ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS …...CMC Comunicação Mediada por Computador ELIS Everyday...

125
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO JAMILLE MICHELE XAVIER NOGUEIRA ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS NA INTERNET: UMA ETNOGRAFIA VIRTUAL NA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS NATAL/RN 2018

Transcript of ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS …...CMC Comunicação Mediada por Computador ELIS Everyday...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO

CONHECIMENTO

JAMILLE MICHELE XAVIER NOGUEIRA

ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS NA

INTERNET: UMA ETNOGRAFIA VIRTUAL NA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS

NATAL/RN

2018

JAMILLE MICHELE XAVIER NOGUEIRA

ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS NA

INTERNET: UMA ETNOGRAFIA VIRTUAL NA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS

Dissertação de mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento.

Área de Concentração: Informação na Sociedade Contemporânea

Linha de Pesquisa: Gestão da Informação e do Conhecimento.

Orientadora: Profa. Dra. Kênia Beatriz Ferreira Maia

NATAL/RN

2018

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Nogueira, Jamille Michele Xavier. Estudo de usuários da informação nas redes sociais na internet: uma etnografia virtual na fanpage do TVU notícias / Jamille Michele Xavier Nogueira. - 2019. 124f.: il. Dissertação (Mestrado em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro do Ciência Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento. Natal, RN, 2019. Orientador: Profª. Dra. Kênia Beatriz Ferreira Maia. 1. Gestão da informação e do conhecimento - Dissertação. 2. Estudo de usuários - Dissertação. 3. Usuários da informação - Dissertação. 4. Redes sociais - Internet - Dissertação. 5. Comportamento informacional - Dissertação. I. Maia, Kênia Beatriz Ferreira. II. Título. RN/UF/CCSA CDU 025.5:004.738.5

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404

JAMILLE MICHELE XAVIER NOGUEIRA

ESTUDO DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS NA INTERNET: UMA ETNOGRAFIA VIRTUAL NA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Kênia Beatriz Ferreira Maia

Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Prof. Dr. Fernanda Ariane Silva Carrera

Avaliadora Externa

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Prof. Dr. Luciana de Albuquerque Moreira

Avaliadora Interna

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

NATAL/RN

2018

A Antonio e Paola. Para que nunca desistam.

Resistam, perseverem.

AGRADECIMENTOS

Descobri que estava grávida do meu segundo filho antes do início do

segundo semestre de aulas desse mestrado. Minha filha mais nova era apenas um

bebê. Essa dissertação nasceu e se desenvolveu em meio a uma gestação, a um

puerpério, ao primeiro ano de uma criança e às atribulações da chegada de um

irmão mais novo para outra. Concluir a pós-graduação em meio a tantos eventos, e

após anos afastada das cadeiras da academia, se fez ainda mais desafiador. Mas

eu consegui. E reconheço que, apesar de todo o esforço, eu sou privilegiada. Contei

com uma rede de apoio que me acalentou, amparou e me deu a oportunidade de

seguir com meus objetivos adiante.

Por isso, agradeço a todos os que se fizeram presentes ao longo desses

últimos dois anos.

Agradeço especialmente ao meu marido, Tarso, parceiro de vida, pai

amoroso que, mesmo também concluindo seu mestrado, esteve sempre ao meu

lado, dividindo as madrugadas insones para cuidar do bebê e se esforçando para

amenizar a minha ausência junto às crianças.

Aos meus pais, Manoel e Julieta, sempre tão disponíveis.

À minha turma do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e

do Conhecimento (PPGIC), pelo aprendizado conjunto, pelos conselhos, orientações

e risadas. Vocês foram essenciais nessa jornada. Niomar, amiga, obrigada por me

escutar, por me fazer sorrir e tornar as coisas mais leves.

A todos os professores do PPGIC pelos conhecimentos compartilhados.

À professora Kênia Maia, pela orientação.

Às professoras Fernanda Carrera e Luciana Moreira, pela atenção ao

convite para compor a banca examinadora e compreensão quanto às limitações dos

meus prazos.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que tem sido meu abrigo

há 15 anos, desde a graduação no curso de Jornalismo e onde hoje atuo como

servidora, pela oportunidade de retornar aos estudos e crescer pessoal e

profissionalmente.

Aos meus colegas da Redação de Jornalismo da TVU, especialmente Iano,

Jadir e Laiza, pela compreensão e apoio, mesmo com tanta ausência da minha

parte.

Shirley, Laiza, não tenho como agradecer tanta boa vontade na reta final

deste trabalho. Que a vida seja sempre gentil com vocês.

Tom, meu menino, obrigada por tornar esse caminho mais divertido e

colorido. Você foi meu balizador. Cada gracinha, cada nova descoberta sua era um

novo fôlego, novo ânimo para continuar a caminhada. Você e sua irmã são minha

maior motivação para buscar ser sempre melhor.

À Paola. Filha, desde tão pequena você me ensina tanto. Tão paciente, tão

compreensiva. Obrigada por entender, de forma tão amável, todas as vezes em que

a mamãe não podia brincar porque tinha que estudar, além de ter que dividir a

atenção com seu irmãozinho. Foi um período difícil, eu sei. Mas nós conseguimos,

meu amor. Juntas nós sempre conseguiremos. O esforço compensa, minha menina.

RESUMO

Essa dissertação tem o objetivo de fazer um estudo de usuários da informação a

partir de bases teóricas presentes no conceito do comportamento informacional e de

práticas informacionais. Essas duas perspectivas se sustentam, respectivamente,

nos paradigmas cognitivo e social da Ciência da Informação. Caracteriza-se como

uma pesquisa qualitativa e descritiva, na qual se aplica a técnica da etnografia

virtual, amparada pelos instrumentos da observação participante, entrevistas

semiestruturadas e levantamento de dados estatísticos. O campo empírico é a

fanpage do TVU Notícias no Facebook, considerando que os usuários da informação

se fazem cada vez mais presentes nesses ambientes não-físicos. Dessa forma,

teve-se como objetivo analisar os aspectos relacionados ao comportamento

informacional, além de evidenciar elementos das ações dos usuários da informação

que condizem com a abordagem socioconstrutivista, emergente como terceiro

paradigma dos estudos de usuários no campo da Ciência da Informação. Os

resultados da investigação foram analisados a partir da análise categorial de

conteúdo, conforme Bardin. Foram elencadas quatro categorias finais, condizentes

com elementos do comportamento e das práticas informacionais: reconhecimento da

necessidade de informação, busca da informação, uso da informação, além da

interação dos usuários. Como resultados têm-se que os usuários utilizam a fanpage

como fonte de informação, o que é proporcionado especialmente pela característica

da convergência na rede social na internet. A relação dos sujeitos com a informação

não ocorre sempre devido a uma necessidade explícita ou um estado anômalo de

conhecimento. Em muitos casos, não há um problema a se resolver.

Consequementemente, o usuário não faz uma busca efetiva de informação para

solucionar um problema específico. Entende-se que o ambiente estudado se faz

interativo e o sujeito pode se deparar casualmente com a informação ou buscá-la

por simples prazer ou curiosidade. Além disso, foi evidenciado o elemento

sociabilidade como fundamental nessa relação usuário-informação e na construção

do conhecimento. Por fim, esboçou-se algumas recomendações de aplicabilidade

das constatações para melhorias e adequações na fanpage do TVU Notícias.

Palavras-chave: Usuários da informação. Redes sociais na internet.

Comportamento informacional. Práticas informacionais.

ABSTRACT

The research deals with a study of information users from the theoretical bases

present in the concept of informational behavior and informational practices. These

two perspectives are based, respectively, on the cognitive and social paradigm of

Information Science. It is characterized as a qualitative and descriptive research,

applied through the technique of virtual ethnography, supported by the instruments of

participant observation, semi-structured interviews and statistical data collection. The

empirical field is the fanpage of TVU Notícias on Facebook, considering that

information users are becoming more and more present in these non-physical

environments. In this way, the objective was to analyze aspects related to

informational behavior, as well as evidence elements of the actions of information

users that match the socioconstructivist approach, emerging as the third paradigm of

user studies in the field of Information Science. The results of the investigation were

analyzed from the categorial content analysis, according to Bardin. Four final

categories were listed, consistent with elements of behavior and information

practices: recognition of the need for information, search, use of information, and

user interaction. As a result, users use fanpage as a source of information, which is

especially provided by the convergence characteristic of the social network on the

internet. The relationship of subjects with information does not always occur due to

an explicit need or an anomalous state of knowledge. There is not always a problem

to be solved that demands the user's effective search for information to solve it. It is

understood that the studied environment becomes interactive and the subject may

come across casually with the information or seek it for simple pleasure or curiosity.

In addition, the sociability element was evidenced as fundamental in this relation

between user-information and the construction of knowledge. Finally, some

recommendations for the applicability of the findings for improvements and

adaptations in TVU Notícias fanpage were outlined.

Keywords: Information Users. Social networking on the internet. Informational

behavior. Informational Practices.

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - ALGUMAS DEFINIÇÕES DE ESTUDOS DE USUÁRIOS ..................................... 25

QUADRO 2 - MUDANÇAS NO PANORAMA DE ESTUDOS DE USUÁRIOS .............................. 29

QUADRO 3 - RECOMENDAÇÕES DE ACORDO COM OS ELEMENTOS DE COMPORTAMENTO E

PRÁTICAS INFORMACIONAIS ANALISADOS ..................................................................... 106

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - MODELO DO ESTADO ANÔMALO DO CONHECIMENTO ................................... 33

FIGURA 2 - MODELO DO COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DE WILSON (1981) ........... 35

FIGURA 3 - MODELO GERAL DO COMPORTAMENTO INFORMACIONAL REVISADO DE

WILSON (1996) .............................................................................................................. 36

FIGURA 4 - MODELO GERAL DO COMPORTAMENTO DE PROCURA POR INFORMAÇÃO DE

WILSON REVISADO ......................................................................................................... 37

FIGURA 5 - METÁFORA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DE DERVIN ...................... 38

FIGURA 6 - MODELO DE COMPORTAMENTO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO PROPOSTO POR

ELLIS.............................................................................................................................. 40

FIGURA 7 - MODELO DO PROCESSO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO (INFORMATION SEARCH

PROCESS – ISP) DE CAROL KUHLTHAU ......................................................................... 41

FIGURA 8 - MODELO BIDIMENSIONAL DE PRÁTICAS INFORMACIONAIS DE MCKENZIE....... 46

FIGURA 9 - MODELO ELIS ............................................................................................. 42

FIGURA 10 - FANPAGE DO JORNAL NACIONAL ............................................................... 59

FIGURA 11 - PÁGINA INICIAL DE ACESSO AO FACEBOOK ................................................ 60

FIGURA 12 – FANPAGE TVU NOTÍCIAS NO FACEBOOK .................................................. 66

FIGURA 13 - CAPTURA DE TELA DE COMENTÁRIO EM PUBLICAÇÃO NA FANPAGE DO TVU

NOTÍCIAS ....................................................................................................................... 76

FIGURA 14 - CAPTURA DE TELA DE NOTIFICAÇÃO RECEBIDA NO SMARTPHONE SOBRE

MOVIMENTAÇÃO NA PÁGINA DO TVU NOTÍCIAS NO FACEBOOK....................................... 77

FIGURA 15 - GIF PUBLICADO NA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS NO MÊS DE FEVEREIRO ... 79

FIGURA 16 - CAPTURA DE TELA DE PUBLICAÇÃO DE REPORTAGEM COM POLÊMICA SOBRE

PROFESSOR DA UFRN E COMENTÁRIOS DOS USUÁRIOS ................................................ 80

FIGURA 17 - USUÁRIOS FAZEM "VOMITAÇO EM PUBLICAÇÃO SOBRE A VISITA DE JAIR

BOLSONARO A NATAL .................................................................................................... 79

FIGURA 18 - DADOS DEMOGRÁFICOS AGREGADOS DE PESSOAS QUE CURTIRAM A

FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS COM BASE NAS INFORMAÇÕES DE IDADE E GÊNERO

DISPONÍVEIS EM SEUS PERFIS DE USUÁRIO..................................................................... 85

FIGURA 19 - DADOS DEMOGRÁFICOS DOS SEGUIDORES DA FANPAGE DO TVU NOTÍCIAS

...................................................................................................................................... 85

FIGURA 20 - HORÁRIOS DE MAIOR ALCANCE DAS PUBLICAÇÕES .................................... 86

FIGURA 21 -NÚMEROS DE COMENTÁRIOS NAS PUBLICAÇÕES ORIGINAIS NA FANPAGE E

NAS COMPARTILHADAS PELOS USUÁRIOS ....................................................................... 83

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGECOM Agência de Comunicação da UFRN

ARIST Annual Review of Information Science and Technology

CI Ciência da Informação

CMC Comunicação Mediada por Computador

ELIS Everyday Life Information Seeking

ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação

ISIC Information Seeking in Context

ISP Information Search Process

SACI Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares

SRS Sites de Redes Sociais

TI Tecnologia da Informação

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

TVU Televisão Universitária do Rio Grande do Norte

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15

1.1 Objetivos ............................................................................................................. 19

1.2 Justificativa ......................................................................................................... 19

1.3 Organização do trabalho ................................................................................... 22 2 ESTUDOS DE USUÁRIOS ..................................................................................... 24 2.1 Abordagem tradicional ...................................................................................... 26 2.2 Abordagem alternativa ...................................................................................... 27

2.2.1 Modelos de comportamento informacional ..................................................... 32

2.3 Práticas informacionais como estudo de usuários ....................................... 41

2.3.1 O paradigma social e a abordagem interacionista .......................................... 44

3 REDES SOCIAIS E NOVAS FORMAS DE RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO 49

3.1 As redes sociais na internet ............................................................................. 51 3.1.1 Interação, interatividade e convergência ......................................................... 53

3.2 Facebook: além da produção e do consumo de informações ..................... 59

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 63

4.1 Caracterização da pesquisa .............................................................................. 63 4.2 Locus da pesquisa ............................................................................................. 64 4.2.1 TVU Notícias .................................................................................................... 64

4.2.2 Fanpage do TVU Notícias ............................................................................... 65

4.3 Procedimentos de coleta................................................................................... 67

4.3.1 Etnografia Virtual ............................................................................................ 67

4.4 Procedimento de análise ................................................................................... 71 4.4.1 Análise de conteúdo .......................................................................................... 71

5 ETNOGRAFIA NA PRÁTICA ................................................................................ 73

5.1 A coleta de dados na etnografia ..................................................................... 75

5.2 O que se observou ............................................................................................ 78

5.3 Levantamento de dados estatísticos .............................................................. 84

5.4 A entrevista ......................................................................................................... 88

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 91

7 RECOMENDAÇÕES .............................................................................................104

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................108

REFERÊNCIAS ........................................................................................................114

APÊNDICE ...............................................................................................................123

15

1 INTRODUÇÃO

O estudo de usuários da informação tem grande tradição, com as primeiras

pesquisas iniciadas ainda na década de 1930. Nascidos de uma necessidade prática

- a investigação de uso de bibliotecas - os estudos de usuários evoluíram e, ao longo

do desenvolvimento científico, passaram a se relacionar com várias áreas do saber,

além da Biblioteconomia, como a Comunicação, Psicologia, Administração,

Educação, Linguística, Informática, Estatística, Sociologia e Antropologia.

O termo “usuário” talvez seja um dos mais conhecidos e disseminados nos

estudos teóricos e práticos das áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação

(CI), e refere-se tanto aos sujeitos utilizadores dos serviços e produtos oferecidos

pelas unidades de informação, quanto aos sujeitos que, independente de

frequentarem essas unidades, acessam e usam a informação em seus diferentes

suportes e nos mais diferentes canais (CORRÊA, 2014).

Atualmente - com a crescente valorização da informação enquanto um ativo

nas organizações - tem-se reconhecido cada vez mais os estudos de usuários da

informação, uma vez que se constituem em uma importante ferramenta de gestão, já

que permitem identificar prioridades e parâmetros para decidir onde e como aplicar

esforços para o aprimoramento dos fluxos de informação. Na área científica, esses

estudos têm diversos conceitos. Dessa forma, como aqui não se busca analisar

somente questões objetivas, atemo-nos ao proposto por Sueli Amaral (2014), que

entende como um campo interdisciplinar que,

A partir da aplicação de diferentes métodos e técnicas de pesquisa, possibilita a análise dos fenômenos sociais e humanos relacionados com os diversos aspectos e características da relação do usuário com a informação em suas ações, comportamentos e práticas informativas (AMARAL, 2014, p. 36).

No campo da Ciência da Informação, o estudo de usuários tem grande

tradição e diferentes abordagens. Originalmente, tem-se a abordagem tradicional,

mais voltada ao uso da informação, com visão mais funcionalista. Em seguida, os

estudos voltaram-se aos usuários, sendo denominados de abordagem alternativa ou

estudo do comportamento informacional. Mais recentemente e ainda em

consolidação, o estudo das práticas informacionais suscita os aspectos sociais dos

16

sujeitos em relação à informação, evidenciando, especialmente, a construção social

do conhecimento e elementos como a interação e a sociabilidade.

Atualmente, com a evolução das tecnologias, como a internet - e a

convergência com outros aparatos - modificou-se a forma como os indivíduos se

relacionam com a informação. Portanto, é imprescindível considerar os diversos

ambientes onde está a informação e seus usuários - inclusive os não-físicos, como o

ciberespaço, que é um “novo meio de comunicação que surge da interconexão

mundial de computadores” (LÉVY, 2003, p. 17).

Entre as alterações fundamentais da sociedade contemporânea temos os

novos processos de produção, disseminação e consumo de informação, além das

novas possibilidades de sociabilização. As ferramentas de comunicação mediada

por computador (CMC) permitem a construção e manutenção de formas sociais que

só existem quando os seus membros estão conectados, mesmo que não estejam

simultaneamente online, conforme explica Recuero (2009, p.24):

Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros.

Na internet, as redes sociais são metáforas para as relações que ocorrem

através da mediação do computador. Nesse conceito, as redes sociais na internet

podem ser entendidas como a manifestação das relações sociais e suas conexões

ali expressas, incluindo as ações diretamente ligadas à informação.

Atualmente, a internet dispõe de diversas mídias e redes sociais para os

mais distintos públicos e com as mais diversas finalidades. Entre eles, destaca-se a

rede com o maior número de participantes do mundo, o Facebook, que

contabilizava, nos primeiros meses de 2018, mais de dois bilhões de usuários.

As redes sociais online alteram também as narrativas dos meios tradicionais

de comunicação. Possibilitadas pela convergência e visando a interação e

interatividade, hoje é quase uma regra que os veículos de comunicação tradicionais

façam uso das mídias e redes sociais online para se manterem mais próximos do

seu público. É o caso das fanpages no Facebook, que se configuram como uma

opção para que os espectadores tenham acesso ao conteúdo produzido para o meio

17

tradicional e possam também interagir entre si e com o próprio meio de

comunicação.

Dentro desse contexto, temos a TV Universitária da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte (TVU), que integra, desde 1999, a estrutura da

Superintendência de Comunicação da UFRN, unidade suplementar da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. Com a criação da Empresa Brasil de Comunicação

do Governo Federal (EBC), em 2007, a TV Universitária passou a integrar a Rede

Nacional de Comunicação Pública (RNCP/TV), formada por emissoras públicas do

todo país.

A TVU também se utiliza de um espaço virtual, com uma página no

Facebook, onde são postadas as reportagens diárias veiculadas no telejornal TVU

Notícias, transmitido em canal aberto para a cidade de Natal e região metropolitana.

A fanpage do TVU Notícias reúne mais de nove mil seguidores (como são

denominadas as pessoas inscritas na página), que recebem todas as publicações ali

postadas e podem, no mesmo ambiente - além de ter acesso à informação - interagir

com outros indivíduos ou com o próprio sistema.

À luz da Ciência da Informação, esses indivíduos são compreendidos como

usuários da informação, conforme a definição de Pérez Giffoni e Sabelli De Louzão

(2010, p.20):

Pessoa relacionada, real ou potencialmente, com o recurso informação; ator social de uma realidade em mudanças e conflitos constantes; indivíduo que, com toda sua subjetividade, capital cultural e visão da realidade, se constrói socialmente no encontro com o outro em relação dialética com o mundo em que está.

A partir do que foi posto, neste trabalho é realizado um estudo de usuários

baseado nos conceitos de duas abordagens: comportamento informacional e

práticas informacionais. A primeira se baseia no paradigma cognitivo e, a segunda,

no paradigma social ou sociocultural da Ciência da Informação, tendo como campo

empírico a rede social na internet, no caso, a fanpage do TVU Notícias no Facebook.

Na teoria sobre comportamento informacional compreende-se que o

conceito diz respeito a todo comportamento humano relacionado às fontes e canais

de informação - incluindo a busca ativa e a passiva de informação, e o uso da

informação (WILSON, 2000). Assim, as pesquisas na temática do comportamento

informacional (CHOO 2011; WILSON 1981, 2000) apresentam o processo que

18

ocorre desde a identificação de uma necessidade informacional até a utilização da

informação, que contribui para o desenvolvimento intelectual e suporte informacional

destinado a formar um repertório particular.

Já com relação às práticas informacionais, baseadas no terceiro paradigma

de estudos de usuários da informação, foca-se especialmente nas ações ordinárias

dos usuários, concentrando-se em analisar como as pessoas agem com a

informação no cotidiano de suas ações, ou seja, no contexto social e cultural.

Considera-se que essa forma de compreensão do indivíduo, e a relação que ele

estabelece com a informação e o social/coletivo, contemplam a perspectiva de um

indivíduo que não apenas usa, mas também produz e dissemina a informação em

um contexto sociocultural (ARAÚJO, 2016).

Dessa forma, neste trabalho são analisadas as questões referentes às

necessidades, à busca e ao uso das informações dos usuários da fanpage do TVU

Notícias no Facebook, que configuram seu comportamento informacional, conforme

a abordagem alternativa, mas também - em face das discussões mais recentes

acerca os estudos os usuários - busca-se evidenciar os aspectos das práticas

informacionais que são abarcados pela abordagem socioconstrutivista. Para tanto,

realiza-se uma etnografia virtual como método, ancorado nas técnicas de

observação participante, entrevista semiestruturada e levantamento de dados

estatísticos.

Com relação ao campo da pesquisa, nos dias atuais, o conceito de redes

sociais ocupa espaço crescente no discurso acadêmico e científico. São diversos os

conceitos discutidos, a variar de acordo com as áreas do conhecimento que se

deseja discutir. Encontra-se na literatura, por exemplo, a discussão detalhada acerca

dos elementos constituintes das redes sociais, suas topologias e dinâmicas.

Como o foco desta pesquisa são os usuários e suas relações com a

informação - no contexto das redes sociais na internet e delimitando-se ao campo da

CI - discute-se especialmente os aspectos relacionados à interação, discorrendo

sobre os conceitos de interatividade e convergência, expondo o local do usuário

nesse ambiente e das alterações nas relações com a informação.

A partir desse contexto, a questão que norteia essa pesquisa é “como se

dão os aspectos relacionados ao comportamento e demais práticas informacionais

dos usuários da informação na fanpage do TVU Notícias no Facebook”?

19

1.1 Objetivos

A fim de elucidar a questão da pesquisa, foi traçado como objetivo geral

analisar os aspectos relacionados ao comportamento e às práticas informacionais

dos usuários da fanpage do TVU Notícias no Facebook. Para tanto, foram definidos

os seguintes objetivos específicos:

a) Analisar as necessidades informacionais dos usuários da informação na

fanpage do TVU Notícias;

b) Compreender como ocorrem os processos de busca, acesso, uso e

compartilhamento da informação neste ambiente;

c) Investigar os aspectos relacionados às interações entre usuários na

fanpage do TVU Notícias e dos usuários com a própria página.

d) Evidenciar aspectos das ações dos usuários com relação à informação na

fanpage do TVU Notícias que caracterizam suas práticas informacionais

de acordo com a abordagem social dos estudos de usuários.

1.2 Justificativa

Como um campo interdisciplinar, os estudos de usuários da informação

podem ser considerados como uma importante ferramenta de gestão para as

organizações, oferecendo subsídios para o planejamento de ações. Conforme

Cunha, Amaral e Dantas (2015, p. 39):

Os estudos de usuários de informação podem ser considerados excelentes instrumentos de planejamento e gestão por contribuírem no planejamento de unidades prestadoras de serviços de informação, à medida que podem ser mais bem conhecidos os diversos aspectos que envolvem tanto a informação quanto a sua disseminação para os usuários que a demandam, além de propiciar condições favoráveis no sentido de obter tendências [...] que facilitarão a tomada de decisões dos gerentes capazes de prover a informação de interesse do usuário.

Ao evidenciarem a importância dos estudos de usuários, Dias e Pires (2004,

p. 11) definem como uma “investigação que objetiva identificar e caracterizar os

interesses as necessidades e os hábitos de uso da informação de usuários reais e/

ou potenciais de um sistema de informação”.

20

Portanto, para a TVU/UFRN, órgão para o qual se destina essa pesquisa, a

análise deve ter grande valia. Tendo em conta que a TVU - enquanto veículo de

comunicação - trabalha com a própria informação, o estudo dos usuários da

informação, que se constituem como seu público, deve gerar subsídios para que o

trabalho seja melhor direcionado.

Sendo esta pesquisadora também servidora da instituição - e tendo prévio

conhecimento do alvo do estudo - afirma-se que não há, atualmente, nenhuma

pesquisa sobre o público do TVU Notícias, nem de perfil ou de audiência. A análise,

portanto, deve possibilitar o planejamento, desenvolvimento e prestação de serviços

que, de fato, atendam às necessidades desses usuários.

Além disso, a análise do comportamento e das demais práticas

informacionais dos usuários na fanpage do TVU Notícias deve servir de

embasamento para melhor aproveitamento desses espaços virtuais, a fim de ampliar

as possibilidades de disseminação da informação pela TVU.

A escolha do campo de estudo se justifica pela inegável relevância que as

redes sociais na internet exercem na sociedade atual e nas relações entre o

indivíduo e a informação. Com a disponibilização das tecnologias de informação e

comunicação, muitos desses usuários da informação encontram-se no ambiente

digital.

Conforme preconiza Castells (2003), a internet vem modificando a forma

como as pessoas obtêm informação e como se relacionam no meio em que vivem,

pois tornou-se um meio que permite a “comunicação de muitos com muitos” em

escala global.

Hine (2000) propõe que a internet pode ser considerada tanto como cultura

quanto como artefato cultural, na qual se estuda o contexto cultural dos fenômenos

que ocorrem nas comunidades e/ou mundos virtuais, para saber o que as pessoas

fazem quando estão online. Nesse ambiente, as redes sociais na internet têm

crescido e se sustentado, tornando-se formas cada vez mais sólidas de interação e,

porque não dizer, convivência. São espécies de murais nas quais os integrantes

mediam, consomem e produzem informação.

