AVALIAÇÃO DOS TEORES DE Br, Cl, K, Mg, Mn e V EM MEXILHÕES ...
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Estudo de viabilidade econômica para ostreicultura familiar em Pernambuco, Brasil. Lavander, H.D, Cardoso Júnior, L.O, Silva, L.O.B. da, Gàlvez, A.O.
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Estudo de viabilidade econômica para ostreicultura familiar em Pernambuco, Brasil.
Recebimento dos originais: 13/03/2012 Aceitação para publicação: 10/05/2013
Henrique David Lavander
Doutorando em Recursos Pesqueiros e Aquicultura. Instituição: Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Endereço: Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, Brasil. CEP: 52171-900.
E-mail: [email protected]
Leônidas Oliveira Cardoso Júnior Mestre em Recursos Pesqueiros e Aquicultura.
Instituição: Universidade Federal Rural de Pernambuco. Endereço: Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, Brasil.
CEP: 52171-900. E-mail: [email protected]
Luis Otavio Brito da Silva
Doutorando em Recursos Pesqueiros e Aquicultura. Instituição: Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA.
Endereço: Av. General. San Martin, 1371 - Bongi, Recife, PE, Brasil. CEP: 50761-000.
E-mail: [email protected]
Alfredo Olivera Gàlvez Professor Adjunto do Departamento de Pesca e Aquicultura.
Instituição: Universidade Federal Rural de Pernambuco. Endereço: Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, Brasil.
CEP: 52171-900. E-mail: [email protected]
Resumo O litoral de Pernambuco apresenta boas condições para o desenvolvimento do cultivo de ostras, mas a atividade ainda não se consolidou no Estado e região nordeste do Brasil, devido à ausência de planejamento para o setor aquícola, dificuldades de autogestão das comunidades de pescadores entre outros fatores. O Estudo de viabilidade econômica é uma ferramenta para construção de empreendimentos sustentáveis. Este estudo teve como objetivo contribuir com os avanços do cultivo de ostras, em escala familiar em Pernambuco, nordeste do Brasil. Dez famílias de pescadores artesanais de Barra de Catuama, cidade de Goiana, litoral norte do estado, participaram da elaboração do estudo de viabilidade econômica a partir da realidade local. Foram utilizadas as ferramentas da metodologia participativa como oficinas, para trabalhar os cálculos da analise econômica. Os resultados demonstraram que o cultivo de ostras realizado em escala familiar apresenta baixo custo inicial, com retorno do capital de dois anos e seis meses, podendo reduzir os custos da atividade através da organização coletiva, sendo uma alternativa de renda para pescadores artesanais da região.
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Palavras chave: Ostras, Maricultura, Extensão pesqueira.
1. Introdução
A crise global do setor pesqueiro tem afetado profundamente a qualidade de vida dos
povos do mar, especificamente a dos pescadores artesanais, devido ao esgotamento dos
estoques pesqueiros (Vinatea e Vieira, 2005). Segundo Grabowski et al (2007) devido as
escassez de ostras no ambiente de coleta, os pescadores norte-americanos tem migrado para
captura outras espécies de bivalves ou mesmo a procurar fontes alternativas de renda. Apesar
deste contexto, a demanda mundial por pescado tem aumentado a cada ano, sendo a
aquicultura uma alternativa viável, e de importância socioeconômico para as comunidades
pesqueiras, pois proporciona renda adicional, além de contribuir para fixação das populações
tradicionais nas áreas de origem (Moschen, 2007).
Em 2011 a aquicultura foi responsável por 63,6 milhões de toneladas de pescado,
representando 41,3% da produção mundial deste produto. Os moluscos representaram 75%
(13,9 milhões de toneladas) da produção aquícola mundial de águas marinhas. Já o Brasil
ocupou em 2010 o terceiro lugar dentre os países Americanos com uma produção aquícola de
479.339 toneladas (18,61%) (FAO, 2012). No Brasil, a produção de moluscos em 2010 foi de
15,6 mil toneladas, sendo que mais de 87% da malacocultura nacional é proveniente dos
cultivos de mexilhões, em Santa Catarina, seguido pelas ostras japonesas (exóticas) e vieiras
(MPA, 2012).
O cultivo de ostras no Brasil iniciou-se em 1971 em Salvador pela Universidade da
Bahia e a Universidade Federal de Santa Catarina. Já em 1974 foi introduzida no Brasil a
espécie Crassostrea gigas, atualmente a principal espécie cultivada de ostra. Em Pernambuco
o cultivo de ostras iniciou-se em 1974, com a implementação de cultivos de Crassostrea
rhizophorae pela SUDENE e a Universidade Federal Rural de Pernambuco no estuário do rio
São Lourenço (Olivera et al., 2006).
O cultivo de ostras se desenvolve principalmente em ambientes estuarinos e regiões
costeiras, utilizando diferentes métodos de cultivo (long line, balsas flutuantes e mesas fixas),
de acordo com a característica dos ambientes costeiros, condições ambientais e tradição local
(FAO, 2006). O Estado de Pernambuco tem grande potencial para o cultivo de ostras, pois
possui 14 estuários, onde podemos destacar o de Rio Formoso, Itapessoca e Maracaípe, que
possuem boas condições ambientais e sanitárias (Oliveira et al., 2006).
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Apesar de boas condições para implementações de cultivos de ostras em Pernambuco
está atividade ainda não se consolidou (Lavander et al., 2007). Segundo Sodré et al. (2008) a
atividade de maricultura dependente de políticas públicas especificas e assistência técnica que
englobem os aspectos social, ambiental, econômico e político, tornando assim a atividade
sustentável.
Além do potencial de crescimento das espécies é necessário uma avaliação economica
das atividades, fator este muitas vezes é negligenciado (Mendo et al., 2011), pois a produção
em escala comercial depende, sobretudo da viabilidade técnica e econômica, somando a
garantia de um mercado consumidor (Jeffs & Hooker, 2000; Grabowski et al., 2007).
Um estudo de viabilidade engloba dois aspectos, um aspecto relacionado com as
questões estritamente econômicas e outro em definir as relações que as pessoas envolvidas na
atividade vão estabelecer entre si (Kraychete, 1997). Além disso, deve-se ser respeitados e
aproveitados os conhecimentos tradicionais, pois modelos de desenvolvimento participativo,
no qual existem relações de trocas de saberes entre a comunidade técnico-científicas e
tradicionais tende ao sucesso, enquanto que modelos nos quais há a exclusão de um desses
atores sociais tendem ao fracasso (Sodré et al., 2008). Pois as atividades econômicas
realizadas pelas diferentes organizações populares envolvem riscos de acerto e de erros.
O estudo de viabilidade é uma análise detalhada, que tem dois objetivos básicos.
Identificar e fortalecer as condições necessárias para a atividade dar certo e tentar neutralizar
os fatores que podem dificultar as possibilidades de êxito (Kraychete, 1997). Por isso é
essencial que o estudo de viabilidade seja feito antes de se iniciar qualquer atividade.
Uma análise bioeconomica, é considerada uma ferramenta útil para fornecer
informações para os cultivos pilotos, em buscas de condições ideais (Shang, 1986;
Hernandez-Llamas, 1997). Alguns estudos econômicos já foram realizados visando analisar a
viabilidade de cultivo ou o custo de produção de projetos na aquicultura (Fagundes et al.,
1997; Pereira et al., 1998; Manzoni, 2005; Moschen, 2007; Nascimento et al., 2008;
Henriques et al., 2011). Entretanto existe uma carência de estudos referentes à viabilidade
econômica de empreendimentos aquicolas na região nordeste do Brasil, precisamente do
cultivo de ostras em comunidades tradicionais.
Diante deste contexto, o presente estudo teve por objetivo avaliar através da gestão
democrática e participativa a viabilidade econômica do cultivo de ostras familiar em
Pernambuco, Brasil.
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2. Materiais e Métodos
O estudo foi realizado entre Setembro e Dezembro de 2010 com dez famílias de
pescadores e aquicultores, composto por doze mulheres e nove homens, com faixa etária de
23 a 65 anos, sendo 76% deste grupo com experiência no cultivo de ostras e apenas 24% não
possuíam experiência nesta atividade. Todos os entrevistados pertencem a Colônia de
Pescadores Z-03 de Barra de Catuama, localizada no município de Goiana, litoral norte do
Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil.
Para o levantamento de dados sobre a viabilidade econômica da ostreicultura familiar foram
realizadas diferentes etapas (Figura 1):
• Apresentação da proposta de trabalho;
• Reuniões, onde foram discutidos quais equipamentos e materiais são necessários
para se cultivar ostras nas condições locais (estuário do rio Itapessoca 7°40'48,95"
S e 034°50'18,54" O); qual o investimento inicial para implantação da atividade;
depreciação dos equipamentos e materiais; custos da atividade; determinação da
forma de trabalho (grupal ou individual); comercialização do produto final;
• Entrevistas com os pescadores artesanais e aquicultores;
• Levantamento histórico da atividade na região, através de bibliografias e relatos
dos próprios pescadores artesanais;
• Levantamento dos custos e receitas da produção de ostras;
• Intercâmbio de produtores e técnicos para conhecer outros cultivos de ostras e suas
experiências em organizações comunitárias no Brasil.
Figura 1: Fluxograma da metodologia aplicada.
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Para facilitar o entendimento dos pescadores e aquicultores sobre as definições
utilizadas em analise econômicas utilizou-se a metodologia da Instituição de Cooperação e
Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa – CAPINA, (Kraychete, 1997), onde os cálculos
foram demonstrados através de exemplos práticos encontrados na própria atividade de
maricultura, pesca ou do cotidiano das famílias.
Para o cálculo do custo de produção, considerou-se a estrutura do custo operacional de
produção utilizada pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), proposta por Matsunaga et al.
(1976), o qual se compõe de:
Custo operacional efetivo (COE) – são os custos referentes apenas aos gastos
realizados na condução da atividade.
Custo operacional total (COT) – corresponde ao custo operacional efetivo mais os
custos correspondentes à mão de obra do sistema produtivo, depreciação da unidade produtiva
e dos equipamentos.
Custo total de produção (CTP) – é o somatório do COE e COT.
Os indicadores de lucratividade utilizados no trabalho foram os considerados por
Martin et al. (1997):
Receita Bruta- é determinada pelo preço de venda das ostras multiplicado pela
respectiva quantidade vendida, consumida ou estocada.
Índice de Lucratividade – é a comparação do valor presente das entradas de caixa
futuras com investimento inicial.
Para a análise da viabilidade econômica do investimento, foi montado um fluxo de
caixa, refletindo os valores das entradas e saídas dos recursos e produtos. A partir dos fluxos
de caixa foi determinada:
Valor Presente Líquido (VPL) - é um método de análise de orçamento de capital,
através das entradas e saídas de caixa que são traduzidas para valores monetários atuais,
podendo ser comparadas ao investimento inicial.
Taxa Interna de Retorno (TIR) - é a taxa de desconto igual ao valor dos fluxos de
caixa futuro ao investimento inicial de um determinado projeto.
Pay Back descontado - é o período de tempo necessário para recuperar o investimento,
considerando-se o valor do dinheiro no tempo.
Benefício-Custo para o produtor (B/C) - é a razão entre o fluxo esperado de benefícios
da produção de ostras e o fluxo de investimentos necessários para sua realização.
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Os cálculos de produção foram baseados na produção familiar para duas unidades
produtivas (Figura 2). Cada unidade produtiva (6 m x 1m) e composta de estruturas
retangulares fixas, de madeira, onde são colocados os doze travesseiros de telas plásticas (0,5
m x 1,0 m cada), conhecido como cultivo em camas (Figura 3).
O primeiro ciclo de cultivo inicia-se com 4000 sementes de ostras, e permanecem em
um único travesseiro por um mês. Nesta fase foi atribuída uma mortalidade de 30%, assim no
segundo mês o travesseiro permanece com 2800 sementes, a partir desta etapa a mortalidade
será de 5% a cada mudança de fase (repicagem). No terceiro e quarto mês as ostras passam
para dois travesseiros com 1330 ostras cada, no quinto e sexto mês o cultivo passa a ter oito
travesseiros com 315 ostras, e nesta fase inicia-se o povoamento da segunda cama com as
mesmas densidades.
Ao atingir o sétimo e oitavo mês de cultivo a primeira cama passa a ser totalmente
ocupada com doze travesseiros contendo 200 ostras cada. No nono e décimo mês os doze
travesseiros permanecem com 190 ostras e 180 no décimo primeiro mês. A primeira
comercialização será no décimo segundo mês, onde o aquicultor poderá vender três
travesseiros com 180 ostras cada. Ainda nesta etapa já se inicia o novo povoamento da
primeira cama. Os nove travesseiros restantes são comercializados nos três meses seguintes,
três travesseiros por mês, assim ao finalizar o primeiro ciclo de cultivo, no mês seguinte já se
inicia a comercialização das ostras cultivadas na segunda cama, pois estas foram povoadas
durante o quinto mês de cultivo da primeira cama.
