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ESTUDO DA INIBIÇÃO DA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO EXPERIMENTAL AGUDA POR GRANULÓCITOS ESTIMULADOS COM G-CSF Zilton Farias Meira de Vasconcelos Rio de Janeiro Outubro de 2007 Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Imunologia). Orientadora: Adriana Bonomo

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ESTUDO DA INIBIÇÃO DA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO EXPERIMENTAL AGUDA

POR GRANULÓCITOS ESTIMULADOS COM G-CSF

Zilton Farias Meira de Vasconcelos

Rio de Janeiro Outubro de 2007

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Imunologia). Orientadora: Adriana Bonomo

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ESTUDO DA INIBIÇÃO DA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO EXPERIMENTAL AGUDA

POR GRANULÓCITOS ESTIMULADOS COM G-CSF

Zilton Farias Meira de Vasconcelos

Orientadora: Adriana Bonomo

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências (Imunologia).

Aprovada por:

_______________________________ Presidente, Prof. Alberto Nóbrega

_______________________________ Prof. Adriana Bonomo (Orientadora) _______________________________ Prof. Pedro Paulo Elsas (Revisor) _______________________________ Prof. Júlio Voltarelli _______________________________ Dr. Martin Bonamino

Rio de Janeiro Outubro de 2007

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Vasconcelos, Zilton Farias Meira de. Estudo da inibição da doença enxerto contra hospedeiro

experimental aguda por granulócitos estimulados com G-CSF / Zilton Farias Meira de Vasconcelo. - Rio de Janeiro: UFRJ/ IMPPG, 2007.

xi, 141f.: il.; 31 cm. Orientador: Adriana Bonomo Tese (doutorado) – UFRJ/ Instituto de Microbiologia Professor

Paulo de Góes/ Programa de Pós-graduação em Ciências (Imunologia), 2007.

Referências Bibliográficas: f. 130-140. 1. Transplante de medula óssea. 2. Doença enxerto contra

hospedeiro. 3. Neutrófilos. 4. Linfócitos. 5. Citocinas. 6. G-CSF. I. Bonomo, Adriana. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, Programa de Pós-graduação em Ciências (Imunologia). III. Título.

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RESUMO

ESTUDO DA INIBIÇÃO DA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO EXPERIMENTAL AGUDA POR GRANULÓCITOS ESTIMULADOS COM G-CSF

Zilton Farias Meira de Vasconcelos

Orientadora: Adriana Bonomo

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências.

Em trabalho anterior demonstramos que o G-CSF induz a geração de granulócitos de baixa densidade (GBDs) que são co-purificados com células mononucleares de sangue periférico e que inibem a produção de interferon gamma (IFN-g) por células T humanas.

Esses resultados nos levaram a postular um papel imuno-modulatório para os GBDs na doença enxerto-contra-hospedeiro aguda (DECHa). Neste trabalho, utilizando um modelo experimental em camundongos, demonstramos que o tratamento in vitro e in vivo com G-CSF gera GBDs que são capazes de inibir em 80% a produção de IFN-γ por linfócitos T. Para avaliar o papel desses GBDs na DECHa, camundongos (C57BL/6 x BALB/c)F1 foram reconstituídos com medula óssea depletada de células T (MODT) em associação com células esplênicas purificadas em coluna de lã de nylon provenientes de doadores C57BL/6 controles (CECN) ou de doadores tratados in vivo com G-CSF (CECN-G). Os recipientes de CECN-G apresentaram 75% de sobrevida contra 25% dos receptores de CECN. Ao final de 60 dias de acompanhamento, o efeito protetor foi completamente abolido quando as células Gr-1 positivas do CECN foram depletadas, fazendo a sobrevida cair para 0% no mesmo período. Se GBDs são co-infundidos com CECN é observada uma proteção completa sobre a DECHa, sem nenhum sinal de doença que possa ser atribuída à DECHa, avaliada pela taxa de mortalidade, perda de peso e histopatologia dos órgãos alvo. Esses resultados evidenciam um efeito novo e imunossupressor para o G-CSF mediado pela geração de GBDs, o que sugere a possibilidade de utilização dessas células como inibidoras da DECHa em humanos.

Palavras-chave: Transplante de medula óssea, doença enxerto contra hospedeiro, neutrófilos, linfócitos, citocinas, G-CSF.

Rio de Janeiro Outubro de 2007

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ABSTRACT

ACUTE EXPERIMENTAL GRAFT VERSUS HOST DISEASE INHIBITION STUDY BY G-CSF STIMULATED GRANULOCYTES

Zilton Farias Meira de Vasconcelos

Orientadora: Adriana Bonomo

Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências, Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências.

In previous work we demonstrated that G-CSF induces the generation of low density granulocytes (LDGs) that co-purify with peripheral blood mononuclear cells in a density gradient separation and inhibit interferon gamma (γ-IFN) production by humans T cells.

These results led us to hypothesize an immune-modulatory role for LDGs in acute graft versus host disease (aGVHD). In this work, using an experimental model, we demonstrate that in vivo and in vitro treatment with G-CSF generates LDGs capable of inhibiting by 80% T cell γ-IFN production. To confirm a role for LDGs in aGVHD, (C57BL/6 x BALB/c) F1 mice were reconstituted with T cell depleted bone marrow (TCDBM) in association with nylon wool-purified spleen cells from normal (NWS) of from in vivo G-CSF-treated (NWS-G) C57BL/6 donors. The NWS-G recipients had a 75% survival rate against only 25% in NWS receptors over a 60 day follow up period. This protective effect was completely abolished when we depleted Gr1 positive cells from the NWS-G, resulting in a survival rate of 0%. Moreover, if LDGs were co-infused with NWS cells, we observed a complete protection in aGVHD, without any sign of pathology, as evaluated by mortality rate, weight loss and target organ histopathology. These results show an unexpected role of G-CSF as an immune-suppressor mediated by LDGs generations. This suggests the potential use of these cells as part of a strategy to control aGVHD in humans.

Key-Words: Bone marrow transplantation, graft versus host disease, neutrophils, lymphocytes, cytokines, G-CSF.

Rio de Janeiro Outubro de 2007

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Sumário

1. Introdução............................................................................................................... 10 1.1. História do transplante de medula óssea......................................................... 10 1.2. Tipos de TMO ................................................................................................ 13 1.3. Fontes de CTH................................................................................................ 15 1.4. G-CSF e o seu receptor................................................................................... 20 1.5. Polimorfonucleares neutrófilos ...................................................................... 25 1.6. Intercorrências no TMO ................................................................................. 27 1.7. História da DECH........................................................................................... 32 1.8. Aspectos Clínicos e histopatológicos da DECH............................................. 35 1.9. Imunobiologia da DECH................................................................................ 47 1.10. Estratégias farmacológicas de prevenção e tratamento da DECH ............. 54 1.11. Modelos experimentais de DECH .............................................................. 58 1.12. Estratégias experimentais de controle da DECH aguda ............................. 63 1.13. Resultados anteriores do nosso laboratório e perspectivas......................... 70

2. Objetivos................................................................................................................. 72 3. Material e Métodos................................................................................................. 73

3.1. Animais........................................................................................................... 73 3.2. Reagentes........................................................................................................ 73 3.3. Obtenção de suspensão de esplenócitos de camundongo............................... 75 3.4. Obtenção de suspensão de esplenócitos de camundongo separados por lã de nylon... ........................................................................................................................ 75 3.5. Obtenção de suspensão de células de medula óssea de camundongo ............ 77 3.6. Preparo de granulócitos de baixa densidade in vitro ...................................... 77 3.7. Cultura para pesquisa de citocinas intra-celulares.......................................... 79 3.8. Detecção de antígenos de superfície............................................................... 80 3.9. Citocentrifugação............................................................................................ 81 3.10. Coloração hematológica ............................................................................. 81 3.11. Detecção de antígenos intra-celulares ........................................................ 81 3.12. Detecção de espécies reativas de oxigênio ................................................. 82 3.13. Depleção de células com Complemento..................................................... 83 3.14. Transplante de medula óssea alogeneico.................................................... 84 3.15. Avaliação da DECH aguda......................................................................... 85

4. Resultados............................................................................................................... 87 4.1. O tratamento in vivo e in vitro com rhG-CSF gera granulócitos de baixa densidade (GBD) ........................................................................................................ 87 4.2. GBD inibem a produção de IFN-g por linfócitos T através de um mecanismo dependente de peróxido de hidrogênio....................................................................... 91 4.3. O efeito protetor do baço de camundongos tratados com G-CSF é mediado por granulócitos de baixa densidade........................................................................... 95 4.4. Granulócitos de baixa densidade gerados in vitro inibem completamente a DECHa ..................................................................................................................... 101 4.5. A inibição da DECHa mediada por granulócitos requer tratamento dos neutrófilos com G-CSF e histocompatibilidade ....................................................... 104

5. Discussão.............................................................................................................. 107 5.1. Contextualização .......................................................................................... 107 5.2. Literatura ...................................................................................................... 108

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5.3. Dados prévios do laboratório........................................................................ 113 5.4. Os dados atuais ............................................................................................. 114 5.5. Hipóteses ...................................................................................................... 122 5.6. Perspectivas .................................................................................................. 129

6. Bibliografia........................................................................................................... 132 7. Anexo – Artigos Publicados ................................................................................. 147

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Dedico esse trabalho Àquele que me concedeu meus

principais “títulos” de esposo e pai.

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Agradecimentos

Acho que agradecer foi o experimento mais difícil dessa tese. Digo

isso porque não existia um “protocolo”, muito menos uma referência que

pudesse me guiar...Opa, guiar me lembra a pessoa sem a qual não conseguiria

terminar esse trabalho, obrigado Adriana por tudo! Não apenas pela

orientação, mas por construir um ser humano além do profissional.

Construir o ser humano, isso me faz pensar em algumas pessoas que

foram responsáveis por exatamente isso...Meus queridos pais! Pai e Mãe,

sem vocês eu não poderia nem sonhar, muito menos realizar.

Calma mana, não esqueci de você, obrigado pela infância que

amadureceu e aproveitando que já estou agradecendo a nova família, Lielson,

um grande abraço. Por falar em nova família, com certeza ganhei uma nova

quando me casei, Dona Nete, Cris, Beto, Marcos e Marcelo, valeu pela força.

Força que me recordam as pessoas que me ajudaram na minha tese e

que em hipótese nenhuma podem ser esquecidas, Bruna, Tereza, Júlia,

Rômulão e Rômulinho, muuuuuuuito obrigado!

Cosme e Flávio vocês são amigos do peito e nem centenas de

“Lurdinhas” pagariam o convívio no Banco de Cordão, vocês são simplesmente

insubstituíveis.

Por falar em convívio, não poderia existir um grupo melhor com

pessoas únicas e incomparáveis, valeu Bonomianos !!!

Por falar em galera, pessoal do Banco de Cordão, Marcelo, Juliana

Rodrigues, Juliana Jardim, Rodrigo, Adriana, Evely, Marina, Dulce, grande

abraço.

Só pra finalizar, agradeço ao professor Marcelo Barcinski por abrir a

Medex e permitir trilhar meu caminho e a galera nova do IFF que me

aturaram durante a confecção desse manuscrito.

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1. Introdução

1.1. História do transplante de medula óssea

As observações do pesquisador dinamarquês, Fabricius-Moller, em

cobaias em 1922 e os experimentos realizados 27 anos mais tarde por

Jacobson, em camundongos, foram as bases para o que chamamos hoje de

transplante de células-tronco hematopoiéticas (Jacobson, Simmons et al.,

1951; Dupont, 1997). Naquela época, ambos os pesquisadores demonstraram

que a proteção da medula óssea durante a irradiação corpórea total

permitia a sobrevivência dos animais. Em 1951, Lorenz demonstrou que a

transferência de células vivas da medula óssea era responsável por essa

proteção (Dupont, 1997).

No entanto, a utilização do transplante de medula óssea (TMO), em

humanos, como terapia alternativa para diversas patologias teve sucesso

apenas na década de 60 (Horowitz, 1999; Thomas e Storb, 1999; Baron,

Storb et al., 2003), após o transplante de uma paciente portadora de

leucemia que recebeu células de medula óssea da irmã gêmea idêntica

(Horowitz, 1999; Thomas e Storb, 1999; Baron, Storb et al., 2003). Nesse

caso, foi demonstrado que também em humanos os transplantes de células

de medula óssea são capazes de resgatar a hematopoiese após o tratamento

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radioterápico.

O procedimento de transplante foi repetivo exaustivamente em

vítimas de acidentes nucleares com infusões de medula ósseas de doadores

voluntários com inúmeros insucessos. Essas tentavivas, realizadas

anteriormente ao conhecimento da necessidade de histo-compatibilidade, só

alcançavam o sucesso em indivíduos que tiveram recuperação da própria

medula óssea (Horowitz, 1999; Thomas e Storb, 1999; Baron, Storb et al.,

2003).

Atualmente as patologias de base que são tratadas com o TMO são,

de maneira geral, relacionadas a distúrbios na hematopoiese medular que

podem ser congênitos ou adquiridos, disfunção no sistema imune, ou ainda,

tumores sólidos (Horowitz, 1999; Baron, Storb et al., 2003). No caso de

doenças malignas, a terapia convencional consiste de quimioterapia e/ou

radioterapia, que têm como objetivo principal a destruição das células

transformadas, atingindo sua característica principal, a proliferação. O

limitante deste tratamento é a inespecificidade do mesmo. Desta forma, os

fármacos que não “sabem” quais células são malignas e quais não são, atuam

preferencialmente sobre as células que proliferam muito, uma vez que agem

como anti-proliferativos. Dentre estes tecidos o mais atingido pelo

tratamento é a medula óssea (MO). Em indivíduos adultos, este tecido

localiza-se principalmente nos ossos chatos como esterno e crista ilíaca e

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sua principal função é a hematopoiese (Weissman, Anderson et al., 2001).

O TMO atualmente consiste na coleta de células-tronco

hematopoiéticas (CTH) de um doador, mantendo-se a viabilidade e

características funcionais e proliferativas. O paciente, recipiente das CTH,

é então submetido a doses altas de quimio e/ou radioterapia, permitindo o

tratamento mais agressivo da doença. Após este período de tratamento

ocorre a infusão das CTH, perifericamente, por simples transfusão

sanguínea. Como as CTH só sobrevivem e proliferam no microambiente

medular, a outra etapa no processo do TMO é a migração das CTH para o

seu nicho, onde existem todas as condições ótimas para o re-

estabelecimento hematopoiético (Quesenberry, Colvin et al., 2005). Após

isto as células podem iniciar o processo de proliferação e diferenciação, que

tem como objetivo a reconstituição desse sistema. Esta reconstituição é

acompanhada clinicamente pelas contagens periféricas de neutrófilos e

plaquetas. No momento em que estas contagens atingem um número mínimo,

caracteriza-se a “pega” clínica, ou seja, a granulopoiese e, em alguns casos, a

megacariocitopoiese estão reconstituídas (Thomas e Storb, 1999). Este

período entre a infusão e a pega clínica varia entre os tipos de transplante

(citados abaixo), mas a média gira em torno de 28 dias, onde o paciente é

mantido em uma unidade de tratamento intensivo.

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1.2. Tipos de TMO

O TMO pode ser dividido em 3 tipos principais: O TMO alogeneico

(figura 1), o TMO singeneico (figura 1) e o TMO autólogo (figura 2)

(Horowitz, 1999). O primeiro tipo tem como conceito básico ser feito entre

indivíduos geneticamente diferentes, mas histo-compatíveis. Os genes que

codificam os antígenos responsáveis por essa histo-compatibilidade em

humanos são localizados no braço curto do cromossomo 6, no complexo

principal de histo-compatibilidade, e são chamados de genes de antígenos

leucocitários humanos (ALH) (Mickelson e Petersdorf, 1999). Este tipo de

transplante pode ainda ter a particularidade de ser efetuado entre

indivíduos da mesma família ou sem parentesco nenhum, caracterizando os

transplantes chamados de aparentados e não-aparentados. No caso do TMO

singeneico a doação das CTH é feita por um indivíduo geneticamente

idêntico, ou seja, um irmão gêmeo univitelino. Nestes 2 tipos de transplante,

como o doador e o paciente são indivíduos diferentes, a preparação do

doador e coleta das CTH é feita concomitantemente ao condicionamento do

paciente.

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Figura 1 - Esquema de transplante singeneico e alogeneico.

O paciente submetido a um regime mieloablativo de quimioterapia (QT) torna-se aplasiado, recebendo a partir de um doador a fonte de células-tronco hematopoiéticas (CTH), necessária para a reconstituição hematopoética.

Figura 2 - Esquema de transplante autólogo.

O paciente submetido a um regime não-mieloablativo de quimioterapia (QT) permite a coleta e posterior criopreservação das células-tronco hematopoiéticas (CTH). Num segundo momento, este mesmo torna-se aplasiado após a QT mieloablativa, recebendo suas próprias células descongeladas necessárias para a reconstituição hematopoética.

+ =

Doador: - Alogeneico - Singeneico

PACIENTE PRÉ-TMO

QT

PACIENTE APLASIADO

Fonte de CTH

PACIENTE PÓS-TMO

PACIENTE PRÉ-COLETA DE

QT PACIENTE APLASIADO

Fonte de CTH

PACIENTE PÓS-TMO

PACIENTE PRÉ-TMO

QT

PERÍODO PRÉ-TMO

COLETA DE CTH CRIOPRESERVAÇÃO

DESCONGELAMENTO

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O terceiro tipo de TMO, o autólogo, tem como princípio a coleta das

CTH do próprio indivíduo. Após esta coleta procura-se manter a viabilidade

e capacidade proliferativa das células por um período muitas vezes longo,

pois o paciente precisa ser tratado para a patologia de base antes da

reinfusão do material. Desta forma, diferentemente dos TMO alogeneicos,

os TMO autólogos dependem de técnicas de criopreservação das CTH que

têm como finalidade a manuntenção das propriedades acima citadas por

períodos superiores à 5 anos (Cottler-Fox, 1996; Fleming e Hubel, 2006).

1.3. Fontes de CTH

A coleta de CTH convencional consiste na punção da crista ilíaca e

aspiração da medula óssea. A punção é realizada em centro cirúrgico onde o

doador é submetido à anestesia geral. O objetivo nestas coletas é conseguir

um número aproximado de 1-5 milhões de células-tronco por cada quilo de

peso corporal do recipiente. Sabendo-se que numa medula óssea a proporção

normal de CTH é de 1-3% de todas as células deste tecido (Gratama, Kraan

et al., 1997; Baech e Johnsen, 2000), pode-se estimar que um indivíduo de

70 Kg precisaria receber uma infusão de aproximadamente 7 bilhões de

células totais, que numa medula normocelular corresponde a 1 L de aspirado.

Diante destes números pode-se avaliar quantas punções devem ser

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realizadas e o grau de agressão ao qual o doador é submetido, o que levou a

busca de procedimentos menos invasivos, que facilitariam grandemente a

doação de CTH. O primeiro passo foi a descoberta de fontes alternativas de

células-tronco e uma delas é o sangue de cordão umbilical (SCU) (Broxmeyer

e Smith, 1999; Chao, Emerson et al., 2004). Esta fonte por sua vez

apresenta um rendimento menor que um aspirado convencional e,

consequentemente, contêm uma quantidade de CTH capaz de reconstituir

hematopoéticamente apenas crianças ou indivíduos com menos de 50 Kg de

peso. Diversos estudos para a expansão das células-tronco do SCU estão

sendo realizados para se tentar expandi-las permitindo que o transplante

em adultos seja possível (Chao, Emerson et al., 2004). Uma outra estratégia

que está sendo utilizada é a infusão de sangue de cordões combinados, para

aumentar o número de células-tronco por quilo de peso, necessárias ao re-

estabelecimento hematopoiético (Lister, Gryn et al., 2007).

A segunda fonte de CTH não é uma fonte natural, e sim, uma fonte

induzida. Neste caso o paciente ou doador é tratado com fatores de

crescimento, como o fator estimulador de colônias granulocíticas (G-CSF),

que tem a função de mobilizar as células-tronco da medula óssea para a

corrente sanguínea (Nervi, Link et al., 2006). É importante dizer que no

sangue periférico de pessoas não-tratadas o percentual destas células varia

entre 0,01 a 0,03% e a coleta do número suficiente para o transplante seria

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impossível. No entanto, após o tratamento com alguns fatores de

crescimento hematopoiéticos, aumenta o número de progenitores na

corrente sanguínea. Atualmente, esta mobilização é realizada de diversas

formas, dependendo do doador das células. No caso de doadores normais,

estes são tratados com os fatores de crescimento, sendo o fator

estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF, do inglês granulocyte colony

stimulating factor) amplamente usado nos centros de transplante devido à

melhor mobilização das células da medula, quando comparados a outros

fatores como o fator estimulador de colônias granulocíticas e monocíticas

(GM-CSF) (Nervi, Link et al., 2006). Mesmo sem conhecer o exato

mecanismo pelo qual o G-CSF atua, sabe-se que este estímulo induz

periferalização dos progenitores, possibilitando um aumento de mais de 20

vezes nos níveis circulantes dessas células. Já no caso de doadores

portadores de patologias específicas, a mobilização das CTH pode ou não

ser feita com o G-CSF. No caso dos pacientes serem tratados apenas com

quimioterapia, serão detectados altos níveis de progenitores circulantes no

início da reconstituição hematológica.

Nesta última fonte de CTH a avaliação do sucesso da mobilização é

indispensável, sendo esse sucesso relativo ao número de CTH presentes no

produto colhido. O primeiro método adotado para a quantificação de CTH

foi a cultura de curta-duração de unidades formadoras de colônia (CFU, do

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inglês colony forming unit) (Ravagnani, Siena et al., 1991). Estas culturas são

desenvolvidas em meio semi-sólido e permitem avaliar a formação de

colônias. O ensaio é desenhado para que a contagem das colônias possa

indicar o número de progenitores presentes na amostra, já que precursores

não são capazes de formar colônia. No entanto, estes ensaios são culturas

demoradas, de aproximadamente 14 dias, e nesse caso existe a necessidade

de um resultado mais rápido. Outro problema deste ensaio é que o resultado

mede apenas a quantidade de progenitores presentes no produto, inferindo-

se indiretamente o número de CTH. A técnica que atualmente é amplamente

usada para superar estas limitações é a imunofenotipagem por citometria de

fluxo, que pesquisa a presença de marcadores que caracterizam

fenotipicamente a CTH (Ravagnani, Siena et al., 1991; Venditti, Battaglia et

al., 1999). Diversos estudos conduziram à validação da molécula CD34 como

sendo o melhor marcador de CTH disponível até o momento. No entanto, já

que progenitores, tanto da série mielóide como da linfóide, retêm alguma

expressão de CD34, outros estudos estão em andamento para melhor

caracterizar estas células. A desvantagem deste método de dosagem de

CTH é a falta da avaliação funcional. Dessa forma, as duas técnicas,

citometria e ensaio de CFU, são métodos complementares e, certamente,

associados provêm uma melhor correlação clínica.

A diferença não fica apenas nas fontes das CTH. Existem

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particularidades no período após o TMO quando diferentes fontes são

administradas nos pacientes. A primeira diferença notada é que os

transplantes de células-tronco mobilizadas para o sangue periférico (TCTP)

apresentam a pega clínica em períodos muito menores quando comparadas

com fontes como a MO e o SCU (Berger, Bertz et al., 1999; Ringden,

Remberger et al., 1999; , 2000). Nos dois últimos a granulopoiese e a

megacariocitopoiese são reconstituídas em torno de 35 dias, sendo o SCU

mais demorado que a MO, principalmente em transplantes não aparentados

(Chao, Emerson et al., 2004). Já os TCTP apresentam apenas 20 dias de

aplasia destes setores. Isto tem uma grande importância clínica, porque com

um período de aplasia granulopoiética menor, a gravidade e incidência de

infecções oportunistas diminui muito. Outro lado positivo é que há uma

menor necessidade de transfusões de produtos hemoterápicos como

plaquetas e hemácias, reduzindo assim os custos e os riscos associados. O

exato motivo pelo qual a pega é antecipada, não se sabe, mas provavelmente

o maior número dos progenitores mielóides presentes no TCTP pode

contribuir para a pega clínica. Outra diferença extremamente interessante,

é que o transplante onde o SCU é utilizado como fonte de CTH apresenta a

reconstituição da linfopoiese B mais acelerada que as outras fontes

(Broxmeyer e Smith, 1999). Este fato deve-se provavelmente aos

precursores B que se encontram em grande quantidade no SCU.

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Diante dessas novas fontes de CTH o nome transplante de medula

óssea (TMO) não reflete adequadamento o procedimento, sendo atualmente

utilizado a terminologia transplante de células-tronco hematopoética

(TCTH).

1.4. G-CSF e o seu receptor

O G-CSF é o fator estimulador de colônias granulocíticas produzido

por monócitos, macrófagos, células dendríticas, granulócitos ativados,

células endoteliais e fibroblastos (Demetri e Griffin, 1991). A síntese desse

fator é induzida por endotoxinas bacterianas como o lipopolissacarídeo

(LPS), pelo fator de necrose tumoral-α (TNF-α), pela interleucina 1 (IL-1) e

pelo fator estimulador de colônias granulocíticas e monocíticas (GM-CSF).

O G-CSF humano recombinante (rhG-CSF) é uma glicoproteína

monomérica de 19,6 KDa (Demetri e Griffin, 1991), constituída de 207

aminoácidos, com 5 resíduos de cisteína, dos quais 4 formam pontes

dissulfeto. Um dado importante é a homologia entre rhG-CSF com o G-CSF

murino, que chega a 72%, permitindo a manuntenção da ação biológica do

fator humano quando administrado em camundongos e vice-versa.

Além de induzir formação de colônias, ou seja, induzir a proliferação

de progenitores, o G-CSF é responsável pela diferenciação de granulócitos

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maduros e pela ativação de algumas funções dos neutrófilos. Dentre as

funções destaca-se a secreção de grânulos específicos e o aumento da

capacidade oxidativa dessas células (Hampton e Orrenius, 1997; Baehner,

2000). Após a ativação do neutrófilo existe um consumo alto de oxigênio que

é resultado da ativação de um complexo enzimático que normalmente é

latente nessas células, a chamada nicotinamida adenina dinucleotídeo

fosfato (NADPH) oxidase (Hampton e Orrenius, 1997; Hampton, Kettle et

al., 1998). Esse complexo localiza-se na membrana plasmática e na

membrana de fagossomos, e sua função é transferir elétrons ao oxigênio

molecular (figura 3) com produção de altas quantidades de ânion superóxido.

Após a formação do superóxido pela NADPH, a enzima superóxido

dismutase o converte em peróxido de hidrogênio, que tem livre passagem

por membranas plasmáticas. A maior parte do peróxido de hidrogênio é

degradada pela enzima mieloperoxidase, o principal constituinte dos

grânulos azurofílicos dos neutrófilos. Essa enzima é responsável pela

formação de diversas espécies oxidantes, inclusive o ácido hipoclórico,

principal agente bactericida dos neutrófilos.

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Figura 3 - Esquema da produção de radicais oxidativos pelos neutrófilos.

A ativação do complexo enzimático Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato(NADPH) leva ao consumo de oxigênio molecular (O2), que é reduzida a ânion superóxido (O2

-). Em seguida a enzima superóxido dismutase converte o superóxido em peróxido de hidrogênio (H2O2), que, junto com a enzima mieloperoxidase (MPO), é responsável pela formação das espécies oxidantes.

Adaptado de Hampton, Kettle e colaboradores (Hampton, Kettle et al., 1998)

O receptor de G-CSF (G-CSFR) é expresso por granulócitos em todos

os estágios de maturação, em monócitos e plaquetas maduras (Demetri e

Griffin, 1991). Em tecidos não hematopoiéticos, é encontrado em células

endoteliais, placenta e trofoblastos. Não foi descrito em eosinófilos,

linfócitos e eritrócitos. O G-CSFR é membro da superfamília de receptores

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de citocinas de classe I, (Taga e Kishimoto, 1997). A família é composta por

vários receptores de citocinas como o receptores de IL-6, Oncostatina M,

IL-11, que, como regra geral apresentam duas cadeias, α e β, das quais a

cadeia α dá especificidade ao complexo, e realiza a ligação da citocina

enquanto todos os receptores compartilham a mesma cadeia β, a chamada

gp130, que é responsável pela sinalização intracelular.

No caso do G-CSFR, existem algumas peculiaridades importantes: a

primeira é que o G-CSFR não apresenta 2 cadeias α e β e, não recruta a

gp130 para sinalização, pois o próprio receptor apresenta homologia com a

gp130 apresentando porção intracelular capaz de sinalizar (Taga e

Kishimoto, 1997) (figura 4).

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Domínio de imunoglobulina

Domínio da família de receptor de citocina classe I

Domínio de fibronectina tipo III

Resíduo de Tirosina Resíduo de Tirosina STAT1 e STAT5

Resíduo de Tirosina STAT3

Figura 4 - Esquema da gp130 e a homologia com o G-CSFR.

O receptor de G-CSF apresenta uma homologia com a proteína gp130, tanto nos seus domínios extracelulares como nos intracelulares. Esses últimos sendo responsáveis pelo recrutamento de proteínas transdutoras de sinal e ativadoras de transcrição (STATs) Adaptado de Taga and Kishimoto (Taga e Kishimoto, 1997)

A segunda diferença é que ele apresenta uma estequiometria de

ligação com o G-CSF de 2 moléculas do fator para 2 cadeias de G-CSFR. A

porção intracitoplasmática do receptor não possui atividade tirosina cinase,

mas é capaz de ativar proteínas tirosina cinases citoplasmáticas chamadas

JaKs (Janus tirosinas cinases) (Ward, Hermans et al., 1999). Essas cinases

fosforilam os resíduos de tirosina do receptor, tornando-os capazes de

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recrutar as proteínas transdutoras de sinal ativadoras de transcrição 1, 3 e

5 (STAT1, STAT3 e STAT5). Finalmente, ocorre a fosforilação das STATs,

que dimerizam entre si e sofrem translocação para o núcleo, onde passam a

regular a expressão de genes envolvidos em proliferação e maturação dos

granulócitos. Aparentemente, os resíduos de tirosina da parte intracelular

do G-CSFR mais próximos à membrana estão relacionados à proliferação

celular e estão ligados ao recrutamento de STAT1 e STAT5 (Ward,

Hermans et al., 1999); já os resíduos mais distantes da membrana parecem

estar relacionados à maturação neutrofílica e são dependentes de STAT3

(Ward, Hermans et al., 1999) (figura 4). Nos casos de neutropenia severa

congênita (síndrome de Kostmann) existe uma mutação pontual no resíduo

Y704 que leva à incapacidade de maturação da linhagem neutrofílica, mesmo

com capacidade proliferativa normal dos progenitores.

1.5. Polimorfonucleares neutrófilos

Os neutrófilos são células com alta capacidade fagocítica, de meia-

vida curta e essenciais para a imunidade inata (Segal, 2005). Essas células

são formadas na medula óssea e constituem cerca de 60 % dos leucócitos do

sangue periférico humano (Boxio, Bossenmeyer-Pourie et al., 2004). Ainda

em humanos, estima-se que 1011 neutrófilos são produzidos diariamente na

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medula óssea, com uma meia-vida de aproximadamente 24 horas no sangue.

Em camundongos, essa proporção é bem menor, 5 a 25% dos leucócitos no

sangue são neutrófilos (variações ocorrem entre as linhagens e sexo)

(Laboratory, 2007), com uma meia vida de permanência de 6 horas.

Essas células foram descobertas em 1886 por Élie Metchnikoff,

quando este inseriu espinhos de rosa em larvas de estrelas-do-mar e

verificou o acúmulo de células mesodermais no local da ferida. Após mostrar

que estas células eram fagocíticas, separou-as em fagócitos maiores,

macrofagócitos ou macrófagos, e menores, microfagócitos, agora

conhecidos como neutrófilos (Segal, 2005).

Concomitantemente à descoberta de Metchnikoff, Paul Ehrlich fez a

primeira caracterização dessas células em sangue periférico humano.

Nessas amostras, Ehrlich estabelecia técnicas de fixação e coloração que

permitiram observar núcleos lobulados e grânulos no citoplasma dessas

células (Borregaard e Cowland, 1997). Estas características deram nome a

estes leucócitos, conhecidos como células polimorfonucleares granulocíticas.

Em seus experimentos com técnicas de coloração, Ehrlich descobriu a

presença de 3 tipos de granulócitos com propriedades tintoriais distintas,

conhecidos hoje como eosinófilos, basófilos e neutrófilos, nomes dados por

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seus grânulos serem corados por corantes ácidos, básicos ou por nenhum

deles, respectivamente (Borregaard e Cowland, 1997).

Sua habilidade de fagocitar e degradar bactérias indicava uma função

microbicida, possibilitadas por seus abundantes grânulos citoplasmáticos

descarregados em vacúolos contendo micróbios. Análises desses grânulos

identificaram várias proteínas com atividade microbicida (Borregaard e

Cowland, 1997).

1.6. Intercorrências no TMO

O objetivo desta parte da tese é listar as principais complicações

relacionadas ao TCTH, indicando sua relevância quanto a morbidade e

incidência nesse procedimento terapêutico (Carreras, 2004).

Inicialmente, temos as complicações relacionadas ao regime de

condicionamento. Este regime de condicionamento é baseado em

quimioterapia e irradiação corpórea total e tem 3 finalidades principais: a

geração de espaço necessário ao estabelecimento da “nova” medula óssea no

indivíduo recipiente do transplante; a necessidade de imunossupressão do

recipiente, impedindo a rejeição desse enxerto e o tratamento da patologia

de base, que é mieloablativo.

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Esses últimos são os efeitos desejados do condicionamento, mas são

acompanhados por diversas intercorrências associadas a esse regime. Um

exemplo seria a alta incidência de náusea e vômitos decorrentes da

irradiação corpórea total, que ao serem tratadas não costumam apresentar

morbidade significativa (Gratwohl, 2004). Por outro lado, outras

complicações também são correlacionadas à dose de irradiação e ao regime

quimioterápico. No primeiro caso, irradiações com doses maiores que 8 Gy

correlacionam-se com toxicidade pulmonar (Gopal, Ha et al., 2001). No caso

de quimioterapia, o uso de bussulfan correlaciona-se com toxicidade

hepática (Mccune, Gibbs et al., 2000), enquanto a ciclofosfamida resulta em

toxicidade de bexiga e trato gastro-intestinal (Langford, 1997).

Além disso, esses regimes quimio e radioterápicos em altas doses

resultam frequentemente em eritema, edema, atrofia e ulceração da mucosa

oral, uma circunstância geralmente conhecida como mucosite oral (Wardley,

Jayson et al., 2000). Essa complicação leva à dor e à limitação da

alimentação normal, e, em casos severos, obrigando à nutrição parenteral

total e ao uso aumentado de analgésicos. Essa mucosite é um aspecto

bastante debilitante no TCTH, e a ulceração permite a colonização de

microorganismos da flora oral, levando em alguns casos, à septicemia. Como

esses pacientes são temporariamente neutropênicos, existe uma incidência

aumentada de candidíase nessas ulcerações de mucosite oral (Epstein,

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Hancock et al., 2003), razão pela qual são utilizadas profilaxias anti-

micóticas de rotina.

Para finalizar as complicações relacionadas ao condicionamento, uma

patologia associada ao regime quimioterápico com fisiopatologia ainda muito

pouco compreendida é a chamada doença veno-oclusiva (DVO) (Carreras,

Granena et al., 1993). Acredita-se que a injúria inicie-se com a toxicidade

hepática induzida pelos metabólitos resultantes da interação de drogas

como a ciclofosfamida com o sistema enzimático citocromo P-450.

Normalmente, a eliminação desses metabólitos é realizada por outro

sistema enzimático envolvendo conjugação com glutationa, que se acredita

estar ineficiente nesses pacientes que desenvolvem a DVO. Especula-se que

essa ineficiência poderia ser causada por alguma patologia prévia existente

no fígado, que resulta numa lesão das células endoteliais sinusoidais das

veias hepáticas. Esse processo eventualmente leva à obstrução completa do

espaço venoso, com extensa necrose hepatocelular e deposição de tecido

fibroso no parênquima hepático, gerando hipertensão intra-hepática pós-

sinusoidal.

Como as oclusões de veias hepáticas não foram encontrados durante a

autópsia em 25% dos pacientes com DVO severa, baseado em sinais clínicos

característicos como a hepatomegalia, icterícia e retenção de fluidos com

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ganho de peso, foi feita uma proposta de mudança do nome da doença para

síndrome de obstrução sinusoidal (Carreras, 2004).

Além das complicações associadas ao condicionamento, por se tratar

de um indivíduo neutropênico temporário, as infecções são causas

importantes de morbidade e mortalidade nesse tipo de paciente

(Cordonnier, 2004). No entanto, até a recuperação neutrofílica, os

pacientes submetidos a transplantes autólogos e alogeneicos apresentam o

mesmo risco de infecções oportunistas, geralmente bacterianas ou por

Aspergillus ou ainda pelo vírus do herpes simples (HSV, do inglês herpes

simplex virus) (Cordonnier, 2004). A mortalidade associada à infecção nessa

fase é dada exclusivamente por sepse bacteriana, pneumonia e infecções

fúngicas severas (Kruger, Hornung et al., 2001).

Por outro lado, os pacientes submetidos a transplantes alogeneicos

apresentam riscos maiores de infecções tardias relacionadas à recuperação

imunológica. Novos métodos de avaliação da função tímica in vivo, como a

análise de círculos de excisão do rearranjo do receptor de célula T (TREC,

do inglês T cell receptor excision circles) (Ribeiro e Perelson, 2007), já

demonstraram de uma forma mais direta a correlação entre neo-gênese de

linfócitos T e o controle de novas infecções (Lewin, Heller et al., 2002).

Dentre essas infecções, uma complicação usual é a reativação do

citomegalovírus (CMV). Infecção que acomete a maioria da população, razão

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pela qual falamos em reativação. No entanto, deve-se impedir a infecção de

pacientes que ainda são soro-negativos por doadores, tanto de medula

quanto de hemoderivados como plaquetas e hemácias, sendo necessário

nesses casos a filtração dos hemoderivados para a retirada de leucócitos,

fontes principais de partículas virais. Além desses cuidados, os pacientes

soro-positivos devem ser acompanhados periodicamente com testes de

antigenemia para CMV (Osarogiagbon, Defor et al., 2000). Mesmo sendo

freqüente a terapia profilática, a terapia preemptiva vem sendo cada vez

mais indicada para impedir a mortalidade associada a essa reativação.

Para finalizar, a principal intercorrência em pacientes alo-

transplantados é a doença enxerto contra hospedeiro (DECH), que

constitui-se na maior barreira terapêutica no TCTH alogeneico (Chao, 1996;

Vogelsang, Lee et al., 2003). Trata-se em termos simplificados de uma

reação alogeneica mediada por linfócitos T do doador frente aos tecidos do

hospedeiro, resultando em intensa destruição tecidual e falência funcional

dos órgãos acometidos (Reddy e Ferrara, 2003). No entanto, uma grande

mudança conceitual iniciou-se no momento em que a retirada do linfócito T

foi realizada com o objetivo primário de impedir o desenvolvimento da

DECH, e foram observados resultados catastróficos que não tinham sido

previstos. Nesses transplantes, chamados de TCTH depletados de linfócitos

T, foram evidenciados índices aumentados de falência hematopoética e

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maior incidência de recaídas da doença de base (Maraninchi, Gluckman et

al., 1987; Horowitz, Gale et al., 1990; Glass, Uharek et al., 1998). Esse fato

demonstrou que o transplante alogeneico não é apenas uma terapia de

resgate hematopoiético como o autólogo, mas também tem o aspecto imuno-

terapêutico. Dessa forma, o conhecimento da história, da clínica e da

imunobiologia envolvida na DECH revela-se primordial para o controle da

mesma, sem prejuízo das outras funções linfocitárias que contribuem para o

sucesso do tratamento (Horowitz, 1990).

1.7. História da DECH

Da mesma forma que o TCTH, a doença enxerto contra hospedeiro foi

primariamente observada em modelos experimentais e posteriormente

confirmada em humanos. E, diferentemente da maioria das revisões da

história da DECH, defendo que a possibilidade do conhecimento e

entendimento dessa patologia começa com uma das mais importantes

descobertas imunológicas, a tolerância imunológica neonatal, descrita por

Peter Medawar em 1951 (Medawar, 1960; Brent, 1995).

Medawar já havia demonstrado, em 1943, que transplantes de pele

entre camundongos adultos de diferentes linhagens falhavam no processo

de enxertia. Além dessa rejeição do hospedeiro, ele observou que um

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transplante secundário levava a uma rejeição acelerada, com falha de

enxertia em um menor intervalo de tempo (Medawar, 1960). Este fato

sugeria, para Medawar, que os animais sensibilizados apresentavam alguma

memória imunológica para o fenômeno de rejeição.

Em seguida Medawar utilizou sua experiência com transplantes de

pele para auxiliar na identificação de gêmeos monozigóticos e dizigóticos em

bovinos. Isso era importante economicamente, uma vez que, nesses animais,

quando dizigóticos e de sexo diferentes, a fêmea usualmente é estéril.

Nessa época, Peter Medawar e Rupert Billingham (revisto por Brent, 2005)

realizaram uma série de experimentos de transferência de pele que tinham

a intenção de identificar esses gêmeos monozigóticos a partir de enxertos

de pele persistentes, ao contrário de gêmeos dizigóticos em que ocorreria

rejeição. No entanto, ambos ficaram perplexos com o resultado de que

todas as peles enxertadas foram plenamente aceitas. O mistério foi

parcialmente resolvido quando, num relato na Science de 1945, Owen

(revisto por Medawar, 1960) descreveu uma anastomose natural que ocorria

in útero em gêmeos dizigóticos de bovinos, levando ao quimerismo de

hemácias nesses animais. Como estas misturas perduravam por anos após o

nascimento, foi possível demonstrar que eram devidas à passagem de

células-tronco hematopoiéticas de um indivíduo para outro no período

gestacional.

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Medawar e Billingham descobriram em 1951 que o contato do feto

com antígenos alogeneicos permitia o desenvolvimento de tolerância aos

mesmos antígenos na vida adulta. Isto foi induzido através de injeções de

células de indivíduos adultos em fetos in útero ou camundongos neonatos,

realizando-se mais tarde o transplante de pele no indivíduo adulto para

demonstrar a aceitação. E justamente nesses experimentos de

transferências de células que a história da DECH começa.

Para demonstrar que a transferência de células era capaz de induzir

tolerância, foram realizados experimentos com transferência de linfócitos

intravenosa em camundongos neonatos. Leslie Brent em 1957 (revisto por

Brent, 1995), em colaboração com Medawar e Billingham, observaram que

vários recipientes dessas transferências morriam entre 2 e 3 semanas.

Foram realizadas necropsias cuidadosas desses animais que, além de

apresentarem retardo no crescimento, mostraram evidencias de atrofia em

linfonodos e, comumente, splenomegalia. Essas observações levaram a

chamar essa doença de “runting disease”, o primeiro nome da DECH.

Medawar, Billingham e Brent já naquela época postulavam que esse

fenômeno era iniciado pelo reconhecimento de antígenos no hospedeiro

pelas células do doador (Brent, 2005).

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Nesse mesmo ano o pesquisador Simonsen publicou uma descrição de

patologia análoga em galinhas, usando a esplenomegalia como índice de

doença (revisto por Brent, 2005).

Anos mais tarde foi demonstrado que indivíduos imunodeficientes ou

condicionados para o transplante com irradiação ou quimioterapia

apresentavam a mesma patologia após transfusão sanguínea ou TCTH,

respectivamente. Essa doença foi inicialmente chamada de doença

secundária ao transplante e depois foi associada à “runting disease”.

Atualmente, toda essa fisiopatologia é chamada pelo nome de doença

enxerto contra hospedeiro (DECH).

Os progressos realizados levaram Billingham em 1966 (revisto por

Devergie, 2004) a postular 3 condições essenciais para o desenvolvimento

da DECH, sendo essas condições aceitas até hoje:

1. Transferência de células de indivíduos imunocompetentes;

2. Histo-incompatibilidade entre o doador e o recipiente;

3. Incapacidade do recipiente em destruir ou inativar as células

transfundidas ou transplantadas, por um período suficiente para o

estabelecimento de uma resposta alogeneica.

1.8. Aspectos Clínicos e histopatológicos da DECH

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Tanto em humanos, quanto em modelos experimentais, a DECH é

subdividida em aguda e crônica (Chao, 1996; Vogelsang, Lee et al., 2003;

Devergie, 2004). A forma aguda evolui com dermatite, enterite e hepatite

que ocorre nos primeiros 100 dias após o transplante, com maior incidência

entre os dias 30 e 40. A DECH crônica normalmente desenvolve-se após 100

dias e evolui como uma síndrome auto-imune com acometimento de múltiplos

órgãos e sistemas. Atualmente, grandes grupos clínicos estão unindo

esforços para melhor classificar, diagnosticar e encontrar bio-marcadores

que auxiliem na classificação da DECH em aguda e crônica (Schultz, Miklos

et al., 2006).

A incidência média de DECH aguda clinicamente significativa (grau

II-IV) gira em torno de 40%. No entanto, a variação entre centros vai de

10 a 80% (Ringden, Horowitz et al., 1993; Przepiorka, Anderlini et al., 1997;

Martino, Romero et al., 1999; Ji, Chen et al., 2002; Devergie, 2004; Oehler,

Radich et al., 2005). Essa variabilidade é dada por diversos fatores que

incluem a dificuldade de um diagnóstico diferencial e preciso até diferentes

fatores de risco entre doadores e recipientes.

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Os principais fatores de risco relativos ao doador são:

• O grau de histo-compatibilidade entre o doador e recipiente,

principalmente se este é relacionado ou não com o receptor.

Recentemente, estudos demonstraram que o transplante entre

indivíduos não-relacionados, mesmo com identidade em todos os loci

do complexo HLA, apresenta um risco 4,51 vezes maior de

desenvolver a doença quando ocorre disparidades nos haplótipos

(Petersdorf, Malkki et al., 2007), ou seja, doadores não-relacionados

com a organização dos genes polimórficos HLA-A, B e DR, na mesma

organização haplotípica que os recipientes, apresentam risco menor

de DECHa (Figura 5);

Figura 5 – Esquema exemplo de possibilidades de haplótipos HLA em humanos Ilustração do fenótipo HLA de um paciente e seus possíveis doadores HLA-compatíveis, mas com diferentes ligações entre os haplótipos de HLA-A, B e DRB1. Petersdorf e colaboradores demonstraram que os doadores não-relacionados que apresentam haplótipo compatível tem menor risco de desenvolver DECHa. Adaptado de Petersdorf, Malkki e colaboradores (Petersdorf, Malkki et al., 2007)

Haplótipo do paciente Haplótipos potenciais do doador

Haplótipo compatível Haplótipos incompatíveis

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• Outro fator de risco para DECH aguda é relacionada a disparidades

entre sexo, sendo o risco maior associado à combinação de um doador

do sexo feminino e um recipiente masculino (Kollman, Howe et al.,

2001);

• Alo-imunizações prévias, como ocorre em doadoras multíparas ou

doadores dos dois sexos submetidos a múltiplas transfusões,

apresentam maior risco no desenvolvimento de DECHa;

• A fonte da célula-tronco também influencia o risco, e transplantes

feitos a partir de sangue cordão apresentam menor incidência de

DECHa (Rocha, Wagner et al., 2000), enquanto que os transplantes de

sangue periférico e de medula óssea apresentam uma incidência

comparável (Bensinger, Martin et al., 2001; Korbling e Anderlini,

2001);

• O número de linfócitos T infundidos, sendo demonstrado em humanos

e em camundongos que a dose de linfócitos por quilo de peso do

paciente se correlaciona com morbidade e mortalidade (Korngold e

Sprent, 1999).

Já os fatores de risco relativos ao recipiente são:

• a idade, sendo recipientes mais velhos associados a uma maior

incidência de DECHa (Kollman, Howe et al., 2001); Isso já foi também

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demonstrado em modelos experimentais e parece estar relacionado à

maior atividade das células apresentadoras de antígeno do hospedeiro

(Ordemann, Hutchinson et al., 2002);

• O regime de condicionamento também relaciona-se positivamente com

o desenvolvimento da doença, e já tem sido demonstrado em humanos

que os mini-transplantes, que utilizam regime de condicionamento

não-mieloablativo, apresentam menor incidência de DECHa

(Sandmaier, Mackinnon et al., 2007);

• Outro fator é a profilaxia da DECHa, onde as monoterapias com MTX

ou CSA foram alteradas para terapias conjuntas com os dois

fármacos, além da dosagem sérica de CSA para confirmação do

efeito protetor (Locatelli, Bruno et al., 2000); Finalmente a

predisposição genética do recipiente está associada com uma maior

incidência de desenvolvimento de DECHa. Recentemente, foi

demonstrado que polimorfismos nos genes de citocinas, IL-10 (Laguila

Visentainer, Lieber et al., 2005) e TNF-α (Takahashi, Furukawa et al.,

2000) estão associados à probabilidade de desenvolvimento da

DECHa,

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Já na DECH crônica, tanto a incidência como os fatores de risco são

muito difíceis de mensurar. Existem relatos que variam entre 6% e 80% de

incidência, a qual, como na DECHa, depende de vários fatores como: a idade

do recipiente, a fonte da CTH, infusões de linfócitos do doador, etc

(Sullivan, Agura et al., 1991; Filipovich, Weisdorf et al., 2005). A incerteza

se deve à heterogeneidade dos estudos, ao número limitado de pacientes

acompanhados e às variações no diagnóstico/tratamento. No entanto, pode-

se estimar a incidência a partir de um estudo multi-cêntrico em 172

pacientes (Flowers, Parker et al., 2002). Os pacientes incluídos são apenas

os que sobreviveram após 100 dias do transplante sem recaída da doença de

base. Nesse estudo foi ainda realizada a comparação entre pacientes que

foram transplantados com aspirado de medula óssea ou com sangue

periférico mobilizado, observando-se que, em ambos os casos, cerca de 50

% dos pacientes desenvolveram a DECH crônica. A única diferença

encontrada entre os grupos TCTP e TCTM foi a refratariedade ao

tratamento da DECHc que se apresentou maior nos que receberam sangue

periférico mobilizado.

Como dito anteriormente, as manifestações clínicas da DECHa são

predominantes na pele, trato gastrointestinal e fígado (Devergie, 2004).

Com base no acometimento destes órgãos é feita a gradação da doença. Na

pele, o exantema máculo-papular que geralmente envolve as palmas das

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mãos, solas dos pés e extremidades, como orelha e cabeça, é um marcador

da DECH aguda (Vogelsang, Lee et al., 2003). As lesões podem ser

purulentas e doloridas. Esse exantema inicial pode se alastrar por toda a

superfície do corpo, e, em casos mais severos, pode evoluir para formas

bolhosas, bem semelhantes a queimaduras, que são extremamente dolorosas

e estão associadas à perda de proteínas e ao risco de infecção. Mesmo sem

achados histo-patológicos característicos apenas de DECHa em pele que

permitam diferenciá-la de outras manifestações cutâneas, a apoptose na

base de criptas dérmicas é bem característico de DECHa (Vogelsang, Lee et

al., 2003). Outros achados incluem disqueratose, exocitose de linfócitos,

linfócitos adjacentes a queratinócitos epidermais disqueratinizados,

infiltração linfocítica perivascular na derme e, em pacientes graves,

separação das camadas epidérmica e dérmica.

Já o envolvimento do fígado resulta em hepatopatia colestática, com

ou sem icterícia, associada ao aumento substancial da fosfatase alcalina e

da bilirrubina no soro (Vogelsang, Lee et al., 2003). O diagnóstico

diferencial da DECHa no fígado é extremamente complicado devido à

toxicidade hepática dos medicamentos e as manifestações das infecções e

da DVO. A primeira evidência histo-patológica no fígado é a presença de

linfócitos aderidos ao endotélio vascular. Em seguida ocorre a infiltração

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linfocitária da área portal com posterior destruição do ducto biliar

(Vogelsang, Lee et al., 2003).

O envolvimento do trato gastro-intestinal manifesta-se

primariamente como náuseas e diarréia. A perda de fluidos entéricos é

usada como medida do envolvimento do intestino, sendo relatados até 10

litros de diarréia por dia, com perda de sangue e dor abdominal severa,

para os casos mais graves (Devergie, 2004). A histopatologia da DECHa

intestinal, da mesma forma que nos outros órgãos, não é específica para a

doença. No entanto, a presença de corpos apoptóticos na base de criptas em

alguns casos, associada a infiltrados agudos ou crônicos é sugestiva de

DECHa (Socie, Mary et al., 2004). É necessário lembrar que biópsias

anteriores ao dia 20 após o transplante apresentam essas manifestações,

mas como efeito do regime de condicionamento.

Todos esses fatores, em conjunto, levam a uma perda de peso

importante, com comprometimento da condição geral do paciente. Dessa

forma, o estadiamento da doença é importante para a predição do curso

clínico do paciente. No caso da DECHa, de acordo com Gluckberg, foram

estabelecidos 4 graus de doença (Glucksberg, Storb et al., 1974), dos quais,

em geral, o grau I tem um prognóstico favorável. Já o grau II é considerado

moderado, o grau III é severo com acometimento de múltiplos órgãos, e o

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grau IV apresenta risco de vida, sendo frequentemente fatal (Devergie,

2004).

Por se tratar de uma doença que acomete diversos órgãos, fez-se

necessário a criação de um estadiamento relativo para cada órgão em

separado. A tabela abaixo reflete o consenso em estadiamento de cada

órgão baseado na análise de 8249 pacientes em um estudo retrospectivo

conduzido em 12 grandes centros transplantadores (Przepiorka, Weisdorf

et al., 1995).

Tabela 1 – Estadiamento da DECHa relativa a cada órgão acometido

Estadiamento Exantema

(Pele)

Bilirrubina (Fígado) Diarréia/Náusea (Intestino)

1 <25% 34-50 mmol/L > 500mL ou náusea

2 25-50% 51-102 mmol/L > 1000mL

3 >50% 103-255 mmol/L > 1500mL

4 Eritroderma >255 mmol/L Dor/obstrução intestinal

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A partir desse estadiamento, no mesmo consenso, foi estabelecido a

graduação da DECHa de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 2 – Graduação da DECHa baseada no estadiamento

Grau Pele Fígado Intestino

I Estágio 1-2 0 0

II Estágio 3 ou Estágio 1 ou Estágio 1

III-IV Estágio 4 ou Estágio 2-4 ou Estágio 2-4

As manifestações clínicas da DECHc são definidas como tardias e

pleotrópicas podendo ocorrer sem DECHa (DECHc de novo), em seguida à

DECHa (DECHc progressiva) ou ainda após uma DECHa que não remitiu

completamente (DECHc quiescente). Essa intercorrência, cada vez mais,

torna-se a principal determinante da qualidade de vida do paciente a longo

prazo, indicando a importância no entendimento e controle do

desenvolvimento dessa forma da DECH (Devergie, 2004).

A forma crônica da DECH apresenta similaridades com doenças

autoimmunes sistêmicas, sendo sua incidência extremamente alta na pele

(80% dos casos) e boca (70% dos casos) (Vogelsang, Lee et al., 2003). No

primeiro caso, as manifestações incluem despigmentação, placas liquenóides

e fibrose dérmica e subcutânea associada à alopécia (esclerodermia). O

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envolvimento oral inclui líquen-plano, ulceração, atrofia e ressecamento.

Diversos órgãos são acometidos:

• Olhos, apresentando ressecamento, fotofobia, etc;

• Órgãos genitais, com estenoses genitais, atrofias genitais,

ressecamento;

• Fígado, com alterações das funções hepáticas;

• Pulmão, apresentado casos com bronquiolite obliterante, tosse,

dispnéia, etc;

• Trato gastro-intestinal, com anorexia, náusea, vômitos, disfagia, etc;

• Sistema músculo-esquelético, com amiotrofia, fraqueza, artralgia;

• Sistema hematopoiético, com citopenias possivelmente por dano em

estroma.

O estadiamento da DECHc foi realizado em 1980 por Schulman, com

base na extensão da doença (Shulman, Sullivan et al., 1980). A doença foi

caracterizada como limitada ou extensa, e a lista abaixo relaciona os

critérios dessa classificação:

• Limitada:

1. Anormalidades na cavidade bucal, com 1 lábio ou biópsia de pele

positiva, sem outros sinais de DECHc;

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2. Modificações moderadas nos testes de função hepáticas com 1

lábio ou biópsia de pele positiva, sem outros sinais de DECHc;

3. Menos que 6 placas papulo-escamosas ou exantema cutâneo

limitado ou despigmentação em menos de 20% da superfície

corporal com biópsia de pele positiva, sem outros sinais de DECHc;

4. Ressecamento ocular com 1 lábio ou biópsia de pele positiva, sem

outros sinais de DECHc;

• Extensa:

1. Manifestações em mais de 2 órgãos com sintomas de DECHc e

biópsia positiva;

2. Perda de peso de mais de 15%, com biópsia positiva em qualquer

órgão;

3. Acometimentos de pele acima dos definidos na doença limitada e

biópsia de pele positiva;

4. Esclerodermia;

5. Deformidades em unhas com biópsias positivas em qualquer órgão;

6. Inflamações nos tecidos conjuntivos (Fasciites);

7. Contraturas decorrentes de DECHc;

8. Bronquiolite obliterante;

9. Biópsia de fígado positiva e testes de função hepática anormais;

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10. Biópsia de intestino positiva.

Atualmente, está sendo desenvolvido um projeto de consenso entre

18 grandes centros transplantadores, que têm a intenção de melhorar o

diagnóstico e graduação da DECHc. Esse esforço é necessário para

normatizar os critérios de identificação da extensão e da severidade da

doença crônica, levando-se em conta, principalmente, o impacto funcional

causado pela patologia (Filipovich, Weisdorf et al., 2005).

1.9. Imunobiologia da DECH

A idéia de se curar as doenças que comprometem o sistema

hematopoiético ou o sistema imune com TMO alogeneico é muito promissora,

mas essa terapia tem como principal obstáculo a doença enxerto-contra-

hospedeiro (DECH) (Chao, 1996; Ferrara e Antin, 1999), Originalmente

chamada de doença secundária, sustentando questionamentos sobre o

sucesso da terapia, visto que se trocava a doença de base do paciente por

um fenômeno imunopatológico caracterizado como uma reação do enxerto

(rico em células imuno-competentes) contra os tecidos do hospedeiro. Nessa

alo-reação, ocorria morte celular, que, dependendo da sua intensidade,

levaria à falência do órgão, com posterior morte do paciente (Reddy e

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Ferrara, 2003).

Como citado anteriormente, os órgãos-alvo principais desta

intercorrência são o trato gastrointestinal, fígado, pele e pulmão,

discutindo-se bastante sobre a correlação entre a infecção nestes sítios e o

desenvolvimento da DECH (Chao, 1996; Ferrara e Antin, 1999).

O seu desenvolvimento é atualmente dividido em 4 fases principais

(Murphy e Blazar, 1999; Reddy e Ferrara, 2003): 1ª) O regime de

condicionamento; 2ª)A fase indutora; 3ª)A fase de expansão e 4ª) os

mecanismos efetores da DECH aguda (figura 8).

A primeira fase ocorre antes da infusão das células e diversas

correlações entre o regime de condicionamento e a gravidade da DECH

aguda foram evidenciados (Sandmaier, Mackinnon et al., 2007; Schwarte,

Bremer et al., 2007). A relação existente entre a incidência de DECH e o

condicionamento é que este causa danos teciduais, que por sua vez

acarretam produção de diversas citocinas pró-inflamatórias, como o fator

de necrose tumoral-α (TNF-α) e a interleucina-1 (IL-1) (Ferrara, 1998).

Estas citocinas provocam a super-expressão de moléculas de adesão e das

moléculas de HLA (Reddy e Ferrara, 2003). Todas estas alterações

inflamatórias teciduais criam um ambiente propício à ativação das células

imunes que serão posteriormente infundidas.

Além da inflamação, existe uma quebra de barreira importante após o

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condicionamento, o que permite a translocação bacteriana, aumentando

ainda mais a ativação da imunidade inata do hospedeiro (Hill, Crawford et

al., 1997; Cooke, Hill et al., 1998). A primeira descrição de uma possível

correlação entre a ativação da imunidade inata e o desencadeamento da

DECHa foi feita por van Bekkum em 1974, demonstrando o papel da

microflora bacteriana na DECHa. Nesses experimentos, animais “germ-free”

apresentaram atraso na curva de mortalidade pós-transplante em

comparação com animais convencionais (Van Bekkum, Roodenburg et al.,

1974). Em humanos, regimes de condicionamento são precedidos por

“descontaminação” bacteriana com antibiótico-terapia (Beelen, Elmaagacli et

al., 1999). Nesse caso, a intenção é diminuir a flora bacteriana do trato

gastro-intestinal, tratamento que gerou uma diminuição na incidência da

DECHa.

Outra demonstração experimental importante da relação de quebra

de barreira e translocação bacteriana com a doença aguda foi observada em

modelos experimentais tratados ou não com o fator de crescimento de

queratinócitos (KGF, do inglês keratinocyte growth factor) que induz o

crescimento de células epiteliais do tecido intestinal lesado. Esse

tratamento se mostrou tão eficaz em controlar a DECHa (Krijanovski, Hill

et al., 1999) que estudos clínicos com esse fármaco já foram realizados. No

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entanto, os resultados em humanos não foram entuasiasmantes (Blazar,

Weisdorf et al., 2006).

Atualmente, existe ainda uma evidência de correlação entre

polimorfismos genéticos no gene NOD2/CARD15, que é responsável pelo

reconhecimento de motivos bacterianos da microflora intestinal, e uma

maior incidência de DECHa em humanos (Holler, Rogler et al., 2004),

reforçando mais uma vez a importância da imunidade inata no

desencadeamento dessa patologia.

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Figura 8 - Fases da doença enxerto contra hospedeiro aguda (DECH).

A DECH é dividida em 4 fases principais: a primeira tem relação com o regime de condicionamento, a segunda relaciona-se com a indução da resposta aloreativa, em seguida a fase de expansão clonal e por último a fase que é chamada de efetora. Adaptado de Murphy and Blazar (Murphy e Blazar, 1999)

A segunda fase consiste na ativação dos linfócitos T que acabam de

ser infundidos no hospedeiro, após a interação com as células

apresentadores de antígenos (APC do inglês antigen presenting cell) do

hospedeiro (Shlomchik, Couzens et al., 1999). Esta interação ocorre entre o

receptor de célula T (TCR do inglês T cell receptor) e o complexo HLA mais

peptídeo. Se esse complexo está sendo apresentado no contexto de HLA

citocinas inflamatórias

b) indução

c) expansão

a) regime de condicionamento

d) efetuação da resposta

moléculas co-estimulatórias

Quimiocinas

agressão do hospedeiro

Citocinas

IFN-γ

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classe I, eles serão reconhecidos por linfócitos T CD8+. No caso de HLA

classe II, o peptídeo será apresentado às células CD4+ (Korngold e Sprent,

1999). Já foi demonstrado a importância das placas de Peyer no

desencadeamento dessa ativação in vivo em modelos murinos (Murai,

Yoneyama et al., 2003), sendo inclusive a migração após a ativação nos

órgãos linfóides secundários observada por métodos de bio-imagem

(Beilhack, Schulz et al., 2005).

Adicionalmente, modelos experimentais já demonstraram a

importância das células T virgens no desenvolvimento da DECHa, sendo

células T de memória incapazes de desenvolver a doença (Anderson, Mcniff

et al., 2003; Chen, Cui et al., 2004; Beilhack, Schulz et al., 2005). Ainda

nessa fase, Shlomchik demonstrou em 1999 que as células apresentadoras

de antígeno do hospedeiro são as responsáveis pela iniciação da DECHa

(Shlomchik, Couzens et al., 1999); logo em seguida Duffner demonstrou que

apenas as células dendríticas são necessárias, sem contribuição de células B

(Duffner, Maeda et al., 2004). Finalmente, ainda nessa fase, foi descrito

que células T amadurecidas funcionalmente para o fenótipo Th2, produtor

de interleucina-4, são incapazes de desenvolver a DECHa (Krenger, Snyder

et al., 1995) e, além disso, inibem a DECHa mediada por células Th1

produtoras de interferon-gama (Fowler, Kurasawa et al., 1994).

Após essas interações celulares e moleculares os linfócitos passarão

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à terceira fase do processo, que consiste na expansão clonal das células alo-

reativas. Essa expansão culmina no aumento do número de células capazes

de causar danos aos tecidos do hospedeiro.

Finalmente, a última fase da DECH aguda é o resultado das fases

anteriores, entrando em jogo mecanismos efetores. Dentre eles, pode-se

citar a citotoxicidade mediada por linfócitos CD8, o aumento na produção

de citocinas inflamatórias e a citotoxicidade mediada por linfócitos CD4

utilizando vias alternativas como a via Fas-FasL. Finalmente, podem ser

evidenciados sinais clínicos da DECHa, que são a erupção cutânea, perda de

pêlos, perda de peso, falência de órgãos, mucosite, que ao longo de um

período variável, podem levar à morte.

Já a doença crônica tem uma incidência de aproximadamente 50% nos

pacientes que sobrevivem livres da doença de base após 100 dias de

transplante (Flowers, Parker et al., 2002). Esta forma é muito mal

caracterizada quanto aos mecanismos celulares, sabendo-se apenas que os

linfócitos também são responsáveis pelo desenvolvimento da patologia. No

entanto, existem dúvidas inclusive sobre quais linfócitos são os reais

responsáveis pela doença, podendo ser atribuídos aos infundidos

inicialmente, ou aos diferenciados no hospedeiro sobre um timo alterado

pelo tratamento e incapaz de realizar uma seleção negativa eficaz (Sakoda,

Hashimoto et al., 2007; Zhang, Hexner et al., 2007).

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1.10. Estratégias farmacológicas de prevenção e tratamento da

DECH

Devido a DECH permanecer como a principal causa de morbidade e

mortalidade relacionada aos transplantes, um regime profilático para

impedir o desenvolvimento da doença é extremamente necessário (Devergie,

2004). No entanto, mesmo a DECH tendo um papel deletério durante o

curso do transplante, a erradicação completa da doença está associada ao

aumento da recaída da doença original (Horowitz, Gale et al., 1990),

mostrando que a DECH tem uma associação direta com o efeito enxerto

contra tumor/leucemia, e que soluções radicais como a depleção de

linfócitos T do enxerto são igualmente prejudiciais ao paciente.

De uma forma bastante simplificada, a tabela abaixo mostra os

principais regimes profiláticos e de tratamento da DECHa (Devergie, 2004):

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Tabela 3 – Regimes profiláticos e de tratamento para a DECHa

Prevenção 1ª linha de tratamento 2ª linha de

tratamento

Ciclosporina + Metotrexate MP 2mg/Kg + esquema em curso Altas doses de MP

Depleção de linfócitos T ATG

Tacrolimus Tacrolimus

Micofenilato Mofetil

(MMF)

MMF

Metil-prednisolona (MP) Sirolimus

Sirolimus Anticorpos Monoclonais

Historicamente, o metotrexate (MTX) foi o primeiro tratamento

profilático para DECHa, sendo usado por volta dos anos 70. Somente em

1985, a ciclosporina A (CSA) foi incluída nos regimes profiláticos e nesse

período ocorreu um aumento expressivo no número de transplantes

alogeneicos, uma vez que esse fármaco teve um sucesso muito grande no

controle dessa patologia (Locatelli, Bruno et al., 2000; Hogan e Storb,

2004). Esse sucesso é devido a especificidade desse fármaco em inibir a

proliferação dos linfócitos T, através da inibição da produção de IL-2, ao

contrário dos efeitos citotóxicos e inespecíficos do MTX. No entanto, uma

grande limitação na terapia é a nefrotoxicidade causada pelos metabólitos

da CSA (Locatelli, Bruno et al., 2000).

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O uso do Tacrolimus em conjunto com o MTX está sendo indicado, já

que, em estudos de fase II e III, este se mostrou eficaz no controle da

DECHa (Nash, Antin et al., 2000). Esse fármaco, assim como a ciclosporina,

inibe as vias de ativação dos linfócitos T dependentes de cálcio in vitro e in

vivo, impedindo especificamente a ação da serina-treonina fosfatase

chamada calcineurina. Essa proteína é responsável pela desfosforilação de

fatores citoplasmáticos, como o fator nuclear de células T ativadas (NFAT,

do inglês nuclear factor of activated T cell), que sofre translocação para o

núcleo e atua na transcrição gênica de diversas interleucinas, parecendo

também atuar em ciclinas envolvidas na proliferação celular (Carvalho,

Teixeira et al., 2007). Além disso, o tacrolimus têm sua ação em doses

muito pequenas, o que preservaria a função renal (Hogan e Storb, 2004).

Outro fármaco promissor seria o sirolimus (rapamicina) que assim

como as duas anteriores parece agir nas mesmas vias de sinalização. No

entanto, o sirolimus não apresenta nenhuma nefrotoxicidade e suas funções

são aparentemente não competitivas com o tacrolimus. Quando estudadas in

vivo, a conjugação de tacrolimus, sirolimus e MTX não aumentou a

toxicidade renal e, quando comparado aos controles históricos, os

resultados de prevenção da DECHa pareceram promissores (Antin, Kim et

al., 2003).

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O MMF é utilizado para o controle de proliferação de linfócitos B e

T, esse fármaco impede a síntese de purinas pela via de novo, via

extremamente importante para os linfócitos no processo proliferativo (Mele

e Halloran, 2000; Holler, 2007).

A MP é um corticosteróide muito utilizado no tratamento da DECHa,

no entanto o seu papel profilático ainda é controverso. Atua como inibidor

de respostas inflamatórias, com supressão da produção de citocinas e ação

pró-apoptótica direta em linfócitos (Holler, 2007).

O tratamento da DECHa mais eficaz considerado igualmente um

indicador prognóstico importante, é a resposta a corticosteróides. O

corticosteróide mais utilizado é a MP, com doses de 2 mg/Kg/dia (Devergie,

2004; Holler, 2007). Os pacientes refratários à corticoterapia entram em

tratamentos de segunda linha, com diversos regimes de tratamento

diferentes (listados na tabela 3), sendo importante ressaltar que não

existem ainda estudos comparativos, nem padronização para essas terapias

(Holler, 2007).

Para o tratamento da DECHc, a prednisona e ciclosporina A

combinados, são os fármacos para a primeira linha de tratamento (Devergie,

2004), embora a sobrevida global só tenha sido estatisticamente superior

no grupo de alto risco de DECHc, quando a terapia foi realizada em dias

alternados de CSA e predinisona (Koc, Leisenring et al., 2002). No entanto,

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os pacientes refratários ao tratamento padrão são encaminhados para

diversas terapias alternativas, como:

• Irradiação de baixa dose de órgãos linfóides;

• Psoraleno com UVA;

• Fotoquimioterapia extracorpórea;

• MMF;

• Tacrolimus;

• Talidomida.

Da mesma forma que em DECHa, não existem estudos comparativos

entre os tratamentos de segunda linha para DECHc que estabeleçam os

protocolos e rotinas para o controle dessas doenças refratárias.

1.11. Modelos experimentais de DECH

Os modelos experimentais de DECH existentes, podem ser divididos

em 2 grandes grupos. Os modelos que utilizam animais recipientes que

recebem irradiação corpórea total (ICT) e os não irradiados (Hakim, Fowler

et al., 1998; Korngold e Sprent, 1999). Deve-se ressaltar que os modelos

com tratamentos quimioterápicos devem ser empregados apenas para

estudos de enxertia, sendo os resultados para DECH ainda controversos

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(Xun, Thompson et al., 1994). No caso dos animais que recebem ICT, existe

um mimetismo maior com o transplante alogeneico realizado em humanos,

devido à geração de um ambiente inflamatório importante para o

desenvolvimento da fase I da DECHa (Sandmaier, Mackinnon et al., 2007;

Schwarte, Bremer et al., 2007). Já nos modelos que utilizam camundongos

não-irradiados o que se sugere é o desenvolvimento de DECHc (Hakim,

Fowler et al., 1998). Essa sugestão é baseada no surgimento de patologias

associadas a doenças autoimunes, e não necessariamente refletem a pato-

fisiologia real da DECHc em humanos. Já que os animais nesse caso não são

irradiados, a realização só é possível na combinação de doadores parentais

em camundongos receptores F1 (incapazes de rejeitar as células do doador),

semelhante aos experimentos de Brent quando descobriu a DECH (Brent,

1995).

Além da combinação de linhagens comentada no parágrafo anterior, a

evolução da doença para a forma aguda ou crônica, dependerá em alguns

casos do número de células infundidas e dos subtipos linfocitários

infundidos (Sprent, Schaefer et al., 1990; Korngold e Sprent, 1999).

Dentre as análises realizadas para o acompanhamento da progressão

da DECH, as mais importantes estão listadas abaixo:

• Avaliação da sobrevivência após o transplante;

• Avaliação da perda de peso relativa;

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• Avaliação das condições gerais do animal (postura, pele,

agilidade, etc);

• Histopatologia dos órgãos alvo.

Dentre os modelos mais conhecidos, os que geram DECHa são os que

utilizam camundongos das cepas C57BL/6 (B6) ou C57BL/10 (B10) como

doadores e camundongos F1 irradiados (normalmente B6D2F1) ou B10.BR

como recipientes (Hakim, Fowler et al., 1998; Korngold e Sprent, 1999).

Nesse modelo existe uma disparidade de MHC tanto de classe I como de

classe II. Já nesse momento percebe-se que o modelo murino apresenta

disparidade em antígenos maiores de histocompatibilidade, embora seja tido

como informativo sobre uma doença compatível com a encontrada em seres

humanos no contexto de identidade HLA. Existem também modelos que

utilizam disparidades apenas em moléculas de MHC de classe I ou classe II,

necessários para demonstrar o papel tanto de CD8 quanto de CD4 no

desenvolvimento da DECHa, respectivamente (Hakim, Fowler et al., 1998;

Korngold e Sprent, 1999). Esses experimentos demonstraram que ambos os

subtipos de linfócitos T contribuem para a doença aguda. No entanto,

camundongos transplantados com células de doadores incompatíveis apenas

em classe I apresentam atraso na curva de mortalidade pós-transplante em

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comparação com combinações doador-recipiente que apresentam

disparidade em classe II (Sprent, Schaefer et al., 1988).

Os modelos crônicos podem ser desenvolvidos em camundongos

parentais de BALB/C em recipientes F1(BALB/C x A/J) não irradiados,

através da transferência de células parentais de doador BALB/C (Hakim,

Fowler et al., 1998). Nesse caso, também existe uma disparidade de MHC

tanto de classe I como de classe II, mas os animais desenvolvem uma

doença crônica, mediada por células Th2, caracterizada por síndromes

autoimunes em diversos sistemas, incluindo: Glândulas salivares, juntas,

músculo, intestino e unhas (Claman, Jaffee et al., 1985; Declerck, Draper et

al., 1986). Outro modelo seria com doadores DBA/2 em receptores B6D2F1

não irradiados, que apresentam um quadro de DECHc com desenvolvimento

de glomérulo-nefrite (Kuppers, Suiter et al., 1988).

Um modelo de estudo de DECH muito interessante é o que utiliza o

doador LP/J em receptores B6 irradiados. Nesta situação existem

disparidades apenas em antígenos de histocompatibilidade menores,

semelhante ao que ocorre no transplante em humanos. Nesse caso,

transferências com baixa dose de linfócitos T, cerca de 2 x 107 células por

animal, fazem doença crônica com desenvolvimento de esclerodermia. Em

contrapartida, a transferência de números maiores de linfócitos, cerca de 5

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x 107 células por animal, fazem doença aguda letal com acometimento de

intestino (Declerck, Draper et al., 1986).

Outro modelo bastante interessante é o que utiliza células de

doadores B10.D2 em recipientes BALB/C. Nessa combinação, ocorre

também uma disparidade apenas em antígenos menores e o que determina a

evolução da doença é a dose de irradiação. Altas doses na faixa da

letalidade (cerca de 900 cGy) levam ao desenvolvimento de DECHa, e doses

sub-letais (cerca de 600 cGy) induzem uma doença crônica com

esclerodermia (Claman, Jaffee et al., 1985).

Apesar dessas diferenças entre os modelos experimentais de DECH,

tanto agudo como crônico e a doença no homem, que se pretende estudar

através destes modelos, deve-se ter em mente que muito pode se aprender

sobre a fisiopatologia da doença e sobre novos métodos de controle de

desenvolvimento da mesma em camundongos. No entanto, é indiscutível a

necessidade de investigação clínica e de busca de correlação dos dados

encontrados na bancada como os dados avaliados à beira do leito. A

mensagem é que diversas lições podem ser aprendidas com os modelos

experimentais, mas todas são lições que devem ser postos à prova em

ensaios clínicos para que sua validade seja confirmada.

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1.12. Estratégias experimentais de controle da DECH aguda

Assim que ficou claro que a célula T era a responsável pela DECH

aguda, a primeira estratégia de controle da doença foi retirar os linfócitos

do produto a ser infundido. Esse procedimento realmente impediu o

desenvolvimento da DECHa, mas evidenciou outros papéis do linfócito T que

antes eram desconhecidos no TCTM. Primeiramente, o papel de facilitador

da pega do enxerto, pois nesses transplantes ocorria uma maior incidência

da falência medular, gerando hipóteses de que o linfócito T poderia ser

responsável pela produção de fatores de crescimento indispensáveis à

hematopoiese (Monteiro, Benjamin et al., 2005), ou ainda, impedir a rejeição

mediada por células imuno-competentes residuais do hospedeiro (Cudkowicz

e Bennett, 1971a; 1971b). Além disso, os transplantes depletados de

linfócitos T totais apresentam uma incidência maior da recaída da doença de

base do paciente (Maraninchi, Gluckman et al., 1987; Horowitz, Gale et al.,

1990; Glass, Uharek et al., 1998). Com isso, se demonstra um papel

imunoterapêutico do TMO que antes não se discutia. Esse efeito é chamado

efeito enxerto contra leucemia (ECL) e agora é considerado indispensável

para o sucesso do TCTH (figura 5).

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Dessa forma, diversos trabalhos começaram a investir na modulação

da ativação linfocitária, tentando inibir a DECH com a manutenção dos

efeitos benéficos dos linfócitos (Blazar e Murphy, 2005).

Primeiramente discutirei as estratégias que utilizam as vias de

sinalização intracelular como alvo terapêutico. A primeira evidência de que

esses alvos poderiam ser interessantes partiu de estudos experimentais

com o inibidor de histona desacetilase chamado ácido hidroxâmico

suberoilanide (SAHA, do inglês suberoylanide hydroxamic acid). Esse

Figura 5 – O papel do linfócito T no TMO

O linfócito T tem papel central no TMO, pois atua facilitando a pega do transplante, é responsável direto da DECH e efeito enxerto contra leucemia (ECL)

ECL

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fármaco aumenta a acetilação de histonas e, consequentemente, altera a

expressão gênica (Leoni, Zaliani et al., 2002). Já havia sido descrito como

regulador negativo da produção de citocinas inflamatórias como IL-1, IL-12

e TNF-α in vivo. Em modelos experimentais de DECHa, foi demonstrada a

proteção contra o desenvolvimento da doença e a manutenção do efeito

enxerto contra tumor (Reddy, Maeda et al., 2004).

Outro fármaco utilizado foi o bortezomid, que é um inibidor de

proteassoma, recentemente aprovado para o tratamento de mieloma

múltiplo (Kane, Bross et al., 2003). Estudos demonstraram que o alvo

principal do bortezomid é o NF-kB, que é regulado pela degradação do seu

inibidor IkB, um processo dependente do proteossoma. Em modelos de

DECHa, esse inibidor de proteassoma foi capaz de inibir o desenvolvimento

da patologia, desde que administrado imediatamente após o transplante

(Sun, Welniak et al., 2004).

Outra estratégia de inibição de DECHa é utilizar como alvo as

citocinas que medeiam o desenvolvimento da doença. Obviamente, as

citocinas Th1, como o IFN-g, foram os primeiros alvos escolhidos. No

entanto, camundongos geneticamente deficientes para IFN-g, quando

utilizados como doadores, apresentaram aumento na incidência de DECHa,

sugerindo um papel protetor dessa citocina na patofisiologia da doença

(Murphy, Welniak et al., 1998). No entanto, o desvio de fenótipo de ativação

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linfocitária para Th2 impede o desenvolvimento da doença (Krenger, Snyder

et al., 1995) e protege frente ao desafio apresentado pela infusão de

linfócitos totais de um baço não manipulado (Fowler, Kurasawa et al., 1994).

Já a IL-12 parece ter efeitos contraditórios quando injetada exógenamente

em momentos diferentes do transplante, podendo aumentar ou diminuir a

doença aguda (Sykes, Pearson et al., 1999). Alternativamente, o tratamento

com anticorpos anti-TNF-α parece proteger contra a DECHa em modelos

experimentais (Wall e Sheehan, 1994) e atualmente estão em ensaios

clínicos para assegurar sua eficácia (Ferrara, 2007).

Outra citocina que aparentemente era promissora no combate ao

desenvolvimento da DECHa é o fator de crescimento de queratinócito

(KGF). Nesse caso a tentativa é reconstruir a barreira lesada pelo

condicionamento, impedindo a re-ativação da imunidade inata. Em modelos

experimentais, o KGF apresentou resultados impressionantes (Krijanovski,

Hill et al., 1999), mas em humanos os primeiros ensaios clínicos não

obtiveram o mesmo sucesso (Blazar, Weisdorf et al., 2006).

Uma estratégia ainda muito pesquisada é utilizar como alvo

terapêutico as moléculas co-estimulatórias, responsáveis pela plena ativação

do linfócito T. Dentre as estratégias já estudadas, um primeiro estudo

clínico nessa linha usou a molécula do fator 4 associado a linfócito T

citotóxico fusionado a imunoglobulina (CTLA4-Ig, do inglês cytotoxic T

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lymphocyte-associated factor 4 immunoglobulin) que compete com o CD28

pela molécula B7 presente na membrana das APCs (Blazar, Taylor et al.,

1994). Com isso, ocorre a inibição do segundo sinal dado pelas APCs e,

conseqüentemente, a DECH aguda é diminuída. Outro protocolo visou inibir a

interação do CD40L presente nos linfócitos ativados com o CD40 presente

na APC, com anticorpos anti-CD40L (Blazar, Taylor et al., 1998). A ligação

do CD40L aumenta a capacidade de co-estímulo e produção de citocinas pela

APC, mecanismo importante para a ativação subseqüente dos outros

linfócitos que venham a interagir com essa APC.

Além das estratégias in vivo de bloqueio de moléculas co-

estimulatórias, muito tem sido feito in vitro para gerar células tolerizadas

ou ainda selecionadas negativamente, com o objetivo de impedir o

desenvolvimento da DECHa. Culturas com células apresentadoras de

antígeno do hospedeiro, estabelecidas na presença de citocinas anti-

inflamatórias como o TGF-β e IL-10, ou ainda na presença de CTLA-4Ig,

foram capazes de inibir o desenvolvimento da doença (Guinan, Boussiotis et

al., 1999). Por outro lado, a eliminação de células ativadas, após uma reação

mista leucocitária, por seleção negativa baseada em marcadores de ativação

(Fehse, Frerk et al., 2000), por estratégias de gene suicida (Drobyski,

Morse et al., 2001), por morte celular induzida por ativação (AICD, do inglês

activated induced cell death) (Hartwig, Robbers et al., 2002) ou ainda por

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fotoativação (Truitt, Johnson et al., 1999; Chen, Cui et al., 2002) também

foram capazes de inibir o desenvolvimento dessa patologia.

Finalmente, as terapias celulares com células potencialmente

controladoras da aloreatividade são alvos de intensos estudos

experimentais. As primeiras da lista são as células T regulatórias, que já

demonstraram sua capacidade supressora em modelos de DECHa, tanto no

controle da doença como alterando a cinética de proliferação das células

CD4+CD25- (Cohen, Trenado et al., 2002; Hoffmann, Ermann et al., 2002;

Jones, Murphy et al., 2003; Trenado, Charlotte et al., 2003). Associado a

isso, foi verificado que a pré-ativação dessas células aumenta a sua

eficiência do ponto de vista da regulação da alo-reativatividade (Taylor,

Lees et al., 2002). Estudos em expansão dessas células para utilização em

terapias celulares em seres humanos já estão em curso. Toda a esperança

nessas células é reforçada por recentes descobertas em humanos, onde

diversas correlações foram estabelecidas entre a presença dessas células

em tecidos-alvo de DECHa (Rieger, Loddenkemper et al., 2006), ou em

sangue periférico (Schneider, Munder et al., 2006), e o desenvolvimento da

doença.

Além das células T regulatórias, a depleção de APCs pela ação de

células NK foi eficiente em modelos murinos e preveniu o desenvolvimento

de DECHa (Ruggeri, Capanni et al., 2002). Como a citotoxicidade mediada

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por células NK depende da ausência de reconhecimento de moléculas de

HLA na célula alvo, a histo-incompatibilidade entre as células NK do doador

e as células apresentadoras de antígeno do recipiente, permite a depleção in

vivo destas células. A identificação de combinações doador e recipiente

favoráveis a citotoxicidade mediada por células NK, possivelmente,

permitirão condicionar o paciente antes da infusão dos linfócitos T e

impedirão o desenvolvimento da DECHa (Shlomchik, Couzens et al., 1999;

Giebel, Locatelli et al., 2003).

Outro tipo celular que desperta muito interesse atualmente são as

células mesenquimais. Sugere-se que essas células estão envolvidas não só

na prevenção (Lazarus, Koc et al., 2005) mas também no tratamento de

DECHa (Ringden, Uzunel et al., 2006). Nesse caso, os resultados em

humanos precederam os resultados experimentais, mas pouco se sabe a

respeito dos mecanismos envolvidos na regulação aloreativa. In vitro já foi

demonstrado o potencial inibitório sobre a proliferação de linfócitos T,

tanto com células mesenquimais autólogas como alogeneicas, sugerindo a

utilização de qualquer doador, mesmo histo-incompatível, como fonte de

células mesenquimais para uso terapêutico (Le Blanc, Tammik et al., 2003).

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1.13. Resultados anteriores do nosso laboratório e perspectivas

Nosso trabalho teve início a partir de uma questão clínica que ainda

encontrava-se pouco explorada em humanos. Essa questão comparava a

incidência de DECHa entre os TCTH utilizando o aspirado de medula óssea

(TCTM) e o que utilizava o sangue periférico mobilizado (TCTP), mostrando

que, apesar do número 30 vezes maior de linfócitos T presentes nesse

último produto, a incidência de DECHa era semelhante (Przepiorka,

Anderlini et al., 1997; Ringden, Remberger et al., 1999; Bensinger, Martin et

al., 2001; Korbling e Anderlini, 2001). A hipótese mais aceita para explicar

esse fenômeno é baseado em experimentos em camundongos, realizados no

grupo do professor Ferrara. Seus experimentos demonstram que após o

tratamento com G-CSF in vivo existe um desvio de resposta dos linfócitos

para um fenótipo Th2, com proteção a DECHa (Pan, Delmonte et al., 1995).

Em 2001, resolvemos estudar as diferenças entre os linfócitos presentes

em ambos os materiais em humanos e comprovar se o mesmo desvio para

Th2 era observado. Nessa época não existiam relatos na literatura que

comparassem esses transplantes em humanos.

A partir dessa pergunta, nosso grupo descreveu, em 2003, que os

linfócitos presentes no TCTP eram incapazes de produzir citocinas tanto

Th1 como Th2 quando avaliadas ex vivo (Vasconcelos, Santos et al., 2003).

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Em seguida, demonstramos a presença de granulócitos de baixa densidade

(GBD) nesses materiais após o tratamento do doador saudável com G-CSF

por 5 dias, subcutaneamente. Nesse mesmo estudo, esses GBD

demonstraram-se capazes de inibir ativamente a produção de citocinas em

ensaios ex vivo com amostras de sangue periférico e técnicas de ativação

linfocitária e marcação intra-citoplasmática específica para IFN-g e IL-4

(Vasconcelos, Diamond et al., 2001). Fomos capazes de gerar essas células in

vitro durante o tratamento com G-CSF a partir de neutrófilos maduros e

esses apresentavam certa capacidade inibitória sobre a produção das

mesmas citocinas linfocitárias.

A pergunta que nos moveu adiante foi: Se realmente essas células

têm algum papel no controle de desenvolvimento da DECHa em humanos, a

geração delas in vitro ou in vivo em modelos experimentais poderia ser

capaz de inibir a DECHa?

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2. Objetivos

• Verificar se o tratamento de camundongos in vivo e in vitro

com rhG-CSF gera granulócitos de baixa densidade;

• Avaliar a capacidade desses granulócitos em inibir a produção

de γ-IFN por linfócitos T;

• Avaliar a capacidade imuno-moduladora desses granulócitos de

baixa densidade no desenvolvimento da DECHa experimental.

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3. Material e Métodos

3.1. Animais

Todos os animais utilizados nesse trabalho foram criados no biotério

do Centro de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Rio de Janeiro,

Brasil). As linhagens utilizadas foram fêmeas A/J (H-2a), C57BL/6 (H-2b) e

machos [C57BL/6 x BALB/c] F1 (H-2b x H-2d). Estes últimos foram

utilizados como recipientes de transplante de medula óssea e

obrigatoriamente têm mais de 10 semanas de vida. Esses animais eram

mantidos em caixas com micro-isoladores para a manutenção de um

ambiente asséptico. Nas outras linhagens listadas, os animais sempre foram

utilizadas com idade entre 8 e 10 semanas.

3.2. Reagentes

- Tampão Fosfato – PBS – pH: 7,2 - Sigma Chemical Co, MO, Estados

Unidos

- Forbol Miristato Acetato – PMA - Concentração de uso 20 nM -

Sigma Chemical Co, MO, Estados Unidos

- Ionomicina - Concentração de uso 2 μM - Sigma Chemical Co, MO,

Estados Unidos

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- Monensina - Concentração de uso 3 μM - Sigma Chemical Co, MO,

Estados Unidos

- Saponina 0,3% em PBS - Sigma Chemical Co, MO, Estados Unidos

- Paraformaldeído 2% em PBS - Sigma Chemical Co, MO, Estados

Unidos

- G-CSF humano e recombinante – Biosintética, SP, Brazil

- Catalase – Merck, Darmstadt, Alemanha

- Soro Fetal Bovino – Gibco, MD, Estados Unidos

- Hystopaque® 1.077 - Sigma Chemical Co, MO, Estados Unidos

- Anti-CD4 FITC clone GK1.5 – eBiosciences, CA, Estados Unidos

- Anti-CD8 Cy clone 53-6.7– eBiosciences, CA, Estados Unidos

- Anti-CD3 FITC clone 145-2C11 – eBiosciences, CA, Estados Unidos

- Anti-CD5 PE clone 53-7.3 – eBiosciences, CA, Estados Unidos

- Anti-IFN-γ PE clone XMG1.2 – eBiosciences, CA, Estados Unidos

- Anexina V FITC – Invitrogen, CA, Estados Unidos

- Iodeto de propídeo - Invitrogen, CA, Estados Unidos

- Di-hidro-rodamina 123 - Sigma Chemical Co, MO, Estados Unidos

- Meio de cultura celular DMEM - Sigma Chemical Co, MO, Estados

Unidos - suplementado com vitaminas, aminoácidos essenciais, não-

essenciais e L-glutamina 200 mM - Invitrogen, CA, Estados Unidos

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3.3. Obtenção de suspensão de esplenócitos de camundongo

Após a eutanásia do camundongo C57BL/6 ou A/J, foi aberta a

cavidade peritoneal em capela de segurança biológica em condições estéreis.

O baço do camundongo foi retirado e acondicionado em placas de cultura

contendo PBS com 2% de soro fetal bovino (SFB). Com auxílio de um pedaço

de tecido de algodão (trama 44) e pinças curvas, o baço foi macerado de

forma a obter uma suspensão de esplenócitos, enquanto a cápsula do órgão

ficou aprisionada no tecido de nylon. Em seguida, a suspensão celular foi

transferida, com pipetas pasteur, para tubos Falcon de 15 mL para

posterior processamento ou cultivo celular. Os tubos que continham as

células em suspensão foram acondicionados em um container de isopor com

gelo até o momento do processamento.

3.4. Obtenção de suspensão de esplenócitos de camundongo

separados por lã de nylon

A partir da suspensão de esplenócitos, foram realizadas separações

celulares por colunas de lã de nylon. Essa técnica visa separar as células

presentes no baço ou linfonodo devido a pouca aderência ao nylon dos

linfócitos T, quando comparados às outras células.

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Na extremidade inferior de uma coluna de lã de nylon estéril de 10

mL, montada em seringa, conectou-se um adaptador 3-vias e, neste, uma

agulha de coleta de sangue (25x7). Em seguida, em capela de segurança

biológica, adicionou-se meio de cultura DMEM com 10% de SFB a 37ºC até

completar a coluna. Logo após, retiraram-se as bolhas presas na coluna com

batidas leves na mesma. Incubou-se essa coluna por 45 minutos na estufa de

CO2, tomando o cuidado de cobrir a coluna para manter a esterilidade.

Em seguida, aplicaram-se 108 células provenientes da suspensão de

esplenócitos à coluna, num volume de 2 mL, abrindo-se o adaptador 3-vias

durante a aplicação, o que permitiu que a suspensão entrasse na coluna.

Adicionou-se mais 1 mL de meio com soro acima da suspensão, de forma a

permitir que todas as células entrassem em contato com a coluna e evitar

que a mesma não secasse na parte superior. Em seguida, incubou-se a coluna

por mais 45 minutos na estufa.

Após a incubação, permitiu-se que as células não aderentes saíssem

da coluna, abrindo o adaptador 3-vias com um fluxo controlado e

recolhendo-se a suspensão em um tubo falcon de 15mL estéril, na cabine de

segurança biológica. A confirmação da pureza dos linfócitos T coletados foi

realizada por citometria de fluxo, com marcações específicas com o

anticorpo anti-CD3 FITC. A partir desta etapa chamamos essas células de

células esplênicas de lã de nylon (CELN).

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3.5. Obtenção de suspensão de células de medula óssea de

camundongo

Após a eutanásia do camundongo C57BL/6 ou A/J, com auxílio de

material cirúrgico apropriado, foram retirados tíbias e fêmures dos

camundongos em capela de segurança biológica. Em seguida, com auxílio de

bisturis foram retiradas as epífises destas, seguindo-se a lavagem da

cavidade do osso com agulhas e seringas, contendo PBS com 2% de SFB.

Para as tíbias foram utilizadas agulhas de insulina (13x8) e para os fêmures

agulhas de coleta de sangue (25x7). A suspensão celular proveniente dessa

lavagem foi recolhida em tubos Falcon de 15 mL para o posterior

processamento ou cultivo celular. Os tubos que continham as células em

suspensão foram acondicionados em um container de isopor com gelo até o

momento do processamento.

3.6. Preparo de granulócitos de baixa densidade in vitro

Para o preparo de granulócitos de baixa densidade, foram utilizados

tanto suspensões de esplenócitos como de medula óssea. Em ambos os casos,

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as células foram separadas por gradiente de densidade de Ficoll-Hypaque.

Todo o procedimento foi realizado de forma estéril em capela de segurança

biológica. Para tal, foi adicionado 1 parte do gradiente ao tubo Falcon,

seguido da adição cuidadosa de 2 partes da suspensão celular obtida

anteriormente. Após o gradiente ser montado, e o tubo fechado, este

sistema foi centrifugado por 25 minutos a temperatura ambiente (25ºC),

numa velocidade de 450g. Após a centrifugação, as células mais densas que

o gradiente, que se encontravam no fundo do tubo, foram recolhidas e

lavadas com PBS 2% SFB por 2 vezes e resuspendidas em DMEM com 10%

de SFB. Essas células foram chamadas de granulócitos de alta densidade

(GAD), já que a composição preponderante de leucócitos, nessa fração, era

de granulócitos.

Em seguida, os GAD foram quantificados em hemocitômetro e

plaqueados na concentração de 4x106 células/mL em placas de cultivo

celular de 6 poços, num volume final de 5 mL de DMEM com 10% de SFB. Em

seguida, foi adicionado a cada poço 200 ng/mL de rhG-CSF.

Essa cultura foi mantida em estufa de CO2 a uma temperatura de

37ºC por 15 horas. O passo seguinte consistiu na recuperação das células

com auxílio de uma pipeta Pasteur e, posteriormente, da passagem dessa

suspensão por um novo gradiente de densidade. O gradiente foi

centrigugado da mesma forma que o anterior, mas a recuperação das células

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foi realizada na fração de densidade inferior ao gradiente. Em seguida as

células foram quantificadas e mantidas em gelo para conservação até o

próximo passo de cultivo celular ou transferência celular.

3.7. Cultura para pesquisa de citocinas intra-celulares

A técnica utilizada para a pesquisa de citocinas por citometria

baseia-se numa cultura com PMA na concentração final de 20 nM e

ionomicina (2 μM), na presença de Monensina (3 μM). O PMA é uma molécula

lipossolúvel que atravessa livremente as membranas celulares, o que facilita

a sua utilização. Este composto é um análogo estrutural do diacilglicerol

(DAG) segundo mensageiro intracelular que está envolvido com diversas vias

de ativação e proliferação celular, através da ativação da proteína quinase

C. A ionomicina que é um ionóforo de cálcio, que permite o influxo de cálcio

para o citoplasma da célula. A ionomicina também é lipossolúvel e atravessa

livremente as membranas; com isso, a liberação de cálcio de reservatórios

intracelulares também ocorre quando se utiliza este composto. Enfim, a

monensina é responsável pela desorganização do complexo de Golgi, inibindo

então o tráfego das vesículas através da organela. Com essa desorganização,

a secreção das citocinas é impedida, promovendo o acúmulo de citocinas no

interior da célula. Após 4 horas de cultivo, as células podem ser pesquisadas

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para a presença das citocinas de interesse, pois a concentração atingida é

ótima para este tipo de ensaio (Prussin e Metcalfe, 1995).

O procedimento inicia-se com o plaqueamento de 2x106 células

mononucleares por poço em uma placa de 24 poços, no volume final de 1 mL

de DMEM com 10% de SFB. Adiciona-se à cultura 20 nM de PMA e 2 μM de

Ionomicina por poço e, ainda, 3 μM de Monensina. Cultiva-se por 4 horas em

estufa de CO2 a 37°C.

3.8. Detecção de antígenos de superfície

Para a detecção de antígenos de superfície para análise por

citometria de fluxo, foram incubadas 106 células por 15 minutos à

temperatura ambiente, com 1μL dos anticorpos específicos. Após lavagem

com PBS, centrifugando as células a 450g por 5 minutos, procedeu-se à

leitura e análise em citômetro de fluxo. Caso a amostra não pudesse ser lida

no mesmo dia, esta era fixada em solução de parafolmaldeído 2% em PBS.

Todas as colorações foram realizadas em microplacas de 96 poços fundo em

“u”. As aquisições foram realizadas no citômetro Facscalibur® da B&D e as

análises realizadas no software CellQuest®.

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3.9. Citocentrifugação

Qualquer suspensão celular obtida pode ser citocentrifugada para

posterior coloração das células na lâmina. Para a realização da

citocentrifugação, foram ajustadas as concentrações celulares para 5 x 105

células por mL e, em seguida, 100 μL da suspensão foram aplicados no

citofunil que foi previamente preparado para a centrifugação. Após a

aplicação da amostra, essa foi centrifugada contra uma lâmina previamente

identificada, por 5 minutos a 100g. Finalmente, a lâmina era separada da

cubeta e guardada adequadamente para uma coloração posterior.

3.10. Coloração hematológica

As lâminas de citocentrifugado eram preparadas com 5 x 104 células

em 100μL, e coradas com o kit Hemacolor® (Merck, RJ, Brasil) de acordo

com o protocolo do fabricante.

3.11. Detecção de antígenos intra-celulares

Para a detecção de antígenos intracelulares, inicialmente era

realizada a cultura (descrita no item 2.7), para posterior marcação.

Primeiramente as células eram fixadas com solução de paraformaldeído 2%

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em PBS, previamente aquecido a 37°C, por 5 minutos. Após lavagem com PBS

para retirada do paraformol, com uma centrifugação a 450g por 5 minutos,

realizava-se a permeabilização com saponina, adicionando-se 10 µL da

solução de saponina 0,3% diretamente sobre o centrifugado. Neste

momento, eram adicionados os anticorpos específicos para as citocinas de

interesse e para marcadores apropriados para a identificação do subtipo

celular. Incubava-se a amostra por 30 minutos à temperatura ambiente,

seguido de lavagem com 200 µL de saponina. Após a última centrifugação de

450g por 5 minutos, ressuspendiam-se as células em PBS para leitura

imediata em citômetro de fluxo. Todas as análises de produção de citocinas

foram realizadas com no mínimo 10000 células CD3+. Todas as colorações

foram realizadas em microplacas de 96 poços fundo em u. As aquisições

foram realizadas no citômetro Facscalibur® da B&D e as análises realizadas

no software CellQuest®.

3.12. Detecção de espécies reativas de oxigênio

Para medir a produção de espécies reativas de oxigênio, utilizou-se a

dihidrorodamina 123. Esse reagente é um corante não-fluorescente que

difunde-se passivamente pela membrana celular, e que, após oxidação pelo

peróxido de hidrogênio, transforma-se na rodamina 123. A rodamina, por

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sua vez, fluoresce na cor verde em cerca de 523 nm. Desta forma, qualquer

célula que contenha em seu citoplasma a dihidrorodamina e ao mesmo tempo

peróxido de hidrogênio terá um aumento significativo de fluorescência na

faixa do verde (Richardson, Ayliffe et al., 1998).

Nesse trabalho, para o acompanhamento de produção intracelular de

peróxido de hidrogênio, as células foram ativadas por 5 minutos com 20nM

de PMA seguido de mais 5 minutos de incubação na presença de 45 uM de

dihidrorodamina 123. Todas essas incubações foram realizadas em banho-

maria a 37ºC. Nos casos específicos e sinalizados nos resultados, foram

adicionados aos tubos, antes da ativação com PMA e dihidrorodamina,

anticorpos anti-CD4/CD8 marcados com Cy-Chrome para identificação da

sub-população de linfócitos T. A incubação dos anticorpos foi de 15 minutos

a temperatura ambiente sob proteção da luz. Após essas incubações os

tubos foram mantidos no gelo até a leitura no citômetro de fluxo e

posteriormente analisados no software CellQuest.

3.13. Depleção de células com Complemento

Para depletar células de uma suspensão foi realizada uma técnica de

reação específica com anticorpos seguido da lise mediada pelo Complemento.

Para tal, as células eram incubadas com anticorpos na presença de

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Complemento de coelho a 20% por 30 minutos numa temperatura de 37ºC.

Após esse período, as células eram centrifugadas por 5 minutos a 450g e

re-incubadas por mais 30 minutos na presença de meio DMEM com 20% de

complemento de coelho, na mesma temperatura.

Nesse trabalho foram depletados linfócitos T com auxílio do

sobrenadante dos hibridomas GK1.5 (rico em anticorpo anti-CD4) e 53-6.7

(rico em anticorpo anti-CD8). Após a depleção das suspensões, a

confirmação da depleção era realizada com anticorpo anti-CD3 marcado com

fluoresceína e lido em citômetro de fluxo.

Já a depleção de granulócitos foi realizada com o sobrenadante do

hibridoma RB6-8C5 (rico em anticorpo anti-Gr1). Após a depleção de

granulócitos a confirmação era realizada por análise citológica e por

citometria de fluxo. Para a citometria as células eram marcadas com

anticorpo anti-Gr1 marcado com fluoresceína.

3.14. Transplante de medula óssea alogeneico

Para realização do transplante de medula óssea, os animais

hospedeiros receberam água acidificada (pH entre 2,5 a 3) por duas

semanas anteriores à irradiação e por mais 2 semanas após o transplante.

Como dito anteriormente, todos os animais hospedeiros eram mantidos em

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microsoladores e em grupos de no máximo 6 animais por caixa. No dia

anterior ao transplante, os animais hospedeiros receberam 850 cGy de

irradiação corpórea total. Essa irradiação era realizada em um aparelho de

irradiação modelo TH780C com uma fonte irradiadora de cobalto 60 (60Co)

e durante a irradiação os camundongos eram mantidos aprisionados em

caixas de acrílico.

Cerca de 24 horas após a irradiação, todos os animais recebiam a

transferência de 5 x 106 células provenientes da medula, após a depleção de

linfócitos T (MODT). Nos grupos identificados, os animais recebiam,

adicionalmente, 5 x 106 CELN para desenvolvimento de DECHa. Em alguns

grupos, foram ainda co-transplantados granulócitos de alta e baixa

densidade.

3.15. Avaliação da DECH aguda

Para o acompanhamento da DECHa foram analisados 3 parâmetros

principais: perda de peso; histopatologia de íleo terminal e mortalidade. Para

a realização dessas medidas, todos os animais foram marcados e pesados no

dia anterior à irradiação. Em seguida, todos os animais eram diariamente

observados para avaliação de mortalidade e a cada 2 dias os animais

sobreviventes eram pesados. A avaliação histopatológica foi realizada no dia

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20 após o transplante. Para a realização da histopatologia, todas as

amostras foram fixadas em formalina. E, após um período mínimo de 24

horas, as amostras foram incluídas em parafina. Todos os tecidos foram

cortados e corados com hematoxilina e eosina, para posterior observação

em microscópio ótico.

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4. Resultados

4.1. O tratamento in vivo e in vitro com rhG-CSF gera granulócitos

de baixa densidade (GBD)

Nosso grupo já havia previamente demonstrado que o tratamento, in

vivo, com G-CSF subcutâneo gera granulócitos de baixa densidade (GBD) na

corrente sanguínea de indivíduos sadios (Vasconcelos, Santos et al., 2003).

Adicionalmente, o tratamento in vitro com G-CSF alterava a densidade de

neutrófilos maduros de sangue periférico, tornando-os GBD.

Nossa pergunta nesse momento era: Em modelos murinos, o mesmo

fenômeno acontece?

Para avaliar a geração de granulócitos de baixa densidade in vivo,

camundongos C57BL/6 foram tratados por 5 dias com injeções subcutâneas

diárias contendo 1,2 ug/g de peso do animal de rhG-CSF. Após esse

tratamento, os esplenócitos dos camundongos foram separados por

gradiente de densidade e as células de baixa densidade foram analisadas

por microscopia ótica e citometria de fluxo. A análise morfológica das

células foi realizada após citocentrifugação com posterior coloração das

células com hematoxilina e eosina. A análise dos citocentrifugados mostrou

que cerca de 20% das células presentes na fração de baixa densidade do

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baço desses animais tinham um núcleo polimorfonuclear e citoplasma neutro,

compatíveis com neutrófilos (Figura 6a, painéis superiores). Na citometria

de fluxo, essas células apresentavam alta granulosidade e marcação

específica para o antígeno Gr-1 nas suas membranas, enquanto que os

marcadores CD14 e CD11b não apresentaram marcação positiva (Figura 6a,

painéis inferiores), enquanto que nos animais controles, não tratados com

rhG-CSF, o percentual de granulócitos é menor que 1% (dados não

mostrados).

Para avaliação da geração de granulócitos de baixa densidade in vitro,

foram realizadas culturas com a fração de alta densidade das células do

baço de camundongos C57BL/6. Essas culturas eram realizadas na presença

de rhG-CSF por 15 horas na concentração de 200 ng/mL dessa citocina.

Após essa cultura a fração de baixa densidade era recolhida e analisada

morfologicamente e por citometria de fluxo. Na análise morfológica, os

citocentrifugados corados com H&E mostraram a presença de cerca de 90%

de células com o núcleo polimorfonuclear e citoplasma neutro, idênticos aos

gerados in vivo (Figura 6b, painéis superiores). A análise de citometria de

fluxo nessa população demonstrou que as células possuem o fenótipo

também idêntico ao gerado in vivo, sendo elas Gr-1+ CD14- CD11b- (Figura

6b, painéis inferiores). A geração de granulócitos de baixa densidade a

partir de medula óssea foi realizada da mesma forma que a anterior, e foi

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realizada a confirmação da presença de células Gr-1 positivas no segundo

gradiente de densidade (Figura 6c).

De acordo com a figura 6c, os GBD gerados a partir de medula óssea

apresentavam 2 picos de expressão do antígeno Gr-1. Esse dado, de acordo

com artigos de diferenciação hematopoética de granulócitos (Fleming,

Fleming et al., 1993), indicaria que as células com menor expressão de Gr-1

seriam imaturas. Para descartar essa possibilidade, as células foram

marcadas com um marcador de imaturidade SCA-1, presente em células

hematopoiéticas desde a célula tronco até o estágio de progenitor

hematopoiético. Nesse caso, os GBD gerados in vitro apresentam um número

diminuído de células imaturas quando comparado aos GDB gerados in vivo,

descartando essa possibilidade (Figura 6d).

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Figura 6 – O Tratamento in vivo e in vitro com rhG-CSF gera granulócitos de baixa densidade. Camundongos C57BL/6 foram tratados com injeções subcutâneas de rhG-CSF para posterior análises dos esplenócitos de baixa densidade, citocentrifugados e corados com H&E (A, painéis superiores, aumento de 40x e 100x). Esses mesmos esplenócitos foram marcados com anticorpos específicos de acordo com a indicação e analisados por citomeria de fluxo, a análise foi realizadas nas células totais após o gradiente de densidade e apenas nas células de alta granulosidade de acordo com a indicação (A, painéis inferiores). Esplenócitos de alta densidade de camundongos C57BL/6 foram cultivados por 15 horas com rhG-CSF e, em seguida, separadas novamente por um novo gradiente de densidade. As células agora de baixa densidade foram avaliadas morfologicamente em citocentrifugados corados com H&E (B, painéis superiores, aumento de 40x e 100x). Além disso, a mesma população foi avaliada por citometria de fluxo com os marcadores indicados na figura, todas as análises foram feitas na população total após o segundo gradiente (B, painéis inferiores). Células de alta densidade de medula óssea de camundongos C57BL/6 foram tratadas in vitro com rhG-CSF e, em seguida, submetidas a um novo gradiente de densidade onde as células de baixa densidade foram recolhidas e marcados com o anticorpo anti-Gr-1 para análise por citometria de fluxo (C). Granulócitos de baixa densidade de medula óssea gerados in vitro e granulócitos de baixa densidade de baço gerados in vivo (análise apenas das células de alta granulosidade) foram analizadas por citometria de fluxo com os anticorpos específicos anti-Gr-1 e Sca-1 (D).

A I n vivo

C

Gr-1 CD14 CD11b Gr-1

Células Totais Células com alta granulosidade

20 % 90 % 1 % 0 %

Gr-1

D MO in vitro

Baço in vivo

B

CD14 CD11b Gr-1

Células Totais

In vitro

95 % 1 % 2 %

4 2 3 91

1 25 2 72

MO In vitro

89 %

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4.2. GBD inibem a produção de IFN-g por linfócitos T através de

um mecanismo dependente de peróxido de hidrogênio

Nosso grupo já havia demonstrado previamente que, em humanos, a

inibição da produção de IFN-γ por linfócitos T era dependente de peróxido

de hidrogênio produzido por GBD (Vasconcelos, Santos et al., 2003).

Nossa pergunta nesse momento era: GBD gerados in vitro, da mesma

forma que em humanos, impedem a produção de citocinas através de um

mecanismo dependente de peróxido de hidrogênio?

Dessa forma, fomos avaliar, em modelos murinos, a produção

intracelular de IFN-γ por linfócitos T. O método escolhido foi a citometria

de fluxo. Na figura 7A, a primeira coluna representa o controle

experimental, onde as células do linfonodo mesentérico (LNM) de um animal

C57BL/6 foram estimuladas in vitro com anti-CD3 por 15 horas e re-

estimulados por 5 horas com PMA e ionomicina, na presença de monensina.

Este protocolo permite a posterior detecção de IFN-γ intracelular com

marcação concomitante de CD5, caracterizando a freqüência de linfócitos T

produtores dessa citocina. Nesse mesmo experimento, demonstrou-se que o

co-cultivo de LNM com GBD induzir uma inibição significativa da produção

de citocinas. Demonstrou-se, ainda, que tanto o co-cultivo com GAD como o

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co-cultivo com GBD na presença de catalase apresentam índices

semelhantes ao controle (Figura 7a).

Para eliminar a possibilidade da ausência de células T produtoras de

IFN-γ ser decorrente da morte das mesmas, avaliou-se a possibilidade de

morte por apoptose dos linfócitos T em presença de espécies reativas de

oxigênio, produzidas pelos neutrófilos tratados com G-CSF. O gráfico de

citometria (Figura 7B) mostra uma marcação dupla com annexina V

conjugada a fluoresceína e iodeto de propídeo (PI), na população linfóide. O

gráfico da esquerda da figura 7B, representa a população linfóide de um

linfonodo mesentérico cultivado sozinho e o segundo, a população linfóide do

linfonodo co-cultivado com GBD. Em ambos os casos, não fica evidenciada

morte expressiva, nem por apoptose (Annexina V+ PI-), nem por necrose

tardia (Annexina V+ PI+).

Uma vez que a catalase reverte a inibição a níveis do controle, o

experimento seguinte visa detectar a presença de peróxido de hidrogênio

em linfócitos T, já que este se difunde livremente através das membranas

celulares. Para detectar peróxido de hidrogênio foi utilizada a sonda di-

hidro-rodamina 123, que ao ser oxidada pelo peróxido é convertida a

rodamina 123 que fluoresce na cor verde e pode ser detectada por

citometria de fluxo. Nesse experimento, demonstrou-se que os GBD são

capazes de gerar peróxido de hidrogênio quando estimulados com PMA por

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5 minutos e que após a adição de catalase à cultura essa produção não é

diminuída. Já na população linfóide, apenas quando co-cultivados com GBD,

visualiza-se um aumento na intensidade da fluorescência detectada por

citometria de fluxo, correspondendo ao peróxido de hidrogênio. A adição de

catalase à cultura, abole completamente a marcação dos linfócitos,

indicando a produção externa de peróxido provavelmente pelos GBD (Figura

7C). Vale ressaltar que a catalase não modifica a fluorescência decorrente

da oxidação da rodamina nos granulócitos (Fig 7 C).

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Figura 7. GBD inibem a produção de IFN-g por linfócitos T num mecanismo dependente de peróxido de hidrogênio. (A) Linfonodos mesentéricos foram ativados com anticorpos anti-CD3 por 15 horas. Essas células foram ativadas e, posteriormente, cultivadas sozinhas (Co) ou co-cultivadas com GAD ou com GBD ou ainda GBD + catalase (1000 U/mL) e novamente ativadas com PMA, ionomicina e monensina por mais 5 horas. Após a cultura, as células foram marcadas com anticorpos anti-IFN-g e anti-CD5 de forma a quantificar as células T produtoras de IFN-g. Os resultados foram mostrados em percentual de resposta em relação ao controle. O percentual de células T produzindo IFN-g nos controles variaram entre 9% e 17%. Os números entre parênteses indicam o número de experimentos. As barras representam o erro padrão. * P<0,05. (B) Linfonodos mesentéricos cultivados ou não com GBD, assim como no painel A, foram avaliados para viabilidade celular com marcações específicas para annexina V e iodeto de propídeo. Os dados apresentados correspondem à região de linfócitos baseada em parâmetros de tamanho e complexidade por citometria de fluxo. (C) O conteúdo intracelular de peróxido de hidrogênio foi medido com a di-hidro-rodamina 123 em GBD (painéis superiores) ou linfócitos (painéis inferiores). Os GBDs foram cultivados na ausência (Estimulado) ou na presença de catalase (Estimulado + Catalase), ou foi mantido não marcado (Controle). A população CD4/CD8 de linfonodos mesentéricos pré-ativados foram cultivados sozinhos (Controle) ou com GBD na ausência (GBD) ou na presença (GBD+Catalase) de catalase. Os dados mostrados são histogramas de citometria de fluxo de GBD sozinhos ou linfócitos. Ressaltamos que a fluorescência da população de linfócitos só ocorre na presença de GBD.

0

20

40

60

80

100

LNM GAD GBD GBD +CATALASE

% d

e re

spos

ta d

o co

ntro

le

B

Annexina -V FITC

PI

LNM LNM + GBD

0 %

0,36 %

0,2 %

0,48 %

A

*

controle estimulado

estim / cat GBD

controle

+GBD

+GBD/ cat

DHR

Linf

C

(7) (3) (7) (3)

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4.3. O efeito protetor do baço de camundongos tratados com G-

CSF é mediado por granulócitos de baixa densidade

Existem na literatura demonstrações, tanto em modelos

experimentais (Pan, Delmonte et al., 1995; Zeng, Dejbakhsh_Jones et al.,

1997), quanto em pacientes humanos transplantados (Przepiorka, Anderlini

et al., 1997; Ringden, Remberger et al., 1999; Bensinger, Martin et al., 2001;

Korbling e Anderlini, 2001), de que o tratamento com G-CSF do doador com

posterior TCTP diminuem a incidência da DECHa, mesmo com o número

aumentado de linfócitos sendo infundidos.

Nossas perguntas nesse momento eram: 1) Existem granulócitos nas

células esplênicas de animais tratados com G-CSF, enriquecidas em

linfócitos T por coluna de lã de nylon?

2) Sendo a primeira pergunta positiva, a eliminação dessas células

com posterior transplante reverte a proteção ao desenvolvimento da

DECHa, em transplantes experimentais?

Dessa forma, procurávamos avaliar se essas células seriam capazes

de modular o desenvolvimento da DECHa in vivo. De acordo com a figura 8B,

pode-se observar que as células esplênicas de um animal controle separadas

por coluna de lã de nylon são preponderantemente linfóides, enquanto que os

camundongos tratados in vivo com G-CSF apresentam cerca de 20% de

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células de alta granulosidade positivas para Gr-1, por citometria de fluxo,

compatíveis com granulócitos neutrófilos.

Em seguida, foi realizado um experimento para avaliar a capacidade

desses granulócitos presentes no baço em modular in vivo o desenvolvimento

da DECHa experimental. A estratégia escolhida foi à retirada dos

neutrófilos “contaminantes” desse material por lise mediada por anticorpos

e complemento. Essa eliminação foi confirmada por citometria de fluxo no

terceiro gráfico da figura 8B. Sequencialmente, foi realizado o transplante

experimental, de acordo com a figura 8A, com quatro grupos experimentais.

O grupo controle negativo de DECHa com a transferência de apenas medula

óssea depletada de linfócitos T (MODT), apresentou uma sobrevida de 75%

ao longo de 12 semanas de acompanhamento (tempo esse suficiente para o

desenvolvimento da DECHa). Ao longo desse acompanhamento, os animais

foram pesados duas vezes por semana, gerando o gráfico de perda de peso

relativa ao peso inicial. Esse acompanhamento mostra uma perda de peso

inicial em todos os grupos associado à irradiação (Figura 8C).

Especificamente no grupo MODT, essa perda inicial é revertida e todos os

animais tendem a recuperar o peso inicial ao longo das semanas após o

transplante. Associado aos dados de sobrevida e perda de peso, os animais

foram analisados histo-patologicamente para confirmar a DECHa. Como essa

patologia acomete principalmente o trato gastro-intestinal, amostras de

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intestino delgado foram incluídas em parafina e posteriormente coradas

com hematoxilina e eosina para observação em microscópio ótico. Os

resultados da figura 9A mostram que esse grupo que recebeu apenas MODT

não apresentam sinais característicos de DECHa como infiltrado

mononuclear e destruição de células epiteliais das criptas intestinais.

Já o grupo controle positivo de DECHa recebeu a transferência de

MODT e células de baço de animais controle separado por coluna de lã de

nylon (MODT + CELN). Estes animais apresentaram uma sobrevida

significativamente menor que o grupo anterior, com apenas 25% de animais

sobreviventes ao longo de 12 semanas de análise (Figura 8A). A figura 8C

mostra que esse grupo apresenta uma perda de peso irreversível, já que a

maioria deles morre ao longo do acompanhamento. Histo-patologicamente

(Figura 9B), apresentou um importante infiltrado mononuclear na lâmina

própria, com destruição das células epiteliais das criptas intestinais. O

terceiro grupo experimental (MODT + CELNG) confirmou os dados prévios

da literatura (Pan, Delmonte et al., 1995; Zeng, Dejbakhsh_Jones et al.,

1997) pois camundongos doadores tratados com G-CSF apresentaram uma

menor incidência de DECHa, verificada por sobrevida semelhante à do grupo

MODT (Figura 8A). Os dados de perda de peso dos animais desse grupo

apresentaram um padrão muito variável após a queda inicial, no entanto é

importante ressaltar que a maioria dos animais terminou por recuperar o

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peso inicial (Figura 8C). Histo-patologicamente, os intestinos apresentaram

um infiltrado discreto, sem destruição da arquitetura do intestino delgado

(Figura 9C). Finalmente, a reversão da proteção após a eliminação dos

neutrófilos do CELNG (MODT + CELNG - G), mostrada através da morte de

todos os animais do grupo com apenas 2 semanas de acompanhamento,

sugere um papel primordial dessas células na proteção da DECHa. O

acompanhamento da perda de peso nesse grupo não foi possível devido à

morte acelerada de todos os animais (Figura 8C). Além desses resultados, a

análise do intestino desses animais demonstrou um intenso infiltrado de

células mononucleares na lâmina própria, com destruição importante de

células epiteliais presentes nas criptas intestinais (Figura 9D), com

ulcerações na camada epitelial. Todos esses resultados sugerem um papel

imuno-modulatório importante desses neutrófilos presentes no baço de

animais tratados com G-CSF, impedindo o desenvolvimento da DECHa.

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Figura 8. O efeito protetor do baço de camundongos tratados com G-CSF é mediado por granulócitos de baixa densidade. Camundongos F1 de C57BL/6 x BALB/c foram letalmente irradiados e receberam medula óssea depletada de linfócitos T somente (MODT) ou associado a células esplênicas enriquecidas em linfócitos T por coluna de lã de nylon (MODT + CELN), ou ainda células esplênicas após coluna de lã de nylon de um camundongo tratado in vivo com G-CSF (MODT + CELNG) e, finalmente, o mesmo material anterior depletado de células Gr-1 positivas (MODT + CELNG – G). (A) Percentual de animais sobreviventes ao longo do tempo. Teste Log rank: P < 0.05 tanto entre MODT + CELNG e MODT + CELNG – G como entre MODT e MODT + CELN. (B) CELN de camundongos C57BL/6 foram analisadas por citometria de fluxo para a presença de células Gr-1 positivas em animais controles, tratados com G-CSF (CELNG) e tratados com G-CSF e após a depleção com Gr-1 (CELNG – G). Essas células foram marcadas com anti-Gr-1 FITC e analisadas por histogramas, como indicado no material e métodos. Os pequenos painéis são confirmações de depleção de granulócitos apenas por gráficos de tamanho x complexidade (note o desaparecimento de células de alta complexidade no gráfico CELNG – G). (C) Os camundongos de cada grupo foram pesados antes da irradiação e duas vezes por semana ao longo do acompanhamento pós-transplante. Em seguida foram calculados e os percentuais de perda de peso assinalados nos grupos MODT, MODT + CELN, MODT + CELNG e MODT + CELNG – G. Os dados mostrados são representativos de 2 experimentos com 4 a 5 animais por grupo de transplante.

2% 20%

B CELN CELNG – G

CELNG

MODT MODT + CELN MODT + CELNG MODT + CELNG – G

A

Semanas após o transplante

C

1%

Gr1MODT

0 10 20 30 40 50 60 7070

80

90

100

% p

erda

de

peso

MODT + CELN

0 10 20 30 40 50 60 7070

80

90

100

MODT + CELNG

0 10 20 30 40 50 60 7070

80

90

100

Dias após o transplante

MODT + CELNG - G

0 10 20 30 40 50 60 7070

80

90

100 C1C2C3C4C5

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100

A

C

B

D

Figura 9. A histo-patologia confirma o papel imuno-regulatório das células Gr-1 positivas. Histo-patologia de intestine delgado. (A) Arquitetura das criptas intestinais mantida sem acúmulo de células inflamatórias na lâmina própria no grupo MODT. (B) Moderado infiltrado inflamatório de células mononucleares na lâmina própria (indicado por seta) associado a destruição de células epiteliais das criptas intestinais no grupo MODT + CELN. (C) Discreto infiltrado inflamatório na lâmina própria no grupo MODT + CELNG (indicado por seta). (D) Intenso infiltrado de células mononucleares com destruição de toda a arquitetura das criptas nos animais que receberam células de baço de camundongos tratados com G-CSF e depletados de granulócitos. Aumentos de 20x. Os dados são representativos de 2 experimentos com 4 a 5 animais por grupo.

MODT MODT + CELN

MODT + CELNG – GMODT + CELNG

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4.4. Granulócitos de baixa densidade gerados in vitro inibem

completamente a DECHa

Como demonstrado anteriormente, os granulócitos gerados in vivo

pelo tratamento com G-CSF são responsáveis pela proteção ao

desenvolvimento da DECHa. Resta saber se essas células quando geradas in

vitro também serão capazes de inibir a doença.

Nossa pergunta nesse momento era: Os GBD gerados in vitro após o

tratamento com G-CSF são capazes de inibir o desenvolvimento da DECHa?

Repetiu-se o protocolo de transplante anterior, mas agora com os

seguintes grupos experimentais: O grupo MODT, controle negativo de

DECHa com reconstituição hematopoética. Nosso segundo grupo foi o

MODT + CELN, controle positivo de DECHa. E, finalmente, adicionamos os

GBD na proporção de 1:1 com os CELN ao grupo anterior, formando o novo

grupo MODT + CELN + GBD.

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A MODT MODT + CELN MODT + CELN + GBD

Dias após o transplante

Semanas após o transplante

B

Figure 10. GBDs gerados in vitro inibem completamente a DECHa. Camundongos F1 de C57BL/6 x BALB/c letalmente irradiados foram reconstituídos apenas com MODT, ou MODT associado a CELN e MODT associado a CELN e GBD. (A) Percentual de animais sobreviventes ao longo do transplante. Teste Log rank: P < 0.05 entre MODT e CELN, P < 0.01 entre MODT + CELN + GBD e MODT e CELN. (B) Perda de peso percentual dos grupos MODT e MODT + CELN + GBD. Antes da irradiação e duas vezes por semana, os camundongos eram pesados e os resultados são calculados e graficados como percentuais de perda de peso em relação ao peso inicial. Os resultados são representativos de 2 experimentos de 4 a 5 animais por grupo.

MODT

0 10 20 30 40 50 60 7070

80

90

100

% p

erda

de

peso

MODT + CELN + GBD

0 10 20 30 40 5070

80

90

100 C1C2C3C4C5

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A figura 10A, que representa a sobrevida dos animais ao longo do

período pós-transplante, mostra que 75 % dos animais transplantados

apenas com MODT sobreviveram num período de 8 semanas. Na mesma

figura percebe-se que o controle positivo de doença apresentou um padrão

semelhante ao do experimento anterior, com apenas 20 % dos animais

sobrevivendo ao transplante. Surpreendentemente, o nosso principal grupo

experimental MODT + CELN + GBD apresentou uma sobrevida superior ao

grupo MODT, com 100 % de sobrevivência após o transplante. Esses animais

foram acompanhados por mais tempo e apresentaram sobrevida superior a

um ano após o transplante, apresentando apenas despigmentação nos pelos

do dorso e ventre (dados não mostrados), fenômeno também evidenciado no

grupo MODT.

Adicionalmente, foi avaliado o peso dos animais do grupo MODT +

CELN + GBD. A figura 10B mostra a comparação entre esse grupo e o

gráfico anterior do grupo MODT. Percebe-se que o padrão de recuperação

de peso no grupo que recebeu os GBD é mais lento do que o que recebe

apenas medula óssea, mas fica evidente a tendência em todos os animais

rumo à recuperação do peso inicial.

A avaliação da histo-patologia desses animais nos mostrou resultados

ainda mais surpreendentes. Percebe-se na figura 11B que o intestino delgado

dos camundongos transplantados não apresentou nenhum infiltrado

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significativo, na lâmina própria, com preservação do epitélio intestinal,

padrão histo-patológico compatível com o grupo MODT (Figura 11A e 9A).

4.5. A inibição da DECHa mediada por granulócitos requer

tratamento dos neutrófilos com G-CSF e histocompatibilidade

Nossos resultados até agora leva-nos a crer que granulócitos gerados

in vivo e in vitro com G-CSF impedem o desenvolvimento da DECHa. No

entanto, os experimentos in vitro da figura 7A levantam a hipótese de que

A B

Figure 11. A histo-patologia confirma que GBD gerados in vitro inibem completamente a DECHa experimental. Histo-patologia de intestino delgado. Preservação da estrutura de todo o epitélio intestinal e ausência de infiltrados de células mononucleares na lâmina própria em ambos os grupos MODT (A) e MODT + CELN + GBD (B). Aumentos de 20x. Os resultados são representativos de 2 experimentos com 4 a 5 animais por grupo.

MODT MODT + CELN + GBD

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apenas GBD tratados com G-CSF são capazes de inibir a produção de IFN –g

por linfócitos T.

Nossa pergunta nesse momento era: Da mesma forma que in vitro, os

GAD serão incapazes de inibir a DECHa experimental?

Para responder a essa pergunta, foi realizado um experimento de

transplante com os seguintes grupos: MODT + CELN + GBD e MODT + CELN

+ GAD. Após 20 dias da transferência de células, todos os animais foram

eutanasiados e seus intestinos delgados foram analisados histo-

patologicamente. A figura 12A mostra, novamente, que o co-transplante de

GBD inibe a DECHa e apenas um infiltrado discreto é observado, sem

destruição tecidual. Já o grupo que recebeu granulócitos maduros não

tratados com G-CSF (GAD) apresentaram um intenso infiltrado mononuclear

com destruição do epitélio intestinal, compatível com DECHa (figura 12B).

Em seguida questionamos ainda a necessidade de compatibilidade

entre os neutrófilos co-transplantados e os linfócitos T. Para resolver essa

questão, foram transplantados dois grupos experimentais: MODT + CELN +

GBD e MODT + CELN + GBD A/J. Onde GBD de camundongos A/J foram co-

transplantados com células de baço separadas em coluna de nylon de B6.

Da mesma forma que o anterior, os animais foram analisados por

histo-patologia de intestino delgado, vinte dias após a transferência das

células. Na figura 12C, observa-se um intenso infiltrado mononuclear na

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lâmina própria do intestino desses animais, mostrando a necessidade de

compatibilidade entre o doador/receptor e os granulócitos para a

evidenciação do papel imuno-modulador.

A B

C

Figure 12. A inibição da DECHa experimental requer ativação e histocompatibilidade dos granulócitos. Camundongos F1 de C57BL/6 x BALB/c irradiados receberam MODT + CELN + GBD de C57BL/6 (A), ou MODT + CELN + GAD também de C57BL/6 (B), ou ainda MODT + CELN + GBD de camundongos A/J (C). Depois de 20 dias do transplante todos os animais foram eutanasiados e realizou-se histo-patologia dos intestinos delgados. Nota-se um intenso infiltrado inflamatório na lamina própria dos animais que receberam GAD (B) e GBD A/J (C), indicados por setas. Aumentos de 20x. Os resultados são representativos de 2 experimentos.

MODT + CELN + GBD MODT + CELN + GAD

MODT + CELN + GBD A/J

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5. Discussão

5.1. Contextualização

Atualmente o transplante de células-tronco hematopoética é

realizado com diferentes fontes de células-tronco: o aspirado de medula

óssea (TCTM), o sangue periférico de um indivíduo tratado com doses

subcutâneas de G-CSF (TCTP) e o sangue de cordão umbilical (SCU). Além

de diferentes concentrações de células-tronco (Cottler-Fox, 1996;

Horowitz, 1999), esses materiais são compostos por diversos outros tipos

celulares que podem apresentar funções diferentes num transplante

hematopoiético.

Comparando-se apenas os dois primeiros materiais, sabe-se que um

TCTM carreia consigo uma quantidade de linfócitos T por quilo do indivíduo

a ser transplantado, trinta vezes menor que um TCTP. Sabendo que essas

células são determinantes da incidência e morbidade causadas pela DECHa,

é de se esperarar um aumento dessa doença no TCTP. No entanto, os

estudos clínicos demonstram uma incidência semelhante de DECHa grau 2 a

4 entre os dois tipos de transplante (Przepiorka, Anderlini et al., 1997;

Ringden, Remberger et al., 1999; Bensinger, Martin et al., 2001; Korbling e

Anderlini, 2001), sugerindo um possível papel imuno-regulador do G-CSF.

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5.2. Literatura

Esse achado clínico provocou a busca de um mecanismo imuno-

regulatório para o G-CSF e vários grupos apresentaram hipóteses baseados

em dados experimentais in vitro e in vivo.

Primeiramente, existe um único relato na literatura defendendo o

efeito direto do G-CSF sobre a célula T (Sloand, Kim et al., 2000). Essa

hipótese foi sustentada mesmo com a ausência de receptor para o fator de

crescimento, G-CSF, na membrana dos linfócitos, o que impediria a ação

direta deste. Desta forma, o maior número de relatos de células candidatas

a mediar a inibição concentra-se sobre os monócitos. Esses possuem

receptor para G-CSF e vários trabalhos demonstram alterações nessas

células após o tratamento com essa citocina (Ageitos, Varney et al., 1999;

Boneberg, Hareng et al., 2000; Nawa, Teshima et al., 2000). Estes

trabalhos propõem que a diminuição da expressão de moléculas co-

estimulatórias na membrana dos monócitos (Mielcarek, Martin et al., 1997)

faça com que a célula T receba apenas o primeiro sinal na ausência do

segundo, gerando anergia. Além da ausência de moléculas co-estimulatórias,

Mielcarek e colaboradores discutem o possível papel dos monócitos na

inibição da ativação linfocitária pela alta produção de IL-10 após o

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tratamento com G-CSF (Mielcarek, Graf et al., 1998). Outra hipótese

defendida para o papel dos monócitos nesse sistema foram publicadas em

2000 por Boneberg e colaboradores (Boneberg, Hareng et al., 2000) e Nawa

e colaboradores (Nawa, Teshima et al., 2000), ambos demonstrando a

inibição da produção de IL-12 pelos monócitos.

Além desses dados em monócitos, foi descrito em 2000 por Arpinati

et al. que após o tratamento com G-CSF in vivo, ocorre uma mobilização para

o sangue periférico de células dendríticas do tipo DC2 (Arpinati, Green et

al., 2000). Com isso, eles propõe que o tratamento com G-CSF poderia

desviar a resposta dos linfócitos T para um padrão fenotípico Th2, que seria

protetor a DECHa.

Estes dados reforçam a hipótese levantada por Ferrara e

colaboradores (Pan, Delmonte et al., 1995), a partir de estudos em modelos

experimentais, segundo a qual o G-CSF desviaria a resposta de células T

para Th2. Hipótese esta que é atualmente a mais aceita na comunidade

científica.

Discutindo especificamente os achados do grupo do professor

Ferrara (Pan, Delmonte et al., 1995), os autores mostram em modelos

experimentais que doadores tratados in vivo com G-CSF apresentam menor

capacidade de desenvolver DECHa que doadores não tratados. Nesse ponto,

nosso grupo reproduziu completamente os resultados de seu estudo (Figura

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8A). Com relação à histo-patologia, observamos que os animais do grupo

MODT + CELNG apresentaram um discreto infiltrado inflamatório na lâmina

própria que não se correlaciona com morte ao longo do acompanhamento.

Isso nos leva a postular que essas células possam ser linfócitos regulatórios

que não estão envolvidos com a agressão progressiva do intestino e, sim,

com o fenômeno protetor que confere a esse grupo uma sobrevivência de

75%.

Em seguida, o artigo demonstra que linfócitos CD4 e CD8 aumentam a

produção de IL-4 e diminuem a produção de IFN-g apenas em reações

mistas leucocitárias (MLR do inglês mixed leucocyte reaction) secundárias,

sendo as respostas primárias semelhantes entre os grupos que receberam

G-CSF e os que não foram tratados com essa citocina. É importante

ressaltar que os ensaios de MLR realizados nesse artigo tinham como

método a estimulação alogeneica por 48 horas, período em que os

granulócitos já estariam sofrendo apoptose (Vasconcelos, Santos et al.,

2003), fenômeno que se agravaria numa MLR secundária que certamente

transcorreu sem granulócitos. Dessa forma o desvio para Th2 percebido

pelo grupo nesse momento é compatível com os nossos dados, uma vez que

analisamos a produção de citocinas em momentos diferentes, com culturas

que possuem populações celulares distintas.

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111

Finalmente, os autores reativaram in vitro as células esplênicas dos

camundongos recipientes 13 dias após o transplante. O sobrenadante dessa

reativação com concanavalina A, apresentou um aumento da concentração de

IL-4 e diminuição da concentração de IFN-g no grupo de animais que

recebeu células de um doador tratados com G-CSF quando comparado ao

grupo que recebeu células de um doador não tratado. Novamente, a

avaliação da produção de citocinas pelos linfócitos, foi realizada num

período, que certamente os granulócitos transferidos já estariam ausentes.

Dessa forma, o desvio para Th2 não é incompatível com os nossos achados e

pode ser importante para a manuntenção da tolerância à longo prazo,

diferentemente dos nossos achados que poderiam permitir o controle da

fase 1 da DECHa.

Enfim, os dados do grupo do professor Ferrara, sugerem que

realmente existe um desvio de padrão fenotípico de resposta de linfócitos

T após o tratamento com o G-CSF; no entanto, não foi diretamente

demonstrada a relação direta entre o fenômeno e a inibição da DECHa. Por

outro lado, não foram realizados experimentos com camundongos

deficientes em IL-4, para demonstrar um papel decisivo para essa citocina

no controle da DECHa, nesse modelo específico. Por outro lado, nossos

dados são totalmente compatíveis com os resultados encontrados pelo grupo

do professor Ferrara, uma vez que a prevenção da DECHa mediada por GBD

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permite a ativação posterior dos linfócitos por células dendríticas do tipo

DC2, citadas anteriormente, resultando na geração de um aumento na

produção de citocinas Th2 evidenciados nesse artigo.

Essa hipótese, amplamente aceita, surge como a principal explicação

do paradoxo aparente representado pelo sucesso do transplante alogeneico

de sangue periférico mobilizado com G-CSF, pois este em princípio, deveria

ser um péssimo produto para a finalidade de transplantes, pois carreia um

número 30 vezes maior de linfócitos T maduros do que o encontrado no

aspirado de medula óssea, e deveria acarretar numa incidência e gravidade

maior da DECHa. No entanto, quando foram iniciados protocolos de

transplante desse tipo, a incidência de DECHa se mostrou muito semelhante

nos dois casos (Przepiorka, Anderlini et al., 1997; Ringden, Remberger et al.,

1999; Bensinger, Martin et al., 2001; Korbling e Anderlini, 2001). Associando

este dado clínico ao fato experimental de que células Th2 são incapazes de

gerar doença aguda (Fowler, Kurasawa et al., 1994), Pan e colaboradores

sustentam a teoria de desvio de fenótipo de ativação linfocitária após o

tratamento com o G-CSF como mecanismo para a proteção da DECHa nos

TCTP (Pan, Delmonte et al., 1995).

O mesmo fenômeno de desvio de fenótipo foi demonstrado

posteriormente, em humanos, por Sloand e colaboradores em 2000 (Sloand,

Kim et al., 2000). Nesse artigo, foi demonstrado que a frequência de células

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produtoras de citocinas Th2 é aumentada após o tratamento com G-CSF em

células humanas. Esse dado está em desacordo com os nossos achados em

humanos, mas o protocolo de ativação dos linfócitos nesse caso foi em 48

horas com fitohemaglutinina, tempo que impediria a ação dos GBDs, como já

tivemos oportunidade de demonstrar no contexto de reações mistas

leucocitárias, em ensaios que envolviam descanso por 48 horas antes da

reativação in vitro (Vasconcelos, Santos et al., 2003). Nesse artigo ainda

existe uma proposta de ação direta do G-CSF sobre os linfócitos in vitro.

5.3. Dados prévios do laboratório

Nosso grupo já havia demonstrado anteriormente, em humanos, que o

tratamento com G-CSF in vivo e in vitro, gera granulócitos de baixa

densidade (GBD). Demonstramos, ainda, que essas células têm função

inibitória sobre linfócitos T in vitro (Vasconcelos, Santos et al., 2003),

especificamente impedindo a produção de IFN-g e IL-4 por linfócitos CD3+.

Esses dados se opunham à literatura da época, tanto em modelos murinos

(Pan, Delmonte et al., 1995) como em humanos (Sloand, Kim et al., 2000),

uma vez que esta defendia um desvio de padrão de resposta de linfócitos ao

fenótipo Th2 após o tratamento in vivo com G-CSF.

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Mesmo com os nossos resultados iniciais sendo contraditórios aos

dados murinos de outros grupos, perguntamos se os GBD gerados in vivo e in

vitro em humanos também poderiam ser gerados no modelo experimental, e,

em caso positivo, se poderíamos avaliar a capacidade dessas células como

imuno-moduladoras da DECHa experimental.

5.4. Os dados atuais

Estudamos a geração in vivo e in vitro de GBD em camundongos

C57BL/6. A escolha dessa linhagem foi vinculada à posterior utilização

desses animais como doadores para o modelo de DECHa experimental.

A figura 6a mostra que o baço dos animais apresenta cerca de 20%

de GBD após o tratamento com 5 doses de rhG-CSF. Essas células

apresentam morfologia e fenótipo compatível com neutrófilos maduros. O

tratamento in vitro com G-CSF também é capaz de gerar granulócitos de

baixa densidade a partir de neutrófilos maduros separados por gradiente de

Ficoll, tanto de baço (figura 6b) como de medula óssea (Figura 6c).

A medula óssea apresentava maior rendimento final de GBD, uma vez

que o número de granulócitos presentes na medula é maior que no baço

desses animais. Este fato é extremamente importante, uma vez que

tínhamos a intenção de transferir essas células em um modelo de

transplante. Mesmo com essa vantagem numérica, por se tratar de um

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tecido hematopoiético, existia a possibilidade de contaminação da

preparação com granulócitos imaturos. Para descartar a presença de

granulócitos imaturos, foi realizada a marcação das células Gr-1 com SCA-1,

e a grande maioria das células Gr-1 presentes após o protocolo de geração

de GBD são SCA-1 negativos. A semelhança entre estes GBD provenientes

da medula óssea e os granulócitos obtidos de baço possibilitou a utilização

da MO para geração de GDB e, posteriormente, para os testes in vivo.

O passo seguinte seria a demonstração que essas células seriam

capazes de inibir a produção de citocinas em linfócitos T. Para responder

essa pergunta, co-cultivamos essas células com linfócitos provenientes de

linfonodos mesentéricos, e demonstramos que apenas na presença de GBD a

inibição ocorre. Nesse experimento, definimos ainda que o mecanismo de

inibição também é dependente da produção de peróxido de hidrogênio

(figura 7a).

Vários artigos discutem a indução de apoptose após a exposição ao

peróxido de hidrogênio (Hampton e Orrenius, 1997; Avula e Fernandes,

2002). Por outro lado, outros relatos demonstraram que o estresse

oxidativo crônico iniciado por baixas concentrações de peróxido de

hidrogênio não induz morte, mas modifica a produção de citocinas por

linfócitos (Lahdenpohja, Savinainen et al., 1998; Malmberg, Arulampalam et

al., 2001) ao inativar o fator de transcrição NF-kB, impedindo a

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translocação deste para o núcleo e, consequentemente, bloqueando a

transcrição de vários genes de citocinas. Nossos dados levam a crer que a

produção de peróxido de hidrogênio pelos GBDs se encontra nessa janela de

concentração que não induz apoptose, pois a marcação com annexina V e

iodeto de propídeo não foi aumentada após o co-cultivo de GBD com

linfócitos (figura 7b). Além disso, o H2O2, por ser quimicamente semelhante

à água, atravessa livremente as membranas celulares e alcança intra-

celularmente o linfócito T (figura 7c).

Todos esses dados somados, permitem dizer que o modelo

experimental apresenta a mesma capacidade de geração dos neutrófilos de

baixa densidade com a mesma capacidade funcional demonstrada nos

estudos com doadores humanos.

Em relação ao modelo experimental, optamos pelo modelo de

transferência de células do camundongo parental C57BL/6 em um

camundongo F1 de (C57BL/6 x BALB/c) dentre os vários modelos existentes

para DECHa experimental (Hakim, Fowler et al., 1998; Korngold e Sprent,

1999). Esse modelo foi escolhido pela disponibilidade dos camundongos no

nosso biotério associado a alguns parâmetros de interesse como: a) o

camundongo C57BL/6 apresenta uma predominância de resposta Th1 em

diversos modelos experimentais de doença (Karupiah, 1998; Ulett,

Ketheesan et al., 2000; Alexander e Bryson, 2005); e b) o transplante em

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camundongos F1 avalia exclusivamente a DECHa, sem a interferência da

resposta imunológica do hospedeiro.

Reproduzimos os dados já conhecidos da literatura que

demonstravam uma proteção contra o desenvolvimento da DECHa, quando o

doador era pré-tratado com G-CSF (Pan, Delmonte et al., 1995; Zeng,

Dejbakhsh_Jones et al., 1997). Nesses artigos, os autores discutiam que a

possível regulação era decorrente de um desvio da maturação funcional dos

linfócitos para um fenótipo Th2. No entanto, percebemos que após o

tratamento in vivo com G-CSF ocorre um acúmulo de granulócitos no baço

desses animais. Mais importante que isso, esses granulócitos não ficam

retidos na coluna de lã de nylon utilizada para enriquecimento de linfócitos

T. Com isso havia a possibilidade de que a diferença da mortalidade

associada ao G-CSF pudesse ser causada apenas pelo menor número de

linfócitos T transferidos do animal tratado com G-CSF para o receptor

irradiado. Para descartar essa possibilidade, fizemos a separação por coluna

de lã de nylon e posteriormente ajustamos a concentração de linfócitos T

de modo que todos os recipientes fossem submetidos ao mesmo inoculo de

linfócitos T. Percebe-se na figura 8 que o fenômeno de proteção se mantém

e que os animais que receberam células do baço de um animal tratado

previamente com G-CSF (CELNG) têm uma maior sobrevida, assim como

menor perda de peso que os animais que receberam CELN. Para testar o

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papel dos granulócitos na inibição da DECHa, retiramos os neutrófilos Gr-1

positivos do grupo CELNG. Surpreendentemente, o grupo CELNG-G

apresentou uma curva de sobrevida ainda menor que o controle positivo de

doença, com morte de todos os animais ainda na segunda semana após a

transferência. Esse dado leva-nos a pensar que a proteção conferida ao

receptor é associada à presença dessa células Gr-1 positivas e que a

retirada delas aumenta o potencial aloreativo dos linfócitos co-existentes

nesse baço. Pode-se supor que mesmo no animal que nunca foi tratado com

G-CSF co-existam algumas células Gr-1 positivas que limitam o processo

aloreativo e consequentemente a morte aguda de todos os animais, enquanto

que nos animais depletados de células Gr-1 ocorre o licenciamento de todos

os linfócitos aloreativos contra o hospedeiro imuno-incompetente.

Quando avaliamos a histo-patologia dos animais transplantados nesse

experimento (figura 9), verificamos um padrão de infiltrado difuso

presente no animal transplantado com CELNG. Resultado também

inesperado uma vez que o artigo que apresenta o primeiro e mais importante

relato do G-CSF como imuno-modulador de DECHa experimental não

apresenta a histo-patologia (Pan, Delmonte et al., 1995). Mesmo com este

infilitrado, os animais sobrevivem ao transplante de forma similar aos

animais transplantados apenas com medula óssea.

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Sabendo que os granulócitos provenientes de animais tratados in

vitro com G-CSF eram capazes de inibir a DECHa, objetivamos desenvolver

um protocolo de prevenção através da administração de GBD gerados in

vitro. Neutrófilos de MO foram tratados com G-CSF in vitro, e selecionados

de acordo com a propriedade de perder densidade após esse tratamento

com um gradiente de densidade (e se tornarem GBD). Os GBDs assim

gerados foram co-infundidos com as CELN. O resultado desse experimento

foi além de nossas expectativas e demonstramos um papel crucial dos GBD

na prevenção do desenvolvimento da DECHa. A presença dessas células no

momento da transferência dos linfócitos impede completamente o

desenvolvimento da doença em todos os parâmetros avaliados. Dentre os

dados gerados, a sobrevida dos animais transplantados com GBD era

superior ao transplantado apenas com medula óssea. Esse dado levanta a

possibilidade não apenas de inibir a alo-reatividade mediada por linfócitos

T, mas também do sucesso do estabelecimento da quimera à longo prazo,

sucesso este que não pôde ser alcançado apenas com a transferência de

células de medula óssea. Uma das possibilidades seria a proteção contra a

infecção conferida pelos granulócitos co-transplantados. Outra

possibilidade seria o papel facilitador do estabelecimento da célula tronco

hematopoética dado pela presença de linfócitos T, tanto no posto de vista

de uma rejeição mediada por células imunocompetentes residuais do

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tratamento quimio/radioterápico (Maraninchi, Gluckman et al., 1987),

quanto pela produção de mediadores que participem da reconstituição

hematopoética (Monteiro, Benjamin et al., 2005).

Quando analisamos a histo-patologia dos animais co-transplantados

com GBD (figura 11), percebemos que toda a arquitetura das criptas

intestinais foi mantida e não se percebe nenhum infiltrado significativo na

lâmina própria, corroborando os dados da figura 10.

Para nos certificarmos de que o efeito observado era decorrente de

granulócitos de baixa densidade pré-tratados com G-CSF, testamos in vivo a

capacidade de granulócitos não tratados com G-CSF, e, portanto de alta

densidade,(GAD) de prevenir o desenvolvimento da DECH. De fato, havíamos

mostrado nos estudos com doadores humanos que GADs não inibem a

produção de IFN-g por linfócitos T. No modelo experimental estas células

não tiveram qualquer efeito protetor. Apesar da correlação entre os dados

in vitro e in vivo, não existe nenhuma evidência que a inibição da produção de

citocinas por linfócitos seja o mecanismo regulatório in vivo.

A possibilidade da utilização de GBD na prática clínica nos levou a

testar a necessidade de compatibilidade entre doador de GBD e o par

doador/receptor do transplante. Isto porque, na transfusão de granulócitos

comumente utilizada para o tratamento de pacientes neutropenicos com

infecções refratária a antibioticoterapia não se respeita compatibilidade

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HLA, nem ABO (quando indisponível no banco de sangue) (Adkins, Goodgold

et al., 1997; Adkins, Spitzer et al., 1997; Oza, Hallemeier et al., 2006). Para

nossa surpresa, em nosso caso é imperativa a compatibilidade entre doador

de linfócitos/MO e GBD (figura 7). No entanto, esses dados são

extremamente difíceis de serem analisados, uma vez que abrem um leque de

possibilidades: A primeira questão é sobre a possibilidade de citotoxicidade

mediada por células do doador sobre os GBD do A/J, impedindo a ação

imunosupressora direta, caso ela seja o mecanismo; outra possibilidade seria

a citotoxidade mediada por células do próprio receptor, que nesse caso é

aloreativo. Existia ainda uma última possibilidade, já parcialmente

descartada pelo nosso grupo, da restrição por MHC na atividade supressora

mediada por esses GBD. Em experimentos, in vitro, conduzidos com

diferentes GBD gerados em BALB/C e C57BL/6, foi demonstrado que a

inibição da produção de citocinas ocorre tanto em linfócitos T de BALB/C e

C57BL/6 com seus respectivos GBD e com os GBD trocados (Areal, 2007).

Diante desses dados, pode-se afirmar que encontramos uma

possibilidade de controle do desenvolvimento da DECHa experimental

mediado por neutrófilos tratados com G-CSF. Mas é importante ressaltar

que nosso grupo não foi pioneiro em demonstrar atividade imuno-regulatória

mediada por neutrófilos, pois existem diversos relatos na literatura com

neutrófilos imaturos sendo mediadores de imuno-supressão (Almand, Clark

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et al., 2001; Gabrilovich, Velders et al., 2001; Kusmartsev, Nefedova et al.,

2004). No entanto, esses neutrófilos supressores são descritos em modelos

de tumor, onde ocorre um acúmulo espontâneo dessas células no baço dos

animais e a retirada delas permite a resolução do tumor. Além do fato de

que nossas células não são geradas espontaneamente, nossos neutrófilos

apresentam fenótipo e morfologia diferentes dos citados, inclusive com

núcleo em rosca o que define um grau de maturação terminal nessas células.

Outro relato, diferente do papel imuno-regulatório de células

mielóides supressoras descritas anteriormente, foi realizado por Zehntner

em 2005. Neste artigo foi demonstrado o papel inibitório de neutrófilos

maduros sobre linfócitos em um modelo experimental de encefalomielite

alérgica (Zehntner, Brickman et al., 2005). Neste modelo os neutrófilos

apresentaram mecanismos inibitórios sobre a proliferação e atividade de

linfócitos T dependente da produção de óxido nítrico.

5.5. Hipóteses

Nosso grande desafio agora é tentar responder, de forma

organizada, algumas perguntas que foram geradas com esses dados.

Primeiramente, é importante ressaltar que o mecanismo envolvido no

controle do desenvolvimento da DECHa nesse modelo deve residir na fase I

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da pato-fisiologia da doença, fase onde todos os fatores convergem para a

ativação do linfócito T, que representa o início da segunda fase da patologia.

Minha afirmativa é baseada principalmente na meia-vida do granulócito, que

no transplante em humanos é de 24 horas, quando o mesmo foi tratado com

G-CSF (dados não mostrados). Ainda em humanos, já havíamos demonstrado

que in vitro essas células têm meia-vida de 48 horas em cultura. Dessa

forma, se o granulócito exerce alguma função ativa sobre alguma célula

envolvida no estabelecimento da resposta alo-reativa, a mesma deve ocorrer

nesse período de 2 dias (Vasconcelos, Santos et al., 2003).

Este dado sozinho, da ação mediada nas primeiras horas, se

determinante de todo o processo que foi acompanhado por 60 dias, já

levantam dúvidas a serem respondidas com experimentações futuras.

Relatos da literatura apontam para essa possibilidade, como os de Xun e

colaboradores, que demonstraram que a transferência de linfócitos com

atraso de 4 dias após a transferência da medula óssea diminuiu em 40 % a

mortalidade dos animais (Xun, Tsuchida et al., 1997). Este dado é reforçado

pela observação, em seres humanos, de que a infusão de linfócitos de

doador em caso de recaída pós-transplante apresentar menor incidência de

DECH que o mesmo número de linfócitos sendo infundido no momento do

transplante (Johnson, Becker et al., 1999). Diante disso, a primeira

pergunta que surge é: qual o possível papel dos GBDs em conter as etapas do

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processo inflamatório inicial, descrito nas primeiras 72 horas após à

irradiação (Hill, Crawford et al., 1997; Cooke, Hill et al., 1998). Dentre

essas etapas, a produção de citocinas inflamatórias, capacita a plena

ativação dos linfócitos T do doador (Ferrara, 1998). Essa ativação permite a

produção de IFN-g, mediadora da DECHa, que amplificaria a ativação inicial

das células apresentadoras de antígeno do hospedeiro. Na presença dos

GBDs, os linfócitos seriam impedidos de produzir essa citocina diminuindo a

alça amplificadora da inflamação. No entanto, esses linfócitos, como

provavelmente apresentam meia-vida superior aos GBDs, estariam “prontos”

e licenciados para uma reação alo-reativa num segundo momento

inflamatório qualquer na ausência desses granulócitos. Dessa forma, um dos

experimentos propostos seria a indução de um segundo processo

inflamatório tardio, após 48 horas da transferência das células, sendo esse

resultado um possível esclarecedor do mecanismo como ativo e importante

nessa fase. Um dado clínico que indica que esse fato é possível, é a

manutenção da incidência da DECHc nos pacientes que recebem TCTP,

inclusive com doenças mais refratárias ao tratamento, nos pacientes que

receberam o TCTP, quando comparados aos que receberam o TCTM

(Flowers, Parker et al., 2002). Ou seja, se essa doença for causada por

linfócitos previamente infundidos, mas silenciados pelos neutrófilos, um

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segundo momento de ativação como uma infecção viral poderia deflagrar um

processo alo-reativo.

Uma segunda hipótese seria a possibilidade de geração de células T

regulatórias decorrentes da interação desses neutrófilos com células

apresentadoras de antígenos originárias do recipiente, células que já se

mostraram capazes de controlar à DECHa (Hoffmann, Ermann et al., 2002;

Taylor, Lees et al., 2002; Jones, Murphy et al., 2003). Esses linfócitos T

reguladores poderiam ser células do doador, que ao interagir com células

apresentadoras de antígeno do recipiente, modificadas diretamente pela

interação com os GBD, seriam desviadas para um fenótipo imuno-regulador,

apresentando especificidade para os antígenos alogeneicos. Nessa hipótese,

uma reativação do sistema não seria capaz de gerar novamente a DECHa,

mas a transferência dessas células regulatórias para um hospedeiro recém-

transplantado deveria controlar o desenvolvimento da DECHa. A

confirmação dessa hipótese levaria a crer que, no caso de desenvolvimento

da DECHc descrita acima, a pato-fisiologia da doença necessariamente

deveria ser completamente diferente, sendo gerada por linfócitos T

selecionados “erroneamente” num timo prejudicado pelo transplante

(Sakoda, Hashimoto et al., 2007; Zhang, Hexner et al., 2007). A DECHc

nesse caso deve também ser desencadeada em alvos teciduais diferentes

das especificidades de células regulatórias geradas no início do transplante,

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permitindo a ativação de novos linfócitos T em áreas “pobres” em células T

regulatórias alo-específicas.

Existe ainda a possibilidade de corpos apoptóticos desses neutrófilos

serem responsáveis pela inativação das células apresentadoras de antígeno

do receptor, mecanismo já demonstrado em modelos experimentais como

capaz de controlar a DECHa (Bittencourt, Perruche et al., 2001; Kleinclauss,

Perruche et al., 2006). No entanto, nossos dados com GAD e GBD de A/J

indicam que esse mecanismo provavelmente não está envolvido. A única

possibilidade, de esse mecanismo ser efetivo depende da migração

diferencial entre os neutrófilos tratados com G-CSF e não tratados (desde

que se acredite que os GBD de A/J realmente foram mortos). Nesse caso,

os GBD alcançariam micro-ambientes dentro do hospedeiro inatingíveis aos

GAD. Essas perguntas associadas ao exato mecanismo de ação dos

granulócitos passam então pela localização e, posteriormente, na co-

localização desses neutrófilos com os linfócitos T.

Para responder essas perguntas, nosso grupo já está realizando

experimentos com GBD marcados por fluorescência, com demonstrações da

migração dessas células para o intestino dos camundongos. Evidenciou-se

ainda que os GAD têm o mesmo padrão migratório, descartando a

possibilidade de migração diferencial.

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Fica ainda a dúvida da co-localização dos linfócitos T com os

granulócitos, uma vez que a correlação das atividades in vitro com as

demonstrações in vivo depende desta resposta. No entanto, testar esta

hipótese é difícil, tendo em vista a demonstração em modelos experimentais

de DECHa de que os linfócitos responsáveis pela alo-reatividade são

linfócitos virgens (Chen, Cui et al., 2004; Beilhack, Schulz et al., 2005)

ativados em placa de Peyer e/ou em linfonodos mesentéricos (Murai,

Yoneyama et al., 2003) os quais após 3 dias de ativação, migram para os

sítios inflamatórios (Murai, Yoneyama et al., 2003; Beilhack, Schulz et al.,

2005). Essa cinética é incompatível com a meia-vida dos neutrófilos em

humanos, restando ao grupo conhecer a meia-vida real dos GBD murinos.

Finalmente, a hipótese mais defendida pelo grupo nesse momento

seria o papel dos GBD na imunidade de mucosa, durante o processo de

transplante de células-tronco hematopoiéticas. Como mencionado na

introdução, já está bem estabelecido na literatura que a flora comensal

presente no trato gastro-intestinal tem um papel direto no estabelecimento

da DECH tanto em modelos animais (Cooke, Hill et al., 1998; Cooke, Gerbitz

et al., 2001) como em humanos (Gerbitz, Schultz et al., 2004). Além desses

dados, recentemente foi descrito que o polimorfismo de nucleotídeo único

no sensor de dipeptídeo de muramil (NOD2/CARD15), um componente da

parede bacteriana, é uma variável independente de mortalidade relacionada

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ao transplante (Holler, Rogler et al., 2004). Esse sensor é um receptor

intracelular, envolvido no reconhecimento de patógenos e regulação da

ativação de NF-kB, presente em células epiteliais intestinais e

monócitos/macrófagos. Esse polimorfismo já havia sido associado à doença

de Crohn (Ogura, Bonen et al., 2001), que é uma doença inflamatória

intestinal com uma pato-fisiologia semelhante à da DECHa. Nesse caso, o

mesmo polimorfismo foi associado a um aumento da incidência da DECHa em

humanos, quando presente apenas no doador, apenas no receptor e, ainda

mais associada, se presente em ambos. Discute-se nesse relato a análise

desse polimorfismo para escolha de doadores, principalmente no caso de

doadores não-relacionados.

Além desses dados, outros estudos experimentais demonstraram que

ocorrem translocações de bactérias para órgãos linfóides periféricos como

linfonodos mesentéricos e a quantificação destas é correlacionada com a

incidência de DECHa (Holler, Rogler et al., 2004). Ainda neste mesmo

artigo, os autores defendem o tratamento profilático com pró-bióticos,

como lactobacilos, para prevenir a DECHa, postulando a existência de flora

protetora e indutora de doença. Essa hipótese já foi confirmada em

modelos experimentais de colite induzida pelo ácido 2,4,6-trinitro benzeno

sulfônico (TNBS do inglês 2,4,6-trinitrobenzenesulfonic acid), onde células

dendríticas foram tratadas in vitro com L. salivarius e L. rhamnosus e

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posteriormente transferidas intra-peritonealmente para camundongos.

Nesse modelo, ficou demonstrada a proteção ao desenvolvimento de colite

num mecanismo dependente de NOD2 e a partir de geração de células T

regulatórias in vivo (Foligne, Zoumpopoulou et al., 2007).

Todos esses dados associados permitem postular que esses GBD são

capazes de diminuir a disponibilidade de LPS ou ainda outros componentes

bacterianos indutores da DECHa. Alguns experimentos estão em andamento

nessa direção e já existem resultados demonstrando uma maior capacidade

fagocítica dos GBD quando comparada aos GAD. Além desses resultados, os

GBD apresentaram maior atividade oxidativa quando comparada aos GAD,

dado importante se pensarmos na capacidade de eliminação completa da

bactéria contra apenas a capacidade fagocítica dessas células.

5.6. Perspectivas

Além de todos os experimentos sugeridos anteriormente, nosso grupo

está diretamente envolvido com um ensaio clínico para utilização dessas

células como imuno-moduladoras da DECHa em humanos. Para viabilizar esse

ensaio clínico, estamos realizando uma padronização para geração dessas

células em larga escala com qualidade funcional e sem riscos para o paciente.

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Nesta padronização será avaliado a capacidade inibitória de

neutrófilos maduros gerados in vivo após o tratamento de um doador com

dose única de G-CSF. Além dessa avaliação, será questionada a necessidade

de separação dessas células baseadas nas propriedades de densidade

descritas anteriormente pelo grupo, ou se a população neutrofílica total

colhida por aférese é suficiente para o protocolo clínico posterior.

A proposta do protocolo clínico é co-transplantar essas células com

aspirados de medula óssea, desejando que elas impeçam o desenvolvimento

da DECHa, sem os efeitos deletérios da DECHc refratária que ocorrem

após o TCTP (rico em granulócitos tratados com G-CSF). Algumas evidências

na literatura indicam que esse protocolo possa ter sucesso, como o relato de

Morton e cols (Morton, Hutchins et al., 2001), utilizando medula óssea de

um doador tratado previamente com G-CSF. Nesse caso houve diminuição de

DECHa sem aumento da DECHc. Deve-se levar em consideração ainda nesse

relato que não houve aumento de recaídas após o transplante, indicando uma

manuntenção do efeito ECL.

Mesmo com esses resultados promissores do grupo do Morton, temos

consciência em nosso grupo de que experimentos envolvendo a avaliação do

efeito enxerto contra leucemia (ECL) em modelos experimentais devem ser

realizados no mesmo modelo descrito na tese.

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Finalizando, o transplante de células-tronco hematopoiéticas

alogeneico ainda apresenta uma barreira até agora intransponível, a barreira

imunológica conhecida como DECHa. Diversos grupos de pesquisa clínica e

experimental buscam soluções para solucionar esse problema. Nas pesquisas

clínicas os sucessos foram acompanhados de efeitos colaterais importantes,

como recaída aumentada ou falência hematopoética, enquanto que os

estudos em modelos murinos utilizam estratégias elaboradas que dificultam

a aplicação clínica. Esperamos que estratégias celulares simples como a

nossa possam contribuir para o controle da DECHa sem detrimento de

efeitos desejados e necessários para o sucesso dessa terapia, como a

enxertia a longo prazo e o efeito enxerto contra leucemia.

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7. Anexo – Artigos Publicados

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