Estudo Das Sobrecargas Posturais Em Fisioterapeutas - Uma Abordagem Biomecânica Ocupacional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA ABORDAGEM BIOMECÂNICA OCUPACIONAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CELEIDE PINTO AGUIAR PERES Florianópolis - SC 2002

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Estudo Das Sobrecargas Posturais Em Fisioterapeutas - Uma Abordagem Biomecânica Ocupacional

Transcript of Estudo Das Sobrecargas Posturais Em Fisioterapeutas - Uma Abordagem Biomecânica Ocupacional

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA ABORDAGEM BIOMECNICA

    OCUPACIONAL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    CELEIDE PINTO AGUIAR PERES

    Florianpolis - SC 2002

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA ABORDAGEM BIOMECNICA

    OCUPACIONAL

    CELEIDE PINTO AGUIAR PERES

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo.

    Florianpolis - SC 2002

  • 2

    CELEIDE PINTO AGUIAR PERES

    ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA

    ABORDAGEM BIOMECNICA OCUPACIONAL

    Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia de Produo, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo (PPEGP) da Universidade Federal de Santa

    Catarina, em 20 de Dezembro de 2002.

    _______________________________

    Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr

    Coordenador do Curso

    BANCA EXAMINADORA:

    _______________________________

    Prof. Antnio Renato Pereira Moro, Dr

    Orientador PPGEP - UFSC

    _______________________________

    Profa. Eliete Medeiros, Dra.

    _______________________________

    Prof. dio Luiz Petroski, Dr.

  • 3

    DEDICATRIA

    Com muito carinho, dedico este trabalho aos meus

    queridos pais, Jair G. de Aguiar (in memorian) e

    Nair P. de Aguiar, que me deram o alicerce da vida

    para a busca do saber que no se aprende nos

    livros.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus pela infinita graa e poder, me julgando capaz no percurso desta

    caminhada.

    Em especial ao Prof. Dr. Antonio Renato Pereira Moro, pelo privilgio do

    convvio na orientao deste trabalho, na inestimvel pacincia, compreenso e pelo

    seu exemplo de dedicao profissional.

    A todos os docentes do mestrado pelos valiosos ensinamentos e na

    disposio em sempre ajudar.

    Ao meu esposo, Luis Alberto Batista Peres, pelo incentivo e presena

    constante no percurso desta jornada.

    s minhas queridas filhas Luisa Aguiar Peres e Marina Aguiar Peres, pela

    cooperao na minha ausncia para a realizao deste trabalho.

    Ao meu querido irmo Jair Csar Pinto de Aguiar, pelo entusiasmo de vida e

    pelo estmulo minha dedicao profissional.

    A todos da minha famlia, que sempre acreditaram na minha capacidade de

    aprender.

    A todos os amigos que compartilharam no auxlio, companheirismo e apoio

    nas horas difceis desta caminhada.

    Aqueles que engrandeceram este trabalho com sua disponibilidade e

    participao ativa, sem os quais no teria sido possvel a realizao desta pesquisa.

    A todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para a realizao

    deste trabalho.

  • 5

    RESUMO

    PERES, Celeide Pinto Aguiar. Estudo das sobrecargas posturais em fisioterapeutas: uma abordagem biomecnica ocupacional. Florianpolis, 2002, 128 fs. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC, 2002.

    A presente pesquisa teve como objetivo principal identificar a incidncia de distrbios posturais em profissionais fisioterapeutas, relacionando-os com os movimentos e posturas adotadas durante as suas atividades prticas na rotina de trabalho. O estudo contou com a participao de 156 fisioterapeutas, com idade compreendida entre 20 e 42 anos, residentes em Cascavel Paran e regio. O mtodo utilizado para as anlises biomecnicas da postura foi o proposto por Ovako Working Posture Analysing System (OWAS), aliado a um questionrio do tipo survey, para verificao de queixas msculo-esquelticas. O resultado deste estudo levantou uma alta incidncia em desconfortos posturais nesses profissionais, com destaque para as seguintes regies: cervical (51,28%), lombar (33,97%), dorsal (30,12%), membros superiores (16,66%) e membros inferiores (7,69%). Os movimentos de maior expresso, por sua relao com as sobrecargas posturais, esto relacionados aos procedimentos fisioterpicos de tcnicas manuais, por exigirem movimentos de flexo e/ou rotao de tronco; da mesma forma, so maximizadas pela quantidade de horas trabalhadas e o nmero de pacientes atendidos por dia. A pesquisa permitiu concluir que o profissional fisioterapeuta fica exposto a um grau de constrangimento postural importante, que o classificaria como uma profisso de alto risco com propenso a doenas ocupacionais, principalmente, aquelas associadas a coluna vertebral.

    Palavras-chave: Sobrecargas Posturais; Procedimentos Fisioterpicos; Biomecnica Ocupacional.

  • 6

    PERES, Celeide Pinto Aguiar. I study of the overloads postural in physiotherapists: an approach occupational biomechanics. Florianpolis, 2002, 128 fs. Dissertation (Master's degree in Engineering of Production) - Program of Masters degree in Engineering of Production, UFSC, 2002.

    ABSTRACT

    The main objective of the present research project was to identify the incidence of

    postural disturbances in physical therapists, relating such disturbances to the

    movements and postures which the said professionals adopt during their practical

    activities their work routine. The study ha the participation of 156 physiotherapists

    with comprehended ages between 20 and 42, them being residents of Cascavel,

    Paran, Brazil. The method employed for analyses of posture was proposed by the

    Ovaco Posture Working Analysing System (OWAS) in conjunction with survey-type

    questionnaires for the verification of muscular-skeletal complains. The result of this

    study brought to light a high incidence of different types of postural discomfort in

    those professionals, the most notable of which being those in the following regions:

    cervical (51,28%), lumbar (34,97%), dorsal (30,12%), the upper limbs (16,66%) and

    the lower limbs (7,69%). The movements of greatest expression, because of their

    relation to postural stress, are related to the physiotherapeutic procedures of manual

    techniques by requiring movements of flexion and/or of trunks. In the same way, they

    are maximized by the quantity of workload hours and the number of patients seen per

    day. The results allowed for the conclusion that physical therapists are constantly

    exposed to a degree of important postural constraint, and that as such, this would

    classify physiotherapy as a high-risk profession with a certain inclination towards

    occupational ailments, principally, those associated with the spinal column.

    Key words: Postural Stress, Physiotherapeutic Procedures, Occupational Biomechanics.

  • 7

    SUMRIO

    RESUMO ........................................................................................................ 5

    ABSTRACT..................................................................................................... 6

    LISTA DE FIGURAS ....................................................................................... 9

    LISTA DE TABELAS E QUADRO................................................................. 11

    LISTA DE ANEXOS ...................................................................................... 12

    1 INTRODUO.......................................................................................... 13

    1.1 O Problema de Pesquisa.................................................................. 13

    1.2 Objetivo Geral................................................................................... 15

    1.3 Objetivos Especficos ....................................................................... 15

    1.4 Justificativa ....................................................................................... 16

    1.5 Delimitao do Estudo...................................................................... 17

    1.6 Limitao do Estudo ......................................................................... 18

    1.7 Pergunta de Pesquisa ...................................................................... 18

    2 REVISO DA LITERATURA..................................................................... 19

    2.1 Postura Corporal............................................................................... 19

    2.1.1 Postura em P............................................................................... 22

    2.1.2 Postura Sentada ............................................................................ 23

    2.2 Aspectos Antomo-fisiolgicos da Postura....................................... 27

    2.3 Aspectos Biomecnicos da Postura ................................................. 32

    2.4 Posturas Adotadas no Trabalho ....................................................... 39

    2.5 Caracterizao da Atividade Profissional de Fisioterapia ................. 42

    2.6 Distrbios Msculo-esqueltico da Coluna Vertebral ....................... 43

    2.7 Sobrecargas Posturais Relacionadas ao Trabalho........................... 46

    2.8 Cervicalgia, Cervicobraquialgia e Dorsalgia ..................................... 51

    2.9 Lombalgia ......................................................................................... 55

    2.10 Dor Muscular .................................................................................. 57

    2.11 Fatores de Risco, Carga de Trabalho e Distrbios Posturais

    em Fisioterapeutas ......................................................................... 59

  • 8

    2.12 Mtodo Ovaco Working Analysing Sistem - OWAS........................ 64

    3 METODOLOGIA ....................................................................................... 71

    3.1 Procedimentos Metodolgicos.......................................................... 71

    3.1.1 Populao e amostra..................................................................... 71

    3.1.2 Local da Pesquisa ......................................................................... 71

    3.1.3 Variveis de Estudo....................................................................... 72

    3.1.3.1 Variveis demogrficas .............................................................. 72

    3.1.3.2 Variveis operacionais................................................................ 73

    3.1.4 Instrumentos de Avaliao ............................................................ 74

    3.1.4.1 Do questionrio........................................................................... 74

    3.1.4.2 Do Mapa de Desconforto Corporal ............................................. 75

    3.1.4.3 Mtodo OWAS............................................................................ 75

    3.1.5 Procedimentos............................................................................... 75

    4 RESULTADOS.......................................................................................... 79

    4.1 Anlise das Atividades...................................................................... 79

    4.2 Tratamento dos Dados ..................................................................... 79

    4.3 Anlise dos Dados............................................................................ 80

    4.3.1 Do Questionrio............................................................................. 80

    4.3.2 Do Mapa de Desconforto Corporal ................................................ 84

    4.3.3 Do Mtodo Ovaco Woeking Analysing Sistem - OWAS ................ 86

    4.4 Discusso dos Resultados ............................................................. 101

    5 CONCLUSO ......................................................................................... 108

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................ 112

    7 ANEXOS................................................................................................. 117

  • 9

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 Medidas de Presso nas Posturas de P e Sentada sem

    Apoio Dorsal......................................................................... ....25

    FIGURA 2 Posio de Geometria de Presso Mnima .............................. 28

    FIGURA 3 Movimentos de Flexo e Extenso da Regio Cervical ........... 34

    FIGURA 4 Resultante do Peso Corporal na Postura Ereta.................. ...... 35

    FIGURA 5 Deslocamento do Ncleo Pulposo do Disco Intervertebral........36

    FIGURA 6 Foras de Reao num Levantamento de Peso....................... 38

    FIGURA 7 Fora de Reao e Fora de Cisalhamento (L5/S1)

    com Carga............................................................................... 39

    FIGURA 8 Alteraes Orgnicas por Contrao Muscular Sustentada ..... 59

    FIGURA 9 Modelo Biomecnico Momentos e Foras de Reao em

    Trs Posturas Diferentes, sem Carga nas Mos...................... 63

    FIGURA 10 Posies das Costas, Braos e Pernas do Sistema OWAS... 66

    FIGURA 11 Definio das Atividades ........................................................ 67

    FIGURA 12 Definio das Caractersticas da Postura............................... 68

    FIGURA 13 Modelo de Anlise das Categorias ......................................... 68

    FIGURA 14 Modelo de Anlise das Atividades em Geral .......................... 69

    FIGURA 15 Mapa de Desconforto Corporal............................................... 77

    FIGURA 16 Distribuio da Populao Tempo de Atuao Profissional ... 80

    FIGURA 17 Distribuio de Horas de Trabalho por dia ............................. 80

    FIGURA 18 Freqncia de Atendimento Dirio ......................................... 81

    FIGURA 19 Postura Sentada no Tablado .................................................. 84

    FIGURA 20 Postura de Joelho no Tablado com Rolo................................ 85

    FIGURA 21 Postura Sentada no Tablado .................................................. 85

    FIGURA 22 Postura Sentada no Tablado .................................................. 87

    FIGURA 23 Resultados das Atividades Desenvolvidas ............................. 88

    FIGURA 24 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas no Tablado ..................................................... 89

    FIGURA 25 Postura Sentada no Tablado .................................................. 89

    FIGURA 26 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Tablado .......... 90

  • 10

    FIGURA 27 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas no Tablado ..................................................... 91

    FIGURA 28 Postura em P com a Bola ..................................................... 91

    FIGURA 29 Postura de Joelho no Tablado com a Bola ............................. 92

    FIGURA 30 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Tablado

    Com Bola ............................................................................... 92

    FIGURA 31 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas no Tablado com Bola ..................................... 93

    FIGURA 32 Postura de Joelho no Tablado com Rolo................................ 93

    FIGURA 33 Resultado das Atividades Desenvolvidas no Tablado com

    Rolo........................................................................................ 94

    FIGURA 34 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas no Tablado com Rolo..................................... 95

    FIGURA 35 Postura de P......................................................................... 95

    FIGURA 36 Resultados das Atividades na Barra Paralela......................... 96

    FIGURA 37 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas na Barra Paralela ........................................... 97

    FIGURA 38 Postura em P no Div........................................................... 97

    FIGURA 39 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Div ................ 98

    FIGURA 40 Demonstrativo das Categorias nas Atividades

    Desenvolvidas no Div........................................................... 99

    FIGURA 41 Demonstrativos de Todas as Categorias para as

    Atividades Desenvolvidas .................................................... 100

    FIGURA 42 Demonstrativo das Categorias 3 e 4 nas Atividades

    Desenvolvidas...................................................................... 101

  • 11

    LISTA DE TABELAS E QUADROS

    TABELA 1 Percentual Relativo ao Peso das Partes do Corpo .................. 45

    TABELA 2 Distribuio da Incidncia de Dor............................................. 82

    TABELA 3 Distribuio da Freqncia de Movimentos e Posturas

    de Trabalho do Fisioterapeuta ................................................. 86

    TABELA 4 Distribuio da Incidncia de Alterao no Hbito de

    Trabalho ................................................................................... 83

    TABELA 5 Distribuio da Incidncia da Diminuio do Tempo de

    Contato com o Paciente ........................................................... 83

    TABELA 6 Distribuio da Incidncia dos Sintomas.................................. 84

    QUADRO 1 Relao entre Posturas Adotadas no Trabalho e as

    Regies Corporais Afetadas .................................................. 50

  • 12

    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO 1 - Parecer do Comit de tica em Pesquisa da Universidade

    Estadual do Oeste do Paran - UNIOESTE............................ 119

    ANEXO 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento.................... 121

    ANEXO 3 - Questionrio ............................................................................. 123

  • 13

    1 INTRODUO

    1.1 Problema de Pesquisa

    Os padres culturais e o estilo de vida moderna da populao, impondo cada vez

    mais atividades especializadas e limitadas, provocam sobrecargas estruturais no

    corpo humano. A alta incidncia de problemas posturais em adultos relaciona-se

    com a tendncia para esse padro de atividade, especializado ou repetitivo, aliado

    ao sedentarismo e vcios posturais carregados desde a infncia (KENDALL, 1995).

    A literatura aponta um nmero crescente de trabalhadores das mais diversas

    reas profissionais que apresentam comprometimentos posturais, muitas vezes

    promovendo dores na coluna vertebral, em conseqncia da atividade desenvolvida

    na sua jornada de trabalho. Os profissionais da rea da sade esto inclusos nas

    referncias de altos ndices de dor na coluna vertebral relacionados ocupao

    laboral.

    Males como a lombalgia e a cervicalgia so considerados pequenos para os

    quais a medicina no oferece um tratamento eficiente. Por essa razo, essencial

    que as pessoas tenham conhecimento desta realidade para poder proteger o

    sistema msculo-esqueltico e evitar situaes de desconforto por excesso de carga

    causada por posturas prolongadas.

    Dentre os profissionais da rea de sade, que apresentam distrbios posturais,

    esto os fisioterapeutas, cuja atividade profissional implica em exigncias do sistema

    msculo-esqueltico, com movimentos repetitivos de membros superiores,

    manuteno de posturas estticas e dinmicas por tempo prolongado, e movimentos

    de sobrecarga para a coluna vertebral.

    Acredita-se que, as habilidades profissionais exigem padres posturais que

    podem contribuir para a exacerbao do problema, principalmente nos

    fisioterapeutas que se envolvem em atividades de grande recrutamento fsico para

  • 14

    atendimento de seus pacientes em ambientes hospitalares, de clnicas e

    atendimento domiclio.

    Segundo Scholey e Hair (1989), o fato dos fisioterapeutas trabalharem em

    servios de reabilitao com pacientes altamente dependentes e de sobrecarga

    fsica, induz a uma efetiva participao dessa classe profissional, em um grupo de

    alto risco de comprometimentos msculo-esquelticos desde o incio de sua carreira

    profissional.

    Outra hiptese dessa crtica situao pode ser o tipo de atividade desenvolvida

    no atendimento ao paciente, como a utilizao tcnicas manuais cujo esforo fsico

    requer alm da habilidade, coordenao motora e fora muscular por parte do

    fisioterapeuta atuante; ou o estilo de vida deste profissional, que muitas vezes em

    seus horrios livres e de descanso se dedicam a outras atividades que reforam o

    comprometimento postural ou at mesmo deixam de praticar alguma atividade fsica,

    possibilitando o desencadeamento de algias ou disfunes msculo-esquelticas.

    Entretanto, alguns profissionais desta rea podem trabalhar em situaes iguais

    de stress fsico e no desenvolverem dores nas costas. Isto demonstra que esses

    sintomas podem ser de caracterstica multifatorial ou que variam conforme as

    condies fsicas ou de treinamento profissional.

    A educao dos fisioterapeutas para suas atividades de trabalho deve ser efetiva

    contrabalanando os efeitos do stress ocupacional, para reduzir o nvel das dores

    nas costas. Um acesso ergonmico utilizando anlise do trabalho seria apropriado

    para orientar educao e os cuidados da coluna vertebral desses profissionais da

    rea da sade.

    Nesta pesquisa, avaliou-se a incidncia de alteraes posturais em

    fisioterapeutas e como essas alteraes esto relacionadas s suas atividades

    profissionais, principalmente sob os aspectos biomecnicos na rotina de trabalho.

    O estudo deste grupo de profissionais demonstra aspectos interessantes por se

    tratar de atividades desenvolvidas com sobrecargas fsicas e psquicas, das quais os

    fisioterapeutas esto expostos no ambiente de trabalho a que se delegam, e que

  • 15

    nem sempre esto em condies fsicas apropriadas para o auxlio de seus

    pacientes.

    1.2 Objetivo Geral

    Analisar a incidncia das sobrecargas posturais em fisioterapeutas, decorrentes

    das posturas adotadas nos procedimentos teraputicos durante as atividades de

    trabalho.

    1.3 Objetivos Especficos

    Caracterizar o profissional no contexto do trabalho;

    Identificar as regies corporais com maior relato de queixas de dores msculos-esquelticos;

    Identificar as posturas corporais constrangedoras nas atividades profissionais do fisioterapeuta;

    Identificar os procedimentos fisioterpicos que exigem maior carga postural ao fisioterapeuta;

    Selecionar os eventos posturais mais significativos para anlise biomecnica recorrentes da atividade profissional do fisioterapeuta;

    Analisar biomecanicamente os eventos posturais a partir do modelo preconizado pelo Mtodo OWAS;

  • 16

    Nessa perspectiva, surgiu o interesse em pesquisar este assunto, principalmente

    por se tratar de profissionais da rea da sade que cuida do bem estar fsico de seus

    pacientes.

    1.4 Justificativa

    Durante sua formao profissional, o estudante de fisioterapia educado para

    uma demanda de pacientes com problemas fsicos e ensin-los a evitar dores nas

    costas. Um estudo realizado, na Califrnia em 1985, revelou que 29% dos

    fisioterapeutas atuantes relataram j ter experimentado essas dores mesmo antes

    dos 30 anos de idade. Sendo que, 58% desses episdios ocorreram durante os

    quatro primeiros anos de formao profissional.

    Apesar da fisioterapia ser uma profisso cujo objetivo maior promover a sade

    do indivduo, na grande maioria dos ambientes de trabalho, as condies

    ergonmicas so precrias o que proporciona a execuo de tarefas de trabalho que

    induzem danos sua prpria condio fsica no atendimento a seus pacientes.

    Estudos sobre distrbios musculares em fisioterapeutas apontam vrios fatores

    biomecnicos de risco para a atividade que esses profissionais desenvolvem.

    Mierzejewski e Kumar (1997), citam como atividades relacionadas ao

    comprometimento da coluna lombar em fisioterapeutas atos como mobilizar, curvar-

    se, segurar, levantar, transportar, empurrar e puxar o paciente.

