Estudo de Caso - Fome, Amazonia, Aquecimento Global

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA ENF 388 – Gestão Ambiental Inter-Relacionamentos envolvendo a dinâmica de problemas relacionados à crise mundial de alimentos, o desmatamento da Floresta Amazônica e a produção de bio-combustíveis Dayanna Barros Cenachi Diogo Lyra Felipe Da Silva Nascimento 53220 Rafael Carmanini Thomas Chaves Ferreira

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Interagir os três temas focos (Crise mundial de alimentos, biocombustíveis, Amazônia), relacionando-os entre si, com a meta de desenvolver um pensamento sistêmico capaz de gerar um “ponto de alavancagem” e de descrever com clareza a dinâmica desta questão, configura a pretensão do atual trabalho.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIASDEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

ENF 388 – Gestão Ambiental

Inter-Relacionamentos envolvendo a dinâmica de problemas relacionados à crise mundial de alimentos, o desmatamento

da Floresta Amazônica e a produção de bio-combustíveis

Dayanna Barros Cenachi

Diogo Lyra

Felipe Da Silva Nascimento 53220

Rafael Carmanini

Thomas Chaves Ferreira

Viçosa – Minas Gerais

Junho de 2008

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1. INTRODUÇÃO

A crise mundial de alimentos é foco de discussão na política internacional e

motivo de grandes especulações com relação à agricultura e produção de

biocombustíveis. Esta crise vai muito além da alta dos preços dos alimentos, em

especial milho, trigo e arroz. Algumas partes do mundo como Haiti e África enfrentam

graves problemas, como protestos violentos, greves e morte de pessoas como a de 5

caribenhos durante uma revolta (Folhaonline, acesso 22/04/2008).

A seriedade deste cenário mundial se consolida quando percebemos que as

pessoas mais afetadas são as menos favorecidas economicamente, ou seja, aquelas

que menos contribuem de maneira siguinificativa com as causas deste processo. Os

países fornecedores de alimentos têm limitado as exportações em uma tentativa de

proteger o mercado interno, tornando as coisas ainda mais difíceis em países que

precisam importá-los (JBonline, acesso 22/04/2008).

A alta dos preços do diesel e outros combustíveis, a especulação financeira, a

transformação de grãos em biocombustíveis, enchentes, cheias e outras catástrofes

naturais em alguns países, aliados a um consumo cada vez maior com o crescimento

populacional são alguns dos fatos considerados responsáveis pela crise mundial dos

alimentos. Dentre os biocombustíveis está a cana-de-açúcar no Brasil.

O cultivo da cana-de-açúcar no país para produção de álcool ocupa 1% dos

solos aráveis brasileiros, e consegue produzir mais da metade de todo o combustível

que os brasileiros necessitam para abastecer os seus automóveis. Além disso, os

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canaviais vêm avançando principalmente sobre áreas degradadas de pastagem. Não

há sentido em culpar a produção do etanol pela crise mundial de alimentos. Lavouras

de feijão e soja ocupam 15% das áreas de canaviais (Veja, 30/04/2008). E o Brasil

apresenta muitas áreas para expansão agrícola.

Roberto Rodrigues da Comissão Interamericana de Etanol disse em entrevista

ao Jornal Globo “Parece que há um esforço orquestrado, liderado por parte do setor de

alimentos dos EUA e pela indústria do petróleo, especialmente na Europa, e isso está

contaminando o Álcool de cana, que não tem nada a ver com isso...” Essa declaração

torna-se notoriamente clara quando analisamos os dados de que o Brasil em 2008

atingiu recorde na colheita de grãos (140 milhões de toneladas); aumentaram em 15%

as exportações de carne no mês de março em relação ao mesmo mês do ano anterior

(apesar do embargo Europeu); e que a metade da cana do país se transforma em

açúcar (Veja, 30/04/2008). Apesar de todas as evidências apontarem para o fato de a

crise mundial de alimentos ser mais especulativa do que de qualquer outra natureza, o

secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura,

Célio Porto, disse que o governo está empenhado em garantir o abastecimento

nacional e também contribuir com o mercado externo, já que o país é um dos grandes

produtores agrícolas do mundo. No entanto, argumentou também que o governo vem

discutindo como ampliar a produção dentro da perspectiva de manutenção das áreas já

usadas, sem prejuízos à região Amazônica (Folhaonline, acesso 22/04/2008).

A maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, carrega a responsabilidade de

abrigar 15% de todas as espécies de plantas e animais conhecidos no Planeta. Tendo

sido estudado apenas um décimo de sua biodiversidade (Veja, 26/03/2008).

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Na região Amazônica, há uma preocupação internacional com o desmatamento

que varre uma área cada vez maior. Segundo a revista Veja publicada em 26 de março

deste ano, a Amazônia possui 20000 Km2 de terras desmatadas que já foram ocupadas

pelo agronegócio e hoje estão abandonadas. Em contrapartida, 36% de gado bovino e

5% das plantações de soja do país encontram-se nessa Região. Tais dados despertam

o interesse em relacionar a situação atual do agronegócio da Amazônia com a crise

mundial de alimentos.

O desmatamento não é proibido em nenhum dos nove estados que constituem a

Amazônia brasileira, e a visão de que a soja e a pecuária estão devastando essa área

de vital importância para o clima do mundo é algo que precisa ser revisto. Não há nada

de errado em elevar o PIB do país e levar desenvolvimento a região quando

madeireiras, agricultores e grandes empresas se submetem às normas do Ibama, e

adotam planos de manejo sustentável aprovados pelas secretarias estaduais do Meio

Ambiente.

O governo brasileiro tem se empenhado para melhorar os problemas da

Amazônia, mas a questão é muito mais complexa, numa rede que envolve MST,

desmatamentos, governo, agronegócio, exploração sustentável, Incra, leis, economia, e

muitas outras variáveis que intensificam a complexidade do problema quando nos

deparamos com uma área de seis milhões de hectares, ocupando 49,29% de todo o

território nacional, considerado pela UNESCO como “Patrimônio da Humanidade”

(Wikipédia, acesso em 08/06/2008). Apesar de todo o empenho já visto, a “polícia

verde”, Ministério do Meio Ambiente, Ibama e Governo Federal precisam trabalhar

muito e desenvolver uma política de ação conjunta para atenuarem a atual situação da

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região. Entre os diversos problemas pendentes estão: a medida provisória de 1996 (em

que o dono de propriedade privada só pode desmatar 20% de suas terras) que nunca

foi sequer votada no congresso; e os conflitos pela Terra registrados na região, dos 761

conflitos registrados no Brasil em 2006, quase metade ocorreram na Amazônia (Veja,

26/03/2008).

Os governantes do Brasil estão cientes da gravidade da situação, como ilustra o

orçamento da União de 2008 que destina 2,9 bilhões de reais ao Ministério do Meio

Ambiente, mais do que o dobro de verba destinado ao Ministério do Desenvolvimento e

ao da Indústria e Comércio Exterior (Gustavo Loschpe, Veja, 26/03/2008). O

desmatamento não se trata apenas de um problema ambiental, social e econômico do

país, mas também da visão internacional de outros países com relação a nós.

Interagir os três temas focos (Crise mundial de alimentos, biocombustíveis, Amazônia),

relacionando-os entre si, com a meta de desenvolver um pensamento sistêmico capaz de gerar um

“ponto de alavancagem” e de descrever com clareza a dinâmica desta questão, configura a pretensão do

atual trabalho.

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2. CÍRCULOS DE CAUSALIDADE

Fig. 1 - CÍRCULO DE CAUSALIDADES ENVOLVENDO A DINÂMICA ENTRE A CRISE MUNDIAL DE ALIMENTOS, BIOCOMBUSTÍVEIS E O DESMAT AMENTO DA AMAZ ÔNIA

