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Estudo de caso envolvendo concretagem de elementos estruturais de grande porte – Estação
de Tratamento de Esgoto – Balneário Piçarras-SC
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
Estudo de caso envolvendo concretagem de elementos estruturais de
grande porte – Estação de Tratamento de Esgoto – Balneário Piçarras-
SC
Paula Antunes Dal Pont – [email protected]
Projeto, Execução e Desempenho de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Florianópolis, SC, 06 de Outubro de 2017
Resumo
Recentemente na engenharia, é comum observar a insidencia de projetos envolvendo edificios
cada vez mais altos que, por sua vez, resultam em elementos estruturais de grandes
proporçoes. Desde predios residenciais e comerciais em grandes metropoles até a construção
de imensas usinas hidreletricas e estadios, a concretagem envolvendo elementos de grandes
dimensões, e consequentemente, grande volume de concreto, é sempre um desafio para as
construtoras, pois se executada fora dos padrões de qualidade, pode colocar o elemento
estrutural em risco, causando grandes trincas e fissuras. O concreto empregado em um
elemento estrutural de grandes dimensões é chamado de concreto massa, cuja sua aplicação
exige meios especiais visando combater a geração de calor devido a hidratação do cimento.
Este artigo apresenta um estudo de caso mostrando os desafios, engenhosidades e boas
praticas envolvidas na concretagem de uma laje de fundo, mísulas e arranques de parede que
contemplam um volume de 860,00 m³ de concreto armado da unidade construtiva Tanque de
Aeração pertencente à Estação de Tratamento de Esgoto localizada na cidade de Balneario
Piçarras, SC. Como resultado, observou-se que a união de fatores como desenvolvimento do
estudo de traço do concreto, procecimentos executivos adequados, planejamento logistico do
canteiro de obras e controle tecnologico foram primordiais para construção de um elemento
estrutural integro e em conformidade com as especificações de projeto, revelando-se como
alternativa para futuras concretagens de grande porte.
Palavras-chave: Concreto massa. Controle técnologico. Concreto. Calor de Hidratação.
1. Introdução
Em geral, o concreto massa pode ser definido como qualquer volume de concreto com dimensões
suficientes para requerer que sejam tomadas medidas para controlar a geração de calor e a
variação de volume decorrente, a fim de minimizar a sua fissuração (ACI 207-1R, 2005;
METHA e MONTEIRO, 2008; ISAIA, G. C., 2011).
Com relação ao concreto convencional, o concreto massa tem um particularidade referente a
dificuldade de liberação do calor gerado pelas reações químicas exotérmicas de hidratação do
cimento, sendo que esta liberação de calor no interior da massa de concreto está condicionada
pelas propriedades térmicas dos materiais empregados, pelas condições ambientais e pelas
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dimensões e geometria do elemento estrutural de concreto. Devido a se coeficiente de
dilatação térmica, o concreto sofre variações expansivas em suas dimensões quando exposto a
ação da temperatura decorrente dessa reação química exotérmica de hidratação. Devido ao
fato de que o mesmo não esta totalmente solidificado, tem a capacidade de expandir-se
rapidamente, pois as reações exotérmicas principais ocorrem, em sua maioria, até 72 horas
após a concretagem. Ao resfriar-se à temperatura ambiente, o que pode ocorrer durante semanas ou meses, fica sujeito
a uma retração ou contração térmica. Esta retração, por conta das restrições naturais de atrito e
engastamentos (por exemplo, em blocos estaqueados), induz o surgimento de tensões que podem
superar as tensões resistentes de tração do concreto, provocando a indesejada fissuração de origem
térmica da estrutura (FURNAS, 1997).
O problema é mais recorrente em estruturas com peças de grandes volumes (maiores que 1,5 m³ e
com lado maior ou igual a 1 metro) em geral quando utilizados concretos com elevado consumo
de cimento e que estejam mais suceptiveis a variações termicas decorrentes das condições
climaticas da região da obra, pois a temperatura e umidade relativa do ar e a direção e intensidade
do vento podem favorecer ou dificultar a dissipação do calor.