Como posto anteriormente, a pesquisa se propõe a fazer um estudo de

usuários a partir de bases teóricas presentes no conceito de comportamento

informacional e de práticas informacionais. Essas duas perspectivas se sustentam,

21

respectivamente, nos paradigmas cognitivo e no social da Ciência da Informação,

conforme será discutido no referencial teórico.

O que se ressalta é que, no Brasil, ainda existem poucas pesquisas que

utilizam como referencial os fundamentos cognitivos que sustentam a abordagem do

comportamento informacional - e, muito menos, as que se realizam a partir da

perspectiva socioconstrucionista das práticas informacionais. Essa questão é

defendida por Carlos Alberto Ávila (2016, p.63), ao justificar a escassez de estudos

na área:

As discussões ocorridas em diversos fóruns de pesquisa (como o ENANCIB, Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, entre outros) têm mostrado que existe uma grande dificuldade por parte de estudantes e profissionais em “compreender” os conceitos e as categorias de análise tanto da abordagem cognitiva (comportamento informacional) quanto da abordagem social (práticas informacionais), que são muito mais abstratos do que aqueles empregados pelos estudos de uso.

Dessa forma, para o campo científico, este estudo deve contribuir

didaticamente para as discussões teóricas acerca de estudos de usuários, uma vez

que mostra aplicações de conceitos ainda pouco explorados na área.

Ressalte-se que não se trata de uma comparação entre paradigmas para

afirmar qual o melhor, já que cada modelo teórico apreende conceitos distintos e

aspectos da realidade, e deixa de fora outros. Tratam-se de modelos

complementares, que tentam sanar questões não abordadas (ou não

suficientemente abordadas). Conforme Araújo (2012, p. 150):

Aquilo que não era respondido pelo paradigma físico da CI tornou-se parte das preocupações do paradigma cognitivo. Igualmente, o paradigma social surgiu para iluminar questões não compreendidas pelo cognitivo. No caso dos estudos de usuários da informação, o paradigma social vem para problematizar aspectos de como a definição de critérios de qualidade e valor da informação é construída socialmente, e atravessada por fatores históricos, culturais, políticos, sociais e econômicos.

Sendo assim, ao entender as redes sociais na internet como um ambiente

movido pela interação - e cuja compreensão do indivíduo só se faz mediante o

contexto do ambiente digital - consideramos que o conceito das práticas

informacionais pode ser aplicado aqui como uma nova abordagem de estudos de

usuários.

22

Com relação aos procedimentos metodológicos, justifica-se a etnografia

virtual por entender as redes sociais na internet como ambiente e não apenas

plataforma. Hine (2000) afirma que a etnografia virtual estuda as práticas sociais na

internet e seus significados para os participantes. A internet, nesse caso, é o lugar

de encontro das pessoas, que se reúnem em espaços virtuais, formando suas

comunidades e traçam ali suas relações de sociabilidade.

Para definir o Facebook como um ambiente de interação e não apenas uma

plataforma, Guimarães Júnior (2004, p.125) enfatiza:

as plataformas são as diferentes tecnologias (tais como softwares e conexões de internet) que permitem a comunicação entre dois ou mais usuários. Ambientes de sociabilidade, por sua vez, são os espaços sociais estabelecidos através de uma ou mais plataformas.

Para Kozinets (2002), a etnografia apresenta-se vantajosa em comparação a

outros métodos de pesquisa qualitativa, por ser considerada flexível, não obstrutiva,

rápida e menos exigente em termos de investimento de recursos humanos e

financeiros. A etnografia virtual é adequada para a finalidade prática de explorar as

relações de interação mediada, ainda que não trate de uma coisa inteiramente real em termos metodologicamente puristas. É uma adaptação da etnografia, que se

adequa às condições do meio em que se encontra (HINE, 2000, p.65).

Por fim, para esta pesquisadora, a importância do trabalho se dá por

propiciar o estudo em uma área de interesse pessoal - no caso, os usuários da

informação nas redes sociais na internet - através de métodos com as quais há

afinidade, que é a etnografia. Além do mais, pela especificidade de se tratar de uma

pesquisa aplicada, visa-se a melhoria no ambiente laboral do qual faz parte

enquanto servidora.

1.3 Organização do trabalho

Este projeto está estruturado da seguinte maneira: o capítulo dois apresenta

o referencial teórico sobre os estudos de usuários, onde é apresentada a evolução

histórica e mudanças de paradigmas, com exposição dos principais modelos de

comportamento informacional e teorias que sustentam tanto a perspectiva cognitiva

quanto a social dos estudos de usuários dentro do campo da Ciência da Informação.

23

No capítulo três são apresentadas as redes sociais virtuais e os principais

elementos que apontam para as novas formas de relação com a informação.

O quarto capítulo, “procedimentos metodológicos”, caracteriza-se a

pesquisa, apresenta-se o locus da investigação e os procedimentos de coleta e

análise da pesquisa.

O capítulo cinco apresenta como se deu a etnografia virtual e a exposição

do que foi coletado na observação, no levantamento estatístico e nas entrevistas.

No capítulo seis está a análise e a discussão dos resultados.

O capítulo sete expõe as recomendações, correlacionando com o que foi

apreendido em cada aspecto do comportamento informacional e práticas dos

usuários da fanpage do TVU Notícias.

Finalmente, o capítulo oito traz considerações finais.

24

2 ESTUDOS DE USUÁRIOS

O estudo de usuários da informação tem grande tradição, com as primeiras

pesquisas iniciadas ainda na década de 1930. Esse tipo de investigação nasceu de

uma necessidade prática: o estudo de usuários de bibliotecas nos Estados Unidos e

a investigação de uso da informação por cientistas, já no final da década de 1940,

na Inglaterra. A partir de então, os estudos de usuários passaram a ser

desenvolvidos especialmente nos cursos de Biblioteconomia e Arquivologia.

Entretanto, são diversas as disciplinas que têm interesse em estudar as pessoas e

suas relações com a informação.

Dessa forma, os estudos de usuários se relacionam, ao longo do

desenvolvimento científico, com várias áreas do saber. Cunha, Amaral e Dantas

(2014) citam as disciplinas de Comunicação, Psicologia, Administração, Educação,

Linguística, Informática, Estatística, Sociologia e Antropologia como algumas das

principais interessadas pela temática.

São variadas também as definições do que sejam os estudos de usuários.

Conforme Le Coadic (2004), os estudos de uso e usuários são realizados para

avaliar as necessidades desses indivíduos, para saber se os serviços oferecidos

respondem a contento e ressalta que o contato com o usuário da informação é

primordial para se conhecer suas necessidades. "É preciso, então, observar,

perguntar. As principais técnicas para realizar esses estudos provêm das ciências

sociais (observação, entrevista, questionários e diário) e a infometria.” (LE COADIC,

2004, p. 49).

Em revisão acerca do tema, Cunha, Amaral e Dantas (2014) explicam que,

ao longo dos anos e com a evolução dos estudos, alguns termos utilizados nas

teorizações variavam conforme a relação do estudo com as áreas de conhecimento

relacionadas.

No campo da Ciência da Informação, o estudo de usuários tem diferentes

abordagens. É comum, ainda na literatura atual, os autores se basearem apenas em

duas perspectivas: a tradicional, a partir de 1930 e predominante até a década de

1970, de tradição positivista; e a abordagem alternativa, surgida de críticas ao

tradicional, emergente no final dos anos de 1970 e desenvolvida na década de 1980,

sob o paradigma cognitivo.

25

Todavia, mais recentemente, têm sido desenvolvidas pesquisas que aplicam

uma terceira abordagem para os estudos de usuários, que seriam as práticas

informacionais, conforme o paradigma social, descrito por Capurro (2003), numa

perspectiva interacionista.

Essa abordagem busca superar alguns conceitos isolacionistas das teorias

presentes nos estudos de comportamento informacional, que focam no usuário,

isolando-o do contexto ou tratando este apenas como um fator interveniente.

Interação é, portanto, o conceito-chave dessa nova abordagem, que, para

Araújo (2012, p. 149), põe em relevo o fato de uma ação ou influência exercida por

algo ser também afetada por esse algo”.

Quadro 1 - Algumas definições de estudos de usuários

Data Autores Definições e termos Áreas inter-relacionadas

1967 Saul Herner e Mary Herner

Estudos sobre as fontes que comunicam mensagens através de canais aos receptores

Biblioteconomia Comunicação

1974 Peter Mann Estudo de quem diz o que para alguém através de que meios e com que efeito

Comunicação Psicologia

1979 Nice Menezes Figueiredo

O que os indivíduos precisam em matéria de informação, ou então, para saber se as necessidades de informação por parte dos usuários de uma biblioteca ou um centro de informação estão sendo satisfeitas de maneira adequada

Comunicação Marketing Psicologia

1997 Patrícia Hernández Salazar

Área multidisciplinar do conhecimento que, a partir de diferentes métodos de pesquisa, analisa fenômenos sociais referentes a aspectos e características da relação informação-usuário

Biblioteconomia Ciência da Informação Ciências Sociais Metodologia de Pesquisa

2005 Aurora González-Teruel

Conjunto de investigações cujo resultados permitem planejar e melhorar os sistemas de informação

Metodologia de Pesquisa Planejamento Sistema de Informação

Fonte: Adaptado de Cunha, Amaral e Dantas (2014).

26

De acordo com Araújo (2016), em 1996, durante o primeiro Information

Seeking in Context (ISIC), já houve um consenso sobre a existência histórica desses

três modelos bem definidos de estudos de usuários da informação: o modelo de uso

(tradicional); estudos de comportamento informacional (alternativo); e as práticas

informacionais (paradigma social, ou socioconstrutivista).

Entretanto, ainda segundo o autor, o Brasil só passou a reconhecer

claramente a existência dos três modelos como sendo concepções para estudos de

usuários na década atual. “Se no cenário internacional tal quadro já parece

suficientemente claro e estabilizado, no Brasil, apenas agora, depois de quase cinco

décadas de pesquisas, começa a ficar cada vez mais clara a existência de três

grandes modelos de estudo de usuários da informação” (ARAÚJO, 2016, p. 62).

Adiante expomos de forma mais detalhada os aspectos de cada uma dessas

três abordagens e os principais conceitos que serão utilizados neste trabalho.

2.1 Abordagem tradicional

No nascimento dos estudos de usuários, a abordagem tradicional seguia a

linha positivista e tinha métodos predominantemente quantitativos nas pesquisas. É

denominado como estudos de uso, pois o foco era direcionado para o serviço, o

produto ou sistema de informação, com pouca ou nenhuma ênfase no destinatário

final dessa informação. “Nessa abordagem, a preocupação estava em quanto e

como um produto, serviços ou sistema de informação era usado, quais as

dificuldades e a satisfação com o seu uso” (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2014, p.

82).

Conforme Teruel (2005), no final da década de 1940, esses estudos serviam

especialmente para caracterizar hábitos informacionais de cientistas, dados

sociodemográficos, estatísticas sobre acesso às fontes de informação, satisfação de

uso e, com isso, identificar fatores intervenientes. Gasque e Costa (2010) enfatizam:

27

O paradigma predominante nas décadas entre 1950 e 1970 – o behaviorista – sustentava-se na crença de que a metodologia empregada para analisar o comportamento humano deveria dar ênfase à objetividade e a neutralidade. Mais que isso, embora as abordagens metodológicas adotadas fossem, de fato, pouco consistentes, algumas das críticas encontradas na literatura parecem refletir uma preocupação positivista, tendência natural das pesquisas até então (GASQUE; COSTA, 2010, p. 26).

No final da década de 1960, pesquisadores começaram a identificar as

dificuldades enfrentadas nesses estudos e as críticas se davam especialmente pela

identificação de problemas metodológicos e quanto à pouca diversidade de tipos de

usuários e de sistemas.

Em 1986, no Annual Review of Information Science and Technology

(ARIST), Dervin e Nilan apresentaram a revisão Information Needs and Uses, em

que apontaram críticas à qualidade das produções científicas e quanto ao

direcionamento das pesquisas de estudos de usuários à época.

Araújo (2010) enfatiza que, nesse mesmo estudo, os autores identificaram

dois paradigmas distintos no campo: a abordagem tradicional, em que a informação

era tida como objetiva e os usuários como processadores de informação; e a

abordagem alternativa, cujas teorias e conceitos surgiram desde o final da década

de 1970.

2.2 Abordagem alternativa

A partir do final da década de 1970, vários estudos apresentaram resultados

com críticas ao modelo hegemônico existente. Dessa forma, as investigações

começaram a focar no usuário e não apenas no sistema. Como descrevem Dervin e

Nilan (1986, p.16), “esse modelo foca sua compreensão no uso da informação em

situações particulares, centrando-se no usuário, examinando o sistema somente

como este é visto pelo usuário. Pergunta mais questões do tipo ‘como”.

A abordagem alternativa tem como foco o problema individual de cada

usuário, ou seja, o comportamento de busca e uso de informação para satisfação de

necessidades.

Entre as mudanças provocadas pela abordagem alternativa, houve a

emergência de métodos qualitativos, em substituição aos métodos quantitativos, que

até então predominavam nos estudos de usuários. Dessa forma, as técnicas

28

utilizadas nas pesquisas passaram a ser menos funcionalistas, com a utilização de

métodos para coleta de dados como as entrevistas e a observação.

Araújo (2010), ao citar Capurro (2003), afirma que nessa abordagem surge o

segundo paradigma de estudos de usuários, chamado cognitivo:

[...] autores como Brookes, Vakkari e Ingwersen empreenderam esforços em incluir, na agenda de pesquisa em Ciência da Informação, os usuários da informação, entendidos como sujeitos cognoscentes, isto é, dotados de certos modelos mentais mobilizados para o conhecimento do mundo – modelos estes em função dos quais são elaboradas as estratégias de busca e as formas de uso da informação (ARAÚJO, 2010, p. 4).

Entre as características dos estudos de natureza cognitivista, o usuário tem

caráter ativo e a informação como algo construído e não mais objetivo, como na

abordagem tradicional. Essa abordagem “vê a informação como algo construído por

seres humanos e os usuários como seres que estão constantemente construindo,

como seres livres na criação de situações” (ARAÚJO, 2010, p. 18).

Wilson (2000), entende o comportamento informacional como campo

oriundo das limitações dos estudos de usuários, constituindo uma evolução teórico-

metodológica. Na visão do autor, o comportamento informacional relaciona a busca,

a necessidade e o uso das informações, envolvendo fatores individuais ou coletivos,

físicos, psicológicos e cognitivos, entre outros.

Comportamento informacional é todo comportamento humano relacionado às fontes e canais de informação, incluindo a busca ativa e passiva de informação e o uso da informação. Isso inclui a comunicação pessoal e presencial, assim como a recepção passiva de informação, como a que é transmitida ao público quando este assiste aos comerciais da televisão sem qualquer intenção específica em relação à informação fornecida (WILSON, 2000, p.52).

Já para Davenport (1998), o comportamento informacional “se refere ao

modo como os indivíduos lidam com a informação. Inclui a busca, o uso, a alteração,

a troca, o acúmulo e até mesmo o ato de ignorar os informes”. Para o autor, o sujeito

é quem determina sua relação com a informação. Porém, essa relação é

influenciada por fatores como cultura, memória, educação e a busca não é feita sem

motivação. Para Choo (2003), o sujeito não procura informação se não houver

necessidade, uma vez que o incentivo é saná-la.

29

Quadro 2 - Mudanças no panorama de estudos de usuários

MUDANÇAS NA REALIZAÇÃO

ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM ALTERNATIVA

Foco No sistema No usuário

Busca da Informação Usuário passivo Usuário ativo

Avaliação Predominantemente quantitativo Predominantemente qualitativo

Em relação ao sistema de informação

Funcionamento da unidade prestadora de serviços

Adequados aos interesses dos usuários

Fonte: Amaral (2014).

Atualmente, pode-se dizer que comportamento informacional é a forma

como as pessoas procedem em relação à informação, como identificam as próprias

necessidades informacionais, como acessam, buscam e usam informações. Bartalo,

Di Chiara e Contani (2011, p. 2) afirmam que o comportamento informacional é o

conjunto das atividades desencadeadas por uma necessidade de informação, ou

seja, a busca, a comparação das várias informações acessadas, a avaliação, a

escolha, o processamento cognitivo e a utilização da informação para suprir a

necessidade primeira, incluindo a própria identificação da necessidade.

Como se vê, a necessidade de informação é tida - no entendimento da

abordagem cognitivista - como o motivador para que o usuário desencadeie o

processo de busca e uso da informação, caracterizando seu comportamento

informacional.

Dessa forma, concebe-se que o conhecimento das necessidades de

informação permite compreender o porquê das pessoas se envolverem num

processo de busca e uso de informação. Em face da existência de um problema ou

de um objetivo a atingir, da constatação de um estado anômalo insuficiente ou

inadequado de conhecimento, a pessoa seria motivada a buscar a informação, que

resultaria na tomada de decisão, na participação social, na construção de novos

conhecimentos etc. (CHOO, 2003; LE COADIC, 1994; FIGUEIREDO, 1994).

São vários os teóricos que descrevem a necessidade da informação dentro

do comportamento informacional. A teoria do sense-making, de Dervin (1983)

aborda a criação de significado através da metáfora que representa o vazio cognitivo

30

e o uso da informação para preenchê-lo por meio de estratégias responsáveis pelo

comportamento informacional do indivíduo.

Nessa mesma linha de raciocínio, Choo (2003) aponta que os processos

informacionais integram a necessidade de informação do indivíduo, que reconhece

um vazio de conhecimento ou a criação de significado, a busca e uso da informação.

Os modelos propostos por Wilson (2000), apontam para os múltiplos fatores

que influenciam o comportamento informacional humano. O usuário pertence a um

mundo cercado de valores, culturas, convenções e outras características próprias de

cada contexto, o que se tornam referências para suas escolhas. "Quando a pessoa

identifica uma necessidade de informação, essas mesmas referências são recursos

acessíveis de canais e fontes de informação, além de acrescentar a possibilidade de

usar diversos sistemas de informação e outros recursos informacionais, entre eles

um mediador ou o uso de tecnologias” (BERTI; BARTALO; ARAÚJO, 2014, p. 7).

Na literatura sobre a necessidade de informação encontra-se também

apontamentos sobre a dificuldade de constatá-la com precisão, por ser ela ser:

uma experiência subjetiva que ocorre na mente da pessoa que necessita e, consequentemente, não é diretamente acessível para um observador. A experiência de necessidade pode apenas ser deduzida a partir de um comportamento ou através de relatos da pessoa que necessita (WILSON, 1997, p. 552).

O comportamento de busca de informação resulta do reconhecimento de

alguma necessidade. Ou seja, o indivíduo verifica que a informação que possui não

corresponde ao que precisa e, então, age para satisfazer tal necessidade. Portanto,

na conceituação de busca informacional, tem-se que esta é uma consequência de

uma necessidade para satisfazer algum objetivo. No decorrer da busca, o indivíduo

pode interagir com os sistemas manuais de informação (tal como um jornal ou uma

biblioteca), ou com sistemas baseados em computador.

Seguindo o raciocínio de Figueiredo (1994), o uso da informação é, de fato,

o que um indivíduo realmente utiliza. Dessa forma, o uso é o resultado, por exemplo,

de uma demanda satisfeita, de uma leitura casual ou acidental - isto é, “uma

informação reconhecida como uma necessidade ou um desejo, quando recebida

pelo individuo, e apesar de não ter sido manifesta numa demanda”, (FIGUEIREDO,

1994, p. 34). Dessa forma, o uso geralmente representa uma necessidade, mas a

31

identificação “torna-se mais difícil, do uso palpável (hard) até uma necessidade

muitas vezes nebulosa e não articulada”

De forma semelhante, ao enfatizar o usuário nesse processo, Wilson (1997)

entende que uso da informação é a promoção de mudanças no estado de

conhecimento, comportamentos, valores e crenças do usuário. É subjetivo e não

observável, pois acontece na mente do usuário, além de ser algo próximo e difícil de

separar do processo de aprendizagem.

Por essa visão, compreende-se que o uso da informação, num ato pós-

busca - em consequência do reconhecimento da necessidade de informação -

consiste de ações físicas e mentais envolvidas na incorporação da informação

encontrada na base de conhecimento existente nas pessoas. Pode envolver,

portanto, ações físicas, - tais como destacar pontos importantes em um texto, bem

como ações mentais - que envolvem, por exemplo, a comparação das novas

informações com o conhecimento atual.

Numa visão menos objetiva, Le Coadic (2004, p.47), caracteriza que o uso

da informação é uma prática social, “o conjunto das artes de fazer”. Para o autor, a

informação (em forma de matéria) será trabalhada de forma que satisfaça a

necessidade do usuário. Assim, o objetivo de um produto de informação deve ser

sempre orientado ao usuário.

Os primeiros modelos teóricos para o desenvolvimento de estudos de

usuários segundo a abordagem alternativa surgiram no início dos anos 1980. Em

1981, Wilson configurou um modelo de comportamento informacional, inspirado nas

necessidades fisiológicas, cognitivas e afetivas dos indivíduos. Sua versão foi

revisada em 1996, quando publicou o modelo geral de comportamento

informacional. Entre as outras teorias, se destacam a abordagem Sense-making, de

Brenda Darvin (1983); dos valores dos usuários, de Taylor (1986); o modelo

comportamental de busca da informação de Ellis (1989); do estado Anômalo do

Conhecimento, de Belkin (1980) e o processo de busca de informação de Kuhlthau

(1991).

Esses estudos apresentam diferentes abordagens mas, em alguns, os

aspectos se cruzam. Como ponto em comum, Araújo (2016) destaca que todas

essas pesquisas apontam uma situação problemática como mecanismo ativador

para que o sujeito se engaje no processo de busca, que resultará no encontro e uso

da informação.

32

Nesta pesquisa não se objetiva a aplicação das etapas de um modelo

específico, haja vista a intenção de analisar o comportamento informacional sob

vários aspectos. Dessa forma, para fins de análise do comportamento informacional

nesta investigação, serão aplicados os conceitos desses modelos na categorização

dos aspectos de necessidade, busca e uso da informação dos usuários aqui

analisados. A seguir, serão expostos mais detalhadamente os principais

fundamentos e modelos teóricos dos estudos de comportamento informacional.

2.2.1 Modelos de comportamento informacional

Na década de 1980, o campo de estudos de usuários sofreu uma renovação

conceitual. Como visto na seção anterior, são vários os modelos que se

desenvolveram segundo a abordagem alternativa dos estudos de usuários. Em

ordem cronológica, serão apresentados alguns dos modelos desenvolvidos sob a

perspectiva cognitivista, cujos aspectos serão utilizados neste trabalho.

O Estado Anômalo do Conhecimento (BELKIN, 1980) ocorre quando um

indivíduo percebe uma necessidade de informação e reconhece a necessidade de

buscar a informação. A essa “lacuna” - ocasionada pela falta de conhecimento,

incerteza ou incoerência - é dado o nome estado anômalo, vazio que é identificado

pelo próprio indivíduo.

De acordo com Cunha, Amaral e Dantas (2015, p. 89):

Belkin (1980) procurou demonstrar no modelo proposto que a procura por informações é baseada nas tarefas desempenhadas pela pessoa ou problemas enfrentados por um indivíduo e que as necessidades e os processos de busca e informação dependem dessas tarefas.

33

Figura 1 - Modelo do estado Anômalo do Conhecimento

Fonte: Todd (2003, p.30)

No Modelo do comportamento informacional de Wilson (1981), o

pesquisador apresentou um dos trabalhos considerados fundamentais para a

consolidação da abordagem de comportamento informacional. Nesse modelo, o

autor considera que a necessidade de informação é uma necessidade secundária,

motivada por necessidades básicas (TERUEL, 2015, p. 98), sejam elas fisiológicas,

cognitivas e afetivas dos indivíduos. Wilson (1981) cunha o termo comportamento

informacional para os estudos desta abordagem, definindo-o como a totalidade do

comportamento humano frente às fontes e canais de informação, incluindo a busca

ativa e passiva de informação e o seu uso. Nesta abordagem, compreende-se a

informação enquanto uma construção subjetiva na mente do sujeito e sobre como as

pessoas conhecem a realidade.

Assim, cada indivíduo seria dotado de uma estrutura de conhecimentos

prévios e que, ao se adicionar uma nova informação, o resultado seria uma nova

estrutura de conhecimentos.

A dimensão situacional nesta abordagem é considerada como um fator

interveniente, voltando-se principalmente para o contexto mais individual do sujeito -

especialmente os contextos de tarefa e trabalho - sendo algo que pode favorecer ou

dificultar o processo de busca e uso da informação por parte do usuário. E a

dimensão emocional também é percebida como uma interferência nos processos de

necessidade, busca e uso da informação, muitas vezes compreendida como um

problema.

Wilson (1981) enfatiza que o contexto dessas necessidades é composto

pelo próprio indivíduo, pelas demandas de seu papel na sociedade, e pelo meio

34

ambiente em que sua vida e seu trabalho se desenrolam, assim como as barreiras

que interferem nesse processo, que nascem do mesmo contexto (MARTINÉZ-

SILVEIRA; ODDONE, 2008). O modelo é configurado conforme a figura 4.

Dessa forma, o comportamento informacional é entendido aqui como

consequência do reconhecimento da necessidade. O usuário, ao perceber uma

necessidade de informação, realiza uma demanda a um sistema de informação ou

outro tipo de fonte. Vale destacar que, nesse modelo, é aplicado o conceito de “troca

de informação”, quando o usuário pode procurar a informação consultando pessoas

e não apenas os sistemas.

Cunha, Amaral e Dantas (2014, p.91) ponderam que “o uso da palavra troca

pretende chamar a atenção para o elemento de reciprocidade reconhecido pelos

sociólogos e psicólogos sociais como um aspecto fundamental da interação

humana”.

Entretanto, em algumas situações, a reciprocidade pode aparecer como um

elemento frágil e ser inibida. De toda forma, em qualquer caso de comportamento, a

falha pode acontecer. Uma vez recebida a informação de que precisava, esta deve

ser utilizada para a resolução do problema que gerou a necessidade. O uso da

informação acarretará, assim, em satisfação ou insatisfação do usuário.

Conforme explica Teruel (2005), quando se investigam quaisquer das

estratégias seguidas pelo usuário no momento em que ele está ciente de que

necessita de informação, o fato observado é a conduta que se desenvolve e não a

necessidade de informação do sujeito observado.

Visando expandir e aprimorar esse seu primeiro modelo, T. D. Wilson

propôs, em 1996, o Modelo geral de comportamento informacional. Nesse modelo revisado, Wilson se apropria de alguns conceitos já

levantados em modelos anteriores. Ele incluiu a pessoa no contexto e a decisão na

procura por informação, o que se vê como “lacuna” entre “situação” e “uso” no

modelo de Brenda Dervin. A teoria do stress/coping (teoria da cópia) foi posta como

mecanismo de ativação.

Foram elaboradas também as variáveis intervenientes, que são as barreiras

encontradas no processo do comportamento e processamento da informação.

Wilson (1996) elenca uma série de variáveis que podem interferir no comportamento

informacional dos indivíduos: variável psicológica, demográfica, interpessoal,

ambiental e as características da fonte. “É o grau de conhecimento de uma variável

35

interferente que determina se essa influencia de forma positiva ou negativa (favorece

ou impede) o comportamento informacional” (GARCIA, 2007, p. 89).

Figura 2 - Modelo do comportamento informacional de Wilson (1981)

Fonte: Martínez-Silveira e Oddone (2008, p.123).

Wilson e Walsh caracterizam as fontes informacionais relacionando-as com

o acesso, a credibilidade e os canais de comunicação. O acesso à informação é

entendido como um meta-princípio (ou meta-valor) ético da existência da Ciência da

Informação, da Biblioteconomia e do fazer profissional, uma vez que é essencial

dispor de recursos para tornar acessíveis variedades de fontes informacionais.

A credibilidade das fontes também é uma questão ética, pois a difusão de

informações equivocadas, ou o desvio de informações, quando detectadas pelos

usuários, o farão desistir e procurar por fontes confiáveis. Os canais de comunicação

dizem respeito aos meios utilizados para divulgação das informações, o que

depende das características do ambiente informacional e a que se destina.

Outro mecanismo de ativação aparece entre a determinação da necessidade

e o início da ação para satisfazê-la (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015). Nesse

caso, novos fatores intervenientes podem ser observados: a teoria do risco e

recompensa, e a teoria do aprendizado social, no qual se inclui a autoeficácia.

36

Como explica Teruel (2005), sobre a autoeficácia se entende como o

julgamento que o próprio sujeito à sua capacidade de executar uma conduta. Vale

destaque também para os conceitos de busca ativa da informação, atenção e busca

passiva e pesquisa em curso.

Figura 3 - Modelo geral do comportamento informacional revisado de Wilson (1996)

Fonte: Cunha, Amaral e Dantas (2015, p.112)

Wilson considerou ainda os estágios de busca elaborado por Ellis (1989),

aos quais adicionou ao seu primeiro modelo, apresentado sob nova formulação,

conforme figura 6.

37

Figura 4 - Modelo geral do comportamento de procura por informação de Wilson revisado

Fonte: Cunha, Amaral e Dantas (2015, p. 115).

O Modelo da construção de sentido (Sense-making), de Brenda Dervin, (1983) aborda a criação de significado da necessidade informacional.

Dervin descreve que o indivíduo, como ser em movimento, está sempre

construindo significado. Essa construção se dá quando, durante uma situação, o

usuário é obrigado a parar diante de um obstáculo, que é a ausência de informação.

Esse “vazio cognitivo” ou “gap” são as lacunas que têm que ser preenchidas através

de estratégias. Portanto, a lacuna (gap) é o fator motivador da busca por informação.

Neste modelo, como explica Teruel (2005), a informação é percebida como

ferramenta humana desenvolvida para dar sentido a uma realidade caótica. Aliás,

como a autora descreve, entre os modelos da abordagem cognitivista, este é o mais

ambicioso, uma vez que tem a pretensão de servir também como um conjunto de

métodos de investigação.

38

Figura 5 - Metáfora da construção do conhecimento de Dervin

Fonte: Adaptado de Dervin (1992, p.68).

Como ferramenta metodológica, Dervin sugere o emprego da entrevista da

linha do tempo como forma de coleta de dados. Dessa forma, cada entrevistado

deve reconstruir uma situação em termo dos acontecimentos e, assim, é possível

perceber a construção de sentido. De acordo com Cunha, Amaral e Dantas (2015, p.

44), “do ponto de vista de Dervin, construir sentido é observar, interpretar, e

compreender a realidade atribuindo significado aos atos, ideia e objetos do mundo

exterior a partir de significados já interiorizados pelo indivíduo”.

A Abordagem do Valor Agregado (User-values / Value-added), de Robert

Taylor (1986), indica que o valor da informação está atrelado ao significado desta

para o ambiente do indivíduo (ROLIM; CENDÓM, 2013). Neste modelo, o sujeito

agrega valor quando transforma dados sem significados em informação, que deve

ser vista como algo construído pelo ser humano. Dessa forma, a informação será

buscada porque o usuário irá utilizá-la em uma demanda. Por sua vez, Taylor

entende que a demanda pode ser compreendida em quatro níveis de necessidade:

• Visceral: causado pelo vazio do conhecimento; sensação de insatisfação;

• Consciente: permite descrever o problema concretamente a partir de um

aporte de informações;

• Formalizado: descrição racional da necessidade, em que a ambiguidade

é reduzida;

• Adaptado: interação com fontes ou sistema.

39

Como explicam Rolim e Cendón (2013, p.7):

O usuário dará à informação que procura diferentes usos e características tais como descobrir ‘o que’ fazer ou ‘como’ fazer algo, descrever uma realidade, confirmar outra informação, realizar prognósticos com estimativa e probabilidade, ou outros usos para interesses de caráter motivacional, pessoal ou mesmo político.

Segundo os preceitos de Taylor, três variáveis devem ser analisadas nos

estudos de usuários (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015):

1. Qual informação o usuário quer encontrar?

2. Qual uso fará da informação?

3. Como o sistema pode melhorar e preencher as necessidades de

informação do usuário?

David Ellis, no seu Modelo comportamental de busca de informação

(1989), representou uma abordagem alternativa de estudo focado nos usuários e

utilizando análises qualitativas. O modelo desenvolvido por ele teve origem na sua

pesquisa de doutorado, pela Sheffield University (Inglaterra), que teve como objetivo

a análise do comportamento informacional de pesquisadores desta universidade e

sua utilização no design de sistemas de recuperação da informação científica,

resultando na tese The derivation of a behavioural model for information retrieval

system design (ELLIS, 1987).

O pesquisador desenvolveu um modelo de estudo de comportamento

informacional estruturado, inicialmente, em seis categorias, que foram ampliadas

posteriormente com a colaboração de Cox e Hall (ELLIS; COX; HALL, 1993). O foco

do modelo desenvolvido por Ellis são os aspectos cognitivos da busca de

informação. As categorias não foram estruturadas de forma sequencial, já que se

trata de um processo com aspectos de comportamento que podem variar em

diferentes sequências com diferentes pessoas ou com o mesmo usuário em

diferentes momentos.

A primeira categoria apresentada é a “iniciar”, que se refere aos padrões de

busca de informação; “encadear”, segunda categoria do modelo, consiste no

seguimento com as conexões entre as informações. Essas conexões propiciam o

descobrimento de outros materiais relevantes e, consequentemente, a conexão do

40

que foi localizado com as novas informações. A etapa “navegar” é um modo de

pesquisa de busca semidirecionada ou semiestruturada em áreas de potencial

interesse. A fase do “diferenciar” abrange a seleção e filtro da informação obtida a

partir de fontes conhecidas. A etapa seguinte, “monitorar”, é o hábito de manter-se

atualizada sobre os progressos ou mudanças acontecidas das fontes de informação

específicas. Por último, a fase “extrair” engloba as atividades de identificação de

material relevante em uma fonte de informação.

Além destas características, Ellis, Cox e Hall (1993) introduziram duas novas

etapas: a “Verificação”, que, de acordo com Costa e Ramalho (2010), consiste na

verificação da acuracidade da informação; e a “Finalização”, com o término do ciclo.

O modelo ampliado, mesmo tendo se baseado em estudos de acadêmicos e

pesquisadores, é aplicável a outros grupos de usuários, pois sua estrutura comporta

características amplas e que se adequam a várias áreas do conhecimento (CHOO,

2003).

Figura 6 - Modelo de comportamento de busca de informação proposto por Ellis

Fonte: Adaptado de Cunha, Amaral e Dantas (2015).

No Modelo do processo de busca da informação (Information Search

Process – ISP), Carol C. Kuhlthau (1991) evidenciou as reações emocionais no

processo de busca. De acordo com Araújo (2016), Kuhlthau aponta, como a

dimensão emocional, sentimentos de otimismo e de pessimismo determinam o

sucesso ou o fracasso de determinada atividade de busca por informação.

Por esse modelo, entende-se que o usuário permanece em um nível de

incerteza flutuante durante o processo (princípio da incerteza), dividindo-se em seis

estágios: iniciação, quando há percepção da necessidade de informação; seleção;

exploração; formulação; coleta; e apresentação. Os estágios são divididos em três

campos: emocional, cognitivo e físico e, para cada etapa, um sentimento é evidente.

41

Como explicam Rolim e Cedón (2013, p.5), “a natureza da informação

encontrada altera a posição do usuário, pois, se a informação redundante pode

gerar aborrecimento, uma nova informação pode exigir uma reconfiguração de

conhecimentos não disponíveis, causando ansiedade”. Dessa forma, o

comportamento do usuário implica no resultado da busca, já que o interesse pela

informação aumenta à medida em que se alcança o objetivo pretendido.

Figura 7 - Modelo do processo de busca de informação (Information Search Process – ISP) de

Carol Kuhlthau

Fonte: Rolim e Cedón (2013, p. 6) 2.3 Práticas informacionais como estudo de usuários

A partir dos anos de 1990 surge um novo modelo conceitual para estudos de

usuários: são as práticas informacionais, conceito que nasceu como consequência

de um conjunto de críticas ao estudo do comportamento informacional. As críticas se

deram especialmente pela ênfase ao cognitivismo proposto pelos modelos de

comportamento, em detrimento aos aspectos sociais e contextuais do indivíduo. È o

que explica Araújo (2016, p. 65): Construcionismo, etnometodologia, interacionismo e pragmatismo passaram a ser modelos teóricos cada vez mais presentes nos estudos de usuários, e um novo conceito, o de práticas informacionais, foi proposto como uma alternativa ao conceito de comportamento informacional.

42

Conforme Rocha e Gandra (2018), o termo práticas informacionais é

registrado na CI desde a década de 1960, mas somente a partir dos anos 2000 o

debate é aprofundado na subárea dos estudos de usuários. As práticas

informacionais fazem parte da terceira abordagem de pesquisa de estudos de

usuários, a social ou interacionista e socioconstrutivista, ainda em consolidação.

Marteleto (1994, p. 134), em uma das primeiras referências ao conceito,

reforça a origem antropológica da abordagem e define práticas informacionais como

“mecanismos de apropriação, rejeição, elaboração de significados e valores, não

numa sociedade sincrônica, que guarda uma relação direta e cumulativa com a

tradição, mas naquela onde os sujeitos elaboram suas representações”.

Em contraposição aos estudos de uso e de comportamento informacional,

as práticas informacionais realizam uma crítica tanto ao objetivismo de um quanto ao

subjetivismo do outro. Para responder a essa dicotomia, Carlos Alberto Araújo

(2017) se baseia no conceito do “habitus” de Bourdieu, pela qual se desenvolve o

princípio de sociação e individuação:

[...] Bourdieu (1996) propõe o que ele denomina de abordagem “praxiológica”, que reposiciona o pesquisador, que passa ter como objeto de estudo o sistema de relações objetivas e também o processo de interiorização desse sistema sob a forma de disposições para a ação. Encontra-se aqui, por meio da expressão “praxiológica”, a ideia de “práxis”, isto é, o movimento mesmo por meio do qual os sujeitos agem no mundo e, como causa e também consequência dessa ação, constroem esse mesmo mundo. Essa é a ideia básica que fundamenta o conceito de “práticas” presente na expressão “práticas informacionais. (ARAÚJO, 2017, p. 220, grifos do autor).

O movimento de práticas informacionais engloba as questões entre o

individual e o social, mas não apenas o sujeito. Analisa também o processo de

construção do conhecimento:

[...] assim faz-se necessário um afastamento de toda ideia de informação que a tem como algo neutro ou exclusivamente subordinado aos sistemas técnicos, para considerar os aspectos socioculturais que a constituem; isto porque qualquer transformação ou permanência das práticas informacionais configura-se antes de qualquer coisa como uma atividade sensível a outra. (NUNES, 2014, p. 168)

Como disposições coletivas, na perspectiva das práticas informacionais,

entende-se, por exemplo, os significados socialmente partilhados do que é

informação, do que é sentir necessidade de informação e de quais são as fontes

43

adequadas de informação. Já na perspectiva individual, pode-se analisar o

relacionamento do sujeito com a informação, seja explorando as formas de

aceitação de regras sociais ou do reconhecimento da legitimidade de uma fonte.

Nessa abordagem, alguns conceitos tradicionais de estudos de usuários são

ressignificados, como a noção de informação. Ao contrário do que se compreendia

no estudo cognitivista, a informação aqui não depende apenas da cognição do

sujeito, nem é algo objetivo que preenche vazios na mente do indivíduo, mas é tida

como um processo que engloba várias dimensões, desde a manifestação física de

um registro (um livro, por exemplo) a ações humanas de interpretação da realidade.

Dessa forma, a informação não é concebida como algo neutro, ou redutor de

incertezas, mas, ao contrário, é capaz de provocar mais dúvidas e inquietações.

Araújo (2015) apresenta o conceito de sociabilidade como um elemento

das práticas informacionais capaz de superar a compreensão simplista e mecânica

do processo de conhecimento no campo de estudos de usuários da informação, em

que o usuário é isolado nos processos de busca e uso da informação. Na tentativa

de explorar possibilidades para a formação de uma base conceitual na abordagem

das práticas informacionais, o pesquisador aponta que a sociabilidade, nesse

contexto, não é vista como sinônimo para relações sociais, que denotam algo já

estabelecido, mas como uma dimensão dessas relações.

Assim, a ideia de sociabilidade perpassa a compreensão do caráter coletivo

do indivíduo, de pertencimento ao mundo, além da perspectiva funcional e

instrumental dos sujeitos. "A ideia de sociabilidade quer compreender a relação

estabelecida entre os atores pela própria relação, isto é, uma dimensão da relação

que existe não para realizar um outro objetivo, um interesse, uma tarefa, mas pela

relação que não quer outra coisa senão constituir-se como relação – nela, o discurso

torna-se seu próprio fim” (ARAÚJO, 2015)

Nessa visão social das práticas informacionais, o processo de conhecimento

é entendido a partir do embasamento teórico baseado em Piaget (1975) e Freire

(2017), pelos quais se postula que o conhecimento não é simplesmente adquirido.

Há o processo de conscientização, a partir dos próprios critérios de valor e

relevância do sujeito, por exemplo, ao contrário da transferência de informação,

conforme os estudos de comportamento informacional.

Por tomada de consciência compreende-se que o conhecimento é resultado

do processo de acomodação e assimilação. “O sujeito age e interfere, na medida em

44

que incorpora a sua experiência aos esquemas de interpretação já elaborados -

assimilação - mas também quando modifica os seus esquemas para se aproximar

melhor da realidade - acomodação” (ARAÚJO, 2010, p. 223). Nesse sentido, sujeito

e objeto são construídos em parceria.

No Brasil, manifestações dessa proposta são, entre outras, a abordagem

interacionista de estudos de usuários (ARAÚJO, 2012) e o conceito de “interagente”

(CORRÊA, 2014).

2.3.1 O paradigma social e a abordagem interacionista

Como nova proposta de estudo de usuários, na abordagem interacionista,

Carlos Alberto Araújo (2012) se ancora no paradigma social descrito por Capurro

(2003). No texto Epistemologia e Ciência da Informação, apresentado no Encontro

Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação, em 2003, Rafael

Capurro aponta que, historicamente, o campo da Ciência da Informação se

constituiu a partir de três paradigmas: o físico, o cognitivo e o social.

Dessa forma, os estudos de usuários, como subárea da Ciência da

Informação, também podem ser compreendidos a partir desses paradigmas.

Pelo paradigma físico, entende-se a preocupação com a informação

enquanto objeto, como se nota no trabalho de Shannon e Weaver, The mathematical

theory of communication, de 1948. Essa ideia se assemelha aos conceitos aplicados

nos primeiros modelos de estudos de usuários.

Já o paradigma cognitivo, segundo Capurro, tem inspiração na filosofia de

Popper, que apresenta o mundo dividido em três esferas: a física (dos objetos

existentes na natureza), a da consciência (que se passa na mente dos seres

humanos) e a terceira é a concretização do segundo no primeiro, a consciência

criando forma. “O ‘mundo três’ seria formado, então, pelo conteúdo intelectual dos

livros e documentos” (ARAÚJO, 2010, p. 4).

Sendo assim, é possível identificar a ideia do paradigma cognitivo em

pesquisas da abordagem alternativa de estudos de usuários. São citados os autores

Brookes, Vakkari e Ingwersen como alguns dos que desenvolveram estudos

observando os usuários da informação como sujeitos cognoscentes, isto é, dotados

de certos modelos mentais pelos quais são elaboradas as estratégias de busca e

uso da informação.

45

O terceiro paradigma, o social, surgiu, portanto, de críticas ao modelo

cognitivo. Por esse paradigma, o foco é não apenas no sujeito, mas também nos

condicionamentos sociais e materiais. A interação aparece como “conceito-chave”

dessa abordagem, capaz de integrar os avanços dos estudos de usuários e de

comportamento informacional (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015).

Ao discutir os desafios teóricos para os estudos de usuários com base no

paradigma social, Araújo (2010) reconheceu que ainda não havia muitas pesquisas

no campo, mas alguns pesquisadores já haviam dado pistas de como pode se dar

essa aplicação.

Ele cita os estudos de Shera, da década de 1970, com a proposta da

epistemologia social; Frohmann (2008), em sua teorização sobre os “regimes de

informação”; Rendón Rojas (2005), na busca por uma abordagem realista-dialética

da informação, pelo qual se entende, a partir de Piaget, que o sujeito nunca é vazio,

em que o conhecimento novo não apenas se acumula no sujeito, mas interage com

os conhecimentos e estruturas já existentes; e também Hjorland (2002), com a

abordagem de “análise de domínio”.

Partindo da ideia de “comunidades de discurso”, Hjorland propõe que somos

conformados por consensos coletivos, os quais também não se impõem

mecanicamente sobre nós – pois somos nós que os construímos (ARAÚJO, 2010, p.

27). Nessa perspectiva social, o sujeito não pode ser compreendido isoladamente,

mas como um ser que constrói, cria e seleciona seus critérios de relevância da

informação coletivamente.

Conforme abordado nos estudos de usuários, há, no paradigma

social/interacionista, a “construção social dos processos informativos, ou seja, a

constituição social das ‘necessidades dos usuários’, dos ‘arquivos de

conhecimentos’ e dos esquemas de produção, transmissão, distribuição e consumo

de imagens” (CAPURRO, 2003, p. 14).

Entre os estudos que se desenvolveram na linha de práticas informacionais,

Araújo (2010) cita o de Mackenzie (2003), que afirma que o termo práticas

informacionais seria mais adequado do que comportamento informacional, ao

direcionar os estudos às ações mais espontâneas com relação às informações,

menos diretivas, como supõe o conceito de comportamento.

A autora desenvolve um modelo bidimensional de práticas informacionais,

no qual a informação pode ser encontrada “por acaso” pelo sujeito, sem necessitar

46

de nenhum mecanismo ativador. É o chamado “serendipity”, que acontece na

“varredura não dirigida”.

Figura 8 - Modelo bidimensional de práticas informacionais de Mckenzie

Fonte: McKenzie (2003, p. 26)

O modelo é constituído por quatro fases: a busca ativa por informação; a

varredura ativa; o monitoramento não dirigido (quando acontecem situações de

serendipity); e a busca “por procuração”, isto é, por intermédio de outros sujeitos.

Outro teórico cuja abordagem pode ser aplicada aos estudos das práticas

informacionais é Savolainen (1995), com o modelo pioneiro Everyday Life

Information Seeking (ELIS). O autor propõe uma complementaridade entre a

dimensão formal (como as rotinas de trabalho e estudo) e as rotinas diárias

cotidianas informais (como o lazer ou afazeres domésticos).

47

Figura 9 - Modelo ELIS

Fonte: Araújo (2017)

A importância desse modelo se dá especialmente por enfatizar questões que

podem ser negligenciadas quando se foca nas investigações de busca por

informações relacionadas ao trabalho ou estudo, por exemplo. Em seu modelo,

Savolainen (1995) apresenta ainda uma correlação entre as instâncias individuais e

sociais dos sujeitos.

Conforme explicam Cunha, Amaral e Dantas (2014), esse modelo de

procura por informação na vida diária ressalta o papel dos fatores sociais e culturais,

que influenciam a preferência e o uso das fontes de informação. Essa abordagem,

de cunho sociológico, considera diversos fatores antes ignorados, como a saúde do

indivíduo enquanto fator econômico.

48

De acordo com Savolainen (2007), o paradigma das práticas informacionais

vislumbra a importância de enxergar o indivíduo comum inserido em um contexto

social, fora do seu ambiente de trabalho ou acadêmico, que necessita e busca

informação para o seu dia a dia.

As práticas informacionais, por sua vez, estruturam as redes sociais, pois

são, em última instância, conjuntos de múltiplas relações de associações coletivas

(ARAÚJO, 2001).

Essa nova abordagem busca estudar outros usuários da informação,

ampliando o foco das pesquisas - antes direcionado, principalmente, ao usuário

acadêmico, científico e/ou organizacional - aos usuários não especializados, por

vezes marginalizados pelos estudos científicos (ARAÚJO, 2008).

Pensando na perspectiva de que os indivíduos também precisam estar

informados, a Ciência da Informação estuda também as práticas informacionais e as

diferentes formas de interação entre as pessoas com o objetivo de entender como

buscam, acessam, apropriam-se e partilham a informação.

A ideia dos estudos de usuários sob a ótica do paradigma social tem sido

ainda mais importante nos últimos anos, especialmente a partir da década de 2000,

quando se intensificaram as pesquisas relacionadas à sociedade da informação e

todas as nuances da informação social, englobando os conceitos de redes de

informação, mediação e comunidades online e as relações interpessoais nesse

contexto.

Expostas as principais definições e modelos teóricos dos estudos de

usuários na Ciência da Informação que serão utilizados neste trabalho, passamos

agora à discussão sobre as redes sociais na internet, campo de investigação desta

pesquisa.

49

3 REDES SOCIAIS E NOVAS FORMAS DE RELAÇÃO COM A INFORMAÇÃO

Nesta pesquisa, conforme já exposto, busca-se analisar também os usuários

da informação por meio das práticas informacionais, seguindo a perspectiva da

abordagem social da CI. Entende-se que, partindo dessa interpretação, é necessário

observar o sujeito como ser social, cuja construção da informação se dá também em

sua vida cotidiana e através da interação com outros indivíduos.

Quando se fala em vida cotidiana e interação, na atual sociedade, facilmente

se remete ao uso redes sociais na internet, uma realidade cada vez mais comum

para os indivíduos, que se fazem de usuário da informação em plataformas e

estruturas virtuais, no ciberespaço, onde realizam suas práticas em relação à

informação.

Conforme já recorrentemente debatido nas últimas décadas, entre as

características mais marcantes da sociedade contemporânea estão às

transformações de comunicação e de relação dos indivíduos com a informação. No

atual contexto tecnológico, ela pode ser armazenada, buscada, compartilhada e

comentada de forma instantânea e com maior alcance do que antes, através do

ciberespaço.

A internet é tida como a principal tecnologia que propiciou tais modificações.

Aliás, essa transformação da comunicação é considerada como a mudança social

mais aparente dos últimos anos (CASTELLS, 2009).

Faz-se, portanto, necessária a discussão acerca do conceito de redes

sociais. Atualmente, falar em redes sociais nos remete ao meio digital, como

corrobora Marteleto (2010, p. 31): “nos dias atuais, é comum associar a expressão –

redes sociais – aos encontros e aos espaços virtuais de interação, relacionamento e

colaborações na Internet”. Todavia, vale salientar que a rede existe muito antes e

independentemente do surgimento de qualquer aparato tecnológico. “O conceito de

redes sociais leva a uma compreensão da sociedade a partir dos vínculos

relacionais entre os indivíduos, os quais reforçariam suas capacidades de atuação,

compartilhamento, aprendizagem, captação de recursos e mobilização”

(MARTELETO, 2010, p. 28).

As redes sociais podem assim ser entendidas como um grupo de pessoas

que interagem entre si, com algum interesse em comum. É a forma como nos

relacionamos, através do compartilhamento de informações, sentimentos,

50

impressões em nossas relações sociais. São laços que estabelecemos com outras

pessoas, formando “nós, ligamentos e conexões com outros.

Castells (2002, p.566) define rede como:

[...] um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos. [...] Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação.

Na visão de Tomaél e Marteleto (2006, p.75), uma rede é uma

representação formal de atores e suas relações e uma rede social se refere a um

conjunto de pessoas, organizações ou outras entidades sociais “conectadas por

relacionamentos sociais, motivados pela amizade e por relações de trabalho ou

compartilhamento de informações e, por meio dessas ligações, vão constituindo e

reconstruindo a estrutura social”.

Silva e Ferreira (2007, p.3) consideram que “rede social é um conjunto de

pessoas (ou empresas ou qualquer outra entidade socialmente criada) interligadas

por um conjunto de relações sociais tais como amizade, relações de trabalho, trocas

comerciais ou de informações”.

Em uma revisão acerca do conceito de redes, Vermelho, Velho e Bertoncello

expõem, ao resgatar a genealogia do termo, que “das ciências naturais até a

sociedade, a organização em redes foi o que possibilitou a estruturação da

sociedade atual” (VERMELHO; VELHO; BERTONCELLO, 2015, p. 869).

A informação é o que mobiliza as redes sociais, tornando-as vetor

estratégico importante, visto que a "necessidade de informação é natural ao ser

humano e às organizações, e as redes sociais são o caminho natural para a busca

de informações" (TOMAÉL et al., 2005, p.102).

No ambiente digital, as redes sociais ganharam novo sentido, são as redes

sociais online, que só existem se estivermos conectados. Esses ambientes se

converteram em redes mais associativas (RECUERO, 2009), uma vez que o meio

não é mantido somente por causa da interação entre seus membros, limitada pelo

tempo e investimento de cada ator. “Por conta disso, as redes sociais online

tornaram-se representações muito maiores das redes sociais, diferentes de seus

correspondentes offline. E, apesar de suas conexões baseadas na "adição" de

51

outros indivíduos, passaram a impactar os processos de comunicação e os

indivíduos” (RECUERO, 2011).

3.1 As redes sociais na internet

O ciberespaço, entendido como “novo meio de comunicação que surge da

interconexão mundial de computadores” (LÉVY, 2003, p. 17), permite a

sociabilização sem a limitação do tempo e espaço e, consequentemente, os

agrupamentos, com a formação de redes em ambientes não-físicos, proporcionados

pela internet.