Exportação deAlimentos

-

Crise Alimentícia

Mundial

Desmatamentoda Flores taAmazônica

Transformaçãode Grãos em Biocombutíveis

Escassez de Matéria-prima

Produçãode Ali mentos

Demanda por Áreas de Planti o

Produçãode Bi ocombustíveis

Estradas Florestais

Pressão Internacional

Leis Ambientais

Ações doGoverno

Produção para oMercado Interno

ProtestosRegionais

Tecnologias deRecuperação deÁreas

Buscapor Emprego

Variações Climáticas

Preço doBarril de Petróleo

População

Pobreza

+

+

++

+

+

+

+

+ ++

+

+

++

+

-+

+

-

-+

+

-

-

+

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A necessidade de aumentar a produção de alimentos no intuito de sanar a crise

mundial de alimentos e ajudar no crescimento econômico do país trouxe uma demanda

por áreas cultiváveis que acabaram por em risco a proteção ambiental da Amazônia,

não só obstante ainda temos o prenúncio do fim da matéria-prima do petróleo que

enuncia a necessidade da produção alternativa de combustíveis principalmente os

biocombustíveis que já estão avançados em pesquisas e demonstram viabilidade

econômica. Essa situação trouxe uma complexa, porém não impossível problemática

que se fortalece devido à negligência dos órgãos responsáveis que precisam resolver

muitos problemas socio-educacionais para conseguir efetividade na solução a partir de

medidas concisas. No presente círculo de causalidades foram listados apenas algumas

variáveis com o intuito de explicar dinamicamente a relação entre a crise mundial de

alimento, o uso dos biocombustíveis e a proteção ambiental da Amazônia.

3. RECOMENDAÇÕES DE GESTÃO AMBIENTAL PARA O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Com base na atual situação de degradação da Amazônia, parte por culpa do mau

gerenciamento da política da região e no país, e parte devido à necessidade regional de

se ter uma fonte de renda para a população, faz-se necessário a implantação de

programas de Gestão Ambiental nos estados que abrangem a Floresta Amazônica.

Deve-se ressaltar também que, não só nessas regiões, mas em todo o país, é

necessário um plano com tais finalidades, uma vez que as atividades que exploram o

meio ambiente muitas vezes conflitam com problemas ambientais de degradação.

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Nesta parte do trabalho será apresentada uma recomendação de gestão

ambiental para o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de se gerenciar os

problemas apresentados na introdução do trabalho, visando-se apresentar “pontos de

alavancagem“ para a resolução dos problemas detectados.

Analisando o Circulo de causalidade construído, foram detectados como principais

pontos de alavancagem as seguintes variáveis:

1. Proteção ambiental da Amazônia:

Demandas por áreas de plantio;

Leis ambientais.

2. Crise mundial dos alimentos:

Ações governamentais;

Produção de alimentos.

3. Uso dos biocombustíveis:

Produção de biocombustível.

Como planejamento estratégico para criar um plano de gestão ambiental, foram

escolhidos tais variáveis como pontos sensíveis de intervenção.

Para se resolver o problema do desmatamento da Amazônia, consorciado com a

produção de alimentos e biocombustível, faz-se necessária a criação de tal plano,

esquematizado a partir de agora.

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Como ponto crucial no desmatamento da Amazônia tem-se a “Demanda por

áreas de plantio”. Sabe-se que a floresta Amazônica já perdeu 17% de toda sua

cobertura original, 700.000 km quadrados nos últimos 45 anos, e estima-se que 20% das

áreas desmatadas da Amazônia, que um dia foi pastagens, estejam agora abandonadas

(COUTINHO, VEJA, 26/03/2008). Com uma área tão grande já desmatada, não é

necessário que se desmate mais para que o agronegócio prospere na região. Uma

intervenção para a resolução do problema de desmatamento seria o incentivo para que

se recuperassem tais áreas e as utilizasse para devidos fins. Sem a criação de linhas de

créditos especificas para a recuperação e reutilização de terras degradadas o processo

fica inviável para os produtores, uma vez que se gastaria mais com este processo, do

que simplesmente comprar mais terras, desmatá-las, e promover a agropecuária.

Intervindo no sistema em tal ponto, as tecnologias de recuperação de áreas

degradadas seriam aplicadas, aumentando-se a produção de alimentos, uma vez que

tais áreas poderiam ser utilizadas para o cultivo de grãos, gado ou, até mesmo, um

consórcio de culturas. Sem contar que o desmatamento da Amazônia, promovido para se

ter áreas com tais finalidades, seria resolvido. Não haveria, desta forma, a diminuição do

desmatamento que visa o mercado madeireiro.