A atenção deve ser redobrada quando há presença de água ou meio ambiente potencialmente
agressivo, o que consta no presente estudo de caso, em se tratando de uma estação de tratamento
de esgoto, pois uma fissura em um elemento estrutural neste tipo de ambiente pode desencadear
infiltrações de umidade e gerar a lixiviação do concreto e corrosão de armadura. O excesso de
calor gerado pela hidratação do cimento pode resultar em duas patologias indesejaveis imediatas
ao concreto, o que podem abrir caminho para o ingresso de agentes agressivos e deteriorações
mais severas.
De acordo com Ana Sachs apud Kuperman (2012) o primeiro deles e mais comum é a fissuração
de origem térmica, que pode ocorrer quando as tensões de tração causadas pela queda de
temperatura e pela existência de restrições à movimentação do concreto superam sua resistência à
tração.
O segundo, mais raro, é a etringita tardia, conhecida também como etringita retardada ou
secundária, que se forma no concreto já endurecido e implica um mecanismo expansivo com
consequente formação de um quadro fissuratório em estruturas de concreto simples, armado ou
protendido. As pesquisas mais recentes indicam que esse problema pode, eventualmente, ocorrer
caso a temperatura do concreto ultrapasse 65°C na fase inicial de hidratação do cimento e depende
ainda da presença de água em contato com o concreto.
Para que esses problemas não ocorram, há soluções variadas que devem ser estudadas com todo
corpo tecnico (projetista, técnologista e construtor) através das definições de tipo de cimento a ser
utilizado, seus agregados e aditivos, bem como avaliação do abatimento e melhor forma de
lançamento, cura e desforma visando a qualidade do elemento estrutural a ser construido.
Segundo Ana Sachs apud Curti, Thomas e Kuperman (2012) existem diversas formas de controle
de calor de hidratação durante a concretagem, conforme abaixo:
− Usar cimentos compostos com escória de alto-forno ou cimentos de baixo calor de hidratação,
tais como CP III e CP IV. Fazer sempre os ensaios de calor de hidratação para comprovar
valores;
− Utilizar aditivos retardadores de pega e de endurecimento;
− Utilizar aditivos que possibilitem reduzir o consumo de cimento da dosagem;
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− Reduzir a resistência à compressão na fase de projeto ou aumentar o prazo para que a
resistência à compressão especificada seja atingida;
− Reduzir o consumo de cimento mediante a utilização de materiais pozolânicos, como sílica
ativa ou metacaulim, entre outros;
− Utilizar armaduras específicas (vínculos internos) para limitar ou impedir a formação de
fissuras por retração térmica;
− Sempre que viável, empregar agregados que conferem maior capacidade de deformação ao
concreto, além de menor módulo de deformação;
− Aumentar a dimensão máxima do agregado graúdo, produzindo, assim, concretos com baixo
teor de argamassa;
− Na cura, substituir parte da água de amassamento por água gelada, gelo (em escamas ou
triturado) ou nitrogênio líquido;
− Diminuir a temperatura dos agregados graúdos, seja com proteção contra a insolação por meio
de mantas geotérmicas, seja com umidificação ou refrigeração;
− Utilizar serpentinas embutidas no concreto, pelas quais circulará água gelada. Elas ficam
imersas nos elementos estruturais que serão concretados e devem ser controladas por
termômetros ou termopares embutidos;
− Adotar, quando possível, concretagem em camadas com altura moderada e intervalos de
lançamento do concreto que possibilitam maior dissipação de calor;
− Além de baixar a temperatura da água, baixar também a temperatura dos outros materiais
constituintes do concreto (agregado graúdo, cimento e areia). A água, que tem o maior calor
específico (4,18 kJ/kg.K), entra na composição do concreto com uma porcentagem muito
pequena, entre 10% e 15% do volume total. O agregado graúdo (brita), que tem um calor
específico de 0,92 kJ/kg.K, ocupa porcentagem de cerca de 65% do volume total do concreto;
− Sempre que possível, empregar concreto lançado com caçamba para que o abatimento seja
pequeno e, com isso, as dimensões máximas do agregado possam ser aumentadas para 38 mm
ou 50 mm e, consequentemente, o consumo de cimento possa ser reduzido.
