Estudo de práticas de linguagem do cotidiano: uma ... · artículo presenta un relato de...
Transcript of Estudo de práticas de linguagem do cotidiano: uma ... · artículo presenta un relato de...
Estudo de práticas de linguagem do cotidiano: uma experiência vivenciadas por alunos
do curso de formação de docentes
Simone Ripp Butzge (SEMEC) Rosilei Wentz (SEMEC)
Sofia Neumann (UNIOESTE) Kellys Regina Rodio Saucedo (USP)
Resumo: O ensino de Língua Portuguesa vem apontando diferentes desafios para professores
do Ensino Médio, pois nem sempre os alunos demonstram interesse pela disciplina. Nos cursos
de formação docente essa também é uma realidade que tem direcionado os professores
formadores a desenvolver diferenciadas metodologias para que esse ensino se torne mais
atrativo aos alunos. O presente artigo apresenta um relato de experiência desenvolvida na
disciplina de Língua Portuguesa e na disciplina de Metodologia de Língua Portuguesa com
alunos do Curso de Formação de Docentes, em Nível Médio do Colégio Estadual Humberto
de Alencar Castelo Branco, de Santa HelenaPR. O principal objetivo é o de socializar o
trabalho desenvolvido nas aulas das referidas disciplinas demonstrando a importância de novos
recursos proporcionados aos alunos como metodologias do ensino. Após a discussão de
práticas de linguagem, associadas à: gírias, internet (mídias), leitura e produção de textos, os
alunos foram divididos em grupos. Cada um dos grupos trabalhou com diferentes gêneros:
entrevista, receita, notícias e organizaram uma revista. Ao final do trabalho, realizado em sala
de aula, percebeu-se que os alunos se apropriaram com maior facilidade dos conteúdos
científicos estudados e demonstraram maior motivação ao aproximar os temas discutidos em
aula com o cotidiano vivenciado.
Palavras-chave: Ensino de Língua Portuguesa; Práticas de Linguagem; Formação de
Professores.
Resumen: La enseñanza de Lengua Portuguesa apunta diferentes desafíos para profesores de
la secundaria, pues ni siempre los alumnos demuestran interés por la asignatura. En los cursos
de formación docente esa también es una realidad que hace con que profesores desarrollen
diferenciadas metodologías para que esa enseñanza se vuelva más atractiva a los alumnos. Este
artículo presenta un relato de experiencia desarrollada en las asignaturas de Lengua Portuguesa
y Metodología de Lengua Portuguesa con alumnos del Curso de Formación de Docentes, en
la secundaria del Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, de Santa Helena-
PR. El principal objetivo es el de socializar el trabajo desarrollado en clases de las referidas
asignaturas comprobando la importancia de nuevos recursos proporcionados a los estudiantes
como metodologías de enseñanza. Tras la discusión de prácticas de lenguaje asociadas a:
jergas, internet (medias), lectura y producción de textos, los alumnos fueron divididos en
grupos. Cada uno de los grupos hizo el trabajo con géneros distintos: entrevista, receta, noticias
y organizaron una publicación. Al final del trabajo hecho en clase, se percibió que los
estudiantes se apropiaron con mayor facilidad de los contenidos científicos estudiados y
demostraron mayor motivación al aproximar los temas discutidos y clase con el cotidiano
vivido.
Palabras-clave: Enseñanza de Lengua Portuguesa; Prácticas de lenguaje; Formación de
Profesores.
Introdução
No ensino de língua o trabalho com os gêneros textuais é uma fonte para o
entendimento da língua como um processo de interação verbal. Os estudos mais recentes
reforçam o vínculo da linguagem como constituinte dos sujeitos e, não como um corpo
autônomo, independente dele. A linguagem ao mesmo tempo que constitui o sujeito é
(re)constituída por ele. Podemos dizer, ainda, que falar da linguagem é ter em conta a
construção contínua de mundos e de ações em cada universo específico. Sua função vai além
da transmissão de informações, mas na enunciação os sujeitos reconfiguram elementos da
realidade (ORSATTO; SANTOS; SANTOS, 2014). Entendendo que linguagem e prática se
constituem mutuamente nos questionávamos enquanto formadoras de futuros professores
sobre a nossa ação em um Curso de nível Médio de Formação Docente relacionada à prática
da leitura e a produção de textos de nossos alunos. Entre as nossas inquietações estavam: O
que ensinar? Como ensinar? E como trabalhar a língua no curso de formação, via gêneros
textuais, de modo que esse ensino fosse de tal modo abrangente para o conhecimento dos
próprios alunos, assim como, para sua futura atuação nos anos iniciais?