Para se resolver este outro problema do desmatamento, é necessário que se crie

novas “Leis ambientais” que forneçam remuneração aos produtores rurais, tornado-se

vantajoso a conservação da floresta (COUTINHO, VEJA, 26/03/2008). Intervir em tal

ponto, Leis ambientais, do sistema é muito importante para que se reduza o

desmatamento da floresta Amazônica.

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Pensando-se na crise mundial dos alimentos, temos como ponto de alavancagem

crucial a ”Produção de alimentos”. Aumentando-se a produção de alimentos uma

interferência direta na crise mundial seria realizada. Esse aumento na produção de

alimentos, junto a outro ponto, as “Ações governamentais”, poderia aumentar a

produção para o mercado externo e, consequentemente, a exportação de alimentos,

beneficiando paises que necessitam de alimento proveniente de fora do seu país, pois

não conseguem produzir o suficiente para consumo próprio.

Outro ponto importante onde devem acontecer intervenções é a “Produção de

biocombustível”. Países que antes produziam grãos para a indústria alimentícia, agora

mudaram o mercado e estão produzindo estes recursos para a produção de

biocombustíveis, reduzindo a produção de alimento e agravando ainda mais a crise

mundial. A exemplo do Brasil, deve-se investir em outras fontes para a produção de

biocombustíveis, como o etanol, proveniente da cana-de-açúcar (DUAILIBI, VEJA,

30/04/2008). Dessa forma a produção desses recursos, que reduzem a emissão de

gases poluentes para a atmosfera, ainda reduziriam a produção de grãos destinados à

indústrias de combustíveis, e seriam destinados aos alimentos, melhorando a situação

atual do planeta pela carência de alimento.

A produção de biocombustíveis ainda reduziria a crescente escassez de matéria

prima, como o petróleo. Assim o preço do barril diminuiria e, juntamente, a crise mundial

de alimentos que é diretamente afetada por estes altos preços, pois a produção de

alimento depende do uso de combustíveis provenientes dessa matéria prima, e seu

preço atual encarece a atividade.

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4. CONCLUSÃO

Os Estados Unidos da América com uma agricultura protecionista incentiva a

produção de milho para a produção de metanol e veta a entrada do etanol da cana em

seu mercado. A União Européia promove incentivo ao cultivo de oleaginosas

principalmente Canola. Mas o Brasil segundo o mercado internacional pode ser o grande

culpado por uma crise mundial dos alimentos, a verdade é que há um grande medo que

o Brasil um país emergente venha dominar o mercado de biocombustíveis.

Sem dúvida a produção de cana-de-açúcar pode empurrar o plantio de soja e o

criação de gado para a região Amazônica. Cabe a órgãos competentes administrar a

ocupação dessa área, promovendo incentivos ao uso de áreas já desmatadas e úteis

para estas atividades e propor formas alternativas de sustento para os mais de 12

milhões de habitantes da região amazônica.

O uso dos biocombustíveis pode garantir uma redução da emissão de carbono na

atmosfera, além de beneficiar a atividade agrícola que depende do uso de máquinas

para a produção e assim manter estável a quantidade de alimentos produzidos e os

seus respectivos preços. Cabe atentar também no uso correto de oleaginosas para a

produção de biocombustíveis que a Amazônia apresenta um verdadeiro arsenal de

oleaginosas, o que poderia beneficiar os moradores locais.

O Brasil carrega dois grandes paradigmas a nível mundial, hoje nem tanto

lembrados, que são o “Brasil é o celeiro do mundo” e o “Brasil (Amazônia) é o pulmão do

mundo”, e com a necessidade do uso de fontes alternativas e menos poluentes os

biocombustíveis aliado ao grande potencial brasileiro na produção de álcool combustível

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pode fazer com que surja mais um paradigma o “Brasil é o tanque de combustíveis do

mundo”. De fato temos potencial para tornar esses três paradigmas uma realidade, com

produção de alimentos e biocombustíveis em larga escala e exploração protecionista

vinculada atividades sustentáveis na Amazônia . Basta incentivos, ações e muito

trabalho.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS