos também que a maioria dos jovens que abandonam os estudos são do período noturno.
42
(58,5%). Foi percebido também que na questão da religião ou culto predominou
a religião católica (88,8%) em detrimento do protestantismo (11,2%).
Dos relatos coletados, percebemos que em relação ao estado civil dos
entrevistados, a totalidade era constituída por solteiros (100%). No que se
refere ao local de nascimento, todos relataram ter nascido no Estado de São
Paulo (100%). No entanto, vale destacar algumas peculiaridades regionais.
(44,4%) dos entrevistados relataram ter nascido na região da Grande São
Paulo. Outros (11,2%) relataram ter nascido no interior do estado e o restante
(44,4%) era de nascidos na capital do Estado de São Paulo. Daí se evidencia
que nenhum entrevistado nasceu no município em que a pesquisa foi realizada.
Entre os entrevistados, a grande maioria era de raça branca (77,7%) e
os demais que se intitulavam negros (23,3%). Essa diferença percentual entre
negros e brancos nos remete a um passado histórico, e ao examinar mos a
trajetória do negro no Brasil, verificamos que ―introduzido como escravo, ele foi
desde o primeiro momento chamado à execução das tarefas mais duras, como
mão de obra fundamental de todos os setores produtivos‖. (RIBEIRO, 2004, p.
228-241).
Diante do exposto acreditamos ser de extrema importância o sistema de
cotas, muito discutido na atualidade, como forma de compensação das
desigualdades sociais vigentes em nosso país. A aplicação política de cotas
beneficiaria principalmente a população negra. A primeira instituição federal de
ensino superior a programar o sistema de cotas foi a Universidade de Brasília
(UnB). Um dos autores da proposta da UnB, o professor José Jorge de
Carvalho, do Departamento de Antropologia, acredita que o sistema de cotas é
a única forma de se resolver o problema da exclusão racial no curto prazo. O
preconceito está presente nas salas de aula. Afirma o professor: Há poucos
negros na universidade e isso dificulta que eles se unam para lutar por seus
direitos. É preciso mudar o tipo de relação que existe na academia.
Com relação à população do sexo feminino ser maior do que a do sexo
masculino o mesmo se pode observar a partir de pesquisas como a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (A Pnad/IBGE (2010) mostra que no Brasil, no grupo dos 15 aos 17
43
anos, 57% das meninas está no Ensino Médio, etapa correta para essa faixa
etária. Entre os meninos, o atraso é maior, apenas 47% cursam a série
indicada para a idade. Essa situação, apesar de faltarem estudos conclusivos,
pode estar relacionada ao fato de os meninos sofrerem mais pressão social
para entrar no mercado de trabalho.
Os dados apresentados nesta pesquisa nos revelam que a totalidade
(100%) dos entrevistados alega nunca terem utilizado drogas. E os motivos
apresentados na pesquisa foram vários, entre eles mencionamos a falta de
curiosidade, o medo, a falta de oportunidade, o perigo, em função da família,
da sociedade, porque faz mal a saúde. A partir dos resultados da pesquisa
podemos inferir que os jovens de hoje são ―espertos‖ sobre o uso de drogas,
não apenas conhecendo seus efeitos, mas distinguindo entre o uso ocasional e
o vício.
Acreditamos que para resistir à pressão do grupo, os jovens precisam de
muito mais do que um simples aviso contra o perigo das drogas; necessitam de
maneira imprescindível que ocorra o diálogo na escola, na família e na
sociedade para enfatizar sobre os efeitos potencialmente fatais da mistura
entre diferentes tipos de drogas: como o consumo de álcool, cigarros e drogas
durante a gravidez pode prejudicar o feto; que qualquer um pode se tornar um
usuário crônico ou um viciado; e que mesmo os não-viciados podem sofrer
consequências graves e fatais.
Vale ressaltar que atualmente grande parte das escolas públicas e
particulares participam de um programa de prevenção e resistência às drogas
promovido pela Policia Militar do Estado. Geralmente o curso é ministrado para
alunos do Ensino Fundamental, com grande aprovação pela comunidade
escolar, o que de certa forma é um referencial positivo para o desenvolvimento
ético das crianças em formação e poderá repercutir de forma positiva no futuro.
Apesar de não termos dados específicos sobre esses programas, que
avalizem a compreensão aqui exposta, pensar nessas questões é entender
que essas ações, geram consequências à comunidade e a todas as suas
instituições, entre elas a escola, beneficiando a família, melhorando a
qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de
vida. Nesse sentido acreditamos que a força do processo socializador exercido
pela família e outras instituições,como a escola pode influenciar de maneira
44
significativa o desenvolvimento dos jovens. A educação é essencial para o
desenvolvimento e o bem-estar dos adolescentes e jovens. Objetivando
superar com sucesso os múltiplos riscos ao seu desenvolvimento e a seus
direitos. Para dar-lhes a oportunidade de adquirir habilidades para ganhar a
vida de maneira adequada, e os conhecimentos de que necessitam para
proteger-se e exercer seus direitos, é necessária uma variedade maior de
opções educacionais.
45
3 FAMÍLIA, ESPAÇO DE PROTEÇÃO, E SOCIALIZAÇÃO DE
JOVENS
Encontramos na nossa literatura vários autores que acreditam que a
família é um forte espaço de socialização que tem influências significativas
entre seus membros. [...] A família, entendida como o primeiro contexto de
socialização, exerce, indubitavelmente, enorme influência sobre a criança e o
adolescente (REGO, 2002, p. 55). Para Vygotsky (1988), é no ambiente familiar
que a criança inicia o seu processo de aprendizagem e, ao considerar a
aprendizagem como profundamente social, afirma que, quando os pais ajudam
e orientam a criança desde o início de sua vida, dão a ela uma atenção social
mediada, e assim desenvolvem um tipo de atenção voluntária e mais
independente, que ela utilizará na classificação e organização de seu
ambiente.
Entendemos que a temática da família é vital para a organização da
sociedade, bem como para o desenvolvimento das formas de sociabilidade dos
jovens. Na adolescência, os espaços onde são possíveis as interações sociais
se expandem. Consequentemente, debilita-se muitas vezes a força do
referencial familiar, caso este não esteja suficientemente bom para se opor ao
novo grupo.
Essa emancipação, durante esse processo de aquisição de autonomia
pessoal como elemento constituinte, é um traço destacado na nova situação
social do adolescente, o que nos faz compartilhar o pensamento de Minuchin
(1982), que nos revela que a família sempre tem passado por mudanças que
correspondem às mudanças da sociedade e que assume ou renuncia a
funções de proteção e socialização de seus membros em resposta às
necessidades da cultura, atendendo basicamente a dois objetivos: a proteção
psicossocial de seus membros e a acomodação a uma cultura e à transmissão
dessa cultura.
Este momento também está vinculado proximamente a outros
processos de evolução na vida dos jovens, a exemplo do processo da
identidade, ―[...] com complexa e em permanente redefinição, segundo a
multiplicidade de experiências e jogos relacionais dos quais o sujeito participa‖
46
(CARRANO, 2000, p. 18), que na realidade dos indivíduos produzem-se de
maneira conjunta e, em geral, de maneira integrada. Neste sentido a influência
familiar no desenvolvimento dos jovens é indizível, uma vez que a partir dela
ele adquire os seus primeiros conceitos, que formarão, ao longo do tempo, os
alicerces de seu caráter, servindo de orientação para os inúmeros caminhos
que a vida imporá durante sua trajetória. Acreditamos que a família tem papel
fundamental neste processo a partir de diferentes mecanismos, como
recompensas, castigos, observações, imitações.
Entretanto, a família não tem um poder absoluto, porque ―nem os pais
poderão ―talhar‖ em seus filhos as características cognitivas, sociais e de
personalidade que rigidamente e a priori desejem‖ (MORENO e CUBERO
1995, p.190). Isso implica que deverão ser consideradas também, ao longo
deste desenvolvimento, as experiências positivas e negativas vividas no interior
da família.
3.1 FAMÍLIA: UMA CONSTITUIÇÃO
A Constituição estabelece que
[...] a família é à base da sociedade e que, portanto, compete a ela, juntamente com o Estado, a sociedade em geral e as comunidades assegurar à criança e aos adolescentes, o exercício de seus direitos fundamentais.
Porém, quando pensamos hoje o conceito de família, é comum imaginá-
la como se sempre tivesse existido na forma monogâmica e perfeita. Entretanto
a família é uma instituição historicamente constituída que, ao longo do tempo,
sofre modificações em função das transformações econômicas, culturais e
sociais, o que provoca também a produção de diferentes subjetividades; nesse
sentido, tais manifestações repercutem também na formação do jovem
adolescente.
Elaborar um quadro completo da origem da família, portanto, é tarefa
extremamente difícil e complexa. Compreender as concepções de família na
atualidade requer que se resgate a historicidade das formas de organização
familiar. Na literatura há um grande número de estudos respeitáveis que
mostram que a família passou por transformações consideráveis, evoluindo
47
junto com o homem e foi, ao contrário do que se pensava, resultado de um
longo processo. Canevacci (1976) nos revela que os laços familiares
permanentes são condicionados pela cultura, e não por necessidades
biológicas. A família não é, portanto, algo biológico, algo natural ou dado, mas
produto de diferentes formas históricas de organização entre os humanos.
[...] a idéia de família foi o resultado de uma evolução, através de estágios sucessivos de desenvolvimento, dos quais a família monogâmica constituiu a última forma [...] cada uma dessas famílias teve uma longa vida nas tribos da humanidade, com períodos de infância, de maturidade e de decadência. (MORGAN in CANEVACI, 1976, p. 56-61)
Ao examinarmos a trajetória da família ao longo dos tempos,
encontramos o antigo regime da aristocracia européia, onde havia as casas
grandes que consistiam em agrupamentos de 40 a mais de pessoas, inclusive
não consanguíneos e agregados, e pautavam-se por excessiva hierarquia com
nenhuma privacidade; os bebês nobres eram amamentados por amas-de-leite
formando seus primeiros vínculos com alguém que não pertencia à família.
Já a estrutura da família camponesa se diferenciava da aristocrática, em
que a autoridade social não estava investida ―na figura paterna, mas na própria
aldeia. Esta estrutura familiar comportava poucos filhos, que usualmente eram
enviados, por volta de 6 a 10 anos, para a casa de outro camponês para um
período de aprendizagem; aprendiam a depender da aldeia e não dos pais. A
amamentação era realizada pela mãe com escasso envolvimento emocional,
como uma tarefa incomodativa e consumidora de tempo. É importante observar
que tanto na família camponesa como na aristocrática o treino de hábitos
higiênicos eram pouco fiscalizados e o controle da vida sexual na fase genital
era também superficial.
No Brasil, identificamos a passagem do modelo patriarcal feudal ao
modelo patriarcal nuclear burguês. A história da instituição familiar, no Brasil,
tem como ponto de partida o modelo patriarcal, importado pela colonização e
adaptado às condições sociais do Brasil de então, latifundiário e escravagista.
O patriarca era o detentor das posses, não apenas de seu latifúndio, mas de
sua família, de seus agregados e escravos. Nessa configuração, a mulher era
considerada propriedade do patriarca. Mercadoria cambiável nos casamentos
48
arranjados, depois de casada, cabia à mulher administrar a casa e servir ao
marido como reprodutora.
Com o advento da revolução industrial, pode-se falar em uma estrutura
familiar característica da classe trabalhadora, em que todos os componentes
deveriam trabalhar para garantir o sustento, sujeitando-se a extensos horários
de trabalho e, em muitos casos, tendo a mulher alçada ao mercado de
trabalho, assumindo frequentemente o papel de sustentáculo da família.
Singly (2007) apreende a família como um espaço no qual os indivíduos
acreditam proteger a sua individualidade, ao mesmo tempo em que sofrem
intervenção do Estado mediante o apoio e a regulação sobre as relações dos
seus componentes. Entende que ao longo das últimas décadas a discussão
sobre a crise da família, no Ocidente, foi propiciada pelos efeitos do divórcio,
pelo enfraquecimento da instituição do casamento e da baixa taxa de
nascimentos.
Esses acontecimentos tanto indicaram a compreensão de que se
delineara o enfraquecimento da família, quanto sugeriram a análise do
surgimento de novos modelos familiares, caracterizados, por sua vez, pelas
mudanças nas relações entre os sexos e as gerações, tais como: controle mais
intenso da natalidade, autonomia relativa da sexualidade, inserção da mulher
no mercado de trabalho, entre outras.
Ao acompanharmos as transformações no âmbito da família moderna,
focalizando os comportamentos interpessoais, entendemos, pela visão do
autor, que nas sociedades contemporâneas ocidentais os indivíduos não se
parecem com aqueles das gerações precedentes, devido ao surgimento do
indivíduo original e autônomo, resultante da imposição dessas sociedades, as
quais fazem vigorar razões tanto ideológicas quanto objetivas.
Para Singly (2007, p. 54), [...] as famílias são dependentes da sociedade
na medida em que devem atuar em um jogo cujas regras e o desenrolar das
partes lhes são parcialmente desconhecidos.” Isso implica que, sob essa visão,
a família contemporânea é relacional, é privada e pública, é individualista e
precisa de horizonte intergeracional. Entretanto é amplamente reconhecida a
importância da família8 no cuidado e no bem-estar de seus integrantes, uma
8 De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) art. 25: ―Entende-se por
família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes‖.Art.
49
vez que é ela o âmbito privilegiado e o primeiro a proporcionar a garantia de
sua sobrevivência, o aporte afetivo fundamental para seu pleno
desenvolvimento e para a sua saúde integral, absorção de valores éticos e de
conduta, e a sua introdução na cultura e na sociedade em que estão inseridas.
Essa importância adquire contornos ainda mais decisivos no caso dos
indivíduos mais vulneráveis, como por exemplo, as crianças, os adolescentes e
jovens, os idosos e os doentes.
Nessa perspectiva, por iniciativa do Estado e a sociedade elaboraram-se
documentos a fim de estabelecer políticas públicas que visam atender a
família, a exemplo do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos
Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária,9
que estabelecem conceitos sobre a família e descrevem o marco situacional e
as perspectivas das Políticas Sociais voltadas a potencialização das famílias,
onde são apontadas também perspectivas sobre uma noção de família
ampliada para dar conta do desenvolvimento do adolescente.
Diante do exposto, abordamos aqui a questão do (CRAS) Centro de
Referência da Assistência Social, que é uma unidade pública estatal
descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização
e oferta de serviços da proteção básica do Sistema Único de Assistência Social
– SUAS, nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e Distrito
Federal. Dada sua capilaridade nos territórios, caracteriza-se como a principal
porta de entrada desse sistema social, ou seja, é uma unidade que possibilita o
acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de
Assistência Social. E esta compreende a família como um espaço contraditório,
marcado por desigualdades e, até mesmo, violência.
Nessa direção, ao eleger-se a matricidade social10 como eixo do sistema
social, a família é enfocada em seu contexto sociocultural e econômico, com
4º: ―É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária‖. 9 Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Brasília-DF. CONANDA, 2006, p. 47. 10 A matricidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de Assistência Social. E define a família como conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, cuja sobrevivência e reprodução social pressupõem obrigações recíprocas e o compartilhamento de renda e ou dependência econômica.
50
composições distintas e dinâmicas próprias. Essa compreensão busca superar
a concepção tradicional de família, o modelo padrão, a unidade homogênea
idealizada e acompanhar a evolução do seu conceito, reconhecendo que
existam arranjos distintos, em constante movimento e transformação. Contudo,
as novas concepções de família na sociedade moderna, muitas vezes
contribuem para uma educação deficitária dos filhos, porque ao mesmo tempo
em que podem suprir necessidades materiais, muitas vezes, não conseguem
desenvolver um processo afetivo e de aprendizagem. O crescente número de
relações pouco duradouras tem tido consequências drásticas no que diz
respeito à estrutura da família. Atualmente, poucas são as famílias onde se
encontra pai, mãe e filhos vivendo em harmonia sob o mesmo teto, o que gera
certa desestrutura.
No entanto, alguns especialistas afirmam que esse termo deve ser
revisto. Desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente,
ausência de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem
a ver com as condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o
que pode ocorrer em qualquer modelo familiar. No caso específico da influência
da família no desempenho escolar dos filhos, fatores relativos à vida
extraescolar dos alunos impactam no aprendizado: o contexto familiar do qual a
criança ou adolescente se origina, a escolaridade dos pais, a valorização que a
família atribui à escolarização, a preocupação com a boa trajetória dos filhos, o
acompanhamento dos estudos e a participação efetiva na vida escolar dos
estudantes são elementos centrais para um aprendizado eficiente.
O fato de os pais estarem inseridos do mercado de trabalho, não terem
escolaridade, serem pobres ou serem ricos, negros ou brancos, não os exime
da responsabilidade pela criação dos filhos. Antes do trabalho, ou qualquer
outra coisa, deve vir o direito à vida. Os pais retiram esse direito quando se
ausentam e não participam do desenvolvimento dos filhos. Essa ausência pode
ser preenchida por sentimentos de frustração e abandono.
A família é também, o primeiro "mundo" que habitamos, podendo nos
parecer acolhedor ou hostil, e como tal, regras, costumes, linguagens. Na
relação família–escola, podemos questionar em alguns momentos e nos
perguntarmos: por que a família é tão mal vista? Os professores dão algumas
pistas. Eles dizem que quem leciona faz também o papel de assistente social, a
51
escola está no lugar da família, onde o professor não ensina apenas, mas
ajuda o aluno a sobreviver. Isso ocorre muitas vezes porque os pais não
desenvolvem o papel que sempre lhe coube: criar e cuidar bem dos filhos,
orientá-los nos estudos e prepará-los para a vida.
―A educação (recebida na família, na escola e na sociedade de um modo geral) cumpre um papel primordial na constituição dos sujeitos. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, conseqüentemente, influenciam o comportamento da criança na escola‖. (VYGOTSKY, 1984, p. 87)
A influência do lar como hábitat da criança e da família, assim como a
influência do meio social mais amplo, é muito grande, principalmente na
primeira infância e na adolescência, e essas são fases críticas do
desenvolvimento do ser humano, que sempre requerem um maior cuidado e
atenção.
3.2 A FAMÍLIA E A ESCOLHA PROFISSIONAL DOS JOVENS
O estudo das profissões é abordado de forma sistemática na
sociologia somente a partir da metade do século 20, e existem vários autores e
várias teorias que debatem nesse campo. Entre eles Freidson (1996), que
elabora uma teoria do profissionalismo e consolida o paradigma do poder das
profissões, com sua análise das profissões. Para ele, uma profissão é um tipo
de ocupação que se distingue das outras por seu conhecimento e competência
especializados, que são necessários para a realização das tarefas numa
divisão de trabalho, ele identifica profissão como um princípio ocupacional de
organização do trabalho.
Kober (2003) faz uma análise da teoria das competências. Ele
combina cinco elementos para construir o modelo das competências: normas e
recrutamento, que privilegiam o nível de diploma, valorização da mobilidade e
do acompanhamento individualizado da carreira, novos critérios de avaliação,
que privilegiam as qualidades pessoais, como responsabilidade, autonomia,
capacidade de trabalhar, instigação à formação contínua, o aprender sempre e,
por fim, a desvalorização dos antigos sistemas de classificação fundados nos
52
níveis de qualificação e originados nas negociações coletivas, com
negociações individuais de salários e benefícios.
Quando o assunto é a percepção da juventude sobre as escolhas
profissionais, é importante destacar o processo da Orientação Vocacional. A
Orientação Profissional é uma atividade que vem sendo desenvolvida pelos
psicólogos e pedagogos por todo o século 20 e sua finalidade não se modificou
muito durante esses anos, visando sempre traçar o perfil dos sujeitos e
encontrar, para eles, atividades profissionais que servissem a esse perfil.
Testes de interesse, de aptidão e de personalidade foram os instrumentos
básicos utilizados nesse campo.
Esta perspectiva tradicional de Orientação Profissional estava baseada
em alguns pressupostos importantes de serem destacados: liberdade de
escolha, igualdade de oportunidades e individualismo. O sujeito é visto nessas
teorias, comumente chamadas de teorias psicológicas, como um sujeito livre
para escolher dentre as alternativas e possibilidades que o meio social lhe
oferece. No entanto, para que essa liberdade possa ser exercida, é preciso que
se dê aos sujeitos igualdade de oportunidades.
A crítica a essas perspectivas começa exatamente no questionamento
de seus pressupostos: não há liberdade de escolha para todos e nem
igualdade de oportunidades em nossas sociedades; não existe esse indivíduo
isolado que possui características pessoais naturais ou potencialidades
naturais desenvolvidas pelo aproveitamento das condições que lhe foram
ofertadas pela sociedade. Essas idéias de igualdade, liberdade e
individualidade ocultam a desigualdade social existente em nossas sociedades
e o processo de construção dos sujeitos nas condições sociais desiguais.
Essas teorias tornaram-se, ao longo de tempo, instrumentos de
manutenção do status quo e de dissimulação da realidade. Diante do exposto,
devemos considerar nesse processo de escolha a perspectiva sócio-histórica,
cuja definição já foi evidenciada neste estudo. Se verificarmos que diferentes
ritos contemporâneos estão perdendo a força. O vestibular não tem mais a
aura do passado. De um modo geral, os diplomas não têm mais o
reconhecimento social de antigamente. Os novos heróis propostos aos jovens
pela mídia são aqueles que fazem fortuna rapidamente. A educação nacional é
atacada de todos os lados.
53
Nunca os professores foram tão desconsiderados. A entrada em um
meio profissional não oferece mais um quadro definitivo. As confrarias
corporativistas desaparecem com os pequenos trabalhos. As grandes
empresas, outrora familiares, onde se entrava como estagiário para sair
aposentado depois de ter tido uma promoção interna começam a fazer parte da
história. A crise econômica dos anos 2000 e a globalização da economia
transformam o sistema. Muitas profissões propostas aos jovens não são
conhecidas de seus pais, impedindo a noção de uma transmissão de memória
e colocando novamente esses últimos ou os outros adultos à parte da
dimensão iniciática.
Nos rituais tradicionais, na verdade, se os adultos são postos de lado,
eles sabem, por já terem vivido essa experiência, que isso passa. Os rituais de
passagem na adolescência visam marcar a ruptura dos jovens com seus laços
domésticos e consagrar a saída da vida restrita à família para a vida
comunitária. Em nossa cultura, o vestibular ainda é visto como marco principal
desse evento. Entretanto, como foram observados anteriormente, os processos
ritualísticos de nossa sociedade foram ao longo do tempo sendo
desenergizados, culminando em pseudorrituais. Dessa forma, vemos o
vestibular como um desses pseudorrituais, não somente porque na maioria das
vezes é realizado de forma alienada, mas principalmente devido ao fato de o
jovem, mesmo depois de ter passado por ele, permanecer em simbiose com a
família, pois continua dependente sendo sustentado ainda por alguns anos.
Calligaris (2007), em artigo intitulado ―Os sonhos dos adolescentes‖, para o
jornal Folha de S. Paulo, comenta:
[...] os jovens de hoje sabem que sua origem não fecha seu destino: sua vida não tem que acontecer necessariamente no lugar onde nasceram sua profissão não tem que ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma proliferação extraordinária de ficções e informações, eles conhecem uma pluralidade inédita de vidas
possíveis. (CALLIGARIS, 11 jan. 2007, p. E10)
Nesse sentido, a função social do educador é ser agente de
transformação; cabe a ele auxiliar na organização dos desejos e necessidades
da população com a qual trabalha. É importante identificarmos de que forma a
compreensão dos fenômenos conhecidos como ritos de passagem podem ser
úteis na realização de trabalhos de orientação profissional e vice-versa.