Avaliamos a necessidade de ir além do trabalho com os gêneros textuais em sala,
pensando uma atividade que desse ao texto condições de funcionar em sua materialidade viva,
instituída e reconhecida socialmente. Dando a oportunidade para que os alunos refletissem
sobre os elementos enunciativos e os discursos caracterizadores do desenho funcional dos
gêneros textuais. Possibilitando que a interação verbal envolvesse eles em situações reais de
comunicação: falando, lendo e escrevendo. Orientamos nossas ações embasadas em estudos
de linguagem formulados por Geraldi (1991), Bakhtin (1992), Marcuschi (2008), Koch e Elias
(2010) no que coadunam sobre a relevância em selecionar texto e gêneros de ampla divulgação
como objeto de estudo e ensino.
Sob o enfoque interacionista realizamos uma ação combinada nas disciplinas de Língua
Portuguesa e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, com alunos do 4º ano do curso de
Formação de Docentes, em Nível Médio do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo
Branco, de Santa Helena-PR. Nosso encaminhamento estava no estudo do gênero textual e do
discurso presente em gírias, receitas, entrevistas, textos disponibilizados na web, notícias
voltados a seguinte temática: padrões de beleza na sociedade contemporânea e cuidados com
a saúde. O estudo e a leitura dos gêneros na disciplina de Língua Portuguesa forneceram
elementos para o desenvolvimento de entrevistas na escola e a elaboração de uma revista sobre
o assunto pelos alunos nas aulas de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa. Essa foi
considerada uma experiência significativa para o aprendizado dos conteúdos trabalhados nas
disciplinas. Além disso, possibilitou instrumentalizar os futuros professores para atuação nos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Fundamentando a prática pedagógica
O trabalho pedagógico da disciplina de Língua Portuguesa é orientado pelas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Elaborado de forma coletiva, a partir
de discussão com os “sujeitos da educação” (PARANÁ, 2008, p. 19). O documento propõe
que “[...] o currículo da Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação necessária para o
enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu
tempo” (PARANÁ, 2008, p. 20). Diante disso, consideramos que os conteúdos trabalhados em
sala de aula devem contribuir para que os educandos analisem e compreendam as diferentes
expressões que são empregadas no cotidiano, bem como o que está sendo veiculado pelas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) através da internet.
A proposta que orienta o trabalho da disciplina de Metodologia do Ensino da Língua
Portuguesa é o documento Orientações Curriculares para o curso de formação de docentes
da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio na modalidade
normal. O documento traz como proposta de trabalho da disciplina:
Discurso como prática social. Concepções teórico-metodológicas e as
tendências pedagógicas no ensino de Língua Portuguesa. Práticas de ensino:
oralidade, leitura, escrita e análise linguística. As diferentes concepções de
linguagens e metodologias para o ensino da Língua Portuguesa. Norma culta
e suas implicações para transmissão do patrimônio cultural. Concepção de
variação linguística. Gêneros discursivos. Sistema gráfico da Língua
Portuguesa. Análise e produção de material didático para o ensino da Língua
Portuguesa. Programas e documentos vigentes que orientam o ensino da
Língua Portuguesa (PARANÁ, 2014, p. 69).
Tendo como práticas discursivas das duas disciplinas: a oralidade, leitura e escrita. Essa
proposta de trabalho foi elaborada para um projeto de intervenção nas disciplinas em questão,
a partir das discussões suscitadas durante a formação continuada de professores ofertada pelo
Ministério de Educação (MEC), Pacto Nacional pelo fortalecimento do Ensino Médio durante
o ano letivo de 2014. Com o objetivo de melhorar os processos de ensino e de aprendizagem,
foram desenvolvidos no âmbito da educação formal, atividades e ferramentas pedagógicas,
bem como diferenciadas metodologias através de atividades presenciais e a distância.