Para o bom resultado do elemento estrutural, um os fatores determinantes é a localização da
concreteira/central dosadora em relação a obra, ja que o tempo de trajeto pode impactar no
abatimento e perda de temperatura do concreto, também deve ser obsrvado que o valor do metro
cubico de fornecimento do concreto não deve ser o unico fator para contratação do fornecedor de
concreto, deve-se observar em destaque a capacidade tecnica e operacional para este fornecimento
de grande volume. Com relação a questões ambientais, devido a influencia da temperatura
ambiente e umidade do ar o ideal é que o inicio previsto da concretagem seja as 6:00 horas, pois
desta forma se aproveitam as baixas temperaturas do ambiente.
A logistica do canteiro de obras é imprescindivel para o sucesso da concretagem de grandes
elementos estruturais, pois na maioria das vezes a mesma deve ser continua e não pode ser
interrompida, logo, o canteiro deve estar equipado com quantidade suficiente de bombas de
lançamento de concreto, de vibradores por imersão e de bombas de sucção para aspirar poças de
água da chuva ou de infiltrações. Também é imprescindível planejar os acessos dos caminhões
betoneiras até as bombas e iluminação noturna.
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2. Estudo de Caso
2.1. Características gerais do empreendimento
O empreendimento do presente estudo de caso consiste na Estação de Tratamento de Esgoto,
com capacidade de tratar 110,33 litros/segundo que está sendo implantado no município de
Balneário Piçarras, litoral norte de Santa Catarina através de um contrato de empréstimo entre
a JICA - Japan International Cooperation Agency e CASAN - Companhia Catarinense de
Águas e Saneamento e implantada pela empreiteira Itajui Engenharia de Obras. O contrato
consiste na implantação da estação de tratamento de esgoto, 35.637,26 metros de rede coletora,
2.543 ligações domiciliares, 4.609,63 metros de emissários e 4 estações elevatórias de
recalque.
Figura 1 - Estação de Tratamento de Esgoto
Fonte: Do Autor
A unidade construtiva referente à concretagem de 860,00 m³ de concreto é a unidade Tanque
de Aeração que faz parte do tratamento biológico aeróbio, por lodos ativados na modalidade
aeração prolongada com estabilização aeróbia do lodo, sendo que sua fundação consiste em
estacas pré-moldadas em concreto nas seções de 23x23 cm, 26x26 cm e 30x30 cm e blocos de
fundação nas dimensões 90x90 cm para estacas isoladas e 90x195 cm para duas estacas.
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Figura 2 - Tanque de Aeração em fase de estaqueamento e blocos de fundação
Fonte: Do Autor
A concretagem de 860,00 m³ de concreto consiste na laje de fundo com dimensões de 65,60
metros x 28,20 metros x 40 cm de espessura e mísulas e arranques de parede, totalizando 60
cm de altura conforme corte abaixo.
Figura 3 - Corte Esquemático - Mísula e arranque de parede
Fonte: Do Autor
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2.2. Estudo de dosagem do concreto
Devido ao empreendimento tratar-se de uma estação de tratamento de esgoto, configura-se
um ambiente potencialmente agressivo a qual se enquadra na classe de agressividade IV de
acordo com a ABNT NBR 6118:2014 “Projeto de estruturas de concreto – Procedimento”
conforme figura abaixo, obrigatoriamente sendo necessária a adoção do concreto FCK 40 e
relação água/cimento < 0,45.
Figura 4 - Classe de Agressividade - NBR 6118
Fonte: NBR 6118
Também foi necessária a definição do traço de acordo com especificações de projeto
conforme abaixo:
− Teor de Argamassa: >52% <58%
− Consumo de cimento: >350 kg/m³
− Módulo de Elasticidade: >35.410 Mpa
− Tamanho máximo do agregado : 19 mm ( Brita 1)
− Adição de fibras de polipropileno-monofilamento (0,6 kg/m³)
O concreto empregado na produção da presente laje de fundo foi obtido através da mistura
enérgica e homogênea dos materiais disponíveis de forma a atender a uma resistência
especificada mínima característica de projeto, emitir baixo calor de hidratação, apresentar
boas condições de dissipação térmica e ter a trabalhabilidade adequada aos meios de
transporte, produtividade e adensamento desse concreto.
A adição de fibras de polipropileno-monofilamento foi adotada no presente traço com
objetivo de absorver e controlar o aparecimento das fissuras originadas pela retração plástica
do concreto durante o seu endurecimento. Esta retração destaca-se devido ao volume concreto
a ser aplicado (860 m³), alto teor de cimento devido a tratar-se de concreto com resistência de
40 Mpa, influenciando no calor de hidratação, e também pela temperatura ambiente e o vento,
considerando que Balneário Piçarras se localiza em região litorânea. Além desses fatores as
fibras de polipropileno também melhoram o desempenho do concreto endurecido aumentando
sua resistência quanto:
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− Ao desgaste, pois através do controle da exsudação, evita-se o aumento na relação
água/cimento responsável pela diminuição da resistência do concreto.
− Ao impacto, uma vez que controlam o índice e profundidade das fissuras, ajudando a
preservar a integralidade da estrutura.
− Ao fogo, já que na fundição das fibras a altas temperaturas (>160°C), são criados
micro-canais que aliviam a pressão gerada pelos vapores d’água causadores do
fenômeno “spalling”, aumentando o tempo de degradação das estruturas em casa de
incêndios.
A incorporação das fibras acarreta na redução do abatimento do concreto, que necessita ser
corrigido. Tal correção implica aumento do consumo de água e, consequentemente, aumento
no consumo de cimento do traço.
Em função das especificações de projeto, visando a velocidade de execução da concretagem e
em conformidade com as prescrições das normas ABNT NBR 12655:2006 “Concreto de
cimento Portland – Preparo, controle e recebimento – Procedimento”, foi elaborado em
conjunto com a concreteira um traço especifico, conforme tabela abaixo:
Traço do ConcretoConcebido para
Fck 40 Mpa
Consumo de cimento por m³ (CP IV 32 - RS) 400 kg
Relação água/cimento 0,45
Areia Natural 463,75 kg
Areia Artificial 207,75 kg
Brita 0 581,67 kg
Brita 1 581,67 kg
Fibra de Polipropileno-Monofilamento 0,600 kg
Aditivo Plastificante Polifuncional a base de lignosulfonato 2,597 kg Tabela 1 - Traço do concreto, em materiais secos, com fck previsto para 40 MPa aos 28 dias de idade para 1m³,
aplicado na laje de fundo, mísulas e arranques de parede.
Fonte: Do autor
O cimento adotado foi tipo CP IV 32-RS devido ao fato de que seu uso é recorrente em obras
que ficarão expostas à ação de água corrente e em ambientes agressivos. Também devido a
cura ser mais lenta e com baixo calor de hidratação o que o torna adequado para grandes
volumes de concreto e temperaturas mais elevadas.
Para maior agilidade de descarga, facilidade de vibração e também garantir melhor
consistência e maior homogeneidade do concreto devido a alta taxa de armadura do concreto
e com objetivo de evitar o aparecimento de juntas frias e segregação, foi adotado um
abatimento de 15±3 cm, verificado através do slump-test em todos os caminhões betoneiras,
conforme imagens abaixo:
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Figura 5 - (a) Ensaio de Slump-Test - (b) Resultado de ensaio Slump-Test
Fonte: Do autor
Devido ao elevado volume de concreto da presente concretagem, a concreteira contratada fez
um estoque pulmão de 25 caminhões betoneiras carregados com o objetivo de inicio da obra
ja com grande volume aplicado. Nessas cargas foram inseridos aditivo
estabilizador/retardador de pega, pois seus carregamentos se iniciaram as 03:00 horas da
manha e a aplicação do concreto em obra se iniciou as 06:00 horas da manha.
2.3. Procedimento Executivo
Os procedimentos recomendados para a concretagem apresentada no presente artigo se
basearam nas prescrições das normalizações nacionais vigentes (principalmente na ABNT
NBR 14931:2004 “Execução de estruturas de concreto – Procedimento”) e nas boas práticas
de engenharia.
Inicialmente, logo após conclusão dos serviços de estaqueamento com estacas prétendidas em
concreto e execução dos blocos de fundação em concreto armado, foi executado sobre o solo
previamente preparado (nivelado, compactado etc.), um lastro de concreto magro com
espessura de 5 cm. Este lastro foi considerado como uma “fôrma perdida” do concreto
estrutural e mereceu os cuidados de precisão dimensional, planeza e acabamento superficial.
Foram posicionadas as armaduras de laje de fundo, mísulas e paredes, espaçadores em
concreto obedecendo ao cobrimento de 4,5 cm conforme ABNT NBR 6118:2014 “Projeto de
estruturas de concreto – Procedimento” e formas das respectivas estruturas, utilizando o
sistema de núcleo perdido para travamentos das formas das paredes.
A concretagem propriamente dita iniciou-se as 05:55 horas da manha com duas frentes de
serviço e duas bombas com lanças de 43 metros e 36 metros respectivamente, sendo que os
caminhões betoneira foram carregados em duas usinas, uma a 2,2 km do canteiro de obras, a
qual fez o carregamento de 68,27% dos caminhões betoneira e outra a 18,4 km que fez o
carregamento do restante dos caminhões betoneira (31,73%). A proximidade da usina de
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concreto foi primordial para a velocidade de fornecimento. Os caminhões betoneira possuíam
sua capacidade variável, com balões de 8,00 m³ e 9,00 m³. Para garantir a continuidade dos
trabalhos, no horário de almoço foi paralisada uma bomba por vez, mantendo sempre uma
equipe trabalhando.
Figura 6 - (a) Concretagem – Angulo 01 - (b) Concretagem – Angulo 02
Fonte: Do autor
Por volta das 13:00 horas foi verificado que o concreto lançado inicialmente havia iniciado o
processo de endurecimento, logo foi iniciado o corte verde no topo dos arranques de parede
concretados, que consiste na técnica de que, quando o concreto, próximo à fase final de
endurecimento, recebe um jato d'água com pressão de 7 kgf/cm² a 8 kgf/cm² para remoção da
nata da superfície e depois de dois dias é limpo com água, de forma a deixar exposto o
agregado graúdo garantindo maior aderência do concreto nas próximas etapas de parede a
serem concretadas.
Também se iniciou o processo de cura, processo este que se caracteriza por uma série de
procedimentos que visam a impedir a evaporação da água necessária à hidratação do cimento
e, por conseguinte, ao incremento de resistência do material (Neville, Brooks, 2013) através
de lamina d’agua na superfície da laje e molhagem constante das paredes com auxilio de
caminhão pipa durante sete dias.
Figura 7 - (a) Execução de técnica de corte verde - (b) Cura através de lamina d'água
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Fonte: Do autor
A finalização da concretagem ocorreu as 16:45 horas com todos os procedimentos dentro do
planejado e de acordo com as boas técnicas e normas da engenharia, totalizando 104
caminhões betoneira e 860,00 metros cúbicos de concreto bombeado (Anexo planilha de
fornecimento de concreto) com duas frentes de serviço totalizando 22 funcionários.
2.4. Planejamento logístico do canteiro de obras
A organização do canteiro de obras foi primordial para o sucesso do processo de concretagem
dentro do período esperado. Inicialmente foi elaborada uma área em frente ao canteiro de
obras para conferencia de abatimento através do ensaio de Sump-Test visando que os
caminhões betoneira que estivessem transitando nas duas frentes de serviço de bombeamento
já estivessem liberados para lançamento do concreto. Este procedimento manteve a
organização e controle dos caminhões betoneiras já avaliados e liberados para concretagem.
Figura 8 - Área para conferencia de abatimento e liberação de caminhões betoneira para lançamento do concreto
Fonte: Do autor
Conforme citado anteriormente, o processo de concretagem foi executado com duas frentes de
serviço e duas bombas para lançamento de concreto, com capacidade de descarga de dois
caminhões por bomba ao mesmo tempo, visando maior agilidade na concretagem. O layout da
estrutura favoreceu este procedimento.