54
Acreditamos que uma sociedade tão carente de simbolismos formais dessa
ordem, como a nossa, acaba criando, por meio dos recursos disponíveis,
outras formas de cristalizar seus aspectos mais subjetivos, tão necessários
para o desenvolvimento do sujeito.
É importante lembrar que, muitas vezes, os jovens, hoje
desempregados, são os trabalhadores infantis de anos atrás. Dessa forma, o
aumento das oportunidades de trabalho decente para jovens não pode ser
dissociado dos esforços de erradicação do trabalho infantil e da melhoria de
perspectivas de emprego para adultos. Além do mais, o problema do
desemprego de jovens reflete e perpetua défices de trabalho decente nas
famílias e comunidades.
Contudo, a idéia do pressuposto de que o jovem escolhe uma profissão
a partir das condições em que vive, da influência da família e em função de
suas habilidades e aptidões não é uma idéia que sempre existiu; é algo que
teve início quando se instalou na sociedade o modelo do capitalismo. E neste
momento coloca-se uma questão: se tudo está na mão do sujeito, o momento
de sua escolha profissional torna-se muito importante. Esse é um momento de
conflito, e não devemos imaginar que o futuro de uma pessoa dependerá
principalmente de sua opção profissional e que essa escolha não poderá ser
alterada, principalmente devido a inúmeras influências que interferem nesse
processo.
Entre eles podemos mencionar as características da profissão, o
mercado de trabalho, a importância social da profissão, o histórico pessoal, a
satisfação pessoal, a satisfação material, a vocação e o dom, a remuneração,
as habilidades necessárias para o desempenho da profissão, a trajetória para
se chegar a esse processo de escolha profissional, como: a escolarização, o
vestibular, os custos da formação.
Outros fatores que merecem destaques aqui são os grupos sociais, e
entre eles está a família e o grupo de amigos, de onde se espera que venham
as principais pressões nesse processo de escolha. Não podemos aqui deixar
de fazer menção às profissões ditas ocultas, muito comuns nos centros
55
urbanos, como catadores de produtos para reciclagem, limpadores de vidros de
carro em semáforos entre outras, que são originarias do sistema atual
capitalista, seja por falta de escolarização, família ou políticas públicas. Para
Bock ―o indivíduo é escolhido para uma profissão pelas influências dos fatores
sociais, da estrutura de classes, dos meios de comunicação e, de certa forma,
da herança social‖ (BOCK, 1999, p. 248). Considerando que esse pensamento
esteja correto, ao negar a possibilidade de liberdade de escolha, acabamos
também percebendo esse indivíduo como reflexo da organização social, sem
autonomia frente a essas determinações.
3.3 PERCEPÇÕES DE JOVENS SOBRE ESCOLHAS PROFISSIONAIS
Perguntamos aos jovens adolescentes participantes se eles já haviam
pensado sobre ter uma profissão. De acordo com os resultados desta
pesquisa, os participantes foram unânimes em afirmar que já pensaram em ter
uma profissão (100%). Muito embora nem todos soubessem a área em que
gostariam de ingressar, como apontam os resultados a seguir: ciências
humanas (22%), ciências exatas (33%) e ciências biológicas (33%) e (12%)
não escolheram ainda.
Ao serem questionados sobre suas escolhas, os pesquisados relataram
como fatores que influem no processo de escolha: a importância social e a
remuneração, o mercado de trabalho, as habilidades necessárias para o
desempenho, os caminhos para chegar à profissão desejada, a satisfação
pessoal, a vocação e o dom, o grupo social em que estão inseridos e a própria
história pessoal.
A seguir selecionamos percepções de sete participantes por entender
que evidenciam de forma específica a temática abordada, sobre os motivos
pelos quais escolheram, a princípio, as respectivas áreas.
(P1) ―Biológica, pois gosto desta área, acho interessante, sabemos o
que acontece no corpo ao redor da gente e também porque é uma
coisa que vem crescendo a cada dia.‖
56
(P2) ―Nutricionista porque envolve a alimentação, saúde e boa
forma.‖
(P3) ―Ator/diretor de teatro/arte-educador, porque reconheço a
importância e o poder da arte no meio social e desejo contribuir para
sua compreensão e disseminação.‖
(P4) ―Engenharia aeronáutica, pelo dinheiro, pelo desafio de querer o
melhor, por consequência, o mais fácil.‖
(P5) ―Técnico em informática, porque tenho facilidade em aprender e
ensinar nesse ramo.‖
(P6) ―Professora de filosofia, porque me identifico com essa
profissão, talvez porque desde pequena vejo minha mãe lecionando.‖
(P7) ―Física, porque sempre fui bom com matérias exatas.‖
Diante de algumas das escolhas acima descritas podemos notar que são
profissões tidas como tradicionais: Engenharia, Física, Filosofia, Informática,
Nutrição, Artes, Biologia, Jornalismo. Entretanto, o cenário das profissões
ganha novos contornos no século 21, com profissões que surgem, ou são
reinventadas, na proporção das mudanças tecnológicas, como administradores
de comunidades virtuais, engenheiros de rede, tecnólogo em criogenia,
especialista em ensino a distância (EAD), que buscam espaço em uma fatia do
mercado de trabalho que até então não existia.
As inovações e mudanças não se restringem às novas profissões, tais
inovações afetam tanto os profissionais que já possuem formação quanto os
adolescentes em processo de definição de carreira. As profissões tidas como
―tradicionais‖ não vão acabar, segundo a opinião de alguns especialistas, que
sugerem que os profissionais mais experientes precisarão se adaptar. Já na
opinião do economista e sociólogo Gilson Schwartz (2000), em sua obra As
57
Profissões do Futuro, com o advento e explosão de crescimento da Internet,
várias profissões foram criadas para ampliar ou consolidar redes de
conhecimento. Isto é, as novas profissões não mudaram apenas as relações
pessoais, mas mexeram também na engenharia das empresas.
Por essa razão, acreditamos que todas as profissões têm um papel na
organização da vida humana. Uns planejam, outros executam; alguns se
dedicam a pesquisar, enquanto outros divulgam as pesquisas: assim,
complementando-se, os profissionais das mais diversas áreas são os
responsáveis pela construção deste organismo complexo e maravilhoso
chamado sociedade. Enfim somos constantemente colocados diante de
escolhas. Optar, decidir, protagonizar a nossa própria história.
Contudo, para os jovens, a escolha de uma profissão passa por uma
questão de identidade, de encontro de seu espaço, de descoberta e da
construção de um projeto de vida. Neste sentido o jovem necessita muito de
um grupo de apoio para desencadear o seu desenvolvimento e
autodesenvolvimento. Por outro lado, sabemos que a família não é a única a
interferir no processo de decisão do jovem; temos a mídia, a igreja, os grupos
de amigos, as referências e as condições sócio-históricas e econômicas que
interferem de forma contundente na subjetividade do jovem adolescente.
Nos jovens entrevistados, percebemos essa interferência, conforme
descrição de nove participantes a seguir:
(P1) ―Por mais que a minha mãe viva dizendo que o ITA não é para
mim, todo mundo me apóia. Só o que eles gastam com escola e livro
e todo tipo de material que eu preciso já é um grande tipo de
contribuição; o psicológico eu vou trabalhando me encorajando.‖
(P2) ―Eles me apóiam em minhas decisões, principalmente porque
escolhi uma área de atuação difícil, que é a arte. Venho fazendo isso
de forma amadora há muito tempo e meus familiares apoiaram, sim,
dentro de suas limitações.‖
58
(P3) ―Elas querem o melhor para mim, e estão sempre pegando no
meu pé em relação aos estudos, para que eu tenha um futuro.‖
(P4) ―Minha família acredita que contribui muito; tenho muita base,
me ensinaram a respeitar o próximo, a ser educado, ser honesto, me
incentiva nos estudos.‖
(P5) ―Porque me proporcionam toda estrutura possível para o meu
futuro.‖
(P6) ―Porque eles me apóiam e me incentivam para os estudos.‖
(P7) ―É sempre bom receber conselhos de pessoas experientes, o
que nos ajuda a decidir o que é melhor.‖
(P8) ―Porque estão sempre presentes na minha vida.‖
(P9) ―Eles contribuem pagando meus estudos e dando suporte para
que eu aproveite o mesmo. Porém, acho que a família se fecha em
uma posição mais conservadora.‖
Essas respostas fazem eco a outras pesquisas realizadas. De acordo
com Soares (1997, 2002), os pais constroem projetos para o futuro do filho e
desejam que ele corresponda à imagem sobre ele projetada, propondo, muitas
vezes, objetivos que na realidade eram sonhos seus que não puderam realizar
na juventude. O filho se torna, então, um depositário das aspirações dos pais,
absorvendo a responsabilidade de escolher a profissão que o pai não pôde
seguir (ANDRADE, 1997). De alguma maneira, os pais introduzem em seus
discursos seus próprios desejos sobre os projetos de seus filhos, e a forma
como estes vivenciam suas ocupações também é fator influente na decisão do
jovem.
59
Segundo Filomeno (1997), o filho estabelece conceitos e valores acerca
das profissões de acordo com o que se fala em família. Analisando os relatos
de adolescentes, podemos fazer certas observações interessantes sobre o
universo pesquisado e constatar que a identificação com as profissões e com
profissionais se dão por meio das relações que o jovem estabelece com o
mundo adulto. Daí a importância dessas identificações com os pais e com
outros membros da família com os quais o jovem interage.
Esses dados foram comprovados nesta pesquisa ―Estudos e
Repercussões da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do
Jovem‖, em que a maioria dos sujeitos da pesquisa mencionam a contribuição
da família para o futuro profissional. A família é citada em diferentes aspectos
como exemplo de modelo de conduta no desempenho de seus papéis sociais e
das normas e valores; referem-se à família também como mantenedora de
papéis sociais conservadores, porém participativa e estruturalista,
principalmente no apoio social e emocional.
Diante do exposto, buscamos referências em autores como Santos
(2005), em que a família é apontada pela literatura como um dos principais
aspectos que podem tanto ajudar quanto dificultar o jovem no momento da
decisão profissional. No momento em que o adolescente está construindo sua
identidade tanto pessoal como vocacional a influência da família é de extrema
importância.
A problemática da adolescência já foi estudada à exaustão por muitos
autores. Ericson (1972), explicita que é nesse período que se organiza a
construção da identidade, sendo esta a base do desenvolvimento do indivíduo.
Já Bohoslavsky (1988), quando se refere à identidade ocupacional, diz que a
adolescência não é vista como algo definido, mas sim "como um momento de
um processo submetido às mesmas leis e dificuldades daquele que conduz à
conquista da identidade pessoal" (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 30). Apesar de a
identidade ocupacional se desenvolver como um aspecto da identidade
pessoal, pode-se dizer que são dois processos que caminham juntos em
determinado momento de transição – a adolescência – da vida do indivíduo.
Os jovens pesquisados evidenciam que as famílias contribuem com
indicadores, os quais sugerem que eles estão tendo uma formação escolar de
60
qualidade, sendo apoiados nos processos de escolha e decisão de projeto de
vida e recebem investimentos em capacitação profissional. Mas essas famílias
também esperam resultados.
Elas se concentram muito na escolaridade dos filhos, e a preocupação
com o desemprego pode ser uma das razões, mas não é a única.
independentemente do grau de envolvimento dos pais com os filhos ou certa
incapacidade de acompanharem culturalmente a escola dos filhos.
Os pais não têm tempo e principalmente não estão no tempo dos filhos.
Não compreendem a matéria de que é feita a escola dos filhos e são
incapazes, às vezes, de conversar sobre o que os filhos aprendem ou deviam
aprender. Deixam de conversar com os filhos e não são exigentes, nem com os
filhos, nem com a escola ao nível das aprendizagens, dos conhecimentos e
técnicas, da utilidade do que aprendem.
Em vez de buscar a compreensão da complexidade e da qualidade das
aprendizagens, os pais pressionam a escola sobre as classificações, as quais,
ainda que sem conteúdo, permitem a transição e o ingresso no mundo do
trabalho ou no Ensino Superior. Acreditamos que a presença dos pais na vida
escolar tem significativo valor para os estudos dos filhos, dando-lhes apoio,
colocando-os em boas escolas, incentivando, participando da vida escolar dos
filhos entre outras ações. Percebe-se que, no contexto escolar, existem
diversas maneiras de os pais participarem efetivamente do processo educativo,
já que essa participação é necessária, considerando-se que, ao relacionar-se
com a escola, a família participa da construção do sucesso escolar de
diferentes maneiras.
Já quando perguntamos a esses mesmos jovens sobre a composição de
suas famílias e quais suas contribuições para sua formação e desenvolvimento,
os dados obtidos sugerem que a influência da família para o futuro profissional
do jovem é deveras importante.
Entre os participantes pesquisados, a maioria, cerca de (77,7%) mora
com os pais, e há entre 4 e 5 pessoas morando no domicílio, enquanto que
(22,3%) só vive em domicílio com a figura materna. Em relação ao número de
irmãos, (55,6%) têm até 2 irmãos, e para a totalidade dos entrevistados ficou
caracterizado que não possuem dependentes (100%).
61
No que se refere à renda familiar, a grande maioria (77,8 %) tem até 3
pessoas contribuintes na família, sendo que para esse mesmo percentual
corresponde o teto de rendimento familiar corresponde a um valor acima de 3
salários mínimos. Entretanto, há também famílias que sobrevivem com renda
mensal de 1 salário mínimo (11,1%).
A pesquisa também demonstra que a situação ocupacional dos pais dos
entrevistados apresenta a prevalência da figura materna constituindo a maioria
das chefias das famílias, pois (88,8%) das mães trabalham e em contrapartida
apenas (66,6%) dos pais trabalham atualmente. Essa disparidade caracteriza
também a situação de escolaridade dos pais, pois grande parte das mães dos
entrevistados possui curso superior (55,8%), o Ensino Médio e o Ensino
Fundamental totalizando (44,2%). Em relação à figura paterna, ficou
evidenciado que a maioria possui somente o Ensino Médio (77,8%).
Observamos também que na grande maioria dos casos estavam presentes na
composição familiar o pai a mãe e os irmãos. Em relação à renda familiar, a
grande maioria vive com mais de três salários mínimos. Entretanto no domicílio
de alguns dos entrevistados ainda não existe infraestrutura básica de
saneamento. A realidade muitas vezes contradiz as pesquisas de opiniões
divulgadas pela mídia, que apontam índices de desenvolvimento humano
positivos. Há ainda grande preocupação, porque este é um país emergente e
com grande desigualdade.
62
4. EDUCAÇÃO: CONVIVÊNCIA E APRENDIZAGEM
Este capítulo é resultado de uma reflexão sobre a percepção da escola
como sendo um espaço de convivência e aprendizagem para a juventude. Nas
ultimas décadas, tem se tornado cada vez mais evidente a importância da
educação na construção das práticas democráticas e da modernidade. Este
tema tem ocupado e preocupado grande parte da sociedade, mobilizando a
atenção de Organismos como a UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o Ministério da Educação, além de
pesquisadores, especialistas em educação, bem como os demais cidadãos.
Tal interesse pode ser visto como resultante das novas e complexas
demandas do mundo contemporâneo e globalizado. Entre elas, podemos
destacar: as novas dinâmicas do trabalho, a profissionalização do jovem e seu
processo de inserção no mundo do trabalho e o papel da família. Diante deste
novo contexto social estaria a escola de hoje, na sua prática cotidiana, sendo
uma instituição ainda capaz de reproduzir o conhecimento disponível para que
os jovens tenham instrumentos para enfrentar o mundo do trabalho e
reproduzir as relações de autoridade e seleção presentes na nossa sociedade?
Estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID
(2008) relata que mais da metade dos latino-americanos entre 15 e 19 anos
não têm um nível adequado de educação para conseguir um trabalho bem
remunerado. No Brasil, o percentual de jovens nesta situação é de 71,6%.
Entretanto, de modo geral os jovens na atualidade têm expectativas sobre o
futuro profissional muito semelhantes às de todos que procuram um
crescimento e um desenvolvimento social.
Os jovens sonham com um dia a dia que, para muitos de nós, não é
apenas um sonho, e sim, resultado de um projeto de vida, angústias ou
frustrações. Com os relatos colhidos nesta pesquisa ―Estudos e Repercussões
da Prática Familiar e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem ‖, exceção feita
às distinções necessárias que serão expostas no capítulo sobre a inserção do
jovem e o mundo do trabalho, pudemos notar um consenso, a partir das
63
respostas, de que todos os participantes já pensaram em ter uma profissão
(100%), porém os resultados da pesquisa sugerem que os jovens precisam
ainda ajustar seus sonhos às necessidades (segurança no trabalho, assistência
médica, dinheiro, entre tantas outras).
Cabem aqui alguns questionamentos: nos tempos atuais, existe esse
espaço no mundo do trabalho para a juventude? A escola desperta interesse
quando carrega consigo uma promessa de futuro? O que significa ―escolher‖
numa sociedade onde as oportunidades não são iguais para todos? Coloca-se,
então, um desafio para os profissionais que trabalham com os alunos do
Ensino Médio público: saber quem é esse jovem, conhecer o mundo do
trabalho na atual sociedade capitalista, entender o significado das reais
possibilidades de escolha desse jovem e compreender que há algo muito maior
que permeia e condiciona a efetivação das escolhas: a realidade
socioeconômica.
Contudo, a realidade não determina definitivamente o destino do jovem
economicamente desfavorecido, mas com certeza reduz a probabilidade de ele
atingir suas metas, ou mesmo força a modificação de suas escolhas, levando-o
a negá-las ou a adaptá-las para obter maiores chances de se inserir no ensino
universitário ou no mundo do trabalho. Todos parecem concordar que, na
chamada sociedade do conhecimento, a escolarização tem um valor
inquestionável, ―já que é capaz de proporcionar ao indivíduo experiências e
informações de sua cultura‖ (REGO, 2002, p. 48). Cabe a nós o esforço de
examinar essas questões sob a ótica da educação.
4.1 EDUCAÇÃO, ESTADO E SOCIEDADE
Ao abordarmos a temática da educação, proponho pensarmos a
juventude como uma oportunidade que implica tratar os jovens como sujeitos
de sua própria história e não como objeto das expectativas dos adultos. Deve
ser um processo interacional onde ambos devem contribuir para o crescimento
do sujeito. Essa mudança de olhar que supera a visão de jovens como objeto
do problema e se firma na visão de jovem como sujeito de oportunidades, nos
64
leva a uma perspectiva importante para a ação do sistema educacional, do
trabalho e da mobilização da sociedade em nosso país. ―Há indicações de que
uma parcela importante dos jovens brasileiros está, atualmente,
experimentando uma série de fragilidades e vulnerabilidades, o que leva a que
se fale em uma ‗crise dos jovens‘.‖ (CAMARANO et al., 2004, p. 11-20)
O país tem ainda o desafio de superar o uso excessivo de medidas de
abrigo e de privação de liberdade para adolescentes em conflito com a lei. Em
ambos os casos, cerca de dois terços dos internos são negros. Cerca de 30 mil
adolescentes recebem medidas de privação de liberdade a cada ano, apesar
de apenas 30% terem sido condenados por crimes violentos, para os quais a
penalidade é amparada na lei. Hoje, há mais de 11 mil jovens brasileiros
privados de liberdade, levantamento feito pela Secretaria Nacional dos Direitos
Humanos (2009).
As causas sociológicas do aumento da violência dos jovens são
dominadas pela crise econômica e o desemprego. De acordo com (CALIMAM,
2006) diante de certos comportamentos e estilos de vida não convencionais,
muitas pessoas atribuem qualificações e rótulo a indivíduos com diferentes
abordagens relacionadas ao desvio social e à delinquência juvenil. Acreditamos
que um jeito de reconstruir esse panorama poderá se dar por intermédio da
educação.
A educação existe em todas as esferas da vida do indivíduo. Ela existe
em cada cultura, participando do processo de produção de crenças e ideias, de
qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e
poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é a sua
força.
A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as s gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais. (DURKHEIM, 1978, p. 41)
Já para Freire (1983), a educação muitas vezes vem sendo utilizada
pela classe dominante para transmitir sua hierarquia de valores, na qual se
tomou o ato educativo como um depósito de conteúdos que o professor faz no
aluno a partir de uma premissa inicial: o professor possui a cultura e o saber; o
aluno ignora e, por isso, necessita ser levado a esse saber. Isso implica que é
65
importante elucidar no educando sua criticidade, criatividade e ação diante do
que está dado: é preciso que o oprimido tenha consciência de sua opressão.
Isso implica que a formação do homem democrático exige que se encontre um
método de ensino capaz de permitir ao indivíduo apropriar-se do sentido
altamente cambiante da sociedade e do tempo em que ele está vivendo.
A educação deve estar a serviço da formação de traços de
personalidade e consciência crítica que levem à formação da personalidade
democrática. Há uma inadequação de nossa educação atual, cheia de
verborragia e pouca prática, em relação ao clima cultural que vem se
prolongando no país: nenhum sistema educativo é capaz de manter na nova
geração a estabilidade afetiva e a integridade mental, a menos que esteja
unido em uma estratégia comum com as influências sociais que atuam fora da
escola.
Somente mediante a cooperação dessas influências sociais, em nossos
dias de modo especial, será possível colocar um freio nas influências sociais
que, de outra parte, desorganizam a vida da comunidade de conhecimento
concreto da realidade, de nossa sociedade. Devemos incentivar as forças
positivas da industrialização. A Escola, então, passaria a ser uma instituição
local, centrada democraticamente no seu educando e na sua comunidade,
vivendo sob sua circunstância em verdadeira comunidade de trabalho e de
estudo, prática e dinâmica que deve enfrentar dificuldades, resolver questões e
identificar-se com sua realidade.
Conforme as idéias de Freire (1987), uma prática de sala de aula
deveria desenvolver a criticidade dos alunos. Paulo Freire condenava o ensino
oferecido pela ampla maioria das escolas, isto é, as ―escolas burguesas‖, o
qual ele qualificou de educação bancária, onde o professor age como quem
deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras,
o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se,
de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele
propunha para despertar a consciência dos oprimidos. Ele dizia que, enquanto
a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a
educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.
66
No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a idéia de que
tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, não há futuro a
priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crítica aos intelectuais
de esquerda que consideravam a emancipação das classes desfavorecidas
como uma inevitabilidade histórica. Seu ponto de vista implica a concepção do
ser humano como ―histórico e inacabado‖ e, consequentemente, sempre pronto
a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade
de formação rigorosa e permanente.
Já para Tragtenberg (1985), a educação tem o pensamento voltado para
os limites da escola como instituição disciplinadora e burocrática e as
possibilidades da autogestão pedagógica como iniciação à autogestão social.
A burocracia escolar é poder, repressão e controle. As propostas do autor
mostram as possibilidades de organização das lutas das classes subalternas e
da participação política do trabalhador na empresa escola visando à
reeducação dos próprios trabalhadores em geral e dos trabalhadores em
educação, em particular.
A possibilidade de desvincular saber de poder, no plano escolar, reside na criação de estruturas de organização horizontais, onde professores, alunos e funcionários formem uma comunidade real. É um resultado que só podem provir de muitas lutas, de vitórias setoriais, derrotas também. Mas sem dúvida a autogestão da escola pelos trabalhadores da educação – incluindo os alunos – é a condição de democratizar a escola. Sem a escola democrática não há regimes democráticos; portanto, a democratização da escola é fundamental e urgente, pois ela forma o homem, o futuro cidadão. (TRAGTENBERG, 1985, p. 40-.45)
Diante dessa discussão, entendemos, entretanto ao estabelecer os fins
da educação no país, nossos legisladores, pelo menos em teoria, falam sobre o
que deve determinar e controlar o trabalho educacional em todos os seus graus
e modalidades. De certo modo falam a respeito de uma educação idealizada,
ou falam da educação a partir de uma ideologia. Mas, do outro lado do palco,
intelectuais, educadores e estudantes fazem todos os dias a crítica da prática
da educação no Brasil. Eles levantam questões e afirmam que, do Ministério à
escola infantil, a educação nega no cotidiano o que afirma na lei. E o esforço
em examinar estas questões pode significar uma importante contribuição para
os estudos das complexas relações entre o indivíduo e a sociedade.
67
4.2 EDUCAÇÃO: DIFERENTES REALIDADES
Retomando as questões que nos remetem à conceituação de educação
e sua situação num contexto social, podemos, antes de mais nada, dizer que a
educação sempre expressa uma doutrina pedagógica, a qual, implícita ou
explicitamente, se baseia em uma filosofia de vida, concepção de homem e
sociedade. Além disso, devido ao fato de que numa realidade social concreta, o
processo educacional se dá através de instituições especificas (família, igreja,
escola, comunidade) que se tornam porta-vozes de uma determinada doutrina
pedagógica.
Essa posição foi primeiramente sistematizada por Émile Durkheim, que
não especificava os conteúdos educacionais, mas partia do conceito do homem
egoísta que precisa ser moldado para a vida social. As novas gerações
apresentam uma flexibilidade para assimilar, internalizar, perceber e,
finalmente, reproduzir os valores, as normas e as experiências das gerações
mais velhas. Isso implica que o processo educacional é midiatizado
basicamente pela família, mas também por instituições do Estado, como as
escolas.
Podemos perceber, portanto, que é a partir da escola que a criança e o
jovem fazem uma ponte importante e favorável com o mundo exterior, por meio
da socialização que a escola permite. Contudo, é a partir da percepção no
contexto escolar que o aprendente adquire conhecimento por meios sensoriais,
o que contribui para que exista um processo de aprendizagem. E a escola
também pode fazer uma mediação por meio do valor simbólico (valor dado a
um elemento de forma subjetiva) e do contexto social. Isso implica que o
contexto social no qual a pessoa está inserida tem como característica facilitar
e mediar a absorção do conhecimento, que tem início no nascimento e
acompanha a pessoa durante toda a vida.
A percepção escolar está vinculada à forma pelo qual a criança e o
adolescente percebem e adquirem conhecimentos no ambiente escolar, os
quais serão utilizados posteriormente na vida adulta, e também aos valores já
68
assimilados e acomodados por eles em outros contextos sociais. Na escola, a
criança ou adolescente aprende diversos elementos de socialização, como a
convivência com diferentes grupos do âmbito escolar, uma vez que é a partir
disso que a criança e/ou adolescentes irão aprender e desenvolver
relacionamentos sociais, viver em sociedade, isto é, tornar-se um indivíduo
social.
No âmbito escolar, a criança se defronta com maiores exigências sobre
o modo de se relacionar com os outros: passa a estabelecer relações tanto
com adultos quanto com seus iguais e a se deparar com diferentes contextos e
novas regras. Há diversas formas de interação social como fatores
determinantes na formação de crenças e valores dos indivíduos, o que
pressupõe que as relações entre diferentes contextos da vida têm merecido
cada vez mais a atenção de pesquisadores que partilham perspectivas sociais
do funcionamento e do desenvolvimento humano.
Tanto a família quanto a escola, duas instituições cuja relação é nosso
objeto de análise, sofreram transformações profundas ao longo da nossa
história. Mediador e regulador dessa relação, o papel do Estado também foi se
modificando. Ao percorrer essa história, podemos compreender a origem de
algumas ideias que ainda hoje estão presentes no pensamento educacional e
verificar sua atualidade ou anacronismo.
A recuperação deste fio condutor pode inspirar cada município a
identificar conexões desse cenário geral com a história local, com seus traços
específicos, e assim melhor compreender o terreno simbólico no qual irá atuar.
Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo deslocada da periferia para
o centro da família. Do mesmo modo, ela passou a ser o foco principal do
sistema educativo.
O deslocamento é fruto de uma longa história de emancipação, na qual
as propostas educacionais têm grande peso. Esse movimento alinha-se ao dos
direitos humanos e consolida-se na Carta Internacional dos Direitos da Criança,
de 1987, que registra o acesso da criança ao status de sujeito de direitos e à
dignidade de pessoa. Tais conquistas invertem a concepção de aluno como
página em branco, encerrada no projeto inicial da escola de massa e que
organizava a hierarquia das posições no sistema escolar. Essas mudanças
69
incidem diretamente na transformação das relações entre as gerações, tanto
entre pais e filhos, quanto entre professores e alunos.
Segundo a LDB, (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) os
profissionais da educação devem ser os responsáveis pelos processos de
aprendizagem, mas não estão sozinhos nessa tarefa. A lei prevê a ação
integrada das escolas com as famílias e estas estão inseridas em uma
comunidade, localizada em determinado território, com seus costumes, valores
e histórias, a que chamaremos de contexto social.
Contudo, no âmbito das condições para o sucesso escolar, a literatura
aponta para a importância da qualidade das relações entre a família e escola,
como meio de potencializar a eficácia de ambos os sistemas.
[...] A escola é, então vista como portadora de uma função social porque compartilha com as famílias a educação das crianças e jovens, uma função política, pois contribui para a formação dos cidadãos. (REGO, 2002, p. 48).
A educação existe também onde não há escola. e por toda parte pode
haver redes e estruturas sociais de transferências de saber de uma geração a
outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino
formal e centralizado. Contudo nem sempre os contextos nos quais a pessoa
se insere contribuem para o desenvolvimento do pensamento questionador e,
transformador.
[…] O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas... (LEONTIEV, 1978)
Isso implica que a cada fase do seu desenvolvimento o homem adquire
os meios para intervir de forma competente no seu mundo e em si mesmo.
Bock, quando aborda a concepção de mundo do sujeito, comenta:
Ao escolher uma forma de se envolver no mundo do trabalho bem como a atividade que vai desenvolver, a pessoa mobiliza imagens que adquiriu durante sua vida [...]. ―Ao pensar numa profissão, a pessoa mobiliza uma imagem que foi construída a partir de sua vivência por meio de contatos pessoais, de exposição à mídia, de leituras (biografias, romances, revistas etc.), identificação ou um afastamento da profissão‖. (BOCK, 2002, p. 78-79)
70
Partindo do pressuposto de que não existe o indivíduo isolado em nossa
sociedade a pergunta que nos cabe é: Existe liberdade de escolha e igualdade
de oportunidades em nossa sociedade para todos? Essas ideias de igualdade,
liberdade e individualidade, ocultam a desigualdade social existente em nossa
sociedade e o processo de construção dos sujeitos em condições sociais
desiguais.
4.3 EDUCAÇÃO E ENSINO MÉDIO
No Brasil, a oferta de Ensino Médio é majoritariamente de
responsabilidade do poder público estadual. Em 2009, dos mais de oito milhões
de matrículas computadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), 85,9% eram oriundas de redes estaduais de ensino.
Matrículas no Ensino Médio nas redes federais e municipais perfaziam apenas
2,4% e na rede privada 11,7%. Para alguns, como na opinião do membro do
Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo e professor da
UNESP (Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖) João Palma
Filho, tem havido, nos últimos tempos, ampla discussão e avaliação de
propostas para uma etapa de ensino cada vez mais em evidência: o Ensino
Médio.
Em recente entrevista ao boletim Juventude na Cena, João Palma
partilha suas opiniões sobre a necessidade de um currículo mínimo para o
Ensino Médio, que possa ser construído de maneira democrática e participativa
e não seja o fechamento da escolaridade elementar do brasileiro que, assim,
torna-se um candidato potencial para o ensino superior, independentemente de
sua vontade. É bom dizer que nem todo mundo quer ir para o Ensino Superior
e não há problema nisso, se a pessoa tiver acesso a uma boa educação
básica. Mas o Ensino Médio continua espremido entre o Ensino Fundamental e
o Superior, servindo apenas como uma etapa preparatória para este último.
O campo educacional, de modo geral, acabou contaminado por um
discurso politicamente correto, que é o seguinte: ―a escola deve formar para a
cidadania‖. Outro senso comum é o de que a escola deve desenvolver no aluno
o ‖pensamento crítico‖. O que nos chama atenção nesses argumentos é o fato
71
de que são menos frequentes afirmações sobre a função da escola no que diz
respeito ao conteúdo e seu papel na formação para o trabalho. Nossa
preocupação é a seguinte: sem conteúdo e sem trabalho, qual é a cidadania
que a escola consegue promover? O maior problema do Ensino Médio não é
ter ou não conteúdo, mas a escolha desse conteúdo. O que interessa para o
jovem de hoje? E o que é importante que esse jovem aprenda hoje? Sobre
essa temática, mencionamos a seguir um depoimento de um jovem estudante
do Ensino Médio.
4.4. Percepções de um jovem do Ensino Médio
―Marcelo Teixeira de Morais,11 17 anos, é estudante do 3º ano do ensino médio e
participante do projeto Jovens Agentes pelo Direito à Educação (JADE). A situação da
educação hoje no estado de São Paulo pode ser resumida pela palavra precariedade. No
caso do Ensino Médio, considero que é um ensino completamente defasado e com uma
estrutura falida. Muitos jovens estão na escola sem ter clareza do porquê de estarem nela.
Vão para lá, porque é um espaço de encontro, porque é lá que estão seus amigos. Mas os
sentidos desta escola não são de conhecimento dos estudantes. A precariedade não é uma
realidade exclusiva da educação.‖
Diante desse quadro, é importante mencionar, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional e a Reforma do Ensino Médio, que define novas
diretrizes. A partir da Lei Nº 9.394 e do Decreto-lei Nº 2.208/97, e também pela
Lei Nº 11.684/08, novas relações são estabelecidas. No momento em que o
Ensino Médio é alvo de políticas governamentais, de preocupações nacionais e
de avaliação, vale a pena relatar pesquisas que lançam luz sobre esse nível de
ensino, para, no mínimo, abalar mitos veiculados pela mídia sobre as
contradições entre escola pública e escola particular.
Em seu trabalho "Ensino médio: função do estado ou da empresa?",
Whitaker (2001) nos revela que a mais importante descoberta de sua pesquisa
foi a de relacionar fatores complexos ligados ao preparo para o vestibular.
Observou que, embora fugindo da escola pública, supostamente inoperante, e
frequentando o Ensino Médio e mesmo o Ensino Fundamental em escola
11
Texto produzido a partir de entrevista concedida no dia 24/maio/2010, “Juventude na Cena.” In: Ação
Educativa nº13, junho de 2010.
72
particular, os privilegiados necessitam mais do que nunca daquilo que há 10
anos batizou-se de "efeito cursinho". No entanto, a categoria dos sem-cursinho
sofre quedas vertiginosas na proporção entre inscritos e matriculados,
demonstrando que pagar mensalidades caríssimas durante os anos que
antecedem o vestibular pode ser útil a muitos propósitos dos pais, quando
investem na educação dos filhos, mas não elimina os gastos com um, dois e
até três anos de cursinho.
Outros trabalhos surgiram com o propósito de tratar especificamente da
reforma do Ensino Médio, um deles, uma tese de doutorado. Vianna (2001),
realizando uma pesquisa, propõe três hipóteses: em primeiro lugar, a reforma
do ensino não representaria um avanço em relação ao processo de
universalização de ensino médio; em segundo, esta agudizaria o dualismo
entre formação geral e formação para o trabalho; por fim, a reforma não
alteraria as condições de precariedade com que se realiza o trabalho de ensino
e aprendizagem no Ensino Médio.
―Por que a gente tem que ir à escola? Para aprender o quê? O que seria um conteúdo
básico para o ensino médio? Na minha escola, os professores têm foco no vestibular. São
aplicados testes e a gente realiza exercícios que caíram na FUVEST e na PUC, muitas
vezes, em meio a ameaças. O vestibular aparece como uma polícia que garante o êxito do
aluno. Não acho que minha escola seja uma regra, pelo contrário.‖
―Mas o foco tem que ser mesmo o vestibular? Será que todo jovem tem que ir para a
faculdade e quer isso? Se não, qual é a proposta para quem não quer? Eis a questão...
Como não conheço outra escola, não tenho uma proposta, mas seria possível pensar numa
escola que ajudasse os jovens nas suas vivências, no vestibular e no mundo do trabalho?
Por que não fazer diversos projetos de ensino médio com focos e objetivos diferentes, sem
que um valesse mais do que o outro? Não é uma idéia que eu tenha muito bem formulada e
quando comentei isso com amigos eles disseram que não podia ser. ―
Mas não pode? De toda forma, essa idéia vai na contramão do que vejo acontecer, porque
hoje todo mundo tem o mesmo material, o mesmo currículo. Se bem que, na escola em que
estudo, os livros didáticos e os livros dos alunos, fornecidos pelo governo estadual, têm
sido utilizados como material de apoio. Para apoiar a mesa. Apenas alguns professores
recorrem a esse material ou ele é utilizado em momentos muito específicos. O argumento
recorrente dos professores para criticá-lo é de que ele oferece conteúdos que estão muito
defasados quando comparados aos saberes e aos conhecimentos que são problematizados
pelos professores da escola. Essa afirmação pode estar correta, mas o uso pouco
sistemático desse material não é, em minha opinião, o problema.
73
Desde que foi implementada a reforma, alguns professores têm recorrido ao
SARESP para atestar que nossa escola está acima da média estadual, como se
estivéssemos isolados dos problemas que afetam outras escolas. ―Nossa escola é boa‖.
Meus questionamentos sobre esse assunto são os seguintes: a política atual não está
incentivando a competição entre as escolas? Até que ponto incentivar a competição entre
escolas de ensino médio favorece a educação? Será que, se todas as escolas se
ajudassem os resultados não seriam melhores? A cooperação não ajudaria mais do que a
competição com base em provas e avaliações? Na verdade, tenho mais perguntas do que
respostas e a impressão de que consertar é um processo sempre muito difícil.
Embora descabido, penso que, às vezes, é melhor destruir tudo o que já existe
para reconstruir outra coisa. Isso talvez diminuísse a existência de programas que são ―tapa
buraco‖. Não tenho muita clareza sobre o que resolveria, mas certamente ―tapa buraco‖ não
dá certo. É preciso medidas muito mais abrangentes para a educação, até porque há
clareza de que os problemas são sérios: as pessoas não estão se formando direito, há um
monte de gente criticando e se manifestando contrariamente a tudo que está sendo feito.‖
Como pudemos observar pelo relato de Marcelo, estudante do Ensino
Médio, e seu questionamento sobre o sistema educacional, especificamente do
Ensino Médio, apesar de o país ter uma legislação como o Estatuto da Criança
e do adolescente – ECA, que proporciona ao adolescente o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, a escola não possibilita a inserção dos
alunos e nem os habilita para o mundo do trabalho.
Esse fato poderia sugerir que o jovem brasileiro teria hoje maiores
chances de ingressar no mercado de trabalho em profissões que exijam maior
qualificação, além de uma maior possibilidade de cursar o ensino superior, ou
um curso técnico profissionalizante. Mas tudo isto está ocorrendo? Entre a
escolha profissional realizada e a efetivação dessa escolha, há um caminho
repleto de fatores condicionantes que podem interferir na realização do curso
ou da profissão desejada. Entretanto, para muitos especialistas em educação,
a escola tem uma importância fundamental para o desenvolvimento do ser
humano.
O panorama apresentado por Marcelo nos remete a algumas
inquietações de Constantino (2004). Como conciliar a teoria e a prática no
sistema educacional vigente? Como formar um profissional com situações de
ensino-aprendizagem que promovam a aproximação entre o pensar e o agir,
74
isto é, que gere um novo cenário para que os aprendizes vivenciem novas
formas de sentir, pensar e agir?
Dessa forma, a escolha profissional do aluno do Ensino Médio público
coloca-se como questão, visto que elementos como a necessidade de
trabalhar, a falta de recursos para pagar um cursinho pré-vestibular ou uma
faculdade, a impossibilidade de concorrer em pé de igualdade com alunos
oriundos de classes economicamente favorecidas, podem ter um peso decisivo
na concretização de suas escolhas.
Vivendo numa sociedade capitalista que não oferece emprego para
todos, que emprega profissionais qualificados para trabalhos não qualificados,
que incentiva a competição individual para o ingresso na universidade e no
mercado de trabalho, as reais chances de realização das escolhas dos alunos
egressos do Ensino Médio público mostram-se bastante reduzidas, já que as
opções profissionais são entremeadas por fatores sociais e seus determinantes
políticos e econômicos.
Neste sentido nos reportamos ao pensamento de Vygotsky (2003) que
nos revela que
[...] o trabalho não é nem método e nem meio de ensino, mas a matéria-prima da educação profissional. Nela não só se introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a atividade laboral a base do processo educativo. (Vygotsky, 2003 p. 182-188).
... o que implica que uma das alternativas para o Ensino Médio seriam as
escolas técnicas profissionalizantes, que podem de certa forma capacitar o
jovem para o mundo do trabalho e oferecer um ambiente para o ensino-
aprendizagem.
Rossler (2007) destaca a importância de refletirmos sobre as relações
entre as esferas do mundo do trabalho e da educação. Considera que a
educação e o trabalho são interligados e que recusar-se a encarar esse dado
seria uma forma de negação da própria especificidade da educação. Contudo,
para Rossler:
Educação e trabalho sujeitam-se, submetem-se, à lógica e aos interesses da acumulação de capital, uma vez que quem passa a ditar as formas de trabalho, o que deve ser socializado em termos dos requisitos necessário para o processo de trabalho e ainda como deve ser socializado, é o próprio sistema econômico, político e social vigente. [...] Educação e trabalho, portanto sempre estiveram
75
intimamente, ou melhor, ontologicamente, interligados num mesmo movimento de produção e reprodução do gênero humano, o qual se expressa na dialética maior entre os processos ontológicos de apropriação e objetivação (ROSSLER, 2007, p. 96-101).
Isso implica que as interações entre as esferas da educação e do
trabalho têm contribuído para o ajuste da educação às necessidades de
reprodução do capital. E na medida em que se fundamentem em teorias
psicológicas do conhecimento e aprendizagem que reproduzem os elementos
valorativos presentes no universo ideológico contemporâneo, a educação
escolar reproduz, de ponta a ponta, da seleção dos seus conteúdos aos
métodos de ensino, a lógica e os interesses dos sistemas capitalistas de
produção, perdendo então, sua própria especificidade como mediação social
fundamental na reprodução tanto dos indivíduos como do gênero humano.
Acreditamos que nenhum sistema educativo é capaz de manter na nova
geração a estabilidade afetiva e a integridade mental, a menos que esteja
unido em uma estratégia comum com as influências sociais que atuam fora da
escola. Devemos incentivar as forças positivas da industrialização, onde a
escola passaria a ser uma instituição local, centrada democraticamente no seu
educando e na sua comunidade local, vivendo sob sua circunstância.
4.4.1. PERCEPÇÕES DOS JOVENS PARTICIPANTES DA PESQUISA
SOBRE A ESCOLA
Determinantes individuais e sociais não devem ser a função ideológica
do processo de ensino-aprendizagem que medeia interesses antagônicos, de
um lado o do capital e do outro o do trabalho. O quê e como se ensina na
escola não deveria depender dos interesses daquele que financia a escola.
Podemos dizer então que a rede de ensino oficial formal se torna
indispensável? Em absoluto e este é o posicionamento de (FREITAG, 1986)
sobre os setores educacionais:
[...] transmitem uma ideologia eclética em que se combinam elementos de ideologia democrática com a tecnocrática (educação com mecanismo de democratização e educação com investimento) e que em seu sincretismo asseguram a manutenção da falsa consciência das classes subalternas. (FREITAG, 1986, p.137)
76
Isso implica que parte da população, ao acreditar pertencer a um
sistema educacional democrático, procura-o para ascensão social, e esses
alunos, se não obtiverem êxito na escola, nem no mercado de trabalho,
acreditam que eles são os culpados, por inferirem que ambas as esferas
(pública e particular) são regidas pelo princípio da igualdade de chances, onde
os culpados não percebem ainda a institucionalização da desigualdade de
chances consumada entre o ensino público e o particular. Nesse sentido, faz-
se necessário que o sujeito procure se conscientizar e conhecer.
Severino (1992) diz que o conhecimento pressupõe a existência de um
sujeito conhecedor e de um objeto a ser conhecido, mediado pelo ato de
conhecer.
É a relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, na qual o sujeito aprende informações a respeito do objeto. É a atividade do psiquismo humano, que torna presente à sensibilidade ou à inteligência um determinado conteúdo, seja ele do campo empírico ou do próprio campo ideal. (SEVERINO, 1992, p. 38)
Dentro dessa perspectiva, será oportuno repensar e questionar o papel
da escola como trabalho educativo. A escola prepara as crianças para o mundo
real? Estude com afinco, tire boas notas e você encontrará um bom emprego
com um salário alto? A área de educação está possibilitando que as escolas,
além do conhecimento formal, gerem capacitação e profissionalização aos
estudantes?
Durante esta pesquisa de ―Estudos e Repercussões da Prática Familiar
e Escolar na Escolha do Trabalho do Jovem ‖ coletamos diversos depoimentos
dos jovens participantes sobre o papel da escola em suas vidas. Os resultados
desse conjunto de opiniões são bastante relevantes para o tema que
exploramos neste capítulo, por possibilitarem análises do impacto da
escolarização sobre aspectos das configurações estatais, sociais e familiares.
No nosso entender, as premissas esboçadas por Vygotsky em sua
abordagem, já mencionadas neste trabalho, são extremamente importantes
para a compreensão do tema em pauta. A seguir. percepções dos jovens
participantes desta pesquisa sobre o papel que a escola exerce em suas vidas:
77
(P1) ―A escola sempre cumpriu com suas responsabilidades e está
sempre em busca de seus objetivos.‖
(P2) ―Se a pessoa além de estudar tiver boa vontade, sim, mas
nem tudo o que acontece na vida da gente tem há ver com a
escola.‖
(P3) ―Por bem ou por mal, ela nos coloca em contato com o mundo,
mas proporciona diariamente diversas experiências.‖
(P4) ―A escola serve para adquirir conhecimento. Venho
aprendendo muito com a escola, sem contar que convivemos com
pessoas muito diferentes umas das outras e temos que respeitá-
las, aprender a conviver com as diferenças.‖
(P5) ―Para formar um indivíduo com conhecimento, para saber o
que está falando e não ser ignorante e um (fofolete) do governo.‖
(P6) ―Para socializar e trazer conhecimento ao indivíduo.‖
(―P7) ―Para aprender a viver em sociedade, uma preparação e até
um apoio nos estudos, pois estudar em casa também dá certo.‖
(P8) ―Simples e unicamente para formar o cidadão participativo; isto
engloba todo o resto.‖
(P9) ―Para educar e ensinar as crianças a serem boas pessoas no
mundo.‖
(P10) ―Para preparar para ter uma boa profissão, para ensinar
algumas coisas para os filhos.‖
78
(P11) ―Nos dá lições sobre a vida, apresenta o que é necessário:
socializar e preparar a pessoa para o trabalho.‖
(P12) ―Preparar para a vida profissional.‖
(P13) ―A escola serve para ajudar o indivíduo se enquadrar na
sociedade e ajudar no preparo para um futuro brilhante.‖
Diante dessas respostas, observamos que questões como educação e
trabalho estão interligadas dentro desse contexto. Notamos também que o
papel da escola para 15% dos jovens está vinculado ao processo de
socialização; para 15% está relacionado à educação; para 33% à aquisição de
conhecimento e, por fim, para 37%, cabe-lhe proporcionar crescimento.
Os jovens sujeitos desta pesquisa acreditam que a escola tem
contribuído para o seu futuro profissional (88,8%), por considerarem a escola
como referência para que possam adquirir conhecimentos, trocar experiências,
socializarem e se prepararem para o mercado de trabalho de forma humanista.
Além de ser uma estrutura sólida que lhes dá base para a sua formação,
cumprindo o papel social a que se propõe.
Por estarem ainda fora do mundo do trabalho, acreditamos que os
jovens não têm as dimensões exatas das exigências do mercado do trabalho.
Um dos fatores seria a questão da experiência, ou seja, a falta dela. Onde
adquirir essa experiência, na escola? Há ainda um discurso na educação para
que o aluno domine os conteúdos antes da prática, mas quando adquirir
experiência? A qualificação resolverá o problema de todos? A educação
resolverá todos os problemas de demanda de vagas de trabalho? O estudo
também nos revela que a escola, na opinião dos jovens pesquisados, tem a
função de formar cidadãos participativos que não sejam passíveis de
manipulação pelo poder. Segundo Foucault o poder não existe, o que existem
são práticas ou relações de poder.
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente por que ele não pesa como uma força que diz não, mas que de fato permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma
79
instância negativa que tem por função reprimir. (FOUCAULT, 2003, p. 181)
Diante de outras questões abordadas relacionadas a outras práticas
educacionais como, por exemplo, realização de cursos extracurriculares,
pudemos observar que (66,6%) participam dessas atividades, sejam esses
cursos pré-vestibulares, de idiomas ou profissionalizantes. Já relacionado a
práticas culturais percebemos, também pelos dados desta pesquisa, que a
totalidade dos jovens pesquisados pratica ou frequenta atividades
socioculturais relacionadas a artes, esportes e lazer.
Porém, apenas parte dessa população tem o hábito de ler livros sem a
exigência da escola (66,6%), talvez porque, em tempos atuais, a Internet tenha
ocupado grande parte do tempo livre de jovens que não trabalham. Diante disto
constatamos que os entrevistados, na sua grande maioria, têm acesso à
informática e a utilizam em seus domicílios (88,9%) e que em (78%) dos casos
pertencem a alguma comunidade virtual de sites de relacionamentos, em
detrimento de outras comunidades como religiosas (11,%) e culturais (11,%).
Diante desse panorama de cultura e desenvolvimento, os dados da
pesquisa sugerem uma posição sobre algumas características apresentadas,
como: a prática e atividades culturais e esportivas, e de tecnologia. No aspecto
da tecnologia é notório que nos últimos anos, os programas educativos
proliferaram rapidamente, invadindo residências e escolas, seduzindo
estudantes, professores e toda a família com recursos de multimídia, muita
diversão e informação. Paralelamente, o surgimento da Internet também trouxe
novos conhecimentos e consequências, além de tornar todo tipo de informação
mais acessível a todos.
Segundo Pesquisa do Ibope/Nielsen (2009), o brasileiro, no mês de
junho daquele ano navegou, em média, 44h59 na Internet. O dado é 10,6%
maior do que no mês anterior. O levantamento estima que até o primeiro
semestre de 2009 existiam 62,3 milhões de pessoas com algum tipo de acesso
à Internet no Brasil, incluindo escola, bibliotecas e lanhouses. Os que possuem
uma conexão ativa de Internet em casa são 25,6 milhões. A atividade mais
praticada na Internet é o uso de programas de mensagens instantâneas, que
representou uma fatia de 7h15 da média do tempo de uso no mês. A segunda
atividade é a navegação em comunidades de relacionamento, que consumiu
80
4h17. Entre as dez categorias analisadas na pesquisa, o tempo de navegação
caiu em apenas três: jogos, sites de busca e vídeos ou filmes.
A pesquisa também demonstra que o Brasil, no mês de junho de 2009,
ficou à frente de países como Estados Unidos, Japão e Reino Unido em tempo
gasto na rede.
O poder da tecnologia das comunicações sobre o desenvolvimento é imenso. Satélites, computadores, fax, telefones, redes informatizadas, tudo isso globalizou a informação, interligando o mundo‖. (QUEIROZ e AZEVEDO, 2008, p. 55).
Contudo é importante que os jovens saibam usufruir da tecnologia de
maneira satisfatória.
Por meio da informática é possível acessar enormes bibliotecas de dados a partir de algumas teclas de computador. Mas o mais importante nesse fluxo é obter informações apropriadas e desenvolver a capacidade para analisá-las. [...] jovens com acesso a toda essa tecnologia, empregam sua inteligência em caminhos tortuosos, ilegais, denotando assim falta de educação e conscientização melhor direcionada, desde os primeiros ensinamentos. Não só a falta de recursos produz a alienação e a ignorância. O excesso tem nos mostrado que as conseqüências são bem mais perniciosas. Toda forma de saber serve para o bem e para o mal. (QUEIROZ e AZEVEDO, 2008, p. 55)
A tecnologia e a cultura (arte) também são uma prática dos jovens
pesquisados; neste sentido, compartilhamos com o posicionamento de
Vygotsky:
A arte tem função pedagógica, nos permite utilizar a representação simbólica de conceitos como: o controle consciente do comportamento, lembrança voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento, que foram emitidos por Vygotsky e sintetizados como funções psicológicas superiores (VYGOTSKY in REGO, 2002, p. 24)
Outra característica encontrada nos relatos dos jovens aponta na
direção das práticas desportivas, envolvendo, neste caso, o corpo. Muitos
autores se referem ao corpo, entre eles Foucault.
O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular [...] mas a partir do momento em que o poder produziu este efeito como consequência direta de suas conquistas, emergiu inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo pelo poder [...]. O poder, longe de impedir o saber, o produz. Se foi possível constituir um saber sobre o corpo, foi através de um conjunto de disciplinas militares escolares. É a partir de um
81
poder sobre o corpo que é possível um saber fisiológico, orgânico sobre o corpo. (FOUCAULT, 2004, p.146-149)
A televisão na questão do lazer também é uma referência para alguns
jovens. Entretanto, a televisão pode ter outra dimensão entre a dominação
ideológica e a necessidade de educar a sociedade brasileira, diante das
mudanças econômicas e sociais do país. Foucault (1996), ao estudar a
Sociedade Disciplinar, constata que sua singularidade reside na existência do
desvio diante da norma e, assim, para normalizar o sujeito moderno, foram
desenvolvidos mecanismos e dispositivos de vigilância capazes de interiorizar
a culpa e causar no indivíduo remorsos por seus atos. Se os dispositivos do
poder, segundo Foucault, buscavam, no trabalho, controlar o tempo do cidadão
para torná-lo mais útil, economicamente, na TV, o controle do tempo se dá em
seu momento de não trabalho, após sua jornada de trabalho, de forma a torná-
lo menos útil, talvez, em seu aspecto político.
A disciplina televisiva .....pode ir um pouco além, fabricando fenômenos,
por meio da vigilância hierárquica que se estabelece entre dois gêneros: o
telejornalismo e a telenovela. Por outro lado, a televisão também pode ter uma
melhor aplicação e cabe ao homem utilizá-la de forma adequada e em prol de
objetivos sociais, por exemplo, como vem sendo utilizada em alguns momentos
em prol de uma educação à distância.
Contudo, não podemos perder de vista as contradições presentes da
história que proporcionam transformações da realidade. Cabe aos educadores
escolher de forma crítica entre uma educação que traga contribuições para que
a sociedade se transforme, ou uma educação que esteja voltada para a
reprodução e dominação, ou seja, para o empobrecimento da individualidade
humana. (Rossler, 2007).
E, por fim, para pensarmos em educação de qualidade hoje é preciso ter
em mente que a família esteja presente na vida escolar dos alunos jovens em
todos os sentidos. Ou seja, é preciso haver uma interação entre escola, família
e indivíduo. Neste sentido, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) formaliza e institui a gestão democrática nas escolas, colocando em
pauta que a família é imprescindível, pois é um espaço de orientação na
construção da identidade do ser humano e deve promover uma parceria,
82
juntamente com a escola, a fim de contribuir para o desenvolvimento integral
da criança e do jovem.
Dayrell (1996) busca contribuir com esta discussão quando aborda o seu
olhar sobre a escola, levando o entendimento da mesma enquanto espaço
sócio-cultural, buscando compreender alunos e professores como sujeitos
sócio-culturais, ou seja, os sujeitos que reproduzem e elaboram uma cultura
própria a partir das experiências sociais vividas por eles.
Afirma que esses sujeitos na escola desempenham um papel ativo no
cotidiano, que define o que a escola é realmente, pois esta pode possibilitar ou
limitar, conflitando ou dialogando constantemente com a sua organização.
Concordamos com o autor que a escola deve ser uma instituição dinâmica,
fruto de um processo de construção social. Com esse olhar, ressaltamos que
determinados aspectos e dimensões presentes no cotidiano escolar não devem
ser neutralizados ou julgados sem importância para a educação por serem
muitas vezes sequer notados.
Buscamos revelar a forma como os sujeitos, na escola, lidam com o
espaço, o tempo e com os seus ritos cotidianos em que os atores vivenciam o
espaço escolar como uma unidade sóciocultural complexa, onde convivem
diversidades que devem ser assumidas e tratadas como um elemento
desencadeador do processo educativo.
Acreditamos que a escola deve ser o lugar onde o aluno deve ser
formado de forma ampla, fazendo com que o processo de humanização seja
aprofundado nesse indivíduo, aprimorando as dimensões e habilidades que
são comuns a nós, seres humanos. Pensar que o acesso ao conhecimento, às
experiências culturais, às experiências sociais diversas, contribuem como
suporte para desenvolvimento do aluno de forma individual, como sujeito sócio-
cultural, contribui para ajudar a aprimorar a vida social desses indivíduos.
Faz-se necessário o aprofundamento e ampliação das análises que,
como afirma Dayrell (1996), buscam apreender a escola na sua dimensão
cotidiana, apurando nosso olhar sobre a instituição escolar, seu fazer e seus
objetivos, e contribuindo desta forma para a problematização da função social
da escola. Será oportuno repensar a escola. A escola prepara as crianças para
83
o mundo real? Estude com afinco, tire boas notas e você encontrará um bom
emprego com um alto salário.
Atualmente, boa formação e notas altas não bastam para garantir o
sucesso de alguém, principalmente o dos jovens adolescentes aqui retratados.
O mundo mudou. A maioria dos jovens em busca do primeiro emprego
encontram dificuldades e principalmente aqueles em situação de
vulnerabilidade, da periferia dos grandes centros. Os pais esperam resultados.
Eles se concentram muito na escolaridade de seus filhos, têm como
preocupação o desemprego, o desvio social, a inserção laboral, mas para tanto
se faz necessário um trabalho educativo na atividade laboral em que as
exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do
educando prevaleçam sobre o aspecto produtivo. Acreditamos que o trabalho é
um meio de socialização e interação para o jovem. O primeiro emprego pode
ser decisivo para a sua vida.
A juventude brasileira é maior que as dificuldades existentes. É com
essa afirmação que Pochmann (2007) inicia sua análise sobre a situação do
primeiro emprego do jovem no Brasil. Superar as barreiras para a melhor
distribuição de renda e melhores condições de educação é parte importante da
transformação da realidade controversa e difícil do jovem. Demonstrar que o
emprego juvenil está associado à precarização do trabalho, à falta de
profissionalização, e à urgente geração de emprego, são caminhos para que
possamos pensar nas políticas de geração de emprego juvenil colocadas hoje
em nosso país.
Pochmann (2007) analisa a situação da educação no Brasil como fator
fundamental para a superação de exploração no trabalho juvenil. A capacitação
do jovem e a possibilidade de postergar sua entrada no mercado de trabalho
são caminhos apontados para as políticas públicas juvenis de primeiro
emprego. O sistema educacional que deveria formar o jovem, dentre outras
possibilidades, também para o mercado de trabalho, contribui para sua
exclusão, pois a escola ainda não incluiu as novas tecnologias, que para os
jovens são parte de seu dia a dia. Outro fator relevante para a melhoria e
inclusão do ensino no Brasil é o investimento, propiciando ao jovem ter mais
condições de acesso e permanência no ensino, não sofrendo com as barreiras
84
de falta de vagas e de desestímulo nas escolas. O ensino é capaz de evitar a
marginalização juvenil.
O jovem requer espaço e oportunidade para viver o seu tempo, munido de condições suficientes tanto para ampliar o tempo de não trabalho, associado ao processo educacional, bem como uma melhor preparação para o ingresso em condições adequadas no mercado. [...] o jovem brasileiro tem garra e sabe o que quer (POCHMANN, 2007, p. 114).
Fazendo uma breve reflexão, tendo em conta a retrospectiva histórica da
educação, percebemos que nos anos 50 a educação estava a serviço de
pequenos grupos, favorecendo uma elite, que tinha como propósito formar
lideranças com conteúdos que favoreciam a reflexão, a crítica, enfim, que
levavam ao pensamento e à instituição de um saber. Logo em seguida, com o
processo da industrialização, nos deparamos com outra situação, em que a
grande massa da população precisava aprender a ler, a escrever. Tem início,
nesse momento social, um processo de educação de massas, onde muitas
escolas são construídas com o objetivo de formar mão de obra para o mercado
de trabalho, onde o método escolar se assemelha a uma linha de produção:
produzia-se com muita rapidez, o que implicava uma escola seriada. Sob essa
ótica, acreditamos que a escola segmentou o saber; produz-se um
conhecimento desvinculado da vida real e, no caso dos jovens ―objeto‖ deste
estudo, acreditamos que a escola não prepara o jovem para o mercado de
trabalho. Se a escola produz um conhecimento fragmentado, e vivemos de
maneira totalitária, onde temos de resolver várias situações ao mesmo tempo,
como esse jovem em formação participará do mundo do trabalho globalizado,
onde o conhecimento encontra com a vida?
85
5. INSERÇÃO DE JOVENS E O MUNDO DO TRABALHO
Este capítulo faz uma reflexão sobre o mundo do trabalho que afeta
alguns coletivos, de modo especial os jovens. A partir de uma análise do
próprio significado do trabalho e seus sentidos, abordaremos os efeitos dessa
nova organização produtiva do trabalho. O que nos leva a interrogações em
torno do lugar da esfera do trabalho na vida dos jovens em sua etapa de
transição para a vida adulta, de suas expectativas para esse espaço, diante de
um cenário de avanço tecnológico, globalização, desemprego, das novas ou
não relações entre educação e trabalho e das ações públicas implementadas
por diferentes atores para lidar com esse panorama. Neste sentido, ao final
deste capítulo os participantes evidenciam suas respostas sobre a percepção
que têm do trabalho. Para quem pensa a juventude e a percepção de valores,
seus sentidos e seus significados, faz-se necessária uma melhor compreensão
da realidade juvenil, entender os discursos que os jovens têm, em suas
diferentes formas e visões. São muitos os caminhos possíveis, e entre eles
está o trabalho.
5.1 TRABALHO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS
Podemos definir trabalho como toda atividade na qual o ser humano
utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para
atingir um determinado fim. Por intermédio do trabalho, o homem acrescenta
um mundo novo à cultura e ao mundo natural já existente.
O trabalho é, portanto, a ação ou o resultado de determinado esforço realizado pelo homem. E a ação da força do trabalho também é percebida como capacidade de trabalho, que na sociedade do capitalismo é tida como mais uma mercadoria que é comprada e vendida, numa transação entre o trabalhador – possuidor da força de trabalho – e o capitalista – o detentor do capital. (CORREIA, 2000, p.13)
86
Quando pensamos sobre o papel do trabalho, verificamos que ele nos
permite expandir nossas energias, desenvolver nossa criatividade e
realizarmos potencialidades. Mas, sobretudo, o trabalho continua sendo vital
para o sujeito e para a sociedade, pois engendra uma contribuição social
possível. A organização do trabalho expressa um modo de ser, de pensar e de
agir de uma determinada civilização. Diante de várias discussões que
envolvem o homem e o trabalho observamos que o processo de racionalização
e otimização está formatando o sistema de produção. Dos trabalhadores que
permanecem no sistema produtivo, exige-se grande variedade de habilidades e
flexibilidade, soluções criativas, alto grau de envolvimento com a empresa e
capacidade para tomar conhecimento de todo o processo produtivo.
Portanto, o homem deve ser capaz de realizar várias atividades, bem
como intervir no processo e no ambiente de trabalho. Em contrapartida, existe
a intensificação do trabalho por meio do enxugamento da estrutura e também
dos métodos de trabalho. Diante desses fatores, grandes mudanças e desafios
irão fazer parte desse contexto, como a evolução acelerada do conhecimento
humano.
Pessoas cada vez mais conscientes de seus direitos e do valor que têm;
acesso a informações, novos tipos de trabalho, profissões e especializações; a
crescente preocupação com a conservação ambiental, somados à globalização
e o impacto das novas tecnologias... Tudo isso implica que o impacto das
novas tecnologias não deverá ficar somente no âmbito das empresas, e sim,
ser inseridas nos parâmetros curriculares oficiais e não aparecer de modo
tímido. Nós precisamos de uma educação em movimento e a mesma deverá
ser inserida na vida das pessoas, ocasionando múltiplos benefícios como forma
de inclusão. Porém, essas questões da modernidade são processos que
geram incertezas e repercutem nas diversas dimensões na sociedade.
Entendemos a globalização como uma organização civilizatória, fonte de possibilidades e impossibilidades que desafiam o desenvolvimento humano. Tanto quando produz o desemprego, a globalização acentua o fascínio pelas descobertas tecnológicas, abre caminhos ao redescobrimento do Planeta e faz do homem um ser especial. [...] A globalização é um movimento histórico que assume configuração própria e interfere no local e vice-versa. Como desdobramento da modernidade, ultrapassa diferenças de tempo e espaço, elimina fronteiras geográficas, varre distâncias de raças, nações, religiões e ideologias, amortece antagonismos de classes. (SOUZA NETO, 2004, p. 92-93)
87
Os impactos da competição, tecnologização e globalização na relação
homem–trabalho estão marcados por uma série de mudanças de caráter
estrutural para a qual contribui o enorme avanço do conhecimento científico e
suas correspondentes inovações na área produtiva e globalizações do cenário
mundial. A globalização como um processo não pode ser reduzida à dimensão
econômica. Globalização ―significa a experiência cotidiana da ação sem
fronteiras nas dimensões da economia, da informação, da ecologia, da técnica,
dos conflitos transculturais e da sociedade civil‖ (BECK, 1999, p. 46).
Nesse contexto, dinheiro, tecnologia, mercadorias, informações, bem
como as pessoas, ultrapassam as fronteiras, como se elas não existissem. A
separação dos continentes e das nações torna-se, assim, uma questão de
aparência. Para Aguiar (2005) a globalização cria novos espaços sociais que
podem modificar as culturas, os valores locais, exigindo, assim, uma nova
composição no lugar da que existia. Gorender (1997) define a globalização
como a aceleração intensa dos processos de internacionalização, inerentes ao
capitalismo desde sua fase original nos séculos 15 E 16. O autor ainda destaca
os efeitos da terceira revolução tecnológica, centrada na informática e nas
telecomunicações, com influência dominante a partir da década de 70 do
século passado.
No caso das privatizações de empresas no Brasil, como as das áreas
de telecomunicações na época do governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso, observamos que o governo privatizou para não ficar com a tecnologia
atrasada, porque se supõe que as empresas não tinham condições de
desenvolvimento tecnológico. Nos tempos atuais seria pertinente uma
privatização dos terminais de aeroportos dos principais centros do país. O
importante é que tenhamos grandes empresas públicas no país que funcionem
como repartições públicas, mas sim, que funcionem com poder de competição
e não político, e não podem compactuar com o avanço do poder político no
controle das empresas para gerar apenas recursos positivos para campanhas
políticas.
Há relativamente poucos anos, afirmou-se que o desenvolvimento dos
países mais pobres dependeria do seu isolamento do mercado mundial e da
confiança apenas nas próprias forças. A experiência recente demonstrou que
88
os países que foram excluídos registraram estagnação e recessão, e aqueles
que se permitiram sair do isolamento, conseguiram entrar na corrente geral de
interligação das atividades econômicas em nível internacional. Mas, sobretudo
será necessário abandonar uma mentalidade que considera os pobres —
pessoas e povos — como um fardo e como importunos, que pretendem
consumir tudo o que os outros produziram. Os pobres pedem o direito de
participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade
de trabalho, criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos. A
elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural
e até econômico da humanidade inteira.
Para alguns especialistas, como Dominique Peccoud,12 a globalização é
marcada por uma dinâmica baseada no poder do mais forte, onde não há lugar
para aquele que perde e onde, contrariamente, o vencedor é sempre mais
vencedor. Para conciliar globalização e desenvolvimento humano, analisa que
é necessário inserir regras de distribuição, de igualdade, em uma sociedade
onde coexistem três dimensões: em primeiro lugar, a empresa e o livre
mercado, que são necessários porque é exatamente ali que se cria a riqueza.
Em segundo lugar, os "governos", que vão promover a redistribuição da
riqueza para o bem do mercado e para uma maior coesão social. Em terceiro
lugar, a estruturação da sociedade civil – isto é, a família, as associações locais
ou internacionais como Organizações Não Governamentais – ONGs e também
todas as grandes tradições religiosas e filosóficas, porque são necessários
valores compartilhados para se criar uma lei. Finaliza enfocando que o
liberalismo desenfreado viveu o que tinha para viver e os grandes
empreendedores percebem isso atualmente.
Então devemos construir uma saída, precisamos ter consciência de tudo
que representa o investimento em educação (ao invés de pensar
exclusivamente em termos de consumismo) e fazer dialogar entre elas as
grandes tradições políticas, sociais, religiosas para encontrarmos os valores
em comum sobre os quais se poderá construir um "governo" global,
imprescindível no contexto da globalização. Para Aguiar (2005), o processo de
globalização é contextualizado a partir de uma complexa mistura de processos
12 : Dominique Peccoud,12 do External Relations and Partnerships International Labor Office
(Genebra).
89
que modificam os fundamentos em que se apoiavam a sociedade,
consequentemente, gerando incertezas e riscos cujos efeitos podem produzir
conflitos sociais como autoconfrontos. A globalização recoloca, assim, o
problema da perda da razão de ser, do paradigma do pensamento até então
dominante.
Ao refletir sobre que caminhos poderiam sustentar estes novos
paradigmas e ao mesmo tempo a construção de uma sociedade justa e
humana, somos levados a pensar na relação entre o homem e o trabalho.
Segundo Castanho (2002, p. 251-2), ―o homem da atualidade encontra-se
imerso em um mundo cujo desenvolvimento tecnológico e científico acelera
processos de produção, de comunicação e da aplicação dos conhecimentos‖.
Isso implica que as complexidades trazem novas emergências e desafios para
a sociedade e para o campo do trabalho.
Aubert (2004) nos revela que estamos testemunhando o surgimento de
um novo indivíduo, cujas formas de ser, fazer e sentir, diferem profundamente
das de seus antecessores. Os indivíduos resultantes dessas mudanças têm
aspectos contraditórios: um enfoque sobre a satisfação imediata dos seus
desejos e a intolerância pela frustração da busca do absoluto, ainda é
relevante. Malvezzi (2010) diz que ―a gestão do Imediatismo tornou-se uma
demanda significativa da capacitação profissional, neste momento histórico‖.
Acreditando que todo este processo moderno possa gerar riscos,
Bauman (2004), quando fala sobre modernidade e seus riscos, nos revela que
uma das características do que ele chama de ―modernidade sólida‖ era que as
maiores ameaças para a existência humana eram muito mais óbvias. Isto
implica que os perigos eram reais, palpáveis, e não havia muito mistério sobre
o que fazer para neutralizá-los ou, ao menos, aliviá-los. Era óbvio, por exemplo,
que alimento, e só alimento, era o remédio para a fome. Os riscos de hoje são
de outra ordem, não se pode sentir ou tocar muitos deles, apesar de estarmos
todos expostos, em algum grau, às suas consequências.
Não podemos, por exemplo, cheirar, ouvir, ver ou tocar as condições
climáticas que gradativamente, mas sem trégua, estão se deteriorando a
diminuição das matérias primas e das fontes de energia não renováveis, e os
processos de globalização sem controle político ou ético, que solapam as
90
bases de nossa existência e sobrecarregam a vida dos indivíduos com um grau
de incerteza e ansiedade sem precedentes, ocasionando uma nova dinâmica
na formatação da relação homem–trabalho. Para confrontar sua condição
existencial e enfrentar seus desafios, a humanidade precisa se colocar acima
dos dados da experiência a que tem acesso como indivíduo. Ou seja, a
percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de
intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência
individual.
Quando se refere ao conceito de pós-modernidade, Bauman (2006)
expõe uma das razões pelas quais passou a falar em ―modernidade líquida‖ e
não em ―pós-modernidade‖: porque para ele pós-modernidade significa uma
sociedade que se refere a um tipo de condição humana, enquanto ―pós-
modernismo‖ refere-se a uma visão de mundo que pode surgir, mas não
necessariamente, da condição pós-moderna. Ser um pós-modernista significa
ter uma ideologia, uma percepção do mundo, uma determinada hierarquia de
valores que, entre outras coisas, descarta a ideia de um tipo de
regulamentação normativa da comunidade humana, assume que todos os tipos
de vida humana se equivalem, que todas as sociedades são igualmente boas
ou más. No contexto apresentado pelo autor tudo é temporário, as relações, o
trabalho, a relação homem-trabalho, é isso que sugere a metáfora da ―liquidez‖
para caracterizar o estado da sociedade moderna: como os líquidos, ela
caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições,
quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que
tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades ―auto-
evidentes‖. Sem dúvida a vida moderna foi desde o início ―desenraizadora‖,
―derretia os sólidos e profanava os sagrados‖, como os jovens Marx13 e
Engels14 notaram.
Mas enquanto no passado isso era feito para ser novamente ―re-
enraizado‖, agora todas as coisas – empregos, relacionamentos, know-hows
etc. – tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis. A nossa
13 Karl Heinrich Marx (1818-83), intelectual alemão fundador da doutrina comunista moderna, atuou como economista, filósofo, historiador, teorico político e jornalista. 14 Friedrich Engels (1820-95) foi um importante filósofo alemão. Juntamente com Karl Marx, criou o marxismo.
91
é uma era, portanto, que se caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e
subverter as tradições, mas por evitar que padrões de conduta se congelem em
rotinas e tradições. O que me interessa é, portanto, tentar compreender quais
as consequências dessa situação para a lógica do indivíduo, para seu
cotidiano.
Quando nos referimos à crise do sistema capitalista e ao mundo do
trabalho, podemos também nos reportar às ideias de Antunes (1999), quando
aborda a crise da sociedade do trabalho, afirmando que é absolutamente
necessário qualificar de que dimensão se está tratando: em primeiro lugar, se é
uma crise da sociedade do trabalho abstrato. Em segundo lugar, se se trata da
crise do trabalho também em sua dimensão concreta, enquanto elemento
estruturante do intercâmbio social entre os homens e a natureza. No primeiro
caso, da crise da sociedade do trabalho abstrato, há uma diferenciação que
nos parece decisiva e que em geral tem sido negligenciada.
A questão essencial aqui é: a sociedade contemporânea é ou não
predominantemente movida pela lógica do capital, pelo sistema produtor de
mercadorias, pelo processo de valorização do capital? Se a resposta for
afirmativa, a crise do trabalho abstrato somente poderá ser entendida como a
redução do trabalho vivo e a ampliação do trabalho morto. Acredita que sem a
precisa e decisiva incorporação desta distinção entre trabalho concreto e
abstrato, quando se diz adeus ao trabalho, comete-se um forte equívoco
analítico, pois se considera de maneira una um fenômeno que tem dupla
dimensão.
Com isso entramos num ponto crucial, que constitui o eixo central da
obra Os Sentidos do Trabalho: uma vida cheia de sentido fora do trabalho.
Para Antunes (1999), que supõe uma vida dotada de sentido dentro do
trabalho, não é possível compatibilizar trabalho assalariado, fetichizado e
tempo livre. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com
uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Em alguma medida, a esfera fora
do trabalho estará maculada pela desefetivação que se dá no interior da vida
laborativa. Como o sistema global do capital dos nossos dias abrange também
as esferas da vida fora do trabalho, a desfetichização da sociedade de
consumo tem como necessidade imprescindível a desfetichização do modo de
produção das coisas. O que torna a sua conquista muito mais difícil, se não se
92
inter-relaciona decisivamente a ação pelo tempo livre com a luta contra a lógica
do capital e a vigência do trabalho abstrato.
Uma vida cheia de sentido em todas as esferas do ser social, somente
poderá efetivar-se pela demolição das barreiras existentes entre tempo de
trabalho e tempo de não-trabalho, de modo que, a partir de uma atividade vital
cheia de sentido, autodeterminada, para além da divisão hierárquica que
subordina o trabalho ao capital hoje vigente e, portanto, sob bases inteiramente
novas, possa se desenvolver uma nova sociabilidade. Se o trabalho torna-se
dotado de sentido, será também a partir da arte, da poesia, da pintura, da
literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá
humanizar-se e emancipar-se em seu sentido mais profundo.
5.2 TRABALHO: UM FAZER HUMANO
O termo felicidade pode funcionar como um conceito que organiza a
compreensão da finalidade humana. Esse pressuposto nos faz refletir sobre a
questão das novas bases do trabalho, contudo,
No decorrer da história, as pessoas buscam sem cessar a felicidade. Modernamente, instaurou-se a crença no poder da tecnologia para construir a sociedade da abundância e do tempo livre. [...] Entretanto, talvez estejamos passando por uma das maiores crises da história, marcada pelo desemprego e pelo comportamento antiético. (SOUZA NETO e LIBERAL, 2004, p. 14).
Diante do exposto, Bendassolli (2007) diz que a base moderna do
trabalho, pode ter como consequências um enfraquecimento do trabalho e
contextualizar novas dinâmicas na relação homem-trabalho. Pensamento este
que faz com que Richard Sennett (2004) analise em A corrosão do caráter a
questão induzida pela instabilidade profissional sob o capitalismo flexível,
baseando-se em relatos de vida, notadamente de trabalhadores condenados à
mobilidade, o que não lhes possibilita o estabelecimento de vínculos duráveis.
Sennett (2009) filósofo americano, considerado um crítico do
capitalismo, amplia o campo dessa discussão, opinando que podemos alcançar
uma vida material mais humana, se pelo menos entendermos as coisas; para o
autor, a questão central não é a felicidade, mas a formação do ser humano.
93
Em O artífice, Sennett (2009) dá continuidade ao seu projeto iniciado na
década de 1990, quando se voltou para o entendimento do novo mundo do
trabalho. Ele acrescenta que o caminho para isso é a atividade artesanal. A
habilidade artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o
desejo de um trabalho bem feito por si mesmo. O sistema capitalista não tem
sido eficaz ao desenvolver as pessoas. Uma vez que entendamos o que as
pessoas são capazes de alcançar, em termos de qualidade de trabalho e
autodesenvolvimento, a questão passa a ser como organizar as instituições do
trabalho para promover essas habilidades.
Em O Artífice, o autor centra-se na habilidade artesanal definida por ele
como ―[...] um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho
bem-feito por si mesmo‖ (Sennett 2009, p. 19). Para falar dessa habilidade
natural para o trabalho, a busca de soluções para os problemas com os quais
se depara no trabalho, reafirma a vinculação entre o fazer e o pensar, seja o
Artífice um carpinteiro ou um regente de orquestra. O que o torna um Artífice é,
principalmente, uma condição humana especial: o engajamento. Contudo é
importante ressaltar uma crítica às práticas motivacionais que incentivam a
competição, aos avanços tecnológicos divergentes do trabalho do Artífice.
Para Sennett (2009) é possível aprender conhecendo a técnica, mas
essa aprendizagem está intimamente ligada à disposição de experimentar por
meio do erro. A aprendizagem da técnica envolve também a repetição, não
uma repetição fragmentada e mecanizada de ações, mas uma repetição que
permita ao Artífice tomar consciência das coisas. Nessa tomada de
consciência, torna-se possível aprimorar seu autocontrole, utilizar de forma
adequada e equilibrada suas forças e habilidades, sincronizar corpo e mente e
concentrar-se naquilo que faz, de forma a envolver-se emocional e
intelectualmente com sua atividade e tornar-se um bom Artífice.
Sua contribuição traz discussões sobre os testes de inteligência e sua
capacidade real de avaliar as habilidades do Artífice, o autor advoga a tese de
que a aprendizagem dessas habilidades inicia-se na infância e é aprimorada
pelos jogos infantis. Considera que é por meio do jogo que ocorre a apreensão
de regras pelas crianças, que testam seus limites e vão apreendendo o mundo
das coisas. Sendo assim, o fazer (trabalhar) nasce do brincar. Sennett (2009)
94
finaliza sua obra enfatizando três questões centrais relativas ao trabalho:
Primeiro, é ele que nos coloca no mundo e define as relações que
estabelecemos; segundo, este fazer não é neutro, nem os objetos que ele cria;
e terceiro, é importante o orgulho pelo trabalho, mas ele não deve se constituir
em uma cegueira.
Dessa forma, o autor deseja romper com a aura de inocência diária que
rodeia o trabalho humano. Ele pode não ser para o bem comum, pode causar o
mal, por isso, é necessário que o Artífice reflita constantemente sobre os
aspectos éticos relativos ao seu trabalho. O texto nos remete a uma reflexão
sobre a relação ser humano-trabalho, em que ser ou não ser um artífice não
parece tratar-se somente de uma questão, mas de algo essencial para trazer o
sentimento de realização no trabalho e, portanto, essencial para a saúde
mental do trabalhador. Tal reflexão perpassa pela necessidade da criação de
ambientes de trabalho mais saudáveis, que favoreçam essa ligação afetiva e
positiva com o trabalho.
Diante do exposto podemos inferir que podemos alcançar uma vida
material mais humana, se pelo menos entendermos como são feitas estas
coisas. Sennett (2009) acredita que as pessoas podem se desenvolver por
meio do trabalho e que isso tem consequências psicológicas, recompensas
como autorrespeito e o respeito dos outros, e o caminho para isto é a atividade
artesanal. A habilidade artesanal designa um impulso humano básico e
permanente, o desejo de um trabalho bem feito por si mesmo.
O sistema capitalista tem sido incompetente em promover o
desenvolvimento das pessoas, visto o que as pessoas são capazes de
alcançar, em termos de qualidade de trabalho e autodesenvolvimento. Aí a
questão passa a ser como organizar as instituições do trabalho para promover
essas habilidades.
. Em A corrosão do caráter, diferentemente de em O artífice (2009), o
que o autor destaca e critica são os elementos de mediação que se interpõem
ao homem em sua relação com o trabalho. Enfim, que lugar esse homem
ocupa no mundo. O autor procura explicar o incômodo em relação à temática
do livro. Segundo ele, nas discussões com Hannah Arendt (2004), as questões
95
sobre o homem e sua práxis trouxeram-lhe não só explicações, mas dúvidas.
Dúvidas que se centraram no ―porquê‖ e no ―como‖ fazemos as coisas.
Por outro lado quando revisitamos, Arendt (2004), em A Condição
Humana, verificamos que a perda do espaço público como local privilegiado e
único da prática da democracia e a diminuição do status do homem de ser
político (que age) para Homo faber (que cria) até Animal laborans (que se
reproduz), nos remete à condição do homem em sua relação com o trabalho.
Nesse sentido a autora aborda três dimensões que considera importantes da
vida ativa: Labor – atividade assinalada pela necessidade do processo
biológico e que assegura, por isso mesmo, a manutenção da espécie,
denotando a proximidade do homem com os outros animais; por isso, Hannah
Arendt atribui essa atividade ao Animal laborans. Acrescenta que o trabalho é a
atividade que nos remete ao artificialismo da existência humana, pois, ao
contrário da primeira, não está preocupada com o ciclo vital natural, mas sim
com a criação de artefatos a partir da natureza, que acabam por engendrar um
mundo diferente do mundo natural, um mundo de objetos que se interpõe entre
a natureza e o homem e entre os próprios homens; essa atividade é atribuída
ao Homo faber.
E finaliza evidenciando a ação como a atividade (única) que se exerce
entre os homens diretamente, sem a mediação das coisas ou da matéria; trata-
se, aqui, da condição política dos homens, na sua extrema pluralidade, e é
aqui, segundo Hannah Arendt, que se encontra a liberdade enquanto
capacidade de reger o próprio destino, para começar algo novo e imprimir no
mundo a lembrança, a história, que dão eternidade à condição humana. Ao
criar organismos políticos, o homem cria algo novo que o imortaliza, pois
ultrapassa a sua morte. Somente a Ação é tipicamente humana e pressupõe a
presença de outros; por isso é a condição humana fundamental.
Temos observado que é brutal o abismo socioeconômico que separa os
ricos e os pobres no mundo. Podemos inferir que bem mais da metade da
humanidade ainda enfrenta o drama agudo da fome, da falta de habitação, do
desemprego, do desamparo à saúde e à educação; enquanto isso, uma
pequena parcela da população mundial detém grande parte da renda
econômica do planeta. Ou seja: enquanto a grande maioria não tem o mínino
necessário para sobreviver dignamente, uma maioria pode se dar ao luxo de
96
consumir de tudo e esbanjar o supérfluo. Assim, é principalmente entre essa
minoria com poder aquisitivo que ocorre o fenômeno do consumo alienado.
Não tem sentido falarmos em consumismo alienado entre povos famintos,
esmagados pela miséria e pelas injustiças sociais.
No padrão de consumo sadio, uma pessoa adquire um produto tendo em
vista suas reais necessidades e pelo prazer de utilizá-lo. Já no consumo
alienado, o prazer do uso é muitas vezes substituído pelo poder de posse.
Assim, uma grande quantidade de coisas é comprada apenas para ser
possuída e não usufruída. O consumidor alienado age como se a felicidade
consistisse apenas numa questão de poder sobre as coisas, ignorando o
prazer obtido com aquilo que ama. Para o filósofo alemão Horkheimer (1976),
quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as
coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais
genuínos.
Assim, a vontade de consumo perde sua relação com a personalidade
do indivíduo ao se desvincular de suas necessidades reais. Induzido pela
máquina publicitária, o consumo deixa de ser um meio para o prazer pessoal e
se transforma num fim em si mesmo. Torna-se um ato apenas movido pela
novidade e pela liquidez do produto. E considerando que é na fase da
juventude que o consumismo se faz latente, destaco o poema Eu Etiqueta, de
Carlos Drummond de Andrade (2001): ―Em minha calça está grudado um
nome/ Que não é meu de batismo ou de cartório/ Um nome... estranho [...]‖
que, faz critica e discute o consumismo na sociedade o que nos faz pensar
sobre o papel da propaganda (mídia) como instrumento de produção cultural e
que tem um papel decisivo na forma de estruturação da sociedade capitalista e
principalmente dos jovens no processo de construção de sua identidade.
5.3 - TRABALHO: CONTEXTO JUVENIL
Neste estudo que objetiva estudar as repercussões da prática familiar e
escolar na escolha do trabalho do jovem e diante do panorama apresentado
sobre o universo do trabalho, podemos observar que essas novas práticas
configuram um novo cenário, e ao tomarmos a juventude como foco, é possível
trazer algumas reflexões e questionamentos e dados secundários que possam
97
corroborar com este estudo, além de algumas ilustrações dos resultados
obtidos com esta pesquisa. Então, como os jovens poderão encontrar um
sentido no trabalho, frente a possibilidades de desemprego, e falta de
qualificação?
Quando pensamos a juventude como sendo somente um processo de
transição para a vida adulta, corremos o risco de compreendê-la por aquilo que
os jovens adolescentes não são mais ou ainda não são. Acreditamos ser
necessário conhecer os processos de transição e suas trajetórias que
caracterizem suas realidades históricas sociais para uma melhor compreensão.
Grande parte da literatura do campo psicológico ou sociológico inclui o
processo de inserção no mundo do trabalho, seja esse trabalho temporário ou
um meio de sobrevivência, como momento de transição para a vida adulta dos
jovens adolescentes. Entretanto, devemos entender que juntamente para esse
momento de inserção laboral, corroboram outros eventos sociais e
psicológicos, dentre os quais destacamos a família, o processo de
escolarização, assuntos já abordados em capítulos anteriores, mas, por sua
vez, essas influências acabam sendo decorrentes de mudanças sociais que
englobam novas perspectivas de inserção no mundo do trabalho dos jovens.
Consideramos que o primeiro emprego é decisivo para a trajetória
profissional do jovem, principalmente quando o mercado reproduz a
desigualdade do sistema educacional, ou seja, reserva os melhores postos de
trabalho aos mais qualificados. Pochmann (1998) retrata essa dura realidade
dos jovens brasileiros e aponta como alternativa uma reformulação das
políticas públicas de primeiro emprego para que possam estar associadas à
manutenção do jovem no sistema educacional, e não apenas estimulá-lo
precocemente a sair para o mercado de trabalho. ―A juventude brasileira é
maior que as dificuldades existentes.‖ É com essa afirmação o autor inicia sua
análise sobre a situação do primeiro emprego do jovem no Brasil. Superar as
barreiras para a melhor distribuição de renda e melhores condições de
educação é parte importante do papel para a transformação da realidade
controversa e difícil do jovem.
Demonstrar que o emprego juvenil está associado à precarização do
trabalho, à falta de profissionalização e à urgente criação de vagas, são
caminhos para que possamos pensar as políticas de geração de emprego
98
juvenil colocadas hoje em nosso país. O primeiro emprego é decisivo para a
trajetória futura do jovem. Ao ingressar precariamente no mercado de trabalho,
sem ter completado o ensino regular, por exemplo, o jovem desfavorece seu
desempenho ao longo de sua trajetória profissional. O mercado de trabalho
reproduz a desigualdade verificada no sistema educacional, estabelecendo os
melhores postos de empregos aos melhor qualificados, ou seja, aos filhos de
ricos que tiveram a sua inatividade financiada pelos pais. Essas reflexões
fazem parte do mundo atual, e devem ser discutidas pela sociedade, nos
debates acadêmicos, nas propostas da política, nas empresas; afinal,
mudanças são necessárias no trabalho, na sociedade, mas é preciso
contextualizá-las.
Bauman (2004) nos revela um mundo repleto de sinais confusos,
propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível, que traz consigo uma
misteriosa fragilidade de laços humanos. Investiga de que forma nossas
relações tornam-se cada vez mais "flexíveis", gerando níveis de insegurança
sempre maiores. A prioridade a relacionamentos em ―redes‖, as quais podem
ser tecidas ou desfeitas com igual facilidade – e frequentemente sem que isso
envolva nenhum contato além do virtual –, faz com que não saibamos mais
manter laços de longo prazo. E isso afeta não apenas as relações amorosas e
os vínculos familiares. O autor busca esclarecer, registrar e apreender de que
forma o homem sem vínculos — figura central dos tempos modernos — se
conecta. Dentro deste contexto os jovens de hoje deveriam, apesar de tudo,
apesar de todas as tendências em contrário e de todas as pressões de fora,
reter na consciência e na memória o valor da durabilidade, da constância, do
compromisso.
Os jovens não podem mais contar, como as gerações mais antigas, com
a natureza permanente do mundo lá fora, com a durabilidade das instituições
que tinham antes toda a probabilidade de sobreviver aos indivíduos. Assim, o
único sentido duradouro, o único significado que tem chance de deixar traços,
rastos no mundo, de acrescentar algo ao mundo exterior, deve ser fruto de seu
próprio esforço e trabalho. Nesse sentido, os jovens podem contar unicamente
com eles próprios e só haverá em suas vidas o sentido e a relevância que
forem capazes de lhes dar. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
99
2007), apontou que o Brasil possuía cerca de 50,2 milhões de jovens entre 15
e 29 anos, o que correspondia a 26,4% da população. Outras pesquisas
repetem várias estatísticas que comparam a população jovem à população
mundial, como o relatório de Tendências Globais de Emprego para a
Juventude, da Organização Mundial do Trabalho (OIT, 2010). Vale ressaltar
que esses estudos evidenciam uma tendência de crescimento da população
jovem, e, a partir dessa tendência, podemos inferir que existe uma dificuldade
de absorção de toda essa mão de obra juvenil e que o trabalho está entre os
principais assuntos que mais mobilizam o interesse dos jovens, já que é
também um dos direitos essenciais da pessoa humana e dos mais importantes
direitos de cidadania. Vale dizer que a centralidade do trabalho para os jovens
não advém tão-somente do seu significado ético, ainda que este seja relevante,
mas resulta também, e sobremaneira, da sua urgência enquanto problema.
[...] é, sobretudo enquanto um fator de risco, instabilizador das formas de inserção social e do padrão de vida, que o trabalho se manifesta como demanda urgente, como necessidade, no coração da agenda para uma parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca. (GUIMARÃES, 2004, p. 12)
O ingresso no mundo do trabalho constitui-se, tradicionalmente, em
um dos principais marcos da passagem da condição juvenil para a vida adulta,
mas não o único. No entanto, nas últimas décadas, em função de intensas
transformações produtivas e sociais, ocorreram mudanças nos padrões de
transição de uma condição à outra. O diagnóstico dominante aponta para as
enormes dificuldades dos jovens em conseguir uma ocupação, principalmente
em obter o primeiro emprego, dado o aumento da competitividade, da demanda
por experiência e por qualificação no mercado de trabalho. Com isso, a
transição para a vida adulta tem sido retardada. A questão do trabalho é uma
das grandes preocupações da juventude e também o é no campo das políticas
públicas para a juventude. Existe uma convicção generalizada de que é
necessário desenvolver programas e ações que melhorem a situação atual,
levando-se em conta o aumento da vulnerabilidade desse grupo social, a
limitada oferta de oportunidades e as especificidades da condição juvenil
contemporânea.
100
O desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior
ao do restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido
aumento das médias de escolarização dos jovens e uma melhora nas
condições de trabalho – com alta da formalização –, não se observou aumento
correspondente na oferta de empregos. Más condições de trabalho, baixa
remuneração, longas jornadas, dificuldade de conciliar trabalho e escola, altas
taxas de desemprego e desajuste entre o estudo recebido e as exigências do
mercado, podem estar relacionados a esse panorama vivido por muitos jovens
que estão no mercado de trabalho e os que ainda estão tentando encontrar
nele um lugar.
Mesmos aqueles que conseguem superar todas as dificuldades e
terminar uma faculdade, não têm garantia de emprego. As diferenças entre a
teoria da escola nos cursos de forma geral e a prática no mercado de trabalho
acabam deixando a escolaridade com um papel mais modesto do que o
treinamento em serviço ou o estágio na preparação do jovem trabalhador. A
procura por jovens com experiência profissional é outro fator que eleva a
importância do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as habilidades
e conhecimentos profissionais. Com isso, uma grande parcela da melhoria do
sistema de ensino no país cabe às empresas.
Diante de um cenário de altas taxas desemprego, e de
desestruturação e precarização do trabalho, como a juventude tem reagido?
Hoje, jovens de todas as classes e situações sociais expressam inseguranças
e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no
futuro. Eles vivenciam, de modo sofrido e dramático, o que alguns estudiosos
têm chamado de ―medo de sobrar‖ (Novaes, 2007). Observamos também que o
jovem tenta se inserir no mundo de trabalho de diversas maneiras, surgem
novas formas de participações informais, e que na maioria das vezes são
ocultas, ou seja, são trabalhos poucos reconhecidos, como guardadores de
carros, catadores de latinhas, limpadores de vidros em semáforos, entre outros.
Alguns pesquisadores, como Camarano et al, (2004) constatam que o
desemprego incide mais sobre os grupos de escolaridade baixa e ou mediana,
com uma média entre 5 de 11 anos de estudo, o que implica que esse jovem
está propício, devido à sua condição, a aceitar qualquer trabalho que apareça.
101
Em contrapartida, tem outra parcela que fica à espera de melhores condições
de trabalho, em busca de melhores oportunidades e uma inserção mais
adequada ao seu contexto. Mas acreditamos que esses eventos não
aconteçam somente em relação à escolaridade, mas são decorrentes também
do fator familiar: jovens que, tendo uma família, poderão ou não permitir-se
esse compasso de espera e seletividade. Acreditamos também em
possibilidades de trabalhos artesanais como forma de inserir os jovens
adolescentes no mundo do trabalho, de forma que eles possam desenvolver
potencialidades, continuar estudando, ajudando as famílias e se
desenvolvendo.
5.4 TRABALHO: A VISÃO DOS JOVENS
Hoje, diante dos pressupostos para o trabalho e a questão do trabalho
se apresentando como uma incógnita para o futuro, Baptista (2002), em seu
artigo ―Identidade profissional: questões atuais‖, indaga: O que ocorre com a
identidade do ser humano que se questiona algo que já foi considerado
fundamental para sua constituição? O papel profissional, uma flexibilização do
trabalho provoca uma fluidez na caracterização dos papéis [...] a situação de
emprego também se modifica ou deixa de existir‖. (BAPTISTA, 2002, p. 150)
Estamos vivendo, hoje em dia, uma situação paradoxal: de um lado, temos a idealização da realidade profissional, modelo tradicional de aquisição e desenvolvimento da identidade profissional e, de outro, uma vivência, por parte da maioria da população, que contrasta frontalmente essa idealização. A maior parte das pessoas não tem percepção clara quanto a esta questão ser um problema temporário, fruto de uma crise momentânea, ou ser uma transformação permanente da realidade social. (BAPTISTA, 2002, p. 150)
Contudo, os jovens de hoje ainda continuam sonhando com seu
futuro profissional e com a escolha de uma profissão. É importante que os
jovens adquiram conhecimento do mundo do trabalho, para poderem de forma
mais efetiva, com a contribuição da escola, da mídia, se perceber no mundo do
trabalho. Diante do panorama apresentado, a seguir evidencio dados na nossa
pesquisa ―Percepção dos jovens sobre o trabalho‖ com relação a essa temática
(mundo do trabalho).
102
Referente à questão em que os pesquisados demonstraram o seu
conhecimento sobre o mundo do trabalho, a pesquisa nos revela, que a maioria
dos jovens sabe pouco sobre este assunto (66,6%). Com relação ao que os
jovens esperam do mundo do trabalho, foram colocados como indicativos:
dinheiro, fama, poder, posição social e realização. Pudemos constatar pelas
respostas obtidas junto aos pesquisados que metade deles afirma ter como
expectativa do mundo do trabalho a realização pessoal (50%), e que o poder
não é uma questão importante. Indicadores como dinheiro (22%), posição
social (22%) e, por fim, fama (6%).
Corrochano (2002), em sua pesquisa ―O olhar de jovens operários sobre
o trabalho‖, conclui que o olhar do jovem a respeito de mercado de trabalho
perpassa por três questões: independência pessoal (a independência em
relação aos pais, a autonomia financeira e, a partir desta, a maior autonomia
em outras esferas da vida); dignidade: (associada à possibilidade de prover sua
família com os meios necessários para a sobrevivência de maneira honesta,
bem como o fato de não ser confundido com o ―bandido‖, o ―marginal‖) e
realização pessoal (―o trabalho tem a ver com satisfação pessoal, fazer o que
gosta‖). Esse fato foi percebido pelos nossos jovens pesquisados. Fazendo
uma breve análise comparativa, encontramos pontos em comuns, que podem
ser resumidos no trabalho como realização pessoal e ascensão social.
Em outro momento da pesquisa, quando perguntamos aos jovens
participantes para que serve o trabalho, obtivemos algumas respostas que
vale a pena serem destacadas e discutidas a seguir:
(P1) ―Para a minha sobrevivência, e também para ter mais
conhecimentos, aprender a lidar com as pessoas.‖
(P2) ―Para estabilizar e desenvolver o indivíduo como pessoa na
sociedade.‖
(P3) ―Para quem faz o que gosta acabar sendo prazeroso e
estimulante, mas para eles e para quem não gosta é apenas um
meio de ganhar dinheiro para sobreviver e ser um cidadão ativo,
103
pois a sociedade impõe que precisamos ser alguém e preciso
trabalhar e se sustentar.‖
(P4) ―O trabalho serve para melhorar o conhecimento das pessoas
e para melhorar a vida social também.‖
(P-5) ―O trabalho é a realização e práticas de talento.‖
(P6) ―O trabalho serve para melhorar a pessoa, para ajudar na
renda familiar.‖
(P-7) ―Trabalho serve para nos testar, em todos os sentidos, pôr em
prática nossos dotes para ser homem profissional.‖
(P-8) ―Para dar condição de termos o que desejamos.‖
Nos relatos colhidos, tendo em vista a opinião sobre o trabalho,
podemos observar pelas respostas dos jovens que o trabalho é o meio pelo
qual se produz riqueza, aumenta-se o poder de compra, além de ser indicativo
de importância social.
Subjetivo porque proporciona prazer, concretiza sonhos e aspirações e
realização. Como indicativo social, desenvolve cidadania, inserção social,
socialização, fama e reconhecimento. As respostas também relacionam o
trabalho à independência, ou seja, é a partir do trabalho que os jovens se
sentem mais autônomos. Percebemos também que o trabalho está relacionado
à necessidade, mas também ao crescimento e desenvolvimento. As respostas
sugerem percepções, sentidos e valores.
Diante desse panorama, entendemos que homem e trabalho
estabelecem uma relação desde o início da existência daquele. Com a
necessidade do acúmulo do capital por parte daqueles que contratam a força
de trabalho e com as evoluções das tecnologias relacionadas, o conceito de
trabalho e suas implicações foram estudadas e questionadas por vários
historiadores.
104
Considerando, então, a influência do trabalho na vida do ser humano,
assim como as transformações ocorridas no mercado de trabalho, em
decorrência tanto das novas tecnologias como da divisão de tarefas, podemos
observar que as respostas dos participantes reforçam o conceito de trabalho de
CORREIA (2000):
[...] A ação da força de trabalho também percebida como a capacidade de trabalho, que na sociedade do capitalismo é tida como mais uma transação entre o trabalhador – possuidor da força de trabalho – e o capitalista – detentor do capital. (CORREIA, 2000, p. 13)
Quando um dos entrevistados responde para que serve o trabalho,
dizendo: ―Para a minha sobrevivência...‖ (P1), o relato do jovem condiz com o
pensamento de Correia (2000) quando se refere à essência do trabalho para
que o ser humano consiga concretizar seus sonhos e ideais: [...] pois é por
meio deles que cria e constrói bens necessários à sua sobrevivência e à de
outras pessoas, como também obtém recursos para adquirir outros bens.
(CORREIA, 2000, p. 17)
―O trabalho serve para melhorar o conhecimento das pessoas e para
melhorar a vida social também‖ (P4). ―Além de ser o meio de sustentar, suprir
as necessidades do homem, desenvolve este, tanto consigo mesmo, quanto
com o mundo, ao qual ele oferece suas atividades. O trabalho é a realização e
prática dos talentos.‖ Quando (P2) diz: ―Para estabilizar e desenvolver o
indivíduo como pessoa na sociedade‖, observamos que a resposta sugere uma
concepção de trabalho que vai ao encontro aos pensamentos de Franco
(2004): ―Nesse momento, percebemos que o trabalho em nossa sociedade é
um dos eixos estruturais de nossa civilização‖ (FRANCO, 2004, p. 179). Mas
para que possamos ter esta concepção de trabalho, precisamos antes de tudo
retornar às suas concepções e essências. Os homens e os animais irracionais
despendem energias para suprir suas carências mais elementares, mas para o
animal irracional este instinto se concretiza e tem um fim em si mesmo, até que
sintam novamente as mesmas necessidades. Já para o homem, essas
necessidades vão além de um suprimento físico.
―Trabalho serve para nos testar, em todos os sentidos, pôr em prática
nossos dotes para ser um bom profissional‖ (P7), quando P7 fala sobre o
trabalho podemos perceber as ideias de Braverman (1987)
105
[...] não é apoderar-se de materiais da natureza, tais como esta oferece, e sim alterar este estado natural e melhorar sua utilidade. O que distingue o homem do animal irracional, é que o homem pensa, idealiza e produz e o resultado provém da imaginação, o que não ocorre com os outros animais. O homem ―imprime ao material o projeto de vida que tinha conscientemente em mira. ―Portanto, o homem tem um propósito, enquanto os outros animais agem pelo instinto. (BRAVERMAN, 1987, p. 49)
Segundo outro jovem, o trabalho serve ―Para dar condição de termos o
que desejamos‖ (P8), ou seja, o consumismo. E será que o trabalho atualmente
corresponde a essas aspirações? E como compreendê-lo na vida moderna?
Segundo Queiroz e Azevedo (2008):
A divisão da geografia em campos de conhecimento da sociedade e da natureza tem propiciado um aprofundamento temático de seu objeto de estudo. Muitos alunos pensam que o consumismo é apenas o exagerado volume de coisas que compramos e que simbolizam a vida moderna, tais como beleza, higiene etc. Mas o consumismo não está apenas na atitude e no desejar coisas. O consumismo é uma mentalidade que nos induz a criar e recriar necessidades perdulárias, isto é gastar excessivamente, sem consciência das conseqüências para a natureza. (QUEIROZ; AZEVEDO, 2008, p. 49).
Isso implica que o jovem, ao integrar-se e fazer parte do todo,
considerando o consumismo, a vida moderna, significa aprender, aproximar-se
com cuidado, atenção e firmeza. A concordar e discordar sem romper, nem
agredir, a ceder em prol do coletivo e fazer de sua ação um instrumento em
busca de transformação,seja em qualquer grupo social, seja na escola, no
mundo do trabalho, seja na família, e é neste grupo social que a história de
vida de uma pessoa começa muito antes de seu nascimento e vai se
processando ao longo do tempo.
Ao adolescer, além de representar um momento de crise, é também, e
muito mais, o momento em que escolhas são feitas e projetos começam a ser
construídos. Neste momento o jovem além de nascer para si mesmo, nasce
para a sociedade, questionando o que quer, o que pode alcançar e para onde
vai. Giddens (1997), ao caracterizar a sociedade como uma sociedade de
riscos, afirma que as transformações científicas e tecnológicas provocam
mudanças que envolvem desde a realidade biológica de cada pessoa até o
contexto econômico e social.
No âmbito do emprego de jovens, a rápida globalização do mundo e os
avanços tecnológicos oferecem novas oportunidades de trabalho produtivo.
106
Porém, para muitos jovens, essas tendências apenas aumentam sua
vulnerabilidade inerente. O que vemos hoje é que com o processo de
globalização, as desigualdades se acentuaram, seja nos níveis de renda, sejam
no desenvolvimento de conhecimentos e capacitações para o mercado de
trabalho. Isso implica também em insegurança no momento presente, somado
ao fato de o Estado não conseguir normatizar essas problemáticas pela criação
de políticas públicas voltadas para o trabalho de jovens. Espero que este
estudo contribua para a discussão e o conhecimento do estado das pesquisas
sobre a juventude e estimule a emergência de novas investigações sobre o
tema.
107
6 CONTEXTO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Com o objetivo de compreender a percepção do jovem sobre a inserção
no mundo do trabalho e qual é a contribuição da família e da escola nesse
processo, realizamos uma pesquisa, de caráter qualitativo que procurou
valorizar a fala do jovem, por meio de um questionário aberto, com cinquenta
jovens adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 17 e 20 anos,
matriculados no terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública de
município de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Brasil.
6. 1 CENÁRIOS E ATORES
A pesquisa foi realizada na própria escola dos sujeitos, numa sala de
aula, coletivamente, após breve explicação dos objetivos do trabalho pelo
aplicador da pesquisa e da devida autorização dos pais ou responsáveis dos
participantes menores de idade. Não foi obrigatório o preenchimento do
material impresso, dando-se ao participante a liberdade de devolvê-lo em
branco. Registre-se que, para que este trabalho fosse realizado, primeiramente
o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário
FIEO, tendo sido cumpridos todos os pré-requisitos necessários para a sua
realização. (Documento em anexo).
Utilizamos um questionário com perguntas abertas e fechadas, de
autopreenchimento e sem identificação pessoal de aluno. O questionário
utilizado (Anexo) é uma adaptação de instrumentos propostos pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Por meio do questionário
podem-se identificar dados importantes. O questionário foi dividido da seguinte
maneira. Em primeiro lugar foi levantado o perfil do participante através de
perguntas que nos informariam: sexo, idade, raça, religião, naturalidade, estado
civil entre outros.
108
A seguir, levantaram-se informações sobre a família e o domicílio –
número de pessoas, grau de parentesco, irmãos, renda familiar, dados
socioeconômicos. Em terceiro lugar levantamos dados sobre cultura e lazer –
literatura, atividades, tecnologia, tempo livre, atitudes e comportamento. E, por
fim, apresentamos questões para reflexão sobre algumas temáticas: o mundo
do trabalho, legislação trabalhista, profissões, escola, expectativa profissional,
trabalho, projeto de vida e família.
Dos cinquenta entrevistados, escolhemos nove para participarem de um
grupo focal de reflexão sobre temas relacionados à inserção no mundo do
trabalho, à escola, à família e às das escolhas profissionais. A dinâmica do
grupo focal permite uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com
a população que se deseja investigar, e, ao mesmo tempo, de aprofundar
alguns temas nem sempre abordados num primeiro momento. Não obstante
haver críticas a essa metodologia, ela foi importante para o diálogo do
pesquisador com os adolescentes e destes entre si, no sentido de desvelar um
pouco mais o fenômeno estudado.
6.2 O CENÁRIO : CARAPICUÍBA, UMA ALDEIA DA PERIFERIA
Com a doação em 1580, pelo capitão-mor Jerônimo Leitão, Governador
da Província, de terras para fundar uma povoação no local conhecido por
"Carapicuíba", que em tupi-guarani, significa peixe (cará ou acará) comprido
(picu ou pucu) que não serve para ser comido, ruim (iba). Neste espaço a
Companhia de Jesus reuniu os índios catequisados que viviam na região. Em
1615, Afonso Sardinha o velho, proprietário das terras vizinhas a Carapicuíba,
construiu com os índios uma capela, entregando-a aos jesuítas. Em torno desta
construiu-se a aldeia, ponto de passagem das expedições que se dirigiam aos
sertões do sul.
Em 1698, alegando esgotamento das terras para a lavoura, os jesuítas
tentaram a transferência dos aldeados para Itapecerica, determinando a
destruição das casas e da igreja, mas, diante a recusa dos índios de
109
abandonar a localidade, reconstruíram-nas gradualmente, obedecendo ao
traçado original. A igreja somente foi reerguida em 1736, tendo como orago
Foto do Largo da Aldeia de Carapicuíba.Fonte: http://www.carapicuiba.sp.gov.br
São João Batista, alterado, no século 19, para Santa Catarina e, atualmente,
São Pedro é o padroeiro do Município. O núcleo pertenceu sucessivamente à
administração de Santana de Parnaíba, Embu, Cotia e Barueri.
Com a chegada de imigrantes, principalmente italianos e japoneses, e
migrantes de outros Estados, o povoamento da região deslocou-se na direção
da ferrovia, junto ao rio Tietê. No início do século 20, momento em que a
cidade de São Paulo começava a intensificar seu processo industrial, a
principal atividade nas terras que futuramente corresponderiam a Carapicuíba
era a criação de gado, secundada pela instalação de dois frigorificos. Além
disso, uma outra atividade começaria a despontar na região nas primeiras
décadas de 1900 comum em diferentes trechos do rio Tietê: a extração de
areia era uma atividade necessária ao crescimeneto urbano de São Paulo.
Na área que corresponde atualmente à Lagoa de Carapicuíba, foi
iniciada a mineração de areia nas primeiras décadas do século 20, cujo
depósito foi formado num passado geológico distante. Ali foram depositados
110
areia, cascalho e argila, formando um grande depósito de areia, que com o
advento da industrialização no início do século 20, ajudou a impulsionar a
construção civil, que tomava corpo na capital, e passou a se utilizar dessa
matéria prima para encorpar a argamassa, dar liga e durabilidade à estrutura
da construção. A estrada de ferro Sorocabana concedeu uma cancela para
facilitar o embarque da areia para São Paulo. Dada a qualidade da areia
retirada e a potencialidade dos "bancos" encontrados, a extração era negócio
de lucro certo, entretanto, as crateras deixadas no solo, aborreceram membros
da comunidade.
Durante, praticamente, três séculos e meio, o território brasileiro conheceu uma utilização fundada na exploração dos seus recursos naturais pelo trabalho direto e concreto do homem, mais do que pela incorporação de capital à natureza que durante esse tempo, teve um papel relevante na seleção das produções e dos homens. Nos cem anos que vão da metade do século XIX à metade do século XX, algumas áreas conhecem a implantação de um meio técnico, meio mecanizado, que altera a definição do espaço e modifica as condições do seu uso. (SANTOS, 1994, p. 45)
Com isso, a extração passa a ser tamanha, que provoca o
aprofundamento e aumenta/ e extensão da/ a cava, transformando-a num
grande "buracão". A exploração desse veio de areia continua até os dias de
hoje, em área que pertence ao município de Barueri. Para se ter a dimensão da
profundidade desse local, na década de 60 o buraco ali formado era tamanho,
que serviu como cenário de trechos do filme brasileiro chamado "Roberto
Carlos em Ritmo de Aventura". Nessa mesma década, porém, houve um
empreendimento do Governo do Estado de São Paulo realizou no local obras
para a retificação do rio Tietê. Com as explosões para o desvio e
aprofundamento do terreno, que definiria o novo curso do rio, houve o
rompimento de barreira que separava o rio da cava, provocando a invasão das
águas para dentro da mesma. Tudo o que havia lá embaixo, como
maquinários, caminhões e casas que serviam como escritórios das
mineradoras, foi encoberto pelas águas, transformando o local num grande e
profundo lago.
Um adequado planejamento ambiental mexe com muitos interesses, sendo estruturalmente um potencializador de conflitos. [...] Em nossa realidade difícil, nem sempre o ambientalmente correto segue junto com os anseios sociais, e encontrar o ponto de equilíbrio entre a
111
norma técnica e a justiça social nem sempre é tarefa fácil. (MORAES, 1994, p. 25-26)
Mesmo diante deste fato, a extração continuou, sendo realizada por
maquinários que dragam a areia das águas. Nos dias de hoje esse grande lago
é conhecido como "a lagoa de Carapicuíba", tendo aproximadamente 800 m de
largura por 1000 m de comprimento, tomando praticamente toda a parte norte
da cidade. Por ela passam oito mil litros de esgoto por segundo, que saem de
vários bairros das zonas sul, oeste e central de São Paulo e percorrem uma
tubulação 9,5 km até Barueri. Na estação local, o esgoto é tratado e volta para
o rio Tietê. Para os técnicos da Sabesp a situação chegou ao limite. Uma
liminar proibiu o funcionamento das mineradoras que atuavam na área.
Atualmente, as margens da lagoa do lado de Carapicuíba foram aterradas e em
suas margens plantou-se grama, como parte de um grande projeto de
reurbanização da região central de Carapicuíba.
Durante muitos anos um lixão fez parte da paisagem geográfica da
cidade. Com o seu fim, acaba também o estigma do município e da população,
que tinha que conviver com o mau cheiro e visão nada agradável de seu lixão.
Essa área, que durante mais de 20 anos arranhou a imagem da cidade, será
transformada em parque aquático. Desde que foi desativado, em abril de 2001,
o lixão de Carapicuíba deixou de ser o grande problema na vida dos cidadãos
que residem próximos ao local.
Mas o encerramento das atividades dificultou a vida de quem vivia do
lixo, pois, como afirmam, seus ganhos serão menores. O lixão, que por um
longo período contribuiu para a degradação da imagem de Carapicuíba,
originou-se há cerca de 23 anos, quando um desvio na calha do rio Tietê
propiciou uma vala de 5 metros de profundidade. Nela, passou a ser
depositado todo o lixo do município e de municípios vizinhos. Foram mais de
20 anos de desconforto e problemas de saúde para milhares de moradores das
regiões próximas ao lixão. Segundo informações contidas no Inventário de
Resíduos Sólidos da CETESB, aproximadamente 3 mil catadores trabalham
em lixões na Grande São Paulo. Desse total, 643 são menores de 14 anos. Os
residentes em Carapicuíba eram em número de 150, sendo 53 menores.
112
De aldeia a município: o distrito é criado com a denominação de
Carapicuíba, pela Lei Estadual nº 233, de 24 de dezembro de 1948, fazendo
parte do Município de Barueri. Assim permanece no quadro fixado pela Lei
Estadual nº 2.456, de 30-XII-1953, para vigorar, respectivamente no período de
1954-1958, assim permanecendo em divisão territorial datada de I-VII-1960.
Elevado à categoria de Município com a denominação de Carapicuíba, por Lei
Estadual nº 8092, de 28 de fevereiro de 1964, desmembrado de Baueri,
constituindo-se em Distrito Sede. Sua instalação verificou-se no dia 26 de
março de 1965. A Lei Estadual no 4.954, de 27 de dezembro de 1985, cria o
Distrito de Aldeia de Carapicuíba e o incorpora ao município de Carapicuíba.
Lei Estadual no 4.954, de 27 de dezembro de 1985, cria o Distrito de Vila Dirce
o e incorpora ao Município de Carapicuíba. Em divisão territorial datada de 01-
VI-1995, o Município é constituído de 3 Distritos: Carapicuíba, aldeia de
Carapicuíba e Vila Dirce. Assim permanecendo em divisão territorial datada de
15-VII-1997. (IBGE, ano).
Carapicuíba fica situada a noroeste da capital do Estado de São Paulo, a
apenas 23 km da Praça da Sé – marco zero – e pertence à 1ª Região
Administrativa da Grande São Paulo. Com população total em 2009 (IBGE) de
403.502 habitantes, Carapicuíba possui como limites as seguintes cidades: ao
Norte, limita-se com Barueri; ao Sul, com Cotia; a Leste, com Osasco e a
Oeste, com Jandira e Barueri. Possui 34 km2 e sua topografia é bastante
acidentada, tendo como acessos principais as rodovias Presidente Castelo
Branco ao norte, Raposo Tavares ao sul e Avenida dos Autonomistas a leste
(Osasco). A nova obra do governo do Estado, o Rodoanel Mário Covas interliga
a cidade a quase todas as demais rodovias que cortam o Estado, bem como às
marginais Tietê e Pinheiros. O prefeito atual é Sergio Ribeiro. Altitude: 717
metros, Posição Geográfica: Latitude 23º - 36º Sul Longitude 45º - 55º Oeste,
Clima: frio e seco.
A história de Carapicuíba se confunde com a ação dos bandeirantes
portugueses. Fundada em 1580, pelo padre José de Anchieta, conquistou sua
Emancipação política e administrativa em 26 de Março de 1965, e tem como
característica principal a facilidade de acesso a toda a região metropolitana da
113
capital do estado. Carapicuíba tornou-se, assim, tipicamente, uma cidade-
dormitório e grande fornecedora de mão de obra especializada para todos os
setores da indústria de São Paulo. Possui um grande défice habitacional, e
uma população operária, com baixa renda familiar, que dificultam a consecução
das soluções propostas para melhorar o perfil do Município de Carapicuíba.
Com baixa arrecadação de impostos por seu pequeno número de
indústrias e na sua maioria pequenas empresas prestadoras de serviços, o
Município depende de repasses dos governos Estadual e Federal. Essas
condições aumentam a responsabilidade da Administração para com a
população, buscando soluções práticas para as questões sociais além do
esporte, lazer, turismo e cultura, partindo do mínimo necessário até atingir as
metas de oferecer ao povo de Carapicuíba o orgulho de ser brasileiro.
A atual administração do município criou um canal de comunicação com
a população sobre o (PDT) Plano Diretor Participativo de Carapicuíba. Além
dos tradicionais informes veiculados pela mídia escrita e eletrônica sobre o
processo participativo, adotou agora o Blog, como uma ferramenta de diálogo
com o Grupo de Acompanhamento do Plano Diretor. A intenção é utilizar esse
canal para atualizar e divulgar atividades, bem como, disponibilizar as
informações necessárias para que todos possam acompanhar e debater as
questões relativas ao planejamento e ao andamento do Plano diretor da
cidade. Ou seja, a Administração deseja que seja esse um espaço no qual os
munícipes possam expor ideias do que querem e o que projetam para
Carapicuíba nos próximos anos. Foto do Município de Carapicuíba:
r
114
6.3 O PALCO: UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO
A escola onde foi realizada a pesquisa é uma escola pública, e sua
escolha se deu por vários fatores: em primeiro lugar, por ter alunos do Ensino
Médio, condição fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Em
segundo lugar, pela receptividade dos responsáveis pela escola, entendendo a
importância deste trabalho de pesquisa e sua importância para o crescimento e
desenvolvimento dos alunos, além do incentivo ao trabalho acadêmico, em
particular o deste pesquisador, e ressaltar as dificuldades que às vezes são
encontradas para a realização deste tipo de trabalho. A escola pública em
questão, situada no Município de Carapicuíba, Foi criada por volta dos anos 60.
Em 1977, com o projeto de reorganização da rede púbica do sistema de ensino
do governo do Estado de São Paulo, a escola passou a atender,
prioritariamente, o Ensino Médio, em todos os seus três turnos, com algumas
salas de Ensino Fundamental para atender à demanda.
A Escola possui aproximadamente 2.200 alunos, sendo 1.600 alunos do
Ensino Médio, divididos pelos três horários em que a escola funciona. A grande
maioria dos alunos vem de outras regiões que não a central – bairros e vilas
distantes do centro. Em termos de infraestrutura a Escola possui biblioteca,
onde os alunos têm livre acesso ao acervo. Conta também com um laboratório
de ciências, que serve às disciplinas de Química, Física e Biologia, em bom
estado de conservação, porém não se promovem feiras de ciências. Há
também dois laboratórios de informática, que os alunos utilizam para realizar
atividades escolares. Duas quadras de esportes, cobertas, são utilizadas
pelos/por todos os alunos para práticas desportivas. Em termos de
acessibilidade, a escola não dispõe de rampas e nem elevadores, porém, há
banheiros adaptados. Embora a escola não organize eventos com projetos de
atividades culturais, artísticas e tampouco em relação a programas de
orientação profissional e vocacional, fora do período letivo, a escola permanece
aberta para a comunidade nos finais de semana. É onde a comunidade pratica
esportes, artesanato, atividades de informática entre outras.
115
Contudo a escola conta com grades, muros altos e portões fechados
durante as aulas. O prédio é antigo, mas sua fachada mantém boa aparência
devido às pinturas constantes. Não há ventiladores nas salas.O portão da
secretaria, que era o único que propiciava visão do exterior, na verdade, do
estacionamento da escola, foi trocado por um totalmente fechado, e uma parte
do pátio foi tomada por um muro para aumentar o estacionamento, usado pela
diretoria e professores. Esses fatos desgostaram grande parte da população
escolar.
6.4 PERCEPÇÕES DOS JOVENS SOBRE OS ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA,
A FAMÍLIA, A ESCOLA E O TRABALHO
Para a reflexão que apresentaremos a seguir, selecionamos dois
participantes do grupo, por entender que se envolveram em profundidade com
os objetivos de nossa pesquisa e ajudaram a enriquecer nossas reflexões.
Carlos e Ariel são nomes fictícios. Carlos nos ofereceu um panorama dos
temas abordados e nos permitiu inferir que a percepção pode ser um processo
muito mais pessoal do que comumente se crê.
Qualquer reflexão acerca dos espaços de convivência da juventude se
defronta com o debate sobre as contradições inerentes às questões sociais.
Estas se encontram circunscritas no bojo do modelo econômico e social
adotado pelo Brasil, tal como explicitam Souza Neto (2008), Ianni (1988),
Fernandes (1978) e Castel (1999).
No decorrer da pesquisa, especialmente no grupo focal, Carlos
demonstrou seu afeto e respeito pela família e reconhecimento pela sua
influência na construção dos valores que nortearam a escolha profissional:
“Meus pais sempre incentivaram meus estudos; de começo, eles não queriam
que eu trabalhasse, com medo de prejudicar meus estudos. Eles sempre me
acompanharam em relação às coisas novas e me incentivam.”
Sociólogos e psicólogos, como Winnicott, Adorno, Ianni, Castoriadis,
Mannheim, Bourdieu, Souza Neto, Durkheim, Erikson, Piaget, Vygotsky e
outros, defendem a família como espaço privilegiado para a formação dos
valores essenciais à convivência. Nela, a criança e o adolescente introjetam a
116
ideia de papeis e constroem o juízo moral, fundamentais à formação da
identidade do sujeito. Winnicott nos oferece material para inferir que uma
família suficientemente boa marca positivamente a existência e interfere nas
formas de pensar, de ser e de agir.
Todas as vezes que Carlos se referiu à família o fez com admiração e
gratidão. Isto talvez demonstre que para além das questões financeiras e
familiares, há outras variáveis que, pela perspectiva winnicottiana, determinam
o que é uma família suficientemente boa. Mesmo diante das transformações
das responsabilidades familiares, a nosso juízo, a família permanece vital para
a integração e a inserção do sujeito. Na era dos direitos humanos, no quadro
da doutrina de proteção integral, o que se observa é que a Constituição
brasileira, as legislações sociais e as políticas públicas consagram o princípio
da família como base do desenvolvimento do sujeito.
Em que pesem os dramas da família brasileira, a situação econômica e
as práticas de violência, a família continua a ser valorizada como um dos
pilares de garantia da coesão social. Nesse sentido, os clássicos da sociologia
e da psicologia nos permitem afirmar que a família sempre influenciou e
continua a influenciar as escolhas e decisões do sujeito, seja positiva, seja
negativamente. Ao longo da história, verificamos as nuanças dessa influência.
Na sociedade da era da informação, outras instituições partilham com a família
esse papel.
Carlos diz que sua família tem contribuído para o seu futuro profissional
e que seus pais sempre incentivaram seus estudos, mas não concordam que
ele comece a trabalhar antes de terminar o Ensino Médio. Nem todas as
famílias podem adotar esse procedimento, mas a família de Carlos interfere
diretamente em sua formação para que ele possa fazer uma boa escolha.
Contudo, as mutações no mundo do trabalho fazem com que haja necessidade
de um olhar aprofundado para o percurso dos jovens na busca do primeiro
emprego, porque a sociedade é fundada e organizada a partir do trabalho.
Isso não significa uma defesa da inserção precoce dos jovens no mundo
do trabalho. Ao contrário, o que defendemos é a mudança nos quadros da
desigualdade social, política, de oportunidades e de condição existencial de
nossa sociedade, o que implica em mudanças de ações e valores sócio-
117
históricos sedimentados (Corrochano, 2008). Segundo nossa perspectiva, o
trabalho não se reduz a um método pedagógico, mas constitui um meio para o
desenvolvimento da educação profissional (Vygotsky, 2003). Não só se
introduz o trabalho na escola, mas também a escola no trabalho, sendo a
atividade laboral a base do processo educativo.
Hoje, é muito tênue a separação entre escola e trabalho, pois ambos
mantêm uma reciprocidade. Similarmente, o fim primeiro da família não é
preparar o jovem para o trabalho, mas os procedimentos familiares têm uma
sintonia com o mundo do trabalho. Compartilhamos o pensamento de Rossler
(2007), de que o ensino profissionalizante poderia ser uma solução para o
problema de educação para o trabalho e destacamos a importância de refletir
sobre as relações entre as esferas do mundo do trabalho e da educação.
O depoimento e o posicionamento de Carlos reúnem um conjunto de
evidências sobre a importância da família na sua formação. A partir dela, o
adolescente adquiriu os conceitos que formam os alicerces de seu caráter e
que orientarão sua vida. Por esse olhar, podemos, ainda, perceber que os
conceitos de educação e de aprendizagem ao longo da vida se iniciam na
família. A família tem papel fundamental nesse processo, por meio das práticas
que valorizam e corrigem: recompensas, castigos, afeto, emulações, imitações,
em vista de aprender a lidar com frustrações. É bom ressaltar que a pessoa
incapaz de lidar com frustrações e emoções tem muita dificuldade para marcar
posições no mundo do trabalho.
Entretanto, nenhuma instituição, nem mesmo a família, tem poder
absoluto sobre o adolescente e o jovem, que conserva sua autodeterminação
de fazer opções e traçar caminhos. O que defendemos é a influência da família
e não um determinismo ou reducionismo. Devemos considerar, portanto, as
experiências positivas e negativas vividas no interior da família. É importante
destacar que a família não é uma instituição isolada. Está vinculada aos
dramas da sociedade. É um produto social e cultural. Quando boa o suficiente,
a família é um espaço de proteção e de resistência contra as mazelas e
perversidades da sociedade.
A família protege quando cria as condições para que a criança e o
adolescente tenham estabilidade emocional e segurança, dentro de um
118
desenvolvimento integral e saudável, pela perspectiva de Vygotsky, Piaget,
Freire e outros. Portanto, a família interfere no desenvolvimento individual e,
consequentemente, influencia o comportamento da criança e do jovem na
escola, bem como os resultados que ele irá atingir. Em síntese, sem pretender
assumir a defesa da família, nem apresentá-la como um bem, um mal ou uma
panaceia para todos os desafios da juventude, entendemos a fala de Carlos
como um dos veios de compreensão da instituição familiar.
Se, para os clássicos da sociologia e da psicologia a família era
responsável pela socialização primária e a escola pela secundária, hoje essa
distinção já não é tão clara, sobretudo na escola, que acabou por assumir
ambos os papeis. Para abordar a questão do trabalho dos adolescentes,
acreditamos que é essencial ouvir o que ele mesmo diz sobre a relação entre
profissionalização e escola. Carlos tem a seguinte percepção:
―A escola hoje, infelizmente, não é mais a que a sociedade espera,
ou seja, vamos à escola em busca de conhecimento e lá ―você
encontra‖ tudo, violência, drogas, más influências e etc. A escola
estadual, em vez de ter pessoas mais estudadas, é considerada
como um depósito de humanos. Os pais saem para trabalhar e
deixam os filhos na escola.‖
Carlos faz alusão à escola como um conjunto de contradições, um
depósito humano, o que mostra uma percepção de aspectos
predominantemente negativos. O que parece é que a escola reproduz todas as
mazelas sociais. Essa percepção está mais próxima de Bourdieu. Mas é
importante olhar a escola como uma instituição que reproduz as mazelas
sociais, mas também transforma essas mazelas e cria condições de mudança
para o sujeito, como a veem Freire ou Gramsci.
Carlos deixa nas entrelinhas que a escola que frequenta está um tanto
perdida e não conseguiu absorver todas as suas novas atribuições. Seu papel
não é mais somente ensinar. Para Rego (2002),
[...] a escola ganhou função social, que transita entre o ensinar, o cuidar e o proteger. Isso porque compartilha com as famílias a educação das crianças e jovens, uma função política, pois contribui para a formação dos cidadãos, e uma função pedagógica‖ (Rego, 2002, p. 48).
119
Nesse sentido, a escola ultrapassa o papel educativo, pensamento este
que vai de encontro com o posicionamento de Clerget, que vê ―a escola como
um local protetor para o equilíbrio psicológico do adolescente‖ (Clerget, 2004,
p. 218).
O conjunto de solicitações que se aloja no interior da escola e cobra dela
soluções de todos os tipos se apresenta para Carlos como descontrole e falta
de rumo. Quando lhe foi perguntado o que esperava da escola, ele nos
respondeu, por ordem de importância: ―Em primeiro lugar, conhecimento; em
segundo lugar, crescimento; em terceiro lugar, socialização; em quarto lugar,
educação; e, por fim, uma preparação para o mundo do trabalho‖. Acrescentou
que a escola não contribui para capacitação profissional do aluno: ―A escola só
contribui com meus conhecimentos básicos, não com o profissionalismo‖.
O depoimento traz à tona o desconhecimento das prioridades da escola
e do conjunto de uma trajetória profissional. O básico, o genérico, é peculiar às
instituições família e escola. Sem esses ―conhecimentos básicos‖, não há como
alguém se qualificar profissionalmente. Sem conhecer as operações e as
noções elementares da matemática e da física, sem o domínio da língua
materna, o saber fazer fica seriamente comprometido. A escola contribui para
formar integralmente o sujeito. Seu grande desafio está no campo da
profissionalização, um ramo em que as empresas parecem ter mais
competência e tecnologia disponível. Neste caso, continua indispensável a
parceria entre a escola e a empresa. Algumas experiências de parceria entre
escola e empresa, no Brasil, demonstram que esse deve ser o novo projeto a
ser perseguido pelas políticas públicas de educação.
Há um consenso de que, na sociedade do conhecimento e da
informação, a escolarização tem valor inquestionável, ―já que é capaz de
proporcionar ao indivíduo experiências e informações de sua cultura‖ (REGO,
2002, p. 48). Entretanto, os jovens acreditam que a escola precisa abrir um
espaço para que possam discutir projetos de vida, que incluem o trabalho. Em
síntese, a escola precisa concretizar os quatro pilares da educação levantados
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –
UNESCO: saber aprender, saber ser, saber conviver e saber fazer, uma vez
120
que a educação ocorre de forma permanente, ao longo da vida. Por essa
perspectiva, temas sobre as inquietações dos jovens, seus temores e
expectativas, devem integrar o currículo.
Carlos tem o hábito da leitura e gostaria de poder fazer cursos de
capacitação profissional, artes e idiomas. Porém, não realiza nenhum e
tampouco pratica esportes. Participa de comunidades virtuais, religiosa e
cultural. Utiliza o tempo livre descansando e, na maioria das vezes, com jogos
de computador e videogames. Já participou de uma ONG que auxilia
adolescentes a ingressarem no mercado de trabalho. Nela, prendeu elementos
de legislação trabalhista. Com base nessa experiência, comenta que ―...acho
importante que todas as pessoas tenham informações sobre o assunto para se
prevenirem de eventuais restrições‖. Nunca exerceu atividade remunerada e
está em busca de seu primeiro emprego. Pensou em ter uma profissão na área
de recursos humanos para trabalhar no departamento de pessoal. Sobre suas
expectativas no mundo do trabalho, responde: ―realização, poder, dinheiro,
posição social e fama‖. Esses são elementos peculiares e essenciais do
consumismo.
Carlos deseja trabalhar para sua autorrealização, para ser independente
e crescer, e para satisfazer suas necessidades materiais e imateriais. Ele
comenta que o trabalho, num país capitalista como o Brasil, é muito importante
e que precisamos de capital para sobreviver e ter lazer. Observa que o trabalho
é parte da nossa vida e por isso é necessário ser capaz de adaptar-se às
mudanças do mundo do trabalho. O trabalho para Carlos tem valor forte, o
influencia, o faz aprender, conhecer pessoas, dá prazer e o desenvolve como
cidadão; espera sucesso e reconhecimento, porém acredita que a dificuldade
da inserção do jovem no mundo do trabalho é causada pela falta de
experiência profissional: ―[...] a sociedade em si dificulta [para] o jovem no seu
primeiro emprego; por não ter experiência profissional, ele é excluído‖.
Contudo, acredita que o ―trabalho é parte da nossa vida e por isso temos que
se adaptar para (sic.) esse novo mundo‖.
No que se aplica ao processo de escolha profissional, onde foram
observadas diferentes dimensões (motivação para os estudos, motivação para
121
o sucesso escolar, socialização), a pesquisa revelou que essas geralmente são
ações mescladas com afetos, que propiciam melhorar o desenvolvimento e as
escolhas dos jovens. Entretanto não existem dados conclusivos, no que se
refere às razões pelas quais a pessoa escolhe uma ou outra profissão. Essa
questão que pode ser entendida sob a ótica sociológica, a partir da qual as
escolhas são apresentadas como herança ocupacional que se manifesta por
meio das profissões transmitidas de pais para filhos, ou no acesso a
determinadas novas profissões – situação socioeconômica e mercado de
trabalho dos pais. Já a ótica psicológica, analisa as relações existentes entre
os traços de personalidade, orientação vocacional, que supõe considerar a
visão sócio-histórica – em que o ser humano aqui é histórico e social – e parte
do fundamento de que existe uma intervenção viva entre o sujeito e o objeto,
uma relação entre o mundo real e o sujeito, uma vinculação indissociável entre
o mundo objetivo e a subjetividade, em que acreditamos.
O participante Carlos finaliza dizendo: ―O que me torna motivado na vida
é Deus. A Bíblia é um manual de vida; minha vida é motivada e levada pelo
Senhor, eixo da força para todos os dias lutar pelos meus objetivos‖. Isso
implica que outras esferas sociais e sujeitos estão mobilizados no universo da
juventude, principalmente na fase da adolescência, onde ocorre o processo de
emancipação familiar: entre eles estão os grupos religiosos, as comunidades
virtuais e o grupo de amigos. Diante do relato do jovem participante podemos
refletir sobre a ação das políticas públicas existentes para a juventude, que se
propõem proporcionar aos jovens acesso à educação, à qualificação
profissional e à cidadania, criando oportunidades para utilizar capacidades,
tendo acesso ao mundo do trabalho, ao crédito, à renda, ao esporte, ao lazer, à
cultura e à terra. Proporcionarem a garantia dos direitos, com ofertas de
serviços que garantam a satisfação das necessidades básicas dos jovens e as
condições necessárias para aproveitar as oportunidades disponíveis. Mas
estão efetivamente atingindo os objetivos propostos?
Documento Diálogo Nacional para uma Política Pública de Juventude
(2006) elaborado pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas) e POLIS (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em
122
Políticas Sociais) define política pública para juventude como sendo ―[...] o
conjunto de princípios, estratégias e ações que contempla as distintas
realidades dos jovens, estabelecendo seus direitos e responsabilidades e
afirmando suas identidades e potencialidades [...]‖ Contudo, diante do exposto,
articular as temáticas juventude e participação não é tarefa simples e torna-se
um importante desafio, especialmente no contexto atual do Brasil. Ainda há
dificuldades na visualização das necessidades e direitos específicos dos jovens
que garantam atualmente uma igualdade de direitos a todos.
Apontar para uma inserção social e produtiva para os jovens se faz
necessário. O desafio passa a ser o de combinar programas que proporcionem
políticas de transferência de renda, elevação quantitativa e qualitativa de
escolaridade, assistência a famílias de jovens em situação de vulnerabilidade
social, formação tecnológica, serviços comunitários, esporte e lazer, além de
uma nova abordagem da articulação entre o mundo do trabalho e a educação
para jovens. Porém surgem iniciativas no âmbito dos municípios, como Barueri,
na Grande São Paulo, que neste ano de 2011 implantou a Assessoria de
Política Públicas para a Juventude, objetivando formular ações capazes de
atender essa população, e também no âmbito federal, que já no discurso
inaugural do atual governo, teve abordada a questão social da juventude e
suas implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e
popular.
6.4.1 Percepção de Ariel: o que é ser jovem?
Ser jovem é ter sonhos e lutar para alcançá-los, ter determinação,
vencer obstáculos. Ser jovem é ter opinião, atitude, participar dos
movimentos, ir a baladas, navegar na Internet, ficar, namorar,
estudar, se divertir, trabalhar para comprar o que queremos sem ter
que ficar pedindo dinheiro aos nossos pais e ter um futuro. Ser
jovem é também perceber as coisas que estão erradas, como
corrupção, discriminação, falta de emprego para nós jovens e lugar
para tirar um lazer. Ser jovem é viver intensamente, experimentar
coisas novas, ter coisas novas. Ser jovem é saber viver a vida sim,
123
seja com responsabilidade ou não, sempre com muita criatividade e
vontade de mudar aquilo que não está bom. E o nosso país precisa
disso, precisa de jovens interessados a mudar. Jovens precisam
fazer a diferença com a esperança de que nosso país tem chance
de ainda continuar mudando pra valer.‖
Na percepção de Ariel do que é ser jovem, observamos em seu relato
que ele tem sonhos e objetivos a alcançar, mesmo que para isso deva vencer
obstáculos e precise de determinação. Muitos outros jovens não têm a
determinação de Ariel, seja por outros contextos sociais e/ou emocionais. O
abandono de sonhos e ideais pelos jovens em algumas situações tem sua
origem no próprio processo de escolarização. Metade dos jovens com idade
entre 15 e 17 anos não está matriculada na etapa da educação básica em que
deveria estudar: o Ensino Médio. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios – Pnad (IBGE, 2009) mostram que há mais de cinco milhões de
estudantes nessa situação. No Norte, apenas 39,1% dos alunos nessa faixa
etária cursa o Ensino Médio.
Diante disso, como conciliar a inserção social do jovem, de pertencer a
uma sociedade globalizada e em rede em vista da necessária capacitação para
o mercado de trabalho e preparo básico para a vida? Por sua vez, as famílias
apresentam dificuldades para reverter esse quadro devido à sua condição
social, que marca o seu cotidiano, forçando de certa maneira o ingresso
precoce do adolescente no mercado de trabalho, independente de se tratarem
de empregos tidos como formais, ou, dependendo da condição do jovem, de
inserção em trabalhos não formais, a exemplo dos flanelinhas, guardadores de
carros, limpadores de vidros em semáforos, entre outros. Além da necessidade
de aumentar a renda, o trabalho dos jovens é valorizado pelas famílias por seu
potencial socializador, uma vez que, em tese, mantém os jovens ocupados e
longe dos desvios da vivência na rua, como as drogas e a criminalidade. De
acordo com Calimam (2006), diante de certos comportamentos e estilos de
vida não convencionais muitas pessoas atribuem qualificações e rótulos a
indivíduos com diferentes abordagens relacionadas ao desvio social e à
delinquência juvenil.
124
No esboço de um relato sobre o que é ser jovem, é importante
contextualizarmos que a sociedade atual está fortemente apoiada, em seu
desenvolvimento, a fatos relativos a âmbitos socioeconômicos, emocionais e
culturais, que convergem das diversas maneiras de o jovem perceber e intervir
no mundo. Na sociedade contemporânea, com o processo de globalização, das
novas tecnologias de informação e dinâmicas de trabalho, vivemos momentos
que promovem uma multiculturalidade que em certos momentos rompem com
alguns referenciais tidos como tradicionais. Há substituições de cenários,
meios de comunicação, família, escola, trabalho, espaços privados,
individualização. Nesse contexto, como o jovem pode construir a sua
identidade?
Diante do relato de Ariel estabelece-se de modo mais efetivo a divisão
entre o mundo das vivências internas e o mundo da realidade objetiva. O
desenvolvimento da consciência para um estado de autoconsciência permite
que as vivências internas e o mundo da realidade objetiva sejam
crescentemente mais discriminados. Dessa forma, a juventude é o momento
em que se pode falar de uma personalidade, ao mesmo tempo em que se pode
falar de uma visão de mundo, embora ainda em processo de desenvolvimento.
Em consonância com a teoria de Vygotsky, acreditamos que é a partir da
juventude que o indivíduo pode compreender a sua própria inserção na
sociedade, ganhando em plasticidade, ao operar por conceitos, e ao possibilitar
o uso da vontade no encaminhamento de sua vida, objetivando transformações
que passam a implicar em uma nova consciência de si mesmo e uma visão de
mundo, capacitando-o a fazer escolhas e a tomar decisões sobre suas
aspirações e seu projeto de vida.
Porém, de certa forma, o jovem contemporâneo vive um paradoxo:
por um lado, há uma padronização excessiva de gostos e de atitudes e, por
outro lado, a condição de jovem que o define como alguém que possui uma
grande inquietude, que busca um sentido para a sua vida. Mas nem sempre os
contextos nos quais esse jovem se insere contribuem para o desenvolvimento
do pensamento dialético, questionador, transformador. Portanto seja no âmbito
familiar, escolar ou no trabalho, acreditamos que essas possibilidades, se não
estiverem acopladas a uma rede de sustentação mais ampla, a exemplo de
125
políticas públicas para a juventude, onde haja espaços que possam garantir o
desenvolvimento de um sentido para a juventude, o jovem terá dificuldades em
exercitar o seu papel de ator social.
Os jovens estão em todos os lugares e a todo tempo, eles querem ser
notados, capacitados, educados e inseridos nos espaços que lhes cabe, mas
para isso necessitam ser preparados para fazer escolhas positivas; precisam
ser capacitados em termos éticos, cuidando de si e do outro, da sua
escolarização, e estar aptos a uma inserção no mercado de trabalho, visando
crescimento e desenvolvimento sociais. Falar sobre a temática da juventude e
trabalho ―[...] exige do pesquisador alguns recortes, a fim de objetivar uma
definição mais precisa sobre o adolescente pesquisado, tendo em vista a
diversidade sociocultural que o envolve‖. (SILVA e MUNHOZ, 2010, p.235).
Contudo, é importante evidenciar que há diferentes visões conceituais
relacionadas à definição de adolescência, uma vez que se encontram na
literatura correntes psicológicas que defendem a perspectiva
desenvolvimentista da qual decorre a concepção de adolescência como uma
etapa do desenvolvimento humano, entendendo a adolescência como uma
fase da vida que possui características biológicas e emocionais específicas,
com a ideia de evolução até a maturidade regida pelo desenvolvimento
biológico. Como também aqueles que adotam a perspectiva por nós defendida,
trabalhamos com a perspectiva a partir de referências históricas e sociais.
(PERALVA, 1997; DAYRELL, 2003; CHARLOT, 2000).
Para efeitos desta análise da percepção de Ariel do que é ser jovem,
acreditamos ser importante: em primeiro lugar, considerar que os jovens,
apesar de estarem inseridos em uma sociedade que tem vivido uma crise no
mercado de trabalho, como desemprego e falta de capacitação adequada,
valorizam o trabalho, seja para a realização pessoal, como fonte de renda,
como meio de liberdade ou como contribuição social. Entretanto, a inserção no
mundo do trabalho para o jovem é difícil, devido à falta de experiência e
capacitação adequada frente às novas dinâmicas do trabalho no mundo
globalizado, que está em constante transformação, devido ao impacto que
causam as novas tecnologias, flexibilidade e individualização do trabalho.
126
Em segundo lugar, inserir o jovem no mundo do trabalho supõe políticas
públicas de inserção laboral, onde sejam priorizadas jornadas de trabalho
compatíveis com os estudos e programas de capacitação. Pensar nessa
questão é entender que essas ações não são apenas privilégios para os
jovens, mas sim, ações que geram consequências positivas para toda
comunidade, entre elas a escola, beneficiando a família, melhorando a
qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de
vida.
Como o jovem apresenta uma percepção de si mesmo e do trabalho,
são dados importantes para a compreensão dos novos desafios decorrentes da
globalização, das novas tecnologias, da educação e dos níveis de qualificação
para o ingresso no mundo do trabalho.
E, por fim, constatamos que os indicadores que evidenciam o relato de
Ariel pressupõem percepções de que o jovem não é um ser isolado, sendo
formado pelo processo em curso, tendo vivências e experiências passadas e
um futuro potencial. Para (O‘Gormam, 1981, p. 28) ―[...] a pessoa humana é um
ser social e histórico, imerso numa rede de relacionamentos.‖ Entendemos,
então, que a percepção da realidade não é estática, mas acompanha todo um
projeto de vida. Certamente a percepção do mundo é diferente para cada
pessoa; cada pessoa percebe um objeto ou uma situação de acordo com os
aspectos que têm especial importância para si própria. ―O que o indivíduo
percebe e como percebe são importantes para a compreensão do
comportamento humano‖ (BOCK, 1999, p. 51), aguçando, assim, sinais
interiores e exteriores, provocando reflexões críticas e gerando nas pessoas a
necessidade de reavaliarem suas próprias crenças como mecanismo de
preservação da qualidade de vida e da sua identidade humana. O que
pressupõe que as pessoas pensam, sentem, agem e têm reações por desejos
e aspirações, desencadeando, assim, uma percepção e valoração no contexto
do seu próprio processo histórico social, dimensionando ações reflexivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
127
Os participantes desta pesquisa são jovens de ambos os sexos,
urbanos, do município de Carapicuíba, Estado de São Paulo, Brasil, com idade
entre 17 e 20 anos, estudantes de uma escola pública do terceiro ano do
Ensino Médio, pertencentes a famílias das camadas populares. Este estudo é
resultado de uma pesquisa sobre a influência da família e da escola na
formação do jovem para o mundo do trabalho. Toma como princípio a
juventude enquanto uma construção sócio-histórica, onde se pressupõe que as
abordagens sobre ela variam de acordo com os contextos social, histórico,
econômico e cultural em que são formuladas e propiciam a afirmação que a
juventude não é somente concebida como uma etapa de transição para a vida
adulta, como um processo que enfatiza somente os aspectos cronológicos.
Dentro dessa forma de perceber o jovem, procuramos situar elementos
norteadores para o enfrentamento dos impasses próprios do mundo
globalizado, como as novas dinâmicas do trabalho, a educação, a família e a
própria juventude.
O percurso de socialização destes jovens passa pelas famílias de camadas
populares a que pertencem. Isso implica que vivenciaram esse processo com
uma população dos centros urbanos, cujas condições de habitação muitas
vezes são precárias, assim como o acesso à saúde, à educação e ao
saneamento básico e dispõe de renda familiar reduzida. Nessas famílias, os
cuidados com os filhos em seu processo de socialização primário cabem
principalmente à figura materna, enquanto a figura paterna tem, muitas vezes,
importância menor nesse processo, que pode ser visto como um processo de
incursões de padrões culturais para organizar o comportamento individual, em
que a família é citada em diferentes aspectos a exemplo de modelo de conduta
no desempenho de seus papéis sociais e das normas e valores.
Os participantes muitas vezes se referem à família como sendo
mantenedores de papéis sociais conservadores, desejando que os jovens
construam projetos de vida que correspondam a expectativas dos próprios
pais, seja para responder à imagem sobre eles projetada da própria juventude
ou em projetos de vida que visem o aumento de renda da família, sem
considerar o desejo do próprio jovem. O que implica que a família pode tanto
128
ajudar quanto dificultar o jovem no momento de suas escolhas, entre elas a
profissional, no momento em que o jovem está construindo sua identidade
tanto pessoal como vocacional. Contudo outras instituições como, escola,
igreja, mídia, além do grupo de pares também aparecem como transmissores
de valores.
Entendemos que a escola é um espaço que acolhe, e onde o jovem
pode aprender, mas não basta apenas passar um volume grande de
conteúdos: é preciso preparar para pensar. Deve ser um território em que o
jovem possa exercitar suas vivências e convivências. É nesse espaço de
convivência e aprendizagem, em que se dão encontros e relações, que o jovem
questiona valores e começa a construir seu projeto de vida. Porém, muitos
esforços ainda precisam ser construídos objetivando uma maior aproximação
da escola com a vida cotidiana dos jovens.
O trajeto escolar que esses jovens percorrem, nem sempre é um
caminho de possibilidades para que se solidifiquem ações que promovam a
capacitação e a potencialidade para que eles consigam uma inserção de
trabalho. Essas ações que deveriam ser direcionadas ao fortalecimento das
habilidades, da empregabilidade, propiciando um futuro próximo com tomada
de decisões favoráveis. Desse modo, cabe ao sistema educacional um papel
mais representativo na percepção de comportamentos, buscando significados
nas diversidades socioculturais que contribuam para a reflexão e propiciem
uma melhor qualidade nessa fase.
Tendo isso em mente, foi importante conhecer os aspectos das
percepções dos jovens do Ensino Médio de escola pública, por favorecer uma
visão mais ampla do tema juventude e inserção laboral. A partir dessas
reflexões e pressupostos podem-se atingir profissionais que trabalham com
grupo de adolescentes, e que, ao longo de sua atuação, podem ser
privilegiados com essa discussão. Entendemos que nessa convivência o
trabalho com jovens se pauta na construção de vínculo que viabiliza a
percepção das contradições pessoais e grupais. objetivando novos caminhos.
Contudo, nos tempos atuais, no momento em que a sociedade exibe um
cenário de crise de valores e ao mesmo tempo de transformações tecnológicas
e sociais que repercutem na forma e na diversidade de modos do jovem
participar socialmente e buscar uma inserção no mundo do trabalho, o presente
129
estudo propicia uma reflexão necessária, no propósito de questionarmos
também que jovem e que sociedade queremos formar.
Isso implica que a contribuição da família e do processo de
escolarização como influência no desenvolvimento do jovem, fortalecendo sua
a autoestima e dando-lhe suporte para o seu crescimento pessoal e social,
poderá ser um dos caminhos para a cidadania, propiciando uma relação mais
humanitária entre o homem e o trabalho. Temos, de um lado, a família como
garantia de sobrevivência com um aporte afetivo fundamental para o pleno
desenvolvimento de seus integrantes, objetivando saúde, absorção de valores
éticos e de conduta, introdução na cultura e na sociedade. Por outro lado, a
escola, desenvolvendo um trabalho educativo, expressando o desenvolvimento
de competências pessoais e sociais que alavancam o jovem na busca uma
inserção social em sentido abrangente, que inclui o trabalho, para que ele
possa fazer parte de uma sociedade globalizada, com impactos tecnológicos,
que necessitam aproximar a prática ao discurso no processo de socialização
da juventude.
Entretanto, para uma expressiva parcela dos jovens desta pesquisa, os
caminhos para o mundo do trabalho são íngremes. Várias pesquisas sobre
essa temática, a exemplo das realizadas por organizações internacionais como
a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2008) nos revelam crescimento
da população jovem. A partir dessa condição, pode-se dizer que há uma
tendência de o mercado de trabalho não conseguir absorver toda essa
demanda de jovens. Segundo o mesmo relatório, a condição do jovem é bem
mais precária que a dos adultos, pois as chances de aqueles estarem
desempregados são três vezes maiores do que as destes, tanto no cenário
nacional como no internacional.
Um dos motivos principais dos relatos dos jovens participantes desta
pesquisa no que se refere à dificuldade de inserção no mercado de trabalho é a
falta de experiência, uma característica forte que se pode atribuir também a
este grupo. Entendemos que é nesta fase da juventude que o adolescente vai à
busca do seu primeiro emprego. No entanto, ele se depara com uma nova
organização produtiva no mundo do trabalho, originária dos impactos da
130
competição, da tecnologização e da globalização na relação homem-trabalho,
que estão marcadas por uma série de mudanças, de caráter estrutural, para os
quais contribuem o enorme avanço do conhecimento científico e suas
correspondentes inovações na área produtiva e globalizações do cenário
mundial, que são inerentes ao capitalismo.
Com base nessas considerações, para que o jovem participante da
nossa pesquisa possa vivenciar esse novo ambiente em que ele quer se inserir
– o mundo do trabalho –, principalmente numa sociedade propensa a mudar
com bastante rapidez, ele necessita de contar com instituições como a família,
a escola, e outras esferas que propiciem uma formação ética, social e
profissional, para que ele possa modificar sua biografia e a de seu grupo.
Compreendemos a partir de reflexões desta pesquisa que a escola atual,
principalmente a escola pública do Ensino Médio não tem recursos humanos e
materiais que supram a necessidade de capacitação exigida pelo mercado de
trabalho, cabendo às empresas o treinamento em serviço, para obter e
aperfeiçoar as habilidades e conhecimentos profissionais, principalmente para
atender um cenário caracterizado pela nova dinâmica do trabalho, novas
tecnologias e globalização.
Diante dessas considerações, fica evidenciado que a atual escola não
comporta as necessidades do mundo do trabalho, o que pode significar que a
mesma não reúne qualidades que capacitem os jovens a se inserirem no
mercado. E aqui cabe um questionamento: é papel da escola preparar para o
mundo do trabalho? Os jovens acreditam que são necessárias mudanças,
visando uma escola que além de transmitir conhecimentos, também possa criar
um espaço de socialização, objetivando assim discussões, reflexões para que
os jovens se posicionem sobre suas reais necessidade sociais, alavancando-o
e impulsionando-o a pensar a vida e a orientação profissional, criando
tendências. A escola precisa abrir um espaço para o jovem discutir seu projeto
de vida, e não se fala em projeto de vida sem discutir o trabalho, onde podem
ser abordadas, sobre o tema, as inquietações dos jovens, seus temores e
expectativas, possibilitando que ele perceba o trabalho como realização
pessoal e meio de participação, cooperação e sobrevivência. Originando-se
131
assim uma escola que compartilhe seu papel transformador do entorno social
do jovem na sociedade contemporânea.
A família também deve ser incluída nesse processo de desenvolvimento
do jovem na busca do primeiro emprego, por sua função de garantir
sobrevivência, estabilidade emocional, e condições de aprendizagem durante o
processo de socialização em conjunto com a sociedade e o Estado, pois, como
diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art. 227: ―É dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão‖. Essas
ações podem favorecer o processo de escolhas profissionais de jovens em
diferentes dimensões, como motivação para os estudos, motivação para o
sucesso escolar, socialização. Ações estas que devem ser acompanhadas de
combinações de afetos, que ajudam a melhorar o desenvolvimento e as
escolhas dos jovens, estejam elas focadas na ótica sociológica ou psicológica,
já discutidas no corpo deste estudo.
Falar sobre a percepção do jovem sobre o trabalho é considerar que,
apesar de estarem inseridos em uma sociedade onde os jovens têm vivido uma
crise no mercado de trabalho frente às novas dinâmicas do trabalho no mundo
globalizado e em constante transformação, devido aos impactos causados
pelas novas tecnologias e flexibilidade e individualização do trabalho, com
desemprego e falta de capacitação adequada, os jovens valorizam o trabalho,
seja como realização pessoal, como fonte de renda, como meio de liberdade,
como contribuição social. Contudo um trabalho para a juventude supõe
políticas públicas de inserção no mundo do trabalho, onde sejam priorizadas
jornadas de trabalho compatíveis com as de estudos, e programas de
capacitações. Pensar nessa questão é entender que essas ações não são
apenas privilégios para os jovens, mas sim, ações que têm consequências
sobre toda comunidade, beneficiando a escola e a família, melhorando a
132
qualidade de vida nas cidades, diminuindo a violência e construindo projetos de
vida.
Este estudo é o produto de um processo realizado por muitas mãos: dos
facilitadores encarregados dos jovens, dos responsáveis pelo trabalho junto
aos jovens, dos jovens participantes e por fim a aqueles que contribuíram para
a adequação da proposta a uma realidade possível, especificamente aos
autores que fundamentam este trabalho, que ajudaram a criar com maior
sinergia e a consolidar diversas contribuições na área educacional, no campo
do trabalho, no tocante ao papel da família e à percepção da juventude,
transformando-o em material acessível a educadores. Cada pesquisador há de
encontrar um jeito de caminhar na perspectiva de novas percepções das
pessoas.
São muitos os caminhos possíveis. Nesta caminhada, cada passo tem
um propósito, cada percepção tem um sentido. Dos levantamentos
preliminares, da escolha da epistemologia, do método, dos estudos, das
entrevistas, da troca de experiências... enfim foram vários os percursos para
estudar as repercussões da prática familiar escolar na escolha do trabalho do
jovem. As reflexões a partir dos pressupostos que atingem todos os
profissionais que trabalham com grupos de jovens e que, ao longo de sua
atuação, aprendem que não existem certezas absolutas ao se lidar com
pessoas. Nesta convivência constatamos que o trabalho com jovens se pauta
na construção de vínculo que viabiliza a percepção das contradições pessoais
e grupais e a construção de novos caminhos.
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UNESCO: http://unesdoc.unesco.org
UNESCO:http://www.unesco.org/pt/brasilia
UNICEF BRASIL: http://www.unicef.org.br
Universidade de Brasilia:http://www.unb.br
ANEXOS
145
ANEXO A - MODELO DE QUESTIONÁRIO
QUESTIONÁRIO
I-Perfil do Entrevistado
1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. Idade
3. A sua cor ou sua raça é: ( ) Branca ( ) Preta ( )Amarela ( )Parda ( ) Indígena
4. Qual sua religião:
5. Local de nascimento: Cidade/Estado/Pais
6. Qual é o seu estado civil: ( )Solteiro (a) ( ) Casado(a) ( )Divorciado
( ) Viúvo(a) ( ) Desquitado(a)ou separado judicialmente
7. Você tem alguma deficiência que limite suas atividades habituais:
( ) Não ( ) Sim Qual:
II - Família e Domicílio
8. Você reside em domicílio com:
( ) pai ( ) avó ( )sozinho ( )tios
( ) mãe ( ) avô ( )esposa ( )outros
9. Qual é o seu estado civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( )Divorciado(a)
( ) Viúvo(a) ( ) Desquitado(a) ou separado(a) judicialmente
10. Você tem alguma deficiência que limite suas atividades habituais:
( ) Não ( ) Sim Qual:________________________________
11. Quantidade de pessoas no domicílio:
12. Número de irmãos:
13. Número de pessoas que contribuem
com a renda familiar:
14. Você possui dependentes:
( ) não ( ) sim Quantos: _____________
15. Qual é a sua a renda familiar:
( ) 1 SM ( ) 1-2 SM ( ) 2-3 SM ( ) 3-4 SM ( ) 4-5 SM ( ) + que 5 SM
(SM)= Salário Mínimo
16. Pai trabalha: ( ) Sim ( ) não
17. Função:
18. Grau de escolaridade do pai:
19. Mãe trabalha : ( ) Sim ( ) não
20. Função:
21. Grau de escolaridade da mãe:
22. Qual é o seu tipo de domicílio: ( ) casa ( ) apto ( ) cômodo
23. O domicílio é: ( ) próprio ( ) alugado ( ) cedido ( ) outro
146
24. Você possui conta corrente ou poupança: ( ) sim ( ) não
25. Você possui plano de saúde ( ) sim ( ) não
26. Você possui cartão de crédito ( ) sim ( ) não
27. No seu domicílio existe:
( ) Rádio
( ) Geladeira ou Freezer
( ) TV
( ) Aparelho de DVD
( ) Máquina de lavar roupa
( ) Máquina de lavar louça
( ) Aparelho de som
( ) Microcomputador
( ) Linha telefônica instalada
( ) Forno microondas
( ) Celular
( ) Filtro d’água
( ) Aparelho de ar condicionado
( ) Secador
( ) Fogão
( ) Automóvel
III-Cultura e Lazer
28. Qual foi o ultimo livro que você leu que não fosse exigência escolar:
29. Enumere de 1 a 6-por ordem de importância a frequência em que você pratica ou frequenta
algumas das seguintes atividades:
( ) esportes ( ) artes ( ) cursos profissionalizantes ( ) curso de idiomas
( ) pré- vestibulares ( ) outros. Quais?
30. Você tem acesso a informática: ( ) sim ( ) não
31. Enumere de 1 a 5, por ordem de frequência, o local onde você utiliza o computador: ( )
casa ( ) escola ( ) lanhouse ( )casa de amigos ( )outros
32. Enumere de 1 a 5, por ordem de importância, a sua participação em uma ou mais das
seguintes comunidades ou agremiações :
( ) virtual ( ) esportivas ( ) religiosas ( ) teatro ( ) outras. Qual: ___________
31.Como você utiliza seu tempo livre?
32.Você já utilizou drogas: ( ) não ( ) sim Comente:
33.Você já teve algum tipo de problema com a justiça: ( ) não ( ) sim Comente:
147
IV- Reflita e responda às questões abaixo: 1. Você já teve alguma ocupação remunerada? ( ) sim ( ) não
2. Você exerce atualmente algum tipo de trabalho remunerado?
( ) sim ( ) não
3. O que você sabe do mundo do trabalho ?
( ) nada ( ) muito pouco ( ) pouco ( ) bastante
4. Enumere por ordem de importância de 1 a 5, O que você espera do mundo do trabalho ?
( ) dinheiro ( ) fama ( )poder ( ) posição social ( ) realização ( ) outras quais:
5. Enumere por ordem de importância de 1 a 5, O que você espera da escola ?
( ) socialização ( )educação ( )conhecimento ( ) crescimento
( ) preparar para o mundo do trabalho:
6. Enumere de 1 a 5 , por ordem de importância; Por que você deseja trabalhar ?
( ) necessidade ( )independência ( ) crescimento ( )auto realização
( ) outra -qual
7. Em sua opinião para que serve a escola?
8. Você já pensou em ter uma profissão? ( ) sim ( ) não Qual:
_____________________________________ por quê?______________________________
9-Você acha que sua família tem contribuído para o seu futuro profissional? ( )sim ( ) não
Comente:__________________________________________________________________
10- Você acha que seu grupo de amigos tem contribuído para o seu futuro profissional?
11-Você conhece a Legislação Trabalhista? Comente.
12-Em sua opinião para que serve o trabalho?
13-Você acha que a escola tem contribuído para o seu futuro profissional?
( ) sim ( ) não – Por quê?
14- O que em sua opinião dificulta a inserção no mundo do trabalho ?
148
ANEXO B - MODELO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1- Qual a sua expectativa para o primeiro emprego?
2- Qual o sentido do trabalho para você?
3- Qual o valor do trabalho para você?
4- Qual a percepção do trabalho para você?
5- Você acredita que sua vida ira mudar após o primeiro emprego? Por quê?
6- O que motiva você na vida?
7- Em sua opinião quais outros grupos sociais ou instituições têm contribuído
para o seu futuro profissional?
8- Quando você necessita de dinheiro a quem você recorre?
9- Você frequenta alguma igreja? Por quê?
10- Em sua opinião o que é ser jovem?
149
ANEXO C - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA FIEO