O cenário contemporâneo é o de um novo ambiente global, centrado em

informação e comunicação e, nesse cenário, a Internet é a espinha dorsal da

comunicação mediada pelo computador (CMC), por ser a rede que liga a maior parte

das redes. Através da internet, foi possibilitada a “comunicação de muitos para

muitos” (CASTELLS, 2003). Ela foi a base tecnológica que proporcionou a formação

da “rede” online.

Com o advento da Web 2.0, plataforma de segunda geração criada por Tim

O. Reilly em 2005, foi evidenciada a formação de comunidades e grupos voltados a

transferência de conhecimento, contextualização de interesses comuns, discussão e

outras finalidades emergindo, então, as mídias sociais. Por mídias sociais, entende-

se aqui as ferramentas que dão a possibilidade do desenvolvimento das redes

sociais na internet. Podem ser, por exemplo, os sites de relacionamento, como o

Facebook1.

Para Alex Primo (2008), o termo web 2.0 pode ser entendido a partir de duas

vertentes: a primeira diz respeito a um conjunto de técnicas computacionais e

estratégias mercadológicas, especialmente voltadas para o comércio eletrônico. Já a

segunda, relaciona-se com a web mais participativa, no sentido de processos de

interação social mediados pelo computador.

1 A discussão acerca do Facebook será feita na seção 3.2.

52

As redes sociais na internet2 podem ser consideradas como uma espécie de

plataforma-rebento desta web que se transforma a cada dia (LEMOS; SANTAELLA,

2010).

Assim, Tomaél et al. (2005, p.95) observam que:

As redes sociais ultrapassaram o âmbito acadêmico/científico, conquistando e ganhando espaço em outras esferas. E podemos observar esse movimento chegando à Internet e conquistando cada vez mais adeptos, aglutinando pessoas com objetivos específicos, ou apenas pelo prazer de trazer à tona ou desenvolver uma rede de relacionamentos.

Partindo do conceito de que as redes sociais são uma metáfora para os

agrupamentos humanos e suas interrelações, na internet elas são metáforas para as

relações que ocorrem através da mediação do computador. Portanto, as redes

sociais na internet podem ser entendidas como a manifestação das estruturas

sociais e suas conexões ali expressas.

De acordo com Raquel Recuero (2009), as redes sociais na internet têm

como elementos os atores e as conexões (grifo nosso). Os primeiros são os “nós”

das redes e podem se apresentar, por exemplo, como os perfis nos sites de redes

sociais3.

Essas ferramentas (de comunicação mediada por computador) proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros (RECUERO, 2009).

Na visão da autora, os atores representam construções identitárias, através

de complexas relações comunicacionais e trocas sociais, que “refletem um jogo

estratégico de apropriação, individualização deste espaço de mediação,

reconfigurações de si visando reconhecimento por outrem e satisfação do seu

sentimento de pertencimento a um ou mais”. Na internet, a percepção do Outro é

essencial para a interação e, como faltam os elementos da comunicação face a face,

as pessoas são concebidas e julgadas pelas palavras.

2 A denominação de redes sociais na internet não é um consenso entre os pesquisadores e teóricos. Encontra-se na literatura diversos empregos de termos como software social, mídias sociais, mídias digitais, redes sociais ou simplesmente Redes Sociais (RS), como será utilizado nesta pesquisa. 3 A discussão sobre sites de redes sociais será apresentada na seção seguinte.

53

Já as conexões são constituídas pelos laços sociais que, por sua vez,

formam-se da interação social dos atores. Assim, as conexões entre os perfis são

como a linha que une os nós e formam as redes. “Nas redes sociais, essas

conexões são constituídas principalmente de relações sociais, ou seja, de relações

criadas através de eventos de fala e de troca de informações entre atores, que

terminam por construir laços sociais” (RECUERO, 2012, p. 129).

Nesse contexto, as redes sociais na internet inauguraram uma nova faceta

na forma de comunicação interpessoal na internet, como declaram Lemos e Levy:

“O desenvolvimento de comunidades e redes sociais online é provavelmente um dos

maiores acontecimentos dos últimos anos antes do aparecimento da web, sendo

uma nova maneira de fazer sociedade” (LEMOS; LEVY, 2010, p. 101).

3.1.1 Interação, interatividade e convergência

A interação nas redes sociais na internet é tida como um elemento de

conexão, que só são percebidas graças à possibilidade de manter os rastros sociais

dos indivíduos os quais continuam ali (RECUERO, 2009).

Primo (2007) corrobora com a ideia e ressalta que a rede social na internet

existe graças às interações entre os envolvidos. Entretanto, mesmo dependente da

interação para se formarem, as redes sociais online não dependem que haja sempre

uma interação conversacional:

Trata-se de um processo emergente que mantém sua existência através de interações entre os envolvidos. Esta proposta, porém, focar-se-á não nos participantes individuais, e sim no “entre” (interação = ação entre). Isto é, busca-se evitar uma visão polarizada da comunicação, que opõe emissão e recepção e foca-se em uma ou noutra instância. […] Os recursos e produtos desse tipo de rede são incorporados, gerados, transformados e movimentados através de ações intencionais ou não dos participantes. Por outro lado, isso não depende estritamente de determinado tipo de laço social ou que haja sempre uma interação conversacional contínua entre dois ou mais sujeitos (PRIMO, 2007, p.4).

Seguindo ainda o racicínio de Primo, para se compreender a interação nas

atuais redes virtuais é preciso levar em conta que a relação interativa nesse contexto

informático deve ser trabalhada como uma aproximação à interpessoal. O autor

resgata as discussões em tempos de teoria da informação, com Shannon e Weaver

(1962), passando pelo desenvolvimento da teoria da comunicação para mostrar que

54

a evolução do entendimento sobre interação perpassa os caminhos trilhados pela

comunicação, que saiu da compreensão de um fluxo linear - centrada na

superioridade do emissor - para a dinamicidade, onde todos os participantes são

atuantes na relação. Para o autor, os membros desse processo interativo são

chamados de interagentes, tanto para designar as pessoas, quanto os aparatos

tecnológicos (também designados reagentes), já que no ciberespaço o mecanismo

digital também faz parte do processo.

Watzlawick, Beavin e Jackson (1973) discutem, na obra Pragmática da

Comunicação Humana, sobre a relação entre os interagentes mediada pela

comunicação. Para os autores, a interação representa sempre um processo

comunicacional, mas a comunicação não se resume a trocas de mensagens e

implica sempre em um comportamento:

[...] uma vez aceito todo o comportamento como comunicação, não estaremos lidando como uma unidade de mensagem monofônica mas com um complexo fluido e multifacetado de numerosos modos de comportamento — verbais, tonais, posturais, contextuais, etc. — que, em seu conjunto, condicionam o significado de todos os outros. (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1973, p. 46)

Portanto, os interagentes oferecem um ao outro, definições de suas

relações, ou, pode-se dizer, cada um tentaria definir a natureza da relação. "É

importante salientar porém, que cada um reage com a sua definição da relação,

podendo confirmar, rejeitar ou até modificar a do outro". (PRIMO, 2007, p. 31).

Vale salientar que, ao investigar a interação, considerando que se trata da

relação entre indivíduos, há sempre de se considerar o contexto. De acordo com

Watzlawick, Beavin e Jackson (1992), os fatores contextuais exercem significativa

influência e podem atuar como limitadores à interação. Entretanto, esse contexto

não é entendido apenas como fatores externos aos comunicantes. As mensagens

trocadas passam a fazer parte do contexto interpessoal, impondo restrições à

interação subseqüente.

No âmbito do ciberespaço essa relação é complexificada, uma vez que há a

mediação do computador e de outras tecnologias da informação. Alguns autores

classificaram a interação social considerando as particularidades e os diferenciais do

ciberespaço.

55

De acordo com Reid (1991), a interação pode ser síncrona ou assíncrona e

a diferença se dá especialmente por causa das diferenças temporais no âmbito do

ciberespaço.

A interação síncrona representa aquela em que se espera que a resposta

seja imediata, uma simulação da interação real, com os atores no mesmo momento

temporal, online, como pode ocorrer nos chats ou aplicativos de mensagens

instantâneas. Já na comunicação assíncrona, não há expectativa de reposta

imediata, pois um dos atores não deve estar no mesmo momento temporal e,

portanto, pode levar algum tempo para responder. É o que acontece, por exemplo,

nos e-mails.

Já Primo (2003) propõe a interação como sendo mútua ou reativa. Na

mútua, os elementos são interdependentes e, uma vez que um seja afetado, todo o

sistema se modifica. Os processos de negociação no qual os atores se envolvem

afetam-se, portanto, mutuamente. "O contexto oferece importante influência ao

sistema, por existirem constantes trocas entre eles” (PRIMO, 2000, p. 7). É o caso

de comentários em sites de redes sociais, por exemplo, em que é possível haver

diálogo entre todos os comentaristas.

Na interação reativa predomina relações lineares e unilaterais, limitando-se

a relações determinísticas de estímulo e resposta, ação e reação, num reflexo de

automatismo. Para visualização, pode-se imaginar a relação do ator com um

hiperlink, em que a única decisão ao individuo é sobre clicar ou não, mas a direção

já está pré-programada e não é possível alterá-lo.

A partir dessa classificação, entende-se que, na maioria das vezes, a

interação reativa dá-se apenas entre o ator e o sistema. No caso das redes sociais

virtuais, a interação geralmente é mútua, uma vez que há possibilidade de interação

entre os atores e, mesmo em caso de o ator agir apenas clicando em um botão -

como para aceitar uma amizade no Facebook - há reflexos no sistema, já que toda a

rede sofre alterações e há impacto social.

Ao falar sobre interação no ciberespaço, entramos também na discussão

sobre interatividade, outro conceito emergente nos estudos sobre redes sociais na

internet. Percebe-se que o conceito de interatividade é muito vasto e, por vezes,

funde-se com o de interação. Apesar disso, alguns autores defendem a

diferenciação. É o caso de Lemos (1997), para quem:

56

[…] há uma diferenciação entre interatividade e interação. A primeira estaria relacionada ao contato interpessoal, enquanto a segunda seria mediada. A interatividade seria um tipo de comunicação encontrada não somente em um equipamento, mas também em sistemas que proporcionem interação ou um meio para conseguí-la (LEMOS, 1997, p.12).

Barreto (1997) conceitua a interatividade como sendo a possibilidade de

acesso em tempo real pelo usuário a diferentes estoques de informação, às

múltiplas formas de interação entre o usuário e as estruturas de informação contidas

nestes estoques:

A interatividade modifica a relação usuário-tempo-informação. A interatividade reposiciona os acervos de informação, o acesso à informação e a sua distribuição, e o próprio documento de informação ao liberar o receptor dos diversos intermediários que executavam estas funções em linha e em tempo linear passando para um acesso on-line e com linguagens interativas. (BARRETO, 1997, p. 2).

Por esse entendimento, a interatividade digital seria um tipo de relação

tecno-social, um diálogo entre homens e máquinas, em tempo real, localizadas em

uma zona de contato, zonas de negociação, as interfaces gráficas (PRIMO, 1999).

Em paralelo à interatividade, surge também um termo em evidência:

convergência. Santaella (2013) afirma que a convergência ocorre quando todas as

formas anteriores de comunicação humana se fundem em um único aparelho

complexo, o computador. Ou seja, o código verbal (imprensa, revistas, livros), o

audiovisual (televisão, vídeo, cinema), as telecomunicações (telefone, satélites e

cabo) e a informática (hard e software), juntos, num mesmo processo, “passou a ser

chamado de convergência das mídias” (SANTAELLA, 2013, p. 237).

Muito se fala em convergência das mídias como sendo uma consequência

do avanço dos aparatos tecnológicos recentes. Entretanto, o conceito deve ser

pensado para além do caráter tecnicista, considerando-se outros componentes,

como os de caráter social e cultural.

Corroborando com a ideia, Aquino (2011, p.9) propõe:

Resultado de apropriações e usos diversos, a comunicação estabelecida via Rede se expandiu atingindo os demais meios de comunicação, estabelecendo além de novos modelos comunicacionais, novas práticas e formatos midiáticos, obrigando a reflexão sobre questões materiais e sociais que envolvem os processos comunicacionais que se desenvolvem através dos meios digitais e que promovem o desenvolvimento de uma cultura marcada pelo uso de novos tipos de ferramentas de comunicação.

57

Ainda contrapondo-se à noção da convergência como um processo

puramente tecnológico, Jenkins (2008, p. 30) reconhece que ela representa uma

transformação cultural, “à medida que os consumidores são incentivados a procurar

novas formas de informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia

dispersos.”

Na introdução da sua obra Cultura da Convergência, Jenkins afirma:

"Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,

mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que

imaginam estar falando”. E acrescenta: "A convergência não ocorre por meio de

aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro

dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros”

(JENKINS, 2008, p.27).

Entende-se, a partir dessa reflexão, que o grau de interatividade dos

usuários no processo comunicacional interfere diretamente no conceito de

convergência midiática, ou seja, as práticas dos usuários afetam diretamente nesse

processo. Jensen (2010) reflete sobre essa questão do suporte falando sobre a

interação diária dos usuários de Internet, argumentando que a comunicação em rede

deve questionar não só o que a mídia faz com as pessoas, mas também o que as

pessoas fazem com a mídia.

Faccion (2010) também destaca a interação como um elemento fundamental

no conceito de convergência. “Para desenvolver-se nesse sentido, a convergência

precisa da interação das pessoas, realizada através das mídias. Esta interação, por

sua vez, depende do interesse criado pelos objetos que participam desta cultura,

que pode ser iniciado através dos elementos estéticos destes” (FACCION, 2010).

Existe, na cultura da convergência, portanto, um caráter fundamental de

interação, que, se por um lado depende da competência tecnológica das novas

mídias em abrir caminhos de interatividade, por outro, estabelece dois

parâmetros de avaliação: a capacidade dos objetos de incitar a interação e o

interesse da sociedade em interagir.

Como visto, o longo dos ano, a internet e a web se desenvolveram de forma

a modificar as formas de sociabilidade e proporcionaram os processos de

convergência midiática. O caráter aberto do modelo da Internet permite que as

58

pessoas se apropriem e modifiquem essa tecnologia, algo não possível a outros

meios, como a televisão e o rádio.

É diante desse novo cenário em que, por meio das configurações em redes,

houve uma reconfiguração entre emissores e receptores, uma vez que cada usuário

pode trilhar seu próprio caminho e apropriar-se do conhecimento de forma

autônoma, que os veículos de comunicação tiveram que se adaptar à emergência da

sociedade em rede. Com relação especificamente ao telejornalismo, os autores Silva

e Rocha (2010, p.197) ressaltam que:

A relação entre o telejornal e seu público, que antes se dava somente no momento da veiculação do telejornal, com poucas possibilidades de interação, foi estendida ao ser transposta para o ciberespaço, o que permitiu a participação do telespectador, agora convertido em usuário (grifo nosso), em fóruns, chats, enquetes e o acesso a conteúdos multimidiáticos relacionados às notícias apresentadas no telejornal.

Nascida da ideia de ser um sistema de comunicação invulnerável a ataque

nuclear, a Internet iniciou sua expansão quando a tecnologia digital permitiu a

concentração de todos os tipos de dados, imagem e som.

Diferentemente da mídia de massa, a internet possibilita que os usuários

façam a informação, através de uma “constante construção e recontrução de

ramificações de informação, relacionadas a pessoas e grupos, tem sido uma

característica marcante da sociedade da informação” (FREIRE; FREIRE, 1998,

p.81).

Possibilitadas pela convergência e visando a interação e interatividade, hoje

é quase uma regra que os veículos de comunicação tradicionais façam uso das

mídias sociais para se manterem mais próximos do seu público. É o caso das

fanpages no Facebook, que servem como um meio opcional para que os

espectadores tenham acesso ao conteúdo produzido para o meio tradicional.

Dessa forma, além de mensagens pessoais e de interesse geral, notícias e

informações de utilidade pública também circulam por sites de redes sociais.

Com as mudanças na forma de comunicação e relação dos usuários com a

informação, interagentes podem contribuir para conferir visibilidade a determinados

acontecimentos jornalísticos ao compartilharem conteúdos em sites de redes sociais

(ZAGO; BASTOS, 2013). Os participantes deixaram de apenas receber informação e

passaram a produzir, distribuir e compartilhar, alterando as relações entre emissores

e receptores.

59

De maneira visionária, Castells (1999, p. 376) já previa, ainda no final do

século XX: “O único modo de controlar a rede é não fazer parte dela, e esse é um

preço alto a ser pago por qualquer instituição ou organização, já que a rede se torna

abrangente e leva todos os tipos de informação para o mundo inteiro”.

Atualmente a internet dispõe de diversas mídias e redes sociais, dos mais

distintos públicos e com as mais diversas finalidades. Entre eles, se destaca a maior

rede social do mundo, o Facebook, que chegou, ao final de 2017, aos mais de dois

bilhões de usuários. É sobre essa rede que discorremos a seguir.

Figura 10 - Fanpage do Jornal Nacional

Fonte: Facebook (2018).

3.2 Facebook: além da produção e do consumo de informações

"Give people the power to build community and bring the world closer

together”. “Dar às pessoas o poder de construir a comunidade e aproximar o mundo”

é a frase instituída como missão do Facebook, atualmente a maior rede social do

mundo. Criado em 2004 pelo norte-americano Mark Zuckerberg, ultrapassou, em

60

2018, a marca de dois bilhões de usuários por mês conectados pela plataforma4. O

Brasil é o país com o maior número de usuários do Facebook, com mais de 100

milhões de pessoas com perfil na rede5.

Figura 11 - Página inicial de acesso ao Facebook

Fonte: Facebook (2018).

Pela plataforma os usuários podem criar perfis, onde há uma lista de

interesses pessoais e é possível carregar e compartilhar fotos e mensagens públicas

ou privadas, além de várias outras ferramentas que propiciam a produção de

conteúdo e interação entre os participantes.

Como são diversas os elementos, as ferramentas e funcionalidades

presentes na plataforma Facebook, aqui serão listados os principais que são citados

no decorrer da pesquisa:

4 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/tec/2017/06/1896428-facebook-atinge-marca-de-2-bilhoes-de-usuarios-anuncia-zuckerberg.shtml Acesso em: 25 fev. 2018 5 Disponível em https://www.facebook.com/business/news/102-milhes-de-brasileiros-compartilham-seus-momentos-no-facebook-todos-os-meses Acesso em: 25 fev. 2018

61

Amigos – pessoas que fazem parte da rede de contatos de cada

participante. Para ser amigo de um perfil é necessário um convite. O Facebook

permite que se solicite e aceite amizades, assim como permite desfazer amizades,

bloquear ou parar de seguir uma pessoa.

Feed de Notícias – constituinte da página inicial de cada usuário, o Feed de

Notícias é uma espécie de mural, no qual aparecem as publicações de amigos,

páginas e outras conexões que o usuário cria. De acordo com definição do próprio

Facebook, as publicações que aparecem primeiro são influenciadas pelas conexões

e atividades dos usuários. O número de comentários, curtidas e reações recebidos

por uma publicação e o seu tipo (foto, vídeo, atualização de status) também podem

torná-la mais propensa a aparecer primeiro no Feed de Notícias.

Seguir – um usuário segue automaticamente todos os seus amigos. Mas

também é possível seguir páginas (perfis de empresas, organizações, marcas,

pessoas famosas etc.) e pessoas que não são suas amigas, mas que permitem ser

seguidas. Ao seguir uma pessoa ou uma Página, você poderá ver atualizações

dessa pessoa ou da Página no seu Feed de Notícias. Se curtir uma Página, você a

seguirá automaticamente.

Like/gostei ou share/compartilhar – botões pelos quais os usuários podem

expressar se gostaram de algum conteúdo, como foto, vídeo, links, ou até mesmo

comentário e compartilhar com a sua rede.

Marcar – funcionalidade que permite criar um link, dentro de uma

publicação, para o perfil de uma pessoa. A publicação em que se marca um perfil

fica visível para ela e os amigos da pessoa marcada ou também para outros

usuários, a depender das configurações de privacidade do perfil.

Comunidades e grupos - Além dos perfis pessoais ou páginas, é possível

criar grupos ou se unir a comunidades já existentes. Nesses espaços, que podem

ser grupos abertos a qualquer participante, fechados ou secretos, com participação

mediante autorização de um administrador, é possível discutir temas em comum,

publicar material e acompanhar postagens de interesse.

Desde 2017, o fundador do Facebook, Marck Zuckerberg, tem anunciado a

meta de fortalecer essas comunidades online. Em entrevista ao canal de notícias

62

norte-americano CNN, publicada pela Folha6, Zuckerberg afirma ter percebido que é

preciso incentivar participação dos usuários nesses grupos. “Agora percebemos que

precisamos fazer mais também. É importante dar voz às pessoas, ter uma

diversidade de opiniões por aí, mas, além disso, você também precisa fazer esse

trabalho de construir uma comunidade para que todos possam avançar junto”.

Páginas – São as fanpages (Exemplo na figura 14). São destinadas a

serem um canal de comunicação entre organizações e seus “fãs”. São espaços que

reúnem pessoas interessadas sobre um assunto, empresa, causa ou personalidade

em comum sem a necessidade a aprovação de amizade. Qualquer pessoa com

perfil na rede que tenha interesse pode “seguir” a página e, sempre que houver

atualizações na fanpage, o seguidor as recebe em sua própria timeline. Pela

fanpage, além de acompanhar as atualizações, os usuários podem curtir, comentar

ou compartilhar as informações sobre o dono da página.

Como já visto, atualmente é cada vez mais comum que organizações se

façam presentes nas redes sociais na internet. As fanpages podem se constituir

como canais de comunicação para as empresas e organizações. É nesse contexto

que se encontra o objeto de análise dessa pesquisa, que será detalhado a seguir.

6 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/tec/2017/06/1896428-facebook-atinge-marca-de-2-bilhoes-de-usuarios-anuncia-zuckerberg.shtml. Acesso em: 27 fev. 2018

63

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos

utilizados na pesquisa, sua caracterização quanto à natureza, abordagem do

problema e objetivos, além da abrangência e a forma de coleta e análise dos dados.

4.1 Caracterização da pesquisa

Esta pesquisa se classifica, quanto à sua natureza, como pesquisa aplicada,

uma vez que objetiva gerar conhecimentos para aplicações práticas em um órgão da

administração pública, no caso, a TVU/UFRN.

Vergara (2006) afirma que a pesquisa aplicada tem a finalidade de por em

prática as teorias existentes, diferentemente da pesquisa pura que se relaciona,

basicamente, com uma curiosidade do pesquisador e, geralmente, tem a ver com a

observação apenas.

Com relação aos objetivos, o estudo assume caráter descritivo. Sampieri,

Collado e Lucio (2013) explicam que os estudos descritivos buscam revelar

características importantes do fenômeno analisado e descreve a propensão de um

determinado grupo. Dessa forma, atende mais adequadamente a estudos que

objetivam expor as características de determinados fenômenos. A pesquisa aqui

realizada busca observar fenômenos, procurando descrevê-los e interpretá-los.

A abordagem terá enfoque primordialmente qualitativo. A pesquisa

qualitativa parte da subjetividade e procura investigar as causas do problema sem

necessariamente utilizar dados estatísticos, valendo-se da interpretação. “Vão do

particular ao geral”, conforme afirmam Sampieri, Collado e Lucio (2013, p.35):

Dentro do enfoque qualitativo [...] existe uma variedade de concepções ou marcos de interpretação, só que em todos eles existe um denominador comum que poderíamos situar no conceito de padrão cultural, que parte da premissa de que toda cultura ou sistema social possui um modo único para entender situações e eventos. Essa cosmovisão, ou maneira de ver o mundo, afeta a conduta humana. Os modelos culturais estão no centro do estudo do qualitativo, pois são entidades flexíveis e maleáveis que são marcos referenciais para o ator social e construídos pelo inconsciente, aquilo que foi transmitido por outros e pela experiência pessoal.

64

Este trabalho se desdobrou em três frentes interdependentes: a pesquisa

bibliográfica, a observação em campo através da etnografia virtual e a técnica de

coleta de dados através de entrevistas e levantamento de dados estatísticos.

Como alicerce dessa pesquisa, recorre-se à pesquisa bibliográfica com

revisão de literatura sobre estudos de usuários da informação e redes sociais, com

limitação nas áreas de Ciência da Informação e Comunicação Social, e tem

abrangeu uma diversidade de recursos informacionais: livros, artigos de periódicos,

teses e dissertações.

Foram consultadas publicações nas bases Portal de Periódicos Capes,

Google Scholar e Scielo, em inglês, português e espanhol, com busca pelos

descritores etnografia virtual, netnografia, redes sociais, redes sociais na internet,

comunicação nas mídias sociais, comportamento informacional e estudos de

usuários.

O método de investigação é a etnografia virtual alicerçado na observação

participante e em entrevistas semiestruturadas para coleta de dados.

O campo de estudo onde essa etnografia se desenvolve é a fanpage do

TVU Notícias no Facebook, abrigada no endereço facebook.com/pg/tvunoticiasrn,

conforme exposto na seção locus da pesquisa.

4.2 Locus da pesquisa

Nesta seção é apresentada a fanpage do TVU Notícias, campo que abriga a

pesquisa. Para contextualizar, faz-se necessário expor sobre o TVU Notícias,

telejornal produzido pela TVU, que é o objeto da página no Facebook.

4.2.1 TVU Notícias

O TVU Notícias é o telejornal produzido e transmitido pela TV Universitária

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que integra a estrutura da

Superintendência de Comunicação da Universidade, juntamente com a Agência de

Comunicação (AGECOM) e a Rádio Universitária FM. Fundada em 1972 para fins

educativos, visando a transmissão das aulas do Projeto SACI (Satélite Avançado de

Comunicações Interdisciplinares) a Televisão Universitária, primeira do Rio Grande

do Norte, foi durante 15 anos a única emissora no estado com programação local.

65

Ao longo de mais de quatro décadas a TVU vem produzindo programas

educativos, culturais e jornalísticos dos mais diversos formatos. Como

retransmissora, veicula a programação da TV Brasil.

Especialmente por ser um órgão público, a TVU tem um importante papel na

formação complementar e crítica do telespectador, com a missão de difundir o

conhecimento gerado pela UFRN e contribuir para o exercício da cidadania.

O telejornal TVU Notícias é um noticiário local, veiculado de segunda a

sexta-feira, às 19 horas, nos canais 5.1 (Digital), 17 ou 117 (Cabo) e 5 (VivoTV) para

a cidade de Natal e Grande Natal. Tem 30 minutos de duração e transmissão ao

vivo e geralmente dividido em três blocos. Além das notícias e reportagens, no jornal

são realizadas entrevistas ao vivo todos os dias. De acordo com informações no

próprio site da TVU7, a emissora “adota um jornalismo voltado para o cidadão e

busca provocar a reflexão e o aprofundamento das notícias de interesse público”.

A TVU conta com bolsistas na complementaridade do seu quadro funcional,

que são oriundos do curso de jornalismo da UFRN, contratados através de seleção.

Atualmente eles são responsáveis por diversas etapas no processo de produção de

telejornal, como as pautas e reportagens.

A redação de Jornalismo da TVU tem ainda com cinco jornalistas, que

supervisionam o trabalho dos bolsistas e também atuam diretamente na realização

do jornal em funções gerenciais.

4.2.2 Fanpage do TVU Notícias

O telejornal TVU Notícias possui atualmente uma fanpage no Facebook,

onde são postadas as matérias veiculadas no dia anterior pela TV. O material,

produzido para o formato do telejornal, é disponibilizado no Youtube e postado na

página da mídia social. Dessa forma, todos os seguidores da página têm acesso ao

conteúdo e podem interagir através das ferramentas disponibilizadas na plataforma.

No ano de 2016, quando foi feito o pré-projeto dessa pesquisa, a fanpage

agregava pouco mais de cinco mil seguidores. Já no final de 2017, eram oito mil

seguidores. No final de 2018, a página contabilizava 9,9 mil seguidores.

7 www.tvu.ufrn.br

66

O gerenciamento da conta passou por algumas mudanças desde que a

página foi criada. Como ela surgiu sem nenhum intermédio institucional, não houve

planejamento ou equipe responsável pelas postagens e acompanhamento da

página.

No período de início do levantamento de dados dessa pesquisa, iniciado em

fevereiro de 2018, a gestão da mídia da página estava delegada a um bolsista da

redação de jornalismo e tinha como administradores os cinco jornalistas do setor

(inclusive esta pesquisadora, inserida como administradora para fins desta pesquisa)

e, como editores, todos os treze bolsistas da redação de jornalismo.

No decorrer da pesquisa, houve novas mudanças no gerenciamento da

fanpage. Uma equipe composta por dois bolsistas da redação de jornalismo em

cada turno de trabalho (manhã e tarde) ficou responsável por alimentar a página e

fazer o acompanhamento da publicação, observando especialmente os comentários

dos participantes. Os administradores da fanpage continuaram sendo os jornalistas

do setor, enquanto a função de editor passou a ser apenas dos bolsistas

designados.

Figura 12 – Fanpage TVU Notícias no Facebook

Fonte: Facebook (2018).

67

4.3 Procedimentos de coleta

O objetivo desta seção é apresentar a técnica e os instrumentos escolhidos

para a coleta de dados. São discutidos alguns os conceitos sobre a etnografia

virtual, a observação participante e as entrevistas semiestruturadas.

4.3.1 Etnografia Virtual

A etnografia é um método de investigação que surgiu dos estudos da

antropologia e, especialmente a partir dos anos de 1980, com a difusão das

tecnologias de informação, tem sido empregado em outras áreas científicas.

O método etnográfico, na sua essência, fundamenta-se na vivência em um

lugar, em que o pesquisador compartilha das experiências ali vivenciadas pelos

nativos para entender suas características, práticas, interações, diálogos, enfim, sua

cultura. Como define Magnani (2002, p.17), o fazer etnográfico busca “apreender os

padrões de comportamento, não de indivíduos atomizados, mas dos múltiplos,

variados e heterogêneos conjuntos dos atores sociais”.

Apesar da experiência essencialmente prática da pesquisa, a teoria

desempenha um papel importante na etnografia, pois é nela que o investigador foca

para iniciar a sua investigação. O resultado da análise mostra a essência do

funcionamento e do modo de vida do grupo.

Por ser um processo essencialmente subjetivo, que é construído e

reconstruído ao longo da pesquisa em campo, não há um rigor técnico a ser

seguido. “A etnografia é um processo guiado preponderantemente pelo senso

questionador do etnógrafo. Desse modo, a utilização de técnicas e procedimentos

etnográficos não segue padrões rígidos ou pré-determinados, mas sim o senso que

o etnógrafo desenvolve a partir do trabalho de campo no contexto social da pesquisa

(MATTOS, 2011, p. 50)

Tendo como um dos seus principais pilares a observação participante, a

etnografia implica tentar perceber as pessoas como seres inscritos em “teias de

significado” (GEERTZ, 1989). Para Lakatos e Marconi (2003), a observação

participante “consiste na participação real do pesquisador com a comunidade ou

grupo. Ele se incorpora ao grupo. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que

68

está estudando e participa das atividades normais deste”. É o reconhecimento de si

no objeto pesquisado (NUNES, 2009).

Com o desenvolvimento da internet, a emergência da cibercultura, o

surgimento dos agrupamentos online, a grande discussão acerca da aplicação da

etnografia é sobre a realização dessa forma de estudo em ambientes “não físicos”,

como é o caso das redes sociais online, como explicam Nunes e Almeida Junior

(2015, p. 54):

Embora a etnografia tenha sido concebida e historicamente aplicada tendo como principal “fonte de dados” a interação face a face, a maneira peculiar da interação propiciada pela comunicação mediada pelo computador tem um caráter recente e traz os desafios metodológicos à sua aplicação, tornando-se necessário ajustar alguns dos seus pressupostos [...]. É preciso se render às possibilidades de pesquisa que se apresentam no contexto da web.

.

De acordo com as pesquisadoras Fragoso, Recuero e Amaral (2011), desde

a constituição de grupos sociais possibilitados pela comunicação em rede, através

da internet como meio, foi percebido que algumas técnicas etnográficas poderiam

ser utilizadas para estudos das culturas e comunidades agrupadas nesse ambiente

virtual. "Dentre as possibilidades das abordagens qualitativas, a etnografia tem

despontado, de forma cada vez mais contundente, como um método promissor para

os estudos ciberculturais” (SANTOS; GOMES, 2013).

Hine (2000) afirma que a etnografia virtual estuda as práticas sociais na

internet e seus significados para os participantes. A internet, nesse caso, é o lugar

de encontro das pessoas, que se reúnem em espaços virtuais, formando suas

comunidades e traçam ali suas relações de sociabilidade.

Para definir o Facebook como um ambiente de interação e não apenas uma

plataforma, consideram-se as colocações de Guimarães Júnior (2004, p.125):

As plataformas são as diferentes tecnologias (tais como softwares e conexões de internet) que permitem a comunicação entre dois ou mais usuários e ambientes de sociabilidade, por sua vez, são os espaços sociais estabelecidos através de uma ou mais plataformas.

De acordo com Segata (2008), essa diferenciação entre plataforma e

ambiente é útil, pois possibilita que se demarque os contornos simbólicos dos

grupos sociais online, que se utilizam, muitas vezes, de mais de uma plataforma a

fim de construir um ambiente.

69

Uma das características da etnografia é a colocação do pesquisador em um

ambiente que lhe é estranho, distante e, a partir daí, tentar captar as nuances dos

aspectos socioculturais em estudo. Entretanto, no caso das redes sociais online,

pesquisador e pesquisado fazem parte de um mesmo plano, onde o etnógrafo se faz

investigador da sua própria sociedade, ao estar inserido num meio em que

compartilha das mesmas experiências, no tocante ao uso das tecnologias de

informação.

De acordo com Oliveira (2010, p.104), “as relações, interações e mediações

que se estabelecem no espaço virtual adquirem especificidades que devem ser

levadas em consideração no momento de sua coleta e análise em pesquisas

científicas”. “O campo, entretanto, não fornece dados absolutos do real estudado,

mas informações que se transformam em dados durante o processo reflexivo,

portanto, posterior à sua coleta” (NUNES, p. 163, 2009).

A etnografia virtual também é conhecida por outros termos, como

webnografia, ciberantropologia, etnografia digital e netnografia. Segundo Amaral et

al. (2008), o termo etnografia virtual é mais utilizado por pesquisadores da área de

antropologia e ciências sociais, enquanto netnografia aparece nos estudos da área

de marketing e administração. Nesse estudo, portanto, foi utilizado o termo

etnografia virtual, que parece mais apropriado aos objetivos aqui pretendidos.

Para esta pesquisa em questão, não se fez necessário o deslocamento

físico até o grupo em análise, entretanto, faz-se o deslocamento simbólico, ao

pertencer ao ente pesquisado, ao mesmo tempo em que se pesquisa.

Conforme a literatura repetidamente aponta, a etnografia se presta a uma

diversidade de aplicações, mas Angrosino (2009) ressalta que os modos de fazer

esse tipo de pesquisa têm um fio condutor: a vivência em campo, a narrativa

personalizada, a utilização e a combinação flexível de múltiplas técnicas, um

compromisso de longo prazo e a indução a partir dos acúmulo de descrições.

Conforme Kozinets, frequentemente a pesquisa etnográfica virtual se utiliza

de “multimétodos” de pesquisa. Para Braga (2006), o método etnográfico vai

demandar não poucas vezes a complementação de outros aportes teórico-

metodológicos, entendendo que a combinação de múltiplas técnicas e materiais de

pesquisa pode ser uma estratégia para enriquecer, aprofundar e complexificar uma

investigação científica.

70

Dessa forma, além da observação participante, utilizou-se a técnica da

entrevista semiestruturada como instrumento complementar, dentro da etnografia,

para se obter informações que não seriam possíveis através da observação.

Segundo Boni e Quaresma (2005, p.75), “esse tipo de entrevista é muito utilizado

quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um

direcionamento maior para o tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam

alcançados”.

Optou-se pela entrevista semiestruturada pela combinação de perguntas

abertas e fechadas e a possibilidade de se recorrer a um guia com questões

previamente definidas, mas sem a necessidade de se ater a uma fórmula, com a

liberdade e flexibilidade de não seguir uma ordem e interagir em um ambiente mais

informal. Nesta pesquisa as entrevistas “[…] se baseiam em um roteiro de assuntos

ou perguntas e o entrevistador tem a liberdade de fazer outras perguntas para

precisar conceitos ou obter mais informação sobre os temas desejados […]”

(SAMPIERI; COLLLADO; LUCIO, 2013, p. 426).

Foi ainda realizado um levantamento de dados estatísticos dos números

relacionados à fanpage, através do Facebook Insigths, uma ferramenta

disponibilizada pela própria plataforma que analisa as métricas do site. Esse

levantamento estatístico buscou complementar a etnografia, especialmente na

coleta de números sobre o envolvimento dos participantes com as publicações.

Apesar de esta pesquisa ser caracterizada como qualitativa, entendeu-se

que a complementaridade com esses dados quantitativos poderia dar mais solidez

ao que seria captado na observação, como se explica na citação de Denzin (apud

BRANNEN, 2007, p. 18): Diferentes tipos de dados precisam ser vistos como constituídos por pressuposições e métodos que os geram. Nesta perspectiva, os dados qualitativos e quantitativos precisam ser tratados como amplamente complementares, embora não necessariamente como compatíveis, como defendido por expoentes da triangulação.

Ainda sobre a questão da inclusão ou exclusão de dados quantitativos nas

abordagens qualitativas, Alarcão (2016) discorre:

71

É frequente pensar-se que, se a abordagem é qualitativa, não faz sentido utilizar dados de natureza quantitativa. Mais uma vez recordo que não se deve pensar em termos dicotómicos, mas sim complementares. Além disso, abordagem é uma perspetiva de carácter holístico. Dados são componentes do processo investigativo, relacionados com a metodologia seguida para atingir os objetivos. A integração de dados quantitativos, pela sua natureza objetiva, tem a vantagem de ser mais evidente e sintética (ALARCÃO, 2016, p.112).

Assim, todos os instrumentos foram pensados de forma que, através da

junção dos dados, pudessem atender aos objetivos específicos.

4.4 Procedimento de análise

Apresentadas as formas de coleta de dados, passa-se à análise. Para esta

pesquisa foi definida a técnica de Análise de Conteúdo, segundo Bardin (cuja

conceituação teórica se faz a seguir.

4.4.1 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo é uma das técnicas usadas para o tratamento de

dados qualitativos mais amplamente divulgadas e difundidas nos últimos anos.

Leavell é indicado como um dos precursores do método, ainda na década de 1920.

Entretanto, foi apenas em 1977, através de Bardin, com a obra L`analyse de contenu

que a análise de conteúdo foi configurada nos moldes ainda hoje utilizados.

Conforme Bardin (2009, p. 18), “a análise é realizada por meio do que está

escrito, falado e mapeado, e permite identificar o que está implícito em cada

conteúdo”. A autora conceitua o método como […] um conjunto de técnicas de

análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou

não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 18).

Seguindo a perspectiva de Bardin, a análise de conteúdo configura-se como

uma técnica metodológica que pode ser aplicada em diferentes discursos e formas

de comunicação, seja qual for a natureza do seu suporte. “Nessa análise, o

pesquisador busca compreender as características, estruturas ou modelos que estão

72

por trás dos fragmentos de mensagens tornadas em consideração”. (CÂMARA,

2013, p.182).

“A análise de conteúdo é uma técnica de análise das comunicações, que irá

analisar o que foi dito nas entrevistas ou observado pelo pesquisador” (SILVA,

FOSSÁ, 2017, p.2). A afirmação confirma o enquadramento do método para esta

pesquisa, uma vez que aqui se utiliza da etnografia virtual, ancorada na observação

participante como uma das formas de coleta dos dados, além das entrevistas com

os usuários da informação na página virtual do TVU Notícias.

A Análise de Conteúdo é compostas por três fases que dão significação aos

dados:

Pré-análise – É organização do material, em que são selecionados o que há

de mais importante entre o que foi coletad. É a primeira atividade, que consiste em

quatro etapas: contato com o material bruto (leitura flutuante); demarcação do que

será analisado; formulação das hipóteses ou objetivos; referenciação dos índices.

Fase exploratória – etapa em que se codifica as categorias, identifica as

unidades de registro, faz-se as interpretações, inferências e as descrições. É ainda

nessa fase que se faz a codificação, classificação e categorização. A criação de

categorias é o ponto crucial da análise de conteúdo. As classes são copiladas a

partir da correspondência entre a significação, a lógica do senso comum e a

orientação teórica do pesquisador. Uma categoria deve suscitar a exclusão mútua, a

homogeneidade, a pertinência, a objetividade e fidelidade e a produtividade.

Tratamento dos resultados – intuição e críticas são protagonistas do

momento. Por meio da indicação obtida na segunda fase, o pesquisador poderá

efetuar análises, inferências e interpretações destacando os mais significativos

(BARDIN, 1977, p.95-102).

73

5 ETNOGRAFIA NA PRÁTICA Diante do que foi exposto, segue a apresentação de como se deu a

etnografia virtual nesta pesquisa. Apesar da flexibilidade do método, procurou-se

seguir as recomendações do rigor em se explorar o fenômeno em densidade no

campo empírico definido para estudo, a fanpage do TVU Notícias no Facebook. Esta

pesquisadora já participava do grupo há mais de dois anos, um fato favorável, por já

haver conhecimento prévio do objeto de estudo.

A pesquisa qualitativa, em suas limitações pela subjetividade, impõe alguns

impasses ao pesquisador. O recorte temporal para a investigação foi um deles.

Dessa forma, fez-se necessário inicialmente a observação da dinâmica no ambiente

estudado. Pela própria característica do método etnográfico, a observação já resulta

em levantamento de dados. Sendo assim, considera-se que a coleta teve início em

fevereiro de 2018 e prosseguiu até junho de 2018.

Para designar os usuários da fanpage, optou-se por utilizar, além desse

termo, a palavra perfil - pois representa a “descrição ou informação acerca das

características de alguém” (AULETE, 2004, p. 610) e também o termo “participante”.

Alguns procedimentos e fundamentos teóricos acerca da etnografia foram

determinados, a fim de modelar a forma como se empregou o método. Conforme

Kendall (2009), existem três fronteiras para a construção do campo a ser estudado:

espacial, temporal e relacional. O limite relacional se refere a onde, quem e o que

estudar. Já o temporal condiz com o tempo gasto na investigação, enquanto o

relacional versa sobre as relações entre o pesquisador e as pessoas estudadas.

Essas premissas foram consideradas na delimitação do campo e da forma de

estudo.

Além disso, foram consideradas também as esferas de influência citadas pela

mesma autora, sendo elas analítica, ética e pessoal, que se referem,

respectivamente, às decisões de limites do projeto, decisões tomadas por razões

éticas para proteger os participantes e aos aspectos da formação do pesquisador,

que podem influenciar nas escolhas ao longo da pesquisa. Dessa forma, essas

fronteiras e influências repercutiram no recorte e caminhos percorrido ao longo da

investigação.

Segundo Fragoso, as fronteiras espaciais são o âmbito mais descritivo de um

projeto. Nessa pesquisa, os limites espaciais foram definidos conforme o objetivo

74

geral: o comportamento e as práticas informacionais constituem o <quê>; os

usuários são o <quem> e a fanpage do TVU Notícias é o <onde>. O <quando> se

deu de acordo com o que foi definido com o recorte temporal: 1º de fevereiro a 30 de

junho de 2018. Com relação à fronteira relacional, a pesquisadora fez uso de meios

digitais, no caso, a fanpage, com o grupo do qual já fazia parte, mas não tinha

relação direta com os usuários analisados.

No âmbito teórico e analítico, os usuários foram estudados conforme os

conceitos das abordagens do comportamento informacional e práticas

informacionais, dentro da área da Ciência da Informação, combinando aspectos de

fundamentação de estudos sobre redes sociais.

Já sobre a esfera ética, optou-se por omitir os nomes e quaisquer outros

aspectos que identificassem os participantes.

Com relação à inserção da pesquisadora no campo estudado, houve a opção

pela prática de lurking8 (ORGADI apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p.

192-193) - quando se mostrou silenciosa, através apenas da observação do

ambiente, sem muita interferência ou identificação perante o grupo estudado - a

momentos como pesquisadora insider, estratégia em que o investigador se faz como

um observador mais ativo, além de inserir elementos autobiográficos e seu pré-

conhecimento e/ou participação da cultura observada (HODKINSON apud

FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 193). A pesquisa inside permite abordar

situações de interesses semelhantes a partir de modos de vida próximos entre quem

pesquisa e quem é pesquisado” (NUNES, 2014, p. 167).

No primeiro caso, a escolha se deu pelo fato de esta pesquisadora ser

também administradora da página e jornalista atuante na produção do conteúdo

para op telejornal TVU Notícias que, por conseguinte, pode vir a ser publicado na

fanpage. Dessa forma, uma participação mais ativa poderia comprometer ou

influenciar a participação dos demais usuários. Já a pesquisa inside se deu quando

foi preciso reconhecer, pela própria pesquisadora, as vivências no ambiente

estudado, assim como os demais indivíduos do campo, além da interação através

das entrevistas, com a abordagem aos usuários da página, momento também em

que foi feita a identificação da pesquisadora para os entrevistados.

8 Ato de espreitar. Dá-se ao entrar em listas de discussão, comunidades online etc. somente como observador, sem participação ativa.

75

5.1 A coleta de dados na etnografia

Na imersão no campo desta pesquisa, a coleta de dados foi iniciada no dia

1º de fevereiro de 2018 e encerrada no dia 30 de junho de 2018, através da

observação e levantamento de dados, complementada pelas entrevistas. A chegada

em campo se deu diariamente, com acesso à fanpage do TVU Notícias. Tão logo

feito o acesso, primeiramente buscava-se pelo que havia de novidade no local, como

novas postagens, mensagens, comentários. Observado o que se considerava

relevante, a descrição era feita em um 'diário de campo' com as principais

impressões e acontecimentos do dia. Foram observados os diálogos, interações

entre os participantes e dos participantes com o conteúdo da página.

Para registro além das anotações, foi utilizado o recurso Print Screen ou

'captura de tela', que fotografa a interface do computador, sendo um registro por

meio de imagem do acontecimento. Esse recurso serviu como documentação, tendo

sido utilizado sempre que surgia algo considerado mais emblemático e cujo registro

fosse necessário para melhor ilustração e análise dos dados.

Como se trata aqui de um estudo em um ambiente virtual, foi condizente

com a fundamentação da pesquisa a utilização de recursos tecnológicos que

viabilizaram a coleta e análise dos dados. Sendo assim, recursos como o

smartphone9 e mídias como o WhatsApp10, Facebook Messenger11 serviram como

facilitadores e foram utilizados ao longo do estudo para auxiliar nas entrevistas.

A “chegada” diária em campo nesta etnografia se fez, na maioria das vezes,

por meio do smartphone, que, conectado à internet, possibilitava o acesso à

fanpage. A escolha por essa mídia se deu por ser considerada a mais prática, uma

vez que tem a facilidade de uso em diferentes ambientes, e também por ser a

9 Smartphone é, em tradução literal, um “celular inteligente”. O dispositivo dispõe de tecnologias avançadas, o que inclui programas executados por um sistema operacional e engloba algumas das principais tecnologias de comunicação, como a internet. 10 WhatsApp Messenger é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones. 11 Facebook Messenger é um software, disponibilizado pelo Facebook, de serviço de mensagens instantâneas, que fornece texto e comunicação por vídeo.

76

ferramenta mais utilizada pelos usuários objeto de estudo12. Portanto, foi a forma

com a qual a pesquisadora se aproximou mais ao estilo de acesso dos investigados.

Figura 13 - Captura de tela de comentário em publicação na fanpage do TVU Notícias

Fonte: Facebook (2018).

Para ter acesso a algumas informações restritas da fanpage, às quais o

participante comum não tem disponíveis, esta pesquisadora foi registrada também

como administradora da página, funcionalidade que permite, inclusive, gerenciar

funções e configurações do site. Tal intervenção foi permitida pelos demais

administradores, que são os jornalistas responsáveis pela gestão da redação de

jornalismo da TVU.

Na observação, participante é imprescindível a integração do investigador ao

grupo investigado, ou seja, o pesquisador deixa de ser um observador externo dos

12 Pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro e Instituto Ipsos apontaram que smartphone é o meio preferido para à acesso à internet entre os brasileiros. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-02/sete-em-cada-dez-brasileiros-acessam-internet-e-elevam-uso-de-smartphone Acesso em: 03 Mar. 2018

77

acontecimentos e passa a fazer parte ativa deles. Esse tipo de coleta de dados

muitas vezes leva o pesquisador a adotar temporariamente um estilo de vida que é

próprio do grupo que está sendo pesquisado (BONI; QUARESMA, 2005).

Dessa forma, ao conectar a página do TVU Notícias no Facebook, a

pesquisadora tornava-se também usuária da informação. Por vezes de forma

despretensiosa, apenas assistia aos vídeos publicados, fazendo críticas ao conteúdo

ou à forma, e lia os comentários e interações dos demais usuários, vivenciando no

campo a mesma experiência dos ali presentes. Outras vezes, contudo,

intencionalmente voltava o olhar crítico apenas às interações dos participantes,

buscando evidenciar os aspectos relevantes para a pesquisa.

Figura 14 - Captura de tela de notificação recebida no smartphone sobre movimentação na

página do TVU Notícias no Facebook

Fonte: Facebook (2018).

Como usuária da informação inscrita na página, esta pesquisadora recebia

em seu smartphone as notificações de alerta sobre as movimentações na fanpage,

como novas publicações, e também, já como administradora da página, alertas

sobre interações do público no site (figura 14). Essas notificações também serviram

como facilitadores para o acompanhamento mais efetivo dos acontecimentos no

campo estudado.

78

5.2 O que se observou

Durante o período em campo, foram observadas as interações e o

comportamento do público na fanpage do TVU Notícias diariamente. Em geral, são

postados na página os vídeos das reportagens veiculadas no telejornal no dia

anterior. Além disso, em algumas raras ocasiões é publicado algo produzido

especificamente para a página, como chamadas para seleção de bolsistas na TVU.

Assim, foram registradas 275 postagens feitas pela página no período da coleta de

dados.

Para melhor compreensão, esclarecemos aqui algumas expressões que

serão utilizadas no decorrer da descrição: o envolvimento do público é um índice

apontado nas métricas do Facebook e diz respeito a todas as ações realizadas pelas

pessoas envolvendo as publicações da fanpage e ações como curtidas, comentário

ou compartilhamento, visualização de foto ou vídeo ou clique em links. As reações são as opções de interação que os usuários dispõem nas publicações apenas

clicando em um botão. As cinco opções além do “curti” são “amei” (para demonstrar

forte aprovação a uma publicação), “haha” (substituto do riso), “uau” (para situações

surpreendentes, sejam positivas ou negativas), “triste" e “Grr" (para raiva ou

desaprovação).

Para melhor concatenação dos dados observados, a descrição com os

apontamentos considerados mais relevantes durante a etnografia será apresentada

por ordem cronológica, conforme apresenta-se a seguir.

No mês de fevereiro as publicações com maior número de envolvimento do

público foram as que veicularam reportagens sobre as atrações musicais do

carnaval de Natal. Entretanto, o envolvimento restringiu-se às reações, havendo

apenas um comentário em relação à publicação e poucos compartilhamentos.

Ainda naquele mês, uma publicação, no dia 19, fugiu do formato das

postagens convencionais na página. Um gif13 com uma chamada para seleção de

13 Graphics Interchange Format, que se pode traduzir como "formato para intercâmbio de gráficos". Formato de mapa de bits muito usado na internet, quer para imagens fixas, quer para animações. GIFs são usados geralmente como um meio para o efeito cômico. Uma ou mais fontes de vídeo podem ser editadas, rearranjadas ou combinadas para criar uma justaposição.

79

bolsistas teve o maior número de visualizações e alcance14 de usuários do mês.

Entre os comentários a maioria era de usuários marcando outros perfis, como um

convite para que vissem a publicação. Apenas um fazia um questionamento acerca

da restrição do concurso aos alunos de jornalismo, mas não houve diálogo entre os

usuários além disso.

Figura 15 - Gif publicado na fanpage do TVU Notícias no mês de fevereiro

Fonte: Facebook (2018).

Já no mês de março, destacou-se o envolvimento dos usuários com uma

notícia sobre a polêmica entre um professor da UFRN e uma aluna, que teria sido

retirada de sala de aula por estar acompanhada da filha, de 5 anos de idade. Até o

dia da coleta dos dados, realizado em 14 de março, foram mais de 7 mil

14 O alcance da publicação indica o número de pessoas que receberam qualquer publicação da fanpage na tela delas.

80

visualizações, 468 reações, 157 compartilhamentos e 212 comentários, números

muito superiores aos observados comumente.

Figura 16 - Captura de tela de publicação de reportagem com polêmica sobre professor da

UFRN e comentários dos usuários

Fonte: Facebook (2018).

Entre os comentários, praticamente todos eram de repúdio ao

comportamento do professor e de apoio à aluna. Somente um comentário se

posicionava em apoio ao docente. Essa foi a publicação com maior desempenho

durante todo o período de análise, com relação ao número de pessoas alcançadas.

Foram 19.002 registros de alcance e 7.222 visualizações do vídeo.

A título de comparação, se forem somados todos os alcances das demais

postagens do mês, o resultado não chega ao número dessa única publicação. Um

fator curioso é que o principal público apontado pelo Facebook Insigths foi de

homens entre 25 e 34 anos de idade, o que poderia ir de encontro ao que se infere

como possíveis maiores interessados no assunto, no caso, mulheres.

Apesar dos muitos comentários, não se percebeu diálogo entre os usuários.

Cada um dava sua própria opinião sobre o assunto, sem interferência de outros ou

sem ser retrucado. No entanto, em alguns comentários havia as opções “curti” ou

“amei”, o que leva a acreditar que outros indivíduos concordaram com o comentário,

utilizando, para assim demonstrar, somente o recurso informacional simbólico.

81

No dia 28 de março, a coluna política, um quadro de comentário político

realizado pelo professor e filósofo Pablo Capistrano, que era exibida todas as

quartas-feiras no TVU Notícias, voltou a ser veiculada após período suspensa e teve

grande alcance e número de visualizações e também de reações. Entre as opções

de reação, o “curti” e o “amei” tiveram maior registro, mas também houve usuários

que clicaram no “triste”. Também se destacou por ter havido comentários mais

emblemáticos, com discussão entre o público.

O vídeo do professor Pablo Capistrano trazia comentários sobre os crimes

políticos recentes no Brasil e o primeiro comentário de um usuário mostrou-se contra

a opinião do filósofo. Em resposta, dois usuários se posicionaram: um concordando,

outro retrucando. Outros usuários comentaram na publicação e se mostraram em

concordância com o conteúdo do vídeo, como se vê nos comentários aqui expostos:

USUÁRIO A - Peraí, deixa ver se eu entendi. Ele está dizendo que o discurso do ódio é contra a esquerda? Só pode ser brincadeira isso! Quem foi que disse que ia pegar em armas se tirassem a Dilma, heim? Quem foi que disse que se prendessem o condenado à 12 anos ia morrer gente, heim? Quem foi que disse que tinha o exército do MST a disposição, heim? Kkkkkkkkkk, HILÁRIO! É cada uma viu... USUÁRIO B (em resposta a A) - Homi, vou nem queimar meus neurônios. A esquerda é sinistra. USUÁRIO C (em resposta a A) - Quero que você diga qual ativista de direita morreu por sua militância ou por posicionando político! USUÁRIO D - Muito boa a análise. A direita sempre foi racista de classe e seu defensor continua sendo o velho capitão do mato do século XXI. USUÁRIO E - A direita golpista e violenta tem uma tendência para a burrice e a psicopatia. USUÁRIO F – Gostei.

Houve ainda 90 compartilhamentos da publicação e muitos desses usuários

que fizeram comentários, em seu próprio feed, exaltando a publicação ou

convidando para que outras pessoas assistissem.

Já no mês de abril, a publicação de uma notícia sobre o registro do alto

nível das chuvas no Rio Grande do Norte, mostrou-se com um expressivo número

de reações, compartilhamentos e comentários. Entretanto, apesar de constarem 61

comentários, apenas sete eram na própria página do TVU Notícias. Todas as

demais foram feitas em compartilhamentos, comportamento que se repete em

82

muitas publicações. A maioria dos comentários na página fazia referência ao

repórter:

USUÁRIO A - Ola jovem Reporte amei a matéria parabéns Léo um grande abraço. USUÁRIO B - Também gostei da matéria, Leo. Deve ser muito agradável noticiar o que bom. V.está ótimo. USUÁRIO C - Arrasou! Gostei da matéria! Parabéns. USUÁRIO D - Brilhante matéria amigo Leonardo Julierme. USUÁRIO E - Parabéns boa matéria.

As postagens da coluna política, feitas nos dias 4, 11, 18 e 25 de abril

também se sobressaíram, especialmente em números de visualizações e

comentários, em relação às demais do mês. O que se observou de comum entre o

comportamento dos usuários nessas publicações foi muitas reações através do

“curti” e “amei”, muitos compartilhamentos e poucos comentários na página. No

quadro intitulado “A disputa por Lula”, em que o professor fala sobre a decisão do

Tribunal Superior Eleitoral a respeito da candidatura do ex-presidente Lula à

presidência, apesar das 3,5 mil pessoas alcançadas, somente um comentário foi

feito na fanpage, por um usuário que rebatia o posicionamento político expresso no

vídeo, alegando que a instituição pública deveria ser apartidária.

Passando para o mês de maio, o público parece ter tido maior envolvimento

nas publicações da página. Um número maior de postagens constou com alcance

superior a mil pessoas. Entretanto, apesar de terem mais visualizações, continuou

se percebendo pouca interação entre os usuários. Nas publicações que têm mais

compartilhamento, os comentários são feitos, em sua maioria, nas postagens

compartilhadas e não na publicação original.

Na publicação referente a uma reportagem sobre uma Lei que regulamenta

a presença de doulas junto à gestante no momento do parto, foram registradas 166

reações (incluindo comentários e compartilhamentos). Apesar desse número, consta

na página apenas dois comentários, todos os outros foram realizados em

compartilhamentos. Ressalta-se que um dos comentários é de uma mulher que

busca mais informações sobre o curso para doulas. Entretanto, não houve resposta.

Já em uma notícia sobre o reajuste de tarifa de passagem de ônibus,

algumas pessoas comentaram lamentando o aumento. Nessas mensagens havia

apenas a exposição de opinião acerca do assunto do vídeo.

83

USUÁRIO A – Neste país Estado e empresas privadas se unem para explorar o povo. É triste. USUÁRIO B - um trabalhador que paga inteira vai pagar quase 10 reais so pra se deslocar na cidade que é um ovo [...] absurdo [...] inaceitável. USUÁRIO C – absurdo!!!

Outra postagem com grande alcance foi a publicada no dia 8 de maio,

referente à vitória de duas irmãs de escola pública em uma Olimpíada internacional

de matemática. Foram mais de sete mil pessoas alcançadas, tendo 2,4 mil

visualizações. Mais uma vez, o alto número de alcance não refletiu em envolvimento

do público, havendo apenas um comentário com emoticons e, das 309 curtidas, 283

foram em outras páginas.

Já no dia 18 de maio, chamou atenção os comentários feitos em uma

publicação com reportagem sobre a presença do então pré-candidato à presidência,

Jair Bolsonaro, em Natal. Todos os comentários na postagem feita na página eram

de pessoas se mostrando contra Bolsonaro, muitas apenas com um ‘emoji de

vômito’ 15 , numa espécie de protesto, conhecido na rede como “vomitaço”. Dos

poucos que escreveram algo, também havia tom de repúdio.

Figura 17 - usuários fazem "vomitaço em publicação sobre a visita de Jair Bolsonaro a Natal

Fonte: Fanpage do TVU Notícias no Facebook

15 Figurinha digital muito utilizada no Facebook, com imagem de uma carinha vomitando. Frequentemente utilizada para expressar repúdio a algo.

84

No vídeo do “Agendão”, publicado no mesmo dia, que divulga os eventos

culturais do final de semana na cidade, também foi contabilizado um alto número de

reações, comentários e compartilhamento. Todavia, como já registrado

anteriormente, a maior parte do envolvimento do público se dá em outras páginas.

Entrando no mês de junho, foram publicados na página cinquenta vídeos,

todos de reportagens veiculadas no telejornal. Notou-se que o público se envolveu

mais nas publicações acerca da Copa do Mundo de Futebol. Apesar de se perceber

um registro de grande alcance de pessoas em diversos vídeos, não houve destaque

para a interação do público em nenhuma publicação. As postagens com maior

número de reações, além dos videos sobre a Copa do Mundo, foram novamente as

da coluna política e do agendão.

5.3 Levantamento de dados estatísticos

Complementarmente à observação, foi feito um levantamento de dados, com

uma análise mais detalhada dos números estatísticos das publicações, que são

disponibilizados pela própria plataforma do Facebook, o Insights Facebook. Em área

restrita aos administradores da fanpage, é possível ter acesso a estatísticas de

acesso dos usuários, registro de reações, curtidas, compartilhamentos e

comentários, entre outros dados.

A ferramenta disponibiliza também dados demográficos acerca do público, a

partir nas informações de idade e gênero disponíveis em seus perfis de usuários.

Sendo assim, tem-se que o público16 do TVU Notícias na fanpage é formado

em sua maioria por mulheres, embora a diferença seja pequena comparando-se

com a porcentagem de homens presentes na página. São 55% mulheres e 45% de

16 Com relação ao público nas fanpages, o Facebook divide as pessoas na página entre fãs, seguidores, pessoas alcançadas e pessoas envolvidas. Os fãs são os que curtiram a página e, automaticamente, passam a seguir, ou seja, recebem as publicações da página em seu feed de notícias; os seguidores são os que ativaram a ferramenta para seguir, recebem as publicações, mas não curtiriam necessariamente a página. Não são, portanto, cadastrados como fãs. As pessoas alcançadas são aquelas que viram qualquer conteúdo na página; Já as pessoas envolvidas correspondem aos usuários que falam sobre a página em qualquer ambiente da plataforma, sejam em seus perfis pessoais ou mesmo em outras páginas.

85

homens, com predominância na faixa etária entre 25 e 34 anos de idade. Esses

números dizem respeito aos “fãs”, que são as pessoas que curtem a página.

Figura 18 - Dados demográficos agregados de pessoas que curtiram a fanpage do TVU Notícias

com base nas informações de idade e gênero disponíveis em seus perfis de usuário

Fonte: Facebook Insigths

Quando analisadas as pessoas que se envolvem com as publicações, os

dados são equivalentes. Entre as pessoas envolvidas na página, são 55% de

mulheres, 45% de homens e, destes, a maioria também está na faixa dos 25 aos 34

anos de idade.

Figura 19 - Dados demográficos dos seguidores da fanpage do TVU Notícias

Fonte: Facebook Insights (2018).

A ferramenta ainda disponibiliza informações acerca da localização desses

usuários. São listadas 49 cidades de origem desses indivíduos, sendo que a grande

maioria Natal - Rio Grande do Norte (5.251 pessoas), seguida por Parnamirim (485

pessoas) e, curiosamente, Concepción, na região de Bío-Bío, no Chile, aparece em

terceiro lugar, com 179 pessoas.

86

A presença de perfis de Natal e Parnamirim é perfeitamente compreensível,

por motivações óbvias, uma vez que o TVU Notícias é um noticiário local da cidade

de Natal e região metropolitana, incluindo Parnamirim.

Já com relação aos seguidores chilenos, despertou-se curiosidade.

Descobriu-se que existe, no Chile, um canal de televisão homônimo, a TVUcanal,

com sede em Concepción. Portanto, os seguidores da página com registro no Chile,

certamente é derivado de engano ocasionado pelo nome das duas emissoras. Essas

questões podem ser confirmadas quando se analisam os números sobre as pessoas

envolvidas, em que não há registro de usuários dessa localidade, sendo

identificados apenas perfis de brasileiros, sendo os de maior registro os perfis

registrados como sendo de Natal, Parnamirim e Vera Cruz, todos no Rio Grande do

Norte.

Foram analisados ainda os gráficos que revelam os horários de maior

engajamento do público, o que, consequentemente demonstra ser o melhor horário

para a publicação na página. Sendo assim, através da ferramenta, tem-se que o

horário de maior visibilidade pelo público é às 20 horas, mas também há bom

alcance dos usuários às 19h, 17h e 11h, conforme demonstra o gráfico:

Figura 20 - Horários de maior alcance das publicações

Fonte: Facebook Insights (2018).

87

Analisando as publicações e envolvimento 17 do público, através da

observação foi possível perceber que as publicações com maior alcance 18 e

visualização eram também as que tinham maior envolvimento do público. Sendo

assim, utilizou-se como recorte para uma análise mais detalhada dos números as

postagens com mais de mil registros de alcance.

Foram coletados dados numéricos de 53 publicações, que foram as que

registraram maior alcance, de acordo com a ferramenta Insights. Como a ferramenta

disponibiliza informações sobre diversos índices e o foco do trabalho são os

usuários, focou-se nas estatísticas referentes ao envolvimento do público. Foram

coletados os índices de pessoas alcançadas, visualizações, envolvimento com a

publicação, números de reações, comentários, compartilhamentos e o principal

público atingido.

Agregadas às informações que já se obtivera através da observação,

constatou-se que o que havia de mais relevante para a finalidade deste estudo eram

sobre as reações. Comprovou-se por análise estatística simples o que já havia sido

observado: a maior parte dos comentários dos usuários nas publicações não é feita

na postagem original na fanpage, mas no feed de notícias dos participantes que

compartilham.

Para melhor visualização desses números, as publicações analisadas foram

agrupadas por mês, de fevereiro a junho. Logo após foram somados os números de

comentários e comparados entre os que foram feitos na página e os que foram

realizados na publicação compartilhada em outras páginas.

Abaixo temos a representação gráfica dos resultados:

17 O envolvimento com a publicação inclui todas as ações realizadas pelas pessoas envolvendo as publicações da fanpage e ações como reação, comentário ou compartilhamento, visualização de foto ou vídeo ou clique em links. 18 O alcance da publicação indica o número de pessoas que receberam qualquer publicação da fanpage na tela delas.

88

Figura 21 - Números de comentários nas publicações originais na fanpage e nas compartilhadas pelos usuários

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

5.4 A entrevista

A fanpage do TVU Notícias agregava, até o início desta etnografia, pouco

mais de nove mil seguidores. Dessa forma, mereceu grande atenção a delimitação

da quantidade de entrevistas a serem realizadas.

A seleção dos informantes foi feita seguindo alguns critérios: durante

período da etnografia, foi observada a dinâmica do grupo e participação dos

usuários da página. Através de levantamento de dados, foram identificados os perfis

que interagiram de alguma forma na fanpage, seja através de comentários,

compartilhamentos ou reações às publicações. Ressalte-se que essa interação

deveria ter sido feita no período do recorte temporal da etnografia, no caso, de

fevereiro a junho de 2018.

Feito este levantamento, foram aplicados alguns critérios de exclusão: não

fazer parte da rede pessoal de contatos da pesquisadora (uma vez que se trata de

uma rede e muitos perfis de participantes da fanpage em estudo são de ‘amigos’ da

pesquisadora); não ser ou ter sido do quadro funcional atuante na TVU, incluindo aí

0

100

200

300

400

Fevereiro Março Abril Maio Junho

Comentários nas publicações

Total de comentários naspublicações analisadas

Comentários emcompartilhamentos

89

bolsistas e jornalistas da redação de jornalismo da TVU, uma vez que é o setor

responsável pela produção das informações publicadas na página em questão. Com

isso buscou-se dar mais isonomia e impessoalidade à pesquisa.

Aplicados os parâmetros e selecionados os perfis, os participantes foram

abordados por mensagem privada, enviada através do Facebook Messenger19. A

mensagem, além do convite para a entrevista com a explicação do que se tratava a

pesquisa, houve o cuidado de se expor o comprometimento com o anonimato dos

respondentes, além de garantir a finalidade estritamente acadêmica das respostas.

Ao final da seleção e abordagem, restaram 19 respondentes. Compreendeu-

se que o número seria suficiente levando em consideração que, por se tratar de uma

pesquisa qualitativa, a amostra se caracteriza como não probabilística. Conforme

ressalta Fontanella et al (2008), nesse tipo de investigação, o pesquisador deve se

preocupar mais com a qualidade das informações adquiridas do que com a

quantidade de indivíduos entrevistados.

No caso desta pesquisa, a representatividade não está ligada à sua

expressividade estatística, mas destaca-se em termos de significado para o grupo

pesquisado. Além do mais, têm-se a consciência de que o fechamento amostral foi

realizado pela saturação dos dados, quando se constata empiricamente que a

categoria está saturada, tendo em conta a combinação de critérios e a sensibilidade

teórica do analista.

De acordo com Nunes (2014), o fechamento amostral acontece quando o

pesquisador percebe que os dados passam a apresentar certa recorrência e, a seu

critério, suspende a inclusão de novos participantes.

Com relação ao perfil dos entrevistados, foram 13 homens e 6 mulheres, de

idade variada entre 22 e 44 anos de idade, todos com nível superior de escolaridade

e diversas atividades profissionais, todos morando no Rio Grande do Norte, a

maioria sendo de Natal e região metropolitana.

Ao serem abordados, também foi dada a opção de a entrevista ser de forma

presencial ou virtual, a depender da comodidade e preferência do entrevistado.

Todos os que retornaram a abordagem responderam que preferiam pela internet.

19 Facebook Messenger é um serviço de mensagens instantâneas e aplicação de software que fornece texto e comunicação por vídeo.

90

Sendo assim, as entrevistas foram feitas de forma virtual, pelo próprio Facebook

Messenger.

Pela especificidade do ambiente e condições de entrevista, algumas

conversas foram simultâneas, enquanto em outras houve um espaço temporal maior

entre a pergunta a resposta. Diferentemente do que ocorre na entrevista face a face,

por exemplo, na virtual não há garantias de que o entrevistado responda

prontamente, o que pode ser considerado como uma limitação. Entretanto, não se

considera que houve algum prejuízo na coleta dos dados, antes disso, esses fatos

reforçaram as peculiaridades dos usuários da informação no ambiente virtual.

Para conduzir as entrevistas, foi utilizado um guia com perguntas, cujas

questões tinham como base elementos dos estudos do comportamento

informacional e das práticas informacionais, tal como exposto no referencial teórico.

Concluídas as entrevistas, passou-se à apreciação dos resultados e análise

dos dados. As respostas dos entrevistados serão detalhadas no capítulo que segue.

91

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Com vistas a responder ao objetivo da pesquisa, os dados coletados foram

analisados seguindo a análise de conteúdo, mais especificamente a técnica de

análise categorial, conforme prevê Bardin (2011). Esse método foi adotado porque,

além de possuir caráter qualitativo, emprega métodos discursivos e interpretativos

dos dados coletados. Antes da categorização, esse material já havia sido

selecionado após a leitura flutuante e a exploração, realizada através da codificação.

O processo de categorização foi substanciado a partir da conexão entre o

conteúdo exposto pelos sujeitos e o embasamento teórico da pesquisa,

evidenciando elementos dos estudos de usuários da informação sob a ótica da

Ciência da Informação.

Sendo assim, foram analisados aspectos sociais e cognitivos dos usuários

nesta investigação. Para a categorização, foram observadas as qualidades

assinaladas por Bardin (2011): exclusão mútua, homogeneidade, pertinência,

objetividade e fidelidade e produtividade.

Após reagrupamento por analogia e considerando a análise da literatura do

referencial teórico, restaram as seguintes categorias:

• Reconhecimento da necessidade de informação

• Busca da informação

• Uso da informação

• Interação

Passa-se, então, à terceira fase da análise de conteúdo, com o tratamento

dos resultados. Com a síntese do material coletado, foi feita e inferência e a

interpretação com as reflexões para promover a articulação com os objetivos da

pesquisa e a base teórica, visando à validade e o destaque dos dados mais

significativos (BARDIN, 2011). As respostas dos entrevistados são apresentadas

conforme o entendimento de que são representativas da expressão dos sujeitos do

tópico em questão. Os nomes dos entrevistados são suprimidos e eles são

identificados apenas por letras.

92

Durante essa análise buscou-se relacionar também com o que foi observado

na etnografia e já exposto na descrição. A análise é apresentada a seguir a partir

das categorias determinadas.

a) Reconhecimento da Necessidade de informação

Nos estudos sobre comportamento informacional, a necessidade de

informação é o “gatilho” que leva o indivíduo a buscar a informação. Dessa forma, a

necessidade pode ser compreendida como um motivador para se partir em busca da

informação. Portanto, para compreender o comportamento, têm-se de compreender

a necessidade do usuário da informação.

Nas respostas dos entrevistados é possível identificar o reconhecimento

deles próprios da necessidade de informação. Perguntados sobre o que os motivou

a seguir a página do TVU Notícias no Facebook, a maioria respondeu que segue

para ficar informado sobre uma demanda pessoal, como questões acadêmicas ou

informações jornalísticas do cenário local, como se vê nos relatos a seguir. Alguns,

inclusive, apontaram especificamente o quadro a que queriam assistir, como o

comentário político.

Eu sigo a página para me manter informado de notícias que tem a ver com a comunidade acadêmica e estudantil (EJ, 27 anos, arquiteto). Sigo a página porque me interesso muito por jornalismo local e a TVU fornece um bom trabalho jornalístico (EM, 40 anos, servidor público). (sigo) afim de acompanhar notícias de interesse universitário ou relevantes à cidade (EP, 22 anos, universitário). Sigo sim, para ficar atualizado com as notícias e para não perder os comentários de Pablo Capistrano. (EF, 43 anos, defensor público). Para saber sobre as notícias sobre o RN e sobre eventos em Natal (EC, 34 anos, atleta de esportes eletrônicos).

Aqui cabe uma análise com a utilização das categorias de necessidade de

informação propostas por Taylor (1986): visceral, consciente, formalizada e

adaptada (CHOO, 2003). As variáveis que definem essas quatro categorias são o

grau de abstração e concretude, por um lado, e de menor ou maior interação com

um sistema de informação, por outro; Assim, tendo em consideração a variável

93

abstração/concretude, verifica-se que as necessidades estão próximas à categoria

“consciente”, já que os respondentes afirmaram ter clareza do que querem.

Pode-se analisar também conforme o modelo ELIS (Everyday Life

Information Seeking), de Savolainen (1995), em que prevalecem questões nonwork.

Conforme o pesquisador, o paradigma das práticas informacionais vislumbra a

importância de enxergar o indivíduo comum inserido em um contexto social, fora do

seu ambiente de trabalho ou acadêmico, que necessita e busca informação para o

seu dia a dia.

Os usuários, como abordado aqui, têm necessidades informacionais para

suprir demandas que não são do ambiente laboral, mas da vida cotidiana informal,

como o lazer. Ter acesso ao noticiário local, como citado, é uma demanda de cunho

pessoal, não necessariamente profissional ou acadêmica.

Portanto, nessa questão se observa a dimensão social das práticas

informacionais. O usuário aqui da informação aqui não é acadêmico, científico ou

organizacional, que são o foco das abordagens positivistas e funcionalistas. Mas são

usuários não especializados, que utilizam a informação em suas vivências

cotidianas.

b) Busca da informação

A busca da informação é uma das etapas básicas do comportamento

informacional por meio da qual a informação torna-se útil para um indivíduo ou grupo

(CHOO, 2011). Os estudos de usuários da informação, especialmente os da

abordagem alternativa, apresentam diversos modelos teóricos acerca do processo

de busca. Nesta pesquisa, escolhemos não nos ater a um modelo específico, desta

forma, baseia-se em conceitos existentes em diversos modelos e teorias sob a ótica

da Ciência da Informação.

Durante a entrevista, os informantes relataram a forma como buscam pela

fanpage para obter informação, mas também o modo como buscam informação

dentro da própria página. Ao serem indagados como chegaram à página do TVU

Notícias, as respostas se dividiram entre os que afirmaram não ter feito uma busca

ativa, mas que receberam através do compartilhamento de outros indivíduos e entre

94

os que afirmaram ter pesquisado especificamente pela página, como se vê nos

relatos:

Através de postagens compartilhadas por alunos e profissionais da UFRN (EA, 27 anos, professor). Amigos no Facebook compartilharam o conteúdo da TVU, gostei, logo passei a seguir (EB, 22 anos, estudante). Pelo Facebook, provavelmente através de um amigo que compartilhou a notícia (EJ, 27 anos, arquiteto). Alguém compartilhou algo da página e eu curti (EL, 24 anos, estudante). Fiz a busca pelo Facebook (EC, 34 anos, atleta de esportes eletrônicos). Procurei no Facebook pelo TVU Notícias, o qual sempre assisti pela TV, para saber mais coisas do TJ (EH, 30 anos, jornalista). Encontrei procurando no Facebook (EG, 21 anos, produtor de eventos).

Sobre como encontram informações dentro da página, a maioria afirmou não

fazer busca alguma e que acompanham através do que aparece no feed de notícias,

seja por compartilhamento de amigos ou pela própria atualização do Facebook.

Nunca procurei, apenas assistia aos vídeos que apareciam na minha página do Facebook (EE, 44 anos, professora). Normalmente acompanho o que aparece para mim, mas as vezes procuro matérias no youtube quando recebo indicação (EF, 43 anos, Defensor público). Basicamente as matérias surgem na timeline do Facebook, não faço buscas (EJ, 27 anos, arquiteto). Geralmente eu não busco diretamente na página, só tenho contato com o conteúdo quando ele surge no meu face (EL, 24 anos, estudante).

A busca ativa pela informação, conforme exposto por alguns usuários, é

concebida como uma etapa no processo do comportamento de informacional em

diversos modelos teóricos, como de David Ellis (1989), que se divide em seis

categorias (iniciar, encadear, navegar, diferenciar, monitorar e extrair). A busca,

nesse caso, é identificada na primeira categoria, que é composta pelas atividades

realizadas no começo do processo de comportamento informacional. Já Wilson

(2000, p. 50) vê “a busca intencional de informação para satisfazer uma necessidade

informacional ou cumprir uma meta”.

95

Em contrapartida, os usuários também afirmaram que muitas vezes o

acesso à informação não se dá por uma busca consciente da necessidade, o que se

enquadra na linha dos estudos de Mckenzie (2003), que direciona a investigação às

ações mais espontâneas com relação às informações, menos diretivas. De acordo

com o seu modelo bidimensional, a informação pode ser encontrada “por acaso”

pelo sujeito, sem necessitar de nenhum mecanismo ativador.

Esse modelo segue quatro categorias: busca ativa, varredura ativa,

monitoramento não dirigido e por “procuração”. Nesse caso, evidencia-se que a

escolha sobre ler as informações contidas na página se deu de forma praticamente

acidental. Entretanto, a página foi compartilhada por ‘amigos' dos respondentes, o

que pode ser compreendido como uma recomendação (o modelo por procuração).

Isso ressalta a característica coletiva do processo de escolha no contexto em

questão.

Tal prática só é possível devido às características das redes sociais na

internet. Graças ao feed de notícias, as informações circulam de forma transitória,

num ritmo intenso. A informação passa a ser dotada de vários formatos, à medida

em que possibilita uma complexa conexão entre a produção, o consumo e o

intercâmbio de conteúdos (NUNES, 2014).

Esse fator também foi destacado na observação e no levantamento de

dados. Como descrito, na maior parte das publicações onde há compartilhamentos,

há interações fora da página. Ou seja, os indivíduos têm acesso às informações

postadas na página a partir da indicação ou recomendação de outros, tal como foi

descrito pelos respondentes da pesquisa.

Nesse ponto, captura-se a dimensão social da prática informacional dos

usuários. Conforme visto quando se falou em busca pela informação, muitos

usuários chegam à página do TVU Notícias apenas através do compartilhamento de

outros indivíduos. Ou seja, têm-se a concepção de algo como relevante pela

configuração social do indivíduo.

Nos estudos das práticas informacionais, um dos traços marcantes é

justamente essa dualidade entre a dimensão individual e a coletiva, pois entende-se

que a relação do indivíduo com o mundo é sempre mediada por outros sujeitos e

que a realidade é apreendida de acordo com referenciais coletivamente construídos,

que estão em constante redefinição de acordo com a subjetividade de cada pessoa.

96

Os atores dessa rede, aqui entendidos como usuários da informação,

envolvem-se com produção, consumo e distribuição e, a partir do momento em que

filtram o que deve ser compartilhado, publicando em sua própria rede, para que

outros tenham acesso ao que, pelo primeiro indivíduo, foi julgado como relevante.

Como observado em alguns momentos da entrevista, o próprio fato de um

amigo mais próximo ter compartilhado algo, é suficiente para que o indivíduo busque

por aquela informação.

Assim, estudar as práticas informacionais constitui-se num movimento

constante de capturar as dimensões sociais, coletivas - os significados socialmente

partilhados do que é informação, de quais são as fontes e recursos adequados - e

também as elaborações e perspectivas individuais de como se relacionar com a

informação - a aceitação ou não das regras sociais, a negociação das necessidades

de informação, o reconhecimento de uma ou outras fonte de informação como

legítima, correta, atual - num permanente tensionamento entre as duas dimensões,

percebendo como uma constitui a outra e vice-versa (ARAÚJO, 2017, p. 221).

Como indicam Tomaél e Marteleto (2005), a informação é o que mobiliza as

redes sociais e visto que a necessidade de informação é natural ao ser humano e às

organizações, as redes sociais são o caminho natural para a busca de informações.

Contextualizando a visão de redes para o ambiente virtual, considerando que a

sociedade atual vivencia essa "realidade virtualizada”, faz sentido que os indivíduos

procurem naturalmente as redes sociais na internet em busca de informação.

Confiabilidade na fonte de informação

Dentro da categoria de busca da informação, percebeu-se a relevância da

confiabilidade na fonte da informação para os sujeitos. Em seu modelo revisado de

comportamento informacional, Wilson (1996) elenca uma série de variáveis que

podem interferir no comportamento informacional dos indivíduos: psicológica,

demográfica, interpessoal, ambiental e as características da fonte. “É o grau de

conhecimento de uma variável interferente que determina se essa influencia de

forma positiva ou negativa (favorece ou impede) o comportamento informacional”

(GARCIA, 2007, p. 89).

Assim, os pesquisadores relacionam as características das fontes como uma

das variáveis intervenientes que influenciam no processo de busca e processamento

97

das informações. A confiabilidade é um dos fatores que podem determinar a forma

como se procura por informação e se apropria dela. Tais fatores ficam evidenciados

quando se analisam o comportamento de busca realizado pelo próprio usuário

(MARTÍNEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007).

Ao discorrerem sobre a página do TVU Notícias no Facebook, os

entrevistados revelaram explicitamente que o grau de confiança nas informações

geradas pela UFRN e TVU é um fator relevante na escolha desse canal como fonte.

Esses respondentes afirmam que acompanham a página por confiarem nas

informações divulgadas pela fonte, no caso, o TVU Notícias.

O fato da TVU fazer jornalismo com ética, e cuidado com a informação. A TVU é a única TV que dá 5 minutos em uma matéria para contextualizá-la e isso é muito importante para quem recebe a matéria. Diferente dos jornais locais que ou são pinga sangue, ou são imprensa marrom tendenciada para proteger os ricos daqui. Além das respostas que vocês dão ao público que entra em contato com vocês com educação e cordialidade (EC, 34 anos, atleta de esportes eletrônicos). A confiança no trabalho da equipe, e tenho certeza da seriedade e da responsabilidade dos envolvidos (EG, 24 anos, produtor de eventos). Acredito que o conteúdo da TVU é mais isento de interesses econômicos ou políticos, diferente do que ocorre em outros veículos locais (EM, 40 anos, servidor público). Sigo a página primeiramente por ser um canal de notícias do nosso estado e segundo pela credibilidade por se tratar de um projeto feitos com apoio dos discentes da UFRN a qual muito admire (EI, 31 anos, assistente administrative).

Dificuldades no acesso à informação

Em contrapartida à credibilidade, que influencia positivamente na busca por

informação através da fanpage do TVU Notícias, algumas características da fonte se

configuram de forma negativa nesse processo.

Durante a entrevista, os respondentes não enfatizaram muitas dificuldades

ao utilizar a página na busca por informação e se mostraram suficientemente

capazes e ativos no tocante ao uso da tecnologia. Entretanto, ao fazerem algumas

sugestões para melhoria da página, infere-se que há, na forma atual, algumas

questões que podem se configurar como barreiras ou dificuldades.

Durante a etnografia, foi possível perceber que, apesar dos recursos

interativos disponibilizados pela plataforma, muitas vezes não há um retorno dos

98

responsáveis pela gestão da página quando os usuários tentam contato. Seja

através de mensagens privadas ou comentários em publicações, o fluxo é

interrompido, pois não há feedback.

Além disso, não há uma periodicidade regular nas postagens. Em alguns

casos, os vídeos são publicados dias após terem sido veiculados pelo telejornal, o

que pode gerar desinteresse por uma notícia “velha”.

Através da observação e também dos dados disponibilizados pelo Facebook

Insights, têm-se que o maior acesso do público ao que é publicado se faz nas horas

imediatas à publicação. Devido à efemeridade da própria rede social na internet e

considerando a grande quantidade de informações que circulam na rede a todo

momento, a falta de constância nas publicações pode ser um entrave.

Uma questão levantada pelos respondentes da página foi com relação à

linguagem e forma de apresentação das publicações. Essa questão, inclusive,

denotou incoerências entre as respostas dos entrevistados. Apesar de se dizerem

satisfeitos com a página (como será descrito a seguir) e afirmarem concordar com a

linguagem que se utiliza na fanpage, o conteúdo ali disponibilizado e com a forma de

apresentação das publicações, em outros momentos da entrevista a maioria citou

melhorias que podem ser feitas, especialmente no tocante justamente da linguagem,

como se vê nas falas a seguir:

Coloquem uma descrição interessante nos vídeos do Youtube e Facebook. Se for no jornal, coloque as pautas e os momentos no vídeo que tem as matérias. Coloquem o jornal todo e na descrição as pautas do dia separado por tempo no video (EC, 34 anos, atleta de esportes eletrônicos). Muitas vezes os vídeos demoram a ser colocados no Facebook, e isso atrapalha um pouco, pois dificilmente vou até a página do YouTube procurar vídeos do tvu notícias (EN, 30 anos, gestor ambiental) . Acredito que poderiam haver publicações além do que é veiculado ao telejornal, pois o Facebook trata-se de um canal mais amplo e interativo que o telejornal (EP, 22 anos, universitário).

Percebe-se que, pela própria característica da rede social na internet, os

usuários sentem a necessidade de uma linguagem específica e adequada para o

ambiente, de forma que as informações ali disponibilizadas sejam mais convidativas

e interessantes para esse público, como afirma EJ: "A forma pode ser apresentada

de diferentes maneiras pelos jornalistas, para ficar menos monótono, o conteúdo em

si não há muitos problemas de entendimento".

99

O fato é confirmado com o que descrito na observação. Uma das postagens

de maior envolvimento na página durante o período da etnografia foi justamente a

que fugia aos padrões do que geralmente é posto na página. O gif com a chamada

para a seleção de bolsistas, publicado no dia 19 de fevereiro, continha uma

linguagem menos formal, mais coloquial, inclusive com memes. Vale salientar que

não se pode desconsiderar que o fato de a mensagem ser direcionada a estudantes

para uma seleção para estágio também pode ter sido motivo para um maior

envolvimento dos usuários.

c) Uso da informação

Com relação ao uso da informação, muitos entrevistados afirmaram que

utilizam a fanpage do TVU Notícias no Facebook como uma fonte de informação, em

substituição à mídia tradicional, no caso, a TV. Mesmo que na página sejam apenas

republicados os conteúdos veiculados anteriormente pela TVU, os respondentes

afirmaram que preferem a mídia virtual à televisão.

Muitos dos entrevistados disseram que utilizam esse tipo de mídia por não

fazerem uso da televisão, seja por falta de tempo para acompanhar o conteúdo no

horário em que é veiculado na TV, seja por falta de interesse pela mídia tradicional.

Um dos entrevistados chegou a afirmar que “há muito tempo não assiste a nenhum

programa de TV”. Outros declararam que não assistem ao jornal da TVU pela TV

porque não têm sinal, já que moram no interior do estado.

Esse acesso às reportagens do TVU Notícias na fanpage só é possível

graças a convergência hoje presentes nas redes sociais virtuais, que utiliza variados

aplicativos numa mesma plataforma. Além da questão tecnológica, ressalte-se aqui

a transformação cultural que essa convergência representa, conforme Jenkins

(2008) coloca, ao observar que “os consumidores são incentivados a procurar novas

formas de informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos”.

Outra questão que chamou a atenção foi quando alguns dos entrevistados

expuseram - questionados sobre o uso da fanpage - não uma finalidade específica,

mas a significação do ato para elas próprias. Uma entrevistada expôs o seguinte:

Sei da importância do feedback quando um trabalho é feito e através de minha participação eu posso estar colaborando de alguma forma para a qualidade do projeto (EI, 31 anos, assistente administrativo).

100

No mesmo teor, outro indivíduo declarou:

Enaltecer o trabalho de alguns amigos que compõem a tv (ES, 22 anos, jornalista).

Nos casos acima, os entrevistados enfatizaram ter a consciência do quanto

a postura deles diante da informação reflete para os outros. Conforme argumenta

Talja (apud ARAÚJO, 2016), as necessidades e usos de informação são

socialmente condicionados. Então, a percepção de que se engajar contribui para a

melhoria do serviço de informação acaba por impulsionar os atos do sujeito

isoladamente.

Outra aspecto de práticas informacionais forma que aqui se identificou o uso

da informação foi através do compartilhamento das publicações. Depois de ter

acesso ao conteúdo, os usuários em algumas ocasiões as compartilham. Esse fator

foi apontado na observação. Em geral, os compartilhamentos são acompanhados de

comentários que, no caso da fanpage do TVU Notícias, são positivos.

Assim, percebeu-se que os indivíduos que compartilham as publicações na

página o fazem quando se interessam positivamente pelo que foi publicado e

repassam como forma de atrair mais visibilidade ao conteúdo. Foi o que se

observou, por exemplo, nos videos dos comentários políticos. Ao se identificarem

com a crítica do professor Pablo Capistrano, alguns usuários compartilham o vídeo,

repassando à sua rede.

Uma dimensão central, portanto, das práticas informacionais identificadas na

pesquisa se relaciona com a questão da sociabilidade, isto é, das relações sociais

que se realizam de maneira espontânea, efêmera, sem outra finalidade que não a

manutenção da relação por si (ARAÚJO, 2015).

Satisfação com a informação obtida

No contexto do uso da informação, evidenciou-se também a satisfação com

a informação obtida. De acordo com Cunha, Amaral e Dantas, em qualquer caso de

comportamento a falha pode acontecer. Uma vez recebida a informação de que

precisava, esta deve ser utilizada para a resolução do problema que gerou a

101

necessidade. O uso da informação acarretará, assim, em satisfação ou insatisfação

do usuário.

Os usuários aqui analisados não buscam a informação com uma finalidade

laboral e, muitas vezes, nem buscam ativamente por ela, mas têm acesso através

de um monitoramento não dirigido. A apreensão da informação, entendida como um

fator subjetivo, talvez fique mais explícita quando os próprios indivíduos expõem sua

satisfação/insatisfação com a informação obtida. No caso em análise, os

respondentes, em sua maioria, expuseram que estão satisfeitos com a linguagem,

forma de apresentação e conteúdo da página.

Durante a entrevista, uma das questões perguntava se a linguagem as

postagens era adequada e, em outra questão, os entrevistados foram interpelados

sobre a opinião geral da página. Com relação a isso, os respondentes se mostraram

satisfeitos. Dos 19 entrevistados, apenas um respondeu que não gostava da

linguagem. Percebe-se que novamente a relação com a fonte da informação é fator

interferente na opinião emitida pelos usuários. O fato de os indivíduos perceberem a

TVU como uma emissora confiável, reflete nas respostas acerca do que acham da

fanpage. É que pode ser notado na fala dos entrevistados A e B:

É uma ótima fonte de informações de relevância local, tem um ótimo nivel de confiabilidade e clareza (EL, 24 anos, estudante). Muito boa, lá posso estar por dentro dos principais acontecimentos do nosso estado, prestações de serviço, dicas de cultura e outros, sempre passada de forma leve e sem o sensacionalismo que impera em outras páginas de notícias. Só tenho que dar meus parabens (EI, 31 anos, assistente administrativo).

A satisfação dos usuários também pode ser inferida quando os

respondentes se posicionaram com relação ao tipo de conteúdo publicado na

página. O fato de a fanpage publicar apenas material anteriormente veiculado no

telejornal, com a mesma linguagem utilizada na TV, inclusive na legenda dos vídeos,

não parece ser um problema aos usuários entrevistados, como se pode ver na

resposta do entrevistado C: “Sim, acho que a linguagem é adequada e de fácil

compreensão para as pessoas”.

Apesar de se dizerem satisfeitos, percebeu-se incoerências entre essa

declaração dos usuários, já que em vários momentos da entrevista os participantes

102

fizeram sugestões de mudanças e melhorias, tais como uma maior periodicidade na

publicações e postagens de notícias para além do âmbito acadêmico.

d) Interação

Questionados se costumam interagir na fanpage, muitos usuários

mencionaram que não interagem. Apenas uma pessoa garantiu que interage muito,

enquanto outras duas relataram que interagem muito pouco, mas, quando o fazem,

é nas publicações acerca de política. Outro participante ainda disse que só interage

quando conhece pessoalmente o usuário com quem vai dialogar.

Quase nunca (interajo), com exceção de algumas publicações de Pablo Capistrano (EK, 30 anos, publicitária). Interajo muito, a maioria das vezes sobre política (EL, 24 anos, estudante). (interajo) Muito pouco. Geralmente só se conhecer o usuário virtual ou pessoalmente (EH, 30 anos, jornalista).

O que se percebeu é que, ao perguntar se o usuário interage na página, os

entrevistados inferiram a interação sendo apenas o diálogo com outros usuários,

através de comunicação interpessoal, especialmente através de comentários.

Realmente, ao se observar somente dentro dessa perspectiva, essa questão

corrobora o que já havia sido apontado na observação: há pouca interação entre os

participantes.

No entanto, como também exposto no que foi observado e no levantamento

de dados estatísticos, em todas as postagens há impressões - as reações - deixadas

pelos usuários. Em algumas mais, como nos comentários políticos, em outras

menos. Mas sempre há. Os próprios entrevistados, em outros momentos da

entrevista, afirmaram que costumam “curtir” as publicações por motivos diversos,

seja para registrar sua opinião de forma simbólica, seja para enaltecer o trabalho do

jornalista que fez a reportagem.

Como discutido na pragmática da comunicação, Watzlawick, Beavin e

Jackson (1973) afirmaram que a interação representa sempre um processo

comunicacional, mas a comunicação não se resume a trocas de mensagens e

implica sempre em um comportamento.

103

Tendo como exemplo, retome-se ao caso apresentado na etnografia,

quando os usuários fizeram um “vomitaço" em uma das publicações, onde os

usuários envolvidos puderam se expressar, de forma simbólica e com as

ferramentas disponíveis na plataforma.

Além do mais, como característica do ciberespaço, não só as pessoas, mas

o sistema também faz parte do contexto interativo. Sendo assim, pode-se interpretar

que o ambiente se faz interativo ao dar a possibilidade de o usuário não ser somente

um receptor, a fanpage não se faz apenas como um instrumento de difusão,

promoção ou disseminação da informação, mas também um espaço de expressão.

Como coloca Primo (2000), ao discutir a interação no cibesperaço como

sendo mútua ou reativa, uma das dimensões a serem analisadas diz respeito à

interface. “Para que uma interface seja plenamente interativa, ela necessita trabalhar

na virtualidade, possibilitando a ocorrência da problemática e viabilizando

atualizações” (PRIMO, 2000, p. 15).

Na análise da interação, percebe-se a interrelação mais forte entre o

contexto das redes sociais e os estudos dos usuários da informação a partir da

perspectiva das práticas informacionais. Conforme a abordagem social dos estudos

de usuários, coloca-se em evidência a dimensão coletiva, considerando que os

fenômenos informacionais ocorrem em contextos específicos, o que altera a

compreensão da interação do usuário com a informação.

104

7 RECOMENDAÇÕES

Tendo então a análise do que foi pretendido a partir dos sujeitos, considera-

se que a fanpage do TVU Notícias se faz como um importante instrumento para

disseminação e apropriação da informação, tanto pela organização, quanto pelos

usuários da informação.

No entanto, apesar da potencialidade, algumas barreiras se postam como

limitadores na relação usuário-informação. Dessa forma, aqui são feitas algumas

recomendações. Ressalta-se que não é a intenção fazer um dossiê com passo a

passo para a gestão das mídias e redes sociais na internet. Reconhece-se que, para

tanto, faz-se necessário um diagnóstico mais abalisado do sistema e sua utilização

pela organização, o que aqui não foi o foco. Desde o princípio, a intencionalidade

dessa pesquisa voltou-se a investigar os aspectos mais subjetivos dos indivíduos em

sua relação com a informação, que se fazem apenas como uma das partes

envolvidas no processo.

Portanto, a partir do que foi apreendido em cada etapa do comportamento e

aspectos das práticas informacionais, e levando em conta as próprias sugestões dos

usuários, seguem algumas sugestões de adequações e melhorias:

a) Adequação da linguagem. A partir da compreensão de que o público do

TVU Notícias na fanpage, especialmente o que mais se envolve nas

publicações, é composto especialmente por jovens adultos e que há busca

por informações que dizem respeito ao âmbito acadêmico da UFRN, mas

também por informações jornalísticas acerca de assuntos locais, a

linguagem das publicações (especialmente nas legendas dos vídeos e

posts) deve buscar a proximidade com os usuários, de forma mais

coloquial e simpática, que seja mais convidativa, mas coerente com o

conteúdo informacional preponderantemente jornalístico das publicações.

b) Maior periodicidade e constância nas publicações. Sugere-se que os

vídeos sejam postados no mesmo dia em que são veiculados no telejornal.

Para isso, pode-se utilizar a ferramenta de agendamento de publicações,

disponibilizadas pelo próprio Facebook. Conforme averiguado no

105

levantamento estatístico, o horário mais propício para a postagem é por

volta das 20 horas.

c) Postagem de conteúdos específicos para a rede, independentes do

que foi transmitido pelo telejornal. Como foi apontado pelos entrevistados,

sugere-se a inserção de videos curtos com informações de prestação de

serviço, por exemplo, um quadro de utilidade pública.

d) Publicação de vídeos com quadros temáticos fixos, especialmente

com a temática política e a cultural, a exemplo do que a TVU veicula com

o quadro Comentário Político e o Agendão.

e) Incentivo ao compartilhamento das publicações. Como constatado que

é através do compartilhamento que há maior visibilidade e engajamento do

público, e considerando que há motivação emocional nesse envolvimento,

com o engajamento das famílias dos jovens repórteres em formação,

sugere-se que se aproveite dessa funcionalidade. Para tanto, deve-se

fazer a marcação do perfil da equipe responsável pela produção das

reportagens, como o repórter e o cinegrafista. Dessa forma, são gerados

hiperlinks que remetem a publicação à página dessas pessoas e que, por

sua vez, ficam disponíveis para que a rede deles tenha acesso ao

material, mesmo não seguindo a fanpage do TVU Notícias, onde

originalmente se fez a publicação.

f) Interação com os seguidores, mais agilidade nas respostas e estímulo à

participação na produção de conteúdo. Sugere-se a abertura de

postagens, ao menos uma vez por semana, com a divulgação de canais

de comunicação para que o público sugira pautas que podem virar notícia

no telejornal.

g) Implantação de cursos de capacitação em gestão de mídias sociais

para os jornalistas servidores da TVU, lotados na redação de jornalismo. A

princípio, podem ser oferecidos cursos para utilização das próprias

106

ferramentas do Facebook e do Instagram, que já oferecem uma

diversidade de recursos que podem ser aproveitados.

h) Inclusão de estudantes do curso de publicidade Comunicação Social – Publicidade e Propaganda na a equipe de gestão de mídias.

Considerando a necessidade de uma equipe para específica para a gestão

de mídias e tendo em vista que atualmente somente alunos de jornalismo

são selecionados para as funções da TVU, recomenda-se que sejam

incluídos alunos do curso de publicidade nessa seleção, visto que as

atividades atuais da redação de jornalismo vão além da produção do

noticiário e esses estudantes, tendo formação mais direcionada para

gestão de mídias, podem contribuir nessa função.

i) Criação de um plano de gestão de comunicação e gerenciamento de mídias sociais, no qual sejam aproveitadas o diagnóstico apresentado

nessa pesquisa com relação ao comportamento e práticas informações

dos usuários da informação na fanpage do TVU Notícias.

O quadro 3 sintetiza as recomendações, de acordo com cada etapa do que foi

evidenciado dos aspectos do comportamento e práticas informacionais dos usuários:

Quadro 3 - Recomendações de acordo com os elementos de comportamento e práticas

informacionais analisados Aspectos do

comportamento informacional

Recomendações Recomendações

interrelacionadas com todas as etapas

Reconhecimento da necessidade de informação

• Postagens de conteúdos específicos para a rede, independente dos veiculados no telejornal.

• Publicacões de vídeos com quadros temáticos fixos, como editorial político e agenda cultural.

• Implantação de cursos de capacitação em gestão de mídias sociais. • Inclusão de estudantes do curso de publicidade para a equipe de gestão de mídias. • Criação de um plano de gestão de comunicação e gerenciamento de mídias

Busca da informação • Maior periodicidade e constância nas

107

publicações. • Adequação da

linguagem.

sociais

Uso da informação • Incentivo ao compartilhamento das publicações.

Interação • Mais agilidade nas respostas e estímulo à participação na produção de conteúdo.

• Abertura de postagens, ao menos uma vez por semana, com a divulgação de canais de comunicação para que o público sugira pautas que podem virar notícia no telejornal.

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

108

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante esta pesquisa, teve-se a pretensão de realizar um estudo de

usuários da informação a partir de aspectos cognitivos e sociais, que regem,

respectivamente, a abordagem do comportamento informacional e das práticas

informacionais, no campo da CI. O alvo do estudo foram os indivíduos que se fazem

usuários da informação no contexto do ambiente virtual, tendo como campo empírico

a fanpage do TVU Notícias no Facebook.

Buscou-se investigar, numa perspectiva próxima à da etnografia, aspectos

da vivência cotidiana dos entrevistados, de suas interações com outros sujeitos e

suas ações diretamente relacionadas com a informação no campo empírico

pretendido. Universos dinâmicos e heterogêneos, como as redes sociais na Internet,

demandam a combinação de diferentes instrumentos para a coleta de dados, sendo

assim, foi considerado pertinente a utilização das entrevistas semiestruturadas, além

da coleta de dados estatísticos afim de complementar a observação.

Para caracterizar o comportamento informacional desses usuários, foram

analisados os aspectos referentes à necessidade informacional, a busca e ao uso

das informações. Na pretensão de suscitar outras questões concernentes aos

estudos de usuários da informação no âmbito da CI, se investigou também, a partir

das ações desses mesmos indivíduos, elementos que contemplam a perspectiva

das práticas informacionais conforme o paradigma social, considerando-o como uma

abordagem emergente dos estudos de usuários. Julgou-se pertinente levantar essa

questão especialmente pelas características preponderantemente sociais e

interacionistas do campo onde se desenvolveu a pesquisa, no caso, a rede social na

internet.

Ao relacionar os conceitos de estudos de usuários da âmbito da CI e o

referencial teórico acerca de redes sociais, percebeu-se grande sintonia entre as

teorias, especialmente no que diz respeito à abordagem social, que consideram os

aspectos contextuais da vivência diária dos indivíduos em suas ações relacionadas

à informação, inclusive, na busca e uso da informação, tendo a interação como

conceito-chave e percebendo a relação dos sujeitos com a realidade como um

processo dialético, de construção mútua e constante de significados.

Nessa correlação, identificam-se os usuários da informação na fanpage do

TVU Notícias como sendo os ‘atores’, representados na rede pelos ‘nós’, que

109

formam e moldam as estruturas sociais, por meio da constituição dos laços. Esses

laços são os rastros que os usuários deixam na rede. No caso específico desta

pesquisa, a interação se dá através especialmente de mensagens, comentários e

compartilhamentos das publicações.

Identificados os aspectos durante a análise, aqui se apresentam sintética e

pontualmente os resultados observados na caracterização do comportamento

informacional e suas práticas:

Com relação à necessidade os usuários mostraram ter interesse

especialmente por conteúdo jornalístico com notícias locais, sobre assuntos

acadêmicos referentes à UFRN, além de políticos e culturais. Os usuários revelaram

também que acessam a rede social por um hábito comum do seu cotidiano e que,

muitas vezes, necessitam apenas de distração.

Com relação à busca, os usuários apresentaram-se divididos entre os que

buscam ativamente pela fanpage e os que se consideram mais passivos nessa

ação, tendo acesso somente ao que lhes chega, seja através do feed de notícias do

próprio Facebook ou compartilhamento de amigos. Percebeu-se que os indivíduos

que afirmaram buscar a página são justamente os que externaram ter consciência

da necessidade de informação, citando especificamente por algo que procuravam.

Entre os que mostraram buscar ativamente pela página, afirmaram procurar por

reportagens que tenham sido divulgadas no telejornal.

Já dentro da própria fanpage os usuários mostraram que não há uma busca

ativa por alguma publicação ou informação específica, mas que fazem uma

‘varredura não direcionada’ e selecionam o que lhes interessa assistir. Dessa forma,

identifica-se o caráter socioconstrutivista das práticas informacionais, em que o

indivíduo tem acesso à informação a partir da interação tanto com outros usuários

quanto com o próprio sistema informacional. Através de suas redes sociais, a

informação perpassa e o faz a sua seleção do que deve ou não ser acessado, mas

dentro de um contexto social.

Outro fator que se faz relevante é que os usuários mostraram que a

credibilidade na instituição UFRN se reflete na confiabilidade das informações

divulgadas pela TVU na fanpage e, dessa forma, a página é utilizada como uma

fonte de informação confiável para eles, mesmo estando num local efêmero, como

uma rede social na internet.

110

Com relação ao uso, os usuários utilizam a fanpage como fonte de

informação em substituição à TV. Pela possibilidade de ter acesso à informação no

momento que lhes convém, sem as amarras da programação pré-definida da

televisão, a rede social na internet se torna mais cômoda e interessante para o

usuário. A utilização da fanpage também se dá como forma de prestigiar o trabalho

realizado pela TVU, uma vez que os repórteres são estudantes do curso de

jornalismo, o que atrai a participação da família e amigos.

Foi apontado ainda o elemento da sociabilidade como um fator relevante no

que diz respeito ao uso da informação. Ao ter acesso ao conteúdo, os usuários tanto

podem deixar suas impressões, através de curtidas ou comentários, como também

compartilham as publicações em suas próprias páginas para que outros tenham

acesso. Dessa forma, as relações sociais se realizam de maneira espontânea,

efêmera, sem outra finalidade que não a manutenção da relação por si só.

Ainda com relação ao uso, os usuários afirmaram estar satisfeitos com o que

é publicado na página e também com o formato das publicações, apesar de terem

feito sugestões de melhoria e mudanças.

Há pouca interação na página entre os usuários, se considerada a interação

comunicacional, mas a fanpage se faz interativa quando se observa que em todas

as publicações há envolvimento de usuários, seja com reações através dos

dispositivos oferecidos pela própria plataforma, com 'curtidas' ou outras impressões,

comentários ou compartilhamentos.

Também foi possível perceber que a maior interação geralmente é

imediatamente após a publicação. Tão logo uma postagem é feita, começam a surgir

notificações de movimentação na página, com reações do público. Através do

levantamento de dados percebeu-se que, em grande parte, os vídeos têm maior

envolvimento do público na página dos usuários que compartilharam do que na

própria fanpage.

Ainda com relação ao envolvimento do público, a maioria dos comentários

nas publicações diz respeito ao conteúdo do que foi publicado, não à forma. Os

usuários utilizam esses espaços para expor sua opinião pessoal sobre o que foi

informado pela publicação. Corroborando o que foi afirmado como maior interesse

pelos usuários, as publicações que dizem respeito aos comentários políticos são as

publicações com maior envolvimento do público.

111

Como um dos principais elementos analisados, temos que a interação se

mostra como uma ferramenta de geração mútua do conhecimento e, assim, a

organização pode se apropriar desse espaço tanto para superar as limitações

técnicas impostas à TV, como o alcance do sinal de transmissão, quanto para,

através do engajamento do público, oferecer serviços mais condizentes com o que o

usuário necessita.

Apesar do que foi exposto nas entrevistas e mesmo tendo em conta que o

ambiente informacional se faz interativo, a partir da perspectiva teórica, percebe-se

que, na prática, há deficiência na utilização da fanpage por parte da TVU,

especialmente no tocante a uma maior interação com o público. Em algumas

situações, o usuário busca interagir, mostra interesse em participar da produção ou

disseminação das informações, por exemplo, com a sugestão de pautas, mas não

há retorno da gerência da página.

Compreende-se que muito disso se deva às limitações da TVU pela falta de

uma equipe especializada e específica para fazer esse monitoramento e gerenciar

as redes sociais na internet do TVU Notícias, função que fica a cargo dos bolsistas

da redação de jornalismo, que são responsáveis também por outras atividades na

produção jornalística e não têm formação específica para a gestão de mídias

sociais.

Então, diante do que foi percebido, temos que a concepção de que a relação

dos sujeitos com a informação não ocorre sempre devido a uma necessidade de

informação ou um estado anômalo de conhecimento. Nem sempre há um problema

a se resolver que demanda do usuário uma busca efetiva de informação para

solucioná-lo. Entende-se que a interação com a informação acontece das mais

variadas formas e o sujeito pode se deparar casualmente com ela ou buscá-la por

simples prazer ou curiosidade.

Além disso, conforme preconizam os estudos das práticas informacionais, o

conhecimento só pode ser construído a partir da relação entre os homens e com o

mundo, o que perpassa pela sociabilidade. Através do Facebook o usuário tem a

possibilidade de estabelecer para si e para o outro o que julga como informação, ao

que desejam ter acesso e, sobretudo, o que julgam necessário ser destacado ou

ignorado em suas vivências cotidianas na internet.

Pelo que foi apreendido, é essencial destacar que as formas de se estudar

os usuários da informação conforme as abordagens aqui exploradas não são

112

excludentes, nem se buscou identificar uma sobreposição na escolha da melhor

forma. Antes disso, elas se mostram complementares e interrelacionadas, na

medida em que destacam diferentes aspectos da realidade nessa relação usuário-

informação.

Diante do exposto, têm-se que, com relação os objetivos pretendidos, houve

alcance, uma vez que foram identificadas e analisadas as necessidades

informacionais, os aspectos de busca e uso da informação, além de terem sido

evidenciados elementos das ações dos usuários da informação que condizem com a

abordagem do paradigma social das práticas informacionais e ressignificam

conceitos tradicionalmente presentes nos estudos de usuários da informação.

No entanto, essa pesquisa teve suas limitações. O desafio teórico de se

fazer o estudo de usuários a partir da abordagem das práticas informacionais se

mostrou fragilizado ao se encontrar problemas de ordem prática, haja vista a

escassez de estudos concretos realizados sob essa visão.

A discussão teórica acerca de práticas informacionais sob a ótica da

abordagem socioconstrutivista ainda é incipiente e, em muitas situações, o termo é

colocado como sinônimo de comportamento informacional, o que torna confuso e

ambíguo o resgate do conceito e a diferenciação. A falta de bibliografia específica

também foi um limitador, já que esse conceito se faz muito recente e pouco

enraizado, tendo sido necessário recorrer a referências em outras áreas do

conhecimento, como a antropologia e sociologia para aprofundar o embasamento

teórico.

Outra questão diz respeito à definição da amostra de coleta de dados por

conveniência e não-probabilística, especialmente com relação aos entrevistados,

que restringiu o universo. A junção de mais um método de coleta, entretanto, pode

minimizar esse aspecto.

Ao finalizar essa pesquisa, emergem questões que merecem ser tratadas

com mais profundidade. Portanto, para estudos futuros, sugere-se que sejam

analisados, além das questões referentes aos usuários, os fluxos de informação nas

redes sociais na internet e a possibilidade de aproveitamento desses espaços para a

gestão do conhecimento nas organizações.

Tendo a finalidade a que se propunha tendo aqui sendo alcançada, espera-

se que esta pesquisa sirva de base para pesquisas posteriores acerca da temática,

especialmente sobre as práticas informacionais, ainda em consolidação na área da

113

Ciência da Informação, contribuindo para a construção do conhecimento científico, e

que os resultados aqui apresentados tenham valia na aplicabilidade prática na

melhoria dos serviços prestados pela TV Universitária do Rio Grande do Norte.

114

REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. “Dilema” do jorvem investigador: dos “dilemas” aos problemas. In: COSTA, Antônio Pedro; SOUZA, Francislê Neri de; SOUZA, Dayse Neri de. Investigação qualitativa: inovação, dilemas e desafios. Portugal: Ludomedia, 2016. AMARAL, Adriana; NATAL, Geórgia; VIANA, Lucina. Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Cadernos da Escola de Comunicação, v. 1, n. 6, 2017. Disponível em: http://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/cadernoscomunicacao/article/viewFile/1958/1535. Acesso em: 03 mar. 2018. AQUINO, Maria Clara. Interatividade e participação em contexto de convergência midiática. In: SimSocial, Salvador. Disponível em http://gitsufba. net/simposio/wp-content/uploads/2011/09/Interatividade-e-Participacao-em-Contexto-de-Convergencia-Midiatica-AQUINO-Maria-Clara. pdf. Acessado em 23 ago. 2018. ANDRADE, Matheus José Pessoa de. Interatividades na mídia. In: NUNES, Pedro. Mídias digitais & interatividade. João Pessoa: EdUFPB, 2009. p. 203-218. ANGROSINO, M.; FLICK, U. (Coord.). Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed, 2009. ARANTES, Fernanda Mecking et al. O comportamento informacional nos canais informais de comunicação por meio da oralidade. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 18, n. 37, p. 265-282, mai./ago. 2013. Disponível em: http://www.redalyc.org/html/147/14729734014/. Acesso em: 02 mar. 2018. ARAÚJO, E.A. Construção social da informação: dinâmicas e contextos. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, v.2, n.5, 2001. Disponível em: http://dgz.org.br/out01/Art_03.htm. Acesso em: 1 abr. 2018. ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que são “práticas informacionais”? Informação em Pauta, v. 2, p. 217-236, 2017. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/informacaoempauta/article/view/20655. Acesso em: 01 mar. 2018. ______. Abordagem interacionista de estudos de usuários da informação. PontodeAcesso, v. 4, n. 2, p. 2-32, 2010. ______. Estudos de usuários da informação: comparação entre estudos de uso, de comportamento e de práticas a partir de uma pesquisa empírica. Informação em Pauta, v. 1, n. 1, p. 61-78, 2016. ______. Paradigma social nos estudos de usuários da informação: abordagem interacionista. Informação & Sociedade, João Pessoa, v.22, n.1, p. 145-159, jan./abr. 2012. BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições, 1977. v. 70.

115

BRAGA, A. Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica. UNIrevista, vol. 1, n° 3, julho 2006 BARRETO, Aldo de Albuquerque. Perspectivas da ciência da informação. Revista de Biblioteconomia de Brasília, v. 21, n. 2, p. 156-166, 1997. DI CHIARA, Ivone Guerreiro; CONTANI, Miguel Luiz. Competência informacional: suas múltiplas relações. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO. 2011. Anais... 2011. BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Em Tese, v. 2, n. 1, p. 68-80, 2005. BOURDIEU, Pierre. Le capital social: notes provisoires. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 31, 1980. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000122&pid=S1414-753X200800020001200003&lng=en. Acesso em: 03 mar. 2018. CÂMARA, Rosana Hoffman. Análise de conteúdo: da teoria à prática em pesquisas sociais aplicadas às organizações. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, v. 6, n. 2, p. 179-191, 2013. CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2003. CAPURRO, Rafael. Epistemologia e ciência da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., 2003, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia, 2003. CHOO, C. W. A Organizacao do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Senac, 2003. CORRÊA, E. C. Usuário, não! Interagente: proposta de um novo termo para um novo tempo. Encontros Bibli, v. 19, n. 41, p. 23-40, set./dez. 2014. COSTA, Luciana Ferreira da; RAMALHO, Francisca Arruda. Religare: comportamento informacional à luz do modelo de Ellis. Transinformação, Campinas, v. 22, n. 2, p. 169-186, 2010. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/3843/384334884006.pdf. Acesso em: 02 fev. 2018. COURTRIGHT, Christina. Context in information behavior research. Annual Review of Information Science and Technology, v. 41, n. 1, p. 273-306, 2007. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/aris.2007.1440410113/pdf. Acesso em: 18 fev. 2018. CRUZ, Ruleandson do Carmo. Redes sociais virtuais: premissas teóricas ao estudo em ciência da informação. TransInformação, v. 22, n. 3, 2010.

116

CUNHA, Murilo Bastos da; AMARAL, Sueli Angélica do; DANTAS, Edmundo Brandão. Manual de estudo de usuários da informação. São Paulo: Atlas, 2015. DAVENPORT, Thomas H. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998. choo, Brenda; NILAN, Michael. Information needs and uses. Annual review of information science and technology, v. 21, p. 3-33, 1986. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/237127587_Information_Needs_and_Uses. Acesso em: 12 jan. 2018. DIAS, M. M.; PIRES, D. Usos e usuários da informação. São Carlos: Edufscar, 2004. ELLISON, Nicole B.; BOYD, Danah. Social network sites: definition, history, and scholarship. Journal of computer-mediated communication, v. 13, n. 1, p. 210-230, 2007. Disponível em: http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html. Acesso em: 02 fev. 2018. ELLIS, David. The derivation of a behavioral model for information retrieval system design. 1987. Tese (Doutorado) - University of Sheffield, 1987. Disponível em: http://etheses.whiterose.ac.uk/2975/1/DX093006.pdf. Acesso em: 15 jan. 2018. ELLIS, David. A behavioural approach to information retrieval system design. Journal of documentation, v. 45, n. 3, p. 171-212, 1989. Disponível em: <https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/eb026919>. Acesso em: 23 jan. 2018 ELLIS, David; Deborah; HALL, Katherine. A comparison of the information seeking patterns of researchers in the physical and social sciences. Journal of Documentation, v. 49, n. 4, p. 356-369, 1993. Disponível em: https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/eb026919. Acesso em: 22 jan. 2018. ELLISON, Nicole B.; BOYD, Danah. Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal of computer-mediated communication, v. 13, n. 1, p. 210-230, 2007. Disponível em: http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html. Acesso em 02 fev. 2018. FACCION, Debora. Processos de interação na cultura da convergência. Comtempo, São Paulo, v. 2, n. 2, 2010. FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Estudo de uso e usuários da informação. Brasília: IBCIT, 1994. FLICK, Uwe. Introdução à Metodologia de Pesquisa: um guia para iniciantes. Porto Alegre: Penso, 2012.

117

FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana (Org.). Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2012. FRANCO, Augusto de. Topologias de rede. Texto publicado em “Cartas de Rede Social, v. 168, p. 17, 2008. FRANCO, Augusto de. Escola de Redes: novas visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a internet, a política e o mundo globalizado. Curitiba: Escola-de-Redes, 2008. FREIRE, Isa Maria; FREIRE, Gustavo Henrique. Navegando a literatura: o hipertexto como instrumento de ensino. Transinformação, v. 10, n. 2, 2012. GASQUE, Kelley Cristine; COSTA, Sely Maria. Evolução teórico-metodológica dos estudos de comportamento informacional de usuários. Ciência da Informação, v. 39, n. 1, p. 21-32, 2010. GARCIA, R. M. Modelos de comportamento de busca de informação: contribuições para a Organização da Informação. 2007. 139 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009. GUIMARÃES JÚNIOR, Mário J. L. De pés descalços no ciberespaço: tecnologia e cultura no cotidiano de um grupo social on-line. Horizontes Antropológicos, v. 10, n. 21, p. 123-154, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010471832004000100006&script=sci_arttext Acesso em: 05 mar. 2018. HAGEL, John; ARMSTRONG, Arthur G. Net gain: vantagem competitiva na internet: como criar uma nova cultura empresarial para atuar nas comunidades virtuais. Rio de Janeiro: Campus, 1999. HINE, Christine. Virtual Ethnography. London: Sage, 2000. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. JENSEN, Klaus Bruhn.Media Convergence: the three degrees of network, mass, and interpersonal communication. Routledge. New York, 2010 KENDALL, l. “How Can Qualitative internet researchers define the Boundaries of Their Project? A response to Christine Hine”. In: MARKHAM, A.; BAYM, N. Internet Inquiry. Conversations About Method. Los Angeles: Sage, 2009. p.21-5. KOZINETS, Robert V. On netnography: initial reflections on consumer research investigations of cyberculture. Advances in Consumer Research, New York, v. 25, p. 366-371, 2002.

118

LE COADIC, Y. A ciência da Informação. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 1996. LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo: sobre Interatividade e Interfaces Digitais, 1997. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos, 2005. Acesso em: 20 mar. 2018. LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010. LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 2003. MCKENZIE, Pamela J. A model of information practices in accounts of everyday-life information seeking. Journal of Documentation, v. 59, n. 1, p. 19-40, 2003. MAGNANI, José Guilherme Cantor et al. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, p. 11-29, 2002. MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1984. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARCONI, Marina de Andrade et al. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. MARTELETO, Regina Maria; SILVA, Antonio Braz de Oliveira. Redes e capital social: o enfoque da informação para o desenvolvimento local. Ciência da informação, Brasília, v. 33, n. 3, p. 41-49, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ci/v33n3/a06v33n3.pdf. Acesso em: 23 fev. 2018. MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais – aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v30n1/a09v30n1.pdf. Acesso em: 24 fev. 2018. MARTELETO, R. M. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, 2001. ______ . Informação, redes e redes sociais: fundamentos e transversalidade. Informação & Informação, Londrina, v.12, n. esp., 2007. _______. Cultura da modernidade: discursos e práticas informacionais. Revista da Escola Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p.115-137, jul./dez. 1994.

119

MARTÍNEZ-SILVEIRA, Martha Silvia; ODDONE, Nanci Elizabeth. Necessidades e comportamento informacional: conceituação e modelos. Ciência da Informação, Brasília, v. 36, n. 2, 2008. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1182. Acesso em: 23 fev. 2018. MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. A abordagem etnográfica na investigação científica. In: MATTOS, C. L. G.; CASTRO, P. A. (Orgs.). Etnografia e educação: conceitos e usos. Campina Grande: EDUEPB, 2011. p. 49-83. MERCADO, Luis Paulo. Pesquisa qualitativa online utilizando a etnografia virtual. Revista Teias, v. 13, n. 30, p. 15 pgs., 2012. MCLUHAN, H. M. A Galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo: Nacional; USP, 1972. NOVELI, Marcio. Do off-line para o online: a netnografia como um método de pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a etnografia para a Internet? Revista Organizações em Contexto, v. 6, n. 12, p. 107-133, 2010. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/OC/article/view/2697. Acesso em: 21 jan. 2018. NUNES, Jefferson Veras. Vivência em rede: uma etnografia das práticas sociais de informação dos usuários de redes sociais na internet. 2014. 307f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Marília, 2014. OLIVEIRA, Cláudia Simone Almeida de. Avaliação da aprendizagem na educação online: aproximações e distanciamentos para uma avaliação formativa-reguladora. 2010. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. São Paulo: Ática, 1996. PÉREZ GIFFONI, María Cristina; SABELLI DE LOUZAO, Martha. Los estudios de usuarios de información: construcción de una línea de investigación y docencia en el Uruguay. Montevideo: Universidad de la República, 2010. (Colección información y sociedad; 5). PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007. PRIMO, Alex Fernando Teixeira. Interação mútua e interação reativa: uma proposta de estudo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 21., 1998. Recife. Anais... Recife: Intercom, 1998. RECUERO, Raquel. A conversação em rede: a comunicação mediada pelo computador e as redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2012.

120

RECUERO, Raquel. "Deu no Twitter, alguém confirma?": funções do jornalismo na era das redes sociais. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO. RIO DE JANEIRO, 9., 2011. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. Disponível em: http://www.raquelrecuero.com/arquivos/sbpjorrecuero.pdf. Acesso em: 23 jan. 2018. ______. Redes sociais na internet, difusão de informação e jornalismo: elementos para discussão. Metamorfoses jornalísticas, v. 2, p. 1-269, 2009. Disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/artigos/artigoredesjornalismorecuero.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2018. RECUERO, R.; ZAGO, G. Em busca das “redes que importam”: redes sociais e capital social no Twitter. Líbero, São Paulo, v.12, n.24, p. 81-94, 2009. REID, Elizabeth. Electropolis: communication and community on internet relay chat. 1991. Disponível em: http://www.aluluei.com/electropolis.htm. Acesso em 10 set. 2018. ROCHA, Janicy Aparecida Pereira; GANDRA, Tatiane Krempser. Práticas informacionais: elementos constituintes. Informação & Informação, v. 23, n. 2, p. 566-595, 2018. ROLIM, E. A.; CENDÓN, B. V. Modelos teóricos de estudos de usuários na ciência da informação. DataGramaZero, v. 14, n. 2, p. A06, 2013. Disponível em: http://www.brapci.inf.br/v/a/11781. Acesso em: 04 mar. 2018. SAFKO, Lon; BRAKE, David K. A Bíblia da Mídia Social: táticas, ferramentas e estratégias para construir e transformar negócios. São Paulo: Blucher, 2010. SAMPIERI, Roberto Hernandez; COLLADO, Carlos Fernandez; LUCIO, Maria del Pillar Baptista. Metodologia de Pesquisa. 5.ed. Porto Alegre: Penso, 2013. SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista Famecos, v. 10, n. 22, p. 23-32, 2003. Disponível em: http://www.vaipav.xpg.com.br/Material/HUMANIDADES/Texto%20Lucia%20Santaella.pdf. Acesso em: 23 fev. 2018. SANTAELLA, Lúcia; LEMOS, Renata. Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter. São Paulo: Paulus, 2010. SANTAELLA, Lucia. Intersubjetividade nas redes digitais: repercussões na educação. Interações em rede, Porto Alegre, p. 33-47, 2013. SANTOS, Flávia Martins; GOMES, Suely Henrique. Etnografia virtual na prática: análise dos procedimentos metodológicos observados em estudos empíricos em cibercultura. 2013. Disponível em http://abciber.org.br/simposio2013/anais/pdf/Eixo_1_Educacao_e_Processos_de_Aprendizagem_e_Cognicao/26054arq02297746105.pdf. Acesso em 03 jun. 2018

121

SAVOLAINEN, Reijo. Everyday life information seeking: Approaching information seeking in the context of “way of life”. Library & information science research, v. 17, n. 3, p. 259-294, 1995. SECO, Layara Feifer Calixto; SANTOS, Zineide Pereira dos; BARTALO, Linete. Comportamento informacional e compartilhamento da informação no Instagram Information Behavior end information share of Instagram. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 21, n. 1, p. 46-60, 2016. SELLTIZ, Claire. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 1987. SEGATA, Jean. Lontras e a construção de laços no Orkut: uma antropologia no ciberespaço. Nova Era, 2008. SILVA, A.; FERREIRA, M. Gestão do conhecimento e capital social: as redes e sua importância para as empresas. Informação & Informação, Londrina, v. 12, n. esp., 2007. SILVA, Edna Melo; ROCHA, Liana Vidigal. Telejornalismo e Ciberespaço: convergência de tecnologia e informação. In: VIZEU, Alfredo; PORCELLO, Flávio; COUTINHO, Iluska (Orgs). 60 anos de Telejornalismo no Brasil: história, análise e crítica. Florianópolis, SC: Editora Insular, 2010. p. 197-214. SILVA, Andressa Hennig; FOSSÁ, Maria Ivete Trevisan. Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para análise de dados qualitativos. Dados em Big Data, v. 1, n. 1, p. 23-42, 2017. SILVEIRA, Martha Silvia Martínez; ODDONE, Nanci Elizabeth. Necessidades e comportamento informacional: conceituação e modelos. Ciência da Informação, v. 36, n. 2, 2008. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1182>. Acesso em: 24 fev. 2018. STRATHERN, Marilyn. Cortando a rede. Ponto Urbe: Revista do núcleo de antropologia urbana da USP, n. 8, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/pontourbe/1970. Acesso em: 20 fev. 2018. TERRA, Carolina Frazon. A comunicação bidirecional, direta e instantânea como o padrão dos relacionamentos das relações públicas digitais. Revista Liceu On-Line, v. 1, n. 1, 2010. Disponível em: https://liceu.emnuvens.com.br/LICEU_ON-LINE/article/view/849. Acesso em: 22 fev. 2018. TERUEL, Aurora González. Los estudios de necesidades y usos de la información: fundamentos y perspectivas actuales. Espana: Ediciones Trea, 2005. TODD, Ross J. Theme section: adolescents of the information age: patterns of information seeking and use, and implications for information professionals. School Libraries Worldwide, v. 9, n. 2, p. 27, 2003. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.548.1775&rep=rep1&type=pdf. Acesso em: 03 mar. 2018.

122

TOMAÉL, M. I.; MARTELETO, R. M. Redes sociais: posição dos atores no fluxo da informação. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, n. esp, p. 75-91, 2006. Disponível TOMAÉL, M.I.; ALCARÁ, A.R.; DI CHIARA, I.G. Das redes sociais à inovação. Ciência da Informação, v.34, n.2, p.93-104, 2005. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/ view/642/566. Acesso em: 22 jan. 2018. VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2006. VERMELHO, Sônia Cristina; VELHO, Ana Paula Machado; BERTONCELLO, Valdecir. Sobre o conceito de redes sociais e seus pesquisadores. Educação e Pesquisa, v. 41, n. 4, p. 863-881, 2015. VIZEU, Alfredo; PORCELLO, Flávio Antônio Camargo; COUTINHO, Iluska. 60 anos de telejornalismo no Brasil: história, análise e crítica. Editora Insular, 2010. WATZLAWICK, Paul; BEAVIN, Janet Helmick; JACKSON, Don D. Pragmática da comunicação humana. São Paulo: Cultrix, 1993. WILSON, Tom D. On user studies and information needs. Journal of documentation, v. 37, n. 1, p. 3-15, 1981. Disponível em: <https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/eb026702>. Acesso em: 20 jan. 2018. WILSON, Thomas D. Human information behavior. Informing science, v. 3, n. 2, p. 49-56, 2000. ______. Information behaviour: an interdisciplinary perspective. International Journal of Information Processing & Management, v. 33, n. 4, p. 551-572, 1997 WORTHEN, Baline R.; SANDERS, James R.; FITZPARIC, Jody L. Avaliação de programas: concepção e práticas. São Paulo: Gente, 2004. ZAGO, Gabriela da Silva; SILVA, Ana Migowski da. Consumo de informações em sites de redes sociais: jornalismo, redes sociais e economia da atenção no Twitter. In: SIMPÓSIO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIBERCULTURA, 7., 20 e 22 de novembro de 2013, Curitiba, Paraná. Anais... Curitiba, PR: Universidade Tuiuti do Paraná, 2013. Disponível em: <https://abciber.org.br/simposio2013/anais/pdf/Eixo_2_Jornalismo_Midia_Livre_e_Arquitetura_da_Informacao/25925arq01065966083.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2018. ZAGO, Gabriela da Silva. Informações Jornalísticas no Twitter: redes sociais e filtros de informações. Comunicologia: Revista de Comunicação da Universidade Católica de Brasília, Brasília, v. 4, n. 1, p. 58-76, 2011. Disponível em: <https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RCEUCB/article/view/2438>. Acesso em: 22 fev. 2018.

123

APÊNDICE

124

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA

Dados do entrevistado

Idade:

Profissão:

1. Como você encontrou a página do TVU Notícias?

2. Com que frequência você acompanha as publicações na página?

3. Você segue a página? Por qual motivo você segue a página?

4. O que leva você a curtir, compartilhar ou comentar algum conteúdo da página?

5. Como você encontra conteúdo de interesse na página?

6. Você costuma interagir com os outros usuários?

7. Atualmente as postagens se resumem a publicações do que foi veiculado no

telejornal. Você acha que o conteúdo e a forma como as postagens na rede social

são apresentadas é suficiente?

8. Na sua opinião, a linguagem das postagens é adequada?

9. Qual a sua opinião geral sobre a página