    De acordo com Bork (1996), um estudo realizado entre 128 fisioterapeutas de 46

    estados americanos, entre 1943 e 1993, 80% demonstraram evidncias de distrbios

    msculo-esquelticos com prevalncia em regio lombar (45%), punho e mo

    (29,6%), regio dorsal (28,7%) e regio cervical (24,7%). Este resultado foi atribudo

    ao levantamento ou transferncia de pacientes dependentes, idade do paciente e

    prtica especfica de tratamento.

  • 17

    So muitos os profissionais Fisioterapeutas que exercem suas atividades em

    atendimento ao paciente neurolgico em colchonetes ou tatames, dispostos no cho

    ou sobre um tablado de madeira, onde se posicionam de maneira desconfortvel e

    de modo desajeitado, realizando flexo, com ou sem rotao de tronco, e muitas

    vezes tendo que realizar movimentos de sustentao de peso ou vencer algum grau

    de hipertonia do paciente, respondendo a movimentos sbitos ou inesperados do

    paciente, utilizando sua fora corporal numa posio indesejvel e com tarefas

    repetitivas. Normalmente, essa postura sentada acompanhada de flexo dos

    membros inferiores, o que torna bastante exaustivo, tendo poucas opes de

    mudanas de postura.

    A dor nas costas, decorrente de posturas inadequadas no ambiente de trabalho,

    uma das desordens ocupacionais mais encontradas pelos pesquisadores e, segundo

    Couto (1995), identificada por estudos epidemiolgicos e anlises biomecnicas. A

    adoo de posturas inadequadas na realizao de determinadas funes,

    associadas a outros fatores de risco existentes no posto de trabalho, como

    sobrecarga imposta coluna vertebral, vibraes e manuteno de uma postura por

    tempo prolongado constitui nas maiores causas de afastamento do trabalho e de

    sofrimento humano.

    Mesmo se tratando de um tema relevante, percebe-se a escassez de referncias

    em sobrecargas posturais em fisioterapeutas, por atividades profissionais. Porm,

    este um tema de grande importncia no meio profissional.

    Esta pesquisa trar uma melhor compreenso das caractersticas do processo

    sade/doena da atividade de trabalho do fisioterapeuta, para ajudar na melhoria

    das condies profissionais, principalmente nos aspectos fsicos destes profissionais

    e conseqentemente poder contribuir para uma boa qualidade de vida no trabalho.

    1.5 Delimitao do Estudo

    A delimitao deste estudo compreender a anlise dos constrangimentos

  • 18

    posturais em Fisioterapeutas, principalmente queles que utilizam tcnicas manuais

    em atendimento aos seus pacientes, utilizando-se mtodos na identificao das

    posturas de trabalho, propondo recomendaes para melhores condies de vida

    profissional.

    1.6 Limitao do Estudo Este estudo teve por limitao o fato da pesquisa ser de caracterstica transversal

    impossibilitando uma anlise mais aprofundada acerca da freqncia de algumas

    ocorrncias.

    O Mtodo de avaliao postural utilizado (OWAS), no analisa as posturas das

    articulaes das extremidades dos membros superiores, como punho e mo.

    1.7 Pergunta de Pesquisa

    Quais as posturas adotadas nos procedimentos fisioterpicos que trazem

    sobrecarga msculos-esquelticas aos profissionais fisioterapeutas?

  • 19

    2. REVISO DA LITERATURA Parte desse trabalho foi realizada, com levantamento sistemtico sobre o tema

    em bases de dados cientficos com consultas disponibilizadas nas pginas

    eletrnicas da Internet, como:

    Bireme/OPAS/WHOLIS/OMS Sistema Integrado de Informaes do Centro Latino-Americano de Informaes;

    Lilacs Literatura e Perdicos Latino-Americana e do Caribe;

    Medline Medicine on line;

    www.eps.ufsc.br Pgina de base de dados da Engenharia de Produo e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina;

    www.usp.br Pgina de bases de dados de Ps-graduao da Universidade de So Paulo.

    O restante foi pesquisado em livros, peridicos e publicaes de tese de

    doutorado e dissertaes de mestrado.

    As palavras chaves utilizadas na pesquisa foram: sobrecargas posturais;

    procedimentos fisioterpicos; biomecnica ocupacional.

    2.1 Postura Corporal A postura tem sido objeto de estudo desde h muito tempo e descrita por muitos

    autores sob diferentes contextos. As posturas so utilizadas para realizar atividades

    com o menor gasto energtico, e atravs das posies mantidas pelo tronco, que

  • 20

    se determina eficincia do movimento e as sobrecargas impostas coluna

    vertebral. Freqentemente determinada pela natureza da tarefa ou do posto de

    trabalho.

    De acordo com Smith e Lehmkuhl (1997), postura um termo definido como

    uma posio ou atitude do corpo, a disposio relativa das partes do corpo para uma

    atividade especfica, ou uma maneira caracterstica de sustentar o prprio corpo. O

    corpo pode assumir muitas posturas consideradas confortveis por longos perodos

    e realizarem as mesmas tarefas. Quando ocorre um desconforto postural por

    contrao muscular contnua, tenso ligamentar, compresso ligamentar ou ocluso

    circulatria, normalmente procura-se acomodar o corpo em uma nova atitude

    postural. Quando no se alteram as habituais posies, podem ocorrer leses

    teciduais, limitao de movimentos, deformidades ou encurtamentos musculares

    restringindo as atividades de vida diria sejam elas em postura sentada, em p ou

    deitada.

    Kendall (1995), definiu postura como o arranjo caracterstico que cada indivduo

    encontra para sustentar o seu corpo e utiliz-lo na vida diria, envolvendo uma

    quantidade mnima de esforo e sobrecarga, conduzindo eficincia mxima do

    corpo. A grande interao entre as musculaturas esttica e dinmica evidenciada

    entre os vrios autores, quando se referem a qualquer atividade corporal, onde a

    postura dinmica est associada a execuo de tarefas numa soma de vrios

    movimentos articulares que permitem realizar as atividades de trabalho, enquanto

    que a postura esttica associa-se manuteno do tnus dando base necessria

    estabilizao das estruturas centrais do corpo (escpulas, coluna vertebral e pelve).

    Para a Academia Americana de Ortopedia citada em 1983 por Knoplich, postura

    um arranjo relativo das partes do corpo e, como critrio de boa postura, o equilbrio

    entre suas estruturas de suporte (msculos e ossos), que as protegem contra uma

    agresso por trauma direto ou deformidade progressiva por alteraes estruturais. J

    a m postura aquela onde h falha no relacionamento das vrias partes do corpo,

    induzindo ao aumento de agresso s estruturas de suporte produzindo um

    desequilbrio nas bases de suporte corporal. Postura inadequada exigir maiores

    foras internas para a execuo de uma tarefa e postura correta promove boas

  • 21

    condies biomecnicas, o que leva um maior rendimento com relao energia

    localizada. O autor descreve que a postura esttica exige, geralmente baixos nveis

    de tenso muscular e o estado prolongado de contrao muscular produz

    compresso dos vasos sangneos, reduzindo o fluxo de sangue e o fornecimento

    de oxignio, o que leva ao desconforto e dor muscular, provocando fadiga mais

    rapidamente que a postura dinmica.

    Bienfait (1995), defende que, um corpo est em equilbrio estvel quando a

    vertical traada a partir de seu centro de gravidade cai no centro da base de

    sustentao e que o centro de gravidade geral resultante de todos os centros de

    gravidade segmentares em relao ao peso, havendo tantos centros de gravidade

    quantas forem s posies em nossa esttica. E as curvaturas vertebrais no so as

    mesmas para todos os indivduos diferenciando principalmente pelas raas,

    especialmente as lombares, mais pronunciadas na raa negra do que as da raa

    branca e na raa amarela geralmente ocorrem o inverso, isto , uma inverso da

    curvatura lombar.

    Os membros inferiores so a base slida e estvel da estrutura corporal na

    postura em p, constituindo a plataforma de apoio. Sua posio que condicionam a

    forma, a dimenso e a orientao da base de sustentao, cujas variaes so

    elementos capitais na esttica do corpo humano, sobretudo, sua estabilidade.

    Enquanto o tronco o elemento mvel que desloca o centro de gravidade,

    controlado pela musculatura tnica; e a cabea e o pescoo controlam a

    coordenao do conjunto, onde a cabea impera a verticalidade dela prpria e a

    horizontalidade do olhar.

    A literatura aponta o fisioterapeuta como um dos profissionais da rea da sade

    que mais sofrem carga fsica durante suas atividades de trabalho, pelas posturas

    adotadas durante os atendimentos aos seus pacientes. Mierzerjewski e Kumar

    (1997), Bork (1996) e Cromie (2000), afirmam o aparecimento de sintomas de dores

    em membros superiores e coluna vertebral por movimentos repetitivos e posturas

    inadequadas durante as atividades de trabalho dos fisioterapeutas. A coluna

    vertebral sofre com essas posturas, pois em grande parte delas este profissional

    trabalha em flexo e/ou rotao de tronco, porm so poucas as referncias

  • 22

    bibliogrficas sobre as conseqncias de m postura, sobrecargas posturais e

    movimentos antifisiolgicos durante essa atividade profissional.

    2.1.1 Postura em p

    Esta postura altamente fatigante, pois exige grande trabalho esttico da

    musculatura envolvida nesta postura. A circulao sangnea das extremidades

    corporais fica diminuda, porm os trabalhos desenvolvidos dinamicamente em p

    promovem menos fadiga que aqueles desenvolvidos estaticamente ou com pouco

    movimento corporal. De acordo com Santos e Dutra (2001), na posio em p ocorre

    um aumento da presso hidrosttica do sangue nas veias das pernas com acmulo

    de lquidos tissulares nas extremidades inferiores promovendo a dilatao das veias

    das pernas, edema tecidual do tornozelo e fadiga muscular dos msculos da

    panturrilha.

    As tarefas que exigem a posio em p por tempo prolongado promovem fadiga

    muscular na regio das costas e pernas que piora com a inclinao do tronco e da

    cabea, provocando dores na regio alta da coluna vertebral. H uma sobrecarga

    maior quando os braos esto dispostos acima da cintura escapular, principalmente

    sem apoio produzindo dores nos ombros (DUL, 1991).

    Kapandji (2000), descreve que na posio ortosttica com apoio simtrico dos

    membros inferiores, a coluna lombar se apresenta em curvatura anterior, a lordose

    lombar. J num apoio assimtrico sobre um membro inferior, a coluna lombar

    apresenta uma concavidade para o lado do apoio, devido bscula da pelve, para

    isso a coluna dorsal adota uma postura produzindo uma concavidade para o lado do

    membro sem carga. J a coluna cervical adota uma curvatura para o lado da

    curvatura lombar, isto , de concavidade para o lado de apoio. O autor relata que

    estudos eletromiogrficos de Brgger revelaram que, durante a flexo anterior do

    tronco, os primeiros msculos a se contrarem so os paravertebrais, seguidos dos

    glteos, squios-tibiais e sleos. E no final deste movimento a coluna vertebral se

    estabiliza pela ao passiva nica dos ligamentos vertebrais, tornando como ponto

  • 23

    fixo, a pelve, retendo o movimento de anteverso pelos squios-tibiais. Durante a

    retificao, a musculatura intervm em ordem inversa; primeiramente os squios-

    tibiais, depois os glteos e depois os lombares e dorsais. Quando a coluna j se

    encontra em posio ortosttica retilnea, os msculos da regio posterior (trceps

    sural, squiotibiais, glteos e paravertebrais) encontram-se em contrao tnica por

    pequeno desequilbrio para frente, enquanto os abdominais ficam relaxados.

    2.1.2 Postura sentada

    Grande parte das atividades de trabalho de um indivduo realizada na posio

    sentada. Esta postura tem sua origem na definio hierrquica de posies sociais,

    reservadas queles de maior poder.

    Historicamente a literatura relata que no incio deste sculo a postura sentada

    passou a ser vista como uma posio de conforto para as atividades, proporcionando

    bem estar e melhor rendimento no trabalho com menor gasto energtico. E com o

    aumento do trabalho sentado, principalmente nos pases industrializados,

    desenvolveu-se uma maior ateno aos tipos de assento levando ao

    desenvolvimento das aplicaes mdicas e ergonmicas para a configurao de

    assentos de trabalho (GRANDJEAN, 1998). O simples fato de se sentar, coloca a

    coluna vertebral numa postura anormal.

    Rio e Pires (2001), concluram que, sob o ponto de vista biomecnico, por melhor

    que seja, a postura sentada impe carga significativa sobre os discos intervertebrais,

    cerca de 50% (COUTO, 1995), principalmente da regio lombar, e se mantida

    estaticamente por perodo prolongado pode produzir fadiga muscular e

    conseqentemente dor. Devemos lembrar que os discos intervertebrais so

    estruturas praticamente desprovidas de nutrio sangunea e que o aumento em sua

    presso interna reduz a nutrio do mesmo promovendo uma degenerao desta

    estrutura. Seu comprometimento estrutural menor que a postura em p. Grandjean

    (1998), descreve com clareza que as vantagens da postura sentada so o alvio dos

    membros inferiores, baixo consumo energtico, menor sobrecarga ao corpo e alvio

  • 24

    circulao sangunea. Porm, pesquisadores como Nachemson e Anderson citado

    por Grandjean (1998), demonstram atravs de mtodos precisos, que na postura

    sentada, a mecnica da coluna vertebral perturbada produzindo desgastes e

    conseqentemente leses nos discos intervertebrais, pela presso que essas

    estruturas sofrem nesta postura, principalmente por tempo prolongado.

    Outro fator importante no aumento da presso dos discos intervertebrais descrita

    por Couto (1995), o fato de que a mesma se d de maneira assimtrica onde a

    poro anterior do disco se apresenta sob presso, enquanto que a poro posterior

    se apresenta sob tenso favorecendo a patologias discais. Essas alteraes

    fisiolgicas ocorrem no somente na regio baixa da coluna vertebral, mas tambm

    na regio alta, produzindo irritaes nervosas da coluna cervical, ombros e membros

    superiores, manifestando-se como a sndrome cervical com sintomas de dor e

    rigidez da regio da nuca de maneira bastante freqente.

    De acordo com Kapandji (2000), na posio sentada com apoio isquitico e sem

    apoio no encosto, o peso corporal cai unicamente sobre os squios e a pelve sofre

    um equilbrio instvel, promovido por uma anteverso de pelve, levando a

    hiperlordose lombar e aumento das curvaturas cervical e dorsal. Os msculos da

    cintura escapular e dos membros superiores agem para manter a esttica da coluna

    vertebral que em longo prazo produz dores nessa regio. E na postura sentada com

    apoio squio-femoral, tronco inclinado para frente e apoio dos cotovelos sobre os

    joelhos, o apoio se d nas tuberosidades isquiticas e regio posterior das coxas, a

    pelve se encontra em anteverso, e com o aumento da cifose dorsal h retificao

    da lordose lombar. uma posio de relaxamento da cadeia muscular posterior que

    diminui o efeito de cisalhamento sobre o disco lombosacro e o tronco permanece

    com um mnimo de esforo muscular.

    A ao de se sentar com apoio squio-sacral coloca a pelve em retroverso

    moderada e reduz ou anula a lordose lombar, ocorrendo uma retificao dessa

    regio. Nessa posio da coluna lombar, o formen que permite a passagem das

    razes nervosas se abre e a atividade dos msculos extensores da coluna

    interrompida, reduzindo assim a compresso qual os discos intervertebrais so

    submetidos. A posio com retificao da lordose lombar, como foi descrito por

  • 25

    Williams (1965), utilizada no repouso adicional para aliviar os casos mais agudos.

    Este autor reconheceu a nocividade na posio sentada prolongada e descreveu a

    ocorrncia de uma destruio do disco intervertebral, resultante de uma causa

    postural e conforme Santos e Dutra (2001), a postura sentada proporciona alvio nos

    membros inferiores com melhor circulao sangunea, posicionamento menos

    forado do corpo, menor gasto energtico; porm promove flacidez abdominal e

    desenvolvimento da cifose dorsal da coluna vertebral.

    A posio sentada apresenta vantagens sobre a postura em p, pois o corpo se

    apia em maior rea de superfcie como assento, encosto, braos da cadeira,

    portanto menos cansativa, porm as atividades que exigem maiores foras so

    melhores executadas na postura em p (DUL, 1991).

    Pesquisa realizada por Andersson e Nachemson (1974) referida por Grandjean

    (1998), revelou que a presso no interior do disco intervertebral na postura sentada

    maior do que na postura em p, pelos mecanismos de rotao posterior da bacia,

    endireitamento da regio sacral e retificao da lordose lombar. Uma presso de

    100% sobre os discos intervertebrais na postura em p, essa presso passa a 140%

    na postura sentada e a 190% na postura sentada com inclinao do tronco para

    frente. Na Figura 1, esto demonstradas as medidas de presso intradiscal nas

    posturas em p e sentada, sem encosto.

    A B C D E F G H Figura 1: Medidas de Presso Discal nas Posturas de P e Sentada sem Apoio

    Dorsal Fonte: Chaffin, 2001 Adaptado de Andersson et al, 1974.

  • 26

    De acordo com Chaffin (2001), a postura sentada dividida nas posies

    anterior, mdia e posterior de acordo com a localizao do centro de massa corporal

    e afeta a proporo do peso do corpo transmitida para as diferentes superfcies de

    apoio. Esta postura depende do formato do assento, dos hbitos posturais e da

    tarefa a ser desenvolvida sendo a mais freqente aquela com inclinao anterior do

    tronco. A altura e a inclinao do assento, a posio, forma e inclinao do encosto e

    a presena de outros tipos de apoio influenciam na postura. Segundo o autor, vrios

    outros fatores indicam um aumento do risco de lombalgia e dorsalgia em indivduos

    que realizam tarefas predominantemente nesta postura e por perodos prolongados.

    Kelsey e Hardy (1975) citado por Chaffin (2001), encontraram em seus estudos,

    riscos triplicados de desenvolvimento de hrnia de disco em indivduos que passam

    mais da metade da jornada de trabalho dentro do automvel, pelo tempo prolongado

    nesta postura ou vibrao no ato de dirigir ou ainda na combinao dos dois fatores.

    Grandjean (1998), cita o pesquisador Lundervold sobre um estudo

    eletromiogrfico onde demonstrou que a postura sentada com leve inclinao

    anterior do tronco reduz o trabalho esttico da musculatura da coluna vertebral, e

    que at certo ponto recomendvel, porm a sobrecarga para os discos

    intervertebrais evidente, tornando compreensvel que a postura sentada um

    problema para a coluna vertebral do ser humano.

    Estudos descritos por Andersson (1974), comprovaram que a presso discal

    consideravelmente menor na posio em p do que na postura sentada sem apoio,

    por deformao do disco, pela retificao da coluna lombar e pelo aumento de carga

    do tronco na rotao posterior da pelve e rotao anterior da coluna lombar e tronco.

    A presso discal na postura sentada reduzida quando o encosto inclinado

    posteriormente, principalmente num ngulo de 110o da horizontal, explicado pelo

    aumento na transferncia de carga do tronco para o encosto e pelo aumento da

    lordose lombar que produz uma reduo na deformao dos discos intervertebrais

    lombares. A utilizao de apoio dos braos, principalmente sobre a mesa de

    trabalho, outro fator importante na reduo da presso dos discos intervertebrais

    lombares por reduo dos momentos de fora sobre a coluna lombar.

  • 27

    A mudana de postura durante a atividade de trabalho de grande importncia

    para a sade do sistema msculo-esqueltico, possibilitando, alm da reduo de

    cargas estticas e variao da utilizao de estruturas articulares e musculares.

    A postura semi-sentada tem sido proposta para algumas situaes de trabalho,

    porm no como nica alternativa para o trabalhador durante sua jornada de

    trabalho, pois esta postura ainda no apresenta concluses definitivas podendo ser

    utilizada apenas por pequenos perodos (RIO e PIRES, 2001).

    2.2 Aspectos Antomo-fisiolgicos da Postura A postura corporal considerada normal no adulto, quando o eixo vertical do

    corpo humano, numa posio ereta, passa pelo vrtex, apfise odontide da

    segunda vrtebra cervical, corpo da terceira vrtebra lombar e projeta-se no solo, no

    centro do quadriltero de sustentao, eqidistante dos dois ps. O ngulo sacral

    deve ser de 32 graus, o disco vertebral entre a terceira e quarta vrtebra lombar

    estritamente horizontal e a terceira vrtebra lombar deve se apresentar mais

    anteriorizada, de acordo com Bricot (2001).

    Segundo Kendall (1995), uma postura padro pode apresentar pontos de

    referncia por estruturas anatmicas coincidentes com um fio de prumo ao se

    colocar lateralmente ao corpo do homem, devendo este passar ligeiramente posterior

    ao pice da sutura coronal, atravs do meato auditivo externo, atravs do processo

    odontide do xis, atravs dos corpos das vrtebras lombares, ligeiramente posterior

    ao centro da articulao do quadril, ligeiramente anterior ao eixo da articulao do

    joelho, atravs da articulao calcneo-cubidea. Para a adoo desta postura, h

    necessidade de um sistema muscular equilibrado com a participao das fibras

    tnicas e tnico-fsicas, que apresentam grande capacidade resistncia fadiga

    muscular, apesar de menor fora contrtil. Se esta relao de equilbrio estiver

    alterada, pode ocorrer uma desarmonia entre os segmentos corporais, produzidas

    por foras contrrias desequilibradas e induo de um quadro antlgico. Vrios so

  • 28

    os fatores que comprometem o equilbrio de foras musculares, entre eles o distrbio

    no tnus muscular neurognico, que por muitas vezes alterado pela presena de

    dor. Ou o desuso ou o super uso de determinado grupo muscular, em detrenimento

    de seu opositor e leses nervosas.

    A manuteno de uma determinada atitude corporal propicia mudanas

    estruturais no msculo estriado esqueltico como forma de adaptao postural,

    sendo essas alteraes as responsveis pela perda da flexibilidade do corpo

    (CORBIN, 1980 e CRAWFORD, 1993).

    Viel e Esnault (1999), citam a posio de presso mnima descrita por Thornton

    (1978), (Figura 2), como aquela de menor compresso intradiscal determinada pela

    abertura da articulao coxofemoral de 120o a 128o, com o mnimo de trao

    ligamentar, promovendo um estado de relaxamento, permitindo a conservao das

    curvaturas vertebrais nos valores normais do indivduo.

    Figura 2: Posio de Geometria de Presso Mnima Fonte: Thornton, (1978).

    Na adoo de uma postura com sobrecarga para a coluna vertebral, ocorre a

    diminuio no comprimento da fibra muscular relacionada mantida em encurtamento,

    que pode ocorrer numa postura corporal mantida inadequadamente ou por tempo

    prolongado, associado perda da extensibilidade, devido s alteraes no tecido

  • 29

    conjuntivo, predispe a diminuio da amplitude articular e a leses e/ou dor e

    reduo da fora mxima de contrao, esclarecidos por Williams (1978) e Maxwell

    (1992).

    Para manuteno da postura corporal, utilizamos a coluna vertebral como a

    principal estrutura de transmisso de peso do corpo humano, capaz de sustentar

    grandes cargas, assegurando a proteo da medula espinhal, associada com a

    manuteno de equilbrio e apoio corporal. Tambm como responsvel pela

    determinao da amplitude de movimento do tronco, possibilitando uma flexibilidade

    adequada (GRIEVE, 1994).

    A poro anterior da coluna vertebral (corpos e discos), proporciona sustentao

    do peso corporal, amortecimento de choques e mobilidade em todas as direes.

    Enquanto a poro posterior proporciona proteo medula espinhal, orientao e

    limitao dos msculos do tronco e extremidades (SMITH, 1997).

    A coluna vertebral mantm o eixo longitudinal do corpo por uma haste

    multiarticulada e seus movimentos ocorrem como resultado de movimentos

    combinados de cada vrtebra individualmente, conforme descreve Lippert (1996).

    Esta estrutura composta por 33 (trinta e trs) vrtebras, arranjadas em quatro

    curvaturas fisiolgicas que do equilbrio e fora coluna vertebral. Sendo

    distribuda em sete vrtebras cervicais, formando uma curvatura convexa anterior

    denominada lordose cervical, doze vrtebras torcicas, formando uma curvatura

    convexa posterior, denominada cifose dorsal ou cifose torcica, cinco vrtebras

    lombares, formando uma curvatura convexa anterior, denominada lordose lombar,

    desenvolvida em resposta ao apoio do peso corporal e influenciado pelo

    posicionamento plvico e dos membros inferiores; e cinco vrtebras fundidas do

    sacro e quatro a cinco vrtebras fundidas do cccix, formando a curvatura

    sacrococcgea. As curvaturas cervical e lombar so mveis, e a torcica e a sacral

    so rgidas. A juno na qual termina uma curvatura e comea a prxima ,

    geralmente um local de maior mobilidade e que est mais vulnervel leso, sendo

    elas: regies cervicotorcica, toracolombar e lombossacral da coluna vertebral

    (HAMILL e KNUTZEN, 1999).

  • 30

    Kapandji (2000), descreve a coluna vertebral como uma estrutura de forma

    retilnea numa vista posterior, podendo se manifestar em alguns indivduos, uma

    certa curvatura transversal sem que se refira a um caso de curvatura patolgica,

    quando esta permanece dentro de um estreito limite. A presena das curvaturas

    vertebrais aumenta a resistncia da coluna vertebral aos esforos de compresso

    axial.

    A coluna vertebral apresenta como componentes de sua estrutura:

    Vrtebra: formada por uma massa cilndrica ssea esponjosa, circundada por uma fina camada de osso cortical, compostas pelo corpo vertebral (poro mais

    macia da vrtebra), o arco posterior com forma de ferradura, onde se fixam as

    apfises articulares, os pedculos que anteriormente se articulam com as apfises,

    as lminas que posteriormente se fixam na apfise espinhosa e ainda as apfises

    transversas que se soldam sobre o arco posterior das apfises articulares.

    Disco intervertebral: componente vital para a coluna vertebral localizado entre duas vrtebras adjacentes, responsvel pela distribuio das cargas, permitindo um

    movimento adequado a pequenas cargas e prov a estabilidade em cargas maiores.

    Formado por uma parte central, uma massa gelatinosa denominada ncleo pulposo

    e uma parte perifrica formada por um anel fibroso circundante denominado anel

    fibroso.

    Ligamentos espinhais: estruturas que desenvolvem uma variedade de funes, como minimizar a fora muscular necessria para os movimentos

    coordenados, restringir os movimentos dentro de limites definidos e promover um

    suporte adicional para a coluna vertebral sob condies traumticas. O sistema

    ligamentar to importante quanto o sistema sseo, so eles que asseguram a

    solidez e a flexibilidade do conjunto (BIENFAIT,1989).

    Sob qualquer forma de carga sobre a coluna vertebral, a parte mais fraca do

    sistema vertebral, tende a falhar, seja na compresso ou toro da coluna vertebral.

    Altas presses nos componentes vertebrais podem levar degenerao das

  • 31

    superfcies das facetas articulares podendo produzir certos tipos de dores nas costas

    (GRIEVE, 1994).

    A coluna vertebral, como um todo, considerada uma estrutura composta por

    articulaes do tipo triaxial, isto , articulaes que permitem movimento ativo em

    trs eixos (pontos que atravessam o centro de uma articulao em torno da qual ela

    gira), e o movimento articular ocorre de um eixo que est sempre perpendicular a um

    plano (linhas de referncia ao longo das quais o corpo se divide em anterior e

    posterior, superior e inferior e lateral direito e lateral esquerdo). LIPPERT (1996),

    descreve os movimentos da coluna vertebral como sendo:

    Flexo e extenso: movimento de inclinao anterior e posterior do tronco, que ocorre no plano sagital, em torno do eixo frontal.

    Flexo lateral ou inclinao lateral: movimento de inclinao lateral do tronco, que ocorre no plano frontal, em torno do eixo sagital.

    Rotao: movimento de toro do tronco, que ocorre no plano transversal, em torno do eixo vertical

    A musculatura responsvel pelo equilbrio dinmico atravs dos gestos

    voluntrios conscientes denominada de musculatura dinmica e a musculatura que

    reage de uma maneira reflexa para controlar os desequilbrios segmentares atravs

    do equilbrio esttico denominada musculatura esttica. A funo dinmica da

    coluna vertebral pode ser resumida em duas grandes funes: a deambulao,

    funo ascendente originada de cintura plvica e dos membros inferiores: e a

    preenso, funo descendente originada de cintura escapular e dos membros

    superiores. Alguns msculos podem ser considerados totalmente dinmicos e suas

    poucas unidades tnicas so devidas sua tenso permanente, e preparam o

    msculo para uma contrao rpida; so os grandes msculos do movimento, em

    geral os dos membros. Outros msculos so praticamente tnicos, cuja interveno

    rpida nos desequilbrios bruscos ou quedas repentinas, so os msculos

    antigravitacionais, seja equilibrando as articulaes de carga ou suspendendo os

    segmentos pendulares. Enfim, uma terceira categoria so os msculos dinmicos

  • 32

    cujas unidades tnicas so submetidas a aferncias centrais e apresenta uma

    atividade postural direcional preparando um msculo para um movimento preciso,

    so os msculos do tronco e das cinturas plvica e escapular (BIENFAIT, 1995).

    2.3 Aspectos Biomecnicos da Postura

    A postura uma das variveis mais importantes, afetando tanto a fora dinmica

    quanto a fora esttica de um indivduo. Quando os msculos esquelticos agem em

    torno das articulaes, girando os segmentos corpreos adjacentes, o fator

    biomecnico pode ser observado, pela ao da fora muscular atravs dos braos

    de alavanca. Com a modificao do ngulo articular, os braos de potncia tambm

    alteram, modificando assim a ao da fora muscular na produo do movimento de

    acordo com o comprimento do brao de alavanca. Os aspectos biomecnicos

    posturais so relevantes na capacidade de realizao de tarefas extenuantes dos

    trabalhadores (CHAFFIN, 2001).

    O estudo da biomecnica surgiu h muito tempo, desde o sculo XVI com a

    utilizao do conceito de perodo constante de oscilao para medir freqncia

    cardaca com um pndulo pelo fsico Galileu Galilei. Os aspectos biomecnicos

    relacionados ao sistema msculo-esqueltico foram demonstrados por Leonardo da

    Vinci (1452-1519) e a preocupao de minimizar os traumas ao ser humano

    mecanicamente, induzido pela atividade laboral foi concluda por Tichauer (1978)

    citado em Chaffin (2001). A partir da houve avanos necessrios da biomecnica

    ocupacional como base cientfica e aplicao para que os trabalhadores sejam

    capazes de executar suas tarefas sem riscos de leso. De acordo com Chaffin, essa

    evoluo tem ocorrido significativamente nas ltimas dcadas dando apoio

    variedade de aplicaes prticas demandada atualmente.

    Estudos radiogrficos referidos por Chaffin (2001), mostram que a postura

    sentada anterior com inclinao do tronco para frente obtida quando a coluna est

    ereta ou em leve cifose e rotao anterior da pelve, podendo estar associada a uma

  • 33

    cifose total da coluna vertebral ou ainda com presena de lordose lombar. Nesta

    postura o centro de massa encontra-se frente das tuberosidades isquiticas e as

    pernas suportam mais de 25% do peso corporal. A postura sentada posterior ocorre

    com a formao de uma retificao lombar ou cifose da coluna vertebral associada a

    uma retroveso de pelve. Nesta postura menos de 25% do peso corporal

    suportado pelas pernas e o centro de massa encontra-se atrs das tuberosidades

    isquiticas. Andersson (1974), em estudos radiogrficos na mudana de postura de

    p para sentada sem apoio dorsal, revelou uma reduo de 38o na lordose lombar,

    principalmente por rotao posterior da pelve em 10o, e pequenas alteraes

    angulares entre L1 e L2 e entre L2 e L3 e ainda alterao de aproximadamente 4o na

    articulao sacro-ilaca.

    Mandall (1981), afirma que o ngulo mximo de flexo nas articulaes dos

    quadris de 600 e que os 300 formam-se pela retificao da lordose da coluna

    lombar.

    De acordo com estudos realizados por Moro et al (1999), na postura sentada

    ocorre uma mudana significativa na curvatura anatmica vertebral, ocorrendo uma

    inverso da coluna lombar, um aumento da cifose torcica e uma diminuio do

    ngulo plvico produzindo uma retroverso plvica.

    Na regio cervical existem duas colunas, uma superior, que tem como funo o equilbrio vertical da cabea durante os movimentos do corpo; constituda por dois

    sistemas articulares: a articulao occipito-actloideana (C0-C1), com movimentos de

    flexo e extenso e a articulao atlas-xis (C1-C2), com movimentos de rotao e

    outra inferior, que tem como funo os deslocamentos da cabea e a orientao do olhar que comanda todos os nossos gestos; constituda pelas articulaes C2-C3, C3-

    C4, C4-C5, C5-C6, C6-C7, C7-D1. Os movimentos das duas colunas so sempre

    capazes de dissociarem-se.

  • 34

    Figura 3: Movimentos de Flexo e Extenso da Regio Cervical Fonte: Wall, (1991).

    A horizontalidade do olhar pode ser garantida por uma anteflexo ou uma

    posteroflexo da coluna cervical anterior, associada a uma flexo ou a uma extenso

    occipitais. na regio da coluna dorsal num sistema descendente que, ocorrem

    todas as compensaes das posies da cabea e da coluna cervical, sejam

    estticas ou dinmicas (BIENFAIT, 2000).

    O peso corporal, a tenso nos ligamentos vertebrais e nos msculos

    circundantes, a presso intra-abdominal e qualquer carga externa aplicada so

    foras que atuam sobre a coluna vertebral (Figura 4). Na postura ereta a principal

    carga que age sobre a coluna axial, contribuindo para a compresso vertebral.

    Para manter a posio ereta do corpo, o torque deve ser contrabalanado pela

    tenso nos msculos tensores do tronco (HALL, 2000).

  • 35

    Figura 4: Resultante do Peso Corporal na Postura Ereta Fonte: HALL, (2000).

    Na flexo do tronco ou dos braos, os braos do momento se tornam maiores e

    contribuem para aumentar o torque flexor e isto explica porque aconselhvel

    levantar ou conduzir peso o mais prximo possvel do tronco. Em flexo plena, a

    tenso no ligamento interespinhoso contribui muito para a fora de cisalhamento

    anterior aumentando a sobrecarga nas articulaes facetarias. Em flexo lateral e

    toro axial, necessrio um padro mais complexo de ativao dos msculos do

    tronco para flexo e extenso. A coluna em flexo lateral e em toro axial gera uma

    fora de compresso de 1400N e 2.500 N, respectivamente (HALL, 2000).

    De acordo com Kapandji (2000), as foras de compresso sobre o disco vertebral

    aumentam com o aumento do peso do corpo acima do disco vertebral, considerando

    o peso dos membros superiores, tronco e cabea. Num movimento de flexo anterior

    do tronco, o ncleo pulposo do disco deslocado para trs e ocorre um aumento na

    tenso dos ligamentos do arco posterior (A). Num movimento de extenso do tronco,

    o ncleo pulposo do disco deslocado para frente e ocorre um aumento na tenso

    dos ligamentos do arco anterior (B). Na flexo lateral ou inflexo lateral da coluna

    vertebral, o ncleo pulposo se desloca para o lado da convexidade (C);

    esquematizadas na Figura 5. Esses movimentos em excesso ou repetidos,

    principalmente com carga, induzem a formao das hrnias de disco.

    Fc = Fora de Compresso Fs = Fora de Cisalhamento Fr = Fora Resultante (peso)

  • 36

    (A) (B) (C)

    Figura 5: Deslocamento do Ncleo Pulposo do Disco Intervertebral Fonte: Kapandji, (2000).

    O termo momento de fora (M) ou torque descrito por Enoka (2000), como a

    capacidade de uma fora para produzir rotao de um corpo em relao a um eixo, e

    definido como o produto da Fora (F), em Newton, pela distncia perpendicular entre

    a linha de ao da fora e o eixo de rotao (d), em metros, representada pela

    equao:

    De acordo com Knutzen e Hamill (1999), a carga nas vrtebras lombares durante

    uma atividade de levantamento de peso aumenta, principalmente com o aumento da

    distncia entre o peso e o tronco, isto , ao se levantar um objeto, deve-se aproxima-

    lo do corpo de maneira que o brao de alavanca (distncia entre L3 ao ponto onde a

    fora de gravidade atua no corpo e no objeto), seja o mais curto possvel para

    favorecer a execuo do movimento.

    Segundo Looze et al (1998), a carga deve ser mantida na coluna vertical, isto , o

    centro de gravidade deve passar o mais prximo possvel ao eixo longitudinal do

    corpo. Alm disso, a capacidade de carga mxima deve ser determinada atravs da

    anlise de FMI (Fora Isomtrica Mxima) da musculatura envolvida, e para

    manuteno de postura ortosttica no dever exceder 50% da FMI.

    De cordo com os autores, as cargas aplicadas na coluna vertebral so

    M = Fxd

  • 37

    produzidas pelo peso corporal, pela fora muscular que age sobre cada segmento

    mvel, pelas cargas externas que esto sendo manipuladas e pelas foras de pr-

    carga que esto presentes devido s foras dos discos e ligamentos. Sobre as

    vrtebras lombares na posio em p, h uma carga axial de compresso de 700N,

    que pode ter valores acima de 3000N numa sobrecarga como num levantamento de

    peso a partir do solo ou simplesmente reduzida pela metade (300N) na posio de

    decbito dorsal.

    Nesta ltima postura em relaxamento ou repouso, h uma reduo significativa

    das cargas sobre a coluna lombar devido perda das foras do peso corporal.

    Porm, com os membros inferiores em extenso, h uma imposio de carga sobre

    esta regio devido trao do msculo psoas, que pode ser diminuda com um

    suporte embaixo dos joelhos semi-fletidos, produzindo um relaxamento deste

    msculo. J na postura sentada, as presses aumentam em 40% em relao a

    postura em p.

    Alguns estudiosos desenvolveram modelos biomecnicos para avaliar as foras

    que agem sobre diferentes estruturas do corpo humano e algumas vezes estimar a

    magnitude mxima permissvel para o manuseio de uma carga em vrias posturas, o

    tamanho adequado das ferramentas de trabalho e a configurao menos estressante

    de postos de trabalho. Esses modelos podem auxiliar na obteno de dados sobre a

    capacidade msculo-esqueltica provenientes de diferentes fontes como referncia

    para projetos de postos de trabalho. H situaes de trabalho em que os modelos

    so a nica forma de estimar as condies de risco em potencial em certos tecidos

    do sistema msculo-esqueltico (CHAFFIN, 2001).

    Chaffin (2001), afirma que os modelos biomecnicos foram desenvolvidos para

    representar os fenmenos cuja complexidade se reduz no conhecimento do

    funcionamento dos componentes das funes msculo-esquelticas de um sistema

    biomecnico, com avaliao de situaes reais. Alguns modelos foram utilizados

    para calcular foras e momentos sobre o disco intervertebral L5/S1, pois h um

    grande nmero de trabalhadores incapacitados por dores lombares associadas ao

    trabalho manual, surgimento de leses do punho por esforos manuais repetitivos,

    especialmente quando realizadas em posturas inadequadas extremas, e ainda para

  • 38

    a determinao das foras musculares em diferentes posturas, que fornecem a base

    para diretrizes em relao ao nmero esperado de pessoas capazes de realizar uma

    determinada tarefa. Neste modelo a posio de dois segmentos quando o indivduo

    inclina o tronco anteriormente ou quando agacha para realizar o levantamento de um

    objeto, foi determinada por dados onde mostram que a medida que o tronco fletido

    anteriormente, a pelve contribui para o movimento aps 20 a 30, girando numa

    proporo de cerca de 2 para cada 3 de inclinao do tronco. Inversamente, se o

    joelho fletido, a pelve gira no sentido anti-horrio aps cerca de 45 numa

    proporo de aproximadamente 1 para cada 3 de flexo do joelho.

    Numa carga movida para mais ou menos prxima do tronco, a resposta da Fora

    de Compresso seria bastante afetada. O modelo demonstra que um risco em

    potencial sobre a coluna vertebral existe para alguns trabalhadores, quando os

    mesmos elevam uma carga de maior peso, mais prximo ao corpo ou de menor peso

    longe do corpo. No modelo apresentado na Figura 6 as foras examinadas so as de

    cisalhamento (Fs) do disco intervertebral (L5/S1), a fora de compresso do disco

    (Fc), e o momento resultante, em M1 maior que em M2, devido a distncia entre a

    carga (P) e o ponto de encontro das foras atuantes (L5/S1), (CHAFFIN, 2001).

    Figura 6: Foras de Reao num Levantamento de Peso Fonte: Chaffin, (2001).

    Na Figura 7 , observa-se as Foras de Reao e a Fora de Cisalhamento em L5-

    S1 produzidos pela carga (CHAFFIN, 2001).

  • 39

    Figura 7. Fora de Reao e Fora de Cisalhamento (L5/S1) com carga Fonte: Chaffin, (2001).

    De acordo com Grieve (1994), a grande maioria dos estudos biomecnicos

    enfatiza a importncia da compresso ou carga de toro sobre a coluna vertebral,

    porm pouco se desenvolveu sobre a determinao das propriedades mecnicas do

    segmento de movimento na inclinao do tronco. E os movimentos fisiolgicos da

    coluna vertebral, raramente so puros em torno de um nico eixo, mas sim numa

    combinao destes.

    2.4 Posturas Adotadas no Trabalho

    Todo trabalhador adota um tipo de postura de acordo com a funo que exerce

    em sua atividade de trabalho, e mesmo no intencionalmente, procura utilizar-se de

    uma postura que lhe seja o mais confortvel possvel.

    Os fatores pessoais no trabalho tambm influenciam na postura adotada pelo

    fisioterapeuta como, trabalhar prximo ou no limite fsico j com sinais de fadiga, dar

    continuidade s atividades mesmo com dor na musculatura postural e treinamento

    inadequado sobre a preveno dos distrbios posturais.

  • 40

    Os fisioterapeutas sofrem grande carga de trabalho esttica durante suas

    atividades de trabalho, porm so poucas as referncias sobre as conseqncias de

    m postura e movimentos antifisiolgicos durante a atividade desses profissionais.

    Wisner (1997) afirma que a carga est presente em todos os tipos de atividades,

    sejam laborais ou no, podendo ser classificada sob os aspectos fsico, cognitivo e

    psquico.

    Van Doorn (1995), estudou o nmero registrado ao Social Security Program of

    Nethrland por uma pesquisa realizada ao longo de treze anos, onde observou um

    grande nmero de profissionais com acometimento da coluna vertebral, em especial

    da regio lombar, destacando-se os profissionais odontlogos, mdicos,

    fisioterapeutas e veterinrios. O autor props um programa preventivo a esses

    profissionais, recomendando aos fisioterapeutas exerccios de alongamento da

    musculatura paravertebral lombar entre o atendimento aos seus pacientes,

    solicitao de auxlio ao manusear pacientes e retificao da coluna durante suas

    atividades ocupacionais.

    Molumphy (1985), estudou quase quatrocentos fisioterapeutas norte-americanos

    e identificou a incidncia de 29% de lombalgia relacionada atividade desenvolvida

    no trabalho, durante as idades de 21 e 30 anos e que cerca de 18% dos profissionais

    pesquisados mudaram de rea de atuao. Isto foi atribudo aos fatores de risco

    relacionados ao tipo de atividade profissional desenvolvida pelo fisioterapeuta

    durante sua vida profissional como: manuteno de uma postura por tempo

    prolongado, movimentos freqentes de flexo e toro da coluna vertebral,

    levantamento e manuseio de cargas e exposio a vibraes, entre outros.

    Entre tantas outras pesquisas, esperavam-se menores taxas de distrbios

    musculares relacionados coluna vertebral, pelo conhecimento e envolvimento dos

    profissionais da rea em programas de tratamento aos seus pacientes. Embora

    tenham experincia clnica em desordens msculo-esquelticas, esses profissionais

    no apresentam imunidade para esses tipos de distrbios, devendo desenvolver

    estratgias especficas para reduzir ou prevenir potencialmente essas condies

  • 41

    (BORK, 1996). Os fisioterapeutas que apresentam maiores acometimentos na regio

    lombar relacionados por Holder (1999), so aqueles que exercem suas funes em

    centros de reabilitao (75%), que atendem pacientes externamente ao servio

    (64%) e em centros hospitalares (63%), com 667 fisioterapeutas americanos

    estudados. Destes fisioterapeutas pesquisados que sofreram distrbios musculares,

    quase setenta por cento relataram exacerbao dos sintomas pela prtica clnica,

    com 28% daqueles que aplicaram terapia manual, 30% em transferir pacientes, 35%

    em levantar pacientes e 36% pela manuteno de uma mesma postura por perodo

    prolongado. Para os autores, esses profissionais da sade, relataram mudanas nos

    hbitos de trabalho, contaram com a ajuda de outros profissionais e utilizaram

    mudana de postura freqentemente durante o trabalho. As posturas mais

    comumente utilizadas pelos Fisioterapeutas so as posturas em p, sentada,

    ajoelhada e semi-sentada, com flexo anterior do tronco e flexo com rotao do

    tronco, mantidas por tempo prolongado. Torn (2001) afirma que, o tronco estando

    em rotao na atividade de trabalho sobrecarrega as articulaes da coluna vertebral

    e produz a sensao de desconforto e dor para essa regio.

    Cromie (2000), refere alguns fatores pessoais relacionados aos distrbios

    posturais em fisioterapeutas como: trabalhar prximo ao limite fsico continuar

    trabalhando mesmo lesionado, falta de treinamento ou treinamento inadequado na

    preveno destes distrbios.

    Num estudo epidemiolgico realizado atravs de um questionrio entre 926

    fisioterapeutas graduados pela University of Iowa Physical Therapy Program, entre

    1943 e 1993, relatado por Bork (1996), foi demonstrado alta prevalncia de

    desordens msculo-esquelticas na regio lombar (45%), na regio dorsal (28,7%) e

    na regio cervical (24,7%). Num estudo de 243 fisioterapeutas na Gr Bretanha,

    Scholey e Hair (1984), encontraram uma prevalncia de dores nas costas de 38%.

    Estas pesquisas determinaram tambm que o episdio inicial de dor nas costas mais

    freqentemente ocorreu em fisioterapeutas entre 21 e 30 anos de idade.

  • 42

    2.5 Caracterizao da Atividade Profissional de Fisioterapia

    A fisioterapia a cincia da sade que estuda, previne e trata os distrbios

    cinticos funcionais, intercorrentes em rgos e sistemas do corpo humano, gerados

    por alteraes genticas, por traumas e por doenas adquiridas. Suas aes so

    fundamentadas em mecanismos teraputicos prprios, sistematizados pelos estudos

    da Biologia, das Cincias Morfolgicas, das Cincias Fisiolgicas, das patologias, da

    Bioqumica, da Biofsica, da Biomecnica, da Cinesia e da Sinergia Funcional de

    rgos e de sistemas do corpo humano.

    A fisioterapia uma atividade regulamentada pelo Decreto-Lei n 938/69, de 13

    de outubro de 1969.

    O Fisioterapeuta o profissional da sade, com formao acadmica superior, habilitado para a construo do diagnstico dos distrbios cinticos funcionais, prescrio das condutas fisioteraputicas, sua ordenao e induo no paciente bem como, o acompanhamento de evoluo do quadro funcional e a sua alta do servio. (CREFITO, 2001).

    O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO), a

    instituio de controle social da classe, com a responsabilidade de fiscalizar o

    exerccio profissional. No Brasil, forma-se um conjunto de nove conselhos regionais,

    integrando o rgo mximo da classe com jurisdies federais, cuja funo adotar

    providncias indispensveis realizao dos objetivos institucionais em todo

    territrio nacional. Pela Lei n 6.316/75, para o exerccio profissional do fisioterapeuta

    no pas, exigida formao em curso universitrio superior, registro do seu ttulo no

    Conselho Profissional da categoria e sua atividade profissional s permitida aps a

    concesso de autorizao de trabalho ou Carteira de Identidade Profissional de

    Fisioterapeuta (CREFITO, 2001).

    O fisioterapeuta atinge uma grande rea de atuao no mercado de trabalho,

    podendo desenvolver suas atividades em hospitais, clnicas, ambulatrios,

    consultrios, centros de reabilitao, unidades bsicas de sade, empresas, ensino,

    clubes esportivos, instituies filantrpicas e outros. E como recursos teraputicos

  • 43

    utiliza, alm das tcnicas fisioterpicas manuais, agentes fsicos como eletroterapia,

    hidroterapia, fototerapia, termoterapia e cinesioterapia (CREFITO, 2001). De acordo

    com o Conselho Regional de Fisioterapia CREFITO (2001), atualmente h no

    Brasil, mais de 40 mil fisioterapeutas e estima-se que 50% desses profissionais

    estejam atuando no mercado de trabalho como fisioterapeutas. E comumente, em

    suas funes, realiza atividades de sobrecarga em seu sistema msculo-esqueltico,

    como deambulao e transporte de pacientes dependentes, tcnicas manuais que

    exigem fora muscular, posicionamento inadequado e desconfortvel no atendimento

    a seus pacientes, movimentos repetitivos, e postura em p ou sentado por tempo

    prolongado. Isto significa que em mdia, 20 mil desses profissionais podem estar

    sofrendo de algum distrbio postural, em conseqncia do tipo de atividade que

    desenvolve com seus pacientes.

    2.6 Distrbios Msculo-esquelticos da Coluna Vertebral

    A postura importante na manuteno de uma coluna saudvel. As alteraes

    posturais so muito comuns na populao em geral. Hamil e Knutzen (1999),

    referem que a incidncia de sobrecargas posturais que levam a leses do tronco

    muito alta. A coluna vertebral pode sofrer uma srie de alteraes nas suas

    estruturas causadas por atividades motoras ou posturas inadequadas adotadas pelo

    trabalhador, e estudos epidemiolgicos e anlises biomecnicas do corpo humano

    em atividade identificam algumas situaes de trabalho como sendo potencialmente

    promotoras de problemas osteomusculares da coluna vertebral.

    Kendall (1995) afirma que, os padres culturais e o estilo de vida da populao

    moderna propiciam sobrecargas estruturais no corpo humano, impondo cada vez

    mais atividades especializadas e limitadas. A alta incidncia de problemas posturais

    em adultos relaciona-se com a tendncia para um padro de atividade especializado

    ou repetitivo aliado ao sedentarismo e vcios posturais carregados desde a infncia.

    A vida moderna, posturas erradas, mveis inadequados, vida sedentria e emoes

    mal elaboradas, condenam o homem s lombalgias. Existem alteraes na coluna

  • 44

    vertebral, associadas ao desuso, uso indevido, envelhecimento ou um processo de

    enfermidade especfico.

    A aplicao de estresses posturais pode e deve ser totalmente controlada alm

    de se eliminar o principal fator predisponente para a dor lombar. vital assegurar

    que o elemento humano, em qualquer sistema de trabalho, seja suprido com

    suficiente informao, treinamento e habilidades necessrias para a eliminao do

    estresse ocupacional (WYKE, 1994).

    Em 1993, Keyserling citado em Caffin (2001), demonstra que a flexo anterior do

    tronco por tempo prolongado causa extremo nvel de fadiga muscular na regio

    lombar e Hagberg (1982) demonstrou que movimentos repetitivos e elevao dos

    braos acima dos ombros por tempo prolongado causam dor e fadiga muscular e em

    alguns casos, tendinites.

    Muitos estudos tm atribudo a dor lombar postura ocupacional. Howorth (1946)

    citado por Omino (1992), classificou a postura de trabalho em postura esttica e

    postura dinmica, onde na postura esttica a lombalgia pode ocorrer quando a

    regio lombar constantemente sobrecarregada por longo perodo; enquanto que

    em postura dinmica a dor lombar pode ocorrer quando essa regio

    sobrecarregada por um perodo curto de tempo ou solicitada repetidamente com

    sobrecarga. Para o autor, postura dinmica foi definida como uma postura em

    movimento, em ao ou em preparao para o movimento. Seu estudo demonstrou

    que a postura dinmica induz lombalgia.

    Quando a postura mantida estaticamente por tempo prolongado, isto , com

    contraes isomtricas e repetitivas, as fases de relaxamento muscular tornam-se

    muito curtas, promovendo a fadiga muscular que pode ser detectada atravs da

    sensao de desconforto por um estmulo irritante denominado dor muscular ou

    "isquemia" (CHAFFIN, 2001).

    Para Iida (1990), o corpo assume trs posturas bsicas no trabalho ou no

    repouso: as posies deitadas, sentadas e a de p. Em cada uma delas est

  • 45

    envolvido o esforo muscular para manter a posio relativa das partes corporais

    conforme demonstrado na Tabela 1:

    Tabela 1: Percentual Relativo ao Peso das Partes do Corpo

    PARTES DO CORPO % DO PESO TOTAL DO CORPO

    Cabea

    Tronco

    Membros Superiores

    Membros Inferiores

    6 a 8%

    40 a 46 %

    11 a 14 %

    33 a 40 %

    Fonte: Iida, (1990).

    Para qualquer postura assumida, h presso interna sobre os discos

    intervertebrais da coluna vertebral e de acordo com o pesquisador sueco

    Nachemson (1974), essa presso se modifica em diferentes posies do corpo. Eles

    concluram que quando o indivduo est sentado, a presso nos discos

    intervertebrais maior que na postura em p, explicado pela rotao posteriormente

    da bacia, provocando uma alterao na biomecnica da coluna vertebral, produzindo

    uma cifose da regio lombar, conduzindo a um aumento da presso nos discos

    intervertebrais da coluna lombar.

    Alguns comprometimentos corporais e problemas tpicos associados com

    disfunes posturais so relatados por Kisner e Colby (1998), como:

    Diminuio da amplitude de movimento por desequilbrio de flexibilidade;

    Tenso muscular e dor devido sobrecarga em estruturas sensveis;

    Diminuio na fora e resistncia fadiga muscular por ms posturas adotadas ou ao desuso das mesmas;

    Estabilizao inadequada do tronco e utilizao precria do controle da coluna vertebral, por desequilbrios entre comprimento, fora, resistncia e coordenao

    muscular;

  • 46

    Incapacidade de manuteno da postura e preveno da dor, por falta de aplicao de uma biomecnica saudvel para a coluna vertebral;

    Alterao do alinhamento e controles normais na percepo sinestsica pelos hbitos posturais defeituosos prolongados;

    Diminuio da amplitude de movimento por desequilbrio de flexibilidade.

    Grandjean e Hnting (1977), concluram que as altas resistncias estticas,

    repetitivas e excessivas, aumentam o risco de processos inflamatrios ou

    degenerativos.

    O uso de uma abordagem baseada na compreenso da epidemiologia,

    ergonomia e a educao da sade, deve ser aplicado de forma preventiva,

    assegurando a eficincia para a manuteno de uma postura correta ao longo de

    toda vida. O diagnstico precoce, das alteraes posturais, fator fundamental para

    preveno de maiores intercorrncias.

    2.7 Sobrecargas Posturais Relacionadas ao Trabalho Nos ltimos 20 anos tem-se aumentado os estudos referentes coluna vertebral,

    pelas manifestaes de alteraes posturais decorrentes na maioria das vezes pela

    manuteno da postura nas exigncias das atividades de trabalho.

    O estilo de vida da populao moderna leva a inadequaes musculares que

    propiciam sobrecargas estruturais, principalmente na coluna vertebral, devido

    imposio de atividades especializadas e limitadas; sedentarismo e manuteno de

    posturas inadequadas, por perodos prolongados. Fatores ambientais tal como

    projeto ergonmico deficiente da maioria dos assentos disponveis nos ambientes de

    trabalho, manuteno da postura em p por tempo prolongado, atividades de

    carregamento de carga proporcionando sobrecarga nas estruturas da coluna

  • 47

    vertebral, manuteno dos membros superiores e inferiores em posio de

    desconforto por muito tempo, manuteno de postura sentada com flexo ou toro

    do tronco e muitas outras posturas inadequadas para o corpo humano que

    proporcionam estresse fsico, gerando queda na produtividade de trabalho. Qualquer

    alterao na coluna vertebral pode gerar solicitaes funcionais prejudiciais que

    ocasionam aumento de fadiga no trabalhador e leva ao longo do tempo a leses

    graves, at mesmo irreversveis.

    Mooney (2000), relata que, uma das maiores causas de afastamento prolongado

    do trabalho e de sofrimento humano so os transtornos da coluna vertebral. As

    cervicalgias e lombalgias apresentam uma incidncia impressionantemente alta no

    trabalhador, muitas vezes precipitada pelas condies de trabalho que decorrem da

    utilizao biomecanicamente incorreta da mquina humana. Segundo a

    organizao mundial da sade, estima-se que 80% da populao mundial ainda vai

    sofrer ou j sofreu de dores nas costas. Aproximadamente 60% dessas dores so

    causados por dores musculares, em geral por retraes dos msculos devido m

    postura, esforo fsico, movimentos repetitivos feitos de maneira errada e

    predisposio gentica.

    Quase metade da populao que trabalha na indstria est sofrendo de dores

    nas costas no Brasil, sendo a segunda causa de afastamento de trabalho, s

    perdendo para doenas ligadas ao sistema nervoso, como o alcoolismo e epilepsia.

    Todos os anos, doentes pagam por tratamentos mdicos, hospitalizaes,

    reabilitaes e penses por incapacidades (MANDAL, 1981).

    Iida (1990), afirma que um trabalhador durante uma jornada de trabalho pode

    assumir centenas de posturas diferentes, e em cada tipo de postura, um diferente

    conjunto de musculatura requisitado. Se o trabalhador executa suas atividades

    numa postura esttica prolongada, seja ela de p ou sentada, ter um ndice de dor

    e desconforto menor com a alternncia de postura. Se o trabalhador atuar na postura

    em p durante toda a jornada, maior nmero de grupos musculares estaro atuando

    contra a ao da gravidade proporcionando maior desconforto e dor, acionando

    precocemente o mecanismo de fadiga muscular. E o trabalhador que atua numa

  • 48

    postura na qual se sente confortvel e sem dor, apresentar melhores ndices de

    eficincia e produtividade.

    A coluna vertebral como todas as estruturas do corpo humano necessita de

    movimentos, por sofrer freqentes situaes de trabalho onde as posturas so

    mantidas por longo tempo em atividade muscular ou movimentos repetitivos s

    custas de mesmos grupos musculares, levando ao aumento da tenso muscular

    podendo apresentar o aparecimento de processos irritativos, produzindo at

    processos inflamatrios nas estruturas osteoarticulares com sintomas, entre eles, a

    dor, que pode muitas vezes levar a um grande consumo energtico e,

    conseqentemente fadiga muscular. Outro fator importante a ser considerado a

    compresso dos vasos sanguneos e estruturas adjacentes causada por situaes

    de atividade muscular sustentada ou apoio de uma mesma superfcie corporal,

    provocando diminuio do aporte sanguneo levando sensaes de formigamento,

    desconforto ou dor localizada ou, em situaes mais graves, processos inflamatrios.

    Com o passar do tempo, por manuteno ou repetio de uma presso significativa

    sobre o disco intervertebral atravs de manuseio de cargas em posio

    biomecanicamente desfavorvel, ocorre uma diminuio ou uma perda de sua

    elasticidade e resistncia, tornando precoce o incio de um processo degenerativo

    fisiolgico e at mesmo a ecloso de uma hrnia de disco. Apesar do avano

    tecnolgico em muitas atividades de trabalho, como levantar, empurrar, puxar ou

    transportar carga por processos mecanizados, que reduzem agresses fsicas

    diretamente coluna vertebral, ainda so identificadas situaes de trabalho onde

    h grande exigncia de esforo fsico para as suas realizaes, colocando em risco a

    coluna vertebral do trabalhador (KNOPLICH, 1983; GRANDJEAN, 1980).

    Os maus hbitos posturais, muitas vezes, vindos da infncia constituem-se em

    uma das primeiras razes para o desenvolvimento das alteraes no-funcionais nos

    tecidos moles que circundam os segmentos espinhais. Quando certas posturas

    defeituosas so mantidas por longos perodos de tempo, perde-se simultaneamente

    a capacidade de executar certos movimentos. A negligncia postural pode

    eventualmente induzir disfuno irreversvel, resultando em uma perda permanente

    de movimento e funo e possivelmente no desenvolvimento de deformidade

    postural. O estiramento excessivo das estruturas que envolvem a coluna vertebral

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    (msculos e ligamentos) induz deformao mecnica e resulta em dor postural.

    Portanto, a fadiga ligamentar sucede a fadiga muscular (WAYKE, 1980).

    Em termos gerais, excluindo-se a dor nas cost