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ESTUDO DOS FATORES DETERMINANTES DO INCOMODO CAUSADO PELA POLUIÇÃO DO AR ATRAVÉS DE SURVEY Milena Machado (IFES ) [email protected] Jane Meri Santos (UFES ) [email protected] Wharley Borges (UFES ) [email protected] Além dos impactos tradicionalmente considerados sobre a saúde, a poluição do ar pode gerar incômodos e ocasionar efeitos psicológicos que afetam a qualidade de vida da população. Este estudo teve por objetivo analisar dados de uma pesquisa de opinião sobre o incomodo causado pela poluição do ar na região sul do estado do Espírito Santo e identificar as inter-relações entre aos seus possíveis fatores determinantes. Os resultados mostraram que mais de 80% da população se sente pelo menos um pouco incomodada com a poluição do ar especialmente pela presença de poeira sedimentada. Foi identificado uma série de consequências dos efeitos da poluição na qualidade de vida e na saúde da população. As análises de correlação significativas entre as variáveis mostraram que os principais fatores determinantes do incômodo são: Avaliação e importância da qualidade do ar, percepção da poeira, percepção do risco, ocorrência de problemas de saúde e gênero. A partir dos resultados foi possível concluir que a percepção da população a cerca do problema da poluição do ar deve ser considerada para considerado na definição de políticas públicas que visem o controle da poluição e melhoria da qualidade do ar nesta região. Palavras-chaves: Poluição do ar; emissões industriais; Incomodo; qualidade de vida XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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ESTUDO DOS FATORES

DETERMINANTES DO INCOMODO

CAUSADO PELA POLUIÇÃO DO AR

ATRAVÉS DE SURVEY

Milena Machado (IFES )

[email protected]

Jane Meri Santos (UFES )

[email protected]

Wharley Borges (UFES )

[email protected]

Além dos impactos tradicionalmente considerados sobre a saúde, a

poluição do ar pode gerar incômodos e ocasionar efeitos psicológicos

que afetam a qualidade de vida da população. Este estudo teve por

objetivo analisar dados de uma pesquisa de opinião sobre o incomodo

causado pela poluição do ar na região sul do estado do Espírito Santo

e identificar as inter-relações entre aos seus possíveis fatores

determinantes. Os resultados mostraram que mais de 80% da

população se sente pelo menos um pouco incomodada com a poluição

do ar especialmente pela presença de poeira sedimentada. Foi

identificado uma série de consequências dos efeitos da poluição na

qualidade de vida e na saúde da população. As análises de correlação

significativas entre as variáveis mostraram que os principais fatores

determinantes do incômodo são: Avaliação e importância da qualidade

do ar, percepção da poeira, percepção do risco, ocorrência de

problemas de saúde e gênero. A partir dos resultados foi possível

concluir que a percepção da população a cerca do problema da

poluição do ar deve ser considerada para considerado na definição de

políticas públicas que visem o controle da poluição e melhoria da

qualidade do ar nesta região.

Palavras-chaves: Poluição do ar; emissões industriais; Incomodo;

qualidade de vida

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1. Introdução

A degradação da qualidade ambiental nos centros urbanos como consequência da

industrialização, da concentração populacional e do crescimento desordenado é cada vez mais

visível e presente nas grandes cidades brasileiras (ARAÚJO, 2001). Segundo a Política

Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) poluição é definido como

“a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)

prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às

atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições

estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os

padrões ambientais estabelecidos”.

De acordo com a resolução CONAMA Nº 03/1990, que define os padrões para qualidade do

ar, poluente atmosférico é qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em

quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos,

e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao

bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora, prejudicial à segurança, ao uso e

gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de perfeito bem-

estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades” (WHO,

2006). Assim, os efeitos adversos dos poluentes atmosféricos na saúde e qualidade de vida

têm sido uma preocupação dos órgãos regulamentadores do meio ambiente e da saúde

pública.

A confirmação sobre os efeitos da poluição do ar na saúde e qualidade de vida pode ser

observada em estudos populacionais através de investigações epidemiológicas (OSTRO et al.

1999; SALDIVA et al. 2004; ALMEIDA, 2006; SALDIVA et al. 2007) e análise da

exposição versus resposta ao incômodo causado por poluentes (OGLESBY et al., 2000;

ROTKO et al., 2002; JACQUEMIN et al., 2007; AMUNDSEN et al, 2008). Tais estudos são

importante pois fornecem informações para o desenvolvimento de práticas e legislação que

visem o controle das emissões e a garantia qualidade do ar.

Segundo Vallack e Shillito (1998), são poucos os países que possuem normas e legislação

sobre os níveis de poluição que não provocam incômodo à população. No Brasil, devido ao

crescente número de reclamações por parte da comunidade, que se sente atingida na sua

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qualidade de vida e apresenta sintomas de doenças, principalmente nos grandes centros

urbanos, o incômodo pela poluição do ar tem sido uma preocupação tanto do poder público e

órgãos regulamentadores quanto da comunidade científica. O objetivo desse trabalho é

estudar uma população urbana, residente em área industrial, sobre o impacto da poluição do ar

na saúde e qualidade de vida através de pesquisa de opinião e analisar correlações entre

variáveis determinantes do incômodo.

2. Materiais e Métodos

2.1. Região de estudo

Este trabalho é um estudo ecológico espacial realizado na região sul do estado do Espírito

Santo. O estudo foi orientado para esta região devido às atividades industriais potencialmente

poluidoras instaladas, tais como mineração, pelotização, construção civil além do tráfego de

veículos. Próximo às industrias dessa região encontram-se residências e comercio cujos

moradores e trabalhadores frequentemente reclamam da presença de poeira (material

particulado sedimentado).

2.2. Poluentes atmosféricos

As atividades industriais emitem vários tipos de poluentes atmosféricos, de acordo com

Almeida (1999) nas indústrias de base (mineração, siderurgia, pelotização) o material

particulado se destaca por apresentar grande potencial poluidor.

O material particulado (MP) pode ser classificado quanto ao diâmetro aerodinâmico:

Partículas ultrafinas (< 0,1 m), partículas finas (PM2,5), partículas grossas (PM10),

partículas totais em suspensão (PTS) e partículas sedimentáveis (PS) (SEINFELD, J. H.;

PANDIS, 2006; CONTI et al. 2009).

As partículas sedimentáveis popularmente conhecidas como “poeira” são consideradas fonte

de incômodo à população. De acordo com Trindade et al., (2006), o incômodo surge tanto do

acúmulo do material particulado nas edificações, que depreciam as pinturas, dando um

aspecto de envelhecimento, e nos móveis das casas causando aos moradores a sensação de

constante sujeira, quanto da associação das macropartículas não inaláveis a doenças

respiratórias. Hyslop (2009) relata que a percepção visual da sujidade tem efeitos fisiológicos

e psicológicos nos seres humanos.

2.3. Pesquisa de campo

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Os dados foram obtidos através de pesquisa de opinião também denominada como pesquisa

de levantamento ou survey (BARNETT, 1991). Tamanho da amostra foi calculado

considerando o número total de habitantes em dois municípios próximos do região industrial

através do dados do censo de 2010 (IBGE) a partir daí aplicou-se a técnica de amostragem

aleatória simples com alocação proporcional (COCHRAN, 1977). O instrumento de coleta de

dados é o questionário estruturado composto de 47 questões e aplicado para um total de 245

participantes com idade superior a 16 anos trabalhadores ou residentes na região no mês de

julho de 2012. Vale ressaltar que para este trabalho foi selecionado apenas as principais

questões para apresentar e discutir os resultados.

2.4. Organização e exploração dos dados

Para organização e tratamento dos dados foi utilizado o programa Excel 2007. De uma forma

geral, foram feitas análises simples a partir de distribuições de frequências, as quais também

foram gerados no Excel 2007 e são descritos a seguir. E análise de correlação a fim de

evidenciar variáveis que contribuem significativamente para o incômodo percebido.

3. Resultados

3.1. Perfil dos participantes da pesquisa de campo

A escolha das residências foi realizada de forma aleatória simples com o cuidado de garantir

distribuição espacial em toda a região de abrangência do estudo. A tabela 1 apresenta o perfil

dos participantes de acordo com gênero e faixa etária.

Tabela 1 - Perfil dos participantes da pesquisa de opinião de acordo com gênero e faixa etária RESPOSTA TOTAL SEXO FAIXA ETÁRIA

Masc Fem 16-18 19-24 25-34 35-44 45-54 55-64 Acima 65

anos

NS/NR

BASE 242 98 144 22 35 46 45 43 32 17 2

% DA

AMOSTRA

100% 40,49 59,50 9,09 14,46 19 18,59 17,76 13,22 7,02 0,82

NS/NR= não sabe/não respondeu

O percentual de mulheres entrevistadas foi superior ao percentual de homens, 59,50% e

40,49%, respectivamente. A pesquisa foi realizada em 7 (sete) dias seguidos com a finalidade

de considerar um final de semana e dar oportunidade de resposta aos que trabalham fora de

segunda à sexta-feira. Mas apesar desse cuidado, em decorrência desses 5 (cinco) dias da

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semana, nota-se que essa maior participação das mulheres é devido principalmente ao perfil

socioeconômico das regiões das entrevistas fruto das permanências da sociedade patriarcal no

Brasil.

A faixa etária com maior participação na pesquisa de opinião foi de 25 a 34 anos (19%),

seguida de 35 a 44 anos (18,59%) e a menor faixa de entrevistados com idade acima de 65

anos (7,02%), cerca de 0,82% dos entrevistados não responderam a idade (NS- não sabe/ NR-

não respondeu).

A Tabela 2 apresenta o perfil dos entrevistados de acordo com o nível de escolaridade e a

renda familiar. Observa-se que embora tenha diferentes proporções a amostra apresentou

abrangência em todos os níveis de escolaridade e em todas as faixas de renda familiar,

característica da amostragem aleatória puramente probabilística.

Tabela 2- Perfil dos participantes da pesquisa de opinião de acordo com renda familiar e nível

de escolaridade Nível de Escolaridade Base Percentual Renda Familiar Base Percentual

Não estudou 9 4% Até 3 Salários Mínimos (SM) 134 55%

Ensino fundamental incompleto 51 21% De 3 a 10 SM 81 34%

Ensino fundamental completo 24 10% De 10 a 20 SM 7 3%

Ensino médio incompleto 41 17% De 20 a 50 SM - -

Ensino médio complete 70 29% Acima de 50 SM - -

Superior incompleto 12 4% NS/NR 20 8%

Superior complete 35 14% - - -

Total 242 100% Total 242 100%

3.2. Avaliação da qualidade do ar

A Figura1(a) apresenta o resultado encontrado quando os entrevistados foram questionados

sobre o grau de importância que atribuem à qualidade do ar. Observa-se que a maioria dos

participantes respondeu que consideram a qualidade do ar é “muito” e “extremamente

importante”. Entretanto ao serem questionados sobre a qualidade do ar em sua região Figura

1(b) mais de 50% responderam que a qualidade do ar em sua região é “regular” e “ruim”.

Estes resultados refletem o que a população percebe especialmente pelo que está vendo na

região devido a presença das indústrias próximas às áreas residenciais.

Figura 1- Importância e avaliação da qualidade do ar

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(a) (b)

3.3. Percepção e intensidade do incômodo

Para avaliar se a população se sente incomodada com a poluição do ar foi feita a seguinte

pergunta “O Sr(a).se sente incomodado com a poluição?” com opções de resposta “sim”,

“não” e “NR/NS (não sabe ou não respondeu)”. Observa-se na Figura 2(a) que 86% por

entrevistados relataram “sim” ao incômodo causado pela poluição do ar. Para estes

participantes que responderam “sim” foi feita a segunda pergunta “ O quanto o sr.(a) se sente

incomodado com a poluição do ar?” as opções de resposta foram, nada, pouco, moderado,

muito, extremamente incomodado e NR/NS (não sabe ou não respondeu) como mostra na

Figura 2(b). Observa-se que a maioria relata se sentir pelo menos um pouco incomodado com

a poluição do ar, o que reforça a importância de estudar com profundidade este problema

nesta região.

Figura 2- Percepção e níveis de incômodo

(a) (b)

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Na Figura 3 apresenta-se situações através das quais a população percebe a poluição do ar.

Observa-se que conforme a frequência de ocorrência a poeira é a forma de poluição mais

frequentemente citada pelos participantes seguida de odor, danos na vegetação e opacidade do

ar. A poeira nada mais é do que o material particulado sedimentado vale observar que, quanto

maior o tamanho das partículas mais próximas das fontes emissoras elas se sedimentam,

enquanto as partículas menores tendem a dispersar pela atmosfera e sedimentam mais distante

da fonte emissora (CONTI et al., 2009).

Figura 3- Percepção e frequência da poluição do ar para diferentes situações

A fim de conhecer a opinião da população sobre a percepção das fontes emissoras apresenta-

se na Figura 4 o resultado das respostas da questão sobre a opinião dos respondentes a cerca

da principal fonte de poluição do ar na região. Observa-se que a fonte industrial é a fonte de

poluição do ar mais citada pelos participantes.

Figura 4- Percepção e frequência da poluição do ar para diferentes situações

3.4. Consequencias da poluição do ar

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Para identificar os efeitos da poluição causada pela presença de material particulado

perguntou-se sobre a frequência de limpeza da casa para retirada da poeira. Conforme

resultados na Figura 5 mais de 80% relataram que “sempre” e “frequentemente” limpam a

casa para retirada da poeira, o que por sua vez reforça que o incômodo percebido esta

relacionado com aquilo que as pessoas estão vendo, neste caso a presença de poeira em casa.

Figura 5- Frequencia de limpeza da casa para retirada da poeira

Outras perguntas foram feitas com o proposito de avaliar as consequências da poluição do ar

na qualidade de vida da população através do que eles não fazem ou deixam de fazer devido à

presença da poeira sedimentada. As opções de respostas e o percentual de entrevistados que

responderam as perguntas foram compilados na Tabela 3. De acordo com os percentuais de

respostas “sim” a maioria relata “não deixar a janela aberta por causa da poeira”, “limpar ou

renovar a fachada da casa por causa da poeira”, “ não deixar as roupar secar fora de casa por

causa da poeira” e “ir ao médico ou posto de saúde por causa da poeira”. Observa-se também

que a presença de poeira não é um impeditivo para as pessoas “evitar frequentar locais

públicos” ou “limitar brincadeiras de crianças fora de casa”.

Tabela 3 - Consequencias da poluição da qualidade de vida

Resposta

Não deixar

as janelas

abertas

Limpar/

Renovar a

fachada da

residência

Não deixar

roupas secar

fora da casa

Ir ao médico/

posto de

saúde/

hospital

Evitar

freqüentar

locais públicos

(praças)

Limitar

brincadeira de

criança fora de

casa

Sim 185 76,4% 189 78% 138 57% 156 64,4% 93 38,4% 86 35,5%

Não 57 23,5% 51 21% 102 42% 86 35,5% 146 60,3% 141 58,2%

NS/NR - - 2 1% 2 1% - - 3 1,2% 15 6,1%

TOTAL 242 100% 242 100% 242 100% 242 100% 242 100% 242 100%

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A fim de aprofundar sobre os efeitos da poluição do ar na saúde perguntou-se sobre a

frequência de ocorrência de problemas de saúde causados pela presença de poeira Figura 6 (a)

e os principais de tipos de problemas de saúde apresentados Figura 6 (b). Observa-se que 65%

dos participantes afirmam que já tiveram problema de saúde causados pela presença de poeira

e a maioria relata problema de rinite, sinusite e alergias.

Figura 6- Frequencia de ocorrência de problemas de saúde e tipos

(a) (b)

3.5. Monitoramento da qualidade do ar

Para entender o quanto as pessoas são informadas sobre a qualidade do ar na região a seguinte

pergunta foi formulada: “O(A) Sr(a) acha que a qualidade do ar na sua região é monitorada?”.

As respostas apresentadas na Figura 7 (a) comprovam que 50% dos participantes responderam

que o monitoramento da qualidade do ar nunca é realizado e apenas 6% afirmaram que a

qualidade do ar é sempre monitorada. Ainda sobre o mesmo assunto, a seguinte pergunta foi

aplicada: “O(A) sr(a) consegue identificar alguma organização ou órgão que cuida do

monitoramento da qualidade do ar?”. Na Figura 7(b) as respostas mostram que apenas 9% dos

participantes da pesquisa disseram “sim” mas 80% “não” identificam o órgão responsa´vel

pelo monitoramento da qualidade do ar na região do estudo e 11% não sabem ou não

responderam a questão.

Figura 7- Sobre o monitoramento da qualidade do ar e o órgão responsável

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(a) (b)

4. Análise de correlação

A proposta desta seção é apresentar um modelo de inter-relações entre a variável “incomodo”

e as demais variáveis obtidas através da pesquisa de opinião, por exemplo, avaliação da

qualidade do ar, percepção da poeira, consequências da poluição, gênero, idade, etc.

Assim, fez necessário quantificar a relação entre estas variáveis através de uma escala

quantitativas: nada (1), pouco (2) moderado (3), muito (4) e extremamente (5), da mesma

forma para a variável gênero, masculino (1) e feminino (2) e assim para as demais variáveis.

As inter-relações propostas neste estudo compreendem uma adaptação da metodologia

adotada por Stenlund et al. (2009). O nível de incômodo foi tomado como aspecto central ao

qual foram associados os seus fatores determinantes, como é apresentado na figura 8.