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Figura 9 - (a) Frente de Serviço 01 - (b) Frente de serviço 02
Fonte: Do autor
Figura 10 - Layout Tanque de Aeração - Distribuição de frentes de serviço
Fonte: Do autor
Visando a mitigação de possíveis riscos externos, técnicos, organizacionais, gerenciais e
logísticos alguns procedimentos foram adotados com antecedência no canteiro de obras, com
o objetivo de sucesso na concretagem:
− Uma terceira bomba de concreto a disposição para o risco de alguma falha nas duas
em operação;
− Dois geradores de energia posicionados para o risco de falha/corte no fornecimento de
energia pela Celesc;
− Um reservatório de água posicionado para cura para o risco de falha/corte no
fornecimento de água pela CASAN;
− Refletores alugados para iluminação noturna para o risco de que a concretagem
continuasse no período noturno;
− Equipamentos como vibradores e motores reservas a disposição;
2.5. Controle Tecnológico
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O procedimento de controle tecnológico iniciou pela conferencia do abatimento de tronco de
cone através do ensaio Slump-Test conforme já citado, onde foram conferidos todos os
caminhões, sendo que a liberação para lançamento só era permitida quando observado o
Slump determinado de 15+-3 cm. A média dos abatimentos de tronco de cone obtidos segue
na imagem abaixo.
Figura 11 - Resultado do ensaio de abatimento de tronco de cone
Fonte: Do autor
O controle tecnológico referente ao ensaio de resistência à compressão do concreto foi
efetuado de acordo com a NBR 7212, ou seja, foram extraídas amostragens a cada 20 m³ de
concreto e foram efetuados rompimentos aos 3, 7 e 28 dias conforme figuras a seguir para
certificação da resistência a compressão do concreto especificada em projeto de 40 MPa.
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Figura 12 - Resistencia a compressão do concreto aos 3 dias (MPa)
Fonte: Do autor
Figura 13- Resistencia a compressão do concreto aos 7 dias (MPa)
Fonte: Do autor
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Figura 14- Resistencia a compressão do concreto aos 28 dias (MPa)
Fonte: Do autor
No que diz respeito a resistência a compressão do concreto aos 28 dias, todas amostras
atenderam ao requisito de projeto (fck ≥ 40MPa). Observou-se que o resultado mais baixo de
resitencia a compressão obtida foi de 40,1 Mpa.
Durante a concretagem foi efetuada rastreabilidade da descarga de cada caminhão betoneira,
vinculando o numero da nota fiscal a o local descarregado, caso houvesse alguma resistência
abaixo da especificada em projeto, haveria maior facilidade de rastreá-la, conforme croqui
abaixo.
Figura 15 - Rastreabilidade de caminhões betoneira
Fonte: Do autor
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3. Conclusão
Este artigo tomou como base para elaboração as normatizações vigentes e literaturas consagradas
no meio técnico, com objetivo de apresentar que o desenvolvimento previo de estudos de
dosagem, adoção de procedimentos executivos com rigor, planejamento de logistica e controle e
acompanhamento técnico neste evento de concretagem foram fatores determinantes para que o
elemento estrutural em questão fosse executado de forma integra e em conformidade com as
especificações de projeto, evitando em destaque o aparecimento de fissuras térmicas devido ao
volume de concreto.
Logo, como menção final, foi possivel observar que as premissas analisadas neste artigo, tanto
teoricas (previamente as concretagens) quanto praticas (durante e após as concretagens),
possibilitatam um resultado final satisfatorio, revelando-se como uma boa alternativa para o uso
em projetos similares envolvendo concreto massa.
Referências
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. COMMITTEE 207. ACI 207.1R-05: Guide to Mass
Concrete. Farmington Hills, USA. 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: Projeto de
estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7212: Execução de
concreto dosado em central – Procedimento. Rio de Janeiro, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14931 Execução de
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12655: Concreto de
cimento Portland - Preparo, controle e recebimento - Procedimento. Rio de Janeiro, 2006.
FURNAS. – Laboratório de Concreto; Andrade, W. P. (Ed.). Concretos: massa, estrutural,
projetado e compactado com rolo – ensaios e propriedades. PINI. São Paulo, 1997.
MEHTA, P. K; MONTEIRO, J. M. – Concreto – Microestrutura, Propriedades e Materiais.
IBRACON 3ª edição. São Paulo, 2008.
ISAIA, G. C. (Ed.). Concreto: Ciência e tecnologia. IBRACON 1º edição. São Paulo, 2011.
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de Tratamento de Esgoto – Balneário Piçarras-SC
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
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