Destacamos que a formação continuada de professores passou a ser considerada de grande
importância, pois oportuniza a formação de profissionais capacitados para o exercício da
docência. Segundo MEC:
O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio foi regulamentado
pela Portaria Ministerial Nº 1.140, de 22 de novembro de 2013. Através dele, o Ministério da Educação e as secretarias estaduais e distrital de educação
assumem o compromisso pela valorização da formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atual no ensino médio público,
nas áreas rurais e urbanas. (BRASIL, s. d., s. p.).
Durante o processo de formação, os educadores buscaram desenvolver diferenciadas
metodologias para trabalhar os conteúdos em sala de aula. Entre as propostas que surgiram, as
professoras das disciplinas de Língua Portuguesa e Metodologia de Língua Portuguesa que
abordaram o ensino dos conteúdos de práticas de linguagem, associadas à: gírias, internet
(mídias), leitura e produção de textos em forma de uma proposta multidisciplinar. Ambas
trabalharam com diferentes gêneros: entrevista, receita, notícias como trabalho, e organizaram
uma revista como resultado final, possibilitando aos alunos do 4º ano do curso de Formação
de Docentes, vivenciarem atividades que podem contribuir com a sua formação, bem como ser
empregadas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para o qual buscam a formação inicial
para a docência nesse nível de ensino. Bakhtin (1992) afirma que “[...] todos os diversos
campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem” (p. 261). Assim, entendemos
que as diferentes linguagens apresentadas de maneira interdisciplinar podem formar indivíduos
preparados para compreender a realidade, transformá-la por meio do conhecimento e assegurar
seu direito à aprendizagem.
Enquanto sujeitos, através da língua falada e escrita, socializamos informações e
conhecimentos enunciados por gêneros discursivos. Segundo Marcuschi, “[...] é impossível
não se comunicar verbalmente por algum gênero, assim como é impossível não se comunicar
verbalmente por algum texto.” (MARCUSCHI, 2008, p. 154). Nesse aspecto, destacamos a
importância desse estudo e acreditamos que o trabalho com gêneros textuais desenvolverá um
leitor capaz de analisar de forma crítica e independente as informações veiculadas pelos
diferentes meios de comunicação.
Destacamos que associação de linguagem nos gêneros gíria, notícias, entrevistas e
textos disponíveis na internet (mídias) e a leitura, o estudo do discurso e produção de textos,
objetos do projeto desenvolvido pelas professoras, estão relacionados ao objetivo a que se
propunham, pois faziam parte do conteúdo das respectivas disciplinas e estão presentes nas
interações do cotidiano dos educandos. Segundo Souza e Costa-Hübbes (2010), [...] “nossa
escolha vai depender das necessidades de interação, determinadas pelo contexto social
(imediato e mais amplo) que definirá o que dizer/escrever, como, para quem, quando, onde,
em que suporte, para qual veículo etc” (p. 10).
Ressaltamos que os gêneros escolhidos são os que melhor representam o trabalho a ser
realizado em sala de aula, pois fazem parte do cotidiano dos educandos e consideramos que
sejam de fácil compreensão. Ainda segundo as autoras que buscam a contribuição de Bakhtin
(1997) esses textos são classificados segundo a elaboração dos mesmos, “[...] os gêneros
discursivos em gêneros primários, quando são elaborados espontaneamente, a exemplo o
diálogo cotidiano; e gêneros secundários, quando mais complexos, assim como o romance”
(SOUZA, COSTA-HÜBBES, 2010, p. 4). Segundo essa análise, podem ser considerados como
pertencentes ao primeiro grupo.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa se referem a
importância do trabalho de oralidade a ser realizado pelo professor em sala de aula e a partir
dessa prática identificar os gêneros presentes na oratória. O professor de Língua Portuguesa
deve propiciar aos educandos a narração de fatos (reais ou imaginários) e dessa forma:
[...] o professor poderá abordar a estrutura da narrativa, refletir sobre o uso
de gírias e repetições, explorar os conectivos usados na narração, que apesar
de serem marcadores orais, precisam estar adequados ao grau de
formalidade/informalidade dos textos, entre outros pontos (PARANÁ, 2008,
p. 67).
A partir dessa prática o professor pode levar o educando a refletir que nos diferentes
contextos sociais se exigem diferentes linguagens. Com superiores devemos empregar uma
linguagem formal, com familiares ou amigos podemos usar uma linguagem cotidiana,
descontraída, ou informal.
A leitura como atividade que permeia todo o trabalho pedagógico precisa ser
estimulada pelo educador nos diferentes gêneros que se constitui. “A qualificação e a
capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia
de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar
disponíveis aos estudantes” (SILVA, 2002, p. 07). O autor destaca a importância da leitura
para a apropriação do conhecimento sistematizado durante todo o processo de escolarização.
O trabalho de produção de texto, nem sempre atrativa aos alunos, desenvolve a
autonomia dos educandos, conforme aponta o documento orientador da proposta de ensino da
disciplina.
Durante a produção de texto, o estudante aumenta seu universo referencial e aprimora sua competência de escrita, apreende as exigências dessa manifestação linguística e o seu sistema de organização próprio. Ao analisar seu texto conforme as intenções e as condições de sua produção, o aluno
adquire a necessária autonomia para avaliá-lo (PARANÁ, 2008, p. 71).
A escrita é uma construção humana e dessa forma, para que se possa fazer uso da mesma, é
preciso que ela seja apropriada. Atualmente, através das redes sociais, as pessoas se
comunicam através do WhatsApp e outras formas de interação que e dessa forma, escrevem e
se comunicam diariamente, mas nem todos se dão conta da escrita. Nesse sentido, os
educadores devem ressaltar a importância do processo de escrita em todos os níveis do
processo de escolarização dos educandos.
A prática pedagógica desenvolvida
O estudo realizado com as alunas da 4°série de Formação Docentes em 2015, teve como
base a proposta de atividade do SISMÉDIO. A proposta de trabalho elaborada pelas
professoras durante o período de formação continuada buscou abordar os conteúdos sobre:
gírias, internet (mídias), leitura e produção de textos. Decidimos realizar essa atividade em
sala de aula com as alunas que ao final do trabalho, produziram uma revista. Num primeiro
momento, trabalhamos as práticas de linguagem, abordando os conteúdos escolhidos para essa
proposta interdisciplinar, tratando de: gírias, internet (mídias), leitura e concluímos o trabalho
com a produção de textos, realizada através de diferentes gêneros textuais, como: a entrevista,
receita e notícias.
1. Gírias
As línguas, dentre elas a Língua Portuguesa, são “vivas”, ou seja, estão em constante
mudança produzida por seus falantes, que por necessidade e criatividade, transformam
palavras já existentes e criam novas expressões, que vão sendo incorporadas ao vocabulário.
As gírias são formas de variações linguísticas, que são objeto de ensino da Língua Portuguesa,
que por sua vez busca criar condições para que o aluno desenvolva sua competência discursiva,
adequando o texto a diversas situações e interlocutores. As variações linguísticas estão
presentes principalmente no universo “jovem”, o que justifica o trabalho com gírias em sala
de aula, pois é conteúdo a ser trabalhado na disciplina.
Na proposta de trabalho elaborada pelas professoras o primeiro passo foi conversar com
as alunas sobre o que entendiam por gíria, se usavam a gíria no seu dia a dia e se gostavam de
usar gírias em seus discursos. A maioria falou que não tem como fugir de termos que aparecem
regularmente, comentaram que sempre surgem novas gírias, quando aprendem e começam
usar um termo, já surge outro. Destacaram que é preciso estar por dentro dos termos que
surgem, pois demonstra que estão “antenadas”, são modernas e estão “ligadas”. Após,
trabalhou-se o conceito de gíria e as alunas listaram algumas gírias que conheciam,
socializando com as colegas. Depois de refletir sobre o uso da gíria no discurso cotidiano, leu-
se um texto, feito a leitura e as gírias substituídas por outros termos aceitos pela gramática
normativa.
Todo o trabalho teve como objetivo entender que o discurso deve ser adequado
conforme o público e gênero textual. A gíria é permitida principalmente no universo literário,
em uma crônica, piada, música, entre outros. Mas não é aceita em textos formais, como no
caso da revista que as alunas estavam produzindo. A gíria pode estar presente em algum gênero
que a revista apresenta, como: Relato de experiência vivida, diálogo ou mesmo uma piada.
Mas não na apresentação das chamadas, páginas.
2. Internet (mídias)
A evolução da tecnologia tem contribuído com a melhoria da qualidade de vida em
diversos setores, além de trazer novas exigências ao mercado de trabalho e na educação.
Busca-se um trabalhador que seja capaz de utilizar-se dos diferentes recursos tecnológicos
presentes na sociedade. No campo educacional, as tecnologias cada vez mais a disposição dos
educandos se configuram como um recurso atrativo a crianças, jovens e adolescentes expostos
a esses recursos a maior parte do tempo.
Em se tratando de educação, a internet vem contribuir com o trabalho do professor,
pois a facilidade de acesso a modernos sites de pesquisa, comunicação, interações e o Registro
de Classe On-line (RCO) que vem facilitar o registro da ação pedagógica do professor e
consequente acesso da informação das atividades pedagógicas desenvolvidas em sala de aula
pela equipe pedagógica das escolas.
Além disso, destacamos que os recursos disponíveis na internet podem contribuir com
o trabalho de pesquisa dos educandos, destacamos nesse trabalho, o estudo dos gêneros que
circulam nessa esfera, contribuindo com o trabalho de pesquisa escolar de forma segura, pois
alguns ambientes são confiáveis.
Inicialmente, destacamos a importância das modernas mídias e que estas podem
contribuir com a construção do conhecimento. Porém o professor deve estar atento as
interações que ocorrem durante esse processo, pois os educandos podem perder tempo e
acessar outros sites que nada contribuem com a prática pedagógica proposta.
Iniciou-se a atividade com a leitura do artigo “A internet como fonte de pesquisa”
(SILVA, 2012), disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-internet-como-fonte-
depesquisa/86161/>, que faz uma análise da importância de se buscar uma boa fonte de
pesquisa. Na sequência, realizou-se uma atividade de pesquisa em
sites como o Portal <http://www.diaadia.pr.gov.br/> que disponibiliza uma série de
atividades e conteúdos das diferentes disciplinas da Educação Básica. Outro espaço visitado
pelos educandos, foi o site <https://scholar.google.com.br/> que oferece ferramentas para
pesquisar artigos dos mais diversos assuntos. O <http://www.scielo.br/?lng=pt> se apresenta
como uma biblioteca eletrônica onde se encontram disponíveis periódicos científicos sobre
diversos assuntos. O <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html> apoia o processo de
formação do professor. O site
<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016800.PDF> apresenta um
plano de aula sobre a Gíria, prática de linguagem que faz parte desta proposta de estudo.
Diante desse trabalho de pesquisa e análise realizada no ambiente virtual, as educandas
puderam perceber que a internet oferece diversas possibilidades de pesquisa, porém é preciso
que se busque fontes seguras de pesquisa.
3. Leitura e produção de textos:
Essa abordagem foi realizada em duas etapas, a primeira delas leitura e análise,
tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da área de Linguagens e de
disciplinas de outras áreas. Os estudantes tiveram o contato com os mais variados gêneros
textuais e suas aplicabilidades e características. A partir das leituras realizadas, puderam
compreender o nível das linhas, entrelinhas e além das linhas.
Entre essas atividades, uma delas foi analisar como as revistas femininas têm explorado
o padrão de boa forma e beleza em seus conteúdos. As revistas analisadas foram, Marie Claire,
Boa Forma, Claudia, Capricho, entre outras, escolhidas intencionalmente, considerando que
as mesmas “fazem a cabeça dos jovens” em relação à satisfação corporal. As alunas foram
desafiadas a analisar diversas perspectivas, passando pelo conteúdo, identificação dos gêneros
textuais predominantes, os efeitos de sentidos procurados, o uso das imagens, o desenho,
organização.
O trabalho iniciou com o questionamento em relação à satisfação corporal das alunas,
haja visto, os padrões corporais impostos pela sociedade. Nesse momento a maioria das alunas
mostraram-se insatisfeitas em relação ao seu corpo, todas gostariam de se parecer com as
modelos que a mídia expõe.
Após, as alunas manusearam as revistas ditas “femininas”. Essas revistas foram
recebidas com muito entusiasmo por todas. Num primeiro momento, olharam as revistas sem
compromisso algum. Posteriormente o trabalho foi identificar a quantidade de propagandas
existente na revista e se os produtos vendidos eram possíveis de serem comprados, se caberiam
nos seus orçamentos, pois eram todos produtos de valor altíssimo. Durante a aula, a professora
falou sobre a sociedade de consumo, padrões de beleza estabelecidos e grau de satisfação
pessoal com a própria imagem.
O trabalho produziu algumas conclusões interessantes, como: o padrão de beleza ditado
pela sociedade, a questão da maioria das modelos serem loiras, magras e altas; os produtos
oferecidos serem de alto valor aquisitivo; as receitas culinárias possuírem produtos muitas
vezes incomuns na mesa da maioria da população; as dicas de beleza utilizarem produtos
importados e caros. Esses fatores fizeram com que as alunas percebessem de forma crítica,
através da análise do discurso que essas revistas acabavam elevando o grau de insatisfação
delas em relação à própria imagem e também em relação à questão financeira. Perceberam que
buscavam algo difícil de atingir ou mesmo impossível. Depois de muita discussão e reflexão,
a professora propôs a elaboração de alguns gêneros textuais presentes em uma revista que se
aproximasse da realidade das alunas, com produtos acessíveis e com pessoas reais.
Dividiu-se a turma em 5 (cinco) grupos, cada grupo ficou com um gênero textual
presente nas revistas analisadas: entrevista, receitas (culinária e beleza), relato de experiência
vivida, dicas de moda e produção de paródias empregando gíria. O próximo passo foi estudar
a estrutura composicional de cada gênero textual, e observar o conteúdo presente, que deveria
ser relacionado com a saúde e a economia. As alunas desenvolveram as pesquisas sempre
levando em conta o fator saúde, fazendo entrevistas com profissionais da própria escola;
optando por receitas saudáveis e que coubessem no orçamento da maioria. Entre os trabalhos
produzidos pelas alunas, as melhores produções de cada gênero foram escolhidas para compor
a Revista das Normalistas.
Para ilustrar, destacamos algumas das produções realizadas pelas alunas na organização
da Revista das Normalistas. Entre elas apresentamos a paródia da música ..... com gíria, escrita
pelas alunas número 04, 09 ,10 e 16.
Quadro 1 – Gíria
Amiga da minha irmã
(Michel Teló)
Oxé, quando o sinal toca Ainda tem três provas para estudar
Todos se espremem na porta Tanto trabalho pra eu terminar
E a professora passando um trabalho Já não sei o que fazer, mas vou fica de boa
Para o final de semana inteiro Tô vendo que hoje eu vou madrugar
Trabalhos acumulados E daí que tem prova amanhã
Se não passar eu fico vacilado O professor vou trolar
Mano são tantas coisas para fazer E agora vou cochilar, cochilar Que
já começou a bater o tal desespero E daí que tem prova amanhã
Não quero sem saber vou pra esbórnia.
Fonte: Revista das Normalistas.
Outro trabalho que merece destaque foi à receita culinária especialmente elaborada para
a revista foi a produção das alunas 02, 15 e 17.
Quadro 2 - Receita culinária
Bolo de Laranja Diet Ingredientes: - 1 laranja pera com casca e sem sementes; - 2 xícaras (chá) de farinha de trigo;
- 1 xícara (chá) de óleo; - 1 xícara (chá) de multi adoçante; - 1 colher (sopa) de fermento em pó; - 4 ovos. Modo de Preparo: Bater no liquidificador a laranja, o óleo, os ovos e o multi adoçante até espumar bem. Despejar em uma
vasilha, adicionar a farinha previamente peneirada, e o fermento também previamente peneirado, mexendo
até homogeneizar a massa. Despejar em forma untada com margarina e farinha ou em formas de papel do
tipo bolo inglês. Assar em forno preaquecido a temperatura de 180ºC até dourar. Benefícios da laranja péra: A laranja pera é muita doce, suculenta e menos ácida, podendo ser consumida por pessoas de todas as idades,
inclusive bebês. Além da vitamina C, a laranja pera é rica em sais minerais como o cálcio, potássio, sódio e
fósforo e vitaminas do complexo B. Segundo especialistas, o consumo de duas laranjas por dia é suficiente
para garantir a quantidade diária de vitamina C de que o organismo necessita. A laranja pera é uma fruta
pouco calórica e, por suas propriedades antioxidantes, o seu consumo é importante para reforçar as defesas
do organismo, assim como para o controle da pressão sanguínea, combate ao colesterol ruim, e melhora o
funcionamento do sistema digestivo, estimula funções intestinais
e previne gripes e infecções. Benefícios do uso de adoçantes: A maioria dos adoçantes de baixa e sem calorias é centenas de vezes mais doce que o açúcar de
mesa. Adoçantes de baixa e sem calorias não contribuem para as cáries dentárias. Adoçantes de baixa
e sem calorias não afetam a glicose sanguínea nem a resposta da insulina. Adoçantes de baixa e sem
calorias ajudam a melhorar o sabor de dietas de calorias reduzidas, o que pode ajudar no
cumprimento e na manutenção do peso a longo prazo.
Fonte: Revista das Normalistas
Registramos também o relato de experiências realizado pelas alunas 01, 05, 07 e 13
realizado com uma educadora da instituição de ensino.
Quadro 3 – Relato de Experiência de vida
Ao encontro do peso ideal
No dia quatro de setembro de dois mil e quinze estivemos com a professora A para realizarmos um
relato de experiência que ela vivenciou, onde ela relatou uma situação presenciada rotineiramente
em nossa sociedade, a busca pelo dito “corpo ideal”. Onde homens e mulheres sacrificam seu bem
estar, para alcançarem a autoestima tão cobiçada. Segundo a professora ela enfrentou desde pequena o controle alimentício, por um período sua rotina
alimentar sofreu mudanças drásticas que desencadearam um processo de emagrecimento no qual ela
carrega consequências até hoje. A professora relata: Na minha infância meu pai sempre privou a mim e minhas irmãs de alguns alimentos, ele que havia
vivido no rígido regime do exército, tinha muito cuidado com a boa alimentação e nos cobrava um comportamento regrado diante da comida. Esses hábitos eu segui até o meu casamento, pois meu
marido e sua família tinham hábitos alimentares bem diferentes, o que inevitavelmente me fez
abandonar meus costumes passados.
Com esse hábito alimentar passei a engordar e cada vez comendo mais. Os filhos vieram e a
dificuldade de emagrecer só aumentava. Chegou um momento que resolvi emagrecer de qualquer forma, independente das consequências que isso poderia acarretar. Fui ao médico e ele me receitou um medicamento que eu tomava e perdia
totalmente a fome, pois ele reduzia expressivamente a ansiedade. Emagreci, mas esse esforço me gerou grandes problemas, sacrifício que não recomendo a ninguém, por que me gerou grandes
complicações a saúde, tenho depressão até hoje, não durmo, durante o período de tratamento perdi o desejo sexual, perdi o cabelo e os cabelos brancos vieram mais cedo, sem falar que quando
terminei de tomá-los voltei a engordar. Passei por um tratamento cirúrgico seis anos após a terminar de tomar os medicamentos,
procedimento este, que não me arrependo. Depois de tudo que passei aprendi a valorizar a minha saúde. Emagrecer sim, mas de forma
saudável, corro todos os dias, e hoje ainda sofro com sequelas desses medicamentos.
Fonte: Revista das Normalistas.
As alunas 03, 06 e 08, realizaram uma entrevista com um profissional de Educação
Física, tratando de um assunto importante para a nossa qualidade de vida.
Quadro 4 - Entrevista
Qual seu ponto de vista em relação às pessoas que praticam atividades físicas em busca de
corpo sarado e não pela saúde? Isso é um modismo, mas o importante e fazer algum tipo de atividade física independentemente para
qual fim. Também é muito difícil dissociar a atividade física para saúde ou corpo sarado, um está
ligado ao outro, a diferença é que não podemos virar escravos dos exercícios e nem submeter a algum
modismo que existe por ai; ingerir substâncias nocivas ao organismo, mas que molduram o corpo. O
ideal e sempre procurar um profissional de educação física e uma academia regulamentada. Para as
duas propostas mencionadas precisamos fazer sacrifícios, mas sempre levando em conta o melhor
para sua saúde. Antes de iniciar atividades físicas faça exames médicos.
Fonte: Revista das Normalistas.
Ao final de todo o trabalho realizado, concluiu-se que cada biotipo tem sua beleza; que saúde
é fundamental; e que é possível estar de bem consigo mesma sem incorrer no consumismo
exacerbado.
À guisa de conclusão
Apoiadas nos resultados produzidos e analisados neste relato de experiência (re)
afirmamos a importância do texto no ensino de língua atrelado a interação verbal. A todo
tempo consideramos a palavra como unidade de significado e o texto como unidade de sentido
e de comunicação. E, sem deixar de lado as orientações contidas nos PCNs, optamos por
variados gêneros textuais com a finalidade de promover atos comunicativos que fossem
incorporados por nossos alunos nos diferentes níveis de aprendizagem. Ao selecionarmos os
textos com os alunos, estes formam estimulados a desenvolver suas habilidades de leitura e de
produção textual.
Em suma, entendemos que o trabalho desenvolvido nas aulas de Língua Portuguesa e
Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa resultou em um maior envolvimento e interesse
dos alunos pelo trabalho em sala de aula a partir dos gêneros textuais e dos discursos por eles
veiculado. Após as reflexões sobre os gêneros textuais e a produção de novos textos pelos
alunos para composição da revista notamos um maior alcance em relação aos objetivos
traçados para essa ação.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BRASIL. Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/programas-e-acoes?id=20189>.
Acesso em: 25 de jul. de 2017.
_______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua
portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997.
GERALDI, J.W. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
KOCH, I. V. e ELIAS, V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo:
Contexto, 2010.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
LOPES, A. C.; MACEDO, E. (Orgs.) A estabilidade do currículo disciplinar: o caso das ciências. In: Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de janeiro: D P & A Editora, 2002.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola, 2008.
MASETTO, M. T. Didática: a aula como centro. 4. ed. São Paulo: FTD, 1997.
ORSATTO, F. L. de O.; SANTOS, B. L.; SANTOS, F. A leitura de textos argumentativos:
identificação da tese e dos argumentos. Revista Travessias, Cascavel-PR, v. 8, n. 1, p. 241-
262, 2014.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Secretaria de Estado da Educação
do Paraná. Curitiba: SEED – Pr., 2008.
________. Orientações curriculares para o curso de formação de docentes da educação
infantil e anos iniciais do ensino fundamental, em nível médio, na modalidade normal /
Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Educação
Profissional. – Curitiba: SEED – Pr., 2014.
PAULINO, G. Tipos de textos, modos de leitura. São Paulo: Formato, 2001.
SILVA, E. T. A produção da leitura na escola: pesquisas x propostas. 2. ed. São Paulo: Ática:
2002.
SILVA, I. L. F. A Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, em Nível Médio, no Estado do Paraná. In: Fundamentos teóricos –
Metodológicos das disciplinas da proposta pedagógica curricular do Curso de Formação
de Docentes – Normal, em Nível Médio. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência
de Educação. Departamento de Educação Profissional. Curitiba: SEED – PR., 2008.
SMITH, M. K. Informal, non-formal and formal education: a brief overview of different
approaches. In: The encyclopedia of informal education. 2002. s.
p. Disponível em:
<http://www.infed.org/foundations/informal_nonformal. htm>. Acesso em: 11 de mai. de
2014.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.