Figura 8 - Modelo das inter-relações entre incômodo e seus fatores determinantes

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A tabela 4 a seguir apresenta os coeficientes de correlação de spearman ao nível de 95% de

confiança para as variáveis determinantes do incômodo causado pela poluição do ar. Vale

ressaltar que as variáveis que não apresentaram correlação significativa foram excluídas dessa

tabela 4. Observa-se que apesar dos valores serem aparentemente pequenos tais são

correlações significativas para α=0,001 e α=0,005, em destaque observa-se forte correlação

negativa entre a avaliação da qualidade do ar e o incômodo, evidentemente de se esperar uma

vez que se a população relata extremamente incomodada irá também avaliar a qualidade do ar

como péssima. Também correlação significativa entre ao incômodo e a percepção da poeira

retratando mais uma evidencia de que a poluição causada pelas partículas sedimentadas causa

incomodo.

Tabela 4 – Coeficientes de correlação entre as varáveis: Incomodo (I), Importância da

qualidade do ar (IM), Percepçao do risco (PR), Avaliação da qualidade do ar (AV), Percepção

da poeira (PP), Ocorrência de problema de saúde (OP), gênero (SEX) I IM AV PR PP OP

IM 0,12

AV -,218** -0,125

PR 0,153* 0,152* -0,43**

PP 0,205** 0,088 -,397** 0,333**

OP 0,103 0,055 -0,340** 0,329** 0,281**

SEX 0,168** 0,123 -0,068 0,142* 0,171** 0,181**

** Correlação significante α=0,001

* Correlação significante α=0,005

5. Conclusão

O objetivo deste artigo foi apresentar os resultados de uma pesquisa de opinião sobre o

incômodo causado pela poluição do ar e identificar variáveis determinantes do incômodo

através de análise de correlação. Para tanto foi conduzida uma pesquisa de opinião com

aplicação de questionário a 242 pessoas residentes em áreas próximas a indústrias

potencialmente poluidoras localizadas na região sul do estado do Espírito Santo.

Os resultados mostraram que esta população considera a qualidade do ar muito e

extremamente importante, no entanto avaliam a qualidade do ar na região como regular e ruim

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principalmente. Sobre a percepção do incômodo observou-se que mais de 80% dos

participantes se sentem incomodados com a poluição do ar. A intensidade do incômodo foi

medida por meio de uma escala de 1 a 5 sendo 1 – nada incomodado e 5 muito incomodado,

observou-se que a maioria dos participantes reporta muito e extremamente incomodados com

a poluição do ar.

Constatou-se que a poeira sedimentada é a principal causa de reclamação e ainda que as

indústrias foram identificadas como a principal fonte de poluição do ar na região. Sobre os

impactos e consequências da poluição da qualidade de vida verificou-se que a limpeza das

casas para retirada da poeira acontece sempre e frequentemente e ainda que as pessoas deixam

de fazer uma série de coisas por causa da presença de poeira, por exemplo não deixar as

janelas das casas abertas, não deixar as roupas secando fora de casa e ter que pintar a fachada

da casa por causa da poeira.

Sobre os efeitos na saúde foi possível perceber relatos de ir ao médico por causa de problemas

de saúde causados pela poeira e também que os principais problemas apresentados foram:

alergias, rinites e sinusites seguido de tosse, inflamação na garganta e ouvido.

A pesquisa de opinião permitiu ainda constatar que a população não tem informação sobre o

monitoramento e gestão da qualidade do ar. Cerca de 50% dos participantes afirmaram que a

qualidade do ar “nunca” é monitorada, e 80% responderam “não” conhecer o órgão que cuida

da qualidade do ar na região.

Por fim apresentou-se uma análise de correlação a fim de identificar inter-relações com as

variáveis descritas neste estudo, representados por aspectos pessoais, avaliação que a

população faz da qualidade do ar, percepção da poeira, percepção de risco à saúde e à

identificação das principais fontes de poluição atmosférica, dentre outras. Com base no

modelo empírico proposto verificou-se relação significativa entre o incômodo e gênero,

ocorrência de problemas na saúde, percepção da poeira, percepção do risco, avaliação e

importância da qualidade do ar.

Quanto aos casos em que não se verificou correlações é importante ressaltar que as inter-

relações obtidas neste estudo são baseadas apenas nas respostas dos participantes da pesquisa

sem verificar níveis de concentração de material particulado, taxas de poeira e fatores

meteorológicos medidos pelas estações de monitoramento presentes na região. Portanto, não

deve ser descartada a hipótese de que o incômodo pode advir de fatores combinados (níveis

de concentração de poluentes, aspectos meteorológicos, sociodemográficos e principalmente a

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percepção da população), o que deve ser considerado na definição de políticas públicas que

visem o controle da poluição e melhoria da qualidade do ar nesta região.

6. Referencias

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