Este sistema permite-se explorar as áreas de variação da maré, reduzindo possíveis
competidores, parasitas, e algas periféricas (Modesto et al., 2010). Além destas vantagens, a
comunidade já tem experiência neste modelo de produção, que também exige capital inicial
de investimento menor quando comparado ao sistema de cultivo utilizando longline ou balsa.
Outra vantagem do sistema de cama é a possibilidade de instalação em locais de fácil acesso,
pouca profundidade, geralmente nas margens dos estuários ou em gamboas, facilitando o
manejo das ostras.
Os preços médios referem-se ao mês de dezembro de 2012 e foram coletados na região
em Real (R$); os dados de produção são estimativas de produção anual para implementação
em janeiro de 2013. Para remuneração do capital fixo utilizou-se a taxa de 6% a.a (poupança
bancária) e a taxa mínima de atratividade (TMA), neste caso, foi à taxa usual de desconto de
10% ao ano.
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Figura 2: Descrição do modelo proposto para duas camas de cultivo de ostras em
módulo familiar no litoral norte de Pernambuco, Brasil.
Figura 3: Estrutura de cultivo de ostras do tipo cama.
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3. Resultados e Discussão
O capital total necessário para produção de ostras em duas unidades produtivas de 6m2
no estuário do rio Itapessoca é da ordem de R$ 5.771,40, incluídos a taxa de licenciamento
ambiental. O maior investimento foi no valor de R$ 1.996,00 (34,58%) referente à aquisição
dos equipamentos como exemplo luvas, roupas, coletes, monobloco, facas e etc (Tabela 1).
O estudo demonstra que a confecção dos materiais de cultivo pelos próprios
maricultores, além da utilização coletiva de equipamentos como lavadora de pressão e o
motor da pequena embarcação contribui para reduzir o valor de investimento inicial da
atividade. Os equipamentos para o manejo do cultivo de ostras foram selecionados
especificamente com caráter de proteção individual, a fim de minimizar os riscos de acidentes
na atividade. O grupo identificou que a escolha de bons materiais para o manejo pode
influenciar na produção, pois materiais como sapatilha, camisa de manga longa e chapéu,
protegem o trabalhador durante a atividade, principalmente dos raios solares.
O manejo do cultivo deve ser realizado periodicamente, pois cada local apresenta
necessidades especificas devido aos índices de incrustações de organismos, taxas de
crescimento e mortalidade, predação, entre outros fatores. Estes fatores também influenciam
no tempo de vida útil de cada equipamento.
Tabela 1: Estimativa do custo de implantação de duas unidades produtivas de ostras nativas (Crassostrea rhizophorae) em sistema de cultivo fixo do tipo cama no estuário do rio Itapessoca, litoral norte de Pernambuco. Itens Valor R$ (dezembro de 2012) % *Elaboração do Projeto 76,40 1,32 **Taxa de Licenciamento Ambiental 600,00 10,39 Mesas com travesseiros (6 m2) 1.824,00 31,60 Baiteira a remo (2 m de comprimento) 1.000,00 17,32 ***Motor de rabeta 6,5HP 125,00 2,16 ***Lavadora de pressão 150,00 2,59 Equipamentos diversos 1.996,00 34,58 Total 5.771,40 100% *Elaboração do projeto taxa de 2% do valor total do investimento inicial (Empresa Estadual de Assistência Técnica), excluído o valor do licenciamento ambiental. ** Taxa de licenciamento ambiental do CPRH para o exercício de 2013, ***Valor dividido por dez famílias.
Os insumos (sementes de ostras, combustível e lubrificantes) representaram 1,1% (R$
600,00) do COT. Enquanto a depreciação e o pró-labore foram os itens de maior despesa com
um valor de R$ 4.200, representando 87,4% do COT (Tabela 2).
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Na ostreicultura existem duas possibilidades na atividade, adquirir as sementes no
ambiente natural, sem custo adicional ou comprar sementes produzidas em laboratórios
comerciais. O grupo decidiu inicialmente comprar sementes de laboratório comerciais e
futuramente adquirir as sementes no ambiente natural, através de coletores artificiais de
garrafas PET nas proximidades do cultivo.
Tabela 2. Estimativa do custo operacional de produção de ostras nativas (Crassostrea
rhizophorae) em sistema de cultivo de mesa no estuário do rio Itapessoca, litoral do norte de Pernambuco. (valores em R$ em dezembro de 2012). Descrição Duas unidades produtivas (6 m x 1m) Mão de Obra1 - Insumos 600,00 Custo Operacional efetivo (COE) 600,00 Depreciação2 1.146,15 Assistência Técnica - Pró-labore 3.600,00 Outras despesas3 30,00 Juros de custeio 18,00 Custo Operacional Total (COT) 5.394,15 Remuneração ao investimento 36,00 Custo Total Operacional (CTP) 5.430,15 Custo Operacional por Unidade4 1,77 1mão de obra familiar 2Itens deprecativos variando entre 2 e 6 anos. 3Refere-se a 5% do COE.
4Refere-se ao COT sobre a produtividade estimada de ostras.
Os coeficientes técnicos da produção de ostras com o preço de venda de R$ 2,20 a
unidade, demonstram que o pay back é de dois anos e nove meses, com uma receita liquida
anual de R$ 1.301,85, já retirado o valor de R$ 3.600 de pró-labore. Além de uma VLP de R$
5.761,73 no período de 10 anos (Tabela 3). Com estes resultados podemos inferir que a
ostreicultura no litoral norte, especificamente em Barra de Catuama é uma alternativa
promissora de renda para as populações ribeirinhas, onde as instalações de cultivo podem ser
adquiridas com recurso do PRONAF, com juros subsidiados.
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Tabela 3: Rentabilidade estimada produção de ostras nativas (Crassostrea rhizophorae) em sistema de cultivo de cama no estuário do rio Itapessoca, litoral norte de Pernambuco. (valores em R$ em dezembro de 2012). Itens Duas unidades produtivas (6 m x 1m) Produção 3.060 ostras Preço de venda R$ 2,20 Receita Bruta R$ 6.732,00 Custo Total R$ 5.430,15 Receita Liquida R$ 1.301,85 Índice de Lucratividade 19,34% Produção de equilíbrio1 2.468 ostras Preço de custo2 R$ 1,77 Pay back descontado 2,93 VPL R$ 5.761,73 TIR 26% B/C 3,41 1Volume mínimo de produção (Kg) para cobrir os custos de produção (Custo total/preço); 2Preço mínimo de venda, para coberturas dos custos de produção (custo total/produção).
Os índices de rentabilidades obtidos para o cultivo de ostra no estuário do rio
Itapessoca são bastante promissores, principalmente quando comparamos com locais que já
tem produção de ostras em escala comercial como por exemplo: região de Florianópolis
(Rodrigues et al., 2007); estuário de Cananéia, São Paulo (Henriques et al., 2010) e também
em relação a outros cultivo de bivalves como por exemplo os mexilhões em Ubatuba, São
Paulo (Assis, 2011). Já para a região nordeste do Brasil, Gomes et al. (2008) observaram uma
B/C de 1,4 e um índice de rentabilidade superior ao da poupança.
Em relação a comercialização as ostras provenientes da pesca artesanal, em geral
apresentam menor tamanho e maior risco à saúde do consumidor. Consequentemente
apresentam valores entre R$ 0,20 a 1,00 a unidade. Já as ostras oriundas dos cultivos são
comercializadas após passarem por um processo de depuração, que é um dos métodos de
purificação amplamente utilizado e mantêm os moluscos bivalves vivos. Este processo baseia-
se na capacidade de filtração dos moluscos, considerando que naturalmente serão eliminados
os microrganismos de seus tecidos, podendo ser realizado em tanques com água marinha ou
em ambiente natural monitorado (Richards, 1988), além de ser necessário em caso de
contaminação dos moluscos, acaba agregando valor ao produto final. As ostras de cultivo
apresentam valores próximos a R$ 2,50 quando comercializadas nas praias e entre R$ 3,00 a
6,00 em restaurantes.
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4. Conclusões
A ostreicultura familiar apresenta baixo custo inicial, e pode ser uma alternativa de
renda para pescadores artesanais. Os índices de rentabilidade VPL de R$ 5.761,73 e a TIR
26%, obtidos por um período de 10 anos demonstram a viabilidade econômica do cultivo de
ostra em modelo familiar.
O tempo necessário para retorno do capital e de dois anos e seis meses. Podem-se
reduzir os custos da atividade através da organização coletiva. Entretanto o uso coletivo dos
meios de produção pode trazer conflitos para o grupo, se os envolvidos não respeitarem os
acordos pré-estabelecidos.
Sugere-se que a formação de cooperativas, visto que a atividade é dependente dos
fatores ambientais, tecnológicos e econômicos.
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Agradecimentos
Aos pescadores e aquicultores de Barra de Catuama, ao Projeto Gente da Maré – GDM
realizado pela World Fisheries Trust e Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, e a equipe
da Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa – CAPINA.